Cálculo I 1 Ciclo em Engenharia Electromecânica 1 Ciclo em...

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Cálculo I1◦ Ciclo em Engenharia Electromecânica

1◦ Ciclo em Engenharia Electrotécnica e de Computadores

António Bento

Departamento de MatemáticaUniversidade da Beira Interior

2010/2011

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 1 / 590

Bibliografia

– Apostol, T.M., Cálculo, Vol. 1, Reverté, 1993

– Dias Agudo, F.R., Análise Real, Vol. I, Escolar Editora, 1989

– Demidovitch, B., Problemas e exercícios de Análise Matemática, McGrawHill,1977

– Lima, E. L., Curso de Análise, Vol. 1, Projecto Euclides, IMPA, 1989

– Lima, E. L., Análise Real, Vol. 1, Colecção Matemática Universitária, IMPA, 2004

– Mann, W. R., Taylor, A. E., Advanced Calculus, John Wiley and Sons, 1983

– Sarrico, C., Análise Matemática – Leituras e exercícios, Gradiva, 3a Ed., 1999

– Stewart, J., Calculus (International Metric Edition), Brooks/Cole PublishingCompany, 2008

– Swokowski, E. W., Cálculo com Geometria Analítica, Vol. 1 e 2, McGrawHill,1983

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 2 / 590

Critérios de Avaliação

A avaliação ao longo das actividades lectivas será periódica, sendo efectuadosdois testes.

Os testes serão nos dias 22 de Novembro de 2010 e 10 de Janeiro de 2011.

Os dois testes serão cotados, cada um deles, para 10 valores.

Designando por T1 a nota do primeiro teste e por T2 a nota do segundo teste,a classificação final será calculada da seguinte forma:

– se T1 + T2 for inferior a 15,5 valores, a classificação final será oarredondamento às unidades de T1 + T2;

– se T1 + T2 for superior ou igual a 15,5 valores, terá de ser feita umaprova oral; nessa prova oral será atribuída uma nota, que designaremospor P O, entre 0 e 20 valores; a classificação final será o arredondamentoàs unidades de

max{

15,T1 + T2 + P O

2

}

.

São aprovados os alunos com classificação final igual ou superior a 10 valores.

Todos os alunos são admitidos a exame.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 3 / 590

Atendimento

O atendimento aos alunos será às quartas-feiras e às quintas-feiras, das 18horas às 19 horas, no gabinete 4.25 do Departamento de Matemática.

Caso este horário não seja conveniente, pode ser combinado outro horário como docente da cadeira através do email

bento@ubi.pt

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 4 / 590

Índice

1 Funções reais de variável real: generalidades e exemplos

2 Funções reais de variável real: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em R

4 Primitivas

5 Cálculo integral em R

6 Sucessões e séries

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 5 / 590

Índice

1 Funções reais de variável real: generalidades e exemplosO conjunto dos números reaisDefinição e exemplos de funções; função inversa; composição de funçõesFunção exponencial e função logarítmicaFunções trigonométricas e suas inversasFunções hiperbólicas

2 Funções reais de variável real: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em R

4 Primitivas

5 Cálculo integral em R

6 Sucessões e séries

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 6 / 590

Índice

1 Funções reais de variável real: generalidades e exemplosO conjunto dos números reaisDefinição e exemplos de funções; função inversa; composição de funçõesFunção exponencial e função logarítmicaFunções trigonométricas e suas inversasFunções hiperbólicas

2 Funções reais de variável real: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em R

4 Primitivas

5 Cálculo integral em R

6 Sucessões e séries

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 7 / 590

§1.1 O conjunto dos números reais

No conjunto dos números reais, que representaremos por R, estãodefinidas duas operações:

– uma adição, que a cada par de números reais (a, b) fazcorresponder um número a + b;

– uma multiplicação, que a cada par (a, b) associa um númerorepresentado por a.b (ou a × b ou simplesmente ab).

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 8 / 590

§1.1 O conjunto dos números reais

Propriedades da adição

A1) Para cada a, b, c ∈ R,a + (b + c) = (a + b) + c (associatividade)

A2) Para cada a, b ∈ R,a + b = b + a (comutatividade)

A3) Existe um elemento 0 ∈ R, designado por "zero", tal que para cadaa ∈ R

a + 0 = 0 + a = a (elemento neutro)

A4) Para cada a ∈ R, existe um elemento −a ∈ R tal quea + (−a) = (−a) + a = 0 (simétrico)

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 9 / 590

§1.1 O conjunto dos números reais

Propriedades da multiplicação

M1) Para cada a, b, c ∈ R,a(bc) = (ab)c (associatividade)

M2) Para cada a, b ∈ R,ab = ba (comutatividade)

M3) Existe um elemento 1 ∈ R, diferente de zero e designado por"unidade", tal que para cada a ∈ R

a.1 = 1.a = a (elemento neutro)

M4) Para cada a ∈ R \ {0}, existe um elemento a−1 ∈ R tal queaa−1 = a−1a = 1 (inverso)

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 10 / 590

§1.1 O conjunto dos números reais

Distributividade da multiplicação em relação à adição

D1) Para cada a, b, c ∈ R,a(b + c) = (b + c)a = ab + ac (distributividade)

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 11 / 590

§1.1 O conjunto dos números reais

Associadas a estas operações estão duas outras operações, asubtracção e a divisão. A subtracção entre dois números reais a e brepresenta-se por a − b e é definida por

a − b = a + (−b).

A divisão entre dois números reais a e b com b 6= 0 representa-se pora

b(ou a ÷ b ou a/b) e é definida por

a

b= ab−1.

Aa

b, com b 6= 0, também se chama fracção entre a e b.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 12 / 590

§1.1 O conjunto dos números reais

Operações com fracções

Sejam a, b, c e d números reais tais que b 6= 0 e d 6= 0. Então

• a

b+

c

d=

ad + bc

bd;

• a

b− c

d=

ad − bc

bd;

• a

b

c

d=

ac

bd;

•a

bc

d

=a

b× d

c=

ad

bconde c 6= 0.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 13 / 590

§1.1 O conjunto dos números reais

Lei do corte da adição

Sejam a, b e c números reais. Então

a + c = b + c

se e só sea = b.

Lei do corte da multiplicação

Sejam a, b e c números reais com c 6= 0. Então

ca = cb

se e só sea = b.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 14 / 590

§1.1 O conjunto dos números reais

Lei do anulamento do produto

Dados números reais a e b tem-se

ab = 0

se e só sea = 0 e/ou b = 0.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 15 / 590

§1.1 O conjunto dos números reais

Casos notáveis da multiplicação

Se a e b são números reais, então

i) (a + b)2 = a2 + 2ab + b2;

ii) (a − b)2 = a2 − 2ab + b2;

iii) (a + b)(a − b) = a2 − b2.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 16 / 590

§1.1 O conjunto dos números reais

Resolução de equações de primeiro grau

Sejam a e b números reais. Então

i) a + x = b ⇔ x = b − a;

ii) ax = b ⇔ x =b

aonde a 6= 0;

Fórmula resolvente (de equações de segundo grau)

Sejam a, b e c números reais, com a 6= 0. Então

ax2 + bx + c = 0 ⇔ x =−b ±

√b2 − 4ac

2a.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 17 / 590

§1.1 O conjunto dos números reais

Ordem

No conjunto dos números reais está definida uma relação de ordem,relação essa que denotamos por < e que verifica, para quaisquer a, b,c ∈ R, as seguintes propriedades:

O1) apenas uma das seguintes condições é verdadeira:

ou a = b, ou a < b, ou b < a;

O2) se a < b e b < c, então a < c;

O3) se a < b, então a + c < b + c;

O4) se 0 < a e 0 < b, então 0 < ab;

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 18 / 590

§1.1 O conjunto dos números reais

Quando a < b é uma proposição verdadeira, dizemos que a é menordo que b.

Diz-se que a é menor ou igual do que b, e escreve-se

a 6 b, se a < b ou a = b.

Dizemos que a é maior do que b, e escreve-se

a > b, se b < a.

Obviamente, diz-se que a é maior ou igual do que b, e escreve-se

a > b, se b 6 a.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 19 / 590

§1.1 O conjunto dos números reais

Das quatro propriedades de ordem mencionadas atrás é possíveldeduzir as seguintes propriedades:

Propriedades de ordem

Para quaisquer números reais a, b, c e d, tem-se

a) se a 6 b e b 6 a, então a = b;

b) se a 6= 0, então a2 > 0;

c) se a < b e c < d, então a + c < b + d;

d) se a < b e c > 0, então ac < bc;

e) se a < b e c < 0, então ac > bc;

f) se a > 0, então a−1 > 0;

g) se a < 0, então a−1 < 0;

h) se a < b, então a <a + b

2< b;

i) ab > 0 se e só se (a > 0 e b > 0) ou (a < 0 e b < 0).

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 20 / 590

§1.1 O conjunto dos números reais

A relação de ordem permite-nos representar os números reais numarecta ou num eixo.

−3 −2 −1 0 1 2 33√

2√

3 πe

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 21 / 590

§1.1 O conjunto dos números reais

As relações de ordem que definimos previamente permitem-nos definirvários subconjuntos de R chamados intervalos. Dados dois númerosreais tais que a 6 b, temos os seguintes conjuntos:

]a, b[ = {x ∈ R : a < x < b} ;

]a, b] = {x ∈ R : a < x 6 b} ;

[a, b] = {x ∈ R : a 6 x 6 b} ;

[a, b[ = {x ∈ R : a 6 x < b} ;

]a, +∞[ = {x ∈ R : a < x} ;

[a, +∞[ = {x ∈ R : a 6 x} ;

] − ∞, b[ = {x ∈ R : x < b} ;

] − ∞, b] = {x ∈ R : x 6 b} ;

] − ∞, +∞[ = R

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 22 / 590

§1.1 O conjunto dos números reais

Representação geométrica dos intervalos

]a, b[a b

[a, b]a b

[a, b[a b

]a, b]a b

]a, +∞[a

[a, +∞[a

] − ∞, b[b

] − ∞, b]b

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 23 / 590

§1.1 O conjunto dos números reais

Inequações de segundo grau

Consideremos a inequação

ax2 + bx + c < 0, a 6= 0.

a) Se a > 0 e b2 − 4ac > 0, então o conjunto solução da inequação é ointervalo

]x1, x2[,

onde x1 e x2 são as soluções de ax2 + bx + c = 0 e x1 < x2.

b) Se a > 0 e b2 − 4ac 6 0, então a inequação não tem soluções.

c) Se a < 0 e b2 − 4ac < 0, então o conjunto solução da inequação é R.

d) Se a < 0 e b2 − 4ac > 0, então o conjunto solução da inequação é ointervalo

] − ∞, x1[ ∪ ]x2, +∞[,

onde x1 e x2 são as soluções de ax2 + bx + c = 0 e x1 6 x2.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 24 / 590

§1.1 O conjunto dos números reais

Inequações de segundo grau (continuação)

Consideremos a inequação

ax2 + bx + c 6 0, a 6= 0.

a) Se a > 0 e b2 − 4ac > 0, então o conjunto solução da inequação é ointervalo

[x1, x2],

onde x1 e x2 são as soluções de ax2 + bx + c = 0 e x1 6 x2.

b) Se a > 0 e b2 − 4ac < 0, então a inequação não tem soluções.

c) Se a < 0 e b2 − 4ac 6 0, então o conjunto solução da inequação é R.

d) Se a < 0 e b2 − 4ac > 0, então o conjunto solução da inequação é ointervalo

] − ∞, x1] ∪ [x2, +∞[,

onde x1 e x2 são as soluções de ax2 + bx + c = 0 e x1 < x2.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 25 / 590

§1.1 O conjunto dos números reais

Para as inequações

ax2 + bx + c > 0, a 6= 0,

eax2 + bx + c > 0, a 6= 0,

temos algo semelhante aos dois casos anteriores.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 26 / 590

§1.1 O conjunto dos números reais

Fazendo ∆ = b2 − 4ac, a figura seguinte ajuda-nos a resolver asinequações de segundo grau.

a > 0∆ > 0

a > 0∆ = 0

a > 0∆ < 0

a < 0∆ > 0

a < 0∆ = 0

a < 0∆ < 0

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 27 / 590

§1.1 O conjunto dos números reais

Intuitivamente, poderíamos construir os números naturais daseguinte forma:

1 é um número natural;

1 + 1 que representamos por 2 é um número natural;

1 + 1 + 1 = 2 + 1 = 3 é um número natural;

etc.

Assim,N = {1, 2, 3, 4, 5, . . .} .

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 28 / 590

§1.1 O conjunto dos números reais

A partir dos números naturais podemos definir os números inteiros e osnúmeros racionais.

Um número real diz-se um número inteiro se for um número natural,ou se o seu simétrico for um número natural ou se for zero, isto é, oconjunto dos números inteiros é o conjunto

Z = N ∪ {0} ∪ {m ∈ R : −m ∈ N} .

Um número racional é um número real que pode ser representadocomo o quociente entre dois números inteiros, isto é, o conjunto dosnúmeros racionais é o conjunto

Q ={

m

n: m ∈ Z, n ∈ Z \ {0}

}

.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 29 / 590

§1.1 O conjunto dos números reais

Os números racionais também podem ser definidos através darepresentação decimal. Um número real é racional se no sistemadecimal tiver uma dízima finita ou uma dízima infinita periódica.

Assim, o número0, 3333333...

é um número racional, que também se representa por

0, 3(3)

Além disso, este número também pode ser representado por

13

.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 30 / 590

§1.1 O conjunto dos números reais

Aos números reais que não são racionais chamamos de númerosirracionais.

Os números√

2,√

3, π e e são números irracionais.

As inclusões seguintes são óbvias:

N ⊂ Z ⊂ Q ⊂ R.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 31 / 590

§1.1 O conjunto dos números reais

Por valor absoluto ou módulo de um elemento x ∈ R entende-se onúmero real |x| definido por

|x| =

{

x se x > 0;

−x se x < 0.

Uma forma equivalente de definir o módulo de um número real x é aseguinte

|x| = max {x, −x} .

Geometricamente, o módulo de um número dá-nos a distância dessenúmero à origem.

0 x

|x|

y

|y|

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 32 / 590

§1.1 O conjunto dos números reais

Propriedades do módulo

Para quaisquer números reais a, b tem-se

a) |a| = 0 se e só se a = 0;

b) |a| > 0;

c) |ab| = |a|.|b|;d) |a + b| 6 |a| + |b|; (desigualdade triangular)

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 33 / 590

§1.1 O conjunto dos números reais

A propriedade d) denomina-se desigualdade triangular pelo facto denum triângulo o comprimento de qualquer lado ser menor do que asoma dos comprimentos dos outros dois lados.

|a + b| 6 |a| + |b|

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 34 / 590

§1.1 O conjunto dos números reais

Propriedades do módulo (continuação)

a) |x| = a ⇔ x = a ∨ x = −a onde a > 0;

b) |x| < a ⇔ x < a ∧ x > −a

c) |x| 6 a ⇔ x 6 a ∧ x > −a

d) |x| > a ⇔ x > a ∨ x < −a

e) |x| > a ⇔ x > a ∨ x 6 −a

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 35 / 590

§1.1 O conjunto dos números reais

Podemos usar o módulo para calcular a distância entre dois númerosreais. A distância entre dois números reais a e b é dada por

|a − b| .

Geometricamente,

a b

|a − b|

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 36 / 590

Índice

1 Funções reais de variável real: generalidades e exemplosO conjunto dos números reaisDefinição e exemplos de funções; função inversa; composição de funçõesFunção exponencial e função logarítmicaFunções trigonométricas e suas inversasFunções hiperbólicas

2 Funções reais de variável real: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em R

4 Primitivas

5 Cálculo integral em R

6 Sucessões e séries

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 37 / 590

§1.2 Definição e exemplos de funções; função inversa; composição de funções

Uma função f : A → B é definida à custa de três coisas:

• um conjunto A a que se chama domínio da função;

• um conjunto B chamado de conjunto de chegada da função;

• uma regra que a cada elemento de x ∈ A faz corresponder um eum só elemento de B, elemento esse que se representa por f(x).

Referimo-nos a x ∈ A como um objecto e a f(x) ∈ B como a suaimagem por f , respectivamente. Também usamos a expressão valorde f em x para nos referirmos à imagem f(x).

Ao conjunto das imagens chamamos contradomínio de f , ou seja, ocontradomínio é o conjunto

f(A) = {f(x) ∈ B : x ∈ A} .

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 38 / 590

§1.2 Definição e exemplos de funções; função inversa; composição de funções

A natureza da regra associada a f : A → B, e que nos permitedeterminar o valor de f(x) quando é dado x ∈ A, é inteiramentearbitrária, tendo apenas que verificar duas condições:

1) não pode haver excepções, isto é, para que o conjunto A seja odomínio de f a regra deve de fornecer f(x) para todo o x ∈ A;

2) não pode haver ambiguidades, ou seja, a cada x ∈ A a regra devefazer corresponder um único f(x) ∈ B.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 39 / 590

§1.2 Definição e exemplos de funções; função inversa; composição de funções

As funções f que nós vamos estudar são funções reais de variávelreal, ou seja, o domínio da função f é um subconjunto de R e oconjunto de chegada é o conjunto dos números reais R. O domíniocostuma representar-se por D ou Df e usa-se a seguinte notação

f : D ⊆ R → R,

ou, de forma mais abreviada,

f : D → R.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 40 / 590

§1.2 Definição e exemplos de funções; função inversa; composição de funções

Exemplo – Primeira Lei de Ohm

A primeira lei de Ohm diz que a intensidade I da corrente eléctrica édada pelo quociente entre a diferença de potencial V e a resistênciaeléctrica R do condutor:

I =V

R.

Assim, num circuito eléctrico a intensidade da corrente pode ser vistacomo uma função da diferença de potencial.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 41 / 590

§1.2 Definição e exemplos de funções; função inversa; composição de funções

Exemplo – Funções afim

As funções dada porf(x) = ax + b,

onde a e b são dois números reais fixos, designam-se por funções afim.Quando b = 0, a expressão reduz-se a

f(x) = ax

e exprime que as variáveis entre x e y = f(x) existe proporcionalidadedirecta, visto que o quociente dos dois valores correspondentes éconstante:

y

x= a.

Dizemos então a função definida é linear. O domínio de uma funçãoafim é sempre o conjunto dos números reais. O contradomínio é oconjunto R dos números reais, excepto no caso em que a = 0. Quandoa = 0 o contradomínio é o conjunto singular {b}.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 42 / 590

§1.2 Definição e exemplos de funções; função inversa; composição de funções

Exemplo – Funções quadráticas

As funções definidas por

f(x) = ax2 + bx + c, a 6= 0

designam-se por funções quadráticas. O seu domínio é o conjunto R

dos números reais e o contradomínio é o intervalo[

f

(

− b

2a

)

, +∞[

=

[

c − b2

4a, +∞

[

se a > 0 e é o intervalo

]

−∞, f

(

− b

2a

)]

=

]

−∞, c − b2

4a

]

se a < 0.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 43 / 590

§1.2 Definição e exemplos de funções; função inversa; composição de funções

Exemplo – Funções polinomiais

As funções funções f : R → R definidas por

f(x) = anxn + an−1xn−1 + · · · + a1x + a0,

onde n ∈ N, a0, a1, . . . , an−1 ∈ R e an ∈ R \ {0} designam-se porfunções polinomiais.

Obviamente, as funções afim e as funções quadráticas são funçõespolinomiais.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 44 / 590

§1.2 Definição e exemplos de funções; função inversa; composição de funções

Exemplo – Funções racionais

As funções racionais são as funções definidas como o quociente entredois polinómios, ou seja, são as funções dadas por

f(x) =anxn + an−1xn−1 + · · · + a1x + a0

bmxm + bm−1xm−1 + · · · + b1x + b0,

onde m, n ∈ N, a0, a1, . . . , an−1, bm−1, . . . , b1, b0 ∈ R e an, bm ∈ R \ {0}.

O seu domínio é o conjunto

D ={

x ∈ R : bmxm + bm−1xm−1 + · · · + b1x + b0 6= 0}

.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 45 / 590

§1.2 Definição e exemplos de funções; função inversa; composição de funções

Dada uma função real de variável real f : D ⊆ R → R, o conjunto

G (f) = {(a, f(a)) : a ∈ D}

designa-se por gráfico de f . Obviamente, este conjunto pode serrepresentado no plano e a essa representação geométrica também sechama gráfico.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 46 / 590

§1.2 Definição e exemplos de funções; função inversa; composição de funções

Exemplo

As funções afim f, g, h : R → R definidas por

f(x) = x, g(x) = 2x + 1 e h(x) = −x − 1

tem os seguintes gráficos:

1−1

1

−1

f(x) = x

g(x) = 2x + 1

h(x) = −x − 1

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 47 / 590

§1.2 Definição e exemplos de funções; função inversa; composição de funções

Exemplo

O gráfico de uma função quadrática é uma parábola. Por exemplo, afunção dada por

f(x) = x2 + x + 1

tem o seguinte gráfico

1−1

1

f(x) = x2 + x + 1

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 48 / 590

§1.2 Definição e exemplos de funções; função inversa; composição de funções

Exemplo

As função dada porf(x) = 1/x

cujo domínio é R \ {0} tem o seguinte gráfico

1−1

1

−1

f(x) =1

x

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 49 / 590

§1.2 Definição e exemplos de funções; função inversa; composição de funções

Seja f : D ⊆ R → R uma função real de variável real. Dizemos que f éinjectiva se

para quaisquer a, b ∈ D tais que a 6= b se tem f(a) 6= f(b).

A função f é sobrejectiva se

para cada b ∈ R, existe a ∈ D tal que f(a) = b.

Obviamente, uma função real de variável real é sobrejectiva se o seucontradomínio for o conjunto R dos números reais.

As funções que são injectivas e sobrejectivas dizem-se bijectivas.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 50 / 590

§1.2 Definição e exemplos de funções; função inversa; composição de funções

Exemplo

Seja f : R → R a função definida por

f(x) = 2x + 3.

Como

f(a) = f(b) ⇔ 2a + 3 = 2b + 3

⇔ 2a = 2b

⇔ a = b,

a função f é injectiva. Além disso, dado b ∈ R, fazendo a =b − 3

2temos

f(a) = f

(

b − 32

)

= 2b − 3

2+ 3 = b − 3 + 3 = b,

o que mostra que f é sobrejectiva.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 51 / 590

§1.2 Definição e exemplos de funções; função inversa; composição de funções

Exemplo

A função f : R → R definida por f(x) = x2 não é injectiva porque

f(−1) = f(1).

Além disso, também não é sobrejectiva porque o seu contradomínio é ointervalo [0, +∞[.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 52 / 590

§1.2 Definição e exemplos de funções; função inversa; composição de funções

Seja f : D ⊆ R → R uma função real de variável real injectiva. Recordemosque o conjunto de todas as imagens por f de elementos de D, ou seja, oconjunto

f(D) = {f(x) ∈ R : x ∈ D} ,

se designa por contradomínio de f . Como f é injectiva, dado y ∈ f(D), existeum e um só x ∈ D tal que

f(x) = y.

Nestas condições podemos definir a inversa da função f que a cada y ∈ f(D)faz corresponder x ∈ D tal que f(x) = y. Essa inversa representa-se por f−1 eé a função

f−1 : f(D) → R

definida porf−1(y) = x se e só se f(x) = y.

É evidente que para cada x ∈ D e para cada y ∈ f(D) se tem

f−1(f(x)) = x e f(f−1(y)) = y.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 53 / 590

§1.2 Definição e exemplos de funções; função inversa; composição de funções

Exemplo

A função f : {1, 2, 3, 4} → R definida por

f(1) = 9, f(2) = 8, f(3) = 7 e f(4) = 6

é injectiva e pode ser representada da seguinte forma:

b

b

b

b

1

2

3

4

b

b

b

b

9

8

7

6

f

f−1

e a sua inversa é a função f−1 : {6, 7, 8, 9} → R definida por

f−1(6) = 4, f−1(7) = 3, f−1(8) = 2 e f−1(9) = 1.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 54 / 590

§1.2 Definição e exemplos de funções; função inversa; composição de funções

Exemplo

Consideremos novamente a função f : R → R definida por

f(x) = 2x + 3.

Já vimos que esta função é injectiva e, consequentemente, tem inversa. Alémdisso, o contradomínio de f é R e, portanto,

f−1 : R → R.

Como

y = f(x) ⇔ y = 2x + 3

⇔ −2x = −y + 3

⇔ 2x = y − 3

⇔ x =y

2− 3

2,

f−1 é definida por

f−1(y) =y

2− 3

2ou f−1(x) =

x

2− 3

2.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 55 / 590

§1.2 Definição e exemplos de funções; função inversa; composição de funções

Exemplo (continuação)

1

2

3

−1

−2

−3

−4

1 2 3−1−2−3−4

y = 2x + 3

y =x

2− 3

2

y = x

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 56 / 590

§1.2 Definição e exemplos de funções; função inversa; composição de funções

Exemplo

Seja f : R → R a função definida por

f(x) = x2.

Esta função não é injectiva porque, por exemplo,

f(−1) = f(1) = 1.

Assim, a função f não tem inversa. No entanto, se pensarmos na restriçãodesta função a [0, +∞[, ou seja, se usarmos a função g : [0, +∞[→ R definidapor g(x) = x2, esta função já é injectiva pelo que podemos pensar na suainversa. Como o seu contradomínio é [0, +∞[ e y = x2 ⇒ x =

√y, a função

g−1 : [0, +∞[→ R

é definida porg−1(x) =

√x.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 57 / 590

§1.2 Definição e exemplos de funções; função inversa; composição de funções

Exemplo (continuação)

1

2

3

−1

−2

−3

−4

1 2 3−1−2−3−4

y = x2

y =√

x

y = x

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 58 / 590

§1.2 Definição e exemplos de funções; função inversa; composição de funções

Sejamf : Df ⊆ R → R e g : Dg ⊆ R → R

duas funções reais de variável real. A função composta de g com fé a função

g ◦ f : Dg◦f ⊆ R → R,

de domínioDg◦f = {x ∈ Df : f(x) ∈ Dg} ,

definida por(g ◦ f)(x) = g(f(x)).

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 59 / 590

§1.2 Definição e exemplos de funções; função inversa; composição de funções

Exemplo

Sejamf : R → R e g : R \ {0} → R

as funções definidas por

f(x) = x2 − 1 e g(x) =1x

.

Então g ◦ f tem por domínio o conjunto

Dg◦f = {x ∈ Df : f(x) ∈ Dg}={

x ∈ R : x2 − 1 ∈ R \ {0}}

= R \ {−1, 1}e é definida por

(g ◦ f)(x) = g(f(x)) = g(x2 − 1) =1

x2 − 1.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 60 / 590

§1.2 Definição e exemplos de funções; função inversa; composição de funções

Exemplo (continuação)

Se em vez de g ◦ f calcularmos f ◦ g temos

Df◦g = {x ∈ Dg : g(x) ∈ Df }

={

x ∈ R \ {0} :1x

∈ R

}

= R \ {0}

e(f ◦ g)(x) = f(g(x)) = f(1/x) =

1x2

− 1.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 61 / 590

§1.2 Definição e exemplos de funções; função inversa; composição de funções

Exemplo (continuação)

1

2

3

−1

−2

−3

1 2 3−1−2−3

y =1

x2 − 1

y =1

x2− 1

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 62 / 590

Índice

1 Funções reais de variável real: generalidades e exemplosO conjunto dos números reaisDefinição e exemplos de funções; função inversa; composição de funçõesFunção exponencial e função logarítmicaFunções trigonométricas e suas inversasFunções hiperbólicas

2 Funções reais de variável real: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em R

4 Primitivas

5 Cálculo integral em R

6 Sucessões e séries

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 63 / 590

§1.3 Função exponencial e função logarítmica

Dado um número real positivo a > 0, pretendemos estudar a função

f : R → R

definida porf(x) = ax,

que se designa por função exponencial de base a.

Repare-se que quando a = 1 temos a função constante

f(x) = 1x = 1.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 64 / 590

§1.3 Função exponencial e função logarítmica

Propriedades da função exponencial

Sejam x, y ∈ R e a, b ∈ ]0, +∞[. Então

a) a0 = 1

b) ax+y = ax ay

c) a−x =1ax

d) ax−y =ax

ay

e) (ax)y = axy

f) axbx = (ab)x

g) se x > y e a > 1, então ax > ay

h) se x > y e 0 < a < 1, então ax < ay

i) se a ∈ ]0, +∞[ \ {1} a função exponencial é injectiva

j) se a ∈ ]0, +∞[ \ {1} o contradomínio da função exponencial é ]0, +∞[

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 65 / 590

§1.3 Função exponencial e função logarítmica

x

y

a > 10 < a < 1

a = 1

Gráfico da função exponencial

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 66 / 590

§1.3 Função exponencial e função logarítmica

x

y

y = 2x

1

y = exy = 3x

y = 4x

Gráfico de funções exponenciais

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 67 / 590

§1.3 Função exponencial e função logarítmica

x

y

y =(

12

)x

1

y =(

13

)x

y =(

14

)x

Gráfico de funções exponenciais

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 68 / 590

§1.3 Função exponencial e função logarítmica

Quando a ∈]0, 1[ ∪ ]1, +∞[, a função exponencial ax é injectiva e, porconseguinte, tem inversa. Essa inversa chama-se logaritmo na base ae representa-se por loga.

Assim, tendo em conta que o contradomínio da função exponencial é ointervalo ]0, +∞[, temos que

loga : ]0, +∞[→ R

é a função definida por

loga x = y se e só se x = ay.

Obviamente, quando a = e temos a função logaritmo natural querepresentamos por ln.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 69 / 590

§1.3 Função exponencial e função logarítmica

Propriedades da função logarítmica

Sejam x, y ∈ R+ e a, b ∈ ]0, +∞[\ {1}. Então

a) loga (xy) = loga x + loga y

b) loga

1x

= − loga x

c) loga

x

y= loga x − loga y

d) loga (xα) = α loga x

e) loga x = logb x loga b

f) loga 1 = 0

g) se x > y e a > 1, então loga x > loga y

h) se x > y e 0 < a < 1, então loga x < loga y

i) a função logarítmica é injectiva;

j) o contradomínio da função logarítmica é R

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 70 / 590

§1.3 Função exponencial e função logarítmica

x

y

a > 1

1

0 < a < 1

Gráfico da função logaritmo de base a

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 71 / 590

§1.3 Função exponencial e função logarítmica

x

y

log2 x

1

ln x

log4 x

log1/2 x

log1/3 xlog1/4 x

Gráfico de funções logarítmicas

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 72 / 590

Índice

1 Funções reais de variável real: generalidades e exemplosO conjunto dos números reaisDefinição e exemplos de funções; função inversa; composição de funçõesFunção exponencial e função logarítmicaFunções trigonométricas e suas inversasFunções hiperbólicas

2 Funções reais de variável real: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em R

4 Primitivas

5 Cálculo integral em R

6 Sucessões e séries

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 73 / 590

§1.4 Funções trigonométricas e suas inversas

A B C

D

E

α

BE

AE=

CD

AD

AB

AE=

AC

AD

• seno:

sen α =comprimento do cateto oposto

comprimento da hipotenusa=

BE

AE=

CD

AD

• coseno:

cos α =comprimento do cateto adjacente

comprimento da hipotenusa=

AB

AE=

AC

AD

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 74 / 590

§1.4 Funções trigonométricas e suas inversas

1

1

α

α em radianos

sen α

cos α

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 75 / 590

§1.4 Funções trigonométricas e suas inversas

As funções seno e coseno, cujo domínio é o conjunto dos númerosreais, fazem corresponder a cada x ∈ R

sen x e cos x,

respectivamente. O contradomínio destas duas funções é o intervalo[−1, 1].

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 76 / 590

§1.4 Funções trigonométricas e suas inversas

x

y

−1

1

π2

π 3π2

2π− π2

−π− 3π2

−2π

Gráfico da função seno

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 77 / 590

§1.4 Funções trigonométricas e suas inversas

x

y

−1

1

π2

π 3π2

2π− π2

−π− 3π2

−2π

Gráfico da função coseno

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 78 / 590

§1.4 Funções trigonométricas e suas inversas

Outra função trigonométrica importante é a função tangente, definidapela fórmula

tg x =sen x

cos x,

que está definida para todos os pontos x tais que cos x 6= 0, ou seja, odomínio da função tangente é o conjunto

{

x ∈ R : x 6= π

2+ kπ, k ∈ Z

}

.

O seu contradomínio é o conjunto dos números reais.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 79 / 590

§1.4 Funções trigonométricas e suas inversas

x

y

π2

π 3π2

2π− π2

−π− 3π2

−2π

Gráfico da função tangente

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 80 / 590

§1.4 Funções trigonométricas e suas inversas

A função cotangente é dada pela expressão

cotg x =cos x

sen x.

O seu domínio é o conjunto

{x ∈ R : x 6= kπ, k ∈ Z}

e o contradomínio é o conjunto dos números reais.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 81 / 590

§1.4 Funções trigonométricas e suas inversas

x

y

π2

π

3π2

− π2

−π

− 3π2

−2π

Gráfico da função cotangente

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 82 / 590

§1.4 Funções trigonométricas e suas inversas

x 1

1

sen x

cos x= tg x

cos x

sen x= cotg x

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 83 / 590

§1.4 Funções trigonométricas e suas inversas

A função secante é definida por

sec x =1

cos x,

o seu domínio é o conjunto{

x ∈ R : x 6= π

2+ kπ, k ∈ Z

}

e o seu contradomínio é o conjunto

] − ∞, −1] ∪ [1, +∞[.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 84 / 590

§1.4 Funções trigonométricas e suas inversas

x

y

π2

π 3π2

2π− π2

−π− 3π2

−2π

1

−1

Gráfico da função secante

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 85 / 590

§1.4 Funções trigonométricas e suas inversas

A função cosecante é definida por

cosec x =1

sen x,

o seu domínio é o conjunto

{x ∈ R : x 6= kπ, k ∈ R}

e o seu contradomínio é o conjunto

] − ∞, −1] ∪ [1, +∞[.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 86 / 590

§1.4 Funções trigonométricas e suas inversas

x

y

π2

π 3π2

2π− π2

−π− 3π2

−2π

1

−1

Gráfico da função cosecante

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 87 / 590

§1.4 Funções trigonométricas e suas inversas

2

seno 012

√2

2

√3

21 0 -1

coseno 1

√3

2

√2

212

0 -1 0

tangente 0

√3

31

√3 n.d. 0 n.d.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 88 / 590

§1.4 Funções trigonométricas e suas inversas

Fórmula fundamental da trigonometria

sen2 x + cos2 x = 1

Desta fórmula resultam imediatamente as seguintes fórmulas

1 + tg2 x =1

cos2 xe 1 + cotg2 x =

1sen2 x

,

que podem ser reescritas da seguinte forma

1 + tg2 x = sec2 x e 1 + cotg2 x = cosec2 x.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 89 / 590

§1.4 Funções trigonométricas e suas inversas

Reduções ao primeiro quadrante

sen(−x) = − sen x

cos(−x) = cos x

sen(π/2 − x) = cos x

cos(π/2 − x) = sen x

sen(π/2 + x) = cos x

cos(π/2 + x) = − sen x

sen(π − x) = sen x

cos(π − x) = − cos x

sen(π + x) = − sen x

cos(π + x) = − cos x

1

1

xx

xx

xx

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 90 / 590

§1.4 Funções trigonométricas e suas inversas

Reduções ao primeiro quadrante (continuação)

sen(3π/2 − x) = − cos x

cos(3π/2 − x) = − sen x

sen(3π/2 + x) = − cos x

cos(3π/2 + x) = sen x

sen(2π − x) = − sen x

cos(2π − x) = cos x

sen(2π + x) = sen x

cos(2π + x) = cos x

1

1

x

x x

x

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 91 / 590

§1.4 Funções trigonométricas e suas inversas

Reduções ao primeiro quadrante (continuação)

tg(−x) = − tg(x)

cotg(−x) = − cotg(x)

tg(π/2 − x) = cotg x

cotg(π/2 − x) = tg x

tg(π/2 + x) = − cotg x

cotg(π/2 + x) = − tg x

tg(π − x) = − tg x

cotg(π − x) = − cotg x

tg(π + x) = tg x

cotg(π + x) = cotg x

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 92 / 590

§1.4 Funções trigonométricas e suas inversas

Resolução de equações trigonométricas

sen x = sen α ⇔ x = α + 2kπ ∨ x = π − α + 2kπ, k ∈ Z

cos x = cos α ⇔ x = α + 2kπ ∨ x = −α + 2kπ, k ∈ Z

tg x = tg α ⇔ x = α + kπ, k ∈ Z

cotg x = cotg α ⇔ x = α + kπ, k ∈ Z

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 93 / 590

§1.4 Funções trigonométricas e suas inversas

Fórmulas trigonométricas

sen(x + y) = sen x cos y + sen y cos x

sen(x − y) = sen x cos y − sen y cos x

cos(x + y) = cos x cos y − sen x sen y

cos(x − y) = cos x cos y + sen x sen y

sen(2x) = 2 sen x cos x

cos(2x) = cos2 x − sen2 x = 2 cos2 x − 1 = 1 − 2 sen2 x

sen x + sen y = 2 senx + y

2cos

x − y

2

sen x − sen y = 2 senx − y

2cos

x + y

2

cos x − cos y = −2 senx + y

2sen

x − y

2

cos x + cos y = 2 cosx + y

2cos

x − y

2

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 94 / 590

§1.4 Funções trigonométricas e suas inversas

A função seno não é injectiva pelo que não tem inversa. No entanto,

considerando a restrição da função seno ao intervalo[

−π

2,π

2

]

, a que se

chama restrição principal, ou seja, considerando a função

f :[

−π

2,π

2

]

→ R,

definida porf(x) = sen x,

tem-se que a função f é injectiva. À inversa desta função chama-searco seno e representa-se por arc sen. Assim,

arc sen : [−1, 1] → R

e é definida da seguinte forma

arc sen x = y se e só se x = sen y e y ∈[

−π

2,π

2

]

.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 95 / 590

§1.4 Funções trigonométricas e suas inversas

x arc sen x

0 0

1 π/2

−1 −π/2

1/2 π/6

−1/2 −π/6√

2/2 π/4

−√

2/2 −π/4√

3/2 π/3

−√

3/2 −π/3

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 96 / 590

§1.4 Funções trigonométricas e suas inversas

x

y

b

b

π2

− π2

1

−1

b

b

Gráfico da função arco seno

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 97 / 590

§1.4 Funções trigonométricas e suas inversas

Considerando a restrição da função coseno ao intervalo [0, π], ou seja, afunção

g : [0, π] → [−1, 1]

definida porg(x) = cos x,

tem-se que g é uma função injectiva. A inversa desta funçãorepresenta-se por arccos e chama-se arco coseno. Assim,

arccos : [−1, 1] → R

é a função definida por

arccosx = y se e só se x = cos y e y ∈ [0, π] .

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 98 / 590

§1.4 Funções trigonométricas e suas inversas

x arccosx

0 π/2

1 0

−1 π

1/2 π/3

−1/2 2π/3√

2/2 π/4

−√

2/2 3π/4√

3/2 π/6

−√

3/2 5π/6

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 99 / 590

§1.4 Funções trigonométricas e suas inversas

x

y

b

b

π2

π

1−1

b

b

Gráfico da função arco coseno

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 100 / 590

§1.4 Funções trigonométricas e suas inversas

Seja

h :]

−π

2,

π

2

[

→ R

a função definida porh(x) = tg x.

A função h é injectiva, pelo que h tem inversa. A inversa desta funçãorepresenta-se por arc tg e chama-se arco tangente. Assim

arc tg : R → R

é a função definida por

arc tg x = y se e só se x = tg y e y ∈]

−π

2,

π

2

[

.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 101 / 590

§1.4 Funções trigonométricas e suas inversas

x arc tg x

0 0

4

−1 −π

4√

33

π

6

−√

33

−π

6√

3

−√

3 −π

3

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 102 / 590

§1.4 Funções trigonométricas e suas inversas

x

y

π2

− π2

Gráfico da função arco tangente

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 103 / 590

§1.4 Funções trigonométricas e suas inversas

À inversa da restrição ao intervalo ]0, π[ da função cotangentechamamos arco cotangente e representamos essa função por arccotg.Assim,

arccotg : R → R

é a função definida por

arccotg x = y se e só se x = cotg y e y ∈ ]0, π[ .

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 104 / 590

§1.4 Funções trigonométricas e suas inversas

x arccotg x

2

4

−13π

4√

33

π

3

−√

33

3√

6

−√

35π

6

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 105 / 590

§1.4 Funções trigonométricas e suas inversas

x

y

π2

π

Gráfico da função arco cotangente

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 106 / 590

Índice

1 Funções reais de variável real: generalidades e exemplosO conjunto dos números reaisDefinição e exemplos de funções; função inversa; composição de funçõesFunção exponencial e função logarítmicaFunções trigonométricas e suas inversasFunções hiperbólicas

2 Funções reais de variável real: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em R

4 Primitivas

5 Cálculo integral em R

6 Sucessões e séries

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 107 / 590

§1.5 Funções hiperbólicas

As funçõessenh : R → R e cosh : R → R

definidas por

senh x =ex − e−x

2e cosh x =

ex + e−x

2

designam-se por seno hiperbólico e por coseno hiperbólico,respectivamente.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 108 / 590

§1.5 Funções hiperbólicas

senh x = y ⇔ ex − e−x

2= y

⇔ ex − e−x = 2y

⇔ ex − e−x −2y = 0

⇔ e2x −2y ex −1 = 0

⇔ ex =2y +

4y2 + 42

∨����������X

XXXXXXXXX

ex =2y −

4y2 + 42

⇔ ex = y +√

y2 + 1

⇔ x = ln(

y +√

y2 + 1)

Logo o contradomínio do seno hiperbólico é R.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 109 / 590

§1.5 Funções hiperbólicas

cosh x = y ⇔ ex + e−x

2= y

⇔ ex + e−x = 2y

⇔ ex + e−x −2y = 0

⇔ e2x −2y ex +1 = 0

⇔ ex =2y +

4y2 − 42

∨ ex =2y −

4y2 − 42

⇔ ex = y +√

y2 − 1 ∨ ex = y −√

y2 − 1

⇔ x = ln(y +√

y2 − 1) ∨ x = ln(

y −√

y2 − 1)

Assim, o contradomínio do coseno hiperbólico é o intervalo [1, +∞[.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 110 / 590

§1.5 Funções hiperbólicas

x

y

1

y = cosh x

y = senh x

Gráfico das funções seno e coseno hiperbólico

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 111 / 590

§1.5 Funções hiperbólicas

Associada a estas funções está a função tangente hiperbólica. Atangente hiperbólica é a função

tgh : R → R

definida por

tgh x =senh x

cosh x=

ex − e−x

ex + e−x=

e2x −1e2x +1

.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 112 / 590

§1.5 Funções hiperbólicas

tgh x = y ⇔ e2x −1e2x +1

= y

⇔ e2x −1 = y e2x +y

⇔ (1 − y) e2x = y + 1

⇔ e2x =y + 11 − y

⇔ x =12

ln(

y + 11 − y

)

Assim, temos de tery + 11 − y

> 0, o que é equivalente a −1 < y < 1. Logo

o contradomínio da tangente hiperbólica é o intervalo ] − 1, 1[.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 113 / 590

§1.5 Funções hiperbólicas

x

y

1

−1

Gráfico da função tangente hiperbólica

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 114 / 590

§1.5 Funções hiperbólicas

É fácil mostrar que as seguintes igualdades são válidas:

a) cosh2 x − senh2 x = 1

b) 1 − tgh2 x =1

cosh2 x

c) senh(x + y) = senh x cosh y + senh y cosh x

d) cosh(x + y) = cosh x cosh y + senh x senh y

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 115 / 590

Índice

1 Funções reais de variável real: generalidades e exemplos

2 Funções reais de variável real: limites e continuidadeBreves noções de topologia em R

Limites: definição, propriedades e exemplosLimites infinitos e limites no infinitoLimites lateraisAssímptotasFunções contínuas: definição, propriedades e exemplosPropriedades fundamentais das funções contínuas

3 Cálculo diferencial em R

4 Primitivas

5 Cálculo integral em R

6 Sucessões e séries

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 116 / 590

Índice

1 Funções reais de variável real: generalidades e exemplos

2 Funções reais de variável real: limites e continuidadeBreves noções de topologia em R

Limites: definição, propriedades e exemplosLimites infinitos e limites no infinitoLimites lateraisAssímptotasFunções contínuas: definição, propriedades e exemplosPropriedades fundamentais das funções contínuas

3 Cálculo diferencial em R

4 Primitivas

5 Cálculo integral em R

6 Sucessões e séries

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 117 / 590

§2.1 Breves noções de topologia em R

Seja A um subconjunto de R. Um ponto a ∈ R diz-se interior a A

se existir ε > 0 tal que ]a − ε, a + ε[ ⊆ A.

O ponto a diz-se exterior a A

se existir ε > 0 tal que ]a − ε, a + ε[ ∩ A = ∅

(ou seja, ]a − ε, a + ε[ ⊆ R \ A).

Um ponto diz-se fronteiro a A se não for interior, nem exterior, isto é,a é um ponto fronteiro de A

se para cada ε > 0, ]a − ε, a + ε[ ∩ A 6= ∅ e ]a − ε, a + ε[ ∩ (R \ A) 6= ∅.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 118 / 590

§2.1 Breves noções de topologia em R

0 11/2 2-1

Seja A o conjunto ]0, 1]. Então12

é um ponto interior a A,

2 é um ponto exterior a A,

−1 é um ponto exterior a A,

0 é um ponto fronteiro a A e

1 é um ponto fronteiro a A.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 119 / 590

§2.1 Breves noções de topologia em R

O conjunto dos pontos interiores a A designa-se por interior de A erepresenta-se por

int A ou A◦,

o conjunto dos pontos exteriores a A chama-se exterior de A erepresenta-se por

ext A

e o conjunto dos pontos fronteiros a A diz-se a fronteira de A erepresenta-se por

fr A.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 120 / 590

§2.1 Breves noções de topologia em R

Exemplos

a) Para o intervalo A =]0, 1] temos

int A =]0, 1[, ext A =] − ∞, 0[ ∪ ]1, +∞[ e fr A = {0, 1} .

b) Considerando o intervalo I =]a, b[, com a < b, verifica-seimediatamente que

int I =]a, b[, ext I =] − ∞, a[ ∪ ]b, +∞[ e fr I = {a, b} .

c) Os intervalos ]a, b], [a, b[ e [a, b], onde a < b, têm o mesmo interior,o mesmo exterior e a mesma fronteira que o intervalo ]a, b[.

d) intR = R, extR = ∅, frR = ∅.

e) int∅ = ∅, ext∅ = R, fr∅ = ∅.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 121 / 590

§2.1 Breves noções de topologia em R

a) Da definição resulta imediatamente que int A, ext A e fr A sãoconjuntos disjuntos dois a dois e que

R = int A ∪ ext A ∪ fr A.

b) Outra consequência imediata da definição é o seguinte

ext A = int (R \ A) e fr A = fr (R \ A) .

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 122 / 590

§2.1 Breves noções de topologia em R

Um ponto a ∈ R diz-se aderente a um subconjunto A ⊆ R

se para cada ε > 0, ]a − ε, a + ε[ ∩ A 6= ∅.

O conjuntos dos pontos aderentes de um conjunto A designa-se poraderência ou fecho de A e representa-se por

A.

Das definições resulta que

A = int A ∪ fr A

eint A ⊆ A ⊆ A.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 123 / 590

§2.1 Breves noções de topologia em R

Exemplos

a) Se A =]0, 1[, então A = [0, 1].

b) Dado I = [a, b], com a < b, temos

I = [a, b].

c) Os intervalos ]a, b[, [a, b[ e ]a, b], onde a < b, têm a mesma aderênciaque o intervalo [a, b].

d) Seja A = [1, 2[ ∪ {3, 4}. Então

A = [1, 2] ∪ {3, 4} .

e) Obviamente, R = R e ∅ = ∅.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 124 / 590

§2.1 Breves noções de topologia em R

Sejam A um subconjunto de R e a um número real. Diz-se que a é umponto de acumulação de A

se para cada ε > 0, ]a − ε, a + ε[ ∩ (A \ {a}) 6= ∅.

O conjunto dos pontos de acumulação de um conjunto A representa-sepor

A′

e designa-se por derivado. Os pontos de A que não são pontos deacumulação de A designam-se por pontos isolados.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 125 / 590

§2.1 Breves noções de topologia em R

Exemplos

a) O derivado do intervalo I = [a, b[, com a < b, é o conjuntoI ′ = [a, b].

b) Os intervalos ]a, b[, ]a, b] e [a, b], onde a < b, têm o mesmo derivadoque o intervalo [a, b[.

c) Seja A =]0, 2] ∪ {3}. Então

int A =]0, 2[,

ext A =] − ∞, 0[ ∪ ]2, 3[ ∪ ]3, +∞[,

fr A = {0, 2, 3},

A = [0, 2] ∪ {3} e

A′ = [0, 2].

d) R′ = R e ∅′ = ∅.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 126 / 590

§2.1 Breves noções de topologia em R

Um subconjunto A de R diz-se aberto se

A = int A

e diz-se fechado seA = A.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 127 / 590

§2.1 Breves noções de topologia em R

Exemplos

a) Comoint ]0, 1[=]0, 1[,

temos que ]0, 1[ é um conjunto aberto. Por outro lado,

]0, 1[ = [0, 1]

e, por conseguinte, ]0, 1[ não é fechado.

b) O intervalo [0, 1] é um conjunto fechado porque

[0, 1] = [0, 1]

e não é um conjunto aberto porque

int [0, 1] =]0, 1[.

c) Os conjuntos ∅ e R são simultaneamente abertos e fechados.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 128 / 590

Índice

1 Funções reais de variável real: generalidades e exemplos

2 Funções reais de variável real: limites e continuidadeBreves noções de topologia em R

Limites: definição, propriedades e exemplosLimites infinitos e limites no infinitoLimites lateraisAssímptotasFunções contínuas: definição, propriedades e exemplosPropriedades fundamentais das funções contínuas

3 Cálculo diferencial em R

4 Primitivas

5 Cálculo integral em R

6 Sucessões e séries

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 129 / 590

§2.2 Limites: definição, propriedades e exemplos

Sejam D um subconjunto de R, f : D → R uma função, a um ponto deacumulação de D e b ∈ R. Diz-se que b é o limite (de f) quando xtende para a, e escreve-se

limx→a

f(x) = b,

se para cada ε > 0, existe δ > 0 tal que

|f(x) − b| < ε para qualquer x ∈ D tal que 0 < |x − a| < δ.

Simbolicamente, tem-se o seguinte

limx→a

f(x) = b ⇔ ∀ε > 0 ∃δ > 0 ∀x ∈ D (0 < |x − a| < δ ⇒ |f(x) − b| < ε)

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 130 / 590

§2.2 Limites: definição, propriedades e exemplos

Tendo em conta que

0 < |x − a| < δ ⇔ x ∈ ]a − δ, a + δ[\ {a}

e que|f(x) − b| < ε ⇔ f(x) ∈ ]b − ε, b + ε[,

tem-se o seguinte

limx→a

f(x) = b

⇔ ∀ε > 0 ∃δ > 0 ∀x ∈ D (x ∈ ]a − δ, a + δ[ \ {a} ⇒ f(x) ∈ ]b − ε, b + ε[) .

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 131 / 590

§2.2 Limites: definição, propriedades e exemplos

x

y

bb

a

b

f(a)

b−ε

b+ε

b

b

a−δ a+δ

b

a−δ a a+δ

b

a−δ a a+δ

b

xa

b−ε

b+ε

b

b

a−δ a a+δ

b

a−δ a a+δ

b

a−δaa+δ

b

a−δ a a+δ

b−ε

b

b+ε

b

Interpretação geométrica do conceito de limite de uma função

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 132 / 590

§2.2 Limites: definição, propriedades e exemplos

Propriedades dos limites

Sejam D ⊆ R, f, g : D → R e a um ponto de acumulação de D. Suponhamosque existem lim

x→af(x) e lim

x→ag(x). Então

a) existe limx→a

[f(x) + g(x)] e

limx→a

[f(x) + g(x)] = limx→a

f(x) + limx→a

g(x);

b) existe limx→a

[f(x)g(x)] e

limx→a

[f(x)g(x)] =[

limx→a

f(x)]

.[

limx→a

g(x)]

;

c) se limx→a

g(x) 6= 0, existe limx→a

f(x)g(x)

e

limx→a

f(x)g(x)

=limx→a

f(x)

limx→a

g(x).

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 133 / 590

§2.2 Limites: definição, propriedades e exemplos

Propriedades dos limites (continuação)

Sejam D ⊆ R, f, g : D ⊆ R → R e a um ponto de acumulação de D.Suponhamos que

limx→a

f(x) = 0

e que g é uma função limitada em D ∩ ]a − δ, a + δ[ para algum δ > 0,isto é, existe c > 0 tal que

|g(x)| 6 c para qualquer x ∈ ]a − δ, a + δ[ ∩ D.

Entãolimx→a

[f(x).g(x)] = 0.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 134 / 590

§2.2 Limites: definição, propriedades e exemplos

Propriedades dos limites (continuação)

Sejam f : Df ⊆ R → R, g : Dg ⊆ R → R duas funções reais de variávelreal. Suponhamos que a ∈ R é um ponto de acumulação de Df e queb ∈ Dg é um ponto de acumulação de Dg. Se

limx→a

f(x) = b e limx→b

g(x) = g(b),

entãolimx→a

(g ◦ f)(x) = limx→a

g(f(x)) = g(b).

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 135 / 590

§2.2 Limites: definição, propriedades e exemplos

Um dos limites mais conhecidos é o seguinte

limx→0

ex −1x

= 1.

A partir deste limite podemos calcular limx→0

ln(1 + x)x

. Fazendo a

mudança de variável ln(1 + x) = y, tem-se x = ey −1 e quando x → 0

tem-se y → 0. Assim,

limx→0

ln(1 + x)x

= limy→0

y

ey −1= lim

y→0

1ey −1

y

=11

= 1.

Logo

limx→0

ln(1 + x)x

= 1.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 136 / 590

§2.2 Limites: definição, propriedades e exemplos

Outro limite bastante importante é o seguinte:

limx→0

sen x

x= 1.

Usando este limite podemos calcular vários outros limites. Porexemplo,

limx→0

tg x

x= lim

x→0

sen xcos x

x= lim

x→0

1cos x

sen x

x=

11

1 = 1.

Portanto

limx→0

tg x

x= 1.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 137 / 590

§2.2 Limites: definição, propriedades e exemplos

Vejamos que

limx→0

1 − cos x

x2=

12

.

De facto,

limx→0

1 − cos x

x2= lim

x→0

(1 − cos x)(1 + cos x)x2(1 + cos x)

= limx→0

1 − cos2 x

x2

1(1 + cos x)

= limx→0

sen2 x

x2

1(1 + cos x)

= limx→0

(

sen x

x

)2 1(1 + cos x)

= 12 12

=12

.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 138 / 590

§2.2 Limites: definição, propriedades e exemplos

Provemos que

limx→0

arc sen x

x= 1 e lim

x→0

arc tg x

x= 1 .

No primeiro limite fazemos a mudança de variável arc sen x = y eobtemos

limx→0

arc sen x

x= lim

y→0

y

sen y= lim

y→0

1sen y

y

=11

= 1.

Para o segundo limite fazemos a mudança de variável y = arctg x e vem

limx→0

arc tg x

x= lim

y→0

y

tg y= lim

y→0

1tg yy

=11

= 1.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 139 / 590

Índice

1 Funções reais de variável real: generalidades e exemplos

2 Funções reais de variável real: limites e continuidadeBreves noções de topologia em R

Limites: definição, propriedades e exemplosLimites infinitos e limites no infinitoLimites lateraisAssímptotasFunções contínuas: definição, propriedades e exemplosPropriedades fundamentais das funções contínuas

3 Cálculo diferencial em R

4 Primitivas

5 Cálculo integral em R

6 Sucessões e séries

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 140 / 590

§2.3 Limites infinitos e limites no infinito

Sejam D um subconjunto de R, f : D → R uma função e a um pontode acumulação de D. Diz-se que

f tende para +∞ quando x tende para a,

e escreve-selimx→a

f(x) = +∞,

se para cada L > 0, existe δ > 0 tal que

f(x) > L para qualquer x ∈ D tal que 0 < |x − a| < δ.

Simbolicamente,

limx→a

f(x) = +∞ ⇔ ∀L > 0 ∃δ > 0 ∀x ∈ D (0 < |x − a| < δ ⇒ f(x) > L) .

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 141 / 590

§2.3 Limites infinitos e limites no infinito

Sejam D um subconjunto de R não majorado, f : D → R uma função eb ∈ R. Dizemos que

f tende para b quando x tende para +∞,

e escreve-selim

x→+∞f(x) = b,

se para cada ε > 0, existe M > 0 tal que

|f(x) − b| < ε para qualquer x ∈ D tal que x > M .

Simbolicamente,

limx→+∞

f(x) = b ⇔ ∀ε > 0 ∃M > 0 ∀x ∈ D (x > M ⇒ |f(x) − b| < ε) .

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 142 / 590

§2.3 Limites infinitos e limites no infinito

Sejam D um subconjunto de R não majorado e f : D → R uma função.Diz-se que

f tende para +∞ quando x tende para +∞,

e escreve-selim

x→+∞f(x) = +∞,

se para cada L > 0, existe M > 0 tal que

f(x) > L para qualquer x ∈ D tal que x > M .

Formalmente,

limx→+∞

f(x) = +∞ ⇔ ∀L > 0 ∃M > 0 ∀x ∈ D (x > M ⇒ f(x) > L) .

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 143 / 590

§2.3 Limites infinitos e limites no infinito

A partir dos três limites anteriores podemos definir os restantes casos.Assim,

• limx→a

f(x) = −∞ se limx→a

−f(x) = +∞

• limx→−∞

f(x) = b se limx→+∞

f(−x) = b

• limx→+∞

f(x) = −∞ se limx→+∞

−f(x) = +∞

• limx→−∞

f(x) = +∞ se limx→+∞

f(−x) = +∞

• limx→−∞

f(x) = −∞ se limx→+∞

−f(−x) = +∞

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 144 / 590

§2.3 Limites infinitos e limites no infinito

Nos limites infinitos podemos usar a regra do limite da soma desde quese adoptem as convenções

(+∞) + a = +∞ = a + (+∞)

(−∞) + a = −∞ = a + (−∞)

(+∞) + (+∞) = +∞(−∞) + (−∞) = −∞

onde a é um número real qualquer.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 145 / 590

§2.3 Limites infinitos e limites no infinito

Adoptando as convenções que se seguem, podemos usar a regra dolimite do produto:

(+∞) × a = +∞ = a × (+∞) onde a ∈ R+

(−∞) × a = −∞ = a × (−∞) onde a ∈ R+

(+∞) × a = −∞ = a × (+∞) onde a ∈ R−

(−∞) × a = +∞ = a × (−∞) onde a ∈ R−

(+∞) × (+∞) = +∞ = (−∞) × (−∞)

(+∞) × (−∞) = −∞ = (−∞) × (+∞)

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 146 / 590

§2.3 Limites infinitos e limites no infinito

A regra do limite do quociente mantém-se se se adoptarem as seguintesconvenções

a

+∞ =a

−∞ = 0, a ∈ R

a

0+= +∞, a > 0

a

0+= −∞, a < 0

a

0−= −∞, a > 0

a

0−= +∞, a < 0

onde 0+ significa que

f(x) → 0 e f(x) > 0 na intersecção do domínio com um intervalo aberto quecontém o ponto em que estamos a calcular o limite

e 0− significa que

f(x) → 0 e f(x) < 0 na intersecção do domínio com um intervalo aberto quecontém o ponto em que estamos a calcular o limite.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 147 / 590

§2.3 Limites infinitos e limites no infinito

Não se faz nenhuma convenção para os símbolos

(+∞) + (−∞),

0 × (+∞), 0 × (−∞),

+∞+∞ ,

+∞−∞ ,

−∞+∞ ,

−∞−∞

00

pois são símbolos de indeterminação.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 148 / 590

§2.3 Limites infinitos e limites no infinito

Exemplos

a) É óbvio quelim

x→+∞x = +∞

elim

x→−∞x = −∞.

b) Seja f : R \ {0} → R a função definida por f(x) =1x

. Então

limx→+∞

1x

=1

+∞ = 0

e= lim

x→−∞1x

=1

−∞ = 0.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 149 / 590

§2.3 Limites infinitos e limites no infinito

Exemplos (continuação)

c) Seja f : R → R definida por

f(x) =

x − 1

2x + 1se x > 0,

−2x2 + 3

3x2 + 8se x < 0.

Então

limx→+∞

f(x) = limx→+∞

x − 1

2x + 1= lim

x→+∞

x(

1 −1

x

)

x(

2 +1

x

) = limx→+∞

1 −1

x

2 +1

x

=1

2

e

limx→−∞

f(x) = limx→−∞

−2x2 + 3

3x2 + 8= lim

x→−∞

x2(

−2 +3

x2

)

x2

(

3 +8

x2

) = limx→−∞

−2 +3

x2

3 +8

x2

= −2

3.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 150 / 590

§2.3 Limites infinitos e limites no infinito

Vejamos

limx→+∞

(

1 +1x

)x

= e .

Comecemos por observar que

limx→+∞

ln[(

1 +1x

)x]

= limx→+∞

x ln(

1 +1x

)

= limx→+∞

ln(

1 + 1x

)

1/x

e que fazendo a mudança de variável y = 1/x temos

limx→+∞

ln[(

1 +1x

)x]

= limy→0

ln (1 + y)y

= 1.

Assim,

limx→+∞

(

1 +1x

)x

= limx→+∞

eln[(1+ 1x )x] = e

limx→+∞

ln[(1+ 1x)x]

= e1 = e .

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 151 / 590

§2.3 Limites infinitos e limites no infinito

Outros limites importantes são os seguintes

limx→+∞

ax =

+∞ se a > 1

0 se 0 < a < 1

e

limx→−∞

ax =

0 se a > 1

+ ∞ se 0 < a < 1.

Destes limites resulta que

limx→+∞

ln x = +∞ e limx→0

ln x = −∞ .

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 152 / 590

Índice

1 Funções reais de variável real: generalidades e exemplos

2 Funções reais de variável real: limites e continuidadeBreves noções de topologia em R

Limites: definição, propriedades e exemplosLimites infinitos e limites no infinitoLimites lateraisAssímptotasFunções contínuas: definição, propriedades e exemplosPropriedades fundamentais das funções contínuas

3 Cálculo diferencial em R

4 Primitivas

5 Cálculo integral em R

6 Sucessões e séries

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 153 / 590

§2.4 Limites laterais

Sejam A um subconjunto de D ⊆ R, a um ponto de acumulação de A e

f : D → R.

Chama-se limite de f no ponto a relativo a A (ou limite quandox tende para a no conjunto A) ao limite em a (quando exista) darestrição de f a A e usa-se a notação

limx→ax∈A

f(x).

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 154 / 590

§2.4 Limites laterais

É evidente que se existelimx→a

f(x),

então também existelimx→ax∈A

f(x)

para qualquer subconjunto A de D do qual a é ponto de acumulação deA e

limx→ax∈A

f(x) = limx→a

f(x).

Assim, se existirem dois limites relativos distintos, o limite não existe.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 155 / 590

§2.4 Limites laterais

Exemplo

Consideremos a função f : R → R definida por

f(x) =

{

1 se x ∈ Q,

0 se x ∈ R \ Q.

Entãolimx→ax∈Q

f(x) = 1

elimx→a

x∈R\Qf(x) = 0

qualquer que seja a ∈ R. Logo não existe

limx→a

f(x).

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 156 / 590

§2.4 Limites laterais

Seja f : D ⊆ R → R e consideremos os conjuntos

D+a = {x ∈ D : x > a} = D∩ ]a, +∞[

eD−

a = {x ∈ D : x < a} = D∩ ] − ∞, a[.

Definem-se, respectivamente, os limites laterais à direita e àesquerda da seguinte forma

limx→a+

f(x) = limx→a

x∈D+a

f(x)

elim

x→a−

f(x) = limx→a

x∈D−

a

f(x),

desde que a seja ponto de acumulação de D+a e de D−

a , respectivamente.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 157 / 590

§2.4 Limites laterais

Exemplo

Seja f : R → R a função dada por

f(x) =

{

1 se x > 0,

0 se x < 0.

Esta função é conhecida por função de Heaviside. É óbvio que

limx→0

x∈]0,+∞[

f(x) = limx→0+

f(x) = 1

elimx→0

x∈]−∞,0[

f(x) = limx→0−

f(x) = 0.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 158 / 590

§2.4 Limites laterais

Observações

a) É óbvio que limx→ax∈A

f(x) = b é equivalente a

∀ε > 0 ∃δ > 0 ∀x ∈ A (0 < |x − a| < δ ⇒ |f(x) − b| < ε) .

b) Comox ∈ D−

a e 0 < |x − a| < δ

é equivalente ax ∈ D e − δ < x − a < 0

e, portanto, limx→a−

f(x) = b é equivalente a

∀ε > 0 ∃δ > 0 ∀x ∈ D (−δ < x − a < 0 ⇒ |f(x) − b| < ε) .

Analogamente, limx→a+

f(x) = b é equivalente a

∀ε > 0 ∃δ > 0 ∀x ∈ D (0 < x − a < δ ⇒ |f(x) − b| < ε) .

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 159 / 590

§2.4 Limites laterais

Também existem limites laterais para limites infinitos:

limx→a−

f(x) = +∞

⇔ ∀L > 0 ∃δ > 0 ∀x ∈ D (−δ < x − a < 0 ⇒ f(x) > L)

caso a seja um ponto da acumulação de D−a e

limx→a+

f(x) = +∞

⇔ ∀L > 0 ∃δ > 0 ∀x ∈ D (0 < x − a < δ ⇒ f(x) > L)

quando a é um ponto de acumulação de D+a .

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 160 / 590

§2.4 Limites laterais

Usando os limites anteriores podemos definir os seguintes limites:

• limx→a−

f(x) = −∞ se limx→a−

−f(x) = +∞;

• limx→a+

f(x) = −∞ se limx→a+

−f(x) = +∞.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 161 / 590

§2.4 Limites laterais

Propriedade dos limites laterais

Sejam D ⊆ R, f : D → R e a um ponto de acumulação de D+a e D−

a .Então

limx→a

f(x) = b,

onde b ∈ R ou b = +∞ ou b = −∞, se e só se existem e são iguais a bos limites laterais, ou seja,

limx→a−

f(x) = limx→a+

f(x) = b.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 162 / 590

§2.4 Limites laterais

Exemplos

a) É evidente que

limx→0+

1x

=1

0+= +∞

e que

limx→0−

1x

=1

0− = −∞.

b) Também se tem

limx→0+

1x2

=1

(0+)2=

10+

= +∞

elim

x→0−

1x2

=1

(0−)2=

10+

= +∞.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 163 / 590

§2.4 Limites laterais

Vejamos que

limx→ π

2−

tg x = +∞ e limx→ π

2+

tg x = −∞ .

De facto,

limx→ π

2−

tg x = limx→ π

2−

sen x

cos x=

10+

= +∞

elim

x→ π2

+tg x = lim

x→ π2

+

sen x

cos x=

10− = −∞.

De forma análoga temos

limx→− π

2+

tg x = −∞ e limx→− π

2−

tg x = +∞ .

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 164 / 590

§2.4 Limites laterais

Delim

x→ π2

tg x = +∞ e limx→− π

2+

tg x = −∞

conclui-se imediatamente que

limx→+∞

arc tg x =π

2

e

limx→−∞

arc tg x = −π

2.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 165 / 590

Índice

1 Funções reais de variável real: generalidades e exemplos

2 Funções reais de variável real: limites e continuidadeBreves noções de topologia em R

Limites: definição, propriedades e exemplosLimites infinitos e limites no infinitoLimites lateraisAssímptotasFunções contínuas: definição, propriedades e exemplosPropriedades fundamentais das funções contínuas

3 Cálculo diferencial em R

4 Primitivas

5 Cálculo integral em R

6 Sucessões e séries

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 166 / 590

§2.5 Assímptotas

y = f(x)

y = mx + bd

d = f(x) − (mx + b)

limx→+∞

[f(x) − (mx + b)] = 0

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 167 / 590

§2.5 Assímptotas

Sejam D um subconjunto não majorado e f : D → R uma função. Arecta de equação y = mx + b diz-se uma assímptota não vertical àdireita do gráfico de f se

limx→+∞

[f(x) − (mx + b)] = 0.

Se D é um subconjunto não minorado e f : D → R é uma função,diz-se que a recta de equação y = mx + b é uma assímptota nãovertical à esquerda do gráfico de f se

limx→−∞

[f(x) − (mx + b)] = 0.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 168 / 590

§2.5 Assímptotas

Assímptotas não verticais à direita

Sejam D um subconjunto de R não majorado e f : D → R uma função.Para que o gráfico de f tenha uma assímptota não vertical à direita énecessário e suficiente que existam e sejam finitos os limites

a) limx→+∞

f(x)x

(que designaremos por m),

b) limx→+∞

[f(x) − mx].

Verificadas estas condições, e designando por b o segundo limite,assímptota à direita do gráfico de f tem a equação

y = mx + b.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 169 / 590

§2.5 Assímptotas

Assímptotas não verticais à esquerda

Sejam D um subconjunto de R não minorado e f : D → R uma função.Para que o gráfico de f tenha uma assímptota não vertical à esquerda énecessário e suficiente que existam e sejam finitos os limites

a) limx→−∞

f(x)x

(que designaremos por m),

b) limx→−∞

[f(x) − mx].

Verificadas estas condições, e designando por b o segundo limite,assímptota à esquerda do gráfico de f tem a equação

y = mx + b.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 170 / 590

§2.5 Assímptotas

Assim, para calcularmos uma assímptota não vertical à direita temosde calcular os seguintes limites

m = limx→+∞

f(x)x

e b = limx→+∞

[f(x) − mx]

e se estes limites existirem e forem finitos, a assímptota é a recta deequação y = mx + b. Para as assímptotas não verticais à esquerdatemos de calcular os limites

m = limx→−∞

f(x)x

e b = limx→−∞

[f(x) − mx]

e caso existam e sejam finitos ambos os limites, a assímptota é a rectade equação y = mx + b.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 171 / 590

§2.5 Assímptotas

Diz-se que a recta de equação x = a é uma assímptota vertical aográfico de f se pelo menos umas das seguintes condições se verificar:

limx→a+

f(x) = +∞, limx→a+

f(x) = −∞,

limx→a−

f(x) = +∞ ou limx→a−

f(x) = −∞.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 172 / 590

§2.5 Assímptotas

y = f(x)

a

A recta de equação x = a é uma assímptota vertical ao gráfico de f

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 173 / 590

Índice

1 Funções reais de variável real: generalidades e exemplos

2 Funções reais de variável real: limites e continuidadeBreves noções de topologia em R

Limites: definição, propriedades e exemplosLimites infinitos e limites no infinitoLimites lateraisAssímptotasFunções contínuas: definição, propriedades e exemplosPropriedades fundamentais das funções contínuas

3 Cálculo diferencial em R

4 Primitivas

5 Cálculo integral em R

6 Sucessões e séries

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 174 / 590

§2.6 Funções contínuas: definição, propriedades e exemplos

Sejam D um subconjunto de R, f : D → R uma função e a ∈ D. Diz-seque f é contínua no ponto a se para cada ε > 0, existir δ > 0 tal que

|f(x) − f(a)| < ε para qualquer x ∈ D tal que |x − a| < δ.

Simbolicamente,

f é contínua em a

⇔ ∀ε > 0 ∃δ > 0 ∀x ∈ D (|x − a| < δ ⇒ |f(x) − f(a)| < ε) .

Dizemos que a ∈ D é um ponto de descontinuidade de f se f não écontínua em a.

Uma função f : D → R é contínua se for contínua em todos os pontosde D.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 175 / 590

§2.6 Funções contínuas: definição, propriedades e exemplos

x

y

a

f(a)

f(a)−ε

f(a)+ε

f(a)

a−δ a+δa−δ a a+δa−δ a a+δ xa

f(a)−ε

f(a)+ε

f(a)

a−δ a a+δa−δ a a+δa−δaa+δa−δ a a+δ

f(a)−ε

f(a)

f(a)+ε

Interpretação geométrica do conceito de função contínua num ponto

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 176 / 590

§2.6 Funções contínuas: definição, propriedades e exemplos

Observações

a) Ao contrário do que acontece na definição de limite, só faz sentidoconsiderar pontos do domínio D quando estamos a investigar acontinuidade de uma função.

b) Se a é um ponto isolado de D, então a função f : D → R é contínuaem a. De facto, dado ε > 0, basta escolher δ > 0 tal que

]a − δ, a + δ[ ∩ D = {a} .

Assim, a condição x ∈ D ∧ |x − a| < δ é equivalente a x = a e, porconseguinte,

|f(x) − f(a)| = 0 < ε.

c) Se a ∈ D é um ponto de acumulação de D, então f : D → R écontínua em a se e só se

limx→a

f(x) = f(a).

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 177 / 590

§2.6 Funções contínuas: definição, propriedades e exemplos

Propriedades da continuidade

a) Sejam f, g : D ⊆ R → R duas funções contínuas em a ∈ D. Então

f + g, f − g e fg são contínuas em a

e se g(a) 6= 0 entãof

gé contínua em a.

b) Sejam f : Df ⊆ R → R e g : Dg ⊆ R → R duas funções. Se f écontínua em a ∈ Df e g é contínua em f(a) ∈ Dg, então

g ◦ f é contínua em a.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 178 / 590

§2.6 Funções contínuas: definição, propriedades e exemplos

Exemplos

a) As funções constante são contínuas.

b) A função f : R → R definida por f(x) = x é contínua. Esta funçãodesigna-se por identidade.

c) As funções polinomiais, ou seja, as funções f : R → R definidas por

f(x) = anxn + an−1xn−1 + · · · + a1x + a0,

onde n ∈ N e a0, a1, . . . , an−1, an ∈ R, são funções contínuas.

d) As funções racionais, ou seja, as funções dadas por

f(x) =anxn + an−1xn−1 + · · · + a1x + a0

bmxm + bm−1xm−1 + · · · + b1x + b0,

onde m, n ∈ N, a0, a1, . . . , an−1, b0, b1, . . . , bm−1 ∈ R e an, bm ∈ R \ {0},são funções contínuas.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 179 / 590

§2.6 Funções contínuas: definição, propriedades e exemplos

Exemplos (continuação)

e) A função f : R → R dada por f(x) = |x| é contínua.

f) A função f : [0, +∞[→ R dada por f(x) =√

x é contínua.

g) As funções exponencial e logarítmica são funções contínuas.

h) As funções trigonométricas são funções contínuas.

i) As inversas das funções trigonométricas são funções contínuas.

j) As funções hiperbólicas são funções contínuas.

k) A função definida por

f(x) = sen(

ex2−x +

ln(x − 2)arc tg(x − 5)

)

é uma função contínua pois é a composição de funções contínuas.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 180 / 590

§2.6 Funções contínuas: definição, propriedades e exemplos

Exemplos (continuação)

k) A função f : R → R definida por

f(x) =

{

1 se x > 00 se x < 0

não é contínua em x = 0 porque não existe limx→0

f(x). Obviamente, a

função é contínua em para qualquer x ∈ R \ {0}.

l) Seja f : R → R a função definida por

f(x) =

{ sen x

xse x 6= 0

0 se x = 0

Então f não é contínua em x = 0 porque

limx→0

f(x) = limx→0

sen x

x= 1 6= f(0) = 0.

É claro que a função é contínua em para qualquer x ∈ R \ {0}.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 181 / 590

§2.6 Funções contínuas: definição, propriedades e exemplos

Sejam f : D → R e a ∈ D. Diz-se que a função f é contínua em a àdireita se

a restrição de f a D ∩ [a, +∞[ é contínua em a.

A função diz-se contínua em a à esquerda se

a restrição de f a D ∩ ] − ∞, a] é contínua em a.

Assim, f é contínua à direita em a se e só se

∀ε > 0 ∃δ > 0 ∀x ∈ D (0 6 x − a < δ ⇒ |f(x) − f(a)| < ε) ,

e é contínua à esquerda em a se e só se

∀ε > 0 ∃δ > 0 ∀x ∈ D (−δ < x − a 6 0 ⇒ |f(x) − f(a)| < ε) .

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 182 / 590

§2.6 Funções contínuas: definição, propriedades e exemplos

Obviamente, se a é um ponto de acumulação de D ∩ ]a, +∞[, então

f é contínua à direita em a ⇔ limx→a+

f(x) = f(a)

e caso a seja um ponto de acumulação de D ∩ ] − ∞, a[ temos

f é contínua à esquerda em a ⇔ limx→a−

f(x) = f(a).

Propriedade

Sejam f : D ⊆ R → R e a ∈ D. Então f é contínua em a se e só se écontínua à esquerda e à direita em a.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 183 / 590

Índice

1 Funções reais de variável real: generalidades e exemplos

2 Funções reais de variável real: limites e continuidadeBreves noções de topologia em R

Limites: definição, propriedades e exemplosLimites infinitos e limites no infinitoLimites lateraisAssímptotasFunções contínuas: definição, propriedades e exemplosPropriedades fundamentais das funções contínuas

3 Cálculo diferencial em R

4 Primitivas

5 Cálculo integral em R

6 Sucessões e séries

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 184 / 590

§2.7 Propriedades fundamentais das funções contínuas

Teorema de Bolzano ou dos valores intermédios

Sejam a e b números reais tais que a < b e

f : [a, b] → R

uma função contínua tal que

f(a) 6= f(b).

Então para qualquer valor k entre f(a) e f(b), existe um pontoc ∈ [a, b] tal que

f(c) = k.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 185 / 590

§2.7 Propriedades fundamentais das funções contínuas

x

y

b

b

b

b

a

f(a)

b

f(b)

k b

c

Interpretação geométrica do Teorema de Bolzano

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 186 / 590

§2.7 Propriedades fundamentais das funções contínuas

Corolário dos valores intermédios ou de Bolzano

Sejam a e b números reais tais que a < b e seja

f : [a, b] → R

uma função contínua tal que

f(a).f(b) < 0.

Então existec ∈]a, b[

tal quef(c) = 0.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 187 / 590

§2.7 Propriedades fundamentais das funções contínuas

x

y

b

b

b

b

a

f(a)

b

f(b)

bc1

bc2

bc3

Interpretação geométrica do Corolário do Teorema de Bolzano

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 188 / 590

§2.7 Propriedades fundamentais das funções contínuas

Exemplos

Provemos que a função f : [0, 1] → R definida por

f(x) = cos(

πx

2

)

− x2

tem (pelo menos) um zero em [0, 1]. Obviamente, esta função écontínua pois é a composição de funções contínuas. Como

f(0)f(1) =(

cos (0) − 02)

(

cos(

π

2

)

− 12)

= 1(−1) = −1,

pelo (Corolário do) Teorema de Bolzano, f tem de ter pelo menos umzero no intervalo ]0, 1[.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 189 / 590

§2.7 Propriedades fundamentais das funções contínuas

Exemplos (continuação)

Consideremos uma função polinomial

p(x) = anxn + an−1xn−1 + · · · + a1x + a0,

an 6= 0, de grau ímpar, ou seja, n é um número natural ímpar. Como

limx→+∞

p(x) = limx→+∞

xn(

an +an−1

x+ · · · +

a1

xn−1+

a0

xn

)

=

{

+∞ se an > 0,

− ∞ se an < 0,

e

limx→−∞

p(x) = limx→−∞

xn(

an +an−1

x+ · · · +

a1

xn−1+

a0

xn

)

=

{

−∞ se an > 0,

+ ∞ se an < 0,

existem números reais a e b tais que p(a) < 0 e p(b) > 0. Acontinuidade de p implica, pelo Teorema de Bolzano, que p tem de terum zero entre a e b. Assim, todos os polinómios de grau ímpar têmpelo menos um zero (real)!

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 190 / 590

§2.7 Propriedades fundamentais das funções contínuas

Seja f : D ⊆ R → R uma função definida num subconjunto não vazioD.

Dizemos que f tem um máximo (absoluto) no ponto a ∈ D ou quef(a) é um máximo (absoluto) de f se

f(x) 6 f(a) para todo o x ∈ D.

Quandof(x) > f(a) para todo o x ∈ D,

dizemos que f tem um mínimo (absoluto) no ponto a ∈ D ou quef(a) é um mínimo (absoluto) de f .

Os máximos e mínimos (absolutos) de f dizem-se extremosabsolutos de f .

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 191 / 590

§2.7 Propriedades fundamentais das funções contínuas

Teorema de Weierstrass

Sejam D ⊆ R um conjunto não vazio, fechado e limitado e

f : D → R

uma função contínua. Então f tem máximo e mínimo absolutos.

Corolário

Sejam a e b números reais tais que a < b e

f : [a, b] → R

uma função contínua. Então f tem máximo e mínimo absolutos.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 192 / 590

§2.7 Propriedades fundamentais das funções contínuas

Exemplo

Seja f : [1, 5] → R a função definida por

f(x) =

x − 1 se x ∈ [1, 3],

e2x−6 −1x − 3

se x ∈]3, 5].

Comolim

x→3−

f(x) = limx→3−

x − 1 = 2

e

limx→3+

f(x) = limx→3+

e2x−6 −1x − 3

= limx→3+

e2(x−3) −12(x − 3)

2 = 1.2 = 2,

temos limx→3

f(x) = 2 = f(3). Assim, f é contínua no ponto x = 3. Além disso,

em [1, 5] \ {3} a função é contínua pois é a composição de funções contínuas.Pelo Teorema de Weierstrass, f tem máximo e mínimo absolutos em [1, 5].

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 193 / 590

Índice

1 Funções reais de variável real: generalidades e exemplos

2 Funções reais de variável real: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em R

Derivadas: definição, regras de derivação e exemplosTeoremas de Rolle, de Lagrange e de CauchyDerivadas de ordem superior e fórmula de TaylorAplicações do cálculo diferencial

4 Primitivas

5 Cálculo integral em R

6 Sucessões e séries

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 194 / 590

Índice

1 Funções reais de variável real: generalidades e exemplos

2 Funções reais de variável real: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em R

Derivadas: definição, regras de derivação e exemplosTeoremas de Rolle, de Lagrange e de CauchyDerivadas de ordem superior e fórmula de TaylorAplicações do cálculo diferencial

4 Primitivas

5 Cálculo integral em R

6 Sucessões e séries

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 195 / 590

§3.1 Derivadas: definição, regras de derivação e exemplos

Sejam D um subconjunto não vazio de R, f : D → R e a ∈ D umponto de acumulação de D. Diz-se que f é derivável oudiferenciável em a se existe (e é finito) o limite:

limx→a

f(x) − f(a)x − a

.

Tal limite (quando existe) diz-se a derivada de f no ponto a e

representa-se por f ′(a), Df(a) ou ainda pordf

dx(a). Fazendo a

mudança de variável x = a + h, temos

f ′(a) = limh→0

f(a + h) − f(a)h

.

Aqui têm apenas de se considerar os valores de h tais que a + h ∈ D.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 196 / 590

§3.1 Derivadas: definição, regras de derivação e exemplos

Diz-se que a função f : D → R é derivável ou diferenciável em D sefor derivável em todo o ponto de D e à nova função

f ′ : D → R,

que a cada ponto x ∈ D faz corresponder f ′(x), chama-se derivada de

f e representa-se também por Df oudf

dx.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 197 / 590

§3.1 Derivadas: definição, regras de derivação e exemplos

O quocientef(a + h) − f(a)

hrepresenta o declive da recta que passa pelos pontos

(a, f(a)) e (a + h, f(a + h)) .

Fazendo h tender para zero, a recta que passa nos pontos

(a, f(a)) e (a + h, f(a + h)) ,

vai tender para a recta tangente ao gráfico de f e que passa no ponto(a, f(a)). Assim, geometricamente, a derivada de uma função numponto do domínio é o declive da recta tangente ao gráfico da função noponto considerado. Portanto, a recta tangente ao gráfico de umafunção f no ponto (a, f(a)) é a recta de equação

y = f(a) + f ′(a)(x − a).

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 198 / 590

§3.1 Derivadas: definição, regras de derivação e exemplos

b

a

f(a)

b

a + h

f(a + h)

b

b

a

f(a)

b

b

bb

a + h

f(a + h)

b

b

a

f(a) b

bb

b

a + h

f(a + h)

b

b

a

f(a) b

bb

b

b

a + h

f(a + h)

b

b

b

y = f(a) + f ′(a)(x − a)

α

f ′(a) = tg α

Interpretação geométrica do conceito de derivada

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 199 / 590

§3.1 Derivadas: definição, regras de derivação e exemplos

Exemplos – funções constante

Seja f : R → R a função definida por

f(x) = c,

onde c é um número real. Então

f ′(x) = limh→0

f(x + h) − f(x)h

= limh→0

c − c

h= lim

h→0

0h

= limh→0

0 = 0

para cada x ∈ R. Assim, f ′ é a função identicamente nula.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 200 / 590

§3.1 Derivadas: definição, regras de derivação e exemplos

Exemplos – função identidade

Consideremos a função f : R → R definida por

f(x) = x.

Então, para cada x ∈ R, temos

f ′(x) = limh→0

f(x + h) − f(x)h

= limh→0

x + h − x

h= lim

h→0

h

h= lim

h→01 = 1

e, portanto, f ′ : R → R é dada por

f ′(x) = 1.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 201 / 590

§3.1 Derivadas: definição, regras de derivação e exemplos

Exemplos – função exponencial

Seja f : R → R a função dada por

f(x) = ex .

Então

f ′(x) = limh→0

f(x + h) − f(x)h

= limh→0

ex+h − ex

h

= limh→0

ex eh −1h

= ex .

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 202 / 590

§3.1 Derivadas: definição, regras de derivação e exemplos

Exemplos – função logaritmo natural

Seja f : ]0, +∞[ → R a função dada por f(x) = ln x. Então

f ′(x) = limh→0

f(x + h) − f(x)h

= limh→0

ln(x + h) − ln x

h

= limh→0

lnx + h

xh

= limh→0

ln(

1 +h

x

)

h/x

1x

=1x

.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 203 / 590

§3.1 Derivadas: definição, regras de derivação e exemplos

Exemplos

A função f : R → R definida por f(x) = sen x é derivável paraqualquer x ∈ R. De facto,

f ′(x) = limh→0

f(x + h) − f(x)h

= limh→0

sen (x + h) − sen x

h

= limh→0

2 senx + h − x

2cos

x + h + x

2h

= limh→0

sen h/2h/2

cos2x + h

2= cos x,

o que mostra que (sen x)′ = cos x.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 204 / 590

§3.1 Derivadas: definição, regras de derivação e exemplos

Exemplos

Consideremos a função f : R → R dada por f(x) = cos x. Atendendo aque

f ′(x) = limh→0

f(x + h) − f(x)h

= limh→0

cos (x + h) − cos x

h

= limh→0

−2 senx + h + x

2sen

x + h − x

2h

= limh→0

− sen2x + h

2sen h/2

h/2= − sen x,

temos que (cos x)′ = − sen x.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 205 / 590

§3.1 Derivadas: definição, regras de derivação e exemplos

Sejam f : D → R e a ∈ D tal que a é ponto de acumulação de

D−a = {x ∈ D : x < a} = D ∩ ] − ∞, a[.

Diz-se que f é derivável (ou diferenciável) à esquerda em a seexiste e é finito o limite

limx→a−

f(x) − f(a)x − a

= limh→0−

f(a + h) − f(a)h

= f ′e(a).

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 206 / 590

§3.1 Derivadas: definição, regras de derivação e exemplos

Se f : D → R e a ∈ D é um ponto de acumulação de

D+a = {x ∈ D : x > a} = D ∩ ]a, +∞[,

então diz-se que f é derivável (ou diferenciável) à direita em a seexiste e é finito o limite

limx→a+

f(x) − f(a)x − a

= limh→0+

f(a + h) − f(a)h

= f ′d(a).

Tendo em conta as propriedades dos limites, resulta imediatamente,para pontos a ∈ D que são pontos de acumulação de D−

a e de D+a , que

f é derivável em a se e só se f é derivável à esquerda e à direita em a e

f ′e(a) = f ′

d(a).

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 207 / 590

§3.1 Derivadas: definição, regras de derivação e exemplos

Exemplos

Seja f : R → R a função definida por

f(x) = |x| .

Então

f ′e(0) = lim

x→0−

f(x) − f(0)x − 0

= limx→0−

|x|x

= limx→0−

−x

x= −1

e

f ′d(0) = lim

x→0+

f(x) − f(0)x − 0

= limx→0+

|x|x

= limx→0+

x

x= 1,

o que mostra que f não é derivável no ponto 0.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 208 / 590

§3.1 Derivadas: definição, regras de derivação e exemplos

Exemplos

Consideremos a função f : R → R definida por

f(x) =

x sen1x

se x 6= 0,

0 se x = 0.

Esta função não é diferenciável à direita, nem à esquerda do ponto 0,pois não existe

limx→0+

x sen (1/x)x

= limx→0+

sen1x

,

nem

limx→0−

x sen (1/x)x

= limx→0−

sen1x

.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 209 / 590

§3.1 Derivadas: definição, regras de derivação e exemplos

Propriedades

Se f : D → R é uma função derivável em a ∈ D, então f é contínuanesse ponto.

Observação

O recíproco desta propriedade é falso. A função

f : R → R

dada porf(x) = |x|

é contínua no ponto 0, mas não é derivável nesse ponto.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 210 / 590

§3.1 Derivadas: definição, regras de derivação e exemplos

Regras de derivação

Sejam f, g : D → R funções deriváveis em a ∈ D e k ∈ R. Então

i) f + g é derivável em a e

(f + g)′ (a) = f ′(a) + g′(a);

ii) kf é derivável em a e

(kf)′ (a) = kf ′(a);

iii) f.g é derivável em a e

(f.g)′ (a) = f ′(a) g(a) + g′(a) f(a);

iv) se g(a) 6= 0,f

gé derivável em a e(

f

g

)′(a) =

f ′(a) g(a) − g′(a) f(a)g2(a)

.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 211 / 590

§3.1 Derivadas: definição, regras de derivação e exemplos

Demonstração das regras de derivação

i) Basta observar que

limx→a

(f + g)(x) − (f + g)(a)x − a

= limx→a

[

f(x) − f(a)x − a

+g(x) − g(a)

x − a

]

= f ′(a) + g′(a).

ii) Basta ter em conta que

limx→a

(kf)(x) − (kf)(a)x − a

= limx→a

kf(x) − f(a)

x − a

= k f ′(a).

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 212 / 590

§3.1 Derivadas: definição, regras de derivação e exemplos

Demonstração das regras de derivação (continuação)

iii) Basta atender a que

limx→a

(fg)(x) − (fg)(a)x − a

= limx→a

f(x)g(x) − f(a)g(a)x − a

= limx→a

f(x)g(x) − f(a)g(x) + f(a)g(x) − f(a)g(a)x − a

= limx→a

[

f(x) − f(a)x − a

g(x) + f(a)g(x) − g(a)

x − a

]

= f ′(a)g(a) + f(a)g′(a).

Na última igualdade foi usado o facto de g ser contínua em a.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 213 / 590

§3.1 Derivadas: definição, regras de derivação e exemplos

Demonstração das regras de derivação (continuação).

iv) Do mesmo modo temos

limx→a

(

f

g

)

(x) −(

f

g

)

(a)

x − a= lim

x→a

f(x)

g(x)− f(a)

g(a)

x − a

= limx→a

f(x)g(a) − f(a)g(x)

g(x)g(a)

x − a

= limx→a

[

1

g(x)g(a)

f(x)g(a) − f(a)g(x)

x − a

]

= limx→a

[

1

g(x)g(a)

f(x)g(a) − f(a)g(a) + f(a)g(a) − f(a)g(x)

x − a

]

= limx→a

[

1

g(x)g(a)

(

f(x) − f(a)

x − ag(a) − f(a)

g(x) − g(a)

x − a

)]

=f ′(a) g(a) − g′(a) f(a)

g2(a).

Na última igualdade usou-se o facto de g ser contínua em a.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 214 / 590

§3.1 Derivadas: definição, regras de derivação e exemplos

Exemplos – funções polinomiais

A função f : R → R definida por

f(x) = xn

derivável em todos os pontos de R e

f ′(x) = nxn−1.

Usando esta última igualdade, tem-se que a derivada da funçãodefinida por

p(x) = anxn + an−1xn−1 + · · · + a2x2 + a1x + a0

é dada por

p′(x) = nanxn−1 + (n − 1) an−1xn−2 + · · · + 2a2x + a1.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 215 / 590

§3.1 Derivadas: definição, regras de derivação e exemplos

Exemplos – tangente

A derivada da tangente pode ser calculada da seguinte forma:

(tg x)′ =(

sen x

cos x

)′

=(sen x)′ cos x − (cos x)′ sen x

cos2 x

=cos x. cos x − (− sen x) sen x

cos2 x

=cos2 x + sen2 x

cos2 x

=1

cos2 x= sec2 x.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 216 / 590

§3.1 Derivadas: definição, regras de derivação e exemplos

Exemplos – cotangente

Do mesmo modo temos

(cotg x)′ =(

cos x

sen x

)′

=(cos x)′ sen x − (sen x)′ cos x

sen2 x

=− sen x. sen x − (cos x) cos x

sen2 x

= −sen2 x + cos2 x

sen2 x

= − 1sen2 x

= − cosec2 x.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 217 / 590

§3.1 Derivadas: definição, regras de derivação e exemplos

Exemplos – seno e coseno hiperbólicos

Atendendo a que

(

e−x)′ =(

1ex

)′=

1′ ex −(ex)′ 1

(ex)2 =− ex

(ex)2 = − 1ex

= − e−x,

tem-se

(senh x)′ =

(

ex − e−x

2

)′=

(ex)′ − (e−x)′

2=

ex + e−x

2= cosh x

e

(cosh x)′ =

(

ex + e−x

2

)′=

(ex)′ + (e−x)′

2=

ex − e−x

2= senh x.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 218 / 590

§3.1 Derivadas: definição, regras de derivação e exemplos

Derivada da função composta

Sejam Df e Dg dois subconjuntos não vazios de R e

f : Df → R e g : Dg → R

funções tais quef(Df ) ⊆ Dg.

Suponhamos que a ∈ Df é um ponto de acumulação de Df e b = f(a) éum ponto de acumulação de Dg. Se f é derivável em a e g é derivávelem b, então g ◦ f é derivável em a e

(g ◦ f)′ (a) = g′(f(a)) f ′(a) = g′(b) f ′(a).

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 219 / 590

§3.1 Derivadas: definição, regras de derivação e exemplos

Exemplos

Seja f : R → R a função definida por f(x) =(

2x2 + 5)100. Então,

usando a derivada da função composta, temos

f ′(x) = 100(

2x2 + 5)99 (

2x2 + 5)′

= 100(

2x2 + 5)99

4x

= 400x(

2x2 + 5)99

.

Consideremos a função g : R → R dada por g(x) = sen (ex +1). A suaderivada é dada por

g′(x) = cos (ex +1) (ex +1)′ = cos (ex +1) ex = ex cos (ex +1) .

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 220 / 590

§3.1 Derivadas: definição, regras de derivação e exemplos

Exemplos

A função h : R → R definida por h(x) = e3 cos x2tem derivada em todos

os pontos de R e

h′(x) = e3 cos x2(

3 cos x2)′

= e3 cos x2(

−3 sen x2)(

x2)′

= e3 cos x2(

−3 sen x2)

2x

= −6x sen x2 e3 cos x2.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 221 / 590

§3.1 Derivadas: definição, regras de derivação e exemplos

Exemplos – função exponencial e função logarítmica

Para a função exponencial temos

(ax)′ =(

eln(ax))′

=(

ex ln a)′

= ex ln a ln a = ax ln a.

Para a função logarítmica usando a igualdade

loge x = loga x loge a

temos

(loga x)′ =(

ln x

ln a

)′=

(ln x)′

ln a=

1/x

ln a=

1x ln a

.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 222 / 590

§3.1 Derivadas: definição, regras de derivação e exemplos

Exemplos

Se f é uma função real de variável real diferenciável, então[

ef(x)]′

= f ′(x) ef(x),

[sen (f(x))]′ = f ′(x) cos (f(x))

e[cos (f(x))]′ = −f ′(x) sen (f(x)) .

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 223 / 590

§3.1 Derivadas: definição, regras de derivação e exemplos

Derivada da função inversa

Sejam f uma função diferenciável e injectiva definida num intervaloI ⊆ R e a ∈ I. Se

f ′(a) 6= 0,

então f−1 é diferenciável em b = f(a) e

(

f−1)′

(b) =1

f ′(f−1(b))=

1f ′(a)

.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 224 / 590

§3.1 Derivadas: definição, regras de derivação e exemplos

Exemplos – raízes

A função g :]0, +∞[→]0, +∞[ definida por

g(x) = n√

x

é a função inversa da função f :]0, +∞[→]0, +∞[ definida por

f(y) = yn.

Como f ′(y) = nyn−1 6= 0 para qualquer y ∈ ]0, +∞[ temos, fazendoy = g(x),

g′(x) =(

f−1)′

(x) =1

f ′(y)=

1nyn−1

=1

nn√

xn−1.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 225 / 590

§3.1 Derivadas: definição, regras de derivação e exemplos

Exemplos – logaritmo natural

Do mesmo modo, a função g : ]0, +∞[→ R definida por

g(x) = ln x

é a inversa da função f : R →]0, +∞[ definida por

f(y) = ey .

Como f ′(y) = ey 6= 0 para qualquer y ∈ R e y = ln x temos

g′(x) =(

f−1)′

(x) =1

f ′(y)=

1ey

=1x

.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 226 / 590

§3.1 Derivadas: definição, regras de derivação e exemplos

Exemplos – arco seno

Consideremos a função g : [−1, 1] → [−π/2, π/2] definida por

g(x) = arc sen x.

A função g é a função inversa da função f : [−π/2, π/2] → [−1, 1] dada por

f(y) = sen y.

Além disso, f ′(y) = cos y 6= 0 para y ∈ ]−π/2, π/2[. Assim, escrevendoy = arc sen x, ou seja, x = sen y, temos

g′(x) =(

f−1)′

(x) =1

(sen y)′=

1cos y

.

Tendo em conta que sen2 y + cos2 y = 1 e que y ∈ ]−π/2, π/2[, obtemoscos y =

√1 − x2 e, por conseguinte, para x ∈ ]−π/2, π/2[ temos

(arc sen x)′ =1√

1 − x2.

Nos pontos x = −1 e x = 1 a função não tem derivada lateral à direita, nemderivada lateral à esquerda, respectivamente.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 227 / 590

§3.1 Derivadas: definição, regras de derivação e exemplos

Exemplos – arco coseno

A função g : [−1, 1] → [0, π] definida por

g(x) = arccosx

é a inversa da função f : [0, π] → [−1, 1] definida por

f(y) = cos y.

Atendendo a que f ′(y) = − sen y 6= 0 para cada y ∈]0, π[ vem

(arccosx)′ =1

− sen y

e, como sen2 y + cos2 y = 1 e y ∈]0, π[, temos sen y =√

1 − cos2 y o queimplica

(arccosx)′ = − 1√

1 − cos2 y= − 1√

1 − x2.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 228 / 590

§3.1 Derivadas: definição, regras de derivação e exemplos

Exemplos – arco tangente

A função g : ]−π/2, π/2[ → R definida por

g(x) = arc tg x

é a inversa da função f : R → ]−π/2, π/2[ definida por

g(y) = tg y.

Como g′(y) =1

cos2 y6= 0 para y ∈ ]−π/2, π/2[ temos

(arc tg x)′ =11

cos2 y

=1

1 + tg2 y=

11 + x2

.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 229 / 590

§3.1 Derivadas: definição, regras de derivação e exemplos

Exemplos – arco cotangente

Do mesmo modo tem-se

(arccotg x)′ = − 11 + x2

.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 230 / 590

§3.1 Derivadas: definição, regras de derivação e exemplos

Tabela de derivadas

[αu(x)]′ = α u′(x), α ∈ R [u(x) + v(x)]′ = u′(x) + v′(x)

[u(x) v(x)]′ = u′(x) v(x) + u(x) v′(x)[

u(x)v(x)

]′

=u′(x) v(x) − u(x) v′(x)

[v(x)]2

[(u(x))α]′ = α u′(x) [u(x)]α−1, α ∈ R[

u(x)]′

=u′(x)

2√

u(x)

[

eu(x)]′

= u′(x) eu(x) [ln (u(x))]′ =u′(x)u(x)

[

au(x)]′

= u′(x)au(x) ln a [loga (u(x))]′ =u′(x)

u(x) ln a

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 231 / 590

§3.1 Derivadas: definição, regras de derivação e exemplos

Tabela de derivadas (continuação)

[sen (u(x))]′ = u′(x) cos [u(x)] [cos (u(x))]′ = −u′(x) sen [u(x)]

[tg (u(x))]′ =u′(x)

cos2 [u(x)][cotg (u(x))]′ = − u′(x)

sen2 [u(x)]

[arc sen (u(x))]′ =u′(x)

1 − [u(x)]2[arc cos (u(x))]′ = − u′(x)

1 − [u(x)]2

[arc tg (u(x))]′ =u′(x)

1 + [u(x)]2[arc cotg (u(x))]′ = − u′(x)

1 + [u(x)]2

[senh (u(x))]′ = u′(x) cosh [u(x)] [cosh (u(x))]′ = u′(x) senh [u(x)]

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 232 / 590

Índice

1 Funções reais de variável real: generalidades e exemplos

2 Funções reais de variável real: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em R

Derivadas: definição, regras de derivação e exemplosTeoremas de Rolle, de Lagrange e de CauchyDerivadas de ordem superior e fórmula de TaylorAplicações do cálculo diferencial

4 Primitivas

5 Cálculo integral em R

6 Sucessões e séries

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 233 / 590

§3.2 Teoremas de Rolle, de Lagrange e de Cauchy

Teorema de Rolle

Sejam a e b números reais tais que a < b e seja

f : [a, b] → R

uma função contínua em [a, b] e diferenciável em ]a, b[. Se

f(a) = f(b),

então existec ∈ ]a, b[

tal quef ′(c) = 0.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 234 / 590

§3.2 Teoremas de Rolle, de Lagrange e de Cauchy

A interpretação geométrica de f ′(c) = 0 corresponde a que a rectatangente ao gráfico de f no ponto (c, f(c)) é horizontal. Tendo isto emconta, podemos interpretar geometricamente o Teorema de Rolle daseguinte forma.

x

y

a b

f(a) = f(b) b b

c

b

c′

b

Interpretação geométrica do Teorema de Rolle

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 235 / 590

§3.2 Teoremas de Rolle, de Lagrange e de Cauchy

Corolários do Teorema de Rolle

Sejam I um intervalo ef : I → R

uma função diferenciável em I. Então

a) entre dois zeros de f existe pelo menos um zero da derivada;

b) entre dois zeros consecutivos da derivada de f existe, quandomuito, um zero da função.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 236 / 590

§3.2 Teoremas de Rolle, de Lagrange e de Cauchy

Teorema do valor médio de Lagrange

Sejam a e b números reais tais que a < b e

f : [a, b] → R

uma função contínua em [a, b] e diferenciável em ]a, b[. Então existe

c ∈ ]a, b[

tal quef(b) − f(a) = f ′(c) (b − a) ,

ou seja,f(b) − f(a)

b − a= f ′(c).

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 237 / 590

§3.2 Teoremas de Rolle, de Lagrange e de Cauchy

Geometricamente, o quocientef(b) − f(a)

b − aé o declive da recta que

passa nos pontos (a, f(a)) e (b, f(b)). O que o Teorema de Lagrangenos diz é que existe uma recta tangente ao gráfico de f paralela à rectaque passa nos pontos (a, f(a)) e (b, f(b)).

x

y

a b

f(a)

f(b)

b

b

c

b

b

b

b

b

b

Interpretação geométrica do Teorema de Lagrange

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 238 / 590

§3.2 Teoremas de Rolle, de Lagrange e de Cauchy

Corolários do Teorema de Lagrange

Sejam I um intervalo de R e f, g : I → R funções diferenciáveis em I.

a) Sef ′(x) = 0 para qualquer x ∈ I,

então f é constante.

b) Sef ′(x) = g′(x) para qualquer x ∈ I,

então a diferença f − g é constante em I.

c) Se f ′(x) > 0 para qualquer x ∈ I, então f é estritamente crescente emI, ou seja, para quaisquer x, y ∈ I,

se x > y, então f(x) > f(y).

d) Se f ′(x) < 0 para qualquer x ∈ I, então f é estritamente decrescenteem I, ou seja, para quaisquer x, y ∈ I,

se x > y, então f(x) < f(y).

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 239 / 590

§3.2 Teoremas de Rolle, de Lagrange e de Cauchy

Teorema de Cauchy

Sejam a e b números reais tais que a < b e

f, g : [a, b] → R

funções contínuas em [a, b] e diferenciáveis em ]a, b[. Se

g′(x) 6= 0 para qualquer x ∈ ]a, b[,

então existec ∈ ]a, b[

tal quef(b) − f(a)g(b) − g(a)

=f ′(c)g′(c)

.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 240 / 590

§3.2 Teoremas de Rolle, de Lagrange e de Cauchy

Regra de Cauchy

Sejam a e b números reais tais que a < b e f, g : ]a, b[→ R funçõesdiferenciáveis em ]a, b[ tais que

g′(x) 6= 0 para cada x ∈ ]a, b[.

Suponhamos quelim

x→a+f(x) = lim

x→a+g(x) = 0

ou quelim

x→a+|f(x)| = lim

x→a+|g(x)| = +∞.

Se limx→a+

f ′(x)g′(x)

= L, então

limx→a+

f(x)g(x)

= L.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 241 / 590

§3.2 Teoremas de Rolle, de Lagrange e de Cauchy

Observações

a) O resultado continua válido se substituirmos

limx→a+

porlim

x→b−

.

b) O resultado também é válido quando calculamos o limite em pontosinteriores do domínio das funções.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 242 / 590

§3.2 Teoremas de Rolle, de Lagrange e de Cauchy

Regra de Cauchy quando x → +∞Sejam a um número real e f, g : ]a, +∞[→ R funções diferenciáveis em]a, +∞[ e tais que

g′(x) 6= 0 para cada x ∈]a, +∞[.

Suponhamos que

limx→+∞

f(x) = limx→+∞

g(x) = 0

ou que

limx→+∞

|f(x)| = limx→+∞

|g(x)| = +∞.

Se limx→+∞

f ′(x)g′(x)

= L, então

limx→+∞

f(x)g(x)

= L.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 243 / 590

§3.2 Teoremas de Rolle, de Lagrange e de Cauchy

Observação

O resultado continua válido se substituirmos

limx→+∞

porlim

x→−∞,

sendo neste caso o domínio das funções um intervalo do tipo ] − ∞, a[.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 244 / 590

§3.2 Teoremas de Rolle, de Lagrange e de Cauchy

Exemplos de aplicação da regra de Cauchy

1) Como

limx→0

cos x − 1x2

=00

,

temos pela regra de Cauchy

limx→0

cos x − 1x2

= limx→0

(cos x − 1)′

(x2)′

= limx→0

− sen x

2x

= limx→0

−12

sen x

x

= −12

.1

= −12

.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 245 / 590

§3.2 Teoremas de Rolle, de Lagrange e de Cauchy

Exemplos de aplicação da regra de Cauchy (continuação)

2) Como limx→0

esen x − ex

sen x − x=

00

, usando a regra de Cauchy temos

limx→0

esen x − ex

sen x − x= lim

x→0

(esen x − ex)′

(sen x − x)′ = limx→0

cos x esen x − ex

cos x − 1=

00

.

Aplicando novamente a regra de Cauchy vem

limx→0

esen x − ex

sen x − x= lim

x→0

(cos x esen x − ex)′

(cos x − 1)′

= limx→0

− sen x esen x + cos2 x esen x − ex

− sen x

=00

.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 246 / 590

§3.2 Teoremas de Rolle, de Lagrange e de Cauchy

Exemplos de aplicação da regra de Cauchy (continuação)

2) (continuação) Temos de aplicar novamente a regra de Cauchy

limx→0

esen x − ex

sen x − x

= limx→0

[(

cos2 x − sen x)

esen x − ex]′

[− sen x]′

= limx→0

(−2 sen x cos x − cos x) esen x +(

cos2 x − sen x)

cos x esen x − ex

− cos x

=−1 + 1 − 1

−1= 1

Este limite podia ter sido calculado mais facilmente da seguinteforma

limx→0

esen x − ex

sen x − x= lim

x→0ex esen x−x −1

sen x − x= e0 .1 = 1.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 247 / 590

§3.2 Teoremas de Rolle, de Lagrange e de Cauchy

Exemplos de aplicação da regra de Cauchy (continuação)

3) Vejamos que

limx→+∞

ln x

xa= 0, a > 0.

Como

limx→+∞

ln x

xa=

+∞+∞ ,

aplicando a regra de Cauchy temos

limx→+∞

ln x

xa= lim

x→+∞(ln x)′

(xa)′ = limx→+∞

1x

axa−1= lim

x→+∞1

axa=

1+∞ = 0.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 248 / 590

§3.2 Teoremas de Rolle, de Lagrange e de Cauchy

Exemplos de aplicação da regra de Cauchy (continuação)

4) Vejamos como calcular limx→1+

√x − 1 ln (ln x) = 0 × (−∞). Como

limx→1+

√x − 1 ln (ln x) = lim

x→1+

ln (ln x)

(x − 1)−1/2=

∞∞ ,

podemos usar a regra de Cauchy e temos

limx→1+

√x − 1 ln (ln x) = lim

x→1+

[ln (ln x)]′[

(x − 1)−1/2]′

= limx→1+

1/x

ln x

− (x − 1)−3/2

2

= limx→1+

−2 (x − 1)3/2

x ln x=

00

.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 249 / 590

§3.2 Teoremas de Rolle, de Lagrange e de Cauchy

Exemplos de aplicação da regra de Cauchy (continuação)

4) (continuação) Atendendo a que limx→1+

(x − 1)3/2

ln x=

00

, aplicando

novamente a regra de Cauchy temos

limx→1+

(x − 1)3/2

ln x= lim

x→1+

(

(x − 1)3/2)′

(ln x)′= lim

x→1+

3 (x − 1)1/2

21x

= limx→1+

3x (x − 1)1/2

2= 0,

pelo que

limx→1+

√x − 1 ln (ln x) = lim

x→1+−2 (x − 1)3/2

x ln x

= limx→1+

− 2x

(x − 1)3/2

ln x= 0.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 250 / 590

§3.2 Teoremas de Rolle, de Lagrange e de Cauchy

Exemplos de aplicação da regra de Cauchy (continuação)

5) Calculemos agora limx→0

1x

− cotg x = ∞ − ∞. Transformando esta

indeterminação na seguinte

limx→0

1x

− cotg x = limx→0

1x

− cos x

sen x= lim

x→0

sen x − x cos x

x sen x=

00

,

podemos aplicar a regra de Cauchy. Assim,

limx→0

sen x − x cos x

x sen x= lim

x→0

(sen x − x cos x)′

(x sen x)′

= limx→0

cos x − cos x + x sen x

sen x + x cos x

= limx→0

x sen x

sen x + x cos x

=00

.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 251 / 590

§3.2 Teoremas de Rolle, de Lagrange e de Cauchy

Exemplos de aplicação da regra de Cauchy (continuação)

5) (continuação) Aplicando novamente a regra de Cauchy temos

limx→0

sen x − x cos x

x sen x= lim

x→0

(x sen x)′

(sen x + x cos x)′

= limx→0

sen x + x cos x

cos x + cos x − x sen x

=02

= 0

o que implica

limx→0

1x

− cotg x = 0.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 252 / 590

§3.2 Teoremas de Rolle, de Lagrange e de Cauchy

Exemplos de aplicação da regra de Cauchy (continuação)

6) Calculemos agoralim

x→0+(sen x)x .

Neste caso temos uma indeterminação do tipo 00. Atendendo a que

limx→0+

(sen x)x = limx→0+

eln[(sen x)x] = limx→0+

ex ln(sen x),

basta calcular limx→0+

x ln (sen x). Como

limx→0+

x ln (sen x) = limx→0+

ln (sen x)1x

=00

,

podemos aplicar a regra de Cauchy.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 253 / 590

§3.2 Teoremas de Rolle, de Lagrange e de Cauchy

Exemplos de aplicação da regra de Cauchy (continuação)

6) (continuação) Assim,

limx→0+

x ln (sen x) = limx→0+

(ln (sen x))′(

1x

)′ = limx→0+

cos x

sen x

− 1x2

= limx→0+

x

sen x(−x cos x) = 1.0 = 0

e, portanto,

limx→0+

(sen x)x = limx→0+

ex ln(sen x) = e0 = 1.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 254 / 590

Índice

1 Funções reais de variável real: generalidades e exemplos

2 Funções reais de variável real: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em R

Derivadas: definição, regras de derivação e exemplosTeoremas de Rolle, de Lagrange e de CauchyDerivadas de ordem superior e fórmula de TaylorAplicações do cálculo diferencial

4 Primitivas

5 Cálculo integral em R

6 Sucessões e séries

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 255 / 590

§3.3 Derivadas de ordem superior e fórmula de Taylor

Sejam D um subconjunto não vazio de R e

f : D → R

uma função diferenciável em D. Se f ′ é diferenciável em a ∈ D, entãodiz-se que f é duas vezes diferenciável em a e a derivada de f ′ em adesigna-se por segunda derivada de f em a e representa-se por

f ′′(a) oud2f

dx2(a) ou ainda D2f(a)

e é dada por

f ′′(a) =(

f ′)′ (a) = limx→a

f ′(x) − f ′(a)x − a

= limh→0

f ′(a + h) − f ′(a)h

.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 256 / 590

§3.3 Derivadas de ordem superior e fórmula de Taylor

Mais geralmente, se existirem as derivadas de f até à ordem n − 1 e asrepresentarmos por

f ′, f ′′, . . . , f (n−1)

e f (n−1) é derivável em a, então diz-se que f tem derivada de ordemn em a e

f (n)(a) = limx→a

f (n−1)(x) − f (n−1)(a)x − a

= limh→0

f (n−1)(a + h) − f (n−1)(a)h

.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 257 / 590

§3.3 Derivadas de ordem superior e fórmula de Taylor

Uma função f : D → R diz-se de classe Cn, e escreve-se

f ∈ Cn(D),

se f é n vezes diferenciável em D e a derivada de ordem n, f (n) écontínua em D.

Por extensão, escreve-se

f ∈ C0(D) ou f ∈ C(D)

para designar que f é contínua em D.

Se f admite derivadas de todas as ordens em D, então dizemos que f éindefinidamente diferenciável ou de classe C∞ e usa-se a notação

f ∈ C∞(D).

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 258 / 590

§3.3 Derivadas de ordem superior e fórmula de Taylor

Exemplos

a) A função f : R → R definida por

f(x) = xm,

m ∈ N, é uma função de classe C∞. De facto

f (n)(x) =

m (m − 1) . . . (m − (n − 1)) xm−n se n < m;

m! se n = m;

0 se n > m.

Mais geralmente, qualquer polinómio p : R → R dado por

p(x) = amxm + am−1xm−1 + · · · + a2x2 + a1x + a0

é de classe C∞.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 259 / 590

§3.3 Derivadas de ordem superior e fórmula de Taylor

Exemplos (continuação)

b) Sep, q : R → R

são dois polinómios, então fazendo

D = {x ∈ R : q(x) 6= 0}

tem-se que a função f : D → R definida por

f(x) =p(x)q(x)

e, portanto,f ∈ C∞(D).

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 260 / 590

§3.3 Derivadas de ordem superior e fórmula de Taylor

Exemplos (continuação)

c) A função exponencial é de classe C∞ pois fazendo

f(x) = ex

temosf (n)(x) = ex .

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 261 / 590

§3.3 Derivadas de ordem superior e fórmula de Taylor

Exemplos (continuação)

d) A função seno é uma função de classe C∞. De facto, fazendo

f(x) = sen x,

temos

f (n)(x) =

cos x se n = 4k − 3, k ∈ N;

− sen x se n = 4k − 2, k ∈ N;

− cos x se n = 4k − 1, k ∈ N;

sen x se n = 4k, k ∈ N;

o que mostra que a função seno pertence a C∞(R).

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 262 / 590

§3.3 Derivadas de ordem superior e fórmula de Taylor

Exemplos (continuação)

e) Do mesmo modo, a função coseno é uma função de classe C∞. Defacto, se

f(x) = cos x,

temos

f (n)(x) =

− sen x se n = 4k − 3, k ∈ N;

− cos x se n = 4k − 2, k ∈ N;

sen x se n = 4k − 1, k ∈ N;

cos x se n = 4k, k ∈ N.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 263 / 590

§3.3 Derivadas de ordem superior e fórmula de Taylor

Exemplos (continuação)

f) A função f1 : R → R definida por

f1(x) =

x2 sen1x

se x 6= 0;

0 se x = 0;

é diferenciável, mas a primeira derivada não é contínua. Como(

x2 sen1x

)′

= 2x sen1x

+ x2

(

− 1x2

)

cos1x

= 2x sen1x

− cos1x

e

f ′

1(0) = limx→0

f1(x) − f1(0)x − 0

= limx→0

x2 sen1x

− 0

x − 0= lim

x→0x sen

1x

= 0,

temos

f ′

1(x) =

2x sen1x

− cos1x

se x 6= 0;

0 se x = 0.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 264 / 590

§3.3 Derivadas de ordem superior e fórmula de Taylor

Exemplos (continuação)

f) (continuação) Vimos que

f ′1(x) =

2x sen1x

− cos1x

se x 6= 0;

0 se x = 0.

Como não existe

limx→0

cos1x

,

a função f ′1 não é contínua. Assim, f1 é diferenciável, mas não é de

classe C1. Mais geral, a função fk : R → R definida por

fk(x) =

x2k sen1x

se x 6= 0;

0 se x = 0;

tem derivadas até à ordem k, mas não é de classe Ck.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 265 / 590

§3.3 Derivadas de ordem superior e fórmula de Taylor

Exemplos (continuação)

g) Sef, g : D ⊆ R → R

têm derivada até à ordem n, então os mesmo acontece com

f + g e fg

e(f + g)(n) (x) = f (n)(x) + g(n)(x)

e

(fg)(n) (x) =n∑

j=0

(

n

j

)

f (j)(x)g(n−j)(x),

onde f (0) = f e g(0) = g. Esta igualdade é conhecida por fórmulade Leibnitz.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 266 / 590

§3.3 Derivadas de ordem superior e fórmula de Taylor

Fórmula de Taylor (com resto de Lagrange)

Sejam I um intervalo,f : I → R

uma função de classe Cn, n + 1 vezes diferenciável em int I e a umponto de I. Para cada x ∈ I \ {a}, existe c estritamente entre a e x talque

f(x) = f(a)+f ′(a) (x − a)+f ′′(a)

2!(x − a)2 + · · ·+ f(n)(a)

n!(x − a)n +

f(n+1)(c)

(n + 1)!(x − a)n+1 .

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 267 / 590

§3.3 Derivadas de ordem superior e fórmula de Taylor

A

pn(x) = f(a) + f ′(a) (x − a) +f ′′(a)

2!(x − a)2 + · · · +

f (n)(a)n!

(x − a)n

chamamos polinómio de Taylor de grau n da função f em torno dex = a e a

Rn(x) =f (n+1)(c)(n + 1)!

(x − a)n+1

resto Lagrange de ordem n da função f em torno de x = a.

Se a = 0 a fórmula de Taylor designa-se por fórmula de Mac-Laurine o polinómio de Taylor designa-se por polinómio de Mac-Laurin.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 268 / 590

§3.3 Derivadas de ordem superior e fórmula de Taylor

Ao polinómio de Taylor de grau um de uma função f em torno de achamamos linearização ou aproximação linear de f em torno de x = a, ouseja, a função dada por

L(x) = f(a) + f ′(a)(x − a)

é a linearização de f em torno de x = a. Nestas condições escrevemos

f(x) ≈ f(a) + f ′(a)(x − a).

Ao polinómio de Taylor de grau dois de uma função f em torno de x = a, istoé, à função dada por

Q(x) = f(a) + f ′(a)(x − a) +f ′′(a)

2(x − a)2,

chamamos aproximação quadrática de f em torno de x = a e escrevemos

f(x) ≈ f(a) + f ′(a)(x − a) +f ′′(a)

2(x − a)2.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 269 / 590

§3.3 Derivadas de ordem superior e fórmula de Taylor

Exemplos

1) Seja f a função exponencial. Atendendo a que f (n)(x) = ex para cadan ∈ N e, portanto, f (n)(0) = e0 = 1, o polinómio de Mac-Laurin de grau né dado por

pn(x) = f(0) + f ′(0) x +f ′′(0)

2!x2 + · · · +

f (n−1)(0)(n − 1)!

xn−1 +f (n)(0)

n!xn

= 1 + x +x2

2!+ · · · +

xn−1

(n − 1)!+

xn

n!

e, por conseguinte, temos a seguinte aproximação linear

ex ≈ 1 + x

e a seguinte aproximação quadrática

ex ≈ 1 + x +x2

2.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 270 / 590

§3.3 Derivadas de ordem superior e fórmula de Taylor

Exemplos (continuação)

2) Seja f a função seno. Então

f (n)(0) =

{

(−1)k+1 se n = 2k − 1, k ∈ N;

0 se n = 2k, k ∈ N;

e, portanto,

sen x = x − x3

3!+

x5

5!+ · · · + (−1)n x2n+1

(2n + 1)!+ R2n+1(x).

Assim, neste exemplos as aproximações linear e quadrática sãoiguais:

sen x ≈ x.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 271 / 590

§3.3 Derivadas de ordem superior e fórmula de Taylor

Exemplos (continuação)

3) Se f é a função coseno, então

f (n)(0) =

{

(−1)k se n = 2k, k ∈ N;

0 se n = 2k − 1, k ∈ N;

e, consequentemente,

cos x = 1 − x2

2!+

x4

4!+ · · · + (−1)n x2n

(2n)!+ R2n(x)

e temos

cos x ≈ 1 e cos x ≈ 1 − x2

2como aproximações linear e quadrática, respectivamente.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 272 / 590

Índice

1 Funções reais de variável real: generalidades e exemplos

2 Funções reais de variável real: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em R

Derivadas: definição, regras de derivação e exemplosTeoremas de Rolle, de Lagrange e de CauchyDerivadas de ordem superior e fórmula de TaylorAplicações do cálculo diferencial

4 Primitivas

5 Cálculo integral em R

6 Sucessões e séries

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 273 / 590

§3.4 Aplicações do cálculo diferencial

Nesta secção vamos ver aplicações das derivadas em termos de

• monotonia de uma função;

• extremos locais de uma função;

• convexidade e pontos de inflexão de uma função.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 274 / 590

§3.4 Aplicações do cálculo diferencial

Já vimos que para estudar a monotonia de uma função basta estudar osinal da primeira derivada. Isso é consequência de corolários doTeorema de Lagrange:

Corolários do Teorema de Lagrange

Sejam I um intervalo de R e f : I → R uma função diferenciável em I.

a) Se f ′(x) > 0 para qualquer x ∈ I, então f é estritamentecrescente em I, ou seja, para quaisquer x, y ∈ I,

se x > y, então f(x) > f(y).

b) Se f ′(x) < 0 para qualquer x ∈ I, então f é estritamentedecrescente em I, ou seja, para quaisquer x, y ∈ I,

se x > y, então f(x) < f(y).

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 275 / 590

§3.4 Aplicações do cálculo diferencial

Sejam D um subconjunto não vazio de R, f : D → R uma função ea ∈ D. Diz-se que a função f tem um máximo local ou relativo noponto a ou que f(a) é um máximo local ou relativo da função f seexistir um ε > 0 tal que

f(x) 6 f(a) qualquer que seja x ∈ ]a − ε, a + ε[ ∩ D.

Do mesmo modo, diz-se que a função f tem um mínimo local ourelativo no ponto a ou que f(a) é um mínimo local ou relativo dafunção f se existir um ε > 0 tal que

f(x) > f(a) qualquer que seja x ∈ ]a − ε, a + ε[ ∩ D.

Diz-se que f tem um extremo local ou relativo no ponto a ou quef(a) é um extremo local ou relativo da função f se f tiver ummáximo ou um mínimo local no ponto a.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 276 / 590

§3.4 Aplicações do cálculo diferencial

x

y

x0 x2 x4

b

bb

x1 x3 x5

b

bb

Os pontos x0, x2 e x4 são pontos onde a função tem mínimos locais,enquanto que a função tem máximos locais nos pontos x1, x3 e x5.

A figura sugere que nos pontos x1, x2, x3, x4 a derivada da função énula.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 277 / 590

§3.4 Aplicações do cálculo diferencial

x

y

b

b

b b

b

b

x0 x1 x2 x3 x4 x5

b

b

b b

b

b

Para a função representada na figura anterior vê-se facilmente que nospontos x0, x2 e x4 a função tem mínimos locais e que nos pontos x1, x3

e x5 a função tem máximos locais. Além disso, em qualquer a ∈ ]x2, x3[a função tem um máximo e um mínimo local.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 278 / 590

§3.4 Aplicações do cálculo diferencial

Teorema de Fermat

Sejaf : D ⊆ R → R

uma função diferenciável num ponto a interior a D. Se f(a) é umextremo local de f , então

f ′(a) = 0.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 279 / 590

§3.4 Aplicações do cálculo diferencial

A condiçãof ′(a) = 0

não é suficiente para a existência de extremo. Por exemplo a função

f : R → R,

definida porf(x) = x3,

tem derivada nula no ponto x = 0, mas f(0) não é extremo local.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 280 / 590

§3.4 Aplicações do cálculo diferencial

Sejam I um intervalo de R e

f : I → R

uma função m vezes diferenciável, m > 1, num ponto a interior aointervalo I. Suponhamos que

f ′(a) = · · · = f (m−1)(a) = 0 e f (m)(a) 6= 0.

Então

i) se m é ímpar, f não tem qualquer extremo local no ponto a;

ii) se m é par, f tem em a um ponto de máximo local ou um ponto demínimo local, consoante

f (m)(a) < 0 ou f (m)(a) > 0.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 281 / 590

§3.4 Aplicações do cálculo diferencial

Sejam I um intervalo de R e

f : I → R

uma função duas vezes diferenciável num ponto a interior a I com

f ′(a) = 0.

Então

i) se f ′′(a) > 0, a é um ponto de mínimo local;

ii) se f ′′(a) < 0, a é um ponto de máximo local.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 282 / 590

§3.4 Aplicações do cálculo diferencial

Exemplo

Uma bateria de voltagem fixa V e resistência interna fixa r está ligadaa um circuito de resistência variável R. Pela lei de Ohm, a corrente Ino circuito é

I =V

R + r.

Se a potência resultante é dada por P = I2R, mostre que a potênciamáxima ocorre se R = r.

De P = I2R, temos P =(

V

R + r

)2

R =V 2R

(R + r)2 . Assim, o que temos

de fazer é calcular os extremos locais da função

P (R) =V 2R

(R + r)2 .

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 283 / 590

§3.4 Aplicações do cálculo diferencial

Exemplo (continuação)

Derivando a função P (R) =V 2R

(R + r)2 temos

P ′(R) =V 2 (R + r)2 − 2 (R + r) V 2R

(R + r)4

=V 2 (R + r) − 2V 2R

(R + r)3

=V 2r − V 2R

(R + r)3

=V 2 (r − R)

(R + r)3

e, portanto,P ′(R) = 0 ⇔ R = r.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 284 / 590

§3.4 Aplicações do cálculo diferencial

Exemplo (continuação)

Para verificarmos que R = r é um ponto de máximo local, atendendo aque

P ′(R) =V 2 (r − R)

(R + r)3 ,

podemos fazer o seguinte quadro

R r

P ′(R) + 0 −P (R) ր M ց

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 285 / 590

§3.4 Aplicações do cálculo diferencial

b

b

(a, f(a))

(b, f(b))

função convexa

Sejam I um intervalo de R e f : I → R uma função. Dizemos que f éconvexa ou que tem a concavidade voltada para cima em I separa quaisquer a, b ∈ I, com a < b, o gráfico de f em [a, b] está abaixoda secante que une os ponto (a, f(a)) e (b, f(b)), isto é,

f(x) 6 f(a) +f(b) − f(a)

b − a(x − a)

para qualquer x ∈ [a, b].António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 286 / 590

§3.4 Aplicações do cálculo diferencial

b

b

(a, f(a))

(b, f(b))

função côncava

A função f diz-se côncava ou que tem a concavidade voltada parabaixo em I se para quaisquer a, b ∈ I, com a < b, o gráfico de f em[a, b] está acima da secante que une os ponto (a, f(a)) e (b, f(b)), isto é,

f(x) > f(a) +f(b) − f(a)

b − a(x − a)

para qualquer x ∈ [a, b].

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 287 / 590

§3.4 Aplicações do cálculo diferencial

Fazendo x = (1 − t)a + tb, t ∈ [0, 1], nas desigualdades que caracterizamas definições de função convexa e de função côncava temos as seguintesdefinições alternativas:

A função f é convexa em I se para cada a, b ∈ I e para cada t ∈ [0, 1],

f ((1 − t)a + tb) 6 (1 − t)f(a) + tf(b).

A função f diz-se côncava em I se, para cada a, b ∈ I e para cadat ∈ [0, 1],

f ((1 − t)a + tb) > (1 − t)f(a) + tf(b).

Obviamente, uma função f é côncava se e só se −f é convexa.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 288 / 590

§3.4 Aplicações do cálculo diferencial

Sejam I um intervalo de R e f : I → R uma função diferenciável.Então as seguintes afirmações são equivalentes:

a) f é convexa;

b) a derivada de f é monótona crescente;

c) para quaisquer a, x ∈ I temos

f(x) > f(a) + f ′(a) (x − a) ,

ou seja, o gráfico de f está acima das suas rectas tangentes.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 289 / 590

§3.4 Aplicações do cálculo diferencial

bb

b b

bb

Função convexa

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 290 / 590

§3.4 Aplicações do cálculo diferencial

Sejam I um intervalo de R e f : I → R uma função diferenciável.Então as seguintes afirmações são equivalentes:

a) f é côncava;

b) a derivada de f é monótona decrescente;

c) para quaisquer a, x ∈ I temos

f(x) 6 f(a) + f ′(a) (x − a) ,

ou seja, o gráfico de f está abaixo das suas rectas tangentes.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 291 / 590

§3.4 Aplicações do cálculo diferencial

bb

bb

bb

Função côncava

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 292 / 590

§3.4 Aplicações do cálculo diferencial

Sejam I um intervalo de R e f : I → R uma função duas vezesdiferenciável em I. Então

a) f é convexa em I se e só se

f ′′(x) > 0

para qualquer x ∈ I;

b) f é côncava em I se e só se

f ′′(x) 6 0

para qualquer x ∈ I.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 293 / 590

§3.4 Aplicações do cálculo diferencial

Sejam I um intervalo, a um ponto interior a I e f : I → R. Diz-se quea é um ponto de inflexão de f se existe ε > 0 tal que num dosconjuntos ]a − ε, a[ ou ]a, a + ε[ a função é convexa e no outro é côncava.

x

y

bb

b

a1a0 a2

bb

bb

b

b

Na figura anterior vemos que a função f é côncava à esquerda de a1 e éconvexa à direita de a1. Logo a1 é um ponto de inflexão.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 294 / 590

§3.4 Aplicações do cálculo diferencial

Sejam I um intervalo de R e

f : I → R

uma função duas vezes diferenciável. Se a ∈ I é um ponto de inflexãode f , então

f ′′(a) = 0.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 295 / 590

§3.4 Aplicações do cálculo diferencial

Assim, podemos usar a informação que as derivadas nos fornecem parafazer o esboço do gráfico de uma função. Para tal devemos estudar

• o domínio da função;

• os zeros da função;

• a continuidade da função;

• a paridade da função;

• os intervalos de monotonia da função;

• os extremos relativos da função;

• as concavidades da função;

• os pontos de inflexão da função;

• as assímptotas da função.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 296 / 590

§3.4 Aplicações do cálculo diferencial

Exemplo – estudo da função f(x) = x2/(x − 1)

Seja f a função real de variável real definida por

f(x) =x2

x − 1.

Vamos fazer um estudo completo desta função. Esta função tem comodomínio a seguinte função

Df = {x ∈ R : x − 1 6= 0} = R \ {1}

e como

f(x) = 0 ⇔ x2

x − 1= 0 ⇔ x = 0 ∧ x 6= 1,

f tem apenas um zero no ponto x = 0. Além disso, a função é contínuapois é o quociente de duas funções polinomiais.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 297 / 590

§3.4 Aplicações do cálculo diferencial

Exemplo – estudo da função f(x) = x2/(x − 1) (continuação)

Obviamente, esta função não é par nem é ímpar. A função édiferenciável em todo o domínio e primeira derivada é dada por

f ′(x) =(x2)′ (x − 1) − x2 (x − 1)′

(x − 1)2

=2x (x − 1) − x2

(x − 1)2

=2x2 − 2x − x2

(x − 1)2

=x2 − 2x

(x − 1)2

=x(x − 2)

(x − 1)2 .

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 298 / 590

§3.4 Aplicações do cálculo diferencial

Exemplo – estudo da função f(x) = x2/(x − 1) (continuação)

Calculemos os zeros da primeira derivada

f ′(x) = 0 ⇔ x(x − 2)

(x − 1)2 = 0

⇔ x(x − 2) = 0 ∧ (x − 1)2 6= 0

⇔ (x = 0 ∨ x = 2) ∧ x 6= 1.

Atendendo a que o denominador de f ′ é sempre positivo, temos oseguinte quadro de sinal

x 0 1 2

f ′(x) + 0 − ND − 0 +

f(x) ր M ց ND ց m ր

Além disso, f(0) = 0 e f(2) = 4.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 299 / 590

§3.4 Aplicações do cálculo diferencial

Exemplo – estudo da função f(x) = x2/(x − 1) (continuação)

A segunda derivada de f é dada por

f ′′(x) =

(

x2 − 2x

(x − 1)2

)′

=

(

x2 − 2x)′

(x − 1)2 −[

(x − 1)2]′(

x2 − 2x)

(x − 1)4

=(2x − 2) (x − 1)2 − 2 (x − 1)

(

x2 − 2x)

(x − 1)4 =2 (x − 1)2 − 2

(

x2 − 2x)

(x − 1)3

=2x2 − 4x + 2 − 2x2 + 4x

(x − 1)3 =2

(x − 1)3

e, portanto, f não tem pontos de inflexão já que a segunda derivada não temzeros.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 300 / 590

§3.4 Aplicações do cálculo diferencial

Exemplo – estudo da função f(x) = x2/(x − 1) (continuação)

Fazendo um quadro temos

x 1

f ′′(x) − ND +

f(x) ∩ ND ∪

o que nos permite concluir que f tem a concavidade voltada para baixoem ] − ∞, 1[ e tem a concavidade voltada para cima em ]1, +∞[.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 301 / 590

§3.4 Aplicações do cálculo diferencial

Exemplo – estudo da função f(x) = x2/(x − 1) (continuação)

Quanto a assímptotas, uma vez que

limx→+∞

f(x)x

= limx→+∞

x2

x2 − x= lim

x→+∞x2

x2(1 − 1/x)= lim

x→+∞1

1 − 1/x= 1

e

limx→+∞

f(x) − x = limx→+∞

x2

x − 1− x = lim

x→+∞x2 − x2 + x

x − 1

= limx→+∞

x

x(1 − 1/x)= lim

x→+∞1

1 − 1/x= 1

a recta de equação y = x + 1 é uma assímptota não vertical à direita dográfico de f . Do mesmo modo se conclui que esta recta também éassímptota não vertical à esquerda do gráfico de f .

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 302 / 590

§3.4 Aplicações do cálculo diferencial

Exemplo – estudo da função f(x) = x2/(x − 1) (continuação)

Por outro lado, tendo em conta que o domínio de f é R \ {1} e que f éuma função contínua, a única possibilidade para assímptota vertical aográfico de f é a recta de equação x = 1. Como

limx→1+

f(x) = limx→1+

x2

x − 1=

10+

= +∞

e

limx→1−

f(x) = limx→1−

x2

x − 1=

10− = −∞,

a recta de equação x = 1 é de facto uma assímptota vertical ao gráficode f .

Estamos em condições de esboçar o gráfico de f .

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 303 / 590

§3.4 Aplicações do cálculo diferencial

Exemplo – estudo da função f(x) = x2/(x − 1) (continuação)

2

4

1

−1

1

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 304 / 590

Índice

1 Funções reais de variável real: generalidades e exemplos

2 Funções reais de variável real: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em R

4 PrimitivasPrimitivas imediatasPrimitivação por partesPrimitivação por substituiçãoPrimitivas de funções racionais

5 Cálculo integral em R

6 Sucessões e séries

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 305 / 590

Índice

1 Funções reais de variável real: generalidades e exemplos

2 Funções reais de variável real: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em R

4 PrimitivasPrimitivas imediatasPrimitivação por partesPrimitivação por substituiçãoPrimitivas de funções racionais

5 Cálculo integral em R

6 Sucessões e séries

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 306 / 590

§4.1 Primitivas imediatas

Sejam I um intervalo ef : I → R

uma função. Chama-se primitiva de f em I a toda a função

F : I → R

tal queF ′(x) = f(x) para qualquer x ∈ I.

Diz-se que f é primitivável em I quando f possui pelo menos umaprimitiva.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 307 / 590

§4.1 Primitivas imediatas

Exemplos

a) Uma primitiva da função f : R → R dada por

f(x) = x

é a função F : R → R definida por

F (x) =x2

2.

b) Dum modo mais geral, dado n ∈ N, uma primitiva da funçãof : R → R definida por

f(x) = xn

é a função F : R → R definida por

F (x) =xn+1

n + 1.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 308 / 590

§4.1 Primitivas imediatas

Sejam I um intervalo eF : I → R

uma primitiva de uma função

f : I → R.

Então, para qualquer c ∈ R, a função

F + c

é também uma primitiva de f .

Reciprocamente, qualquer outra primitiva de f é da forma

F + c, c ∈ R.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 309 / 590

§4.1 Primitivas imediatas

O conjunto das primitivas de uma função f : I → R representa-se por∫

f(x) dx.

Tendo em conta o que vimos anteriormente, se F : I → R é uma primitiva def temos

f(x) dx = {F (x) + c : c ∈ R} .

Por uma questão de simplicidade de escrita escrevemos apenas∫

f(x) dx = F (x) + c.

Assim,∫

x dx =x2

2+ c

e de um modo mais geral∫

xn dx =xn+1

n + 1+ c.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 310 / 590

§4.1 Primitivas imediatas

Se f e g são duas funções primitiváveis num intervalo I e k ∈ R, então

f(x) + g(x) dx =∫

f(x) dx +∫

g(x) dx

e∫

kf(x) dx = k

f(x) dx.

Assim,∫

anxn + an−1xn−1 + · · · + a1x + a0 dx

= anxn+1

n + 1+ an−1

xn

n+ · · · + a1

x2

2+ a0x + c.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 311 / 590

§4.1 Primitivas imediatas

Nem todas as funções são primitiváveis. Por exemplo, a funçãof : R → R definida por

f(x) =

{

1 se x > 0,

0 se x < 0,

não é primitivável em R, pois se F fosse uma primitiva de f , arestrição de F ao intervalo ]0, +∞[ seria uma função da forma x + c e arestrição de F ao intervalo ] − ∞, 0[ seria da forma d. Assim a restriçãode F a R \ {0} seria

F (x) =

{

x + c se x > 0;

d se x < 0;

e independentemente do valor que se dê a F (0), a função F não éderivável em x = 0, o que contradiz o facto de F ser uma primitiva def .

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 312 / 590

§4.1 Primitivas imediatas

Já sabemos que para qualquer x > 0 se tem

(ln x)′ =1x

e se x < 0 tem-se

[ln (−x)]′ =(−x)′

−x=

−1−x

=1x

.

Assim, uma primitiva da função f(x) =1x

em R \ {0} é a função ln |x|. No

entanto, as funções do tipoln |x| + c

não nos dão todas as primitivas de f(x) =1x

. Para obtermos todas as

primitivas de f temos de considerar todas as funções da forma{

ln x + c1 se x > 0;ln (−x) + c2 se x < 0.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 313 / 590

§4.1 Primitivas imediatas

Por uma questão de simplicidade passamos a representar todas asfunções da forma

{

ln x + c1 se x > 0;

ln (−x) + c2 se x < 0.

porln |x| + c,

ou seja,∫

1x

dx = ln |x| + c.

O que foi feito relativamente à função

f(x) =1x

será feito relativamente a todas as funções cujo domínio é a reunião deintervalos disjuntos dois a dois.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 314 / 590

§4.1 Primitivas imediatas

xα dx =xα+1

α + 1+ c

α 6= −1

u′(x) [u(x)]α dx =[u(x)]α+1

α + 1+ c

α 6= −1

1x

dx = ln |x| + c

u′(x)u(x)

dx = ln |u(x)| + c

ex dx = ex +c

u′(x) eu(x) dx = eu(x) +c

sen x dx = − cos x + c

u′(x) sen [u(x)] dx = − cos [u(x)] + c

cos x dx = sen x + c

u′(x) cos [u(x)] dx = sen [u(x)] + c

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 315 / 590

§4.1 Primitivas imediatas

1cos2 x

dx = tg x + c

u′(x)cos2 [u(x)]

dx = tg [u(x)] + c

1sen2 x

dx = − cotg x + c

u′(x)sen2 [u(x)]

dx = − cotg [u(x)] + c

senh x dx = cosh x + c

u′(x) senh [u(x)] dx = cosh [u(x)]+c

cosh x dx = senh x + c

u′(x) cosh [u(x)] dx = senh [u(x)]+c

1√1 − x2

dx = arc sen x + c

u′(x)√

1 − [u(x)]2dx = arc sen [u(x)] + c

11 + x2

dx = arc tg x + c

u′(x)

1 + [u(x)]2dx = arc tg [u(x)] + c

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 316 / 590

Índice

1 Funções reais de variável real: generalidades e exemplos

2 Funções reais de variável real: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em R

4 PrimitivasPrimitivas imediatasPrimitivação por partesPrimitivação por substituiçãoPrimitivas de funções racionais

5 Cálculo integral em R

6 Sucessões e séries

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 317 / 590

§4.2 Primitivação por partes

Sejam I um intervalo ef, g : I → R

duas funções diferenciáveis em I. Como

[f(x) g(x)]′ = f ′(x) g(x) + f(x) g′(x)

tem-sef ′(x) g(x) = [f(x) g(x)]′ − f(x) g′(x).

Assim, f ′ g é primitivável se e só se f g′ o é e∫

f ′(x) g(x) dx =∫

[f(x) g(x)]′ dx −∫

f(x) g′(x) dx,

ou seja,∫

f ′(x) g(x) dx = f(x) g(x) −∫

f(x) g′(x) dx

que é a fórmula de primitivação por partes.António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 318 / 590

§4.2 Primitivação por partes

Exemplos de primitivação por partes

a) Calculemos por partes∫

x sen x dx:∫

x sen x dx =x2

2sen x −

x2

2(sen x)′

dx

=x2

2sen x −

x2

2cos x dx.

A primitiva que agora temos de calcular é mais complicada do que ainicial. No entanto, trocando os papeis das funções temos

x sen x dx = (− cos x) x −∫

(− cos x) x′ dx

= −x cos x −∫

(− cos x) dx

= −x cos x +∫

cos x dx

= −x cos x + sen x + c.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 319 / 590

§4.2 Primitivação por partes

Exemplos de primitivação por partes (continuação)

b) Para primitivarmos a função ln x temos de primitivar por partes:∫

ln x dx =∫

1 . ln x dx

= x ln x −∫

x (ln x)′ dx

= x ln x −∫

x1x

dx

= x ln x −∫

1 dx

= x ln x − x + c

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 320 / 590

§4.2 Primitivação por partes

Exemplos de primitivação por partes (continuação)

c) Vejamos como primitivar a função arc tg x:∫

arc tg x dx =∫

1. arc tg x dx

= x arc tg x −∫

x (arc tg x)′ dx

= x arc tg x −∫

x1

1 + x2dx

= x arc tg x −∫

x

1 + x2dx

= x arc tg x − 12

2x

1 + x2dx

= x arc tg x − 12

ln∣

∣1 + x2∣

∣+ c

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 321 / 590

§4.2 Primitivação por partes

Exemplos de primitivação por partes (continuação)

d) A primitiva de arc sen x calcula-se de forma semelhante:∫

arc sen x dx =∫

1 . arc sen x dx

= x arc sen x −∫

x (arc sen x)′ dx

= x arc sen x −∫

x1√

1 − x2dx

= x arc sen x −∫

x√1 − x2

dx

= x arc sen x +∫ −2x

2√

1 − x2dx

= x arc sen x +√

1 − x2 + c

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 322 / 590

§4.2 Primitivação por partes

Exemplos de primitivação por partes (continuação)

e) Primitivando por partes a função sen2 x temos∫

sen2 x dx =∫

sen x sen x dx

= − cos x sen x −∫

− cos x (sen x)′ dx

= − cos x sen x −∫

− cos x cos x dx

= − sen x cos x +∫

cos2 x dx

= − sen x cos x +∫

1 − sen2 x dx

= − sen x cos x + x −∫

sen2 x dx.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 323 / 590

§4.2 Primitivação por partes

Exemplos de primitivação por partes (continuação)

e) (continuação) Fazendo I =∫

sen2 x dx em∫

sen2 x dx = − sen x cos x + x −∫

sen2 x dx

tem-seI = − sen x cos x + x − I

o que implica2I = − sen x cos x + x

e, portanto,I = −sen x cos x

2+

x

2.

Assim,∫

sen2 x dx = −sen x cos x

2+

x

2+ c.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 324 / 590

§4.2 Primitivação por partes

Exemplos de primitivação por partes (continuação)

f) Primitivemos por partes a função ex sen x:∫

ex sen x dx = ex sen x −∫

ex(sen x)′ dx

= ex sen x −∫

ex cos x dx

= ex sen x −(

ex cos x −∫

ex(cos x)′ dx

)

= ex sen x − ex cos x +∫

ex(− sen x) dx

= ex sen x − ex cos x −∫

ex sen x dx

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 325 / 590

§4.2 Primitivação por partes

Exemplos de primitivação por partes (continuação)

f) (continuação) De∫

ex sen x dx = ex sen x − ex cos x −∫

ex sen x dx

concluímos que

2∫

ex sen x dx = ex sen x − ex cos x

e, portanto,∫

ex sen x dx =ex

2(sen x − cos x) + c.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 326 / 590

Índice

1 Funções reais de variável real: generalidades e exemplos

2 Funções reais de variável real: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em R

4 PrimitivasPrimitivas imediatasPrimitivação por partesPrimitivação por substituiçãoPrimitivas de funções racionais

5 Cálculo integral em R

6 Sucessões e séries

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 327 / 590

§4.3 Primitivação por substituição

Sejam I e J dois intervalos de R, f : I → R uma função primitivável eϕ : J → I uma função bijectiva e diferenciável e tal que ϕ′(t) 6= 0 paracada t ∈ J . Suponhamos que F : I → R é uma primitiva de f . Como

(F ◦ ϕ)′ (t) = F ′ (ϕ(t)) ϕ′(t) = f (ϕ(t)) ϕ′(t)

F ◦ ϕ é uma primitiva de (f ◦ ϕ) ϕ′. Assim, para calcularmos asprimitivas de f(x) basta calcularmos as primitivas de f (ϕ(t)) ϕ′(t) edepois fazer a mudança de variável t = ϕ−1(x), ou seja,

f(x) dx =∫

f(ϕ(t)) ϕ′(t) dt

∣t=ϕ−1(x).

Para primitivarmos por substituição usamos a notação

dx = ϕ′(t)dt.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 328 / 590

§4.3 Primitivação por substituição

Exemplos de primitivação por substituição

a) Para calcularmos∫

a2 − x2 dx, a > 0, fazemos a substituição

x = a sen t

e, portanto,dx = (a sen t)′ dt = a cos t dt

o que dá∫

a2 − x2 dx =∫

a2 − a2 sen2 t a cos t dt

=∫

a2(1 − sen2 t) a cos t dt

=∫ √

a2 cos2 t a cos t dt

=∫

a cos t a cos t dt

= a2

cos2 t dt.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 329 / 590

§4.3 Primitivação por substituição

Exemplos de primitivação por substituição (continuação)

a) (continuação) Primitivando por partes∫

cos2 t dt temos∫

cos2 t dt =∫

cos t cos t dt

= sen t cos t −∫

sen t (− sen t) dt

= sen t cos t +∫

1 − cos2 t dt

= sen t cos t + t −∫

cos2 t dt

e, portanto,

2∫

cos2 t dt = sen t cos t + t

o que implica∫

cos2 t dt =sen t cos t

2+

t

2+ c

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 330 / 590

§4.3 Primitivação por substituição

Exemplos de primitivação por substituição (continuação)

a) (continuação) Assim,∫

a2 − x2 dx = a2∫

cos2 t dt

= a2 sen t cos t

2+ a2 t

2+ c

e atendendo a quex = a sen t,

resultat = arcsen

x

a

o que dá∫

a2 − x2 dx =ax

2cos

(

arc senx

a

)

+a2

2arc sen

x

a+ c

=x

2

a2 − x2 +a2

2arc sen

x

a+ c

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 331 / 590

§4.3 Primitivação por substituição

Exemplos de primitivação por substituição (continuação)

b) Para calcularmos a primitiva∫

1

x2√

1 − x2dx

fazemos a substituiçãox = sen t

o que dá

dx = (sen t)′ dt

= cos t dt.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 332 / 590

§4.3 Primitivação por substituição

Exemplos de primitivação por substituição (continuação)

b) (continuação) Assim,∫

1

x2√

1 − x2dx =

1

sen2 t√

1 − sen2 tcos t dt

=∫

1sen2 t cos t

cos t dt

=∫

1sen2 t

dt

= − cotg t + c

= − cotg(arc sen x) + c

= −√

1 − x2

x+ c

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 333 / 590

§4.3 Primitivação por substituição

Exemplos de primitivação por substituição (continuação)

c) Se quisermos calcular a primitiva∫

1

(1 + x2)√

1 + x2dx

fazemos a substituição x = tg t e, portanto, dx =1

cos2 tdt, o que dá

1

(1 + x2)√

1 + x2dx =

1(

1 + tg2 t)

1 + tg2 t

1cos2 t

dt

=∫

11

cos2 t

1cos2 t

1cos2 t

dt

=∫

cos t dt = sen t + c

= sen (arc tg x) + c =x√

1 + x2+ c

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 334 / 590

§4.3 Primitivação por substituição

Exemplos de primitivação por substituição (continuação)

d) Calculemos∫

1

x2√

x2 + 4dx,

usando a substituiçãox = 2 tg t.

Entãodx = (2 tg t)′ dt =

2cos2 t

dt.

Além disso,

x2 + 4 =√

(2 tg t)2 + 4 =√

4 tg2 t + 4

=√

4(

tg2 t + 1)

= 2

1cos2 t

=2

cos t

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 335 / 590

§4.3 Primitivação por substituição

Exemplos de primitivação por substituição (continuação)

d) (continuação) Assim,∫

1

x2√

x2 + 4dx =

1

4 tg2 t2

cos t

2cos2 t

dt =14

1sen2 t

cos2 t

1cos t

dt

=14

cos t sen−2 t dt =14

sen−1 t

−1+ c

= − 14 sen t

+ c = − 14 sen (arc tg x/2)

+ c

= −√

x2 + 44x

+ c

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 336 / 590

§4.3 Primitivação por substituição

Exemplos de primitivação por substituição (continuação)

e) Calculemos a seguinte primitiva∫

1

x2√

x2 − 1dx,

fazendo a substituição

x = sec t =1

cos t

e, portanto,

dx =(

1cos t

)′dt =

sen t

cos2 tdt.

Além disso,

x2 − 1 =

1cos2 t

− 1 =√

tg2 t = tg t.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 337 / 590

§4.3 Primitivação por substituição

Exemplos de primitivação por substituição (continuação)

e) (continuação) Assim,∫

1

x2√

x2 − 1dx =

11

cos2 ttg t

sen t

cos2 tdt

=∫

cos t dt

= sen t + c

= sen(

arccos1x

)

+ c

=

√x2 − 1

x+ c

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 338 / 590

Índice

1 Funções reais de variável real: generalidades e exemplos

2 Funções reais de variável real: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em R

4 PrimitivasPrimitivas imediatasPrimitivação por partesPrimitivação por substituiçãoPrimitivas de funções racionais

5 Cálculo integral em R

6 Sucessões e séries

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 339 / 590

§4.4 Primitivas de funções racionais

Uma função racional é uma função f : D → R definida por

f(x) =P (x)Q(x)

onde P e Q são polinómios e D = {x ∈ R : Q(x) 6= 0}. Assumimos queP e Q não têm zeros (reais ou complexos) comuns. Se o grau de P émaior ou igual do que o grau de Q, então fazendo a divisão de P por Qtemos

P (x) = D(x)Q(x) + R(x)

e, portanto,P (x)Q(x)

= D(x) +R(x)Q(x)

onde D e R são polinómios e o grau de R é menor do que o grau de Q.Assim, para primitivarmos as funções racionais basta sabermosprimitivar as funções racionais onde o grau do numerador é menor doque o grau do denominador.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 340 / 590

§4.4 Primitivas de funções racionais

Sejam P e Q dois polinómios com o grau de P menor do que o grau deQ e sem zeros (reais ou complexos) em comum. Então

Q(x) = (x − a1)n1 . . . (x − ak)nk

[

(x − α1)2 + β21

]m1

. . .[

(x − αl)2 + β2

l

]ml

onde os zeros reais de Q são

a1, . . . , ak com multiplicidades n1, . . . , nk,

respectivamente, e os zeros complexos de Q são

α1 + β1i, . . . , αl + βli com multiplicidades m1, . . . , ml,

respectivamente, e

α1 − β1i, . . . , αl − βli com multiplicidades m1, . . . , ml,

respectivamente.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 341 / 590

§4.4 Primitivas de funções racionais

Além disso, existem números reais A′s, B′s e C ′s tais que

P (x)Q(x)

=A1,1

x − a1+ · · · +

A1,n1

(x − a1)n1+

+ · · · +Ak,1

x − ak+ · · · +

Ak,nk

(x − ak)nk+

+B1,1x + C1,1

(x − α1)2 + β21

+ · · · +B1,m1x + C1,m1

[

(x − α1)2 + β21

]m1+

+ · · · +Bl,1x + Cl,1

(x − αl)2 + β2

l

+ · · · +Bl,m1x + Cl,ml

[

(x − αl)2 + β2

l

]ml,

ou seja,

P (x)Q(x)

=k∑

i=1

ni∑

j=1

Ai,j

(x − ai)j +

l∑

i=1

ml∑

j=1

Bi,jx + Ci,j[

(x − αi)2 + β2

i

]j .

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 342 / 590

§4.4 Primitivas de funções racionais

Exemplos de primitivação de funções racionais

a) Calculemos∫

x2

x2 − 1dx.

Fazendo a divisão de x2 por x2 − 1 temosx2 +0x +0 | x2 +0x −1

−x2 −0x +1 1

+0x +1e, portanto,

x2

x2 − 1= 1 +

1x2 − 1

.

Agora precisamos de factorizar o denominador. Para isso basta terem conta que zeros do denominador que são 1 e −1.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 343 / 590

§4.4 Primitivas de funções racionais

Exemplos de primitivação de funções racionais (continuação)

a) (continuação) Então existem números reais A e B tais que

1x2 − 1

=1

(x − 1)(x + 1)=

A

x − 1+

B

x + 1

e, portanto,1

x2 − 1=

A(x + 1) + B(x − 1)(x − 1) (x + 1)

,

pelo queA(x + 1) + B(x − 1) = 1.

Fazendo x = −1 resulta que B = − 1/2 e fazendo x = 1 tem-seA = 1/2, ou seja,

1x2 − 1

=1/2

x − 1− 1/2

x + 1.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 344 / 590

§4.4 Primitivas de funções racionais

Exemplos de primitivação de funções racionais (continuação)

a) (continuação) Assim,

x2

x2 − 1dx =

1 +1

x2 − 1dx

=∫

1 +1/2

x − 1+

−1/2x + 1

dx

=∫

1 dx +12

1x − 1

dx − 12

1x + 1

dx

= x +12

ln |x − 1| − 12

ln |x + 1| + c.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 345 / 590

§4.4 Primitivas de funções racionais

Exemplos de primitivação de funções racionais (continuação)

b) Consideremos a função f definida por

f(x) =x + 1

x3 (x2 + 1).

Então temos de ter

f(x) =x + 1

x3 (x2 + 1)=

A

x3+

B

x2+

C

x+

Dx + E

x2 + 1

e, portanto,

A(

x2 + 1)

+ Bx(

x2 + 1)

+ Cx2(

x2 + 1)

+ (Dx + E) x3

x3 (x2 + 1)=

x + 1x3 (x2 + 1)

,

o que implica

A(

x2 + 1)

+ Bx(

x2 + 1)

+ Cx2(

x2 + 1)

+ (Dx + E) x3 = x + 1.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 346 / 590

§4.4 Primitivas de funções racionais

Exemplos de primitivação de funções racionais (continuação)

b) (continuação) Fazendo x = 0 em

A(

x2 + 1)

+ Bx(

x2 + 1)

+ Cx2(

x2 + 1)

+ (Dx + E) x3 = x + 1.

temos A = 1 e fazendo x = i tem-se

(Di + E) i3 = i + 1 ⇔ (Di + E) (−i) = 1 + i ⇔ D − Ei = 1 + i

o que implica D = 1 e E = −1. Fazendo x = 1 obtemos

2A + 2B + 2C + D + E = 2 ⇔ 2 + 2B + 2C + 1 − 1 = 2 ⇔ B + C = 0

e fazendo x = −1 resulta

2A − 2B + 2C + D − E = 0 ⇔ 2 − 2B + 2C + 1 − (−1) = 0

⇔ −2B + 2C = −4

⇔ −B + C = −2,

o que dá o sistema{

B + C = 0

−B + C = −2⇔

{

B = −C

C + C = −2⇔

{

B = 1

C = −1

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 347 / 590

§4.4 Primitivas de funções racionais

Exemplos de primitivação de funções racionais (continuação)

b) (continuação) Assim,x + 1

x3 (x2 + 1)=

1x3

+1x2

− 1x

+x − 1x2 + 1

pelo que∫

x + 1x3 (x2 + 1)

dx

=∫

1x3

dx +∫

1x2

dx −∫

1x

dx +∫

x − 1x2 + 1

dx

=∫

x−3 dx +∫

x−2 dx −∫

1x

dx +12

2x

x2 + 1dx −

1x2 + 1

dx

=x−2

−2+

x−1

−1− ln |x| +

12

ln(

x2 + 1)

− arc tg x + c

= − 12x2

− 1x

− ln |x| +12

ln(

x2 + 1)

− arc tg x + c

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 348 / 590

§4.4 Primitivas de funções racionais

Tendo em conta a decomposição que obtivemos, para primitivarmosfunções racionais basta sabermos calcular as seguintes primitivas

A

(x − a)kdx

e∫

Bx + C[

(x − α)2 + β2]k

dx,

onde A, B, C, a, α ∈ R, β ∈ R \ {0} e k ∈ N.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 349 / 590

§4.4 Primitivas de funções racionais

A primeira primitiva é bastante simples de calcular pois quando k = 1temos

A

x − adx = A

1x − a

dx = A ln |x − a| + c

e quando k > 1 vem∫

A

(x − a)kdx = A

(x − a)−k dx

= A(x − a)−k+1

−k + 1+ c

= − A

k − 11

(x − a)k−1+ c.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 350 / 590

§4.4 Primitivas de funções racionais

Para as funções do tipoBx + C

(x − α)2 + β2

fazendo a mudança de variável x = α + βt tem-se dx = βdt e

Bx + C

(x − α)2 + β2dx =

B (α + βt) + C

β2t2 + β2β dt

=∫

βBt + αB + C

β2 (t2 + 1)β dt

=B

2

2t

t2 + 1dt +

αB + C

β

1t2 + 1

dt

=B

2ln∣

∣t2 + 1∣

∣+αB + C

βarc tg t + c

=B

2ln

(

x − α

β

)2

+ 1

+αB + C

βarc tg

x − α

β+ c

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 351 / 590

§4.4 Primitivas de funções racionais

Usando a mesma mudança de variável x = α + βt, pelo que dx = βdt, vem∫

Bx + C[

(x − α)2 + β2]k

dx =∫

B (α + βt) + C

(β2t2 + β2)kβ dt

=∫

βBt + αB + C

β2k (t2 + 1)kβ dt

=B

2β2k−2

2t

(t2 + 1)kdt +

αB + C

β2k−1

1

(t2 + 1)kdt

=B

2β2k−2

2t(

t2 + 1)−k

dt +αB + C

β2k−1

1

(t2 + 1)kdt

=B

2β2k−2

(

t2 + 1)−k+1

−k + 1+

αB + C

β2k−1

1

(t2 + 1)kdt

e, portanto, temos de saber calcular

Ik =∫

1

(t2 + 1)kdt.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 352 / 590

§4.4 Primitivas de funções racionais

Para isso temos

Ik =

1

(t2 + 1)kdt =

t2 + 1 − t2

(t2 + 1)kdt =

1

(t2 + 1)k−1dt −

t2

(t2 + 1)kdt

= Ik−1 −1

2

2t(

t2 + 1)

−kt dt

= Ik−1 −1

2

[

(

t2 + 1)

−k+1

−k + 1t −

(

t2 + 1)

−k+1

−k + 11 dt

]

= Ik−1 −1

2

[

1

1 − k

t

(t2 + 1)k−1−

1

1 − k

1

(t2 + 1)k−1dt

]

= Ik−1 +1

2k − 2

t

(t2 + 1)k−1+

1

2 − 2kIk−1

=3 − 2k

2 − 2kIk−1 +

1

2k − 2

t

(t2 + 1)k−1

o que dá uma fórmula por recorrência para calcular primitivas do tipo∫

1

(t2 + 1)kdt.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 353 / 590

§4.4 Primitivas de funções racionais

Primitivação de funções racionais – resumo

Para primitivarmos uma função racionalP (x)Q(x)

, com P e Q polinómios sem

zeros (reais ou complexos) comuns, devemos fazer o seguinte:

1) se o grau de P é maior ou igual do que o grau de Q, fazemos a divisão de

P por Q. Deste modoP (x)Q(x)

é igual à soma de um polinómio com uma

função racional em que o grau do numerador é menor do que o grau dodenominador;

2) factorizar Q(x) como o produto de factores da forma

x − a ou (x − α)2 + β2,

agrupando os factores repetidos de modo que fiquemos com factoresdiferentes da forma

(x − a)n ou[

(x − α)2 + β2]m

,

com n, m ∈ N;

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 354 / 590

§4.4 Primitivas de funções racionais

Primitivação de funções racionais – resumo (continuação)

3) decompor a função racional (a que obtivemos na divisão ou a inical, casonão tenha sido necessário fazer a divisão) numa soma de parcelas da forma

A1

(x − a)n+

A2

(x − a)n−1+ · · · +

An−1

(x − a)2+

An

(x − a),

por cada factor

(x − a)n, n ∈ N

que aparece na factorização de Q(x), e da forma

B1x + C1

[(x − α)2 + β2]m+

B2x + C2

[(x − α)2 + β2]m−1+ · · ·+

Bm−1x + Cm−1

[(x − α)2 + β2]2+

Bmx + Cm

(x − α)2 + β2,

por cada factor[

(x − α)2 + β2]m

, m ∈ N

que aparece na factorização de Q(x) e onde cada Ak, cada Bk e cada Ck éum número real;

4) primitivar cada uma das parcelas obtidas na decomposição.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 355 / 590

§4.4 Primitivas de funções racionais

Exemplo de primitivação de uma função racional

Calculemos a primitiva∫

3x5 + 3x4 + 6x3 + 6x2 + x + 2

x2(x2 + 1)2dx.

Pelo que vimos anteriormente temos de fazer a seguinte decomposição

3x5 + 3x4 + 6x3 + 6x2 + x + 2

x2(x2 + 1)2=

A

x2+

B

x+

Cx + D

(x2 + 1)2+

Ex + F

x2 + 1.

Assim, temos

A(x2 + 1)2 + Bx(x2 + 1)2 + (Cx + D)x2 + (Ex + F )x2(x2 + 1)

= 3x5 + 3x4 + 6x3 + 6x2 + x + 2

donde

A(x4 + 2x2 + 1) + B(x5 + 2x3 + x) + Cx3 + Dx2 + E(x5 + x3) + F (x4 + x2)

= 3x5 + 3x4 + 6x3 + 6x2 + x + 2

e, portanto,

(B + E)x5 + (A + F )x4 + (2B + C + E)x3 + (2A + D + F )x2 + Bx + A

= 3x5 + 3x4 + 6x3 + 6x2 + x + 2.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 356 / 590

§4.4 Primitivas de funções racionais

Exemplo de primitivação de uma função racional (continuação)

Assim, de

(B + E)x5 + (A + F )x4 + (2B + C + E)x3 + (2A + D + F )x2 + Bx + A

= 3x5 + 3x4 + 6x3 + 6x2 + x + 2

resulta

B + E = 3

A + F = 3

2B + C + E = 6

2A + D + F = 6

B = 1

A = 2

E = 2

F = 1

C = 2

D = 1

B = 1

A = 2

pelo que

3x5 + 3x4 + 6x3 + 6x2 + x + 2

x2(x2 + 1)2=

2

x2+

1

x+

2x + 1

(x2 + 1)2+

2x + 1

x2 + 1.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 357 / 590

§4.4 Primitivas de funções racionais

Exemplo de primitivação de uma função racional (continuação)

Deste modo∫

3x5 + 3x4 + 6x3 + 6x2 + x + 2

x2(x2 + 1)2dx

=

2

x2+

1

x+

2x + 1

(x2 + 1)2+

2x + 1

x2 + 1dx

= 2

x−2 dx +

1

xdx +

2x(x2 + 1)−2 dx +

1

(x2 + 1)2dx

+

2x

x2 + 1dx +

1

x2 + 1dx

= 2x−1

−1+ ln |x| +

(x2 + 1)−1

−1+

1

(x2 + 1)2dx + ln |x2 + 1| + arc tg x

= −2

x+ ln |x| −

1

x2 + 1+

1

(x2 + 1)2dx + ln |x2 + 1| + arc tg x.

Falta calcular∫

1

(x2 + 1)2dx.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 358 / 590

§4.4 Primitivas de funções racionais

Exemplo de primitivação de uma função racional (continuação)∫

1

(x2 + 1)2 dx =∫

x2 + 1 − x2

(x2 + 1)2 dx

=∫

x2 + 1

(x2 + 1)2 dx −∫

x2

(x2 + 1)2 dx

=∫

1x2 + 1

dx − 12

2x(

x2 + 1)−2

x dx

= arc tg x − 12

[

(

x2 + 1)−1

−1x −

(

x2 + 1)−1

−11 dx

]

= arc tg x − 12

[

− x

x2 + 1+∫

1x2 + 1

dx

]

= arc tg x +12

x

x2 + 1− 1

2arc tg x + c

=12

arc tg x +12

x

x2 + 1+ c

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 359 / 590

§4.4 Primitivas de funções racionais

Exemplo de primitivação de uma função racional (continuação)

Tendo em conta que∫

1

(x2 + 1)2 dx =12

arc tg x +12

x

x2 + 1+ c,

tem-se∫

3x5 + 3x4 + 6x3 + 6x2 + x + 2x2(x2 + 1)2

dx

= − 2x

+ ln |x| − 1x2 + 1

+∫

1(x2 + 1)2

dx + ln |x2 + 1| + arc tg x

= − 2x

+ ln |x| − 1x2 + 1

+12

arc tg x +12

x

x2 + 1+ ln |x2 + 1| + arc tg x + c

= − 2x

+ ln |x| − 1x2 + 1

+12

x

x2 + 1+ ln |x2 + 1| +

32

arc tg x + c

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 360 / 590

§4.4 Primitivas de funções racionais

Exemplo de primitivação de uma função racional (continuação)

Fazendo a substituição x = tg t, podemos calcular∫

1(x2 + 1)2

dx de outro

modo. Assim, tendo em conta que dx =1

cos2 tdt, temos

1(x2 + 1)2

dx =∫

1(tg2 t + 1)2

1cos2 t

dt =∫

1(1/ cos2 t)2

1cos2 t

dt

=∫

cos2 t dt =∫

cos(2t) + 12

dt =14

2 cos(2t) dt +12

1 dt

=14

sen(2t) +t

2+ c =

sen t cos t

2+

t

2+ c

=sen(arc tg x) cos(arc tg x)

2+

arc tg x

2+ c

=12

x

x2 + 1+

12

arc tg x + c

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 361 / 590

Índice

1 Funções reais de variável real: generalidades e exemplos

2 Funções reais de variável real: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em R

4 Primitivas

5 Cálculo integral em R

Integral de Riemann: definição, propriedades e exemplosTeorema Fundamental do CálculoIntegração por partes e integração por substituiçãoAplicações do cálculo integralIntegrais impróprios

6 Sucessões e séries

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 362 / 590

Índice

1 Funções reais de variável real: generalidades e exemplos

2 Funções reais de variável real: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em R

4 Primitivas

5 Cálculo integral em R

Integral de Riemann: definição, propriedades e exemplosTeorema Fundamental do CálculoIntegração por partes e integração por substituiçãoAplicações do cálculo integralIntegrais impróprios

6 Sucessões e séries

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 363 / 590

§5.1 Integral de Riemann: definição, propriedades e exemplos

Seja [a, b] um intervalo de R com mais do que um ponto, ou seja, a < b.Chama-se partição de [a, b] a todo o subconjunto

P = {x0, x1, . . . , xn−1, xn}

coma = x0 < x1 < . . . < xn−1 < xn = b.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 364 / 590

§5.1 Integral de Riemann: definição, propriedades e exemplos

Sejaf : [a, b] → R

uma função limitada. Para cada partição

P = {x0, x1, . . . , xn−1, xn}

de [a, b], usa-se a notação

mi = mi(f, P ) = inf {f(x) : x ∈ [xi−1, xi]}

eMi = Mi(f, P ) = sup {f(x) : x ∈ [xi−1, xi]} ,

i = 1, . . . , n.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 365 / 590

§5.1 Integral de Riemann: definição, propriedades e exemplos

Designa-se por soma inferior da função f relativa à partição P aonúmero

s(f, P ) =n∑

i=1

mi(f, P ) (xi − xi−1) .

Do mesmo modo, chamamos soma superior da função f relativa àpartição P ao número

S(f, P ) =n∑

i=1

Mi(f, P ) (xi − xi−1) .

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 366 / 590

§5.1 Integral de Riemann: definição, propriedades e exemplos

x

y

a b

b

b

qx0

x1 x2 x3 x4 x5 x6 x7q

x8

m1 b

bm2=m4=m8

b

b

m3

m5

m6

m7

b

b

Interpretação geométrica das somas inferioresde uma função f : [a, b] → R

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 367 / 590

§5.1 Integral de Riemann: definição, propriedades e exemplos

x

y

a b

b

b

qx0

x1 x2 x3 x4 x5 x6 x7q

x8

b

b

Interpretação geométrica das somas superioresde uma função f : [a, b] → R

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 368 / 590

§5.1 Integral de Riemann: definição, propriedades e exemplos

Exemplos de somas superiores e de somas inferiores

a) Consideremos a função f : [a, b] → R a função definida por f(x) = c,c ∈ R. Dada uma partição P = {x0, x1, . . . , xn−1, xn} de [a, b], temos

mi(f, P ) = c e Mi(f, P ) = c

e, portanto,

s(f, P ) =n∑

i=1

mi(f, P ) (xi − xi−1) =n∑

i=1

c (xi − xi−1)

= c

n∑

i=1

(xi − xi−1) = c (b − a)

e

S(f, P ) =n∑

i=1

Mi(f, P ) (xi − xi−1) =n∑

i=1

c (xi − xi−1)

= c

n∑

i=1

(xi − xi−1) = c (b − a).

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 369 / 590

§5.1 Integral de Riemann: definição, propriedades e exemplos

Exemplos de somas superiores e de somas inferiores (continuação)

b) Seja f : [0, 1] → R a função definida por

f(x) =

{

0 se x ∈ [0, 1] ∩ Q,

1 se x ∈ [0, 1] ∩ (R \ Q) .

Dada uma partição P de [0, 1], atendendo a que

mi(f, P ) = 0 e Mi(f, P ) = 1,

temos ques(f, P ) = 0 e S(f, P ) = 1.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 370 / 590

§5.1 Integral de Riemann: definição, propriedades e exemplos

Uma função f : [a, b] → R diz-se integrável à Riemann em [a, b] se esó se existir um e um só número A tal que

s(f, P ) 6 A 6 S(f, P ) para qualquer partição P de [a, b].

O único número A que verifica a desigualdade anterior designa-se porintegral de Riemann de f em [a, b] e representa-se por

∫ b

af(x) dx.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 371 / 590

§5.1 Integral de Riemann: definição, propriedades e exemplos

Exemplos do integral de Riemann

a) Consideremos novamente a função f : [a, b] → R definida porf(x) = c. Já vimos que para qualquer partição P de [a, b] tem-se

s(f, P ) = c (b − a) = S(f, P ).

Assim,

s(f, P ) 6 c (b − a) 6 S(f, P ) para qualquer partição P de [a, b]

e

c (b − a)

é o único número real que verifica as estas desigualdades. Logo f éintegrável à Riemann em [a, b] e

∫ b

af(x) dx = c (b − a).

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 372 / 590

§5.1 Integral de Riemann: definição, propriedades e exemplos

Exemplos do integral de Riemann (continuação)

b) Já vimos que para a função f : [0, 1] → R, definida por

f(x) =

{

0 se x ∈ [0, 1] ∩ Q,

1 se x ∈ [0, 1] ∩ (R \ Q) ,

se tems(f, P ) = 0 e S(f, P ) = 1

qualquer que seja a partição P de [0, 1]. Portanto, se A ∈ [0, 1]tem-se

0 = s(f, P ) 6 A 6 S(f, P ) = 1

para qualquer partição P de [0, 1], o que mostra que f não éintegrável à Riemann em [0, 1].

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 373 / 590

§5.1 Integral de Riemann: definição, propriedades e exemplos

Propriedades dos integrais

Sejam a e b números reais tais que a < b.

a) Sef, g : [a, b] → R

são funções integráveis em [a, b], então f + g é integrável em [a, b] e∫ b

a[f(x) + g(x)] dx =

∫ b

af(x) dx +

∫ b

ag(x) dx.

b) Se λ é um número real e

f : [a, b] → R

é uma função integrável em [a, b], então λ f é integrável em [a, b] e∫ b

aλ f(x) dx = λ

∫ b

af(x) dx.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 374 / 590

§5.1 Integral de Riemann: definição, propriedades e exemplos

Propriedades dos integrais (continuação)

c) Se a, b e c são números reais tais que a < c < b e

f : [a, b] → R

uma função limitada, então f é integrável em [a, b] se e só se f é integrávelem [a, c] e em [c, b]. Além disso,

∫ b

a

f(x) dx =∫ c

a

f(x) dx +∫ b

c

f(x) dx.

d) Se

f, g : [a, b] → R

são duas funções integráveis em [a, b] tais que

f(x) 6 g(x) para cada x ∈ [a, b],

então∫ b

a

f(x) dx 6

∫ b

a

g(x) dx.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 375 / 590

§5.1 Integral de Riemann: definição, propriedades e exemplos

Propriedades dos integrais (continuação)

e) Sejaf : [a, b] → R

uma função integrável. Então |f | é integrável em [a, b] e∣

∫ b

af(x) dx

6

∫ b

a|f(x)| dx.

f) Toda a função contínua f : [a, b] → R é integrável em [a, b].

g) Toda a função monótona f : [a, b] → R é integrável em [a, b].

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 376 / 590

Índice

1 Funções reais de variável real: generalidades e exemplos

2 Funções reais de variável real: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em R

4 Primitivas

5 Cálculo integral em R

Integral de Riemann: definição, propriedades e exemplosTeorema Fundamental do CálculoIntegração por partes e integração por substituiçãoAplicações do cálculo integralIntegrais impróprios

6 Sucessões e séries

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 377 / 590

§5.2 Teorema Fundamental do Cálculo

No que se segue vamos fazer as seguintes convenções∫ a

af(x) dx = 0

e∫ a

bf(x) dx = −

∫ b

af(x) dx.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 378 / 590

§5.2 Teorema Fundamental do Cálculo

Teorema Fundamental do Cálculo

Sejam a, b ∈ R tais que a < b e

f : [a, b] → R

uma função integrável. Então a função

F : [a, b] → R

definida por

F (x) =∫ x

af(t) dt

é contínua em [a, b]. Além disso, se f é contínua num ponto c ∈ [a, b],então F é diferenciável em c e

F ′(c) = f(c).

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 379 / 590

§5.2 Teorema Fundamental do Cálculo

Corolário do Teorema Fundamental do Cálculo

Se a e b são números reais tais que a < b e

f : [a, b] → R

é uma função contínua, então f é primitivável. Além disso, se

F : [a, b] → R

é uma primitiva de f , então

∫ b

af(x) dx = F (b) − F (a).

Esta última igualdade designa-se por fórmula de Barrow.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 380 / 590

§5.2 Teorema Fundamental do Cálculo

A fórmula de Barrow costuma usar-se a seguinte notação

[

F (x)]b

a= F (b) − F (a).

Vejamos que a fórmula de Barrow é válida em condições mais gerais:

Fórmula de Barrow

Sejam a e b números reais tais que a < b e

f : [a, b] → R

uma função integrável à Riemann em [a, b] e primitivável em [a, b].Então, representando por F uma primitiva de f , tem-se

∫ b

af(x) dx =

[

F (x)]b

a= F (b) − F (a).

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 381 / 590

§5.2 Teorema Fundamental do Cálculo

Exemplos

a) Calculemos∫ 1

0x2 dx.

Pelo que vimos anteriormente, para calcularmos o integral dado,basta termos uma primitiva da função

f(x) = x2.

Como uma primitiva de f é a função dada por

F (x) =x3

3,

temos∫ 1

0x2 dx =

[

x3

3

]1

0

=13

3− 03

3=

13

.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 382 / 590

§5.2 Teorema Fundamental do Cálculo

Exemplos (continuação)

b) Calculemos agora∫ π/2

0

sen x dx. Então∫ π/2

0

sen x dx =[

− cos x]π/2

0

= − cosπ

2− (− cos 0)

= 0 − (−1)

= 1.

c) Obviamente também se tem∫ π/2

0

cos x dx =[

sen x]π/2

0

= senπ

2− sen 0

= 1 − 0

= 1.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 383 / 590

§5.2 Teorema Fundamental do Cálculo

Exemplos (continuação)

d) ∫ 2

1

1x3

dx =∫ 2

1x−3 dx

=

[

x−2

−2

]2

1

=[

− 12x2

]2

1

= − 12 . 22

−(

− 12 . 12

)

= −18

+12

=38

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 384 / 590

§5.2 Teorema Fundamental do Cálculo

Exemplos (continuação)

e) ∫

√3

0

1√4 − x2

dx =12

√3

0

1√

1 − x2/4dx

=12

√3

0

1√

1 − (x/2)2dx

=∫

√3

0

1/2√

1 − (x/2)2dx

=[

arc senx

2

]

√3

0

= arcsen

√3

2− arc sen

02

3− 0 =

π

3

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 385 / 590

§5.2 Teorema Fundamental do Cálculo

Exemplos (continuação)

f) ∫3√2

0

x2

4 + x6dx =

14

∫3√2

0

x2

1 + x6/4dx =

14

∫3√2

0

x2

1 + (x3/2)2dx

=14

23

∫3√2

0

3x2/21 + (x3/2)2

dx =16

[

arc tgx3

2

]

3√2

0

=16

[

arc tg( 3√

2)3

2− arc tg

03

2

]

=16

[arc tg 1 − arc tg 0]

=16

(

π

4− 0

)

24

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 386 / 590

Índice

1 Funções reais de variável real: generalidades e exemplos

2 Funções reais de variável real: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em R

4 Primitivas

5 Cálculo integral em R

Integral de Riemann: definição, propriedades e exemplosTeorema Fundamental do CálculoIntegração por partes e integração por substituiçãoAplicações do cálculo integralIntegrais impróprios

6 Sucessões e séries

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 387 / 590

§5.3 Integração por partes e integração por substituição

Integração por partes

Sejam a e b números reais tais a < b e

f, g : [a, b] → R

funções diferenciáveis com derivadas integráveis. Então

∫ b

af ′(x)g(x) dx =

[

f(x)g(x)]b

a−∫ b

af(x)g′(x) dx.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 388 / 590

§5.3 Integração por partes e integração por substituição

Exemplos de integração por partes

a) Calculemos∫ e

1ln x dx. Então

∫ e

1ln x dx =

∫ e

11 . ln x dx

=[

x ln x]e

1−∫ e

1x . (ln x)′ dx

= e . ln e −1 . ln 1 −∫ e

1x .

1x

dx

= e −0 −∫ e

11 dx

= e −[

x]e

1

= e − (e −1)

= 1.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 389 / 590

§5.3 Integração por partes e integração por substituição

Exemplos de integração por partes (continuação)

b) ∫ π

0x cos x dx =

∫ π

0(cos x) x dx

=[

(sen x) x]π

0−∫ π

0(sen x) x′ dx

= (sen π) π − (sen 0) 0 −∫ π

0sen x dx

=∫ π

0− sen x dx

=[

cos x]π

0

= cos π − cos 0

= −1 − 1 = −2.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 390 / 590

§5.3 Integração por partes e integração por substituição

Exemplos de integração por partes (continuação)

c) ∫ 2

0x2 ex dx =

∫ 2

0ex x2 dx

=[

ex x2]2

0−∫ 2

0ex (x2)′ dx

= e2 22 − e0 02 − 2∫ 2

0ex x dx

= 4 e2 −2(

[

ex x]2

0−∫ 2

0ex x′ dx

)

= 4 e2 −2(

e2 2 − e0 0 −∫ 2

0ex dx

)

= 2[

ex]2

0= 2

(

e2 − e0)

= 2 e2 −2

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 391 / 590

§5.3 Integração por partes e integração por substituição

Exemplos de integração por partes (continuação)

d) Calculemos∫ π/2

0cos x ex dx:

∫ π/2

0

cos x ex dx =[

sen x ex]π/2

0−∫ π/2

0

sen x (ex)′dx

= senπ

2eπ/2 − sen 0 e0 −

∫ π/2

0

sen x ex dx

= eπ/2 −[

[

− cos x ex]π/2

0−∫ π/2

0

− cos x (ex)′dx

]

= eπ/2 −[

− cosπ

2eπ/2 −

(

− cos 0 e0)

]

−∫ π/2

0

cos x ex dx

= eπ/2 −1 −∫ π/2

0

cos x ex dx.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 392 / 590

§5.3 Integração por partes e integração por substituição

Exemplos de integração por partes (continuação)

d) (continuação) Acabámos de ver que

∫ π/2

0cos x ex dx = eπ/2 −1 −

∫ π/2

0cos x ex dx,

e, portanto,

2∫ π/2

0cos x ex dx = eπ/2 −1,

o que implica∫ π/2

0cos x ex dx =

eπ/2 −12

.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 393 / 590

§5.3 Integração por partes e integração por substituição

Integração por substituição

Sejam a, b, c e d números reais tais que a < b e c < d,

f : [a, b] → R

uma função contínua eg : [c, d] → R

uma função diferenciável com derivada integrável e tal que

g([c, d]) ⊆ [a, b].

Então∫ g(d)

g(c)f(x) dx =

∫ d

cf(g(t))g′(t) dt.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 394 / 590

§5.3 Integração por partes e integração por substituição

Exemplos de integração por substituição

a) Calculemos∫ 4

0

11 +

√x

dx fazendo a substituição t =√

x. Então

x = t2, pelo que dx = (t2)′ dt = 2t dt.

Além disso, quando x = 0 temos t = 0 e quando x = 4 vem t = 2. Assim,

∫ 4

0

11 +

√x

dx =∫ 2

0

11 + t

2t dt = 2∫ 2

0

t

1 + tdt

= 2∫ 2

0

1 + t − 11 + t

dt = 2∫ 2

0

1 + t

1 + t− 1

1 + tdt

= 2(∫ 2

0

1 dt −∫ 2

0

11 + t

dt

)

= 2(

[

t]2

0−[

ln |1 + t|]2

0

)

= 2 (2 − 0 − (ln 3 − ln 1)) = 4 − 2 ln 3.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 395 / 590

§5.3 Integração por partes e integração por substituição

Exemplos de integração por substituição (continuação)

b) Calculemos∫ 6

1

x√x + 3

dx. Para isso fazemos a substituição

t =√

x + 3,

isto é,x = t2 − 3

e, portanto,

dx =(

t2 − 3)′

dt = 2t dt.

Além disso,quando x = 1 vem t = 2

equando x = 6 temos t = 3.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 396 / 590

§5.3 Integração por partes e integração por substituição

Exemplos de integração por substituição (continuação)

b) (continuação) Assim,

∫ 6

1

x√x + 3

dx =∫ 3

2

t2 − 3t

2t dt

= 2∫ 3

2t2 − 3 dt

= 2

[

t3

3− 3t

]3

2

= 2(

273

− 9 −(

83

− 6))

= 2(

6 − 83

)

=203

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 397 / 590

§5.3 Integração por partes e integração por substituição

Exemplos de integração por substituição (continuação)

c) Para calcularmos∫ 1

0

1ex +1

dx fazemos a substituição

ex = t,

o que implica

x = ln t

e, portanto,

dx = (ln t)′ dt =1t

dt.

Além disso,

quando x = 0 temos t = 1 e quando x = 1 vem t = e.

Assim,

∫ 1

0

1ex +1

dx =∫ e

1

1t + 1

1t

dt =∫ e

1

1t(t + 1)

dt.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 398 / 590

§5.3 Integração por partes e integração por substituição

Exemplos de integração por substituição (continuação)

c) (continuação) Para calcularmos∫ e

1

1t(t + 1)

dt

temos de determinar os números A e B tais que

1t(t + 1)

=A

t+

B

t + 1.

EntãoA(t + 1) + Bt = 1,

pelo que quando t = 0 temos A = 1 e quando t = −1 vem B = −1e, por conseguinte,

1t(t + 1)

=1t

− 1t + 1

.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 399 / 590

§5.3 Integração por partes e integração por substituição

Exemplos de integração por substituição (continuação)

c) (continuação) Assim,

∫ 1

0

1ex +1

dx =∫ e

1

1t(t + 1)

dt

=∫ e

1

1t

− 1t + 1

dt

=[

ln |t| − ln |t + 1|]e

1

= ln e − ln(e +1) − (ln 1 − ln 2)

= 1 − lne +1

2.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 400 / 590

§5.3 Integração por partes e integração por substituição

Exemplos de integração por substituição (continuação)

d) Calculemos∫ 1

−1

1(1 + x2)2

dx. Para isso usamos a substituição

x = tg t, o que implica dx = (tg t)′dt =

1cos2 t

dt.

Obviamente, atendendo a que t = arc tg x,

quando x = −1 tem-se t = arc tg(−1) = − π

4

equando x = 1 vem t = arc tg(1) =

π

4.

Repare-se que

(1 + x2)2 = (1 + tg2 t)2 =(

1cos2 t

)2

=1

cos4 t.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 401 / 590

§5.3 Integração por partes e integração por substituição

Exemplos de integração por substituição (continuação)

d) (continuação) Assim,

∫ 1

−1

1(1 + x2)2

dx =∫ π/4

−π/4

11/ cos4 t

1cos2 t

dt =∫ π/4

−π/4

cos2 t dt

=∫ π/4

−π/4

cos(2t) + 12

dt =12

∫ π/4

−π/4

cos(2t) + 1 dt

=12

[

sen(2t)2

+ t

]π/4

−π/4

=12

(

sen(π/2)2

4−(

sen(−π/2)2

− π

4

))

=12

(

12

4−(

−12

− π

4

))

=π + 2

4

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 402 / 590

Índice

1 Funções reais de variável real: generalidades e exemplos

2 Funções reais de variável real: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em R

4 Primitivas

5 Cálculo integral em R

Integral de Riemann: definição, propriedades e exemplosTeorema Fundamental do CálculoIntegração por partes e integração por substituiçãoAplicações do cálculo integralIntegrais impróprios

6 Sucessões e séries

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 403 / 590

§5.4 Aplicações do cálculo integral

Nesta secção veremos como aplicar o cálculo integral para

• calcular a área de regiões planas;

• calcular o comprimento de curvas planas;

• calcular a área de superfície e o volume de um sólido de revolução.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 404 / 590

§5.4 Aplicações do cálculo integral

Seja f : [a, b] → R uma função integrável tal que f(x) > 0 paraqualquer x ∈ [a, b].

x

y

b

bf(x)

a b

b

b

b

b

A =∫ b

af(x) dx

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 405 / 590

§5.4 Aplicações do cálculo integral

Seja f : [a, b] → R uma função integrável tal que f(x) 6 0 paraqualquer x ∈ [a, b].

x

y

f(x)

b

b

a b

b

b

b

b

A = −∫ b

af(x) dx

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 406 / 590

§5.4 Aplicações do cálculo integral

Seja f : [a, b] → R uma função integrável tal que existe c ∈]a, b[ tal quef(x) > 0 para qualquer x ∈ [a, c] e f(x) 6 0 para qualquer x ∈ [c, b].

x

y

b

b

a

b

b

b

b

b

c

A =∫ c

af(x) dx −

∫ b

cf(x) dx

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 407 / 590

§5.4 Aplicações do cálculo integral

Sejam f, g : [a, b] → R uma funções integráveis tal que f(x) > g(x) paraqualquer x ∈ [a, b].

x

y

b

b

f(x)

b b

g(x)

a b

b

b

b b

b

b

b b

A =∫ b

af(x) − g(x) dx

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 408 / 590

§5.4 Aplicações do cálculo integral

Sejam f, g : [a, b] → R funções integráveis tal que existe c ∈]a, b[ tal quef(x) > g(x) para qualquer x ∈ [a, c] e f(x) 6 g(x) para qualquerx ∈ [c, b].

x

y

f(x)

b

b

g(x)

b

b

a b

b

b

b

bb

b

b

b

c

A =∫ c

af(x) − g(x) dx +

∫ b

cg(x) − f(x) dx

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 409 / 590

§5.4 Aplicações do cálculo integral

Exemplos do cálculo da área de figuras planas

a) Calculemos a área da região plana limitada pelas rectas de equação

y = x, y = 2 − x e x = 0.

Como nenhuma destas rectas é paralela às outras duas, a região plana deque queremos calcular a área é um triângulo. Calculemos os vértices dessetriângulo. Para isso temos de resolver os seguintes sistemas:

{

y = x

y = 2 − x⇔{

2 − x = x

——⇔{

2 = 2x

——⇔{

x = 1y = 1

{

y = x

x = 0⇔{

y = 0x = 0

{

y = 2 − x

x = 0⇔{

y = 2x = 0

Assim, a região plana de que queremos calcular a área é o triângulo devértices (1, 1), (0, 0) e (0, 2).

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 410 / 590

§5.4 Aplicações do cálculo integral

Exemplos do cálculo da área de figuras planas

a) (continuação) Façamos a representação geométrica da região ecalculemos a sua área.

x

y

b

1

1

b

b2

y = x

b

b

b

y = 2 − x

b

b

b

b

b

b

Assim, a área do triângulo é

A =∫ 1

02 − x − x dx

=∫ 1

02 − 2x dx

=[

2x − x2]1

0

= 2 . 1 − 12 − (2 . 0 − 02)

= 1.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 411 / 590

§5.4 Aplicações do cálculo integral

Exemplos do cálculo da área de figuras planas (continuação)

b) Calculemos a área da região plana limitada pela recta de equação

y = x + 2

e pela parábola de equaçãoy = x2.

Comecemos por calcular os pontos de intersecção das duas curvas:{

y = x + 2y = x2

⇔{

x2 = x + 2——

⇔{

x2 − x − 2 = 0——

Como

x2 − x − 2 = 0 ⇔ x =1 ±

√1 + 8

2⇔ x =

1 ± 32

⇔ x = 2 ∨ x = −1,

os pontos de intersecção são (2, 4) e (−1, 1).

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 412 / 590

§5.4 Aplicações do cálculo integral

Exemplos do cálculo da área de figuras planas

b) (continuação) Representemos geometricamente a região do plano de quequeremos calcular a área.

x

y

b

2

4

b

-1

1

y = x2b

by = x + 2

b

bb

b

1

Assim, a área é

A =∫ 2

−1

x + 2 − x2 dx

=[

x2

2+ 2x − x3

3

]2

−1

=22

2+ 2 . 2 − 23

3

−(

(−1)2

2+ 2(−1) − (−1)3

3

)

= 2 + 4 − 83

− 12

+ 2 − 13

=92

.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 413 / 590

§5.4 Aplicações do cálculo integral

Exemplos do cálculo da área de figuras planas (continuação)

c) Calculemos a área da região plana limitada pelas rectas de equação

y = 2x, y =x

2e y = −x + 3.

A região do plano de que queremos calcular a área é um triângulo pois élimitada por três rectas. Calculemos os seus vértices.{

y = 2x

y = x/2⇔

{

x/2 = 2x

——⇔

{

x = 4x

——⇔

{

−3x = 0

——⇔

{

x = 0

y = 0

{

y = 2x

y = −x + 3⇔

{

−x + 3 = 2x

——⇔

{

−3x = −3

——⇔

{

x = 1

y = 2

{

y = x/2

y = −x + 3⇔

{

−x + 3 = x/2

——⇔

{

−2x + 6 = x

——⇔

{

−3x = −6

——⇔

{

x = 2

y = 1

Assim, os vértices do triângulo são (0, 0), (1, 2) e (2, 1).

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 414 / 590

§5.4 Aplicações do cálculo integral

Exemplos do cálculo da área de figuras planas (continuação)

c) (continuação) Representemos geometricamente o triângulo e calculemos asua área.

x

y

b

b

1

2

b

2

1

y = 2x

b

b

b

y =x

2

b

b

b

y = −x + 3

b

b

b

b

b

b

A =

∫ 1

0

2x −x

2dx +

∫ 2

1

−x + 3 −x

2dx

=

∫ 1

0

3x

2dx +

∫ 2

1

−3x

2+ 3 dx

=3

2

∫ 1

0

x dx −3

2

∫ 2

1

x dx + 3

∫ 2

1

1 dx

=3

2

[

x2

2

]1

0

−3

2

[

x2

2

]2

1

+ 3[

x]2

1

=3

2

(

1

2− 0)

−3

2

(

4

2−

1

2

)

+ 3 (2 − 1)

=3

4−

9

4+ 3

=3

2.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 415 / 590

§5.4 Aplicações do cálculo integral

Exemplos do cálculo da área de figuras planas (continuação)

d) Calculemos a área de um círculo de raio r. Por uma questão de simplicidadevamos considerar o centro do círculo a origem. Obviamente, basta calcular aárea da parte do círculo que está no primeira quadrante e multiplicar esse valorpor quatro. Para isso temos encontrar a equação da curva que limitasuperiormente a zona sombreada da figura. Da equação da circunferência temos

x

y

r

r

x2 + y2 = r2 ⇔ y2 = r2 − x2

⇔ y = ±√

r2 − x2

e, portanto, a curva que limita superior-mente a zona sombreada é

y =√

r2 − x2.

Assim, a área do círculo de raio r é dadapor

A = 4

∫ r

0

r2 − x2 dx.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 416 / 590

§5.4 Aplicações do cálculo integral

Exemplos do cálculo da área de figuras planas (continuação)

d) (continuação) Para calcularmos A = 4∫ r

0

r2 − x2 dx temos de fazer a

substituiçãox = r sen t

e, portanto,dx = (r sen t)′

dt = r cos t dt.

Além disso, comot = arc sen

x

r

resulta que

quando x = 0 temos t = arc sen 0 = 0

e

quando x = r temos t = arc sen 1 =π

2.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 417 / 590

§5.4 Aplicações do cálculo integral

Exemplos do cálculo da área de figuras planas (continuação)

d) (continuação) Assim,

A = 4

∫ r

0

r2 − x2 dx = 4

∫ π/2

0

r2 − (r sen t)2 r cos t dt

= 4r

∫ π/2

0

r2 (1 − sen2 t) cos t dt = 4r

∫ π/2

0

r cos t cos t dt

= 4r2

∫ π/2

0

cos2 t dt = 4r2

∫ π/2

0

cos(2t) + 1

2dt

= 2r2

∫ π/2

0

cos(2t) + 1 dt = 2r2[

sen(2t)

2+ t

]π/2

0

= 2r2(

sen π

2+

π

2−(

sen 0

2+ 0))

= 2r2 π

2

= πr2.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 418 / 590

§5.4 Aplicações do cálculo integral

Seja f : [a, b] → R uma função com derivada contínua.

x

y

a b

y = f(x)

b

b

O comprimento do gráfico de f é dado por

ℓ =∫ b

a

1 + [f ′(x)]2 dx .

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 419 / 590

§5.4 Aplicações do cálculo integral

Exemplos do cálculo do comprimento de curvas planas

a) Calculemos o perímetro de uma circunferência de raio r. Para issoconsideremos como centro da circunferência a origem. Obviamentebasta considerar a parte da circunferência situada no primeiroquadrante.

x

y

r

r

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 420 / 590

§5.4 Aplicações do cálculo integral

Exemplos do cálculo do comprimento de curvas planas (continuação)

a) (continuação) Da equação da circunferência x2 + y2 = r2, resultay = ±

√r2 − x2. Como

(

r2 − x2)′

= − x√r2 − x2

,

temos

ℓ = 4∫ r

0

1 +(

− x√r2 − x2

)2

dx = 4∫ r

0

1 +x2

r2 − x2dx

= 4∫ r

0

r2 − x2 + x2

r2 − x2dx = 4r

∫ r

0

1√r2 − x2

dx,

só que a função1√

r2 − x2não está definida em x = r. Para

ultrapassarmos este problema vamos calcular o integral entre 0 e r − εonde ε é tal que 0 < ε < r e em seguida fazer ε tender para 0+.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 421 / 590

§5.4 Aplicações do cálculo integral

Exemplos do cálculo do comprimento de curvas planas (continuação)

a) (continuação) Assim,

ℓ = limε→0+

4∫ r−ε

0

1 +(

− x√r2 − x2

)2

dx

= limε→0+

4r

∫ r−ε

0

1√r2 − x2

dx

= limε→0+

4r

∫ r−ε

0

1/r√

1 − (x/r)2dx

= limε→0+

4r[

arc senx

r

]r−ε

0

= limε→0+

4r

(

arc senr − ε

r− arc sen 0

)

= 4r (arc sen 1 − 0) = 4rπ

2= 2πr

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 422 / 590

§5.4 Aplicações do cálculo integral

Exemplos do cálculo do comprimentos de curvas planas (continuação)

b) Calculemos o comprimento da curva y = x3/2 entre x = 0 e x = 1. Como

(

x3/2)′

=32

x1/2 =32

√x,

temos

ℓ =∫ 1

0

1 +(

3√

x/2)2

dx =∫ 1

0

1 + 9x/4 dx

=49

∫ 1

0

94

(1 + 9x/4)1/2dx =

49

[

(1 + 9x/4)3/2

3/2

]1

0

=49

(

23

(

134

)3/2

− 23

13/2

)

=49

(

23

13√

13

4√

4− 2

3

)

=13

√13

27− 8

27.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 423 / 590

§5.4 Aplicações do cálculo integral

Seja f : [a, b] → R uma função contínua.

x

y

b

by = f(x)

a b

b

b

b

b

a b

O volume do sólido de revolução que se obtém rodando em torno doeixo dos xx a região situada entre o gráfico de f e o eixo dos xx é dadopor

V = π

∫ b

a[f(x)]2 dx .

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 424 / 590

§5.4 Aplicações do cálculo integral

Se f : [a, b] → R é uma função não negativa e com derivada contínua,então a área de superfície do sólido de revolução que se obtém rodandoem torno do eixo dos xx a região situada entre o gráfico de f e o eixodos xx é dada por

AS = 2π

∫ b

af(x)

1 + [f ′(x)]2 dx .

x

y

b

by = f(x)

a b

b

b

b

b

a b

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 425 / 590

§5.4 Aplicações do cálculo integral

Volume e área de superfície de um sólido de revolução

a) Calculemos o volume e a área de superfície de uma esfera de raio r. Comohabitualmente vamos centrar a esfera na origem. Uma esfera de raio rcentrada na origem obtém-se rodando em torno do eixo dos xx umsemicírculo de centro na origem e de raio r.

x

y

r−r

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 426 / 590

§5.4 Aplicações do cálculo integral

Volume e área de superfície de um sólido de revolução (continuação)

a) (continuação) Já sabemos que temos de a equação da semicircunferência éy =

√r2 − x2, donde o volume da esfera de raio r é igual a

V = π

∫ r

−r

(

r2 − x2)2

dx

= π

∫ r

−r

r2 − x2 dx

= π

[

r2x − x3

3

]r

−r

= π

(

r3 − r3

3−(

r2(−r) − (−r)3

3

))

= π

(

2r3 − 2r3

3

)

=43

πr3.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 427 / 590

§5.4 Aplicações do cálculo integral

Volume e área de superfície de um sólido de revolução (continuação)

a) (continuação) Quanto à área da superfície esférica, atendendo a que

(

r2 − x2)′

= − x√r2 − x2

temos novamente o mesmo problema que tivemos no cálculo doperímetro de uma circunferência de raio r pois a derivada não estádefinida em x = r e em x = −r. Este problema será resolvido damesma forma que o fizemos anteriormente, ou seja, vamos calcularo integral entre −r + ε e r − ε e depois fazer ε tender para 0+.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 428 / 590

§5.4 Aplicações do cálculo integral

Volume e área de superfície de um sólido de revolução (continuação)

a) (continuação) Assim,

AS = limε→0+

∫ r−ε

−r+ε

r2 − x2

1 +(

− x√r2 − x2

)2

dx

= limε→0+

∫ r−ε

−r+ε

r2 − x2

1 +x2

r2 − x2dx

= limε→0+

∫ r−ε

−r+ε

r2 − x2

r2 − x2 + x2

r2 − x2dx

= limε→0+

∫ r−ε

−r+ε

r dx = limε→0+

2πr

∫ r−ε

−r+ε

1 dx

= limε→0+

2πr[

x]r−ε

−r+ε= lim

ε→0+2πr (r − ε − (−r + ε))

= limε→0+

2πr (2r − 2ε) = 4πr2.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 429 / 590

§5.4 Aplicações do cálculo integral

Volume e área de superfície de um sólido de revolução (continuação)

b) Calculemos o volume e a área de superfície de um cone de altura h e raioda base r. Para obtermos este cone basta pormos a rodar em torno doeixo dos xx o segmento de recta que une os pontos (0, 0) e (h, r):

x

y

h

r

É óbvio que a equação do segmento é y =r

hx com x ∈ [0, h]

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 430 / 590

§5.4 Aplicações do cálculo integral

Volume e área de superfície de um sólido de revolução (continuação)

b) (continuação) O volume é do cone é

V = π

∫ h

0

( r

hx)2

dx

=πr2

h2

∫ h

0

x2 dx

=πr2

h2

[

x3

3

]h

0

=πr2

h2

(

h3

3− 03

3

)

=πr2h

3

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 431 / 590

§5.4 Aplicações do cálculo integral

Volume e área de superfície de um sólido de revolução (continuação)

b) (continuação) A área de superfície do cone é

AS = 2π

∫ h

0

r

hx

1 +[

( r

hx)′]2

dx =2πr

h

∫ h

0

x

1 +( r

h

)2

dx

=2πr

h

∫ h

0

x

1 +r2

h2dx =

2πr

h

∫ h

0

x

h2 + r2

h2dx

=2πr

h2

h2 + r2

∫ h

0

x dx =2πr

h2

h2 + r2

[

x2

2

]h

0

=2πr

h2

h2 + r2

(

h2

2− 02

2

)

= πr√

h2 + r2

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 432 / 590

Índice

1 Funções reais de variável real: generalidades e exemplos

2 Funções reais de variável real: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em R

4 Primitivas

5 Cálculo integral em R

Integral de Riemann: definição, propriedades e exemplosTeorema Fundamental do CálculoIntegração por partes e integração por substituiçãoAplicações do cálculo integralIntegrais impróprios

6 Sucessões e séries

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 433 / 590

§5.5 Integrais impróprios

Na definição do integral de Riemann de uma função

f : [a, b] → R

exigimos que o intervalo

[a, b] fosse fechado e limitado

e que a funçãof fosse limitada.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 434 / 590

§5.5 Integrais impróprios

Suponha-se, no entanto, que

i) f está definida em [a, +∞[ e existe∫ u

a

f(x) dx para cada u ∈ [a, +∞[; ou

ii) f está definida em ] − ∞, b] e existe∫ b

t

f(x) dx para cada t ∈ ] − ∞, b]; ou

ainda

iii) f está definida em ] − ∞, +∞[ e existe∫ u

t

f(x) dx para cada t, u ∈ R.

Nestas condições, temos, para cada uma das três situações consideradas, asseguintes definições

i)∫ +∞

a

f(x) dx = limu→+∞

∫ u

a

f(x) dx

ii)∫ b

−∞

f(x) dx = limt→−∞

∫ b

t

f(x) dx

iii)∫ +∞

−∞

f(x) dx = limt→−∞

∫ c

t

f(x) dx + limu→+∞

∫ u

c

f(x) dx

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 435 / 590

§5.5 Integrais impróprios

Dizemos que os integrais

∫ +∞

af(x) dx,

∫ b

−∞f(x) dx e

∫ +∞

−∞f(x) dx

existem ou que são convergentes quando existirem (finitos) oslimites indicados; se o limites não existirem dizemos que o respectivointegral é divergente.

Os integrais considerados designam-se por integrais impróprios deprimeira espécie.

Na definição iii) não há dependência do ponto c escolhido. Na práticapode-se fazer

∫ +∞

−∞f(x) dx = lim

u→+∞t→−∞

∫ u

tf(x) dx.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 436 / 590

§5.5 Integrais impróprios

Exemplos de integrais impróprios de primeira espécie

a) Calculemos∫ +∞

0e−x dx:

∫ +∞

0e−x dx = lim

u→+∞

∫ u

0e−x dx

= limu→+∞

[

− e−x]u

0

= limu→+∞

(

− e−u −(− e0))

= limu→+∞

1 − e−u

= 1 − e−∞

= 1 − 0

= 1.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 437 / 590

§5.5 Integrais impróprios

Exemplos de integrais impróprios de primeira espécie (continuação)

a) (continuação) Assim, o integral∫ +∞

0e−x dx é convergente. O valor

deste integral pode ser interpretado como sendo a área da regiãosombreada da figura seguinte.

x

y

1

y = e−x

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 438 / 590

§5.5 Integrais impróprios

Exemplos de integrais impróprios de primeira espécie (continuação)

b) Estudemos a natureza do integral∫ +∞

1

1xα

dx, ou seja, determinemos se

o integral é convergente ou divergente. Comecemos por supor α 6= 1.Então

∫ +∞

1

1xα

dx = limu→+∞

∫ u

1

x−α dx

= limu→+∞

[

x−α+1

−α + 1

]u

1

= limu→+∞

(

u−α+1

−α + 1− 1

−α + 1

)

=

1α − 1

se α > 1

+ ∞ se α < 1

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 439 / 590

§5.5 Integrais impróprios

Exemplos de integrais impróprios de primeira espécie (continuação)

b) (continuação) Se α = 1, então

∫ +∞

1

1x

dx = limu→+∞

∫ u

1

1x

dx

= limu→+∞

[

ln |x|]u

1

= limu→+∞

(ln |u| − ln |1|)

= ln (+∞) − 0

= +∞

Assim, o integral∫ +∞

1

1xα

dx é convergente apenas quando α > 1. Neste

exemplo também podemos interpretar o integral como uma área.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 440 / 590

§5.5 Integrais impróprios

Exemplos de integrais impróprios de primeira espécie (continuação)

c) Calculemos∫ +∞

−∞

11 + x2

dx:

∫ +∞

−∞

11 + x2

dx = limu→+∞t→−∞

∫ u

t

11 + x2

dx

= limu→+∞

[

arc tg x]u

t

= limu→+∞t→−∞

(arc tg u − arc tg t)

2−(

−π

2

)

= π.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 441 / 590

§5.5 Integrais impróprios

Exemplos de integrais impróprios de primeira espécie (continuação)

c) (continuação) A igualdade

∫ +∞

−∞

11 + x2

dx = π

significa que a área da região sombreada na figura seguinte é π.

x

y

1 y =1

1 + x2

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 442 / 590

§5.5 Integrais impróprios

Critério de comparação

Sejam f, g : [a, +∞[→ R duas funções tais que existe c ∈ [a, +∞[ tal que

0 6 f(x) 6 g(x) para qualquer x > c.

Entãoi) se

∫ +∞

a

g(x) dx é convergente,

então∫ +∞

a

f(x) dx também é convergente;

ii) se∫ +∞

a

f(x) dx é divergente,

então∫ +∞

a

g(x) dx também é divergente.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 443 / 590

§5.5 Integrais impróprios

Exemplos

a) Consideremos o integral impróprio

∫ +∞

1

1√1 + x3

dx.

Atendendo a que

0 61√

1 + x36

1√x3

=1

x3/2

para qualquer x > 1 e que

∫ +∞

1

1x3/2

dx é convergente,

pelo critério de comparação, alínea i), o integral

∫ +∞

1

1√1 + x3

dx também é convergente.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 444 / 590

§5.5 Integrais impróprios

Exemplos (continuação)

b) Consideremos agora o integral impróprio

∫ +∞

1

1√1 + x2

dx.

Como0 6

11 + x

=1

(1 + x)2=

1√1 + 2x + x2

61√

1 + x2

para qualquer x > 1 e usando o facto de que

∫ +∞

1

11 + x

dx é divergente,

pelo critério de comparação, alínea ii), o integral

∫ +∞

1

1√1 + x2

dx também é divergente.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 445 / 590

§5.5 Integrais impróprios

Exemplos (continuação)

b) (continuação) Vejamos que de facto o integral impróprio

∫ +∞

1

11 + x

dx é divergente.

Para isso basta usarmos a definição:

∫ +∞

1

11 + x

dx = limu→+∞

∫ u

1

11 + x

dx

= limu→+∞

[

ln |1 + x|]u

1

= limu→+∞

[ln |1 + u| − ln |1 + 1|]

= +∞ − ln 2

= +∞.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 446 / 590

§5.5 Integrais impróprios

Observação

Também existem critérios de comparação para os integrais imprópriosda forma

∫ b

−∞f(x) dx

e∫ +∞

−∞f(x) dx.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 447 / 590

§5.5 Integrais impróprios

Suponhamos agora que f está definida em [a, b[ e que é integrável emqualquer intervalo [a, u] com u ∈ [a, b[. Nesta condições define-se

∫ b

a

f(x) dx = limu→b−

∫ u

a

f(x) dx.

De forma análoga define-se∫ b

a

f(x) dx = limt→a+

∫ b

t

f(x) dx

quando f é está definida em ]a, b] e f é integrável em qualquer intervalo [t, b]com t ∈ ]a, b].

Quando f está definida em [a, c[ ∪ ]c, b] para algum c ∈]a, b[ e f é integrávelem [a, u] e [t, b] para quaisquer u ∈ [a, c[ e t ∈ ]c, b], define-se

∫ b

a

f(x) dx = limu→c−

∫ u

a

f(x) dx + limt→c+

∫ b

t

f(x) dx.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 448 / 590

§5.5 Integrais impróprios

Nos três casos considerados anteriormente o integral

∫ b

af(x) dx

designa-se por integral impróprio de segunda espécie. O integraldiz-se convergente se existem e são finitos os limites indicados ediz-se divergente quando tal não se verifica.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 449 / 590

§5.5 Integrais impróprios

Exemplos de integrais impróprios de segunda espécie

a) Calculemos∫ b

a

1(x − a)α

dx. Comecemos por supor que α 6= 1. Então

∫ b

a

1(x − a)α

dx = limt→a+

∫ b

t

(x − a)−α dx

= limt→a+

[

(x − a)−α+1

−α + 1

]b

t

= limt→a+

(

(b − a)−α+1

−α + 1− (t − a)−α+1

−α + 1

)

=

(b − a)1−α

1 − αse α < 1

+ ∞ se α > 1

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 450 / 590

§5.5 Integrais impróprios

Exemplos de integrais impróprios de segunda espécie (continuação)

a) (continuação) Quando α = 1 temos

∫ b

a

1x − a

dx = limt→a+

∫ b

t

1x − a

dx

= limt→a+

[

ln(x − a)]b

t

= limt→a+

(ln(b − a) − ln(t − a))

= ln(b − a) − ln(0+)

= ln(b − a) − (−∞)

= +∞

Assim,∫ b

a

1(x − a)α

dx é

{

convergente se α < 1;divergente se α > 1.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 451 / 590

§5.5 Integrais impróprios

Exemplos de integrais impróprios de segunda espécie (continuação)

b) Determinemos a natureza de∫ b

a

1(b − x)α

dx. Comecemos por fazer

α 6= 1. Então

∫ b

a

1(b − x)α

dx = limu→b−

−∫ u

a

−(b − x)−α dx

= limu→b−

−[

(b − x)−α+1

−α + 1

]u

a

= limu→b−

−(

(b − u)−α+1

−α + 1− (b − a)−α+1

−α + 1

)

=

(b − a)1−α

1 − αse α < 1;

+ ∞ se α > 1

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 452 / 590

§5.5 Integrais impróprios

Exemplos de integrais impróprios de segunda espécie (continuação)

b) (continuação) Para α = 1 vem

∫ b

a

1b − x

dx = limu→b−

−∫ u

a

− 1b − x

dx

= limu→b−

−[

ln(b − x)]u

a

= limu→b−

− (ln(b − u) − ln(b − a))

= −(

ln(0+) − ln(b − a))

= − (−∞ − ln(b − a))

= +∞Portanto,

∫ b

a

1(b − x)α

dx é

{

convergente se α < 1;divergente se α > 1.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 453 / 590

§5.5 Integrais impróprios

Observação

Também existem critérios de comparação para os integrais imprópriosde segunda espécie.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 454 / 590

§5.5 Integrais impróprios

Exercícios

Calcule

a)∫ +∞

0

xe−x2

dx b)∫ +∞

0

arc tg x

1 + x2dx

c)∫ 0

−∞

11 + x2

dx d)∫ 1

0

x ln2 x dx

e)∫ 2

0

1√

|x − 1|dx f)

∫ +∞

−∞

x

1 + x2dx

g)∫ π

2

0

sen x

1 − cos xdx h)

∫ 1

0

1x(1 − ln x)

dx

i)∫ 0

−∞

x

1 + x4dx j)

∫ 1

−∞

x5ex6

dx

k)∫ +∞

1

1(1 + x2) arc tg x

dx l)∫ +∞

e

1

x√

ln x − 1dx

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 455 / 590

Índice

1 Funções reais de variável real: generalidades e exemplos

2 Funções reais de variável real: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em R

4 Primitivas

5 Cálculo integral em R

6 Sucessões e sériesSucessões de números reaisSéries de números reaisSéries de potências

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 456 / 590

Índice

1 Funções reais de variável real: generalidades e exemplos

2 Funções reais de variável real: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em R

4 Primitivas

5 Cálculo integral em R

6 Sucessões e sériesSucessões de números reais

Definição e exemplosSucessões limitadas e sucessões monótonasSucessões convergentesSubsucessõesInfinitamente grandes

Séries de números reaisSéries de potências

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 457 / 590

Índice

1 Funções reais de variável real: generalidades e exemplos

2 Funções reais de variável real: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em R

4 Primitivas

5 Cálculo integral em R

6 Sucessões e sériesSucessões de números reais

Definição e exemplosSucessões limitadas e sucessões monótonasSucessões convergentesSubsucessõesInfinitamente grandes

Séries de números reaisSéries de potências

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 458 / 590

§6.1.1 Definição e exemplos

Uma sucessão é uma correspondência que a cada número natural nfaz corresponder um e um só número real.

Assim, uma sucessão é uma função real de variável natural, ou seja,uma sucessão é uma função

u : N → R.

Para designarmos o valor da função em n costuma usar-se a notação

un em vez de u(n).

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 459 / 590

§6.1.1 Definição e exemplos

Aos valoresu1, u2, . . . , un, . . .

chamamos termos da sucessão e

ao valor u1 chamamos termo de ordem 1 ou primeiro termoda sucessão;

ao valor u2 chamamos termo de ordem 2 ou segundo termoda sucessão;

ao valor u3 chamamos termo de ordem 3 ou terceiro termo dasucessão;

etc

À expressão un chamamos termo geral da sucessão.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 460 / 590

§6.1.1 Definição e exemplos

Escreveremos(u1, u2, . . . , un, . . .),

ou(un)n∈N,

ou simplesmente(un)

para indicar a sucessão u.

O conjuntou(N) = {un : n ∈ N}

designa-se por conjunto dos termos da sucessão (un)n∈N.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 461 / 590

§6.1.1 Definição e exemplos

Exemplos de sucessões

a) Façamosun = 1 para todo o n ∈ N,

isto é,(1, 1, . . . , 1, . . .)

é a sucessão constante e igual a 1. Mais geralmente, dado c ∈ R efazendo

vn = c para qualquer n ∈ N,

temos a sucessão constante e igual a c. Neste caso

v(N) = {c} .

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 462 / 590

§6.1.1 Definição e exemplos

Exemplos de sucessões (continuação)

b) Consideremos a sucessão de termo geral un = (−1)n.

O primeiro termo desta sucessão é u1 = (−1)1 = −1.

O segundo termo desta sucessão é u2 = (−1)2 = 1.

O terceiro termo desta sucessão é u3 = (−1)3 = −1.

O quarto termo desta sucessão é u4 = (−1)4 = 1.

E assim sucessivamente.

Podemos concluir que os termos de ordem par são todos iguais a 1 eque os termos de ordem ímpar são todos iguais a −1. Assim, a listaque se segue dá-nos todos os termos da sucessão

−1, 1, −1, 1, −1, 1, −1, 1, −1, 1, . . .

e o conjunto dos termos desta sucessão é

u(N) = {−1, 1} .

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 463 / 590

§6.1.1 Definição e exemplos

Exemplos de sucessões (continuação)

c) Seja u a sucessão definida por

un = n.

Entãou(N) = N.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 464 / 590

§6.1.1 Definição e exemplos

Exemplos de sucessões (continuação)

d) Seja

un =1n

para todo o n ∈ N.

Podemos escrever esta sucessão das seguintes formas:(

1,12

,13

,14

, . . . ,1n

, . . .

)

,

ou(

1n

)

n∈N

,

ou(

1n

)

.

Neste exemplo temos u(N) ={

1n

: n ∈ N

}

.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 465 / 590

§6.1.1 Definição e exemplos

Observação

O exemplo a) mostra que(un)n∈N

eu(N)

são coisas diferentes e que, por conseguinte, não devem serconfundidas. Neste exemplo tem-se

(un) = (1, 1, 1, . . . , 1, . . .),

enquanto queu(N) = {1} .

Algo de semelhante acontece no exemplo b).

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 466 / 590

Índice

1 Funções reais de variável real: generalidades e exemplos

2 Funções reais de variável real: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em R

4 Primitivas

5 Cálculo integral em R

6 Sucessões e sériesSucessões de números reais

Definição e exemplosSucessões limitadas e sucessões monótonasSucessões convergentesSubsucessõesInfinitamente grandes

Séries de números reaisSéries de potências

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 467 / 590

§6.1.2 Sucessões limitadas e sucessões monótonas

Uma sucessão (un)n∈N diz-se limitada se existirem números reais a e btais que

a 6 un 6 b para todo o n ∈ N;

ou ainda, se existirem números reais a e b tais que

un ∈ [a, b] para todo o n ∈ N.

Como todo o intervalo [a, b] está contido num intervalo da forma[−c, c], para algum c ∈ R, uma sucessão (un) é limitada se existir umnúmero real c > 0 tal que

un ∈ [−c, c] para todo o n ∈ N,

o que é equivalente a existe c > 0 tal que

|un| 6 c para todo o n ∈ N.

As sucessões que não são limitadas dizem-se ilimitadas.António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 468 / 590

§6.1.2 Sucessões limitadas e sucessões monótonas

Exemplos

a) A sucessão de termo geral

un = 4 + (−1)n =

{

3 se n é ímpar;

5 se n é par;

é limitada pois

3 6 un 6 5 para qualquer número natural n.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 469 / 590

§6.1.2 Sucessões limitadas e sucessões monótonas

Exemplos (continuação)

b) Consideremos a sucessão de termo geral

un =n + 2

n.

Comon + 2

n=

n

n+

2n

= 1 +2n

podemos concluir que

1 6 un 6 3 para cada número natural n.

Assim, esta sucessão é limitada.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 470 / 590

§6.1.2 Sucessões limitadas e sucessões monótonas

Exemplos (continuação)

c) A sucessão un = n2 não é limitada. De facto,

u1 = 1; u2 = 4; u3 = 9; u4 = 16; . . .

pelo que a sucessão não é limitada superiormente.

d) A sucessão de termo geral vn = −n também não é limitada pois

v1 = −1; v2 = −2; v3 = −3; . . .

ou seja, esta sucessão não é limitada inferiormente.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 471 / 590

§6.1.2 Sucessões limitadas e sucessões monótonas

Uma sucessão (un)n∈N diz-se crescente se

un+1 > un para todo o n ∈ N

e diz-se decrescente se

un+1 6 un para todo o n ∈ N.

Equivalentemente, (un)n∈N é crescente se

un+1 − un > 0 para todo o n ∈ N

e é decrescente se

un+1 − un 6 0 para todo o n ∈ N.

Uma sucessão diz-se monótona se for crescente ou se for decrescente.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 472 / 590

§6.1.2 Sucessões limitadas e sucessões monótonas

Exemplos de sucessões monótonas

a) Consideremos a sucessão de termo geral un =2n − 1

n + 1. Como

un+1 − un =2(n + 1) − 1

(n + 1) + 1−

2n − 1

n + 1

=2n + 1

n + 2−

2n − 1

n + 1

=(2n + 1)(n + 1) − (2n − 1)(n + 2)

(n + 1)(n + 2)

=2n2 + 2n + n + 1 − (2n2 + 4n − n − 2)

(n + 1)(n + 2)

=2n2 + 3n + 1 − 2n2 − 3n + 2

(n + 1)(n + 2)

=3

(n + 1)(n + 2)> 0

para qualquer número natural n, a sucessão é crescente.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 473 / 590

§6.1.2 Sucessões limitadas e sucessões monótonas

Exemplos de sucessões monótonas (continuação)

b) Para a sucessão de termo geral un =2n + 1

n, temos

un+1 − un =2(n + 1) + 1

n + 1−

2n + 1

n

=2n + 3

n + 1−

2n + 1

n

=(2n + 3)n − (2n + 1)(n + 1)

n(n + 1)

=2n2 + 3n − (2n2 + 2n + n + 1)

n(n + 1)

=2n2 + 3n − 2n2 − 3n − 1

n(n + 1)

=−1

n(n + 1)6 0

para qualquer número natural n. Logo a sucessão é decrescente.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 474 / 590

Índice

1 Funções reais de variável real: generalidades e exemplos

2 Funções reais de variável real: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em R

4 Primitivas

5 Cálculo integral em R

6 Sucessões e sériesSucessões de números reais

Definição e exemplosSucessões limitadas e sucessões monótonasSucessões convergentesSubsucessõesInfinitamente grandes

Séries de números reaisSéries de potências

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 475 / 590

§6.1.3 Sucessões convergentes

Dados uma sucessão (un)n∈N e um número real a, dizemos que (un)converge ou tende para a se para qualquer ε > 0, existe N ∈ N talque

|un − a| < ε para todo o número natural n > N .

A condição|un − a| < ε

é equivalente às condições

−ε < un − a < ε, a − ε < un < a + ε e un ∈ ]a − ε, a + ε[.

Assim, uma sucessão (un) converge ou tende para um número real ase para qualquer ε > 0, existe N ∈ N tal que

a − ε < un < a + ε para cada número natural n > N ;

ou se para qualquer ε > 0, existe N ∈ N tal que

un ∈ ]a − ε, a + ε[ para cada número natural n > N .

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 476 / 590

§6.1.3 Sucessões convergentes

Geometricamente, uma sucessão un tende para a se dado ε > 0 todosos termos da sucessão estão na “faixa” limitada pela rectas y = a − ε ey = a + ε a partir de determinada ordem. A figura seguinte ilustra essefacto.

1 2 3 4 N N + 1 N + 2 N + 3 N + 4

a

a − ε

a + ε

b

b

b

b

b

b

b

bb

Interpretação geométrica do limite de uma sucessão

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 477 / 590

§6.1.3 Sucessões convergentes

Qualquer uma das notações

limn→∞

un = a,

limn→∞un = a,

limn

un = a,

lim un = a,

un → a

é usada para exprimir o facto de que a sucessão (un) converge para a.

Uma sucessão (un)n∈N diz-se convergente se existe um número real atal que un → a.

As sucessões que não são convergentes dizem-se divergentes.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 478 / 590

§6.1.3 Sucessões convergentes

As sucessões constantes são convergentes. Se un = c para qualquernúmero natural n, temos |un − c|=0 para cada n ∈ N, pelo que, dadoε > 0, tomando N = 1 vem

|un − c| < ε para qualquer n > N .

Logo (un) converge para c.

A sucessão de termo geral un =1n

converge para zero. De facto, dado

ε > 0, basta escolher um número natural N tal que Nε > 1 e, porconseguinte, 1/N < ε. Assim, para n > N , temos

|un − 0| = 1/n < 1/N < ε,

o que prova que un → 0.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 479 / 590

§6.1.3 Sucessões convergentes

Unicidade do limite

Sejam (un) uma sucessão e a e b dois números reais. Se

un → a e un → b,

entãoa = b.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 480 / 590

§6.1.3 Sucessões convergentes

Dadas duas sucessões u = (un)n∈N e v = (vn)n∈N de números reais,define-se a soma de u e v, e designa-se por u + v, a sucessão cujotermo de ordem n é un + vn, isto é,

(u + v)n = un + vn.

De modo análogo se define a diferença, o produto e o quociente deu e v (este último apenas na hipótese de se ter vn 6= 0 para todo on ∈ N):

(u − v)n = un − vn, (uv)n = unvn

e, na hipótese de vn 6= 0 para todo o n ∈ N,(

u

v

)

n=

un

vn.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 481 / 590

§6.1.3 Sucessões convergentes

Assim, se u e v são as sucessões dadas por

(

1, 4, 9, . . . , n2, . . .)

e(

1,12

,13

, . . . ,1n

, . . .

)

,

respectivamente, então u + v é a sucessão dada por

(

1 + 1, 4 +12

, 9 +13

, . . . , n2 +1n

, . . .

)

=

(

2,92

,283

, . . . ,n3 + 1

n, . . .

)

e a diferença de u e v, u − v, é a sucessão

(

1 − 1, 4 − 12

, 9 − 13

, . . . , n2 − 1n

, . . .

)

=

(

0,72

,263

, . . . ,n3 − 1

n, . . .

)

.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 482 / 590

§6.1.3 Sucessões convergentes

Continuando a usar as sucessões u e v dadas por

(

1, 4, 9, . . . , n2, . . .)

e(

1,12

,13

, . . . ,1n

, . . .

)

,

o produto uv é a sucessão(

1.1, 4.12

, 9.13

, . . . , n2.1n

, . . .

)

= (1, 2, 3, . . . , n, . . .)

e o quocienteu

vé a sucessão

(

11

,4

1/2,

91/3

, . . . ,n2

1/n, . . .

)

=(

1, 8, 27, . . . , n3, . . .)

.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 483 / 590

§6.1.3 Sucessões convergentes

As sucessões que convergem para zero designam-se por infinitésimos.

O produto de um infinitésimo por uma sucessão limitada é uminfinitésimo.

Exemplo

Para todo o x ∈ R, temos limn→∞

sen(nx)n

= 0. De facto,

sen(nx)n

=1n

sen(nx)

é o produto de um infinitésimo por uma sucessão limitada e, portanto,converge para zero.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 484 / 590

§6.1.3 Sucessões convergentes

Álgebra dos limites

Sejam (un) e (vn) sucessões tais que lim un = a e lim vn = b. Então

a) (un + vn)n∈N é convergente e

lim(un + vn) = lim un + lim vn = a + b;

b) (un − vn)n∈N é convergente e

lim(un − vn) = lim un − lim vn = a − b;

c) (un . vn)n∈N é convergente e

lim(un . vn) = lim un . lim vn = a . b;

d) se b 6= 0 e vn 6= 0 para todo o n ∈ N,(

un

vn

)

n∈N

é convergente e

lim(

un

vn

)

=lim un

lim vn=

a

b.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 485 / 590

§6.1.3 Sucessões convergentes

Suponhamos queun → a

e que todos os termos un pertencem ao domínio de uma função f . Se fé contínua em a, então

f(un) → f(a).

Como consequência imediata temos a seguinte propriedade.

Seja (un) uma sucessão convergente para a ∈ R e p > 0. Então

a) se un → a, então (un)p → ap;

b) se un > 0 para todo o n ∈ N e un → a, então p√

un → p√

a.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 486 / 590

§6.1.3 Sucessões convergentes

Seja f é um função com domínio contendo o conjunto dos númerosnaturais. Se

limx→+∞

f(x) = a,

entãolim

n→+∞f(n) = a.

Exemplo

Como

limx→+∞

(

1 +1x

)x

= e,

temos

limn→+∞

(

1 +1n

)n

= e .

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 487 / 590

§6.1.3 Sucessões convergentes

Teorema da sucessão enquadrada

Sejam (un), (vn) e (wn) sucessões e suponha-se que existe uma ordemp ∈ N tal que

un 6 vn 6 wn para todo o número natural n > p.

Se un → a e wn → a, entãovn → a.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 488 / 590

§6.1.3 Sucessões convergentes

Exemplo de aplicação do teorema da sucessão enquadrada

Vejamos que√

4 +1n2

→ 2.

Como

2 6

4 +1n2

6

4 + 41n

+(

1n

)2

=

(

2 +1n

)2

= 2 +1n

e2 +

1n

→ 2,

pelo teorema da sucessão enquadrada temos de ter√

4 +1n2

→ 2.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 489 / 590

§6.1.3 Sucessões convergentes

Toda a sucessão convergente é limitada.

Observação

O recíproco não é verdadeiro. A sucessão de termo geral un = (−1)n élimitada, mas não é convergente.

Todas as sucessões ilimitadas são divergentes.

Exemplo

Já vimos que a sucessão de termo geral un = n2 não é limitada. Logonão é convergente.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 490 / 590

§6.1.3 Sucessões convergentes

As sucessões monótonas e limitadas são convergentes.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 491 / 590

Índice

1 Funções reais de variável real: generalidades e exemplos

2 Funções reais de variável real: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em R

4 Primitivas

5 Cálculo integral em R

6 Sucessões e sériesSucessões de números reais

Definição e exemplosSucessões limitadas e sucessões monótonasSucessões convergentesSubsucessõesInfinitamente grandes

Séries de números reaisSéries de potências

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 492 / 590

§6.1.4 Subsucessões

Se (un) é uma sucessão e (nk) é uma sucessão de números naturaisestritamente crescente, isto é,

n1 < n2 < . . . < nk < nk+1 < . . . ,

a sucessão(unk

) = (un1 , un2 , . . . , unk, . . .)

diz-se uma subsucessão de (un).

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 493 / 590

§6.1.4 Subsucessões

As subsucessões de uma sucessão convergente são convergentes para omesmo limite da sucessão.

Exemplo

A sucessão de termo geral

un = (−1)n

é divergente pois tem duas subsucessões que convergem para valoresdiferentes.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 494 / 590

§6.1.4 Subsucessões

Teorema de Bolzano-Weierstrass

Todas as sucessões limitadas têm subsucessões convergentes.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 495 / 590

Índice

1 Funções reais de variável real: generalidades e exemplos

2 Funções reais de variável real: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em R

4 Primitivas

5 Cálculo integral em R

6 Sucessões e sériesSucessões de números reais

Definição e exemplosSucessões limitadas e sucessões monótonasSucessões convergentesSubsucessõesInfinitamente grandes

Séries de números reaisSéries de potências

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 496 / 590

§6.1.5 Infinitamente grandes

Existem sucessões divergentes que, pelas propriedades de que gozam,merecem ser estudadas. Essas sucessões designam-se por infinitamentegrandes.

Diz-se que uma sucessão (un) tende para mais infinito ou que é uminfinitamente grande positivo, e escreve-se

un → +∞, ou lim un = +∞,

se para cada L > 0, existe N ∈ N tal que

un > L para qualquer natural n > N .

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 497 / 590

§6.1.5 Infinitamente grandes

Se −un → +∞ diz-se que (un) tende para menos infinito ou que asucessão (un) é um infinitamente grande negativo e escreve-se

un → −∞, ou lim un = −∞.

Diz-se ainda que (un) tende para infinito ou que (un) é uminfinitamente grande se |un| → +∞ e escreve-se

un → ∞ ou lim un = ∞.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 498 / 590

§6.1.5 Infinitamente grandes

Exemplos

A sucessão de termo geralun = n

tende para mais infinito, a sucessão de termo geral

vn = −n

tende para menos infinito e a sucessão de termo geral

wn = (−1)nn

tende para infinito. A sucessão (wn) é um exemplo de um infinitamentegrande que não é nem um infinitamente grande positivo, nem uminfinitamente grande negativo.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 499 / 590

§6.1.5 Infinitamente grandes

Observações

a) Os infinitamente grandes positivos e os infinitamente grandesnegativos, são infinitamente grandes. A sucessão de termo geral

wn = (−1)nn

mostra que o contrário nem sempre se verifica.

b) Resulta imediatamente da definição que se un → +∞, então (un) élimitada inferiormente.

c) Da definição resulta imediatamente que se (un) e (vn) são duassucessões tais que

un 6 vn a partir de certa ordem e un → +∞,

entãovn → +∞.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 500 / 590

§6.1.5 Infinitamente grandes

Sejam (un) e (vn) duas sucessões de números reais.

a) Se un → +∞ e (vn) tende para a ∈ R ou para +∞, então

(un + vn) → +∞.

b) Se un → −∞ e (vn) tende para a ∈ R ou para −∞, então

(un + vn) → −∞.

c) Se un → ∞ e (vn) tende para a ∈ R, então

(un + vn) → ∞.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 501 / 590

§6.1.5 Infinitamente grandes

Vê-se assim que pode usar-se a regra do limite da soma desde que seadoptem as convenções

(+∞) + a = +∞ = a + (+∞)

(−∞) + a = −∞ = a + (−∞)

∞ + a = ∞ = a + ∞(+∞) + (+∞) = +∞(−∞) + (−∞) = −∞

onde a é um número real qualquer.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 502 / 590

§6.1.5 Infinitamente grandes

Observação

Seun → +∞ e vn → −∞,

então nada se pode dizer sobre (un + vn) pois em alguns casos(un + vn) é convergente, noutros é divergente. Por isso, não fazemosnenhuma convenção para o símbolo

(+∞) + (−∞);

este símbolo designa-se por símbolo de indeterminação. Algo desemelhante acontece com

∞ − ∞.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 503 / 590

§6.1.5 Infinitamente grandes

Sejam (un) e (vn) duas sucessões de números reais.

a) Se un → +∞ e se (vn) tende para a > 0 ou tende para +∞, então

un.vn → +∞.

b) Se un → +∞ e se (vn) tende para a < 0 ou tende para −∞, então

un.vn → −∞.

c) Se un → −∞ e se (vn) tende para a > 0 ou tende para +∞, então

un.vn → −∞.

d) Se un → −∞ e se (vn) tende para a < 0 ou tende para −∞, então

un.vn → +∞.

e) Se un → ∞ e (vn) tende para a ∈ R \ {0} ou tende para ∞, então

un.vn → ∞.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 504 / 590

§6.1.5 Infinitamente grandes

Adoptando as convenções que se seguem, vê-se que se pode usar aregra do limite do produto:

(+∞) × a = +∞ = a × (+∞) onde a ∈ R+

(−∞) × a = −∞ = a × (−∞) onde a ∈ R+

(+∞) × a = −∞ = a × (+∞) onde a ∈ R−

(−∞) × a = +∞ = a × (−∞) onde a ∈ R−

∞ × a = ∞ = a × ∞ onde a ∈ R \ {0}(+∞) × (+∞) = +∞ = (−∞) × (−∞)

(+∞) × (−∞) = −∞ = (−∞) × (+∞)

∞ × ∞ = ∞

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 505 / 590

§6.1.5 Infinitamente grandes

Observação

Não se faz nenhuma convenção para os símbolos

0 × (+∞),

0 × (−∞)

e0 × ∞,

pois são símbolos de indeterminação.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 506 / 590

§6.1.5 Infinitamente grandes

Seja (un) uma sucessão de termos não nulos.

a) Se un → ∞, então1

un→ 0.

b) Se un → 0, então1

un→ ∞.

c) Se un → 0 e un > 0 a partir de certa ordem, então

1un

→ +∞.

d) Se un → 0 e un < 0 a partir de certa ordem, então

1un

→ −∞.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 507 / 590

§6.1.5 Infinitamente grandes

A regra do limite quociente pode manter-se desde que se adoptem asseguintes convenções

1∞ = 0

10

= ∞ 10+

= +∞ 10− = −∞

onde 0+ significa que

un → 0 e un > 0 a partir de certa ordem

e 0− significa que

un → 0 e un < 0 a partir de certa ordem.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 508 / 590

§6.1.5 Infinitamente grandes

Observação

Os símbolos ∞∞

e00

são símbolos de indeterminação.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 509 / 590

§6.1.5 Infinitamente grandes

Exemplo

a) Dado a ∈ R, consideremos a sucessão de termo geral un = an.

Se a > 1, então temos an → +∞.

Quando a = 1, então un = 1n = 1 pelo que a sucessão tende para 1.

Se a < −1, então an → ∞.

Para a = −1 obtemos a sucessão (−1)n que já vimos anteriormente.Esta sucessão é divergente.

Se −1 < a < 1, então an → 0.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 510 / 590

§6.1.5 Infinitamente grandes

Exemplo (continuação)

a) (continuação) Assim,

lim an =

+∞ se a > 1

1 se a = 1

0 se −1 < a < 1

não existe se a = −1

∞ se a < −1

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 511 / 590

§6.1.5 Infinitamente grandes

Exemplo (continuação)

b) Calculemos lim (3n − 2n). Como lim 3n = +∞ e lim 2n = +∞,temos uma indeterminação do tipo

∞ − ∞.

No entanto, pondo em evidência 3n temos

lim (3n − 2n) = lim[

3n(

1 − 2n

3n

)]

= lim[

3n(

1 −(

23

)n)]

= +∞ × (1 − 0)

= +∞ × 1

= +∞

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 512 / 590

§6.1.5 Infinitamente grandes

Exemplo (continuação)

c) Calculemos lim2n + 5n+1

2n+1 + 5n. Temos uma indeterminação pois

lim2n + 5n+1

2n+1 + 5n=

+∞ + (+∞)+∞ + (+∞)

=+∞+∞ .

Podemos levantar a indeterminação da seguinte forma

lim2n + 5n+1

2n+1 + 5n= lim

2n + 5n × 52n × 2 + 5n

= lim

2n

5n+

5n × 55n

2n × 25n

+5n

5n

= lim

(

25

)n

+ 5(

25

)n

× 2 + 1=

0 + 50 × 2 + 1

= 5

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 513 / 590

Índice

1 Funções reais de variável real: generalidades e exemplos

2 Funções reais de variável real: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em R

4 Primitivas

5 Cálculo integral em R

6 Sucessões e sériesSucessões de números reaisSéries de números reais

Definição, exemplos e primeiras propriedadesSéries de termos não negativosSéries de termos sem sinal fixo

Séries de potências

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 514 / 590

Índice

1 Funções reais de variável real: generalidades e exemplos

2 Funções reais de variável real: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em R

4 Primitivas

5 Cálculo integral em R

6 Sucessões e sériesSucessões de números reaisSéries de números reais

Definição, exemplos e primeiras propriedadesSéries de termos não negativosSéries de termos sem sinal fixo

Séries de potências

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 515 / 590

§6.2.1 Definição, exemplos e primeiras propriedades

Paradoxo de Aquiles

Numa corrida entre um atleta velocista (Aquiles) e uma tartaruga édada uma vantagem inicial em termos de distância à tartaruga. Zenãodefende que Aquiles jamais alcançará a tartaruga porque quandochegar ao ponto onde a tartaruga partiu, ela já terá percorrido umanova distância; e quando Aquiles percorrer essa nova distância, atartaruga já terá percorrido uma nova distância e assim sucessivamente.Este famoso paradoxo foi proposto por Zenão da Elea no século V a.c..

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 516 / 590

§6.2.1 Definição, exemplos e primeiras propriedades

200 m 40 m 8 m

Suponhamos que a vantagem inicial que Aquiles dá à tartaruga é200 m, que a velocidade de Aquiles é 5 m/s e que a velocidade da

tartaruga é 1 m/s. Aquiles demora2005

= 40 s para chegar ao ponto deonde a tartaruga partiu. Entretanto, a tartaruga percorreu

1 × 40 = 40 m. Em seguida, Aquiles demorou405

= 8 s para chegar ondea tartaruga estava e a tartaruga andou 1 × 8 = 8 m e assimsucessivamente...

Será que Aquiles consegue alcançar a tartaruga?

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 517 / 590

§6.2.1 Definição, exemplos e primeiras propriedades

No primeiro ponto, o ponto inicial da tartaruga, Aquiles percorreu

200

metros; no ponto seguinte Aquiles percorreu (no total)

200 +2005

metros; no terceiro ponto Aquiles percorreu

200 +2005

+200/5

5= 200 +

2005

+20052

metros; no quarto ponto Aquiles percorreu

200 +2005

+20052

+20053

metros; e assim sucessivamente. O paradoxo de Aquiles tem por detrásaquela que, provavelmente, foi a primeira série da história!

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 518 / 590

§6.2.1 Definição, exemplos e primeiras propriedades

Se (an) é uma sucessão de números reais, chamaremos série gerada por(an) à expressão

a1 + a2 + · · · + an + · · ·obtida por adição (formal) dos termos da sucessão.

A cada série fica associada uma sucessão (sn), a que se chamasucessão das somas parciais de (an), definida por

s1 = a1

s2 = a1 + a2

s3 = a1 + a2 + a3

...

sn = a1 + a2 + · · · + an

...

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 519 / 590

§6.2.1 Definição, exemplos e primeiras propriedades

A série diz-se convergente ou divergente conforme seja convergenteou divergente a sucessão das somas parciais (sn). Quando a série éconvergente, o limite da sucessão (sn) designa-se por soma ou valorda série.

Para representarmos a série (ou a sua soma, quando exista) usam-se ossímbolos

a1 + a2 + · · · + an + · · · ;∞∑

n=1

an;∑

an

e o contexto onde se usam estes símbolos indicará se estão arepresentar a série ou a sua soma.

Dizemos que duas séries são da mesma natureza se são ambasconvergentes ou ambas divergentes.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 520 / 590

§6.2.1 Definição, exemplos e primeiras propriedades

Observação

Em certos casos pode haver vantagem em que o primeiro valor que oíndice n toma seja um inteiro diferente de um, o que não traz nenhumadificuldade na teoria que irá ser exposta. Assim,

∞∑

n=2

1n − 1

e∞∑

n=0

1n + 1

designam a mesma série, enquanto que

∞∑

n=6

1n

designa uma série diferente.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 521 / 590

§6.2.1 Definição, exemplos e primeiras propriedades

Exemplo

Para a série∞∑

n=1

2n(n + 1)

, representamos abaixo os primeiros termos da

sucessão de termo geral an =2

n(n + 1)e da sucessão (sn) das somas parciais

1

ba1b s1

2

ba2

b s2

3

ba3

b s3

4

ba4

b s4

5

ba5

b s5

6

ba6

b s6

7

ba7

b s7

8

ba8

b s8

9

ba9

b s9

10

ba10

b s102

Aparentemente a sucessão das somas parciais aproxima-se de 2...

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 522 / 590

§6.2.1 Definição, exemplos e primeiras propriedades

Exemplo (continuação)

De facto, atendendo a que2

k(k + 1)=

2k

− 2k + 1

conclui-se que

sn =n∑

k=1

2k(k + 1)

=n∑

k=1

2k

− 2k + 1

= 2 − 22

+22

− 23

+23

− 24

+ · · · +2n

− 2n + 1

= 2 − 2n + 1

e portanto

s = lim sn = lim(

2 − 2n + 1

)

= 2.

Conclui-se que a série converge e tem soma s = 2.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 523 / 590

§6.2.1 Definição, exemplos e primeiras propriedades

Série harmónica

A série∞∑

n=1

1n

designa-se por série harmónica. Consideremos ainda a respectiva sucessãodas somas parciais e tomemos a subsucessão dessa com termos com índice daforma 2k, ou seja, a subsucessão (s2k ):

s2 = 1 +12

>12

s22 = s2 +13

+14

>12

+ 2 × 14

= 2 × 12

s23 = s22 +15

+16

+17

+18

> 2 × 12

+ 4 × 18

= 3 × 12

Em geral temos s2k >k

2. Como lim

k

2= +∞, concluímos que lim sn = +∞ e,

consequentemente, a série harmónica é divergente.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 524 / 590

§6.2.1 Definição, exemplos e primeiras propriedades

Série geométrica

Dado r ∈ R, consideremos a série∞∑

n=0rn que habitualmente se designa

por série geométrica. A sucessão (sn)n∈N0 das somas parciais será,neste exemplo, dada por

sn = 1 + r + · · · + rn =

1 − rn+1

1 − rse r 6= 1

n + 1 se r = 1.

Isto permite-nos concluir que

a série geométrica é

{

convergente se |r| < 1,

divergente se |r| > 1.

Além disso, quando |r| < 1 a sua soma é igual a1

1 − r.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 525 / 590

§6.2.1 Definição, exemplos e primeiras propriedades

Sejam∑

an e∑

bn duas séries convergentes cujas somas são A e B,respectivamente. Então a série

(an + bn)

é convergente e a sua soma é A + B.

Seja∑

an uma série convergente cuja soma é A e seja λ um númeroreal. Então a série

(λan)

é convergente e a sua soma é λA.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 526 / 590

§6.2.1 Definição, exemplos e primeiras propriedades

Se∑

an é uma série convergente e∑

bn é uma série divergente, então

(an + bn)

é uma série divergente.

Note-se no entanto que, se∑

an e∑

bn são duas séries divergentes, asérie

(an + bn)

pode ser convergente ou divergente.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 527 / 590

§6.2.1 Definição, exemplos e primeiras propriedades

Exemplos

a) A série

+∞∑

n=1

(

1

n(n + 1)+

1

5n−1

)

é convergente porque as séries

+∞∑

n=1

1

n(n + 1)e

+∞∑

n=1

1

5n−1

também são convergentes. Além disso, como+∞∑

n=1

1

n(n + 1)=

+∞∑

n=1

1

2

2

n(n + 1),

podemos concluir que a sua soma é 1 pois já sabemos que soma da série+∞∑

n=1

2

n(n + 1)é 2. Quanto à série

+∞∑

n=1

1

5n−1=

+∞∑

n=0

1

5né uma série geométrica

de razão1

5e a sua soma é

1

1 − 1/5=

5

4. Assim, a soma da série

+∞∑

n=1

(

1

n(n + 1)+

1

5n−1

)

é 1 +5

4=

9

4.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 528 / 590

§6.2.1 Definição, exemplos e primeiras propriedades

Exemplos (continuação)

b) A série+∞∑

n=1

(

73n−1

+1n

)

é divergente porque a série

+∞∑

n=1

73n−1

=+∞∑

n=1

7(

13

)n−1

é convergente e a série+∞∑

n=1

1n

é divergente.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 529 / 590

§6.2.1 Definição, exemplos e primeiras propriedades

Voltemos ao exemplo inicial de Aquiles e da tartaruga. A sérieenvolvida neste exemplo é

+∞∑

n=0

2005n

=+∞∑

n=0

[

200(

15

)n]

.

Como série geométrica de razão15

é convergente pois∣

15

< 1 e a sua

soma é1

1 − 1/5=

54

, o ponto onde Aquiles ultrapassa a tartaruga é

200 × 54

= 250 m.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 530 / 590

§6.2.1 Definição, exemplos e primeiras propriedades

Nem sempre é fácil calcular a soma de uma série convergente, não seconhecendo mesmo uma expressão para a soma de algumas sériesbastante simples. Assim, no que se segue, vamos estudar critérios quenos permitem saber se uma série é ou não convergente, sem estarmospreocupados com a soma no caso da série ser convergente.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 531 / 590

§6.2.1 Definição, exemplos e primeiras propriedades

Se∑

an é uma série convergente, então lim an = 0.

Assim, se (an) não converge para 0, a série∑

an é divergente. Porexemplo, a série

∑ n

n + 1

é divergente porque a sucessão(

n

n + 1

)

n∈N

converge para um.

No entanto, o recíproco deste teorema não é válido pois a sérieharmónica

∑ 1n

é divergente apesar da sucessão(

1n

)

n∈N

convergir para zero.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 532 / 590

§6.2.1 Definição, exemplos e primeiras propriedades

Sejam∑

an e∑

bn duas séries. Suponhamos que existe N ∈ N tal que

an = bn para qualquer número natural n > N.

Então∑

an e∑

bn

são da mesma natureza.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 533 / 590

Índice

1 Funções reais de variável real: generalidades e exemplos

2 Funções reais de variável real: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em R

4 Primitivas

5 Cálculo integral em R

6 Sucessões e sériesSucessões de números reaisSéries de números reais

Definição, exemplos e primeiras propriedadesSéries de termos não negativosSéries de termos sem sinal fixo

Séries de potências

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 534 / 590

§6.2.2 Séries de termos não negativos

Nesta secção vamos estudar séries de números reais não negativos, ouseja, séries

an tais que

an > 0 para cada n ∈ N.

Obviamente, pelo que já vimos anteriormente, a teoria que vamosapresentar mantém-se válida se

an > 0 a partir de certa ordem.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 535 / 590

§6.2.2 Séries de termos não negativos

Critério geral de comparação

Sejam∑

an e∑

bn séries de termos não negativos tais que

0 6 an 6 bn a partir de certa ordem.

a) Se∑

bn é convergente, então∑

an também é convergente.

b) Se∑

an é divergente, então∑

bn também é divergente.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 536 / 590

§6.2.2 Séries de termos não negativos

Exemplos de aplicação do critério geral de comparação

a) Consideremos a série∞∑

n=1

1n2

. Uma vez que

0 61n2

=2

n(2n)6

2n(n + 1)

para qualquer número natural n

e, como vimos anteriormente, a série

∞∑

n=1

2n(n + 1)

é convergente, podemos afirmar que a série

∞∑

n=1

1n2

é convergente.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 537 / 590

§6.2.2 Séries de termos não negativos

Exemplos de aplicação do critério geral de comparação (continuação)

b) Estudemos a série∞∑

n=1

1nα

, α > 2.

Como

0 61

nα6

1n2

para qualquer n ∈ N e qualquer α > 2

e a série∑ 1

n2é convergente, a série

∑ 1nα

também é convergente quando α > 2.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 538 / 590

§6.2.2 Séries de termos não negativos

Exemplos de aplicação do critério geral de comparação (continuação)

c) A série∞∑

n=1

1nα

é divergente para α 6 1

pois

0 61n6

1nα

para cada n ∈ N e para cada α 6 1

e a série∑ 1

n

é divergente.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 539 / 590

§6.2.2 Séries de termos não negativos

Séries de Dirichlet

As séries ∞∑

n=1

1nα

,

com α ∈ R, designam-se por séries de Dirichlet. Nos exemplosanteriores já estudámos a natureza destas séries quando α 6 1 e α > 2.Quando 1 < α < 2, a série é convergente. Assim,

+∞∑

n=1

1nα

é

{

convergente se α > 1,

divergente se α 6 1.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 540 / 590

§6.2.2 Séries de termos não negativos

Critério do limite

Sejam∑

an e∑

bn séries de termos não negativos com bn 6= 0 paracada n ∈ N.

a) Se liman

bn= ℓ com ℓ 6= 0 e ℓ 6= +∞, então as séries

an e∑

bn são da mesma natureza.

b) Se liman

bn= 0 e a série

bn é convergente, então a série

an também é convergente.

c) Se liman

bn= +∞ e a série

bn é divergente, então a série

an também é divergente.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 541 / 590

§6.2.2 Séries de termos não negativos

Exemplos de aplicação do critério do limite

a) A série∞∑

n=1

3n2 + 42n4 + 3n + 1

é convergente porque

3n2 + 42n4 + 3n + 1

> 0 e1n2

> 0 para qualquer n ∈ N,

lim

3n2 + 42n4 + 3n + 1

1n2

= lim3n4 + 4n2

2n4 + 3n + 1=

32

e ∞∑

n=1

1n2

é convergente.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 542 / 590

§6.2.2 Séries de termos não negativos

Exemplos de aplicação do critério do limite (continuação)

b) Consideremos a série∞∑

n=1

sen1n

. É óbvio que

sen1n> 0 e

1n> 0 para cada n ∈ N.

Como

limsen

1n

1n

= 1

e∞∑

n=1

1n

é divergente,∞∑

n=1

sen1n

também é divergente.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 543 / 590

§6.2.2 Séries de termos não negativos

Critério de D’Alembert (para séries de termos positivos)

Seja∑

an uma série de termos positivos tal que

liman+1

an= λ.

a) Se λ < 1, então∑

an é convergente.

b) Se λ > 1, então∑

an é divergente.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 544 / 590

§6.2.2 Séries de termos não negativos

Exemplos de aplicação do critério de D’Alembert

a) Provemos que a série∑ 2nn!

nné convergente. É óbvio que

2nn!nn

> 0 qualquer que seja n ∈ N.

Como

liman+1

an= lim

2n+1(n + 1)!(n + 1)n+1

2nn!nn

= lim2n+1 (n + 1)! nn

2n n! (n + 1)n+1= lim

2(n + 1)nn

(n + 1)n+1

= lim2nn

(n + 1)n= lim

2(n + 1)n/nn

= lim2

(1 + 1/n)n =2e

< 1,

pelo critério de D’Alembert, a série∑ 2nn!

nné convergente.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 545 / 590

§6.2.2 Séries de termos não negativos

Exemplos de aplicação do critério de D’Alembert (continuação)

b) A série∑

n3n

é divergente. Como

n3n > 0 para cada n ∈ N

e

liman+1

an= lim

(n + 1) 3n+1

n 3n= lim 3

n + 1n

= lim 3(

1 +1n

)

= 3 > 1,

pelo critério de D’Alembert a série∑

n3n

é divergente.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 546 / 590

§6.2.2 Séries de termos não negativos

Critério de Cauchy (para séries de termos não negativos)

Seja∑

an uma série de termos não negativos tal que

lim n√

an = λ.

a) Se λ < 1, então∑

an é convergente.

b) Se λ > 1, então∑

an é divergente.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 547 / 590

§6.2.2 Séries de termos não negativos

Exemplos de aplicação do critério de Cauchy

a) Vejamos que a série∑

(

n + 1n

)n2

é divergente. Como

(

n + 1n

)n2

> 0 qualquer que seja n ∈ N

e

lim n√

an = limn

(

n + 1n

)n2

= lim(

n + 1n

)n

= lim(

1 +1n

)n

= e > 1,

pelo critério de Cauchy, a série∑

(

n + 1n

)n2

é divergente.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 548 / 590

§6.2.2 Séries de termos não negativos

Exemplos de aplicação do critério de Cauchy (continuação)

b) À série∑

n 3n

também podemos aplicar o critério de Cauchy. Como

n 3n> 0 para cada n ∈ N

elim n

√an = lim n

√n 3n = lim 3 n

√n = 3 · 1 = 3,

o critério de Cauchy garante-nos que∑

n 3n

é divergente.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 549 / 590

Índice

1 Funções reais de variável real: generalidades e exemplos

2 Funções reais de variável real: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em R

4 Primitivas

5 Cálculo integral em R

6 Sucessões e sériesSucessões de números reaisSéries de números reais

Definição, exemplos e primeiras propriedadesSéries de termos não negativosSéries de termos sem sinal fixo

Séries de potências

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 550 / 590

§6.2.3 Séries de termos sem sinal fixo

Critério de Leibniz

Se (an) é uma sucessão decrescente convergente para zero, então a série

+∞∑

n=1

(−1)nan

é convergente.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 551 / 590

§6.2.3 Séries de termos sem sinal fixo

Observações

a) Se (an) é uma sucessão decrescente convergente para zero, então

an > 0 para qualquer n ∈ N.

b) As séries da forma+∞∑

n=1

(−1)nan

designam-se por séries alternadas.

c) O critério de Leibniz também é válido para séries da forma

+∞∑

n=1

(−1)n+1an ou da forma+∞∑

n=k

(−1)nan.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 552 / 590

§6.2.3 Séries de termos sem sinal fixo

Exemplos

a) A sucessão de termo geral an =1n

é decrescente pois

an+1 − an =1

n + 1− 1

n=

n − (n + 1)n(n + 1)

=−1

n(n + 1)6 0

para qualquer n ∈ N. Além disso,

limn→+∞

an = limn→+∞

1n

=1

+∞ = 0.

Pelo critério de Leibniz, a série

+∞∑

n=1

(−1)n

n

é convergente.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 553 / 590

§6.2.3 Séries de termos sem sinal fixo

Exemplos (continuação)

b) Estudemos a natureza da série+∞∑

n=1

(−1)n

n2. Como

1(n + 1)2

− 1n2

=n2 − (n + 1)2

n2(n + 1)2=

n2 − (n2 + 2n + 1)n2(n + 1)2

=−2n − 1

n2(n + 1)26 0

para qualquer n ∈ N, ou seja, a sucessão de termo geral an =1n2

é

decrescente, e

limn→+∞

1n2

=1

(+∞)2=

1+∞ = 0,

o critério de Leibniz garante-nos que a série

+∞∑

n=1

(−1)n

n2

é convergente.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 554 / 590

§6.2.3 Séries de termos sem sinal fixo

Exemplos (continuação)

c) Estudemos a natureza da série+∞∑

n=1

(−1)nan com an =n + 1

n. A

sucessão (an) é decrescente pois

an+1 − an =n + 2n + 1

− n + 1n

=(n + 2)n − (n + 1)2

n(n + 1)

=n2 + 2n − (n2 + 2n + 1)

n(n + 1)

=−1

n(n + 1)6 0

para qualquer n ∈ N.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 555 / 590

§6.2.3 Séries de termos sem sinal fixo

Exemplos (continuação)

c) (continuação) No entanto, como

limn→+∞

an = limn→+∞

n + 1n

= limn→+∞

n

n+

1n

= limn→+∞

1 +1n

= 1,

não podemos aplicar o critério de Leibniz pois

lim an 6= 0.

Mas se lim an = 1, a sucessão de termo geral (−1)nan é divergentepois a subsucessão dos termos de ordem par converge para 1 e asubsucessão dos termos de ordem ímpar converge para −1. Assim,a série

+∞∑

n=1

(−1)nan =+∞∑

n=1

(−1)n n + 1n

é divergente.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 556 / 590

§6.2.3 Séries de termos sem sinal fixo

Uma série+∞∑

n=1

an diz-se absolutamente convergente se a série dos

módulos+∞∑

n=1

|an| é convergente.

As séries absolutamente convergentes são convergentes, ou seja, se

+∞∑

n=1

|an| é convergente,

então+∞∑

n=1

an também é convergente.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 557 / 590

§6.2.3 Séries de termos sem sinal fixo

Observação

O recíproco do resultado anterior não se verifica. A série

+∞∑

n=1

(−1)n

n

é convergente, mas a sua série dos módulos

+∞∑

n=1

(−1)n

n

=+∞∑

n=1

1n

é a série harmónica que já vimos ser divergente.

As séries convergentes cuja série dos módulos é divergente dizem-sesimplesmente convergentes, semi-convergentes oucondicionalmente convergentes.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 558 / 590

§6.2.3 Séries de termos sem sinal fixo

Exemplos

a) Através do critério de Leibniz concluímos que a série+∞∑

n=1

(−1)n

n2é

convergente. Uma outra forma de vermos que é convergente é através dasérie do módulos:

+∞∑

n=1

(−1)n

n2

=+∞∑

n=1

1n2

.

Ora a série+∞∑

n=1

1n2

é uma série de Dirichlet com α = 2 e, portanto, é

convergente. Logo

+∞∑

n=1

(−1)n

n2

é absolutamente convergente e, portanto, é convergente.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 559 / 590

§6.2.3 Séries de termos sem sinal fixo

Exemplos (continuação)

b) Estudemos a natureza da série+∞∑

n=1

cos n

n2 + 2n + 3. Como, para qualquer

n ∈ N, se tem

0 6

cos n

n2 + 2n + 3

=|cos n|

n2 + 2n + 36

1n2 + 2n + 3

61n2

e a série+∞∑

n=1

1n2

é convergente, pelo critério geral de comparação, a série

+∞∑

n=1

cos n

n2 + 2n + 3

é convergente. Logo

+∞∑

n=1

cos n

n2 + 2n + 3

é absolutamente convergente e, por conseguinte, é convergente.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 560 / 590

§6.2.3 Séries de termos sem sinal fixo

Exemplos (continuação)

c) Consideremos a série

+∞∑

n=1

(−1)n n + 1

n2 + 2. A sua série dos módulos é

+∞∑

n=1

∣(−1)n n + 1

n2 + 2

∣=

+∞∑

n=1

n + 1

n2 + 2

e, como

limn→+∞

n + 1

n2 + 21

n

= limn→+∞

n2 + n

n2 + 2= lim

n→+∞

n2(1 + 1/n)

n2(1 + 2/n)= lim

n→+∞

1 + 1/n

1 + 2/n= 1,

pelo critério do limite, as séries

+∞∑

n=1

n + 1

n2 + 2e

+∞∑

n=1

1

n, por serem séries de termos

positivos, são da mesma natureza. Como a série harmónica é divergente, a série+∞∑

n=1

n + 1

n2 + 2também é divergente.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 561 / 590

§6.2.3 Séries de termos sem sinal fixo

Exemplos (continuação)

c) (continuação) Acabámos de ver que a série dos módulos de

+∞∑

n=1

(−1)n n + 1

n2 + 2é

divergente. Vejamos, usando o critério de Leibniz, que a série

+∞∑

n=1

(−1)n n + 1

n2 + 2é

convergente. Como

limn→+∞

n + 1

n2 + 2= lim

n→+∞

n(1 + 1/n)

n2(1 + 2/n2)= lim

n→+∞

1 + 1/n

n(1 + 2/n2)=

1 + 0

+∞(1 + 0)= 0

en + 2

(n + 1)2 + 2−

n + 1

n2 + 2= · · · = −

n2 + 3n − 1

((n + 1)2 + 2)(n2 + 1)6 0

para qualquer n ∈ N, pelo critério de Leibniz a série

+∞∑

n=1

(−1)n n + 1

n2 + 2

é convergente. Assim, esta série é simplesmente convergente.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 562 / 590

§6.2.3 Séries de termos sem sinal fixo

Para séries de termos sem sinal fixo também temos um critério ded’Alembert e um de Cauchy.

Critério de D’Alembert (para séries de termos sem sinal fixo)

Seja∑

an uma série de termos não nulos tal que

lim|an+1||an| = λ.

a) Se λ < 1, então∑

an é absolutamente convergente.

b) Se λ > 1, então∑

an é divergente.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 563 / 590

§6.2.3 Séries de termos sem sinal fixo

Critério de Cauchy (para séries de termos sem sinal fixo)

Seja∑

an uma série tal que

lim n

|an| = λ.

a) Se λ < 1, então∑

an é absolutamente convergente.

b) Se λ > 1, então∑

an é divergente.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 564 / 590

Índice

1 Funções reais de variável real: generalidades e exemplos

2 Funções reais de variável real: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em R

4 Primitivas

5 Cálculo integral em R

6 Sucessões e sériesSucessões de números reaisSéries de números reaisSéries de potências

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 565 / 590

§6.3 Séries de potências

Sejam a0, a1, . . . , an, . . . os termos de uma sucessão e a um número real.A série

+∞∑

n=0

an(x − a)n

= a0 + a1(x − a) + a2(x − a)2 + · · · + an(x − a)n + · · ·

designa-se por série de potências de x − a. Dizemos que a série estácentrada em a e que os números an são os coeficientes da série.

As séries

+∞∑

n=0

xn

n!,

+∞∑

n=0

n

n2 + 1(x − 2)n e

+∞∑

n=0

n(x − π)n

são séries de potências centradas, respectivamente, em 0, 2 e π.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 566 / 590

§6.3 Séries de potências

Observações

a) Há séries de potências que não começam em zero. Por exemplo, a série+∞∑

n=1

1n

xn =+∞∑

n=1

xn

n

tem de começar em um. Obviamente, tudo o que vamos estudar nestasecção contínua válido para estas séries.

b) Uma série de potências pode convergir para determinados valores de x edivergir para outros.

c) Quando x = a e n = 0 obtemos (x − a)n = 00 que, apesar de não estardefinido, no contexto das séries convencionamos ser igual a 1.

d) Para x = a, tendo em conta a observação c), a série é sempre convergente.Aliás, se x = a temos

+∞∑

n=0

an(x − a)n = a0.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 567 / 590

§6.3 Séries de potências

Exemplos de séries de potências

a) Estudemos a série de potências+∞∑

n=0

xn

n + 1. Aplicando o critério de

D’Alembert à série dos módulos

+∞∑

n=0

xn

n + 1

=+∞∑

n=0

|x|nn + 1

(quando x 6= 0) temos

limn→+∞

|x|n+1

n + 2|x|n

n + 1

= limn→+∞

n + 1n + 2

|x| = limn→+∞

1 +1n

1 +2n

|x| = 1 . |x| = |x|

e, portanto, a série+∞∑

n=0

xn

n + 1é absolutamente convergente para |x| < 1 e

é divergente se |x| > 1.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 568 / 590

§6.3 Séries de potências

Exemplos de séries de potências (continuação)

a) (continuação) Falta ver o que acontece quando |x| = 1. Se x = 1, entãoobtemos a série

+∞∑

n=0

1n + 1

=+∞∑

n=1

1n

,

isto é, obtemos a série harmónica que já vimos ser divergente. Parax = −1, temos a série alternada

∞∑

n=0

(−1)n

n + 1=

∞∑

n=1

(−1)n+1

n

que é convergente (ver os exemplos do critério de Leibniz). Assim, estasérie é convergente para x ∈ [−1, 1[ e é divergente parax ∈ ] − ∞, −1[ ∪ [1, +∞[.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 569 / 590

§6.3 Séries de potências

Exemplos de séries de potências (continuação)

b) Consideremos a série de potências+∞∑

n=0

xn

n!. Aplicando o critério de

D’Alembert à série dos módulos

+∞∑

n=0

xn

n!

=+∞∑

n=0

|x|nn!

(para x 6= 0) tem-se

limn→+∞

|x|n+1

(n + 1)!|x|nn!

= limn→+∞

n!(n + 1)!

|x| = limn→+∞

1n + 1

|x| = 0 · |x| = 0,

o que permite concluir que a série+∞∑

n=0

xn

n!é absolutamente convergente

para todo o x ∈ R.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 570 / 590

§6.3 Séries de potências

Exemplos de séries de potências (continuação)

c) Estudemos a natureza da série+∞∑

n=0

nxn. Aplicando o critério de Cauchy à

série dos módulos+∞∑

n=0

|nxn| =+∞∑

n=0

n |x|n

temoslim

n→+∞

n

n |x|n = limn→+∞

n√

n |x| = 1 . |x| = |x| .

Assim, a série é absolutamente convergente para |x| < 1. Para |x| > 1 asérie é divergente. Para |x| = 1 a série também é divergente. Portanto, asérie

+∞∑

n=0

nxn

converge se x ∈ ] − 1, 1[ e diverge se x ∈ ] − ∞, −1] ∪ [1, +∞[.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 571 / 590

§6.3 Séries de potências

Sejam a0, a1, . . . , an, . . . os termos de uma sucessão e a um númeroreal. Então

a) existe um número real r > 0 tal que a série de potências

+∞∑

n=0

an(x − a)n

converge absolutamente quando |x − a| < r e diverge quando|x − a| > r; ou

b) a série de potências+∞∑

n=0

an(x − a)n

converge absolutamente para qualquer x ∈ R.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 572 / 590

§6.3 Séries de potências

O número r do resultado anterior designa-se por raio de

convergência da série de potências+∞∑

n=0

an(x − a)n.

Se estivermos no caso da alínea b) costuma-se fazer r = +∞.

O conjunto dos x para os quais a série é convergente designa-se por

intervalo de convergência da série de potências+∞∑

n=0

an(x − a)n.

Note-se que o intervalo de convergência de uma série de potências é umdos quatro intervalos seguintes:

]a − r, a + r[ , [a − r, a + r[ , ]a − r, a + r] ou [a − r, a + r] .

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 573 / 590

§6.3 Séries de potências

Observações

a) Do critério de D’Alembert resulta que se limn→+∞

|an+1||an| = λ, então r =

.

De facto, supondo x 6= a e an 6= 0 para qualquer n ∈ N, como

limn→+∞

∣an+1(x − a)n+1∣

|an(x − a)n| = limn→+∞

|an+1||an| |x − a| = λ |x − a| ,

pelo critério de D’Alembert, a série é absolutamente convergente se

λ |x − a| < 1 ⇔ |x − a| <1λ

.

Além disso, se

λ |x − a| > 1 ⇔ |x − a| >1λ

,

a série é divergente. Logo

r =1λ

= limn→+∞

|an||an+1| .

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 574 / 590

§6.3 Séries de potências

Observações (continuação)

b) De forma análoga prova-se, usando o critério de Cauchy, que se

limn→+∞

n

|an| = λ,

entãor =

= limn→+∞

1n√

|an| .

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 575 / 590

§6.3 Séries de potências

Exemplos

a) Já estudamos a natureza da série de potências+∞∑

n=0

xn

n + 1e

provámos que o raio de convergência desta série é r = 1 e que o seuintervalo de convergência é [−1, 1[.

b) Num exemplo anterior vimos o raio de convergência da série de

potências+∞∑

n=0

xn

n!é r = +∞ e, consequentemente, o seu intervalo de

convergência é ] − ∞, +∞[= R.

c) Também já vimos que a série+∞∑

n=0

nxn tem como raio de

convergência r = 1 e o seu intervalo de convergência é ] − 1, 1[.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 576 / 590

§6.3 Séries de potências

Exemplos (continuação)

d) Estudemos a série de potências+∞∑

n=1

(x − 1)n

n2 2n. Consideremos a série

dos módulos+∞∑

n=1

(x − 1)n

n2 2n

=+∞∑

n=1

|x − 1|nn2 2n

e apliquemos-lhe (para x 6= 1) o critério de D’Alembert

limn→+∞

|x − 1|n+1

(n + 1)2 2n+1

|x − 1|nn2 2n

= limn→+∞

n2

(n + 1)2

2n

2n+1

|x − 1|n+1

|x − 1|n

= limn→+∞

1(1 + 1/n)2

|x − 1|2

=|x − 1|

2.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 577 / 590

§6.3 Séries de potências

Exemplos (continuação)

d) (continuação) Assim, a série+∞∑

n=1

(x − 1)n

n2 2né absolutamente

convergente quando

|x − 1|2

< 1 ⇔ |x − 1| < 2 ⇔ x − 1 < 2 ∧ x − 1 > −2

⇔ x < 3 ∧ x > −1 ⇔ x ∈ ] − 1, 3[

e é divergente quando

|x − 1|2

> 1 ⇔ x ∈ ] − ∞, −1[ ∪ ]3, +∞[.

Falta ver o que acontece quando x = −1 e x = 3.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 578 / 590

§6.3 Séries de potências

Exemplos (continuação)

d) (continuação) Quando x = 3 temos+∞∑

n=1

(3 − 1)n

n22n=

+∞∑

n=1

2n

n22n=

+∞∑

n=1

1n2

que é uma série de Dirichlet convergente. Quando x = −1 vem+∞∑

n=1

(−1 − 1)n

n22n=

+∞∑

n=1

(−2)n

n22n=

+∞∑

n=1

(−1)n 2n

n22n=

+∞∑

n=1

(−1)n

n2,

e esta série é convergente. Para vermos isso podemos usar o critério deLeibniz ou então ver que a sua série dos módulos

+∞∑

n=1

(−1)n

n2

=+∞∑

n=1

|(−1)n|n2

=+∞∑

n=1

1n2

é convergente. Assim, o raio de convergência da série+∞∑

n=1

(x − 1)n

n2 2né r = 2

e o seu intervalo de convergência é [−1, 3].

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 579 / 590

§6.3 Séries de potências

Exemplos (continuação)

e) Consideremos a série de potências

+∞∑

n=1

n

n2 + 1(x − 2)n.

Para cada x ∈ R obtemos uma série numérica cuja série dos módulos

associada é+∞∑

n=1

n

n2 + 1|x − 2|n, uma série de termos positivos. Como

lim

n + 1(n + 1)2 + 1

|x − 2|n+1

n

n2 + 1|x − 2|n

= limn3 + n2 + n + 1n3 + 2n2 + 2n

|x − 2| = |x − 2|

concluímos pelo critério de d’Alembert que se |x − 2| < 1, isto é, sex ∈ ]1, 3[, a série converge absolutamente. Se |x − 2| > 1 a série diverge.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 580 / 590

§6.3 Séries de potências

Exemplos (continuação)

e) (continuação) Se x = 3, obtemos a série

+∞∑

n=1

n

n2 + 1(3 − 2)n =

+∞∑

n=1

n

n2 + 1,

que por ser uma série de termos positivos, estudaremos a sua naturezarecorrendo ao critério do limite, fazendo a comparação com a sérieharmónica. Como

limn/(n2 + 1)

1/n= lim

n2

n2 + 1= 1

concluímos que para x = 3 a série tem a mesma natureza da sérieharmónica e, portanto, diverge.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 581 / 590

§6.3 Séries de potências

Exemplos (continuação)

e) (continuação) Além disso, se x = 1 obtemos a série+∞∑

n=1

(−1)n n

n2 + 1. A

sucessão de termo geral an =n

n2 + 1é decrescente visto que

n + 1(n + 1)2 + 1

− n

n2 + 1=

−n2 − n + 1(n2 + 2n + 2)(n2 + 1)

< 0 para todo o n ∈ N.

Por outro lado, uma vez que temos

limn→+∞

n

n2 + 1= lim

n→+∞

n

n2(1 + 1/n2)= lim

n→+∞

1n(1 + 1/n2)

=1

+∞ = 0

podemos concluir pelo critério de Leibniz que, para x = 1, a sérieconverge. Assim, a série converge para x ∈ [1, 3[ e diverge parax ∈ ] − ∞, 1[ ∪ [3 + ∞[.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 582 / 590

§6.3 Séries de potências

No intervalo de convergência I de uma série de potências

+∞∑

n=0

an(x − a)n

fica bem definida a função f : I → R dada por

f(x) =+∞∑

n=0

an(x − a)n

= a0 + a1(x − a) + a2(x − a)2 + · · · + an(x − a)n + · · · .

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 583 / 590

§6.3 Séries de potências

Propriedades da função f(x) =∑+∞

n=0 an(x − a)n

Seja+∞∑

n=0

an(x − a)n

uma série de potências com raio de convergência r e com intervalo deconvergência I. Consideremos a função f : I → R definida por

f(x) =+∞∑

n=0

an(x − a)n.

Então

a) a função f é contínua em I;

b) a função f é de classe C∞ em ]a − r, a + r[;

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 584 / 590

§6.3 Séries de potências

Propriedades da função f(x) =∑+∞

n=0 an(x − a)n (continuação)

c) para cada x ∈ ]a − r, a + r[ tem-se

f ′(x) =+∞∑

n=0

[an(x − a)n]′ ,

ou seja,

f ′(x) =+∞∑

n=1

nan(x − a)n−1

=+∞∑

n=0

(n + 1)an+1(x − a)n

= a1 + 2a2(x − a) + 3a3(x − a)2 + · · · + nan(x − a)n−1 + · · ·

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 585 / 590

§6.3 Séries de potências

Propriedades da função f(x) =∑+∞

n=0 an(x − a)n (continuação)

d) para cada x ∈ ]a − r, a + r[ tem-se

f(x) dx =

[

+∞∑

n=0

an(x − a)n+1

n + 1

]

+ C

= C + a0(x − a) +a1

2(x − a)2 +

a2

3(x − a)3 + · · · +

+an

n + 1(x − a)n+1 + · · ·

ou seja, a função g dada por

g(x) =+∞∑

n=0

an(x − a)n+1

n + 1

é uma primitiva de f .

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 586 / 590

§6.3 Séries de potências

Exemplos

a) Seja f : R \ {1} → R a função dada por

f(x) =1

1 − x.

Quando estudámos a série geométrica vimos que para cadax ∈ ] − 1, 1[ temos

+∞∑

n=0

xn =1

1 − x= f(x).

Verificamos então que f admite um desenvolvimento em série depotências de x no intervalo ] − 1, 1[.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 587 / 590

§6.3 Séries de potências

Exemplos (continuação)

b) Como

(

11 − x

)′=

1′(1 − x) − 1(1 − x)′

(1 − x)2=

0(1 − x) − 1(−1)(1 − x)2

=1

(1 − x)2,

usando o exemplo anterior e uma das propriedades anteriores,temos, para x ∈] − 1, 1[,

1(1 − x)2

=(

11 − x

)′=

+∞∑

n=0

(xn)′

=+∞∑

n=1

nxn−1 =+∞∑

n=0

(n + 1)xn

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 588 / 590

§6.3 Séries de potências

Exemplos (continuação)

c) O estudo que fizemos da série geométrica permite-nos concluir,para cada x ∈ ] − 1, 1[, que

11 + x

=1

1 − (−x)=

+∞∑

n=0

(−x)n =+∞∑

n=0

(−1)nxn.

Como ln(1 + x) é uma primitiva de1

1 + xtem-se

ln(1 + x) = C ++∞∑

n=0

(−1)n xn+1

n + 1

para algum C ∈ R. Como ln(1 + 0) = 0, tem-se C = 0 e, porconseguinte,

ln(1 + x) =+∞∑

n=0

(−1)n xn+1

n + 1para qualquer x ∈ ] − 1, 1[.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 589 / 590

§6.3 Séries de potências

Exemplos (continuação)

d) Usando novamente a série geométrica, para x ∈ ] − 1, 1[, temos

11 + x2

=1

1 − (−x2)=

+∞∑

n=0

(−x2)n =+∞∑

n=0

(−1)nx2n

e, pelas propriedades estudadas, tem-se para x ∈ ] − 1, 1[

arc tg x = C ++∞∑

n=0

(−1)n x2n+1

2n + 1

para algum C ∈ R. Como arc tg 0 = 0, concluímos que C = 0 e,portanto,

arc tg x =+∞∑

n=0

(−1)n x2n+1

2n + 1para x ∈ ] − 1, 1[.

António Bento (UBI) Cálculo I 2010/2011 590 / 590