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Rui Manuel Ferreira Pinto
ANÁLISE DOS DESVIOS ORTOGRÁFICOS NA REPRESENTAÇÃO
DAS SIBILANTES POR APRENDENTES DO ENSINO SUPERIOR
TIMORENSE
Dissertação de Mestrado em Português como Língua Estrangeira e Língua Segunda, orientada pelas Professoras Doutoras Cristina dos Santos Pereira Martins e Isabel Almeida Santos, apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra
2017
ii
Faculdade de Letras
ANÁLISE DOS DESVIOS ORTOGRÁFICOS NA REPRESENTAÇÃO
DAS SIBILANTES POR APRENDENTES DO ENSINO SUPERIOR TIMORENSE
Ficha Técnica:
Tipo de trabalho Dissertação de Mestrado Título Análise dos desvios ortográficos na representação das
sibilantes por aprendentes do Ensino Superior timorense
Autor/a Rui Manuel Ferreira Pinto Orientador/a Cristina dos Santos Pereira Martins
Coorientador/a Isabel Almeida Santos Identificação do Curso 2º Ciclo em Português como Língua Estrangeira e
Língua Segunda Área científica Língua e Literatura Materna
Especialidade/Ramo Linguística Aplicada Data 2017
iii
ÍndicedeConteúdos
ÍndicedeTabelas.....................................................................................................................................................................vÍndicedeGráficos...................................................................................................................................................................viÍndicedeImagens..................................................................................................................................................................viiÍndicedeAnexos..................................................................................................................................................................viiiAbreviaturaseSiglas...........................................................................................................................................................ixAgradecimentos....................................................................................................................................................................xiResumo.....................................................................................................................................................................................xiiAbstract..................................................................................................................................................................................xiiiRezumu...................................................................................................................................................................................xiv
Introdução..........................................................................................................................2
1.Enquadramentoteórico-descritivo..................................................................................5
1.1.PanoramalinguísticodeTimor-Leste....................................................................................6
1.2.Sistemasdeescrita:algunsaspetos.....................................................................................14
1.3.Descriçãodosistemafonológico(assibilantes)easuarepresentaçãográficanoportuguês
enotétum..................................................................................................................................16
1.3.1.Osistemadassibilantesemportuguêseemtétum....................................................20
1.3.2.Relaçõesfonema-grafema:ocasodassibilantesnoportuguêsenotétum...............21
2.Metodologia................................................................................................................25
2.1.Instrumentosderecolhadedados......................................................................................26
2.2.Perfildosinformantes..........................................................................................................29
2.2.1.Apresentaçãodosdadosdoquestionário...................................................................31
2.3.Procedimentosdetratamentodosdados......................................................................40
3.Apresentaçãoediscussãodosresultados......................................................................43
3.1.Representaçãográficadasconsoantessibilantesnocorpusrecolhido:ocorrências
convergentesedivergentes........................................................................................................44
3.1.1.Análisedosdadospormunicípio.................................................................................47
3.1.2.AnálisedosdadosporLM............................................................................................48
3.2.Distribuiçãodosdesviosporpossibilidadedescritiva/interpretativa..................................48
3.3.Distribuiçãodosdesviosporposiçãosilábicaeporsegmentosafetados...........................50
3.3.1.Ataque.........................................................................................................................51
3.3.1.1.Desviosnarepresentaçãográficadosegmentofonológico/s/..........................52
iv
3.3.1.2.Desviosnarepresentaçãográficadosegmentofonológico/z/..........................55
3.3.1.3.Desviosnarepresentaçãográficadosegmentofonológico/ʃ/...........................57
3.3.1.4.Desviosnarepresentaçãográficadosegmentofonológico/ʒ/..........................58
3.3.2.Coda.............................................................................................................................59
3.3.3.Sequências...................................................................................................................61
Conclusão.........................................................................................................................63
Referências.......................................................................................................................66
Anexos.............................................................................................................................71
v
ÍndicedeTabelas
Tabela1: LínguasdeTimor-Leste-Fonte:Hull(2002)
Tabela2: AlfabetosdoPEedotétum
Tabela3: Matrizfonológicadasconsoantessibilantesdoportuguêsedotétum
Tabela4: RepresentaçãográficadassibilantesdosistemaortográficodoPEedotétum
Tabela5: Valores fonético-fonológicos dos grafemasque representamas sibilantes do
PEedotétum
Tabela6: Instituições acreditadas pela ANAAA, com o respetivo n.º de alunos
matriculadosem2015
Tabela7: Distribuiçãodosinformantespormunicípiodeorigem
Tabela8: Síntesedosdadosdocorpuspormunicípio
Tabela9: SíntesedosdadosdocorpusporLM
Tabela10: Distribuiçãodosdesviosporpossibilidadedescritiva/interpretativa
Tabela11: Distribuição das ocorrências convergentes e divergentes em posição de
ataquesilábico.
Tabela12: Distribuiçãodasrepresentaçõesgráficasdesviantesde[s]
Tabela13: Distribuiçãodasrepresentaçõesgráficasdesviantesde[z]
Tabela14: Distribuiçãodasrepresentaçõesgráficasdesviantesde[ʃ]
Tabela15: Distribuiçãodasrepresentaçõesgráficasdesviantesde[ʒ]
Tabela16: Distribuiçãodasocorrênciasconvergentesedivergentesemposiçãodecoda
silábica
Tabela17: Distribuiçãodas representaçõesgráficasdesviantesde [ʃ], [ʒ] e [z], emcoda
silábica
Tabela18: Distribuiçãodasocorrênciasconvergentesedivergentesde/s.s/
Tabela19: Distribuiçãodasrepresentaçõesgráficasdesviantesde[ʃs]
vi
ÍndicedeGráficos
Gráfico1: Distribuiçãodasproduçõescomesemdesviosnarepresentaçãodassibilantes
Gráfico2: Percentagemdeproduçõescomesemdesviospordistritodeorigem
Gráfico3: Comparação da percentagem de produções com e sem desvios na
representaçãográficadassibilantes,porLM
Gráfico4: Distribuiçãodatotalidadedasocorrências-convergentesedivergentes
Gráfico5: Distribuiçãodosdesviosporposiçãosilábica
Gráfico6: Distribuiçãodosdesviosemfunçãodosegmentoalvo
Gráfico7: Distribuiçãodosdesviosemposiçãodeataquesilábicoemfunçãodaunidade
alvo
vii
ÍndicedeImagens
Imagem1: DistribuiçãogeográficadasprincipaislínguasdeTimor-Leste
Imagem2: Tratamento,emExcel,dosdadosrecolhidos(convergentesedivergentes)
Imagem3: Tratamento,emExcel,dasocorrênciasdesviantes
viii
ÍndicedeAnexos
Anexo1: Questionárioeexercíciodeproduçãoescrita
Anexo2: Orientaçõesparaosprofessoresaplicadores
Anexo3: Autorizaçãodosinformantes
Anexo4: Apresentaçãodosdadosdoquestionário
Anexo5: PrincipaislínguasdeTimor-Leste
Anexo6: Distribuiçãodasocorrênciasconvergentesedivergentes
Anexo7: TratamentodosdadosemExcel
Anexo8: Ocorrênciasdesviantesexcluídasdaanálise
ix
AbreviaturaseSiglas
ANAAA
AFI
CPLP
FRETILIN
EB
ESG
ESUP
ICFP
INFORDEPE
LA
LE
LI
LNM
LM
LN
LO
LP
LS
PCLP
PE
PFICP
AgênciaNacionalparaaAvaliaçãoeAcreditaçãoAcadémica
AlfabéticoFónicoInternacional
ComunidadedosPaísesdeLínguaPortuguesa
FrenteRevolucionáriadeTimor-LesteIndependente
EnsinoBásico
EnsinoSecundárioGeral
EnsinoSuperior
InstitutoCatólicodeFormaçãodeProfessores
InstitutoNacionaldeFormaçãodeDocenteseProfissionaisdaEducação
LínguaAlvo
LínguadeEnsino
LínguadeInstrução
LínguaNãoMaterna
LínguaMaterna
LínguaNacional
LínguaOficial
LínguaPortuguesa
LínguaSegunda
ProjetodeConsolidaçãodaLínguaPortuguesa
PortuguêsEuropeu
ProjetodeFormaçãoInicialeContínuadeProfessores
x
PRLP
PLNM
QECRL
RDTL
RTPI
RTTL
UNESCO
ProjetodeReintroduçãodaLínguaPortuguesa
PortuguêsLínguaNãoMaterna
QuadroEuropeuComumdeReferênciaparaasLínguas
RepúblicaDemocráticadeTimor-Leste
RádioTelevisãoPortuguesaInternacional
RádioTelevisãodeTimor-Leste
UnitedNationsEducational,ScientificandCulturalOrganization
xi
Agradecimentos
ÀProfessoraDoutoraCristinaMartinseàProfessoraDoutoraIsabelSantos,pelaorientação
científica, pelas palavras de estímulo e pela disponibilidade absoluta, em todos os
momentos.
Aos alunos da Licenciatura em Formação de Professores do INFORDEPE, pelo valioso
contributoqueviabilizouestadissertação.
Aos professores do Projeto de Formação Inicial e Contínua de Professores, pelo apoio na
aplicaçãodosquestionáriosedosexercíciosdeproduçãoescrita.
À Ana Caetano, pela paciência, pelo apoio incondicional e constantes incentivos nesta
caminhada.
ÀAnaRemelgado,porpartilharpartedestacaminhada.
A todos os que, de alguma forma, contribuíram para que esta investigação se tornasse
possível.
À Cristina e àMiriam, pelo amor, companheirismo, pela força e otimismonosmomentos
maisdifíceis,fundamentaisparaarealizaçãodestadissertação.
xii
Resumo
Análisedosdesviosortográficosnarepresentaçãodassibilantesporaprendentesdo
EnsinoSuperiortimorense
TendoporbaseocontextomultilinguísticoedecontactodelínguasemTimor-Leste,
ondeoportuguêsassumeumpapeldelínguacooficialedeensino,apardotétum,masse
afigura, ainda assim, como língua nãomaterna para amaioria da população, este estudo
pretendeprocederàanálisedasdificuldadessentidasporaprendentesdoEnsinoSuperior
timorensenarepresentaçãográficadassibilantes.
Além disso, este trabalho pretende, ainda, indicar as possibilidades descritivas e
interpretativas que poderão estar na base dos desvios apresentados, tendo-se para esse
efeitoconsideradotambémasdiferentesposiçõessilábicasemqueasconsoantessibilantes
ocorrem.
Partindo da descrição das relações entre fonemas e grafemas sibilantes quer na
língua alvo, quer no tétum, procede-se, então, à análise dos desvios recolhidos de um
conjuntode textosproduzidosporumgrupodeestudantesdoEnsinoSuperior timorense
quefrequentamaLicenciaturaemFormaçãodeProfessoresdos1.ºe2.ºCiclosdoEnsino
BásiconoINFORDEPE.
Palavras-chave: português línguanãomaterna;ortografia; sibilantes; fonologia;português
deTimor-Leste
xiii
Abstract
AnalysisoferrorsintheorthographicrepresentationofsibilantsbyTimoreseHigher
EducationStudents
Bearing inmind languagecontactand themultilingual setting inEastTimor,where
Portuguese,anonnativelanguageofthemajorityofthepopulation,isoneoftheco-official
languages of the country, alongside with Tetun, the present study aims at analysing the
difficultiesencounteredbyTimoreseHigherEducationstudentsregardingtheorthographic
representationsofsibilants.
This study also aims at identifying descriptive and interpretative possibilities that
mightexplaintheorthographicerrorspresentedbylearners,considering,tothiseffect,the
differentsyllabicpositionsinwhichthesibilantsoccur.
Starting with the description of the relationships between sibilant phonemes and
graphemesboth inthetarget languageand inTetun,wethenanalysetheerrorscollected
from a corpus of texts written by a group of Higher Education students who attend the
DegreeinTeacherEducationofthe1stand2ndCyclesofBasicEducationattheINFORDEPE.
Keywords: Portuguese as a non native language; orthography; sibilants; phonology; East
Timorportuguese
xiv
Rezumu
Análizekona-badezviuortográfikusiraihareprezentasaunsonsibilantesirabatimoroan
siramakestudaihauniversidade
Iha ninian abut/baze kontestu dalen barabarak no kontaktu dalen oioin iha Timor-
Leste, ne’ebé dalen portugéz iha ninian knaar hanesan dalen koofisiál iha lia-hanorin
hamutukhotetun,maskedalenidane’e,la’oslia-inanbaemabarak,maibé,estuduidane’e
hakarakhalo análise ida kona-badifikuldadeprátika, ne’ebéestudante sirane’e sente iha
siranianestuduihaEnsinuSuperior.
Alende ne’e, traballu ida ne’e hakarak buka hatudu posibilidade interpretativa sira
ne’ebébelesaihanesanabut/bazebadezviuhosiprátikasonsirane’e,,hoefeituidane’e,
ita Konsidera mós pozisaun silábica sira mak la hanesan ne’ebé Konsoante sibilante sira
mosu.
Hahúhodeskrisaunkona-barelasaunentrefonemanografemabareprezentaunson
sirane’e,nune’eihadalenne’ebétemi,hanesanmósihatetun,nune’e,loribahaloanálise
idakona-batambasaídamakhetandezviukahasees-ansonsirane’e,ne’ebérekollekatau
hamutukhosi testu siramakprodushosi grupuestudanteuniversitáriu timoroan siramak
frekuentadadaunkursulisensiaturaihaKursuFormasaunbamanorinsiraiha10no20Siklu
EnsinuBázikuihaINFORDEPE.
Liafuan xave sira:Portugéz la’os lia-inan;ortografia;sibilantesira; fonolojia;portugézhusi
Timor-Leste
“Mesmoqueocurrículocomececomoportuguês,nosbancosdaescola,
nóstemossegmentosemqueunsfalamportuguês,
outrosinglês,outrostétum,outrosbahasa.
Esseéonossoproblema.
HáumageraçãotodaemTimorque
nasceunotempoindonésioesósabebahasa.
Comoresolveresseproblema?”
XananaGusmão,2007
2
Introdução
ApresentedissertaçãosurgeenquadradanocontextopoliglóssicodeTimor-Lestee
pretende constituir-se comouma reflexão sobreos desvios ortográficos na representação
dassibilantesporaprendentesdoEnsinoSuperiortimorense.
QuemchegaaTimor-Lesteencontraumpaísondeváriaslínguasestãoemcontactoe
onde o português influencia e é influenciado por várias outras línguas. Nesta amostra de
informantes–279alunosdoCursodeLicenciaturaemFormaçãodeProfessoresdos1.ºe
2.ºCiclosdoEnsinoBásico–,oportuguês,consagradocomolínguaoficial (LO)e línguade
instrução (LI) é aprendido como língua segunda (LS). O português surge, assim, para os
informantes em causa, como objeto de estudo e, paralelamente, como veículo de
transmissãodeconhecimentosdasoutrasunidadescurricularesquecompõemoCursode
LicenciaturaemFormaçãodeProfessoresdos1.ºe2.ºCiclosdoEnsinoBásico.
Considerando a complexidade das relações entre unidades fónicas e gráficas, que
inevitavelmente se refletem, também, no desempenho ortográfico de aprendentes cuja
língua materna (LM) é o português, procura-se verificar quais as principais dificuldades
evidenciadas na representação gráfica das sibilantes, por estes aprendentes de português
línguanãomaterna(PLNM).Aescolharecaiusobreotratamentodassibilantesporestaser
umaáreadosistemaconsonânticoquerevelaumagrandecomplexidadeeopacidade,pois
não existe sempre, entre fonemas e grafemas, uma relaçãodebiunivocidade, ou seja, de
“um para um”. Esta complexidade, bem visível nos desvios que se vão encontrando nos
textosproduzidosporalunoseprofessores timorenses,despertouumavontadecrescente
deestudarestaquestão.Alémdisso,as conclusões retiradasno trabalho finaldaunidade
curriculardeLínguaPortuguesa-Fonologia1demonstraramquearepresentaçãográficadas
sibilantesfoiaquecausoumaioresdificuldadesaosestudantestimorenses.
1Unidade curricular relativa ao primeiro ano do Curso deMestrado em Língua e Linguística Portuguesa, naUniversidadeNacionaldeTimorLorosa’e,ministradoemparceriacomaUniversidadedeCoimbra.
3
Definidaaproblemáticadeinvestigação,etendoemvistatraçarpadrõesrelevantes
de representação gráfica desviante das sibilantes, bem como identificar os fatores
(linguísticoseextralinguísticos)quemaisospromovem,delinearam-secomoobjetivosdeste
estudo:
(i) identificar a sibilante cuja representação gráfica se afigura mais
problemática;
(ii) identificaraposiçãosilábicaemqueocorremmaisdesvios;
(iii) apontarogrupodeaprendentes,emfunçãodaLM,queapresentao
comportamentomaisdesviante;
(iv) identificar o grupo de aprendentes, em função do município de
origem,queapresentamaioresdificuldadesnoregistoortográficodas
quatrosibilantesdoportuguês;
(v) interpretar/descreverasrazõesquepoderãoestarnabasedosdesvios
apresentados.
Por formaadar cumprimentoaestesobjetivos,opresenteestudo foi estruturado
em3capítulos:oprimeiro foi concebidocomo intuitode: i) contextualizaropapelquea
línguaportuguesa (LP)desempenhanesteespaçomultilingue (1.1); ii) apresentar algumas
reflexõessobreaescritaeaoralidadecomoobjetivodesalientaracomplexidadeexistente
narelaçãoentreestesdoissistemas(1.2)e,porúltimo,iii)descreverosaspetosrelevantes
nas relações fonema-grafema da LP e do tétum, nomeadamente no que concerne aos
fonemassibilantesemanálise/s,z,ʃ,Ʒ/(1.3).
O segundo capítulo deste estudo é dedicado à descrição e justificação da
metodologia adotada, apresentando-se o perfil sociolinguístico dos informantes e os
procedimentos de recolha do corpus onde são contabilizadas, não só as ocorrências
desviantes,mastambémasconvergentes.
No terceiro e último capítulo deste trabalho, são apresentados e analisados os
resultadosdopresenteestudo.Assim,analisam-seosdesviosnarepresentaçãográficadas
sibilantestendoemconsideração,porumlado,aposiçãosilábicaeosegmentoafetadoe,
por outro, o município de origem e a LM do informante. Discutem-se, também, a
4
expressividade e a natureza dos desvios procurando descrever/interpretar as razões que
poderão estar na base dosmesmos. Para esse efeito, são considerados fatores como: a
“opacidade”daortografiadoportuguês;odesconhecimentodasregrascontextuaisdeuso
dosgrafemas;eodesconhecimentodaidentidadedosegmentofonológico.
Finalmente, considerando os resultados obtidos, apresentam-se as principais
conclusões deste estudo, na tentativa de esboçar um perfil dos aprendentes do Ensino
Superior timorense, no que respeita à representação grafemática das sibilantes do
português.
5
1.Enquadramentoteórico-descritivo
6
Enquadramentoteórico-descritivo
1.1.PanoramalinguísticodeTimor-Leste
Apesar de corresponder a um pequeno território, Timor-Leste2, à semelhança de
muitospaísesdo sudesteasiático3,possuiumaenormee complexadiversidade linguística
fruto da sua história, marcada por invasões e domínio por parte de outros países. Na
verdade,Timor-LestefoiumacolóniaportuguesaentreoséculoXVIeasegundametadedo
séculoXX;sofreuaocupaçãodoJapãodurante3anos,noperíodoqueantecedeuaSegunda
GuerraMundial, foi invadidopelaAustrália,em1942,eocupadopela Indonésia,em1975,
atéàchegadadasForçasdePazdasNaçõesUnidas,em1999.
Duranteaocupaçãoportuguesa,asituaçãolinguísticaenvolviatrêsdimensões:(i)a
daslínguaslocais4,veículosdecomunicaçãonasdiversaslocalidades;(ii)adalínguaveicular
– o tétum, funcionando como elemento de integração e conhecido como tétum praça,
variante do tétum terik, gramaticalmente simplificado e mesclado com elementos do
português5; e (iii) a da língua administrativa – o português, a única língua normalmente
escrita,quetambémexerciaumafunçãointegradoraentreacamadadirigenteeoambiente
2AilhadeTimortemcercade480kmdecomprimento,100kmdelarguraeumaáreadecercade19.000km2.A RepúblicaDemocrática de Timor-Leste (RDTL) é constituída pela parte oriental da ilha (correspondendo acerca de dois terços), pelo enclave de Oe-Cusse Ambeno (na costa norte da parte ocidental), pela ilha deAtaúro(a23kmanortedacapital,Díli)e,ainda,peloilhéudeJaco(napontaleste,nodistritodeLautém)(cf.Brito,2010:179).3Caetano(2014:29-30),combaseemdadosdaUNESCO,numatentativadedesmistificaraideiadequeTimor-Leste é um caso único de diversidade linguística, refere, por exemplo, que a Indonésia possui cerca de 700línguasequeapenas10%dapopulaçãotemo indonésiocomoLM.Afirma igualmentequeexistemcercade140línguasdiferentesnaMalásia,sendoalínguamalaiausadanamaioriadasescolas.Noentanto,naMalásia,tambémomandarimeoutraslínguas indígenas(tâmul,telugu,panjabi,tai,entreoutras)sãousadascomoLIemalgumasescolasprimárias.4NocasodasdesignaçõesdasLMdoshabitantesdeTimor-Leste(tambémdesignadasnaliteraturaporlínguaslocaisouvernaculares),edadonãoexistirem,paracadauma,grafiasestabilizadas,optou-se,nestetrabalho,pela grafia adotada por Simons & Fennig, tal como se observa na página de internethttps://www.ethnologue.com/country/TL(consultadoa12denovembrode2016).Estapáginaapontaparaaexistênciade19 línguasautóctonesemTimor-Leste (adabe;baikeno;bunak; fataluku;galolen;habun; idaté;kairui-midiki; kemak; lakalei; makalero; makasae; makuva; mambae; nauete; tetun; tetun Dili; tukudede;waima’a)edeumpidginjáextinto.5Hull&Eccles(2005:viii)referem,porexemplo,queafontemaiscomumdeempréstimosparadesignarnovasrealidades é o português e que os estudantes de tétum com conhecimento de português gozam de umavantagemconsiderávelporquegrandepartedovocabulárioenumerososmorfemaseconstruçõesdo tétumsãodeorigemportuguesa.
7
Enquadramentoteórico-descritivo
letrado(cf.Thomaz,2002:140-4).
Duranteoperíododa invasão Indonésia,eaindaquea língua indonésia tenhasido
declarada línguanacional (LN)eLO,Timor-Lestemanteveavontadeeadeterminaçãoem
preservarasuariquezalinguísticaecultural.
Depois da independência do país, em 2002, a Constituição passou a consagrar, no
artigo 13.º, o tétum e o português como línguas oficiais. Além disso, o artigo 159.º
determinaqueaslínguasindonésiaeinglesafiguremcomolínguasdetrabalho,emusona
administraçãopública, apardas línguasoficiais, enquanto tal semostrarnecessário. Éde
salientar,noentanto,que,nopresente,nenhumadasquatro línguassupracitadaséfalada
por toda a população. Numerosas outras línguas e dialetos são utilizados localmente,
nomeadamentenasrelaçõesfamiliarese,inclusive,emcontextoescolar.
Sobre o número de línguas locais não existe, na literatura, consenso, pelas razões
apresentadasporEsperança(2001:98):
“TimortemsidodescritofrequentementecomoumaBabel,devidoà
sua diversidade linguística. O número de línguas e dialetos varia
conformeosautores,principalmentepeloscritérios(ouafaltadeles)
queusamparafazeradistinçãoentreunseoutros.”
Carvalho(2001:65),porexemplo,consideraqueexistem18LLemTimor:
“A jovem República situa-se numa ilha dividida em 18 línguas
nacionais[segundo]aseguinteclassificaçãoprovisória: (i)umgrupo
A, integradono ‘continuum’deRotiaWetar,noquecorrespondeà
parteocidental,compõe-sedoDawan,comoseudialectoBaiqueno;
no sector central, da ilha, acrescenta-se o Tétum, com os seus
dialectosTérik,Belu,Bekais,PraçaouDílieoHabu;anorteinclui-seo
RaklunguaoladodoRasukedoRaklungy,assimcomooGaloli,muito
aparentado com certos dialectos de Wetar; e, para finalizar, na
região oriental apresentam-se o Kairui, o Waimata, o Midiki e o
dialecto Nauete;(ii) um grupo B compõe-se das seguintes regiões:
ocidental,comoKemak(eoseudialectoNogo),oTokodede(eoseu
8
Enquadramentoteórico-descritivo
dialecto Keta); central, com o Mambae (e o seu dialecto Lolein) e
oriental,comoIdatéeoLakalei.Háaindacincolínguas–Bunak,com
o dialecto Marae, Makasai, Makalero, Fataluku e Lovaia, com o
dialecto Maku’a – que, não constituindo um grupo, partilham
característicascomAecomB.”
Hull6(2002:9), linguistaaustralianoeautordealgunsestudossobreasorigensdas
línguas da ilha de Timor-Leste, elencava, em 2002, 16 línguas diferentes, tendo em
consideraçãoasuaorigem.
Tabela1:LínguasdeTimor-Leste-Fonte:Hull(2002)
Por seu lado, Thomaz, historiador e especialista em história do sudeste asiático,
aponta para a existência de “19 a 31 línguas locais, segundo as contagens – provindo a
discrepânciadocritériodotadonadestrinçaentreaslínguasautónomasevariantesdialetais
damesmalíngua”(2002:141).
Em termos territoriais, verifica-se que, à exceção do tétum7 , que se encontra
6Além de defender o estatuto do português como LO em Timor-Leste, Geoffrey Hull é um dos maioresespecialistasdotétumedaslínguasnativaspresentesnopaís.
LÍNGUASDE
TIMOR-LESTE
LÍNGUASPAPUAS
Bunak
Fataluku
Makasae
Makalero
LÍNGUASAUSTRONÉSICAS
LÍNGUAS
FABRÓNICAS
TétumHabun
Kawaimina(Kairui,Waima’a,Nauete)
Idalaka(Lakalei,Idaté,Isni)
Galolen
Wetarese(Rahesuk,Resuk,Raklungu)
Bekais
Dawan(Baikeno)
LÍNGUAS
RAMELAICAS
MambaeKemak
Tokodede
Lovaia(Maku'a)
9
Enquadramentoteórico-descritivo
difundido numa áreamais vasta, embora descontínua, as línguas de Timor possuemuma
expressãogeográficabemdefinidanametadeorientaldailha(cf.Mapa1).
Imagem1:DistribuiçãogeográficadasprincipaislínguasdeTimor-Leste8
Verifica-sealgumaheterogeneidadejuntoàfronteiracomaIndonésia,comotétum9
apredominarnazonadeCovalima,okemak,idiomamaisusadonaparteasuldeBobonaro
e, a norte, o bunak como língua mais utilizada. Verifica-se também que o tétum praça
assume um papel de destaque em Díli, o tukudede é língua dominante nomunicípio de
7Oartigo2.ºdoDecretodoGovernon.º1/2004daRDTLclarificaque“avariedadedotétumafirmadacomolíngua oficial e nacional é o tétum oficial, uma forma literáriamoderna do vernáculomais comumno país,baseado no Tétum-Praça”, sendo a ortografia adotada definida e desenvolvida pelo Instituto Nacional deLinguística (INL). O tétum assume-se, portanto, como LM para alguns falantes e como língua veicular naglobalidadedoterritório.8Fonte: http://www.wikiwand.com/pt/L%C3%ADnguas_de_Timor-Leste (consultado a 18 de novembro de2016).9Acercadasvariedadeshistóricasdotétum,Hull&Eccles(2005)salientamqueexistem,atéaomomento,seisvariedadesprincipaisemTimor-Leste,commuitavariaçãointerna:(i)avariedadeacroletaldotétumpraçadeDíli,faladapeloshabitantesdeDílitambémfluentesemportuguês;(ii)avariedadeacroletaldotétumpraçade Díli, falada pelos habitantes fora de Díli também fluentes emportuguês; (iii)a variedademesoletal dotétum praça, falada em todo o país pelas pessoas instruídas não fluentes emportuguês; (iv)as variedadesbasiletaisdotétumpraçautilizadasporpessoasiletradasquenãosabemfalarportuguêse,muitasvezes,nãocompletamentefluentesemtétum;(v)osdialetostétumtérikfaladosnaszonasdeBalibó,Suai,Alas,LaclutaeViquequee(iv)otétumlitúrgico,comomeiodecomunicaçãoexclusivamenteescritocultivadopelosescritorescatólicoseque,basicamente,temporbaseotétumpraça,masrecorrendoaofonetismo,morfologiaeléxicodotétumtérik.
10
Enquadramentoteórico-descritivo
Liquiçáe,nointeriormontanhoso,nazonadeAileu,AinaroeManufahi,omambaeafirma-
se como a língua principal. Na zona central do país (município deManatuto) dominam o
galolen,ohabuneotétum;napartelestedailha,omakasae,nosmunicípiosdeBaucaue
Viqueque,eofataluku,nazonadeLautém.Porfim,noenclavedeOe-cusse10ena ilhade
Ataúro, as línguas privilegiadas para a comunicação são o baikeno e o wetar,
respetivamente.
É importante salientar que algumas destas línguas se destacam em termos de
percentagemdonúmerodefalantes(cf.anexo5).SegundoosdadosdosCensosde2015,o
tétumpraçaéLMde361.027cidadãostimorenses(30,6%dapopulação)11,omambae,LM
de195.778(16,6%)eomakasae,LMde123.840habitantes(10,5%).Comvaloresacimados
5% encontramos, ainda, o tétum terik (6,05%), o baikeno (5,87%), o kemak (5,85%) e o
bunak(5,48%)12.
Ora, como será facilmente percetível, esta complexidade linguística comporta
dificuldadesacrescidasemtermosdecomunicação,conformeatestaCosta(2005:614-615):
“O estrangeiro que queira percorrer o território e tentar comunicar
comosseushabitantesvê-seperanteumababélicaimagemdeTimor
e temde recorreraum intérprete, jáquenãopodeestabelecerum
verdadeiroentendimentoentreindivíduosdegruposdiferentes,cada
umfalandoasua línguamaterna.Assim,háquerecorreraotétum,
línguacomumàmaioriadosgrupos.”
Adiversidadeetnolinguísticaquecaracterizaoespaçosocialtimorenseeadiferente
funcionalidadedecada idiomaresultamnumaenormecomplexidade, fazendocomquese
tenha sempre de considerar os diferentes papéis sociais das línguas (português, tétum e
10Paraospropósitosdeste trabalho,eno sentidode simplificaro tratamentodosdados, a ZonaEconómicaEspecialdeMercadoSocialdeOe-cusseserácontabilizadacomosendoumdosmunicípiosdeTimor-Leste.11 O estatuto de língua com maior percentagem de falantes em Timor-Leste assumido pelo tétum écompreensível,umavezqueesseidiomabeneficiadoestatutodeLOedeensino(LE),sendodifundidoatravésdosistemadeensinoedosmeiosdecomunicaçãosocialdopaís.12 Fonte: dados apresentados em Timor-Leste Population and Housing Census 2015, disponível emhttp://www.statistics.gov.tl/category/publications/census-publications (consultado a 18 de novembro de2016).
11
Enquadramentoteórico-descritivo
línguas estrangeiras, especialmente o inglês e o indonésio) nas variadas situações
quotidianasdeinteraçãocomunicativa.
É neste mosaico linguístico13, caraterizado por uma situação de bi- e, mesmo,
plurilinguismo social com diglossia14, que a língua portuguesa tenta assumir um lugar de
destaque.Nasuaalocução15proferidaemBrasília,nodia1deagostode2002,duranteaIV
Conferência de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade dos Países de Língua
Portuguesa (CPLP), o PresidentedaRepública de então, KayRala XananaGusmão, referiu
que:
“A opção política de natureza estratégica que Timor-Leste
concretizou com a consagração constitucional do Português como
línguaoficial,apardalínguanacional,oTétum,reflecteaafirmação
da nossa identidade pela diferença que se impôs ao mundo e, em
particular, na nossa região onde, deve-se dizer, existem também
similaresevínculosdecarácterétnicoecultural,comosvizinhosmais
próximos.Manterestaidentidadeévitalparaconsolidarasoberania
nacional.”
Alémdestaóbviaalusãoàafirmaçãoda identidadedopaís, consolidando,assim,a
soberania nacional, a escolhado português e do tétum reflete tambéma ligação secular
existenteentreasduaslínguas.Estaligaçãoteráestadonabasedaelevaçãodoestatutodo
tétum de língua indígena a língua franca e nacional16, tornando, assim, a escolha do
13NumaalusãoàcombinaçãodecoresquesepodeencontrarnospanostradicionaisdeTimor,Baltazar(2013:7)identificaestepanoramalinguísticocomosendoum“taislinguístico”.14Esse fenómeno “traduz uma distribuição funcional e complementar de idiomas por domínios de uso,permitindo, assim, que os falantes venham a estabelecer uma associação convencional entre determinadosusoslinguísticosesituaçõesdeinteracçãoparticulares”.(Martins,1994:99)15Disponívelemwww.cplp.org/noticias/ccegc/di7.htm(consultadoa16denovembrode2016).16Arespeitodavalorizaçãoedesenvolvimentodotétum,Batoréo(2009:4),citandoMoura(2007:2),apontaparaaspalavrasdoantigopresidentedeTimor-Leste,JoséRamos-Horta:“Alínguaportuguesaéfundamentalpara a nossa identidade. O próprio tétum, para se desenvolver, precisa do português. Alimenta-se dele.”Tambémaesserespeito,Corte-Real&Brito(2006:129)referemquese“[a]ssiste(...)aumanaturalidadenaescolhadoportuguês,pelaparceriasecularcomotétum–quelhevaleuaelevaçãoestatutária–queresultanumainterpenetraçãomútuaentreasduaslínguas,emquesetipificaoportuguêsfaladoportimorenseseemque o tétum absorve do português influências nos níveis fonológico, morfológico, sintático-semântico e
12
Enquadramentoteórico-descritivo
português como língua cooficialperfeitamentenatural, embora,paraa grandemaioriada
população, este idioma figure como uma terceira ou quarta língua no seu repertório
linguístico.Alémderefletirestaligaçãoseculareanecessidadenaturaldesuportarotétum
no seu desenvolvimento contínuo (o tétum continua a assimilar neologismos,
designadamente do português) outros aspetos terão estado, certamente, na origem da
escolhadoportuguêscomoLO.Deentreestes,podemdestacar-se: (i)o factodea língua
portuguesa ter sido a língua da resistência17 ; (ii) fatores político-estratégicos, que se
prendem coma afirmaçãoda identidadenacional face aos países da região18; (iii) o valor
simbólicoeafetivo19daLP;e(iv)assemelhançasentreoportuguêseotétum20.
Se considerarmos os diferentes domínios de uso na comunidade, o português é a
língua privilegiada para o acesso ao conhecimento, a língua da literacia e da instrução
formal.Noentanto,eapesardaobrigatoriedadedoseuusonasescolas,muitosprofessores
recorrem ao tétum ou ao indonésio na lecionação das suas aulas, pois possuem uma
proficiênciamuitoelementarnalínguaportuguesa21.Alémdocontextoescolar,hátambém
pragmático.Setentássemoseliminartodosostermosdeorigemportuguesanumaconversadentrodocontextodos preparativos para a realização de uma actividade sociocultural – por exemplo, o casamento católicotimorense–diríamosqueosnoivosnãochegariamacasar-se,pois,ocasamentotornar-se-iainviável.“17Comoé sobejamente conhecido, “oPortuguês sobreviveu como línguade resistência, sendoutilizadapelaFRETILINepelasoutrasorganizaçõesdaoposiçãoaoocupantenassuascomunicaçõesinternasenocontactoparaoexterior.”(Batoréo,2010:59).18 Batoréo (2010: 59) cita, a este propósito, as palavras de um político timorense, Francisco Guterres,presidentedaFrenteRevolucionáriadeTimor-LesteIndependente(FRETILIN),referindoquesetratade“umaopção política de natureza estratégica para afirmação da nossa identidade pela diferença que se impôs aomundo.”19Batoréo(2010:60)refereque“oportuguêsgozadeumafortecargasimbólicaedeumagrandeafetividade,raranoutrospaísesemrelaçãoaumaantigalínguacolonial.”20SegundoHull(2001:42-43),”[o]portuguêstemtambémavantagemdequeotétum(línguafranca)nãosejaformalmentemuitoafastadodoportuguêsnasuapronúncia,gramáticaevocabulário.Oportuguêsnãoéumidioma demasiado difícil para os timorenses pois estes já possuem um relativo conhecimento passivo doportuguêsdevidoao factodeque já falamotétum-Díli.Omesmo jánãosepoderiadizerdarelaçãoentreotétumeoinglês.”21Nosentidodemapearoestadogeraldascompetênciascomunicativasdoscercadequinzemilprofessoresquecompõemoquadrodocentetimorense,oInstitutoNacionaldeFormaçãodeDocenteseProfissionaisdaEducação(INFORDEPE)realizou,emfinaisde2015,umtestediagnósticodeproficiênciaemlínguaportuguesaa todosos professores do território.Apesar de aindanão terem sidodivulgadosoficialmente, os resultadosapontam para cerca de seis mil professores com competência linguística de nível A1 no Quadro EuropeuComumdeReferênciaparaasLínguas(QERCRL).
13
Enquadramentoteórico-descritivo
umatentativadeusaroportuguêsemalgumas instituiçõesdoestado,nomeadamentena
administração pública (ministérios e tribunais, por exemplo), mas apenas quando a
abordagemsefazcominterlocutoresnativosdoportuguês.
Aesterespeito,Albuquerque(2011:69)refereque:
“alínguaportuguesaemTimor-Lesteestálimitadasomenteapoucas
situações formais e é utlizada apenas por uma minoria
sociolinguística:apopulaçãomais idosa,pelofatodeteremnascido
[sic] antes da invasão indonésia em 1974 e, consequentemente,
teremfrequentado[sic]osistemaeducacionalportuguês.”
EmrelaçãoàevoluçãodalínguaportuguesaemTimor-Leste,Brito&Martins(2005:
646),entreoutros22,defendemque,talcomonosoutrospaísesdaCPLP,estalínguaestáa
construir a sua própria história, potenciando, no futuro, a existência de uma variedade
própria,comassuasespecificidades:
“EmTimor-Leste,comoemAngola,Brasil,CaboVerde,Guiné-Bissau,
Moçambique,PortugalouSãoToméePríncipe,a línguaportuguesa
conhece e constrói a sua própria história – e, por isso, está muito
longe de poder ser tratada como um idioma uniforme. Devemos
encarar o desafio da Língua Portuguesa nesta perspectiva, com a
certezadeque,sejaemquecontextolusófonofor,estaremosdiante
demaisumavariedadedoportuguês.Anossatarefaseráentãoade
procurardescreveralínguaportuguesanosseuscontextosespecíficos
eentenderas idiossincrasiasqueacaracterizam, respeitando-lheas
experiências particulares, os valores diferentes, a especificidade
cultural e a sua peculiar visão do mundo. Em cada variedade do
portuguêsexprime-seumacomunidadeque,seporumladoconstrói
edefineasuaprópriaidentidade,poroutrolado,épartedoimenso
mosaicoqueconstituiosistemalinguísticoportuguês.”
22Cf., por exemplo, Albuquerque (2011: 66): “esta variedade foge à norma europeia, ou seja, há estruturastípicasdoPortuguêsdeTimor-Leste.”
14
Enquadramentoteórico-descritivo
Emsuma,apesardeserumadasLOdopaís,oportuguêsassumeoestatutodeLMde
umnúmeromuito reduzidodeelementosdapopulação23.Na realidade,éutilizado -quer
comoLMquercomolínguanãomaterna(LNM)-porumapequenafraçãodapopulaçãoe,
dependendo das perspetivas, a percentagemde falantes varia entre os 5% e os 37%24.O
portuguêsassume,assim,oestatutodelínguasegunda(LS)paraamaioriadostimorenses
queofalam25.
Poder-se-áentãodizer,dealgummodo,queotétuméalínguaveicular,oportuguês
é,emgrandeparte,a línguadoestado,a língua indonésiaé,essencialmente,utilizadanas
transações comerciais e o inglês é uma línguade trabalho, nomeadamentenos contactos
internacionais.
1.2.Sistemasdeescrita:algunsaspetos
Sabemos que a escrita é uma invenção que é precedida, em muito, do
desenvolvimentodalinguagemoral.Alinguagemoralterásurgidocentenasdemilharesde
anos antes da escrita, forma de comunicação que constitui “um produto cultural e não
universaldaespécie,namedidaemque(…)existemindivíduosecomunidadeshumanasque
nãofazemusodela”(Veloso,2007:138).
Francoetal.(2003:22-23)tambémapontamestadistinção,quandoafirmamque“a
linguagemescrita é um sistema simbólico que surge na sequência do desenvolvimento da
23Orecenseamentode2015referequeoportuguêsassumeoestatutodeLMpara1.384timorenses(cf.nota12).24Estaquestãoé levantadaporAlbuquerque (2012:2),quando refereque, “[de]acordocoma fonteTimor-LesteCensusofPopulationandHousing2004 (NATIONALBOARDOFSTATISTICS,2006),37%dapopulaçãoéfalante de língua portuguesa enquanto que o Relatório de Desenvolvimento Humano de Timor-Leste(PROGRAMADASNAÇÕESUNIDASPARAODESENVOLVIMENTO,2002)afirmaqueapenas5%dapopulaçãoéfluentenalíngua.”25Note-sequeoestatutodeLSqueoportuguêsassumeemTimor-LestevaiaoencontrodaopiniãodeStern(1983: 16), que define a LS como sendo uma língua não-nativa aprendida e usada dentro de fronteirasterritoriaisemqueelatemumafunçãoreconhecida:“…anon-nativelanguagelearntandusedwithreferenceto a speech community outside national or territorial boundaries to which the term foreign language iscommonlygiven.Asecondlanguageusuallyhasofficialstatusorarecognizedfunctionwithinacountrywhichaforeignlanguagehasnot.”
15
Enquadramentoteórico-descritivo
linguagemoral.(…)Aocontráriodalinguagemoral,alinguagemescritanãosedesenvolve
deformaespontâneaeuniversal,necessitandodorecursoaoensinoformal.”
No dizer de Barroso (2011: 177-179), “há diversos tipos e/ ou sistemas de escrita,
comdiferentesorganizaçõesecomumaquantidadevariávelde sinaispara representaras
respectivaslínguasoraisquelhesservem,naturalmente,dereferência.”Oautorafirmaque
existem muitos sistemas de escrita no mundo e que estes podem classificar-se de
ideográficos (ou logográficos), quando têm por referência unidades do conteúdo, e de
fonográficos,quandotêm,aoinvés,porreferência,unidadesdoplanodaexpressão,istoé,
os símbolos deste tipo de escrita representam sílabas ou fonemas (e, indiretamente,
tambémfones).Emrelaçãoaestesúltimos,seareferênciaforasílaba,estamosnapresença
dotiposilábicodeescrita.Seareferênciaforofonema,temosotipoalfabéticodeescrita.
Ossistemasdeescritaalfabética,comoéocasodosutilizadosnaslínguaseuropeias,
são os mais económicos e assentam numa correspondência entre unidades fónicas
segmentais e grafemas. No entanto, dada a arbitrariedade na seleção dos grafemas na
representação dos segmentos fonológicos, tornou-se necessária a criação de normas que
orientem esta relação e que regulem a correspondência entre o plano fónico e o plano
gráfico.Aoconjuntodessasnormascorrespondeaortografia.Aortografiasurge,assim,para
garantir a existência de uma forma única de representação gráfica de uma língua,
independentementedaspronúnciasdiferentes– regionaisou sociais-que caracterizemas
suasvariedadesoraisemdistintosmomentosdasuahistória.
O sistema de escrita alfabético assenta num princípio geral de correspondência
biunívoca entre unidade fónica e grafema. No entanto, esta correspondência não é
sistematicamente cumprida, criando-se, portanto, áreas de maior complexidade ou
opacidadedosistemaortográfico.Cria-se,porexemplo,umaambiguidadefonémicaquando
determinado grafema pode representar vários fonemas (ex: o grafema <x> pode, por
exemplo, representar os segmentos /ʃ/ (xarope), /s/ (próximo), /z/ (exame) e a sequência
/ks/(próximo))ouumaambiguidadegrafémicaquandoumfonemapodeserrepresentado
porváriosgrafemas(ex:ofonema/s/podeserrepresentadograficamentepor<s>(sabão),
<c>(centro),<ç>(licença),<x>(próximo)e<ss>(assegura)).
Emvirtudedadiferentecomplexidadedosrespetivossistemasortográficos,existem
16
Enquadramentoteórico-descritivo
línguas com sistemas de escrita fonemicamente transparentes e línguas com sistemas de
escritafonemicamenteopacos.Veloso(2005:55),porexemplo,refereque:
“as línguas com escrita fonemicamente transparente são aquelas
quemelhorcorrespondemàquele(...)sistema,(emque)existiriauma
correspondênciamaximamenteregular,sistemáticaebiunívocaentre
os segmentos fonológicos e os símbolos gráficos discretos. Já́ as
línguas com escrita fonemicamente opaca consubstanciam um
afastamentoemrelaçãoaessesistemaideal,poisnarepresentação
gráfica acabamos por encontrar símbolos que (...) escapam a uma
correspondência directa, biunívoca e isomórfica com as cadeias
segmentaisdaformafonético-fonológicadaspalavras.”
1.3.Descriçãodosistemafonológico(assibilantes)easuarepresentaçãográficano
portuguêsenotétum
Antesdenosdebruçarmossobreasquestõesquemuitoespecificamenterespeitamà
descriçãodassibilantesdoportuguêsedotétum,proceder-se-á,nestesubcapítulo,auma
brevedescriçãodossistemasortográficosdoportuguêsedotétum.
OsistemaortográficodaLPcaracteriza-seporserdotadodealgumacomplexidade26
poisafasta-sesubstancialmentedacorrespondênciabiunívocaentreasunidadesfónicaseas
unidadesgráficas.Arespeitodessacomplexidade,Fernandes(2008:94)afirmaque:
26 Numa referência à escala elaborada por Seymor, que tem em conta o grau de transparência e deregularidadedas relações grafema-fonema, Barbeiro (2008: 5) afirmaque, relativamente a outras línguas, oportuguêsapresentaumníveldecomplexidademédio.Numaescaladecrescente,encontramos:1–finlandês,italiano,espanhol;2–grego,alemão;3–português,holandês;4–islandês,norueguês;5–sueco;6–francês,dinamarquês;7–inglês.
17
Enquadramentoteórico-descritivo
“sendo a língua portuguesa portadora de alguma inconsistência na
correspondência fonema grafema, poderá ser incluída nos sistemas
intermédiosemque,nodizerdeI.Horta&M.Martins(2004:214),«a
correspondência fonema/grafema é irregular, uma vez que um
fonemapodeserrepresentadoporumaoumaisletras(…),amesma
letrapoderepresentarfonemasdiferentes(…)ou,comonocasodoh,
não ter contrapartida fonológica.» «Deste modo, a ortografia do
português apresenta um nível de complexidade que pode ser
considerado médio face a outras línguas ocidentais.» (Barbeiro,
2006)”.
Assim,podemosverificarque seestabelecem relaçõesdediferentes tiposentreas
unidadesfónicas(fonemasmaterializadosatravésdefones)eosgrafemas,asaber:
a) um grafema (ou dígrafo) representa apenas um fonema e este é sempre
representado pelo mesmo símbolo gráfico (relação biunívoca) – na variedade
padrãodoportuguêssãobiunívocasasrelaçõesentreosgrafemas:<b,d,f,p,t,v,l>
eosfonemasqueestesrepresentam.Porexemplo,nãoexistenenhumcasoemque
o fonema/b/nãosejarepresentadopelografema<b>.Omesmoacontececomos
fonemas /ɲ/ e /λ/ que apenas admitem os dígrafos <nh> e <lh>, sendo que estes
tambémsórepresentamaquelasunidadesfonológicas;
b) um grafema representa univocamente um fonema: o grafema <j>, por exemplo,
representaapenasofonema/Ʒ/(janela,loja).Noentanto,estesegmentofonológico
podetambémserrepresentadograficamentepor<g>(gelo,girafa);
c) umfonemaérepresentadounivocamenteporumgrafema:porexemplo,ofonema
/ɾ/sópodeserrepresentadopelografema<r>(coro,preto,amor).Noentanto,este
grafemapoderepresentartambémofonema/R/(rádio);
d) umfonemaérepresentadoporváriosgrafemas:navariedadepadrãodoportuguês,
ocasomaisevidenteéode/s/,quetem6representaçõesgráficaspossíveis -<ç>,
<ss>,<s>,<c>,<x>e<z>(licença,assegura,sabão,centro,próximoeproduz),sendo
queaúltimaapenasépossívelemfinaldepalavramorfológica;
e) umgrafemarepresentaváriosfonemas:porexemplo,ografema<c>éutilizadopara
grafarossegmentosfonológicos/k/e/s/(casacoecedo);
18
Enquadramentoteórico-descritivo
f) um grafema não representa qualquer segmento fonológico: é o casodo grafema
<h> que, quando ocorre em início de palavra, não representa qualquer segmento
fonológico(herança);
g) um fonema é representado por um dígrafo: o segmento fonológico /ʃ/ pode ser
representadopor<ch>(chave);
h) um grafema representa uma sequência de 2 fonemas: o grafema <x> pode
representarasequência/ks/(sexo).
Além dos distintos tipos de desfasamento entre os segmentos fonológicos e os
símbolos gráficos que os representam levando, em muitos casos, a que a ortografia
específicadecertaspalavrastenhadeseraprendidaporsiememorizada,Barbeiro(2008)
salientaumconjuntodefatoresdeoutranaturezaquecontribuemparaacomplexidadeda
ortografiadoportuguêsequecolocamentravesàaprendizagemdaescrita.Assim,epara
além do conhecimento sobre as relações entre fonema-grafema e grafema-fonema já
enumeradas,odomíniodaortografiaobrigaàativaçãodeoutrasinformaçõestaiscomo:
(i) fatores contextuais: por exemplo, antes de <p> e <b> a nasalidade davogalésemprerepresentadapor<m>27;
(ii) o factodediferentespossibilidadesde representaçãodos sonspoderemdepender também de informações de natureza morfossintática: porexemplo, as formas verbais seguidas do pronome clítico se (lê-se)escrevem-secomhífen,nãodevendoser confundidas comas formasdopretérito imperfeito do conjuntivo (lesse), apesar da semelhança dapronúncia;
(iii) ovalordosdiferentessinaisauxiliarescomooacentográficoemcafé;otilemromã,ohífenemfim-de-semanaeoapóstrofeemborda-d’água.
Já noquediz respeito àortografiado tétummoderno,Hull (1999: 4) caracteriza-a
comosendo“fonémicaecorresponde[nte]emgrandeparteàpronúnciarealdaspalavras”.
27Estasituaçãodiminui,decertomodo,aopacidadedaortografia,jáquerestringeadeterminadoscontextosdeterminadaspossibilidadesgráficas.
19
Enquadramentoteórico-descritivo
O tétum usa, tal como o português, o alfabeto latino e integra 24 letras: 18
consoantes,5vogaiseodiacrítico<‘>28.
PE TÉTUMLetra Letra Fone Exemplo OBSERVAÇÕES
Vogais
a a [a] matak(verde)
[ɨ] midar(doce) quandoocorrenosegmento<ar>emfinaldepalavra29
e e [e]30 etu(arroz) i i [i] hili(apanhar)
o o[o] motín(motim) [ɔ] kópia(cópia) Emalgunscontextosemqueavogalocorrecomo
tónicau u [u] sunu(fogo) Consoantes
b b [b] bosok(mentir) c d d [d] disionáriu
(dicionário)
f f [f] foer(lixo) g g [g] konsege(consegue) h h [h] halo(fazer) nãosilencioso,aoinvésdoportuguês31j j [ʒ] viajem(viagem) ou[z]napronúnciapopular(“zanela”[zɐ´nɛlɐ])k k [k] maromak(Deus) l l [l] nasionál(nacional) nuncasepronunciacomo[ɫ]
m m [m] matan(olho) emposiçãodecodasilábicaconferenasalidadeàvogalanterior(“komprimidu”[kõpri’midu])
n n [n] nia(ela) emposiçãodecodasilábicaconferenasalidadeàvogalanterior(“komún”[ko’mü])
p p [p] paun(pão) q
r r[r] labarik(criança) nomeioounofimdeumapalavra[R] rai(terra) noiníciodeumapalavra
s s [s] fasil(fácil) semprecomo[s],independentementedocontextot t [t] tinan(ano) v v [v] viajen(viagem) ou[b]napronúnciapopular(“biajen”[bi’azẽ])w w [w] wainhira(quando) apenasnotétumruralearcaicox x [ʃ] xá(chá) ou[s]napronúnciapopular(“sá”–[‘sa])y z z [z] kazadu(casado) ou[ʒ]napronúnciapopular(“mezmu”[‘meʒmu])
‘ [ʔ] to’os(duro) emalgumaszonas,nãosepronuncia
Tabela2:AlfabetosdoPEedotétum32
28Aoclusivaglotalérepresentadapor<‘>,umsinaldiacrítico,umsinaldeaspiração.29Hull & Eccles (2005: 225) afirmam que “o fonema /a/ pode ser interpretado como [ɨ] quando ocorre nosegmento/ar/emfinaldepalavra:/´midar/,/´susar/,/ha´futar/.”30Curiosamente,Hull&Eccles (2005:227)apenasadmitemarealizaçãofonética [e]comoocorreem“[e]tu”(arroz). No entanto, existem inúmeros casos em que o grafema <e> admite a realização fonética [ɛ], comoatestamosvocábulos“h[ɛ]tan”(encontrar)e“b[ɛ]l[e]”(poder).31Cf.Hull(1999:6).
20
Enquadramentoteórico-descritivo
Seatentarmosnatabela2,verifica-sequesãoapenas3as letrasdoalfabetodoPE
que não se usam na ortografia do tétum: <c, q, y33>. Verifica-se, também, que o tétum
possuiodiacrítico<‘>,quenãoseencontranoalfabetodoPE,equealgunsgrafemasnão
possuem,sempreenecessariamente,osmesmosvaloresquetêmemportuguês,comoéo
casode<h>que,emtétum,ésempreaspirado.
Assim, e pese embora as respetivas especificidades, podemos facilmente concluir
que as duas línguas partilham um elevado número de convenções ortográficas,
nomeadamentenoqueconcerneaovalorfónicodeumconjuntoalargadodegrafemas.
1.3.1.Osistemadassibilantesemportuguêseemtétum
Para os propósitos deste trabalho, foi considerado unicamente um domínio do
sistemaconsonânticoda línguaportuguesa,maisconcretamente,oconjuntodasunidades
sibilantes /s, z, ʃ, ʒ/. Este sistema de consoantes sibilantes é exatamente igual ao que se
encontranalínguatétum.
Emrelaçãoaovozeamento,asreferidasconsoantessãosurdasou[-vozeadas](/s,ʃ/)
esonorasou[+vozeadas](/z,ʒ/).Noquedizrespeitoaopontodearticulação,asconsoantes
sibilantes classificam-se como dentais ([+anteriores] e [+coronais], nos casos de /s, z/), e
comopalatais ([-anteriores]e [+coronais],noscasosde /ʃ, ʒ/).Portanto, fonologicamente,
estessegmentosconsonânticoscomunsaoPEeaotétumdistinguem-seentresideacordo
comamatrizrepresentadanatabelaquesesegue34:
32TabelaelaboradacombaseemHull(1999)eHull&Eccles(2005).33Oacordoortográficode1990incluiuasletrasK,WeYnoalfabeto.ABaseIdoAcordoOrtográficode2008referequeestasletrasusam-senosseguintescasosespeciais:a)emantropónimosorigináriosdeoutraslínguaseseusderivados:Franklin,frankliano;Kant,kantismo;Darwin,darwinismo[...];b)emtopónimosorigináriosdeoutraslínguaseseusderivados:Kwanza;Kwuait,Kuwaitiano[...]ec),emsiglas,símbolosemesmoempalavrasdotadas comounidadesdemedidade curso internacional:TWA, [...],W–oeste (West); Kgquilograma [...].Disponível em http://www.portaldalinguaportuguesa.org/acordo.php?acordo&version=1990 (consultado a 3dejunhode2017). 34TabelaelaboradacombaseemMateusetal.(2005).
21
Enquadramentoteórico-descritivo
PontodearticulaçãoVozeamento
Nãovozeadas VozeadasDentais /s/ /z/Palatais /ʃ/ /ʒ/
Tabela3:Matrizfonológicadasconsoantessibilantesdoportuguêsedotétum
Tanto em português como em tétum, estes 4 segmentos fonológicos (/s, z, ʃ, ʒ/)
podem ocorrer em ataque de sílaba (posição inicial ou interior de palavra), pelo que
estabelecem,aí,oposiçõesdistintivas,enquantoqueemposiçãodecodasilábica,apenaso
segmento/s/temrealizaçãofonética.
1.3.2. Relações fonema-grafema: o caso das sibilantes no português e no
tétum
Apesarda sobreposiçãodos sistemasde sibilantesdoportuguêsedo tétum,neste
idioma35asrelaçõesqueseestabelecementreasatualizaçõesfonéticaseasrepresentações
gráficassãobemmenosopacasdoquenoportuguês.Atabelaqueseseguesintetizaessas
relações, apresentando alguns exemplos que ilustram a atualização fonética e a
representaçãoortográficadossegmentosemestudo,noPEenotétumpadronizado,como
objetivodeidentificarassemelhançaseasdiferençasentreambos.
Posiçãosilábica
Unidadefonológica
Realizaçãofonética
Representaçãográfica ExemplosPE Tétum PE Tétum
Ataque
/s/ [s]
<ç>
<s>
licença lisensa<ss> assegura asegura<s> sabão,ensino sabaun,ensinu<c> centro,acidente sentru,asidente<x> próximo
/z/ [z]<z>
<z>zebra,razão zebra,razaun
<s> abusa abuza<x> exame ezame
/ʒ/ [ʒ]<g>
<j>ginásio,religião jináziu,relijiaun
<j> jurista,anjo jurista,anju
35Paraopropósitodestetrabalho,nãoforamtidasemcontaasvariedadesmesoletalebasiletalapresentadaspor Hull & Eccles (2005: 225-226). As representações fonéticas [ʒ] e [ʃ] da variedade acroletal que aqui seconsiderasãosubstituídaspelasunidades[z]e[s]navariedademesoletal([zɐ´nɛlɐ]emvezde[ʒɐ´nɛlɐ]e[‘sa]emvezde[‘ʃa])easrepresentações[z]e[ʒ]sãosubstituídaspor[s]e[d]navariedadebasiletal([bi’sitɐ]emvezde[vi’zitɐ]e[dī’tiu]emvezde[ʒē’tiu])(Hull&Eccles,2005:239).
22
Enquadramentoteórico-descritivo
/ʃ/ [ʃ]<ch>
<x>chave,borracha xave,borraxa
<x> xarope,enxada xarope,enxada
Coda /s/[ʃ]
<x>36<s>
experiência esperiénsia<s> castelo kastelu<z> produz prodús
[ʒ]<s>
<z>mesmo mezmu
<z> felizmente felizmenteTabela4:RepresentaçãográficadassibilantesdosistemaortográficodoPEedotétum
Em relação aos valores fonológicos dos grafemas que representam as sibilantes, a
tabela5sintetizaassituaçõesdistintasqueseregistamnoPEenotétum.
Posiçãosilábica
Representaçãográfica
Realizaçãofonética
Unidadefonológica Exemplos
PE Tétum PE Tétum
Ataque
<c>[k] /k/ casa,acaso
[s] /s/ centro,acidente
<ç> licença
<g>[g] /g/ /g/ governo,agora governu,agora
[ʒ] /ʒ/ /ʒ/ginásio,religião
<j> jurista,anjo jurista,anju
<s>[z] /z/ abusa
[s] /s//s/ sabão,ensino sabaun,ensinu
<ss> assegura
<ch>[ʃ] /ʃ/
chave,borracha
<x>
/ʃ/ xarope,enxada xarope,enxada
[z] /z/ exame
[s] /s/ próximo
[ks] /ks/ prefixo
<z> [z] /z/ /z/ zebra,razão zebra,razaun
Coda
<s>[ʃ]
/s/
/s/ castelo kastelu,prodús[ʒ] mesmo
<z>[ʃ] produz [ʒ] /s/ felizmente felizmente
<x> [ʃ] experiência [ks] /ks/ /ks/ toráx
Tabela5:Valoresfonético-fonológicosdosgrafemasquerepresentamassibilantesdoPEedotétum
36Ografema<x>,alémdepoderrepresentarosfonemas/s,z,ʃ/,podetambémassumirovalorde/ks/,comoatestamoscasosde<tórax>e<fixar>.
23
Enquadramentoteórico-descritivo
Aanálisedosdadosapresentadosnastabelas4e5leva-nosaconcluirque,nocasodas
sibilantes do PE, não há qualquer caso de relação biunívoca entre fonema e grafema,
registando-se,poroutrolado,diferentestiposdedesajustesentreoplanofónicoeoplano
gráfico:
1. um segmento fonológico sibilante pode ser representado por vários grafemas (o
fonema/s/pode,porexemplo,serrepresentado,emposiçãodeataque,por<ç,ss,s,
c,x>);
2. umgrafemapode representar vários fonemas sibilantes (ografema<x>pode,por
exemplo,emposiçãodeataque,representarossegmentos/ʃ,s,z/easequência/ks/
(cf.tambémasituaçãoinventariadaem5);
3. umgrafemarepresentaunivocamenteumfonemasibilante(ografema<j>apenas
poderepresentargraficamenteosegmento/ʒ/);
4. umfonemasibilantepodeser representadoporumdígrafo (osegmento/ʃ/pode
serrepresentadopor<ch>);
5. um grafema pode representar uma sequência de dois fonemas, um dos quais
sibilante(ografema<x>poderepresentargraficamenteasequência/ks/37).
Nocasodotétum,asrelaçõesentreoplanofónicoeoplanográficosãobemmenos
complexas. Em posição de ataque silábico, os grafemas representam biunivocamente um
fonema (<s, z, j, x> representam, respetivamente, /s, z, ʒ e ʃ/). Já em posição de coda,
verifica-sequeumsegmento fonológicopodeser representadoporváriosgrafemas (/s/é
representadopor<s>quandorealiza[ʃ](ex:kastelu)eérepresentadopor<z>(ex:mezmu)
quandorealiza[ʒ]).Aocontráriodoqueaconteceemportuguês,háumamotivaçãofonética
pois, embora o segmento fonológico seja omesmo, as realizações são diversas, podendo
concluir-se,então,que,nestecaso,aortografiadotétumémaisfonéticadoquefonológica.
Admitamosqueainfluênciadotétumeatransferênciadosistemaortográficodesta
línguaparao registoescritodoportuguêsconstituaumadascausasquepoderãoexplicar
grande parte dos desvios produzidos pelos informantes em estudo no presente trabalho,
37EmPE,ografema<x>poderealizar-sefoneticamentecomo[ks](ex.prefixo),correspondendo,naortografiadotétumpadrão,aodígrafo<ks>(ex.prefiksu).
24
Enquadramentoteórico-descritivo
hipótese que se procurará confirmar ou infirmar através da análise dos dados empíricos
recolhidosparaesteestudo.
25
2.Metodologia
26
Metodologiaerecolhadocorpus
Depoisdeapresentarocontexto(socio)linguísticodeTimor-Lesteededescreveros
sistemas fonológicos de sibilantes do PE e do tétum38, com as respetivas representações
gráficas39, apresentar-se-á, de seguida, ametodologiade recolhae tratamentodocorpus.
Assim,opresentecapítulodesenvolver-se-áemtrêspartes:numaprimeira,descrever-se-ão
osinstrumentosderecolhadosdados,apresentando-seoquestionárioutilizadoparatraçar
operfil sociolinguísticodos informantes eo exercício deproduçãoescrita; numa segunda
parte, apresentar-se-á o perfil sociolinguístico dos informantes - autores dos textos nos
quaisserecolheramosdadosqueconstituemocorpusdedescriçãoeanálisedestetrabalho.
Além de incidir sobre variáveis como a idade e o género, a descrição do perfil dos
informantes considerará, essencialmente, aspetos relacionados com a LM, com o
conhecimento prévio de outras línguas e comomodo e a frequência do contacto como
português.Numaterceiraparte,apresentar-se-ãoosprocedimentosderecolhadosdadose
ametodologiautilizadanoseutratamento.
2.1.Instrumentosderecolhadedados40
Como já foi referido anteriormente, este estudo tem como principal objetivo
descrevereanalisarosdesviosànormagráficadoPEna representaçãodas sibilantespor
partedealunosdoEnsinoSuperior (ESUP) leste-timorense.Paraesseefeito, recorreu-sea
umexercíciodeproduçãoescrita41,desenvolvidoemcontextode saladeaula,por jovens
oriundosde todososmunicípios42dopaís,paraosquaisoportuguêsnãoé LMeque,na
38Cf.tabela3.39Cf.tabelas4e5.40 Numa fase inicial, este estudo, enquadrado no curso de Mestrado em Ciências da Linguagem daUniversidade do Minho e sob a orientação do Professor Doutor Henrique Barroso, tinha como principalobjetivo identificarosdesviosmais frequentesànormaortográficadoPE,observandoaproduçãoescritadeumaamostradealunosdoESUPtimorense.Oinstrumentoderecolhadedadoséoentãodesenhado,tendoigualmentesidoanalisadososdadosentãorecolhidos.41Cf.anexo1.42Aolongodopresentetrabalho,utilizar-se-áaterminologiadistritooumunicípiodeformaindistinta.Apesarde, na página de internet do governo, se optar pela divisão administrativa de Timor-Leste em municípios,grandepartedosfalantescontinuaapreferiradesignaçãodedistrito.
27
Metodologiaerecolhadocorpus
alturadasuaaplicação,seencontravamafrequentaro6.ºsemestreda1.ªLicenciaturade
FormaçãodeProfessoresdos1.ºe2.ºCiclosdoEnsinoBásico(EB)doINFORDEPE43.
Este curso44visa a formação de 325 jovens (25 de cadamunicípio), no sentido de
colmatar as necessidades que irão sentir-se com a aprovação, por parte do governo de
Timor-Leste,daLeiqueregulaaatribuiçãodapensãodevelhice45.Segundodadosinternos
doGabinetedaFormaçãoAcadémica46do INFORDEPE,a leiemcausa fará comque2.168
professoresdos1.ºe2.ºCiclosdoEBseaposentematéaofinaldoanode202247.Saliente-
sequeestesnovosdocentesdeverão integraroSistemaEducativotimorensenacategoria
deassistentes48,peloque, findaa formação,deverão,em teoria,possuir as competências
mínimasnecessáriasparaexerceradocênciaemportuguês49.
Tendo,entretanto,algunsalunosdesistidodocurso,encontravam-seafrequentaras
atividades letivas do 6.º semestre, na altura da aplicaçãodos instrumentos de recolhade
dados, apenas313 formandos.Ocursodecorreuem3polosde formação,a saber: (i) em
Díli, com 6 turmas, constituídas pelos alunos oriundos dos municípios de Díli, Oe-cusse,
43Oartigo4.ºdoDecreto-Lein.º04/2011de26dejaneirodefineoINFORDEPEcomouminstitutoacadémico,deformaçãoedeinvestigação,quetempormissãopromoveraformaçãoacadémicaeprofissionaldepessoaldocenteedeprofissionaisdoSistemaEducativo(Decreto-Lein.º4/2011de26dejaneiro,pp.4.561-4.569).44Estecurso foi criadoaoabrigodeumProtocolodeCooperaçãoentreoMinistériodaEducaçãodeTimor-LesteeoMinistériodosNegóciosEstrangeiroseCooperaçãodePortugal.Esseprotocoloestabeleceacriaçãodo Projeto de Formação Inicial e Contínua de Professores (PFICP). A elaboração do plano de estudos, bemcomo a docência de todas as disciplinas, à exceção do tétum, é da responsabilidade dos professoresportuguesesdoPFICPecontacomasupervisãopedagógicadaUniversidadedoMinho,queexercefunçõesdeassessoria científica e pedagógica (Gabinete da Formação Académica do INFORDEPE, DocumentosorganizativosdaLicenciaturaemFormaçãodeProfessoresdos1.ºe2.ºCiclosdoEB,NotaIntrodutória).45ALein.º06/2012de29defevereiroqueaprovaoregimetransitóriodesegurançasocialdefine,noartigo8.º,queaidademínimaparaadquirirodireitoàreformaéde60anos(Lein.º06/2012,p.5.715).46OGabinetedeFormaçãoAcadémicadoINFORDEPEé“...oserviçoresponsávelpelaexecuçãodaspolíticasdeformaçãoacadémicadopessoaldocente”(Decreto-Lein.º4/2011de26dejaneiro,p.4.566).47SegundodadosapresentadospeloCoordenadordoGabinetedaFormaçãoAcadémica,LuísManueldaCostaFernandes,2.703professoresdoSistemaEducativotimorensetêmumaidadesuperiora55anos,sendoque2.168 sãodos 1.º e 2.º Ciclos do EB (reuniãode apresentaçãodo INFORDEPE aoMinistro Coordenador dosAssuntosSociaiseMinistrodaEducação,Fernando“LaSama”deAraújo,nodia17defevereirode2015).48O EstatutodaCarreiraDocenteprevê as categorias profissionais hierarquizadasde assistente, professor eprofessorsénior(Decreto-Lein.º23/2010de9dedezembro,artigo8.º,p.4.457).49OQuadro de Competências Obrigatórias do Pessoal Docente organiza-se em 4 setores do conhecimento:Domínio das LínguasOficiais; Conhecimento Técnico-Científico na respetiva área e grau de ensino; TécnicasPedagógicaseÉticaProfissional(Decreto-Lein.º23/2010de9dedezembro,artigo8.º,p.4.453).
28
Metodologiaerecolhadocorpus
Aileu, Liquiçá, Ainaro e Manufahi, perfazendo um total de 144; (ii) em Baucau, com 4
turmas,constituídaspelosalunosoriundosdosmunicípiosdeBaucau,Manatuto,Lautéme
Viqueque, correspondendo a um universo de 96; (iii) em Maliana, com 3 turmas,
constituídas pelos alunos oriundos dos municípios de Maliana, Ermera e Covalima,
contabilizandoumtotalde73.
A diversidade etnolinguística50que caracteriza este grupo exigiu a aplicaçãode um
questionário para determinar o perfil sociolinguístico dos informantes, assim como a
frequênciadeusodasdiferentes línguasnasvariadas situaçõesde interaçãocomunicativa
(português, tétum, LM e LE, especialmente o inglês e o indonésio). Este questionário
sociolinguístico, composto por 13 perguntas, revelou-se uma mais-valia, pois forneceu
informações relevantes, também referentes à perspetiva dos inquiridos relativamente ao
usoeaodomíniodalínguaportuguesa.
O questionário sociolinguístico51foi elaborado seguindo critérios relevantes para o
propósito deste trabalho, no sentido de otimizar a análise dos resultados obtidos. Em
primeiro lugar,nãopoderia sermuitoextenso,paranãocausar fadiganos inquiridosque,
assim, poderiam pensar bem nas respostas. Em segundo lugar, por forma a permitir o
tratamentoquantitativodosresultadoseevitardispersãonaanálise,oquestionárioteriade
ser elaborado com respostas fechadas. Em terceiro lugar, dada a presumível proficiência
elementardosinformantesemportuguês,considerou-seoportunoforneceratraduçãodas
questõesparatétum.
Relativamente à recolha dos dados necessários para a construção do corpus, e no
sentidodeestimularaproduçãotextualatravésdeumtemaqueapelasseaointeressedos
informantes,a tarefaconsistiunaredaçãodeumtextodeopiniãosobrea importânciada
profissãodocente,comumaextensãoaproximadade20 linhas.Para tal, foi solicitadoaos
professoresdoPFICP52que lecionamo curso a entregadoenunciado53aos seus alunos.A
escolha do tema da produção escrita teve em atenção o perfil do público-alvo, as suas
50Cf.nota4.51Cf.anexo1.52Cf.nota44.53Cf.anexo1.
29
Metodologiaerecolhadocorpus
motivaçõeseoseufuturoprofissional,poisnãonospodemosesquecerdequeaformação
queseencontravamafrequentarvisahabilitá-losparaoexercíciodefunçõesdocentes.
O questionário e o exercício de produção escrita54foram aplicados no dia 17 de
novembrode201455emcadaumadasturmasdos3polosdeformaçãodoINFORDEPE(Díli,
Baucau eMaliana).Nesse dia, dos 313 inscritos, estiverampresentes 279 estudantes que
constituem,assim,aamostradesujeitosparticipantesnopresenteestudo.
2.2.Perfildosinformantes
Tendo em conta que a amostra de informantes integra alunos do ESUP leste-
timorense, importa, antes de mais, apresentar, mesmo que de forma muito sucinta, as
instituiçõesdeESUPacreditadasemTimor-Leste.
Os dados apresentados pela Agência Nacional para a Avaliação e Acreditação
Académica (ANAAA)56registama existência de 11 instituições de ESUP acreditadas sendo,
para já, a Universidade Nacional de Timor Lorosa’e (UNTL), a única instituição pública
acreditadaporestaagência.57
54Porformaamanteroanonimatodosalunos,foiatribuídoumcódigoconstituídopor3letras(as3primeirasletrasdomunicípiodeorigem)eporumnúmeroquevariaentreo1eo279(exemplos:DIL001eCOV279).55Oexercíciodeproduçãoescritaeoquestionáriosociolinguístico foramaplicadospelosdocentesdoPFICP,tendo sido solicitado aos alunos que assinassem uma declaração a autorizar que os materiais produzidosfossemutilizadosparainvestigaçõesrealizadasnoâmbitodeumaDissertaçãodeMestrado(cf.anexo3).Paratal,foramdadasalgumasorientaçõesporescritoaosprofessoresaplicadores,nosentidodeuniformizaras condições de aplicação do exercício de produção escrita (cf. anexo 2 – Orientações de aplicação doexercício).Apósaentregadosenvelopesporpartedosprofessores aplicadores,osenunciadosdaproduçãoescritaeosquestionáriosforamordenadospormunicípiodeorigemefoiatribuídoumcódigoacadaumdosinformantes.56AANAAAfoicriadaatravésdoDecreto-Lein.º21/2010de1dedezembroeéumorganismoautónomocujoobjetivoéprocederàacreditaçãodas instituiçõesdeESUP,atravésdaavaliaçãodarespetivaqualidade.Estainstituição,talcomoaUNTLeoINFORDEPE,estánadependênciadiretadoMinistériodaEducação.57Apesar de ter sido criado pelo Decreto-Lei n.º 04/2011 de 26 de janeiro, o INFORDEPE tem enfrentadoalgumas dificuldades na sua acreditação institucional. As indefinições jurídicas e políticas relativas ao seuestatuto levaram, inclusivamente, a que os 279 estudantes do curso de Licenciatura (os informantes desteestudo) e os 51 estudantes do curso deMestrado tivessem sido, ao abrigo de umacordo assinado a 14 dedezembro de 2014, transferidos para a UNTL para poderem obter os seus diplomas académicos. Neste
30
Metodologiaerecolhadocorpus
A tabela que se segue apresenta essas 11 instituições indicando o número dos
estudantesmatriculadosemcadaumadelas,noanode201558.
NomedaInstituição Acrónimo N.ºdealunosinscritosem2015
1 UniversidadeNacionalTimorLorosa’e UNTL 11158592 UniversidadedaPaz UNPAZ 123553 UniversidadedeDili UNDIL 27974 UniversidadeOriéntalTimorLorosa’e UNITAL 91615 DiliInstituteofTechnology DIT 44246 InstitutoCatólicoparaFormaçãodeProfessores ICFP 2127 InstitutodeCiênciasReligiosas“SãoTomásdeAquino” ICR 3728 EastTimorInstituteofBusiness IOB 36889 InstitutoSuperiorCristal ISC 632610 EastTimorCoffeeInstitute ECTI 90911 InstitutoProfessionaldeCanossa IPDC 459
Totaldeestudantesinscritosem2015 51861Tabela6:InstituiçõesacreditadaspelaANAAA,comorespetivon.ºdealunosmatriculadosem2015
Como referido anteriormente, no presente estudo participou um grupo de 279
alunosdoESUPleste-timorense,constituídopor123sujeitosdogéneromasculinoe156do
género feminino, com idades entre os 21 e os 28 anos. Tendo em consideração que, em
2015,existiammaisde51milalunosmatriculadosnasvárias instituiçõesdeESUP,nãose
pretende, como é óbvio, generalizar as observações sobre o comportamento gráfico dos
estudantes do ESUP timorense. No entanto, é de realçar que se trata de uma amostra
bastante relevante do ponto de vista qualitativo, tendo por referência o universo dos
estudantesdecursosdeformaçãodeprofessoresdoEB60.
momento,eaguardandoumadecisãopolíticaclarasobreascompetênciaslegaisdoINFORDEPE,esteinstitutoorientaassuasformaçõesapenasparaavertentedaformaçãocontínuadeprofessores.58Segundo dados apresentados pela ANAAA em http://www.anaaa.gov.tl/publicacoes-1/relatorio-estatistico(consultadoa15denovembrode2016).59OsinformantesdesteestudoestãoincluídosnonúmerodeestudantesmatriculadosnaUNTLparaoanode2015.60SegundodadosapresentadospelaANAAA,apenas2instituiçõesdeESUPoferecemestaformaçãoacadémica(BacharelatoeLicenciatura),aUNTLeoInstitutoCatólicodeFormaçãodeProfessores(ICFP).Parasepercebermelhor a relevância da amostra deste estudo, se atentarmos apenas na formação de professores do EB, éimportantereferirqueestas2instituiçõesgraduaram,em2015,apenas185estudantes(aUNTL,133eoICFP,52).
31
Metodologiaerecolhadocorpus
Para efeitos de caracterização do perfil dos informantes deste estudo, foram
consideradososdadosresultantesdaaplicaçãodoquestionáriosociolinguístico.
Avançamosdesde já que, noque concerne aomunicípiodeorigem, se verifica, na
amostra,algumequilíbrioentreos13municípiosqueconstituemoterritóriodeTimor-Leste.
Ainda assim, o distrito de Díli é o que está menos representado (15 informantes), por
oposiçãoaosdistritosdeAinaro,BaucaueErmera(25informantescada).
DISTRITODEORIGEM
TOTAL
Díli
Ainaro
Aileu
Manufahi
Oe-Cu
sse
Liqu
içá
Baucau
Viqu
eque
Lautém
Manatuto
Ermera
Bobo
naro
Covalim
a
N.ºdeinformantes 15 25 21 24 24 24 25 16 18 17 25 23 22 279
Tabela7:Distribuiçãodosinformantespormunicípiodeorigem
2.2.1.Apresentaçãodosdadosdoquestionário61
Sabendo-se que, em Timor-Leste, o português não é a LM da grande maioria da
população,eraimportanteidentificaraLMdecadaumdosaprendentes,oriundosdetodos
osmunicípios, no sentido de tentar perceber possíveis relações entre os tipos de desvios
registados e a LM de cada subgrupo de informantes. Com esse objetivo se formulou a
Questãon.º1–Emquelínguacomeçouacomunicarnoseiofamiliar?
Noquedizrespeitoaosresultados,verifica-seapresençade13LMdiferentesentre
os aprendentes, sendo que o tétum assume uma posição dominante, com 116 sujeitos
(41,5%).Tambémcomalgumdestaqueencontra-seomambae,LMde53dosaprendentes,
oquecorrespondea19%dosinquiridos.Ofactodeomambaefiguraremsegundolugarnão
serásurpreendentesetivermosemcontaque,em2001,esseidiomaerafaladoemcercade
61Paraumainformaçãomaisdetalhadadosresultadosobtidosnaaplicaçãodoquestionário,cf.anexo4.
32
Metodologiaerecolhadocorpus
23%dossucos62eencontrava-seseguidopelotétum,com20%63.
DasrestantesLMidentificadas,destaca-seapresençadelínguascomoobaikeno,o
makasae,otukudede,ofataluku,okemakeobunak,aindacomalgumarepresentatividade
nouniversoemestudo.Jáapresençadoidaté,dorahesuk,dololein,dolakaleiedogalolié
poucoexpressiva,variandoentre4eapenas1aprendente.
Questão n.º 2 – Que línguas já aprendeu durante a sua vida? Ordene-as,
começandoporaquelasquedominamelhor.
Narespostaaestaquestão,os inquiridostinhamdeordenar,numaescalade1a5
(sendoque1 significava a línguaemque consideravam termais proficiência e 5, a língua
com uma proficiência mais elementar), as línguas que conheciam. Com esta questão,
pretendia-se traçar o perfil linguístico dos jovens para, mais uma vez, determinar a
importânciadessavariávelnaanálisedosdesviosapresentados.
Todososinformantesafirmamdominaralínguatétum,sendoque,para139(49,8%),
essaéalínguaquemelhordominam;para133(47,7%),éalínguaquedominamemsegundo
lugare,paraosrestantes7(2,5%),éalínguaquedominamemterceirolugar.Dereferirque
semprequeotétumapareceemsegundolugar,aLMéaquelaquefiguraemprimeiro.
Apenas um informante (AIN019) afirma que o português é a língua que melhor
domina. Outros 43 aprendentes (15,4%) consideram este idioma a segunda língua que
melhordominam,108(38,7%)comosendoaterceira,119(42,6%)comosendoaquartae,
finalmente,6(2,1%)comosendoaquinta.Saliente-sequeapenasdoisinformantes(LAU176
eLAU186)nãoincluemoportuguêsnas5línguasquemelhordominam.
62A página do governo de Timor-Leste (http://timor-leste.gov.tl/?p=91&lang=pt) define suco como sendo amenordivisãoadministrativadeTimor-Leste,compostaporumaoumaisaldeias.63The 2001 Survey of Sucos, publicado em outubro de 2001, pela East Timor Transitional Administration, oAsianDevelopmentBank,oWorldBank,epeloUnitedNationsDevelopmentProgramme,p.32.
33
Metodologiaerecolhadocorpus
No que diz respeito ao indonésio, 1 jovem - ERM216 - (0,4%) afirmou ser essa a
línguaquemelhordomina,75 (26,8%)referiram-nacomosendoasegunda,133 (47,7%)a
terceira,40(14,3%)aquartae,porfim,7(2,5%)comosendoaquinta.
Como era expectável64, nenhum dos informantes indicou o inglês como sendo a
línguaquemelhordomina.Trêsaprendentes(1%)indicaram-nacomosendoasegunda,24
(3,3%)consideram-nacomosendoaterceira,61(21,9%)aquartae,finalmente,66(23,7%)a
quinta.
É ainda importante referir que, quando questionados sobre a língua que melhor
dominam, a maioria indicou a LM. É ainda curioso verificar que há 23 aprendentes que
afirmamquedominammelhorotétumdoqueasuaprópriaLM.Estefactoseráfacilmente
explicávelsetivermosemconsideraçãoqueestesjovensestãoaestudaremDílijáháalguns
anos,havendo,porisso,ummaiorcontactocomalínguaveicular,otétum.
Da análisedosdados apresentadosdepreende-se, portanto, queo contacto coma
língua portuguesa acontece, geralmente, depois da exposição ao tétum, quando este
assumeoestatutodelínguamaterna,ouaomesmotempodoqueotétum,quandoaLMé
outra.
É igualmente relevante referir o facto de o primeiro contacto significativo com a
língua portuguesa ocorrer em contexto formal (na escola). É importante não esquecer
tambémque,paramuitosdestesjovens,sobretudoparaosmaisvelhos,oEnsinoBásicofoi
todoelerealizadoem língua indonésia,oque,nestescasos, relegaoportuguêsparaa4.ª
posição,considerandoacronologiadeexposiçãoaorespetivoinputlinguístico.
Questãon.º3–Qualalínguaqueprivilegiaparacomunicaremcontextoinformal?
Sabendo,àpartida,queosfalantesdeTimor-Lesteadequamautilizaçãodaslínguas
que dominam ao contexto em que se encontram, caracterizando-se a situação como de
64OsdadosapresentadosemTimor-LestePopulationandHousingCensus2015,referemaexistênciadeapenas7271 cidadãos cuja LM é o inglês (disponível em http://www.statistics.gov.tl/category/publications/census-publications,consultadoa18denovembrode2016).
34
Metodologiaerecolhadocorpus
bilinguismosocialcomdiglossia65,pretendeu-se,comestaquestão,perceberque língua(s)
osinquiridosmaisutilizamnoseudiaadiaese,eventualmente,emalgumadestassituações
recorremàlínguaportuguesa.
Os resultados apresentados66evidenciam que, em ambientes informais, 257 dos
inquiridos,ou seja,92,1%comunicam,maioritariamente,em tétum, sendoqueapenas10
(3,6%)afirmamrecorreràlínguaportuguesa.Noquedizrespeitoàsoutraslínguasutilizadas,
5 jovens afirmam recorrer ao mambae (1,8%), 4 ao bunak (1,4%) e um ao kemak e ao
rahesuk(0,4%).
Daanálisedosdadosapresentados,podeconcluir-sequeotétum,apesardeseraLM
de apenas 117 dos informantes, é a língua utilizada pela maioria dos inquiridos para
comunicaremcontextoinformal,relegando,nestedomínio,osoutrosidiomasparasegundo
plano.
Questãon.º4–Qualalínguaqueprivilegiaparacomunicaremcontextoformal?
Esta questão pretendia esclarecer quais as línguas utilizadas pelos informantes em
contextoformal,porformaaaferirousorealdalínguaportuguesa,umadasLOdopaís.
TendoemconsideraçãoopanoramalinguísticodeTimor-Leste,jáseantecipavaque
o tétum e o português seriam as línguas commaior predominância de uso em contextos
formais.
Alémdisso,sesecomparemestescomosresultadosobtidosnoâmbitodaquestão
anterior,verifica-sequeotétumcontinuaasera línguaprivilegiada,comumtotalde185
aprendentes (66,3%) que afirmam preferir o seu uso em contextos formais. No entanto,
assiste-seaumaumentosignificativodorecursoàlínguaportuguesa,pois93jovens(33,3%)
afirmamusá-lanestetipodecontextos.
65Cf.nota14.66Cf.anexo4.
35
Metodologiaerecolhadocorpus
Questãon.º5–Quelínguaconsideraamaisimportanteparaoseufuturo?
Asrespostasaestaquestãopermitemteranoçãodanecessidadesentidaporestes
jovensemrelaçãoàaprendizagemdaLPcomparativamentecomoutras.
Através da análise dos resultados apresentados, percebe-se, desde logo, a
importância que o português assume junto dos inquiridos. Em 279 questionários, 268
aprendentes,ouseja,96%dosinquiridosapontaramalínguaportuguesacomosendoamais
importante para o futuro, o que confirma a necessidade que estes jovens sentem em
aprendê-la. Os restantes 11 inquiridos (4%) atribuem ao tétum um lugar de destaque. A
escolhadosinquiridosestaráseguramenteligadaaofactode,sendoLO,oseuconhecimento
podertrazer-lhesalgunsbenefíciosnofuturo.Noentanto,essesbenefíciosnãosão,paraos
inquiridos,comparáveisaosdaaprendizagemdoportuguês,queévistocomoalínguaque
lhesoferecemaisgarantiaseutilidadeparaofuturo.
Apesar de serem consideradas línguas de trabalho, a língua indonésia e a língua
inglesanãosãovistas,pornenhumdosinformantes,comolínguasquepossamserúteisno
futuro. Este resultado é muito interessante, se considerarmos a projeção que a língua
inglesatemanívelinternacionaleofactodeaIndonésiaeaAustráliaserempaísesvizinhos.
Questãon.º6–Quediploma(s)delínguaportuguesapossui?
Desdeoanode2000queoensinodalínguaportuguesaemTimor-Lestetemestado,
essencialmente,acargodaCooperaçãoPortuguesa, responsávelpela implementaçãode3
projetos67,asaber:(i)oProjetodeReintroduçãodaLínguaPortuguesa(PRLP),entre2000e
2007;(ii)oProjetodeConsolidaçãodaLínguaPortuguesa(PCLP),entre2008e2011,e(iii)o
PFICP,entre2012e201468.Aolongodestesanos,estesprojetosofereceramváriostiposde
67EstesProjetosforamcriadosaoabrigodeumProtocolodeCooperaçãoentreoMinistériodaEducaçãodeTimor-LesteeoMinistériodosNegóciosEstrangeiroseCooperaçãodePortugal.68Nodia22demarçode2016, foiassinadoumprotocolodecooperaçãoentreoMinistériodaEducaçãodaRDTLeoMinistériodosNegócios EstrangeiroseCooperaçãodePortugal, comoobjetivode criaroProjetoFormarMais–FormaçãoContínuadeProfessores.EsteProjetoprevêacolocaçãodeumprofessorde línguaportuguesa em cada uma das 11 maiores escolas do 3.º ciclo do EB, apresentando duas componentesessenciais: (i)a formaçãoparaoaperfeiçoamentodecompetênciasem línguaportuguesadeprofessoresdo
36
Metodologiaerecolhadocorpus
cursos de língua portuguesa a professores e funcionários públicos. Estes cursos
encontravam-sedivididosemváriostipos,asaber:
a) Nível 1, Nível 2, Nível 3 e Preparação para o Bacharelato, destinados a
professores;
b) OficinasdeLínguaeEspecialização,paraosfuncionáriospúblicos.
Refira-seque,muitasvezes,enosentidodecompletaronúmerodeformandospor
turma, a Cooperação Portuguesa permitia a inclusão demembros da população em geral
que manifestassem vontade de frequentar estes cursos. A inclusão desta questão no
questionáriopermitecompreendersehá informantesnestascondições,fator indicativoda
vontadequetêmdeaprenderportuguês.
Aanálisedosdadosobtidospermiteverificarquemaisdemetadedosaprendentes
(163, equivalente a 58,5%) nunca frequentou qualquer curso de língua portuguesa. Dos
restantes119informantes(42,6%),39(14%)possuemocertificadodeNível1;22(7,8%),o
de Nível 2; 10 (3,6%), o de Nível 3; 7 (2,5%), o de Preparação para o Bacharelato e 31
(11,1%), o de Oficinas de Língua. A informação recolhida através desta questão torna-se
deveras importante,namedidaemquepodeconcluir-sequequasemetadedestes jovens
possui um certificado de um curso de língua portuguesa, tendo-o frequentado de livre e
espontânea vontade, pois esta formação era destinada, maioritariamente, aos docentes
timorenses.
Questãon.º7–Emtermosglobais,comoconsideraoseudomíniodoportuguês?
Ainclusãodestaperguntanoquestionáriosociolinguísticotinhacomoobjetivoobter
aautoavaliaçãodosaprendentesrelativamenteaoseudomíniodoportuguês.
3.º Ciclo do EB e (ii) a formação para o desenvolvimento de competências no âmbito dos conteúdosprogramáticosdos7.º,8.ºe9.ºanosdeescolaridadedadisciplinadeLínguaPortuguesa.Alémdisso,oProjetoFormarMaisprevêtambémoapoiode15docentesdoEnsinoSecundárioGeral(ESG),umparacadaumadas15 disciplinas que compõem o currículo, com o objetivo de apoiar o INFORDEPE na formação científico-pedagógica de professores, no âmbito dos conteúdos programáticos das diversas áreas disciplinares doCurrículodoESG.
37
Metodologiaerecolhadocorpus
No que diz respeito à análise dos dados, verifica-se que 163 aprendentes (58,5%)
consideram ter um bom domínio do português; 63 (22,6%) afirmam dominá-lo
suficientementee, finalmente, 52 inquiridos (18,6%) apontamo seudomínio como sendo
muitobom.Écomalgumaestranhezaqueseconstataquenenhumdosinquiridosafirmou
possuirumdomínioinsuficienteoumuitoinsuficientedaLP.
Questãon.º8–Onde/Comoaprendeuportuguês?
Sabendo-se, à partida, que o português não é a LM destes jovens, considerou-se
pertinente a inclusão desta questão para verificar a importância do ensino formal como
meiodeacessoàlínguaportuguesa.
No que concerne aos resultados, 276 inquiridos (98,9%) afirmam ter aprendido
portuguêsnaescola,2 (0,7%)atravésda leiturade jornais, livrose revistase1 (0,4%)em
casa,sendodereferirqueasopções“Atravésdarádiooudatelevisão”e“Outrolocal”não
foramselecionadaspornenhumdosinquiridos.
Os resultados evidenciam que a escola se assume, claramente, como o meio de
difusãomaisimportantedoportuguêsparaestesjovens.Conhecendoarealidadedadifusão
da língua portuguesa no território timorense, não é de todo surpreendente que o ensino
formalassumaesteprotagonismo.Defacto,àexceçãodeumespaçoinformativodiáriode
cercade20minutosnaRTTL(RádioeTelevisãodeTimor-Leste)edeumaediçãosemanaldo
jornalOSemanário(comediçãobilingueemportuguêsetétum),poucossãoosconteúdos
existentesemportuguêsnaimprensa.Alémdisso,eapesardeaRTTLtransmitir,foradoseu
horário reduzido de emissão, a programação da Rádio Televisão Portuguesa Internacional
(RTPI), os conteúdos aí apresentados não são, de maneira alguma, orientados para a
populaçãotimorenseemgeraleparaosinquiridosemparticular.
Questãon.º9–Emquesituaçõesusa,habitualmente,oportuguês?
Pretendia-se,comestaquestão,avaliarousodoportuguêsemvárioscontextos.Tal
como aconteceu na anterior, as respostas à presente questão indicam que a escola é o
contextoprincipalnoqualestes jovensuniversitárioscontactamcoma línguaportuguesa.
38
Metodologiaerecolhadocorpus
Comoeraexpectável,ahipótese“Nasaulas”foiescolhidapor258dosjovens,ouseja,por
92,5%dosinquiridos.
Em segundo lugar, a resposta “Com amigos e colegas”69foi assinalada 10 vezes,
correspondendoa3,6%dosinquiridos.Aresposta“Comcolegasportuguesesoubrasileiros”
foi escolhida 8 vezes, representando 2,9% dos questionários aplicados. A hipótese “Nos
serviços públicos” foi escolhida por apenas 3 dos inquiridos, correspondendo a uma
percentagemde1,1%.Porfim,asopções“Emcasa”e“Outrolocal”nãoforamassinaladas
pornenhumdosinquiridos.
Questãon.º10–Ondecostumaouvirpessoasafalaremportuguês?
A inclusão desta questão afigurava-se essencial, no sentido de perceber o uso do
portuguêsnodiaadia,emTimor-Leste.
“Nas aulas de língua portuguesa” foi a hipótese escolhida por 232 dos jovens,
representando 83,1% do total dos inquiridos. Em segundo lugar, no que à frequência diz
respeito, 33 jovens escolheram a resposta “Na rádio ou na televisão”, o que equivale a
11,8%dos questionários aplicados. Comvaloresmais baixos, encontra-se a resposta “Nos
serviços públicos”, que foi assinalada por 11 dos jovens, o que corresponde a 3,9%. As
opções “No mercado e nas lojas”, “Na rua”, “Na Igreja” e “Noutro local” não foram
escolhidas por nenhumdos inquiridos, o que reforça a ideia de que, para estes jovens, o
português é muito pouco utilizado fora do contexto escolar. Recolheram-se, ainda, 3
questionáriosemqueestaquestãonãofoirespondida.
Questãon.º11–Emquelocalcostumaleremportuguês?
Pretendia-se,comestaquestão,compreenderaopiniãodosinquiridosrelativamente
aoacessoatextosescritosemportuguês.
69Foiexplicadoaosinquiridosque,nestaopção,nãodeveriamserincluídoscolegasportuguesesoubrasileiros.
39
Metodologiaerecolhadocorpus
Relativamenteaosresultados,verificou-sequeahipótese“Naescola”foi,maisuma
vez, a reposta escolhida pela maioria dos inquiridos. 267 jovens, ou seja, 96% dos
informantes, escolheram a escola como sendo o local onde costumam ler em português.
Estaescolhavemreforçaraideiadequeaescolaassumeumaposiçãodegrandedestaque
comomeiodedifusãodaLP.
Emsegundolugar,emtermosdefrequência,7jovens,ouseja,2,5%dosinquiridos,
escolheramahipótese“Emcasa”comosendoolocalondecostumamleremportuguês.
As respostas “Nos serviços públicos” e “Na televisão” aparecem em terceiro lugar,
com1 jovemaescolhercadaumadestashipóteses,representando,emcadacaso,apenas
0,4%datotalidadedosinquiridos.
Saliente-se, por fim, que nenhum dos aprendentes apresentou a opção “Noutro
local”pararesponderaestaquestãoeque3dos jovens,ouseja,1,1%,nãoapresentaram
respostas.
Questãon.º12–Emquesituaçõescostumaescreveremportuguês?
Pretendia-se, também aqui, perceber se estes jovens sentem a necessidade de
recorreràLPescritaforadocontextoescolar.
Aanálisedosresultadosaestaquestãomostra,maisumavez,queaescolaéolocal
quase exclusivo de produção escrita em língua portuguesa. Como se pode verificar, 276
jovens, representando98,9%dos inquiridos,escolherama respostaNaescola, eapenas3
dos aprendentes escolherama opção “Nos serviços públicos”, representandoos restantes
1,1%.
Questãon.º13–Aprenderportuguêséimportanteporque…
Com esta questão pretendia-se verificar por que motivo é que os aprendentes
consideravamimportanteaaprendizagemdoportuguês.
Arespostaquesurgiucommaiorfrequênciafoiaopção“Éumadaslínguasoficiais
de Timor-Leste”, assinalada 254 vezes, correspondendo a 91%do total dos questionários.
40
Metodologiaerecolhadocorpus
Bastantedistanteapareceahipótese“Precisodelaparacontinuaraestudar”,assinaladaem
13 questionários, o que representa 4,6% dos aprendentes. A hipótese “Pode servir para
comunicarcompessoasdeoutrospaíses”éselecionada5vezes,oquerepresenta1,8%dos
inquiridos,e4inquiridos,ouseja1,4%,escolheramahipótese“Precisodelaparaconseguir
umbomtrabalho”.Deregistarqueashipóteses“Precisodelaparacomunicarnodiaadia”e
“Nãoéimportante”nãoforamselecionadaspornenhumdosinquiridos.Édereferirtambém
queestaquestãonãofoirespondidaem3questionários,ouseja,em1,1%doscasos.
Em suma, à exceçãode1 caso (BOB240)queafirmou ter aprendidoportuguêsem
casa, podemos afirmar que a língua portuguesa chegou a estes jovens através da escola.
Salvo raras exceções, a escola é o espaço privilegiado de contacto com esta língua nova
sendo, inclusivamente, o único espaço onde estes aprendentes escrevem, leem, ouveme
usama língua portuguesa.O tétumassumeum lugar de destaque na comunicação diária
(contextosformaiseinformais)maséàlínguaportuguesaqueéatribuídamaiorimportância
paraavidafutura.
2.3.Procedimentosdetratamentodosdados
Comojáfoireferidoanteriormente,opresenteestudotemcomoprincipalobjetivo
identificarasdificuldadesnarepresentaçãográficadasconsoantessibilantesdoPEporparte
dos sujeitosdaamostra, i.e.,279estudantesdaLicenciaturaemFormaçãodeProfessores
dos1.ºe2.ºCiclosdoEBdoINFORDEPE,oriundosdecadaumdos13municípiosdeTimor-
Leste, para os quais a LP não é LM. É importante referir que a seleção dos informantes
obedeceu,apenas,aumcritério:afrequênciadestaLicenciaturadoINFORDEPE.
Quantoàtarefapropriamentedita,estafoi,àsemelhançadoqueaconteceucomo
questionário sociolinguístico, aplicada pelos professores do PFICP. Recolhidas as 279
produções escritas 70 , procedeu-se, nos 24.728 vocábulos que constituem os textos
70Dadooelevadonúmerodeproduçõesescritas,nãoseprocedeuà transcriçãodosoriginais.Noentanto,éimportantesalientarquemuitosdelesapresentamsegmentosriscadoseilegíveis.Ossegmentosriscadosnãoforamcontabilizadosporconsiderar-sequesetratoudeumlapsoequeoinformantenãopretendeuincluí-lonasuaprodução.
41
Metodologiaerecolhadocorpus
produzidos, ao levantamento de todas as palavras que continham grafemas que
representamsibilantes.Nesteconjuntode1.043palavrasregistaram-se11.076ocorrências
degrafemasquerepresentamassibilantes(ocorrênciasquerdivergentesquerconvergentes
comanormagráficaeuropeia),poisexistemváriaspalavrasrepetidasemuitasdelascontêm
maisdoqueumasibilante.
Por forma a encontrar padrões de uso, calcular médias e construir as tabelas de
registoderesultados,recorreu-se,paraotratamentodainformaçãorecolhida,aoprograma
Excel doMicrosoft Office. Recorrendo a essa ferramenta, foi criada uma tabela para a
organizaçãodosdadoscomoobjetivoderegistar:(i)aposiçãosilábicaemqueseregistavaa
sibilante(codaouataque);(ii)aunidadefonológicaalvo(/s,z,ʃeʒ/)earespetivarealização
fonética;(iii)arepresentaçãografemáticaalvoe,porúltimo,(iv)asrepresentaçõesgráficas
registadas,conformesepodeverificarnatabelaexemplificativa(imagem2):
Imagem2:Tratamento,emExcel,dosdadosrecolhidos(convergentesedivergentes)
Em seguida, apresenta-se uma outra tabela apenas com as ocorrências desviantes
com o objetivo de identificar, também, as possibilidades descritivas/interpretativas dos
desvios,conformesepodeverificarnaimagemquesesegue:
42
Metodologiaerecolhadocorpus
Imagem3:Tratamento,emExcel,dasocorrênciasdesviantes71
Doconjuntodasocorrênciasdesviantesaconsiderarnoestudo,excluíram-setodos
os termos estrangeiros que não têm correspondência em português, como é o caso de
suco 72 , assim como formas cuja segmentação vocabular não foi respeitada (temser;
porexemplo;etc.)bemcomoneologismosnãoatestadosnoléxicodoPEpadrão(planejador;
controlação; etc.), desde que evidenciassem uma representação gráfica das sibilantes
plausívelemportuguês.Dito isto, foramincluídosnaanáliseoscasosderepresentaçãode
sibilantesemneologismoscomoprofisionalidadeque,norestritodomíniodarepresentação
dasibilante,denotamumarepresentaçãográficadesviante.73
71Paraumavisãomaisdetalhada,cf.anexo7.72Cf.nota62.73Paraumavisãomaispormenorizadadoscasosdeexclusão,cf.anexo8.
43
3.Apresentaçãoediscussãodosresultados
44
Apresentaçãoediscussãodosresultados
Após uma análise global dos dados, procurar-se-á, neste subcapítulo, proceder à
apresentação dos desvios encontrados na representação gráfica das consoantes sibilantes
do português, por parte de aprendentes do ESUP timorense. Para tal, distribuir-se-ão os
resultados, em função das ocorrências convergentes e divergentes na representação das
sibilantes,atendendoaomunicípiodeorigemeàLMdoinformante.Depoisdisso,organizar-
se-ão os desvios ocorridos para, assim, poder verificar-se (i) qual a sibilante cuja
representação gráfica se afigura mais problemática; (ii) qual a posição silábica em que
ocorremmaisdesviose,(iii)seexisteumarelaçãoentreaLMdoaprendenteeonúmerode
desvios.
3.1. Representação gráfica das consoantes sibilantes no corpus recolhido:
ocorrênciasconvergentesedivergentes
Umaanáliseglobaldosdadospermiteobservarque,dos279textosrecolhidos,121
apresentamdesvios na representação gráfica das consoantes sibilantes, o que representa
43%dasproduções.
Seforconsideradoomunicípiodeorigemdosaprendentes,comoévisívelnográfico
2,verifica-sequeos informantesoriundosdoenclavedeOe-Cussesãoosqueapresentam
menorpercentagemde textos comdesvios (8%), enquantoqueosnaturais dodistritode
Ermera são aqueles que geram uma maior percentagem de textos com desvios (68%).
Saliente-seque,nocasodoenclavedeOe-cusse,assiste-seàpresençade“apenas”duasLM
12143%
15857%
GráCico1:Distribuiçãodasproduçõescomesemdesviosnarepresentaçãodassibilantes
Produçõescomdesvios
Produçõessemdesvios
45
Apresentaçãoediscussãodosresultados
distintas(tétumcom2informantesebaikenucom4)enquantoque,nocasododistritode
Ermera,verifica-seapresençadetrês(tétumcom14;mambaecom6ekemakcom5).
Relativamente à LM dos aprendentes, e pelo facto de muitas delas terem uma
presença muito residual no universo do estudo 74 (cf. anexo 4, questão 1), foram
considerados apenas 2 grupos: os aprendentes cuja LMé o tétume os aprendentes com
outraLM.Assim,emtermospercentuais,verifica-sealgumequilíbrioentreosdoisgrupos,
comotétumaseraLMde116dosjovens(41,5%)easrestantes12aseremaLMdosoutros
163(58,5%).
No que diz respeito aos resultados apresentados no gráfico 3, verifica-se que o
desempenho é semelhante. Em 53% dos textos produzidos por aprendentes cuja LM é o
tétumnãoseverificaramdesviosnarepresentaçãográficadassibilantesenquantoque,no
outrogrupo,nãoseverificaramdesviosem59%dasproduções.
74Cf.anexo4,questão1.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
40%48% 43%
63%
92%
50%
76%
50% 50%
59%
32%
57%
68%60%
52%57%
37%
8%
50%
24%
50% 50%41%
68%
43%
32%
GráCico2:Percentagemdeproduçõescomesemdesviospordistritodeorigem
Produçõessemdesvios Produçõescomdesvios
46
Apresentaçãoediscussãodosresultados
Por forma a verificar a percentagem de representações desviantes em relação à
norma-padrão do PE, procedeu-se, num primeira fase, à contabilização da totalidade das
palavras com representação gráfica das sibilantes (excluindo as que são referidas no
subcapítulo2.3.).
Assim, e face à totalidade das sibilantes representadas, verificou-se que a
percentagemdeocorrênciasdivergentesébastantereduzida,2,01%,oquecorrespondea
223ocorrênciasdesviantesnumuniversode11.076representações75.
75Canas(2014:36),numestudosobrearepresentaçãográficadassibilantesporaprendentesdeportuguêsLScom diferentes LM (espanhol, italiano, alemão e chinês), concluiu que a percentagem de ocorrênciasdesviantesfaceàtotalidadedassibilantesrepresentadasnoseucorpusfoideapenas0,81%.Estedadopermiteconcluirque,nopresenteestudo,osaprendentesapresentamcercade2,5vezesmaisocorrênciasdesviantes.
0
10
20
30
40
50
60
LMtétum OutraLM
53%59%
47%41%
Produçõessemdesvios
Produçõescomdesvios
GráCico3:PercentagemdeproduçõescomesemdesviosnarepresentaçãográCicadassibilantes,porLM
97,99%
2,01%
GráCico4:Distribuiçãodatotalidadedasocorrências-convergentesedivergentes
Ocorrênciasconvergentes
Ocorrênciasdivergentes
47
Apresentaçãoediscussãodosresultados
3.1.1.Análisedosdadospormunicípio
As279produçõesqueconstituemocorpus deanálisedeste trabalho– constituído
por um total de 11.076 ocorrências gráficas de sibilantes - permitirama recolha de uma
panópliadiversificadadedesviosànormaortográficadoportuguêsnarepresentaçãográfica
dassibilantes.Atabelaquesesegueapresentaasíntesedosdadosrecolhidos.
Município N.ºdeinformantes
Totaldepalavrasgráficas76
Médiadepalavrasporinformante/município
Totaldeocorrênciasdesibilantes
Totaldeocorrências
comdesviosnarepresentaçãodesibilantespormunicípio
Médiadapercentagemde
desviosnarepresentaçãodesibilantesporinformante/município
Díli 15 1.465 97,67 653 20 3,06%Ainaro 25 1.947 77,88 881 27 3,06%Aileu 21 1.941 92,43 837 29 3,46%
Manufahi 24 2.027 84,46 921 14 1,52%Oe-cusse 24 1.970 82,03 859 3 0,35%Liquiçá 24 2.246 93,53 905 18 1,99%Baucau 25 2.742 109,68 1304 6 0,46%Viqueque 16 1.459 91,19 749 13 1,74%Lautém 18 1.576 87,56 755 25 3,31%
Manatuto 17 1.837 108,06 890 12 1,35%Ermera 25 2.106 84,24 940 28 2,98%
Bobonaro 23 1.730 75,22 734 13 1,77%Covalima 22 1.682 76,45 719 15 2,09%TOTAL 279 24.728 88,63 11.076 223 2,01%
Tabela8:Síntesedosdadosdocorpuspormunicípio
A análise dos dados da tabela 8 permite concluir que Baucau é o município que
registaproduçõesescritasmaisextensas(médiade110palavrasportexto)equeBobonaro
éoqueapresentatextosdedimensõesmaisreduzidas(médiade75palavrasporprodução).
Se considerarmosos 223desvios, conclui-se queAileu é omunicípio que regista a
percentagem de desvios mais elevada (3,46%) e que Oe-Cusse apresenta apenas a
ocorrênciade3desviosem859representações(0,35%)77.
76Paraefeitosdecontabilização,consideraram-sepalavrasgráficas todasasunidades linguísticasdotadasdesentidoseparadasporespaçosbrancos.Assim,emcasoscomoensinar-vos;fazê-looudeve-se,foicontabilizadaapenasumapalavragráfica.77Nos resultadosobtidosporCaetano (2014:110) verifica-se, também,queos informantesdomunicípiodeOe-Cusse (professores do Ensino Secundário Técnico-vocacional) apresentam, emmédia, uma percentagemmenoselevadadedesviosnosexercíciosdeproduçãoescrita,com5,67%dedesvios.Apesardesetratardeum
48
Apresentaçãoediscussãodosresultados
3.1.2.AnálisedosdadosporLM
Como já foi referido anteriormente, pelo facto demuitas LM teremumapresença
muito residual no universo da amostra (cf. quadro 2), foram considerados, para os
propósitos deste estudo, apenas 2 grupos: os aprendentes cuja LM é o tétum e os
aprendentes com outra LM. Neste âmbito, tentar-se-á, aqui, verificar o desempenho dos
aprendentes tendo em consideração a respetiva LM. Para esse efeito, proceder-se-á à
análisedadistribuiçãodatotalidadedasocorrências,convergentesedivergentes.
Em termos globais, verifica-sequeos2 gruposproduzemumapercentagemmuito
idênticadedesvios:1,99%paraosaprendentesdeLMtétume2,03%paraos jovenscom
outraLM.Aanálisedosdadosdatabela9permiteconcluirtambémqueosinformantescuja
LMéotétumregistamproduçõesescritasligeiramentemaisextensas(médiade92palavras
portexto).
LM N.ºdeinformantes
Totaldepalavrasgráficas
Médiadepalavras
porinformante
/LM
Totaldeocorrênciasdesibilantes
Totaldeocorrênciascom
desviosnarepresentaçãodesibilantesporLM
Médiadapercentagemde
desviosnarepresentaçãodesibilantespor
informante/LMTÉTUM 116 10.631 91,65 4.765 94 1,97%OUTRA 163 14.097 86,48 6.311 129 2,04%TOTAL 279 24.728 88,63 11.076 223 2,01%
Tabela9:SíntesedosdadosdocorpusporLM
3.2.Distribuiçãodosdesviosporpossibilidadedescritiva/interpretativa
Como já foi referido anteriormente, vários são os fatores que contribuem para a
complexidade da ortografia do português e que colocam entraves à aprendizagem da
escrita.Assim,podemosafirmarquehádesviosquedecorremdofactode:
a) umaunidade fónica poder ser representada, nosmesmos contextos,
porgrafemasdiferentes.Porexemplo,emataque(eespecificamente
emposição intervocálica), /s/ pode ser representadopor <ss>, <ç> /
<c>e,muitoraramente,por<x>;
estudoque incide sobre todoo tipodedesvios, este dadopode ser interessante emotivar futuros estudossobreaaquisiçãodoportuguêsporpartedeaprendentescujaLMéobaiqueno.
49
Apresentaçãoediscussãodosresultados
b) o aprendente não dominar regras de natureza contextual que
distribuemaspossibilidadesortográficas.Porexemplo,ografema<ç>,
em posição de ataque, só pode representar /s/ se a vogal seguinte
(núcleodasílaba)nãofor<e>ou<i>;
c) o aprendente desconhecer a identidade fonológica do segmento
sibilante(porexemplo,nãosaberseaunidadeé[+]ou[-][voz].
Com o objetivo de delimitar claramente esses fatores e, assim, identificar o mais
produtivo,foramdelimitadasasseguintespossibilidadesinterpretativas:
1. Desviosmotivadospela“opacidade”daortografiaportuguesa;
2. Desviosmotivados pelo desconhecimento das regras contextuais de
usodosgrafemas;
3. Desviosmotivadospelodesconhecimentodaidentidadedosegmento
fonológico;
4. Desviosmotivados pelo desconhecimento das regras contextuais de
uso dos grafemas e/ou pelo desconhecimento da identidade do
segmentofonológico(casosambíguos)78;
5. Outrosdesvios79.
Como se pode verificar no quadro seguinte, a possibilidade de interpretação que
originouomaiornúmerodedesvios foiapossibilidade4(desconhecimentodascondições
contextuaisdeusodosgrafemase/oudaidentidadedosegmentofonológico),responsável
por 66 desvios, o que corresponde a 29,5% do total. Por outro lado, o possível
78Esta categoria engloba os desvios cujamotivação decorre da impossibilidade de confirmar se se trata dasituação2ou3.Porexemplo,nocasodapalavraacesso, segrafadaaceso, colocam-seduashipóteses: (i)oaprendentenãoevidenciadomíniodosegmentofonológico,queé/s/enão/z/;e(ii)oaprendenteatésabequalaestruturafonológicadapalavraalvo,masdesconheceque,emposiçãointervocálica,ografema<s>vale/z/(=[z]).79Nestacategoriaenglobam-setodososdesvioscujamotivaçãonãosedeveanenhumadas4possibilidadesanteriores.Assim,nestegrupo,encontram-se,porexemplo,desviosrelacionadoscomodesconhecimentodaforma do dígrafo (açho); com a assimilação de segmentos fonológicos (acrecenta) ou com a epêntese desegmentosfonológicos(pasciência).
50
Apresentaçãoediscussãodosresultados
desconhecimento da identidade do segmento fonológico foi aquilo que causou menores
dificuldadescom“apenas”14desvios,oqueequivalea6,3%dototaldeocorrências.
Possibilidadedescritiva/interpretativa N.ºdeocorrências Percentagem
1.“Opacidade”daortografiaportuguesa 64 28,7%2.Desconhecimentodasregrascontextuaisdeusodosgrafemas 57 25,6%3.Desconhecimentodaidentidadedosegmentofonológico 14 6,3%4.Desconhecimentodasregrascontextuaisdeusodosgrafemase/oudaidentidadedosegmentofonológico 66 29,5%
5.Outrosfatores 22 9,9%Total 223 100%
Tabela10:Distribuiçãodosdesviosporpossibilidadedescritiva/interpretativa
3.3.Distribuiçãodosdesviosporposiçãosilábicaeporsegmentosafetados
Depoisdeprocederaolevantamentodatotalidadedasocorrências,convergentese
divergentes,procurou-seorganizá-laspor formaaverificar (i)aposiçãosilábicaemquese
registava a sibilante; (ii) a unidade fonológica alvo e a respetiva realização fonética; (iii) a
representaçãografemáticaalvoe,porúltimo,(iv)asrepresentaçõesgráficasconvergentese
divergentes.
Desta forma, os desvios encontram-se organizados em 3 grandes classes
correspondendoàsposiçõessilábicasdeataqueedecodaeàssequênciasfonológicasque,
pelasuaespecificidade,serãotratadasàparte(cf.anexo6).
Conformesepodeobservarnográfico5,verifica-seque90,52%dototaldosdesvios
apresentados(ouseja,191deumtotalde223ocorrências)ocorrememposiçãodeataque
90,52%
9,48%
GráCico5:Distribuiçãodosdesviosporposiçãosilábica
Ataque
Coda
51
Apresentaçãoediscussãodosresultados
silábico. Como já referido anteriormente, as unidades fonológicas, nesta posição silábica,
assumemapenasumarealizaçãofonética([s,z,ʃeʒ])masváriasrepresentaçõesgráficas.
Relativamenteaofonecujarepresentaçãográficageramaioresdificuldades,verifica-
se que [s] é o responsável por um número mais elevado de desvios. Conforme se pode
observarnográfico6,74,41%dosdesviosapresentados(oquecorrespondea157desvios)
ocorremnarepresentaçãodestasibilanteapicodentalsurda80.
Ográficomostra-nos tambémqueéna representaçãográficadapalatal sonora [ʒ]
queosaprendentesapresentammenosdificuldades(1,90%,oequivalentea4desvios)81.
Observem-se,nassecçõesseguintes,ecommaiordetalhe,osresultadosobtidospor
posiçãosilábica.
3.3.1.Ataque
Como se pode verificar na tabela 11, a representação gráfica dos segmentos
fonológicosemposiçãodeataquesilábicooriginou191desvios(3,06%),numtotalde6.237
representações.
80TambémnoestudodeCanas (2014) severifica-quea representaçãográficado fonema/s/éaquecausamaioresdificuldades.Verifica-se,noentanto,que,nocasodosestudantestimorenses,estedesvioassumeumaproporçãoaindamaiselevada(74,41%contra52%).81Nos dados do estudo de Canas (2014), verifica-se que é a sibilante palatal surda [ʃ] a que causa menosdificuldadesaosaprendentes,com3%dosdesvios.
74,41%
13,74%
1,90%9,95%
GráCico6:Distribuiçãodosdesviosemfunçãodosegmentoalvo
/s//z//ʒ//ʃ/
52
Apresentaçãoediscussãodosresultados
Ocorrências Percentagem
Posiçãosilábica
Unidadefonológica
alvo
Realizaçãofónicaalvo
Representaçãocorreta
(grafema)
Convergentes
Divergen
tes
Ocorrên
cias
Convergentes
Ocorrên
cias
Divergen
tes
Ataque
/s/ [s]
<ç> 376 40 90,38%
9,62%<ss> 1.737 24 98,64
%1,36%
<s> 2.063 7 99,66%
0,34%<c> 813 86 90,43
%9,57%
<x> 23 0 100% 0%
/z/ [z]<z> 233 5 97,9% 2,1%<s> 412 24 94,50
%5,50%
<x> 69 0 100% 0%
/ʒ/ [ʒ] <g> 178 3 98,34%
1,66%<j> 107 1 99,07
%0,93%
/ʃ/ [ʃ] <ch> 17 1 94,44%
5,56%<x> 18 0 100% 0%
TOTAL 6.046 191 96,94%
3,06%Tabela11:Distribuiçãodasocorrênciasconvergentesedivergentesemposiçãodeataquesilábico
Seatentarmosàsunidadesafetadasemposiçãodeataquesilábico,verifica-sequea
representação gráfica da unidade fónica [s] é aquela que, incontestavelmente, causa
maioresdificuldades,com82,2%datotalidadedosdesviosregistadosnestaposiçãosilábica.
Ográfico7ilustraosresultadosporunidadeafetadaemposiçãodeataque.
3.3.1.1.Desviosnarepresentaçãográficadosegmentofonológico/s/
Conforme referidoanteriormente,o segmento fonológico /s/,nanormapadrãodo
PE,admite,emposiçãodeataquesilábico,apenasumarealizaçãofonética([s]),masvárias
representações gráficas (<s>, <ss>, <ç>, <c>, <x>). Esta relação múltipla entre fonema e
82,20%
15,18%
2,09%
0,53%
GráCico7:Distribuiçãodosdesviosemposiçãodeataquesilábicoemfunçãodaunidadealvo
[s][z][ʒ][ʃ]
53
Apresentaçãoediscussãodosresultados
grafema, gera, obviamente, dificuldades entre os aprendentes e origina desvios como
aquelesqueencontramosnatabela12.
Neste âmbito, verificou-se que, dos 5 grafemas alvo possíveis na representação
gráficade/s/,4geraramocorrênciasdesviantes.Osdesviosocorreramemcasosnosquais
deveriam surgir os grafemas <c> (54,77%), <ç> (25,48%) e <s> (4,46%), e o dígrafo <ss>
(15,49%).Curiosamente,ografema<x>, tendoemcontaos valoresquepodeassumirem
ataque silábico, foi sempre grafado corretamente (23 ocorrências) 82 . Verifica-se,
simultaneamente,queografemaquegerouumamaiordiversidadededesviosfoiografema
alvo<c>,com4registosdistintos:<s>;<ç>;<sc>e<ss>.
Unidadefónicaalvo–/s/=[s]Grafemaalvo
Númeroepercentagemdeocorrênciasdesviantes
Grafema/dígrafodesviante Formaalvo Forma
desvianteNúmerodeocorrências
<ç> 40(25,48%)
<c>
atenção atencão 1avaliações avaliacões 1começa comeca 1
começando comecando 1comunicação comunicacão 2cooperação cooperacão 1crianças criancas 8dedicação dedicacão 1educação educacão 1esforçar esforcar 2explicação explicacão 3formação formacão 1função funcão 3
informações informacoes 1nação nacão 1
organização organizacão 1planificação planificacão 3preguiçosas preguicosas 1preocupação preocupacão 3
relação relacão 2situações situacões 1
<s> preguiçoso preguisoso 1
<ss> 24(15,29%) <s>
acessibilidade acesibilidade 1acesso aceso 1
agressiva agresiva 1agressivo agresivo 1assiduidade asissuidade 2assiduidade asesuidade 1interesse interrese 2processo proceso 1professor profesor 3profissão profisaun 1profissão profisão 3profissional profisional 2sucesso suceso 1
82Esteresultadopoderádever-seaoseuusomenoscomum,emléxicorestrito:cf.auxílio,máximo,próximo,trouxe(MartinseFestas,2012).
54
Apresentaçãoediscussãodosresultados
<c>interesse interece 1
profissional profecional 1profissional proficional 1
<ç> posso poço 1
<s> 7(4,46%)
<c> ensinar encinar 2sincero cincerio 2
<ç> ensinar ençinar 1sério çerio 1
<ss> ensinar enssinar 1
<c> 86(54,77%)
<s>
capacidade capasidade 2capacitar capasitar 1cedo sedo 1
cidadão sidadaun 1cidadãos sidadãos 1cientistas sientistas 1dicionário disionário 1
fácil fasil 1licenciado lisenciado 1nacional nasional 1
paciência
paciensia 2pasciênsia 1pasiencia 7pasiência 1pasiençia 3pasiênsia 2pasiênsia 2pasiensia 6pasiensia 6pasencia 2pasência 1
precisapresica 2presisa 2presiza 1
precisamos presijamos 1presisamos 1
preciso
persiso 1persizo 3presico 1presiço 1presiso 4
principalmente prinsipalmente 1
<ç>paciência
paçência 1paciençia 6pasiençia 3passençia 1
precisa preçisa 3precisamos preçisamos 1
<sc> paciênciapasciência 3pasciencia 2pasciênsia 1
<ss> capacidade capassidade 2paciência passençia 1
TOTAL 157(100%)Tabela12:Distribuiçãodasrepresentaçõesgráficasdesviantesde/s/
Comojáfoireferidoanteriormente,navariedadeacroletaldotétum83,ofonema/s/
apenas admite a realização [s] e a representação gráfica <s>84 nesta posição silábica,
83Cf.nota35.84Cf.tabela4.
55
Apresentaçãoediscussãodosresultados
enquanto que, em português, admite as representações <ç>, <ss>, <s>, <c> e <x>, não
sendo,por isso,deestranharqueestaapicodentalsurdatenhasidoosegmentoquemais
desviosgerou.
Tendo em conta, por um lado, que <c>, <ç> e <ss> não constam, no tétum, dos
grafemas representativosdo segmento /s/, eque,poroutro, autilizaçãodestes grafemas
em português requer o conhecimento de algumas regras contextuais, os motivos que
levaram a estas representações desviantes poderão estar relacionados com o efeito
cumulativo de estes dois fatores. Aliás, as coincidências lexicais entre as duas línguas e a
maior simplicidade e transparência das relações fonema-grafema do tétum neste caso
específico,potenciama transferênciada soluçãográficado tétumparaaescritada língua
alvo(LA),comosepodeverificaratravésdevocábuloscomopreguisoso,fásilenasional.
Tambémnestaposiçãosilábicaseverificamcasosdedesviosqueaparentamindiciar
o desconhecimento da estrutura fonológica da palavra da LA ou das regras contextuais
específicas em que determinado grafema adquire um dado valor fónico. Casos como os
desviosemvocábuloscomoatencão,avaliacõesoucomecamostramissomesmo,vistoque,
emportuguês,ografema<c>sópodeassumirovalorde/s/quandoseguidodosgrafemas
vocálicos<e>ou<i>.Registam-setambémcasosemqueografema<ç>éutilizadoemvezde
<s>,<ss>e<c>,comoéocasodosvocábulosençinar,poçoepreçisa,queparecemdever-se
àopacidadedaortografiadoportuguês.
3.3.1.2.Desviosnarepresentaçãográficadosegmentofonológico/z/
Comosepodeverificarnográfico7,osegmentofonológico/z/éaqueleque,depois
de/s/,causamaioresdificuldadesemposiçãodeataquesilábico,com15,18%dosdesviosa
ocorrerem na representação desta apicodental sonora. Tal como com o segmento /s/,
também o fonema /z/ se realiza, em posição de ataque silábico, através de uma única
realizaçãofonética,nestecaso[z],admitindo,contudo,3representaçõesgráficas(<z>,<s>e
<x>).
Neste âmbito, verificou-se que, dos 3 grafemas alvo possíveis na representação
gráficade[z],ecujacorretautilizaçãoestádocumentadanocorpus,2geraramocorrências
56
Apresentaçãoediscussãodosresultados
desviantes. Os desvios ocorreram maioritariamente onde deveria constar o grafema <s>
(82,76%)e,commenorfrequência,ondeosegmentodeveriasergrafadocom<z>(17,24%).
Àsemelhançadoqueacontececomosegmento fonológico/s/, tambémparagrafar /z/o
grafema<x>foisempregrafadocorretamente(69ocorrências)85.
A tabela que se segue ilustra os desvios encontrados na representação deste
segmento.
Unidadefónicaalvo–/z/=[z]
Grafemaalvo
Númeroepercentagemde
ocorrênciasdesviantes
Grafema/dígrafo
desvianteFormaalvo Formadesviante Númerode
ocorrências
<z> 5(17,24%) <s>
aprendizagem aprendisagem 3clareza claresa 1
responsabilizar responsabilisar 1
<s>24
(82,76%)
<j>atrasado atrajado 1desejo dejejo 1precisa precija 3
precisamos presijamos 1
<c> precisa presica 2preciso presico 1
<ç> preciso presiço 1
<ss>
posição possição 1precisa precissa 1preciso precisso 3rigorosa rigorossa 1
<z>
Brasil Brazil 1desenvolvimento dezenvolvimento 1
fase faze 1precisa presiza 1precisar precizar 1preciso persizo 3
TOTAL 29(100%)Tabela13:Distribuiçãodasrepresentaçõesgráficasdesviantesde[z]
Comoreferidoanteriormente,notétum,ofonema/z/admiteapenasarealização[z]
e a representação gráfica <z>86, não sendo, por isso, de estranhar que esta apicodental
sonoratenhasido,depoisde/s/,osegmentoquemaisdesviosgerou(cf.gráfico7).
Vejamos,porexemplo,oscasosdepresicaepresiço.Estedesviosparecemevidenciar
odesconhecimentodosegmentofonológico(queé/z/enão/k/,noprimeirocaso,ou/s/no
85Tal situação poderá dever-se ao facto de <x> assumir a realização fonética de [z] apenas em início depalavras iniciadaspor<e>equandoseguidodevogal (àexceçãodepalavrasqueadmitemmaisdoqueumapronúnciacomoéocasodeexógeno)comoacontece,porexemplo,comexame,exercer,existir,exorcismo,exuberante.(MartinseFestas,2012:9)86Cf.tabela4.
57
Apresentaçãoediscussãodosresultados
segundo). O mesmo se verifica nos casos de atrajado, dejejo, precija e precijamos, que
indiciamodesconhecimentodaformafonológicadapalavranaLAe/ouatransferênciada
LM,poisotétum,nasuavariedademesoletal,podemotivarografema<j>narepresentação
de/z/,comoéocasode/a´zuda/para<ajuda>.87
Jáoscasosdeaprendisagem,claresa eresponsabilisarparecemestarrelacionados
com a opacidade da ortografia do português. Esta opacidade na representação gráfica
destesfonemaspoderáter levadoestes jovensarecorreremaoconhecimentográficoque
têmdotétum,nomeadamenteemdesvioscomodezenvolvimento,precizaeBrazil.
3.3.1.3.Desviosnarepresentaçãográficadosegmentofonológico/ʃ/
Ográfico7evidenciaquea representaçãodosegmento fonológico/ʃ/éaque,em
posiçãodeataquesilábico,causamenoresdificuldades,comapenas1desvioaocorrernas
36representaçõesdestaconsoantepalatalsurda,ouseja,em0,54%doscasos.
Como se viu anteriormente, e tal como com os restantes segmentos sibilantes, o
fonema/ʃ/apenasadmite,emposiçãodeataquesilábico,umarealização fonética: [ʃ].No
entanto,sãopossíveis2representaçõesgráficas,<ch>e<x>.
Relativamente às ocorrências desviantes, a tabela que se segue mostra o único
desvioencontradonarepresentaçãodestaunidade.
Unidadefónicaalvo–/ʃ/=[ʃ]
Grafemaalvo
Númeroepercentagemdeocorrênciasdesviantes
Grafema/dígrafo
desvianteFormaalvo Formadesviante Númerode
ocorrências
<ch> 1(100%) <çh> acho açho 1
TOTAL 1(100%)Tabela14:Distribuiçãodasrepresentaçõesgráficasdesviantesde[ʃ]
Tendo em conta que <ch> não consta, no tétum, dos dígrafos representativos do
segmento fonológico /ʃ/, e que, como referido anteriormente, este segmento apenas
87Cf.nota35.
58
Apresentaçãoediscussãodosresultados
admite, nesta posição silábica, a representação gráfica <x>88, talvez fosse de esperar um
número de desvios mais elevado. No entanto, verificou-se apenas um desvio na
representação desta sibilante (açho). Ao que tudo indica, esta representação desviante
poderá estar relacionada com a opacidade da ortografia do português ou, apenas, com
algumafaltadeconcentraçãoouinsegurançadoinformanteMNT196,umavezqueodígrafo
<çh> tambémnão existe na ortografia do português. É interessante referir, também, que
nãoocorreuqualquerdesviosemprequeapalatalfoigrafadacom<x>(16ocorrências).
3.3.1.4.Desviosnarepresentaçãográficadosegmentofonológico/ʒ/
Comosepodeverificarnográfico7,2,06%dosdesviosemposiçãodeataquesilábico
ocorreram com a representação do segmento fonológico /ʒ/. Como já referido
anteriormente, este fonema,nestaposição silábica, admite apenasuma realização fónica,
[ʒ],eduasrepresentaçõesgráficas,<g>e<j>.Apesardesetratardeumadasconsoantesem
análise cujo registo gráfico originou menos desvios, verifica-se que, nas 4 ocorrências
desviantes, 75% resultamdeocorrências desviantes para grafar o <g> eos restantes 25%
paragrafaro<j>.
A tabela que se segue ilustra os desvios encontrados na representação deste
segmento.
Unidadefónicaalvo–/ʒ/=[ʒ]
Grafemaalvo
Númeroepercentagemde
ocorrênciasdesviantes
Grafemadesviante Formaalvo Formadesviante
Númerodeocorrências
<g> 3(75,00%)<j>
gerir jerir 1sugestões sujestões 1
<z> corrigir corrizir 1
<j> 1(25,00%) <z> ajudar azudar 1
TOTAL 4(100%)Tabela15:Distribuiçãodasrepresentaçõesgráficasdesviantesde[ʒ]
Estas representações desviantes parecem estar relacionadas com a opacidade da
ortografia do português, nos casos de jerir, sugestões, e com o desconhecimento da
88Cf.tabela4.
59
Apresentaçãoediscussãodosresultados
estruturafonológicadaLAnoscasosdecorrizireazudar.Tendo,contudo,emcontaque<g>
nãoconsta,notétum,dosgrafemasrepresentativosdosegmento/ʒ/,eque,comoreferido
anteriormente,navariedadeacroletaldo tétum,o fonema/ʒ/admiteapenasa realização
[ʒ]ea representaçãográfica<j>89,podetambém,existir,noscasosde jerir,sujestões,um
efeito transferência da grafia do tétumpara a da LA, efeito esse eventualmente também
operantenoscasosdecorrizireazudar,pois,comojásereferiuanteriormente,otétum,na
sua variedademesoletal, podemotivaro grafema<z>na representaçãode /ʒ/ (comoem
<azuda>para/a´ʒuda/).
3.3.2.Coda
Comojáseobservounográfico7,só9,48%dosdesviosapresentadosocorreramem
codasilábica,sendoquearepresentaçãográficadossegmentos fonológicosnestaposição
silábicaoriginou20desvios(0,42%)numtotalde4.801representações.
Ocorrências Percentagem
Posiçãosilábica
Unidadefonológica
alvo
Realizaçãofónicaalvo
Representaçãográficacorreta
Convergentes
Divergen
tes
Convergentes
Divergen
tes
Coda /s/ [ʃ],[ʒ],[z]<x> 57 5 91,94% 8,06%<s> 4693 13 99,72% 0,28%<z> 31 2 93,94% 6,06%
TOTAL 4781 20 99,58% 0,42%Tabela16:Distribuiçãodasocorrênciasconvergentesedivergentesemposiçãodecodasilábica
Ao inversodoque aconteceemposiçãode ataque silábico, onde se assiste a uma
correspondência unívoca fonema-fone, em coda verifica-se que o único segmento
fonológico sibilantequepode surgir nestaposição, o fonema /s/, se atualiza atravésde3
realizações fonéticas ([ʃ], [ʒ]e [z]),podendoser representadograficamentepor<s>,<z>e
<x>,emfunçãodocontextoemqueseencontra.
89Cf.tabela4.
60
Apresentaçãoediscussãodosresultados
Depoisderecolhidostodososdesviosemcodasilábica,verifica-seque13surgemem
finaldepalavraeque7ocorrememposiçãodecodasilábicainterna(cf.tabela17).
Coda-Unidadesfónicasalvo–[ʃ],[ʒ]e[z]
Grafemaalvo
Númeroepercentagemdeocorrênciasdesviantes
Grafema/dígrafo
desvianteFormaalvo Formadesviante Númerode
ocorrências
<s> 13(65,00%)
<z>através atravez 7através atravéz 4
<ss> postura posstura 1<x> teste texte 1
<x> 5(25,00%) <s>
experiência esperiência 1explica esplica 1explicar esplicar 3
<z> 2(10,00%) <s>produz produs 1vez ves 1
TOTAL 20(100%)Tabela17:Distribuiçãodasrepresentaçõesgráficasdesviantesde[ʃ],[ʒ]e[z],emcodasilábica
Verifica-se,ainda,queografemaalvo<s>,alémdetersidooquegerouumnúmero
mais elevadodedesvios (13, oque correspondea65%), foi tambémaquelequeoriginou
umamaior diversidade de desvios, com 3 registos distintos: <z>, <ss> e <x>. Além disso,
verifica-seque,emvezde<x>e<z>,nestaposiçãosilábica,osaprendentesoptamsempre,
nestasocorrênciasdesviantes,pelografema<s>.
É interessante verificar que não foram registados quaisquer desvios sempre que a
unidade fónica sibilante continha valor morfológico, pois os plurais nominais e adjetivais
foram sempre grafados corretamente nas 2430 ocorrências. Este resultado sugere que a
funçãomorfológicaassociadaaografemaéumfatorpromotorderepresentaçõesgráficas
convergentescomasdaLA.
Porfim,eporsetratardedesviosquenãoalteramaestruturafónicadaspalavras,
estasrepresentaçõesdesviantesparecemestarrelacionadascomaopacidadedaortografia
doportuguês.Emcasoscomoesperiência,esplicaeprodus,oscomportamentosdesviantes
também poderão estar relacionados com a transferência gráfica da língua tétum
(esperiénsia,esplikaeprodús),admitindo-se,assim,emaisumavez,umefeitocumulativo
defatorespromotoresdodesvio.
61
Apresentaçãoediscussãodosresultados
3.3.3.Sequências
Pelasuaespecificidade,epelofactode,muitasvezes,nãoserpossívelapurar,com
rigor,qualosegmento fonológicoafetado,nemarespetivaposiçãosilábica,osdesviosna
representaçãodasequênciafonológica/s.s/foramtratadosàparte.
Comosepodeverificarnatabelaquesesegue,osdadosrecolhidosmostramqueos
aprendentesmanifestarammuitas dificuldades em representar esta sequência fonológica,
poisverificam-se12desviosderepresentaçãoem47ocorrências,oquecorrespondeauma
percentagemde25,53%.
Ocorrências Percentagem
Sequênciafonológica
alvo(coda/ataque)
Sequênciafónicaalvo
Representaçãográficacorreta
Convergentes
Divergen
tes
Convergentes
Divergen
tes
/s.s/ [ʃs] <sc> 35 12 74,47% 25,53%
TOTAL 35 12 74,47% 25,53%
Tabela18:Distribuiçãodasocorrênciasconvergentesedivergentesde/s.s/
Depois de recolhidos os desvios, verifica-se, de acordo com a tabela 19, que o
grafema <c> surge em nove ocorrências para representar esta sequência, <s> ocorre em
duaseodígrafo<ss>regista-seapenasemuma.
Sequênciafónicaalvo–[ʃs]
Sequênciagráficaalvo
Númeroepercentagemde
ocorrênciasdesviantes
Grafema/dígrafo
desvianteFormaalvo
Formadesviante
Númerodeocorrências
<sc>12
(100%)
<c>
acrescenta acrecenta 1acrescentar acrecentar 1consciência conciencia 1consciência conciência 2conscientes concientes 1disciplina diciplina 3
<s>consciência consência 1disciplinado disiplinado 1
<ss> disciplina dissiplina 1
TOTAL 12(100%)Tabela19:Distribuiçãodasrepresentaçõesgráficasdesviantesde[ʃs]
62
Apresentaçãoediscussãodosresultados
Estesdesviosrevelamumclarodesconhecimentodequesetrata,emportuguês,de
uma sequência fonológica. Se, para além disso, tivermos em conta que, no tétum, os
vocábulos disciplina90e consciente são grafados dixiplina e konxiente91, podemos admitir
queoprocessodesimplificaçãofonológicatranspostoparaaescritatenhaumamotivação
acrescida,sendoigualmenteexpressãodeumefeitodetransferênciafonológicadotétum.
90É curiosoverificar, certamentedevidoaumamaiorexposiçãoaestevocábulo,queapalavradisciplina(s),sempre que foi utilizada com o significado de matéria escolar, foi grafada corretamente. Isto confirma ointeressequepodeteraobservaçãodoshábitosdeusodoportuguêsedafamiliarizaçãocomotextoescrito.91DisionáriuNasionalbaTetunOfisiál,PP.135e447.
Conclusão
O presente estudo permite concluir que a amostra de 279 aprendentes do Ensino
Superior leste-timorensepossui,deumaformageral,muitasfragilidadesnarepresentação
gráficadassibilantes.
Embora os desvios não sejam, do ponto de vista quantitativo, consideráveis
(representam um total de 2,01% da totalidade das ocorrências), este estudo permite-nos
verificar que esta área da ortografia do português é, também em Timor-Leste, uma área
crítica.
Noprimeiro capítulo deste trabalho, procurámosdescrever opanorama linguístico
de Timor-Leste e identificar o papel que a línguaportuguesadesempenhaneste contexto
multilingue. Concluiu-se que, apesar de ser uma das LO do país e a língua do estado, o
português assume o estatuto de LM de um número muito reduzido de elementos da
população.Na verdade, o português é língua segunda (LS) para amaioria dos timorenses
que o falam. Este idioma é utilizado por uma pequena fração da população que,
dependendodasfontes,variaentreos5%eos37%defalantes.Concluiu-se,também,queo
tétum é a língua veicular, a língua indonésia é, essencialmente, utilizada nas transações
comerciais e o inglês é uma língua de trabalho, nomeadamente nos contactos
internacionais.
No primeiro capítulo, descreveram-se ainda as relações complexas entre unidades
fónicasegráficasnodomíniodassibilantesdalínguaportuguesa.Referiu-seque,emposição
inicial de sílaba (absoluta ou interior), é possível a ocorrência das quatro unidades
fonológicassibilantes(/s,z,ʃ,Ʒ/),equeseregista,aí,omaiorconjuntodegrafemasparaas
representar(<ç,ss,s,c,x,z,g,j,ch>).Referiu-se,também,que,apesardeapenasofonema
/s/poderocuparaposiçãodecodasilábica,asuaatualizaçãoévariávelecontextualmente
condicionada,podendoserrepresentadograficamentepor<s,z,x>.
Paralelamente, descreveram-se as relações entre unidades fónicas e gráficas no
domínio das sibilantes do tétum e constatou-se que essas relações são bem menos
complexas. Em posição de ataque silábico, os grafemas representam biunivocamente um
64
fonema (<s, z, j, x> representam, respetivamente, /s, z, ʒ e ʃ/). Já em posição de coda,
verifica-se que o único segmento fonológico aí possível pode ser representado por vários
grafemas (/s/é representadopor<s>quando realiza [ʃ]eé representadopor<z>quando
realiza [ʒ]). Concluiu-se, por isso, que, de uma forma geral, a ortografia do tétum émais
fonéticadoquefonológica.
No segundo capítulo, foram apresentados os dados recolhidos através do
questionário sociolinguístico, que permitiram traçar o perfil dos informantes. A análise
destesdadospermitiuobservarqueotétuméa línguamaternadamaioriados inquiridos
(41,5%) e, consequentemente, a língua que melhor dominam (49,8%). Permitiu, ainda,
confirmarqueo tétuméa línguaprivilegiadaparacomunicar tantoemcontextos formais
comoinformais.
Aindanestecapítulo,procedeu-seàdescriçãoejustificaçãodametodologiaadotada,
apresentando-seosprocedimentosderecolhadocorpusondeforamcontabilizadas,nãosó
asocorrênciasdesviantes,mastambémasconvergentes.
Noterceirocapítulo,analisaram-seosdadosdeacordocomosobjetivospropostos
naIntrodução.Aanálisedosdadosconduziu-nosàsseguintesrespostas:
(i) Se atentarmos ao segmento cuja representação gráfica se afigurou
mais problemática, verificamos que /s/ é o responsável por um
númeromaiselevadodedesvios,com74,41%dasocorrências(oque
corresponde a 157 desvios). Verificou-se, também, que é na
representaçãográficadosegmentofonológico/ʒ/queosaprendentes
apresentarammenosdificuldades(1,90%,oequivalentea4desvios).
(ii) A representação gráfica das sibilantes emposiçãode ataque silábico
foiaqueoriginoumaioresdificuldades,verificando-seque90,52%do
total dos desvios apresentados (ou seja, 191 de um total de 223
ocorrências)ocorreramnestaposição.
(iii) Em termos globais, verificou-se que o grupo de aprendentes de LM
tétum e o grupo de estudantes com outra LM produziram uma
percentagem muito idêntica de desvios com 1,99% e 2,03%
65
respetivamente.
(iv) Conclui-sequeosaprendentesnaturaisdomunicípiodeAileuforamos
queregistaramapercentagemdedesviosmaiselevada(3,46%)eque
osdeOe-Cusseapresentaram,apenas, aocorrênciade3desviosem
859representações(0,35%);
(v) Concluiu-sequeodesconhecimentodascondiçõescontextuaisdeuso
dos grafemas e/ou da identidade do segmento fonológico poderá
explicar o maior número de desvios (66 ocorrências, o que
correspondea29,5%dototal).
Resta-nos salientar que todo os desvio ortográfico do aprendente deve incitar o
professor a refletir sobre o sistema de escrita pois, é a partir dessa reflexão que se
identificamasnecessidadesdeencaminhamentodoseducandos.NocasodeTimor-Leste,os
desvios ortográficos deverão ser, no futuro, objeto de atenção por parte dos pedagogos.
Estudosdestetiposerão,por isso,necessárioseúteisparaoensinodaLínguaPortuguesa
nestepaís.
Perspetivando,nestemomento,asimplicaçõesdecorrentesdesteestudo,espera-se
que as conclusões retiradas deste trabalho possam originar outras perguntas de
investigação.
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http://www.wikiwand.com
70
http://www.portaldalinguaportuguesa.org
http://www.infordepe.gov.tl
http://www.untl.edu.tl
Anexos
Anexo1: Questionárioeexercíciodeproduçãoescrita
Anexo2: Orientaçõesparaosprofessoresaplicadores
Anexo3: Autorizaçãodosinformantes
Anexo4: Apresentaçãodosdadosdoquestionário
Anexo5: PrincipaislínguasdeTimor-Leste
Anexo6: Distribuiçãodasocorrênciasconvergentesedivergentes
Anexo7: TratamentodosdadosemExcel
Anexo8: Ocorrênciasdesviantesexcluídasdaanálise
Questionárioeexercíciodeproduçãoescrita Anexo1
Questionárioeexercíciodeproduçãoescrita Anexo1
Questionárioeexercíciodeproduçãoescrita Anexo1
Questionárioeexercíciodeproduçãoescrita Anexo1
Questionárioeexercíciodeproduçãoescrita Anexo1
Orientaçõesparaosprofessoresaplicadores Anexo2
Autorizaçãodoinformante Anexo3
Apresentaçãodosdadosdoquestionário Anexo4
Questãon.º1–Emquelínguacomeçouacomunicarnoseiofamiliar?
LÍNGUAMATERNA
TOTAL
tétum
mam
bae
baiken
o
makasae
tukude
de
fataluku
kemak
bunak
idaté
rahe
suk
lolein
lakalei
galoli
N.ºde
informantes116 53 22 19 18 16 13 12 4 3 1 1 1 279
DistribuiçãodosaprendentesdaamostraporLM
Questão n.º 2 – Que línguas já aprendeu durante a sua vida? Ordene-as,
começandoporaquelasquedominamelhor.
Distribuiçãodosaprendentesporníveisrelativosdeproficiêncianaslínguasconhecidas
139
4022 18 18 13 11 10 3 1 1 1 1 1
133
143 2 2 1
43
2
75
37 1 1
108
133
24
119
4061
6 7
66
0
20
40
60
80
100
120
140
1601.ª 2.ª 3.ª 4.ª 5.ª
Apresentaçãodosdadosdoquestionário Anexo4
Questãon.º3–Qualalínguaqueprivilegiaparacomunicaremcontextoinformal?
Língua
tétum
portuguê
s
mam
bae
bunak
kemak
rahe
suk
NS/NR9
2
TOTAL
N.ºdeinformantes 257 10 5 4 1 1 1 279
Percentagem 92,1% 3,6% 1,7% 1,4% 0,4% 0,4% 0,4% 100%
Línguadominanteemcontextoinformal
Questãon.º4–Qualalínguaqueprivilegiaparacomunicaremcontextoformal?
Língua
tétum
portuguê
s
indo
nésio
inglês
outra
NS/NR TOTAL
N.ºdeinformantes 185 93 0 0 0 1 279
Percentagem 66,3% 33,3% 0% 0% 0% 0,4% 100%
Usodaslínguasemcontextoformal
Questãon.º5–Quelínguaconsideraamaisimportanteparaoseufuturo?
Língua
tétum
portuguê
s
indo
nésio
inglês
outra TOTAL
N.ºdeinformantes 11 268 0 0 0 279
Percentagem 4% 96% 0% 0% 0% 100%
Relevânciadalínguaparaofuturo
92NS/NR:Nãosabeounãoresponde.
Apresentaçãodosdadosdoquestionário Anexo4
Questãon.º6–Quediploma(s)delínguaportuguesapossui?
Diploma
Nen
hum
Nível1
Nível2
Nível3
Prep
araçãopara
oBacharelato
Oficinade
língua
Oficinade
espe
cializa
ção
NS/NR TOTAL
N.ºdeinformantes 163 39 22 10 7 31 0 7 279
Percentagem 58,5% 14% 7,8% 3,6% 2,5% 11,1% 0% 2,5% 100%
Certificaçãodoníveldelínguaportuguesa
Questãon.º7–Emtermosglobais,comoconsideraoseudomíniodoportuguês?
Domínio
MuitoBom
Bom
Suficiente
Insuficiente
Muito
Insuficiente
NS/NR
TOTAL
N.ºde
informantes52 163 63 0 0 1
279
Percentagem 18,6% 58,5% 22,5% 0% 0% 0,4% 100%
Autoavaliaçãodosaprendentesemrelaçãoaoseudomíniodoportuguês
Questãon.º8–Onde/Comoaprendeuportuguês?
Local/forma
Escola
Casa
Jornais,livrose
revistas
Rádioou
TV
Outro
TOTAL
N.ºde
informantes276 1 2 0 0
279
Percentagem 98,9% 0,4% 0,7% 0% 0% 100%
Meiosdeacessoedeaprendizagemda/àlínguaportuguesa
Apresentaçãodosdadosdoquestionário Anexo4
Questãon.º9–Emquesituaçõesusa,habitualmente,oportuguês?
Contexto
Nasaulas
Comamigose
colegas
Emcasa
Nosse
rviços
públicos
Comcolegas
portugue
seso
ubrasileiro
s
Outrasituação
TOTAL
N.ºde
informantes258 10 0 3 8 0
279
Percentagem 92,5% 3,6% 0% 1,1% 2,9% 0% 100%
Contextosdeusodoportuguês
Questãon.º10–Ondecostumaouvirpessoasafalaremportuguês?
Local
Nomercado
enas
lojas
Nosse
rviços
públicos
Narua
Narádioou
na
televisão
Nasaulasdelíngua
portugue
sa
Naigreja
Nou
trolocal
NS/NR
TOTAL
N.ºde
informantes0 11 0 33 232 0 0 3 279
Percentage
m0% 3,9% 0% 11,8% 83,1% 0% 0% 1,2% 100%
Contextosdeexposição(auditiva)aoportuguês
Apresentaçãodosdadosdoquestionário Anexo4
Questãon.º11–Emquelocalcostumaleremportuguês?
Local
Noescola
Nosse
rviços
públicos
Natelevisão
Emcasa
Nou
trolocal
NS/NR
TOTAL
N.ºdeinformantes 267 1 1 7 0 3 279
Percentagem 96% 0,4% 0,4% 2,5% 0% 1,1% 100%
Distribuição dos aprendentes da amostra pelas situações em que leem em língua
portuguesa
Questãon.º12–Emquesituaçõescostumaescreveremportuguês?
Local
Naescola
Nosse
rviços
públicos
Emcasa
Nou
trolocal
TOTAL
N.ºdeinformantes 276 3 0 0 279
Percentagem 98,9% 1,1% 0% 0% 100%
Escreveremportuguês
Questãon.º13–Aprenderportuguêséimportanteporque…
Importância
Línguaoficial
Comun
icarnodiaa
dia
Estudar
Comun
icarcom
estrangeiro
s
Conseguirtrabalho
Nãoéim
portante
NS/NR
TOTA
L
N.ºdeinformantes 254 0 13 5 4 0 3 279
Percentagem 91% 0% 4,6% 1,8% 1,4% 0% 1,1% 100%
Distribuiçãodosaprendentesdaamostrapelaimportânciaatribuídaàaprendizagemdo
português
PrincipaislínguasdeTimor-Leste Anexo5
Principais línguas de Timor-Leste (% da população/LM) – Fonte:
http://www.wikiwand.com/pt/L%C3%ADnguas_de_Timor-Leste (consultado a 18 de
novembrode2016).
0,00
5,00
10,00
15,00
20,00
25,00
30,00
35,00Percentagem
Distribuiçãodasocorrênciasconvergentesedivergentes Anexo6
Distribuiçãodasocorrênciasconvergentesedivergentesemfunçãodaposiçãosilábica,daunidadefonológica
alvo,daunidadefónicaalvoedarepresentaçãográficacorreta.
Ocorrências Percentagem
Posição
silábica
Unidade
fonológic
aalvo
Realizaçã
ofónica
alvo
Representaç
ãocorreta
(grafema)
Convergente
s
Divergentes
Convergente
s
Divergentes
Ataque
/s/ [s]
<ç> 376 40 90,38% 9,62%
<ss> 1737 24 98,64% 1,36%
<s> 2063 7 99,66% 0,34%
<c> 813 86 90,43% 9,57%
<x> 23 0 100% 0%
/z/ [z]
<z> 233 5 97,9% 2,1%
<s> 412 24 94,50% 5,50%
<x> 69 0 100% 0%
/ʒ/ [ʒ]<g> 178 3 98,34% 1,66%
<j> 107 1 99,07% 0,93%
/ʃ/ [ʃ]<ch> 17 1 94,44% 5,56%
<x> 18 0 100% 0%
TOTAL 6046 191 96,94% 3,06%
Coda /s/ [ʃ],[ʒ],[z]
<x> 57 5 91,94% 8,06%
<s> 4693 13 99,72% 0,28%
<z> 31 2 93,94% 6,06%
TOTAL 4781 20 99,58% 0,42%
Distribuiçãodasocorrênciasconvergentesedivergentes Anexo6
Ocorrências Percentagem
Sequência
fonológicaalvo
(coda/ataque)
Sequência
fónicaalvo
Representaçã
ocorreta
(grafemas)
Convergentes
Divergentes
Convergentes
Divergentes
/s.s/ [ʃs] <sc> 35 12 74,47% 25,53%
TOTAL 35 12 74,47% 25,53%
Distribuiçãodasocorrênciasconvergentesedivergentesemfunçãodasequênciafonológicaalvo,dasequência
fónicaalvoedarepresentaçãográficacorreta.
TratamentodosdadosemExcel Anexo7
TratamentodosdadosemExcel Anexo7
Ocorrênciasdesviantesexcluídasdaanálise Anexo8