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XVI Congresso da Sociedade Brasileira de Sociologia
Análise de dados: tecendo o diálogo entre escolhas epistemológicas, modelos
de análise e pesquisa qualitativa
(TEXTO PARA DISCUSSÃO)
Marilis Lemos de Almeida
PPGS/UFRGS
GT29 - Sociologia do conhecimento e metodologias qualitativas
Coordenação: Wivian Weller (UnB) e Hermilio Santos (PUCRS)
Salvador, Bahia
10 a 13 de setembro de 2013
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Análise de dados: tecendo o diálogo entre escolhas epistemológicas,
modelos de análise e pesquisa qualitativa
Marilis Lemos de Almeida1
1 – Introdução
A pesquisa em sociologia, no Brasil, desenvolveu-se fortemente orientada
pela metodologia qualitativa, é ainda recente a difusão de uma literatura crítica e
reflexiva sobre o tema. Contudo, o ensino de regras e procedimentos não pode se
desenrolar descolado de reflexões sobre os princípios que originam tais regras, bem
como suas implicações. Compreender as ideias e os princípios que estão na origem
dos diferentes métodos e técnicas utilizados na pesquisa qualitativa permite jogar luz
sobre as conexões entre as escolhas aparentemente mais simples, realizadas
cotidianamente, durante o processo de pesquisa com as concepções teóricas acerca
do processo de conhecimento, garantindo maior consistência e consciência acerca
das opções realizadas.
Segundo o princípio bachelardiano, a objetividade é socialmente construída e
fundada no olhar do outro, e deve ser conquistada pelo pesquisador na prática da
pesquisa, desde o momento inicial da designação do objeto até o estabelecimento
das interpretações sobre o mesmo (Bachelard, 1996). Este olhar do outro é exercido
pela comunidade científica por meio dos saberes compartilhados acerca de métodos
de pesquisa, estratégias de produção de dados e métodos de análise e interpretação
dos dados.
A articulação entre a discussão metodológica e epistemológica e o aumento
do rigor no desenvolvimento das pesquisas e das interpretações propostas revela-se
fundamental em nossa área, pois além de conferir vitalidade ao pensamento, a
sociologia e em particular a pesquisa social de cunho qualitativo, ainda carente de
legitimidade acadêmica, poderiam beneficiar-se significativamente de uma
objetividade construída.
1 Professora do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFRGS. Email: marilis.almeida@ufrgs.br
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Paulatinamente vem se dando um fortalecimento da metodologia da pesquisa
qualitativa nas ciências sociais, especialmente no que tange aos métodos e às
técnicas utilizadas para a produção de dados por parte dos pesquisadores. Nestas
áreas, é notável a sofisticação dos métodos, a busca por um maior rigor e o
refinamento no uso das técnicas, bem como a ampliação das estratégias de
investigação que os pesquisadores lançam mão no decorrer de seus estudos. No
entanto, permanece como momento crítico da pesquisa qualitativa a fase de análise
dos dados. É frequente deparar-se com trabalhos cujos problemas de pesquisa são
bem construídos e os campos realizados com dedicação e rigor, trazendo à tona
fenômenos ricos em conteúdo e diversidade, mas que são frágeis do ponto de vista
interpretativo por carecerem de métodos de análise bem conduzidos e,
especialmente, consistentes com os problemas de pesquisas que guiaram a
investigação.
Tais considerações feitas até aqui visam introduzir e, se possível, demonstrar
ao leitor a pertinência dos objetivos deste artigo, que são o de, inicialmente,
problematizar as relações entre o problema de pesquisa e a escolha dos métodos de
interpretação dos dados e, na sequência, entre técnicas de produção de dados (termo
que prefiro à coleta de dados) e métodos de interpretação dos dados e, por fim,
apresentar estratégias de análise qualitativa de dados, consistentes com epistemes
interpretativistas, compreensivas e construtivistas.
2 - Opacidade do empírico
Seguimos aqui a proposta de Bachelard de uma instalar uma “dúvida prévia –
e acrescento, contínua – que atinge tanto os fatos quanto suas ligações, tanto a
experiência, quanto a teoria e a lógica, que são crenças compartilhadas por meio de
nossa socialização científica.
O conhecimento do real é luz que sempre projeta algumas sombras. Nunca é imediato e pleno. As revelações do real são recorrentes. O real nunca é ‘o que se poderia achar’ mas é sempre o se deveria ter pensado. O pensamento empírico torna-se claro depois, quando o conjunto de argumentos fica estabelecido. (Bachelard, 1996, p. 17)
Esta citação conclama a apurar os sentidos e estar alerta contra as adesões
imediatas, aos achados rápidos, aos dados evidentes e às confirmações fáceis de
nossas ideias. Como adverte Goldemberg (1997), um dos principais problemas da
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pesquisa está relacionado à certeza do próprio pesquisador com relação aos seus
dados, pois quanto mais nos sentimos familiarizados com o universo pesquisado, mais
temos que empreender esforços para questionar a nós mesmos e à nossa prática de
pesquisa sociológica.
O controle a ser exercido é tanto em relação aos pressupostos inconscientes,
que justamente por não estarem explícitos ficam protegidos de uma vigilância, quanto
da tendência a produzir precocemente, a partir de pequenos fatos e fragmentos de
vida, uma representação completa acerca do mundo. Impelidos pela urgência em dar
sentido a informações truncadas, o olhar interpretativo preenche lacunas a partir das
experiência pessoais do pesquisador ou de imagens preestabelecidas, construídas a
partir das crenças teóricas compartilhadas. Como diz Becker (2007) “na ausência de
um conhecimento real, nossas representações assumem o controle”.
O ônus do rigor fica com o autor: é a possibilidade de explicitar as normas que regem a coleta e análise dos dados; os pressupostos teóricos e metodológicos que o orientam na interpretação; e o posicionamento no debate epistemológico que garantem o rigor na polissemia que marca o fazer em ciência na contemporaneidade. Spink (SPINK, 1996, p.158)
Não há um único caminho para o exercício deste controle, mas um deles
passa pelo resgate do sujeito epistemológico, capaz de promover uma crítica teórico-
metodológica contínua, do seu processo de pesquisa. Se as opções epistemo-
metodológicas do pesquisador, o conduz a construir um percurso indutivista de
pesquisa, ou seja, partir do que Becker (2007) chama de “escavações do dia a dia”,
como base para construir hipóteses e teorias, isso não o afasta da necessidade de
exercer uma rigorosa reflexão teórica e metodológica. A reflexão sistemática evitar
tomar os dados da observação como expressão da realidade objetiva e uma resposta
ingênua a uma problematização que implica justamente a superação da visão
primeira. O que seria um retorno improvável a uma episteme positivista que toma o
dado independente do sujeito que o produz. De outra parte, se as opções epistemo-
metodológicas do pesquisador o levarem a um percurso dedutivista, na qual as
opções teóricas orientam as problematizações e a construção de hipóteses que o
guiarão no decorrer do processo de investigação; estas opções deverão ser
constantemente confrontadas com a observação para que o dado incomode, perturbe
a teoria, levando à sua reformulação.
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3 – Relação entre abordagens epistemológicas e métodos de pesquisa e
análise de dados
O trabalho de campo, a produção de dados e a observação dos fenômenos
que constituem o núcleo de interesse da pesquisa devem ser pensados e conduzidos
articuladamente. Não se pode ter pressa em finalizar a pesquisa de campo, pois o real
se revela muito lentamente. Mas é preciso, sobretudo, dialogar com os dados, indagar,
observar as diversas possibilidades, mesmos as mais improváveis. É necessário
organizar e formalizar o pensamento, criar hipóteses acerca dos fenômenos
investigados e confrontar com a observação, para provocar o estabelecimento de
conexões que poderiam passar despercebidas. Para isso, a maneira como
interrogamos o fenômeno é crucial. Os dados não são autoexplicativos, eles não
fornecerão respostas e certezas, pois são eles mesmos o resultado de uma
construção do pensamento, que organiza e atribui sentido ao real.
Neste processo de aproximação do real se transita de uma pergunta inicial,
empírica, que tateia e expressa uma intuição de que há algo ali que merece ser
conhecido, até a elaboração de uma problematização desta pergunta de partida.
Assim, ao estabelecer um problema de pesquisa define-se o centro de interesse do
pesquisador, evitando ser capturado pelo olhar do outro acerca do fenômeno a ser
investigado. Sendo que este “outro olhar” pode ser tanto dos nossos interlocutores,
sejam eles nossos pares cientistas ou nossos sujeitos investigados, ou podem advir
de outros campos, como o da política, o da mídia, ou das próprias estatísticas sociais.
Definir um problema de pesquisa é delimitar a forma como abordaremos a
questão proposta, é escolher um jeito de construir um sistema de atribuição de
sentido, ou de explicação, que julga-se capaz de proporcionar uma contribuição para
a compreensão da questão a ser investigada. Desta forma escapa-se da armadilha
de uma interrogação direta ao empírico, que é estéril, que se encerra em si mesma e
não oferece possibilidades de ir além da descrição. Mas principalmente, estabelece-
se uma forma de controlar o próprio pensamento e proceder as escolhas de métodos
e técnicas de pesquisa.
O desafio é construir a consistência interna entre abordagem epistemológica,
desenho da pesquisa, estratégias de investigação, técnicas de produção de dados e
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métodos de análise dos mesmos. É neste sentido que o problema pode operar como
um instrumento poderoso de ruptura com a sociologia espontânea, permitindo, como
defende Berthelot (1990) “inscrever um conjunto de fatos em um sistema de
inteligibilidade”. Os esquemas interpretativos são úteis por permitir, de um lado,
organizar um conjunto de fatos a priori dispersos em um esquema coerente e, de
outro, por apontar para um métodos de investigação e de análise. Tais esquemas de
intelegibilidade implicam um ponto de vista sobre a realidade social e sobre o processo
de produção do conhecimento, ou seja, são fundados em perspectivas ontológicas e
epistemológicas. Berthelot distingue seis esquemas explicativos nas ciências sociais:
o causal, o funcional, o estrutural, o hermenêutico, o actancial e o dialético, integrados
por um núcleo lógico, uma forma lógica e por programas e subprogramas de pesquisa
(BERTHELOT, 1990; CAPELLER, 2010).
Perspectivas fundadas em uma ontologia realista partilham a crença em uma
realidade existente, observável ou não, que independe de nossa capacidade de
apreendê-la. A partir deste enunciado geral, dois polos podem ser identificados, entre
os quais situam-se um espectro tão amplo, quanto diverso de posições intermediárias.
De um lado, a afirmação de um real passível de ser apreendido e disponível para ser
explicado e elucidado, desde que bem estabelecidas as regras do conhecer. Do ponto
de vista epistemológico, seja por uma vertente empirista, seja por uma vertente
racionalista, o alcance da verdade, aqui entendida como correspondência ao real em
um caso e coerência em outro, depende do papel ativo do sujeito cognoscente e do
cumprimento das regras metodológicas pactuadas na comunidade científica. No outro
extremo, assume-se que o real somente adquire significado mediado pela percepção
que os indivíduos têm sobre o mundo que o cerca, admitindo-se uma pluralidade de
sentidos. Não se trata de negar a existência de um real, tangível ou intangível, mas
sim da possibilidade de apreensão imediata do mesmo.
Enfoques interpretativistas presentes em abordagens fenomenológicas,
interacionionistas e hermenêuticas, compartilham a ênfase no significado da ação,
buscando apreender os processos de produção de sentidos, o contexto interpretativo
e o compartilhamento de sentidos construídos intersubjetivamente. Para estas
perspectivas, os objetos, os eventos e as pessoas não possuem significados em si,
apenas aqueles que lhes são atribuídos interpretativamente e em conexão com o
mundo vivido compartilhado, portanto sendo passíveis de mudanças de sentido e
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ressignificações. A análise compreensiva supõe que o investigador coloque-se no
espaço referencial dos atores para que os sentidos possam ser apreendidos. Neste
caso, as representações sociais constituiriam o locus privilegiado para a busca dos
sentidos e a interpretação, permitiria apreender, pela triangulação, as múltiplas
significações concomitantes e seus respectivos contextos interpretativos,
reintegrando-as em um todo coerente.
De outra parte, perspectivas não realistas questionam a existência de uma
coisa-em-si, independente do sujeito que a observa, ou ao menos deslocam o centro
de interesse para os objetos fenomenais. Não haveria como acessar objetos em si,
apenas o mundo fenomenal que aparece organizado por nossa maneira de ver.
A noção de real parece funcionar como uma maneira de anunciar uma interpretação privilegiada; assim se dirá que um sonho não é ‘real’...Tentar dizer o que é o real em última instância é procurar um discurso, uma interpretação à qual se daria um estatuto privilegiado. Dizer que ‘isso realmente é isso’ é privilegiar a segunda interpretação (isso) sobre a primeira (isso). (FOUREZ, 1995, 55)
A verdade é considerada relativa às estruturas conceituais que cada um
possui, uma vez que as observações são dependentes das teorias e não refletiria a
coisa em si, nem as representações sociais seriam o locus da busca do sentido
compartilhado intersubjetivamente. A verdade em termos pragmáticos não é definida
a partir do objeto, mas dos projetos aos quais se vincula, aceitando-se portanto uma
multiplicidade de interpretações igualmente válidas.
Uma vez que o empírico é sobre-determinado pela teoria, ou pelos projetos
que orientam a ação, as observações sempre permitirão múltiplas significações, pois
“Para qualquer conjunto de dados, inúmeras teorias que impliquem naqueles dados
podem ser construídas; para todo conjunto de pontos experimentais sobre um gráfico,
qualquer número de curvas pode ser desenhado sobre eles” (LABURU et al, 2001, p.
158). Trata-se da construção de sistemas de intelegibilidades concomitantes e
distintos e, portanto, incomensuráveis, igualmente sustentados por observações
empíricas e dados seletivamente potencializados ou minimizados em função da
indagações elaboradas. Para Bloor (2009), em consonância com esta perspectiva, a
verdade é estabelecida socialmente pois, quando determinadas crenças passam a ser
aceitas pela coletividade, devido à credibilidade social conquistada e a sua
capacidade de funcionar com o grau de precisão esperado, as mesmas são
institucionalizadas.
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Cada uma destas perspectivas proporciona formas distintas abordar o real e,
portanto, de definir a problemática a ser analisada. O delineamento do problema de
pesquisa, orientado por uma abordagem, permite fazer escolhas mais adequadas
sobre como proceder nas fases de produção e de análise dos dados, pois aponta a
maneira como apreendemos a realidade, o que nos interessa observar na mesma, o
que inclui definir questões de amostragem e como nos posicionamos frente aos
modos de conhecer.
Se o fenômeno analisado é problematizado à luz de uma perspectiva
relacional, por exemplo, o desenho de pesquisa deve permitir apreender o espaço de
relações no qual o fenômeno que se quer conhecer está inserido e qual a posição
ocupada por ele, e com que efeitos. A análise não se restringirá ao exame das
entidades e seus atributos, sejam organizações ou indivíduos, mas privilegiará o
espaço de relações na qual as mesmas, estão situadas, as posições por elas
ocupadas neste espaço, os laços que os vinculam e os conteúdos que circulam como
fluxo entre os integrantes do campo.
De outra feita, se a abordagem escolhida é a crítico-explicativa o ponto de
partida é a busca de superação das aparências mais imediatas e a identificação de
relações, processos e variáveis ocultas àqueles que lançam um olhar mais rápido. É
preciso esclarecer, que não se trata de desqualificar o conhecimento que os sujeitos
possuem acerca de suas vidas, mas de estabelecer um desenho de pesquisa que
permita reunir múltiplas e distintas perspectivas acerca do mesmo objeto, que supere
o que Becker (2007) denomina de distribuição diferencial do conhecimento.
Poderíamos ir adiante nos exemplos, mas acredito não ser necessário, para
ilustrar o meu argumento de que um tempo dedicado a explicitação das opções
teóricas e dos pressupostos epistemológicos, nem sempre conscientes, apontaria
com maior facilidade os caminhos de investigação a serem seguidos. Estas definições
vão além do desenho da pesquisa, elas orientam igualmente o tipo de técnicas de
produção de dados que utilizarei e também os métodos de análise dos dados assim
obtidos. Supondo, por exemplo, a opção por uma abordagem interpretativista, cujo
pressuposto é de que a compreensão adequada dos fenômenos sociais se dá pela
apreensão das relações de sentidos postas pelos sujeitos da ação, as técnicas de
pesquisa mais pertinentes seriam entrevistas pouco estruturadas, do tipo narrativa,
histórias de vida ou episódica, que permitiram aos sujeitos expressarem-se em seus
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próprios termos e mobilizando as dimensão que jugam pertinentes. Já em uma
abordagem construtivista o centro da problematização não é elaborar uma explicação
acerca do fenômeno, mas investigar como este fenômeno emerge como resultado de
controvérsias e disputas discursivas que buscam estabelecer a legitimidade de uma
interpretação frente às demais. Neste caso, dependendo do objeto empírico, pode-se
lançar mão de pesquisa documental ou entrevistas, novamente, com baixo grau de
estruturação. Em ambos os casos, o tipo de análise mais pertinente seria algo entre
análise de discurso, análise de conteúdo, análise de retórica, análise de enunciação
ou argumentação.
4 - As relações entre os problemas de pesquisa e a escolha dos métodos
de interpretação dos dados
Nesta seção propomos acurar a reflexão acerca das escolhas dos métodos
de análise de dados à luz das abordagens escolhidas na delimitação do problema de
pesquisa. A análise dos dados ainda permanece como uma das áreas mais frágeis da
pesquisa qualitativa. Como afirma Heloisa Martins
Outra característica importante da metodologia qualitativa consiste na heterodoxia no momento da análise dos dados. A variedade de material obtido qualitativamente exige do pesquisador uma capacidade integrativa e analítica que, por sua vez, depende do desenvolvimento de uma capacidade criadora e intuitiva. A maior dificuldade da disciplina de métodos e técnicas de pesquisa está na dificuldade de ensinar como se analisa os dados — isto é, como se atribui a eles significados — sendo mais fácil ensinar a coletá-los ou a realizar trabalho de campo. A intuição aqui mencionada não é um dom, mas uma resultante da formação teórica e dos exercícios práticos do pesquisador. (2004, p. 292)
Do ponto de vista metodológico a análise de discurso pode ser uma escolha
adequada quando o problema de pesquisa envolve uma reflexão acerca das
condições de produção do texto, dos sentidos que ele produz e da forma como tais
sentidos são gerados2. Para tal, a análise do discurso não se restringe ao que está
2 Texto está sendo aqui entendido como o locus no qual o discurso se expressa, seja sob a forma imagética, oral ou escrita (Gill, 2011). Pode-se fazer uso combinado de distintas fontes de materiais, desde fontes secundárias, como jornais, textos impressos, fotografias e vídeos, até fontes primárias, produzidas pelo pesquisador, como entrevistas narrativas, histórias de vida, entrevistas episódicas e outros textos produzidos pelo próprio sujeito pesquisado, tais como cartas e diários. Sobre estas técnicas de entrevistas e outras ver Flick (2004 e 2011); Gaskell (2011); Jovchelovich e Bauer (2011); Loizos (2011).
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manifesto texto, buscando identificar as relações de força entre interlocutores, via
apreensão das posições relativas de ambos, das relações de sentido mobilizadas com
outros discursos (intertextualidade), das relações de antecipação acerca da reação
esperada do interlocutor. A análise de discurso é relativamente recente, foi proposta
por Pecheux nos anos 1960 como crítica à análise conteúdo tradicional de perfil
quantitativo, articulando as determinações históricas da semântica e os elementos
simbólicos presentes na enunciação. O discurso é considerado determinado pelas
condições de sua produção, mas também pelo sistema linguístico, que é a forma de
existir do discurso e que constitui uma realidade própria. (MINAYO,1993; GILL, 2011;
ORLANDI, 2005; PEUCHEUX, 1997).
Do ponto de vista epistemológico, a análise de discurso tem alguns
pressupostos implicados, ligados às suas origens3. A primeira dela é que a linguagem
não é uma expressão neutra de uma realidade objetiva, ela vai além do texto
mobilizando sentidos produzidos fora do texto e trazidos pela memória coletiva. Um
segundo pressuposto forte é que os enunciados possuem múltiplas leituras uma vez
que os sentidos não são dados pela palavra, mas pelas intepretações, que por sua
vez são construídas contextualmente e situacionalmente tanto pelo sujeito que produz
o texto, quanto por aquele que apreende o texto, incluindo o analista de discurso. Um
terceiro pressuposto é que os discursos buscam ocultar sua dependência de
formações ideológicas, que estão presentes em todos os discursos, uma vez que o
sentido é produzido em meio às relações de forças que expressam posições
ideológicas em disputa (PEUCHEX, 1997; ORLANDI, 2005, MINAYO, 1993)4.
Gilbert e Mulkay (1984) discutem o uso da análise de discurso a partir de uma
abordagem distinta da anterior, pois ao invés de considerarem os discursos como
expressão de posições ideológicas, adotam o relativismo metodológico. Nesta
3 Segundo Orlandi (2005) a Análise de discurso se constituiu nos anos sessenta a partir de três áreas disciplinares, quais sejam tem em sua origem influencias do materialismo histórico – que traz a dimensão histórica e ideológica na produção de sentidos –, da linguística – aportando o pressuposto da “não-transparência da linguagem”, da análise da enunciação e dos recursos linguísticos de persuasão e psicanálise – e da psicanálise para pensar o sujeito do discurso “descentrado” e afetado tanto pelas dimensões simbólicas, quanto ideológicas presentes no texto. Ver também Pecheux (2005). 4 Para uma crítica do análise de discurso, limitações e aspectos controversos, especialmente quanto a operacionalidade do mesmo, ver Wooffitt (2005), Minayo (1993) e Gill (2011). Wooffitt, além de apresentar considerações críticas sobre a análise de discurso, com base em exemplos de estudos empíricos como os de Collins e Pinch, defende o uso da análise de conversação, demonstrando que a partir da análise interacional é possível apreender as relações de poder e os aspectos macros que produzem os sentidos mobilizados na conversa.
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perspectiva o pressuposto central é que os discursos dos participantes envolvidos em
uma disputa em torno da fixação de sentidos são flexíveis e altamente dependentes
do contexto da sua produção. Mais ainda, quando o que está em disputa é o próprio
fato, ou sua definição e reconhecimento como evento crucial, a questão relevante
torna-se compreender as construções de fatos em disputa. Assim o cientista social
não podendo recorrer aos fatos para explicar esta disputa (por não possuir
conhecimento suficiente para distinguir qual relato reproduz fielmente uma realidade,
daqueles relatos parciais ou distorcidos), ou não querendo (por adotar uma posição
relativista), usa a análise de discurso como forma de apreender o processo de
construção, disputa e negociação dos fatos. Desde esta perspectiva, ainda que muitos
relatos sejam convergentes, isto é que regularidades sejam identificadas em
diferentes falas, é necessário problematizá-los, pois este resultado pode decorrer do
compartilhamento de um mesmo contexto e não por expressarem uma mesma e única
realidade objetiva. Assim como na perspectiva anterior, não se busca por meio do
discurso revelar a realidade social, mas sim compreender as controvérsias e disputas
presentes na produção dos fatos; de que forma os relatos e as crenças são
socialmente geradas, e como estes relatos são organizados contextualmente para
sustentar as ações e as crenças dos indivíduos de forma apropriada. Gilbert e Mulkay
apoiam suas proposições acerca da utilização da análise de discurso, nos estudos
sociais de ciência e tecnologia que partilham perspectivas construtivistas, sendo que
além de seus próprios trabalhos sobre a comunidade científica, referem também aos
estudos de Knorr-Cetina, Latour, Callon e Woolgar5.
De outro modo, se o problema de pesquisa delineado pretende adotar uma
perspectiva micro, com ênfase na interpretação da vida das pessoas, dos modos
como os sentidos que amparam suas práticas e crenças são produzidas, compatível
com uma esquema interpretativo interacionista, a análise de narrativas permite
reconstruir, a partir da perspectiva e estruturas de referência do interlocutor,
acontecimentos sociais e os sentidos envolvidos.
5 O método da análise de discurso pode ser combinado com análise de argumentação (LIAKOPOULOS, 2011) e análise de conversação ou enunciação (GILL, 2011; WOFFITT, 2005; MINAYO, 1993).
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Segundo Jovchelovitch e Bauer (2011) a entrevista narrativa tem a vantagem
de preservar as perspectivas particulares, permitindo ao interlocutor colocar sua
experiência em uma sequência articulada pelos sentidos atribuídos e por uma
avaliação, que envolve uma reflexão sobre a própria trajetória, organizada em seus
próprios termos. Diferentemente de um roteiro de entrevista com perguntas
formuladas pelo pesquisador, no qual a posição do entrevistado é de espera pelo
estímulo da próxima pergunta que indicará o caminho do seu relato e que oferece uma
estrutura para a sua fala, a narrativa exige uma postura mais ativa por parte do
interlocutor, que deverá selecionar os eventos relevantes, reconstruir ações, lugares
e tempos e ligá-los numa trajetória coerente por meio de sentidos e motivações.
Os autores apresentam três possibilidades de análise de narrativas. A
primeira é a análise reconstrutiva, proposta de Fritz Schütze e resumida pela autora,
a qual busca reconstruir trajetórias coletivas, por meio da identificação de trajetórias
individuais compartilhadas. A partir da separação na narrativa dos “elementos
indexados” (eventos, ações, contextos, etc.) e dos “não-indexados” (juízos, valores,
argumentações, etc.) procede-se, tanto a reconstrução das trajetórias a partir dos
primeiros, quanto a recomposição das teorias operativas, a partir dos elementos não-
indexados. A segunda propõe uma análise temática, cuja codificação é inteiramente
construída a partir da narrativa, aproximando-se da análise temática de conteúdo
descrita por Minayo (2003), porém produzida indutivamente. A estratégia utilizada é a
da redução de sentido, ou seja, a partir da transcrição integral da narrativa busca-se
identificar unidades de sentido no texto, que é reorganizado em sentenças sintéticas,
progressivamente até conseguir chegar em palavras-chave, que permitem a
categorização e codificação do texto. Por fim, estas codificações de cada entrevistas
podem ser organizadas em um sistema geral de categorização para o conjunto das
narrativas. A terceira, denominada de análise estruturalista, privilegia a identificação
de elementos presentes em todas narrativas, tais como ações, personagens
(protagonistas e testemunhas) situações, cronologias (início, crises, estabilizações,
desfechos) e a ordenação destes elementos nas narrativas, organizada em torno de
um enredo que lhe dá coerência e significado. As narrativas podem ser comparadas
a partir destes elementos permitindo identificar similaridades entre as mesmas e
cursos singulares.
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Spink (1994), igualmente assumindo uma perspectiva interacional que ela
define como microgênese, compartilha com o interacionismo simbólico o pressuposto
de que a realidade só aparece mediada pela percepção dos indivíduos. Portanto
caberia ao pesquisador trabalhar tanto ao nível micro, triangulando e interpretando os
significados, quanto apreendendo o contexto interpretativo no qual os sentidos são
gerados, para aproximar os horizontes e permitir uma melhor interpretação. Os
discursos são entendidos como práticas geradoras de realidades psicológicas e
sociais. Spink propõe analisar, articuladamente, três escalas ou tempos, a micro, na
qual as interações sociais presidem a atribuição intersubjetiva de sentidos, e a do
contexto cultural e social, que desdobra-se em dois tempos:
(...) o tempo histórico em que se inscrevem os conteúdos imaginários derivados das formações discursivas de diferentes épocas; e o tempo vivido em que se inscrevem os conteúdos derivados dos processos de socialização primária e secundária. (SPINK, 1994, p. 151)
Na escala das interações pessoais, a autora propõe entrevistas
organizadas em tornos de blocos temáticos vinculados ao problema de pesquisa
proposto, com perguntas que investigam os significados. Na escala dos contextos,
nível em que indivíduos e grupos compartilham experiências, por meio de várias
entrevistas seria possível apreender o que há de comum, as regularidades, para então
chegar nas representações sociais. Na análise dos discursos, a autora salienta a
necessidade de considerar (e incluir na análise) o ato da entrevista como processo
interacional, na qual o entrevistado interpreta a própria entrevista e as perguntas a
partir de seus pressupostos; uma vez que o discurso é intersubjetivo é importante
apreender quem são os interlocutores, explícitos ou implícitos para quem o texto
produzido se dirige; empreender uma análise linguística do texto, identificando
associações de ideias, ambiguidades, contradições, inconsistências e incoerências
e, por fim, fazer uma análise da retórica, identificando os argumentos e seus apoios.
Interessa salientar que em ambas as propostas vislumbra-se técnicas de
análise articuladas ao método de análise central, no caso de Jovchelovitch e Bauer
(2011) à análise de narrativa se soma a analise temática de conteúdo, a análise dos
elementos estruturantes da narrativa e a análise das trajetórias e teorias objetivas
subjacentes. No caso de Spink (1994) a análise de discurso proposta implica tanto a
dimensão linguística do discurso, por meio de uma análise de enunciação, quanto o
exame das formações discursivas aos quais se vinculam, além do uso da técnica de
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análise de argumentação. Análise de enunciação, análise de retórica e análise de
argumentação são técnicas que oferecem maior grau de formalização nos
procedimentos de exame do texto, o que por vezes, se torna pouco realista e sua
principal fonte de fragilidade. Ainda assim, podem ser utilizadas em combinação com
os métodos de análise de discurso e de conteúdo, ou servir como referência para
aprofundar as reflexões acerca do papel da análise da retórica nos mesmos.
A análise de enunciação, segundo Minayo (1993) tem como pressuposto o
reconhecimento da comunicação como um processo e do discurso como “palavra em
ato”, ou seja, no ato da produção da palavra elabora-se um sentido e se transforma.
Para compreender este processo é necessário considerar as condições de produção
da palavra, que envolvem a tríade locutor-objeto-interlocutor, quem enuncia, o que é
enunciado e para quem se destina esta fala. A análise de enunciação ainda contempla
a dimensão sintática e as estruturas gramaticais do texto, o arranjo ou fluxo do
discurso, os elementos atípicos tais como silêncios, repetições, lapsos e omissões e
as figuras de retórica, como metáforas, hipérboles e metonímias.
A análise de argumentação, segundo Liakopoulos, tem por objetivo
“documentar a maneira como afirmações são estruturadas dentro de um texto
discursivo, e avaliar sua solidez” (2011, p. 219). O argumento são as afirmações,
segundo o autor escritas ou verbais, porém poderíamos acrescentar as imagéticas e
as performáticas, que visam a afirmar ou refutar uma afirmação e a persuadir um
público. A proposta de análise recai sobre os aspectos estruturais do argumento6, ao
assumir que há elementos invariantes presentes no mesmo, enquanto o contexto
importa para explicar a maior ou menor legitimidade que um tipo de argumento pode
obter em campos distintos. Tipicamente a estrutura de argumento seria composta por
proposição, dados, garantias do argumento (substantivas, motivacionais ou de
autoridade) e apoios, sendo que os dados precederiam a proposição. A fragilidade do
modelo reside tanto na simplicidade excessiva do modelo, pouco adequado para
situações complexas, quanto no pressuposto de que há uma estrutura argumentativa
invariante ao contexto, hipótese não corroborada por outros estudos.
6 O autor apoia-se amplamente em para expor o modelo de estrutura de argumento. Ver Liakopoulos (2011).
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A análise de retórica em muitos aspectos se aproxima da análise de
argumentação, pois busca estabelecer os elementos de persuasão mobilizados no
texto, porém assumindo hipótese contrária de que cada fala retórica varia
contextualmente. A fala retórica é considerada como produtora de realidade, ao
valorizar determinados temas e desqualificar outros, possuindo portanto uma
dimensão ideológica. Leach (2011) aponta alguns critérios para o análise de retórica,
como a definição da “situação retórica” ou contexto, que envolve a identificação do
público para quem ela foi construída. As categorias propostas para a análise são
oriundas do campo da produção da retórica, carecendo de maior sofisticação analítica,
e estão ligada à qualidade da fala, que pode ser do tipo emocional (pathos), moral ou
ético (ethos) e racional ou lógico (logus). Estas qualidades podem ser mobilizadas
conjuntamente em um mesmo texto e a ênfase em uma delas pode ser associado ao
público a quem se dirige.
Por fim, o método de análise de conteúdo por sua versatilidade e capacidade
de transformar-se ao longo do tempo, integrando um conjunto variado de técnicas,
oferece muitas possibilidade de aplicação. Esta flexibilidade e baixo grau de
formalização, pode ser entendida como resultado do próprio método, que segundo
Bardin (1977) apresenta apenas algumas regras de base, devendo ser reinventada e
adequada ao domínio e objetivos de cada investigação.
Desde mensagens linguística em forma de ícones até comunicações em três dimensões, quanto mais o código se torna complexo, ou instável, ou mal explicado, maior terá de ser o esforço do analista no sentido de uma interpretação com vista à elaboração de técnicas novas. E quanto mais o objeto de análise e natureza de suas interpretações forem invulgares e mesmo insólitas, maiores dificuldades existirão em colher elementos nas análises já realizadas para nelas se inspirar. (BARDIN, 1977, p. 32)
Bardin alinha-se à abordagens explicativas e crítico-explicativas, citando
como referentes epistemológicos do método autores como Durkheim, Bourdieu e
Bachelard, ao sustentar que a análise de conteúdo permite ao pesquisador superar a
ilusão da transparência e da compreensão espontânea. Assim, a análise sistemática
do material visaria ultrapassar as incertezas da apreensão primeira do material,
enriquecer a leitura do mesmo buscando evidências que permitam o diálogo com as
hipóteses, bem como a integração das descobertas empíricas com a teoria. Bardin foi
crítica da análise de discurso emergente nos anos sessenta, chegando a apontar uma
‘Invasão do campo científico [da sociologia] por áreas afins como a semiótica e a
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linguística”. Em resposta às crítica quanto ao caráter quantitativista e positivista da
análise de conteúdo, que ela própria demonstra que dominaram o método desde sua
origem até os anos sessenta, a autora integra entre o rol de técnica do análise de
conteúdo a análise de enunciação, a análise retórica e a análise de discurso.7 Para
Bardin a análise de conteúdo pode ser definida como:
Um conjunto de técnicas de análise da comunicação visando obter, por procedimentos, sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) das mensagens. (BARDIN, 1977, p. 42)
Acrescente-se que as reformulações do método levaram ao desenvolvimento
de técnicas mais qualitativas, como a análise temática que busca não mensurar a
frequência das ocorrência, mas apreender significados manifestos e latentes, que
ultrapassam o conteúdo manifesto no texto. A análise temática reorganiza o texto
transversalmente a partir das unidades de significado, definidos a partir do problema
de pesquisa, hipóteses e teorias mobilizadas na mesma, permitindo codificar o texto
exaustivamente. Desta forma a análise temática de conteúdo, como método de
geração de inferências, voltada para a descoberta de núcleos de sentido revela-se um
método de análise adequado para problemas de pesquisa de corte compreensivo.
Entre as fragilidades do método, além de ter o centro de análise no texto e
no conteúdo manifesto, outra dificuldade do método de análise de conteúdo consiste
no corte transversal, que reorganiza o texto a partir das categorias de análise
construídas pelo pesquisador, procedimento que pode fragmentar o texto e dificultar
o tratamento das ambiguidades e inconsistências internas aos mesmo. Uma
possibilidade, com vistas a minorar tais problemas, consiste na articulação com a
análise de enunciação, na qual a estrutura do texto é preservada, uma vez que cada
entrevista é tomada como uma totalidade singular. Resta conciliar os pressupostos de
uma e outra estratégia analítica, pois na última (enunciação), a análise é produzida a
partir do texto, sem qualquer hipótese interpretativa prévia.
7 Não obstante esta tentativa de trazer a análise de discurso para o campo da análise de conteúdo, os analistas de discurso afirmaram-se como método de análise distinto, reafirmando as críticas ao método de Bardin. Sobre este embate ver Gill (2011) e Minayo (1993).
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Em suma, o argumento central deste texto é que é possível articular com rigor
e criatividade diferentes técnicas, pois não há caminho único para orientar a análise
dos dados produzidos na pesquisa, contudo, isso requer o uso controlado e
consciente das diferentes possibilidades abertas pelos métodos qualitativos de análise
de dados.
***
Este texto buscou promover, ainda que brevemente, uma articulação entre
momentos do processo de pesquisa que, se do ponto de vista formal aparecem
separados, são integrados umbilicalmente. A definição do problema de pesquisa, para
que ultrapasse o nível inicial de uma pergunta de partida de cunho empírico, carece
de uma abordagem teórica e epistemológica capaz de apontar como o objeto empírico
será abordado, ou dito de outra forma, como se converte um problema social em um
problema científico. Mas para que a pesquisa seja capaz de gerar os elementos
necessários para dialogar com o problema de pesquisa e prover respostas ao mesmo,
as escolhas metodológicas, incluindo técnicas de produção de dados precisam estar
em sintonia. Contudo, entre a rigidez do cumprimento de passos e a abordagem
impressionista dos dados do campo, o domínio dos fundamentos epistemológicos das
técnicas permite ao pesquisador dominar os métodos de análise de dados e construir
um caminho analítico para orientar a leitura dos dados.
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