Post on 28-Dec-2018
Algumas reflexões sobre patrimônio cultural e as possibilidades de
inovação sócio territorial através da abordagem geográfica: o caso do
município de Nazaré da Mata, Pernambuco – Brasil
Luciana Rachel Coutinho Parente1 Mariana Maria Silva de Lima2
Rafael Manoel de Souza Silva3 Rosenilda da Silva Ferreira4
Resumo
Importa referir que o município de Nazaré da Mata, situado na Mesorregião da
Zona da Mata Norte de Pernambuco, é um espaço fortemente marcado pelo
domínio da cana-de-açúcar, atividade esta que historicamente se assentou
desde o período colonial e que até hoje deixa fortes marcas na dinâmica social,
econômica e cultural dos atores locais. Desta forma, ressalta-se um cenário onde
cada vez mais tem crescido a necessidade de afirmar a identidade dos lugares,
através da compreensão sobre o processo de apropriação e estruturação do
espaço em que habitam, a fim de contribuir com um processo de inovação
pautado nas heranças de outras temporalidades. Cumpre indicar que, muitas
vezes, as heranças deixadas se configuram como meros instrumentos de
reprodução da exclusão e não como um fator agregador para a vida da
população. Daí decorre a importância da Geografia debruçar-se sobre estudos
que articulem categorias de análise como: patrimônio, cultura, identidade e
inovação, com vistas a contribuir para o surgimento de “novas” formas dos
indivíduos se relacionarem com o território. Assim, partindo dessa premissa
objetiva-se confrontar os fatores inerentes às dinâmicas sociais/econômicas com
1 Professora de Geografia da Universidade de Pernambuco – Campus Mata Norte. Doutora em Geografia Humana pela Universidade de Lisboa – Portugal. Orientadora de projeto de iniciação científica. 2 Estudante do curso de licenciatura em Geografia da Universidade de Pernambuco - do Campus Mata Norte. Voluntária em projeto de iniciação científica. 3 Estudante do curso de licenciatura em Geografia da Universidade de Pernambuco - do Campus Mata Norte. Bolsista em projeto de iniciação científica PIBIC/UPE/CNPQ. 4 Estudante do curso de licenciatura em Geografia da Universidade de Pernambuco - do Campus Mata Norte. Voluntária em projeto de iniciação científica.
o processo de apropriação/interação dos residentes com o acervo do patrimônio
cultural do município Nazaré da Mata, Pernambuco, na tentativa de colaborar
com o processo de inovação sócio territorial. Enquanto procedimentos
metodológicos da presente investigação científica foram realizados:
levantamento e revisão da bibliografia a fim de identificar o processo de
estruturação do espaço do município de Nazaré da Mata ao longo do tempo.
Também foram pesquisados temas vinculados aos componentes teóricos, dos
quais destacamos os conceitos: de patrimônio, de cultura, de inovação; pesquisa
documental a fim de compreender a caracterização do acervo do patrimônio
material de Nazaré da Mata; pesquisa de campo (observações sistemáticas,
registros fotográficos e elaboração de um inventário), visando caracterizar o
patrimônio e verificar o estado de conservação dos principais marcos
patrimoniais do município. Em resumo, a investigação científica ora em questão,
visa colaborar para elaboração de estratégias de ação que estimulem as
relações identitárias dos indivíduos com o território e incentivem a inovação sócio
territorial a partir da valorização das heranças de outros tempos.
Palavras-chave: Patrimônio, Cultura, Inovação Sócio Territorial.
Notas Iniciais
Vale pontuar que, o município de Nazaré da Mata é um espaço fortemente
marcado pelo domínio da cana-de-açúcar, atividade esta que historicamente se
assentou desde o período colonial e que até hoje deixa fortes marcas na
dinâmica social, econômica e cultural dos atores locais. Ressalta-se que a
atividade canavieira é extremamente excludente, sobretudo em razão da
necessidade de grandes dimensões de terra para o seu desenvolvimento. Desse
modo, nos espaços em que até hoje a referida atividade predomina o que se
observa é a falta de oportunidades e, consequente miséria e pobreza.
Importa referir que a cidade de Nazaré da Mata, antes uma sesmaria,
denominada de Lagoas Dantas, teve seu povoamento a partir do século XVIII,
tendo se tornado vila, somente, no ano de 1833. O referido município encontra-
se localizado na Mesorregião da Zona da Mata e na Microrregião da Mata Norte
do estado de Pernambuco, localizada a 65 km da capital, Recife e com uma
superfície territorial de 151 Km2.
Cumpre indicar que Nazaré da Mata apresenta uma riqueza cultural que abre
caminhos para o efetivo desenvolvimento e para a inovação. Conhecida como a
terra dos maracatus, movimento popular nascido nas senzalas no período de
escravidão, apresenta um acervo cultural bastante rico baseado nos caboclos de
lança. Assim, o casamento entre o maracatu de baque solto ou maracatu rural
com a beleza dos engenhos oferecem como perspectiva a possibilidade de
revisitar o período do Brasil Colonial, além de ilustrar a realidade da população
local.
Desta modo, o município de Nazaré da Mata ao apresentar de forma marcante
heranças de tempos passados, torna-se atraente à abordagem geográfica, numa
perspectiva dialética, pois é preciso buscar na atualidade condições de melhoria
de vida dos atores locais, bem como, se torna cada vez mais importante, criar
alternativas de inserção dessas áreas em circuitos socioeconômicos mais
amplos e sustentáveis.
Recortes conceituais
Vale notar que nos últimos tempos vive-se um crescente interesse pelo tema
patrimônio em suas múltiplas facetas. Desta forma, o estudo sistemático sobre
patrimônio se interliga a outros temas que favorecem a percepção global sobre
as heranças de outros tempos. Temas como: cultura, identidade, inovação sócio
territorial e desenvolvimento sustentável, são de extrema importância para o
estímulo ao convívio entre o “velho” e o “novo”. Cada qual, com suas
peculiaridades, identificadas por diversos autores, permitem compreender as
dinâmicas presentes em Nazaré da Mata nos dias atuais.
Cumpre indicar que o conceito de patrimônio possui significados ambíguos,
podendo abarcar desde a ideia de bens desprovidos de memória até a
conceituação enquanto bens providos de valor simbólico/lembranças. Neste
sentido Gonçalves (2002, p.21) exemplifica:
“ O ‘patrimônio’ está entre as palavras que usamos com mais frequência em nosso cotidiano. Falamos dos patrimônios econômicos, financeiros, dos patrimônios imobiliários; referimo-nos ao patrimônio econômico e financeiro de uma empresa, de um país, de uma família, de uma família; usamos também a noção de patrimônios culturais, arquitetônicos, históricos, artísticos, etnográficos, ecológicos, genéticos; sem falar no chamados patrimônios intangíveis, de recente e oportuna formulação no Brasil. Parece não haver limite para o processo de qualificação dessa palavra”.
Vale esclarecer que até o século XVIII os bens só eram considerados patrimônio
se apresentassem beleza plástica. Entretanto, a definição de patrimônio no
decorrer dos séculos foi ganhando entendimentos mais amplos. De acordo
Zanirato (2006, p. 253) patrimônio: “É o conjunto de elementos naturais ou
culturais, materiais ou imateriais, herdados do passado ou criados no presente,
no qual um determinado grupo de indivíduos reconhece sinais de sua
identidade”.
De acordo com a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco
– FUNDARPE, o patrimônio se constitui como:
[...] Herança paterna ou familiar. Bens de natureza econômica herdadas por alguém, ou acumulados durante a vida. Os bens que fazem parte do patrimônio cultural não interessam apenas a uma única pessoa, eles são uma herança coletiva, pois são importantes ou representativos para a história e para a identidade de uma coletividade. Mas essa herança patrimonial não é estética e sim, dinâmica, porque se modifica ao longo das gerações, de acordo com o surgimento de novas necessidades. O Patrimônio Cultural revela os múltiplos aspectos da cultura de uma comunidade [...]. (FUNDARPE, 2009, pág. 10).
Já o conceito científico de cultura remonta ao século XIX, quando o etnólogo
americano Edward Tylor teoriza acerca do referido conceito. Segundo Crespi
(1997, p. 13) “Tylor definia a cultura como aquele conjunto de elementos que
inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, usos e quaisquer outras
capacidades e costumes adquiridos pelo homem enquanto membro de uma
sociedade”.
Já para Kashimoto (2002, p. 35) a cultura é: “um conjunto de soluções originais
que um grupo de seres humanos constroem”. Essas soluções, muitas vezes,
derivam das necessidades de adaptação dos indivíduos, das transformações
nos modos de existir, decorrentes do contato entre os grupos humanos e dos
avanços nas técnicas e tecnologias.
Vale considerar que não podemos esquecer que o espaço geográfico não pode
ser desprovido de memória, pois essa é uma das suas constituintes, sendo os
elementos do patrimônio meios que devem estar conectados com a vida, com
as dinâmicas dos lugares.
Santos (2006, p. 205) chama a atenção para a necessidade de perceber que:
“Tudo o que existe articula o presente e o passado, pelo fato de sua própria
existência. Por essa mesma razão, articula igualmente o presente e o futuro”.
Assim, temos que buscar entender as heranças simbólicas resultantes de outras
temporalidades presentes no município de Nazaré da Mata nos dias atuais, para
assim articular estes elementos invisíveis da identidade e da cultura local, com
as possibilidades de inovação sócio territorial, inclusão social e desenvolvimento
sustentável.
Desta maneira deve-se perceber que os valores culturalmente construídos dão
origem às relações de identidade dos grupos sociais e, reciprocamente, as
relações de identidade influenciam na criação de valores culturais. Segundo
Castells (2003, p. 2):
Entende-se por identidade a fonte de significado e experiência de um povo. No que diz respeito aos atores sociais, entendo por identidade o processo de construção do significado com base num atributo cultural, ou ainda um conjunto de atributos culturais inter-relacionados, o(s) qual (ais) prevalece(m) sobre outras formas de significado.
Hall (2006, p. 2) esclarece que a identidade se forma a partir: “da “interação"
entre o eu e a sociedade. O sujeito ainda tem um núcleo ou essência interior que
é o "eu real", mas este é formado e modificado num diálogo contínuo com os
mundos culturais "exteriores" e as identidades que esses mundos oferecem”.
De acordo Magnaghi, (2000 apud SAQUET, 2007, p.148):
A sociedade construindo o território, está se relacionando com o
ambiente, historicamente. Assim define o conceito de identidade, como
um código genético local, material e cognitivo; é um produto social, da
territorialização e se constitui no patrimônio de cada lugar, econômica,
política, cultural e ambientalmente. A identidade é formada pelas
edificações […], línguas, mitos, a religião, enfim pelos atos
territorializantes dos atores sociais e históricos […].
No intuito de colaborar com um processo de transformação/inovação aliamos a
nossa análise o conceito de desenvolvimento local e sustentável, que surgiu
justamente para tentar fazer com as relações de uso e de poder materializadas
no espaço obedeçam à lógica do coletivo, considerando as questões
econômicas sem que o lucro e o acúmulo de riquezas pelos grupos sociais seja
a principal questão a se considerar. Faz-se necessário articular o econômico, o
social, o cultural com a perspectiva da sustentabilidade ambiental, isto é, almeja-
se desenvolver atividades que garantam às gerações futuras uma existência
pautada em relações menos desiguais.
Assim, temos as considerações de Jesus (2007, p.25) sobre o desenvolvimento
local e sustentável:
É entendido como um processo que mobiliza pessoas e instituições buscando a transformação da economia e das sociedades locais, criando oportunidades de trabalho e de renda, superando dificuldades para favorecer a melhoria das condições de vida da população local. [...] Pode-se, pois, dizer que está perante uma iniciativa ou um processo de desenvolvimento local quando se constata a utilização de recursos e valores locais, sob o controle de instituições e de pessoas do local, resultando em benefícios para as pessoas e para o meio ambiente [...].
Diante do exposto, cabe lembrar que o crescimento pode tornar-se efémero caso
não seja seguida a lógica de um desenvolvimento pautado na sustentabilidade,
onde os atores locais e a atribuição de novos usos estejam no centro dos
debates.
No que tange à inovação existe uma tendência, em um primeiro momento, de
associar a palavra aos avanços técnicos e tecnológicos, entretanto nos dias
atuais a ideia de inovação tem ganho um entendimento mais amplo.
Nesta direção, temos as considerações de André e Abreu (2006, p. 124):
Assim, entendemos a inovação social como uma resposta nova e socialmente reconhecida que visa e gera mudança social, ligando simultaneamente três atributos: (i) satisfação de necessidades humanas não satisfeitas por via do mercado; (ii) promoção da inclusão social; e (iii) capacitação de agentes ou actores sujeitos, potencial ou efectivamente, a processos de exclusão/marginalização social, desencadeando, por essa via, uma mudança, mais ou menos intensa, das relações de poder.
Em síntese, podemos observar que a valorização do patrimônio cultural se
apresenta enquanto uma possibilidade para o estímulo à inovação social e
territorial, pois pode permitir a satisfação das necessidades dos atores locais a
partir do rompimento com as relações de poder impostas.
O patrimônio cultural de Nazaré da Mata e as possibilidades de inovação
sócio territorial
No município de Nazaré da Mata pode-se observar a existência de um mosaico
de territórios, porém, ainda é nítido o domínio dos territórios dedicados da
atividade canavieira, assim torna-se urgente criar estratégias para “reinvenção”
das atividades realizadas no município, a partir das potencialidades locais, de
forma a se estabelecerem de maneira sustentável. É possível identificar uma
tendência de expansão das atividades ligadas ao turismo cultural, visto que
Nazaré da Mata é conhecida como a terra dos Maracatus, com um “cenário” rural
e urbano bastante rico, que remonta ao período colonial.
Pode-se destacar que a expansão do turismo na área, ocorre do fato da atividade
canavieira, apesar de continuar dominando a paisagem das áreas rurais do
município, cada dia mais, se apresenta decadente em vários sentidos. Em
primeiro lugar, para os trabalhadores que apesar do trabalho com a cana nunca
ter se apresentado como uma ocupação lucrativa e interessante, sempre foi esta
atividade que nos municípios da Zona Mata, sobretudo os da Mata Norte, que se
encontrava a maior oferta de empregos para a população com menor grau de
instrução e maior pobreza, porém pôde-se observar em pesquisas preliminares
de campo que vêm ocorrendo uma redução dos postos de trabalho, redução do
período de ocupação e da remuneração dos trabalhadores.
Com relação a esta questão Dabat (2003, p.81) afirma que:
Um das características do ciclo agrícola da cana-de-açúcar é a demanda intensa e sazonal de mão-de-obra, sobretudo na época da safra, em que o tempo constitui um elemento importante, tanto no corte, quanto no processamento das canas. À época da ‘morada’ a safra tinha duração muito maior do que hoje em dia, tanto em razão das variedades de cana, do tipo de técnicas agrícolas, bem como dos métodos de colheita. De setembro a março ou mais, época que, correspondendo à estação seca no Agreste, permitia uma migração sazonal anual.
Em segundo lugar pôde-se notar que, o lucro dos proprietários de terras que não
acompanharam a substituição da produção do açúcar pelos engenhos banguês
para a produção pelas usinas, também vem diminuindo já que, hoje são
dependentes das empresas que além de possuírem parte significativa das terras
dedicadas a esta atividade possuem também os meios necessários para o
beneficiamento da cana. Deve-se ressaltar que em Nazaré praticamente todo o
beneficiamento da cana é realizado por Usinas da região, deixando os donos
das terras na posição de meros fornecedores, tornando cada vez menos lucrativo
o plantio da referida cultura, fazendo os proprietários também buscarem outras
atividades econômicas que gerem maiores lucros.
É diante deste cenário que temos a necessidade de pensar na valorização do
patrimônio cultural e nas possibilidades de inovação.
Cumpre referir que apesar de algumas tentativas de diversificação das
atividades econômicas, como já referido, especialmente a partir da exploração
turística do acervo patrimonial, que a situação em Nazaré da Mata é bastante
preocupante, já que foi possível constatar o abandono dos bens patrimoniais e
poucas transformações nas dinâmicas territoriais.
Deve-se mencionar que os principais bens patrimoniais de Nazaré da Mata de
acordo com a FUDARPE (2009) são:
Patrimônio material Patrimônio imaterial
Engenho: Folclore: Maracatu de Baque Solto Estrela Brilhante
Casa grande, capela e moita do Engenho Várzea Grande Capela e moita do Engenho Lagoa Dantas Casa grande e moita do Engenho Japaranduba Capela do Engenho Caciculé Casa grande do Engenho Tamatuape de Baixo Casa grande do Engenho Siriji Capela do Engenho Pagy Casa grande, capela e moita do Engenho Diamante Casa grande e capela do Engenho Bonito Duas casas grandes do Engenho Junco
Maracatu de Baque Solto Leão Cultural Maracatu de Baque Solto Leão Brasileirinho Maracatu de Baque Solto Cambinda Nova Maracatu de Baque Solto Leão Nazareno Maracatu de Baque Solto Leão Nazareno (só por mulheres) Blocos Carnavalescos Cavalo Marinho Ciranda Coco de Roda Maracatu Rural Troças Violeiros Maracatu Águia Dourada Maracatu Águia Misteriosa Maracatu Cambinda Brasileiro
Igrejas: Catedral de Nossa Srª da Conceição Igreja do Bom Jesus
Gastronomia: Beiju Buchada Galinha de cabidela Manuê Mão-de-vaca Pé de moleque Língua de sogra na palha de bananeira Tapioca
Espaço Urbano:
Casa de Mauro Mota
Conjunto Urbano – Sede
Estação Ferroviária
Artesanato: Peças em madeira Peças em papel Boneca de pano Bordado Peças em material reciclado Peças em metal
Diante de todo esse acervo do patrimônio de Nazaré, enquanto resultados
preliminares, pôde-se constatar, em linhas gerais que: os engenhos em maioria
encontra-se em estado de abandono; as igrejas da área urbana em bom estado
de conservação; o casario do conjunto urbano da sede em bom estado de
conservação e com atribuição de novos usos; a Estação Ferroviária fechada e
em estado de abandono, o folclore destaca-se o incentivo aos grupos de
Maracatu e a gastronomia e o artesanato sem incentivo e com aproveitamento
restrito aos residentes do município.
Como exemplo do que afirmamos temos o Engenho Várzea Grande em estado
de abandono, conforme figura 1.
Figura 1 – Engenho Várzea Grande
Fonte: os autores, 2017.
A Catedral de Nossa Srª da Conceição em bom estado de conservação,
conforme figura 2.
Figura 2 – Catedral de Nossa Srª da Conceição
Fonte: os autores, 2017.
No que se refere ao casario da sede podemos observar que se encontram em
bom estado de conservação, como é possível ilustrar na figura 3.
Figura 3 – Casario da sede do município de Nazaré da Mata
Fonte: os autores, 2017.
Um outro exemplo do que afirmamos é Estação Ferroviária, localizada mais
afastada do centro que chama a atenção pela falta de conservação, estando
praticamente em ruínas, somente com os trilhos em boas condições, conforme
figura 04.
Figura 4 – Antiga Estação Ferroviária de Nazaré da Mata
Fonte: os autores, 2017.
Quando observamos o acervo do patrimônio imaterial foi possível constatar, em
carater preliminar, que se destacam os grupos de Maracatu em função,
principalmente de iniciativas por parte dos atores locais que demandaram e
demandam as instâncias de poder para promoção e divulgação do referido
movimento da cultura popular.
Dentre os grupos de Maracatu destacamos o Cambinda Brasileira (figura 05) e
o Águia Misteriosa que resistem até os dias de hoje. O primeiro, fundado em
1918, considerado o grupo de Maracatu mais antigo do estado de Pernambuco,
possui uma sede urbana e outra rural. Na sede urbana é possível observar todos
os troféus ganhos, além de algumas fantasias e fotografias do grupo tiradas
durante as apresentações. Na sede rural, território de origem do referido grupo,
se situa o local de concentração da saída do Maracatu em dias de carnaval, além
de um local específico para os brincantes se reunirem e se organizarem.
Já o segundo, o Águia Misteriosa, foi fundado no ano de 1991, no bairro
Sertãozinho. Na sede do mesmo, foi informado que com o passar dos anos
ocorreram inúmeras modificações no funcionamento e nas tradições dos grupos
de Maracatu, havendo ainda hoje, escassez de investimentos públicos na
preservação dos referidos grupos da cultura popular.
Figura 05 – Maracatu Cambinda Brasileira
Fonte: os autores, 2017.
Em síntese, podemos afirmar, após esta breve análise sobre o patrimônio e a
cultura de Nazaré da Mata, que o valor das heranças sejam estas materiais ou
imateriais devem ser foco de abordagem de vários campos do saber, na medida
em que representam os modos de existir dos grupos humanos. É preciso
compreender as características dos processos de apropriação sócio territorial
para assim ter a oportunidade de colaborar, de um lado, com a difusão e
preservação das identidades culturais, e de outro, através da educação
patrimonial, fazer dessas heranças um mecanismo de incentivo à inclusão social
e ao desenvolvimento de forma sustentável.
Considerações Finais
Em linhas gerais, faz-se necessário apontar que é preciso seguir alguns
caminhos para que seja estimulada a inovação sócio territorial através da
valorização do patrimônio cultural. Em um primeiro momento, observou-se que
se faz importante realizar o tombamento e a restauração dos bens patrimoniais,
o que irá estimular a preservação dos referidos locais de interesse.
Também foi possível identificar que é imprescindível realizar atividades de
educação (oficinas, colóquio, exposições dentre outros) com os atores locais, a
fim de promover a conscientização sobre o valor das heranças de outros tempos.
Vale ressaltar que em um mundo com tantas crises e transformações nas
relações identitárias que é preciso atribuir novas funções para os espaços da
memória, (re)significando-os de acordo com as demandas dos dias atuais.
Importa enfatizar que foi possível constatar as diversas possibilidades que os
espaços, muitas vezes abandonados, podem oferecer para o estímulo à
inovação sócio territorial, contribuindo de maneira eficaz para o desenvolvimento
local, a partir de estratégias de ação que sejam meios para tornar viável a
conciliação entre a preservação do acervo cultural com atividades e dinâmicas
dos dias de hoje.
Em síntese, é preciso valorizar o ser humano em suas intrínsecas relações com
meio, através de debates com a população local, no sentido de estimular a
valorização do seu patrimônio cultural, pois somente assim, teremos o
fortalecimento da identidade que poderá ajudar na construção do
desenvolvimento pautado na sustentabilidade.
Referências
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