A pós modernidade e a forma-sujeito-fluido

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Breve reflexão sobre a forma-sujeito da pós-modernidade, pela óptica da Análise de Discurso, de linha francesa.

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A pós-modernidade e a forma-sujeito-fluido

Trabalho apresentado por Ewerton Rezer Gindri à disciplina de Seminário Avançado em Análise de Discurso, do programa de Mestrado em Linguística, da UNEMAT, sob

orientação da Profa. Dra. Olímpia Maluf

Conceitos mobilizados:

- Sujeito- Posição-sujeito- Forma-sujeito- História- Historicidade

SUJEITO Resultado da relação com a linguagem e a história, o

sujeito do discurso não é totalmente livre, nem totalmente determinado por mecanismos exteriores. O sujeito é constituído a partir de relação com o outro, nunca sendo fonte única do sentido, tampouco elemento onde se origina o discurso. Como diz Leandro Ferreira (2000) ele estabelece uma relação ativa no interior de uma dada FD; assim como é determinado ele também a afeta e determina em sua prática discursiva. Assim, a incompletude é uma propriedade do sujeito e a afirmação de sua identidade resultará da constante necessidade de completude.

FORMA-SUJEITO É a forma pela qual o sujeito do discurso se

identifica com a formação discursiva que o constitui. Esta identificação baseia-se no fato de que os elementos do interdiscurso, ao serem retomados pelo sujeito do discurso, acabam por determiná-lo. Também chamado de sujeito do saber, sujeito universal ou sujeito histórico de uma determinada formação discursiva, a forma-sujeito é responsável pela ilusão de unidade do sujeito.

POSIÇÃO-SUJEITO Resultado da relação que se estabelece entre o

sujeito do discurso e a forma-sujeito de uma dada formação discursiva. Uma posição-sujeito não é uma realidade física, mas um objeto imaginário, representando no processo discursivo os lugares ocupados pelos sujeitos na estrutura de uma formação social. Deste modo, não há um sujeito único, mas diversas posições-sujeito, as quais estão relacionadas com determinadas formações discursivas e ideológicas.

História Produção de sentidos que se define por sua

relação com a linguagem. A história organiza-se a partir das relações com o poder e está ligada não à cronologia, mas às práticas sociais. Para a AD, todo o fato ou acontecimento histórico significa, precisa ser interpretado, e é pelo discurso que a história deixa de ser apenas evolução.

Historicidade Modo como a história se inscreve no

discurso, sendo a historicidade entendida como a relação constitutiva entre linguagem e história. Para o analista do discurso, não interessa o rastreamento de dados históricos em um texto, mas a compreensão de como os sentidos são produzidos. A esse trabalho dos sentidos no texto e à inscrição da história na linguagem é que se dá o nome de historicidade.

“De modo que poderíamos caracterizar a AD como a tentativa de aproximar, por meio de procedimentos algorítmicos, alguma coisa que faça funcionar a inteligência de um historiador de arquivo [...] O historiador [...] não tem contato, geralmente, com informações puramente factuais, [...] mas sim com enunciados no mínimo parcialmente opacos ou ambíguos...”

(Pêcheux & Léon)

“Cada época social tem sua concepção da vida que surge da ciência e da filosofia dominantes em dada sociedade e que representam os interesses e pontos de vista das classes dominantes. Assim, a concepção da vida na antiguidade era diferente do que na época da escravidão; a concepção burguesa é diversa da feudal e do mesmo modo a concepção proletária já se distingue radicalmente da burguesa.”

(L. A. Tckeskiss)

Revisitando o Materialismo Histórico

“À pergunta: qual é o objeto do materialismo histórico, devemos responder que o materialismo histórico estuda os fenômenos sociais e a história. À segunda pergunta: como ele as estuda, a resposta é: do ponto de vista marxista. O materialismo, que antes era somente uma escola filosófica, torna-se, além disso, uma filosofia da história.”

(L. A. Tckeskiss)

Conceituando o Materialismo Histórico

“De fato, cada fenômeno social tem de estar ligado aos esforços que forjam a sociedade, isto é, aos homens e os fenômenos sociais devem, portanto ser o resultado da atividade humana, que, como tal está relacionado com a consciência humana. O fenômeno torna-se então psicológico.”

(L. A. Tckeskiss)

Ligações outrora inesperadas...

Exemplo 01.Suicídio.

“Desde que tratamos de atos humanos, há de haver neles sempre algum sentido

social.” (L. A. Tckeskiss)

“Mas cada fenômeno social pode ter também, em certos casos um sentido

histórico.” (L. A. Tckeskiss)

Exemplo 2.Suicídio de um homem público.

“Assim, desde que um fenômeno social exerce grande influência sobre o agrupamento de outros fenômenos sociais, provoca novos fenômenos que trazem certa modificação à vida social, e torna-se deste modo, ao mesmo tempo, um acontecimento histórico.”

(L. A. Tckeskiss)

“Além dos fenômenos individuais com sentido social e histórico, existem igualmente fenômenos sociais de caráter coletivo, que também constituem acontecimentos históricos.”

(L. A. Tckeskiss)

Exemplo 3.Guerra.

“...a história, tal como era escrita antes e ainda como está sendo escrita até agora, pode ser objeto de investigação científica?”

(L. A. Tckeskiss)

Questão importante...

1. História baseada em lendas e contos populares;

2. História transformada em biografias de grandes personalidades.

Praticava-se dois tipos de história:

Não servem para a ciência.

“O homem supõe que a revelação de sua

própria vontade é um ato livre, que não está sujeito a lei alguma, e isso ocasiona grande dificuldade ao estudo científico do fenômeno.”

“Os fenômenos sociais, conquanto desarticulados, não deixam de ser fenômenos complexos, ligados a muitos momentos estranhos...”

Dificuldades para se estudar os fenômenos sociais:

“Digamos, para resumir, que a história, em sua forma tradicional, se dispunha a “memorizar” os monumentos do passado, transformá-los em documentos e fazer falarem estes rastros que, por si mesmos, raramente são verbais, ou que dizem em silêncio coisa diversa do que dizem; em nossos dias, a história é o que transforma os documentos em monumentos e que desdobra, onde se decifravam rastros deixados pelos homens, onde se tentava reconhecer em profundidade o que tinham sido, uma massa de elementos que devem ser isolados, agrupados, tornados pertinentes, inter-relacionados, organizados em conjuntos.”

Reflexões de Foucault sobre o assunto.

“Havia um tempo em que a arqueologia, como disciplina dos monumentos mudos, dos rastros inertes, dos objetos sem contexto e das coisas deixadas pelo passado, se voltava para a história e só tomava sentido pelo restabelecimento de um discurso histórico; poderíamos dizer, jogando um pouco com as palavras, que a história, em nossos dias, se volta para a arqueologia – para a descrição intrínseca do monumento.”

(Foucault, 2009, p.8)

1. A multiplicação das rupturas na história das ideias;

2. A noção de descontinuidade toma um lugar importante nas disciplinas históricas;

3. O tema e a possibilidade de uma história global começam a se apagar;

4. A história nova encontra um certo número de problemas metodológicos.

1. Constituição de um corpus coerente;2. A definição do nível de análise e elementos;3. Especificação de um método de análise;4. Delimitação dos conjuntos e dos subconjuntos que

articulam o material estudado.

Segundo Foucault, isso tem várias consequências, dentre elas:

“A atividade de cada indivíduo está sempre ligada a de outros e a toda a sociedade. E esta atividade é que forma a vida social.”

(L. A. Tckeskiss)

Voltemos a Tckeskiss...

Onde está a causa das mudanças e transformações sociais?

Como se pode e se deve modificar a sociedade?

Respostas:

1. Voltar ao estado primitivo;2. Pela educação.

Duas perguntas que são uma...

“Investigando a ideia absoluta e sua evolução, descobriu Hegel, que ao analisarmos bem um conceito notamos que este conceito guarda em si o princípio de sua negação – sua contradição –, e assim esse conceito se desenvolve passando ao seu oposto. [...] A grande tarefa, de fazer penetrar no materialismo, o espírito dialético de Hegel e estendê-lo também à história da humanidade e à vida social, somente a puderam realizar Marx e Engels.”

(L. A. Tckeskiss)

Construindo uma resposta no/do materialismo histórico...

Tomando-se por base o conceito de Franklin de que “o homem é um ser que faz e usa instrumentos”, Tckeskiss afirma que:

“A totalidade dos instrumentos que o homem cria no processo de sua adaptação à natureza é chamada técnica. A técnica pode também ser chamada de meio artificial. O homem se adapta ao meio natural criando um meio artificial. No meio artificial está corporificada a matéria da vida social.”

(L. A. Tckeskiss)

De onde surgem as novas necessidades e qualidades, qual a causa?

“A causa, por conseguinte, só pode ser encontrada no meio artificial, que cresce vertiginosamente. A causa do desenvolvimento humano, deve pois, estar na adaptação do homem ao meio natural, na atividade indireta do homem que é o trabalho, na criação de instrumentos que é a técnica, no meio artificial que cresce e se expande sem limites.”

(L. A. Tckeskiss)

“... a técnica se desenvolve pela divisão do trabalho e paralelamente ao desenvolvimento da ciência. Porém, esses dois momentos, quer a divisão do trabalho, quer a ciência, somente podem existir e se desenvolver na sociedade; por sua vez uma vida social sem o desenvolvimento da técnica é impossível. [...] Na base da técnica, nascem certas relações de produção, que por sua vez provocam várias, multiformes e complexas relações sociais.”

(L. A. Tckeskiss)

Exemplo 4.O fim da sociedade escravocrata.

Exemplo 5.Revolução Francesa.

“Eu me proponho a refletir a respeito da forma pela qual o “socialismo existente” inscreve sua relação na história do desenvolvimento do capitalismo.”

(Pêcheux, 2011, p.107)

O que Pêcheux diz...

“Uma série de divisões nas formas político-jurídicas [...] e nas formas ideológicas da submissão dos indivíduos, corresponde a essa divisão estrutural no interior da história da FPC – entre um percurso de desenvolvimento por meio da luta contra o absolutismo autoritário e um percurso de um desenvolvimento por meio da fusão com esse absolutismo.”

(Pêcheux, 2011, p.108)

“O “socialismo existente” não é independente de um mundo simétrico do capitalismo, mas, sim, é uma sequência de incrustações, que surgiram uma após a outra no interior de seu desenvolvimento geral.”

(Pêcheux, 2011, p.111)

“Pós-modernismo é o nome aplicado às mudanças ocorridas nas ciências, nas artes e nas sociedades avançadas desde 1950, quando, por convenção, se encerra o modernismo (1900-1950). Ele nasce com a arquitetura e a computação nos anos 50. Toma corpo com a arte Pop nos anos 60. Cresce ao entrar pela filosofia, durante os anos 70, como crítica da cultura ocidental. E amadurece hoje, alastrando-se na moda, no cinema, na música e no cotidiano programado pela tecnociência (ciência + tecnologia invadindo o cotidiano com desde alimentos processados até microcomputadores), sem que ninguém saiba se é decadência ou renascimento cultural.”

(O que é pós-moderno, Jair Ferreira dos Santos, Ed. Brasiliense, 1987)

Pós-modernidade...

“A vida líquida e a modernidade líquida estão intimamente ligadas.”

“A vida líquida é uma forma de vida que tende a ser levada adiante numa sociedade líquido-moderna.”

“Líquido-moderna é uma sociedade em que as condições sob as quais agem seus membros mudam num tempo mais curto do que aquele necessário para a consolidação, em hábitos e rotinas, das formas de agir.”

“A liquidez da vida e a da sociedade se alimentam e se revigoram mutuamente.”

Zygmunt Bauman e a liquidez do ser contemporâneo.

“Partindo do pressuposto de que toda prática discursiva está inscrita no complexo contraditório-desigual-sobredeterminado das formações discursivas que caracteriza a instância ideológica em condições históricas dadas (Pêcheux, 1975, p.213) [...] Pêcheux relaciona a forma-sujeito com o sujeito do saber de uma determinada Formação Discursiva.”

(Grigoletto, 2005, p.62)

Diante disso, lembramos Grigoletto, que diz...

“A história da produção dos conhecimentos não está acima ou separada da história da luta de classes [...] por isso, segundo Pêcheux, toda ruptura epistemológica exibe e põe em discussão os efeitos da forma-sujeito.”

(Pêcheux, 1975, p.190)

Pêcheux e a forma-sujeito.

Então, para Pêcheux o “efeito de desidentificação se realiza paradoxalmente por um processo subjetivo de apropriação dos conceitos científicos e de identificação com as organizações políticas de “tipo novo””

(Pêcheux, 1975, p.217)

“[...] é na forma-sujeito do discurso, na qual coexistem, indissociavelmente, interpelação, identificação e produção de sentido, que se realiza o non-sens da produção do sujeito como causa de si sob a forma da evidência primeira, isto é, de que “eu sou realmente eu””

(Pêcheux, 1975, p.266)

Segundo ele o movimento de desidentificação “[...] se efetua, paradoxalmente, no sujeito, por um processo subjetivo de apropriação dos conceitos científicos (...) processo no qual a interpelação ideológica continua a funcionar, mas, por assim dizer, contra si mesma”.

(Pêcheux, 1975, p.270)

“Então, o próprio movimento de desidentificação já supõe a determinação do sujeito por outra FD que o domina, na qual continuam a ressoar os saberes anteriores, ainda que pelo viés do esquecimento, do recalque.”

(Grigoletto, 2005, p.65)

Podemos concluir que:

“Se há ruptura da FD, não há também ruptura da forma-sujeito? E ruptura significa

apagamento de determinados saberes?”

Grigoletto finaliza perguntando:

Três concepções de identidade, citadas por Hall.

“O sujeito do Iluminismo estava baseado numa concepção da pessoa humana como um indivíduo totalmente centrado, unificado, dotado das capacidades da razão, de consciência e de ação...”

(Hall, p.10)

O sujeito do iluminismo

De acordo com essa visão a identidade é formada na interação entre o eu e a sociedade, através de pessoas que mediavam os valores.

O sujeito sociológico.

“A identidade torna-se uma celebração móvel: formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos representados e interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam.”

(Hall, p.13)

O sujeito pós-moderno.

1. Podemos falar de uma forma-sujeito-de-mercado, ou seria mais adequado falarmos de uma forma-sujeito-fluido?

2. A fluidez, ou liquidez, segundo Bauman, origina-se no mercado ou este a herda da sociedade?

Duas perguntas:

BAUMAN, Zygmund. Vida líquida / Zygmund Bauman; tradução Carlos AlbertoMedeiros. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007.

FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. 7ª ed. RJ: Forense Universitária, 2009.

GRIGOLETTO, Evandra. A noção de sujeito em Pêcheux: uma reflexão acerca do movimento de desidentificação. Estudos da Língua(gem), nº 1, junho/2005.

HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução Tomás Tadeu da Silva, Guaracira Lopes Louro. 6. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.

O Materialismo Histórico em 14 Lições — L. A.Tckeskiss PÊCHEUX, Michel. Análise de Discurso: Michel Pêcheux

Textos selecionados: Eni P. Orlandi – 2ª Ed. Campinas, SP: Pontes Editores, 2011.

SANTOS, Jair Ferreira dos. O que é pós-moderno. Ed. Brasiliense, 1987

Bibliografia