AULA 02 HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA. Também em Mileto floresceu Anaxímenes, discípulo de...

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AULA 02

HISTÓRIA DA

FILOSOFIA

ANTIGA

Também em Mileto floresceu Anaxímenes, discípulo de

Anaximandro, no século VI a.C., de cujo escrito Sobre a Natureza, chegaram-nos três fragmentos, além de testemunhos indiretos.

ANAXÍMENES DE MILETO

Anaxímenes pensa que o “princípio” deve ser infinito,

sim, mas que deve ser pensado como ar infinito,

substância aérea ilimitada.

Escreve ele: “Exatamente como a nossa alma (seja, o princípio

que dá a vida), que é ar, se sustenta e se governa, assim

também o sopro e o ar, abarcam o cosmos inteiro”

Com base no que já dissemos sobre os dois filósofos

anteriores de Mileto, está claro por que motivo o ar é

concebido por Anaxímenes como “o divino”.

Fica por esclarecer, no entanto a razão pela qual Anaxímenes escolheu o ar como “princípio”.

É evidente que ele sentia a necessidade de introduzir uma

physis que permitisse,

de modo mais lógico e mais racional do que fizera

Anaximandro, dela deduzir todas as coisas. Com efeito, por sua

natureza de grande mobilidade, o ar se presta muito bem para ser concebido como estando

em perene movimento (bem mais do que o infinito de

Anaximandro). Ademais, o ar se presta melhor do que qualquer outro elemento às variações e transformações necessárias

para fazer nascer as diversas coisas.

Heráclito de Éfeso viveu entre os séculos VI e V a.C. Não

quis participar de modo algum da vida pública, como registra

uma fonte antiga.

HERÁCLITO DE ÉFESO

Os filósofos de Mileto haviam notado o dinamismo universal

das coisas, que nascem, crescem e perecem, bem como do mundo - aliás, dos mundos -, submetido ao mesmo processo.

Além disso, haviam pensado o dinamismo como característica essencial do próprio “princípio” que gera, sustenta e reabsorve

todas as coisas.

Entretanto não haviam levado adequadamente tal aspecto

da realidade ao nível temático. E é precisamente

isso que faz Heráclito.

“Tudo se move”, “tudo escorre”, nada permanece imóvel e fixo, tudo muda e se transmuta, sem exceção. Em dois de seus mais famosos fragmentos podemos

ler:

“Não se pode descer duas vezes o mesmo rio e não se pode tocar

duas vezes uma substância mortal no mesmo estado, pois, por causa da impetuosidade e da velocidade da mudança, ela se dispersa e se

reune, vem e vai (...)

É claro o sentido desses fragmentos: o rio é

“aparentemente” sempre o mesmo, mas “na realidade” é constituído por águas sempre

novas e diferentes, que sobrevêm e se dispersam.

Por isso, não se pode descer duas vezes a mesma água do rio, precisamente porque ao

descer pela segunda vez já se trata de outra água que

sobreveio.

E também porque, nós próprios mudamos: no momento em que completamos uma imersão no rio, já nos tornamos diferentes de como éramos quando nos movemos para nele imergir.

Dessa forma, Heráclito pode muito bem dizer que nós

entramos e não entramos no mesmo rio. E pode dizer

também que nós somos e não somos, porque,

para ser aquilo que somos em um determinado momento, devemos não-ser-mais aquilo que éramos no momento anterior, do mesmo modo que, para continuarmos a

ser, devemos continuamente não-ser-mais aquilo que somos em

cada momento.

Parmênides nasceu em Eléia na segunda metade do século VI. a.C e morreu em meados

do século V a.C.

PARMÊNIDES DE ELÉIA

Foi ele o fundador da escola eleática, destinada a ter uma

grande influência sobre o pensamento grego. Foi

iniciado em filosofia pelo pitagórico Amínias.

Informa-se que foi um ativo político, dotando a cidade de boas

leis. Do seu poema Sobre a Natureza sobreviveram até

nossos dias o prólogo inteiro, quase que toda a primeira parte e

fragmentos da segunda.

No âmbito da filosofia da physis, Parmênides se

apresenta como um inovador radical e, em certo sentido,

como um pensador revolucionário. Efetivamente,

com ele, a cosmologia

recebe como que um profundo e benéfico abalo do

ponto de vista conceitual, transformando-se, pelo

menos em parte, em uma ontologia (teoria do ser).

O grande princípio de Parmênides, que é o próprio

princípio da verdade, é este: o ser é e não pode não ser; o não

ser não é e não pode ser de modo algum.

No contexto do discurso de Parmênides, “ser” e “não ser”

são tomados em seu significado integral e unívoco: o ser é o positivo puro e o não ser é o

negativo puro, um é o absoluto contraditório do outro.

Mas como Parmênides justifica esse seu grande princípio?

A argumentação é muito simples: tudo aquilo que alguém pensa e diz, é. Não se pode pensar (e,

portanto, dizer) senão pensando (e, portanto, dizendo)

aquilo que é.

Pensar o nada significa não pensar em absoluto e dizer o

nada significa não dizer nada. Por isso, o nada é impensável e indizível. Assim pensar e ser

coincidem.

Há muito que os intérpretes apontaram nesse princípio de Parmênides a primeira grande

formulação do princípio da não-contradição, isto é,

daquele princípio que afirma a impossibilidade

de que os contraditórios existam ao mesmo tempo. E

os dois contraditórios supremos são precisamente o “ser” e o “não ser”: havendo o ser, é necessário que não haja

o não ser.

Parmênides descobriu esse princípio sobretudo em sua

valência ontológica; posteriormente, ele seria estudado

também em suas valências lógicas, gnosiológicas e

lingüísticas, constituindo o pilar de toda lógica do ocidente.

Considerando esse significado integral e unívoco com o qual

Parmênides entende o ser e o não ser e, portanto, o princípio da não-contradição, pode-se compreender

muito bem os “sinais” ou as “conotações” essenciais, ou seja,

os atributos estruturais do ser que, no poema, são pouco a pouco

deduzidos com uma lógica férrea e com uma lucidez absolutamente surpreendente, a ponto de Platão

ainda sentir o seu fascínio, chegando a denominar o nosso

filósofo de “venerando e terrível”.

O ser é “incriado” e “incorruptível”. É incriado visto que, se fosse

gerado, deveria ter derivado de um não-ser, o que seria absurdo,

dado que o não-ser não é, ou então deveria ter derivado do ser,

o que é igualmente absurdo, porque então ele já seria.

“Sofista” é um termo que significa “sábio”, “especialista

do saber”.

A SOFÍSTICA

A acepção do termo, que em si mesma é positiva, tornou-se, porém, negativa sobretudo

pela tomada de posição fortemente polêmica de Platão

e Aristóteles.

Como já havia feito Sócrates, eles sustentaram que o saber dos sofistas era “aparente” e não

“efetivo” e que, ademais, não era professado tendo em vista a

busca desinteressada da verdade, mas sim com objetivos de lucro.

Platão, em especial, insistiu na periculosidade das idéias

dos sofistas do ponto de vista moral, bem como em sua inconsistência teorética.

Durante muito tempo, os historiadores da filosofia

adotaram, além das informações fornecidas por Platão e

Aristóteles sobre os sofistas, também as suas avaliações, de

modo que, geralmente,

o movimento sofista foi desvalorizado, sendo considerado

predominantemente como um momento de grave decadência do pensamento grego. Somente em nosso século é que foi possível uma revisão sistemática desses

juízos e, conseqüentemente, uma radical reavaliação

histórica dos sofistas. Hoje, as conclusões extraídas por

W. Jaeger são compartilhadas por todos.

Escreve ele: “...os sofistas são um fenômeno tão necessário

quanto Sócrates e Platão; aliás, sem eles, estes são

absolutamente impensáveis”.

Com efeito, os sofistas operaram uma verdadeira revolução

espiritual, deslocando o eixo da reflexão filosófica da physis e do cosmos para o homem e aquilo que concerne a vida do homem

como membro de uma sociedade.

É compreensível, portanto, que a sofística tenha feito de seus

temas predominantes a ética, a política, a retórica, a arte, a

língua, a religião e a educação, ou seja, aquilo que hoje

chamamos a cultura do homem.

Assim, é exato afirmar que, com os sofistas, inicia-se o

período humanista da filosofia antiga.

Esse deslocamento do eixo da filosofia se explica pela ação

conjunta de dois diferentes tipos de causas. Por um lado, a filosofia

da physis pouco a pouco havia exaurido todas as suas

possibilidades.

Com efeito, todos os caminhos já haviam sido palmilhados e o

pensamento “físico” havia chegado aos seus limites

extremos. Desse modo era fatal a busca de outro objetivo.

Por outro lado, no século V a.C., manifestaram-se fermentos

sociais, econômicos e culturais que, ao mesmo tempo,

favoreceram o desenvolvimento da sofística e, por seu turno, foram por ele favorecidos.

Sócrates nasceu em Atenas e, 470/469 a.C. e morreu em 399 a.C. em virtude de uma condenação por “impiedade”

SÓCRATES

(foi acusado de não crer nos deuses da cidade e de corromper os jovens; mas, por detrás de tais

acusações, escondiam-se ressentimentos de vários tipos e

manobras políticas).

Era filho de um escultor e uma obstetriz. Não fundou uma

escola, como os outros filósofos, realizando o seu

ensinamento em locais públicos (nos ginásios, nas praças

públicas, etc.),

exercendo um imenso fascínio não só sobre os jovens, mas também sobre os homens de

todas as idades, o que lhe custou inúmeras aversões e

inimizades.

Parece sempre mais claro que se deve distinguir duas fases na

vida de Sócrates. Na primeira fase, ele esteve próximo dos

físicos, particularmente Arquelau.

Sofrendo a influência sofística, fez próprios os seus problemas,

embora polemizando firmemente contra as soluções

que lhes foram dadas pelos maiores sofistas.

Assim sendo, não é estranho o fato de que Aristófanes tenha

apresentado um Sócrates bem diferente do apresentado por Platão e Xenofonte, que é o

Sócrates da velhice, o Sócrates da última parte de sua vida.

Mas, como ressaltou A.E. Taylor, além dos fatos de sua

vida individual, os dois momentos da vida de

Sócrates têm sua raiz no próprio momento histórico em

que ele viveu:

“Não podemos nem mesmo começar a compreender Sócrates enquanto não tivermos claro para nós

mesmos que a sua juventude e a sua primeira maturidade

transcorreram em

uma sociedade separada daquela em que cresceram Platão e Xenofonte por um abismo semelhante ao que

separa a Europa pré-guerra da Europa após-guerra.”