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ISBN: 978-85-63473-35-6
Agenda da ONU (Organização das Nações Unidas) e seus objetivos para 2030
Nathana Marina Diska
Mestranda em Extensão Rural – Universidade Federal de Santa Maria nathanamdiska@gmail.com
Alecsandra Santos da Cunha
Doutora em Geografia – Universidade Federal de Santa Maria
alecsandrascunha@gmail.com
Resumo
O presente artigo tem por objetivo discutir a agenda da Organização das Nações Unidas (ONU) e
analisar a sua influência nas políticas públicas do Brasil. Em suma, a ONU projetou 17 objetivos
para a prosperidade do planeta, dentre os quais, áreas como a da educação e da Geografia podem
atuar de maneira conjunta, com a proposta da interdisciplinaridade. Os objetivos trabalhados no
artigo são o ODS4 e ODS5, os quais abordam a ideia da educação de qualidade e da igualdade de
gênero com bases sustentáveis. Diante da perspectiva e da urgência em buscarmos bases palpáveis
para o desenvolvimento sustentável, o relatório da UNESCO/Brasil discute os objetivos da ONU e
de forma participativa, entre estudantes, professores e comunidade, traz ideias e conceitos a serem
aplicados nas escolas. Tais conceitos são diretrizes para a formulação de políticas públicas, e no
presente artigo trazemos exemplos de projetos beneficiados através de tais recursos. Através da
percepção e do estudo das bases da sustentabilidade, aliada de um olhar crítico aos objetivos da
ONU, trazemos as consonâncias entre o que entendemos por desenvolvimento sustentável e sobre a
visão de crescimento calcado no capital. Cabe ressaltar que alguns dos objetivos da ONU são
trabalhados como insustentáveis, quando analisados sob a ótica de alguns pesquisadores da área do
Desenvolvimento Sustentável, e por isso, trazemos a crítica às teorias do Desenvolvimento. Nesse
sentido, o artigo traz uma crítica e apontamentos às diretrizes, mas também configura o cenário
relativo às influências de órgãos internacionais nas políticas públicas brasileiras, às quais culminam
em projetos interdisciplinares que agregam não só a educação formal, mas também, à informal.
Palavras-chave: Educação, Sustentabilidade, Educação sustentável.
Resumen
El presente artículo tiene por objeto discutir la agenda de la Organización de las Naciones Unidas
(ONU) y analizar su influencia en las políticas públicas del Brasil. En suma, la ONU proyectó 17
objetivos para la prosperidad del planeta, entre los cuales, áreas como la de la educación y la
Geografía pueden actuar de manera conjunta, con la propuesta de la interdisciplinariedad. Los
objetivos trabajados en el artículo son el ODS4 y el ODS5, los cuales abordan la idea de la
educación de calidad y de la igualdad de género con bases sostenibles. Ante la perspectiva y la
urgencia en buscar bases palpables para el desarrollo sostenible, el informe de la UNESCO/Brasil
discute los objetivos de la ONU y de forma participativa, entre estudiantes, profesores y comunidad,
trae ideas y conceptos a ser aplicados en las escuelas. Tales conceptos son directrices para la
formulación de políticas públicas, y en el presente artículo traemos ejemplos de proyectos
beneficiados a través de tales recursos. A través de la percepción y el estudio de las bases de la
sostenibilidad, aliada de una mirada crítica a los objetivos de la ONU, traemos las consonancias
entre lo que entendemos por desarrollo sostenible y sobre la visión de crecimiento calcado en el
capital. Cabe resaltar que algunos de los objetivos de la ONU son trabajados como insostenibles,
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cuando analizados bajo la óptica de algunos investigadores del área del Desarrollo Sostenible, y por
eso, traemos la crítica a las teorías del Desarrollo. En este sentido, el artículo trae una crítica y
apuntes a las directrices, pero también configura el escenario relativo a las influencias de órganos
internacionales en las políticas públicas brasileñas, a las que culminan en proyectos
interdisciplinarios que agregan no solo la educación formal, sino también, a la informal.
Palabras clave: Educación, Sostenibilidad, Educación sostenible.
1 INTRODUÇÃO
A Agenda da Organização das Nações Unidas (ONU), é um plano de ações, com 17
objetivos e 169 metas para a prosperidade do planeta embasados no desenvolvimento sustentável. O
objetivo dessas metas é o de buscar a redução da pobreza com ênfase na diminuição da
desigualdade social, promover a prosperidade e o bem-estar de todos os seres humanos
independente de seu gênero, idade ou etnia, a proteção do meio ambiente para que exista uma
possibilidade de se enfrentar as mudanças climáticas (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS,
2015).
Através de uma ação global, a ONU pretende influenciar em diversas áreas de estudo e
também do mundo do trabalho em todo o planeta, visto que se trata de uma organização que procura
movimentar ações pela paz. Ao se proporem encarar a pauta da sustentabilidade em todos os
âmbitos de desenvolvimento, percebemos a importância, a nível global, da sustentabilidade e de
formas renováveis de energia em prol da conservação da natureza.
Os 17 objetivos para “transformar nosso mundo” se voltam para temáticas bastante amplas.
A saber: o primeiro objetivo atua no combate à pobreza. Nos cabe, de imediato, a indagação: o que
é pobreza? Percebendo a visão da ONU, consideram que pobreza configura a parcela populacional
que vive com menos de U$ 1,90/dia e que estão em situações de vulnerabilidade quanto às
catástrofes de origem ambiental (como inundações, terremotos, etc.) além de condições menos
pragmáticas. Como condições menos pragmáticas, entende-se aqui no presente trabalho, questões
controversas e quiçá polêmicas, como a divisão e a posse das terras e direitos aos recursos
econômicos.
O segundo objetivo é intitulado “Fome zero e Agricultura Sustentável”, nos quais as
propostas são voltadas ao direito pela terra (mesmo que incitando isso de maneira discreta) e
principalmente pelo apoio à pesquisa, tecnologia e extensão nas propriedades de agricultores
familiares, indígenas e demais povos originários. Em contrapartida, o discurso também traz um viés
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interpretativo diante da manutenção de pesquisas em relação às sementes e animais geneticamente
modificados em prol de um aumento da produção em escala mundial. Além disso, notamos uma
preocupação com o preço das commodities, angariando um interesse sempre voltado ao mercado
internacional.
O terceiro objetivo se refere à saúde e ao bem estar, no qual existe um plano bastante
significativo para a diminuição de mortalidade infantil, em favor do aumento das pesquisas de
vacinas, no tratamento e saneamento básico para que se contenham as doenças tropicais, há
interesse na diminuição das mortes no trânsito até 2020, preocupação com a saúde mental, o
tabagismo, etc.
O quarto objetivo é referente à Educação de Qualidade, sendo o objetivo que daremos ênfase
no presente trabalho e por isso será discutido posteriormente. O quinto objetivo se refere à
igualdade de gênero, e através das pautas relativas à educação, também será melhor debatido
posteriormente.
O sexto objetivo e o sétimo, respectivamente, se focam no uso da água, sua disponibilidade,
disposição e saneamento básico, e se refere à busca pela energia limpa e acessível. São objetivos
bastante específicos e pontuais, sempre pautados na sustentabilidade.
O oitavo objetivo quer “promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e
sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todas e todos”, nos fazendo refletir a
respeito do que se configura o crescimento de caráter econômico, e mais uma vez encontramos
finalidades bastante claras referente ao acúmulo de capital e à tentativa de um crescimento de PIB
(Produto Interno Bruto). São basicamente propostas “não sustentáveis”, ou seja, que não anteveem
problemas de caráter ambiental e os custos de aumento de PIB de países periféricos. Porém,
observamos que buscam propor o fim do trabalho análogo à escravidão, o trabalho infantil e a
garantia das leis trabalhistas.
O nono objetivo se intitula “Indústria, inovação e infraestrutura”, no qual pretende-se buscar
modelos mais sustentáveis à indústria e também ao acesso à internet. O décimo objetivo planeja a
diminuição da desigualdade entre as pessoas dentro dos países e entre os próprios países, além de
colocar em pauta a questão da migração e das facilidades que se pretendem conquistar através
dessas, desde que planejadas e bem geridas. O objetivo número 11 quer tornar as cidades
(assentamentos humanos, no geral) inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis; o 12º se refere ao
consumo e à produção sustentáveis.
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O décimo terceiro, décimo quarto e décimo quinto são bastante pontuais, pois se referem a:
ações contra mudanças abruptas e globais do clima, sobre a vida na água e vida terrestre, ou seja,
preocupação quanto ao bem estar das plantas e animais e sobre a qualidade de vida desses, mas
todos em função do ser humano.
O objetivo 16 explana a necessidade de construir e promover sociedade pacíficas e
inclusivas para o desenvolvimento sustentável, sempre em prol da justiça e com respeito ao
multiculturalismo. Basicamente, esse objetivo pretende acabar com os focos de violência, através
do combate à corrupção, às armas ilegais e ao terrorismo.
Chegando ao décimo sétimo objetivo, percebemos que se refere às parcerias e meios de
implantação, sendo portanto, um apanhado administrativo e econômico, pois financiam, através de
recursos diversos, países que não alcançam o índice de desenvolvimento por eles almejados.
A partir dos objetivos citados, pretende-se um grandioso programa tendo como base os
preceitos de um desenvolvimento sustentável. Logo de imediato, percebe-se que o discurso
utilizado em alguns dos itens tendem a ser enviesados, partindo do princípio de que se busca
desenvolvimento sustentável e não em prol (necessariamente) do capitalismo. Por isso, vamos
discorrer a respeito da pauta que nos concerne em razão da influência nas políticas públicas no
Brasil, através do relatório da UNESCO, que garante (ou pretende) uma educação voltada para a
sustentabilidade (BRASIL, 2018c).
Além desse viés, vamos problematizar o desenvolvimento capitalista e insustentável das
nações ditas “desenvolvidas”, pois essa problemática serve como pano de fundo para o
entendimento da pauta na educação e igualdade de gêneros. Isso é base para a compreensão da
necessidade de uma educação sustentável, pois através da análise de como os países nos enxergam e
os enxergamos faz parte da busca por um conhecimento crítico.
Após essas análises, uma analogia entre as propostas da ONU que interferem diretamente no
relatório da UNESCO serão feitas com ênfase nas abordagens contemporâneas, da aprendizagem ao
longo da vida, em relação ao financiamento e às projeções, que são, em suma: busca por equidade,
justiça e sustentabilidade. Com essa perspectiva, pretendemos 1) elencar características de
influência dos organismos internacionais nas políticas públicas no Brasil; 2) mostrar o quanto essas
políticas estão associadas à ideia do desenvolvimento sustentável; 3) problematizar o discurso
desses organismos em prol de uma educação de caráter crítico; e 4) apresentar o quanto uma
educação voltada para a sustentabilidade é primordial e base para outras ações e objetivos na cadeia
global e também nas ações locais (BRASIL, 2018c).
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2 ODS4 E ODS5: EDUCAÇÃO DE QUALIDADE E IGUALDADE DE GÊNERO COM
BASES SUSTENTÁVEIS
Para melhor compreender do que se trata esses dois objetivos da ONU, especificamos o que
o próprio documento da ONU nos traz. No ODS4 fica claro que o princípio se baseia em “assegurar
a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao
longo da vida para todas e todos”. Entendemos então, que a partir dessa pauta, a igualdade de
gênero está diretamente associada, pois busca “alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as
mulheres e meninas”.
Trazendo esses objetivos para a dimensão da Geografia, podemos pensar, inclusive, em
conteúdos que podem ser alinhados para se discuti-los. Como é o caso do mundo do trabalho,
conteúdo trabalhado no Ensino Fundamental e Médio. A partir desse conteúdo, a entrada da mulher
no mundo do trabalho traz bases geo-históricas para uma discussão, que pode proporcionar a
compreensão das questões de gênero enquanto fenômenos socialmente construídos.
Entendendo que a partir da educação e do empoderamento, de meninas e mulheres, a
questão da sustentabilidade se mostra porvindoura, pois a educação e a equidade são terrenos férteis
para o crescimento com bases fortes do ideal da sustentabilidade. No item 4.7, do documento da
ONU a respeito da educação em busca da sustentabilidade, temos que:
4.7 Até 2030, garantir que todos os alunos adquiram conhecimentos e
habilidades necessárias para promover o desenvolvimento sustentável,
inclusive, entre outros, por meio da educação para o desenvolvimento
sustentável e estilos de vida sustentáveis, direitos humanos, igualdade de
gênero, promoção de uma cultura de paz e não violência, cidadania global e
valorização da diversidade cultural e da contribuição da cultura para o
desenvolvimento sustentável (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS,
2015, s/p.).
Logo, entendemos que para seguir na ideia do desenvolvimento sustentável, não basta
apenas investimento em ações diretas no mundo do trabalho, mas também, na formação integral de
crianças, meninos e meninas, de homens e mulheres no escopo do ensino tecnológico e básico. Ou
seja, entender o que significa o mundo do trabalho, e não apenas ser preparado para ele. Sendo
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assim, quais seriam as principais bases para a manutenção e prosseguimento de uma educação
embasada em desenvolvimento sustentável?
A palavra “desenvolvimento” por si só, tem a ver com a implantação de potencialidades de
uma identidade, ou seja, tem o princípio de alcançar um estágio superior. Esse desenvolvimento
pode ser quantitativo e/ou qualitativo e geralmente tem um caráter etnocêntrico. Casado, Molina e
Guzmán discorrem a respeito do que se pretende com o desenvolvimento, e decaem no sentido da
palavra “modernização” (CASADO; MOLINA; GUZMÁN, 2000).
O sentido de modernização traz consigo o significado a respeito da colonização, sendo essa
uma cultura imposta por outrem, a qual subjugou nações à sua ocidentalização. Dessa forma, os
autores mencionados acreditam que a palavra desenvolvimento em sua essência é a que se adequa
ao que quer dizer: evolução, crescimento, maturação.
Entendemos então, que uma educação embasada na sustentabilidade não é uma educação
“moderna” ao que se compreende seu sentido colonizador, mas sim, uma educação que tende a dar
destaque na localidade para se desenvolver. Sendo assim, percebemos que a ênfase na comunidade
e no respeito à cultura local é essencial para uma educação de caráter sustentável e com isso, a
influência da ONU traz novas percepções nas políticas públicas embasadas no relatório da
UNESCO (BRASIL, 2018c).
Nessa perspectiva, entendemos que o desenvolvimento é uma palavra chave nos relatórios
da ONU, visto que tratam os países do norte como “desenvolvidos” enquanto os países do sul
costumam ser encarados como “países em desenvolvimento”, já que retiraram a nomenclatura de
“subdesenvolvidos”. A problematização se mostra pertinente já que desenvolvimento, nesse caso,
confere ao desenvolvimento do capitalismo, que vai contrariamente ao que é sustentável. Segundo
Daly (2004), sair da pobreza e da degradação ambiental é impossível se a economia continuar a
crescer, logo, esse desenvolvimento deve se dar de maneira qualitativa, e não quantitativa.
Se nos basearmos nos processos de ocupação do território brasileiro, por exemplo,
concomitante aos processos de ocupações de territórios ao redor do mundo (também conteúdo
trabalhado na Geografia no Ensino Fundamental e Médio), entenderemos que um país em
desenvolvimento não está passando por uma etapa, de várias outras, até que alcance o chamado
desenvolvimento. Os chamados países em desenvolvimento, como o Brasil, possuem tal
configuração por pertencerem a um contexto no qual civilizações inteiras, assim como os recursos
naturais ligados à elas, foram explorados e diminuídos de seus territórios em prol do
enriquecimento dos conhecidos, hoje, como países desenvolvidos.
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A Economia se estabelece através de um conhecimento clássico que não se adequa às
condições da natureza que é finita, não crescente e materialmente fechada. Quando esse subsistema
cresce, ultrapassa os 100%, fazendo com que esse sistema seja insustentável. Nossa escala
econômica atual, portanto, é insustentável. Assim, os países que prosseguem com o mesmo nível de
consumo não deveriam ser vistos como “desenvolvidos”, visto que mantêm entrelaçados os
conceitos de crescimento econômico desenfreado aliado de desenvolvimento (DALY, 2004).
Os países em desenvolvimento, por sua vez, mantêm o equilíbrio entre os países que
consomem demais. Para Daly (2004), para um país ser considerado sustentável, é necessário possuir
como sustentáculo as seguintes diretrizes: os recursos renováveis devem ser explorados de maneira
tal que: (1) as taxas de colheita não excedam as taxas de regeneração e (2) as emissões de resíduos
não excedam a capacidade assimilativa renovável do meio ambiente local. Os recursos não-
renováveis deveriam ser esgotados a uma taxa igual à taxa de criação de substitutos renováveis. Os
projetos baseados na exploração de recursos não-renováveis devem estar atrelados com projetos que
desenvolvam substitutos renováveis. As rendas líquidas da extração dos recursos não-renováveis
devem ser separadas num componente de renda e num componente de liquidação de capital. O
componente de capital seria investido a cada ano no desenvolvimento de um substituto renovável. A
separação é realizada de tal maneira que, quando o recurso não-renovável for exaurido, o recurso
renovável substituto terá sido desenvolvido pelo investimento e crescimento natural, de forma que
sua produção sustentável seja igual ao componente de renda. O componente de renda terá assim se
tornado perpétuo justificando, portanto, o nome rendimento, o qual é por definição o máximo
disponível para o consumo ao mesmo tempo que o capital se mantém intacto (DALY, 2004).
Nessa conjectura, quais são os países que são sustentáveis? Aqueles que ditam regras para
os demais países são de fato “desenvolvidos” ou estão apenas tentando manter o equilíbrio entre os
países pobres (que menos consomem) dos ricos (que têm um nível altíssimo de consumo)? Nos
cabe essa indagação para melhor elucidar conceitos expressos pela ONU, os quais não citam
explicitamente ações dentro da educação que promovam de fato um pensamento voltado para a
sustentabilidade.
Portanto, como nas leituras centrais dos documentos da ONU, não dizem exatamente o que é
uma educação com base sustentável, recorremos ao documento da UNESCO para melhor embasar
esse pensamento.
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3 EDUCAÇÃO PARA OS OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ATÉ
2030 - UNESCO
No panorama da UNESCO, entende-se que a educação é o ponto primordial para se alcançar
um desenvolvimento sustentável, pois através da escolarização, as crianças detêm um conhecimento
que vai dar continuidade ao projeto. Logo, o objetivo de educação é base para os demais objetivos
da ONU.
O guia para a Educação focada no Desenvolvimento Sustentável norteia como os
educadores podem começar a discorrer sobre o assunto nas salas de aula, ou seja, são objetivos mais
palpáveis que auxiliam na compreensão dos jovens e dos adultos acerca da sustentabilidade. No
guia, encontramos a seguinte elucidação:
A educação que promove o crescimento econômico por si só pode também
levar a um aumento de padrões de consumo insustentáveis. A abordagem já
bem estabelecida da educação para o desenvolvimento sustentável (EDS)
capacita os educandos a tomar decisões informadas e adotar ações
responsáveis para assegurar a integridade ambiental, a viabilidade
econômica e uma sociedade justa para as gerações presentes e futuras
(BRASIL, 2018c; p. 07).
Logo, quando adentramos nos documentos mais específicos, como no caso do da UNESCO,
percebemos que a ideia de uma economia não clássica prevalece. Portanto, é possível que se traga
para a sala de aula a problematização a respeito do que é o desenvolvimento e de quais são os países
realmente aptos a dar prosseguimento a essa ideia (DALY, 2004).
Além da busca pela sustentabilidade, fica claro no documento da UNESCO a busca por uma
cultura de paz, e atrelada a ela, a igualdade de gêneros. Entendemos que as bases educacionais só
serão de fato sustentáveis quando os seres humanos conseguirem compreender que a igualdade
entre os gêneros é essencial para a compreensão do mundo. Sobretudo, porque não existem papéis
os quais as crianças não podem exercer: deve-se compreender que independente do gênero, meninos
e meninas são responsáveis por suas ações tendo em conta os impactos ambientais, sociais,
econômicos, sendo eles atuais ou futuros, no local e no global.
Quanto às abordagens da UNESCO para que consigamos alcançar o objetivo das ideias da
Sustentabilidade dentro da educação, encontramos a necessidade da Ecologia e da Educação
Ambiental nos currículos das escolas, quando encaramos uma abordagem contemporânea embasada
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na escolarização de crianças. Mais especificamente, existe atualmente no Brasil, a inserção de
disciplinas (as quais se utilizam dos conceitos de transdisciplinaridade) no currículo da educação
básica (WERTHEIN, 2005).
Na abordagem tradicional, encontramos um apreço pelas ideias das comunidades. Nesse
aspecto, visualizamos a importância da agricultura na cultura dos povos originários, e focamos
especificamente na América Latina, pois é terreno fértil para as ideias da Agroecologia. Em “La
Revolución Agroecologica en Latinoamerica”, Miguel Altieri e Víctor M. Toledo (2011)
demonstram conforme avaliações, que a busca por agroecossistemas sustentáveis seria promissora
tanto para populações urbanas quanto rurais. Os benefícios seriam de caráter ambiental, político e
econômico, e as experiências elucidadas foram feitas em locais como Brasil, região andina, México,
América Central e Cuba.
Nesse sentido, no objetivo da educação com a abordagem tradicional, principalmente na
América Latina, consideramos que o enfoque não é só no aspecto técnico e natural dos ambientes,
mas também quanto ao aspecto social. Portanto, há enfoque em experiências de caráter horizontal,
nas quais em todas as relações (entre agricultores, habitantes da cidade, educadores e educandos)
tenham níveis de empoderamento e compreensão mútua.
Além da abordagem contemporânea e tradicional, ainda temos a abordagem quanto a
aprendizagem ao longo da vida, focada no trabalho e no cotidiano através do auxílio de ONG’s, de
grupos religiosos e da comunidade.
4 COMPETÊNCIAS PARA A SUSTENTABILIDADE
Além das diferentes abordagens, contamos com as ideias de competências-chaves que os
educandos devem possuir de acordo com o tipo de conhecimento embasado na sustentabilidade.
Dentre estas, se encontra a competência do pensamento sistêmico, que vem a culminar com as
ideias da Agroecologia e do distanciamento da ciência cartesiana. Logo, o educador deve preparar o
educando para lidar com sistemas complexos e apto a se deparar com a incerteza, tanto no que diz
respeito às sociedades modernas quanto no aspecto da natureza.
As Ciências Humanas possuem a característica da complexidade. A Geografia é tão
complexa que, mesmo quando algumas linhas de pensamento tentam dicotomiza-la entre Geografia
Física e Humana, esbarra-se na clara dificuldade em se explicar os fenômenos físicos dissociados
dos sociais e vice-versa. Isso nos leva a pensar que os e as estudantes devem ter uma competência
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antecipatória, ou seja, de visualizar que suas ações atuais geram consequências nem sempre
positivas. Deve, portanto, saber lidar com riscos e mudanças, com a complexidade do mundo atual.
A competência normativa, também, é importante, pois deve-se conceber educandos com a
habilidade de compreensão de normas e de como se equivalem e respondem às normas relativas à
sustentabilidade.
Os professores devem incluir em seus desígnios, uma competência estratégica, na qual ações
dos educandos possam garantir ações locais, regionais e globais, desde que guiadas pela
sustentabilidade. A competência da colaboração, neste sentido, tenta desenvolver capacidades
como: liderança e empatia, para que se consigam projetos nos quais haja compartilhamento de
ideias e a sensibilidade para com as demais pessoas.
A competência do pensamento crítico deve ser valorizada, pois através dela se depreende a
“habilidade de questionar normas, práticas e opiniões; refletir sobre os próprios valores, percepções
e ações; e tomar uma posição no discurso da sustentabilidade”. A competência do
autoconhecimento parte do pensamento crítico, no qual o educando se enxerga dentro de um
conceito, tanto local como global, e compreende seus propósitos e sua importância. E como última
competência citada, temos a da resolução integrada de problemas que fala por si só através da
qualidade de resolver problemas de caráter complexo.
Nada mais necessário para preparar os e as estudantes para um mundo no qual as distâncias
e tempos se conformam a partir de outros parâmetros e, com isso, as informações viajam mundo
afora em quantidade e velocidade tal, que a compreensão desse mundo da era informacional, carece
de outras formas de se educar, diferente daquela tecnicista voltada à formação de mão de obra. O
mundo não é mais apenas industrial, o mundo é informacional.
O documento da UNESCO prossegue dando exemplos de como incluir ao currículo e às
atividades extracurriculares dos alunos na aprendizagem cognitiva, socioemocional e
comportamental de cada objetivo central da ONU. Como exemplo, visualizamos como objetivo de
erradicação da pobreza (ODS 1) quanto a aprendizagem cognitiva: “O educando tem conhecimento
sobre a distribuição local, nacional e global da extrema pobreza e da extrema riqueza”; na
habilidade socioemocional “o educando é capaz de mostrar sensibilidade para as questões da
pobreza, bem como empatia e solidariedade com os pobres e aqueles em situação de
vulnerabilidade”; e na abordagem comportamental “ O educando é capaz de planejar, implementar,
avaliar e replicar atividades que contribuam para a redução da pobreza.”
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Assim, sucessivamente a UNESCO traz competências que devem ser desenvolvidas nos
educandos através de cada objetivo central da ONU. Ao que consta, muitas dessas abordagens vêm
obtendo êxito nas escolas de educação básica do Brasil, conforme relatórios do Ministério da
Educação (MEC) e das políticas públicas financiadas.
5 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A EDUCAÇÃO COM ENFOQUE NA
SUSTENTABILIDADE NO BRASIL
Na análise das Políticas Públicas elencadas na página do MEC, visualizamos inúmeros
programas e projetos embasados na educação ambiental e ecologia entre outros que configuram o
aparato da sustentabilidade. Para melhor compreendermos, encontramos na linha temática da
educação, os seguintes subtemas que são direta ou indiretamente ligados à sustentabilidade:
Educação Socioambiental, Educação do Campo, Saúde na Escola, Educação em Direitos Humanos
e Educação para Relações Étnico-raciais. Temos também programas voltados para a Educação, mas
como subtema, e não como tema principal. Por exemplo, encontramos auxílio às pesquisas de
Ensino, Pesquisa e Extensão, porém com a linha temática do Desenvolvimento Rural, o qual não
demos ênfase no presente trabalho.
Dentre os programas, temos o “Programa Escola Verde: Avançando nas Ações de Educação
Ambiental Interdisciplinar”, no qual as ações são voltadas à Seminários Temáticos-
Interdisciplinares e Oficinas para a capacitação dos e das professoras. Tais atividades se focam no
dia-a-dia das escolas, como por exemplo: implantação de Coleta Seletiva de lixo; arborização das
escolas; estímulo na institucionalização da Educação Ambiental, como prática pedagógica
interdisciplinar; elaboração de material didático com a participação da comunidade (PROJETO
ESCOLA VERDE, 2015).
Além desses, citamos: Espaços Educadores Sustentáveis Promovendo Soluções para
Problemas Ambientais, Educação do Campo Agroecologia Agricultura Familiar: Núcleo de
Integração de Saberes, Núcleo de Extensão Multidisciplinar para o Desenvolvimento Rural:
Contribuições para a (Re)Construção das Propostas Pedagógica das Escolas no/do Campo Situadas
no Brejo Paraibano, Portal de Plantas Medicinais e Fitoterapia como Estratégia de Educação para
Difusão e Promoção em Saúde, Percebendo e Conservando a Biodiversidade da Mata Atlântica do
Sul do Brasil, Ação Socioambiental e Formação em Educação Ambiental da Sala de Estudos e
Informações em Políticas Ambiental. São programas importantes, que estão sendo efetivados ao
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menos no que diz respeito à pesquisa. Para melhores detalhes dos programas, faz-se necessária uma
pesquisa empírica para a visualização e a efetividade dessas (BRASIL, 2018a).
Dentre os projetos, citamos: Educação Ambiental para os Desafios Contemporâneos
Vivenciados no Vale do Itajaí, Educação Socioambiental e Práticas em Saúde pela Melhoria do
Bem Estar Humano e Animal, Novas Demandas para a Autonomia na Educação: Perspectivas
Baseadas nos Saberes Locais, dentre outros projetos desenvolvidos. E da mesma forma, cabe
ressaltar que apenas com uma pesquisa baseada em metodologias participantes para se perceber a
efetividade dos projetos citados e de outros (BRASIL, 2018b).
Percebemos que os programas e projetos encontrados no site do MEC nos remete à uma
educação emancipatória, baseada na diversidade e complexidade. Contudo, além da própria
necessidade de investigação do nível de efetividade de cada um deles, atualmente, passamos por um
período de crise político-econômica no país. Uma das consequências dessa crise é a tentativa de
implantação de uma agenda de costumes conservadora e retrógrada, que parece retroceder sobre
todas as discussões e avanços alcançados pela educação brasileira (SILVA; CARVALHO JUNIOR,
2014).
Essa agenda tem o projeto de lei, popularmente conhecido como “Escola sem Partido”,
como o cerne das discussões no âmbito da educação. Ora, questionamos, no âmbito da Geografia,
voltaremos a ensinar os nomes das capitais e dos principais rios do país, corroborando uma
educação tecnicista, bem diferente da educação sustentável que buscamos discutir aqui? Ou
daremos seguimento na evolução da educação para um modelo no qual os e as estudantes serão
capazes de compreender o mundo enquanto um conjunto de fenômenos sociais, com causas e
consequências, para cada uma de suas ações individuais e/ou coletivas?
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A respeito dos objetivos da ONU percebemos a sua influência direta nas políticas públicas
(programas e projetos) nas localidades do Brasil. Os propósitos da ONU colocam em pauta
estratégias em prol da Sustentabilidade e percebemos que por vezes o modo de expressar as ideias
não seja oportuno, visto que tratam os países com a expansão tardia do capitalismo como “países
em desenvolvimento”. As ideias da ONU com enfoque na educação (ODS4), à primeira vista,
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podem parecer utópicos, porém, ao desvencilharmos os princípios, encontramos uma parte mais
palpável em outros documentos.
Partimos então, como anteriormente elucidado, na análise dos relatórios da UNESCO e das
abordagens que podem ser construídas, desde os aspectos globais até os locais, com pauta na
escolarização de crianças, na educação contemporânea, tradicional e cotidiana. Além destas,
configuramos as noções que educadores e educandos devem ter quando o objetivo principal é a
chegada em uma sociedade mais sustentável.
Entendemos, através do presente trabalho, que a educação é fator primordial para o
desenvolvimento sustentável, e que este deve ser entendido através do objetivo do decrescimento do
capitalismo. Nas publicações encontradas diretamente da ONU, os propósitos para a atenuação dos
ganhos econômico não ficam claros, porém, quando adentramos às noções mais específicas da
UNESCO, encontramos menções que tratam da necessidade de se frear o capitalismo, visto que este
é insustentável.
Através de programas e projetos brasileiros, notamos de modo prático como a indicação da
base sustentável atua na educação e em contrapartida na luta pela igualdade de gênero. Deixamos
claro, porém, que apenas com uma pesquisa centrada nas práticas nas escolas podemos conceber se
há efetividade dos programas e projetos. Com a base educacional, pretende-se a participação social
dos sujeitos mais conscientes e críticos em relação às consequências ambientais de suas ações.
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