Características anatômicas durante a aclimatização de ... · representa o grupo mais evoluído...

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Características anatômicas durante a aclimatização de Catleya schilleriana (Orquidaceae)

Jessé Marques da Silva Júnior1; Marinês Ferreira Pires5; Evaristo Mauro de Castro2; MoacirPasqual3; Selma Lopes Goulart2; Evelyn Alecrin.6

1 Doutorando em Fisiologia Vegetal-UFLA, Lab. Anatomia Vegetal. jesseagronomo@hotmail.com2 Doutoranda em Tecnologia da Madeira-UFLA. Lab. Anatomia da Madeira3 Professor Doutor. DBI-UFLA4 Professor Doutror-Agricultura-UFLA5 Estudante de graduação em Ciências Biológicas-UNIFAL6 Estudante de graduação em Ciências Biológicas-UFLA

Palavras-chave: anatomia foliar, anatomia radicular, aclimatização, planta ornamental

INTRODUÇÃO

A família Orchidaceae temcaracterísticas muito especializadas, que lheconfere elevado poder de adaptação adiferentes ambientes (Benzing et al. 1982).Segundo (Cronquist 1981) a famíliarepresenta o grupo mais evoluído da superordem Liliiflorae e constituem uma dasmaiores famílias do Reino Vegetal, comaproximadamente 30.000 espécies. No gêneroCattleya, existe cerca de 60 espécies de ervasepífitas que vivem nas matas. A espécie emestudo é pouco difundida no mercado deflores, mas com excelente perspectiva decomercialização.

A literatura não relata um sistemaeficiente de aclimatização das plântulas deCattleya schilleriana ‘Tipo’ (Orchidaceae)provenientes do cultivo in vitro. Desta forma,são necessários estudos no sentido deestabelecer as condições ideais para aaclimatização e assim promover o corretodesenvolvimento dos órgãos vegetativos dasmudas e permitir o seu estabelecimento. Opresente trabalho foi realizado com o objetivode analisar as características anatômicasdurante o processo de aclimatização deplântulas de C. schilleriana cultivadas invitro.

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi conduzido noLaboratório de Anatomia Vegetal-UFLA,Lavras, MG. Utilizaram-se plântulas

micropropagadas C. schilleriana oriundas deautopolinização e sementes germinadas invitro com aproximadamente 1,0 cm decomprimento e com raízes que foraminoculadas em frascos. O meio de culturautilizado foi MS + 0,5 mg L -1 de ANA+ 5,0mg L-1 de GA3 + 2 g L-1de carvão ativado +100 g L-1 de banana nanica + 6 g.L-1 de ágar epH 5,8 ±0,1. Os explantes (5 plântulas/frasco)foram inoculados em recipientes comcapacidade de 250 cm3 contendo 60 ml demeio de cultura. Após a inoculação, os frascosforam vedados com tampas plásticastranslúcidas e filme plástico, e em seguidatransferidos para sala de crescimento.

Após quatro meses de cultivo in vitro,as plântula foram transferidas diretamentepara casa-de-vegetação com sombrite 70%.As plântulas foram plantadas em bandejascontendo substrato: casca de arrozcarbonizada, madeira de Pinus triturada epiaçava (3:1:1) e cobertas com plásticotransparente para manutenção da umidade(câmara úmida). Após 15 dias o plástico foiremovido e iniciou-se o processo deaclimatização propriamente dito. Após 60dias,as plântulas foram coletadas, fixadas emF.A.A70 por 72 horas e preservadas em álcool70° GL. Para os estudos anatômicos deplântulas in vitro e plântulas em processo deaclimatização em casa-de-vegetação, foramrealizadas secções transversais a mão livre, nalâmina foliar: paradérmicos nas superfíciesadaxial e abaxial, onde os mesmos foramclarificados em solução de hipoclorito desódio 50%, submetidos à lavagem em água

destilada, corados com safranina 0,1% para asseções paradérmicas e com astrablau (soluçãode safranina e azul de astra 7,5:2,5) para astransversais.

As lâminas foram observadas emmicroscópio óptico acoplado à câmera digital,as imagens foram analisadas no programaSigma scan pro 5®. As característicasanatômicas analisadas foram: epidermeadaxial (EAD) e abaxial (EAB) e osparênquimas paliçádico (PP) e esponjoso(PE), e as seções paradérmicas: densidadeestomática, diâmetros polar (DP) e equatorial(DE) dos estômatos e a relação DP/DE.Foram utilizadas seis folhas com quatro cortesavaliados, num total de 24 observações.

O delineamento utilizado foiinteiramente casualizado (DIC). A análise dosdados foi feita com o software Sisvar(Ferreira, 2000), utilizando-se o teste deScott-Knott (P<0,05).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A condição in vitro afetou a espessurados tecidos foliares, principalmente dasepidermes adaxial e abaxial (Figura 1 A).Diversas alterações na estrutura das folhas deplantas mantidas in vitro têm sido reportadas,como o aumento no tamanho e na densidadedos estômatos, redução no controleestomático, na quantidade de cera epicuticulare na espessura do mesofilo, com altaproporção de espaços intercelulares(HAZARIKA, 2006). O aumento na espessurados parênquimas, sobretudo do parênquimaesponjoso, com maior proporção de espaçosintercelulares, tem sido relacionado a umamaior capacidade fotossintética das plantas(TOMA et al., 2004), o que poderá aumentara taxa de sobrevivência das plantas durante afase de aclimatização.As plântulas cultivadas in vitro apresentaramuma maior densidade estomática, quandocomparadas com as plântulas em casa-de-vegetação (Tabela 1 e Figura 1F). Osestômatos em cultivo in vitro apresentarammenor diâmetro polar e menor relação entre odiâmetro polar e o diâmetro equatorial,tornando-os mais esféricos, quandocomparados com plantas cultivadas em casade vegetação (Figuras 1C e F). Segundo

KHAN et al. (2003), alterações na forma dosestômatos afeta diretamente a funcionalidadedos mesmos, sendo que a forma mais elípticaé característica de estômatos funcionais,enquanto que a forma mais esférica é,freqüentemente, associada a estômatos combaixa funcionalidade. O aumento nadensidade estomática nas folhas das plantascultivadas in vitro, comparado à folhas deplantas mantidas em ambiente natural, temsido reportado em diversas espécies, estandoassociado, principalmente, à elevada umidaderelativa no interior dos recipientes de cultivoin vitro e à reduzida intensidade de luz(KHAN et al., 2003). Em síntese, verifica-seque a densidade estomática, a forma dosestômatos e a espessura das epidermes são ascaracterísticas mais afetadas durante o cultivoin vitro.

CONCLUSÃOO período de aclimatização é de

fundamental importância, pois corrige asanomalias provocadas pelo cultivo in vitro,promovendo alterações nos tecidos foliaresque podem melhorar a condutividadehidráulica, translocação de fotossintatos,captação de CO2 e evitar a transpiraçãoexcessiva.

AGRADECIMENTOS

A Universidade Federal de Lavras (UFLA) e aFAPEMIG pela concessão da bolsa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BENZING, D. H.; Ott, D. W. & FRIEDMAN,W. E. 1982. Roots of Sobralia macrantha(Orchidaceae): structure and function of thevelamen-exodermis complex. AmericanJournal of Botany 69: 508-614.CRONQUIST, A. 1981. An integratedsystem ofclassification of flowering plants. ColumbiaUniversity Press, New York.HAZARIKA, B.N. Morpho-physiologicaldisorders in in vitro culture of plants. ScientiaHorticulturae, Amsterdam, v.108, p.105-120,2006.

KHAN, S.V. et al. Growth and water relationsof Paulownia fortunei underphotomixotrophic and photoautotrophicconditions. Biologia Plantarum, Copenhagen,v.46, n.2, p.161-166, 2003.

TOMA, I. et al. Histo-anatomy and in vitromorphogenesis in Hyssopus officinalis L.Acta Botanica Croatica, Zagreb, v.63, n.1,p.59-68, 2004.

Figura 1. Secções transversais e paradérmicas de lâminas foliares de plântulas in vitro e em casa-de-vegetação. A- Secção transversal do mesofilo de plântulas em casa-de-vegetação; B- Nervuracentral de plântulas em casa-de-vegetação; C- Secção paradérmica em lãmina foliar de plântulas emcasa-de-vegetação; D- secção transversal do mesofilo de plântulas in vitro; E- Nervura central deplântulas in vitro; F- Secção paradérmica de lâmina foliar de plântulas in vitro. Todas as barrasmedem 50µm. UFLA-MG, 2009.

TABELA 1: Média do número (No) de estômatos/mm2, diâmetro (D) polar e diâmetroequatorial dos estômatos da face abaxial em indivíduos de Etligera elatior var. Red Torch,obtida pela propagação in vitro e submetida a períodos de aclimatização com três diferentessoluções nutritivas e plantas em campo. UFLA, Lavras, MG, 2007.

Tipo defolha

D.P(µm)

D.E(µm)

D.P/DE E.AD P.C E.AB. Limbo

in vitro 16,B 20,B 0,82 B 18.B 89,3 B 17,5B 125 BCasa-devegetação

25,A 23,A 1,1 A 22,A 120,1A 22,1A 165,A

DP: diâmetro polar dos estômatos; DE: diâmetro equatorial dos estômatos; Relação DP/DE relativo àfuncionabilidade estomática; E. AD. Espessura da epiderme da face adaxial (µm); P.C (parênquimaclorofiliano); E. AB. Espessura da epiderme da face abaxial (µm); Limbo (soma dos tecidos do mesofilo). Asletras diferentes na coluna ilustram valores diferentes no teste de skott-Knott a P<0,05.