Post on 17-Jul-2020
Autor: Salete Mota
Ilustrações: Sofia Ferreira
2015
Uma iniciativa: Com apoio:
Foi, talvez há um par de anos, que em conversa do tipo social, fiquei a conhecer o lado poético da minha amiga Salete, enfermeira com vasta experiência na área do controlo de infeção hospitalar. Daqui surgiu a ideia da elaboração deste livro.
As intervenções aqui descritas são uma parte importante e fundamental, de uma estratégia multimodal para a prevenção e controlo das infeções associadas aos cuidados de saúde (IACS).
O objetivo é que “Versejar, para as infeções evitar e o doente bem tratar” seja um instrumento de comunicação inovador, que ao mesmo tempo seja didático, divertido e facilite a interiorização de recomendações específicas por parte de todos os profissionais de saúde.
Muito se pode escrever sobre este assunto, ficando aqui lançado o desafio para o desenvolvimento de novos versos, nomeadamente sobre as resistências aos antimicrobianos, medidas de isolamento, precauções básicas …
Para terminar, relembro que,
“O controlo de infeção é da responsabilidade de todos”
Isabel VelosoPresidente da Associação Nacional
de Controlo de Infeção (ANCI)Uma iniciativa: Com apoio:
Título:
Versejar… Para a infeção evitar e o doente bem tratar
Textos:
Salete Mota
Ilustrações:
Sofia Ferreira
Design e paginação:
Blue Line
Impressão:
IDG
2015
Nota Introdutória
“A partir de hoje, 15 de maio de 1847, todo estudante ou médico,
é obrigado, antes de entrar nas salas da clínica obstétrica, a
lavar as mãos, com uma solução de ácido clórico, na bacia
colocada na entrada. Esta disposição vigorará para todos, sem
exceção”.
Ignaz Semmelweiss
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Capítulo I - Higiene das mãos
Capítulo I
Higiene das mãos
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Capítulo I - Higiene das mãos Capítulo I - Higiene das mãos
Há muito, muito tempo Já no século XIX
Existiu um certo médicoSemmelweiss era o seu nome
Tinha nascido na HungriaMas foi pra Viena estudar
Acabou em medicinaE deu muito que falar
Em partos, numa clínica
Começou a trabalhar Mas percebeu de repente
Que algo se estava a passar
Morriam mães e criançasSem haver explicação
Mas com sua persistênciaDescobriu a relação
Sabia também que ao lado
Numa clínica igualAs infeções eram menos
Taxas fora do normal
Na clínica em questão Só trabalhavam parteirasE por estranho que fosseFaziam menos asneiras
As taxas muito inferioresMenos mortes pra contarFilhos e mães mais felizesEra mesmo de estranhar
Fez muitas contas e contasE comparou muitas taxas
Para perceber porquêA razão de tantas baixas
As infeções que matavam
Vinham nas mãos dos doutoresQue praticavam autópsiasLá fora noutros corredores
Ele chamou a atenção
Para esse pormenorA todos os seus colegas
E disse o que era melhor
Lavar as mãos muitas vezesAntes de entrar lá no quarto
Antes de fazer o toqueAntes de assistir ao parto
Com o ácido clórico Juntou água na bacia
E finalmente consegueProvar o que ele queria
Era mesmo pelas mãos
Que as infeções se passavamDos cadáveres para as mãosE que pela ”carne” entravam
Com a lavagem das mãos
Ficou pra sempre lembradoIntroduziu o conceito
Mas foi muito contestado
Foi considerado malucoPor acreditar em tal
Seria injustiçadoE acabou muito mal
Internado no HospícioAcabou por lá morrer
E as ditas bactériasNão chegou a conhecer
E agora neste tempoNa era tecnológica
Faz mesmo muito sentidoTudo tem mesmo uma lógica
Existem outras medidas
De prevenção importantesMas a higiene das mãos
Uma das mais relevantes
E apesar do know how E de tanta informação
Nem o Semmelweiss nos valeNo combate à infeção
Obrigada Semmelweiss
Tiveste sempre razãoVais ter de nos perdoarNão prestamos atenção
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Capítulo II - Prevenção da IACS: Infeção do trato urinário
A infeção urináriaÉ um grave problema
E para a prevenirTens de dominar o tema
Será preciso ou nãoUsar sonda vesicalEvitar a introduçãoSeria mesmo o ideal
Mas quando é mesmo preciso
E não tens mais opçõesUsa a mais adequada
Em termos de dimensões
Agora que tem de serHá regras para cumprir
Fazer lavagem localAntes de a introduzir
Não poderás esquecer De as mãos desinfetar
Antes de calçar as luvas E o ato começar
Capítulo II
Prevenção da IACS:Infeção do trato urinário
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Capítulo II - Prevenção da IACS: Infeção do trato urinário Capítulo II - Prevenção da IACS: Infeção do trato urinário
Material organizadoColocado a preceito
Vai correr bem de certezaSe pra isso tiveres jeito
Não podes sujar o campo Nem colocar em questãoToda a técnica asséticaPresta muita atenção
Depois vem um pormenorQue não podes esquecer
O circuito fechadoQue será para manter
Depois de bem colocadaFixada com primor
Certificar que o doenteNão sentirá qualquer dor
Agora que terminou
A tua atuaçãoA prevenção continua
Pra evitar infeção
Todos os dias irásColocar uma questão
“Será mesmo necessárioutilizá-la, ou não?”
Há que garantir ainda
O circuito fechadoUm contentor sempre limpo
No despejo efetuado
Higiene do meatoFeita diariamente
Ao doente algaliadoÉ prevenção certamente
Mas não há como esquecer
Aquela dita medidaA higiene das mãos
Tem sempre de ser cumprida.
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Capítulo III - Prevenção da IACS: Associada a cateter venoso central
Capítulo III
Prevenção da IACS:Associada a cateter venoso central
Uma outra infeçãoCom impacto enorme
É a bacteriémiaE que no sangue ocorre
Normalmente associada
A um cateter centralColocado numa veiaÉ bastante habitual
Mas pode ser prevenidaComo as outras infeçõesQue às vezes tiram vidas
E que custam uns milhões
Por isso vamos saberSe temos de colocarEste cateter centralOu se vamos adiar
Mas antes de colocarO cateter em questãoReunir todas as coisasTer o material à mão
De preferência já em kit Com tudo bem separadoSoro, seringas e campos
O que está recomendado
Mas quem introduz o cateterTem de ser muito experienteQue sabe o que está a fazerQue pode mexer em gente
Antes de mais é preciso
O cateter escolherQuantos lúmens são precisos
E onde se vai meter
Pode ser na jugularSerá sempre uma opção
Mas é a subcláviaA veia de eleição
Normalmente associadaA menos complicaçõesMenos risco pro doenteMenos risco de infeções
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Capítulo III - Prevenção da IACS: Associada a cateter venoso central Capítulo III - Prevenção da IACS: Associada a cateter venoso central
Após a higiene das mãosCom técnica adequada
Vestir bata e calçar luvas (estéreis)
Com máscara bem colocada
O cabelo também deveEstar coberto com toucaOs campos esterilizados
E que tapem bem a roupa
Já a pele desinfetadaÉ mesmo fundamental
Com clorohexidina alcoólicaAplicada no local
Deixar atuar o álcoolNo local de inserção
Durante o tempo correto É a melhor opção
Manter técnica asséticaDurante a introdução
É mais do que importanteÉ uma obrigação
Depois de introduzido O cateter no local
Tem de ser bem fixadoPara nada correr mal
Já o penso deve ser
Opaco ou transparenteDeve ser esterilizado
Confortável pro doente
Mas agora que já estáNão acaba a prevenção
Há que manter certas normasPra evitar a infeção
O penso deste cateter
Deve ser sempre mudadoQuando descola e está sujo Ou quando fica encharcado
A desinfeção local
No local da inserçãoÉ mesmo fundamentalNão há como dizer não
Normalmente é por aquiQue a bactéria invade
Entre a pele e o cateterSe houver oportunidade
Há ainda a lembrarAquela desinfeção
Das tampas e das torneirasSe houver manipulação
Substituir os sistemas
Não pode ser esquecidoPrincipalmente naqueles
Em que há sangue envolvido
Os da alimentaçãoSão também para tirar
Ao fim de um dia de usoNão há nada que enganar
Ainda há uns sistemas
Que com meia dúzia de horasTêm de ser removidos
Com pressa e sem demoras
Mas para os outros sistemasSem sangue e sem emulsão
Só depois de 4 diasHá a substituição
Mas em todas as tarefasNão podes nunca esquecer
A higiene das mãosE de todo o seu poder
O poder de evitar
Infeções hospitalaresE outras complicações
E até vidas salvares
Detetar precocemente Este tipo de infeções
Estar atento a pormenoresPode poupar uns milhões
Não é só milhões de euros
Mas de vidas de pessoasE que é o mais importante
De todas as coisas boas
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Capítulo IV - Prevenção da IACS: Infeção do local cirúrgico
A infeção em cirurgiaUma das principais
Poderá ser prevenidaCom medidas triviais
Com o aumento das taxas
A que estamos a assistirTemos de abraçar a causa
Não podemos desistir
Começa sempre por serNa fase pré cirurgia
Que temos de intervirCom muita sabedoria
O banho, muito importanteNa véspera e no próprio dia
Em que o doente vai serSujeito à cirurgia
Clorohexidina sabãoVamos ter de utilizar
Para os banhos de chuveiroNão há nada que enganar
Depois a tricotomia (se mesmo necessária)
Não vai ser muito alargadaFeita com máquina própria
Perto da hora marcada
Perto da hora marcadaDa hora da operação
Não deve ser muito cedoNem provocar abrasão
Mas um aspeto fulcral
É a profilaxiaAté 60 minutos
Prévios à cirurgia
E esta não pode ser Mantida mais do que um dia
Passava a tratamentoNão a profilaxia
Depois há outros aspetosDe importância elevada
Como a higiene das mãos E com roupa adequada
Capítulo IV
Prevenção da IACS:Infeção do local cirúrgico
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Capítulo IV - Prevenção da IACS: Infeção do local cirúrgico Capítulo IV - Prevenção da IACS: Infeção do local cirúrgico
O álcool isopropílicoOu sabão com antisséticoPra desinfeção das mãos
Durante um tempo correto
E para entrar na salaHá que cumprir certas normas
Batas e luvas estéreisMáscaras de várias formas
Depende muito do tipo
Do doente a operarDo local da cirurgia
E do que tem pra drenar
A zona a operarQue já está preparadaPrecisa de desinfeçãoAlcoólica ou iodada
Os antissépticos tópicos
Devem ficar a atuar Deixar secar bem a pele
Pra flora eliminar
Há quem ainda optePor usar mais proteções
Que impedem as bactériasDe provocar infeções
Ainda assim o doentePrecisará de manter
Temperatura constantePra não ficar a tremer
O açúcar controladoNo peri operatório
Outra medida importanteÉ mais do que perentório
E todo o material
Que irá ser utilizadoDeve estar funcional
E também esterilizado
Durante o ato cirúrgicoE com o doente abertoManter técnica asséticaÉ sempre o mais correto
Não deixar sangrar demaisCorrigir perda de líquidos
Boa técnica cirúrgicaA arte dos bons peritos
Para fazer o pensoDeve ser utilizado
Penso estéril que protejaA ferida do operado
Já no pós-operatório
Há que vigiar sintomasObservar o local
Garantir todas as normas
Se tudo for bem cumpridoCom a ajuda do doenteNão vai haver infeção
Assim vai ser certamente
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Capítulo V - Prevenção da IACS: Pneumonia associada à ventilação
Agora outra infeçãoQue dá muito que falar
Uma das principaisDifícil de eliminar
É uma pneumonia
E que afeta os pulmõesÉ uma das mais perigosas
Também faz gastar milhões
Relacionada com um tuboPro doente respirar
Quando ele está em comaOu quando tem falta de ar
Se cumpridas certas regrasTambém se pode evitarComo outras infeções
Não dá para relaxar
Aqui também se colocaSempre a velha questão
Será que é mesmo precisoSerá preciso, ou não?
Capítulo V
Prevenção da IACS:Pneumonia associada à ventilação
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Capítulo V - Prevenção da IACS: Pneumonia associada à ventilação Capítulo V - Prevenção da IACS: Pneumonia associada à ventilação
Depois para entubarTambém tem de se ter jeito
Colocar bem a cabeçaAlinhá-la com o peito
Depois de ser colocado O tubo lá nos pulmões
Deve ser bem fixado Pra não provocar lesões
Depois o ventilador
Que tem de ser conectadoCom traqueias à misturaTudo bem desinfetado
As medidas preventivas
Daquela dita infeçãoSão simples e exequíveis
Estarão na tua mão
Ao mexer no circuitoE quando é para aspirarA desinfeção das mãos
Será pra realizar
Cabeceira a 30ºSem nunca baixarLevantar a sedação
Se se puder levantar
Ter cuidados com a bocaE fazer desinfeção
Com colutório específicoQue previna a infeção
É a clorohexidina
O que está recomendadoPra eliminar a flora oral
No doente ventilado
Uma medida tambémQue se pode aplicarÉ o circuito fechado
Para o ar não contaminar
Pode ser aplicadaAspiração a dobrar
Chamada de subglóticaQue aspira sem parar
Evita que na traqueia
Se acumulem secreçõesCheias de bactérias
Que provocam infeções
Mas sempre que for possívelRemover ventilação
É a medida mais forte No controlo da infeção