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7/23/2019 Cidade Do Amanhã - Cidade Na Região
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Assim seguiram. rumo ao Portão e notem que a Cidade se erguia sobre pos
sante colina,
mas os
Peregrinos escalaram essa colina com
facilidade,
ajudados pelos
dois
homens
que os levavam pelos
braços.
encosta acima; também haviam deixado
suas Vestes
Mortais para
trás. no Rio; pois se
nele
haviam
entrado
com elas. sem
elas dele haviam saído. Subiram. portanto.
com
muita agilidade e rapidez. embora
a base sobre a qual se
assentava
a
Cidade
se erguesse acima das Nuvens. Subiram.
portanto. pelas Regiões do Ar e. subindo. amenamente conversavam. contentes por
haverem passado o
Rio
a salvo e terem.
para
escoltá-los. tão
gloriosos Companh
eiros.
JOHN BUNY N
The Pilgrim s Prog
ress
1678)
E
à
medida que a
Lua
subia.
inessenciais
as casas foram desaparec
endo
at
é
que. pouco a pouco. me dei conta desta velha ilha que aqui outrora desabrochou
ante
os
olhos dos
marinheiros holandeses
seio
túrgido
e
verde do novo mundo
.
Suas
árvores,
agora desaparecidas. árvores qu f cederam lugar à casa de Gatsby.
haviam outrora,
suspirosas
.
alcovitado
o
último
e
maior
de
todos os sonhos humanos;
por
um
breve
e
encantado momento. compelido
à
contemplação estéti
ca
que ele
nem
entendia
nem
desejava. deve ter o homem sustado a
respiração
na presença deste
continente, cara a cara pela última vez na história humana com alguma coisa à
altura de
sua
capacidade de maravilhar-se.
E ali
sentado,
meditando sobre o velho mundo
desconhecido.
lembrei-me da
sur
presa maravilhada de Gatsby
ao
divisar
pela
primeira vez. a
luz
verde no ancora
douro
de Daisy.
Longa
fora
a
caminhada até esta clareira
azul. e
seu
sonho deve
ter-lhe
parecido tão próximo que
dificilmente
lhe poderia escapar. Mal sabia ele que
esse sonho já ficara
para
trás. em algum lugar
daquela vasta escuridão para além
da cidade onde os negros campos da
república
rolavam sob a
noite.
F. ScorrFI1ZGERALD,
The
Great
Gatsby 1926)
• 4
5.
A Cidade
na Região
Nasce o Planejamento Regional:
Edimburgo, Nova York, Londres
1900-1940)
Se, originária
dos EUA, a
cidade-jardim foi
inglesa,
então, vin
-
da
da França via Escócia,
a
cidade
regional
foi, indubitavelmente,
norte-americana.
O
planejamento regional nasceu com Patrick Ged
-
des 1854-1932), um polimata
inclassificável que,
oficialmente,
le-
cionava biologia
muito provavelmente, qualquer coisa
menos bi o-
logia)
na Universidade de Dundee, dava
conselhos idiossincrático
s
aos
governadores
da
Índia
sobre
como
administrar suas cidades
e
tentava encapsular
o
sentido
.da
vida em tirinhas de
papel
dobradas.
De
seus contatos
com os
geógrafos franceses
na
virada
do século,
Geddes absorvera o credo do comunismo anarquista, baseado em
livres
confederações de
regiões autônomas.
Graças ao encontro que
teve
na década de 20 com
Lewis Mumford
1895),
um jornalista
-
sociólogo capaz,
como
Geddes jamais
o
foi, de dar forma coerente
a
seus pensamentos,
essa
filosofia
passou
para
um
pequeno mas bri
lhante
e devotado
grupo de
planejadores
sediados na
cidade
de
Nova
York, de onde
por
intermédio
dos
portentosos escritos
de
Mumford acabou fundida às
idéias
intimamente correlatas de Ho
ward
e
espalhou-se
por
toda
a
América
e
pelo mundo afora, exer
cendo enorme influência, em particular sobre
o New
Deal
de
r a n ~
klin Delano Roosevelt,
na
década de 30,
e
sobre
o
planejamento
das capitais
da
Europa
nos anos
40 e 50.
Mas, ironicamente,
nesse
processo exatamente
como
ocorreu
com
Howard
- a
qualidade
verdadeiramente radical
da
mensagem foi abafada e, mais
da
me
tade,
perdida; hoje,
em
parte alguma se vê,
no chão, a genuína e
notável visão
da Regional Planning
Association
of America, desti
lada, via Geddes, de Proudhon, Bakunin, Reclus
e
Kropotkin.
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162
CIDADES DO
AMANHÃ
GEDDES E A TRADIÇÃO ANARQUISTA
A
história tem de
começar
por
Geddes:
coisa
em si bastante
difícil, visto que ele sempre se
Iocomovia
em
círculos
crescentes.
Uma
secretária, que (como todas as secretárias) estava
em
ótima
posição para julgar,
disse certa
vez:
Geddes
deve ser
aceito
[ .. ]
como um
bom católico aceita
o sofrimento: de
coração aberto
e
sem
reservas,
pois só assim
pode
ele
beneficiar aqueles
a quem
sua
presença aflige
1
•
Arquétipo do professor
ridículo,
jamais
domi
nou
a
arte de se
fazer ouvir,
seja em
palanques
seja
em
recintos
fechados ;
estava sempre esquecendo
os
compromissos,
ou
mar
cando
dois ou três para
a mesma hora ;
muito dele eram as teses
não
desenvolvidas, os livros
não
escritos, e que assim
permanece
ram 2;
era,
segundo
nos relata Abercrombie, pessoa das mais
instáveis,
e
falava, falava, falava
[ ... ] a respeito de
tudo
e
de
na
da'
3
•
O
encontro que
o
destino
lhe
marcara
com
Mumford
em
Nova
York,
em 1923, foi um
desastre: Geddes quis transformar
aquele astro ascendente
de
28 anos
em seu assistente; quando
este
opôs objeções, até
a correspondência
entre os dois rareou
4
•
Mas
Geddes,
sem
saber,
havia encontrado o autor para seu
evan
gelho.
As
idéias-chave, Geddes as
havia
emprestado da
França: a tra
dição central
e vital da
cultura
escocesa , alegava,
sempre tem
estado casada com
a
da França'
5
• Seus
conceitos
básicos
foram
ex
traídos dos
pais
fundadores da
geografia francesa, Elisée Reclus
(1830-1905)
e
Paul Vidal
de la
Blanche (1845-1918),
e de
um dos
primeiros sociólogos
franceses,
Frédéric
Le Play
(1806-1882),
cujas
disciplinas neo-acadêmicas
tinham ganho respeitabilidade na França
alguns
anos antes de se imporem na
Inglaterra
ou nos Estados Uni
dos6.
Deles extraiu seu conceito
de
região natural,
de
que
é
um exem
plo a sua
famosa seção
de
vale.
E
importa notar que,
como
eles,
preferiu estudar a
região
em sua
forma
mais pura,
longe
da
sombra
da
metrópole-gigante:
No caso de um Levantamento Urbano concreto, por onde começar? [ .. ] Londres,
naturalmente,
há de
reivindicar
para
si
a
primazia.
Mas mesmo sob olhos
otimistas,
as mais vastas cidades do
mundo
apresentam-se
como um
labirinto
ora
menos
ora
mais
enevoado, do
qual
só vagamente é
possível
descrever as
regiões circUnvizinhas
com suas cidades menores
[ .. ]
Portanto, para
um
levantamento mais geral
e
compa
rativo
como
o nosso, são preferíveis
os
começos mais simples [ .. a perspectiva
clara,
a
visão
mais
panorâmica de
uma
determinada região geográfica,
como por exemplo
a que temos sob
os
olhos num passeio de
feriado
na montanha [ .. Assim também
·uma bacia hidrográfica é, conforme salientou
certo
geógrafo,
um item
essencial
para
o estudioso de cidades e civilizaçÕes. Daí por que este simples método geográfico
deve ser pleiteado
[sic]
como fundamental para qualquer tratamento realmente ordeiro
e comparativo de
nosso assunto7.
5.1 Patrick
eddes
· um
0
infatigável
dobrador de
papel
e desenhador de diagramas realiza aqm
incompreensível experimento consigo mesmo.
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5.2 Lewis Mumford
Seu único encontro com Geddes foi um desastre. mas final mente o profes so r
achara
0
seu escnba; a Regwnal Planning Association of America levaria a men
sagem do mestre para o mundo.
A
CIDADE NA REGIÃO
I
I
O planejamento deve começar, segundo Geddes, c m
o
I
v
tamento
dos
recursos de
uma
determinada região na
tu ral, d11 1 1
postas
que
o
homem
dá a
ela
e das complexidades rc
sullllnl
t
paisagem
cultural:
todo
o
seu ensinamento sempre
teve
con1o I 1 1
persistente
o
método de levantamento
8
,
o
que ele
t
am b
6m ·x
1
de Vidal e seus seguidores, cujas
monografias
regi o na is ·nn 1
tuíram tentativas de fazer exatamente isso
9
• Na famos a
Torr
· do M
rante Outlook Tower),
aquele
escabroso monumento qu
e
aindn 1 ti
de pé
no final
da Royal Mile, em Edimburgo,
criou e le
um
0dt lo
que pretendia ver repetido por toda
a
parte:
um centr
o lo ·nl
dt
lt
vantamento, a que todo o tipo
de
gente poderia vir a fim d i
preender a relação estabelecida
por
Le Play na trilogia Lu 1
'l't
lt
balho-Povow. O estudioso
de
cidades, afirmava, d
eve
en
' U tll
11ll
t
seus estudos primeiramente para essas regiões naturais:
Tal levantamento de
uma
série de
nossas
próprias bacias
hid
rográ li IHl I .. 1 11
considerado como a mais sólida das
introduções
para o estudo da s c iducl I, I
mesmo
nas maiores cidades é útil
que
o pesquisador restabeleça
con
lunh ·n ullll
enfoque elementar e semelhante ao do
naturalista
.
Tudo
parece enganosamente simples; mas, como di sse ' li 1 v
o planejador britânico Patrick Abercrombie, um levantame nto h 1
concreto
é
um negócio sinistro
e
complicado ,
tant
o
ma i
s
1
u
1
começa incluindo a região e acaba abarcando o mund . ' I od
t
1
Abercrombie, como era sabido de todos,
acreditava
que n a
J
l i I 1
do
início
dos
anos
20
os erros
da
nossa
reconstru
ção na ·i(:)n\1
1
dem ser
atribuídos
ao fato de
se ter negligenciado esse
cn
si n:
H
de Geddes
12
•
Para essa
grande empreitada, alegava constantemcn l
os mapas comuns
do
planejador
não vigoram:
é mist r
' 0
111 ' 1
idealmente
com
o grande globo proposto por Reclus e qu · 1 1
foi construído; à falta dele, que se tracem cortes transversais d
declive geral que desce das montanhas até o m ar e qu e e n onu 11111 1
no mundo
inteiro [o
qual]
podemos prontamente adaptar u q11 llq11
t
1
escala e a quaisquer proporções de nossa particular e ca ru ' I I I 1
série de colinas
e
declives
e
planície' '. Somente
tal
' 'Seç
<o d
VIl
h ,
como
comumente
a
chamamos, faz-nos ver com niti
de z a t
1
I
mática
com
sua
vegetação e
vida
animal correspond e
nt
es
I ... 1
o 1
baço seccional essencial
de
uma 'região'
de
ge ó grafo, pronl o p
ser estudado . Se
a examinarmos de perto, veremos
que
•
o •
onll
1
lugar para
todas as ocupações
ligadas à natureza .
O
caçador
e o pastor, o
camponês
pobre e o
rico;
esses os ti pos o '
11 1
1 N
que
nos são mais farrúliares, e que se apresentam em seqüê nc
ia
à m ··dldu IJIH hu
xamos
de altitude e descemos no curso
da
história sociaJI
3
.
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66
CIDADES
DO
AMANHÃ
Por seu turno,
ocupados
diferentemente, esses povos passaram,
cada um, a
urbanizar os seus próprios
povoados e aldeias
com
um tipo característico de
família,
de costumes e até mesmo
de instituições; e não simplesmente de construções
para
moradia;
embora cada um
desses elementos contivesse em
germe
o
estilo
arquitetônico que lhe
era
adequado.
Desse
jeito agrupam-se suas aldeias,
de
porto de
pesca
a floresta e desfiladeiro, de
jardins e campos
nas partes
baixas a mina e pedreira habitualmente nas altas14.
E, no centro
dessa região, ficava
o
' 'Vale
na
Cidade",
onde
é mister escavarmos em declive os estratos superficiais de nossa cidade, penetrando
em seu passado remoto
-
as
obscuras e no
entanto
heróicas cidades
sobre
as quais
e
acima
das quais foi
ela
construída; e a partir
da í
l ê ~ l s em
aclive visualizando-as
à medida
que
subimosl5.
Disso tudo muita
.
coisa se tornou,
em
linhas gerais, familiar
e
até
mesmo
trivial; qualquer planejador estreante sabe
que o
aforismo
O
Levantamento
precede
o
Plano"
é de
Geddes.
E
deriva
de um
tipo de geografia regional tradicional, que - divulgado em mil textos
escolares
produzidos em série - de
há
muito
se fez alvo de
zomba
rias, até ser definitivamente varrido
de
cena. Mas não conseguiram
derrubar seu ponto verdadeiramente
radical.
Para
Vida
e
seus
se
guidores,
bem como
para Geddes,
o
estudo regional propiciava
o
conhecimento
de
um ' 'ambiente ativo e vivenciado'' que
' 'era
a
força
motriz
do desenvolvimento humano;
a
reciprocidade quase
sen
sual existente entre homens
e mulheres e o
ambiente
que
os rodeia
constituía
a base
da
liberdade compreensível
e a
mo l
a
mestra
da
evolução
cultural" ,
que estavam sendo atacadas e
corroídas
pela
nação
-Estado centralizada e a grande expansão da
indústria
pesada
.
A qualidade propositalmente arcaica do levantamento regional ou
seja, a
enfatização das ocupações
tradicionais e dos
elos
históricos,
não
foi,
portanto,
mero subterfúgio: à
semelhança das
tentativas de
Ged
des
para
resgatar
a
vida
urbana do
passado
através de
máscaras
e en
cenações17,
representou
uma
celebração
plenamente consciente
daquilo
que, para
ele,
constituía
a
mais
alta
realização da cultura européia.
Esse tom
quase
místico
do
discurso não
interferiu,
porém, no
extremo radicalismo da meta visada. Para Geddes,
como
para Vida ,
a região era mais que um objeto de levantamento; a
ela
cabia for
necer
a
base para
a
reconstrução
total da
vida social
e
política. Aqui,
novamente, Geddes mostrou
o
quanto devia
à
geografia e,
em par
ticular, à
tradição
francesa.
Elisée
Reclus
(1830-1905)
e Piotr Kro
potkin
(1842-1921)
eram ambos geógrafos: mas ambos eram tam
bém anarquistas. Exilado de
sua
Rússia natal, Kropotkin fora expulso
primeiro
da
França, depois
da
Suíça, e há
trinta
anos vivia
como
5.3 Torre
do
irante
Desta
cumeeira encastelada. guarnecida de câmara escura. Geddes cont ruph
os telhados
de
Edimburgo e ensinava
que
o levantamento
vem
antes d
p t
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168
CIDADES DO AMANHÃ
re fugiado
em
Brighton
18
; Reclus fora,
na
verdade, expulso da França
por
haver
lutado ao
lado
da
Comuna em
1871, e vivia no exílio
19
.
Ambos
baseavam suas
idéias em
Pierre-Joseph Proudhon (1809-
1865),
o anarquista francês
célebre
por
sua
declaração
Propriedade
é
Roubo .
Ironicamente, os escritos
de
Proudhon haviam-se dedi
cado a provar exatamente o oposto: seu argumento
era de
que a
posse
individual da
propriedade
era
a garantia essencial para a
exis
tência de uma sociedade livre, desde que
ninguém possuísse
em
ex
cesso.
Só
uma tal
sociedade, acreditava
ele,
poderia fornecer a base
para um sistema descentralizado
e
não-hierárquico de governo
fede
raJ20: idéia partilhada pelo anarquista
russo
Mikhail Bakunin (1814-
1876), cuja
derrota e expulsão
por Karl Marx
na Primeira Confe
rência Internacional ocorrida
em
Haia,
em
1872,
foi um
dos acon
tecimentos decisivos na
história
do socialismo
21
.
Reclus e Kropotkin foram os herdeiros dessa tradição, chegando
ambos,
mais
de uma
vez, a encontrar-se
com Geddes
durante as
décadas
o i ~ o c e n t i s t s de
80 e
90. As
mais importantes obras de Re
clus, dois
alentados estudos
em
vários
volumes sobre a
Terra
e seus
povos
22
, argumentavam q ue as pequenas sociedades naturalmente co
letivistas dos po vos
primitivos, embora
vivessem em harmonia
com
seus respectivos ambientes, haviam sido destruídas ou desvirtuadas
pelo
colonialismo.
Mas
Kropotkin
foi
ainda mais importante, pois
desenvolveu
a
filosofia anarquista
e a
traduziu para as condições do
início
do
século
XX, viabilizando,
assim, a incalculável influência
por ela
exercida tanto sobre
Howard quanto
sobre Geddes. Seu
credo
era: ' 'Comunismo Anarquista, Comunismo
sem
governo - o Comu
nismo dos Livres
23
; é mister que a sociedade
se
reconstrua a si
própria com
base
na
cooperação entre indivíduos
livres, tal como
a
que se pode
encontrar,
na natureza,
até
mesmo em
sociedades
ani
mais;
essa,
no
seu
entender, a tendência
lógica
para a qual se estavam
encaminhando as sociedades humanas
24
•
Mais que
isso. Kropotkin desenvolveu
uma
notável
tese histó
rica: a de que
no século
XII havia ocOITido
uma
revolução c tmu
nalista
na Europa, o que
salvara
sua cultura
das
m o n r q u i ~ teo
cráticas
e
despóticas que
a
queriam suprimir; revolução essa que se
manifestou tanto
na
comunidade local
da
aldeia,
como em
milhares
de confrarias e guildas
urbanas. Na
cidade da
Baixa
Idade Média,
cada divisão
ou
paróquia era a
província
de uma guilda
individual
autogovernada; a cidade propriamente dita era a união desses distri
tos, ruas, paróquias e guildas, e era, ela própria,
um Estado livre
25
•
E,
argumentava
ele,
nessas
cidades, sob a proteção de suas liberdades adquiridas
por
força do livre con
senso
e
da
livre iniciativa, cresceu toda
uma nova
civilização, atingindo
um nível de
A
CIDADE
NA REGIÃO
expansão como até
agora não
se
viu
igual
[ .. Nunca,
com exceçã
o dnqu ttUflll
glorioso período d.a Grécia antiga - cidades livres, novamente - , d ·m n
•huh
tão
largo passo à frente.
Nunca;
em
dois ou
três
séculos,
so fr
era
o ho111 111 1111111
transformação tão profunda nem vira tão ampliados seus
po d
e re s sobr n lott,ll I
natureza
26
•
No século XVI, essas realizações foram varridas d · ·
11
1
111
h'
Estado
centralizado
que
representou o triunfo do
que Kr
o po l
11
1 lu
mou de tradição
autoritário-imperial-romana.
Mas ag
o ra , n ' I d tu
ele, esta, por seu turno, fora novamente desafiad a pe lo s u
op11
I
1
o
movimento libertário-federalista-popular.
A razão, pensava,
estava no
imperativo tecnoló
gico
: nov 1
l11111
de energia, hidráulicas e sobretudo elétricas, tornavam d sm 1 I I
a
existência de uma
grande unidade energética centra l; as
11d1 11 I
que dependiam
principalmente
de
mão-de-obra especinlizn
I
1
11
I
I
nham economias de
escala;
as indústrias mais no vas d m on 11 1 11
111
claramente
uma
tendência a
serem
pequenas
em
es ca la.
I '
t ''
1
I
as grandes concentrações industriais passaram a
n
111
1
il
I '
inércia
histórica:
Não
há, em absoluto, nenhuma razão por que essas c outras auo u u
•l
•
Jhantes devam persistir.
É preciso
que as
indústrias se di
sperse
m 1 lo
llllllul11
dispersão
das
indústrias dentro das nações civilizadas
será nece
ssurl 111
111 • l lh lil
de uma
ulterior dispersão
de fábricas
pelos
territórios de
to das a
llLIÇ
1
•
Esse alastramento de indústrias pelo
país -
na medid
a
em qu
11
'
11 :1 11
11 111 I I
para dentro dos campos,
fazendo
com
que a agricultura tire todas u vt u ltltJI 11 '111
sempre obtém
quando
se
alia à indústria [ . . e produzindo uma
co
m
iJ 11
tlll 1111
balho agrícola
com
o industrial - é seguramente o próximo p
asso
f .. f
l 'n 11 1)11
impõe exatamente pela
necessidade
de produzir
que
têm
os
pró
pr i
o •
f
JIIItll/11111
11
jll
se
impõe
pela
necessidade que tem cada homem e cada mulh
er
sn ud v I 11 Jltl 11
uma
parte
de suas
existências
executando
trabalho manual ao a r livr
l H
Esse
foi
um
dos mais cruciais insights
que
Gcdd .
t
II
IJ I
de
Kropotkin; á
em 1899,
presumivelmente
logo DJ I I
meira edição de
Fields
Factories and Workshops hnvl1 • I lt
ti
zado a nova era da descentralização
industri
al de crn ' '11 nl I 11
ca 29;
no ano seguinte, num
dos
eventos da
grand xpo ••
d
I ' . ,
.. I ' li ' '1
11
11
Paris, estaria usando os termos pa eotecmco
c n • •
Mais
tarde escrevia: ' 'Podemos distinguir como Pn l <
tç
' li
I 1 I
elementos
mais primevos e rudes
da Era
Industri
al,
c
' 0
11
10 N
111 t
nicos
os
elementos mais recentes e amiúde a inda in ·ip
t 111
11
daqueles
se destacam
31
.
Só que
nessa
nova er
nq u lt
fielmente Kropotkin
-
aplicaríamos nosso tal
e n to ·
ou lt
nossas energias vitais na conservação
públic
a c nã n \ d I
privada
dos
recursos, e na evolução e não na des tr ui c· o
cl
' t
alheias'
32
.
7/23/2019 Cidade Do Amanhã - Cidade Na Região
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170
CIDADES DO AMANHÃ
De Reclus
e
Kropotkin e, além
deles, de
Proudhon, Geddes
extraiu também seu
posicionamento:
para
ele, a sociedade tinha
de
ser reconstruída não através de
medidas
governamentais violentas
como
a
abolição da
propriedade
privada, mas mediante
os esforços
de
milhões
de
indivíduos; a
"ordem
neotécnica" significava a cria
ção,
de
cidade
em
cidade,
de
região em região,
de uma
Eutopia'
.
Com
o fim da Primeira Grande G uerra, acreditou ele
que
a
Liga
das
Nações seria uma
liga
de
cidades e não
das
capitais,
que eram
os
centros das máquinas de guerra
- ,
mas
das
grandes
cidades
de pro
víncia que, recuperando sua primitiva independência, organizar-se
iam por
vontade própria, federativamente,
num
modelo suíço
33
. Idéia
essa que
inspirou
uma
daquelas
suas
efusões
características que re
clamam
longas citações - embora, em termos geddesianos, não passe
de mero
fragmento:
O
centro eugênico está em
todos
os
lares: sua
juventude
sai
para formar
novos
lares; estes constituem
a
aldeia,
a
cidade,
o
pequeno ou
o
grande município;
o futuro
eugenista
terá,
assim, de
trabalhar
em
todos esses lugares
para
melhorá-los.
Organi
zem os lares em vizinhanças cooperativas
e
solidárias
.
Unam esses lares agrupados
em bairros reformados e socializados -
ou
paróquias,
como queiram
- e no
devido
tempo, terão
um
mundo melhor
[ ...]
Cada região
e
município pode aprender
a
gerir
seus
próprios negócios - construir
suas
próprias casas,
produzir seus
próprios cien
tistas, artistas e
professores
.
Essas regiões em desenvolvimento já atuam juntas em
seus interesses;
então
por que não fazer amigos
e
organizar
uma
federação ampla
o
bastante para suprir as
necessidades [ . .
Não será este
o
tempo
profetizado
por
Isaías?
[ .. ]
"Quando ele chegar
,
então ajuntarei
todas
as nações
e todas as línguas e
elas
virão"
e
"haverá um novo céu
e
uma nova terra
[ . . e dos
que houve
não restará
lembrança
[ .. ]
eles construirão casas
e
nelas
ha
bitarão
[ .. ] e
eu
é
que em verd
ade
os
conduzirei
em seu
trabalho34.
E
quando
alguém, estupefato, o arguta, tentando fazer
com
que
se
explicasse,
ele
replicava
que uma
flor se
expressa
florescendo, e
não
ao ser rotulada
35
.
Na
verdade,
ainda
havia
muito por vir; muito mais.
Ha
v
ia
os
temas desenvolvidos primeiramente por Victor Branford, co l
abora
dor de
Geddes e tão discursivo quanto ele: o papel desempenhado
pela Igreja
e
pela universidade no relacionamento prático com
a
co
munidade civiP
6
; a união
da eugenia
e
do civismo com
o planeja
mento
urbano e a assistência social
num sistema de educação cívi
ca37; o aumento, no domínio
cívico,
da influência da mulher e de
seus
amigos e
aliados,
o artista, o poeta e o pedagogista'
,
a fim
de
prover
à necessidade de propiciar às mulheres [sic] do
povo
este
ambiente
cultural, necessário [ .. ] à
sua
plena dignidade
como poder
espiritual"
38
.
As idéias jorram de maneira repetitiva, circular, amiúde
excessivamente obscura: matéria-prima
para
um sem-número de dis
sertações ainda não escritas . Mas há
outro conceito,
este
básico
para
A
CIDADE
NA
RE
GI Ã
O
a tese de Geddes sobre o planejamento r
eg
iona l
com
1
1111
construção social.
Em 1915, Geddes publicou
seu
livro
iti
es
in Evolttt
1 , q
fora os artigos coligidos na revista
norte-ameri
ca n a S111vry 1111111
.t
cada mais
tarde (baseados nas
leituras
que fez em 192 q
1
I
1 I
dois
anos para
concatenar)
39
, constitui a m a
is
coerc n l x pl
t
de suas
idéias. Aí chamava
ele a atenção para o fato d e
qu
tecnologias
neotécnicas
- energia elétrica, motor de comhll
terna -
já
estavam
fazendo
com que
as grandes c idad s
sassem e, conseqüentemente, se conglomerassem
:
Então há que dar-se um nome
a essas
regiões-município
, a
ess
· f
1 11• 1
I
dade. De constelações não podemos
chamá
-los;
conglomerações
c tá, no
11111111• 11111
presente
-
ai
de
mim - , mais perto da marca, mas pode
soar
de m
odo 1)1
que tal "conurbações"?4°
Na Inglaterra, aponUtva ele Clyde-Forth, Tyne-W
ea r
-T
, ,
' ' I
caston", a West Riding e "South Riding", "Midlandton , "W 1h
e a Grande Londres; entre as grandes "cidades-mundos"
UIOJI
Paris, a
Riviera
Francesa,
Berlim
e o Ruhr; nos Estados Uni do . ,
I
burg, Chicago e Nova York-Boston
41
•
Prenunciando o no táv el slu lu d
Gottmann sobre a Megalopolis de meio século mais tarde, ·s
I
não
é
absurdo esperar que em
futuro
não muito
distante
veremos
um
im
·
11
o .
cípio
linear
estender-se
ao
longo
da Costa
Atlântica, cobrindo suas
e
estirar-se para
trás
em vários pontos; possivelmente com um
total a
pr
oxmuul
vários
milhões de
pessoas
4
2.
O
problema era que
esses mumcrptos
em expansã
o a inda
t
o
resultado da má
e velha
ordem
paleotécnica,
que
a seu ver il
perdiçava
recursos e energias,
minimizava
a qualidade de ~ i d
1
11l1
a
lei
da máquina e
da cobiça
e, conseqüentemente, pro
du zta, '
11111
•
efeitos específicos, o desemprego e o subemprego, a en f
ennid
ui
a loucura ofvício e a apatia, a indolência e o crime"
43
. O pritll
passo, v i ~ t o que
só raramente as crianças, as
mulher
es ,
os
t1
I
lhadores podem vir até
o
campo",
era que "precisamo
s,
P
r11111111
,
trazer o
campo
até eles",
"fazer
o
campo
chegar perto
da
11111
, '
não
simplesmente
a
rua chegar
perto do
campo"
44
; "agora as cid ult
precisam
parar
de
esparramar-se
como
borrões de tinta e
m n ~ • •l
de gordura",
e
devem crescer
botanicamente,
' 'fazendo
as
lolh'
verdes alternarem com seus raios dourados"
45
; a
população
cilml
cresceria, assim,
em
meio a paisagens e aromas campestre s.
Isso
apenas
repetia o que Howard, em certo
sentido,
j á di s.
tI
' '
só que
Geddes tinha
em
mente o
nível
de toda
uma
região-mu ni · Jl •
e nisso estava a sua singular novidade.
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j:jt<?
~ _ ~
Mi ne iro Lenhador Çaçador
Pa
s
tor
camponês
Jardineiro
Pescador
5.4
Seção
de
Vale
A essência do esquema regional de Geddes, de um documento de 1905 : Povo
Trabalho-Lugar em
perfeita
harmonia e, no
centro
de
tudo,
a
cidade.
Cidade--+
Campo:
Campo--+
Cidade
5.5 O Processo
de
Conurbação Certo e Errado
Diagrama extraído do
livro de
Geddes,
Cities in
Evolution
(1915), mostra
o
alastramento
urbano
e seu
remédio
.
A CIDADE NA REGIÃO
11
O
Levantamento
Regional e as
aplicações deles
[s ic]
Ur b
a ni Z<IÇ I , 11
nejamento
Urbano,
.
Projeto
Municipal [ ... ] estão
destinados
a torn ar-se p n
chave e
ambições concretas para
a
próxima
geração, e de
um
a m ane
ir
·n tno
til
quanto o
foram
o Comércio, a Política e a Guerra para a geração passndu 1
1
1
11
nossa
ora em
trânsito
[ .. Já agora é a ordem
neotécnica
que nã o a pcnn, • t 11111
11
cientizando geógrafos
pensantes
daqui e dali, artistas e engenhe iros
c turuh pl11
nejadores, mas que se está
generalizando
como uma ordem co mpr
ee
ns ivn1111 111 tll
técnica; e suas artes e ciências
são
agora avaliadas menos como pra zer
·s, 11•1d 1
e
distinções intelectuais
e mais na medida
em
que possam or
gani
zw·-
[l
d< 1111
111
serviço geográfico,
a
recuperação regional
do Campo e da Ci d
ad e
4
1\.
Dizer que
a
geografia
é a
base
essencial
do pl
anejam
nt o
soava de
modo
muito
radical
nos
anos 80, ou m esmo
du
1111 1
trinta
anos
que
antecederam essa
década; mas em 19 15,
quondo
11111
ta gente ainda confundia planejamento urbano com Ci
t.
y
ll
11 lul
,
era
revolucionário.
O problema, porém, não estava nesse
conteúd o
rcvolu
·
e
sim
no
seu teor quintessencialmente incoerente;
a c itu ç
o
passa
bem
todo
o
sabor excessivamente peculiar
d as 40 2
p
bem como
das muitas milhares
de outras
escritas
por dd
porque Mumford e seus
colegas
da
Regional
Pl anning J\ s
<
11
1 1
of America-
foram
importantes com suas luzes críticas. d I ,
escreveu Mumford, foi
quem
forneceu
o arcabouço
para pt
sarnento:
minha
tarefa tem sido
a de revestir
de carne
cs tlt
trato esqueleto
47
• No prefácio de sua
obra
mais ex
te
n sa
ln ll
11
The
Culture
o
Cities
(1938),
não economizou
ele ref r n • 1
reconhecimento dessa dívida.
Em sua
autobiografia, Mumford lembra com o oc o rr l o 1
menta
da RPAA. Já num remotíssimo texto de 1922, qu I
1
I
apenas
22
anos,
redigira
ele um
trabalho,
A s Ci
vili zaç
J ud
Preparam-se
para uma Nova Época ,
aparentem
e n
te
in 6d il 1,
a
descentralização
industrial e as cidades-jardim. N o
ou t
ono
d
encontrou-se com Clarence
Stein,
um
arquiteto.
A
RPAA
111•
uma
associação
casual de Mumford, Stein,
Benton
M acK l:Y
proposta
para
uma Trilha Apalachiana fora publicada p r .' 1
Journal o
the
American Jnstitute o
Architects
em
19
2 ) 'h ui
Harris Whitaker. Entre
os
membros
fundadores do
grup
o
IH)
primórdios,
por volta de março
de
1923,
incluíam
-se o ·t I
Stuart Chase, os arquitetos Frederick Lee Ackerman
e
Hcn1
y W
1 ht ,
e o
empresário Alexander
Bing;
Catherine Bauer
foi
escolh
ld 1 • 1
diretora-executiva
e assistente de
pesquisa de
Stein
8
•
Grup
1 Jll li 1
7/23/2019 Cidade Do Amanhã - Cidade Na Região
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74
CIDADES
DO
AMANHÃ
e heterogêneo,
jamais
passou de 21 membros, sediando-se
principal
mas não exclusivamente
em Nova York, com ' 'ausência
total
de
prima-donas ; ao que
tudo
indica,
seus
elementos
essenciais
foram
Mumford,
Stein, Wright,
Ackerman
e
MacKaye
49
.
Em
junho
de
1923, durante
visita
de Geddes
a
Nova
York, o
grupo adotou um
programa de cinco itens que incluía: criação de cidades-jardim dentro
de um esquema regional; desenvolvimento de
relações
com
os
pla
nejadores britânicos, sobretudo
com
Geddes; desenvolvimento de
projetos e
esquemas
regionais para
promover
a
Trilha
Apalachiana;
colaboração com
o
comitê
do
AIA sobre Planejamento Comunitário
para
propagar o regionalismo; e levantamentos
de
áreas-chave,
com
especial atenção para a bacia
do
Vale
do
Tennessee
50
.
Dois
anos mais tarde, a
RP AA
teve a
sua
primeira grande opor
tunidade:
The Survey,
revista de prestigiosa circulação
entre
os in
telectuais liberais
e elo
importante
entre
eles
e o movimento social
operário,
convidou-a
para produzir
um
número especial para a
reu
nião
de Nova York da
Intemational
Town
Planning and Garden Ci
ties
Association. Concebido
por
MacKaye,
esse
número
foi
realizado
e
editado por Mumford
5
.
Esgotado
durante
meio século até ser
reim
presso por
Carl
Sussman em
seu
livro Planning
the
Fourth Migra-
tion Planejando Quarta Migração), permanece- ao
lado
de
The
Culture o
Cities
-
como
o
manifesto
definitivo do grupo,
e
constitui
um
dos
mais
importantes documentos
desta história.
O começo só poderia ser
de
Mumford:
Este é o número
da Survey Graphic
dedicado ao Plano Regional. A idéia que
o
anima
deve-se a um escocês de longas
barbas,
a quem a curiosidade
não
deixaria
sossegar até
que da sua
Torre do Mirante, em Edimburgo, não enxergasse ele
com
clareza. através
da poeira
da civilização, a terra
que
a sustinha
e,
a despeito do
desacerto humano, que a nutria.
Este número
foi produzido
por um
grupo
de
insurgentes
que, como
arquitetos
e planejadores, construtores e
reconstrutores
têm
tentado
remoldar cidades
pelas
vias
convencionais e, ao
perceberem
que se tratava de tarefa de Sísifo,
corajosamente
depositaram inteira confiança no novo conceito de Região52.
Tinha
o
público
na
mão: finalmente
a
mensagem de
Geddes
seria:
compreendida. O artigo de abertura, The Fourth Migration ,
também
vinha de Mumford. Falava sobre as duas Américas:
' ' a
América
da
fixação ,
das costas e planícies urbanizadas por volta de 1850, e
a
América
das migrações; a primeira migração, que desbravou a terra a oeste do
Alegânis e abriu o
continente,
obra do pioneiro do solo; a segunda migração, que
forjou sobre essa textura um novo modelo feito
de
fábricas, ferrovias e sujas cidades
industriais,
legado do
pioneiro
da indústria;
e finalmente [ .. ] a
América da
terceira
migração, o
fluxo
de homens e materiais dirigido para
os nossos
centros financeiros,
as cidades onde edifícios e lucros
se
lançam
para
o alto em desenfreadas
pirârnides53.
A
CIDADE N A REGIÃO
I/
Mas agora eis-nos de novo
em
outro
período de mu r6
IIHIII
tante ,
a
quarta
migração,
baseada na
revolução te c no ló
Í
·n o
rida nos últimos trinta ano s - revolução que tornou o atua l squ
de cidades e a atual distribuição populacional inadequ ad
os
p 1
novas oportunidades que se nos
apresentam . O
autom óv
I 1
dovia haviam
tornado acessíveis mercados e fontes de ab ast ·inw ,
A tendência do
automóvel [ .. dentro
de limites,
é m a is p
nm
d1
centralizar a população do que para
concentrá-la;
e qualqu e r
p
ro 1 1
elaborado no sentido de concentrar
pessoas
em
áreas d a g ru
nd 1
dade
vai
chocar-se às cegas com as oportunidades que
o
aul
111
vt
I
oferece ; o
telefone,
o rádio e o serviço de correios tiveram o 1
efeito;
como
também a eletricidade
54
. A
diferença,
ao co
nt
rár io
d 1
primeiras
três migrações,
está em que
desta vez tivemos a ·up
dade de orientar o
movimento.
Felizmente para nós, a q ua1t 1
gração apenas começa:
está
em nossas mãos permitir qu
e
l l
talize
numa
formação tão ruim
quanto
a das nossas
pr i
mc i
rtH
1
grações·,
ou
dela tirar o
máximo
proveito, orientando-a p ar a IIOV 1
canais ' '
55
.
Clarence Stein, no
artigo seguinte,
retoma o tema de M und d
sem que
a maioria de seus moradores soubesse,
as
novas tecn I
o
estavam transformando Nova
York,
Chicago,
Filadélfia, B ost
resto
em
' 'cidades-dinossauros'', que se estão esfacelando sob
o p
da superpopulação, da
ineficiência
e
do
custo da escalada so ·i ll
f
finalmente do completo colapso físico.
O
resultado
era qu 1
cidades estavam-se tornando os locais menos lógicos pa ra a
im1
1
tação
de indústrias. Numa notável profecia-
estamos, é pr
ec i
s I
brar,
em 1925
- Stein
escrevia:
Quando
os custos locais não podem
ser
administrados, e quando cc nl r()
nores
se mostram, a despeito de
sua
carência em
recursos
financeiros e co m H 1d
f
aptos a fazerem valer suas vantagens industriais, às indústrias da grande cidnth . ,
resta
migrar
ou
falir. Ainda
estamos
em
tempo
de
protelação; mas o d ia óo I
de contas virá;
e é
de
nossa
co,veniência
anteciparmo-nos a
el e
56
.
Já o
economista
do
grupo, Stuart Chase,
foi além :
• r t l l l l
parte
da
economia
norte-americana consistia
em jogar
águ a
ao f
t ransportando de um lado ao outro do continente
m
er c
ado1
1
que não
t inham nenhuma necessidade de serem transportad as . I 1
gunta:
Então, especificamente, qual o problema? Onde a energia.
parti
c ul
ann
i
energia
de transporte, é desperdiçada, e
como
as comunidades planejadas
f l l l l l
esse
desperdício de
tal maneira que
o caminhante, ao
invés de
ficar
pa r
a
l r ÓJ ou ti
empreender esforços inauditos para conservar-se onde
está,
possa começar o nuhol
terreno em
sua
luta contra o custo
de
vida?5
7
7/23/2019 Cidade Do Amanhã - Cidade Na Região
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)
176
CIDADES DO
AMANHÃ
Suas palavras marcam importante mudança
na
argumentação: é
preciso
não
apenas acompanhar a maré montante da transformação
tecnológica,
como
alegavam
Mumford
e Stein, mas intervir a fim
de corrigir
as ineficiências mais grosseiras do sistema.
Um
' 'plano
nacional"
envolveria "regiões delimitadas
com
base
em
entidades
geográficas
naturais";
"um máximo de artigos
alimentícios,
têxteis
e de
materiais
de construção produzidos e manufaturados na região
de origem";
"um mínimo de trocas
inter-regionais,
baseadas unica
mente em produtos
que
a região de origem não
pode
economica
mente
produzir";
mais
as
usinas regionais de energia elétrica, os
trajetos curtos por caminhão e ' 'uma
distribuição
descentralizada da
população'
58
:
O
planejamento regional
de
comunidades eliminaria
a
comercialização
nacional
antieconôrnica, eliminaria
a
superpopulação urbana
e os
desperdícios terminais, es
tabilizaria a
carga
elétrica, tiraria o grosso do
carvão
das
ferrovias, eliminaria
a du
plicação na entrega de leite e outras entregas, poria
em
curto-circuito
práticas anti
econômicas como
arrastar
maçãs do Pacífico até os
consumidores
de Nova
York,
incentivando a plantação de pomares locais; desenvolveria
as
áreas florestais
do
lugar
e frearia o transporte
da
madeira do
oeste
para as fábricas do leste, localizaria as
fiações
de
algodão perto de
algodoais,
fábricas de sapatos próximas às áreas de cur
tumes, siderúrgicas a
pequena
distãncia
das jazidas
de minério, manufaturas
de
pro
dutos
alimentícios em pequenas
unidades
de enorme
potencial
elétrico
junto
a cin
turões agrícolas.
E
acabava-se
a
necessidade do arranha-céu, do metrô
e
do refúgio
na solidão dos campos 59
De novo uma
profecia: defendia-se
a conservação de energia
meio século
antes
do Clube
de
Roma.
Essa
defesa, no entanto, en
volvia
um
plano, e a conseqüente interferência
na
iniciativa privada,
o que era
francamente socialista;
bem dizia Chase, poucos
anos mais
tarde:
Éramos moderadamente
socialistas,
embora de modo algum comunistas; liberais,
mas
desejosos
de abandonar amplas
áreas
da
livre
concorrência em
favor de
uma
economia planejada. Não éramos,
portanto, socialistas doutrinários.
Tínhamos mentes
abertas;
fomos uma espécie de
socialistas fabianos6o.
Isso emerge de forma
bastante
clara à medida que o grupo vai
elaborando suas propostas.
Mumford
volta agora especificamente a
seu tema
predileto,
o advento da era
neotécnica:
a sociedade á pode
ter cidades supercrescidas e
que
cresçam mais e mais, "na frase
sardônica do professor Geddes: mais e mais de
pior
a pior'
61
• _üu
poderá optar por um
planejamento regional.
O
planejamento
regional não
pergunta quanto uma área pode ser ampliada
sob
a égide da metrópole, mas
como
a população e
os
serviços públicos podem ser dis
tribuídos a fim de promoverem e estimularem
uma
vida intensa e criativa através
de
.
.-,_,
/
A
CIDADE NA
REGIÃO
toda uma
região -
ou
seja, de
uma
área geográfica qualqu
er,
do
t1LI
cl
unidade de clima,_vegetação
natural,
indú_ tria e cultura. Ao pl un 1
regionalista esforça-_
e
para que todos os seus
sít os
e recurs s , du 01
da montanha ao
nível
d'água, possam ser corretamente desenv
olvldu ,
4JII
l '
pulação seja
distribuída
de
modo
que
utilize e
não
aniquile ou de te
Ull
v
111111 •
naturais do
lugar. O
planejamento
regional
vê
o
povo
, a
in
dú s trlu
1\
1111
uma única unidade.
Ao
invés de tentar, mediante um ou outro
ar
tl ff · o d 1
tornar
a vida mais
tolerável
nos centros superpovoados, procura ti
pécie
de
equipamento
necessitarão
os novos
centros62.
Ei-lo que chega, finalmente, ao ponto:
àquil
o
que
a
ld t
li
I
I
vés de toda sua
torrente verborrágica,
com
tanto
esf r ·o JWO 111 1
dizer. Mas geddesiano ele é também em seu propósito: n I 1 tlc I
neotécnica
pode ser
o meio para atingir-se não apena s lllll
1
1111 111
eficiência da máquina, mas também
uma
qualidade
de
vida mais completa, em cada ponto da região. lmp
fvc I
1111t
qualquer forma de
indústria
ou qualquer
tipo
de cidade que tirem
a ui
1
n
tl11
ltl1
Comunidades onde o namoro se faz às escondidas, onde os be b
es s
o Ulll l f
evitar,
onde
a educação não
se
vincula à natureza
nem
às
ocup
ações pr
I 11 ,
p
ficam-se
numa
rotina vazia, na qual as pessoas realizam seu lado uventuc h IJ I
sobre
rodas, e
sua felicidade,
apenas quando
se "libertam"
ment almcnl dn c•nlltl
-comunidades
assim não justificam suficientemente nossos recentes nvonço
po da
ciência e
da
invenção63.
Aqui é onde ·
entra
Howard.
Pois se
o planej amcnt I
fornece o arcabouço, a cidade-jardim provê o
' 'objetivo
' 'não como
porto
temporário
de
refúgio
mas como sede p
de vida e cultura, urbana em suas
vantagens,
pe rmanent m
em sua
localização".
Isso,
porém, significava
"mudan
·n d
tanto quanto mudança de lugar'':
nossas cidades-jardim representam
um
desenvolvimento mais integr
al
dn 1
cias mais humanísticas- biologia, medicina, psiquiatria, educação, (t.r
qu
l l I I
tudo
o que
há de bom em
nossos
modernos
progressos mecãnicos, m as 10111h
o
que foi excluído
desta
existência
unilateralizada, todas as coisas que a Ateu tio
1
V ou a Florençalcto século XIII, a despeito
de
toda a
sua
crueza fl'si
11,
pn
Kropotkin de novo. Mas
é
mais do que Krop
otk.in,
mu
que
Geddes: há aqui uma outra corrente, especificamente n
ri cana.
O
planejamento
regional
é
a
nova conservação
- a
conserva
ç
humanos de
mãos dadas
com os
recursos
naturais
[ .. Agricult
ura
1
r nl I
Jugarde
exaurimento da terra, preservação de florestas em lu gar de
tória da
madeira,'
comunidades humanas
permanentes, dedicad
as
à vid
a, I I l
e à busca da
felicidade,
ao invés de acampamentos e colônias inv asoras,
estáveis ao
invés
do
inacabado e
do
falsificado de nossas comuni
da des "pol\h
-
tudo
isso
se
inclui
num
planejamento regionai
6
6.
7/23/2019 Cidade Do Amanhã - Cidade Na Região
http://slidepdf.com/reader/full/cidade-do-amanha-cidade-na-regiao 10/22
178
CIDADES
DO
AMANHÃ
Esse tema
norte-americano é retomado
por
Benton
Mackaye em
seu
artigo
The New Exploration . Num
dos
níveis
é
puro
Geddes:
longos
cortes transversais
através de
secções
de
vale
em
diferentes
escalas, desde os Berkshires
do
interior
de Massachusetts descendo
até Boston e o oceano, percorrem o pequeno Vale Somerset ao longo
da cabeceira
do Rio Deerfield.
Ora, o plano para o
Vale
Somerset
pretende
justamente
realizar aquele equilíbrio ecológico que Vidal
e
seus
seguidores encontraram
nas regiões
de há muito
colonizadas
da França: a diferença é que para o Somerset existe um planejamento
baseado em
cultura de florestas
contra
extração de florestas ,
pois
só
isso manterá o
Vale Somerset ' 'verdadeiramente colonizado
67
•
A América,
esta terra
de colonização
relativamente recente, precisa
passar pelo aprendizado
das
mesmas
escalas temporais,
da mesma
inconsciente capacidade de recuperação natural
através
do bom ma
nejo da
terra, que,
durante
séculos,
os camponeses
europeus
viven
ciaram de geração
em
geração.
Essa
ênfase
reporta-se a
várias
e
distintas linhas
do pensamento norte-americano
oitocentista:
ao con
ceito de ' 'estrutura, processo e etapa' ' dos primeiros geógrafos físi
cos
de Harvard, Nathaniel S. Shaler e William M.
Davis;
às
opiniões
de um geógrafo ainda
mais antigo,
George Perkins Marsh, sobre
ecologia e planejamento
de
recursos; à importância que o
retomo
à
natureza e
ao
equilíbrio
natural ~ s u m
na obra de David Thoreau
68
•
E de acréscimo ainda
havia
uma amálgama
mais recente
de movi
mentos intelectuais
nas universidades
do
Sul
rural, então afundado
na
depressão.
Havia os conservadores
agrarianos sulistas
na Univer
sidade Vanderbilt,
em
N ashville, Tennessee,
com sua
rejeição
do
industrialismo nortista e seu
modelo de economia
rural inspirado na
Idade Média ou
na
Nova
Inglaterra dos primeiros tempos
69
•
E,
num
brusco contraste
ideológico,
havia os
regionalistas sulistas
agrupados
em
tomo de Howard Odum,
com sua
ênfase na descentralização da
riqueza e do
poder
e numa recuperação equilibrada
do
rico legado
regional
de
recursos
naturais mal
explorados,
estudiosos
que, naquele
instante
mesmo, começavam a desenvolver
seu
pensamento na Uni
versidade da Carolina do Norte, mas cuja
obra
maior iria surgir na
década
de 30
7
•
Essas
correntes
em desenvolvimento- embora por
vezes incon
sistentes
- aparecem juntas
na
completa explanação que faz Mac
Kaye sobre sua maneira
própria
de
interpretar a filosofia
da RPAA
em
' 'The New Exploration' • Nesse texto, desenvolveu ele a noção
de duas Américas em contraste: a nativa, ' 'mistura da primeva corri
a colonial , e a
metropolitana,
' 'mistura da urbana com a industrial,
esta de amplitude
mundial .
Cabia áo planejador
regional
a ingente
tarefa de reconstruir e conservar
com esmero
o ambiente daquela
América
nativa mais
antiga,
a selvageria primeva, as primeiras co-
I
L
5.6
Manifesto da RPAA
- ·
d fi · • In
Ed
tado
por Lewis Mumford,
esse
trabalho coletivo foi a afirmaçao e
l l tVU
. . rt :.ml ·
11 11
filosofia do
grupinho
de
Nova
York, tomando-se um dos mms tm po
cumentos da
história
do
planejamentú.
7/23/2019 Cidade Do Amanhã - Cidade Na Região
http://slidepdf.com/reader/full/cidade-do-amanha-cidade-na-regiao 11/22
180
CIDADES DO AMANHÃ
munidades
de
aldeia da Nova Inglaterra, e a verdadeira cidade,
0
complemento
da
verdadeira aldeia'
72
•
Isso, porém,
seria
difícil:
O
desafio,
no país, será entre a América metropolitana e a América
nativa
.
Ambas agora se
confrontam,
não só
psicológica mas
também física e
geograficamente.
O mundo metropolitano [ .. ] é
uma
estrutura mecanizada e fundida, produzida pela
indústria e
que se
derrama [ .. poderosíssima nos vales e fragt1ima nos cimos das
montanhas. A estratégia do mundo nativo
opera
exatamente
na
direção oposta. É
a inda poderosa
no
meio primevo. bem como ao longo dos caminhos
alterosos
da
barreira
apalachiana [ .. ] é
forte
também em
regiões
como as do
interior
do país.
onde. embora fazendas
e
aldeias estejam exauridas, os recursos. tanto
físicos
quanto
psicológicos.
continuam ali,
abertos
à recuperação e a um desenvolvimento em novas
bases73.
O problema,
portanto,
diz
respeito
à
reformulação da
América
metropolitana
em
seu
contato com a América nativa .
Pois
a Amé
rica
nativa
era
a América da
colonização
de
Mumford,
assim como
a metropolitana era a sua América
das migrações
74
• E a quarta mi
g ração de
Mumford
era um
refluxo , um
reassentamento das
populações e indústrias oriundas da segunda e da terceira
migração ,
a
jorrarem
torrencialmente
de
um dique rompido
75
• A questão
que
se
levantava
para
o planejamento regional,
portanto,
era a seguinte:
' 'Que
tipo
de
barragem
[ ...
construir
a jusante a fim de manter
nosso dilúvio
em
xeque?
76
A
resposta de
MacKaye
foi
um
estra
tagema típico
da RPAA: aproveitar a nova tecnologia, mas ao
mes
mo tempo controlar
seu impacto
sobre o
ambiente
natural. O am
bie
nte
metropolitano
ampliar-se-ia através das autovias ; e no
es
paço
intermédio, as áreas colinosas
seriam mantidas
como uma pri
meva \ou
quase primeva ) área selvagem
,
servindo ao
duplo
pr opósito
de
parque florestal e recreio
público
e, através delas, um
i tema
de
caminhos
franqueados ao
tráfego,
equipado
para uso
fetivo como
circuito de paragens rústicas e lazer ao
ar livre
fun
ionaria como ' ' um
conjunto de freios
para o dilúvio
metropolitano;
di vidiria -
Olf
tenderia a
divid ir -
as águas montantes
do
metropo
l
ism o em 'bacias '
estanques,
tentando, assim, evitar sua
completa e
ta l
confluência'
77
• Adicionalmente,
' 'agregada ao
sistema de
au -
L
vias , correria uma
rede
de
estradas
vicinais
' 'conjunto de cami
nhos
franqueados
ao tráfego, ou circuitos, que ladeariam e interli
lriam
as sucessivas cidades e
aldeias ,
livres de
toda
e qualquer
• lrutura ou uso
do
solo inadequados
78
• O que
era
exatamente o
t P
s
to da cidade
de
estrada ,
corporificação
mesma do
dilúvio
t
ropolitano
79
•
Não
lhe faltariam edifícios -
Não se assustem,
n
é nossa intenção fazer soar o
toque
de
recolher urbano - mas
•
es edifícios
não
seriam
' ' jogados a esmo'' , e sim, •
reunidos ' '
A CIDADE NA REGIÃO
18 1
mediante
um bom
planejamento
80
•
E, desenvolvendo a idéia dois
anos mais tarde;
chegava
ele ao .conceito
da auto-estrada sem cidad
e :
uma via
de acesso limitado ao redor de Boston,
com
postos
de ga
solina
instalados
a
intervalos,
mas
sem
qualquer outro
acesso. Não
é de
admirar
que,
perto
de
quarenta anos
depois, Lewis Mumford
tenha creditado a MacKaye a
invenção
da moderna
rodovia;
o que
não
é de
todo
verdadeiro, como
mostraremos
no Capítulo 9, mas
constitui
um justo
reconhecimento da notável presciência demons
trada pelos fundadores
da
RPAA
•
Como
isso
poderia parecer na
prática
é o
que
nos
,
mostram
os
mapas e tabelas
preparados
por Henry Wright para a Comissão de
Planejamento Regional e
Habitacional
do Estado
de Nova York:
Época I
(1840-1880), de
Atividade
e
Intercurso de Amplitude
Estadual , é seguido por Época li
(1880-1920),
em que a
popu
lação
se
concentra
ao
longo
da
principal
linha
de transporte. Mas
em
''Época
III' vemos
' 'o
possível estado do futuro, onde
cada
parte está a serviço de sua
função
lógica, dando suporte à atividade
saudável e à
vida prazerosa''. Um close-up
ampliado, ' ' uma secção
ideal ,
prova
tratar-se do
conhecido diagrama de
Geddes
aplicado
ao território que
dá
de frente para o Lago Eriê: florestas e reserva
tórios para armazenagem nas áreas
montanhosas,
fazendas de gado
leiteiro
na
ribanceira,
a estrada
principal
flanqueada
por
duas
auto
vias paralelas
mais
a
ferrovia,
na
planície
fértil, e,
dispostos
com
a
precisão das contas de um colar, as grandes e as pequenas cidades
82
•
Pouca coisa
disso tudo, na América de 1920, concretizou-se
em
programa; havia dúvidas
até
mesmo quanto à constitucionalidade
do
ato
de zonear, antes
da
histórica
decisão
de 1926 exarada pela Corte
Suprema
83
• É verdade
que,
quando governador
do
Estado
de Nova
York, Franklin D. Roosevelt pelo menos comprou a prescrição
de
Stuart Chase, pois
-
com
a manipulação
dos
regulamentos
de
con
trole
sanitário
para laticínios
- protegia
os
criadores
de gado leiteiro
do
Estado contra a concorrência externa
84
• E foi, não há dúvida ·
através
da
ação empreendedora
de
Alexander Bing que a RPAA
conseguiu
pôr em
órbita duas comunidades
experimentais:
a de Sun
nyside Gardens na cidade
de Nova York,
e a
de
Radbum em Nova
Jersey (Capítulo 4). Mas o
negócio
da RPAA era, acima de
tudo,
vender sonhos realizáveis a longo prazo.
RPAA
VERSUS PLANO REGIONAL DE NOVA
YORK
:A
: '
N o maior de
seus
conthtos
~ ; o m relação a programas, a
RPAA
encontrou pela frente um
inimigo
imprevisto. Thomas Adams
(1871-
1940)
fora um dos
pais fundadores
do
planejamento urbano britâni-
-
-
--
a ~ = . .
7/23/2019 Cidade Do Amanhã - Cidade Na Região
http://slidepdf.com/reader/full/cidade-do-amanha-cidade-na-regiao 12/22
182
CIDADES
DO
AMANHÃ
co:
primeiro
diretor
geral
de
Letchworth
Garden City,
primeiro ins
petor de
planejamento,
membro fundador e primeiro
presidente
do
Town
Planning Institute8
5
•
E ao chegar aos EUA, exatamente quatro
anos antes da fundação
da
RPAA, enfatizara a importância de
um
dos
mais modernos
aspectos do
planejamento urbano, a direção e o
controle do crescimento em curso
dentro
dos distritos rurais e
semi
rurais onde as novas indústrias estão-se
estabelecendo'',
alegando
que
nenhum
esquema de planejamento urbano poderá ser conside
rado satisfatório
se
não for preparado levando
em conta
o desenvol
vimento regional que circunda
o
município
86
•
Assim, quando Char
les
Dyer Norton
- o primeiro presidente
do
Commercial
Club
de
Chicago e,
portanto, o principal responsável pelo
Plano Burnham,
e
agora
tesoureiro
da Russell Sage Foundation - convenceu-o a
dirigir
um ambicioso trabalho de levantamento e plano para toda a região
de
Nova
York,
Adams
viu-se
ante um desafio difícil de recusar.
Confirmado
no cargo após o falecimento de N orton, por seu sucessor
Frederic Delano,
foi
nomeado Diretor de Planos e Levantamentos
em julho
de
1923
87
•
Mas
ainda sob outro aspecto representava
ele
o candidato per
feito; este plano tinha de ser um plano para homens
de
negócios,
visto que seus
principais ativadores
eram
ex-líderes
no mundo dos
negócios
em
Chicago, a quem ele custaria
um
total de mais
de um
milhão de dólares durante mais de uma década
88
,
e
Adams, então
nos seus cinqüenta
anos,
' 'com seu próprio modelo
filosófico
de
há
muito fixado , era um planejador para homens de
negócios. A seu
ver,
o plano devia
representar
a
arte
do
possível
: O Plano
Regional
devia ser, não uma
prescrição
revolucionária , mas um conjunto de
controles brandos sobre os abusos
do
mercado, em favor da eficiên
cia; além de
incluir algumas coisas inquestionavelmente boas, tais
como
novas estradas, parques e praias
89
- receita
certa,
é preciso
que se
diga,
para um
conflito acerbo
com os idealistas da recém
nascida
RP
AA.
Não
era a extensão geográfica do plano due estava errada.' Pois
Norton apelara para um compasso aberto: A partir da sede da
pre
feitura deve-se traçar um círculo que abrangerá as Montanhas Atlân
ticas e Princeton; as encantadoras colinas Jersey
que
se
erguem
por
trás
de Morristown e Tuxedo; o incomparável Hudson até Newburg;
os
lagos
e
serras
Westchester
até
Bridgeport e para além dela; e
toda
Long Island' '
90
•
A área
resultante
- superior a 5 000
milhas quadra
das,
com
cerca de 9 milhões de habitantes - formava
uma
imensa
tela
como
até então plano nenhum havia coberto
91
•
Tampouco
estava
errada a metodologia do
levantamento:
Adams
reuniu,
numa
equipe
sem
rival,
autores de obras circunstanciadas, que constituem
alguns
dos clássicos incontestes da literatura sobre planejamento,
com
con-
A
CIDADE NA
REGIÃO
clusões onde se ouvem
ecos
de Mumford, Ch
ase
e
St
in .
Aqn
, I
bert
Murray
Haig, neste volume sobre economi a ur bnntt
0
,
11111
lt
t
que muitas
atividades
já
estavam de mudança
por
te r
cnt
1111 1111 111
cessidade
de uma
localização central, e defende
contr
I •s d .111111 1
menta que
levem em conta extemalidades negativas: ' '
ZOII
11111 11 11
justifica-se economicamente
como
estratagema útil pum 111 1 Jllll 11
uma
distribuição aproximadamente
justa de
custos, for çn
1HI
1t 1
11d
indivíduo a arcar com
suas próprias
despesas
93
• Este v o lunu , 1•h11
população e preços de terra, alega que o
probl
ema
estnv
1 11 1 1 111
centração excessiva dos meios de
transporte,
que,
p or s
'
11
IIIIII
H,
encorajava
uma
concentração excessiva de atividades econ 1 ,
daí
a
conseqüente superpopulação
que gera
desperdício
c ·o u
111 11
11
Este
outro,
sobre zoneamento e
uso
do
solo,
afirma qu o ull 1
preços
da
terra
em Nova York
são o resultado direto d u t1111
111
tamanho
permitidos nas construções
95
• E este é o volum dt I'
sobre unidades de
vizinhança,
onde se
reconhece
qu
e o
tHt ll lltll Vt
I
estava,
como era de
esperar, criando a cidade celul
ar
96
•
Nada
disso: errada era a filosofia partilhada
por
Adum
grupo.
Era a crença
de
que, na prática, a forma da regiã I
fixada em definitivo, admitindo apenas modificações incr tll 111
1
marginais. E isso se
manifestava de uma centena de
man
1 t
aceitação de um plano rodoviário
preexistente
a qu e se a r •t
111
vam
alguns
desvios
ou anéis viários [ .. ]
que
permi tis s 111 I
circulação entre as
principais
subdivisões da região ;
no
a lto
timento em novas conexões
radiais
ferroviárias com os su h t dt
dentro de Manhattan
97
;
na defesa- embora em parte alguma s 1111
11
cione o nome
de Le
Corbusier - do princípio corbusiano d
1 ' 111
trução
de
arranha-céus a
intervalos
espaçados dentro
de
um pu 1
(11
e
sobretudo
na
sugestão de que ' ' no tocante aos problemas
p11
11
.
cados pela
concentração
do
desenvolvimento indus
trial
c c
111 11 I
e.m determinada
região,
o
imprescindível
é não descentraliza•· , ,
reorientar
a centralização, tendo
em vista, basicam
ente,
torn
n I '
11
os seus
centros
e
subcentros saudáveis, eficientes
e
livres
dn IIJI 1
população
99
; e na sugestão
daí
decorrente
de que
a rcc nlt d
ção
do
comércio
e
da
indústria em subcentros, de ntro da
1
1
t
poderia
aliviar a sobrecarga populacional
100
,
ao que
se
asso
•
t V \
rejeição
da cidade-jardim como
solução
geral, ' 'exceto pa r
a IHJII
l1
parcelas mínimas da indústria e da população que pudessem ,•
1
I t
suadidas a
mudarpara
novos
centros
101
; na rejeição de toda
()li
quer
unidade governamental mais abrangente
que
se
dispu
.
elaborar um plano para a região
inteira
102
• O erro estava, Ullh
acima de
tudo,
na
assunção passiva
de
que a região continu
ut
I I
crescer, de 14,5 milhões de pessoas para talvez 21 m
ilh
ões p r ull I
de 1965, aliada à
falta
de qualquer proposta
definid
a, como , I 111
7/23/2019 Cidade Do Amanhã - Cidade Na Região
http://slidepdf.com/reader/full/cidade-do-amanha-cidade-na-regiao 13/22
84
CIDADES DO
AMANHÃ
exemplo, dizer para onde
toda
essa gente
de
sobra
deveria
ir
103
;
o
objetivo básico era descentralizar e evacuar Nova York o suficiente
para que continue funcionando nos moldes tradicionais' '
104
•
Como era
de
prever,
a resposta veio amarga.
Em
famosa rese
nha,
Mumford condenou
o plano
em que quase
todos
os pormenores
finais. Seu arcabouço espacial, apesar de toda
a
aparente
amplitude,
era excessivamente estreito;
aceitava o
crescimento como
fato
ine
vitável,
sem
levar
em conta o
potencial de
que dispõe o planejamento
para
influenciá-lo;
sequer considerava alternativas; continuava a
per
mitir
o
adensamento das
áreas centrais;
condenava
o
último trecho
remanescente
de
área livre, perto de Manhattan,
os
prados de
Ha
ckensack de Nova
Jersey, a
ser
totalmente coberto
por
construções;
descartava como
utópicas
as
cidades-jardim;
desculpava
a
plena ocu
pação das áreas suburbanas; ao rejeitar o princípio da casa popular,
condenava o pobre a morar pobremente; favorecia
um
aumento ainda
maior de
subsídios
para
as
linhas
de interligação centro-subúrbio
dentro
de
Manhattan, ajudando, assim, a
aumentar
aquela
mesma
superpopulação por ele
condenada; suas propostas
de rodovia
e
trá
fego rápido eram uma
alternativa
para um projeto
de
construção
comunitária, não um meio para chegar até ele.
Sua falha
básica es
tava
em
apresentar-se como sustentação para tudo: concentração e
dispersão,
controle de
planejamento v rsus especulação, subsídio es
tatal v rsus
regras
de
mercado .
Mas,
a despeito
das
aparências em
contrário,
significava,
na
verdade,
um desvio orientado para um cen
tralização ainda maior
105
•
E Mumford concluía:
Em
suma: o
Plano para Nova York
e
seus Arredores é
um
pudim mal conce
bido, dentro do qual se despejou um número muito grande de
ingredientes,
alguns
de
boa qualidade,
outros,
na
maioria. duvidosos:
os cozinheiros tentaram
satisfazer todos
os
apetites e
paladares,
e o
pensamento que norteou
a
escolha
da
travessa
era de
que
ela
iria
vender um
pudim
para os convivas, em
especial para aqueles que haviam
pago
os cozinheiros.
A
mistura como
um
todo é indigesta
e
insossa: mas aqui
e
acolá pode-se
pescar uma passa ou um bom pedaço de limão
e
comê-los
com prazer.
No
final das
contas, há
de
ser essa, esperros ,
a
lembrança
que
nos ficará
do
pudiml06.
Visivelmente irritado, Adams decidiu ferir
Mumford chamando
Geddes em seu auxílio:
É
este
o
ponto
principal
sobre
o
qual
o Sr.
Mumford
e
eu,
tanto
quanto
o Sr.
Mumford
e
Geddes, discordamos- ou seja. se devemos permanecer parados, discur
sando sobre
ideais, ou
seguir em frente, conseguindo para esses
ideais o
máximo de
realização possível dentro
de
uma sociedade necessariamente imperfeita,
capaz
apenas
de solucionar imperfeitamente os seus
problemasl07.
O paradoxo era que também Adarns continuava acreditando que
Nova York
fosse grande demais e
que .. de um ponto de
vista eco-
I
'
l
i
A
CIDADE NA REGIÃO
IH
nômico, e até
mesmo de
saúde, devíamos levar o
e
de
indústrias ·
para fora de
suas áreas centrais
e,
na m
< lld 1 do
possível, para dentro de cidades-jardim
108
•
Mas
o
própri
o xi to
t l1
cidades-jardim, argumentava ele, estava diminuindo a nc · ·s
sl d
ult
delas como
solução: a
solução não deve ser
buscada
num pro ·
11
indiscriminado de
descentralização,
mas na descentra lizaç1 o
IH
111
planejada
em
cidades-jardim, aliada a
uma
dispersão igualm nt h 111
planejada
em
regiões
urbanas
1119
•
Nesse ponto
é
que seus caminhos se
separaram;
Adam
s t
ntc 11
manter
a
continuidade do diálogo, mas Mumford
-
emb
ru
·
nul
nuasse
pessoalmente
amigável - tornou-se
cada
vez m a is
f
•
ro :t
111
suas
críticas
110
•
O
plano de Nova York foi para frente gr aças 11
11111
I
Associação do Plano
Regional liderada
por uma elite de
h
olll ·n dc
negócios e
à
ação de Comissões
de
Planejamento criadas pnru
l '
ui
área
em particular:
foi sobremaneira bem-sucedido
em
su
as
p•
·opo
tas de
auto-estrada,
ponte
e
túnel,
sobretudo
porque
o
arquit ·to 1
11
carregado foi Robert Moses
111
•
Enquanto isso,
a rec
eita
a lt 'Jll
V
1
de Mumford -cr iação
de novas cidades
com
auxílio estata l
11111pl1
reconstrução de
áreas deterioradas - ficava
no papel
112
•
O
PLANEJAMENTO NEW
DEAL
O
que podia parecer um
estranho
resultado;
pois
em
19
fl1
1111 •
lin
Delano Roosevelt era empossado no cargo de
presid
cnt
meçava
o
New
Deal. E Roosevelt estava,
em princípi o,
f
ort
111 111
comprometido com um
programa que corria emparelhad
' 0
111
'
puras linhas
da RPAA. Em 1931, havia
ele desencalhado a
lu 1 lo
retomo
em
massa
à terra, mediante o fornecimento de casa,
acres de solo, dinheiro e instrumentos agrícolas; também cstuv I 111
prestando idéias da
RPAA
ao argumentar
que
a
energi
a el trl · 1
caminhão estavam
ajudando a descentralização
da
indústria P 11' \ P
quenas
comunidades
e
áreas
rurais, ao
mesmo
tempo
que
a I l1
1
dade, o rádio, o
cinema
e a
encomenda
postal traziam
quul
I ui
urbana
de
vida para
o
campo;
e
propunha especificam
e
nt
e n
f<
1111
1
ção de uma Comissão
Estatal para Lares Rurais a
fim de cstnb
I
c I
um plano baseado no planejamento cooperativo em pr I do I 111
comum
113
• Poucos
meses mais
tarde,
reclamava um pluno d I
nitivo
pelo qual
a própria indústria procurará levar certas finn ' 1.. 1
para
fora
dos
centros superpovoados,
onde
o
desemprego atin
índices mais elevados, encaminhando-as para comunidad es m nw
mais próximas das fontes supridoras de alimentos básicos
11 4
• H
1932,
pouco antes da
eleição,
perguntava se sem esse J 111
111 11
regional,
não nos estamos colocando na
situação de,
no futur
o
111
7/23/2019 Cidade Do Amanhã - Cidade Na Região
http://slidepdf.com/reader/full/cidade-do-amanha-cidade-na-regiao 14/22
186
CIDADES
DO
AMANHÃ
diato, termos
de
agarrar
o
touro pelos
chifres e
adotar algum
tipo
de
trabalho experimental baseado
em distribuição populacional"
11
5.
Seu tio,
Frederic Delano,
dirigira o
Plano Regional
de Nova York
e, dizia Roosevelt
em
1931, despertara nele
um
permanente interesse
pelo assunto; pode
não
estar muito
longe o
dia, aventava,
em
que
o
planejamento
se tornará
parte
da política nacional do país
116
•
Foi
dizer
e
fazer: seguindo
os passos
de
Rexford
Tugwell,. que
por seu turno fora
aconselhado
por
Stuart
Chase, empurrou Con
gresso
adentro
um
Projeto
para
Obras
Públicas em junho de 1933,
destinando 25 milhões
de dólares
ao reassentamento
do
trabalhador
no campo e dando assim às
pessoas
a
oportunidade
de
assegurarem,
com
a boa terra, os empregos
permanentes
que haviam
perdido
nos
municípios e cidades industriais superpovoados"
117
; só que ninguém
saiu de onde estava
8
•
Em
resposta, surgiu o programa para cidades
de cinturão verde
da
Administração de Reassentamento, em 1935,
já descrito no Capítulo
4:
um
glorioso fracasso, com
quase
nada
para mostrar de concreto.
Fora isso, a política New Deal sobre planejamento
regional
sig
nificou precipuamente
a
prodigiosa multiplicação de um papelório
sem fim. A Junta
de Planejamento
Nacional de Recursos, bem como
as
organizações
que a
precederam sob os mais
variados
nomes,
so
breviveu exatamente uma década (1933-1943) e foi
descrita
como
a
organização de planejamento
nacional
mais abrangente que este
país já
conheceu"
119
; ao
ser criada pela primeira vez,
em 1933, como
Junta de Planejamento
Nacional,
contava com três
dos mais
insignes
nomes
do
rol
de
planejadores norte-americanos, Frederic Delano,
Charles E. Merriam e Wesley C. Mitchell; ao todo, produziram eles
perto de
370 relatórios
impressos
e na
maioria mimeografados, to
talizando
43 000
páginas
2
• Difícil,
contudo,
é
localizarmos algo
que
se
tenha concretizado
fora do
texto.
O relatório de
1935 do
Comitê
Nacional de Recursos (como
então era
conhecido),
Regional Factors
in National Planning Os Fatores Regionais dentro do Planejamento
Nacional) recomendava que se
reagrupassem
os distritos lrurais das
várias secretarias federais num número limitado - por
exemplo,
dez
ou doze - de centros regionais principais; as comissões de planeja
mento
regional decorrentes
não teriam uma executiva
regional, exi
gindo,
por conseguinte,
' ' um
canal
orientado para
uma
executiva
fixa",
uma
Secretaria de Planejamento
NacionaJI
•
Mas
não
se
tem
registro
do resultado. E seu relatório de 1937, Our Cities: Their Role
in the National Economy Nossas Cidades: Seu Papel na Economia
Nacional), embora chamasse a atenção para pragas, especulação, de
sestruturação
social,
crime
e
fisco urbano, problemas que, mesmo
naquela época, estavam arruinando
as
cidades
norte-americanas, fa
lhou
em
suas recomendações para
que as
dimensões
regionais
fossem
A
CIDADE NA REGIÃO
I
levadas em conta de forma explícita; quanto à
polêmi
ca qu , t
centralização versus descentralização, o relatório perm an c •u I
em cima do
muro, declarando que
o
ambiente fa v
oráve l poa ·
1 •
Jência ao
morador
urbano
e
ao aproveitamento
eficaz d s •
'
\
n
humanos e materiais estaria, muito provavelmente, en tre aqu ·I ·, dn
extremos"; o objetivo,
concluía,
de
forma bastante va ga, e ra ui v 1
as áreas centrais do excesso de população a fim de criar um
ll l l td
i l
urbano mais descentralizado' ' , assertiva com a qual, sem d t
V
d li ,
teriam
concordado
tanto Adams quanto Mumford
22
•
Ambo. , 1
1
1
e Congresso,
mostraram-se totalmente
desinteressados, e o r 1111 1
caiu
num
l imbo político
123
•
ATVA
Para
toda essa papelada houve, evidentemente, o br i lha nt '
trapeso de
uma
realização concreta: a Tennessee Valley Auth lll I ,
inegavelmente
o
mais importante empreendimento
do plan ju
New Deal, e -
pelo
menos segundo a
lenda
- concreti zu · o d I
idéias
mais radicais tanto da RPAA
quanto dos
regionalis tas sul l
Ao
discursar
na
última reunião
da RPAA em 1932, R oo sc v d
creveu a
idéia
da TVA como um exemplo de
planejame
n to iou d,
como tudo, porém,
o
que
ele dizia,
também
isso
soou com
I
frase
de
tal maneira ampla e imprecisa que poderia servi r a q u ll q
programa, mas de tal maneira ardilosa que poucos
c
om pro
1
efetivos
eram por
ela
envolvidos"
24
•
Na verdade, essa idé ia a h '
linhas
diversas:
melhorar
a
navegação
em
Muscle Sh
oa l
s,
110
Ala
bama (projeto acalentado pelo Corpo de Engenheiros d
esd
e l 1
passado), ali desenvolver um programa energético, vi abilizar
.o
IPt ti
para a
produção de armamentos
e
controlar as enchentes;
a luç lt
de Roosevelt
consistiu
em
puxar todas
essas linhas ju n tas
CO l
ll
IH •
ções
de
planejamento
rural e
desenvolvimento regional,
P
ndo
d
lado
a
produção de armamentos
25
• Todas essas
preocupa
ç l
aram-se, no
entanto, tangenciais nas
negociações concr
etas qu
~ r m
à
aprovação
da lei; e por
conseguinte, os di retor
s p Oli
noção tiveram
a
respeito do que
os
parágrafos sobre
pl
an
j t
ll lH ll
l l t
controlavam ou
permitiam
26
• FDR com
certeza não
lh
es
d u Ot t
tação
de
espécie alguma;
talvez
porque ele próprio não
ti ve s ,
vavelmente, nenhurna
127
•
Também a
geografia assegurava para
a TVA a
ce r
te
za
d
í
tituir-se um exemplo
incomum de planejamento region
al p urn h
I
hidrográfica.
O
rio tinha 650
milhas
de comprimento,
bu c '
tamanho
da
Grã-Bretanha,
a região diversificava-se
pelo
ch m u, Jil In
recursos,
pela composição racial e pelos modelos cultura is ' · I l
7/23/2019 Cidade Do Amanhã - Cidade Na Região
http://slidepdf.com/reader/full/cidade-do-amanha-cidade-na-regiao 15/22
,
5.7 Norris Tennessee
A pequena jóia de Tracy Augur, executada
para
a Secretaria
Autônoma
do Vale
do Tennessee:
uma das poucas manifestações dos primeiros ideais de planeja
mento
dessa
entidade
que logo
os perdeu.
A
CIDADE NA REGIÃO
IH
I
comum
o
que
havia era a
pobreza:
a metade oriental dos Apul
t
•h
era, possivelmente, a parte mais pobre da mais pobre rc i n do
Estados Unidos, abrigando milhares
de famílias com salári
s uh
1 11
de 100 dólares
anuais
29
• Cumpria melhorar
suas
condi ções d v d
t
mediante a construção de um conjunto
de barragens de
fin nlid ult
múltiplas - elas próprias
um
desafio para o conhecim
ento
d
dispunha
a engenharia
convencional- , em
torno das
quai
s uuau 1 1
de programas desenvolveria os recursos naturais
da
região . P · lo
uH
nos, era essa a teoria
implícita
na aprovação da lei e no
pr
ogr 1
inicial
da Junta da TV
A
130
•
Logo, porém,
foi
posta
de
lado. Para a Junta
da
TV
A,
Roo s Vl
li
designou três membros que
formariam
uma
mistura
total c xp lo
vamente incompatível. Na cadeira de
presidente colocou
A. JJ. Mu1
gan, diretor
do
Antioch College: visionário
utópico, ascéti
co, qu 1
místico
que
-
embora
não
sendo
nem socialista nem
crist
ão -
I ull 1
muito em comum
com
os primeiros comunitaristas utó
picos
131
• M
gan
encarou a tarefa
como
a oportunidade que a vida lhe r 1
para
realizar
sua
visão pessoal
do que
fosse
um
novo ambi cnt
f ,
t U
e cultural, visão
que
ele acreditava compartilhar
com Roo
scv
lt
1
Como segundo membro
e
na
qualidade
de
perito
em desenv
o lvim
t
to
de
planos energéticos públicos dentro
do grupo,
colocou
IV
d
Lilienthal:
jovem imensamente
ambicioso,
empreendedor, com 1 r
putação de roubar
o
espetáculo onde quer que
aparec
esse
13
• 011111
terceiro, escolheu
Harcourt A.
Morgan, sem qualquer parent
e o ·
wu
o
presidente:
diretor da Universidade de Tennessee,
represent
ant do
interesses agrários conservadores
em
Vanderbilt, obcecad o 111
1
idéia
dos
serviços
de
extensão rural
e, em
particular,
com
um 1
quema para
um
programa de
fertilizantes
fosfatados,
pront
a 1
aliou-se a
Lilienthal.
Passados cinco
meses,
já
estavam el e
s con<l
nando a variedade - depois seriam as excentricidades - 1111
projeto grandioso do
presidente
134
•
Dois anos depois, o prcsid
estaria criticando abertamente seus colegas na imprensa of ici a l:
••
1
tático, e dos
maiores, corno
ficou ·provado
135
•
Não
tardou que
Lilienthal
e Harcourt Morgan derrotassem pt lo
voto
a
presidência
e dividissem responsabilidades: Lilientha l fi •
ou
com
o
desenvolvimento da energia
elétrica,
H.
A.
Morgan
c
l11
o
trabalho de extensão agrícola. Daf em
diante, essas
seri
am
as tnr I
I
da TV
A: a visão
de
A. E. Morgan
de uma secretaria
autôn
oma
VI
l
tada para
o
planejamento regional- para
muitos, a verdadeira
mi 11
da TVA - foi simplesmente
enterrada
136
•
Os
fazendeiro
s eram
11
migos
jurados
da Divisão de Planejamento da
Terra,
cujos m mh10
eram por eles
pejorativamente chamados de
os
geógrafos ;
lultr
1111
sem trégua pela compra de terras do Estado ao
redor
das
rcpr
I
que foram
progressivamente reduzidas
ao mínimo absoluto•
7
• <
7/23/2019 Cidade Do Amanhã - Cidade Na Região
http://slidepdf.com/reader/full/cidade-do-amanha-cidade-na-regiao 16/22
190
CIDADES DO AMANHÃ
opositores descreviam
os
fazendeiros como ' ' fanáticos' ' que se
iden
tificavam menos com a TVA
do
que com
os
interesses
locais
138
•
Finalmente, após dois anos de agoniada indecisão- durante os quais
tanto A. E.
Morgan
quanto Lilienthal passaram
por
crises de depres
são nervosa - , em
1938,
FDR
demitiu A. E.
Morgan por ' 'insubor
dinação
e
contumácia ;
mais tarde, Morgan era exonerado por
um
comitê do
Congresso
139
• Assim, a despeito de Lilienthal insistir, nos
balanços oficiais
de
leitura popularíssima, que
os
programas
se
baseavam em princípios
de
unidade
140
,
na
verdade de há muito
não se baseavam eles em
outra
coisa que não
numa
violenta dis
cordância.
No
entanto,
para os de
fora,
na
época, a
TV
A
continuava sendo
um exemplo triunfante de democracia do
capim . Lilienthal argu
mentava que
ela era
' ' um programa,
fixado
por lei, a fim
de
que a
secretaria
regional
federal
trabalhasse
em
cooperação
com
secretarias
locais e estaduais, e através delas
141
•
Na
realidade, foi,
ao que pa
rece, essa ideologia protecionista que
permitiu à
TVA
apresen
tar-se
como defensora
das
instituições
e
dos
interesses
locais;
a
fim
de
justificar sua autonomia e decapitar uma possível oposição vinda
de
indivíduos e grupos
locais
poderosos,
ela
delegava o programa
agrícola a um eleitorado distrital organizado, os colégios de dona
tários, comprometendo, assim, muito de
seu
papel
como
secretaria
de conservação. (O estudo de Selznick comentava acremente que
o
caminho
para se
conseguir uma
administração democrática
começa
pela organização de um governo
central suficientemente
forte para
eliminar
as
condições que tornam grande parte de nossa vida
gros
seiramente não-democrática'
142
.
Num
sentido,
no entanto
, a
TV
A
posiCIOnou-se contr
a a ideo
logia dos fundamentalistas rurais na Universidade Vanderbilt. Lem
bremos que seus membros partilharam
com
os da
RPAA
a idéia
de
que a migração populacional do campo para a cidade precisava ser
retardada e até mesmo
revertida;
e aparecera
FDR
para
ficar
do lado
deles.
Mas
na prática, ao tempo
da
aliança Lilienthat-H. A. M or4an,
a TV A tornou-se mais e mais uma secretaria geradora de energia
elétrica,
devotada
à
criação
de uma
grande base urbano-industrial:
como
disse Tugwell, ' ' de 1936 em
diante, a
TV
A
deveria chamar-se
CorporaÇão
para Produção de Energia Elétrica
e
Controle de En
chentes do Vale
do Tennessee
143
•
Por
volta de 1944, já
era
a se
gunda maior produtora de
energia elétrica
dos Estados
Unidos, ·ge
rando
n
metade de nada menos
que
toda
a
produção
·
nacional de
1941
144
• A ironia-está no motivo: o enorme aumento na demanda de
energia proveniente da instalação
do
complexo
de
produção
de
plu
tônio
do Conselho de Energia Atômica em Oak
Ridge, base
para
produção da bomba atômica
145
•
O único
elemento
riscado
por
Roo-
A
CIDADE NA REGIÃO
sevelt da
prescnçao da
TV A, produção de munições, . I V
dirigindo
o desenvolvimento
econômico do
V ale.
As barragens e represas
devem
ter causado
bo
a impt
turista
em
peregrinação, tanto
quanto
aquelas barragens no
VIII
no Dnieper entusiasmaram
os
visitantes de
esquer da em I c
I
cada
de 30.
Mas do
planejamento reg iona l - especi
a lm
ent VIII 1 1 I
radical esposada pela
RPAA
- não
ficara
mais
do
qu e un1
ceptível
resíduo:
urbanização comunitária, serviços
de smld
c
cação
receberam
uma fatia minúscula do orçament
o Nc111
a
nova cidade construída próxima
à
grande barr
ag
em do
T
embora planejada por um membro da
RPAA
(T r
acy
Au
giada por Benton MacKaye como um
primeiro passo
em
u h
til
1
comunitária
regional,
foi acuradamente
descrita pelo
Di
r ' l t>
l
d
I I 1
nejamento da
TV
A
como
uma
agrovila
147
• As expectnliv 1
listas de A. E. Morgan
com
referência a Norris - c idade
<
nd 1 1 11
e
pobres poderiam
viver
juntos
e
onde os
habitan tes
comh
11111
agricultura com
indústrias artesanais -
jamais se
con
·r
·t
Construída às
pressas, a
minúscula cidadezinha- co
m
ap'n 1 I
habitantes
-
acha-se praticamente enterrada em me i
o a d o
I
1
ques; seu esquema
é tão informal,
que será
difícil um
dia
d
I 1111
nar-lhe
as origens
148
•
Constitui
uma
interessan te
no t
a
de
r
UIIJI
p
a história da cidade-jardim, mas em confronto com a visão llld 11
projetada pela RPAA, não passa de ridículo camun don
go.
)
I
1111
que
a
América
-
mesmo
a
América
do
New De
al - n
politicamente preparada para essa visão
149
•
A
VISÃO FAZ-SE REALIDADE: LONDRES
. · Assim, por uma
das muitas ironias
desta história,
o v rd
li
I 111
impacto de Mumford,
Stein,
Chase
e
MacKaye nã
o
se
fari l • 1
em seu próprio
país,
nada simpático
às idéias deles, m
as
n
as 11 I
1
da
Europa. E
aí
coube a Londres
dar
o· exemplo. Ao lon go do
11111
20 e 30, planejadores britânicos e norte-americanos mantiv'r 1111
tenso
tráfego transatlântico
em
ambos os sentidos. T ho mas Ad 1111
atravessava
o
oceano quase
todos
os anos. Às
vezes t
rê
s u
qu
111 11
vezes ao ano, entre 1911 e 1938; Stein e
Wright
e ncontrai 1111
com Howard e
Unwin na
Inglaterra
em
1923; Geddes entrou
contato com
a
RPAA em 1923; Unwin
e
Howard em
1925
1
0
• A
1
durante
todos esses anos
de
calmaria,
um pequeno
g rupo d pl11
jadores já
estava aplicando idéias norte-americanas a um u
1111111
variedade
de
contextos britânicos.
Um dos
mais
bem-sucedidos, ironicamente,
foi
a
bête no tt
RPAA.
Durante os anos em que dirigiu o Plano Regi onal d Nc
7/23/2019 Cidade Do Amanhã - Cidade Na Região
http://slidepdf.com/reader/full/cidade-do-amanha-cidade-na-regiao 17/22
CIDADES
DO AMANHÃ
)rk, T ho mas Adams
continuara como sócio
na
atividade
de pla
n Ju
me nto exercida pela Adams, Thompson
e
Fry, que, entre
1924
J
2 ,
produziu oito
dos dozes exercícios
desenvolvidos no
campo
·m
crge
nte
dos planos
consultivos regionais
para
a periferia de
Lon
cl r s. Adams
contribuiu com
muitos conceitos norte-americanos
para
ss
cs planos:
parkways em
West Middlesex e o Vale do Mole, cintas
ve rd e s e cunhas verdes para limitar o alastramento urbano
151
• Mas
u f ilosofia, como
em
Nova York,
continuou
sendo
planejar
como a
ar te do possível: o
planejamento devia permanecer
como função con
s
ultiva,
sem tentar
realizar
mais do que mudanças
marginais,
e
sua
a tuação devia manter-se dentro dos limites traçados pelos poderes
e xistentes.
Os quatro planos
restantes
têm à
frente
um
nome
igualmente
s ignificativo:
nascem
da
sociedade entre Davidge, Abercrombie e .
Archibald. Leslie Patrick Abercrombie 1879-1957),
nono
filho de
um negociante de Manchester,
deveu sua
carreira à
imprensa mar
rom; começando
como
arquiteto, converteu-se
ao
planejamento gra
ças
a uma bolsa de pesquisa instituída na
Universidade
de Liverpool
pelo magnata do sabão William Hesketh
Lever,
que
fundara
Port
Sunlight
com o dinheiro
ganho numa ação por difamação movida
por
ele contra
um
jornal. Tão capaz
se mostrou que, em
1914,
quan
do
o
primeiro professor de
Projeto Civil em
Liverpool,
StanleyAds
head, transferiu-se
para uma nova
cátedra
em Londres, Abercrombie
surgiu como seu natural
sucessor
152
• Encarregado
da e d i t o ~ ç ã o da
Town Planning Review cedo
adquiriu
um conhecimento
ímpar sobre
o que estava acontecendo
no
mundo do planejamento.
Mesmo
antes
da
Primeira Grande Guerra ganhou um prêmio
por
seu plano urba
nístico para Dublin que colocava
o município
dentro
de
seu contexto
regional, patenteando, destarte, a
dívida do autor
para com
Geddes
153
•
Em
seguida,
a
reputação
crescente levou-o a um
exercício
pioneiro
em planejamento regional para a
área
de Doncaster, em
1920-1922
e,
conseqüentemente,
em
1925, para um plano para o leste de Kent:
uma
nova região
carbonífera,
e n c r u s ~ d no
jardim da
Inglaterra,
onde
Abercrombie
corajosamente
tomou
a si demonstrar uma tese
geddesiana,
provando que , na era neotécnica, até mesmo a indústria
paleotécnica poderia ser
absorvida
pela paisagem.
Propôs oito pe
quenas
novas
cidades; situando cada uma delas numa
dobra
da
on
dulante paisagem
calcária, dentro
de um
cinturão verde
contínuo
154
:
eco
profético, no que tange à precisão numérica,
da
estratégia que
iria
ac1otar
dezoito
anos mais tarde
para
a
Grande Londres. Ampla
mente comentado, apesar do fracasso que constituiu em termos prá
ticos, esse relatório colocou-o
definitivamente na
senda
do
planeja
mento regional
que
o
iria guindar às alturas do Plano para
a
Grande
Londres.
l
I
A CIDADE NA
REGIÃO
I
I
O fracasso
na
implementação, no entanto , foi
si nt 111
I
como em
qualquer
outro
lugar, planos regiona is eram
' 011 11l11
res; dependiam da
cooperação
entre as várias peque nus
1111111
1h1d1
distritais de planejamento, amiúde
nada
acolhedor as. A 1
1
o uptl
dominante era limitar o alastramento suburba n
o,
qu ,
X
nessa
época
Capítulo 3), passava
a
ser que
s tã o
da
s mui. d 1 d 1
no
sul
da Inglaterra. No
leste
do
Kent,
Abe rcrombi ·
julp1111
flll
1
mesmo
com
os poderes existentes,
as
autoridades p u c l ~ s s 111
1
11111111
•
terra
para a construção de
novas
cidades; o C om itê Mis to d 1
11
r 1
norte
de Middlesex
também advogava
ci dad es-satélit ·s '$
3
• u ui
foi feito
em nenhum dos dois
locais.
Por outro
l
ad o
,
tonto
o pll11111
de
Adams quanto os de
Abercrombie
procurav
am
ex ·r ·
·r
1111111111
por meio do zoneamento rural, ou seja, da de ns id ade multi
h tl ,
sobre cuja
eficácia
divergiam
as
opiniões. M es mo assim, 111tl11
um
dos cálculos, os doze planos
juntos puseram de lud 1 l
ciente para alojar 16
milhões
de pessoas, nas densidod
gentes
156
•
A
verdade
é
que,
por
mais que
impressionassem no pup I
planos
eram pouco
mais
do que exercícios mel ho r
ador
·s. I h
talvez
fossem bem menos eficazes do que o pl a no d e Ad Jlll
Nova York
pela simples razão de que , na
Ingl
aterra, o
J ll l l
l l l l 111
ganizado dos
negócios tinha
menos
força. O
co
nceit l 1111 ui
de planejamento
regional, representado
pela RPA
A,
só po
I
1
11
forma se,
por
lei, o governo britânico conferisse po de res nl1
para planejar toda uma região, incluindo a a u torizaçã p
I
d
1
alastramento
urbano; e disso
não
se
viu traço até 193
, ·<
1111
11111
tramos no Capítulo 3. A triste história
do Comi
tê
de
Ru y n1 111l I lu
win ilustra bem o fato .
E m 1927, Neville
Chamberlain
usou d e sua posiç< o 011111
nistro da Saúde
para
incentivar o
planejam
e n to regional 111 d
criação
de um
Comitê de
Planejamento
Regional pa ra a r 111d I
dres, que cobria perto de 1 800 milhas quadradas d entr d 11111 1
de 25 milhas a partir
de Londres
central, e
co n
tava com 5 lll 11111111
provenientes das
autoridades
locais.
Raymond U nwin f I •o lh tl
para conselheiro técnico. O relatório preliminar de 192
1
1 l p1111ll1
uma completa
reversão
no sistema de
planej
am
ento
e
nt
o
ao
invés de os órgãos planejadores tentarem re ser va r I l I
para
áreas
livres,
passariam
a demarcar deter
minada
s 1
construção, tendo-se como pressuposto que todas as rem
fossem conservadas como espaços
livres:
cidades com 6 · '
como pano de fundo.
Isso
exigiria
toda
uma Secre tarin Aul
de
Planejamento Regional
com
poderes executivos sobr
regionais mais amplos, inclusive limitação de áreas p ara · n I
No
entender
do
relator, as autoridades locais deveriam pod I I I
I
J
7/23/2019 Cidade Do Amanhã - Cidade Na Região
http://slidepdf.com/reader/full/cidade-do-amanha-cidade-na-regiao 18/22
194
CIDADES
DO
AMANHÃ
uma urbanização sem terem
por
isso que indenizar ninguém; caso
contrário, o pagamento deveria ser estipulado
por
rateio
de
valores
feito entre proprietários de terr proposta
de
Unwin
que
o ministro
achou impraticáveJI
57
•
Nesse
ínterim,
em
importante palestra pronunciada
em 1930,
Unwin expunha
seu conceito
de
planejamento
regional:
Os esquemas
de planejamento regional deveriam ser utilizados [ ... ]
sem
privar
as
autoridades locais, dentro da região, da liberdade de elaborarem esquemas de
planejamento
urbano para
as suas próprias áreas [ .. O principal objetivo do plano
é
assegurar
a
melhor distribuição das moradias. do trabalho
e
dos locais de recreio
para a população. O método consistirá
em
executar
essa
distribuição segundo modelo
adequado sobre um fundo preservado como área Iivre
158
.
Se
a
urbanização
fosse
orientada para
a
implantação de núcleos razoavelmente
independentes, em forma
de atrativos
grupos
urbanos
de
diferentes
tamanhos,
situados
espaçadamente
sobre
um
fundo adequado
de
área livre, haveria, na região, amplo
espaço para qualquer aumento
populacional
naturalmente
esperável,
mesmo em se
deixando a
maior
parte
da área como espaço
Iivre159.
Mas
hoje em dia, ' ' toda terra é, potencialmente, terra de cons
t rução ; qualquer
pessoa poderia construir
em
qualquer
lugar,
e as
sim, a construção desordenada e a
urbanização
por faixas iriam con
tinuar160.
Portanto, nada
aconteceu;
e
em
1933,
quando veio à
tona,
o
relatório final
do
comitê foi definitivamente parar
na
geladeira, gra
ças aos
cortes nas despesas
feitos pelo govemo
161
. Seu texto
voltava
ao mesmo
tema:
é preciso haver uma
estreita
cinta verde ao redor
da área construída da Grande Londres a
fim
de dar lugar a campos
para
jogos
e espaços livres;
por ali
passaria
uma p rkw y
orbital;
além
disso,
é
mister que se envidem
todos os esforços, através dos plenos poderes contidos na
Lei
de Planejamento para
a
Cidade
e
para
o
Campo,
para
que se definam
as
áreas
[ .. ] a
serem
destinadas à edificação, garantindo-se, assim, a base de terrenos livres
dos quais se possam obter espaços públicos como
e
quando
for necessário162.
As
novas áreas industriais deveriam ser planejadas
como
saté
lites
estanques
a
doze milhas de distância da Londres central,
e
como
cidades-jardim, a uma distância variável entre 12 e
25 milhas.
E
tanto industriais quanto 'empreendedores ,
argumentava
o
relatório,
só teriam a ganhar com plano
tão
explícito; mas o
problema,
de
novo, era a compensação devida àqueles cuja
terra
não fosse urba
nizada, o
que
requeriria
uma
legislação específica
163
.
Nada
feito. O Decreto
para
o Desenvolvimento
da
Cidade e
do
Campo,
apresentado
ao Parlamento em 1931, tombou,
vítima
da elei
ção; foi ressuscitado e aprovado
em
1932 mas numa forma
diluída.
I
A
CIDADE NA REGIÃO
Amargurado, Unwin
achou
que
a possibilidade de
cont
a1 ' 0111
11111
boa
legislação sofrera
um
atraso
de
anos
164
; em certo sentido t 1111 11
razão,
visto
que foi
preciso
esperar
até
1947 para obt I ·m 1
••
poderes que seu comitê
preconizara
como
vitais. E lá se foi t• l
1111
11
a
América,
preferindo passar
os
últimos anos de
su
a v
ida <1 14.1111111
aos
universitários
de Colúmbia como planejar.
Uma
coisa, no entanto, ele
realizou
por inteiro: pe lo •un , 1
partir de então, teve-se
uma
visão clara
do
que seri a um a 11 1
urbanizada do
futuro .
Nem
tudo o
que
dizia
era
novidade: 1 1111
lhança do que ocorrera com
as
idéias de
Howard,
pe squi sadO 111
riosos podem encontrar elementos isolados do plano
na " int I 1
de associada à
p rkw y
de George Peppler, de 1911, ou no pl11111 ,
do
mesmo
ano, para as dez
cidades
da
saúde ,
d e Au stin ' •uw ,
a 14 milhas
de
Londres
165
. E, naturalmente, o diag ra ma da · dud
social de Howard fornece a base teórica para quase to d
os
os
mas
subseqüentes
166
.
Como
plano, contudo, está
bem
m ais pl1
IH
mente
resolvido
do que qualquer um
desses outros; e a
li gaç
o
ele e o plano de
1944,
de
Abercrombie,
é
evidente.
Num c 11 1 I
tido, Unwin
penitenciava-se
de sua
grande apostasia
de 191 8- 1
1
I •
quando
desviara o
curso da
urbanização inglesa
das
ci
da dcs
-
j1
11 d 111
para os
satélites suburbanos: orientação que, muito m a is tu•d , 1t
próprio Osborn
reconheceria não lhe
ter sido possível
evitar, d
11111
o
peso
da
opinião pública na época
167
.
Mas nos anos que
se
seguiram desde o relatório
final
de uw 11
até o plano de Abercrombie, como se viu no Capítulo 4, mu ita
rolara sob
as pontes
do
Tâmisa. Neville Chamberlain, ao lOflllll
1
primeiro-ministro,
criara,
num de
seus primeiros
a .c r l ''
Barlow. Apontado para integrá-la, Patrick Abercromb te fm cu•
l u l
11
samente
encaminhado
por
Frederic Osborn para o seu re lat
I
o d u
minoria
e
seu
memorando
dissidente, que clamavam
por umn
tI I
tura nacional de planejamento, amplos e rigorosos contro les olt11
localização de indústrias, e
poderes
para implantar os pl a nos J ti
nais168; Reith,
como
primeiro-ministro do Planejamento, viera
f111
se. E Abercrombie colaborara
com
Forshaw, o arquitet o-c h f
Conselho
do
Condado de
Londres,
no
Plano
do Condad
o de < 1111
Para puristas como Mumford
e
Osbom, Abercromb
ie
j
amn
p11
deria ser
perdoado
por
ter-se omitido, no Plano do
Co n
d ado, '1lt1
uma questão tão vital
como
densidade e descentralização:
Confiei demasiado em Abercrombie [escrevia Osborn
a
Mu mfo
rd] . l
.
nlll
ut•
t
não
me ter plantado à soleira
de sua
porta
na
sede
do
Condado,
como
fi z c0
11
1
ll
tul ll
durante as
reuniões da Comissão.
Mas jamais
.me passaria
pela cabeça
qu e lltll pl11
nejador pudesse defender ponto por ponto
a
causa da
d e s c e ~ t r ~ i z a ç ã o e ,
ulolil
produzir um
plano
que não
faz o absolutamente imprescmd1vel -
penmtt
r 111
maioria
do
povo tenha
lares decentes.
7/23/2019 Cidade Do Amanhã - Cidade Na Região
http://slidepdf.com/reader/full/cidade-do-amanha-cidade-na-regiao 19/22
196
CIDADES DO AMANHÃ
Assim, guiada
por
conselheiros
trabalhistas classe
média,
to
talmente alheios
aos anseios
populares mas [ .. ] temerosos
de
uma
queda no
valor
da
tributação ou
de
perda do
seu
eleitorado de cor
t iço' ' , Londres
viveria
o que Osborn
chamou de
descentralização
simbólica , ou seja, restrita a pouco mais
de
um milhão de pes
soas169.
Osborn, evidentemente, não estava sendo nada justo; Abercrom
bie,
du r
a
nte
seu trabalho
com
os
funcionários do LCC,
deve ter
sentido intensamente que aqui, mais
do que em
qualquer outro lugar,
planejar era
a
arte do
possível.
E
visto corno metade do plano
re
gional único apresentado
em
dois volumes, o Plano do Condado
ostenta qualidades excepcionais que
por
si
só
bastariam
para
reco
mendá-lo junto ao mais
purista dos
membros
da
RPAA.
Primeira
mente,
temos sua
insistência
nos
métodos
de levantamento
gedde
siano,
que ele
utiliza
para cardar
a
enredada estrutura comunitária
de Londres, esta metrópole feita
de
aldeias.
Em
seguida,
temos sua
brilhante
combinação do
princípio
da
unidade
de
vizinhança,
de Per
ry,
com
a hierarquia viária
de
Stein e Wright
- c omo
a interpretou
um policial
de
trânsito da Scotland Yard, Alker Tripp
(1883-1954),
em dois
importantes
livros
170
-
a fim de
criar uma nova ordem
espacial
para
Londres: nela,
as
vias expressas não apenas resolvem
o
problema do congestionamento de tráfego como dão
definição e
forma
às
comunidades reconstruídas que elas separam ao fluir ao
longo
das
tiras verdes que enriquecem Londres do espaço livre tão
necessário.
Os
problemas
mais
agudos da Lond res georgiana e vi
toriana - superpopulação, obsolescência, incoerênci
a,
falta
de
verde
-
são
atacados simultaneamente,
numa
solução que impõe o r
dem
à
menos ordeira das grand
es cidades
do
mundo; mas
de maneira
tão
natural que ninguém dá por isso
171
.
O Plano do
Condado
usou o novo sistema viá rio especificamen
te
para criar uma
Londres celular: a
nova
or de m t
inha de ser
impli
citamente orgânica
172
. A dívida
de Abercrombie para com Geddes
torna-se aqui evidente, embora também se
1
possa detectar uma im
portante corrente vinda de
Perry
via Wesley Dougill, inspirado as
sistente
de
Abercrombie
e
seu ex-colega em Liverpool, defensor en
tusiasta
do
princípio de unidade
de
vizinhança para Londres, e
que
faleceu
quando
o plano entrava
em fase de complementação
173
•
O
importante
é
que, ao passar do Plano do Condado pa r
a o
Plano da
Grande Londres, Abercrombie retém a mesma estrutura orgânica .
Em primeiro lugar, a base feita de anéis
concêntricos
indica a in
tensidade decrescente de população e atividade: o
In t
erno (ligeira
mente maior
que o Condado,
com
o centro de Londres
como
anel
nuclear), o
Externo ou
suburbano, o
Cinturão Verde
e a Periferia
Ru ral. Em
seguida,
de novo,
eis
que cada um
desses círculos
aparece
5.8
- -
_.....
___
-
t·
-
·
_
_____ _ .
. . _
..
_. y.
s
·
a
t i
Conceito
da Nova Cidade de Howard a Abercrombie
o
conceito de uma
multidão
de
cidades-satélite
ao redor de uma m l pul •
ti
Howard
(1898), passando
por Purdom
(1921) e
Unwin
(1
92 9
- 19 3 ), ut ti I
nitivo
Plano da Grande Londres, de Abercrombie (1944) .
98
7/23/2019 Cidade Do Amanhã - Cidade Na Região
http://slidepdf.com/reader/full/cidade-do-amanha-cidade-na-regiao 20/22
CIDADES
DO
AMANHÃ
definido
por
um anel viário, parte do sistema hierárquico
que
produz
as
células:
o anel nuclear circunda a área central, o
anel
arterial
B define efetivamente o perímetro
urbano
londrino, o anel C atra
vessa
os
subúrbios
e o
anel arterial os
circunda, o
anel parkway
E constitui
a figura
central do cinturão
verde e
ajuda
a definir
0
começo
do
anel periférico
174
•
E eis o
espaço livre, usado
novamente
como elemento estrutu
rador.
Vejamos
como
Abercrombie paga o
que
deve a Unwin:
a y ~ o n d
Unwin foi'
o
primeiro
a
apresentar soluções alternativas para
a
expansao honzontal de
Londres:
seria
ou uma zona contínua, franqueada a todo e
qualquer
tipo
de
edificação
em
graus
de
densidade variados (alguns, nos distritos
de
alta classe
[sic],
bastante
baixos),
com sua continuidade quebrada a
intervalos
por
áreas verdes
(como
espaços públicos abertos) e, na prática,
por
pequenos lotes de
terra cultivável preservados
da demanda
do construtor;
ou então
um fundo verde
contínuo de campo
aberto, onde, engastadas nos lugares convenientes,
compactas
m a n c h ~ vermelhas representam a zona
construída.
Adotamos, sem
hesitar,
a segunda
alternativa,
a mesma que ele advogava para os
dois últimos
anéis
externos175.
Haveria
' ' um gigantesco cinturão verde
ao redor da Londres
construída ,
com especial atenção para a recreação
ao
ar livre: mas
teria
de haver também cintas verdes menores para as comunidades
isoladas, antigas e
novas;
essa cinta verde
local
não precisa
ser larga,
se
além dela existir campo aberto de
terra
cultivável' ' . Finalmente,
cunhas verdes correriam
internamente,
do cinturão verde até
0
co
ração
da
Londres construídal76.
Do total de
1
033
000
pessoas que
teriam de
achar novas mora
dias
em
decorrência
da
reconstrução e reurbanização de Londres, ape
nas 125 000 mudariam para além
do cinturão verde;
644 000
iriam
para o anel periférico rural (383 000 para novas cidades, 261 000 para
prolongamentos das existentes), quase
164 000
ficariam
junto ao
contorno
externo desse anel, mas a
50
milhas
de
Londres, e 100
000
mais
longe ainda. Haveria oito novas cidades,
com uma
população
máxima de 60 000
pessoas, situadas entre
20
e
35
milhas, aproxi
madamente, do
centro
de
Londres
177
. O
importante era
que,
fora iss
d',
a estrutura orgânica seria mantida;
só
que virada do avesso.
Ao
invés
de
auto-estradas
e
estreitas tiras
de parques definirem as comunida
des, o elemento básico seria agora o fundo verde, de encontro
ao
qual as comunidades
isoladas
- formada, cada uma delas, à seme
lhança das comunidades
londrinas,
de células menores
ou
vizinhan
ças - apareceriam como
ilhas
de
urbanização.
Concretizava-se,
finalmente, a visão
da RPAA.
O próprio
Murnford, em
carta
a
Osbom, chamou
o
Plano
de, sob todos os aspectos, o melhor do
cumento isolado até agora surgido sobre planejamento desde o livro de
Howard; na verdade, quase
pode
ser considerado como a forma madura
. I
A
CIDADE
NA
REGIÃO
lll'l
do
organismo do qual
Garden
Cities ofTomorrow fo ra o mh1 u IM
O trabalho
inicial
de tornar
o ideal
confiável
terminou ,
co
nti ll llll 1 I ,
e agora a tarefa principal consiste em dominar os métodos
políti
co s qu o
h
lltht
1
11
o mais efetivamente
possível
em
realidade.
Aqui ainda
não atin
gim
os 1
t Nh ' '
'
[ . .] E
temo
pelos resultados dessa nossa imaturidade quando,
no
pós- •u ·
trução imobiliária [ .. deslanchar a todo vapor179.
Os
métodos
políticos
foram prontamente assimi lado . I
novo
ministro para o Planejamento Urbano, Lewis Si lkin ,
11
111 IJIII
depressa comunicou
às secretarias de planejamento
qu
e o pl
11111
dt
Abercrombie
serviria
como
guia provisório de
ur b
a ni
zaç
o
Jl l l l l 1
região
18
.
Mesmo
antes
disso, como ficou visto no
C
ap
ftu lo
l
já havia aceitado o princípio das novas
cidades, de
s ignand o
1
11111
Reith para encabeçar um comitê que lhe
dissesse
como
co n. ll J,
Com
idêntica rapidez veio a resposta
do comitê: inst
a lar
6 1
o
I H
rocráticos,
sob
forma
de
corporações
de
desenvolvime n t
o,
u
I
ti
escapar das
complexidades, protelações e dos
compromi
ss s d 1 d
mocracia local. Num sentido estritamente utilitário, a s lu · o ti
monstrou
ser
correta: a Lei das Novas Cidades recebia a
A t
rov 1
Real no verão de 1946, todas as oito novas cidades
de
A b
cr
' 111 11 111
tiveram sua
localização fixada
em
1949
(embora
nem sc mp 1
11
locais por ele propostos)
e
já
entravam
em
fase
de
ac
ab
am
·
nl
o
111
meados da década de 60. O mecanismo que iria pôr em aç;; o 0111111
elemento capital do
plano, a saber, a
expansão das
ci d
ad
es
j 1
tentes, levou mais tempo para ser estabelecido e mais te mpo 1
para
ser
acionado:
a importante
Lei
do Desenvolvimen
to
U rh l11
aprovada em
1952,
os
primeiros
resultados
dignos
de
n
ot
a n o
IJI
receram
antes da
década de 60.
Mas
enfim,
também
esses apareceram, elementos ess c n
ci
1
eram
da paisagem
Abercrombie.
Embora, durante os
anos
)
a
implementação
quase tivesse
ido por água
abaixo ante o
in
·sp d '
crescimento
populacional e o incessante
desenvolvimen to in
lu
11
dentro e ao redor de Londres - o que tomou
necessári
as
t1
· '
1111
cidades, muito maiores que as programadas, iniciadas na s 111111tl
metade dos anos
60
- ,
fato
insólito
foi
a
admirável
fl
ex
ih
I d
11l1
demonstrada
pelos princípios básicos
de
Abercrombie no
jOHO
d
pressões
e tensões a
que
foram submetidos. Insólito p
or q
u ,
'
1111111
observou
o
comentador
norte-americano
Donald
Foley, a m
ui
pressionante figura do plano Abercrombie era
justament
e su
l\ qll
1l
dade
estável, unitária, que
' 'sublinha
a prioridade
da
lu ta pO l' 11111
forma
espacial futura definitivamente estabelecida co m o p
od111t
I
meta do
ambiente físico. O plano caracteriza-se
pelo
fa to d
11 1
voltado para um ponto
ou período situado
num
futuro hip
ot.
l i ·o
1
•
1
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200
CIDADES DO AMANHÃ
No
entanto,
ainda segundo
Foley,
o
plano Abercrombie não tar-
u a ser absorvido por
um processo político
e econômico gerado
pelo governo central
e que de
fato representava
o
seu oposto:
uma
nbo rdagem adaptável, mais evolutiva que
determinista,
ciente
da im -
1
rtância
das decisões
políticas e
econômicas
no
processo urbanís
tlco182. E,
até
mesmo
nesse contexto
diferente,
funcionou: provou
]Ue era capaz de ser vergado sem quebrar. Alguns
detalhes
logo
freram
modificações:
a nova
cidade de Abercrombie,
em
Ongar,
s
umiu
do mapa enquanto
outra surgia na área
de
Pitsea-Laindon·
White Waltham,
a
oeste de Londres,
foi
abandonada
e s u s t i t u í d ~
por Bracknell, perto dali
183
; mais tarde, após uma
troca
de governo,
todo
o programa foi
questionado,
e por
pouco
não o
truncaram pre
maturamente184. Sobreviveu não
se sabe
como; e a
região
de Londres
é um dos poucos lugares
do
mundo onde
se
pode encontrar,
con
c retizada, a visão
do
mundo segundo Howard-Geddes-Mumford.
Mas
enfim.
ainda
restam dúvidas
. Uma
delas
é a
de que
o
pro
g
rama sobreviveu exatamente porque,
numa
sociedade
a
um
tempo
complexa e conservadora, ele servia -
imperfeitamente,
é claro -
como
forma
de
consenso entre opiniões políticas muito diferentes e
até mesmo
conflitantes. Idealistas liberal-socialistas
podiam
juntar
forças com a
aristocracia
rural conservadora na defesa de
um
plano
que
simultaneamente
preservava
o campo inglês
e
o
tradicional
modo de vida
rural inglês)
e
produzia comunidades-modelo. delibe
radamente empenhadas em erodir
as
tradicionais
barreiras de
classe
inglesas. Essa frágil aliança decididamente sobreviveu pelo menos
até
o
fim dos
anos 70, quando se desfez, vítima da estagnação de
mográfica e econômica; mas o
resultado
ficou muito aquém da visão
original dos fundadores, que, no processo, quase foi obliterada.
certo
que os
habitantes
de
Stevenage
e
Bracknell são parte
da
eco
nomia
neotécnica,
mas de
maneira
alguma
passam
eles
parte
de
seus
dias
no campo, como supusera Kropotkin.
Nem
o plano Abercrombie
deu
qualquer sinal de que preten
desse desafiar
a
autonomia
de uma
das mais
monolíti<pas e
centrali
zadas burocracias de que se tem
notícia
em qualquer
dá s
democracias
ocidentais:
pelo contrário, os processos de implementação simples
mente a
fortaleceram,
e a qualidade de
civilização
de Basildon ou
Crawley ainda não evoca as glórias
de
uma Atenas do século
V
ou
de uma
Florença
do
século XIII. Tampouco, embora
o
sistema
de
urbanização
preservasse o campo,
produziu
ele
algo
semelhante ao
desenvolvimento
regional
integrado sonhado
por
Chase e MacKaye.
A população da zona rural
de
Berkshire e Hertfordshire come as
verduras que
os
porões dos
747 lhe trazem de todas
as
partes do
mundo e que chegam até ela via mercados atacadistas
londrinos;
e
as sebes vivas arrancadas e as construções agrícolas adaptadas para
A CIDADE NA REGIÃO
201
a
indústria
são um
testemunho de que,
para o
fazendeiro britânico,
o livro-caixa é que dita as regras.
É
evidente
que muita
coisa
da
visão dos pioneiros
se
mantém:
as
novas cidades apresentam-se inquestionavelmente
como bons lu
gares para vive.r e, ·sobretudo, onde crescer; não há dúvida de que
coexistem em harmonia
com
sua periferia rural, e a feiúra totalmente
estúpida do que havia de pior
no
antigo alastramento urbano foi
eliminada.
Mas o
resultado não
é tão
rico, tão meritório
nem tão
.
generoso
como
esperavam:
uma
boa
vida,
mas não
uma nova
civi-
lização.
Talvez
o
lugar
fosse
errado; os
ingleses,
essa gente arque
tipicamente comodista, de
perspectivas
tacanhas, eram o último povo
do
mundo a que se poderia confiar tal
empresa.
Ou
talvez,
como
no
sonho
de
Gatsby, a visão já tivesse ficado para trás, definitiva
mente irrealizada.
NOTAS DO CAPÍTULO 5
1.
Mumford, 1982
, p.
319.
2. Ibidem
pp.
321, 326,
331.
3. Defries, 1927, p. 323.
4. Mumford,
1982,
p.
322.
5. Defries, 1927, p. 251.
6. Weaver, 1984a,
pp.
42, 47-48; An-
drews, 1986, p. 179.
7.
Geddes,
1905,
p. 105.
8. Mairet, 1957, p. 216.
9. Weaver,
1984a,
p. 47.
10. Mairet, 1957, p. 216.
11. Geddes,
1905,
p . 106.
12. Defries
, 1927,
pp. 323-24.
13. Geddes, 1925c, pp. 289-90, 325.
14. Geddes, 1925d, p . 415.
15. Ibidem p. 396.
16. Weaver, 1984a, p. 47.
17. Boardman,
1978, pp. 234-40.
18. Woodcock,
1962, pp.
181-96.
19. Mairet, 1957,
p.
89; Stoddart;
1986,
pp. 131-33.
20. Edwards, 1969, pp. 33, 107.
21. I..ehning,
1973, pp. 71, 169, 236.
22. Reclus, 1878-94; Reclus, 1905-08.
23. Kropotkin, 1906, p. 28.
24. Ibidem p. 90, 1927, p.
96.
25. Kropotkin, 1920,
pp.
14-17.
26. Ibidem pp. 18-19.
27.
Kropotkin, 1913,
p. 35 7 .
28. Ibidem p. 361.
29.
Mairet,
1957,
p. 94.
30. Kitchen,
1975,
pp. 188-89.
·31.
Geddes,
1912, p. 177.
32. Ibidem p. 183.
33. Defries, 1927, p. 268; Boardman,
1944, pp. 382-83.
34. Defries,
1927,
pp. 218-19, 230-31.
35.
Ibidem p. 231.
36.
Branford, 1914,
pp. 294-96,
323.
37. Ibidem p.
283.
38. Branford and Geddes, 1919, pp .
250-51.
39.
Boardman,
1944,
p. 412.
40. Geddes,
1915,
p
34.
.
41. Ibidem pp. 41, 47, 48-49.
42. Ibidem.
43. Ibidem p. 86.
44
. Ibidem p. 96.
45. Ibidem p.
97.
46.
Ibidem p. 400.
47. Boardman, 1978, p. 345.
48. Dal Co,
1979, p.
231; Mumford,
1982,
pp.
337-39;
Goist,
1983,
p.
260.
49.
Lubove,
1967, p. 17; Mumford,
1982, pp.
339-40.
50. Dal Co, 1979, p. 232.
51. Mumford, 1982, pp. 344-45.
52. Anon, 1925, p. 129.
53. Mumford, 1925, p. 130.
54. Mumford, 1925a, pp. 130, 132-33.
55. Ibidem p. 133.
O I
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http://slidepdf.com/reader/full/cidade-do-amanha-cidade-na-regiao 22/22
202
CIDADES
DO
AMANHÃ
56. S te
in
1925 p. 138.
57. Chase 1925 p. 144.
58.
Ibidem.
59. Ibidem p.
146.
60.
Sussman
1976 p. 23.
61. Mumford 1925b p. 151.
62. Ibidem.
63.
Ibidem.
64. Ibidem.
65.
Ibidem p. 152.
66.
Ibidem.
67. MacKaye 1925
p.
157.
68. Lubove
1963 pp . 91-96.
69.
Ciucci
1979 pp. 341-42.
70. Odum
1936;
Odum and Moore
1938; Kantor 1973c pp. 284-85;
Friedmann and Weaver
1979 pp.
35-40.
71. MacKaye
1928.
72. Ibidem p. 64.
73.
Ibidem p.
73.
74. Ibidem
pp.
75-76.
75. Ibidem p. 170.
76. Ibidem p. 178.
77.
Ibidem pp. 179-80.
78. Ibidem p.
182.
79.
Ibidem
p.
186.
80.
Ibidem
pp.
186-87.
81.
MacKaye
1930;
Mumford
1964;
Guttenberg
1978. .
82.
Snúth
1925 pp. 159-60.
83. F1uck
1986.
84. Roosevelt 1932 p. 484.
85.
Simpson
1985 p. 191.
86.
Scott
1969 pp. 178-79.
87.
Hays
1965
pp. 7-11; Simpson
1985 p. 136.
88.
Kantor
1973 pp . 36-37;
Wilson
1974 p. 136.
89.
Simpson
1985
pp.
135-36.
90. Scott
1969 p. 177.
91. Regional Plan
of
New York
I,
1927;
xii;
Kantor
1973a p.
39.
92. Regional Plan
o f
New
Y ork I,
1927 pp. 23-28.
93.
Ibidem p.
44.
94. Regional Plan
of
New York 11,
1929 pp. 25-26.
95. Regional Plan
of
New
York VI
1931 pp. 102-03.
96.
Regional Plan
of
New York VII
1931 p.
30.
97.
Regional Plan
of New
York III,
1927 pp.
126-32.
98. Regional
Plan
of New York VI
1931 pp.
103-05.
99. Regional
Plan
of
New
York
11,
1929
p. 31.
100.
Ibidem; Hays 1965
p.
20; Scott
1969 p. 262.
101.
Regional Plan of New York VI
1931 p.
125.
102. Regional Plan of New York 11,
1929
p.
197.
103. Ibidem p. 35.
104. Wilson
1974 p. 137; cf.
Simpson
1981
p. 35.
105.
Sussman
1976 pp.
227-47.
106. Ibidem p. 259.
107. Ibidem
p. 263.
I 08. Adams
1930 pp.
142-43.
109.
Ibidem
p.
146.
110. Simpson 1985 p.
155.
111. Hays
1965
pp. 25-31 36-40; Sa
wers 1984 p. 234.
112. Sussman
·1976 p. 250.
113. Roosevelt 1938 pp. 505 508-09
510-11 514.
114.
Ibidem
p.
518.
115.
Roosevelt 1932 p.
506.
116. Lepawsky 1976
p.
22.
117.
Gelfand
1975 p. 25.
118. Ibidem pp. 25-26; Schaffer _1982
p. 222.
119.
Clawson
1981
xvi.
120.
Karl 1963 p.
76;
Clawson 1981
p. 7.
121.
U. S. National Resources
Comnút
tee
1935; IX; Clawson
1981 p.
168.
122
. U. S .
National
n.esources Planning
Board 1937 VIII-XI p. 84;
Clawson
1981 pp. ·162-64.
123.
Ge1fand
1975 p.
97.
124. Conkin
1983 p. 26.
125.
Ibidem
p. 20.
126.
Ibidem pp.
26-27.
127. TugweU
1950
p.
47.
128. Lowitt
1983 p.
35; Conkin
1983
p. 26.
129. Morgan
1974 p. 157;
Lowitt
1983 p.
37.
130. Neuse 1983 pp.
491-93;
Ruttan
1983
p.
151.
A
CIDADE NA
REGIÃO
13·1.
McCraw
i970 p. 11;
McCraw
1971.
PP· 3s-39.
132.
Morgan
1974 pp. 54-55.
155.
133.
Ibidem
p. 22.
134. Morgan 1974
p.
55.
135.
McCraw
1970 pp.
95 107.
136.
Selznick 1949 pp. 91-92 149.
137.
Ibidem
pp. 152 186-205.
138. Ibidem
pp. 211-12.
13 9
.
McCraw
1970 p. 108;
Lowitt
1983 p.
45.
140. Lilienthal 1944
p.
51.
141.
Ibidem
p. 153 .
142.
Tugwell
1950 p. 54.
143. Ibidem p.
50;
Ruttan 1983 pp.
151-52.
144. Lilientha1 1944
p.
17.
145.
Hewlett and Anderson
1962
pp.
77 105-08 116-22
130;
Al
lardice and Trapnell 1974 pp
. 15-
17.
146. Ruttan 1983 pp. 157-58 .
147. Johnson 1984 p. 35.
148.
Schaffer
1984 passim.
149.
Schaffer
1982 pp. 224-25 230.
150. Simpson 1985 p.
193;
Dal Co
1979 p. 233.
151.
Simpson 1985 pp. 174-75
181
193.
152.
Dix
1978 pp. 329-30.
153.
Ibidem
p.
332.
154. Ibidem p.
337; Dix 1981 pp.
106-09.
155.
Abercrombie
1926 pp.
39-40;
Cherry 1974
p.
91.
156.
Beaufoy
1933 pp. 201
204
212;
Simpson 1985
pp. 176 180-81.
157.
Greater London
Rc itll1 1 l lllt
Comnúttee 19 29
p. 4 -7:
Ju
I.Mlll
F. 1985
p.
147 .
158. Unwin 1930 p. 186 .
159.
Ibidem
p.
18 9
.
160.
Ibidem p.
186.
161. G. B. R.C. Geographi
cu
l
I 1
tion 1938 paras. 68 -
70
.
162.
Greater
London R ·giuoml l l1
Comnúttee
193
3
p.
8 .
163.
Ibidem pp. 95-96 1
01
·0 •
164.
Jackson F. 1985
p.
I 4 .
165.
Pep1er 1911 , pp. 61 4 · 1. : l 111
1
1911
pp. 41
1-12.
166. Hall 1973 H pp.
52
-S
•.
167.
Hughes
1971 p.
62
.
168.
Ibidem pp
.
27 1 -72; Dix 11111 , 11
345-46.
169. Hughes 1971 p. 40.
17 0. Tripp 1938 1943.
171. Forshaw and Abercromh
,
I I I
pp. 3-1 O; Hart 1976 pp 1 H
172 .
Ibidem
pp.
58-59
,
78
-7
1
•
173.
Forshaw and Aber
c
rornh
,
I 11I
v; Perry 1939 pp. 79
- .
174.
Abercrombie
1945
pp
. I lU
175.
Ibidem
p.
11.
176 .
Ibidem.
177. Ibidem
p. 14.
178. Hughes 1971 p. 141.
179 .
Ibidem
180. Hart 1976 p. 55.
181. Foley
1963 p. 56.
182. Ibidem
p. 173.
183.
Cullingworth 1979
, pp •
1, H
89-93.
184.
Ibidem
p. 147.