A PSICANÁLISE CONTEMPORÂNEA ZIMERMAN, David E. Fundamentos psicanalíticos: teoria, técnica e...

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A PSICANÁLISE CONTEMPORÂNEA

ZIMERMAN, David E. Fundamentos psicanalíticos: teoria, técnica e clínica – uma abordagem didática. Porto Alegre: Artmed,

1999.

100 anos de Psicanálise

Transformações – correntes psicanalíticas

contestadorasinovadorasampliadoras

PERÍODOS DA PSICANÁLISE

PSICANÁLISE ORTODOXA

Praticada por Freud e algumas gerações

de seguidores

Investigação dos processos psíquicos

Análise meticulosa dos sonhos dos pacientes, com enfoque

nos desejos edípicos proibidos e reprimidos no inconsciente

Objetivo terapêutico: decodificação das

manifestações simbólicas para

remoção dos sintomas

Regras técnicas rígidas, como

utilização de até seis sessões

semanais

Princípios para a cura:

- Teoria do Trauma: rememorar reminiscências

- Teoria Topográfica: tornar consciente o inconsciente

- Teoria Estrutural: existência do id (pulsões), do ego (personalidade) e

superego (repressão)

PSICANÁLISE CLÁSSICA

Abertura de correntes de pensamento

psicanalítico

Análise do desenvolvimento emocional primitivo

Interpretação das emoções arcaicas, fantasias inconscientes, ansiedades e defesas primitivas, sentimentos agressivos (“instinto

de morte”)

Regras técnicas um pouco menos rígidas, como

utilização de 4-5 sessões semanais, mas com

restrições na modificação do setting (mudança de horário,

uso de psicofármaco)

Importância à transferência e à

contratransferência

PSICANÁLISE CONTEMPORÂNEA

Importância aos vínculos da dupla analítica (amor,

ódio, conhecimento)

Atenção à influência da mãe e do analista no

psiquismo do pacientes

Desenvolvimento

emocional

Evolução

da análise

Atenção à Analisibilidade

e à Acessibilidade

Possibilidade de diagnóstico

e prognóstico

Capacidade do paciente depermitir acesso ao inconsciente

Menos rigor técnico:

Psicanálise e Psicoterapias psicanalíticas

Estilo de interpretação mais coloquial

Uso simultâneo de psicotrópicos

Análise das funções do ego

Abertura para a colaboração de outras ciências: linguística,

teoria sistêmica, neurociências, psicofarmacologia, etologia,

etc.

Analistas com formação pluralista: construção da

prática a partir de postulados diversos,

experiência (análise pessoal e supervisões), de forma

livre, coerente e autêntica

PARADIGMAS DA PSICANÁLISE

- Pulsão de morte- Angústia

- Mecanismos de defesa- Formação do ego

- Fases de desenvolvimento libidinal- Superego

- Complexo de Édipo- Sexualidade- Narcisismo

Paradigma Freudiano:Interpretação dos

desejos edípicos, com as respectivas ansiedades e

defesas contra a angústia

Paradigma Kleiniano:Interpretação das fantasias

inconscientes, mais diretamente ligadas à agressão e à inveja,

assinalando os mecanismos de defesa primitivos, as relações

objetais, o superego, as ansiedades, as reparações.

O Paradigma kleiniano

representou um grande avanço para

a Psicanálise:

Abriu portas para o tratamento de pacientes regressivos e

psicóticos

Aprofundou o entendimento do desenvolvimento emocional

primitivo do bebê

Principais transformações na concepção sobre o

Analistas:

Período Ortodoxo: O Analista era o observador neutro e objetivo, “senhor

absoluto”, sadio emocionalmente, dono das verdades sobre o paciente

“o paciente trazia o “material” e o psicanalista faria o levantamento arqueológico das ruínas do passado do paciente, soterradas no inconsciente, trazendo-as ao

consciente.”

Período Clássico:O Analista era o privilegiado

observador neutro e objetivo, que sabia o que

era correto e mais apropriado para seu

paciente.

Período Contemporâneo:O Analista é o observador

que intervém na realidade do fenômeno

observado

Período Contemporâneo:

Analista e Analisando: duas pessoas reais e

adultas, com limitações e angústias

Período Contemporâneo:Processo analítico

dialético

Período Contemporâneo:

TESESAnalisando

ANTÍTESESAnalista

SÍNTESESInsight

Período Contemporâneo:Avanços de planos gradualmente mais

amadurecidos na mente do analisando, devido à capacidade de pensar as experiências emocionais

A verdade não está apenas na leitura de Freud.

A abertura aos vértices psicanalíticos tem reflexos

positivos imediatos na técnica e na prática

Enfoques Psicanalíticos Contemporâneos:

- Funções inconscientes e conscientes do ego

- Significados dos fatos vividos e influência do discurso dos pais

Enfoques Psicanalíticos Contemporâneos:

- Transgeracionalidade

- Papéis em grupo: programação, desde a infância, de inserção na

família, na sociedade, nas instituições

Enfoques Psicanalíticos Contemporâneos:

- Transtornos do sentimento de identidade: pacientes com baixa

auto-estima

- “Autismo secundário”: crianças perdidas, a espera de terem seus

“buracos negros” preenchidos

Os pacientes, cada vez mais, chegam

vazios, por carências e déficits

primitivos.

Enfoques Psicanalíticos

Contemporâneos:- FUNÇÃO CONTINENTE

FUNÇÃO CONTINENTE

Bion – relação continente -

conteúdo

FUNÇÃO CONTINENTEPara todo conteúdo

(necessidades, angústias, ameaças) que precisa ser

projetado, deve haver um continente receptor.

FUNÇÃO CONTINENTEMãe: função continente –

acolher, conter e processar identificações projetivas do

filho, para seu desenvolvimento emocional

saudável.

FUNÇÃO CONTINENTEAnalista: função continente – acolher as

identificações projetivas do paciente, colocadas dentro dele, contendo-as, decodificando-as, transformando-as,

dando um sentido, um significado, um nome, e só então devolvendo para o

paciente, desintoxadas, em doses suaves e parceladas.

FUNÇÃO CONTINENTEEssa posição do analista

é extremamente importante no processo

analítico

FUNÇÃO CONTINENTEAnalista

Continente – não remete a recipiente, à

passividade

FUNÇÃO CONTINENTEA atitude empática e

continente do terapeuta não significa “ser

bonzinho” e não frustrar o paciente

A atitude continente do analista deve ser

desenvolvida também no sentido de conter as próprias

angústias e experiências emocionais, para não ter que

negar, atuar e somatizar.

Enfoques Psicanalíticos Contemporâneos:

- PARTE PSICÓTICA DA PERSONALIDADE

PARTE PSICÓTICA DA PERSONALIDADE

Bion propõe, partindo de Freud e Klein, que na mente do indivíduo coexistem em

permanente interação:

A parte psicótica da personalidade

e A parte não psicótica

da personalidade

Considerar isso permite ao terapeuta analisar as manifestações mais

regressivas do paciente, que compõem a parte psicótica,

inerente ao ser humano:

AgressividadeConfusão

MasoquismoPerversãoDepressão

ManiaPsicossomatização

ELEMENTOS PSÍQUICOS QUE

COMPÕEM A PARTE PSICÓTICA DA

PERSONALIDADE

Pulsões agressivo-destrutivas

Inveja e voracidade

Baixo limiar de tolerância às frustrações

Relações íntimas sadomasoquistas

Identificações projetivas excessivas

Ódio às verdades e à realidade externa

Preferência pelo “mundo das ilusões”

Ataque aos vínculos de percepção e de juízo crítico

Prejuízo na capacidade das funções do pensamento verbal (simbolização,

conhecimento, linguagem/comunicação)

Onipotência e oniciência, diminuindo a capacidade de aprender com a experiência

Arrogância, ocupando o lugar do orgulho sadio

Confusão entre o verdadeiro e o falso

“Super superego”, criando e impondo as próprias leis de convívio

“tudo sabe, tudo pode, controla e condena”

Enfoques Psicanalíticos

Contemporâneos:PACIENTES DE

“DIFÍCIL ACESSO”

Época de Freud: análise de pacientes neuróticos

M. Klein e seus seguidores: estudo do desenvolvimento emocional primitivo

Possibilidade de analisar o paciente psicótico

ATÉ ENTÃO CONSIDERADO “NÃO ANALISÁVEL”

PerversãoBorderlineDrogadição

Autismo Psicossomatização

Neurose gravePsicose afetiva (maníaco-depressiva)

Paciente de difícil acesso“Pseudocolaborador”

“Antianalisando”

Não permitem acesso às zonas ocultas do inconsciente

Não produzem verdadeiras mudanças psíquicas

Pacientes Somatizadores:

Ao invés de pensar e fantasiar, expressam a

angústia através do corpo

Pacientes com organização patológica:

Arranjos perversos da identidade sabotam o crescimento da parte dependente e frágil do paciente

“Gangue Narcísica”

Pacientes com cápsula autista:

Defensivamente escudados

Enfoques Psicanalíticos

Contemporâneos:PACIENTES COM

CÁPSULA AUTISTA

InvestigaçãoNeurose Fixações ou Regressões

às etapas mais primitivas do desenvolvimento emocional

Crianças autistas natureza genético-neurológica

XAutismo Secundário ou Psicogênico

Foco de vários estudos atuais

Criança parece “desligada” do mundo exterior e transmite a impressão de que olha não para as pessoas,

mas através delas.

Essas crianças sofrem de vazios

“buracos negros”Ausência quase

absoluta de emoções

Formação de uma CouraçaCarapaçaConcha CápsulaAutística

Para defesa das ameaças do sofrimento imposto pelas

frustrações da realidade externa

EViDêNcIaS rEcEnTeS:Os adultos em estados neuróticos regressivos

apresentam esses estados autísticos

EViDêNcIaS rEcEnTeS:

Fator Comum: “separação traumática do corpo da mãe”

Prejuízo na etapa de diferenciação

Função do Terapeuta:

InterpretaçãoContinência

Ir em busca desse paciente que está escondido, fugido,

perdido, em estado de “desistência de viver a

vida”

Propiciar “experiências de ligação” para

sacudir as emoções escondidas pelo escudo protetor

Tornar o setting um “útero psicológico” que funcione

como incubadora para o self prematuro obter as

provisões essenciais que faltaram na infância para

seu desenvolvimento

Enfoques Psicanalíticos

Contemporâneos:A COMUNICAÇÃO

NÃO VERBAL

O discurso verbal do paciente pode servir muitas vezes:

Para não comunicar

Para causar no analista um estado de confusão, torpor, irritação ou tédio

Para reduzir a capacidade perceptiva e interpretativa do analista

“terror sem nome” - ANSIEDADE

A Linguagem aquém ou além das palavras

comunica sentimentos do paciente que nem ele

sabe explicar ou representar com palavras

EXEMPLO: em uma supervisão, centrada

na primeira entrevista com um paciente

borderline...

A analista conta que, ao final da sessão, ela

percebeu que se sentia confusa, cansada, algo

vazia, perdida e desesperançada...

Não sabia se a paciente voltaria para a próxima sessão agendada e se

realmente ela desejava se tratar...

Ao mesmo tempo, a analista ficou muito tocada quando a paciente referiu

que gostava de pintar e que vinha guardando

tintas com muitas cores...

Por meio da transferência desconfortável provocada na mente do analista, a paciente comunicou-lhe, sem palavras diretas, tudo o que ela queria transmitir de como ela sente

seu mundo interno...

A própria paciente fazia um pedido de socorro por estar se sentindo

perdida, confusa, vazia, sozinha, quase sem

esperanças...

Ao mesmo tempo, alentava na analista

que valeria a pena que acreditasse e investisse

na análise com ela...Pedido de função continente da analista

Porque tinha um “estoque de muitas cores” (aspectos coloridos, embora latentes e congelados) a espera de

serem resgatadas, pintadas e emolduradas.

“Assim como todos os outros seres humanos, nós, os

analistas, temos dificuldades de ouvir ou perceber aquilo

que não se enquadra em nossos códigos pré-

estabelecidos”.MacDougall

Enfoques Psicanalíticos

Contemporâneos:SIGNIFICAÇÕES

Além das pulsões e consequentes fantasias

inconscientes, o terapeuta deve analisar os

significados que o paciente dá para suas experiênciasInfluência do discurso dos pais na estruturação do psiquismo

Ex:Pessoas com

Significações Fóbicas“tudo parece perigoso

e deve ser evitado”

Ex:Pessoas com Significações

Paranóides:“tudo foi significado como

ameaçador e o sujeito deve estar sempre defensivo”

Ex:Pessoas com

Significações Narcisistas“tudo o que faz deve ser perfeito e está sempre com medo do fracasso”

Função do Analista:“Dessignificação” das

significações patogênicas“Neo-Significações”

desintoxicadas

Enfoques Psicanalíticos

Contemporâneos:FUNÇÕES DO EGO

Função do Terapeuta:

Analisar como o paciente percebe a si e aos outros

Como pensa, conhece, discrimina, ajuíza

criticamente, comunica e age

Função do Terapeuta:

Auxiliar o paciente a desenvolver a capacidade

para pensar suas experiências emocionais

Função do Terapeuta:

Auxiliar o paciente a compreender seu desejo,

ou evitação, de tomar conhecimento das verdades

“Muitas pessoas pensam que pensam, mas não pensam, porque pensam com o pensamento dos

outros (personalidades passivo-submetidas, falso self), ou contra o pensamento dos outros (paranóides, narcisistas), ou de forma circular

esterilizante, com os pensamentos sempre voltando para o mesmo ponto (obsessivos), ou

com ataques auto-acusatórios, primitivos e desqualificatórios (melancólicos), ou orbitando em torno de seu próprio umbigo (narcisistas)

(...).”

O Paciente precisa:Ter contato com o

“conhecido não pensado”

O Paciente precisa:Possuir estado mental de

“posição depressiva”: condições de aceitar

perdas, responsabilidades e culpas

O Paciente precisa:Conseguir enfrentar

experiências emocionais difíceis

O Paciente precisa:Estabelecer relações

entre as experiências (fatos, sentimentos, ideias)

O Paciente precisa:Perceber a

diferença entre ego ideal e ego real

“Vínculo do Conhecimento”

Acesso às verdades

Construção da personalidade

Sujeito livre

BION

Pessoa Verdadeira

Pensamento, “ser o que realmente é”

Enfoques Psicanalíticos Contemporâneos:

MÚLTIPLAS DIMENSÕES DO

PSIQUISMO

O Analista precisa:“ser uma espécie de

poeta, artista, ou cientista, ou teólogo

BION

Dimensões da Psicanálise:

SentidosMitos

Paixões

Vértices da Psicanálise:

Matemático-científicoEstético-artísticoMístico-religioso

Existencial-PragmáticoInfluência das experiências emocionais

Paciente

Psiquismo

Mapa Mundi

Transformações (tempo, direção), zonas pacíficas e

outras turbulentas, superfícies amenas e montanhas íngremes,

climas tórridos e zonas glaciais

O Terapeuta precisa analisar, a cada

momento, com qual dimensão psíquica o

paciente está se relacionando com ele

Parte psicótica, neurótica ou não psicótica

Criança ou adulto

a que colabora ou a que boicota

Enfoques Psicanalíticos

Contemporâneos:FENÔMENO DA NEGATIVIDADE

O arranjo dos contrários propicia

a formação da unidade da mente

Ex:o bonito só existe porque contrasta

com o feio

Parte psicótica

Parte não psicótica

Psiquismo

Enfoques Psicanalíticos

Contemporâneos:NA PRÁTICA ANALÍTICA

Princípios básicos de Freud permanecem

transformações

1- Análise do desenvolvimento

emocional primitivo2- Concepção do paciente

e do analista3- Utilização de técnicas

"Intervenção Vincular"realizar eventualmente reuniões

conjuntas do paciente com cônjuge, filho, pais, etc, analisando a dinâmica das

configurações vinculares, buscando também trabalhar distúrbios de

comunicação (mal-entendidos) e tantas outras possibilidades

Exige preparo e

segurança do analista

4- Análise do Processo de Resistência

visto antes apenas como oposição à análise

agora é um recurso importante sobre o funcionamento do ego do paciente diante da realidade

exterior

5- Interpretações:mais importante que o acerto do conteúdo, é o destino e a eficácia que

têm para o paciente

6- Cura:antes, estreitamento da

conduta neurótica do paciente

6- Cura:hoje, abertura da mente, universo em

expansão, alargamento da capacidade de pensar, conhecer, ser autêntico, livre, ter

condições mentais para autoanálise