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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
NÚCLEO DE TEORIA E PESQUISA DO COMPORTAMENTO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TEORIA E PESQUISA DO
COMPORTAMENTO
CLASSES DE EQUIVALÊNCIA E EXPANSÃO DE REPERTÓRIOS VERBAIS
AUTOCLÍTICOS EM CRIANÇAS COM DIAGNÓSTICO DE AUTISMO
Katarina Kataoka Dias
Belém/PA
Março/2015
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
NÚCLEO DE TEORIA E PESQUISA DO COMPORTAMENTO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TEORIA E PESQUISA DO
COMPORTAMENTO
CLASSES DE EQUIVALÊNCIA E EXPANSÃO DE REPERTÓRIOS VERBAIS
AUTOCLÍTICOS EM CRIANÇAS COM DIAGNÓSTICO DE AUTISMO
Katarina Kataoka Dias
Tese apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Teoria e Pesquisa do
Comportamento como requisito para obtenção
do título de Doutora.
Orientador: Prof. Dr. Romariz da Silva Barros.
Belém/PA
Março/2015
A elaboração deste trabalho contou com financiamento de Bolsa de Doutorado da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES.
Este projeto foi desenvolvido como parte do programa de pesquisas do Instituto Nacional
de Ciência e Tecnologia – INCT.
i
Kataoka, K. D. (2015). Relações de equivalência e expansão de repertórios verbais em
crianças com diagnóstico de autismo. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação
em Teoria e Pesquisa do Comportamento. Universidade Federal do Pará. Belém, PA. 70
páginas.
RESUMO
A possível identidade entre relações de equivalência e classes funcionais é condizente
com a proposta de que todos os elementos arbitrariamente relacionados nas contingências
podem participar das classes. Essa proposta torna viável a obtenção de propriedades de
relações de equivalência por meio de contingências de três termos. Adicionalmente, tem
sido pouco explorado o potencial da aplicação dos procedimentos de formação de classes
no avanço de repertórios verbais em crianças diagnosticadas com autismo. O presente
trabalho inclui dois estudos. O Estudo 1 investigou a formação de classes de estímulos
(via procedimento de reversões repetidas de discriminação simples – RRDS, com uso de
consequências específicas compostas) e a expansão de classes formadas por RRDS com
classes formadas por matching-to-sample (MTS). No Estudo 2, procedimentos de RRDS
e MTS com reforçamento específico composto foram utilizados para promover a
formação/expansão de classes arbitrárias “feminino/masculino” e a produtividade de
relações verbais incluindo concordância de gênero. Os participantes foram duas crianças
diagnosticadas com autismo. No Estudo 1, foram realizados os treinos de RRDS ABC e
BCD, teste de formação de classes funcionais e teste de relações de equivalência AD, BD
e DC, treino de MTS arbitrário DE e teste ED e CE, teste de formação de classes
funcionais BCDE. Ambos os participantes mostraram evidências da formação de classes.
Os dados obtidos com ambos os participantes confirmam a expansão das classes. Esse
conjunto de dados sugere que achados documentando classes funcionais e classes de
equivalência refletem o mesmo fenômeno comportamental (a substituibilidade de
elementos arbitrariamente relacionados) via procedimentos diferentes. No Estudo 2, os
estímulos foram figuras de objetos e os estímulos “a” e “o” que constituíram as classes
“masculino” e “feminino”. Foram feitas RRDS ABCDE, MTS AF, teste em contexto de
discriminação simples BCDEF e testes de generalidade (tarefas que simulavam o
contexto educacional) a fim de verificar a formação de classes em outros contextos e com
novos estímulos. Os resultados mostraram o estabelecimento e inclusão de estímulos
novos nas classes “masculino” e “feminino” e expansão de classes. Os resultados no teste
de produtividade foram acima de 90% de acertos, indicando que o desempenho construído
por meio do procedimento de formação de classes se manteve quando tarefas de controle
de estímulo foram apresentados em novos formatos, mais semelhantes a tarefas
acadêmicas. Esse tipo de resultado encoraja o uso de procedimentos desse tipo na
construção de programas de ensino de controle de estímulo complexo com crianças
diagnosticadas com autismo.
Palavras-chave: autismo, relações de equivalência, comportamento verbal autoclítico.
ii
Kataoka, K. D. (2015). Equivalence relations and expansion of verbal repertoires in
children diagnosed with autism. Doctoral dissertation. Programa de Pós-Graduação em
Teoria e Pesquisa do Comportamento. Universidade Federal do Pará. Belém, PA. 70
pages.
ABSTRACT
The possible identity between equivalence relations and functional classes is consistent
with the proposal that all elements arbitrarily related in the contingence can participate in
the classes. This proposal makes it feasible obtaining equivalence relations properties via
three-term contingencies. Additionally, the applied potential of class formation
procedures in advancing verbal repertoires in children diagnosed with autism remains
underexplored. The present dissertation includes two studies. Study 1 investigated
stimulus class formation (via procedure of repeated reversals of simple discrimination
[RRDS] using compound class-specific consequences) and the junction of classes formed
via RRDS with classes formed via MTS. In Study 2, RRDS and MTS procedures with
compound class-specific consequences, were used to produced formation/expansion of
arbitrary classes "female / male" and the productivity of verbal relations including
linguistic coordination of gender. Participants were two children diagnosed with autism.
In Study 1, RRDS training with ABC and BCD stimulus sets was performed, besides
“tests for functional class formation”; “test for equivalence relations AD, BD and DC”,
“arbitrary MTS training DE and tests for ED and EC relations”; “tests for functional class
formation BCDE”. Both participants showed evidence of class formation. The data
obtained with both participants confirm the expansion of classes. This set of data suggests
that findings documenting functional and equivalence classes reflect the same behavioral
phenomena (substitutability of arbitrarily related elements) via different procedures. In
Study 2, the stimuli were pictures of objects and stimuli "a" and "o" which were related
to the classes "masculine" and "feminine". RRDS were processed with stimulus sets
ABCDE, besides “MTS AF”, “tests in the context of simple discrimination with stimulus
sets BCDEF”, and “generalization tests” (tasks that simulated the educational context) to
check the formation of classes in other contexts and with new stimuli. The results showed
the establishment and incorporation of new stimuli in classes "masculine" and "feminine"
and expansion of classes. The accuracy of results in productivity test was above 90%,
indicating that performance obtained in class formation procedure remained accurate
when stimulus control tasks were presented in new ways, more similar to academic tasks.
This type of result encourages the use of such procedures in the construction of complex
stimulus control of education programs with children diagnosed with autism.
Key-words: autism, equivalence relation, autoclitic verbal behavior.
iii
SUMÁRIO
RESUMO .......................................................................................................................... i
ABSTRACT ..................................................................................................................... ii
INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 1
ESTUDO 1. EQUIVALÊNCIA ENTRE EQUIVALÊNCIA FUNCIONAL E
EQUIVALÊNCIA DE ESTÍMULOS. ............................................................................. 6
MÉTODO.................................................................................................................... 10
Participantes ............................................................................................................ 10
Ambiente e Equipamentos ....................................................................................... 11
Estímulos ................................................................................................................. 12
Procedimento ........................................................................................................... 14
RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................ 23
ESTUDO 2. EXPLORANDO O USO DE PROCEDIMENTOS DE FORMAÇÃO DE
CLASSES PARA A PRODUTIVIDADE DE RELAÇÕES VERBAIS INCLUINDO
CONCORDÂNCIA DE GÊNERO. ............................................................................... 30
MÉTODO.................................................................................................................... 32
Participantes ............................................................................................................ 32
Ambiente, Equipamentos e Materiais ...................................................................... 33
Estímulos ................................................................................................................. 33
Procedimento ........................................................................................................... 35
RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................ 41
DISCUSSÃO GERAL .................................................................................................... 47
REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 48
ANEXO1 ........................................................................................................................ 55
ANEXO 2 ....................................................................................................................... 57
ANEXO 3 ....................................................................................................................... 60
iv
LISTA DE FIGURAS
ESTUDO 1
Figura 1. Formas usadas como estímulos discriminativos no Estudo 1.
Figura 2. Os seis tipos de alimentos salgados do conjunto I1 e os seis tipos de alimentos
doces do conjunto I2.
Figura 3. Participante emitindo a resposta de seleção do SD. Vasilhas verde e vermelha
para depósito das consequências comestíveis.
Figura 4. Percentual de acerto dos participantes por sessão.
ESTUDO 2
Figura 1. Figuras usadas como estímulos discriminativos no Estudo 2.
Figura 2. Porcentagem de acertos por sessão nas Etapas 2, 3 e 4.
v
LISTA DE TABELAS
Estudo 1
Tabela 1. Etapas do procedimento realizadas com cada um dos participantes. Asterisco
“*” indica, para cada participante, as etapas de treino realizadas. Nas etapas de teste (1.4,
3, 4, 6 e 7), são apresentados os dados onde: “C” indica resposta ao S+ (acerto) e “X”
indica resposta ao S- (erro).
Estudo 2
Tabela 1. Etapas do procedimento realizadas com João no Estudo 2.
INTRODUÇÃO
A relevância de se estudar o fenômeno da formação de classes de equivalência
está, em grande medida, na sua relação com os fenômenos da linguagem (Catania, 1999).
Identificar as contingências que possibilitam a formação de relações de equivalência
constitui uma possibilidade de manipular variáveis que facilitem a aquisição de
repertórios como o comportamento verbal e, consequentemente, um maior nível de
habilidades sociais. Essa possibilidade, contudo, tem sido pouco explorada no âmbito do
autismo, principalmente através de estudos empíricos que enfoquem o desenvolvimento
de repertório verbal por meio do estabelecimento de relações de equivalência (Gomes,
Varella, & Souza, 2010).
Desde que o modelo descritivo da equivalência de estímulos foi proposto por
Sidman e Tailby (1982), estudos sobre o tema vem sendo realizados, manipulando-se os
mais diversos tipos de variáveis. O principal objetivo de tais estudos é aprofundar a
descrição sobre o fenômeno comportamental, identificando procedimentos eficazes para
a sua ocorrência e avaliando a extensão e os limites de seu modelo descritivo (Sidman,
2000), firmemente baseado no procedimento de matching-to-sample (MTS).
No MTS, um estímulo modelo e dois ou mais estímulos de comparação são
apresentados em cada tentativa de uma sessão. Respostas de seleção à comparação
programada como correta (S+) são reforçadas. Respostas à comparação definida como
incorreta (S-) não são consequenciadas com o estímulo reforçador.
Por meio do procedimento de MTS, relações condicionais entre estímulos de um
Conjunto A e estímulos de um Conjunto B (relação AB) e entre estímulos dos Conjuntos
B e C (relação BC) são diretamente ensinadas e posteriormente avaliadas para averiguar
se têm as propriedades de relações de equivalência. Essa verificação consiste na
documentação da emergência de relações que não foram diretamente ensinadas AA, BB
2
e CC (para atestar a propriedade de reflexividade); BA e CB (para atestar a propriedade
de simetria); e a AC (para a propriedade de transitividade). A emergência da relação CA
documenta simultaneamente as propriedades de simetria e transitividade.
A forte vinculação do modelo descritivo de formação de classes de equivalência
ao procedimento de MTS (cf. Sidman & Tailby, 1982) contribuiu para a geração de uma
grande base de dados empíricos comparáveis sobre o fenômeno (com uma variedade de
procedimentos, estímulos e participantes, incluindo desde estudantes universitários, até
pessoas com desenvolvimento atipicamente atrasado, crianças com desenvolvimento
típico e organismos não-humanos de diversas espécies). Entretanto, essa mesma
vinculação do modelo descritivo ao procedimento de MTS tornou-se um tanto restritiva.
Ela pode representar uma barreira para que o fenômeno da formação de classes possa ser
estudado em outros formatos (Barros, 1998) e pode contribuir para a frequente confusão
por parte de diversos autores entre o modelo empírico e o fenômeno comportamental
essencial: a formação de classes (Sidman, 2000).
A proposta de que classes de equivalência poderiam ser formadas através de
outros procedimentos, como por exemplo, por meio do ensino de discriminações simples,
foi avaliada em estudos que demonstraram formação de classes de estímulos através da
partição de um conjunto maior (conjunto universo) em subconjuntos de estímulos por
força da equivalência funcional entre os estímulos de um mesmo subconjunto,
estabelecida no treino (e.g., Barros, Souza, & Costa, 2013; Lionello-DeNolf, McIlvane,
Canovas, Souza, & Barros, 2008; Sidman, Wynne, Maguire, & Barnes, 1989; Vaughan,
1988). Tais estudos permitem depreender que, independentemente do procedimento
empregado, quando estímulos dissimilares, arbitrariamente relacionados ou agrupados
controlam a mesma classe de respostas eles pertencem a uma mesma classe de estímulos.
3
Segundo de Rose (1993) um procedimento de discriminação simples pode ser
utilizado para estabelecer relações arbitrárias entre estímulos. Esses estímulos, mediados
por uma resposta comum, passam a ter a mesma função, tornando-se substituíveis no
controle do comportamento. Seria possível, então, a formação de classes de equivalência
por meio de outros procedimentos de treino e testes diferentes do proposto por Sidman e
Tailby (1982).
O primeiro estudo sobre formação de classes de estímulos via discriminação
simples foi o realizado por Vaughan (1988) com o procedimento de RRDS (Reversões
Repetidas de Discriminação Simples). O autor treinou pombos a bicarem uma chave na
presença dos estímulos do Conjunto A e a não bicar na presença dos estímulos do
conjunto B. Quando os sujeitos aprendiam esta discriminação, a contingência era
revertida (os estímulos do Conjunto A passavam a exercer a função de S- e os estímulos
do Conjunto B de S+). Após repetidas reversões, a exposição aos primeiros estímulos de
uma sessão de reversão, era suficiente para determinar a reversão da relação de controle
do responder pelos demais estímulos da contingência em vigor.
Vaughan (1988) propôs que as classes de estímulos demonstradas no contexto
destas reversões de discriminações simples podem ser enquadradas na descrição de
classes de equivalência. Autores como Hayes (1989) foram contrários à suposição de
Vaughan (1988) sustentando que classes de estímulos demonstradas via discriminação
simples constituem-se como classes funcionais e não como classes de equivalência.
Teoricamente, classes de estímulos funcionais são descritas como classes de
estímulos fisicamente dissimilares (arbitrários) que possuem a mesma função no controle
do comportamento (de Rose, 1993). Numa classe funcional quando uma variável é
aplicada a um dos estímulos, todos os outros são afetados. Ou seja, se contingências de
reforçamento originalmente aplicadas a dois conjuntos de estímulos forem revertidas, a
4
exposição a poucos exemplares de apenas um dos conjuntos é suficiente para controlar o
responder subsequente aos demais membros de ambos os conjuntos (de Rose, 1993). As
classes funcionais são formadas por meio de treino direto das relações (Tonneau, 2001).
O desempenho emergente observado nesses casos é a emergência da reversão da
discriminação para estímulos não expostos a treino explicito da reversão, após a reversão
da discriminação para alguns outros membros da mesma classe.
Segundo Sidman et al. (1989) mostrar que classes funcionais e classes de
equivalência constituem-se em um mesmo fenômeno comportamental, implicaria numa
maior previsibilidade empírica, já que os processos de descrição, testagem e integração
de dados seriam ampliados.
Kastak, Schusterman e Kastak (2001) apresentam resultados que parecem
fortalecer a afirmação de Sidman (1994; 2000) de que classes funcionais e classes de
equivalência seriam, na verdade, um mesmo fenômeno acessado por meio de
procedimentos distintos. No estudo, dois leões-marinhos apresentaram desempenhos
condizentes com a formação de classes funcionais após treino de RRDS com
reforçamento específico. Em seguida, foi demonstrado que as classes funcionais,
adquiridas em contexto das reversões de discriminações, poderiam ser observadas em um
contexto de discriminação condicional (no procedimento de MTS). Por fim, quando um
novo par de estímulos foi inserido ao contexto experimental em tarefas de MTS, as
relações condicionais estabelecidas (cada estímulo novo relacionado a um estímulo
conhecido), foram observadas no contexto de RRDS. Assim, ambos os sujeitos foram
capazes de incluir um novo par de estímulos às classes já existentes via MTS e
continuaram a responder a estes estímulos como membros das classes funcionais quando
o procedimento de repetidas reversões de discriminações simples foi empregado. Esse
5
tipo de achado deve ser replicado com outras espécies e o potencial desses achados para
geração de trabalhos aplicados deve ser explorado.
A proposta de investigar uma possível identidade entre equivalência de estímulos
e classes funcionais é condizente com a proposição de Sidman (1994; 2000) de que todos
os elementos (estímulos discriminativos, respostas ou reforçadores) arbitrariamente
relacionados nas contingências podem participar das classes de equivalência. Essa
definição torna possível a manipulação de um número maior de variáveis na busca por
procedimentos eficazes para a formação de classes de estímulos.
Se todos os elementos de uma contingência podem vir a fazer parte da classe de
estímulos, seria possível a verificação das propriedades de equivalência em contingências
de três termos ao invés de quatro, ou procedimentos de relações condicionais de
identidade ao invés de arbitrárias. Da mesma forma, o emprego de consequências
específicas das classes potenciais, já explorado e confirmado em outros estudos, torna-se
igualmente viável (Barros, Lionello-DeNolf, Dube, & McIlvane, 2006; Dube &
McIlvane, 1995; Joseph, Overmier, & Thompson, 1997; McIlvane, Dube, Kledaras, de
Rose, & Stoddard, 1992; Pilgrim, 2004).
A ampliação da diversidade de procedimentos adotados para a verificação de
classes emergentes poderia diminuir as dificuldades na demonstração desses
desempenhos em determinadas populações. Estudos têm indicado que a formação de
classes de equivalência ocorre com menos frequência em participantes com déficits no
repertório verbal e/ou com desenvolvimento atipicamente atrasado, do que em
participantes com comportamento verbal típico (ver, Dube, McIlvane, Callahan, &
Stoddard, 1993; Lionello-DeNolf & Urcuioli, 2002). Estudos sugerem que os resultados
inconsistentes seriam devidos ao déficit de desenvolvimento de procedimentos
experimentais eficientes para gerar o desempenho planejado (Dube et al., 1993).
6
O presente trabalho dá continuidade aos estudos que exploram uma possível
equivalência entre formação de classes de equivalência e classes funcionais (cf. Sidman
et al., 1989 e Kastak, et al., 2001) e avança na direção de buscar conexões entre a
formação de classes de equivalência e o desenvolvimento de repertórios verbais em
crianças diagnosticadas com autismo. São apresentados dois estudos. No Estudo 1, se
avalia a possibilidade de incluir, através do procedimento de RRDS, novos estímulos em
classes de equivalência construídas via procedimento de MTS e vice-versa. No Estudo 2
os procedimentos de RRDS e MTS com uso de consequências específicas compostas,
foram utilizados para promover a formação/expansão de classes arbitrárias
“feminino/masculino” e a produtividade de relações verbais incluindo concordância de
gênero.
ESTUDO 1. EQUIVALÊNCIA ENTRE EQUIVALÊNCIA FUNCIONAL E
EQUIVALÊNCIA DE ESTÍMULOS.
Estudos sobre equivalência de estímulos em pessoas com Transtorno do Espectro
do Autismo (TEA) sugerem que, nesta população, o procedimento clássico de MTS
arbitrário pode não ser suficiente para estabelecer as relações arbitrárias de linha de base
as quais teriam suas potenciais propriedades de equivalência testadas (Gomes, Varella, &
Souza, 2010; McLay, Sutherland, Church, & Tyler-Merrick, 2013.).
Barros, Lionello-DeNolf, Dube e McIlvane (2006) mostraram a formação de
classes de equivalência em crianças diagnosticadas com autismo utilizando um
procedimento alternativo ao MTS arbitrário tradicional. O treino foi baseado em
discriminações simples e MTS de identidade com reforçadores específicos para as
classes. Duas crianças foram ensinadas a resolver tarefas de reversões de discriminações
simples simultâneas com estímulos visuais bidimensionais que eram apresentados na tela
de um computador. A posição dos estímulos variava a cada tentativa. Assim, quando A1
7
funcionava como S+, responder corretamente (tocar no estímulo S+) era consequenciado
com um item alimentício (F1) e um som (S1). Quando o estímulo A2 era o S+, responder
corretamente era consequenciado com a apresentação de F2 e S2. Inicialmente, este treino
de discriminação simples foi realizado com os estímulos dos conjuntos A (A1 e A2) e B
(B1 e B2), intercalado com treino de MTS de identidade com os mesmos conjuntos. Em
seguida os participantes foram expostos a testes das relações emergentes AB e BA.
O mesmo procedimento de treino realizado com os conjuntos A e B foi feito com
os estímulos do Conjunto C com testes subsequentes das relações AC e CA. Para o treino
com os estímulos do Conjunto D não foi realizado MTS de identidade, mas apenas o
treino de discriminações simples com reversões, seguido dos testes AD e DA.
Uma das crianças mostrou evidências da formação de classes de equivalência em
todos os testes. A outra criança apresentou dados consistentes com a formação de classes
para a relação AB. Para esta criança, foram realizados somente os treinos e testes com os
conjuntos A e B. Mudança quanto à preferência de reforçadores e a presença de
comportamentos agressivos nas sessões parecem ter influenciado o desempenho
inconsistente apresentado no teste BA. Os alimentos F1 e F2 foram substituídos pelas
fichas 1 (de cor rosa e que podiam ser trocadas, posteriormente, por alimentos doces) e 2
(de cor preta e que podiam ser trocadas, posteriormente, por alimentos salgados). Mesmo
com a demonstração da relação BA após o treino com fichas, os problemas
correlacionados à efetividade das consequências continuaram. Por isso, sua participação
no experimento foi encerrada. Este estudo mostrou a necessidade de se buscar
procedimentos para manter a eficácia dos reforçadores específicos das classes em estudos
dessa natureza, nos quais a alteração do tipo de reforçadores apresentados é crítica por
serem potencialmente membros das classes.
8
Os resultados de Barros et al. (2006), juntamente com demais estudos semelhantes
previamente realizados (Dube & Mcllvane, 1995; Dube, Mcllvane, Mackay, & Stoddard,
1987; Dube, Mcllvane, Maguire, Mackay, & Stoddard, 1989; Joseph, Overmier, &
Thompson, 1997; Kastak, Shusterman, & Kastak, 2001; McIlvane, Dube, Kledaras, de
Rose, & Stoddard, 1992; Pilgrim, 2004; Schenk, 1994) dão suporte à hipótese de Sidman
(2000) de que todos os elementos de uma contingência, incluindo os reforçadores, podem
ser membros de uma classe de estímulos. Isto possibilita a demonstração de relações de
equivalência por meio do treino de discriminações simples ou de relações condicionais
de identidade, já que os reforçadores específicos utilizados funcionariam como elo de
ligação entre os membros das classes.
Dando continuidade ao trabalho de Barros et al. (2006), e utilizando um
procedimento de reversões repetidas de discriminação simples (RRDS) para formar
classes de estímulos em duas crianças com autismo, Santos (2014) avaliou a inclusão de
reforçadores específicos às classes. Com o objetivo de encontrar possíveis soluções para
perda do valor reforçador das consequências,relacionada à falha na demonstração de
classes e deterioração das relações de linha de base no estudo de Barros et al. 2006),
Santos (2014) realizou um experimento utilizando reforçadores específicos compostos.
Por compostos, entende-se que as consequências reforçadoras eram um conjunto de pelo
menos dois componentes para cada classe ( uma variedade de estímulos comestíveis e
uma variedade de vídeos de personagens preferidos pela criança).
No estudo, foram ensinadas tarefas de MTS de identidade e discriminações
simples simultânea com consequências específicas para cada classe potencial. Quando
os estímulos A1 e B1 funcionavam como S+, respostas a estes estímulos eram
consequenciadas com a apresentação da consequência 1. Quando os estímulos A2 e B2
funcionavam como S+, respostas a estes estímulos ocasionavam a consequência 2.A
9
consequência 1 era composta pela apresentação de um (dentre vários) vídeo da “Turma
da Mônica” e um (entre vários) item de sabor doce. A consequência 2 era um (entre
vários) vídeo do “Chaves” e um (entre vários) item de sabor salgado. Havia, portanto,
uma variedade de vídeos da Turma da Monica e uma variedade de vídeos do Chaves,
assim como uma variedade de doces e salgados. Os vídeos e os alimentos variavam a cada
tentativa.
Após realizado o treino de MTS de identidade AA, e discriminações simples
A1B1+, A2B2+, os participantes foram expostos aos testes de MTS arbitrário AB e CA.
O teste CA consistiu em avaliar se um componente das consequências 1 e 2 entraram para
as classes potenciais A1B1 e A2B2. Assim, C1 e C2 foram um quadro de um dos vídeos
(uma foto) dos personagens da Turma da Monica e do Chaves, respectivamente.
Ambos os participantes, atingiram o critério de precisão de desempenho nos testes
realizados. Esses resultados apontaram a eficácia do procedimento de RRDS com uso de
consequências específicas para a demonstração de comportamentos emergentes. Eles
ainda sugerem que o uso de consequências compostas (variedade de itens) pode ser um
meio de superar a dificuldade com a perda da efetividade dos reforçadores apontada por
Barros et al. (2006).
Com base nos achados que fortalecem a proposta de Sidman (2000) sobre
formação de classes de estímulos, o presente estudo visa dar continuidade à investigação
sobre procedimentos eficazes para gerar classes de estímulos em crianças com TEA.
Adicionalmente, o presente estudo objetiva contribuir para a discussão a respeito de uma
possível identidade entre os fenômenos de formação de classes de equivalência e classes
funcionais. Deste modo, os objetivos do Estudo 1 foram: 1) avaliar os efeitos do uso dos
procedimentos de reversões repetidas de discriminação simples com uso de reforçamento
específico (cf. Santos, 2014) para gerar comportamentos emergentes, consistentes com as
10
propriedades definidoras de equivalência de estímulos em crianças diagnosticadas com
autismo; 2) avaliar a eficácia do procedimento de reversões repetidas de discriminação
simples e reforçamento específico para gerar classes funcionais em crianças
diagnosticadas com autismo; 3) verificar se as relações treinadas no contexto de
discriminação simples podem ser verificadas em um contexto de discriminação
condicional e vice-versa.
MÉTODO
Participantes
Participaram do estudo dois meninos com diagnóstico de Transtorno do Espectro
do Autismo, aqui identificados com os nomes fictícios João e Pedro. Ambos recebiam
atendimento analítico-comportamental no projeto Atendimento e Pesquisa em
Aprendizagem e Desenvolvimento (APRENDE), do Núcleo de Teoria e Pesquisa do
Comportamento (NTPC) da UFPA. Os participantes foram avaliados com os
instrumentos ABLA - Assessment of Basic and Learning Abilities (Kerr, Meyerson, &
Flora, 1997), CARS - Childhood Autism Rating Scale (Schopler, Reichler, & Renner,
1988) e PEP-R - Psychoeducational Profile – Revised (Schopler, Reichler, Bashford,
Lansing & Marcus, 1990). João tinha 8 anos de idade e foi classificado no ABLA como
Nível 61, pontuação 33 (autismo leve/moderado) na escala CARS. Pedro tinha 10 anos de
idade, Nível 6 no ABLA e pontuação 31,5 (autismo leve/moderado) na escala CARS. Os
participantes tinham história pré-experimental de identidade generalizada através do
procedimento de MTS e mostraram formação de classes de equivalência por meio de
treino de discriminações simples com reforçamento específico (Santos, 2014).
A participação das crianças foi autorizada pelos seus responsáveis, por meio de
assinatura no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo 1). O presente
1 Nível 6 – Discriminação condicional auditivo-visual
11
trabalho de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de
Ciências da Saúde da UFPA, conforme o parecer No 175.303 de 14/12/2012, em
consonância com a Resolução 466/2012 do CNS/MS.
Ambiente e Equipamentos
Os dados foram coletados em uma sala do NTPC, equipada com uma bancada,
dois computadores, duas cadeiras, um armário e uma câmera filmadora. Durante as
sessões, apenas um participante e um experimentador ficavam na sala. O participante
ficava sentado em frente ao computador usado para coleta de dados e o experimentador
ficava em pé atrás do participante fornecendo as consequências específicas comestíveis.
As sessões ocorriam de duas a três vezes na semana pela manhã. Em média, eram
realizadas duas sessões no dia. Cada sessão durava, aproximadamente, 8 minutos. Um
intervalo de aproximadamente 10 minutos era dado entre uma sessão e outra (tempo
necessário para que o experimentador preparasse a segunda tarefa). Nesse intervalo, o
participante realizava atividades de livre escolha (vídeos, jogos, brincadeiras, etc.).
Os materiais utilizados nas sessões eram: 1) um computador HP All in One
Touchsmart® 610-110 br, no qual eram apresentados os estímulos discriminativos e
registradas as respostas do participante, 2) o software PCR2 que controlava a apresentação
dos estímulos visuais na tela do computador e registrava as respostas de seleção dos
estímulos pelo participante, 3) duas vasilhas (uma vermelha e uma verde) foram
utilizadas para disponibilizar ao participante os comestíveis, 4) uma vasilha com
divisórias foi utilizada pelo experimentador para dispor separadamente e prover acesso
rápido aos diferentes comestíveis, 5) uma câmera filmadora foi utilizada para registro das
sessões.
12
Estímulos
Seis conjuntos (A, B, C, D, E e F) com dois estímulos cada, foram utilizados como
estímulos discriminativos. Os estímulos dos conjuntos A, B, C, D e E eram formas
bidimensionais desenhadas em preto sobre um fundo quadro branco com medidas de 5 x
5 cm, confeccionadas com o aplicativo Microsoft® Paint (ver Figura 1). Os conjuntos A,
B, C e F eram iguais ao utilizados por Santos (2014). Os conjuntos D e E foram
desenhados de forma a não apresentarem similaridades físicas com os demais conjuntos
(evitando possíveis relações de controle de identidade). Os estímulos do conjunto F foram
figuras coloridas dos personagens do “Chaves” e da “Turma da Mônica”.
Os estímulos usados como consequências para as respostas corretas faziam parte
de dois conjuntos: o conjunto dos vídeos (V1 e V2) e o conjunto dos itens comestíveis
(I1 e I2). V1 consistia em 24 vídeos diferentes do tema “Chaves”. V2 eram 24 vídeos
diferentes do tema “Turma da Mônica”. V1 e V2 eram apresentados via software e tinham
15 segundos de duração. O conjunto dos itens comestíveis I1 era constituído por 6 tipos
de alimentos salgados (salgadinhos de batata, salgadinhos de milho sabores queijo e
presunto, bolachas, salgadinhos de trigo sabores queijo e pizza) e I2, por 6 tipos de
alimentos doces (chocolate, jujuba, doce de leite, biscoitos wafer sabor chocolate e
morango, goma sabor banana) que eram disponibilizados à criança diretamente pelo
experimentador (ver os tipos de comestíveis usados na Figura 2).
13
A1
A2
B1
B2
C1 C2
Conjunto
A
Conjunto C
Conjunto B
D1 D2
E1 E2
F1 F2
Conjunto E
Conjunto D
Conjunto F
Figura 1. Formas usadas como estímulos discriminativos no Estudo 1.
14
Os estímulos integrantes dos Conjuntos I foram selecionados de acordo com o
resultado das avaliações de preferência tipo Multiple Stimulus Without
Replacement3(Carr, Nicolson, & Higbee, 2000), abrangendo uma variedade de itens
preferidos por ambas as crianças. Os estímulos dos conjuntos A, B, C e F foram os
mesmos usados por Santos (2014).
Um quadrado vermelho medindo 10 x10 cm foi usado como consequência para as
respostas incorretas para um dos participantes.
Procedimento
Procedimento Geral
O presente estudo utilizou um delineamento experimental de sujeito único. Aos
participantes, foram apresentadas tarefas de discriminações simples simultâneas e
condicionais com atraso zero.
As tarefas consistiam em blocos de tentativas discretas apresentadas em um
computador com tela sensível ao toque. A resposta de observação exigida do participante
Conjun
to I1
Conju
nto I2
Figura 2. Os seis tipos de alimentos salgados do conjunto I1 e os seis tipos de alimentos
doces do conjunto I2.
15
era tocar um dos estímulos na tela. As consequências para as respostas de seleção do S+
eram específicas para cada classe.
Para ambos os participantes, quando a contingência de reforçamento em vigor
estabelecia os estímulos do Grupo 1 como S+ (A1 e/ou B1, C1, D1, E1), a consequência
do Conjunto V era um vídeo de 15 segundos da série infantil “Chaves” (V1) e a
consequência comestível (Conjunto I) era um item salgado (I1), colocado pelo
experimentador dentro de uma vasilha vermelha que ficava do lado direito do
participante. Se a contingência de reforçamento em vigor estabelecesse os estímulos do
Grupo 2 como S+ a consequência do Conjunto V era um vídeo de 15 segundos do desenho
animado “Turma da Mônica” (V2) e a consequência comestível (Conjunto I) era um item
doce (I2), colocado dentro de uma vasilha verde do lado esquerdo do participante. A
Figura 3 mostra a resposta de seleção do participante e a disposição das vasilhas para os
comestíveis.
Caso a resposta de escolha do participante fosse dirigida ao S-, a consequência era
uma tela preta de 15 segundos, para Pedro e uma tela preta com um quadrado vermelho
no centro, com duração de 15 s para João. Essa distinção entre os participantes ocorreu
pois ao usar o quadrado vermelho com Pedro este ria e dizia “super red”, indicando que
o estímulo poderia ter adquirido alguma função reforçadora. O intervalo entre tentativas
(IET) era de 1s.
Com o intuito de evitar o controle pelas posições dos estímulos, estes eram
apresentados em posições diferentes a cada tentativa. Esta variação era planejada para
ocorrer de forma randômica dentro das nove posições disponíveis em uma matriz 3x3.
O número de tentativas de cada sessão e o esquema de reforçamento variaram de
acordo com a tarefa.
16
Nos blocos de linha de base e/ou treino, o critério de precisão de desempenho era
de 90% ou mais de acertos quando a sessão tinha mais de 10 tentativas e de no máximo
1 erro quando a sessão tinha menos de 10 tentativas. O desempenho em uma determinada
sessão de teste era considerado emergente quando: (1) era observado acerto na primeira
tentativa de sonda de cada relação testada e (2) no máximo um erro nas tentativas
remanescentes de cada relação (c.f. Schusterman & Kastak, 1993).
O procedimento consistiu em treinos de discriminações simples com reversão para
testes de formação de classes funcionais e classes de equivalência e treinos de matching-
to-sample para testes de equivalência e classes funcionais.
Procedimentos Específicos
O procedimento teve sete etapas (ver resumo das etapas na Tabela 1). O
participante João foi o primeiro a ser submetido ao estudo e executou todas as etapas do
procedimento. Os dados obtidos com a participação de João indicaram a importância de
se efetuar pelo menos algumas tentativas de teste na ausência de reforçamento (ver
Figura 3. Participante emitindo a resposta de seleção do
SD. Vasilhas verde e vermelha para depósito das
consequências comestíveis.
17
detalhes na seção de resultados). Por essa razão, reforçamento intermitente (com inserção
de tentativas de teste entre as tentativas não reforçadas) foi utilizado com Pedro desde os
primeiros testes, enquanto que com João, apenas nos últimos. Por falha na aplicação do
procedimento (não planejamento da sessão pelo experimentador), o participante Pedro
não foi exposto às Etapas 4 e 6.
18
Tabela 1. Etapas do procedimento realizadas com cada um dos participantes.
Asterisco “*” indica, para cada participante, as etapas de treino realizadas. Nas
etapas de teste (1.4, 3, 4, 6 e 7), são apresentados os dados onde: “C” indica
resposta ao S+ (acerto) e “X” indica resposta ao S- (erro).
Etapas do Procedimento Discriminações Participante
João Pedro
1 1.1 Reversões de DS A1B1+/A2B2-
A2B2+/A1B1-
* *
1.2 Treino MTS de
Identidade
Mod.A1, A1+/A2-
Mod.A2, A2+/A1-
* *
1.3 Treino MTS Arbitrário Mod.A1, B1+/B2-
Mod.A2, B2+/B1-
*
*
Mod.F1, A1+/A2-
Mod.F2, A2+/A1-
* *
1.4 Teste MTS Mod.F1, B1+/B2-
Mod.F2, B2+/B1-
CCC
CCC
CCC
CCC
2 Reversões de DS: inclusão de
novos estímulos via RRDS
A1B1C1+/A2B2C2-
A2B2C2+/A1B1C1-
*
*
B1C1D1+/B2C2D2-
B2C2D2+/B1C1D1-
* -
3 Teste de Formação de Classes
Funcionais
A1B1C1+/A2B2C2-
A2B2C2+/A1B1C1-
- CCCC
CCCC
A1B1C1D1+/A2B2C2D2-
A2B2C2D2+/A1B1C1D1-
CCCC
CCCC
4 Teste de Expansão de Classes
de Equivalência
Mod.A1, D1+/D2-
Mod.A2, D2+/D1-
CC
CC
Mod.B1, D1+/D2-
Mod.B2, D2+/D1-
CC
CC
Mod.D1, C1+/C2-
Mod.D2, C2+/C1-
CC
CC
5 Treino de Relações
Condicionais: inclusão de
novos estímulos via MTS
Mod.B1, D1+/D2-
Mod.B2, D2+/D1-
Mod.D1, C1+/C2-
Mod.D2, C2+/C1-
*
Mod.D1, E1+/E2-
Mod.D2, E2+/E1-
*
Mod.C1, D1+/D2-
Mod.C2, D2+/D1-
*
6 Testes de Formação de
Classes de Equivalência
Mod.E1, D1+/D2-
Mod.E2, D2+/D1-
CCC
XCC
Mod.C1, E1+/E2-
Mod. C2, E2+/E1-
CCC
CCC
7 Teste de Expansão de Classes
Funcionais
B1C1D1E1+/B2C2D2E2-
B2C2D2E2+/B1C1D1E1+
CCCC
CCCC
B1C1D1+/B2C2D2-
B2C2D2+/B1C1D1-
CCCC
CCCC
19
Etapa 1. Retomada das discriminações estabelecidas em Santos (2014).
Consistiu em uma retomada da Linha de Base realizada por Santos (2014), incluindo-
se uma nova sessão de sonda de formação de classes. O objetivo foi verificar a
manutenção e fortalecer desempenhos adquiridos no estudo de Santos (2014). O esquema
de reforçamento em vigor nesta Etapa foi o CRF (reforçamento programado para todas
as respostas corretas). Ambos os participantes realizaram a Etapa 1.
1.1. Reversões de Discriminação Simples.
Cada sessão foi composta por 18 tentativas de discriminação simples simultânea com
dois pares de estímulos (A1/A2, B1/B2). A cada tentativa, apenas um par de estímulos
era apresentado. Havia nove tentativas nas quais os estímulos apresentados foram os do
Conjunto A e nove tentativas com os estímulos do Conjunto B. A ordem de apresentação
das tentativas era randômica.
As contingências de reforçamento em vigor durante toda a sessão selecionavam o
responder a apenas uma das classes de estímulos (A1/B1 ou A2/B2). Essas contingências
eram revertidas quando o critério de precisão de desempenho era alcançado. Assim,
quando os S+ de uma sessão eram os estímulos A1 e B1, os S- eram A2 e B2. Quando o
critério de 90% de acertos era alcançado, a sessão seguinte tinha A2 e B2 como S+ e A1
e B1 como S-.
O critério para passar para a etapa 1.2 foi a ocorrência de três reversões.
1.2. Treino de Matching-to-sample de Identidade.
Este treino teve o objetivo de restabalecer o repertório de cada participante em tarefa
de MTS, já que posteriormente seriam realizadas teste de aprendizagem neste modelo.
20
A sessão apresentou um total de 18 tentativas, dentre as quais nove tentativas eram do
tipo A1A1 (modelo A1, comparações A1+ A2-) e nove do tipo A2A2 (modelo A2,
comparações A1-A2+).
1.3. Treino de Matching-to-sample Arbitrário.
As sessões eram compostas por doze tentativas de MTS de identidade e seistentativas
de MTS arbitrário. Para as tentativas de identidade foram utilizados os estímulos do
Conjunto A. Para as tentativas de MTS arbitrário foram utilizados em uma sessão os
estímulos dos Conjuntos A e B (A1/B1+ B2-, A2/B2+B1-) e em outra sessão os estímulos
dos Conjuntos F e A.
1.4. Teste de Matching-to-sample.
Semelhante ao que foi descrito no Item 1.3. A sessão teve 12 tentativas de linha de
base AA e seis tentativas de MTS arbitrário FB, a qual não havia sido testada no estudo
de Santos (2014). O objetivo foi verificar se havia relação condicional entre os estímulos
do Conjunto F e B, apresentando evidência adicional dos achados de formação de classes
de equivalência.
Etapa 2. Reversões de Discriminação Simples: inclusão de novos estímulos via RRDS.
A tarefa consistia na apresentação de 12 tentativas consecutivas de discriminação
simples com um par de estímulos por tentativa. Três pares de estímulos eram apresentados
por sessão (quatro tentativas de cada par). Quando o critério de precisão de desempenho
(acertos ≥ 90%) era atingido, as contingências de reforçamento eram revertidas.
João e Pedro passaram por treino das discriminações ABC (A1B1C1+/A2B2C2- ;
A2B2C2+/A1B1C1-). Adicionalmente, João foi também submetido ao mesmo
21
procedimento com novos estímulos, tendo portanto sido submetido ao treino BCD
(B1C1D1+/B2C2D2-; B2C2D2+/B1C1D1-, ver Tabela 1).
Os esquemas de reforçamento utilizados foram: contínuo com João e intermitente
com Pedro.
Etapa 3. Teste de Formação de Classes Funcionais.
A sessão teve início com as funções dos estímulos revertidas. As primeiras
tentativas eram de linha de base (pares de estímulos dos Conjuntos A e B). Um
desempenho de, no mínimo, cinco acertos, era seguido de um bloco com tentativas de
teste intercalados com tentativas de linha de base. Um desempenho com menos de cinco
acertos, determinava a repetição do bloco de tentativas de linha de base.
Nas tentativas de teste, os pares de estímulos restantes (Conjunto C para Pedro e C
e D para João) foram introduzidos.. Para João, foi usado o esquema de reforçamento
contínuo em toda a sessão. Para Pedro o esquema de reforçamento foi intermitente, sem
reforçamento programado para a primeira tentativa de cada teste e em duas tentativas de
linha de base.
Etapa 4. Teste de Expansão de Classes de Equivalência.
Sessões de MTS arbitrário com a inserção de teste com estímulos das classes
funcionais estabelecidas via discriminação simples. Foram programadas três sessões de
teste. Em cada uma delas, foram realizadas 12 tentativas de linha de base de identidade
intercaladas com seis tentativas deteste de MTS arbitrário. Na primeira sessão, as
tentativas de identidade foram do conjunto A e os teste arbitrários AD (A1/D1+ D2-,
22
A2/D2+D1-). Na segunda sessão, identidade BB e sondas BD (B1/D1+ D2-, B2/D2+D1-
). A terceira sessão teve identidade DD e sondas DC (D1/C1+ C2-, D2/C2+C1-).
As sessões ocorreram com Esquema de Reforçamento Contínuo. Esta etapa foi
realizada apenas com João.
Etapa 5. Treino de Relações Condicionais: inclusão de novos estímulos via MTS.
Esta etapa teve como objetivo incluir um novo conjunto de estímulos às classes
existentes via tarefas de MTS arbitrário. O treino consistiu em blocos de tentativas que
continham tentativas de linha de base intercaladas com tentativas com estímulos novos.
Para João, a sessão tinha 18 tentativas (seis tentativas DE, seis BD e seis DC). Para Pedro,
cada sessão tinha 12 tentativas (seis BC e seis CD).
Etapa 6. Testes de Formação de Classes de Equivalência.
Esta etapa teve duas sessões de MTS arbitrário: uma com teste ED e outra de teste
CE. Cada sessão teve 18 tentativas das quais seis foram de teste ED, sem reforçamento
para a primeira tentativa E1/D1+D2- e para a primeira tentativa E2/D2+D1-. As demais
tentativas foram de linha de base BD e DC. Apenas João realizou esta etapa.
Etapa 7. Teste de Expansão de Classes Funcionais.
A sessão teve início com as funções dos estímulos revertidas. As primeiras seis
tentativas eram de linha de base. Um desempenho de, no mínimo, cinco acertos, era
seguido de um outro bloco de tentativas constituído por quatro tentativas de testes
(inclusão do conjunto treinado somente em MTS) e seis de linha de base. Se mais de um
erro ocorresse, o bloco era repetido.
23
Para João, as tentativas de linha de base foram com os Conjuntos B, C e D. Nas
tentativas de teste, o Conjunto E foi incluído. Para Pedro, as tentativas de linha de base
foram com os Conjuntos B e C. Nas tentativas de teste o Conjunto D foi incluído.
O esquema de reforçamento utilizado foi intermitente, não havendo reforçamento
programado para a primeira tentativa de teste e para duas tentativas de linha de base.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O presente estudo parte dos avanços procedimentais do estudo de Santos (2014)
quanto ao uso de consequências específicas na formação de classes de equivalências com
crianças diagnosticadas com autismo. A partir destes avanços, investigou-se a formação
de classes arbitrárias (classes de estímulos arbitrariamente relacionados) tanto através do
procedimento de RRDS quanto MTS.
O principal componente da racional do presente estudo está na verificação de se
estímulos incluídos em classes (funcionais) via procedimento de RRDSS (Etapas 2 do
procedimento) passam a integrar as classes também quando avaliadas pelo procedimento
de MTS (Etapa 4, com o participante João). Adicionalmente, o presente estudo também
avaliou se estímulos incluídos em classes (de equivalência) via procedimento de MTS
(Etapa 5) passam a integrar as classes quando avaliadas por meio do procedimento de
RRDS (Etapas 7).
Ambos os participantes mostraram evidências da formação de classes. Os dados
obtidos com João (Etapa 4) confirmam a expansão de classes de equivalência com
estímulos incluídos via RRDS. Os dados obtidos com ambos os participantes (Etapa 7)
confirmam a expansão das classes funcionais com estímulos incluídos via MTS. Esse
conjunto de dados sugere que achados documentando classes funcionais e classes de
equivalência refletem o mesmo fenômeno comportamental (a substituibilidade de
24
elementos arbitrariamente relacionados) via procedimentos diferentes. Uma descrição
detalhada dos dados a seguir permitirá aprofundar esta discussão.
João realizou, ao todo, 38 sessões e Pedro 25. A diferença no número de sessões
ocorreu devido ao fato de João ter sido exposto a um número maior de etapas do
procedimento quando comparado a Pedro.
Ambos os participantes aprenderam todas as tarefas de discriminação simples com
reversão e discriminações condicionais ensinadas. Na Figura 4, é possível verificar a
porcentagem de acertos em cada sessão para os dois participantes. A Figura aponta, para
cada sessão, o tipo de discriminação e a contingência de reforçamento adotados, além de
indicar a respectiva etapa do procedimento.
Os dados apresentados na Figura 4 mostram que ambos os participantes
recuperaram as discriminações aprendidas no estudo de Santos (2014) na Etapa 1 (RRDS
com os estímulos A e B, discriminações condicionais AA, AB e FA). Também
mostraram, com sucesso, as relações emergentes FB. Os dados obtidos nos testes FB com
ambos os participantes constituem uma evidência adicional da formação de classes de
equivalência envolvendo os Conjuntos A, B e F, para ambos os participantes.
25
Figura 4. Percentual de acerto dos participantes por sessão.
Os dados das Etapas 2 e 3 mostram que o procedimento foi bem sucedido para
incluir novos estímulos (C e D para João e C para Pedro) nas classes funcionais, para
ambos os participantes. A expansão das classes de equivalência (Etapa 4) foi testada
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100A
B1+
AB
2+
AB
1+
AB
2+
AA
AB
FA
FB
AB
C1+
AB
C2+
AB
C1+
AB
C2+
BC
D1+
BC
D2+
BC
D1+
BC
D2+
BC
D1+
BC
D2+
AB
CD
1+
AB
CD
2+
BD
AD
AA BB
BC
D2+
BC
D1+
DC
BD
-DC
BD
-DC
BD
-DC
BD
-DC
-DE
BD
-DC
-DE
ED
CE
BC
D1+
BC
DE
1+
BC
D2+
BC
DE
2+
Porc
enta
gem
de
Ace
rtos
Etapas
João
Treino
Teste
1 2 3 4 5 6
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
AB
1+
AB
2+
AB
1+
AB
2+
AB
2+
AB
2+
AB
1+
AB
2+
AA
AB FA FB AA
BB
AB
C1
+
AB
C1
+
AB
C2
+
AB
C1
+
AB
C2
+
AB
C1
+
AB
C2
+
CD
CD
BC
D1
+
BC
D2
+
Pedro
Per
cen
tual
de
Ace
rto
s
Etapas
Treino
Teste
7
1 2 3 5 7
26
apenas com João (por falha na programação do experimento). Foi encontrado 100% de
precisão em todas as relações testadas BD, AD e DC (Tabela 1), atestando tanto pelo
procedimento de MTS quanto pelo procedimento de RRDS a inclusão dos estímulos C e
D nas classes, mesmo que estes estímulos tenham sido incluídos exclusivamente via
treino discriminativo com procedimento de RRDS.
Os dados obtidos na Etapa 5 mostram que o procedimento de MTS foi utilizado
com sucesso para relacionar os estímulos E (para João) e D (para Pedro) aos demais
estímulos já apresentados no experimento (Tabela 1). Por falha na programação
experimental, formação de classes de equivalência foi avaliada apenas com João (Etapa
6). Os resultados da Etapa 6 mostraram a emergência das relações CE (acerto em todas
as tentativas de teste e um erro nas tentativas de linha de base) e falha na relação ED (erro
na primeira tentativa da relação E2D2, ver Tabela 1). Embora o critério previamente
estabelecido para inferir a emergência das relações (com a obrigatoriedade de acerto na
primeira tentativa de cada relação testada) determine que se fale em falha na relação ED,
a frequência de acertos foi alta (cinco acertos em seis tentativas) e muito acima do nível
de acertos esperado para o responder ao acaso.
Os dados da Etapa 7 mostram, para ambos os participantes, a expansão de classes
funcionais com a inclusão dos estímulos D (para Pedro) e E (para João) nas classes
funcionais (Tabela 1). Os erros apresentados por João, nesta Etapa, ocorreram em
tentativas de linha de base. É provável que, ao finalizar o bloco com tentativas de linha
de base e dar início ao bloco de testes, o participante tenha selecionado o S- (erro) devido
à história de treino em RRDS. Os dois erros ocorreram na primeira tentativa (de linha de
base) de cada bloco de teste.
Como já informado anteriormente, o participante João foi o primeiro a ser exposto
às etapas do procedimento. Ao longo do treino, com o processamento de várias reversões
27
das discriminações simples, João passou a responder com 100% de acertos nas
discriminações simples de linha de base, mesmo que estivessem com suas funções
revertidas. Aparentemente, a interrupção da sessão (para início de uma próxima com as
funções dos estímulos revertidas) assumiu controle sobre o responder de tal forma que, já
no início da sessão seguinte, o responder era compatível com as funções revertidas dos
estímulos. Por essa razão, com este participante, no final do estudo (e com Pedro em todo
o estudo) introduziu-se o procedimento de reforçamento intermitente das discriminações
de linha de base para inserção de tentativas de teste sem reforçamento.
Não houve diferenças entre os resultados obtidos nas tentativas de testes com
reforçamento contínuo (CRF) e os testes com reforçamento intermitente (primeiras
tentativas sem reforço). Este dado sugere que é possível haver confiabilidade em testes
com reforço contínuo. Manter esse esquema de reforçamento pode evitar a deterioração
do desempenho nos testes como propõe Galvão, Calcagno e Sidman (1992), como
também torna dispensável toda uma fase de treinos de linha de base com reforçamento
intermitente para adaptar o responder às condições de reforçamento intermitente.
Os resultados obtidos no presente estudo dão suporte à proposta de que outros
procedimentos (além dos de MTS) podem estabelecer repertórios consistentes com a
formação de classes de equivalência. Além disso, indicam que os procedimentos
utilizados podem ser uma alternativa para superar dificuldades para estabelecer relações
de linha de base (relatadas por Gomes et al., 2010) necessárias para a formação de classes
em indivíduos com autismo.
A ênfase no modelo descritivo de Sidman e Tailby (1982) dando destaque a
relações emergentes para se falar em classes de equivalência, levou a uma dificuldade da
comunidade científica em aceitar demonstrações de formação de classes arbitrárias em
outros formatos (Barros, 1998; Sidman, 2000). A superação dessa dificuldade pode ajudar
28
a comunidade científica a ampliar os procedimentos a serem investigados, aumentando
as possibilidades de identificar métodos eficazes para gerar comportamentos consistentes
com a formação de classes.
O presente estudo aponta na mesma direção de alguns estudos anteriores (Kastak
et al.,, 2001; ver também Sidman, 1994, comentários do capítulo XX), sugerindo que
classes funcionais e classes de equivalência são o mesmo fenômeno comportamental
acessado por procedimentos diferentes (respectivamente RRDS e MTS).
Adicionalmente, este estudo corrobora as predições de Sidman (2000) quanto ao
fato de que todos os elementos de uma contingência podem vir a fazer parte da classe de
estímulo (incluindo reforçadores) e que esse fenômeno pode ser observado para além do
procedimento clássico de MTS arbitrário. É comum encontrar dificuldades para se
estabelecer as relações arbitrárias de linha de base necessárias para gerar os
comportamentos emergentes com o procedimento de MTS em uma população com
desenvolvimento atipicamente atrasado (McLay et al.,2013; Gomes, Varella & Souza,
2010).
De acordo com os dados do presente estudo, é possível a obtenção de classes de
estímulos equivalentes por meio do treino de discriminações simples. Também, é
possível que as relações treinadas em um contexto de discriminação condicional arbitrária
possam ser observadas em um contexto de discriminação simples.
Os achados confirmam os achados de Barros et al. (2006) e Santos (2014) que
mostram que procedimentos de RRDS são suficientes para gerar comportamentos
consistentes com a formação de classes de estímulos em indivíduos com autismo e que
os reforçadores específicos tornam-se elementos da classe (Sidman, 2000).
Os resultados também apontam que é possível ocorrer formação de classes em
crianças com autismo por meio do ensino de relações condicionais arbitrárias via MTS.
29
Como foi sugerido por Gomes et al. (2010), o procedimento clássico de MTS arbitrário
pode não ser suficiente no sentido de estabelecer as relações arbitrárias de linha de base
necessárias para a verificação das propriedades definidoras da equivalência em pessoas
com autismo. É possível inferir que os procedimentos de reforçamento específico com
estímulos compostos por diferentes itens (variedade de itens comestíveis e não
comestíveis) podem auxiliar na manutenção do valor reforçador das consequências
específicas e consequentemente o estabelecimento das relações arbitrárias via MTS
arbitrário.
Sugere-se que estudos subsequentes investiguem se a variável reforçamento
específico com estímulos compostos em tarefas de MTS arbitrário favorece a verificação
de comportamentos emergentes em indivíduos com autismo.
A importância do uso de reforçadores compostos pode ser destacada com os dados
de Pedro. Nas tarefas de discriminação simples, observa-se que o desempenho do
participante não atingiu o critério de precisão em três sessões com a contingência AB2+
e somente uma sessão com a contingência AB1+. Uma análise para esse desempenho
baseia-se no comportamento verbal de Pedro que solicitava, no início das sessões
experimentais, ver “Chaves” (tema da relação AB1+) e assistia aos vídeos da Turma da
Mônica com menos frequência. Aparentemente, os vídeos da Turma da Mônica perderam
o valor reforçador, mas a função reforçadora do composto de consequências foi
provavelmente mantida pelos alimentos.
Quanto às consequências específicas tornarem-se elementos da classe, além dos
testes FB e FA que utilizaram fotos dos personagens dos vídeos (consequências para
acerto) terem sido consistentes com essa hipótese, outro dado (não sistematicamente
registrado) pode ser destacado: ambos os participantes emitiram respostas verbais falando
30
o nome dos desenhos (personagens) ao tocar nos estímulos antecedentes a eles
arbitrariamente relacionados.
Torna-se pertinente a utilização dos procedimentos descritos neste estudo em
pesquisas que ajudem a planejar contingências de ensino voltadas para o cotidiano dos
indivíduos, por exemplo, em situações de intervenção. Experimentos voltados para a
formação de classes de estímulos podem contribuir para o desenvolvimento de métodos
de ensino eficazes para estabelecer ou aperfeiçoar repertório verbal. Essa possibilidade
foi explorada no Estudo 2.
ESTUDO 2. CLASSES DE EQUIVALÊNCIA E PRODUTIVIDADE DE
RELAÇÕES VERBAIS AUTOCLÍTICAS EM CRIANÇAS COM AUTISMO.
Poucos estudos têm abordado formas de estabelecer repertórios autoclíticos em
populações com desenvolvimento atipicamente atrasado (Luke, Greer, Singer-Dudek, &
Keohane, 2011). Os estudos encontrados nesta área (Luke et al., 2011; Speckman, Greer,
Riviera-Valdes, 2012) avaliam a emergência de repertórios autoclíticos por meio do
treino de instruções verbais de tato e mando incluindo múltiplos exemplares (MEI).
Segundo Luke et al. (2011), a maioria das pesquisas além de serem realizadas com
populações com desenvolvimento típico, não possuem relação com a área aplicada.
Estudos empíricos voltados para a aplicação são necessários para a criação de métodos
de ensino que possam ser utilizados em escolas ou em outros ambientes nos quais o
indivíduo esteja inserido.
Poucos estudos têm explorado metodologias de ensino envolvendo a formação de
classe de equivalência para o estabelecimento de repertórios verbais (Le Blanc, Miguel,
Cummings, Goldsmith, & Carr, 2003; Miguel, Yang, Finn, & Ahearn, 2009). Com a
confirmação da expansão das classes formadas via discriminação simples e das classes
31
formadas via discriminação condicional (Estudo 1), ampliam-se as possibilidades de
procedimentos para formar classes arbitrárias.
O comportamento verbal denominado por Skinner (1957) como autoclítico é
apresentado como um repertório verbal relacional que depende de outro operante verbal.
Ao atuar junto com outro operante verbal modifica os efeitos deste sobre o ouvinte. Um
autoclítico requer a “discriminação de propriedades do próprio comportamento do falante
com a função de modificar os efeitos desses sobre o ouvinte” (Borloti, 2004, p. 227). As
modificações podem ocorrer com função de descrever, quantificar, qualificar, relacionar
ou compor o que está sendo verbalizado (Borloti, Iglesias, Dalvi, & Silva, 2008). A
emergência de relações verbais autoclíticas relacionadas à concordância nominal de
gênero parece depender do estabelecimento das classes arbitrárias “feminino” e
“masculino”.
Os resultados do Estudo 1 do presente trabalho (ver também Santos, 2014)
sugerem que o uso de reforçamento específico composto (mais de um tipo de estímulo
para cada classe) pode facilitar manejo de flutuações de variáveis motivacionais
relacionadas à efetividade dos reforçadores e, assim, favorecer o estabelecimento de
relações de equivalência com a inclusão das consequências como membros das classes.
Assim, o objetivo do Estudo 2 foi explorar o uso de procedimentos de formação de classes
(discriminação simples e MTS arbitrário com reforçamento específico composto) para a
promover a formação/expansão de classes arbitrárias “feminino/masculino” e a
produtividade de relações verbais incluindo concordância de gênero.
O presente estudo avalia se é possível que estímulos como “a” e “o” (artigos
definidos da língua portuguesa), ao entrarem respectivamente para as classes “feminino”
e “masculino”, podem: (1) mostrar controle sobre repertórios relacionados a novos
estímulos posteriormente incluídos nas classes “feminino” e “masculino”; (2) controlar
32
repertórios, como ligar e classificar, no contexto de tarefas mais semelhantes a atividades
escolares e (2) permitir a observação de emergência repertório autoclítico na formulação
de frases incluindo tatos dos estímulos posteriormente incluídos nas mesmas classes
(masculino e feminino).
MÉTODO
Participantes
Uma criança de 8 anos com diagnóstico de TEA participou do estudo. O
participante foi o mesmo denominado como Joãono Estudo 1. Um levantamento prévio,
ligado ao atendimento analítico-comportamental a que se submetia João, identificou em
seu repertório pré-experimental: aproximadamente 30 tatos21(incluindo tatos de algumas
cores, números e letras); comportamento textual2 sob controle de algumas sílabas;
imitação de ações; comportamento ecoico3; comportamentos colaborativos como ficar
sentado ou sentar e esperar quando solicitado ; atender ao nome; seguir instruções de
forma sistemática; sensibilidade a presença de outras pessoas e de suas ações; atenção
compartilhada (olhar para objetos apontados por alguém ou olhar para um objeto e chamar
a atenção de alguém para esse objeto); mando4 com topografia de apontar ou falar o nome
do objeto; intraverbais53 de demanda sociais (por exemplo, responde a perguntas como
“qual o seu nome?” “qual o nome da sua mãe?”); Mando com intraverbal “sim/não”
(responde com “sim” ou “não” a perguntas do tipo “você quer isso?”); pareamentos de
identidade e arbitrário; recrutamento de tatos perguntando “o que é isso?”. Não foi
observado uso de autoclíticos relacionados ao gênero dos substantivos da língua
1 Tato: nomear, dizer o nome. 2 Textual: ler 3 Ecóico: imitação vocal, repetir o que ouviu 4 Mando: fazer pedidos 5 Intraverbal: responder perguntas
33
portuguesa (“a” bola, “o” carro, por exemplo) tanto na ocorrência de tatos quanto de
mandos.
Ambiente, Equipamentos e Materiais
Os dados foram coletados em uma sala do NTPC, equipada com uma bancada,
dois computadores, duas cadeiras, um armário e uma câmera filmadora. Durante as
sessões, apenas um participante e um experimentador ficavam na sala. O participante
ficava sentado em frente ao computador usado para coleta de dados e o experimentador
ficava em pé atrás do participante fornecendo as consequências específicas comestíveis
(igual ao Estudo 1).Também foi utilizada a Sala de Atendimento do APRENDE. Esta
sala de 36 m² continha 5 nichos planejados para serem utilizados como ambientes de
atendimento das crianças engajadas no Projeto. Cada nicho tinha uma mesa e duas
cadeiras. Na sala, além do participante e experimentador, poderiam estar presentes outras
crianças e aplicadores. Foram utilizados um computador com o software PCR, câmera de
vídeo, vídeos, itens alimentícios, brinquedos, papel A4, lápis e figuras impressas em
papel.
Estímulos
Dez conjuntos foram utilizados como estímulos discriminativos. Nove (A, B, C,
D, E, F, G, H, I) com dois estímulos cada eram formas bidimensionais com medidas de 5
x 5 cm, confeccionadas com o aplicativo Microsoft® Paint. O Conjunto N era constituído
de oito estímulos, impressos em papel A4. Os estímulos usados podem ser visualizados
na Figura 1.
Os estímulos usados como consequências para as respostas corretas faziam parte
de dois conjuntos: o conjunto dos vídeos (V1 e V2) e o conjunto dos itens comestíveis
(I1 e I2). V1 consistia em 12 vídeos diferentes do tema “Pocoyo”. V2 eram 12 vídeos
diferentes do tema “Pingu”. V1 e V2 eram apresentados via software e tinham 15
34
segundos de duração. O conjunto dos itens comestíveis M1 era constituído por seis tipos
de alimentos doces (chocolate, jujuba, doce de leite, biscoitos wafer sabor chocolate e
morango, goma sabor banana) e M2, por seis tipos de alimentos salgados (salgadinhos de
batata, salgadinhos de milho sabores queijo e presunto, bolachas, salgadinhos de trigo
sabores queijo e pizza) que eram disponibilizados à criança diretamente pelo
experimentador (os mesmos tipos usados no Estudo 1).
Os estímulos integrantes dos Conjuntos I foram selecionados de acordo com o
resultado das avaliações de preferência tipo Multiple Stimulus Without Replacement
(Carr, Nicolson, & Higbee, 2000) abrangendo uma variedade de itens preferidos por
ambas as crianças.
35
Figura 1. Figuras usadas como estímulos discriminativos no Estudo 2.
Procedimento
Procedimento Geral
Parte das tarefas (Etapas 1 a 4) foram realizadas em um computador com tela sensível
ao toque. A resposta de observação exigida do participante era falar e/ou ler em voz alta
o nome das figuras e tocar o estímulo na tela com o dedo. As respostas de falar o nome
das figuras foram, inicialmente, direcionadas pelo experimentador. O experimentador
esperava o participante aproximar o dedo do estímulo e então, segurava a mão do
participante antes que ele o tocasse. O experimentador dava o modelo vocal (e.g.
MENINA MENINO
Conjunto A
Conjunto B
Conjunto D
Conjunto C
Conjunto E Conjunto F
Conjunto G
Conjunto H
A1 A2
B1 B2
C1 C2 D1 D2
E1 E2
F1 F2
Conjunto I
G1 G2
H1 H2
I1 I2
N1 N2 N3 N4 N5 N6 N7 N8
Conjunto N
36
“menina”). Quando o participante emitia um comportamento verbal de ecoico, o
experimentado liberava a mão do participante para que tocasse na tela.
As consequências para as respostas de seleção do S+ eram específicas para cada
classe. Quando a contingência de reforçamento em vigor estabelecia os estímulos do
Grupo 1 como S+, as consequências eram um vídeo de 15 segundos da série infantil
“Pocoyo” (V1) e um comestível doce (M1), colocado pelo experimentador dentro de uma
vasilha verde que ficava do lado esquerdo do participante. Se a contingência de
reforçamento em vigor estabelecesse os estímulos do Grupo 2 como S+, as consequências
eram um vídeo de 15 segundos do desenho animado “Pingu” (V2) e um comestível
salgado (M2), colocado dentro de uma vasilha vermelha do lado direito do participante.
Caso a resposta de escolha do participante fosse dirigida ao S-, a consequência era
uma tela preta com um quadrado vermelho no centro, com duração de 15s.
Com o intuito de evitar o controle pelas posições dos estímulos, estes eram
apresentados em posições diferentes a cada tentativa. Esta variação era planejada para
ocorrer de forma randômica dentro das nove posições disponíveis em uma matriz 3x3.
O número de tentativas de cada sessão e o esquema de reforçamento variaram de
acordo com a tarefa (conforme detalhado a diante).
Outra parte das tarefas (Etapa 5, descrita a diante) foi realizada em uma mesa, sem
uso do computador. O experimentador que interagia com o participante durante a
realização destas tarefas costumava ser o mesmo experimentador que aplicava outros
procedimentos de ensino durante os atendimentos feitos com a criança no APRENDE.
Procedimentos Específicos
1. Linha de Base
37
Foram realizados três tipos diferentes de linha de base: 1.1) linha de base
“feminino/masculino”, 1.2) linha de base de animais, 1.3) linha de base das classes a
(artigo)/ minha (pronome) e o/meu. Os dois primeiros tipos precederam as etapas de
treino.
1.1. linha de base “feminino/masculino”: o objetivo desta etapa foi avaliar se os
estímulos dos Conjuntos A, B, C, D, E e H eram identificados pelo participante como
parte de classes de estímulos “feminino” e “masculino”. Na tela do computador, foram
apresentadas tentativas nas quais os estímulos do Conjunto A funcionavam como
modelos e os pares dos Conjuntos C, D, E, H e os estímulos N2 e N8 funcionaram como
comparações. Em outras tentativas, os estímulos do Conjunto B funcionaram como
modelos para os estímulos dos Conjuntos C e D. O experimentador dava a instrução vocal
“O ‘A’ vai com qual?” ou “O ‘O’ vai com qual?”. Foi apresentada uma tentativa de cada
tipo. Não houve reforçamento programado para as tentativas e o IET foi de
aproximadamente meio segundo, de forma que as tentativas eram apresentadas quase
imediata e consecutivamente. Ao final da sessão, o participante foi elogiado pela sua
colaboração e foram disponibilizados comestíveis e um vídeo a escolha do participante.
A tarefa de verificação de linha de base foi repetida dois dias depois.
1.2. Linha de base de animais: esta etapa teve como objetivo identificar dois animais
não tateados pelo participante, um do gênero feminino e outro masculino. Na tela do
computador, foram apresentadas tentativas nas quais uma figura (imagem de um animal)
era apresentada. Logo em seguida o experimentador perguntava para o participante “que
animal é esse? Uma resposta correta (falar o nome correto do animal) ou uma resposta
incorreta (não falar o nome do animal ou falar outro nome qualquer) era seguida pela
próxima tentativa. A tarefa consistiu em dois blocos de tentativas. O primeiro bloco teve
9 tentativas com 9 figuras diferentes de 3 animais (3 imagens de anta, 3 de paca e 3 de
38
tatu). No segundo bloco, foram 3 figuras de peixe-boi e 3 de mico leão. Os blocos foram
aplicados em dias diferentes, duas vezes cada.
1.3. Linha de base das classes a/minha (artigo/pronome) e o/meu: Foi feita uma sessão
de MTS arbitrário com os Conjuntos A e G. O objetivo foi verificar se os artigos a/o
estavam relacionados aos pronomes minha/meu. A tarefa teve 12 tentativas as quais o
Conjunto A funcionou como modelo e o Conjunto G como comparação.
2. Treino de Reversões de Discriminação Simples: inclusão dos estímulos do Conjunto
E.
Esta Etapa teve como objetivo treinar reversões de discriminações simples com os
estímulos das classes já apresentadas pelo participante (Conjuntos A, B, C, D) juntamente
com os estímulos (Conjunto E) que o participante tateava, mas não pertenciam às classes
1 e 2. A tarefa consistiu em 15 tentativas de discriminação simples, 2 tentativas de cada
Conjunto. As tentativas eram constituídas pela apresentação de dois estímulos
(pertencentes a um dos conjuntos). Na primeira sessão, os estímulos A1, B1, C1, D1 e E1
funcionaram como S+. Assim que o critério de precisão de desempenho era atingido, a
sessão seguinte apresentava os estímulos A2, B2, C2, D2 e E2 como S+,
consequentemente com os estímulos A1, B1, C1, D1 e E1 funcionando como S- (reversão
da função dos estímulos).
3. Treino de Matching-to-sample Arbitrário.
Esta Etapa teve como objetivo relacionar estímulos desconhecidos (não tateados) pelo
participante (Conjunto F) aos estímulos do Conjunto A via procedimento de MTS. Cada
sessão teve 12 tentativas (6 tentativas Modelo-A1/F1+F2- e 6 Modelo-A2/F2+F1-). Esta
Etapa foi dividida em 3 Passos:
39
Passo 1. Treino com ajuda total: O experimentar fornecia ajuda para que o participante
respondesse corretamente aos estímulos de comparação em todas as tentativas. A ajuda
física total correspondeu ao experimentador apontar o dedo do participante à comparação
correta, falar o nome do animal (“Paca” para F1 e “Mico” para F2), esperar o participante
ecoar e levar o dedo deste para tocar no estímulo na tela.
Passo 2. Treino com ajuda parcial: O experimentador, após a apresentação dos
estímulos de comparação, esperava 3 segundos pela resposta de escolha do participante
(falar o nome e tocar). Caso a resposta não ocorresse, era dada uma ajuda parcial: falar o
nome do animal (S+).
Passo 3. Respostas independentes: nenhuma ajuda do experimentar foi planejada.
Caso o participante fizesse menção de tocar o estímulo sem falar o nome, o
experimentador segurava sua mão por 3 segundos, com o intuito de dar dica para emissão
da resposta de falar o nome do animal.
4. Teste de Expansão de Classes.
Esta Etapa teve como objetivo verificar se os estímulos do Conjunto F, relacionados
aos do Conjunto A via MTS, foram incluídos às classes 1 e 2 treinadas via discriminação
simples.
A tarefa consistiu de 13 tentativas de discriminação simples com os Conjuntos B, C,
D, E e F. Foram realizadas duas sessões. Na primeira, a contingência de reforçamento em
vigor era B1C1D1E1F1+/ B2C2D2E2F2-. Na segunda era B2C2D2E2F2+/
B1C1D1E1F1-. Não havia reforçamento programado para a primeira tentativa com cada
um dos estímulos F1 e F2.
5. Teste de Produtividade.
40
O objetivo desta Etapa foi avaliar se as classes formadas nas Etapas anteriores
poderiam ser observadas em outros contextos e se outros estímulos (figuras) passaram a
ser relacionados aos artigos “a” e “o”.
As tarefas foram realizadas em contextos que simulavam tarefas escolares.
5.1. Tarefas de Ligar Estímulos: O participante deveria unir (ligar) por meio de uma
linha dos estímulos do Conjunto A (“a” e “o”) aos estímulos dos Conjuntos C, D,
E, F, H e I. Ver tarefa em Anexo 3. Antes de dar início a esta tarefa foi realizada
outra atividade com o objetivo de dar o modelo do tipo de tarefa de ligar, com os
estímulos pertencentes às classes formadas no Estudo 1 (Mônica e Chaves).
5.2. Tarefa de Agrupar: os estímulos dos Conjuntos D e N foram apresentados como
figuras recortadas em papel. Em uma mesa, o experimentador escreveu a letra A
e a letra O (uma no canto superior e a outra no canto inferior de uma folha de
papel A4). Em seguida o experimentador deu o modelo, pegando o estímulo D1,
colocando-o junto ao “A” e dizendo “A menina”; então pegou o estímulo D2 e
colocou junto ao “O”. Depois o experimentador deu a instrução “qual as figuras
que vão com “A” e quais as que vão com “O”?”.
5.3. Tarefa de Formar Frases: teve como objetivo verificar se o participante poderia
criar frases com as classes formadas. O experimentador iniciou pegando os
estímulos A1, D1 e G1, colocando-os na frente da criança, nesta ordem e dando
o modelo vocal “A menina é minha”. O mesmo foi feito com os estímulos A2,
D2 e G2, “O menino é meu”. Em seguida, os seis estímulos foram colocados
sobre a mesa e era dito ao participante “agora é sua vez”. O mesmo procedimento
foi realizado com os estímulos C1, G1 e C2, G2. Então, Os estímulos do Conjunto
G (minha e meu) foram colocados sobre a mesa. Ao lado deles, os estímulos dos
Conjuntos C, D, E, F foram espalhados para que o participante realizasse a tarefa.
41
Tabela 1.
Etapas do procedimento.
Etapas do Procedimento Discriminações
1 1.1 LB feminino/masculino
1.2 LB de animais
1.3 LB das classes a/minha e
o/meu
2 Reversões de DS A1B1C1D1E1+ / A2B2C2D2E2-
A2B2C2D2E2+ / A1B1C1D1E1-
3 MTS arbitrário Mod.A1, F1+/F2-
Mod.A2, F2+/F1-
4 Teste de Expansão de Classes B1C1D1E1F1+ / B2C2D2E2F2-
B2C2D2E2F2+ / B1C1D1E1F1-
5 Teste de Produtividade
5.1. Tarefa de Ligar A1 com C1 D1 E1 F1 H1 I1
A2 com C2 D2 E2 F2 H2 I2
5.2. Tarefa de Agrupar A1 com N3 N4 N8
A2 com N1 N2 N5 N6 N7
5.3 Tarefa de Formar Frases G1 com C1 D1 E1 F1
G2 com C2 D2 E2 F2
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na Etapa 1, a primeira verificação de linha de base “feminino/masculino”, houve
erro nas tentativas com as comparações S+ E2, F1 e F2. Na segunda, os erros ocorreram
apenas com o Conjunto F. Estes resultados indicaram que já estavam estabelecidas as
relações entre o Conjunto A e os Conjuntos B, C e D e não estavam estabelecidas as
relações do Conjunto A com o F. O fato de ter ocorrido um erro em quatro tentativas (erro
na primeira tentativa com o Conjunto E) indicou a necessidade de expor o participante a
treinos adicionais com estas relações, porém sem necessidade de dicas/ajuda do
experimentador durante o treino (Etapa 2).
42
Na linha de base de animais o participante não tateou nenhuma vez os animais
“paca” e “mico”. Na linha de base de MTS AG o participante apresentou 100% de acertos,
indicando discriminação nas relações entre os artigos (a/o) e os pronomes (minha/meu).
Na Etapa 2, de reversões de discriminação simples, ocorreram sete reversões em
nove sessões. Nas duas primeiras sessões (ABCDE1+), a precisão do desempenho foi
menor que 90% de acertos determinando que mais sessões fossem realizadas antes da
primeira reversão. Em todas as demais sessões, o critério foi atingido.
Na Etapa 3, de treino de MTS arbitrário, foram realizadas quatro sessões. A
primeira sessão ocorreu com ajuda total e a segunda com ajuda parcial. Ambas as sessões
apresentaram 100% de acertos. Na terceira e quarta sessões, sem ajuda, o desempenho foi
de 92% e 100% de acertos respectivamente.
A Etapa 4, de teste de junção de classes, ocorreu com 100% de acertos para cada
relação. A precisão de desempenho do participante nas Etapas 3 e 4 indica que o
procedimento adotado foi eficiente para incluir estímulos novos em duas classes
funcionais “masculino” e “feminino” já bem estabelecidas. A inclusão dos estímulos
novos F1 e F2 nas classes (após treino de MTS com os estímulos A1 e A2) replica os
achados do Estudo 1 em contexto mais aplicado. Esse tipo de resultado encoraja o uso de
procedimentos desse tipo na construção de programas de ensino de controle de estímulo
complexo com crianças diagnosticadas com autismo.
Os dados das Etapas 2 a 4 podem ser visualizados na Figura 2.
43
Figura 2. Porcentagem de acertos por sessão nas Etapas 2, 3 e 4.
Na Etapa 5.1, a Tarefa de ligar envolvendo os conjuntos A, C, D, E, F, H, I, o
participante acertou oito tentativas em 10 (8/10). Os erros ocorreram nos estímulos E2
(figura de uma casa) e F1 (figura de uma paca).
Na tarefa 5.2, Tarefa de agrupar as figuras, o desempenho foi de 7/8 (erro no N1).
O estímulo N1 consistia na figura de um ônibus escolar, cuja palavra “escolar” aparecia
escrita. Ao emitir a resposta de juntar N1 ao A2 (neste caso a resposta correta seria N1
com A1) o participante emitiu uma resposta vocal "escolar”, indicando estar sob controle
da palavra “escolar” e não do “ônibus”. É possível que esse fato possa ter determinado o
agrupamento de N1 junto com A2.
Na Tarefa 5.3, Tarefa de formar frases, o desempenho foi de 8/8. Nesta Etapa,
foram necessárias 8 apresentações de tentativas-modelo (o experimentador formulando
frases, conforme descrito no procedimento). Destas oito apresentações, houve duas
tentativas para cada estímulo dos conjuntos D e E para que o participante realizasse a
tarefa sem dica. Nestas oito tentativas, o participante formulou as seguintes frases, sem
ajuda ou treino adicional: “ele é meu”, “ela é minha”, “a casa é minha”, “carro meu”,
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Po
rcen
tage
m
Etapas
Independente
Ajuda Física
44
“menino é meu”, “menina é minha”, “mico é meu”, “a paca é minha”. Adicionalmente a
estas oito frases formuladas pelo participante, de forma induzida pelo experimentador, o
participante formulou a seguinte frase “A Peppa é minha”. Esta frase ocorreu no seguinte
contexto: foi dado ao participante um intervalo entre as tarefas. Durante este intervalo o
participante assistiu um vídeo de dois minutos do desenho infantil “Peppa Pig”. Ao final
do intervalo o experimentador interrompeu o vídeo e o participante falou “a Peppa é
minha”.
O registro do repertório de tato, com a inclusão de autoclíticos de gênero como os
artigos “a” e “o” e os pronomes “minha” e “meu”, sugere que esse procedimento é
promissor para o desenvolvimento de repertório verbal mais fluente em crianças
diagnosticadas com autismo. De fato, a concordância nominal representa um desafio
adicional à fala fluente para as crianças diagnosticadas com autismo em países de língua
latina (c.f. Nogueira, Santos, Kataoka, & Barros, 2015). O fato de, em língua portuguesa,
cada nome (substantivo) pertencer à classe “masculino” ou “feminino”, com a
necessidade de concordância nominal entre nome e todos os elementos a ele relacionados
(artigos, pronomes), adiciona aos falantes da língua a tarefa de formação de classes
complexas e a rápida inclusão dos nomes novos recentemente aprendidos nessas classes.
Essa inclusão rápida e emergente de tatos novos nas classes “feminino”/”masculino” já
estabelecidas foi investigada na Etapa 4, e avaliação de seu uso fluente em outros
contextos foi tentada na Etapa 5 do presente estudo.
A precisão de desempenho nas tarefas da Etapa 5 (produtividade) mostrou que o
desempenho construído por meio do procedimento de formação de classes se manteve
quando tarefas de controle de estímulo foram apresentados em novos formatos, mais
semelhantes a tarefas acadêmicas.
45
Estudos posteriores devem aumentar a diversidade dessas medidas, incluindo
amplas medidas pré e pós-treino de ocorrência de autoclíticos ligados a gênero em
ambiente natural (fala cotidiana do participante). Tipos de ocorrência como falar “a Peppa
é minha” que indicam a produtividade do participante com relação ao treino da tarefa de
formar frases, poderiam ser mapeadas antes e após a formação de classes para avaliar de
forma mais específica seus possíveis efeitos sobre a apresentação de repertório verbal
novo pelos participantes.
De fato, as condições favoráveis ao surgimento de relações autoclíticas de gênero
estão restritas à Etapa 5.3 e ao formato das frases-modelo ali apresentadas. Estudos
posteriores poderão acompanhar com medidas de observação naturalística mais amplas o
possível efeito de procedimentos como o descrito aqui sobre o surgimento ou a ampliação
de repertório autoclítico.
Os dados da Etapa 5.2, podem ser um indício de que a relação entre os estímulos
“a” e “o” e os estímulos das classes “feminino” e “masculino” está sob controle da
presença das letras “a” ou “o” na última sílaba da palavra referente a cada estímulo. Ou
seja, o participante pode ter relacionado “a/cadeira” sob controle da sílaba “ra”,
“o/coelho” sob controle do “lho/o” e “a/ônibus escolar” sob controle do “lar” ou “ar”.
A hipótese de que tenha ocorrido o controle pelo final da palavra torna-se
provável, considerando-se que é frequente que crianças com autismo fiquem sob controle
de aspectos restritos dos estímulos (da Hora & Benvenuti, 2007; Dube, Lombard, Farren,
Flusser, Balsamo, Fowler, & Tomanari, 2003). O controle restrito de estímulos ocorre
quando uma discriminação é estabelecida sob controle de uma parte e/ou fração do
estímulo envolvido e não sob controle de todos os elementos que o compõe (da Hora &
Benvenuti, 2007). O mesmo participante, durante aprendizagem de leitura (história pré-
experimental), havia apresentado controle restrito. Um programa de ensino para
46
solucionar o problema foi realizado antes do presente estudo e mostrou que o participante
passou a responder sob controle da palavra inteira.
No entanto, o fenômeno do controle restrito é considerado uma falha de controle
de estímulos determinado pelo desenvolvimento de controle por partes (algumas vezes
irrelevantes) do estímulo. Isso caracterizaria uma incoerência entre as relações de controle
planejadas e aquelas realmente desenvolvidas (Dube & McIlvane, 1996; McIlvane &
Dube, 2003; McIlvane, Serna, Dube, & Stromer, 2000, Kataoka, Brino, & Barros (no
prelo). Todavia, ficar sob controle da parte final da palavra para classificá-la como
“feminina” ou “masculina” é controle por parte irrelevante do estímulo? Este tipo de
controle deve ser considerando inadequado? É possível que esse tipo de controle seja
desejável e responsável pela generalização de repertório quando os artigos são usados
como autoclíticos com palavras novas.
De fato, é possível reconhecer que é, em parte, desejável o controle restrito pela
desinência indicadora de gênero, enquanto se realizam tarefas relacionadas ao controle
condicional por classes de gênero, como as tarefas aqui descritas. Em outras palavras, as
desinências de gênero (“o” e “a” ao final das palavras) também controlam o
comportamento dos demais falantes fluentes da língua, na identificação das formas
masculinas e femininas de diversas palavras (como bonito/bonita; alto/alta;
magro/magra). É perfeitamente esperado que ocorram erros provocados por
generalização (em concordância nominal e mesmo conjugação verbal de verbos
irregulares) nos estágios iniciais da aquisição de repertório verbal. Procedimentos
adicionais, para ensino das exceções às regras aprendidas com os primeiros exemplares
ensinados, devem ser desenvolvidos.
Estudos subsequentes devem também investigar quais as relações de controle
devem ser estabelecidas no ensino de rede de relações para permitir com eficiência a
47
emergência de autoclíticos relacionados a gênero e outras formar de repertório autoclítico
em crianças com repertório verbal atipicamente atrasado.
Os dados apresentados indicam que a teoria e os procedimentos tipicamente
relacionados a estudos básicos sobre a formação de classes podem encontrar lugar
diretamente na formulação de procedimentos aplicados de ensino. Esses procedimentos
podem ter como objetivo desenvolver repertório de classificação e comportamento
verbal, como o autoclítico, relacionado a novos estímulos, recentemente incluídos em
classes funcionais ou classes de equivalência.
DISCUSSÃO GERAL
O presente trabalho de tese apresentou dois estudos explorando a formação de
classes funcionais e de equivalência com crianças diagnosticadas com autismo.
No primeiro estudo foram investigados o uso de procedimentos de reversões
repetidas de discriminação simples com uso de consequências específicas compostas para
a formação de classes e se relações treinadas no contexto de discriminação simples podem
ser observadas em um contexto de discriminação condicional e vice-versa.
As principais contribuições do Estudo 1 mostram que o procedimento de RRDS
com o uso de consequências específicas compostas pode estabelecer repertórios
consistentes com a formação de classes em indivíduos com diagnóstico de autismo. Esses
procedimentos parecem ser uma alternativa para superar dificuldades para estabelecer
relações de linha de base (relatadas por Gomes et. al., 2010) necessárias para a formação
de classes em indivíduos com autismo. Além disso, o Estudo 1 corrobora com as
evidências de que classes funcionais e classes de equivalência representam um mesmo
fenômeno comportamental. Isto é, a substituibilidade de elementos arbitrariamente
relacionados pode ser estabelecida via procedimentos diferentes.
48
O Estudo 2 investigou a possibilidade de utilizar os procedimentos de
discriminação simples e MTS arbitrário com reforçamento específico composto como
métodos de ensino voltados para o estabelecimento/aperfeiçoamento de comportamento
verbal em crianças com diagnóstico de autismo. Foram avaliados a formação/expansão
de classes arbitrárias “feminino/masculino” e a produtividade de relações verbais
incluindo concordância de gênero.
O Estudo 2 mostrou que procedimentos de formação de classes podem ser
utilizados para o ensino de tarefas acadêmicas, como a concordância de gênero. O
procedimento parece eficaz para promover generalizações e aumentar a produtividade (o
ensino de algumas relações sendo suficientes para a demonstração de outras). Esses
achados, encorajam o uso, em contextos aplicados, de procedimentos relacionados à
formação de classes, voltados para o desenvolvimento/aperfeiçoamento de repertório de
classificação e comportamento verbal.
REFERÊNCIAS
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Cebus apella. Tese de doutorado, Instituto de Psicologia, Universidade de São
Paulo, São Paulo.
Barros, R.S., Lionello-DeNolf, K.M., Dube, W.V., & McIlvane, W.J. (2006). A formação
de classes de equivalência via pareamento por identidade e discriminação simples
com conseqüências específicas para as classes. Revista Brasileira de Análise do
Comportamento, 2 (1), 79-92.
Barros, R. S.; Souza, C. B. A. & Costa, T. D. Costa, T. D. (2013). Functional class
formation in the context of a foraging task in capuchin monkeys. Journal of the
Experimental Analysis of Behavior.
49
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do discurso: fundamentos e método. Psicologia: Teoria e Pesquisa 24, 101-110.
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de Souza et al). Porto Alegre: Ed. Artmed.
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54
ANEXOS
55
ANEXO 1
56
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO COMO DISPOSTO NA
RESOLUÇÃO CNS 196/96 E NA RESOLUÇÃO CFP N°016/2000
PROJETO: Atendimento e Pesquisa sobre Aprendizagem e Desenvolvimento - APRENDE
O autismo é um transtorno do desenvolvimento, bastante frequente na população, que afeta a interação
social, comunicação e a aprendizagem. Há pouca pesquisa científica no Brasil sobre eficácia de formas de
atendimento a crianças autistas, bem como há poucos profissionais especializados. O presente estudo tem como
objetivos: 1) Realizar atendimento e pesquisa sobre o atendimento a crianças com desenvolvimento atrasado;
2) Realizar pesquisa básica sobre aprendizagem e desenvolvimento e 3) Formar profissionais capacitados para
atendimento e pesquisa com crianças com desenvolvimento atrasado.
Para isso, as crianças diagnosticadas com autismo, e seus responsáveis, deverão comparecer até três vezes
por semana à Sala de Atendimento do projeto, que fica no Prédio do Núcleo de Teoria e Pesquisa do
Comportamento (NTPC) da UFPA, Campus Universitário do Guamá. Estima-se que a duração da coleta de
dados seja de 3 horas por dia. A extensão do programa está prevista para dois anos e dependerá do desempenho
da criança e do cumprimento integral dos objetivos e etapas previstos.
Os procedimentos que serão utilizados são essencialmente tarefas de ensino ou de avaliação de habilidades
comunicação e interação. A aprendizagem, atenção e motivação das crianças serão avaliadas e os pesquisadores
apresentação tarefas para serem desenvolvidas no computador ou sobre a mesa, de forma a tentar estimular o
desenvolvimento da criança. A eficácia dessas tarefas será avaliada. Não haverá uso de medicamentos ou
qualquer procedimento invasivo.
As sessões serão gravadas para melhor apreciação dos resultados. Os vídeos gerados das sessões poderão
ser apresentados em congressos ou palestras, porém isto só ocorrerá com a permissão prévia dos responsáveis
pela criança.
O sigilo sobre a identidade do participante no estudo será garantido. Os resultados finais serão apresentados
aos responsáveis e posteriormente poderão ser divulgados por meio de apresentações em congressos, trabalhos
acadêmicos e/ou publicações em periódicos. Na divulgação dos resultados, os participantes e seus responsáveis
não serão identificados.
Se, por qualquer motivo, o responsável pela criança desejar interromper a participação dela no estudo, ele
poderá fazer isto a qualquer momento, bastando comunicar esta intenção aos pesquisadores.
Os riscos envolvidos são mínimos e equivalentes ao nível de risco ao qual a criança se expõe
cotidianamente em casa, na escola, na locomoção urbana. Os responsáveis poderão permanecer durante todo o
atendimento numa sala anexa de onde podem observar o atendimento da criança.
Como benefícios do engajamento da criança na pesquisa, ela receberá atendimento de profissionais
especializados voltado à estimulação do seu desenvolvimento, em especial com relação à comunicação e a
interação social. Haverá palestras e oficinas sobre autismo voltadas para os responsáveis.
Haverá ressarcimento de despesas com locomoção e alimentação decorrentes do engajamento da criança
na pesquisa.
Gostaríamos de contar com sua participação e colocamo-nos à disposição para maiores esclarecimentos
sobre a pesquisa. Caso você concorde em participar desta primeira etapa preencha o termo de consentimento
abaixo.
Pesquisador responsável: Prof. Dr. Romariz da Silva Barros
Celular (91) 8800 9004 - E-mail: romarizsb@gmail.com
CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Declaro que li as informações apresentadas acima, que estou esclarecido (a) sobre a pesquisa que será
realizada e de seus riscos e benefícios. Declaro que na condição de responsável pela criança
_______________________________________________, é por minha livre vontade que eu o (a) autorizo a
participar da presente pesquisa.
Belém , ______de ______________de 2012
Assinatura do Responsável pelo Participante
57
ANEXO 2
58
FOLHA DE REGISTRO DE PREFERÊNCIAS
ITENS ALIMENTÍCIOS
Aluno:________________ Avaliador:_____________
Data:________ Hora:________
Ordem
Itens 1 2 3 Soma de 1, 2,& 3 Ordem em geral (soma menor é # 1)
Item novo
Aluno:________________ Avaliador:_____________
Data:________ Hora:________
Ordem
Itens 1 2 3 Soma de 1, 2,& 3 Ordem em geral (soma menor é # 1)
Item novo
Aluno:________________ Avaliador:_____________
Data:________ Hora:________
Ordem
Itens 1 2 3 Soma de 1, 2,& 3 Ordem em geral (soma menor é # 1)
Item novo
59
FOLHA DE REGISTRO DE PREFERENCIAS
VÍDEOS
PARTICIPANTE:
DATA:
Vídeo Assistir Não assistiu Observações
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
60
ANEXO 3
61
TAREFA DE LIGAR – TREINO
62
TAREFA DE LIGAR – TESTE