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Seminário ESPORTE E DESENVOLVIMENTO HUMANO
a competição em jogo
10 NOVEMBRO
2012
PUBLICAÇÃO
Seminário ESPORTE E DESENVOLVIMENTO HUMANO
a competição em jogo
Seminário ESPORTE E DESENVOLVIMENTO HUMANO
a competição em jogo
O Seminário Esporte e Desenvolvimento Humano: a competição em jogo encerra as
atividades formativas realizadas pelo Programa de Desenvolvimento Humano pelo Esporte
durante o ano de 2012, que tiveram como foco as competições esportivas durante a infância
e a adolescência.
O objetivo maior deste evento é fomentar o debate sobre o tema da competição
infantojuvenil, articulando os avanços científicos da área com propostas pedagógicas
inovadoras. Além disso, este será um momento ímpar para a discussão de novos referenciais
para eventos competitivos tão importantes à formação dos jovens.
Esta publicação sintetiza as principais ideias e conceitos trazidos pelos palestrantes, além de
reunir alguns dos trabalhos apresentados.
Desta forma, encerram-se as atividades do ano, mas não se coloca um ponto final na
questão da competição esportiva infantojuvenil, muito pelo contrário. Espera-se que os
horizontes e as práticas se ampliem para que as crianças e adolescentes se desenvolvam
esportivamente tanto em suas atividades de aprendizagem cotidianas como nos momentos
de competição.
Segue o jogo!
Equipe de Coordenação
Programa de Desenvolvimento Humano pelo Esporte
APRESENTAÇÃO
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a competição em jogo
A CAPACIDADE DE COMPETIÇÃO
Profa. Ms. Catalina Naomi Kaneta, Profa. Dra. Maria Tereza Silveira Böhme
(GEPETIJ – LATECA – EEFEUSP)
A capacidade de competição na modalidade esportiva específica é considerada por
Martin et al. (1999, citado por BÖHME e RÉ, 2009), como um dos componentes importantes
da capacidade de desempenho esportivo. Para estes autores o desempenho esportivo é um
aspecto fundamental no esporte quanto processo e também resultado, desta forma, a
capacidade de competição é uma qualidade necessária para os praticantes da atividade
esportiva.
De Rose Jr. (2009), afirma que a origem da competição esportiva é tão antiga quanto
a história da humanidade, e competir é um fator motivante uma vez que representa
conquistas pessoais e sociais; Marques e Oliveira (2002) apontam que não há esporte sem
competição, e opinam que aqueles que não gostam de competição, não podem gostar de
esportes.
Segundo Tubino e Moreira (2003), o treinamento esportivo é um conjunto de meios
utilizados para o desenvolvimento das qualidades técnicas, físicas e psicológicas de um
atleta ou de uma equipe, tendo como objetivo final colocá-lo em eficiência máxima em
determinada prova esportiva. Estes autores consideram que os aspectos competitivos e as
competições, inerentes ao contexto esportivo e são produtos do processo de treinamento.
No entanto, na visão de muitos pedagogos, a competição pode ser considerada um
dos componentes mais perversos do esporte (De ROSE Jr., 2009) uma vez que significa
rivalizar, lutar, disputar, classificando os melhores dos piores ou vencedores dos derrotados.
Utilizando-se o conceito de Foucault (1984) sobre perversão como perturbações de
ordem psíquica que dariam origem a tendências afetivas e morais contrárias às do ambiente
social do indivíduo pervertido; a competição no esporte poderia ser classificada desta forma
Mesa de Abertura A COMPETIÇÃO NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA: O QUE ESTÁ EM JOGO?
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uma vez que promove valores exacerbados de concorrência e individualismo em detrimento
dos valores de igualdade e solidariedade (MARQUES, 2004).
Na psicologia do desenvolvimento, a discussão teórica e conceitual da cooperação e
competição tem como base a caracterização dos comportamentos como sendo pró ou anti-
sociais, sendo que para muitos autores, comportamentos pró-sociais são aqueles que
representam ações ou atividades consideradas como socialmente positivas, visando atender
às necessidades e ao bem-estar de outras pessoas, como, por exemplo, o altruísmo, a
generosidade, a cooperação, os sentimentos de empatia e simpatia; por outro lado,
comportamentos anti-sociais incluem ações ou atividades consideradas como socialmente
negativas, voltadas, por exemplo, à destruição ou ao prejuízo de outras pessoas, e
relacionadas a comportamentos egoístas, competitivos, hostis e agressivos.
No entanto nesta visão maniqueísta; da divisão dos polos entre o bem e o mal que
localizam a cooperação e a competição, corre se o risco de desconsiderar a complexidade do
fenômeno humano deixando aberta a possibilidade para generalizações muitas vezes
preconceituosas ou equivocadas a respeito de cooperação e competição.
Por exemplo, a cooperação promovida atualmente pelo capitalismo nomeado por
muitos de corporativismo (conceito que tem origem no sistema político utilizado na Itália
Fascista); embora represente a motivação de pessoas pertencentes a uma mesma categoria
a agirem em torno de interesses e objetivos comuns deste grupo, esta é feita com base na
imposição e tende a levar os indivíduos, mesmo de maneira não proposital a representar
ideologias do grupo no sentido da legitimação de preconceitos o que faz com que o
comportamento egocêntrico seja necessário para preservar as condições subjetivas. Desta
forma nem sempre ações cooperativas são benéficas, assim como ser egocêntrico é um
aspecto negativo.
É necessário, porém, distinguir processos de individuação e individualismo, pois o
primeiro representa a conquista e o reconhecimento da pessoa em sua condição de
originalidade, autonomia e liberdade, e o segundo relaciona-se de perto com disposições
egoístas e hostis.
Para Silva e Rubio (2003), na antiguidade, especificamente na Grécia, as competições
e a busca pelas vitórias tinham como fundamento “romper” barreiras individuais, alcançar o
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seu máximo na competição em que participava e assim aproximar-se de uma condição
divina. Para a sociedade grega helênica, os vitoriosos seriam todos aqueles que superassem
seus limites físicos pautados por uma conduta moral inquestionável. A vitória sobre o
adversário era uma decorrência desse processo, não o fim.
Neste sentido, pode se compreender a competição no esporte como auxiliar no
processo de individuação promotora de aprendizado de habilidades de disputa como
confronto, conflito, agressividade e o limite das mesmas, muitas vezes necessária em
ambientes grupais (KANETA, LEE, 2011).
Weinberg e Gould (2001) consideram que a competição tem um grande componente
de aceitação social, permitindo ao homem valorizar-se socialmente, o que corresponde a um
momento “ímpar” da prática esportiva.
A grande questão está no conceito de valor social; a ideia de valorização social
através dos dados numéricos nasceu com o esporte moderno, final do séc XVIII, e mais
especificamente se consolidou no século XIX com as características da “sociedade de
mensuração” dominadas pela ciência e pela tecnologia que transformou cada ação esportiva
em uma medida quantificada (SILVA, RUBIO, 2003). O valor dos atletas desta forma se
tornou quantificável.
Este conceito de valor social contemporâneo dificilmente pode ser extinta, no
entanto como os valores são aprendidos e principalmente seus significados são adquiridos,
talvez seja o grande desafio da prática esportiva, quais os valores pretende-se ensinar e
quais os significados pretende-se associar.
Estudos mostram que características como determinação e persistência (MASSA,
2006) são características importantes do atleta talentoso, no entanto a contribuição dos
apoiadores sociais é fundamental (BLOOM, 1985; CSIKSZENTMIHALYI, RATHUNDE, WHALEN,
1997; MORAES, RABELO, SAMELA, 2003) para determinar quais os motivos que levam uma
pessoa a se interessar pelo esporte, por que estes escolhem serem atletas de rendimento,
que limites necessitam ou desejam vencer como o recorde, o doping e a derrota; enfim a
orientação do grupo ao qual está inserido se torna providencial para a orientação
competitiva.
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Desta forma, os processos educacionais e as práticas pedagógicas são essenciais, uma
vez que são estas que darão significado à competição; o desafio e a disputa são inerentes à
práticas esportivas e aos próprios grupos sociais, os educadores e apoiadores serão aqueles
que determinam quais valores devem ser atribuídos a estes.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BLOOM, B.S. Developing talent in young people. New York: Ballentine, 1985.
BÖHME, M. T. S; RÉ, A. H. N. O talento esportivo e o processo de treinamento a longo prazo.
In: De ROSE JR., D. e colaboradores. Esporte e atividade física na infância e na adolescência.
Porto Alegre: Editora Artmed, 2009.
CSIKSZENTMIHALYI, M.; RATHUNDE, K.R.; WHALEN, S. Talented teenagers: the roots of
success & failure. Cambridge: University Press, 1997.
De ROSE Jr. D. Esporte, competição e estresse: implicações na infância e adolescência. In: De
Rose Jr., D. Esporte e atividade física na infância e adolescência: uma abordagem
multidisciplinar. Porto Alegre: ARTMED, cap. 7, 2009.
FOUCAULT, M. História da sexualidade (Vol. II: O uso dos prazeres). Rio de Janeiro: Graal.
1984.
KANETA, C.N.; LEE, C. L.; Aspectos Psicossociais do desenvolvimento. In: Maria Tereza
Bohme. (Org.). Esporte Infanto Juvenil Treinamento a Longo Prazo: Teoria e Prática. São
Paulo: Phorte, 2011.
MARQUES, R.F.R. Esporte e escola: proposta para uma ressignificação. 2004. Monografia
(Licenciatura em Educação Física) - Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de
Campinas, Campinas.
MARQUES, A.T.; OLIVEIRA, J. O treino e a competição dos mais jovens: rendimento versus
saúde. In. BARBANTI,V. J. (org). Esporte e atividade física:interação entre rendimento e
saúde. São Paulo: Manole, 2002. Cap. 4.
MASSA, M. Desenvolvimento de judocas brasileiros talentosos. Tese (Doutorado) - Escola de
Educação Física e Esporte, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006.
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MORAES, L. C.; RABELO, A. S; SAMELA, J. H. Papel dos pais no desenvolvimento de jovens
futebolista. Psicologia: Reflexão e saúde. v. 17, n. 2, p. 211-222. 2004.
MORAES, L. C.; RABELO, A. S; SAMELA, J. H. Papel dos pais no desenvolvimento de jovens
futebolista. Psicologia: Reflexão e saúde. v. 17, n. 2,p. 211-222. 2004.
SILVA, M. L.; RUBIO, K. Superação no esporte: limites individuais ou sociais? Revista
Portuguesa de Ciências do Desporto. 2003; v. 3, n. 3: 69-70.
WEINBERG, R. S.; GOULD, D. Fundamentos da psicologia do esporte e do exercício. 2ª ed.
Porto Alegre: Artmed, 2001.
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ANÁLISE DA OPINIÃO DOS TREINADORES SOBRE AS COMPETIÇÕES INFANTO-JUVENIS
Felipe Andrés Nicia Regina Ogawa
1. INTRODUÇÃO
1.1 A competição através da história
As competições infanto-juvenis fazem parte da nossa sociedade e costumam
introduzir, incutir, exacerbar e/ou fortalecer valores e símbolos de nossa cultura a este
público. Através das competições transmitimos às crianças e adolescentes, de modo
explícito e implícito, uma série de valores que entendemos pertinentes e significativos ao
nosso tempo histórico. Solidariedade, amizade, comunhão, respeito ao outro, a importância
de competir, de evitar a derrota, de se dedicar à preparação previa e de se obter a vitória (às
vezes a qualquer custo), são alguns dos valores presentes na experiência do competir. Por
meio desta vivência, crianças e adolescentes lidam com as suas expectativas, anseios,
desejos e frustrações, além de ter que lidar com as expectativas, anseios, desejos e
frustrações de seus responsáveis e treinadores.
Dessa forma, as competições infanto-juvenis costumam seguir duas vertentes
distintas: podem reproduzir os padrões e valores estabelecidos na vida adulta, repetindo o
modelo do esporte de alto rendimento que se insere nos mercados e que atrai
consumidores do mundo inteiro; ou, essas competições também podem trazer uma
aprendizagem significativa para crianças e adolescentes, respeitando e contribuindo para
sua fase de desenvolvimento, formando cidadãos que têm a capacidade de realizar uma
Apresentação de Trabalhos BATE BOLA: 1º TEMPO
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prática esportiva refletindo a respeito das relações de desigualdade presentes no esporte e
fora dele.
Atualmente, temos um padrão de beleza, de família, de religião, de escola e de
sociedade. Esses padrões dialogam com o processo histórico que é construído pelas diversas
forças que interagem neste determinado tempo. O esporte e as competições também fazem
parte disso. Em toda a nossa história, as competições esportivas fizeram parte de nossa
cultura, relacionando-se com os valores estabelecidos em cada época e exercendo um papel
importante em diversas culturas através dos tempos.
As competições futebolísticas realizadas nos templos Maias usavam uma espécie de
bola de látex feita com a cabeça dos inimigos e tinham a clara função de divertir o povo e de
realizar uma demonstração pública do poder do Estado. A mesma função social era utilizada
pelo Império Romano, que realizava competições de vida e morte em seus anfiteatros, como
o Coliseu, por exemplo. Até o final do século XIX o povo nativo da Ilha de Pascoa, localizada
ao extremo sul do Oceano Pacífico, utilizou-se da competição para determinar anualmente
quem exerceria o poder político e religioso da região. Essa competição representou um
grande avanço diplomático, já que pôs um fim às frequentes guerras realizadas entre os
diferentes clãs. Uma vez por ano, uma ave migratória da região ia para um determinado
ponto da ilha fazer seus ninhos e botar seus ovos. Os clãs selecionavam seus melhores
guerreiros, que competiam entre si para trazer o ovo desta ave, exigindo que seus
competidores escalassem imensos paredões de rocha, corressem grandes distâncias, além
de nadarem por quilômetros. O primeiro a apresentar o ovo intacto ao sacerdote tinha o
privilégio de ficar com as terras mais produtivas da região, garantindo a sobrevivência de sua
tribo até a próxima competição (CHAUVE, 1945; FISCHER, 2005).
Mais recentemente, governos utilizaram as competições para reafirmar sua
soberania, cativando multidões através das vitórias obtidas no esporte. As Olimpíadas de
Berlim, realizadas em 1936, foram utilizadas pelo governo nazista como forma de
propaganda de seu regime. Com estes Jogos, pretendeu-se reafirmar a tese da soberania
alemã em detrimento de outras culturas e nações. Um processo semelhante pôde ser
observado durante a Guerra Fria, em que nações aliadas ao regime soviético e aos EUA
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utilizavam as competições esportivas para reafirmar seu poderio político e militar. Na
América do Sul, a Copa do Mundo, maior evento futebolístico das nações, foi utilizada no
século 20 pelos governos brasileiros e argentinos para desviar as atenções do povo com
relação à série de perseguições e abusos cometidos por seus regimes militares.
Como referido acima, as competições esportivas podem contribuir para a dominação
dos povos, subjugando culturas e nações. Porém, existem também diversas práticas em que
governos, instituições e culturas as utilizam como forma de resgatar sua história e reafirmar
suas culturas, estimulando a reflexão crítica a respeito dos valores contemporâneos
presentes em nossa sociedade. Criado em 1997, os Jogos Indígenas (FUNAI, s.d.) por
exemplo, realizados em Tocantins, vêm resgatando a cultura nativa de diferentes povos da
região, transmitindo seus saberes e sua historicidade através das práticas competitivas
realizadas na floresta. Desde 1999, os Jogos Indígenas recebem recursos governamentais e
vêm se mostrando uma ferramenta importante para reafirmar a identidade cultural destes
povos, principalmente em relação aos indivíduos mais jovens.
1.2 Competições infanto-juvenis
As competições infanto-juvenis podem ser consideradas como uma linguagem que é
capaz de se comunicar com multidões e que, por isso, costuma ser apropriada por tantas
culturas, governos e nações em diferentes tempos históricos. Atualmente, diversas
organizações governamentais e não-governamentais vêm utilizando o esporte como
ferramenta pedagógica para trabalhar com suas crianças e adolescentes.
A disciplina presente nas regras do esporte e das competições e a rotina de
treinamentos preparatórios para os jogos costumam ser visto como elementos
disciplinadores que podem contribuir para o desenvolvimento social, físico e motor de
crianças e adolescentes. A educação formal e não formal vêem na prática esportiva uma
possibilidade de colaborar com o processo educacional das crianças e adolescentes. Para
alguns educadores, estimular a vivência esportiva competitiva neste público possibilita a
experiência de vencer. Essa experiência pode trazer a noção de processo, demonstrando que
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a vitória pode ser fruto de um planejamento que contempla um acúmulo de conhecimentos
ligados ao aperfeiçoamento da técnica e ao amadurecimento das estratégias e dos diversos
sentimentos que permeiam a experiência da competição.
Estudos apontam a possibilidade de que as competições infanto-juvenis
proporcionem a seus participantes um amadurecimento da experiência humana, gerando
um maior desenvolvimento físico e social (CARDOSO, 2007). Porém, a forma como
apreendemos essa experiência também pode promover a mera reprodução de valores,
aprofundando as relações de desigualdade entre as pessoas, servindo a uma cultura
dominante, que reproduz para o mundo das crianças e adolescentes os mesmos valores
aplicados a indústria da mercantilização das relações humanas - um dos elementos
presentes na prática atual do esporte de alto rendimento.
O presente estudo fará uma análise do discurso de instituições e educadores físicos
que realizam competições infanto-juvenis, avaliando a percepção dos profissionais e
apontando suas coerências e contradições. O objetivo é Investigar a opinião dos treinadores
no que se refere ao conteúdo, estrutura e enquadramento do sistema de competição de
crianças e jovens no contexto da formação esportiva.
2. MÉTODO
2.1 Amostra
Foram aplicados 27 questionários com técnicos de 13 instituições esportivas de
diferente natureza da cidade de São Paulo: 04 clubes sociais, 04 clubes/centros públicos; 03
organizações não-governamentais, 03 entidades privadas. Os técnicos da amostra atuavam
em 12 modalidades diferentes, conforme distribuição do gráfico 1.
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Gráfico 1 – Distribuição da amostra nas modalidades esportivas
participantes do estudo.
2.2 Instrumento
Esse questionário foi desenvolvido com base no instrumento original utilizado por
(CARDOSO, 2007). O questionário (anexo 1) continha um quadro de dados pessoais, 7
questões fechadas com escala, e uma questão aberta, que não será objeto dessa análise.
2.3 Coleta de dados
O questionário foi aplicado de forma voluntária, individualmente, e cada técnico que
participou do estudo respondeu um questionário, em forma escrita. Nos casos em que o
entrevistado era técnico de mais de uma modalidade, o mesmo respondeu um questionário
por modalidade. Durante a aplicação, os pesquisadores, permaneceram junto ao técnico
para esclarecer eventuais dúvidas, sem induzir suas respostas.
2.4 Tratamento dos dados
Os dados dos questionários foram tratados no SPSS (Statistical Package for Social
Sciences) em que foram calculadas as distribuições percentuais das respostas dos
treinadores a cada uma das questões. Para a análise dos resultados foram consideradas a
frequência e o percentual válido para as questões aplicadas, a partir das quais verificou-se a
lógica predominante na concepção dos treinadores.
29%
7%
11%11%7%
11%
4%
4% 4%4% 4% 4%
Basquete
Rugby
Voleibol
Futsal
G. artística
Natação
Futebol
Squash
Tênis de Campo
Atletismo
Luta Olímpica
Karatê
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3. ANÁLISE DOS RESULTADOS
Na análise que se segue, partiu-se do princípio da formação desportiva de longo
prazo como uma experiência vivida em sua plenitude ao longo do ciclo de vida, desse modo,
acredita-se também que, para haver maior aderência, a prática desportiva deve
proporcionar prazer e motivação ao praticante, e para que isso ocorra, faz-se necessário
considerar no planejamento e organização das atividades – treino e competição – o perfil e
os interesses dos participantes para delinear estratégias que despertem o interesse e
oportunizem diferentes experiências que buscam contribuir para a garantia do direito à
prática esportiva que, além de promover a saúde física, é indutor de cidadania.
Nesse sentido, a competição é entendida como extensão do treino e estratégia de
ensino-aprendizagem do treinamento esportivo de longo prazo em que se busca o respeito
ao desenvolvimento físico e cognitivo de cada faixa etária.
Diretrizes e orientações pedagógicas
Para cerca de 90% dos treinadores entrevistados só formação é prioridade que
deveria orientar a participação em competições na faixa etária de 6/7 anos, e quase 60%
deles acredita que essa continua sendo a prioridade na faixa etária de 8/9 anos. Pelo menos
50% deles acredita que nas 3 categorias que seguem dos 10 aos 14 anos deveria se dar mais
ênfase na formação do que nos resultados das competições. Aproximadamente 40% indicam
que na faixa etária de 13/14 anos deveria se dar mais ênfase nos resultados do que na
formação. Esses dados vão ao encontro da teoria de formação de longo prazo em que a
especialização ocorre mais tardiamente, ou seja, a medida que se avança na faixa etária,
progressivamente, é dada maior importância aos resultados, assim como ocorreu no estudo
de CARDOSO (2007).
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Gráfico 2 – Opinião dos técnicos sobre a prioridade que deve orientar a
participação em competições durante a formação esportiva
Objetivos das competições
Assim como ocorreu com o item anterior, nesse caso há uma tendência dos
treinadores de, gradativamente, migrar de preparação diversificada para especialização:
100% só preparação na faixa etária de 6/7 anos, seguido de mais de 70% na faixa etária de
8/9 anos, passando a mais de 50% para mais preparação multilateral do que especializada
nas faixas etárias seguintes, acompanhada de cerca de 40% como mais preparação
especializada que multilateral nas 2 categorias finais, que seguem dos 11 aos 14 anos.
Ênfase só nos resultadosdas competições
Mais ênfase nosresultados dascompetições do que naformação
Mais ênfase na formaçãodo que nos resultados dascompetições
Só formação
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Gráfico 3 – Opinião dos técnicos quanto à ordem que deveria orientar a preparação para
a competição para cada idade, de acordo com os objetivos formativos.
Funções da competição
No que se refere ao grau de importância da competição durante a formação
esportiva, deve-se levar em consideração a intenção e a metodologia aplicadas. Desse modo,
para os treinadores entrevistados as funções de maior ênfase são aquelas associadas aos
aspectos psicológicos e sociais, ou seja, as positivas, motivadoras e colaborativas, indicadas
como importante ou muito importante: 88,9% para possibilitar obter sucesso, se superar,
construir autoestima; 92,6% para adquirir, desenvolver valores para futura vida; 96,3% para
possibilitar estar com e fazer novos amigos; e 100% para motivar para alcançar seus
objetivos. Reforçando essa percepção, observa-se que propiciar comparação de suas
habilidades com as dos outros foi indicado por cerca de 52% dos entrevistados como pouco
ou muito pouco importante.
Só especializada
"Mais preparaçãoespecializada quemultilateral"
"Mais preparaçãomultilateral do queespecializada"
"Só preparaçãodivesificada (multilateral)"
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Gráfico 4 – Opinião dos técnicos quanto ao grau de importância que a competição
deve ter durante a formação esportiva
Valores e atitudes
Considerando-se as competições infanto-juvenis como oportunidades educativas
para introduzir, incutir ou fortalecer valores, percebe-se que, mais uma vez, para os
treinadores entrevistados, a participação competitiva deve contribuir para o
desenvolvimento de valores e desenvolvimento integral do ser humano. Isso porque a
exceção dos valores Jogar bem e Superar e ganhar dos outros, com 40,7% e 59,3%
respectivamente, todos os demais valores pesquisados foram considerados importantes ou
muito importantes por pelo menos 85% dos entrevistados.
Cabe ressaltar que nesse caso as categorias nada importante; muito pouco importante e
pouco importante foram agrupadas para essa análise.
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Gráfico 5 – Opinião dos técnicos quanto ao grau de importância dos valores e atitudes que
podem ser desenvolvidos nas crianças e jovens com participação competitiva nas etapas
de formação
Enquadramento geográfico das competições
Em relação ao enquadramento geográfico ou nível competitivo, os treinadores
entendem que nas faixas etárias iniciais a participação deve ser prioritariamente interna no
clube ou escola, podendo participar de competições locais em todas as faixas etárias. Já a
participação em competições de nível mais elevado, foi prevalente a partir dos 13/14 anos
em que 55% dos técnicos consideraram a participação em competições de nível estadual,
regional ou nacional, somados a outros 15% que recomendam também competições
internacionais. Resultados similares foram verificados por Cardoso (2007) em seu estudo.
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90%100%
Justiça e Honestidade
Companheirismo, estar com amigos
Compaixão, precupar-se com os outros
Demonstrar conformidade, integrar-se ao…
Ser consciencioso, dar o máximo, fazer o…
Empenho, persistência e perseverança
Prazer e diversão
Jogar bem
Aptidão e saúde
Obediência
Realização pessoal, fazer o melhor
Exibir competência e habilidade
Espírito esportivo
Coesão, incentivo e encorajamento
Tolerância
Superação, ganhar dos outros
Pouco importante Importante Muito importante
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Gráfico 6 – Opinião dos técnicos entrevistados quanto ao nível competitivo por faixa etária
Um estudo citado por CARDOSO (2007) aponta que as competições regionais
deveriam ter início ao 13-14 anos e as competiçõess nacionais após os 15 anos. BOMPA
(2000) recomenda competições regionais por volta dos 12 anos (a depender das
características da modalidade em questão) e nacionais a partir de 14 anos, podendo chegar
até 21 anos em função das demandas da modalidade. As competições intenacionais
deveriam ser opção apenas ao jovem maduro, nos anos finais da adolescência.
Conteúdo das atividades competitivas e do treino
Gráfico 7 – Opinião dos técnicos sobre o conteúdo do treino para cada
faixa etária durante a formação esportiva
85
15
62
34
3
22
56
19
3
18
28
38
15
9
21
32
23
15
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
06-07
anos
08-09
anos
10-11
anos
11-12
anos
13-14
anos
Competições internacionais
Competições nacionais
Competições regionais/estaduais
Conpetições locais na própriacidade
Competições internas no clube ouescola
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
6-7 anos 8-9 anos 10-11
anos
11-12
anos
13-14
anos
Treino de especialização
elevada
treino de especialização inicial
Treino multilateral
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Gráfico 8 – Opinião dos técnicos sobre o conteúdo das competições
para cada faixa etária durante a formação esportiva
Os gráficos acima, no geral, demonstram coerência com a literatura. Os técnicos
reconhecem que tanto o treino quanto a competição devem ter seus conteúdos
progressivamente adaptados, partindo-se de conteúdos de treino e de competição mais
diversificados voltados para o desenvolvimento geral da criança nas idades inicias; até
chegar a conteúdos de treino e competição mais especializados para os adolescentes,
voltados para o aprefeiçoamento em determinada modalidade esportiva.
Apesar disso, chama a atenção o fato de que o percentual de técnicos que defendem
competições multilaterais nas faixas etárias iniciais não correponde, na mesma proporção,
aos conteúdos do treino. Isso significa que muitos não reconhecem a necessidade de
coerência entre os conteúdos do treino e da competição, sendo a favor de treinos
multilaterais, mas defendendo competições especializadas em idades inferiores às indicadas
na literatura (QUADRO 1).
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
6-7 anos 8-9 anos 10-11
anos
11-12
anos
13-14
anos
Competições altamente
especializadas
Competições especializadas
adaptadas
Competições multilaterais
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Quadro 1. Propostas competitivas para diferentes faixas etárias (adaptado
de BOMPA, 2000).
Importância dos resultados - finalidades
A medida que se avança na faixa etária, progressivamente é dada maior importância
aos resultados. Vai-se de 85% nada ou muito pouco importante na faixa etária de 6 – 7 anos
para cerca de 40% pouco importante na faixa etária de 10 – 12 anos passando a mais de 81%
importante ou muito importante na faixa etária de 13 – 14 anos. Esses dados são
semelhantes aos obtidos por CARDOSO (2007) e vão ao encontro da teoria de formação de
longo prazo em que a especialização ocorre mais tardiamente.
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Gráfico 9 – Opinião dos técnicos quanto ao grau de importância dos resultados
em cada etapa da formação esportiva
4. CONCLUSÕES/CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode-se considerar que o objetivo do estudo foi alcançado, uma vez que o universo
bastante diverso dos treinadores entrevistados permitiu a realização de inferências e, em
certa medida, a generalização dos dados obtidos, entretanto, deve-se registrar que a
amostra foi menor do que o esperado quando do desenho do estudo.
Também não forma objeto de análise comparações entre os diferentes tipos de
instituições promotoras do esporte que participaram da amostra. Portanto, estudar e
comparar os diferentes contextos em que as crianças e jovens aprendem e competem
também podem gerar dados esclarecedores sobre como o esporte e, em especial, a
competição infanto-juvenil, tem sido organizados.
Por outro lado, cabe ainda, em estudos futuros, analisar as respostas dos técnicos em
função das modalidades esportivas e compará-las, pois sabe-se que as estruturas
Nada importante; 6-7
anos; 59,3 Nada
importante; 8-9 anos; 40,7 Nada
importante; 10-11 anos; 3,7
Muito pouco importante; 6-7
anos; 25,9 Muito pouco importante; 8-9
anos; 33,3
Muito pouco importante; 10-
11 anos; 33,3 Muito pouco importante; 11-
12 anos; 3,7
pouco importante; 6-7
anos; 7,4 pouco
importante; 8-9 anos; 11,1
pouco importante; 10-
11 anos; 37,0
pouco importante; 11-
12 anos; 40,7 pouco importante; 13-
14 anos; 18,5
Importante; 6-7 anos; 7,4
Importante; 8-9 anos; 14,8 Importante; 10-
11 anos; 18,5
Importante; 11-12 anos; 44,4
Importante; 13-14 anos; 55,6
Muito importante; 10-
11 anos; 3,7
Muito importante; 11-
12 anos; 11,1
Muito importante; 13-
14 anos; 25,9
Muito importante
Importante
pouco importante
Muito poucoimportante
Nada importante
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a competição em jogo
competitivas e as exigências são bastante diferentes, por exemplo, entre a ginástica artística
e o basquetebol.
ARENA e BOEHME (2006) indicam que a idade em que os jovens atletas começam a
participar de competições de forma regular e/ou federada variam de acordo com a cultura
esportiva de cada país, assim como o esporte considerado. E de modo genérico a faixa etária
de 12-14 anos é a mais preconizada na literatura para que a criança comece a participar de
um treinamento específico de determinda modalidade esportiva com finalidade competitiva,
com exceção de modalidades artísticas como ginástica, patinação e outras, que são iniciadas
anteriormente.
Pelo fato dos resultados serem concordantes com a literatura e a teoria de
treinamento esportivo de longo prazo, espera-se extrair desse estudo recomendações ou
indicativos que possam servir de referência à organização e enquadramento das
competições para crianças e jovens, bem como o quadro de valores, motivações e
finalidades associadas a elas. São eles:
A competição infanto-juvenil nas categorias iniciais é importante como ação
educativa que propicia a participação democrática de todos e contribui para o
desenvolvimento integral do ser humano, trazendo benefícios para o desenvolvimento
físico, emocional e social. De modo geral, a literatura mostra indícios de que há relação
especialização esportiva e participação precoce em competições regulares, podem
possibilitar o abandono prematuro da prática esportiva regular pelos jovens a medida que
mudam os seus interesses, as habilidades motoras pertinentes são mais complexas e os
níveis competitivos e as pressões de técnos e pais tornam-se maiores e constantes.
O Esporte deve ser entendido como linguagem, bem cultural, fenomeno social de
natureza educativa e competição como estratégia, elemento que dá sentido e no qual a
manifestação do esporte se realiza com plenitude. Assim sendo, no planejamento das
atividades desportivas deve-se incluir a necessidade de aprender a competir entre as
intenções educativas e conteúdos, a metodologia e princípios pedagógicos adotados é que
determinarão o impacto no desenvolvimento humano. Desse modo, a forma, os objetivos, a
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a competição em jogo
periodicidade, os critérios de avaliação, e a faixa etária são aspectos fundamentais a serem
considerados para o planejamento e organização dos treinos e dos sistemas de competições.
REFERÊNCIAS BILBIOGRÁFICAS
ARENA, S S., BOEHME, M.T.S. Federações esportivas e organização de competições para
jovens. R. bras. Ci. e Mov. 2004; 12(4):45-50.
BOMPA, J.O. Total training for young champions. Champaign, Human Kinetics, 2000.
CARDOSO, M. F. S. Para uma teoria da competição desportiva para crianças e jovens: um
estudo sobre os conteúdos, estruturas e enquadramentos das competições para os mais
jovens em Portugal. 2007. Tese (Doutorado). 273 p. Faculdade de Desporto, Universidade
do Porto, Portugal.
CHAUVE, S. La Isla de Pascua y sus mistério. traduzido para o espanhol por José María
Souviron, tercera edición, 1945.
FISCHER, S. Island at the end of the world: the turbulent history of Easter Island. Reaktion
Books, 2005.
FUNAI. VI Jogos dos Povos Indígenas. Disponível em:
http://www.funai.gov.br/indios/jogos/6o_jogos/6_jogos.htm . Acesso em: 04 nov. 2012.
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a competição em jogo
ANEXO 1 – Questionário
Caro(a) professor(a),
Este questionário faz parte de um estudo de campo que está sendo realizado pelos alunos
do Curso ESPORTE, COMPETIÇÃO E DESENVOLVIMENTO HUMANO organizado pelo
Programa de Desenvolvimento Humano pelo Esporte do CEPEUSP. O objetivo deste
questionário é conhecer a sua opinião sobre a organização de competições esportivas para
crianças e jovens entre 6 e 14 anos.
Para sua tranquilidade, garantimos que nenhum dado pessoal será revelado, garantindo o
sigilo absoluto das respostas dos participantes deste estudo.
Obrigado pela sua colaboração!
DADOS PESSOAIS
Idade:_______________________ É formado em Educação Física? ( ) sim ( ) não
Atua como treinador (a) em que modalidade?___________________ Em que
instituição?________________
Qual a faixa etária dos seus atletas?_______________________________________
Qual a idade para que a criança inicie a participação em competições regulares na sua
modalidade? _______
Para responder as questões abaixo, pense sobre os objetivos e a estrutura das
competições para as crianças e jovens entre 6 e 14 anos, assinalando a alternativa que,
para você, é a mais verdadeira.
1 – Assinale, para cada idade, a ordem de prioridade que deveria orientar a participação em
competições durante a formação esportiva:
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a competição em jogo
PRIORIDADES DA COMPETIÇÃO
FAIXA ETÁRIA Só formação Mais ênfase na
formação do
que nos
resultados das
competições
Mais ênfase
nos resultados
das
competições
do que na
formação
Ênfase só nos
resultados das
competições
6-7 (1) (2) (3) (4)
8-9 (1) (2) (3) (4)
10-11 (1) (2) (3) (4)
11-12 (1) (2) (3) (4)
13-14 (1) (2) (3) (4)
2 – Assinale, para cada idade, de acordo com os objetivos formativos, a ordem que deveria
orientar a preparação para a competição:
PRIORIDADES DA COMPETIÇÃO
FAIXA ETÁRIA Só preparação
diversificada
(multilateral)
Mais
preparação
multilateral do
que
especializada
Mais
preparação
especializada
que
multilateral
Só
especializada
6-7 (1) (2) (3) (4)
8-9 (1) (2) (3) (4)
10-11 (1) (2) (3) (4)
11-12 (1) (2) (3) (4)
13-14 (1) (2) (3) (4)
3 - Atribua um grau de importância às funções que a competição deve ter durante a
formação esportiva:
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a competição em jogo
4 – Atribua um grau de importância aos valores e atitudes que podem ser desenvolvidos nas
crianças e jovens com a participação competitiva nestas etapas de formação:
PRIORIDADES DA COMPETIÇÃO
Funções das competições Nada
importan
te
Muito
pouco
important
e
Pouco
importan
te
Importan
te
Muito
importan
te
Propiciar às crianças e jovens a
comparação das suas capacidades
com as dos outros e com as suas
próprias
(1) (2) (3) (4) (5)
Criar, junto dos amigos, pares e
terceiros, uma boa imagem social
(1) (2) (3) (4) (5)
Possibilitar à criança e ao jovem
obter sucesso e se superar.
Construir sua auto-imagem e auto-
estima
(1) (2) (3) (4) (5)
Adquirir e desenvolver valores para
a sua futura vida em sociedade
(1) (2) (3) (4) (5)
Possibilitar às crianças e jovens
estarem com os amigos fazerem
novos amigos
(1) (2) (3) (4) (5)
Motivar para alcançar seus objetivos (1) (2) (3) (4) (5)
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a competição em jogo
PRIORIDADES DA COMPETIÇÃO
Valores Nada
importan
te
Muito
pouco
important
e
Pouco
importan
te
Importan
te
Muito
importan
te
Ser justo, honesto, não enganar (1) (2) (3) (4) (5)
Ser companheiro, estar com amigos (1) (2) (3) (4) (5)
Ter compaixão, preocupar-se com
as pessoas ao seu redor
(1) (2) (3) (4) (5)
Demonstrar conformidade, integrar-
se ao grupo
(1) (2) (3) (4) (5)
Ser consciencioso, dar o máximo,
fazer o melhor
(1) (2) (3) (4) (5)
Empenhar-se, ser persistente e
perseverante no jogo e na
competição
(1) (2) (3) (4) (5)
Ter prazer, se divertir (1) (2) (3) (4) (5)
Jogar bem (1) (2) (3) (4) (5)
Tornar-se mais apto e mais saudável
pelo esporte
(1) (2) (3) (4) (5)
Ser obediente, fazer o que lhe
pedem
(1) (2) (3) (4) (5)
Ter realização pessoal, fazer o
melhor que pode
(1) (2) (3) (4) (5)
Ter boa imagem púbica, parecer
bem, as pessoas gostam de mim
(1) (2) (3) (4) (5)
Ter auto-realização, sentir-se bem
quando joga
(1) (2) (3) (4) (5)
Exibir competência e habilidade,
realizar bem as habilidades e
(1) (2) (3) (4) (5)
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a competição em jogo
5 – Considerando apenas o caso da sua modalidade, assinale o nível competitivo que deve
haver para as faixas etárias abaixo:
6 – Assinale o conteúdo do treino e o conteúdo da competição indicados para cada faixa
etária durante a formação esportiva:
técnicas
Mostrar espírito esportivo, ter
comportamento apropriado, não ser
um mau perdedor
(1) (2) (3) (4) (5)
Ser coeso, incentivar e encorajar a
equipe quando as coisas são difíceis
(1) (2) (3) (4) (5)
Ser tolerante, envolver-se com
outros mesmo não gostando deles
(1) (2) (3) (4) (5)
Superar e ganhar dos outros (1) (2) (3) (4) (5)
PRIORIDADES DA COMPETIÇÃO
Faixa
etária
Competições
internas no
clube ou
escola
Competições
locais na
própria
cidade
Competições
regionais/estaduais
Competições
nacionais
Competições
internacionais
6-7 ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
8-9 ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
10-11 ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
11-12 ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
13-14 ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Faixa
etária
Conteúdo do treino Conteúdo da competição
Treino Treino de Treino de Competições Competições Competições
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a competição em jogo
7 – Atribua um grau de importância aos resultados em cada etapa da formação esportiva:
QUESTÃO ABERTA - Quais temas você gostaria de ter nos cursos de formação de técnicos,
referentes ao papel da competição no processo formativo, a sua organização e a preparação
das crianças e jovens para participar?
multilateral especialização
inicial
especialização
elevada
multilaterais especializadas
adaptadas
altamente
especializadas
6-7 ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
8-9 ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
10-11 ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
11-12 ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
13-14 ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
PRIORIDADES DA COMPETIÇÃO
Faixa etária Nada
important
e
Muito
pouco
important
e
Pouco
important
e
Important
e
Muito
important
e
6-7 (1) (2) (3) (4) (5)
8-9 (1) (2) (3) (4) (5)
10-11 (1) (2) (3) (4) (5)
11-12 (1) (2) (3) (4) (5)
13-14 (1) (2) (3) (4) (5)
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a competição em jogo
ANÁLISE DOS REGULAMENTOS AS COMPETIÇÕES INFANTO-JUVENIS EM DIFERENTES
CONTEXTOS
Amanda Busch Rigo Neves Bezerra
Priscila Regina da Silva Lourenço
Regina Helena Conceição Oliveira
1. INTRODUÇÃO
A competição é inerente ao esporte, fenômeno que pode acontecer em diversos
ambientes e que exige dos participantes expectativas, objetivos, limitações e possibilidades
(MARQUES et al., 2008). Faz parte do processo de formação esportiva inicial, porém com
adaptações compatíveis com o desenvolvimento biopsicossocial.
Durante o processo de formação do indivíduo, as características maturacionais
influenciam diretamente no desempenho esportivo e pode influenciar nos resultados das
competições. Por esta razão, os autores defendem as diferenciações e adaptações nos
eventos competitivos esportivos. Segundo REVERDITO et al. (2008), para que o esporte seja
ensinado em sua plenitude, deve-se ensinar nossos jovens a competir e desta forma, “a
participação competitiva deve contribuir para o desenvolvimento dos valores, especialmente
com aqueles relacionados ao senso de justiça, honestidade e tolerância e compaixão”
(CARDOSO, 2007)
De acordo com diversos estudiosos da área (MARQUES et. Al, 2007; ARENA E
BOHME, 2004; CARDOSO, 2007; LUGUETTI et al., 2011), é necessário que em cada faixa
etária existam adequações das mais diversas formas (material utilizado, espaço, duração,
entre outros), pois para cada momento do desenvolvimento do ser humano, existe uma
possibilidade e condição de aprendizado diferente. Contudo, é importante lembrar que,
ainda que estes ajustes sejam necessários, é preciso ter cuidado para evitar a
descaracterização da atividade, ou tirar atratividade da mesma para que esta prática não
seja desestimulada.
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a competição em jogo
Quadro 1. Propostas competitivas para diferentes faixas etárias (adaptado de BOMPA,
2000).
Segundo WEINECK (2000), a criança não é um adulto em miniatura e por isso, não deve
ser submetida a treinamentos reduzidos, e que consequentemente seria submetida a
competições com cargas parecidas com as profissionais:
“Um dos principais motivos para a diversidade biológico-esportiva de crianças e
adolescentes quando comparados aos adultos é dado pelo fato de que as crianças
e adolescentes ainda se encontram na fase de crescimento, onde surgem inúmeras
alterações e particularidades físicas, psicológicas e psicossociais, que provocam
consequências para a atividade corporal, ou esportiva e, portanto, para a
capacidade de suportar carga e competir.” (p.?)
KROGER E ROTH (2002) lembram que a especialização precoce pode vir
acompanhada por um abandono precoce, antes mesmo de ter chegado ao alto nível de
rendimento. Isso também porque nessa época em que ocorre a especialização precoce, o
organismo infantil não está preparado para as cargas intensivas de treinamento,
acarretando em malefícios à saúde de todas as naturezas (físico, motor, social e psicológico)
de crianças e adolescentes.
Proporcionar atividades prazerosas no início da aprendizagem esportiva, despertar o
interesse e desenvolver a multilateralidade, são fatores que influenciam positivamente a
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a competição em jogo
criança e o adolescente ao longo dos anos. Os treinamentos com cargas coerentes à faixa
etária e nível maturacional dos indivíduos, evitam o afastamento por lesões ou estresse
físico e/ou psicológico.
Em um estudo organizado por ARENA e BOHME (2004) com as federações esportivas
e organizações de competições para jovens, os diretores, vice-diretores e presidentes de
diferentes modalidades foram indagados sobre diversas questões que dizem respeito às suas
competições. Uma das questões levantadas foi que as Confederações Internacionais destas
modalidades sugerem idades iniciais para o início da participação de crianças em
competições.. Contudo, verificou-se no estudo, que na maior parte das modalidades, com
exceção da Ginástica, esta idade não é respeitada no Brasil. A justificativa destas entidades
foi de que, por conta da grande quantidade de praticantes em clubes e instituições de
treinamento, existe a necessidade de oferecer as competições cada vez mais cedo.
Entretanto, ao mesmo tempo, observa-se a necessidade de que, para participar destas
competições, as crianças precisam de experiência necessária em determinada modalidade 1
ou 2 anos antes de começar a competir.
Em contra partida ao argumento das autoridades que representam as federações e
confederações, segundo ARENA e BOHME (2004), o fato de haver competições cada vez
mais cedo, faz com que as instituições necessitem treinar seus “mini atletas” precocemente,
o que vai de encontro à literatura quando observamos as idades indicadas para iniciação à
especialização nas diversas modalidades esportivas (MARTIN, 1998 apud BÖHME, 2002;
BOMPA, 2002; GRECO E BENDA 1998).
Atualmente, nos variados contextos - prática de lazer, escola, clubes e projetos
sociais - existem diferentes competições para as crianças e jovens. É possível que existam
crianças e jovens que participem de 2 ou mais tipos de competições ao longo do mesmo
período por praticarem esporte em diferentes contextos.
Assim, nos questionamos como se dá a formação de um indivíduo que recebe, das
instituições esportivas que são sua referência, diferentes informações quando participa
destas competições. Ao mesmo tempo, entendemos como principal e importante a atuação
do educador, técnico ou professor mediando estes processos educativos.
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a competição em jogo
A mediação propicia um diálogo verdadeiro entre os envolvidos, momento em que
ambos se ouvem, cada qual confiando suas razões aos mediadores, com maior autenticidade
e abertura para negociação de propostas e contrapropostas. O educador deve procurar
utilizar maneiras didáticas de intervenção se adequando ao ambiente em que está inserido,
e propondo aos educandos envolvidos novas maneiras de resolver estas situações.
No contexto do Esporte Educacional, percebemos que as competições estão cada vez
mais adaptadas e adequadas às diferentes faixas etárias e, os objetivos estão atrelados às
práticas desenvolvidas por cada Instituição. Isto possibilita que os participantes possam
passar por este processo de maneira gradativa e de forma educativa, o que contribui para a
continuidade da prática.
É preciso lembrar que a competição, assim como a prática de esportes, deve fazer
sentido em todo o seu processo e, nas idades iniciais até aproximadamente 10 anos, deve
ser multivariada e com premiação para todos. Nas fases seguintes, a partir de 11 anos, é
necessário respeitar as características físicas e cognitivas dos jovens praticantes dando-se
sentido à prática e, neste momento, não necessariamente premiar a todos, uma vez que o
entendimento desta recompensa passa também a ser o foco do trabalho com estes jovens.
Com este contexto, pode-se trabalhar com diferentes metas para cada grupo em uma
mesma competição, pois desta forma, estimulam-se variadas possibilidades de êxito, mesmo
que não se tenha a recompensa da premiação. Este procedimento, segundo MARQUES
(2001), pode proporcionar a prática em diferentes processos competitivos (seja esportivo ou
em outros contextos) nos momentos seguintes da sua vida.
2. OBJETIVO DO ESTUDO
Analisar e comprar regulamentos de competições infanto-juvenis de diferentes
instituições e contextos.
3. MÉTODO
a. Amostra
Foram analisados 04 regulamentos das competições de instituições da cidade de São
Paulo, que desenvolvem programas de iniciação e formação esportiva em diferentes
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a competição em jogo
contextos: 02 clubes sociais, 01 organização não governamental, e 01 programa esportivo
desenvolvido por uma universidade pública.
b. Coleta de dados
Os regulamentos foram obtidos através de contato com as instituições, que
disponibilizaram seus documentos para participação no estudo.
c. Tratamento dos dados
Os regulamentos foram analisados por meio de 07 categorias, criadas com base na literatura
estudada (MEIER; ARENA E BOHME 2004, MARQUES et al.; 2008), considerando-se alguns
dos principais tópicos debatidos sobre a caracterização e diferenciação das competições
infanto-juvenis:
1. Objetivo da competição,
2. Quantidade de competições,
3. Premiação,
4. Sistema de disputa,
5. Tipo de atividade,
6. Atuação do técnico/professor/educador,
7. Materiais.
4. ANÁLISE DOS RESULTADOS
A competição é um momento em que a Instituição, que a promove, tem para apresentar
e compartilhar o que é trabalhado durante suas atividades com os participantes.
Desta forma, pode-se observar durante os eventos o desenvolvimento dos educandos e
estes, podem expressar os mais diversos comportamentos, o que será subsídio para que
mais tarde, em suas atividades institucionais, os educadores e responsáveis possam dar
continuidade ao trabalho, levando em consideração muitos aspectos do indivíduo, além das
questões motoras.
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a competição em jogo
OBJETIVOS DAS COMPETIÇÕES
Os principais focos das competições analisadas foram: integração entre os
participantes e as diversas instituições; possibilidades de experimentar e vivenciar novas e
diferentes habilidades em um só evento; praticar modalidades específicas ou ou variadas.
De acordo com o que pudemos analisar nos regulamentos, as instituições tem o foco
no desenvolvimento integral da criança, mantendo as competições de acordo com a
literatura, que traz a importância de aumentar de forma gradativa a especificidade das
atividades oferecidas durante os eventos, começando com brincadeiras e jogos de
habilidades multivariadas a partir dos 3 anos, extrapolando as possibilidades das diferentes
práticas, com muitas variações e adequações de acordo com a faixa etária e o objetivo dos
eventos.
Uma vez que os eventos são estruturados desta maneira, nos permite pensar que a
atividades propostas durante o ano estão de acordo com o desenvolvimento integral dos
educandos.
A integração entre os participantes das competições foi uma das maiores
preocupações, pois em todos os eventos alguma forma de interação, entre grupos ou
equipes, é pensada para que adversários se enfrentem durante a atividade e possam
dialogar durante ou depois dos jogos (educandos a partir de 11 anos). Quando este foco é
voltado para as crianças menores de 10 anos, eles se misturam em atividades lúdicas e
brincadeiras variadas, pois não há a formação prévia de equipes específicas.
QUANTIDADE DE COMPETIÇÕES
No gráfico abaixo (1) observaremos a quantidade de competições oferecidas pelas
instituições, que vai de encontro à literatura em alguns aspectos quando esta indica
aumento gradativo na quantidade de competições que cada indivíduo deve participar ao
longo do crescimento. Isto porque, o gráfico nos indica uma quantidade maior de eventos
esportivos para crianças abaixo de 11 anos e menor quantidade para jovens até 16. (BOMPA,
2000 apud ARENA e BOHME, 2004).
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a competição em jogo
Gráfico 1 – Quantidade de Competições
No quadro 1, BOMPA (2000) sugere a quantidade de competições que uma criança /
jovem deve praticar durante 1 ano em cada faixa etária. Além disso, também trás o tipo de
atividade que deve ser promovida para cada faixa etária durante os eventos esportivos, com
a preocupação no desenvolvimento integral de forma continuada.
PREMIAÇÃO
Os mesmos autores que corroboram com as questões relacionadas às diferentes
adaptações necessárias para as faixas etárias mais novas, trazem a ideia de que é
extremamente importante considerar a prática lúdica e multivariada para crianças até 10
anos e festivais esportivos para crianças até 12 anos, possibilitando a premiação a todos.
A exigência precoce da vitória, que trás consigo a premiação dos melhores, podem
levar à desmotivação da prática esportiva. Isto porque, se exigido de forma exacerbada bons
resultados, e se estes não forem alcançados, o jovem pode se desestimular entendendo que
há grande dificuldade de atingir este objetivo e se identificando como incapaz de atingir
bons resultados (BOMPA, 2000; COELHO 2000 apud CARDOSO, 2007) .
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a competição em jogo
Gráfico 2 – Premiação
A premiação precisa estar presente no processo pedagógico das diferentes competições.
Contudo, em cada faixa etária, há a necessidade de se verificar o sentido da competição e a
premiação oferecida. É importante perceber que a partir do momento em que se tem 1 a 3
lugar, o jovem pode identificar o momento em que se encontra no seu desempenho
esportivo e elaborar estratégias para que possa melhorar. Além disso, entendendo isto,
saberá lidar melhor com a vitória ou derrota, pois a finalidade das competições não são
iguais para todos. Segundo MARTENS et al. (1995) apud CARDOSO (2007) “o treino e a
competição ajudam no desenvolvimento das responsabilidades, na aceitação dos outros e, o
mais importante, na aceitação de si próprio.”
É possível observar no gráfico 2 que as instituições participantes deste estudo procuram
premiar todos os participantes nas faixas etárias iniciais, corroborando com os autores nas
condições de especificações de cada faixa etária. Assim, todos tem a oportunidade de
participar de atividades multivariadas e, quando participam de competições específicas nas
idades a cima de 12 , de acordo com as tabelas (anexo 2), há adaptações na forma de
competir que possibilitam o êxito em diversos aspectos e existem metas a serem atingidas, o
que possibilita maior quantidade de sucesso em uma mesma competição.
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a competição em jogo
SISTEMA DE DISPUTA
Os sistemas de disputada nas competições analisadas trazem muita diversidade, pois
para cada categoria, são propostas adaptações pertinentes às possibilidades tanto motoras
quanto cognitivas.
Em sua maioria, para as idades entre 3 a 10 anos, as instituições promovem atividades
em circuitos com estabelecimento de metas em que os educandos participam de jogos
aleatoriamente, escolhendo a cada rodada a brincadeira que mais interessa, tendo como
objetivo, participar de todas as estações ou, são organizados em equipes com integrantes de
outras instituições e o foco é a participação de todos.
Conforme as idades vão aumentando, são promovidos jogos com características mais
formais, contudo ainda adaptados às faixas etárias, possibilitando o melhor aproveitamento
da dinâmica educativa dos eventos.
Em todas as competições, desde as idades menores, até os maiores entre 15 e 16 anos,
as atividades sofrem adaptações para que todos os participantes possam vivenciar os
conteúdos desenvolvidos durante o ano em suas instituições. Estas mudanças acontecem
tanto em relação ao regulamento (quem participa e como são determinados os participantes
– Carta de Competências/ IDE), regras durante os jogos, quantidade de jogadores,
chaveamentos procurando o equilíbrio entre as equipes participantes.
Estas adequações favorecem também o que os autores indicam sobre a premiação
para cada faixa etária. Desta forma, seja com brindes para todos ou medalhas para os
vencedores, em algum momento todos têm a possibilidade do êxito durante a competição, o
que a torna mais atrativa e estimulante para quem participa.
TIPO DE ATIVIDADE
De acordo com a proposta de BOMPA (2000), há vários tipos de competição mais
adequados às diferentes faixas etárias. Em relação ao tipo de atividade, o autor faz distinção
entre atividades competitivas multivariadas, nas quais as crianças são estimuladas a
competir em várias modalidades ou atividades que exijam várias habilidades motoras; ou
atividades competitivas específicas, em que os competidores participam de atividades mais
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a competição em jogo
formais e em uma única modalidade esportiva, com adequações, conforme dito no item
anterior.
Gráfico 3 – Tipo de Atividades
Ao analisarmos os regulamentos, identificamos que em todas as idades os jovens são
estimulados a participar de diversas atividades, mesmo quando participam de modalidades
específicas, pois têm a possibilidade de, em um único evento, praticar mais de um esporte.
Durante todo o ano, podem participar de muitas competições. Porém, conforme vão
crescendo, as atividades começam a ser especificadas e os educandos têm a possibilidade de
escolher de quais participarão, desenvolvendo sua autonomia e colocando em prática as
habilidades e competências desenvolvidas ao longo do processo educativo nas instituições.
ATUAÇÃO DO TÉCNICO/PROFESSOR/EDUCADOR
Levando-se em conta que para possibilitar a participação em competições, o jovem deve
aprender a competir, entendemos que o Educador tem papel fundamental neste processo.
Com a construção de valores morais e éticos, o esporte contribui para a formação dos
indivíduos. Assim, as atividades das quais eles participam precisam fazer sentido para que a
continuidade da prática esportiva seja garantida (MARQUES et al. 2008; CARDOSO, 2007;
REVERDITO, 2008).
No gráfico 4 observamos que o Educador, nas Instituições estudadas, tem diversas
funções nas competições e que, de acordo com cada faixa etária, podem ou não exercer
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a competição em jogo
funções específicas, como arbitrar jogos. É possível identificar neste gráfico que das diversas
atribuições pelas quais os educadores são responsáveis, a Mediação e Orientação são as
mais esperadas nas instituições analisadas.
Gráfico 4 – Funções do Educador
De acordo com TAVARES (2002), a mediação define-se como um processo informal,
voluntário, onde um educador observa seus educandos e a resolução de suas questões. O
papel do educador é ajudar na comunicação através da neutralização de emoções, formando
opiniões e negociações para a resolução do conflito.
Segundo CARDOSO (2007), isto deve acontecer, pois são eles que conhecem e
identificam as necessidades de intervenções a serem feitas durante um jogo. Muitas vezes,
apitam os jogos das categorias mais novas (abaixo de 12 anos) melhor que árbitros oficiais
das diversas modalidades, pois com o conhecimento da área de atuação e experiência tem a
possibilidade de fazer melhores mediações.
Dois fatores extremamente relevantes na opinião dos alunos no que se referem às
características dos melhores educadores são aqueles que percebem os educandos como
indivíduos capazes de aprender e desenvolver suas habilidades. Além disso, são pessoas que
ajudam os educandos a se perceberem como únicos, especiais e diferentes de outras
pessoas e considera relevantes suas dificuldades e potencialidades durante o processo de
aprendizagem.
Seminário ESPORTE E DESENVOLVIMENTO HUMANO
a competição em jogo
MATERIAIS
Com as adaptações e adequações das atividades propostas durante as competições, os
materiais seguem as mesmas características e vão ao encontro destas questões, pois além
de pensar no que pode ser o mais apropriado para cada faixa etária, existe a possibilidade de
oportunizar a vivência de materiais diferentes e em grande volume.
Esta variação de materiais (e atividades) possibilita a ampliação do repertorio motor
do indivíduo e ampliação das possibilidades de desenvolvimento e conhecimento da criança.
5. CONCLUSÕES/CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conforme a literatura analisada e os resultados obtidos de acordo com os regulamentos,
identificamos que nas faixas etárias iniciais há um número maior de competições oferecidas
pelas instituições, ao contrario do que os autores identificam como ideal, pois segundo eles
conforme ocorre o aumento das faixas etárias deve haver aumento gradativo das
competições oferecidas ao longo do ano, começando a partir dos quatro anos de idade com
atividades lúdicas e multivariadas sem a presença de competições formais.
Concluímos que a competição bem direcionada contribui para a motivação a prática ao
decorrer de sua vivencia no meio competitivo. Estes eventos esportivos direcionados de
forma adequada, identificando o praticante como um sujeito em formação, contribui para a
construção de valores morais e desenvolvimento de competências que podem, e devem, ser
utilizados nos diferentes contextos da vida de cada individuo. Para que isto seja possível o
educador é “peça chave”.
A premiação e o sistema de disputa, conforme verificadas tanto nos gráficos como na
literatura, estão de acordo com as faixas etárias indicadas e analisadas, contudo há uma
diminuição gradativa na premiação por participação começando aos nove anos de idade, em
que a partir desse momento também são premiados os melhores colocados e os
participantes, dependendo do objetivo de cada competição.
A competição não pode ser vista como o fim do processo, mas parte deste, que
possibilitará mais uma forma de atuação e prática dos conhecimentos adquiridos. Todas as
instituições, por trabalharem com o foco no desenvolvimento humano, preocupam-se em
adequar as competições promovidas, respeitando as características etárias.
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a competição em jogo
Identificamos que para analise da carga competitiva há necessidade de maior
aprofundamento sobre a quantidade e duração das competições das quais participam as
instituições analisadas em cada faixa etária.
Os regulamentos analisados para o desenvolvimento desta pesquisa, provém de
instituições que trabalham com Educação pelo esporte ou nestas categorias, desenvolvem o
trabalho como “escolas de esporte”, que não especializam o desenvolvimento de
modalidades específicas e por isso, não promovem este tipo de competição neste formato.
É preciso lembrar que as mesmas crianças estão inseridas nos diferentes contextos
competitivos, em alguns momentos ao longo do mesmo período. Desta forma entendemos
que faz-se necessária um plano de desenvolvimento esportivo nacional que proporcione, às
crianças e jovens da mesma faixa etária dos diferentes contextos, o mesmo processo de
aprendizagem esportiva contribuindo para o desenvolvimento humano de forma integral,
assim como acontece na maior parte dos projetos e programas que trabalham com a
Educação pelo Esporte.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. ARENA, Simone S. e BÖHME, Maria Tereza S. Federações esportivas e organização de
competições para jovens. In: Revista Brasileira de Ciência e Movimento, Brasília, v. 12, n.4 pp 45-
50, 2004.
2. BÖHME, Maria Tereza S. O talento esportivo e o processo de treinamento a longo prazo. Cap. 9
In: DE ROSE, Dante Jr. Esporte e Atividade Física na Infância e na Adolescência: uma abordagem
multidisciplinar. Artmed Editora. Porto Alegre, 2002.
3. BOMPA, Tudor O. Treinamento total para jovens campeões. Caps. 1 e 2, Editora Manole Ltda.
Barueri, 2002.
4. CARDOSO, Marcelo F. S. Para uma teoria da competição desportiva para crianças e jovens. In:
Faculdade de Desporto: Universidade do Porto, 2007.
5. GRECO, Pablo J. & BENDA, Rodolfo N. Iniciação Esportiva Universal: Da aprendizagem motora ao
treinamento técnico. Vol. 1. Editora UFMG. Belo Horizonte, 1998.
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a competição em jogo
6. KRÖGER, Christian & ROTH, Klaus. Escola da Bola: Um ABC para iniciantes esportivos. Tradução:
Prof. Dr. Pablo Juan Greco. Páginas: 8-9. Editora Phorte. São Paulo, 2002.
7. LUGUETTI, Carla N. et al. Gestão de práticas esportivas escolares no ensino fundamental no
município de Santos. In: Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, São Paulo, v. 25, n.2. pp
237-249, 2011
8. MARQUES, Renato F. R. et al. O esporte contemporâneo e o modelo de concepção das formas
de manifestação do esporte. In: CONEXÕES, Revista da Faculdade de Educação Física da
UNICAMP, Campinas, v. 6, n.2 Pp. 42 – 61, 2008.
9. REVERDITTO, Riller S. Competições escolares: reflexão e ação em pedagogia do esporte para
fazer a diferença na escola. In: Pensar a Prática, v.11, n.1, pp 37-45, 2008.
10. TAVARES, F.H.; Mediação e conciliação. cap. 1 Editora Mandamentos. Belo Horizonte, 2002.
11. WEINECK, Jürgen. Biologia do Esporte. Pp 245 – 264. Editora Manole, São Paulo, 2000.
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a competição em jogo
7. ANEXOS
a. Síntese dos Regulamentos
Instituição 1
Objetivo CategoriasDuração / Qdade
de JogosPremiação Sistema de Disputa Tipos de Atividades
Atuação dos Educadores /
Técnicos e Professores
Materiais
Utilizados
Introduzir as crianças no ambiente esportivo de forma leve
e descontraída, através da participação em uma atividade
com caráter lúdico, com o desenolvimento de diversas
habilidades motoras.
5 a 8 anos1h30min (5
Brincadeiras)
Todas as
categorias
Educandos das
diferentes instiuições
são misturados
Brincadeiras com caráter
lúdico
Acompanhar, orientar e incentivar
sua equipe durante o Circuito
Materiais
específicos das
atividades
Oferecer a oportunidade de participar de atividades de
Handebol, Basquete e futebol, de forma pré-desportiva
valorizando a aquisição das habilidades das modalidades
9 a 11
anos1h(3 jogos) 1º a 3º
Cada equipe disputa
um jogo e soma pontos
para classificação final
Jogos pré-desportivos de
Handebol, Basquete e
Futebol com 14 min de
duração.
Não especificadoBolas H1L, Bolão e
Basquete Mirim
Oferecer a oportunidade de competir na modalidade,
valorizando a aquisição das habilidades específicas
11 a 15
anos20min por jogo 1º a 3º
Todos contra todos,
campeão definido por
pontos
Jogos específicos da
modalidadeNão especificado Bolas H1L
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Instituição 2
Objetivo CategoriasDuração / Qdade
de JogosPremiação Sistema de Disputa Tipos de Atividades
Atuação dos Educadores /
Técnicos e Professores
Materiais
Utilizados
3 e 4 anos24 min (8 estações
de 3 min)
Acompanhar, orientar e incentivar
sua equipe durante o Circuito
Materiais
específicos das
atividades
5 e 6 anos 40 min (4X10min)Acompanhar, orientar e incentivar
sua equipe durante o Circuito
Materiais
específicos das
atividades
5 a 7 anosApresentações de
1min30seg a 3min
Coreografias com temas
diferenciados a cada ano e
realizadas em um espaço de
10mX10m em Supefície de
EVA com pequeno
amortecimento.
Não especificado Livre
7 a 11
anos (7 e 8
anos; 9 a
11 anos)
40 min (4X10min)
Circuito de habilidades
motoras com temas variados
a cada ano
Ficarão responsáveis por uma
nova equipe, devendo
acompanhar, orientar e motivar
sua equipe.
Materiais
específicos das
atividades
Circuito, sem
pontuação
Todos os
participantes
Atividades em circuito
relacionadas às habilidades
"naturais" (básicas) e aos
movimentos dos jogos de
quadra, não necessitando
treinamento antecipado
Derpertar e estimular o gosto pela
prática desportiva, através de
atividades lúdicas com fins
educativos; Promover entre as
entidades um intercâmbio nas faixas
etárias abordadas.
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a competição em jogo
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a competição em jogo
Instituição 3
Objetivo CategoriasDuração / Qdade
de JogosPremiação Sistema de Disputa Tipos de Atividades
Atuação dos Educadores /
Técnicos e Professores
Materiais
Utilizados
6 a 10
anos
10 a 15 min (6
estações - Duração
de 3h)
Brindes para
todos os
participantes
Circuito de atividades.
Os educandos devem
preencher um cartão de
atividades para trocar
pelos brindes ao final
do evento.
Jogos e brincadeiras com
diferentes temas
Mediar e orientar os educandos
em cada atividade; Os educandos
ficam livres durante o evento e
escolhem individualmente as
atividades que farão a cada
rodada
Materiais
específicos das
atividades
10 a 12
anos
(Iniciantes
,
intermedi
ário e
Avançado)
Jogos de 3X3
(meia quadra)
com duração de
10min
1º a 3º de
cada chave
As equipes são
separadas por chaves
para classificação entre
Chave ouro e prata,
para possibilitar maior
quantidade de equipes
premiadas
Jogos de Streetball com
regras adaptadas à cada
categoria; Para a categoria
Iniciantes, os jogos são pré-
desportivos no sistema de
4X4, com regras e metas
adaptadas.
Mediação e arbitragem dos jogosBolas de Basquete
da categoria mirim
13 a 14
anos
10min cada jogo (5
a 8 jogos em 1 dia)
1º a 3º de
cada chave
As equipes são
separadas por chaves
para classificação entre
Chave ouro e prata,
para possibilitar maior
quantidade de equipes
premiadas
Jogos 5 X 5 com regras
adaptadas para possibilitar
maior possibilidade de jogo
entre equipes de níveis
diferentes (isto varia de
acordo com o tempo de
participação no projeto)
Acompanhar suas equipes e
mediar durante os jogos
Bolas de Basquete
respectiva à
categoria
15 a 16
anos
40 min cada jogo,
com 4 tempos de
10min - 1 jogo por
mês
1º a 3º
As equipes jogam todas
contra todas para
classificação por pontos
corridos. Disputam o
primeiro lugar os 2
melhores colocados do
campeonato e o 3º
lugar os 3º e 4º lugares.
Jogos de Basquete com as
regras oficiais
Acompanhar suas equipes e
mediar durante os jogos
Bolas de Basquete
respectiva à
categoria
Promover um espaço de vivência
educativa e integração entre os
participantes do projeto, visando
fortalecer os valores do esporte, por
intermédio de atividades que
envolvam o basquete e jogos pré-
desportivos.
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a competição em jogo
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a competição em jogo
Instituição 4
Objetivo CategoriasDuração / Qdade
de JogosPremiação Sistema de Disputa Tipos de Atividades
Atuação dos Educadores /
Técnicos e Professores
Materiais
Utilizados
9 e 10
anos
Estações de
atividades com 20
min (preparação,
jogo, avaliação)
Brinde de
participação para
todos os
participantes
Cada educando participa das atividades em circuito e
deve preencher o "Passaporte do Desenvolvimento",
Cada jogo exige que o educando atinja uma meta.
Circuito de 8 jogos com
habilidades motoras diversas
Materiais
específicos das
atividades
11 e 12
anos6 rodadas (30min)
Cada equipe receberá um Mapa de Desenvolvimento
e separadas em grupos de acordo com seus IDE´s.
Circuito de 6 jogos pré-
desportivos: Voleibol, handebol,
Futebol, flag e ultimate frisbee;
Cada equipe terão uma Ficha de
Índice de desenvolvimento
esportivo (IDE)"
Materiais
específicos das
atividades
13 e 14Adequada a cada
modalidade.
Cada modalidade terá seu próprio sistema de disputa
de acordo com a quantidade de equipes participantes,
respeitando as regras oficiais para a faixa etária e
adaptações necessárias para um melhor
aproveitamento da dinâmica educativa como redução
do campo, como futebol; São estabelecidas metas
para cada modalidade.
Torneio de Voleibol; Handebol,
Futsal, Futebol de Campo,
Materiais
específicos das
atividades
15 e 16
anos
Adequada a cada
modalidade.
As estruturas de disputa tem como prioridade propor
condições mais igualitárias de jogo e de
possibilidades de ser campeão, além de estimular o
desenvolvimento através de metas e de uma prática
mais autônoma e de possibilitar que as equipes
joguem o máximo possível. Para isso, a cada dia, o
grupo de adolescentes estará dividido em torneios
simultâneos de 2 modalidades. São estabelecidas
metas em diferentes categorias, tanto durante o jogo,
quanto antes e depois como responsabilidade e
comprometimento da equipe.
Torneiro de Streetball
(Basquete), Handebol, Street
Soccer, Voleibol
Materiais
específicos das
atividades
De acordo com as necessidades
de cada grupo, as instiuições
participantes deverão se
organizar para compor o quadro
de mediadores. Os mediadores
deverão participar de curso
específico a ser oferecido pela
organização
NÃO ESPECIFICADO NO REGULAMENTO
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Brinde de
participação para
todos os
participantes e
medalhas para 2
equipes.
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a competição em jogo
Seminário ESPORTE E DESENVOLVIMENTO HUMANO
a competição em jogo
A COMPETIÇÃO NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA: LUGARES E SUJEITOS DO JOGO
Ms. Carla Nascimento Luguetti
INTRODUÇÃO
O direito à prática esportiva é assegurado por lei às crianças e jovens brasileiros,
afirmado na Constituição Federal, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação e no Estatuto da
Criança e do Adolescente. Entendido como um fenômeno sociocultural, o esporte pode
assumir múltiplas formas e sentidos; por exemplo, assumir a forma e o sentido de alto
rendimento na infância podendo ser contraditório ao potencial educativo. Contudo, o
esporte não tem nada de essencialmente bom ou mau: ele é o que fazemos dele. A
qualidade do programa que oferecemos determina a forma e o sentido que este esporte
assume.
Nesse contexto, as competições são parte inerente ao esporte e importante parte da
pratica pedagógica dos professores/treinadores. Procuraremos discutir nesse cenário como
se organizam as praticas de competição no âmbito escolar, com ênfase no contra-turno
(Praticas Esportivas Escolares). Num primeiro momento apresentaremos o quadro atua da
competição nesta área, ilustrados com dados e pesquisas em vários níveis (municipal,
estadual e nacional). Num segundo momento apresentaremos modelos pedagógicos que
enfatizam a competição como elemento integrado e alinhado a pratica pedagógica do
professor/treinador, destacando o ‘’Sport Education Model (SEM.)’’ e o ‘’Teaching Personal
and Social Responsability (TPSR)’’. Esperamos que a apresentação de tais modelos
pedagógicos nos aponte caminhos reais para inovarmos na prática pedagógica, sobretudo
no âmbito escolar.
Mesa Redonda A COMPETIÇÃO NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA: LUGARES E SUJEITOS DO JOGO
Seminário ESPORTE E DESENVOLVIMENTO HUMANO
a competição em jogo
A competição no âmbito escolar
Atualmente, aponta-se um crescimento do esporte oferecido em programas que
ocorrem no contra-turno das escolas, chamados Práticas Esportivas Escolares (PEEs). Tais
práticas devem estar ligadas ao projeto político pedagógico da escola, ou seja, consideradas
parte integrante desta instituição. Considerando a função social da escola que é de formação
integral e preparação para a cidadania, as PEEs devem ser uma prática “da escola”.
Além de potencializar a educação das crianças e jovens, quando estiverem efetivamente
ligadas à escola através de sua inclusão no projeto político pedagógico da mesma, as PEEs
podem contribuir para a democratização da prática esportiva, dada a obrigatoriedade legal
da frequência escolar de todas as crianças a partir dos seis anos de idade, segundo a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação. Soma-se a isso o fato desta mesma lei propor um aumento
progressivo do tempo de permanência da criança na escola, incentivando o aumento das
escolas em tempo integral que obrigatoriamente oferecem as PEEs.
Em âmbito federal, o Ministério do Esporte desenvolve duas ações voltadas para as
PEEs: o “Segundo Tempo” e as “Olimpíadas Escolares”. Ambos são deficitários, pois, ou não
abrangem uma quantidade significativa de crianças, como no caso do “Segundo Tempo”, ou
são apenas eventos, como as “Olimpíadas Escolares”. O programa “Segundo Tempo” é de
competência da Secretaria de Esporte Educacional e as “Olimpíadas Escolares” são de
responsabilidade da Secretaria de Esporte de Alto Rendimento. Desse modo, os programas
responsáveis pelas PEEs no âmbito federal são geridos por diferentes secretarias do
Ministério do Esporte, dificultando a elaboração de uma política única para o fomento dos
mesmos. Além disso, poucos são os programas que articulam diferentes setores e
incentivam a participação da sociedade civil.
No Estado de São Paulo é realizada a “Olimpíada Colegial do Estado de São Paulo”,
evento cuja realização conta com a parceria entre a Secretaria de Educação e a Secretaria de
Esporte, Lazer e Turismo. Com o objetivo de prepararem-se para a participação nas
Olimpíadas Colegiais, as escolas da rede estadual de São Paulo podem oferecer aos alunos
turmas de treinamento, conhecidas como “Atividades Curriculares Desportivas” (ACDs).
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a competição em jogo
Apesar do potencial das PEEs para a democratização do esporte e para a educação
integral das crianças e jovens, investigações apontam problemas nos programas oferecidos.
Em escolas estaduais (no estado de São Paulo) as pesquisas citam que os alunos são
submetidos a uma seleção para participarem das turmas de treinamento ou ACDs, e que o
principal objetivo é vencer as Olimpíadas Colegiais do Estado de São Paulo. Nas escolas
municipais, o sentido das PEEs numa escola que aplicava o programa Segundo Tempo foi de
preocupação com a formação integral dos alunos. No entanto, em escolas municipais em
que os alunos participavam de competições, os resultados são diferentes, seguindo o
modelo do alto rendimento. As PEEs desenvolvidas em escolas privadas apresentam uma
maior cobrança por resultados nas competições esportivas. Isso ocorre porque os programas
desenvolvidos fazem parte de uma estratégia de marketing, não tendo muitas vezes relação
com o projeto político pedagógico da escola e, consequentemente, com a formação das
crianças e jovens.
Modelos pedagógicos: possibilidades de mudança do quadro atual
Para que a prática competitiva seja eficiente, "bem conduzida" é preciso que a
mesma esteja alinhada a pratica pedagógica do professor/treinador. Assim, fundamental
considerarmos um alinhamento entre currículo, ensino e aprendizagem e a competição
como elemento essencial dessa pratica. Esta integração tem sido desenvolvido e
implementada através de modelos pedagógicos ou modelos baseados em prática. O uso do
termo "pedagógico" enfatiza a interdependência e irredutibilidade de aprendizagem, ensino,
conteúdo, sujeito e contexto. Essa visão prevê o uso de vários modelos pedagógicos, com
resultados de aprendizagens específicas (sociais, afetivas, cognitivas e motoras) e
características únicas, incluindo modelos como ‘’Sport Education Model (SEM)’’ e ‘’Teaching
Personal and Social Responsability (TPSR)’’.
Os modelos Pedagógicos referem-se a um planejamento coerente para o ensino, que
incluem uma base teórica (fundamentação teórica), resultados de aprendizagem esperados,
conhecimento do conteúdo (no caso o esporte), apropriado desenvolvimento das atividades
de aprendizagem, as expectativa de comportamento para professores e alunos, estruturas
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a competição em jogo
de tarefas, medidas de resultados de aprendizagem e mecanismos para medir a validade da
implementação do modelo em si. E a competição nesse sentido encontra-se alinhada a essa
organização pedagógica.
O SEM apresenta seis características-chave que tem por objetivo tornar o esporte
autêntico: (a) o esporte é feito por temporadas (longo tempo em equipes), (b) os jogadores
são membros de equipes e permanecem em que a equipe para a temporada inteira, (c) as
temporadas são definidas pela competição, que é intercalada com professor e aluno em
práticas dão autonomia aos alunos, (d) existe um evento (competição) que ocorre no final da
temporada, (e) existe um registro extensivo de toda a temporada, (f) há uma atmosfera
festiva na temporada (e particularmente na competição). O objetivo do SEM é criar
jogadores competentes, conscientes, e entusiasmados pelo esporte.
No TPSR, os autores propuseram uma variação, chamado de Modelo de Liderança no
Esporte, onde a estratégia baseia-se basicamente nos clubes esportivos. Em tal proposta
todas as crianças têm potencial para se tornarem líderes no esporte, quando dada a
oportunidade e orientação. E a partir dessa liderança no esporte/competição, os autores
acreditam na possibilidade de capacitar os jovens para serem líderes em sua própria
comunidade (por exemplo, bairro, casa, escolas, centro de recreação, igrejas, etc.). Para isso
os autores identificam quatro estágios onde a competição/esporte possibilita a
implementação de responsabilidade aos jovens: a) aprender a assumir responsabilidade:
assumir a responsabilidade pelo seu próprio bem-estar e contribuir para o bem-estar dos
outros; b) consciência da liderança: ajudar os que necessitam de orientação e apoio; c) líder
em idade-cruzada: planejamento, ensino, gestão e avaliação do treino - líderes apresentam
verdadeiramente carinho e compaixão; 4) auto atualização do líder - eles fornecem "fora do
ginásio" oportunidades que os jovens possam refletir mais sobre os interesses pessoais e os
futuros possíveis.
Os modelos pedagógicos SEM e TPSR nos oferecem uma possibilidade de repensar a
pratica pedagógica do esporte na atualidade. Mas do que refletir a competição
separadamente (modificar regras, por exemplo), ambos os modelos procuram alinhar a
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a competição em jogo
competição com a pratica diária do professor/treinador, onde a competição torna-se um
elemento essencial, numa construção conjunta com o professor/treinador.
Referências
Haerens, L., Kirk, D., Cardon, G., & De Bourdeaudhuij, I. (2011). Toward the Development of
a Pedagogical Model for Health-Based Physical Education. Quest, 63(3), 321–338.
Hellison, D. (2010). Teaching Personal and Social Responsibility Through Physical Activity (p.
208). Human Kinetics.
Hellison, D., & Martinek, T. (2009). Youth Leadership in Sport and Physical Education (p. 220).
Palgrave Macmillan.
Jewett, A. E., Bain, L. L., & Ennis, C. D. (1995). The Curriculum Process in Physical Education
(p. 397).
Luguetti, C. N. ; Bastos, F. ; Böhme, M. T. S. (2011). Gestão de práticas esportivas escolares
no ensino fundamental no município de Santos. Revista Brasileira de Educação Física e
Esporte, 25, 237-249.
Luguetti, C. N. ; Böhme, M. T. S. (2011) . Práticas Esportivas Escolares: o esporte no
contraturno das escolas e suas possibilidades. São Paulo: Editora 24 horas.
Metzler, M. W. (2011). Instructional Models for Physical Education (p. 446). Holcomb
Hathaway, Incorporated.
Siedentop, D., Hastie, P.A., & van der Mars, H. (2004). Complete guide to sport education 2nd
ed.). Champaign, IL: Human Kinetics.
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a competição em jogo
O ESPORTE COMO COMPLEMENTO EDUCACIONAL DIANTE DA FORMAÇÃO E
DESENVOLVIMENTO HUMANO: CONTEXTO, COMPLEXIDADE E AMBIENTE DE COMPETIÇÃO
PARA CRIANÇAS E JOVENS.
Renato Sampaio Sadi*
Introdução
Entre as manifestações humanas promotoras de educação, inclusão, lazer e
espetáculo, o esporte se reveste de formas e processos especiais. Congrega aspectos
multidisciplinares que iluminam atuações simples e performáticas, lúdicas e de técnica
elaborada. Na vertente educacional o esporte se apresenta em duas dimensões
interdependentes: de um lado na dimensão da chamada educação física escolar, adicionada
pelo espaço esportivo do contra-turno das escolas, de outro pela concretude do esporte de
base para a formação de atletas, dominantemente locada nos clubes, empresas, ‘sistema S’,
prefeituras, academias e associações. Em quais quer destas vertentes o esporte é,
fundamentalmente, um complemento educacional.
Neste texto a discussão central reside no mote da competição como elo entre
formação e desenvolvimento humano e, portanto, cabe situá-la, em primeiro lugar, dentro
do contexto conjuntural em que vivemos e, posteriormente, a partir dos laços de
complexidade que o tema suporta.
Como conhecimento sociológico, a competição para crianças e jovens é um reflexo
da competição na sociedade. Os atores deste tipo de competição são responsáveis pela
produção e reprodução de valores e formas esportivas, marcas inerentes à herança do
esporte como patrimônio cultural dos povos. Com tais lentes é possível situar a competição
na sociedade como um conjunto de máquinas e armamentos de guerra: quanto maior o
poder agregado, maiores são as chances de vitória.
Na esteira de acirradas competições, entranhadas no tecido familiar e de convivência
social, o jogo da formação e desenvolvimento humano ainda está por ser jogado. Sempre
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a competição em jogo
haverá um tempo para o campeão ser derrotado e o perdedor se tornar vencedor. Nesta
lógica, as pessoas sempre lutarão contra as estruturas que as acomodam. Estabelecendo
confrontos diários de subida na vida, de esperança e comprometimento, a luta individual ou
coletiva é uma marca de mudança.
Formar esportistas e atletas a partir de um escopo de desenvolvimento humano
submetido à globalização competitiva não é tarefa fácil. Embora possamos contar hoje com
variados recursos públicos e privados, as práticas formativas de qualidade tem sucumbido
diante da precarização educacional e esportiva do país. São muitas as questões que
conspiram contra as melhorias para a educação física e o esporte.
Ao acumular experiências contraditórias, marcadas por dificuldades materiais e
espirituais e, paralelamente, por engajamentos e sonhos, a formação de crianças e jovens
pode ser incrementada por uma determinada pedagogia do esporte. Trata-se de uma
totalidade dentro de outras totalidades, ou seja, de um recorte dentro de uma
complexidade. Como setor complexo, a pedagogia do esporte responde por variadas
responsabilidades, entre elas a do ambiente de competição para crianças e jovens.
Na sequência, os principais tópicos desta temática serão pontuados a partir de uma
discussão de orientação mais geral em direção às particularidades e exemplos específicos.
A globalização competitiva e seus impactos no esporte de crianças e jovens
O capitalismo e as diversas crises que o compõe é constituído por um sistema
econômico e um aparato político-ideológico, ferramentas de competição que são utilizadas
na história por empresas, Estados e mercados.
As leis coercitivas da competição de mercado forçam os capitalistas a saltos de
inovação nos processos de produção que são alcançados mediante um aumento de trabalho.
Isso torna o sistema, por necessidade, dinâmico do ponto de vista tecnológico. Competir no
mercado requer a atenção de três características fundamentais do modo de produção
capitalista: 1 – O capitalismo é orientado para o crescimento; 2 – O controle do trabalho na
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a competição em jogo
produção e no mercado é essencial para o lucro; 3 – O capitalismo é, por necessidade,
tecnológica e organizacionalmente dinâmico. (cf. Harvey, 1994)
As marcas da competição entre oligopólios, ao contrário da idéia das indústrias como
“aparelhos de produção integrada” situam-se em uma perspectiva de disputa de mercados,
ou seja, os mercados estão integrados nas novas formas de liberalismo econômico, social e
político. (cf. Chesnais, 1996)
Entre as diversas formas de competitividade, os capitais são invasores de novas
esferas ou espaços virgens, potencialmente produtivos. No setor de serviços, os esportes
para crianças e jovens ocupam parte importante das apostas educacionais e, não raro, a
compra e venda de mercadorias relacionadas (tênis, camisa, luvas, raquetes, bolas, etc.) tem
apresentado curva ascendente. Constituem também, uma tendência ascendente, a questão
do doping e as várias formas de encontrar substâncias alternativas para aumentar o
desempenho e passar pelo crivo ético das competições. Os condicionantes do
neoconservadorismo estão mesclados com os determinantes da globalização neoliberal e
apresentam-se, para o mundo do esporte com novas roupas, cada vez mais sofisticadas.
Como a educação esportiva poderia intervir nestes temas?
Vivemos em uma sociedade global e, portanto, há uma globalização competitiva
entre nações, empresas e capitais na busca por fatias alargadas de mercados consumidores.
Nesse sentido é possível pensar que a compreensão da dinâmica competitiva do capitalismo
e suas diversas nuances possibilita uma compreensão da competição educacional e/ou
escolar em suas formas de reprodução e inovação? Podemos falar em “leis coercitivas da
competição” que forçam professores e pais a secundarizar os aspectos educativos do
esporte, priorizando os aspectos de rendimento? Com relação aos “mercados integrados” o
que dizer da relação escola/clube e da formação/produção de futuros atletas? Para que
competir contra um adversário mais forte, que, como o grande capital, sempre vence o mais
fraco? Os fantasmas que rondam a cabeça das crianças e dos jovens que começam a se
apropriar destas fotografias sociais indicam que, na contramão dos discursos idealizados
sobre cooperação, as competições oficiais tendem a ser bem acirradas do ponto de vista
emocional.
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a competição em jogo
Ambiente de competição esportiva por fora do currículo escolar
Excluindo as jornadas de tempo semi-integral e integral, a permanência do alunado
na educação básica, do ponto de vista do tempo pedagógico necessário à aquisição de
saberes teóricos e práticos fundamentais, é irrisória. Dominantemente, nas escolas de
ensino fundamental, este tempo é de aproximadamente quatro horas diárias. Então, como
se sabe, a educação física, nesta lógica é um apêndice do conjunto de disciplinas escolares e,
quase sempre, desprezada e, até mesmo, descartada. No que se refere às práticas esportivas
convivemos com o sabor, a mágica, o sonho, o prazer do esporte dentro de grupos
específicos de amigos dentro da escola. Saímos para o mundo buscando formas esportivas
diferençadas, novos amigos e novas oportunidades. Este vasto ambiente fora do currículo
escolar constitui uma parte importante da formação esportiva, talvez uma engrenagem
fundamental que o sistema educacional formal não consegue enxergar.
O formato educacional para a competição esportiva que privilegia uma compreensão
dialética e ampla, também se encontra condicionado ao ambiente social, às estruturas físicas
(espaços, equipamentos e materiais) e às orientações políticas e didáticas. Para enfrentar
este conjunto limitador, qualquer que seja o ambiente de competição, é necessário que seja,
pelo menos, “oxigenado”. Entendemos por ambiente oxigenado as práticas sadias do
esporte, o jogo limpo e a limpeza do ambiente do jogo, as inovações e o suporte criativo das
lideranças.
Ambiente e organismo são conceitos amplos que estão no horizonte da teoria
vygotskiana. Quando o organismo domina o ambiente há intenso prazer, quando o ambiente
domina o organismo emerge a resistência deste para posterior acomodação. Quando há um
equilíbrio entre as necessidades do organismo e as possibilidades do ambiente, a disputa se
torna pacífica e o ser social consegue perceber-se no coletivo. Isso só ocorre após certo
desequilíbrio, por exemplo, aquele proporcionado pelo ambiente de competição esportiva
regulada. Então, como o ambiente não é externo para o ser social, antes, é parte integrante
da lógica reprodutiva, o organismo tende a adaptar-se antes de superar-se.
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a competição em jogo
Mas são os conceitos de desenvolvimento real e potencial que fundam a zona de
desenvolvimento proximal sendo provável que esta esfera de desenvolvimento possa ser
atingida por meio de intenso e contínuo esforço didático. Para a educação esportiva a zona
de desenvolvimento proximal se apresenta enigmática: nunca se sabe ao certo se estamos
dentro ou fora dela. Entretanto as atuações educacionais no esporte devem atentar para
este conceito tornando-o ativo e dinâmico no cotidiano de aulas e treinos. Isso não chega a
garantir a eficácia desejada por muitos professores e treinadores, mas se apresenta como
um desafio permanente.
Por outro lado o espaço da educação moral também é frágil diante de um ambiente
fragmentado e líquido como o que vivemos o que implica dizer que o esporte também será
fragmentado e líquido, ou seja, sem continuidade, sem desafios e sem estrutura de
totalidade não se vai a lugar nenhum. (cf. Hirama et. al, 2012)
Embora o principal ambiente de competição seja o jogo em si, a formação no esporte
compartilha os valores do fair play, do convívio social, afetivo e ético. (cf. Rosado, 2011) No
interior deste vasto ambiente que é a formação no esporte há que se reconhecer pontos de
inflexão fundamentais: aprendizagem, consolidação do apreendido, experimentalismo e
superação.
As raízes da reprodução e transformação se farão sentir na medida em que o
desenvolvimento esportivo for processado. Nesta engrenagem, boa parte dos discursos e
das práticas a favor e contra o esporte serão esquecidos, pois o movimento reprodutor e
transformador atua cada qual no seu tempo e com forças específicas que foram acumuladas.
Elementos da pedagogia do esporte a favor do desenvolvimento humano e da mudança
É possível afirmar que o jogo como categoria humana conserva o inusitado, o mágico,
o atrativo, o enfeitiçado. Entre tantas possibilidades pedagógicas, o jogo é um instrumento a
favor da educação esportiva. Como ferramenta docente suas transformações e adaptações
incrementam aulas e treinos, tornando-o ainda mais sedutor. Entretanto, o jogo não deve
ser visto como um componente capaz de esgotar o conhecimento sobre o esporte, ou seja,
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a competição em jogo
não pode substituí-lo. Por ser bastante motivante contribui, de forma decisiva para o
processo de ensino-aprendizagem dos esportes.
Entre o jogo e o esporte pinçamos o conceito de jogo esportivo para caracterizar a
forma pedagógica a favor do desenvolvimento humano e da mudança. Trata-se de uma
unidade educativa (jogo-esporte) que possibilita enquadrar o esporte a partir de categorias
de jogos (Sadi, 2010).
Os jogos e esportes, como atividades competitivas, apresentam tendências históricas
diferençadas dependendo do contexto e dos povos (primitivo, grego, romano, medieval e
moderno). Três manifestações que podem ser integradas sob a denominação jogo esportivo
indicam a perspectiva de totalidade para o esporte de caráter educacional. Estas três
manifestações são conceitos traduzidos do inglês: play (atividade lúdica); game (organização
do jogo) e Sport (competição com regras oficializadas) (cf. Guttmannm 1978 apud Marchi
Junior, 2004).
Dessa forma a categoria jogo esportivo é a única que pode enfrentar e regular a
competitividade, principalmente na fase formativa.
Muito já se produziu sobre a hipercompetitividade, entretanto pouco foi observado
no que diz respeito às ‘doses’ ou ao ‘termômetro’ de uma competição dita sadia. Após cortar
os extremos, buscando harmonizar o clima e a intensidade de uma competição entre
crianças e jovens, devem-se recuperar os tópicos importantes da pedagogia do esporte: 1 –
as objetivações dentro do jogo; 2 – o ensino/aprendizagem da competição.
Entre os vários desafios e responsabilidades que devem ser observados na promoção
e no tratamento do esporte, sintetizados pela perspectiva de esportivizar a escola e
escolarizar o esporte, é preciso criar uma ofensiva pedagógica que enfrente a questão da
exigência e da disciplina, não se contentando com migalhas. Como meio de renovar a
educação, emprestando-lhe um lado festivo, o esporte carrega o sonho e a sensibilidade
humana. Mas é preciso substituir as lamentações por estratégias de ação e
responsabilização por seus cursos. (cf. Bento, 2004). Ao se tomar a decisão de ensinar,
aprender, treinar, exercitar e render, professores e jovens são confrontados com o enigma
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a competição em jogo
da competitividade e do ceticismo e chamados a transpor obstáculos. Acelerar e tolerar são
posturas emocionais a serem exigidas dentro de uma competição esportiva e, mesmo que se
queira, não há como fugir disso.
Aplicações
No intuito de evidenciar uma práxis para o esporte de caráter educacional/escolar
apresentamos, na sequencia, um exemplo hipotético de planejamento (de ensino e de aula)
composto por ferramentas didático-metodológicas de eficácia comprovada.
O objetivo geral é consolidar as bases físicas, psicológicas e sociais da competição
esportiva em ambiente favorável às expectativas das crianças e jovens. Constituem objetivos
específicos, aqueles relativos aos saberes técnicos, táticos e emocionais. Para facilitar a
compreensão, todos os objetivos são apresentados aos participantes, declarados com uma
frase que sempre se inicia com um verbo. O conteúdo dos treinos são atividades em forma
de jogo coletivo (minijogos e grandes jogos) e tarefas práticas (exercícios individuais, em
duplas ou trios). A avaliação é sempre processual e qualitativa, composta por perguntas e
respostas, isto é, um debate aberto entre os participantes. Evitamos a sobrecarga (física e
emocional) até os doze anos de idade como um parâmetro para balizar as orientações
didáticas, questão que se aplica desde as atividades de aquecimento e alongamento
passando por aquelas relativas à intensidade, força e resistência, principalmente. Isso não
significa que os exercícios de força e resistência não devam existir nesta faixa estaria, mas
tão somente que à necessidade de tais exercícios serem enquadrados dentro dos limites
corporais do desenvolvimento das crianças. Nesta lógica contrair e relaxar passam a
constituir conceitos importantes para o professor.
Diante do calendário apertado e de interferências externas como clima, doenças e
outras instabilidades, consideramos o prazo de um bimestre para preparação de um
determinado evento esportivo. Torna-se importante estabelecer o foco competitivo, ou seja,
o que se quer com esta competição e, portanto, é necessário quantificar tempos para
aperfeiçoar os treinos. Assim, no primeiro mês, com três encontros semanais, um deles deve
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a competição em jogo
ser destinado à este foco competitivo. No segundo mês, dois encontros por semana até a
terceira semana. Na semana que antecede o evento, as atividades seriam abrandadas em
função da expectativa estressante da competição.
Para os planos de aula seria interessante construir anotações sobre as passagens do
fácil para o difícil, do simples para o complexo e a ocorrência de realizações com êxito das
crianças e jovens em situação competitiva. Como iniciativa, sugerimos aos professores,
sempre que possível, antecipar os problemas e acontecimentos propondo soluções viáveis
e/ou indicando pistas.
Considerações Finais
O esporte como complemento educacional pode ser dinamizado a partir de uma
estrutura objetiva e subjetiva que implica aspectos formativos e de desenvolvimento
humano: espaços, atividade docente, processos metodológicos, orientações práticas,
convivência, etc.
A competição na sociedade e no esporte refletem aspectos inerentes ao capitalismo
e suas diversas nuances. Antes de ser um mal em si, é uma lógica posta que obedece às
formas reprodutivas da sociedade. Isso não significa olhar com passividade o contexto da
globalização competitiva e submeter-se à ela. Tampouco implica em tentar agredi-la de
forma idealista, por meio de devaneios coletivistas.
O ambiente de competição além de sadio deve ser transparente e democrático. Isso
implica em colher sugestões que possam melhorar o jogo, tornando-o produtivo.
O jogo esportivo como uma categoria que emerge da fusão entre jogo e esporte
permite situar a competição como uma ferramenta pedagógica. Duas equipes equilibradas,
cada uma com sua oportunidade de marcar aprendem as bases do esporte e isso é um ponto
de partida do fazer docente/discente. A pedagogia do esporte como concepção, tem como
princípio fundamental, o ensino (de esporte) por meio de jogos. Não qualquer jogo, mas
aqueles que se aproximam dos esportes, os jogos esportivos. Por fim, a ideia de que o
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a competição em jogo
esporte complementa a educação de crianças e jovens é uma ideia produtiva em um mundo
destrutivo.
Referências
Bento, J. Desporto, discurso e substância. Campo das Letras, Porto, 2004.
Chesnais, F. A mundialização do capital. Xamã, São Paulo, 1996.
Harvey, D. Condição Pós moderna. Loyola, São Paulo, 1994.
Hirama, L.K; Montagner, P. C; Baía, A; Matos, J. A. Educação moral e pedagogia do esporte:
dimensões que coexistem? Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, v. 12, PP.103-6,
Porto, 2012.
Marchi Junior, W. “Sacando” o voleibol. Unijuí, Ijuí, 2004.
Sadi, R. S. Pedagogia do esporte: descobrindo novos caminhos. Ícone, São Paulo, 2010.
Rosado, A. Pedagogia do desporto e desenvolvimento pessoal e social. In: Rosado, A &
Mesquita, I (orgs) Pedagogia do Desporto. Universidade Técnica de Lisboa, Faculdade de
Motricidade Humana, 2011.
*Docente do Departamento das Ciências da Educação Física e Saúde da Universidade
Federal de São João del-Rei.