Amor de Perdiçao

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Camilo Castelo Branco- literatura portuguesa

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SUPLEMENTO DE ATIVIDADES

NOME:Nº: SÉRIE/ANO:ESCOLA:

Camilo Castelo Branco é um dos maiores autores da literatura portuguesa. De fato, ele foi o primeiro autor de Portugal a viver exclusivamente da literatura. Por conta da necessidade de escrever para sobreviver, Camilo produziu uma obra vasta. Mas, ao contrário do que se poderia imaginar, o conjunto de seus textos tem grande qualidade. Amor de perdição, um drama amoroso com inspiração marcadamente shakespeariana, é considerado um de seus principais romances.Embora Camilo pertença à escola literária romântica, em alguns de seus livros ele já apresenta algumas características do Realismo. O maior representante do Realismo em Portugal, Eça de Queirós, chegou a se configurar como seu rival.As atividades a seguir pretendem ampliar a compreensão de Amor de perdição e de seu tempo. Desenvolva-as após a leitura do livro, dos Diários de um Clássico, da Contextualização Histórica e da Entrevista Imaginária. Bom trabalho!Es

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CAMILO CASTELO BRANCO

AMOR DE PERDICAOMEMORIAS DUMA FAMILIA

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UMA OBRA CLÁSSICA

1. A que escola literária pertence o romance Amor de perdição? Quais são as principais características desse movimento?

2. A qual das três gerações do Romantismo português Camilo Castelo Branco pertence? Quais são as principais características dessa geração?

A NARRATIVA

3. A pergunta abaixo caiu no vestibular da Cefet-RP, Minas Ge-rais, em 2008.

Sobre Amor de perdição, do escritor português Camilo Castelo Branco, assinale a alternativa incorreta:

a) Amor de perdição é uma novela ultrarromântica, marcada pelo sentimento passional e pelo idealismo amoroso, confirmando, assim, duas das principais características do período, que foram o subjetivismo e a luta individual do herói.b) Narrada (em sua maior parte) na terceira pessoa, a novela segue as convenções tradicionais da narrativa de ficção, como a sequência

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temporal dos acontecimentos e a linearidade do enredo, apresen-tando também referências históricas e biográficas.c) O ultrarromantismo da novela é quebrado por tendências rea-listas. Estas são observadas no posicionamento da personagem Mariana e na forma pouco subjetiva por meio da qual a realidade é tratada, a partir de uma ficção documental.d) Mariana é a principal agente de comunicação entre Simão e Teresa, figurando como personagem auxiliar que promove a união amorosa entre os dois adolescentes apaixonados, embora não possa dela participar. e) A personagem Mariana, encarnando o amor romântico, com pureza e resignação, e a personagem Teresa, representando a mulher inacessível e idealizada, apenas na morte encontram a plenitude do amor idealizado, nesta novela da segunda fase ro-mântica da literatura portuguesa.

4. A voz narrativa em uma obra é aquela que conta a história. Em geral, ela pode ser em primeira pessoa, quando o narrador participa dos acontecimentos contados, ou em terceira pessoa, quando o narrador não participa da história, mas conhece todos os seus detalhes – por vezes, até mesmo o pensamento das perso-nagens. Amor de perdição tem duas vozes narrativas. Você é capaz de identificá-las?

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5. O narrador de Amor de perdição relata acontecimentos reais romanceados com base nos relatos de uma tia que o criou, preocu-pando-se até mesmo em transcrever documentos para dar auten-ticidade às aventuras que vai contar. Qual é a intenção do autor ao lançar mão desse recurso?

6. A trama de Amor de perdição é maniqueísta, isto é, retrata o conflito entre dois polos, um deles representando o bem e o ou-tro, o mal. De que forma isso é refletido nas personagens?

7. Na grande maioria dos enredos do período romântico (bem como em outros movimentos literários e mesmo em roteiros de filmes) há uma personagem que auxilia o herói a vencer seu an-tagonista, o vilão. Alguns estudiosos da literatura chamam essa personagem de guia, que surge quase sempre de maneira ines-perada para amparar o protagonista em sua dificuldade. Identifi-que o guia em Amor de perdição. Justifique sua resposta.

O NARRADOR

AS PERSONAGENS

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INTERTEXTUALIDADE

8. William Shakespeare (1564-1616) é o maior dramaturgo da língua inglesa. Sua obra influenciou grande número de escri-tores e até hoje continua a inspirar. O próprio Camilo Castelo Branco baseou-se em uma de suas peças, Romeu e Julieta, para criar Amor de perdição. Ao longo do tempo, algumas das histórias que Shakespeare criou têm sido recontadas e atualizadas. Apesar de pertencerem a estilos e a épocas diferentes, tanto Ro-meu e Julieta como Amor de perdição compartilham o mesmo tema: o amor proibido versus o dever de obedecer à família. Na sua opinião, por que os dois autores fecham suas histórias desti-nando as personagens a um fim trágico?

9. Eça de Queirós (1845-1900) é outro grande nome da literatu-ra portuguesa. Embora contemporâneo de Camilo, ele pertence a uma geração posterior. Na verdade, quando o jovem Eça de Queirós despontava, Camilo sentiu-se ameaçado, pois o outro era tão bom que rivalizava o autor de Amor de perdição. Queirós pertence ao Realismo, a escola literária que substitui o Roman-tismo. Segundo alguns críticos, o jovem autor chegou mesmo a influenciar Camilo, que introduziu elementos realistas em seus romances. Leia os trechos a seguir e compare-os.

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– E teu marido? – perguntou Luísa, vindo sentar-se muito junto de Leopoldina.– Como sempre. Pouco divertido – respondeu, rindo. E, com um ar sério, a testa um pouco franzida: – Sabes que acabei com o Mendonça?Luísa fez-se ligeiramente vermelha.– Sim?Leopoldina deu logo detalhes.Era muito indiscreta, falava muito de si, das suas sensações, da sua alcova, das suas contas. Nunca tivera segredos para Luísa; e na sua necessidade de fazer confidências, de gozar a admiração dela, descrevia-lhe os seus amantes, as opiniões deles, as manei-ras de amar, os tiques, a roupa, com grandes exagerações! Aquilo era sempre muito picante, cochichado ao canto de um sofá, entre risinhos; Luísa costumava escutar, toda interessada, as maçãs do rosto um pouco envergonhadas, pasmada, saboreando, com um arzinho beato. Achava tão curioso!– Desta vez é que bem posso dizer que me enganei, minha rica filha! – exclamou Leopoldina erguendo os olhos desoladamente.Luísa riu.– Tu enganas-te quase sempre!Era verdade! Era infeliz!– Que queres tu? De cada vez imagino que é uma paixão, e de cada vez me sai uma maçada!E picando o tapete com a ponta da sombrinha:– Mas se um dia acerto!– Vê se acertas – disse Luísa. – Já é tempo!Às vezes na sua consciência achava Leopoldina “indecente”; mas tinha um fraco por ela: sempre admirara muito a beleza do seu corpo, que quase lhe inspirava uma atração física. Depois descul-pava-a: era tão infeliz com o marido! Ia atrás da paixão, coitada! E aquela grande palavra, faiscante e misteriosa, de onde a felicida-de escorre como a água de uma taça muito cheia, satisfazia Luísa como uma justificação suficiente: quase lhe parecia uma heroí-na; e olhava-a com espanto como se consideram os que chegam de alguma viagem maravilhosa e difícil, de episódios excitantes.

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Só não gostava de certo cheiro de tabaco misturado de feno, que trazia sempre nos vestidos. Leopoldina fumava.

QUEIRÓS, Eça de. O primo Basílio. São Paulo: Saraiva, 2006. (Clássicos Saraiva).

Amava Simão uma sua vizinha, menina de quinze anos, rica herdeira, regularmente bonita e bem-nascida. Da janela do seu quarto é que ele a vira pela primeira vez, para amá-la sempre. Não ficara ela incólume da ferida que fizera no coração do vi-zinho: amou-o também, e com mais seriedade que a usual nos seus anos.Os poetas cansam-nos a paciência a falarem do amor da mulher aos quinze anos, como paixão perigosa, única e inflexível. Alguns prosadores de romances dizem o mesmo. Enganam-se ambos. O amor dos quinze anos é uma brincadeira; é a última manifesta-ção do amor às bonecas; é a tentativa da avezinha que ensaia o voo fora do ninho, sempre com os olhos fitos na ave-mãe, que a está da fronde próxima chamando: tanto sabe a primeira o que é amar muito, como a segunda o que é voar para longe.Teresa de Albuquerque devia ser, porventura, uma exceção no seu amor.O magistrado e sua família eram odiosos ao pai de Teresa, por moti-vos de litígios, em que Domingos Botelho lhe deu sentenças contra. Afora isso, ainda no ano anterior, dois criados de Tadeu de Albuquer-que tinham sido feridos na celebrada pancadaria da fonte. É, pois, evi-dente que o amor de Teresa, declinando de si o dever de obtemperar e sacrificar-se ao justo azedume de seu pai, era verdadeiro e forte.

CASTELO BRANCO, Camilo. Amor de perdição. São Paulo: Saraiva, 2009. (Clássicos Saraiva).

Os dois trechos abordam a disposição de duas mulheres diante do amor. Que diferenças você pode perceber na maneira como esses dois autores tratam essa emoção e de que forma isso caracteriza as escolas literárias a que eles pertencem?

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10. O trecho abaixo descreve o comportamento social espera-do de um indivíduo no século XIX. Leia-o e responda:

Qualquer singularidade, [no vestir como] em qualquer campo, é um pecado de lesa-sociedade. Deve-se sempre ceder ao dese-jo do grupo, sem jamais impor o seu próprio: não pedir papel para escrever ou reclamar o urinol quando as carnes estiverem prontas para servir e as mãos lavadas. Não se deve ser nem tí-mido, nem familiar, nem melancólico. Deve-se sempre manter a dignidade com os criados (alguns “soberbos” “estão sempre repreendendo seus criados e mantendo toda a família em per-pétuo rebuliço”), e na rua, onde o passo não deve ser nem preci-pitado nem muito lento, e onde nunca se deve olhar fixamente para os passantes.

ARIÈS, Phillipe. Da família medieval à família moderna: história social da criança e da família. Tradução: Dora Flaskman.

Rio de Janeiro: LTC, 1981.

A família, a partir do século XIX, tem um papel vital na formação do indivíduo, estabelecendo o comportamento acima descrito. De que forma essa convenção social, isto é, a obrigatoriedade da obediência, reflete-se nas ações das personagens Simão e Teresa, de Amor de perdição?

CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA

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11. O trecho a seguir descreve o status da mulher durante o período vitoriano, época em que se passa o romance Amor de per-dição. Leia-o e responda:

Durante a era simbolizada pelo reino da rainha britânica Vitória, o gênero feminino sofria em demasia por causa da visão de “mu-lher ideal” imposta pela sociedade. Os direitos legais das mulhe-res eram os mesmos que os das crianças. Quando casavam, todos os seus direitos e propriedades pertenciam ao marido. Aos olhos da lei, elas eram “legalmente incompetentes e irresponsáveis”. Assim, não podiam votar nem ter propriedades. Eram vistas como “puras” e “limpas”. Por conta disso, seus cor-pos eram tidos como “templos” que não podiam ser fonte de pra-zer sexual. Os vitorianos sustentavam que as mulheres eram se-res assexuados. Uma mulher que manifestasse qualquer desejo erótico era uma séria candidata a “cair na vida”, isto é, tornar-se prostituta. O papel delas era ter filhos e cuidar da casa, encar-nando o arquétipo Anjo do Lar. Os únicos trabalhos que podiam exercer eram o de professora e de empregada doméstica. O ideal da mulher vitoriana era ser piedosa, religiosa, pura e, sobretudo, submissa. No final das contas, as mulheres vitorianas eram tra-tadas como santas – santas apenas com relação aos seus deveres, pois não tinham qualquer direito sobre si mesmas.

BLANC, Claudio. A Era Vitoriana – Uma breve história do sexo. São Pau-lo: Global (no prelo). Trecho inédito especialmente cedido pelo autor

para esta obra.

Cite um exemplo de Amor de perdição que ilustre a passagem acima.

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Agora é com você, caro leitor.Valendo-se das orientações desta edição e das suas respostas às atividades de leitura, elabore uma nova entrevista com o autor, mais ou menos como a Entrevista Imaginária do final do livro.Que perguntas você faria, se tivesse a oportunidade de conversar com Camilo Castelo Branco? Com base na obra e na vida do roman-cista, dê asas à criatividade e imagine as respostas que ele daria.Você pode perguntar, por exemplo, sobre seu projeto artístico. Ca-milo foi o primeiro escritor de Portugal a viver exclusivamente da literatura. Dessa forma, sua obra foi desenvolvida pressionada pela necessidade comercial. Mesmo assim, os romances de Camilo têm uma qualidade excepcional. Será que ele tinha um segredo para manter o nível de seus escritos? Como ele escolhia seus temas?Outra pergunta interessante para Camilo é sobre o Portugal de seu tempo. O país passava por uma grande crise política e estava muito empobrecido com a perda de sua maior colônia, o Brasil. Como isso refletiu na vida e na obra de Camilo? Os costumes portugueses tam-bém eram muito rígidos e conservadores – conforme o próprio Ca-milo retrata em Amor de perdição. De que forma o autor colocava-se diante dessa cultura conservadora e como seus romances refletiam seu posicionamento? A vida pessoal de Camilo também traz muitos elementos a serem explorados. Será que sua biografia influenciou seus textos? No final de sua vida, Camilo se tornou amargurado. Você pode perguntar se os sacrifícios que ele fez na juventude, e em razão dos quais ele chegou a ser preso, valeram a pena.Use o conhecimento que você adquiriu com Amor de perdição e com as leituras complementares e lance mão de sua criatividade. Bom trabalho e boa diversão!

A NOVA DO CADÁVER – A SUA ENTREVISTA IMAGINÁRIA