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A LOGÍSTICA APLICADA NA FABRICAÇÃO DE
AEROGERADORES e o papel do gestor na melhoria dos
indicadores de desempenho envolvendo a sua cadeia de
suprimentos
BRUNO BRITO (FATEC BAIXADA SANTISTA)
brunobritooo@hotmail.com
DANIEL EVARISTO (FATEC BAIXADA SANTISTA)
daniel_evaristo@hotmail.com
MURILO PALOS (FATEC BAIXADA SANTISTA)
mtpalos@hotmail.com
HELCIO PIRES (FATEC BAIXADA SANTISTA)
helciojpj@gmail.com
WAGNER BASTOS (FATEC BAIXADA SANTISTA)
wagnerbts@yahoo,com.br
RESUMO A energia eólica é vista com interesse por organizações e corporações como a solução para os problemas
de fornecimento de energia no futuro. Essas empresas, com destaque mundial, necessitam de medições
de desempenho e indicadores para a melhoria de resultados e mensurar custos dessas operações ,
fornecendo uma base para a gestão da cadeia logística. O presente trabalho busca fazer uma pesquisa
sobre a cadeia de suprimentos dos aerogeradores (geradores movidos pela ação dos ventos) e demonstrar
a importância da gestão baseada nos indicadores de eficiência para o melhor resultado das operações.
Pesquisas essas feitas em fontes bibliográficas, pesquisas de campo e buscas em materiais acadêmicos
produzidos em fontes digitais. Com o intuito de, após fazer uma análise dos resultados obtidos, propor
soluções que levem a uma melhor competitividade em níveis de eficiência energética e logística, com
isso, reduzindo os custos de fabricação.
PALAVRAS-CHAVE: Aerogeradores; Cadeia de suprimentos; Energia eólica
ABSTRACT
Wind energy is viewed with interest by organizations and corporations as the solution to energy supply
problems in the future. These world-leading companies require performance measures and indicators to
improve results and measure costs of these operations, providing a basis for logistics chain management.
The present work seeks to do a research on the supply chain of the wind generators (wind generators)
and demonstrate the importance of the management based on the efficiency indicators for the best result
of the operations. Researches done in bibliographical sources, field researches and searches in academic
materials produced in digital sources. With the purpose of analyzing the results obtained, we propose
solutions that lead to a better competitiveness in levels of energy efficiency and logistics, thus reducing
manufacturing costs.
KEYWORDS: Wind turbines; supply chain; Wind power
1. INTRODUÇÃO
Esta pesquisa tem como objetivo, demonstrar a viabilidade do uso da energia eólica no país,
demonstrando os processos envolvidos em sua cadeia de suprimentos. As mudanças que
ocorreram no setor elétrico brasileiro (privatizações) resultaram em novos modos de
contratação e implantação de grandes empreendimentos de energia (ABDI Apud XAVIER,
2004).
Atualmente com o desenvolvimento sustentável, surge a ideia de buscar novas formas de
energia, para o mundo. E este trabalho é importante para mostrar o quanto o Brasil é necessário
para o grande desenvolvimento da energia eólica no mundo, e o quanto o país está se inserindo
neste ramo de energias renováveis.
A medição de desempenho em mercados competitivos é uma ação necessária para todos os
envolvidos que almejam posição de destaque. O desempenho quantifica os resultados das ações
tomadas, definindo a liderança e permanência no mercado globalizado. Os indicadores de
desempenho são desenvolvidos e utilizados visando definir metas operacionais das empresas,
direcionando as melhorias necessárias a consecução dos objetivos financeiros e organizacionais
(KARDEC et al.,2002; NEELY,1998).
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Por culpa do alto custo de fabricação dos aerogeradores, iremos estudar a cadeia de suprimentos
dos mesmos, assim chegaremos a uma provável solução para diminuir estes custos, melhorando
a competitividade da energia eólica.
Segundo BALLOU (2006), o gerenciamento da cadeia de suprimentos destaca as interações
logísticas que ocorrem entre as funções de marketing, logística e produção no âmbito de uma
empresa, e dessas mesmas interações entre as empresas legalmente separadas no âmbito do
canal de fluxo de produtos.
A cadeia de suprimentos é um conjunto de atividades funcionais (transportes, controle de
estoques, etc) que se repetem inúmeras vezes ao longo do canal pelo qual matérias-primas vão
sendo convertidas em produtos acabados, as quais se agrega valor ao consumidor
(BALLOU,2006).
As decisões de projeto da cadeia de suprimento são normalmente tomadas pensando-se a longo
prazo e sua alteração repentina é muito cara. Consequentemente, quando essas empresas tomam
essas decisões, devem levar em consideração a incerteza por anteciparem as condições do
mercado em anos vindouros (CHOPRA, 2003).
A pesquisa apresenta a cadeia de suprimentos das seis principais empresas fabricantes de
aerogeradores no Brasil. Além do aerogerador, considerado o responsável por 60% do custo de
um parque eólico (com capacidade unitária de 1,5 a 3 Mw) , temos ainda os itens de
infraestrutura, como fundações e os equipamentos necessários para conectar à rede elétrica, tais
como transformadores, subestação, cabos e inversores.
Segundo Ocacia (2002), empresas e organizações assumem ,cada vez mais, seu interesse na
energia eólica como investimento e solução para os problemas energéticos do futuro. Alguns
países europeus começaram a investor pesado na tecnologia e a construer grandes complexos.
Na Alemanha são gerados 30 GW de energia com suas turbinas, mais do que o dobro da
capacidade de Itaipu que responde por 24% da demanda brasileira (Burgos, 2007). Segundo o
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), afirmou que os investimentos
globais em energia verde renováveis subiram 17% em 2014, que foram de US$ 270 bilhões em
2014.
Entretanto, a viabilidade econômica dos investimentos esbarra na distribuição geográfica, que
deve considerar velocidade do vento, acidentes topográficos, árvores, construções e grandes
áreas para a implantação dos parques eólicos.
Após a crise de petróleo, ocorrida na década de 70, vários países foram obrigados a buscar
energias alternativas, a procurar segurança no fornecimento e a redução da dependência de
combustíveis fósseis. Aproximadamente 97% da energia consumida no planeta provêm dos
hidrocarbonetos, sendo de conhecimento de todos que as reservas de combustíveis fósseis são
finitas e diminuem na proporção inversa do aumento do consumo mundial. Atualmente, a
repercussão em torno de questões ambientais sobre o uso dos combustíveis fósseis e as
implicações danosas do efeito estufa sobre o planeta intensificaram as buscas por alterrnativas
de energia limpa e sustentável. Entre elas, a energia eólica, que se tornou destaque nas ultimas
décadas com seu avanço tecnológico.
A energia eólica é renovável, portanto, é limpa (não emite CO2); não se esgota; sendo imune a
variação de preços ou importação de combustíveis; instalações modulares e rápidas que se
interligam à rede podendo suprir grandes demandas com facilidade de expansão.
Tem algumas desvantagens: elevado investimento inicial e não é totalmente livre de alguns
impactos ambientais pois os parques eólicos e seus aerogeradores são muito grandes e o ruído
gerado pela sua rotação impede que as populações residam próximo à esses parques (distância
minima de 300m). Em contrapartida, tem-se investido na adaptação das turbinas eólicas para o
uso no mar, contribuindo assim, para um menor impacto ambiental.
Além disso, com os avanços tecnológicos , a tendência é a diminuição dos custos de
implantação, com novos materiais com maior durabilidade e maior eficiência energética.
A energia eólica pode ser considerada uma energia que provém indiretamente do Sol, pois os
ventos surgem do aquecimento diferenciado e não uniforme da atmosfera, creditado a direção
dos raios solares e aos movimentos da Terra. Por esse motivo, a energia eólica seria
fundamental para complementar o abastecimento já existente, em situações críticas de queda
do fornecimento provido de hidrelétricas em épocas de secas e altas temperaturas. Visto que o
período com o maior incidência de ventos é justamente quando ocorre menos chuvas e
predomina o clima seco.
Segundo Marranghello (2004), o Brasil se encontra em situação cômoda pois 80% de sua
geração de eletricidade se dá por hidrelétricas mas, é preocupante a disponibillidade de novas
hidrelétricas que, além de estarem longe dos centros consumidores, também causam muitos
danos ambientais por meio de suas inundações e na construção de suas linhas de transmissão.
Portanto, negligencia-se o desenvolvimento de energias renováveis descentralizadas.
3. CADEIA DE SUPRIMENTOS
O aerogerador em sua cadeia de suprimentos é constituído pelos seguintes componentes
básicos:
Torre: Responsável por 20 a 25% dos custos dos aerogeradores. Nos parques eólicos instalados
no Brasil são mais comuns as torres cônicas de aço e as híbridas. Recentemente as torres de
concreto vêm ganhando espaço no mercado brasileiro;
Rotor: Compreende as pás, sendo três por aerogerador, com perfis aerodinâmicos nas medidas
de 30 a 70 metros de comprimento e 10 toneladas cada. Fabricados em resina epóxi ou poliéster
com fibra de vidro ou carbono e representa 22% dos custos do aerogerador. As pás são fixadas
em uma estrutura metálica à frente do nacele denominada cubo. Com massa de 7 a 20 toneladas,
o cubo é uma peça de ferro fundido, com rolamentos que fixam as pás, mecanismos e motores
que ajustam o ângulo de ataque das pás. Construído com alta precisão de fundição e usinagem
e formado com liga de alta resistência, sendo seu custo de aproximadamente 1,4% do custo do
aerogerador.
Nacele: É a carcaça montada sobre a torre que abriga uma série de componentes e
subcomponentes como: eixo, gerador, caixa multiplicadora, transformador, sistema de Yaw,
etc.
O eixo principal, construído em aço ou liga metálica de alta resistência, é o responsável pelo
acionamento do gerador, transferindo a energia mecânica da turbina.
O gerador transforma a energia mecânica de rotação em energia elétrica, que necessita de
conversores de frequência, retificadores e inversores. Juntamente ao transformador, que eleva
a tensão do gerador ao mesmo valor da tensão da rede elétrica a qual está conectado.
O Sistema de Yaw tem a função de alinhar a turbina com o vento. Compreende um motor
elétrico que gira a Nacele sobre a torre com o auxílio de um rolamento e engrenagens para o
ajuste da velocidade de giro.
A caixa multiplicadora localiza-se entre o rotor e o gerador, de forma a adaptar a baixa rotação
do rotor à velocidade de rotação mais elevada do gerador. Exige uma manutenção intensiva
pois representa uma fonte de possíveis defeitos. Portanto, exige um sistema hidráulico com
bombas, trocadores de calor e sistemas de comando para lubrificação e refrigeração.
A visão única de árvore do produto é dificultada pelas diferentes tecnologias usadas pelos
fabricantes e também pelas diferentes sistemáticas de compras e nomenclaturas utilizadas.
3.1. Gestão da Cadeia de Suprimentos
O gerenciamento da cadeia de suprimentos é um conjunto de métodos que são usados para
proporcionar uma melhor integração e uma melhor gestão de todos os parâmetros da
rede: transportes, estoques, custos, etc. Esses parâmetros estão presentes nos fornecedores, na
sua própria empresa e finalmente nos clientes. A gestão adequada da rede permite uma
produção otimizada para oferecer ao cliente final o produto certo, na quantidade certa.
Vários níveis de planejamento devem ser considerados: estratégico, tático e operacional. Trata-
se de conhecer sua própria rede de distribuição já existente com os controles de estoques sendo
utilizados e de iniciar uma primeira estratégia de coordenação da entrega dos produtos, iniciada
antes mesmo da fabricação dos mesmos. Além disso, devem-se utilizar os modelos de tomada
de decisão baseados em programação linear e modelos de transporte, que tornam mais
evidentes os custos e as interdependências entre as etapas
3.1.1. Modelo de Cadeia de Suprimentos
Todo modelo de gestão de cadeia de suprimentos deve incluir maneiras de melhorar a eficiência
– o ganho de rendimento – das atividades seguintes:
Previsão e planejamento do equilíbrio entre oferta e demanda;
Localização de fornecedores de matérias-primas;
Fabricação do produto;
Armazenagem do produto;
Entrega do produto;
Devolução do produto pelo cliente, caso necessário;
Feedback através do serviço de atendimento ao cliente e melhoria do processo, onde necessário.
3.1.2. Planejamento logístico
O planejamento logístico ajudará a reduzir os custos de produção, a velocidade de entrega de
seu produto e a responder rapidamente aos pedidos de seus clientes. Além disso, simplificará o
gerenciamento de seus itens de fornecimento, o seu inventário e seus custos.
Veja onde o planejamento logístico deve ser aplicado:
Logística de entrada (inbound): fluxo de matérias-primas entregues à sua empresa para entrar
no processo produtivo;
Logística interna: circulação das matérias-primas, dos produtos sendo fabricados e dos produtos
acabados dentro de sua empresa;
Logística externa (outbound): transporte dos produtos acabados (envolvendo embalagem,
expedição, manutenção e transporte).
3.1.3. Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos
Muitos parâmetros são levados em conta para melhorar a cadeia de abastecimento e reduzir os
custos:
– Reduzir o número de fornecedores, assim se consegue uma relação próxima, uma parceria;
– Reduzir o número de terceirizados, para alcançar o mesmo objetivo;
– Para os produtos acabados, estabelecer canais de distribuição e gestão partilhada de estoques,
assim clientes e fornecedores compartilham custos, lucros e riscos;
– Antecipar a escassez através de históricos e boas previsões de demanda – e ajustar os estoques
adequadamente.
3.2. Manufatura
Os fornecedores da cadeia são normalmente focados em um determinado componente
essencial. Um fabricante de aerogeradores trabalha com dois ou três fornecedores, portanto,
não dependendo de um único fornecedor. São comuns contratos ou acordos de longo prazo de
forma a garantir o fornecimento e de alta qualidade.
A etapa de manufatura está na verdade relacionada à montagem do cubo do rotor e da nacele
do aerogerador, pois os grandes componentes como a torre e pá são adquiridos ou
subcontratados de terceiros, que fazem a montagem final diretamente no parque eólico, com a
instalação da torre e posterior acoplamento da nacele e do rotor.
As empresas que projetam e montam os aerogeradores (cubo e nacele) são conhecidas como
OEMs (Original Equipment Manufacturers). Algumas OEMs são multinacionais envolvidas em
diversos negócios (GE, Alstom e Siemens). Outras são específicas do setor (Wobben/Enercon
e Vestas).
A terceirização dos componentes é uma forma de reduzir a necessidade de capital e ter acesso
a tecnologias de produção específicas, além de minimizar gastos logísticos, como é o caso das
pás e torres, cuja fabricação local próximo ao parque eólico contribui para a redução dos custos.
Para garantir o suprimento de componentes e controlar custos, algumas OEMs tem participação
acionária ou estabelecem alianças com seus fornecedores em caráter estratégico.
3.3. Parques Eólicos
Os proprietários de parques eólicos detêm a concessão para exploração da energia por períodos
geralmente de 20 a 35 anos, conforme o contrato e possíveis aditivos. São as empresas
responsáveis pela produção (ou geração) de energia eólica. Tendem a ser o centro da cadeia
produtiva, centralizando todas as decisões e serviços necessários para a implantação do parque.
As mudanças que ocorreram no setor elétrico brasileiro (privatizações) resultaram em novos
modos de contratação e implantação de grandes empreendimentos de energia (ABDI Apud
XAVIER, 2004) e em alterações significativas no perfil dos proprietários dos
empreendimentos. Anteriormente os proprietários eram empresas estatais do próprio setor de
energia elétrica e, atualmente, há agentes econômicos diversos, tais como: bancos,
eletrointensivos, construtoras, fundos de pensão, empresas de energia elétrica privadas, etc.
(PORTO, 2007).
Observa-se também um crescente interesse de grandes empresas, como as do setor automotivo,
em serem proprietárias de parques eólicos, e desta maneira suprirem parte da energia consumida
por suas fábricas, dentro do conceito de autoprodução e em ambiente de mercado livre. Neste
caso, a energia gerada pelo parque eólico é injetada no SIN e a empresa pode utilizar um volume
equivalente em sua fábrica.
3.4. Uso Final
Como etapa final da cadeia produtiva, pode ser considerado o estágio de distribuição de energia.
O sistema de distribuição de energia elétrica no Brasil é regulado por resoluções da Agência
Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), as quais se orientam pelas diretrizes estabelecidas nas
leis aprovadas pelo Congresso Nacional e nos decretos estabelecidos pelo Executivo Federal.
No início dos anos 2000, antes da privatização do setor, não havia separação dos negócios entre
geração e transmissão e distribuição. Hoje as distribuidoras são independentes e responsáveis
pela conexão e pelo atendimento ao consumidor do ambiente regulado (PORTAL, 2015). O
setor privado é responsável por cerca de 70% da energia distribuída no País, ficando os restantes
30% com empresas públicas, municipais, estaduais e federais (ANEEL, 2015).
4. RELATÓRIO LOGÍSTICO DE FABRICANTES
De modo a facilitar o entendimento, a identificação dos fabricantes nacionais de partes e
componentes da cadeia eólica pode ser distribuída e organizada por segmentos que compõem
um aerogerador. Assim, os itens e seus respectivos fabricantes que compõem a cadeia produtiva
de bens e serviços: fornecedores de aerogerador (montadoras ou O&Ms); fabricantes de grandes
componentes – fabricantes de torres e fabricantes de pás; fabricantes de subcomponentes e
insumos para torres; fabricantes de subcomponentes e insumos para o rotor – pás e cubo; e
fabricantes de subcomponentes da nacele.
4.1. Fornecedores de Aerogerador (montadoras)
Os fornecedores de aerogeradores são em sua essência montadoras, pois podem receber
componentes fabricados por outras empresas e realizar apenas a sua integração. A integração
total do aerogerador acontece diretamente no parque eólico, pois somente neste momento a
torre, o cubo, as pás e a nacele são acoplados. A atividade destas empresas, caracterizada como
manufatura, está então associada à montagem da nacele e do cubo do rotor.
Cabe ressaltar que no Brasil, até pouco tempo, era comum a importação praticamente total da
nacele e do cubo por parte das montadoras. O critério do FINAME para obtenção de
financiamento das máquinas exigia um mínimo de conteúdo local da ordem de 60%, o que era
atendido basicamente com a fabricação nacional apenas das pás e torres e complementada com
outros poucos itens. Em dezembro de 2012, porém, o BNDES aprovou uma “metodologia
específica para credenciamento e apuração do conteúdo local para aerogeradores”,
estabelecendo metas físicas, divididas em etapas, que devem ser cumpridas pelos fabricantes
de acordo com um cronograma previamente estabelecido. A iniciativa visa aumentar
gradativamente o conteúdo local dos aerogeradores, por meio da fabricação no País de
componentes com alto conteúdo tecnológico e uso intensivo de mão de obra. Novos modelos
de aerogeradores somente podem ser credenciados com base nesta nova metodologia. Para que
sejam habilitadas a ingressar na nova metodologia, as montadoras devem então executar as
etapas mínimas de fabricação estabelecidas no marco inicial, fixado em 1º de janeiro de 2013,
e firmar um “Termo de Responsabilidade” para cada modelo de aerogerador a ser credenciado
(BNDES,2015). Estas etapas mínimas envolvem, entre outras coisas, a montagem do cubo
(hub) e da nacele no Brasil, em unidade própria.
4.1.1. Fabricantes de Torre
As torres, por suas grandes dimensões (e massa), além do alto impacto no custo do aerogerador,
eram preferencialmente adquiridas de fabricantes locais ou fabricadas localmente em unidades
próprias das montadoras. A nova regra do BNDES passou a exigir, inicialmente, a fabricação
das torres no País, com pelo menos 70% em peso das chapas de aço fabricadas no Brasil ou
concreto armado de procedência nacional. Gradativamente esta exigência é acrescida de outras
como o uso de elementos internos e percentual de forjados (flanges) de procedência nacional.
As chapas de aço laminado constituem a estrutura básica da torre cônica, fabricada no Brasil
pela USIMINAS, que detêm o monopólio sobre o aço, com custos 30% superiores ao aço de
procedência chinesa ou coreana. Visto que a torre representa 25% do custo do aerogerador, o
uso desse material nacional impacta nos custos dos componentes feitos de aço do aerogerador,
com consequências no custo final do mesmo, diminuindo a competitividade da indústria
nacional.
Um item de grande exigência são tintas de proteção anticorrosiva das torres, que devem resistir
de 15 a 20 anos, em ambientes agressivos. O processo de pintura é considerado um gargalo na
fabricação da torre devido grande volume de tinta necessário, chegando a 1,500 litros por torre,
em três camadas, que levam até cinco horas na secagem entre uma camada e outra, impedindo
a montagem dos elementos internos até sua total secagem.
4.1.2. Fabricantes de Pás
As pás, como as torres, são componentes de grandes dimensões e de significativa
representatividade no custo de um aerogerador (cerca de 20%) e, desta forma, também eram
preferencialmente adquiridas de fabricantes locais. Como a nova metodologia do BNDES
passou a exigir a fabricação de pás no Brasil, em unidade própria ou de terceiros com 60% de
nacionalização, para fins de financiamento, esta preferência foi ainda mais reforçada.Com
exceção das resinas e malhas de fibra de vidro e de fibra de carbono que são importadas pois,
o Brasil não dispõe de fornecedores habilitados com essa tecnologia de fabricação dedicada a
pás eólicas. Constituindo assim, o risco de depender de poucos fornecedores especializados
nesse insumo importado.
4.1.3. Fabricantes de Cubo e Rotor
Devido a algumas montadoras que tem configurações mais robustas, com cubos maiores, para
modelos de porte maior de aerogeradores, tem-se uma dificuldade logística devido as
dificuldades de locomoção dessas peças, que pesam de 3 a 18 toneladas e, que precisam enviar
às empresas de usinagem e estas às empresas de pintura, por vezes, localizadas em outras
cidades, aumentando consideravelmente o tempo de produção.
4.1.4 Fabricante de Componentes da Nacele
A exigência da montagem da Nacele (carenagem) no Brasil e nacionalização dos elementos
estruturais e de um mínimo de subcomponentes confere certa flexibilidade às montadoras, que
podem defini-los com base em suas estratégias tecnológicas. Como consequência, empresas
estrangeiras fornecedoras globais estão sendo atraídas ao país e fornecedores locais estão sendo
desenvolvidos.
A capacidade de fornecimento de aerogeradores, depende da concentração de pedidos, em
determinados períodos do ano, podendo resultar na incapacidade de atender a toda a demanda.
As torres de aço, por suas grandes dimensões e custo, são produzidas na fase de instalação,
sendo enviadas ao parque logo após a sua fabricação. As torres de concreto são fabricadas
diretamente no parque eólico, limitando o atendimento simultâneo em outras localidades.
Diversos fornecedores de componentes e serviços associados à sua fabricação vêm recebendo
pedidos sazonais, muitas vezes com prazos curtos de entrega, o que acaba comprometendo
preços e volumes no curto prazo.
4.2 Pólos de Produção
Verifica-se a existência de dois grandes polos de produção de componentes: Nordeste, com os
estados da Bahia, Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte; outro no Sudeste e Sul, com São
Paulo Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.
São considerados Arranjos Produtivos Locais (APLs) as aglomerações de empresas localizadas
em uma mesma localidade e que apresentam especialização produtiva e mantenham vínculos
de articulação, interação, cooperação e aprendizagem entre si e com outros atores locais como
governo, associações empresariais, instituições de crédito, ensino e pesquisa. As empresas
podem ser desde produtoras de bens e serviços finais até fornecedoras de insumos e
equipamentos, prestadoras de consultoria e serviços, comercializadoras, clientes, entre outros
(ABDI Apud MDIC,2014).
Conforme o observado anteriormente, a escolha da localidade para a instalação das fabricas de
componentes seguiu diferentes motivações como a proximidade aos parques eólicos,
proximidade da cadeia produtiva ou condições de infraestrutura nestas regiões, visando a
redução de custos logísticos para entrega de componentes, considerando as condições relativas
a portos e rodovias e ao significativo impacto econômico dos incentivos dos governos estaduais.
A questão logística é muito importante para as fábricas de pás pois a proximidade com os portos
é de muita importância, devido as grandes dimensões das pás, que chegam a ter 60 metros de
comprimento e seu transporte rodoviário é de alta complexidade sendo que o meio modal
marítimo é a preferência. Visto que a maioria dos parques eólicos se localizam em regiões
litorâneas.
O caso das torres é idêntico, pois as torres são manufaturadas em unidade montada dentro do
parque eólico, devido ao elevado peso de seus pré-moldados, portanto, o transporte rodoviário
se torna inviável. São unidades modulares, móveis que são transportadas de parque em parque.
No caso de torres de aço, se verifica que, por aproveitamento de unidades existentes, e de outro,
a lógica de proximidade de parques e portos.
Apesar do interesse das montadoras em estarem próximas a portos, a maior parte do transporte
dos componentes é feita pelo modal rodoviário. A proximidade aos portos facilita o recebimento
de itens importados e o transporte de grandes componentes como pás, torres e a nacele do
Nordeste para o Sul e, também, para a exportação. Um grande entrave para a logística dentro
do país é a falta de navios especializados que façam o serviço de transporte marítimo de
cabotagem confiável e competitivo para as “cargas de projeto” ou cargas de grandes dimensões.
Atualmente há apenas uma empresa habilitada a operar com navio com esta característica
própria para a eólica.
Fazendo a comparação com o transporte rodoviário, a cabotagem reduz drasticamente o tempo
de viagem. O transporte de uma pá do Porto de Santos para Fortaleza, por via rodoviária levaria
50 dias, enquanto que por via marítima demandaria no máximo seis dias.
As montadoras apontam dificuldades com a infraestrutura dos portos brasileiros e seu elevado
custo de operação. No modal rodoviário, a legislação exige licenças e uso de caminhões
especiais para o transporte de produtos com peso ou dimensões acima dos limites determinados.
Somando a dificuldade de ter que percorrer longas distâncias em estradas ruins resultam em
custos de fretes elevados, onerando o valor do aerogerador. Essas dificuldades logísticas
incentivam a localização dos fornecedores próximos aos parques. Da mesma forma, seria
interessante a instalação de subfornecedores próximas a essas empresas principais.
5. SISTEMA DE MEDIÇÃO DE DESEMPENHO
Os sistemas de medição de representam a atividade sistemática e contínua de quantificar e
avaliar a eficiência, a eficácia e a efetividade de uma empresa, dos processos internos de
negócio, de um grupo de indivíduos ou de um indivíduo isolado, através de indicadores de
desempenho previamente formulados (LEBAS, 1995).
Os sistemas de medição de desempenho não são entidades estáticas dentro da organização, desta
forma, se faz necessário a reavaliação de seus parâmetros para que a ferramenta acompanhe as
mudanças ocorridas nas configurações e estratégias da organização, a capacidade e velocidade
de adaptação as novas demandas são características fundamentais para utilização efetiva desta
ferramenta (NEELY, 1998).
5.1. O Software ARENA®
Uma das mais importantes ferramentas na medição de desempenho encontra-se em um software
dedicado a fazer simulações virtuais, recriando situações reais, que buscam estabelecer modelos
onde se testam várias configurações possíveis até se chegar a um resultado esperado.
O Software Arena foi criado em 1993 pela empresa americana Systems Modeling e foi
incorporado pela empresa Rockwell Software em 1998. O Arena® “visualiza o sistema a ser
modelado como constituído de um conjunto de estações de trabalho que contém um ou mais
recursos que prestam serviços a clientes (também chamados de entidades ou transações), que
se movem através do sistema” (PRADO, 2014)
Através do Arena, é possível apontar todos os envolvidos em um processo de acordo com a
situação a ser analisada, identificar em qual parte deste processo há um gargalo e assim gerar
um cenário otimizado com base no relatório que o sistema gera. Para isso, é necessário inserir
etapas do processo, números que expressam quantidade e tempo: funcionários, maquinário,
veículo transportador, jornada de trabalho, quantidade de produtos e processos de fabricação
são alguns exemplos que podem ser inseridos no software.
6. RESULTADO E DISCUSSÃO
Entre as razões para a não aquisição de componentes no mercado nacional está nos custos
internos maiores, falta de capacidade ou capacidade produtiva local limitada, capacidades
ociosas em outros países, preferência por fornecedores globais, ausência de fabricantes locais e
homologados para determinados itens e o custo com tributos, sendo que um aerogerador
importado é taxado em 14% enquanto que na cadeia produtiva nacional totalizam 26,5%.
Somando-se os custos com a aquisição de energia elétrica para a manufatura dos componentes
na operação dos fornos. Um dos fatores que chamam atenção são os custos com logística dos
componentes. Visto que os produtos importados utilizam transporte naval internacional,
enquanto que os fabricados nacionalmente somente podem usar navios de bandeira brasileira,
com custos elevados e pouca disponibilidade. No Brasil não há fabricantes de itens de alta
tecnologia como: sistemas de controle, sensores, anemômetros e alguns insumos da confecção
das torres de concreto e núcleo das pás. Fazendo com que os preços praticados no Brasil sejam
15% superiores aos praticados na Europa. Devido ao alto custo do aço, os custos logísticos, alta
tributação, taxa cambial, custo da mão de obra e alguns tipos especiais de fio ou tecido de vidro.
7. CONSIDERAÇÕES
A conclusão é que no país existem dois polos de produção de turbinas eólicas sendo um no
Nordeste e outro no Sul-Sudeste. Os fatores que influenciaram na decisão de localização das
fabricantes são: proximidade dos parques eólicos e condições de infraestrutura dos portos e
rodovias; proximidade da cadeia produtiva e aproveitamento da instalação fabril existente.
Verifica-se que o tamanho e o peso dos componentes eólicos, as grandes distâncias geográficas
das montadoras e fabricantes de componentes entre Nordeste e Sul e a concentração de
fornecedores de componentes e insumos no Sudeste resulta em grandes dificuldades de
logística.
A solução estaria na realização de investimentos em máquinas e equipamentos, ampliações de
linhas produtivas e a homologação técnica dos produtos fabricados localmente pelas
montadoras.
REFERÊNCIAS
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