mininas · 2019-11-28 · QuE MININA ! roberta@mininas.com.br pílulasROBERtA MAIA uma noite...

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ALEXANDRE MILAGRESANGELINA CAMELO BÁRBARA SOALHEIROCAROLINA SALGADODENISE MOTTAFLAUSINA MÁRCIA DA SILVAHELENA CAMPOSKITY AMARALMILENA DE ALMEIDAOTÁVIO SANTIAGO ROBERTA MAIARODRIGO CAMARGOSTHEREZA SCOFIELD

REDAÇÃO:Rua Prof. Miguel de Souza, 73 / 304 - Buritis

cep: 30575255 Belo Horizonte - MGfone: (31) 3313 9233

Registro nº1.106em cumprimento ao disposto

na Lei 5.250 de novede fevereiro de 1967.

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5DEZEMBRO 2004

A menina de boinas da faculdade do Largo de São Francisco sonhava em ser a melhor advogada criminalista do país. Nascida em São Paulo, gostaria também de envelhecer criando gatos. Leitora contumaz, a mãe de Goffredo escreveu muitas vidas, recebeu também muitos prêmios e empenhou-se em campanhas de profissionalização do escritor brasileiro.

Entre tantas letradas, soube esmiuçar e resguardar os mais íntimos sentimentos e conflitos femininos. Leitura de comunhão é o que guarda o romance “As meninas”, publicado há trinta e um anos. Advogada e escritora _”duas profissões de homem”_, Lygia tornou mais fácil, bonito e consciente o exercício de ser mulher.

MILENA DE ALMEIDA

arteiras juStA cAuSA

LE RASOIR ÉLÉtRIQuE FRÔLAIt L‘AMOuR DE cRIStIANA

porKItY AMARAL

QUATRO PERGUNTAS

barbara@mininas.com.br

Se a lguém está fazendo um trabalho, e a coisa não sai, por nada, e esse al-guém já deixou passar uma semana, e já procurou ajuda nas cervejas, nas artes, na poesia, e ainda assim a coisa não sai, o que ele deve fazer? Se trancar no quarto com água, pão, bananas e ovos cozidos até que a raiva vire trabalho feito ou deixar que o trabalho decida sozinho a que horas deseja estar pronto?

Se uma pessoa se apaixonar por alguém proibi- do e, justamente por esse alguém ser proibido, a pessoa quer se livrar desse sentimento e por isso decide que vai blo-quear o pensamento, não deixar escapar nem vento com lembrança do amado, vai pensar tudo em branco, o que há de acontecer? O tal amor há de morrer por falta de atenção ou vai ficar ador-mecido para aproveitar

uma brecha, um encontro por a-caso, um beijo no rosto gela-do, um abraço mais demorado, para despontar? E se alguém tem tantas dúvidas, tantas que elas vêm assim, sempre em forma de pergunta, e se ela decidir escrever tudo nas páginas de uma minina e se ela por ventura precisar de resposta o que há de acontecer? Será que alguém lhe escuta ou só vão rir de você?

BÁRBARA SOALHEIRO

melões

ORA BOLAS

Às vezes, perco a fé. Perco a fé no talento dos estilistas reinventarem-se, reinventado-nos; na promessa de dias quentes em trancoso; no meu único vestidinho Prada; na alegria certa que chega com dois quilos a menos. E perco a fé no amor. E até nas reticências. Hoje ela se foi. A fé. Não de todo, sei que volta. Mas o momento se instalou e me arrebata. E

nem mesmo um novo par

de sapatos que me alcance o sonhado metro e oitenta injeta sorriso à alma. Os dois filhotes bichanos passeiam ao redor. Gostam do papel. Fazem festa com a caneta. Desfazem da pena que sinto. Desfazem da capa alva desse sofá cuja a trama desfiam com afinco.

E olha que já me voltam as reticências e amanhã parece que chega logo e o café-da-mahã que gosto na varanda comum que me adoça o espírito.

Gostei do período longo e dos ‘es’ caminho a fora. E e s s a t pm se abranda e vou para o quarto que é hora de pazes. E - olha só! - ai, ai...

helena@mininas.com.br

HELENA cAMPOS

ai, ai...

QuE MININA !

roberta@mininas.com.br

ROBERtA MAIA

pílulas uma noite dessas, na televisão, me deparei com uma entrevista histórica de clarice Lispector, com as sombran-celhas arqueadas - sua marca registrada - e um jeito estranho de falar, quase débil, que supus ser consequência de uma mistura de sotaques de quem veio da ucrânia, morou no Recife e no Rio de janeiro.

Os dedos longos, que vez ou outra seguravam um cigarro, e um band-aid envolto no anular. Era quase mono-ssilábica, não se disfarçava. Suas frases eram sucintas mas dilaceradoras - como seus textos. Fala sem pudor que está triste, porque está can-sada. tinha acabado de

terminar uma obra. Inspira solidão. Dá a sensação de que vai chorar quando abaixa os olhos. Mas não parece ter pena de si mesma. Ela é triste naquele momento e pronto. “Eu escrevo simples”, disse. Exposta como o band-aid, clarice admirável, autora, mulher.

ELENA LAZZARIporMujERES

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Seria capaz de dizer mil e uma vezes para me esqueceres. Borrar com saliva toda tinta que já esboçamos em versos. Empurrar-te de volta para os trilhos que esco-lheste. jogareste de novo no aquário que construíste, sem oxigênio. Mas não seria capaz de escutar teu último suspiro de amor cultivado, tua últi-ma piscadela ou teu primeiro sinal de arrependimento. taparia meus olhos com tuas doces palavras. E só vol-taria a ver o decepcionado poeta no túmulo do amor bagunçado. Velório do desencontro já consumado. Manter oculta tua fantasia de me querer inteira, mas com oferta de sobras. Em meio a inconstâncias. como a lua que se esconde nas acinzentadas nuvens do agosto anunciando primavera. É também parcialmente nublado nosso estar. É também sublime e misterioso nosso querer. Mesmo que não fiques guardado em

gaveta nenhuma da solicitude da lembrança. compli-cado querer te querer. Difícil estar. Impossível ficar, uma vez que não existem vagas disponíveis e eu queria muito a garagem coberta, no último andar. Depois de te ver e te ver e te ver e rever e ver, rever, rever, ver. Finalmente te enxergar e tentar inutilmente te traduzir e te distrair e ter um pedaço seu guardado num guardanapo, acho que não preciso te fazer arquivo morto, nem escrever relatório de ativi-dades. Estaciono teu bem querer implícito no armário da poligamia. Lá vem ela de novo. Depois de limpar meu querer bem com guardanapo poético e enxugar meu gozo com verso momentâneo, só me resta jogar pétalas vermelhas em sua fugaz estética fonética.

REcporDENISE MOttA

GOLPE DE NAjAporBRANcA DE PAuLA

Eu nem perguntaria o nome dele. Iria prum canto qualquer, um vão de escada e, na pressa,

talvez fizesse em pedaços a camisa azul.Minhas mãos aflitas procurariam o caminho e abririam

o zíper enquanto eu esfregaria minhas tetas no corpo trêmulo e meteria a perna atrevida entre as pernas do homem, revolucionando os quadris.

Era o que eu pensava naquele carnaval, sentada com os outros em torno da imensa távola, enquanto o macho, ao lado, corria a mão pela minha coxa e me lambia a cara com sua língua voraz.

Não quis ver-lhe o rosto, não me virei, nada fiz. Apenas imaginava a cena e seus desdobramentos. O golpe de naja, o salto primitivo.

Então, num sobressalto, acordei.

A arara(Vermelho, azulão)Parece uma pintura a óleo,Um cartão,Com as garrasSegura uma romã,Com o bicoBusca as sementesCheias de suco,De sangue,Pequenos rubis incrustados na polpa mole.

(A romã é um brinquedo,Um talismã,O pedaço mais rubro da manhã).

A arara devora romãs...O cheiro que se desprendeDas penas e das frutasLembra o calor dos ninhosE das febres terçãs.

ARARA DEVORANDO ROMÃSporRAQUEL NAVEIRA

porELISA ANDRADE BUZZO

Enfim encontroaquela felicidade

no refúgio da casade plantas verdes

e gatos esparramados,coisas banais,

mas de verdade.

Como um pássaro discerneentre pular num galho ou cair no chão?entre bicar um alpiste ou deixar-se caça?

Então posso escolher

deitar ao sol da manhãde barriga vazia

e mente tranqüila,alisar uma cabecinha

sem compromisso de ser boazinha.

Corro pra debaixo da saia da mamãe.Papai, contente vou-o beijar

e a casa vai desaparecendo na esquina.

A CASA

À UMA PINTURA

MARGARETH PETTERSEN ANGELINA CAMELO

Quero mais é entrar nessa rua, Pisar essas pedras e dar bom dia pra quem chegar na janela Quero mais é decifrar a interrogação: Virar essa esquina e ver onde ela vai me levar Quero mais é olhar as casas e me perder nos seus verdes, Vermelhos e brancos E em todas as cores do arco-íris Quero mais é subir esse morro, Deitar na grama e olhar o céu Depois, mirar a torre da igreja, Sentar nos bancos de Deus e rezar uma Ave-Maria E melhor: viver isso tudo, do lado de cá, Curtindo a poesia e o sonho do Manacá.

FLAuSINA MÁRcIA DA SILVApoepockets

Agorasem bolso

um poemauarrrrrrrrrrre