Post on 28-Jul-2015
Fundação Oswaldo Cruz Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães Departamento de Saúde Coletiva
Mestrado em Saúde Pública
PADRÃO DE RESISPADRÃO DE RESISTÊNCIA TÊNCIA
ANTIMICROBIANA DE CASOS DE INFECÇÕES ANTIMICROBIANA DE CASOS DE INFECÇÕES
NOSOCOMIAIS NO RECIFE, PERNAMBUCO, NOSOCOMIAIS NO RECIFE, PERNAMBUCO,
BRASIL, 2002BRASIL, 2002--20032003
Recife, 2004
MARINALDA ANSELMO VILELA
MARINALDA ANSELMO VILELA
PPAADDRRÃÃOO DDEE RREESSIISSTTÊÊNNCCIIAA AANNTTIIMMIICCRROOBBIIAANNAA DDEE
CCAASSOOSS DDEE IINNFFEECCÇÇÕÕEESS NNOOSSOOCCOOMMIIAAIISS NNOO RREECCIIFFEE,,
PPEERRNNAAMMBBUUCCOO,, BBRRAASSIILL,, 22000022--22000033
Orientador: Dra.Nilma Cintra Leal
Co-orientador: Msc. Carlos Luna Feitosa
RECIFE
2004
Dissertação apresentada ao Departamento de
Saúde Coletiva – NESC do Centro de Pesquisas
Aggeu Magalhães – CPqAM da Fundação
Oswaldo Cruz – FIOCRUZ/MS para a obtenção
do título de Mestre em Saúde Pública, área de
concentração em Controle de Endemias e
Métodos de Diagnósticos
DEDICATÓRIA
““AA DDeeuuss qquuee mmee ddeeuu ffoorrççaa ee ddeetteerrmmiinnaaççããoo
nnaa rreeaalliizzaaççããoo ddeessttee ttrraabbaallhhoo,,
aaooss mmeeuuss ppaaiiss,, aaooss ffaammiilliiaarreess
ee aammiiggooss..””
DDeeddiiccoo
““CCoonnssiiddeerreemm aa ddiiffeerreennççaa ddee ttaammaannhhoo eennttrree aallgguummaass ddaass mmeennoorreess ee ddaass mmaaiioorreess
ccrriiaattuurraass eexxiisstteenntteess nnaa TTeerrrraa.. UUmmaa ppeeqquueennaa bbaaccttéérriiaa ppeessaa 00,,000000 000000 0011
ggrraammaa.. AA bbaalleeiiaa aazzuull ppeessaa cceerrccaa ddee 110000 000000 000000 ggrraammaa.. MMaass mmeessmmoo aassssiimm uummaa
bbaaccttéérriiaa éé ccaappaazz ddee mmaattaarr uummaa bbaalleeiiaa.. ...... SSããoo ttããoo ggrraannddeess aa ccaappaacciiddaaddee ddee
aaddaappttaaççããoo ee aa vveerrssaattiill iiddaaddee ddooss mmiiccrroooorrggaanniissmmooss,, ccoommppaarraaddooss aaooss sseerreess
hhuummaannooss ee oouuttrrooss oorrggaanniissmmooss ttiiddooss ccoommoo ““ssuuppeerriioorreess””,, qquuee eelleess sseemm ddúúvviiddaa
ccoonnttiinnuuaarrããoo aa ccoolloonniizzaarr ee aalltteerraarr aa ssuuppeerrffíícciiee ddaa TTeerrrraa llooggoo ddeeppooiiss qquuee nnóóss ee oo
rreessttoo ddee nnoossssooss ccoo--hhaabbiittaanntteess ddeeiixxaarrmmooss aa cceennaa ppaarraa sseemmpprree.. OOss mmiiccrróóbbiiooss,, ee
nnããoo ooss mmaaccrróóbbiiooss,, ddoommiinnaarrããoo oo mmuunnddoo..””
BBeerrnnaarrdd DDiixxoonn,, 11999944..
AAGGRRAADDEECCIIMMEENNTTOOSS
Aos meus pais que sempre me apoiaram e me passaram o prazer pelos estudos. A Ronaldo Honório de Albuquerque, meu marido, que me deu todo apoio e compreensão. Aos meus filhos Felipe e Carolina, que souberam entender e aceitar a minha ausência. À Dra. Nilma Cintra Leal, pelas orientações na elaboração desse trabalho. A Dra. Alzira de Almeida, pela inestimável colaboração na redação desta dissertação. Ao professor Carlos Cabral pelas orientações, sugestões e apoio. Ao mestre Carlos Luna Feitosa pela paciência e orientações estatísticas A Dra. Sandra Maria Lavareda de Souza pelo incentivo nas horas difíceis. A Dra. Maria do Socorro Cavalcante diretora do Instituto de Ciências Biológicas da UPE pela minha liberação para realização do mestrado e pelas sugestões valiosas. A Wagner Luis Mendes Oliveira, Vanessa Santos Lins e Bruno Ricardo Arantes, estagiários do laboratório de Microbiologia do HUOC, que não mediram esforços para me ajudar. Ao Laboratório de Microbiologia do HUOC que deu condições para a realização desta pesquisa. Ao Instituto de Ciências Biológicas da UPE, pela minha liberação para realização do Mestrado em Saúde Pública. Aos amigos do departamento de Microbiologia do CPqAM, Betânia, Soraya, Cariri e Wagner, que colaboraram na formatação desta dissertação. Ao Sr. Manoel Gomes de Andrade, Jefth de Melo Araújo e Luciano José da Silva, funcionários do laboratório de Microbiologia do HUOC, pelo suporte na preparação dos meios de cultura. Aos amigos de Mestrado, pela disposição com que ajudaram na construção do objeto de estudo. À Yara Nakasawa técnica do Laboratório de Microbiologia do Aggeu Magalhães que sempre me recebeu com boa vontade mesmo estando atarefada. Ao professor Djalma Agripino pela paciência e capacidade de transmitir seus conhecimentos.
SUMÁRIO
RESUMO.................................................................................................................... i
ABSTRACT................................................................................................................ ii
LISTA DE ABREVIATURAS................................................................................... iii
LISTA DE TABELAS................................................................................................ iv
1. INTRODUÇÃO....................................................................................................... 1
1.1.História........................................................................................................... 1
1.2. Riscos relacionados à infecção hospitalar..................................................... 1
1.3. Resistência antimicrobiana ........................................................................... 2
1.4. Mecanismos de resistência............................................................................ 5
1.5. Medidas de controle...................................................................................... 9
2. JUSTIFICATIVA.................................................................................................... 12
3. PERGUNTA CONDUTORA.................................................................................. 13
4. OBJETIVOS........................................................................................................... 14
4.1. Geral.............................................................................................................. 14
4.2. Específicos.................................................................................................... 14
5. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS............................................................ 15
5.1. Critérios de inclusão para caracterização de infecção hospitalar.................. 15
5.2. Critérios de exclusão para caracterização de infecção hospitalar................. 15
5.3. Área de Estudo.............................................................................................. 15
5.4. População de estudo...................................................................................... 16
5.5. Período de estudos......................................................................................... 16
5.6. Desenho de estudo......................................................................................... 16
5.7. Elenco de variáveis........................................................................................ 16
5.8. Origem das informações............................................................................... 17
5.9. Isolamento, identificação e manutenção das cepas....................................... 18
5.10. Determinação do perfil de resistência aos antimicrobianos ....................... 18
5.11. Análise estatística........................................................................................ 19
5.11.1. Indicadores que foram analisados..................................................... 20
6. CONSIDERAÇÕES ÉTICAS................................................................................ 21
7. RESULTADOS ..................................................................................................... 22
7.1. Distribuição dos isolados por pavilhão e fontes das amostras ..................... 22
7.2. Resistência nos principais isolados............................................................... 30
7.2.1. Pseudomonas aeruginosa .................................................................. 30
7.2.2. Klebsiella spp.................................................................................…. 30
7.2.3. Staphylococcus aureus…………………………………………........ 31
7.2.4. Staphylococcus coagulase negativo……………………………........ 31
8. DISCUSSÃO.......................................................................................................... 34
9. CONCLUSÃO......................................................................................................... 41
10. MEDIDAS SUGERIDAS .................................................................................... 42
11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................. 43
12. ANEXO I (questionário) ...................................................................................... 52
13. ANEXO II (Comitê de Ética) ............................................................................... 54
14. ARTIGO................................................................................................................ 57
i
RREESSUUMMOO
O objetivo deste estudo foi determinar o perfil de resistência aos antimicrobianos pelos microorganismos associados com infecção, em um grande hospital universitário com pavilhões para tratamento de várias especialidades médicas. Foram analisadas 774 microorganismos isolados no período de julho de 2002 a junho de 2003 que atenderam as características de agentes de infecção nosocomial. Os isolados foram identificados pelos métodos bacteriológicos clássicos e os de difícil identificação foram confirmados pelo processo automatizado no Mini-Api (BioMerieux-França). O perfil de resistência aos antimicrobianos foi determinado pelo método de difusão em disco segundo o National Committee for Clinical Laboratory Standards. A análise das variáveis foi realizada por cepas isoladas. A digitação e validação dos dados foram realizadas utilizando os softwares EpiInfo versão 6,04 e SPSS versão 8.0. Os isolados mais freqüentes foram Pseudomonas aeruginosa (19,8%), Klebsiella spp (18,4%), Staphylococcus aureus (17,1%) e 11,9% Staphylococcus coagulase negativa (SCN). O hemocultivo foi a fonte do maior percentual de isolados (35,5%) seguido pela urocultura com 19,6% dos isolados. Vários isolados apresentaram alto nível de resistência aos antimicrobianos. A P. aeruginosa apresentou alto nível de resistência às cefalosporinas, as de terceira geração com 86,8% e quarta geração (cefepime) a resistência foi 65,3%. Vários isolados de P. aeruginosa (45,7%) apresentaram resistência a quatro grupos de antimicrobianos, sendo considerada MDR. Vale ressaltar que 24 isolados (15,7%) apresentaram resistência de alto nível a seis grupos de antimicrobianos. A Klebsiella spp, o segundo isolado mais freqüente, apresentou resistência às cefalosporinas, em percentual decrescente da 1ª a última geração variando de 73,4 % (1ª geração) a 42,9 % (4ª geração). A maior resistência apresentada pelo S. aureus e Staphylococcus coagulase negativa variou entre 10,1% (moxifloxacina) a 68,2% (penicilina G). Não foi detectada resistência à teicoplamina e vancomicina pelo S. aureus e SCN. Dos que apresentaram resistência à oxacilina (40,2%), foram também resistentes à eritromicina (100%), clindamicina (96,2%), gentamicina (83%), sulfametoxazol/trimetoprim (73,6%), ciprofloxacina (73,6%), e cloranfenicol com 73,6% de resistência, sendo considerada como MDR. Vale ressaltar que não foi detectada resistência à vancomicina e teicoplanina pelo Enterococcus faecalis, no período do estudo. Constatada a resistência aos antimicrobianos no hospital e sabendo-se que há relação entre resistência e uso de antimicrobianos recomenda-se a adoção de um programa de monitoramento da resistência antimicrobiana. Palavras Chave: Resistência antimicrobiana, Infecção hospitalar, Multi-resistência bacteriana
ii
AABBSSTTRRAACCTT The aim of this study was to determine the frequency and the profile of resistance to antimicrobial agents in the microorganisms associated with infection, in a great university hospital with pavillions for treatment of several kind of diseases. An amount of 774 microorganisms were isolated in the period from July - 2002 to June – 2003, all having met the characteristics of nosocomial infection. The antibiotic susceptibility patterns of 774 isolates were retrospectively analyzed by disk diffusion according to the National Committee for Clinical Laboratory Standards guidelines. Inoculated plates were incubated aerobically at 35 C and estimated after 18 h. The data of the patients and the bacteria were analyzed using the EpiInfo software. The most frequent isolates were P.aeruginosa (19,8%), Klebsiella spp (18,4%), Staphylococcus aureus (17,1%) and 11,9% coagulase-negative Staphylococcus (CNS). The bloodstream was the source of the greatest percentage of isolates (35,5%), followed by the urine cultures with 19,6% of the isolates ones. The oncology pavillion (CEON) presented the greatest number of isolates (25,0%), followed for the one of infectious and parasitic illnesses- DIP (16,9%). Several isolates presented high level of resistance to antimicrobial agents. The P.aeruginosa showed resistance to the cefalosporins third generation, with percentage of 86,8%, Several isolates showed resistance to four groups of antimicrobial, with a percentage of 45,7%, being classified as MDR. It must be emphasized that 24 isolates (15,7%) showed high level rates of resistance to six groups of the antimicrobial agents tested. The Klebsiella spp, the most frequent isolated one, showed resistance to all the cephalosporins, in decreasing percentage from the first geration, varying from 73,4% first generation cephalosporins, to 42,9% four generation cephalosporins. The biggest resistance presented for the S. aureus and coagulase-negative Staphylococcus varied between 10,1% (moxifloxacin) and 68.2% (penicillin G). The antimicrobial susceptibility results for staphylococci showed very high rates of oxacillin (40,2%) resistance among staphylococci with cross-resistance to most antimicrobial agents. MRSA had been also resistance to the erithromycin (100%), clindamycin (96,2%), gentamicin (83%), sulfametoxazol/trimetoprim (73,6%), ciprofloxacin (73,6%), and chloranphenicol with 73,6% of resistance, being considered as MDR. It was not detected resistance to the vancomycin and teicoplanin for S. aureus , CNS or Enterococcus faecalis. As there has been evidence of resistance to antimicrobial agents in the hospital and knowing itself that there is a relation between resistance and the use of antimicrobial, the introduction of a monitoring program is recommended. Key Words: Antimicrobial resistance, Hospital infection, Multi-resistance bacterial
iii
LLIISSTTAA DDEE AABBRREEVVIIAATTUURRAASS AM-Amaury de Medeiros (pavilhão)
BGNNF - Bastonete Gram negativo não fermentador
CCH - Carlos Chagas (pavilhão)
CEON - Centro de Oncologia (pavilhão)
CIM - concentração inibitória mínima
DIP - Doenças parasitárias e infecciosas (pavilhào)
ENagib - Emergência Nagib (pavilhão)
ESBL - Beta-lactamases de espectro estendido
HUOC - Hospital Universitário Oswaldo Cruz
IH - Infecção hospitalar
JC - Joaquim Cavalcante (pavilhão)
JM - Julio de Melo (pavilhão)
JR - José Ribamar (pavilhão)
MDR - Multi-drogas-resistentes
MRSA - Staphylococcus aureus resistente a meticilina
MSSA - Staphylococcus sensível a meticilina
PBP – Proteínas ligadoras de penicilina
UTI-C - Unidade de terapia intensiva de cardiologia (pavilhão)
UTI - Unidade de terapia intensiva geral (pavilhão)
VRE – Enterococcus faecalis resistente a vancomicina
iv
LLIISSTTAA DDEE TTAABBEELLAASS Tabela 1 Agentes antibacterianos agrupados com base na estrutura química e
sítio de ação nas bactérias e mecanismos de resistência apresentados
pelas bactérias
06
Tabela 2 Variáveis relativas aos pacientes 17
Tabela 3 Variáveis referentes às bactérias 17
Tabela 4 Distribuição dos isolados de casos de infecção hospitalar no HUOC:
julho de 2002 a junho de 2003
23
Tabela 5 Distribuição dos isolados por pavilhão no HUOC: julho de 2002 a
junho de 2003
24
Tabela 6
Distribuição dos isolados pela origem das amostras analisadas no
HUOC: julho de 2002 a junho de 2003
24
Tabela 7 Distribuição dos principais isolados pelas fontes da cultura no
HUOC: julho de 2002 a junho de 2003
25
Tabela 8 Distribuição dos principais isolados, entre os pavilhões de origem no
HUOC: julho de 2002 a junho de 2003
26
Tabela 9 Resistência aos antimicrobianos apresentada pelos isolados mais
freqüentes no HUOC: julho de 2002 a junho de 2003
27
Tabela 10 Distribuição da resistência apresentada pela P. aeruginosa aos
antimicrobianos por períodos, durante um ano: julho/2002 a
junho/2003
28
Tabela 11 Distribuição da resistência apresentada pela Klebsiella spp aos
antimicrobianos por períodos, durante um ano: julho/2002 a
junho/2003
29
Tabela 12 Distribuição da resistência apresentada pela S. aureus aos
antimicrobianos por períodos, durante um ano: julho/2002 a
junho/2003
29
Tabela 13 Distribuição de P. aeruginosa MDR por pavilhões, no HUOC: julho
de 2002 a junho de 2003
31
v
Tabela 14 Percentual de resistência cruzada em isolados de P. aeruginosa, no
HUOC: julho de 2002 a junho de 2003
32
Tabela 15 Comparação do percentual de Klebsiella spp resistentes a
ceftazidima (cefalosporinas de terceira geração) e sua resistência a
outras drogas, no HUOC: julho de 2002 a junho de 2003
33
Tabela 16 Distribuição de MRSA por pavilhões, no HUOC: julho de 2002 a
junho de 2003
33
Tabela 17 Distribuição de MRSA e MSSA (percentual) em relação à resistência
a outras drogas, no HUOC: julho de 2002 a junho de 2003
33
1
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
11.. IINNTTRROODDUUÇÇÃÃOO
11..11.. HHIISSTTÓÓRRIIAA
No período pré-antibiótico os principais microrganismos causadores de infecção
hospitalar eram os cocos Gram positivos, e a mortalidade de pacientes com bacteremia
por Staphylococcus aureus, era em torno de 80,0% dos infectados. A introdução da
penicilina no início da década de 1940 mudou o prognóstico destes pacientes,
entretanto, já em 1942 foram identificados estafilococos resistentes à esta droga. Logo
depois do advento da penicilina que atua sobre os microrganismos Gram positivos, os
bacilos aeróbicos Gram negativos, passaram a predominar como patógenos
nosocomiais. Estes fatos determinaram o início da era dos antimicrobianos e também o
início do problema da resistência (SWARTZ, 1994; LOWY, 2003).
A introdução de novos agentes antimicrobianos tem sido seguida por eficientes
mecanismos bacterianos capazes de neutralizá-los. Na década de 1980 os principais
microrganismos causadores de infecção hospitalar eram S. aureus, Staphylococcus
coagulase negativo, que a partir de agora será referido neste trabalho como SCN,
Enterococcus faecalis, bacilos aeróbicos Gram negativo e Candida spp (LOWY, 2003).
Nas últimas décadas o rápido aumento da resistência aos antimicrobianos,
apresentada pelos microrganismos, bem como a evolução de novos patógenos, acarretou
mundialmente um acréscimo nos custos hospitalares determinado pelo aumento da
morbidade e mortalidade (DZIDIC; BEDEKOVIC, 2003).
11..22.. RRIISSCCOOSS RREELLAACCIIOONNAADDOOSS ÀÀ IINNFFEECCÇÇÃÃOO HHOOSSPPIITTAALLAARR
Junto com os avanços tecnológicos que melhoraram as condições de tratamento
dos pacientes internados, vieram os equipamentos de assistência às condutas médicas.
Procedimentos invasivos como entubação, ventilação mecânica e cirurgias, além da
hospitalização prolongada, podem predispor ao risco de infecção hospitalar, colocando
os microrganismos hospitalares em contato direto com uma porta de entrada, no
organismo do paciente (SWARTZ, 1994; BRADFORD, 2001).
Outro procedimento que merece destaque como fator de risco para o
desenvolvimento de infecções, implicado no aumento da freqüência de bacteremias é a
implantação do cateter vascular indicado para a maioria dos pacientes hospitalizados,
amplamente aceito e difundido no mundo todo. Durante a implantação do catéter pode
2
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
ocorrer invasão do epitélio da mucosa pelas bactérias, provocando o desenvolvimento
de reação inflamatória com produção de toxinas bacterianas que vão favorecer a fixação
das bactérias podendo resultar em infecção crônica, necrose tissular, bacteremia e
paralelamente, levar à resistência aos antimicrobianos (FERRETTI et al., 2002).
Os microrganismos migram entre a superfície do cateter e do vaso sanguíneo
levando à colonização que pode provocar a infecção do sangue (bacteremia). Os
microrganismos mais freqüentes nessas infecções são S. aureus, SCN, bactérias Gram
negativas e fungos (FERRETTI et al., 2002). O acesso dos microrganismos ao espaço
extra-luminal ou intra-luminal pode se fazer por vários mecanismos: (a) os organismos
da pele invadem o espaço intra e extra luminal do catéter; (b) os microrganismos
contaminantes do lúmem do catéter são inseridos pelo guia; (c) os organismos são
levados hematologicamente.
A baixa imunidade é outro componente de risco, que predispõe o paciente a
infecções; ocorre pelo uso de imunossupressores em pacientes transplantados ou de
quimioterápicos em neoplásicos e também em pacientes idosos e recém nascidos. O
aumento da longevidade da população se reflete no aumento da idade dos pacientes
hospitalizados, constituindo um fator adicional de risco devido às mudanças fisiológicas
próprias da idade. Cerca de 54% das infecções hospitalares (IH) ocorrem em pacientes
com mais de 65 anos de idade (SWARTZ, 1994). O risco se mostrou aumentado para os
recém nascidos devido à prematuridade e asfixia, em uma maternidade na cidade do Rio
de Janeiro (LOUREIRO et al., 2002).
11..33.. RREESSIISSTTÊÊNNCCIIAA AANNTTIIMMIICCRROOBBIIAANNAA
A resistência aos antimicrobianos está aumentando em todo o mundo, devido a
facilidade de disseminação de patógenos resistentes (TENOVER, 2001). A resistência
apresentada pelas bactérias no ambiente hospitalar é questão bastante grave devido aos
múltiplos fatores desencadeantes dessa resistência, um deles pode ser a pressão seletiva
sobre as bactérias, favorecendo a multiplicação dos mutantes resistentes presentes em
toda população bacteriana, e que são mais freqüentes no ambiente nosocomial, levando
ao aumento da morbidade e mortalidade, por limitar a opção de antimicrobianos para o
tratamento (SADER et al., 1998; 1999; 2001; DZIDIC; BEDEKOVIC, 2003).
O aumento da resistência à meticilina está sendo observado mundialmente
(LOWY, 2003). Segundo Chambers (1997) todas as cepas de S. aureus resistente à
meticilina (MRSA) são descendentes de poucas cepas ancestrais que adquiriram o gene
3
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
mecA. Existem clones de MRSA disseminados em grandes dimensões geográficas
como o clone Ibérico presente na Espanha, Portugal, Escócia, Itália, Bélgica e
Alemanha, e o clone Brasileiro que se encontra disseminado pelos países da América do
Sul como Argentina, Paraguai, Chile e Brasil (TEIXEIRA et al., 1995; OLIVEIRA et
al., 2002). Os mecanismos de disseminação dos clones em grandes extensões
geográficas são pouco compreendidos.
Os microrganismos mais encontrados em infecções hospitalares, segundo dados
obtidos pelo sistema de vigilância da resistência aos antimicrobianos (SENTRY), na
América Latina e nos países desenvolvidos, são o S. aureus e SCN resistentes à
meticilina, E. faecalis resistentes a vancomicina, Enterobacteriaceae resistente à
cefalosporinas, produtoras de β-lactamases de amplo espectro (ESBL), Pseudomonas
aeruginosa multi-drogas resistentes (MDR) (MENDES et al., 2000; SADER et al., 2001;
JONES; PFALLER, 1998; LOUREIRO et al., 2001). A incidência de cada patógeno e os
mecanismos genéticos de resistência variam a cada continente, país e região do país
sendo influenciados por vários fatores (JONES; MASTERTON, 2001).
Associado aos mecanismos genéticos de transferência da resistência entre as
bactérias (FLUIT et al., 2001a), o uso empírico de antimicrobianos e sub-doses na
terapia, o emprego de antimicrobianos como fatores de crescimento na alimentação
animal e o deslocamento mais fácil das pessoas em viagens também estão implicados no
aumento da resistência bacteriana e dispersão dos clones resistentes (LOWY, 2003).
Jumbe e colaboradores (2003), demonstraram que a resistência pode se
desenvolver em 24 horas. Ele inoculou P. aeruginosa sensível à fluorquinolona em
animais de laboratório, usando doses inferiores ao CIM, e observou que ao recuperar
estas bactérias inoculadas, 24 horas depois, muitas já apresentavam resistência à
fluorquinolona. Isso pode explicar a rápida emergência de mutantes multi-drogas
resistentes durante a terapêutica, mostrando que a amplificação da resistência é
dependente da dosagem do antimicrobiano (JUMBE et al., 2003).
Os humanos são reservatórios naturais de S. aureus, que é encontrado na maioria
das vezes na pele e nariz dos indivíduos, mas podem invadir e causar infecções da pele,
pneumonias e bacteremias, sendo que a colonização assintomática é mais comum que a
infecção (CHAMBERS, 2001; CESPEDES et al., 2002; CDC, Antimicrobial resistance-
MRSA/Methicillin Resistant Staphylococcus aureus; disponível em
<http://www.cdc.gov. acesso em 24 out. 2003). Loureiro e colaboradores (2002)
4
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
encontraram percentual de 47% de portadores nasais de S. aureus entre os recém
nascidos em uma maternidade na cidade do Rio de Janeiro, Brasil.
Alguns microrganismos, principalmente os SCN e S. aureus, produzem um
biofilme, material rico em exopolissacarídeos que forma uma malha que protege os
microrganismos da ação dos antibióticos, dos anticorpos e da fagocitose. Essa malha, ou
biofilme, adere ao cateter dificultando a erradicação do microrganismo. Alta
percentagem dos S. aureus resistentes à meticilina (MRSA) produz biofilme,
constituindo um fator agravante para o tratamento devido à dificuldade terapêutica
quando a resistência à meticilina e produção de adesina estão associados (FERRETTI et
al., 2002).
S. aureus tem a tendência de adquirir determinantes de resistência adicionais,
resultando em isolados de MRSA resistentes à múltiplos antimicrobianos, não
relacionados, reduzindo o número de antimicrobianos eficazes (LOWY, 2003). Os
isolados de S. aureus resistentes à meticilina/oxacilina são por definição resistentes à
todos os â-lactâmicos e carbapenens (CDC, laboratory detection of oxacillin/methicillin-
resistant Staphylococcus aureus, disponível em <http://www.cdc.gov., acesso em 24 out
2003).
Nos últimos anos, SCN tem sido isolado com freqüência da microflora de
humanos e destacou-se como um dos maiores patógenos causadores de infecção
hospitalar, devido a produção de biofilme, sendo a mais freqüente causa de bacteremias.
Os SCN circulam nos hospitais e podem ser resistentes à meticilina e também a vários
outros antimicrobianos. Os SCN resistentes à meticilina são considerados reservatórios
de genes de resistência e podem transferí-los para outros estafilococos (MIRAGAIA et
al., 2002; CHANG et al., 2003; FERREIRA et al., 2003).
Os bacilos Gram negativos não fermentadores (BGNNF) geralmente são
saprófitas na natureza, mas podem causar inúmeras infecções principalmente em
pacientes hospitalizados e com imunidade comprometida. O mais comum não
fermentador isolado em humanos é a P. aeruginosa (FASS et al., 1996). Esse
microrganismo oportunista, é responsável por grande número de infecções hospitalares
adquiridas, sendo isolado com freqüência em pacientes com ventilação mecânica em
UTIs, pacientes com fibrose cística, em casos de pneumonia nosocomial e infecção do
trato urinário (COBBEN, et al., 1996; LABARCA, et al., 1998; DUBOIS et al., 2001),
sendo o segundo patógeno nosocomial mais freqüente, de acordo com o Comité
5
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
Technique des Infections Nosocomiales (CCLIN, 1996). A incidência de internados em
UTI colonizados por P. aeruginosa pode atingir 60% a 70% (STRUELENS, 1998).
O padrão de resistência da P. aeruginosa é variável, dependendo do hospital,
cidade ou país. No Rio de Janeiro, em uma maternidade pública, Loureiro e
colaboradores (2002), detectaram resistência a várias drogas em todos os isolados de P.
aeruginosa de infecção hospitalar. Um dos maiores problemas de resistência encontrado
por Sader e colaboradores (2001) no Rio de Janeiro e Florianópolis computados pelo
Programa de Vigilância Antimicrobiana SENTRY, foi a reduzida sensibilidade da P.
aeruginosa ao imipenem. Na Inglaterra, em um estudo de vigilância realizado em 1999 o
padrão de resistência da P. aeruginosa foi considerado baixo (12%) para todos os
antimicrobianos testados (HENWOOD et al., 2001). Na Alemanha, segundo um estudo
de vigilância realizado entre 1996-1998, a resistência da P. aeruginosa além de alta foi
múltipla, pois apresentou sensibilidade “in vitro” somente à polimixina B (PANZIG et
al., 1999). Na Espanha, para alguns antimicrobianos a resistência foi intermediária, mas
para a maioria foi também considerada baixa, em torno de 17%, com exceção do
aztreonam (23%), ciprofloxacina (23%) e gentamicina (31%) (BOUZA et al., 1999). A
análise de 1.854 isolados de P. aeruginosa da América Latina, sendo 895 isolados
(48,3%) do Brasil, no período de 1997 a 2001 revelaram resistência crescente ao longo
dos anos (ANDRADE et al., 2003).
11..44.. MMEECCAANNIISSMMOOSS DDEE RREESSIISSTTÊÊNNCCIIAA
A resistência aos antimicrobianos pode se desenvolver por vários mecanismos:
(1) a presença de uma enzima que inativa o agente antimicrobiano; (2) a síntese de uma
enzima alternativa que não é inibida pelo agente antimicrobiano; (3) uma mutação no
alvo do agente antimicrobiano, que reduz a afinidade pelo antimicrobiano; (4)
modificação pós-transcripcional ou pós-traducional do alvo do agente antimicrobiano;
(5) redução da permeabilidade ao agente antimicrobiano; (6) efluxo ativo do
antimicrobiano. Além desses, outros mecanismos ainda desconhecidos podem contribuir
para resistência (FLUIT et al., 2001a).
Os principais grupos de antibióticos, seus mecanismos de ação e resistência
estão sintetizados na Tabela 1.
6
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
Tabela 1 Agentes antibacterianos agrupados com base na estrutura química e sítio de ação nas bactérias e mecanismos de resistência apresentados pelas bactérias.
Mecanismos de ação Estrutura química Tipos de antibióticos Exemplos Mecanismos de Resistência Inibidores da síntese da Parede celular
Beta-lactâmicos Ligam-se a enzimas (PBPs) e impedem a ação dessas enzimas nas etapas finais da construção da parede celular
Penicilina e derivados Penicilina associados à inibidores de beta-lactamases Oxacilina/meticilina
Penicilina, Ampicilina, Amoxicilina, piperacilina; Carbenicilina; Ticarcilina Amoxicilina/ácido clavulânico; Ampicilina/sulbactam; piperacilina/tazobactan Oxacilina/meticilina
1. Alteração no sítio alvo Os estafilococos meticilina resistentes sintetizam uma PBP adicional com afinidade muito baixa aos beta-lactâmicos mas com capacidade para continuar a síntese da parede. 2. Alteração no acesso ao sítio alvo Este mecanismo é encontrado nas bactérias Gram negativas, onde os beta-lactamicos acessam o alvo
Cefalosporinas (1ª, 2ª, 3ª e 4ª geração)
Cefalotina; Cefoxitina; Ceftazidima; Cefepime
por difusão através de canais de porinas na membrana externa.
Carbapenens Imipenem; Meropenem; Ertapenem
Mutações nos genes de porinas resultam em diminuição da
Monobactâmicos Aztreonam permeabilidade da membrana externa
Glicopeptídeos Interferem com a síntese da parede celular ao se ligarem ao terminal D-ala-D nas cadeias terminais pentapeptídicas
Teicoplamina ; Vancomicina
3. Produção de betalactamases enzimas que catalizam a hidrólise do anel betalactâmico. Gram positivos liberam betalactamases no ambiente extracelular.
Em Gram negativos, as Betalactamase permanecem no periplasma
Continua
7
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
CCoonnttiinnuuaaççããoo
Mecanismos de ação Estrutura química Tipos de antibióticos Exemplos Mecanismos de Resistência Inibidores da síntese protéica Aminoglicosídios
Interferem com a ligação do formilmetionil-tRNA aos ribossomos
Estreptomicina; Amicacina; Gentamicina; Neomicina; Netilmicina; Tobramicina
1.Produção de enzimas modificadoras dos
aminoglicosídios constituem o mecanismo
mais importante da resistência adquirida.
(Plasmideos)
2.Alteração no sítio-alvo ribossômico; substituição de um aminoácido na proteíma P10 da subunidade 30S impede a ligação da estreptomicina. Bacilos Gram negativos podem apresentar alteração na permeabilidade da parede ou no transporte dependente de energia através da membrana citoplasmática.
Macrolídios
Ligam-se aos ribossomas impedindo a liberação do RNA após a formação da ligação peptídica
Azitromicina; Eritromicina Espiramicina
A resistência ocorre em função de uma alteração no rRNA 23S pela metilação de dois nucleotídeos adenina..
Lincosaminas Clindamicina A enzima metilase é induzida e mediada por plasmídeos
Cloranfenicol Bloqueia a ação da peptidil-transferase impedindo a síntese de ligações peptídicas
Cloranfenicol O mecanismo mais comum da resistência envolve a inativação da droga catalizada pelas acetiltransferases do cloranfenicol. Catalisa a adição de grupamento de acetila à molecula do cloranfenicol que não se liga ao alvo no ribossoma. São enzimas intracelulares, mediadas por plasmídeos, capazes de inativar todo o cloranfenicol no ambiente próximo a célula.
Tetraciclinas Inibem a síntese proteica ao impedir a penetração do RNA aminoacil de transferência nos sítios aceptores nos ribossomas.
Tetraciclinas;Vibramicina Indução da síntese de novas proteínas da membrana citoplasmática são sintetizadas na presença de tetraciclina. A tetraciclina é positivamente eliminada das células resistentes (mecanismo de efluxo)
CCoonnttiinnuuaa
8
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
Continuação
Mecanismos de ação Estrutura química Tipos de antibióticos Exemplos Mecanismos de Resistência Inibidores da síntese de ácidos nucléicos
Sulfonamidas Inibidores da síntese dos precursores do DNA Análogas do ácido para-aminobenzoico; Interferem na síntese de purinas e pirimidinas
Sintéticos Inibidores da síntese dos precursores
Sulfonamidas; Trimetoprim
Genes plasmidiais codificam uma diidropteroato sintetase alterada que apresenta afinidade reduzida para a sulfonamida mas é essencialmente inalterada em sua afinidade para o PABA. Uma célula resistente possui duas enzimas distintas, uma sensível cromossomal e uma resistente plasmidial. A resistência ao trimetoprim é mediada por diidrofolato redutase com afinidade alterada.
Quinolonas Inibidoras da replicação do DNA; Inibem a atividade da DNA girase e impedem o super-enovelamento do cromossoma
Sintéticos Inibidores da replicação do DNA
Ciprofloxacina; Perfloxacina; Norfloxacina; Levofloxacina
Resistência é cromossomal e se apresenta sob duas formas: Alterações na subunidade da estrutura da DNA-girase, com menor afinidade pela droga Alteração na permeabilidade, resultando em menor absorção, podendo levar resistência a outros antimicrobianos não relacionados
Rifampicina
Inibidor da RNA polimerase; bloqueia a síntese do mRNA
Inibidora da RNA polimerase Rifampicina Mutações cromossômicas que alteram a RNA polimerase alvo, que apresenta m enor afinidade pela rifampicina
Função da membrana celular Colimicinas
Agem como detergente e rompem a estrutura fosfolipídica da membrana celular
Polimixicina B Alterações mediadas por genes cromossomais na estrutura da membrana e na absorção do antibiótico.
Ref. Mimscolaboradores (1995)
9
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
Algumas espécies são naturalmente resistentes a alguns grupos de antimicrobianos,
seja por não possuírem o alvo susceptível, ou serem impermeáveis ao agente
antimicrobiano. A resistência pode surgir de uma única mutação cromossômica na célula
bacteriana, resultando na síntese de uma proteína alterada. Na presença dos antimicrobianos
os mutantes espontâneos levam vantagem seletiva, porque sobrevivem e superam em
número a população susceptível (DZIDIC; BEDEKOVIC, 2003).
Os genes que codificam proteínas envolvidas nos mecanismos de resistência podem
estar localizados no cromossomo ou em elementos extracromossômicos como os
plasmídeos e os transposons que se movimentam com facilidade de uma cepa para outra, de
uma espécie a outra ou mesmo de um gênero a outro. Os plasmídeos podem ser portadores
de genes de resistência para até seis drogas diferentes. Geralmente os genes de resistência
são transferidos por conjugação (DZIDIC; BEDEKOVIC, 2003).
O aumento de resistência de vários patógenos a uma variedade de antimicrobianos
tem demandado o desenvolvimento de novos e mais potentes agentes antimicrobianos
(SADER, et al., 2001). Com o aumento da resistência a vigilância começou a ser
reconhecida como necessária, unindo esforços locais, nacionais e internacionais, com
programas multicêntricos de vigilância, monitorando e acompanhando a evolução da
resistência no tempo, bem como desenvolver medidas preventivas (JONES; PFALLER,
1998). No Brasil, o Ministério da Saúde através da Secretaria de Vigilância em Saúde
(SVS) monitora a resistência aos antimicrobianos com o Programa de Monitoramento da
Resistência Antimicrobiana e principalmente no sul e sudeste os programas SENTRY e
MYSTIC também registram dados da resistência.
11..55.. MMEEDDIIDDAASS DDEE CCOONNTTRROOLLEE
A resistência antimicrobiana aumentou rapidamente no Brasil e no mundo durante
os últimos cinco anos, levando à necessidade de programas para monitorar a resistência e
guiar a terapia antimicrobiana empírica (TOSIN et al., 2003). A redução de opções para
tratamento das doenças infecciosas não é só um problema nosocomial, é também um
problema social e de saúde pública. A disseminação da resistência aos antibióticos não é só
relacionada ao uso humano, mas também na agricultura, piscicultura e na alimentação
animal (DIZIDC; BEDEKOVIC, 2003).
10
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
Medidas para prevenir a transferência de genes de resistência, como o aumento de
medidas de higiene e adoção de programas de prevenção da infecção, deveriam ser
empregadas não só nos hospitais, mas também na comunidade (DIZIDC; BEDEKOVIC,
2003).
Programas de prevenção adotados na última década baseados no uso racional dos
antibióticos tem mostrado que, de alguma forma a sensibilidade à determinados
antimicrobianos pode ser restaurada (SANDIUMENGE; RELLO, 2003). Como exemplos
podem ser citados programas que adotaram a redução no uso de cefalosporinas de terceira
geração, imipenem e vancomicina, associado ao aumento do uso de penicilinas de largo
espectro combinado com aminoglicosídios e que resultou na restauração da sensibilidade
bacteriana. Na Finlândia a redução no uso de certos antibióticos, como os macrolídios, em
infecções adquiridas, na comunidade, restaurou a sensibilidade do Streptococcus do grupo
A reduzindo a resistência de 16,5% para 8,6% após 4 anos. Por outro lado, após 20 anos de
retirada da estreptomicina para uso clínico, a sensibilidade em Enterobacteriaceae não foi
restaurada (DZIDIC; BEDEKOVIC, 2003).
Apesar das evidências, ainda são poucos os estudos sobre os efeitos que a rotação de
antibióticos no tratamento de infecções hospitalares acarretam na restauração da
sensibilidade aos antimicrobianos o que não permite uma generalização dos resultados
(SANDIUMENGE; RELLO, 2003).
A prevenção da emergência de cepas resistentes e sua disseminação no ambiente
hospitalar, exige várias medidas profiláticas e de controle que são dependentes do
microrganismo em questão.
A característica do tipo de patógeno e da resistência que ele apresenta é própria de
cada região e mesmo de cada hospital. Assim o primeiro passo para a implementação de um
programa de redução de resistência é o conhecimento ou diagnóstico do problema e para
isto a contribuição do laboratório de bacteriologia é fundamental. O diagnóstico correto do
patógeno e testes padronizados de susceptibilidade aos antimicrobianos são indispensáveis.
O mecanismo da resistência tem que ser bem compreendido pois grupos de
bactérias que se mostram fenotipicamente idênticos, mas diferem genotipicamente,
respondem diferentemente ao método de intervenção (HACEK et al., 1999). A
determinação do genótipo da resistência fornece informações sobre o mecanismo da
11
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
resistência e pode ser necessário para conhecer se ela está relacionada à transmissão de
genes de organismo para organismo, o que exigiria a adoção de restrição ou controle do uso
de antimicrobianos, ou através da disseminação de uma única cepa resistente, tornando
necessárias medidas gerais para controle da infecção hospitalar (TOSIN et al., 2003).
As estratégias a serem adotadas pelos programas para o controle de resistência
antimicrobiana têm que contemplar a escolha do medicamento adequado, a dose e o
intervalo da dosagem. Uma prescrição inadequada pode facilitar a emergência de clones
resistentes. Em concentrações abaixo da concentração inibitória mínima (CIM), os
antimicrobianos exercem uma pressão seletiva sobre os patógenos selecionando os mais
resistentes e alterando a flora residente do paciente (TENOVER, 2001; DIZIDC;
BEDEKOVIC, 2003). Outros aspectos importantes são as medidas de higiene do ambiente,
dos pacientes e da equipe responsável pelo paciente.
A emergência de bactérias multi-resistentes em determinados ambientes
hospitalares, como enfermarias de imunodeprimidos, pode exigir que medidas mais
drásticas sejam adotadas como o isolamento do paciente e profilaxia dos contactantes,
médicos, paramédicos e familiares (DIZIDC; BEDEKOVIC, 2003). O tratamento dos
portadores nasais deve ser associado à medidas de higiene como lavagem das mãos,
enfatizar limpeza do ambiente e escolha adequada dos desinfetantes, pois os
microrganismos também podem desenvolver resistência a eles (BOYCE, 1989; LOWY,
1998).
12
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
22.. JJUUSSTTIIFFIICCAATTIIVVAA
As infecções hospitalares levam a um aumento de morbidade e mortalidade,
elevando também o custo social e econômico, por aumentar o tempo de internamento. A
identificação de cepas bacterianas multi-resistentes aos antimicrobianos, fornecerá
informações necessárias para estabelecimento de um programa de monitoramento para
controle das infecções hospitalares, tanto no que se refere à disseminação de cepas de risco
para as infecções, como para o controle no uso de antimicrobianos.
13
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
33.. PPEERRGGUUNNTTAA CCOONNDDUUTTOORRAA
Qual o perfil de resistência aos agentes antimicrobianos apresentado pelas bactérias
implicadas nos casos de infecção hospitalar no Hospital Universitário Oswaldo Cruz, que
possa fornecer informações para o estabelecimento de medidas para o controle das
infecções hospitalares?
14
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
44.. OOBBJJEETTIIVVOOSS
44..11.. GGEERRAALL
Identificar o padrão da resistência antimicrobiana apresentada pelas bactérias
envolvidas nas infecções no Hospital Universitário Oswaldo Cruz durante o período de
julho de 2002 a junho de 2003.
44..22.. EESSPPEECCÍÍFFIICCOOSS
•• Identificar bactérias presentes em casos de infecção hospitalar;
• Conhecer a distribuição dos isolados, em relação ao local de internamento do paciente e
fonte de material para cultura;
• Identificar a resistência das cepas bacterianas aos antimicrobianos;
• Obter dados para subsidiar à Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) para
o monitoramento das infecções hospitalares.
15
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
55.. PPRROOCCEEDDIIMMEENNTTOOSS MMEETTOODDOOLLÓÓGGIICCOOSS
55..11.. CCRRIITTÉÉRRIIOOSS DDEE IINNCCLLUUSSÃÃOO PPAARRAA CCAARRAACCTTEERRIIZZAAÇÇÃÃOO DDEE IINNFFEECCÇÇÃÃOO
HHOOSSPPIITTAALLAARR
Foram seguidos os critérios para caracterização de infecção hospitalar estabelecidos
na Portaria nº 2.616 /MS/GM, de 12 de maio de 1998 da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (ANVISA) definida da seguinte maneira: “Infecção hospitalar é aquela adquirida
após a admissão do paciente e que se manifeste durante a internação ou após a alta, quando
puder ser relacionada com a internação ou procedimentos hospitalares”.
Segundo a ANVISA o diagnóstico das infecções hospitalares deverá valorizar
informações oriundas de evidência clínica, derivada da observação direta do paciente ou da
análise de seu prontuário; resultados de exames de laboratório, ressaltando-se os exames
microbiológicos e a pesquisa de antígenos; quando, na mesma topografia (sítio anatômico)
em que foi diagnosticada a infecção hospitalar, for isolado um microrganismo diferente,
seguido do agravamento das condições clínicas do paciente; quando se desconhecer o
período de incubação do microrganismo e não houver evidência clínica e ou dado
laboratorial de infecção no momento da admissão; toda manifestação clínica de infecção
que se apresente a partir de 72 horas após a admissão; as infecções manifestadas antes de
72 horas da internação quando associadas a procedimentos diagnósticos invasivos e ou
terapêuticos realizados durante este período. ANVISA (disponível em:
http://www.anvisa.gov.br/legis/portarias/2616, acesso em OUTUBRO 16 de 2002, 13:18).
55..22.. CCRRIITTÉÉRRIIOOSS DDEE EEXXCCLLUUSSÃÃOO PPAARRAA CCAARRAACCTTEERRIIZZAAÇÇÃÃOO DDEE IINNFFEECCÇÇÃÃOO
HHOOSSPPIITTAALLAARR::
Foram excluídos do trabalho os microrganismos isolados dos casos que não ficaram
caracterizados como infecção hospitalar, segundo os critérios adotados pela ANVISA.
55..33.. ÁÁRREEAA DDEE EESSTTUUDDOO
O presente trabalho foi desenvolvido no Hospital Universitário Oswaldo Cruz
(HUOC). O HUOC é um hospital de ensino, vinculado a Universidade de Pernambuco,
conveniada com o SUS. Construído num plano horizontal conta com 342 leitos distribuídos
16
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
nos seguintes pavilhões ou enfermarias: Amaury de Medeiros (AM): Cirurgias Geral e
Transplantes; Júlio de Melo (JM): Clínica Geral e Cardiológica; Carlos Chagas (CCH):
Clínica Pneumológica; Rinaldo de Azevedo (DIP): Doenças Infecciosas e Parasitárias;
Joaquim Cavalcanti (JC): Pré e Pós-operatório Cardíaco Adulto e Infantil; Antônio Figueira
(AF): Pré e Pós-operatório Cardíaco Adulto; José Ribamar (JR): Pré e Pós-operatório
Cardíaco Adulto e Doenças Cardíacas Crônicas; Centro de Oncologia (CEON): Adulto e
Infantil; Emergência Nagib (E-Nagib): Emergência Cardíaca e Pulmonar; UTI-G: Unidade
de Terapia Intensiva Geral; UTI-C: Unidade de Terapia Intensiva Coronariana; Isolamento
Infantil (II): Doenças Infecto-Contagiosas da Infância.
As amostras para as análises foram coletadas dos seguintes materiais: urina, sangue,
catéter, ferida operatória, abscesso, tracto respiratório, líquido ascítico, secreção em geral,
escara, dreno, aspirado de bile, aspirado de líquido do mediastino e hepatoma.
55..44.. PPOOPPUULLAAÇÇÃÃOO DDEE EESSTTUUDDOO
Foi considerado como população de estudo os microrganismos isolados de culturas
realizadas por solicitação médica, em material clínico de pacientes internados e
enquadrados na classificação de portador de infecção hospitalar, segundo os critérios da
ANVISA.
55..55.. PPEERRÍÍOODDOO DDEE EESSTTUUDDOO
Os estudos foram realizados no período entre julho de 2002 e junho de 2003.
55..66.. DDEESSEENNHHOO DDEE EESSTTUUDDOO
Desenho descritivo do tipo série de casos.
55..77.. EELLEENNCCOO DDEE VVAARRIIÁÁVVEEIISS
As variáveis analisadas, relativas aos pacientes e referentes às bactérias estão nas
Tabelas 2 e 3.
17
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
Tabela 2. Variáveis relativas aos pacientes.
Nome da variável
Definição Indicador
Pavilhão Local de internamento do paciente
Número de isolados por pavilhão
Fonte da cultura
Local da coleta da amostra para cultura
Número de isolados por fonte
Infecção hospitalar
Tempo decorrido entre o internamento e a cultura
Considerado caso de infecção hospitalar
Tabela 3. Variáveis referentes às bactérias.
Nome da variável
Definição Indicador
Espécie Identificação quanto à espécie
Freqüência de cada espécie
Morfologia Caracterização quanto à morfologia
Freqüência de cocos Gram positivos e bacilos
Gram negativos
Resistência frente aos
antimicrobianos
Reação de sensibilidade ou resistência
Freqüência de resistência
MDR Classificação das bactérias quanto a múltipla resistência
Freqüência de MDR
55..88.. OORRIIGGEEMM DDAASS IINNFFOORRMMAAÇÇÕÕEESS
As informações referentes às bactérias foram coletadas nos registros do Laboratório
de Microbiologia Dr. Virgílio de Oliveira (HUOC) e as relativas aos pacientes no serviço
de informática do HUOC, (para determinar a data de internação), os outros dados do
paciente pela requisição médica. Para cada microrganismo isolado foi construído um
formulário, com informação relativa ao microrganismo e ao paciente (modelo no anexo I).
A coleta de dados seguiu os procedimentos da rotina normal conforme as regras do
laboratório. Quando a cultura foi positiva, os dados referentes à bactéria e ao paciente
foram registrados no formulário, e a cepa estocada para estudo posterior.
18
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
55..99.. IISSOOLLAAMMEENNTTOO,, IIDDEENNTTIIFFIICCAAÇÇÃÃOO EE MMAANNUUTTEENNÇÇÃÃOO DDAASS CCEEPPAASS
As amostras coletadas dos pacientes internados no HUOC foram semeadas nos
seguintes meios de cultura específicos para isolamento de microrganismos: Blood Ágar
Base (BAB), Ágar chocolate, Ágar Eosina-azul de Metileno (EMB), Ágar Hektoen Enteric
(HE), Ágar MacConkey, Ágar Mueller-Hinton, Ágar Thayer Martin e Brain Heart Infusion
Broth (BHI). Para identificação os microrganismos foram analisados quanto a morfologia,
pela coloração de Gram e submetidos as provas, de: catalase, coagulase, Ágar bile-esculina,
Ágar DNAse, Ágar manitol, novobiocina, bacitracina, optoquina e Camp (para a
identificação dos Gram positivos); glicose, lactose, sacarose, indol, ácido sulfídrico,
produção de gás, motilidade, lisina, citrato, ornitina, oxidase e produção de pigmentos (para
Gram negativos) e complementadas pelo processo automatizado no Mini-Api (BioMerieux-
França). Após identificação as culturas foram preservadas em meio de conservação (10 g/L
extrato de carne, 5 g/L triptona, 5 g/L cloreto de sódio, 12 g/L ágar, pH 7,4) e por
congelamento a - 80ºC em glicerol.
55..1100.. DDEETTEERRMMIINNAAÇÇÃÃOO DDOO PPEERRFFIILL DDEE RREESSIISSTTÊÊNNCCIIAA AAOOSS
AANNTTIIMMIICCRROOBBIIAANNOOSS
O perfil de resistência aos antimicrobianos foi determinado pelo método de difusão
em disco segundo o National Committee for Clinical Laboratory Standards (NCCLS, 1997;
2002; 2003), usando os seguintes antimicrobianos, de acordo com o microrganismo, nas
concentrações descritas: ácido pipemídico (20 µg), ácido nalidíxico (30 µg), amicacina (30
µg), aztreonan (30 µg), cefalotina (30 µg), cefoxitina (30 µg), cefotaxima (30 µg), cefepime
(30 µg), clindamicina (2 µg), cloranfenicol (30 µg), ciprofloxacina (5 µg), eritromicina (15
µg), gentamicina (10 µg), imipenem (10 µg), meropenem (10 µg), moxifloxacina (5 µg),
norfloxacina (10 µg), nitrofurantoina (300 µg), oxacilina (1 µg), penicilina G (10 U),
piperacilina+tazobactam (100/10 µg), polimixina B (300 UI), sulfametoxazol/trimetoprim
(75/23 µg), tetraciclina (30 µg), teicoplanina (30 µg), vancomicina (30 µg) (Oxoid). A
interpretação do halo de sensibilidade/resistência, para cada antimicrobiano, seguiu as
normas do National Committee for Clinical Laboratory Standards (NCCLS, 1997; 2002;
2003).
19
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
Para o controle de qualidade foram utilizadas cepas padrão de Escherichia coli
(ATCC 25922), P. aeruginosa (ATCC 27853), e S. aureus (ATCC 25923). Pelos resultados
do teste de susceptibilidade as culturas foram classificadas em duas categorias: sensíveis
(S), todas as culturas que se mostraram sensíveis pelo método de difusão em disco e
resistentes (R), todos os isolados resistentes e intermediários.
Para a confirmação da resistência do S. aureus à oxacilina/meticilina, usou-se uma
suspensão bacteriana com turvação correspondente a 0,5 McFarland semeada em ágar
Mueller-Hinton, suplementado com 4% de NaCl contendo 6 µg de oxacilina por mililitro.
A oxacilina foi usada por ser mais resistente à degradação durante a armazenagem e
também por possibilitar a detecção de hetero-resistência (CDC, Laboratory detection of
oxacillin/methicillin-resistant Staphylococcus aureus (MRSA), http://www.cdc.gov. Acesso
em 24 out 2003). A presença de crescimento após incubação por 24-48 horas a 35ºC, é
indicativo de resistência. A sensibilidade deste método é de 100% para detecção da
resistência do S. aureus à meticilina e 95% para cepas SCN (CHAMBERS, 1993).
O critério para considerar P. aeruginosa multi-drogas resistente (MDR) foi à
existência de resistência a quatro grupos de antimicrobianos: cefalosporinas,
aminoglicosídios, fluorquinolonas e carbapenens. Foi considerada como resistência
antimicrobiana de alto nível para P. aeruginosa a resistência ao mesmo tempo a seis grupos
de antimicrobianos: cefalosporinas, aminoglicosídios, fluorquinolonas, carbapenens,
sulfa/potencializador e cloranfenicol.
Nesta pesquisa foi considerado MDR em Staphylococcus quando além de resistente
à oxacilina e eritromicina a cultura foi também resistente, a três ou mais dos seguintes
antimicrobianos: clindamicina, ciprofloxacina, gentamicina, sulfametoxazol/trimetoprim e
cloranfenicol segundo estabelecido por Fluit e colaboradores (2001b) e Bell e
colaboradores (2002).
55..1111.. AANNÁÁLLIISSEE EESSTTAATTÍÍSSTTIICCAA
A análise das variáveis foi realizada por cepa isolada. Foram preenchidos
formulários, um para cada isolado, onde constavam dados relativos à bactéria e ao paciente.
A digitação e validação dos dados foram feitas no software EpiInfo versão 6,04. As tabelas
e análise dos dados foram feitos no software SPSS versão 8.0. Realizou-se uma análise de
20
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
consistência a fim de detectar erros que por ventura ainda estivessem presentes no banco de
dados.
Para a análise descritiva, aplicou-se o teste do χ2 (qui-quadrado) com correção de
Yates ou Fisher, para detectar possíveis associações entre as resistências dos
microrganismos mais freqüentes, considerando o nível de significância de 5%.
55..1111..11 IINNDDIICCAADDOORREESS QQUUEE FFOORRAAMM AANNAALLIISSAADDOOSS
• Microrganismo isolado: freqüência dos microrganismos
• Pavilhão: freqüência dos isolados no pavilhão
• Origem dos isolados: freqüência de culturas positivas pela origem dos
isolados
• Resistência da bactéria aos antimicrobianos: freqüência de resistência por
espécie bacteriana
• Bactérias MDR: freqüência das bactérias multi-drogas resistentes pela
origem dos isolados e por pavilhão
21
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
66.. CCOONNSSIIDDEERRAAÇÇÕÕEESS ÉÉTTIICCAASS
66..11.. O projeto “Infecções hospitalares” foi aprovado pelo Comitê de Ética em pesquisa do
HUOC em 24/09/2002 (Anexo II).
66..22.. O projeto “Infecções hospitalares” foi aprovado pelo Comitê de Ética do
CPqAM/FIOCRUZ em 12/11/2002 (Anexo II).
22
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
77.. RREESSUULLTTAADDOOSS
77..11.. DDIISSTTRRIIBBUUIIÇÇÃÃOO DDOOSS IISSOOLLAADDOOSS PPOORR PPAAVVIILLHHÃÃOO EE FFOONNTTEE DDAASS
AAMMOOSSTTRRAASS..
No período de julho de 2002 a junho de 2003, foram obtidos 774 isolados de
microrganismos provenientes de casos de infecção hospitalar no HUOC (Tabela 4), sendo
40 cepas de fungos, 260 de cocos Gram positivos e 474 de bacilos Gram negativos e
bastonetes Gram negativos não fermentadores (BGNNF). Outros 50 isolados, considerados
como perdas, não foi incluído neste estudo por não ter sido possível resgatar os dados
relativos aos pacientes ou pelos casos não se ajustarem aos critérios de infecção hospitalar.
Dentre os isolados, os mais freqüentes foram P. aeruginosa (19,8%), Klebsiella spp
(18,4%), S. aureus (17,1%), SCN (11,9%), E. coli (8,3%), Acinetobacter spp (5,1%) E.
faecalis (3,2%), Pseudomonas não aeruginosa (2,3%), Proteus mirabilis (1,8%) e
Enterobacter spp (1,4%) (Tabela 4). Entre os Gram negativos e BGNNF (61,2% do total
dos isolados), os mais freqüentes foram P. aeruginosa, Klebsiella spp, E. coli,
Acinetobacter spp, Pseudomonas não aeruginosa, Proteus mirabilis e Enterobacter spp.
Dentre os Gram positivos (33,6% do total de isolados), os mais freqüentes foram S. aureus,
SCN e E. faecalis (Tabela 4). Os fungos representando 5,2% dos isolamentos (Tabela 4),
não foram identificados por espécie, porque não era o objetivo desta pesquisa.
Em relação à distribuição dos isolados por pavilhão a maioria foi originada do
Centro de Oncologia (CEON): 194, 25%; Doenças Infecciosas e Parasitárias (DIP): 131,
16,9%; Cirurgia Geral e Transplante (AM): 103, 13,3%; Unidade de Terapia Intensiva
Geral (UTI-G); 89, 11,5%; e Clínica Geral e Cardiologia (JM): 82, 10,5% (Tabela 5).
Quanto à fonte das amostras analisadas, a hemocultura (sangue) forneceu o maior
número de isolados 273 (35,3%), seguido da urina 152 (19,6%), cateter 98 (12,6%),
secreção geral 53 (6,8%); ferida operatória 51 (6,6%) e trato respiratório 50 (6,5%) (Tabela
6).
As tabelas 7 e 8 mostram a distribuição dos principais isolados (P. aeruginosa,
Klebsiella spp, S. aureus e SCN pelas fontes das amostras obtidas para cultura e pelos
pavilhões de internamento dos casos de infecção hospitalar. A Tabela 9 mostra resistência
destes isolados aos antimicrobianos.
23
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
Tabela 4. Distribuição dos isolados de casos de infecção hospitalar no HUOC: julho de
2002 a junho de 2003
Microrganismos Número Percentual
S. aureus 132 17,1 Staphylococcus coagulase negativo (SCN) 92 11,9 Enterococcus faecalis 25 3,2 Streptococcus pyogenes 4 0,5 Streptococcus viridans 2 0,2 Streptococcus pneumoniae 2 0,3 Streptococcus agalactiae 1 0,1 Streptococcus bovis 1 0,1 Streptococcus spp 1 0,1
Total de cocos Gram positivos 260 33,6 Pseudomonas aeruginosa 153 19,8 Klebsiella spp 143 18,4 Escherichia coli 64 8,3 Acinetobacter spp 39 5,1 Pseudomonas spp 18 2,3 Proteus mirabilis 14 1,8 Enterobacter spp 11 1,4 Morganella morgannii 9 1,2 Providencia spp 6 0,8 Citrobacter spp 5 0,6 Serratia marcescens 5 0,6 Salmonella Enteritidis 3 0,4 Salmonella spp 1 0,1 Alcaligenes 1 0,1 Stenotrephomonas maltophila 1 0,1 Edwardsiella spp 1 0,1
Total de bacilos Gram negativos e BGNNF 474 61,2 Total de fungos 40 5,2 Total de isolados 774 100,0
BGNNF – bacilos Gram negativos não fermentadores
24
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
Tabela 5. Distribuição dos isolados por pavilhão no HUOC: julho de 2002 a junho de
2003.
Pavilhões Número Percentual
Centro de Oncologia (CEON) 194 25,0 Doenças Infecciosas e Parasitárias (DIP) 131 16,9 Cirurgia Geral e Transplantes (AM) 103 13,3 Unidade de Terapia Intensiva Geral (UTI-G) 89 11,5 Clínica Geral de Cardiologia (JM) 82 10,5 Outros 175 22,6 Total 774 100,0
Tabela 6. Distribuição dos isolados pela origem das amostras analisadas no HUOC: julho
de 2002 a junho de 2003.
Origem dos isolados Número Percentual
Sangue (hemocultura) 273 35,3 Urina 152 19,6 Cateter 98 12,6 Secreção geral 53 6,8 Ferida operatória. 51 6,6 Origem respiratória 50 6,5 Liquido ascítico 33 4,3 Abscesso 25 3,2 Dreno 11 1,4 Bile 9 1,2 Líquido de mediastino 7 0,9 Escara 6 0,8 Secreção peritoneal 4 0,5 Fragmento de hematoma 1 0,1 Líquido hepático 1 0,1 Total 774 100,0
25
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
Tabela 7. Distribuição dos principais isolados pelas fontes da cultura no HUOC: julho de 2002 a junho de 2003.
P.aeruginosa Klebsiella
spp
S. aureus SCN Fontes da cultura
N (%) N (%) N (%) N (%) Sangue (hemocultura) 35 (22,8) 28 (19,5) 46 (34,8) 72 (78,3) Urina 40 (26,1) 44 (30,7) 2 (1,5) - Cateter 21 (13,7) 18 (12,5) 29 (22,0) 13 (14,1) Ferida operatória 10 (6,5) 11 (7,7) 15 (11,4) 2 (2,2) Abscesso 5 (3,3) 4 (2,8) 7 (5,3) - Líquido ascítico 5 (3,3) 5 (3,5) 5 (3,8) 3 (3,3) Secreção Geral 13 (8,5) 6 (4,2) 16 (12,1) 1 (1,1) Escara 3 (2,0) 1 (0,7) - - Dreno 3 (2,0) 3 (2,1) 1 (0,8) - Bile 1 (0,6) 4 (2,8) - - Líquido do mediastino 4 (2,6) 1 (0,7) - - Trato respiratório 13 (8,5) 15 (10,4) 10 (7,6) 1 (1,1) Outros - 3 (2,1) 1 (0,8) - Total 153 (100,0) 143 (100,0) 132 (100,0) 92 (100,0)
NT – não testado; % percentual de resistência; SCN – Staphylococcus coagulase negativa
26
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
Tabela 8. Distribuição por pavilhão dos mais freqüentes microrganismos no HUOC: julho de 2002 a junho de 2003
P. aeruginosa Klebsiella spp
S. aureus SCN E. coli OUTROS TOTAL Pavilhões
n % n % n % n % n % n % n %
Cirurgia geral e transplantes (AM)
22 21,4 28 27,2 9 8,7 - - 15 14,6 29 28,1 103 100
Clínica geral e cardiológica (JM)
9 10,9 16 19,5 14 17,0 - - 11 13,4 32 39,1 82 100
Clínica pneumológica (CCH)
10 23,2 9 20,9 10 23,2 - - 4 9,4 10 23,2 43 100
Doenças infecciosas e parasitárias (DIP)
32 24,4 14 10,7 25 19,1 21 16,0 - - 39 29,8 131 100
Unidade terapia intensiva geral (UTI-G)
23 28,3 15 18,5 14 17,3 - - 6 7,4 23 28,3 81 100
Unidade terapia intensiva coronariana (UTI-C)
6 18,8 5 15,6 6 18,8 7 21,8 - - 8 25,0 32 100
Centro de oncologia (CEON)
37 19,0 29 14,9 30 15,5 33 17,0 - - 65 33,5 194 100
n – número; % percentual de isolados; SCN - Staphylococcus coagulase negativo
27
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
Tabela 9. Resistência aos antimicrobianos apresentada pelos isolados mais freqüentes no HUOC: julho de 2002 a junho de 2003
Grupos de antimicrobianos Antimicrobianos P.aeruginosa %
Klebsiella spp %
S. aureus %
SCN %
Fluorquinolonas Norfloxacina 64,7 19,0 34,4 39,3 Ciprofloxacina 63,2 15,4 33,1 33,3 Moxifloxacina NT NT 10,2 7,9 Aminoglicosídios Amicacina 65,4 18,9 39,4 44,4 Gentamicina 69,3 24,5 36,6 47,3 Ureidopenicilina/inibidor de β-lactamase Piperacilina/tazobactam 25,9 23,1 39,1 41,7 Cefalosporinas Cefalotina NT 73,4 NT NT Cefoxitina NT 67,1 NT NT Ceftazidima 86,8 54,5 NT NT Cefepime 65,3 35,7 NT NT Carbapenens Imipenem 56,9 4,2 40,9 44,6 Meropenem 57,6 3,5 39,1 44,3 Sulfa/potencializador Sulfametoxazol/trimetoprim NT 64,3 35,5 40,0 Cloranfenicol Cloranfenicol NT 52,4 34,1 52,7 Monobactâmico Aztreonam 8,7 NT NT NT Colimicinas Polimixina B 0 NT NT NT Penicilinas
Penicilina G Oxacilina (penicilina semi-sintética)
NT NT
NT NT
68,2 40,2
76,1 45,7
Macrolídios Eritromicina NT NT 49,6 48,9 Tetraciclinas Tetraciclina NT NT 43,8 24,2 Lincomicinas Clindamicina NT NT 46,2 58,0 Glicopeptídios Teicoplamina NT NT 0 0 Vancomicina NT NT 0 0 NT – não testado; % percentual de resistência; SCN – Staphylococcus coagulase negativa
28
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
A comparação da resistência aos antimicrobianos por trimestre, apresentada pela P.
aeruginosa, não apresentou diferença significativa, enquanto que a Klebsiella spp revelou
diferença significativa em relação a resistência ao cloranfenicol (p=0,015). Quanto ao S.
aureus também, não foi observada diferença significativa na resistência durante o ano do
estudo quando observado por trimestre. Dados apresentados nas Tabelas 10, 11, 12.
Tabela 10. Distribuição da resistência apresentada pela P. aeruginosa aos antimicrobianos
por períodos, durante um ano: julho/2002 a junho/2003.
Antimicrobianos Trimestres do ano Significância
JUL a SET OUT a DEZ JAN a MAR ABR a JUN p-valor
2002 2002 2003 2003 Piperacilina/tazobactam 14,3 19,1 31,7 29,5 0,4517 Imipenem 33,3 51,8 63,4 61,7 0,2855 Cefalotina 100 100 97,6 100 * Meropenem 33,3 50,9 65,9 63 0,1808 Cefoxitina 100 100 97,6 100 * Norfloxacina 50 62,5 72,5 63 0,5733 Cefotaxima 100 85,7 82,5 89,4 0,5036 Ciprofloxacina 55,6 62,5 69 61,9 0,8772 Cefepime 77,8 61,8 63,4 75 0,6501 Sulfametoxazol/trimetoprim 75,0 86,8 69 89,1 0,1022 Cloranfenicol 77,8 81,8 87,2 100 0,0250 Gentamicina 66,7 67,9 75,6 66 0,7776 Amicacina 77,8 66,1 63,4 63,8 0,8631 Aztreonan 22,2 9,3 7,3 6,7 0,4899 Polimixina B 0 0 0 0 *
29
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
Tabela 11. Distribuição da resistência apresentada pela Klebsiella spp aos antimicrobianos
no período durante um ano: julho/2002 a junho/2003.
Antimicrobianos Trimestres do ano Significância
JUL a SET OUT a DEZ JAN a MAR ABR a JUN p-valor 2002 2002 2003 2003
Piperacilina/tazobactam 33,3 27,5 28,9 11,1 0,3034 Imipenem 8,3 5,6 2,2 3,1 0,7323 Cefalotina 75 70,4 68,9 56,3 0,4986 Meropenem 0 5,6 2,2 3,2 0,7227 Cefoxitina 75 70,4 68,9 56,3 0,4986 Norfloxacina 36,4 22,2 20,0 6,3 0,1153 Cefotaxima 75 55,6 57,8 40,6 0,1920 Ciprofloxacina 33,3 22,2 14,3 6,7 0,1391 Cefepime 50 45,1 44,4 18,2 0,3712 Sulfametoxazol/trimetoprim 83,3 64,7 65,6 54,8 0,3720 Cloranfenicol 83,3 62,0 52,3 34,4 0,0150 Gentamicina 41,7 29,6 17,8 18,8 0,2257 Amicacina 16,7 29,4 6,7 21,9 0,0429
Tabela 12. Distribuição da resistência apresentada pela S. aureus aos antimicrobianos por
períodos, durante um ano: julho/2002 a junho/2003.
Antimicrobianos Trimestres do ano Significância
JUL a SET OUT a DEZ JAN a MAR ABR a JUN p-valor 2002 2002 2003 2003
Piperacilina/tazobactam 50,0 42,1 34,5 57,7 0,3560 Imipenem 41,7 42,4 34,5 43,8 0,8832 Meropenem 41,7 42,4 31,0 39,3 0,7791 Norfloxacina 25 34,5 31,0 40,6 0,7613 Ciprofloxacina 16,7 33,9 31,6 38,7 0,5845 Sulfametoxazol/trimetoprim 33,3 35,6 33,3 37,5 0,9896 Cloranfenicol 33,3 37,3 24,1 37,5 0,6335 Gentamicina 33,3 35,6 37,9 38,7 0,9834 Amicacina 41,7 39,3 37,9 40 0,9965 Teicoplanina 0 0 0 0 - Vancomicina 0 0 0 0 - Moxifloxacina 8,3 7,0 10,3 16,7 0,5613 Tetraciclina 25,0 49,2 55,6 30,0 0,1002 Clindamicina 58,3 42,4 44,8 50,0 0,7372 Penicilina G 75,0 76,3 55,2 62,5 0,1890 Oxacilina 41,7 40,7 34,5 43,8 0,9013 Eritromicina 45,5 50,8 42,9 54,8 0,8105
30
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
77..22.. RREESSIISSTTÊÊNNCCIIAA NNOOSS PPRRIINNCCIIPPAAIISS IISSOOLLAADDOOSS
77..22..11.. PPsseeuuddoommoonnaass aaeerruuggiinnoossaa
Foi encontrado alto padrão de resistência das amostras de P. aeruginosa à maioria
dos antimicrobianos testados (Tabela 9), principalmente às cefalosporinas de terceira
geração com 86,8%. Para a cefalosporina de quarta geração (cefepime) a resistência foi
65,3%.
Em 1,3% dos isolados foi encontrada resistência a todos os antimicrobianos testados
com exceção da polimixina B (colimicinas) para qual foi encontrada 100% de
sensibilidade. Para o aztreonam (monobactâmico) a sensibilidade foi 91,3% e apenas 8,7%
de resistência (Tabela 9).
Setenta dos 153 isolados de P. aeruginosa (45,7%) revelaram-se como MDR e 24
isolados (15,7%) apresentaram um perfil de resistência de alto nível. A tabela 13 mostra a
distribuição de P. aeruginosa MDR por pavilhão. Foi observada resistência cruzada em
vários isolados de P. aeruginosa mostrada na tabela 14.
77..22..22.. KKlleebbssiieellllaa sspppp
O padrão de resistência antimicrobiano foi considerado variável entre 143 isolados
de Klebsiella spp (Tabela 9). Os carbapenens foram os compostos mais ativos, imipenem
(4,2% de resistência) e o meropenem (3,5% de resistência); as fluorquinolonas e os
aminoglicosídios ainda apresentaram baixo nível de resistência “in vitro”, enquanto que as
cefalosporinas apresentaram níveis decrescentes de resistência em relação à geração a que
pertencem: 73,4% < 67,1% < 54,5% < 35,7% (Tabela 9). Todos os isolados resistentes à
ceftazidime (cefalosporina de 3ª geração) apresentaram também alta resistência à
gentamicina, sulfametoxazol/trimetoprim, ciprofloxacina e aminacina e baixo nível de
resistência ao imipenem (Tabela 15).
31
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
Tabela 13. Distribuição de P. aeruginosa MDR por pavilhões, no HUOC: julho de 2002 a
junho de 2003.
Pavilhões Número Percentual
Doenças Infecciosas e Parasitárias (DIP) 21 30,0 Centro de Oncologia (CEON) 14 20,0 Unidade de Terapia Intensiva Geral (UTI-G) 13 18,6 Cirurgia Geral e Transplantes (AM) 12 17,1 Clínica Geral e Cardiologia (JM) 4 5,7 Clínica Pneumológica (CCH) 2 2.9 Unidade Terapia Intensiva Coronariana (UTI-C) 2 2,9 Isolamento Infantil, Doenças Infecto Contagiosas (II) 1 1,4 Pré e Pós Operatório Cardíaco, Adulto e Infantil (JC) 1 1,4
Total 70 100,0
7.2.3. SSttaapphhyyllooccooccccuuss aauurreeuuss
Não foi detectada resistência aos glicopeptídios (vancomicina e teicoplanina) por S.
aureus no período estudado. O maior nível de resistência encontrado foi para a penicilina
com 68,2%, e o menor foi para a moxifloxacina, 10,2% (Tabela 9).
A resistência do S. aureus à oxacilina/meticilina (MRSA) foi 40,2% (Tabela 9),
destes MRSA 44 isolados (83,0%) tinham perfil de MDR. Os isolados MRSA foram mais
freqüentes no pavilhão de Doenças Infecciosas e Parasitárias (DIP) com percentual de
26,4% (Tabela 16). Dos isolados de S. aureus obtidos de cateter, 55,1% foram resistentes à
meticilina.
A tabela 17 mostra a resistência de MSSA e MRSA à eritromicina, clindamicina,
ciprofloxacina, gentamicina, sulfametoxazol/trimetoprim e cloranfenicol.
77..22..44.. SSttaapphhyyllooccooccccuuss ccooaagguullaassee nneeggaattiivvoo ((SCN)
Em SCN não foi detectada resistência aos glicopeptídios (vancomicina e
teicoplanina) no período estudado.
A resistência à meticilina/oxacilina apresentada pelo SCN foi de 45,7% e a
resistência à penicilina foi de 76,11% (Tabela 9).
Entre os 13 isolados de SCN obtidos a partir de catéter, representando 14,1% de
todos os isolados (Tabela 7), 24,2% apresentaram-se como MDR.
3332
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
Tabela 14. Percentual de resistência cruzada em isolados de P. aeruginosa, no HUOC: julho de 2002 a junho de 2003.
Antimicrobiano Imipenem Gentamicina Ciprofloxacin Piperacilina/Tazobactam
n % n % n % n % Norfloxacina 85 98,9 103 93,2 84 100,0 33 93,9 Ciprofloxacina 74 98,6 91 93,4 86 _____ 35 94,3 Amicacina 87 95,4 106 93,4 86 95,3 36 91,7 Gentamicina 87 100,0 106 _____ 86 98,8 36 94,4 Aztreonan 86 4,7 105 11,4 85 11,8 36 11,4 Polimixina B 86 0 104 0 84 0 35 0 Cefalotina 86 100,0 105 100,0 85 100,0 36 100,0 Cefoxitina 86 100,0 105 100,0 85 100,0 36 100,0 Cefotaxima 86 98,8 105 96,2 85 87,3 35 100,0 Cefepime 70 94,3 88 83,0 72 83,3 27 92,6 Meropenem 86 100,0 105 81,9 85 84,7 36 91,7 Imipenem 87 _____ 106 82,1 86 84,9 36 88,9 Piperacilina/tazobactam 79 40,5 96 35,4 77 42,9 36 _____
n = número de amostras testadas; % = percentual de resistência
33
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
Tabela 15. Comparação do percentual de Klebsiella spp resistentes a ceftazidima
(cefalosporinas de terceira geração) e sua resistência a outras drogas, no HUOC: julho de
2002 a junho de 2003.
Antimicrobianos Número Percentual
Gentamicina 78 39,7 Imipenem 78 7,7 Amicacina 78 33,3 Sulfametoxazol/trimetoprim 67 85,1 Ciprofloxacin 67 25,4
Tabela 16. Distribuição de MRSA por pavilhões, no HUOC: julho de 2002 a junho de
2003.
Pavilhões Número Percentual
Doenças Infecciosas e Parasitárias (DIP) 14 26,4 Clínica Geral e Cardiologia (JM) 9 17,0 Unidade de Terapia Intensiva Geral (UTI-G) 8 15,1 Centro de Oncologia (CEON) 6 11,3 Cirurgia Geral e Transplantes (AM) 5 9,4 Unidade de Terapia Intensiva Coronariana (UTI-C) 4 7,5 Pré e Pós Operatório Cardíaco Adulto (AF) 2 3,8 Clínica Pneumológica (CCH) 2 3,8 Pré e Pós Operatório Cardíaco Adulto e Infantil (JC) 1 1,9 Emergência Cardíaca e Pulmonar (ENagib) 1 1,9 Pré e Pós Operatório Cardíaco e Crônico (JR) 1 1,9 Total 53 100,0
Tabela 17. Distribuição dos percentuais de MRSA e MSSA em relação a resistência a
outras drogas, no HUOC: julho de 2002 a junho de 2003.
Antimicrobianos MRSA MSSA SCN-MR SCN-MS
Eritromicina 100,0 13,9 88,1 14,0 Clindamicina 96,2 12,7 90,5 26,0 Ciprofloxacina 76,6 1,3 59,5 8,0 Gentamicina 83,0 5,1 73,8 24,0 Sulfametoxazol/trimetoprim 73,6 5,1 64,3 18,0 Cloranfenicol 73,6 7,6 83,3 26,0 MRSA – Staphylococcus aureus resistente à meticilina; MSSA – Staphylococcus aureus sensível à -meticilina; SCN - Staphylococcus coagulase negativo; MR – meticilina resistente; MS – meticilina sensível.
34
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
8. DISCUSSÃO
O aumento da morbidade e mortalidade decorrente das infecções hospitalares está
diretamente relacionado às cepas bacterianas multi-resistentes uma vez que as infecções
causadas por bactérias resistentes são mais difíceis de tratar, devido à redução da
disponibilidade de drogas eficazes (SADER et al., 2001; DZIDIC; BEDEKOVIC, 2003).
A identificação correta dos microrganismos e a determinação da resistência aos
antimicrobianos poderá fornecer informações necessárias para o controle das infecções
hospitalares, que possibilite subsidiar o estabelecimento de um programa de monitoramento
do uso de antimicrobianos e da disseminação de cepas MDR. Diante disto, no período de
julho de 2002 a junho de 2003, foram estudados 774 isolados provenientes de casos de
infecção hospitalar no HUOC, sendo 61,2% representados por bacilos Gram negativos,
33,6% por cocos Gram positivos e 5,2% por fungos.
Os isolados mais freqüentes no pavilhão Centro de Oncologia (CEON) foram: P.
aeruginosa (19%), SCN (17%), S. aureus (15,5%) e Klebsiella spp (14,9%). Neste pavilhão
tem alta concentração de pacientes com imunodepressão e submetidos à procedimentos
invasivos como o catéter central, tratados com quimioterápicos, que reduz a imunidade a
níveis mínimos, tornando-os mais susceptíveis às infecções.
No pavilhão de Doenças Infecciosas e Parasitárias (DIP), os isolados mais
freqüentes foram: P. aeruginosa (24,4%), S. aureus (19,1%), SCN (16%), e Klebsiella spp
(10,7%), nesse pavilhão encontram-se pacientes sedados, entubados, fazendo uso de
hemodiálise, com patologias diversas como: tétano, leptospirose, meningite, HIV e outras
doenças infecciosas, o que também compromete a imunidade.
No pavilhão de Clínica Geral e Cardiologia (JM), os isolados mais freqüentes
foram: Klebsiella spp (19,5%), S. aureus (17%) e P. aeruginosa (10,9%), neste pavilhão
estão os pacientes crônicos com longa permanência hospitalar, com as mais variadas
doenças de base.
O pavilhão AM recebe pacientes de cirurgia geral e transplantados, neste pavilhão
os isolados mais freqüentes foram: Klebsiella spp (27,2%), P. aeruginosa (21,4%) e S.
aureus (8,7%), que exigem procedimentos de alta complexidade e longa permanência
hospitalar, e medicamentos imunossupressores.
35
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
A Clínica de Pneumologia (CCH), apresentou como isolados mais freqüentes P.
aeruginosa e S. aureus com 23,2% e Klebsiella spp 20,9%. A Unidade de Terapia Intensiva
Geral (UTI-G) apresentou P. aeruginosa (28,3%), Klebsiella spp (18,5%), S. aureus
(17,3%). A Unidade de Terapia Intensiva Coronariana (UTI-C) apresentou P. aeruginosa e
S. aureus (18,8%) e Klebsiella spp (15,6%).
O S. aureus foi um dos mais freqüentes isolados, ocupando o primeiro lugar
juntamente com a P. aeruginosa no CCH e UTI-C, sendo o segundo mais freqüente no JM,
DIP e CEON, e o terceiro mais freqüente na UTI-G.
A P. aeruginosa foi mais freqüente no DIP, UTI-G e CEON, no CCH e UTI-C que
juntamente com o S. aureus foram os mais freqüentes. A Klebsiella spp só apresentou o
primeiro lugar no AM e JM.
Com estes dados pode-se fazer comparações com estudos futuros, ao observar os
patógenos mais freqüentes em cada pavilhão.
Em relação à origem dos isolados a maior fonte foi o sangue (hemocultura), seguido
da urina e do cateter. O cateter venoso é a causa mais freqüente de infecção por SCN
(VIEDMA et al., 2000), por abrir uma porta para entrada de microrganismos e favorecer a
aderência dos microrganismos produtores de biofilme (TAN et al., 1994; STEWART;
COSTERTON, 2001; FERRETTI et al., 2003). Nas hemoculturas o percentual de
microrganismos Gram positivos foi levemente maior que o dos Gram negativos e fungos. O
estafilococo coagulase negativo (SCN) foi o isolado mais freqüente seguido do S. aureus,
entre os 13 isolados de SCN obtidos a partir de catéter, representando 14,1% de todos os
isolados (Tabela 7), 24,2% apresentaram-se como MDR. Vários fatores como o uso de
cateter vesical, necessidades fisiológicas e banhos no leito predispõem os pacientes
hospitalizados à infecção urinária. Nesses pacientes são freqüentes as infecções por bacilos
Gram negativos de origem fecal e ambiental. No período do nosso estudo, foram isolados a
partir da cultura de urina, 44 dos 143 isolados de Klebsiella spp e 40 dos 153 isolados de P.
aeruginosa.
As infecções hospitalares são agravadas pela resistência dos microrganismos aos
antimicrobianos. Os isolados provenientes de infecção hospitalar no HUOC, no período
estudado, apresentaram resistência a vários antimicrobianos. Chamou atenção, sobretudo, a
resistência apresentada pelos isolados mais freqüentes em infecções nosocomiais como:
36
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
SCN, S. aureus, P. aeruginosa e Klebsiella spp, que se mostraram resistentes a múltiplos
antimicrobianos e muitos sendo considerados como MDR. Uma bactéria é considerada
multi-resistente quando desenvolve resistência a um ou mais grupos de antimicrobianos aos
quais era considerada sensível. Estes antimicrobianos atuam como marcadores de multi-
resistência e são distintos para cada microrganismo (ÁLVAREZ-LERMA et al., 2002).
O acompanhamento da resistência apresentada pela P. aeruginosa, S. aureus, e
Klebsiella spp aos antimicrobianos, por trimestre do ano, não revelou diferenças exceto em
relação a Klebsiella spp que apresentou um aumento significativo da sensibilidade ao
cloranfenicol (1,5%) (Tabelas 9, 10, e 11). No entanto, consideramos que o período de um
ano é insuficiente para produção de diferenças significativas, na ausência de uma política
de uso racional de antimicrobianos.
A P. aeruginosa, espécie oportunista e ambiental, é o mais comum não fermentador
implicado nas infecções humanas, isolada freqüentemente em vários locais no mundo
(SADER et al., 2001; ANDRADE et al., 2003; GALES et al., 2003; FASS et al., 1996). No
presente trabalho a P. aeruginosa apresentou perfil de resistência muito alto em relação à
maioria dos antimicrobianos refletindo os múltiplos mecanismos de resistência deste
importante patógeno hospitalar.
As cefalosporinas terceira e quarta geração foram às drogas para as quais a P.
aeruginosa apresentou maior percentual de resistência.
A P. aeruginosa apresentou perfil de MDR em 45,7% (70 isolados) do total de 153
isolados de P. aeruginosa, considerando-se como critério de multi-drogas- resistência, a
resistência ao mesmo tempo a quatro grupos de antimicrobianos: cefalosporinas,
aminoglicosídios, fluorquinolonas e carbapenens. Resistência de “Alto nível” foi
apresentada por 15,7% (24 isolados), compreendida como a resistência a seis grupos de
antimicrobianos não relacionados: cefalosporinas, aminoglicosídios, fluorquinolonas,
carbapenens, sulfa/potencializador e cloranfenicol. Em dois isolados (1,3%) foi encontrada
resistência a todos os antimicrobianos testados com exceção da polimixina B (colimicinas)
para qual foi encontrada 100% de sensibilidade.
Foi observada resistência cruzada entre imipenem e norfloxacin, ciprofloxacina,
gentamicina, ceftazidima e meropenem; e entre a ciprofloxacin e norfloxacin e
gentamicina. Quando houve resistência à piperacilina/tazobactam apresentou resistência
37
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
também a ceftazidima. A resistência cruzada observada na P. aeruginosa dificulta o
tratamento das infecções.
A Klebsiella spp apresentou alto percentual de resistência às cefalosporinas, de
primeira, segunda, terceira e quarta geração. A diferença do percentual de resistência entre
as cefalosporinas de primeira geração (cefalotina) e a de quarta geração (cefepime) foi de
37,7%. Este resultado comprova que quanto menos usada, mais eficaz é a droga e as
bactérias são mais sensíveis a ela, como é o caso das cefalosporinas de quarta geração
sintetizadas mais recentemente.
A resistência à ceftazidima (cefalosporina de terceira geração) foi apresentada por
54,5% dos isolados de Klebsiella spp, a ceftazidima funciona como sentinela para β-
lactamases de espectro estendido (ESBL) em Klebsiella spp e indica resistência a todas as
cefalosporinas. Mendes e colaboradores (2000) utilizando cepas provenientes de pacientes
internados em UTI em São Paulo e Florianópolis em 1998-1999, usando o programa de
vigilância antimicrobiana “MYSTIC” detectaram percentual de 59,2% de K. pneumoniae
produtora de ESBL, concluindo que o alto grau de resistência a vários antimicrobianos e
taxa alarmante da produção de beta-lactamase podem restringir a escolha terapêutica. As
cefalosporinas de terceira geração são consideradas indutoras de resistência aos β-
lactâmicos (YATES, 1999). No nosso trabalho, os isolados de Klebsiella spp que
apresentaram resistência às cefalosporinas de terceira geração apresentaram resistência de
alto nível também a gentamicina, sulfametoxazol/trimetoprim, ciprofloxacin e amicacina,
sugerindo a existência de vários mecanismos de resistência. No Brasil o padrão de ESBL é
muito mais alto que em outras partes do mundo (SADER, et al 2001).
A Klebsiella spp apresentou baixa resistência às drogas do grupo carbepenem,
sendo classificadaa como droga mais ativa. A sensibilidade apresentada ao grupo do
carbepenem é devido ao fato destas drogas serem estáveis à hidrólise pelas β-lactamases e
ao pequeno tamanho da molécula, que facilita a penetração através da membrana externa da
bactéria (MENDES, et al., 2000). A resistência praticamente nula, aos carbepenens também
foi mostrada anteriormente (2001-2002), na Espanha, por Marin e Gudiol (2003).
A resistência a meticilina/oxacilina apresentada pelos cocos Gram positivos é um
problema mundial, com variações locais. No presente estudo o S. aureus
meticilina/oxacilina resistente (MRSA) foi encontrado em todos os pavilhões do HUOC,
38
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
porém mais freqüentemente, no pavilhão de Doenças Infecciosas e Parasitárias (DIP) com
um percentual de 26,4%, no pavilhão JM, de Clínica Geral e Cardiologia (17,0%) e na UTI
geral a freqüência de MRSA foi de 15,1%. Dos S. aureus obtidos de cateter 55,1% foram
resistentes a meticilina/oxacilina.
Uma característica dos MRSA é que apresentam determinantes de resistência
também a vários outros antimicrobianos, o que dificulta o tratamento (FLUIT et al., 2001b).
No HUOC, os isolados MSSA apresentaram resistência variando de 13,9% à eritromicina a
1,3% à ciprofloxacina, percentual muito mais baixo quando comparado com os MRSA que
apresentaram níveis de resistência bem mais altos 100% a eritromicina e 73,6% ao
cloranfenicol e sulfametoxazol/trimetoprim. Sugerindo que os isolados MRSA tem
determinantes de resistência a várias outras drogas. A alta resistência ao cloranfenicol
chama atenção pela sua pouca utilização devido as discrasias sanguíneas que provoca.
O maior nível de resistência encontrado nos isolados de S. aureus do HUOC foi à
penicilina (68,2%), provavelmente devido à facilidade de transferência dos plasmídeos que
contêm os genes que conferem resistência à penicilina (CHAMBERS et al 2001). Por outro
lado a droga que apresentou menor perfil de resistência foi a moxifloxacina (10,2%), que
está em uso há pouco tempo.
Mundialmente, a resistência apresentada pelo S. aureus à oxacilina/meticilina é
bastante variada. O sistema de vigilância antimicrobiana SENTRY (FLUIT et al., 2001;
BELL et al., 2002) detectou de 5,0% a 69,8% de resistência à oxacilina no período de 1998
a 1999 em vários paises da Ásia, Europa, África e Oceania. No presente trabalho a
ocorrência de MRSA (40,2%) no HUOC foi levemente mais elevada que a registrada nas
cidades de Rio de Janeiro, Florianópolis, São Paulo e Porto Alegre (34,0%) em um estudo
de vigilância do programa SENTRY durante 1997-1998 (SADER et al., 2001).
O poder patogênico do S. aureus associado à limitação da disponibilidade de
antibiótico eficaz e a disseminação das cepas resistentes mostram a necessidade de ações
para o controle desse patógeno na infecção hospitalar e uma política de uso racional dos
antimicrobianos.
O Staphylococcus coagulase negativo (SCN), antes considerado como flora
residente da pele e das mucosas é atualmente um problema, principalmente em pacientes
imunodeprimidos, nos quais se faz uso de cateter vascular. O SCN, acumula genes de
39
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
resistência a vários antimicrobianos, em percentual às vezes maior que o S. aureus. Quando
resistente à meticilina/oxacilina, pode acumular determinantes de resistência a praticamente
todos os antimicrobianos, e se constitui importante agente de infecções nosocomiais (RUPP
et al., 1994). Do total de isolados SCN (n=92) a resistência à meticilina/oxacilina foi de
45,7% e destes 78,5% foram MDR.
No presente trabalho o SCN foi mais freqüentemente (35,9%) isolado no pavilhão
do Centro de Oncologia (CEON) provavelmente relacionado com o uso do cateter central
para infusão de quimioterápicos e agravado pela depressão do sistema imunológico do
paciente. Dos isolados de SCN, originados de cateter, 62,0% foram resistentes à
meticilina/oxacilina e 25,2% deles, tinham característica de MDR.
No nosso estudo não foi detectada resistência aos glicopeptídeos (vancomicina e
teicoplamina) entre os isolados de estafilococos coagulase negativa (SCN) ou S. aureus. No
entanto estas drogas devem ser usadas com cautela, pois juntamente com os β-lactâmicos
atuando sinergicamente induzem resistência à vancomicina (TENOVER, 2001).
Outro aspecto a ser destacado é o isolamento do E. faecalis (3,2% do total dos
isolados) durante o período do estudo. O E. faecalis é intrínsicamente resistente a vários
antimicrobianos. Os isolados obtidos no presente estudo não apresentaram resistência à
vancomicina e teicoplamina. A resistência à vancomicina pelo E. faecalis (VRE) detectada
na Europa e EUA desde 1980 (REIS et al., 2001), é um achado recente no Brasil. O
aumento de E. faecalis resistente à vancomicina é problema grave devido: (1) ao alto nível
de resistência apresentado por este microrganismo, (2) por serem capazes de adquirir
determinantes de resistência capazes de conferir resistência a todos os antimicrobianos
correntemente usados e (3) possibilidade de transferência de genes de resistência à
vancomicina para outros microrganismos Gram positivos (SHEPARD; GILMORE, 1999).
São reconhecidos como principais fatores de risco, para desenvolvimento de VRE, o uso de
antimicrobianos de amplo espectro, uso de vancomicina e imunossupressão (YATES,
1999).
Cumpre referir o isolamento recente (31/12/2003) de uma cepa de E. faecalis
resistentes à vancomicina, no HUOC, em um paciente transplantado, com imunossupressão
(dados não mostrados). Este achado ilustra a necessidade de cuidados redobrados em se
40
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
tratando desse microrganismo, pois essa resistência pode ser trasmitida por conjugação a
outros cocos, através de plasmídeos ou transposons (TENOVER, 2001).
Programas de controle da resistência aos antimicrobianos já são adotados por vários
países; entre as medidas de vigilância, a triagem dos pacientes que são internados, para
identificar os portadores de S. aureus, isolá-los e tratá-los antes do contato com outros
pacientes, parece ser a mais eficaz. Na Holanda esse programa foi implantado há dez anos,
e o percentual de MRSA está abaixo de 1,0%. Este baixo padrão pode ser atribuído às
medidas de controle de infecção hospitalar adotadas (VERHOEF, 2001).
Tendo sido constatada a resistência aos antimicrobianos no HUOC e conhecendo-se
a relação entre resistência e uso de antimicrobianos devido à pressão seletiva das drogas
sobre as bactérias, recomenda-se o monitoramento contínuo da resistência para subsidiar a
adoção de mudanças na prescrição das drogas principalmente quando for necessário iniciar
o tratamento antes dos resultados do antibiograma. Medidas reforçadas de higiene como
lavagem das mãos, limpeza do ambiente e tratamento dos portadores assintomáticos, além
do isolamento de pacientes portadores de patógenos com perfil de multi-drogas resistência,
devem ser implementadas para diminuir a disseminação de microrganismos resistentes.
Estas medidas podem reduzir o tempo de internamento, as taxas de morbidade e
mortalidade e conseqüentemente os custos relacionados com antimicrobianos, exames
laboratoriais, profissionais de saúde e tratamento dos pacientes.
41
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
99.. CCOONNCCLLUUSSÃÃOO
• Foram detectadas mais de 20 espécies de microrganismos, no período de um ano
(julho de 2002 a junho de 2003), relacionados com infecção hospitalar no Hospital
Universitário Oswaldo Cruz, predominando a P. aeruginosa (19,8%), seguida de
Klebsiella spp (18,4%), S. aureus (17,1%) e SCN (11,9%).
• O maior número de isolados foi proveniente de hemoculturas.
• A resistência aos antimicrobianos foi maior em P. aeruginosa, Klebsiella spp e S.
aureus.
• A P. aeruginosa apresentou MDR 45,7% dos isolados, resistência de alto nível
15,7%, e nível extremamente alto de resistência 1,3% dos isolados.
• A Klebsiella spp apresentou alto nível de resistência às cefalosporinas de terceira
geração (54,5%) sentinela para ESBL.
• A resistência à meticilina apresentada pelo S. aureus foi de 40,2% dos isolados,
sendo 83% dos MRSA MDR, além de determinantes de resistência adicionais a
outras drogas.
• Tendo sido constatada a resistência aos antimicrobianos no HUOC e conhecendo-se
a relação entre resistência e uso de antimicrobianos devido à pressão seletiva deles
sobre as bactérias, recomenda-se o monitoramento da resistência para subsidiar a
adoção de mudanças na prescrição das drogas quando for necessário ser iniciar o
tratamento da antes do antibiograma.
• Medidas reforçadas de higiene como lavagem das mãos, limpeza do ambiente e
tratamento dos portadores assintomáticos, além do isolamento de pacientes
portadores de patógenos com perfil de multi-drogas resistência, devem ser
implementadas para diminuir a disseminação de microrganismos resistentes.
• Essa conduta pode reduzir o tempo de internamento, as taxas de morbidade e
mortalidade e consequentemente os custos relacionados com antimicrobianos,
exames laboratoriais, profissionais de saúde e tratamento dos pacientes.
42
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
10. MEDIDAS SUGERIDAS
• Rápida identificação dos isolados resistentes;
• Isolamento e tratamento de pacientes portadores de patógenos resistentes;
• Monitoramento das fossas nasais e orofaringe da equipe das enfermarias para detectar
possíveis portadores de patógenos resistentes;
• Rodízio de antimicrobianos.
• Recomenda-se o prosseguimento do estudo de acompanhamento da resistência aos
antimicrobianos, a intervalos regulares de tempo, para detectar possíveis mudanças nos
padrões de resistência.
43
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ÁLVARES-LERMA, F.; GUILLERMO, M.G.; PONT, M.J.P.; EIXARCH, E. T.
Efetividad del aislamiento de contato en el control de bacterias multirresistentes en un
servicio medicina intensiva. Enfermidades Infecciosas Microbiologia Clinica, v. 20, n.
02, p. 57-63, 2002.
ANDRADE, S.S.; JONES, R.N.; GALES, A.C.; SADER, H.S. Increasing prevalence of
antimicrobial resistance among Pseudomonas aeruginosa isolates in Latin American
medical centres: 5 years report of the SENTRY antimicrobial surveillance program (1997-
2001). Journal of Antimicrobial Chemotherapy, v. 52, p. 140-141, 2003.
ANVISA Disponível em:<http://www.anvisa.gov.br/legis/portarias/2616 Acesso em 16
out., 2002, 13:18.
BELL, J.M.; TURNIDGE, J.T.; SENTRY. High prevalence of oxacillin-resistant
Staphylococcus aureus isolates from hospitalized patients in Asia-Pacific and South Africa:
results from SENTRY antimicrobial Surveillance Program, 1998-1999. Antimicrobial
Agents and Chemotherapy, v. 46, n.3, p. 879-881, 2002.
BOUZA, E.; GARCIA-GARROTE, F.; CERCENADO, E.; MARIN, M.; DIAZ, M.S.
Pseudomonas aeruginosa: a survey of resistance in 136 hospitals in Spain. Antimicrobial
Agents and Chemotherapy, v. 43, n. 4, p. 981-982, 1999.
BOYCE, J.M. Methicillin-resistant Staphylococcus aureus. Detection, epidemiology and
control mesures. Infectious Diseases Clinical North America, v. 3, p. 901-913, 1989.
BRADFORD, P.A. Extended-spectrum B-lactamases in the 21st Century: characterization,
epidemiology, and detection of this important resistance threat. Journal Clinical
Microbiology Reviews , v. 14 n. 4, p. 933-951, 2001.
44
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
CDC, Antimicrobial resistance - MRSA./Methicillin Resistant Staphylococcus aureus
Disponível em <http://www.cdc.gov. Acesso em 24 out. 2003.
CDC, Laboratory detection of oxacillin/methicillin-resistant Staphylococcus aureus.
Disponível em <http://www.cdc.gov. Acesso em 24 out. 2003.
CESPEDES, C.; MILLER, M.; QUAGLIARELLO, B.; VAVAGIAKIS, P.; KLEIN, R.S.;
LOWY, F.D. Differences between Staphylococcus aureus isolates from medical and
nonmedical hospital personnel. Journal of Clinical Microbiology, v. 40, n. 7, p.2594-
2597, 2002.
CHAMBERS, H.F. Detection of methicillin resistant staphylococci. Infectious Diseases
Clinical North America, v. 7, p. 425-433, 1993
CHAMBERS, H. F. Methicillin resistance in Staphylococci: Molecular and biochemical
basis and clinical implications. Journal of Clinical Microbiology Reviews. v. 10, n. 4, p.
781-791, 1997.
CHAMBERS, H.F. The changing epidemiology of Staphylococcus aureus? Emerging
Infectious Diseases, Special Issue, v. 7, n. 2, p. 178-182, 2001.
CHANG, M.R.; CARVALHO, N.C.P.; OLIVEIRA, A.L.L.; MONCADA, P.M.F.;
MORAES, B.A.; ASENSI, M.D. Surveillance on pediatric infections in a teaching hospital
in Mato Grosso do Sul, Brazil. The Brazilian Journal of Infectious Diseases and Context
Publishing, v. 7, n. 2, p. 149-160, 2003.
COBBEN, N.A.; DRENT, M.; JONKERS, M.; WOUTERS, E.F.; VANEECHOUTTE, M.;
STOBBERINGH, E.E. Outbreak of severe Pseudomonas aeruginosa respiratory infections
due to contaminated nebulizers. Journal of Hospital Infection, v. 33, p. 63-70, 1996.
45
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
COMITÉ TECHNIQUE DES INFECTIONS NOSOCOMIALES, Cellule infections
nosocomiales, CCLIN est, CCLIN Ouest, CCLIN Paris-Nord, and C. Sud-Ouest. Enquete
nationale de prevalence des infections nosocomiales. Epidemiology. Hebd. v. 36, p. 161-
163, 1996.
DUBOIS, V.; ARPIN, C.; MELON, M.; MELON, B.; ANDRE, C.; FRIGO, C.;
QUENTIN, C. Nosocomial outbreak due to a multiresistant strain of Pseudomonas
aeruginosa P12: efficacy of cefepime-amikacin terapy and analysis of beta-lactam
resistance. Journal of Clinical Microbiology, v. 39, n. 6, p. 2072-2078, 2001.
DZIDIC, S.; BEDEKOVIC, V. Horizontal gene transfer emerging multidrug resistance in
hospital bacteria. Acta Pharmacologica Sinica, v. 24, n. 6, p. 519-526, 2003.
FASS, R.J.; BARNISHAN, J.; SOLOMON, M.C.; AYERS, L.W. In vitro activities of
quinolones, β-lactams, tobramycin, and trimethoprim-sulfamethoxazole against
nonfermentative Gram-negative bacilli. Antimicrobial Agents and Chemotherapy, v. 40,
n.6, p.1412-1418, 1996.
FERREIRA, R.B.R.; IORIO, N.L.P.; MALVAR, K.L.; NUNES, A.P.F.; FONSECA, L.S.;
BASTOS, C.C.R.; SANTOS, K.R.N. Coagulase-negative staphylococci: comparison of
phenotypic and genotypic oxacillin susceptibility tests and evaluation of the agar screening
test by using different concentrations of oxacillin. Journal of Clinical Microbiology, v.
41, n. 8, p. 3609-3614, 2003.
FERRETTI, G.; MANDALA, M.; COSIMO, S.D.; MORO, C.; CURIGLIANO, G.;
BARNI, S. Catheter-related bloodstream infections, part 1: pathogenesis, diagnosis, and
management. Journal Infections in Oncology, v. 9, n. 6, p. 513-523, 2002.
FLUIT, A.D.C.; VISSER, M.R.; SCHMITZ, F.J. Molecular detection of antimicrobial
resistance. Clinical Microbiology Reviews, v. 14, n.4, p. 836-871, 2001a
46
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
FLUIT, A.C.; WIELDERS, C.L.C.; VERHOEF, J.; SCHMITZ, F.J. Epidemiology and
susceptibility of 3,051 Staphylococcus aureus isolates from 25 university hospitals
participating in the European SENTRY study. Journal of Clinical Microbiology. v. 46, n.
10, p. 3727-3732, 2001b.
GALES, A.C.; MENEZES, L.C.; SILBERT, S.; SADER, H.S. Dissemination in distinct
brazilian regions of an epidemic carbapenem-resistant Pseudomonas aeruginosa producing
SPM metallo-β-lactamase. Journal of Antimicrobial Chemotherapy, v. 52, p. 699-702,
2003.
GENÇER, S.; ÖZNUR, A.K.; BENZONANA, N.; BAT, A.; ÖZER, S. Susceptibility
patterns and cross resistances of antibiotics against Pseudomonas aeruginosa in teaching
hospital of Turkey. Annals of Clinical Microbiology and Antimicrobials, p.1-4, 2002.
HACEK, D.M.; SURIANO, T.; NOSKIN, G.A.; KRUSZYNSKI, J.; REISBERG, B.;
PETERSON, L. R. Medical And economic benefit of a comprehensive infection control
program that includes routine determination of microbial clonality. American Journal of
Clinical Pathology, v. 111, p. 647-654, 1999.
HENWOOD, C.J.; LIVERMORE, D.M.; JAMES, D.; WARNER, M. Antimicrobial
susceptibility of Pseudomonas aeruginosa: results of a UK survey and evaluation of the
British Society for antimicrobial chemotherapy disc susceptibility test. Journal of
Antimicrobial Chemotherapy, London, n. 47, p. 789-799, 2001.
JONES, R. N.; PFALLER, M. Bacterial resistance: a world wide problem. Diagnostic
Microbiology and Infectious Disease, v. 31, p. 379-388, 1998.
JONES, R. N.; MASTERTON, R. Determining the value of antimicrobial surveillance
programs. Diagnostic Microbiology and Infectious Disease, v. 41, p. 171-175, 2001.
JUMBE, N.; LOUIE, R.; LEARY, R.; LIU, W.; DEZIEL, M.R.; TAM, V.H.;
BACHHAWAT, R.; FREEMAN, C.; KAHN, J.B.; BUSH, K.; DUDLEY, M.N.; MILLER,
47
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
M.H.; DRUSANO, G.L. Application of a mathematical model to prevent in vivo
amplification of antibiotic-resistant bacterial populations during therapy. The Journal of
Clinical Investigation, New Jersey, v. 112, n. 2, p. 275-285, 2003.
LABARCA, J.A.; PEQUES, D.A.; WAGAR, E.A.; HINDLER, J.A.; BRUCKNER, D.A.
Somethings rotten: a nosocomial outbreak of malodorous Pseudomonas aeruginosa.
Clinical Infectious Diseases, v.26, p. 1440-1446, 1998.
LOUREIRO, M.M.; MORAES, B.A.; QUADRA, M.R.R.; PINHEIRO, G.S.; SUFFYS,
P.N.; ASENSI, M.D. Molecular epidemiology of methicillin resistant Staphylococcus
aureus isolated from newborns in a hospital in Rio de Janeiro Brazil. Memórias do
Instituto Oswaldo Cruz.v.95, n. 6, p. 777-782, 2000.
LOUREIRO, M.M.; MORAES, B.A.; MENDONCA, V.L.F.; QUADRA, M.R.R.;
PINHEIRO, G.S.; ASENSI, M.D. Molecular epidemiology of extended-spectrum beta-
lactamase-producing Klebsiella pneumoniae isolated from neonatal intensive care unit
patients involved in hospital infection cases in Rio de Janeiro city, Brazil. Revista Latino
Americana de Microbiologia, v. 43, n. 2, p. 88-95, 2001.
LOUREIRO, M.M.; MORAES, B.A.; QUADRA, M.R.R.; PINHEIRO, G.S.; ASENSI,
M.D. Study of multi-drug resistant microorganims isolated from blood cultures of
hospitalized newborns in Rio de Janeiro city, Brazil. The Brazilian Journal of
Microbiology, v. 33, p. 73-78, 2002.
LOWY, F.D. Antimicrobial resistance: the example of Staphylococcus aureus. Journal
Clinical Investigation (JCI), v. 111, p. 1265-1273, 2003.
LOWY, F.D. Staphylococcus aureus infections. New England Journal of Medicine , v.
339, p. 520-532, 1998.
48
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
MARÍN, M.; GUDIOL, F. Antibióticos betalactámicos. Journal Enfermedades
Infecciosas y Microbiologia Clinica, v.21, n. 01, p. 42-55, 2003.
MENDES, C.; HSIUNG, A.; KIFFER, C.; OPLUSTIL, C.; SINTO, S.; MÍMICA, I.;
ZOCCOLI, C. e grupo de estudos MYSTIC. Avaliação da atividade in vitro de nove
antimicrobianos contra cepas bacterianas isoladas em pacientes de unidade intensiva no
Brasil: programa de vigilância antimicrobiana ‘MYSTIC”. The Brazilian Journal of
Infectious Diseases, v. 4, n. 5, p. 236-244, 2000.
MIMS, C.A.; PLAYFAIR, J. H. L.; ROITT, I. M.; WAKELIN, D. ;WILLIANS, R.
Microbiologia Médica, 1º edição, ed Manole, p. 1-1 a 39-18, a. 1995.
MIRAGAIA, M.; COUTO, I.; PEREIRA, S.F.F.; KRISTINSSON, K.G.; WESTH, H.;
JARLOV, J.A ; CARRIÇO, J.; ALMEIDA, J.; SANTOS-SANCHES, I.; LENCASTRE, H.
Molecular characterization of methicillin-resistant Staphylococcus epidermidis clones:
evidence of geographic dissemination. Journal of Clinical Microbiology, v.40, n.2, p.
430-438, 2002.
NATIONAL COMMITEE FOR CLINICAL LABORATORY STANDARDS,
Performance Standards for Antimicrobial Testing; Twelfth Informational
Supplement. Vol.22 Nº1 Replaces M100-SII Vol.21 Nº I . 2002.
NATIONAL COMMITEE FOR CLINICAL LABORATORY STANDARDS,
Performance Standards for Antimicrobial Testing; Twelfth Informational M-100-S13,
2003.
NATIONAL COMMITTEE FOR CLINICAL LABORATORY STANDARDS,
Performance Standards for Antimicrobial Susceptibility Testing Document M7-A4.
Villanova, PA: NCCLS, 1997.
49
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
OLIVEIRA, C. A.; TOMASZ, A.; LENCASTRE, H. Screts of success of a human
pathogen: molecular evolution of pandemic clones of meticillin-resistant Staphylococcus
aureus. The Lancet Infectious Diseases - Review, v. 2, p. 180-189, 2002.
PANZIG, B.; SCHRODER, G.; PITTEN, F.A.; GRUNDLING, M. A large outbreak of
multresistant Pseudomonas aeruginosa in north-eastern Germany. Journal of
Antimicrobial Chemotherapy, Greifswald, n. 43, p. 415-418, 1999.
REIS, A.O.; CORDEIRO, J.C.; MACHADO, A.M.; SADER, H.S. In vitro antimicrobial
activity of linezolid tested against vancomycin-resistant enterococci isolated in brasilian
hospital. Brazilian Journal of Infectious Diseases, v. 5, n. 5, p. 243-251, 2001.
RUPP, M.E.; ARCHER, G.L. Coagulase-negative staphylococci: pathogens associated with
medical progress. Clinical Infectious Diseases, v. 19, p. 231-243, 1994.
SADER, H.S.; JONES, R.N.; GALES, A.C., et al. Antimicrobial susceptibility of patterns
for pathogens isolated from patients in Latin American medical centers with a diagnosis of
pneumonia: Results from the SENTRY Antimicrobial Surveillance Program (1997).
Diagnostic Microbiology and Infectious Disease, v. 32, p. 289-301, 1998.
SADER, H.S.; SAMPAIO, J.L.M.; ZOCCOLI, C.; JONES, R.N. Results of the SENTRY.
Antimicrobial surveillance program results in three Brazilian medical centers for 1997.
Brazilian Journal of Infectious Diseases, v. 3, p. 63-79, 1999.
SADER, H.S.; GALES, A.C.; PFALLER, M.A.; MENDES, R.E.; ZOCCOLI, C.; BARTH,
A.; JONES, R.N. Pathogen frequency and resistance patterns in brazilian hospitals:
summary of results from three years of the SENTRY antimicrobial surveillance program.
Brazilian Journal of Infectious Diseases, v. 5, p. 200-214, n. 4, 2001.
50
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
SHEPARD, B.D.; GILMORE, M.S. Identification of aerobically and anaerobically induced
genes in Enterococcus faecalis by random arbitrarily primed PCR. Applied and
Enviromental Microbiology, v. 65, n. 4, p. 1470-1476, 1999.
SANDIUMENGE, A.; RELLO, J. Rotación cíclica de antibióticos: es oro todo lo que
reluce? Enfermidades Infecciosas Microbiologia Clinica, v. 21, n. 2, p. 93-100, 2003.
STEWART, P.S.; COSTERTON, J.W. Antibiotic resistance of bacteria in biofilms.
Lancet, n. 358, p 135-138, 2001.
STRUELENS, M.J. Strategie d investigation em cas d´épidémie à Pseudomonas
aeruginosa et Stenotrophomonas maltophilia, Médical Mal Infectious Spécial, v. 28, p.
102-108, 1998.
SWARTZ, M.N. Hospital acquired infections: diseases with increasingly limited therapies.
Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America
(PNAS), v. 91, n. 7, p. 2420-2427, 1994.
TAN, T.Q.; MUSSER, J.M.; SHULMAN, R.J.; MASON Jr, E.O.; MAHONEY Jr, D.H.;
KAPLAN, S.L. Molecular epidemiology of coagulase-negative Staphylococcus blood
isolates from neonates with persistent bacteremia and children with central venous catheter
infections. Journal Infectious Diseases, n.169, p.1393-1397, 1994.
TEIXEIRA, L.A; RESENDE, C.AF.R.; ORMONDE, L.R. Geographic spread of epidemic
multiresistant Staphylococcus aureus clone in Brazil. Journal Clinical Microbiology, v.
33, p. 2400-2404, 1995.
TENOVER, F. C. Development and spread of bacterial resistance to antimicrobial agents:
on overview. Clinical Infectious Diseases, v. 33, n. 5, p. 108-115, 2001.
51
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
TOSIN, I.; SILBERT, S.; SADER, H.S. The use of molecular typing to evaluate the
dissemination of antimicrobial resistance among Gram-negativo rods in brazilian hospitals.
The Brazilian Journal of Infectious Diseases, v. 7, n 6, p. 360-369, 2003.
VERHOEF, J. Stopping short the spread of methicillin-resistant Staphylococcus aureus.
Canadian Medical Association or its Licensors (CMAJ), v. 165, n. 1, p. 31-32, 2001.
VIEDMA, DARIO GARCIA.; RABADAN, PABLO MARTIN.; DIAZ, M.;
CERCENADO, E.; BOUZA, E. Heterogeneous antimicrobial resistance patterns in
polyclonal populations of coagulase-negative Staphylococcus isolated from catheters.
Journal of Clinical Microbiology, v. 38, n. 4, p. 1359-1363, 2000.
YATES, R.R. New intervention strategies for reducing antibiotic resistance. Emerging
Resistance and Therapeutic Options (CHEST) supplement, v. 115, n. 3, p.25S-27S,
1999.
52
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
ANEXO I
(questionário)
53
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
FORMULÁRIO “PADRÃO DE RESISTÊNCIA ANTIMICROBIANA DE CASOS DE INFECÇÕES
NOSOCOMIAIS NO RECIFE, PERNAMBUCO, BRASIL, 2002-2003”
11..NNoommee ddoo ppaacciieennttee____________________________________________________________________________
2. Data da cultura:_______________________________________
3.Pavilhão: AM ( ), JM ( ), CCH ( ), DIP ( ), II ( ), UTI G ( ), UC ( ), JC ( ), AF ( ),
JR ( ), CEON ( ), UTI CARD. ( ), E. Nagib( )
4.Número de registro no HUOC________________Nº caderno_____
5.Sítio anatômico: Sangue ( ), Urina ( ), Ferida operatória ( ), Abscesso ( ),
Cateter ( ), Aspirado ( ), OUTROS______________________
6.Espécie identificada: __________________________________________________
7. Doença de base: Cardíaca ( ), Pulmonar ( ), DIP ( ), Neoplasias ( ),
Transplantes ( ), Outras______________________________
8. Utilização de procedimento invasivo: SIM( ) NÃO( )
9. Qual o procedimento invasivo:
Sonda urinária ( ), Cateter vascular ( ), Cirurgia ( ), Entubação ( ),
Resp. assist.( ), Sonda nasog. ( ), Aspiração ( ), Alimentação parenteral ( ), Quimioterápicos ( ), Marcapasso ( ), Anestesia ( ) Outros__________________
10. Data de admissão ______________________________
11. Data de alta.__________________________________
12. Caso de Infecção Hospitalar?_____________________
13. ANTIBIOGRAMA:
1. Ac. Pipemidico ( ) 11. Piperac./Taz. ( ) 21. Imipenem ( )
2. Ac. Nalidixico ( ) 12. Cefalotina ( ) 22. Meropenem ( )
3. Nitrofurantoina ( ) 13. Cefoxitina ( ) 23. Teicoplanina ( )
4 . Norfloxacina ( ) 14. Cefotaxima ( ) 24. Vancomicina ( )
5. Ciprofloxacina ( ) 15. Cefepime ( ) 25. Sulfa-trim ( )
6. Levofloxacina ( ) 16. Cloranfenicol ( ) 26. Tetraciclina ( )
7. Gentamicina ( ) 17. Clindamicina ( ) 27. Linezolida ( )
8. Amicacina ( ) 18. Penicilina G ( ) 28. Aztreonan ( )
9. Amoxilina/Ac. ( ) 19. Oxacilina ( ) 29. Gatifloxacina ( )
10. Ampicilina ( ) 20. Eritromicina ( ) 30. Polimixina B ( )
S-SENSÍVEL R- RESISTENTE X-NÃO TESTADO
54
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
ANEXO II
(Comitê de Ética)
55
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
56
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
57
Vilela, M.A. Padrão de resistência antimicrobiana de casos de infecções nosocomiais...
ARTIGO
1
Perfil de resistência antimicrobiana de isolados em casos de infecções nosocomiais em
Recife, Pernambuco, Brasil
M. A. Vilela1,2, C.L.N. Cabral2, C.F. Luna1, A. Almeida1, N.C. Leal1 1Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães/FIOCRUZ, Recife, Pernambuco, Brasil, 2Laboratório de Microbiologia da Universidade de Pernambuco, Recife, Pernambuco,
Brasil.
EEnnddeerreeççoo ppaarraa ccoorrrreessppoonnddêênncciiaa::
Nilma Cintra Leal
Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães/FIOCRUZ, Av. Morais Rego s/n, Campus da
UFPE, Recife – Pernambuco, Brasil.
CEP 50670-420
E-mail: nilma@cpqam.fiocruz.br
2
Objetivo: Determinar a freqüência e o perfil de resistência aos antimicrobianos dos
microrganismos associados à infecção nosocomial em um grande hospital universitário com
várias especialidades médicas para subsidiar o controle dessas infecções.
Métodos e resultados: Foram analisadas 774 amostras de microrganismos isolados no
período de julho de 2002 a junho de 2003, envolvidos em infecção hospitalar. A
identificação dos microrganismos e os testes de sensibilidade aos antimicrobianos foram
realizados pelos procedimentos de rotina laboratorial. Os dados obtidos foram analisados
pelo programa EpiInfo. Os principais isolados por ordem de freqüência foram
Pseudomonas aeruginosa, Klebsiella spp, Staphylococcus aureus e Staphylococcus
coagulase negativa originados de amostras de sangue, urina e catéter, de pacientes dos
pavilhões do Centro de Oncologia (CEON), Doenças Infecciosas e Parasitárias (DIP),
Cirurgia Geral e Transplantes (AM), Unidade de Terapia Intrensiva Geral (UTI) e Clínica
Geral e Cardiologia (JM).
Conclusões e impacto do estudo : O conhecimento do perfil de resistência aos
antimicrobianos apresentado pelas bactérias isoladas de casos de infecção hospitalar no
HUOC servirá para subsidiar o estabelecimento de um programa de monitoramento do uso
de antimicrobianos para impedir a disseminação de cepas MDR e o controle da infecção
hospitalar no HUOC.
3
IINNTTRROODDUUÇÇÃÃOO
A resistência antimicrobiana é um problema mundial de saúde pública, com
características específicas de cada região e é um agravante do tratamento das infecções
hospitalares. A resistência apresentada pelos microrganismos associada aos procedimentos
invasivos da assistência médica moderna, como uso do catéter vascular, entubação para
ventilação mecânica, transfusão de sangue, nutrição parenteral, imunossupressores,
aumentam significativamente o risco de infecções, colocando os contaminantes hospitalares
em contato direto com a porta de entrada no paciente. Esse aspecto é mais grave quando se
trata de pacientes com baixa imunidade, como ocorre nos transplantados, pelo uso de
imunossupressores, nos neoplásicos em função da quimioterapia, em pacientes idosos pelas
mudanças fisiológicas próprias da idade e nos aidéticos nos quais as infecções são
freqüentes (Swartz, 1994; Dubois et al., 2001; Luzarro et al., 2001; Alvares-Lerma et al.,
2002).
A freqüência de microrganismos isolados em infecções hospitalares varia de região
para região, no entanto Staphylococcus aureus e Staphyloccoccus coagulase negativa
(SCN) resistentes à meticilina, e a vários outros antimicrobianos (MRSA-MDR) (Sader et
al., 2001; Teixeira et al., 1995; Soares et al., 1997), Enterobacteriaceae resistente às
cefalosporinas, produtoras de betalactamases de amplo espectro (ESBL) (Luna et al., 2001)
e Pseudomonas aeruginosa multi-drogas resistentes (MDR) (Sader et al., 2001; Harris et
al., 2002; Gongulur et al., 2003) estão sempre presentes.
O propósito deste trabalho foi estudar durante um ano os microrganismos isolados
de casos de infecção hospitalar para obter subsídios para o monitoramento dessas infecções.
4
MATERIAL E MÉTODOS
Casuística
Foram analisados 774 isolados obtidos de casos de infecção hospitalar no Hospital
Universitário Oswaldo Cruz (HUOC), Recife, Pernambuco, Brasil, no período de julho de
2002 a julho de 2003.
O HUOC conta com 342 leitos distribuídos nos seguintes pavilhões ou enfermarias:
Amaury de Medeiros (AM): Cirurgias geral e Transplantes; Júlio de Melo (JM): Clínica
Geral e Cardiologia; Carlos Chagas (CCH): Clínica Pneumológica; Doenças Infecciosas e
Parasitárias Dr. Rinaldo Azevedo (DIP), possui uma unidade de terapia intensiva; Joaquim
Cavalcanti (JC): Pré e Pós-operatório Cardíaco Adulto e Infantil; Antônio Figueira (AF):
Pré e Pós-operatório Cardíaco Adulto; José Ribamar (JR): Pré e Pós-operatório Cardíaco
Adulto e Doenças Cardíacas Crônicas; Centro de Oncologia (CEON): Adulto e Infantil;
Emergência Nagib (E-Nagib): Emergência Cardíaca e Pulmonar; Unidade de Terapia
Intensiva Geral (UTI-G); UTI-C: Unidade de Terapia Intensiva Coronariana; Isolamento
Infantil (II): Doenças Infecto Contagiosas da Infância.
Os casos foram caracterizados como provenientes de infecção hospitalar segundo
critérios estabelecidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) na
portaria 2.616 de 12 de maio de 1998.
Os isolados foram identificados pelos métodos bacteriológicos clássicos e
complementados pelo processo automatizado no Mini-Api (BioMerieux-França).
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em pesquisa do HUOC em 24 de
setembro de 2002 e pelo Comitê de Ética do Centro de Pesquisas Aggeu
Magalhães/FIOCRUZ em 12 de novembro de 2002.
Testes de susceptibilidade
O perfil de resistência aos antimicrobianos foi determinado pelo método de difusão
em disco segundo o National Committee for Clinical Laboratory Standards (NCCLS, 1997;
2002; 2003), usando como controles Escherichia coli (ATCC 25922), Pseudomonas
aeruginosa (ATCC 27853), e Staphylococcus aureus (ATCC 25923). As drogas usadas e as
respectivas concentrações nos discos foram as seguintes: amicacina (30 µg), aztreonan (30
µg), cefalotina (30 µg), cefoxitina (30 µg), cefotaxima (30 µg), cefepime (30 µg),
5
clindamicina (2 µg), cloranfenicol (30 µg), ciprofloxacina (5 µg), eritromicina (15 µg),
gentamicina (10 µg), imipenem (10 µg), meropenem (10 µg), moxifloxacina (5 µg),
norfloxacina (10 µg), oxacilina (1 µg), penicilina G (10 U), piperacilina/tazobactam
(100/10 µg), polimixina B (300 UI), sulfametoxazol/trimetoprim (75/23 µg), tetraciclina
(30 µg), teicoplanina (30 µg), vancomicina (30 µg), (Oxoid). A interpretação e leitura do
antibiograma seguiu as normas do National Committee for Clinical Laboratory Standards
(NCCLS, 1997; NCCLS, 2002).
Para a confirmação da resistência do Staphylococcus à oxacilina uma suspensão das
bactérias com turvação correspondente a 0,5 da escala McFarland foi semeada em ágar
Mueller-Hinton, suplementado com 4% NaCl contendo 6 µg de oxacilina por mL. O
crescimento bacteriano após 24-48 horas de incubação a 35ºC, é indicativo de resistência.
Análise epidemiológica dos pacientes e isolados
Para cada isolado caracterizado como agente de infecção hospitalar foi preenchido
um formulário com dados do paciente: nome, número de registro no HUOC, data de
internamento, data da cultura, pavilhão de internamento, espécime enviado para cultura
(sangue, urina, ferida operatória, abscesso, aspirado brônquico, cateter e outros), e
características do isolado como: espécie bacteriana, classificação quanto ao Gram,
resistência aos antimicrobianos, perfil de MDR, para cada isolado.
Análise Estatística
Os dados foram registrados no software Epi-Info versão 6.04, as tabelas e análise
dos dados foram feitos no software SPSS versão 8.0. Para análise descritiva das variáveis
aplicou-se o teste do χ2 (qui-quadrado) com correção de Yates ou Fischer, considerando o
nível de significância de 5%. A freqüência das variáveis foi feita por cepa isolada.
RREESSUULLTTAADDOOSS
No período de julho de 2002 a junho de 2003, foram obtidos 774 isolados de
microrganismos provenientes de casos de infecção hospitalar no HUOC (Tabela 1), sendo
40 cepas de fungos, 260 de cocos Gram positivos e 474 de bacilos Gram negativos e
bastonetes Gram negativos não fermentadores (BGNNF). Outros 50 isolados, considerados
6
como perdas, não foram incluídos neste estudo por não ter sido possível resgatar os dados
relativos aos pacientes ou pelos casos não se ajustarem aos critérios de infecção hospitalar.
Dentre os isolados, os mais freqüentes foram Pseudomonas aeruginosa (19,8%),
Klebsiella spp (18,4%), S. aureus (17,1%), SCN (11,9%), E. coli (8,3%), Acinetobacter spp
(5,1%) Enterococcus faecalis (3,2%), Pseudomonas não aeruginosa (2,3%), Proteus
mirabilis (1,8%) e Ent erobacter spp (1,4%) (Tabela 1). Entre os Gram negativos (61,2% do
total dos isolados), os mais freqüentes foram P. aeruginosa, Klebsiella spp, E. coli,
Acinetobacter spp, Pseudomonas não aeruginosa, Proteus mirabilis e Enterobacter spp.
Dentre os Gram positivos (33,6% do total de isolados), os mais freqüentes foram S. aureus,
SCN e E. faecalis (Tabela 1). Os fungos representando 5,2% dos isolamentos (Tabela 1)
não foram identificados por espécie, porque não era o objetivo desta pesquisa.
Em relação à distribuição dos isolados por pavilhão a maioria foi do Centro de
Oncologia (CEON): 194, 25%; Doenças Infecciosas e Parasitárias (DIP): 131, 16,9%;
Cirurgia Geral e Transplante (AM): 103, 13,3%; Unidade de Terapia Intensiva Geral (UTI-
G); 89, 11,5%; e Clínica Geral e Cardiologia (JM): 82, 10,5%.
Quanto à fonte das amostras analisadas a hemocultura (sangue) forneceu o maior
número de isolados: 273 (35,3%), seguido da urina: 152 (19,6%), catéter: 98 (12,6%),
secreção geral: 53 (6,8%); ferida operatória: 51 (6,6%) e trato respiratório: 50 (6,5%).
As tabelas 2 e 3 mostram a distribuição dos principais isolados (P. aeruginosa,
Klebsiella spp, S. aureus e SCN) pelas fontes das amostras obtidas para cultura e pelos
pavilhões de internamento dos casos de infecção hospitalar.
Vários destes isolados apresentaram resistência a múltiplos grupos de
antimicrobianos sendo considerados MDR (Tabela 4).
A comparação da resistência aos antimicrobianos por trimestre, apresentada por P.
aeruginosa, S. aureus e Klebsiella spp, só revelou diferença significativa em relação a
resistência da Klebsiella spp ao cloranfenicol (p=0,015). Para os outros isolados não houve
diferença significativa.
7
DISCUSSÃO
O aumento da morbidade e mortalidade decorrente das infecções hospitalares está
diretamente relacionado às cepas bacterianas multi-resistentes uma vez que as infecções
causadas por bactérias resistentes são mais difíceis de tratar, devido à redução da
disponibilidade de drogas eficazes (SADER et al., 2001; DZIDIC; BEDEKOVIC, 2003).
A identificação correta dos microrganismos e a determinação da resistência aos
antimicrobianos poderá fornecer informações necessárias para subsidiar o estabelecimento
de um programa de monitoramento do uso de antimicrobianos para impedir a disseminação
de cepas MDR e o controle das infecções hospitalares. Diante disto, no período de julho de
2002 a junho de 2003, foram estudados 774 isolados provenientes de casos de infecção
hospitalar no HUOC.
Os isolados mais freqüentes no pavilhão de oncologia (CEON) foram: P.
aeruginosa (19%), SCN (17%), S. aureus (15,5%) e Klebsiella spp (14,9%). Neste pavilhão
tem alta concentração de pacientes com imunodepressão e submetidos à procedimentos
invasivos como o catéter central, os pacientes são tratados com quimioterápicos, que reduz
a imunidade a níveis mínimos, tornando-os mais susceptíveis às infecções (Tabela 3).
No pavilhão de doenças infecciosas e parasitárias (DIP), os isolados mais freqüentes
foram: P. aeruginosa (24,4%), S. aureus (19,1%), SCN (16%), e Klebsiella spp (10,7%),
nesse pavilhão encontram-se pacientes sedados, entubados, fazendo uso de hemodiálise,
com patologias diversas como: tétano, leptospirose, meningite, HIV e outras doenças
infecciosas, o que também compromete a imunidade (Tabela 3).
No pavilhão de clínica geral e cardiológica (JM), os isolados mais freqüentes foram:
Klebsiella spp (19,5%), S. aureus (17%) e P. aeruginosa (10,9%), neste pavilhão estão os
pacientes crônicos com longa permanência hospitalar, com as mais variadas doenças de
base (Tabela 3).
O pavilhão AM recebe pacientes de cirurgia geral e transplantado, os isolados mais
freqüentes foram: Klebsiella spp (27,2%), P. aeruginosa (21,4%) e S. aureus (8,7%), que
exigem procedimentos de alta complexidade e longa permanência hospitalar, e
medicamentos imunossupressores (Tabela 3).
A clínica de pneumológia (CCH), apresentou como isolados mais freqüentes P.
aeruginosa e S. aureus com (23,2%) e Klebsiella spp (20,9%). A unidade de terapia
8
intensiva (UTI-G) apresentou P. aeruginosa (28,3%), Klebsiella spp (18,5%), S. aureus
(17,3%). A unidade de terapia intensiva coronariana (UTI-C) apresentou P. aeruginosa e S.
aureus (18,8%) e Klebsiella spp (15,6%) (Tabela 3).
O S. aureus foi um dos mais freqüentes isolados, ocupando o primeiro lugar
juntamente com a P. aeruginosa no CCH e UTI-C, sendo o segundo mais freqüente no JM,
DIP e CEON, e o terceiro mais freqüente na UTI-G.
A Pseudomonas aeruginosa foi mais freqüente no DIP, UTI-G e CEON, no CCH e
UTI-C juntamente com o S. aureus foram os mais freqüentes. A Klebsiella spp só
apresentou o primeiro lugar no AM e JM.
Com estes dados pode-se fazer comparações com estudos futuros, ao observar os
patógenos mais freqüentes em cada pavilhão.
Em relação à origem dos isolados a maior fonte foi o sangue (hemocultura), seguido
da urina e do catéter. O catéter venoso é a causa mais freqüente de infecção por SCN
(VIEDMA et al., 2000), por abrir uma porta para entrada de microrganismos e favorecer a
aderência dos microrganismos produtores de biofilme (TAN et al., 1994; STEWART;
COSTERTON, 2001; FERRETTI et al., 2003). Vários fatores como o uso de catéter
vesical, necessidades fisiológicas e banhos no leito predispõem os pacientes hospitalizados
à infecção urinária. Nesses pacientes são freqüentes as infecções por bacilos Gram
negativos de origem fecal e ambiental.
As infecções hospitalares são agravadas pela resistência dos microrganismos aos
antimicrobianos. Os isolados provenientes de infecção hospitalar no HUOC, no período
estudado, apresentaram resistência a vários antimicrobianos. Chamou atenção, sobretudo, a
resistência apresentada por, SCN, S. aureus, P. aeruginosa e Klebsiella spp, que chegaram
a ser resistentes à vários grupos de antimicrobianos, sendo considerados como MDR.
O acompanhamento da resistência apresentada pela P. aeruginosa, S. aureus, SCN e
Klebsiella spp aos antimicrobianos, por trimestre do ano, não revelou diferenças exceto em
relação a Klebsiella spp que apresentou um aumento significativo da sensibilidade ao
cloranfenicol (p=0,015), sem muito significado para o tratamento uma vez que o
cloranfenicol está em desuso, em razão das discrasias sanguíneas que promove. No entanto,
consideramos que o período de um ano é insuficiente para produção de diferenças
significativas, na ausência de uma política de uso racional de antimicrobianos.
9
A P. aeruginosa, espécie oportunista e ambiental e o mais comum não fermentador
implicado nas infecções humanas (SADER et al., 2001; ANDRADE et al., 2003; GALES et
al., 2003; FASS et al., 1996), apresentou perfil de resistência muito alto em relação a
maioria dos antimicrobianos.
Cumpre destacar, que no período estudado, dois isolados de P. aeruginosa (1,3%) já
apresentaram resistência a todas as drogas testadas, exceto à polimixina B para a qual a
sensibilidade foi de 100 %. A resistência para o aztreonam (monobactâmico) foi de apenas
8,7%. Esta poderia ser a droga de escolha para tratamento das infecções por P. aeruginosa,
devido à sensibilidade (91,3%) e baixa toxicidade, ao contrário da polimixina B que apesar
da sensibilidade é nefrotóxica e ototóxica tendo apenas aplicação de uso tópico.
A resistência cruzada observada entre imipenem e norfloxacin, ciprofloxacina,
gentamicina, ceftazidima e meropenem; e entre a ciprofloxacin e norfloxacin e
gentamicina. Quando houve resistência à piperacilina/tazobactam. A resistência cruzada
observada na P. aeruginosa dificulta o tratamento das infecções.
As cefalosporinas de terceira e quarta gerações foram as drogas para as quais a P.
aeruginosa apresentou maior percentual de resistência, com uma média de 76,05%. os
isolados de P. aeruginosa, 45,7% se revelaram MDR, considerando-se como critério de
MDR, a resistência ao mesmo tempo a quatro grupos de antimicrobianos (cefalosporinas,
aminoglicosídios, fluorquinolonas e carbapenens). Além disso 15,7% apresentaram
resistência de alto nível considerando-se como tal, a resistência a seis grupos de
antimicrobianos (cefalosporinas, aminoglicosídios, fluorquinolonas, carbapenens,
sulfa/potencializador e cloranfenicol).
Foi observada resistência cruzada dos isolados de P. aeruginosa entre várias drogas
o que dificulta o tratamento das infecções. Apresentou resistência à imipenem e
norfloxacin, ciprofloxacina, gentamicina, ceftazidima e meropenem; e entre a ciprofloxacin
e norfloxacin e gentamicina. Quando houve resistência à piperacilina/tazobactam houve
resistência a ceftazidima. A resistência cruzada observada na P. aeruginosa dificulta o
tratamento das infecções.
A Klebsiella spp apresentou alto percentual de resistência à todas as cefalosporinas.
A diferença do percentual de resistência entre as cefalosporinas de primeira geração
(cefalotina) e a de quarta geração (cefepime) foi de 37,7%. Este resultado comprova que
10
quanto menos usada, mais eficaz é a droga e as bactérias são mais sensíveis a ela, como é o
caso das cefalosporinas de quarta geração sintetizadas mais recentemente.
A resistência à ceftazidima (cefalosporina de terceira geração) foi apresentada por
54,5% dos isolados de Klebsiella spp. A resistência à ceftazidima funciona como sentinela
para β-lactamases de espectro estendido (ESBL) em Klebsiella spp e indica resistência à
todas as cefalosporinas. As cefalosporinas de terceira geração são consideradas indutoras de
resistência a várias drogas (YATES, 1999). Os isolados de Klebsiella spp que apresentaram
resistência às cefalosporinas de terceira geração apresentaram resistência de alto nível
também a gentamicina, sulfametoxazol/trimetoprim, ciprofloxacin e amicacina, sugerindo a
existência de vários mecanismos de resistência.
A Klebsiella spp apresentou baixa resistência às drogas do grupo carbepenem,
sendo considerado como droga mais eficaz. A sensibilidade apresentada ao grupo do
carbepenem é devido ao fato destas drogas serem estáveis à hidrólise pelas β-lactamases e
ao pequeno tamanho da molécula, que facilita a penetração através da membrana externa da
bactéria (MENDES, et al., 2000). A resistência praticamente nula, aos carbepenens também
foi mostrada anteriormente (2001-2002), na Espanha, por Marin e Gudiol (2003).
A resistência à meticilina/oxacilina apresentada pelos cocos Gram positivos é um
problema mundial, com variações locais. No presente estudo o S. aureus meticilina
resistente (MRSA) foi 40,2% (Tabela ), destes MRSA, 44 isolados (83,0%) tinham perfil
de MDR. MRSA foi encontrado em todos os pavilhões do HUOC, porém mais
freqüentemente, no pavilhão de Doenças Infecciosas e Parasitárias (DIP) com um
percentual de 26,4%, no pavilhão JM, de Clínica Geral e Ccardiologia (17,0%) e na UTI-
geral a freqüência de MRSA foi de 15,1%. Dos S. aureus obtidos de catéter 55,1% foram
resistentes à meticilina/oxacilina. Uma característica dos MRSA é que apresentam
resistência também a vários outros antimicrobianos, o que dificulta o tratamento (FLUIT et
al., 2001b).
No HUOC, os isolados MSSA apresentaram resistência variando de 13,9% à
eritromicina a 1,3% à ciprofloxacina, percentual muito mais baixo quando comparado com
os MRSA que apresentaram níveis de resistência bem mais altos, 100% a eritromicina e
73,6% ao cloranfenicol e sulfametoxazol/trimetoprim. Sugerindo que os isolados MRSA
tem determinantes de resistência a várias outras drogas. A alta resistência ao cloranfenicol
11
chama atenção por se tratar de droga em desuso, em razão das discrasias sanguíneas que
promove.
O maior nível de resistência encontrado nos isolados de S. aureus do HUOC foi à
penicilina (68,2%), provavelmente devido à facilidade de transferência dos plasmídios que
contêm os genes de resistência à penicilina (CHAMBERS, 2001). Por outro lado a droga
que apresentou menor perfil de resistência foi a moxifloxacina (10,2%), que está em uso há
pouco tempo.
Mundialmente, a resistência apresentada pelo S. aureus à oxacilina/meticilina é
bastante variada. O sistema de vigilância antimicrobiana SENTRY (FLUIT et al., 2001;
BELL et al., 2002) detectou de 5,0% a 69,8% de resistência à oxacilina no período de 1998
a 1999 em vários paises da Ásia, Europa, África e Oceania. Aqui No presente trabalho a
ocorrência de MRSA (40,2%) no HUOC foi levemente mais elevada que a registrada nas
cidades de Rio de Janeiro, Florianópolis, São Paulo e Porto Alegre (34,0%) em um estudo
de vigilância do programa SENTRY durante 1997-1998 (SADER et al., 2001).
O poder patogênico do S. aureus associado à limitação da disponibilidade do
antibiótico eficaz e a disseminação dos microrganismos resistentes mostram a necessidade
de ações para o controle da infecção hospitalar e uma política de uso racional dos
antimicrobianos.
O Staphylococcus coagulase negativo (SCN), antes considerado como flora
residente de pele e mucosas é atualmente um problema, principalmente em pacientes
imunodeprimidos, com uso de cateter vascular. O SCN, acumula genes de resistência à
vários antimicrobianos, em percentual as vezes maior que o S. aureus. Quando resistente à
meticilina/oxacilina, pode acumular determinantes de resistência a praticamente todos os
antimicrobianos, e se constitui importante agente de infecções nosocomiais (RUPP et al.,
1994). Do total de isolados SCN (n=92) a resistência à meticilina/oxacilina foi de 45,7% e
destes 78,5% foram MDR.
Neste trabalho o SCN foi mais freqüentemente (35,9%) isolado no pavilhão do
Centro de Oncologia (CEON) provavelmente relacionado com o uso do cateter central para
infusão de quimioterápicos e agravado pela depressão do sistema imunológico dos
pacientes. Dos isolados de SCN, originados de cateter, 62,0% foram resistentes à
meticilina/oxacilina e 25,2% deles, tinham característica de MDR.
12
No nosso estudo não foi detectada resistência aos glicopeptídeos (vancomicina e
teicoplamina) entre os isolados de estafilococos coagulase negativa (SCN) ou S. aureus. No
entanto, estas drogas devem ser usadas com cautela, para os casos de estafilococos multi-
resistentes, uma vez que juntamente com os β-lactâmicos, atuando sinergicamente induzem
à resistência (Tenover, 2001).
Outro aspecto a ser destacado é o isolamento do E. faecalis (3,2% do total dos
isolados) durante o período de estudos. O E. faecalis é intrínsicamente resistente a vários
antimicrobianos, destacando-se como grave problema a resistência à vancomicina (VRE),
porque as cepas VRE têm a propriedade de adquirir determinantes de resistência capazes de
conferir resistência a todos os antimicrobianos correntemente usados e transferir genes de
resistência à vancomicina para outros Gram positivos (SHEPARD; GILMORE, 1999), por
conjugação, através de plasmídeos ou transposons (TENOVER, 2001). São reconhecidos
como principais fatores de risco, para desenvolvimento de VRE, o uso de antimicrobianos
de amplo espectro e vancomicina associado à imunossupressão (YATES, 1999). Os
isolados obtidos durante o período do estudo não apresentaram resistência à vancomicina e
teicoplamina. Entretanto, esta resistência detectada na Europa e EUA desde 1980 (REIS et
al., 2001), já foi reconhecida no Brasil. No HUOC, houve o isolamento recente, em fins de
2003, de cepas de E. faecalis resistentes à vancomicina, em um paciente transplantado, com
imunossupressão (dados não mostrados).
Programas de controle da resistência aos antimicrobianos já são adotados por vários
países; entre as medidas de vigilância, a triagem dos pacientes que são internados, para
identificar os portadores de S. aureus, isolá-los e tratá-los antes do contato com outros
pacientes, parece ser a mais eficaz. Na Holanda esse programa foi implantado há dez anos,
e o percentual de MRSA está abaixo de 1,0%. Este baixo padrão pode ser atribuído às
medidas de controle de infecção hospitalar adotadas (VERHOEF, 2001).
Tendo sido constatada a resistência aos antimicrobianos no HUOC e conhecendo-se
a relação entre resistência e uso de antimicrobianos devido à pressão seletiva das drogas
sobre as bactérias, recomenda-se o monitoramento contínuo da resistência para subsidiar a
adoção de mudanças na prescrição das drogas principalmente quando for necessário iniciar
o tratamento antes dos resultados do antibiograma. Medidas reforçadas de higiene como
lavagem das mãos, limpeza do ambiente, detecção e tratamento dos portadores
13
assintomáticos, além do uso obrigatório de máscaras por pacientes e funcionários
portadores de patógenos com perfil de multi-drogas resistência, na vias respiratórias
superiores, devem ser implementadas para diminuir a disseminação de microrganismos
resistentes. Estas medidas podem reduzir o tempo de internamento, as taxas de morbidade e
mortalidade e conseqüentemente os custos relacionados com antimicrobianos, exames
laboratoriais, profissionais de saúde e tratamento dos pacientes.
Referências Bibliográficas
Álvares-Lerma, F.; Guillermo, M.G.; Pont, M.J.P. et al. (2002) Efetividad del aislamiento
de contato en el control de bacterias multirresistentes en un servicio medicina intensiva.
Enfermidades Infecciosas Microbiologia Clinica 20, 57-63.
Andrade, S.S.; Jones, R.N.; Gales, A.C. et al. (2003) Increasing prevalence of antimicrobial
resistance among Pseudomonas aeruginosa isolates in Latin American medical centres: 5
years report of the SENTRY antimicrobial surveillance program (1997-2001). Journal of
Antimicrobial Chemotherapy 52, 140-141.
ANVISA Disponível em:<http://www.anvisa.gov.br/legis/portarias/2616 Acesso em 16
out., 2002, 13:18.
Bell, J.M.; Turnidge, J.T.; Sentry. (2002) High prevalence of oxacillin-resistant
Staphylococcus aureus isolates from hospitalized patients in Asia-Pacific and South Africa:
results from SENTRY antimicrobial Surveillance Program, 1998-1999. Antimicrobial
Agents and Chemotherapy 46, 879-881.
CHAMBERS, H.F.(1993) Detection of methicillin resistant staphylococci. Infectious
Diseases Clinical North America, 7, 425-433.
Chambers, H.F. (2001) The changing epidemiology of Staphylococcus aureus? Emerging
Infectious Diseases , Special Issue 7, 178-182.
14
Dubois,V.; Arpin, C.; Melon, M. et al. (2001) Nosocomial outbreak due to a multiresistant
strain of Pseudomonas aeruginosa P12: efficacy of cefepime-amikacin terapy and analysis
of beta-lactam resistance. Journal of Clinical Microbiology 39, 2072-2078.
Dzidic, S.; Bedekovic, V. (2003) Horizontal gene transfer emerging multidrug resistance in
hospital bacteria. Acta Pharmacologica Sinica 24, 519-526.
Fass, R.J.; Barnishan, J.; Solomon, M.C. et al. (1996) In vitro activities of quinolones, β-
lactams, tobramycin, and trimethoprim-sulfamethoxazole against nonfermentative Gram-
negative bacilli. Antimicrobial Agents and Chemotherapy 40, 1412-1418.
Ferretti, G.; Mandala, M.; Cosimo, S.D. et al. (2003) Catheter-related bloodstream
infections, part 1: pathogenesis, diagnosis, and management. Journal Infections in
Oncology 9, 513-523.
Fluit, A.C.; Wielders, C.L.C.; Verhoef, J. et al. (2001) Epidemiology and susceptibility of
3,051 Staphylococcus aureus isolates from 25 university hospitals participating in the
European SENTRY study. Journal of Clinical Microbiolog 46, 3727-3732.
Gales, A.C.; Menezes, L.C.; Silbert, S. et al (2003) Dissemination in distinct brazilian
regiens of an epidemic carbapenem-resistant Pseudomonas aeruginosa producing SPM
metallo-β-lactamase. Journal of Antimicrobial Chemotherapy . v. 52, p. 699-702, 2003.
Gonlugur, U.; Bakici, M.Z.; Ozdemir, L. et al (2003) Retrospective analysis of antibiotic
susceptibility patterns of respiratory isolates of Pseudomonas aeruginosa in a Turkish
university Hospital. Annais of Clinical Microbiology and Antimicrobials 2, 1-4.
Harris, D.A ; Perencevich, E.; Roghmann, Mary-Claire, et al (2002) Risk factors for
piperacillin-tazobactam-resistant Pseudomonas aeruginosa among hospitalized patients.
Antimicrobial Agents and Chemotherapy 46, 854-856.
15
Luna, C. M.; Gherardi, C.; Famiglietti, A. et al (2001) Bacterial resistance and
antimicrobial therapy in respiratory medicine and intensive care. Medicina (Buenos Aires)
61, 603-613.
Luzzaro, F.; Mantengoli, E.; Perilli, M. et al. (2001) Dynamics of a nosocomial outbreak of
multidrug-resistant Pseudomonas aeruginosa producing the PER-1 extended-spectrum
beta-lactamase..Journal of Clinical Microbiology, L áquila 39, 1865-1870.
Marin, M.; Gudiol, F. (2003) Antibióticos betalactámicos. Journal Enfermedades
Infecciosas y Microbiologia Clinica 21, 42-55.
National Commitee For Clinical Laboratory Standards (2002) Performance Standards for
Antimicrobial Testing; Twelfth Informational Supplement. Vol.22 Nº1 Replaces M100-SII
21.
National Commitee For Clinical Laboratory Standards (2003) Performance Standards for
Antimicrobial Testing; Twelfth Informational M-100-S13
National Committee For Clinical Laboratory Standards (1997) Performance Standards for
Antimicrobial Susceptibility Testing Document M7-A4. Villanova, PA: NCCLS.
Reis, A.O.; Cordeiro, J.C.; Machado, A.M. et al. (2003) In vitro antimicrobial activity of
linezolid tested against vancomycin-resistant enterococci isolated in brasilian hospital.
Brazilian Journal of Infectious Diseases 5, 243-251.
Sader, H.S.; Gales, A.C.; Pfaller, M.A. et al. (2001) Pathogen frequency and resistance
patterns in brazilian hospitals: summary of results from three years of the SENTRY
antimicrobial surveillance program. Brazilian Journal of Infectious Diseases 5, 200-214.
16
Shepard, B.D.; Gilmore, M.S. (1999) Identification of aerobically and anaerobically
induced genes in Enterococcus faecalis by random arbitrarily primed PCR. Applied And
Enviromental Microbiology 65, 1470-1476.
Stewart, P.S.; Costerton, J.W. (2001) Antibiotic resistance of bacteria in biofilms. Lancet.
358, 135-138.
Swartz, M.N. (1994) Hospital acquired infections: diseases with increasingly limited
therapies. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America
(PNAS) 91, 2420-2427.
Tan, T.Q.; Musser, J.M.; Shulman, R.J. et al. (1994) Molecular epidemiology of coagulase-
negative Staphylococcus blood isolates from neonates with persistent bacteremia and
children with central venous catheter infections. Journal Infectious Diseases 169, 1393-
1397.
Tenover, F.C. (2001) Development and spread of bacterial resistance to antimicrobial
agents: on overview. Clinical Infectious Diseases 33, 108-115.
Verhoef, J. (2001) Stopping short the spread of methicillin-resistant Staphylococcus aureus.
Canadian Medical Association or its Licensors (CMAJ) 165, 31-32.
Viedma, D.G.; Rabadan, P.M..; Diaz, M. et al. (2000) Heterogeneous antimicrobial
resistance patterns in polyclonal populations of coagulase-negative Staphylococcus isolated
from catheters. Journal of Clinical Microbiology 38, 1359-1363.
Yates, R.R. (1999) New intervention strategies for reducing antibiotic resistance. Emerging
Resistance and Therapeutic Options (CHEST) supplement 115, 25S-27S.
17
Tabela 1. Distribuição dos isolados de casos de infecção hospitalar no HUOC: julho de 2002 a junho de 2003.
Microrganismos Número Percentual
S. aureus 132 17,1 Staphylococcus coagulase negativo (SCN) 92 11,9 Enterococcus faecalis 25 3,2 Streptococcus pyogenes 4 0,5 Streptococcus viridans 2 0,2 Streptococcus pneumoniae 2 0,3 Streptococcus agalactiae 1 0,1 Streptococcus bovis 1 0,1 Streptococcus spp 1 0,1
Total de cocos Gram positivos 260 33,6 Pseudomonas aeruginosa 153 19,8 Klebsiella spp 143 18,4 Escherichia coli 64 8,3 Acinetobacter spp 39 5,1 Pseudomonas spp 18 2,3 Proteus mirabilis 14 1,8 Enterobacter spp 11 1,4 Morganella morgannii 9 1,2 Providencia spp 6 0,8 Citrobacter spp 5 0,6 Serratia marcescens 5 0,6 Salmonella enteritidis 3 0,4 Salmonella spp 1 0,1 Alcaligenes 1 0,1 Stenotrephomonas maltophila 1 0,1 Edwardsiella spp 1 0,1
Total de bacilos Gram negativos e BGNNF 474 61,2 Total de fungos 40 5,2 Total de isolados 774 100,0
BGNNF – bacilos Gram negativos não fermentadores
18
Tabela 2. Distribuição dos principais isolados pelas fontes da cultura no HUOC: julho de 2002 a junho de 2003.
P.aeruginosa Klebsiella spp S. aureus SCN Fontes da cultura N (%) N (%) N (%) N (%)
Sangue (hemocultura) 35 (22,8) 28 (19,5) 46 (34,8) 72 (78,3) Urina 40 (26,1) 44 (30,7) 2 (1,5) - Cateter 21 (13,7) 18 (12,5) 29 (22,0) 13 (14,1) Ferida operatória 10 (6,5) 11 (7,7) 15 (11,4) 2 (2,2) Abscesso 5 (3,3) 4 (2,8) 7 (5,3) - Líquido ascítico 5 (3,3) 5 (3,5) 5 (3,8) 3 (3,3) Secreção Geral 13 (8,5) 6 (4,2) 16 (12,1) 1 (1,1) Escara 3 (2,0) 1 (0,7) - - Dreno 3 (2,0) 3 (2,1) 1 (0,8) - Bile 1 (0,6) 4 (2,8) - - Líquido do mediastino 4 (2,6) 1 (0,7) - - Trato respiratório 13 (8,5) 15 (10,4) 10 (7,6) 1 (1,1) Outros - 3 (2,1) 1 (0,8) - Total 153 (100,0) 143 (100,0) 132 (100,0) 92 (100,0)
NT – não testado; % percentual de resistência; SCN – Staphylococcus coagulase negativa
19
Tabela 3. Distribuição por pavilhão dos mais freqüentes microrganismos no HUOC: julho de 2002 a junho de 2003.
P. aeruginosa Klebsiella spp S. aureus SCN E. coli OUTROS TOTAL Pavilhões n % n % n % n % n % n % n %
Cirurgia geral e transplantes (AM)
22 21,4 28 27,2 9 8,7 - - 15 14,6 29 28,1 103 100
Clínica geral e cardiológica (JM)
9 10,9 16 19,5 14 17,0 - - 11 13,4 32 39,1 82 100
Clínica pneumológica (CCH)
10 23,2 9 20,9 10 23,2 - - 4 9,4 10 23,2 43 100
Doenças infecciosas e parasitárias (DIP)
32 24,4 14 10,7 25 19,1 21 16,0 - - 39 29,8 131 100
Unidade terapia intensiva geral (UTI-G)
23 28,3 15 18,5 14 17,3 - - 6 7,4 23 28,3 81 100
Unidade terapia intensiva coronariana (UTI-C)
6 18,8 5 15,6 6 18,8 7 21,8 - - 8 25,0 32 100
Centro de oncologia (CEON)
37 19,0 29 14,9 30 15,5 33 17,0 - - 65 33,5 194 100
n – número; % percentual de isolados; SCN - Staphylococcus coagulase negativo
20
Tabela 4. Resistência aos antimicrobianos apresentada pelos isolados mais freqüentes no HUOC: julho de 2002 a junho de 2003
Grupos de antimicrobianos Antimicrobianos P.aeruginosa %
Klebsiella spp %
S. aureus %
SCN %
Fluorquinolonas Norfloxacina 64,7 19,0 34,4 39,3 Ciprofloxacina 63,2 15,4 33,1 33,3 Moxifloxacina NT NT 10,2 7,9 Aminoglicosídios Amicacina 65,4 18,9 39,4 44,4 Gentamicina 69,3 24,5 36,6 47,3 Ureidopenicilina/inibidor de β-lactamase Piperacilina/tazobactam 25,9 23,1 39,1 41,7 Cefalosporinas Cefalotina NT 73,4 NT NT Cefoxitina NT 67,1 NT NT Ceftazidima 86,8 54,5 NT NT Cefepime 65,3 35,7 NT NT Carbapenens Imipenem 56,9 4,2 40,9 44,6 Meropenem 57,6 3,5 39,1 44,3 Sulfa/potencializador Sulfametoxazol/trimetoprim NT 64,3 35,5 40,0 Cloranfenicol Cloranfenicol NT 52,4 34,1 52,7 Monobactâmico Aztreonam 8,7 NT NT NT Colimicinas Polimixina B 0 NT NT NT Penicilinas
Penicilina G Oxacilina (penicilina semi-sintética)
NT NT
NT NT
68,2 40,2
76,1 45,7
Macrolídios Eritromicina NT NT 49,6 48,9 Tetraciclinas Tetraciclina NT NT 43,8 24,2 Lincomicinas Clindamicina NT NT 46,2 58,0 Glicopeptídios Teicoplamina NT NT 0 0 Vancomicina NT NT 0 0
NT – não testado; % percentual de resistência; SCN - Staphylococcus coagulase negativa
1