ANÁLISE DO FILME OS INCOMPREENDIDOS DE FRANÇOIS TRUFFAUT PARA O VESTIBULAR UESB 2014

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VEJA AQUI O CONTEXTO HISTÓRICO, AS RELAÇÕES COM OS CINEMAS DA ITÁLIA E DO BRASIL E A IMPORTÂNCIA DO PRIMEIRO FILME DE TRUFFAUT QUE JÁ NASCEU OBRA-PRIMA, O PRIMEIRO FILME DA NOUVELLE VAGUE FRANCESA.

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Les quatre cents coups et la Nouvelle Vague

ANÁLISE DO FILMEOS INCOMPREENDIDOS DE FRANÇOIS TRUFFAUT

FRANÇOIS TRUFFAUT

EM SEU PRIMEIRO FILME DE LONGA- METRAGEM, FRANÇOIS TRUFFAUT BUSCOU REFERÊNCIAS EM SUA PRÓPRIA BIOGRAFIA.

Se hoje a Nouvelle Vague soa como algo “cool” ou “intelectual”, na época ela não era vista dessa maneira com a intensidade de agora, passadas as décadas e produzido tantos estudos sobre ela. Os diretores associados ao que hoje é visto como um “movimento cinematográfico” na verdade não se organizavam para criar uma unidade em suas produções; o que fez com que eles fossem vistos como um grupo foi o fato de serem, no geral, amigos bastante ligados à produção da crítica e da análise fílmica, além de serem contestadores e sempre dispostos a desafiar dos padrões vigentes que definiam o que era cinema e o que não era.

Falar de “Os incompreendidos” é, indiretamente, falar do próprio Truffaut. Esse foi seu filme de estreia, que trouxe um roteiro com forte pegada autobiográfica. Na trama, acompanhamos Antoine Doinel, um menino que sofre entre os extremos da rigidez da escola e do desleixo dos pais, vagando por Paris e entrando em contato com situações pouco adequadas para uma criança.

A criança passa por pequenas aventuras próprias do universo infantil, como os castigos de um professor ou a gazeteada de alguma aula para ir ao cinema, mas aos poucos as situações vão se complicando ao ponto de Antoine fazer, no decorrer da trama, a transição entre a leveza da infância e a dureza da vida adulta, numa espécie de jornada de iniciação ao “mundo real”.

A fotografia em preto-e-branco, as tomadas surpreendentes, a captura extremamente realista nas externas que revelaram Paris como poucos filmes o fizeram e a fluidez da edição não envelheceram passadas tantas décadas do lançamento do filme. Todos esses elementos ganham ainda mais significado ao emoldurarem a performance extraordinária de Jean-Pierre Léaud, menino descoberto por Truffaut que viria a se tornar um dos mais aclamados atores da França.

Não foi por acaso que o ator se tornou quase que um alter ego de Truffaut no cinema. Não apenas por conta do trabalho exemplar de Jean-Pierre Léaud, mas toda a representação da infância no filme é extremamente bem elaborada. Em “Os incompreendidos”, os pequenos têm tanta profundidade quanto os adultos, e eventualmente até mais que eles, brutalizados por seguirem a vida após o complicado pós-guerra europeu, o que faz do filme também um interessante recorte de uma época.

• O roteiro, do próprio Truffaut, em parceria com Marcel Moussy, recusa o clima piegas que costuma lambuzar filmes sobre infância.

• É quase um documentário, profundamente alegre em certas partes e triste, suave, melancólico no seu todo.

OS MOVIMENTOS DE CÂMERA

• A utilizar a montagem narrativa linear, Truffaut permite que conheçamos o enredo sob a perspectiva do jovem Antoine .

• Truffaut utiliza outro artifício: O movimento de câmera panorâmica que acompanha o protagonista, descrevendo o ambiente em que ele se encontra.

• Para evidenciar o sentimento de inadequação vivido pelo protagonista, principalmente nas cenas ocorridas no ambiente escolar, utilza-sea câmera alta (plongeé) para demonstrar a opressão de Antoine perante seu professor.

• Outro momento em que esse recurso é utilizado é quando a mãe de Antoine (interpretada por Claire Murier) vai ao reformatório visitá-lo, para dizer que desistiu dele.

• Nas cenas em que Antoine aparece cometendo pequenos delitos ou faltando à aula, utiliza-se a câmera baixa (contra-plongeé), com o intuito de demonstrar o espírito livre e rebelde de Antoine.

• A cena final é no mínimo instigante: a câmera Panorâmica acompanha a fuga de Antoine, até que ele entra no mar, brinca e o filme termina com Antoine “encarando” o telespectador. Uma maneira singular de terminar o filme.

HONORÉ DE BALZAC (1799 – 1850)

• A observação balzaquiana mostra obsessão pelos detalhes: seus heróis são seres de carne e osso que comem, bebem e se relacionam sob o domínio de paixões fortes, e de quem se ficam conhecendo exaustivamente o físico, o vestuário, a habitação, o prestígio individual ou familiar, a fortuna pessoal, o status social e o domicílio.

• Balzac utiliza-se de um realismo que nunca se atomiza, mas, antes, liga e corporifica as espécies sociais como se fosse um método classificatório transposto das ciências zoológicas para a criação literária. Sua meta é a de penetrar a estrutura de uma sociedade inteira por meio de suas causalidades específicas. Trata-se de uma preciosa documentação sobre o panorama da sociedade francesa.

• O realismo é a característica central de sua obra, e tanto as espécies sociais quanto o meio ambiente fornecem à matéria romanesca a dimensão histórica em que se apoia. Balzac, patrono do romance no Ocidente, é ao mesmo tempo também um historiador de costumes; sua minúcia documentária coloca-o, sem dúvida, como precursor do realismo moderno.

1959 - MORRE HEITOR VILLA-LOBOS,COMPOSITOR DE RECONHECIMENTO INTERNACIONAL

GUERRA DO VIETNÃ (1959-1975)

A REVOLUÇÃO CUBANA - 1959

BARBIE, LANÇAMENTO DA BONECA EM 1959.

A BELA ADORMECIDA DA DISNEY - 1959

ELVIS E BEATLES - 1956 e1960

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DAS CRIANÇAS UNICEF 1959

- A criança gozará de proteção especial e disporá de oportunidade e serviços, a serem estabelecidos em lei por outros meios, de modo que possa desenvolver-se física, mental, moral, espiritual e socialmente de forma saudável e normal, assim como em condições de liberdade e dignidade. Ao promulgar leis com este fim, a consideração fundamental a que se atenderá será o interesse superior da criança.

NO BRASIL, O TEMA CRIANÇA E SOLIDÃO NA LITERATURA

• José Lins do Rego – Menino de Engenho• Graciliano Ramos – Vidas Secas• João Guimarães Rosa – Contos

• Pixote, a lei do mais fraco (1981)• Central do Brasil (1998)• Cidade de Deus (2002)• Capitães da Areia (2011)

NO BRASIL, O TEMA CRIANÇA E SOLIDÃO NO CINEMA

NEO-REALISMO ITALIANO

para alguns estudiosos, o movimento começa com Obsessão (1943, de Luchino Visconti);

para outros, com Roma, Cidade Aberta (1945, de Roberto Rossellini), filme este que primeiro chama a atenção para o movimento.

Marco:

Roma, Cidade Aberta (Roberto Rossellini, 1945)

TEMÁTICAS

- o fascismo e a guerra; - os problemas sociais no campo;- o desemprego e o subemprego urbanos;- o abandono de jovens e idosos;- o suicídio infantil;- a condição da mulher;- indagação psicológica- e relação do homem com a igreja.

Ladrões de Bicicleta (Vitorio De Sica, 1948)

- utilização dos planos de conjunto e dos planos médios;- enquadramento semelhante ao utilizado nos filmes de atualidades (documentários) - (a câmera só registra);- recusa de efeitos visuais;- narrativa em continuidade (não usa elipses);-imagem acinzentada, como no documentário;

CARACTERÍSTICAS

- filmagens, quase sempre, em cenários reais;- utilização de não-atores juntamente com grandes atores, como Ingrid Bergman, Anna Magnani, etc.;- diálogos simples e uso de dialetos;- filmes de baixo orçamento;- o realismo em primeiro lugar, em certos momentos sendo documental;-quebra das fronteiras entre documentário e ficção;

- gravações em amplos exteriores (externas, com uso de luz natural);- perambulação dos personagens através das externas;- uso de plano-sequência;- adoção de temáticas políticas ou sociais como miséria, solidão, sofrimento relativas à conjuntura européia pós 2ª. Guerra Mundial.

Alemanha, Ano Zero (Roberto Rossellini, 1947)

Legado: Vai influenciar o Nuevo Cine Latino-Americano; o Cinema Novo Brasileiro; as cinematografias asiáticas, israelenses, do Afeganistão, e outras. Principais diretores: Roberto Rossellini, Vitorio De Sica e Luchino Visconti. Roteiristas: Cesare Zavatini, Suso Cecchi d'Amico e Enrico Medioli. 

A Terra Treme (Luchino Visconti, 1948)

Filmografia resumida:

– Roberto Rossellini = Roma, Cidade Aberta (1945), Paisá (1946), Alemanha, Ano Zero (1948); Europa 51 (1952);

– Luchino Visconti = Obsessão (1943), A Terra Treme (1948);

– Vitorio De Sica = Ladrões de Bicicleta (1948), Umberto D (1952).

NOUVELLE VAGUE

Início:

– a censura e a caça aos comunistas em Hollywood fez ruir seu cinema de visão crítica; – a Nouvelle Vague recuperou uma certa apatia que vivenciava o cinema mundial da época frente à conjuntura hollywoodiana, contando, para tal, com o apoio de espectadores engajados.

Os Incompreendidos (François Truffaut, 1959)

CARACTERÍSTICAS GERAIS:

- foi um movimento de juventude (os jovens turcos – nome dados aos integrantes e referência ao movimento na Turquia que quis derrubar a monarquia);- havia um clima de discussão;- movimento cineclubista;- o papel da cinemateca francesa – o museu;- o papel da revista Cahiers Du Cinemá;- o crítico André Bazin;

- os futuros diretores do movimento começaram na crítica cinematográfica e só posteriormente passaram à realização cinematográfica;- interesse de seus realizadores pelo cinema americano e por cineastas como Hitchcock; - sofre influência do Neo-Realismo Italiano, especialmente de Roberto Rossellini;- a Nouvelle Vague tem característica intelectual, mas não se apóia em nenhuma instituição cultural ou acadêmica;- prevalência de filmes de baixo orçamento;- a Nouvelle Vague encerra-se com o movimento de maio de 1968, na França.

Os incompreendidos - 1959

O amor aos 20 anos- 1962

Beijos proibidos - 1968

Domicílio conjugal - 1970

Amor em fuga - 1979

Jean-Pierre Leaud na 62ª edição do Festival de Cannes – França, 23 de maio de 2009.

Jean-Pierre Leaud na 67ª edição do Festival de Cannes – França, 21 de maio de 2014.

Acossado (Jean-Luc Godard, 1959)

CARACTERÍSTICAS ESTILÍSTICAS:

- a política dos autores – Truffaut defendia a idéia de que o diretor deveria ser livre do roteiro, de que não deveria ater-se à fidelidade das adaptações literárias;- realização de curtas;- romantismo e ingenuidade nas temáticas, principalmente em Truffaut;- uso de elipses e falsos raccords (tipo de corte que valoriza o princípio da continuidade);- descontinuidade;

- gravações nas ruas, com luz natural e som direto;- câmera na mão;- representação – encenação livre com diálogos soltos e com gírias;- cenas documentais e ficcionais;- montagem ágil;- uso de metalinguagem – o cinema filma o próprio cinema.

Hiroshima, Mon Amour (Alain Resnais, 1959)

Legado: Nuevo Cine Latino-Americano; Cinema Novo Brasileiro; Cinema Marginal Brasileiro; Cinema Novo Português, Novo Cinema Alemão, japonês e outros. Diretores principais: François Truffaut, Jean-Luc Godard, Eric Rohmer, Claude Chabrol, Alain Resnais, Louis Malle e outros. 

Filmografia (alguns filmes):

Alain Resnais = Hiroshima, Meu Amor (1959) e Ano Passado em Marienbad (1961).

Erich Rohmer = O Signo de Leão (1959).

François Truffaut = Os Incompreendidos (1959) e Jules e Jim (1961).

Jean-Luc Godard = Acossado (1959).

CINEMA NOVO BRASIL

Em 1955, o diretor Nelson Pereira dos Santos exibiu o primeiro filme responsável pela inauguração do Cinema Novo. “Rio 40 graus” oferecia uma narrativa simples, preocupada em ambientar sua narrativa com personagens e cenários que pudessem fazer um panorama da cidade que, na época, era a capital do país. Depois disso, outros cineastas baianos e cariocas simpatizaram com essa nova proposta estético-temática para o cinema brasileiro.

Esses filmes tocavam na problemática do subdesenvolvimento nacional e, por isso, inseriam trabalhadores rurais e sertanejos nordestinos em suas histórias. Além disso, comprovando seu tom realista, esses filmes também preferiram o uso de cenários simples ou naturais, imagens sem muito movimento e a presença de diálogos extensos entre as personagens. Geralmente, seriam essas as vias seguidas pelo cinema novo para criticar o artificialismo e a alienação atribuídos ao cinema norte-americano.

Na primeira etapa do Cinema Novo, que vai de 1960 a 1964, observamos os primeiros trabalhos dos diretores Cacá Diegues, Ruy Guerra, Paulo César Saraceni, Leon Hirszman, David Neves, Joaquim Pedro de Andrade, Luiz Carlos Barreto, Glauber Rocha e Nelson Pereira dos Santos. Entre outras produções dessa época podemos salientar os filmes “Vidas Secas” (1963), “Os Fuzis” (1963) e o prestigiado “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1964).

O segundo período do Cinema Novo, que vai de 1964 a 1968, dialoga com o agitado contexto de instalação da ditadura militar no Brasil. Os projetos desenvolvimentistas e o discurso em favor da ordem social passaram a figurar outro tipo de temática dentro do movimento. Entre outros filmes dessa época, se destacam: “O Desafio” (1965), “Terra em Transe” (1967) e “O Bravo Guerreiro” (1968). Após esse período, a predominância do discurso político engajado perde sua força na produção do cinema novo.

Essa nova mudança refletia a eficácia dos instrumentos de censura e repressão estabelecidos pela ditadura militar. Com isso, a crítica ácida e direta encontrada nas produções anteriores vai perder lugar para a representação de um Brasil marcado por sua exuberância e outras figuras típicas. Nesse mesmo período, o Cinema Novo se aproximou da proposta do Tropicalismo, movimento musical que criticava o nacionalismo ufanista e a aversão radical aos elementos da cultura estrangeira.

Nesse último período do Cinema Novo, que se estende de 1968 a 1972, temos um volume menor de produções, entre as quais se destaca o filme Macunaíma (1969). Inspirado na obra homônima de Mário de Andrade, esse filme reconta a trajetória do festivo e sensual herói da literatura brasileira por meio das primorosas atuações de Grande Otelo e Paulo José. Por meio desse filme, vemos que a questão nacional passa a ser rearticulada fora dos limites da estética realista.

O exílio de alguns cineastas e a adaptação de outros participantes às oportunidades oferecidas pela crescente indústria cultural brasileira acabou desgastando o movimento. Aqueles que ainda se inspiravam nas propostas do Cinema Novo, a partir da década de 1970, vão passar a encabeçar uma outra fase do cinema brasileiro. O chamado “Cinema Marginal” vai dar continuidade à postura contestatória e o privilégio das questões político-sociais anteriormente defendidas pelo Cinema Novo.