Post on 15-Nov-2018
Esquece todas as ofensas que te fa-
am, ainda mais, esfora-te por pensar
o melhor possvel do teu maior inimigo.
Tua alma um templo que no deve
ser profanado pelo dio.
P ersonalidade controvertida em sua poca, o mdico suo Pa-racelso visto hoje em dia como o
precursor da medicina holstica. A
viso da sade como o equilbrio
energtico do corpo, a importncia
da f na cura e a inter-relao entre
o homem e tudo o que o cerca so
apenas alguns dos conceitos elabora-
dos por ele, h cerca de 500 anos.
Exatamente no seu 500 aniversrio,
em 1993, uma das muitas biografias
desse notvel mdico foi financiada
por uma conhecida indstria farma-
cutica na Basilia, Sua. Uma tardia
reabilitao, para aquele que foi to
perseguido e difamado em sua po-
ca. Nessa ocasio, sua cidade natal
homenageou-o com um simpsio de
quatro dias: Simpsio Cientfico de
Einsiedeln, um congresso mdico
muito importante.
Uma onda de artigos foi publicada
em jornais e revistas durante todo
ano de seu aniversrio. Alguns elogi-
aram Paracelso como pioneiro da
medicina total, outros como pionei-
ro farmacutico, qumico, alquimista,
filsofo, astrlogo e mago. Ele o
padroeiro favorito de farmcias, cl-
nicas e sociedades de vrios tipos.
Os ttulos que recebeu vo desde
Pai da Medicina Naturalista,
Trismegisto da Sua, at Lutero
da Medicina. Personalidade atacada
e perseguida durante toda a vida,
hoje ele continua sendo muito criti-
cado. Mas, ento, o que esse homem
tinha de to inesquecvel e especial?
A infncia e os estudos
Paracelso nasceu em Einsiedeln, Su-
a, como Philipe Aureolus The-
ophrastus Bombastus von Hohe-
nheim, no dia 10 de novembro de
1493. Recebeu o nome de The-
Vida e Obra de Paracelso
Maro-Abril de 2012 Volume I1I, edio XX
Nesta edio:
Vida e Obra de
Paracelso 1
O que ser um
Martinista? 28
A Didaqu -
Instruo dos
Doze Apstolos
29
A Luz Astral 36
Quaresma,
Semana Santa e
Pscoa
39
Contos
Espirituais 47
Boletim da Sociedade das
Cincias Antigas Publicao da Sociedade das Cincias Antigas Todos os Direitos Reservados
Pgina 2 Boletim da Sociedade das Cincias Antigas
ophrastus em memria do pensador grego
Theophrastus Trtamo, por quem seu pai nu-
tria profunda admirao. O nome de Philipe
lhe foi acrescentado, sem dvida, posterior-
mente pois certo que Paracelso jamais fez
uso dele; a alcunha de Aureolus deve ter sido
dada por seus admiradores nos ltimos anos
de sua vida, j que at 1538 no encontrada
em nenhum documento relacionado com sua
pessoa. Quanto ao nome famoso de Paracel-
so, acredita-se que este tenha sido dado por
seu pai quando ainda jovem, querendo com
isso demonstrar que era mais sbio que Cel-
so, mdico clebre contemporneo do impe-
rador Augusto e autor de um livro de medi-cina muito mais avanado entre todos os que
havia em sua poca.
J a partir de 1510 ficou conhecido pelo no-
me de Paracelso e, embora muito raramente
o inclusse em sua assinatura, certo que o
estampou em suas grandes obras filosficas e
religiosas. Do mesmo modo seus discpulos o
chamavam de Paracelso, nome que sempre
apareceu nas polmicas e nos ataques injurio-
sos de que foi vtima.
Paracelso foi uma criana franzina, debilitada
e com tendncia ao raquitismo, razo pela
qual exigia os maiores cuidados, que lhe
eram dispensados pelo prprio pai, que o
amava muito. Alm disso, no era muito fa-
vorecido pela natureza: era baixinho, corcun-
da e gago. Dr. Hohenheim atribua uma im-
portncia extraordinria aos efeitos benfi-
cos do ar livre, respirado em plena natureza;
por isso, quando o rapaz j estava crescido,
fez dele seu companheiro de excurses, con-
seguindo dessa maneira robustecer-lhe o
corpo e enriquecer-lhe o esprito.
Nessa poca na Europa, a farmcia ainda no
era reconhecida, diferentemente do que
acontecia na China, no Egito, na Judia e na
Grcia, milhares de anos antes da era crist. Com efeito, a primeira farmacopia pertence
a Nuremberg e data de 1542, o ano seguinte
morte de Paracelso. Por conseguinte, pode
-se afirmar que a maioria das ervas medici-
nais, que se receitam em nossos dias, j era
conhecida na Idade Mdia e os religiosos as
cultivavam com todo cuidado, nos jardins dos
conventos.
Das prprias memrias de Paracelso deduz-
se que seu pai foi seu primeiro mestre de
latim, de botnica, de alquimia, de medicina,
de cirurgia e de teologia; mas nele atuaram
outras influncias de educao, que Dr. Ho-
henheim no pde infundir. Essas influncias
foram devidas ao esprito irrequieto da po-
ca, da nova era que estava sendo preparada:
A Renascena.
Indiscutivelmente foi o esprito da Renascen-
a que deu a Paracelso o grande impulso ru-
mo induo cientfica e ao mtodo experi-
mental. O encontro desse esprito cientfico
com as correntes espirituais da Reforma,
com sua influncia sobre a alma dos homens,
graas a Lutero, fornece a explicao da for-
mao de sua personalidade, aparentemente
contraditria.
As teorias em voga vinham sendo propagadas
ativamente j muito tempo antes de Lutero.
Duzentos e cinqenta anos antes, uma alma
solitria, Roger Bacon, teve uma viso que
iluminou as trevas acumuladas por quinze
sculos de ignorncia e descobriu a chave do
divino tesouro da Natureza.
Em 1483 nasceu Lutero; dez anos depois,
Paracelso; em 1510 veio luz o famoso m-
dico e filsofo milans, Jernimo Cardano, e
em 1517 nascia o clebre cirurgio Ambrsio
Pare; Coprnico, o astrnomo revolucion-
rio, e Pico della Mirandola, todos contempo-
rneos. Tudo eclodiu de uma s vez: nova
concepo religiosa, nova filosofia, novas ci-
ncias, acompanhadas de uma grande renova-
o no mundo da arte.
Ainda muito jovem, Paracelso foi enviado
famosa escola dos beneditinos do mosteiro
de Santo Andr, no Lavantal, a fim de rece-
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ber a instruo religiosa. Ali tornou-se amigo
do bispo Eberhard Baumgartner, que era
considerado um dos alquimistas mais not-
veis de seu tempo. Tamanho foi o ardor com
que Paracelso dedicou-se aos seus trabalhos
de laboratrio, tanta a sua fora de observa-
o nos fenmenos que estudava, que imedi-
atamente se viu em condies para comear
a executar um trabalho que se antecipava ao
seu sculo. Alm disso, teve a sorte de con-
tar com o clima da Carntia que favoreceu
grandemente seu desenvolvimento fsico,
conseguindo com isso desfrutar uma sade
quase perfeita.
Logo depois, transferiu-se para Basilia, onde
fez grandes progressos no estudo das cin-
cias ocultas. Naquele tempo, era impossvel
dedicar-se medicina sem conhecer profun-
damente a astrologia. A cincia experimental
estava ainda por nascer. Todos os conheci-
mentos que se adquiriam nos colgios ou
conventos eram puramente dogmticos e
esses ensinamentos foram conservados res-
peitosamente durante muitos sculos.
Laboratrio Alqumico
Mestre e discpulos
O misticismo e a magia conviviam com as
teorias mais antagnicas e os homens mais
clebres lhes rendiam homenagem. William
Howitt, um mdico notvel, escreveu o se-
guinte: O verdadeiro misticismo consiste na
relao direta entre a inteligncia humana e a
de Deus. O falso misticismo no procura a
verdadeira comunho entre Deus e o ho-
mem. O esprito absorto em Deus est pro-
tegido contra todo ataque. A mente que re-
pousa em Deus aclara a inteligncia.
Esse foi o misticismo que Paracelso esforou-
se por adquirir: a unio de sua alma com o
esprito divino, a fim de poder conceber o
funcionamento desse esprito universal den-
tro da Natureza. Quando partiu para Basilia,
h tinha adquirido a prtica das operaes
cirrgicas, ajudando seu pai no tratamento de
feridos. Em Livros e escritos de cirurgia, relata-
nos que teve os melhores mestres dessa ci-ncia e que havia lido e meditado os textos
dos homens mais clebres, tanto da atualida-
de como do passado.
Pouco se sabe da estada de Paracelso em Ba-
silia; consta unicamente que sua passagem
por l ocorreu em 1510. Nessa ocasio ele
comea a atacar severamente os sistemas de
cura em voga na poca, enaltecendo a com-
preenso da natureza, a observao clnica, a
patologia geral, o estudo dos remdios de
acordo com os sinais ou as assinaturas,
que so a base da homeopatia divulgada pos-
teriormente por Hahnemann. Considerado
por muitos como chefe mstico da Fraterni-
dade Rosa Cruz, seus trabalhos influenciaram
decisivamente os cabalistas, os neoplatnicos
e as doutrinas naturais. Exerceu ainda uma
grande influncia na obra de Fludd e Van Hel-
mont.
Nessa poca, a Universidade da Basilia era
dirigida pelos escolsticos e pedantes da po-
ca. Paracelso percebeu que nada sairia ga-
nhando com os ensinamentos daqueles dou-
tores. O p e as cinzas respeitados por esses
espritos estreis, haviam-se transformado em
matria importante, escreveu ele. Paracelso
renunciou a entrar numa luta com aqueles
sbios, guardies petrificados da cincia ofici-al. O que ele queria era a verdade e no o
pedantismo; a ordem e no a confuso; a ex-
perincia cientfica e no o empirismo.
Pgina 4 Boletim da Sociedade das Cincias Antigas
Os estudos com o abade
Jean Trithemius
Segundo sua prpria declarao, Paracelso
lera as obras manuscritas do abade Jean Tri-
themius, que encontrou na valiosa biblioteca
de seu pai, e to embevecido se sentiu por
elas que resolveu transferir-se para Wrz-
burg, lugar onde o sbio abade se mantinha
em contato com seus discpulos. Ali estudou
alquimia e cincias ocultas com o abade Tri-
themius e com o famoso alquimista Basil Va-
lentine. Trithemius afirmava que as foras secretas da Natureza estavam confiadas a
seres espirituais. Grande era o nmero de
seus discpulos e os ele que julgava dignos,
admitia em seu laboratrio, onde se manipu-
lava toda espcie de experincias de alquimia
e de magia.
Como mago, Paracelso teve um papel decisi-
vo na evoluo da magia natural que termi-
nou por transformar-se depois naquilo que
se convencionou chamar de Cincia Experi-
mental. Empregou o im em muitos de seus
trabalhos de cura, sendo, por isto, considera-
do um dos precursores do Magnetismo Pes-
soal e do Mesmerismo.
Jean Trithemius
Em certas experincias psquicas, obteve xi-
tos surpreendentes; talvez tenha sido ele o
primeiro que nos falou da transmisso do
pensamento distncia. Deve-se a ele os pri-
meiros ensaios da criptografia ou escrita se-
creta. Era tambm um grande conhecedor da
Cabala, por meio da qual fornecera profun-
das interpretaes das passagens profticas e
msticas da Bblia. Por isso, colocava as Sagra-
das Escrituras acima de todos os estudos e
seus alunos tinham que lhes dedicar toda sua
ateno e todo seu amor. Paracelso foi influ-
enciado pelas Escrituras por toda sua vida e
o estudo da Bblia constituiu, mais tarde, uma
das tarefas que o ocuparam com mais inten-
sidade. Em seus escritos encontramos o tes-
temunho de seu conhecimento perfeito da linguagem e do profundo significado esotri-
co da Bblia.
Embora seja fato incontestvel que estudou
as cincias ocultas com o abade Trithemius,
chegando a conhecer as foras misteriosas
do mundo visvel e invisvel, no menos
certo que abandonou, repentinamente certas
prticas mgicas, por julg-las indignas e con-
trrias vontade divina. Tinha averso, so-
bretudo, necromancia praticada por ho-
mens pouco escrupulosos, absolutamente
convencido de que por meio dela s se atra-
am foras malficas. Recusou, igualmente,
todo ganho pessoal que viesse do exerccio
da magia, pois esta, segundo pensamento de-
le, s seria permitida se fosse para curar de-
sinteressadamente ou fazer outro bem qual-
quer a nossos semelhantes.
Foi com esse intuito que se lanou s investi-
gaes e s experincias de magia divina. Dis-
cernia perfeitamente o alimento mental e
espiritual daquele que era imprprio e enga-
noso, para conseguir a unio de sua alma
com a divindade.
Curar os homens conforme Cristo fizera,
nisto consistia todo o seu desejo ardente. E
quem sabe se a prpria comunho com o Senhor no o credenciaria a esse poder su-
blime? Entrementes, recebia de Deus a graa
de saber procurar e encontrar todos os mei-
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os de cura com os quais o Criador provera a
Natureza.
Medicina e Alquimia
Paracelso, como mdico, destaca-se especial-
mente em trs setores: nas qualidades exigi-
das dos clnicos; no reconhecimento de di-
versas entidades e, particularmente, na utili-
zao da iatro-qumica (a qumica para fins de
cura), que fez a qumica avanar, aps sculos
de relativa estagnao.
A primeira atividade nada apresenta de origi-nal, mas sua persistncia representou norma
de grande significao prtica. A segunda
reveladora de sua mente, sempre alerta, em
observaes atentas de ocorrncias mrbi-
das, no cogitadas na poca. E a terceira, ex-
terioriza um comportamento fecundo e qua-
se excepcional, mesmo na aurora da Renas-
cena. Ele, em verdade, ergueu a qumica aci-
ma de uma situao quase humilde, manipula-
da particularmente por alquimistas, muitos
dos quais de valor, mas quase sempre envol-
vidos em atividades subalternas. Ele a trouxe
para a esfera das mentes capacitadas, respon-
sveis por seu progresso, seja como cincia
bsica, seja como fundamento para utilizao
prtica, em teraputica.
Em seu trabalho beira dos leitos, com ob-
servaes instrutivas, ressaltou a virtus, o
esprito de sacrifcio dos mdicos para o
apoio necessrio aos doentes, atuando assim
como verdadeiro clnico. Ele forneceu dados
importantes sobre algumas entidades mrbi-
das, em particular sobre neuropatias: epilep-
sia, paralisias, perturbaes da fala em trau-
matismos do crnio. Fez estudos sobre o tra-
tamento cirrgico de determinados ferimen-
tos, recusando o papel benfico da supurao
como era admitido ento. Deixou-nos algu-
mas informaes sobre a sfilis e seu trata-mento com mercrio. Em sua Generatione
stultorum relaciona o cretinismo ao bcio
endmico.
Paracelso pode ser considerado o introdutor
de substncias qumicas no preparo de medi-
camentos, sob a forma de extratos alcolicos
e de tinturas, com utilizao do pio, do en-
xofre, do mercrio, do ferro, do arsnico, do
sulfato de cobre, do sal. Aconselhava banhos
repetidos com solues minerais. Seu livro
Paragranum de 1530 o expositor de suas
crenas. Pode ser considerado, portanto, co-
mo um verdadeiro farmacologista.
Em todas as suas atividades manteve um mis-
ticismo simblico que contrastou com as ca-
ractersticas objetivas j mencionadas. H
nele uma viso romntica da natureza, res-
ponsvel por crenas que podem ser admiti-
das como irracionais num professor de qu-
mica.
Reconheceu o microcosmo observando o
macrocosmo. Admitiu a existncia da
Archeus, fora inata, vital e oculta situada
no estmago. A vida do homem inseparvel
da vida do universo. O limus terrae, do qual
se origina o corpo no original, mas consti-
tudo por extratos de substncias j presen-
tes em seres previamente criados. Nele, en-
contramos o sal, o enxofre, o mercrio. E a
separao desses elementos, que acarretaria
as doenas, ocorrendo por falha da
Archeus.
Pgina 6 Boletim da Sociedade das Cincias Antigas
Na prpria quimioterapia utilizou certa me-
todologia mstica, indicando drogas com for-
ma e colorao comparveis s dos rgos
aos quais se destinavam. Assim, por exemplo,
o ouro, j relacionado pela alquimia, ao cora-
o e a pulmonaria aos processos respirat-
rios. Em ocorrncia comparvel, a pele do
lagarto foi indicada no tratamento de tumo-
res malignos. Em diferentes publicaes est
presente essa viso universal, e no
Paramirum encontramos seus curiosos con-
ceitos, desde os primrdios.
Castiglione, em sua Histria da Medicina,
um dos que expe a sntese da doutrina de Paracelso. Para ele, a natureza constitui o ma-
crocosmo, cujo maior desenvolvimento repre-
sentado pelo homem, que, formado pelos mes-
mos materiais e sujeito s mesmas leis, repete,
em si prprio, todos os fenmenos da natureza e
est submetido a todas as influncias csmicas e
telricas que regulam o universo. O microcos-
mo e o macrocosmo encontram-se em rela-
es constantes e recprocas. Por isso, Para-
celso denominou o macrocosmo como o
homem exterior. Ressalta ainda o historiador,
a sua crena de que o sal, o enxofre e o mer-
crio so componentes dos metais e tambm
de toda a matria viva. E eles devem ser ava-
liados simbolicamente: sal, o componente
slido, indestrutvel pelo fogo; mercrio, o
fluido, vaporizado mas no modificado pelo
fogo; enxofre, alterado e destrudo pelo fogo.
Por fim, ele admitia tambm dados forneci-
dos pela astrologia, pela cabala, por iniciativas
mgicas, por sociedades secretas, sendo fre-
qentador crente dessas instituies. Mas,
ainda que Paracelso se ocupasse intensamen-
te com astrologia, alquimia e magia, questes
esotricas, sociais e filosficas ele era princi-
palmente mdico, e nessa funo que seu
nome muito conhecido hoje em dia. Na
verdade, em seus escritos, a medicina ocupa
o primeiro lugar e ele a praticou e lecionou durante toda a sua vida.
Paracelso entregou-se com ardor e entusias-
mo sem limites ao estudo profundo da alqui-
mia. Dizia ele: A alquimia no visa exclusiva-
mente obter a pedra filosofal; a finalidade da
cincia hermtica consiste em produzir essncias
soberanas e empreg-las devidamente na cura
das doenas. Contudo, no pde fugir pre-
ocupao dominante da poca e, durante al-
gum tempo, se ocupou tambm daquelas pr-
ticas alqumicas que ensinam a transformar
em ouro os metais impuros.
De acordo com alguns autores, saiu triunfan-
te em seu cometimento e, depois que satis-
fez a sua curiosidade, no prosseguiu sua
obra, pois no perseguia outro fim seno a evidncia de certas doutrinas, para poder
falar delas com plena convico, condio
que ele acreditava, com toda certeza, ser in-
dispensvel.
Ao falarem dele como alquimista, os bigra-
fos de Paracelso colocam-no na categoria
mais elevada. Todos afirmam unanimemente
que era dotado de um poder escrutinador
que lhe permitia adentrar o prprio esprito
das coisas da Natureza. Ele penetrava os re-
cnditos mais profundos da Natureza, explo-
rava-os e, por meio de suas formas, sabia ver
a influncia dos metais, com uma penetrao
to sagaz, que chegava a extrair deles novos
remdios. No que se refere filosofia her-
mtica, to rdua e to misteriosa, ningum
o igualou.
Abandonou, ou melhor, rejeitou o estudo da
crisopia, ou seja, a arte de fazer ouro, por-
que isto repugnava o seu esprito nobre e
desinteressado; contudo, aproveitou grande
nmero de prticas alqumicas que, a seu cri-
trio, podiam ser desenvolvidas e aplicadas
medicina. Estava convencido de que quase
todos os minerais submetidos anlise podi-
am revelar-nos grandes segredos curativos e
vivificantes e levar a novas combinaes per-
feitamente eficazes para certas doenas men-tais ou fsicas. Observou, com ateno, que
toda substncia dotada de vida orgnica, em-
bora aparentemente inerte, encerrava grande
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variedade de potncia curativa.
Diferentemente do que faziam seus contem-
porneos, no qualificava de divina a alquimia,
cujo nico objetivo era fabricar ouro. Para
ele, os fogos do fornilho crisopico tinham
outras grandes utilidades e aqueles que atua-
vam sob a divina intuio logo se transforma-
vam em fogos purificadores em benefcio da
humanidade.
As obras de Paracelso, como todas as que
tratavam de cincia ocultas, astrologia, magia,
alquimia, etc, contm algumas frases obscuras
que somente os iniciados conheciam em toda
sua magnitude. Os alquimistas velavam seus
segredos por meio de smbolos e frases ale-
gricas, a que os leigos no assunto atribuam
as mais grotescas interpretaes, quando os
tomavam ao p da letra. Iniciado que fora
pelo abade Trithemius, Paracelso adotou sua
terminologia, acrescentando, por seu arb-
trio, termos originrios ora da ndia, ora do
Egito.
No glossrio de Paracelso, vemos que o prin-
cpio da sabedoria se chama adrop e
azane, que corresponde a uma traduo
esotrica da pedra filosofal. Azoth o prin-
cpio criador da Natureza ou a fora vital es-
piritualizada. Cherio a quintessncia de um
corpo, seja ele animal, vegetal ou mineral; o
seu quinto princpio ou potncia. Derses
o sopro oculto da Terra que ativa seu desen-
volvimento. Ilech Primum a fora primor-
dial ou casual. Magia a sabedoria, o empre-
go consciente das foras espirituais, que visa
obteno de fenmenos visveis ou tang-
veis, reais ou ilusrios; o uso benfeitor do
poder da vontade, do amor e da imaginao;
representa a fora mais poderosa do esprito
humano, empregada em prol do bem. Magia
no bruxaria.
A chave dessa linguagem misteriosa no se
perdeu. Foi guardada zelosamente pelos ca-
balistas e transmitida oralmente entre os ini-
ciados. Atualmente, os detentores dessa cha-
ve so os martinistas e os rosa-cruzes. Gra-
as a essa chave, o sistema filosfico-religioso
de Paracelso pde ser recuperado em toda
sua integridade.
Pioneirismo
Paracelso no via o mdico apenas como um
profissional para eliminar os sintomas de uma
doena e esse era um conceito completa-
mente diferente daquele que imperava em
sua poca. Sua opinio sobre a doena fica
muito mais prxima do conceito moderno,
porque se baseia numa imagem csmica do
mundo e da humanidade, indo muito alm da
viso tradicional da sua poca, que se baseava
na doutrina dos fluidos de Hipcrates. Segun-
do o ponto de vista tradicional, a doena era
causada por mau funcionamento e mistura
dos quatro fluidos do corpo: sangue, catarro,
blis preta e blis amarela. Paracelso modifi-
cou a opinio existente naqueles dias, definin-
do a sade como equilbrio e doena com o
desequilbrio de todas as energias presentes.
A arte de curar, de acordo com Paracelso,
apia-se em quatro pilares: a filosofia, que
significa, antes de mais nada, abrir-se ao con-
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junto das foras naturais, observar essas foras
invisveis na penetrao da realidade total e per-
ceber o invisvel no visvel; a astronomia, que
nos ensina como as estrelas nos influenciam;
a alquimia, til principalmente na preparao
dos remdios e virtus, a honestidade do
mdico. De acordo com ele, o mdico a
imagem primordial de uma pessoa que est
se aperfeioando. Mais do que qualquer um,
o mdico deve reconhecer a ao da nature-
za invisvel no doente ou, em se tratando do
remdio, como ela trabalha no visvel.
Para podermos nos aproximar das idias pio-
neiras de Paracelso, inevitvel considerar determinadas imagens bsicas, que normal-
mente so rejeitadas pelo mdico convencio-
nal, porque se apiam, acima de tudo, em
opinies ocultas. As duas palavras chave
desse lado secreto de Paracelso so imagi-
nao e magia. Na biografia Paracelso, Alqui-
mista, Qumico, Pioneiro da Medicina, o histo-
riador e filsofo Lucien Braun, dedica um ex-
tenso captulo a esse aspecto para explicar o
significado bsico de tais idias. De acordo
com o professor Braun, muito difcil expli-
car a imaginao como sem sujeito e sem
imagens. Porque Paracelso quer apenas pos-
sibilitar que a natureza aparea, que a pr-
pria luz da natureza surja, mostrando-a. Mas ela
apenas mostra a luz quele que sabe ver sem
imagens.
A natureza mais do que nossos olhos en-
xergam, o invisvel que pulsa atravs do visvel.
O invisvel nunca se apresenta como imagem,
porque ele no um objeto, energia viva,
criativa; uma energia no dividida, que tira as
coisas de seu interior, transformando-as no
que so na realidade.
Braun acredita que foi Paracelso quem, pela
primeira, vez expressou essa diferenciao
histrica do pensamento ocidental. Hoje,
pensando nos campos morfogenticos do bilogo ingls Rupert Sheldrake, ela nos soa
muito normal. Foi ela que inspirou Paracelso
em relao a estas palavras: O visvel esconde
o invisvel, mas apesar disso conseguimos o invis-
vel apenas atravs do visvel.
Para o mdico suo, a natureza no apenas
aquilo que nossos olhos enxergam, nem so-
mente o que existe num outro lugar, mas
ambos ao mesmo tempo. Escreveu Braun:
Assim, no de surpreender que foi Paracelso
quem introduziu a descrio da 'fora de imagi-
nao' dando, desse modo, um nome energia
imanente que fixa as coisas do interior para fora,
cria, faz surgir e no pode ser imaginada de mo-
do algum. Outros atributos dessa fora so: ela
flui atravs de todas as coisas, 'atravs de todo
esse imenso mundo', e to eterna como tudo que existe e no existe, tudo que 'est sendo'.
Imaginao e Magia na viso de
Paracelso
Segundo Paracelso, imaginao e magia esto
intimamente ligadas. E nesse caso magia quer
dizer ao direta sobre coisas, pessoas e to-
dos os seres, sem ajuda da matria. Ou, ex-
presso de outro modo: o mago capaz de
causar efeitos fsicos sem ajuda fsica. Porque,
segundo o pensamento de Paracelso, toda
natureza invisvel se movimenta atravs da
imaginao. Se a imaginao fosse forte o su-
ficiente, nada seria impossvel, porque ela a
origem de toda magia, de toda ao atravs
da qual o invisvel deixa seu rastro no visvel.
A energia da verdadeira imaginao pode
transformar nossos corpos, e at influenciar
no paraso.
Paracelso reconheceu tambm que a f forta-
lece a imaginao. Tudo isso inclui as curas
milagrosas atribudas a ele, que no podem
ter sido somente o resultado dos remdios,
em geral muito simples. bvio que eles ser-
viram para influenciar conscientemente a for-
a da imaginao de um doente. As plulas que o mdico suo levava consigo no boto
do punho de sua famosa espada foram, acima
de tudo, meios de ajuda ao mgica.
Pgina 9 Volume I1I, edio XX
Baseando-se nesse fundo filosfico, Paracelso
ligou as caractersticas exteriores de um re-
mdio com as de uma doena. Um remdio
se mostra pela sua assinatura, porque o ex-
terior da planta de que ele extrado espelha
sua funo e atributos. Assim, por exemplo,
folhas em forma de corao foram recomen-
dadas para doenas cardacas. Mas tambm a
poca em que o remdio tomado deve es-
tar certa, pois a energia de uma planta s po-
de ser liberada durante determinadas conste-
laes planetrias. Remdio, mdico e doen-
te formam um total ligadssimo, de acordo
com as leis da natureza. O conhecimento
mdico tem mais a ver com a intuio e a conhecida clarividncia de Paracelso do que
com o conhecimento intelectual.
Existem trabalhos em que se comparam as
opinies de Paracelso e da antroposofia, in-
cluindo a homeopatia. As duas praticam uma
maneira solta de fazer perguntas, partindo
de uma imagem de muitas camadas de ho-
mens e doenas. Tambm se confirma um
efeito direto de Paracelso sobre a homeopa-
tia. Sua graduao pode ser comparada com
potencializao dos remdios, caracterstica
da homeopatia desenvolvida pelo seu desco-
bridor, Samuel Hahnemann, de modo novo e
espontneo, como tambm a preparao es-
pecfica de substncias naturais para rem-
dios. Hahnemann, claro, negou a influncia
de Paracelso e at falou com desprezo sobre
ele.
Rudolf Steiner, pai da antroposofia, escreve:
Entre Paracelso e Hahnemann existe uma gran-
de diferena: at certo ponto o mdico do sculo
16 ainda era clarividente, Hahnemann no. Ele
conseguiu testar o efeito dos remdios pelos sen-
tidos. E o historiador da medicina Heinrich
Schipperges chega concluso de que Para-
celso, como mdico de seu tempo, no prati-
cava medicina tradicional nem moderna, ou
seja, ele no pode ser encaixado na medicina ortodoxa tampouco na medicina total. Sua
medicina se apoiava muito mais num concei-
to claro e inconfundvel, numa teoria da me-
dicina que tinha suas razes na filosofia, que
faz do homem um verdadeiro mdico. No
entanto, essa filosofia no confia apenas na
natureza nem na mente; ela constri da luz
da natureza seu cosmos anthropos.
O que podemos aprender de Paracelso
principalmente a necessidade de pensar so-
bre a medicina e o que ocorre durante o tra-
tamento. A popularidade de Paracelso conti-
nua hoje, porque ele tem algo para cada um:
mdicos tradicionais, totais, filsofos, esot-
ricos, etc. Ele conseguiu novidades no campo
da qumica, da idia de que para cada doena,
deve existir um remdio especfico.
Mdico, Alquimista, Filsofo,
Telogo, Cabalista e Mago
Tambm impressionam as dicas para o fu-
turo que os escritos de Paracelso contm.
Pensamentos csmicos estavam bem mais
perto dele do que de ns, mesmo se tal pen-
samento hoje, j est comeando novamente
a ganhar terreno. Paracelso era um mstico,
algum que viu a matria penetrada pelo es-
piritual. Suas concluses tm valor at hoje
porque nenhum mdico naturalista pode
comparar-se com ele, e o fato de ele ter sido
muito criticado tornou-o ainda mais interes-
sante. Porque Paracelso, afinal, no apenas
escreveu livros, mas tambm teve suas pr-
Pgina 10 Boletim da Sociedade das Cincias Antigas
prias experincias e nunca teve medo de en-
frentar as conseqncias negativas de seu
pensamento no-conformista. Para ele serve
o ditado: Quem consegue ser ele mesmo no
deve pertencer a um outro tanto hoje como
em qualquer outra poca, em que cada um
corre atrs de um outro guru.
Gunhild Porksen, tradutora de textos de Pa-
racelso durante anos, diz que as controvr-
sias a respeito dele so causadas por seu
comportamento grosseiro e rude. Ela chegou
concluso de que ele era um homem de
energias especiais. O fato que ele sempre
conseguiu entusiasmar pessoas bem diferen-tes como, por exemplo, Goethe em seu
Fausto. Os sucessos astrolgicos de Paracel-
so so famosos e ele, sem dvida alguma, era
um grande bilogo e um mdico total, que
entendeu muito do esoterismo. Era esotri-
co porque falou muito sobre o interior do
homem e tambm sobre a influncia das es-
trelas sobre os seres humanos.
Paracelso era um homem que, como nin-
gum, representava o esoterismo de sua
poca. Da cincia Renascena, que se en-
tregava cada vez mais a um especialismo
acentuado, ele enfatizou um pensamento to-
tal. A natureza era sua professora que, para
ele, era perfeita porque trabalha de acordo
com um grande plano divino. E a idia de Pa-
racelso de que corpo e alma so uma unida-
de um pensamento totalmente moderno,
tambm reconhecido, cada vez mais, como
uma verdade pela medicina moderna.
A Natureza
Observamos que Paracelso estabeleceu uma
diviso dos elementos a serem estudados
nos corpos animais, vegetais ou minerais. Di-
vidiu-os em Fogo, Ar, gua e Terra, confor-
me tinham feito tambm os antigos. Esses elementos encontram-se presentes em todo
corpo, seja ele organizado ou no, e so se-
parveis uns dos outros. Para efetuar a sepa-
rao, eram indispensveis os laboratrios
com material adequado. O fornilho era insu-
ficiente; carecia-se de um fogo capaz de tor-
nar vermelho vivo o crisol para aumentar
constantemente o calor quando se tornasse
necessrio. Era fundamental uma contnua
proviso de gua, de areia, de limalhas de fer-
ro a fim de aquecer gradativamente os forni-
lhos. Nos armrios e mesas do laboratrio,
havia balanas perfeitamente aferidas e nive-
ladas, almofarizes, alambiques, retortas, cadi-
nhos, esmaltados, vasos graduados, grande
quantidade de vasilhas de cristal etc., alm de
um alambique especial para realizar as desti-
laes.
Com um laboratrio bem equipado, o alqui-
mista capaz de aplicar-se rigorosamente, de-
dicado minuciosa observao das regras
alqumicas, est em condies de verificar as
diferentes operaes indispensveis para ana-
lisar as substncias escolhidas e extrair delas
a quintessncia ou o arcana, isto , as pro-
priedades intrnsecas dos minerais e vegetais.
s vezes infinitesimal em quantidade at nos
grandes corpos, a quintessncia afeta, contu-
do, a massa em todas as suas partes, da mes-
ma forma que uma nica gota de blis produz
mau humor ou uns centigramas de aafro
so suficientes para colorir uma grande quan-
tidade de gua. Os metais, as pedras e suas
variedades trazem em si mesmos a sua quin-
tessncia, o mesmo que os corpos orgnicos
e, embora sejam considerados sem vida, pos-
suem essncias de corpos que viveram.
Esta uma notvel afirmao, que Paracelso
sustenta com sua teoria de transmutao dos
metais em substncias diversas, teoria que
tambm os ocultistas modernos defen-
dem.Que clarividncia possua esse homem a
respeito do reino mineral! Ningum poder
negar a Paracelso o ttulo de sbio, pois ele,
com suas investigaes sutis, soube desven-dar os mais recnditos segredos da Nature-
za, que hoje em dia, sem dvida, a cincia
explica melhor, graas a descobertas de ob-
Pgina 11 Volume I1I, edio XX
servadores que dispem de maiores meios
cientficos, como demonstraram Madame
Curie e seus colaboradores.
Quando examinamos o novo sistema de filo-
sofia natural desenvolvido por Paracelso, no
devemos esquecer que j transcorrem qua-
tro sculos desde o seu aparecimento. Na
realidade, foi ele quem concebeu essas inves-
tigaes, inspirando com elas os grandes lu-
minares de sua poca e das geraes que se
seguiram.
As investigaes de Paracelso culminaram em
sua Teoria das Trs Substncias, que so as bases necessrias a todos os corpos, a que
ele chamou de enxofre, mercrio e sal em
sua linguagem cifrada. O enxofre significa o
fogo; o mercrio, a gua; o sal, a terra. Ou,
de outra maneira: a volatilidade, a fluidez, a
solidez. Omitiu o ar por consider-lo produ-
to do fogo e da gua.
Todos os corpos, orgnicos ou minerais, ho-
mem ou metal, ferro, diamante ou planta
constituam, segundo ele, combinaes varia-
das desses elementos fundamentais. Seu ensi-
namento sobre a base e as qualidades da ma-
tria se cinge a essa Teoria dos Trs Princ-
pios, que considerava premissas de toda ati-
vidade, os limites de toda anlise e a parte
constitutiva de todos os corpos. So eles a
alma, o corpo e o esprito de toda matria,
que nica. A potncia criadora da Nature-
za, que ele denominou archeus, proporcio-
na matria uma infinidade de formas, con-
tendo cada uma delas seu lcool, ou seja, sua
alma animal e, por seu turno, seu ares, ou
seja, seu carter especfico. Alm disso, o
homem possui o aluech,ou seja, a parte pu-
ramente espiritual.
Essa fora criadora da Natureza um espri-
to invisvel e sublime: como um artista que se compraz, variando os tipos e reproduzin-
do-os. Paracelso adotou os termos Macro-
cosmo e Microcosmo para expressar o gran-
de mundo (Universo) e o pequeno mundo (o
Homem), os quais considera reflexo um do
outro.
Alm das investigaes j citadas, descobriu
o cloreto, o pio, o sulfato de mercrio, o
calomelano e a flor de enxofre. No final do
sculo XIX, receitavam-se ainda s crianas
um laxante composto de xarope de moran-
gueiro e ps cinzentos, constituindo remdio
excelente em virtude da teraputica de Para-
celso. Igualmente, o ungento de zinco, que
nunca deixou de ser receitado, tem sua ori-
gem no laboratrio paracelsiano. Ele foi o
primeiro a utilizar o mercrio e, para certas doenas depauperantes, o ludano.
Cabala e Misticismo
No h dvida de que Paracelso foi um msti-
co. Sua filosofia espiritual foi filha de seu pre-
coce conhecimento do neoplatonismo; tinha
como base a unio com Deus. Mediante essa
unio, o esprito do homem procurava ven-
cer as ms influncias, descobrir os arcanos
da Natureza, conhecer o bem, discernir o
mal e viver sempre dentro da fortaleza divi-
na.
Paracelso soube identificar a mo de Deus
em toda Natureza: nas entranhas das monta-
nhas, onde os metais esperam a sua vontade;
na abbada celeste, onde por meio Dele se
movem o sol e as estrelas; nas ribeiras, onde
sua liberalidade derrama toda sorte de ali-
mentos e a bebida para o homem; nos verdes
prados e nos bosques, onde crescem mira-
des de ervas e de frutos benfazejos; nas fon-
tes que proporcionam suas propriedades cu-
rativas. Enfim, viu que a terra era a grande
obra de Deus e que era preciosa aos olhos
Dele.
Paracelso era uma inteligncia ntida e clara. Era bom e tambm sbio. Sua vida errante
jamais o despojou dessa bondade que cons-
tantemente fez resplandecer os generosos
impulsos de sua alma. Sentia como um artista
Pgina 12 Boletim da Sociedade das Cincias Antigas
e pensava como um filsofo; por isso, soube
irmanar as leis da Natureza com as da alma.
Essa sensibilidade artstica que nunca o aban-
donava constituiu a ponte entre Paracelso,
homem e observador visionrio da Realida-
de, ponte maravilhosa que repousava sobre
as travessas de uma nova humanidade: a Re-
nascena.
E sobre essa ponte audaz procedeu cons-
truo do Universo, do qual Paracelso foi um
de seus maiores arquitetos; pois, outra coisa
no foi a declarao dos princpios do pro-
gresso espiritual, completada um pouco mais
tarde por Giordano Bruno, poeta, filsofo, artista e investigador da Natureza.
Como as ondas do mar, o sentimento da Na-
tureza se estendeu de Paracelso at os ho-
mens do futuro. Estes compreenderam, igual-
mente, a consagrao das investigaes e a
alegria inefvel de descobrir as Leis Divinas.
Paracelso possua essa propriedade que ainda
hoje admiramos nos msticos clssicos, via
Deus tanto na Natureza como no microcos-
mo e, pela meditao, foi tocado pela graa
divina. Suas concluses filosficas formam a
moral de um humanismo cristo. A confra-
ternidade ntima dos filhos de Deus deve nas-
cer de uma humanidade bem ordenada, do
saber humano e do inaprecivel valor da al-
ma, em cada um dos seus membros.
Este Universo de formas e foras infinitas ,
em sua unidade e em sua interdependncia, a
revelao das leis de Deus; a Natureza cons-
titui o esteio e o verdadeiro amigo dos en-
fermos. E essa Natureza se encontra em to-
das as partes: na terra, onde o semeador
opera seus milagres, ao confiar-lhe a semen-
te; nas montanhas, onde morrem as rvores
velhas para dar lugar s que nascem; nas flo-
restas murmurantes; nas sebes; nos lagos,
onde o sol brinca com a gua; em todos os
lugares est viva e eterna a me Natureza.
Paracelso emoldurou a Natureza com visto-
sas imagens, comparaes acertadas, enge-
nhosas alegorias e parbolas de sentido pro-
fundo. Numa linguagem rica e substanciosa,
apresenta-nos o curso das estaes, sua pro-
ximidade e seu fim. Pinta-nos a primavera,
quando os novos ritmos se balanam lacres
pelo ar; o vero, quando a jovem vida cami-
nha rumo colheita e o tempo revela os fru-
tos sazonados; o outono, quando o trabalho
chega ao seu fim e a vida enlanguesce; e, fi-
nalmente, descreve-nos o inverno, fazendo-
nos sentir a doce viso de uma morte suave
e tranqila.
Como bom cristo, seguiu os ensinamentos
de Jesus. O que Deus quer so nossos cora-es diz no Tratado das doenas invisveis, e
no as cerimnias, j que com elas a f Nele
perece. Se quisermos buscar a Deus, devemos
busc-lo dentro de ns mesmos, pois fora de ns
jamais o encontraremos. Toma como ponto
de apoio a Vida e a Doutrina de Nosso Se-
nhor, porque nela est a nica base de nossa
crena:
Ali est ela, na Vida Eterna, descrita pelos Evan-
gelhos e nas Escrituras, onde encontramos tudo
o de que necessitamos, tudo em absoluto. S em
Cristo h estado de graa espiritual e por nossa
f sincera seremos salvos. Basta-nos a f em
Deus e em seu nico Filho. O que nos salva a
infinita misericrdia de Deus, que perdoa nossos
erros. O Amor e a F so uma mesma coisa: o
amor deriva da f e o verdadeiro cristianismo se
revela no amor e nas obras do amor.
Acreditava que a perfeio da vida espiritual
fora designada por Deus para todos os ho-
mens e no apenas para alguns anacoretas,
monges e religiosos que no dispunham de
nenhum mandato especial do Senhor para
tomar sobre si a exclusividade de uma santi-
dade a que muito poucos podem chegar.
O Reino de Deus contm uma revelao ntima
com nossa vida de f e de amor, uma infinidade de mistrios que a alma penetrante vai desco-
brindo um por um. So os mistrios da providn-
cia de Deus, que todo aquele que investigar aca-
Pgina 13 Volume I1I, edio XX
bar encontrando; so os mistrios da unio com
Deus; o tabernculo secreto, cujas portas se
abriro para todo aquele que clame. E os ho-
mens que sabem perscrutar e chamar so os
profetas e os benfeitores de seu reinado. A eles
so entregues as chaves que ho de abrir os te-
souros da terra e dos cus. E eles sero os pas-
tores, os apstolos do mundo.
O pensamento de Paracelso
Paracelso escrevia com uma clareza encanta-
dora. Em seu estilo no se v nenhuma com-
plicao, nada daquela linguagem complicada e exagerada prpria da Re-
nascena. Seu discurso
contundente e ele se ex-
pressa como um homem
convencido de que conhece
profundamente o assunto
de que trata. Em algumas
de suas obras nota-se mais
claramente a breve e fecun-
da expresso de um clarivi-
dente e seus pensamentos
surgem numa linguagem
que os torna atemporais,
capazes de perdurar atravs
dos sculos, numa atualida-
de surpreendente. Abaixo,
alguns trechos de seus es-
critos:
A F uma estrela luminosa
que guia o investigador atravs dos segredos da
Natureza. preciso que busqueis vosso ponto de
apoio em Deus e que coloqueis a vossa confian-
a em um credo divino, forte e puro; aproximai-
vos Dele de todo o corao, cheios de amor e
desinteressadamente. Se possuirdes essa f,
Deus no vos esconder a verdade, mas, pelo
contrrio, vos revelar suas obras de maneira
visvel e consoladora. A f nas coisas da terra
deve sustentar-se por meio das Sagradas Escritu-ras e pelo Verbo de Cristo, nica maneira de
repousar sobre uma base firme.
A virtude a quarta coluna do templo da medi-
cina e no h de fingir; significa o poder que re-
sulta do fato de ser um homem na verdadeira
acepo da palavra e de possuir no somente as
teorias relativas ao tratamento da doena, mas
igualmente o poder de cur-la.
Da mesma forma que o verdadeiro sacerdo-
te, o verdadeiro mdico ordenado por
Deus. Com respeito a isso, assim se expressa
Paracelso:
Aquele que pode curar doenas mdico. Nem
os imperadores, nem os papas, nem os colegas,
nem as escolas superiores po-dem criar mdicos. Podem ou-
torgar privilgios e fazer com
que uma pessoa, que no
mdico, aparentemente o seja;
podem conceder-lhe licena
para matar, mas no podem
dar-lhe o poder de curar; no
podem fazer dessa pessoa um
mdico verdadeiro, se j no
foi ordenada por Deus.
Se, por um espao de alguns
meses, observares rigorosa-
mente as prescries, que se
seguem, ver-se- operar, em
tua vida uma mutao to fa-
vorvel, que nunca mais pode-
rs esquec-la. Mas, meu ir-
mo, para que obtenhas o xi-
to desejado, mister que
adaptes tua vida estrita observncia destas
regras. So simples e fceis de seguir, mas pre-
ciso observ-las com a mxima perseverana.
Julgars que a felicidade no vale um pouco de
esforo? Se no s capaz de pores em prtica
estas regras, to fceis, ters o direito de te quei-
xares do destino? Ser to difcil a tentativa de
uma prova? So regras legadas pela antiga Sa-
bedoria e h nelas mais transcendncia do que
simplicidade, como parece primeira vista.
Antes de tudo, lembra-te de que no h nada
melhor do que a sade. Para isso devers respi-
Pgina 14 Boletim da Sociedade das Cincias Antigas
rar, com a maior freqncia possvel, profunda e
ritmicamente, enchendo os pulmes ao ar livre
ou defronte de uma janela aberta. Beber quotidi-
anamente, a pequenos goles, dois litros de gua,
pelo menos; comer muitas frutas; mastigar bem
os alimentos; evitar o lcool, o fumo e os medica-
mentos, salvo em caso de molstia grave. Banhar
-se diariamente, um hbito que devers tua
prpria dignidade.
Banir absolutamente de teu nimo, por mais
razes que tenhas, toda a idia de pessimismo,
vingana, dio, tdio, ou tristeza. Fugir como da
peste, ao trato com pessoas maldizentes, invejo-
sas, indolentes, intrigantes, vaidosas ou vulgares e inferiores pela natural baixeza de entendimen-
tos ou pelos assuntos sensualistas, que so a
base de suas conversas ou reflexos dos seus h-
bitos. A observncia desta regra de importn-
cia decisiva; trata-se de transformar a contextura
espiritual de tua alma. o nico meio de mudar
o teu destino, uma vez que este depende dos
teus atos e dos teus pensamentos: A fatalidade
no existe.
Faze todo bem ao teu alcance. Auxilia a todo o
infeliz sempre que possas, mas sempre de ni-
mo forte. S enrgico e foge de todo o sentimen-
talismo.
Esquece todas as ofensas que te faam, ainda
mais, esfora-te por pensar o melhor possvel do
teu maior inimigo. Tua alma um templo que
no deve ser profanado pelo dio.
Recolhe-te todos os dias, a um lugar onde nin-
gum te v perturbar e possas, ao menos duran-
te meia hora, comodamente sentado, de olhos
cerrados, no pensar em coisa alguma. Isso forti-
fica o crebro e o esprito e por-te- em contanto
com as boas influncias. Neste estado de recolhi-
mento e silncio, ocorrem-nos sempre idias lu-
minosas que podem modificar toda a nossa exis-
tncia. Com o tempo, todos os problemas que
parecem insolveis sero resolvidos, vitoriosa-mente por uma voz interior que te guiar nesses
instantes de silncio, a ss com a tua conscin-
cia. Todos os grandes espritos deixaram-se con-
duzir pelos conselhos dessa voz ntima. Mas, no
te falar assim de sbito; tens que te preparar
por algum tempo, destruir as capas superpostas
dos velhos hbitos; pensamentos e erros, que
envolvem o teu esprito, que embora divino e
perfeito, no encontra os elementos que precisa
para manifestar-se.
A carne fraca. Deves guardar, em absoluto
silncio, todos os teus casos pessoais. Abster-se
como se fizesses um juramento solene, de contar
a qualquer pessoa, por mais ntima, tudo quanto
penses, ouas, saibas, aprendas ou descubras.
uma regra de suma importncia.
No temas a ningum nem te inspire a menor
preocupao o dia de amanh. Mantm tua al-
ma sempre forte e sempre pura e tudo correr e
sair bem. Nunca te julgues sozinho ou desam-
parado; atrs de ti existem exrcitos poderosos
que tua mente no pode conceber. Se elevas o
teu esprito, no h mal que te atinja. S a um
inimigo deves temer: a ti mesmo. O medo e a
dvida no futuro so a origem funesta de todos
os insucessos; atraem influncias malficas e
estas, o inevitvel desastre. Se observares as cria-
turas que se dizem felizes, vers que agem ins-
tintivamente de acordo com estas regras. Muitas
das que alegam que possuem grandes fortunas
podem no ser pessoas de bem, mas possuem
muitas das virtudes acima mencionadas. Ade-
mais, riqueza no quer dizer felicidade; pode se
constituir em um dos melhores fatores, porque
nos permite a prtica de boas aes, mas a ver-
dadeira felicidade s se alcana palmilhando ou-
tros caminhos, veredas por onde nunca transita
o velho Sat da lenda, cujo nome verdadeiro
egosmo.
No te queixes de nada e de ningum. Domina
os teus sentidos, foge da modstia como da vai-
dade; ambas so funestas e prejudiciais ao xito.
A modstia tolher tuas foras e a vaidade to
nociva como se cometesses um pecado mortal contra o Esprito Santo. Muitas individualidades
de real valor tombaram das altas culminncias
Pgina 15 Volume I1I, edio XX
atingidas, em conseqncia da Vaidade; a ela
deveram certamente a sua queda Jlio Csar,
aquele homem extraordinrio que se chamou
Napoleo e muitos outros. Oxal, sigas sempre
estas poucas regras para a tua felicidade, para o
teu bem e a nossa alegria.
Todas as doenas tm seu princpio em alguma
das trs substncias: Sal, Enxofre ou Mercrio;
quer dizer que podem ter sua origem no domnio
da matria, na esfera da alma, ou no reino do
esprito. Se o corpo, a alma e a mente esto em
perfeita harmonia, uns com os outros, no existe
nenhuma discordncia; mas se se origina uma
causa de discordncia em um destes trs planos, isto se comunica aos demais.
O verdadeiro mdico no se jactncia de sua
habilidade nem elogia suas medicinas, nem
procura monopolizar o direito de explorar o
enfermo, pois sabe que a obra que h de
louvar o mestre, e no o mestre, a obra. As-
sim pensava Paracelso.
Profecias
Paracelso escreveu em 1536 As Profecias dos
Acontecimentos Futuros, alm de alguns dis-
cursos profticos, mais tarde publicados em
Hamburgo. Boa parte de suas profecias apre-
senta um desenho alegrico do tempo ou do
personagem profetizado. Eis alguns extratos
de suas profecias:
Paracelso v o destino de Joo Paulo II:
Comers o que no gostas
Dividiste o dever em direita e esquerda, como
se fosse um peso. E todas as duas partes acaba-
ro por esmagar-te. Chegars a Roma de longe.
De uma ferida sair sangue. De uma ferida sair
a vida. Uma coroa ser posta em ti. Mas antes,
contra a tua vontade, comers o que no gostas.
... O dilvio cair e um vento desastroso do leste soprar sobre ti, levantando a poeira da terra...
O leo azul e branco marchar vitorioso. Aque-
les do leste tero a vitria, mas a vitria durar
poucas luas."
Paracelso v a Rssia, escolhida como chico-
te para o castigo dos crimes da Igreja des-
truio de Paris
Embora o sol ento brilhasse sobre ti, enrique-
ceste com o roubo e com o saque. Estavas sen-
tada entre as abelhas e o trigo, mas no foste
previdente e esqueceste o quanto duro o in-
verno. Sers obrigada a comer as prprias pa-
tas. s como o urso, cheia de fora, mas mor-
rers de fome. E isso acontecer quando Paris,
Londres e Roma tero o urso (Rssia) como bra-
so. ... Ateno bela cidade, que foste o brilho da
Europa, porque sobre ti vir o fogo... O drago cansar a guia.
Paracelso v o ltimo Papa.
Ests predestinado a ser rodeado por muitas
adversidades. Tens o nome de uma pedra. E s
uma pedra larga e delgada. Cairs sob o castigo
que quebrou todos os imprios. E a tua sabedo-
ria, no final dos tempos, ser definida como lou-
cura.
Paracelso v o Antipapa no lugar do ltimo
Papa:
Tu tens reunido amide com aquele que um
tempo foi inimigo. Percebers que todas as coi-
sas so inteis. Ters de superar sozinho as difi-
culdades e ters de refletir sobre quem s. Sen-
tars na cadeira de Pedro e dela cairs.
As causas ocultas das doenas de
acordo com Paracelso
Paracelso determinou os seguintes Cinco
Princpios, pelos quais surgem as verdadeiras
causas das doenas:
- Ens Astrale ou Princpio Astral - Baseia-se em realidades csmicas, as causas so do tipo
astral, ou causadas no corpo astral pessoal
ou pelo mundo astral. Influncias climticas e
infeces podem ser tambm incorporadas.
Pgina 16 Boletim da Sociedade das Cincias Antigas
Efeito: Todos os vcios, epidemias, dio, vida
psquica impura
Remdio: Autocontrole, autodisciplina, bon-
dade, amor, compaixo
Emoo: Simpatia/pensamentos (terra)
Cor: Amarelo
Som: Canto (boca)
- Ens Veneni ou Princpio Venenoso - Surge
dos venenos e envenenamentos do corpo
humano, portanto uma desarmonia de impu-
rezas, m alimentao, m respirao, todas
as coisas contrrias constituio da pessoa.
Efeito: Vida desregrada, drogas (pio, coca-
na, fumo, bebida)
Remdio: Cuidar de ter uma boa alimenta-
o/homeopatia
Emoo: Tristeza/preocupao (ar)
Cor: Branco
Som: Choro (nariz)
- Ens Naturale ou Princpio Natural - Fica
na constituio natural (natureza) do homem.
Voc no pode fugir de si mesmo. As causas
so predeterminadas, fixas. So doenas her-
dadas, que j vem com o nascimento. No
podem ser curadas com substncias materi-
ais, somente seu efeito pode ser amenizado.
Efeito: Todas as influncias hereditrias
Remdio: Magnetismo e alopatia
Emoo: Medo (gua)
Cor: Preta
Som: Gemido (ouvidos)
- Ens Spirituale ou Princpio Espiritual -
As causas da doena so de origem mgica,
originadas ou de espiritualidade estranha ou
do prprio esprito, s quais fica submetida,
sem a percepo do corpo e da alma. Com-
preende todas as doenas causadas por uma
imaginao doentia e uma vontade mal dirigi-
da, so as doenas psquicas ou da idia.
Efeito: Teimosia, vacilao, preocupaes,
obsesso, obstinaes
Emoo: Raiva/zanga (madeira)
Cor: Verde
Som: Grito (olhos)
- Ens Dei ou Princpio Divino - S podem
ser curadas quando o homem alcanou o de-
vido amadurecimento atravs delas. Estas
doenas so impostas com fins de purifica-
o. O mdico no pode fazer nada, Car-
ma.
Efeito: Carma leve, moderado, pesado
Remdio: Ser um mago para chegar at ao
segredo da doena e reconhecer a hora cer-
ta para intervir
Emoo: Alegria (fogo)
Cor: Vermelho
Som: Riso (lngua)
Ainda segundo Paracelso, as doenas so ca-
talogadas da seguinte forma:
Do lado direito do corpo tudo fsico
Do lado esquerdo do corpo tudo psquico
Do lado da frente do corpo tudo positivo
(eltrico)
Do lado das costas do corpo tudo negati-vo (magntico)
Pgina 17 Volume I1I, edio XX
A Magia Elemental
Para Paracelso, da mesma maneira que a na-
tureza visvel habitada por um nmero infi-
nito de seres, a contraparte invisvel e espiri-
tual da natureza habitada por uma hoste de
seres peculiares, aos quais ele deu o nome de
elementais e que, posteriormente, foram
chamados espritos da natureza.
Paracelso dividiu essa populao dos elemen-
tos em quatro grupos distintos: gnomos, os
espritos da terra, que denominava de
pigmaci; ondinas, espritos da gua, que cha-mava de nenufdreni; silfos, espritos do ar,
que chamava de melosinae e salamandras,
espritos do fogo, que chamava de acthnici.
Ele pensava que fossem criaturas realmente
vivas que habitavam seus prprios mundos,
invisveis para ns porque os sentidos subde-
senvolvidos dos homens eram incapazes de
funcionar para alm das limitaes dos ele-
mentos mais densos.
De acordo com Paracelso, os elementais no
seriam nem criaturas espirituais nem materi-
ais, embora compostos de uma substncia
que pode ser chamada de ter. Em suma, es-
ses seres ocupariam um lugar entre os ho-
mens e os espritos. Por essa razo tambm
no seriam imortais, mas quando morressem
simplesmente se desintegrariam, voltando ao
elemento do qual originalmente tinham se
individualizado. Segundo ele, os elementais
compostos do ter terrestre so os que vi-
vem menos; os do ar, os que vivem mais. A
durao mdia de vida fica entre os 300 e os
mil anos. Supe-se que tais criaturas sejam
incapazes de desenvolvimento espiritual, mas
algumas delas so de elevado carter moral.
Para a Escola Teosfica, entretanto, os ele-
mentais seguiriam uma escala de evoluo at
se tornarem anjos. Comeam no elemento
mais prximo do homem at chegar em um
nvel mais prximo de Deus. As civilizaes
da Grcia, de Roma, do Egito, da China e da
ndia acreditavam implicitamente em stiros,
espritos e duendes. Elas povoavam o mar
com sereias, os rios e as fontes com ninfas, o
ar com fadas, o fogo com lares e penates, a
terra com faunos, drades e hamadrades. Es-
ses espritos da natureza eram tidos em alta conta, e a eles eram dedicadas oferendas.
Ocasionalmente, dependendo das condies
atmosfricas ou da sensibilidade do devoto,
eles se tornam visveis. Bom nmero de au-
toridades de opinio que muitos dos deu-
ses cultuados pelos pagos eram na verdade
esses habitantes dos reinos mais sutis da na-
tureza, pois acreditava-se que muitos desses
seres invisveis eram de estatura imponente e
maneiras majestosas. Os gregos chamavam
alguns desses elementais de daemon, espe-
cialmente os das ordens mais altas, e os cul-
tuavam.
Assim como os anjos das hierarquias mais
altas, os elementais canalizam a energia do
Criador, a tenso divina que faz o mundo
existir. Assim como vivemos sob a cpula de
luz do anjo da guarda, que representa a liga-
o entre ns e o resto do universo e ao
Criador que nos d existncia, os anjos dos
elementos retransmitiriam essa energia divina
para um mineral, vegetal ou animal.
A Magia Elemental, portanto, a antiqssima
cincia que versa acerca dos elementais e a
manipulao de seus poderes ocultos e mgi-
cos. Os antigos ndios americanos, os alqui-
mistas medievais, os taoistas e xintostas e os
cabalistas rabes (Ordem Sufi dos Zuhrawar-di) e os hebreus no desconheciam essa Ci-
ncia.
Paracelso foi quem sistematizou e classificou
Pgina 18 Boletim da Sociedade das Cincias Antigas
os elementais de uma forma extremamente
didtica e sinttica. Seu sistema mdico e m-
gico baseado nas foras astrais que regem
toda a natureza, representadas pelos sete
planetas: Lua, Mercrio, Vnus, Sol, Marte,
Jpiter e Saturno.
Tais vibraes setenrias refletem-se em nos-
so Sistema Solar de diversas maneiras: cores
do arco-ris, dias da semana, sub-nveis das
camadas eletrnicas, notas musicais, sentidos
paranormais, anatomia oculta do etc. V-se
isto na fisiologia e anatomia dos seres vege-
tais e animais e tambm nas configuraes
qumica e cromtica, no reino mineral.
De acordo com as classificaes de Paracel-
so, pode-se distribuir diversos seres elemen-
tais de acordo com os 12 signos zodiacais e
tambm de acordo com os planetas astrol-
gicos. Acreditando que o homem tinha auto
suficincia e o poder da auto cura, ele dividiu
os elementais em:
Elementais da Terra: Gnomos, aos quais
depois se uniram os Duendes - Os gnomos
ficaram como senhores do reino mineral e os
duendes responsveis pelo reino vegetal. Os
Gnomos servem no plano fsico, bem atrs
do vu ou espectro da viso comum. Eles
governam e preservam o corpo da terra,
mantm o equilbrio das foras naturais do
planeta e cuidam que todas as necessidades
dirias de todos os seres vivos sejam atendi-
das. o Gnomo que faz com que um animal
que esta com sede no deserto caminhe em
direo gua que procura, mesmo que
morra na busca, o animal sempre estar indo
na direo certa.
Elementais da gua: Ondinas, que depois
se uniram s Sereias e s Ninfas - As ondi-
nas ficaram com os riachos, fontes, no orva-
lho das folhas, sobre as guas e nos musgos.
As sereias, com as guas dos mares e as nin-fas, que seriam ondinas menores, encontram-
se em tal estado de suavidade e leveza, que
parecem levitar sobre as guas. As Ondinas
fazem um trabalho srio com os oceanos,
rios, lagos e pingos de chuva, que fazem sua
parte na reforma do corpo fsico da terra e
do ser humano. As Ondinas governam os
ciclos da fertilidade e do elemento ou corpo
da gua.
Elementais do Fogo: Salamandras reinam no elemento fogo e guardam os mistrios e se-
gredos desse elemento, que corresponde ao
plano ou corpo etrico. Precisamente em
que ponto o fogo fsico, indefinido e difcil de
controlar, se transforma em fogo sagrado no
plano etrico, ensinado pelo Esprito Santo
de Deus, observado pelo corao sagrado
dos santos, levemente tocado por cientistas
nucleares, mas firmemente seguro nas mos
das Salamandras.
Elementais do Ar: Silfos, que depois uniram-
se s Hamadrides e s Fadas - silfos, reinam
no ar, nos ventos, assemelhando-se aos an-
jos. Tem a sensibilidade muita acentuada, e
modelam as nuvens com suas brincadeiras. J
as fadas, ligadas terra e ao ar, brilham lumi-
nosamente com um tom branco. So alegres,
joviais e minuciosas, sendo que tambm po-
dem desenvolver aspectos terrivelmente ne-
gativos, como reprovao s maldades huma-
nas. Os Slfides servem o domnio dos cus,
da purificao do ar, e do sistema de presso
do ar. Isto tudo percebido nas mudanas
alqumicas do tempo e nos ciclos de fotossn-
tese e precipitao. Estes elementais do ar
so mestres, que expandem e contraem seus
corpos de ar de nveis microcosmicos a ma-
crocosmicos. Sempre mantendo a chama pa-
Pgina 19 Volume I1I, edio XX
ra o reino da mente, que corresponde ao
plano ou corpo do ar.
Como utilizar estes seres se eles vivem em
outra dimenso? Como comunicar-nos com
eles? Como falar com quem no vemos? O
qu fazer para poder v-los? Inmeras so as
perguntas e inmeras so as respostas. Di-
menso uma palavra que significa tamanho, extenso, ou espao. Como cada espao
repleto ou preenchido por energia Divina
vibrando de forma diferente, chamamos cada
espao ou dimenso de plano.
A cincia moderna depara-se com um grande
enigma quanto investigao da origem da
matria densa. Todo objeto de matria den-
sa, quando visto aos olhos de microscpios
eletrnicos, revela-se feito de vrias cargas
eltricas e partculas em constante movimen-
to. De alguma maneira, estas cargas eltricas
em constante movimentao, criam a aparn-
cia da forma fsica. Ns podemos tocar a ma-
tria de uma pedra, de uma cadeira, ou de
um ser humano, mas se visualizarmos qual-
quer um destes materiais, sob o auxilio de
um poderoso microscpio, veremos que o
fsico est dissolvido em um mar de peque-
nos impulsos eltricos.
Como estas foras eltricas se organizam
para produzir a forma, o que ainda um
mistrio para a cincia moderna. claro que
existe uma fora que faz a ponte para que
estas foras eltricas se organizem a ponto
de formar a forma fsica. Esta fora a hie-
rarquia csmica dos seres de luz. Sem estes
seres csmicos de luz, no haveria a forma
organizada e inteligente que conhecemos.
Toda a forma a mistura da relao entre os
seres csmicos e os seres atmicos. Os se-
res de luz, so os responsveis diretos por
esta organizao atmica. Estes seres so o
instrumento pelo qual conseguimos organizar
a matria atmica em formatos diferentes.
O crescimento de uma planta, por exemplo,
necessita da interferncia dos seres de luz
para poder acontecer. A pedra, para se
transformar em diamante tambm sofre a
interferncia destes seres. Tudo o que se transforma, at mesmo a desintegrao de
um alimento ao sol, ou o envelhecimento do
ser humano, recebe interferncia direta dos
seres de luz. Os seres sem luz, tambm tm
este poder, porm, no tm a organizao e
perfeio que tem os seres de luz.
A hierarquia csmica similar hierarquia
atmica. Os seres csmicos de luz se mani-
festam pela primeira vez na Ordem dos
Elohim, na forma de elementais do fogo, do
ar, da gua, e da terra, j definidos acima.
Aps a educao e vivncia, como elementais
do fogo, do ar, da gua e da terra, os seres
de luz, assim como os seres atmicos, tm
uma evoluo natural de sua conscincia,
evoluem para seres angelicais, onde podero
continuar seu crescimento na hierarquia cs-
mica. Na escalada da evoluo, esses seres
partem dos pequenos elementais da terra
seguindo at os dirigentes de grandes exten-
ses e compreenso, chamados Devas e
Elohim. Estes j desenvolvem seu trabalho de
criao dos universos junto Hierarquia Es-
piritual.
A histria nos conta sobre esses seres, desde
a mais remota antiguidade. E, os antepassa-
dos de toda a humanidade legaram inmeros
relatos a respeito dos mesmos. No incio dos tempos, os seres da natureza, encarregados
de cada elementos, cuidaram para que tudo
fosse feito com exatido e ordem:
Pgina 20 Boletim da Sociedade das Cincias Antigas
- Na terra ainda como uma massa de gases
de matria incandescente radioativa, coube
aos elementais do fogo executarem seu tra-
balho;
- Na poca dos grandes ventos, os elemen-
tais do ar, zelaram pela evoluo desses gases
de modo a tornar o ambiente apto a receber
formas de vida;
- Quando esses gases se precipitaram sobre a
gua, os elementais da gua modificaram o
aspecto denso desse lquido;
- Ento, iniciou-se a solidificao, surgindo
aos poucos os continentes que foram fertili-
zados pelos elementais da terra.
Como se v, a criao representa um todo
inseparvel, formando uma corrente cujos
elos no podem ser rompidos, se no quiser-
mos provocar uma catstrofe de carter irre-
medivel.
Outros estudos e a influncia de seu
trabalho e pensamento
Conforme se v, Paracelso era um mstico e
um cabalista perfeito, dentro do mais puro
esprito cristo. Aceitou, contudo, muitas das
crenas to em voga em sua poca, referen-
tes aos poderes ocultos e s foras invisveis.
Acreditava, igualmente, na existncia real dos
elementais, isto , nos espritos do fogo, aos
quais dava o nome de acthnici; nos do ar,
que chamava de melosinae; nos da gua, que
chamava de nenufdreni; e nos da terra, que
denominava de pigmaci.Alm disso, admitia
a realidade das dradas, a que atribua o nome
de durdales, e dos espritos familiares (os
deuses penates dos romanos), que alcunhava
de flagae. Afirmou tambm, a existncia do corpo astral do homem, que chamava de
aventrum, e do corpo astral das plantas, a
que deu o nome de leffas.
Do mesmo modo, tratou profundamente da
levitao, que chamou de mangonaria, e
muito especialmente da clarividncia, que
denominava de nectromantia. Acreditava
nos duendes, nos fantasmas e nos pressgios.
Seu Arquidoxo mgico, livro sobre amuletos
e talisms, tambm muito interessante, vis-
to que nele expe seu conhecimento acerca
da imensa fora do magnetismo. Combinou
metais sob determinadas influncias planet-
rias, com o objetivo de fabricar talisms con-
tra certas doenas, e o mais eficaz deles
aquele que chama de Magneticum magicum.
Esse talism se compe de sete metais (ouro,
prata, cobre, ferro, estanho, chumbo e mer-crio) e neles esto gravados signos celestes
e caracteres cabalsticos.
Entendia, tambm, que as pedras preciosas
possuam propriedades ocultas para curar
determinadas doenas. Os anis e medalhas
em que se montavam essas pedras levaram o
nome de gamathei. Cada um deles possua
virtudes especiais. Uma de suas pedras prefe-
ridas era a chamada bezoar, que no ori-
unda nem das montanhas nem das minas,
mas que se forma no estmago de certos
animais herbvoros, por crescimentos justa-
postos e concntricos de fosfatos de clcio,
que o estmago no conseguiu expulsar.
Suas opinies a respeito das pedras preciosas
foram adotadas pelos membros da Rosa-
Cruz, que elaboraram as interpretaes fsi-
cas e espirituais dos poderes misteriosos do
diamante, da safira, da ametista, do topzio,
da esmeralda e da opala.
Os alquimistas, herdeiros do modo de pen-
sar gnstico, sempre encararam a natureza
como a prpria divindade, e viam em suas
mltiplas manifestaes uma espcie de es-
crita cifrada, algo como um incomensurvel
criptograma, por trs do qual o Criador po-
de sempre se ocultar, e ao mesmo tempo revelar-se de modo sbio e discreto. Paracel-
so num de seus inmeros tratados alqumi-
cos, Paraminum, discorre acerca de sua te-
Pgina 21 Volume I1I, edio XX
oria dos sinais ou das assinaturas, segundo a
qual cada coisa da natureza, ser vivente ou
no, guarda em si traos visveis e invisveis
de similitude, de modo que tudo no Universo
acha-se intimamente relacionado entre si,
posto que cada uma de suas partes, desde as
mais diminutas clulas s grandes estruturas,
desde o tomo at as estrelas, permeia-se de
uma nica e mesma essncia, perceptvel ape-
nas aos olhos argutos dos iniciados, treinados
a ler esta escrita divina.
Uma das principais tcnicas destinadas a esse
propsito era a fisiognomonia (gnomos =
conhecimento + phisis = natureza), muito explorada por Paracelso e outros alquimistas
de sua poca, que consistia em observar as
muitas faces da natureza para da depreender
um entendimento das intenes de Deus po-
tencialmente guardadas em cada coisa que se
nos apresenta. Tal leitura tanto se fazia por
meio dos rostos (fisionomia) das pessoas,
verdadeiros mapas a estampar nosso carter,
bem como podia ser abstrada por analogia,
de modo mais discreto, a partir das outras
infinitas formas segundo as quais a natureza
se revela.
Com base nisso, Paracelso desenvolveu a te-
se de que determinadas plantas, dado ao as-
pecto externo de suas folhas, serviriam pre-
ferencialmente ao tratamento de afeces de
determinados rgos, por assemelharem-se
ao formato anatmico destes, j que a sade
nada mais que uma condio de respeito
pela harmonia inerente ao Universo, em ra-
zo do que todo mdico deveria regrar-se
em sua teraputica pelo grande princpio
Simila Similibus Curantur, ou seja,
Semelhante cura o semelhante. Receitar no-
zes, por exemplo, faria bem ao sistema ner-
voso, por sua semelhana com o crebro;
feijes preferencialmente seriam protetores
de nossos rins, e assim por diante.
Influenciado amplamente pela obra paraclsi-
ca, o sapateiro filsofo Jacob Boehme (1575-
1624), natural de Grlitz, Alemanha, enuncia-
ria em 1622, em sua De Signatura Rerum:
No existe nenhuma coisa na natureza, criada
ou dada luz, que no revele exteriormente a
sua forma interior, porque tudo o que ntimo
tende sempre a manifestar-se (...) como pode-
mos observar e constatar com as estrelas e os
elementos, com as criaturas, e com as rvores e
as plantas (...). por isso que a assinatura cons-
titui uma fonte de compreenso, atravs da qual
o homem no s se conhece a si prprio, mas
pode reconhecer a quintessncia de todos os
seres.
Um dos grandes sbios contemporneos que
nos ensina a perceber a assinatura de Deus
em todas as coisas Carl Jung (1875-1961), por meio de seu conceito de sincronicidade,
enunciado em 1951. Jung chama de sincroni-
cidade toda coincidncia significativa de even-
tos extraordinrios, que, uma vez por ns
presenciada, induz nossa conscincia a abs-
trair desses fenmenos espontneos e inco-
muns algum tipo de significado que nos sirva
intimamente, sugerindo-nos que algo existe
entre ns e o meio em que vivemos, cuja es-
sncia resta sempre incapturvel pelo olhar
estrito da razo, forando-nos a um entendi-
mento analgico ou mesmo intuitivo das cir-
cunstncias envolvidas. Parece s vezes que
Deus se diverte em nos pregar algumas pe-
as, muito oportunas a propsito para nosso
aprendizado, e que os anjos todos nos obser-
vam com cumplicidade e alegria quando quer
que nossas conscincias tornam-se aguadas
pela experincia sincronstica, que nos sinto-
niza a alma com uma dimenso superior da
realidade corriqueira.
Entretanto, mesmo a lide cotidiana, as vicissi-
tudes do dia a dia; enfim, toda e qualquer si-
tuao por qual passamos, toda dificuldade
que se nos interpe, independentemente das
sincronicidades de Jung, encerra Deus de al-
guma forma em seu bojo; so sempre ex-
presses da divindade disfaradas em dias e
noites, em horas de alegria ou de tristeza, em momentos de paz ou provao.
O poeta Walt Whitman soube dizer isso: Eu
vejo alguma coisa de Deus em cada hora das
Pgina 22 Boletim da Sociedade das Cincias Antigas
vinte e quatro, e em cada momento. No rosto
dos homens e das mulheres eu vejo Deus, e no
meu prprio rosto no espelho. Eu encontro car-
tas de Deus cadas na rua, e cada uma delas
assinada com o nome de Deus. Eu as deixo onde
esto, pois sei que no importa aonde eu v,
outras viro... infalivelmente... eternamente!.
Paracelso assistira descoberta dos minrios
magnticos, at ento desconhecidos para o
mundo, fato que lhe trouxe a certeza de que
foras invisveis operam na natureza; e nobre
seria o mdico que pudesse encontr-las e
dirigi-las para a cura. Entendia ainda que a f
fosse instrumento para o mesmo fim, sendo o medo das doenas mais terrvel que elas
prprias; por isso procurava sugestionar seus
pacientes de modo a faz-los crer que ficari-
am sos.
Mesmer seguiu risca o modelo da anam-
nese de Paracelso. Quebrando o protocolo,
aceitava discutir com seus pacientes as poss-
veis causas de seus males, dando-lhes ouvi-
dos e ateno antes de prescrever. Por essa
simples razo, seu consultrio tornou-se
muito concorrido.
A morte de Paracelso
Existem muitas lendas em torno da morte de
Paracelso. Alguns dizem que os mdicos de
Salzburgo contrataram a sua morte, outros
dizem que foi envenenado por seus desafe-
tos. Na verdade, segundo testemunho fide-
digno, Paracelso morreu em conseqncia de
uma doena progressiva. Parece que junta-
mente com o progresso da doena, que o
debilitava fisicamente, crescia na mesma pro-
poro sua fortaleza de esprito.
Pouco antes de morrer, escrevia suas medi-
taes sobre a vida espiritual. Um dos seus
ltimos escritos, inacabado, intitulava-se: Referente Santssima Trindade, escrito em
Salzburgo, durante a vspera da Natividade de
Nossa Senhora, que foi publicado em 1570.
Nos seus ltimos dias neste mundo, mudou-
se para um espaoso aposento na Pousada
do Cavalo Branco, em Kaygasse, onde ditou
a um escrivo pblico, suas ltimas vontades.
Ao seu redor reuniram-se seis testemunhas e
seu testamento comea assim:
O mui sbio e honorvel mestre Teofrasto de
Hohenheim, doutor em cincias e medicina, dbil
de corpo, sentado em seu rstico leito de campa-
nha, porm com esprito lcido, probo de cora-
o, entrega sua vida, sua morte, sua alma
salvaguarda e proteo do Todo-Poderoso. Sua
f inquebrantvel espera que o Eterno Misericor-
dioso no permitir que os amargos sofrimentos, o martrio a morte de seu Filho nico, Nosso
Senhor Jesus Cristo, sejam estreis e impotentes
para a salvao deste seu humilde servo.
Depois determinou que seus poucos bens
(seus livros, suas roupas, suas drogas e suas
ervas) fossem distribudas com eqidade e
disps sobre seu enterro, para o qual esco-
lheu a igreja de So Sebastio, alm de pedir
que ali entoassem os Salmos 1, 7 e 30. Entre
a leitura cada um deles, se distribuiria dinhei-
ro aos pobres que estivessem em frente
igreja. A escolha dos Salmos representa a
confisso de sua f e a convico de que sua
vida no tinha que desaparecer com ele, mas
passar para a eternidade.
Aps ditar seu testamento, viveu apenas trs
dias. A morte no o assustava, segundo ele a
morte era o fim de sua jornada trabalhosa e a
colheita de Deus. Faleceu no dia 24 de se-
tembro, dia de So Ruperto, festa muito im-
portante e celebrada em Salzburgo. O prnci-
pe arcebispo da cidade, ordenou que os fu-
nerais do grande mdico fossem celebrados
com toda pompa.
Cinqenta anos depois de sua morte, seu
tmulo foi aberto. Retiram-se seus ossos que
foram transladados para outra sepultura mais bem disposta, encravada numa das paredes
da igreja de So Sebastio. O executor testa-
mentrio de Paracelso, Miguel Setznagel,
mandou colocar uma lpide de mrmore ver-
Pgina 23 Volume I1I, edio XX
melho sobre o tmulo, com uma inscrio
comemorativa em latim, que dizia o seguinte:
Aqui jaz Felipe Teofrasto de Hohenheim, famo-
so doutor em medicina que curou toda espcie
de feridas, a lepra, a gota, a hidropisia e vrias
outras doenas do corpo, com cincia maravilho-
sa. Morreu no dia 24 de setembro de 1541.
A terapia das plantas
A fitoterapia a cincia que estuda a utiliza-
o de produtos de origem vegetal com fina-
lidades teraputicas, sendo para prevenir, atenuar ou curar um estado patolgico. A
palavra fitoterapia formada por dois radi-
cais gregos: fito vem phyton, que significa
planta, e terapia vem de therapia, que signi-
fica tratamento, ou seja, tratamento em que
se utilizam plantas medicinais.
Embora muitas pessoas ignorem a importn-
cia das plantas medicinais, sabe-se que toda a
farmacologia tem como base exatamente os
princpios ativos das plantas. Na verdade, a
farmacologia moderna no existiria sem a
botnica, a toxicologia e a herana de conhe-
cimentos adquiridos atravs de sculos de
prtica mdica ligada ao emprego dos vege-
tais. Apesar do avano da tecnologia, que dia-
riamente cria novos compostos e substncias
sintticas com poderes medicinais, mais de
40% de toda a matria-prima dos remdios
encontrados hoje nas farmcias continua sen-
do de origem vegetal.
Todo medicamento, inclusive os fitoterpi-
cos, deve ser usado segundo orientao m-
dica. claro que dificilmente chega-se a uma
overdose de ch de camomila, mas h ainda
muitas plantas cujos efeitos no so bem co-
nhecidos e seu uso indiscriminado pode pre-
judicar a sade. Por outro lado, vrios estu-
dos cientficos comprovam que a fitoterapia pode oferecer solues eficazes e mais bara-
tas para diversas doenas.
Algumas ervas importantes e seus
principais usos
Aafro: Tanto o leo (empregado em mas-
sagens) como a tintura so teis para comba-
ter anemia, a fraqueza e a melancolia.
Alecrim: O leo das flores, em massagens
leves, alivia as dores reumticas. O ch das
folhas til contra a epilepsia, a lepra, a sfilis
e as feridas em geral.
Amendoeira: Seus frutos, tnicos e fortifi-cantes, melhoram as inflamaes e so indi-
cados para os casos de bronquite.
Anglica: O ch das folhas tonifica o esto-
mago. O ch da raiz, aplicado externamente,
ajuda nos casos de gangrena e nas mordedu-
ras venosas. O ch da planta inteira, tomado
diariamente em jejum, muito eficaz nas to-
ses crnicas.
Arnica: O sumo vegetal muito bom para
curar feridas, nas contuses e fraturas.
Arruda-silvestre: Provoca a menstruao e
combate a anemia das adolescentes.
Artemsia: O ch indicado contra a epilep-
sia e a coria (distrbio enceflico caracteri-
zado por movimentos musculares anormais e
espontneos, que sugerem uma dana). Cozi-
da em vinhos e ingerida em pequenas doses
Pgina 24 Boletim da Sociedade das Cincias Antigas
freqentes um excelente antiabortivo.
Camomila: Quando colhida na conjuno de
Marte com a Lua e o Sol, tem o poder de
curar ndulos linfticos das doenas tumorais
do trax. teis em crises de histeria e nas
febres intermitentes.
Canela: Pela destilao prolongada de suas
folhas obtm-se um leo avermelhado que
funciona como um tnico excelente, quando
aplicado com massagens suaves.
Celidnia: importante escolher aquelas
que nascem em runas ou locais abandona-
dos. A raiz macerada um bom remdio pa-
ra a garganta e para as inflamaes graves.
Cevada: O ch das sementes ou as prprias
sementes cozidas constituem um bom diur-
tico e refrescante do sangue.
Erva-cidreira: Paracelso ensinava que o ch
desta planta alivia as dores do parto e auxilia a expulso da criana e da placenta.
Erva-de-so-joo: til nas clicas e nas di-
arrias dolorosas.
Laranjeira: A casca do fruto, em infuso,
combate a hemorragia uterina. Como alimen-
to, a fruta benfica para a garganta e os in-
testinos.
Loureiro: Suas vagens tm propriedades ver-
mfugas. A ao de qualquer parte da planta
antimicrobiana. O suco das folhas, tomado na
dose de 3 a 4 gotas diludas em gua, ajuda na
menstruao, corrige os desarranjos do est-
mago, melhora a surdez, as dores de ouvido
e as manchas do rosto. Ideal quando colhida
sob a influncia de Marte.
Nogueira: O ch das folhas, por decoco (2
xcaras grandes, duas vezes ao dia), um
bom tratamento para feridas, erupes cut-
neas e tumores. Deve ser usado por tempo
prolongado. Na Idade Mdia, o ch de no-
gueira era um famoso tratamento contra a
sfilis. A casca da raiz um forte antdoto pa-
ra vrios venenos e cura as inflamaes da
boca, alm de ser vomitiva.
Oliveira: O leo de oliva tem a propriedade
de condensar energia vital e fora energtica
quando ingerido ou utilizado em massagens
vigorosas na pele.
Penia: Com as sementes que surgem da
primeira florada faz-se um colar para ser de-
pendurado no pescoo de uma criana epi-
lptica; concomitantemente deve ser minis-
trado um ch da decoco de parte das se-
mentes. O ch das folhas alivia as dores de
cabea e as dores do parto.
Sndalo-vermelho: A massagem com o leo
ou com o p perfumado da casca til con-
tra hemorragias.
Sene: O ch por decoco tem um forte
efeito purgativo. Melhor quando colhido na
Lua cheia.
Tanchagem: O ch da raiz cicatrizante
para lceras internas e externas, bom nas
enxaquecas e nos casos de fluxo menstrual
muito abundante. Com as folhas prepara-se
um cataplasma, timo tratamento para a fe-
bre amarela, disenteria e doenas inflamat-
rias dos olhos.
Videira: O cataplasma feito com uvas assadas
e transformadas em p muito bom para as
dores severas do abdome. O suco das folh