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INOVAES TECNOLGICASNO BRASIL
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RICARDO UBIRACI SENNES ANTONIO BRITTO FILHO
(Orgs.)
INOVAES TECNOLGICAS NO BRASIL
DESEMPENHO, POLTICAS E POTENCIAL
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Editora afiliada:
CIP Brasil. Catalogao na fonteSindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ
Inovaes tecnolgicas no Brasil. Desempenho, polticas e potencial / Ricardo Ubiraci Sennes e Antonio Britto Filho (orgs.). So Paulo: Cultura Acadmica, 2011. 372p.: il.
Inclui bibliografi a ISBN 978-85-7983-151-5
1. Cincia Brasil. 2. Tecnologia Brasil. 3. Cincia e Estado Brasil. 4. Tec-nologia e Estado Brasil. 5. Inovaes tecnolgicas Brasil. 6. Inovaes tecnol-gicas Poltica governamental Brasil. 7. Poltica industrial Brasil. 8. Pesquisa Brasil. I. Sennes, Ricardo. II. Britto Filho, Antonio.
11-1839. CDD: 509.81CDU: 5/6(81)
2010 Associao da Indstria Farmacutica de Pesquisa Interfarma
CULTURA ACADMICA EDITORAPraa da S, 108
01001-900 So Paulo SPTel.: (0xx11) 3242-7171Fax: (0xx11) 3242-7172
www.editoraunesp.com.brwww.livrariaunesp.com.br
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AGRADECIMENTOS
Agradecemos aos autores dos artigos bem como aos entrevistados por suas atuaes e memrias, agora materializadas neste livro.
Agradecemos tambm o apoio das equipes da Interfarma Ronaldo Luiz Pires, Tatiane Schofield e Srgio Ribeiro , da Prospectiva Consulto-ria Anselmo Takaki, Claudia Mancini e Diogo Galvo e da Fundao Editora da Unesp Jzio Hernani Bomfim Gutierre e Henrique Zanardi.
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SUMRIO
Apresentao IX
Parte 1
Potencial cientfi co do Brasil 1
1 Recursos humanos para cincia e tecnologia no Brasil 7 2 Evoluo e perfil da produo cientfica brasileira 41 3 Avaliao do perfil atual da pesquisa aplicada no Brasil 55
Parte 2
Inovao como estratgia empresarial 79
4 Atrao de investimento direto estrangeiro em pesquisa e desenvolvimento 83
5 A inovao na empresa: imperativo para uma mudana estratgica 105
6 Os movimentos das multinacionais e a internacionalizao da pesquisa, desenvolvimento e inovao 127
7 Inovao brasileira. Trs estilos de internacionalizao: Natura, Marcopolo e Embraer 147
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Parte 3
Inovao no Brasil: comparaes e casos de sucesso 181
8 Oportunidades, incentivos e dificuldades na atrao e estabelecimento de laboratrios de pesquisa no Brasil: o caso da IBM Research-Brasil 185
9 Avaliao do cotidiano inovador no Brasil: mercado biofarmacutico, biocincias e o papel da Biominas Brasil 217
Parte 4
Inovao no setor da sade do homem no Brasil 229
10 Panorama regulatrio da pesquisa no Brasil 23311 Centros de pesquisa em hospitais de ponta no Brasil 26712 Conexes entre inovao e acesso sade 29113 Inovao nos laboratrios pblicos 32114 A inovao e o BNDES 341
Referncias 353Sobre os autores 357
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APRESENTAO
O tema da inovao ganhou espao na agenda nacional nos ltimos anos e objeto de consistente ativismo poltico desde o final da dcada de 1990. Contudo, apesar da inestimvel contribuio dos agentes responsveis pela pauta de inovao nesse perodo, o fato que o esforo ainda no foi sufi-ciente para que o tema se tornasse central na estratgia de desenvolvimento do pas. A justificativa para inovar processos e produtos bvia, mas a incorporao ao cotidiano das empresas, universidades e instituies pbli-cas, como se sabe, no tarefa trivial. Alcanar e se manter na fronteira do conhecimento requer uma conjuno de fatores internos e externos que normalmente no se restringem motivao individual, de uma empresa ou de uma instncia governamental, mas da convergncia de elementos que impulsionam os agentes promotores da inovao para novos patamares de conhecimento tcnico e cientfico.
Diante desse desafio, a Associao da Indstria Farmacutica de Pesquisa (Interfarma) se props, com o apoio da Prospectiva Consultoria, a formu-lar um debate que contribua com a avaliao, a proposio e o incremento da inovao no Brasil e, particularmente, na indstria da sade. Este livro rene a opinio de especialistas que cooperaram para a disseminao da cul-tura da inovao em nossas empresas, centros de pesquisa e universidades nas ltimas dcadas, e cujas experincias certamente serviro de ponto de partida para aperfeioar o debate que tanto interessa queles que trabalham para o desenvolvimento econmico e, sobretudo, social do Brasil.
A pluralidade de perspectivas, autores e experincias refletidas nos arti-gos e nas entrevistas que compem este volume permite ao leitor ter uma
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viso bastante ampla sobre o quadro nacional da pesquisa e inovao atual-mente. Tal efeito somente pde ser alcanado por meio das balizadas opi-nies formuladas por especialistas das principais universidades e centros de pesquisa do pas, representantes de instituies de fomento, cientistas e empreendedores no campo da inovao, lderes de projetos de inovao em empresas nacionais e multinacionais, de vrios campos do conhecimento e de diversas regies do Brasil.
O livro identifica inmeros pontos positivos nas polticas cientfi-cas e tecnolgicas brasileiras, assim como experincias bem-sucedidas de empresas e instituies pblicas nessa matria. Ao mesmo tempo, pon-tua vrias questes ainda no equacionadas na regulao e procedimentos sobre pesquisa e desenvolvimento no pas, deficincias importantes no per-fil empresarial, assim como alguns dissensos ainda que reduzidos sobre as melhores prticas no relacionamento pblico-privado.
Pretendemos contribuir para um balano sobre onde estamos em mat-ria de polticas pblicas, base cientfica e capacidade empresarial para ino-var, assim como indicar alguns passos possveis a serem tomados no futuro prximo. Esse livro consolida a percepo de que o Brasil j andou muito no campo cientfico e tecnolgico e tem, atualmente, excelentes condies para dar um salto no volume e na qualidade da inovao produzida no pas.
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PARTE 1
POTENCIAL CIENTFICO DO BRASIL
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A presente coletnea de artigos sobre inovao no Brasil no poderia ser iniciada de maneira diferente. Como parte introdutria ao tema aqui dis-cutido, se faz necessria uma prvia avaliao do que pode ser chamado de Potencial Cientfico do Brasil, envolvendo aspectos de mo de obra, da pesquisa no ensino superior e da produo cientfica universitria, j avan-ando assim nos tpicos a serem discutidos posteriormente, proporcionando uma desmistificao da pesquisa aplicada como geradora da inovao.
Nesse sentido, Carlos Henrique de Brito Cruz, no primeiro captulo, nos apresenta provocaes acerca da formao e da utilizao de mo de obra em cincia e tecnologia, e de forma bem objetiva, sugere que o ensino supe-rior no Brasil (incluindo pesquisa e ps-graduao) no orientado para a gerao de conhecimento para inovao via pesquisa bsica, o que deter-mina a pouca quantidade de pesquisa aplicada, e seu fruto a inovao.
Brito Cruz inicia sua argumentao observando que a poltica brasi-leira de incentivo cincia e tecnologia pode ser considerada uma poltica de Estado, com programas, projetos e medidas tomadas desde a dcada de 1930. Apresenta uma das principais contradies do Sistema Nacional de C&T: a produo cientfica rica, crescente, e ganha relevncia; enquanto a quantidade de patentes geradas baixa, e cresce em ritmo inferior em relao primeira.
Ademais ao j conhecido argumento de que cincia e tecnologia no Bra-sil no so realizadas em empresas (via atividades de pesquisa e desenvolvi-mento P&D), mas, sim, em universidades e institutos de pesquisa fato que determina o locus de trabalho dos pesquisadores , Brito Cruz exime
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parcialmente a responsabilidade do setor privado ao revelar que 66% dos graduandos em 2008 eram das reas de Cincias Humanas e Sociais; Enge-nharia e Cincias Exatas respondiam por 14%; e Sade, 16%. Dados simila-res e com o mesmo simbolismo refletem a ps-graduao. Ora, o Brasil no forma mo de obra nas especialidades tcnicas e cientficas necessrias para atividades de pesquisa aplicada.
Dessa forma, Brito Cruz prope uma reavaliao do sistema brasileiro de ensino superior, no sentido de incorporar, pela formao de mo de obra, a necessidade de gerar mais inovao via pesquisa aplicada. Por esse vis, destacado que a o Brasil possui uma rede de universidades de altssima competncia e qualidade que teria condies de liderar esse processo.
Marco Antonio Zago, no segundo captulo, aborda justamente essa rede de universidades e institutos de pesquisa responsvel pela boa e cres-cente produo cientfica no pas, e que seria incumbida de elevar o Brasil a um alto patamar em termos de cincia, tecnologia e inovao. Zago ana-lisou o perfil da produo cientfica brasileira, e ponderou que para atingir o nvel desejado em termos de C&T&I, h de se atentar para a melhora da qualidade da cincia produzida no pas.
Essa percepo apontada pelo fato de, apesar de crescente, a produo cientfica brasileira ainda gerar pouca repercusso e influncia na comuni-dade cientfica internacional. Zago apontou que em uma determinada base de dados cientfica, apenas 0,16% das publicaes brasileiras de 1996-2000 possua 200 citaes ou mais. E mais: desses poucos exemplos, grande parte era trabalho resultante de cooperao e intercmbio com pesquisadores e grupos de pesquisa de fora do pas, ou seja, no era 100% nacional.
No obstante, Zago apontou as reas de cincias da vida (incluindo agri-cultura, cincias biolgicas e medicina) como destaque do Brasil em termos da produo cientfica quantidade e qualidade e observou que esses campos so promissores para investimentos em cincia aplicada e inovao, pois j h qualificao suficiente para uma mudana de patamar.
Dentro dessa mesma linha, Fernando Galembeck, no terceiro captulo, apresenta casos e exemplos de pesquisas aplicadas e inovaes de sucesso justamente do campo de cincias da vida, em especial o ramo da agricultura e das cincias biolgicas. Galembeck nos presta um bom servio ao desmi-tificar a pesquisa aplicada: quantidade de patentes e papers nem sempre significam uma boa, ruim, pouca ou elevada atividade de pesquisa aplicada
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e de inovao. Muitas vezes, avanos em C&T e inovaes so absorvidos pela sociedade de maneira natural, sem a devida percepo desse avano.
Ao analisar a pesquisa aplicada no pas, em um primeiro momento pelas patentes, Fernando Galembeck constatou o conhecido fato de poucos pedi-dos de proteo patentria advindos do Brasil, e ainda verificou que essa quantidade reduzida, em sua maioria, realizada por empresas estrangeiras que performam P&D em suas filiais brasileiras.
No obstante, o Brasil possui qualificadas atividades de pesquisa apli-cada e inovao que no so captadas pelos indicadores de patentes e pro-duo cientfica principalmente nas reas agrcola e biolgica , desempe-nhados tanto por pequenas e mdias empresas, quanto por universidades e institutos de pesquisa.
De fato, essas trs contribuies comprovam o alto potencial cientfico brasileiro. No entanto, tambm mencionam necessidades de sintonia fina no sistema nacional de cincia e tecnologia no sentido de que, tal potencial seja de fato transformado em realidade e o pas deixe de ter possibilidade para que se torne potncia.
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1RECURSOS HUMANOS PARA CINCIA
E TECNOLOGIA NO BRASILCarlos Henrique de Brito Cruz
Introduo
Polticas duradouras, tambm caracterizadas como polticas de Estado, tm tido alguma efetividade no desenvolvimento da cincia e da tecnologia no Brasil, especialmente em aspectos mais acadmicos, relacionados for-mao de recursos humanos e pesquisa cientfica.
Alguns eventos marcantes foram a criao da Universidade de So Paulo (USP) em 1934; a instaurao da Constituio Paulista de 1947 com seu artigo 123 que determina a vinculao de 0,5% da receita ordinria do Estado pesquisa e criao da Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo (Fapesp); a criao do Centro Tcnico Aeroespacial e do Instituto Tecnolgico de Aeronutica entre 1946 e 1950; a instaura-o do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq) e da Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Supe-rior (Capes) em 1951; do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais de 1961 a 1971; do Regime de Dedicao Integral Docncia e Pesquisa na USP em 1962; a criao da Financiadora de Estudos e Projetos, da Universidade de Campinas e da Empresa Brasileira de Aeronutica em 1967; do Fundo Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico em 1969, do Pro-grama Nacional do lcool (Pr-lcool) em 1975 e da Universidade Esta-dual de So Paulo (Unesp) em 1976; a instituio do Ministrio da Cincia e Tecnologia em 1986, do Laboratrio Nacional de Luz Sncrotron (LNLS) de 1988 a 1996, dos Fundos Setoriais de 1999 a 2002; a extino do con-tingenciamento sobre os Fundos a partir de 2008; o estabelecimento do
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programa de Institutos Nacionais de Cincia e Tecnologia em uma bem--sucedida parceria entre a Unio e Estados brasileiros.
Mesmo incompleta, essa sequncia de eventos ilustra uma poltica para C&T&I (Cincia, Tecnologia e Inovao) que se desenvolve ao longo de muitos governos e por meio de muitas iniciativas, mesmo em se tratando de governos com diferentes orientaes polticas. Como resultados, temos hoje no pas um sistema de ps-graduao mundialmente competitivo e uma contnua ascenso no ranking mundial de publicaes cientficas. Por outro lado, apesar de vrias iniciativas governamentais e do interesse do setor privado, especialmente a partir de 1995, o Brasil no conseguiu superar os enormes obstculos macroeconmicos que compem um ambiente hostil no pas em relao P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) em empresas.
Neste trabalho, pretende-se analisar alguns aspectos da situao atual no que diz respeito capacitao cientfica brasileira, especialmente no que tange formao de recursos humanos para a pesquisa.
Dois indicadores relevantes de resultado: artigos e patentes
Dois importantes indicadores de resultados em C&T, por ajudarem a formao de um quadro geral da situao nacional, so o nmero de artigos cientficos publicados em revistas cientficas de circulao internacional e o nmero de patentes registradas internacionalmente. O primeiro, o nmero de artigos, relaciona-se capacidade acadmica para a criao de conhe-cimento. O segundo, o nmero de patentes, diz respeito capacidade da indstria em criar tecnologia de impacto mundial.
A evoluo no nmero de artigos cientficos mostrada na Figura 1.1, juntamente com um indicador relativo ao seu impacto, que o nmero de citaes por artigo dois anos aps a publicao. O nmero de artigos apre-senta uma evoluo bem positiva: de 1994 a 2000, a produo cientfica cresceu 15% ao ano. No segundo perodo, de 2000 a 2006, tambm houve um grande crescimento, embora menor do que no primeiro, com taxa de 10% ao ano. O impacto mdio de cada artigo cresceu 13% no primeiro perodo, elevando-se para 34% no segundo perodo.
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Nmero de artigos
Citaes por artigo dois anos aps publicao
Figura 1.1. Quantidade de artigos cientficos publicados nos anos 1994, 2000 e 2006 por autores com residncia no Brasil e quantidade de citaes por artigo, dois anos aps a pu-blicao. * Dados pesquisados no Web of Science .
Quanto ao nmero de patentes concedidas pelo Uspto (United States Patent and Trademark Office)1 a depositrios no Brasil, a evoluo mos-trada na Figura 1.2 em intervalos de cinco anos. No primeiro intervalo, de 1994 a 1999, a taxa anual mdia de variao mostrou crescimento de 8,7% ao ano; no perodo de 1999 a 2004, essa taxa caiu para 3,1% ao ano; e no quinqunio de 2004 a 2009 a taxa tornou-se negativa, com 0,6% ao ano. A taxa negativa para o ltimo quinqunio consistente com o resultado da Pesquisa de Inovao Tecnolgica (Pintec) 2010 que mostrou uma reduo de 10% no nmero de pesquisadores empregados por empresas entre 2005 e 2008.
1 O Escritrio norte-americano de Patentes e Marcas um rgo vinculado ao Departamento de Comrcio dos Estados Unidos, cujo mandato analisa e concede patentes bem como garan-te o registro de marcas; equivalente ao Brasileiro Instituto Nacional da Propriedade Indus-trial (Inpi) vinculado ao Ministrio do Desenvolvimento, da Indstria e Comrcio Exterior (MDIC).
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Figura 1.2. Quantidade de patentes concedidas pelo USPTO a depositrios no Brasil em 1994, 1999, 2004 e 2009.
Lugares e modalidades de pesquisa
Antes de analisar a questo dos recursos humanos para C&T (Cincia & Tecnologia) cabe resumir algumas caractersticas importantes das orga-nizaes que compem um sistema nacional de C&T. Do ponto de vista da execuo da pesquisa, tal sistema em geral composto por trs tipos de organizao de P&D: universidades, institutos de pesquisa (pblicos e pri-vados) e empresas. A natureza da pesquisa realizada em cada uma dessas organizaes tem caractersticas especficas, de acordo com suas misses institucionais. Quando se consideram as outras funes do Sistema Nacio-nal de C&T, como planejamento e financiamento, torna-se necessrio agregar o governo, seja em nvel federal, estadual ou mesmo municipal.2
As universidades dedicam-se educao de jovens estudantes e pes-quisa de natureza fundamental, embora em certas reas, como as Engenha-rias e a Medicina, haja alguma intensidade de pesquisa aplicada.
2 Uma anlise mais detalhada dos papis institucionais em um sistema de C&T encontra-se em Cruz, Revista Intresse Nacional. Sobre o papel da universidade, ver Brito Cruz. Pesquisa e a Universidade. In: Steiner; Mahlnic (orgs.). Ensino superior: conceito e dinmica. p.41-63.
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De outro lado, as empresas tendem a dedicar-se muito mais s ativida-des de desenvolvimento experimental ou tecnolgico, ligadas diretamente colocao no mercado de novos produtos ou servios.
Em uma zona intermediria, institutos de pesquisa e laboratrios nacio-nais tendem a ter as trs atividades com alguma nfase na pesquisa aplicada.
Dois valores so essenciais para a vitalidade da universidade: a liberdade acadmica e a autonomia. Ambos se relacionam intimamente: sem autono-mia, no existe liberdade acadmica; e a liberdade acadmica parte funda-mental do exerccio da autonomia universitria.
A liberdade acadmica, em especial, hoje um valor mal compreendido. Essa incompreenso deriva do utilitarismo que tem pautado a discusso sobre cincia e tecnologia no Brasil; da cobrana de certos resultados e contribui-es que a universidade pode oferecer, mas que no lhe so essenciais, nem fazem parte de sua razo de existir. Com o risco de perder em preciso, mas ganhando em conciso, podem-se observar duas faces desse utilitarismo: a primeira, a do utilitarismo de direita, define como principal funo das uni-versidades o apoio s empresas, para que elas se tornem mais competitivas, mantenham o ritmo das exportaes, o crescimento da economia do pas etc.; a segunda, o utilitarismo de esquerda, define como funo principal ajudar a sociedade brasileira, por aes imediatas, a ser menos pobre, mais saudvel, menos desigual. Ambos os objetivos so de grande relevncia, pois o Bra-sil precisa efetivamente de indstrias competitivas usurias e geradoras do conhecimento e de polticas e meios para diminuir a pobreza e a desigualdade.
Esses objetivos so legtimos, adequados e necessrios para o desenvol-vimento nacional; o erro est em atribuir universidade a responsabilidade por atingi-los. Embora tenha papel importante de produzir uma parte do conhecimento necessrio para a indstria ser competitiva, ela desempenha uma funo especial, raramente percebida e que, por isso mesmo, precisa ser mais discutida: a universidade forma os profissionais que geram conhe-cimento na indstria. A est a singular e especfica funo da universidade: educar pessoas para trabalhar com o conhecimento.
Se o lugar da cincia e da educao a universidade, o lugar do desenvol-vimento de tecnologia , por excelncia, a empresa. O elemento criador de inovao o cientista ou engenheiro que trabalha em P&D nas empresas, sejam elas voltadas para produtos ou servios. Assim que, nos Estados Unidos, 80% dos cientistas trabalham para empresas.
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J em 1776, Adam Smith (1996) observava que as principais fontes de inovao e aprimoramento tecnolgico eram
os homens que trabalhavam com as mquinas e que descobriam maneiras enge-nhosas de melhor-las, bem como os fabricantes de mquinas, que desenvol-viam melhoramentos em seus produtos.
Os termos usados nos pargrafos anteriores so propositalmente vagos, considerando que as caracterizaes no so absolutas nem devem ser entendidas de forma restritiva. Alm disso, podem depender muito das tra-dies locais ou at mesmo institucionais. No Brasil, temos, por exemplo, institutos de pesquisa como o Instituto de Pesquisas Tecnolgicas (IPT) ou o Instituto Nacional de Tecnologia (INT) que se dedicam principalmente pesquisa aplicada e ao desenvolvimento. H ainda o Centro Brasileiro de Pesquisas Fsicas e o LNLS que se dedicam muito mais pesquisa bsica. De forma anloga, h muitos casos de universidades que contriburam de maneira excelente em pesquisa aplicada e desenvolvimento e de empresas que deram insubstituveis contribuies pesquisa bsica.
O caso dos Estados Unidos, para o qual h boas medidas e longas sries histricas sobre os investimentos em P&D, auxilia o entendimento sobre o papel das universidades, dos institutos, dos laboratrios nacionais e das empresas. A Figura 1.3 mostra os valores dos dispndios em Pesquisa Bsica, Pesquisa Aplicada e Desenvolvimento, classificados segundo as organizaes que fazem uso desses recursos. Na classificao da pesquisa usada pelo National Science Board dos Estados Unidos, as categorias so assim definidas (OMB CIRCULAR, 2010):
a. Pesquisa bsica: o estudo sistemtico voltado para o conheci-mento ou a compreenso mais completa dos aspectos fundamentais dos fenmenos e fatos observveis, sem ter como foco aplicaes especficas em processos ou produtos. No entanto, pode incluir ati-vidades realizadas tendo como objetivo amplas aplicaes.
b. Pesquisa aplicada: o estudo sistemtico para obter conhecimento ou compreenso necessria para determinar os meios pelos quais uma necessidade especfica e reconhecida poder vir a ser atendida.
c. Desenvolvimento: a aplicao sistemtica de conhecimentos ou de entendimento, voltada para a produo de materiais, dispositivos,
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sis temas ou mtodos teis, incluindo a concepo, o progresso e a melhoria de prottipos e novos processos, para atender a requisitos especficos.
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Figura 1.3. Dispndios nas categorias de pesquisa bsica, pesquisa aplicada e desenvolvi-mento, nos Estados Unidos em 2008, segundo a natureza da organizao executora.
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Figura 1.4. Dispndios nas categorias de pesquisa bsica, pesquisa aplicada e desenvolvi-mento, nos Estados Unidos em 2008, segundo a fonte dos recursos.
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Por um lado, observa-se que naquele pas a pesquisa bsica acontece principalmente (67% dos dispndios) em universidades, ao passo que o predomnio da empresa em pesquisa aplicada (79%) e em desenvolvimento (93%) bem claro.
De outro lado, observa-se que os recursos destinados ao desenvolvi-mento so quase cinco vezes maiores do que aqueles destinados pesquisa bsica, indicando o alto custo dessa atividade.
As informaes da Figura 1.3 so complementadas pelas da Figura 1.4, nas quais se mostram as fontes de recursos para as trs categorias. Pode-se verificar que no financiamento pesquisa bsica o papel principal (62% do total) cabe ao Governo Federal e, em certa medida aos governos estaduais, visto que muitas vezes os fundos provenientes da fonte Universidades so recursos estaduais. J na pesquisa aplicada e no desenvolvimento, o predom-nio do financiamento passa a ser aquele com recursos das empresas, sendo 69% e 87%, respectivamente.
A intensidade da P&D executada e financiada por empresas no caso dos Estados Unidos sinaliza para o papel central a empresa que tem em matria de inovao. Adicionalmente, a diferena no tipo de pesquisa que se faz na empresa e na universidade aponta para o erro de se supor, como muitas vezes acontece no debate brasileiro sobre C&T, que a universidade criar tecnologia e a transferir para a empresa. A realidade que nos mostra o caso norte-americano e na verdade o de todo pas que criou desenvolvimento com P&D muito diferente: a tecnologia engendrada na empresa, por cientistas empregados da empresa e que trabalham em laboratrios indus-triais. Universidades contribuem com esse esforo, sempre fornecendo pes-soal qualificado que atuar como pesquisador na empresa, e, poucas vezes, criando ideias que sero transferidas para empresas.
Em todos os pases que tm usado o conhecimento como motor do desen-volvimento, a maioria dos cientistas trabalha em empresas, como pesquisa-dores nos centros de P&D. No Brasil, ao contrrio, temos ainda poucos cien-tistas em empresas, menos de 50 mil, como veremos mais adiante, os quais competem com 182 mil que trabalham para empresas na Coreia do Sul e mais de um milho de cientistas em empresas nos Estados Unidos (Organi-zation for Economic Co-operation and Development, 2010/1, p.50). Trata--se de uma competio desigual. Embora o Brasil tenha demonstrado alguns sucessos nessa rea como a Embraer, a Petrobrs ou o agroneg-
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cio movido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria (Embrapa), falta-nos a capacidade de realizar isto repetida e continuamente. Os vrios bons exemplos demonstram que, para desenvolver a atividade de P&D empresarial necessrio que se considere, na poltica de C&T nacional e na poltica para o desenvolvimento industrial, o papel central da empresa como polo realizador de P&D. S assim ser possvel tornar a transforma-o de conhecimento em riqueza em uma atividade empresarial corriqueira no pas.
No se trata de o empresrio no Brasil no valorizar a inovao tecnol-gica como importante para seus negcios. Ao contrrio, as principais orga-nizaes de representao empresarial, como a Confederao Nacional das Indstrias (CNI), a Mobilizao Empresarial pela Inovao (MEI),3 a Fede-rao das Indstrias de So Paulo (Fiesp)4 e outras federaes, tm estado extremamente ativas no debate sobre as polticas para C&T&I no Brasil e demonstram reconhecer, de forma cada vez mais efetiva, a importncia da inovao e da P&D em empresas para a competitividade. O ambiente eco-nmico instvel extremamente desfavorvel e at mesmo hostil, para que as empresas realizem investimentos em P&D e tenham retorno certo por vezes em prazo longo. Note-se que, mesmo em um ambiente menos desfa-vorvel, a atividade de P&D contm uma incerteza intrnseca: pesquisa-se, em geral, sobre o que no se conhece e, muitas vezes, um projeto perfeita-mente organizado e planejado pode no ser bem-sucedido.
Outra parte desse desempenho se explica pela estrutura industrial bra-sileira, onde esto sub-representados os setores que mais inovam, como frmacos e eletrnica. Alm disso, em muitos setores, no competimos no mercado internacional e nossas empresas muitas vezes se localizam na cadeia de agregao de valor, em mercados onde a liderana no definida pela tecnologia.
Por tudo isso, essencial que haja apoio estatal s atividades de pesquisa e desenvolvimento em empresas. Nos Estados Unidos, dos 89 bilhes de dla-res anuais que o governo federal investiu em 2008 em atividades de P&D, 26 bilhes foram para empresas americanas. Nesse caso, principalmente,
3 Ver http://www.cni.org.br/portal/data/pages/FF808081237102CA012376551C182036.htm.
4 Ver http://www.fiesp.com.br/competitividade/default.aspx.
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por meio de uma poltica de encomendas tecnolgicas, em que o governo compra das empresas produtos e desenvolvimento tecnolgico, esse valor significa 15% do dispndio total feito pelas empresas em P&D. Na Ingla-terra, o Estado investe 1,5 bilho de dlares anuais em P&D empresarial 9% do dispndio total empresarial em P&D. Na Frana so, anualmente, 1,6 bilho de dlares de investimento do Estado em P&D nas empresas 11% do total despendido pelas empresas. Na Alemanha, 2 bilhes anuais 9% do dispndio empresarial.
Portanto, h de se considerar que no sistema de C&T tratamos de enti-dades diferentes, mas igualmente importantes: universidades, empresas e institutos de pesquisa. Na anlise sobre os recursos humanos para C&T essencial compreendermos corretamente o papel de universidades, empre-sas e governos no sistema completo. Na prxima seo, analisaremos as principais caractersticas do relacionamento universidade-empresa para a criao do conhecimento.
Relao universidade-empresa em P&D
Vale a pena entrar em mais alguns detalhes sobre o financiamento de P&D acadmica por empresas, usando ainda o caso dos Estados Unidos como exemplo. O grfico da Figura 1.5 mostra como est dividido o inves-timento total de US$ 51,16 bilhes, feito em projetos de pesquisa de todas as universidades dos Estados Unidos, no ano de 2008.
Na USP ou na Unicamp, o dado correspondente seria obtido somando--se os recursos pagos a projetos aprovados de pesquisadores das universi-dades por agncias de fomento como a Fapesp, o CNPq, a Finep (Finan-ciadora de Estudos e Projetos) e a Capes; aos recursos vindos dos Fundos Setoriais; a uma frao a ser arbitrada do salrio dos professores (paga por sua dedicao integral docncia e pesquisa); e a mais eventuais contratos com empresas para atividades de P&D.
A Figura 1.5 mostra que o governo aloca dois teros dos US$ 51,16 bilhes, e que apenas 5% resulta de contratos com empresas (NRC, 2009). importante ter em mente como reduzida a participao das empresas no financiamento da pesquisa acadmica nos Estados Unidos, em contraposi-o percepo equivocada existente no Brasil de que o Estado, nas esferas federal, estadual e municipal, no suporta manter os nveis necessrios de
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investimento em pesquisa. Essa linha equivocada de argumentao desem-boca na suposio no sustentada por dados de nenhum pas do mundo de que a pesquisa acadmica, em vez de ser financiada pelo Estado, deveria s-lo pela indstria.
A parcela de investimento da indstria em pesquisa acadmica nos Esta-dos Unidos mostra o limite do pas, cujo sistema universitrio provavel-mente o mais poderoso do mundo e no qual a indstria, tambm poderosa e vida por conhecimento, em vez de buscar nas universidades a pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias, procura os estudantes nelas formados. As empresas os empregam para que, dentro delas, criem a tecnologia de que necessitam. Na Inglaterra, o percentual da pesquisas acadmicas finan-ciado por empresas tambm de 7%.
Em todo o mundo, a pesquisa acadmica financiada principalmente pelo Estado, e no pela indstria. Independentemente de ser considerada bsica, aplicada ou de desenvolvimento tecnolgico, a pesquisa praticada na universidade, em geral, traz resultados difceis de serem aplicados priva-damente. E, na economia de mercado, se um setor no pode ser recompen-sado, o investimento se inviabiliza.
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Figura 1.5. Fontes de recurso para a pesquisa acadmica nos Estados Unidos em 2000 Fonte: Science and Engineering Indicators (2010).
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Figura 1.6. Investimento em P&D feito pelo setor empresarial nos Estados Unidos em 2008: de um total de 263,3 bilhes de dlares apenas 1,1% foram dirigidos a apoiar projetos coo-perativos com universidades.Fonte: Science and Engineering Indicators (2010).
No mesmo ano de 2008, as indstrias norte-americanas investiram US$ 263,31 bilhes em P&D: 98,3% do valor foram destinados atividade de P&D dentro da prpria empresa, e em sua maior parte, para o pagamento de salrios de seus pesquisadores (Figura 1.6). Apenas 1,1% do total foi investido pelas empresas nas universidades (NRC, 2009).
Os dados mostrados deixam claro que a pesquisa para a empresa reali-zada primordialmente dentro dela, em seus centros e laboratrios de P&D. Dessa forma, a empresa consegue ter alto grau de controle sobre a confi-dencialidade e sobre o direcionamento dos resultados.
Edwin Mansfield (1996), da Universidade da Pensilvnia, realizou um estudo sobre as fontes de ideias para inovao tecnolgica e verificou que menos de 10% dos novos produtos ou processos introduzidos por empresas nos Estados Unidos tiveram contribuio essencial e imediata de pesqui-sas acadmicas. Portanto, nove em cada dez inovaes nascem na empresa. Diz ele:
a maioria dos novos produtos ou processos que no poderiam ter sido desen-volvidos sem o apoio de pesquisa acadmica no foi inventada em universida-
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des; ao contrrio, a pesquisa acadmica forneceu novas descobertas tericas ou empricas e novos tipos de instrumentao que foram usados no desenvolvi-mento, mas nunca a inveno especfica. Isto dificilmente vai mudar. O desen-volvimento bem-sucedido de produtos ou processos exige um conhecimento ntimo de detalhes de mercado e tcnicas de produo, bem como a habilidade para reconhecer e pesar riscos tcnicos e comerciais que s vem com a experin-cia direta na empresa. Universidades no tm esta expertise e irrealista esperar que possam obt-la.(Mansfield, 1996)
No entanto, h um tipo de atividade para o qual a empresa precisa recor-rer e efetivamente recorre , ou seja, a universidade. A empresa procura contratos com universidades para ter contato com a fronteira do conhe-cimento e, de forma especial, com as pessoas que pretende contratar nos prximos trs ou quatro anos. Essa a inteno declarada explicitamente em numerosos exemplos. No se trata de contratar na universidade a tecno-logia que deseja lanar no mercado em curto prazo. Empresas querem, em geral, interagir com universidades em atividades exploratrias, para discu-tirem perspectivas a serem exploradas futuramente, e no exclusivamente para se apropriarem de um conhecimento e transform-lo em produto. Por-tanto, trata-se de uma expectativa muito diferente da ideia simplificadora que predomina no Brasil. Para resolver seus problemas, empresas precisam contratar jovens graduados e ps-graduados. Em alguns casos, certo que as universidades podem encontrar ou ajudar a encontrar solues, mas no saudvel para o seu desenvolvimento e para a economia brasileira que se espere que elas substituam a P&D empresarial, essencial para o desenvol-vimento da indstria brasileira. Algumas diferenas nas misses institu-cionais entre universidade e empresa a serem consideradas so as atitudes frente ao sigilo e o nvel de risco nos projetos.
Enquanto nas universidades a disseminao dos resultados a regra, e isso acontece porque o debate e a crtica externa so essenciais ao progresso da cincia e boa educao dos estudantes, nas empresas a confidenciali-dade e o segredo so fundamentais para preservar os investimentos feitos em P&D.
No que diz respeito ao risco, em universidades um projeto de pesquisa, mesmo que fracassado, pode ser usado para educar estudantes. Afinal, aprende-se tanto com o acerto quanto com o erro, e a pesquisa tem incer-
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tezas intrnsecas enormes, especialmente quando se trabalha perto da fron-teira do conhecimento. J na empresa, o fracasso de um projeto muito mais traumtico e raramente pode ser amortizado com a contribuio ao treinamento e educao da equipe.
Outra diferena fundamental que na pesquisa acadmica a meta de educar um ou mais alunos que participam do projeto parte essencial dos objetivos. Na empresa, tal meta em geral no existe, sendo o projeto valori-zado apenas pelos resultados que vir a obter.
Recursos Humanos para P&D
A contagem do nmero de pesquisadores ativos no Brasil no tarefa simples. Ela envolve vrias hipteses e suposies que vo desde a estima-tiva da intensidade da dedicao daqueles considerados pesquisadores at aquelas necessrias para definir o que deve ser considerado atividade de pesquisa.5 No setor empresarial, a frequncia de contagens esparsa a Pesquisa de Inovao Tecnolgica (Pintec) do Instituto Brasileiro de Geo-grafia e Estatstica (IBGE) foi realizada somente para os anos 2000, 2003, 2005 e 2008. No caso de universidades, em geral, estima-se o nmero de pesquisadores considerando o pessoal com titulao de doutor e regime de trabalho de dedicao exclusiva (ou dedicao integral nas universidades estaduais paulistas), mas bem sabido que nem todos se dedicam pes-quisa com intensidade uniforme.
Nos dados divulgados pelo MCT,6 sobre a quantidade de pesquisadores no pas, no se levam em conta os resultados mais recentes da Pintec, o que afetaria as quantidades de pesquisadores em empresas e a quantidade total.
Usamos neste trabalho os dados do MCT como base, fazendo a correo para considerar os dados recentes da Pintec para o ano 2008 e interpolando linearmente os dados para o nmero de pesquisadores em empresas entre 2005 e 2008. Dessa forma, obtivemos os dados da Tabela1.1.
5 Pode servir de consolo saber que at mesmo nos Estados Unidos este tipo de contagem en-frenta dificuldades; veja, por exemplo, Counting the S&E workforce its not that easy, NSF 99-344.
6 Dados consultados em 8 jan. 2011.
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22 RICARDO UBIRACI SENNES ANTONIO BRITTO FILHO (ORGS.)
Uma primeira avaliao sobre a quantidade de pesquisadores no Brasil pode ser alcanada comparando-se o nmero de pesquisadores por milho de habitantes com o de alguns outros pases, como mostra a Tabela 1.2 nas colunas 3 e 4. fcil ver a deficincia existente no pas em comparao a todos os demais pases utilizados na comparao, com exceo do Mxico. No Brasil, h 632 pesquisadores por milho de habitantes; na Argentina, h 50% a mais (945); em Portugal e na Espanha, esse nmero 4 vezes maior; e na Coreia do Sul, 7 vezes maior.
Quando se analisa a quantidade de pesquisadores em empresas, a dife-rena entre o Brasil e os pases sua frente fica ainda mais gritante (Tabela 1.2, colunas 7 e 8). Nessa categoria, a Coreia do Sul tem ndice 15,7 vezes superior ao brasileiro, os Estados Unidos e o Japo esto acima de 17 vezes mais elevados.
Essas comparaes permitem uma primeira estimativa, ainda que grosseira, quanto necessidade de pessoal para P&D no pas. Para que as empresas no Brasil tenham quantidade de pessoal dedicada a ideias e ao aumento de sua competitividade em intensidade comparvel a alguns de seus competidores elencados na Tabela 1.2, o nmero de pesquisadores em empresas precisaria ser aumentado por um fator entre 4 (nvel da Espanha e de Portugal) e 15 (nvel da Coreia, dos Estados Unidos e do Japo). Tal aumento requereria entre 120 mil e 650 mil pesquisadores. Supondo que os pesquisadores em empresas sejam em sua maioria engenheiros, e deixando de lado por um instante a possibilidade de serem, necessariamente, enge-nheiros com mestrado ou doutorado, tais demandas representariam de 2,4 a 13 vezes mais do que o total de engenheiros formados no Brasil em 2008 (47.098 segundo a Sinopse do Ensino Superior do Ministrio da Educao MEC para 2008).
Alm da demanda de pessoal para a P&D em empresas, igualmente importante a formao de pessoal para a P&D em universidades e institu-tos de pesquisa. Nesse caso, os requisitos de formao tendem a ser mais exigentes quanto titulao: se na empresa h muitos pesquisadores bacha-ris e poucos doutores, na universidade a regra internacional que o lder de pesquisa deva possuir doutorado, o que tem relao com a diferena de natureza entre a pesquisa acadmica e a pesquisa empresarial, como discu-timos anteriormente.
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24 RICARDO UBIRACI SENNES ANTONIO BRITTO FILHO (ORGS.)
Para os pesquisadores em universidades, a diferena entre o ndice do Brasil e os dos demais pases fica reduzida: o mximo um fator 7,3 de acordo com o Reino Unido, mas na maioria dos casos varia em torno de 3.
Formao de Recursos Humanos para Pesquisa no Brasil
A formao na graduao
Em 2008, no Brasil, 800.318 estudantes graduaram-se em todas as reas do conhecimento (Tabela 1.3). Desse total, 2% nas reas de Agrrias e Vete-rinria; 66% em Cincias Humanas e Sociais; 14% em Engenharias e Cin-cias Exatas; 16% em Sade; e 3% em Servios.
Nos ltimos treze anos, as reas de Agrria e Veterinria e Cincias Hu-manas e Sociais mantiveram-se estveis, enquanto as de Engenharias e Cin-cias Exatas perderam dois pontos percentuais (16% do percentual que tinha em 1995), a rea de Sade ganhou dois pontos percentuais (+ 19% em relao a 1995) e a de Servios ganhou dois pontos percentuais, significando 85% de aumento em relao ao 1% que tinha em 1995. Exceto pela alterao em Ser-vios, as demais parecem ser flutuaes relativamente pequenas, que podem ser momentneas, sendo difcil relacion-las a tendncias firmes de variao.
A Tabela 1.4 compara a distribuio dos graduados no Brasil em 2008 com as quantidades de alguns outros pases. O Brasil apresenta a maior proporo de graduados em Cincias Humanas e Sociais (69%) e a menor em Engenharia e Cincias Exatas (11%).
A elevada proporo de graduados em Cincias Humanas e Sociais pode ser um dos resultados da expanso do sistema privado de ensino superior ocorrida nos ltimos 30 anos. Esse sistema tende a favorecer cursos de baixo custo e que podem atender grande nmero de alunos, tendo havido uma notvel proliferao na rea de Direito.7 Considerando fatores relacio-nados qualidade, esse percentual cai significativamente, basta considerar os dados do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) ou os exames da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). O que parece ocorrer nessa rea que um grande nmero de cursos baratos oferece aos estudan-tes um diploma de valor meramente formal e no substantivo.
7 Matria recente informa que o Brasil teria mais faculdades de direito do que todo o resto do mundo (http://colunistas.ig.com.br/leisenegocios/2010/10/13/brasil-e-campeao-em-faculdades-de-direito/), atribuindo a contagem ao CNJ (Conselho Nacional de Justia).
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INOVAES TECNOLGICAS NO BRASIL 27
Nas reas de Cincias da Natureza e Exatas a expanso do setor pri-vado foi menos intensa do que na rea de Cincias Humanas e Sociais, mas mesmo assim superou, a partir de 2004, a ocorrida no setor pblico, como mostra a Figura 1.7.
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Figura 1.7. Evoluo da quantidade de concluintes nas reas de engenharia, produo e construo.
Fonte: Censos do Ensino Superior do Inep.
Segundo mostra a Figura 1.7, o Brasil formou, em 2008, 47.098 profis-sionais em engenharia, produo e construo, com uma evoluo temporal que indica uma estagnao a partir de 2007.
A partir de 2006, quando a economia brasileira passou a crescer em taxas superiores a 4% ao ano, evidenciou-se em todas as atividades do pas a falta de profissionais qualificados. A Conferncia Nacional de Indstria (CNI) tem dado destaque questo da falta de engenheiros, o que tem sido bem documentado, inclusive do ponto de vista da qualidade dos profissio-nais necessrios (Formiga, 2010). O Instituto de Estudos para o Desenvol-vimento Industrial (Iedi) publicou em 2010 um estudo (Carta IEDI n.424, 2010) muito detalhado no qual as concluses sobre a formao de engenhei-ros no Brasil eram:
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a. H uma forte e crescente demanda por profissionais de engenharia no Brasil, que detectado no pelos estudos econmicos mais gerais, em funo das metodologias adotadas, mas pelo dia a dia das empre-sas e de suas dificuldades concretas no mercado de trabalho.
b. A formao em engenharia tem um impacto amplo sobre muitos setores e atividades, e no se restringe apenas s atividades tpicas de engenharia de cada setor/atividade.
c. Esse problema est relacionado deficincia quantitativa da forma-o de engenheiros, em especial na graduao, mas muito possivel-mente (o que no investigado aqui) tambm se relaciona com a qua-lidade dos egressos em engenharia.
d. A situao brasileira em termos de nmero de engenheiros por habi-tantes especialmente precria e insustentvel em comparao a qualquer outro pas desenvolvido ou no mesmo estgio de desenvol-vimento do Brasil.
e. O quadro brasileiro se explica pela baixa escolaridade superior, mas tambm fortemente agravado pelo perfil dos egressos da gradua-o e ps-graduao, em que o percentual de engenheiros baixo e decrescente.
Menos documentada tem sido a falta de profissionais da rea de Cin-cias Humanas e Sociais e de Cincias da Natureza e Exatas, embora parea bvio que, dada a qualidade deficiente da enorme maioria dos cursos, o pas acabe desatendido tambm nestas reas. A experincia da Fapesp na articu-lao de projetos de pesquisa cooperativos entre universidades e empresas mostra claramente o desequilbrio entre a alta oferta de oportunidades de parceria e o pequeno nmero de pesquisadores ativos capazes de atender a essas oportunidades, especialmente em certas reas em que o Brasil tem destaque mundial, como a bioenergia e a biodiversidade.
A formao na ps-graduao
Para as atividades de pesquisa e desenvolvimento, na academia ou na empresa, os profissionais ps-graduados tm especial importncia, como mostra a experincia mundial. No Brasil, as polticas contnuas para a ps-
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INOVAES TECNOLGICAS NO BRASIL 29
-graduao levaram ao desenvolvimento de um sistema bem superior ao da maioria dos pases da classe do Brasil.
A Figura 1.8 apresenta um indicador tradicional para formar um quadro sobre a capacitao cientfica (o nmero de doutores formados anualmente) em comparao s trajetrias da China, da ndia e da Coreia do Sul. Tam-bm nesse indicador os resultados brasileiros so competitivos com os da Coreia, ndia e Espanha, como mostrados na figura. Mesmo assim, a traje-tria brasileira encerra desafios importantes como veremos a seguir.
20.000
18.000
16.000
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12.000
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1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 2015
ndia
Coreia
Brasil
Espanha
Figura 1.8. Evoluo na quantidade de doutores formados anualmente.
Um desses desafios relaciona-se com a mudana de tendncia que pode ser observada na Figura 1.8 a partir de 2003: de 1995 a 2002, a taxa de cres-cimento do nmero de doutores formados anualmente foi de 14% ao ano, caindo para 5,4% ao ano a partir de 2003.
O desafio quantitativo est indicado na Figura 1.9, com escala loga-rtmica, para que se facilite a identificao do arrefecimento ocorrido na taxa de crescimento da curva a partir de 2003. De 1995 a 2002, a taxa de crescimento na formao de doutores era de 14,4% ao ano; de 2003 a 2008,
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30 RICARDO UBIRACI SENNES ANTONIO BRITTO FILHO (ORGS.)
caiu para 5,4% ao ano. O fenmeno foi identificado por Viotti e coautores: a diferena na capacidade de formao de doutores entre o Brasil e os Estados Unidos, que vinha diminuindo aceleradamente de 1980 a 2002, estagnou a partir de 2003.8 Em 1987, o nmero de doutores formados no Brasil corres-pondeu a 3% do nmero formado nos Estados Unidos; em 2003, 20%; em 2006, 21%.
O segundo desafio ligado formao de doutores a limitada inten-sidade de convivncia internacional dos titulados. A ps-graduao no Brasil avanou muito ao criar oportunidades para doutoramento no pas, especialmente a partir da dcada de 1980 do sculo passado. Mas uma con-sequncia imprevista dessa nacionalizao foi a reduo da intensidade de criao de redes e parcerias internacionais. O isolamento, agravado pela
8 Grfico 1, p.11. In: Viotti, E. B.; Baessa, A. Caractersticas do Emprego dos Doutores Brasileiros Braslia. Centro de Gesto e Estudos Estratgicos, 2008.
10,00
9,50
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Titulao de doutores (log)
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Linear (1995-2002)
Linear (2002-2009)
y = 0,1441 x -279,65R = 0,9923
y = 0,0535 x -98,128R = 0,97652 2
Figura 1.9. Evoluo do nmero de doutores formados anualmente, mostrando a mudana de tendncia verificada a partir de 2003.
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INOVAES TECNOLGICAS NO BRASIL 31
barreira lingustica, prejudica o progresso da cincia no Brasil e tambm a qualidade da formao dos doutores titulados, pois, como bem sabido, a cincia avana mais e melhor quando h mais interao entre os cientistas, especialmente com os melhores entre eles. Para vencermos esse desafio necessrio haver mais programas e incentivos e/ou facilidades para que os jovens mestrandos e doutorandos possam realizar estgios de alguns meses em excelentes laboratrios fora do pas, de tal forma que isso contribua com a educao e tambm os ajude a se inserirem em redes internacionais de pesquisa.
O desenvolvimento da ps-graduao e a pesquisa acadmica
O desenvolvimento da ps-graduao contribuiu e, ao mesmo tempo, foi determinado, pelo desenvolvimento de faculdades, departamentos ou grupos de pesquisa competitivos internacionalmente em muitas universi-dades brasileiras, principalmente pblicas embora a Pontifcia Univer-sidade Catlica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e a de So Paulo (PUC-SP) sejam excees a se destacar em pesquisa. Tal resultado decorre do fato de somente as universidades pblicas contarem com o tipo de financiamento que permite ter grande nmero de professores em regime de dedicao exclusiva ou dedicao integral, o qual essencial para que as atividades de pesquisa se intensifiquem e ganhem competitividade.
Como resultado, universidades pblicas respondem pela maior parte da produo cientfica do pas. Onze universidades respondem por um pouco mais de trs quartos dos artigos cientficos publicados em peridicos inter-nacionais, conforme mostrado na Tabela 1.5. A USP, cujo corpo docente conta com 5.420 doutores, gerou, em 2008, 26% dos artigos cientficos internacionais do pas, seguida pela Unicamp, cujo corpo docente de 1.700 professores publicou, no mesmo ano, 9% da produo cientfica do Brasil.
A experincia de muitas universidades brasileiras mostra que sua capa-cidade cientfica cresce quando a instituio aumenta o peso especfico dos valores acadmicos em suas decises. Um dos elementos essenciais para que haja um predomnio dos valores acadmicos sobre as presses corpora-tivas haver uma maioria do corpo docente ativa em pesquisa.
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1.5.
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65%
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76%
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INOVAES TECNOLGICAS NO BRASIL 33
Tabela 1.6. Titulao do corp o docente nas universidades brasileiras.
Total Sem graduao Graduados Especialistas Mestres Doutores% de
doutores
Brasil 178.147 27 20.522 34.314 58.591 64.693 36%
Pblica 103.607 22 12.314 13.258 28.127 49.886 48%
Federal 57.688 4 7.726 4.178 14.776 31.004 54%
Estadual 41.706 18 4.270 7.832 11.541 18.045 43%
Municipal 4.213 318 1.248 1.810 837 20%
Privada 74.540 5 8.208 21.056 30.464 14.807 20%
Particular 26.473 3.129 8.616 10.657 4.071 15%
Comun/Confes/Filant
48.067 5 5.079 12.440 19.807 10.736 22%
Fonte: Sinopse do ES 2008.
Neste ponto, as universidades brasileiras enfrentam um desafio funda-mental, que o da titulao de seu corpo docente. O censo do ensino supe-rior do Inep, verso 2008 (Tabela 1.6), mostra que no sistema universitrio brasileiro, o conjunto das universidades federais tem o melhor ndice de titulao do corpo docente, com 54% dos docentes com doutoramento. Nas universidades privadas particulares esse percentual cai para 15%, consis-tente com sua pouca presena no panorama de produo cientfica nacio-nal. Para efeito de referncia, vale mencionar que na USP, na Unicamp e na Unesp o percentual de docentes com doutorado superior a 95%.
A especializao nas reas do conhecimento
A Tabela 1.7 faz uma comparao entre o Brasil e vrios pases para a distribuio dos doutorados titulados em 2006 (ou ano mais prximo com dados disponveis) nas reas do conhecimento, utilizando-se a classificao do Science and Engineering Indicators (que difere um pouco da classifica-o da OECD).
A porcentagem de doutorados em reas consideradas no Science and Engineering Indicators como no Cincia e Engenharia, 47%, similar de vrios outros pases. Na Coreia, por exemplo, esse percentual de 56%; nos Estados Unidos, 46%; e na Frana de 31%.
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34 RICARDO UBIRACI SENNES ANTONIO BRITTO FILHO (ORGS.)
Tabela 1.7. Doutorados defendidos em 2006 segundo as reas do conhecimento para pases selecionados.
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Eng
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Todas as regies 338.485 173.891 62.882 10.959 10.752 33.719 55.579 164.594
China 36.247 22.953 7.241 NA 1.544 2.038 12.130 13.294
ndia (2005) 17.898 7.537 5.549 NA 1.020 NA 968 10.361
Japoa 17.396 8.122 1.633 NA 1.321 973 4.195 9.274
Coreia do Sul 8.657 3.779 817 173 214 308 2.267 4.878
Taiwan 2.614 1.643 319 182 92 111 939 971
Ir 2.537 749 237 74 117 86 235 1.788
Israel 1.210 742 389 76 36 143 98 468
Turquia 2.594 1.185 299 98 180 238 370 1.409
frica do Sul 1.100 559 206 40 54 151 108 541
Frana 9.818 6.770 3.903 886 26 932 1.023 3.048
Alemanha 24.946 10.243 5.281 1.074 376 1.325 2.187 14.703
Itlia 9.604 5.613 2.155 380 421 830 1.827 3.991
Portugal 5.342 3.065 884 629 89 742 721 2.277
Rssiab (2007) 34.494 19.725 4.829 NA 812 8.052 6.032 14.769
Espanha 7.159 3.430 1.867 336 143 553 531 3.729
Sucia 3.781 2.331 593 262 59 278 1.139 1.450
Reino Unidoc 16.520 9.760 3.980 1.160 320 2.100 2.200 6.750
Canad 4.200 2.385 765 225 102 657 636 1.815
Mxico 2.800 1.521 452 74 219 526 250 1.279
Estados Unidos 56.309 30.452 10.724 2.713 1.037 8.576 7.402 25.857
Argentina (2005) 457 275 156 17 6 56 40 182
Brasil 9.366 4.994 2.182 218 611 791 1.192 4.372
Chile 294 249 139 10 9 36 55 45
Colmbia 46 26 0 18 4 0 4 20
Austrlia 5.276 2.821 1.059 233 178 624 727 2.455
Nova Zelndia 638 348 176 33 10 78 51 290a: Inclui teses de doutorados, chamadas ronbun hakase, oriundas de empregados na indstria.b: Para a Rssia, matemtica est includa em fsica e cincias biolgicasc: Dados arredondados por dezena. A soma dos subitens pode no atingir o total devido ao arredonda-
mento.Fonte: National Science Foundation (2006).
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INOVAES TECNOLGICAS NO BRASIL 35
Tabela 1.8. Porcentagem dos doutorados nas reas do conhecimento para pases seleciona-dos, calculada a partir dos dados na Tabela 1.7.
Reg
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pas
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Todas as regies 100% 51% 19% 3% 3% 10% 16% 49%
China 100% 63% 20% NA 4% 6% 33% 37%
ndia (2005) 100% 42% 31% NA 6% NA 5% 58%
Japoa 100% 47% 9% NA 8% 6% 24% 53%
Coreia do Sul 100% 44% 9% 2% 2% 4% 26% 56%
Taiwan 100% 63% 12% 7% 4% 4% 36% 37%
Ir 100% 30% 9% 3% 5% 3% 9% 70%
Israel 100% 61% 32% 6% 3% 12% 8% 39%
Turquia 100% 46% 12% 4% 7% 9% 14% 54%
frica do Sul 100% 51% 19% 4% 5% 14% 10% 49%
Frana 100% 69% 40% 9% 0% 9% 10% 31%
Alemanha 100% 41% 21% 4% 2% 5% 9% 59%
Itlia 100% 58% 22% 4% 4% 9% 19% 42%
Portugal 100% 57% 17% 12% 2% 14% 13% 43%
Rssiab (2007) 100% 57% 14% NA 2% 23% 17% 43%
Espanha 100% 48% 26% 5% 2% 8% 7% 52%
Sucia 100% 62% 16% 7% 2% 7% 30% 38%
Reino Unidoc 100% 59% 24% 7% 2% 13% 13% 41%
Canad 100% 57% 18% 5% 2% 16% 15% 43%
Mxico 100% 54% 16% 3% 8% 19% 9% 46%
Estados Unidos 100% 54% 19% 5% 2% 15% 13% 46%
Argentina (2005) 100% 60% 34% 4% 1% 12% 9% 40%
Brasil 100% 53% 23% 2% 7% 8% 13% 47%
Chile 100% 85% 47% 3% 3% 12% 19% 15%
Colmbia 100% 57% 0% 39% 9% 0% 9% 43%
Austrlia 100% 53% 20% 4% 3% 12% 14% 47%
Nova Zelndia 100% 55% 28% 5% 2% 12% 8% 45%a: Inclui teses de doutorados, chamadas ronbun hakase, oriundas de empregados na indstria.b: Para a Rssia, matemtica est includa em fsica e cincias biolgicasc: Dados arredondados por dezena. A soma dos subitens pode no atingir o total devido ao arredonda-
mento.Fonte: National Science Foundation (2006).
Inovacao_tecnologica_(FINAL).indd 35Inovacao_tecnologica_(FINAL).indd 35 05/05/2011 23:41:0905/05/2011 23:41:09
36 RICARDO UBIRACI SENNES ANTONIO BRITTO FILHO (ORGS.)
Por outro lado, a porcentagem de doutorados em Engenharia no Brasil (13%) a metade da Coreia, embora supere ndia (5%), Israel (8%), Espa-nha (7%), Mxico (9%), e se iguale ao percentual dos Estados Unidos.
Na Figura 1.10, reduzimos o conjunto de pases com