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Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento - NC: 10754 - ISSN: 2448-0959www.nucleodoconhecimento.com.br
Capacitação em Competência Cultural na Saúde Indígena:Avaliação de uma Oficina de Capacitação para Profissionais deEnfermagem
FRENOPOULO, Christian [1]
MILANI, Eduardo [2]
MOREIRA, Nicoly [3]
VASCONCELOS, Vitor [4]
MOREIRA, Aíne [5]
FRENOPOULO, Christian. Capacitação em Competência Cultural na Saúde Indígena: Avaliação de
uma Oficina de Capacitação para Profissionais de Enfermagem. Revista Científica Multidisciplinar
Núcleo do Conhecimento. Edição 06. Ano 02, Vol. 01. pp 336-357, Setembro de 2017. ISSN:2448-0959
RESUMO
Apresentam-se os resultados de uma avaliação da eficácia de uma oficina de desenvolvimento de
competência cultural, na qual participaram profissionais de enfermagem que trabalham com pacientes
indígenas na Amazônia ocidental. Os resultados mostram que houveram mudanças nas atitudes e
conhecimentos dos participantes após as oficinas, tendentes a valorizar uma abordagem mais
culturalmente sensível com os pacientes. A hipótese principal era que a participação na oficina iria
incrementar a competência dos profissionais para interagirem com pacientes culturalmente diferentes. O
marco teórico centrou-se no conceito de "competência cultural", o qual é um constructo que descreve a
capacidade para interagir eficazmente com indivíduos culturalmente diferentes, e é especialmente
relevante na prestação de serviços públicos, como por exemplo, a atenção à saúde. Esta hipótese foi
testada utilizando questionários: primeiramente, comparando um grupo experimental submetido à
intervenção com um grupo controle; e segundo, comparando os valores iniciais antes da oficina com
valores registradas após a oficina. A intervenção foi aplicada com profissionais de enfermagem da
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CASAI (Casa de Saúde do Índio) na cidade de Rio Branco, Acre. A análise dos resultados indicou que
houve uma mudança estatísticamente significativa nos indicadores de competência cultural.
Secundariamente, através de questionários, procurou-se identificar quais atividades pedagógicas
contribuiriam mais para o aprendizado de competência cultural. Neste caso, os resultados indicaram que
os participantes acharam mais eficazes as visitas às salas da enfermaria e conversas diretas com os
pacientes sobre a qualidade do atendimento.
Palavras-chave: Saúde Indígena, Capacitação Cultural, Enfermagem, Educação Continuada.
INTRODUÇÃO
Neste artigo apresentam-se os resultados de uma avaliação da eficácia de uma oficina de desenvolvimento
de competência cultural, na qual participaram profissionais de enfermagem que trabalham com pacientes
indígenas na Amazônia ocidental. Os resultados mostram que há mudanças nas atitudes e conhecimentos
dos participantes após participação na oficina, tendentes a valorizar uma abordagem mais culturalmente
sensível com os pacientes.
A hipótese principal da pesquisa era que a participação na oficina iria incrementar a competência do
profissional para interagir com pacientes culturalmente diferentes. Esta hipótese foi testada de duas
formas: primeiramente, comparando um grupo experimental submetido à intervenção com um grupo
controle; e segundo, comparando os valores iniciais antes da oficina com valores registradas após a
oficina.
Secundariamente, procurou-se identificar quais atividades pedagógicas contribuiriam mais ao
aprendizado de competência cultural. Neste caso, os resultados indicaram que os participantes acharam
mais eficaz as visitas às salas da enfermaria e conversas diretas com os pacientes sobre a qualidade do
atendimento. Em segundo lugar, acharam eficazes as discussões abertas e livres entre os participantes
durante a oficina, na qual compartilharam experiências e opiniões sobre os assuntos. Ficou em terceiro
lugar, na opinião dos participantes, as palestras de um antropólogo.
JUSTIFICATIVA
A competência cultural pode ser definida como um conjunto de atitudes, habilidades, comportamentos e
políticas que habilitam os sujeitos a agirem de forma eficiente nas relações interpessoais e profissionais,
superando as diferenças culturais (RIBEIRO PEREIRA et al. 2014; COOPER & ROTER, 2002 apud
BEACH et al., 2005; PRICE et al., 2005). Nesta pesquisa, operacionalizamos o conceito de competência
cultural através de três variáveis: atitudes dos profissionais de saúde perante os indígenas, conhecimentos
dos profissionais sobre culturas e medicinas tradicionais indígenas, e comportamentos na interação com
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os pacientes.
No Brasil, a Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas (BRASIL, 2002) indica diretrizes
para a prestação de serviços que conforma com um modelo de atenção culturalmente sensível. A Política
estabelece que a atenção à saúde para indígenas deve ser oferecida "de forma diferenciada, levando-se em
consideração as especificidades culturais, epidemiológicas e operacionais desses povos" (BRASIL, 2002
p. 6). Para isto, "dever-se-á desenvolver e fazer uso de tecnologias apropriadas por meio de adequação
das formas ocidentais convencionais de organização de serviços" (BRASIL, 2002, p. 6). Esta adequação
inclui a "preparação de recursos humanos para atuação em contexto intercultural" (BRASIL, 2002, p. 13)
e a "articulação [com os] sistemas tradicionais indígenas de saúde" (BRASIL, 2002, p. 13).
O Ambulatório do Índio, em São Paulo, é um exemplo de um centro de enfermagem que procura oferecer
atenção culturalmente competente para usuários indígenas (RIBEIRO PEREIRA et al., 2014). Neste
local, os profissionais valorizam aspectos culturais dos pacientes, visando minimizar os conflitos entre o
saber da medicina ocidental e do indígena (RIBEIRO PEREIRA et al., 2014). Porém, a aquisição de
sensibilidade cultural no Ambulatório do Índio ocorre apenas de modo espontâneo em resposta à
motivação individual dos profissionais. Concomitantemente, a avaliação de satisfação com o atendimento
no local surge de relatos subjetivos das experiências particulares dos profissionais e experiências
qualitativas de tipo etnográfico (RIBEIRO PEREIRA et al., 2014).
Por estes dois motivos, desenhamos uma intervenção na qual seria oferecida aos participantes um módulo
educacional estruturado e implementado com todos os funcionários da categoria, e na qual pudéssemos
fazer uma avaliação objetiva e estatisticamente válida de possíveis mudanças na sensibilidade cultural dos
participantes. Desta forma, a capacitação dos funcionários seria implementada de modo sistematizado e
planejado, e disponível universalmente para os funcionários da categoria. Logo, teríamos também, valores
estatísticos para avaliar a eficácia do módulo educativo.
Escolhemos implementar a intervenção na Casa de Apoio à Saúde Indígena (CASAI) localizada na cidade
de Rio Branco, capital do estado de Acre, a qual faz parte do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI)
do Alto Rio Purus. Neste local, não há uma política nem uma prática de oferecer módulos educativos
orientados a melhorar a competência cultural dos servidores como parte de sua formação permanente,
nem tampouco há uma política ou exercício sistemático de engajar práticas culturalmente sensíveis além
daqueles feitos espontaneamente pelos funcionários. Todavia, as comunicações do coordenador do
projeto com os profissionais em pesquisas anteriores mostravam sua vontade de participar deste tipo de
formação, e da consciência de sua importância (FRENOPOULO, 2012).
METODOLOGIA
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A hipótese da pesquisa era que a participação na oficina incrementaria a competência cultural do
participante. Entendemos por competência cultural a competência para interagir com indivíduos
culturalmente diferentes. Para esta pesquisa, a competência cultural na atenção à saúde indígena mede-se
nas atitudes ante os pacientes indígenas, no grau de conhecimento detalhado sobre suas culturas e
medicina tradicional, e em práticas de enfermagem inclusivas que envolvem especialistas indígenas (p.
ex., pajés ou parteiras) como parceiros no cuidado do paciente.
De modo que as três variáveis principais da pesquisa são: mudanças nas atitudes, mudanças no
conhecimento, e mudanças nos comportamentos dos profissionais. Nossa seleção de variáveis surge de
pesquisas e políticas de competência cultural anteriores focalizadas nos profissionais, dos quais fizemos
uma síntese e adaptação (BEAMON et al., 2006; BEACH et al., 2005; PRICE et al., 2005; CRANDALL
et al., 2003; BRACH & FRASERIRECTOR, 2000). Reconhecemos que a competência cultural também
pode ser revelada em outros tipos de mudanças nos profissionais e também em mudanças nos pacientes
(p.ex., sua satisfação com a atenção, ou em melhoras nos indicadores objetivos de saúde). Porém, para
esta pesquisa decidimos restringir a colheita de dados apenas a estas três variáveis.
A metodologia de colheita de dados foi quase-experimental. Primeiramente, a intervenção (oficina) foi
aplicada de forma independente e sequencial em dois grupos de profissionais. Consideramos o primeiro
grupo como o grupo experimental, o qual foi submetido à intervenção inicial. O segundo grupo
permaneceu sem receber a intervenção durante uma semana, e seus valores antes de receber a intervenção
foram tomados como as de um grupo controle, a efeitos comparativos.
Foram convidados a participar todos os profissionais da área de enfermagem que trabalhavam na
enfermaria (CASAI) ao momento de implementar a oficina. Destes, quatro funcionários não se
apresentaram. Houve duas expressões espontâneas de interesse em participar por dois técnicos de
enfermagem de etnias indígenas, os quais mesmo não sendo funcionários da enfermaria, aceitamos como
participantes. No total houveram 23 participantes (6 enfermeiros, 1 técnica de laboratório, 18 técnicos de
enfermagem). Destes, 6 técnicos de enfermagem são indígenas da região. O primeiro grupo (grupo
experimental) teve 16 participantes, e o segundo grupo (grupo controle) teve 7 participantes. Houveram
dois participantes que desistiram da primeira oficina e não completaram o evento, e outros dois
participantes que desistiram da segunda oficina e não completaram o evento. Os questionários dos
desistentes foram excluídos das análises estatísticas relevantes. A primeira oficina aconteceu nos dias 12 e
13 de novembro de 2016, e a segunda oficina nos dias 19 e 20 de novembro de 2016.
Reconhecemos que o grupo controle não cumpre com condições ideais. Por exemplo, as medições não
foram feitas simultaneamente às do grupo experimental, nem de forma cega (ou seja, sem que um
participante soubesse se formava parte do grupo experimental ou de controle). As medições do grupo
controle foram tomadas uma semana após a aplicação da intervenção com o grupo experimental, pelo
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qual pode haver tido comunicações espontâneas e criações de expectativas entre os participantes do grupo
controle ao interagir com seus colegas no espaço laboral.
Aceitamos estas imperfeições por motivos éticos. Primeiramente, tivemos que nos adaptar aos horários
dos plantões da enfermaria e dias disponíveis dos funcionários, fazendo-se inoportuno a implementação
de excessivas obrigações (p.ex., preenchimento de questionários) fora do horário da intervenção aplicada
para cada grupo. Por sua vez, a adaptação aos plantões fez impossível a seleção aleatória dos participantes
de cada grupo. Em terceiro lugar, consideramos necessário do ponto de vista ético oferecer a intervenção
para o grupo controle, e os participantes foram avisados de antemão que iriam receber a intervenção num
segundo momento. Isto é porque consideramos indevido oferecer uma intervenção placebo (p.ex., com
informações conhecidas ou neutras), fazendo perder o tempo ou enganando aos participantes, e porque
não achamos correto deixar uma turma de profissionais sem o benefício da oficina no qual participaram
seus colegas.
O principal instrumento de colheita de dados foram questionários. Para medir as atitudes utilizamos um
questionário contendo uma série de 51 afirmações sobre colaboração e comunicação com diversos
agentes indígenas (pacientes, familiares, pajés, parteiras, Agentes Indígenas de Saúde). Pedimos aos
participantes identificar seu grau de concordância com cada uma das afirmações numa escala Likert de 5
opções ("concordo totalmente", "concordo muito", "concordo em média", "concordo pouco", "não
concordo"). As afirmações estão subdividas em três categorias (valorizar, preferir, ter intenção) ao
respeito do trabalho colaborativo com agentes indígenas, para operacionalizar a variável "atitudes".
Para medir mudanças nos conhecimentos, entregamos um questionário com 77 afirmações sobre cultura e
medicina tradicional indígena. Pedimos aos participantes identificar quais afirmações eram falsas e quais
verdadeiras, ou indicar se não sabiam.
O questionário sobre interações (comportamentos) foi incluído na pesquisa, porém não incluímos os
dados neste relatório, pois ainda está inconclusa essa fase da pesquisa. Deveremos comparar os dados
sobre comportamentos preenchidos antes das oficinas com dados a serem colhidos numa seguinte fase
prevista para alguns meses após a oficina, aonde avaliaremos se houveram mudanças sustentadas no
tempo nos comportamentos após a oficina. Portanto não reportamos sobre essa variável neste relatório.
Devemos esclarecer que apesar de pedirmos aos participantes responderem os questionários de modo
individual, alguns participantes ficavam consultando ou comentando com seus colegas, o que não lhes
inibimos. Embora a resposta exclusivamente individual poderia melhorar a validez de alguns dados, iria
contra a um dos objetivos da oficina que era promover atitudes colegiais de consulta e apoio mútuo entre
os participantes.
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Para a análise dos questionários utilizamos tabelas de contingência. Procuramos calcular o Qui-quadrado
(?2) e o valor "p" (McDonald 2014). Utilizamos o programa R para os testes estatísticos e a construção de
gráficos (ver www.r-project.org). A "hipótese nula" (H0) seria que "não houveram mudanças" nas atitudes
ou conhecimentos após participação na oficina. O teste de Qui-quadrado (?2) exige dois pressupostos: a
frequência esperada deve ser maior que 5, e que haja independência das amostras (McDonald 2014). Os
dois pressupostos cumprem-se para nossos dados, apenas esclarecendo que pode ter havido alguma
influência nas opiniões do grupo controle pelo seu contato laboral com o grupo experimental.
A primeira análise estatística consistiu em comparar o grupo experimental com o grupo controle. Neste
caso, tomamos os valores dos questionários preenchidos após a oficina do grupo experimental e as
comparamos com os valores dos questionários preenchidos antes da oficina do grupo controle. No rigor,
deveríamos utilizar respostas do grupo controle para questionários feitos após uma oficina placebo,
porém, como foi explicado, não consideramos adequado desenhar a pesquisa dessa forma. Em
substituição utilizamos os valores iniciais basais do grupo controle, antes deles terem recebido a oficina.
Como o grupo controle teve 7 participantes, tivemos que fazer uma paridade no grupo experimental para
ter o mesmo número de casos para a análise estatística. Utilizamos um sistema aleatório de seleção de
questionários preenchidos (escolhendo fichas numeradas de dentro de uma caixa fechada) até conseguir 7
participantes para o grupo experimental. Como o tamanho desta amostra é pequena, há possibilidade de
gerar um Erro Tipo II. Porém, isto não aconteceu, pois, os resultados da análise estatística nos permitiram
rejeitar a hipótese nula.
Para analisar possíveis mudanças nas atitudes, comparamos os dados para as três categorias: "valorizar",
"preferir", e "ter intenção". Para analisar possíveis mudanças nos conhecimentos, comparamos as
quantidades de afirmações identificadas como "falsas", "verdadeiras", ou "não sabe".
A segunda análise estatística consistiu em comparar as respostas aos questionários preenchidos antes das
oficinas com as respostas preenchidas após as oficinas. Neste caso, juntamos as respostas dos dois grupos
somados para formar uma amostra única. Neste caso, tivemos um tamanho da amostra maior, não tivemos
que fazer ajustes na paridade dos grupos, e não há menos independência nas respostas do que houve para
cada oficina levando em conta o contato e comunicação dos participantes entre si na hora de preencher os
questionários. Esta amostra cumpre com os pressupostos do teste de Qui-quadrado (?2), e há menos risco
de gerar um Erro Tipo II, pois a amostra é maior.
Igualmente aos testes anteriores, comparamos os dados para as três categorias de atitudes: "valorizar",
"preferir", e "ter intenção". Para analisar possíveis mudanças nos conhecimentos, comparamos as
quantidades de afirmações identificadas como "falsas", "verdadeiras", ou "não sabe".
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Para cumprir com o segundo objetivo da pesquisa de identificar a estratégia pedagógica mais eficaz,
implementamos um questionário adicional ao finalizar cada oficina. O questionário consistia em três
perguntas, e pedia que os participantes avaliaram numa escala Likert de cinco opções o grau de proveito
de cada uma das três estratégias pedagógicas utilizadas em cada oficina ("muito proveitoso", "bastante
proveitoso", "proveitoso em média", "pouco proveitoso", "nada proveitoso"). As três estratégias
pedagógicas foram: discussões abertas e livres entre os participantes (as quais ocuparam a maior parte do
tempo das oficinas); palestras de um antropólogo (feitas no começo e no final das oficinas, para
apresentar e depois resumir os tópicos discutidos); e visitas às salas da enfermaria para consultar e
conversar diretamente com os pacientes (feitas após as discussões, já no final da oficina, antes da palestra
de encerramento do antropólogo).
Não havia hipótese a testar neste componente da pesquisa, senão apenas obter dados observacionais. Para
isto, foram calculadas porcentagens para determinar a ordem de prioridade de cada estratégia segundo a
avaliação subjetiva dos participantes. Tomamos como amostra o total de respostas, somando os
questionários preenchidos dos dois grupos.
Adicionalmente, foram feitas duas entrevistas. Estas servem com um objetivo de atestação para
incrementar os dados estatísticos com algumas avaliações subjetivas e qualitativas dos participantes.
Após as oficinas, a equipe de pesquisa elaborou uma lista de cinco participantes cujos depoimentos e
participação durante as discussões livres pareciam merecer destaque. Desta lista, foram entrevistadas três
pessoas, em base a sua disponibilidade de horário. Os entrevistados representam a gama de participantes:
uma enfermeira (não-indígena), uma técnica de enfermagem não-indígena, e um técnico de enfermagem
indígena. As entrevistas duraram em média onze minutos, com aproximadamente oito perguntas cada
uma
RESULTADOS
1. Comparação grupo experimental e grupo controle
O primeiro conjunto de testes estatísticos foram feitos comparando o grupo experimental com o grupo
controle. Para testar se houve uma diferença nas atitudes, comparamos as respostas entre o grupo
experimental e o grupo controle para as três categorias "valorizar", "preferir", e "ter intenção", de
trabalhar em cooperação e coordenação com diversos agentes indígenas. Nos três casos, houve uma
diferença estatisticamente significativa (p<0,01) entre os dois grupos de participantes. Nas três categorias,
observa-se que no grupo experimental há uma notória concentração de respostas afirmando "concordar
totalmente" ou "concordar muito" com o trabalho coordenado, não houve respostas em branco ("não
responde") e houve poucas respostas afirmando "não concordar" com o trabalho coordenado. Em
comparação, no grupo de controle há maior distribuição das respostas, incluindo mais respostas
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afirmando "não concordar" ou "concordar pouco" com o trabalho coordenado, além da existência de
respostas em branco ("não responde") (ver gráficos 1, 2, 3).
Gráfico 1: Valorizar o trabalho coordenado com agentes indígenas
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Gráfico 2: Preferir o trabalho coordenado com agentes indígenas
Gráfico 3: Ter intenção de trabalhar em coordenação com agentes indígenas
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Nos cálculos estatísticos constatamos que o valor p<0,01; portanto, estas diferenças são estatisticamente
significativas. Isto sugere que nossa hipótese sobre mudança de atitudes é válida (ver tabela 1.1).
Tabela 1.1: Valores "p" para as três variáveis de mudança nas atitudes
Variável X2 df p-value"valorizar" 20.671 5 0.0009347"preferir" 26.857 5 0.00006082"ter intenção" 22.161 5 0.0004879
Para avaliar se houveram diferenças nos conhecimentos sobre cultura e medicina tradicional indígena,
comparamos as respostas entre o grupo experimental e o grupo controle. Constatamos que o grupo
experimental mostra valores mais baixos de respostas deixadas em branco ou afirmando não saber ("não
responde" ou "não sabe"), e os participantes identificam maiores afirmações falsas incluídas no
questionário (ver gráfico 4).
Gráfica 4: Identificação de afirmações falsas e verdadeiras sobre cultura e medicina tradicional indígena
Nos cálculos estatísticos constatamos que o valor p<0,01; portanto, estas diferenças são estatisticamente
significativas. Isto sugere que nossa hipótese sobre mudança de conhecimentos é válida (ver tabela 1.2).
Tabela 1.2: Valor "p" para a variável de mudança nos conhecimentos
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Variável X2 df p-value"conhecimentos" 60.6 2 0.00000000000006934
2) Comparação antes e depois
O segundo conjunto de testes estatísticos foram feitos comparando as respostas dos questionários
entregues antes e depois da intervenção. Para avaliar se houve mudança nas atitudes tomamos os valores
das categorias "valorizar", "preferir", e "ter intenção" de trabalho em coordenação com agentes indígenas.
Nos três casos, houve uma diferença estatisticamente significativa (p<0,01) entre os dois momentos de
medição. Nas três categorias, observa-se que na medição após as oficinas há uma notória concentração de
respostas afirmando "concordar totalmente" ou "concordar muito" com o trabalho coordenado e poucas
respostas em branco ("não responde") ou afirmando "não concordar" com o trabalho coordenado. Em
comparação, na medição feita antes de iniciar as oficinas há maior distribuição das respostas, incluindo
mais respostas afirmando "não concordar" ou "concordar pouco" com o trabalho coordenado, além das
respostas em branco ("não responde") (ver gráficos 5, 6, 7).
Gráfico 5: Valorizar o trabalho coordenado com agentes indígenas (antes - depois)
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Gráfico 6: Preferir o trabalho coordenado com agentes indígenas (antes - depois)
Gráfico 7: Ter intenção de trabalhar em coordenação com agentes indígenas (antes - depois)
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Nos cálculos estatísticos constatamos que o valor p<0,01; portanto, estas diferenças são estatisticamente
significativas. Isto sugere que nossa hipótese sobre mudança de atitudes é válida (ver tabela 1.3).
Tabela 1.3: Valores "p" para as três variáveis de mudança nas atitudes (antes - depois)
Variável X2 df p-value"valorizar" 98.789 5 0.00000000000000022"preferir" 96.618 5 0.00000000000000022"ter intenção" 42.611 5 0.0000000443
Para avaliar se houveram diferenças nos conhecimentos sobre cultura e medicina tradicional indígena
comparamos as respostas antes e depois das oficinas. Constatamos que as respostas após a oficina
mostram valores mais baixos de respostas deixadas em branco ou afirmando não saber ("não responde"
ou "não sabe"), e os participantes identificam maiores afirmações falsas incluídas no questionário (ver
gráfico 8).
Gráfica 8 - Identificação de afirmações falsas e verdadeiras sobre cultura e medicina tradicional indígena
(antes - depois)
Nos cálculos estatísticos constatamos que o valor p<0,01; portanto, estas diferenças são estatisticamente
significativas. Isto sugere que nossa hipótese sobre mudança de conhecimentos é válida (ver tabela 1.4).
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Tabela 1.4: Valor "p" para a variável de mudança nos conhecimentos (antes - depois)
Variável X2 df p-value"conhecimentos" 30.69 2 0.0000002166
3. Métodos pedagógicos mais eficazes
Os resultados dos questionários sobre a eficácia dos métodos pedagógicos aplicados durante as oficinas
mostram que os participantes acharam mais eficaz as visitas às salas do centro de saúde aonde
conversaram e consultaram diretamente com os pacientes sobre a qualidade da prestação de serviços. A
discussão livre e aberta entre os participantes surge em segundo lugar de preferência. Em terceiro lugar
vem as palestras com Datashow dadas por um antropólogo.
Os gráficos 1.5, 1.6, e 1.7 mostram as porcentagens das respostas. Observa-se que da escala de cinco
opções disponíveis aos participantes para avaliar a estratégia pedagógica das conversas com os pacientes
e para avaliar a estratégia pedagógica da discussão livre entre os participantes, todas as repostas recebidas
concentram-se em considerar "muito proveitoso" ou "bastante proveitoso" esses métodos. Em
comparação, já houve participantes que consideraram "proveitoso em média" ou "pouco proveitoso" as
palestras do antropólogo (ver gráficos 9, 10, 11).
Gráfico 9: Grau de proveito
das conversas com pacientes nas salas
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Gráfico 10: Grau de
proveito da discussão aberta e livre entre participantes
Gráfico 11: Grau
de proveito das palestras do antropólogo
4. Entrevistas
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As entrevistas confirmam a informação obtida através dos questionários, e refletem os depoimentos
compartilhados durante as discussões abertas da oficina. Dentre as várias perguntas, destacamos aqui dois
eixos recorrentes nas respostas dos entrevistados: 1) a oficina como oportunidade de compartilhar
experiências e opiniões com colegas; 2) acolhimento da medicina tradicional indígena dentro da
enfermaria.
Sobre o primeiro ponto, por exemplo, temos o seguinte depoimento:
O debate foi muito bom e proveitoso porque todos os colegas de trabalho conseguiram mostrar os seus
conhecimentos, compartilhando com os outros e também ouvindo o que os indígenas presentes tinham a
dizer, sobre a cultura dos Kulinas, sobre os feitiços e etc.
De modo semelhante, temos a seguinte consideração:
O que faltava anteriormente na CASAI era esse diálogo aberto entre os profissionais e os pacientes. Com
a oficina esse diálogo surgiu e isso serviu como inspiração e alerta para os técnicos e os colegas.
Ao respeito do segundo ponto, podemos destacar a seguinte opinião:
A CASAI precisa melhorar muito, principalmente quanto ao respeito aos pacientes conhecedores da
medicina tradicional, para que esses sintam-se à vontade para fazer uso da mesma.
Também realçamos a seguinte apreciação:
Dependendo do paciente, caso seja necessário a presença de um pajé com seus conhecimentos, o
paciente pode solicitar a vinda do mesmo.
De modo que os depoimentos das entrevistas reiteram os pontos principais levadas à discussão durante as
oficinas. Assim, um dos entrevistados falou uma frase que sintetiza bem o objetivo da oficina: "para
trabalhar com os indígenas precisamos ter conhecimento da cultura deles".
DISCUSSÃO
Com esta pesquisa pudemos suprir a ausência de medições estatísticas mostrando a eficácia de módulos
educativos deste tipo (cf. RIBEIRO PEREIRA et al., 2014). Os resultados da pesquisa mostram mudanças
nas atitudes e conhecimentos dos participantes perante os pacientes indígenas. Isto é visível através da
comparação de respostas de questionários aplicados antes e depois de cada oficina, e também (tomando
em conta algumas apreciações) entre um grupo considerado experimental e outro grupo considerado de
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controle.
Ao mesmo tempo, também pudemos suprir a necessidade de implementar módulos de formação
profissional permanente para ajudar a capacitar os profissionais em assuntos de cultura e medicina
tradicional indígena. Desta forma, os profissionais não devem apenas adquirir esta competência de forma
espontânea através da motivação individual (cf. RIBEIRO PEREIRA et al., 2014), senão de forma
sistemática e disponível para a totalidade dos funcionários da categoria na unidade de saúde estudada.
A avaliação da eficácia relativa das estratégias pedagógicas foi incluída para identificar formas de
melhorar o módulo educativo para eventuais aplicações futuras em outras localidades. Por exemplo, a
notória resposta positiva dos participantes sobre o proveito de visitar as salas da enfermaria e conversar
com os pacientes sugere que esta prática deve ser priorizada em futuras oficinas. Durante a pesquisa, as
visitas às salas ocuparam aproximadamente 29% do tempo. As visitas ocorreram na etapa final das
oficinas, o que sugere que talvez sua eficácia percebida pode ser devido aos participantes já estarem com
uma atitude influenciada a favor de se comunicar mais com os pacientes por conta das atividades
anteriores da oficina. No futuro, deve-se destinar maior tempo e organização para que a comunicação com
os pacientes seja mais minuciosa e completa nas visitas. Fomentar isto é um objetivo da oficina, e vê-se
necessário reorganizar o tempo para priorizar este método pedagógico.
Também percebemos que os participantes acharam de grande proveito a metodologia da discussão livre
entre os participantes. Este método ocupou a maior parte do tempo da oficina (aproximadamente 57% do
tempo), porque a equipe de pesquisa queria priorizar o intercâmbio de experiências entre os participantes.
É notório que alguns participantes comentaram depois que, apesar de trabalhar ao lado de alguns colegas,
não sabiam da riqueza de sua experiência. A discussão livre permitiu que os participantes com maior
tempo de experiência e aqueles com origens étnicas indígenas pudessem expor suas opiniões e
experiências aos seus colegas. Desta forma, a condução da oficina ficou descentralizada da equipe de
pesquisa e do antropólogo palestrante, e entregue de forma democrática aos participantes. Procurou-se
assim, também, fomentar uma atitude de colegialidade e cooperação entre os participantes, o que apoiaria
os objetivos da oficina.
As palestras do antropólogo ocuparam 14% do tempo e não estiveram destinadas a acrescentar muita
informação adicional por cima do discutido nas discussões livres, porém houve uma recapitulação de
assuntos chaves e uma tentativa de expor alguns conceitos disciplinares relevantes (como etnocentrismo e
relativismo cultural). No futuro, estas palestras devem estar mais orientadas a proporcionar informação
adicional não disponível aos participantes, como resultados de pesquisas relevantes, mais informação
sobre cultura e medicina tradicional indígena, e alguns outros conceitos antropológicos.
As entrevistas proporcionaram opiniões e apreciações que confirmam os objetivos da oficina. Os
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entrevistados foram selecionados de forma explícita em base às suas opiniões expressadas durante a
oficina, e as entrevistas ocorreram após as oficinas, portanto, elas concentram opiniões de participantes
que responderam de forma afirmativa as nossas hipóteses. As entrevistas conformam um registro de
atestação nas palavras dos participantes sobre alguns pontos principais da oficina, e servem para serem
incluídas em material de divulgação e em material didático de futuras oficinas.
Após estes resultados, está prevista uma seguinte fase de pesquisa no qual deverão ser colhidos novos
dados para determinar se houve mudanças significativas de longo prazo. Deverão ser medidas novamente
as atitudes e conhecimentos, e acrescentado dados sobre comportamentos e interações com agentes
indígenas.
CONCLUSÃO
Apresentamos neste relatório os resultados de uma avaliação da eficácia de uma oficina destinada a
melhorar a competência de profissionais da enfermagem para adequar seus serviços às particularidades
culturais dos seus pacientes indígenas. Os testes estatísticos mostram de que houve mudanças
estatisticamente significativas (p<0,01) nas atitudes dos profissionais sobre trabalhar em cooperação e
comunicação com diversos agentes indígenas, e nos seus conhecimentos sobre cultura e medicina
tradicional indígena.
Os resultados também mostram que os participantes acharam de maior proveito a estratégia pedagógica
de visitar as salas da enfermaria e conversar diretamente com os pacientes sobre a qualidade da sua
atenção. Em segundo lugar, acharam proveitosas as discussões livres e abertas que ocuparam a maior
parte do tempo da oficina, na qual compartilharam experiências e opiniões.
A pesquisa seguiu uma metodologia quase-experimental, havendo alguns condicionamentos éticos que
impediram a implementação de um desenho experimental mais padrão. Levando sempre em conta estas
limitações, os dados terão validez e poderão ser utilizados como antecedentes para implementação de
módulos educativos semelhantes ou para justificar algumas políticas sobre o assunto.
REFERÊNCIAS
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RIBEIRO PEREIRA, Erica et al. A experiência de um serviço de saúde especializado no atendimento a
pacientes indígenas, Saúde e Sociedade, v. 23, n. 3, Jul/Set., 2014.
[1] UFAC (Universidade Federal do Acre). Professor. Pesquisador principal e coordenador do projeto
[2] UFAC (Universidade Federal do Acre). Alunos. Colaboradores do projeto.
[3] UFAC (Universidade Federal do Acre). Alunos. Colaboradores do projeto.
[4] UFAC (Universidade Federal do Acre). Alunos. Colaboradores do projeto.
[5] UFAC (Universidade Federal do Acre). Alunos. Colaboradores do projeto.
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