7 - Coleção os pensadores - A sociologia de Durkheim

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A SOCIOLOGIA DE DURKHEIl\-1

1. Situação do Autor

1 , 1 , Marcos sociais]

Na adolescência, o jovem Da-vid Emile presenciou uma sé -rie de acontecimentos qu emarcaram decisivamente todos

os franceses em geral c a elepróprio em particular: a 1,0

de setembro de 1870, a. der-rota de Scdan; 3 . 28 dejaneiro de 1871, a capitula-ção diante das tropas alemãs;de 18 de marco a 28 de maio,a insurreição da Comuna de

Paris; a 4 de setembro, a proclamação da que ficou conhecida comoIll República, com a formação do governo provisório de Thiers atéa votação da Constituição de 1875 e a eleição do seu primeiro l';c-s idente (Mac-Mahon ). Thiers fora encarregado tanto de assinar otratado de Francfort como de reprimir os communards, até à liqui-dação dos últimos remanescentes no "muro dos íederados". Poroutro lado, a vida de David Emile foi marcada pela disputa franco--alemã: em !871, com a perda de uma parte da Lorena, sua terranatal tornou-se uma cidade fronteiriça; com o advento da Primeira

1 O conceito de marcos sociais é empres tado de GURVITCH (1959a) e jáaplicado, no caso de Durkheim, por N1SBET (1965) e SlCARD (1959).

A mais recente e valiosa contribuição, na linha da Sociologia do

Conhecimento, é devida a CU.RK, 1973. Tr ata-se também da ma is originale profícua abordagem da Escola Sociológica Francesa,

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~ ~~ tJu::.r.ra Mundial, ele viu partir para s .u en: ~meros~~Eiscípulos

f-jY . r. seus. ~ns dos quais não regressaraE21_in<:L~_~iY~_:Jl_Wh.9p.b.!1dres,,,- ..., -- -- . _ . _ -(':,\:, g~e par~~~<: destinado a seguir a carreira J2.?tem~..:.

v~ Nesse entretempo, Durkheim assistiu c participou de aconteci-mentos marcantes e que se refletem diretamente nas sua..L.Qbr~ou pelo menos nas suas aula.s. O ambiente é por vezes assinalado

como sendo o "vazio moral da II I República", 2 marcado seja pelas. consegüências diretas da derrota francesa e das dívidas humilhantes

~~0Pda guerra, seja por uma série de medidas de ordem política. dentrei.)'/ "'. as quais duas merecem destaque especial, pelo rompimento com.,ç :rY f.J- as tradiçÔes que elas representam. A primeira é a chamada lei

,'..~-(..~. Naquet, que instituiu o divórcio na França após acirrados debates~';)/" parlamentares, que se prolongaram de 1882 a 84. A segunda é• .~'-';representada pela in struçào laica, questão levantada na Assembléia:~)-("L;">/ em 1879. por Jules Ferry, encarregado de implantar o novo sistema,-9 ~omo Ministro da Instrução Pública, em 1882. Foi quando a~·o-.0 - 'escaLo_se tornou gratuita para todos. obrigatória dos 6 aos J 3 anos,~0 ' '5- al~ ficar proibido formalmente o ensino da religião. ;; O vazio

+f~ . correspondente à ausência do ensino de religião na escola públicaY . _ \3"" tenta-se preencher com uma pregação patriótica representada peja~ ~I que ficou conhecida como "instrução moral e cívica".

"?J'-'. . - ." / . -t-:fU..{cte-. _"::>;1'

~o.o ~~s'1no tempo que essas questões políticas e sociais baJi-.-' .....czavarn o seu tempo, uma outra questão de natureza econômica e...:,..;;)-í~social riào deixava de apresentar continuadas repercussões políticas:/1 -«:... )..- 0 \ é o que se denominava qu es t ào so cial, ou seja, as disputas e con-.. ....\.'~J.; ~. ' p1"d~'2 Comentando nos A nnulcs (v. 1V, 1899-1900) um livro que Alfred Fouilléc;..r, "1 acabara de publicar (La Franco au point de vue moral. Paris, Alem,, .'"

. t:P~\>1900), Durk heim mostra-se convencido pela argumentação relativa "à une:f R . : . J .. dissolution de nos cr oyanccs rnor ales" e, apesar de discordar das soluções

apontadas para os problemas de criminal idade, concorda com a argumen-taç ão do A. e afirma: "11 en r ésul tc un vér iiablc vide dans notre cons-

cicnce rnorale" (DURKHEIM, J969: p. 303). Já em 1888 ("Cours de

Science Sociale") reconhecia uma crise moral de seu tempo (DUR.KHEIM,

1970: p. 107).

3 Em sua obra póstuma Education et Sociologie, Durkheim reconhece:

"Estarnos divididos por concepções divergentes e, às v ezes, mesmo contra-

ditórias". Sua posição nessa polêmica é clara: "Admitido que a educação

seja função essencialmente social, não pode o Estado desinteressar-se dela.

Ao contrário, tudo o que seja educação deve estar até certo ponto sub-

metido à sua influência". Mas adverte: "Isto niio quer dizer que o Estado

deva, necessariamente, monopolizar o ensino" (c/. a trad. port., p. 48 e 47

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~".. 2 ' 1 - . '1 -t:Jc.. ' Com efeito, apesar dos traumas políticos e sociais que assina-o :. ô . > . Iam o início da IIIRepública, o final do século XIX e começo

-J'y'-1 do século XX correspondem a uma certa sensação de euforia. de! > U ~ l progresso e de esperança no futuro. Se bem que os êxitos ec o n ô-.0J-'t:~1mU:os não fossem de tal ordem que pudessem fazer esquecer aO - :L f',. ~sucessão de crises (J900-0J, 1907,1912-13) e os problemas colo-.fYJ..t ~ cados pela concentração, r.egistrava-se uma série de inovações tec-~' ''\ 110lógicas que fO"ocavam re ercussões imediatas no cam o.T ~ oJ:f' econ ômico . a ...era do aço e da eletricidade gue se inaugura,

c ' ) .. O ': junto com o início do aproveitamento do petróleo como fonte de

.~~ '-~~ ~ ,~ ao ,~ado da eletriCIdade que se notabiliza p_or ser. uma

~d-<- t energia 'Iirnpa", em contraste com a negritude do carvao, cuja era. "ro--decJina"3 - e que, ao lado da telegrafia, marcam o início do que

~'~ ,.ú~eonvencionou chamar de _"s~gunda revoJu~ão industrial", quala- pLv~~,:;eJa, a do motor de combusulO Interna e do dínamo." .. . :.--- ~-_.. . ~.,;.., ~ Além dessas invenções, outras se sucediam. Embora menosÂ-V,OJVI. ,r,'. importantes, eram sem dúvida mais espetaculares, eomo o a\'ião,~;víf.o~~<2...Submarino, o cinema, o automóvel, além das rotativas e do lino--~Q,I tipo que tornaralll as inúústrias do jor·n;}1e do Ii\TO capazes ç!e-rf.b~ t > - p r õ d U Ç 0 c s baratas e de atingir \Im pÚblico cada vez maior. Tudo~L,1O isso J:eIletia um <:.~ançoela ciéncia, marcada pelo advento ela teoria

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J . ; , - ' Q . respecrivamcnrc ). Por outro lado, a prCOC\lfl:IÇ~O ele Durkhcim com amoral n50 pode ser confundida de uma maneira simplist a, como prco-

~: V-p.. eJ t cupa ção moralista de sua parte. Pode-se dizer mesmo que a análise socio-

1__ ~ lógica da moral que empreende (ver por ex. L'éducation mora/e) é lima

~- .. -. análise laica, no sentido de não ser informada por uma posição conf'essio-- _ ...-~ nal, que aliás ele não tinha. Sua posição, em última análise, não é 1 1

A 'v - O -: . . ~ . . de um moralista - de quem fala com respeito mas guardando a devida

JP- c..~distância - e sim a de um racionalista (ver p. 3-5 e 47, onde diz: "PorqueJ .. , nós vivemos precisamente numa dessas épocas revolucionárias e crüicus.

~ 6..O-~nde a autoridade normalmente enfraquecida da disciplina tradicional pode

').-.- '. '& .1 fazer aparecer facilmente o espírito da anarquia"). Seu cornprorne tirnc.uu- t c - < r i C ,..... com o sistema polirico-social da 111 República será visto mais adinnrc,

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h~-,~'-"'"J , i L r - f1itos decorrentes da 020sição entre o capital e o trabalho, vale

dizer, entre patrão e empreí.!ado) entre burguesia e proletariado.Um marco dessa questão foi a criação, em 1895, da Con lédératio n

Gén éra le du Tr avail (CGT). A bipolarização social preocupavaprofundamente tanto a políticos Cõmo a intelectuais da época, esua interveniêricia no quadro político e social do chamado iournant

du s iécle não deixava de ser perturbadora.

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dos quanta, .da relatividade, da radioatividade, da teoria atômica,além do progresso em outros setores mais diretamente voltadosà aplicação, como a das ondas hertzianas, das vitaminasLd~~de Koch, das vacinas de Pasteur etc,

Não é pois de se admirar que vigorasse um ~tilo de \'idabellc époque, com a Exposição Universal comemorativa do cente-nário da revolução, seguida da exposição de Paris, simultânea coma inauguração do métro em 1900. O último quartel do séculofora marcado, além da renovação da literatura, do teatro e damúsica, pelo advento do impresslOnismo, que tirou a arte pictóriCãdos ambientes fechados, dos grandes acontecimentos e das grandespersonalidades - da monumentalidade, enfim - para se voltar aosgrandes espaços abertos, para as cenas e os homens comuns -para o quotidiano.

.~ Porque este homem comum é que se vê diante dos grandes. ..problemas representados pelo pauperismo, pelo desemprego, pelos

;2o.~ grandes fluxos migratórios. Ele é objeto de preocupação do movi-~ I mente operário, que inaugura, com a fundação da CGT no Con-

~esso de Limoges, uma nova era do sindicalismo, .Que usa a gre'.:..ccomo instrumento de reivindicação econômica e não mais exclusi-~1têpolítica. B certo que algumas conquistas se sucedem, comos primeiros passos do seguro social e da legislação trabalhista,sobretudo na Alemanha de Bisrnarck.

Mas se objetivarn tamb ém medidas tendentes a aumentar aprodutividade do trabalho, como o "taylorisrno" (1912). Tambéma Igreja se volta para o problema, com a encíclica Rerum Nova-rum (1891), de Leão XIII, que difunde a idéia de que o prole-tariado poderia deixar de ser revolucionário na medida em que setornasse proprietário. 1:: a chamada "desproletarização" que seobjetiva, tentada através de algumas "soluções milagrosas", tais

como o cooperativismo, corporativismo, participação nos lucros etc.Pretende-se ar várias maneiras, contornar a uestã social eeliminar a luta de classes, es ntalhos do industrialismo.

Enfim, estamos diante do "espírito moderno". Na' Ecole Nor-male Supérieure, o jovem David Emile tivera oportunidade de assis-tir às aulas de Boutroux, que assinala os principais traços caracterís-ticos dessa época: progresso da ciência (não mais contemplativa,mas agora transformadora da realidade), progresso da democracia(resultante do voto secreto e da crescente participação popular

nos n egócio s públicos), além da genera~ão e .extraordinár!Qprogresso da instrução e do bem-estar. Como corolário desses tra--=-::. -

ços, o mestre neokantiano ressalta as correntes de idéias derivadas,cuja difusão viria encontrar eco na obra de Durkheim: aspira-se àconstituição de uma moral realmente científica (o progresso moral~uiparando-se ao prog~i1fífiCo); ~oral viria a ser consi-derada como um setor da ciência das conaições das sociedadtê~

iiUma~ (a moral é ela própria um fato social); a moral se con-funde enfim com civilização - o povo mais civilizado é o quetem mais direitos e o progresso moral consiste no domínio cres-cente dos povos cuja cultura seja a mais avançada. 4

Não é pois de se admirar que essa época viesse também aassistir a uma nova vaga de colonialismo, não mais o colonialismoda caravela ou do barco a vapor, mas agora o colonialismo donavio a diesel, da locomotiva, do aeroplano, do automóvel e detoda a tecnologia implícita e eficiente, além das novas manifestaçõesmorais e culturais. Enfim, Durkheim foi um homem que assistiuao advento e à expansão do neocapitalisrriõ:""ou do capi!~li.sn~º~opolista. Ele não resistiu aos novos e marcantes acontecimentos

políticos representados pela Primeira Guerra Mundial, com o apa-recimento simultâneo tanto do socialismo na Rússia como da novaroupagem do neocapitalismo, representada pelo Weliare State.

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1 .2. Durkheim e os homens de seu tempo

Durkheim nasceu em Epinal, Departamento de Vosges, quefica exatamente entre a Alsácia e a Lorena, a 15 de abril de 1858.Morreu em 1917. De família judia, seu pai era rabino e ele próprioteve seu período de misticismo, tornando-se porém agnóstico após aida para Paris. Aqui, no Lycée Louis-le-Grand (em pleno coraçãodo Quartier Latin, entre a Sorbonne, o Collêge de France e a Fa-

eulté de Droit), preparou-se para o baccalauréat, que lhe permitiuentrar para a Ecole Normale Superieure. Bastou-lhe, pois, atravessara praça do Panthéon para atingir a famosa rue d'Ulm, sem sair por-tanto do mesmo quartier, para completar sua formação.

Na Normale vai se encontrar com alguns homens que mar-caram sua época. Entra em 1879 e sai em 1882, portando o título

4 V. BOUTROUX, Ém ile, La philosophie de Kant, Paris, J. Vrin, 1926.p. 367-69.

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oA. "p.;.-~taJ0#\<.ambém, ~ Isto não impe~e a Nisbet de. dizer que ?urkheim, em

, • :{ . 0 - ' - ' . • >, _.:;;".~ompanhla de Weber e Sirnrnel, tenha sido resl?onsavel pela reo-J ; ~ .\.j},. rientação das cIências sociais no século XX. () ,

~ "";'/--~í..~.y "-1- Achava-se, portanto, plenamente habilitado para iniciar sua ~~ ~

C .í~';:c-/c~rreira bril~ante de pro.fe.ssor universitário, ao ser indicado por-r~dyy--~.P~LJa:d e EsplOas 'para mlmstrar as aulas de Pedagogia e Ciência cJ" ' -: c O e .

'f' . < -- I . SocIal na Faculte de Lemes de Bordeaux, de 1887 a 1902. Foi ~-A ). <> ~ co ..<-"; '-7 este.o primeiro curso de Sociologia gue se ofereceu num;~niver-'

~ ''''. cit. sidade francesa, tendo sido, pelo prestígio gue lhe emprestou Dur-

'v~""".:0"-'-nrffZ' ~heim, t ransformado em chaire magislrale em 1896. Nessa cidade,

~jJ2~ tão voltada para o comércio do Novo Mundo, florescera um espí-.~ •...~; rito burguês e republicano, simultâneo com a manutenção do ra-/' cf" T~.;..p>-", I'J a - C " J .. :.. ... , n ciona isrno cartesiano.

Entre esses dois homens - tão amigos mas tão adversos _ I!.~nc~~~., . , _

Durkheim permaneceu no meio-termo e num plano mais discreto, ~ ,AIO Jovem mestre encontrou co n diçõe s adequadas para pro-

a Diretor da Norma/c era Bersot, crítico literário preocupado com " ....:(~....b, ....uzir o grosso de sua obra, a começar por suas teses de doutora-

a velha França e que chama a atenção do jovem Emile para a bl~'", ~-v-.;j:..;!fTiento, A tese principal foi De la di\'ision du (ral'ail social, que al-

obra de Montesquieu. Sucede-o na direção Fustel de Coulanges, ~ '>< - ~~ . cançou grande repercussão: publicada em 1893, foi reeditada no

historiador de renome que inf luencia o jovem Érnile no estudo das ' : ;S 2 ' - - - - - - : - ; . c . ~ / ano en: que ~eixou ,Bordcaux (1902). A tese complement~r, e:crita

instituições da Gréc ia e Roma, Ainda como mestres sobressaem ~ - 0 /4 ---,~L4f!1 latim , fOI, publ icada em 1892 mas ed itada em frances so em~ ,d ? s n eokan ti ano s Ren ouv ier e sobretudo o citado Boutroj0: l ~;~ O- -->1/ N,-:~ ~ (::c" 95?, SO? o titulo d:: ~lolZtesquieu ct ROllsseGl:, précurseun~ de 1 9 -

:......,.. .~Y l-~ ~; .' '" n' c - - L i , \ :; \ . ~ fJ'>~ e. .SocLOlog:e.-Logo apos, em.J895, publicou Les régles de Ia méthode~(; ... :: .,. c r Durante os anos em que enSInOU FIlosofIa em vanos IIceus~, .:@1éf1 ..• f ~-"~Lt sociologique e, apenas dOIS anos depois, Le suicide, Assim, num

, da pr~\'ín~ia (Sens, SI. Quentin. Troyes ) , yolta seu interesse ~a~ª J;~ e . C s: .: : .- cj c - " - " ~ : período de somente sei: ,anos, foram e~itados praticamente três

__ <, [! Socl~logla, A ~rança, ª?esa: de ser, nU~l certo sentido, a pé~tn,a ~ . c,.c/,fÍ) ~ép"'-cP' quartos d~ .abra soclologlCa, d,e Durk heim, que demonstra uma

da SOCiologIa. nao ofereCIa aInda um enSInO regular dessa dISCI- ~ . : : J - ' \ } ~ extr ao rdin ária Iec un d idade teonca.

plina, que sofreu tanto a rCJ(;ão antipositivista do fim do século .:.~~-/como uma certa confusão com socialismo - havia uma certa ~' 5 Este ~roblcma é levantado de forma quase detetivesca por Tiryakian, J1~'

conce ão de ue a Sociolor!ia constituía uma forma científica Se: ..1... artigo intitulado "A. Problem for lhe Sociology of Knowledge: Tbe Mutual. 'I' , I I 1 , L 1 I I ( J ; ~ [) - íf- Un awarcn es s of Emile Durkheirn and Max Weber" originalmente publicadosocla isrno. .--."'í .'" I f I -r: ~ t'r em European Joumalol Sociology, 1966, p. 330·36 (TIRYAKIAN, 1971:

M , - .. r > .'1 1~ Para compensar essa deficiência específica de formação, Dur- !~ if!.,.o.,.::JL' p. 428·34). O A. ressalta ,a~ simililudes da obra (sobre :eligião, que os

~. ,~...,.::>C " , . ,'\_ ' ,. , ~. ' dOISt~ata~ sem sere~ religiosos) e da PLeocupação metõCTõTõgfca, alémkh eim nro u um ano de licen ça (188_ 86) e se dirigiu a Alemanha, das imciauvas editoriais paralela (L'A ' S . I ' A I' [ii, s nnee OCIO ogtque e o rc l/ve IIr

~ c0 c] on~e, ~ssj,stiu aulas, ~e ,:Vundt e teve sua atenção ,despertad~ para../',.,,:; ~-v ~Sozialwissenschalr und Sozialpolitikv e do "namo.ro" à distância com o~ ~,iJ; as 'ClenClas do espmto de Dilthey, para o íormalismo de Sirnrnel, ..v' ~D<4.< SOCIalismo, por parte de ambos. Mas uma COIsa e certa: "The published

~ além de tomar conhecimento direto da obra de Têinnies, que lan- -~~ ..t..C-~. works of ~ebe~, and Durkheim ~ave no refer,cnce to eac.h other" =-.ibid,

ft:' .-, rr,iP, ,. .. ,C? ~uQ. D> p. 430), Tiryakian levanta a hipótese explicativa da "antipatia nacionalista",

.J, cJ,..c • -~ara sua tipologia da Gemetnschaft e Gesellschaft. Mas e surpre- .~rr'der· além do fato de Weber se identificar m . h' t 'd d -,d<l , , " .' . CY" c " , 1t::J.-~ )." I _ . ais como Iso,na or a economIa&.. endente verificar-se que, apesar de certa familiaridade com a litera- ,u ,. . ~V e. . do que como 50C,IOIO&Q,Mas IStO nao impediu Dur kheirn de publicar uma

~'" \ tura filosófica e sociológica alemã, Durkheim não chegou a tomar ., J resenha de um livro da mulher de Weber (ver p. 15),b1 r u> / G"Th h ' d '-< ', ' " . conhecimento da obra de Weber _ e foi por este desconhecidr • ., ,':; 7f) , e t ,ree rmn sare, m a very real sensc, the essence of contemporaryI & v v .. . , ." v - . . - J ~8GLf - - ( sociology" (NISBET, 1965: p. 3).

&~ t ~~ ~C~c.:.c..&e--c~o(J e P~(,j:~ ~Á~

12

de Ag régé de Phi los ophie . Ali se tornara amigo íntimo de Jaures ,que obtivera o 1.0 lugar na classificação de 1876 e saíra em 3.0

na ag rég atio n de 1881; foi colega de Bergson, que entrou igual-

mente em 1876 em 3.0 lugar e saiu em 1881 em 2,0. Dois colegas

que se notabilizaram: o primeiro como filósofo, mas sobretudo como

tribuno, líder socialista, que se popularizou como defensor de Drey-íu s e acabou por ser assassinado em meio ao clima de tensão

política às vésperas da deflagração da guerra em 1914; o segundo,filósofo de maior expressão, adotou uma linha menos participante

e muito mística, apesar de permanecer no index do Vaticano, e

alcançou os píncaros da glória, nas Academias, no Collêge de Fran-

ce, na Sociedade das Nações e como Prêmio Nobel de Literatura

em 1928.

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~<?1~ Talvez o curto lapso de tempo entre suas principais obras

~~~ . tenha propiciado uma notável coerência na elaboração e na apli-~Lv.;.. cf ca ção de uma metodologia com sólidos fundamentos teóricos. Além

<'j~7f"'riSSO, escreveu uma série de importantes artigos para publicação:~ imediata e outros. editados. mais tarde, sobretudo seus cursos, que

'- : rnC" eram sempre escntos previamente.(J.?2c:JJ.. O que surpreende ainda em sua trajetória intelectual não é~...-/ só a referida fecundidade, mas sobretudo a relativa mocidade com~\ LJc c'~ue produziu a maior parte de sua obra. Fora para Bordeaux aos~-nJ-';W anos incompletos e, no decorrer de uma década, já havia feito; - t - ~ ~ suficiente para se tornar o mais notável sociólogo francês, depois;~ót! 9ue Comte criara esta disciplina .• E preciso não se perder de vista~ '»:...--0 fato de que o prestígio intelectual era, _no se~..!.emp2>_~?;du.siyi-;--- -- . c- ~ade c!.S:'.s~~!.~.2.~,mas nenhum dos retratos ou fotos de Durkheim1 : ' ; ' - ~ ; conhecidos fixa os momentos bordelenses de sua vida, os quais.&. ~.\.- como se viu, foram decisivos.

J. Ó _ V ' :2 ·A

. Sua primeira aula na universidade versou sobre a solidariedade, ;: " " ) .. . . .

r ~ /=-. social, refletindo uma preocupação muito em voga n~._~S2' Além(.C~. disso, a ~_olidariedade constitui o ponto de partida não apenas de:-t.~ ~o- sua teoria. sociológica, mas tam~ém da primeira obra estritamente~;\O~/ sociol~ica que publico~. O esquema durkheimiano apresentado

mais adiante procura fixar de maneira bem nítida essa característica.

Sua intensa atividade intelectual pode ser comprovada tarn-I

I ~.;V-:"'bém pela iniciativa, tomada em J 896, de fundar uma grande .IT :..~ ,i..;.-J~' qual seja, L'Année Sociologique, que se converteu num--jt-c#''' .}v~..!:9~cl.ei.~.2._~@baJ.~~_e labo~tó!i~, na expressão de Duvignaud. ~~ \Os propósitos enunciados no prefácio do volume Inão são apenas

'''apresentar um ~dro anual do estado em gue se e~~ontra aliteratura propriamente ~ógica"! o que constituiria uma tar.efa

restrita e medíocre. Para ele, o que os sociólogos necessitam- I."é de ser regularmente informados das pesquisas que se fazem

~ I I ~as_ciências ,es.peciais, histó~ia ?o direi:o, .dos costumes, das, re:Ji giõcs, estatisuca moral, cren cias econormcas etc., porque e aique se encontram os materiais com os quais se deve construira Sociologia" (cf. lournal Sociologique. p. 31).

Uma peculiaridade curiosa, relacionada com o referido desco-nhecimento mútuo de Durkheim e Weber, reside no fato de aqueleter publicado em L'Année (v. XI, 1906/1909) uma resenha de

) um livro de Marí;nne WebelJ nada menos que a mulher de Max..~ Weber; trata-se de Ehejrau und Mutter in der Rechtsentwicklung,

(

publicado em 1907, que parece ter interessado a Durkheim porsuas preoc~açõeS-E.0l!1-ºL12I9.hlemaSc...da.l;lmíli.ª_~imônio. Elec!i!ica o simplismo da argumentação de 1\.1.1110 Webe~.L~2 __~~~~n.~

\ v.9lver sua tese de que a família patriarcal determinou uma com-pleta sUDServiência da mulher (cf. ibid. p. 644-49). ------- - - - - - - - - - - - - - - -

Em Bordeaux teve como colegas os filósofos Hamelin e Ro-dier, este comentarista de Aristóteles e aquele, discípulo de Renou-vier, tendendo, porém, mais para o idealismo hegeliano do que parao criticismo kantiano. Ao deixar essa cidade, sucedeu-o GastonRichard, seu antigo colega na Normale, mas que, dissidente maistarde de L' A nnée, veio a se tornar um dos maiores críticos deDurkheim. Este, por sua vez, empreende sua segunda migração

da província para a capital, como todo intelectual francês que seprojeta.

~ Em Paris é nomeado assistente de Buisson na cadeira de~ .~ncia da Educação na Sorbonne, em 1902. Quatro anos após,

, ~ O G - com a morte do titular, assume esse cargo. Mantém a orientaçãoI . Q .,:r.fl. laica imprimida por seu antecessor, mas ~m 1910 consegue trans-

ít.:~~lfo-"- &dormá-Ia em cátedra de Sociologia gue, pelas suas mãos, penetraco p;.. .t.0- assim no recinto tradicional da maior instituição universitária fran-

:-:~~; ~a, consolidando pois o .status a~.~dêmic..2....c.!.~_~~isciplin~ .. Suas(Z.:..'i...~ ~Ias na Sorbonne transformaram-se em verdadeiros acontecirncn-

n_......-------~.os, exigindo um grande anfiteatro para comportar o elevado núme-

ro de ouvintes, que afluíam por vezes com uma hora de ante-

cedência para obter um lugar de onde se pudesse ver e ouvir omestre, já então definitivamente consagrado.

t Rebatendo as críticas de KROEBER (1935) sobre a ausência de pesquisasde campo nos trabalhos de Durkheim, seu atual sucessor na Sorbonneescreve: "li s'agit, à proprement parler, d'une tache de laboratoire, en [inde com pt e aussi concrête que celle de l'observation sur le terrain" (Duvro-NAUD. Apud DURKHEIM, 1969: p. 16. Grifos do original).

- - " ~

O ambiente intelectual foi para Durkheim o mesmo que aágua para o peixe, o que ele herdou de seu pai e transmitiu aosseus fil~~s. Seu filho, morto na guerra, preparava um ensaio sobreLeibniz~ua filha casou-se com o historiador Halphen. Seu sobri-nho MareeI Mauss tornou-se um dos grandes antropólogos, colabo-rador e co-autor de "De quelques formes primitives de classiíi-cation" (p. 183 desta coletânea). A família praticamente sees tende aos seus discípulos, que se notabilizaram nos estudos sobre

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16

:. '. G récia ( Gl o tz ) , o s ce ltas (Hubert), a China (Granel), o Norte

da Africa (M aun ie r ) , o direito romano (Declareuil). Os mais

numerosos 'tornam-se membros da que ficou conhecida como Esco la

Sociol ági ca Fra n ces a: além de Mauss, Fauconnet, Davy, Halbwachs,

Simiand, Bo uglé, Lalo, Duguit, Darbon, Milhau etc. etc. Trata-se

na verdade de uma escola que não cerrou as portas.

{. A obra ,~t.'~ ~

~

,..P2 , 1 . Sua posição no desenvolvimento da Sociologia -'",' ~- - v 1 . - { " \ . /

Em artigo publicado em 1900 na Revue Bleue ("La Socio-" ~ «:logie en France ao XIX" siccle"), defende a tese de que a ~- . . x - " ff l.I~ia é "uma ciência essencialmente francesa" (DURKHEIM, 1970:~p, J I j ), dado seu nascimento com Augusto Comte. Mas, morto " - J . n íf}'o mestre, a atividade intelect~al soc~~lógica de seu~ dis~íp~los :oi ~.?r.pL~sobrepujada pelas preocupaçoes po líticas . E a SOCiologia Imoblll-'-~ eJ.1f-~zou-se durante toda uma ceração na França. Mas prosseguira, ~ ~_ .

enquanto i~so. scu c3minho na Inglaterra, com Spencer e o orga-~)..~nicismo. A França pó s- n ap o le ó n ica viveu num engourdissement ' t " " - . . -mental, que só se interromperia momentaneamente com a Revolu-

ção de 1848 e, posteriormente, com a Com uno. de Paris.

~m é se\'er~o julg,amento do perío.Q9---ºue o antecedeu

~e imediato: fala mesmo de uma "~almia intelectual gue desonro~ ~

o meado uo século e que seria um desastre para a nação" (id .. ~01<"~

ibid . p. 136) . \_ .~}

O revi1!oramento da Sociolocia se teria iniciado com ESPinas,:.>~

que introduziu o organicismo na França, ao mostra~e as socie- ~~

dades ~ão organismos, distintos dos puramente físicos - são orga-...,..:J- ç : tz . · 1

ni zaçôcs de idéias. Mas Rara Durkheim tais formulacÕes são prÓ- .o..<c lV -~>prias de uma fase heróica, em que os sociólogos procuram abranger ~~;~

na Sociologia todas as ciências. -1'0{

r. . . d . d' I - f' ~~l'V;f:"E tempo e entrar mais irctarnente em re açao com os atos, ~, I i . < . . . ~

'. \ de adquirir com seu contato o sentimento de sua diversidade e é J u 7 . li'! I sua especif icidade, a fim de diversificar os próprios problemas, '\

_ 7 " 1 I de os determinar e aplicar-lhes um método que seja imediata-'I mente apropriado à natureza especial das coisas coletivas" (id.,i ihid. p. 125-26).

'h

I\

Nada disso podia fazer o organicismo, que não nos dera uma Je j

sequer.

p...t_~a a que se P!212-ôs Durkheim.Joi--

"em lugar de tratar a Sociologia in genere, nós nos fechamos

metodicamente numa ordem de fatos nitidamente delimitados:

salvo as excursões necessárias nos domínios limítrofes daquele

que exploramos, ocupamo-nos apenas das regras jurídicas e mo-rais, estudadas seja no seu devir e sua gênese [ct. Division durral'ail] por meio da História e da Etnografia comparadas, sejano seu funcionamento por meio da Estatística ict. L e suicide].Nesse mesmo círculo circunscrito nos apegamos aos problemasmais e mais restritos. Em uma palavra, ~sforçamo-nos em ~

~ue se refe_~Sociologia na . .f!~~--ª.ffil~_q~e C~~~havia chamado a era da especi<l:lidaçlJt (DURKHElM, 1970: p.126),

IEis, em suas próprias palavras, as linhas mestras de sua obra.

Sua preocupação foi orientada pelo fato de que a noção de

lei estava sempre ausente dos trabalhos que visavam mais à lite-

ratura e à erudição do que à ciência;

1

"A reforma mais urgente era pois fazer descer a idéia socio-lógica nestas técnicas especiais e, por isso mesmo, transformá-

-Ias, tornando realidade as ciências sociais" (id., ibid. p. 127).

A superação dessa "rnetaíísica abstrata" exigia um método, tal

como o fez em L e s rêg les de Ia mé thode so ciologiqu e . Mas estas

não surgiram de elaborações abstratas

• c J - , , - t ? ; "desses filósofos que legiferam diariamente sobre o método S(1-

{ c v . . p . \ ~ . ciológico, sem ter jamais entrado em contato com os fatos. / . ~ o J " " { J : . . -f 1 ' sociais. Assim, somente depois que ensaiamos um certo nú-

1~d-'0- ./.:~ mero de estudos suficientemente variados, é que ousamos tra-JL ~~ o J , . é > duzir em preceitos a técnica que havíamos elaborado. O rné-( ) .._ ~ i'\ Q .~ . 2 ) " ( . . 1 ~g:'..[l1e expusemos não é senão o resumo da nossa prática"

~

y . ;p v~'(hl:;ul81d. p. 128).c.~ í if. •.. .

. ~ . e'~ A tarefa a que se propos era, pOIS, consCIentemente da maIOr

~ " e P envergadura. Ela se tornou possível no final do século XIX devidQ

t ~~ (L//. .:' à "reação científica" que estava oco;rend.a- Nesse sentido, a ~rança

~ ~.ofoO voltava. a d.esemp~nhar o papel p~edes.tmado ~? ?esenvolvlmento

~!~:;;:~ SoclOl~gl,!. OIS fator~~ fav~reclam ISSO: pnmeiro, o acentuad?

t ~ Q( ~fraqueclmen o do tradlClOnahsmo e, segundo, _o estado de espl-

'.r(o.t~ ~ JJ-~\J. ' 1 ' Q . • . ~~ r t -r' _,.,Q/>'/ ./ t", ~ _;j;"r '(

~n~'~ CJoY cJ.~ '~~. . •.......,..,~'-< _: c -> ' 1(5)"'v-''''''

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~,.

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" 18

rito racionalista. A França é o país de Descartes e, apesar de suaconcepção ultrapassada de racionalisrno, para superá-Ia era maisimp o rtan te ainda conservar 0.5 seus princípios: "Devemos empre-ender maneiras de pensar mais complexas, mas conservar esseculto das idéias distintas, que está na própria raiz do espírito fran-ccs, como na base de toda ciência" (id., ibid. p. 135). Eis-nosportanto diante de um renascimento do iluminismo, na figura desse

Descartes moderno que foi Ernile Durkheim.

2 . 2 . Concepção de Ciência c de Sociologia '\

Dentro da tradição positi\'ista de delimitar claramente os obje-.. ~ tos das ciências para melhor situá-Ias no campo do conhecimento,

r . . r ~. S : .. purkheim aponta um rei n o social, com mdlvldualidade dlstmta

'~.; ,dos rcir~os animal e mineral.. Trata-se de um camp~ com ~arac-_.~-<11~eres propnos e que deve por ISSO ser explorado atraves de metados

c v - c - -r.:.~lprorriados. Mas esse reino não se situa à parte dos demais, p'0s-"- [~.., suindo um caráter ahrangente.~c:P\...\

-v. r, ;:P. }-~"'"

Fie,....· .'>'-\ :~',~r" ( . t . ', , -~ .. :; : : ; < . c - Nesse mesmo artigo (datado também de 1900), em que con-~...;zL. c L - - : : J t ra póe suas concepções àquelas ío rmalis ta s de Simmel, e onde

~U-.~0 ' ant ec ipa várias colocações posteriores (como sua divisão da Socio -~Iogia, cf . p. 41) , \Durkheim fala também de um reino mora l. ao~:...~ .~ co ncluir que: \

:Al" '-\. ~-. -. ----:-

~ \ \ "a vida social não é outra coisa que o meio moral, ou melhor,; \ o conjunto dos diversos meios morais que cercam o indivíduo"

------?> \ (ir/., ibid. p. J 98).I

Aprovei ta para esclarecer o que entende .p_or fenômenos morais:- ..

_ ~.

"porque não existe fenômeno que não se desenvolva na socie-

dade, desde os fatos físico-químicos até os fatos verdadeira-mente sociais" ("1.a Sociologie e! son domaine scientifique.".-i{J/ld ClJVIl.UER, 195:1: p. :79),

)

"Qualificando-os de morais, queremos dizer que se trata demeios constituídos pelas idéias; eles são, portanto, face às cons-

I ciências individuais, como os meios físicos com relação aosorganismos vivos" tid., ibid.).

No início de sua carreira Durkheim empregava o termo "ciên-cias sociais", paulatinamente substituído peJo de "sociologia", masreservando aquele ainda para designar as "ciências sociais 'parti-

~

• 'c'- l. \.

l" 0~' o·,.. (....nc- - . . ,~ _ \..!

~v-- c"''' .' CV " ~t.<"// ',j-G,C'-~ . 19

"IV ~ ,"r. •L-0 \

-:-yc>-'~~lares': _(i. é, Mor~olog!a Social, Sociologia Religiosa etc.) , que~ >- -;Zao divisões da SOCIOlogia.

G~~ ~

~~.o-. ./ Ao iniciar suas Iun çóes em Bordca ux, foi convidado a pro-

r , tj. ,p ~unciar a au la inaugural do ano letivo de i 88 7-88 , pub li cada neste

,~~é ...aI' _ último ano sob o título de "Cours de Science Sociale" (DuRKHEiM,;':'~j.:.cP~~;::1953: p. 77 -J 10 ) . Ele corresponde na verdade ~ um ?r.ograma de:.f i ~ '- (:~/trabalho e serve para expressar suas concepçoes básicas e sua~t1'- , preocupação dominante de limitar e circunscrever ao máximo a 0;- .: v . ú,'7 tensão de suas investigações. Nesse sentido, a Sociologia.c9~

;'uma ciência no meio de outras ciências positivas" (id., ibid. p.78). E por ciência positiva entende um ;'estudo metódico" que~onàuz ao estabelecimento das leis, mais bem feito pela experimen-t3ção:

~

"Se existe um ponto fora de dúvida atualmente é que todos os. : seres da natureza, desde o mineral ate; o homem, dizem respeito\i à, ciência positiva, isto é , que: tudo 'c passa segundo as' leis

necessárias" t id., ibid, p. S::).

Desde Comte a Sociologia tem um objeto, que permanece

entretanto indeterrninado: ela deve estud ar a Sociedade, mas aSociedade não existe: "]1 y a dcs so c iétés" (id., ibid. p. 88 ) -

que se classificam em gêneros e espécies , como os vegetais c o sanimais. Após repassar os principais autores que lidaram com essadisciplina, conel ui:

I i \ "Ela Ia Sociologia,: tem um nhjet~ claramente d.cfinido c, umi método para cstudá-lo . O objeto sao os faros sociais; o mctoco

l i ! é a observação c a ex p cr imcn taç âo indireta, em outros termos,, o método comparativo. O que falta atualmente é traçar c'~ I I quadros gerais da ciência c assinalar suas divisões essenciais.! (... ) Uma ciência não se constitui verdadeiramente senão

I\ quando é dividida e subdividida, quando compreende um certo

I número de problemas diferentes e solidários entre si" (id., ibid.p. 100).

o domínio da ciência, por sua vez, corresponde ao universoempírico e não se preocupa senão com essa realidade. No men-cionado artigo publicado na Revue Bleue, e antes de tratar dotema a que se propusera, faz algumas considerações de grande in-teresse, para mostrar como a Sociologia é uma ciência que seconstitui num momento de crise - "O que é certo é que, no diaem que passou a tempestade revolucionária, a noção da ciência so-

, I

t i: 1

' 11

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cia l se co nstituiu com o po r en cantamen to " (id., ibid. p . 11 5) -

e quand o dom in a um \ivo se n tim en to de un idade do sa b er hum an o .

Par te de um a distin çã o en tre ciên cia e arte. Aque la es tuda

o s fato s u ni cam en te p ara os co n hecer e se desin te re ss a pelas ap li-

cações que po ssam prestar às n oç ões que elab ora . A arte , aocontrário , só o s co n side ra p ara sab er o que é po ssíve l fazer com

eles, em qu e fi n s útei s e les p o de m se r em p regados, qu e efeito s in de-se jáveis p ode m im pedir qu e o co rram e po r qu e m eio um o u o u tro

resul tado pode se r ob tido . "Mas não há art e q ue n ão co n ten ha emsi teo rias em estado irn an eru e " (id., ibid. p. 11 2). s

· . 'A c iên cia só apa rece quando o espírito , fazend o ab str ação

---~7 de tod :; p reo cupação p rá ti ca , ab o rda as co isas com o único f im de/' rep res ent á -Ias " (id., ibid . p. I 13). Po rq ue estu dar o s fa to s u n ica -

mente p ara sa b er o qu e eles são impl ica um a di sso c iaç ão ent reteo ria e pr á ti ca. () q u e supõe um a men talidade re lativamente avan -

çada, com o n o caso de se ch egar a estab ele ce r leis - re laçõ es n e-ce ssá rias, segun do a con cepç ão de Mon tesqu ieu . Or a, ~ res p eit o

à So cio lo gia, Du rk heim co n ce b e qu e as leis n ão po dem pen etra r

sen ão a dur as pe n as n o mun do dos fato s so ciais: "e isto fo i oqu e fez com que a So cio log ia n ão pu desse ap are ce r sen ão n um

momen to ta rd io da ev o lu çã o c ientífi ca " i id., ibid.). Est a é um a

'j id éia re pe ti da s vezes en con t rada no s vári os artigo s qu e Durkheirn

SU ~ \) ...l. '> ( iÚ~ liC ~~ n a vi rad a do ~é~ ~ I() . co m o . po r exe mp lo . n a m en cio nad a

c\~{c;:r:\.'luLl inaugural de B o rdc au x.

~ " . -; c\i-.:;c. Fi ca c\i de n tc qu e, ap es:J r do seu desenv o lv im en to ta rd io. a

i~~~ i~ i_~~ ~~ ~ ia :- ~ J!:_ u ... !.S~ ~~ un .!J e\ ''::.~ JS~ .2... i~_~: i.~ r!E i~ Ela .n asce à so .mb rê ,V v~~~ l> -~as <': Ien clas n at u r a is; C IS a idéia fi n a l do m en cio n ado art ig o aw (;Y- p rop ós it o de S im mel : a So cio logia n ão co rresp ond e a uma sim -

. J ; o . p les adição ao vo cabu lário , a espe rança é a de que "el a sej a e

...••~tnC' permane ça o sin al de um a ren o vaçã o pr o fu n da de to das as ci ên -

~Id'''''' ci as qu e tenh am po r objeto o rein o hu m an o " (apud CUVILLlER..S . . . , . ,' 1953: p. 207).

ctP-~- ,, t;. .-~.

c)5~ -----.-

pp-0-' 'Observe-se que Durkheim está usando arte não no sentido estético.. mas

no sentido técnico. tal como se fazia na distinção que nos vem desde aantigüidade. entre: artes mecânicas (carpintaria, por ex.) , belas-artes (pin-

tura, por ex.) e artes liberais (cf. O trivium e o quudrivium que formavam

as sete artes do programa pedagógico greco-rornano ), sendo estas desti-

nadas a liberar o espírito. V. L~LANDE. "Ar t." Vocabulaire technique et

critique de' I({ phílosoohi«,

3. O método

Les rêgles de Ia méthode sociologique (1895) constnui a

pr im eira o br a exc lu sivam en te m eto do ló gica escrita p o r um so ció -

logo e vo ltada pa ra a in ve stiga ç ão e exp licaç ão so cio lóg ica. Eim po rtant e ress alt ar sua p ró pr ia p o siçã o cro no lóg ica : publicadadepo is de Division du travail social ( te se de dout o ramen t o em

1893), se u s pr in cí p io s metodo lóg ic o s são in fe rid o s dessa in vest i-ga ção (ain da que n ão fo ss e tr abalho de ca mpo ) ; tai s prin cí pi o s

po r sua ve z sã o po st o s à pr ova e ap lic ado s n um a mo n o grafia

ex emp lar qu e é Le suicide (J 897), em qu e a m an ip ul açã o de

variávei s e dado s em pí rico s é fe it a p ela pr imei ra vez n um trab a lho

so c io lóg ico sistemá ti co e devidament e delimitado .

Sim ul tan eam ent e com a el ab o raçã o dess a m o no grafi a em que

u tili za o m éto do esta tí sti co , Durkheim organ iza um a o ut ra de m en or

p o rte em J 896 (" La p ro hibition de J'in ceste e t ses o rigi n es ." Dl :R-

KH EJI\f , 1969: p . 37-101), e o n de o m éto do de an áli se de dado sctn ográficos é apl ica do n um a persp ec ti va so cio lóg ica . Esta lin ha

de in ve stiga ção tem p ro sse gui m en to n a su a n ão m en os im po rt an te

m o no graf ia p ublic ada em 1901-02 - "D e quelq u es fo rm es prirni-t ives de classif icati on " (id., ibid. p. 395-460), el ab o rada de p ar-

ce ria com Mauss. Es tas du as m o nog ra fias an teci p am a última fasemc iod o lógi ca de Du rkheim , qu e cul m in a com a pub licação relati -

va m en te tardia de Les [ormes clérncnt aircs de Ia vie religieuse( J ') J 2).

i

Ess a fa se é de grand e o rigi n alida de do po n to de vi sta método -

ló gico , n a m edi da em qu e .a manipu laç ão de dado s etn o g r á fi cr«

perm it e a an á lise de r epres en taç ões co leti vas, q u e são en caradas ,

num se n tid o es trito , co m o repr ese n tações ment a is ou, me lh o r d ito ,

rep res en tações simbó lica s que , p o r su a ve z, são im ag en s da reali-

dade er n p írica . Em o ut ro s term o s, Du rkh eim emp ree n de o s pr i-m eiro s delin ea ment o s da soc io lo gia do co n hec im en to . Su a o rig in a-

lida de con siste em que , atr avés da an áli se das relig iões p rimi t ivas

- o to tem ism o como sua fo rm a prim eira e mais sim p les -, p o de-

-se perceber < ':0 (1 10 o s homens en car am a rea lidade e co n str o em

uma ce rt a co n ce pçã o do mu n do e, m ais a in da, como el es pr óp ri o s

se o rgan izam hi era rq ui cam en te, in fo rm ado s po r ta l co ncep çã o.

C omo se vi u , a su cessiv a in tro du ção de element os enr iquecedores

da ana lise adqui re um sign ifi ca do m eto do lóg ico esp ec ial, po is co ns -

i: : :. 1

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o..• 2 2

Se n ess e cap í tu lo C om te se m o stra largamen te in f lu en ciado

p o r B aco n e p arcialm en te p o r D esca rt es, po de-se p erceb er co m oeste tam bém inf luenc io u D u rkheim . M as talvez se deva a M ontes-

q ui eu a m aio r do se de inf luênc ia so b re o au to r das Rêg les . Em bo ra

este n ão se m o stre pr eo cup a d o s implesmen te em estab e le ce r leis ex-p lic ativ as do s fen ôm en o s so ci a is , acha -se impl íc i ta a id é ia das "rela-

ç ões n ec es sá ri a s" qu e se es tabele ce m n o âmbi to do s f e nômen o s daso c iedad e . Já n a su a tese comp l emen ta r so b re M o n tesqu ieu ele

evid en c ia ra su a pr eo cup aç ão com du as in stân cias encad ea das dedes creve r e interpre tar a realidade so cial. 9

C om respeit o a D esca rt es, a v in cu lação é m en o s evi den te , m as

n ão se po de d eix ar de assi n alar ce rt a semelhan ça n a fo rmu laç ãode Les rêgles de Ia méthode sociologique co m as Rêgles pau r Ia

dir ection de l'esprit, um a esp écie de m an ual in aca b ado de m eta-

fí s ica e pu bl ica do post-mort em. 10 A prim eira reg ra cart esian a po -

deri a servir p erf eitam en te c omo ep ígrafe das Rêg les d e D u rkheim :

"Os estudos devem ter por finalidade dar ao espírito [ingenium

no original latino] uma direção que lhe permita conduzir a

julgamentos sólidos e verdadeiros sobre tudo que se lhe apre-sente" (DESCARTES, Rê gle s . 1970: p. I).

Ape sa r de D es cart es utiliza r a aritm ética e a geometr ia n as

su as exempl if icaç ões e d emo n strações, fica cla ro qu e su as reg ras

n ão se limitam às m atemá ti cas ali tom adas com o pr o tó ti p o das

c iên c ia s. O tr atam en to do s fen ôm en o s com o coisa é um a co n sta n te

n ess e t rab alho de D es carte s, ta l co m o n o de D ur kheim . A ss im , a

Reg ra XV (de D esc a rt es) re co m en da qu e, ao se tom ar a f igur a

ti t ui -- ao lad o de co n hec imen to s pOSItI V OS qu e pr o po rc io n a

cl a ra dem o n st raç ão do p ro cess o de in du ção c ien tíf ica .

Em "De qu c lqu cs fo rm es primitives de clas siíica t io n ", Dur-khcirn e Ma uss esc revem :

·· Todos os membro, da tribo se encontram assim classificados

em qu adro s def in ido s e qu e se en ca ixam un s n o s o u t ro s. Ora,li classiíicnção das coisas rcprodu; essa classijicação dos ho-

m cns" (DURKHEIM, j969: p. 402. Grifas do original).

Es sa é, em últi m a an áli se , a tes e de Les formes élémentaires e

qu e, n aqu ele m es mo tex to , é igu alm en te en un ci ad a com e seg ue:

·"En1 resumo, se não cs tar n o s bem certos de dizer que ess amaneira de classificar as coisas está necessariamente im p lica dan o iotcrnisrno, é, em to do ca so , ce rto q u e ela se en co n tra m u itofr eqiicntcrnente nas sociedades que são organizadas sobre umabase totêrnica. Existe pois lima ligaçiio estreita, e não apenas

1/11/ 11 rclll(·iio acidental, entre esse sistema social c esse sist em«lógico·· (id. ihid. p. ": 25 . Grifas n o ss o s).

A que stão cp is tcr n o ló gica qu e se levan ta é da m aio r relev ân-

ci a cient ífica e do m aio r in ter ess e so c io ló gico . Em sín tes e , n ão é

ap e nas atr avé s da s vcrbalizaçóes qu e o hom em pr o cu ra represe n ta r

a realidade: ele ( ) faz a té m es mo pela man eira C0l110 se d isp õe

tcrr ito rialm en tc. fac e a ess a rea li dade . E su as fo rm as o rgan izacio -nais da vid a so cia l. a lém ele med iações em pí ri ca s, sã o p o rt ad o ra s

de um a id eo lo gia im p líc it a, q u e fo rm a um arc abo u ç o in tern o --qua:,c disfarça do se nào fo ra a agud eza de penetraçà o do esp ír ito

cien t íf ico d o in vest igad o r - su steru ad o r vi rtu al do sistem a so cial.

E nec essá rio um método apu rado , ta l C0l110 desenvo lveu D u rk hcirn ,

p a ra qu e se possa ve r, descr ever c, o qu e é mais im po rt an te do

po n to de vi sta cient í f ico , classificar a t s ) rea lid ade(s) . Es sa n o s

pa rece um a das m ais n o táve is co n tri bu ições c ien tíf ica s da So ci o -

lo gia, cu jo s m érito s devem ser p rio ri t ariam en te cred it ad o s aD ur kheim .

Na "Int ro du ção " de Le s rêgtes Durkh eim cham a a a ten çã o

para o fa to 0 e qu e 05 so c ió lo go s se m o st ram po u co pr eo cupa do s

em ca rac teriza r e def in ir o m éto do que ap lica m : es tá au se n te n a

o b ra de Sp en ce r; a lóg ica de St u a rt M ill se p reo cupo u so b re tud o

em pa ss ar so b o c rivo da d ia 1é ti ca as a f irm at ivas de C om te; en -

q ua n to este lhe dedi ca um só cap í tu lo de se u Cours de philosophiepositive (v . VI, 58.a li çã o ) - "o ún ico estu do o rig in al e im po r-

ta n te q u e tem o s so br e o ass u n to " (DURKHEI\1, 189 5: p . J).

!, Dt..:RKHEIM, 1953: capo 1.0, itens II e III, p. 35 et seqs. "Montesquicucompreendeu não somente que as coisas sociais são objeto de ciência, mascontribuiu para estabelecer as noções-chave indispensáveis para a consti-

tuição dessa ciéncia. Essas noções são em número de dois: a noção detipo e a noção de lei" (p. 110).

lU Há uma vin cul açã o direta com a Logique de Port-Royal de AntoineArnaud, que constitui um dos primeiros estudos rnetodológicos da filosofiamoderna, publicado em 1662. As Rêg le s de Descartes, apesar de pub!icadasem 1701, foram escritas antes de 1629 em latim. A Logique de Port-Rayalcontém duas regras (XVII e XVII!) que são copiadas do manuscritocartesiano que circulou por muito tempo antes de ser publicado, o que erahábito do grupo de Port-Royal a que Descartes estava ligado. V. JOWUJAN,

Charles (org.). Logique de Port-Royal, précedée d'une no/ice sur les tra-vour philosophiqu es d'Antoin e Arnaud. Nova ed. Paris, Hachette, 1877.396 p.

23

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de um co rpo , de ve-se iru çá-!a e ap res en tá -Ia o rd inariam en te ao s

se nt id o s externo s.

)'\;J Regra V. Descartes defin e o méto do :

"Todo méto do co n siste n a o rd em e arranjo do s ob jeto s sobrel)~ qu ais se deve coriduz ir a pe netraç ão da in teligên cia p aradescobrir qualqu er verdade (ia .. ihid. p. 29).

E n a Regra \'1 faz um a rec om en da çã o que é lar gament e desenvol-v ida em Logiqu e de Port-Royal: di stinguir as co isas m ais sim p les

da quelas m ais c omplexa s c que, co mo todas as coisas po dem serdistribu ídas em séries , é prec iso disccrn ir n esta s o que é mais sim -p les . Na Reg ra XIl essa co locação é ret omad a. p ara m ostr ar tod os

os rec ur so s necessários para se ter um a intu içã o di stinta das pro-p o s i ç õ e s sim p les, se ja p : 1 I ' < l fin s cla ss i í i c a t ó r io s. seja p ara fin s

compar ativos . T ais co lo caçõ es n ão deixam de es ta r pre sen tes narccorncndacâo bá sica de Durkheirn. no qu e se refere à con stitu ição

(h)' upos so cia is (cap. 1\):

"ClJn IC ç ,l-' C p(1r cla s,ificar as so cieda des seg undo o g rau de

c. un pos iç ào qu e estas apr esen tam , to rnando po r b ase a socic-

J"dc pc r Iri t arncntc simples ou de segmento ún ico; n o int er io rdc~,~"·I:..s,c,c dist inguirà0 as di fere n tes va ried ades , co n fo rm eSl' í 'wJ lIz a ou nào um " coale scê n cia completa dos segmen to sini, 'ial < ' ([)l:j{KHEI\1 ISLJ5: p. ~6). II

A ut ilizaç ão da estatí stic a como in str um en to de aná li se é feit aaí p or Durkheim, ao m esmo tempo que, n a In glaterr a, B o o th ,Rownt re e e B ow ley usam méto do s es tatís ti co s ref in ados n o estudo

de pr ob lem as ligad os ao pa up erismo . 12. Mas fo i a desco bert aam erican a de Le suicide que ve io co lo car defi n it iv am ent e es ta o brano rol do s clássicos imp erecíve is e sem p re m oder n os, após a tra-duçã o ingles a fe it a em 1951 po r Jo hn A . Sp auldin g e Geo rg e

Sirn ps o n , com int roduçã o assin ada p elo últim o . A lgum as va lo -riz ações espe cíficas dev em ser citadas:

• Merto n ap res en ta -a com o um do s m elh o res ex emplo s do qu e eleveio a chamar "teo ria de m édio alcan ce " - uma gen eralização

se gura à bas e de dados empírico s tra tad os com pr ec isão e segu-

ranç a - ao lado de A É tica Protestante e o Espírito Cap itaiisiade W eber (MERTO~, 1968: ca po lI, esp. p. 59 e 63).

• Ro sen ber g mo str a c omo Du rkhe irn pôs em prá ti ca a ge n eral i-z a ç ã o descr iti va do tiro replicação , qu e en volve di ferent es p o pu -

lações p ara a a n á l i s e co mparativ a de um fen óm eno (ROSENBERG,

1968: p . 224). l:!

• St in ch cor n b e, ao estuda r as fo rmas fu nd am en tais da iní erên ciacien tífica, reco rr e a Le suicide pa ra m ostrar com o a pr o va múl -ti p la de um a teo ri a é mais co nv in cent e do que a pr ov a sim plesc para ilu strar um "experim en to crucial" (no sen tido bac on iano ):

D urkh ei rn pôs à pr ova a noção vu lga r de se u temp o de qu e

o suicí d io resul tar ia de u rn a en ferm idade ment al, e comparoupop ulaç ões diferen tes pa ra m ostra r qu e, se fo sse o caso , as

p op ul ações com altas taxas de en fermidade ment al teriam ali as

taxas de sui cíd io :

3.1. Lc suicide: uma monografia ex emp lar

Ou:!,C 70 an os ap ós SU,t pub licação . um so ció logo america n o .

Sclvin . fez in serir um arug o no AI7lt'ricm; l ournal oí Sociotoevem qu e l! C,lUc!O de : Durkh cirn c ' co nsidc r.rdo "ain da um modeio

de pes qu isa social" , o nde o métod o cc n tr al u tilizad o é o da análisernu l rivar iu da (" mtroducào de pr o p es siv <ls var iáve is adi cio na is

permi te aprofun ua r (1 tr at am en to do problema Lllé gara n tir g. en e-

rali zacó cs sc~ur :1S) . i;

"A ss im Du rkheim póde descrever um co n ju nt o de ob se rv aç õe s(as ~ -::lações en tre taxas de en ferm id ade m ent al e taxas desui cíd io pa ra vári as re giões) q ue dari am um resul tado (c o rre -lação po sitiv a), se a en ferm ida de m en tal ca u sa sse o su icídi o . C

out ro res u lt ado diferen te (co rrelaç ão in sign ifica nt e) , se ope-rassem as causas so ciais. Durkh eim rea lizo u depo is es tas ob se r-va çõe s e a co rrelaç ão en tr e tax as de en ferm id ade m en tal c

taxa s de su icíd io res u ltou in sign ifican te. Isto re fu to u a teo ria

II Durl.hcim ~ lnu n ('i ,,, " , em seu ;, r li~l ) "Sociologic et Sciences Soei ales"

IDL'nKIIUl. ]Y7 0: p. I ';" ) urna "c la5~ ifl caç :,o metód ica do s fa to s soc iai s"con side rada ent ão pr cmatu .u. M a s nu n ca co n cret izo u es se p roj eto senâ o

pa ra f m os pan icubres \ tipo s ele ' so lida riedade so cial. tip o s de direito , t 'ipo s

de su icíd io ). Ob serv e-se ain da que o co n ceit o de [ut o so cial é re strito . o u

seja. m erament e oper.icional i c], L1.I Rigl c.,) e n un ca chego u a ser umco n ceit o si stê mico (1;;\ com o fi zer a Wcber com seu co n ceito de aç ão soc ial) .

l~ O artigo fo i iccditudo em NISIICI. 1965: p. j 13·36. so b o tí tul o "Dur-

kh ci rn s .\1I;cirh: Fu rrher Th()ll~hl' 011 " ivlclhndological Classic".

l2e CI. HAGENBUCH, W. Economia Social. Ri o de Jan eiro , Zahar Ed., 1961.cap o IV, esp. p. 165 et seqs.

1~ Segu n do o c ita do artigo de Selvin (apud NISDET, 196 5: p. 121), rcp li-ca ç ão "é o reesiudo sist em ático de u ma dada relação em diferen tes co n -tex tos ".(~ ·

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~ 26

altern at iva (ta l co m o estava fo rm u lada) c fez com qu e suateo ria fo sse m u it o m ai s veraz" (ST INCHCOMBE , 1970: ca po 2,es p . p . 36).

• Madge , en f im (last but not least), mos tr a como Durk heirn

esco lheu esse tem a po r três razões: 1) o term o "suicídio" po de-

ria ser fac ilm en te def in ido ; 2) ex iste mu ita es ta tís ti ca a re speito :

3) é um a qu estão de co n si derável imp o rt ân cia.

"D urk hcim es tav a abso lu tam en te segu ro de sua tarefa , que eradem on strar que as c iên c ias so c ia is po dem exa m in ar u rn a qu es tãoso cia l im po rtan te, so br e a qu al o ut ras pess o as hav iam filo so fadopo r m u it o tem po , e pôde m os tra r, m ediante a apre se n ta ç ão sis-temá ti ca de fa to s existentes, que é pos sível cheg ar a co n clu sõ esút eis qu e podem aju dar com pro po siçõ es pr át ica s as ações fu -tu ras" (MADGE, 1967: capo 2, esp. p . 16).

qu e in str u iu tan to co n cepçõ es co n se rv ado ras - ta l com ~ .-- ª--- º-~ .Sp en cer - quan to so c larl s tas - ta l co m o a de Jo hn -R_~_ki n . ~4

Na ve rd ade, qu alqu er tent a ti va de simplesment e exp licar o so c ia lpelo o rgâni co esbarra ria com os pr eceito s m eto do lógicos explici-tado s n as Rêgles.

A o con clu ir Les rêgle s , Durkheim sin te ti za se u m éto do em

tr ês po n tos bás ico s: a) in depe nd e de to da fil o sof ia; b) é ob jeti vo ;

c) é ex clu siv am en te so c io lóg ico - e o s fato s soc ia is sã o ant esde tu do coisas sociais. Bu sca ndo um a "em an ci paçã o da So ci o lo -

gi a" (DURKHE IM , 1895: p . 140) e pr o cu rand o dar-lhe "um a p er-so n a lid ade in depen dent e" (id., ibid. p. 143) di z claram en te n aspági n as fin a is :

"F izem os ve r qu e um fa to so ci al n ão pode ser ex p licad ose n ão po r um ou tr o fa to so c ia l e, ao m esmo temp o , mo stramo sco mo ess e ti po de ex p licaçã o é pos s ív el ao assin alar n o meioso ci a l in tern o o mo to r p rincip al da evo lu ç ão co le tiva. A Soc io -lo gi a n ão é, po is , o an exo de q ualquer o u tra c iên c ia ; é, elam esma, um a ci ên ci a dis tin ta e aut ôn oma , e o sen t imen to doqu e tem de esp ec ia l a rea lid ade so cial é de ta l' ma n eira n e-cessári o ao so ció log o , que apen as um a cul tur a es peci a l!! lcn te .so ci o lóg ica pode pr ep ará-Io p ara _a co mp ree n sã o d~_ fa t~ _so -ciais" (id, ibid.). .

A~ O enq u adrament o qu e se pode fazer de Durkheirnnu ma ou n o u tr a co rrent e so c io ló gica só é vá lido para aspectosparc ia is de su a o br a . Flor es tan Fern and es res sa lt a que "a p rim eir a

fo rmulação ad eq u ada do s fen ôm en o s de fu n ção e da utilizaç ão daexpl icação fu n cio n a li sta n a So cio log ia sur ge co m A Divisão doTrabalho Social e As Regras do Método Sociológico de D urkheim "

(FERMNDES, 1959: p . 204-05). Em sua o b ra m eto do lóg ica Du r-

3 .2. Posição mctodológica

3>

Lcs Rêgles co n sti tu em um esfor ç o sis temátic o com vistas àelabo raç ão de um a "teo ria da inv est igação so cio lóg ica " (FERNAN-DES, I 959: p . 78), vo ltada p ara a b usca de regu lar idades que são

p róp rias do "rei n o so cial" e qu e perm it em exp li ca r o s fen ôm en o sque o co rre m nesse m eio sem p rec isar tom ar exp li caç ões em pr es ta-das de o u tr o s rein o s . A pos içã o metodo ló gica de Dur kheirn é , po rco n seg u in te , es tr itam en te so c io lógica , a ta l po n to qu e se to rn a dif í-

cil en quadrá -Ia nu m a determ in ada co rren te so cio lóg ica sem co rrero risco ele tom a r a parte p elo tod o .

A ssim , po r exemp lo . sua tipo lcg ia soc ia l evo lu ti va estabele-

cid a a pa rtir da so lid ariedade so cial m ec âni ca e o rgâ n ica p oder iasuge rir, ta l como as pr im ei ras pág in as de La division du travail

poder iam co n firm ar, qu e se tra ta m erame n te de um o rgani cista .M as o p ro b lem a n30 se co loc a de ma n eira tão sim p lista. Para

co mp re end ê-I o é p rec iso levar em co n ta o am b ie nt e in telec tu a ldo .~ cu lo XIX- qu and o su rg iu , pr inc ipa lmen te n a In gla terra mer-gu lhada n o ind ustria lismo , um a reaç ão co nt ra a ~pç ão m ecâ -

ni ca da so cied ade, fru to de ss e m esrr:!.~U !ldu su:ia li.s.m .93 __~ ª-~~_< :d~ isã o do traba lh ?~_al?! ~ sent ~ om o ~.. Rr ªn .Qc c .. o .oQ1Ü j_ t_ '!do esp ír ito in vent iv a do homem . --- ----

Essa reação visa va an tes de tu do a um a valo rill ião do hom em,

para su perar a exce ss iva val o rizaçã o da m áqui n a. D aí uma sé riede es fo rço s n o se n t ido detuma co n cepç ão o ruàn ica da so c iedade.~ • . . -'

)< O term o orgânico o cu pa um a im po rt ant e po siç ão ent re o s sa in t-s im on ia-n o s . Par a eles o desen vo lv im en to da human idade se a lt erno u em "é po cascr íti ca s" (per ío do s de cr ise, de n eg ação , de di ss o lu ção ) e "épo cas or gâ n icas"(perío do s em que rein a um pe n samen to un if icado e uma co n ce pçã o co le-ti va da vida). T a l em pre go é fe ito pelo carb o n á rio B uche z (cf. IS AMBERT ,Fr. -A nd ré. "Époques crit iques et épo ques organiques, Une co nt rib ut ion deBuchez à l'é labo ra tio n de Ia théo rie so c ia le des sain t-s imon iens ." Cahiersl nt ernation aux de Sociologie. 1959. v. XXVII (n o va série), p. 131-52, esp.p . 140) e pelas expo sições ger a is des sa es co la (ci . BOUGL Ée H AL É VY(o rg .) .Doctrine de Saint-Simon, Ex position, premiêr e année, 1829. No va ed . Paris,M arc el Riviêre, 1924. Segun da sessã o , p. 157-78, esp . p . 161). A s co n -ce pçõe s são difer en tes , m as é certo qu e se tr atav a de um termo em vog a,an te s do adven to do o rga n icismo . C]. tamb ém W ILLlAMS, R ay rn o nd . Culturae Sociedade. São Pau lo . C ia. Ed . Nacio n a l, 1969. ca p o VII, esp. p. 152-55.

27

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Com efeito, a clareza das posições conceituais d_~.!!Jkheimobedece a uma constante metodo!.Qg~c:~i!iscute.p'riTI1cir~f!1~!!~~.,~~

concepções correntes (vulgares ou não) a respeito de um Ienôme-

n ã , para, em sc'guida, aprcsc-;;t;;;~!Óprja, soljº-?~eB~,e._~QP.,~_·

tLuÍda em termos coerentcs com uma interpretação estritamentesociológica. --.----------

(' Após a análise e interpretação dos dados ernpíricos, a dis-

\

cussão teórica do problema é retomada, com vistas a chegar a

conclusões que não só caracterizem em definitivo o fenômeno estu-

Idado, mas constituam também acréscimo valorativo das teorias

,/ 17 .•.- J anteriormente elaboradas. Nesse sentido, Le suicide e Les formes

1(0'-' " I constituem modelos de trabalho científico no campo das ciênciassociais e a demonstração de como fazer um estudo, seja de um

fenômeno isolado, seja de um fenômeno de delimitação mais difí-

cil. Este é o caso da vida religiosa, em que o ponto de parti da

da análise foi localizado no estudo das manifestações religiosas

mais antigas e, por conseguinte, mais simples - o totemismo _

para se atingir em seguida os aspectos mais complexos c i o ícnô-

\ meno. Concretiza-s.e, assim, .a ! á mencionada influência ca r tc siu nn. sobre a metodologia durkheimiana.

28

kheirn co lo ca a exp licação, posteriormente chamada funcionalista

(embora n ão revesti da de preocupações teleoJógicas que, segundo

ele, levariam a confusões com a filosofia), entre outras explicações

que não se enquadram nessa corrente e mesmo a contradizem.

Assim ocorre com a explicação genética, que tanto repudiam os

Iuncicnalistas modernos. 1:, Em suas obras posteriores, a abordagem

funcionalista está ausente (Le suicide) ou aparece esporádica e

secundariamente (Les formes élémentaires de Ia vil' religieuse).

Outras caracterizações comumente feitas de Durkheirn enqua-

dram-no como sociologista e/ou positivista. Sua caracterização

como socioJogista, tal como faz Sorokin, por exemplo, coloca-o ao

lado de Corntc e serve sobretudo para marcar uma linha divisória

entre Durkheirn e Tarde. este caracterizado como psicologista

(SORO"J~. 1938: capo VIII. esp. p . 329 e t se qs .s , A divergência

básica consiste na precedência ou proeminência do indivíduo e da

sociedade. Durk heirn. na medida em que desenvolve sua teoria

mediante a adoção de conceitos básicos de coerção, solidariedade,autoridade, representações coletivas etc., está na realidade funda-

mentalmente preocupado com a manutenção da ordem social. Nesse

sentido, sua po sição é an tiat o rn istu e se antepõe à abordagem deSp en cer e Tarde sobretudo. essencialmente individualistas e em linha

com a tradição liberal do século XIX com que, na medida em que o

indivíduo busca sua rca lizacào pessoal (sobretudo sua riqueza),

estará contribuindo para o bem-estar social. A posição dur khei -

mi aria a propósito das relações indivíduo-sociedade talvez seja uma

das mais universais e coerentes em toda a sua obra.

Apesar de urn a interpretação muito pessoal - que não vem

ao C :.lSO discutir aqui - das formulações dur kheimi anas, Parson s

ressalta que a metodologia de Durkheim é a do "positivisrno socio-

logista" (PARSO:--;S, 1968: v. I. capo IX, p. 460 et scqs.; para as

cit ações a seguir. ver p. 307. ó I e 343 respectivamente). 1'; ldenti-

~ct52

~

1:, COSE R , I lJ7 I: p. 141, reconhece o conceito de f unçào como dcsernpe-

nhando um papel crucial na obra de Dur kheirn. mas assinala igualmente

a ocorrência de outros procedimentos analíticos,

1; O enquadrurnento feito por Parsons de Durkheim como um posit iv isiu

foi formalmente contestado por POPE (1973: p. 400) em artigo recente.

Aquela int erpretaç ão estaria baseada numa acumu lação de erros cometidos

por Parsons. Na opinião de Pope. sempre Dur khcirn permaneceu um reu-lista social, que jamais buscou outras explicacôes par;\ os fenômenos sociais

scnâo nos fatores sociais.

ficando-o como "herdeiro espiritual de Comte", seu positivismo

implica "o ponto de vista de que a ciência positiva constitui a

única posição cognitiva possível" do homem face à realidade externa.

Parsons ressalta que a originalidade de Durkheim está em diferen-

ciar-se de seus antecessores, para quem a tradição positivista tinha

sido predominantemente individualista. Ele elevou o "fator social"

ao s tatus de elemento básico e decisivo para explicar os fenômenos

que tinham lugar no "reino social", e que o social só se explica

pelo social e que a sociedade é um fenômeno sui generis, indepen-

dente das manifestações individuais de seus membros componentes.

Parsons chama a atenção para o fato de que na obra metodológica

mais antiga de Durkheim (Division du travai/) se encontram duas

linhas principais de pensamento:

"Uma, polêmica, é uma crítica do nível metodológico das con-

cepções subjacentes do individualismo utilitarista. Outra, sua

própria doutrina, é um desenvolvimento da tradição posítivista

geral, a que a maior parte do argumento deste estudo se refere".

."

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.é' 30

4 . O esquema teórico

o esquema aqui apresentado para sintetizar a teoria socio-lógica durkheimiana constitui antes uma leitura dessa teoria queuma criação original propriamente dita do chefe da Escola Socio-lógica Francesa. Nesse sentido, corresponde a uma certa violen-tação, justificada porém numa coleção para fins didáticos. Assim,o esquema funciona como um guia para o leitor, visando à inte-gração dos textos adiante selecionados.

O leitor pode encontrar no esquema os principais elementoscontidos na teoria durkheimiana, mas, evidentemente, não encontraali suas formulações. Estas podem ser encontradas nos textos sele-cionados, os quais podem ser melhor situados no conjunto da obrade Durkheirn e no esquema em foco, onde as v in cul aç õe s entreas partes selecionadas da obra podem ser vistas, ainda que esque-matizadas; o que é, a um só tempo, defeito e qualidade do esquema.Assim sendo, o esquema não explica propriamente a teoria, masé explicado por ela - ou pretende sê-I o, na forma em que foigraficamente construído.

O esquema pretende ser tanto diacrónico como sincrónico, porse supor que arnbas as direrivas podem ser encontradas na teoriasociológica de Durkheim. A diacronia é representada horizontal-mente, tendo a solidariedade social - ponto de partida da teoriadurkheimiana ao iniciar seus cursos em Bordeaux - como pontede partida também da organização social; e a anemia como fimdesta, melhor dito, quando ela afrouxa seus laços c permite adesorganização individual, ou ausência dos liames e normas dasolidariedade. A sincronia é simultaneamente representada na ver-tical - tal como uma estrutura J~ --- a partir de um fundamento

J~ "Sem dúvida, os fenômenos que concernern à estrutura têm qualquer

coisa de mais estável que os fenômenos funcionais, mas entre as duas

ordens de fatos não existem senão diferenças de graus. A própria estrutura

se reencontra no vir a ser [devcnir j e não se pode esclarecê-Ia senão com

a condição de não perder de vista esse processo de vir a ser. Ela se

forma e se decompõe sem cessar; ela é a vida que atingiu um certo

grau de consolidação; e distingui-Ia da vida de onde ela deriva ou da vida

que ela determina, equivale a dissociar coisas inseparáveis" i apud CUYILLlER,

1953: p. 190). Cuvillier, em nota a essa página, diz: "Vê-se aqui o quanto

é falso se acusar Durkheim, tal como ainda se faz comumcnte [por Gur-

vitch], de não ter percebido senão o Jado cristalizado, estereotipado Uigé]da vida social",

. . ,

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32

concreto e objetivo, que é 3 . morfologia social, até atingir a fisio-

logia social, assim definida pelo próprio:

"Essas normas impessoais do pensamento e da ação são aquelasque constituem o fenômeno sociológico por excelência e se en-

contram com relação à sociedade da mesma forma que as fun-

ções vitais com respeito ao organismo: elas exprimem a maneiracomo se manifestam a inteligência e a vontade coletivas" (apud

CUVILlIER, 1953: p. 200-01).

No cruzamento das linhas de sincronia e diacronia se situa

a sociedade como organização central, que pode ser apreendida

pelos fatos sociais e de onde emanam tanto efeitos coercitivos sobre

indivíduos e grupos como fenômenos abstratos de consciência cole-

tiva e suas manifestações concretas que são as representações cole-

tivas - a própria matéria da Sociologia, tal como declara no seu

estudo "La prohibition de linccsre et ses origines" (DURKHEIM,

J 969: p. 100). Daqui surgem manifestações polares, como os fenô-

menos culturais sagrados ou profanos, e os dois tipos de direito

(repressivo e restitutivo ) vinculados diretamente aos tipos de soli-

dariedade social (mec âni ca e orgânica), as quais determinam por

sua vez dois tipos diferentes e evolutivos de organização social.

Nos quatro cantos do esquema são colocados núcleos primor-

diais da produção durkheirniana, a que correspondem quatro obras

importantes. No canto superior direito, a religião, vinculada às

representações coletivas, constitui a v ia através da qual veio a

elaborar os primeiros delineamentos da sociologia do conhecimento

- a religião é uma forma de representação do mundo, ou mesmo

uma forma de concerç~lodo mundo. No canto superior esquerdo,

a moral representa uma preocupação constante do autor, que só

a desenvolveu em cursos publicados postumamente; ela está estrei-

tamente vinculada à educação como forma de socialização dos

homens, ou de in iern alizaçà o de traços constitutivos da consciên-

cia coletiva. is No canto inferior esquerdo situou-se a divisão do

trabalho, perspectiva básica - quase morfológica - e estreita-

mente vinculada aos tipos de solidariedade social, os quais são

simbolizados no esquema pelas funções, que refletem a influência

organicista revelada especialmente nesta parte, que é a primeira

da obra de Durkheim. No canto inferior direito, situou-se o suicí-

dio, cuja monografia propiciou a elaboração de uma outra tipo-

logia: a que permite mostrar o comportamento individualista, o

grupal e o que reflete a frouxidão das normas sociais que conduzem

à anemia.

5. Sí nt es e

Em síntese, a obra sociológica de Durkheirn é um exemplo

de obra imperecível, aberta não a reformulações, mas a continui-

dades - e que marca a etapa mais decisiva na consolidação aca-

dêmica da Sociologia. Sua maior qualidade talvez seja a prioridade

do social na explicação da realidade natural, física e mental em

que vive o homem. Essas qualidades que se exigem de um clássico

estão presentes por toda sua obra, e da qual se procura dar uma

idéia -- por fragmentária que seja - nos textos adiante selecio-nados. J: ' Apesar de suas raizes no tempo em que viveu, a obra

de Durkheirn - respondendo a preocupações da sociedade e da

Sociologia de sua época - constitui um modelo do produto socio-

hígico. cujo consumo não se esgota na leitura, mas continua a

fruir nos produtos de seus discípulos e leitores.

Se ela apresenta lacunas - a ausência das classes sociais é um

exemplo -. isto não diminui o seu valor específico. Essa "falha",

bem como a ausência da pesquisa de campo notada por Kroeber,

não seriam antes fruto de indagações e preocupações posteriores

a ele c não propriamente de seu tempo?

Lé vi-Str auss vê em Mauss, sobrinho e discípulo dileto de Dur-k hc irn, um marco inv o lu n tá rio do iournant durkheimienne, ao mes-

mo tempo que assinala um declínio intelectual da Escola Socioló-

gica Francesa, só compensado pelo renascimento americano de

Jk Na falta de um texto especial nesta seleção. convém remeter o leitorà 2" lição de L'éducation mora/e, onde a moral é definida como "umsistema de regras de ação que predeterminam a condu Ia", as quais nosdizem como devemos agir - "e bem agir é obedecer bem" (DuRKHEJM,J 925: p. 2 J ). É clara a vinculação com a autoridade. Daí esta colocaçãocomplementar: "A moral não é pois apenas um sistema de hábitos, é umsistema de comando" (id., ibid, p. 27). Não se pode perder de vista a liçãobásica das Rêgles de que a moral é um fato social e que se impõe aosindivíduos por intermédio da coerção social.

j" Na o rgan ização dos textos foram suprimidas algumas notas de rodapéconsider adas dispe n sáve is numa coletânea deste tipo. Foram porém rnanti-<1:1' lodas as que continham referências hibliopr á f icas.

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It

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I1924 -

1

1

1925 -

!1928

Durkhe irn nos anos 50 . f : . curioso que dois dos críticos 20 mais

severos de Durkheim achavam-se nos Estados Unidos no fim da

Segunda Guerra Mundial, justamente quando e onde a Sociologia

moderna deslancha suas grandes contribuições renovadoras que

não deixam de reconhecer uma posição proeminente de Durkheirn.

O fato importante a ressaltar é que a Sociologia só se desen-

volve e se completa na medida em que assimila as contribuiçõesde seus grandes mestres. O mérito creditado a estes está sobretudo

em proporcionar a todos nós, seus discípulos, uma série daquilo

que Merton repete de Salv er nini - os libri fecondatori capazes

de aguçar as faculdades dos leitores exigentes.

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Il

i\

20 O outro é Gurvitch, que, n50 obstante, reconhece ser a obra sociológicade Durk heirn "o esforço mais bem sucedido, até o presente, de junçãoentre teoria sociológica e pesquisa cmpírica" (GURVJ1CH, 1959b: p. 3).

• A bibliografia completa de Durk heirn é apresentada por LUKES, 1972,completada por uma "Cornpr ehensive Bibliography of Writings on or Di-rectly Rclcvant to Durk heim", além de apêndices do maior interesse (tí tulosdos cursos, participação em bancas de doutoramento com trechos das ar-güições e colaboradores do Année Sociologique no período de vida deDurkheirn ). Ela foi posteriormente complemen tada por Kar ady (DURKHEIM,

1975).;Iil

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