Post on 26-Jan-2017
CONTEXTO O RENASCIMENTO
O Renascimento foi um importante movimento de ordem artística, cultural e científica que
se deflagrou em uma transição dos valores e das tradições medievais para um mundo
totalmente novo, em que os códigos tradicionais cedem lugar à afetação burguesa, às
novas máscaras sociais desenvolvidas pela burguesia emergente. Em um quadro de
sensíveis transformações que não mais correspondiam ao conjunto de valores
apregoados pelo pensamento medieval, o renascimento apresentou um novo conjunto de
temas e interesses aos meios científicos e culturais de sua época.
Esta importante etapa histórica predominou no Ocidente entre os séculos XV e XVI,
principalmente na Itália, centro irradiador desta revolução nas artes, na literatura, na
política, na religião, nos aspectos sócioculturais. Deste pólo cultural o Renascimento se
propagou pela Europa, especialmente pela Inglaterra, Alemanha, Países Baixos e com
menos ênfase em Portugal e Espanha.
O Renascimento toma com o inspiração os antigos valores grecoromanos, retomados
pelos artistas que vivenciaram a decadência de um paradigma e o nascimento de um
universo totalmente diferente. Este movimento representou, portanto, uma profunda
ruptura com um modo de vida mergulhado nas sombras do fanatismo religioso, para
então despertar em uma esfera materialista e antropocêntrica. Agora o centro de tudo se
deslocava do Divino para o Humano, daí a vertente renascentista conhecida como
Humanismo.
Na sociedade desenvolviamse rapidamente instâncias políticas intensamente
centralizadas, uma economia de âmbito urbano e de natureza mercantil, e florescia o
mecenato – surgimento de mecenas, ou seja, patrocinadores das artes, dos criadores.
Na vertente humanista da Renascença, o Homem é a peça principal, agora ocupando o
lugar antes impensável do próprio Criador. Este aspecto antropocentrista se prolonga por
pelo menos um século em toda a Europa Ocidental. Este movimento privilegia a
Antiguidade Clássica, mas não se limita a reproduzir suas obras, o que reduziria sua
importância.
Seus seguidores recusavam radicalmente os valores medievais e para alcançar esse
objetivo usavam a cultura grecoromana como o instrumento mais adequado para a
realização de suas metas.
A aproximação do Renascimento com a burguesia foi claramente percebida no interior
das grandes cidades comerciais italianas do período. Gênova, Veneza, Milão, Florença e
Roma eram grandes centros de comércio onde a intensa circulação de riquezas e ideias
promoveram a ascensão de uma notória classe artística italiana. Até mesmo algumas
famílias comerciantes da época, como os Médici e os Sforza, realizaram o mecenato, ou
seja, o patrocínio às obras e estudos renascentistas. A profissionalização desses
renascentistas foi responsável por um conjunto extenso de obras que acabou dividindo o
movimento em três períodos: o Trecento, o Quatrocento e Cinquecento. Cada período
abrangia respectivamente uma parte do período que vai do século XIV ao XVI.
Rupturas do modelo tradicional
A idade Média foi reconhecida como a “Idade da Fé”, e no período medieval se
estabelece a consolidação do cristianismo no interior de toda a Europa. Neste período, a
Igreja passou a ser portadora de uma doutrina oficial que deveria ser disseminada por um
corpo de representantes espalhados em toda a Europa. No ano de 455, o bispo de Roma
se tornou papa, passando a controlar a cristandade ocidental. Com isso, a Igreja
defendeu a ordem social estabelecida argumentando que o mundo feudal refletia, de fato,
os desígnios de Deus para com os seus devotos.
Paralelamente, podemos assinalar que outros dogmas, como o medo da morte, do
pecado e do inferno, eram de grande importância para o comportamento do homem
medieval. A utilização de imagens sagradas também serviu como um importante
instrumento didático para inculcar os valores de subserviência e temor ligados ao
pensamento cristão. Tais ações sistemáticas foram importantes para que o número de
fiéis abnegados atingisse números expressivos.
Sem dúvida, toda essa série de práticas, valores e ações foram determinantes na
transformação da Igreja em uma instituição com amplos poderes. Desde sua gênese,
percebemos que o cristianismo teve que negociar com os vários hábitos e crenças das
civilizações pagãs, caso quisesse ampliar o seu número de convertidos.
Mesmo antes do Renascimento, a hegemonia da Igreja Católica esteve diversas vezes
ameaçada pela organização de seitas (consideradas como heresias) que buscavam
valores não suportados pela doutrina oficial. No século XI, as dissidências com os líderes
da Igreja Oriental culminaram no Cisma do Oriente, fato que deu origem à Igreja Católica
e à Igreja Bizantina. Nos fins da Idade Média, movimentos heréticos fixaram as bases de
outras tensões que marcaram a Reforma Protestante, no século XVI.
A passagem de um período não pressupõe o abandono radical de certas formas de agir e
pensar por outras completamente inéditas. Observando as experiências com maior
cuidado, é possível compreender que a passagem do mundo e dos valores medievais
para o novo cenário proposto na Renascença pode se mostrar ainda repleta de práticas
depositadas no passado. Ou seja, os homens de um tempo nunca abandonam
radicalmente aquilo que um dia se fez presente no desenrolar de sua história. Na
verdade, este período é marcado pela continuidade e as rupturas que – coexistindo,
estabelecem um sentido equilibrado à experiência renascentista.
Novas idéias
Por meio de uma série de fatores de ordem econômica, política, religiosa e cultural,
muitas contradições levaram o povo europeu do século XV a encarar a vida com um certo
ceticismo. Estes, em confronto com facções dogmáticas, ocuparam o palco da discussão
filosófica predominante nas recémcriadas universidades (estabelecimentos oficiais de
ensino). Ali parecia ser possível falar sobre todas as coisas tendo como autoridades
orientadoras a Bíblia, os santos (padres canonizados) ou os filósofos que serviram como
suporte para justificar a fé. Os debates travados pareciam conter algo de realmente
inteligível; no entanto, o homem começou, por isso, a se afastar de si mesmo, de Deus e
do mundo em que vivia, pois as conclusões dos raciocínios muitas vezes se chocavam
com a realidade (assim como a mitologia grega!).
Era preciso que o homem desafiasse as leis e as autoridades tradicionais para buscar
reconstruir seu quadro de referências, visando substituir ou transformar seus conceitos
sobre o mundo e sobre si mesmo.
O povo europeu, como um todo, estava mergulhado em uma época em que novas ideias
se chocavam com a estrutura tradicional, e suas convicções sociais, políticas e religiosas
estavam sendo intensamente questionadas.