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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE BIOCIÊNCIAS
DEPARTAMENTO DE ZOOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA ANIMAL
Biomonitoramento de uma grande congregação de morcegos
no Parque Nacional do Catimbau, Pernambuco
Recife – PE
2016
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE BIOCIÊNCIAS
DEPARTAMENTO DE ZOOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA ANIMAL
Biomonitoramento de uma grande congregação de morcegos
no Parque Nacional do Catimbau, Pernambuco
Jaire Marinho Torres
Orientador: Prof. Dr. Enrico Bernard
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós Graduação em Biologia Animal
como um dos requisitos para a obtenção
do título de Mestre em Biologia
Animal.
Recife – PE
2016
]
Catalogação na Fonte: Bibliotecário Bruno Márcio Gouveia, CRB-4/1788
Torres, Jaire Marinho
Biomonitoramento de uma grande congregação de morcegos no Parque Nacional do Catimbau, Pernambuco / Jaire Marinho Torres. – Recife: O Autor, 2016. 145 f.: il. .
Orientador: Enrico Bernard Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco. Centro de Biociências. Bacharelado em Biologia Animal, 2016. Inclui referências e anexos
1. Morcego 2. Catimbau (Buíque, PE) I. Bernard, Enrico (orient.) II.
Título. 559.4 CDD (22.ed.) UFPE/CCB-2016-165
Jaire Marinho Torres
Biomonitoramento de uma grande congregação de morcegos no Parque Nacional
do Catimbau, Pernambuco
Dissertação apresentada em 25/02/2016 e
aprovada pela banca examinadora composta
pelos seguintes membros:
Banca examinadora
I Examinador: __________________________________________________________
Dr. Eduardo Martins Venticinque
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
II Examinador: __________________________________________________________
Dr. Luiz Augustinho Menezes da Silva
Universidade Federal de Pernambuco
III Examinador: _________________________________________________________
Dr. Antonio da Silva Souto
Universidade Federal de Pernambuco
I Suplente: _____________________________________________________________
Dr. Filipe Martins Aléssio
Universidade de Pernambuco
II Suplente: ____________________________________________________________
Dra. Bruna Martins Bezerra
Universidade Federal de Pernambuco
AGRADECIMENTOS
Ao CNPq e a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza pelo financiamento do
projeto.
A Facepe pela bolsa concedida.
Ao Projeto Ecológico de Longa Duração (PELD) do Catimbau, sob coordenação do
Prof. Dr. Marcelo Tabarelli, pelo apoio logístico para o desenvolvimento das atividades
de campo.
Ao Prof. Dr. Enrico Bernard pela orientação.
Ao Voxar Labs pela parceria realizada e apoio no desenvolvimento do sistema de
estimativa de morcegos, especialmente a Veronica, João Marcelo (Joma) e Eduardo
pelo empenho e total dedicação ao projeto.
Aos integrantes do Laboratório de Ciência Aplicada à Conservação da Biodiversidade
pelo auxílio no desenvolvimento das atividades de campo – Eder, Ana Cláudia
(Aninha), Ítalo, Mariana, Frederico (Fred), Évelyn, Marília e Fernanda (Ito).
Aos amigos de Recife pelo apoio, presença, e carinho – Camila (da Herpeto), Celina,
Eder, Eveline, Fernanda (Ito), Fred, Ingrid, Jaine, Juliana, Júlio, Ledson, Lucas (o de
Maceió), Manolo (Francisco), Mariana, Marília, Neto (José), Rodolfo, Wictor e todos os
outros que marcaram de alguma forma e não foram citados, sei que seus bons corações
me perdoarão pelo esquecimento.
Aos amigos de longa data e seu carinho incondicional, dedicação ilimitada e paciência
imensurável – Carla, Claudinha, Driele, Guilherme (o outro Torres), Luiz Mário,
Mariana, Mônica, Rayssa, Thai e Vitor Hugo. Amigos de 5 a 20 anos, sem os quais o
caminho até aqui teria sido muito mais árduo.
A Elaine que, além de mestra, é uma grande amiga que me impulsiona diariamente ao
longo da minha formação.
A minha família, que sozinha renderia uma página de nomeações, por sua torcida e
apoio constantes – tios, tias, primos, primas, papagaios, cachorros e periquitos. Aos
meus queridos irmãos, Rafael e Alessandra, dois dos meus pilares de sustentação e sem
dúvida meus exemplos e motivação. A minha cunhada, Olga, por sua amizade e
conselhos, sem dúvida imprescindível à família Marinho. Aos meus sobrinhos, o amado
Emanuel e o já amado João Pedro, que certamente sempre garantirão os momentos mais
felizes.
Aos meus pais, detentores da sabedoria e mais puro amor, que me motivam a sonhar e
concretizar o inimaginável. Meus exemplos de caráter, dedicação e benevolência.
A Deus, por direcionar meus caminhos e me iluminar nos momentos de escuridão.
“Tu, Senhor, guardarás em perfeita
paz aquele cujo propósito está firme,
porque em Ti confia”
Isaías 26:3
RESUMO
Os morcegos são um dos grupos de mamíferos mais amplamente distribuído e diverso
do mundo. A variação da ordem Chiroptera pode ser exemplificada por seus hábitos
alimentares, quesito em que somente a saprofagia não é contemplada. Essa variedade é
verificada também na utilização de abrigos, pois exploram desde abrigos naturais até
artificiais. Os abrigos são particularmente importantes, pois é neles que os morcegos
passam a maior parte de suas vidas, em pequenos grupos ou em grandes congregações
com milhões de indivíduos. As cavernas são os abrigos mais estáveis, e comumente
utilizados por grandes colônias. Entretanto, as cavernas desconhecidos quando se trata
dos morcegos brasileiros, o que é preocupante devida à elevada diversidade da
quiropterofauna brasileira. É necessário conhecer essas grandes congregações
cavernícolas, pois grandes agrupamentos biológicos são considerados potenciais
indicadores das mudanças climáticas do planeta. Mas essa não é uma tarefa fácil, pois o
monitoramento dessas populações é inviável pelos métodos de estimativa tradicionais,
como manual ou estimativa pela densidade de indivíduos. Considerando-se o cenário
atual da pesquisa com morcegos cavernícolas, a proposta dessa dissertação é explorar
questões básicas sobre sua ecologia, como aspectos de sua história natural em
monitoramento de longo prazo e respostas às variações climáticas de temperatura,
umidade e pluviosidade. Para isso foi necessário desenvolver um método de estimativa
automatizada de morcegos, que também será apresentado. O objeto de estudo é a
congregação abrigada na caverna “Meu Rei”, no Parque Nacional do Catimbau,
Tupanatinga/PE. Esses animais são particularmente interessantes, pois estimativas
iniciais apontaram milhares de indivíduos, abrigados em um ambiente climaticamente
extremo extremas como a Caatinga. O monitoramento ocorreu entre Outubro de 2014 e
Setembro de 2015, com censos mensais no abrigo e coleta de dados climáticos. A
congregação apresentou grande variação ao longo do monitoramento, entre 188 e
129074 animais, estimados por um sistema automatizado com erro médio de
20,05±16,88%. Foram registradas oito espécies nesta comunidade, com representantes
de cinco guildas alimentares. Algumas das espécies são constantes na caverna, mas
outras parecem usar a caverna apenas durante períodos reprodutivos, sendo que sete das
oito espécies foram encontradas com indícios reprodutivos. Essa presença pode se
relacionar com a estabilidade climática do abrigo em relação ao ambiente externo,
evitando-se a influência de alterações climáticas já que a temperatura e pluviosidade nas
quinzenas anteriores aos censos influenciaram a abundância no abrigo. Os morcegos
ainda influenciam o microclima da caverna, alterando a temperatura e umidade do
interior. Esses dados contribuem ao conhecimento da quiropterofauna, demonstrando
sua importância na manutenção do abrigo e sua resposta às variações no clima do
ambiente. Além disso, o sistema de estimativa apresentado alavanca a introdução de
censos automatizados e padronizados de morcegos, com monitoramentos mais precisos.
Esse monitoramento é necessário para tomadas de decisões para a conservação dos
grupos de morcegos, que são potenciais prestadores de serviços ambientais na área.
Palavras chave: Abrigo, estimativa, monitoramento, pluviosidade, temperatura.
ABSTRACT
Bats are the most widely distributed and diverse among mammals group in the world.
The variation of Chiroptera order can be exemplified by their feeding habits which only
saprofagy is not contemplated. Moreover, this variation can be observed by use of
shelters. Bats can explore natural or artificial shelters. Shelters are particularly
important, since bats spend most of their lives at shelters in small groups or in large
congregations with millions of individuals. Caves are the most stable shelter, and
commonly used by large colonies. However, the diversity of bats in Brazilian caves are
still unknown. The knowledge about this diversity should be important since large
groups of bats are considered potential biological indicators of climate change. It is a
challenge monitoring these populations, and it is not feasible by traditional estimation
methods such as manual or estimate the density of individuals. Considering the
importance of that knowledge on cave bats, the purpose of this study is to explore basic
questions about bat’s ecology. This investigation has goal to discuss aspects of the
natural history of bats in long-term monitoring, and their responses to climate
variations, such as temperature, humidity and rainfall. For this reason, it was necessary
to develop a bat’s automated estimate method. The congregation sheltered in "My
King" cave at Catimbau National Park, Tupanatinga / PE is the object of this study. The
initial estimates showed thousands of individuals housed in a climatically extreme
environment such as Caatinga. We made the monitoring between October 2014 and
September 2015, with monthly censuses in the shelter and collecting weather data. The
congregation showed great variation over monitoring, between 188 and 129 074
animals, estimated by an automated system with an average error of 20.05 ± 16.88%.
Eight species were recorded, with representatives from five feeding guilds. Some
species are listed in the cave, but others seem to use the cave during breeding seasons,
and seven of the eight species were found with reproductive indications. This presence
can relate to climate stability of the barn compared to the external environment,
avoiding the influence of climate change since the temperature and rainfall in previous
fortnights to censuses influenced the abundance in the shelter. Bats also influence the
microclimate inside the cave by changing the temperature and humidity. Our data
contribute to the knowledge of chiropterofauna showing the importance of bats
maintaining the shelter and its response to variations in the ambient climate. Moreover,
the presented estimation system leverages the introduction a more precise monitoring
way, by using automated and standardized bat's census. This monitoring is important for
decision makers, considering conservation of bats groups, which are potential
environmental service providers in the area.
Keywords: Estimation, monitoring, rainfall, shelter, temperature.
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
Abs – Valor absoluto
Aces – Espécies Acessórias
Acid – Espécies acidentais
APAC – Agência Pernambucana de Águas e Clima
Aut – Automático
C – Constância
CAD – Câmara anterior direita
CAE – Câmara anterior esquerda
CMCT – Contagem manual do conjunto treinamento
CMCV – Contagem manual do conjunto validação
CO – Espécies cavernícolas oportunistas
Cons – Espécies constantes
CPD – Câmara posterior direita
CPE – Câmara posterior esquerda
CT – Conjunto de Treinamento
CV – Conjunto de Validação
DD – Deficiente em dados
EC – Espécies essencialmente cavernícolas
Frug – Frugívoro
Hema – Hemaatófago
Inse – Insetívoro
IUCN – International Union for Conservation of Nature
LC – Pouco preocupante
Man – Manual
MCM – Morcegos Contabilizados Manualmente
MMA – Miniestério do Meio Ambiente
NA – Não ameaçada
NC – Espécies não cavernícolas
Nect – Nectarívoro
NEMC – Número estimado de morcegos na caverna
NME – Número de morcegos entrando
NMS – Número de morcegos saindo
NSCM – Número de morcegos saindo na contagem manual
NT – Quase ameaçada
NTM – Número Total de Morcegos
NTMV – Número total de morcegos no vídeo
Oniv - Onívoro
PARNA – Parque Nacional
Pluvio - Pluviosidade
SBT – Somátorio dos Blobs Totais
T1 – Intervalo de tempo de um dia antes da filmagem
T15 – Intervalo de tempo de 15 dias antes da filmagem
T3 – Intervalo de tempo de 3 dias antes da filmagem
T30 – Intervalo de tempo de 30 dias antes da filmagem
T5 – Intervalo de tempo de 5 dias antes da filmagem
T7 – Intervalo de tempo de 7 dias antes da filmagem
TB – Total de blobs
TD – Intervalo de tempo do dia de filmagem
Text – Temperatura externa
Tfundo – Temperatura no fundo da caverna
TM – Intervalo de tempo do mês de filmagem
Tmeio – Temperatura no meio da caverna
TO – Tipo de ocupação
trM – Track Média
Uext – Umidade externa
Ufundo – Umidade no fundo da caverna
Umeio – Umidade no meio da caverna
VU – Vulnerável
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO GERAL............................................................................................... 1
REFERÊNCIAS.............................................................................................................. 4
CAPÍTULO 1. DESENVOLVIMENTO E UTILIZAÇÃO DE UM MÉTODO
AUTOMATIZADO PARA ESTIMATIVA E MONITORAMENTO DE
MORCEGOS
Resumo............................................................................................................................ 9
Introdução..................................................................................................................... 10
Metodologia................................................................................................................... 12
Caracterização da área......................................................................................... 12
Procedimentos de desenvolvimento do sistema para estimativa de
morcegos............................................................................................................... 13
Geração de vídeos para criação do sistema................................................ 13
Detecção de morcegos nos vídeos gerados................................................. 14
Procedimentos para estimação da quantidade de morcegos...................... 17
Procedimentos de validação do método proposto....................................... 21
Correção da estimativa de morcegos.......................................................... 22
Resultados...................................................................................................................... 22
Discussão........................................................................................................................ 24
Agradecimentos............................................................................................................ 27
Referências.................................................................................................................... 27
CAPÍTULO 2. INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA, UMIDADE E
PLUVIOSIDADE SOBRE UMA GRANDE CONGREGAÇÃO DE MORCEGOS
NO PARQUE NACIONAL DO CATIMBAU, CAATINGA DE PERNAMBUCO
Resumo.......................................................................................................................... 36
Introdução..................................................................................................................... 37
Material e Métodos....................................................................................................... 39
Área de estudo....................................................................................................... 39
Coleta de dados..................................................................................................... 40
Análise de dados................................................................................................... 41
Resultados...................................................................................................................... 43
Discussão........................................................................................................................ 45
A caverna “Meu Rei” e as hot caves.................................................................... 46
Efeitos das variações no número de morcegos..................................................... 48
Espécies e condições microclimáticas.................................................................. 49
Agradecimentos............................................................................................................ 51
Referências.................................................................................................................... 52
CAPÍTULO 3. MORCEGOS DA CAVERNA “MEU REI”: ASPECTOS DA
BIOLOGIA E HISTÓRIA NATURAL DE UMA COMUNIDADE DE
MORCEGOS CAVERNÍCOLAS NO PARQUE NACIONAL DO CATIMBAU,
CAATINGA DE PERNAMBUCO
Resumo.......................................................................................................................... 70
Introdução..................................................................................................................... 71
Material e Métodos....................................................................................................... 73
Área de estudo....................................................................................................... 73
Coleta de dados..................................................................................................... 74
Análise de dados................................................................................................... 75
Resultados
Pteronotus gymnonotus Natterer, 1843................................................................. 78
Natalus macrourus (Ruschi, 1951)....................................................................... 80
Diphylla ecaudata Spix, 1823............................................................................... 82
Carollia perspicillata (Linnaeus, 1758)................................................................ 84
Lonchorhina aurita Tomes 1863.......................................................................... 86
Glossophaga soricina (Pallas, 1766).................................................................... 88
Anoura geoffroyi Gray, 1838................................................................................ 90
Tonatia bidens Spix, 1823..................................................................................... 92
Discussão........................................................................................................................ 94
Uso e ocupação da caverna “Meu Rei” pelas espécies de morcegos.................. 94
Aspectos reprodutivos de morcegos da Caatinga................................................. 96
Guildas alimentares e serviços ambientais prestados por morcegos na
Caatinga................................................................................................................ 98
Ameaças às espécies vulneráveis e importância da conservação de ambientes
cavernícolas........................................................................................................ 102
Agradecimentos.......................................................................................................... 105
Referências.................................................................................................................. 106
CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................... 123
NORMAS DA REVISTA Ecologial Informatics (ISSN 1574-9541)....................... 125
NORMAS DA REVISTA Acta Chiropterologica (ISSN 1508-1109)...................... 139
1
INTRODUÇÃO GERAL
Os morcegos são um dos grupos de mamíferos mais amplamente distribuído
(Altringham, 1996) e mais diverso do mundo, contemplando 25% da diversidade de
mamíferos conhecidos (Simmons, 2005). São conhecidas cerca de 1150 espécies de
morcegos (Simmons, 2005), das quais 178 são encontradas no Brasil (Nogueira et al.,
2014). A riqueza de morcegos brasileiros representa cerca de 15% das espécies do
mundo (Bernard et al., 2011), colocando os morcegos como a segunda ordem de maior
riqueza entre os mamíferos brasileiros, sendo superados somente por Rodentia (Reis et
al. 2007).
Morcegos apresentam também uma grande diversidade biológica, em grande
parte resultante de seus hábitos alimentares (Altringham, 1996). Os morcegos
neotropicais possuem hábitos alimentares insetívoros, carnívoros, piscívoros,
frugívoros, nectarívoros, onívoros e sanguinívoros (Kalko et al., 1996), todos
encontrados nas espécies ocorrentes no Brasil (Reis et al., 2007). Essas interações
alimentares implicam na participação de processos ecológicos e, consequentemente, na
prestação de serviços ambientais, tais como polinização, dispersão de sementes e
controle de populações de insetos (Bernard et al., 2012). A grande diversidade de
morcegos e de hábitos alimentares na região Neotropical está relacionada com a
disponibilidade de alimentos, que é um dos principais estruturadores das guildas de
morcegos nessa região (Tamsitt, 1967), onde é verificada uma elevada produtividade
biológica e maior quantidade de recursos que suportam mais espécies (Altringham,
1996).
A disponibilidade de abrigos é também um fator importante para morcegos
neotropicais (Tamsitt, 1967), pois estes locais são refúgios onde os morcegos
permanecem até o início de suas atividades no ambiente externo (Kunz e Lumsden,
2003), permanecendo neles a maior parte de suas vidas (Altringham, 1996). O hábito de
se abrigar influencia na densidade e distribuição dos morcegos, além de seus hábitos de
forrageio, reprodução, sua estruturação social e movimentos sazonais (Altringham,
1996; Kunz, 1982).
Há uma grande variedade de abrigos que podem ser utilizados por morcegos,
sejam eles naturais, como ocos de árvores, superfícies de troncos, folhas, cupinzeiros,
cavernas, fendas de rochas; ou artificiais, tais como edificações humanas, forro de casa,
sótãos, porões, vãos de dilatação e pontes (Kunz, 1982). As cavernas são consideradas
2
os abrigos mais estáveis e permanentes, sendo os morcegos alguns dos poucos
vertebrados que usam estes abrigos permanentemente (Altringham, 1996).
As cavernas geralmente apresentam uma grande variedade de formações e
microclimas, capazes de atender os requisitos específicos de diferentes organismos e
consequentemente permitindo sua ocupação por várias espécies de morcegos
(Altringham 1996). O tamanho das colônias de morcegos cavernícolas também pode
variar, chegando a grandes agrupamentos de milhares a milhões de indivíduos (e.g.
Bateman e Vaughan, 1974; Sorensen e Halberg, 2001; Betke et al., 2008).
Por concentrarem milhões de indivíduos, grandes congregações têm sido
apontadas como indicadores ecológicos, refletindo a qualidade do habitat, as tendências
populacionais, alterações nas cadeias tróficas e mudanças em padrões sazonais (e.g.
Butchard et al., 2010). São apontadas diversas características importantes para um
indicador ecológico (Dale e Beyeler, 2001), sendo algumas delas conhecidas em
morcegos, como sua sensibilidade às perturbações no ambiente (Wegiel e Wegiel, 1998)
e a previsibilidade de suas respostas a tais perturbações (Jones et al., 2009).
Essas grandes congregações têm recebido uma atenção especial para se avaliar o
efeito das mudanças climáticas sobre a fauna e flora (e.g. Ciaputa e Sierakowski, 1999;
Croxall et al., 2002; Mittermeier et al., 2003; Butchard et al., 2010; Millar et al., 2012),
pois as alterações ambientais na superfície da Terra têm sido mais intensas nas últimas
décadas (Willet et al., 2007; Hansen et al., 2010; Simmons et al., 2010), e são
potencialmente impactantes à biota (Pearson e Dawon, 2003; Lavergne et al., 2010;
Dawson et al., 2011). No Brasil, é indicado um alto grau de vulnerabilidade para a
região Nordeste, com algumas das projeções mais preocupantes para o final do século
sendo feitas para a Caatinga, onde são apontadas tendências de aquecimento na
temperatura do ar e diminuição das chuvas superiores aos níveis globais (PBMC, 2014).
Os modelos para a Caatinga apontam aumento de 0,5º a 1ºC na temperatura e
decréscimo entre 10% e 20% nas chuvas durante as próximas três décadas, chegando a
aumentos de 3,5°C a 4,5°C na temperatura e diminuição de praticamente metade das
chuvas até o fim do século (PBMC, 2014).
Embora as grandes congregações sejam consideradas bons modelos de
monitoramento das alterações climáticas, é imprescindível que esses indicadores
ecológicos sejam facilmente mensuráveis (Dale e Beyeler, 2001). No caso dos
morcegos a contagem de colônias é um verdadeiro desafio científico (e.g. Land et al.,
2003; Betke et al., 2008; Hristov et al., 2010; Corso et al., 2012), pois espécies de
3
hábitos noturnos são de difícil observação em condições naturais (Duckworth, 1998).
No caso dos grupos cavernícolas, isso é dificultado ainda por seu comportamento de
agregação em pequenos espaços inacessíveis, o que dificulta ainda mais os
procedimentos de contagem e até mesmo coleta de dados básicos sobre sua biologia e
ecologia (Havens e Sharp, 2015).
Mesmo que o conhecimento da dinâmica de morcegos cavernícolas seja
importante para entender suas respostas às variações climáticas, as informações sobre
essas populações são limitadas na região Neotropical (Trajano, 1996). No Brasil, o
conhecimento sobre esses grupos pode ser considerado defasado especialmente na
Caatinga, pois este é o segundo menor bioma em quantidade de inventários em cavernas
e, dentre os estados que compõe este bioma, o estado de Pernambuco tem a menor
quantidade de cavernas conhecidas (Guimarães e Ferreira, 2014).
Devido ao potencial de morcegos cavernícolas como modelos para o
monitoramento de mudanças no ambiente, e considerando-se as lacunas no
conhecimento sobre a dinâmica dessas espécies, três pontos principais foram abordados
na presente dissertação: 1) o desenvolvimento de um sistema não invasivo para
estimativas padronizadas da abundância de morcegos em abrigos; 2) os efeitos da
temperatura, umidade e pluviosidade sobre a concentração de morcegos em uma
caverna localizada na Caatinga; e 3) descrever aspectos da biologia e ecologia da
congregação de morcegos do abrigo monitorado.
Cada capítulo é apresentado em formato de artigo, sendo sua formatação e
apresentação realizada conforme as normas de revistas científicas. O primeiro capítulo
aborda o desenvolvimento de um sistema para a contagem automatizada de morcegos, e
é apresentado nas normas da revista Ecological Informatics (ISSN 1574-9541 –
http://www.journals.elsevier.com/ecological-informatics/). Sobre sua formatação,
destaca-se a recomendação do periódico para inclusão de figuras e tabelas no corpo do
texto. Essa recomendação foi seguida para as figuras, como forma de ilustrar a
metodologia aplicada e facilitar o entendimento dos procedimentos adotados, porém
optou-se pela inclusão das tabelas no final do manuscrito, como forma de facilitar a
dinâmica de leitura do capítulo. O segundo e o terceiro capítulos foram formatados nas
normas da Acta Chiropterologica (ISSN 1733-5329 –
http://system.miiz.waw.pl/ac/journal/for_authors/). Todos os componentes dessa
dissertação são apresentados em língua portuguesa, sendo realizadas posteriormente as
4
devidas traduções para submissão aos periódicos. As normas das revistas são
encontradas no final dessa dissertação.
REFERÊNCIAS
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8
CAPÍTULO 1
(Apresentado nas normas da revista Ecological Informatics, ISSN 1574-9541)
DESENVOLVIMENTO E UTILIZAÇÃO DE UM MÉTODO AUTOMATIZADO
PARA ESTIMATIVA E MONITORAMENTO DE MORCEGOS
Jaire Marinho Torres1*
, João Marcelo Xavier Natario Teixeira2, Veronica Teichrieb
3,
Eduardo Henrique de Mesquita Rodrigues4; & Enrico Bernard
5
1Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal, Universidade Federal
de Pernambuco, Recife/PE. Av. Prof. Moraes Rego, 1235, Cidade Universitária,
Recife/PE, CEP: 50670-901. E-mail: jairemarinho@gmail.com.
2Docente do Departamento de Estatística e Informática, Universidade Federal Rural de
Pernambuco, Recife/PE. Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife/PE,
CEP: 52171-900. E-mail: jmxntg@gmail.com.
3Docente do Centro de Informática, Universidade Federal de Pernambuco, Recife/PE.
Av. Prof. Moraes Rego, 1235, Cidade Universitária, Recife/PE, CEP: 50670-901. E-
mail: vt@cin.ufpe.br.
4Graduando em Ciência da Computação, Universidade Federal de Pernambuco,
Recife/PE. Av. Prof. Moraes Rego, 1235, Cidade Universitária, Recife/PE, CEP: 50670-
901. E-mail: ehmr@cin.ufpe.br.
5Laboratório de Ciência Aplicada à Conservação da Biodiversidade, Departamento de
Zoologia, Universidade Federal de Pernambuco, Recife/PE. Av. Prof. Moraes Rego,
1235, Cidade Universitária, Recife/PE, CEP: 50670-901. E-mail: enricob2@gmail.com.
*Autor para correspondência
9
Resumo
Os morcegos são os animais mais gregários dentre os mamíferos, formando grupos de
poucos indivíduos até milhões no mesmo abrigo. Essas congregações são consideradas
indicadores ecológicos, sendo utilizadas para monitorar alterações no ambiente.
Entretanto, é necessário que estes indicadores sejam mensuráveis, procedimento difícil
de realizar com grupos de morcegos. Normalmente morcegos são estimados por
contagem manual ou por densidade, mas ambas estão sujeitas aos erros do observador.
Recentemente a utilização de imagens termais permitiu melhorias na detecção e
contagem destes animais. O objetivo deste trabalho foi desenvolver um sistema
automatizado para estimativas do tamanho de colônias de morcegos, realizada de forma
padronizada e replicável. Foi utilizada como modelo uma grande congregação de
morcegos abrigada na caverna “Meu Rei”, no Parque Nacional do Catimbau,
Tupanatinga/PE. Estimativas iniciais apontaram a presença de milhares de morcegos
nesse abrigo, tornando-o potencial ao monitoramento e realização de censos de
morcegos. A emergência desses morcegos foi filmada mensalmente entre outubro de
2014 e setembro de 2015, sendo gerados dois vídeos mensais, totalizando 24 filmagens
com duração de 45, 90, 135 ou 210 minutos. Os vídeos foram tratados para a detecção
dos morcegos nas imagens, realizando-se a segmentação da imagem para exclusão de
elementos de paisagem que pudessem enviesar as estimativas. O número de morcegos
foi contabilizado em cada frame dos vídeos segmentados, sendo a somatória desses
valores utilizada para obter o número total de morcegos filmados. Foi necessária a
realização de contagens manuais de trechos do vídeo, utilizadas para determinar a media
de frames utilizado por cada morcego e estimar a quantidade de morcegos, além de
determinar a proporção de saídas e entradas de animais. Foi aplicada uma correção nos
valores de abundância de morcegos para minimização dos erros de cada vídeo. Foi
realizada ainda a validação do sistema para determinação do erro médio nas estimativas.
O erro médio do método foi de 20,05 ± 16,88%, apresentando uma tendência a
superestimar os valores estimados automaticamente. Embora o sistema tenha
apresentado uma taxa de erro elevada, ele demonstrou-se promissor, sendo possível seu
aprimoramento para a diminuição do erro. Tal sistema é o primeiro em território
nacional a utilizar imagens termais e automatização na estimativa de morcegos, tendo
potencial para aplicação em diversas áreas e atividades.
Palavras chave: Abrigo, detecção, imagem termal, limiarização, visão computacional.
10
1. Introdução
Nas últimas décadas as alterações ambientais na superfície da Terra têm sido
cada vez mais intensas, afetando os padrões de chuva, temperatura e umidade (Hansen
et al., 2010; Simmons et al., 2010; Willet et al., 2007). Essas alterações, que incluem
desde elevadas taxas de perda de habitat, até a poluição e degradação de ambientes e
mudanças climáticas, são potencialmente impactantes à biota do planeta (Dawson et al.,
2011; Lavergne et al., 2010; Pearson & Dawon, 2003), sendo necessário o
estabelecimento de indicadores das alterações sobre fauna e flora (Adrian et al., 2009;
Butchard et al., 2010; Dulvy et al., 2008). Vários estudos têm avaliado o efeito das
alterações ambientais sobre grandes congregações de animais e plantas (e.g. Butchard et
al., 2010; Ciaputa e Sierakowski, 1999; Croxall et al., 2002; Hoegh-Guldberg et al.,
2007; Millar et al., 2012; Mittermeier et al., 2003; Sekercioglu et al., 2012). Por
concentrarem milhares de invíduos, grandes congregações animais são consideradas
indicadoras da qualidade do habitat, de tendências populacionais, alterações na cadeia
trófica e mudanças em padrões sazonais (e.g. Butchard et al., 2010).
Os morcegos são os animais mais gregários e sociais entre os mamíferos,
podendo-se encontrar desde pequenos grupos até milhões de indivíduos no mesmo
abrigo (Altringham, 1996). As cavernas, por exemplo, são comumente ocupadas por
grandes populações, como as cavernas americanas Bracken e Frio e suas populações de
Tadarida brasiliensis estimada em milhões de indivíduos (Betke et al., 2008), ou o
Parque Nacional do Kansaka e sua colônia com cerca de 1,5 milhão de indivíduos de
Eidolon helvum (Sorensen & Halberg, 2001).
Essas grandes assembleias são indicadores ecológicos por apresentar
sensibilidade a estresses ambientais identificáveis e que demonstrem seu efeito sobre a
biota, sendo suas respostas o reflexo das respostas de outros subconjuntos ou taxa
presentes no habitat (Jones et al., 2009). Dale e Beyeler (2001) apontaram as
características apresentadas por indicadores ecológicos, incluindo: sensibilidade às
perturbações no sistema, responder previsivelmente aos estresses ambientais, ter as
respostas bem conhecidas aos distúrbios, ter baixa variabilidade nas respostas, ter
respostas antecipadas aos eventos de perturbação, ter respostas integradas com outros
indicadores e serem facilmente mensuráveis. Dentre elas, sabe-se que morcegos
possuem sensibilidade às perturbações no sistema (Wegiel e Wegiel, 1998), assim como
respostas previsíveis a elas (Jones et al., 2009).
11
Uma das características essenciais aos bioindicadores é que eles devem ser
facilmente mensuráveis (Dale e Beyeler, 2001), sendo esse um dos aspectos que
representa grande desafio para a contagem das populações de morcegos e que,
eventualmente, pode interferir diretamente na utilização de congregações de morcegos
como bioindicadores. Contar morcegos não é uma atividade trivial, ao contrário, é um
desafio científico (e.g. Corso et al., 2012; Betke et al., 2008; Hristov et al., 2010; Land
et al., 2003).
Estimar o tamanho de populações é essencial para o manejo e conservação da
fauna (Tomas e Miranda, 2006), porém as condições de campo nem sempre são
propícias e algumas espécies são de difícil observação em condições naturais, como as
de hábito noturno (Duckworth, 1998). No caso dos morcegos, a observação dos animais
ainda é dificultada por seu comportamento de agregação em pequenos espaços
inacessíveis, afetando também a coleta de dados básicos sobre sua ecologia (Havens e
Sharp, 2015).
Historicamente, as técnicas empregadas para o censo de morcegos são a
contagem direta dos animais nas colônias, contagem durante a atividade de emergência,
contagem durante a dispersão ou contagens de perturbação (Kunz, 2003). Em ambientes
de difícil acesso, a contagem durante a emergência é considerada o método mais
adequado para estimar a abundância de morcegos (Kunz et al., 2009), sendo comum sua
utilização para estimar colônias em edifícios, cavidades de árvores, minas, fendas de
rochas e cavernas (Hristov et al., 2008; Kunz e Anthony, 1996, O’Donnel e Sedgeley,
1999).
Estimar a população de morcegos em emergência pode ser um processo
particularmente problemático, pois nem todos os morcegos emergirão antes que seja
demasiadamente escuro para visualizá-los e, além disso, a densidade de animais no pico
de emergência pode ser muito grande para se contar (Havens e Sharp, 2015). Até
recentemente os desafios técnicos eram considerados uma das grandes limitações à
investigação de organismos noturnos em ambiente natural (Histrov et al., 2008), pois
ferramentas como óculos de visão noturna, câmeras com flash e holofotes de alta
potência eram insuficientes para a estimativa de populações de morcegos e aves
noturnas (Havens e Sharp, 2015). Porém, a inclusão de imagens térmicas permitiu
melhorias e avanços na detecção e enumeração destas espécies (Havens e Sharp, 2015;
Histrov et al., 2008).
12
Mesmo com as grandes possibilidades criadas pela utilização de imagens
termais, o desenvolvimento de pesquisas com essa tecnologia sempre foi limitado pelas
dificuldades processamento de dados, que era realizado manualmente em vários
trabalhos (e.g, Ammermam et al., 2009; Gauthreaux e Livingstone, 2006; Zehnder et al.,
2001). Mais recentemente, modelos para estimar a contagem de morcegos de forma
automatizada têm sido propostos (e.g. Betke et al., 2008, Hristov, 2008).
A análise automatizada de um vídeo apresenta três passos básicos: 1) a detecção
dos objetos a serem acompanhados; 2) o rastreamento de tais objetos; e 3) a análise do
objeto rastreado para o conhecimento da sua ação (Yilmaz, 2004). No caso de morcegos
em atividade de emergência, seria necessária então a detecção e o rastreamento de um
número elevado de indivíduos, que em alguns casos pode chegar a centenas ou milhares
de morcegos durante longos períodos. Porém, Betke et al. (2007) ressaltam que tal
aplicação foi tipicamente demonstrada somente para curtas sequências de vídeo e com
um número muito limitado de objetos.
Neste estudo, foi utilizada uma congregação de morcegos abrigada em uma
caverna do Parque Nacional do Catimbau para o desenvolvimento de um sistema de
contagem automatizada baseado em imagens termais. Estimativas iniciais apontam que
dentro desta caverna há milhares de indivíduos, mostrando-se um local propício para o
desenvolvimento de um método para realização de censos da quiropterofauna. O
objetivo principal foi desenvolver um sistema menos invasivo, capaz de produzir
estimativas mais confiáveis e acuradas do número de indivíduos quando comparadas
com técnicas convencionais de contagem manual ou estimativa por densidade, além de
permitir a padronização da reproducibilidade das contagens, baseado em um método
que independe do observador.
2. Metodologia
2.1. Caracterização da área
O Parque Nacional (PARNA) do Catimbau (8º24’00” S - 8º36’35” S; 37º09’30”
W - 37º14’40” W), com uma área de 62300 ha, está localizado no estado de
Pernambuco, entre os municípios de Buíque, Ibimirim e Tupanatinga. A temperatura
média da região é de 23°C e precipitação anual varia de 650 a 1100 mm, com o pico de
chuvas entre abril e junho (SNE 2002). A região apresenta o clima quente e seco
(BSh’w) pela classificação de Köppen (Peel, 2007).
13
O relevo do PARNA do Catimbau é marcado pela presença de vales, serras e
vertentes, com altitude variando entre 400 e 1000 metros a.n.m. (SNE, 2002). Esta
região é marcada pela presença de inúmeras cavidades, sendo potenciais à utilização
como abrigos por morcegos. Dentre estas cavidades, a caverna “Meu Rei”
(08°29’14.1”S e 37°16’48.8”W) é classificada como de relevância máxima à
conservação, por possuir espeleotemas raros e dimensões notáveis em relação às outras
cavidades conhecidas na região (Azevedo e Bernard, 2015). A caverna possui 161,5 m
de projeção horizontal e desnível total de 8,5 m, situando-se a 777 metros de altitude
(CECAV, 2014).
A caverna é composta por quatro câmaras, todas elas com a presença de
morcegos. A comunidade de morcegos da caverna é composta por oito espécies:
Diphylla ecaudata Spix, 1823, Carollia perspicillata (Linnaeus, 1758), Glossophaga
soricina (Pallas, 1766), Anoura geoffroyi Gray, 1838, Lonchorhina aurita Tomes, 1863,
Tonatia bidens Gray, 1827, Natalus macrourus (Gervais, 1856) e Pteronotus
gymnonotus Natterer, 1843. A espécie P. gymnonotus compõe a maior parte da
quiropterofauna da caverna, representando quase a totalidade dos morcegos abrigados,
concentrando-se na câmara mais profunda.
2.2. Procedimentos de desenvolvimento do sistema para estimativa de morcegos
2.2.1.Geração de vídeos para criação do sistema
Foram gerados dois vídeos mensais entre outubro de 2014 e setembro de 2015,
realizando-se em noites de filmagem consecutivas, totalizando 24 noites de filmagem.
Para a obtenção das imagens foi utilizado um termovisor FLIR modelo E60, com
resolução de imagem de 320 x 240 pixels, frequência de captura de 30 Hz, sensibilidade
termal menor que 0,05 °C e alcance de temperatura de -20°C a 650 °C.
Os vídeos foram gerados a partir da filmagem da atividade de saída dos
morcegos, com o posicionamento da câmera perpendicularmente à entrada da caverna.
A câmera foi posicionada a uma distância de 3,0 m da entrada da caverna, elevação de
1,25 m do solo e formando um ângulo de inclinação inferior de 45,70°, sendo este
último calculado a partir do arco cosseno entre a distância da projeção horizontal e da
direção da lente da câmera até a parede oposta (Figura 1).
14
Figura 1. Posicionamento da câmera perpendicularmente à entrada da caverna “Meu
Rei” (A), destacando-se sua inclinação em direção à fenda da caverna em uma visão
lateral da câmera (B) e o ângulo de visão abrangido nas imagens (C).
As filmagens foram iniciadas sempre às 17:30h, período ainda luminoso e
anterior à atividade de saída dos morcegos. Cada vídeo gerado teve duração mínima de
45 minutos, porém esse período foi prolongado em duas situações: 1) quando o fluxo de
saída não havia terminado após esse intervalo de tempo, nos dois vídeos de Agosto de
2015, que tiveram duração de 135 e 210 minutos, quando se finalizou a atividade de
saída dos morcegos; ou 2) quando a atividade de saída se iniciou somente após 40
minutos de filmagem, acrescentando-se mais 45 minutos, com duração total de 90
minutos (Janeiro a Março de 2015). Em todas as noites foram realizadas incursões ao
interior da caverna após o final das filmagens para a confirmação da saída dos animais.
2.2.2. Detecção de morcegos nos vídeos gerados
A geração dos vídeos com a utilização de uma câmera termal resulta na captura
de imagens em escala de cinza, que apresentam as regiões de maior calor destacadas em
pixels brancos. Sendo assim, os morcegos, como elementos de maior temperatura nas
15
imagens capturadas, destacam-se na imagem como manchas brancas que podem ser
observadas e acompanhadas ao passar dos frames (Figura 2).
Considerando-se que os morcegos se destacam nas imagens, optou-se por
realizar uma segmentação de imagem que resultasse na retirada de outros elementos do
vídeo e ressaltasse os morcegos. Para isso, foi aplicado um filtro de limiarização de
intensidade luminosa utilizando-se como base a biblioteca OpenCV versão C/C++
(Bradski e Kaehler 2008), mantendo-se todos os elementos visuais entre 50 e 255 na
escala RGB, resultando em imagens de cores binárias onde os elementos da paisagem
de entorno foram transformados em um fundo preto e os morcegos captados foram
destacados como manchas brancas isoladas (Figura 2).
O modelo de câmera utilizado nas filmagens possui elementos operacionais em
sua interface de cor branca que poderiam não ser eliminados durante o processo de
segmentação, resultando em falsos-positivo na estimativa dos morcegos. Para evitar a
contabilização destes elementos, foi aplicada uma máscara nas imagens, extraindo esses
elementos de interface das imagens analisadas (Figura 3). Além disso, outros elementos
de paisagem que apresentassem temperatura elevada poderiam também resultar em
falsos-positivo na estimativa de morcegos. Portanto, para tornar o método mais robusto,
foi realizada em toda a extensão do vídeo a subtração de quadros consecutivos de
filmagem, retirando-se possíveis elementos estáticos e mantendo-se somente elementos
de elevada temperatura em movimento, uma vez que os morcegos sempre são
encontrados em voo na região filmada.
16
Figura 2. Sequência de três frames demonstrando o deslocamento de um morcego em
imagens em escala de cinza (esquerda) e imagens segmentadas (direita) com o filtro de
limiarização de intensidade luminosa do OpenCV versão C/C++. Na imagem nota-se a
entrada de um morcego pelo lado esquerdo do ângulo de visão da câmera (A e B), sua
passagem pelo centro da filmagem (C e D) e direcionamento para saída pelo lado direito
(E e F)..
A B
A
C D
E F
17
Figura 3. Máscara aplicada nos vídeos gerados durante a saída de morcegos para
remover os componentes de controle de interface da câmera.
2.2.3. Procedimentos para estimação da quantidade de morcegos
Após a segmentação de um vídeo os frames que o compunham tiveram o
número de ocorrências de morcegos contabilizados, realizando-se a contagem do
número de blobs dos frames com a utilização do cvBlob. Cada blob consiste em um
conjunto de pixels brancos agregados que formam um morcego, onde o número de
blobs de um frame representa o número de morcegos do mesmo. A contagem de blobs
por frame é exemplificada na Figura 4.
A partir da quantidade de blobs de cada vídeo, a solução proposta necessitou de
uma contagem manual de morcegos como referência para a base do algoritmo. Para
isso, em todos os vídeos gerados foi realizada uma rotina de contagem manual, obtendo-
se a quantidade de morcegos em trânsito pela imagem. Foram utilizados 60 trechos de 5
segundos para a contagem do número de saídas e entradas de morcegos, totalizando 5
minutos de contagem em cada vídeo, sendo estes trechos distribuídos em intervalos
equidistantes por toda a duração do vídeo. Dessa forma, todo o intervalo de duração do
vídeo foi considerado, com intervalos entre as contagens de 44 segundos para os vídeos
com duração de 45 minutos, intervalos de 88 segundos para vídeos de 90 minutos,
intervalos de 132 segundos para o vídeo de 135 minutos e intervalos de 206 segundos
para o vídeo com duração de 210 minutos. Para avaliar se essa forma de distribuição dos
intervalos foi adequada, foi obtido o número acumulado de morcegos para cada minuto
filmado dos vídeos de 45 e 90 minutos, verificando-se sua distribuição ao longo dos
vídeos.
18
Figura 4. Sequência de quatro frames segmentados com diferentes quantidades de blobs,
onde cada blob é contabilizado como um morcego. As imagens demonstram a sequência
com um (A), três (B), cinco (C) e dez (D) morcegos detectados.
Durante a atividade de saída, foram constatados voos exploratórios na entrada da
caverna por alguns morcegos, principalmente nos primeiros minutos da saída. Esses
voos foram caracterizados pela saída em distâncias inferiores a um metro, seguindo-se
do retorno ao interior da caverna. Portanto, adotou-se como critério de contabilização de
entrada ou saída de um morcego a sua passagem por todo o espaço da fenda
perpendicular à entrada da caverna (Figura 5). Nos casos em que o morcego tenha
transpassado toda a fenda e retornado sem ter saído da visão da câmera, foi
contabilizada sua passagem tanto no sentido de entrada quanto de saída.
19
Figura 5. Visão da fenda perpendicular à entrada da caverna com marcação dos limites
considerados para contagem manual (linhas tracejadas verticais). Na sequência de três
frames é notado o deslocamento do morcego desde sua entrada pela esquerda no ângulo
de visão da câmera (A), passagem pelo centro da filmagem (B) e saída do ângulo de
visão pelo lado direito (C).
Os trechos de contagem manual foram utilizados para a formação de dois
conjuntos de dados, um conjunto de treinamento (CT) e um conjunto de validação (CV).
Para a composiçao de cada um destes conjuntos foram utilizados trinta dos trechos
20
contados manualmente, intercalando-se os trechos ao longo do vídeo entre os grupos de
treinamento e de validação.
Considerando-se que durante a passagem pela zona filmada cada animal é
captado em vários frames do vídeo e, portanto, representa vários dos blobs
contabilizados, é necessário identificar a quantidade média de blobs que representam
um único indivíduo. Para isso os dados extraídos do CT foram usados para determinar a
track média dos morcegos para cada vídeo, ou seja, a quantidade média de frames em
que um mesmo morcego permanece no campo de filmagem. A track média (trM)
consiste do quociente resultante da divisão entre o somatório dos blobs contabilizados
nos 30 trinta trechos do CT (SBT) e o número de morcegos contabilizados manualmente
nestes intervalos (MCM), conforme expressado na Equação 1.
Equação 1:
trM (𝑇𝑟𝑎𝑐𝑘 média) =SBT (Somatório dos 𝑏𝑙𝑜𝑏𝑠 totais do CT)
MCM (Morcegos contabilizados manualmente no CT)
Depois de obtida a trM, seu valor foi extrapolado para todo o vídeo a fim de se
estimar o número total de morcegos filmados a partir da quantidade total de blobs (TB).
O número total de morcegos do vídeo (NTMV), portanto, é o quociente da divisão entre
o TB de todo o vídeo e a trM do CT, calculado conforme demonstrado na Equação 2.
Equação 2:
NTMV (Número total de morcegos do vídeo) =TB (Total de 𝑏𝑙𝑜𝑏𝑠 do vídeo)
trM (𝑇𝑟𝑎𝑐𝑘 média do CT)
A obtenção do número de morcegos usando-se a equação 2 demonstra a
quantidade de animais registrada ao longo de todo o vídeo, porém não permite inferir
quantos destes animais estavam saindo ou entrando da caverna. Dessa forma, para
obter-se a estimativa da quantidade de animais saindo ou entrando da caverna foi
aplicada sobre o NTMV a mesma proporção de cada um destes movimentos observados
para as contagens manuais. A aplicação da proporção relativa às contagens manuais é
demonstrada para a determinação do número de morcegos saindo (NMS) na Equação 3,
onde o número total de morcegos do vídeo (NTMV) é multiplicado pelo quociente da
divisão entre o número de morcegos saindo na contagem manual (NSCM) do CT e o
número total de morcegos contabilizados manualmente no CT (MCM).
21
Equação 3:
NMS = NTMV × (NSCM
MCM)
Para finalizar, o número estimado de morcegos na caverna (NEMC) foi obtido
pela diferença entre o NMS e o número de morcegos entrando (NME), conforme
demonstrado na Equação 4.
Equação 4:
NEMC (Número estimado de morcegos na caverna) =
NMS(Número de morcegos saindo) − NME (Número de morcegos entrando)
2.2.4. Procedimentos de validação do método proposto
A avaliação do erro do sistema proposto foi realizada através da comparação
entre as estimativas e as contagens manuais do CV. Para isso foi necessário estimar a
quantidade de morcegos em cada um dos trechos de 5 segundos do CV com a solução
proposta. O procedimento adotado para isso foi o mesmo aplicado para estimar o
número total de morcegos do vídeo, ou seja, somando-se o total de blobs detectados em
cada trecho de cinco segundos do CV e dividindo esse valor pela trM obtida
anteriormente do CT, obtendo-se assim o número de morcegos em cada trecho.
Finalmente, comparou-se a soma de morcegos estimada automaticamente no CV com a
soma dos contabilizados manualmente nestes mesmos trechos, obtendo-se então o
quociente entre estes valores, que foi subtraído de 1 e seu valor absoluto (abs)
multiplicado por 100 (Equação 5). Dessa forma foi possível se obter a porcentagem de
erro entre os valores estimados automaticamente e os contabilizados manualmente dos
trechos do CV de cada vídeo.
Equação 5:
𝐸𝑟𝑟𝑜 = abs ((totalCVentradaAutomatica + totalCVsaidaAutomatica
totalCVentradaManual + totalCVsaidaManual) − 1) ∗ 100
Como forma de complementar a avaliação da eficiência do método para trechos
diferentes, todos os procedimentos de estimativa do número de morcegos foram
repetidos com a inversão do CT e do CV, criando-se um grupo inverso com a troca dos
trechos em cada conjunto. Sendo assim, realizou-se nova estimativa da quantidade para
os trechos e para o vídeo todo, que novamente não devem resultar em grandes
22
diferenças já que ao abranger toda a extensão do vídeo o valor da trM do CV original
deve ser muito próximo da trM do CT original.
Para avaliar o erro do valor estimado pelo método proposto em relação ao valor
real de morcegos, verificou-se a proporção de erro nos trechos estimados pelo CT
original em relação às contagens manuais destes mesmos trechos.
2.2.5. Correção da estimativa de morcegos
Considerando-se que o NEMC deva apresentar um erro em relação à um valor
real, aplicou-se uma correção do valor obtido pelas estimativas do método com base no
seu erro em relação ao valor real das contagens manuais. Para isso verificou-se a
porcentagem de erro da estimativa do CT para o número de saídas e entradas, que foi
utilizada para a correção dos totais de saída e entrada em toda a extensão do vídeo,
obtendo-se valores calibrados de todo o vídeo. Finalmente, foram verificadas as
diferenças entre a contagem total calibrada de saídas e entradas para a obtenção do valor
total de morcegos em cada vídeo.
3. Resultados
O número de morcegos estimado para os vídeos completos, baseando-se na
diferença entre o número estimado de saídas e entradas, variou de 253 a 137972
indivíduos (Tabela 1). Porém, comparando-se o valor total de morcegos contados
manualmente com a soma dos estimados automaticamente nos trechos de cinco
segundos, o sistema proposto apresentou uma tendência a superestimar os valores
estimados automaticamente, sendo o erro médio das saídas de morcegos de 1,34 ±
14,41% e das entradas de 0,34 ± 13,87% em relação ao contabilizado manualmente
(Tabela 1). Aplicando-se a correção das porcentagens de erro sobre o total estimado
automaticamente para os vídeos completos, o total estimado de morcegos diminuiu,
variando de 188 a 129074 indivíduos (Tabela 1). Os valores de erro obtidos no processo
de validação variaram de 0,87% a 61,08%, sendo a média de erro do método de 20,05 ±
16,88% (Tabela 1).
Após a inversão dos trechos do CT e CV os valores estimados de morcegos
foram menores, variando de 61 a 137832 indivíduos (Tabela 2). Assim como ocorreu
com os grupos CT e CV originais, o sistema proposto manteve a tendência a
superestimar os valores estimados mesmo com a inversão de CT e CV, sendo o erro
23
médio das saídas de morcegos de 7,62 ± 16,89% e das entradas de 6,48 ± 16,84%
(Tabela 2). Após a correção das porcentagens de erro a estimativa de morcegos
novamente foi menor, variando de 61 a 128855 indivíduos (Tabela 2). Os erros obtidos
da validação variaram de 0,36% a 135,40%, sendo em média de 24,04 ± 32,71%
(Tabela 2). As estimativas totais dos grupos originais e dos grupos inversos
apresentaram diferenças que variaram entre 0 e 133,35%, sendo em média de 23,63 ±
31,58% (Tabela 3).
A projeção do número de morcegos acumulados por cada minuto de filmagem
dos vídeos de 45 minutos demonstrou grande variação da atividade de emergência, não
havendo um padrão definido de fluxo de saída entre os vídeos (Figura 6). Para os vídeos
de 90 minutos, a emergência dos morcegos em quase todos os vídeos teve início após os
primeiros 30 minutos de filmagem, havendo um pico de atividade intensa em cada
filmagem que variou entre os 30 e 80 minutos de filmagem (Figura 7).
4. Discussão
A associação de imagens termais e algoritmos de detecção de movimento
utilizados em visão computacional mostrou-se viável para a contagem de morcegos
saindo de um abrigo. Entretanto, a combinação de um elevado número de indivíduos,
voando em alta velocidade e com complexos movimentos de vôo pode, em algumas
situações, comprometer o grau de exatidão de algumas contagens. Embora tenha havido
situações onde o erro estimado foi inferior a 1%, o erro médio do sistema proposto foi
de aproximadamente 20%, variando de 0,87% a 61,08% entre os vídeos. Tal erro que
pode ser considerado alto já que, no caso do tamanho das colônias encontradas na
caverna “Meu Rei”, implicaria em erros em escala de milhares de indivíduos. De
qualquer forma, este sistema permitiu, de maneira inédita no Brasil, estimar o tamanho
de uma colônia de morcegos de tamanho excepcional, que em determinadas épocas do
ano ultrapassou 129 mil indivíduos. A adoção de um método padronizado tornou
possível a observação de que a população desta caverna apresenta flutuações de grande
magnitude, indicando que este sistema também se presta para fins de monitoramento de
abrigos (Veja Capítulo 2).
24
Figura 6. Número acumulado de morcegos registrado por minuto de filmagem nos
vídeos da atividade de emergência dos morcegos da caverna “Meu Rei” com duração 45
minutos. Acima – Vídeos do primeiro trimestre (outubro a dezembro de 2014); Meio –
Vídeos do segundo trimestre (abril a junho de 2015); Abaixo – Vídeos do quarto
trimestre (julho e setembro de 2015, exceto agosto de 2015).
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
1 7 13 19 25 31 37 43
Nú
mer
o d
e m
orc
ego
s (l
og
10)
Minutos de filmagem
Out17 Out18 Nov14 Nov15 Dez10 Dez13
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
1 7 13 19 25 31 37 43
Nú
mer
o d
e m
orc
ego
s (l
og
10)
Minutos de filmagem
Abr15 Abr16 Mai12 Mai13 Jun17 Jun18
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
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1 7 13 19 25 31 37 43
Nú
mer
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orc
ego
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10)
Minutos de filmagem
Jul21 Jul22 Set19 Set20
25
Figura 7. Número acumulado de morcegos registrados por minuto de filmagem nos
vídeos da atividade de emergência dos morcegos da caverna “Meu Rei” com duração 90
minutos, durante o terceiro trimestre (janeiro a março de 2015).
Como todo sistema em desenvolvimento, o método de contagem aqui
apresentado pode ser aprimorado de forma a diminuir os erros nas contagens e torna-lo
mais preciso. O sistema automatizado de Betke et al. (2007), por exemplo, alcançou
uma taxa de erro menor do que 6%, utilizando-se um método de contagem que consistia
na detecção dos morcegos da imagem e o posterior rastreamento do seu percurso.
A utilização do rastreamento de morcegos em imagens parece ser uma boa
solução para diminuir o erro em técnicas de contagem automatizada, pois considera
somente os elementos da cena que estão em movimento. Entretanto, os algoritmos
desenvolvidos geralmente apresentam melhor funcionamento em cenários com um
pequeno número de objetos, pois estes não costumam se cruzar (Betke et al., 2007). A
minimização de erros durante o cruzamento de objetos depende do quão detalhado é o
acompanhamento de seus trajetos, sendo esta uma das vantagens da utilização do
sistema desenvolvido por Betke et al. (2007), que realizaram filmagens utilizando
equipamentos com taxa de captura de 60 frames por segundo e diminuíram a perda dos
morcegos durante o rastreamento.
A utilização da técnica de rastreamento neste trabalho, onde foi utilizado um
equipamento com taxa de captura de 30 frames por segundo, implicaria em maiores
perdas dos trajetos de morcegos em situações de cruzamento e consequentemente
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
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3,5
1 6 11 16 21 26 31 36 41 46 51 56 61 66 71 76 81 86
Nú
mer
o d
e m
orc
ego
s (l
og
10)
Minutos de filmagem
Jan21 Jan22 Fev20 Fev21 Mar17 Mar18
26
resultaria em maiores proporções de erro nas estimativas. Conhecer as limitações do
equipamento é importante para decidir a forma com que uma estimativa automatizada
será realizada. Características da filmagem como resolução de imagem, sobreposição de
morcegos, detecções falsas de assinaturas de calor ou mesmo a capacidade do algoritmo
em detectar os morcegos em diferentes índices de emergência podem afetar essas
estimativas (Frank et al., 2003). Quanto maior a capacidade de minimizar esses fatores,
mais precisa será a estimativa dos morcegos (Frank et al., 2003).
Uma saída utilizada para minimizar os erros envolvidos nas estimativas do
presente trabalho é o tratamento prévio das imagens. A segmentação utilizando-se
limiarizações de imagem resulta na separação dos pixels em grupos distintos,
permitindo a classificação dos pixels como pertencentes ao plano de fundo ou como o
objeto de interesse caso o agrupamento de pixels favoreça essa separação (Gonzales e
Woods, 1992). No caso das imagens termais, que apresentam um alto contraste baseado
nas diferenças de temperatura, a separação dos morcegos do plano de fundo é possível
devido ao destaque que os animais apresentam por serem os elementos mais quentes da
cena (Frank et al., 2003). Dessa forma, a segmentação dessas imagens é um importante
artifício para evitar falsos positivos pela presença de outros elementos com temperatura
elevada, demonstrando-se no presente trabalho como um procedimento altamente
recomendado para a obtenção de resultados mais fieis.
O posicionamento da câmera também deve ser considerado um fator
potencialmente influente na qualidadade da filmagem, sendo realizado de forma a
minimizar erros (Franke et al., 2003). A melhor forma de realização das filmagens é
posicionando a câmera perpendicularmente à direção do fluxo de emergência dos
morcegos, o que tem sido adotado em outros trabalhos (e.g. Ammerman et al., 2009;
Betke et al., 2008; Elliot et al., 2006; Frank et al., 2003; Hristov et al., 2008). Esse
aspecto é particularmente importante, pois os morcegos tendem a seguir um fluxo
direcional de emergência, sendo que deste ângulo a maior parte dos animais passaria
pela imagem em um voo direto, com uma menor proporção de indivíduos em voo
desordenado ou que não tenham sido detectados por estarem em uma porção mais
profunda do ângulo de visão e surjam no meio de seu trajeto. Portanto, é de se esperar
que vídeos gerados em posicionamento inadequado resultem em filmagens com maior
erro de detecção ou rastreamento dos animais. Este não foi o caso aqui, pois as
filmagens ocorreram com a câmera sempre na mesma posição, perpendicular à saída
dos morcegos.
27
Embora o sistema apresente um erro médio de 20% ± 16.88%, sua aplicação
pode ser considerada mais adequada do que a realização de contagens manuais, pois
possibilita uma padronização dos procedimentos de estimativa e minimiza o efeito das
diferenças de habilidade e treinamento de observadores diferentes (Corso et al., 2012).
As contagens manuais em tempo real são dependentes da habilidade do observador,
como demonstrado por Betke et al. (2008), que verificou as diferenças da contagem de
morcegos realizada para o mesmo trecho de vídeo por 16 pessoas, onde 3 dessas
superestimaram o valor determinado automaticamente e outras 13 subestimaram a
abundância. Baseando-se nisso, não é possível se estabelecer uma comparação entre
monitoramentos antigos realizados com contagens manuais e censos atuais com
contagens automáticas, pois é impossível se determinar se flutuações na colônia são
decorrentes de perturbações e respostas sazonais ou se são resultantes da utilização de
técnicas distintas (Betke et al., 2008). Sendo assim, a utilização de um sistema baseado
na detecção automática de objetos e estimativas por modelos matemáticos pode fornecer
maior confiabilidade do que as contagens manuais.
O aprimoramento do sistema de contagem aqui descrito continuará, de forma
que o erro médio seja reduzido ao máximo possível. De qualquer forma, este sistema
mostrou-se promissor, e tem o mérito de ser pioneiro no uso de imagens térmicas para
fins de contagens de morcegos, técnica até então não difundida em território brasileiro.
Outro ponto positivo é que há a possibilidade de expansão da realização de contagens
para outros sítios em outros biomas, de forma a torna-los comparáveis, algo que até
então não era possível com contagens manuais feitas por diferentes observadores. Com
ajustes, este sistema abre ainda a possibilidade do desenvolvimento de métodos e
técnicas úteis nos processos de EIA/RIMA, necessários para estimativas mais confiáveis
que envolvam a contagem de morcegos em ambientes de difícil acesso ou cuja presença
de um observador possa influenciar nos padrões de atividade dos morcegos. Por fim, o
desenvolvimento deste sistema mostrou-se um desafio científico multidisciplinar maior
do que o esperado, envolvendo profissionais de áreas bastante distintas como zoologia e
informática, mas que mostraram grande potencial de colaboração e superação de
problemas. Parcerias deste tipo são positivas e devem ser estimuladas, e os resultados
finais sem dúvida contribuem para o avanço das ciências e para a solução de problemas
básicos em zoologia e ecologia, e com elevado potencial aplicado.
28
5. Agradecimentos
Ao CNPq e Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza pelo
financiamento do projeto. Ao PELD Catimbau pelo apoio logístico em campo. Aos
integrantes do Laboratório de Ciência Aplicada à Conservação da Biodiversidade pelo
auxílio na coleta de dados. À equipe do Voxar Labs pelo apoio técnico no
desenvolvimento do sistema. À Facepe pela bolsa concedida ao primeiro autor.
6. Referências
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Zehnder, S., Åkesson, S., Liechti, F., Bruderer, B. 2001. Nocturnal autumn bird
migration at Falsterbo, south Sweden. J. Avian Biol. 32: 239–248. DOI:
10.1111/j.0908-8857.2001.320306.
33
Tabela 1. Grupo teste para comparação entre número de morcegos contados manualmente e estimados automaticamente para trechos distribuídos
uniformemente ao longo dos vídeos, estimativa automatizada para todo o vídeo e estimativa corrigida para a duração de todo o vídeo dos 24
vídeos gerados entre outubro de 2014 e setembro de 2015 na caverna “Meu Rei”, Tupanatinga/PE. Aut – Automático; Man – Manual; CV –
Conjunto validação; CMCV – contagem manual do conjunto validação.
Vídeos Saída nos 60 trechos
Entrada nos 60 trechos
Estimativa de todo o vídeo
Estimativa corrigida de todo o
vídeo Erro
(CV vs
CMCV) Aut Man Erro Aut Man Erro Saída Entrada Total Saída Entrada Total
17/10/14 1107 1055 4,93 74 71 4,23 10167 811 9356 9667 777 8890 6,15
18/10/14 1087 1020 6,57 63 60 5,00 9573 544 9029 8945 517 8428 10,54
14/11/14 1031 924 11,58 48 43 11,63 9603 457 9146 8491 404 8087 23,21
15/11/14 564 508 11,02 17 16 6,25 8121 270 7851 7226 253 6973 14,49
10/12/14 53 56 -5,36 26 28 -7,14 668 415 253 632 445 188 5,41
13/12/14 147 175 -16,00 27 33 -18,18 1819 347 1472 2110 410 1700 32,35
21/01/15 100 142 -29,58 47 61 -22,95 1770 919 851 2293 1130 1163 47,69
22/01/15 126 140 -10,00 44 49 -10,20 2436 913 1523 2680 1006 1673 20,79
20/02/15 865 789 9,63 29 27 7,41 15259 572 14687 13790 530 13260 12,97
21/02/15 838 697 20,23 36 30 20,00 14698 671 14027 11726 537 11189 37,57
17/03/15 651 717 -9,21 31 35 -11,43 12003 708 11295 13107 789 12318 18,83
18/03/15 374 362 3,31 26 26 0,00 6258 557 5701 6051 557 5494 3,57
15/04/15 132 121 9,09 81 75 8,00 1261 936 325 1146 861 285 17,05
16/04/15 110 106 3,77 51 50 2,00 2040 396 1644 1963 388 1575 9,21
12/05/15 112 118 -5,08 42 45 -6,67 1828 647 1181 1921 690 1231 12,24
13/05/15 84 91 -7,69 47 51 -7,84 973 598 375 1048 645 403 16,46
17/06/15 828 844 -1,90 37 38 -2,63 8013 322 7691 8148 330 7818 6,41
18/06/15 1171 1073 9,13 34 32 6,25 10435 390 10045 9482 366 9117 10,00
21/07/15 331 480 -31,04 27 40 -32,50 3405 367 3038 4462 486 3976 54,76
22/07/15 531 414 28,26 51 40 27,50 6403 494 5909 4594 358 4235 61,08
20/08/15 4586 4306 6,50 123 116 6,03 141754 3782 137972 132540 3554 128986 7,09
21/08/15 4114 4007 2,67 982 957 2,61 171039 38400 132639 166472 37398 129074 0,87
19/09/15 276 282 -2,13 41 42 -2,38 2961 438 2523 3024 448 2575 10,65
20/09/15 436 353 23,51 32 26 23,08 4745 373 4372 3629 287 3343 41,71
Média de
erro
1,34 ±
14,41
0,34 ±
13,87
20,05 ±
16,88
34
Tabela 2. Grupo inverso para comparação entre número de morcegos contados manualmente e estimados automaticamente para trechos
distribuídos uniformemente ao longo dos vídeos, estimativa automatizada para todo o vídeo e estimativa corrigida para a duração de todo o vídeo
dos 24 vídeos gerados entre outubro de 2014 e setembro de 2015 na caverna “Meu Rei”, Tupanatinga/PE. Aut – Automático; Man – Manual; CV
– Conjunto validação; CMCV – contagem manual do conjunto validação.
Vídeos Saída nos 60 trechos
Entrada nos 60 trechos
Estimativa de todo o vídeo
Estimativa corrigida de todo o
vídeo Erro
(CV vs
CMCV) Aut Man Erro Aut Man Erro Saída Entrada Total Saída Entrada Total
17/10/14 1108 1055 5,02 74 71 4,23 10397 581 9816 9875 556 9319 3,88
18/10/14 1023 1020 0,29 60 60 0,00 8943 542 8401 8917 542 8375 3,08
14/11/14 838 924 -9,31 39 43 -9,30 7820 354 7466 8547 387 8160 18,18
15/11/14 518 508 1,97 16 16 0,00 7521 224 7297 7374 224 7150 0,81
10/12/14 62 56 10,71 31 28 10,71 874 323 551 780 288 492 17,02
13/12/14 218 175 24,57 41 33 24,24 2692 501 2191 2031 380 1651 47,17
21/01/15 199 142 40,14 93 67 38,81 3724 1655 2069 2229 1013 1216 106,33
22/01/15 168 140 20,00 58 49 18,37 3316 1091 2225 2653 891 1762 37,50
20/02/15 803 789 1,77 27 27 0,00 14261 439 13822 14009 439 13570 0,96
21/02/15 626 697 -10,19 26 30 -13,33 11083 443 10640 12211 502 11709 20,57
17/03/15 815 717 13,67 39 35 11,43 15284 606 14678 13196 537 12659 27,58
18/03/15 374 362 3,31 26 26 0,00 6491 324 6167 6276 324 5952 1,36
15/04/15 113 121 -6,61 70 75 -6,67 1303 640 663 1389 683 707 10,19
16/04/15 104 106 -1,89 49 50 -2,00 1181 1120 61 1203 1142 61 2,50
12/05/15 131 118 11,02 49 45 8,89 2147 859 1288 1911 783 1128 24,62
13/05/15 105 91 15,38 59 51 15,69 1278 663 615 1081 559 522 22,22
17/06/15 899 844 6,52 40 38 5,26 8606 424 8182 8046 402 7644 11,11
18/06/15 1075 1073 0,19 32 32 0,00 9707 216 9491 9690 216 9474 0,36
21/07/15 777 480 61,88 64 40 60,00 8264 538 7726 3151 215 2936 135,40
22/07/15 346 414 -16,43 33 40 -17,50 3997 485 3512 4653 570 4083 32,67
20/08/15 4586 4306 6,50 123 116 6,03 141684 3852 137832 132475 3620 128855 6,02
21/08/15 4114 4007 2,67 982 957 2,61 167154 42285 124869 162691 41181 121510 4,55
19/09/15 313 282 10,99 46 42 9,52 3380 505 2875 3009 457 2552 20,00
20/09/15 320 353 -9,35 23 26 -11,54 3529 242 3287 3936 270 3666 22,92
Média de
erro
7,62 ±
16,89
6,48 ±
16,84
24,04 ±
32,71
35
Tabela 3. Diferença entre a estimativa final corrigida obtida para
os grupos teste e inverso dos 24 vídeos gerados entre outubro de
2014 e setembro de 2015 na caverna “Meu Rei”,
Tupanatinga/PE.
Vídeos Grupo Teste Grupo Inverso Erro
17/10/14 10978 10978 0
18/10/14 10117 9485 6,25
14/11/14 10060 8174 18,75
15/11/14 8391 7745 7,7
10/12/14 1083 1197 10,53
13/12/14 2166 3193 47,41
21/01/15 2689 5379 100,04
22/01/15 3349 4407 31,59
20/02/15 15831 14700 7,14
21/02/15 15369 11526 25
17/03/15 12711 15890 25,01
18/03/15 6815 6815 0
15/04/15 2197 1943 11,56
16/04/15 2436 2301 5,54
12/05/15 2475 3006 21,45
13/05/15 1571 1941 23,55
17/06/15 8335 9030 8,34
18/06/15 10825 9923 8,33
21/07/15 3772 8802 133,35
22/07/15 6897 4482 35,02
20/08/15 145536 145536 0
21/08/15 209439 209439 0
19/09/15 3399 3885 14,3
20/09/15 5118 3771 26,32
Média de erro 23,63 ± 31,58
36
CAPÍTULO 2
(Apresentado nas normas da revista Acta Chiropterologica, ISSN 1733-5329)
INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA, UMIDADE E PLUVIOSIDADE SOBRE
UMA GRANDE CONGREGAÇÃO DE MORCEGOS NO PARQUE NACIONAL
DO CATIMBAU, CAATINGA DE PERNAMBUCO
Jaire Marinho Torres1*
& Enrico Bernard2
1Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal, Universidade Federal
de Pernambuco, Recife/PE. Av. Prof. Moraes Rego, 1235, Cidade Universitária,
Recife/PE, CEP: 50670-901. E-mail: jairemarinho@gmail.com.
2Laboratório de Ciência Aplicada à Conservação da Biodiversidade, Departamento de
Zoologia, Universidade Federal de Pernambuco, Recife/PE. Av. Prof. Moraes Rego,
1235, Cidade Universitária, Recife/PE, CEP: 50670-901. E-mail: enricob2@gmail.com.
*Autor para correspondência
37
Resumo
Os grandes agrupamentos de morcegos formados dentro de cavernas são considerados
indicadores ecológicos do efeito das mudanças climáticas sobre a fauna, principalmente
em condições extremas como na Caatinga. Porém, o conhecimento sobre a dinâmica das
comunidades de morcegos é limitado para esse bioma. Portanto, este estudo teve como
objetivos: 1) avaliar o efeito da temperatura, umidade e pluviosidade sobre a
concentração de morcegos em uma caverna da Caatinga; e 2) avaliar a influência dos
morcegos no microclima deste abrigo. O estudo foi desenvolvido na caverna “Meu
Rei”, no Parque Nacional do Catimbau, Tupanatinga/PE. O abrigo foi monitorado entre
outubro de 2014 e setembro de 2015, com censos mensais dos morcegos e medições de
temperatura e umidade internas e externas, obtendo-se também dados secundários de
pluviosidade para o período. O ambiente interno e externo foi caracterizado pelas
médias e amplitudes de variação de temperatura e umidade. A relação entre morcegos e
variáveis climáticas internas e externas foi testada em diferentes intervalos de tempo,
utilizando-se médias de temperatura e umidade e a precipitação acumulada no período
de cada intervalo proposto. O interior da caverna apresentou temperatura média mais
elevada (25.27 ± 0.18°C a 28.42 ± 0.94°C) e menor amplitude de variação (2.07°C a
6.30°C) do que a externa (média de 23.78 ± 5.56°C e amplitude de 27.80°C), além de
umidade mais elevada (82.09 ± 4.14% a 87.73 ± 2.20%) e com menor variação (19.18%
a 23.39%) do que a externa (média de 68.67 ± 22.81% e amplitude de 85.48%). A
abundância de morcegos se relacionou negativamente com temperatura e pluviosidade
dos quinze dias anteriores à estimativa. As condições no fundo da caverna se
relacionaram positivamente à abundância de morcegos em sete dias antes da estimativa
dos animais, tanto para temperatura quanto para umidade. Os morcegos influenciaram o
microclima interno, ocorrendo resfriamento de 0.35°C e queda de 0.50% na umidade no
fundo da caverna com o abandono pelos morcegos. É possível se afirmar que a caverna
“Meu Rei” é um importante abrigo com condições mais estáveis do que o ambiente
externo, abrigando uma congregação de morcegos que influi diretamente no seu
microclima.
Palavras chave: Abrigo, caverna, imagem térmica, microclima, monitoramento.
38
Introdução
A ordem Chiroptera representa a segunda maior ordem de mamíferos brasileiros
(Reis et al., 2007), com cerca de 178 espécies distribuídas em 9 famílias (Nogueira et
al., 2014). Os morcegos apresentam a mais ampla distribuição geográfica entre os
mamíferos silvestres, ocorrendo em todo o mundo, sendo a única exceção sua ausência
nos pólos (Simmons, 2005). As regiões neotropicais apresentam a maior diversidade
destes animais, onde se concentra também a maior variedade de hábitos alimentares
(Gardner, 1977).
A elevada diversidade apresentada por morcegos é expressa também na
utilização de abrigos. Os morcegos podem abrigar-se em uma grande variedade de
locais, tanto naturais quanto artificiais, sendo encontrados em folhagens, ocos de
troncos ou superfícies de árvores, fendas de rochas, cavernas, cupinzeiros, dentro de
colmos de bambu, forros de casa, porão, vãos de dilatação e pontes (Kunz, 1982). Em
alguns casos, o nível de especialização é tão elevado que algumas espécies constroem
seus próprios abrigos, como os construtores de tenda da espécie Ectophylla alba
(Altringham, 1996).
Como animais noturnos, a maioria das espécies inicia sua atividade ao pôr-do-
sol, e podendo estender-se durante toda a noite (Esbérard e Bergallo, 2004). Durante o
dia, os abrigos se tornam refúgios onde os morcegos permanecem até o início de suas
atividades no ambiente externo (Kunz e Lumsden, 2003), sendo estes os locais onde
passam a maior parte de suas vidas (Altringham, 1996). A utilização de abrigos é vital
para a sobrevivência de morcegos e seu sucessso reprodutivo (Kunz, 1982), pois
fornecem locais para acasalamento, criação de filhotes, interação social, digestão
alimentar, diminuem os custos da termorregulação, além de proteção contra variações
climáticas e predadores (Kunz, 1982; Altringham, 1996).
A escolha do abrigo pode ser influenciada por uma série de fatores, como a
proximidade a fontes de alimento ou as condições de temperatura e umidade em seu
interior (Entwistle et al., 1997). A permanência dos morcegos no abrigo também é
influenciada por tais fatores (Entwistle et al., 1997), de modo que os morcegos realizam
mudanças de abrigos para garantir a disponibilidade contínua de recursos alimentares
(Maddock, 1979) ou como resposta à perturbações ou alterações climáticas (Kunz,
1982), utilizando mais de um abrigo dentro de uma mesma área, alternando-se entre eles
regularmente (Lewis, 1995).
39
As cavernas são os abrigos mais estáveis e permanentes, sendo os morcegos
alguns dos poucos vertebrados que as utilizam constantemente (Altringham, 1996),
fornecendo a estes animais um papel único para a dinâmica de ambientes cavernícolas.
Esses ambientes não possuem produtores primários, devido à ausência de luz, de modo
que as comunidades que habitam em cavernas são essencialmente decompositoras
(Ferreira e Martins 1998). O aporte de matéria orgânica em ambientes cavernícolas
ocorre principalmente pela carreação realizada por agentes físicos ou biológicos
(Culver, 1982), sendo as fezes dos morcegos uma das importantes fontes de recursos
para o interior de cavernas (Ferreira e Martins, 1998).
Segundo Altringham (1996), os morcegos são os animais mais gregários e
sociais entre os mamíferos, e seus hábitos de se abrigar influenciam na densidade e
estrutura social das colônias, podendo-se encontrar em cavernas desde pequenos grupos
até milhares de indivíduos, ou mesmo animais isolados. Os grandes agrupamentos de
morcegos são capazes de gerar condições climáticas únicas em cavernas (De La Cruz,
1992), como a elevação da temperatura resultante da radiação de calor corpóreo de uma
elevada densidade de animais (Peck et al., 1998).
A composição da quiropterofauna cavernícola é variável, com várias espécies
podendo ocorrer nestes ambientes. A possibilidade de uma comunidade de morcegos
diversa se dá pela variedade de formações e microclimas existentes em uma mesma
caverna, que podem atender as necessidades de diferentes espécies (Altringham 1996).
Mesmo com as inúmeras vantagens desses ambientes, as colônias podem realizar
abandonos do abrigo, geralmente para evitar grandes populações de ectoparasitas ou em
resposta às mudanças do microclima interno (Fleming, 1988).
As variações climáticas externas também podem influenciar na abundância de
morcegos, uma vez que afetam sua atividade reprodutiva (Taddei, 1980) e a
disponibilidade de alimentos para diferentes grupos tróficos, como insetívoros (Fogden,
1972) e frugívoros (Barbosa et al., 2003). Enquanto ambientes de maior estabilidade
climática apresentam pequenas variações, como no caso de florestas tropicais (Happold
e Happold 1990), regiões com características metereológicas extremas devem apresentar
elevada influência de variações climáticas, como no caso das Caatingas semi-áridas.
Esses ambientes apresentam alta radiação solar, alta temperatura média anual,
baixa umidade relativa e precipitações mais baixas, sendo estas últimas irregulares e
geralmente limitadas a um período curto do ano (Reis, 1976). A tendência é que as
condições climáticas neste ambiente se tornem ainda mais extremas, sendo apontado
40
pelo Painel Brasileiro das Mudanças Climáticas a vulnerabilidade do nordeste Brasileiro
aos efeitos do aquecimento global, havendo o aumento da temperatura e diminuição das
chuvas em níveis mais elevados do que a variação média global (PBMC, 2014).
As grandes congregações de animais e plantas têm sido apontadas como ideais
para o monitoramento do efeito das mudanças climáticas sobre a biota, sendo apontadas
como bioindicadoras da qualidade do habitat (Butchard et al., 2010). Os morcegos,
como um dos grupos de mamíferos que formam os maiores agrupamentos, são
potencialmente importantes para o monitoramento dessas variações climáticas.
Considerando que morcegos podem ser utilizados como indicadores ambientais
(Jones et al., 2009), que grandes congregações animais representam oportunidades para
o monitoramento ambiental (e.g. Ciaputa e Sierakowski, 1999; Croxall et al. 2002;
Butchard et al. 2010; Millar et al. 2012), e que existe uma lacuna no conhecimento de
como variáveis ambientais podem afetar e determinar comunidades de morcegos
cavernícolas, este estudo teve como objetivos: 1) avaliar os possíveis efeitos da
temperatura, umidade e pluviosidade sobre a concentração de morcegos em uma
caverna da Caatinga; e 2) avaliar se e como alterações na concentração destes morcegos
afetam variáveis microclimáticas no interior deste abrigo.
Material e Métodos
Área de Estudo
O Parque Nacional do Catimbau (8º24’00” - 8º36’35” S; 37º09’30” - 37º14’40”
W), com uma área de 62.300 ha, está localizado no estado de Pernambuco, entre os
municípios de Buíque, Ibimirim e Tupanatinga. A temperatura média da região é de
23°C e precipitação anual varia de 650 a 1100 mm, com o pico de chuvas entre abril e
junho (SNE, 2002). A região apresenta o clima quente e seco (BSh’w) pela classificação
de Köppen (Peel, 2007).
O relevo do PARNA do Catimbau é marcado pela presença de vales, serras e
vertentes, com altitude variando entre 400 e 1000 metros a.n.m. (SNE, 2002). Esta
região é marcada pela presença de inúmeras cavidades, sendo potenciais à utilização
como abrigos por morcegos. Dentre estas cavidades, a caverna “Meu Rei”
(08°29’14.1”S e 37°16’48.8”W) é classificada como de relevância máxima à
conservação, por possuir espeleotemas raros e dimensões notáveis em relação às outras
cavidades conhecidas na região (Azevedo e Bernard, 2015).
41
A região onde se encontra a caverna “Meu Rei” está localizada na porção
geomomorfológica da Formação Tacaratu (CPRM, 2006), que é formada por arenitos
grosseiros, arenitos conglomeráticos e níveis de conglomerados (Silva Junior, 2013). A
composição e forte diagênese conferem a esse terreno um caráter bastante acidentado,
com encostas abruptas, ocasionando a formação de grandes paredões de arenito (SNE,
2002). A fitofisionomia dessa região do PARNA foi definida por Farias (2009) como
vegetação típica de caatinga de areia, com predominância de vegetação arbustiva
caducifólia, apresentando elementos espinhosos como cactáceas e bromeliáceas.
A caverna possui 161,5 m de projeção horizontal e desnível total de 8,5 metros,
situando-se a 777 metros de altitude (CECAV, 2014). Essa cavidade é composta por
quatro câmaras separadas por estreitas regiões com aproximadamente 1,20 metros de
altura, distribuídas por dois trajetos resultantes de uma bifurcação à cerca de dez metros
de sua entrada (Figura 1). São encontradas duas câmaras em cada um dos sentidos da
caverna, sendo uma câmara anterior (CAE) e uma posterior esquerda (CAE e CPE,
respectivamente) e uma câmara anterior e uma posterior direita (CAD e CPD,
respectivamente) (Figura 1), todas elas com a presença de morcegos.
Oito espécies de morcegos já foram registradas neste abrigo: Diphylla ecaudata
Spix, 1823, Carollia perspicillata (Linnaeus, 1758), Glossophaga soricina (Pallas,
1766), Anoura geoffroyi Gray, 1838, Lonchorhina aurita Tomes, 1863, Tonatia bidens
Gray, 1827, Natalus macrourus (Gervais, 1856) e Pteronotus gymnonotus Natterer,
1843. A espécie P. gymnonotus compõe a maior parte da quiropterofauna da caverna,
representando quase a totalidade dos morcegos abrigados, concentrando-se na CPD.
Coleta de Dados
Foram instalados três data loggers modelo HOBO U23-001 Pro V2, sendo dois
no interior da caverna (um na CAD, localizada no meio da caverna, e outro na CPD,
localizada no fundo da caverna – Figura 1) e um no exterior da caverna, a
aproximadamente 1200 metros de distância de sua entrada. Todos os data loggers foram
acondicionados em caixas metálicas com aberturas na tampa, permitindo a circulação de
ar em seu interior. As caixas com os data loggers foram fixadas na CAD e CPD
diretamente nas paredes da caverna à entre 1,70 a 1,80 metros, enquanto o data logger
externo foi fixado em um suporte de madeira em uma área aberta à uma altura de 1,70
metros.
42
Os registros de temperatura e umidade interna e externa foram realizados por
doze meses, entre os dias 01 de outubro de 2014 e 30 de setembro de 2015, com
medições em intervalos de uma hora. A leitura destes dados foi realizada mensalmente
com o auxílio de uma base de leitura óptica de dados por infravermelho HOBO modelo
U-4, utilizando-se o software HOBOWare para leitura dos dados e posterior exportação
como arquivos em formato xls.
A determinação dos locais de instalação dos data loggers internos foi baseada
na ocupação da caverna pelos morcegos, que se concentram nas câmaras do meio e do
fundo. Para o data logger externo optou-se por estabelecer o ponto de monitoramento
em uma vila próxima à caverna, devido ao fluxo de visitação da área de estudo e
elevado risco de furto do equipamento e perda dos dados, uma vez que o data logger
externo instalado na proximidade da entrada da caverna foi furtado durante o
desenvolvimento do projeto piloto.
Dados pluviométricos foram obtidos do Sistema de Geoinformação
Hidrometereológico de Pernambuco (http://www.apac.pe.gov.br/sighpe), que consiste
de uma base de dados de monitoramento em tempo real de acesso livre e disponibilizada
pela Agência Pernambucana de Águas e Clima (APAC – http://www.apac.pe.gov.br/).
Foram utilizados os dados da estação 141 – Tupanatinga, que se localiza na mesorregião
do Agreste Pernambucano e microrregião do Vale do Ipanema, distante cerca de 30 km
da caverna monitorada.
As estimativas mensais da abundância de morcegos foram realizadas através da
análise de vídeos da atividade de emergência gerados entre outubro de 2014 e setembro
de 2015, realizando-se duas noites de filmagem consecutivas em cada mês (Veja
Capítulo 1). Para a geração dos vídeos foi utilizado um termovisor FLIR modelo E60
posicionado perpendicularmente à entrada da caverna, a uma distância de 3,70 m da
entrada e elevação de 1,25 m do solo e formando um ângulo de inclinação inferior de
45,70° (Preparar Figura).
As filmagens foram iniciadas às 17:30 h, período em que ainda há luminosidade
e não se iniciou a atividade de saída dos morcegos. Os vídeos tiveram duração de 45
minutos, período geralmente suficiente para captar toda a atividade de emergência.
Porém, houve a necessidade de prolongamento da duração das filmagens em duas
situações: 1) em Agosto de 2015, quando o fluxo de saída durou mais do que os 45
minutos estipulados, e as filmagens duraram 135 e 210 minutos; e 2) entre Janeiro e
Março de 2015, quando a emergência dos morcegos teve início após 40 minutos de
43
filmagem, e foram acrescentados mais 45 minutos, totalizando 90 minutos de filmagem.
Em todas as noites foram realizadas incursões ao interior da caverna após o final das
filmagens, onde se confirmando a saída dos animais e foram contadas poucas dezenas
de indivíduos que permaneceram no abrigo.
Análise de Dados
A caracterização da temperatura e umidade no interior e exterior da caverna foi
realizada obtendo-se o valor médio e seu respectivo desvio para os dados de todo o
período de monitoramento. Foi verificada ainda a amplitude de variação da temperatura
e umidade em cada um dos pontos monitorados, determinada pela diferença entre o
valor máximo e mínimo registrado. Para caracterizar a variação mensal de temperatura e
umidade no interior e exterior da caverna foi verificada a média mensal de cada
variável, utilizando-se todas as leituras de cada mês. Para pluviosidade, foram utilizados
os dados acumulados do mês.
Os dados de variáveis climáticas referentes ao dia 6 de dezembro de 2014 foram
excluídos de todas as análises, pois foi constatada uma perturbação antrópica no interior
da caverna que os comprometeu. Durante o monitoramento de dezembro de 2014,
encontrou-se resquícios de uma fogueira ao lado do data logger localizado no meio da
caverna, sendo possível determinar o dia exato da perturbação através do registro de
valores de temperatura e umidade anormais. Sendo assim, com a finalidade de evitar
contaminação nos dados do interior da caverna e como forma de igualar os esforços de
monitoramento climático, os dados de todas as leituras de temperatura e umidade deste
dia, tanto internos quanto externos, foram desconsiderados, assim como os dados de
pluviosidade.
Os valores estimados mensalmente do número de morcegos, obtidos pela análise
dos vídeos, foram utilizados para caracterização da comunidade ao longo do ano
monitorado e avaliação de sua relação com as varíaveis climáticas. Devida à
possibilidade de grandes flutuações no tamanho da congregação ao longo do ano, foi
realizada a transformação dos valores mensais estimados para seu logaritmo à base 10
(log10).
Para avaliar a relação entre o número de morcegos com as variáveis climáticas
internas (temperatura e umidade) e externas (temperatura, umidade e pluviosidade) da
caverna foram testados diferentes intervalos de tempo. Em cada um dos intervalos,
foram considerados os valores médios de temperatura e umidade de cada ponto
44
monitorado e a precipitação acumulada. Os intervalos adotados foram: a) Mês – do
primeiro ao último dia de cada mês (doravante TM); b) 30 dias anteriores – intervalo de
30 dias anteriores ao dia de filmagem (doravante T30); c) 15 dias anteriores – intervalo
de 15 dias anteriores ao dia de filmagem (doravante T15); d) 7 dias anteriores –
intervalo de 7 dias anteriores ao dia de filmagem (doravante T7); e) 5 dias anteriores –
intervalo de 5 dias anteriores ao dia de filmagem (doravante T5); f) 3 dias anteriores –
intervalo de 3 dias anteriores ao dia de filmagem (doravante T3); g) 1 dia anterior – dia
anterior ao dia de filmagem (doravante T1); h) Dia de filmagem – valores obtidos para o
dia de filmagem (doravante TD).
O efeito da variação externa sobre a comunidade de morcegos da caverna foi
avaliado por regressões múltiplas entre as variáveis (temperatura, umidade e
precipitação) externas e a estimativa de morcegos, analisando-se individualmente cada
intervalo de tempo. Para avaliar como a temperatura e umidade internas respondem à
concentração de morcegos abrigados na caverna foram realizados testes de regressão
linear simples entre a abundância de morcegos estimada e cada variável interna
(temperatura e umidade no meio e fundo), sendo realizada par a par, uma vez que havia
uma única variável independente (número de morcegos) para um conjunto de quatro
variáveis dependentes (temperatura do meio, temperatura do fundo, umidade do meio e
umidade do fundo). Em ambos os casos foram considerados todos os intervalos de
tempo propostos.
Para todas as análises envolvendo a estimativa de morcegos, optou-se por
excluir os dados relativos ao segundo dia de filmagem, utilizando-se somente um vídeo
mensal. A exclusão foi baseada na constatação de uma tendência à diminuição no
número de morcegos estimados nos segundos vídeos gerados no mês, atribuída à
possível perturbação causada pela incursão dos pesquisadores no interior da caverna.
Houve somente uma exceção à utilização do primeiro vídeo do mês, em dezembro de
2014, motivado pela perturbação da fogueira poucos dias antes da filmagem que
resultou no abandono do abrigo pelos morcegos. Neste mês a segunda filmagem foi
realizada quatro dias após a primeira, quando se constatou o retorno dos animais ao
abrigo, sendo esta segunda filmagem utilizada para os testes de regressão.
Foi usado um teste t para amostras independentes para avaliar o efeito da saída
dos morcegos sobre a temperatura e umidade internas da caverna. Foi comparado o
conjunto de dados de temperatura e umidade do fundo e do meio da caverna dos sete
dias anteriores à perturbação com os sete dias posteriores, totalizando 168 leituras.
45
Todos os testes de regressão múltipla, regressão simples e teste t foram realizados no
software STATISTICA 8.0 (2007).
Resultados
O monitoramento climático demonstrou um ambiente mais estável no interior da
caverna, com menor variação de temperatura e umidade (Figura 2). No exterior da
caverna a temperatura média foi de 23,78 ± 5,56°C, com 27,80°C de amplitude de
variação, sendo a mínima de 13,91°C e máxima de 41,71°C. A temperatura média e
amplitude de variação no meio da caverna foram de 25,27 ± 0,18°C e 2,07°C, com
mínimas de 24,77°C e máximas de 26,84°C. No fundo da caverna, a temperatura média
foi 28,42 ± 0,94°C, a amplitude foi de 6,30°C, e temperaturas mínimas e máximas de
27,46°C e 33,76 °C, respectivamente (Figura 2). A umidade média no exterior da
caverna foi de 68,67 ± 22,81% e amplitude de variação de 85,48%, com mínima de
14,52% e máxima de 100,00%. O meio da caverna apresentou umidade média de
87,75±2,20% e amplitude de variação de 19.18%, com mínima de 78,93% e máxima de
98,11%. Já no fundo da caverna a umidade média foi de 82,09 ± 4,14% e amplitude de
variação de 23,39%, com mínima de 74,15% e máxima de 97,54% (Figura 2).
As variações ao longo do ano demonstram que o interior da caverna é um
ambiente bem mais constante, com pequenas amplitudes de variação de temperatura
(Figura 3) e umidade (Figura 4) quando comparadas ao exterior da caverna. No interior
da caverna a temperatura média do meio variou entre 25,06°C a 25,55°C, com o menor
valor em outubro de 2015 e maior em maio de 2015, enquanto o fundo da caverna
apresentou menor temperatura em julho de 2015 e maior em agosto de 2015, variando
entre 27,63°C e 30,43°C. Quanto à umidade, no meio da caverna foram registradas as
maiores médias, variando de 85.44% em dezembro de 2014 a 91,24% em setembro de
2015, enquanto no fundo da caverna foi registrada uma variação de 77,15% em outubro
de 2014 a 89,77% em setembro de 2015. O exterior da caverna, por outro lado,
apresentou elevada variação ao longo do ano, com temperaturas médias mensais
variando de 20,75 °C em julho de 2015 a 25,52°C em abril de 2014, enquanto a
umidade variou de 60,57% a 82,73%, com o período mais seco em janeiro de 2015 e
mais úmido em julho de 2015. A precipitação anual também apresentou grande variação
ao longo do ano, sendo Setembro de 2015 o mês mais seco, com 4,6 mm, e Junho de
2015 o mais chuvoso, com 173,0 mm de precipitação (Figura 5).
46
A abundância de morcegos na caverna apresentou grande variação ao longo do
ano, sendo registrado um mínimo de 285 indivíduos em abril de 2015 e o máximo de
128986 indivíduos em agosto de 2015 (Tabela 1). Essa variação representa um
crescimento de 45258% de abril para agosto, com essa comunidade variando de
centenas de animais a dezenas de milhares de indivíduos. Quando observados os valores
transformados em log10, são verificados três períodos de intensa ocupação: o primeiro
entre outubro e novembro de 2014, um segundo pico entre fevereiro e março de 2015 e
um último período, com ocupação máxima (Figura 6).
A variação de morcegos abrigados na caverna não foi influenciada pela variação
climática no intervalo em nenhum dos intervalos analisados (TM: R2 = 0,2843 e p =
0,4186; T30: R2 = 0,4578 e p = 0,1596; T15: R
2 = 0,4912 e p = 0,1267; T7: R
2 = 0,3185
e p = 0,3554; T5: R2 = 0,2633 e p = 0,4599; T3: R
2 = 0,3177 e 0,3570; T1: R
2 = 0,4104
e 0,2154; TD: R2 = 0,2211 e p = 0,5489). Entretanto, quando observardos os valores
parciais de cada variável externa, a abundância de morcegos apresentou relação
negativa com a temperatura no intervalo T15 (Coef. Padronizado = -0,7716 e p =
0,0267) (Tabela 2).
Os morcegos apresentaram influência sobre a temperatura interna da caverna,
podendo altera-la eemdiferentes porções regiões da caverna e em intervalos de tempo
específicos (Tabela 3). A temperatura do fundo da caverna apresentou resposta positiva
ao tamanho da congregação nos intervalos TD (R2 = 0,4884; Coef. Padronizado =
0,6988; p = 0,0114), T1 (R2 = 0,4447; Coef. Padronizado = 0,6669; p = 0,0178) e T3
(R2 = 0,3822; Coef. Padronizado = 0,6182; p = 0,0321). No meio da caverna a
temperatura apresentou relação negativa com a abundância de morcegos no intervalo
T15 (R2 = 0,4091; Coef. Padronizado = -0,6397; p = 0,0251).
A saída dos morcegos da caverna, provocada pela intervenção antrópica,
provocou alteração nas condições microclimáticas do abrigo, com alteração na
temperatura e umidade. Quando presentes, a temperatura média no fundo da caverna na
semana anterior à perturbação foi de 28,17°C, caindo para 27,78°C após o abandono, o
que representa um resfriamento médio de 0,35°C (p < 0,0001) (Figura 7). No meio da
caverna foi verificado um aquecimento de 0,06°C (p < 0,0001), subindo de 25,14°C
para 25,20°C (Figura 7). Ambas as porções da caverna apresentaram diminuição na
umidade relativa do ar após o abandono dos morcegos, chegando a 0,83% de diferença
no meio da caverna (p < 0,0001) e 0,50% de diferença no fundo (p < 0,0001) (Figura 8).
47
Discussão
A caverna “Meu Rei” constitui de um importante abrigo para morcegos do
PARNA do Catimbau, propiciando um ambiente mais estável do que o externo. Os
morcegos encontram nas cavernas os abrigos naturais mais vantajosos quanto à
estabilidade ambiental, pois estas proporcionam um topoclima estável (Trajano, 1984).
Os outros tipos de abrigos utilizados, embora sejam mais abundantes, podem apresentar
desvantagens. As fendas em rochas ou em cascas de árvores são abrigos muito comuns
e abundantes, mas não apresentam a mesma estabilidade termal que as cavernas,
enquanto folhas apresentam uma curta durabilidade, mesmo aquelas modificadas em
tendas (Altringham, 1996).
A estabilidade é necessária para um abrigo em potencial, pois suas
características microclimáticas são muitas vezes importantes para sua seleção (Kunz,
1982). Neste sentido, a caverna estudada demonstra condições favoráveis para sua
ocupação devido às baixas variações internas ao longo do ano, com uma amplitude de
variação de 6,30 °C em sua temperatura e de 23,39% na umidade, enquanto no ambiente
externo essa variação chega a 27,80°C e 85,48% de umidade.
A estabilidade de um ambiente subterrâneo está ligada ao seu isolamento do
ambiente externo (Simões et al., 2015), o que é influenciado pela quantidade, estrutura e
distribuição de suas entradas (Ferreira, 2004). Os ambientes de maior estabilidade
conciliam uma grande projeção horizontal e um número reduzido de entradas,
propiciando ao espaço subterrâneo um isolamento extremo em relação ao sistema
externo (Ferreira 2004). Considerando-se tais aspectos, a caverna “Meu Rei” pode ser
considerada como a cavidade de maior estabilidade dentre as conhecidas no PARNA do
Catimbau, pois foi apontada por Azevedo & Bernard (2014) como a cavidade de maior
projeção horizontal dentre as 84 conhecidas no PARNA, além de possuir uma única
entrada de aproximadamente 11,5 m2.
As cavernas com uma única entrada costumam apresentar sistemas fechados
com ventilação menos eficiente do que as de sistemas abertos (Smithson, 1991). Os
sistemas abertos, característicos de cavernas com múltiplas entradas, são mais
ventilados, com temperaturas que diminuem no verão e aumentam no inverno a partir da
área de entrada (Wigley e Brown, 1976). A caverna “Meu Rei”, como uma caverna com
uma única entrada, se enquadra como um sistema fechado com mínima circulação de ar,
o que propicia as condições ambientais constantes de seu interior.
48
A caverna “Meu Rei” e as hot caves
Na região Neotropical, as hot caves têm sido apontadas como abrigos
climaticamente estáveis (De La Cruz, 1992), se distinguindo de outros tipos de
cavidades pela presença de uma população de animais que modificam radicalmente as
condições ecológicas (De La Cruz, 1992). Essas cavernas são relatadas no México
(Dalquest e Hall, 1949), Cuba (Tejedor et al., 2005), Venezuela (De La Cruz, 1992) e na
região do Caribe (Rivera-Marchand e Rodríguez-Durán, 2001; Tejedor et al., 2005).
Recentemente sua existência foi sugerida para o Brasil por Ladle et al. (2012),
baseando-se em evidências fósseis (Czaplewski e Cartelle, 1998) e estudos em cavernas
do nordeste do país (Estrada-Penã et al., 2004).
As hot caves apresentam características físicas distintas, como baixa circulação
de ar, temperatura constante entre 28 – 40 °C durante todo o ano, umidade superior a
90% e entradas pequenas (Silva Taboada, 1979; De La Cruz, 1992), tendo geralmente
uma entrada única (Ladle et al., 2012). Algumas dessas características são verificadas
na caverna “Meu Rei”, que possui uma única entrada de pequena dimensão e
consequentemente baixa circulação de ar, mas suas características climáticas não são
fiéis ao conhecido para este tipo de caverna. A temperatura média na câmara mais
profunda da caverna ultrapassa os 28 °C mínimos descritos para hot caves e, mesmo
com as variações registradas durante o monitoramento, a menor temperatura registrada
esteve próxima do valor mínimo. Embora a umidade dessa mesma câmara tenha
ultrapassado os 97%, o valor médio foi inferior a 90%, não sendo constantemente
elevada. Já na câmara do meio as médias tanto de temperatura quanto de umidade não
refletem as características climáticas de hot caves, embora tenha sido registrado o valor
máximo de 98,11% de umidade.
Embora a caverna “Meu Rei” não apresente todas as características apontadas
por De La Cruz (1992) para ser enquadrada como um hot cave, é notável que a
dinâmica climática verificada neste abrigo seja similar a tais cavernas. As características
estruturais e biológicas são compatíveis com o conhecido para hot caves, apresentando
uma única entrada de tamanho reduzido e abrigando uma grande comunidade de
morcegos, porém as condições climáticas diferem, uma vez que as temperaturas podem
ficar abaixo dos 28 °C e a umidade média é inferior a 90%. Porém, é necessário se
considerar que os estudos desenvolvidos em hot caves, quando incluem alguma
caracterização climática, sejam pontuais ou de curto prazo (Rodríguez-Durán e Soto-
Centeno, 2004; Tejedor et al., 2005; Dittmar e Mayberry, 2012; Nuñez-novas, 2014),
49
sendo possível que a longo prazo as variações de temperatura e umidade destas cavernas
sejam mais amplas. É possível ainda que os valores de temperatura e umidade aceitados
para hot caves sejam alcançados somente com a presença de uma grande quantidade de
morcegos e, nesse caso, a caverna “Meu Rei” apresentaria condições climáticas
idênticas a hot caves nos períodos em que sua ocupação é mais intensa.
As condições climáticas de hot caves são geradas pelas grandes comunidades de
morcegos que se abrigam nestes ambientes, que podem ser compostas por dezenas a
centenas de milhares de indivíduos (De La Cruz, 1992). Da mesma forma, os morcegos
são capazes de alterar as condições climáticas da caverna “Meu Rei”, o que é
demonstrado pela relação positiva entre abundância de morcegos com a temperatura da
câmara mais profunda. Essa relação em todos os intervalos de tempo menores que três
dias de medições (T3) ressalta a influência das colônias nas condições internas, pois
muitas vezes as populações são capazes de migrar em conjunto e desaparecer
espontaneamente em um curto espaço de tempo, resultando na retomada das condições
climáticas aos padrões normais (De La Cruz, 1992). Sendo assim, os intervalos de
tempo mais curtos podem ser considerados expressões mais reais das condições
climáticas geradas pela comunidade presente no momento da amostragem.
A elevada temperatura dessas cavernas é causada pela radiação de calor
corpóreo de uma alta densidade de morcegos, além da decomposição do guano
depositado no substrato do abrigo (Peck et al., 1998). Dessa forma, a concentração de
milhares de morcegos na câmara mais profunda da caverna implica em valores mais
elevados de temperatura em relação à câmara do meio, uma vez que uma quantidade
reduzida de morcegos se abriga nesta porção mediana.
Embora a abundância de morcegos não tenha demonstrado influência sobre a
umidade de nenhuma das câmaras da caverna “Meu Rei”, os morcegos podem ser
importantes na manutenção da umidade interna. Esse processo geralmente é atribuído a
excreção de urina por multidões de morcegos dentro do abrigo (Herreid, 1963), além da
perda de água corpórea sofrida por esses animais por evaporação causada pelas altas
temperaturas destes ambientes (Baunidette et al. 2000). Entretanto, mesmo com a
concentração de morcegos no fundo da caverna e seu potencial de umidificação dessa
porção do abrigo, os maiores valores de umidade foram verificados no meio da caverna,
o que se explica pela diminuição da umidade relativa do ar em resposta às temperaturas
mais elevadas na porção mais profunda (Gillieson, 1996). Embora a concentração de
morcegos no meio da caverna seja pequena, sua umidade elevada é possível pela
50
defecação e secreção de urina durante a passagem dos animais durante os movimentos
de saída e retorno do abrigo, mas sem uma concentração de indivíduos que elevem a
temperatura tanto quanto no fundo da caverna e resulte na perda dessa umidade.
Além da fisiologia, o comportamento dos morcegos também pode ser uma fonte
de modificação das condições climáticas de uma caverna. A movimentação dos
morcegos pode atuar como fonte de circulação de ar, como sugerido por Dittmar e
Mayberry (2010) para a dissipação da temperatura em uma caverna de Porto Rico, onde
é relatada a possibilidade de voos exploratórios em câmaras mais superficiais durante os
minutos que antecedem a atividade de emergência. No presente estudo, a circulação dos
morcegos na câmara do meio (CAD) durante a emergência parece resultar na alteração
de sua temperatura, o que pode explicar a relação positiva entre número de morcegos e
temperatura dessa câmara no intervalo T15, uma vez que estes animais realizam saídas e
entradas em massa no abrigo nesse intervalo de tempo em resposta às variações
climáticas externas.
Efeitos das variações no número de morcegos
Considerando-se que os morcegos influenciam as variáveis microclimáticas de
seu abrigo, mesmo que cavernas apresentem grande estabilidade em relação ao
ambiente externo, é possível se assumir a existência de variações internas em função das
flutuações na abundância de quirópteros. As variações microclimáticas tendem então a
ser maiores na região da caverna que abriga a maior quantidade de morcegos, caso essa
comunidade apresente flutuações. Os dados obtidos na caverna “Meu Rei” fortalecem
essa hipótese, demonstrando uma maior variação mensal da temperatura e umidade do
fundo da caverna, além de maior amplitude de variação em relação ao meio. Portanto, a
grande flutuação na quantidade de morcegos abrigados na caverna ao longo do ano pode
ser apontada como o principal motivo para as variações do clima interno.
O número estimado de morcegos abrigados na caverna “Meu Rei” variou de 285
a 128986 indivíduos, tendo um aumento de mais de 450 vezes entre a menor e maior
estimativa. Essa elevada flutuação na comunidade abrigada na caverna está relacionada
negativamente com as mudanças no ambiente externo, especificamente com as
variações de temperatura no intervalo de 15 dias (T15), influenciando a abundância
estimada de morcegos.
Os morcegos cavernícolas são frequentemente considerados fiéis aos seus
abrigos, mas uma colônia pode se alternar na utilização de um pequeno número de sítios
51
(Altringham 1996). Esses eventos são geralmente relacionados com migrações em
resposta a mudanças climáticas (Root, 2003), pois essas alterações têm impactos
consideráveis sobre os limites de distribuição de espécies endotérmicas (Humphries et
al., 2002). Por apresentarem um potencial de deslocamento exclusivo entre os
mamíferos, através do voo, a realocação de morcegos em resposta à mudança climática
é facilitada (Scheel et al., 1996), potencializando deslocamentos em respostas às
alterações em curtos prazos.
A variação climática externa é importante para o deslocamento desses morcegos,
mas não pode ser considerado o único fator que influencia neste processo. A mudança
de abrigo pode resultar custos potenciais de tempo e energia para encontrar um novo
local adequado (Alcock, 1989), mas é um movimento importante para morcegos por
diversos fatores, como garantir a disponibilidade contínua de recursos alimentares
(Maddock, 1979) ou responder às mudanças microclimáticas (Kunz, 1982). A
determinação do uso de um abrigo depende do microclima da caverna, da
disponibilidade de alimento e dos requisitos fisiológicos dos morcegos (Altringham,
1996).
Espécies e condições microclimáticas
As cavernas podem apresentar uma variedade de microclimas que fornecem
condições para a colonização por várias espécies, pois cada espécie possui seus próprios
requisitos para permanência no abrigo (Altringham, 1996). A família Mormoopidae é o
principal táxon associado as hot caves na região neotropical, as quais são
frequentemente compartilhadas com morcegos da família Natalidae (Ladle, 2012),
sendo bons exemplos da existência de preferências espécie-específicas. Torres-Flores e
López-Wilchis (2010) relatam as preferências de Natalus stramineus nas cavernas do
México, que está mais frequentemente associada ao mormopídeo Pteronotus parnellii.
As espécies demonstraram preferência pela parte mais profunda das cavernas e
possibilidade de sobreposição de microclima, embora P. parnelli seja mais restritiva, se
abrigando em temperaturas superiores a 27°C e umidade próxima a 100%, enquanto N.
stramineus se abriga em condições de temperatura entre 25 a 30°C e umidade superior a
70%. Porém, há divergência quanto ao local preferencial de permanência na câmara,
com P. parnellii se abrigando na grande câmara principal, enquanto N. stramineus
permanece nas partes inferiores das paredes e em tetos inclinados, evitando o contato
ventral com o substrato. Considerando-se as preferências restritivas do microclima por
52
mormopídeos apresentadas por Torres-Flores e López-Wilchis (2010), as
movimentações de abandono da caverna “Meu Rei” podem ser reflexo das mudanças do
microclima causadas pela população abundante de P. gymnonotus, que representa quase
a totalidade dos morcegos da caverna, seja com o aumento exacerbado da temperatura
ou diminuição da umidade pela temperatura elevada.
Os abrigos diurnos utilizados por morcegos apresentam grandes variações no
número de indivíduos, encontrando-se desde animais solitários até grandes agregações
(Kunz, 1982), mas algumas espécies podem formar associações temporárias
(Wilkinson, 1985). A intensificação no uso de cavernas durante períodos reprodutivos
também pode ser um dos motivos para as grandes variações do tamanho da comunidade
da caverna “Meu Rei”. As fêmeas reprodutoras podem formar agregações conhecidas
como colônias de maternidade (Kunz, 1982), que são capazes impactar o microclima da
caverna e elevar a temperatura da cavidade em até 10°C (Altringham, 1996). Como as
demandas energéticas de fêmeas são elevadas durante a gestação e lactação (Kurta et al.
1990), a escolha de abrigos que permitam o agrupamento dos morcegos e consequente
economia energética de termorregulação (Trune e Slobodchikoff, 1976) pode ser um
dos mecanismos mais eficientes para minimizar os custos do investimento em
reprodução (Zahn, 1999).
A maioria das espécies de morcegos apresenta uma reprodução estacional, com
o nascimento dos filhotes ocorrendo em um período mais favorável para sua
sobrevivência (Taddei, 1980). Nas regiões tropicais é comum que este período de
nascimentos corresponda ao período de maior pluviosidade, mesmo que o clima e
disponibilidade de alimentos nestas regiões sejam menos restritivos que em regiões
temperadas, demonstrando algum nível de sazonalidade (Hutson et al., 2001). Além da
sincronia com a pluviosidade, a temperatura também pode influenciar o período
reprodutivo de morcegos, podendo ser até mesmo mais importante do que a
disponibilidade de alimentos, como descrito por Mello et al. (2009) para a espécie
frugívora Sturnira lilium.
A atividade reprodutiva de morcegos insetívoros depende da disponibilidade de
insetos, não sendo restrita a um determinado período caso a disponibilidade seja
constante, mesmo em períodos de baixas temperaturas ou elevados níveis de
precipitação (Syme et al., 2001). Contudo, em áreas que apresentam uma estação seca
pronunciada a abundância de insetos é relativamente baixa nesses períodos (Fogden,
1972), sendo este um padrão verificado também na Caatinga, onde a maior abundância
53
de quase todas as ordens de insetos é verificada durante a estação chuvosa
(Vasconcellos et al., 2010).
A disponibilidade de alimentos para morcegos fitófagos também é regulada por
padrões climáticos, sendo que ambientes extremos apresentam maior concentração na
disponibilidade de flores e frutos durante a estação chuvosa (Barbosa et al., 2003).
Embora os padrões fenológicos de frutificação da Caatinga sejam pouco conhecidos, a
maior parte das espécies parece frutificar na estação úmida (Griz e Machado, 2001),
enquanto a oferta de recursos florais permanece durante todo o ano (Quirino e Machado,
2014).
Embora a abundância de morcegos responda às variações de temperatura e
pluviosidade externa, é possível que estes não sejam os únicos responsáveis pelas
mudanças na intensidade de utilização do abrigo. Os resultados aqui apresentados
ressaltam a necessidade de incluir aspectos biológicos no monitoramento, que também
podem influenciar na ocupação da caverna, como a disponibilidade de alimentos e
atividade reprodutiva anual. Dessa forma, é possível se determinar se as variáveis
climáticas externas influem direta ou indiretamente na comunidade de morcegos.
Agradecimentos
Ao CNPq e Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza pelo
financiamento do projeto. Ao PELD Catimbau pelo apoio logístico em campo. Aos
integrantes do Laboratório de Ciência Aplicada à Conservação da Biodiversidade pelo
auxílio na coleta de dados. À equipe do Voxar Labs pelo apoio técnico no
desenvolvimento do sistema. À Facepe pela bolsa concedida ao primeiro autor.
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60
Figura 1. Esquema da caverna “Meu Rei” com a distribuição das câmaras e localização
dos data loggers. Adaptado do Croqui elaborado pelo CECAV (2015).
61
Figura 2. Amplitude de variação de temperatura (acima) e umidade (abaixo) interna e
externa na caverna “Meu Rei”, no PARNA do Catimbau, Pernambuco, medidas entre
01 de Outubro de 2014 e 30 de Setembro de 2015. Os círculos preenchidos representam
o valor médio.
23,78 25,27
28,42
41,71
26,84
33,76
13,91
24,77
27,46
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
Tem
per
atu
ra (
°C)
68,67
87,75 82,09
100,00 98,11 97,54
14,52
78,93 74,15
0
20
40
60
80
100
120
Externo Meio Fundo
Um
ida
de
(%)
Pontos de monitoramento
62
Figura 3. Variação anual da temperatura média externa (acima) e interna das câmaras do
meio (centro) e do fundo (abaixo) na caverna “Meu Rei” no PARNA do Catimbau,
Pernambuco, medidas entre 01 de Outubro de 2014 e 30 de Setembro de 2015. Os
círculos preenchidos representam o valor médio.
.
10
15
20
25
30
35
40
45
Tem
per
atu
ra E
xte
rn
a (
°C)
10
15
20
25
30
35
40
45
Tem
per
atu
ra
do
Mei
o (
°C)
10
15
20
25
30
35
40
45
Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set
Tem
per
atu
ra
do
Fu
nd
o (
°C)
Meses
63
Figura 4. Variação anual da umidade média externa (acima) e interna das câmaras do
meio (centro) e do fundo (abaixo) na caverna “Meu Rei” no PARNA do Catimbau,
Pernambuco, medidas entre 01 de Outubro de 2014 e 30 de Setembro de 2015. Os
círculos preenchidos representam o valor médio.
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Um
ida
de
Exte
rn
a (
%)
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Um
ida
de
do
Mei
o (
%)
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set
Um
ida
de
do
Fu
nd
o (
%)
Meses
64
Figura 5. Precipitação mensal acumulada entre outubro de 2014 e setembro de 2015
para o município de Ibimirim, Pernambuco, medidas entre 01 de Outubro de 2014 e 30
de Setembro de 2015.
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set
Pre
cip
ita
ção
acu
mu
lad
a (
mm
)
Meses
65
Figura 6. Variação mensal do número estimado de morcegos na caverna “Meu Rei” no
PARNA do Catimbau, Pernambuco, com estimativas realizadas entre 01 de Outubro de
2014 e 30 de Setembro de 2015.
0
1
2
3
4
5
6
Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set
Nú
mer
o d
e m
orc
ego
ss (
log
10)
Meses
66
Figura 7 Variação de temperatura no meio (acima) e fundo (abaixo) da caverna em
períodos com presença (29 de novembro a 5 de dezembro de 2014) e ausência (7 a 13
de dezembro de 2014) de morcegos na caverna “Meu Rei” no PARNA do Catimbau,
Pernambuco.
24,0
24,5
25,0
25,5
26,0
26,5
27,0
Tem
per
atu
ra d
o M
eio
(°C
)
27,0
27,5
28,0
28,5
29,0
1 25 49 73 97 121 145
Tem
per
atu
ra d
o F
un
do
(°C
)
Horas acumuladas de medição
Presença Ausência
67
Figura 8. Variação de umidade no meio (acima) e fundo (abaixo) da caverna em
períodos com presença (29 de novembro a 5 de dezembro de 2014) e ausência (7 a 13
de dezembro de 2014) de morcegos na caverna “Meu Rei” no PARNA do Catimbau,
Pernambuco.
74
76
78
80
82
84
86
88
90
Um
ida
de
do
Mei
o (
%)
74
75
76
77
78
79
80
81
1 25 49 73 97 121 145
Um
ida
de
do
Fu
nd
o (
%)
Horas
Presença Ausência
68
Tabela 1. Transformação em valores logarítmicos na base 10 (log10) do número de
morcegos estimado mensalmente entre Outubro de 2014 e Setembro de 2015 na caverna
“Meu Rei”, Parque Nacional do Catimbau, Tupanatinga, Pernambuco.
Mês Número estimado de morcegos (x) Log10 (x)
Outubro de 2015 8890 3,95
Novembro de 2015 8087 3,91
Dezembro de 2015 188 2,27
Janeiro de 2016 1163 3,07
Fevereiro de 2016 13260 4,12
Março de 2016 12318 4,09
Abril de 2016 285 2,45
Maio de 2016 1231 3,09
Junho de 2016 7818 3,89
Julho de 2016 3976 3,60
Agosto de 2016 128986 5,11
Setembro de 2016 2575 3,41
69
Tabela 2. Regressões múltiplas em diferentes intervalos de tempo entre variáveis
climáticas externas (temperatura, umidade e pluviosidade) e abundância estimada de
morcegos presentes na caverna “Meu Rei”, no Parque Nacional do Catimbau,
Tupanatinga, Pernambuco medidas entre 01 de Outubro de 2014 e 30 de Setembro de
2015. Text – Temperatura externa; Uext – Umidade externa; Pluvio – Pluviosidade; TM
– Intervalo de tempo do Mês de filmagem; T30 – Intervalo de tempo de 30 dias antes da
filmagem; T15 – Intervalo de tempo de 15 dias antes da filmagem; T7 – Intervalo de
tempo de sete dias antes da filmagem; T5 – Intervalo de tempo de cinco dias antes da
filmagem; T3 – Intervalo de tempo de três dias antes da filmagem; T1 – Intervalo de
tempo de um dia antes da filmagem; TD – Intervalo de tempo do dia da filmagem;
Coef.– Coeficiente padronizado.
Intervalo R2 p Text Uext Pluvio
TM 0,2843 0,4186
Coef. = -0,6625 Coef. = -0,0630 Coef. = -0,2719
p = 0,3302 p = 0,9151 p = 0,4863
T30 0,4578 0,1596
Coef. = -0,3946 Coef. = 0,5109 Coef. = -0,5060
p = 0,6596 p = 0,6388 p = 0,2883
T15 0,4912 0,1267
Coef. = -0,7716 Coef. = 0,0820 Coef. = -0,2469
p = 0,0267 p = 0,7972 p = 0,4883
T7 0,3185 0,3554
Coef. = -0,2337 Coef. = 0,3100 Coef. = -0,4877
p = 0,8470 p = 0,8219 p = 0,3850
T5 0,2633 0,4599
Coef. = -0,3712 Coef. = 0,1814 Coef. = -0,3366
p = 0,7454 p = 0,8869 p = 0,4773
T3 0,3177 0,3570
Coef. = -0,6396 Coef. = -0,2563 Coef. = -0,4356
p = 0,4127 p = 0,7374 p = 0,1771
T1 0,4104 0,2154
Coef. = 0,0062 Coef. = 0,3555 Coef. = -0,5058
p = 0,9943 p = 0,6827 p = 0,1032
TD 0,2211 0,5489 Coef. = -0,3020 Coef. = -0,0148 Coef. = 0,2953
p = 0,5551 p = 0,9792 p = 0,4516
70
Tabela 3. Regressões simples em diferentes intervalos de tempo entre
variáveis climáticas internas da caverna (temperatura do meio, temperatura
do fundo, umidade do meio e umidade do fundo) e abundância estimada de
morcegos presentes na caverna “Meu Rei”, no Parque Nacional do
Catimbau, Tupanatinga, Pernambuco medidas entre 01 de Outubro de 2014
e 30 de Setembro de 2015. Tmeio – Temperatura do meio; Tfundo –
Temperatura do fundo; Umeio – Umidade do meio; Ufundo – Umidade do
fundo; TM – Intervalo de tempo do Mês de filmagem; T30 – Intervalo de
tempo de 30 dias antes da filmagem; T15 – Intervalo de tempo de 15 dias
antes da filmagem; T7 – Intervalo de tempo de sete dias antes da filmagem;
T5 – Intervalo de tempo de cinco dias antes da filmagem; T3 – Intervalo de
tempo de três dias antes da filmagem; T1 – Intervalo de tempo de um dia
antes da filmagem; TD – Intervalo de tempo do dia da filmagem; Coef.–
Coeficiente padronizado.
Intervalo Tmeio Tfundo Umeio Ufundo
TM
R2 = 0,0642
Coef. = -0,2534
p = 0,4267
R2 = 0,2078
Coef. = 0,4559
p = 0,1364
R2 = 0,0071
Coef. = 0,0841
p = 0,7949
R2 = 0,0332
Coef. = 0,1823
p = 0,5706
T30
R2 = 0,1803
Coef. = -0,4246
p = 0,1689
R2 = 0,0226
Coef. = 0,1505
p = 0,6406
R2 = 0,0022
Coef. = 0,0473
p = 0,8840
R2 = 0,0249
Coef. = 0,1579
p = 0,6241
T15
R2 = 0,4091
Coef. = -0,6397
p = 0,0251
R2 = 0,2027
Coef. = 0,4502
p = 0,1419
R2 = 0,1839
Coef. = 0,4289
p = 0,1642
R2 = 0,1441
Coef. = 0,3796
p = 0,2236
T7
R2 = 0,1273
Coef. = -0,3568
p = 0,2549
R2 = 0,2253
Coef. = 0,4747
p = 0,1189
R2 = 0,0110
Coef. = 0,1049
p = 0,7455
R2 = 0,1273
Coef. = 0,3568
p = 0,2549
T5
R2 = 0,1195
Coef. = -0,3457
p = 0,2710
R2 = 0,3058
Coef. = 0,5530
p = 0,0622
R2 = 0,0375
Coef. = 0,1936
p = 0,5467
R2 = 0,1654
Coef. = 0,4067
p = 0,1895
T3
R2 = 0,0414
Coef. = -0,2035
p = 0,5259
R2 = 0,3822
Coef. = 0,6182
p = 0,0321
R2 = 0,0565
Coef. = 0,238
p = 0,4567
R2 = 0,2003
Coef. = 0,4476
p = 0,1445
T1
R2 = 0,0084
Coef. = -0,0916
p = 0,7770
R2 = 0,4447
Coef. = 0,6669
p = 0,0178
R2 = 0,0703
Coef. = 0,2652
p = 0,4048
R2 = 0,2502
Coef. = 0,5002
p = 0,0977
TD
R2 = 0,0005
Coef. = -0,0215
p = 0,9471
R2 = 0,4884
Coef. = 0,6988
p = 0,0114
R2 = 0,1346
Coef. = 0,3669
p = 0,2408
R2 = 0,2401
Coef. = 0,4850
p = 0,1059
71
CAPÍTULO 3
(Apresentado nas normas da revista Acta Chiropterologica (ISSN 1733-5329)
MORCEGOS DA CAVERNA “MEU REI”: BIOLOGIA E HISTÓRIA
NATURAL DE UMA COMUNIDADE DE MORCEGOS CAVERNÍCOLAS NO
PARQUE NACIONAL DO CATIMBAU, PERNAMBUCO
Jaire Marinho Torres1*
& Enrico Bernard2
1Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal, Universidade Federal
de Pernambuco, Recife/PE. Av. Prof. Moraes Rego, 1235, Cidade Universitária,
Recife/PE, CEP: 50670-901. E-mail: jairemarinho@gmail.com.
2Laboratório de Ciência Aplicada à Conservação da Biodiversidade, Departamento de
Zoologia, Universidade Federal de Pernambuco, Recife/PE. Av. Prof. Moraes Rego,
1235, Cidade Universitária, Recife/PE, CEP: 50670-901. E-mail: enricob2@gmail.com.
*Autor para correspondência
72
Resumo
Os morcegos formam um dos grupos de mamíferos mais amplamente distribuídos do
mundo e o segundo grupo de maior riqueza no Brasil. Eles utilizam uma grande
variedade de abrigos, porém as cavernas são os mais estáveis e permanentes, podendo
abrigar desde pequenos grupos até milhares de morcegos. Menos de 5% das cavernas do
Brasil são conhecidas, e dentre as já registradas somente 2% apresentam inventários de
morcegos. O conhecimento sobre os morcegos cavernícolas brasileiros é uma grande
lacuna a ser preenchinda. Este trabalho teve como objetivo caracterizar aspectos da
biologia e história natural de morcegos cavernícolas de uma porção do semiárido do
Nordeste, abordando-se a composição da comunidade, atividade reprodutiva, guildas e
itens alimentares presentes na área de estudo e respostas à perturbações antrópicas.
Foram realizadas visitas mensais entre Outubro de 2014 e Setembro de 2015 a uma
caverna com uma grande congregação de morcegos no Parque Nacional do Catimbau,
em dois dias consecutivos, onde a atividade de emergência dos morcegos foi filmada
para a estimativa do número de animais no abrigo. Indivíduos foram capturados com
puçá, identificados e sua atividade reprodutiva avaliada. As espécies tiveram sua dieta
definida com base no conhecido na literatura e seus potenciais itens alimentares
determinados com base em inventários biológicos realizados no PARNA. Foram
registradas oito espécies na caverna, sendo quatro delas constantes no abrigo (Diphylla
ecaudata, Carollia perspicillata, Pteronotus gymnonotus e Natalus macrourus). As
espécies N. macrourus e Lonchorrina aurita constam na lista nacional de espécies
ameaçadas, categorizadas como vulneráveis. A presença de machos sexualmente ativos
foi verificada para sete espécies e fêmeas de cinco espécies foram encontradas com
evidências reprodutivas. Cinco guildas alimentares foram representadas na comunidade
da caverna estudada: insetívoros, nectarívoros, frugívoros, sanguinívoros e onívoros. Já
foram registrados no PARNA ao menos dez recursos em potencial para os morcegos da
caverna, sendo quatro espécies vegetais, quatro espécies de aves e uma espécie de
morcego. A caverna estudada pode ser considerada um importante abrigo para os
morcegos do PARNA, uma vez que apresenta elevada riqueza e abundância de
morcegos, incluindo-se sua utilização por morcegos em atividade reprodutiva. As
espécies encontradas na caverna são potenciais prestadores de serviços ecossistêmicos
e, associando-se ao fato da ocorrência de espécies vulneráveis, sua conservação deve ser
priorizada.
Palavras-chave: Abrigos, Chiroptera, guildas, reprodução, serviços ambientais.
73
Introdução
Os morcegos são um dos grupos de mamíferos mais amplamente distribuídos do
mundo, sendo superado somente por humanos e outros mamíferos estritamente
associados ao homem (Altringham, 1996). Além da ampla distribuição, a ordem
Chiroptera contempla 25% da diversidade de mamíferos conhecidos, formando o
segundo maior grupo do mundo (Simmons 2005).
São conhecidas cerca de 1150 espécies de morcegos (Simmons, 2005), sendo as
áreas de maior riqueza as regiões mais próximas dos trópicos (Altringham, 1996;
Stevens, 2004; Pereira e Palmerin, 2013), com ao menos 249 espécies registradas na
América do Sul (Gardner, 2007). No Brasil são registradas 178 espécies, distribuídas
em 68 gêneros de nove famílias (Nogueira et al., 2014). Essa riqueza representa cerca
de 15% das espécies do mundo (Bernard et al., 2011), colocando os morcegos como a
segunda ordem de maior riqueza entre os mamíferos brasileiros, sendo superados
somente por Rodentia (Reis et al., 2007).
Embora o Brasil apresente elevada riqueza de morcegos, com considerada
representatividade da quiropterofauna mundial, o conhecimento sobre essas espécies
ainda apresenta grandes lacunas. Partindo do ponto mais simples, a própria distribuição
das espécies não é bem conhecida no território nacional, em grande parte pela grande
extensão terriotorial do país, sendo que somente 10% do território é considerado
minimamente amostrado e quase 60% não possuiu um único registro de morcegos
(Bernard et al., 2010). Se nem ao menos a distribuição das espécies é conhecida, é de se
esperar, portanto, que os conhecimentos sobre a biologia e ecologia das espécies sejam
ainda menos representativos.
O conhecimento sobre a história natural de uma espécie possibilita o
reconhecimento de seus padrões e mecanismos causais (Ricklefs, 1990), tais como
padrões de riqueza, distribuição, abundâcia relativa, uso de recursos e os processos e
mecanismos que geram esses padrões (Pough et al., 2004). Sendo assim, o
conhecimento mais aprofundado da história natural das espécies de morcegos pode ser
uma das chaves para o entendimento dos padrões de ocorrência no Brasil.
Morcegos apresentam uma elevada diversidade morfológica, fisiológica e
biológica, resultante em grande parte de seus hábitos alimentares, que são tão variáveis
quanto dos mamíferos como um todo (Altringham, 1996). A variação alimentar de
morcegos neotropicais inclui hábitos insetívoros, carnívoros, piscívoros, frugívoros,
nectarívoros, onívoros, sanguinívoros (Kalko et al., 1996) e folívoros (Zortéa e Mendes,
74
1993; Kunz e Ingalls, 1994), todos representados nas espécies ocorrentes no Brasil
(Reis et al., 2007). Suas interações alimentares implicam na participação de processos
ecológicos com um amplo número de outras espécies e, consequentemente, na prestação
de serviços ambientais, tais como polinização, dispersão de sementes e controle de
populações de insetos (Bernard et al., 2012).
A disponibilidade de alimentos é um dos principais fatores relacionados com a
estruturação e organização das guildas de morcegos na região neotropical (Tamsitt,
1967). As regiões mais próximas da linha do Equador apresentam um acréscimo na sua
produtividade biológica primária, por conta da alta intensidade luminosa e temperatura,
resultando no aumento da quantidade de recursos e no suporte de mais espécies
(Altringham, 1996). Mas a disponibilidade de recursos não deve ser considerada como o
único fator estruturador dessas comunidades e, segundo Tamsitt (1967), a
disponibilidade de abrigos é também um fator importante para morcegos neotropicais.
O hábito de se abrigar influencia na densidade e distribuição local e global de
morcegos, além de aspectos de sua ecologia como forrageamento, reprodução, estrutura
social e movimentos sazonais (Altringham, 1996). Os morcegos podem utilizar uma
grande variedade de abrigos, como ocos de árvores ou superfícies de seus troncos,
folhagem, cupinzeiros, cavernas, fendas de rochas e edificações humanas, como forro
de casa, sótãos, porões, vãos de dilatação e pontes (Kunz, 1982). Dentre esses, as
cavernas são os abrigos mais estáveis e permanentes (Altringham, 1996).
Os morcegos são alguns dos poucos vertebrados que usam cavernas como abrigo
permanente (Kunz, 1982), podendo variar de pequenos grupos a milhares de indivíduos
(Altringham, 1996). Esses ambientes podem ser ocupados por várias espécies, uma vez
que geralmente apresentam uma variedade de formações e microclimas que suprem os
requisitos particulares de diferentes espécies (Altringham, 1996), de modo que a
estrutura dessas assembleias e sua coexistência são direcionadas por essas preferências
espécie-específicas (Rodríguez-Durán e Soto-Centeno, 2003). Embora o conhecimento
da dinâmica de morcegos cavernícolas seja essencial para entender a história natural
desses grupos, informações sobre os hábitos nesses abrigos parecem ser limitados para
populações cavernícolas neotropicais, lacuna há muito tempo já apontada por Trajano
(1996).
A necessidade de estudos com comunidades de morcegos cavernícolas
apontadas há quase duas décadas por Trajano (1996) foi recentemente demonstrada por
Guimarães e Ferreira (2014) para o Brasil, que apontaram que somente 2.17% das
75
cavernas brasileiras conhecidas possuem inventários sobre morcegos. A baixa
proporção das cavernas com quiropterofauna conhecida é ainda mais alarmante quando
considerado a quantidade potencial de cavidades do país, pois segundo Piló e Auler
(2011) menos de 5% das cavernas existentes já foram identificadas. A Caatinga é o
segundo bioma com menor quantidade de inventários de morcegos cavernícolas, sendo
que em Pernambuco, o estado com menor quantidade de cavernas conhecidas, somente
7.89% delas possuem informações sobre a quiropterofauna (Guimarães e Ferreira,
2014).
Considerando-se a necessidade de maiores esforços para o conhecimento da
dinâmica de populações de morcegos cavernícolas, este trabalho teve como objetivo
apresentar aspectos da biologia e história natural dos morcegos em uma caverna da
Caatinga, localizada no Parque Nacional (PARNA) do Catimbau. São apresentados
dados de (I) composição da comunidade, (II) atividade reprodutiva, (III) guildas
alimentares dos táxons presentes e (IV) itens alimentares conhecidos já registrados no
PARNA.
Metodologia
Área de estudo
O Parque Nacional do Catimbau (8º24’00”S - 8º36’35” S; 37º09’30”W -
37º14’40” W) é uma das maiores unidades de conservação da Caatinga, com 62300 ha,
e está localizado no estado de Pernambuco, entre os municípios de Buíque, Ibimirim e
Tupanatinga. A região apresenta uma temperatura média de 23°C e precipitação anual
variando de 650 a 1100 mm ao ano, com pico de chuvas entre abril e junho (SNE,
2002). O clima é quente e seco, sendo classificado como tipo BSh’w pela classificação
de Köppen (Peel 2007).
O relevo do PARNA do Catimbau é marcado pela presença de vales, serras e
vertentes, com altitude variando entre 400 e 1000 metros a.n.m. (SNE, 2002). Esta
região é marcada pela presença de inúmeras cavidades, potenciais à utilização como
abrigos por morcegos. Dentre estas cavidades, a caverna “Meu Rei” (08°29’14.1”S e
37°16’48.8”W) é classificada como de relevância máxima à conservação, por possuir
espeleotemas raros e dimensões notáveis em relação às outras cavidades conhecidas na
região (Azevedo & Bernard, 2015).
A região da caverna “Meu Rei” está na porção geomomorfológica da Formação
Tacaratu (CPRM, 2006), que é formada por arenitos grosseiros, arenitos
76
conglomeráticos e níveis de conglomerados (Silva Junior, 2013). O terreno dessa região
apresenta um caráter bastante acidentado, com encostas abruptas que formam grandes
paredões de arenito (SNE, 2002). Essa região do PARNA é caracterizada por uma
vegetação típica de caatinga de areia, onde predomina a vegetação arbustiva caducifólia,
com elementos espinhosos como cactáceas e bromeliáceas.
A caverna “Meu Rei” está a 777 metros de altitude, possui 161,5 m de projeção
horizontal e desnível total de 8,5 m (CECAV, 2014). A caverna é formada por quatro
câmaras bem definidas com estreitas regiões de baixa altura separando-as: 1) Câmara
Anterior Esquerda (CAE); 2) Câmara Posterior Esquerda (CPE); 3) Câmara Anterior
Direita (CAD); e 4) Câmara Posterior Direita (CPD) (Figura 1). As duas maiores
câmaras reúnem quase que a totalidade dos morcegos encontrados na caverna e
possuem características climáticas únicas que as diferem do ambiente externo, com
temperatura média de 25,24°C ± 0,18°C e umidade de 87,30% ± 1,81% na câmara
central, e temperatura de 28,34°C ± 0,84°C e umidade de 80,42% ±3,77% na câmara
mais profunda (Veja Capítulo 2).
Coleta de dados
A caverna foi visitada mensalmente entre Outubro de 2014 e Setembro de 2015,
sendo realizadas duas visitas mensais, totalizando 24 visitas. Em cada visita, todas as
câmaras foram vistoriadas e as espécies visualizadas foram capturadas com o auxílio de
puçá, com batidas no teto da caverna para captura de animais empoleirados ou batidas
no ar em locais de grande aglomeração para captura de animais em voo. As espécies
capturadas tiveram sua ocorrência registrada e sua identificação realizada em campo,
com posterior soltura no mesmo local. Espécimes não identificados em campo e
exemplares testemunho foram coletados e depositados na coleção zoológica da
Universidade Federal de Pernambuco, conforme preconizado na licença Sisbio n°
44032-2.
Para estimar a abundância da comunidade a atividade de emergência dos
morcegos foi filmada mensalmente em duas noites consecutivas, com início às 17:30 h,
utilizando-se um termovisor FLIR modelo E60 com frequência de captura de 30 Hz. A
contabilização do número de morcegos em cada vídeo foi realizada através de algoritmo
específico para detecção e contabilização dos animais, baseado em técnicas de visão
computacional, fornecendo estimativas aproximadas do número de animais abrigados na
77
caverna (Veja Capítulo 1). A abundância de morcegos de cada espécie foi estimada
sempre que possível por meio de contagens manuais das colônias.
As espécies identificadas foram classificadas quanto à ocupação da caverna,
utilizando-se as categorias propostas por Guimarães & Ferreira (2014): I)
Essencialmente Cavernícola – espécies que se abrigam majoritariamente em cavernas;
II) Cavernícola Oportunista – espécies que utilizam cavernas de forma oportuna, mas
também podem utilizar outros abrigos; III) Não Cavernícolas – espécies não ocorrentes
em cavernas ou aquelas que apresentam preferência por outros abrigos e raramente são
visualizadas em ambientes cavernícolas. As espécies foram também classificadas de
acordo com sua constância pelo Índice de Constância (Dajoz, 1983), que demonstra a
ocorrência das espécies amostradas na área de estudo, baseando-se na frequência de
ocorrência dentre o número total de amostragens. Utilizando-se este índice as espécies
foram consideradas constantes (c ≥ 50%), acessórias (50% > c ≥ 25%) ou acidentais (c
< 25%) no sítio de monitoramento. O status de conservação das espécies da caverna foi
determinado, tanto a nível global (IUCN, 2015) quanto nacional (MMA, 2014).
Os morcegos capturados tiveram seu estágio de desenvolvimento avaliado pelo
grau de fusão das epífises, sendo classificados em jovens e adultos (Brunet-Rossinni e
Wilkinson, 2009), e os adultos foram categorizados de acordo com sua condição
reprodutiva (Racey, 2009). Os machos foram considerados ativos ou inativos de acordo
com a evidência do escroto. As fêmeas foram consideradas prenhes (detecção de fetos
pela apalpação do abdômen), lactantes (quando detectada a secreção de leite pelas
mamas ou quando carregando um filhote agarrado a uma das mamas), pós-lactantes
(com mamas entumecidas sem secreção de leite), prenhes e lactantes (fetos notáveis por
apalpação e simultânea secreção de leite pelas mamas) ou ainda inativas (sem indícios
de lactação ou prenhez).
Foram determinadas ainda as guildas alimentares dos morcegos presentes na
caverna, realizando-se levantamento bibliográfico dos itens alimentares com consumo já
registrado para cada espécie. Para determinação dos potenciais serviços ambientais
prestados por morcegos na área, os itens de consumo conhecido foram inventariados por
levantamento bibliográfico de estudos desenvolvidos no PARNA do Catimbau, além de
informações de projetos em andamento fornecidas por Kátia Fernanda Rito Pereira
(Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal, Universidade
Federal de Pernambuco).
78
Os dados reunidos sobre a biologia e história natural das espécies de morcegos
da caverna “Meu Rei” foram apresentados como fichas individuais de cada espécie.
Análise de dados
Os dados morfológicos apresentados na ficha de cada espécie incluem tamanho
de antebraço e peso somente de indivíduos adultos. São apresentados os valores médios
e respectivos desvios padrão do antebraço e peso de cada espécie, além dos dados de
machos e fêmeas separadamente.
Para determinação da constância das espécies foi aplicado o Índice de
Constância (C); calculado por: C = número de coletas com ocorrência da espécie x 100/
número total de coletas (Dajoz, 1983).
Resultados
Foram registradas oito espécies, com representantes de três famílias: Diphylla
ecaudata Spix, 1823, Carollia perspicillata (Linnaeus, 1758), Glossophaga soricina
(Pallas, 1766), Anoura geoffroyi Gray, 1838, Lonchorhina aurita Tomes, 1863 e
Tonatia bidens Spix, 1823, da família Phyllostomidae; Natalus macrourus (Gervais,
1856), da família Natalidae; e um representante de Mormoopidae, Pteronotus
gymnonotus Natterer, 1843. Além destas, em expedições anteriores foram visualizados
indivíduos de Phyllostomus sp. e Lophostoma sp., ambos filostomídeos, embora estas
espécies não tenham sido avistadas durante o período de monitoramento. Houve grande
variação na abundância de morcegos na caverna, sendo estimados 188 indivíduos em
dezembro de 2015 até 128986 em agosto de 2015 (Figura 2).
Dentre as espécies registradas na caverna, quatro estiveram presentes em todos
os meses de amostragem (D. ecaudata, C. perspicillata, P. gymnonotus e N.
macrourus), estando constantemente na caverna (Figura 3, Tabela 1). Destas quatro
espécies, somente C. perspicillata é cavernícola oportunista, e as demais essencialmente
cavernícolas. Dentre as outras espécies registradas, G. soricina e T. bidens também são
cavernícolas oportunistas, e A. geoffroyi e L. aurita são consideradas essencialmente
cavernícola (Tabela 1).
Com exceção de T. bidens, todas as espécies da caverna apresentaram indivíduos
reprodutivos. A espécie C. perspicillata apresentou machos escrotados de janeiro a abril
de 2015, e nos meses de junho e agosto de 2015 e outubro de 2014. As fêmeas dessa
espécie não apresentaram um período constante de atividade reprodutiva, com fêmeas
79
prenhas em janeiro e junho de 2015, além de fêmeas lactantes em janeiro, fevereiro e
abril de 2015. Machos reprodutivos de D. ecaudata foram encontrados de outubro de
2014 a fevereiro de 2015, além de abril, junho e setembro de 2015. Para fêmeas de D.
ecaudata, grávidas foram encontradas em novembro de 2014 e junho de 2015, além de
fêmeas lactantes em junho e setembro de 2015. A espécie P. gymnonotus apresentou
machos reprodutivos de outubro de 2014 a março de 2015 e de junho a setembro de
2015, e fêmeas grávidas em dezembro de 2014. A outra espécie constante, N.
macrourus, apresentou um único indício reprodutivo com o registro de um macho
escrotado em dezembro de 2015 (Figuras 4 e 5).
Foram encontrados morcegos de cinco guildas alimentares nessa caverna, sendo
maior a riqueza de espécies insetívoras (P. gymnonotus, N. macrourus e L. aurita).
Foram registradas ainda três espécies fitófagas, com as nectarívoras G. soricina e A.
geoffroyi e a frugívora C. perspicillata. Além dessas, constatou-se a presença de
hematófagos (D. ecaudata) e onívoros (T. bidens) (Tabela 1).
Dentre os itens já registrados como componentes da dieta das espécies
encontradas na caverna “Meu Rei”, já foram encontradas no PARNA do Catimbau
quatro espécies vegetais, quatro espécies de aves, e uma espécie de morcego. Plantas
das espécies Encholirium spectabile, Lafoensia glyptocarpa e Pilosocereus tuberculatus
já tiveram registro de seu pólen ou néctar sendo utilizados por G. soricina (Rocha et al.
2007, Fabián et al. 2008, Queiroz et al. 2016), sendo todas de ocorrência confirmada no
parque (Andrade et al. 2004, Rocha et al. 2007, Ferreira et al. 2015). Outra espécie
vegetal encontrada no parque, Solanum paniculatum (Andrade et al. 2004), é
reconhecidamente utilizada por morcegos, com registros de C. perspicillata e G.
soricina se alimentando de seus frutos (Fabián et al. 2008). Dentre os itens conhecidos
para a dieta de T. bidens (Esbérard & Bergallo 2004, Félix et al. 2013, Martuscelli 1995,
Reis & Peracchi 1987) já foram registradas no PARNA do Catimbau aves das espécies
Coereba flaveola, Setophaga pitiayumi, Dacnis cayana, Thraupis sayaca, Vireo
olivaceus e Forpus xanthopterygius (Farias 2009, Sousa et al. 2012), além do morcego
Myotis nigricans, capturado na área durante o desenvolvimento de outras atividades de
pesquisa. Para a espécie D. ecaudata, a dieta das espécies da caverna “Meu Rei” já foi
avaliada, encontrando-se indícios da utilização de sangue de galinhas e humanos (Ito et
al. com. pess.).
Nenhuma das espécies registradas é indicada em algum nível de ameaça pela
lista da IUCN (2015). Em contrapartida, a Lista Nacional de Espécies Ameaçadas,
80
publicada pelo Ministério do Meio Ambiente (2014), aponta sete espécies de morcegos
ameaçadas para o Brasil, com duas delas presentes na caverna “Meu Rei”, L. aurita e N.
macrourus, ambas classificadas como Vulneráveis.
A seguir, seguem informações sobre os principais aspectos da biologia e história
natural de cada espécie registrada na caverna “Meu Rei”.
81
Pteronotus gymnonotus Natterer, 1843
Família: Mormoopidae
Status de conservação: Não ameaçada
(MMA, 2014; IUCN, 2015).
Espécimes capturados: 106 (59 Machos –
8 jovens e 51 adultos; 47 Fêmeas – 10
jovens e 37 adultos).
Peso: 12,52 ± 2,27 g (12,37 ± 2,31 g em
machos e 12,73 ± 2,23 g em fêmeas).
Antebraço: 49,90 ± 1,46 mm (49,61 ± 1,60 mm em machos e 50,33 ± 1,11 mm em
fêmeas).
Período de ocorrência e classificação quanto à utilização de ambientes
cavernícolas: Registrada em todos os meses de amostragem e classificada como
essencialmente cavernícola.
Localização na caverna: ocorre na porção mais profunda da caverna (CPD), na
maior câmara, região mais quente e úmida. Essa espécie aparentemente domina a região
mais profunda, podendo ocupar praticamente toda a extensão da última câmara, não se
registrando outras espécies ocupando esta porção em períodos com baixa densidade de
P. gymnonotus.
Características da colônia: a colônia dessa espécie apresenta elevada variação em
sua abundância ao longo do ano, responsável por quase toda a densidade de morcegos
presentes na caverna, que variou entre 188 indivíduos estimados em Dezembro a
129074 indivíduos em Agosto de 2015.
Abrigos conhecidos: embora morcegos do gênero Pteronotus possam ser
encontrados em casas, eles habitam principalmente cavernas e túneis (Nowak, 1994),
não sendo descritos para P. gymnonotus a ocupação de outros abrigos além de cavernas,
onde podem se refugiar em colônias com geralmente mais de mil indivíduos,
frequentemente dividindo-as com outros mormopídeos (Vizotto et al., 1980).
82
Reprodução: apresentou machos reprodutivos de outubro de 2014 a março de
2015 e de junho a setembro de 2015 (Figura 4), porém as fêmeas apresentaram somente
um evento reprodutivo, com fêmeas grávidas em dezembro de 2014 (Figura 5).
Alimentação: há grande escassez de dados para a dieta dessa espécie, não
havendo relatos para as populações do Brasil. Porém poucos registros para a Costa Rica
e Panamá indicam uma dieta insetívora. Foi relatado para a espécie o consumo de
insetos das ordens Lepidoptera (Howel e Burch, 1974; Whitaker e Findley, 1980),
Coleoptera e hemípteros da família Pentatomidae, além de outros insetos não
identificados (Whitaker e Findley, 1980).
83
Natalus macrourus (Ruschi, 1951)
Família: Natalidae
Status de conservação: Em risco próximo
(IUCN, 2015); Vulnerável (MMA, 2014).
Espécimes capturados: 7 (3 Machos
adultos e 4 Fêmeas adultas).
Peso: 9,14 ± 7,29 g (6,67 ± 3,51g em
machos e 11,00 ± 9,34 g em fêmeas).
Antebraço: 37,24 ± 0,41 mm (37,07 ± 0,11 mm em machos e 37,37 ± 0,52 mm em
fêmeas).
Período de ocorrência e classificação quanto à utilização de ambientes
cavernícolas: Registrada em todos os meses de amostragem e classificada como
essencialmente cavernícola.
Localização na caverna: a espécie demonstrou fidelidade à porção ocupada da
caverna, ocorrendo sempre no início da câmara mais profunda (CPD), sendo essa a
porção mais quente e úmida.
Características da colônia: dentre as espécies encontradas constantemente na
caverna, N. macrourus apresenta a menor abundância, contabilizando-se entre cinco e
dez indivíduos ao longo do ano monitorado. Não foi constatado o agrupamento de
indivíduos dessa espécie, que se distribuíram sempre de forma isolada na entrada da
última câmara.
Abrigos conhecidos: os abrigos relatados para Natalus contemplam cavernas
minas e túneis, podendo estar associados a várias espécies (Taddei e Uieda, 2001), não
sendo conhecida a ocupação de outros tipos de abrigos.
Reprodução: apresentou um único evento de indício reprodutivo, com o registro
de um macho escrotado em Agosto de 2015 (Figura 4).
Alimentação: não há informações aprofundadas sobre a dieta das espécies desse
gênero, sendo essa uma grande lacuna do conhecimento para a determinação da
ecologia do grupo. Contudo, alguns relatos sugerem uma dieta insetívora, com a captura
de insetos muito pequenos, um hábito que talvez esteja relacionado com a alta
84
frequência de pulsos emitidos (Yalden e Morris, 1975), mas havendo ainda relato da
ingestão de pequenas lagartixas da espécie Phyllodactilus lanei, em uma comunicação
pessoal de Aurelio Ramírez mencionada por Sánchez-Hernández e Romero-Almaraz
(1995).
85
Diphylla ecaudata Spix, 1823
Família: Phyllostomidae.
Status de conservação: Não ameaçada
(MMA, 2014; IUCN, 2015).
Espécimes capturados: 29 (18 Machos – 5
jovens e 13 adultos; 11 Fêmeas – 4 jovens
e 7 adultos).
Peso: 28,30 ± 5,30 g (25,85 ± 3,74 g em
machos e 32,86 ± 4,88 g em fêmeas).
Antebraço: 51,84 ± 1,73 mm (51,02 ± 1,38 mm em machos e 53,24 ± 1,34 mm em
fêmeas).
Período de ocorrência e classificação quanto à utilização de ambientes
cavernícolas: Registrada em todos os meses de amostragem e classificada como
essencialmente cavernícola.
Localização na caverna: indivíduos dessa espécie foram encontrados na porção
inicial de ambos os corredores da caverna, ou seja, na primeira câmara de cada um dos
caminhos (CAE e CAD).
Características da colônia: a colônia não aparentou sofrer grandes alterações ao
longo do ano, sendo estimados entre 30 e 40 indivíduos. No geral, os indivíduos dessa
espécie apresentaram-se sempre agrupados, sendo poucos os casos de indivíduos
isolados, ocupando grandes buracos no teto da caverna.
Abrigos conhecidos: vivem em cavernas e em minas abandonadas, porém, em
raras exceções, podem ser encontrados em ocos de árvores (Greenhall et al., 1984).
Reprodução: machos de Dyphylla ecaudata apresentaram-se ativos por um longo
período entre outubro de 2014 e fevereiro de 2015, além de eventos de atividade
intercalando-se por outros três meses (Figura 4). As fêmeas não demonstraram
continuidade na atividade, com fêmeas grávidas em novembro de 2014 e junho de 2015,
além de fêmeas lactantes em setembro de 2015 (Figura 5).
Alimentação: é considerada como hematófago consumidor de sangue fresco,
com preferência por sangue de aves, assim como Diaemus yougi, outra espécie de
86
hematófago encontrada no Brasil (Uieda, 1993). Entretanto, um conhecimento
aprofundado para as espécies utilizadas por este hematófago como fonte de alimento
parece ser limitado, sendo inexistentes em ambientes naturais. Recentemente a dieta dos
indivíduos de D. ecaudata presentes a caverna “Meu Rei” foi determinada com a
utilização de técnicas de biologia molecular, encontrando-se DNA de galinhas e
humanos em suas fezes (Ito et al., com. pess.).
87
Carollia perspicillata (Linnaeus, 1758)
Família: Phyllostomidae.
Status de conservação: Não ameaçada
(MMA, 2014; IUCN, 2015).
Espécimes capturados: 37 (23 Machos – 1
jovem e 22 adultos; 14 Fêmeas – 4 jovens
e 10 adultos).
Peso: 17,53 ± 2,54 g (16,52 ± 1,33 g em
machos e 19,89 ± 3,18 g em fêmeas).
Antebraço: 41,92 ± 1,21 mm (41,62 ± 0,96 mm em machos e 46,63 ± 1,47 mm em
fêmeas).
Período de ocorrência e classificação quanto à utilização de ambientes
cavernícolas: Registrada em todos os meses de amostragem e classificada como
cavernícola oportunista.
Localização na caverna: essa espécie se distribui por todas as regiões da porção
inicial da caverna (CAE, CPE e CAD), estando ausente somente na última câmara.
Características da colônia: a abundância de C. perspicillata não aparenta ser
constante, embora sua ocorrência seja sempre constatada, estimando-se de 30 a 60
indivíduos. Não costumam formar agrupamentos definidos, distribuindo-se em diversos
pequenos buracos encontrados no teto da caverna.
Abrigos conhecidos: as colônias desta espécie podem ocupar variados tipos de
abrigos, como cavernas (Trajano, 1987; Bredt, 1996), bueiros (Marques, 1985; Bredt,
1996), caixas de águas pluviais (Esbérard et al., 1999) e edificações abandonadas
(Bredt, 1996; Esbérard et al., 2012) ou mesmo em uso (Esbérard et al., 1999; Torres e
Anjos, 2012).
Reprodução: foi verificado o mais longo período de atividade para machos entre
janeiro e abril de 2015, além de registros descontínuos em outros três meses (Figura 4).
As fêmeas apresentaram atividade reprodutiva entre janeiro e fevereiro de 2015, com
fêmeas grávidas ou com filhotes, além de fêmeas grávidas também em junho de 2015 e
fêmeas lactantes em abril de 2015 (Figura 5).
88
Alimentação: essa espécie é considerada basicamente frugívora, consumindo
principalmente frutos de plantas do gênero Piper, conforme apontado em diversos
estudos realizados no Brasil (Marinho-Filho, 1985; Muller e Reis, 1992; Mello, 2002;
Munin, 2008; Brito et al,. 2010; Martins et al,. 2014). Entretanto, além da preferência
por plantas da família Piperaceae, sua interação com espécies vegetais contempla ainda
o consumo de outros itens, tais como pólen, flores e folhas, chegando a consumir mais
de 81 espécies de 14 famílias de plantas brasileiras (Fabián et al., 2008). Embora sua
dieta seja relativamente bem conhecida dentre os filostomídeos brasileiros, a
possibilidade de inferências dos itens potencialmente consumidos por essa espécie em
uma determinada área se limita ao conhecimento disponível de inventários florísticos
locais, sendo que para o PARNA Catimbau essas informações são limitadas. Dessa
forma, a única ocorrência confirmada de recursos conhecidos para C. perspicillata é de
Solanum paniculatum (Solanaceae) (Andrade et al., 2004), que se reforça através da
presença de sementes de Solanum no interior da caverna, frequentemente encontradas
abaixo das colônias de C. perspicillata. Quanto ao consumo de insetos, poucos
trabalhos relatam os táxons consumidos por essa espécie, já tendo sido registrados
consumos de Lepidoptera, Coleoptera, Diptera, Hymenoptera e Hemiptera (Munin et
al., 2012).
89
Lonchorhina aurita Tomes 1863
Família: Phyllostomidae.
Status de conservação: Não Ameaçada
(IUCN, 2015); Vulnerável (MMA, 2014).
Espécimes capturados: 14 (5 Machos – 2
jovens e 3 adultos; 9 Fêmeas – 3 jovens e
6 adultos).
Peso: 17,53 ± 2,54 g (16,52 ± 1,33 g em
machos e 19,89 ± 3,18 g em fêmeas).
Antebraço: 41,92 ± 1,21 mm (41,62 ± 0,96 mm em machos e 46,63 ± 1,47 mm em
fêmeas).
Período de ocorrência e classificação quanto à utilização de ambientes
cavernícolas: sua presença não foi registrada em períodos longos, ocorrendo em
outubro, dezembro, janeiro e junho. É classificada como essencialmente cavernícola.
Localização na caverna: sempre presente nas regiões mais profundas da caverna
(CPD), geralmente na entrada da última câmara, mas podendo ser encontrados na parte
mais profunda em meses com maior quantidade de morcegos na caverna. Portanto,
embora não apresente local de ocupação definido dentro da caverna, limita-se sempre à
última câmara, região esta com temperatura e umidade mais elevadas.
Características da colônia: as colônias de L. aurita demonstraram variação ao
longo do ano, estimando-se entre 25 e 100 indivíduos. Aparentemente são mais
abundantes em meses com maior quantidade de P. gymnonotus, acompanhando a
abundância dessa espécie e só presente em meses em que sua densidade era maior.
Abrigos conhecidos: essa espécie tem sido prioritariamente relatada em cavernas
(Esbérard et al., 1997), mas já foi registrada utilizando refúgios artificiais, ocorrendo em
tubulações de água (Mendes et al., 2011).
Reprodução: machos dessa espécie demonstraram atividade sexual somente em
Julho de 2015, com a presença de dois machos escrotados (Figura 4), enquanto duas
fêmeas em lactação foram registradas com filhotes em Fevereiro de 2015 (Figura 5).
90
Alimentação: espécie primariamente insetívora (Fleming et al., 1972), com um
único trabalho de descrição para sua dieta no Brasil, onde é relatado o consumo das
ordens Lepidoptera, Coleoptera, Diptera, Orthoptera, Acari e da família Araneae, além
de polpa, indicando o consumo ocasional de frutos (Esbérard et al., 1997).
91
Glossophaga soricina (Pallas, 1766)
Família: Phyllostomidae.
Status de conservação: Não ameaçada
(MMA, 2014; IUCN, 2015).
Espécimes capturados: 5 (3 Machos
adultos e 2 Fêmeas adultas).
Peso: 10,20 ± 0,45 g (10,00 ± 0,00 g em
machos e 10,50 ± 0,70 g em fêmeas).
Antebraço: 34,8 ± 0,73 mm (35,13 ± 0,75 mm em machos e 34,3 ± 0,42 mm em
fêmeas).
Período de ocorrência e classificação quanto à utilização de ambientes
cavernícolas: essa espécie é considerada Cavernícola Oportunista, não sendo obrigatória
a utilização destes ambientes como abrigo. Na caverna “Meu Rei”, sua presença foi
constatada em Novembro de 2014 e nos meses de Janeiro, Março, e entre Maio e Julho
de 2015.
Localização na caverna: a espécie não apresentou local definido para a ocupação
da caverna e, com exceção da última câmara, foi visualizada por toda a extensão da
caverna (CAE, CPE e CAD).
Características da colônia: a presença de G. soricina na caverna “Meu Rei” é
caracterizada por uma baixa abundância de indivíduos, estimando-se sempre em menos
de dez indivíduos, estando esses dispersos e sem a formação de agrupamentos.
Abrigos conhecidos: é considerada uma espécie com elevada versatilidade na
ocupação de abrigos (Nogueira et al., 2007), ocupando desde cavidades naturais como
cavernas (Bredt et al., 1998) e fendas de rochas, à antrópicas como túneis e minas, além
de outros abrigos naturais como oco de árvores e uma série de edificações como casas
abandonadas (Webster, 1983), galpões (Esbérard et al., 1999; Torres e Anjos, 2012),
sótãos e porões vazios (Bredt et al., 1998; Esbérard et al., 1999; Perini et al., 2003),
telhas e forros, vãos de dilatação entre edifícios (Perini et al., 2003), interior de
cisternas, ductos de ventilação, poços de elevadores (Esbérard et al., 1999), e até mesmo
abrigando-se sob pontes ou bueiros (Bredt et al., 1998).
92
Reprodução: somente duas fêmeas adultas foram capturadas durante o período
de monitoramento, sendo uma em maio e outra em junho de 2015, não verificando-se
atividade reprodutiva para ambas, enquanto machos com testículos escrotados foram
registrado em janeiro e junho de 2015 (Figura 4).
Alimentação: espécie conhecidamente nectarívora, também incluído em sua
dieta frutos e insetos. Solanum paniculatum é um potencial item alimentar encontrado
na área, assim como para C. perspicillata, mas já foi relatado dentro dos limites do
parque o consumo de pólen de Pilosocereus tuberculatus (Rocha et al., 2007). No
Brasil, são indicadas mais de 31 espécies vegetais utilizadas por essa espécie de
morcego, com representantes de 12 famílias (Fabián et al., 2008). Quanto à ingestão de
outros tipos de alimento, Munin et al. (2012) cita a presença de invertebrados em suas
fezes (Lepidoptera, Coleoptera, Hymenoptera e Hemiptera), além de fragmentos de
folhas.
93
Anoura geoffroyi Gray, 1838
Família: Phyllostomidae.
Status de conservação: Não ameaçada
(MMA, 2014; IUCN, 2015).
Espécimes capturados: 5 (1 Macho adulto
e 4 Fêmeas adultas).
Peso: 10,20 ± 0,45 g (10,00 ± 0,00 g em
machos e 10,50 ± 0,70 g em fêmeas).
Antebraço: 34,80 ± 0,73 mm (35,13 ± 0,75 mm em machos e 34,30 ± 0,42 mm em
fêmeas).
Período de ocorrência e classificação quanto à utilização de ambientes
cavernícolas: embora A. geoffroyi seja considerada Essencialmente Cavernícola, sua
ocorrência na caverna estudada foi confirmada somente nos meses de dezembro de 2014
e janeiro e março de 2015.
Localização na caverna: essa espécie também foi encontrada na região mais
profunda da caverna, situando-se sempre na porção direta da última câmara (CPD).
Características da colônia: nos meses de registro de ocorrência dessa espécie, foi
verificado um grupo de A. geoffroyi na entrada da última câmara, com abundância
variando entre os meses, estimando-se de 15 a 30 indivíduos.
Abrigos conhecidos: essa espécie é apontada como fortemente associada a
cavidades naturais (Arita, 1993), mas pode utilizar outros tipos de abrigo, já tendo sido
visualizado em bueiros sob ferrovias percorridos temporariamente por cursos de águas
pluviais (Bredt et al., 1999), túneis (Tuttle, 1970) e ocos de árvores.
Reprodução: fêmeas lactantes foram registradas em dezembro de 2014 e janeiro
de 2015 (Figura 5). Um único macho capturado que apresentou seus testículos
escrotados em março de 2015 (Figura 4).
Alimentação: espécie considerada nectarívora, podendo incluir em sua dieta
frutos e insetos. Entretanto, quando comparada com outros nectarívoros mais comuns,
sua dieta pode ser considerada pouco conhecida, com o registro de somente 12 espécies
de quatro famílias para o Brasil (Fabián et al., 2008). Quanto à possibilidade do
94
consumo de insetos, há registro no Brasil da utilização como recurso das ordens
Coleoptera (Carabidae, Scarabaeidae, Histeridae, Meloidae e Cleridae), Hymenoptera
(Formicidae) e Arachnida (Aranae) (Willig et al., 1993).
95
Tonatia bidens Spix, 1823
Família: Phyllostomidae.
Status de conservação: Dados
Insuficientes (IUCN, 2015); Não
ameaçada (MMA, 2014).
Espécimes capturados: 1 Fêmea adulta.
Peso: 35,00 g para o único indivíduo
capturado.
Antebraço: 58,00 mm para o único indivíduo capturado.
Período de ocorrência e classificação quanto à utilização de ambientes
cavernícolas: T. bidens é uma espécie cavernícola oportunista e registrada na caverna
“Meu Rei” somente em Março de 2015.
Localização na caverna: a única visualização de um indivíduo dessa espécie
ocorreu em um momento de movimentação dos morcegos pela agitação causada com a
visitação à caverna, portanto, não é possível afirmar com certeza a porção do abrigo
utilizada por esta espécie. Entretanto, são fortes os indícios de que esta espécie
permaneça na última câmara (CPD), uma vez que não fora visualizada nas câmaras
iniciais durante o início da visitação à caverna, e a movimentação dos morcegos ocorre
no momento em que há alguma perturbação na última câmara, de modo que o espécime
de T. bidens foi visualizado na câmara inicial da caverna durante a saída dos visitantes.
Características da colônia: devido à visualização e captura de um único
indivíduo da espécie, não foi possível observar e descrever padrões de ocupação e
características da colônia.
Abrigos conhecidos: essa espécie se abriga em grutas e minas d’água (Esbérard
e Bergallo, 2004), residências abandonadas e ocos de árvores (Martuscelli, 1995).
Reprodução: o único registro para a espécie foi em março de 2015, com a
captura de uma fêmea que não apresentava qualquer indício de atividade reprodutiva.
Alimentação: espécie onívora, que pode consumir um variável grupo de itens.
Embora existam poucos registros dos itens consumidos por essa espécie no Brasil, é
relatada uma ampla variedade de recursos utilizados, predando insetos de oito ordens
96
(Reis e Peracchi, 1987; Esbérard e Bergallo, 2004, Felix et al., 2013), pequenos
vertebrados como répteis, anfíbios (Esbérard e Bergallo, 2004), aves (Matuscelli 1995,
Esbérard e Bergallo, 2004) e até mesmo morcegos da espécie Myotis nigricans (Felix et
al., 2013), e mais recentemente foi confirmada também a utilização de frutos (Felix et
al., 2013).
97
Discussão
Uso e ocupação da caverna “Meu Rei” pelas espécies de morcegos
A caverna “Meu Rei” pode ser considerada rica em espécies de morcegos, com
oito espécies confirmadas até o momento. Porém, tal caverna possui potencial para ser
considerada de elevada riqueza, uma vez que ainda é possível sua utilização por
indivíduos de Lophostoma sp. e Phyllostomus sp., visualizados em períodos anteriores
ao monitoramento. A grande maioria das cavernas brasileiras (57%) apresenta até três
espécies registradas, o que não é diferente na Caatinga, onde 25 das 42 cavernas já
inventariadas são classificadas como de baixa riqueza (Guimarães e Ferreira 2014).
Quando considerados os níveis mais elevados de riqueza, 13% das cavernas nacionais
são de alta riqueza e 7% de elevada riqueza de morcegos, enquanto na Caatinga
somente cinco (11,90%) apresentam riqueza alta, todas localizadas na Bahia, e uma
única de elevada riqueza, situada em Minas Gerais (Guimarães e Ferreira, 2014).
Todas as cavernas já analisadas para o estado de Pernambuco foram
classificadas como de baixa riqueza, incluindo a própria caverna “Meu Rei” (Guimarães
e Ferreira, 2014). Entretanto, como verificado ao longo do monitoramento, um estudo
de longo prazo pode implicar no acréscimo do registro de espécies em uma cavidade,
como no caso da caverna “Meu Rei”, antes apontada com somente três espécies.
Considerando-se isso, a riqueza de morcegos cavernícolas nessa região pode ser mais
elevada do que o conhecido, ocorrendo uma utilização esporádica por várias espécies e
com poucas delas encontradas constantemente no mesmo abrigo.
Dentre as espécies verificadas constantemente na caverna, três delas são
consideradas essencialmente cavernícolas, o que indica a importância da utilização
destes ambientes como refúgios essenciais à preservação de suas populações
(Guimarães e Ferreira, 2014). Em hot caves da região Neotropical, por exemplo, a
família Mormoopidae é o principal táxon de Chiroptera ocorrente e, frequentemente,
são compartilhadas com morcegos das famílias Natalidae e Phyllostomidae, com
mormopídeos e natalídeos antilhanos restritos à hot caves por todo o ano (Ladle et al.,
2012). No Brasil esse fator é ressaltado pela ausência de registros de outros abrigos
além de cavernas para as espécies P. gymnonotus e N. macrourus.
Dentre as cavernícolas oportunistas, C. perspicillata demonstra ser altamente
bem-sucedida na colonização de cavernas, sendo a segunda espécie brasileira mais
frequentemente encontrada nesses ambientes e a primeira na listagem das mais comuns
entre as oportunistas (Guimarães e Ferreira, 2014). Conhecida como uma espécie de
98
elevada resiliência, é geralmente uma das mais bem sucedidas em ambientes diversos,
devida à sua capacidade de ocupação dos mais variados tipos de abrigos. Esse padrão
parece se repetir na ocupação de cavernas, não havendo grandes restrições na ocupação
desses ambientes. Como cavernícola oportunista, a espécie G. soricina parece se
aproveitar da disponibilidade de abrigos em ambientes cavernícolas, o que é possível
ocorrer também em cavernas da Caatinga. Embora já tenha sido considerado um raro
habitante de ambientes cavernícolas (Trajano, 1995), dados mais recentes demonstram
que é a terceira espécie mais registrada em cavernas brasileiras (Guimarães e Ferreira,
2014).
As características biológicas de cada espécie parecem ser mais determinantes na
ocupação de ambientes cavernícolas do que as próprias características da caverna,
influenciando tanto na distribuição e local de ocupação da caverna (Rodríguez-Durán e
Soto-Centeno, 2003) quanto no tamanho das colônias (Bredt et al., 1999), de modo que
algumas necessitam se abrigar em um ambiente mais estável, como uma caverna,
enquanto outras são mais “flexíveis” e podem ocupar variados tipos de abrigos.
Entretanto, as informações sobre preferências microclimáticas para espécies de
morcegos são escassas, abordando-se principalmente questões sobre a hibernação e a
utilização de sótãos como abrigos em regiões temperadas, com raros estudos que
abordam a seleção de abrigos por morcegos tropicais (Rodríguez-Durán e Soto-
Centeno, 2003).
Algumas espécies, como pequenos mormopídeos e alguns filostomídeos,
costumam apresentar elevada agregação e fidelidade ao abrigo (Rodriguéz-Durán,
1998), sendo essa uma forma de enfrentar problemas como dificuldade no
armazenamento de gordura e menor capacidade de termorregulação (Rodriguéz-Durán,
1995). Essas espécies, geralmente restritas aos abrigos em cavernas, podem encontrar
barreiras para a ocupação de outros tipos de abrigos, que não apresentem características
físicas ou climáticas que suportem suas demandas fisiológicas, inviabilizando sua
permanência ou a complementação de etapas de seu ciclo de vida naquele ambiente,
como a reprodução. Em contrapartida, outras espécies com biologia não tão restritiva,
geralmente possuem aptidão para utilização de diferentes tipos de abrigos, mas ainda
assim podem utilizar cavernas durante eventos reprodutivos ou em períodos de
condições ambientais adversas.
A formação de assembleias cavernícolas e a possibilidade de coexistência ou não
de várias espécies, torna-se possível pelo gradiente térmico dentro da caverna
99
(Rodríguez-Durán e Soto-Centeno, 2003). Uma única caverna pode possuir grande
variedade de microclimas e formações, como fendas e concavidades no teto, permitindo
sua colonização por espécies que possuam requisitos particulares, tais como condições
ideais de temperatura ou umidade (Altringham, 1996), e esse compartilhamento entre
várias espécies pode influenciar diretamente na variação da composição da comunidade
ao longo do ano. Isso ocorre, pois cada espécie possui uma tendência à divisão de
cavidades, como proposto para as cavernas mexicanas por Arita (1993), que classificou
os morcegos cavernícolas como individualistas, integracionistas ou indiferentes à
presença de outras espécies. Dentre as espécies da caverna “Meu Rei”, somente T.
bidens não foi classificada por Arita (1993), e C. perspicillata é a única aparentemente
indiferente às outras ocupantes, sendo todas as outras espécies da caverna
integracionistas, com tendência a ocorrer em cavidades com um elevado número de
espécies.
É possível então se afirmar que a composição de espécies de uma caverna, assim
como as características biológicas de integração e divisão do abrigo entre as espécies,
sejam indicativos da importância de um determinado abrigo no ambiente em que está
inserido. O predomínio de espécies essencialmente cavernícolas e com um perfil
integracionista demonstram a necessidade de um ambiente altamente rico para sua
permanência, pois além de não utilizarem outros tipos de abrigos, tendem a ocorrer em
cavidades com elevado número de espécies.
Aspectos reprodutivos de morcegos da Caatinga
O período e frequência de reprodução são os principais determinantes da história
de vida (Stearns 1992), sendo que os morcegos apresentam estratégias de história de
vida diferentes dos mamíferos do seu tamanho (Racey e Entwistle, 2000). Os estudos
com morcegos da Caatinga ainda são restritos, com poucos abordando os padrões
reprodutivos dessas espécies, sendo essa ainda uma grande lacuna do conhecimento
para a quiropterofauna da região. Mesmo assim, os padrões reprodutivos de algumas
das espécies de morcegos já foram há muito tempo descritos por Willig (1985b, 1985c).
As fêmeas de C. perspicillata apresentam um ciclo bimodal de lactação e
gestação na Caatinga, não sendo verificadas fêmeas gestantes somente em março e
junho, e com ausência de fêmeas lactantes entre setembro e outubro (Willig, 1985c). O
padrão bimodal da Caatinga condiz com o conhecido para a espécie em outras regiões,
100
já tendo sido relatado no Cerrado do Distrito Federal (Bredt et al., 1999) e nas
proximidades da Mata Atlâtica de São Paulo (Trajano, 1984)
A atividade reprodutiva conhecida para G. soricina na Caatinga indica um
padrão poliéstrico bimodal, com fêmeas grávidas de novembro a fevereiro e de abril a
agosto, com picos em dezembro e em junho (Willig, 1985c). Essa espécie foi registrada
em todos os meses nas cavernas do Distrito Federal, com fêmeas grávidas em seis
meses do ano (Bredt et al., 1999). Embora não tenham sido capturadas fêmeas
reprodutivas dessa espécie na caverna “Meu Rei”, sua ocorrência foi registrada em
períodos próximos aos conhecidos de gravidez e lactação, além do registro de machos
escrotados em períodos próximos aos picos reprodutivos de fêmeas.
Para algumas das outras espécies, Willig (1985b) relata os períodos onde foi
verificada atividade reprodutiva. A espécie T. bidens teve seu único relato de período
reprodutivo pela ocorrência de uma única fêmea grávida em setembro. O hematófago D.
ecaudata foi encontrado em atividade reprodutiva nos meses de junho e novembro, com
uma fêmea grávida e uma fêmea lactante, respectivamente. Para A. geoffroyi fêmeas
reprodutivas foram relatadas nos meses de janeiro e novembro, em ambos os meses com
fêmeas grávidas (Willig, 1985b), além do registro mais recente de atividade reprodutiva
de fêmeas em julho (Silva et al., 2004).
Embora muito se tente descrever padrões reprodutivos das espécies, esses
padrões podem ser imprevisíveis, uma vez que em ambientes instáveis podem ser
adotadas estratégias oportunistas, respondendo às mudanças das condições locais e com
procriação ocorrendo em períodos de condições adequadas (Bronson e Heideman,
1994). A Caatinga é um grande exemplo de irregularidade climática, sendo, portanto,
um potencial fator determinante do período reprodutivo de morcegos.
As Caatingas semi-áridas apresentam características metereológicas extremas,
com alta radiação solar, alta temperatura média anual, baixa umidade relativa e
precipitações mais baixas, sendo estas últimas irregulares e geralmente limitadas a um
período curto do ano (Reis, 1976). Quase toda a área da Caatinga apresenta uma
concentração de 50 a 70% de sua precipitação em três meses consecutivos, sendo a
duração de estação seca muito variável (Prado, 2003), chegando à completa ausência de
chuvas em alguns anos (Nimer, 1972).
Em ambientes que apresentam maior estabilidade, como florestas tropicais, são
verificadas menores flutuações na disponibilidade de alimento, resultando na ausência
de restrições sazonais reprodutivas (Happold e Happold, 1990b). Por outro lado,
101
ambientes extremos apresentam irregularidade na disponibilidade de alimentos, com
maior concentração da disponibilidade de recursos como flores e frutos durante um
curto período chuvoso (Barbosa et al., 2003), da mesma forma que a disponibilidade de
insetos, que costuma seguir os padrões de chuva e aumentar significamente no início
dos períodos chuvosos (Rautenbach et al., 1988). Dessa forma, em um ambiente
extremo como a Caatinga são esperadas variações na atividade reprodutiva de morcegos
em resposta à disponibilidade de recursos.
A atividade reprodutiva de muitas espécies de morcegos parece ser sincronizada
com os picos de disponibilidade de alimento (Racey, 1982), que é o período de maior
custo energético para fêmeas lactantes (Kurta et al., 1989). Espécies frugívoras e
insetívoras apresentam o período de lactação corresponde ao pico da estação chuvosa
(Fleming, 1971; Willig, 1985ª; Happold e Happold, 1990a), como C. perspicillata na
região nordeste do Brasil, que apresenta poliestria bimodal concentrada em períodos
chuvosos, quando há maior abundância e diversidade de frutos (Wilson, 1979). No
nordeste do Brasil, o nectarívoro G. soricina também apresenta poliestria bimodal, com
um pico no fim do período chuvoso e outro durante a estação seca (Wilson, 1979), pois
a floração geralmente ocorre durante a estação seca anterior à chuva (Hepburn e
Radloff, 1995). Para a outra espécie de nectarívoro presente na caverna “Meu Rei”, A.
geoffroyi, é esperada poliestria bimodal como de G. soricina, pois espécies com hábitos
alimentares similares costumam apresentar estratégias reprodutivas parecidas (Wilson,
1979), já sendo relatada em Trinidad sua atividade reprodutiva em períodos de seca
(Heideman et al., 1992). Do mesmo modo, D. ecaudata pode apresentar atividade
reprodutiva similar à do também hematófago Desmodus rotundus, que apresenta um
período de atividade constante e cíclico no nordeste, uma vez que explora um tipo de
recurso abundante durante todo o ano (Wilson, 1979).
Guildas alimentares e serviços ambientais prestados por morcegos na Caatinga
Quando se trata de morcegos, a grande diversidade de hábitos alimentares é uma
das características de maior destaque na ordem Chiroptera, com quase todos os grupos
tróficos representados (Reis et al., 2007). Essa variedade de hábitos alimentares garante
a prestação de diversos serviços ambientas por morcegos, assumindo papéis como
polinizadores, dispersores de sementes e até mesmo predadores e controladores de
populações de insetos em regiões tropicais (Fleming, 1982). Neste sentido, o
conhecimento dos recursos utilizados por uma espécie de morcegos e o detalhamento de
102
sua dieta são fatores cruciais para a compreensão de sua importância ambiental e os
serviços ambientais por ela prestados.
A polinização é um dos principais serviços ambientais conhecidamente
prestados por morcegos na Caatinga, com aproximadamente 13,1% das espécies
podendo ser polinizadas por quirópteros, o que representa o terceiro sistema de
polinização mais comum dessa vegetação (Machado e Lopes, 2004). Esta relação parece
ser extremamente benéfica para morcegos do semiárido, devido aos longos períodos de
disponibilidade de recursos florais. Na porção de Caatinga paraibana, Quirino e
Machado (2014) demonstraram uma floração assíncrona de espécies quiropterófilas, que
permaneceram floridas durante quase todo o período de dois anos amostrado,
ressaltando somente a ocorrência de um pequeno pico de floração no início da estação
seca.
Algumas das espécies já registradas no PARNA do Catimbau são
potencialmente polinizadas por morcegos, como cactáceas e bromeliáceas, abundantes
na área do parque. As cactáceas são exclusivamente zoófilas e apresentam uma ampla
variedade de polinizadores, incluindo-se os morcegos (Porsch, 1938). O consumo do
pólen de Pilosocereus tuberculatus pelo morcego beija-flor G. soricina indica a
importância destes morcegos na sua polinização, que entram no estigma das flores e
visitam outros indivíduos da espécie em sequência (Rocha et al., 2007). Tal cactácea é
endêmica da Caatinga (Braun e Esteves Pereira, 2003) e sua polinização por morcegos é
um forte indício da importância desses nectarívoros nesse ambiente, que podem auxiliar
na manutenção das populações de grupos como Cactaceae, que segundo Rocha et al.
(2007) vêm sofrendo crescente redução através do desenvolvimento agrícola. Outra
espécie polinizada por morcegos e presente no PARNA do Catimbau é a bromeliácea
Encholirium spectabile (Ferreira et al., 2015), que embora não se tenha confirmação das
espécies de morcegos que a visitam, é apontada como quiropterófila (Quirino &
Machado 2014). Além destas, há registro na área do parque da arbórea Lafoensia
glyptocarpa (Andrade et al., 2004), também utilizada como fonte de alimento por G.
soricina e outros filostomídeos como Phyllostomus discolor, P. hastatus, Artibeus
lituratus e Platyrrhinus lienatus (Fabián et al., 2008).
Os morcegos frugívoros também apresentam grande importância ambiental,
participando de processos essenciais à manutenção de ambientes florestais e
regeneração de áreas degradadas (Fleming e Sosa, 1994). Uma grande parcela destes
animais se alimenta de frutos de plantas pioneiras, dispersando suas sementes para
103
longe das matrizes durante seu deslocamento, que podem ser transportadas para
clareiras e áreas degradadas (Galindo-González et al., 2000), possibilitando o processo
de sucessão secundária (Charles-Dominique, 1986).
Um dos pontos chave para o entendimento das interações envolvendo frugívoros
é conhecer a disponibilidade de recursos, uma vez que estes animais dependem de
recursos sazonais (Galleti et al., 2006). Entretanto, os padrões fenológicos de
frutificação na Caatinga parecem ser pouco estudados, sendo essa uma região
recentemente explorada e ainda pouco estudada. Em um dos primeiros estudos
fenológicos mais rigorosos para a Caatinga, Griz e Machado (2001) relatam a zoocoria
como a síndrome de dispersão mais frequente neste ambiente, representado por 36% das
espécies monitoradas, e sendo, inclusive, a única forma de dispersão observada para
cactáceas. A maior parte das espécies neste ambiente parece frutificar na estação úmida,
período onde apresentam a zoocoria como forma de dispersão mais comum (38%),
enquanto na estação seca somente 29% das espécies frutificadas são dispersas por
animais, e a frutificação de plantas anemocóricas passa a se destacar (Griz e Machado
2001).
A compreensão dos serviços prestados pelos frugívoros da caverna “Meu Rei”
no PARNA do Catimbau ainda é limitada. Dentre as mais de 60 espécies vegetais
conhecidas no Brasil como alimento de C. perspicillata, somente Solanum paniculatum
já foi registrada nos limites do parque (Andrade et al., 2004). A probabilidade de
utilização desta planta por C. perspicillata é ressaltada por observações realizadas no
abrigo durante o monitoramento da congregação, onde foi constatado o depósito
constante de pilhas de fezes com sementes de Solanum no interior do abrigo, indicando
a utilização de Solanaceae como um importante recurso por C. perspicillata. Não foram
verificadas outras sementes nas fezes do chão da caverna, o que pode indicar uma
possível frutificação assíncrona destas plantas na região. Entretanto, é necessário se
estabelecer a eficiência de C. perspicillata na dispersão de Solanum, uma vez que a
deposição de sementes em ambientes cavernícolas pode tornar este ambiente um grande
sumidouro de sementes, que não irão se desenvolver no seu interior (Fadini e Castro,
2013), de forma que C. perspicillata pode ser mais importante pelo aporte de nutrientes
para o interior da caverna do que como dispersor de Solanum. Isso ressalta ainda mais a
importância de investimento em pesquisas com frugivoria e dispersão na Caatinga,
verificando-se não somente os itens consumidos pelos frugívoros, mas também as
104
sementes dispersas por morcegos durante o voo, avaliando-se, por exemplo, a chuva de
sementes dessas regiões.
Os morcegos insetívoros formam outro grupo trófico que presta importantes
serviços ambientais, controlando populações de insetos, incluindo-se algumas pragas
agrícolas (Boyles et al., 2011) e vetores (Reiskind e Wund, 2009), o que os fornece um
importante papel ambiental, econômico e de saúde pública. Os morcegos insetívoros
podem consumir centenas de mosquitos por hora (Tuttle, 1988), e provavelmente
incluem diversos vetores na sua dieta. Em experimentos conduzidos com espécies de
Culex em Michigan, o consumo de fêmeas desses dípteros por morcegos causou a
diminuição de 32% na oviposição, além de uma redução no número de mosquitos
imaturos (Reiskind e Wund, 2009). Na Austrália, o estudo da dieta de cinco espécies de
insetívoros revelou a predação de 40 taxa, incluindo-se ao menos duas espécies de
Aedes (Gonsalves et al., 2013).
Os morcegos insetívoros podem ser benéficos à economia do setor agrícola, se
alimentando de insetos considerados pragas. Em Indiana, estima-se que uma única
colônia de Eptesicus fuscus coma cerca de 1,3 milhões de insetos de espécies
consideradas pragas em uma única noite, sendo potenciais controladores e redutores das
populações dessas espécies (Whitaker, 1995). Somente para as culturas de algodão dos
Estados Unidos, estima-se que os morcegos gerem uma economia de, no mínimo, 3,7
bilhões de dólares ao ano, podendo chegar a 53 bilhões, somente na prestação de
serviços de controle de pragas agrícolas (Boyles et al., 2011). Considerando-se seu
potencial de controlador de populações de pragas, os possíveis impactos de uma colônia
com mais de 120 mil indivíduos de Pteronotus gymnonotus no PARNA do Catimbau,
assim como a importância para as famílias ainda presentes no interior e no entorno do
parque, que em grande parte desenvolvem atividades agrícolas de subsistência, podem
ser consideráveis.
Em uma análise de horizontes sobre a conservação de morcegos no Brasil,
Bernard et al. (2012) apontam a necessidade de quantificar e valorar os serviços
ambientais prestados por morcegos no Brasil, sendo o segundo tema mais relevante à
ser explorado sobre os quirópteros brasileiros. Assim como em outros países, os
morcegos brasileiros certamente prestam serviços ambientais nos biomas brasileiros,
seja no controle de pragas agrícolas por insetívoros ou na recuperação de áreas degradas
por nectarívoros e frugívoros, porém esse tema ainda é negligenciado, não se sabendo
ao certo o real valor dos serviços prestados por morcegos (Bernard et al., 2012). Embora
105
o conhecimento sobre a dieta de morcegos seja relativamente bem explorado no Brasil,
essas informações são restritas a um pequeno número de espécies dentre a elevada
diversidade encontrada pela extensão do território brasileiro, sendo geralmente
abordado em caráter descritivo com espécies frugívoras. De certa forma, esse quadro é
agravado por esforços ainda insípidos nas pesquisas em ambientes cavernícolas e, por
consequência, das espécies a eles associadas. É notável ainda a dificuldade na
determinação e identificação dos itens consumidos por morcegos insetívoros, deixando-
se assim uma imensa lacuna pela ausência de informações dessa parcela da
biodiversidade.
Ameaças às espécies vulneráveis e importância da conservação da caverna “Meu Rei”
É essencial destinar maiores esforços para a proteção de ambientes cavernícolas,
que atualmente apresentam como maior ameaça as mudanças na legislação que
retiraram sua proteção. As cavidades naturais subterrâneas recebiam proteção integral
até o ano de 2008, com sua exploração somente em condições que assegurassem sua
integridade física e manutenção do equilíbrio ecológico, sendo necessários processos de
licenciamento ambiental para liberação de seu uso (Brasil, 1990). Entretanto, o Decreto
Presidencial (DP) 6.640/08 de 2008 retirou a proteção inerente à todas as cavidades
naturais brasileiras, de modo que sua proteção se tornou dependente de seu grau de
relevância, determinado pela análise de oito atributos (Brasil, 2008). De acordo com a
legislação vigente, cavernas consideradas de alta, média ou baixa relevância podem ser
objeto de impactos negativos irreversíveis, mediante licenciamento ambiental, enquanto
somente cavidades de máxima relevância ainda possuem a proteção anteriormente
destinadas à todas as cavidades (Brasil, 2008).
A caverna “Meu Rei” foi recentemente avaliada quanto ao seu grau de
relevância e apontada por Azevedo e Bernard (2015) como de máxima relevância. Para
ser classificada como de máxima relevância, a cavidade natural precisa a presentar ao
menos um de onze atributos constantes do DP 6.640/08 (Brasil 2008), dos quais dois
são encontrados na caverna “Meu Rei”. Segundo o estudo de Azevedo e Bernard
(2015), a caverna possui dimensões notáveis de extensão, sendo superior a cinco vezes à
média das cavidades do PARNA, além de possuir espeleotemas únicos, com estalactites
ativas encontradas somente nesta caverna.
A presença de populações geneticamente viáveis de espécies ameaçadas de
extinção também é um dos atributos que definem a máxima relevância de uma caverna
106
(Brasil, 2008). Embora a presença de espécies ameaçadas não seja apontada por
Azevedo e Bernard (2015) como um determinante para a classificação da caverna “Meu
Rei”, a presença das espécies N. macrourus e L. aurita deve ser considerada como um
fator importante para determinação da proteção da caverna, sendo N. macrourus
apontada como em Risco Próximo pela IUCN (2015) e ambas consideradas Vulneráveis
na lista nacional (MMA, 2014).
A espécie N. macrourus já foi registrada em 15 estados brasileiros e no Distrito
Federal (Leal et al., 2012; Rocha et al., 2013), onde são registradas se abrigando
somente em cavidades naturais, o que justifica sua classificação como essencialmente
cavernícola (Guimarães e Ferreira, 2014). Vários natalídeos da região das Antilhas são
restritos as hot caves por todo o ano ou durante o período reprodutivo (Ladle et al.
2012) e, embora informações sobre N. macrourus sejam limitadas pela falta de estudos
de longo prazo, os dados obtidos na caverna “Meu Rei” demonstram a importância do
abrigo para a espécie.
O registro constante de N. macrourus na caverna associado à ausência de
registros de atividade reprodutiva indicam a ocupação durante todo o ano e não somente
em período reprodutivo, sendo os abrigos deste tipo essenciais para a existência da
espécie. De modo geral, natalídeos possuem baixa capacidade de dispersão (Ladle et al.
2012) e, em casos como o da rara espécie N. major, sua associação exclusiva com hot
caves cria um potencial relativamente alto de extinção (Tejedor et al., 2004). As
espécies adaptadas à hot caves apresentam esse alto risco de extirpação quando abrigos
com características geomorfológicas semelhantes são escassos (Ladle et al., 2012), o
que pode ocorrer no PARNA do Catimbau, onde não são registradas cavidades com
características morfológicas similares à caverna “Meu Rei”, tais como dimensão e
espelotemas ativos (Azevedo e Bernard, 2015).
Outra espécie considerada vulnerável pela lista do MMA (2014), L. aurita, é
prioritariamente relatada em cavernas (Esbérard et al., 1997), embora já tenha sido
registrada em tubulações de água (Mendes et al., 2011). Morcegos dessa espécie estão
frequentemente associados a habitats florestais preservados e regiões com presença de
cavernas (Handley e Ochoa, 1997), sendo considerado comum em áreas com elevada
concentração de cavernas (Reid, 2009). Das 269 cavernas que já tiveram a
quiropterofauna estudada no Brasil, L. aurita foi encontrada em 34 delas (12,64%),
sendo a décima espécie mais frequente em cavidades naturais (Guimarães e Ferreira,
2014). Embora seja comum em regiões com cavernas, sua baixa frequência de registros
107
em cavidades naturais é provavelmente resultante da falta de longos monitoramentos
destes abrigos, uma vez que esta espécie pode não estar constantemente no mesmo
abrigo, como relatado no presente estudo.
Assim como N. macrourus, que mesmo possuindo ampla distribuição é
classificada como “Em Risco Próximo” pela IUCN (2015) por sua dependência de
cavernas (Dávalos e Tejedor, 2008), todas as espécies essencialmente cavernícolas
deveriam ser consideradas na mesma categoria, uma vez que também dependem de
cavernas para sua preservação (Guimarães e Ferreira, 2014). Quando considerada a
diminuição da proteção de cavidades naturais pelo Decreto 6.640/08 (Brasil, 2008) esse
quadro pode se tornar ainda mais grave, uma vez que cavidades que abriguem espécies
essencialmente cavernícolas são passíveis de sofrer danos irreversíveis caso não
apresentem algum atributo que as classifiquem como de máxima relevância, reduzindo
descontrolavelmente essas populações.
Colônias de morcegos cavernícolas geralmente apresentam espécies ameaçadas
onde quer que estejam presentes (Nowak, 1994), sendo que muitos destes animais são
vulneráveis às perturbações antrópicas (Culver, 1986). O maior fator de deterioração
dos ambientes terrestres é a visitação excessiva (Tercafs, 1992).
Siles et al. (2007) apontam a visitação em cavernas como uma possível
perturbação em cavidades naturais da Bolívia, onde notaram a presença de visitantes
gritando no interior dos abrigos e iluminando os morcegos com fortes luzes. Nesse
mesmo estudo, os autores destacam a maior abundância de morcegos em cavernas que
não são abertas a visitação, recomendando que as mesmas permaneçam fechadas para o
público.
Além da visitação pública a própria incursão de pesquisadores no interior das
cavernas pode ser um fator de perturbação das colônias, porém essas perturbações são
raramente relatadas. Em estudo sobre a organização social de Phyllostomus hastatus em
Trinidad, McCracken e Bradbury (1981) relatam a formação de pequenos haréns de
fêmeas emigrantes de outros grupos, possivelmente em resposta à perturbação causada
durante as coletas anteriores em suas colônias originais. Na Bolívia, P. hastatus
abandonou uma das cavernas estudadas por Siles et al. (2007), que apontaram um
possível abandono por perturbações causadas por visitantes e pelas atividades do
estudo. No caso da caverna “Meu Rei”, a entrada dos pesquisadores durante o
desenvolvimento deste trabalho pode ser um fator de perturbação do abrigo.
108
A diminuição ou perda de colônias pode ser um fator altamente impactante em
nível local ou regional, resultando na perda de serviços ambientais prestados por
morcegos. Nos Estados Unidos, a Síndrome do Nariz Branco (White-nose syndrome)
vêm afetando morcegos cavernícolas durante sua hibernação, principalmente insetívoros
da espécie Myotis lucifugus, com estimativas de mortalidade superiores a 75% das
colônias nos dois primeiros anos de observação da doença (Blehert et al., 2009).
Considerando-se que cada indivíduo de M. lucifugus consome entre 4 g e 8 g de insetos
por noite durante o verão (Anthony e Kunz, 1977), Boyles e Willis (2010) estimaram o
consumo de insetos anual por cada morcego da área afetada entre 660 a 1320 gramas de
insetos, que representam entre 330 e 600 toneladas que deixaram de ser consumidos
anualmente pelos morcegos mortos. Os impactos da perda de frugívoros e nectarívoros
não são conhecidos, e embora uma pequena parcela da abundância encontrada na
caverna “Meu Rei”, eles potencialmente contribuem na prestação de serviços
ambientais no PARNA, de modo que sua perda também resultaria em um grande
impacto ambiental nos serviços ecossistêmicos.
Segundo Tercafs (1992), a melhor forma de minimizar possíveis impactos em
cavidades naturais é limitar a visitação, mesmo que não continuamente, ao menos por
períodos específicos como durante a reprodução. Porém, com base nas observações
realizadas na caverna “Meu Rei”, o período reprodutivo das espécies não parece ser
restrito há um período determinado. Sendo assim, impedir as visitações é uma ação
prioritária neste local, que pode ser atualmente um dos maiores abrigos de morcegos
conhecido para o Brasil e está situado nos limites de um Parque Nacional. A restrição às
visitações é importante devido ao acesso livre que a população tem ao abrigo, mesmo
que a caverna não seja caracterizada por uma beleza cênica ou possua recursos que
justifiquem sua exploração turística ou econômica. Da mesma forma, evitar a
intensificação de atividades de pesquisa em uma mesma cavidade pode ser uma ação
preventiva necessária, uma vez que não é conhecido ao certo o limiar entre uma ação de
perturbação pontual e uma perturbação crônica, sendo necessário um controle estrito da
liberação de pesquisas pelo ICMBio.
Agradecimentos
Ao CNPq e Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza pelo
financiamento do projeto. Ao PELD Catimbau pelo apoio logístico em campo. Aos
integrantes do Laboratório de Ciência Aplicada à Conservação da Biodiversidade pelo
109
auxílio na coleta de dados. À equipe do Voxar Labs pelo apoio técnico no
desenvolvimento do sistema. À Facepe pela bolsa concedida ao primeiro autor.
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120
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Ecology, 9(1): 117-120.
121
Figura 1. Esquema da caverna “Meu Rei” com a distribuição das câmaras. Adaptado do
Croqui elaborado pelo CECAV (2015).
122
Figura 2. Número estimado de morcegos na primeira e segunda noites de amostragem
entre outubro de 2014 e setembro de 2015 na caverna “Meu Rei”, Tupanatinga,
Pernambuco.
0
20000
40000
60000
80000
100000
120000
140000
Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set
Nú
mer
o e
stim
ad
o d
e m
orc
ego
s
1° Noite 2° Noite
123
Figura 3. Registro temporal (barras negras) de presença das espécies de morcegos
ocorrentes entre outubro de 2014 e setembro de 2015 na caverna “Meu Rei”,
Tupanatinga, Pernambuco.
124
Figura 4. Registro temporal (barras negras) de presença de machos reprodutivos para as
espécies de morcegos ocorrentes entre outubro de 2014 e setembro de 2015 na caverna
“Meu Rei”, Tupanatinga, Pernambuco.
125
Figura 5. Registro temporal (barras negras) de presença de fêmeas reprodutivas para as
espécies de morcegos ocorrentes entre outubro de 2014 e setembro de 2015 na caverna
“Meu Rei”, Tupanatinga, Pernambuco.
126
Tabela 1. Número de capturas, tipo de ocupação, constância, guildas tróficas e status de conservação das espécies de morcegos
ocorrentes na caverna “Meu Rei” no Parque Nacional do Catimbau, Tupanatinga, Pernambuco. TO – Tipo de ocupação: EC –
Essencialmente Cavernícola; CO – Cavernícola Oportunista; C – Constância; Cons – Constante; Aces – Acessória; Acid –
Acidental; Hema – Hematófago; Nect – Nectarívoro; Inse – Insetívoro; Oniv – Onívoro; Frug – Frugívoro; LC – Pouco
preocupante; NT – Quase ameaçada; DD – Deficiente em dados; NA – Não Ameaçada, VU – Vulnerável.
Táxon Fêmea Macho
Total TO C (%) Guilda IUCN MMA Jovem Adulto Jovem Adulto
Phyllostomidae
Desmodontinae
Diphylla ecaudata Spix, 1823 4 7 5 13 29 EC Cons (100,00) Hema LC NA
Glossophaginae
Anoura geoffroyi Gray, 1838 - 4 - 1 5 EC Acid (14,29) Nect LC NA
Glossophaga soricina (Pallas, 1766) - 2 - 3 5 CO Aces (28,57) Nect LC NA
Phyllostominae
Lonchorhina aurita Tomes, 1863 3 6 3 2 14 EC Aces (35,71) Inse LC VU
Tonatia bidens Spix (1823) - 1 - - 1 CO Acid (7,14) Oniv DD NA
Carolliinae
Carollia perspicillata (Linnaeus, 1758) 4 10 1 22 37 CO Cons (100,00) Frug LC NA
Mormoopidae
Pteronotus gymnonotus Natterer, 1843 10 37 8 51 106 EC Cons (100,00) Inse LC NA
Natalidae
Natalus macrourus (Ruschi, 1951) - 4 - 3 7 EC Cons (100,00) Inse NT VU
127
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A caverna “Meu Rei” é um abrigo estável para uma grande quantidade de
morcegos do PARNA Catimbau, onde estes animais podem evitar as grandes oscilações
no clima do ambiente externo. Mais do que isso, de modo geral, essa caverna é
potencialmente importante para a quiropterofauna da Caatinga, visto que somente seis
das cavernas conhecidas para o bioma apresentam um nível de riqueza igual ou superior
à encontrada na caverna “Meu Rei”.
Mesmo com tamanha estabilidade desse abrigo, as oscilações no tamanho da
congregação são notáveis, variando de dezenas a dezenas de milhares de indivíduos.
Essa flutuação da congregação parece estar ligada às cariações climáticas do ambiente
externo, porém não com uma resposta imediata às oscilações diárias, mas sim a duração
de um clima desfavorável durante um intervalo de tempo mais prolongado, como o de
quinze dias indicados no presente estudo.
O entendimento da dinâmica da congregação no abrigo e suas flutuações
dependem também da composição dessa comunidade, sendo necessário se considerar a
biologia e ecologia de cada espécie. No caso da caverna “Meu Rei”, a congregação de
morcegos é composta majoritariamente por animais insetívoros, sendo sua permanência
sujeita à disponibilidade de insetos na região. Considerando-se que a disponibilidade de
insetos costuma ser maior em períodos chuvosos, a variação na quantidade de morcegos
no abrigo pode ser decorrente da disponibilidade de insetos nas semanas anteriores à
realização do censo, podendo a temperatura e pluviosidade estar influenciando
indiretamente na abundância de animais.
Para as espécies de outras guildas alimentares, as oscilações de temperatura e
pluviosidade podem ser o motivo de sua presença na caverna, devido à estabilidade do
abrigo. Isso é ressaltado pela presença de quase todas as espécies em atividade
reprodutiva no interior do abrigo, sendo que algumas delas só estiveram presentes em
períodos próximos ao constatado de sua reprodução. Portanto, o monitoramento
simultâneo de variáveis climáticas e de fatores biológicos que possam afetar a presença
de morcegos é altamente recomendável, pois permitiria a determinação de uma
influência direta ou indireta da variação climática sobre congregações de morcegos
cavernícolas.
É importante ressaltar, ainda, que os morcegos da caverna “Meu Rei”
apresentam grande importância na manutenção desse ambiente, influenciando
128
diretamente o microclima do interior do abrigo. Além disso, esses animais são
necessários também na manutenção do ambiente externo, pois são prestadores de
serviços ambientais com grande impacto no ambiente de entorno. As espécies
encontradas na caverna “Meu Rei” são essenciais aos processos ecossistêmicos no
PARNA do Catimbau, podendo ser polinizadores e dispersores essenciais em um
ambiente geralmente tão desfavorável quanto a Caatinga.
É essencial destinar uma maior atenção aos ambientes cavernícolas brasileiros,
que abrigam espécies consideradas vulneráveis à extinção, como N. macrourus e L.
aurita na caverna “Meu Rei”. Deve-se considerar ainda a ameaça às espécies
essencialmente cavernícolas, que podem responder negativamente às perturbações
nestes sistemas.
129
NORMAS DA REVISTA Ecologial Informatics (ISSN 1574-9541)
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130
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131
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132
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133
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Article structure Subdivision - numbered sections
Divide your article into clearly defined and numbered sections. Subsections should be numbered 1.1 (then 1.1.1, 1.1.2, ...), 1.2, etc. (the abstract is not included in section numbering). Use this numbering also for internal cross-referencing: do not just refer to 'the text'. Any subsection may be given a brief heading. Each heading should appear on its own separate line.
Introduction
State the objectives of the work and provide an adequate background, avoiding a detailed literature survey or a summary of the results.
Material and methods
134
Provide sufficient detail to allow the work to be reproduced. Methods already published should be indicated by a reference: only relevant modifications should be described, study area descriptions, methods, techniques.
Theory/calculation
A Theory section should extend, not repeat, the background to the article already dealt with in the Introduction and lay the foundation for further work. In contrast, a Calculation section represents a practical development from a theoretical basis.
Results
Results should be clear and concise.
Discussion
This should explore the significance of the results of the work, not repeat them. A combined Results and Discussion section is often appropriate. Avoid extensive citations and discussion of published literature.
Conclusions
The main conclusions of the study may be presented in a short Conclusions section, which may stand alone or form a subsection of a Discussion or Results and Discussion section.
Appendices
If there is more than one appendix, they should be identified as A, B, etc. Formulae and equations in appendices should be given separate numbering: Eq. (A.1), Eq. (A.2), etc.; in a subsequent appendix, Eq. (B.1) and so on. Similarly for tables and figures: Table A.1; Fig. A.1, etc.
Essential title page information • Title. Concise and informative. Titles are often used in information-retrieval systems. Avoid abbreviations and formulae where possible.
• Author names and affiliations. Please clearly indicate the given name(s) and family name(s) of each author and check that all names are accurately spelled. Present the authors' affiliation addresses (where the actual work was done) below the names. Indicate all affiliations with a lower-case superscript letter immediately after the author's name and in front of the appropriate address. Provide the full postal address of each affiliation, including the country name and, if available, the e-mail address of each author. • Corresponding author. Clearly indicate who will handle correspondence at all stages of refereeing and publication, also post-publication. Ensure that the e-mail address is given and that contact details are kept up to date by the corresponding author. • Present/permanent address. If an author has moved since the work described in the article was done, or was visiting at the time, a 'Present address' (or 'Permanent address') may be indicated as a footnote to that author's name. The address at which the author actually did the work must be retained as the main, affiliation address. Superscript Arabic numerals are used for such footnotes.
135
Abstract
A concise and factual abstract is required. The abstract should state briefly the purpose of the research, the principal results and major conclusions. An abstract is often presented separately from the article, so it must be able to stand alone. For this reason, References should be avoided, but if essential, then cite the author(s) and year(s). Also, non-standard or uncommon abbreviations should be avoided, but if essential they must be defined at their first mention in the abstract itself. The abstract should be no longer than 400 words.
Graphical abstract Although a graphical abstract is optional, its use is encouraged as it draws more attention to the online article. The graphical abstract should summarize the contents of the article in a concise, pictorial form designed to capture the attention of a wide readership. Graphical abstracts should be submitted as a separate file in the online submission system. Image size: Please provide an image with a minimum of 531 × 1328 pixels (h × w) or proportionally more. The image should be readable at a size of 5 × 13 cm using a regular screen resolution of 96 dpi. Preferred file types: TIFF, EPS, PDF or MS Office files. See https://www.elsevier.com/graphicalabstracts for examples. Authors can make use of Elsevier's Illustration and Enhancement service to ensure the best presentation of their images and in accordance with all technical requirements: Illustration Service.
Highlights Highlights are mandatory for this journal. They consist of a short collection of bullet points that convey the core findings of the article and should be submitted in a separate editable file in the online submission system. Please use 'Highlights' in the file name and include 3 to 5 bullet points (maximum 85 characters, including spaces, per bullet point). See https://www.elsevier.com/highlights for examples.
Keywords
Immediately after the abstract, provide four to six keywords, using American spelling and avoiding general and plural terms and multiple concepts (avoid, for example, "and", "of"). Be sparing with abbreviations: only abbreviations firmly established in the field may be eligible. These keywords will be used for indexing purposes.
Abbreviations Define abbreviations that are not standard in this field in a footnote to be placed on the first page of the article. Such abbreviations that are unavoidable in the abstract must be defined at their first mention there, as well as in the footnote. Ensure consistency of abbreviations throughout the article.
Acknowledgements Collate acknowledgements in a separate section at the end of the article before the references and do not, therefore, include them on the title page, as a footnote to the title or otherwise. List here those individuals who provided help during the research (e.g., providing language help, writing assistance or proof reading the article, etc.).
136
Nomenclature and units
Authors and editors are, by general agreement, obliged to accept the rules governing biological nomenclature as laid down in the International Code of Botanical Nomenclature, the International Code of Nomenclature of Bacteria, and the International Code of Zoological Nomenclature. All biotica (crops, plants, insects, birds, mammals, etc.) should be identified by their scientific names when the English term is first used, with the exception of common domestic animals. All biocides and other organic compounds must be identified by their Geneva names when first used in the text.
For chemical nomenclature, the conventions of the International Union of Pure and Applied Chemistry and the official recommendations of theIUPAC–IUB Combined Commission on Biochemical Nomenclatureshould be followed
Footnotes Footnotes should be used sparingly. Number them consecutively throughout the article. Many word processors build footnotes into the text, and this feature may be used. Should this not be the case, indicate the position of footnotes in the text and present the footnotes themselves separately at the end of the article.
Artwork Electronic artwork General points
• Make sure you use uniform lettering and sizing of your original artwork. • Preferred fonts: Arial (or Helvetica), Times New Roman (or Times), Symbol,
Courier. • Number the illustrations according to their sequence in the text. • Use a logical naming convention for your artwork files. • Indicate per figure if it is a single, 1.5 or 2-column fitting image. • For Word submissions only, you may still provide figures and their captions, and tables within a single file at the revision stage. • Please note that individual figure files larger than 10 MB must be provided in separate source files. A detailed guide on electronic artwork is available on our website: https://www.elsevier.com/artworkinstructions. You are urged to visit this site; some excerpts from the detailed information are given here.
Formats
Regardless of the application used, when your electronic artwork is finalized, please 'save as' or convert the images to one of the following formats (note the resolution requirements for line drawings, halftones, and line/halftone combinations given below): EPS (or PDF): Vector drawings. Embed the font or save the text as 'graphics'. TIFF (or JPG): Color or grayscale photographs (halftones): always use a minimum of 300 dpi. TIFF (or JPG): Bitmapped line drawings: use a minimum of 1000 dpi. TIFF (or JPG): Combinations bitmapped line/half-tone (color or grayscale): a minimum of 500 dpi is required. Please do not: • Supply files that are optimized for screen use (e.g., GIF, BMP, PICT, WPG); the
resolution is too low. • Supply files that are too low in resolution.
137
• Submit graphics that are disproportionately large for the content.
Color artwork
Please make sure that artwork files are in an acceptable format (TIFF (or JPEG), EPS (or PDF), or MS Office files) and with the correct resolution. If, together with your accepted article, you submit usable color figures then Elsevier will ensure, at no additional charge, that these figures will appear in color online (e.g., ScienceDirect and other sites) regardless of whether or not these illustrations are reproduced in color in the printed version. For color reproduction in print, you will receive information regarding the costs from Elsevier after receipt of your accepted article. Please indicate your preference for color: in print or online only. For further information on the preparation of electronic artwork, please see https://www.elsevier.com/artworkinstructions.
Figure captions
Ensure that each illustration has a caption. A caption should comprise a brief title (not on the figure itself) and a description of the illustration. Keep text in the illustrations themselves to a minimum but explain all symbols and abbreviations used.
Tables
Number tables consecutively in accordance with their appearance in the text. Place footnotes to tables below the table body and indicate them with superscript lowercase letters. Avoid vertical rules. Be sparing in the use of tables and ensure that the data presented in tables do not duplicate results described elsewhere in the article. Authors should take notice of the limitations set by the size and layout of the journal. Large tables should be avoided. Reversing columns and rows will often reduce the dimensions of a table. If many data are to be presented, an attempt should be made to divide them over two or more tables. The text should include reference to all tables.
References Citation in text
Please ensure that every reference cited in the text is also present in the reference list (and vice versa). Any references cited in the abstract must be given in full. Unpublished results and personal communications are not recommended in the reference list, but may be mentioned in the text. If these references are included in the reference list they should follow the standard reference style of the journal and should include a substitution of the publication date with either 'Unpublished results' or 'Personal communication'. Citation of a reference as 'in press' implies that the item has been accepted for publication.
Reference links
Increased discoverability of research and high quality peer review are ensured by online links to the sources cited. In order to allow us to create links to abstracting and indexing services, such as Scopus, CrossRef and PubMed, please ensure that data provided in the references are correct. Please note that incorrect surnames, journal/book titles, publication year and pagination may prevent link creation. When copying references, please be careful as they may already contain errors. Use of the DOI is encouraged.
138
Web references
As a minimum, the full URL should be given and the date when the reference was last accessed. Any further information, if known (DOI, author names, dates, reference to a source publication, etc.), should also be given. Web references can be listed separately (e.g., after the reference list) under a different heading if desired, or can be included in the reference list.
References in a special issue
Please ensure that the words 'this issue' are added to any references in the list (and any citations in the text) to other articles in the same Special Issue.
Reference management software
Most Elsevier journals have their reference template available in many of the most popular reference management software products. These include all products that support Citation Style Language styles (http://citationstyles.org), such as Mendeley (http://www.mendeley.com/features/reference-manager) and Zotero (https://www.zotero.org/), as well as EndNote (http://endnote.com/downloads/styles). Using the word processor plug-ins from these products, authors only need to select the appropriate journal template when preparing their article, after which citations and bibliographies will be automatically formatted in the journal's style. If no template is yet available for this journal, please follow the format of the sample references and citations as shown in this Guide.
Users of Mendeley Desktop can easily install the reference style for this journal by clicking the following link: http://open.mendeley.com/use-citation-style/ecological-informatics When preparing your manuscript, you will then be able to select this style using the Mendeley plug- ins for Microsoft Word or LibreOffice.
Reference formatting
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Reference style
Text: All citations in the text should refer to: 1. Single author: the author's name (without initials, unless there is ambiguity) and the year of publication; 2. Two authors: both authors' names and the year of publication; 3. Three or more authors: first author's name followed by 'et al.' and the year of publication. Citations may be made directly (or parenthetically). Groups of references
139
should be listed first alphabetically, then chronologically. Examples: 'as demonstrated (Allan, 2000a, 2000b, 1999; Allan and Jones, 1999). Kramer et al. (2010) have recently shown ....'
List: References should be arranged first alphabetically and then further sorted chronologically if necessary. More than one reference from the same author(s) in the same year must be identified by the letters 'a', 'b', 'c', etc., placed after the year of publication. Examples:
Reference to a journal publication: Van der Geer, J., Hanraads, J.A.J., Lupton, R.A., 2010. The art of writing a scientific article. J. Sci. Commun. 163, 51–59. Reference to a book: Strunk Jr., W., White, E.B., 2000. The Elements of Style, fourth ed. Longman, New York. Reference to a chapter in an edited book: Mettam, G.R., Adams, L.B., 2009. How to prepare an electronic version of your article, in: Jones, B.S., Smith , R.Z. (Eds.), Introduction to the Electronic Age. E-Publishing Inc., New York, pp. 281–304. Reference to a website: Cancer Research UK, 1975. Cancer statistics reports for the UK. http://www.cancerresearchuk.org/ aboutcancer/statistics/cancerstatsreport/ (accessed 13.03.03).
Journal abbreviations source
Journal names should be abbreviated according to the List of Title Word Abbreviations: http://www.issn.org/services/online-services/access-to-the-ltwa/.
Video data Elsevier accepts video material and animation sequences to support and enhance your scientific research. Authors who have video or animation files that they wish to submit with their article are strongly encouraged to include links to these within the body of the article. This can be done in the same way as a figure or table by referring to the video or animation content and noting in the body text where it should be placed. All submitted files should be properly labeled so that they directly relate to the video file's content. In order to ensure that your video or animation material is directly usable, please provide the files in one of our recommended file formats with a preferred maximum size of 150 MB. Video and animation files supplied will be published online in the electronic version of your article in Elsevier Web products, including ScienceDirect: http://www.sciencedirect.com. Please supply 'stills' with your files: you can choose any frame from the video or animation or make a separate image. These will be used instead of standard icons and will personalize the link to your video data. For more detailed instructions please visit our video instruction pages at https://www.elsevier.com/artworkinstructions. Note: since video and animation cannot be embedded in the print version of the journal, please provide text for both the electronic and the print version for the portions of the article that refer to this content.
AudioSlides The journal encourages authors to create an AudioSlides presentation with their published article. AudioSlides are brief, webinar-style presentations that are shown next to the online article on ScienceDirect. This gives authors the opportunity to summarize their research in their own words and to help readers understand what the
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paper is about. More information and examples are available at https://www.elsevier.com/audioslides. Authors of this journal will automatically receive an invitation e-mail to create an AudioSlides presentation after acceptance of their paper.
Supplementary material Supplementary material can support and enhance your scientific research. Supplementary files offer the author additional possibilities to publish supporting applications, high-resolution images, background datasets, sound clips and more. Please note that such items are published online exactly as they are submitted; there is no typesetting involved (supplementary data supplied as an Excel file or as a PowerPoint slide will appear as such online). Please submit the material together with the article and supply a concise and descriptive caption for each file. If you wish to make any changes to supplementary data during any stage of the process, then please make sure to provide an updated file, and do not annotate any corrections on a previous version. Please also make sure to switch off the 'Track Changes' option in any Microsoft Office files as these will appear in the published supplementary file(s). For more detailed instructions please visit our artwork instruction pages at https://www.elsevier.com/artworkinstructions.
Database linking Elsevier encourages authors to connect articles with external databases, giving readers access to relevant databases that help to build a better understanding of the described research. Please refer to relevant database identifiers using the following format in your article: Database: xxxx (e.g., TAIR: AT1G01020; CCDC: 734053; PDB: 1XFN). See https://www.elsevier.com/databaselinking for more information and a full list of supported databases.
Google Maps and KML files KML (Keyhole Markup Language) files (optional): You can enrich your online articles by providing KML or KMZ files which will be visualized using Google maps. The KML or KMZ files can be uploaded in our online submission system. KML is an XML schema for expressing geographic annotation and visualization within Internet-based Earth browsers. Elsevier will generate Google Maps from the submitted KML files and include these in the article when published online. Submitted KML files will also be available for downloading from your online article on ScienceDirect. For more information see https://www.elsevier.com/googlemaps.
Interactive plots This journal enables you to show an Interactive Plot with your article by simply submitting a data file. For instructions please go to https://www.elsevier.com/interactiveplots.
Submission checklist The following list will be useful during the final checking of an article prior to sending it to the journal for review. Please consult this Guide for Authors for further details of any item. Ensure that the following items are present: One author has been designated as the corresponding author with contact details: • E-mail address • Full postal address All necessary files have been uploaded, and contain: • Keywords
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• All figure captions • All tables (including title, description, footnotes) Further considerations • Manuscript has been 'spell-checked' and 'grammar-checked' • All references mentioned in the Reference list are cited in the text, and vice versa • Permission has been obtained for use of copyrighted material from other sources (including the Internet) Printed version of figures (if applicable) in color or black-and-white • Indicate clearly whether or not color or black-and-white in print is required. For any further information please visit our customer support site at http://support.elsevier.com.
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Use of the Digital Object Identifier The Digital Object Identifier (DOI) may be used to cite and link to electronic documents. The DOI consists of a unique alpha-numeric character string which is assigned to a document by the publisher upon the initial electronic publication. The assigned DOI never changes. Therefore, it is an ideal medium for citing a document, particularly 'Articles in press' because they have not yet received their full bibliographic information. Example of a correctly given DOI (in URL format; here an article in the journal Physics Letters B): http://dx.doi.org/10.1016/j.physletb.2010.09.059 When you use a DOI to create links to documents on the web, the DOIs are guaranteed never to change.
Online proof correction Corresponding authors will receive an e-mail with a link to our online proofing system, allowing annotation and correction of proofs online. The environment is similar to MS Word: in addition to editing text, you can also comment on figures/tables and answer questions from the Copy Editor. Web-based proofing provides a faster and less error-prone process by allowing you to directly type your corrections, eliminating the potential introduction of errors. If preferred, you can still choose to annotate and upload your edits on the PDF version. All instructions for proofing will be given in the e-mail we send to authors, including alternative methods to the online version and PDF.
We will do everything possible to get your article published quickly and accurately. Please use this proof only for checking the typesetting, editing, completeness and correctness of the text, tables and figures. Significant changes to the article as accepted for publication will only be considered at this stage with permission from the Editor. It is important to ensure that all corrections are sent back to us in one communication. Please check carefully before replying, as inclusion of any subsequent corrections cannot be guaranteed. Proofreading is solely your responsibility.
Offprints The corresponding author, at no cost, will be provided with a personalized link providing 50 days free access to the final published version of the article on ScienceDirect. This link can also be used for sharing via email and social networks. For an extra charge, paper offprints can be ordered via the offprint order form which is sent once the article is accepted for publication. Both corresponding and co-authors may order offprints at any time via Elsevier's WebShop
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AUTHOR INQUIRIES
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NORMAS DA REVISTA Acta Chiropterologica (ISSN 1508-1109)
Manuscripts should be submitted online at: http://system.miiz.waw.pl/ac. They should
be written in either British (preferably) or American English, and spelling and usage
should be consistent throughout. Poorly written and/or formatted manuscripts will be
returned without further review. It is a condition of submission of a manuscript for
publication in Acta Chiropterologica, that it has not been submitted at the same time to
any other journal and that the facts reported will not be released to the press until after
the paper has been published by Acta Chiropterologica, except if a priori arranged with
the Editor. Prior to acceptance for publication, each manuscript is reviewed by at least
two anonymous referees. During the submission process authors will be asked to
identify at least 3 reviewers of their work and supply a cover letter that summarizes why
the manuscript is a valuable addition to the scientific literature, and briefly relates the
study to previously published work. If any cited ‘In press’ article is not yet available
(online), it must be uploaded and provided to the Reviewers.
All parts of the manuscript should preferably be submitted as a single file.
Accepted file formats are: DOC (preferred), RTF (preferred) or eventually
DOCX (Times New Roman 12pt, line spacing 1.5, unpaginated). During submission the
names of at least three potential reviewers with their e-mail addresses should be
provided. Figures should be provided as separate attachments. Use tab commands, not
spaces, for paragraph indents. The entire text file should be justified to the left,
including headings, subtitles, etc. In the Materials and Methods, include a statement
indicating whether research followed guidelines for collections and, in the case of live
animals, was approved by an institutional animal care and use committee (see also Sikes
et al., 2011. Journal of Mammalogy, 92: 235–253). Do not apply continuous line
numbering to the text.
Manuscripts must conform to the following layout:
(1) Title page should include title, authors, institutions, address of the corresponding
author (including E-mail address and phone number, as applicable), key words, and
short running title. E-mail addresses should be as stable as possible and in the case of
students, best not to use the university address as such will become obsolete in a few
years. The title should be concise but informative. When submitting a paper with
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multiple authors, one author must accept the responsibility for all correspondence.
(2) The abstract should be informative, concise, summarizing key findings, and in a
form that is fully intelligible in conjunction with the title. It should not exceed 375
words and should not include any citation of references. A list of no more than 8 key
words should follow the abstract.
(3) The standard arrangement for the full-length paper is as follows: Introduction,
Materials and Methods, Results, Discussion, Acknowledgements, Literature Cited.
Please note that Acknowledgements for a peer-review process should be deleted from
the main manuscript and provided as a separate file during the online submission.
(4) References in the text should be cited chronologically, e.g., Hill and Koopman
(1981), Tupinier (1989), Koopman (1993, 1994); dealing with two authors use ‘and’ as
a connecting word; for references with more than two authors use the form ‘et al.’.
References in the Literature Cited section should be listed alphabetically with book and
journal titles given in full. Use small letters a...z to indicate references published by the
same author/authors within one year. For papers published using an alphabet other than
Latin but having a summary, title, or abstract in Latin alphabet, cite this ‘original’
translation. If there is no such translation, use an English translation in brackets [ ] with
an indication of the original language.
Examples:
AMENGUAL, B., J. E. WHITBY, A. KING, J. S. COBO, and H. BOURHY. 1997. Evolution
of European bat lyssaviruses. Journal of General Virology, 78: 2319–2328.
NORBERG, U. M. 1998. Morphological adaptations for flight in bats. Pp. 93–108, in Bat
biology and conservation (T. H. KUNZ and P. A. RACEY, eds.). Smithsonian Institution
Press, Washington, D.C., xiv + 365 pp.
STRELKOV, P. P. 1997. Breeding area and its position in the range of migratory bat
species (Chiroptera, Vespertilionidae) in East Europe and adjacent territories.
Communication 1. Zoologicheskiï Zhurnal, 76: 1073–1082. [In Russian with English
summary].
(5) Tables should be kept as simple as possible. Do not present the same data in both
tables and figures. Do not use vertical lines. Tables should appear at the end of your
manuscript, after the reference list and before any appendixes.
(6) Figures are referred to as ‘Fig., Figs.’ in the text. Figure captions should be typed on
a separate sheet and numbered consecutively. For submission, do not supply figures in
other formats than jpg, png, tiff or pdf and preferably keep size of a single file below 2
145
MB. Please ensure that their quality is sufficient for the review process. Contact the
editor before sending other formats. After acceptance of your article, you will be asked
to submit final figures. High-resolution files (600 dpi) of images in standard formats
(preferably in TIFF or PSD (Photoshop) for bitmaps and CDR (CorelDraw) or AI
(Adobe Illustrator) for vector graphics) are accepted. Figures should be sized to fit on
single 81 x 238 mm (column) or 168 x 238 mm (whole page) sheets. Multi-paneled
figures must have all panels assembled into one piece and supplied as one file. Each
panel must be labeled with uppercase letters (A, B, C, etc.). Use the same font
(typeface) and font size throughout the figure. Arial is preferred. Authors who have
illustrations of bats (including sonograms, CT scans, SEM photos, etc.) that are
particularly attractive or interesting may suggest these be used on the cover of Acta
Chiropterologica in which the paper will appear. Submit possible cover images to the
Editor-in-Chief. The author is obliged to supply copyright permission for illustrations
published elsewhere if they are to be reproduced in the same or similar form.
(7) Names of genera and species should be presented and italicized. Use SI units and
appropriate symbols. The International Code of Zoological Nomenclature must be
strictly followed. Prefer the use of Latin names rather than vernacular names.
(8) Data repository. All DNA sequences should be placed in GenBank (or similar
archive) and the accession numbers included in the manuscript. Other data types may be
deposited in Dryad (http://datadryad.org/), which is a curated general-purpose
repository that makes data discoverable, freely reusable, and citable.
(9) Page proofs. Page proofs will be sent to authors as a pdf file. They should be
returned to the Editor as soon as possible by e-mail or fax.
(10) Reprints. There are no reprints available, instead a pdf file with the final version of
the article will be sent to the corresponding author.
(11) Fees. There are no page charges in the journal. Only colour figures will cost Euro
125.00 per printed page, which must be paid in full before a paper is scheduled for
publication.
(12) Copyright. Acceptance of the manuscript for publication means that the right to
publish the whole paper or any substantial part of it is transferred to the Publisher. This
applies to all media.
(13) Open Access. Acta Chiropterologica offers the possibility of publishing the paper
as Open Access. For more information contact Editorial Office at
Acta.Chiropterologica@miiz.waw.pl