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7/23/2019 Anna Cecilia
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UNIVERSIDADE DE SO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CINCIAS HUMANAS
ANNA CECLIA DE PAULA CRUZ
Metforas orientacionais e ontolgicas na ampliao semntica de quatro razes
hebraicas
So Paulo2010
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ANNA CECLIA DE PAULA CRUZ
Metforas orientacionais e ontolgicas na ampliao semntica de quatro razes
hebraicas
Dissertao apresentada rea de Lngua Hebraica, Literatura eCultura Judaicas, do Departamento de Letras Orientais daFaculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas daUniversidade de So Paulo para obteno do ttulo de Mestreem Letras.
rea de concentrao: Lngua hebraica, Literatura e CulturaJudaicas. Orientadora: Prof. Dr. Eliana Rosa Langer
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FOLHA DE APROVAO
Nome: CRUZ, Anna Ceclia de PaulaTtulo: Metforas orientacionais e ontolgicas na ampliao semntica de quatro razeshebraicas
Dissertao apresentada Faculdade de Filosofia, Letras eCincias Humanas da Universidade de So Paulo para obtenodo ttulo de Mestre em Letras.
Aprovado em:________/_________/_________.
Banca Examinadora
Prof. Dr._________________________Instituio:____________________________
Julgamento:_______________________Assinatura:____________________________
Prof. Dr.__________________________Instituio:____________________________
Julgamento:_______________________Assinatura:____________________________
Prof. Dr.__________________________Instituio:____________________________
Julgamento:_______________________Assinatura:____________________________
Prof.(a). Dr.(a)_____________________Instituio:_____________________________
Julgamento:_______________________Assinatura:_____________________________
Prof. Dr.__________________________Instituio:____________________________
Julgamento:_______________________Assinatura:____________________________
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Aos meus pais, Benedito (in memoriam)e Maria Conceio,com todo amor e carinho.
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AGRADECIMENTOS
A Deus que alimentou e alimenta minha vida com sade, boa vontade e perseverana.
Prof. Dr. Eliana Rosa Langer, minha orientadora, que me acolheu num momento
turbulento, confiou em mim e em meu trabalho, contribuiu de forma especial para meuaprendizado da lngua hebraica e para a realizao desta pesquisa.
Ao Prof. Dr. Reginaldo Gomes que participou indiretamente de vrios momentos da minhapesquisa: primeiro, permitindo que eu assistisse a suas aulas como ouvinte na graduao e,mais tarde, como aluna especial na ps-graduao; segundo, por ter feito parte de minha
banca de qualificao, enriquecendo a discusso sobre o tema desta pesquisa; terceiro,partilhando seus conhecimentos e materiais sempre que precisei. Por fim, por ter contribudode forma to dedicada e solcita a todas as minhas dvidas ao longo do mestrado.
Aos professores da rea de lngua hebraica, Literatura e Cultura judaicas, especialmente aoprofessor Moacir Amncio e professora Suzana Chwarts que permitiram que eu assistisse a
suas aulas na graduao como ouvinte.
prof. Maria Aparecida Barbosa pelas contribuies feitas na ocasio de minha qualificaoe por aquelas feitas durante o curso de Ps-graduao, oferecido no ltimo semestre de 2009,ao qual ela permitiu gentilmente que eu assistisse como ouvinte.
Aos funcionrios do Departamento de Letras orientais pela educao, gentileza e amizadecom que sempre me acolheram.
CAPES pela concesso da bolsa de mestrado, cujo apoio financeiro contribuiusignificativamente para a realizao desta pesquisa.
COSEAS pela concesso da bolsa moradia, sem a qual minha permanncia em So Paulono seria possvel.
Prof. Hideko, pelas palavras amigas e pela ateno ao me ouvir sempre que precisei.
minha famlia de forma geral. E, em especial, aos meus tios Argeu e Maria, e s minhasprimas Rbia e Regina pelo interesse e apoio que sempre manifestaram pela minha vidaacadmica.
s minhas amigas Vanessa, Vnia e Vanda pelo carinho, dedicao, apoio e amizade; porestarem sempre presentes nos momentos mais difceis da minha vida.
minha amiga Nbia que me acolheu e conviveu comigo praticamente durante todo omestrado, pela compreenso, interesse e amizade.
Ao meu noivo Daniel, pela pacincia e apoio tcnico sempre que meu computadorapresentava algum problema e eu me desesperava, ou a cada vez que precisava instalar novos
programas, formatar meu computador etc; pelo carinho e companhia que me deram fora paraficar tanto tempo longe da minha famlia.
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A todas as pessoas que me ajudaram, de uma forma ou outra, desde que cheguei a So Paulo,encorajada a fazer a seleo para o mestrado: Lgia, Ana Daniele, Mrcia, Cristiane, Marcos,Michele e outras.
minha mais recente companheira de apartamento, Alessandra, pela pacincia e companhia.
minha irm Fernanda, minha sobrinha Laura, e ao meu cunhado Cludio, pelo carinho.
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A continuidade das palavras no significa,necessariamente, continuidade de significado.
Carlo Ginzburg
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RESUMO
CRUZ, Anna Ceclia de Paula. Metforas orientacionais e ontolgicas na ampliaosemntica de razes hebraicas. 2010. Dissertao (Mestrado) Faculdade de Filosofia,Letras e Cincias Humanas, Universidade de So Paulo. So Paulo, 2010.
Em Metaphors we live by, Lakoff e Johnson apresentam uma nova perspectiva de metfora.Esta no apenas um recurso lingstico, mas estrutura conceitual determinada culturalmente.
Nosso pensamento est estruturado com base em metforas conceituais que nos possibilitamcompreender um tipo de coisa em termos de outra; noes abstratas por meio da nossaexperincia fsica. Com base nesta perspectiva de metfora, analisamos quatro razeshebraicas,
(rdl), (tsv), (yrd) e (lh), dando nfase s suas formas verbais,
cujos sentidos passam de uma experincia concreta para outras mais abstratas. Nosso objetivo demonstrar em que medida metforas orientacionais e ontolgicas contribuem para aampliao lexical por ampliao semntica de uma palavra em hebraico. Para tanto, fizemosuma anlise dos sentidos das razes selecionadas, acompanhando parte de sua evoluosemntica. Partimos de exemplos do texto bblico, principal referncia da lngua hebraica, econtrastamos com exemplos de textos jornalsticos modernos disponveis no site do jornalisraelenseHaarets.
Palavras-chave: Metfora conceptual, lingustica cognitiva, ampliao semntica, polissemia.
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ABSTRACT
CRUZ, Anna Ceclia de Paula Cruz. Orientational and ontological metaphors in thesemantic expansion of hebrew roots. 2010. Dissertao (Mestrado) Faculdade de
Filosofia, Letras e Cincias Humanas, Universidade de So Paulo. So Paulo, 2010.
In Metaphors we live by, Lakoff and Johnson present a new perspective on metaphors.Metaphor is not merely viewed as a linguistic resource, but as a conceptual cultural structureculturally determined. Thinking is structured through conceptual metaphors which enable thecomprehension of a certain thing in terms another; abstract notions through physicalexperience. Based on this view of metaphor, we analyzed four hebrew roots: (rdl), (tsv), (yrd) and (lh), emphasizing their verbal forms, whose meanings change fromconcrete experience to abstract ones. Our aim is show to which extent orientational and
ontological metaphors contribute to lexical expansion through semantic expansion of a word,in hebrew. With this objective, we analyzed the meanings of roots selected, observing part oftheir semantic evolution. We started from examples from biblical text, the main reference ofthe Hebrew language, and contrasted them with modern journalistic texts available on thewebsite of Israeli newspaperHaarets.
Keywords: conceptual metaphor, cognitive linguistic, semantic evolution, polysemy
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SUMRIO
INTRODUO...................................................................................................................11O ressurgimento da lngua hebraica e a necessidade de ampliao lexical................... ...... 15Alguns dados sobre o corpus analisado............ ............. ......... ............. .......... ......... .......... . 22
A LINGUSTICA COGNITIVA E UMA NOVA PERSPECTIVA DE METFORA ESIGNIFICADO.................................................................................................................... 23
a) A lingustica cognitiva ................................................................................................. 23b) Metfora ........... .......... ........... ........... ............. ........ ........... .......... ........... ........... ........... 26c) Frame........................................................................................................................... 30d) Polissemia.................................................................................................................... 32
AMPLIAO SEMNTICA E POLISSEMIA................................................................... 38a) Breve anlise da raiz
.............................................................................................. 43
b) Breve anlise da raiz .......................................................................(rdl) e parar 49METFORA ORIENTACIONAL E AMPLIAO SEMNTICA .................................... 59
a) (yrd)e ..............(lh) e as noes geogrficas de norte e sul .......... ......... ...... 60b) Para baixo triste, ir para baixo humilhar-se ........... .......... ........... ........... ........... 70c) Yarad, no hebraico moderno, usado para se referir a fenmenos meteorolgicos ........ 76d) As metforas orientacionais no hebraico moderno........ ............. .......... ......... .......... ..... 80e) Para baixo negativono hebraico moderno ............................................................... 87
ALAH E YARAD POLARIZAO SMICA NAS MUDANAS SEMNTICAS........ 95a) Subir em direo a ser animado enfrentar e subir sobre um ser animado enfrentarcom certeza de vitria ..................................................................................................... 99
b) Subir em direo a algum encontrar......... .......... ............. ............. .......... ......... .... 107c) Seres inanimados sobem ............................................................................................ 113d) O verbo alahe suas combinaes............................................................................. 119e) Subir surgir ........................................................................................................... 126f) Subir estender-se ................................................................................................... 128g) Subir fazer-se conhecer ou fazer subir fazer conhecer ........... ............. ........ ...... 130h) Expresses e usos em contextos especficos com alaheyarad................................. 137
CONSIDERAES FINAIS ............................................................................................. 151BIBLIOGRAFIA............................................................................................................... 158TABELA DE TRANSLITERAO.................................................................................. 162ANEXOS........................................................................................................................... 164
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INTRODUO
Este trabalho tem como fonte inspiradora dois objetos de estudo centrais: a metfora,
que por si s j poderia ser, isoladamente, objeto de reflexo e estudo, e a lngua hebraica
que, com histria, estrutura e literatura peculiares tanto tem instigado investigao e estudo
de diversos linguistas. A metfora objeto de nosso interesse desde a graduao. Nesta
primeira fase de nossa vida acadmica, desenvolvemos vrios trabalhos sobre a questo da
metfora, trabalhos estes que resultaram em monografia de bacharelado para a concluso do
curso de lingustica. Logo aps a graduao, iniciamos, por conta prpria, nossos estudos em
lngua hebraica. Nosso interesse inicial estava ainda atrelado metfora. Como os
mecanismos metafricos apareciam em outras lnguas? Instigava-nos, principalmente, o
fenmeno da metfora em lnguas no-ocidentais, em lnguas em que a cpula nem sempre
aparece. Neste universo de indagaes sobre a metfora (ainda metfora lingustica),
deparamo-nos com o texto de Lakoff e Johnson (1980a) sobre metforas conceptuais.
medida que estudvamos a lngua hebraica, sua histria e seu processo de
reestruturao como lngua oral, e nos aprofundvamos na teoria de metforas conceptuais,
crescia o nosso interesse sobre tais temas. Todo esse processo tem como resultado a pesquisa
aqui apresentada, cujo objetivo principal analisar os processos metafricos envolvidos na
ampliao lexical, mais especificamente, no que se refere extenso de significado. Tendo
em vista a lingustica e semntica cognitivas, queremos confirmar em que medida a proposta
de Lakoff e Johnson, de que pensamos por metforas e de que as metforas criamsemelhanas, se aplica ao processo de ampliao lexical em hebraico.
Tentamos, ento, verificar os mecanismos metafricos pelos quais se deu a
ampliao semntica de algumas razes hebraicas. Para tanto, fizemos uma anlise diacrnica
e qualitativa de quatro razes hebraicas. A anlise das duas primeiras razes est centrada na
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relao metfora polissemia, uma vez que esta ltima mostra-se como consequncia da
primeira. A anlise das duas ltimas razes enfoca, alm do processo metafrico na ampliao
semntica, outro fenmeno que ajuda a estruturar tais mudanas: a polarizao smica .
Nosso corpus engloba a bblia hebraica1que, na cultura judaica, est dividida em trs
partes: Tor (o Pentateuco), Neviim (os livros profticos) e Ketuvim (as escrituras); alguns
textos de uma revistaLa isha; textos do jornal isralenseHaaretsonline e textos de pginas
da Internet, vinculadas ao jornalHaarets.
A escolha das razes para anlise se deu da seguinte forma: num primeiro momento,
tnhamos uma lista de cerca de vinte razes selecionadas a partir da leitura do trabalho da
professora Rifka Berezin (1985). Nosso critrio de escolha baseou-se na relao entre o
significado das palavras, no hebraico bblico e no hebraico moderno, no corpus da professora
Rifka. Escolhemos a raiz (tsv) aleatoriamente, e depois a raiz ,(rdl).Com o tempo
percebemos que seria invivel, no prazo do mestrado, analisar todas as razes selecionadas.
Desta forma escolhemos outras duas razes que mantinham, entre si, algumas relaes
semnticas.
Dividimos este trabalho em quatro captulos. O primeiro apresenta os conceitos
principais da perspectiva terica que tem servido de base para a anlise dos dados. Nele,
fazemos um breve percurso do surgimento e desenvolvimento da lingustica cognitiva.
Abordamos, assim, os conceitos de metfora, polissemia, frame e Modelo cognitivo
idealizado.
O segundo captulo contm uma breve anlise de duas razes verbais hebraicais (rdl) e (tsv), parar e colorir (e tambm exemplos de formas nominais da raiz tsv- cor e
1Os leitores de nosso trabalho podero nos questionar sobre a poeticidade da Bblia e, portanto, da metforaenquanto recurso potico, nos exemplos bblicos analisados. No entanto, gostaria de ressaltar que foi estalinguagem a escolhida como referncia para a reestruturao do hebraico moderno. Ento, vemos que, nestecaso, tanto a polissemia como a metfora so elementos presentes e marcantes na reestruturao da lnguahebraica. Assim, estudaremos as metforas, no como recursos poticos, mas como elementos estruturais denosso pensamento e linguagem.
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colorido). Nosso foco foi a relao entre metfora e polissemia. Logo, usamos exemplos
nominais e verbais destas razes na tentativa de perceber em que medida os processos
metafricos contribuem para a polissemia na lngua hebraica, uma vez que a polissemia
mostra-se uma caracterstica forte da lngua hebraica, principalmente, conforme veremos,
como resultado do processo de ampliao lexical por ampliao semntica.
A polissemia comum em todas as lnguas. Na verdade, para muitos autores ela ,
inclusive, antes a regra que a exceo. Justamente porque pensamos por meio de metforas e
porque o significado de uma palavra no algo pronto e acabado, mas est em constante
construo. Logo, as lnguas tm naturalmente um alto ndice de polissemia, sobretudo, aos
olhos de um falante que no nativo. Quando estudamos uma lngua estrangeira, estas
relaes de sentido muitas vezes, se no quase sempre, metafricas saltam aos olhos,
destacam-se. No caso do hebraico, especificamente, parece consensual que a polissemia seja
uma caracterstica forte que tanto auxilia quanto dificulta a aprendizagem da lngua.
Considerando todos estes aspectos, mostraremos que a perspectiva cognitivista contribui
para os estudos da semntica lexical, especificamente para a compreenso do processo de
ampliao lexical por extenso de significado. Defendemos, como Lakoff (1987) e Rosch
(1973), que o significado de uma palavra uma espcie de categoria radial em que no h
uma hierarquia pronta, pela qual o sentido literal visto como fonte para os demais. Ao
contrrio, o significado tem vrios semas e, dependendo do contexto, qualquer um destes
pode ser realado e/ ou servir de base para criao de novos sentidos da palavra, novos semas
tambm podem ser incorporados a um significado, criando assim novas possibilidades desentido e tambm podem ser incorporados a um significado, criando assim novas
possibilidades de sentido e interpretao para uma mesma palavra. Assim, no lugar de um
sentido bsico, literal, existiria um sentido chamado, na lingstica cognitiva, de mais
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prototpico, que pode variar de cultura para cultura, de tempos em tempos, de uma situao
(uso) para outra.
No terceiro captulo, discutimos o papel das metforas orientacionais para a ampliao
lexical em hebraico. Utilizamos exemplos do texto bblico e de textos modernos. Tentamos
demonstrar como a proposta de Lakoff e Johnson, de que existem metforas conceituais que
esto na base de nosso pensamento e linguagem, pode contribuir para a compreenso da
ampliao lexical, por ampliao de significado. Analisamos a raiz (yrd) e apresentamos
alguns exemplos com os verbos - laredet e - laalot(descer e subir), comparando a
estrutura de seus significados, e as respectivas extenses com as metforas orientacionais
como para cima mais e para baixo menos, entre outras.
No quarto e ltimo captulo, analisamos a raiz (lh), dando enfoque para a forma
verbal laalot (subir).Estudamos as combinaes deste verbo com algumas preposies e as
metforas subjacentes a tais estruturas, e discutimos tambma polarizao smica entre os
traos de orientao espacial dos verbos laredet e laalot(descer e subir) ora presente, ora
ausente nas mudanas sofridas por eles.
Antes de iniciar efetivamente o texto, apresentaremos um breve histrico sobre a
lngua hebraica e algumas noes bsicas sobre a estrutura da lngua, o que ajudar leitores
no alfabetizados em hebraico a entender um pouco melhor nossos exemplos e nossa anlise.
Ao falar um pouco sobre a histria e estrutura da lngua hebraica, no apenas a apresentamos
para leitores no hebrastas, como tambm justificamos nossa pesquisa. Neste caso, parte
desta apresentao serve tambm para aqueles leitores que no conseguiram perceber, nestabreve introduo, justificativas adequadas para a nossa pesquisa.
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O ressurgimento da lngua hebraica e a necessidade de ampliao lexical
A Lngua hebraica a lngua do povo judeu desde 1200 a.C., mas nem sempre ela
teve status de primeira lngua ou lngua materna. Durante 1700 anos, o hebraico ficou
praticamente reduzido leitura, escrita e uso em contextos litrgicos.
Segundo Agnon (1970), desde a Conquista de Cana, aps o xodo do Egito, at
134 d.C , a lngua hebraica foi a lngua do povo judeu. Mas, a partir de 134 d.C., seu uso foi
interrompido pela disperso de seus falantes. A Bblia, contudo, sempre foi um elo entre os
judeus. Durante os anos em que a lngua esteve no exlio, assim como o povo judeu, ela no
pde ter uma existncia plena e um desenvolvimento normal como toda lngua viva. O
hebraico continuou sendo a lngua em que se orava e na qual a bblia era lida nos cerimoniais
pblicos.
Os deveres religiosos fizeram com que a maioria dos judeus soubesse ler e escrever
hebraico. Porm, aqueles dispersos pelo globo comearam a falar a lngua do pas onde
residiam, de modo que o hebraico ficou, por muito tempo, restrito linguagem culta da
escrita e da ao religiosa, exceto por algumas pessoas que ainda guardavam o hbito de us-
lo tambm no mbito familiar.
De acordo com Langer (1998), os judeus que viviam na Babilnia falavam aramaico,
os que viviam no Egito falavam grego, e aqueles que viviam nas regies da Palestina falavam
aramaico e grego. Apesar de optarem pela lngua corrente do lugar para onde foram, osjudeus mantinham sua identidade judaica atravs de sua tradio cultural e religiosa.
Assim, muitos deles liam e escreviam em hebraico e, muitas vezes, no eram
alfabetizados na lngua do pas onde residiam, mas apenas em hebraico. Como resultado, h
uma vasta literatura nesta lngua, comentrios sobre as leis e sobre os textos bblicos, textos
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fases anteriores, sem haver nem mesmo a eliminao de formas arcaicas. Langer (2009)
traduz parte de uma conferncia do escritor judeu Bialik. Pela fala de Bialik fica claro o
desafio e a necessidade de ampliao do hebraico:
Em Israel uma educao que castra pode causar uma desgraa, pois diminui todanossa fora cultural. Viemos para c no como pessoas ignorantes com uma culturasimples; participamos durante geraes de culturas ricas, sobrevivemos atravs delnguas ricas, ensinamos nosso crebro e nosso corao a sentir e pensar atravs delnguas corretas, precisas, que se adaptam a todas as mincias do pensamentohumano. Ao chegarmos aqui encontramos um instrumento defeituoso, uminstrumento opaco que no conseguir servir nem a dcima parte da riquezacultural que absorvemos e trouxemos de fora. Se no elevarmos a fora dohebraico e se no apressarmos seu crescimento, estamos decretando a humilhaode nossa identidade para sempre. Se para a gerao passada isso no perigoso,porque afinal ela usa outros instrumentos, lnguas diferentes, para a gerao queest crescendo aqui isso constitui um grande perigo (BIALIK apud LANGER,2009, p. 310).
Com a criao do estado de Israel em 1948, deliberou-se que o hebraico seria a
lngua oficial do pas. Logo no incio da vigncia da lei, o resultante da massa imigratria,
proveniente de vrios pases, imps um pesado esforo em relao ao renascimento do
hebraico (BEREZIN, 1972, p.03). Em 1890, foi fundado o Comit da Lngua Hebraica
que se transformou, em 1948, na Academia de Lngua Hebraica.
Este rgo
uma instituio oficial e suas decises, em matria de terminologia etransliterao, so adotadas pelas entidades educacionais e cientficas. As palavrase termos que ela cunha, tornam-se elementos obrigatrios nos programas escolares,fazem parte dos dicionrios e dos livros de textos (...) A academia exerce tambmuma superviso permanente sobre o hebraico empregado pelo servio deRadiodifuso de Israel, tanto no que se refere linguagem como no que dizrespeito correta pronncia (BEREZIN, 1972, p.35).
Com este breve resumo, pode-se perceber que a ampliao lexical no se deu de
forma completamente natural. Num primeiro momento, ela ocorreu atravs da escrita, no
caso da literatura rabnica e das tradues. Segundo Berezin (1972), os tradutores foram os
primeiros a contribuir para o aperfeioamento e adaptao da lngua hebraica moderna.
As inovaes ocorridas foram de trs diferentes naturezas: ampliao do significado
ou mudana semntica (com significantes j existentes), criao de novas palavras a partir de
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Algumas noes importantes sobre hebraico para leitores no alfabetizados nesta lngua
Antes que o caro leitor inicie a leitura do trabalho em si, apresentaremos, ainda nesta
introduo, algumas noes bsicas sobre a lngua hebraica. Caso o leitor tenha um
conhecimento, mesmo que bsico da mesma, os ltimos pargrafos desta apresentao sero
pois dispensveis, uma vez que o nosso intuito , na referida parte, orientar os leitores no
alfabetizados em hebraico, para que possam compreender um pouco melhor os exemplos e
suas anlises.
A lngua hebraica uma lngua alfabtica, mas, diferentemente do portugus,escreve-se da direita para a esquerda e no vocalizada. Ou seja, a forma escrita da lngua
no apresenta todas as vogais, mas alguns padres possibilitam ao leitor ler corretamente,
mesmo sem os sinais diacrticos que as indicam. Embora a escrita hebraica seja originalmente
consonantal, e no tenha marcas grficas para as vogais, a preocupao por parte de
estudiosos e religiosos com a correta pronncia do texto bblico fez com que estes
desenvolvessem um sistema de vocalizao. Tais estudiosos chamavam-se massoretas3
, e os
sinais por eles desenvolvidos acompanham as letras tradicionais. No hebraico moderno, este
sistema usado para evitar ambigidades, sendo comum, principalmente, na transcrio de
palavras estrangeiras, nomes prprios e na poesia. O caro leitor perceber, ento, que h
alguns smbolos nos exemplos bblicos que no aparecem nos exemplos do hebraico
moderno:
(Gnesis 38:13)
E deram aviso a Tamar, dizendo: Eis que o teu sogro sobe a Timna, a tosquiar as suas ovelhas.
3 Em hebraico ( ) eram escribas judeus (estudiosos) que se dedicaram a preservar e cuidar,
preocupados com estabelecimento do texto tradicional das Escrituras em Tiberades, Israel. Ver BEREZIN(1995).
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Neste exemplo, observem que, alm das letras, h pontos e traos, ora embaixo, ora
ao lado, ora dentro delas. H uma tabela de transliterao no final do trabalho que poder
auxiliar o leitor a entender esse sistema. No entanto, como j dito, ele aparecer
principalmente no texto bblico. J o exemplo seguinte no apresenta as mesmas marcas de
vocalizao, pois, como j dissemos, o hebraico moderno s usa a vocalizao em casos
especficos.
" :
",
.
.
Aps saudaes dos artistas o primeiro clip foi transmitido: "caia fora tela da minha TV," de Rammy Fortis.Houve (aconteceu) tambm a primeira interrupo. Como manda o figurino
Vrias preposies, conjunes e partculas, em hebraico, funcionam como prefixos
e se acoplam palavra que as seguem; assim, a palavra escritrio ( misrad - ), por
exemplo, no sintagma para o escritrio seria lamisrad ) ). No caso dos verbos, h
ainda outras particularidades: as contrues, ou conjugaes, chamadas em hebraico de
binyanim. De acordo com Lambdin (2003), existem sete tipos importantes de verbos
derivados (frequentemente chamados conjugaes). Nem todas as razes apresentam as sete
formas, e muitas delas no so empregadas na conjugao simples, chamada de paal.
Apesar disso, podemos encontrar formas nominalizadas (substantivos e adjetivos) derivadas
de qualquer uma dessas construes verbais.
Os sete tipos de conjugao: paal, nifal, piel, pual, hifil, hofal e hitpael
so marcados por algumas alteraes morfolgicas, fonticas e/ou fonolgicas. Assim, muitas
vezes a mesma raiz pode ganhar algumas letras (morfemas a mais), mas isso no significar
que uma raiz diferente, apenas que temos um novo padro ou informao verbal; por
exemplo, de voz ativa para voz passiva, ou de uma forma simples para uma causativa, ou
iterativa, entre outros casos.
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Alguns dados sobre o corpus analisado
O principal corpus deste trabalho o texto bblico do antigo testamento, ou Bblia
hebraica, mais os livros profticos e os Salmos. A escolha do texto bblico deu-se aps a
leitura dos trabalhos de Berezin (1972 e 1985) sobre as influncias do texto bblico no
hebraico moderno. Da, analisamos exemplos bblicos e partimos para exemplos do moderno.
A fonte mais acessvel que encontramos para formar nosso corpus de exemplos em hebraico
moderno foi a verso online do jornal israelense haarets..O jornal haarets, cuja traduo aproximada para o portugus seria O pas, foi
fundado em 1919. um jornal dirio, publicado em hebraico, com uma verso condensada,
publicada em ingls como anexo edio do International Herald Tribune, distribuida em
Israel. Ele mantmaindauma pgina de Internet em hebraico e em ingls. A verso hebraica
disponvel na Web foi usada como fonte de pesquisa e coleta para a formao docorpusdeste
trabalho.
A linha editorial foi definida por Gershom Schocken, que foi editor-chefe entre 1939
e 1990. O haaretspertence famlia Schocken. Os actuais editores chefe so David Landau e
Tami Litani, que susbtituiram Hanoch Marmari e Yoel Esteron em Abril de 2004. O haarets
um jornal bem conceituado, com artigos mais longos, letra menor, menos imagens e seces
dirias sobre cincia e literatura. As suas vises sobre o conflito israelo-palestiniano tendem a
ser esquerdistas e seculares.
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A LINGUSTICA COGNITIVA E UMA NOVA PERSPECTIVA DE METFORA ESIGNIFICADO
Justamente pelos horizontes do evento, turbulncias detectveisque ocorrem na fronteira do espao-tempo e que sinalizam aexistncia de um buraco negro nas proximidades; como noshorizontes do evento, h experincias quase impossveis decomunicar, fazemos o possvel com metforas.
OLIVER SACKS (reportagem sobre criatividadee metfora, Revista Veja, 26/09/07).
a) A lingustica cognitiva
A lingustica cognitiva surge nos anos 1970 como reao s abordagens formalistas
dos fenmenos lingusticos, entre elas o gerativismo de Chomsky. uma escola moderna,
especialmente interdisciplinar de estudos lingusticos, pois dialoga com a psicologia,
neurocincias, filosofia e inteligncia artificial. Fundamenta-se, primeiramente, nas teoriassobre categorizao e na psicologia Gestalt e um de seus principais compromissos a
generalizao dos princpios estruturantes da linguagem e da cognio humanas. Para a
lingstica cognitiva, a lngua reflete princpios cognitivos gerais, quer dizer ...there is a
systematic relationship between words, their meanings and how they are arranged in
conventional patterns. In other words, language has a systematic structure (EVANS and
GREEN, 2006, p.14). Por que a linguistica cognitiva
explore the hypothesis that certain kinds of linguistic expressions provide evidencethat the structure of our conceptual systems is reflected in the patterns of language.The way the mind is structured can be seen as a reflection, in part, of the way theworld (including our sociocultural experience) is structures and organised (EVANSand GREEN, 2006, p.14).
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Os cognitivistas chegaram concluso de que as metforas impregnam a vida
cotidiana, e no apenas a linguagem, mas tambm o pensamento e a ao. Desta forma, nosso
sistema conceptual, pelo qual pensamos e agimos, fundalmentalmente de natureza
metafrica. Deste modo, os valores mais fundamentais numa cultura sero coerentes com as
estruturas metafricas dos conceitos fundamentais desta mesma cultura.
Segundo Lakoff e Johnson, dizer que nosso sistema conceptual normal est
estruturado metaforicamente dizer que a maioria dos conceitos se entendem parcialmente
em termos de outros conceitos. Para eles,
We have seen that metaphor pervades our normal conceptual system. Because somany of the concepts that are important to us are either abstract or not clearlydelineated in our experience (the emotions, ideas, time, etc.), we need to get agrasp on them by means of other concepts that we understand in clearer terms(spatial orientations, objects, etc.) This need leads to metaphorical definition in ourconceptual system. (1980a, p. 115)
Chama a ateno na obra de George Lakoff e Johnson a defesa do carter criador das
metforas. Essa idia no to nova se pensarmos que outros autores, como Fillipak, j
ressaltavam o carter de criatividade implicado na metfora. Mas, com Lakoff, ela toma um
outro rumo, uma vez que seus estudos tm preocupao com novas questes at ento pouco
discutidas, entre elas, o papel das metforas para a cognio humana.
Para tais autores, a metfora primariamente uma questo de pensamento e ao, e
s derivadamente uma questo de linguagem. Elas podem se basear em semelhanas, ainda
que, muitas vezes, estas semelhanas sejam baseadas em metforas convencionais, j
fundamentadas pelo uso. No entanto, o mais importante que para eles, em sua concepode metfora, ela criadora de semelhanas. Embora a funo primria da metfora seja
proporcionar uma compreenso parcial de um tipo de experincia em termos de outro, ela
pode muito bem criar semelhanas durante este processo.
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b) A pessoa que vive um viajante.
c) Os objetivos de quem vive so os seus pontos de chegada.
d) Os meios para alcanar seus objetivos so as estradas.
Deste modo, mesmo as metforas consideradas mortas, caso de muitos exemplos
que apresentaremos aqui, visto estudarmos a mesma palavra no texto bblico e no texto
moderno, so to importantes para o desenvolvimento da lngua e de sua histria e para a
ampliao semntica de uma raiz lexical quanto as metforas consideradas novas. Para
Sweetser (1990), as mudanas semnticas histricas no ocorrem ao acaso, mas influenciadas
por metforas. Portanto, a metfora, que um tipo de estrutura cognitiva, vista como
condutora das mudanas lexicais e fornecedora da chave para entender a criao da
polissemia e do fenmeno de trocas semnticas.
c) Frame
Semntica de frame (ou Frame semantics) uma teoria que relaciona o significado
lingustico com conhecimento enciclopdico. Esta teoria foi desenvolvida por Charles J.
Fillmore. De acordo com Evans e Green (2006), para Fillmore, um frame uma
esquematizao da nossa experincia, ou seja, nosso conhecimento de mundo est estruturado
de tal modo que cada elemento (lingstico e semntico) est ligado a uma srie de outros
elementos. Assim, quando evocamos um destes elementos, todos os outros so ativados em
nossa memria. Os frames nos ajudam coma memria de longo-prazo, pois, entre outras
coisas, relacionam elementos e entidades associados a uma cena particular, culturalmente
arraigada e advinda da experincia. Ento, as palavras e construes lingusticas so sempre
relativas a frames e os significados daquelas no podem ser entendidos independentemente
dos frames a que esto associados.
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No podemos entender o significado de uma palavra sem, basicamente, ativar todo o
conhecimento essencial para compreend-la. Por exemplo, no poderamos entender o
sentido da palavra comprar sem conhecermos qualquer coisa sobre transao comercial,
que envolve prticas culturais, pessoas, moeda de cambio, etc. Assim, a palavra comprar
ativa ou evoca um frame de conhecimento semntico relacionado a um conceito especfico.
Portanto, um frame semntico definido como a coherent structure of related concepts that
are related such that without knowledge of all of them, one does not have complete
knowledge of one of the either, and are in that sense types of gestalt. Frames are based on
recurring experiences (FILLMORE, 1982, p. 111).
As palavras no apenas realam conceitos individuais, mas tambm especificam
uma certa perspectiva na qual o frame visto. Por exemplo, o frame evocado pelo significado
da palavra calor envolve uma srie de conhecimentos do tipo: temperatura, sensao
trmica, clima, estao do ano, etc. Mas, alm disso, pode envolver valores individuais, eu
odeio calor, ou calor uma coisa boa, calor me lembra lar, aconchego, por exemplo.
Marcuschi (2005) ressalta que o interessante nessa noo de representao conceitual
que:
As representaes mentais no so fixas, pois elas emergem na interao, sonegociadas e mveis. equivocado imaginar que uma entidade lexical seja umtipo de representao mental fixo, pois um item lexical pode dar origem a umasrie de associaes e ser a entrada para a ativao de um amplo domniocognitivo. Alm do mais, um item lexical tem, a cada vez que ocorre, uma srie derelaes associativas a depender dos outros itens com que co-ocorre (p.63-64).
Os frames permitem, portanto, toda esta mobilidade e dinamicidade da linguagem e
de nosso sistema conceitual, pois no so estruturas fixas. Eles Abrangem uma gama de
associaes entre as conceptualizaes de diferentes tipos de experincia e no apenas as
experincias lingusticas, mas tambm aquelas de natureza sensrio-motora, psicolgica, ou
ainda de natureza fsica e espacial, por exemplo.
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d) Polissemia
As teorias clssicas de significadoconsiderama polissemia como uma soluo para
a questo de mltiplos significados representados por uma nica palavra. No entanto, muitas
dessas teorias acreditam que no h relao entre tais significados, ou nem mesmo se
preocupam com a relao entre eles.
Lakoff (1987) discute polissemia como uma questo de prototipicalidade na
categorizao: a idia de que significados relativos a palavras formam categorias e que os
significados suportam semelhanas familiares de um para outro. Assim, h sentidos mais
bsicos (prototpicos) e sentidos menos prototpicos. Lakoff (1987, p. 417) diz que some
sense of word may be more representative than other senses.
Em seu estudo de caso sobre a preposio do ingls over, Lakoff discute a
diferena entre polissemia e homonmia. A homonmia (ou instncias de homonmia, como
chama cada significado) seria quando uma palavra apresenta dois significados no
relacionados, como canto (ao de cantar) e canto (lugar). O autor d como exemplo a
palavra bank,em ingls, que pode significar tanto o lugar onde depositamos nosso dinheiro,
quanto a margem de um rio. J a polissemia seria caracterizada pela multiplicidade de
sentidos atribudos a uma mesma palavra, mas, desta vez, haveria uma relao entre estes,
como: abrir a porta para a visita e abrir o corao para as coisas boas da vida.
Ann Copestake e Ted Briscoe (1996) apresentam uma soluo diferente para a
distino entre polissemia e homonmia. De acordo com os autores, a polissemia pode serdividida em dois tipos: sistemtica e convencional. A polissemia sistemtica ou extenso de
sentido envolve mudanas gramaticais sutis, tais como vrios tipos de metonmia nominais
que so frequentemente explicadas em termos de processos de transferncia ou mapeamento
conceitual e tratadas como fenmenos pragmticos; por exemplo, tratar um nome contvel
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tratam o significado como o resultado de relaes intra e extra lingusticas. Logo, a
polissemia, fenmeno tratado em ambas as reas, deve ser vista sempre dentro de um
contexto maior, englobando os aspectos textuais, cognitivos, interativos e sociais .
No entanto, no limiar dessas relaes, no estaria a metfora, que nem se quer
mencionada no trabalho de Rehfeldt? A metfora tambm depende do contexto, tambm
envolve questes culturais. No seria ela uma forma de conexo entre o lingustico e o no
lingustico? Claro que para muitos autores esta observao no faz sentido, uma vez que a
metfora apenas artefato lingustico, mas, se entendermos a metfora como parte de nosso
sistema conceptual, como um meio de conexo entre nossas experincias lingusticas, sociais,
cognitivas, etc., talvez essa observao faa sentido. E faa sentido tambm a relao entre
metfora e polissemia. J que
O acmulo de significaes de um vocbulo representa diversidade de aspectos daatividade intelectual e social. Confere semntica o exame das causas que levamas palavras, uma vez criadas e providas de certo sentido, a restringir o significado,a estend-lo, a transport-lo de uma ordem de idias a outra (REHFELDT, 1980, p.77).
Ainda dentro de uma perspectiva lexicolgica, h autores que tratam da polissemia
como parte de um processo de ressemantizao. Esta consiste em dar, ou empregar um
segundo significado para um mesmo significante. Este fenmeno est geralmente ligado a
outro igualmente frequente, o esvaziamento semntico; isto , a perda do sentido que, em
muitos casos, conduz ressemantizao. Embora interessante em um primeiro momento, este
conceito de perda e de ressemantizao vai contra os conceitos de frame, defendidos pela
lingustica cognitiva, que prev realce e no-realce de semas, mas, no necessariamente,
apagamento de um sentido em virtude de um novo.
Para Fillmore (1982, p.124), for many instances of polysemy it is possible to say
that a given lexical item properly fits either of two different cognitive frames. One possibility
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outros domnios a raiz [bc(tsv ) que pode ser considerada homonmia por representar o
substantivo cor, ou o verbo colorir na terceira pessoa do aspecto perfeito (ou nosso
pretrito5); ou polissemia, porque no h verbos correspondentes a pintar e tingir em
hebraico. Assim, um nico verbo em hebraico pode significar e ser traduzio como colorir,
pintar e tingir.
5Cabe lembrar que, em hebraico Bblico, a noo de tempo diferente das lnguas ocidentais. H a noo deaspecto que muitos gramticos tentam relacionar noo de tempo para facilitar o ensino da lngua. H autoresque defendem a apenas a marcao de aspecto para os verbos, e outros que acreditam que os verbos hebraicosmarcam conjuntamente o aspecto e o tempo. Ainda que a noo temporal do homem bblico seja diferente daconcepo moderna. H, ento, o aspecto imperfeito para as aes, eventos e estados que ainda no foramrealizados (ou inacabados), traduzidos como futuro, e tambm como alguns tempos do subjuntivo. E h operfeito, para as aes ou eventos que j foram realizadas, traduzido como nossos pretrito perfeito e imperfeito.J no hebraico moderno, como os falantes j conceptualizam o tempo de forma diferentes, temos diferentesestruturas para marcar o tempo. Alm das formas arcaicas, utilizadas pelo hebraico bblico para marcar o aspecto(e o tempo) o hebraico moderno utiliza estruturas sintticas e combinaes lexicais para marcar novasconceptualizaes do tempo.
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Note que as aes de colorir e pintar soam mais naturais dentro de um contexto escolar em
que crianas devem imprimir cor a um desenho, j o verbo tingir parece incomum.
Assim, se em portugus temos diferentes palavras para designar aes que envolvem ICMs
diferentes, de que forma,em Hebraico, trataremos os sentidos de (tsv), como instncias
de polissemia?
Por que nesta lngua, todas estas distines presentes em pintar, tingir e colorir
fazem parte de um mesmo ICM. Como isso possvel? Seguindo a teoria de Lakoff (1987),
o processo de categorizao ocorre de forma diferente nas duas lnguas, isso justificaria que
aes representadas por lexemas diferentes em portugus sejam representadas por apenas um
lexema, em hebraico. Desta forma, temos um mesmo ICM para (tsv), mas ele funciona
em diferentes domnios.
Lakoff entende as palavras como categorias radiais. Uma categoria radial
is a conceptual category in which the range of concepts are organised relative to acentral or prototypical concept. The radial category representing lexical conceptshas the same structure, with the range of lexical concepts (or senses) organisedwith respect to a prototypical lexical concept or sense (EVANS and GREEN,2006, p.331).
Vale ressaltar que, nesta perspectiva, embora falemos de sentido mais prototpico, e
at usemos o termo sentido bsico, no h uma hierarquia entre os sentidos de uma mesma
palavra, como acontece na viso de dicionrio (distino entre literal e metafrico), por
exemplo. A idia de categoria radial prev que cada vez que a palavra for usada, o sentido
realado pode variar. Os sentidos j existentes fazem parte do frame ou ICM da palavra, mas,
em cada ocorrncia, um desses sentidos ativado, e possui outro (ou outros), como base.
Cada vez que acrescentamos novos significados a uma palavra temos como base para esta
criao um dos seus sentidos j existentes, mas no usamos necessariamente sempre o mesmo
sentido, nem sempre aquele considerado literal. Vejamos como esse processo de ampliao
de significado acontece em hebraico.
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aspectos que os vrios perodos de estratificao da lngua hebraica possibilitam. Afinal, cada
um dos estratos da lngua (bblico, mishnaco, rabnico, moderno etc.) teve suas influncias e
seus prprios padres de ampliao, mas todos eles, de um modo ou de outro, contriburam
com extenses semnticas que tiveram como base um processo metafrico, gerando
polissemia.
a) Breve anlise da raiz
A raiz tem pouca ocorrncia no texto bblico, e aparece como adjetivo,
geralmente na forma plural; uma nica vez no singular, em Juzes 5:30
Exemplo 01
(Juzes 5:30)
Porventura no achariam e repartiriam despojos? Uma ou duas moas a cada homem? Para Ssera despojos
de estofos coloridos, despojos de estofos coloridos bordados; de estofos coloridos bordados de ambos os lados
como despojo para os pescoos.7
No hebraico moderno, temos a mesma raiz usada como verbo em diferentes formas e
padres verbais, com algumas alteraes morfolgicas que lhe acrescentam informaes
gramaticais, mas que no mudam os traos semnticos mais bsicos de seu(s) significado(s),
deixando clara a idia da extenso.Exemplo 2
.
7 Todas as tradues dos exemplos bblicos so da Bblia Almeida fiel corrigida e revisada, 1995, versoeletrnica disponvel pelo programa BIBLEWORKS. Cf. bibliografia. Quando usarmos outra verso, avisaremosem notas de roda p.
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A empresa wella agradece a voc que escolheu o refinado Creme de colorao (creme color) para pintura deseu cabelo.8(ver anexo 1)
Exemplo 3." " 7.5
O cabelo foi pintado no tom 7.5 blond Mahogany da srie Profession protein color.(ver anexo 2)
Exemplo 4
O mito da cor preta e os sentidos/significados das cores nos desenhos das crianas(ver anexo 3)
Exemplo 5 , .
,
Crianas so atradas pela cor ainda em tenra idade. Jogos coloridos ganham indubitavelmente a preferncia,cores que lembram remdios so negligenciadas, na verdade, apenas pelo contexto, cores preferidas (amadas)podem tambm ajudar no ensino da leitura.(ver anexo 3)
Exemplo 6- " ,
" " ," .
Quando a criana desenha s em preto isto no diz necessariamente que ela /est depressiva, s vezes elasimplesmente gosta da cor porque ela a mais forte de todas as cores, como se ela fosse capaz de apagartodas as demais.(ver anexo 3)
Exemplo 7). )
.
Passar ( pintar - pintura) uma camada de tinta seladora (no obrigatrio);Pintar (pintura) as esquadrias do quarto com ajuda de um pincel ou rolo para cantos.(ver anexo 5)
Exemplo 8
.
8 O leitor deve tomar conscincia de que mantivemos a pontuao do texto original hebraico, em todas astradues, para facilitar a comparao do texto hebraico com sua verso em portugus. Deste modo, em muitoscasos, o leitor poder questionar a pontuao da verso em portugus, pois as regras de pontuao dos doiscdigos no so correspondentes.
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Pintemos (Passemos) uma camada de tinta seladora na parede principalmente sobre aquelas regiespreenchidas com esptula e reboco. A camada de base na verdade uma camada de cola lquida que ajuda cor aderir superfcie.(ver anexo 5)
Exemplo 9
.
Devemos passar uma camada de base tambm no caso de pintarmos com tinta acrlica sobre uma camada decal.(ver anexo 5)
Nos exemplos acima, temos a mesma raiz usada como adjetivo, verbo e substantivo;
analisaremos adiante exemplos verbais e nominais da raiz. Nos exemplos de 04 a 07, vemos a
raiz usada com o sentido de cor, normalmente, com ocorrncia de forma singular e plural
em cada exemplo. A forma adjetiva, geralmente no plural, aparece no exemplo bblico 01e no
exemplo 05. Curiosamente, h uma forma nominal de base verbal nos exemplos de 07 a 09.
Por fim, encontramos a mesma raiz com o sentido de tinta, em 07, 08 e 09.
Logo, como em Rashi temos a relao da ao de imprimir cor com um tipo de
processo especfico usado na antiguidade para tingir tecido (mergulhar colorir), percebemos
uma relao metonmica entre o material que imprime cor e a cor em si, na forma substantiva
(cor tinta), exemplo 07. Esse tipo de relao metonmica muito produtiva no processo de
ampliao semntica. Alm disso, parece haver uma metfora conceitual do tipo cor
matria (prima, por exemplo), ou ainda, cor fora fsica. Tais metforas possibilitam
extenses do tipo visto em 06 e 05. Essas metforas conceituais se relacionam com a teoria
de espaos mentais e ICMs. Ou seja, falamos de uma coisa em termos de outra, ou
simplesmente mesclamos espaos conceituais diferentes.
No exemplo 6, temos o verbo desenhar no sentido de colorir, uma vez que se trata do
uso da cor, no necessariamente da forma que ser criada, mas da cor que empregada.
Depois temos construes do tipo: a cor a mais forte; a cor apaga todas as outras. Nestes
casos, cor pode ser entendida como uma entidade, capaz de desempenhar atividades por si
s. Assim, para que seja possvel entender cor em termos de fora, ou desenhar em termos
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de dar cor, precisamos sobrepor o espao mental que envolve o conceito de cor a um espao
mental destinado compreenso de uma fora de atrao fsica.
No dicionrio de Even Shoshan(2003, p. 591), temos a seguinte descrio para a
raiz 9: na literatura talmdica e no Midrash10, a raiz verbal corresponde a manchar, untar
com cor (paal); no nifal11, corresponde a ser untado, ungido, pintado com cor, matiz,
nuana, tom. O piel12 usado na literatura moderna. No pual13 (ser pintado, ungido,
untado, manchado com cor) usado na literatura rabnica. Esta o usa tambm no hitpael
(reflexivo), pintar-se, assim como o moderno. Na literatura rabnica, a forma do hitpael
usada no sentido de pintar seus lbios, cabelo, bochechas, faces. Temos ento as seguintes
possibilidades:
1- dar cor, dar-se cor, colocar cor sobre algo (si)
2- Literatura moderna - receber, tomar, pegar cor (matiz definido)
3- Na literatura rabnica usado na voz reflexiva - pintar-se; e em hebraico moderno
com o sentido de maquiar-se.
Percebemos, pela descrio de Shoshan, que a variabilidade de uso dos padres tem
estreita relao com alguns estratos especficos da lngua. O hitpael14, por exemplo, usado
apenas na literatura moderna e na rabnica, enquanto opaal15parece uma forma presente na
literatura talmdica e no midrash. Um estudo mais apurado poderia mostrar a diferena de
significado no uso desta raiz nos diferentes estratos lingusticos mencionados. Com certeza, a
9Traduo e adaptao feitas por mim.10A origem da palavra interpretao, leitura, comentrio. O Midrash compreende textos, muitos delesnarrativos, que comentam determinadas passagem bblicas. Assim, ele prprio pode ser considerado literaturatalmdica.11Normalmente, essa construo verbal traduzida / entendida como passiva dopaal.12Construo verbal que indica forma do verbo factivo, ativo ou causativo.13Construo verbal referente passiva dopiel.14Construo verbal que pode referir-se voz reflexiva ou idia de reciprocidade, tambm pode dar idia deiteratividade, por exemplo, hithalerr( h), caminhar de um lado para outro, ir continuamente.15A construo verbal chamadapaalrefere-se voz ativa.
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atual polissemia da raiz tem um percurso histrico que envolve estes diferentes momentos da
lngua e de seu povo.
O radical na forma nominal tem como sinnimo uma raiz de base persa ( gavan
em hebraico e gonem persa) que, geralmente, os dicionrios de hebraico-portugus traduzem
como matiz, tom. No dicionrio do Even Shoshan,essa a primeira definio que aparece
para ; em seguida, temos uma definio mais elaborada, algo parecido com a definio
dos dicionrios de lngua portuguesa para o mesmo conceito, uma definio relacionada
fsica: propriedade dos corpos de absorver ou refletir a luz em maior ou menor grau. Este
conceito bsico de cor, encontrado nos dicionrios, algo moderno, diretamente ligado s
descobertas cientficas da fsica ptica. No entanto, o uso deste conceito no cotidiano tem
estado atrelado experincia cognitiva pelos sentidos de viso, de tato e de paladar; tanto que
se confunde cor com a substncia (matria prima) que atribua ou modificava a cor dos
objetos. Talvez isso explique a cor ser entendida como uma fora que atrai a ateno das
crianas, ou que pode ser forte ou fraca. A cor pode, ento, ser entendida no s como uma
propriedade fsica, mas como uma fora fsica, entre outras coisas. Isso possibilita a relao
cultural de extenso, como ocorre com o blending entre o frame de cor e tinta, e entre a ao
de mergulhar (imergir, encharcar) e a ao de colorir; exemplo visto coma raiz ,((tsv
apresentada em Rashi (apudADMON, 2006, p.8).
O significado prototpico do radical verbal tsv imprimir, colocar, dar cor. No
entanto, podemos encontrar extenses deste significado que especifiquem a forma como a cor
impressa no objeto, coisa (conforme visto no quadro 1).1- Dar cor16com pincel, usando tinta,
2- Dar cor usando o lpis ou objeto pontiagudo
16 Curioso, mesmo para nos referirmos cor, usamos construes metafricas. A cor entendida como umobjeto. Pois podemos usar o verbo dar cor; como se a cor passasse de um ponto (origem) a outro (destino).Como se fosse propriedade de algum ou de algo e pudesse ser transferida, transmitida.
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por influncia do francs, o substantivo portugus adquiriu esse sentido, que hojepredominante. (p. 321)
Notamos que, em hebraico, alm dessas influncias externas, a lngua tambm
sofreu influncias ideolgicas e polticas das vrias vertentes internas de pensamento e da
literatura judaicos, tanto no que se refere fidelidade lngua, considerada sagrada, quanto
necessidade de modernizao, ao ressurgimento desta e linguagem das correntes filosficas
e literrias. Logo, ...constata-se a importncia do contexto no emprego da palavra e para o
estabelecimento de seu sentido (GENOUVRIER e PEYTARD, 1974, p. 322).
b) Breve anlise da raiz (rdl) e parar
Observamos uma breve anlise do que ocorre com a raiz (tsv), vamos agora
apresentar exemplos de outra raiz, (rdl -reprimir, cessar, parar...). Vejamos os exemplos
encontrados no texto bblico
a) Exemplo 10(Gneses 11:8)
Assim o Senhor os espalhou dali sobre a face de toda a terra; e cessaram de edificar a cidade.
b) Exemplo 11
(Isaas 53:3)
Era desprezado e abandonado pelos homens, um homem sujeito dor, familiarizado com a enfermidade,como uma pessoa de quem todos escondem o rosto; desprezado, no fazamos nenhum caso dele.
c) Exemplo 12
(Isaas 38:11)
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Eu disse: no tornarei a ver Yahweh na terra dos viventes, j no contemplarei a ningum entre os habitantesdo mundo.18(daquilo que passageiro, limitado)
d) Exemplo 13
(Salmo 36:4)
As palavras de sua boca so maldade e mentira, ele desistiu19do bom senso de fazer o bem.
Nestes exemplos, vemos que a raiz (rdl)possibilita diferentes tradues; indica
interrupo, cessao; a que a traduo, aqui, tenta transmitir um sentido mais prototpico.
Mas, ainda assim, podemos perceber que h mudana de categoria gramatical na traduo,
embora os traos semnticos mais bsicos e a categoria gramatical da raiz mantenham-se.
Deste modo, cabe alertar para as especificidades gramaticais de que falamos anteriormente;
assim, ao ler os exemplos, de suma importncia acompanhar as notas.
Antes de analis-los, vamos pensar nas instncias de polissemia do verbo parar.
Em portugus, so comuns frases como:
1) Ele parou de fumar (parar interromper definitivamente ao habitual, o agente
interrompe sua prpria ao).
2) O policial parou o carro ao apitar para o motorista (interromper ao em curso ao
e agente no explcitos).
3) a) - Ele foi parar no hospital (chegar a determinado destino, situao, lugar);
18 Isaas, 38:11 Este exemplo apresenta certa particularidade. Embora grande parte das tradues traduzam
(radel) como do mundo ou da terra, h duas interpretaes e explicaes deste trecho por comentaristasda Bblia. Hartom (1964) apresenta as seguintes possibilidades: a) problema da cpia, o copista pode ter errado aordem das consoantes e no lugar de
(radel), teramos
(raled) que significa mundo; b) adjetivo derivadode (redel) - sinnimo de profundo, inferno, interrupto, separado, passageiro. Na ineterpretao de Hartom,quando estiver nas profundezas no verei mais as pessoas, ou seja, o contato cessa, pra, interrompido.
19Devemos alertar para a traduo. A raiz em questo indica interrupo, cessao. Claro que a traduo aquitenta transmitir o sentido geral, mas ainda assim podemos perceber que h mudana de classe gramatical emvrios usos da raiz, embora o frame evocado pela raiz e sua estrutura se mantenham ou, pelo menos, parte deles.
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b) - Onde foi parar meu caderno? (Uso pragmtico. O que se espera a resposta para
uma pergunta como: Onde est meu caderno?)
Poderamos apresentar outros exemplos, com diferentes nuances de significado,
pensando nos processos cognitivos que possibilitam a polissemia e nos problemas que esta
apresenta para a traduo; no entanto, acreditamos que estes j so suficientes para o que
queremos mostrar.
Podemos perceber que, em todos os exemplos, h diferenas de sentido: parar de
fumar diferente de parar o carro. Os aspectos do frame evocados e invocados nas duas
sentenas no so necessariamente iguais. Mas um no poderia ser um desdobramento do
outro, uma vez que um frame se relaciona com outros?
No dia-a-dia, um falante qualquer mal perceberia a diferena entre o sentido do
verbo nas sentenas apresentadas. No primeiro caso, teramos um esquema do tipo:O agente
A interrompe atividade (ao) do agente A. No segundo exemplo, teramos: Agente A
interrompe ao (x) implcita de objeto (O) operado por agente B, ao realizar ao (y) .
Ou seja, temos a mesma ao de interromper apresentada com estruturas diferentes. No
primeiro caso, temos a interrupo de uma ao (x) que desenvolvida diretamente pelo
mesmo agente da ao de parar.
A fuma
A - pra
O mesmo agente responsvel tanto pela ao/ atividade em curso quanto por sua
interrupo. No segundo caso, temos um agente para a ao de interromper uma atividadeque desenvolvida por outros com o auxlio (ou atravs) de instrumentos, objetos, veculos.
O agente interrompe a ao de um objeto que (geralmente) depende da ao de um outro
agente: parar o carro que dirigido por outro = parar o motorista, que s motorista porque
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executa uma atividade que est estritamente relacionada a um veculo ou objeto, mquina,
etc.
Apra O(objeto/ carro) .
Mas nosso frame de parar indica que este objeto precisa estar em movimento/atividade;
logo, no paramos o objeto, mas interrompemos sua atividade (curso). O frame de automvel
indica que o veculo no anda sozinho, que precisa de um condutor. De modo que, A pra
(interrompe) a ao/ atividade do condutor (Aapita para o motorista.), que pra a atividade
de O(carro).
Os dois exemplos diferem se pensarmos nos frames, ou na estrutura conceitual que
precisamos para compreender ambas as situaes. No primeiro caso, faz parte do frame de
parar interromper definitivamente uma ao que no ininterrupta, mas repetitiva. As
pessoas que fumam, fazem-no algumas vezes por dia, geralmente todos os dias; e parar de
fumar significa no fumar nunca mais. Esta interrupo uma tomada de conscincia que
depende do esforo psicolgico, no apenas fsico, do fumante. No segundo exemplo, temos
um veculo em movimento, provavelmente contnuo, at que se chegue ao ponto final (meta
da viagem, percurso). Este veculo depende de um agente para coloc-lo em movimento e
para encerrar o mesmo. Quando nos deparamos com uma sentena como 2, temos um frame
de trnsito, que envolve policiais de trnsito, leis de trnsito etc. Aqui, a interrupo da ao
se d, no por um esforo psicolgico, mental e emocional, mas, principalmente, por outro
motivo, motivos legais, de autoridade. Nota-se que h diferenas entre os frames, embora a
noo prototpica de interrupo de atividade se mantenha.Nos exemplos seguintes, veremos expresses com o mesmo verbo que apresentam
significados bem diferentes dos anteriores. Em 3, temos parar no hospital e onde foi parar
o livro?. Nestes dois exemplos, reala-se o sentido da expresso chegar em/a algum lugar,
ponto. O sentido do verbo, nestes exemplos, aparentemente parece no ter uma relao com
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os sentidos apresentados anteriormente; no entanto, se considerarmos que determinadas
atividades so ininterruptas at que se chegue a um objetivo/ponto, ento perceberemos que o
ponto ou objetivo coincide com a interrupo da atividade, interrupo que pode ser
definitiva ou no. Assim, um carro no anda ininterruptamente eternamente; ele corre ou
anda ininterruptamente por horas ou minutos at chegar a determinado ponto (estabelecido
pelo motorista), mas, caso no haja obstculos, chegando ao ponto estabelecido, ele
interromper seu curso (ao/atividade). Neste caso, chegar a determinado destino, alvo
pressupe encerrar uma etapa, interromper um curso/atividade que tem um fim, ou objetivo,
etc.
Deste modo, o exemplo 3 seria uma instncia de polissemia do sentido mais
prototpico do verbo parar, visto em 2. O caderno passou por um percurso (pela mo de
algum) e chegou a um determinado lugar, fim.
Ele foi parar no hospital.
Neste exemplo, temos o percurso e a ao que revela este percurso, suprimidos. Ele
sofreu alguma ao, ou desenvolveu alguma ao ou atividade que o levou determinada
situao, estado ou lugar. Nestes exemplos, vemos que o frame do verbo vai alm da noo
de ao como em 1 e 2, em que funciona como ncleo do sintagma verbal de uma orao
principal. Em 3(a) e 3(b), o verbo parar faz parte de uma expresso que se relaciona
consequncia, resultado de uma determinada ao, atividade.
As Lakoff and Johnson (1980) observe, a metaphor can be viewed as anexperientially based mapping from an ICM in one domain to an ICM in anotherdomain. This mapping defines a relationship between the idealized cognitive
models of the two domains. It is very common for a word that designates anelement of the source domains ICM to designate the corresponding element in theICM of the target domain. The metaphorical mapping that relates the ICMs definesthe relationship between the senses of the word. It is most common for the sense ofthe word in the source domain to viewed as more basic. (LAKOFF, 1987, p. 417)
Seguindo as idias de Lakoff, teramos o mesmo ICM nestes exemplos, mas
domnios diferentes. Podemos compreender todos esses diferentes sentidos do verbo em
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Deste modo, compreendemos desistir, abandonar e efmero, nos exemplos
dados, em termos de conceitos mais prototpicos, estendidos por meio de metforas
conceituais que esto na base do nosso pensamento.
Para Lakoff e Johnson, de acordo com Jos Antnio Milln e Susan Natotzky (2007,
p. 12), las metforas impregnan el lenguaje cotidiano, formando una red compleja e
interrelacionada para la que tienen pertinencia tanto las creaciones ms nuevas como las
fosilizaciones.... Conforme estes autores, a existncia desta rede afeta nossas
representaes internas e nossa viso de mundo. Assim, com base em metforas conceituais
que podemos explicar a relao entre diferentes instncias de polissemia. Percebemos que
possvel, inclusive, demonstrar como certas metforas conceituais servem para explicar a
polissemia das palavras com significados prximos, em lnguas e culturas diferentes.
Conforme vimos nos exemplos com as formas verbais das razes tsv e rdl,
percebemos que muitas diferenas culturais podem ser percebidas pelo modo como
categorizamos o mundo fsico e as abstraes do mundo que criamos a partir desta realidade
fsica. Aprimeira raiz analisada em hebraico pode referir-se a diferentes aes que envolvam
a idia de cor, j em portugus temos vrios verbos para a ao de dar cor (pintar, colorir,
tingir). Algo parecido acontece com rdl: temos o verbo parar em portugus (tambm
polissmico), mas o verbo hebraico tem extenses muito mais complexas.
Acreditamos, portanto, que h vrios tipos de polissemia; que elas so regra e no
exceo numa lngua. H algumas mais sutis que passam despercebidas pelo falante,
enquanto outras so mais evidentes, saltam aos olhos, pois, dependendo do contexto, ficantida a extenso de significado no exato momento do uso de determinada palavra - afinal,
aquilo que realado em um contexto pode parecer novo, criativo etc. Deste modo, o leitor
perceber que os exemplos do captulo seguinte levam sempre idia de polissemia, uma vez
que esta consequncia, dentre outras coisas, da extenso de significado.
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verbais, aparece relacionada a peso, preo, inflao, presso, chuva, temperatura, imigrao
(de Israel), etc.
Na reconstituio do hebraico e na sua adaptao ao mundo moderno, muitas
palavras bblicas ganharam novos significados. A preferncia dos reconstrutores da lngua
sempre foi a de recorrer ao vocabulrio bblico para, a partir dele, criar palavras novas, por
um processo de derivao ou mesmo por ampliao semntica. Em nossa anlise da raiz
verbal yrd no texto bblico, selecionamos aproximadamente 30 ocorrncias da raiz para
estudo. Nosso primeiro critrio foi selecionar exemplos de mais de um livro da bblia
hebraica para comparar o uso nos diferentes momentos da cultura do povo, visto que a
maioria destes livros referem-se a momentos histricos especficos e foram escritos em
pocas e contextos distintos. Alm disso, tambm decidimos analisar os verbos nas vrias
flexes verbais em que aparece. Assim, nos exemplos, temos o mesmo verbo com flexes de
nmero e pessoa, modo e tempo diferentes (ou melhor, no caso do hebraico bblico, aspecto e
construo).
Em nossa anlise, tentamos descrever os aspectos mais realados dos frames das
formas verbais das razes (yrd)e (lh) em cada exemplo. Para tanto, consideramos
cinco aspectos semnticos relacionados a cada verbo no texto bblico: movimento de
deslocamento espacial sobre uma base de apoio; orientao espacial; movimento de
deslocamento de um corpo em relao a ele mesmo; valor positivo ou negativo atribudo
orientao espacial, geogrfica para o norte ou para o sul.
a)
(yrd)e
(lh) e as noes geogrficas de norte e sul.
Embora a maioria dos dicionrios de lngua hebraica no faam aluso acepo
possvel para a raiz verbal (yrd), ir para o sul, e para a raiz verbal (lh), ir para o
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de orientao espacial. O verbo usado, nesse caso, para referir-se distino para cima e
para baixo ou noo geogrfica do sul para o norte? Como j mostramos, e ainda
reforaremos, o sentido do verbo yarad tem um frame amplo; e, em cada contexto,
determinado aspecto deste frame pode ser evocado. No exemplo 2, percebemos a estreita
relao dos personagens bblicos com o Egito, alm do texto de Shibayama j afirmar:
The important question for the translation of Genesis 46:29 is a follwos: Are wedealing with Egyptian linguistic habits or Hebrew linguistic habits? It is possiblethat we are dealing with Egyptian habits. If so, alah in these verses would meanthat Joseph went south in both cases. Also according to Egyptian usage themeaning ofyaradin Exodus 11:8 would be to go north. (2001, p.362)
Exemplo 16a)(Gneses 46:29)
Ento, Jos aprontou o seu carro e subiu24ao encontro de Israel, seu pai, a Gsen. Apresentou-se, lanou-se-lheao pescoo e chorou assim longo tempo.
b)(xodo 11:8)
Ento todos estes teus servos descero a mim, e se inclinaro diante de mim, dizendo: Sai tu, e todo o povo quete segue as pisadas; e depois eu sairei. E saiu da presena de Fara ardendo em ira.
Podemos notar que o uso deste verbo, embora geralmente traduzido como descer,
nem sempre envolve o frame de deslocamento espacial com orientao de cima para baixo.
Logo, vale ressaltar as idias de Sweetser sobre a relao entre significado e cultura, assim
como as idias de Lakoff e outros cognitivistas sobre o corporeamento da linguagem. Ambas
24Neste exemplo, o verbo est na forma do imperfeito (que no hebraico moderno corresponde ao futuro), porm,notem que a traduo aparece no perfeito (forma correspondente ao passado, no moderno). Isto ocorre porque,no hebraico bblico, muito comum o uso de um artifcio estilstico com a conjuno
(wav we ou wa). Ochamado vav conversivo. Devido escassez relativa de conjunes subordinatinas que introduzam oraesadverbiais, em hebraico bblico, a conjuo weapresenta uma gama enorme de funes de acordo com o tipode sequncia sinttica em que se encontra. Em alguns casos ela inverte o aspecto verbal, no caso do texto bblico.Para ler mais sobre o tema, veja LAMBDIN (2003).
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as idias demonstram como o significado no um atributo lingustico isolado do contexto,
da cultura e do corpo (ou de nossa experincia corprea). De acordo com Sweetser (1990),
A word meaning is not necessarily a group of objectively same events or entities;
it is a group of events or entities which our cognitive system links in appropriateways. Linguistic categorization depends not just on our naming of distinctions thatexist in the world, but also on our metaphorical and metonymic structuring of ourperceptions of the world (p. 9).
Ou seja, o uso que fazemos das palavras, a forma como as categorizamos e
empregamos demonstra nossa relao com o mundo (relao fsica, corprea, social e
cultural). Assim, a relao fsica do homem hebreu com montes e vales determina a noo
bsica de movimento, deslocamento espacial e orientao espacial cima - baixo; e a relao
do homem egpcio com o Nilo o faz relacionar movimento, deslocamento espacial e a
orientao espacial norte sul. Vemos que a experincia fsica, corporal e cultural
influencia o sentido do verbo; no entanto, quando h relao entre culturas, os sentidos
derivados dessas experincias tornam-se comuns, pois so intercambiveis. De forma que
podemos encontrar, em muitas passagens do livro de Gnesis, o verbo yaradsendo usado no
sentido de ir para o norte, ou simplesmente com o sentido de movimento desprovido de
orientao espacial.
Exemplo 17(xodo 32:1)
Mas vendo o povo que Moiss tardava em descer do monte, acercou-se de Aro, e disse-lhe: Levanta-te, faze-nos deuses, que vo adiante de ns; porque quanto a este Moiss, o homem que nos tirou da terra do Egito, nosabemos o que lhe sucedeu.
Exemplo 18
(Juzes 1:34)
34E os amorreus impeliram os filhos de D at s montanhas; porque nem os deixavam descer ao vale.
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8Depois disse Davi a Urias: Desce tua casa, e lava os teus ps. E, saindo Urias da casa real, logo lhe foimandado um presente da mesa do rei. 9PormUrias se deitou porta da casa real, com todos os servosdo seu senhor; e no desceu sua casa. 10E fizeram saber isto a Davi, dizendo: Urias no desceu a suacasa. Ento disse Davi a Urias: No vens tu duma jornada? Por que no desceste tua casa? 11E disseUrias a Davi: A arca, e Israel, e Jud ficaram em tendas; e Joabe, meu senhor, e os servos de meu senhoresto acampados no campo; e irei eu minha casa, para comer e beber, e para me deitar com minha
mulher? Pela tua vida, e pela vida da tua alma, no farei tal coisa.
Em 2 Samuel 11:8-11ss, no h uma referncia clara s noes geogrficas. Neste
caso, poderamos dizer que o mais importante aqui a noo de movimento, no
necessariamente a noo de orientao espacial. Tanto que, nos versculos de 8 a 10, as
ordens de movimento de Davi para Urias so expressas pelo verbo yarad, mas a resposta de
Urias, quando perguntado sobre por que no havia descido sua casa, expressa pelo verbo
lavo (ir). De acordo com Shibayama (1966), a orientao espacial expressa pelos verbos
yarad e alahdepende sempre da posio de origem em relao posio de destino. Como
nem sempre estas referncias so encontradas no texto, torna-se difcil definir o sentido exato
do verbo. o que ocorre em 2 Samuel 11: 8-11. No entanto, acreditamos que quando a noo
espacial realmente importante, as referncias geogrficas aparecem. Quando no aparecem,
o realce sobre o movimento e, em cada contexto, pode incluir informaes diferentes; como
ocorre nos exemplos citados por Shibayama, em que a noo realada de orientao
geogrfica.
It must be noted that in the old Testamentyaradand its antonym alahappear mostfrequently in Judges (twenty-nine times), and in each case they espress goingdown or going up in relationship to a geographical position. Moreover, the useof yarad or alah depends upon the geographical position of actor before hemoves. () But if someone is going to walk to the coast of the Mediterranean Seafrom highlands, yarad is used to express moviment. Yaradis always used when theactor is going to a place lower than the place where he has been standing. These
people in the mountains used bothyaradand alahin order to express the idea ofgoing. Therefore, the rule for the selection of yarad or alah to describe theirmovements was dependent upos two things: their erstwhile standing-place and theplace to which they were going. (SHIBAYAMA, 1966, 359-360)
Shibayama afirma, neste trecho, que yarad e alah, em Juzes, no so usados
abstratamente. O que ele quis dizer com isso? Acreditamos que o autor refira-se ao sentido de
movimento e orientao espacial (para baixo para cima), uso mais recorrente destes
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verbos. No entanto, o verbo nem sempre empregado apenas com o frame restrito de
movimento e orientao espacial. Vejamos um exemplo do prprio texto de Juzes:
Exemplo 21
(Juzes 19:11-12)
11Estando, pois, j perto de Jebus, e tendo-se j declinado muito o dia, disse o moo a seu senhor: Vamosagora, e retiremo-nos a esta cidade dos jebuseus, e passemos ali a noite. 12Porm disse-lhe seu senhor: Nonos retiraremos a nenhuma cidade estranha, que no seja dos filhos de Israel; mas iremos at Gibe. 13Disse
mais a seu moo: Vamos, e cheguemos a um daqueles lugares, e passemos a noite em Gibe ou em Ram.
Aqui, vemos um uso um pouco diferente de yarad, o dia desce, cai. Uso que
contradiz a afirmao de Shibayama de que, no texto de Juzes, no h usos abstratos do
verbo. Semanticistas ou filsofos da linguagem poderiam defender Shibayama, dizendo que a
metfora, neste exemplo, recai sobre a palavra yom dia, e no sobre a palavra yarad, uma
vez que, neste exemplo, trata-se o dia como um ser animado que se movimenta. No entanto,
analisemos um pouco mais detalhadamente este exemplo:
1- A idia de que o dia desce envolve o seguinte raciocnio: o dia composto por
vrias partes: madrugada, manh, tarde, noite. Cada uma dessas partes pode ser considerada
como um dos pontos de uma trajetria. Logo, se dia entendido como um ente, o tempo,
entendido pelas partes que compem o dia, visto como uma trajetria. O dia passa (se
movimenta) de um desses pontos para outro: da madrugada para a manh, depois para o meio
dia etc. At aqui temos apenas o dia sendo entendido como um ente, um ser animado,
portanto, de modo metafrico; uma metfora ontolgica, pela qual entendemos o tempo e sua
diviso.
2- Yaradcomea a ser usado de um modo metafrico (metfora orientacional) quando
entendemos que do meio-dia para a tarde e para a noite o movimento de descida. Afinal, h
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implcito a um valor cultural. Noite para baixo, escuro para baixo, etc. Claro que o
movimento do dia est relacionado ao movimento do sol que est a pino e parece cair aos
poucos; no entanto, no dizemos a noite sobe, mas o cair da noite ou o cair da tarde.
A passagem das fases do dia relacionadas orientao espacial para baixo ao invs de
outra orientao espacial ou ao verbal tm alguma razo. Esta nos mostra que, neste
exemplo, o verbo descer tem um valor abstrato; um valor semntico que vai alm de traos de
movimento e orientao espacial, e que est relacionado cultura - a como nossa cultura e a
cultura do povo hebreu (do perodo) bblico percebem a idia (conceito) de descida; a um
frame muito mais amplo do que simplesmente aquele que relaciona a ao de descer
experiencia fsica de descer e subir uma montanha. Eles tm, sim, esta experincia fsica
como base, mas a partir dela atribuem valores culturais a este movimento e a determinada
orientao espacial. Ex. Descida o fim. (O dia desce igual a o dia acaba, termina).
Portanto, embora a discusso de Shibayama sobre os verbos yarad e alah seja
pertinente, no que diz respeito orientao geogrfica substituir a orientao espacial (para
cima e para baixo) em alguns exemplos do texto bblico, as afirmaes sobre a abstrao de
tais verbos no texto de juzes questionvel. Alm disso, deve-se considerar que, mesmo que
a perspectiva egpcia de orientao geogrfica tenha influenciado a semntica destes dois
verbos hebraicos, no contexto de certos livros da bblia, pode ainda haver relao entre as
noes geogrficas de norte e sul, e as noes de orientao espacial (de altura), para cima e
para baixo.
Afinal, se os traos de orientao espacial (de altura) fazem parte do sentidoprototpico destes verbos, o uso destes mesmos verbos para indicar as noes geogrficas de
norte e sul demonstram uma sobreposio destes traos: norte para baixo, sul para cima. A
relao entre estas noes se mantm, inclusive, nos desenhos e mapas sobre os pontos
cardeais, at hoje. o caso, por exemplo, da representao dos pontos cardeais pela rosa dos
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20Porque teu servo deveras confessa que pecou; porm eis que eu sou o primeiro que de toda a casa de Josdesci a encontrar-me com o rei meu senhor. 21Ento respondeu Abisai, filho de Zeruia, e disse: No morreria,pois, Simei por isto, havendo amaldioado ao ungido do SENHOR? 22 Porm Davi disse: Que tenho euconvosco, filhos de Zeruia, para que hoje me sejais adversrios? Morreria algum hoje em Israel? Poisporventura no sei que hoje fui feito rei sobre Israel? 23E disse o rei a Simei: No morrers. E o rei lhojurou.26
Neste exemplo, percebemos, pelo contexto, que descer tem um sentido bem abstrato
de humilhao (para baixo igual a humilhado, pobre etc., portanto, negativo) ou humildade
e/ou respeito (que pode ser tanto positivo quanto negativo). Assim, muitas tradues
apresentam as seguintes possibilidades para este trecho: atirar-se aos ps do rei ou curvar-
se aos ps do rei27.
Usos como estes, j no texto bblico, podem servir de base para novos significados
no processo de ampliao lexical por ampliao semntica no hebraico moderno. Como
veremos, h uma srie de novos usos para este mesmo verbo no mundo moderno. Grande
parte dos novos significados surgiram por extenso semntica, num processo metafrico.
Eve Sweetser afirma, em um de seus livros, que o significado de uma palavra, ou o
frame que ela evoca, tem relao com nossa experincia cultural, social, fsica e cognitiva.
Lembra ainda que nossa cognio estruturada em termos de domnios e que nosso
conhecimento surge da nossa capacidade de relacion-los. Assim, o que explica sentidos
como os dos exemplos 08 e 09 nossa capacidade de conectar domnios diferentes.
26Em alguns livros da Bblia no h correspondncia exata entre a numerao dos versculos das verses doportugus e do hebraico. Por isso, no exemplo 22, a verso em hebraico comea no versculo 21 e a verso emportugus, no versculo 20.27Ver Bblia de Jerusalm. Verso revisada e atualizada.
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Metaphor operates between domains. It operates so pervasively that speakers findan inter-domain connection between knoledge and vision, or between time andspace, to be as natural as the intra-domain connections between finger and hand orbetween man and woman. Studies of systematic metaphorical connections betweendomains are thus needed; in addition what is a likely relationship between two
senses (SWEETSER, 1990, p.19).
Deste modo, pode-se relacionar a orientao espacial para baixo, trao presente na
raiz yrd, com valores culturais abstratos positivo e negativo, bom e ruim, ou
quantitativos mais e menos. Ou ainda, entender conceitos de um domnio em termos de
outro domnio, por exemplo, entender o dia como uma entidade que tem comeo, meio e
fim; ou seja, como algo concreto, quando, na verdade, trata-se um conceito abstrato e
cultural.
Descer ao encontro do rei reala um outro trao do verbo yarad, no mais o do
movimento de um corpo numa determinada posio - de um ponto para outro em uma
orientao espacial especfica - mas o movimento do corpo em relao a ele mesmo. Os
pontos de referncia do movimento no so mais pontos geogrficos (do monte para o vale,
por exemplo), a referncia agora a posio do prprio corpo e do corpo do outro (no caso, o
corpo do rei). Observemos as figuras abaixo para percebermos melhor a diferena entre o
frame visto na maior parte dos exemplos do texto bblico e no exemplo 22.
A figura 1 representa a idia de movimento de um corpo, com deslocamento sobre
uma base, de um ponto (origem) a outro (destino), mais orientao espacial (de cima para
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era o prprio objeto. Por fim, encontramos duas ocorrncias em que tnhamos traos de
movimento de deslocamento espacial, mais trao de orientao espacial para o norte.
No quadro 02, h traos que no foram bem explorados nos itens anteriores, tais
como o ltimo: orientao espacial marcada pelo ponto de referncia de destino, em que o
alvo no um ponto geogrfico, mas um ser animado, geralmente humano. Analisaremos,
mais atentamente, estes traos, quando compararmos o verbo yarad ao verboalah no
captulo 4.
c) Yarad, no hebraico moderno, usado para se referir a fenmenos meteorolgicos
No item anterior, analisamos alguns usos do verbo no texto bblico. Vamos observar,
agora, o uso do mesmo verbo em textos modernos retirados da internet. O frame do verbo,
atualmente, muito mais amplo e envolve uma srie de conceitos, valores, usos etc; mas, em
cada uso, algum aspecto do frame deste verbo realado. Naturalmente, o realce geralmente
recai sobre a noo prototpica de movimento e orientao espacial.; no entanto, na passagem
do bblico para o moderno, o verbo ganhou uma gama de usos e sentidos novos.
O verbo yarad usado para referir-se a fenmenos meteorolgicos, como a chuva,
por exemplo.
1. A chuva desce:
Exemplo 24
Arquivo de informaes meterolgicas, reportagens de IsraelA tempestade comeou por toda a cidade
30http://www.israelweather.co.il/zarkor.asp?type=18page=31&sort=8# em: 20/05/2008
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A tempestade prevista a partir do perodo do meio-dia alcanou nossas regies nas ltimas duas horas.Comeam a descer (cair) chuvas espordicas no norte e ao longo do litoral. Em Radamin, comeou a cair(descer) neve nas ltimas horas, o lugar foi fechado com milhares de pessoas sendo evacuadas da regio. Nonorte da c