Post on 07-Nov-2018
Página 1 de 13
GLOBALIZAÇÃO NO MUNDO ATUAL
A aceleração do processo de globalização
Nos últimos trinta anos, temos testemunhado numerosas transformações com impactes sobre os
indivíduos, as sociedades e os territórios nem sempre fáceis de identificar e de compreender na
totalidade.
Com a política de reestruturação (Perestroiko) e de transparência (Glasnost), levada a cabo por
Mikhail Gorbachov na antiga URSS desde que chegou ao poder, em 1985, a Guerra Fria terminou e os
Estados Unidos proclamaram-se vencedores. A queda do Muro de Berlim, ocorrida em novembro de
1989, transformou-se no acontecimento com maior
simbolismo, marcando o fim da Guerra Fria e da
bipolarização das relações internacionais.
A China comunista, por sua vez, que desde o
final dos anos 70 do século XX adotara uma política
de reformas visando a sua modernização, abriu-se
em várias zonas especiais ao investimento e à
implantação de indústrias estrangeiras. Face à
fragmentação da URSS e à abertura progressiva da
China à economia de mercado, a economia-mundo
capitalista tornou-se hegemónica, não parecendo
existir qualquer barreira consistente ao processo
de globalização em curso.
A globalização é um fenómeno económico, social, político e cultural que corresponde à etapa atual
do capitalismo.
O processo de globalização carateriza-se pela difusão, a todo o planeta, de modelos económicos,
políticos e culturais de forte inspiração ocidental, baseados na economia de mercado e na organização
social e política de tipo liberal, e traduz-se num
fluxo crescente de bens, pessoas, capitais,
informações e serviços comerciais à escala global.
A globalização em curso foi impulsionada pelo
desenvolvimento dos transportes, o que reduziu os
custos e o tempo de deslocação, e pela revolução nas
tecnologias de informação e comunicação (TIC), que
se traduziu na transmissão universal e instantânea de
informações - surgindo a Internet como um dos
meios de comunicação cuja expansão foi mais rápida.
No plano económico e financeiro, a aceleração
do processo de globalização resulta da crescente
liberalização dos mercados, dos movimentos de integração económica (na América do Norte, na Ásia
e na Europa) e do papel das empresas transnacionais (ETN), que têm intensificado a deslocalização de
segmentos do processo produtivo à escala global.
Queda do Muro de Berlim, 1989 Disponível na Internet:
http://noticias.r7.com/internacional/fotos/antes-e-depois-historias-surpreendentes-relembram-os-25-anos-da-queda-do-muro-de-berlim-
09112014#!/foto/1
Globalização económica Disponível na Internet: http://globalizacao.org/globalizacao-
mundial.htm
Página 2 de 13
As dimensões do processo de globalização
A globalização é um processo multidimensional através do qual as pessoas, os governos e as
empresas trocam ideias, realizam transações financeiras e comerciais e difundem aspetos culturais à
escala planetária.
Sob o ponto de vista económico, o fenómeno da globalização teve origem no processo de
transnacionalização da produção levado a cabo pelas ETN, transformadas em atores principais de uma
nova economia mundial, e traduziu-se na emergência de uma nova divisão internacional do trabalho
(DIT).
As principais caraterísticas desta nova economia mundial são as seguintes:
economia sustentada num forte crescimento do comércio
mundial e dominada pelo sistema financeiro e pelo
investimento à escala global;
processos de produção flexíveis e multilocais;
baixos custos de transportes e comunicações;
revolução das tecnologias de informação e de
comunicação;
desregulação das economias nacionais;
domínio da chamada Tríade (EUA, União Europeia e
Japão);
afirmação de novas potências económicas emergentes, como a China.
Na sua dimensão social, os efeitos do processo de globalização fizeram-se sentir sobre o mercado de
trabalho, na cultura e nos domínios da segurança, da inclusão e da coesão das famílias e das sociedades,
nem sempre com consequências positivas.
Assiste-se à flexibilização do emprego, ao
aprofundamento das desigualdades nos
rendimentos e à fragilização dos sistemas de
proteção social.
A globalização deu, também, origem a uma
nova classe, que se reproduz socialmente à escala
global fora do controlo das organizações
nacionais de trabalhadores e dos Estados
localizados na periferia ou semiperiferia do
sistema mundial: a classe capitalista
transnacional. Fazem parte desta elite os
administradores, gestores e acionistas das ETN,
que concentram uma parcela importante do rendimento mundial.
Na sua dimensão cultural, a globalização corresponde à convergência dos modos de vida em
resultado da difusão de uma cultura universal, através de marcas acontecimentos emblemáticos,
facilitada pelo desenvolvimento das TIC. A com nação das tecnologias eletrónicas, especialmente da
televisão, com os fluxos migratórios em massa, está a gerar comunidades transnacionais, as
Trabalhador da Microsoft em regime de teletrabalho Disponível na Internet:
http://blogs.msdn.com/b/govtech/archive/2012/11/12/microsoft-embraces-telework.aspx
Página 3 de 13
diásporas, uni em torno de universos simbólicos transnacionais por sentimentos e identidade comuns,
partilhando gostos, prazeres e aspirações de caráter
coletivo e global.
Contudo, se há quem considere que as especificidades
das culturas locais e nacionais correm riscos perante a força
hegemónica em expansão, outros defendem que a
globalização tanto produz homogeneização como
diversidade.
No domínio
financeiro, a
globalização deu
origem à criação de um mercado unificado de dinheiro a
nível global e promoveu fluxos de capital. Um conjunto de
transformações nos sistemas financeiros, ocorrido a partir
das décadas de 80 e 90 do século XX, tornou possível a
globalização das poupanças: a liberalização da circulação de
capitais e da convertibilidade das moedas, o reforço da
intervenção dos mercados financeiros no financiamento das
economias, a internacionalização da gestão dos riscos, que
reforçam a integração dos mercados financeiros à escala
global, entre outros.
No que diz respeito às dimensões demográfica e
religiosa, a globalização está associada à intensificação dos
fluxos migratórios internacionais de trabalhadores, ao
aumento dos fluxos turísticos e ao crescente
multiculturalismo e multietnicidade, resultante de uma
maior diversidade cultural no interior dos países mais
desenvolvidos.
Do ponto de vista político, a nova divisão
internacional do trabalho, a visão “pró-mercado” da
política económica e as interações resultantes das
práticas transnacionais reforçaram a necessidade
de aprofundar as relações interestatais.
Esta forma de organização política do sistema
mundial moderno e policêntrico carateriza-se pelo
estabelecimento de acordos políticos e comerciais
interestatais (NAFTA - Acordo de Livre Comércio da
América do Norte, Mercosul - Mercado Comum do
Sul, UE - União Europeia) e pela constituição de
novas organizações que reúnem igualmente os
chamados países emergentes que procuram
A americanização do mundo
“Gigantes militares, económicos e financeiros,
os EUA constituem, também, uma poderosa
potência cultural, em resultado da difusão à
escala mundial do seu modelo de consumo. A
globalização recente corresponde a uma
ocidentalização ou, mesmo, a uma
americanização do mundo, "já que os valores,
os artefactos culturais e os universos simbóli-
cos que se globalizam são ocidentais e, por
vezes, especificamente norte-americanos,
sejam eles o individualismo, a democracia po-
lítica, a racionalidade económica, o utilita-
rismo, o primado do direito, o cinema, a
publicidade, a televisão, a Internet, etc..”
O dólar destronou a Iibra esterlina como meio
de pagamento internacional e moeda de
referência, enquanto 0 idioma inglês se
tornou a língua universal.
A sua supremacia militar tem sido criticada
por prestarem auxílio militar a países aliados
onde os direitos humanos nem sempre são
respeitados ou por recorrerem de forma
abusiva à intervenção militar em regiões onde
os seus interesses estão em jogo.”
Fonte: Santos, Boaventura de Sousa,..., 2001, p. 51
(adaptado).
Globalização cultural Disponível na Internet:
http://www.blogplanetacurioso.com.br/2013/05/o-lado-triste-da-globalizacao.html
Globalização e fluxos demográficos Disponível na Internet:
http://www.jornalismoeducativo.com.br/materias/redacao_teve_correcao_mais_criteriosa/
Página 4 de 13
afirmar-se em termos mundiais, como o G20 (que corresponde ao alargamento do antigo G8 e que
integra as dezanove maiores economias do mundo e a
UE) e os BRICS (Brasil, Rússia, índia, China e África do
Sul).
Na sua dimensão jurídica, a globalização carateriza-
se por um processo de desregulamentação dos
mercados de trabalho, de serviços comerciais e de
capitais, entre outros, que vai ao encontro das pressões
e dos interesses das ETN e das instituições financeiras
multilaterais, como o Fundo Monetário Internacional
(FMI). Este fenómeno ocorre num contexto de
enfraquecimento dos poderes do Estado e da correspondente capacidade para regular os mercados
nacionais, o que é aproveitado pelos novos atores transnacionais para imporem as suas normas e
estratégias.
Os atores da globalização
O processo de globalização é o produto de interações complexas entre diversos intervenientes,
entre os quais se encontram: grandes empresas transnacionais (ETN), investidores, Estados, cidades e
regiões poderosas.
O comércio internacional, baseado na transação
entre empresas nacionais, sediadas num território
nacional em que o Estado é soberano em questões
fundamentais - direitos aduaneiros, taxas de câmbio e
de juros, emissão de moeda, impostos, etc. -, deu
lugar a um sistema de comércio caraterizado pela
integração entre economias nacionais e pelo papel
cada vez mais influente das ETN, que conduzem as
suas estratégias sem terem em conta os interesses dos
países onde se localizam.
Estas empresas desenvolvem estratégias de
deslocalização e relocalização das atividades, podendo
implantar segmentos de um processo produtivo em diferentes países, à procura das condições ótimas
de produção e dos mercados mais atrativos. Deste modo, o fenómeno de transnacionalização está
intimamente relacionado com a crescente importância destas empresas no funcionamento da economia
mundial. As ETN são, por isso, os principais motores da globalização da economia. Em alguns casos, o
poder destas empresas sobrepõe-se ao dos Estados, que vão perdendo progressivamente o controlo
sobre a ação das ETN.
Num cenário de aceleração das trocas comerciais, facilitadas pela redução dos custos de transporte e
pela generalização das TIC, outros atores da globalização, como a Organização Mundial de Comércio
(OMC), têm contribuído para organizar e incentivar as práticas comerciais à escala planetária.
Globalização e fluxos demográficos Disponível na Internet:
http://www.jornalismoeducativo.com.br/materias/redacao_teve_correcao_mais_criteriosa/
Empresas Transnacionais Disponível na Internet:
http://pt.slideshare.net/abnerdepaula/globalizao-13758169
Página 5 de 13
Enquanto a OMC arbitra o comércio mundial, trabalhando para que todas as formas de
protecionismo sejam eliminadas, instituições
financeiras multilaterais como o Fundo Monetário
Internacional (FMI) e o Banco Mundial contribuem
para garantir a regulação económica do sistema
mundial e viabilizam as transações financeiras
internacionais.
Vários blocos económicos regionais, quase
continentais, como a União Europeia (UE), o Acordo
de Comércio Livre da América do Norte (NAFTA), o
Merca Comum do Sul (Mercosul) ou a Associação
das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), constituem-
se como elementos polarizadores das trocas comerciais
a nível mundial. Estas organizações são alianças
económicas e políticas poderosas entre países, que cooperam entre si com o objetivo de se tornarem
mais fortes fé à competição económica mundial.
A União Europeia é a organização que apresenta um grau de integração mais elevado, o que lhe
permite competir com os EUA, o Japão e os BRICS como Polo do sistema-mundo.
Estas organizações económicas regionais apoiam-se territorialmente numa rede de grandes cidades,
chamadas cidades globais. Estas constituem os centros organizadores do sistema de relações
interestatais e dos fluxos de bens, pessoas, capitais e informação que se estabelecem entre os países
que integram estas organizações.
O G20, embora não seja considerado uma organização formal, representa a cúpula do poder
mundial, agrupando as vinte maiores economias mundiais. Desde 2008, o G20 passou a assumir uma
função central na regulação da economia mundial, substituindo o papel até então desempenhado pelo
G8 - organização constituída pelos 7 países mais industrializados do mundo e a Rússia. Os países
mais ricos têm procurado concertar
estratégias de ação comuns visando a
estabilidade financeira internacional e a
definição de uma agenda mundial em
diversas questões que os preocupam:
liberalização do comércio, políticas
económicas, terrorismo, ambiente, crime
internacional, etc.
Tal como o G8, também o G20 tem
ultrapassado as instituições vocacionadas
para resolver certas questões globais,
como, por exemplo a Organização das
Nações Unidas (ONU), pondo em causa a
sua legitimidade.
Logo da Organização Mundial de Comércio Disponível na Internet: http://comex-
solutions.webnode.com/news/etapa-2-acordos-economicos-internacionais-e-seu-impacto-no-direito-brasileiro-/
Cartaz a anunciar o Forum Social Mundial de 2016, em, Porto Alegre, Brasil
Disponível na Internet: http://forumsocialportoalegre.org.br/2015/06/12/memoria-da-plenaria-do-comite-organizador-do-fstematico2016-forum-social-mundial-15-
anos/
Página 6 de 13
Todos estes atores, à medida que promovem a expansão do comércio internacional, introduzem
regras e fomentam práticas que apenas se destinam a salvaguardar os seus próprios interesses e a
perpetuar ou a consolidar o seu domínio. Por isso, os opositores a esta forma de globalização
multiplicam-se, quer nos países mais pobres quer nos países mais ricos, preocupados com o aprofundar
das desigualdades socioeconómicas.
Inúmeros movimentos transnacionais constituem-se com o
objetivo de pressionar os outros atores da globalização e
alterarem as suas estratégias, demonstrando que existem
percursos alternativos mais sustentáveis e solidários. É a chamada
globalização alternativa ou alterglobalização.
Entre estes movimentos encontram-se as organizações não-
governamentais (ONG), que atuam com grande eficácia, constituindo uma rede à escala mundial. Estas
associações da sociedade civil trabalham de forma independente relativamente aos governos, agindo
em domínios diversos, como por exemplo: o desenvolvimento (OIKOS, CIDAC), os direitos humanos
(Human Rights Watch, Amnistia Internacional), a ajuda humanitária (Médicos Sem Fronteiras), a saúde
(Partners in Health) e o ambiente (Greenpeace).
Graças ao avanço tecnológico, nomeadamente no setor das telecomunicações e da informática, as
grandes empresas transnacionais, os novos atores da globalização, organizam a produção e
estabelecem estratégias empresariais à escala mundial, influenciando e conduzindo a implementação
planetária de padrões de produção e de consumo homogeneizados. Neste contexto, a dimensão
nacional de uma visão do mundo tende a relativizar-se
e a subordinar-se a uma cultura global marcada por
uma nova lógica capitalista de espacialização
transnacional e global, apoiada na crescente
mobilidade do capital e na liberalização dos mercados.
Esta nova lógica organiza-se num sistema em rede,
constituído por fluxos e por nós, que se adensa nos
espaços que prosperam e se globalizam e que se
rarefaz nos territórios que continuam marginalizados
ou excluídos desta dinâmica.
As ETN são as grandes responsáveis pelas
crescentes assimetrias de desenvolvimento entre as
áreas beneficiadas e as marginalizadas, pois estão na
origem de uma perigosa concentração do investimento em certas regiões em detrimento de outras.
Sediadas nas grandes metrópoles globais, a maioria das ETN contribui para a concentração da riqueza
nestas áreas. Por sua vez, as cidades globais estabelecem entre si relações preferenciais que reforçam o
seu poder e a sua capacidade de controlar os grandes fluxos mundiais.
O que antes funcionava numa lógica de rede hierarquizada de cidades e respetivas áreas de
influência parece ter sido substituído por um sistema de nós (hubs) e de fluxos. As cidades globais
constituem os nós de um sistema hierarquizado que promove a exclusão de vastos espaços, apenas
atravessados pelos fluxos que ligam os polos secundários às cidades principais.
As ETN são consideradas as grandes responsáveis pelas assimetrias do desenvolvimento
Disponível na Internet: https://portogente.com.br/portopedia/globalizacao-73980
Página 7 de 13
A globalização, não só está a evidenciar as desigualdades de acesso das regiões e dos indivíduos aos
recursos, como tem ajudado a aprofundar as assimetrias na distribuição da riqueza. Deste modo, a
globalização pode ser um fator de uniformização ou de divisão, sinónimo de novas liberdades para
uns e de constrangimentos para outros, de integração e inclusão para certos territórios, estratos
sociais ou indivíduos e de exclusão para outros.
A situação socioeconómica passou a ser um
elemento preponderante na divisão Norte-Sul.
Apenas um reduzido número de territórios e
indivíduos está a usufruir plenamente dos benefícios
do desenvolvimento proporcionado pela globalização.
Entre eles
estão
aqueles
que
possuem os recursos e dominam as inovações tecnológicas.
Os fluxos e os equipamentos de telecomunicações estão
concentrados nos países mais ricos, os países do Norte. Por
isso, embora possamos falar de um “sistema de
comunicações-mundo” e de acontecimentos globais (Jogos
Olímpicos, Live Aids, etc.), a expressão “aldeia global” tem
sido incorretamente utilizada.
Poderosas redes logísticas multimodais ligam entre si
territórios por vezes muito distantes. Mas esta ligação é sele-
tiva, pois depende da capacidade de cada país adquirir e
instalar infraestruturas modernas que exigem capital e
tecnologia.
O desenvolvimento das telecomunicações é dos principais
fatores impulsionadores da globalização (telefone, fibra ótica
de banda larga). Desde 2000, o número de telefones móveis
no mundo aumentou de 740 para 5300 milhões de
aparelhos. Em cinco anos, o número de utilizadores da
Internet duplicou, representando 35% da população mundial
em 2011.
Apesar dos progressos, o fosso digital entre o Norte e o
Sul continua a ser uma realidade.
Os mercados financeiros tornaram-se globais com os
progressos tecnológicos e as políticas de desregulamentação
dos Estados. Bancos, companhias de seguros, fundos de
pensões e os fundos especulativos vão deslocalizando os seus
O mito da aldeia global
A expressão "aldeia global"foi introduzida em
1968 por Marshall McLuhan e pelo seu colega
Quentin Fiore, quando o mundo assistia à
primeira guerra em direto pela televisão, a
guerra do Vietname, e reflete o resultado dos
extraordinários progressos das tecnologias de
comunicação. Na realidade, passou a ser
possível a circulação de informação (voz, texto
e imagem) em tempo real através de sistemas
de comunicação, utilizando tecnologia via
satélite (o caso da televisão) ou as redes te-
lefónicas (no caso do fax), mais tarde reunidas
em sistemas telemáticos (computador-
modem-telefone), permitindo que
supostamente todo o mundo estivesse ao
alcance de todos.
Contudo, as barreiras geográficas podem ter
caído para as comunicações, mas novas
barreiras quase impercetíveis estão a surgir.
No que diz respeito à Internet, estas são
evidentes. O seu utilizador típico é do sexo
masculino, tem menos de 35 anos, uma
formação universitária e rendimento médio a
elevado, vive numa área urbana e domina o
inglês - é membro de uma elite minoritária em
todo o mundo. Assim, a sociedade, ao
organizar-se em rede, está a criar dois
sistemas paralelos de comunicações:
- um para os que têm rendimentos, educação
e estão"ligados”, acedendo ou trocando abun-
dante informação com rapidez e a baixo
custo, não só através da Internet, mas
também por fax, por satélite ou por
telemóvel;
- outro para os que, devido a carências de
rendimento e educação, e às limitações de
mercado interno de telecomunicações, nos
seus países, não estão ligados".
Fonte: PNUD, Relatório do Desenvolvimento Humano.
2005
A globalização aprofundou as desigualdades entre o Norte rico e o Sul pobre
Disponível na Internet: http://resistir.info/patnaik/sul_global_20jul14.html
Página 8 de 13
investimentos à procura em encontrar o melhor rendimento nos mercados financeiros. Cinco bolsas
concentram 52% da capitalização de mercado do mundo.
A lógica financeira e especulativa domina a globalização. O stock de capital acumulado nos
mercados bolsistas representa 5 a 10 vezes o PIB
mundial. A capitalização bolsista do mercado global
aumentou sete vezes em vinte anos. Os atores desta
globalização financeira procuram tirar partido das
diferenças existentes entre territórios no que diz
respeito às taxas de câmbio, taxas de juro, preços das
ações, etc.). Este sistema muito instável esteve na
origem de vinte e quatro grandes crises, entre 1971 e
2008.
O sistema bancário global entrou em colapso
durante a crise de 2008, especialmente nos principais
países desenvolvidos. A crise financeira tornou-se
económica e social, levando os Estados e as
organizações internacionais (como o FMI) a intervirem.
Foram efetuadas nacionalizações, concedidos empréstimos e garantias financeiras, o que não impediu o
contínuo aumento do endividamento externo. O desenvolvimento dos principais países do Norte foi
profundamente comprometido.
A massificação cultural
Os habitantes do planeta são considerados trabalhadores e consumidores do vasto mercado
mundial, independentemente das desigualdades de acesso à “cultura global”, aos mercados financeiros
e a uma “visão global” do mundo.
A globalização dos mercados de consumidores intensificou os fluxos de novos produtos de acordo
com padrões de consumo cada vez mais homogéneos. Deste modo, as ETN que atuam como gestores
globais, sem quaisquer responsabilidades sociais, veem as suas estratégias compensadas e os seus
lucros a aumentar.
Mas a “cultura global”
que se está a difundir
corresponde ao modelo
americano, O American way
oflife. Nos domínios do
lazer, dos hábitos
alimentares, do desporto e
da música, os EUA estão a
impor o seu estilo de vida.
Apoiados no domínio da
língua inglesa e na
revolução das
Nº Ano Filme Distribuidor Bilheteria (US$)
1 2009 Avatar 20th Century Fox 2 787 965 087
2 1997 Titanic Paramount Pictures/20th C. Fox 2 186 772 302
3 2012 Os Vingadores Walt Disney Pictures 1 518 594 910
4 2015 Velozes e Furiosos 7 Universal Pictures 1 511 527 910
5 2015 Vingadores: Era de Ultron Walt Disney Pictures 1 367 847 357
6 2011 Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2 Warner Bros 1 341 511 219
7 2013 Frozen - Uma Aventura Congelante Walt Disney Pictures 1 274 219 009
8 2013 Homem de Ferro 3 Walt Disney Pictures 1 215 439 994
9 2011 Transformers: O Lado Oculto da Lua Paramount Pictures 1 123 794 079
10 2003 O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei New Line Cinema 1 119 929 521
A crise de 2008 que teve o seu epicentro em Wall Street, desencadeou uma série de
protestos contra a especulação financeira
Disponível na Internet: http://www.escolakids.com/a-crise-financeira-de-2008.htm
Disponível na Internet:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_filmes_de_maior_bilheteria
Página 9 de 13
telecomunicações, os norte-americanos estão a transformar os hábitos e os costumes mundiais.
Através do cabo e do satélite, uma diversidade de canais temáticos globais de notícias, cinema ou
música transmite 24 sobre 24 horas. As longas-
metragens produzidas em Hollywood são estreadas
mundialmente. Milhares de restaurantes de grandes
cadeias norte-americanas, como a McDonald's, a
Burger King ou a Planet Hollywood, estão presentes
em todo o mundo com os seus menus baseados em
hambúrgueres e em bebidas universais como a Coca-
Cola. O vestuário é influenciado pelas empresas
norte-americanas do setor, como a Nike ou a Levi's.
A Microsoft monopoliza o mercado do software.
O desenvolvimento das tecnologias de
informação e comunicação possibilita, em qualquer parte do mundo, observar as reportagens dos
últimos acontecimentos mundiais através das cadeias
televisivas CNN e BBC, assistir à última produção de
Hollywood, utilizar o mesmo cartão de crédito ou
adquirir produtos de marcas mundiais.
A aculturação surge como inevitável face às
estratégias de marketing e à publicidade. O crescimento
da cultura como um bem económico contribuiu para a
sua identificação como mercadoria que pode ser vendida
e negociada - artes, turismo, música, livros e filmes.
Verifica-se uma concorrência feroz para vender aos
consumidores, em todo o mundo, com publicidade cada vez mais agressiva, numa diversidade de
produtos que pretendem dar resposta às tendências e aspirações de um mercado mais massificado.
Embora a difusão de ideias e imagens enriqueça o mundo, há um risco de reduzir as questões
culturais às leis do mercado, negligenciando a comunidade, o costume e a tradição.
Aldeia global e aculturação
O desenvolvimento dos meios de transporte e de comunicação possibilitou, não só o aumento
exponencial das deslocações (migrações globais, turismo e trocas comerciais), como também os
contactos e trocas de informações a nível mundial. Daí a explosão de trocas sociais entre pessoas de
culturas completamente diferentes.
Os meios de comunicação ligam as pessoas em tempo real às notícias, às imagens e às informações,
tornando os indivíduos, os grupos e as nações cada vez mais interdependentes e transformando o
mundo em que vivemos naquilo que muitos autores designam por “aldeia global”.
Este contacto entre povos diferentes, consequência do processo de globalização, leva a que estes se
conheçam melhor, modificando atitudes e representações sociais que Ihes foram transmitidas através do
processo de socialização, criando outras. Estas transformações culturais correspondem ao processo de
aculturação.
Disponível na Internet:
http://www.mundoeducacao.com/geografia/globalizacao.htm
Disponível na Internet:
https://www.google.pt/search?q=cultura+globaliza.htm
Página 10 de 13
Situações de aculturação sempre existiram ao longo da história. Contudo, recentemente, este
processo tem vindo a acentuar-se.
Será, então, que se está a caminhar para uma cultura global? Será que essa cultura é dominada
pelos produtos e valores da cultura ocidental?
Com efeito, a globalização está associada aos
produtos materiais (Coca-Cola, McDonald's, etc.) e culturais
(filmes e séries americanas) ocidentais.
Mas, em muitos casos, as marcas globais foram
obrigadas a introduzir nos seus produtos elementos mais
adequados aos hábitos de consumo das populações locais.
Deste modo, também se poderá pensar que as
identidades e os modos de vida estão a transformar-se e a
dar lugar a novas formas de cultura compostas por
elementos de diferentes origens culturais, ou seja, em vez de uma cultura está a de desenvolver-se uma
pluralidade de formas culturais.
A rápida difusão da informação também tem aspetos positivos, nomeadamente gerando campanhas
de solidariedade internacional, por exemplo, quando ocorrem catástrofes naturais. Estes factos levam a
que as pessoas tomem consciência da sua responsabilidade social além-fronteiras, desenvolvendo
ações que implicam, por exemplo, intervenções de ajuda humanitária e assistência técnica ou apelos a
favor da defesa dos direitos humanos. A noção de cidadania alarga-se, passando os indivíduos a ser
cidadãos do mundo.
Globalização, padrões de consumo e estilos de vida
A globalização está associada à aceleração das trocas comerciais, o que significa que podemos
encontrar, pelo menos nos países mais desenvolvidos, os
mesmos produtos e das mesmas marcas.
Por outro lado, os meios de comunicação social e, em
particular, as campanhas publicitárias das grandes
marcas internacionais têm levado a uma adesão ao con-
sumo de alguns produtos, o que os torna “produtos
globais”.
Verifica-se, assim, uma tendência, pelo menos nas
sociedades mais desenvolvidas e com maior poder de
compra, para os hábitos de consumo serem idênticos, isto
é, para uma uniformização dos padrões de consumo a
nível mundial. Por exemplo, certos tipos de consumo juvenil, ao nível do vestuário, dos gostos musicais,
da alimentação ou da prática desportiva, são praticamente os mesmos em qualquer sociedade
desenvolvida.
Contudo, a uniformização do consumo é relativa, pois existem desigualdades no consumo entre:
- países desenvolvidos e países menos desenvolvidos, nos quais grande parte da população não tem
possibilidades económicas de ter os padrões de consumo dos países mais ricos;
Disponível na Internet:
http://ummundoglobal.blogspot.pt/2010/09/globalizacao-
oportunidade-ou-uma-ameaca.html
Contraste da globalização
Disponível na Internet: https://taboodada.files.wordpress.com/2011/03/g20-protests2.jpg
Página 11 de 13
- os diferentes grupos sociais dos países desenvolvidos.
Nos países desenvolvidos, persistem as desigualdades sociais, não podendo os grupos sociais mais
desfavorecidos ter hábitos de consumo idênticos aos dos grupos mais privilegiados.
Também encontramos nos países desenvolvidos grupos sociais com estilos de vida diferentes, ou
seja, com modos de vida e práticas de consumo diferentes. Por exemplo, atualmente, surgem novos
estilos de vida associados à vida saudável, à defesa do meio ambiente, etc.
Os fenómenos de resistência à uniformização cultural
A globalização aumentou, de um modo sem precedentes, os contactos entre os povos, facilitando a
difusão dos seus valores, ideias e modos de vida. As pessoas viajam com maior frequência e percorrem
distâncias mais longas. Atualmente, a televisão chega a comunidades que vivem nas áreas mais remotas
da China, difundindo um modelo civilizacional; é possível ouvir música portuguesa em Tóquio e ver
filmes africanos em Banguecoque;
podemos encontrar Shakespeare na
Croácia e livros acerca da história do
mundo árabe em Moscovo; ou receber as
últimas notícias do mundo através da
rede de televisão AI Jazeera, diretamente
do Qatar.
Para muitas pessoas, a globalização é
estimulante, pois é sinónimo de novas
oportunidades e de maior diversidade
cultural, ajudando a promover a
constituição de uma sociedade mundial,
com valores e princípios éticos
defendidos universalmente por todos os cidadãos. Outros receiam que os seus países possam
fragmentar-se e que os valores das culturas locais estejam a perder-se, à medida que cada vez mais
imigrantes trazem novos costumes e que o comércio internacional e os meios de comunicação
difundem, nas línguas mais faladas, um modelo cultural ocidental.
A construção de uma sociedade mundial é uma realidade para as elites dirigentes, mas a emergência
de uma elite mundializada não significa a constituição de uma cidadania mundial. Muitas comunidades e
indivíduos não se reconhecem numa cultura mundial, que, embora fundada sobre os valores da
modernidade ocidental como a liberdade, os direitos humanos e a democracia, tem um caráter
hegemónico e submete as identidades nacionais e locais à sua lógica. A globalização aparece-lhes,
assim, como a negação de um conjunto de valores e de referências familiares, religiosas e culturais
próprios.
É por isso que as alterações em curso têm impactes que ultrapassam o campo geopolítico e
económico e se repercutem nos modos de vida, pondo em causa a tradição, as culturas e os costumes
locais.
Globalização cultural Disponível na Internet: http://www.libertarianismo.org/index.php/artigos/a-globalizacao-
destroi-a-cultura/
Página 12 de 13
Segundo a Unesco, estima-se que uma percentagem elevada das línguas do mundo possa
desaparecer no decurso do presente século. Metade delas (entre 6 e 8 mil) é atualmente falada por
menos de 10 mil pessoas, e calcula-se
que a cada duas semanas desapareça
uma. O crescimento das línguas
veiculares, particularmente o inglês,
associado aos processos de
globalização, acarreta consequências
significativas para as línguas de todo o
mundo.
Embora o universalismo da cultura
e dos valores esteja em plena
expansão, é, simultaneamente, objeto
de grande contestação.
A resistência à globalização
cultural ocorre com frequência em
sociedades tradicionais, onde a religião tem um papel social importante. Por esse motivo, os
movimentos de contestação assumem, por vezes,
formas violentas e exclusivas que se baseiam no
nacionalismo e no fundamentalismo. No entanto, a
expansão deste tipo de movimentos que se opõem à
globalização não está só relacionada com o
renascimento de aspirações religiosas e nacionalistas;
na sua origem encontra-se também a generalização
de uma cultura de massas que impõe o “global” ao
“Iocal” e destrói as identidades territoriais.
Contudo, novos pontos de vista sobre os laços
que se tecem entre o global e o local emergiram,
rompendo com a ideia de que o domínio de uma
monocultura global é inevitável. A intensificação da
circulação dos fluxos culturais e a existência bem
real de uma tendência para a globalização da
cultura não conduz à homogeneização do planeta,
mas leva à criação de um mundo cada vez mais
mestiço. As identidades nacionais e locais parecem
resistir aos fenómenos de aculturação provocados pela globalização. As culturas locais aproveitam-se
dos meios que o capitalismo globalizante proporciona, afirmando-se pela diversidade, pela diferença.
Cinema indiano resiste à globalização americana:
Disponível na Internet: http://imagefriend.com/bollywood-
movies-online.shtm
Disponível na Internet: http://aslnguasabremcaminhos.blogspot.pt/2010/04/as-10-
linguas-mais-faladas-na-internet.html
Identidades locais ou património identitário
Significa o conjunto daquilo que os homens herdam ou
inventam, podendo também ser produzido a partir de
elementos físicos da paisagem, naturais ou construídos.
Estas identidades não surgem ao acaso. Resultam da pre-
sença permanente e do trabalho esforçado e meticuloso
dos indivíduos e das comunidades, ao longo da história.
Na formação deste património (identidades), assumem,
mais uma vez, papel de relevo as representações, as
crenças, os sistemas de ideias, os sonhos dos homens
que ocupam um determinado território.
Podem constituir elementos de identidade e recursos
específicos de uma comunidade ou território: a Iíngua ou
dialeto, a religião, a etnia, os costumes, as tradições, 0
saber-fazer, os artefactos relacionados com as atividades
económicas tradicionais locais, 0 património construído e
natural, etc.; uma identidade construída e natural, etc.;
uma identidade em contraste com outras comunidades e
territórios.
Página 13 de 13
Talvez por isso, as culturas nacionais e locais
estão a assumir um renovado vigor e significado,
lutando para preservar os elementos de
afirmação da sua identidade - a língua ou dialeto,
a religião, a etnia, os costumes, as tradições, os
artefactos, o património construído e natural,
etc.. Algumas são reativadas, como a cultura
celta ou crioula, através da língua, da música e da
literatura. O exemplo da Índia sublinha que as
especificidades nacionais e locais podem opor-se
à cultura global: O cinema indiano é o primeiro
do mundo em número de produções.
As novas ameaças e riscos
Os cenários históricos, políticos e económicos alteraram-se radicalmente nos últimos trinta anos.
As grandes decisões dos Estados e a organização das nações fazem-se a partir de condicionantes
externas, quase sempre mais determinantes do que as nacionais. O processo está a marginalizar os
mais pobres, não só os países como as pessoas. As assimetrias
sociais e a contestação estão, por isso a progredir.
As ameaças ao desenvolvimento são muito
diversas, podendo ocorrer a um nível mais local, onde as
desigualdades e as inseguranças se refletem, não só nos
rendimentos, mas também na participação política (nas
instituições, nos parlamentos e nos governos locais) e nas
condições sociais (educação, habitação e emprego. Esses
riscos podem ter, também, um caráter mundial, como resultado
do aumento do crime internacional (criminalidade
financeira, tráfico de crianças, de mulheres de órgãos) e das
ações de grupos terroristas, da expansão dos vírus da SIDA
e ébola, da proliferação do tráfico de droga, da crescente
internacionalização dos mercenários, da expansão da
venda clandestina de armamento perigoso (armas químicas, biológicas e nucleares) ou das alterações
sem precedentes no equilíbrio bioclimático do planeta, em resultado da ação humana.
Perante as novas ameaças e desafios que se nos colocam, várias analistas defendem que é
necessário construir um quadro de referência, de valores comuns considerados universais, que seja
aceite por todos os Estados e que dê resposta a questões à escala planetária - ambiente, direitos
humanos, droga, SIDA, terrorismo, etc. No entanto, para que esse cenário seja possível, é
indispensável atender às desigualdades de desenvolvimento que a globalização evidenciou e construir
um espaço democrático de governação global.
No essencial, o texto foi retirado de: Domingos, Cristina; Lemos, Sílvia; Canavilhas,
Telma (sd) Geografia C12. Lisboa: Plátano Editora
Rancho Folclórico de Santa Maria da Reguenga (Santo Tirso)
Disponível na Internet: http://blog-do-
pinhas.blogspot.pt/2011/02/encontro-de-folclore-de-inverno_8831.html
O reforço da democracia global como resposta
às novas ameaças resultantes da globalização
Disponível na Internet:
https://pixabay.com/pt/globaliza%C3%A7%C3%A3o-
democracia-450599/