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Prof. Dr. Fábio Kummrow – fkummrow@unifesp.br
29/03/2016
Qualidade da água para consumo
humano: contaminantes químicos
SEMASA – 22 de março – DIA MUNDIAL DA ÁGUA
SEMASA – 22 de março – DIA MUNDIAL DA ÁGUA
Contaminação ambiental pode ser
definida como a presença de substâncias
químicas em locais onde normalmente não
ocorreriam ou ainda acima das
concentrações naturais.
Poluição é a contaminação que resulta ou
pode resultar em efeitos biológicos
adversos às comunidades.
(Chapman, 2007)
Contaminantes de interesse emergente: podem ser definidos como
compostos químicos ou materiais de ocorrência natural ou produzidos
pelo homem que foram descobertos recentemente, ou que se suspeita
da sua presença, nos compartimentos ambientais e que devido a sua
toxicidade ou persistência possivelmente podem afetar negativamente
a biota. Esses compostos químicos não são necessariamente novos,
podem estar sendo lançados no meio ambiente a muito tempo, porém a
preocupação com seus efeitos nocivos aos ambientes e a saúde humana
ocorreu apenas recentemente.
(Horvat et al, 2012;. Sauvé e Desrosiers, 2014)
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Fármacos
Interferentes Endócrinos Agrotóxicos
Retardantes de chamas bromados
(PBDE) Nanomateriais
Produtos de higiene pessoal e cosméticos
Corantes
Contaminantes emergentes ≠ Contaminantes novos
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Principais legislações brasileiras que apresentam Padrões de Qualidade de
Água para consumo humano referentes a substâncias químicas:
Portaria do MS 2914/2011: Estabelece padrões para água destinada ao
consumo humano;
Resolução CONAMA 357/2005 (águas superficiais): classes que englobam
conjunto de usos concomitantes: consumo humano com ou sem tratamento,
recreação, dessedentação de animais, irrigação, proteção da vida aquática,
aquicultura;
Resolução CONAMA 396/2008 (águas subterrâneas): classes que englobam
conjuntos de usos, mas apresentam os VMP por uso separados e consideram
LQP (limite de quantificação).
SEMASA – 22 de março – DIA MUNDIAL DA ÁGUA
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Critérios X Padrões de Qualidade de Água:
Critérios de qualidade de água - são valores máximos
toleráveis que garantem os usos pretendidos da água
definidos para condições genéricas de exposição (ex.
consumo humano, recreação...);
Padrões de Qualidade de água - quando o critério está citado
em uma legislação (envolve questão políticas, sociais e
tecnológicas);
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Os valores que protegem a saúde humana são os mais
restritivos;
Águas não potáveis são sinônimo de águas contaminadas;
Critérios de qualidade de água são fixos (imutáveis);
Quanto mais restritivo melhor para a saúde/meio ambiente
quanto menor o padrão mais perigoso o composto;
Não existência de uma substância na legislação significa que
a mesma não é importante.
Paradigmas sobre a qualidade de águas:
SEMASA – 22 de março – DIA MUNDIAL DA ÁGUA
Para quais substâncias se estabelecem critérios/padrões de
qualidade de água?
Capazes de causar efeitos adversos ou desconforto aos
organismos expostos (agentes tóxicos);
Probabilidade de ocorrência na água devido a características
geológicas (naturais) ou fontes de poluição (atividades
antropogênicas);
Uso no país ou região.
Não basta copiar a lista da OMS….
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Como são estabelecidos os critérios/padrões de qualidade de
água para os diferentes usos?
Escolha dos dados toxicológicos: IDT ou DRf adotado pelo
país ou estado;
Valores escolhidos para as diferentes variáveis empregadas
nos cálculos (peso corpóreo, consumo de água e fator de
alocação destinado ao ingresso via água);
Fatores de incerteza escolhidos;
Viabilidade técnica (analítica e de tratamento) e política de
cada país.
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Para substâncias não cancerígenas e para cancerígenas não genotóxicas:
TDI = NOAEL ou LOAEL/FI
TDI = ingresso diário tolerável (mg/Kg de peso/dia)
NOAEL = dose sem efeito adverso observado (mg/Kg de peso/dia)
LOAEL = menor dose com efeito adverso observado (mg/Kg de peso/dia )
FI = Fator de incerteza (varia de 10 a 1000)
VMP = TDI x P x F/C
VMP = valor máximo permitido (mg/L ou ug/L)
P = peso corporal (60 ou 70Kg, ou outro valor)
F = porcentagem da TDI associada a ingestão de água (10 ou 20% mas pode variar de 1% a
até 100%)
C = consumo de água por dia (geralmente usa-se 2L, alguns países usam 1,5L)
Para substâncias não cancerígenas genotóxicas utilizasse a potência carcinogênica
(fator de inclinação) com valores de risco aceitáveis (10-4, 10-5 ou 10-6).
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Cada país ou região deve estabelecer suas próprias regras:
Para potabilidade:
- EUA – USEPA
- Canadá – Health Canada
- Organização Mundial da Saúde – sugere valores para países que não
tem condições de derivar seus próprios valores.
E O BRASIL??? ADOTAMOS OS VALORES DA OMS... mas muitas vezes
não há todas as substâncias que precisamos.
O que usar nesses casos???
E o estabelecimento dos padrões para os outros usos da água???
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Porque os critérios/padrões de qualidade de água variam de
país para país?
(Umbuzeiro et al., 2010)
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Porque os critérios/padrões de qualidade de água variam de
país para país?
(Umbuzeiro et al., 2010)
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VALORES MÁXIMOS
PERMITIDOS (VMP)
IDT - INGRESSO DIÁRIO
TOLERÁVEL
ANÁLISE DE VIABILIDADE -
GERENCIAMENTO DO RISCO
VMP (PADRÃO)
FATORES DE INCERTEZA
CONDIÇÕES GENÉRICAS DE EXPOSIÇÃO (PADRONIZADAS)
LEGISLAÇÃO
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Tendência atual:
- Complementar a avaliação da qualidade da água com os ensaios
toxicológicos (em alguns casos os mesmos que foram usados para
derivar os critérios) realizando a análise com a própria água;
- Inclusão de análises de outras matrizes (como sedimento, material
particulado suspenso e organismos expostos);
- Análises físico-químicas são também complementadas com
biomarcadores de exposição e efeito e com dados de estudos
epidemiológicos;
- Novidade da portaria 2914 – Plano de segurança da água (PSA).
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Plano de segurança da água (PSA):
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Plano de segurança da água (PSA):
WHO - Guidelines for Drinking-water Quality 4° Ed., 2011.
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Considerações finais: Cada país deve ter seu método definido e suas bases dados
padronizadas;
A derivação de critérios depende da informação obtida em ensaios
toxicológicos chamada de Ingresso Diário Tolerável (IDT) ou Dose de
Referência (DRf); do cenário de exposição; do peso corpóreo, do
consumo de água, da porcentagem de ingresso via água – AVALIAÇÃO
DE RISCO;
É necessário considerar a viabilidade técnica e econômica de se
quantificar quimicamente a substância na água bem como de removê-
la aos níveis desejados;
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Considerações finais: Os critérios são transformados em padrões legais após análise dos
gestores públicos – GERENCIAMENTO DO RISCO;
As substâncias, incluídas na legislação, devem ser escolhidas em
função da importância e ocorrência no país;
As legislações devem ser dinâmicas e prever alterações sempre que
necessário;
A existência de critérios por usos individualizados permite melhor
gestão do recurso;
A ÁREA DA SAÚDE, AGRICULTURA E MEIO AMBIENTE DEVEM AGIR
INTEGRADAMENTE
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Paradigmas sobre a qualidade de águas:
1) Os valores que protegem a saúde humana são os mais restritivos;
2) Águas não potáveis são sinônimo de águas
contaminadas;
3) Critérios de qualidade de água são fixos
(imutáveis);
4) Quanto mais restritivo melhor para a
saúde/meio ambiente e quanto menor o
padrão mais perigoso o composto;
5) Não existência de uma substância na
legislação significa que a mesma não é
importante.
1) Cada uso da água tem seu valor máximo permitido adequado;
2) Águas não potáveis podem ter origem
natural, não requerendo ações de controle,
porém necessitam de tratamento;
3) Critérios de qualidade de água são dinâmicos
– legislações devem permitir essas atualizações
de forma ágil e valores variam de país para
país;
4) Quanto mais preciso o padrão melhor para a
saúde/meio ambiente;
5) Inclusões de novas substância devem ser
consideradas rotineiramente.
Características que tornam fármacos contaminantes
importantes:
Desenvolvidos para ter atividade biológica;
Propriedades físico-químicas (solubilidade: capacidade de
transpor membranas biológicas);
Certa resistência a degradação (biótica e abiótica);
Capacidade de bioacumulação;
Ampla produção e utilização.
Fármacos como poluentes:
(Halling-Sorensen et al. 1998)
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Aspectos da contaminação ambiental por fármacos:
Fármacos podem atingir o meio ambiente na sua forma
inalterada ou biotrasformada;
No ambiente podem ser transportados e distribuídos nas
águas, sedimentos, solos e biota;
Nos compartimentos ambientais podem ser biodegradados
ou sofrer degradação química e/ou fotodegradação;
(Horvat et al., 2012)
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Os efeitos tóxicos/deletérios dos fármacos presentes no
ambiente poder ser divididos em três grupos:
1) Toxicidade direta devido a interação entre o fármaco e o
organismo – célula-órgão-organismo-população-ecossistema;
2) Resistência bacteriana com seleção genética das espécies mais
perigosas ao ser humano;
3) Interferência endócrina levando ao desequilíbrio hormonal e
feminilização de algumas espécies.
Efeitos tóxico/ecotoxicológicos dos fármacos:
(Halling-Sorensen, 2010)
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1) Citostáticos e imunossupressores – potencial carcinogênico,
mutagênico e embriotóxico;
2) Antibióticos e desinfetantes – toxicidade elevada a bactérias e
potencial de promover resistência bacteriana;
3) Hormônios – efeito pronunciado mesmo em baixas
concentrações;
Classes de fármacos que merecem especial atenção devido ao
seu potencial tóxico:
(Kümmerer, 2001)
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Considerações finais:
Alguns compostos emergentes já estão presentes em águas de consumo
humano;
É urgente a necessidade de investimentos em tecnologias de tratamento
de águas e esgotos;
É urgente que todos percebam que estamos muito mais conectados com
o ambiente que imaginávamos. Nossos opções e nosso hábitos podem
contribuir para a preservação da qualidade ambiental;
Indicadores adequados e o estabelecimento de padrões para os
poluentes emergentes são urgentes.
SEMASA – 22 de março – DIA MUNDIAL DA ÁGUA
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Muito obrigado!Prof. Dr. Fábio Kummrow – Unifesp - campus Diadema
fkummrow@unifesp.br ou fkummrow@gmail.com
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