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UFSM
RODRIGO ARNOUD DA SILVEIRA
A FOTOGRAFIA DE MODA E A PRODUÇÃO DE SENTIDO:
ENSAIO FOTOGRÁFICO EXPERIMENTAL NOS ESTILOS EDITORIAL E
CATÁLOGO DE MODA
Santa Maria, RS, Brasil
2010
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RODRIGO ARNOUD DA SILVEIRA
A FOTOGRAFIA DE MODA E A PRODUÇÃO DE SENTIDO:
ENSAIO FOTOGRÁFICO EXPERIMENTAL NOS ESTILOS EDITORIAL E
CATÁLOGO DE MODA
Projeto experimental apresentado à Comissão de Trabalho de Conclusão de Curso, do Departamento de Ciências da Comunicação da Universidade Federal de Santa Maria como requisito para obtenção do Grau de Bacharel em Comunicação Social – Publicidade e Propaganda
Orientador: Profª Juliana Petermann
Santa Maria, RS, Brasil
2010
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Universidade Federal de Santa Maria Centro de Ciências Sociais e Humanas
Curso de Comunicação Social – Publicidade e Propaganda
A Comissão Examinadora abaixo assinada aprova o Projeto Experimental
Elaborado por
Rodrigo Arnoud da Silveira
Comissão examinadora
__________________________ Profª. Juliana Petermann, Ms.
Presidente/Orientador(a)
_____________________________ Profº Adair Caetano Peruzzolo, Dr.
Examinador
____________________________ Profª Laura Fabrício, Ms.
Examinadora
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Dedico este trabalho ao meu pai,
Lavoisier, meu melhor amigo e meu
primeiro e único fashionista não-
declarado. Espero que goste.
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Agradecimentos
Agradeço, em primeiro lugar, a Faculdade de Comunicação Social da
UFSM pelos quatro anos de ensino muito bem aproveitados, onde pude
encontrar novos pais e novos irmãos todos os dias, que me ensinaram coisas
que jamais vou esquecer. Agradeço também a minha orientadora, profª Juliana
Petermann, pela paciência, por ter me fornecido todo suporte necessário para a
conclusão deste trabalho e pelas orientações cheias de conversa sobre moda.
Ao meu pai, Lavoisier, que nunca deixou de me mostrar a importância de
um bom livro e de comer feijão e arroz todos os dias. Saudades suas.
Á minha mãe, Cecília, minha melhor amiga de todos os tempos,
cúmplice no crime e modelo ideal de pessoa divertida. Amo muito você.
Àos meus amigos, Budu, Lia e Verônica, que amo de todo o coração e
que nunca vou me separar. Nosso pra sempre é pra sempre.
Agradeço ao meu broto, pela paciência, pela paciência, paciência e
paciência. Sem isso meu projeto não seria o mesmo. Amo muito.
Aos meus amigos de coração, Camila, Gabriela, Carol, Pietro, Krys e
meu irmãozinho Marcelo. Quatro anos de amizade que eu nunca vou esquecer.
São muitos a agradecer e pouco espaço para escrever. Se me esqueci
de alguém aqui, por favor, me perdoe. Vou queimar no inferno por isso.
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"Vista-se mal e vão reparar no
vestido. Vista-se bem e vão reparar
na mulher."
Coco Chanel
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RESUMO
Este projeto experimental tem como objetivo a produção de um ensaio fotográfico de moda, mais especificamente nos estilos editorial e catálogo de moda. Para tanto, utiliza-se em um primeiro momento das considerações de autores como Siegel (2008) e Jones (2005) para elucidar as relações do homem com esta indústria da moda, além de definirmos os conceitos básicos de editorial e catálogo. Em seguida, utilizaremos os estudos de Barthes (2005,2009), onde encontraremos a relação da moda com a semiótica, e também alguns conceitos de consumo de moda através de Brandini (2008). O eixo principal desta pesquisa baseia-se na gramática do design visual de Kress e Van Leeuwen (1996), que utilizaremos tanto para a análise do corpus primário, composto por fotografias de revista de moda e catálogos de moda, quanto para o corpus secundário, composto pelas imagens resultantes do ensaio fotográfico deste projeto. Ao final, realizamos um grupo focal a fim de comprovar os sentidos propostos pelo ensaio, além de rever as teorias da gramática do design visual.
Palavras-chave: Moda; Fotografia de Moda; Produção de sentidos; Gramática do design visual.
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ABSTRACT
This project has as goal the production of a fashion photo shoot, specifically the types of editorial and advertorial kinds. For such, it uses in first place the considerations of autors such as Siegel (2008) and Jones (2005) to elucidate the relations between men and the fashion industry, and later the definition of editorial and advertorial. Then we utilize the studies of Barthes (2005,2009) where we can find the relation of fashion and semiotics, and also some concepts of fashion consume through Brandini (2008). The principal axis of this research it is based on the grammar of the visual design of Kress and Van Leeuwen (1996), which is used both to the analysis of the prime corpus, compounded by photographs of fashion magazines and advertorials, and for the secondary corpus, formed by the resultant images from this project‘s photo shoot. At the end it is realized a focus group to prove the sense effects proposed by the photo shoot and to review the theories from the grammar of the visual design. Keywords: Fashion; Fashion photography; Sense production; Grammar of the visual design.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Bem – Bi Elastic Movement .............................................................17 Figura 2 – Lenço Keffiyeh repaginado ..............................................................19 Figura 3 – Yasser Arafat e o lenço Keffiyeh .....................................................20 Figura 4 – Ataque iminente................................................................................30 Figura 5 - Ação Transacional Unidirecional ......................................................46 Figura 6 – Ação Transacional Bidirecional .......................................................47 Figura 7 – Ação não Transacional ....................................................................48 Figura 8 – Reação Transacional .......................................................................49 Figura 9 – Reação não Transacional ................................................................50 Figura 10 – Oferta..............................................................................................51 Figura 11 – Demanda .......................................................................................52 Figura 12 – Distanciamento ..............................................................................54 Figura 13 – Envolvimento .................................................................................55 Figura 14 – Desprendimento ............................................................................55 Figura 15 – Igualdade entre PR e PI ................................................................56 Figura 16 – Poder do PR ..................................................................................57 Figura 17 – Cenário complexo ..........................................................................58 Figura 18 – Cenário simples ... .........................................................................58 Figura 19 – Saturação de cor ...........................................................................59 Figura 20 - .........................................................................................................81 Figura 21 - .........................................................................................................82 Figura 22 - .........................................................................................................82
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Figura 23 - .........................................................................................................83 Figura 24 - .........................................................................................................83 Figura 25 – Demanda .......................................................................................85 Figura 26 – Oferta .............................................................................................85 Figura 27 - .........................................................................................................86 Figura 28 - .........................................................................................................87 Figura 29 - .........................................................................................................87 Figura 30 - .........................................................................................................87 Figura 31 - .........................................................................................................88 Figura 32 - .........................................................................................................88 Figura 33 - .........................................................................................................89 Figura 34 - .........................................................................................................89
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LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Da aceitação à obsolescência .......................................................31 Quadro 2 – Efeito desguamento e efeito borbulha ...........................................36
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...................................................................................................14 CAPÍTULO I – REVISÃO DE LITERATURA ...................................................18 1. MODA............................................................................................................19 1.1. CONTEXTOS DA MODA ...........................................................................23 1.1.1. Contexto Social – Usos e Funções da Moda.......................................24 1.1.2. Contexto Global – Estilos e Influências...............................................28 1.1.3. Contexto Cultural – Como nasce uma “moda”...................................30 1.2. ASPECTOS TEÓRICOS DA MODA...........................................................32 1.2.1. Vestuário Escrito, Vestuário-Imagem e Vestuário real......................32 1.2.2. Moda e Consumo...................................................................................34 2. IMAGEM .......................................................................................................38 2.1. IMAGEM E PRODUÇÃO DE SENTIDOS...................................................39 2.2. FOTOGRAFIA DE MODA...........................................................................40 2.2.1. Os Diferentes Estilos de Fotografia de Moda ....................................42 2.2.1.1. Catálogo e Editorial de Moda................................................................43 2.3. A GRAMÁTICA DO DESIGN VISUAL........................................................44 2.3.1. Metafunção Ideacional..........................................................................46 2.3.2. Metafunção Interpessoal.......................................................................53 CAPÍTULO II – METODOLOGIA .....................................................................63
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3. SELEÇÃO E ANÁLISE DO CORPUS PRIMÁRIO........................................63 3.1. SOBRE O ENSAIO.....................................................................................66 3.2. PARA A VERIFICAÇÃO DO PRODUTO....................................................67 3.3 OS ENSAIOS FOTOGRÁFICOS – RELATOS DAS EXPERIÊNCIAS DE TRABALHO........................................................................................................71 CAPÍTULO III – O PRODUTO ..........................................................................75 3. PROJETO DE ENSAIO FOTOGRÁFICO ....................................................75 3.1. BRAINSTORMING – O TEMA DO ENSAIO FOTOGRÁFICO...................75 3.2. FERRAMENTAS.........................................................................................78 3.3. ORÇAMENTO.............................................................................................78 4. PRODUTO – AMOSTRA E SELEÇÃO DE FOTOS PARA A COMPOSIÇÃO FINAL DO PROJETO........................................................................................80 4.1. AVALIAÇÃO DO PRODUTO FINAL...........................................................80 4.1.1. Grupo Focal ...........................................................................................80 4.1.2. Resultados .............................................................................................81 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................96 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................................100
ANEXO............................................................................................................102
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INTRODUÇÃO
A moda não pode ser somente considerada como uma mera prática de
ornamentação do corpo ou simplesmente uma questão de estética. Na
verdade, ao longo dos anos as funções práticas das roupas mudam de acordo
com o andamento da cultura, das práticas sociais, econômicas, políticas, etc.
Uma vez que é esta que define certo grupo de pessoas, e são esses sujeitos
que se utilizam da moda para externar suas características, seus modos de ser
humano no mundo.
Além das questões sociais inerentes à moda, há também as questões
comerciais que não são, de maneira alguma, dissociadas daquelas. A moda
criou ao longo do tempo uma indústria para si, responsável por grandes
investimentos no mercado mundial, movimentando grandes quantidades de
dinheiro e investindo em mão-de-obra.
A publicidade não poderia, assim, deixar de participar do
desenvolvimento desta indústria: é através da prática publicitária que as
marcas de roupas (e outras empresas que se beneficiam do mundo da moda)
divulgam sua idéias e seus negócios.
Este projeto experimental busca entender e experimentar uma forma de
divulgação fundamental e importante para a moda: a fotografia. A fotografia
permite - quando bem construída e tendo seus elementos imagéticos
estrategicamente estruturados – a apresentação da moda na sua forma mais
criativa e inovadora possível, sendo uma composição complexa: um
engendramento de matérias significantes da linguagem visual.
Para este trabalho, foram selecionados dois tipos de estilos fotográficos
bem específicos chamados de ―fotografia de revista‖ (SIEGEL, 2008, p.16): o
catálogo e o editorial de moda. Assim, tematiza a organização dos elementos
visuais presentes nos dois estilos fotográficos publicitários de moda e os efeitos
de sentido produzidos por estes. Desse a problemática encerra-se na seguinte
questão: “Como são produzidos os sentidos no catálogo e no editorial de
moda?”. Assim, mais do que experimentar a técnica de uma produção
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fotográfica, buscamos suporte teórico e metodológico para perceber como
determinados sentidos podem ser produzidos e como estes podem ser
consumidos pelo público.
Em um primeiro momento da pesquisa, que podemos chamar de
exploratório, buscamos constituir um corpus de pesquisa, que nos permitisse
diferenciar claramente o catálogo do editorial de moda. Assim, selecionamos
para o estilo catálogo de moda, catálogos das coleções de outono/inverno 2010
das marcas FORUM, Redley, Calvin Klein Jeans e Cris Barros; catálogo de alto
verão 2010 da marca Lança Perfume e Ecko; catálogo Jeans for Life da marca
Index Jeans. Já para o estilo editorial de moda foram retiradas fotografias de
revistas de moda como Vogue Brasil, Elle Brasil, Elle United Kingdom e MAG
Fashion Forward.
Nessas duas formas de fotografia de moda identificamos as principais
características. A seguir, deste grande corpus inicial retiramos alguns
exemplares que foram analisados a partir da gramática do design visual,
proposta por Kress e van Leeuwen (1996). Esta gramática oferece uma
possibilidade analítica das potencialidades dos elementos visuais na produção
de sentidos. Esses autores tratam principalmente da multimodalidade, ou seja,
da constituição de textos que se utilizam tanto de elementos verbais quanto
visuais. Assim, traçam correspondências entre estruturas da linguagem verbal
e não-verbal, porém enfatizam que nem todos os sentidos que podem ser
expressos pela linguagem verbal podem ser expressos de igual forma pelas
estruturas visuais e vice-versa, pois cada uma possui diferentes
potencialidades, definidas histórica e socialmente e em determinados
contextos.
Assim, após termos claras as características, tanto do editorial quanto do
catálogo de moda, e algumas possibilidades de produção de sentidos dos
textos visuais, procedemos a execução de nossas próprias fotografias: um
ensaio fotográfico de moda com base nos dois estilos, que aborda um
determinado tema e procura produzir determinados efeitos de sentido.
Logo, o primeiro capítulo do projeto destina-se a Revisão de Literatura,
que possui duas subdivisões, Moda e Imagem. A primeira trabalha com autores
como Sue Jenkyn Jones (2005), Roland Barthes (2009, 2005) e Eliot Siegel
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(2008). Neste momento, discutimos a moda em contextos sociais, econômicos
e históricos: a evolução das roupas e do seu uso e funções com o passar do
tempo, a evolução da indústria da moda de acordo com a cultura das épocas e
o ramo da moda num aspecto global nos tempos atuais. A segunda subdivisão,
Imagem, traz elucidações sobre o mundo da fotografia e da fotografia de moda,
baseando-se em autores como Roland Barthes (2009, 2005), Eliot Siegel
(2008) e também aprsentará a análise do corpus primário por meio da
gramática do design visual de Kress e Van Leeuwwn (1996), pela primeira e
segunda metafunções propostas. Além disso, elucidamos questões básicas
referentes à semiologia dos sujeitos, lugar teórico de onde partimos para
tratarmos dos fenômenos de sentido, a partir de Peruzzolo (2004).
O segundo capítulo é o da Metodologia, que apresenta como ocorreu a
seleção do corpus inicial de pesquisa e a maneira como organizamos o ensaio
fotográfico através dos apontamentos de Siegel (2008); a apresentação do
grupo focal (COSTA, 2006), a metodologia escolhida para investigar os efeitos
de sentidos produzidos pelo ensaio fotográfico deste projeto e o relato das
experiências de trabalho vividas através da produção do ensaio.
O terceiro capítulo intitula-se O Produto, em que é descrito o processo
de construção do ensaio fotográfico, o brainstorming1 realizado para decidir o
tema das fotografias, as ferramentas necessárias para a realização, assim
como os dados técnicos da produção em si. Para este capítulo foram utilizadas
as observações pontuais do autor Eliot Siegel (2008) sobre a produção da
fotografia de moda em catálogo e editorial. São também apresentadas as
fotografias resultantes do ensaio já ajustadas na pós-produção, e os critérios
utilizados para a seleção das melhores fotos. Em um segundo momento, para a
comprovação do que foi analisado previamente no capítulo Metodologia, é
apresentado na subdivisão Avaliação do Produto final, os resultados de um
Grupo Focal, realizado com um público-alvo específico para qual foi dirigido o
ensaio fotográfico. Através deste grupo focal pudemos observar se os efeitos
de sentido pretendidos com as fotografias foram assim consumidos pelo
1 Brainstorming: metodologia utilizada para se obter conceitos, onde várias sugestões são lançadas
(inclusive as mais absurdas), a fim de obter a melhor solução ou ideia. Acesso em 24 de novembro de
2010: <http://bluelogs.net/issomesmo/2007/06/20/o-que-e-brainstorm/>
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público-alvo. E ainda, se nossas fotografias cumprem com os diferentes
objetivos do catálogo e do editorial de moda, sendo as características de cada
produção identificadas pelos receptores.
18
CAPÍTULO I – REVISÃO DE LITERATURA
Neste primeiro capítulo, iremos discutir sobre os dois assuntos que
norteiam o trabalho: moda e imagem. Primeiro trabalharemos com a
conceituação do mundo da moda em diferentes contextos – histórico, global e
cultural – a partir das observações de Jones (2005) e Palomino (2002) sobre a
evolução da moda na cultura mundial e o que esta representa hoje, tanto numa
esfera econômica quanto social. Em seguida, discutiremos as reflexões de
Barthes (2009 e 2005): apresentaremos os três tipos de vestuários propostos
por este autor (2005) - vestuário real, vestuário imagem e vestuário escrito - e a
relação significado/significante existente entre os participantes presentes numa
fotografia de moda (BARTHES, 2009). Para entender um pouco melhor sobre a
relação publicidade versus moda, dedicaremos também uma parte deste
capítulo para explicar o consumo de moda nos dias atuais através de Brandini
(2008) e Lipovetsky (1997), destacando a importância do bom material
publicitário fotográfico e também do comportamento do sujeito na sociedade
frente à moda.
Feita as primeiras considerações sobre moda, trabalharemos a seguir
ponderações sobre a imagem. Para tal, situaremos nossa discussão a partir de
nosso pressuposto teórico que tem como base a semiologia dos sujeitos e a
questão da produção de sentidos, a partir de Peruzzolo (2009). Em seguida,
trataremos da fotografia de moda, utilizando os apontamentos de Siegel (2008)
sobre fotografia e do papel desta como ferramenta fundamental de divulgação
de idéias, estilos e produtos da moda. Apresentaremos também a importante
conceituação dos dois estilos de fotografia que são objetos de nossa pesquisa:
catálogo e editorial de moda (SIEGEL, 2008). Após a primeira parte sobre
fotografia, veremos a teoria essencial para a análise do corpus de pesquisa
deste trabalho, a gramática do design visual de Kress e Van Leeuwen (1996),
mais especificamente, as duas primeiras metafunções (ideacional e
interpessoal), que procuram discutir, respectivamente, as experiências de
mundo manifestas por meio da linguagem e as estratégias de aproximação ou
afastamento da imagem com o leitor.
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1. MODA
Moda é algo que nos acompanha todos os dias. É um sistema que trata
ao mesmo tempo de vestuário, imagem, comportamento e cultura. É algo que
transcende o simples usar de uma roupa e engloba questões culturais, levando
tudo a um contexto mais complexo.
Para pensarmos a moda e numa maneira de conceituá-la, temos que
levar em conta a forma como ela é apreendida hoje. Estamos acostumados a
vê-la em um mundo de desfiles, passarelas, preços altos e relacionados
sempre com o bem-vestir e com as celebridades. Em vários meios de
comunicação podemos ver matérias nos aconselhando em como nos vestir de
acordo com a última tendência da estação, como nos vestirmos seguindo o
estilo de tal ator ou atriz ou então o ranking dos mais bem vestidos. Esse
mundo fantasioso, que retrata a moda como fenômeno de famosos e de
grandes personalidades, é só um dos retratos dados a ela.
Para Palomino (2002), a moda não pode ser considerada como algo
universal. De acordo com a autora, a moda como é conceituada hoje não é
conhecida por alguns povos – como tribos indígenas. Apesar de que algumas
coleções de estilistas são inspiradas nas formas e na etnicidade de algum
povo, estes não participam do processo da moda existente (PALOMINO, 2002,
p.13).
Portanto, para conceituarmos a moda, devemos manter nossas
atenções em pontos comuns em diferentes épocas. Sabemos que um destes
pontos é o caráter de distinção. As pessoas, até nas escolhas mais simples,
imprimem o seu ―eu‖:
Por isso, a moda está em tudo aquilo que você veste, desde a manhã. A moda se presta a ser seu primeiro cartão de visita: até ao acordar, abrir o armário e vestir-se, mesmo que seja com uma camiseta e um jeans, você está fazendo um manifesto de moda. Seu look é o modo com que você se apresenta para o mundo e diz: este sou eu; eu sou assim. (PALOMINO, 2002).
E através do caráter da distinção muitos outros podem ser vistos. A
moda ainda possui uma característica estratificadora visível: pessoas com
maior poder aquisitivo podem adquirir peças de roupas de grandes marcas, ou
20
seja, com um custo elevado. São peças trabalhadas à mão e feitas sob
encomenda chamadas de Haute Couture ou High Dressmakig (alta costura)2.
Segundo Lipovetsky, citado por Brandini (2008, p.43), este tipo de moda
caracteriza-se como ―luxo de exceção‖ – é acessível somente às pessoas de
grande poder aquisitivo e funciona como agente diferenciador, evidenciando
ainda mais o poder de compra da classe alta, distinguindo-a definitivamente
das classes sociais menos favorecidas economicamente.
A moda aparece também como aquilo que diferencia as ―tribos‖. Por
exemplo, a cultura do Rock, a cultura de protesto, a cultura de nichos, dos
guetos. Todas elas possuem sujeitos que querem apresentar-se ao mundo de
alguma forma, e uma dessas formas é a moda. O ser humano é levado pela
necessidade de se destacar na sociedade, seja pelo comportamento, pela suas
roupas ou pelo poder aquisitivo. Hoje há quem possa comprar roupas por um
valor elevado ou quem se vista para mostrar ao mundo seus valores assim
como em outras épocas.
Palomino (2002) diz que foi a partir do século XIX que as mudanças
começaram a ser visíveis no trato da moda e da sociedade. Antes desse
tempo, até os tecidos utilizados para as roupas masculinas e femininas eram
os mesmos, e só depois começaram a se distinguir. A necessidade de
pertencimento a uma classe (conjunto) e de afirmação pessoal (sujeito)
parecem se confrontar, mas na verdade complementam-se.
O conjunto determina um valor ―x‖, que o sujeito aceita ou não. Caso o
aceite, este não precisa vestir-se exatamente como aquele diz, mas faz uma
leitura, uma interpretação daquilo que o conjunto representa, daquilo que o
valor ―x‖ significa para si e daquilo que ele mesmo quer revelar de si para o
mundo. Ou seja, a moda, apesar de manifestação coletiva ainda permite
criações e releituras individuais.
Independente se levarmos em consideração ou não as visões
fantasiosas e que muitos possuem hoje da moda – as fotografias de
celebridades em capas de revistas de fofoca, a última tendência que a atriz de
2 Disponível em: http://vilamulher.terra.com.br/o-que-e-alta-costura-14-1-32-104.html Acesso em 23
de novembro de 2010 às 03h 30min.
21
Hollywood segue - não há de se negar o caráter efêmero dessa. Prestando
atenção na sua evolução através dos anos, podemos ver claramente
diferenças entre uma década e outra.
Segundo Jones (2005), a cultura dos anos 1970, tinha como
característica: a influência do movimento Hippie, o uso de estampas florais, de
bordados, miçangas e cores variadas e fortes. Nos anos 1990, o estilo grunge
era característico da cultura disseminada pela banda norte-americana, Nirvana.
Nessa década, são relevantes ainda: as manifestações contra o uso de peles
de animais e da cultura hip-hop. Também foi considerada como a década que
trouxe de volta aspectos da cultura dos anos 1960/1970. Ou seja, ainda que 20
anos depois das miçangas e das cores vibrantes, a moda trouxe de volta
estilos que aparentemente já haviam passado. Desse recorte então, surge o
seguinte posicionamento: o efêmero encontra-se na rápida mudança de uma
tendência para outra. Em uma estação do ano, o uso de acessórios
metalizados é o que determina a construção de uma coleção. No ano seguinte
a tendência é outra e quem não a usar é considerado ―out‖ 3. Essa rapidez com
que um estilo surge e o outro desaparece e logo após ressurge em outro
período de forma atualizada é o que alimenta a efemeridade da moda.
Esse é um dos motivos que confere à moda a característica de
―dispensável‖. Além da efemeridade, o fato da moda privilegiar aspectos
exteriores ao sujeito, é o que a torna tão fútil ou superficial para alguns. A moda
parece não atentar para a pessoa, mas ao que ela veste e somente isso. A
expressão ―estar na moda‖, para alguns, significa abdicar dos seus próprios
valores e adotar aquilo que a moda oferece, o que é tendência naquele
determinado ano e o que não é. Palomino (2002, 15) diz: ―Quem a critica dessa
forma (a moda) passa por cima das implicações sociológicas e mesmo
psicológicas da moda — coisas simples como sentir-se bem ao usar
determinada roupa (...)‖. Ou seja, o fato de usar uma roupa associa-se não
somente à vontade de pertencimento a um conjunto ou a uma classe, mas ao
vestir-se para atender a uma necessidade psicológica: sentir-se bem, sentir-se
poderoso, confiante.
3 “in” e “out” são as expressões utilizadas para determinar quem segue ou não as tendências da moda
22
Diferentes contextos sociais, por exemplo, pedem diferentes formas de
vestir. Entrevistas de emprego pedem um traje que represente sua identidade,
mas que ainda assim não fuja da sobriedade e do compromisso que o trabalho
pretendido exige. Diferente, então, de um baile de gala, que exige um vestuário
sóbrio, mas que atenda à natureza festiva do evento. Mesmo tratando-se de
situações divergentes, a pessoa escolhe o traje através de fatores como
conforto, estética ou praticidade e que o faz sentir-se bem.
Há até quem diga que a moda está perdendo sua força e sua influência.
De fato, segundo Lipovetsky (1997), a roupa foi considerada emblemática
durante muitos anos, mas hoje ela deve ser considerada essencialmente
prática. O que não quer dizer que a moda deixará de existir ou influenciar, mas
terá menos atuação em suas primeiras funções, buscando novas maneiras de
se expressar.
O investimento na tecnologia de tecidos é um exemplo de como as
grandes marcas tentam ganhar mais espaço na mente dos consumidores, e
assim obter mais espaço no mercado através da busca de novas tecnologias,
criando tendências e estilos. A marca Santana Textiles lançou o BEM – Bi
Elastic Movement Jeans (Figura 1):
Figura 1 Bi Elastic Movement Jeans – BEM
(Fonte: http://www.sortimentos.net/?p=12421)
O Bem é uma espécie de jeans que oferece muito mais maleabilidade
por ter seus fios postos bi-direcionalmente (tanto na vertical quanto na
23
horizontal), diferente do jeans comum que não oferece tanta flexibilidade ao
usuário.
Como resultado disso, marcas como a ELLUS – marca brasileira de
roupas – criou parceria com a empresa Santana Textiles para criar uma
coleção de Outono/Inverno 2010, utilizando o tecido desenvolvido.
A indústria têxtil é uma das mais lucrativas em todo o mundo. No Brasil,
segundo a Abit (Associação Brasileira de Indústria Têxtil e de Confecção): ―O
setor têxtil do Brasil compreende mais de 30 mil empresas e gera 1,65 milhões
de empregos em toda a cadeia que inclui fio, fibras, tecelagem e confecções‖ 4.
A moda carrega consigo não somente roupas. O que há por trás é um
mundo lucrativo de investimentos, pesquisa e estudo. Uma coleção de uma
determinada marca não surge porque o estilista simplesmente assim imaginou.
A inspiração para os estilistas hoje vem de pesquisas de tendências com
públicos de todos os tipos. Leva-se em conta o que a marca já produziu, para
quem produziu, que estilos são mais significativos, quais estilos podem
aparecer e quais podem ressurgir (mas reinventados). Segundo Jones (2005,
p.6), ―(a) moda é uma linguagem internacional e um empreendimento global.
(...) é também a força criativa para uma indústria estimulante e extremamente
lucrativa‖.
A seguir, poderemos entender mais especificamente alguns fatos sobre
o mundo da moda, levando em conta o processo de como esse sistema
complexo funciona.
1.1 Contextos da Moda
A moda adquiriu aspectos e características próprias tanto em uma esfera
social – a roupa como emblema de estratificação, de pertencimento, de
necessidade psicológica – quanto econômica – a indústria lucrativa da moda,
pesquisas de tendências, de comportamento. Neste momento, pretendemos
4 Disponível em: < http://www.abit.org.br/site/navegacao.asp?id_menu=1&id_sub=4&idioma=>
Acesso dia 01 de Julho de 2010, às 03h 45min.
24
oferecer uma visão mais específica de alguns dos aspectos mais importantes
inerentes à moda e à apreensão desta pelos sujeitos.
1.1.1 Contexto Social - Usos e Funções da Moda
Com o passar dos anos, a moda e o ato de vestir-se atenderam às
condições políticas e sociais vigentes em cada época. Ao olharmos para o
passado, podemos observar como possuímos mais liberdade de escolha para
a nossa vestimenta hoje do que tinham nossos antepassados. São poucos os
lugares em que alguma lei ou regra ainda determina o uso de determinadas
roupas. As roupas são, portanto, um reflexo da sociedade.
Contudo, não se deve pensar em generalizações. Sabe-se que existem
estilos, tendências, utilizações de tecidos e utilizações diferenciadas para cada
vestimenta, e que estas acompanham fatores como classes econômicas
diferentes, poderes aquisitivos divergentes, ―tribos‖, culturas e influências
religiosas. Ainda assim, podemos notar traços semelhantes se nos afastarmos
e vermos esse recorte em cada época. Por exemplo, no início do século XX, as
roupas femininas prezavam pela estética e beleza, mas não marcavam a
silhueta da mulher ou tampouco deixavam qualquer parte do corpo da mulher à
mostra. Diferente das roupas atuais que salientam a figura da mulher, exibindo
pernas, braços e colo – partes do corpo que jamais poderiam ser mostradas
em público em outras épocas por ser indecoroso ou vergonhoso demais para a
mulher exibir na sociedade.
Para Jones (2005, p.24), teóricos e estudiosos da vestimenta apontam
quatro funções das roupas (utilidade, decência, indecência e ornamentação).
Enquanto Sproles (1979), citado por Jones (2005, p.24), adiciona mais quatro
funções referentes ao uso das roupas na sociedade: diferenciação simbólica,
filiação social, auto-aprimoramento psicológico e modernismo. Veremos, a
seguir, uma breve discussão dos oito tópicos levantados pelos autores
anteriormente citados:
- Utilidade
As roupas cumprem seu papel básico de proteção. O vestuário surge de
acordo com sua utilidade para o ambiente que se encontra: capa-de-chuva
25
para lugares chuvosos ou muito úmidos, botas para esquentar, capas contra o
fogo para os bombeiros. A noção de utilidade não pode ser subestimada: ―(um)
sujeito que se apega fortemente aos valores econômicos pode estar
interessado em satisfazer necessidades básicas e evitar perda de tempo,
dinheiro e energia‖ (FEGHALI e SCHIMD, 2008, p.18). Ou seja, ao comprar
uma capa-de-chuva nem sempre o consumidor leva em conta cor ou a textura:
este pode simplesmente comprar o produto por sua função básica de protegê-
lo da chuva.
- Decência
A noção de decência, na verdade, varia de acordo com o passar do
tempo e define-se socialmente, pois um sujeito tem sua opinião de acordo com
o grupo ao qual pertence e a sociedade em que todos vivem. Mesmo assim,
usamos as roupas para cobrir nossa nudez e preservar nossa intimidade. Um
senso de adequação – de acordo com a cultura vigente – rege quais partes do
corpo devem aparecer ou não. Em alguns países do Oriente Médio, por
exemplo, as mulheres devem usar a burca ao sair em público: uma peça de
roupa que as cobre inteiramente, deixando somente seus olhos à vista para as
outras pessoas.
- Indecência (Atração Sexual)
As peças de roupas podem ser usadas para salientar ou realçar os
atrativos sexuais de cada pessoa, de cada corpo. Roupas íntimas como
lingeries e até mesmo roupas de festa – tanto masculinas quanto femininas –
são criadas para ressaltar aquilo que o sujeito considera como forte arma para
a sedução do parceiro.
- Ornamentação
Roupas, acessórios, piercings e tatuagens são alguns dos recursos que
as pessoas utilizam para expressarem sua individualidade perante o grupo ou a
sociedade. Na verdade, o adorno do corpo, seja qual for o recurso escolhido
pelo sujeito, serve para enriquecer e enaltecer suas qualidades, atrativos
físicos, criatividade e posicionar seu lugar perante o grupo.
Na verdade, a ornamentação, assim como qualquer produto de moda
(individual ou coletivo, de natureza industrial ou não), está sujeita ao ciclo de
influência que a moda possui. É aquilo que diferencia determinado grupo, como
26
o lenço que, preso à cabeça, pode ser absorvido como ícone de ornamentação
de outra ―tribo‖ e assim por diante. Por exemplo, a moda grunge, nos anos
1990, tinha como forte tendência as roupas utilizadas pela banda americana
Nirvana, que vestia camisas xadrez de flanela, além de calças jeans
igualmente soltas e rasgadas. Em 1993, o estilista Marc Jacobs criou para a
marca americana, Perry Ellis, uma coleção primavera/verão que, além de
chocar os críticos de moda, transpôs um estilo de moda oriundo das ruas de
Seattle para consumidores de moda de classe alta.5
Dessa forma, todo produto de moda pode migrar de uma tribo à outra
estando sujeito ao uso comum.
- Diferenciação Simbólica
As pessoas utilizam certas peças de roupas para destacar e reconhecer
profissões, estilos de vida, adoração a uma religião, nível social ou crenças
políticas. Um exemplo de diferenciação simbólica é o lenço palestino Keffiyeh.
Figura 2 Lenço Keffiyeh repaginado
(Fonte: http://blogginbanat.files.wordpress.com/2008/11/keffiyeh-fashion1.jpg)
5 Disponível em: http://duodeluxo.wordpress.com/2010/04/02/genealogia-do-grunge-na-moda/.
Acesso em 25 de novembro de 2010 às 03h 26min.
27
Figura 3 Yasser Arafat e o lenço no seu uso original.
(Fonte: http://www.nndb.com/people/403/000022337/arafat020925.jpg)
O Keffiyeh é um lenço associado ao movimento nacionalista palestino,
além de ser um acessório comum usado por homens para a proteção no
deserto. Entretanto, o que era um símbolo nacional palestino (adotado até pelo
ex-líder Yasser Arafat) tornou-se peça comum nos últimos anos, na vida de
muitas pessoas que passaram a utilizá-lo nos ombros como adorno.
- Filiação Social
Vestir-se para pertencer a um grupo é algo comum. No movimento da
moda punk - em que uma das iniciadoras foi a estilista Vivienne Westwood nos
anos 1970 - as roupas apareciam como protesto à moda convencional da
época. Assim como os movimentos hip-hop, indie, emocore, que não possuem
uma única vestimenta, mas o estilo pelo qual se configuram é característico e
logo tornam seus usuários, a princípio, pertencentes a tal movimento.
- Auto-aprimoramento psicológico
Apesar de várias roupas que usamos serem feitas em grandes
quantidades, são raras as situações em que podemos encontrar alguém
vestido exatamente igual, da cabeça aos pés. Alguém pode sair na rua com
determinada peça de roupa idêntica a de um amigo, mas a maquiagem, os
acessórios e os sapatos (ou qualquer outra forma de diferenciação), reforçam
as características individuais.
28
- Modernismo
A vestimenta, além de ser usada para cobrir nossa nudez, também pode
ser usada para exprimir a sensação de novidade, de futuro, daquilo que
ninguém teve a ousadia de vestir. Nesse caso, a roupa serve como indicador
de criatividade.
***
Estas oito funções listadas e organizadas por Jones (2005) são estudos
realizados sobre a vestimenta através dos anos e como esta se relaciona com
a sociedade. Todos esses tópicos são de extrema importância ao se conceber
qualquer produto de moda. São esses fatores que interferem na aquisição de
roupas, acessórios, maquiagem, estilos e tendências que circulam pelo
mercado.
1.1.2 Contexto Global – Estilos e Influências
A indústria da moda, por assim dizer, não se concentra mais em um
ambiente local ou nacional. Quando falamos de moda e de vendas, passamos
a falar de um empreendimento global, que não encontra mais fronteiras ou
barreira, que impeçam negociações. Cada cidade no mundo possui
características próprias de negócios com a indústria da moda e, algumas,
destacam-se, não somente pelo bom desenvolvimento destes, mas também
porque concentram grande parte dos estilistas, da criatividade, de profissionais
da moda e por terem conseguindo um ―estilo‖ próprio de criação em moda. São
as chamadas Capitais da Moda.
A mais famosa capital da moda é Paris. Jones nos diz: ―O governo
francês sempre deu grande apoio aos negócios de moda, e as empresas de
estilismo (...) trabalham com disposição para experimentos‖ (2005, p.38). A
tradição e a fama de Paris baseiam-se na história das grandes maisons e da
haute couture (casas de alta costura como Dior, Lacroix, Lanvin e Yves Saint
Laurent) que tiveram seu início e desenvolvimento na capital francesa.
Assim como Paris, outras cidades são consideradas capitais da moda,
cada uma com estilos próprios de criação em moda e também no mundo
econômico como: Londres, Nova York, Milão e Tóquio. Todas são exemplos
29
para estilistas e profissionais da moda do mundo inteiro, que procuram por
criatividade e algo para basear suas próprias criações.
Para Jones (2005, p.38), a moda francesa caracteriza-se pela ―pureza
da silhueta associada à complexidade do corte: um caimento que acompanha
os contornos do corpo, com um quê de arredondado‖. Foi através da moda
francesa que o prêt-á-porter surgiu. Esta nova forma de mercado de moda, ao
invés da alta costura – feita sob medida e com preços exorbitantes nas grandes
maisons de costura – é o que nós vemos todos os dias na maioria das lojas
das cidades: é a moda ―pronta para se vestir‖, feita em grande escala e
assinada também por grandes estilistas. O prêt-à-porter ou ready to wear, na
língua inglesa, foi inaugurado em 1940 pelo estilista francês J.C. Weill, logo
após o fim da Segunda Guerra Mundial6, atendendo a nova demanda da
economia no cenário pós-guerra, marcado pelo consumo e pela tentativa de
unir a indústria com a moda.
Assim como a francesa, outras capitais da moda trouxeram diferentes
estilos e influências para diversos setores desta indústria. A moda britânica é
conhecida pela fama de construir um estilo anárquico e excêntrico, além de
seus estilistas chamarem a atenção ―do mercado jovem e na promoção de
mudanças de rumo da moda‖ (JONES, 2005, p. 42).
A moda americana nos apresenta um estilo inspirado em Hollywood,
lembrando, preferencialmente, os filmes nos quais há, na maioria das vezes, a
predominância ―por um tipo de beleza e elegância esguia‖ (JONES, 2005,
p.44). É comum nos lembrarmos da cerimônia do Oscar ou do Golden Globe
Awards como eventos onde o red carpet7 é sempre lotado por celebridades do
cinema e televisão, usando vestidos e ternos assinados por estilistas famosos,
apenas para serem fotografados, divulgando a peça de roupa, o trabalho do
estilista, ou a marca.
A moda brasileira desponta no mercado internacional como sendo
criativa e de boa qualidade. O mercado têxtil brasileiro, como dito
6 Disponível em: <http://fashionbubbles.com/historia-da-moda/a-importancia-historico-sociologica-do-
pret-a-porter/> Acesso em 09 de Novembro de 2010.
7 Red Carpet é a expressão para “tapete vermelho”. Um lugar-comum nos eventos que prestigiam a
produção cinematográfica e televisiva, onde atores e atrizes exibem suas vestimentas.
30
anteriormente no item 1 deste projeto, tem crescido e lucrado muito: gerou
mais de 1,65 milhões de empregos e relaciona-se com mais de 30 mil
empresas. Temos São Paulo como uma capital de moda, famosa no mundo
inteiro pelo evento São Paulo Fashion Week. Este evento reúne grandes
nomes de estilistas tanto nacionais como representantes da moda internacional
– além dos estilistas, reúne ainda jornalistas, críticos de moda, modelos.
Apesar disso, a moda brasileira, para muitos estilistas, está sempre ligada a
alguns clichês e receitas seguras de criação, que levam em consideração o
―jeitinho brasileiro‖ e a forma como a indústria de fora observa o Brasil8
(ROBIC, 2007), não como uma visão autêntica e genuína criada no país.
Mesmo assim, ainda há de se considerar a evolução da moda no Brasil e a sua
originalidade e criatividade.
1.1.3 Contexto Cultural – Como nasce uma “moda”
Para que uma ―moda‖ nasça, não basta somente o estilista ter uma
inspiração. Na verdade, o insight criativo do estilista não é mais considerado só
fruto da sua criatividade, mas nasce também de uma ampla pesquisa de
mercado que procura identificar as tendências vigentes, tendências futuras –
através da análise do comportamento de vendas das tendências atuais e da
aceitação destas pelo público – e outras que podem ser retomadas em outras
temporadas.
Jones resume o caminho de uma coleção de roupas no seguinte
esquema (2005, p.52):
8 Disponível em: <http://www.overmundo.com.br/overblog/o-desenvolvimento-da-moda-brasileira>
Acesso em 09 de Novembro de 2010.
31
1 Um novo visual surge na passarela
2 É mostrado na imprensa diária e de negócios
3 É adotado pelos líderes da moda
4 É mostrado nas revistas de moda e estilo
5 É usado pelos que entendem de moda
6 São feitas versões mais baratas
7 É visto na imprensa semanal e na TV
8 Surge a demanda por maior disponibilidade
9 Os preços são reduzidos - caimento e cortes ruins
10 É usado pelos seguidores da moda
11 Os consumidores perdem o interesse
12 Fim da linha para as vendas
13 Os líderes da moda "não usam nem mortos" - mudança
para o próximo visual
Quadro 1 – Da aceitação à obsolescência
(Fonte: JONES, 2005, p.52)
A moda apresenta um ciclo específico de criação e divulgação desta.
Assim como apresentado no Quadro 1, muitas vezes o novo ―visual‖, a nova
coleção, surge das passarelas, é divulgado pela mídia e após algum tempo, a
sensação de novidade e de exclusividade caem no uso comum. Tal como o
lenço Keffyeh anteriormente citado neste trabalho: o seu uso surgiu nas
passarelas e após algum tempo foi-se tornando cada vez mais raro a utilização
pelas pessoas nas ruas, até não que não se viu mais sendo usado pelas
pessoas.
A moda e o estilo, assim como a novidade inerente à cada criação e
produto de moda, não vem necessariamente das passarelas. Atualmente, com
o surgimento dos blogs de moda na internet, cada um pode divulgar sua
própria moda e estilo, sendo uma fonte alternativa de inspiração para estilistas.
O que antes surgia em um primeiro momento de um insight criativo do
profissional de moda, passou pelas pesquisas de mercado e agora está
presente na internet na forma de blogs. O ciclo da moda e a inspiração para
uma coleção originam-se tanto da internet, como das ruas e como das
passarelas.
32
Por ―líderes da moda‖ entendem-se aqueles que ―ditam‖ a moda de
alguma forma. São os que são reconhecidos no mundo da moda por ousarem
e terem estilo próprio, capazes de dizer às outras pessoas o que pode ser
considerado como um bom estilo ou um mau estilo, entre a tendência que vai
surgir no ano seguinte ou não.
1.2 Aspectos teóricos da moda
Este tópico tratará do aporte teórico a respeito da moda, considerando
as teorias propostas por Barthes (2005, 2009) e seus estudos dentro da
semiótica e da investigação na produção de sentido no sistema da moda. O
autor inicia sua explanação sobre o sistema da moda, apontando e
diferenciando o que ele chama de Três Vestuários: o vestuário escrito, o
vestuário-imagem e o vestuário real. Baseando-se na análise de revistas de
moda da época (1958-1959), utiliza tais conceituações como um aporte inicial
para seus estudos.
1.2.1 Vestuário Escrito, Vestuário-Imagem e Vestuário Real
Para explanar tais conceitos, utilizaremos como exemplo a fotografia-
título9 do ensaio fotográfico da revista Vogue sobre a tendência para o inverno
de 2010, o militarismo. O título do ensaio é ―Ataque Iminente‖ e o texto que o
segue é: ―O novo militarismo domina o território street. Sem resistência,
incorpora a austeridade dos uniformes e um certo glamour napoleônico com
direito a botões dourados e martingales estilizados‖10 (Figura 4):
9 Fotografia título é a imagem que inicia o editorial em revistas de moda. Geralmente é acompanhada da
descrição do editorial, que detalha e explica a tendência e detalhes das roupas da produção de moda.
10 Revista VOGUE, nº 379, março de 2010, p. 242.
33
Figura 4 – Ataque Iminente
(Fonte: Revista Vogue, nº 379, março de 2010).
A roupa em si, o vestuário utilizado pela modelo é o que Barthes (2009)
chama de vestuário-real. Sua estrutura não é icônica ou verbal: ela é
tecnológica, uma mistura de formas e ações, do tecido com a linha e a ação de
costurar. Só poderíamos vivenciar o vestuário-real dessa imagem se
tivéssemos acesso à mesma peça utilizada para este mesmo ensaio
fotográfico.
A representação icônica da peça de roupa deste ensaio é o que o autor
chama de vestuário-imagem. A peça, seja fotografada, desenhada ou
representada imageticamente de qualquer outra forma, tem sua estrutura
plástica, onde suas unidades residem no nível das formas.
O vestuário escrito manifesta-se na peça de roupa, porém na linguagem
verbal, numa forma escrita. Expressões como ―austeridade dos uniformes‖,
―glamour napoleônico‖ ou ―botões dourados e martingales estilizados‖, ajudam
a descrever a peça de roupa representada imageticamente, situando-a num
cenário propício ao entendimento do ensaio fotográfico.
34
Para este projeto, a diferenciação do vestuário propicia a segmentação
da roupa em diferentes instâncias, o que facilita o entendimento do conceito de
imagem e fotografia de moda e as estruturas presentes em cada um.
Barthes (2009, p.27) justifica a escolha do vestuário escrito para o seu
trabalho, ao dizer que o vestuário-imagem carrega consigo valores que podem
perturbar a sua análise:
(...) a plástica; somente o vestuário escrito não tem nenhuma função plástica nem estética: ele é inteiramente constituído em vista de uma significação: se a revista descreve certo vestuário com palavras, é unicamente para transmitir uma informação cujo conteúdo é: a Moda. BARTHES (2009, p.27).
No entanto, para o desenvolvimento deste projeto experimental, o
vestuário-imagem foi escolhido para a análise mesmo assim, considerando
justamente a presença de tais valores, ou seja, as demais significações
presentes no vestuário-imagem que o autor alega interferir na análise. Sendo
estes os protagonistas desta pesquisa: uma vez que a relação do leitor com o
modelo representado, ou como dizem Kress e van Leuween, Participante
Interativo e Participante Representado, é, genericamente, nosso objeto de
estudo, e o que origina as demais ―informações‖ senão moda, como apontado
por Barthes (2009).
1.2.2 Moda e Consumo
O consumo de moda está ligado, de acordo com Feghali (2008), a seis
valores básicos de compra, ou seja, seis razões genéricas pelas quais as
pessoas dirigem seus interesses de compra (valores teóricos, econômicos,
estéticos, sociais, políticos e religiosos) sendo que cada sujeito organiza a
própria hierarquização destes de acordo com aquilo que mais lhe interessa.
Discutiremos brevemente, a seguir, tais valores com base nas descrições de
Feghali (2008, p.18):
Os Valores Teóricos ―associam-se à descoberta da verdade ou à
procura por conhecimento como um potencial, organizando princípios para
metas e comportamentos‖ (FEGHALI, 2008, p.18), ou seja, caracterizam-se
35
pela busca de conhecimento e enriquecimento intelectual, a fim de
melhoramento pessoal.
Os Valores Econômicos estão relacionados com a utilidade do produto.
O sujeito que procura por objetos seguindo tal valor põe as suas necessidades
básicas acima de qualquer outro valor, procurando não gastar tempo, dinheiro
ou energia.
Já os Valores Estéticos referem-se ao consumo pelas pessoas que
vêem o mundo e as situações de convívio social como uma série de eventos
que precisam ser aproveitados e desfrutados de maneira bem específica. Os
benefícios utilitários são sobrepostos ao prazer que o produto de moda oferece
ao consumidor (FEGHALI, 2008, p.18).
Existem aquelas pessoas que dirigem suas compras para a necessidade
de serem socialmente aceitas. Esse tipo de atitude confere-se em sujeitos que
põem os Valores Sociais acima de tudo na própria hierarquização.
Os consumidores que desejam obter status ou que procuram imprimir
relações de poder nos seus círculos sociais priorizam os Valores Políticos no
consumo de produto de moda. Por exemplo, ao adquirir uma roupa que esteja
inserida na última tendência na moda de determinado ano, ela procura
aparentar a sensação de ―estar na moda‖ e, portanto, estar à frente de todos
que não possuem ainda aquela roupa.
Os Valores Religiosos descrevem o misticismo e o supernatural como
agentes decisórios no consumo de produtos de moda. Consideramos aqui
aquelas pessoas que desejam ou perseguem uma vida filosófica ou que se
sentem melhor adquirindo produtos que condizem com as suas religiões.
Para Feghali (2008), os valores sociais, econômicos e políticos são os
mais usuais e de escolha comum por consumidores de moda. Ressalta ainda
que, na sociedade brasileira moderna, a relação de poder é a mais usual entre
todas, sendo exercida em grande parte pela classe média: ―o poder deve ser
indicado pela extensão do guarda-roupa (roupas novas, usadas uma única
vez), pela força de superioridade na distinção e pelo status econômico‖
(FEGHALI, 2008, p.19).
Portanto, o ímpeto do consumidor brasileiro de ―estar na moda‖ é o mote
principal para as campanhas publicitárias. A sensação de novidade, de
36
tendência, do que é sedutor, que salienta a juventude e vontade de viver e do
lazer são ideais que, aliados à moda e seus produtos, formam uma receita de
consumismo alimentado pela mídia e pela divulgação do culto ao corpo perfeito
e dos padrões de beleza ideais. Ao mesmo tempo em que adquirimos um
produto de moda, nos tornamos parte da dualidade vender/expor: ―somos, ao
mesmo tempo, homem e vitrine, sujeito da enunciação, misto de exposição,
tentação e sedução‖ (FEGHALI, 2008, p.14). Logo, o consumo de moda
destaca o sujeito na multidão, tornando-o portador da novidade, da beleza e
destacando comportamentos e ideais (o que se torna uma espécie de rótulo
que a pessoa leva consigo o tempo todo).
Entretanto, ao mesmo tempo em que somos sujeitos portadores do
produto de moda – sendo pelo objeto de consumo em si como de uma ideia ou
tendência – também oferecemos à indústria da moda material para inspiração,
numa espécie de retro-alimentação entre consumidor e produtor.
Estes processos são melhores descritos por Jones (2005, p.51), a partir
de dois efeitos chamados de ―efeito de desaguamento‖ e ―efeito borbulha‖,
como podemos ver no quadro a seguir (Quadro 2):
Quadro 2 – Efeito desaguamento e Efeito borbulha
(Fonte: JONES, 2005, p.51)
37
O efeito desaguamento aponta o surgimento de uma tendência a partir
de uma classe elitizada, quando as peças de roupas são exclusivas e de um
design único com materiais específicos, para um mercado e consumidores
fixos e definidos. Celebridades, artistas, cantores, líderes de moda e pessoas
influentes são a origem da tendência, que se dissemina pelos meios de
comunicação até a população no geral.
Em contra partida, há o efeito borbulha que traça o caminho inverso,
apontando a origem da tendência como advinda da população em geral. A
presença de ―tribos‖ e as categorias socioeconômicas influenciam na maior
diversidade de mercados, o que faz com que pequenas tendências surjam o
tempo todo, sendo que algumas delas podem ou não vingar como uma nova
moda no mercado global.
Jones (2005) cita também os profissionais de moda especializados na
pesquisa de mercado. São aqueles que buscam novas tendências para a
confecção de novas coleções ou de inspiração para os estilistas. São estes os
cool hunters: ―caçadores de tendências‖ que procuram, tanto no mercado de
alta costura quanto na população em geral, tendências, estilos e modo de
vestir-se que podem ser considerados cool (legais no linguajar do mundo na
moda).
O fato é que através da globalização, ficou difícil de definir exatamente o
nascimento de uma nova moda. O sujeito tende a acompanhar a tendência da
sua própria forma, sendo uma cópia autêntica ou uma releitura, sempre
considerando o impacto que isso causa no seu estilo de vida, no seu grupo
social ou na sociedade em que está inserido.
Vale ressaltar a importância dos meios de comunicação na divulgação
das tendências. As revistas de moda são a principal fonte para quem deseja ter
conhecimento do que está sendo usado ou não. Antes, tais publicações davam
prioridade ao mercado principal, divulgando modas que eram inacessíveis à
maioria do público. Indo a favor do efeito borbulha, as revistas de moda agora
prestam maior atenção à moda street (de rua, de mercado de nichos) e
também passam a acrescentar em seus ensaios peças de roupas com preços
mais acessíveis.
38
* * *
Agora que já situamos a pesquisa no mundo da moda, partimos para os
aspectos relacionados ao estudo da imagem e da fotografia de moda, vendo as
considerações de Siegel (2008) e, logo após, as teorias que servem de eixo
para a análise do nosso corpus primário e secundário: a gramática do design
visual de Kress e Van Leeuwen (1996).
2. IMAGEM
Vimos no sub-capítulo anterior aspectos teóricos e descritivos da
indústria da moda e as observações de Barthes (2009) sobre vestuário-imagem
e como este apresenta um valor de informação que, sem a presença de tal,
não teríamos objeto para análise para o projeto (as relações entre produtor e
consumidor da mensagem, que originam os efeitos de sentido na imagem).
Neste sub-capítulo, pretendemos explanar de forma breve a importância da
fotografia como ferramenta comunicacional para a indústria da moda e da
divulgação dos produtos desta, sendo estes conceitos o ponto de partida para
o desenrolar do projeto e dos conceitos aqui discutidos. Discutiremos, então, o
surgimento da fotografia e o seu desenvolvimento a partir das observações de
Siegel (2008) e Barthes (2009). Também ressaltaremos as características
individuais dos dois estilos de fotografia que norteiam este projeto
experimental: catálogo e editorial de moda. Este tópico será subdividido em:
Fotografia de moda, Os Diferentes Estilos de Fotografia de Moda e Catálogo
e Editorial de Moda.
No item seguinte, A Gramática do Design Visual, dividimos o texto
considerando as metafunções propostas por Kress e van Leeuwen, dando
ênfase naquelas que farão parte do nosso estudo e da nossa experimentação:
A primeira metafunção (ideacional) e a segunda metafunção (interpessoal). Os
autores apresentam ainda uma terceira metafunção, denominada textual.
39
Porém optamos pelas duas primeiras por tratarem de questões mais
pertinentes ao nosso objeto de estudo: fotografia de moda.
Com base nesta gramática de Kress e Van Leeuwen (1996), partiremos
para o detalhamento das metafunções escolhidas para a análise do corpus de
pesquisa. As considerações destes autores sobre a análise de imagens serão
utilizadas como referencial teórico-metodológico neste trabalho experimental,
norteando tanto as análises de nosso corpus primário quanto à produção das
nossas fotografias. Além disso, esses conhecimentos serão também utilizados
para a verificação de nossas questões junto ao público.
2.1 Imagem e produção de sentidos
O conceito de produção de sentidos pertence, de acordo com Peruzzolo
(2004), à terceira fase da Semiologia, considerada como Semiologia dos
Sujeitos, onde as questões de significação são abandonadas, ou seja, ―onde o
problema não é mais de significado, mas de responsabilidade das
representações‖ (idem, 2004, p.49).
Considera-se o fato de que o discurso é o elemento que suporta o curso
das significações, e que este está sujeito a uma pluralidade de interpretações
vindas do social, seja do extremo da produção até o outro, do consumo. A
fotografia de moda, como discurso, percorre este mesmo caminho, sendo
passível a várias interpretações, desde o produtor da imagem até o consumidor
de moda.
Os sentidos produzidos, isto é, o discurso e as significações que se
enunciam através de um texto, nascem do social. Sendo que estes discursos
são passíveis de múltiplas interpretações, tanto daquele que os produzem
(porque quem escreve um texto já é por si só um conjunto de outros textos)
quanto daqueles que os consumem. Barthes, citado por Peruzzolo (2004,
p.49), reafirma o caráter plural de um discurso: ―quanto mais um texto é plural,
menos se escreve antes de eu o ler (...) somente que este ‗eu‘ que se aproxima
do texto é já uma pluralidade de outros textos feita de todos os códigos que o
constituem‖.
40
O autor ressalta também que, através da teoria de efeito dos sentidos,
foge-se do modelo ideal (signo, significado e significação). Um discurso é uma
organização plural de sentidos, sujeitos a múltiplas interpretações e que é
considerado agora como uma situação de comunicação.
A fotografia de moda, como discurso e produto cultural é, também, um
texto sujeito a interpretações, que acaba por criar uma situação de
comunicação com o leitor e consumidor de produtos de moda. Como dito
anteriormente, Barthes (2009) nos diz que o vestuário escrito possui um único
objeto de referência (a moda e unicamente a moda), enquanto o vestuário-
imagem (que é nosso objeto de pesquisa) carrega consigo valores que
interferem e perturbam sua análise. São tais valores que se configuram como a
pluralidade presente no discurso, e que justificam o objeto de pesquisa deste
projeto: a presença de múltiplos sentidos na fotografia de moda e as relações
que se estabelecem por meio dela entre produtor e consumidor.
A seguir, veremos as considerações de Barthes (2009) a respeito da
fotografia de moda e as relações existentes desta com o mundo.
2.2 Fotografia de moda
Para Barthes (2009, p.444): ―Na fotografia de moda, o mundo costuma
ser fotografado em termos de um cenário, de um fundo ou de uma cena, enfim,
de um teatro‖. Ou seja, o tema de uma fotografia de moda ronda em torno de
uma única idéia que se desenvolve a partir da associação de idéias. Por
exemplo: o tema inicial de um ensaio é ―Primavera‖. A partir dessa idéia
podemos pensar em palavras como ―flores‖, ―cores‖, ―campos‖, ―leveza‖,
―pureza‖. É através do desenvolvimento dessas idéias que a construção do
cenário, do teatro da moda, surge.
No contexto da imagem, podemos destacar três importantes aspectos: o
―mundo‖ representado através do cenário; o modelo (homem ou mulher)
presentes nesse mundo; e o fazer humano, a ação também representada na
fotografia, configurada na junção do mundo com o modelo. Tomando como
exemplo o tema ―primavera‖, explicaremos tais conceitos.
41
Se Primavera traz conceitos como ―flores‖ ou ―campos‖, o cenário onde
os modelos atuarão pode ser construído através de objetos dispostos num
estúdio de fotografia a fim de lembrar um campo de flores (ou outro lugar que
lembre primavera) ou até mesmo um lugar que não seja estúdio, mas que com
a presença de objetos e elementos cenográficos possa representar esta
estação do ano. Independente da forma como o cenário é/será representado, o
mundo na moda é sempre algo que ajude a construção de uma narrativa, e que
forneça um aporte para o tema e para as peças de roupas utilizadas.
Mesmo que o cenário da fotografia seja de fato um lugar real, não
construído ou elaborado através de objetos cenográficos, ainda assim a
fotografia de moda não procura representar de fato o mundo real.
Diferentemente, por exemplo, da fotografia jornalística, pois não procura
representar um momento certo, exato. Retrata, na verdade, uma narrativa, uma
história que, ―empresta‖ do mundo real, um significado, uma representação
(BARTHES, 2009).
O fazer humano na fotografia de moda não se refere totalmente ao fazer
humano presente na vida real. Ora, encontram-se nas fotografias de moda
ações como: vestir-se com sobriedade para o trabalho, vestidos de festa para o
verão, jaquetas militares para o dia-a-dia, roupas para encontros com os
amigos, exercícios físicos com estilo. Mas não se encontram ensaios que
retratem ações triviais como: ―vista-se para ir ao supermercado‖, ―a melhor
roupa para ir ao médico‖, ―os looks que vão ser mais usados para dirigir nas
ruas movimentadas‖. O fazer humano na moda procura a vida como uma série
de eventos em que se pode obter o máximo de lazer e divertimento, em
detrimento de atividades rotineiras ou que exijam esforço e perda de tempo do
sujeito.
O ―fazer‖ da moda concentra-se em todas as relações humanas, mas
mesmo assim não intenta representar com fidelidade o mundo real. A
irrealidade presente na fotografia de moda configura-se em um romance, que
descarta qualquer sentimento que possa afastar o leitor: vestidos de festa para
o verão podem lembrar nas festas que ele pode ter nas férias, nos amigos
presentes, no sentimento de curtir a vida; já vestir-se para ir ao supermercado
pode implicar em filas, tédio, gasto de dinheiro entre outros. As ações
42
presentes na fotografia de moda não podem trazer más lembranças ou
significados que afastem o consumidor. Claro, tudo está sujeito a diferentes
interpretações e à subjetividade do receptor, assim como em qualquer forma de
texto.
O modelo representado na fotografia deixa de ser simplesmente uma
pessoa, um ser humano. A captura do ser se dá numa ação, num cenário,
numa narrativa. O corpo transfigura-se em momento, em situação, fundindo-se
com o cenário e tornando-se parte da construção do significado da fotografia
(BARTHES, 2009). Ao mesmo tempo, esse corpo transformado em narrativa
também sobrevive a partir do momento em que o leitor se identifica com ele. A
leitora, por exemplo, que observa a modelo (no nosso cenário hipotético da
primavera) pode desejar ser a modelo, querer o mesmo corpo que ela, estar na
mesma situação ou ainda usar a mesma roupa. Barthes (2009, p.386) diz: ―(...)
a mulher da Moda é ao mesmo tempo aquilo que a leitora é e aquilo que ela
sonha ser (...)‖. O corpo é ao mesmo tempo uma narrativa, um aporte para o
tema fotográfico e também sonho de consumo do leitor, onde este projeta o
seu ―eu‖. Este sentimento de projeção, vindo tanto do público masculino quanto
feminino, é o objeto da fotografia de moda. A identificação entre produto e
consumidor dá-se pela fotografia que, quando bem construída, seguindo as
representações de mundo adequadas ao tema do ensaio, consegue cativar a
atenção do leitor, proporcionando a chance de consumo do produto de moda
representado.
2.1.1 Os Diferentes Estilos de Fotografia de Moda
A indústria da moda possui diferentes tipos de fotografia. Cada um com
uma diferente finalidade, mas todos relacionados com um elemento comum: o
vestuário, a roupa da coleção a ser divulgada. Há, para alguns fotógrafos,
quatro principais estilos de fotografia: a fotografia de passarela, a fotografia de
backstage, a fotografia de catálogo e a de editorial de moda11,12.
11
OLIVEROS, 2007. Disponível em < http://forademoda.net/blog/?p=1046> Acesso em 25 de Agosto
de 2010 às 21:30h.
43
Para este trabalho, selecionamos os dois últimos estilos de fotografia,
que explicaremos a seguir, com base em Siegel (2008).
2.1.1.1 Catálogo e Editorial de Moda
Ao realizar trabalhos de fotografia de moda, há dois estilos que são os
mais comuns e mais disputados por profissionais: o Fashion Editorial (editorial
de moda) e o Advertorial (catálogo de moda).
O editorial de moda é bastante freqüente nas revistas de moda. São
ensaios fotográficos cuidadosamente planejados no que diz respeito ao Styling
(escolha do figurino dentre várias marcas de roupas e não só uma), de
modelos, de cenário, de maquiagem. A criação de um editorial depende de
várias pessoas dentro da revista, como o Diretor de Criação, Diretor de Cenário
ou Produtor de Moda, mas sempre é aprovada para a publicação pelo Editor-
Chefe e somente por ele.
Como não atende a somente uma marca e está sujeita à visão de muitas
pessoas, o editorial é o estilo que permite maior subjetividade e trabalho
criativo livre. Obviamente, o objetivo do editorial é a divulgação das peças de
roupa, assim a liberdade criativa é permitida desde que não prejudique a
imagem do figurino.
Já o catálogo de moda está ligado somente a uma marca, e geralmente
atende ao objetivo de divulgar as peças de roupas de uma determinada
coleção. Esse tipo de fotografia também conta com a ajuda de profissionais
especializados como maquiadores, stylists, fotógrafos experientes e criativos,
mas como atende a um fim específico, o nível de criatividade do ensaio pode
ser limitado. Não que um catálogo de moda não possa parecer como um
editorial, na verdade, muitos até possuem essa característica. Entretanto, essa
visão criativa não é determinada pelo fotógrafo ou por alguma outra equipe de
fora da Marca, e sim atende a determinados fins comerciais. Por exemplo, a
marca ―x‖ lança a coleção outono/inverno inspirada na França e pede que as
12
Fotografia de passarela: fotografia de fotorreportagem, que tem como objeto a modelo durante o
andar na passarela; Fotografia de backstage: estilo que procura representar os momentos durante o
desfile, porém nos bastidores do evento.
44
fotografias lembrem bosques franceses ou que tragam algum elemento com
determinados sentidos. Ou seja, essa visão não pode ser distorcida ou a
coleção não vai ser aquilo que a marca pediu, prejudicando a mensagem
inicial.
No subtópico seguinte, entenderemos melhor o funcionamento dos dois
estilos, com a análise do corpus de pesquisa selecionado para este projeto
experimental, realizada a partir da gramática do design visual proposta por
Kress e van Leeuwen (1996).
2.2 A Gramática Visual
Em todo tipo de comunicação, tentamos persuadir o nosso ouvinte de
que aquilo que falamos é verdade (PERUZZOLO, 2009). E, para tanto,
construímos essa mensagem, selecionando aqueles elementos que,
estrategicamente organizados, possam cumprir com tal objetivo. A Gramática
do design visual, de Kress e van Leeuwen (1996), propõe ao leitor o
entendimento do texto não-verbal, isto porque esse tipo de apreensão é tida
como natural por todos. Entretanto, assim como fomos educados para entender
e interpretar textos verbais, precisamos atender a necessidade de uma
educação quanto às imagens, e vê-las também como textos a serem
apreciados da mesma forma que os discursos verbais.
A produção de sentido relaciona-se com a composição da imagem.
Aquilo que é dito através de linguagem verbal, é dito pela escolha das palavras,
ordenadas de acordo com a gramática e de forma que signifique aquilo o que
pretendemos. Se quisermos dizer o mesmo através de uma imagem, também
selecionaremos recursos visuais que mostrem o que nós queremos, seja pela
suas formas ou até pela saturação de cores (KRESS e VAN LEEUWEN, 1996,
p.2). Porém, a mensagem visual nunca será a mesma que a verbal, pois as
estruturas de linguagem são diferentes e, portanto, os sentidos produzidos
também.
45
A gramática do design visual implica no entendimento e na utilização
destas imagens de forma a produzir o sentido que queremos. Às vezes,
achamos que por se tratar de uma imagem não há uma forma ideal de
posicionar os elementos, mas isso porque não fomos educados para tal, e
somos levados a acreditar que fazemos de forma natural e aleatória
(PETERMANN, 2006).
Na gramática do design visual, há três metafunções da linguagem visual
descritas: a Metafunção Ideacional que, de acordo com os autores, ―deve ser
capaz de representar os objetos e as suas relações em um mundo fora do
sistema representacional‖ (KRESS & VAN LEEUWEN, 1996, p.40)13, ou seja,
trata da representação das experiências de mundo por meio da linguagem. Há
formas diferentes de objetos serem representados além de diferentes formas
de se relacionarem. Sendo que a interação entre estes objetos pode ser
visualmente representada por um vetor. Este vetor corresponderia ao papel do
verbo na linguagem verbal, pois relaciona um sujeito e um objeto (processos
narrativos).
Assim como tais objetos podem ser representados também numa forma
classificatória (processos conceituais), onde estes seriam conectados não por
um vetor, mas por traços, formando uma estrutura de representação que o
autor denomina ―estrutura de árvore‖14 (KRESS & VAN LEEUWEN, 1996,
p.41).
Já a Metafunção Interpessoal afirma que todo sistema semiótico deve
ser capaz de projetar as relações entre o produtor de um signo e o receptor
deste, ou seja, de projetar uma relação que se dá no objeto representado na
imagem. A metafunção tem, então, a finalidade de estudar as estratégias para
o afastamento ou aproximação da imagem com o leitor.
Por Metafunção Textual entende-se que, em um texto, os elementos ali
apresentados, tanto verbais quanto icônicos, apresentam coesão e coerência,
pois estão postos de forma que façam sentido na imagem e também para o
participante interativo.
13
Tradução livre
14 Tradução livre para “tree structure”.
46
Temos também a definição, do que os autores chamam, de participantes
(KRESS & VAN LEEUWEN, 1996, p. 45). De acordo com os mesmo, existe
uma relação entre esses dois elementos, na qual nós podemos classificar os
participantes da seguinte forma:
(...) a imagem envolve dois tipos de participantes, participante representado (as pessoas, os lugares e coisas mostradas em imagens), e participantes interativos (as pessoas que se comunicam entre elas através das imagens, os produtores e observadores de imagens), e três tipos de relação: (1) relação entre participantes representados, (2) relações entre participantes representados e interativos (...) e (3) as relações entre participantes interativos (as coisas que participantes interativos fazem para ou por eles através de imagens). (KRESS, VAN LEEUWEN, 1996, p.179)
15,16
A definição destes dois elementos é crucial para o desenvolvimento da
análise, uma vez que a relação entre estes é a chave da construção da
imagem fotográfica de moda.
Para este projeto, utilizaremos a Metafunção Ideacional e a Interpessoal,
analisando tanto os editoriais de moda quanto os catálogos constituintes do
nosso corpus primário, observando a predominância de certas características e
identificando aquelas imagens que eram mais representativas, exemplificando,
assim, cada uma das categorização propostas na Gramática do Design Visual.
Para depois, utilizarmos tais possibilidades de construções fotográficas no
ensaio deste projeto.
2.3.1 Metafunção Ideacional
De acordo com a gramática do design visual, os textos (tanto verbais
quanto não verbais) possuem duas estruturas básicas de transitividade: a
narrativa – que descreve ações, eventos e mudanças feitas pelo homem no
mundo - e a conceitual – que representa os participantes em termos de classe,
15
Tradução livre
16 Doravante chamados de PR (participantes representados) e PI (participantes interativos).
47
estrutura ou significado, ou seja, em sua essência. Essas características dizem
respeito a metafunção Ideacional.
Os processos de estrutura narrativa contam essencialmente com uma
ação descrita no texto; se não há ação, logo não se trata de um processo
narrativo. Ao contrário, no processo conceitual, o participante representado não
realiza nenhuma ação significativa, estando somente ali, onde pode ser
classificado somente pela sua presença, informando quem ele é e a que grupo
pertence.
Nos processos narrativos representados em imagens, as ações são
descritas geralmente através de um vetor, formado por linhas angulares. Tais
vetores, se comparados às representações textuais verbais, manifestam-se na
forma de verbos transitivos e intransitivos.
Um dos processos narrativos é o de ação transacional unidirecional,
onde o vetor (que representa uma ação) conecta dois participantes, um
―autor‖16, de onde o vetor surge e é produzido, e uma ―meta‖17, para onde o
vetor dirige-se.
Ao olharmos a Figura 5, podemos observar a figura de uma modelo
ajoelhada no solo, próxima a uma pequena plantação. Com o braço direito
segura uma pequena pá de jardinagem e, com o outro, segura um vaso de
flores.
48
Figura 5 Ação transacional unidirecional
(Fonte: Revista VOGUE, nº 379, março de 2010)
Pode-se notar aqui a presença de dois vetores que partem dos braços
da personagem: um que se constitui pelo braço da personagem que, ao
segurar a pá, realiza a ação de escavar o solo para o plantio da muda de flores;
e o outro que se constitui pela ação de segurar o vaso. Desta forma, o primeiro
processo realizado poderia ser definido pela frase ―a modelo escava o solo com
a pá‖, e o segundo ―ela segura a planta‖. Esses dois processos resultariam em
um final, definido como: ―ela planta uma muda de flores‖.
O processo de ação transacional bidirecional demonstra a ação mútua
de dois autores no texto, ou seja, quando os vetores de ação dos dois
participantes representados se encontram, conectando-os, tornando os dois
―interautores‖: autores e metas de si mesmos. Como apresentamos na Figura
6:
49
Figura 6 Ação transacional bidirecional
(Fonte: Revista Fashion Forward MAG, nº 12, 2009)
Na imagem podemos ver a representação de um casal dançando em um
salão: estão próximos e de frente um ao outro, tem os braços estendidos a uma
direção e observamos também que o braço direito do rapaz abraça a cintura da
personagem, e esta põe o braço esquerdo sobre o ombro do modelo. Os
vetores formados pelos braços estendidos (além da proximidade e pelo fato de
estarem um de frente para o outro), na típica pose de dança, formam a ação
transacional bidirecional, sendo um autor do outro (e meta também), ou seja,
são interautores. Descrita verbalmente essa ação seria: ―ele dança com ela‖,
―ela dança com ele‖, conseqüentemente ―eles dançam, um com o outro‖.
Existe também a ação não transacional, onde o participante
representado age, mas o vetor não se dirige a nenhum outro participante. O
vetor dirige-se a uma meta não definida ou que não se apresenta na imagem.
Ao vermos a Figura 7, vemos que a direção do corpo do personagem se dirige
ao canto esquerdo da imagem, como se estivesse pulando para o outro lado,
porém não podemos enxergar a imagem além da moldura, portando não
sabemos que objetivo o autor almeja com tal ação.
50
Figura 7 Ação não Transacional
(Fonte: Revista FFW MAG, nº12, 2009).
Ao estudarmos o corpus primário de análise deste projeto, podemos
dizer que as ações transacionais ou não-transacionais são comuns tanto ao
editorial quanto ao catálogo de moda. Entretanto, as ações transacionais
bidirecionais são vistas mais em editoriais, uma vez que a presença de dois
participantes representados (e que interagem entre si) não é tão usual em
catálogos de moda.
Quando a imagem apresenta participantes que interagem entre si, por
meio de vetores formados por linhas de olhar, não utilizamos mais a expressão
―autor‖ ou ―meta‖, mas sim aquele que reage, ou aquele que olha, e fenômeno,
espaço para onde o olhar daquele se dirige, ou aquele (aquilo) que é olhado.
Neste tipo de processo, existe a reação transacional (Figura 8), quando
um vetor conecta dois participantes, sendo que aquele tem como sentido:
homem → moça. O homem é elemento ativo na imagem, pois o vetor inicial,
formado por uma linha de olho, parte dele, e a moça é o elemento passivo na
imagem, pois é o objeto de visão do outro participante. Ainda que estejam na
pose de dança, similar à figura vista anteriormente, o eixo dos olhares os
51
separa, justamente pelo fato da personagem não retribuir o olhar. Assim, ―eles
dançam‖, mas apenas ―ele olha para ela‖.
Figura 8 Reação Transacional
(Fonte: Revista Fashion Forward MAG, nº 12, 2009).
Muitas vezes as imagens não são compostas somente por um processo,
mas por diferentes tipos. Podemos ver na figura 8 que temos dois tipos: o
processo de ação e o de reação. Ação, porque assim como na figura 7, o casal
realiza a mesma pose, o homem com o esquerdo ao redor da cintura da mulher
e o braço esquerdo estendido na direção oposta e de mãos dadas com ela,
formando então, um processo de ação transacional bidirecional.
Assim como nas ações transacionais, pode existir uma reação não
transacional: o participante representado olha para algum ponto não definido
na imagem, ou seja, não existe um fenômeno específico (Figura 9). A imagem
representa um retrato em close-up de uma mulher olhando para um ponto
indefinido, como se procurasse por algo que não sabemos/podemos identificar.
52
.
Figura 9 Reação Não Transacional
(Fonte: Revista Fashion Forward MAG, n º12, 2009).
Destaca-se, em todos esses processos, a predominância ou, pelo
menos haveria de ter, da reação transacional em catálogos de moda e de
reação não transacional para editoriais de moda. Feito um levantamento em
todo o corpus de pesquisa, verificou-se que, sendo o catálogo de moda uma
peça publicitária, feita exclusivamente para a apresentação das peças de
roupas para o leitor, a fim de que haja a compra destas, o contato, a relação
entre PR (utilizando a vestimenta-produto, valendo-se de ferramentas
persuasivas antes vista na metafunção Interpessoal e representado na
fotografia de moda como portador do tema do ensaio) e PI deve existir através
da igualdade entre os eixos de olhar dos dois.
O editorial de moda não possui o mesmo compromisso de venda que o
catálogo, logo, investe na composição da fotografia na qual o modelo não
precisa necessariamente olhar diretamente para o consumidor. A sua
expressão corporal somente o convida a participar do seu mundo, como se
oferecesse a chance ao PI de vivenciar o que ele possui, e a maioria dos
ensaios tem o cenário cheio de elementos que, ao invés de desviar a atenção
do leitor, somente ajudam a compor o tema, fortalecendo-o.
53
2.3.2 Metafunção Interpessoal
A Metafunção Interpessoal diz respeito à aproximação ou afastamento
do leitor com em relação à imagem. Em tal metafunção, destacam-se quatro
aspectos que surgem das relações entre PR e PI (PETERMANN, 2006):
Contato (Pedido ou interpelação), Distância Social (apresentada nos níveis
social, pessoal e íntimo), Atitude (divididas entre graus de objetividade ou de
subjetividade) e Modalidade (indicações de valor de verdade).
- Contato:
O primeiro aspecto da metafunção interpessoal parte da idéia de contato
entre participantes representado e interativo. Tal conexão ocorre, ainda que
num nível imaginário, quando um vetor oriundo do olhar do PR dirige-se ou não
ao olhar do PI, ou seja, é o estabelecimento de algum tipo de contato com
aquele que observa a imagem, seja aproximando-o ou afastando-o. O vetor do
olhar também pode ser acompanhado de outro vetor adicional, mas que não se
origina necessariamente do olhar do PR, sendo um gesto que aponta para o PI,
como uma mão que aponta diretamente para o leitor.
Na Figura 10, configura-se o que se chama de Oferta, ou seja,
quando o vetor oriundo do olhar do PR não encontra com o olhar do PI.
Entende-se que o PR não se aproxima do leitor, afastando-se dele.
Figura 10 Oferta
(Fonte: Revista VOGUE, nª 368, abril de 2009)
54
Na Figura 11, ao contrário da anterior, os olhos da modelo olham
diretamente para a câmera e, conseqüentemente, criam o efeito de que olham
também para o leitor, como se o estivesse convidando a participar da imagem,
sendo essa uma característica de Pedido ou Interpelação, conforme
denominam os autores.
Figura 11 Pedido / Interpelação
(Fonte: Revista VOGUE, nº 379, março de 2010)
- Distância Social:
Outro aspecto da gramática do design visual refere-se ao nível de
distância social que se estabelece entre participante interativo e participante
representado. Nas relações sociais que estabelecemos todos os dias, temos
amigos íntimos, conhecidos, bons amigos ou pessoas que não conhecemos.
Edward Hall citado por Kress e Van Leeuwen (1996, p.130), diz que
carregamos conosco um conjunto de barreiras invisíveis e que cabe a nós
permitirmos se outras pessoas podem ultrapassá-las ou não, sendo que tais
barreiras são determinadas por potencialidades sensoriais, ou seja, o quão
próximas um sujeito pode estar a ponto de tocá-lo ou o vê-lo, por exemplo. A
55
uma ―distância pessoal próxima‖17 podemos tocar ou abraçar alguém,
configurando em um tipo de relação pessoal, íntima. Se estivermos a uma
―longa distância pessoal‖ de alguém, podemos tocar a ponta dos dedos um do
outro se estendermos os braços. Essa é o perímetro onde assuntos de
interesse pessoal são discutidos. Sujeitos a uma ―distância social próxima‖11
estão a uma extensão equivalente à apresentada anteriormente, e é o lugar
onde negócios impessoais ocorrem. Numa ―distância social longa‖12 podemos
ver alguém de longe, mas o suficiente para se ter uma visão de corpo inteiro. É
uma distância formal e impessoal, na qual os negócios e as interações sociais
são conduzidos. ―Distância pública‖ é o espaço definido por pessoas que
ocupam o mesmo lugar, mas são estranhas a si mesmas. Edward Hall (apud
Kress e Van Leeuwen, 1996, p.131) afirma que tais distâncias foram aplicadas
em uma cultura em particular e podem não se aplicar a outras.
Levando em consideração as distâncias, os autores da gramática do
design visual relacionaram-nas com os planos de filmagem utilizados pela
televisão e cinema. O close-up enquadra o rosto e o ombro da pessoa
enquanto o very close shot mostra os detalhes do rosto. O medium close shot
mostra o sujeito da cintura para cima e o médium shot dos joelhos à cabeça.
No médium long shot o corpo é mostrado por inteiro enquanto o long shot faz
com que a pessoa ocupe metade da tela, e o very long shot permite que o
espectador veja um cenário bem mais amplo sem muito destaque para alguém.
Relacionando as duas formas de se observar uma imagem, temos o que
podemos chamar de nível de distância social: quanto mais próximo o
enquadramento do rosto do participante representado, mais pessoal será a
relação deste com o participante interativo. Quando mais distante for o
enquadramento mais impessoal será a relação.
Observando novamente as Figuras 10 e 11, podemos medir o nível de
distância social. Enquanto que na Figura 11 o plano da fotografia é aberto, de
modo que podemos ver todo o corpo da modelo, a Figura 10 nos revela um
plano médio, concentrando os olhares no rosto e torso da modelo.
17
Traduções livres
56
No entanto, em alguns catálogos, como demonstrado na Figura 12 o
plano, além de aberto, mostrando todo o corpo da modelo, também recorta o
rosto dela, tirando de vista o olhar do PR. Considerando a natureza comercial
do catálogo, onde a ênfase é na marca e nas roupas das coleções, esse
recorte do PR pode ser feito como uma forma de dar ênfase ao produto,
relegando a um segundo plano a expressão facial ou corporal (uma vez que a
modelo não age nem faz uma pose muito articulada na fotografia). Diferente do
editorial de moda, em que o olhar da modelo e da sua expressão facial é
essencial para representar a emoção necessária para a fotografia.
Figura 12 Distanciamento
(Fonte: Catálogo FORUM 2010)
- Atitude
O terceiro aspecto da gramática do design visual (1996) discute a
questão da objetividade (quando o produtor fornece ao leitor a chance de
observar a imagem por diversos pontos de vista) ou da subjetividade (quando
somente um ponto de vista se faz presente na imagem). As objetivas são
aquelas que revelam todas as características e tudo o que há para ser
descoberto do objeto representado (ou pelo menos o que aparenta ter para ser
visto). Possui também o propósito definido de informar dados pontuais e tem
como característica principal certo didatismo. São elas: mapas, diagramas,
imagens científicas, dentre outras.
57
Já as imagens subjetivas mostram o objeto/participante representado
por um ponto de vista específico, ora por um ângulo frontal ou por outro
oblíquo. Este procura dizer que ―o que você vê não é parte do nosso mundo; é
o mundo deles, algo que nós não estamos envolvidos‖18 enquanto aquele
afirma: ―o que você vê é parte do nosso mundo, algo que nós estamos
envolvidos‖19 Observa-se o envolvimento ou desprendimento por parte do
participante representado, ao notarmos o ângulo que o mesmo aparece na
imagem. Sendo a fotografia de moda (catálogo ou editorial de moda) um
produto altamente subjetivo, a análise aqui se restringe somente à questão
subjetiva da imagem. Ao vermos a Figura 13, observamos que a modelo
posiciona-se em um ângulo frontal, demonstrando envolvimento e contato com
o momento da fotografia, ao contrário da Figura 14, na qual o modelo encontra-
se em um ângulo oblíquo à câmera, mostrando desprendimento à fotografia.
Figura 13 Envolvimento
(Fonte: Revista VOGUE, nº 379, março de 2010)
18
Tradução Livre. KRESS & VAN LEEUWEN, 1996, p.143.
19 Idem a nota anterior.
58
Figura 14 Desprendimento
(Fonte: Catálogo ECKO, verão 2010)
O fato de o modelo mostrar ou não envolvimento com o participante
interativo depende inteiramente do tema do ensaio fotográfico. Assim como
uma relação que se estabelece entre PR e PI, a fotografia de moda procura
destacar a roupa, a modelo ou uma atitude, o que determina as expressões
corporais utilizadas. Na Figura 13 podemos observar, logicamente, que se trata
de um ensaio dirigido ao público feminino, assim como na Figura 14, para o
público masculino. Pode-se dizer que, no primeiro ensaio, busca-se um
sentimento de projeção da leitora com a modelo, como se aquela quisesse o
papel, o lugar da outra. No segundo ensaio, busca-se somente informar ao
leitor a presença das duas peças de roupas (calça jeans e camiseta), mas sem
criar um sentimento de projeção, como se o fato de mostrar as roupas fosse o
suficiente. Se levarmos em conta a questão do gênero, podemos observar que
o sentimento de projeção parte principalmente do público feminino, uma vez
que os consumidores masculinos podem não admitir tal projetação, alegando
notar somente a roupa, o figurino.
Há também questões que dizem respeito à relação de poder que se
estabelece entre PR e PI. Na Figura 15, observamos que a linha entre os olhos
do PR está no mesmo eixo em que a linha do PI, quase como se estivessem
olhando um aos olhos do outro, criando uma relação de igualdade entre os
dois. Já na Figura 16, a modelo olha de cima, como se a câmera estivesse
abaixo dela, o que cria um efeito de superioridade do PR em relação ao PI. Se
59
voltarmos a observar a Figura 14, podemos ver que o modelo olha para cima,
conferindo superioridade ao PI.
Figura 15 Igualdade entre PR e PI
(Fonte: Catálogo Outono/Inverno 2010 Calvin Klein Jeans)
Figura 16 Poder do PR
(Fonte: Catálogo INDEX jeans)
- Modalidade
O quarto aspecto referente à metafunção Interpessoal diz respeito aos
níveis de modalidade das imagens. Essa questão aponta para o nível de
realidade criado por meio dos elementos visuais, levando em conta
características como saturação de cor, diferenciação de cor, contextualização,
representação, profundidade, brilho, representação, iluminação e modulação
de cor.
60
A relação da fotografia de moda com a realidade é diferente dos outros
gêneros fotográficos. Ao mesmo tempo em que se ancora o cenário com
elementos da realidade (criação de cenários com objetos ou até mesmo uma
locação real), procura-se dar um sentido de ―fora da realidade‖, como se, para
criar algo, o fotógrafo se utilizasse de elementos cenográficos para criar outro
mundo. Despertando assim emoções e sentidos que só poderão ser atingidos
com a utilização da roupa fotografada. Como exemplo, podemos utilizar as
Figuras 17 e 18: na primeira, além da fotografia ter sido realizada em cenário
outdoor (ao ar livre), foram utilizados elementos para dar sentido ao tema do
ensaio e criar uma relação entre roupa e cenário, ensaio e leitor – o tema do
ensaio é ―Jardineira Urbana‖ (título presente na fotografia-título) logo há a
presença de objetos como uma pá, ancinho, carrinho-de-mão e uma muda de
árvore na mão da modelo.
Figura 17 Cenário complexo
(Fonte: Revista VOGUE, nº 379, março de 2010)
61
Figura 18 Cenário simples
(Fonte: idem foto anterior).
Já na Figura 18, ao contrário da anterior, a modelo encontra-se em
cenário indoor, contando apenas com a iluminação e a roupa a ser fotografada.
A simplicidade utilizada neste ensaio pode garantir o destaque à vestimenta,
sem interferência de outros elementos cenográficos que podem desviar a
atenção do leitor.
Quanto à saturação da cor, podemos observar na Figura 19, a ausência
de cores, restando na fotografia somente o preto e branco. A falta de cores
mais vibrantes na fotografia geralmente se dá quando o resultado esperado é a
de um clima de maior dramaticidade ou de um efeito temporal, ou seja, quando
procura retratar um tempo passado, afastado do presente.
62
Figura 19 Saturação de cor
(Fonte: Revista Fashion Forward MAG, nº 17, 2009)
No decorrer deste trabalho, iremos fazer mais uma vez a análise pela
gramática do design visual, sendo que desta vez o objeto será o ensaio
realizado com base nas teorias aqui vistas, procurando de certa forma, dar
ênfase no que é mais propício a cada estilo fotográfico, levando em
consideração sua principal finalidade. No capítulo seguinte, detalharemos mais
a escolha do corpus de pesquisa, assim como a descrição passo-a-passo de
como será a análise do ensaio fotográfico, a produção deste e a verificação dos
efeitos de sentidos produzidos junto ao público.
63
CAPÍTULO II - METODOLOGIA
Este projeto experimental investiga dois estilos fotográficos de moda: o
catálogo e o editorial de moda. O primeiro atende unicamente a um fim
comercial: é uma série de fotografias que retrata uma coleção inteira de
determinada marca de moda, desde as peças de roupas até sapatos e
acessórios, ou seja, todos os produtos criados (SIEGEL, 2008, p.16). As
fotografias são geralmente dispostas em peças publicitárias como cadernos,
brochuras, revistas ou outro produto gráfico (que acrescente em termos de
conteúdo para a coleção).
Já o editorial de moda é um estilo presente nas revistas de moda que
atende ao propósito de divulgar a tendência de cada estação. O figurino de
cada ensaio fotográfico é escolhido de acordo com a tendência que a revista
escolhe como a próxima a ser usada pelos consumidores ou pelas passarelas
e nos desfiles de cada marca da estação seguinte (assim como o caminho
inverso pode ocorrer, conferindo assim uma espécie de ciclo da moda). Logo, o
editorial não cumpre um papel comercial específico como o do catálogo;
entretanto, vale ressaltar que este possui sim, o objetivo principal de divulgação
de idéias, de marcas ou de tendências, mas não exclui, obviamente, fins
mercadológicos de divulgação. A função comercial do catálogo é divulgar uma
exata coleção de roupas para persuadir o consumidor a consumir aquele exato
produto.
3.1 Seleção e análise do corpus primário
Para o corpus de pesquisa selecionamos então exemplos de catálogos e
editorias para compor um material com a maior variedade de representações
possíveis para cada estilo. Os editoriais foram retirados de revistas de moda
(Vogue Brasil, Elle Brasil, Elle United Kingdom e MAG Fashion Forward) e os
catálogos foram retirados em lojas de roupas santa-marienses (marcas
FORUM, Redley, Calvin Klein Jeans e Cris Barros; Lança Perfume e Ecko;
Index Jeans nas lojas Diff‘s, Mercamoda e Hangar). Depois de selecionados os
64
catálogos e os editoriais, retiramos destes, aquelas fotografias que nos
pareceram mais representativas, totalizando 16 fotos entre editorias e
catálogos. Levamos em consideração, por exemplo, elementos visuais como:
- Cenário:
A composição deste na foto, utilizando-se de locações reais e suas
próprias construções ou cenários construídos exclusivamente para
determinados ensaios fotográficos; cenários simples com a utilização de fundo
infinito ou complexos com a presença de inúmeros elementos que interagem
ou não com os modelos.
- Iluminação:
A presença de luz artificial ou natural nas imagens conduz a atenção do
leitor para determinados pontos importantes na fotografia. A imagem, com a
iluminação apropriada, aponta aquilo que se deseja ressaltar, além de prover
maior sentimento de realidade ou dramaticidade à imagem.
- Expressão Corporal e Facial:
A forma como os modelos estão presentes na foto, representando
personagens através das suas poses e expressões, influencia na construção
de sentidos da fotografia. A presença de movimento na imagem pode indicar
uma ação, assim como pode ressaltar uma emoção ou ainda promover contato
visual com o leitor – fatores esses que influenciam diretamente na análise da
fotografia além de ajudar na construção da temática do ensaio.
- Cores:
Fatores como a monocromia (utilização da mesma cor em tons
variados), saturação normal ou total das cores em policromia (utilização de
várias cores), imagens em preto e branco ou tons de cinza produzem diferentes
sensações ao leitor.
- Planos:
A fotografia pode apresentar diferentes planos, isto é, diferentes formas
da imagem ser capturada pela lente da câmera fotográfica. A utilização de
planos em fotografia determina o ponto de destaque pretendido, ou seja,
planos muito abertos podem destacar o cenário, em detrimento do modelo
representado, assim como planos muito fechados (close-up, que foca a câmera
65
no rosto do modelo) aparentam uma proximidade maior do leitor com o
participante representado na imagem.
Todos estes aspectos, inclusive, podem ser relacionados diretamente
com os outros vistos na gramática: cenário, iluminação, expressão corporal e
facial, cores e planos são conceitos básicos que adicionam sentido à imagem e
ressaltam a relação entre PR e PI (metafunção Interpessoal).
Após a coleta do material de pesquisa, foram selecionadas as fotografias,
seguindo a gramática do design visual de Kress e Van Leeuwen (1996), e que
pudessem melhor representar a descrição de cada metafunção e seus sub-
itens:
Metafunção ideacional:
Como já vimos procura tratar as experiências de mundo por meio da
linguagem. Para a análise do corpus, seguimos pela estrutura narrativa, onde
os participantes representados são aqueles que realizam algum tipo de ação
na imagem – ou pela estrutura conceitual – que procura descrever os
participantes representados em termos de classe, estrutura ou significação.
Para este projeto selecionamos a estrutura narrativa, pois acreditamos que
traduz melhor a forma como a fotografia de moda se relaciona com o
consumidor, ou seja, os elementos presentes na imagem que reforçam/ajudam
na persuasão do consumidor frente aos produtos de moda representados.
Assim, foram considerados na análise do corpus, aqueles anúncios que
apresentavam:
- Estrutura narrativa (Ação transacional, Ação não-transacional, Reação
transacional, Reação não-transacional);
Metafunção interpessoal:
Foram considerados na análise do corpus, aqueles anúncios que
apresentavam, com relação às estratégias de aproximação ou afastamento do
participante representado com o leitor.
- Contato (Pedido – Oferta)
- Distância Social (social, pessoal, íntimo)
- Atitude (objetividade ou subjetividade)
66
- Modalidade (valor de verdade).
Escolhemos dentre as 16 fotos selecionadas para compor o corpus
primário, aquelas que melhor traduzissem cada aspecto da estrutura narrativa,
na metafunção ideacional, e das estratégias de relação com o consumidor da
metafunção interpessoal.
No item 2.2 aproveitamos a explanação teórica para exemplificar com as
fotografias de nosso corpus primário, analisando-os. Neste momento, pudemos
identificar as características de cada estilo fotográfico. Ao apreendermos essas
peculiaridades, a construção de um catálogo ou um editorial fica mais fácil, pois
entendemos a finalidade comercial ou ideológica de cada um; finalidade essa
que norteia o uso dos aspectos da gramática do design visual. Por exemplo,
um catálogo busca pelo contato entre participante representado e participante
interativo, logo, o eixo dos olhares deve ser igualado, assim como as
características de saturação de cores deve ser a mais natural possível, e o
cenário não pode causar mais destaque do que a vestimenta utilizada pelo(a)
modelo.
3.2 Sobre o ensaio:
Para a realização do ensaio fotográfico seguiremos com a metodologia de
trabalho elaborada por Elliot Siegel (2008):
1) Reúna a equipe:
O primeiro passo é a escolha do figurino ou alguém que possa auxiliar na
escolha. O figurino deve estar de acordo com o tema do ensaio fotográfico e
também com os modelos. Arranjar cabeleireiros e maquiadores, se necessário,
e dar o máximo de informação possível para a composição do look dos
modelos. O autor também aconselha: ―Se possível, peça a um amigo ou colega
para ajudá-lo no ensaio, ainda que a pessoa não tenha conhecimento sobre
fotografia, ela pode lhe ajudar em vários outros assuntos, técnicos ou não‖
(SIEGEL, 2008, pg.98).
67
2) Escolha a Locação:
Decidir se o ensaio fotográfico será realizado em um estúdio ou em algum
cenário externo, define a utilização da iluminação, questões cenográficas e até
mesmo de modelos e da sua aparência.
3) Organize a Iluminação:
A decisão sobre qual luz usar e de que forma utilizar é um passo decisivo
no dia do ensaio fotográfico. Recomenda-se realizar um teste antes do dia das
fotografias para ver quais equipamentos serão utilizados e se algum deles está
com algum defeito ou pode precisar de algum reparo. O autor alerta, também,
para as características de um ensaio outdoor. Caso o ensaio seja em área livre,
―leve alguma fonte de luz adicional caso o clima decida virar contra você‖
(SIEGEL, 2008, pg.98).
4) Fotografia Digital ou Analógica:
O aspecto da fotografia e a sua qualidade podem ser decididos se as
fotografias serão tiradas com uma câmera digital ou analógica. Caso a câmera
seja analógica, é necessária a escolha do filme e da máquina.
A seguir, realizaremos detalhada descrição sobre os dias de produção de
nosso ensaio fotográfico.
3.3 Para a verificação do produto
Para investigarmos o estudo da gramática do design visual com as
fotografias obtidas dos ensaios realizados neste projeto, realizamos também
um grupo focal. Este tipo de pesquisa é um método qualitativo ―que tem como
objetivo perceber os aspectos valorativos e normativos que são referência de
um grupo em particular.20 Tem por natureza tentar compreender uma questão
em particular, e não inferir nada.
De acordo com Costa (2006, p.182) esta pesquisa geralmente ocorre com
seis até doze entrevistados e um moderador que dirige e coordena as
perguntas às pessoas. A entrevista permite ao moderador um contato direto
com representantes do grupo do qual pretende ter mais conhecimento. Há
20
COSTA. In: BARROS & DUARTE (orgs), 2006, p.181.
68
também a presença do documentador, que é responsável por anotar todas as
respostas dadas pelos participantes, tomando o cuidado de nunca transcrever
aquilo o que acha que foi dito, mas o que de fato foi considerado. O grupo focal
tem uma flexibilidade no trato aos entrevistados admitindo interação entre eles
e, como a reunião deve ser conduzida por até mais de uma hora, as questões
podem se estender a respostas que revelam aspectos profundos daquilo que
os entrevistados entendem.
As desvantagens, infelizmente, ocorrem simultaneamente as vantagens:
―(..) o fato de que não é um ambiente natural e pode ou não refletir o
comportamento individual, (...) as opiniões serem influenciadas pelo
comportamento de um integrante mais exuberante do grupo‖ (COSTA, 2006,
p.183).
Como, neste projeto, investigamos os efeitos de sentido produzidos
através de um ensaio fotográfico, a escolha do grupo focal como metodologia
de avaliação tornou-se bastante útil, pois podemos verificar a eficácia de tais
sentidos junto com o público-alvo das fotografias. Ao todo foram produzidos
três ensaios fotográficos, sendo que o primeiro ensaio foi um editorial de moda
com o tema Femme Fatale, o segundo também um editorial com o tema
Alegria; e o terceiro um catálogo de moda com o mesmo tema do segundo.21
Assim como o público-alvo dos ensaios, as entrevistadas do grupo focal
são mulheres, de 18 a 25 anos de idade, consumidoras de moda – tanto de
vestuário quanto de informação - em razoável assiduidade e com
conhecimento médio sobre moda. Então, o convite para participar do grupo
focal foi feito para seis acadêmicas do curso de Publicidade e Propaganda da
UFSM, idade entre 18 e 21 anos de idade, cientes de alguns aspectos
relacionados à fotografia e a construção desta enquanto ferramenta publicitária,
além de consumidoras de informação de moda e informação de moda.
Para o projeto, um roteiro com sete perguntas foi elaborado, das quais
duas perguntas abertas, isto é, sem respostas presentes no documento, que
21
Os detalhes de produção do ensaio e roteiro de atividades estão descritos no item 3 deste capítulo. A
descrição de como ocorreu a concepção dos temas utilizados e a exibição das fotos finais estão no
capítulo 3 deste projeto, intitulado “O Produto”.
69
permite ao entrevistado discorrer livremente sobre o assunto; e 6 perguntas
fechadas, que apresentam respostas mais específicas. A seguir, o roteiro de
perguntas elaboradas para o grupo focal22:
―1) Descreva em apenas uma frase esta imagem‖
Esta pergunta procura identificar a presença de estrutura narrativa
(metafunção ideacional), ou seja, a presença de uma ação representada na
imagem.
―2) Se você pudesse classificar esta imagem, quanto aos seus níveis de
realidade, você diria que ela é mais real ou mais fantasiosa (indique o número
que corresponde a sua resposta, considerando que o número 1 indica ao nível
máximo de fantasia e que o número 5 indica o máximo de realidade)?
Fantasia 1 2 3 4 5 Real”
A pergunta número 2 refere-se aos níveis de realidade referentes ao
aspecto modalidade da metafunção interpessoal.
―3) Ao olhar a imagem você tem a sensação que:
a) o participante representado pede algo de você;
b) o participante representado oferece algo a você.‖
A pergunta número 3 é baseada no aspecto contato da gramática do
design visual referente à metafunção interpessoal.
―4) Ao olhar a imagem você tem a sensação que:
a) o participante representado é apenas seu conhecido;
b) o participante representado é seu amigo;
c) o participante representado é seu (sua) amigo(a) íntimo(a).‖
A quarta pergunta do roteiro refere-se à distância social que o participante
representado se encontra com relação ao participante interativo.
22
As análises do grupo focal bem como outros detalhamentos da entrevista serão apresentados no
capítulo 3 deste projeto.
70
―5) Ao olhar a imagem você imagina que:
a) o participante representado procura estabelecer uma relação;
b) o participante representado não pretende establecer uma relação.‖
A questão 5 refere-se à atitude do PR na imagem, ou seja, se este
procura relacionar-se ou não com PI.
―6) Ao olhar a imagem você imagina que:
a) o participante representado é superior a você;
b) o participante representado é inferior a você;
c) o participante representado é igual a você.‖
A sexta pergunta baseia-se nos níveis de poder (também no aspecto
atitude) exercidos pelo PR ou PI.
―7) Descreva a ação recorrente nesta imagem.‖
A pergunta número 7 tenta investigar a presença de ação transacional ou
não-transacional nas imagens.
Junto com o roteiro de perguntas, foram feitos duas atividades23 com as
entrevistadas, onde estas deveriam observar as fotografias (impressas no
formato 10x15 cm em papel fotográfico e dispostas sobre a mesa) e responder
algumas questões referentes às suas próprias impressões sobre fotografia e
imagem. O grupo focal foi realizado no dia 15 de outubro de 2010, no período
da tarde, na FACOS Agência, no prédio 21 da UFSM. Exerci durante o grupo
focal o papel de moderador e documentador, sendo responsável por incentivar
todos os participantes a exporem suas respostas.
O grupo ocorreu normalmente e durou cerca de 50 minutos, sendo que as
atividades foram guardadas por um gravador de voz de uma das entrevistadas.
Recebemos as participantes em uma sala na FACOS Agência, onde cada uma
ocupou um assento ao redor de uma mesa, onde foram realizadas, em primeiro
23
Idem nota anterior
71
lugar as duas atividades com perguntas diretas à elas com base nas fotografias
expostas (que foram retiradas do corpus primário, obtidas de revistas de moda
e catálogos, e secundário, produzidas para este projeto); e em segundo lugar o
roteiro de perguntas.
Algumas questões apresentaram problemas de formulação (questões
número 3, 4 e 6), onde foi preciso esclarecer às participantes suas intenções e,
permitir também, que estas pudessem acrescentar respostas que não estavam
entre as oferecidas. Os resultados do grupo focal e as conclusões sobre estes,
serão apontadas posteriormente no terceiro capítulo.
3. Os ensaios fotográficos – Relato das experiências de trabalho
Para este projeto experimental foram realizados dois ensaios
fotográficos; o primeiro foi somente um editorial de moda (realizado dia 16 de
Julho de 2010) e o segundo ensaio contemplou os dois estilos de fotografia de
moda: o catálogo e o editorial (02 e 06 de outubro de 2010). O procedimento
utilizado para a realização destes foi o mesmo, seguindo o roteiro descrito
anteriormente por Siegel (2008) com algumas adaptações e outros
procedimentos inclusos, como por exemplo, a escolha do tema do ensaio
fotográfico, sendo o primeiro passo para a realização deste.
O primeiro ensaio teve como tema a personagem da Femme Fatale, um
estereótipo feminino que retrata a ideia de uma mulher fatal, que seduz e
engana o herói da trama, seja na literatura ou no cinema. Geralmente é
considerada como uma mulher de forte personalidade, dominadora e
tipicamente ―vilã‖ de uma história. O primeiro procedimento, a produção de
moda, foi a escolha do figurino que ajudasse a imprimir o tema pretendido, isto
é, a seleção de vestuário e acessórios de acordo com as cores, tecidos, cortes
dentre outros As roupas, bolsas e sapatos foram emprestados de lojas na
cidade de Santa Maria, que as cederam durante um dia apenas para o ensaio
fotográfico. Os modelos do ensaio são colegas de faculdade que se
disponibilizaram a ajudar na construção do ensaio.
Para ressaltar a presença dos modelos e concentrar a atenção do leitor
nas roupas, optamos por um cenário indoor que tivesse um fundo infinito como
72
cenário (fundo de somente uma cor cujos ângulos são todos ocultados), ou
seja, ausente de elementos cenográficos. O estúdio escolhido para esse ensaio
está localizado no centro da cidade de Santa Maria (Studio Bunker Media), e
possui as ferramentas básicas de produção fotográfica, onde pude contar
também, com o auxílio do responsável pelo espaço.
A iluminação foi organizada para ressaltar tanto o fundo – o que facilita
no momento da pós-produção, pois homogeneíza o tom de branco do fundo
infinito – quanto os modelos, sendo que se decidiu por uma luz mais suave
para estes últimos, para que não destacasse os contornos ou criasse muitas
sombras no rosto ou corpo.
Uma cabeleireira e também maquiadora profissional foi contratada para
ajudar a compor o look dos modelos de acordo com o tema do ensaio, sendo
que, além de fazer a maquiagem, também ficou responsável de possíveis
ajustes durante o ensaio, como reparar penteados ou ajustar as roupas.
No dia do ensaio, tivemos o total de cinco modelos, sendo três mulheres
e dois homens, a maquiadora e eu, que exerci o papel tanto de fotógrafo
quanto de produtor de moda, o responsável pelo estúdio fotográfico que se
disponibilizou para o ensaio caso algum tipo de ajuda fosse necessário.
Devido ao grande número de roupas – oito combinações, ou seja, oito
looks – tive que concentrar a minha atenção tanto na produção de moda das
modelos que estavam se preparando para serem fotografadas, quanto na
maquiagem de outras e ao mesmo tempo fotografar a modelo que já estava no
cenário. Por isso, o ensaio demorou quatro horas para se realizar (uma hora a
mais do programado) e prejudicou algumas combinações de roupas que não
saíram com todos os acessórios que estavam programados para sair devido à
falta de concentração e organização, assim como a falta de tempo para
fotografar as modelos no estilo catálogo de moda. Ao fim do ensaio, foram
registradas 192 fotografias.
Pretendíamos com a escolha deste tema, a aplicação e exploração dos
aspectos referentes a metafunção interpessoal (contato, distância social,
atitude e modalidade) , ou seja, as estratégias de aproximação ou afastamento
do leitor frente à imagem (KRESS & VAN LEEUWEN, 1996). Como a
personagem feminina, a femme fatale, é forte, sedutora e com personalidade
73
dominante, decidimos, por exemplo, pela escolha do preto-e-branco para
conferir maior dramaticidade ao ensaio, conforme o aspecto modalidade, que
nos apresenta os atributos que imprimem os níveis de realidade da fotografia.
Para criarmos o sentimento de projeção no público-alvo do ensaio, escolhemos
pelo contato visual entre PR e PI, assim como o poder do PR ressaltado com o
olhar deste sendo captado pela câmera num ângulo abaixo da modelo.
Optamos também pelo envolvimento do entre PR e PI pelas poses frontais
daquele.
O segundo ensaio teve como tema ―Alegria‖. Na verdade, este foi
escolhido por uma questão prática. As coleções de primavera/verão foram
lançadas próximas à data programada para o ensaio e, aproveitando que a
tendência das roupas era formada por peças com cores bastante fortes e vivas,
o tema acabou sendo escolhido para acompanhá-las (o que facilitou a
produção de moda). Desta vez, o figurino foi fornecido por uma marca de
roupas da cidade de Caxias do Sul e os sapatos e acessórios foram
conseguidos em uma loja na cidade de Santa Maria.
Selecionamos primeiramente um salão infantil para ser o cenário das
fotografias, uma vez que pretendíamos adicionar ao ensaio um sentimento
ingênuo, acriançado e lúdico. Entretanto, tivemos dificuldade em encontrar um
espaço que dispusesse de tempo para as fotografias, portanto, outra locação
tornou-se mais adequada, o que nos poupou tempo de procura. Para continuar
a proposta da alegria e diversão, decidimos acrescentar a sensação de
liberdade às fotografias.
Achamos a locação adequada em uma cobertura de um prédio no centro
da cidade, onde a maioria do cenário presente na imagem seria o céu,
imprimindo assim, a liberdade que queríamos.
Chegado o dia do ensaio, os looks foram feitos nos modelos – um
homem e uma mulher, amigos de faculdade que se disponibilizaram
novamente para o ensaio – pela cabeleireira que prestou os serviços no ensaio
anterior. A produção de moda foi feita novamente por mim, sendo que desta
vez recebi o auxílio de outra pessoa para ajudar os modelos na troca de roupa
durante o ensaio, sem que eu me ausentasse do papel de fotógrafo.
74
A iluminação das fotografias foi natural sem o auxílio de rebatedores –
aparelho que reflete a luz, caso a sua presença natural não seja o suficiente -
ou fotômetros – ferramenta usada para medir a presença de luz, que ajuda a
medir abertura do diafragma e velocidade de obturador na máquina fotográfica.
O teste de iluminação foi feito manualmente na câmera ao tirar fotos do cenário
com o assistente no papel de modelo, e depois passadas para o computador
onde a visualização se torna melhor.
Este ensaio, em termos de produção e qualidade das fotos, superou o
ensaio anterior. Foram tiradas ao todo 162 fotos, sendo que o número de
imagens aproveitáveis ultrapassou o número do ensaio Femme Fatale. A razão
para isso foi a divisão de papéis e a presença de um assistente durante o
ensaio, que nos deu, além do período necessário, tempo adicional para a troca
de roupas e a alternância de modelos entre um look e outro.
Pretendíamos neste ensaio explorar a metafunção ideacional, que
procura retratar as experiências de mundo através da linguagem (KRESS &
VAN LEEUWEN, 1996). Para isso, procuramos uma maior interação entre os
modelos, além de fornecer objetos com os quais eles pudessem interagir,
dessa forma criando ações que pudessem ser relacionadas com as ações
transacionais e não transacionais, e das reações transacionais e não
transacionais.
Temos então todos os conceitos discutidos para a continuação do projeto:
a análise da Gramática Visual de Kress e van Leeuwen (1996), a metodologia
de trabalho para um ensaio fotográfico de moda, os conceitos de catálogo e
editorial de moda de Elliot Siegel (2008), a forma de como se deve conduzir um
grupo focal (COSTA, 2006) e o relato da concretização dos ensaios
fotográficos pertencentes a este projeto. No próximo capítulo, após a
apresentação do ensaio, teremos as melhores fotografias e posteriormente
será feita análise pela gramática do design visual a fim de comprovar as
características vistas no item 2.2, além do detalhamento do grupo focal.
75
CAPÍTULO III – O PRODUTO
Neste capítulo apresentaremos a evolução dos ensaios fotográficos
realizados neste projeto, desde a concepção dos temas propostos, a forma
como trabalhamos os elementos que compõe a foto, as ferramentas
necessárias e a maneira como as utilizamos, bem como o orçamento
necessário para a concretização do projeto.
Veremos também: a melhor maneira de escolher as fotos para compor
um editorial e um catálogo de moda de acordo com Siegel (2008), o grupo focal
realizado para observar as os efeitos de sentido produzidos pelos ensaios,
tendo como embasamento às proposições da gramática do design visual
(KRESS & VAN LEEUWEN, 1996) e os resultados obtidos.
3. PROJETO DE ENSAIO FOTOGRÁFICO
3.1 Brainstorming – o Tema do Ensaio Fotográfico
Ao longo deste trabalho foram feitos dois ensaios fotográficos com
diferentes temas. O primeiro foi realizado no dia 16 de Julho e teve como tema
a personagem Femme Fatale. O segundo foi feito nos dias 02 e 06 de Outubro,
sendo a Alegria o tema utilizado.
A ideia da utilização da Femme Fatale originou-se da minha afinidade
com os filmes A Malvada (filme estrelado por Beth Davis) e Anjo azul (cuja atriz
principal era Marlene Dietrich), onde as protagonistas incorporavam a
personagem de uma mulher forte, decidida e que iludia os homens para
conseguir o que queria. A forma como essa persona era retratada no filme
chamou minha atenção, tanto pela produção de moda – que ora ressaltava a
silhueta feminina e seus atributos, ora lembrava sutilmente à forma masculina
no corte das roupas - quanto pela fotografia que auxilia a construir tal imagem.
Para destacar a produção de moda do ensaio fotográfico, decidimos pela
escolha de um fundo infinito branco, o que dirige a atenção do leitor para o
participante representado, isto é, a modelo, desviando o olhar para outros
76
elementos cenográficos. Desta forma, o PR torna-se o único agente portador
de sentido dentro da fotografia de moda, onde os elementos materiais são as
roupas, os acessórios (sapatos, brincos, bolsas, pulseiras dentre outros),
maquiagem e penteado. Assim, o elemento físico é o próprio modelo e sua
expressão corporal e facial. Junto à produção de moda, decidiu-se pela
utilização de outros objetos cenográficos como um chicote e coleira,
proporcionando ao ensaio uma sub-tematização e sensação de
sadomasoquismo (que não interfere no tema inicial, mas o fortalece, deixando-
o mais literal) onde a mulher se torna também a protagonista deste sub-tema,
sendo aquela que domina o seu parceiro. Tanto maquiagem e cabelo foram
pensados de forma que imprimissem a sensação de algo elegante, porém
sombrio; sedutor, mas não vulgar; com linhas fortes marcantes na maquiagem
e penteados elaborados. O ensaio também foi construindo a fim de produzir a
sensação de projeção por parte do público feminino, para isso nos utilizamos
de alguns aspectos da gramática do design visual, como as categorias da
metafunção interpessoal: contato, distância social, atitude e modalidade,
conforme explicitado no item 3 do segundo capítulo.
Para o segundo ensaio escolhemos o tema ―alegria‖. Este tema partiu da
idéia de utilizar, desta vez, um cenário composto por diferentes objetos
cenográficos que ajudassem a construir a fotografia de moda. Selecionamos,
primeiramente, um salão de festas infantil, proporcionando ao ensaio uma
sensação pueril. Infelizmente não pudemos usar este espaço, tendo que optar
por outra locação que ainda pudesse atender à necessidade de imprimir o
sentimento de algo inocente, alegre e acriançado. Optamos pela cobertura de
um prédio no centro de Santa Maria, sendo que a maioria do cenário é
composta pela vista do céu aberto, seguido pela vista geral da cidade e depois
por partes do prédio.
A produção de moda foi feita a partir de roupas cedidas por uma
confecção da cidade de Caxias do Sul – Dois roupas - cuja proposta da
coleção é o uso de cores fortes, vibrantes e tons variados. Acreditamos que a
escolha por várias cores auxilia no momento de imprimir ao leitor a sensação
ingênua e divertida pela qual decidimos. A coleção também possui um corte e
77
formato de roupa que ressaltam a silhueta feminina, mas de forma não tão
marcante como a do ensaio anterior – a produção de moda do modelo
masculino foi produzida após a da modelo, atendendo às cores e formatos,
mas não foi obtida em nenhuma outra loja, mas composta a partir do acervo
pessoal deste.
Como grande parte do cenário é composta pela vista do céu,
acreditamos que, além da sensação de alegria e de diversão acriançada que
propusemos primeiramente, também poderíamos acrescentar um sub-tema de
liberdade. Para isso, pusemos como objeto cenográfico, balões de gás hélio,
com os quais os modelos puderam brincar durante o ensaio, ajudando,
inclusive, a compor poses que correspondessem com tema e sub-tema. A
maquiagem e cabelo foram feitos para que não ficassem tão marcados, mas
que lembrassem certa leveza nos rostos dos modelos.
Buscamos, neste ensaio, maior interação entre os modelos, explorando
assim a metafunção ideacional da gramática do design visual, além da
identificação do PI com o PR, e com a situação de comunicação proposta,
conforme apontados no item 3 do capítulo 2 deste projeto.
O catálogo foi produzido em cenário indoor, no mesmo estúdio onde as
fotografias do ensaio femme fatale foram produzidas. O cenário é composto por
um fundo infinito branco, sendo os modelos o ponto central de observação
destas imagens. O figurino foi o mesmo utilizado no ensaio Alegria, só que
desta vez, não quisemos ressaltar nenhuma ação ou relação entre PR‘s, e sim,
a vestimenta. Para isso, não utilizamos nenhuma maquiagem ou penteado que
pudessem desviar o foco da roupa, ou expressões corporais e faciais que fosse
muito pensadas ou elaboradas. O único elemento conector entre o ensaio
Alegria e o catálogo, que possuem o mesmo figurino, mas objetivos diferentes
(o editorial procura vender a ideia do lúdico e da diversão ao mesmo tempo em
que divulga as peças de roupas, e o catálogo procura exibir somente o
vestuário), são os balões coloridos, presentes tanto no editorial quanto no
catálogo.
Aqui, procura-se não exagerar na produção de sentido, reduzindo a
pluralidade de representações e entendimentos tanto por parte do produtor
78
quando do consumidor, ressaltando o figurino ao invés das experiências de
mundo (metafunção ideacional) e das relações entre PR e PI (metafunção
interpessoal).
3.2 Ferramentas
Para todos os ensaios produzidos neste projeto, foi utilizada a câmera
digital de 9.1 megapixels, Sony Cyber Shot DSC HX1, lentes fixas, semi-
profissional e de pequeno formato, facilitando a movimentação pelo cenário. A
câmera digital permite ao fotógrafo, também, tirar quantas fotos forem
necessárias, podendo escolher as melhores entre um grande número de fotos
no grupo final.
Para a pós-produção, isto é, a fase de correção digital das fotografias,
utilizamos a plataforma Adobe Photoshop CS3. O software permite a
manipulação da imagem para o melhoramento de possíveis defeitos que
tenham surgido, como contraste, iluminação ou até mesmo imperfeições
presentes na pele da modelo.
Para o cenário outdoor não utilizamos refletores ou medidores de luz. A
exposição à luz e o balanço de cores foram medidos tirando fotos testes antes
do início do ensaio, ajustando a abertura do diafragma – que controla a
quantidade de luz presente na imagem – e velocidade do obturador – que
define o tempo de exposição da foto à luz - e verificados na tela do computador
posteriormente.
3.3 Orçamento
Investimentos para o ensaio Femme Fatale:
- Maquiagem e cabelo
Bárbara Degrandi – Maquiadora e Cabeleireira profissional
- R$ 30,00 por pessoa.
Total: R$ 150,00.
79
- Figurino
Sem custos. As roupas, sapatos e acessórios foram cedidos por lojas somente
para o uso no ensaio, tendo que ser devolvidos no mesmo dia.
- Locação
Studio Fotográfico Bunker Media
- R$ 100, 00 / hora inicial.
- R$ 80,00 / hora adicional.
Total: R$ 420,00
Investimentos para o ensaio Alegria:
- Maquiagem e cabelo
Bárbara Degrandi – Maquiadora e Cabeleireira profissional
- R$ 30,00 por pessoa.
Total: R$ 60,00
- Figurino
Roupas cedidas pela confecção Dois Roupas.
- Locação
Para o editorial não foi preciso nenhum gasto para a utilização da cobertura do
prédio no centro da cidade.
Quanto ao catálogo, utilizamos o mesmo estúdio (Studio Bunker Media), sendo
que desta vez não foi preciso pagar pelo preço integral da hora inicial, pelo
pouco tempo gasto no ensaio.
Studio Fotográfico Bunker Media
Total: R$ 50,00
4. PRODUTO – Amostra e Seleção de Fotos Para a Composição Final do
Projeto
Para a seleção das fotografias para o arranjo final, devem-se levar em
conta alguns aspectos quanto à composição dos elementos presentes na
80
imagem. Para Siegel (2008, pg.116), uma boa foto é composta pela atitude
correta por parte do modelo e onde a produção de moda apareça em boas
condições.
De acordo com o autor (SIEGEL, 2008, p.116) as expressões corporais
e faciais do modelo não podem parecer estranhas ao leitor, como uma foto em
que o modelo foi fotografado no exato momento em que piscava ou então
aparece com alguma parte do corpo ausente na imagem. Junto às expressões,
deve-se pensar na produção de moda. A roupa, peça principal do ensaio
fotográfico, não pode aparecer torcida ou mal posicionada, como um colar que
se movimentou e é fotografado no lugar incorreto, ou uma jaqueta que parece
amassada.
Sendo assim, selecionamos as fotografias que melhor representavam
em termos de produção de moda, expressão corporal e facial do modelo e que
produzissem o sentido correto proposto pelo ensaio, oito fotografias para o
ensaio Femme Fatale, seis fotografias para o editorial de moda Alegria e seis
fotografias para o catálogo de moda Alegria. As imagens se encontram anexas
na parte final deste projeto.
4.1 Avaliação do Produto Final
4.1.1 Grupo Focal
O grupo focal deste projeto foi realizado a fim de verificar as
conceituações propostas na gramática do design visual, quando relacionadas à
fotografia de moda, mais especificamente quanto ao editorial e ao catálogo de
moda, observando se os efeitos de sentido propostos por nós, no momento da
realização das imagens correspondiam àqueles percebidos pelo público
receptor.
Sabemos que, de acordo com Barthes (2009), o cenário da fotografia de
moda é um mundo único e diferente. Apesar de utilizar de elementos da vida
real, ela de forma alguma representa um momento cotidiano, mas uma cena
festiva, um motivo para transformar o banal em motivo de comemoração. Esse
mundo de moda diferencia-se do mundo retratado na fotografia publicitária e
81
jornalística. Logo, a pesquisa aqui realizada procura perceber as sutis
diferenças entre os diferentes mundos, a partir do entendimento do cenário de
moda, investigando a relação deste com os participantes interativos.
O grupo focal foi feito com seis entrevistados, consumidores de produtos
de moda e que possuem pouco ou médio conhecimento sobre editoriais e
catálogos. Todos são, também, acadêmicos do curso de comunicação social e
com conhecimento razoável sobre fotografia e fotografia publicitária. A razão
desta escolha foi porque não queríamos sujeitar os entrevistados a um produto
ao qual eles nunca haviam consumido, visto ou conheciam a natureza.
4.1.2 Resultados
Para o grupo focal, selecionamos algumas imagens do corpus primário e
algumas fotografias dos ensaios feitos para este projeto (totalizando trinta
fotos, sendo onze daquele grupo e dezenove deste), para serem apresentadas.
No momento da realização do grupo, mostramos as fotografias e entregamos o
questionário, que deveria ser respondido pelas participantes, que estiveram
livres para interagir entre elas durante o preenchimento. Optamos por
apresentar tanto as fotografias por nós produzidas, quanto àquelas que
constituíam nosso corpus primário, pois assim teríamos parâmetros de
comparação para a verificação da qualidade, ou não de nossas fotografias e de
nossas pretensões com estas.
Em um primeiro momento procuramos entender a percepção dos
participantes quanto à diferenciação entre editorial e catálogo de moda,
exibindo as fotografias que compõe o corpus primário. As expressões catálogo
e editorial não foram ditas por nós em nenhum momento durante a pesquisa,
sendo que o único fato conhecido é de que se tratava de fotografias de moda.
Dessa forma, pedimos aos entrevistados que observassem as fotos notando
suas características principais (levando em conta o cenário, cores presentes,
expressões corporais, faciais, planos e ângulos de câmera), e que dividissem,
posteriormente, em grupos, de acordo com tais peculiaridades. Deixamos claro,
também, que os grupos de imagens não precisavam ter um número definido de
fotos.
82
Os entrevistados separaram então, as imagens em três grupos distintos,
sendo estes: conceitual, interativo e mercadológico, categorias definidas pelas
próprias participantes. Quando perguntados o porquê da divisão, os
participantes alegaram que as fotos da categoria conceitual, apresentam como
característica principal certa subjetividade na sua composição, como se fossem
mais fotografias artísticas do que imagens de moda. Disseram também que
todas as imagens procuram não vender necessariamente uma peça de roupa,
mas uma idéia, um conceito, uma maneira de ver o mundo.
As fotografias da categoria interativa foram consideradas, em termos de
composição, semelhantes as das fotos conceituais, com a única diferença
residindo na presença de dois participantes representados. Para os
entrevistados, o fato de haver mais de um modelo na foto, aproxima a imagem
um pouco mais da realidade, como se a foto fosse visivelmente arranjada, mas
que ainda assim representasse uma cena mais normal ou cotidiana, menos
forjada.
Quanto à categoria mercadológica, os participantes da entrevista
disseram que foram as únicas imagens que apresentavam um papel claro de
venda. A não-presença de um cenário foi o primeiro aspecto levado em
consideração, como se o objeto principal a ser visto fosse somente a modelo.
Na verdade, uma das entrevistadas afirmou que, ao ver a participante
representada, o primeiro elemento que ela observa é a produção de beleza
(maquiagem e penteado), seguidas pelos acessórios e depois a roupa. Ou
seja, o olhar da entrevistada percorreu todos os outros elementos antes de
chegar a roupa, o que reforça o fato de que a presença destes detalhes desvia
a atenção do leitor da roupa (momentaneamente) e a direciona para outros
elementos.
Quando perguntadas sobre uma possível comparação entre as
fotografias pertencentes ao grupo conceitual e ao grupo mercadológico, as
participantes disseram que este último grupo possui imagens direcionadas
estritamente para a venda, enquanto aquelas pareciam ter saído de uma
revista de moda, que se preocupa somente em divulgar um estilo ou tendência.
De fato, as fotografias pertencentes às categorias criadas ―conceitual‖ e
―interativa‖, foram constituídas pelas participantes do grupo por fotografias
83
retiradas de revistas de moda e, portanto, são editoriais de moda, concordando
com a observação das entrevistadas em dizer que o papel principal daquelas
fotografias não é a venda explícita do produto, mas da idéia que o cerca.
Após a utilização das fotos do corpus primário, pedimos às entrevistadas
que repetissem o mesmo procedimento, isto é, dividissem as imagens em
categorias que elas mesmas pudessem criar, levando em consideração as
características principais, mas dessa vez com as imagens obtidas através do
ensaio deste projeto experimental.
As fotos foram separadas por elas, primeiramente, de acordo com a
composição óbvia e visível que estas tem: a do ensaio Femme Fatale foram as
primeiras a serem agrupadas por não possuírem cores; as do ensaio Alegria
foram separadas pelo alto nível de cores e pela presença de um cenário
complexo como fundo; as do catálogo Alegria foram separadas pela cor –
presente somente na roupa dos modelos – e pela cor branca homogênea do
fundo infinito. A divisão feita pelas participantes foi exata e nenhuma foto foi
trocada do seu grupo original.
Após tal divisão, as participantes foram requisitadas a nomear os grupos
de acordo com as suas opiniões referentes à composição das imagens,
desconsiderando as categorias anteriormente criadas pelo primeiro grupo de
fotografias. Durante este processo de seleção feito pelas participantes, uma
discussão tomou lugar sobre qual a finalidade básica de cada grupo de
fotografias, sendo esta então a peça-chave para a separação em categorias.
As fotos do catálogo Alegria foram consideradas como imagens
semelhantes aos catálogos de roupas de lojas de departamento, que se
preocupam principalmente em vender a roupa, sendo o ponto principal.
Quando questionadas sobre uma comparação entre o catálogo e as fotos
restantes do ensaio Alegria, as entrevistadas não haviam percebido que o
figurino utilizado era o mesmo. Isto porque, de acordo com elas, o cenário
―rouba‖ a atenção do olhar, sendo o primeiro elemento a ser percebido quando
a foto apresenta algum tipo de cena na sua composição, deixando a roupa
como o último aspecto a ser considerado.
84
Quanto às categorias, as entrevistadas não encontraram palavras exatas
para descrever alguma divisão. Entretanto, puderam salientar as
características, dizendo a finalidade de cada grupo. As fotos do ensaio Femme
Fatale foram consideradas como editoriais de revistas de moda, pela ausência
de cores, pelo trato da modelo com a maquiagem e cabelos altamente
elaborados, e pelo fato de não haver um cenário, o que, aparentemente, afasta
as imagens da realidade. O editorial Alegria foi considerado semelhante ao
editorial Femme Fatale, pelas únicas diferenças entre cenário e da interação
entre um modelo e outro. Apesar do ensaio preto-e-branco (Femme Fatale)
também ter a presença de vários modelos, a atitude com que estes se
relacionam dentro da imagem, no editorial Alegria, tornou-se fator fundamental
na hora da separação pelas entrevistadas. Pela aproximação aparente dos dois
participantes representados, pela maquiagem e cabelo pouco elaborados e
pela situação de diversão e amizade como tema, estas imagens apresentam-se
pouco mais próximas da realidade. Mesmo sendo considerado um ensaio com
um conceito pré-definido, a situação cotidiana remete ao fato de que assim, é
mais ―normal‖, mais alcançável ou passível de ser vivido.
Num segundo momento, as entrevistadas foram submetidas a um
questionário de sete perguntas, das quais duas foram abertas, quatro foram
questões de múltipla escolha e uma com escala medidora. A primeira pergunta
pedia às entrevistadas que definissem em apenas uma frase as figuras 20 e
21:
85
Figura 20
Figura 21
Podemos inferir que as respostas indicaram que a primeira foto
ressaltava uma sensação de proximidade entre PI e PR, onde a ligação entre
os dois ocorria pela relação entre os personagens da fotografia (ação
transacional unidirecional), pelas cores presentes na imagem (níveis de
realidade) e pela sensação de ―cotidiano‖, normalidade e descontração. Ao
contrário da primeira fotografia, as respostas mostraram que a personagem
não tinha a intenção de vender a roupa, mas que esta vendia a si própria sendo
somente vestido pela modelo.
86
A segunda questão solicitava que as fotos 22, 23 e 24 fossem
classificadas numa escala entre um a cinco, sendo 1 indicando o número
máximo de fantasia e 5 o número máximo de realidade (modalidade):
Figura 22
Figura 23
87
Figura 24
A fotografia 23 foi considerada a imagem com o maior nível de realidade,
isso porque possui como característica principal a presença de um cenário
complexo. Apesar de ser obviamente um ensaio montado, a presença de
elementos cenográficos situam tanto o participante representado quanto o
participante interativo em um determinado espaço. Por exemplo, na mesma
imagem vemos a modelo segurando uma muda de árvore, o carrinho-de-mão
cheio de produtos agrícolas e com outras flores em uma bandeja, além de
outras ferramentas posicionadas e um carro no fundo da fotografia. Todos
estes elementos na fotografia permitem situar os dois participantes (PI e PR)
em uma localidade, ainda que em um nível imaginário, ou seja, em um
ambiente criado pelo leitor e que se melhor adéqüe a ideia que ele possui ao
observar a fotografia. Sabemos que a modelo em um determinado momento
poderá utilizar todas aquelas ferramentas e tem um propósito definido.
A fotografia 22 foi avaliada como a imagem menos real. Esta não possui
um cenário como a figura anterior, tendo somente o fundo branco infinito como
cena. A imagem é ausente de coloração, sendo que o preto e branco aumenta
a sensação de dramaticidade, além de transportar o PI para outro tempo. A
expressão facial dos personagens que é ressaltado pelo plano utilizado, traz o
olhar do PI diretamente para a modelo (que realiza contato com o leitor pelo
mesmo nível de olhar), uma vez que o personagem masculino, além de não
estar num ângulo frontal, também a observa, ou seja, não faz contato visual
88
com o PR. Sendo assim, a personagem feminina se torna o centro da
fotografia, o que também é ressaltada pela atitude presente na foto e a ação
que se desenrola: ela tem o controle do outro rapaz pela coleira e pela corrente
que usa nas mãos.
A fotografia 24 tem a mesma personagem feminina, mas duplicada,
sendo que cada imagem a modelo usa um figurino diferente. Esta figura foi
classificada em um nível mediano de realidade. As expressões corporais e
faciais da personagem procuram criar contato com o participante interativo,
uma vez que o nível dos olhares é o mesmo e o ângulo em que a modelo se
encontra é frontal, como se dissesse ―nós fazemos parte do mesmo mundo‖. A
maquiagem e o penteado também não são muito elaborados e, lembrando uma
observação da tarefa anterior do grupo focal, essas características aproximam
PI e PR, por retratar uma personagem que parece viver em um mundo mais
―normal‖, mais simples, cujas roupas são usáveis em qualquer ocasião.
A figuras 22 e 23 são editorias de moda e, apesar de pertencerem ao
mesmo estilo, foram postos em pontos extremos da escala Fantasia-Realidade.
Isso se deve ao fato de que o cenário aparece então, como um dos fatores
determinantes que apontam a realidade de uma fotografia. Isto é, se
considerarmos o aspecto da modalidade da gramática do design visual, vemos
que a diferença entre cenário complexo e cenário simples, ainda que num
mesmo estilo, diferem totalmente duas fotografias.
A questão número três tratava do aspecto Contato, da metafunção
interpessoal (KRESS e VAN LEEUWEN, 1996). As entrevistadas foram
requisitadas a escolher entre duas fotografia, 25 e 26 (sendo que em uma o PR
oferecia algo ao PI e em outra o PR pedia algo do leitor) e as escolhesse entre
duas opções: o modelo oferece algo ou pede por algo.
89
Figura 25 Demanda
Figura 26 Oferta
Somente duas das seis participantes responderam que a personagem
que mantinha contato visual com o leitor pedia por alguma coisa, ou seja, as
outras entrevistadas consideraram a Figura 26 como aquela que o PR pede
algo do PI. Na verdade, a Figura 25 é o exemplo de demanda e a Figura 26 se
refere à oferta. O motivo deste resultado baseia-se no fato de que as leitoras
levaram em consideração não somente o nível do olhar, mas expressão facial
da modelo (na Figura 25 a modelo parece estar negligenciando o leitor); esta
sim define a relação que se estabelece entre PR e PI. Ou seja, apesar da
gramática do design visual afirmar que a aproximação entre modelo e leitor
ocorre do contato visual ou não, as feições do modelo também interferem nesta
relação. Algumas das participantes também escolheram por não selecionar
90
uma das duas respostas, mas fizeram ressalvas ao lado das questões,
apontando justamente a expressão de negligência da modelo.
A questão número quatro obteve um resultado semelhante ao da
questão anterior. As respostas foram variadas e três das seis entrevistadas não
souberam encaixar as fotos nas categorias propostas. As Figuras 27, 28 e 29
foram arranjadas quanto ao aspecto da Distância Social da gramática, de
modo que as entrevistadas pudessem avaliar o nível de intimidade que
possuíam com cada participante representada. Apesar dos planos
representados fossem visualmente diferentes, novamente a expressão facial foi
crucial na identificação de um contato estabelecido ou não pelo PR. Na
verdade, a Figura 27, apesar da PR não estabelecer contato com o PI, o plano
da fotografia (close-up) sugere uma intimidade entre os participantes; a Figura
28, possui um plano médio (que apresenta um corte da cintura de modelo para
cima), que podemos inferir que o PR é somente amigo do PI; A figura 29
apresenta o plano mais aberto de todas as três, ou seja, pretendia representar
a longa distância entre os participantes, conferindo um ar de formalidade, como
se os dois fossem somente conhecidos.
Figura 27
91
Figura 28
Figura 29
A quinta questão do grupo focal tratava sobre o aspecto da Atitude do
PR com relação ao PI. Sobre este aspecto, as respostas foram unânimes
quanto à relação entre leitor e modelo.
92
Figura 30
Figura 31
Na Figura 30, um editorial de moda, não mostrava a modelo fitando a
câmera, sendo que esta estava com o corpo virado para o lado contrário;
enquanto a outra fotografia mostrava a personagem olhando diretamente para
a câmera, com o corpo também em ângulo frontal. Isto é, de acordo com a
gramática do design visual (KRESS & VAN LEEUWEN, 1996), quando o PR
apresenta-se de frente ao PI, aquele procura se envolver com este. Quando se
encontra em ângulo oblíquo, ou seja, não está virado de frente para o PI, ele
não procura se relacionar com o leitor.
Também quanto ao aspecto da Atitude, a questão número seis discute
sobre a relação de poder que acontece entre PR e PI. Exibimos três fotos 32,
93
33 e 34 sendo que cada uma estabelecia uma específica relação de poder
entre os participantes:
Figura 32
Figura 33
94
Figura 34
A Figura 32 apresentava o PR como superior ao PI; a Figura 33
apresentava o PR como inferior ao PI; e a Figura 34 mostrava uma relação de
igualdade entre leitor e modelo. Quatro das seis entrevistadas consideraram a
foto A como aquela que representava a modelo como superior a elas. Quando
a Figura 34, todas responderam que se consideravam iguais a personagem,
quando, na verdade, a foto exibida tinha a modelo com o olhar dirigido para
cima, o que representa a sensação de inferioridade por parte do PR. Mais uma
vez, podemos dizer que, mesmo considerando as teorias da gramática do
design visual, muitas vezes as relações que se encontram entre PR e PI
dependem de outros fatores.
Acredito que os resultados obtidos através do grupo focal refletem de
maneira positiva a reação dos leitores de moda com relação às fotografias.
Apesar de algumas questões apresentarem problemas de formulação, foram as
ressalvas feitas pelas entrevistadas que revelaram a maior contribuição desta
pesquisa. Mesmo que as metafunções e seus referentes aspectos representem
uma determinada característica de relação (entre PR‘s ou entre estes e os
PI‘s), existem outros elementos que interferem na apreensão do efeito de
sentido pretendido. Estes elementos devem ser considerados na construção da
fotografia, pois são eles que podem perturbar na análise do produto de moda.
Conforme Barthes nos explica (apud PERUZZOLO, 2004, p.49) as imagens
(como discurso e produto cultural) apresentam uma pluralidade de sentidos,
95
tanto no momento em que são produzidas como no momento em que são
consumidas.
96
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Consideramos ao longo do trabalho diversas teorias que serviram de
base para a evolução do entendimento acerca da construção da fotografia de
moda, mais especificamente os estilos de editorial e catálogo de moda. Para
apreender a fotografia de moda, primeiro foi preciso conhecer o mundo ao qual
esta pertence. Em um primeiro momento, na revisão de literatura, nos servimos
das experiências de mercado e dos conhecimentos da história da moda sob a
visão de Jones (2005), das considerações de Palomino (2002) sobre o
comportamento que as pessoas tem frente ao uso do produto desta indústria,
da efemeridade e da moda como fenômeno de consumo moderno a partir do
estudo de Lipovetskty (1997) e, finalmente, das considerações de Barthes
(2005,2009) sobre a semiótica da fotografia de moda.
Em um segundo momento, após nos situarmos a respeito da indústria da
moda, partimos para o entendimento mais aprofundado da fotografia de moda
e das suas características e peculiaridades. Siegel (2008) nos ensina termos
técnicos deste tipo de imagem, além de nos elucidar sobre a diferença base
entre catálogo e editorial de moda (a finalidade de venda de roupas específicas
de uma marca daquele e da divulgação de um estilo de moda deste).
A partir de Barthes (2009) e da diferenciação entre os três vestuários –
vestuário real, vestuário escrito e vestuário-imagem – é que pudemos dar uma
fundação maior para o estudo que esta pesquisa propõe. O autor tem como
objeto de estudo o que ele chame de vestuário escrito; a moda entendida pela
linguagem e presente nas revistas, que nos fala de moda e somente disto, sem
a presença de qualquer outro valor. Barthes (2009) nos diz também, que o
vestuário-imagem (a roupa representada iconicamente seja por uma fotografia
ou gravura), do qual ele não usa como objeto em seus estudos, carrega um
valor indissociável e que, por tal razão, considera-o problemático quando
analisado. Entretanto, a presença de tal valor é a justificativa para este projeto
experimental. A imagem de moda retrata um mundo que busca representar a
realidade, mas que se aproxima do mundo real somente pela presença de
elementos cenográficos ou da forma como a modelo é também representada;
97
além disso, a conexão que se faz entre participantes representados e
participantes interativos gera uma série de significações que podem ser
diferentemente interpretadas.
No tópico seguinte, chegamos às teorias que possibilitam a elucidação
do valor anteriormente falado (presença de elementos cenográficos e a
representação da modelo) e também que nos auxiliam na análise tanto do
corpus primário quanto do produto obtido aqui neste projeto: a gramática do
design visual (KRESS, VAN LEEUWEN, 1996). Na gramática, são descritas
três metafunções que descrevem as relações constituídas entre participantes
representados (representações icônicas da modelo ou objeto) e participantes
interativos (leitores, observadores).
O editorial de moda, como busca a divulgação de um estilo ou tendência
de moda, não procura, necessariamente, a conexão entre PR e PI, e sim
oferece ao leitor uma oportunidade de entender o que o ensaio quer imprimir.
Ou seja, a roupa não é o centro de atenção deste estilo fotográfico.
Obviamente, sem o figurino a fotografia de moda perde sua razão de
existência, mas isso não quer dizer que as roupas precisam ser o objeto
principal do editorial. Diferentemente do catálogo de moda que possui uma
função mercadológica específica: este procura vender determinadas peças de
roupas pertencentes a uma marca. Dessa forma, as roupas precisam ser o
principal elemento a ser representado na fotografia. O que justifica algumas
vezes - como vimos em imagens do corpus primário - o corte que a imagem
apresenta no rosto do PR e, dessa forma, o olhar não aparece na figura. De
acordo com Kress e Van Leeuwen (1996) sobre o aspecto do contato – quando
o PR estabelece conexão visual com o PI – a modelo, quando olha diretamente
ao PI, procura se relacionar com este. Dessa forma, se os olhos do PR não
aparecem, o objeto principal na fotografia acaba se tornando as roupas e os
acessórios utilizados para compor a produção de moda.
Da mesma forma que, de acordo com a metafunção ideacional, as ações
transacionais bidirecionais são mais comuns em editoriais do que em
catálogos. Neste último, não é usual a utilização de dois PR‘s na mesma
imagem, tampouco que estabeleçam alguma conexão entre os níveis de
olhares.
98
No capítulo seguinte, vimos a explicação da metodologia, além da
preparação e das ferramentas necessárias para a realização de um ensaio.
Acredito que aprendi muito sobre fotografia de moda. Mesmo seguindo as
recomendações de Siegel (2008) sobre como fotografar, penso que somente
ao vivenciar a experiência podemos nos adaptar e criar nosso próprio ritmo e
algumas tarefas e atitudes que criamos porque nos serve melhor para a
situação. Muitas vezes ao fotografar, tiramos as fotos instintivamente sem
pensar no layout ou na composição da imagem. Possuindo o conhecimento
adquirido conforme o desenvolvimento do trabalho, a maneira como
escolhemos os elementos cenográficos além, claro, dos modelos, torna-se
mais fácil e lógica de acordo com a finalidade do ensaio. Se escolhermos por
um editorial de moda, não precisamos evidenciar alguns detalhes. Se vamos
criar um catálogo de moda, precisamos dirigir nossa atenção para outras
particularidades. Sendo assim, atitude em um set se torna mais séria e
concentrada, além de facilitar o trabalho da equipe envolvida.
Feito o ensaio, selecionamos as melhores fotos e pusemos a um grupo
focal para comprovarmos as teorias estudadas nos capítulos anteriores.
Pudemos observar, novamente, que assim como toda forma fotográfica, a
fotografia de moda não podia ser diferente. Nossa principal descoberta baseia-
se no fato de que, apesar das relações existirem ao analisarmos as imagens,
quando postas a investigação por outras pessoas, vemos que estas podem nos
dar detalhes que até mesmo a gramática do design visual não considera nos
seus estudos. Olhando exclusivamente qualquer aspecto das metafunções,
acabamos por desconsiderar outros elementos que interferem na análise. A
maioria das respostas obtidas no grupo focal nos diz que tanto a expressão
corporal e facial do participante representado são mais decisivas do que linhas
de olhar ou vetores de ação. Obviamente, não há de se desconsiderar a
gramática, mas considero essa observação como uma contribuição a estes
estudos imagéticos.
A partir dos ensaios produzidos, vimos que, os sentidos que
pretendíamos imprimir foram atingidos mesmo com as observações feitas pelas
entrevistadas no grupo focal. Tanto o ensaio Femme Fatale (que buscava o
sentimento de projeção pela parte do PI) quanto o ensaio Alegria (que buscava
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pelo contato entre PR e PI) foram considerados pelas participantes como
editoriais de revistas de moda. Bem como o catálogo Alegria, que teve sua
finalidade econômica e comercial apontada logo de início.
Assim como um texto verbal, não devemos lê-lo por parte e inferir algum
sentido; temos que entendê-lo por completo, apreendendo todas as suas
partes, dessa forma obteremos o sentido (ou pelo menos grande parte deste)
da forma como ele foi imaginado pelo produtor.
Assim, vimos que a fotografia de moda possui particularidades na sua
construção, e que até mesmo os seus diferentes estilos tem formas de
representação distintas. Agregadas à gramática visual então, observamos a
presença de outros valores que interferem na análise da imagem. Sendo
assim, temos as ferramentas necessárias para a formulação tanto de um
editorial de moda quanto de um catálogo.
100
REFERÊNCIAS
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BRANDINI, Valéria. Território do Luxo: As Cercas e Pontes da Moda.
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COSTA, Maria Eugênia Belczack. Método e técnica de pesquisa em
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101
SIEGEL, Eliot. Fashion Photography Course. Principles, practice and
techniques: na essential guide. 2008, London, Barron‘s Educational Series, Inc. SILVEIRA, Ada Cristina Machado da Silveira, PERUZZOLO, Adair
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Disponível em: < http://www.webartigos.com/articles/2862/1/Vamos-Falar-De-Moda/pagina1.html>. Acessado em 06 de Julho, 2010.
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ANEXOS
Anexo A - CD com a compilação de fotos dos ensaios Femme Fatale,
Alegria e Catálogo Alegria.