Post on 30-Jan-2021
Rio de Janeiro
2018
A TRAJETÓRIA DO MARECHAL MANSTEIN:
DA INVASÃO DA FRANÇA (1940) ÀS AÇÕES
DEFENSIVAS FRENTE AO EXÉRCITO VERMELHO (1944)
ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO
ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO
Cel Cav VILMAR CARLOTTO JÚNIOR
Cel Cav VILMAR CARLOTTO JÚNIOR
A Trajetória do Marechal Manstein:
da invasão da França (1940) às ações defensivas
frente ao Exército Vermelho (1944)
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Política, Estratégia e Alta Administração Militar.
Orientador: Cel Inf R/1 Fernando Velôzo Gomes Pedrosa
Rio de Janeiro 2018
C284t Carlotto Júnior, Vilmar.
A trajetória do Marechal Manstein: da invasão da França (1940) às ações defensivas frente ao Exército Vermelho (1944) / Vilmar Carlotto Júnior. – 2018.
55 f. ;30 cm. Orientação: Fernando Velôzo Gomes Pedrosa Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Política,
Estratégica e Alta Administração Militar). – Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, Rio de Janeiro, 2018.
Bibliografia: f. 55.
1. Manstein. 2. Segunda Guerra Mundial. 3. Invasão da França. 4. Criméia. 5. Stalingrado. 6. Operação Cidadela. I. Titulo.
CDD 923.5
Cel Cav VILMAR CARLOTTO JÚNIOR
A Trajetória do Marechal Manstein:
da invasão da França (1940) às ações defensivas
frente ao Exército Vermelho (1944)
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Política, Estratégia e Alta Administração Militar.
Aprovado em _____ de_______________ de__________.
COMISSÃO AVALIADORA
______________________________________________________ FERNANDO VELÔZO GOMES PEDROSA – Cel R/1 – Presidente
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
__________________________________________________ JOSÉ MARIA DA MOTA FERREIRA – Cel Rfm – 1º Membro
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
__________________________________________________________ RICARDO RIBEIRO CAVALCANTI BAPTISTA – Cel R1 – 2º Membro
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
À minha esposa Simone e meus filhos
Vítor, Tomás e Manuela. Pelo carinho,
apoio e compreensão durante a
execução deste trabalho.
AGRADECIMENTOS
A Deus, por me conceder saúde e força para as tarefas diárias.
Ao Cel Velôzo, pela orientação segura e objetiva, bem como pelas sugestões
que facilitaram a elaboração deste trabalho.
RESUMO
A Segunda Guerra Mundial foi um conflito de dimensões grandiosas, tanto em
números, quanto em ensinamentos em todos os campos, particularmente nos
aspectos militares. O estudo do conflito ressalta a trajetória do Marechal Erich von
Manstein, oficial alemão que se destacou como planejador no nível estratégico-
operacional e pela capacidade na condução de operações militares. Inicialmente, é
mostrada a importância do Marechal Manstein, por sua influência na elaboração do
plano que surpreendeu os aliados por ocasião da invasão da França, em 1940. Após
a invasão da União Soviética pelas forças alemãs, em 1941, as ações de Manstein na
frente Leste foram extremamente relevantes, inicialmente no esforço pela conquista
de Leningrado, ao norte, e posteriormente, nas ações da conquista da Criméia, ao sul.
Quando a guerra no Leste começou a favorecer ao Exército Vermelho, Manstein
recebeu a missão de salvar o 6º Exército alemão, sitiado em Stalingrado, mas foi
impossível alcançar este feito, sem meios suficientes e adequados. Na última tentativa
alemã de retomar a iniciativa da frente Leste, participou da operação Cidadela, que
ficou marcada na história pela grande quantidade de blindados envolvidos na batalha
pelo saliente de Kursk. A importância da ação do Marechal Manstein é o motivo deste
trabalho, que busca destacar os ensinamentos das operações militares por ele
conduzidas, no contexto da Segunda Guerra Mundial. Para atingir este objetivo, foram
analisadas experiências e ensinamentos colhidos, a partir de aspectos extraídos dos
erros ou acertos das campanhas da qual o Marechal participou, no período
considerado, destacando seus reflexos para o desenrolar do conflito. No início de
1944, com a situação alemã já em estado crítico na frente Leste, Manstein foi
dispensado por Hitler, encerrando sua ativa participação na guerra.
Palavras-chave: Manstein, Segunda Guerra Mundial, Invasão da França, Criméia,
Stalingrado, Operação Cidadela.
RESEÑA
La Segunda Guerra Mundial fue un conflicto de dimensiones grandiosas, tanto en
números, como en enseñanzas en todos los campos, particularmente en los aspectos
militares. El estudio del conflicto resalta la trayectoria del Mariscal Erich von Manstein,
oficial alemán que se destacó como planificador a nivel estratégico-operacional y por
la capacidad en la conducción de operaciones militares. En primer lugar, se muestra
la importancia del Mariscal Manstein, por su influencia en la elaboración del plan que
sorprendió a los aliados con motivo de la invasión de Francia en 1940. Después de la
invasión de la Unión Soviética por las fuerzas alemanas en 1941, las acciones de
Manstein en el frente Este fue extremadamente relevante, inicialmente en el esfuerzo
por la conquista de Leningrado, al norte, y posteriormente, en las acciones de la
conquista de Crimea, al sur. Cuando la guerra en el Este comenzó a favorecer al
Ejército Rojo, Manstein recibió la misión de salvar al 6º Ejército alemán, sitiado en
Stalingrado, pero fue imposible alcanzar este hecho, sin medios suficientes y
adecuados. En el último intento alemán de buscar la iniciativa en el frente oriental,
participó de la operación Ciudadela, que quedó marcada en la historia por la gran
cantidad de blindados involucrados en la batalla por el saliente de Kursk. La
importancia de la acción del Mariscal Manstein es el motivo de este trabajo, que busca
destacar las enseñanzas de las operaciones militares por él conducidas, en el
contexto de la Segunda Guerra Mundial. Para alcanzar este objetivo, fueron
analizadas experiencias y enseñanzas obtenidas, a partir de aspectos extraídos de
los errores o aciertos de las campañas de las cuales el Mariscal participó, en el período
considerado, destacando sus reflejos para el desarrollo del conflicto. A principios de
1944, con la situación alemana ya en estado crítico en el frente oriental, Manstein fue
dispensado por Hitler, finalizando su activa participación en la guerra.
Palabras-llave: Manstein, Segunda Guerra Mundial, Invasión de Francia, Crimea,
Stalingrado, Operación Ciudadela.
LISTA DE FIGURAS
Figura 01 Capa da Revista Time, em Jan de 1944............................................. 11
Figura 02 A expansão alemã entre 1934 e 1939................................................ 16
Figura 03 O Plano Schlieffen – 1ª Guerra Mundial............................................. 20
Figura 04 A Campanha da França, 1940............................................................ 25
Figura 05 A Operação Barbarossa..................................................................... 28
Figura 06 A Ofensiva sobre Leningrado............................................................. 29
Figura 07 A Criméia............................................................................................ 31
Figura 08 A situação em Stalingrado, 1942........................................................ 33
Figura 09 O ataque de Manstein, novembro de 1942 a janeiro de 1943............ 36
Figura 10 Frente Leste, verão de 1943............................................................... 38
Figura 11 Operação Cidadela............................................................................. 39
Figura 12 O avanço do Grupo de Exércitos Sul.................................................. 41
Figura 13 A disputa em Prokhoravka.................................................................. 42
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO............................................................................................ 10
1.1 PROBLEMA DE PESQUISA....................................................................... 12
1.2 OBJETIVOS................................................................................................ 12
1.2.1 Objetivo Geral............................................................................................ 12
1.2.2 Objetivos Específicos............................................................................... 12
1.3 JUSTIFICATIVAS DA PESQUISA.............................................................. 13
1.4 METODOLOGIA.......................................................................................... 13
1.4.1 Delimitação da Pesquisa.......................................................................... 13
1.4.2 Concepção Metodológica......................................................................... 14
1.4.3 Limitações do Método.............................................................................. 14
2 ANTECEDENTES....................................................................................... 15
3 A INVASÃO DA FRANÇA.......................................................................... 18
3.1 O PLANEJAMENTO INICIAL...................................................................... 18
3.2 O PLANO DE MANSTEIN........................................................................... 20
3.3 O ATAQUE.................................................................................................. 24
4 A OFENSIVA PARA O LESTE................................................................... 27
4.1 COMANDO DO 56º CORPO PANZER....................................................... 28
4.2 A CONQUISTA DA CRIMÉIA...................................................................... 31
5 A REVIRAVOLTA E AS AÇÕES DEFENSIVAS NA FRENTE LESTE...... 33
5.1 A RENDIÇÃO DO 6º EXÉRCITO EM STALINGRADO............................... 33
5.2 A REORGANIZAÇÃO ALEMÃ.................................................................... 37
5.3 A OPERAÇÃO CIDADELA.......................................................................... 38
5.4 O RETRAIMENTO ALEMÃO...................................................................... 44
5.5 A DISPENSA DE MANSTEIN..................................................................... 44
6 CONCLUSÃO............................................................................................. 46
REFERÊNCIAS........................................................................................... 54
5
10
1. INTRODUÇÃO
A Segunda Guerra Mundial acabou há mais de setenta anos, mas continua
sendo fonte de ensinamentos e experiências até os dias atuais, através do estudo da
História Militar.
Esse conflito foi marcado por gigantescas perdas em vidas, patrimônio e
recursos de toda ordem, mas as campanhas, seus desdobramentos e as diversas
fases se tornaram objeto de análise e discussão, enfocando particularmente as
operações realizadas e seus principais protagonistas, sejam civis ou militares.
Tema pouco conhecido no Exército Brasileiro, este trabalho aborda a trajetória
do Marechal Erich von Manstein, oficial alemão de importante participação na
Segunda Guerra Mundial, cuja trajetória ficou marcada pela competência, preparo
como planejador no nível estratégico-operacional e pela capacidade na condução de
operações militares, tendo suas virtudes de inteligência, disciplina e eficiência
respeitadas, inclusive por seus adversários.
A fim de buscar o período histórico e os fatos mais relevantes, o trabalho está
focado no período compreendido entre a invasão da França pelas forças alemãs,
ocorrida em 1940, chegando às ações defensivas conduzidas frente ao Exército
Vermelho, até março de 1944, quando Manstein foi afastado por Hitler.
Como mostra dessa importância atribuída ao Marechal Manstein, deve ser
apontada sua influência na elaboração do plano que surpreendeu os aliados por
ocasião da invasão da França, sugerindo que o esforço principal fosse realizado
através da Floresta das Ardenas, onde os Aliados não esperavam. Esta manobra
inovadora, precisou vencer diversas resistências, inclusive dentro do próprio Exército
Alemão, por sua proposta audaciosa e inovadora.
Após a invasão da União Soviética pelas forças alemãs, em 1941, as ações de
Manstein na Frente Oriental foram também relevantes, inicialmente como comandante
de forças blindadas, no esforço pela conquista de Leningrado, ao norte, e
posteriormente, nas ações da conquista da Criméia e da importante cidade de
Sebastopol, ao sul.
No prosseguimento do conflito, quando a guerra no leste começou a pender
favoravelmente ao Exército Vermelho, Manstein tentou, apesar da insuficiência de
meios, salvar o 6º Exército alemão, sitiado em Stalingrado. Teve ainda, importante
11
participação na operação Cidadela, empenhando sua capacidade de planejamento e
comando no último grande esforço para retomar a iniciativa na frente oriental, que
ficou marcada na história pela grandiosidade de meios envolvidos na batalha de
Kursk.
O historiador inglês Basil Henry Liddell Hart (1980, p. 81), que entrevistou
diversos generais alemães após a guerra, referiu-se a Manstein nos seguintes termos:
“O mais capaz de todos os generais alemães foi provavelmente o marechal-de-campo
Erich von Manstein. Essa era a opinião dos militares com quem analisei a guerra”.
Todo esse destaque, fez com que, ainda durante o desenrolar da guerra, a
revista americana Time (Figura nº 01) realizasse uma reportagem de capa com o
Marechal Manstein, o que mostrava toda sua importância naquele momento histórico.
Figura nº 01 – Capa da Revista Time, em Jan de 1944.
Fonte: FIELD MARSHAL FRITZ ERICH VON MANSTEIN. Time, Vol. XLII No. 2, Jan. 10, 1944.
Disponível em http://content.time.com/time/ covers/0,16641,19440110,00. html. Acesso em 26 de maio de 2018.
Diante disso, as conclusões apresentadas ao final do trabalho poderão ser
válidas para conhecer as questões mais relevantes, dentro do contexto de estudo da
Segunda Guerra Mundial e das experiências e ensinamentos que podem ser colhidos,
http://content.time.com/time/%20covers/0,16641,19440110,00.%20html
12
a partir de aspectos extraídos das atividades exercidas por importante personagem
desse período marcante da história mundial.
Assim, o trabalho foi realizado buscando investigar o assunto, destacando os
principais aspectos de interesse para o estudo, a fim de obter os ensinamentos que
se traduzem em erros ou acertos das campanhas ocorridas no período considerado,
que contaram com a participação do Marechal Manstein.
1.1 PROBLEMA DE PESQUISA
O trabalho visa analisar a seguinte questão:
“Quais as contribuições e os ensinamentos a serem colhidos, pelo estudo
da ação do Marechal Manstein nas operações militares conduzidas pela
Alemanha, durante a Segunda Guerra Mundial?”.
1.2 OBJETIVOS
1.2.1 Objetivo Geral
Avaliar a importância do Marechal Manstein no contexto das operações
militares desenvolvidas pela Alemanha na Segunda Guerra Mundial, ressaltando os
ensinamentos e a influência de seu pensamento nestas operações.
1.2.2 Objetivos Específicos
- Identificar a importância da participação de Manstein na elaboração do
plano que surpreendeu os aliados, por ocasião da invasão da França.
- Determinar os ensinamentos de seu desempenho durante as ações de
conquista da Criméia, após a invasão da União Soviética, em 1941.
- Analisar as suas ações na Frente Oriental, após a adoção de manobras
de natureza defensiva para conter o Exército Vermelho.
- Descrever como as iniciativas do Marechal Manstein foram realizadas
durante as citadas ações, ressaltando quais experiências e lições podem ser
depreendidas das operações estudadas.
13
1.3 JUSTIFICATIVA DA PESQUISA
No estudo dos planejamentos realizados e das decisões adotadas, houve a
oportunidade de analisar o perfil e o pensamento do Marechal Manstein, bem como
seus reflexos para a condução das operações estudadas.
Cada uma das ações analisadas teve características próprias e a existência de
uma literatura ricas em detalhes, proporcionou, através de seu estudo acurado, a
reunião de importantes lições, particularmente sobre os problemas militares
encontrados e as decisões adotadas, bem como seus resultados.
Outro aspecto interessante, que precisa ser destacado, é a influência do poder
político e seu impactos nas operações militares conduzidas pela forças armadas
alemãs, durante a Segunda Guerra Mundial, e como essas experiências nos servem
de aprendizado.
Analisar a ação do Marechal, considerando a existência de um ambiente
extremamente complexo, pode permitir jogar luzes sobre aspectos ainda poucos
explorados nos estudos até agora realizados, sobre a ação deste importante
personagem histórico.
Em suma, a proposta desta pesquisa é relevante com base nos aspectos acima
elencados, os quais puderam demonstrar a importância do assunto no seu amplo
espectro de abrangência. Além disso, o estudo da História Militar será sempre
ferramenta essencial para o aprendizado e preparação em todos os níveis operativos.
1.4 METODOLOGIA
Esta seção tem por finalidade apresentar o caminho que foi percorrido para
solucionar o problema de pesquisa, especificando os procedimentos necessários para
alcançar os objetivos (geral e específicos) apresentados.
Assim, no desenvolvimento do trabalho, foi realizada uma investigação
descritiva sobre a trajetória do Marechal Erich von Manstein, oficial alemão de
destacada atuação na Segunda Guerra Mundial, por sua influência e atuação em
importantes ações militares desencadeadas no conflito.
1.4.1 Delimitação da Pesquisa
Tendo em vista a abrangência e complexidade dos eventos ocorridos na
Segunda Guerra Mundial e a larga trajetória do Marechal Manstein, foram analisados
14
somente os aspectos mais relevantes ocorridos durante o período compreendido entre
a invasão da França pelas forças alemãs, ocorrida em 1940, chegando às ações
conduzidas para conter a ofensiva do Exército Vermelho, até março de 1944, quando
Manstein foi dispensado por Hitler.
1.4.2 Concepção Metodológica
Foi utilizada a pesquisa bibliográfica, a fim de esclarecer o entendimento
do assunto, o que foi verificado através do levantamento da literatura existente sobre
o tema.
A pesquisa bibliográfica foi elaborada a partir de material já publicado,
constituído principalmente de livros de leitura corrente, livros de referência,
enciclopédias, impressos diversos, publicações periódicas, artigos de periódicos e,
também, de material disponibilizado na Internet. Foram ainda realizadas consultas às
bibliotecas disponíveis, como a da Escola de Comando e Estado-Maior de Exército
(ECEME) e da Rede de Bibliotecas Integradas do Exército (BIE).
Os dados resultantes da pesquisa bibliográfica foram organizados, a fim
de montar um arquivo com a transcrição das informações extraídas. Para tal, foram
confeccionados resumos e notas dos conteúdos, a partir da observação da natureza
e da fonte dos documentos, que foram organizados em lista cronológica, a fim de
permitir o melhor entendimento dos acontecimentos.
O pesquisador realizou pessoalmente a pesquisa histórica, através da
busca nas bibliotecas, além da reunião de informações, dados, literatura e de todas
as evidências consideradas relevantes para o trabalho.
Os dados coletados na investigação foram analisados, com o objetivo de
solucionar o problema em questão. Foi efetuada uma avaliação dos dados reunidos,
buscando determinar a consistência e veracidade das fontes, cuja qualidade e
coerência foram verificados.
1.4.3 Limitações do Método
No caso deste trabalho, as informações colhidas foram analisadas
qualitativamente, tendo em vista tratar-se de pesquisa histórica, na qual não são
usualmente utilizados os métodos estatísticos.
15
2. ANTECEDENTES
Terminada a Primeira Guerra Mundial, o mapa da Europa havia mudado, e a
Alemanha, considerada a grande responsável pela guerra, foi duramente penalizada,
especialmente com perdas territoriais. Com a criação da Tchecoslováquia, a
Alemanha perdeu parte de seu território e cerca de 3 milhões de habitantes. Já a
formação da Polônia dividiu o território alemão, pelo conhecido “corredor polonês”.
O Tratado de Versalhes, assinado em 1919 pelos países vitoriosos e imposto
à Alemanha, entre várias medidas, previa a proibição do rearmamento alemão e a
desmilitarização da Renânia, o que era realizado pela ausência de forças militares na
margem esquerda do rio Reno.
Em janeiro de 1933, Adolf Hitler, líder do Partido Nacional-Socialista dos
Trabalhadores Alemães subiu ao poder. Pedro Tota (2008) explica que o programa
do partido pregava a transformação da Alemanha em potência militar e a restauração
dos tempos em que o país ditava, em parte, as regras da política europeia. Além disto,
o mesmo autor explica nos próximos parágrafos, resumidamente, como ocorreu a
expansão territorial alemã (Figura nº 02), a partir da ascensão nazista.
Inicialmente, a Alemanha adotou, secretamente, o rearmamento do Exército, a
criação de uma Força Aérea e o reaparelhamento da Marinha. Itália e Japão, no
mesmo período, também desenvolveram programas de reaparelhamento.
Em outubro de 1933, a Alemanha se retirou da Liga das Nações e, em março
de 1935, instituiu o serviço militar obrigatório. Neste mesmo ano, retomou a região
mineira do Sarre, que estava sob administração da Liga das Nações.
Em 1935, Hitler anunciou a política de rearmamento da Alemanha e, em março
de 1936, determinou que o Exército Alemão ocupasse a margem esquerda do rio
Reno, descumprindo assim, importantes itens do Tratado de Versalhes.
Em março de 1938, a Alemanha realizou o objetivo de anexar a Áustria, país
de etnia germânica, que naturalmente deveria compor o que os nazistas chamavam
de “Grande Alemanha”. Sem precisar empregar suas armas, os soldados alemães
foram recebidos com festa por parte da população austríaca.
Posteriormente, Hitler exigiu os Sudetos, região da Tchecoslováquia habitada
por maioria alemã. Em 29 de setembro de 1938, foi realizada a Conferência de
Munique, com a participação de Grã-Bretanha, França, Itália e Alemanha. Assim, foi
16
firmado um acordo no qual a Alemanha recebeu os Sudetos e a Tchecoslováquia foi
desmembrada em duas.
Figura nº 02 – A expansão alemã entre 1934 e 1939.
Fonte: Tota (2008, p. 365).
Em 23 de agosto de 1939, na cidade de Moscou, os ministros das relações
exteriores de União Soviética e Alemanha, respectivamente, Molotov e Ribentropp,
assinaram o Pacto de Não-Agressão entre as duas potências. Como nos ensina Tota
(2008), esse acordo permitiu à Alemanha prosseguir seu projeto expansionista, sem
a preocupação de combater em duas frentes, enquanto a União Soviética poderia
transformar os Países Bálticos (Lituânia, Estônia e Letônia) em repúblicas soviéticas,
após a futura anexação de parte do território polonês.
Depois de reduzir sua preocupação com a ameaça soviética e tendo a intenção
de recuperar territórios perdidos após a Primeira Guerra Mundial, a região do Porto
de Dantzig e o corredor polonês, que mantinham a Prússia Oriental apartada do
restante do território alemão, Hitler determinou a invasão do território polonês em 1º
de setembro de 1939, no dia considerado o início da Segunda Guerra Mundial. A
avassaladora campanha alemã incluiu a utilização de modernos blindados, aviação e
grande efetivo, levando a uma fácil vitória sobre a Polônia, que teve suas forças
rapidamente derrotadas, sendo ocupada pelos invasores em pouco mais de vinte dias.
17
Posteriormente, em 17 de setembro de 1939, as forças soviéticas também
invadiram a Polônia, mas pelo leste, estabelecendo uma nova divisão do território
polonês, arranjo permitido pelo citado tratado Molotov – Ribentropp, de 23 de agosto
de 1939.
Como consequência da invasão da Polônia pelos alemães, apesar da tentativa
de Hitler de tentar estabelecer a paz com as potências do oeste europeu, Inglaterra e
França declararam guerra à Alemanha, em 3 de setembro de 1939.
18
3. A INVASÃO DA FRANÇA
Após o estabelecimento da situação de beligerância com França e Grã-Bretanha,
Hitler ficou determinado a partir para a ofensiva.
Liddell Hart (1980) expõe os motivos que o ditador teria para tomar tal iniciativa e
atacar a França, considerando, também, fazê-lo independentemente da neutralidade
belga. Inicialmente, considerava que esperar demais seria um risco, particularmente
devido à proximidade da fronteira da Bélgica com as áreas industriais do Reno e do
Ruhr, fundamentais para a produção de armamentos. Além disso, considerava que os
belgas não eram realmente neutros, pois as últimas fortificações do país foram
construídas na fronteira com a Alemanha e não com a França.
Contribuindo para essa decisão, dados de inteligência apontavam para contatos
sigilosos entre os estados-maiores francês e belga, que tratariam da possibilidade dos
exércitos francês e britânico entrarem em território belga, sendo que os meios mais
fortes dessas forças estavam próximos da fronteira com a Bélgica.
3.1 O PLANEJAMENTO INICIAL
Em memorando de 9 de outubro de 1939, Hitler fez uma profunda análise da
situação. Segundo Liddell Hart (1980), o Führer acreditava que a Alemanha dispunha
de efetivos e armas para conquistar a vitória e que o tempo trabalhava contra a
Alemanha, pois os recursos eram limitados e ainda havia a ameaça russa.
Adicionalmente, se a França fosse derrotada, seria mais fácil entrar em acordo com a
Grã-Bretanha.
O Marechal von Manstein (1956), em seu livro, fez severas críticas ao
comportamento dos comandantes alemães após a vitória contra a Polônia. Criticou a
falta de ação e por não terem apresentado opções militares para o caso das
negociações com as potências ocidentais não viessem a ter sucesso, o que de fato
aconteceu. Desta forma, afirmou que no caso das negociações políticas falharem,
caberia às lideranças militares apresentar um assessoramento oportuno,
apresentando as opções militares para enfrentar aquela situação. Assim, considerou
que as orientações emanadas por Hitler em 9 de outubro foram realizadas para sair
deste estado inicial, ou seja, para que se passasse à ação.
De forma clara, Manstein não entendia porque o Alto Comando teve uma ação
retraída após a Campanha da Polônia e no começo das ações contra as potências
19
ocidentais, o que praticamente deixava a decisão nas mãos de Hitler. Esse
comportamento, na sua avaliação, talvez tivesse o objetivo de pressionar Hitler a uma
decisão política ou para evitar o desrespeito à neutralidade belga, mas a impressão
era de que os comandantes tinham dúvidas se a Alemanha realmente tinha a
capacidade de obter um êxito contundente. Porém, independente dos motivos,
entendia que o Alto Comando cedera a Hitler a iniciativa militar.
Liddell Hart (1980) destaca que o General Siewert, que foi assistente pessoal
do Marechal von Brauchitsch de 1939 a 1941, afirmou que nenhum plano para uma
ofensiva na frente ocidental foi levado em consideração antes da campanha da
Polônia. Ainda segundo Siewert, antes da conferência do dia 23 de novembro, o
Marechal procurou pessoalmente a Hitler, a fim de dizer que era totalmente contra
suas diretrizes sobre a invasão ao ocidente. Basicamente, julgava que as forças
alemãs não eram capazes de conquistar a França e que a invasão arrastaria a Grã-
Bretanha para a guerra.
Como se sabe, o Führer não levou em consideração a opinião cautelosa dos
comandantes militares alemães, comportamento este, que lhe causou alguma
irritação. Como forma de mostrar aos generais a disposição em atacar as potências
ocidentais, Hitler realizou uma reunião em 23 de novembro de 1939, que foi descrita
por Guido Knopp (2009, p. 133), da seguinte forma:
No dia 23 de novembro de 1939, em uma recepção do comando militar em Obersalzberg, Hitler disse a seus generais seniores, entre eles, Manstein, que havia chegado o momento: “Minha decisão é irrevogável”, comunicou à elite militar. “Atacarei a França e a Grã-Bretanha no primeiro momento mais favorável. A violação à neutralidade belga não tem importância. Ninguém falará da questão quando vencermos.”
Ainda a respeito da reunião de 23 de novembro, Reginald Thomas Paget (1999)
explica que Manstein ficou horrorizado pela forma como Hitler se referiu a seus
generais, os chamando de “medrosos”, também pela forma com que tratava o
Comandante Supremo do Exército, Marechal von Brauchitsch. A divergência residia
no fato de que Hitler queria uma rápida ação ofensiva, enquanto o Alto Comando
achava que não havia forças suficientes para impor uma vitória às potências
ocidentais, além de que este esforço poderia comprometer as defesas a leste. Mas
em linhas gerais, Manstein concordava com as ideias de Hitler e, principalmente, que
era possível derrotar a França.
Posteriormente, o próprio Manstein (1956, p. 59) comentou o resultado da
divergência de pensamento entre o Alto Comando do Exército e Hitler:
20
Em geral se supõe que a anulação do Alto Comando do Exército ou de seu Alto Estado-Maior como fator decisivo na direção da guerra terrestre começa do momento em que Hitler tomou pessoalmente o comando das forças da nação e, com ele, o do Exército propriamente dito, depois de haver deposto o Marechal von Brauchitsch. O certo é, não obstante, que esta neutralização do Alto Comando do Exército, ou, caso queira, a exclusão do Estado-Maior Geral, veio a coincidir na prática – talvez não por acaso – com as semanas imediatamente seguintes à Campanha da Polônia. (Tradução nossa).
3.2 O PLANO DE MANSTEIN
O planejamento inicial para a ação contra as potências ocidentais, que se
baseou em orientações iniciais do próprio Hitler, batizado de Plano de Operações
“Amarelo”, de 19 e 29 de outubro de 1939, tinha em linhas gerais os mesmos
fundamentos do Plano Schlieffen (Figura nº 03), utilizado na Primeira Guerra Mundial.
Basicamente um envolvimento pelo norte, avançando com uma potente ala direita por
Holanda e Bélgica, a fim de destruir as possíveis forças britânicas e francesas, que
estivessem, provavelmente, ali reunidas.
Figura nº 03 – O Plano Schlieffen – Primeira Guerra Mundial.
Fonte: Luiz de Alencar Araripe (2008, p.329).
Para que se possa compreender as semelhanças com o Plano Schlieffen, este
previa uma manobra de duplo envolvimento executada por um potente ala direita,
através de Luxemburgo e da Bélgica, e depois para o sul, pela França, envolvendo
Paris por oeste. A ala esquerda seguiria pela fronteira da Alsácia-Lorena, atraindo os
21
franceses. As duas alas se encontrariam, apertando o cerco e destruindo o restante
do Exército Francês.
Retornando ao plano da Segunda Guerra Mundial, Liddell Hart (1980, p. 132)
explica a organização de forças proposta pelo estado-maior alemão para o ataque às
forças francesas e britânicas, da seguinte forma:
O plano elaborado pelo estado-maior, sob a chefia de Halder, era similar em seus traços gerais, ao de 1914, embora seu objetivo fosse mais simples. O peso principal seria concentrado no setor direito em um golpe a ser desencadeado através das planícies da Bélgica pelo Grupo de Exércitos “B”, comandado por Bock. O Grupo “A”, de Rundstedt, no centro, diante das Ardenas, desempenharia um papel secundário, e o Grupo “C”, de Leeb, à esquerda, voltado para a fronteira da França propriamente dita, limitar-se-ia a ameaçar e a engajar os exércitos que guarneciam a Linha Maginot.
Adicionalmente, cabe entender que nessa proposta os blindados estariam
concentrados nas mãos de Bock, que atacaria mais ao norte, na direção da Bélgica.
O Grupo de Rundstedt não teria forças blindadas e faria um ataque limitado, cobrindo
o flanco de Bock.
Sobre esse Plano, proposto em 1939, Manstein (1956, p. 86) fez a seguinte
avaliação:
Reconheço que esta minha primeira reação quase exclusivamente instintiva não fazia justiça ao Alto Comando do Exército. Em primeiro lugar, porque o plano era, a rigor, de Hitler, e em segundo, porque tampouco era um calco subordinado ao de Schlieffen. A opinião generalizada de que sim o era, se baseava em duas únicas coincidências: em que, tanto em 1939 como em 1914, o centro de gravidade da ofensiva alemã recaía sobra a ala norte e que em ambos os casos havia de passar pela Bélgica. Em todo o resto diferiam fundamentalmente entre si o plano de 1914 e o de 1939. (Tradução nossa).
Thomas Rosche (1991) explica que Manstein não identificou no Plano de
Campanha “Amarelo” a ideia fundamental de buscar a decisão plena, pois dava
demasiada importância ao terreno e havia uma indefinição sobre o que aconteceria
após o combate na Bélgica. No seu entendimento, a destruição das forças inimigas
deveria ser o objetivo da ofensiva.
Para Manstein, estava claro que uma operação para subjugar a França, não
seria vitoriosa, caso conduzida em uma só fase. Contudo, o Plano “Amarelo” o deixava
insatisfeito do ponto de vista da continuação do planejamento.
Como consequência dessa análise, o Grupo de Exércitos “A”, comandado por
Rundstedt, do qual Manstein era Chefe do Estado-Maior, enviou diversos
memorandos ao Alto Comando do Exército, com a intenção de propor um plano
diferente, que buscasse uma vitória decisiva no conflito com o ocidente.
22
Resumidamente, Knopp (2009) descreveu o Plano proposto por Manstein como
uma manobra que contemplava grande quantidade de blindados em uma ação
principal, conduzida pelo Grupo de Exércitos “A” através da Floresta das Ardenas, em
um rápido movimento ao longo de Sedan, na direção da costa atlântica, enquanto o
Grupo de Exércitos “B” atacaria as fortalezas belgas, atraindo as forças inglesas e
francesas.
Rosche (1991) esclarece que no entendimento de Manstein, a primeira fase
deveria se destinar a combater e destruir as forças franco-britânicas lançadas ou
estacionadas na Bélgica e no norte da França e conseguir para si a região costeira
até aproximadamente o rio Somme. Também deveria obter a destruição das reservas
inimigas e, ao mesmo tempo, criar a condição para manutenção da iniciativa quando
da segunda fase. Isso exigia a aceitação de um considerável risco. A segunda fase
seria a inflexão para o sul, para enfrentar um provável contra-ataque dos dois lados
do rio Maas e ao mesmo tempo, envolvê-lo a partir do oeste.
Assim, Manstein considerava que o objetivo de buscar uma decisão final, pelo
isolamento das forças inimigas na Bélgica, bem como a derrota simultânea de suas
reservas operacionais, implicavam em deslocar o esforço principal para o sul.
Além disso, a surpresa seria obtida pelo aproveitamento do terreno
desfavorável, evitando a maioria dos meios do inimigo e atraindo as principais
unidades móveis aliadas em profundidade, para a Bélgica. Ou seja, era fundamental
que os aliados acreditassem na repetição do Plano Schlieffen.
Rosche (1991, p. 28) esclarece a importância da concentração de forças no
ponto decisivo, na proposta de Manstein:
Assim, Manstein recusa terminantemente a ideia do Alto Comando das Forças Armadas de determinar o esforço principal apenas durante o decorrer da operação [...] Parte essencial do pensamento operacional tradicional alemão é a aplicação da massa no ponto decisivo.
Liddell Hart (1980) explica que após definir as linhas gerais de sua proposta de
plano, Manstein consultou Guderian, especialista no emprego de blindados, a respeito
da viabilidade do deslocamento destes através das Ardenas, na direção de Sedan. O
movimento dessas forças era a questão central do plano proposto por Manstein, pois
evitaria o modelo do antigo Plano Schlieffen, familiar ao inimigo e, provavelmente,
esperado por ele. Ao final, Guderian avalizou a intenção de Manstein, a respeito da
possibilidade de passagem dos blindados pelas Ardenas.
23
Porém, a literatura sobre o assunto indica que estas ideias jamais chegaram a
ser apresentados formalmente a Hitler pelos escalões de comando, pois segundo
Paget (1999), no Alto Comando alemão, todos se espantaram com a ousadia do plano.
Apesar das dificuldades, Knopp (2009) afirma que durante uma visita feita pelo
assistente do Führer, Rudolf Schmundt, dois Oficiais do grupo de Manstein, Günter
Blumentritt e Henning von Tresckow, expuseram a estratégia de Manstein. Schmundt
teria ficado muito impressionado, pois a proposta continha as mesmas ideias de Hitler
a respeito da importância de realizar uma concentração de forças para o ataque à
França.
Posteriormente, um acidente aéreo pode ter provocado a mudança no plano de
invasão, bem como o curso da história. Liddell Hart (1980) descreveu em sua
entrevista com o General Student, comandante-em-chefe das forças paraquedistas
alemãs, que em 10 de janeiro de 1940, um Major designado como Oficial de Ligação
junto à 2ª esquadrilha aérea, voou de Munster para Bonn, a fim de discutir alguns
detalhes do plano com a Força Aérea, porém levava consigo o plano completo para o
ataque na frente ocidental. Devido ao mau tempo, foi obrigado a pousar na Bélgica,
não tendo tempo de queimar o documento por completo. O adido aeronáutico alemão
em Haia teria informado que na mesma noite, o rei belga teve uma longa conversa
telefônica coma rainha da Holanda.
Mesmo que não houvesse absoluta certeza sobre o quanto foi revelado a
respeito dos planos de ataque alemães, este fato abalou a confiança em um plano
que já estava sendo questionado. Acabou sendo substituído pelo plano de Manstein,
mais ousado e de acordo com o pensamento de Hitler, desejoso de uma vitória rápida
sobre França e Grã-Bretanha.
O próprio Manstein (1956, p.104) diminui esta versão, afirmando que “não teve
contudo, o desafortunado incidente a virtude de suscitar uma efetiva modificação do
plano, por mais que pareça razoável”. Porém, é compreensível que o Marechal atribua
a mudança de planos, mais aos seus argumentos e ideias, do que a um evento fortuito.
Como resultado, em 17 de fevereiro de 1940, após um evento na Chancelaria
do Reich, Hitler recebeu Manstein em seu gabinete. Nessa oportunidade, Manstein
conseguiu mostrar ao ditador a importância de delegar ao Grupo de Exércitos “A”, o
ataque na direção sul, embora o Führer já tivesse sido convencido por Schmundt, pois
este já havia levado a Hitler as explicações recebidas de Manstein.
24
Ainda conforme as explicações de Knopp (2009), a ação de Manstein, ao
buscar contato diretamente com Hitler, não passou despercebida pelo Estado-Maior
alemão. Franz Helder, Chefe do Estado-Maior Geral, decidiu enviar Manstein para
assumir o comando do 38º Corpo de Exército, no Báltico, que ainda estava em
formação e precisava ser estruturado. Desta forma, Manstein foi afastado das ações
mais importantes do plano que ajudou a conceber, tendo que acompanhar o
desenrolar dos acontecimentos à distância.
Sobre a surpresa de sua transferência, Manstein (1956, p. 106) afirmou que:
Por isso era difícil duvidar que minha substituição no cargo do Estado-Maior do Grupo de Exércitos pudesse obedecer a outra razão que não fosse o desejo do Alto Comando do Exército de desembaraçar-se da incômoda insistência de quem teve a impertinente iniciativa de se opor a seus planos operativos um de sua própria autoria. (Tradução nossa).
Complementando essa ideia sobre a situação imposta a Manstein, Liddell Hart
(1980, p. 136) manifestou o seguinte:
É irônico, não fosse também tão típico, que o homem que produziu a ideia vitoriosa não tivesse tido parte na execução do seu próprio plano. E como Manstein tivesse demonstrado mais imaginação que qualquer outro alto membro do estado-maior para compreender as potencialidades da guerra móvel de blindado, foi particularmente irônico que tivesse sido designado para comandar um corpo de infantaria (que se limitou a desempenhar uma parte muito secundária na ofensiva inicial), justamente quando o novo tipo de mobilidade estava prestes a atingir sua total realização.
3.3 O ATAQUE
No dia 10 de maio de 1940, iniciou o ataque das forças alemãs à França e aos
Países Baixos, enquanto Manstein estava com a família, em casa, em Liegnitz, na
Baixa Silésia. A guerra para as Divisões do 38º Corpo de Exército, só iniciou em 5 de
julho, quando receberam uma missão na Frente Ocidental.
A invasão das forças alemãs iniciou com grande sucesso junto ao mar,
cumprindo a tarefa de iludir os Aliados quanto à ação que estava se desenvolvendo
nas Ardenas.
Na Holanda, nas primeiras horas do dia 10 de maio, Rotterdam e seu eixo de
comunicações foram atacados por forças paraquedistas, simultaneamente com o
assalto às suas fronteiras, mais de 100 Km a leste, tudo acompanhado de ação da
força aérea alemã, a Luftwaffe. As forças blindadas penetraram rapidamente pela
fronteira e, no terceiro dia, efetuaram a junção com os paraquedistas em Rotterdam.
No quinto dia, a Holanda capitulou.
25
Figura nº 04 – A Campanha da França, 1940.
Fonte: Paget (1999, p. 47).
Na Bélgica, os paraquedistas conquistaram as pontes do canal Alberto, perto
de Maastricht. No segundo dia, os blindados se desdobraram em campo aberto,
pressionando o exército belga, que foi levado a abandonar a linha fortificada na
fronteira e recuar para oeste. Liddell Hart (1980, p. 142) explica que “Maastricht era o
ponto vital da primeira fase – ou, para ser exato, eram as duas pontes sobre o Canal
Alberto a oeste de Maastricht. Elas foram conquistadas, antes que pudessem ser
destruídas”.
Enquanto as forças alemãs, ao norte, cumpriam a missão de atrair a atenção
do Alto Comando Francês e engajar forças móveis aliadas, a ameaça das Ardenas
seguia sem receber a importância devida. Liddell Hart (1980, p. 143) descreveu as
consequências desta situação, com as seguintes palavras:
Pois no dia 13 as vanguardas blindadas de Rundstedt cruzaram o Mosa perto de Sedan e irromperam nas onduladas planícies do nordeste da França. Quando Gamelin, o comandante-em-chefe francês, pensou em rocar sua cavalaria mecanizada do flanco esquerdo para deter o avanço alemão em Sedan, descobriu que ela estava completamente engajada em Gembloux.
26
Liddell Hart (1980) explica que Manstein não teve oportunidade de mostrar o
que podia fazer como comandante de tropas, na primeira fase da campanha. Porém,
na segunda fase, durante o ataque à nova linha de defesa francesa ao longo do
Somme, coube ao seu Corpo efetuar a primeira ruptura, a oeste de Amiens.
Os blindados de Rommel passaram a explorar o êxito pela brecha aberta,
porém Manstein também participou da perseguição, empregando sua infantaria como
tropas dotadas de grande mobilidade. Seu Corpo foi o primeiro a atingir e a transpor
o rio Sena, em 10 de junho, marchando mais de 60 Km por dia.
Em seu livro “Vitórias Perdidas”, Manstein (1956, p. 112) resume sua situação
no comando do 38º Corpo de Exército através do subtítulo “Condenado a atuar como
espectador”, acusando o golpe de ter sido retirado da ação junto ao Grupo de
Exércitos “A”, na invasão da França. Porém, resume a sua vitoriosa ação à frente
deste Corpo, da seguinte forma:
Por outra parte, move-me também rememorar os combates do 38º Corpo seguintes à ruptura das posições francesas do Somme, feito que pode servir de modelo de perseguição, neste caso continuada desde o Somme até o Loire passando pelo Sena, sem conceder um momento de respiro ao inimigo até vê-lo totalmente desmoronado. (Tradução nossa).
Sobre o sucesso da manobra utilizada pelos alemães, que levou à rápida
derrota das forças aliadas em 1940, Liddell Hart (1980, p. 127) descreveu o seguinte:
Quase todos os generais com quem falei, inclusive Rundstedt e seu principal planejador, Blumentritt, admitiram francamente que jamais tinham esperado tão amplo sucesso como o que foi conseguido. Descrevendo o ponto de vista que prevalecia nos escalões superiores, Blumentritt observou: “Apenas Hitler acreditava que uma vitória decisiva fosse possível”. Mas entre os generais mais moços, havia particularmente dois – Manstein e Guderian – que acreditavam na possibilidade de uma vitória decisiva, desde que os novos métodos fossem utilizados. Com o apoio de Hitler eles conseguiram provar que estavam certos, e, dessa forma, mudaram o curso da história.
27
4. A OFENSIVA PARA O LESTE
Com a vitória sobre a França, a Alemanha ganhou fôlego para se expandir em
outras direções. No final de agosto de 1940, com a finalidade de assegurar o
suprimento de petróleo, a Alemanha ocupou a Romênia, iniciando seus movimentos
na direção dos Balcãs.
Outro componente da complexa situação surgiu em outubro de 1940, quando
a Itália atacou a Grécia, mas passou a enfrentar uma série de fracassos e dificuldades,
o que levou Hitler a socorrer os italianos, ampliando a presença germânica na região.
Posteriormente, Hitler determinou a invasão da Iugoslávia e da Bulgária, o que
ampliou ainda mais a presença alemã nos Balcãs, dando ainda mais motivos de
preocupação para os soviéticos.
Sobre as intenções de Hitler, assim se referiu Tota (2008, p. 368):
Desde março de 1941 havia sinais claros de que Hitler estava se preparando para a guerra contra a União Soviética, considerada o verdadeiro grande inimigo da Alemanha nazista. Para a doutrina nazista, o comunismo e o socialismo, que haviam sido derrotados em solo alemão no começo dos anos 30, precisavam ser extirpados na sua origem.
No prosseguimento, apesar do Pacto de Não-Agressão entre as duas
potências, a Alemanha invadiu a União Soviética, em 22 de junho de 1941, dando
início à operação Barbarossa (Figura nº 05).
Como nos explica Tota (2008), a Alemanha concentrou tropas ao longo de 3
mil quilômetros de fronteiras da União Soviética, reunindo cerca de 150 divisões do
Exército e grande número de blindados e canhões, além de cerca de 2770 aviões.
Esta força foi organizada em três Grupos de Exércitos, sendo o Grupo do centro
orientado em direção a Moscou, o Grupo do norte, direcionado a Leningrado e um
terceiro Grupo penetraria na região sudoeste, para dominar os campos de trigo da
Ucrânia e a região petrolífera do Cáucaso.
Liddell Hart (1980, p. 221) explica a orientação da ofensiva a partir do
pensamento e da decisão política de realizar a invasão:
Hitler queria conquistar Leningrado como objetivo básico, limpando assim o flanco do Báltico e ligando-se com a Finlândia, e tendia a reduzir a importância de Moscou. Por outro lado, com seu agudo senso dos fatores econômicos, ele queria também conquistar a região agrícola da Ucrânia e a área industrial do baixo Dnieper. Os dois objetivos eram extremamente afastados, o que resultava em duas faixas de atuação inteiramente separadas.
28
Figura nº 05 – A Operação Barbarossa.
Fonte: Barnett (1990, caderno de mapas. Mapa 4).
4.1 COMANDO DO 56º CORPO PANZER
Em março de 1941, Manstein havia assumido o comando do 56º Corpo Panzer,
na Prússia Oriental, integrando o Grupo de Exércitos do Norte, que estava sob o
comando do Marechal Wilhelm von Leeb (Figura nº 05).
Conforme Paget (1999), após o início da invasão, a tropa blindada de Manstein
alcançou destacados resultados. Ultrapassando a fronteira com a Lituânia, penetrou
profundamente no território inimigo, avançando rapidamente e deixando para trás as
forças alemãs vizinhas, o 16º Exército ao sul e o 41º Corpo Panzer ao norte. Na manhã
do dia 26 de junho, a 8ª Divisão, a qual pertencia o Corpo de Manstein, havia
conquistado duas pontes intactas sobre o rio Duna, na Letônia. Em quatro dias, havia
se afastado 300 Km de seu ponto inicial, ficando a 120 Km da Grande Unidade alemã
mais próxima.
29
Ainda segundo Paget (1999), o restante da 8ª Divisão só alcançou o 56º Corpo
Panzer, que aguardava na posição, em 2 de julho. A partir deste ponto, devido ao
tempo perdido, o prosseguimento tornou-se mais difícil. O deslocamento em direção
a leste atingiu a Linha Stálin (Figura nº 06), na fronteira russa, constituída de
casamatas de concreto, terreno pantanoso e precárias estradas. Seguiu-se a isso, um
deslocamento de mais 115 Km para o Norte, chegando a Narva, e em seguida para o
sul, avançando mais 243 Km até Dno, a fim de apoiar o 16º Exército, que se
encontrava pressionado por forças inimigas. Esta fase foi concluída com a conquista
de Demiansk, onde Manstein recebeu a notícia de sua designação para o comando
do 11º Exército, na frente sudeste.
Figura nº 06 – A Ofensiva sobre Leningrado.
Fonte: Paget (1999, p. 57).
Manstein (1956) fez considerações a respeito de sua experiência em combate,
com unidades ligeiras ou blindadas. Observou que nesses grupamentos especiais, as
mudanças de situação ocorrem de forma tão rápida que o comandante não pode estar
em um Posto de Comando à retaguarda. Permanecer atrás, esperando os fatos
acontecer, significa que decisões chegarão atrasadas e muitas ocasiões favoráveis
ou oportunidades serão perdidas.
Sob o aspecto da importância da liderança dessas forças, Manstein (1956, p.
170), lembra que apesar da tensão e dos esforços extenuantes da guerra de
30
movimento a toda a tropa, o comandante deve entender como sua mais importante
tarefa, a de ser visto na vanguarda, com a maior frequência possível. E ainda
acrescenta que: “Somente quando dia a dia pudermos chegar às nossas tropas de
vanguarda, estaremos em condições de conhecer suas dificuldades, atender e
compreender suas queixas e ajudar-lhes lealmente”.
Como forma de resumir a ação de Manstein, no período à frente do Corpo
Panzer, pode-se utilizar o seguinte trecho da obra de Paget (1999, p. 58):
Enquanto no comando do 56º Corpo, Manstein não passou um só dia, após cruzar as fronteiras alemãs, sem estar engajado em combate. Muito poucas foram as oportunidades em que suas tropas estiveram distantes menos de 75 Km da unidade alemã mais próxima. Num terreno quase desprovido de estradas, seus homens percorreram o correspondente a 950 Km em linha reta. A campanha conduzida por Manstein, como General-Comandante do 56º Corpo de Exército, merece ser estudada em detalhes por todo aquele que pretenda liderar uma unidade blindada.
No dia 12 de setembro de 1941, o Alto Comando do Exército informou que o
Marechal deveria apresentar-se imediatamente ao Grupo de Exércitos do Sul, para
assumir o comando do 11º Exército. Sobre este momento, Manstein (1956, p,184)
disse que: “Nenhum soldado deixará de compreender a alegria e orgulho que tive de
experimentar ao me ver convertido em comandante de um exército, pois aquela
promoção constituía o ápice da carreira militar”.
4.2 A CONQUISTA DA CRIMÉIA
Manstein assumiu o comando do 11º Exército, subordinado ao Grupo de
Exércitos Sul, de von Rundstedt, em 17 de setembro de 1941, substituindo o General
Ritter von Schobert, que havia sido gravemente ferido. Integravam este comando, três
Corpos de Exército alemães e o 3º Exército romeno.
Segundo o Marechal de Campo Lorde Carver (1990, p. 283), “Manstein teve
que enfrentar duas missões diferentes: arremeter na direção leste e tomar Rostov – o
ponto de cruzamento vital nas proximidades da foz do Don –, e ocupar a Criméia.”
Explica ainda que o objetivo dessa última era privar os russos de utilizar os campos
de aviação da região e eliminar a ameaça no flanco direito, no avanço para o leste.
Knopp (2009) explica que para conquistar a Criméia (Figura nº 07) e sua
fortaleza, Sebastopol, diferentemente de ocasiões anteriores, desta vez as condições
não eram favoráveis, porque a situação não era adequada a combates móveis, pois o
terreno não permitia espaço para distribuir tropas e explorar a mobilidade de forças.
31
Figura nº 07 – A Criméia
Fonte: Paget (1999, p. 61).
A ação inicial consistiu em um ataque ao istmo de Perekop, um dos únicos
acessos por terra à Criméia. Lorde Carver (1990, p. 283) explica que “o istmo tinha
menos de 8 Km de largura e era flanqueado pelo mar, raso demais nesse ponto para
permitir o emprego de barcos de assalto, não havia possibilidades de manobra”.
Atacando com os 30º e 54º Corpos, teve lugar um violento combate de
infantaria. Após nove dias, em 28 de outubro, as posições russas caíram e Manstein
partiu em perseguição ao inimigo. O 54º Corpo seguiu para Sebastopol, enquanto
isso, o 30º Corpo em direção a Simferatopol e o 42º Corpo de Montanha, em direção
a Feodosia. Segundo Paget, esta última manobra teve a finalidade de evitar que as
tropas russas tivessem acesso a Sebastopol.
Outros dados expostos por Paget (1999, p. 63), mostram o resultado da ação
alemã:
Nesses combates, o 11º Exército fez 101.000 prisioneiros, número quase equivalente ao efetivo total das tropas alemãs engajadas na batalha. Nas operações de vasculhamento e limpeza da área, foram aprisionados mais 48.000. Em 15 de novembro, toda a Criméia, com exceção de Sebastopol estava em poder dos alemães.
Tendo em vista as questão logísticas e climáticas, o ataque a Sebastopol só
pôde ocorrer em 17 de dezembro, mas até o Natal não houve avanços significativos
nesta ofensiva.
32
Em 29 de dezembro, os russos desembarcaram grandes efetivos em Feodosia,
operando sobre a proteção da Frota do Mar Vermelho, forçando a suspensão de um
ataque alemão a Sebastopol. Em 15 de janeiro, Manstein realizou um contra-ataque
e reconquistou Feodosia.
Em 27 de fevereiro de 1942, os russos desencadearam, a partir da península
de Kerstch, uma ofensiva sobre o istmo de Parpatsch, cuja defesa foi conduzida com
grande dificuldade. Após certa indefinição sobre a estabilidade da situação, Manstein
recebeu reforços da 22ª divisão Blindada em 20 de março, melhorando a situação em
Kertsch.
Reforçado por mais uma Divisão e caças da Luftwaffe, Manstein planejou um
ataque à península de Kerstch, partindo de Parpatsch. Segundo Paget (1999), era
intenção de Manstein romper a frente russa ao sul, prosseguindo com rapidez para
cortar o retraimento dos russos, através de Kertsch, o que se materializou em sucesso
total, levando as tropas alemãs a conquistar Kerstch em 15 de maio, conquistando a
península dos russos.
Colocando de forma resumida, Paget (1999) ainda explica que após a vitória
em Kertsch, todos os esforços foram direcionados para a conquista de Sebastopol,
cujo terreno ao redor das posições fortificadas dificultava, naturalmente, a ação do
atacante, que se constituiu em uma grande operação de sítio. A preparação de
Artilharia iniciou em 1º de junho, tendo ocorrido combates durante todo o mês de
junho, culminando com a tomada da cidade em 1º de julho daquele ano.
O próprio Manstein (1956, p. 187) resumiu a dificuldade e a complexidade da
missão cumprida na Criméia, ao afirmar que foi um dos poucos casos em que um
exército operou com autonomia em um cenário à parte e com seus próprios meios,
mas sem intromissões do comando supremo, além de afirmar que:
É, por último, uma campanha que, no limitado espaço de dez meses, acumula incessantes lutas, batalhas ofensivas e defensivas, iniciativa de comando em guerra de movimentos, uma briosa perseguição, operações de desembarque de um adversário que dominava as águas, lutas de “partisans” e o assalto e transposição de uma fortaleza que merecia tal nome.
Ao término desses eventos, como recompensa, Manstein foi promovido a
Marechal de Campo, deixando a Criméia no dia 6 de julho de 1942.
33
5. A REVIRAVOLTA E AS AÇÕES DEFENSIVAS NA FRENTE LESTE
No verão de 1942, as forças alemãs na Rússia foram reorganizadas em relação ao
desencadeamento da Operação Barbarossa, em 1941. Assim, Martin Middlebrook
(1990) explica que o Grupo de Exércitos Sul foi dividido em duas partes. O Grupo de
Exércitos A, sob o comando do Marechal List, deveria operar na direção sudeste, na
direção dos campos petrolíferos do Cáucaso; enquanto o Grupo de Exércitos B, sob
o comando de General Weichs, avançaria diretamente para o leste até o rio Volga, a
fim de impedir que reservas russas entrassem no Cáucaso.
5.1 A RENDIÇÃO DO 6º EXÉRCITO EM STALINGRADO
Em 20 de novembro de 1942, Manstein foi informado de que a formação a seu
comando receberia a denominação de Grupo de Exércitos Don, devendo seguir para
Stalingrado, a fim de prestar assistência ao 6º Exército. Ao chegar em Novocherkassk,
a 180 km de Stalingrado, o 6º Exército, comandado pelo General Friedrich Paulus,
assim como parte do 4º Corpo Panzer, estava cercado (Figura nº 08).
Figura nº 08 – A situação em Stalingrado, 1942.
Fonte: Paget (1999, p. 73).
34
A situação do 6º Exército e a quantidade de meios isolados são descritos por
Middlebrook (1990, p. 420), no trecho abaixo:
Paulus ficou isolado, com tudo que restava de seu próprio 6º Exército, elementos do 4º Exército Panzer de Hoth e remanescentes das divisões romenas que haviam defendido os flancos. Havia ainda grande número de formações de suprimento e retaguarda, uma divisão antiaérea da Luftwaffe e outras unidades aéreas, com uma Gruppe completa de caças, parte de uma Gruppe Stuka e outras unidades aéreas. Numa área de 50 Km de comprimento por 32 Km de largura, concentravam-se entre 250 mil e 300 mil homens.
Adicionalmente, Lorde Carver (1990) fez a avaliação de que a crise foi causada
por uma falha de estratégia. O Grupo de Exércitos A, comandado por List, penetrou
até o Cáucaso, deixando uma brecha entre sua retaguarda e o Grupo de Exércitos B,
de Weich, que estava distribuído ao longo do rio Don e dependia de exércitos aliados,
oriundos de Hungria, Itália e Romênia. Além disto, neste momento, Hitler não era
somente o Comandante das Forças Armadas, mas também do Exército, devido à
demissão do Marechal Brauchitsch, ocorrida em dezembro de 1941. Assim, Manstein
estava sob o comando direto de Hitler, permanecendo Halder, Chefe do Estado-Maior,
como intermediário.
Cabe destacar ainda, as observações do próprio Manstein (1956, p. 294) sobre
a gravidade da situação encontrada e dos erros que a causaram:
A intenção de manter consolidada esta larga frente constituiu o primeiro dos equívocos. O segundo equívoco, ainda mais funesto, foi que Hitler obrigou o Grupo de Exércitos B a imobilizar frente a Stalingrado e dentro da cidade suas principais forças de choque, integradas pelo 6º Exército e pelo 4º de tanques (Tradução nossa).
Deve-se ainda, registrar a observação de Manstein (1956, p. 294) de que “o
Grupo de Exércitos B compreendia nada menos que sete, quatro deles forças aliadas,
quando um comando superior pode mandar, no melhor dos casos, de três a cinco
exércitos”, ressaltando, desta forma, um erro doutrinário elementar que dificultava
sobremaneira a coordenação daquelas forças, pelo excessivo número de peças de
manobra.
Segundo Knopp (2009), desde o primeiro momento, Manstein teria levantado a
possibilidade da retirada do 6º Exército, mas Hitler teria recusado categoricamente,
afirmando que a linha deveria ser mantida a qualquer custo, abaixo do Rio Volga. O
que estava em jogo eram os campos de petróleo do Cáucaso.
Além disso, havia a questão simbólica que envolvia a posse da cidade. Sobre
esta questão, Paget (1999, p. 73) fez a seguinte afirmação:
35
Até mesmo diante de um situação tão desesperadora como essa, Hitler negava-se a permitir que o 6º Exército tentasse romper o cerco. Não podia nem queria abandonar Stalingrado, para ele o símbolo do seu conflito com Stálin.
Além de tudo isso, ainda havia a necessidade do abastecimento aéreo ao 6º
Exército. Sobre essa questão, Manstein (1956, p.315) descreveu o que teria sido
decidido:
Praticamente, Hitler havia respondido dias atrás com um “sim” a nossa pergunta tácita de se havia ou não possibilidade de abastecer por ar a nossas forças, ao se recusar a autorizar a saída de Paulus. E agira assim baseado na correspondente promessa de Goering, de que abasteceria os sitiados com sua Luftwaffe (Tradução nossa).
Manstein também afirma que o General-Coronel barão von Richthofen, chefe
da 4ª Frota Aérea, responsável pelo abastecimento do 6º Exército, reportou-lhe a
dificuldade de transportar o suprimento necessário, tendo em vista o tempo naquele
período e o grande volume que deveria ser levado, de forma regular. Nesta linha de
pensamento, Manstein (1956, p. 315) conclui, afirmando que “é, pois, indubitável que
as seguranças dadas por Goering a Hitler em 23 de novembro (ou mesmo antes)
constituíam uma fraude”.
Como forma de permitir o cumprimento da missão, o Grupo de Exércitos Don
seria reforçado. Assim, o 4º Exército de Tanques receberia o 57º Corpo Blindado e
seria formado o Exército Hollidt, que avançaria no setor do 3º Exército Romeno.
Manstein (1956, p. 318) diz que assim, “poderia dispor de quatro divisões de tanques,
quatro de infantaria ou de montanha e três de tropas de aviação como forças
aplicáveis à empresa de liberação”.
O próprio Manstein (1956) explica que a ideia inicial era fazer um ataque em
duas direções, uma delas partindo de Kotelnikowo a leste do rio Don com o 4º Corpo
Panzer e desde Tschir central por Kalatsch, com o Exército Hollidt. Mas isso se tornou
inviável por diversos atrasos e insuficiência de meios. Assim, concluiu Manstein (1956,
p. 321), “era o 4º Exército de Tanques o único em condições de fazê-lo. Era, na prática,
a força que, em primeiro lugar, contava com o caminho mais curto até Stalingrado”.
Segundo a descrição de Knopp (2009), foi então planejada uma operação de
socorro ao 6º Exército, que seria dividida em duas fases, a primeira chamada
“Operação Tempestade de Inverno”, ofensiva a ser liderada pelos blindados do 4º
Exército, sob comando do General Hoth, para abrir caminho até a tropa sitiada (Figura
nº 09). Posteriormente, quando a força chegasse a 30 Km de Stalingrado, seria
36
desencadeada a “Operação Trovão”, em que as unidades do 6º Exército abririam uma
brecha e poderiam fazer uma retirada. Esta última operação só seria informada a
Hitler, se o movimento de Hoth fosse bem sucedido.
Figura nº 09 – O ataque de Manstein, novembro de 1942 a janeiro de 1943.
Fonte: Barnett (1990, caderno de mapas. Mapa 7).
No dia 12 de dezembro, Hoth lançou o ataque com duas Divisões Panzer,
conseguindo, apesar das dificuldades, chegar aos arredores de Stalingrado. Porém,
como explica Paget (1999, p. 72): “A 45 Km do cerco ao 6º exército, a progressão de
Hoth foi barrada por forças russas superiores, passando ele próprio a correr o risco
de um envolvimento”.
Assim, caberia ao próprio 6º Exército, avançar na direção sudoeste, a fim de
romper o cerco e juntar-se ao 4º Exército. Porém, segundo Manstein (1956), o General
Paulus optou por não realizar esta ação, alegadamente por não possuir munição e
combustível suficiente, além do mais, isso contrariava a ordem de Hitler, de não
abandonar a cidade.
37
Conforme destacado por Knopp (2009), o surgimento de outra crise, desta vez
provocada pelo avanço do Exército Vermelho em direção ao 8º Exército Italiano,
ameaçando a situação do Grupo de Exércitos Don e do Grupo de Exércitos A, este
mais ao sul, obrigou os alemães a mobilizar forças para conter esta situação. Por isso,
Manstein mandou Hoth suspender o ataque e retornar.
Dessa forma, a tentativa de resgatar o 6º Exército fracassou, o que contribuiu
para sua capitulação pouco tempo depois, em 2 de fevereiro de 1943.
5.2 A REORGANIZAÇÃO ALEMÃ
Segundo Robin Cross (2008), o avanço soviético, a partir de Stalingrado, forçou
o Grupo de Exército Don a recuar até Rostov, na foz do rio Don. Enquanto no sul, o
Grupo de Exércitos A, do Marechal von Kleist, foi forçado a recuar do Cáucaso para a
península de Taman, na costa norte do mar Negro; no norte, a forte pressão soviética
sobre o 8º Exército Italiano e 3º Exército Romeno ameaçava romper o contato entre o
flanco esquerdo do Grupo de Exércitos Don com o Grupo B.
Na conferência de quatro horas com Hitler no Ratemburg, em 6 de fevereiro de
1943, Manstein obteve autorização para abandonar a bacia do Donets até o rio Mius.
Outro resultado da conferência foi a dissolução o Grupo de Exércitos B, recebendo
Manstein o comando de suas forças. Assim, o Grupo de Exércitos Don foi rebatizado
de Grupo de Exércitos Sul, tendo sua área de responsabilidade estendida até
Kharkov.
Poucos dias depois, Kharkov foi atacada e abandonada pelo 1º Corpo Panzer
SS, que estava sob o comando do General Paul Hausser, então subordinado ao
Destacamento do General Lanz. Como essa atitude contrariou ordem direta de Hitler,
Lanz foi afastado, sendo imediatamente substituído pelo General Kempff.
Como reação, enquanto o Destacamento Hollidt deslocava-se para o Mius,
pressionado pelos soviéticos, Manstein desdobrou os 1º e 4º Exércitos Panzer, contra-
atacando as penetrações no flanco norte, tendo sido ainda auxiliado pelo Corpo
Panzer SS ao sul de Kharkov. O autor Lorde Carver (1990, p. 291) esclarece que
“tendo a iniciativa temporariamente passado para as mãos dos alemães, Manstein
explorou-a para recuperar Kharkov, que o corpo Panzer SS retomou no dia 14 de
março, enquanto mais ao norte Kempff reconquistava também Belgodod”.
38
5.3 A OPERAÇÃO CIDADELA
Cross (2008) explica a situação na frente do Leste, em junho de 1943, como
uma imensa linha, que ia de Leningrado até a orla do norte do Mar de Azov, próximo
de Taganrog. Imediatamente abaixo do saliente de Orel, havia um pedaço do lado
alemão, mordido pela saliência de Kursk, que se sobressaía para oeste por cerca de
130 Km. Este saliente ficava junto ao limite entre os Grupos de Exércitos Centro e do
Sul, além de ser uma importante junção de estradas (Figura nº 10).
Figura nº 10 – Frente Leste, verão de 1943.
Fonte: Cross (2008, p. 96).
39
Sobre a decisão alemã naquela situação, Paget (1999) explica que Manstein,
inicialmente, havia proposto uma manobra cedendo terreno na Bacia do Donets, para
atrair as reservas blindadas russas ao sul e destruí-las a partir de Kharkov. Mas teve
de optar por uma segunda alternativa, antecipando-se à ofensiva russa e atacando,
pelo norte e pelo sul, na altura de Kursk. Acrescentou a esta linha de ação que se o
ataque fosse realizado ainda em maio, após o período das chuvas, as formações
soviéticas não estariam nas melhores condições de combate. Esta operação, que
pretendia retomar a iniciativa na frente leste, recebeu o nome de “Cidadela”.
Rosche (1991, p. 39) explica os objetivos pretendidos com a operação:
A saliência de Kursk era, portanto, um ponto especialmente sensível na frente alemã do Leste. Por causa disso, na Ordem de Operações número 6 do Alto Comando do Exército, datada de 15 de abril de 1943, são mencionados como objetivos deste ataque: destruição das forças inimigas estacionadas no saliente de Kursk e estabelecimento de uma nova frente mais curta, permitindo assim economizar meios.
Assim, ficou deliberado que o Grupo de Exércitos Centro, sob o comando de
Kluge, avançaria pelo norte, enquanto o Grupo de Exércitos, sob o comando de
Manstein iria avançar pelo sul, realizando um movimento de pinça (Figura nº 11).
Figura nº 11 – Operação Cidadela
Fonte: Paget (1999, p.85).
40
As primeiras ordens foram emitidas em 13 de março, mas Hitler retardou
diversas vezes o início do ataque, a fim de distribuir blindados mais modernos às
tropas, contrariando a ideia inicial de Manstein, que pretendia atacar o mais rápido
possível, para surpreender os russos.
Rosche (1991, p. 45) corrobora com essa problemática dos adiamentos e da
preocupação de Manstein, exposta no trecho abaixo:
Quando o comandante do 9º Exército, Major General Model, exigiu uma elevação do número de blindados tratava-se em discussão com Hitler, em 4 de maio, de uma eventual transferência da data do ataque para meados de junho. Manstein argumenta veementemente com o Chefe do Estado-Maior e com o Comandante do Grupo de Exércitos Centro. Com esta transferência perde-se o momento da surpresa. Com isto a ideia fundamental de atingir o inimigo ainda em situação de debilidade seria prejudicada.
A respeito desses adiamentos, Paget (1999, p. 84 e 86) descreveu o seguinte:
Tanto Kluge quanto Manstein se opuseram. Manstein retrucou que o adiamento levaria à supressão do pressuposto básico da operação, isto é, surpreender os russos no meio dos preparativos para a ofensiva do verão, enfatizando, ainda, que as unidades blindadas alemãs, por mais reforçadas que estivessem, iriam sempre defrontar-se com formações de carro inimigas consideravelmente mais fortes, e que, além de tudo isso, os aliados seguramente estariam prestes a iniciar uma invasão pela Itália, o que provavelmente tornaria necessária uma retirada de meios daquele teatro de operações.
Para piorar a situação, a cada dia os soviéticos se tornavam mais fortes, o que
iria dificultar ainda mais a obtenção do sucesso no ataque. Sobre isso, Cross (2008,
p. 150) afirma que “Hitler preparava-se para lançar dois exércitos contendo uma alta
proporção de suas melhores divisões blindadas, contra um sistema defensivo, que
havia dado ao inimigo três meses para se fortalecer”.
Cross (2008) explica que no dia 1º de julho, Hitler reuniu-se com seus
comandantes seniores, confirmando os detalhes anteriormente definidos. No norte,
na frente de Kluge, o 9º Exército de Model deveria atravessar as defesas russas entre
a estrada Orel-Kursk e a ferrovia, avançando sobre Kursk. No sul, na frente de
Manstein, o 4º Exército Panzer deveria atacar em ambos os lados de Tomarovka e
forçar caminho através de Oboyan para juntar-se ao 9º Exército, ao norte de Kursk. O
Destacamento de Exército Kempf deveria proteger o flanco direito do 4º Exército
Panzer, empurrando o próprio flanco direito do rio Koren para o norte.
Nas primeiras horas do dia 5 julho, os dois Grupos de Exército desencadearam
o ataque, rompendo as primeiras posições soviéticas. Devido à profundidade do
dispositivo defensivo, o ataque ocorreu com mais lentidão do que o esperado, porém
41
manteve um avanço constante. Já em 6 de julho, os defensores reagiram aos êxitos
dos ataques alemães do primeiro dia, com o emprego de suas reservas operacionais.
Rosche (1991, p. 49) explica que “isso levou à parada da ala de choque do Grupo de
Exército Centro aproximadamente a 18 quilômetros à frente de seu ponto de partida”.
Ainda segundo a descrição de Rosche (1991), no Grupo de Exércitos Sul
(Figura nº 12), as primeiras reservas operacionais do inimigo lançadas na batalha,
foram atraídas e derrotadas pelo ataque conduzido com grande impulso pelo Exército
Kempf. Isso possibilitou ao 4º Exército Panzer a ruptura, através das posições
inimigas, para terreno livre já no dia 7 de julho, após dois dias de pesados combates.
Figura nº 12 – O avanço do Grupo de Exércitos Sul
Fonte: Cross (1999, p. 213).
Em 11 de julho, enquanto o Destacamento Kempf avançou a leste do Donets,
as forças do 2º Corpo Panzer SS, parte do 4º Exército Panzer, começaram a abrir
caminho para Prokohorvka. Esta parte da frente começava a ficar fragilizada, então
42
os soviéticos empregaram o 5º Exército de Blindados, que estava em reserva. Cross
(2008, p. 209 e 210) explica que “pelo final da tarde de 11 de julho, os avanços do II
Corpo do Exército Panzer SS haviam sido detidos e gastaram o resto do dia circulando
ao redor de Prokohorvka” (Figura nº 13).
Figura nº 13 – A disputa em Prokhoravka
Fonte: Cross (1999, p. 203).
Parte dos acontecimentos do dia 12 de julho foram descritos por Cross (2008,
p. 211) com as seguintes palavras:
Os carros de combate do XXIX e do XVIII Corpo de Exército abandonaram a cobertura e avançaram para enfrentar o II Corpo Panzer SS, cujos blindados estavam emergindo de seus acampamentos para lançar um ataque simultâneo. A cena foi caracterizada por um choque frontal de blindados, que se tornou um dos grandes mitos da história militar.
Ao fim do dia, o embate parecia não ter tido um vencedor. Cross (2008, p. 2016)
diz que “às 21h, depois de uma série de contra-ataques alemães, ambos os lados
estavam assumindo posições defensivas”.
43
Cabe ressaltar a visão de Rosche (1991, p. 49), exposta através do seguinte
trecho:
Nesta fase da operação ocorreu um choque de blindados jamais visto até então, quando o inimigo lançou 3 corpos blindados e 1 mecanizado, de suas reservas, contra o 4º Exército Blindado. Após dois dias de combate, encerrou-se esta batalha com a vitória da defesa alemã. [...] O 9º Exército de Campanha após reorganização e novo ataque foi definitivamente detido.
Na realidade, quando a operação foi finalmente desencadeada, já não houve
nenhuma surpresa, pois os soviéticos tiveram tempo suficiente para erguer um
robusto sistema defensivo. Com isso, os alemães enfrentaram a tenaz resistência
russa, o que reduziu imensamente a velocidade inicialmente imaginada para o
avanço. Seguido a isso, a contraofensiva russa tornou impossível a conquista dos
objetivos originais.
Rosche (1991, p. 51 e 52) faz uma interessante avaliação da capacidade de
planejamento e operacional de Manstein, em comparação a Hitler:
Manstein planeja em dimensões de tempo e espaço maiores do que Hitler. Este está fixado no saliente de Kursk e quer ali uma vitória alemã como “símbolo para o mundo". Manstein orienta-se por uma avaliação mais ampla das intensões do inimigo e pela manutenção de toda a frente Leste.
O golpe final na Operação “Cidadela” começou a ocorrer no dia 10 de julho,
quando britânicos e norte-americanos invadiram a Sicília. A reação de Hitler foi
descrita por Paget (1999, p. 86), da seguinte forma:
A 13 de julho, Manstein e Kluge foram novamente chamados a Loetzen, onde Hitler lhes revelou que a ofensiva deveria ser imediatamente suspensa, pois os aliados haviam desembarcado na Sicília, o que implicava a necessidade de retirar unidades da frente russa.
Ou seja, ocorreu exatamente o que Manstein havia previsto em relação à Itália,
confirmando o acerto de sua argumentação sobre a necessidade de evitar protelações
no desencadeamento da Operação “Cidadela”.
Cross (2008, p. 230) afirma que “Ao final de julho de 1943, as perdas de
blindados alemães totais na Frente do Leste alcançariam 645 carros de combate e
207 canhões de assalto”. Estas perdas se tornaram irreparáveis, tendo em vista a
limitada capacidade de reposição alemã.
Depois do fracasso dessa Operação, não houve mais ofensivas importantes na
frente Leste. E tornou-se uma constante o avanço russo sobre as resistências alemãs,
cada vez mais fragilizadas.
44
5.4 O RETRAIMENTO ALEMÃO
A partir do insucesso da Operação “Cidadela”, das grandes perdas sofridas e
da força da contraofensiva soviética, não restou outra alternativa aos alemães, a não
ser recuar. Nesse processo, inicialmente foram definidos o abandono da bacia do
Donets e a manutenção da linha do Dnieper, mas a situação foi muito mais grave.
Cross (2008, p. 244) explica que em função de mensagem telegráfica urgente
de Manstein, no dia 7 de setembro, descrevendo que “Cinquenta e cinco divisões
soviéticas e dois corpos de Exército de Blindado estão agora enfrentando o Grupo de
Exército”, Hitler reuniu-se com o Marechal no dia 8, em Zaporozhye, onde este foi
autorizado a levar o flanco direito do Grupo de Exércitos Sul para trás da linha de
Melitopol-Dnieper.
Lorde Carver (1990, p.292 e 293) se refere a essa tentativa de retrair para
oeste, de forma organizada, apesar de todas as dificuldades do momento:
A retirada de Manstein foi feita sob constante pressão de forças terrestres e aéreas soviéticas. [...] A execução bem-sucedida da retirada por volta de fins de setembro, sob pressão constante, constituiu uma façanha de habilidade e determinação militar em todos os níveis, dos quartéis-generais dos grupos de exércitos até as tropas nas linhas de frente. [...] Von Manstein era um exemplo inspirador dessas qualidades.
Ainda nessa linha, Cross (2008, p. 247) também descreve as dificuldades dos
alemães para sustentar a organização da frente:
A corrida para o Dnieper terminou na prática em empate. No dia 21 de setembro, as primeiras unidades do Exército Vermelho chegaram à margem leste do rio oposto a Kanev, quando os alemães explodiam a última ponte e entrincheiravam-se na margem oeste.
Mas os constantes recuos eram inevitáveis. A posição do 4º Exército Panzer,
em Kiev, se tornou insustentável e caiu no dia 6 de novembro. Lord Carver (1990, p.
294) explica que “em meados de fevereiro de 1944, o Grupo de Exércitos Sul fora
empurrado para muito longe do Dnieper, salvo nas suas regiões mais baixas, e
forçado a recuar a maior parte do caminho de volta ao Bug”.
5.5 A DISPENSA DE MANSTEIN
Em março, o 1º Exército Blindado SS ficou cercado pelos soviéticos, o que
motivou a ida de Manstein a Loetzen, onde houve uma dura discussão com Hitler, pois
o Marechal afirmou que iria determinar a ruptura do cerco, contrariando as conhecidas
ordens do Führer, para não abandonar o terreno. Paget (1999, p.93) afirma que, por
fim, “Hitler autorizou a evasão do I Exército Blindado e transferiu um corpo de exército
45
blindado do leste para o oeste”. Porém, aparentemente, esta última discussão
encaminhou o destino de Manstein, encerrando o longo histórico de divergências com
Hitler.
Conforme o próprio Manstein (1956) descreveu em sua obra, este foi chamado
ao Quartel-General de Hitler, em Berchtesgaden, no dia de 30 de março de 1944.
Nesta ocasião, foi dispensado de seu comando, sendo substituído por Model, então
promovido a Marechal. Após isso, Manstein não recebeu outra missão, retornando à
Alemanha e se despedindo da Segunda Guerra Mundial.
46
6. CONCLUSÃO
O presente trabalho abordou a trajetória do Marechal Erich von Manstein, militar
alemão de destacada participação na 2ª Guerra Mundial, cuja influência, atuação
como planejador no nível estratégico-operacional e na condução de operações
militares no conflito foram extremamente relevantes. Assim, cabe ressaltar suas
principais iniciativas, contribuições e ensinamentos nos eventos históricos de que
participou.
Terminada a invasão da Polônia pelos alemães, que levou Inglaterra e França a
declararem guerra à Alemanha, em 3 de setembro de 1939, Hitler ficou determinado
a partir para a ofensiva, pois considerava que esperar demais seria um risco,
particularmente devido à proximidade da fronteira da Bélgica com as áreas industriais
do Reno e do Ruhr, fundamentais para a produção de armamentos.
No memorando datado de 9 de outubro de 1939, o Führer mostrava acreditar que
a Alemanha dispunha de efetivos e armas para conquistar a vitória contra os aliados
e que o tempo trabalhava contra a Alemanha, pois os recursos eram limitados e ainda
havia a ameaça russa. Adicionalmente, se a França fosse derrotada, seria mais fácil
entrar em acordo com a Grã-Bretanha.
Nesse contexto, destacava-se o pensamento do Marechal von Manstein, que fez
severas críticas aos comandantes alemães, após a vitória contra a Polônia.
Considerava que as orientações emanadas por Hitler, em 9 de outubro, foram
realizadas para sair um estado inicial, ou seja, para quebrar a inércia. Desaprovava a
falta de ação e de opções militares para a situação, caso as negociações com as
potências ocidentais não tivessem sucesso, o que realmente ocorreu.
Na realidade, Manstein considerava que o Alto Comando teve uma ação retraída
após a Campanha da Polônia e no começo das ações contra as potências ocidentais,
deixando a iniciativa para Hitler. Em resumo, a crítica de Manstein era de que o Alto
Comando entregou a iniciativa militar para Hitler.
De maneira geral, Manstein concordava com o pensamento de Hitler, de que era
possível derrotar a França, através de uma rápida ação ofensiva. Porém, o Alto
Comando achava que não havia forças suficientes para impor uma vitória às potências
ocidentais, além de que este esforço poderia comprometer as defesas a leste.
47
Em relação ao Plano de Operações “Amarelo”, de 19 e 29 de outubro de 1939,
que tinha em linhas gerais os mesmos fundamentos do Plano Schlieffen, utilizado na
Primeira Guerra Mundial, Manstein observou que a ação principal da ofensiva alemã
recairia sobra a ala norte, deixando de contemplar a ideia fundamental de buscar a
decisão, pois dava grande importância ao terreno, além de não definir o que
aconteceria após o combate na Bélgica. Ou seja, no seu entendimento, o Plano
“Amarelo” pecava do ponto de vista da continuação do planejamento e deixava de
estabelecer a destruiçã