Álvaro de Campos

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Heterónimos de Fernando Pessoa

Álvaro de Campos

Biografia Nascimento: 15/10/1890,

Tavira Educação:  Liceu em Portugal,

cursou Engenharia Naval em Glasgow, Escócia.

Aspeto físico: Alto, magro e “com tendência a curvar-se”; cara rapada, “entre branco e moreno, tipo vagamente de judeu português” tinha o cabelo preto liso e usava monóculo.

Viajou pelo Oriente, vivendo depois uns anos entre Londres e Lisboa. Fixou-se definitivamente na capital portuguesa em 1926, entrando num “pessimismo decadentista”.

Álvaro de Campos em Fernando Pessoa

Pessoa afirmava que entrava na personalidade de Álvaro de Campos quando sentia "um súbito impulso para escrever" e não sabia o quê, exprimindo através do seu heterónimo "toda a emoção" que não era capaz de dar nem a si nem à vida.

Fases da escrita de Álvaro de Campos

1ª fase – Fase DecadentistaPredominavam os sentimentos de tédio,

cansaço e necessidade de novas sensações;Expressão da falta de um sentido para a vida

e desejo de fuga à monotonia;“O filho indisciplinado das sensações” – imita

o Mestre (Alberto Caeiro) no fluir das sensações, mas fá-lo com mais imaginação.Produções: Opiário.

“E afinal o que quero é fé, é calma/ E não ter estas sensações confusas.” sentimento de tédio e necessidade de novas sensações

“E ver passar a Vida faz-me tédio.” tédio

2ª fase – Fase Futurista Exaltação da força e da violência – “euforia desmedida”; Desejo de “sentir tudo de todas as maneiras”

(Sensacionismo), saindo assim da sua fase decadentista;

Valorização da máquina, da velocidade e da força ao invés da beleza;

Influência do modernismo; Transgressão da moral estabelecida; Predomínio da emoção espontânea – recurso a

interjeições e onomatopeias; Sadismo/ masoquismo.

Produções: Ode Triunfal, Ode Marítima, Saudação a Whitman.

“Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno!” ;“Ser completo como uma máquina.” elogio à civilização industrial

“Rasgar-me todo, abrir-me completamente”

masoquismo

3ª fase – Fase Intimista/Pessimista Dor de pensar; Nostalgia da infância; Solidão; Desejo de distanciamento dos outros; Fragmentação e dissolução do “eu”; Cansaço, tédio, angústia e melancolia; Conflito entre a realidade e o poeta; Desejo de morte;

Produções: Lisbon Revisited; Esta velha angústia; Aniversário; O que há em mim é sobretudo cansaço.

“Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!” ; “Pobre velha casa da minha infância perdida!” nostalgia da infância

“Esta angústia que trago há séculos em mim, /Transbordou da vasilha” angústia

“A única conclusão é morrer.” desejo de morte

“Vão para o diabo sem mim, /Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!/Para que havemos de ir juntos?”; “Quero ser sozinho”

desejo de distanciamento

Traços Estilísticos

Verso livre e longo;Estilo torrencial e esfuziante, provocando um

ritmo desordenado; Onomatopeias e aliterações;Mistura de tipos de linguagem;Enumerações, repetições, anáforas,

exclamações, interjeições;Neologismos;Metáforas, personificações, hipérboles.

Análise do poema Lisbon RevisitedNÃO: Não quero nada. 

Já disse que não quero nada. 

Não me venham com conclusões! A única conclusão é morrer. 

Não me tragam estéticas! Não me falem em moral! 

Tirem-me daqui a metafísica! Não me apregoem sistemas completos, não

me enfileirem conquistas Das ciências (das ciências, Deus meu, das

ciências!) — Das ciências, das artes, da civilização

moderna! 

Que mal fiz eu aos deuses todos? 

Se têm a verdade, guardem-na! 

Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica. 

Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo. 

Com todo o direito a sê-lo, ouviram? 

Não me macem, por amor de Deus! 

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável? 

Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa? 

Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade. 

Assim, como sou, tenham paciência! Vão para o diabo sem mim, 

Ou deixem-me ir sozinho para o diabo! 

Para que havemos de ir juntos? 

Não me peguem no braço! Não gosto que me peguem no braço.

Quero ser sozinho. Já disse que sou sozinho! 

Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia! 

Ó céu azul — o mesmo da minha infância — Eterna verdade vazia e perfeita! Ó macio Tejo ancestral e mudo, 

Pequena verdade onde o céu se reflete! Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje! Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu

me sinta. 

Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo... 

E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho! 

Revolta, loucura (“Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.”);

Nostalgia (“Ó céu azul — o mesmo da minha infância”); Solidão e desejo de distanciamento (“Ah, que maçada

quererem que eu seja da companhia!”); Mágoa (“Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de

hoje!”); Certeza e desejo da morte (“A única conclusão é

morrer.”); Procura de ilibação da culpa que sente (“Que mal fiz

eu aos deuses todos?”); Não reconhecimento da sua cidade e ausência de

sentimento por ela (“Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.”)

“NÃO: Não quero nada. /Já disse que não quero nada. ” repetição

“Não me tragam estéticas! /Não me falem em moral.”; “Queriam-me casado, … /Queriam-me o contrário disto, …?” paralelismo

“Ó céu azul…”; “Ó macio Tejo…”; “Ó mágoa revisitada…” apóstrofe

“Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?”

enumeração

“A única conclusão é morrer.” hipérbole

“Ó macio Tejo ancestral e mudo,” metáfora

“E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio (=morte) quero estar sozinho!” eufemismo