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ANÁLISES DAS POSSIBILIDADES DE INTERVENÇÃO DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA,
COMO AÇÃO PREVENTIVA EM ACIDENTES DE AFOGAMENTOS EM ESPAÇOS DE LAZER E
APRENDIZAGEM: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.
Ricardo Barbosa Correia1
Jean Carlos Nunes2
Resumo: A estreita relação entre a Educação Física e o meio aquático alcançada através de seus
profissionais em diversas áreas de atuação, provoca uma discussão acerca do papel desenvolvido
pelo Professor de Educação Física na prevenção e controle do afogamento, temática pouco
explorada no meio cientifico. O objetivo geral do presente trabalho destina-se em analisar as
possibilidades de intervenção do Professor de Educação Física na prevenção e controle dos
afogamentos em espaços de lazer e aprendizagem. Como metodologia utilizamos a pesquisa
bibliográfica para fundamentar as discussões acerca dos conteúdos propostos. Por fim concluimos
que os conteúdos de Salvamento Aquático e Reanimação Cardio-pulmonar são conhecimentos
necessários ao Professor de Educação Física na construção de programas educacionais que
divulguem as medidas preventivas para a comunidade em geral e para sua atuação em uma situação
de perigo real de afogamento.
Palavras Chave: Intervenção, afogamento, Educação Física.
ANALYSIS OF THE POSSIBILITY OF INTERVENTION TEACHER OF PHYSICAL EDUCATION AS
PREVENTIVE ACTION IN ACCIDENTS OF DROWNINGS IN SPACES OF LEISURE AND
LEARNING: A REVIEW OF THE BIBLIOGRAPHIC.
Abstrat: The close relationship between the Physical Education and aquatic achieved through its
professionals in various areas of acting causes a discussion about the role developed by physical
education teacher in prevention and control of the drowning, Thematic underexplored in the scientific
world. The overall goal of the present work is intended in analyze the possibilities of intervention of
Physical Education Teacher in prevention and control of drownings in spaces of leisure and learning.
As Methodology we utilize the search bibliographic to substantiate the discussions about the proposed
contents. Finally, concludes that the contents of aquatic Rescue and Cardiopulmonary Reanimation
are knowledges required for the physical education teacher in building educational programs that
disclose preventive measures for the community in general and to your acting in a real danger of
drowning.
Keywords: Intervention, drowning, Physical Education
1Acadêmico do 8º período do curso de Educação Física do Campus Catalão/UFG – e-mail:
ricardobmgo@hotmail.com 2 Orientador: Prof. Ms do Curso de Educação Física do Campus Catalão/UFG – e-mail: jean.c.nunes@hotmail.com
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1. INTRODUÇÃO
A água está presente em todos os momentos da vida da humanidade, essa substância é
essencial para a existência dos organismos vivos na Terra, principalmente o ser humano que é
basicamente constituído por ela, porém, esse mesmo elemento que possibilita a vida, pode tirá-la em
poucos minutos, é o que acontece em um afogamento fatal.
De acordo com Szpilman (2012), os afogamentos em água doce são mais frequentes em
crianças, principalmente em menores de 10 anos, estima-se que existam mais de 4.500 casos de
morte por ano só nos Estados Unidos (53% em piscinas), onde 50.000 novas piscinas são
construídas por ano, somando-se a 2.2 milhões de piscinas residenciais e 2.3 milhões não
residenciais nas áreas quentes dos Estados Unidos, Austrália e África do Sul, 70 a 90% dos óbitos
por afogamento ocorrem em piscinas de uso familiar. No Brasil, onde o número de piscinas
domésticas é infinitamente menor, o afogamento em água doce ocorre mais em rios, lagos e
represas, perfazendo a metade dos casos fatais.
Segundo o Ministério da Saúde (apud SZPILMAN, 2012), no ano de 2009, o afogamento foi a
2ª causa geral de óbito entre a idade de 1 a 9 anos, a 3ª causa nas faixas de 10 a 19 anos, a 4ª na
faixa de 20 a 24 e a 6ª entre 25 a 29 anos, contabilizando o número total de 7.152 brasileiros
(3.7/100.000 hab.) que perderam a vida por conta de afogamentos, segundo o mesmo autor, em
Goiás, os números absolutos de mortes entre os anos de 2.000 a 2009, foram:
Tabela 01: Mortes por Afogamento no Estado de Goiás.
2.000 2.001 2.002 2.003 2.004 2.005 2.006 2.007 2.008 2.009
181 241 226 190 208 239 222 199 183 192
Fonte: Szpilman (2012)
Mesmo vários fatores contribuintes para essas fatalidades estarem alheios á Educação Física
cria-se uma perspectiva para redução dos seus altos índices através de medidas preventivas e
educativas relacionando os afogamentos e os acidentes na água com a disciplina principalmente pelo
fato de que o ambiente aquático configura um campo de trabalho do professor de Educação Física,
profissional responsável pelas diversas atividades físicas, desde o ensino da natação, treinamento
esportivo à práticas de lazer, em escolas e clubes com atrações aquáticas.
“A maior parte dos afogamentos acontecem em pessoas jovens, saudáveis, e produtivas, com
longa expectativa de vida. Por isso um atendimento imediato, adequado e eficaz deve ser prestado
logo após ou mesmo durante o acidente” (CRUZ, 2006, p.1280).
Na tentativa de salvar uma vítima de afogamento torna-se imprescindível um atendimento
emergencial e mesmo que tenhamos a disposição um serviço de emergência como o Corpo de
Bombeiros e Samu, existirá sempre um determinado tempo entre o acidente e o atendimento, tempo
esse, que a vítima de afogamento não dispõe, de acordo com Szpilman (2012) todo o processo de
afogamento, da submersão a parada cardíaca pode durar de segundos a alguns minutos. Logo, o
tempo gasto para inicio dos procedimentos é essencial, segundo Rodrigues 1973 (apud SANTANA,
2003) após cinco minutos de parada cardíaca apenas 25% das vítimas podem ser completamente
recuperadas, não sendo possível transportá-las, a emergência deve ser resolvida no próprio local.
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Empiricamente a sociedade acredita que o professor de Educação Física detenha
conhecimento para executar e ensinar, além dos estilos da natação, os atendimentos emergenciais,
necessários para que o aluno não sofra ou não se envolva num afogamento, podendo até perder sua
vida. O que reforça ainda mais essa ideia é o posicionamento do Conselho Federal de Educação
Física - CONFEF, demonstrando a necessidade de capacitação do professor:
É de suma importância que os Profissionais de Educação Física estejam treinados, atualizados e preparados para os acidentes e fatalidades que venham a acontecer em seu trabalho e criem uma rotina de atendimento de socorros de urgência que envolva toda a equipe de trabalho. (CONFEF, 2008, p. 14).
Neste contexto, o professor de Educação Física presente em um caso de afogamento poderá
realizar de imediato os procedimentos para retirada da vítima da água e de acordo com a gravidade
iniciar os primeiros socorros, até a chegada de uma equipe de emergência possibilitando maiores
chances de sobrevivência a mesma.
De acordo com Palmer (1990), tanto o professor como o aluno possuem responsabilidades
relacionadas principalmente com a segurança nas atividades aquáticas, pois, quando não se tem o
devido respeito com a água ela pode ser fatal. Surgindo uma ocorrência ou se alguém estiver em
perigo, devem estar sempre prontos para enfrentá-la adequadamente, realizando o salvamento
aquático ou aplicando os socorros de urgência.
Desta forma, entende-se que, ao se deparar com uma situação de emergência, tanto o
professor quanto o aluno devem estar preparados para uma possível intervenção, seja ela qual for
desde acionar o socorro especializado, providenciar a retirada da vítima da água, se for o caso, até
mesmo, ser capaz de oferecer os primeiros socorros até que uma equipe de emergência assuma o
controle da situação. Sendo assim entende-se que além do professor de Educação Física, o aluno
também deverá passar por um treinamento específico tornando-se um multiplicador das medidas
preventivas de controle do afogamento.
Atuando como Bombeiro Militar a 14 anos realizamos o atendimento de algumas ocorrências
de afogamentos com a natureza: Resgate de Cadáver em meio Líquido sempre presenciando o
sofrimento das famílias das vítimas que permaneciam no local das buscas até a localização do corpo,
que em alguns casos demorava até dias. Essas experiências profissionais somadas à constatação da
falta de disciplinas no currículo do curso de Educação Física da Universidade Federal de Goiás
(Campus Catalão) que abordem aplicação do atendimento emergencial e da carência de trabalhos
científicos sobre a temática Educação Física e afogamento contribuíram para a escolha do presente
tema e problema, na possibilidade de alcançar por meio da educação, conhecimentos que auxiliem a
diminuição do grande número de mortes.
Preocupados com o aumento dos casos de mortes por afogamentos, consequentemente o
impacto negativo causado na vida da comunidade e da relação direta dessas fatalidades com a
Educação Física e seus profissionais e procurando demonstrar a necessidade de uma capacitação
dos acadêmicos para que possam futuramente através do processo de ensino-aprendizagem
preparar crianças e adultos na prevenção e controle de afogamentos, a realização deste trabalho se
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faz para responder a seguinte pergunta: Qual o papel desempenhado pelo Professor de Educação
Física na prevenção e controle do afogamento?
Portanto, nosso objetivo geral destina-se em analisar as possibilidades de intervenção do
Professor de Educação Física como prevenção de afogamentos em espaços de lazer e
aprendizagem, considerando que o tempo gasto nos procedimentos influencia diretamente no êxito
do atendimento, com isso, estabelecemos os seguintes objetivos específicos:
a) Apresentar os principais procedimentos emergenciais realizados em um acidente de
afogamento;
b) Verificar como o ensino da natação pode contribuir para prevenir afogamentos,
c) Apresentar as principais formas de segurança e prevenção, utilizadas em piscinas, lagos e
rios.
Utilizamos como metodologia a pesquisa bibliográfica de caráter exploratório para fundamentar a
discussão acerca dos procedimentos de Salvamento Aquático e Primeiros Socorros, que de acordo
com Marconi e Lakatos (2003, p.183) “a pesquisa bibliográfica não é mera repetição do que já foi dito
ou escrito sobre o assunto, mas propicia o exame do tema sob novo enfoque ou abordagem,
chegando a conclusões inovadoras”.
Para revisão bibliográfica do presente trabalho utilizamos autores que estudam o Professor
de Educação Física inseridos no ensino da natação e Salvamento Aquático, como Corrêa e Massaud
(2004), Machado (1978), Palmer (1990) e Santana (2003). Utilizamos também as bases de dados
eletrônicos (efdeportes, Google e Revista Brasileira de Ciência do Esporte), livros e revistas
especializadas, periódicos e artigos relacionados ao tema proposto pelo estudo.
Utilizamos para as buscas, as palavras chave descritas em língua portuguesa, como:
“Afogamentos”, “Educação Física e Afogamentos”, “Natação”, “Reanimação Cardio-Pulmonar” e
“Prevenção de Afogamentos”. Das publicações encontradas utilizamos aquelas que fazem referência
á Educação Física e seus profissionais.
Diante a gravidade dos fatos e as consequências advindas do afogamento, o presente estudo
poderá fornecer conhecimentos específicos e necessários para a atuação do Professor de Educação
Física e demais pessoas envolvidas no ambiente aquático, na prevenção e controle dos possíveis
acidentes que ocorrem no meio líquido através de um processo educacional que possibilite a
disseminação para a população em geral.
Para organização do trabalho o estudo foi dividido em tópicos, primeiramente apresentaremos
os conceitos gerais sobre a fisiologia do afogamento, em seguida discutiremos o ensino da natação,
Salvamento Aquático, RCP e prevenção de afogamentos, como conhecimentos do professor de
Educação Física e finalmente apresentaremos as conclusões do trabalho e os caminhos a serem
percorridos para diminuição dos afogamentos.
2. O QUE ACONTECE NO CORPO DURANTE O AFOGAMENTO?
A nova definição adotada de acordo com a American Heart Association (2003) conceitua o
Afogamento, como um processo que resulta em insuficiência respiratória por imersão (gotas de água
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na face) ou submersão (abaixo da superfície do líquido) quando o líquido entra em contato com as
vias aéreas impedindo a respiração da vítima, podendo resultar em morte, a vítima poderá viver ou
morrer após este processo, mas seja qual for o resultado, ele ou ela terá sofrido um incidente de
afogamento, se for resgatada o processo de afogamento é interrompido, denominando afogamento
não fatal, mas se a vítima morre em decorrência do afogamento denomina-se afogamento fatal.
A vítima de afogamento experimenta primeiro o pânico, nesse período ela se debate
violentamente realizando movimentos automáticos, a apnéia reflexa dura de alguns segundos a dois
minutos, dependendo da capacidade física e reações psicológicas de cada indivíduo, podendo ser
acompanhada de uma bradicardia e uma hipotensão arterial, perda de consciência e parada
cardíaca, a apnéia primaria causa o laringoespasmo, que enquanto presente, impede a entrada de
líquido nos pulmões, na sequencia ocorre a apnéia secundária com hipóxia, perda de consciência e
parada cardíaca, perdendo a consciência, uma inundação passiva dos pulmões precede a morte
cerebral, (LÓPEZ,1976).
De acordo com Szpilman (2012) todo o processo de afogamento, da submersão até uma
parada cardíaca pode ocorrer geralmente de segundos a alguns minutos, mas em algumas situações
raras, como afogamento em águas geladas esse processo pode durar até uma hora, se a vítima for
resgatada com vida seu quadro clínico é determinado de acordo com a quantidade de água aspirada,
a aspiração de água salgada ou água doce causam graus similares de lesões, porém, com diferenças
osmóticas, nos dois casos o efeito osmótico na membrana alvéolo-capilar aumenta sua
permeabilidade, essa alteração na membrana se traduz em edema pulmonar, que diminui
principalmente a troca de oxigênio.
Outro acidente que ocorre na água que é pouco conhecido, mas que aumenta
constantemente sua incidência é o “Apagamento”, que segundo Santana (2003), o chamado
apagamento, como ficou conhecido na área de salvamento aquático é um tipo de desmaio provocado
por exercícios de apnéia em submersão, conhecidos como hiperventilação, caso a vítima não seja
resgatada rapidamente o quadro pode evoluir para afogamento. De acordo com a mesma autora
ouvia-se falar em apagamento apenas em mergulhadores de caça subaquática, mas atualmente
estão acontecendo em piscinas, na maioria desses casos o nadador competia consigo mesmo ou
com outros indivíduos para aumentar a distância percorrida debaixo d’água ou a duração da apneia
em submersão.
Segundo Silva (1995); Tafuri (1997); MacArdle (1998), (apud SANTANA, 2003), a
hiperventilação é uma inspiração profunda por várias vezes seguidas, liberando maior quantidade de
dióxido de carbono, baixando assim seu nível e diminuindo o reflexo involuntário da respiração, com
isso, o aviso da necessidade de respirar vem tarde e o individuo “apaga”, ou seja, ocorre uma forma
de desmaio denominada apagamento.
O que torna muito preocupante no afogamento é a rapidez que ocorre e o perigo da morte
iminente, diferente do que se imagina o afogamento é um acontecimento silencioso, pois, o
afogamento só acorre quando as vias aéreas são inundadas pela água, fase que não existe ruídos,
na iminência do afogamento a vítima se debate na água, pode até gritar por socorro, causando
alguma agitação, porém, quando submerge acabam se os ruídos, com a tamanha rapidez que ocorre
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pode não haver alguém próximo ao acidente que perceba tal situação com isso o salvamento pode
não ocorrer.
3. NADAR: UMA DAS FORMAS PARA EVITAR O AFOGAMENTO
Aprender a nadar é regra básica para prevenir acidentes, por não ser um ambiente do homem
essa inadaptação na água pode causar acidentes. Prevenir afogamentos consiste principalmente no
desenvolvimento de programas educacionais e de treinamento em natação nas escolas e clubes
esportivos, lópez (1979); Schawartsman (1983); Silva (1995), (apud SANTANA, 2003).
Segundo Reis (1982, p.07), “O homem, como ser terrestre, respira ar e é bípede na posição
vertical. Para nadar é obrigado a adotar a posição horizontal, utilizando seus braços e pernas como
meios de deslocamento, trocando, portanto, seus hábitos naturais”.
De acordo com a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos – CBDA (2012), nadar é
adquirir a capacidade de deslocar-se na água, obter condições de flutuar e solucionar em cada
momento no meio líquido, as necessidades de equilíbrio, propulsão e respiração.
A hidrografia e o clima tropical brasileiros com predomínio de calor em grande parte do ano
na maioria dos estados inclusive em Goiás, com seus rios, lagos e clubes, incentivam a grande
procura por atividades que envolvam o meio aquático, pois são em geral de fácil acesso e
consideradas atividades de grande aceitação por todas as faixas etárias.
Outro motivo que alavanca a procura por atividades aquáticas é a natação, que atualmente
ocupa um lugar de destaque em nossas vidas, o esporte é um exemplo inquestionável desta
afirmativa, mais ainda, o ato de nadar e as atividades no meio aquático possuem também aplicações
na educação física escolar, no desenvolvimento motor humano, na medicina e em vários outros
campos do conhecimento.
Entendemos que a necessidade do aprender a nadar se faz necessária por vários motivos,
entre eles, a possibilidade de vivenciar práticas corporais no meio líquido e o que consideramos o
mais importante é a capacidade do nadador em uma situação de perigo, ser capaz de realizar o auto-
salvamento ou o salvamento de uma pessoa que está com problemas na água ou até mesmo se
afogando. “Nadar é muito mais que um esporte: significa ter maiores opções de lazer, condições de
se defender em meio aquático e auxiliar na preservação da vida de outras pessoas” (SANTANA, 2003
p. 17).
Neste contexto que envolve a Educação Física e o ensino da natação, os conteúdos de
segurança aparecem como uma alternativa pedagógica para além do modelo desportivo e do ensino
dos estilos de natação, podem também proporcionar uma ferramenta capaz de garantir as medidas
preventivas aplicadas nas aulas de natação, assegurando a confiança necessária nas interações
entre professor e aluno, como esclarece Santana, (2003):
A utilidade do ensino da natação pode ser encarada sob dois pontos de vista. Em primeiro lugar, o professor é cumpridor de um dever moral e social ao transmitir informações que serão úteis quando houver risco de afogamento. Em segundo, ensinar a nadar é presentear o aprendiz com saúde, calor humano e a infinita felicidade de ter conquistado um novo
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elemento, que será um passatempo seguro e dos mais agradáveis. (SANTANA, 2003, p. 41)
Para possibilitar a melhoria do ensino e definir estratégias pedagógicas, privilegiando as
características individuais do aluno, o professor deverá conhecer as motivações que levaram seus
alunos a procurarem as aulas de natação, com isso a chance do sucesso será maior. De acordo com
Corrêa e Massaud (2004), a natação já pode ser desenvolvida na fase de 3 a 6 anos, seu melhor
desempenho é conquistado através de atividades lúdicas e que a natação, “é importante como
exercício de desenvolvimento do corpo, como meio de defesa contra afogamentos ou em operações
de salvamento”. Segundo os mesmos autores, nessa fase os responsáveis colocam seus
dependentes nas aulas de natação, para evitar um futuro afogamento acidental e para melhorar sua
saúde. Já os adultos que entram em aulas de natação, são na maioria solteiros preocupados com a
saúde e condicionamento físico, os homens mais preocupados com a técnica e as mulheres com a
saúde, (SILVA, 2009).
Nadar é uma das formas para evitar o afogamento, porém, devemos enfatizar que, mesmo
sabendo nadar existem outros fatores que podem contribuir para um acidente na água, cabendo ao
nadador conhece-los ou até mesmo evita-los. Alguns nadadores acostumados apenas com piscinas
aventuram-se em águas abertas expondo-se mais ao perigo, (KLEMM, 1982, apud SANTANA, 2003).
Em alguns casos foram constatados traumas graves por mergulho em águas rasas, onde o nadador
salta na água de cabeça e sofre um traumatismo raqui-medular, (SZPILMAN, 2012).
Sinalizamos a prática da natação como um dos itens necessários para a segurança individual
no meio líquido reforçando que saber nadar é uma das formas para evitar um afogamento, porém a
principal é a prevenção.
4. SALVAMENTO AQUÁTICO
Apresentaremos um breve histórico do salvamento aquático no Brasil, uma vez que, a história
completa é tão grande quanto sua importância para sociedade. Em sua pesquisa, Guaiano (2005),
relata que, devido aos altos índices de afogamentos no Brasil, em 1914, o Comodoro Wilbert E.
Longfellow funda o serviço de Salvamento da Cruz Vermelha Americana no Rio de Janeiro, então
capital do país, com o objetivo de treinar guarda-vidas voluntários nos postos de salvamento do Rio
de Janeiro e em todo o país, supervisionando praias desguarnecidas, difundindo o seguinte slogan:
“Toda pessoa deve saber nadar e todo nadador deve saber salvar”.
Em 1917 foi criado o Corpo Auxiliar de Salvamento (CAS), funcionando de forma
improvisada para proteger banhistas, a prefeitura do RJ utilizava os pescadores com seus barcos e
suas experiências no mar com a supervisão efetiva de 2 inspetores e 28 auxiliares para regulamentar
o banho de mar no Leme e em Copacabana, (BASTOS, 1998 apud GUAIANO, 2005). Em 1939 o
serviço foi aperfeiçoado ao agregar o atendimento médico ao serviço salvamento e a construção de
18 torres de salvamento, com 120 guarda-vidas trabalhando na praia com auxilio de barcos
motorizados, ambulâncias e equipe médica equipada com o que havia de mais moderno na época,
(SZPILMAN, 2005 apud GUAIANO, 2005).
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Com o passar do tempo, as atribuições do salvamento aquático tornaram-se atividades
operacionais dos Corpos de Bombeiros de todo o país, como pode ser constatado disposto no artigo
144 da Constituição Federal de (1988), e no artigo 125 da Constituição do Estado de Goiás (1989),
atribuições do Corpo de Bombeiros: inciso II compreende: “a prevenção e o combate a incêndios e a
situações de pânico, assim como ações de busca e salvamento de pessoas e bens”.
Apesar do reconhecimento do serviço prestado pelo Corpo de Bombeiros, tanto na prevenção
como na atuação nos casos de afogamentos, existe a necessidade de uma ampliação de medidas
preventivas e mitigatórias visando a diminuição dos acidentes ocorridos no meio aquático. Esses
objetivos podem ser trabalhados tendo como campo de conhecimento a educação, podendo ser
transmitida pelos professores de educação física nas aulas de natação.
Como visto, aprender a nadar constitui um dos meios para realização do auto-salvamento e
salvamento aquático, para tanto, deve haver um compreensão do professor de natação quanto a
capacidade de cada aluno em realizar os procedimentos necessários em uma situação de perigo real
com a tranquilidade e desprendimento indispensáveis na sua conduta.
Torna-se importante que o professor possua capacitação teórico-prática para incluir em suas
aulas as medidas preventivas de incidentes na água, técnicas de auto-salvamento e manobras de
Salvamento Aquático, partindo deste principio existe o estudo de Guaiano (2004), que sistematiza um
Curso de Extensão Universitária com Ênfase em Salvamento Aquático-CEUSA, onde um dos
objetivos era capacitar os profissionais de educação física no controle de afogamentos. Durante o
curso foram ministradas disciplinas de fisiologia do afogamento, ressuscitação cárdio-pulmonar
(RCP), nado craw, nado de aproximação, nado superfície e submerso, retirada de afogados da
piscina e transportes de afogados chegando a conclusão que o curso apresentou vantagens em sua
aplicação pelo reduzido tempo percorrido e baixo custo operacional.
Ao mencionarmos Salvamento Aquático nos remetemos sempre a figura do salva-vidas, que
é facilmente identificado em seu local de atuação, contudo, utilizaremos nesse trabalho a definição
guarda-vidas no lugar de salva-vidas, por estar definido no conceito de guarda-vidas, como sendo o
profissional responsável pelas atividades de prevenção de acidentes aquáticos e salvamento. De
acordo com Szpilman (2012), Guarda-Vidas de piscinas deve possuir treinamento em salvamento e
emergências aquáticas com carga horária mínima de 55h (15h para Suporte Básico de Vida,
afogamento e uso de equipamentos médicos e 40 h de Salvamento aquático) certificado por uma
instituição reconhecida, com renovação a cada 3 anos, a instituição reconhecida é aquela com
atuação profissional na área de salvamento aquático por mais de 10 anos.
Ocorrendo um acidente com vítima no meio líquido e após esgotada todas as tentativas de
retirá-la por fora da água, será necessário então entrar na água para realizar seu salvamento
retirando a vítima do ambiente hostil e fornecendo cuidados posteriores para restabelecer sua total
integridade física. Sobre Salvamento Aquático, Machado (1978) esclarece que uma pessoa só poderá
tentar um salvamento se tiver todas as condições necessárias para executa-lo, caso o contrario
estará colocando sua própria vida em perigo, entendendo que:
Aprender salvamento é uma obrigação de toda pessoa que sabe nadar, para que possa ser útil quando necessário. Para tanto, deve também conhecer os primeiros
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auxílios a um acidentado e ser capaz de colocá-los em prática em qualquer emergência. Qualquer um pode iniciar o aprendizado assim que tenha perfeito domínio dos movimentos na água, para poder passar por um treinamento específico. (MACHADO, 1978, p.119).
Em situação de emergência que houver necessidade a realização do Salvamento Aquático, o
mesmo pode ocorrer de formas distintas levando em consideração a situação encontrada,
apresentaremos então, alguns tipos de Salvamento Aquáticos que considerados importantes e que
possam servir como inspiração para construção de outros. Basicamente podemos utilizar em águas
paradas dois tipos de salvamentos adequados para o ensino da natação. De acordo com Alvarés
(2006) podemos utilizar o Salvamento Simples e o Salvamento com Equipamentos:
Salvamento Simples: Salvamento caracterizado por um ou dois guarda-vidas sem a utilização de
equipamentos, a entrada na água é executada de forma que a cabeça não afunde mantendo a vítima
no campo de visão caso ela venha a submergir e para evitar um mergulho perigoso em local
desconhecido ou raso, o deslocamento é feito no nado craw, com a cabeça fora da água, para
visualizar a vítima e possíveis obstáculos, a abordagem da vítima é feita por trás para evitar que ela
agarre o guarda-vidas, que em seguida realiza o reboque da vítima até a margem e a retira da água.
Salvamento com Equipamentos: Salvamento realizado por um ou mais guarda-vidas com a
utilização de equipamentos de salvamentos, como boias, pranchas, flutuadores, cordas e outros que
podem ser construídos ou confeccionados. O principio deste salvamento e caracterizado pela ação
de arremessar o equipamento para a vítima ou levá-lo até a mesma, puxando ou rebocando a vítima
para a margem.
Fases do Salvamento Aquático, de acordo com Palmer (1990):
Figura 01: Aproximação da vítima
Fonte: ilustração do autor
•Após realizar a entrada na água, observando os fatores de segurança, como profundidade e
obstáculos, o Nadador de resgate3, desloca-se em direção à vítima, com a cabeça fora da água, sem
perdê-la do campo de visão.
3 Nadador responsável pelo salvamento aquático
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Figura 02: Mergulho
Fonte: ilustração do autor
•Quando estiver próximo a vítima, o Nadador de resgate realiza um mergulho em sua direção.
Figura 03: Posicionamento da vítima
Fonte: ilustração do autor
•Encontrando a vítima de frente, o Nadador de resgate deve realizar um giro de 180° no corpo da
mesma facilitando seu posicionamento.
Figura 04: Reboque
Fonte: ilustração do autor
•Nesta fase o Nadador de Resgate posicionara-se lateralmente à região posterior da vítima, elevando
sua cabeça para fora da água com uma das mãos, sustentando seu queixo, rebocando a mesma até
a margem e retirando-a da água. No reboque o nadador de resgate impulsiona-se pelas pernas e um
dos braços.
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Figura 05: Salvamento com Equipamentos
Fonte: Santana (2003, p.107)
Figura 06: Salvamento com Equipamentos
Fonte: Santana (2003, p. 108)
Após a retirada da vítima de dentro da água existe a necessidade de uma avaliação rápida
para definir qual o tratamento deverá ser dispensado a mesma, pois existe a possibilidade de
complicações respiratórias ou uma parada cárdio-respiratória.
5. CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE RESSUSCITAÇÃO CÁRDIO-PULMONAR.
Segundo a American Heart Association (2012) destacam-se os seguintes acontecimentos na
história da RCP: em 1740 a Academia de Ciências de Paris recomendou oficialmente a respiração
boca-a-boca, para vítimas de afogamento, em 1767 a Sociedade Americana para a Recuperação de
Pessoas Afogadas, tornou a RCP, o primeiro esforço organizado para lidar com a morte súbita e
inesperada, em 1954 James Elam foi o primeiro a demonstrar que o ar expirado foi suficiente para
manter a oxigenação adequada para a vítima, a partir 1960 a RCP vem sendo disseminada pela
sociedade médica e para a população em geral, finalmente, em 2010, no 50º aniversário da RCP, a
American Heart Association, define novas diretrizes para sua utilização.
A Ressuscitação Cardío-Pulmonar, também conhecida como massagem cardíaca e
respiração boca-a-boca são manobras emergenciais efetuadas em uma vítima que sofrera parada
cardíaca e/ou parada respiratória, com o objetivo de reestabelecer os movimentos cardíacos e
respiratórios, devolvendo a vida para a mesma. A RCP pode ser executada em uma vítima de
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afogamento e oferecer resultados eficientes, desde que, a vítima receba atendimento em tempo hábil,
seja retirada da água e iniciados os procedimentos.
As aplicações da RCP, geralmente podem ser utilizadas em todas as vítimas em situações de
parada cárdio-respiratória, contudo, em vítimas de afogamento existem recomendações específicas,
que serão apresentadas posteriormente nesse trabalho.
Segundo Rodrigues, 1973 (apud SANTANA, 2003), após cinco minutos de parada
respiratória, apenas 25% das vítimas podem ser completamente recuperadas, não sendo possível
transportá-la em tempo hábil, a emergência terá que ser resolvida no próprio local. O Socorrista, ao
identificar uma vítima que não responde, não respira ou esta com “gasp” agônico (respiração de um
agonizante) deverá realizar os procedimentos de RCP segundo as particularidades entre vítima
adulta e vítima criança, de acordo com o Protocolo Para Suporte Básico de Vida, CBMGO (2011):
Quando a vítima estiver inconsciente é necessário verificar se suas vias aéreas estão
desobstruídas, inicialmente observando os movimentos respiratórios, em seguida ouvindo os sons da
respiração aproximando-se a cabeça da vítima e sentindo se o ar está sendo expelido, conforme
figura 07:
Figura 07: Verificando a inconsciência da vítima
Fonte: Santana (2003, p. 126)
Caso a vítima não respire deve-se executar a respiração boca-a-boca, efetue duas
ventilações, cada ventilação administrada em 1 segundo produzindo elevação torácica, em seguida,
ventile uma vez a cada 5 segundos para vítima adulta, a cada 3,4 ou 5 para (crianças de 1 ano até a
adolescência), dependendo da idade da criança e a cada 3 segundos para bebês. Cheque o pulso da
vítima a cada 2 minutos, conforme figura 08, na ausência de pulso inicie as compressões torácicas:
Figura 08: verificando o pulso da vítima
Fonte: Santana (2003, p. 129)
13
Vítima Adulta:
• Inicie o atendimento primeiramente com as compressões torácicas e respiração boca-a-boca na
proporção de 30 compressões. As compressões torácicas devem ser rápidas e fortes, executadas
com os braços estendidos, mãos espalmadas e sobrepostas no centro do tórax da vítima, na
proporção não inferior à 100 compressões por minuto e o tórax deve ser comprimido com no mínimo
5 cm de profundidade deixando que o mesmo retorne a posição inicial antes de uma nova
compressão;
• Após as 30 compressões, o socorrista deve abrir as vias aéreas e ventilar a vítima por duas vezes
(boca-a-boca), com duração de 1 segundo, causando elevação visível do tórax. Caso houver suspeita
de lesão cervical na vítima, o processo de liberar as vias aéreas deve ser feito com cuidado para não
agravar as lesões;
• Realizar 7 ciclos de 30 compressões para 2 ventilações num tempo aproximado de 2 minutos;
• A cada 7 ciclos (2) minutos, o socorrista deverá checar o pulso carotídeo (artéria carótida), e se
possível inverter ou trocar o socorrista, devido a tarefa exaustiva das compressões.
• Caso não houver pulso, continuar a RCP, até a chegada do serviço de emergência.
A cada minuto a vítima terá recebido aproximadamente 100 compressões torácicas e 8
ventilações, o objetivo consiste em fornecer os sinais vitais o mais próximo possível do normal.
As figuras seguintes demonstram passo a passo, como localizar o local correto para
realização das compressões torácicas, a posição das mãos e a posição do socorrista.
Figuras 09 e 10: Posicionamento das mãos para RC
Figura 09 Figura 10
Fonte: Marimar (1999) http://www.marimar.com.br/resgate/manual/8043.htm
Figura 09- A vítima deverá ser colocada em decúbito dorsal, em local rígido, para localizar o ponto
das compressões, o socorrista deverá encontrar a última costela do lado direto e em sentido
ascendente de sua mão, encontrar o processo xifoide.
Figura 10- O processo Xifoide é uma cartilagem que forma a extremidade inferior do osso esterno.
Quando o socorrista encontrar o processo xifoide, a partir dele deverá medir dois dedos acima.
14
Figuras 11 e 12: posicionamento das mãos para RCP.
Figura 11 Figura 12
Fonte: Marimar (1999), http://www.marimar.com.br/resgate/manual/8043.htm
Figura 11- Acima dos dois dedos é a posição exata para realização das compressões, imediatamente
acima coloca-se a palma de uma das mãos.
Figura 12- Coloca-se a palma de uma das mãos, em seguida coloca a outra mão sobreposta, com os
dedos entrelaçados fazendo uma leve tração para trás.
Figuras 13 e 14- Massagens Cardíacas e Respiração Boca-a-boca
Figura 13 Figura 14
Fonte: Marimar (1999), http://www.marimar.com.br/resgate/manual/8043.htm
Figura 13- O objetivo das compressões torácicas é reproduzir os batimentos cardíacos e manter a
circulação sanguínea, devendo comprimir o tórax no mínimo 5 cm. de profundidade.
Figura 14- O socorrista ajoelha-se ao lado da vítima, seus brações devem estar estendidos e seu
tórax realiza movimentos oscilatórios de cima para baixo mantendo os braços estendidos.
Importante: Segundo o Protocolo para Suporte Básico de Vida (2011), caso houver dois socorristas
atendendo a vítima os dois ficarão um de cada lado da mesma, sendo um deles o responsável pelas
compressões torácicas (30 vezes) e o outro pelas ventilações boca a boca (2 vezes), ao completar 7
15
ciclos de 30 compressões torácicas por 2 ventilações (30X2), e caso da vítima não retornar os sinais
vitais (pulso e respiração), os socorristas devem inverter as funções, sem com isso inverter as
posições. Quem estava realizando as compressões passa a ventilar e quem estava ventilando passa
a realizar as compressões.
Vítima (criança de 1 ano até o início da adolescência)
Os procedimentos de RCP para crianças de 1 ano até início da adolescência são realizadas
conforme a de adulto, com as algumas observações:
• As compressões torácicas devem ser executadas com apenas uma das mãos sobre o esterno, na
linha inter-mamilar, comprimindo o tórax aproximadamente um terço do seu diâmetro ântero-posterior.
• Devem ser executadas 15 compressões torácicas por 2 ventilações boca-a-boca.
• Realizar no mínimo 14 ciclos em 2 minutos para manter 100 compressões por min.
• Ao final dos 14 ciclos verificar pulso, se for o caso alternar os socorristas.
Vítima (bebê até 1 ano/ exceto neonato)
Os procedimentos de RCP para bebês são realizadas com as seguintes observações:
• As compressões devem ser executadas com os dois polegares um pouco abaixo da linha inter-
mamilar, o restante dos dedos devem comprimir o tórax do bebê posteriormente.
• Devem ser executadas 15 compressões torácicas por 2 ventilações.
• Realizar no mínimo 14 ciclos em 2 minutos para manter 100 compressões por min.
• As ventilações devem produzir elevação visível do tórax, devendo sempre verificar o pulso braquial
ou femoral.
No caso de vítima de afogamento existe também a necessidade de retirá-la da água com
segurança de preferência utilizando equipamentos para que o socorrista não precise entrar na água.
Segundo Cruz (2006), o primeiro e mais importante tratamento para uma vítima de afogamento é a
respiração/oxigenação, o início imediato da ventilação de resgate aumenta sua chance de
sobrevivência, devendo ser iniciada tão logo abra as vias aéreas da vítima, a tentativa de retirada de
água das vias aéreas é desaconselhável e perigosa, a maioria das vítimas aspiram apenas pequena
quantidade de água.
Os procedimento de RCP demonstrados são utilizados em todos os casos de parada cárdio-
respiratória, iniciando-se com as 30 compressões e posteriormente as 2 ventilações, porém, segundo
Szpilman (2012), a parada cardíaca do afogamento é devido, principalmente, a falta de oxigênio, por
esse motivo inicia-se a RCP com 5 insuflações seguidas de 30 compressões, posteriormente
continua com 2 ventilações e 30 compressões. As 5 ventilações iniciais em vez de 2, são
recomendadas porque 2 podem ser menos eficientes, pois a água nas vias aéreas pode interferir com
a expansão pulmonar. O vômito de conteúdo gástrico é comum em casos de RCP em afogado, o que
dificulta manter as vias aéreas livres, caso aconteça, vire a boca da vítima para o lado e remova o
conteúdo com o dedo ou com um pano, (CRUZ, 2006).
16
6. CLASSIFICAÇÃO DO AFOGAMENTO E TRATAMENTO DO AFOGADO
De acordo com Szpilman (2012), a classificação do afogamento foi estabelecida para facilitar
a definição da gravidade, fornecer o tratamento mais apropriado, orientar quando chamar uma
ambulância e quando chamar um médico. Segundo o mesmo autor, a classificação de afogados foi
criada em 1972 por médicos e guarda-vidas, foi atualizada em 1997 com base no estudo de 41.279
casos sendo o grupo final de 1.831 casos atendidos por médicos que considerou apenas os
parâmetros clínicos e adaptou a classificação para uma linguagem simples, foi reavaliada em (2001)
por um estudo de 10 anos com 46.060 casos de resgate dentre os quais 930 foram atendidos por
médicos do Centro de Recuperação de Afogados-CRA no Rio de Janeiro.
O tratamento específico destinado a cada grau de afogamento compreendido entre os graus
de 1 a 6 garantem a eficiência no atendimento à vítima de afogamento fornecendo o suporte básico
de vida necessário e indicando o melhor destino para a mesma. A classificação baseia-se no
comprometimento da função respiratória da vítima e está ligada diretamente a quantidade de água
aspirada, portanto a classificação do afogado deve ser realizada no local do acidente fornecendo
dados para o tratamento emergencial.
A classificação do afogamento inicia-se com a situação de menor gravidade e gradativamente
alcança a de maior gravidade compreendidos entre Resgate e Graus de 1 à 6, definidos de acordo
com Szpilman (2012):
RESGATE: Vítima retirada da água que não apresenta tosse ou espuma na boca e nariz -
Mortalidade 0%, vítima pode ser liberada no local por não necessitar de atendimento médico.
GRAU 1: Vítimas apresentam tosse por ingerir quantidade mínima de água, não apresentam
espuma na boca e nariz normalmente estão cansadas, frequência cardíacas-FC e frequência
respiratórias-FR aumentadas devido ao esforço físico causado pelo afogamento que se normaliza de
10 a 20 min. – Mortalidade 0%, forneça repouso, aquecimento e tranquilização, usualmente não há
necessidade de administrar oxigênio ou atendimento médico.
GRAU 2: Vítimas aspiram pequena quantidade de água, o que altera as trocas de O2 e CO2
pulmonar causando um secreção no pulmão de cor clara a ligeiramente avermelhada que se
apresenta como pequena quantidade de espuma na boca e nariz, podem estar lúcidas, agitadas ou
desorientadas, a FC aumentada por redução de oxigênio no sangue, e FR aumentada pela falta de ar
– Mortalidade 0.6%, forneça oxigênio a 5 litros/min., repouso, aquecimento e tranquilização, coloque
a vítima na posição lateral de segurança sob o lado direito, providencie atendimento médico e
observação hospitalar por 6 a 48 horas.
GRAU 3: Vítimas que aspiram grande quantidade de água e apresentam importantes
alterações nas trocas gasosas com grande dificuldade respiratória e grande quantidade de espuma
na boca e nariz com pulso radial palpável – Mortalidade 5.2%, forneça oxigênio a 15 litros/min. via
máscara facial, coloque a vítima na posição lateral de segurança sob o lado direito com a cabeça
elevada acima do tronco, acione ambulância para transporte hospitalar (CTI);
GRAU 4: Vítimas com grande quantidade de espuma na boca e nariz, sem pulso radial
palpável – Mortalidade 19.4%, forneça oxigênio a 15 litros/min. observe a respiração com atenção,
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pois pode haver parada, coloque a vítima na posição lateral de segurança sob o lado direito, acione
ambulância urgente para melhor ventilação e infusão venosa de líquidos e internação em hospital
com urgência.
GRAU 5: Vítimas inconscientes com parada respiratória isolada – Mortalidade 44%, inicie
imediatamente a ventilação artificial de emergência, com 12 a 20 ventilações por minuto, com
oxigênio a 15 litros/min. até retorno espontâneo da respiração checando o pulso regularmente. Obs:
caso o guarda-vidas não disponha de equipamentos de ventilação artificial, deve dar continuidade na
respiração boca-a-boca de 12 a 20 por minuto, após retornar a respiração trate como GRAU 4;
GRAU 6: Vítima com parada cárdio-respiratória – Mortalidade 93%, de acordo com o novo
procedimento contido em Szpilman (2012), inicie a RCP com 5 ventilações e 30 compressões
torácicas, pois a parada cardíaca do afogamento é devido, principalmente, à falta de oxigênio,
continuando com 2 ventilações e 30 compressões no tórax da vítima em decúbito dorsal em uma
superfície rígida até retorno das funções vitais ou a chegada de uma ambulância, utilize desfibrilador
automático se houver, não comprima o abdome da vítima, pois, em 86% dos casos provoca vômitos,
que, uma vez, nas vias aéreas resulta em lesão por aspiração e agrava as trocas gasosas. Obs.: A
RCP deve ser utilizada sempre que a submersão for menor que 1 hora ou tempo desconhecido e
vítima com parada cárdio-respiratória sem rigidez cadavérica ou decomposição corporal. Após obter
êxito na RCP, a vítima deve ser acompanhada com cuidado, pois, existe a possibilidade de outra
parada dentro dos primeiros 30 minutos, trate como de GRAU 4.
Figura 15- Classificação do Afogado
Fonte: Szpilman (2012)
18
7. PREVENÇÃO
Existe um consenso na sociedade de que “prevenir é melhor que remediar”, no caso do
afogamento a prevenção pode ser a diferença entre a vida e a morte. A prevenção do afogamento
são medidas que visam a extinção ou minimização dos acidentes aquáticos através de um conjunto
de normas de conduta, onde, basicamente são destinadas a conscientização, proibição ou formas de
utilização para determinados ambientes, onde se exercem atividades aquáticas.
Uma das formas de prevenção de afogamentos utilizada no Estado de Goiás é empregada
pelo Corpo de Bombeiros, que anualmente realizam as Operações Carnaval, Semana Santa e Férias,
deslocando sua estrutura operacional até lagos e rios, que nesses períodos recebem grande
quantidade de banhistas, atuam na conscientização dos banhistas na fiscalização de embarcações e
nas atividades de Salvamento Aquático.
Segundo as estatísticas do Corpo de Bombeiros (2012), 95% dos afogamentos ocorrem em
áreas particulares, quase todas as mortes poderiam ter sido evitadas e a causa normalmente é por
imprudência da própria vítima ou de alguém que a acompanhava.
A criança é a maior vítima do afogamento, sua condição, a deixa fragilizada, não sendo capaz
de reconhecer o perigo e em muitas situações não possui o controle corporal suficiente para se auto-
salvar, são totalmente dependentes dos pais ou responsáveis. É notória a atração da criança pela
água, sempre fazem a associação com momentos alegres de banhos e brincadeiras, porém, basta
um descuido e poucos centímetros de água para haver um afogamento, diversos casos já foram
registrados onde crianças morreram afogadas em baldes de água dentro de sua própria casa.
Segundo Corpo de Bombeiros (2012), uma Unidade de Resgate, atendeu uma ocorrência no
mês de Julho de 2012 na cidade e Catalão/Go, onde uma criança de 15 meses de vida se afogou em
um balde de água que sua mãe utilizava para faxina da residência, quando a criança foi encontrada
pela mãe, não respirava e não tinha pulso, como as pessoas próximas não sabiam como agir, a mãe
pegou a criança nos braços e saiu na rua pedindo ajuda, uma médica que estava próxima ao local
percebeu a situação e prestou os primeiros socorros, quando os Bombeiros chegaram ao local, a
criança já possuía batimento cardíaco e respiração, devido ao atendimento rápido e eficiente da
médica, sendo assim, os Bombeiros somente transportaram a criança para o hospital para avaliação
médica.
Outra situação que ocorre também com crianças pode ser observada nos clubes com
piscinas, onde os pais possuem a errônea ideia que os guarda-vidas são responsáveis por tudo que
sua criança venha fazer durante sua permanência no clube e simplesmente deixam as crianças por
conta dos guarda-vidas que por sua vez tem um desvio de função e uma impossibilidade para
realização do serviço, pela quantidade de pessoas dependendo de sua atenção.
Existem algumas discussões que defendem a inclusão de aulas de primeiros socorros no
ensino infantil, na perspectiva de capacitar gradualmente a população a prestar atendimentos quando
necessários principalmente no ambiente doméstico. Entendemos que o professor de educação física
na escola seria a melhor escolha para ministrar as aulas e primeiros socorros por conter em seu
19
currículo de formação conhecimentos de anatomia fisiologia entre outras relacionadas ao corpo
humano.
Apesar da incidência de afogamentos ser maior em crianças, os casos ocorrem em todas as
faixas etárias e podem ainda apresentar fatores que agravam a situação, além do afogamento
existem também várias outras injúrias que podem acometer as pessoas em um ambiente aquático
como contusões, cortes, hemorragias, escoriações, fraturas, incidentes com animais e ferimentos de
diversas naturezas, somando a tudo isso existe também o traumatismo raqui-medular, que pode
ocorrer quando a pessoa mergulha de cabeça em águas rasas, nesse caso em específico, além da
lesão grave sofrida, que pode matar, a vítima corre risco iminente de afogamento, em Perfil
Epistemológico do Afogamento no Brasil, Szpilman (2012), relata que, no período de Janeiro de 2003
a Dezembro de 2007, ocorreram no Brasil 2.923 casos de lesões na coluna cervical, por mergulho em
águas rasas, destes, 321 morreram.
8. INTERVENÇÃO DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA NA PREVENÇÃO DE
AFOGAMENTOS.
Não podemos mais aceitar os afogamentos apenas como fatalidades, temos a oportunidade e
o dever de fazer algo concreto no que concerne prevenir e atuar nos casos de afogamentos ou
demais incidentes no meio aquático. O professor de Educação Física exerce uma função fundamental
na segurança de seus alunos, devendo estar sempre atento e preparado para auxiliá-los a enfrentar
uma situação de perigo.
De acordo com Guaiano (2004) em um estudo realizado com profissionais da Educação
Física com graduados e graduandos, verificou-se que 80% dos pesquisados consideram o
Salvamento Aquático um nado com dimensões utilitárias, porém 90% não conseguiam indicar
qualquer obra de natação de importância para o Salvamento Aquático. Uma das hipóteses levantadas
é a carência de trabalhos científicos acerca do tema em questão, fato que confirmamos com a
realização deste artigo, contudo em outro trabalho de Guaiano (2005), dos profissionais de educação
física, 95% gostariam de realizar cursos nessa área, fato que poderá ser útil para a adesão dos
professores em programas educacionais sobre Salvamentos Aquáticos na graduação ou na vida
profissional.
Os afogamentos são mais frequentes em crianças principalmente as menores de 10 anos
(SZPILMAN, 2012). Justamente a faixa etária que compreende a idade ideal para inicio da natação
na perspectiva de aprendizagem dos procedimentos de auto-salvamento e salvamento aquático
dentro das aulas de natação, de acordo com Correia e Massaud (2003), uma criança de 3 anos não
está preparada para o ensino dos quatro nados nem para competição, contudo o aprendizado da
natação nesta faixa etária pode evitar vários acidentes no meio líquido.
Uma estratégia pedagógica observada na revisão bibliográfica que comprovou sua eficiência
utilizada em crianças é a aplicação do auto-salvamento utilizando a flutuação vertical, horizontal e o
20
palmateio4, como técnicas de sobrevivência. Apesar das técnicas de sobrevivência não serem
comuns nas aulas de natação, estudos demonstram que os alunos as realizam com facilidade,
podendo o professor utilizar métodos lúdicos para sua aprendizagem. “Esses achados sugerem que o
ensino do auto-salvamento pode colaborar na prevenção de afogamentos na medida que gera
confiança no aluno para permanecer mais tempo flutuando em situação de risco de vida”
(VASCONCELOS e SANTOS, 2004).
A flutuação ou sustentação na água deve ser adquirida pelo aluno como forma de
sobrevivência através de treinamentos específicos, de acordo com Palmer (1990) a flutuação é
definida como estar dentro da água sem mover-se para nenhum dos lados, os membros
movimentam-se relaxados criando um impulso para cima, auxiliando a manutenção da flutuação do
nadador. “Esta habilidade pode ser classificada como sendo uma das habilidades essenciais de
sustentação e segurança na água” (PALMER, 1990, p. 214).
Conceituada como uma técnica de sobrevivência a flutuação deve ser aplicada como
treinamento sempre que se propõe aulas de natação na perspectiva de se evitar acidentes. De
acordo com Santana (2003) a flutuação de costas onde o nadador mantem sua face fora da água
quando bem executada pode ser utilizada em caso de cãibra e facilita a respiração quando se está
cansado realizando o menor movimento possível.
Machado (1978) considera que o treino para o salvamento deve incluir o equilíbrio dentro da
água verticalmente usando as pernas e os braços, nadar de costas com os braços paralisados e
pernadas do nado craw, nadar de costas com um só braço e as pernas em tesoura e nadar de lado
com um só braço.
Das literaturas pesquisadas: Machado (1976); Palmer (1990) e Santana (2003), para a
realização das atividades de Salvamento Aquático com segurança, tanto para uso em uma situação
de emergência, quanto para o processo de ensino-aprendizagem devem obedecer algumas etapas.
Das etapas descritas em cada obra, encontramos quatro delas que são comuns em todas:
1º- Aproximação: Nadar com a cabeça fora d’água, mantendo a vítima em seu campo visual,
para caso ela afunde o socorrista saiba o local exato, a aproximação da vítima de afogamento deve
ser realizada pelas costas para evitar o “agarramento”.
2º- Desvencilhamento: Se a aproximação não for correta o nadador é agarrado pela vítima,
expondo os dois ao perigo, por esse motivo o nadador deve ser capaz de libertar-se da vítima para
depois socorrê-la;
3º- Transporte: Compreende o deslocamento da vítima até a margem utilizando o nado de
reboque, mantendo a vítima em decúbito dorsal;
4º- Primeiros Socorros: Depois de retirar a vítima da água, realiza-se o atendimento
emergencial até a chegada do serviço de atendimento médico.
De acordo com Machado (1976), para empreender uma tentativa de salvamento o aluno deve
estar em condições físicas adequadas, utilizando essas etapas como fases do treinamento que
devem ser executadas assim que o aluno tenha perfeito domínio dos movimentos na água.
4 O Palmateio constitui-se num movimento oscilatório ou bilateral produzido numa propulsão constante. (PALMER, 1990).
21
Nesse sentido acreditamos que o professor deve iniciar a aprendizagem das técnicas de
sobrevivência tão logo o aluno inicie as aulas de natação com o objetivo de prevenir-se de um
possível acidente, de acordo com Palmer (1990) o aluno necessita aprender primeiramente as
técnicas de sobrevivência adquirindo assim a capacidade de nadar e flutuar com o mínimo possível
de movimentos dos membros economizando energia e mantendo-se vivo caso ocorra uma situação
extrema. De acordo com o mesmo autor as etapas descritas acima são habilidades básicas de
segurança adquiridas através de treinamento.
Segundo Santana (2003), em uma situação de afogamento, se possível a vítima deve ser
alcançada da margem com a mão ou outro objeto como uma toalha, corda ou bastão, ou então
lançando algum objeto flutuante para a vítima agarre evitando assim o risco de entrar e sofrer o
mesmo infortúnio na água, somente esgotados todos os recursos para salvamento fora da água a
entrada na piscina, lago, rio ou mar deve ser executada. A rapidez é fundamental no atendimento à
vítima, pois a parada cardíaca pode ocorrer de segundos a alguns minutos após a submersão.
A 4ª e última etapa do Salvamento Aquático destina-se nos atendimentos de primeiros
socorros prestados a vítima logo após sua retirada da água, de acordo com Szpilman (2012) a
utilização da Classificação dos Afogamentos definem a gravidade e o tipo de tratamento perante uma
vítima de afogamento, fornecendo assim o tratamento necessário para sua melhor reabilitação,
devendo assim ser aplicada sempre.
Sempre que for constatado que a vítima apresenta Parada Cardio-Respiratória, as manobras
de reanimação (RCP) devem ser iniciadas imediatamente e ser interrompidas apenas quando obtiver
êxito ou quando uma equipe de emergência assumir a responsabilidade.
Numa emergência, a ação rápida e correta é muito importante. O socorro imediato, os primeiros cuidados e a ressuscitação oferecem as melhores oportunidades de sobrevivência para as vítimas de afogamentos. Assim, todos (professores de educação física, usuários de piscinas em geral, proprietários de imóvel com piscina etc.) devem conhecer as técnicas necessárias para intervir no caso de um acidente. (SANTANA 2003l. p.103)
Pela rapidez exigida no atendimento quanto mais pessoas envolvidas com o meio aquático
conhecerem as técnicas de RCP, aumentaremos também a possibilidades de mais vidas serem
salvas. Existe uma grande disponibilidade de cursos na área de primeiros socorros, no caso
especifico das técnicas de reanimação as diretrizes internacionais aconselham sua aplicação até para
leigos no assunto diante uma emergência, “traz mais malefícios demorar no inicio do atendimento
(ressuscitação), do que iniciar RCP em uma vítima com batimentos – na duvida RCP”. (PROTOCOLO
PARA SUPORTE BÁSICO DE VIDA DO CBMGO, 2011). Com isso não há justificativas para um
professor não estar capacitado para prestar a RCP.
Os procedimentos emergenciais para atendimentos de acidentes ocorridos no meio líquido
apresentados no trabalho não necessitam de grandes investimentos ou a utilização de grandes
estruturas educacionais, por esses motivos e por sua importância na atenção imediata à vítima, seu
estudo e treinamento podem ser facilmente disseminado para a população envolvida. De acordo com
Machado (1978) toda pessoa pode aprender salvamento na água, desde que tenha perfeito domínio
dos movimentos, para depois realizar um treinamento especifico.
22
De acordo com Guaiano.(2004) os profissionais de Educação Física como produtores de
cultura podem contribuir para controle do afogamento disseminando para a população ações de
prevenção e resgate na água.
No contexto escolar o professor de Educação Física possui as ferramentas que possibilitam
criar projetos educacionais que envolvam os alunos e a comunidade em geral acerca das medidas
preventivas de controle do afogamento, podendo, por exemplo, convidar o Corpo de Bombeiros para
fazer parte, de acordo com o próprio órgão, cursos de prevenção e salvamento aquáticos são
disponibilizados para a comunidade em geral.
9. CONSIDERAÇÕES FINAIS
No desenvolvimento do trabalho buscamos através da revisão bibliográfica analisar o papel
do professor de Educação Física na prevenção e controle do afogamento. Nesse sentido concluímos
que além da atuação direta no atendimento de uma emergência no meio líquido, realizando os
socorros de urgência, como Salvamento Aquático e Reanimação Cárdio-Pulmonar, o professor de
Educação Física deve explorar a importância das atividades físicas na promoção e divulgação de
medidas preventivas que visam a diminuição e controle dos casos de afogamentos.
Na ocorrência de afogamento utilizam-se as técnicas de Salvamento Aquático para retirada
da vítima de dentro da água com segurança e os procedimentos de primeiros socorros aplicando
quando necessário a Reanimação Cárdio-Pulomonar, até a chegada de uma equipe de emergência.
Percebemos que existe uma carência de trabalhos científicos que se destinam no estudo da
Educação Física envolvida nesse processo de prevenção e redução de afogamento através das
atividades aquáticas, talvez um dos motivos da falta de disciplinas que abordem essa temática em
algumas instituições de ensino.
Entendemos que é de fundamental importância para o professor de Educação Física e o
aluno de natação a necessidade em conhecer as técnicas de Salvamento Aquático e os
procedimentos de RCP por constituírem conteúdos comprovadamente eficientes, viáveis e
exequíveis, bem como utilizar a prevenção como melhor forma de evitar afogamentos.
O professor de Educação Física envolvido nas aulas de natação possui a responsabilidade
de incluir em suas aulas, técnicas de sobrevivência e auto-salvamento, com isso oferecer aos alunos
maiores condições de enfrentar os perigos existentes na água.
Como as crianças são as maiores vítimas dos afogamentos aconselha-se que a partir dos
primeiros anos iniciem o aprendizado da natação em ambientes e profissionais qualificados e sempre
que houver crianças em ambientes aquáticos de aprendizagem ou de lazer devem receber
supervisão de adultos de forma continua e sem lapsos de tempo.
Sempre que entrar na água utilizar equipamentos de segurança, caso presenciar um
afogamento procure retirar a vítima sem entrar na água. Nunca mergulhar (de cabeça) em local
desconhecido, pode ser águas rasas.
Enfim devemos encarar a prevenção como principal forma para evitar afogamentos, não
aceitar que o afogamento acontece de forma acidental e ter a certeza que ele pode ser evitado.
23
10-RECOMENDAÇÕES
De acordo com Szpilman (2012) em consenso com especialistas na área de salvamento
aquático e Diretores da Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático foram estabelecidas
recomendações preventivas quanto ao uso de piscinas particulares e medidas gerais:
PISCINAS DE USO PARTICULAR (residências)
Coloque grades de 150 cm de altura e espaço < 12 cm na vertical ou murada com porta de
autofechamento e travamento. O impedimento ao livre acesso reduz o afogamento em 70%.
Não permita acesso a piscina para crianças menores de 9 anos desacompanhadas.
Pais ou responsáveis devem ter 100% de supervisão com crianças menores de 5 anos ou
que não saibam nadar.
Evite brinquedos próximos à piscina, isto atrai as crianças.
Desligue o filtro da piscina em caso de uso.
Não pratique “prender o fôlego” ou “travessias submersas” sem supervisão confiável.
Não permita mergulhos de cabeça em locais com profundidade < 1,8m - coloque aviso.
MEDIDAS GERAIS DE PREVENÇÃO EM PISCINAS
A segurança na água provida por guarda-vidas não substitui a supervisão dos pais ou
responsáveis.
Mantenha 100% de supervisão em crianças perto ou dentro da água. 89% dos afogamentos
ocorrem por falta de supervisão, principalmente na hora do almoço.
Caso necessite afastar-se da piscina leve sempre sua criança.
Evite brinquedos próximos à piscina, isto atrai as crianças.
Ensine a flutuação a partir de 1 ano e a nadar a partir dos 4 anos de idade.
Não pratique “prender o fôlego” ou “travessias submersas” sem supervisão confiável.
Não utilize boias ou flutuadores, prefira um colete salva-vidas.
Desligue o filtro da piscina em caso de uso.
Evite o choque térmico (Hidrocussão) - Antes de entrar na água, molhe a face e a nuca.
Cuidado ao mergulhar em local raso, pessoas ficam paraliticas desta forma!
A maioria das pessoas não sabe realizar os primeiros socorros - Aprenda!
(SZPIMAN, 2012)
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11- REFERÊNCIAS
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