Post on 25-Jul-2015
WILLIAM CELSO DE REZENDE – 1051946
História
A IGREJA CATÓLICA COMO COMUNIDADE DISTINTA DE CRISTÃOS, A HIERARQUIA EPISCOPAL E O PRIMADO DO
BISPO DE ROMA NO CRISTIANISMO PRÉ-NICÊNICO
Orientador: Prof. Ms. Reginaldo de Oliveira Pereira
Centro Universitário Claretiano.
SÃO PAULO
2012
A IGREJA CATÓLICA COMO COMUNIDADE DISTINTA DE CRISTÃOS, A HIERARQUIA EPISCOPAL E O PRIMADO DO BISPO DE ROMA NO CRISTIANISMO PRÉ-NICÊNICO
Resumo – O presente trabalho pretende, através de uma extensa análise bibliográfica de textos contemporâneos ao período estudado e de especialistas posteriores, mostrar que os cristãos primitivos não se confundiam em uma massa homogênea de fiéis, mas que havia já nos dois primeiros séculos grupos heterogêneos de cristãos e que um desses grupos, que mais tarde será identificado com a Igreja Católica, possuía doutrinas e características bastante distintas dos demais, sendo as mais relevantes para o nosso artigo a manutenção de uma hierarquia episcopal, que teria sua razão de ser na origem apostólica, e o reconhecimento tácito ou explícito da autoridade suprema do bispo de Roma no comando da Igreja.
Palavras-chave: Igreja, cristãos, Roma, bispo, hierarquia.
O ecumenismo tem sido uma das grandes temáticas da Igreja Católica neste período
posterior ao Concílio Vaticano II. Desde então, a Igreja tem procurado dialogar com as outras
comunidades cristãs, buscando aprofundar, através de um enriquecimento mútuo de tradições
distintas, os elementos que são comuns entre a Igreja romana e as outras denominações
cristãs. No entanto, o diálogo ecumênico não pode ser dissimulado e ignorar as profundas
diferenças que separam os cristãos entre si desde o cisma do Oriente, em 1054, e da revolução
protestante, já no século XVI. É preciso buscar no passado o momento exato as causas e
consequências do florescimento das divergências.
É verdade que a Sé romana tem buscado não apenas dialogar com as igrejas cristãs
separadas, mas também com as religiões não cristãs, o que se denomina de diálogo inter-
religioso, e até mesmo com os ateus, através da recente criação do "Átrio dos gentios".
Entretanto, o foco da Igreja tem sido o diálogo com as outras igrejas cristãs, a fim de que se
estabeleça aquela unidade desejada por Cristo e que, desde os primeiros séculos, tem sido
perturbada por causa da incompreensão dos homens sobre determinados pontos da Reveleção.
Os frutos do diálogo ecumênico podem ser claramente observados no retorno à
comunhão com Roma de grande número de anglicanos, luteranos e outros.
O acúmulo de bens ao longo dos séculos por parte da Igreja Católica, a sua
proximidade com os poderes temporais e a rígida hierarquia eclesiástica sempre fizeram
levantar muitas vozes de protesto. Estas vozes, na verdade, objetivavam recuperar a pureza da
igreja primitiva, onde vigorava a pobreza absoluta, a total separação da igreja em relação ao
Estado e uma espécie de "comunismo religioso", onde todos os crentes eram chamados a fazer
parte do grande "sacerdócio universal dos fiéis", não havendo nenhuma estrutura hierárquica
para elevar uns, e submeter outros.
Foi esta igreja primitiva que muitos reformadores buscavam; não a igreja primitiva
real, com seus problemas muito similares aos contemporâneos, mas uma igreja primitiva
idealizada que poderia servir como arma histórica para solucionar os problemas
contemporâneos pelos quais passava (passa, e passará) a cristandade. Se outrora podíamos
alegar que os pais da Reforma tomaram as posições que tomaram devido à falta de
informações precisas e o desconhecimento de documentos e fatos que apenas seriam
revelados séculos mais tarde, atualmente seus herdeiros possuem meios privilegiados para
alcançar aquilo que no passado era inatingível.
O resgate de documentos importantes dos três primeiros séculos de cristianismo
somado às descobertas arqueológicas vêm mostrar-nos que a igreja que sucedeu
imediatamente aos apóstolos não era uma comunidade perfeita. Pelo contrário, tinha seus
problemas e também ela teve de assistir dolorosamente a terríveis deserções. Também ela
sentia dúvidas, mesmo em relação à doutrina, e também ela teve de se reunir diversas vezes
para tratar de resolver os pontos polêmicos.
Mas, afinal quem eram estes "cristãos primitivos" e como se organizavam? Mostrar
que a Igreja primitiva era uma igreja que buscava, antes de qualquer coisa, a unidade, que
estava sustentada por uma hierarquia tão rígida quanto a atual, e que atendia pelo nome de
"católica", de modo algum dificulta o diálogo; mas pode abrir caminhos importantes para o
diálogo ecumênico e para o possível retorno à unidade (que nunca na história do cristianismo
fora perfeita) daqueles que se dizem seguidores do Crucificado, pois a compreensão de que
todos os cristãos são oriundos de uma mesma tradição que remonta aos tempos apostólicos,
mas que por diversas razões se perdeu em algumas comunidades, devolverá a todos os
cristãos uma identidade comum, que será uma ferramenta valiosíssima para que os cristãos
possam, unidos, continuar contribuindo, como já têm feito por dois mil anos, para o
desenvolvimento humano e social.
Destarte, conforme pudemos observar, se há algo que serve de fermento para que haja
o surgimento de um número cada vez maior de comunidades cristãs, este é, sem dúvida, o
ideal de “igreja primitiva”. Desde o século dezesseis, os protestantes buscam fundamentar a
sua doutrina (seja ela luterana, calvinista, batista, pentecostal e outras) no cristianismo
praticado pelos apóstolos e pelos primeiros convertidos. É da negação da catolicidade, da
hierarquia e da primazia do bispo de Roma na igreja primitiva que as comunidades
reformadas vão cunhar novos nomes para si mesmas, bem como novas formas de governo
para se autogerirem.
Quando se fala de cristianismo primitivo, tem-se a sensação de se observar uma massa
homogênea que vivia, pregava e cria de uma mesma maneira. Uma massa que seria anônima e
não hierarquizada. Baseados nestes “pré-conceitos”, que não passam de meras idealizações
fantasiosas, muitos tentam empurrar o nascimento da Igreja Católica para um longínquo
século IV, tornando-a, não raras vezes, um mero instrumento de poder e controle criado pelo
imperador Constantino. Aliás, a própria criação de uma igreja hierarquizada, aliada ao Estado
e supostamente amalgamando em sua doutrina elementos do paganismo, seria, na realidade,
uma forte deturpação do verdadeiro espírito cristão. Destarte, a noção de um episcopado
monárquico sustentado na sucessão apostólica e o primado do bispo de Roma seriam tão
somente elaborações tardias de algumas autoridades políticas e religiosas. Para a sustentação
desta tese, levanta-se a hipótese de que nos séculos que antecedem o Concílio de Nicéia,
ocorrido em 325, não se encontram elementos suficientemente claros para se comprovar: a
existência da “Igreja Católica” no período pré-nicênico; que o apóstolo Pedro esteve em
Roma; que ele exerceu alguma função de comando entre os primitivos cristãos; que havia na
igreja primitiva uma sucessão episcopal hierárquica; e, por fim, que o bispo de Roma gozava
de prerrogativas especiais em relação aos bispos de outras comunidades. Contudo, estes
posicionamentos não se sustentam ao serem confrontados com a pesquisa histórica recente,
com relatos, bíblicos ou não, legados pelos cristãos dos três primeiros séculos, e com as
descobertas arqueológicas.
É verdade que Constantino exerceu um papel importante para a história do
cristianismo, mas quando o imperador, no ano 313, concedeu liberdade de culto aos cristãos
através do Edito de Milão (FUNARI, 2007, p. 131), de modo algum criava ele uma religião
novel e menos ainda tratava de hierarquizar um cristianismo tricentenário, tornando-o, assim,
inflexível e extinguindo, por longos séculos, uma fictícia religião que guardava em si, como
traço original, uma espécie de comunismo em estado embrionário. Na verdade, os cristãos já
estavam organizados antes de Constantino, “com uma estrutura hierárquica bem definida”
(FUNARI, 2007, p. 131).
Seria também interessante salientar que o cristianismo já estava bastante difundido
naquele mundo conhecido nos três primeiros séculos, conforme podemos ver no mapa a
seguir:
(ROPS, 1988, p. 318)
Esta vasta dispersão não nos deve criar a ilusão de que as comunidades cristãs
espalhadas pelo orbe agissem de maneira completamente independente umas em relação às
outras, pois se há uma hierarquia em cada comunidade, o que nos permite entrever uma
relativa autonomia, há também um forte senso de identidade que faz com que todos os
cristãos do mundo inteiro se sintam membros de um mesmo grupo de fiéis que possuem
essencialmente a mesma fé e estão regidos pelos mesmos princípios.
Cada uma [das comunidades] tem a sua cabeça, o seu clero, os seus
membros, a sua organização econômica, as suas obras sociais e até,
em grande medida, os seus costumes e a sua liturgia próprios. Mas
esta autonomia tem a seu lado um elemento que a equilibra e lhe dá o
seu verdadeiro sentido: acima das igrejas, há a Igreja. (ROPS, 1988,
p.227. Itálicos do autor)
A estrutura hierárquica de que nos fala Funari (2007, p. 131), e que pode ser deduzida
do texto bíblico de Atos 15, encontra sua razão de ser apenas sob os auspícios de uma
sucessão apostólica. Afinal, se retrocedermos até o primeiro século, perceberemos que
homens que usufruíam de grande carisma diante das comunidades cristãs, como Paulo de
Tarso, buscavam basear a doutrina que ensinavam naquilo que era predicado dos que haviam
exaurido o seu conhecimento acerca da religião nascente da boca do próprio Jesus (cf. Gálatas
2, 7 – 9). Isso acontecia porque
(...) ela [a Igreja] precisava ter sua própria hierarquia, realizando e
supervisionando os ofícios religiosos, orientando quanto às questões
de dogma, executando obras sociais, combatendo o paganismo. A
concentração de todas essas atividades nas mãos de apenas alguns
cristãos era aceita com naturalidade pelo conjunto dos fiéis, já que tal
poder lhes fora atribuído pela própria Divindade: segundo o texto
bíblico, Cristo dera autoridade aos apóstolos para expelir demônios,
curar doenças e difundir sua doutrina. Os apóstolos, por sua vez,
transmitiram esse poder aos bispos, isto é, os anciãos da comunidade,
que fizeram o mesmo com seus auxiliares. (JÚNIOR, 2006, p.68)
Também o historiador eclesiástico Daniel-Rops afirma existir uma sólida hierarquia no
cristianismo primitivo que conta em seus quadros com diáconos e presbíteros, mas salienta
que
Acima de todos, dominando toda a comunidade e rodeado de uma
veneração imensa, o bispo exerce um poder muito grande. À medida
que a Igreja se desenvolve e se organiza, as dioceses decalcam a
largas traços o sistema imperial das “cidades”, e em cada sede fixa-se
uma dinastia episcopal cuja lista a comunidade guardará
piedosamente. Designado, segundo parece, de comum acordo por
todos os membros da Igreja local (...), o bispo é sagrado com uma
solenidade sem igual. Investido de um caráter que o coloca acima de
qualquer outro fiel, torna-se o verdadeiro líder, a encarnação do
princípio de autoridade, o pastor. (1988, p. 231. Itálico do autor)
Rops afirma ainda que já no fim do século II a organização eclesiástica está concluída
(1988, p. 233). Com estas citações, vemos que se pode, desde o primeiro século do
cristianismo, falar de hierarquia e de Igreja.
Mas seria possível que os cristãos destes primeiros séculos acrescentassem algum
adjetivo ao vago substantivo “igreja” sob o qual se escondiam inúmeras doutrinas tão
distantes entre si? Inácio de Antioquia, bispo da cidade de Antioquia que viveu entre o fim do
primeiro século e início do segundo, ao escrever uma carta aos cristãos de Esmirna, declara
que: "Onde comparecer o Bispo, aí esteja a multidão, do mesmo modo que, onde estiver
Cristo Jesus, aí está a Igreja Católica" (ROBERTS e DONALDSON, 1867, p. 249). Vale
destacar, contudo, que a palavra católica, de origem grega, significa universal ou tendendo
para o todo. Os membros da primitiva comunidade cristã presente em várias partes do mundo
denominavam-se católicos, pois, apesar das diferenças contingentes, reconheciam que eram
depositários de uma fé essencialmente comum.
Portanto, do fato de Inácio escrever à comunidade de Esmirna utilizando a expressão
“Igreja Católica”, podemos deduzir três coisas: em primeiro lugar, pelo contexto não parece
que o autor esteja introduzindo um conceito novo, que soasse completamente estranho aos
destinatários, o que nos leva a crer que as comunidades cristãs já se viam como católicas, isto
é, espalhadas pelo mundo (universais), mas sustentadas por uma tradição comum, o que se
depreende do fato de um bispo de uma cidade escrever aos cristãos de outra para exortar e
aconselhar; em segundo lugar, o acréscimo do adjetivo “católico” à palavra “igreja” pode ser
visto como um esforço para diferenciar as comunidades daqueles que mantinham um
posicionamento doutrinário semelhante daquelas que destoavam, a olhos vistos, daquilo que
haviam ensinado os enviados de Cristo, como já acontecia, por exemplo, com os seguidores
de Simão Mago; e finalmente, o autor, ao traçar um paralelo entre o Bispo e Cristo, coloca
aquele em uma posição privilegiada em relação aos demais fiéis, os quais, conforme
constatado acima por Hilário Franco Júnior, viam esta superioridade de forma natural (2006,
p.68).
De fato as diversas igrejas cristãs não formavam um todo homogêneo, quando falamos
de cristianismo primitivo, devemos estar cientes da existência de diversas doutrinas e
comunidades que, embora pretendessem se passar por genuinamente cristãs, haviam diluído
elementos gnósticos e esotéricos dentro da doutrina propagada pelos primeiros cristãos. Daí
Clemente de Alexandria, em fins do século II, na obra Stromata, nomear diversas correntes
heréticas presentes em seu tempo e que queriam se passar por cristãs: marcionistas,
encratistas, valentinianos, docetistas e outros (ROBERTS e DONALDSON, 1869, pp. 487-
488). Clemente chama-as de “assembléias humanas”, contrapondo-as assim à origem divina
da Igreja Católica, e afirma que todas aquelas “assembléias humanas” são posteriores à Igreja.
(ROBERTS e DONALDSON, 1869, p. 486).
Contudo, poder-se-ia ainda sugerir que o cristianismo incipiente, embora pudesse ser
designado de católico (isto é, universal) e enfaixasse as igrejas locais dentro de uma
hierarquia que culminava na supremacia da figura do bispo, não havia tido a pretensão de que
um dos bispos se destacasse dos demais no governo da igreja, ou seja, cada bispo seria
soberano em sua comunidade. No entanto, alguns testemunhos e acontecimentos dos
primeiros séculos de fé cristã tornam difícil a defesa destes argumentos.
Irineu de Lião, em sua obra Adversus haereses, composta por volta do ano 180, além
de diferenciar as comunidades que surgiam espontaneamente, ou seja, que não possuíam
qualquer ligação com os apóstolos, daquelas outras que haviam surgido graças ao
estabelecimento de bispos pelos próprios apóstolos, destaca a primazia da Igreja presente em
Roma sobre as demais comunidades católicas,
pois com esta Igreja, por causa de sua origem mais digna, toda igreja
tem que estar em concordância, isto é, todos os fiéis, de onde quer que
procedam; nela sempre foi conservada pelos fiéis de todo o orbe a
tradição que remonta aos apóstolos (apud DROBNER, 2008, p. 127)
Ademais, as comunidades surgidas em tempos posteriores aos dos apóstolos ou de
modo independente destes, viam na Igreja presente em Roma uma forma de se legitimarem.
Neste sentido, Romag afirma que elas “procuravam, antes de mais nada, a comunhão com
Roma, convencidos, de que esta comunhão equivalia à comunhão com a Igreja universal”
(1949, p. 99).
Mas, qual seria a origem desta supremacia em relação às outras comunidades? A
resposta seria: a presença dos apóstolos Pedro e Paulo e seus martírios ocorridos na Cidade
Eterna. Que Paulo esteve em Roma, parece ter sempre sido ponto pacífico, mas a presença do
apóstolo Pedro foi objeto de controvérsias. No entanto, para Bilhmeyer e Tuechle, “a negação
desta tese, ditada no passado por preconceitos confessionais ou críticos, foi reduzida ao
silêncio, com exceção de poucas vozes isoladas” (1963, p. 63). Este silêncio fora provocado
não apenas pelos documentos fornecidos pelo período estudado que atestam, implícita ou
explicitamente, a estadia e o martírio do Príncipe dos Apóstolos na Urbe, mas também por
descobertas arqueológicas recentes e pelas difíceis condições sob as quais se construiu a
primeira Basílica de São Pedro, no Vaticano, que apenas poderiam ser justificadas pela
presença do túmulo do pescador da Galiléia (LLORCA; GARCIA-VILLOSLADA;
MONTALBAN, 1955, p.72).
O próprio Irineu de Lião, citado alhures, após destacar a primazia da Igreja de Roma,
traça a lista dos bispos de Roma até os seus dias, e, encabeçando a lista, encontra-se o
apóstolo Pedro (DROBNER, 2008, p. 127).
Alguns acontecimentos também parecem sugerir o primado da Igreja de Roma.
Quando os bispos de Roma Clemente, Vítor, Estevão e Dionísio, em circunstâncias diversas,
respectivamente, pedem paz à comunidade de Corinto, repreendem os fiéis da Ásia acerca da
Páscoa, proíbem a repetição da administração do batismo e pedem contas ao bispo de
Alexandria acerca de possíveis declarações heterodoxas, podemos vislumbrar alguns dos
elementos que nos permitem concluir que o bispo de Roma possuía um status extraordinário
em relação aos outros membros do episcopado (BIHLMEYER e TUECHLE, 1963, pp.115-
116).
No entanto, devemos estar cientes de que o primado da Igreja de Roma e,
conseqüentemente, de seu bispo, não se manifestou imediatamente, mas de modo “orgânico e
segundo as necessidades do tempo” (BIHLMEYER e TUECHLE, 1963, p.115), embora uma
doutrina do primado tenha começado a ser estabelecida a partir do século III (BIHLMEYER e
TUECHLE, 1963, p.117).
A compreensão dessas realidades da Igreja pré-nicênica, a sua catolicidade e a
primazia do bispo de Roma, nos permite traçar uma linha ininterrupta que conduz o
catolicismo dos tempos atuais até os tempos apostólicos. Entender as características do
cristianismo primitivo nos permite avaliar mais claramente o desenvolvimento do cristianismo
nos séculos posteriores, além de abrir espaços para um diálogo ecumênico verdadeiro, que
não esteja ofuscado por desconfianças recíprocas, e que possa conduzir a todos os cristãos a
realizarem aquele desejo de Jesus de que “todos sejam um” (João 17, 21).
CONCLUSÃO
Nosso trabalho não buscou compreender os cristãos primitivos sob todos os aspectos,
visto que ainda haveria muito a se tratar, sobretudo no que se refere às divergências
doutrinárias entre os grupos de cristãos nos três primeiros séculos. Limitamo-nos a
compreender os primitivos cristãos no que se refere à catolicidade (ou universalidade) de
doutrina de uma comunidade que já se reconhecia como “católica”, ou seja, universal; à
estruturação hierárquica que, conforme demonstramos, já existia na igreja primitiva; e, por
fim, ao papel de proeminência desempenhado pelo bispo de Roma em relação aos cristãos do
mundo inteiro.
Para aquilo que este trabalho não abordou é fundamental que se recorra às fontes das
letras do cristianismo primitivo. É na Patrística (principalmente nos padres apostólicos, nos
apócrifos e nos apologistas) que encontraremos uma série de dados que nos permitirão
compreender melhor as realidades do cristianismo primitivo.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
BILHMEYER, K.; TUECHLE, H. História da Igreja. São Paulo: Paulinas, 1964.
DANIEL-ROPS, Henri. A igreja dos apóstolos e dos mártires. São Paulo, Quadrante, 1988.
DROBNER, H. Manual de Patrologia. Petrópolis: Vozes, 2008.
FRANCO JÚNIOR, H. A Idade Média: nascimento do ocidente. São Paulo: Brasiliense, 2006.
FUNARI, P. P. Grécia e Roma. São Paulo: Contexto, 2007.
LE GOFF, J. A civilização do ocidente medieval. Bauru: Edusc, 2005.
LENZENWEGER, J. História da Igreja Católica. São Paulo: Loyola, 2006.
LLORCA, B. História de la Iglesia Católica. Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos, 1955.
PIERRARD, P. História da Igreja. São Paulo: Paulus, 1982.
RATZINGER, J. Compreender a Igreja hoje: vocação para a comunhão. Petrópolis: Vozes, 2006.
ROBERTS, A.; DONALDSON, J. Ante-Nicene Christian Library: translations of the writings of the fathers down to A.D. 325. Edinburgh: T & T Clark, 1867.
ROMAG, D. Compêndio de história da Igreja. Petrópolis: Vozes, 1949.