Post on 22-Apr-2015
A tradução como retextualização
(2ª. parte)
Neuza Gonçalves Travaglia
Capítulo 3 do livro: Tradução e retextualização:
a tradução numa perspectiva textual. Uberlândia: EDUFU, 2003.
Siglas utilizadas
• TP – Texto de Partida (“original”)
• TC – Texto de Chegada (“tradução”)
• LP – Língua de Partida
• LC – Língua de Chegada
Produção do TP ou do TC:
mobilização estratégias linguísticas
conhecimentos assunto
necessidades
textualização estratégias linguísticas
ancoradas no contexto
revisão reduzir falhas
Tradução como retextualização
• O autor do TP textualiza: “coloca em texto” seus objetivos, usa certas estratégias, maneja certos elementos.
• O tradutor retextualiza o TC: “recoloca em texto” numa outra língua a reconstrução de um sentido que faz a partir de uma textualização anterior (TP), seguindo novas regras (da língua de chegada e da cultura de chegada).
Tradutor como mediador
• Autor do TP
• TRADUTOR: – leitor do TP– mediador entre autor do TP e leitor do TC– autor do TC
• Leitor do TC
Aspectos de Coerência
• Aspectos já estudados: – Continuidade– Progressão– Articulação– Não-contradição
Novos Aspectos de Coerência
Conhecimento linguístico
• Elementos da LP e da LC: – Léxico– Sintaxe– Sentidos – Instruções do texto– Função de cada elemento ou de um conjunto– Encadeamento: coesão referencial e sequencialO funcionamento pode ser diferente de uma língua para outra. Exemplos: Alto índice de elipse de sujeito, baixo índice de pronome oblíquo.Terminologia e construção de neologismos.Dupla negação.Ordem singular das palavras na frase.
Conhecimento de mundo
• Memória particular do tradutor
• Buscar informações de uma área específica
• Estar antenado com informações cotidianas
• Reconhecer aspectos culturais
• Conhecimento de mundo autor do TP
• Conhecimento de mundo do leitor do TL
Conhecimento partilhado
• Conhecimentos do autor do TP• Conhecimentos dos leitores previstos pelo
autor do TP• Conhecimentos dos leitores não previstos
pelo autor do TP (ex.: tradução de textos antigos para leitores atuais)
• Conhecimentos do tradutorEx.: Tradução de “boiada” para o público de
um país europeu.
Boiada
Informatividade
• Informações já conhecidas pelo leitor
• Grau de previsibilidade
• O que é esperado e o que não é esperado de um texto por um leitor do TP e por um leitor do TC
Focalização
• Perspectiva do autor sobre o tema• Perspectiva do tradutor• O que determina o foco do tradutor:
especialização em determinada área, posicionamento, grupo social a que pertence...
• Consequência: a seleção de uma palavra e a exclusão de outras dentro de um leque de traduções possíveis.
• Exemplo:
• Constituiu-se, então, um corpus de todas as ocorrências de mãe e filho* nos exercícios propostos
• * No original, enfant oferece dupla leitura: pode ser interpretado como criança ou como filho. Dado o contexto em que se encontra o termo, ambas são válidas. Optei por filho para manter a relação com mãe mas seria interessante não esquecer a segunda leitura nas considerações que se seguem. (N.T.).
• (MAINGUENEAU, Dominique. Novas tendências em análise do discurso. Tradução de Freda Indursky. Campinas: Pontes, Unicamp, 1989. p.135.)
Inferência
• Informações implícitas
• Direcionamento dos argumentos para determinada conclusão
• Alusões, insinuações, ironias...
Relevância
• Manutenção de um tópico na argumentação do texto
• Tópico maior que abarca uma diversidade de tópicos menores
• O que é relevante numa cultura pode não ser em outra.
Fatores pragmáticos
• Onde, quando, em que mídia e para quem foi publicado
• Estilo de uma época e/ou de uma área
• Ex.: Na tradução literária: a tradução ou a manutenção de um nome próprio ou de um sobrenome. O que esse nome significa naquela sociedade e naquele texto.
Situacionalidade
• Faz parte dos fatores pragmáticos
• Especificamente: tempo, lugar, situação de enunciação, pessoas envolvidas, objetivos etc.
Exemplo:
• Contra os furacões, que são para os kamtchadalos o motivo pelo qual insultam o Criador, ainda não encontraram os cristãos de fato um remédio direto, como em geral o reino dos ares não é em nada conhecido e conquistado*; mas os cristãos sabem proteger-se contra a inclemência do clima através de outros meios que lhe são oferecidos pela cultura.
• * Torna-se desnecessário frisar aqui a insignificância desta afirmação para nós. Que se lembre porém que quando F. escreveu essas linhas nem o automóvel existia ainda. Hoje o homem já foi diversas vezes à lua.
• (FEUERBACH, Ludwig. Preleções sobre a essência da religião. Tradução de José da Silva Brandão. Campinas: Papirus, 1989. p.145.)
Intertextualidade
• Todo texto traz em si a intertextualidade.
• Toda tradução, obviamente, também.
• O tradutor deve estar atento à intertextualidade que constituiu o TP.
• Na tradução, pode haver uma intertextualidade que não foi prevista pelo autor do TP.
• Exemplo:
• Os termos “nomenclatura” e “terminologia” dão lugar a confusões freqüentes. Um dicionário francês define ambos como “conjunto dos termos técnicos de uma ciência ou uma arte”*.
• * No Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa lê-se: Nomenclatura: conjunto de termos peculiares a uma arte ou ciência. Terminologia: tratado dos termos técnicos de uma arte ou ciência; conjunto desses termos, nomenclatura.
• (MAILLOT, Jean. A tradução científica e técnica. Tradução de Paulo Rónai. São Paulo: McGraw-Hill; Brasília: UnB, 1975. p.113)
Intencionalidade e Aceitabilidade
• Intenção do autor do TP
• Aceitação por parte do leitor do TP
• Aceitação por parte do leitor do TC:– das ideias apresentadas– da intermediação por parte de um tradutor