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ACADEMIA DE CULTURA DE COLÔNIA LEOPOLDINA
- ACCL -
COLÔNIA LEOPOLDINA
-ALAGOAS-
(COLETÂNEA)
(VOLUME II)
Colônia Leopoldina-AL
2015
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Ficha catalográfica elaborada na Biblioteca Central da Universidade Federal da Paraíba.
C719 Colônia Leopoldina: Alagoas - Coletânea / José Francisco
de Melo Neto (organizador).- Colônia Leopoldina, AL:
Edição da ACCL, 2015.
v.2
1. Historiografia. 2. História e cultura - Colônia
Leopoldina-AL. 3. Política. I. Melo Neto, José Francisco de.
II. Academia de Cultura de Colônia Leopoldina.
CDU: 930.2
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APRESENTAÇÃO
A Academia de Cultura de Colônia Leopoldina - ACCL - convida você à leitura
desta coletânea, distribuída em 2 (dois) volumes, sobre a cidade de Colônia Leopoldina,
do Estado de Alagoas.
Esta coletânea tem por objetivo reunir, em bloco, livros que tratam de questões
dessa cidade, tentando facilitar a sua leitura pelos interessados de agora e do futuro.
A produção desses livros foi realizada em diferentes datas e, claro, por distintos
autores, tratando também de variadas temáticas - história, política e meio ambiente.
Mas, um fio condutor lhes fazem ligação - a cidade de Colônia Leopoldina. São livros
que se encontram fora do mercado, dificultando o acesso por aqueles que desejam
algum conhecimento sobre a cidade, para além dos dados estatísticos governamentais.
Aqui, você encontrará livros de caráter científico, editado por editoras
universitárias e com registros na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro. Há outros sem
essa dimensão, o que não diminui o mérito, pois retratam também esforços dos filhos da
cidade para registrarem elementos considerados importantes, por eles mesmos.
A Academia de Cultura de Colônia Leopoldina - ACCL - sente-se muito
honrada em poder compilar essas obras e oferecê-las à sociedade. Além de garantir uma
cópia do conjunto de livros, também a manterá em seu próprio acervo, podendo
socializá-la por meios eletrônicos. É possível que haja outros livros sobre a cidade. Em
havendo, a Academia aguarda uma comunicação.
A Academia agradece muito aos que se esforçam em pensar o seu lugar.
Boa leitura e aprecie o esforço desses autores e pesquisadores em retratarem a
sua região, à sua maneira e aos seus estilos literários, as terras dos antepassados negros,
índios e guerreiros cabanos.
José Francisco de Melo Neto
PRESIDENTE DA ACCL
(organizador da coletânea)
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VOLUME I
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
LIVRO 1 - 6
SILVA, Everaldo Araújo. A Colônia da princesa. Maceió, 1.Ed. Igasa, 1983.
LIVRO 2 - 165
MELO NETO, José Francisco de. Ação cultural no meio rural - uma experiência em
Colônia Leopoldina, Alagoas. Dissertação de mestrado em educação, na Universidade
de Brasília, 1984.
ISBN - 85-237-0199-0.
LIVRO 3 - 243
SANTOS, Ernane Santana. COLÔNIA LEOPOLDINA - as ruas de nossa cidade.
Gráfica - Q. Gráficas. Campus Universitário. Maceió, 2007.
LIVRO 4 - 375
COLÔNIA LEOPOLDINA - situações político-ambientais 1. PASSOS, Maria Betânia
Alves dos, GOMES, Marília Gabriela da C. e MELO NETO, José Francisco de (Org.).
Editora da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa: 2010.
ISBN - 978-85-7745-906-3
LIVRO 5 - 475
COLÔNIA LEOPOLDINA - situações político-ambientais 2. SILVA, Andréa Marques,
VELOSO, Elizabete M. do N. G., ARAÚJO, Paulo Edson de e MELO NETO, José
Francisco de (org.). Editora da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa: 2011.
ISBN - 978-85-7745-906-3
CONSIDERAÇÕES 578
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VOLUME II
580
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO 582
LIVRO 6 - 585
AMORIM, José Junior. A trajetória do movimento estudantil leopoldinense.
GrafNobre: Colônia Leopoldina, 2011.
LIVRO 7 - 725
SANTOS, Ernane Santana. Incruzando espadas. Q. Gráficas. Campus Universitário,
Maceió: 2011.
ISBN - 978-85-60995-53-0
LIVRO 8 - 787
MELO NETO, José Francisco de. COLÔNIA LEOPOLDINA - 30 anos de lutas
populares por mudanças e cidadania (1983-2013). Editora da Universidade Federal da
Paraíba, João Pessoa: 2013.
ISBN - 978-85-66414-33-2
LIVRO 9 - 1024
COSTA, Georgia Lamenha Silva. Memórias vivas do povo leopoldinense. Gráfica
Inovação. Serinhaém: 2014.
CONSIDERAÇÕES 1105
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LIVRO 6
AMORIM, José Junior. A trajetória do movimento estudantil leopoldinense.
GrafNobre: Colônia Leopoldina, 2011.
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A Trajetória do Movimento Estudantil
Leopoldinense
Colônia Leopoldina – Alagoas
Edição do autor
2011
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Dedicatória
Dedico este trabalho com muitíssimo afeto a minha esposa Ivânia, pela sua fé e
esperança depositada nas realizações dos nossos projetos.
Agradeço a Deus, Jesus Cristo e Nossa Senhora, por nossa maravilhosa união. Obrigado
meu amor pela sua meiga docilidade, compreensão e sensibilidade, pois tais virtudes
conduziram-me com firmeza e, sobretudo, com imensa perseverança na realização desta obra.
E aos meus estimados sobrinhos Wellingta (Ruan e Raad), Wandson, Gabriela, Beatriz,
Neto e Anna Belle.
Júnior Amorim
Autor
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Júnior Amorim
Nasceu no dia 28 de outubro de 1970, na cidade de Colônia Leopoldina – AL, filho de
José Amorim – Altilho – PE, 04/03/36 (falecido em 31/08/88) e de Marli Francisco Xavier –
Colônia Leopoldina – AL, 30/03/44) tem quatro irmãos: Franklin, Henrique, Washinigton e
Helga. Em 26 de julho de 2001 casou-se com Ivânia Maria Bezerra Silva. É funcionário público
na Prefeitura de Colônia Leopoldina – concursando desde 10/08/98 no cargo de assistente
administrativo. De 29 de agosto de 2001 a 31 de março de 2008 exerceu a função de
secretário-geral do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA).
Ainda na Prefeitura de Colônia Leopoldina, trabalhou nos cargos de diretor do Setor de
Promoções Culturais, Esportivais e Turísticas (SPCET) de 03 de fevereiro de 1997 a 31 de março
de 2000 – no governo do então prefeito Severiano Freitas (PMDB); de auxiliar bibliotecário na
Biblioteca Municipal Dr. Neidey Alcântara de Oliveira, de 03 de outubro de 1988 a 08 de julho
de 1991; chefe e preparador eleitoral no Cartório Eleitoral (PJCL), respectivamente, nos
períodos de 09 de julho de 1991 a 10 de outubro de 1994.
No Governo do Estado de Alagoas trabalhou como auxiliar de administração, na
Secretaria do Trabalho e Ação Social (SETAS), de julho de 1995 a janeiro de 1997. Em outras
áreas profissionais já atuou em diversas funções, sendo elas: recepcionista/caixa de
supermercados, vendedor de livros e outros. Júnior Amorim possui uma trajetória brilhante de
luta em defesa das conquistas da nossa gente. Já em 1982, aos 12 anos de idade, iniciou no
campo esportivo, presidindo a agremiação da Escolinha do Vasco da Gama. Também jogou na
Escolinha do Bahia, da saudosa professora Luiza Ferreira, em 1984/89; no Atlético CL, de
1990/93, no Flamengo (do Caboge), em 1996. Em 1993 presidiu a Liga Leopoldinense de
Esportes (LLE) e fundou o Campeonato Leopoldinense de Futebol, em 1996. Ainda na Liga foi
eleito com ênfase aos postes de presidente e vice-presidente, respectivamente, entre os
períodos de 15/02/97 a 15/02/99 e de 30/04/03 a 30/04/05.
Outra fase importante na carreira de Júnior Amorim, deu-se com a sua passagem no
movimento cultural, principalmente, na qualidade de membro do GRUCALE, nos anos de
1987/90. Da intensa atividade no tal movimento, foi para o cenário político em sua terra natal.
Registra-se, também, sua militância atuante no Partido dos Trabalhadores, no ano de 1990 e
seu retorno ao mesmo, em 1995. Com o engajamento no movimento estudantil leopoldinense,
onde exerceu o mandato de conselheiro fiscal (1990) e secretário-geral (1991),
respectivamente, no Grêmio Estudantil Antônio Lins da Rocha. Foi assim que conquistou em
1992, ser eleito presidente da União Municipal dos Estudantes Leopoldinenses (UMEL),
obtendo naquele ano uma votação expressiva de 373 votos.
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Durante os dois anos à frente da UMEL, Júnior Amorim afirmou sua posição política de
trabalho em prol da educação, da cultura, do esporte e do lazer. De 1994 a 1996 foi
conselheiro fiscal da Sociedade Musical Prof. Sebastião Braga. Em julho de 1995 se desfiliou da
sigla do PT, e ingressou no PMDB, no mesmo ano, do qual tornou-se secretário geral par o
quadriênio de 1997/2001. Em 1998, Júnior Amorim disputou a eleição para o Conselho Tutelar.
A eleição reuniu dez concorrentes, e ele elegeu-se conselheiro tutelar com 164 votos em
quinto lugar. Júnior Amorim passou três anos (1998 a 2001) no Conselho Tutelar, onde
assumiu também com mérito a presidência do órgão por um ano. Neste mesmo ano, Júnior
Amorim destacou-se como coordenador municipal da candidatura do então governador Dr.
Manoel Gomes de Barros (Mano), do PMDB, ao Governo de Alagoas. Nas eleições municipais
de 01 de outubro de 2000, concorreu uma cadeira na Câmara Municipal de Vereadores pelo
PMDB, onde recebeu carinhosamente 97 votos. Infelizmente não alcançou o objetivo, mas
marcou o pleito com mensagens positivas e realistas. Em 2002, por seis meses, Júnior Amorim
lecionou no “Projeto de Educação Infantil” da ADECOMA, no Conjunto Mandacaru. Após sete
anos no PMDB, Júnior Amorim deu baixa na sua ficha partidária no dia 22 de novembro de
2002.
No dia 18/05/2003, em prol as lutas sindicais, Júnior Amorim presidiu a Comissão
Eleitoral de fundação do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Colônia Leopoldina
(SINSEPMCOL). Colaborando com a trincheira política do vereador Ricardo Brasilino – na época
presidente da Câmara, filia-se ao Partido Social Liberal (PSL). Nas eleições municipais de 2004,
Júnior Amorim apoiou com êxito as reeleições do prefeito Manuilson Andrade Santos (PSB), do
seu vice José Alves Caldas Júnior (PL) e do vereador Ricardo Brasilino (PSL). Já nas eleições de
2006, Júnior Amorim volta ao cenário político como coordenador municipal, desta vez da
candidatura do senador Teotônio Vilela Filho, do PSDB, que se elegeu em primeiro turno
governador do Estado de Alagoas. Depois de quatro anos no PSL, Júnior Amorim conclui seu
ciclo vitorioso, e filia-se ao Partido Trabalhista Nacional (PTN), em 24 de setembro de 2007 e
por questões de compromissos partidários se desliga do PTN no dia 05/05/2009.
De 03 de setembro de 2007 a 07 de outubro de 2008, trabalhou na função de leiturista
da GBS Engenharia Ltda., de Maceió – AL – empresa que presta serviços terceirizados a
Companhia Energética de Alagoas (CEAL). Na área política partidária, Júnior Amorim prestou
assessoria aos amigos vereadores Ricardo Brasilino, de Colônia Leopoldina, Dr. Oswaldinho
Gomes de Barros Filho, de Novo Lino e Moacir Mendes, de Sertãozinho de Baixo – Distrito de
Maraial – PE.
De 1o de abril de 2008 a 31 de dezembro de 2008, exerceu a chefia de gabinete do então
prefeito Manuilson Andrade Santos (PDT).
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No pleito municipal de 2008, Júnior Amorim ao lado do então prefeito Manuilson
Andrade Santos e Eulália Moraes i- candidata a prefeita que fora impugnada pela Justiça
Eleitoral – comemoram a vitória histórica da chapa formada por Cássio Alexandre (PDT),
prefeito, e Meilton Luna (DEM), vice-prefeito. Através da Portaria no 010, de 01 de janeiro de
2009, o prefeito Cássio Alexandre Reis de Amorim Urtiga (PDT) indica Júnior Amorim à chefia
de gabinete. No tocante a representatividade religiosa, Júnior Amorim atuou como tesoureiro
(2003) e presidente (2009), respectivamente, da Comissão da Festa do Glorioso Mártir São
Sebastião.
Nas eleições gerais de 03 e 31 de outubro de 2010, Júnior Amorim acompanhou as
orientações políticas das lideranças Manuilson Andrade Santos e Cássio Alexandre que juntos
somaram forças para as vitórias dos candidatos: Nelito Gomes de Barros, deputado estadual;
Maurício Quintella Lessa, deputado federal; Benedito de Lira e Renan Calheiros, senadores;
Teotônio Vilela Filho, governador; e Dilma Rousseff, presidenta do Brasil.
De 13 a 31 de maio de 2010, presidiu a Comissão Provisória Municipal de Previdência
(CMP). Essa comissão foi à responsável pela realização das eleições do Conselho Municipal de
Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo
(ECC) da Paróquia Nossa Senhora do Carmo.
Paralelamente a chefia de gabinete, o prefeito o nomeou no dia 24 de novembro de
2010 presidente do Conselho Municipal de Previdência e representante do município no
Conselho Gestor da Área de Proteção Ambiental (APA) de Murici/Secretaria de Estado do Meio
Ambiente e de Recursos Hídricos/SEMARH-AL. De maio a setembro do corrente ano lecionou
no Programa de Educação de Jovens e adultos (PROEJA) do Governo do Estado de Alagoas. A
convite de Wanessa Costa, primeira-dama do município, e presidente da Comissão Provisória
Municipal do Partido da República (PR), ingressa na fileira da citada sigla partidária como vice-
presidente em meados de setembro do fluente ano.
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Apreciação
O ato de fazer uma apresentação no campo literário envolve responsabilidades do
apresentador e do apresentando, é a dualidade milenar que se estabelece revelando o poder
da criatividade intelectual, tornando o abstrato que é a ideia no concreto que é o real e
palpável com as formas e cores sublinhadas da satisfação interior em produzir um documento
onde estão bem próximos tudo que estava fragmentado em termos do pensamento.
Sinto-me muito à vontade em proceder esta apresentação pelo valor que este jovem
escritor sempre demonstrou pelas responsabilidades assumidas e bem concluídas, pelos
desafios que já encarou, pelo amor devotado a esta tão sofrida terra que nos viu nascer.
O encaminhamento e o desenvolvimento deste trabalho são uma narrativa dinâmica e
bem cadenciada dos fatos vivenciados como testemunha ocular desta fase do seu despertar
para os embates da vida. Observou e guardou todo acervo, e quão felizes irão por certo ficar
aqueles personagens que participaram dos eventos e das ocorrências, pois nossa memória
está documentada e viva para dar o exemplo às futuras gerações.
Parabéns Júnior Amorim, pela sua fidelidade aos seus princípios e ao seu patrimônio
cultural, que você teve a feliz iniciativa em doar, em transitar todas as sensações da guerra e
da paz, ao transitar pela difícil fase da adolescência e aqui, está se perpetuando nesta edição
do seu primeiro trabalho sócio-lítero cultural. Externo meu reconhecimento de público ao seu
valor e a sua capacidade.
Everaldo Araújo Silva
Escritor
Apreciação escrita em janeiro de 1996
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Prefácio
O ano de 2011 enseja a celebração de duas extraordinárias e significativas datas para a
classe estudantil leopoldinense: o vigésimo segundo ano de aniversário de instalação da
Comissão Pró-Grêmio Cenecista e o décimo da Comissão Pró-UMEL. Esta obra reúne as mais e
variadas gigantescas conquistas do nosso movimento estudantil, entre os períodos
compreendidos de setembro de 1989 a maio de 1997.
A ideia do movimento estudantil foi inserida pedagógica e politicamente no seio da
juventude leopoldinense, através do agrônomo e professor Rudson Sarmento Maia. Ganhando
espaço, a concepção aos poucos adquiriu adesões expressivas entre os educandos. Essa
corrente vitoriosa expandiu-se e surgiu a primeira safra dos líderes estudantis nas escolas do
município. Como, por exemplo, o saudoso Cláudio Luiz, Caetano Monteiro, Hamilton
Alexandre, Vitalino do Nascimento, José Machado, Romildo Laurentino, dentre outros.
Implantado o movimento estudantil leopoldinense, as metas foram sendo colocadas em
prática pelas mais distintas formas de atuação na comunidade escolar e em todos os
segmentos da sociedade leopoldinense, por meio do Jornal do Estudante, Congressos da UBES,
Campanhas para a fundação e eleições dos Grêmios Estudantis, Debates Estudantis, Eventos
Culturais, Torneios Escolares de Futsal, Congressos da UESA, Entrevistas, Campanhas em prol
da Biblioteca Pública, Campeonato Leopoldinense de Futsal, além de atos públicos em defesa
da política educacional de boa qualidade.
Com a fundação da UMEL, o movimento estudantil leopoldinense chegou ao seu ápice.
Logo na primeira eleição da sua presidência pelo voto direto e secreto em 1992, participaram
632 estudantes, a partir da 5a serie do ensino fundamental até o 3o ano do ensino médio, além
de ex-alunos. Durante aquele período, a UMEL assumiu definitivamente um papel relevante de
articulação na política local, destacando-se em inúmeras manifestações na constante e árdua
batalha em defesa do bem-estar dos munícipes.
Tenho plena convicção que este documentário traduz uma fantástica história destes
fatos, dessas ocorrências que retratam as minúsculas derrotas. Mas, por outro lado, mostra
claramente as maiúsculas e calorosas vitórias no eixo do sistema educacional.
Júnior Amorim
Autor
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Sumário
Capítulo I – 1989
O líder universitário
Chegada de Rudson a Colônia Leopoldina
O começo de uma luta
Congresso da UBES
Comissão Pró-Grêmio Cenecista
Compromisso com a cultura
Concurso de redação
Capítulo II 1990
Conexão estudantil
Eleições da presidência do Grêmio Estudantil Antônio Lins da Rocha
Caetano Monteiro unifica diretoria
O afastamento de Caetano Monteiro
Grêmio faz campanha em prol da biblioteca pública
Duas chapas agitam disputa da presidência do Grêmio Estudantil Cenecista Padre Francisco
O PCB e os líderes estudantis
Vitalino do Nascimento é eleito presidente do Grêmio Cenecista
Prefeito Zé de Melo prestigia os estudantes
I Festão do Estudante
Hamilton Alexandre participa do Congresso da UBES
O regresso de Caetano Monteiro
Capítulo III - 1991
VI Congresso da UESA
Diretoria da UESA visitam Colônia Leopoldina
Hamijlton Alexandre é eleito novo presidente do Grêmio Antônio Lins
Fundação do Grêmio Estudantil Aristheu de Andrade
Projeto Farmácia Escolar
GRUCALE faz doação de livros ao Grêmio Estudantil Antônio Lins da Rocha
Uma jovem na presidência do Grêmio Aristheu de Andrade
Torneio Escolar de Futsal
Capítulo IV - 1992
Grêmio tem novos diretores
I Encontro Estadual de Grêmios Estudantis
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Presidente da UBES e diretores da UESA visitam Colônia Leopoldina
II Campeonato Leopoldinense de Futsal
Fundação da UMEL
Relação dos estudantes por escolas nas eleições da UMEL-1992
Votação dos candidatos a presidente da UMEL (Eleições – 1992)
A posse dos diretores da UMEL
Diretoria Geral da UMEL (Biênio 1992/94)
Capítulo V - 1993
Desportistas fundam Liga Leopoldinense de Esportes
Torneio São Sebastião de Futsal
Secretário-geral da UMEL renuncia
Diretoria da UMEL participa da cerimônia de instalação da UMJIL
UMEL entrega abaixo-assinado ao presidente da Câmara de Vereadores
UMEL organiza debate sobre educação na Escola Antônio Lins da Rocha
Uma sala
TELEUMEL
Vereadores respondem ao pronunciamento do ex-secretário de Administração
Duelo no futsal: UMEL, versus Atlético CL
Secretário da UMEL, Gilberto Sobreira assume à presidência do Grêmio Estudantil
Antônio Lins da Rocha
VII Congresso da UESA
Gincana escolar
UMEL versus Comercial Rocha
UMEL faz distribuição de donativos
Criado comitê para combater a miséria
O mapeamento da fome
Intercâmbio: GRUCALPE e UMEL
11 de agosto: Dia do Estudante
18 de agosto: aniversário da UMEL
Mandacaru: dois anos de ocupação, de luta e resistência
22 de agosto: Dia Nacional do Folclore
Ato público
Escritor Everaldo Araújo Silva ministra palestra sobre a Monarquia no Brasil
Fórum Criança e Adolescente
UMEL participa da elaboração do Plano Decenal de Educação
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UEL no III Campeonato Leopoldinense de Futsal
30o Congresso da UBES
Dia Nacional da Consciência Negra
2o Ano Contabilidade é campeão do Torneio Estudantil de Futsal
Capítulo VI - 1994
Fórum discute Municipalização da Saúde e a criação do Conselho Municipal de Saúde
UMEL organiza I Fórum Educação e Sociedade
Chico Amâncio participa da festa dos dez anos do PT de Colônia
I Encontro Regional da Juventude
UMEL instala Sala de Leitura Everaldo Araújo Silva
1a Corrida Junina de Pedestre
90 anos de Emancipação Política de Colônia Leopoldina
Relação Humana é tema de debate
UMEL conquista cadeira no Conselho Municipal de Saúde
I Campeonato Estudantil de Futsal
UMEL empata com Almoxarifado em partida amistosa
Eleições estudantis
Resultado por educandários – Eleição UMEL / 1994
Passeata marca aniversário do Mandacaru
I Torneio Veterano de Futsal
Erivan Soares empossa diretoria do Grêmio Cenecista
Transição de cargos: o novo presidente da UMEL, Genésio é empossado em cerimônia
bastante festiva
Diretoria da UMEL (Gestão: 1994/96)
Música é vida
O governo de Genésio
Capítulo VII – Depoimentos e cartas
Capítulo VIII - Entrevistas
Capítulo IX - 1996
Votação dos candidatos a presidente da UMEL (Eleições 1996)
Diretoria Geral da UMEL (Biênio: 1996/98)
Jornais estudantis
Caderno fotográfico
Anexos
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Capítulo I – 1989
O líder universitário
Em 1978, foi aprovado no vestibular da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), o
estudante Rudson Sarmento Maia. No ano de 1979, ingressou nesta mesma universidade, no
curso de Agronomia. Ainda muito jovem, com uma visão ampla das dificuldades políticas e
socioeconômicas existentes no Brasil, principalmente no Estado de Alagoas, logo aderiu ao
movimento estudantil universitário.
De 1980 a 1984, participou de 02 (dois) congressos da União Nacional dos Estudantes
(UNE), nas capitais de São Paulo – SP e no Recife – PE. Neste mesmo período, elegeu-se
presidente do Diretório dos Estudantes de Agronomia. Tal fase do movimento foi considerada
como o “período da abertura democrática” em nosso país, pois este ainda se encontrava em
pleno regime de ditadura militar.
Rudson Sarmento Maia ficou registrado nos anais da história do movimento estudantil
alagoano, como um dos líderes mais atuantes e dinâmicos, nas reivindicações que fez em prol
da educação e da democracia no Brasil.
Chegada de Rudson a Colônia Leopoldina
Já formado em agronomia pela UFAL, veio residir em Colônia Leopoldina, em princípios
de 1989. Tendo grande conhecimento da política estudantil, no que diz respeito aos nossos
professores verificou o quadro educacional e social dos leopoldinenses.
Disposto a levar seu plano avante, tomou o professor Rudson uma importante decisão:
incentivar e implantar o movimento estudantil secundarista em nosso município. Após a
criação de tal movimento, teria este maior força junto à sociedade estudantil leopoldinense,
no que se refere à participação ativa nos destinos da educação, da política e da cultura em
geral.
O começo de uma luta
No mês de fevereiro de 1989, um grupo de estudantes incentivados por Rudson S. Maia,
Miguel Florêncio, Osvaldo Acioly, Adelmo Torres e Jair de Assis, todos descontentes com as
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péssimas condições do ensino leopoldinense, começaram articulando democraticamente a
criação do movimento estudantil secundarista leopoldinese.
Os pioneiros deste movimento foram os corajosos estudantes: Cláudio Luiz, Hamilton
Alexandre, Caetano Monteiro, Vitalino do Nascimento, Jaelson de Assis, Romildo Laurentino,
Jamacy Agustinho e José Machado. Apesar de pouca experiência, no princípio, aventuraram-se
na fundação do primeiro JORNAL DO ESTUDANTE.
Nesse mesmo ano, foram lançados dois exemplares do citado jornal estudantil. O mais
importante deles, o de número 02, relatava a necessidade da “democracia nas escolas
municipais”. Tal matéria dava ênfase a “Gestão Democrática” no ensino, através de uma
Emenda Popular sobre ELEIÇÕES DIRETAS PARA DIRETORES NAS ESCOLAS MUNICIPAIS, que se
pretendia ser incluída na Lei Orgânica do Município.
Congresso da UBES
A primeira vitória no âmbito nacional e a mais sensacional do movimento estudantil
leopoldinense, ocorreu em meados de setembro de 1989. Nesse mesmo período, os
estudantes Cláudio Luiz Jatobá de Santana e Caetano Monteiro de Lima, participaram do
Congresso da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), em São Paulo – SP. Em tal
evento, não adquiriram apenas grandes experiências em matérias de simpósios, como
também, trouxeram novas ideias para os nossos educandos.
O Congresso da UBES reuniu várias delegações, e Alagoas foi representada pela União
dos Estudantes Secundários de Alagoas (UESA). Com a volta de Cláudio Luiz e Caetano
Monteiro, de São Paulo, os estudantes leopoldinenses lhes depositaram grande confiança,
necessária aos objetivos do movimento ao mesmo tempo que, proporcionava novas
expectativas para o crescimento e fortalecimento das conquistas estudantis em nossa cidde.
Comissão Pró-Grêmio Cenecista
A ascendência do Congresso da UBES deu coragem e audácia aos estudantes Hamilton
Alexandre da Silva, Vitalino do Nascimento e José Machado da Silva Filho, os quais,
entusiasmados com o sucesso do movimento estudantil, encabeçaram a formação da
Comissão Pró-Grêmio Cenecista.
Isto ensejou ao Colégio Cenecista “Pe. Francisco” – CNEC, a honra e o privilégio de ser o
berço do nosso movimento. Essa longa caminhada motivou os estudantes a continuarem sua
jornada no terreno educacional.
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A comissão serviu como boa experiência, coroando-se de êxito, pois conseguiu alcançar
os objetivos que se propôs. Por outro lado, foi dela a responsabilidade direta pela ruptura do
centralismo educacional e cultural em nosso meio. Tal se deu, principalmente, após a
mobilização dos militantes estudantis no processo político educacional.
Compromisso com a cultura
A cultura sempre esteve presente na vida da juventude. Prova-nos isto o trabalho da
comissão, que de formação excepcional, presenteou ao povo leopoldinense, no início de
dezembro de 1989, no Clube UDAL, um espetáculo teatral que recebeu por título o Auto da
Compadecida.
Tal drama é de Ariano Vilar Suassuna (João Pessoa, Paraíba, 16 de junho de 1927) é um
dramaturgo, romancista e poeta brasileiro – a peça foi montada e dirigida pelo conceituado
professor Pedro Onofre, de Maceió – AL. O sucesso do espetáculo foi comprovado pelos
leopoldinenses após sua apresentação, sendo aplaudido e comentado por todos.
Concurso de redação
Em 12 de dezembro de 1989, promoveu a Comissão Pró-Grêmio Cenecista um concurso
literário de redação, que versava o tema “Ecologia”. O referido concurso reuniu 10 (dez)
estudantes inscritos, sendo o nível dos trabalhos por eles apresentados, de excelente
qualidade.
A comissão contou com a colaboração do Banco do Brasil agência local, que premiou os
dois vencedores, Florânice Santos de Andrade e Júnior Amorim com simbólicas cadernetas de
poupança, encerraram-se todas as atividades do ano de 1989 com solenes festividades. Tudo
isto deixou um saldo positivo e uma expectativa para o futuro.
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Capitulo II – 1990
Conexão estudantil
Deu-se em 05 de março de 1990, a conexão entre os líderes estudantis da Escola de 1o e
2o Graus Antônio L. da Rocha e do Colégio Cenecista “Pe. Francisco”. Através dessa união, os
líderes Hamilton Alexandre da Silva, Caetano Monteiro de Lima, Cláudio Luiz Jatobá de
Santana, Jamacy Agustinho da Silva Júnior, José Romildo Laurentino da Silva e Jaelson de Assis
da Silva; partiram juntos rumo a fundação histórica do Grêmio Estudantil Antônio da Rocha.
Essa mobilização resultou ainda na integração de novos militantes. Uniram-se aos
demais, entre outros, Jodivaldo José da Silva Dionízio, Poliana Maciel Loureiro, Ednaldo José da
Silva, Júnior Amorim, Reginaldo Silva Barros, Vilma Ferreira Barbosa e Fabiano Henrique
Borges Amâncio.
Eleições da presidência do Grêmio Estudantil Antônio Lins da Rocha
Formação das chapas – Em 18 de março de 1990, ocorreu um racha entre o grupo. Após
essa divisão, foram formadas três chapas para disputarem as eleições, compostas com os
seguintes integrantes: Chapa 1 – Caetano Monteiro de Lima (presidente) e Cláudio Luiz J. de
Santana (vice-presidente); Chapa 2 – Hamilton Alexandre da Silva (presidente) e Júnior Amorim
(vice-presidente); e a Chapa 3 – Fabiano H. B. Amâncio (presidente) e Reginaldo Silva Barros
(vice-presidente).
Debate estudantil – No Clube UDAL, dia 24 de março de 1990, realizou-se o primeiro
debate estudantil envolvendo os candidatos à presidência do grêmio. Neste grande
acontecimento político estudantil, os presidenciáveis apresentaram aos seus eleitores as
plataformas de governo.
A eleição – no dia três de abril de 1990, nas dependências da Escola Antônio L. da Rocha,
realizou-se com sucesso absoluto o pleito de fundação do grêmio estudantil.
De maneira democrática e popular, a Chapa 1 – Caetano Monteiro e Cláudio Luiz saiu
vitoriosa obtendo um total de 60% dos votos válidos. Este resultado foi bastante expressivo,
pois a Chapa 3 – Fabiano Amâncio e Reginaldo Barros recebeu em segundo lugar o percentual
de 28% dos votos. No entanto, o pior resultado foi o da Chapa 2 – Hamilton Alexandre e Júnior
Amorim que somou apenas 9% dos votos.
25
Caetano Monteiro unifica diretoria
O presidente eleito Caetano Monteiro nomeou a diretoria unificando todas as correntes,
no dia 05 de abril de 1990. A primeira diretoria do Grêmio Estudantil Antônio Lins da Rocha
formou-se com os seguintes membros:
Executiva – Caetano Monteiro de Lima, Cláudio Luiz Jatobá de Santana, Hamilton
Alexandre da Silva, Jamacy Agustinho da Silva Júnior, Jaelson de Assis da Silva e José Romildo
Laurentino da Silva; Social – Fabiano Henrique Borges Amâncio, Jodivaldo José da Silva
Dionízio, Poliana Maciel Loureiro, Márcio Caetano da Silva e Vilma Ferreira Barbosa; Conselho
Fiscal – Ednaldo José da Silva e Júnior Amorim.
Grêmio faz campanha em prol da biblioteca pública
A 29 de abril de 1990, o presidente Caetano Monteiro, do Grêmio Estudantil Antônio L.
da Rocha encaminhou aos mestres ofícios circular, solicitando-lhes que enviassem listas dos
livros de suas respectivas disciplinas.
Estas listas fariam parte da documentação que seria entregue ao prefeito José Santana
de Melo, o Zé de Melo, reivindicando a ampliação do acervo da Biblioteca Pública Municipal
Dr. Neyder Alcântara de Oliveira. Infelizmente, os professores com medo de represálias,
exceção de alguns, não deram importância ao fato. Dessa forma, não foi apresentado o
referido projeto ao chefe do Poder Executivo.
O afastamento de Caetano Monteiro
Em 07 de maio de 1990, Caetano Monteiro afastou-se da presidência do grêmio. Este
episódio ficou marcado nos bastidores como: “o dia do golpe”. Pois comentava-se que tal fato,
teria partido da organização dos opositores Hamilton Alexandre e Júnior Amorim, secretário e
conselheiro fiscal respectivamente, da entidade estudantil.
Com a saída de Caetano Monteiro, assumiu o cargo de presidente interinamente na
mesma data, o então vice-presidente Cláudio Luiz.
Duas chapas agitam disputa da presidência do Grêmio Estudantil Cenecista Padre Francisco
26
A briga pela presidência do Grêmio Estudantil Cenecista Pe. Francisco reuniu dois
excelentes grupos. De um lado, a Chapa 1 – Vitalino do Nascimento (presidente) e Jackeline P.
da Silva (vice-presidente), e do outro, a Chapa 2 – Antônio Marcos Alves (presidente) e José
Cícero da Silva (Veiga) (vice-presidente).
Com os blocos nas ruas, à medida que o pleito se aproximava, a disputa tornava-se cada
vez mais ferrenha.
O PCB e os líderes estudantis
Em Colônia Leopoldina, no dia 22 de maio de 1990, o Partido Comunista do Brasil (PCB),
foi regularizado pelos educadores Adelmo de Oliveira Torres, Rudson Sarmento Maia, Miguel
Florêncio da Silva Júnior e Jair de Assis da Silva, da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos
(ECT).
A meta do PCB era de uma proposta de conscientização política inovadora, sobretudo
nos anseios da juventude leopoldinense. Em seus inúmeros encontros promovidos, se faziam
sempre presentes os jovens líderes estudantis Hamilton Alexandre, Jaelson de Assis, Romildo
Laurentino, Jamacy Agustinho, Caetano Monteiro e Cláudio Luiz. Nas reuniões internas do
partido, o simpatizante Hamilton Alexandre, encabeçava a pauta das “diretrizes” do
movimento estudantil. Uma parceria marcante entre os professores e os estudantes, fez com
que os “políticos tradicionais” ficassem preocupados com o fortalecimento de mais uma
esquerda (pois, na época, já contava com o PT) em nossa cidade.
Em um dos debates organizados por seus militantes no município, participaram os
membros da Executiva Regional do PCB, Régis Cavalcante e Anivaldo Miranda, além do
convidado especial Ronaldo Lessa (engenheiro civil, vereador de 1988 a 1992 pelo Partido
Socialista Brasileiro (PSB), em Maceió – AL.
Vitalino do Nascimento é eleito presidente do Grêmio Cenecista
No dia 08 de junho de 1990, com um comparecimento de 90% dos estudantes foi
realizada a eleição da presidência do Grêmio Estudantil Cenecista Pe. Francisco. A campanha
transcorreu em clima de grande agitação, mas sem nenhuma violência.
O diretor do colégio, Sr. Severino Cavalcante de Almeida (Tininho), garantiu o processo
democrático da juventude em busca dos seus ideais. Com o resultado da eleição, que sagrou
vitoriosa a Chapa 1 – Vitalino do Nascimento e Jackeline Pereira da Silva, os estudantes
tomaram as ruas da cidade comemorando o sucesso do movimento.
27
Prefeito Zé de Melo prestigia os estudantes
O prefeito Zé de Melo tomou conhecimento da existência do Grêmio Estudantil Antônio
Lins da Rocha, em seu gabinete através do Jornal do Estudante.
Logo, enviou ao presidente Cláudio Luiz, o Of. no 126/PMCL, datado de 01/08/90,
segundo o qual, destacava o trabalho da entidade e colocava-se inteiramente a disposição
para uma eventual reunião com os líderes estudantis.
I Festão do Estudante
De 06 a 12 de agosto de 1990, os grêmios estudantis Antônio Lins da Rocha e Cenecista
padre Francisco, promoveram o glorioso I Gestão do Estudante. O evento reuniu um público
bastante diversificado, onde prestigiou exposições de livros, amostra de vídeos e teatro.
Outro ponto alto da festa foi os debates educacionais proferidos pelas professoras
Maria José P. Viana, do Partido dos Trabalhadores (PT – AL) e Tânia Maria Moura, da Central
Única dos Trabalhadores (CUT – AL).
Hamilton Alexandre participa do Congresso da UBES
O secretário Hamilton Alexandre da Silva, do Grêmio Estudantil Antônio Lins da Rocha,
representou os estudantes leopoldinenses no Congresso da UBES, realizado em agosto de
1990, em Vitória – ES.
Com o comparecimento de Hamilton, abriu-se para o nosso movimento, uma vitrine de
conquistas para outros futuros encontros desse porte. Após sua chegada do encontro nacional,
inicia-se uma nova filosofia de trabalho na base do movimento estudantil leopoldinense.
O regresso de Caetano Monteiro
No dia 10 de setembro de 1990, Cláudio Luiz transfere o cargo de presidente ao amigo
Caetano Monteiro. Ao assumir a presidência, Caetano Monteiro transportou toda
responsabilidade para a equipe.
No entanto, o importante nesta nova volta de Caetano Monteiro, é que ele se
conscientizou, inclusive de aceitar a participação na elaboração das metas do grêmio
estudantil.
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29
Capítulo III – 1991
VI Congresso da UESA
Nos dias 08 de junho de 1991, foi realizado no Ginásio de Esportes do Centro
Educacional Antônio Gomes de Barros, em Maceió – AL, o VI Congresso da União dos
Estudantes Secundários de Alagoas (UESA). O evento reuniu 630 delegados, representando os
movimentos estudantis da capital e do interior. No segundo dia, os delegados votaram e
escolheram a Chapa 2 – “Unir Para Lutar” para dirigir os destinos da UESA. O estudante de
Arapiraca, Luciano Marcos Freitas, encabeçou à presidência da Chapa 2.
Através da articulação do secretário-geral Hamilton Alexandre, do Grêmio Estudantil
Antônio Lins da Rocha, com os líderes da capital, negociou-se para o movimento leopoldinense
um cargo na chapa “Unir Para Lutar”. Tal cargo seria preenchido por Hamilton Alexandre.
Entretanto, com sua ausência no congresso por motivos particulares, a caravana leopoldinense
indicou no posto de vice-presidente da Zona Norte da UESA, o ex-vice-presidente do Grêmio
Estudantil Lins da Rocha, Cláudio Luiz.
A diretoria da UESA ficou assim constituída: Luciano Marcos Freitas, Evânio José, João
Honorato, Sandra Ozana, Clayton Rosa, Jefferson Félix, Maria Margarida, Carlos Henrique,
Edvaldo Francisco, Maria José, Luciém Ferreira, Rosival da Silva, Adelardo Pedro, Flávia
Daniela, Valdir Mendonça, Ibson Leonardo, Cláudio Luiz J. de Santana, Alan Kardec, Josias
Santa e Maria Lúcia.
A comitiva de Colônia Leopoldina foi representada com muito brio neste congresso.
Fizeram parte da delegação Cláudio Luz, Caetano Monteiro, Vitalino do Nascimento, José
Machado, Kleber Lins dos Santos e Cícero Manoel da Silva.
Diretores da UESA visitam Colônia Leopoldina
No dia 02 de julho de 1991, no Clube UDAL, os diretores da UESA Luciano Marcos Freitas
(presidente), Evânio José (vice-presidente), João Honorato (secretário-geral) e Cláudio Luiz
(vice-presidente da Zona Norte) participaram de um fórum/debate com lideranças estudantis
locais.
Estiveram presentes no encontro Vitalino do Nascimento, Hamilton Alexandre, José
Machado, Kleber Lins dos Santos, Júnior Amorim, Josenildo Gomes, Sandra Soares, Alcineide
Maria, Valdir J. das Neves, Reginaldo Luiz, Maria Lucimar, Maria das Dores, Cosmo Marques,
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Nivaldo T. Filho, Chico Amâncio, Maria Conceição (Ceiça), Ana Cristina Veloso, Elvis Tenório,
Edson Ribeiro e Robson José.
Neste ato, foram avaliados planos de trabalhos, com o objetivo de: 1o) realizar eleição
no Grêmio Antônio Lins; e 2o) fundar o grêmio na Escola de 1o Grau Aristheu de Andrade.
Hamilton Alexandre é eleito novo presidente do Grêmio Antônio Lins
No dia 28 de setembro de 1991, das 10:00 às 13:00h, no Clube UDAL, realizou-se a
eleição da presidência do Grêmio Estudantil Antônio Lins da Rocha. Registraram-se na eleição,
os seguintes estudantes: Josenildo Gomes, Érica Valéria, Nivaldo T. Filho, Sandra Soares,
Alcineide Maria, Cosmo Marques, Franklin Amorim, Elza Maria, Micheline Cordeiro, Maria
Lucimar, Jodivaldo Dionízio, Maria das Dores, Gilberto Sobreira, Ana Cristina Veloso, Elvis
Tenório, Júnior Amorim, José Marques, Chico Amâncio, Edson Ribeiro, Robson Cláudio, Maria
Conceição, Vilma Ferreira, Paulo André e Hamilton Alexandre.
Prestigiaram o pleito os educadores Rudson S. Maia e Arleide C. Lins. Antes da eleição,
abriu-se uma série de debates. Na ocasião, os referidos educadores ressaltaram o papel de
extrema importância que os estudantes através do grêmio, proporcionaram durante um ano e
cinco meses de atuação dentro e fora da comunidade escolar. Inscreveram-se duas chapas
para disputar a eleição, sendo elas: a Chapa 1 – encabeçada por Hamilton Alexandre e a Chapa
2 – representada por Chico Amâncio. Encerrada a votação, foi proclamada vencedora com 20
votos a Chapa 1.
Ao assumir o cargo de presidente, Hamilton Alexandre discursou agradecendo o apoio
de todos nesta nova fase do grêmio. Em seguida, nomeou a diretoria, composta com os
seguintes membros: presidente – Hamilton Alexandre da Silva; vice-presidente – Vilma Ferreira
Barbosa; secretário-geral – José Amorim Júnior; 2o secretário – Josenildo Gomes; 1o tesoureiro
– Nivaldo Temisto Filho; 2a tesouraria – Elza Maria; diretor de cultura – Jodivaldo Dionízio;
diretor de imprensa – Franklin André Amorim; diretora social – Micheline Cordeiro; diretor de
esportes – José Marques da S. Filho; oradora – Érica Valéria; suplentes – Alexandre Gilberto
Sobreira e Sandra Soares; conselho fiscal – Elvis Tenório, Paulo André e Alcineide Maria;
representante de turma – Robson Cláudio.
Fundação do Grêmio Estudantil Aristheu de Andrade
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No Centro Paroquial, dia 18 de outubro de 1991, com expressivo comparecimento de
mais de 200 estudantes, realizou-se o pleito de instituição do Grêmio Estudantil Aristheu de
Andrade. Para a referida eleição foram inscritas três chapas, compostas pelos seguintes
presidenciáveis: a Chapa 1 – José Carlos da Silva (o Federal), a Chapa 2 – Adriano Almeida
Costa (Didi) e na Chapa 3 – Kleber Lins dos Santos.
A convite dos mencionados candidatos, se fizeram presentes no ato do processo
eleitoral, com bastante satisfação o diretor Cláudio Luiz, da UESA, o presidente Hamilton
Alexandre e o secretário-geral Júnior Amorim, respectivamente, do Grêmio Estudantil Antônio
Lins da Rocha.
O pleito foi acirrado, com uma margem muito pequena de votos da primeira para a
segunda chapa, de forma que, surpreendentemente, venceu a Chapa 1 do alegre jovem José
Carlos da Silva (o Federal).
Projeto Farmácia Escolar
No dia 30 de outubro de 1991, o Grêmio Estudantil Antônio Lins da Rocha, sob à
presidência de Hamilton Alexandre, instituiu e colocou em pleno funcionamento o pioneiro
Projeto Farmácia Escolar.
O projeto atendia casos de primeiros socorros, no qual beneficiou com prioridade
absoluta toda escola. Para execução do projeto, o grêmio estudantil firmou parceria com o
Poder Executivo local que fornecia os medicamentos.
GRUCALE faz doação de livros ao Grêmio Estudantil Antônio Lins da Rocha
Em julho de 1986, promoveu-se com sucesso formidável uma gigantesca campanha de
arrecadações de obras-primas entre literárias e científicas, com a participação de vários
segmentos da sociedade leopoldinense. Tal campanha coletou 648 livros e 151 revistas para o
acervo da futura biblioteca pública municipal.
Através das mobilizações populares, a Câmara Municipal de Vereadores aprovou e o
prefeito José Luiz Lessa da Silva (Zé Lessa), sancionou a Lei no 559/86, de 16/12/86, criando a
Biblioteca Pública Municipal Dr. Neyder Alcântara de Oliveira, subordinada a administração do
serviço de Educação e Cultura. Logo após, com o êxito da campanha, notou-se claramente que
o momento era ideal para criar uma entidade firme que pudesse representar a comunidade
como um todo. Assim, inúmeras lideranças artísticas fundaram o GRUCALE – Grupo Cultural e
Artístico Leopoldinense, no dia 14 de junho de 1987.
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Quase dois anos de negociação, no dia 1o de agosto de 1988, uma comissão formada
pelo GRUCALE, pais e estudantes com 25 integrantes, além da presença do vereador Antônio J.
A. Maciel (Totinha), da coord. da Educação e Cultura, Maria Consuêlo Lessa Ferreira e do
advogado da prefeitura, Dr. Juarez R. Costa, reuniram-se em audiência com o prefeito José L.
Lessa da Silva (Zé Lessa) que se dizia: “O Leão da Educação”. Na oportunidade, foi entregue um
relatório constando 317 assinaturas que solicitava um desfecho sobre a construção do prédio
da referida biblioteca.
O prefeito, mais uma vez, não atendeu as reivindicações e, em forma de protesto o
GRUCALE instalou uma barraca com os livros na Praça D. Pedro II, em condições precárias,
chamando a atenção da população sobre o descaso do poder local na formação intelectual da
juventude leopoldinense.
Após este ato, o material foi colocado em um depósito, no qual permaneceu amontoado
por mais de três anos. Com o desativamento do GRUCALE, o seu ex-presidente Elias Marques
Pinheiro, doou os 500 livros restantes do acervo ao Grêmio Estudantil Antônio Lins da Rocha,
no dia 04 de novembro de 1991.
Uma jovem na presidência do Grêmio Aristheu de Andrade
O presidente José Carlos da Silva (o Federal) ficou alguns dias à frente do Grêmio
Estudantil Aristheu de Andrade. Com sua desistência escolar, no dia 06 de novembro de 1991,
a jovem Simone Nolaço da Silva assumiu a presidência da entidade.
Muito inteligente e habilidosa, Simone Nolaço nomeou a diretoria com os seguintes
membros: Kleber Lins dos Santos, Jatahí Augusto da Silva, Rosilene Maria da Silva, Adriano
Almeida Costa, Silvanea Nolaço da Silva, Manoel Mário e Sideclei Vieira da Silva.
A equipe desempenhou um excelente trabalho durante os últimos meses, destacando-
se pela eficiência na posição grandiosa das conquistas estudantis.
Torneio Escolar de Futsal
Organizado exclusivamente pelo Grêmio Estudantil Antônio Lins da Rocha em festejos
ao dia da Proclamação da República do Brasil, o Torneio Escolar de Futsal, ralizado no dia 15 de
novembro de 1991, na Quadra Municipal Mané Garrincha, reuniu a participação das turmas: 5a
Série “C”, 6a Série “B”, 7a Série “B”, 8a Série “A”, 8a Série “B”, 2o Ano Contabilidade e 3o Ano
Contabilidade “Tecnolandos 91”, da Esc. de 1o e 2o Graus Antônio L. da Rocha; 8a Série “Única”,
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da Esc. de 1o Grau Aristheu de Andrade e Cenecista “Misto”, do Colégio Cenecista “Pe.
Francisco”.
Para realizar o torneio, o grêmio estudantil contou com o patrocínio do candidato a
prefeito Júnior Luna (PDC), do Banco do Brasil, da Pastelaria Chinesa (do amigo Bada) e dos
supermercados Rocha e Econômico. O presidente Hamilton Alexandre, contou com o apoio
expressivo do diretor de Esportes do Grêmio E. Antônio L. da Rocha, José Marques da Silva
Filho e do professor Guido Torres, além dos árbitros Manoel Henrique de Luna Neto (Mané
Gordinho), Ligarião Benício Borges, Sebastião Batista dos Santos Filho (Tão) e do mesário
Jefferson Macêdo.
A esquadra do 3o Ano Contabilidade os “Tecnolandos 91” foi a grande campeã. O timão
formou com Zé Mário, Ernando, Carlinhos, Marcone, Júnior Amorim, Calixto, Juvenal e
Jodivaldo.
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Capítulo IV – 1992
Grêmio tem novos diretores
No dia 10 de fevereiro de 1992, devido a conclusão escolar (8a Série e 3o Ano
Contabilidade) dos diretores Vilma Ferreira Barbosa, Júnior Amorim e Jodivaldo Dionízio, o
presidente Hamilton Alexandre, do Grêmio Estudantil Antônio Lins da Rocha, nomeou para
representar os cargos de vice-presidente, secretária-geral e diretora de imprensa, da citada
entidade, os seguintes membros: José Edson Emídio de Souza, Maria das Graças da Silva e
Simone Nolaço da Silva.
I Encontro Estadual de Grêmios Estudantis
Nos dias 14 e 15 de março de 1992, no Espaço Cultural Salomão A. Barros de Lima, da
UFAL (antiga Reitoria), em Maceió – AL, organizou-se pela UESA o I Encontro Estadual de
Grêmios Estudantis, com um total de 70 lideranças estudantis alagoanas representando as
delegações de Colônia Leopoldina, Novo Lino, Xingó, Delmiro Gouveia, Olho D’Água das Flores,
Rio Largo, Arapiraca e Maceió.
O encontro contou ainda com a presença ilustre da presidente da UBES, Leila Márcia. A
palestra foi ministrada pelo presidente da UESA, Luciano Marcos. Na oportunidade do ato, o
presidente Hamilton Alexandre, do Grêmio Estudantil Antônio Lins da Rocha, que foi o
principal mentor do evento, em seu discurso solicitou mais ação dos companheiros na busca
de resgatar o movimento secundarista no Estado de Alagoas. “O verdadeiro papel do
movimento é conscientizar os estudantes politicamente na construção de uma sociedade mais
justa, mais igualitária, mais solidária e democrática”, acrescentou Hamilton.
A presidente da UBES, Leila Márcia, abordou em sua explanação a atuação da entidade
no Brasil, indicando inclusive novas bandeiras de lutas, como por exemplo, o combate ao
sistema capitalista. Confirmou, ainda, sua passagem em várias escolas da capital e dos
interiores, especialmente em Colônia Leopoldina.
Presidente da UBES e diretores da UESA visitam Colônia Leopoldina
Os grêmios estudantis Antônio Lins da Rocha e Cenecista Pe. Francisco, organizaram no
Clube UDAL, dia 17 de março de 1992, com um público superior a dois mil espectadores, um
amplo encontro com as presenças de Leila Márcia (presidente da UBES), Luciano Marcos,
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Evânio José, João Honorato e Cláudio Luiz (diretores da UESA). O evento teve como ilustre
apresentador o benemérito ex-secretário do Grêmio Estudantil Antônio Lins da Rocha, Júnior
Amorim.
Dando início aos discursos, o presidente Hamilton Alexandre, destacou a gloriosa e
importante presença histórica da presidente da UBES, Leila Márcia em nossa querida terra.
Segundo o presidente da UESA, Luciano Marcos, a lastimável crise que atravessa o movimento
secundarista é fruto dos problemas sociais, uma vez que, nossa educação não é priorizada no
Brasil. Para o secretário-geral da UESA, João Honorato, o centro da atenção do encontro e a
estrela principal da festa, chama-se Leila Márcia.
Já o vice-presidente da UESA, Evânio José, incentivou a partir de uma entidade
municipal. “Essa entidade tem que ser de caráter combativo, atuante, principalmente na
formação profissional, educacional, cultural e política da sociedade estudantil” declarou
Evânio.
A presidente da UBES, Leila Márcia, em sua oratória criticou as cobranças que a
sociedade brasileira recai sobre a juventude. Em seguida, Leila Márcia, chamou atenção
dizendo: “Na verdade nós não somos ‘adultos’ totalmente. Pois, uma juventude sem
educação, sem cultura, sem emprego, não pode ser tão pressionada desta forma”. Falou ainda
do movimento estudantil da década de 60, das conquistas dos grêmios livres em 1985, do
engajamento da mulher nas lutas sociais e da questão dos meninos de rua. Concluindo seu
pronunciamento, Leila Márcia ressaltou com ênfase: “Nós temos direitos, deveres e obrigações
de estarmos preocupados com o nosso país. Porque, acredito eu fielmente que num futuro
mais próximo, dentro de cada município, seremos nós que iremos governá-los”.
Fechando o evento, discursaram, também apontando as deploráveis condições do
ensino no município, o professor do Curso de Contabilidade, Rudson Sarmento Maia e o
presidente da Câmara M. de Vereadores, Dr. Marcos Ferreira.
Através dos grêmios estudantis Antônio Lins da Rocha e Cenecista Pe. Francisco,
promoveu-se o II Campeonato Leopoldinense de Futsal, na Quadra Municipal Mané Garrincha,
de 21 de abril a 23 de junho de 1992. O campeonato reuniu 10 clubes, e os participantes com
os elencos foram: Atlético – Edson, Joilson, Filho, Clebson, Lula e Rei (técnico Xumba); Asa
Branca – Bartó, Cada, Everaldo, Josimar, Marcone, Ernando, Sérgio, Fabiano Amâncio e Girico
(técnico PM Lucas); Escolinha – Rubens, Ivan, Toinho da Areia, Mané da Tomate, Agaci, Dorgiv
al, Ailton, Ricardo e Henrique (técnico Amerlindo Carlos); Independente – Lula Costa, Dorgi,
Beta Lopes, Carlos Souza, Roberval Davino, Robson, De Melo, Carlinhos, Lula, Claudemir e
Dodô (técnico Luís Francisco); Asa Júnior – Izaque, Elias Fedelis, Jodimarco, Antônio, Val, Eran,
Deminha, Dinho Cidecley, Mica, Silvânio e Albérico Valença (técnico Mané Gordinho); Colonial
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– Du da Destilaria, Marquinhos, Reginaldo Lima, Djaílson, Célio, Vavá, Coquinho, Praça,
Manoel, Marcelo Fagundes e Genivaldo (técnico Habides Borges); Milan – Didi, Samuel Nicácio,
Ral, Júnior Guerra, Zé Mário, Jeffersom Macêdo, Lando e Prexedes (técnico Paulo Roberto);
Esporte M.L.C. – Edilson Zequinha, Boiadeiro, Fernando, Zé Nilton, Genival, Gil de Tota, Zé
Barbosa e Iranildo (técnico José Renivaldo); Comercial Rocha – Neném, Galego, Maurício, Tuca,
Antônio, També, Val, Ednaldo e Cláudio (técnico Pacheco); Oficina S.H. – Alezir, Carlos, Valmir
Felipe, Mida, Josemir Barbosa, Nado, Evaldo, Manuel, Enock Pinheiro, Zé Mago, Sérgio e
Zoroastro (técnico José Pedro).
No cerimonial de abertura na Igreja Matriz de Nossa Senhora do Carmo, o diácono
Antônio Severino fez a bênção dos jogadores e o atleta Júnior Guerra, do Milan, leu o
juramento do atleta. Após a leitura do juramento, o atleta mais velho da competição, Geraldo
da Telasa, do Atlético, teve a honra de acender a “Pira Olímpica”. No ato, o presidente do
Grêmio Estudantil Antônio Lins da Rocha, Hamilton Alexandre, declarou oficialmente a
abertura do certame. E defronte a Câmara Municipal de Vereadores, todos prestigiaram o
hasteamento das bandeiras ao som do Hino Nacional, na voz do professor Guido Torres. Os
jogadores acompanhados pela Banda Marcial Sabino de Souza desfilaram ainda pelas
principais ruas da cidade com destino a quadra. Na abertura do torneio que envolve as dez
equipes, a garotinha Nathaly Borges com honradez deu o ponta pé inicial. O torneio foi
conquistado pelo bicho-papão Atlético que venceu o Asa Branca por 4 x 0.
Patrocinaram o certame, os pretensos candidatos a prefeito de Colônia Leopoldina, o
fornecedor de cana Júnior Luna, do PDC, e o industrial Zé Lessa, do PSC. Destaca-se, ainda, o
apoio expressivo da UESA, da Pastelaria Chinesa (do amigo Bada), do Banco do Brasil, do
Supermercado Rocha, de Nenes Club e do Clube UDAL. Fizeram parte da comissão
organizadora, os seguintes membros: Hamilton Alexandre, Vitalino do Nascimento, Manoel
José da Silva Filho, Paulo Edson Araújo, Vilma Ferreira, Carlinhos Claudino, Daniela Karlla,
Kleber Lins, Antônio Marcos, Júnior Amorim, Franklin Amorim, Jodivaldo Dionízio, Jatahí
Augusto e Cícero Manoel da Silva.
Decisões – No primeiro confronto do campeonato, dia 22 de abril, entre os clubes do
Atlético x Asa Branca, os colorados sobressaíram melhor em cima dos alviverdes com uma
vitória pelo placar de 6 x 4. No entanto, na final do 1o turno, dia 28 de maio, o Atlético
devolveu o resultado sobre o Asa Branca, com uma magnífica goleada de 7 x 3. O Asa Branca
fez a 1a fase e a semifinal do 2o turno de forma brilhante e arrebatadora. Na final do turno,
encontraram-se de novo os dois gigantes: Atlético e Asa Branca. Desta vez, o Asa Branca
venceu apertado por 1 x 0. No dia 23 de junho, os campeões dos dois turnos decidiram o
certame, mais de duas mil pessoas assistiram a grande final. Os clubes colocaram suas forças
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máximas em quadra, de um lado, o Asa Branca do viva-vira, e do outro, o Atlético, assustado
com o rendimento do adversário. O jogo foi acirrado, mas em três lances precisos, o Atlético
marcou 3 x 0, e apesar da pressão sustentou o resultado que garantiu a vitória e seu primeiro
título leopoldinense.
Premiação – A comissão organizadora realizou no dia 19 de julho, no Clube UDAL, das
20:00 às 22:00h, uma exuberante cerimônia de premiação aos destaques do II Campeonato
Leopoldinense de Futsal. De forma espetacular o evento comemorou o sucesso do
campeonato, onde na ocasião reuniu todas as equipes que nele participou. Em ordem,
destaca-se a classificação geral, o quadro dos 10 principais artilheiros e os destaques que
foram homenageados.
Classificação Geral – Atlético (campeão), Asa Branca (vice), Independente (3o), Escolinha
(4o), Milan (5o), Asa Júnior (6o), Colonial (7o), Esporte MLC (8o), Oficina SL (9o), e Comercial
Rocha (10o).
Artilheiros – Rei (Atl) 51 gols; Girico (AB) 35 gols; Clebson (Atl) 34 gols; Júnior Guerra
(Mil) 32 gols; Josimar (AB) 31 gols; De Melo (Ind) 30 gols; Dinho (AJr.) 27 gols; Filho (Atl) e Ral
(Mil) 24 gols; e Marcone (AB) 23 gols.
Destaques – Melhor jogador: Filho, do Atlético; Destaque: Girico, do Asa Branca; Goleiro
menos vazado: Bartó, do Asa Branca; Revelação: Cidecley, do Asa Júnior; Melhor goleiro:
Rubens, da Escolinha; Melhor capitão: Ironildo, do Esporte ML; Jogador disciplinado: Cláudio
da “Padaria”, do Comercial Rocha; Melhor técnico: Antônio de França Campos (Xumba), do
Atlético; e Melhor árbitro: Sebastião B. S. Filho (Tão).
Fundação da UMEL
As lideranças estudantis representadas nos grêmios estudantis Antônio Lins da Rocha,
Cenecista Pe. Francisco e Aristheu de Andrade revolucionaram a politica do município no
período que se estendeu de 27 de junho a 18 de agosto de 1992, no qual resultou com muito
brio de forma planejada e organizada, a fundação da União Municipal dos Estudantes
Leopoldinenses – UMEL.
Prévias da presidência – Numa ampla reunião realizada no dia 27/06/92, no Clube UDAL,
com participação de 20 lideranças estudantis, iniciou-se o processo de fundação da entidade
municipal. A coordenação dos trabalhos coube ao presidente Hamilton Alexandre, do Grêmio
Estudantil Antônio Lins da Rocha, que definiu a seguinte pauta: 1o) criação da sigla “UMEL”,
denominada por Hamilton com o nome de União Municipal dos Estudantes Leopoldinenses; e
2o) realizações de prévias com eleições, tendo em vista a escolha dos candidatos a presidente.
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Após um caloroso debate, realizaram-se as prévias em sistema de dois turnos, com os
candidatos que disputariam à presidência. O resultado constatado do 1o turno foi o seguinte:
Hamilton Alexandre e Júnior Amorim empatados com 07 (sete) votos cada; Paulo Edson Araújo
e Jatahí Augusto empatados também com 02 (dois) votos cada e Chico Amâncio e Vilma
Ferreira Barbosa receberam também 01 (um) cada. O 2o turno foi disputado pelos dois mais
votados. Registra-se, portanto, um fato importante neste turno. No caso, se Júnior Amorim
ficasse em segundo lugar, não concorreria ao cargo de presidente, ou seja, seria confirmado
como vice na chapa de Hamilton, mas, o placar geral foi favorável a Júnior Amorim que
recebeu 11 (onze) votos contra 09 (nove) de Hamilton Alexandre. Com este resultado, formou-
se duas fortíssimas chapas compostas com os seguintes candidatos: Chapa 1 – Hamilton
Alexandre (presidente) e Jodivaldo Dionízio (vice-presidente e a Chapa 2 – Júnior Amorim
(presidente) e Vilma Ferreira (vice-presidente).
Festa da Padroeira – Em comemoração a Festa da Padroeira Nossa Senhora do Carmo e
aos 88 anos de aniversário da Emancipação Política de Colônia Leopoldina, realizou-se através
da prefeitura municipal, com o empenho do prefeito Lourinaldo de Lima (Bilau), um gigantesco
Encontro de Bandas Fanfarras, o evento foi coordenado pelo professor Fabiano Amâncio, que
contou com o apoio expressivo dos candidatos Hamilton Alexandre e Jodivaldo Dionízio, da
Chapa 1, e Júnior Amorim e Vima Ferreira, da Chapa 2, na organização do desfile das bandas.
Dias das eleições estudantis – Os candidatos a presidente da UMEL e do Grêmio
Estudantil Cenecista juntamente com os diretores das escolas se reuniram no dia 31/07/92, às
20:00h, na Escola de 1o Grau Aristheu de Andrade, onde definiram os critérios das eleições. O
calendário das eleições ficaram da seguinte forma: Dia 12/08 – Escola de 1o e 2o Graus Antônio
L. da Rocha; Dia 13/08 – Colégio Cenecista “Pe. Francisco” e eleição do Grêmio Cenecista,
composta pelas chapas: Chapa 1 – Antônio Marcos Alves (presidente) e Arnaldo Sérgio
Sobreira (vice-presidente); e a Chapa 2 – Paulo Edson Araújo (presidente) e Neide Maria S.
Elias (vice-presidente); Dia 14/08 – Escola de 1o Grau Aristheu de Andrade (eleição e
apuração).
Transição da presidência – A 07 de agosto de 1997, o presidente Hamilton Alexandre, do
Grêmio Estudantil Antônio Lins da Rocha, deixou o cargo e o transfere ao então vice-
presidente Edson Emídio. Com isso, Edson Emídio entra na galeria como o quarto diretor a
assumir à presidência do grêmio em membros de três anos de sua existência.
Debate estudantil – Em festejos ao Dia do Estudante, realizou-se no dia 11 de agosto de
1992, no Clube UDAL, onde reuniu mais de mil pessoas, com presença de estudantes,
professores, diretores, políticos, comerciantes, sindicalistas e religiosos, o maior debate
estudantil entre a Chapa 1 – Hamilton Alexandre e Jodivaldo Dionízio e a Chapa 2 – Júnior
39
Amorim e Vilma Ferreira. Registra-se no encontro também as presenças do vice-presidente da
UESA, Evânio José, e a do vice-presidente da Zona Norte da UESA, Cláudio Luiz. Estes diretores
da UESA são articuladores da Chapa 1. A coordenação do evento coube ao artista Elias
Marques Pinheiro.
Eleições – A primeira série realizou-se no dia 12/08, na Escola de 1o e 2o Graus Antônio
Lins da Rocha, onde compareceu 360 (trezentos e sessenta) estudantes e 07 (sete) ex-
estudantes. A votação foi marcada por um clima muito agitado, pois defronte a escola a
bancada da Chapa 1 marcou presença expressiva com cartazes, bandeiras, faixas e uma
orquestra de frevo do início até o final do pleito. A segunda série realizou-se no dia 13/08, no
Colégio Cenecista “Pe. Francisco”, com participação de 101 (cento e um) estudantes e 13
(treze) ex-estudantes. Também neste pleito, com o mesmo número de estudantes, promoveu-
se a eleição do Grêmio Estudantil Cenecista, mais uma vez, os integrantes da Chapa 1 festejam
com tudo que tiveram direito.
A terceira série, sem dúvida, foi a mais emocionante, pois seria inicialmente no dia 14,
mas devido a greve justa dos profissionais da área da educação do Estado de Alagoas,
aconteceu no dia 18. Em plena continuidade da greve, os estudantes da Escola de 1o Grau
Aristheu de Andrade, num total de 151 (cento e cinquenta e um), ou seja, 50% do alunado
compareceram para o ato de votação livre e democrático. Um fato interessante aconteceu
neste pleito, quando a equipe da chapa 1 chegou defronte a escola, deparou-se com uma
gigantesca manifestação de estudantes acompanhados por uma batucada e bandeiras
vermelhas agitando em prol da chapa 2. Essa adesão virou o cenário político.
Apuração – Às 21:00h, no Clube UDAL, deu-se a apuração dos votos das eleições da
UMEL e do Grêmio Estudantil Cenecista, com presenças das seguintes autoridades: João Reis
de Figueiredo (diretor do Clube UDAL), Cláudio Luiz (diretor da UESA), Zilma Araújo Q. Silva
(diretora adjunta da Escola Aristheu de Andrade), Gisélia F. Sobreira, Maria Francisca Alves,
Josefa Araújo de S. Borges, Marineide Barros e Josefa F. da Silva (secretária do Colégio
Cenecista “Pe. Francisco”), José Rodrigues Torres (diretor do Curso de Contabilidade), Miguel
Florêncio da Silva Júnior, Fabiano Henrique Borges Amâncio e Reginaldo Silva Barros
(professores da Escola Antônio Lins da Rocha), além dos candidatos Hamilton Alexandre,
Jodivaldo Dionízio, Júnior Amorim e Vilma Ferreira, da UMEL, e os candidatos Antônio Marcos,
Arnaldo Sobreira, Paulo Edson Araújo e Neide Elias, do Grêmio Estudantil Cenecista. A mesa
diretora dos trabalhos foi constituída por José R. Torres, Zilma A. Q. Silva, Maria F. Alves,
Marineide Barros e Josefa F. da Silva. Após uma hora de apuração, a mesa diretora dos
trabalhos divulgou o resultado que elegeu para governar a UMEL a Chapa 1 – Júnior Amorim e
Vilma Ferreira, com 373 votos, e no Grêmio Estudantil Cenecista a Chapa 1 – Antônio Marcos
40
Alves e Arnaldo Sérgio Sobreira, com 60 votos. Na comemoração da vitória, Júnior Amorim e
Vilma Ferreira foram carregados nos ombros pela multidão de estudantes até a Praça D. Pedro
II, onde discursaram em cima do “Trio Elétrico Energia” cedido pelo empresário e candidato a
prefeito Zé Lessa, onde agradeceram aos estudantes o magnífico apoio e confiança neles
depositados.
Relação dos estudantes por escolas nas eleições da UMEL - 1992
Escola de 1o e 2o Graus Antônio Lins da Rocha – 5a Série “A”: Alexandro Paulinho, Jerri
Anderson, Roberto Ramos, Rosilene Leão, Marivalva Maria, Tatiana Rocha, Luíza Maria, José
Hélio, Alesângela Timóteo, Fabiola Sarmento, Iones Patrícia, Adriana Alves, Erotildes Ribeiro,
Ana Cláudia, Adélia Elvira, Schirley Maria, Nadja Maria, Valdilene Maria, Juciquesia Ferreira,
Robson Cláudio, Elizangela das Dores, Edna Maria, Edvânia Salustiano, Cristiana Feliciano,
Marinês Alves, Cristiane Maria, Adriane Vidal, José Alberto, Lenildo Carmo, Sandoval Vieira,
Josélia José e Petrúcio de Macena; 5a Série “B”: Edvânia Maria, Erivane Maria, Adriana
Quitéria, Maria Rosângela, Josial José, Joyny Cavalcante, Flávia Bernardo, Roseli Maria, Ângela
Maria, Maria José, Gilberto Ramos, Ana Célia, Ednaldo José, Rosilene Maria, Lídia, Célia
Cristina, Cícera Maria, Glaucineide José, Dauniene Maria, Lindalva Helena, Suely Silvestre,
Severino Ramos da Conceição, Cristina Maria, Reginaldo José, Laércio Minervino, Amaury
Vanderley, Laelson Francisco, Lúcia Machado, Cícera Rozonia, Marta Maria e Renata
Wanderley; 5a Série “C”: Birlene Maria, Alexsandro Vieira, Rejane Feijó, Maria José, Edson
Soares, Glete Bezerra, Josimar Nunes, Cícera de Amorim, Deyse Geanne, Gilvane Barros, Rute
Lauriano, Rildo de Oliveira, Maria das Dores, Cícera Quitéria, Adélia de Amorim, Ana Lúcia, José
Pereira, Givaldo Pereira, Givaldo Barros, Lucinaldo Bezerra e Vicente Duque; 6a “A”: Luciano
Macedo, Márcia Barbosa, Anerice Pereira, Maria Edilene, Tercélia Josefa, Claudenice da
Conceição, Mariana Valéria, Edineide da Silva, Jacione Nunes, José Edvaldo, Marli Maria,
Edileide Guiomar, Rita de Cássia, Cícera Patrícia, Maria Helena, Luciana da Conceição, Eva
Vitor, Arlete Sandra, Latécia Maria, Hidelbrando Júnior, Izonete Peixoto, Ivânia Ramos, Márcio
Fábio, Alesandro Timóteo, Wellington Tavares, Elisângela Inácio, Edivaneide Braz, Maria
Cristina, Edneide Leite. Maria Lucineide, Maria Genônima, Claudiégina Sucinade, Cícero Pedro,
Reginaldo Luiz e Paulo Henrique; 6a Série “B”: Alcineide Maria, Claudete Alves, Maria das
Neves, Claudiane Santos, Mévie Clécia, Marcione Maria, Ivanildo Emídio, Maria Aparecida,
Meclise Moreira, Maciana Claudino, Lucenir Maria, Karina Vanderley, Licínio de Souza,
Josemilson Demesio, Gernildo Ângelo, Lilian Veríssimo, Valderice Maria, Quitéria Maria, Maria
Lúcia, Erika Ribeiro, Juliana Bezerra, Ana Paula, Maria Lucimar, Luciana Vasconcelos, Edlene
41
Félix, Maria das Dores, Almeri José, Leone Xavier, Eliane Maria, Ronilson Fabrício, Geovanice
Viana, Maria José, Lidiane Nunes, Marly Josefa e Áurea Lúcia; 7a Série “A”: Saulo de Tarso,
Luciano do Nascimento, José Carlos, Alysson Lessa. Juselino José, Marcos Antônio, Luis Carlos,
Ana Cristina, Adriana, Andréia Minerviso, Márcia Andrade, Quitéria Roseno, Milena Vanderley,
Maria Isabel, Luciege Maria, Maria de Fátima, Maria da Conceição, Alessandra Teixeira, Luciege
da Silva, Nádia Ramos, Janailde Barbosa, Daniella Amâncio, Shirley Ramos, Genivaldo Serafim,
José Edson, Roberto Luna, Alysson de França, Josivânia Nunes, Bráulio Cosmo, Lêda Pereira e
Severina Cristina; 8a Série “A”: Erivelton José, Gilsaneide de Amorim, Luciene Inês, Erica
Valéria, Lissandra de Oliveira, Vanessa Holanda, Ronilda Maise, Caroliny Barbosa, Sueley
Amorim, Cidecley Buarque, Jorge Claudino, Cícera Santos, Katiana Rejane, Anderly Bezerra,
Luciana Veloso e Ivaneide Cândido; 8a Série “B”: Francisco J. B. Amâncio, Josenilda Gessé,
Márcio Roberto, Josenilson Barros, Claudione Clemir, Geane Lins, Dalzineide Maria, Neide
Nara, Sérgio Roberto, Clemilda Maria, Valdeilda Alves, Maria J. Bispo, Sílvia Ventura, Roseane
de Brito, Rosilda Mendes, Jane Cleide, Júnior Guerra, Gilberto Sobreira, José Mariano, Jorge
Alexandre, Júnior Acioly, Wagner Lins, José Jorge, Edmilson Valentim, Ricardo Alexandre e
Cícero José; 1o Ano Contabilidade “A”: Edvane Emídio, Samuel Nicácio, Neila Nara, Elizângela
Luna, Rejane Rodrigues, Maria de Fátima, Iracilda Maria, Cláudia Rejane, Marilene Maria,
Jucelina Mendes, Edvânia Ribeiro, Simoneide Nolaço, Danilo Duque, Franklin Amorim, Júnior
Lamenha, Silvanea Nolaço, Micheline Cordeiro, Anna Fábia, Caetano Monteiro, Ivone Maria,
Cícero Cláudio, Antônio Marcelino, Érica Valéria, Simone Nolaço, Cristiana Maria, Edvânia
Moreira e Luciano José; 1o Ano Contabilidade “B”: Valderez Santana, Valdemir Agustinho,
Stelita Maria, Elza Maria Santana, Daniel Andrade, Antônio José, Nadilson João, Rivonaldo
Souza, Gilvania Lins, Miraneide Machado, Fernando José, Reginaldo Feitosa, Misael Araújo,
Genilson Ângelo, Ivanise Maria, Iricélia de Oliveira, Isoneide da Silva, Gilbernon Barros, Cileide
da Silva, Dacione Josefa, Elias Barreto, Daniel Amâncio, Júnior Duque, Cosmo Marques e Luis
Carlos; 2o Ano Contabilidade “A”: Manezinho Jandaia, Edson Emídio, Quitéria Maria, Macksoel
Bezerra, José Mário, Jafferson Macêdo, Alexandre Ricardo, Valdeneide Cordeiro, Edna Lúcia,
Célia Alexandre, José Lourival, Eduardo José, Maria Suely, José Manoel, Jovanice Marques,
Edilma Vidal, Maria Cícera, Maria José, Ubiraneide Raquel, Cátia Jatobá, Carlos da Silva,
Albertina Maria, Henrique Amorim, Nauderi Maria, José Carlos, Vanúzia Gonçalves e Clóvis
Alexandre; 3o Ano Contabilidade “A”: Ironildo de Oliveira, Gilson Barros, Jodimarco Luiz, Wiu
José, Claudivan José, Cláudio Rocha, Edson Ribeiro, Jailson Barros, Nilza Machado, Genildo
Pinto, Eliane Maria, Josefa Maria, Cláudia Simone, Valéria Viana, Suely Maria, Luciana do
Nascimento, Maria José, Zenilda Cavalcante, Elisângela Viana, Viviane Florêncio, Janecleide
Maria, Janaína Maria, Risoneide Santiago, Maria das Graças, Márcia Rocha, Valdir J. das Neves,
42
Marineide Augusta, Edneide Valentim, Hamilton Alexandre, Maria Raquel, Carlos Ferreira e
José M. da S. Filho; Ex-alunos: Ana Veloso, Givaldo Amorim, Jodivaldo Dionízio, Cláudia Maria,
Gilson Ferreira, Júnior Amorim e Carlinhos Claudino.
Colégio Cenecista “Padre Francisco” (CNEC) – 5a Série “A”: Washington Araújo,
Rosângela Maria, Wanessa Cristina, Rquel Lins, Carlos Alberto, Adriana Maria, Juarez Demezio,
Daniela Maria, Maria Enilda, Wequiles Ferreira, Cláudio José, Roseane da Silva e Flávio
Loureiro; 6a Série “A”: Antônio Fernandes, Sérgio Roberto, Edna Soares, Geane Maria e
Wagner Costa; 7a Série “A”: Jeane Dionízio, Paula Cristina, Claudenice Freitas, Maria Aparecida,
Elivanilda Maria, Ricardo Carneiro, Rogério da Silva, Micheline Silene, Ana Lúcia, Edvaldo
Dionízio, Maria Quitéria, Cristiane Macêdo, Aparecida Moraes, Jaciane de Moraes, Anderson
Tôrres e Neide Elias; 1o Ano Magistério: Jailene Claudino, Gilvania Ribeiro, Eliane Lamenha,
Joselita Santana, Gecilda Maria, Dalva Antão, Sineide Fagundes, Valquíria Silva, Cosmo Soares,
José Severino, Anilda Sobreira, Marcos Antônio, Aparecida Claudino, Valmir Alves, Josiane
Demésio, Maria Sueleide, Edlene Rodrigues, Mônica Costa, Gilene Gomes, Valdinete Santana,
Elisa Balbino, Diaílson José, Berivaldo Macena, Claudieje Rocha e Antônio Marcos; 2o Ano
Magistério: Uélica Cordeiro, Machado Filho, Edlene Silva, Maria Josete, Maria de Fátima,
Arnaldo Sobreira, Maria Lúcia, Carlos José, Sheyla Sobreira, Mônica Valença, Marisa Soares,
Cleyde Maria, Vitalino do Nascimento, Rosemery Félix, Suely Ribeiro, Glaucione Vitor, Sandra
Helena, Adenilce Ana, Berildes Gomes, Maria do Carmo, Kátia Regina, Lenilda Maria, Jessandra
de Oliveira, Dulcenea Ferreira, Laudiene Maria e Joareline Pereira; 3o Ano Magistério: Maria de
Fátima, Sueli Maria, Edlene Mendonça, Ubirací Souza, Maria José, Solange Melo, Luciana
Moreira, Edna Natan, Marli Maria, Jovanice Soares, Josefa Veríssimo, Márcia Valéria, Eliane
Matos, Sílvia Carneiro, Telma Vanderley, Jucyrace Silva e Rosilene de Melo; Ex-alunos:
Carmelita Maria, Anselma Dias, Silvania Nicácio, Luciana Maria, Eraldo Balbino, Nárija Temisto,
Cícera Maria, Isaílda Ferreira, Ianes Ribeiro, Edileide S. das N. Caldas, Maria de Lourdes,
Geralnalva Barreto e Maria dos Anjos.
Escola de 1o Grau Aristheu de Andrade – 5a Série “A”: Alexandro Gama, Netinho
Amâncio, Clara Fagundes, José Dalmário, Amada de Lima, Odilon Manoel, Ana Elvira, Bruno
César, Leonilda Alexandre, José Luciano, Apolônia Luna, Pedro Josafá, Mário Luna, Ecileide
Luiza, Edva Pereira, Kátia Arcanjo, Rejane Marques, Silvania Mendes, Renata Carneiro,
Rosileine Maria, Ednaldo Claudino, Sílvio Severino, Jadilton Rocha, Vânderson de Lima, Roberto
Carneiro, José Adelson Márcio Bezerra, João Paulo, Célia Maria, Auxiliadora Caldas, Luis Carlos,
Alexandra Rafael, Erodiana Fernanda e Gilvaneide Lamenha; 5a Série “B”: Lidalva Manuela,
Shirley Marques, Alcione Oliveira, Geisione Lins, Alciene Oliveira, Ângela Alves, Carlos Tadeu,
Waldegilson Lins, Cícero Antônio, Leonaldo Milton, Daniela Karlla, Dayse Aparecida, Edvânia
43
Valentim, Anderson Alves, Edson Antônio, Antônio Carlos, Murilo Júnior, Aristides Júnior e
Maria José; 5a Série “C”: Glegson Tôrres, Juciana Alves, Maria Lúcia, Cledivânia Ferreira,
Edvania Alexandre, Sara Barreto, Márcio Félix, Maltides Barreto, Maria Rosicleide, Messias
Celestino, Sirleide da Conceição, Ubiranilda Raquel, e Marcelino da Silva; 6a Série “A”: Caetano
Júnior, André Vitor, Ângela Patrícia, Cristiane Marques, Joana Paula, Elizabeth Michele,
Bonifácio Neto, Tifani Brito, Maurízio Alves, Jenifer Maria, Edijane Valentim, Valéria da
Conceição, Verenalda Maria, Adalberto Henrique, Joselma Maria, Everton Calado, Juliano
Acioly, Lenildo Santos, Elaine Cristina, Lucélia Maria, Patrícia Augusta e Ivaneide Lopes; 6a Série
“B”: Graziella Carvalho, Márcia Ferreira, Josielma Maria, Cleovania Ferreira, Cristina Ferreira,
Maria Aparecida, Edilma Maria, Lourinaldo Alexandre, Claudivânia Maria, Antônio Edbrás, José
Roberto, José Cláudio, Juvenal Antônio, Thaís Seine, Joelma Cristina, Maria Verônica, Clemilson
Marques, Genildo de Lima, Tanama Gomes e Maria de Fátima; 7a Série “A”: Elton Fabrício,
Silônia Nolaço, Eleonôra Neves, Adriana Mendes, Ivanildo José, Gilvaniede Bezerra, Isys
Patrick, Adriana Lamenha, Flávia Maria, Sandra Maria, Edlene Rodrigues, Aristóteles Lamenha,
Elizanja Rodrigues, Eran Andrade, Rosilene Nunes, Janaína da Silva, Meílton Luna, Creuza Maria
e José Mário; 8a Série “A”: Ivânia Maria, Edgilda Barbosa, Rosilene Maria, Rosileide Leão,
Ubiranildes Raquel, Cícera de França, Maria da Glória, Sidicley Vieira, Márcio Araújo, Wilma
Cristina, Valquíria Nunes, Maria José, Andréa Marques, Cirleide Maria, Gabriele Brito, Lília de
Figueiredo, Ester Viviane, Anderlândia Barreto, Cícero Manoel e Jatahí Augusto.
44
Votação dos candidatos a presidente da UMEL (Eleições – 1992)
Escola de 1o e 2o Graus Antônio Lins da Rocha
Chapa Candidato Votação
Chapa 1 Hamilton Alexandre da Silva /
Jodivaldo J. da Silva Dionízio 121
Chapa 2 José Amorim Júnior /
Vilma Ferreira Barbosa 226
Nulos 18
Brancos 02
Total 367
Colégio Cenecista Padre Francisco
Chapa Candidato Votação
Chapa 1 Hamilton Alexandre da Silva /
Jodivaldo J. da Silva Dionízio 62
Chapa 2 José Amorim Júnior /
Vilma Ferreira Barbosa 50
Nulos 02
Total 114
Escola de 1o Grau Aristheu de Andrade
Chapa Candidato Votação
Chapa 1 Hamilton Alexandre da Silva /
Jodivaldo J. da Silva Dionízio 49
Chapa 2 José Amorim Júnior /
Vilma Ferreira Barbosa 97
Nulos 03
Brancos 02
Total 151
Resultado Final das Eleições da UMEL
Chapa Candidato Votação
45
Chapa 1 Hamilton Alexandre da Silva /
Jodivaldo J. da Silva Dionízio 232
Chapa 2 José Amorim Júnior /
Vilma Ferreira Barbosa 373
Nulos 23
Brancos 04
Total 632
46
Grêmio Estudantil Cenecista Pe. Francisco
Chapa Candidato Votação
Chapa 1 Hamilton Alexandre da Silva /
Jodivaldo J. da Silva Dionízio 232
Chapa 2 José Amorim Júnior /
Vilma Ferreira Barbosa 373
Nulos 23
Brancos 04
Total 632
Grêmio Estudantil Cenecista Pe. Francisco
Chapa Candidato Votação
Chapa 1 Antônio Marcos Alves /
Arnaldo Sérgio Sobreira 60
Chapa 2 Paulo Edson Araújo /
Neide Maria Silva Elias 50
Nulos 01
Brancos 03
Total Geral 114
47
A posse dos diretores da UMEL
No dia 16 de outubro de 1992, às 21:00h, nas dependências do Clube UDAL, realizou-se
solenemente a cerimônia de posse da primeira diretoria da União Municipal dos Estudantes
Leopoldinenses – UMEL. O ato de abertura foi inicialmente coordenado pelo professor Fabiano
Amâncio, após seu brilhante discurso, o professor ressaltou as presenças de vários convidados,
dentre eles a dos vereadores Severino Inácio da Rocha e Severiano Freitas; do recém-eleito
vice-prefeito, Zitinho Caldas; dos membros do Partido dos Trabalhadores (PT), Jair de Assis,
Adelmo Lins e Almery Rocha; do secretário de administração, Talmo Melo; da presidente do
PMDB, Luciana Freitas; dos educadores, Adelmo Torres, Miguel Florêncio e José Rodrigues
Torres; e das professoras, Edileide S. das N. Caldas e Norma S. L. Torres; dos deportistas,
Clebson S. de Luna, Edvaldo S. Santana, Reinaldo Soares dos Santos e Ernande Balbino; além
dos estudantes Nivaldo T. Filho, Valdir José das Neves, Daula M. G. Lúcio e Ivânia Maria
Bezerra Silva.
Dando prosseguimento a solenidade, o mestre convidou para fazer parte da mesa, os
eleitos Júnior Amorim e Vilma Ferreira, presidente e vice-presidente da UMEL,
respectivamente, e os diretores Paulo Edson de Araújo e José Carlos Claudino da Silva. Em um
discurso abrangente, Júnior Amorim destacou a luta de vários companheiros pela organização
do movimento estudantil em nosso município. E enfatizou: “Sempre o movimento estudantil
teve como meta a defesa de uma política inovadora na educação, na saúde, na cultural e no
social, onde assegure os direitos conquistados na Constituição Federal. Portanto, a fundação
da UMEL, veio premiar essa batalha, pois, nós temos muito que ainda aprender e, porque não
conquistarmos. Um dos nossos objetivos é intensificar um trabalho de agentes fiscalizadores
na política, dos poderes Executivo e Legislativo, buscando parceiros para o pleno cumprimento
dos direitos e deveres da população. Esses dois longos anos, a UMEL, com certeza será uma
referência do que um grupo organizado pode e deve contribuir para a transformação da vida
social de um povo, que seja no presente ou num futuro bem próximo”.
A vice-presidente Vilma Ferreira foi bastante direta: “O nosso desejo é lutar pelos
direitos principalmente dos estudantes e dos professores de uma forma mais globalizada, pois
o grupo tem uma corrente muito forte de união”. Após o pronunciamento da vice, a
presidência franqueou a palavra aos convidados, que inicialmente fez uso dela, Adelmo Lins
que foi candidato a prefeito do PT nas eleições de 1o de outubro passado. Adelmo Lins relatou
em seu discurso a trajetória de luta da esquerda leopoldinense na batalha por uma qualidade
digna em nosso sistema educacional. Finalizando Adelmo Lins entregou aos diretores da UMEL
48
uma cópia do “Programa de Trabalho do PT”, contendo as propostas de campanha para
governar o município.
O vereador Severiano Freitas reeleito pelo PMDB, períodos de 1988/1992 e 1992/1996
afirmou que a UMEL, hoje, representa o elo da corrente política de renovação em nossa cidade
e que, na qualidade de representante do povo, irá se posicionar sempre ao lado dos interesses
do bem-estar dos munícipes. Um dos fundadores do movimento estudantil leopoldinense,
professor Adelmo Torres, da Escola Antônio Lins da Rocha, espera que através da UMEL o
panorama político venha sofrer influências positivas em diversas áreas, como, por exemplo, na
educação, na saúde e na cultura, pois, desde o início do movimento estudantil esse é um
momento muito especial, mostrando que os estudantes representam um conjunto de
mudanças e conceitos para um futuro mais promissor. Já o diretor do Curso de Contabilidade,
professor José Rodrigues Torres Filho, agradeceu a oportunidade de está somando à classe
estudantil pelo cumprimento dos direitos constitucionais.
De posse dos trabalhos, o mestre de cerimônia, professor Fabiano Amâncio, convidou a
formosa estudante Ivânia Maria, da 8a série da Escola Aristheu de Andrade, que passou o
diploma às mãos do presidente Júnior Amorim. No mesmo procedimento, o presidente
empossou os outros 22 (vinte e dois) diretores da UMEL. Fechando a festa de posse, o diretor
Chico Amâncio, elogiou a todos que nessa jornada do movimento estudantil contribuíram de
forma ativa para o pleno crescimento da política voltada em defesa da juventude. Finalizando
o ato, diretores e convidados comemoraram com um coquetel ali servido.
Diretoria Geral da UMEL (Biênio 1992/94)
Diretoria Executiva: José Amorim Júnior, presidente; Vilma Ferreira Barbosa – vice-
presidente; Paulo Edson Araújo – secretário-geral; José Carlos Claudino da Silva – assessor; e
Lenilda Maria da Silva – diretora financeira.
Diretoria social: Érica Valéria da Silva, Jatahí Augusto Ferreira e Flaviano Daniel Borges
Amâncio; diretores de cultura, Franklin André Amorim, Daniela Karlla C. de França e José Mário
da Silva Filho; diretores de imprensa, Manoel José da Silva Filho, Ivanaldo José da Silva e Eraldo
Balbino de Oliveira; diretores de esportes.
Diretoria de relações humanas, Maria Elisa Balbino Oliveira e Neide Maria Silva Elias;
Diretoras de educação, Francisco José Borges Amâncio, Cícero Manoel da Silva e Alexandre
Gilberto Sobreira; Diretores de política, Cícera Patrícia Palmeira da Silva e Nádia Quitéria
Ramos da Silva; Diretoras de direitos humanos, Josivânia Maria Nunes da Silva e Sandra Soares
da Silva; Diretoras de assistência social.
49
Capítulo V – 1993
Desportistas fundam Liga Leopoldinense de Esportes
No dia 05 de janeiro de 1993, nas dependências do Clube UDAL, reuniu-se um grupo de
desportistas e fundaram a Liga Leopoldinense de Esportes (LLE). Na ocasião, se fizeram
presentes os seguintes desportistas: José Rodrigues Torres Filho, Divonete Félix de Oliveira,
Antônio Carlos F. Gomes, Antônio de França Campos – Xumba, Júnior Amorim, Hamilton A. da
Silva, Rivonaldo Soares dos Santos, Rivaldo Soares dos Santos, Luís Carlos Pereira da Silva,
Paulo R. da Rocha Nascimento, Armelindo de Andrade C. Filho, Cloves Alexandre da Silva, José
Lopes da S. Júnior (o Filho), José Salvador da Silva, Edvaldo S. Santana, Antônio Marcos Alves,
Fabiano H. B. Amâncio, Manoel J. da S. Filho, Ernande Balbino Silva, Erivelton J. da Silva,
Clebson S. de Luna, Cláudio L. A. Ferreira, Luís Mário de Lima, Reinaldo S. dos Santos, Manoel
H. de L. Neto e Érica V. da Silva.
Para coordenar os trabalhos da fundação da entidade, a mesa foi composta pelos
seguintes membros: Antônio Carlos F. Gomes (Secretaria Municipal de Administração), José
Rodrigues T. Filho (professor), Divonete Félix de Oliveira (presidente do Clube UDAL) e Antônio
de França Campos (diretor municipal de Esportes). Assumindo a presidência dos trabalhos, o
Sr. Carlos Gomes, colocou a pauta da reunião em discussão, onde explicou os objetivos da
eleição de fundação da agremiação esportiva, franqueada a palavra, diversos desportistas se
manifestaram no sentido de apoiarem a iniciativa do governo municipal. Em seguida, foram
apontados e apreciados inúmeros nomes que poderiam exercer com honradez às funções de
dirigentes da LLE. Aberto o processo de inscrição de chapas, os coordenadores da eleição
receberam apenas a inscrição de uma única chapa, encabeçada pelo presidente da UMEL,
Júnior Amorim, tendo como vice-presidente o ex-presidente do Grêmio E. Antônio L. da Rocha,
Hamilton A. da Silva.
Dando sequência, o senhor presidente da mesa dirigiu o pleito, sendo por aclamação
eleita a referida chapa. O presidente recém-eleito Júnior Amorim, disse em seu discurso que o
trabalho da diretoria visará o pleno desenvolvimento do esporte local. E, espera que, a política
partidária imposta pelos governantes, não seja colocada em primeiro plano, visando assim
prejudicar os projetos da LLE. Se isto de fato vier acontecer, ele colocará o cargo à disposição,
pois sua intenção não é nadar contra a maré. Após a explanação, ele divulgou os nomes da
diretoria da LLE (biênio: 1993/95) José Amorim Júnior (presidente), Hamilton Alexandre da
Silva (vice-presidente), Rivonaldo Soares dos Santos (1o secretário), Rivaldo Soares dos Santos
(2o secretário), Antônio de França Campos (1o tesoureiro), Luís Carlos P. da Silva (2o
50
tesoureiro), Paulo Roberto da Rocha Nascimento (chefe do departamento de futebol) e Carlos
Eduardo Gomes de Melo (representante da LLE junto ao departamento de esportes amadores
da Federação Alagoana de Futebol).
Torneio São Sebastião de Futsal
A UMEL organizou no dia 31 de janeiro de 1993, na Quadra Municipal Mané Garrincha, o
I Torneio São Sebastião de Futsal, com denominação de “Taça UMEL”. Este evento realizou-se
em comemoração a tradicional Festa do Glorioso Mártir São Sebastião.
O torneio contou com a participação de dez equipes, sendo elas: Atlético, Almirante,
Com. Rocha, Escolinha, E. Cidade, H. Leon, Independente, Milan, Misto e Votorantim. Aliás, o
bicho-papão Atlético, um dos favoritos ao título, ficou no meio do caminho.
Levando a melhor sobre as outras equipes, onde apresentou um belo futebol, o
Independente bateu o Almirante na decisão do torneio e, sagrou-se com todo mérito o grande
campeão. Os azulinos conquistaram a Taça UMEL com Lula Costa, Robson, Dodô, De Melo e
Agustinho (policiais militares), Coquinho, Carlinhos, Beta Lopes e Roberval Davino (delegado).
Secretário-geral da UMEL renuncia
Em carta enviada ao presidente da UMEL, Júnior Amorim, datada de 03/03/1993, o
secretário-geral Paulo Edson Araújo, comunicou seu desligamento definitivo da diretoria da
entidade.
De acordo com a correspondência, o diretor afirmava total insatisfação no
posicionamento político da presidência. Ele, ainda, avaliava que, o presidente estava
acumulando muitos cargos, como, por exemplo, as presidências da UMEL e da LLE.
No entanto, sem nenhum abalo na diretoria, o presidente acatou a renúncia de Paulo
Edson Araújo e, imediatamente nomeou para ocupar a referida secretaria, o diretor Gilberto
Sobreira.
Diretoria da UMEL participa da cerimônia de instalação da UMJIL
Nas dependências do Colégio Mário Gomes de Barros, no município de Novo Lino, ao dia
07 de março de 1993, realizou-se solenemente a fundação da União Municipal dos Jovens
Independentes Linenses (UMJIL).
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O evento reuniu várias lideranças, entre elas: o prefeito de Novo Lino, Dr. Oswaldo
Gomes de Barros; o secretário de administração, Jorge Prado; e o presidente da UMEL, Jair
Alves de Lima, Manoel Felizardo dos Santos Filho e Rodrigo Buarque. Com êxito total, o salão
do colégio ficou repleto de professores, estudantes e políticos, dentre outras personalidades
de renome do município.
Ao abrir o ato, o jovem diretor Jair Alves de Lima, agradeceu o esforço dos poderes
Executivo e Legislativo, além do apoio caloroso dos companheiros leopoldinenses no incentivo
da criação da entidade. Destacou, ainda, o papel cultural que o grupo irá desempenhar em
diversos segmentos com os jovens linenses. Franqueada a palavra, o prefeito Dr. Oswaldo
Gomes de Barros, confirmou total apoio do seu governo aos pontos primordiais da UMJIL, os
quais destacaram como metas para uma sociedade justa e harmoniosa.
Ao discursar, o presidente da UMEL, Júnior Amorim, enfocou a presença dos estudantes
leopoldinenes como uma enorme parceria na construção de um intercâmbio educacional e
cultural mais sólido entre os irmãos alagoanos.
UMEL entrega abaixo-assinado ao presidente da Câmara de Vereadores
Em 29 de março de 1993, os diretores da UMEL juntamente com vários representantes
de classes da Escola de 1o e 2o Graus Antônio Lins da Rocha, participaram da sessão da Câmara
Municipal de Vereadores.
Na oportunidade, o presidente da UMEL, Júnior Amorim, entregou ao presidente da
Casa Legislativa, vereador Dr. Ernane Santana Santos, um abaixo-assinado contendo 84
assinaturas de estudantes. No teor do abaixo-assinado, os estudantes endossavam o trabalho
coerente e eficaz da entidade estudantil, como, também, solicitavam dos poderes Legislativo e
Executivo, as seguintes providências: 1o) um calendário para os vencimentos salariais dos
trabalhadores em Educação; 2o) o pleno funcionamento da Biblioteca Pública Municipal Dr.
Neyder Alcântara de Oliveira; e 3o) o registro e estágio para os concluintes do Curso de
Contabilidade.
Durante à sessão na Câmara, o vereador Severiano Freitas, do PMDB, foi o porta-voz
que entremeou o diálogo do Poder Legislativo e as representatividades estudantis. Destacou
em seu discurso a importância dos estudantes na Câmara, no qual frisou: “Os estudantes como
os professores formam uma força invencível na busca da transformação do sistema
educacional de Colônia Leopoldina. É histórica essa passagem dos estudantes nesta Casa
Legislativa, marcada pelo direito de reivindicarem o cumprimento da Lei”.
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Usaram da palavra também no plenário o presidente da Câmara, Dr. Ernane Santana
Santos e os legisladores José Pereira do Nascimento – Fernando, Valdecir José da Silva,
Maviael de Souza Gomes e Dr. Márcio Jorge dos Santos Ferreira, onde ressaltaram a iniciativa
da UMEL. Após os discursos dos mesmos, o presidente da UMEL, Júnior Amorim, expõe na
tribuna do parlamento municipal o quadro clínico que se encontra o rumo da educação de
nossa comunidade leopoldinense. “É preciso valorizar o educador, a exemplo de toda
categoria do funcionário público municipal, com salários justos, condições de trabalho e,
porque não, promover um concurso público transparente que evite o corporativismo, dando
de fato dignidade ao trabalhador”, ressaltou o líder estudantil. Também estendeu o convite a
todos os legisladores para juntos discutirem em uma ampla reunião na Escola Antônio L. da
Rocha, com data prevista para o próximo dia 06/04, as propostas para a área educacional
leopoldinense.
UMEL organiza debate sobre educação na Escola Antônio Lins da Rocha
Reivindicado e coordenado pelo presidente da UMEL, Júnior Amorim, realizou-se no dia
06/04/1993, na Escola de 1o e 2o Graus Antônio L. da Rocha, um amplo debate sobre mudança
na melhoria da educação municipal.
Na oportunidade, a sabatina reuniu inúmeros participantes, entre eles: Edson Alves da
Silva (diretor do Curso de Contabilidade), Josefa B. Amâncio, Telma Lúcia Costa, Viviane
Barbosa Florêncio, Maria das Dores da S. Campos, Maria Luceny Passos da Silva, Fabiano H. B.
Amâncio, Genival João da Silva, Miguel Florêncio da Silva Júnior e Elias Felipe (professores da
escola), Maria Anita Borges Mendonça (secretário municipal de educação), Carlos Gomes
(secretário municipal de administração) e Severiano Freitas (vereador).
O debate foi acompanhado por um bom público de estudantes e teve ainda uma
participação excelente dos professores, uma vez que, submeteram os secretários há uma série
de perguntas.
Em resposta as indagações dos educadores, Fabiano Amâncio, Elias Felipe e Josefa B.
Amâncio, o secretário de Administração, Sr. Carlos Gomes, disparou o verbo: “Estou aqui para
passar mensagens e não posso responder pelo secretário municipal de Finanças, o Sr. Talmo
Melo, que é o verdadeiro responsável pela questão financeira da PMCL”.
Na avaliação do vereador Severiano Freitas, do PMDB, que faz oposição ao governo
municipal, a prefeita Telma Melo (PL) vem infringindo a Lei Orgânica do Município, deixando
inclusive a classe do funcionalismo à mercê da própria sorte.
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Uma sala
A União Municipal de Colônia Leopoldina apela à prefeita Telma Melo para que ceda
uma sala destinada a funcionar como centro de estudos da moçada. Os estudantes já
editam um BOLETIM noticioso e agora reivindicam à prefeita um espaço físico que lhes
permita desenvolver estudos e projetos culturais.
Jornal de Alagoas, edição de 25/04/93
TELEUMEL
Com base no êxito e na experiência do Jornal Voz Estudantil, a diretoria da UMEL,
concluiu que era necessário se utilizar, também, de outras formas para informar fatos de
interesses variáveis aos leopoldinenses. Então, decidiu-se criar no dia 24 de abril de 1993, o
TELEUMEL, com o objetivo específico de realizar entrevistas (em vídeo) com personalidades de
vários setores da sociedade que participam ativamente da vida de Colônia Leopoldina.
No entanto, o lançamento do TELEUMEL, nos dias 27 e 28 de abril, na Praça D. Pedro II,
foi impedido autoritariamente pela prefeita Telma Melo, que utilizou inclusive de segurança
policial, porque o entrevistado era nada menos do que o seu irmão, Antônio Carlos F. Gomes,
que renunciou dias antes, ao cargo de secretário de administraçoão, e que resolveu contar
para toda a comunidade como funcionava o “GOVERNO DE TODOS PARA TODOS”.
Vereadores respondem ao pronunciamento do ex-secretário de administração
Em entrevista concedida ao presidente da UMEL, Júnior Amorim, o ex-secretário de
administração, Sr. Antônio Gomes de Farias, tornou público os motivos que o levaram a
se demitir do governo municipal, deixando claro sua total discordância quanto à forma
como vem sendo administrado o município. Os desentendimentos constantes entre as
equipes de Talmo Melo, secretário de finanças, e seu tio, secretário de administração,
culminaram com “entrevista explosiva” onde o mesmo sugere a existência de
irregularidades administrativas, causando “grandes estragos” na imagem do governo
municipal, atingindo, principalmente, o secretário de finanças, e por tabela, tentando
alcançar a figura do presidente da Câmara, Dr. Ernane Santana e do secretário municipal
de saúde, Dr. Flávio Lima.
Em suas respostas na sessão realizada em 03 de abril do corrente ano, os Srs.
vereadores Ernane Santana e Flávio Lima, afirmaram serem “teleguiados” pelo
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Regimento Interno da Câmara que não permite o uso daquele recinto para “despedidas
pessoais” e sim, apenas para abordagem de assuntos de interesse público. Uma semana
antes, todavia, o mesmo comparecendo a Câmara limitou-se a comentários amenos não
“dizendo o que sabia e nem sabendo o que dizia”, basta verificar as estatísticas da
apuração dos votos de 03 de outubro, onde se observa serem eles os mais votados de
sua coligação e que foram decisivos para a vitória.
Na ocasião expressaram solidariedade aos Srs. vereadores Ernane Santana e Flávio Lima,
os vereadores Severiano Freitas e Márcio Jorge que através da tribuna da Câmara,
solicitaram coerência dos governantes, para evitar decepções ao povo e contradições
nas apurações.
Necessário se faz que se ponha um ponto final nesse episódio e que a Exma. Sra.
prefeita, responda de imediato aquela denúncia, mesmo sabendo que se trata de
questões provenientes de mágoas e ressentimentos familiares, isso porque, a demora
em se dar esclarecimento ao público apenas ajuda a complicar mais ainda a situação de
seu governo, que vem atravessando as mais diversas dificuldades. Assim, o povo espera
que nenhum dispositivo legal tenha sido “arranhado”, julgando-nos com o passar dos
tempos.
Boletim Informativo da Câmara M. Vereadores de Colônia Leopoldina – AL, edição do dia
01 de maio (Dia do Trabalhador).
Duelo no futsal: UMEL versus Atlético CL
A Quadra Municipal Mané Garrincha foi o palco ideal do amistoso entre a UMEL e o
Atlético CL, no último dia 19 de maio de 1993.
Dirigida pelo diretor de esportes, Ivanaldo José da Silva (Val), a esquadra estudantil foi
derrotada por 5 a 4. Para se ter ideia da importância desse jogo, o Atlético é campeão
leopoldinense e foi recentemente vencedor do torneio de futsal, organizado e patrocinado
pelo comerciante Luciano Lins.
Nesta partida, os clubes formaram com os seguintes jogadores: Atlético – Bartó (G),
Filho, Henrique e Clebson (1) um gol cada; Neném (2), Vavá, Dinho e Guri; UMEL – Rubens (G),
Praxedes, Jodimarco, Josimar Nunes e Eron (1) um gol cada; Eran e Ironildo.
Secretário da UMEL, Gilberto Sobreira assume à presidência do Grêmio Estudantil Antônio
Lins da Rocha
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Sem presidente desde o final do ano de 1992, o Grêmio Estudantil Antônio Lins da
Rocha, mergulhou numa profunda crise política e administrativa que se aproximava de sete
meses. Essa turbulência só teve um desfecho feliz no início de junho de 1993, quando Gilberto
Sobreira, secretário geral da UMEL, assumiu à presidência do órgão estudantil. O novo
presidente, o 5o desde a fundação (03/04/90), ficaria à frente da entidade até as próximas
eleições marcadas para o mês de agosto do próximo ano de 1994.
O presidente Gilberto Sobreira para não perder mais tempo e nem espaço, lançou no dia
20 de junho, o nono exemplar do Jornal do Estudante. A reportagem de capa referiu-se ao
desempenho dos ex-presidentes, onde destacou também as novas perspectivas em relação ao
futuro da educação do município.
VII Congresso da UESA
A UMEL liderou as caravanas dos estudantes de Colônia Leopoldina, Novo Lino, Joaquim
Gomes e Jundiá, no VII Congresso das UESA, promovido pela entidade estadual nos dias 05 e
06 de junho de 1993, no Campus Universitário da UFAL, em Maceió – AL. Após um período
ausente do movimento, Hamilton Alexandre retornou articulando junto a diretoria da UMEL e
líderes estudantis a formação da maior delegação já enviada há um congresso de estudantes.
Às vésperas do encontro, a diretoria da UMEL percorreu as escolas convidando e cadastrando
os estudantes interessados em participar do citado evento.
No dia 05/06/93, momento antes da saída da caravana, onde se encontrava
concentrada a massa de 72 estudantes defronte ao Grupo M. Joaquim L. da Silva, chegou a
notícia que o transporte solicitado à prefeita Telma Melo, simplesmente não estava liberado.
Esse boicote “organizado” pela equipe do governo municipal não desanimou os estudantes,
pois, os líderes estudantis conseguiram uma Toyota e, um micro-ônibus com o prefeito de
Novo Lino, Dr. Oswaldo Gomes de Barros.
Em consequência deste motivo, houve uma baixa significativa na delegação: muitos
companheiros desistiram da viagem. No entanto, só foi possível levar um grupo composto de
17 líderes, sendo eles: Ednaldo J. da Silva, Chico Amâncio, Gilberto Sobreira, José Machado,
Hamilton Alexandre, Jodivaldo Dionízio, Vitalino do Nascimento, Daniel Amâncio, Franklin
Amorim, Luis Carlos P. da Silva, Nivaldo T. Filho, Cícero Manoel da Silva, Júnior Amorim,
Romildo Laurentino, Ivanilson José, Paulo Edson Araújo e Bráulio C. da Silva.
A delegação dirigida pela UMEL foi recepcionada pelo vice-presidente da Zona Norte da
UESA, Cláudio Luiz. A UMEL foi a principal entidade do interior a participar ativamente de
todos os debates do congresso, inclusive, teve ainda o nome do seu presidente apontado para
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disputar o pleito da UESA. Após o encerramento tumultuado dos debates, minutos antes de
iniciar a votação, como forma de protesto as delegações comandadas pela UMEL retiraram-se
do plenário, em virtude das irregularidades e fraudes nas atas de inúmeras delegações.
Gincana escolar
A UMEL promoveu em festejo, aos 89 anos de Emancipação Política de Colônia
Leopoldina, no dia 16 de julho de 1993, no Clube UDAL, uma organizada gincana escolar
envolvendo os alunos da 7a e 8a séries da Escola de 1o Grau Aristheu de Andrade. O evento
sociocultural e educacional contou com o incentivo especial do escritor Everaldo Araújo Silva,
além do apoio dos educadores Fabiano Amâncio e Arleide CForreia Lins.
O corpo de honra dos jurados foi composto por Luciana Cavalcante (comerciante), Vilma
Ferreira Barbosa (vice-presidente da UMEL), Ivânia Maria B. Silva (estudante do 1o Ano
Contabilidade), Elias Felipe (professor) e Hamilton Alexandre (ex-presidente do Grêmio
Estudantil Antônio L. da Rocha). Com uma disputa bastante acirrada, a turma da 8a série
liderada pelas estudantes Adriana Lamenha e Neide “Cantora” foi a grande vencedora do
evento.
Na cerimônia de premiação as duas estudantes foram condecoradas com medalhas e
receberam da garotinha Monique Carneiro o troféu de campeã. Por outro lado, as alunas
Ângela Patrícia e Cristiane Marques Silva, coordenadoras da 7a série, também receberam em
nome da turma o troféu de participação e, ainda, foram honrosamente condecoradas com
medalhas.
UMEL versus Comercial Rocha
No dia 17 de julho de 1993, na Quadra Municipal Mané Garrincha, coordenada pelo
diretor de esportes da UMEL, Manoel J. da S. Filho (Manezinho Jandaia), realizou-se uma
partida amistosa da esquadra estudantil versus a forte equipe do Comercial Rocha.
Durante todo o jogo, o elenco da UMEL manteve um bom desempenho e superou o
adversário pelo placar de 7 x 5. Os atletas que integraram a UMEL, e os seus gols marcados
foram os seguintes: Izaque (G); Josimar Nunes, Júnior Guerra e Jodimarco (2) dois gols cada;
Filho (1); Romildo Lopes e Ironildo.
UMEL faz distribuição de donativos
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Os estudantes que participaram da gincana escolar das turmas da 7a e 8a séries,
respectivamente, da Escola de 1o Grau Aristheu de Andrade, coletaram os seguintes produtos:
70 cestas básicas, 116 pares de sapatos e 1010 peças de roupas.
Esses produtos foram doados a UMEL. De posse desses materiais, a diretoria fez a
distribuição junto às famílias carentes de baixa renda, no dia 19 de julho de 1993, na Praça D.
Pedro II.
Na ocasião, estiveram apoiando o ato, Cícero Manoel (Til), dir. da Assoc. dos Mor. do
Mandacaru, Severiano Freitas, vereador do PMDB, e Severino Manoel, membro do Partido dos
Trabalhadores (PT).
Criado comitê para combater a miséria
Em reunião realizada no dia 07/07/93, nas dependências do Banco do Brasil, por
iniciativa do seu gerente Isaias Baldin, e com as presenças de representantes de sindicatos,
entidades civis, lideranças das igrejas (Católica e Assembleia de Deus), organizações não
governamentais e partidos políticos, decidiu-se pela formação do Comitê do Movimento de
Âmbito Nacional “AÇÃO DA CIDADANIA CONTRA A FOME, A MISÉRIA E PELA VIDA”, que sugere
a concretização das ações emergenciais para atender o sofrimento da população indigente de
nosso Estado, onde segundo estatística do IBGE, em 1991, o município de Colônia Leopoldina
apresentava um total de 1874 famílias vivendo em estado de indigência.
Novamente reunidos os diversos representantes da comunidade, no dia 15/07/93, na
agência do BB local, discutiram os próximos passos do comitê e a criação da comissão que
ficaram assim constituídas:
Comissão da Fome – Dr. Ernane Santana Santos, Maria Clara G. Andrade, Antonio
Benedito Silva, Júnior Amorim, Vilma Ferreira e José Pereira (pastor); Comissão de
Organizações – Isaias Baldin, Maria Clara G. Andrade, Severino Inácio da Rocha e Luciana M. L.
Freitas; Comissão de Iniciativas – Odecilda Angelim de Lima, Dr. Flávio Lima, Severiano Freitas,
irmã Salete, Maurício de Souza, Manoel Benedito da Silva, Jair de Assis e Júnior Amorim.
O mapeamento da fome
A comissão encarregada de levantar dados e elaborar o MAPA DA FOME, decidiu em
reunião de 16 de julho de 1993, pela aplicação do questionário confeccionado pelo
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presidente da Câmara, Dr. Ernane Santana, ficando o mesmo coordenador da pesquisa,
tendo ainda como subcoordenadores o vereador Dr. Flávio Lima, a diretora do hospital
local, enfermeira Maria Clara e o presidente da UMEL, Júnior Amorim. Para trabalho de
tamanha envergadura e alcance social contou-se com o apoio de voluntários:
estudantes, funcionários da Câmara de Vereadores, do Hospital Maria Loureiro, do
Posto de Saúde Municipal, representantes da Vila Mandacaru, da Assembleia de Deus e
Pastoral da Saúde. A eles, nossos agradecimentos e a certeza de que o trabalho
realizado muito servirá para amenizar o sofrimento e a miséria de nossos irmãos mais
carentes, que já se encontram nos limites insuportáveis da fome e do desespero.
Acreditamos que o primeiro passo tenha sido dado.
Boletim Informativo da Câmara M. de Vereadores de Colônia Leopoldina – AL, edição de
02 de agosto de 1993.
Intercâmbio: GRUCALPE e UMEL
A UMEL lançou no dia 05 de agosto de 1993, o seu quinto número do dinâmico e
fantástico Jornal Voz Estudantil. Paralelo ao lançamento do jornal, o presidente da UMEL,
Júnior Amorim, acompanhado do ex-estudante Romildo Laurentino (um dos fundadores do
movimento estudantil leopoldinense), participou da “Exposição Artística do GRUCALPE”,
realizada em sua própria sede, às 20:00h, na cidade de Palmares – PE. Este evento realizou-se
com o objetivo de divulgar a recente visita do diretor do GRUCALPE, Joarish Telles, a
Alemanha. Na sede do grupo, reuniram-se diversos artistas ilustres do cenário cultural
palmarense.
Durante a exposição, exibiu-se um documento sobre o neonazismo. Após a amostra, o
ato encerrou-se com uma mesa-redonda onde a temática abordada foi o racismo e a cultura
popular brasileira.
11 de agosto: Dia do Estudante
Nas comemorações ao Dia do Estudante, a UMEL recebeu orgulhosamente a visita do
diretor do GRUCALPE, Joarish Telles, de Palmares – PE. Na companhia do presidente da
entidade, Júnior Amorim, Joarish Telles proferiu significativas palestras nos educandários
Antônio L. da Rocha e Aristheu de Andrade, onde falou do perfil desenvolvido pelo GRUCALPE
há mais de 20 anos na comunidade palmarense. Além do mais, ele humildemente fez questão
de enaltecer o grande guerreiro quilombola, o Zumbi dos Palmares.
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Destacou ainda que, o GRUCALPE foi o espelho de luta que inspirou o movimento
sociocultural leopoldinense nos meados de 1987. Nesse período, surgiu com muita luz, força e
garra o gigante GRUCALPE. Grupo que atuou em Colônia Leopoldina de forma bastante
expressiva, reivindicando os direitos culturais e educacionais, até o ano de 1991.
Nos dias 13 e 14, em pleno ritmo frenético das festividades da Semana do Estudante, a
UMEL promoveu dois animadíssimos shows musicais. O primeiro realizou-se no Clube UDAL, e
outro na Praça D. Pedro II, ocasião em que a galera estudantil emocionada sacudiu o corpo e
lavou a alma. Os shows superaram toda a expectativa por parte da organização. A festa
inesquecivelmente teve como atração especial, o talentoso cantor leopoldinense Valdir José,
da Banda Riu’s.
18 de agosto, aniversário da UMEL
A Assembleia Geral em homenagem ao aniversário de um ano de fundação da UMEL,
realizada no dia 18 de agosto de 1993, no Clube UDAL, reuniu um público de
aproximadamente 400 pessoas. Entre esse contingente de participantes, estiveram
prestigiando o ato, as seguintes lideranças políticas: Maurício Pereira (presidente da
Associação dos Moradores do Mandacaru), Severino Inácio da Rocha (comerciante), Jair Alves
(diretor da UMJIL de Novo Lino – AL), Luciana Freitas (presidente do PMDB de Colônia
Leopoldina – AL), Josias (Pastoral da Juventude – AL), Severino Manoel (membro do Diretório
Municipal do Partido dos Trabalhadores), Jaorish Telles (diretor do GRUCALPE de Palmares –
PE), Elias Felipe (professor), Hamilton Alexandre da Silva (ex-presidente do Grêmio Estudantil
Antônio L. da Rocha), Dr. Flávio Lima de Souza e Severiano Freitas (vereadores).
Representando a entidade se fizeram presentes os diretores: Júnior Amorim, Vilma Ferreira,
Gilberto Sobreira, Chico Amâncio, Érica Valéria, Lenilda Maria, Daniel Amâncio, Cícero Manoel
da Silva, Daniel Benvindo de Andrade, Franklin Amorim, Daniela Karlla, Maria Elisa Balbino,
José Mário e Neide M. S. Elias.
Em discurso de abertura, o presidente da UMEL, Júnior Amorim, destacou positiva sua
atuação à frente da entidade, mas frisou que esse trabalho é fruto da união e da competência
de todos os diretores da UMEL. Após o pronunciamento do presidente, o secretário-geral
Gilberto Sobreira fez a leitura do estatuto da entidade. Em seguida, a diretora Érica Valéria leu
a ata do resultado das eleições de agosto-92. Mostrando transparência dos seus atos na
tesouraria, a diretora Lenilda Maria prestou conta do balancete compreendido entre outubro-
92 e agosto-93. Com expectativa para as próximas eleições – definida para o dia 18/08/94, o
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diretor de política, Chico Amâncio, apresentou o regulamento que regerá o processo eleitoral
estudantil.
Franqueada a palavra, Hamilton Alexandre da Silva, um dos guerreiros do nosso
movimento estudantil leopoldinense, ou porque não, do Estado de Alagoas, enfatizou o auge
da UMEL em referência apenas um ano de vida. E acrescentou: “A UMEL dirigida por Júnior
Amorim & Cia. está de parabéns. Estou feliz de verdade e ao mesmo tempo bastante
orgulhoso de presenciar esta magnífica festa”. O vereador Flávio Lima de Souza, abordou a
importância do movimento estudantil brasileiro, através da UNE, da UBES e da UESA, nas
imemoráveis conquistas em defesa dos direitos à educação, à saúde, ao emprego, enfim, à
cidadania. Papel que, segundo o legislador, a UMEL é mais um exemplo dessas entidades
vencedoras em prol dos direitos da humanidade. Com os términos das explanações, o evento
foi oficialmente encerrado pelo GRUCALPE que apresentou as seguintes atrações: peça de
teatro, dança africana, capoeira e o filme Zumbi dos Palmares.
Mandacaru: dois anos de ocupação, de luta e resistência
A Associação dos Moradores do Mandacaru festejou com muito brio o aniversário de
dois anos de “ocupação, de luta e resistência” do Mandacaru, no dia 20 de agosto de 1993,
com presença expressiva da comunidade e de vários segmentos da sociedade alagoana.
Entre os representantes destes segmentos, o presidente da A.M.M., Maurício Pereira de
Souza, contou com a participação marcante da secretária de Educação de Maceió – AL,
professora Maria José Viana; da representante do MST-AL, Eloísa Gabriel; dos membros do
Diretório Municipal do PT, Adelmo Lins, Elias Pinheiro, Almery Rocha e Jair de Assis; e do
presidente da UMEL, Júnior Amorim.
O presidente da UMEL, Júnior Amorim, em seu pronunciamento deu ênfase aos que
contribuíram de forma direta e indireta e aos que continuam na luta em defesa desse espaço
tão significativo para realização do sonho deste povo: “a posse dos títulos e a construção da
casa própria com dignidade e justiça”.
Dentro da programação do ato, inaugurou-se pelo presidente da associação, Maurício
Pereira de Souza, a primeira lavanderia comunitária que homenageia o professor canadense
Thomás Alphonse. Esta obra foi construída através do sistema de mutirão.
22 de agosto: Dia Nacional do Folclore
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A UMEL promoveu “um baile pró-cultural e um super bingo”, no dia 22 de agosto de
1993, no Clube UDAL, em festança às comemorações ao Dia Nacional do Folclore.
A festa reuniu um público bastante animado. Esse belo público prestigiou a
apresentação da Academia de Kung-Fu, do professor Jailton de Xexéu – PE, riu a vontade como
show espetacular do Teatro City, aplaudiu entusiasmado a capoeira dos meninos da “Horta
Nossa Esperança”, da ATRAPO, e contagiou-se com a dança delirante do Grupo Funk.
Outra atração que emocionou, foi o show da dupla de sanfoneiros que une duas
gerações. De um lado o pai, Tião Marcolino, e do outro o seu talentoso filho Douglas
Marcolino. Após os espetáculos, o baile varou à noite ao som do cantor leopoldinense
Jodivaldo Dionízio.
Ato público
Em homenagem ao Dia do Soldado, 25 de agosto, a UMEL liderou um ATO PÚBLICO em
protesto as condições desfavoráveis à política educacional implantada pelo governo municipal.
Para o ato, a UMEL contou com a participação de 40 estudantes. Esse grupo era
formado especialmente por estudantes e ex-estudantes do Curso de Contabilidade. O protesto
teve início na Escola de 1o e 2o Graus Antônio Lins da Rocha e ganhou as principais vias
públicas da cidade.
Após os discursos de vários líderes estudantis, o ato encerrou-se vitoriosamente
defronte ao chalé dos Santana, na Praça D. Pedro II, residência oficial da prefeita Telma Melo
(PL).
Escritor Everaldo Araújo Silva ministra palestra sobre a Monarquia no Brasil
No dia 03 de setembro de 1993, a convite do presidente da UMEL, Júnior Amorim,
juntamente com a diretora do Colégio Cenecista Pe. Francisco – (CENEC), professora Gisélia
Sobreira, o escritor leopoldinense Everaldo Araújo Silva, autor do livro A Colônia da Princesa,
proferiu uma importante palestra sobre a Monarquia no Brasil. O tema foi abordado no
referido educandário, que contou com a participação de aproximadamente 60 estudantes, das
turmas do segundo e terceiro anos de Magistério.
O evento levou ao conhecimento dos estudantes a origem do Império do Brasil. Serviu
também para que, a comunidade cenecista absorvesse melhor o trabalho que o mestre
desenvolve no tocante à cultura do povo brasileiro.
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Fórum Criança e Adolescente
A Prefeitura Municipal de Colônia Leopoldina, através da Secretaria M. de Saúde,
promoveu no dia 28 de setembro de 1993, nas dependências do Grupo Municipal Joaquim Luiz
da Silva, o Fórum Criança e Adolescente.
Tal evento reuniu representantes de órgãos governamentais, sociedades civis e ONGs.
Entre eles, destacamos os seguintes: Cleide Maria A. Tavares (CBIA – AL), José Gerônimo Neto
(secretário municipal de saúde), Telma Gomes de Melo (prefeita), José Alves Caldas Júnior
(vice-prefeito), Ernane Santana Santos (presidente da Câmara), Aldo Giazzon (padre), Genildo
L. Pinto (secretário municipal de obras), Maria das Dores (supervisora educacional), Maria
Clara (diretora da Unid. M. Ma L. Cavalcante), Maria José R. L. da Silva (professora), Maria José
A. da Silv a (dire5tora da Escola Zora de Menezes), Maria Francisca A. Soares (diretora da
Escola Antônio Lins da Rocha), Maria de Fátima Carneiro (diretora do Grupo Aristheu de
Andrade), Cleonides S. Loureiro (diretora do Grupo Municipal Joaquim L. da Silva), Odecilda
Angelim de Lima (presidente do Clube da Mulher do Campo), Severina Maria e Maria de
Lurdes (Clube das Mães), Maria Verônica e José Machado (Grupo do Adolescente), Florisval
Alexandre e José Ferreira da Silva (membros da ATRAPO), Júnior Amorim, Gilberto Sobreira,
Cícero Manoel da Silva e Chico Amâncio (diretores da UMEL).
O fórum abordou com objetivo específico a criação do Conselho Municipal dos Direitos
da Criança e do Adolescente. As palestras foram proferidas pela representante da CBIA – AL,
Cleide Maria, juntamente com o secretário de Saúde, Dr. José Gerônimo Neto. Na
oportunidade, Cleide Maria, falou dos direitos adquiridos pela sociedade infanto-juvenil com a
sanção da Lei no 8.069 (de 13 de julho de 1990) pelo então presidente Fernando Collor de
Mello, que criou o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
UMEL participa da elaboração do Plano Decenal de Educação
No dia 11 de outubro de 1993, no Grupo M. Joaquim L. da Silva, a Secretaria Municipal
de Educação promoveu uma reunião ampliada que contou com a participação de várias
entidades municipais na elaboração das propostas do “Plano Decenal de Educação
1993/2003”.
A Secretaria de Educação, professora Anita Borges, recebeu inúmeras sugestões dos
representantes das categorias, a fim de reverter a situação clínica do ensino local. Na ocasião,
o presidente da UMEL, Júnior Amorim, entregou-lhe uma lista de sugestões contendo 15 itens
formulados pelos diretores da entidade.
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Segundo a representante da pasta educacional, as propostas selecionadas pelos técnicos
da referida secretaria, serão encaminhadas aos órgãos competentes do Estado de Alagoas.
UMEL no III Campeonato Leopoldinense de Futsal
Organizado pelo diretor de Esportes, Antônio de França Campos (Xumba), o III
Campeonato Leopoldinense de Futsal contou com a participação numerosa de 16 clubes. O
primeiro turno foi dividido em quatro grupos. Formaram a chave da UMEL, os times: Granja 3
Irmãos, Independente e Sendas (Sertãozinho – PE).
A UMEL estreou com uma vitória de 6 x 4, no dia 12 de agosto, sobre a boa equipe da
Granja 3 Irmãos. Na segunda partida, mesmo apresentando um futebol dinâmico, não foi
suficiente para superar a poderosa esquadra do Independente que venceu por 11 x 7. No
terceiro confronto, estava em jogo a classificação para as semifinais. No entanto, nova derrota,
desta vez para o Sendas, por 8 x 4.
No segundo turno, a UMEL ficou no Grupo B, ao lado dos clubes: Milan, Esporte e
Sendas. Os três últimos jogos foram realizados nos dias 16, 23 e 31 de outubro. No primeiro
jogo, revanche contra o Sendas, desta vez superando o rival com uma vitória folgada de 9 x 2.
No segundo duelo, a equipe apresentou um futebol de baixo nível e levou uma implacável
goleada do Milan de 13 x 3.
A UMEL despediu-se do certame com uma amarga derrota por 8 x 5, aplicada pelo
poderoso Esporte. Apesar da derrota, a equipe ficou com o nono lugar na classificação geral do
campeonato. A esquadra estudantil formou com Bau (G), Zé Mago, Maurício, Marquinhos,
Cosmo, Cal Rocha, Djaílson, Valmir, Reginaldo Inácio e Edvânio Balbino.
Após vencer a grande final contra a ASPA, da Destilaria Porto Alegre, o Atlético
conquistou o bicampeonato leopoldinense – 1992/93. O Atlético formou com Fernadinho,
Vavá, Fabiano Amâncio, Rubens, Clebson, Rei, Dinho, Henrique, Filho, Romildo Lopes e Neném.
30o Congresso da UBES
O diretor da UMEL, Cícero Manoel da Silva, representou com muita honraria os
estudantes leopoldinenses no 30o Congresso da UBES, realizado nos dias 01 e 02 de novembro
de 1993, na grande São Paulo – SP.
Para levantar a contrapartida com as despesas, uma vez que a preferida Telma Melo (PL)
procurada pelo grupo recusou-se a contribuir, a UMEL fez uma “vaquinha” entre os
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comerciantes, estudantes e professores. Através da solidariedade dessas categorias levantou-
se com garra o capital.
No encontro nacional, o diretor Cícero Manoel da Silva fez parte da caravana da
“Juventude Revolução”, uma das tendências dos partidos políticos de esquerda de Alagoas.
Dia Nacional da Consciência Negra
A UMEL promoveu antecipadamente no dia 19 de novembro de 1993, o I Concurso de
Redação, com o tema: “A influência da cultura negra no Brasil”. Este evento realizou-se em
homenagem ao Dia Nacional da Consciência Negra, o qual reverencia o líder dos quilombos,
Zumbi dos Palmares, assassinado na manhã do dia 20 de novembro de 1695.
Com o apoio e o patrocínio exclusivo do nosso conterrâneo escritor Everaldo Araújo
Silva, o concurso obteve um êxito magnífico, onde mais de 30 trabalhos foram apresentados
por estudantes de diversas escolas.
O presidente da UMEL, Júnior Amorim, entregou os prêmios aos três vencedores nas
suas respectivas escolas. Foram honrosamente contemplados os seguintes alunos: Sineide
Fagundes da Silva e Luciana da Silva Nascimento, 2o Ano de Magistério, respectivamente, do
Colégio Cenecista Pe. Francisco – CNEC, e Bráulio Cosmo da Silva, 8a série da Escola de 1o Grau
Aristheu de Andrade.
2o Ano Contabilidade é campeão do Torneio Estudantil de Futsal
Selando as atividades sociopolíticas e esportivas do ano com chave de ouro, a UMEL
organizou no dia 21 de novembro de 1993, na Quadra Municipal Mané Garrincha, com
presença de oito equipes, o Torneio Estudantil de Futsal. Este evento esportivo contou com o
patrocínio de Marcelo Fagundes, além da colaboração do professor Fabiano Amâncio. Os
participantes foram divididos em dois grupos. Grupo “A”: 2o Ano Magistério, Aristheu de
Andrade, ex-alunos e 2o Ano Contabilidade. Grupo “B”: 7a Série, 8a Série, 1o Ano Contabilidade
e 1o Ano Magistério.
De acordo com o regulamento classificaram-se para as semifinais dois clubes de cada
grupo. No “A”: ex-alunos e 2o Ano Contabilidade. No “B”: 7a Série e 1o Ano Magistério. Na
abertura da segunda fase, vitória de goleada de 10 x 0 dos ex-alunos sobre o 1o Ano
Magistério. No outro duelo, empate de 3 x 3 entre a 7a Série e o 2o Ano Contabilidade, mas nas
penalidades máximas a classificação ficou com o 2o Ano Contabilidade que venceu por 5 x 4.
65
A disputa do 3o lugar reuniu a 7a Série e o 1o Ano Magistério. A 7a Série levou a melhor
vencendo a partida por 2 x 1. Numa decisão dramática o 2o Ano Contabilidade sagrou-se
campeão do torneio. O jogo que decidiu o título foi emocionante. O 2o Ano Contabilidade
liquidou o adversário marcando 4 gols, contra apenas 3 dos ex-alunos.
Os atletas que integram o 2o Ano Contabilidade na conquista do título foram os
seguintes: Izaque (G); Luciano, Samuel Nicácio, Franklin Amorim, Eron, Aílton e Cosmo. Os
artilheiros: Josimar Nunes (8a Série) 16 gols; Jodimarco (ex-alunos) 12 gols; Júnior Guerra (ex-
alunos) e Eron (2o Ano Contabilidade) 10 gols; Ral (ex-alunos) 7 gols; Lando (1o Ano Magistério)
e Luciano (8a Série) 6 gols; Samuel Nicácio (2o Ano Contabilidade), Everaldo (1o Ano
Contabilidade) e Paulo (7a Série) 4 gols; Marquinhos (2o Ano Magistério) e Eran (7a Série) 3
gols; Wandercarlos (8a Série), Gilberto Sobreira (1o Ano Contabilidade), Mida (Aristheu),
Márcio (1o Ano Magistério), Val (ex-alunos) e Cal Rocha (2o Ano Contabilidade) 2 gols; Lon e
Wellington (1o Ano Magistério), Aílton (2o Ano Contabilidade), Cícero 8a Série), Beta (Aristheu),
Jorginho e Murilio (ex-alunos) e Getúlio (1o Ano Contabilidade) 1 gol.
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Capítulo VI – 1994
Fórum discute Municipalização da Saúde e a criação do Conselho Municipal de Saúde
Durante os meses de janeiro (18 e 25) e fevereiro (02 e 09) de 1994, a Prefeitura
Municipal através da Secretaria Municipal de Saúde, promoveu no Grupo Municipal Joaquim L.
da Silva, 4 etapas do Fórum Saúde Pública, com os temas: “Municipalização da Saúde e
Conselho Municipal de Saúde”.
O encontro contou com a participação do secretário municipal de Saúde, Dr. José
Gerônimo Neto; da prefeita do município, Telma Melo; do vice-prefeito, José Alves Caldas
Júnior (Zitinho); do presidente da Câmara, Dr. Ernane Santana Santos; da presidente do Clube
da Mulher do Campo, Odecilda Angelim de Lima; do representante do Sindicato dos
Trabalhadores Rurais, Geraldo Ângelo; dos diretores da UMEL – Júnior Amorim, Gilberto
Sobreira e Chico Amâncio; da diretora da Unidade Mista Maria L. Cavalcante, enfermeira Maria
Clara; do representante da Polícia Militar, PM Silva Lucas; do membro da ATRAPO, José
Ferreira da Silva; do diretor do Grupo dos Jovens, Valdemir Agustinho; do diretor do Curso de
Contabilidade, Edson Alves; dos funcionários da Saúde – Rosângela Maria, Edilma Regina,
Maria das Graças, Ernandes Barbosa, Gesiana Barreto e Vanúzia Gonçalves; dos funcionários
da Educação – Edvanilda Neves, Arleide C. Lins, Edna Lúcia, Maria José R. Luna, Cleonides
Loureiro, Joselita B. R. Amorim, Alba Fátima e Gilvânia Lamenha, além do vereador José
Pereira do Nascimento.
No final do fórum, o presidente da UMEL, Júnior Amorim, defendeu com bravura a
cadeira da entidade na futura composição do Conselho Municipal de Saúde, no qual a entidade
discutirá temas importantes na área da saúde no tocante à educação, como, por exemplo,
atendimento médico-odontológico nas escolas.
UMEL organiza I Fórum Educação e Sociedade
Superando com coragem e determinação toda pressão política por parte do governo
municipal, a UMEL organizou o I Fórum Educação e Sociedade, nos dias 28 e 29 de abril de
1994, no Clube UDAL. Na abertura oficial do fórum, o presidente da UMEL, Júnior Amorim,
agradeceu entusiasmado em nome da diretoria o comparecimento dos estudantes, dos
professores, dos palestrantes, das ONGs, dos sindicalistas e demais convidados. “Somos hoje
responsáveis pelas transformações na política de Colônia Leopoldina. A UMEL está fazendo sua
parte, pois este fórum é um retrato dessa mudança”, concluiu o presidente.
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Na primeira série do encontro, o público conferiu as palestras da Secretaria Municipal
de Educação, professora Anita Borges; do representante do Movimento dos Trabalhadores
Sem Teto – AL, Adelmo Lins; e do vereador de Xexéu PE, Jailton F. do Nascimento. Os temas
debatidos foram: Administração, Moradia e Ecologia.
Abordando o tema Administração, a secretária Anita Borges destacou o encontro como
uma formação de diálogo entre o poder executivo e as representações de classes. Questionada
sobre o caos na área educacional, a mesma explicou que apresentou uma proposta a prefeita
Telma Melo em relação ao atraso de mais de dois meses no salário da categoria.
O tema Moradia foi pincelado pelo líder comunitário Adelmo Lins. Após apresentar
dados do déficit habitacional municipal, Adelmo Lins entregou aos organizadores do fórum, o
“Projeto de Moradia Popular” que visa equacionar esta carência na área habitacional. Em
relação ao seminário, disse: “Esse espaço está sendo de imensa importância, pois abriu as
discussões em torno dos principais pontos para o pleno desenvolvimento da cidade”.
Encerrando a primeira etapa da sabatina, o convidado especial vereador Jailton F. do
Nascimento, de Xexéu – PE, salientou a importância da Ecologia. O mesmo chamou a atenção
para os problemas locais, como, por exemplo, o reflorestamento das margens do Rio Jacuípe, a
questão do lixo que poderia ser solucionado com a implantação da coleta seletiva (lixo
reciclável), na qual gera emprego e renda e sobre o possível combate aos produtos químicos
despejados no Rio Jacuípe pela Usina Taquara.
No segundo dia 29, as principais temáticas tratadas foram: Informatização, Legislação,
Cultura, Direito e Cidadania. Os expositores foram: o vereador do PMDB, Severiano Freitas; o
professor do Curso de Contabilidade, Adelmo de Oliveira Torres; o juiz de direito, Antônio Luna
da Silva, o agrônomo e professor, Rudson Sarmento Maia; e o escritor Everaldo Araújo Silva. A
princípio o professor Adelmo de Oliveira Torres disse no seu pronunciamento que, o
“esvaziamento” do encontro se deu pelo fato das ameaças de demissões impostas pela
prefeita Telma Melo (PL) em represálias aos funcionários públicos que visitassem o fórum. E
acrescentou: “Os estudantes estão de parabéns pela realização deste ato de tamanha
envergadura para a sociedade leopoldinense”.
Com o segundo mandato na Câmara pelo PMDB, o vereador Severiano Freitas descreveu
o simpósio de uma rara oportunidade para a comunidade enfrentar a realidade do
agravamento do ensino público. “Foi a primeira vez que aconteceu um debate tão importante
nos últimos cinco anos, tratando-se, sobretudo, dos diversos temas associados em educação.
Parabéns, UMEL!”, enfatizou o legislador. O agrônomo Rudson Armento Maia – o principal
fundador do movimento estudantil leopoldinense, ministrou com sucesso o debate sobre
Cidadania. “Historicamente, em Colônia, a partir de vários movimentos sociais, notamos a
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prática de uma verdadeira cidadania. A ação comandada pela UMEL é um exemplo claro de
luta e justiça por direitos conquistados”, ponderou o agrônomo. Em sua explanação o juiz de
direito, Dr. Antônio Luna da Silva, falou dos direitos adquiridos na atual Constituição, onde
todo cidadão tem o direito de se organizar; ainda se referiu solidariamente aos movimentos
sociais, uma vez que, todos os cidadãos têm de ser tratados igualmente pela lei.
O último orador do evento bem-sucedido, o escritor Everaldo Araújo Silva, fez uma
análise positiva da cultura do nosso povo. Muito embora, sem apoio algum do governo local,
mostra o compromisso sério que esta juventude tem em prol da nossa terra natal. Finalizando,
o mestre Everaldo disse: “Vocês estudantes estão seguindo a trilha certa. Pra frente
juventude!”
Chico Amâncio participa da festa dos dez anos do PT de Colônia
No dia 06 de maio de 1994, no Centro Paroquial, o diretor da UMEL, Chico Amâncio
prestigiou a cerimônia do aniversário de fundação de dez anos do Partido dos Trabalhadores
em nossa sociedade leopoldinense. Em 1984, o PT de Colônia foi legalizado por um grupo de
amigos, entre eles: Yrapuan Araújo Yrá (que aliás em 1988 foi o primeiro candidato a
prefeito pela esquerda), o artista Elias Marques Pinheiro e o professor/escritor leopoldinense
José Francisco de Melo Neto (1951) conhecido em nossa cidade por Zé de Melo – atual
educador adjunto da Universidade Federal da Paraíba, no Campus I, em João Pessoa.
A cerimônia foi digna de um partido que vem se firmando cada vez mais na sociedade,
contando inclusive com a presença da sua militância e de várias lideranças comunitárias,
estudantis, sindicalistas, religiosas e de professores. No ato, o presidente do PT, Jair de Assis,
conduziu a mesa-redonda com participação do membro do MST-AL e secretário-geral do PT de
Colônia, Adelmo Lins; do presidente da Associação dos Moradores do Mandacaru, Maurício P.
de Souza; e do presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT-AL), Paulo Fernando dos
Santos, o Paulão do PT de Maceió – AL.
I Encontro Regional da Juventude
Colônia Leopoldina foi sede do I Encontro Regional da Juventude, realizado nos dias 21 e
22 de maio de 1994, no qual reuniu as delegações de: Jundiá, Campestre, Novo Lino e Joaquim
Gomes. A UJIPA (União Jovem: Instrumento Presente Para o Amanhã) entidade recém-
fundada, foi a responsável pela brilhante organização do evento sociocultural. Em sua diretoria
constam os seguintes jovens: Saulo Wilker, Alexandre Félix, Wagner Lins, Ivanilson José,
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Márcio Roberto, Sandoval Almeida, José Joaquim, Rubens Vitor, Roberto Carneiro e Wellington
Sandro.
O coordenador da UJIPA, Saulo Wilker, abriu o evento no Clube UDAL. Na ocasião,
convidou para fazer parte da mesa de honra as seguintes autoridades: a prefeita do município,
Telma Melo; o representante da Pastoral da Terra, Valdo Lira Soares; e o presidente da UMEL,
Júnior Amorim, além dos expositores o professor da UFAL, Gabriel Louisle-Campion e do
representante da Secretaria do Meio Ambiente de Maceió – AL, Reinaldo Falcão. Os
palestrantes debateram o tema “Problema Ecológico em Alagoas” para um público superior a
mais de 500 espectadores.
À noite, no Centro Parouial, o tema “Questão Educacional em Alagoas” recebeu atenção
especial de um público seleto de educadores e estudantes. A palestra foi ministrada pela
representante da Central Única dos Trabalhadores (CUT-AL), professora Margareth França e
contou com a participação do vereador Severiano Freitas, do comerciante e ex-vereador
Severino I. da Rocha e do presidente da UMEL, Júnior Amorim. Após o debate, exibiu-se um
documentário sobre “Gestão Democrática”, modelo educacional implantado na gestão do
prefeito Ronaldo Lessa (PSB), onde tem à frente da Secretaria M. de Educação de Maceió, a
professora Maria José Viana, do Partido dos Trabalhadores.
Prosseguindo o encontro na manhã do dia 22, realizou-se um torneio de futsal na
Quadra Municipal Mané Garrincha. E novamente, na parte da tarde, no Centro Paroquial,
promoveu-se uma enorme e importante palestra com a temática “Saúde e Sexualidade”.
Estes temas foram debatidos pela socióloga Vilma de Oliveira e pela assistente social
Ana Lúcia Marinho, da Sociedade Civil Bem-Estar Familiar do Brasil (BENFAM-AL). Marcou
presença nesta explanação, o engenheiro civil e candidato ao Governo de Alagoas, Marcos
Vieira e o jornalista e candidato ao Senado Federal, Régis Cavalcante.
Às 21:30h, o evento encerrou-se de forma magnífica no Clube UDAL, com uma
apresentação especial do Grupo Teatral Moinhos de Máscaras, de Maceió – AL, que encantou
o público com uma belíssima apresentação humorística.
UMEL instala Sala de Leitura Everaldo Araújo Silva
Depois de quatro longas décadas de uma incansável luta em busca por um espaço de
estudo e pesquisa, a atual geração representada pela UMEL, fundou no dia 05 de junho de
1994, a Sala de Leitura Everaldo Araújo Silva. A cerimônia de inauguração ocorreu às 09:00h,
na Rua Severino Ferreira de Lima, 254.. O espaço servirá simultaneamente de sal de leitura e
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também como sede da entidade. O imóvel pertence aos comerciantes: Antônio Carneiro e
Marinho Carneiro, o qual foi alugado a UMEL por um salário mínimo e que será pago
religiosamente todo mês da seguinte forma: o vereador Severiano Freitas financiará 50%
(cinquenta por cento) e o restante, ou seja, os outros 50% (cinquenta por cento) será rachado
com os demais vereadores Valdecir José, Dr. Ernane Santana, José Alfredo de Souza, Dr. Flávio
Lima, Lúcio Flávio, Maviael de Souza, Dr. Márcio Jorge e José P. do Nascimento (Fernando).
O ato sociocultural contou com presença de professores, estudantes, comerciantes,
políticos, organizações não governamentais – ONGs entre outras representações da sociedade.
Dentre 80 participantes estavam os diretores da UMEL – Júnior Amorim, Vilma Ferreira,
Gilberto Sobreira, Cícero Manoel da Silva, Chico Amâncio, Carlinhos Claudino, Daniel Amâncio,
Elisa Balbino e Ivanaldo José; o patrono da sala, escritor Everaldo Araújo Silva; o escritor e
proprietário do Supermercado Brilar em Maceió – AL, Severino Araújo e sua esposa,
engenheira Kátia Araújo; o pároco da Igreja M. Nossa Sra. do Carmo, padre Aldo Giazzon; os
comerciantes Severino Inácio da Rocha, Antônio Carneiro, Marinho Carneiro e Carlos H. S.
Maciel; os vereadores Valdecir José da Silva e Severiano Freitas; o presidente do PT de Colônia,
Jair de Assis; o coordenador da UJIPA, Saulo Wilker; o diretor do MST-AL, Adelmo Lins, a
presidente do Clube da Mulher do Campo, Odecilda Angelim de Lima, a presidente do PMDB,
Luciana Freitas, o locutor da Câmara, Ernande Balbino, o fotógrafo João Bosco Alves, o ex-
presidente do Grêmio Estudantil Antônio L. da Rocha, Hamilton Alexandre, os educadores –
Josefa Borges Amâncio, Adelmo Torres, Miguel Florêncio, Fabiano Amâncio, Paulo Edson
Araújo, Adalgisa Borges, Josefa Santana do Nascimento, Marilene P. de Melo, Edleusa Araújo
Edna L. Borges e Emanoel da Silva; o membro do Grupo dos Jovens, Valdemir Agustinho; o
cantor Valdir José; o músico Vitalino do Nascimento; os ex-líderes estudantis Romildo
Laurentino e Jamacy Agustinho, e os estudantes – Cícera Shirley, Valdir José das Neves,
Francisco Caetano, Vanessa Holanda, Geane M. Lins, Ronilda Maise, Lília Soares, Ester Viviane,
José Joaquim, Fredson Jorge, Jorge Alexandre, Francisco Manoel, Alexandre Félix, Josenilson
Silva, Érico da Silva, Wagner Lins, Jorge L. Alves da Silva e Dayse Aparecida.
Na cerimônia, fizeram parte da mesa as seguintes personalidades: o presidente da
UMEL, Júnior Amorim, o homenageado escritor Everaldo Araújo Silva, o vereador Severiano
Freitas, o padre Aldo Giazzon, e o secretário-geral da UMEL, Gilberto Sobreira. Em discurso
eloquente e franco, o presidente da UMEL, Júnior Amorim, não economizou elogios ao perfil
do patrono da sala, que ao longo dos anos vem dando exemplo de amor como ninguém, a
nossa cidade. Para se ter uma ideia da sua grandeza histórica, é só lembrarmos do seu
esplêndido livro A Colônia de Princesa, lançado no dia 23 de janeiro de 1983, no qual o escritor
relata os heróis que marcaram a história de nosso povo. Júnior Amorim também parabenizou
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com orgulho o esforço dos diretores da UMEL, o apoio da Câmara M. de Vereadores, e
expressou agradecimento aos doadores dos livros entre eles e Aldo Giazzon, Elias M. Pinheiro,
Fabiano Amâncio, Miguel Florêncio, Adelmo Lins, Severino Araújo, Jadson Pedro, Edvaldo
Florêncio, Antônio Luna da Silva, João Neto, José L. Lessa da Silva, Manoel Jandaia, Severiano
Freitas, Rudson Sarmento, Josefa B. Amâncio, Jair de Assis, João Neto, Ruy Borges, Hamilton
Alexandre, Edleusa Araújo, Luciana Freitas e Everaldo Araújo Silva.
Após o seu pronunciamento, o padre Aldo Giazzon, benzeu as instalações abençoando a
todos pela enorme conquista social. O escritor Severino Araújo recitou inúmeras poesias dos
seus livros e destacou a batalha dos estudantes em transformar Colônia Leopoldina numa
potência educacional e cultural do Estado de Alagoas. Já o diretor da UMEL, Chico Amâncio,
ressaltou a importância do patrono Everaldo Araújo Silva em nossa sociedade leopoldinense. O
coordenador do MST-AL, Adelmo Lins, relatou as lutas árduas da juventude em prol de uma
biblioteca pública, principalmente, quando estava à frente do GRUCALE, onde enfrentou o
governo do então prefeito Zé Lessa, apresentando diversos projetos nas áreas da educação e
da cultura.
Para Saulo Wilker, coordenador da UJIPA, o movimento estudantil leopoldinense através
da UMEL, deu um gigantesco avanço na política cultural da nossa gente. “A homenagem
pública ao escritor Everaldo Araújo Silva simboliza respeito e toda dedicação que ele tem pela
terra natal”, destacou Saulo. Representando com honradez o Poder Legislativo, o vereador
Severiano Freitas fez uma explanação de alerta positivo sobre o benefício infinito que trará
sem sombra de dúvida, a sala de leitura para a comunidade leopoldinense, especialmente para
os estudantes e professores.
Em discurso emocionante, o homenageado escritor Everaldo Araújo Silva, deu um banho
literalmente falando para a encantada plateia. Com palavras mansas, verdadeiras e repletas de
sensibilidades, o mestre retribuiu à juventude a decência do título de maneira espetacular,
deixando assim, sobre suas mentes, uma mensagem clara e significativa: “Homenagem não se
implora. É dada espontaneamente com carinho e reconhecimento àquele cidadão que vê o
mundo de forma mais humana”, afirmou sabiamente o mestre. A emoção transportada dos
olhos repletos de lágrimas, acompanhada pela voz quase partida ao meio, foi recebida com
uma calorosa salva de palmas. No final do ato, os músicos Vitalino do Nascimento e Valdir
José, da Banda Filarmônica Sabino de Souza, executaram uma música a qual foi composta
especialmente em homenagem ao escritor Everaldo Araújo Silva.
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1a Corrida Junina de Pedestre
A UMEL organizou no dia 28 de junho de 1994, com patrocínio exclusivo da Farmácia
Veterinária COTASC (dos amigos Carlos Souza e Henrique Araújo) a 1a Corrida Junina de
Pedestre. Quinze atletas participaram da prova de resistência num percurso de 9 Km, cujo
asfalto de péssima qualidade era o maior desafio. Apesar desse obstáculo, os corredores
superaram o tempo máximo de 37 minutos da largada do trevo (BR 101), até a chegada
defronte a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Carmo.
O maratonista José da Silva, o “Neguinho da Areia” – como é mais conhecido entre os
leopoldinenses, cravou o tempo de 29 minutos e sagrou-se o grande campeão da corrida. Em
segundo lugar ficou Jack e na terceira colocação Toinho (irmão do campeão).
Na cerimônia de premiação, o presidente da UMEL, Júnior Amorim, dignamente
condecorou o fantástico campeão “Neguinho da Areia” com taça e medalha de menção
honrosa pela brilhante conquista. Também foram condecorados com troféus e medalhas os
atletas Jack e “Toinho da Areia”, respectivamente, pelos diretores da UMEL, Chico Amâncio e
Carlinhos Claudino.
90 anos de Emancipação Política de Colônia Leopoldina
Em festejos aos 90 anos de Emancipação Política de Colônia Leopoldina, a UMEL
promoveu no dia 16 de julho de 1994, no Centro Paroquial, um debate memorável sobre o
tema com o escritor Everaldo Araújo Silva.
Atendendo a convite especial do presidente da entidade, Júnior Amorim, participaram
deste evento as seguintes personalidades: Edna Morais, Sandra Soares, Márcio Roberto,
Apolônia Luna, João Alves, Elton Fabrício, Paulo E. Araújo, Josefa B. Amâncio, Vitalino do
Nascimento, Romildo Laurentino, Ivânia M. B. Silva, Marcelo Moreira, Moisés Barreto, Marcelo
José, Givaldo Amorim, Ronaldo Adriano, Adelmo Lins, Amauri P. dos Anjos, Saulo Wilker,
Wagner Lins, Alexandre Félix, Geremias Alexandre, Daniel Amâncio, Chico Amâncio, Zé Mário,
Gilberto Sobreira, Cícero Manoel, Ivanaldo José e Carlinhos Claudino.
O debate questionou o descaso com a história política, social e cultural do município,
pois não há um planejamento nem a curto e nem a longo prazo para valorizar essas categorias.
Concluiu-se que, a comunidade está a mercê da sorte e do esforço das suas organizações, que
buscam de certa forma preservar as raízes culturais e as tradições da população.
73
Relação Humana é tema de debate
A convite da UMEL, o empresário Severino Araújo, que também é poeta e um dos filhos
ilustres de Colônia Leopoldina, atual proprietário do Supermercado Brilar, em Maceió – AL,
ministrou uma palestra para 21 convidados no dia 24 de julho de 1994, no Centro Paroquial,
sobre a tese: “Relação Humana”.
No debate, entre os presentes estavam Elias M. Pinheiro, Ivânia M. B. Silva, Apolônia
Luna, Paulo Edson Araújo, Everaldo Araújo Silva, Zito Luna, Licínio Neto, Chico Amâncio,
Gilberto Sobreira, Carlinhos Claudino, Júnior Amorim, Amauri Pereira dos Anjos e Adelmo Lins.
Segundo o empresário, os mecanismos básicos para um bom relacionamento entre
patrão e empregado se dão por cinco fatores principais: Planejamento, Organização,
Comando, Coordenação e Controle.
UMEL conquista cadeira no Conselho Municipal de Saúde
A prefeita Telma Melo (PL), baixou “Portaria de no 58/94”, datada de 10 de agosto de
1994, na qual nomeou os representantes do Conselho Municipal de Saúde.
No governo municipal: José Gerônimo Neto (secretário de Saúde), vereador Dr. Ernane
Santana (suplente); Anita Borges (secretária de Educação), Galba Florêncio (suplente); Talmo
Melo (secretário de Finanças) e Nerutcha Luna (suplente).
A classe dos prestadores de serviço: Maria das Graças, Maria Dulcilene (suplente);
Edileide Caldas, Nilza Machado (suplente); Maria Clara e Daniel José (suplente).
E a dos usuários: João Sebastião (APPAGA), Odecilda Angelim de Lima (suplente);
Gilberto Sobreira (UMEL), Adelmo Lins (suplente); Maurício Pereira de Souza (Associação dos
Moradores do Mandacaru), Cícero Manoel (suplente); Moisés Augusto (Sindicato dos
Trabalhadores Rurais), Geraldo Ângelo da Silva (suplente); Aldo Giazzon (Igreja Católica), José
Ferreira da Silva (suplente); Ivandege Maria (Grupo dos Jovens) e Valdemir Agustinho
(suplente).
I Campeonato Estudantil de Futsal
De 19 de julho a 14 de agosto de 1994, realizou-se na Quadra Municipal Mané
Garrincha, o I Campeonato Estudantil de Futsal. O evento foi promovido pela UMEL que
contou com a participação de nove clubes, sendo eles: Zora, da Escola Municipal Zora de
Menezes; Aristheu, da Escola de 1o Grau Aristheu de Andrade; NACES, do Supletivo 1o Grau; 2o
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Ano Magistério e 3o Ano Magistério, do Colégio Cenecista “Pe. Francisco”; 7a Série, 1o Ano
Contabilidade, 2o Ano Contabilidade e 3o Ano Contabilidade, da Escola de 1o e 2o Graus Antônio
L. da Rocha. Para a organização do certame, a entidade recebeu apoio exclusivo dos
patrocinadores Severiano Freitas (vereador), Júnior Luna (fornecedor de cana) e Everaldo
Araújo Silva (escritor). Na decisão do 1o Turno, dia 30/07, o 2o Ano Magistério goleou
facilmente o 1o Ano Contabilidade por 9 x 0. Os gols foram marcados por Eduardo (3); Márcio
Araújo e Iranildo (2); Lando e Edson Emídio (1). Rubens Vitor foi o árbitro da partida, auxiliado
por Geremias Alexandre e Ivanaldo José.
No dia 13/08, na disputa do 2o Turno, o 3o Ano Contabilidade venceu o 3o Ano
Magistério, pelo placar de 6 x 2. Os gols foram assinalados por Antônio José (5) e Samuel
Nicácio (1) para o time dos Contadorandos, e Djaílson e Cal Rocha (1) anotaram para os
Professorandos. Este jogo foi arbitrado por Ivanaldo José, tendo como auxiliares Geremias
Alexandre e Daniel Amâncio.
Na preliminar da grande final do dia 14 de agosto, as equipes do 1o Ano Contabilidade e
do 3o Ano Magistério disputaram o 3o lugar do campeonato. Num jogo bastante movimentado,
o 1o Ano Contabilidade bateu o rival por 5 x 2. Júnior Guerra foi o autor dos cinco gols do 1o
Ano Contabilidade, enquanto Djaílson e Cal Rocha marcaram os tentos da equipe dos
Professorandos.
Disputaram o título, o 2o Ano Magistério (campeão do 1o Turno) versus o 3o Ano
Contabilidade (campeão do 2o Turno). Neste clássico, os Contadorandos ficaram com o prêmio,
aplicando uma goleada impiedosa de 12 x 2. Os gols do 3o Ano Contabilidade foram marcados
por Maurício (5); Antônio José (3); Samuel Nicácio (2); Danilo e Franklin (1). Edson Emídio e
Lando (1) descontaram para o 2o Ano Magistério. As duas partidas finais, foram arbitradas por
Geremias Alexandre, auxiliado por Ivanaldo José e Daniel Amâncio. Os quatro clubes finalistas
e os destaque da competição receberam da diretoria da UMEL, troféus e medalhas de honra
ao mérito. Na cerimônia de premiação, se fez presente a diretora do Colégio Cenecista Pe.
Francisco, Gisélia Sobreira. E para comemorar o encerramento do torneio, a diretora Gisélia
Sobreira deu uma recepção as equipes na Pastelaria Chinesa do amigo Bada.
Os clubes, os gols e os melhores do campeonato:
7a Série: Jorge (G), Paulo Henrique (11), Eran (11), Sinho (4), Jailson (2), Binho, Manoel,
Josenildo e Marcone; 1o Ano Contabilidade: Everaldo (G), Júnior Guerra (25), Luciano (9),
Romildo Lopes (6), Jorginho (2), Bráulio (1), Juscelino (1), Sérgio e José Carlos; 2o Ano
Contabilidade: Misael (G), Francisco Assis (5), Cosmo (3), Jefferson (3), Genilson (1). Chico
Amâncio (1), Lindomar, João Alves e Cosmo Soares; 3o Ano Contabilidade: Zé Mário (G),
Antônio José (23), Samuel Nicácio (16), Maurício (12), Ailton (6), Danilo (6), Franklin (3),
75
Luciano, Antônio Marcelino e Cícero Cláudio; Zora: Misso (G), Eraldo (8), Del (6), Júnior
Gouveia (2), Rosenildo, Marinaldo, Manoel, Wellington e Welma; NACES: Bau (G) Val (12),
Rodemendes (4), Van (4), Adriano (3), Eduardo (2), Agenor Alves (1), e Wilson (1); 2o Ano
Magistério: Gilberto (G), Eduardo (16), Lando (13), Iranildo (12), Edson Emídio (10). Lon (8),
Márcio Araújo (3), Erivan Soares (1), Iran, Rogério e Valdemir; 3o Ano Magistério: Lito (G),
Djaílson (16), Cal Rocha (14), Marquinhos (7), Valmir (6), Gilsomar (1), Moga e Marzinho;
Aristheu: Netinho (G), Araponga (7), Eduardo (5), Cristiano (3), Rafael (3), Peba (2), Vicente (1),
Wilton (1), Pedro, Elinaldo e Ademir. Melhor Goleiro: Netinho, do Aristeu; Goleiro M. Vazado:
Zé Mário, do 3o Ano Contabilidade; Artilheiro: Júnior Guerra, do 1o Ano Contabilidade, com 25
gols; Melhor Jogador: Lando, do 2o Ano Magistério e Jogador Revelação: Maurício, do 3o Ano
Contabilidade.
UMEL empata com Almoxarifado em partida amistosa
A UMEL representada por um time misto de diretores enfrentou a fortíssima esquadra
do Almoxarifado, da Destilaria Porto Alegre, no dia 16 de agosto de 1994, em partida amistosa
realizada na Quadra Municipal Mané Garrincha.
Os clubes fizeram uma bela apresentação. O jogo terminou empatado em 5 x 5. Os gols
da UMEL foram anotados por Márcio Araújo (2); Gilberto Sobreira, Júnior Amorim e Franklin
(1) um gol cada. Do lado do Almoxarifado marcaram Joílson (2); Adelmo Torres, Eduardo e
Edson (1) um gol cada.
O elenco estudantil formou com Zé Mário (goleiro); Carlinhos, Chico, Júnior Amorim, Zé
Luiz, Márcio Araújo, Franklin e Gilberto Sobreira. Representou o Almoxarifado os atletas Dário
(goleiro); Lula, Adelmo Torres, Edson, Eduardo e Joílson.
Eleições estudantis
De 08 de junho a 18 de agosto de 1994, a UMEL mobilizou mais uma vez com sucesso
absoluto os estudantes leopoldinenses para as eleições gerais à presidência da entidade e dos
grêmios Antônio Lins, Cenecista e Aristheu de Andrade.
Registros das chapas – A campanha ganhou mais força após uma ampla reunião com 22
lideranças estudantis realizada na Sala de Leitura Everaldo Araújo Silva, na qual o presidente
Júnior Amorim deferiu os registros das chapas. Para à presidência da UMEL foram constituídas
três capas, sendo elas: Chapa 1 – Chico Amâncio (presidente) e Gilberto Sobreira (vice-
presidente); Chapa 2 – Cícero Manoel (presidente) e Luciano José (vice-presidente) e a Chapa 3
76
– Genésio (presidente) e Robertinho Carneiro (vice-presidente). No Grêmio Estudantil Antônio
Lins da Rocha registrou-se a Chapa “Única” – Jefferson Macêdo (presidente) e Érica Valéria
(vice-presidente). Também no Grêmio Estudantil Cenecista confirmou-se apenas a Chapa –
Erivan Soares da Silva (presidente) e Rosejane G. Wanderley (vce-presidente). Enquanto, no
Grêmio Estudantil Aristheu de Andrade registrou-se duas fortíssimas chapas. A Chapa 1 com
Apolônia Luna (presidente) e Sandra Soares (vice-presidente) e a Chapa 2 com Meilton Luna
(presidente) e Reginaldo Luiz (vice-presidente).
Debate Estudantil – Em homenagem ao Dia do Estudante promoveu-se no Clube UDAL,
às 21:00h, com um público de, aproximadamente, 500 participantes, um imenso fórum e
debate entre as referidas chapas. Após abertura oficial do ato, os candidatos Chico Amâncio,
da Chapa 1, e Cícero Manoel, da Chapa 2, tentaram apresentar sem sucesso os seus planos de
governo, os quais foram recebidos por uma sonora vaia pelos aliados da Chapa 3 – “UMEL de
Cara Nova”. Com uma batucada infernal, a estratégia organizada e bem “orientada” da equipe
de Genésio, atingiu o planejado: neutralizou os adversários. Essa eufórica ala só era controlada
quando o próprio candidato Genésio usava da palavra na tribuna. Tudo isto não passava de
uma encenação, pois a finalidade desses grupos era tumultuar de fato o desempenho dos
candidatos adversários no encontro. Na prática, os aliados da Chapa 3 – “UMEL de Cara Nova”
sabiam que seu candidato não reunia experiência suficiente em relação aos demais. Durante o
fórum, muitos apelos foram feitos para acalmar os estudantes. Contudo, indivíduos infiltrados
entre as chapas iniciaram um confronto direto. O saldo dessa confusão: estudantes agredidos
e, por fim, o cancelamento do evento. Apesar desse lamentável conflito, os estudantes tiveram
ainda fôlego para saírem às ruas comemorando o sagrado dia “D”.
Propostas – A Chapa 1 – “Dinâmica e Luta” encabeçada por Chico Amâncio elaborou o
Plano de Governo na b ase de uma visão mais ampla da política educacional e do compromisso
social da UMEL com toda comunidade leopoldinense.
O Plano de Governo da Chapa ‘ – “Dinâmica e Luta”. Para tanto:
Articular a implantação do Conselho Municipal de Educação e o funcionamento da
Biblioteca Pública Dr. Neyder Alcântara de Oliveira;
Mobilizar as fundações dos Conselhos Escolares;
Defender o Concurso Público para a carreira do magistério e funcionários em geral;
Defesa do Plano de Cargos e Carreiras – PCC;
Lutar pela Gestão Democrática (eleições diretas para diretores nas escolas municipais);
Promover atividades pedagógicas (cursos literários, exposições de livros, ampliação do
Jornal Voz Estudantil, exibição de vídeos e documentários);
77
Organizar atividades culturais e esportivas (incentivo à formação de grupos de teatro,
festivais musicais, revelação de pintores e desenhistas, torneios e campeonatos estudantis);
Aquisição de uma sede própria para a Sala de Leitura Everaldo Araújo Silva;
Qualificação profissional e encaminhamento ao mercado de emprego;
Implantação da Carteira do Estudante (fazer valer a lei da “Meia Entrada” e firmar
convênios com órgãos públicos, ONGs e setor privado;
Cidadania (aquisição de documentos: RG, Reservista, Carteira do Trabalho, Título de
Eleitor);
Defesa da criação do Crédito Educativo.
Grupos de apoio A Chapa 1 – “Dinâmica e Luta” recebeu o apoio da maioria dos
diretores da UMEL, também dos candidatos à presidentes Jefferson Macêdo e Apolônia Luna,
nos grêmios estudantis Antônio Lins e Aristheu de Andrade, respectivamente, além de
pouquíssimos professores e partidos políticos (PMDB, PSB e uma ala do PT). O militante do PT
e candidato da Chapa 2, Cícero Manoel não recebeu adesão nenhuma, pois sua candidatura
não foi nem aprovada pela cúpula do Partido dos Trabalhadores.
No entanto, a Chapa 3 – “UMEL de Cara Nova” liderada pelo fenômeno Genésio José, 6a
Série do Colégio Cenecista e monitor da “Horta Nossa Eseprança”, da Associaão de
Trabalhadores e de Pequenos Produtores Rurais – (ATRAPO), reuniu em torno de sua
candidatura diversos grupos (UJIPA, ATRAPO, Grupo dos Jovens) – coordenados pela Igreja
Católica, vereadores da situação, todos os escalões do poder executivo: prefeita, vice-prefeito,
secretários, diretores das escolas, militância do “PT de Cara Nova”, os articuladores Rudson
Sarmento e Hamilton Alexandre, além das chapas – “Única” no Colégio Cenecista e a “2” no
Aristheu de Andrade. Esse bolo bem recheado de “aliados” – tinha uma posição notória: uns
controlar a UMEL com o objetivo de levar adiante projetos políticos e sociais, e outros destruí-
la, pois o movimento incomodava muita gente. Gente essa, que se sentia ameaçada no seu
intocável cargo.
O pleito – 810 estudantes de quatro educandários participaram das eleições da UMEL e
dos grêmios estudantis realizados no dia 18 de agosto. Este número representa uma marca
histórica para o movimento estudantil, pois a categoria atingiu mais de 5% (cinco por cento) da
população leopoldinense. As eleições transcorreram em clima festivo e tranquilo, onde contou
com a cooperação de diretores, professores e funcionários das escolas.
Apuração – às 22:00h, no Clube UDAL, deu-se a apuração do pleito. No ato, se fizeram
presentes as seguintes personalidades: Júnior Amorim, Gilberto Sobreira, Carlinhos Claudino,
Érica Valéria, Daniel Amâncio, Cícero Manoel, Sandra Soares, Ivanaldo José, José Mário e Chico
Amâncio (diretores da UMEL), Arnaldo Sobreira (diretor do Clube UDAL), Rudson Sarmento
78
Maia (agrônomo), Saulo Wilker (coordenador da UJIPA), Gisélia Sobreira (diretora do Colégio
Cenecista), Josefa Araújo S. Borges e Maria F. Alves (secretárias do Colégio Cenecista), Edson
Alves (diretor do Curso de Contabilidade), Verônica Maria (diretora da Escola Aristheu de
Andrade), Maria da Silva, Jaqueline Domingos, Gilvan José, Miguel Florêncio e Lucineide Maria
(professores), além dos estudantes Genésio, Robertinho Carneiro, Jefferson Macêdo, Erivan
Soares da Silva, Rosejane Wanderley, Apolônia Luna, Meilton Luna, Reginaldo Luiz, Bráulio
Cosmo, Lucinalda Andrade, Ednaldo Jorge, Juliana Maria, Andreza Marques, Juliana Maria,
Maria Verônica, Rodemendes Wanderley, Manuela Domingos, Regina Marques, Daula M. G.
Lúcio e Ivânia M. B. Silva. A mesa diretora dos trabalhos foi composta por Gisélia Sobreira,
Edson Alves, Josefa A. S. Borges, Verônica Maria, Maria da Silva, Jaqueline Domingos e
Lucineide Maria. Finalizada a contagem dos votos pela mesa diretora, foi declarada eleita com
507 votos a Chapa 3 – “UMEL de Cara Nova” liderada por Genésio e Robertinho Carneiro, com
uma diferença de 246 votos para a segunda colocada e, 408 votos da terceira colocada. Para à
presidência do Grêmio Estudantil Antônio Lins da Rocha foi eleito o companheiro Jefferson
Macêdo. E no Grêmio Estudantil Cenecista elegeu-se a Chapa “Única” – Erivan Soares e
Rosejane G. Wanderley. Enquanto isso, a disputa da presidência do Grêmio Estudantil Aristeu
de Andrade foi mais acirrada entre os primos “Luna”. Mesmo assim, a Chapa 2 – Meilton Luna
e Reginaldo Luiz venceu com uma diferença de 49 votos.
Resultado por educandários – Eleição UMEL/1994
Colégio Cenecista Pe. Francisco - CNEC
Chapa Candidato Votação
1 Francisco José Borges Amâncio /
Alexandre Gilberto Sobreira 55
2 Cícero Manoel da Silva /
Luciano Jose da Silva 02
3 Genésio da Silva /
Roberto Carneiro da Silva Júnior 101
Nulos 03
Brancos 01
Total 102
Escola de 1o e 2o Graus Antônio Lins da Rocha
79
Chapa Candidato Votação
1 Francisco José Borges Amâncio /
Alexandre Gilberto Sobreira 93
2 Cícero Manoel da Silva /
Luciano Jose da Silva 04
3 Genésio da Silva /
Roberto Carneiro da Silva Júnior 223
Nulos 06
Brancos 03
Total 329
Escola de 1o Grau Aristheu de Andrade
Chapa Candidato Votação
1 Francisco José Borges Amâncio /
Alexandre Gilberto Sobreira 104
2 Cícero Manoel da Silva /
Luciano Jose da Silva 03
3 Genésio da Silva /
Roberto Carneiro da Silva Júnior 179
Nulos 08
Brancos
Total
NACES (Supletivo 1o Grau)
Chapa Candidato Votação
1 Francisco José Borges Amâncio /
Alexandre Gilberto Sobreira 09
2 Cícero Manoel da Silva /
Luciano Jose da Silva 00
3 Genésio da Silva /
Roberto Carneiro da Silva Júnior 14
Total 23
80
Votação dos candidatos a Presidente da UMEL – Gestão: 1994/1996
Chapa Candidato Votação
1 Francisco José Borges Amâncio /
Alexandre Gilberto Sobreira 261
2 Cícero Manoel da Silva /
Luciano Jose da Silva 09
3 Genésio da Silva /
Roberto Carneiro da Silva Júnior 507
Nulos 16
Brancos 06
Total 810
Grêmio Estudantil Aristheu de Andrade
Chapa Candidato Votação
1 Apolônia Alzira R. Luna da Silva /
Sandra S. da Silva 114
2 Meilton Luna /
Reginaldo Luiz 163
Nulos 11
Brancos 08
Total 296
Passeata marca aniversário do Mandacaru
Uma passeata com mais de 600 pessoas pelas principais vias públicas da cidade, no dia
20 de agosto de 1994, marcou as festividades em homenagem ao terceiro aniversário do
Mandacaru. O ato foi organizado pela Associação dos Moradores do Mandacaru.
O presidente da AMM, Maurício Pereira de Souza, contou com as presenças dos
membros do MST-AL, Eloísa Gabriel e Adelmo Lins; dos presidentes do PT e da UMEL,
respectivamente, Jair de Assis e Júnior Amorim; além da vice-prefeita de Maceió e candidata a
deputada estadual, Heloísa Helena e do presidente da CUT-AL e candidato a deputado federal,
Paulo Fernando dos Santos Paulão), ambos pelo Partido dos Trabalhadores.
O ato encerrou-se após discursos dos líderes ao lado da quadra de esportes, num
palanque improvisado com um caminhão. Na ocasião, a cúpula do governo municipal mandou
81
desligar os refletores. Apesar desta baixa, a festa não perdeu o brilho, pois a lua, as estrelas e o
povo foram testemunhas da verdade.
I Torneio Veteranos de Futsal
Através da UMEL e com a coordenação do desportista João Reis de Figueiredo, realizou-
se o I Torneio Veteranos de Futsal, no dia 21 de agosto de 1994, na Quadra Municipal Mané
Garrincha. Participaram da competição os seguintes clubes: ASV, Veteranos F. C. (Barrigudos),
ASPA, Garagem F. C. de Veteranos, Usina Taquara e Polícia Militar.
O torneio contou com o patrocínio da Drogaria Central, da Casa São Geraldo e do
vereador Severiano Freitas. Resultados dos jogos da 1a fase: pelo Grupo “A” ASV 1 x 3 ASPA,
Garagem 4 x 5 ASV e ASPA 5 x 1 Garagem; e pelo Grupo “B” PM 1 x 2 VFC (Barrigudos), Usina
Taquara 2 x 4 PM e VFC (Barrigudos) 8 x 0 Usina Taquara. Placar das partidas das semifinais:
ASPA 4 x 4 PM (nos pênaltis: ASPA 4 x 3) e VFC (Barrigudos) 1 x 2 ASV.
Na final, o ASPA goleou o ASV por 5 a 0, sagrando-se campeão invicto. Os gols foram
marcados por Miro e Valter (2) e Girico (1). Miro, do ASPA, foi o artilheiro do torneio, com 7
gols assinalados. Na cerimônia de premiação, o presidente da UMEL, Júnior Amorim e o
desportista João Reis de Figueiredo, condecoraram o campeão e o vice-campeão,
respectivamente, com troféus e medalhas de honra ao mérito. A festa encerrou-se com um
coquetel oferecido aos atletas e convidados.
Erivan Soares empossa diretoria do Grêmio Cenecista
No dia 14 de setembro de 1994, o presidente Erivan Soares da Silva juntamente com a
sua vice-presidente Rosejane Gama Wanderley, empossaram a mais nova diretoria do Grêmio
Estudantil Cenecista Pe. Francisco.
A diretoria que responderá por um mandato de um ano (14/09/94 a 14/09/95), é
formada pelos seguintes membros: Gilberto Sobreira (secretário geral), Daniela Karlla
(tesoureira), Orlando José (diretor de esportes), Juliana Maria (diretora de imprensa), Patrícia
Palmeira (diretora de educação), Márcio Araújo (diretor de patrimônio), Rosilene Maria da
Silva (diretora de cultura), Josivânea Nunes (diretora social) e Gilvaneide Bezerra (conselheira
fiscal).
Nota-se nesta composição a mensagem de diretores com vasta experiência, entre eles,
destacamos os ex-diretores da UMEL: Gilberto Sobreira, Daniela Karlla, Patrícia Palmeira e
Josivânea Nunes.
82
Transição de cargos: o novo presidente da UMEL, Genésio é empossado em cerimônia
bastante festiva
O presidente Júnior Amorim, da UMEL, empossou como novo presidente da entidade na
noite de sábado, dia 17 de setembro de 1994, o jovem Genésio da Silva, de 18 anos. A
solenidade aconteceu no Clube UDAL, com presenças do padre Aldo Giazzon; do juiz Antônio
Luna da Silva; da diretora Gisélia F. Sobreira, do Colégio Cenecista Pe. Francisco – CNEC; do
presidente Maurício P. de Souza, da Associação dos Moradores do Mandacaru; do vereador
Severiano Freitas; do coordenador Adelmo Lins, do MST-AL; da advogada Almira Melo; da
presidente Luciana Freitas, do Diretório M. do PMDB; do ex-presidente Caetano Monteiro de
Lima, do Grêmio Estudantil Antônio L. da Rocha; do militante Romildo Laurentino, do PT de
Colônia Leopoldina; da diretora Amara Marques de Araújo, da ATRAPO; dos educadores –
Adelmo de Oliveira Torres e Elda Brito; e das estudantes Ivânia M. B. Silva e Apolônia Luna,
dentre outras personalidades de renome no município.
A formação da mesa foi composta por Júnior Amorim, Vilma F. B arbosa, Gilberto
Sobreira, Lenilda Maria, Chico Amâncio, Elisa M. Balbino, Carlinhos Claudino, Daniel Amâncio,
Sandra Soares, Érica Valérica, Patrícia Palmeira, Cícero Manoel e Josivânea Nunes.
Na oportunidade, o presidente Júnior Amorim, fez a saudação aos presentes
reafirmando a importância da entidade na questão das ações em relação aos estudantes do
município. Em seguida, os diretores Gilberto Sobreira e Lenilda Maria leram, respectivamente,
a “Ata da Eleição-1994” e a “Prestação de Contas da Gestão-1992/94”. No momento da
transição da presidência, Genésio assinou com os demais diretores o termo de posse e
recebeu das mãos de Júnior Amorim a chave da Sala de Leitura Everaldo Araújo Silva. Após
assumir à presidência, Genésio antes mesmo do seu primeiro pronunciamento, franqueou a
palavra a plateia.
Ativo na defesa dos interesses sociais, o vereador Severiano Freitas (PMDB), em suas
palavras elencou o trabalho da UMEL e comprometeu-se em manter forte e firme sua relação
de contribuição também com a nova diretoria ora empossada. O segundo orador, Adelm Lins,
coordenador do MST-AL, enfatizou o papel positivo de transformação que a UMEL promoveu
com esforço junto a comunidade escolar ao longo desses dois primeiros anos de fundação.
Representando a categoria estudantil, Apolônia Luna, 8a série da Escola de 1o Grau Aristheu de
Andrade, não economizou elogios aos ex-diretores da UMEL, destacando-os pela coragem e
pela mensagem de garra e de dedicação, que encararam os obstáculos em prol de uma melhor
qualidade de vida para o povo leopoldinense.
83
Em discurso cauteloso, Genésio disse que iria conduzir a UMEL com novas mudanças em
sua estrutura política. Falou também que a incumbência de dirigir a entidade é de toda a
equipe, e que buscará parceria principalmente junto aos seus aliados. No entanto, defendeu a
autonomia da UMEL. Segundo ele, este ponto tem que ser preservado. Finalizou agradecendo
feliz aos que depositaram confiança em seu grupo, particularmente na sua pessoa. O
secretário-geral Saulo Wilker, um dos líderes da nova diretoria da entidade, frisou em seu
pronunciamento que a partir daquele momento, iniciaria uma nova fase na política estudantil.
Segundo ele, a UMEL adotará uma postura menos agressora nos embates políticos.
Diretoria da UMEL (Gestão: 1994/96)
Presidente: Genésio da Silva: Vice-presidente: Roberto Carneiro da Silva Júnior;
Secretario geral: Saulo Wilker Marques Silva; Assessora geral: Maria Dagmar Barbosa; Diretor
de patrimônio: Sandoval da Silva Almeida; Diretores financeiros: Luis Carlos da Silva do
Nascimento e Maria Verônica; Diretores de cultura; Vitalino do Nascimento e Erivelton José da
Silva; Diretores de esporte: Ivanilson José da Silva e Alessandro da Silva Pereira; Diretores de
educação: Wagner Lins Cavalcante e Silvanio dos Santos; Diretores de política: José Ferreira da
Silva e Paulo Edson Araújo; Diretores de imprensa: Wellington Sandro Silva de Carvalho e Jorge
Alexandre da Silva; Diretores de direitos humanos: Valdemir Agustinho de Souza e Maria das
Graças da Silva; Diretores de Assuntos sociais: Márcioi Moreira Bezerra Silva e Gilvaneide
Maria da Silva.
Música é vida
Através da iniciativa do escritor Everaldo Araújo Silva, com o apoio do músico Vitalino do
Nascimento e de Paulo Edson Araújo, respectivamente, diretores de Cultura e de Política da
UMEL, fundou-se uma entidade em homenagem a um dos mais conceituados músicos
leopoldinense, o ex-professor Sebastião Silva Braga (Bastos), no dia 18 de setembro de 1994.
O evento se deu no Centro Paroquial, com presenças de mais de 50 pessoas
representando diferentes segmentos da sociedade leopoldinense. A entidade foi batizada de
Sociedade Musical Prof. Sebastião Braga. Durante a solenidade, o escritor Everaldo Araújo
Silva explicou que o principal objetivo da sociedade musical ora constituída, será executar um
trabalho árduo com crianças e adolescentes carentes em faixas etárias entre 07 aos 17 anos,
84
onde terão a oportunidade de receberem ensinamentos gratuitamente, de aulas teóricas e
práticas de música instrumental.
Outro ponto importante deste projeto, é que os seus fundadores espelham-se no
exemplo bem-sucedido da Fundação Música e Vida dos Meninos de São Caetano, coordenado
pelo maestro Mozart Vieira, no município de São Caetano do Sul – PE.
O governo de Genésio
Em outubro de4 1994, a diretoria da UMEL através do seu presidente Genésio da Silva,
lançou com uma nova face a primeira edição do Jornal Voz Estudantil. O jornal enfocou os
principais acontecimentos aos meses de setembro e outubro.
Para a tiragem deste boletim noticioso e de grande valia para a categoria estudantil, a
entidade contou com o apoio expressivo da Prefeitura Municipal de Colônia Leopoldina, da
Câmara M. de Vereadores, do Comercial Rocha Ltda. e da Paróquia Nossa Senhora do Carmo.
Levando sempre informações importantíssimas em suas páginas com conteúdos verídicos e
imparciais, o informativo destacou-se mais uma vez junto a todos os setores da sociedade.
Entre os textos em vitrines, a matéria com o título “Desafio”, de autoria de Paulo Edson
Araújo, abordou a capacidade de ler e escrever. Outro texto que mereceu a atenção especial,
com o título “Conquista”, escrito pela secretária municipal de Educação, professora Anita
Borges, tratava do drama da categoria do Magistério.
A equipe de coordenação da “Horta Nossa Esperança”, da ATRAPO, deu também sua
parcela de contribuição para a redação do jornal, com o tema “Esperança”. A reportagem
referiu-se a história da fundação do projeto da horta, no qual divulgou os dados das atividades
desenvolvidas pela equipe com as crianças carentes do nosso município.
85
Capítulo VII – Depoimentos e cartas
Ter acompanhado Júnior Amorim, para mim foi de uma satisfação imensa, pois sua garra
e determinação fazem dele este líder nato, a quem tive a honra de trabalhar ao seu lado
e, ter aprendido tantas coisas com ele. Sempre firme e forte nas suas decisões, tornou-
se um irmão, um companheiro de luta a quem admiro e respeito.
Vilma Ferreira Barbosa
(ex-vice-presidente da UMEL 1992/94)
Transcendente, dotado de virtude simples, mas bem definidas, demonstrou veemência,
compatibilidade e, sobretudo, seriedade. Digno representante dos interesses coletivos
dos estudantes.
Francisco José Borges Amâncio
(ex-diretor da UMEL 1992/94)
Comentar sobre Júnior Amorim, é lembrar o sucesso do movimento estudantil. O que
ele deixou de lembrança do seu mandato como presidente da UMEL, foi a realização de
uma conquista em favor da massa estudantil. Nenhuma forma de agradecimento do
mundo, pode recompensar o que ele realizou por nós: fez com que nos acreditássemos
no valor que tem um estudante. E soube mostrar a nossa sociedade que “os estudantes
unidos ninguém os detêm”. Em nome de todos os estudantes, obrigada Júnior Amorim,
por ter feito de nós verdadeiros estudantes.
Apolônia Alzira Rodrigues Luna da Silva
(ex-estudante da Escola Aristheu de Andrade)
A princípio, gostaria de parabenizá-lo pela atuação da UMEL. Fico muito feliz em saber,
que não é só nas capitais que pulsa o movimento estudantil (...).
José A. Parente (Totó)
Coordenador Geral da UBES São Paulo SP, em 12/07/93
(...) Queremos trocar ideias com você no que diz respeito a visão política da UMEL, em
relação ao nosso pais.
Cláudia V. Cavalcante
Diretora da UBES e Secretária-Geral da UMES
São Paulo – SP, em 07/01/94
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87
Capítulo VIII - Entrevistas
“... A luta pelo direito é constante, e deve ser o ideal de toda
sociedade organizada...”
ANA FLORINDA M. DA SILVA DANTAS
Juiz de Direito
Entrevista concedida ao presidente Hamilton Alexandre da Silva, do
Grêmio Estudantil Antônio Lins da Rocha e publicada no Jornal do
Estudante em 08 de outubro de 1991.
Ana Florinda Mendonça da Silva Dantas, 37 anos, nasceu em Salvador – BA. Magistrada
em Direito pela Faculdade de Salvador – BA, advogou durante 09 anos, os quais exerceu como
Procuradora do Estado da Bahia. Vinda para Alagoas, prestou concurso para o Tribunal de
Justiça no cargo de juiz de direito, e aprovada com mérito e competência, é hoje a juíza da
nossa comarca. Nesta entrevista, a juíza aborda assuntos polêmicos, inclusive, a ação do MST
na ocupação do terreno localizado no Engenho Santo Antônio, propriedade da Companhia
Habitacional Popular do Estado de Alagoas COHAB/AL, em 20 de agosto de 1991, por cem
famílias carentes que recebeu o nome de Mandacaru.
Jornal do Estudante – De que forma a senhora ver o nosso município?
Juíza – Como um reflexo das dificuldades pelos quais passa o país e o Estado de Alagoas
em particular.
Jornal do Estudante – O que deveria mudar?
Juíza – As mudanças necessárias são as mesmas esperadas no país: a visão do
desenvolvimento do município como um todo, em que seja dada prioridade à educação, à
saúde e ao desenvolvimento social.
Jornal do Estudante – Como a senhora ver o ensino do município?
Juíza – Possuo poucas informações a respeito, mas tenho uma visão positiva dos
resultados, a partir do nível dos auxiliares com que conto.
Jornal do Estudante – Ao lançar o Concurso de Redação qual era o seu objetivo?
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Juíza – O concurso é uma experiência que teve início no município de São Sebastião –
AL, minha primeira comarca. O seu objetivo é levar ao jovem estudante a refletir sobre um
tema que considero relevante naquele momento, despertando discussões e debates a seu
respeito.
Jornal do Estudante – Já foi criado o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do
Adolescente – CMDCA?
Juíza – O Conselho Titular já foi criado através da lei municipal, mas ainda não ocorreu a
sua implantação, que é uma das minhas prioridades no momento. Será o tema de palestra a
ser proferida pelo promotor da comarca no próximo dia 15 de outubro, às 19:00h, no Salão
Paroquial.
Jornal do Estudante – Os “menores de rua” estão aumentando cada vez mais em
Colônia. O que fazer para reverter este quadro?
Juíza – Trabalhar muito, enfrentando a falta de condições e usando toda a equipe
disponível. Foi criado recentemente um grupo de Comissários Orientadores, que vêm atuando
no cadastramento dos menores que apresentam comportamento desajustado socialmente, e
acompanhando os casos junto às respectivas famílias. Estamos ainda desenvolvendo vários
projetos que serão apresentados à comunidade no encontro programado para o dia 15
próximo. A participação da comunidade é fundamental para o êxito desse tipo de trabalho.
Jornal do Estudante – O Executivo e Legislativo têm contribuído para chegar a uma
solução?
Juíza – Tenho notado um interesse na cooperação, e espero que diante de propostas
concretas a colaboração se efetive. Até o momento tanto o Legislativo com a apresentação do
projeto de lei regulamentando a atividade do Conselho Tutelar do município, como o
Executivo, aprovando e sancionando a lei, não nos tem faltado com o apoio necessário.
Jornal do Estudante – A senhora criou o Comissário de Menores. Para que serve?
Juíza – O seu objetivo é o acompanhamento e a orientação dos casos de crianças e
adolescentes com desajustes sociais ou que pratiquem infrações, buscando facilitar a
integração desses jovens com a comunidade, prevenindo futuras ocorrências de maior
gravidade.
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Jornal do Estudante – No Brasil, a violência e o extermínio de menores vêm mais por
parte de policiais. O que fazer para acabar com isto?
Juíza – Cada caso deve ser apurado, e punido com rigor os culpados. O trabalho
preventivo, como o que pretendemos realizar, visa justamente evitar que em nosso município
o problema atinja níveis de maior gravidade.
Jornal do Estudante – A senhora acha que é necessário uma mudança na Constituição?
Juíza – Sim, desde que seu objetivo seja um aprimoramento das instituições e não um
pretexto para retrocessos nos direitos já conquistados pelos cidadãos.
Jornal do Estudante – É legal o Movimento do Sem Teto?
Juíza – Eventualmente tais movimentos podem ignorar as normas legais, pois se
constituem em mecanismos de pressão para modificar uma situação social que lhe é adversa.
Jornal do Estudante – Qual o seu parecer sobre a violência ocorrida em Maceió com os
sem teto?
Juíza – Toda violência deve ser condenada, pois não constrói. Quanto ao episódio em
particular, tudo o que sei é fruto de leitura dos jornais, que nem sempre espelham a realidade,
e portanto me sinto incapacitada para emitir uma opinião mais contundente. Em princípio sou
contra toda forma de violência.
Jornal do Estudante – Todo trabalhador tem direito no mínimo a um salário. O que fazer
para o cumprimento desta lei?
Juíza – Recorrer aos mecanismos que a lei põe à disposição do cidadão para fazer valer
os seus direitos. A luta pelo direito é constante, e deve ser ideal de toda sociedade organizada.
A cada direito que tenha sido desatendido corresponde um meio de faze-lo efetivo, cabendo
ao cidadão prejudicado buscar a orientação de um profissional de direito para dar a solução
ideal e adequada para cada caso.
Jornal do Estudante – O Grêmio Estudantil Antônio Lins da Rocha tem como objetivo o
desenvolvimento da educação e o bem-estar da sociedade. Para isto, criamos o nosso jornal. O
que a senhora acha desta iniciativa?
Juíza – Desde o primeiro numero que recebi e li, venho acompanhando com atenção e
entusiasmo esse trabalho, que considero da maior importância, pois revela nos seus
idealizadores e colaboradores a existência de uma mobilização, de um ideal em prol dos seus
90
objetivos. O grêmio estudantil está de parabéns pela iniciativa, que espero se desenvolva a
cada dia, inclusive com execução de outros projetos com o entusiasmo e a criatividade que nal
faltam aos seus membros.
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“... Os mandacarus se multiplicarão à medida que as instituições de
hoje e de amanhã, acumularem riqueza e poder a custa dos mais
fracos...”
ALDO GIAZZON
Padre
Entrevista concedida ao presidente Hamilton Alexandre da Silva, do
Grêmio Estudantil Antônio Lins Rocha e publicada no Jornal do
Estudante em 14 de fevereiro de 1992.
O padre Aldo Giazzon nasceu na cidade de São Giustina – Belluno, na Itália, no ano de
1938. Desde 1984 é o pároco da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Carmo. Em 1988, foi o
principal fundador da Associação de Trabalhadores e Pequenos Produtores Rurais – ATRAPO,
em Colônia Leopoldina. Destaca-se a seguir, nesta entrevista os mais importantes assuntos
sobre catolicismo, teologia, moradia popular, educação, política entre outros mais.
Jornal do Estudante – Segundo pesquisas dos meios de comunicação e da própria igreja,
o catolicismo sofreu uma queda no Brasil. Ao que o senhor atribui esta crise?
Pe. Aldo – Para mim, não há “queda”. Quem antigamente se declarava católico,
frequentar a igreja ou frequentando outras, hoje se sente mais livre e se declara o que ele é.
Por outro lado, entendo que há maior compromisso, interesses e entendimentos daqueles que
hoje frequentam a igreja, assumindo tarefas que pareciam exclusivas do padre, exemplo:
encontros explicando a palavra de Deus, levar a comunhão aos enfermos, etc.
Jornal do Estudante – Uma pesquisa realizada pelo IBGE diz que 72% da população é
católica, mas 7 entre 10 brasileiros frequentam cartomantes, videntes e sessões espíritas. A
igreja perdeu sua articulação entre os brasileiros?
Pe. Aldo – Não cabe à igreja “articular” todos os brasileiros, indagar sobre o futuro é
próprio do homem, consultar cartomantes e videntes pode ser pouca fé no Deus vivo, mas
sabemos que pessoas dotadas de percepção, podem descobrir coisas da vida de alguém. Pela
ciência, sabemos que a mente tanto tem capacidade de transmitir o pensamento como de
captar o pensamento de outros.
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Jornal do Estudante – O Sr. acha que hoje se desvanece o temor de pecar e de ser
punido por isso?
Pe. Aldo – Os valores que a sociedade apresenta (poder, dinheiro, vaidade,
aproveitamento só para si, individualismo, etc.), são tidos como mais importantes que os
valores do Evangelho (justiça, fraternidade, partilha dos bens, perdão, amor, doação, etc.).
Assim muitos incautos ou ingênuos, sobretudo entre os jovens acham que o bem é seguir que
o mundo apresenta sem medir as consequências, salvo depois de arrepender ou lastimar de
sua sorte!
Jornal do Estudante – O que é Teologia da Libertação?
Pe. Aldo – A Teologia da Libertação o- TLD é um discurso que tem Deus como centro, um
Deus que está presente também nas situações da história, da política, da economia, da
sociologia, etc. Ela pressupõe uma experiência espiritual de encontro com o Senhor na massa
dos pobres, feitos pobres pelo sistema. A Teologia é um esforço de aproveitamento de
sistematização desta experiência. A experiência é algo pessoal e mutável; assim há várias
tendências de TDL.
Jornal do Estudante – Por que o Papa João Paulo II critica a Teologia da Libertação?
Pe. Aldo – O Papa critica certos aspectos da TDL e valoriza outros. No último documento
oficial da igreja (AAS no 76) ao no 24 se lê: “Hoje de um modo totalmente novo, por causa dos
terríveis desafios que a humanidade deve enfrentar, torna-se necessário e urgente que o amor
de Deus e a liberdade na verdade e na justiça imprimam a sua marca nas relações entre o
homem e entre os povos e animem a vida das culturas”. Abre-se diante de nós uma nova fase
da história da liberdade. Liberdade não é fazer não importa o quê: ela é liberdade para o bem,
participatividade de todos no processo de desenvolvimento e no uso dos bens produzidos. Ao
no 42: “Ninguém pode menosprezar seus semelhantes despojando-os injustamente e tratando-
os como objetos ou instrumentos...” Assim é preciso denunciar e mudar aquelas estruturas de
exploração e de servidão que fazem uns ricos mais ricos e outros pobres cada vez mais pobres.
Jornal do Estudante – Por que os conservadores enxergam nas atitudes dos religiosos
ligados à teologia da Libertação casamento do Marxismo com o Cristianismo a razão para o
enfraquecimento da igreja?
Pe. Aldo – A alguns, a igreja parece enfraquecer porque não se desenvolvem algumas
práticas religiosas tradicionais: a outros, porque são derrubados certos privilégios de poder ou
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dominação. Eu penso que onde a igreja está mais comprometida com o povo, aí se torna mais
presente a força de Deus, embora os poderosos queiram abafá-la. Nada de estranho quanto a
isso, pois o pior fizeram com o seu fundador, Jesus Cristo.
Jornal do Estudante – O Sr. acha que a crença e a prática religiosa passaram a ser
individual, ou seja, acreditar em Deus deixou de significar adesão a alguma igreja concreta?
Pe. Aldo – Há uma tendência relevante ao individualismo e a fechar-se em si mesmo.
Alguns ficam desnorteados por causa de tantas “religiões” e acham que qualquer religião é um
modo de viver. Isto me parece bastante negativo. Não vejo porém essa falta de adesão à igreja
concreta, pelo menos em nossa região.
Jornal do Estudante – Como o Sr. ver o nosso município no contexto político, social e
econômico?
Pe. Aldo – Todos se perguntam: porque tantos candidatos, quando têm eleições? Por
que, os candidatos gastam fortunas para poder chegar lá? É só por amor ao povo? Para servir
ao povo, como eles gostam de enganar o povo? Um número considerável de pessoas sabe
quando entra na prefeitura e os que chegam lá, se aproveitam, calam a boca e mamam. Todos
eles calam a boca e se protegem uns dos outros; só assim podem se perpetuar no poder:
poder gera capital e capital gera poder. Já se viu um pobre honesto e inteligente (e tem em
Colônia) entrar no poder? Eu me pergunto: tem pessoas que ganham Cr$ 900.000,00 ou
600.000,00 o que elas fazem de mais importante e de mais nobre que uma professora que
ganha atrasados os miseráveis Cr$ 30.000,00 (30 vezes menos) se esforçando todo dia e
acabando com sua saúde. Uns são super valorizados e outros super desvalorizados.
Jornal do Estudante – Que nota o Sr. avalia os poderes Executivo e Legislativo?
Pe. Aldo – Está na vista! Outo dizer muitas vezes: “Se algum candidato aparecer me
pedindo o voto, só votarei se conseguir este favor (?). Quer dizer que muitos eleitores querem
favores pessoais e não olham o bem comum, quem consegue se eleger, uma vez empossado
no cargo, pode até dizer: “Me elegi com o meu esforço e não devo nada a ninguém”. Está na
vista!
Jornal do Estudante – Como o Sr. observa o ensino em nosso município?
Pe. Aldo – Noto um esforço razoável na sede do município, embora dezenas e dezenas
de crianças, por vários motivos, não tenham condições de frequentar a escola. Parece-me que
nunca se tomou a sério uma verdadeira alfabetização de adultos; no interior a situação é
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lastimável; alguns sítios e fazendas estão completamente abandonados, de número excessivo
de alunos e de várias séries na esma sala etc., e pela vergonhosa exploração da mão de obra
de crianças que têm que trabalhar na cana (até com 7 anos) para ajudar a família.
Jornal do Estudante – Como está o ensino dirigido pela igreja?
Pe. Aldo – A igreja não recebe verba do Estado, pelo menos aqui. Ela tem algumas
classes da alfabetização de adultos na região. A experiência tem dado bons resultados a tal
ponto de nos incentivar a continuar, sobretudo nas periferias.
Jornal do Estudante – A quem o Sr. atribui o problema do Mandacaru?
Pe. Aldo – Todos sabem em que época nasceu o Mandacaru, na entressafra. Surgiu por
falta de: 1o) casa para o povo morar, povo que foi obrigado a sair dos sítios e fazendas sem
indenização, quando não despejado ou corrido; 2o) trabalho e de ganho, como pagar aluguél?
Ganhar 12 e pagar 9?; 3o) condições mínimas de higiene e espaço. Um quarto para 6-7
pessoas, sem água, sem luz e sem sanitário. Tem gente que não quer enxergar esta realidade e
tapa a situação com a força bruta, gastando um dinheirão. Se eu tivesse o dinheiro que foi
gasto para manter a ordem, bem que teria feito já uma dezena de casas e a ordem seria bem
melhor! Os mandacarus se multiplicarão à medida que as instituições de hoje e de amanhã,
acumularem riqueza e poder a custa dos mais fracos.
Jornal do Estudante – No atual quadro politico que se forma para as eleições municipais,
o Sr. vê alguma perspectiva de mudança?
Pe. Aldo – Todos nós acreditamos em dias melhores. Peço a Deus que elejam candidatos
competentes e honestos, e não aqueles que compram votos, fazem ameaças ou roubam na
apuração. Se antes das eleições não são honestos, como o poder ser depois? O povo não se
queixe: tem os governantes que merece!
Jornal do Estudante – O Sr. acredita que o país vai melhorar?
Pe. Aldo – Todo dia há novos planos para melhorar, dizem eles. Só que a corrupção está
se alastrando dos altos escalões aos baixos. Enquanto não entrar na cadeia os verdadeiros
ladrões a coisa vai... vai... não sei se vai melhorar.
Jornal do Estudante – A Festa de São Sebastião correspondeu as suas expectativas?
Pe. Aldo – Desde que cheguei em Colônia, fiz questão que a comunidade participasse o
quanto mais possível. Foi duro nos primeiros tempos, por vícios adquiridos. Aos poucos nós
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começamos a nos entender e assim formamos comissões que com o empenho e sacrifício
assumem as festas. Acredito que a comunidade toda ganhou, por isso me sinto satisfeito e
vemos uma numerosa participação todo ano as nossas festas.
Jornal do Estudante – O Grêmio Estudantil tem como objetivo o desenvolvimento da
educação e o bem-estar da sociedade. O que o Sr. acha do nosso trabalho?
Pe. Aldo – Acho louvável e incentivo, pois é de grande valia para todos.
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“Acho inclusive, que compete aos jovens, especialmente estudantes,
examinarem paciente e cautelosamente cada candidato, seu passado
e seu presente para não se decepcionarem no futuro...”
TEMA GOMES DE MELO
Ex-primeira-dama e pré-candidata a prefeita de Colônia Leopoldina –
AL.
Entrevista concedida ao presidente Hamilton Alexandre da Silva, do
Grêmio Estudantil Antônio Lins da Rocha e publicada no Jornal do
Estudante em 20 de maio de 1992.
Telma Gomes de Melo nasceu no ano de 1936, na cidade de Canavieiras – BA. Ex-
primeira-dama do município, ficou conhecida durante a gestão do seu saudoso marido e ex-
prefeito, José Santa de Melo – o Zé de Melo (falecido em 05/01/980), pela classe menos
favorecida como a “mãe da pobreza” devido a um belíssimo trabalho desempenhado na área
de assistência social em nossa região. A seguir, veremos sua entrevista de capa de campanha,
onde ela aborda sua pré-candidatura a prefeita de Colônia, fala também da educação,
ocupação do Mandacaru, eleições diretas para diretores nas escolas municipais entre outros
temas.
Jornal do Estudante – O que faz uma mulher pública?
Telma Melo – Comete a mulher que assume tarefas públicas uma multiplicidade de
responsabilidades. Por exemplo: viver os problemas da coletividade e não somente vivenciá-
los, mas acima de tudo, buscar soluções; desse modo, para mim, a tribuna da mulher é a rua, o
jardim, o hospital como sua enorme gama de problemas reclamando soluções hábeis e
inteligentes. Enfim, a tarefa principal da mulher pública é o bem-estar da coletividade.
Jornal do Estudante – Qual seu grande projeto de vida?
Telma Melo – Projeto, plano ou ideal? Pouco importa! No momento a mercê de Deus e
dos homens e mulheres desta terra é a combinação de uma Colônia Leopoldina em sintonia
com a própria evolução. A educação tem que estar desempenhando o seu verdadeiro papel;
estímulo a cultura e as artes; frentes de trabalho para oferecer opções ao homem do campo; a
saúde reclama providências inadiáveis na cidade e no interior. Os métodos administrativos
sofrerão profundas transformações, adequando-os às necessidades, sem o sacrifício do erário
público.
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Jornal do Estudante – Seus adversários insistem na sua inelegibilidade. A senhora é
realmente candidata a prefeita?
Telma Melo – Pena que no momento em que estamos diariamente preocupados com as
coisas sérias de interesse coletivo, descompromissados com este mesmo povo, percam-se com
questões menores, o que denota, desde já que não têm aptidão pública. Por esta e outras
razões o homem público, o político está se transformando numa figura repelente e
desacreditada. Sou candidata por imposição popular e disputarei palmo a palmo.
Jornal do Estudante – A senhora é candidata do prefeito?
Telma Melo – Sou candidata, como já disse, do povo de Colônia, quanto ao fato de ser
candidata ou não do senhor prefeito, só o próprio poderá responder. Mais uma vez afirmo:
sou candidata do povo de Colônia, até dos que concorrem comigo. Eu diria até que ficaria
muito bem este slogan de campanha: TELMA E O POVO CONTRA O RESTO.
Jornal do Estudante – O que a senhora achou da GREVE dos funcionários (ocorrida em
abril). Achou justa?
Telma Melo – Da greve em si não gostei, porque conduzida por homens que têm a
responsabilidade de estabelecer a “harmonia e a tranquilidade; não o fizeram há título de que,
não importa”. Pareceu-me que os estimuladores da crise foram incompetentes na mediação,
até defesa em um momento difícil. Acho que antes da eclosão de uma greve devem ser
esgotados todos os recursos, até a exaustão. Não houve isso, houve precipitação de alguns
vereadores, inclusive um que coloca o seu nome ao julgamento popular e seus próprios
funcionários, a um cargo executivo. Pasmem! Sou a favor da greve, quando toda uma classe é
atingida nos seus direitos. Desse modo, achei que os funcionários, reclamando um direito
justíssimo, paralisaram atividades embora reconheça que o destino da citada greve seria outro
caso, os microfones da Câmara de Vereadores estivessem em mãos mais habilidosas,
tranquilas e conscientes das suas graves responsabilidades. Veja-se que a categoria continua
penalizada!
Jornal do Estudante – Os salários dos funcionários são insignificantes. Se prefeita que
soluções a senhora adotará para resolver problema?
Telma Melo – Os salários dos funcionários, não condizem com a realidade, por exemplo,
o salário do professor. Entretanto, aqui em Colônia, um estudo desse problema demandaria
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tempo, administrações passadas, etc. Se eleita, contudo, buscarei num caráter justo, impor um
número de funcionários estritamente necessários, a fim de que se possa realmente pagar um
salário digno e justo. Reconheço com todos que a Prefeitura abriga um contingente muito
grande de funcionários, isto por falta de opções no campo de trabalho, eis porque falei
anteriormente em novas frentes de trabalho, para o binômio prefeitura-campo não sejam as
únicas alternativas.
Jornal do Estudante – Diante da necessidade de democratizar o ensino e sendo uma
reivindicação dos estudantes e professores. A senhora fará eleições diretas para diretores nas
escolas municipais?
Telma Melo – Não vejo o menor problema, desde quando o diretor e demais auxiliares,
assim escolhidos se identificarão melhor, e os jovens estudantes passam a assumir
responsabilidades. Creio na juventude nos seus ideais e jamais iria cerceá-los.
Jornal do Estudante – A educação se encontra em total abandono e descaso material e
pedagógico. A senhora pretende fazer alguma reforma no ensino?
Telma Melo – Não sei até onde vai o abandono mencionado. Contudo a educação será,
se não a meta principal do meu governo, talvez a mais preocupante. Anteriormente já me
referia a esta prioridade. Tratando-se de reforma, tenho a declarar que na educação ele se fará
necessária bem como nos diferentes setores de uma administração dinâmica.
Jornal do Estudante – A senhor foi contra a “invasão” do Mandacaru?
Telma Melo – O termo invasão, por si só, implica em atitude não pacífica. Entretanto,
vivendo o país num sistema eminentemente capitalista, onde o rico tem assento em todos os
lugares, sempre como o melhor, o mais inspirado, o dono das terras e até das verdades, em
geral nada fica para os “descamisados”. Este retrato social leva, muitas vezes, a invasão
similares. É um problema social todo país e somente o futuro vivendo um sistema de governo
justo e democrático por excelência, poderá sanar tais inconvenientes. Acredito que o sol
nasceu para todos e não para alguns poucos privilegiados.
Jornal do Estudante – Dizem que ter muito dinheiro é decisivo numa eleição. Nessa
lógica a senhora acha que o prefeito é “seu” LESSA?
Telma Melo – Não obstante reconhecer a realidade dessa afirmação não acredito que o
dinheiro de A ou B venha decidir o pleito em Colônia. E o povo onde ficará? Sou daquelas que
acredita que este povo de Colônia, não se troca e não se vende. E por acreditar irei até o fim
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ao lado dos humildes. São pessoas que não misturam o joio com o trigo. Tem consciência de
seu valor. Quanto ao candidato citado, admiro-o, mas a resposta se dará nas urnas com o povo
se manifestando livremente.
Jornal do Estudante – A senhora acha que a votação de Júnior Luna para deputada
estadual, refletirá para a eleição dele?
Telma Melo – São duas realidades bem distintas, por isso não acredito nessa suposta
influência. É um jovem com o seu ideal, embora, politicamente, não consiga polarizar
atenções.
Jornal do Estudante – Até que ponto a gestão do seu falecido marido irá lhe ajudar?
Telma Melo – Até o momento em que ele demonstrou ao povo de Colônia, competência
e capacidade, muito especialmente, identificando-se com os problemas do povão. Sua obra foi
interrompida, mas será retomada no meu governo. No seu espírito liberal e democrático devo
tudo. Por isso sou candidata.
Jornal do Estudante – Qual o seu ponto de vista sobre o governo Bilau?
Telma Melo – O senhor prefeito, a meu ver, tem sua maneira de dirigir, tornando-se às
vezes polêmico. Acho desse modo que embora tenha o meu ponto de vista, quanto a
administração atual, julgo inoportuno, estar fazendo o papel de juiz, ora absolvendo, ora
condenando. Acho que o melhor juízo está com a sua própria consciência. Ela sim pode
absolver ou condenar com absoluta segurança. Assim procedo porque nem sempre a nossa
verdade é verdade dos outros, isto é, a nossa verdade, muitas vezes carece de retoques e
reparos.
Jornal do Estudante – A senhora acha que o voto do jovem será decisivo numa eleição
como essa para prefeito?
Telma Melo – Corretíssimo. Nesta eleição o voto do jovem é de importância vital, razão
pela qual, lanço o meu grito de alerta ao jovem, seja ele estudante ou não. Não se deixe
envolver pelas promessas falazes, porque via de regra visam apenas o poder, nunca o
cumprimento do prometido. Certas decepções não têm retorno, pelo menos durante 04
exaustivos anos. Acho inclusive, que comete aos jovens, especialmente estudantes,
examinarem paciente e cautelosamente cada candidato, seu passado e seu presente para não
se decepcionarem no futuro. Creio muito no jovem, na sua força interior e nos seus ideais e na
100
sua própria imaginação. Ajudar participando deste trabalho é a sua própria iluminação. Avante
pois, juventude de Colônia! CONTEM COMIGO!
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“De pleno acordo com eleições diretas, pois seria eleito aquele
funcionário que de fato é amado e respeitado por seus colegas...”.
MARIA DE FÁTIMA FARIAS DOS PASSOS
Professora
Entrevista concedida ao presidente da UMEL, Júnior Amorim e
publicada no Jornal Voz Estudantil, no dia 23 de março de 1993.
Maria de Fátima Farias dos Passos é natural de Colônia Leopoldina – AL, nasceu em
14/04/59, casada, mãe de três filhos. A educadora é uma guerreira com sua liderança política
em favor das causas sociais em nosso município. Nesta brilhante entrevista, ela revela, por
exemplo, que é de acordo com eleições diretas para diretores nas escolas municipais. Aborda
também o descaso com a biblioteca pública, dentre outros tópicos.
Jornal Voz Estudantil – Na greve dos funcionários públicos no dia 22/04/92, a senhora
foi um alvo do esquema do ex-prefeito Lourinaldo de Lima (Bilau), e de sua “equipe”. Portanto,
não está na hora de organizar os funcionários públicos, especialmente os professores e,
eventualmente fundar o SINDICATO?
Profa Fátima Farias – Em abril do ano passado, lutei ao lado de alguns companheiros que
reivindicavam melhor salário. Sofri represálias fortíssimas por parte do Poder Executivo, mas
enfim surtiu algum efeito, pois o salário subiu um pouco. Só que uma luta não se faz só, e
meus companheiros com medo não prosseguiram na luta. Daí, eu tenho certeza se de fato é o
momento do surgimento de um sindicato, que para os menos esclarecidos é fazer oposição;
fato não verídico. No entanto, essa ideia ainda faz parte dos meus pensamentos.
Jornal Voz Estudantil –O sistema mais coerente, correto e democrático é realizar
eleições diretas para DIRETORES nas escolas públicas. A senhora é de acordo com este sistema,
ou prefere nomeação?
Profa Fátima Farias – De pleno acordo com eleições, pois seria eleito aquele funcionário
que de fato é amado e respeitado por seus colegas. Pois o diretor tem que ser querido pelo
“pessoal” e não pelo secretário ou prefeito.
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Jornal Voz Estudantil – A inexistência de uma BIBLIOTECA PÚBLICA é um grande
problema para os professores e estudantes. Considerando que a biblioteca é fundamental para
o desenvolvimento cultural, intelectual dos professores e dos estudantes, a senhora acha que
esta questão não é levada a sério por parte das autoridades competentes do nosso município?
Profa Fátima Farias – Sim, é óbvio o desinteresse; pois já foi solicitado o prédio do antigo
almoxarifado, bem como doações de estantes, mesas e enciclopédias, pois a UMEL se dispõe
de alguns livros e boa vontade de encontrar uma solução para a cultura local.
Jornal Voz Estudantil –A quem a senhora atribui a decadência do ensino público em
nosso município?
Profa Fátima Farias – Em primeiro lugar ao descaso com que é escolhido o corpo docente
das escolas. Depois, a falta de cursos de aperfeiçoamento, e também ao péssimo salário que
não permite ao professor ter um só trabalho. Falta de preparo geral.
Jornal Voz Estudantil –Qual seria a solução ideal para uma educação qualitativa e
quantitativa em nossa cidade?
Profa Fátima Farias – Já falei, teria que haver uma solução para escolha do professor,
bem como, escolas mais agradáveis, menos quentes, e cursos temporários para os professores
além do que um salário justo, para que o profissional tenha incentivo para trabalhar,
pesquisar, sorrir e viver.
103
“O amor pelo trabalho; é como se fosse minha casa, acostumei-me
com a vida no Colégio Cenecista...”.
GISÉLIA FEITOSA SOBREIRA
Secretária do Colégio Cenecista Pe. Francisco – CNEC.
Entrevista concedida ao presidente Arnaldo Sérgio Sobreira, do
Grêmio Estudantil Pe. Francisco e publicada na primeira edição do
Jornal do Estudante, no dia 03 de junho de 1993.
Gisélia Feitosa Sobreira, nasceu em 11 de janeiro de 1943, na cidade de Colônia
Leopoldina – AL. No dia 06 de março de 1967, iniciou sua carreira no Colégio Cenecista Pe.
Francisco – CNEC. Mais tarde, em 1981, foi designada pelo então diretor Antônio Luna da Silva,
para ocupar com mérito o cargo de secretária do referido educandário. Nessa entrevista
exclusiva para o Jornal do Estudantil, a educadora relata a história da fundação do Colégio
Cenecista Pe. Francisco e um pouco dos seus grandes mestres que marcaram época em prol
desse patrimônio do saber de Colônia Leopoldina.
Jornal do Estudante – Como foi fundado o Colégio? Quais foram os seus fundadores?
Gisélia F. Sobreira – Em 20 de janeiro de 1960, na presença do Sr. Narciso César da Silva,
diretor executivo da NECEG (na época) que relatou algo sobre a Campanha Nacional
Educandários Gratuitos no País e Estado, também sobre seu fundador Felipe Tiago Gomes, foi
feita a nomeação da primeira diretoria do setor local. Presidente Manoel Barbosa de França;
vice-presidente Alfredo de Paula Cavalcanti; 1o secretário José Araújo de Luna; 2o secretário
Gilberto de Paula Cavalcanti; tesoureiro Heitor de Lima Vasconcelos.
Jornal do Estudante – Após sua fundação quanto tempo levou para ser registrado?
Gisélia F. Sobreira – Em 05 de maio de 1960, o Ministério da Educação e Cultura (MEC)
autorizou o funcionamento como estabelecimento de ensino do 1o grau, pela portaria no 318;
em 1971, por um Decreto Governamental foi autorizado o funcionamento do 2o grau, por
prazo indeterminado (Decreto Gov. no 1897, de 26/04/71).
Jornal do Estudante – Onde funcionava o Colégio?
Gisélia F. Sobreira – No prédio do Grupo Escolar Aristheu de Andrade.
104
Jornal do Estudante – Qual foi o seu primeiro diretor?
Gisélia F. Sobreira – Padre Afonso Winhowen SCJ, vigário da Paróquia de Nossa Senhora
do Carmo.
Jornal do Estudante – Quantos diretores já direcionaram o Colégio?
Gisélia F. Sobreira – Oito, são eles: Pe.l Afonso Winhoven SCJ, Dr. Neyder Alcântara de
Oliveira, Pe. Jorge, Dr. Solalberk, Dr. Antônio Luna da Silva, José Meira Lins, José Araújo de
Luna e Severino Cavalcante de Almeida.
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Jornal do Estudante – Qual foi o primeiro quadro de professores?
Gisélia F. Sobreira – Jesus Piauiense de Arêa Leão, Pe. Afonso Winhoven SCJ, Celestina
Cavalcanti Lima de Vasconcelos, Antônio Luna da Silva, Heitor Lima de Vasconcelos, Manoel
Freire Borges e Maurício Siqueira Campos.
Jornal do Estudante – Sabemos que o Cenecista possui um Conselho, quem compõe esse
Conselho?
Gisélia F. Sobreira – Manoel Benedito da Silva, João Severino da Silva, José Acioly Maciel
e Severino Inácio da Rocha (comerciantes); José Alves Caldas Júnior e Severiano José de Freitas
Souza (políticos); e Maria Cely Passos (professora).
Jornal do Estudante – Essas pessoas que compõe o Conselho são ligadas a educação, sim
ou não, por quê?
Gisélia F. Sobreira – Apenas a professora Maria Cely Passos está ligada a educação, os
demais são comerciantes e políticos. Foi a indicação feita pelo senhor diretor e aprovada em
reunião para o prazo de 02 anos.
Jornal do Estudante – Quais as principais dificuldades enfrentadas pelo colégio hoje?
Gisélia F. Sobreira – Principais dificuldades são: a falta de um prédio para melhor
acomodação; pouca renda, impossibilitando um melhor salário aos funcionários; a falta de
firmeza nas decisões da direção no tocante a disciplina; falta de uma máquina de datilografia.
Jornal do Estudante – Gisélia, com todos os aborrecimento que você enfrenta no
cotidiano do estabelecimento de ensino e com a pouca remuneração que recebe, o que a faz
continuar?
Gisélia F. Sobreira – O amor pelo trabalho; é como se fosse minha casa, acostumei-me
com a vida no colégio. A gente sofre, passa decepções, mas tem momentos gratificantes. É
bom encontrar um ex-aluno que passou pelo nosso colégio dizer, que eu era muito exigente
“braba”, mas esse aluno tem um bom emprego lá fora. Como contribuímos para o INSS, resta-
me a esperança de, daqui há 05 anos ter uma aposentadoria, se Deus me conceder a graça de
chegar até lá.
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“Afirmo com toda segurança que enquanto estiver sendo editado o
Jornal do Estudante a classe estudantil leopoldinense terá VOZ e VEZ.
ADELMO DE OLIVEIRA TORRES
Professor
Entrevista concedida ao presidente da UMEL, Júnior Amorim e
publicada no Jornal Voz Estudantil em 03 de junho de 1993.
Adelmo de Oliveira Torres, nasceu em 15 de março de 1960, no município de Colônia
Leopoldina – AL. É professor na Escola de 1o e 2o Graus Antônio Lins da Rocha (Curso de
Contabilidade) e no Colégio Cenecista “Pe. Francisco” (CNEC), onde desenvolve e defende uma
política pedagógica com gestão democrática. Em entrevista ao JVE, ele destaca, inclusive,
pontos importantes do anseio da comunidade leopoldinense, que prioritariamente deveriam
ser solucionáveis pelos poderes Executivo e Legislativo. Como por exemplo, a política salarial
do corpo docente, a estruturação da biblioteca pública, e sugere uma nova edição da Lei
Orgânica do município.
Jornal Voz Estudantil – O sistema mais coerente, correto e democrático é realizar
ELEIÇÕES DIRETAS PARA DIRETORES nas escolas públicas. O senhor é de acordo com este
sistema ou prefere nomeação?
Prof. Adelmo Torres – Sou totalmente a favor de eleições diretas para diretores, pois
neste processo podemos aliar competência com legitimidade. A nomeação é sempre
decorrente de acordos políticos, impossibilitando a direção tomar decisões de ordem
administrativas sem consultar o grupo que a nomeou.
Jornal Voz Estudantil – Se o senhor fosse diretor do Curso de Contabilidade eleito pelos
estudantes, pais e professores. Que atitude tomaria no sentido de informatizar, desenvolver
uma proposta de salário digno para os professores e, especialmente, conscientizar o estudante
de sua participação no meio social?
Prof. Adelmo Torres – Antes de responder a esta pergunta, quero registrar que tive a
honra de ser convidado para dirigir o Curso de Contabilidade pela atual secretaria de
Educação, professora Anita Borges, e que por divergências no acerto de pagamentos da hora-
aula não fui efetivado como diretor. Com relação a informatização no sentido de
107
investimentos em computadores e aplicativos, é fundamental que antes se invista no professor
em todos os aspectos, inclusive o financeiro. A questão da proposta salarial só será possível
quando houver uma integração maior entre professores, alunos, pais de alunos e governantes,
hoje tão dispersos. Com relação a participação dos alunos nos movimentos sociais, é tarefa
dos professores incentivá-los e conscientizá-los da importância destes movimentos.
Jornal Voz Estudantil – Como o senhor analisa a direção do CURSO DE CONTABILIDADE e
seu quadro de professores?
Prof. Adelmo Torres – Direção e professores do Curso de Contabilidade, para mim, são
verdadeiros heróis, pois ensinam em condições precárias, mas são movidos por um senso de
responsabilidade e dedicação que só o amor ao magistério e a consciência do dever cumprido
explica.
Jornal Voz Estudantil – A evasão escolar vem aumentando a cada mês, especialmente no
Contabilidade. O senhor atribui este problema a que fator?
Prof. Adelmo Torres – Evasão é um problema que vem sendo detectado em todas as
escolas do país. Os motivos são generalizados, como ingresso no mercado de trabalho, não
permitindo a conciliação de horários, sucateamento das escolas públicas, exploração das
mensalidades das escolas particulares e principalmente o descrédito nas instituições. Enfim,
ausência total de perspectivas.
Jornal Voz Estudantil – O senhor tem esperança em uma política salarial mais digna para
a classe?
Prof. Adelmo Torres – A partir do momento em que os quatro pilares de sustentação, ou
seja, professores, alunos, pais de alunos e governantes perceberem que não estão indo a lugar
nenhum, tomara que não seja tarde demais. Aí sim, a política salarial sairá do verbo.
Jornal Voz Estudantil – A falta de investimentos materiais e salariais impossibilitam um
bom rendimento do professor?
Prof. Adelmo Torres – Por mais criativo e competente que seja um professor, se não
houver infraestrutura que lhe permita desenvolver o seu trabalho, o rendimento
inevitavelmente ficará comprometido.
Jornal Voz Estudantil – Como o senhor vê a direção do Colégio Cenecista?
108
Prof. Adelmo Torres – Escolas comunitárias em todo o país sempre tiveram um perfil
conservador e os seus dirigentes não fogem a regra. É necessário que a escola participe mais
dos problemas das comunidades, senão estará entrando na contramão da modernidade.
Jornal Voz Estudantil – Que nota o senhor dá ao atual governo municipal?
Prof. Adelmo Torres – Infelizmente a população leopoldinense tem pouco a comemorar
neste primeiro quadrimestre de governo. Governantes e governados falam línguas diferentes e
isto não é bom para o município.
Jornal Voz Estudantil – Que nota o senhor atribui aos vereadores?
Prof. Adelmo Torres – Não tenho informações de que tipo de trabalho ou linhas de ação
vem sendo realizado pelos vereadores. Há uma distância enorme entre os representantes do
povo e a comunidade. É necessário que os vereadores tomem a iniciativa de convidar
membros da comunidade para juntos discutir os reais problemas que os afligem. Achei
interessante o lançamento do JORNAL TRIMESTRAL pela Câmara de Vereadores, mas seria
interessante também uma nova tiragem da “Lei Orgânica do Município” pois 90% da
população não tem.
Jornal Voz Estudantil – Jornal Voz Estudantil – Qual em sua opinião o vereador (es) que
está (ão) atuando em defesa dos professores, estudantes, enfim, da sociedade leopoldinense?
Prof. Adelmo Torres – O vereador Severiano Freitas tem se revelado um defensor
atuante nos problemas concernentes à educação como um todo. A sua solidariedade em
momentos difíceis de alunos e professores é importante e gera resultados positivos.
Jornal Voz Estudantil – A leitura é fundamental para o desenvolvimento cultural,
intelectual e profissional de um indivíduo. O senhor é de acordo que a falta da regulamentação
e funcionamento pleno da BIBLIOTECA PÚBLICA, faz com que os estudantes não se interessem
pela leitura?
Prof. Adelmo Torres – A criação da Biblioteca Municipal seria o “ponto inicial” para uma
virada, para incentivar os estudantes a se habituarem a ler. Enquanto não tivermos esta
biblioteca estaremos indo a lugar nenhum.
Jornal Voz Estudantil – Esta é a quinta edição do nosso Jornal Voz Estudantil, para o
senhor estamos num caminho certo?
109
Prof. Adelmo Torres – Afirmo com toda segurança que enquanto estiver sendo editado o
Jornal do Estudante a classe estudantil leopoldinense terá VOZ e VEZ.
Jornal Voz Estudantil – Com base na experiência deste jornal, decidimos sair o
TELEUMEL, com o objetivo específico de realizar entrevistas com personalidades de vários
setores da sociedade leopoldinense e outros. Este meio de informar é viável para o
desenvolvimento da cidade. O senhor aprova esta iniciativa?
Prof. Adelmo Torres – Estamos vivendo uma nova ordem mundial, onde o papel da
imprensa é bastante significativa, principalmente, a imprensa investigativa. E importante
modernizar e diversificar as formas de entrevistas como no caso TELEUMEL. A sociedade
leopoldinense já percebeu a seriedade como a UMEL vem desenvolvendo o seu trabalho e isto
é prova de maturidade e pleno exercício da cidadania.
110
“A UMEL, órgão estudantil do município, tem tido, segundo meu
conhecimento, uma atuação concreta, efetiva no tocante a defesa
dos estudantes, professores e da educação em geral, além da
promoção de vários eventos, alguns com arrecadação cuja apuração
é em favor dos carentes.”
MARIA VALÉRIA LINS CALHEIROS
Juíza de Direito
Entrevista concedida ao presidente da UMEL, Júnior Amorim e
publicada no Jornal Voz Estudantil, em março de 1994.
A meritíssima juíza Maria Valéria Lins Calheiros, nasceu no dia 12 de maio de 1945, em
Maceió – AL, filha de Edson Gomes Lins e de Olga Nobre Lins. No dia 28 de setembro de 1992,
na qualidade de Juíza substituta da titular Dra. Ana Florinda, foi designada para a Comarca de
Colônia Leopoldina. Há um ano e seis meses à frente do Poder Judiciário local, ela associou
coerência e competência em suas ações e destacou-se assim em prol da justiça social no
município.
Consolidando seu belo trabalho, a Câmara Municipal de Vereadores outorgou-a com o
título honorário “Cidadã Leopoldinense”, no dia 30 de novembro de 1993 através de projeto
de lei de autoria do vereador Dr. Flávio Lima de Souza. Nesta íntegra entrevista, a meritíssima
juíza considera o povo leopoldinense politicamente conscientizado, ressalta também o
trabalho do “Comissário de Menores” e preocupa-se com o aumento da criminalidade.
Jornal Voz Estudantil – A senhora chegou no nosso município em 28/09/92, como juíza
substituta, tendo também, o objetivo de presidir as eleições municipais de Colônia Leopoldina
e de Novo Lino, num período que podemos considerar “A HORA DA DECISÃO”. Destaque os
principais pontos positivos e negativos do pleito de 03 de outubro de 1992.
Juíza – Destaco como principal ponto positivo das eleições de 03/10/91, a
conscientização do povo LEOPOLDINENSE e LINENSE na escolha de seus candidatos, votando
de acordo com suas consciências e preferências pessoais, independentes de qualquer tipo de
pressão, exercendo a verdadeira democracia. Como ponto negativo o voto do analfabeto por
sentir que lhes falta o discernimento necessário no exercício de sua cidadania, sendo
manipulado por políticos inescrupulosos.
111
Jornal Voz Estudantil – De que forma a senhora observa o nosso município no seu
contexto político, econômico e social?
Juíza – Colônia Leopoldina vista em seu contexto político, econômico e social, apesar de
contar com um povo de certa forma politicamente conscientizado, sofre as consequências da
política adotada em nosso país, daí a miserabilidade da população, em sua maioria, trazendo
como consequências a criminalidade, a marginalidade, por lhes faltar o imprescindível as suas
necessidades básicas, como alimentação, moradia, vestuário, lazer, etc.
Jornal Voz Estudantil – Quais as mudanças necessárias?
Juíza – Seriam necessárias mudanças sérias e concretas na política adotada em nosso
país, com uma maior conscientização de nossos dirigentes, através de melhor repartição das
rendas, objetivando atender as necessidades básicas do povo em geral, sem qualquer tipo de
demagogia.
Jornal Voz Estudantil – A senhora considera altíssimo o número de “menores infratores”
em Colônia Leopoldina, ou são casos isolados?
Juíza – É um fato concreto que o número de menores infratores tem aumentado em
nosso município, apesar de não se poder generalizar. Não se pode esconder que, a maioria das
infrações cometidas por estes menores são decorrentes da falta das condições mínimas de
sobrevivência, empurrando-os, de certa forma, para a marginalidade.
Jornal Voz Estudantil – Em sua opinião, é importante a reativação do Comissário de
Menores?
Juíza – No meu ponto de vista é de máxima importância a reativação do Comissário de
Menores, no sentido de ser desenvolvido um trabalho consciente e efetivo em prol dos
menores carentes, como forma da diminuição da marginalidade mirim.
Jornal Voz Estudantil – De que forma a senhora observa a criminalidade em Colônia, e
quais os crimes mais polêmicos?
Juíza – O índice atual de criminalidade em Colônia é considerável, destacando-se os
crimes ligados a roubos de veículos, estupros, formação de quadrilhas e homicídios, onde a
maioria dos autores encontram-se foragidos, escapando assim, da ação da justiça na aplicação
da pena como retribuição do mal praticado.
112
Jornal Voz Estudantil – A senhora recebe da população muitas denúncias sobre “abuso
de autoridades”, principalmente, por parte dos policiais desta jurisdição. Em face, quais as
punições tomadas?
Juíza – É verdade que tenho recebido da população denúncias de “abuso de
autoridades”, principalmente vindo dos policiais. Toda denúncia recebida está sendo apurada,
com abertura de alguns inquéritos, punição dos responsáveis.
Jornal Voz Estudantil – Como a senhora questiona o ensino em Colônia?
Juíza – Deixo de emitir opinião sobre o ensino em Colônia Leopoldina, por não dispor de
elementos para tal.
Jornal Voz Estudantil – O jornalista Bóris Casoy, diz o seguinte: “É preciso passar o Brasil
a limpo”. O exemplo disto foi o impeachment do ex-presidente COLLOR, e agora, as possíveis
cassações de políticos corruptos. A senhora acredita que o povo brasileiro está formando uma
nova consciência política?
Juíza – O povo brasileiro deu prova contundente de que está investido de uma nova
consciência política, cujo exemplo maior foi o impeachment do ex-presidente Fernando Collor,
levando a efeito de forma consciente, sem demagogia e, principalmente, sem derramamento
de sangue. Estamos em uma nova era política.
Jornal Voz Estudantil – A senhora é a favor ou não da revisão constitucional?
Juíza – Sou a favor da reforma constitucional em certos aspectos, como a política fiscal,
bancária, a extinção do monopólio e do voto do analfabeto.
Jornal Voz Estudantil – Segundo a Constituição Federal, todo trabalhador tem direito no
mínimo a um salário. O que fazer para o cumprimento desta lei?
Juíza – O salário mínimo é um direito previsto pela Constituição Federal. No caso do não
cumprimento do preceito constitucional, cabe aquele que tem o direito ferido, acionar a
justiça para o cumprimento da lei.
Jornal Voz Estudantil – Através da iniciativa do vereador Dr. Flávio Lima, a senhora, a
promotora Dra. Maria Margarida e o Pe. Aldo Giazzon, receberam no ano passado o título de
CIDADÃOS LEOPOLDINENSES. Como a senhora analisa essa louvável condecoração?
Juíza – De minha parte foi uma honra imensa vez que apenas tenho cumprido a minha
função que é o de aplicar a justiça no caso concreto.
113
Jornal Voz Estudantil – Em relação a UMEL, do seu papel, da sua atuação na sociedade, o
que a senhora afirma?
Juíza – A UMEL, órgão estudantil do município, tem tido, segundo meu conhecimento,
uma atuação concreta, efetiva no tocante a defesa dos estudantes, professores e da educação
em forma geral, além da promoção de vários eventos, alguns com arrecadação cuja apuração é
em favor dos carentes.
114
Capítulo IX – 1996
Votação dos candidatos a presidente da UMEL (Eleições 1996)
Escola de 1o e 2o Graus Antônio Lins da Rocha
Chapa Candidato Votação
Chapa 1 Alexandre Gilberto Sobreira /
André Vitor da Siva 147
Chapa 2 Joílson Luiz da Silva Dionízio /
José Valdir Calixto da Silva 114
Nulos 02
Brancos 00
Total 263
Grupo Escolar Aristheu de Andrade
Chapa Candidato Votação
Chapa 1 Alexandre Gilberto Sobreira /
André Vitor da Siva 55
Chapa 2 Joílson Luiz da Silva Dionízio /
José Valdir Calixto da Silva 216
Nulos 16
Brancos 00
Total 287
Colégio Cenecista “Pe. Francisco” - CNEC
Chapa Candidato Votação
Chapa 1 Alexandre Gilberto Sobreira /
André Vitor da Siva 74
Chapa 2 Joílson Luiz da Silva Dionízio /
José Valdir Calixto da Silva 74
Nulos 07
Brancos 01
Total 156
115
Resultado Final das Eleições da UMEL
Chapa Candidato Votação
Chapa 1 Alexandre Gilberto Sobreira /
André Vitor da Siva 276
Chapa 2 Joílson Luiz da Silva Dionízio /
José Valdir Calixto da Silva 404
Nulos 23
Brancos 03
Total 706
* Apuração realizada no Clube UDAL, às 22:00h, no dia 20 de agosto de 1996.
Diretoria Geral da UMEL (Biênio: 1996/98)
Presidente: Joílson Luiz da Silva Dionízio
Vice-Presidente: José Valdir Calixto da Silva
Diretores sociais: Jodivaldo José da Silva Dionízio, Manoel José da Silva Filho, José Adalberon
da Silva, Reinaldo Guerra Freitas Júnior, Jodimarco Luiz da Silva Dionízio, Ivanilson José da
Silva, Andreza Marques da Silva, Flávia Maria da Silva, Marta Maria da Silva, Ronaldo Adriano
Ferreira da Silva e Carlos Tadeu dos Passos.
116
Jornais Estudantis
117
118
119
120
121
122
123
124
125
126
127
128
129
130
131
132
133
134
135
136
137
138
139
140
141
142
143
144
145
146
LIVRO 7
SANTOS, Ernane Santana. Incruzando espadas. Q. Gráficas. Campus Universitário, Maceió: 2011.
147
148
Ernane Santana Santos
149
150
151
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho A minha esposa, Eutália e diletos filhos Natalie, Nathália, Natassia e Ernane Manoel e a
minha netinha Marina; Aos meus saudosos pais Adalgiso Borges e Maria de Lourdes; Aos meus inesquecíveis irmãos Gisomar, Solange, Sônia, Antônio, Fátima, Jorge e Marcia
Inez; Aos saudosos irmãos Paulo Santana, Maria de Lourdes, Maria de Fátima, Márcio
Santana, Francisca (Chiquita) e Francisco (Chiquito); Aos meus avós paternos Mário da Silva Santos e Adelaide Borges Santos, falecidos; Aos meus avós maternos Francisco Santana e Silva e Francisca Barros e Silva, falecidos; À Sociedade Brasileira de Médicos Escritores e à Academia Alagoana de Cultura. Enfim, a todos os meus irmãos leopoldinenses, alagoanos e brasileiros.
152
APRESENTAÇÃO
Certa ocasião, lá pelos anos da virada do século XX para o XXI, quando ainda era
proprietário da Ecos Gráfica e Editora, tive uma conversa com capitão Carlito Lima sobre a
contribuição que ele daria para a que história se escrevesse sobre os episódios em que foi
protagonista durante os anos de chumbo. Argumentava com ele que o seu ponto de vista era
privilegiado já que atuara como militar sem aceitar os métodos truculentos dos ditadores,
chegando ao ponto de ser perseguido por suas posições humanistas. Diante da alegação do
Carlito de que não tinha recursos literários para escrever, insisti dizendo que, então, não
tentasse ser um escritor, bastava que simplesmente contasse suas histórias. A cobrança deu
resultado e, ainda com o incentivo do Lelé, seu irmão, e do Geraldo Majella, Carlito escreveu e
o Brasil inteiro leu e lê o livro Confissões de um capitão, a partir daí, abriu a porteira da escrita
e hoje é autor de dezenas de livros e um dos cronistas mais lidos de Alagoas.
Se alguém tem alguma história para contar, recomendo que conte. É assim que
contribuímos para a formação da nossa memória coletiva. São esses registros que nos ajudam
a perceber a verdadeira fisionomia de um povo. Alguns estudiosos não dão o devido valor aos
documentos e textos produzidos a partir da história oral. Eles analisam que esse material
estaria comprometido por estar contaminado pelos valores subjetivos da fonte. Essa
argumentação absurda é refutada facilmente, ao se mostrar que os ditos documentos da
história documental também foram escritos por indivíduos carregados de subjetividade,
quando não estavam servindo abertamente ao poder dominante, mobilizados para contar a
história dos vencedores.
O Dr. Ernane não tem a pretensão de ser literato: ele ama a sua terra e a sua cultura e
quer demonstrar isso contando e cantando as peripécias do homem da zona da mata
açucareira de Alagoas e Pernambuco. Conta por ouvir dizer, mas declara que conheceu todos
os personagens das suas histórias. Zelo desnecessário: não precisa ser um Repórter Esso –
“testemunha ocular da história” – para dar veracidade aos “causos”. Aliás, “causo” verdadeiro
é aquele que sobre ele pairam todas as dúvidas. Ninguém pode deixar de desconfiar, por
exemplo, de um personagem que “também era o único coveiro da cidade, fabricante dos
doces alfenins, feirante e dono do carrossel”. Mas não estranhe: esses tipos eram comuns nos
povoados atrasados do interior do Nordeste e, ainda hoje, alguns poucos sobrevivem tratados
como bons malandros e aceitos socialmente sem maiores problemas. É tão comum que o
polivalente oficial de justiça Pedro Alfenim, da obra de Ernane Santana, bem que poderia fazer
uma parceria com o João Grilo do consagrado Ariano Suassuna.
153
Incruzando Espadas é um baú de família que mostra as melhores recordações do
“versejador” Ernane Santana. Ele, que já havia aberto o coração para o seu município ao
escrever o livro As ruas de nossa cidade, agora nos ajuda a entender a cultura dos pátios dos
banguês e dos recentes barracões das modernas usinas de álcool e açúcar, onde o cantar dos
Guerreiros e o rimar dos repentistas eram aplaudidos pelo corumba e pelo senhor de engenho,
cada qual torcendo para o seu lado.
Edberto Ticianeli
Ex-Secretário de Cultura de Alagoas
154
Introdução
Nesse modesto livro procuro apresentar “causos”, crônicas, versos e repentes,
recolhidos das minhas vivências e andanças no pequeno mundo de homem do interior, que
quase sempre giravam entre as cidades de Colônia Leopoldina, em Alagoas, e Palmares, em
Pernambuco.
Travei meus primeiros contatos com as letras em Palmares, no Educandário Ginásio
Agamenon Magalhães, hoje denomnado de Colégio Pinto Ribeiro. Foi lá que recebi a minha
formação cultural e política pelas mãos dos mestres Amaro Matias Silva – meu padrinho,
amigo e orientador dos meus sonhos de escrevinhador , Edson Matos, Elias Sabino e Brivaldo
Leão de Almeida.
Os “causos”, que recolhi do meu pai Adalgiso Borges, do meu avô Mário Santos e do
meu cunhado Zezito Corrêa, foram aqui reproduzidos com a máxima fidelidade ao que eles
tinham de pitorescos. Em parte, esse trabalho foi facilitado porque vi e convivi com todos os
personagens citados em meus acanhados e limitados escritos. Procurei descrever os fatos
curiosos de nossa comunidade, aqueles que fizeram parte da história social, cultural e política
do nosso meio rural. Ambiente interiorano, onde a literatura de cordel era um veículo
importante para transmitir o que se passava em nosso mundo.
Se me exigiu esforço buscar na memória as lembranças de um passado distante, muito
mais difícil foi criar coragem para colocá-los em forma de prosa e verso. Esses rabiscos só
foram possíveis porque me confesso um devoto da poesia e da literatura de cordel, e,
principalmente, porque sou um apaixonado pela minha centenária cidade de Colônia
Leopoldina, a Colônia da Princesa, como a ela se referia o conterrâneo Everaldo Araújo Silva.
Antecipo minhas desculpas, se por ventura feri a dignidade de alguma pessoa, quando
dos relatos aqui narrados, já que isso pode acontecer quando se está “incruzando espadas”.
Ernane Santana Santos
155
Índice
Incruzando espadas
Chico Machado, o fogueteiro carnavalesco
“A agonia dos bangues” e seu bueiro quadrado
Os anos de chumbo
O “comunista” leopoldinense
Questão de risco com pobre
Toinho Santana
Lembranças do Cine Apolo
Todo astronauta que parte
Choveu tantinho assim
Os dez mandamentos dos cabras de Lampião
O poeta Genival da Paraíba
Pulo mermo mutivo
Grampo azougado pra mulher que tem piolho
Deda Ribeiro e o vendaval de 94
As cabeças de Lampião e Maria Bonitinha
Negócios que três saem ganhando
156
Incruzando espadas
Para nós, alagoanos e pernambucanos, também para o folclorista Pedro Teixeira, o
guerreiro alagoano é uma variante do reisado, em que são participantes as figuras do Mestre,
os dois Embaixadores, o Mateu, o Caboclinho de Lira, o Capitão General, o Índio Peri e seus
vassalos, a Rainha, a Lira e a Sereia.
Ainda segundo outros folcloristas são inumeráveis os personagens que podem compor
um auto de guerreiro. É um auto de caráter dramático, profano e religioso, representando
uma junção de elementos existentes nos pastoris, nas cheganças, nos quilombos e nos
caboclinhos. Para alguns estudiosos, o guerreiro não passa de um reisado moderno.
O guerreiro é comandado pelo mestre e sua espada, que usa um chapéu em formato de
igreja de onde caem fitas de cetim multicoloridas. Normalmente, logo depois da reza do
divino, no meio do espetáculo, acontece a luta de espadas entre os mestres guerreiros,
simulando uma luta em defesa dos seus reinados.
Do folclore alagoano, extraímos os seguintes versos pertencentes ao Hino do Guerreiro
das Alagoas:
Eu esse ano vou prá Maceió,
Vou pro Farol, Guerreiro Campeão
Eu vou rever o meu guerreiro amado
Eu vou dançá xaxado na televisão
Guerreiro, cheguei agora,
Nossa Senhora é nossa defesa
Guerreiro, cheguei agora,
Nossa Senhora é nossa defesa
Ô minha gente
Dinheiro só de papé,
Carinho só de muié,
E capitá só Maceió.
Se eu me casá
Com uma muié feia demais,
O diabo é que num faz
157
Todo dia ela chorá
Eu digo isso
Porque sou um cabra home
A muié feia só come
Minha boia se roubá.
Quando um guerreiro chegava numa cidade, vila, povoado ou mesmo num engenho ou
em uma usina de açúcar, normalmente, eram bem recebidos pelas pessoas do lugar. Os
componentes, tendo à frente o mestre, pediam permissão às autoridades locais e em plena
praça pública montavam sua apresentação com música, dança e cantoria.
Ocorrendo chegar ao mesmo local outro guerreiro – o que muitas vezes acontecia na
época natalina – não havia escapatória: os mestres eram instados a cruzarem suas espadas de
madeira, batendo uma na outra, enquanto os versos, glosas, rimas e peças elogiavam as
pessoas do lugar. Era um verdadeiro duelo verbal. Oportunidade em que se exibia a destreza
com as palavras. Rimavam sobre as autoridades e os últimos acontecimentos ocorridos na
redondeza, que conheciam através da informação oral ou mesmo pelo rádio e os cordéis. Em
tais desafios, os cantadores enalteciam a valentia do senhor de engenho, a bondade de sua
esposa, a formosura de suas filhas donzelas, a riqueza e as virtudes dos agraciados pelos
cantos improvisados, o gesto nobre daquele que fazia uma boa paga e a mesquinhez de outros
que não contribuíam com nada, mesmo assistindo aquela apresentação burlesca.
As rimas eram improvisadas pelos respectivos mestres, e suas pastorinhas limitavam-se
a responder em cantoria os mesmos versos. O canto era sincronizado, harmônico, e ao mesmo
tempo enchia de alegria e nostalgia aquele ambiente teatral armado ao ar livre. Enquanto
ocorria a porfia, os Mateus ficavam correndo de um lado para outro, dando cambalhotas,
fazendo gracejos com as pessoas que assistiam ao espetáculo. A meninada era sempre a mais
perseguida pelos homens de caras pintadas, armados de rebenques ou relhos feitos de tranças
de cebola. Tudo era festa. Verdadeira alegria. Era como se tivesse chegado naquela localidade
um espetáculo circense ou, hoje em dia, uma banda de show para diversão daquela gente tão
sofrida. Quando começava a função, surgia gente de toda versidade. Gente acostumada a
iniciar sua jornada de trabalho com o nascer do sol e a encerrar sua lida quando o horizonte já
se encontrava tão escuro quanto o breu. Gente que conhecia bem o manejo da enxada, da
foice de cortar lenha e cana-de-açúcar, da estrovenga de roçar mato, do arado de madeira
puxado por eles, ou mesmo por uma junta de bois, sempre trabalhando a terra para receber as
sementes. Gente séria, honesta, por vezes injustiçada e enganada pelos empreiteiros e
158
senhores de engenho. Sem carteira assinada, sem direito a sua cidadania. Gente analfabeta
que não sabia ler e nem escrever, que ainda assinava o próprio nome com a impressão digital
de seu polegar direito. Era para essa plateia que, comumente, se apresentavam os nossos
folguedos populares entre os meses de dezembro e janeiro – época das festas de Natal, do
Ano Novo e das comemorações dos Santos Reis.
Quando um mestre recitava:
Eu sou um guerreiro novo
Que veio de Minas Gerais
Eu atiro a bala passa
Se prepare pra brigar
Pois hoje aqui nesta praça
Quero fazer arruaça
Pois nós vamos é duelar. (Deda Ribeiro)
O outro respondia:
Eu sou guerreiro alagoano
Acostumado a duelar
Já briguei durante um ano
No Estado do Pará
Quando cruzo a minha espada
Vejo o cantador sangrar
Ele corre, não vem mais,
Volta pra Minas Gerais
O mestre que me enfrentar. (Ernane)
É o folclorista Theo Brandão quem nos diz que em uma cantoria, elogiando o senhor de
engenho, o mestre de guerreiro assim se expressava:
Sinhô dono da casa
Oios de cana caiana
Quanto mais a cana cresce
Mais aumenta a sua fama
159
Sinhô dono da casa
Oios da péda redonda
Daquela péda mais fina
Onde o má combate as ondias.
Segundo o meu avô Mário Santos, nos anos 40, existia na cidade pernambucana de
Palmares, um respeitado mestre de guerreiro conhecido como mestre Rozendo. Na vinha
cidade de Catende morava mestre Sales, um também afamado mestre de guerreiro. Quando
esses homens se encontravam, a terra tremia diante da maestria de cada um.
Foi nessa época que vivia em Palmares uma figura famosa, não por seu trabalho ou dote
artístico, mas pela sua valentia e destemor. Chamava-se Bruno e era muito respeitado,
principalmente na Rua da Coreia, onde se situava a maioria dos bordéis. Era o valentão do
lugar. Vez por outra acabava as festas no baixo meretrício com ciúme de suas raparigas.
Enfrentava quem estivesse pela frente, até mesmo a polícia militar.
Certa feita, estando ele farrando no local, por causa de uma mulher desentendeu-se
com um caixeiro viajante das Lojas Paulistas. Foram às vias de fato na disputa pela fogosa
rapariga, moça nova no puteiro. Garrafadas, murros, tabefes, chutes, tamboretadas e até
mesmo tiros foram trocados pelos dois valentões, provocando correria e gritos no local.
Em um dos becos da Rua da Coreia, em frente ao Colégio Nossa Senhora de Lourdes,
ficava instalada a Casa de Força, onde funcionava um velho gerador movido por motor a óleo
diesel, que de tão velho já tinha até nome: Motor do Leite. Essa estrutura era responsável pelo
fornecimento de energia elétrica para a iluminação da cidade.
Pois foi exatamente em frente à Casa de Força, que os briguentos resolveram trocar
mais tiros. A única vítima foi o Motor do Leite, que parou atingido por uma bala perdida. A
polícia – cuja delegacia ficava nas proximidades – foi avisada do tiroteio e já chegou atirando
de mosquetão para todo lado. Novamente, a única vítima foi o velho motor, que perdeu suas
últimas gotas de óleo ao ser atingido por mais quatro balas perdidas. Terminada a confusão,
Bruno foi preso e o caixeiro viajante fugiu em direção ao canavial da Usina 13 de Maio,
localizada no perímetro urbano da cidade.
Um belo dia, naqueles idos dos anos 40, apareceu no Engenho Lua Nova o afamado
guerreiro de mestre Zé Pedro para apresentar uma função. Pediu permissão ao senhor do
engenho, o meu avô Mário Santos, e começou a brincadeira. Depois de brincar à vontade, com
suas pastorinhas, o mestre foi provocado por “seu” Mário que, lembrando da famosa briga da
Rua da Coreia, deu-lhe o seguinte mote:
Levaram preso “seu” Bruno, quebraram até o motor.
160
De imediato, mestre Zé Pedro, que conhecia a história, cantou:
Eu já incruzei cum Sales,
Mestre Rozendo in Palmares,
É Reis dos vadiadô,
Quando a peça detonô,
Que surgiu o vagalume,
Levaram preso “seu” Brune,
Quebraram inté o motô.
Foram esses “incruzamentos” de espadas que ajudaram a guardar as histórias da vida
simples do homem do interior e a formar a cultura nordestina.
161
Chico Machado, o fogueteiro carnavalesco
Francisco Machado da Silva, ou Chico Machado para os mais próximos, nasceu no dia 29
de novembro de 1907, na cidade alagoana de Colônia Leopoldina. Viveu quase toda a sua
infância no Engenho Canto Escuro, pertencente ao major da Guarda Nacional, Manoel
Henrique de Luna, avô do comendador José Araujo de Luna. Havia entre Chico Machado e o
major Manoel Henrique de Luna uma ligação quase que familiar. Chico era uma pessoa bem
quista pela família Luna e realizava quase todas as funções de confiança do major.
Quando o conheci ele já residia na antiga Rua das Pedrinhas, hoje Rua Durval Gonçalves
da Silva, e exercia a profissão de fogueteiro. Segundo o nosso conterrâneo Everaldo Araújo
Silva, Chico Machado “era fogueteiro de profissão e um exímio artista na arte da pirotecnia, e
seus fogos de artifício eram engenhosamente preparados com requintada perícia e excelente
qualidade”.
Nas horas vagas Chico gostava de pontear sua viola em peleja com alguns cantadores
que por ali apareciam. Seus embates poéticos quase sempre se davam à luz de velas ou de
candeeiros, já que naquela época Colônia Leopoldina ainda não possuía uma boa energia
elétrica. Somente algumas ruas e poucas residências eram fracamente iluminadas por
lâmpadas que mais pareciam pequenas tochas acesas. A eletricidade era gerada a partir de um
apequena barragem existente no município.
Desde criança, eu era fanático por literatura de cordel e cantoria de poeta violeiro. Fugia
de casa, à noite, para assistir aqueles duelos verbais. Lembro que certa noite Chico Machado
enfrentava um cantador de Pernambuco, quando terminou um verso dizendo:
Eu sou filho de deputado.
O outro cantador, imediatamente, sapecou-lhe uma resposta desconcertante, que
terminava mais ou menos assim:
Você é filho de deputado, mas tirando o “dê-ó-dó”.
A viola não era o seu forte. Ele gostava mesmo de ser reconhecido como o fogueteiro-
mor da cidade. Sentia-se realizado quando via seus foguetes e balões subirem aos céus
animando as festas juninas, as novenas do mês de maio e a tradicional festa do mártir São
Sebastião.
Mais tarde, revelou-se como carnavalesco. Fundou, na década de 50, o famoso bloco
Leão da Aldeia e o bloco do Jacaré. Durante os festejos momescos, seus blocos saíam às ruas
para animar o nosso carnaval, quase sempre ao som da famosa banda de música de Belém de
Maria, de Pernambuco. Os foliões alegremente cantavam os seus versos:
Chamei Chiquinha, chamei Lionô,
162
A Mariêta não pôde marchar,
Porque estava no rio lavando roupa
E o jacaré partiu pra lhe pegar
Olê, olá, olê, olá
Entra no frevo
Que essa trinca é de amargar.
Religiosamente, em todo carnaval, Chico Machado deslocava o seu bloco para dançar no
terreiro do Engenho Canto Escuro. Rendia homenagem ao major Henrique de Luna e ao lugar
onde ele passou grande parte de sua infância e adolescência. Por mais de 20 anos animou e
movimentou os carnavais de sua terra natal, principalmente com o bloco do Jacaré.
Além de poeta popular e fogueteiro de profissão, Chico Machado participava com muito
orgulho da política local. Alinhava-se politicamente com o seu velho amigo Alfredo Cavalcanti.
Certa feita, quando Alfredo recepcionava o candidato a governador, Abraão Fidélis de Moura,
ele, após homenagear o seu candidato com foguetório em frente à igreja matriz de Nossa
Senhora do Carmo, improvisou essas quadras:
Eu sou o Leão da Aldeia
Valente como um terror,
Abraão é o candidato,
Votemos nele pra governador
Sou pobre, sou rico,
Grito de peito empolado,
Com Alfredo na prefeitura,
O pobre está arrumado.
Daniel, seu filho, durante muito tempo tentou manter acesa a chama carnavalesca do
pai. Não conseguiu em razão de dificuldades financeiras e da própria mudança dos costumes
populares na forma de comemorar as folias de Momo.
Em 24 de outubro de 1988, o Poder Legislativo local, através da Lei no 590, resolveu
homenagear o velho Chico Machado, dando seu nome a uma das ruas de nossa cidade. Foi
uma homenagem justa e merecida para aquele que em vida foi um dos mais festejados
carnavalescos que Colônia Leopoldina conheceu.
163
164
A agonia dos banguês e seu bueiro quadrado
Há um texto de José Roberto Melo, publicado na revista A Região, no 3, de 1984, que
aborda o tema da agonia dos engenhos banguês. José Roberto era odontólogo e foi o primeiro
prefeito eleito da cidade de Cortês, situada na região da Mata-Sul de Pernambuco. O assunto
era familiar para ele, que foi senhor de engenho nos idos de 1946, quando participou da fase
de transição da economia canavieira dos banguês par aas primeiras usinas de açúcar. Ele viu o
apagar do fogo das caldeiras dos velhos engenhos, com seus bueiros quadrados e fumaça
branca, que durante muito tempo encantou e encorajou os poetas da região.
É o próprio José Roberto quem nos apresenta os versos proféticos, de Bernardino Borba
(1948), a respeito da agonia dos banguês:
Creio que em breve, talvez,
Se acabarão os banguês,
Se acabará banguezeiro...
Como lembranças ficando
Ao tempo desafiando,
Algum saudoso bueiro.
Quando criança, acompanhando as andanças de meu pai, Adalgiso Borges Santos, tive a
oportunidade de conhecer alguns “esqueletos” de engenhos banguês. Instalações físicas
deterioradas pelo tempo, sem nenhuma marca da época em que seus donos eram chamados
de senhores de engenho. Lembro-me de alguns engenhos e respectivos proprietários da
época, como o Engenho Jericó (coronel Joãozito), Engenho Lua Nova (Mário da Silva Santos),
Engenho Macuca (Zé Quincas), Engenho São Sebastião – primitivo Pé de Serra de São João da
Mata (Joaquim Monteiro da Cruz), Engenho Livramento (coronel Joaquim Luiz da Silva),
Engenho Onça (Caetano Buarque de Gusmão), Engenho São Bernardo (Ludovico de Medeiros),
Engenho Capoeira dos Reis (Alfredo Soares), Engenho Ouro Preço (coronel Salú), Engenho
Itajubá (Gustavo Fittipaldi), Engenho Canto Escuro (Manoel Henrique de Luna), Engenho Santo
Antônio (Alfredo de Paula Cavalcanti), Engenho Amapá (Família Gomes de Barros), Engenho
Flor de Taquara (coronel Joaquim Luiz da Silva), existente do lado pernambucano da divisa com
Alagoas. Este, nos anos 50 se transformou na Usina Taquara, cujo acionista majoritário era o
José Luiz Lessa, que também foi prefeito de Colônia Leopoldina em dois mandatos. Também
não podemos deixar de mencionar o Engenho Macaco (Alcides Freire), Cavaco (Otávio Freire) e
Forte do Mato (Aristides Caetano), todos situados em território pernambucano, construídos
165
quase que às margens do rio Jacuípe, além do velho Engenho Porto Rico, erguido no lado
alagoano, também seu bueiro quadrado.
Segundo relata nosso conterrâneo Everaldo Araujo Silva em seu livro A Colônia da
Princesa, o antigo Engenho Pé de Serra foi o primeiro na região a ser movido a vapor. Sabemos
por ele que os “primitivos engenhos de açúcar eram movidos à água. Chamados de engenho
d’água ou também aqueles puxados por bestas, conhecido por engenhos de bestas, além dos
engenhos puxados a bois, segundo relato do historiador alagoano Manoel Diegues Jr., era
natural que o engenho d’água ocupasse posição de relevo na economia açucareira”. As
plantações desses engenhos eram quase sempre feitas nas várzeas e nas margens dos rios e
riachos. A água, além de ser o elemento essencial para movimentar a engrenagem da máquina
de moer cana, também servia para uso doméstico. Dela se serviam todos que moravam e
trabalhavam no engenho.
As usinas que sucederam aos velhos engenhos banguês trouxeram, além de novas
máquinas, outra inovação: a construção da chaminé de forma arredondada e mais alta.
Quando o antigo Engenho Porto Rico foi transformado em usina, o seu dono resolveu
conservar o bueiro quadrado e por isso foi objeto de gozação e deboche. Muitas eram as peças
de guerreiro tiradas e cantadas às escondidas, debochando do velho bueiro quadrado que não
quis se modernizar. O coronel Ezequiel Siqueira Campos, seu proprietário desde 1938, vivia
alheio às piadas sem nada saber dos irreverentes gozadores.
O meu avô, Mário da Silva Santos, contou-me que certo dia um corumba – vindo das
bandas de Garanhuns para cortar cana na referida usina – achou aquele bueiro muito
estranho. Quando terminou a sua lida na safra de cana, e antes de viajar para sua terra natal,
após passar mais de seis meses residindo e trabalhando na Usina Porto Rico, deixou em rima
as suas impressões debochadas e imorais para aquela época (1946).
A Usina Porto Rico
Tem o bueiro quadrado,
A máquina é uma caixa de fósforos,
O foguista é aleijado,
O maquinista é um corno,
O barracão é de safado,
E a mulher do usineiro
Tem os pés apaêtado.
Historiadores dizem que não há como negar a influência do engenho banguê nas
manifestações folclóricas do Nordeste, notadamente, em Pernambuco e Alagoas, onde existia
166
grande quantidade dos referidos engenhos. Seus operários, nas horas vagas, vadiavam
contando prosas, fazendo versos, emboladas e elaborando cantigas de coco. Normalmente, os
repentistas emboladores e “tiradores” de coco, dançavam e cantavam no terreiro dos
engenhos, fazendo rimas com temas ligados ao velho banguê, à senzala, ao dono do engenho,
ao cultivo da cana-de-açúcar, sua colheita, à produção, e aos trabalhadores.
Em seu livro o Banguê nas Alagoas, Manuel Diégues Júnior – grande historiador
alagoano – relata que “numa cantoria de coco, Joaquim Pueirame apresentou uma série de
versos referentes à paisagem da área rural do Nordeste”, narrando fatos da vida do engenho,
ocorridos aos domingos, quando todos se dirigiam à venda para comprar mantimentos, jogar
conversa fora ou prosear com os camaradas de trabalho. Eis o verso de Pueirame, citado por
Manuel Diégues Júnior:
Eu pranto cana
Mas não trabaio alugado
Que não sou cabra safado
Tenho credo em quarqué lugá.
Dia de Domingo,
Se não tiver um tostão,
Vou na casa do patrão
Ele tem prá me emprestá.
O meu patrão
Tem uma bodega no cercado,
Ele num vende fiado,
Ele só vende é a legá.
Aos domingos e dias de folga, era comum os trabalhadores se juntarem no barracão ou
na bodega dos engenhos para tomarem a conhecida cachaça feita de alambique de barro.
Depois de “espritado” pelo álcool, cada um que fizesse a sua rima. O escritor José Lins do
Rêgo, numa publicação antiga da revista O Globo Rural, conta-nos que um desses repentistas
bebia cachaça e fazia glosas alusivas aos homens de bem, que também tomavam a sua
branquinha. Eis os versos de autor desconhecido:
Antigamente quem bebia,
Era o negro ou o mulato,
Mas, hoje gente de trato
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Bebe de noite e de dia,
Homem de categoria
Tenho visto acontecer,
Nas ruas tombar, pender,
Dando passadas sem prumo,
Se os grandes lhe dão consumo,
Não é defeito beber.
Assim, banguês e usinas, de bueiro quadrado ou redondo, atraiam os repentistas. Alguns
pelas riquezas dos proprietários e a maioria pela cachaça quase de graça.
168
Os anos de chumbo
Em 1965, vivíamos em plena efervescência, pós-intervenção militar na política brasileira.
O trote dos calouros de medicina da Universidade Federal de Pernambuco era aguardado com
ansiedade. Em Recife só se falava na prisão do governador Miguel Arraes. A Revolução, ou
Golpe Militar, que havia afastado o presidente João Goulart do comando da nação em 1o de
abril de 1964, agora apagava os focos de resistência nos estados.
Estudante quando quer, ou mesmo quando deixa se conduzir, é mesmo bicho afoito e
rebelde. Foi assim que nós, alunos do 3o ano científico do Colégio Carneiro Leão, atendemos
ao convite e fomos engrossar as fileiras do famoso trote.
O cortejo estudantil colocou, à frente da manifestação, um jumento pintado de verde e
vestido com uma jaqueta militar, coberto de medalhas e com um chapéu entre suas orelhas.
Alguns calouros, devidamente escalados para àquela missão, conduziam uma faixa que
utilizava os conhecimentos da tabela periódica dos elementos químicos para alterar o contexto
do slogan da campanha “Ouro para o Brasil”, que era uma campanha de doação voluntária
para ajudar o país a resolver seus problemas sociais, econômicos e financeiros. A ousada faixa
dizia: “Au para o Brasil, Ag para os militares e Pb para os que falarem”.
Com semelhante afronta, a passeata não poderia ir muito longe. O insulto às forças
militares foi em dose cavalar. Na mesma dose foi a resposta e a dispersão foi rápida. As forças
policiais usaram cassetetes, bombas de gás lacrimogêneo e até mesmo a cavalaria. Isolaram as
ruas e becos da Avenida Dantas Barreto, no coração da capital pernambucana. Foi um salve-se
quem puder. Lembro-me que entrei num elevador e fui bater no 7o andar de um edifício, onde
existia um consultório odontológico. Ali, sob a proteção do doutor dentista, fiquei escondido
até o início da noite, quando o movimento das tropas já era reduzido. Apanhei um ônibus e
voltei para a casa de uma prima, no bairro General Severiano, onde me hospedava. No outro
dia, os jornais do Comércio e o Diário de Pernambuco noticiavam a dissolução violenta do trote
dos calouros de medicina.
Durante o movimento militar, Recife foi palco de vários episódios sangrentos, inclusive
com a morte do Ivan Aguiar, um colega de infância, que era chamado carinhosamente de
Vanzinho. Seu pai, Severino Aguiar Ferreira, egresso de Pernambuco, chegou a Colônia
Leopoldina, em Alagoas, para exercer a profissão de dentista. Envolveu-se com a política local
e chegou a ocupar a presidência da Câmara de Vereadores no período de 1951/52. Por
questões familiares, voltou à Recife com toda a sua família. Era um convicto participante do
Partido Comunista Brasileiro. Seus filhos foram batizados com nomes originários dos países
integrantes da “Cortina de Ferro” – Danúbio, Moldávia, Ivan, Vânia Petruska e outros mais.
169
Em 1o de abril, durante o Golpe Militar, Ivan Aguiar era estudante de engenharia e
estava na linha de frente das manifestações contra as forças revolucionárias. Mesmo estando
envolto com a bandeira do Brasil, foi metralhado em plena praça pública, pagando com a vida
pela coragem de se opor aos golpistas.
Em junho de 1965, deixei o Colégio Carneiro Leão e fui estudar em Maceió, no Colégio
Moreira e Silva, onde terminei meu curso científico. Aprovado no vestibular da Faculdade de
Medicina de Alagoas, iniciei o curso em 1966. Quando recebi o diploma de médico, no dia 11
de dezembro de 1971, vivíamos ainda em plena vigência do movimento militar, com vigilância
redobrada, principalmente dentro das universidades. Foi assim que tive contato com o período
que foi denominado, mais tarde, como “os anos de chumbo”.
170
O “comunista” leopoldinense
Helvécio Afonso de Melo nasceu no dia 29 de agosto de 1919, no então distrito de
Joaquim Nabuco, no município pernambucano de Palmares. Quando o conheci, ele era
funcionário do Ministério da Agricultura e já estava casado com minha prima Nélia Borges.
Residia em Colônia Leopoldina e trabalhava no Fomento Agrícola.
Durante grande parte de sua vida exerceu as funções de caixeiro-viajante. Mas também
foi vendedor de medicamentos, ajudante de padaria e balanceiro de uma usina situada no seu
Estado natal.
Todavia, Helvécio era mesmo um poeta nato, um escrevinhador de glosas, repentes e
sextilhas. Conhecia os segredos e atalhos da vida como a palma de sua mão. Experiente,
viajador, muito esperto. Era considerado por todos como um “cabôco véio, passado na casca
do angico”.
Por várias vezes foi indicado pelo juiz de direito de Colônia Leopoldina para exercer as
funções de advogado sem diploma. Como rábula, defendia os mais pobres e excluídos da
sorte. Era considerado um autodidata de muita leitura, com excelentes qualidades intelectuais
e morais, versado na arte de convencer.
Quando estourou a Revolução de 1964, Helvécio ministrava aulas de Organização Social
e Política Brasileira (OSPB) no Colégio Normal Padre Francisco. Certa noite, estando ele dando
aula, foi abordado por agentes do poder revolucionário, tendo à frente um coronel do
Exército. Levaram-no preso como “agitador e comunista”. Foi encaminhado imediatamente
para uma prisão nas dependência do antigo 20o Batalhão de Caçadores do Exército Brasileiro,
em Maceió, onde foi acusado de professor e ensinar abertamente ideias simpáticas às nações
que faziam parte do regime político da então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, além
de ser admirador do governo cubano de Fidel Castro. Contra Helfécio ainda h avia a denúncia
de que ele era simpatizante das Ligas Camponesas Pernambucanas, organização dos
trabalhadores rurais fundadas e comandadas pelo deputado Francisco Julião e pelo comunista
Gregório Bezerra. Eram acusações pesadíssimas.
Para nossa surpresa, ele passou poucos dias na prisão. Não havia nada de concreto
contra ele. Foi posto em liberdade e retornou tranquilamente ao convívio dos seus amigos,
familiares e alunos do Colégio Padre Francisco.
Disseram que a sua prisão foi provocada por discutir política em sala de aula,
oportunidade em que defendia suas ideias. Outros afirmaram que uma denúncia anônima e
covarde, feita pelos adversários políticos, é que realmente determinou sua prisão. Certo
171
mesmo é que o nosso Helvécio entrou para a história como sendo o único “comunista” preso
em Colônia Leopoldina durante o golpe militar.
Seu cunhado, Manoel Freire Borges, o Balé, fora deputado estadual de 1954 a 1958,
tendo inclusive ocupado a vice-presidência da Casa Tavares Bastos durante o dificílimo período
do processo de impeachment do governador Muniz Falcão. Processo que culminou, em 13 de
agosto de 1957, com o famoso tiroteio na Assembleia Legislativa de Alagoas, onde perdeu a
vida o deputado Humberto Mendes, que também era sogro do governador. Manoel Freire era
também um convicto estudioso dos movimentos sociais. Lia muito, possuía uma excelente
biblioteca e sempre estava pronto a defender os menos favorecidos. Coragem e bravura nunca
lhe faltaram. Até hoje, não sabemos, na sua convivência com Helvécio, quem influenciou
quem.
Mas o nosso Helvécio gostava mesmo era de uma boa prosa, de versos, glosas e
repentes picantes e irreverentes. No ano de 1965, o senador Rui Palmeira, disputava o
governo alagoano com um slogan bastante inteligente: “Dê um passo à frente – vote em Rui
Palmeira”. Em Colônia Leopoldina, José Maria de Omena, guarda-livros da Usina Taquara,
disputava pela segunda vez o cargo de prefeito da cidade e apoiava a candidatura de Rui
Palmeira ao governo do Estado.
Quando as urnas foram abertas, o outro candidato a prefeito, Antônio Lins da Rocha, foi
disparando na contagem dos votos. A vantagem era visivelmente crescente, conforme
“cantavam as urnas”. Rui Palmeira e Zé Maria perdiam feio. Este fumava um cigarro atrás do
outro, meio inquieto, porém sem dar o braço a torcer. Sabia que a eleição estava perdida.
Acompanhando a apuração se encontrava o nosso Helvécio, que vendo Zé Maria
nervoso, não resistiu em provocá-lo. O resultado era tão acachapante que merecia uma
gozação. Rabiscou essa quadra e mandou entregar-lhe.
É dez, é trinta, é quarenta,
Lá vai a conta crescendo.
O José já está dizendo:
Qual é o rabo que aguenta?
Zé Maria, poeta também, depressa no outro lado do papel respondeu:
Disputando uma prefeitura
Que uma máquina velha não tem,
Eu sei que a parada é dura
172
Mas, sou da luta também.
Helvécio revidou com essa outra quadra:
Já descambou dos sessenta
Galopando em disparada.
Sem voto, meu camarada,
Assim, você se arrebenta.
Zé Maria finalizou a peleja assim:
Eu seguirei adiante
Vou aguentando o revés,
Mas, nunca de quatro pés
Pra Rui dar um passo à frente.
Foi assim que Helvécio, o “comunista” leopoldinense, fez história em nossa terra ao
promover a “socialização” da inteligência e da irreverência.
173
Questão de rico com pobre
O meu avô, Mário Santos, contou-me um “causo” acontecido na cidade dos Palmares,
onde ele residia nos idos de 1930, quando o Brasil vivia sob o regime do Estado Novo
comandado pelo presidente Getúlio Vargas.
Disse-me ele que, naquela época, Palmares já era considerada como a capital da região
Mata-Sul, crescia rapidamente a todo vapor, embalada pelos inúmeros engenhos de açúcar e
pelas usinas que já haviam se instalado e que cresciam graças ao crédito e ao financiamento
do governo, que nunca pagavam. Dentre elas podemos citar: Usina Treze de Maio, Catende –
considerada a maior usina de açúcar da América do Sul , Pumaty, Pirangy, Cerro Azul, Santa
Terezinha, Cucaú, entre outras. A cidade possuía bom comércio atacado e varejista e era
servida por excelentes estabelecimentos educacionais, que muito contribuíram para a
formação cultural dos filhos de muitos senhores de engenho da divisa de Alagoas com
Pernambuco. Possuía um clube lítero-recreativo onde os jovens se divertiam e os poetas da
terra realizavam seus recitais nas manhãs domingueiras. Citamos Hermilo Borba Filho, Ascenso
Ferreira, José de Barros Corrêa (Lelé Corrêa), Arthur Cruz, Jaime Griz, Fenelon Barreto,
Raimundo Alves, Margarida Mesquita, Miguel Jacele, Abel Fraga e outros tantos
escrevinhadores.
Lembro-me do Ginásio Municipal Agamenon Magalhães onde estudei todo meu curso
ginasial (1959/1962). Possuía este nome em homenagem póstuma ao ex-governador de
Pernambuco no período de 1951/1952. Agamenon Magalhães foi acometido de mal súbito e
teve morte instantânea no segundo ano de governo. Esse ginásio, antes da morte do
governador, chamava-se Ginásio Municipal Fernando Augusto Pinto Ribeiro, em
reconhecimento a um ex-prefeito que conseguira os recursos necessários para a sua
construção. Soube que vinte ou trinta anos depois, a sociedade exigiu que aquele
estabelecimento educacional voltasse a se chamar Ginásio Municipal Augusto Pinto Ribeiro.
Fez-se justiça.
Palmares também contava com o Colégio Nossa Senhora de Lourdes, educandário
administrado por freiras e que só admitia estudantes do sexo feminino em regime de internato
ou semi-internato, para o Curso Normal Rural. Era conduzido sob rígida disciplina e todas as
suas professoras eram irmãs da Ordem Franciscana ou formadas para exercer o magistério.
Professor homem lá não entrava, tamanho era o cuidado e o zelo da madre superiora com a
formação de suas colegiais. Nos anos 40, minha mãe, Maria de Lourdes Santana, e suas irmãs,
Maria Auxiliadora, Maria Zildete, Maria Estela e Maria Carmelita, também ali fizeram seus
cursos, bem como minhas irmãs Gisomar, Solange e Sônia Santana, além de Eutália Guerra
174
Santos, minha esposa, e meu filho Ernane Manoel, no ano de 1997, quando o Colégio das
Freiras já havia se tornado misto.
Havia outra unidade escolar; mantida pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial,
somente para homens, mas com o mesmo regime de internato e semi-internato. Era
conhecida como Escola Industrial do SENAI. Fardamento quase militar: casquete, cinto com
fivelas de aço, caça com listras e camisa com divisas nos ombros, identificando o curso e o ano
que cada um fazia. O objetivo do SENAI era a formação de mão-de-obra qualificada para
atender ao surto industrial que se instalara no governo getulista. Formava serralheiros,
marceneiros, torneiros mecânicos, eletricistas, desenhistas entre outros profissionais. A
histórica rede ferroviária Great Weestern, tão bem administrada pelos ingleses, servia a cidade
dos Palmares com suas máquinas a lenha, as Marias Fumaças, ou as novas Máquinas Azuis, já
movida a óleo diesel. Interligavam os estados de Alagoas, Sergipe, Pernambuco, Ceará, Rio
Grande do Norte e Piauí, transportando nossa gente e seus produtos agrícolas: café, açúcar,
sal, mel, algodão, cacau, farinha de mandioca, fumo, banana e gado de corte.
Muitos poetas se inspiraram na viagem dos trens para descreverem a paisagem
nordestina, seu povo e seus costumes, a exemplo de Ascêncio Ferreira, com a sua famosa
poesia “Vou danado pra Catende”.
Apesar de Palmares ser considerada uma verdadeira capital da região Mata-Sul, poucos
eram os proprietários de terra ou senhores de engenho que possuíam recursos para importar
veículos automotores. Eram poucos os que possuíam os Ford Bigode, Chevrolet, Buick,
Studbeaker, International, Nash e algumas “baratinhas” transformadas em carro de praça.
Poucos “monarcas” do açúcar possuíam um automóvel de passeio ou mesmo caminhão para
transportar seus produtos. Na cidade não existia guarda de trânsito, apenas o pessoal da
polícia militar, da guarda municipal e uns poucos e briosos inspetores de quarteirões,
respeitadas “otoridades”.
Predominavam as ruas estreitas, como as que interligavam a zona do baixo meretrício
da Rua da Coreia, no Alto do Lenhador, com a rua principal de Palmares. Ali existia um beco
muito estreito por onde os “homens de bem” subiam e desciam de mansinho. Tal beco
chamava-se Beco do Engole Homem, já que por ali eles “sumiam” como num passe de mágica.
Em Palmares havia um rico senhor de engenho, que tinha um filho arrogante e
baderneiro. O rapaz tomava “umas e outras” e em seguida, com seus colegas de copo, ia à
procura das fogosas damas da Rua da Coreia. Em uma determinada madrugada, o nosso
boêmio e embriagado filho de senhor de engenho, ao volante de um caminhão Super-White,
manobrava no tal Beco do Engole Homem quando perdeu o controle do pesado veículo e
derrubou a parede da frente de uma casa, quase matando seu dono e filhos. Como era uma
175
madrugada de domingo, dia de feira da cidade, o acidente rapidamente atraiu curiosos,
aguardando o bate-boca entre os envolvidos. O jovem motorista, demonstrando irritação,
argumentava que a culpa era da casa, que fora construída em local inadequado. O pobre
proprietário do imóvel apelava para a boa vontade e pedia para ele consertar a parede. Como
a conversa já se arrastava por um bom tempo e nada se resolvia, o dono do caminhão, ainda
embriagado, arrastou um rifle papo-amarelo e ameaçou resolveu a pendenga na violência.
Passando pelo local um velho senhor de engenho, prevendo o pior, sugeriu a ambos que
se deixasse o dia clarear para chamar o doutor juiz de direito e dele solicitar a definição de
quem estava com a razão. Concordaram, esperaram amanhecer e acordaram o magistrado,
que foi levado ao local do acidente. A autoridade, que era amigo do pai do jovem motorista,
analisou a localização da casa, calculou a posição em que ficara o caminhão e deu o seu
veredito.
No meu entendimento ninguém está com a razão, mas para se fazer melhor justiça, e
tendo em vista as posses das partes envolvidas no acidente – e ainda observando que não
houve nenhuma lesão corporal, apenas danos materiais – recomendo que cada um faça seu
conserto. Não vou instaurar inquérito algum.
Passava por ali um poeta repentista, em direção à feira palmarina, onde ia defender o
seu trocado, que ouviu revoltado a decisão do juiz. Alguém do povo, mais revoltado ainda,
falou alto: “nunca vi questão de rico com pobre, o pobre sair com razão”. Imediatamente o
poeta viu nas palavras um mote e improvisou esta sextilha:
Questão de rico com pobre,
O pobre não tem razão,
E para este “causo”
Só há uma explicação,
A casa se balançou,
E bateu no caminhão.
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Toinho Santana
O meu irmão, Antônio Santana, foi admitido no ano de 1969 pela agência do Banco do
Estado de Alagoas, que depois ficou mais conhecido como Banco da Produção ou PRODUBAN.
Ali, Santana trabalhou por quase três décadas. Começou como investigador de cadastro,
depois foi promovido a caixa executivo, posteriormente, coordenador dos caixas e, por último,
ascendeu a condição de tesoureiro geral. Era jovem, forte, e levava uma vida acelerada:
fumava moderadamente, bebia razoavelmente nos finais de semana e ainda jogava voleibol.
Era um caçador nato, quer seja com sua espingarda de chumbo ou mesmo com sua baladeira.
Avexado por natureza, vivia num ritmo estressante.
Ainda criança, era considerado um exímio atirador de peteca, caçador infalível, com
pontaria certeira e dele nada escapava. Abatia andorinha, curió, bem-te-vi, rolinha fogo-pagou,
rouxinol, casaca-de-couro, joão-de-barro, sanhaçú, anum preto, guriatã, galo de campina,
canário, carcará, urubu e até mesmo o velocíssimo beija-flor. Era um verdadeiro carrasco
quando passarinhava.
Com ele, nas farras, sempre estavam presentes Pereira, Trajano, Ernande Baracho,
Roberto Marques, Chicão, Zezinho Coroa, Artur Machado, Mário Barros e o Floro, seu
cunhado, que quase sempre se encontrava na linha de frente das noitadas festivas. Uma vida
inteira como irmãos siameses de bebedeira. Santana mudou sua vida quando, em 1988, o
PRODUBAN cerrou suas portas por questões financeiras e péssima gestão administrativa.
Governos irresponsáveis permitiram que o banco alagoano quebrasse em razão de contratos
que foram considerados, posteriormente, lesivos ao seu patrimônio, como o famigerado
acordo entre o banco e algumas classes produtoras de Alagoas, que nunca pagaram um
centavo sequer dos empréstimos negociados.
Nenhum avalista pagou por isso e nenhum patrimônio dos devedores sofreu qualquer
“arranhão” das garras da justiça. Esse fato motivou, tempos depois, a instauração de uma
Comissão Parlamentar de Inquérito. Os resultados da CPI do PRODUBAN foram remetidos à
justiça, onde se arrasta até hoje.
Essa irresponsabilidade levou à rua das amarguras e ao muro das lamentações 1.200
funcionários do banco. Alguns se entregaram ao vício da embriaguez, outros foram
acometidos de crises nervosas, tornando-se dependentes de acompanhamento psiquiátrico e
do uso de tranquilizantes menores. Houve até quem, em momento de acentuada depressão,
atentasse com sucesso contra sua própria vida. Ainda hoje nós os vemos perambulando pelas
ruas, vendendo cachorro quente ou como verdadeiros zumbis. Famílias inteiras foram
177
desestruturadas, casamentos desfeitos e muitos vivendo à custa dos parentes. O fechamento
do PRODUBAN foi uma tragédia para os seus funcionários.
Santana foi um desses que, não aguentando a pressão e o peso da responsabilidade
familiar, terminou desenvolvendo doença coronariana acrescida de uma diabetes. Em 1998,
ele reclamou de forte dor no peito e falta de ar. Negava-se a procurar um médico por mais que
sua esposa Vela Lúcia insistisse. Fui chamado às pressas a sua casa e, quase à força, levei-o a
Santa Casa de Maceió para um atendimento emergencial. A equipe de cardiologia, altamente
qualificada, diagnosticou infarto do miocárdio, internando-o imediatamente na UTI.
Passado o susto, foi submetido a cateterismo cardíaco pelas mãos experientes do nosso
colega Gilvan Dourado, que recomendou cirurgia de revascularização do miocárdio – no
popular, colocação de pontes de safena. Na manhã do exame, fui visitá-lo em um apartamento
da Santa Casa. Ele estava ansioso, inquieto, conversando muito e fazendo piadas com os
presentes. Ele lembrava que tinha experimentado idêntico estado de ansiedade quando, em
1991, eu fui submetido à mesma cirurgia cardíaca para colocação de quatro pontes de safena.
Tentei tranquilizá-lo o quanto pude e, antes de me despedir, escrevi alguns versos, que
deixei em cima da mesa ao lado de folhas em branco. Queria que ele, poeta também,
extravasasse através da poesia a inquietação natural desses momentos. Rabisquei o seguinte:
Pra seu Toinho Santana,
Poeta de opinião,
Que deitado em sua cama,
Espera a ocasião,
Deixo estas folhas em branco,
Pedindo-lhe que aguente o tranco,
E mande botar as “pontes”,
Prú riba do coração.
Pois ele mesmo é um valente,
E respeitado no sertão,
Dizem até que fez parte
Do bando de Lampião,
Sendo, igualmente Corisco,
Com um bacamarte na mão.
A coisa foi muito séria,
Eu vi o cateterismo,
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Gilvan salvou uma artéria
Agindo com heroísmo,
Porém, lhe disse: Santana,
Agora, tome juízo.
No dia seguinte, voltei a visitá-lo e ele já tinha produzido as seguintes quadras:
Estando na Santa Casa
E sendo ex-PRODUBAN,
Aqui serei operado
Me informa o Dr. Gilvan
Há sete anos atrás,
O mano veio infartou,
E essa grande equipe,
Foi ela quem lhe salvou
Eu não sei se sou valente,
Ou primo de Lampião,
Também valente se afroxa
Na mesa de operação
Segunda-feira tá chegando,
Ninguém de mim tenha pena,
Meu coração vai ficar novo,
Com as pontes de safena
Vou encerrar os meus versos,
É hora de ir prá cama,
Agora de Coração Aberto,
Ernane e Antônio Santana.
179
Lembranças do Cine Apolo
Conheci o cinema através da pequena tela do Cine São José, em minha terra natal,
Colônia Leopoldina. A atração pela sétima arte era tamanha que cheguei a ocupar função de
porteiro daquela casa de entretenimento, que funcionava as quintas, sábados e domingos. O
São José tinha à frente um grande entusiasta do cinema, Sebastião Lopes e, depois, o seu
irmão José Lopes, que também iniciou sua vida como porteiro. Presenciei a garotada e os
barbados se deliciarem com os filmes ali projetados: os seriados de Zorro, Nioka a Rainha da
Selva, Flash Gordon, os grandes filmes de amor, de bang-gang, de guerra, de espadachins,
Tarzan e o Fantasma Vingador. Também ali eram exibidos filmes de suspense e de comédia
com grandes artistas brasileiros como Grande Otelo, Zé Trindade, Ankito, Oscarito, Zezé de
Macedo, Dercy Gonçalves, Anselmo Duarte, Eliane, Renata Fronzi, e tantos outros comediantes
do nosso iniciante cinema.
Em 1959, quando iniciei meus estudos no Ginásio Agamenon Magalhães, na vizinha
cidade de Palmares, em Pernambuco, fui conhecer o cine Apolo. Foi enorme a sensação de
felicidade ao reencontrar o agradável mundo do cinema – principalmente exibidos numa
telona com som estereofônico, já que vivíamos a época do cinemascope.
A cidade de Palmares possuía apenas dois cinemas. O mais antigo era o Cine Theatro
Apolo e o segundo era o cinema São Luís, com instalações e maquinário mais novos e cadeiras
mais aconchegantes. Os estudantes preferiam o velho cinema Apolo, que não tinha
comodidade e nem grandes atrativos, mas era o ponto de encontro da estudantada do Ginásio
Agamenon Magalhães, do SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), do Ginásio
Costa Azevedo e da Escola Técnica de Comércio dos Palmares. Lá, de maneira irresponsável, se
comportavam como adolescentes rebeldes e sem causa, sempre agindo de forma imatura. A
bagunça era generalizada: jogavam caroços e cascas de pitombas nas cabeças uns dos outros,
davam gritinhos nervosos, faziam xixi em plena sessão, arrotavam e peidavam
escandalosamente. Reclamavam também da presença das pulgas e do odor nauseabundo
vindo dos banheiros. Várias vezes, o operador da máquina acendia as luzes e suspendia a
projeção da fita por alguns minutos para pedir silêncio, ameaçando até mesmo suspender a
“passagem do filme” ou apelar para a polícia.
O porteiro do Apolo chamava-se Altino. Era um septuagenário muito espirituoso,
chegado a um chiste, a uma prosa safada, e ainda mostrava seus dotes como um exímio
contador de anedotas. Conhecia quase todos os frequentadores daquele cinema. Nós o
estimulávamos e gostávamos de ouvi-lo contar suas putarias. Às vezes, somente nos
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afastávamos dele quando a sessão cinematográfica já havia sido iniciada e a tela mostrava as
primeiras “notícias da semana”, de Jean Mazon.
Com poucas oportunidades de diversão noturna, nós vivíamos esperando os dias de
sessão para namorarmos no escurinho do cinema e também bagunçarmos o ambiente.
Quando a fita exigia silêncio, concentração e emoção, nós ríamos e até imitávamos os sons dos
animais; quando a cena era de alegria, nós ensaiávamos momentos de choro. No meio de
tanta esculhambação, quem melhor resumiu o que era o Apolo foi um anônimo que deixou
escrita essa engraçada glosa na porta do sanitário:
Quem vai ao Cinema Apolo,
Na entrada o porteiro joga pulha,
Lá dentro se desembrulha,
Uma fita ruim desgraçada,
Quem sofre é o camarada,
Com peido, pulga e mau cheiro.
Se levanta o desordeiro,
E grita de voz enxuta:
Isso é cinema ou chiqueiro?
Comboio de filhos da puta.
Encontrei, em minha caminhada pela vida, várias outras escritas poéticas em lugares
inusitados. Mas, a glosa do Apolo ficou gravada como lembrança da minha juventude nas
terras palmarinas, onde fiz os primeiros contatos com a arte de escrever poesia.
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Todo astronauta que parte...
O cosmonauta russo Yuri Gagarin foi o primeiro homem a conquistar o espaço. Em 12 de
abril de 1961 ele deu uma volta completa na órbita terrestre pilotando a nave russa Vostok.
Antes, em 1957, os russos já haviam colocado em órbita o satélite Sputinik. Esses dois feitos
colocavam os russos na dianteira da corrida pela conquista do espaço sideral. Secretamente,
os EUA planejavam responder aos russos, realizando o primeiro pouso tripulado na lua. Os
cientistas e cosmonautas daquele país, incentivados pelo presidente John Kennedy,
alcançaram o sucesso somente no ano de 1969, quando Neil Armstrong, pilotando a Apolo 11,
fez história ao ser o primeiro homem a pisar no solo lunar.
Esses feitos não passaram despercebidos pelos poetas e escritores da época. Durante o
carnaval de 1962, em Pernambuco, foi lançada com muito sucesso a marchinha carnavalesca
Eu vou pra lua, de autoria dos compositores Luiz Boquinha e Ary Lobo. Sua letra era simples,
mas retratava com fidelidade o feito do astronauta russo Yuri Gagarin. O frevo pernambucano
foi cantado no Brasil inteiro. Sua letra era mais ou menos assim:
Gagarin, subiu, subiu, subiu,
Foi até ao espaço sideral,
Chegando lá na lua ele sorriu:
Vou m’imbora pro Brasil
Que o negócio é carnaval
A lua disse, não vá, demore mais
Já ouvi que lá na terra
Querem lhe passar pra trás
Mas o Gagarin correu e deu no pé
Vou m’imbora pro Brasil
Eu quero é conhecer Pelé.
Em 1970, conheci o poeta Antônio Aurélio de Morais, natural de Atalaia, em Alagoas.
Sapateiro de profissão e poeta nas horas vagas. Ele possuía uma oficina de trabalho localizada
num cubículo existente na esquina da Rua Formosa com a Miguel Omena. Quando colei grau
no ano de 1971, na antiga Faculdade de Medicina, declamei alguns versos do “tio” Tonho e,
ele próprio foi convidado por mim para declamar a sua poesia, Criança num é caxorro.
182
Estimulamos o sapateiro a publicar seus versos, fato que somente ocorreu em 1981, quando
pela Sergasa ele publicou versos de um Lambe-Sola.
A nossa turma de medicina era bastante politizada e resolveu não homenagear
nenhuma autoridade. Por unanimidade escolheu como patrono a poesia do “tio” Tonho, A
Criança Abandonada. Fiz com sucesso, o discurso da aula da saudade.
Quando da conquista da lua, “tio” Tonho escreveu uma poesia de nome Eu vou pra lua,
de onde extraí os seguintes versos:
Tenho seis fios piqueno
I a muié com o buxão
Mai num to ligano não
Eu dêxo tudo na rua
Daqui num quero mai nada
Já tô cá trôxa rumada
Prú mode morá na lua.
“Tio” Tonho completou a sua poesia escrevendo versos que homenageavam o
astronauta americano Neil Armstrong que participara da conquista da lua:
Minha muié na inxada
Trabaia quiném um bixo,
Ta cá pança no espixo,
Mai quando ela dispejá,
Eu vô incerrá naquele,
E si for maxo u nome dele
É Armustrongo Luná.
Como só se falava na conquista da lua, o compositor e cantor Ary Lobo e o paraibano
Jackson do Pandeiro também cantaram e encantaram o Brasil com um forró que dizia mais ou
menos assim:
Eu vou pra lua, eu vou morar lá
Saio no meu Sputnik do campo do Jequiá
Já estou enjoado aqui da terra
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Onde o povo a pulso faz regime
A indústria, o roubo, a fome, o crime...
Lá na lua não falta hospital, não falta escola
É fuzilado lá quem come bola
E morre na rua quem faz anarquia...
Lá não tem juventude transviada
Os rapazes de lá não têm malícia
Quando há casamento na polícia
A moça é quem é sentenciada,
Por ventura, se a mulher for casada
E enganar o marido, a coisa é feia
Ela pega dez anos de cadeia
E o conquistador não sofre nada...
De igual maneira, o nosso alagoano Roberto Beckér, também compositor, e dos bons,
cantou e gravou um disco enaltecendo a grande proeza americana na conquista do solo lunar.
Quando o homem foi à lua,
Numa nave espacial,
Começou a descobrir,
O espaço sideral,
Viu as estrelas do Norte,
Via as estrelas do Sul,
E ficou maravilhado
Vendo que a terra era azul.
Na década de 60 as doenças venéreas, hoje chamadas de doenças sexualmente
transmissíveis, explodiram no Brasil de forma assustadora. Foi uma verdadeira epidemia.
Nessa mesma década houve uma verdadeira revolução sexual com o uso de preservativos, as
famosas camisinhas, e o aparecimento das pílulas anticoncepcionais.
Ministrando aulas na velha Faculdade de Medicina, o mestre Aderbal Loureiro Jatobá,
quando abordava as doenças venéreas, fazia referência a uns versos que ele ouvira no Rio de
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Janeiro, durante o seu curso de pós-graduação em Saúde Pública. O carioca, de natureza
irreverente, fazia gozações em relação à conquista da lua e às doenças venéreas,
recomendando aos astronautas cuidados especiais com sua saúde, principalmente quando
fossem lançados ao espaço sideral. Sempre que podia, Dr. Aderbal repetia essa quadra de
domínio público, que passamos a transcrevê-la conforme ouvimos em sala de aula:
Todo astronauta que parte,
Tem que trazer pelo menos,
Uma gravata de Marte
E uma camisa de Vênus.
A poesia, como crônica popular, é também uma forma de contar história a partir do
olhar criativo do artista. É a arte que faz a poesia nascer numa banca de sapateiro e chegar aos
bancos da universidade, mesmo quando o tema envolve descobertas e avanços científicos.
185
Choveu tantinho assim
No ano de 1973, recém-formado em medicina e já sendo chamado pelas pessoas mais
simples de doutor Ernane, fui visitar em Bom Conselho, Pernambuco, a minha noiva e futura
esposa Eutália Guerra. Ali tive o prazer de ser apresentado pelo meu concunhado, Arcôncio
Camboim, a um cidadão de nome Jacó. Pessoa conhecida na cidade por sua espirituosidade,
boas piadas e inteligência. O velho sertanejo, mesmo já alquebrado pelo peso dos seus quase
setenta janeiros, nunca deixou de ir aos sábados à feira da cidade e nem de cuidar dos seus 15
hectares de terra, onde plantava feijão, milho, algodão e a palma forrageira, que servia para
alimentar a suas poucas cabeças de gado bovino.
Jacó era vizinho de cerca da propriedade de Zitinho, cidadão abastado e considerado um
dos maiores fazendeiros daquela região. Ele era dono de 380 hectares de terras, que eram
separadas das de Jacó por uma enorme cerca, parte feita com varas finas entrelaçadas umas às
outras e parte de aveloz. O cidadão vivia econômica e financeiramente muito bem, graças à
venda de leite e gado para o abate, além de também vender a palma forrageira para os
proprietários circunvizinhos.
Indo Jacó, certo dia, para a feira de Bom Conselho, encontrou com o amigo Deolindo,
que queria saber mais detalhes da chuvarada que tinha caído dias antes.
“Seu” Jacó, choveu muito nas suas terras?
Ele imediatamente respondeu:
Qual nada seu moço, nas minhas terras choveu tantinho assim. Mostrou um
pequeno espaço entre os dedos e emendou: Agora, nas terras do meu vizinho Zitinho foi
tanta água que os riachos estouraram e os açudes transbordaram. Foi um mundão de água.
Deolindo, que lhe fizera a pergunta, ficou meio descabreado com aquela resposta tão
estranha, pois sabia que chovera bastante em toda região, o que não excluía as terras de Jacó.
Passados alguns anos e tendo novamente chovido torrencialmente no município de Bom
Conselho Papa-Caça, lá vem o nosso querido Jacó caminhando pela feira da cidade quando,
por coincidência, encontra com Deolindo que, lembrando da situação de anos antes e da
resposta de Jacó, resolve perguntar de novo.
Jacó, choveu muito lá pras bandas de sua terra?
Ele respondeu sem hesitar:
Nunca vi tanta fartura de água, quase que o mundo se acaba de trovoada e de um
aguaceiro danado de bom que caiu do céu. Esse ano eu planto tudo.
Deolindo não se aguentou e provocou:
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E nas terras do Zitinho, choveu muito como da outra vez?
O velho Jacó, percebendo onde o amigo queria chegar, respondeu-lhe:
Qual nada seu moço, nas terras do Zitinho choveu muito pouco, choveu tantinho
assim. E mostrou os dedos levemente afastados.
Deolindo insistiu.
Mas suas terras não são vizinhas das do Zitinho? Como pode chover tanto em um
lugar e no outro tantinho assim?
O astuto Jacó não se intimidou e explicou:
Naquele tempo eu possuía uns 15 hectares de terra e ele possuía quase 400 hectares.
Hoje, as coisas estão invertidas e eu tenho mais terras que ele. Ou já se esqueceu que o Zitinho
morreu no ano passado e suas terras são apenas uns dois metros de comprimento por um
metro de largura. Por isso que posso lhe dizer hoje, com garantia, que nas terras dele choveu
tantinho assim.
187
Os dez mandamentos dos cabras de Lampião
O capitão Virgulino Ferreira da Silva, apelidado Lampião, participou de muitas
escaramuças em vários estados do Nordeste. Conta Gildson Oliveira em seu livro Luiz Gonzaga:
o matuto que conquistou o mundo que foi Lampião “quem ensinou o Nordeste a fazer justiça
com as próprias mãos, escrevendo sua história através da fumaça dos seus rifles e bacamartes
– quase sempre em defesa dos injustiçados”.
Lampião e seu grupo foram produtos de toda uma situação política, cultural, social e
econômica que prevaleceu no início do século XX no nordeste brasileiro. Cangaceiros, jagunços
e matadores de aluguel, terminaram por servir quase que religiosamente aos coronéis,
latifundiários e senhores de engenho da época, nas suas disputas políticas. Era comum o
cangaceiro proteger o político e dele também receber proteção contra as forças policiais.
O deputado cearense Floro Bartolomeu, ao conceder a Lampião a patente de capitão
das forças legais, assim procedeu com o objetivo de sensibilizá-lo a defender a cidade cearense
de Juazeiro, terra do m eu Padim Padre Cícero, da provável invasão comunista através da
Coluna Prestes. Além da patente, Lampião recebeu também armas automáticas e farta
munição para proteger a cidade.
O bando de Lampião havia crescido tanto que ele começou a perder o controle. Seus
cabras matavam e saqueavam povoados e vilas, impondo o terror, utilizando o nome do
capitão Virgulino. Quando tomou conhecimento de tais estripulias, Lampião sentiu que era
chegada a hora de disciplinar seus seguidores, que estavam aumentando mais ainda sua fama
de bandido implacável. Reuniu Corisco, Moita Brava, Antonio Silvino, Gato, Limoeiro,
Fortaleza, Félix, Mata Redondo, Mariano, Ezequiel, Zé Baiano, Volta Seca, Arvoredo, Gavião,
Luiz Pedro, Mourão, Elétrico, Mergulhão, Quinta-Feira, o grupo de Antônio Purcina, seu
cunhado Virgínio e mais alguns cangaceiros que sempre foram leais ao seu comando e lhes
falou que sua autoridade estava sendo desrespeitada. Precisava com urgência disciplinar os
cangaceiros, uma vez que, não havia critérios para se fazer parte do seu bando. Muitos
ingressaram no cangaço fugindo da perseguição policial, à procura da proteção que
imaginavam ter ao pertencerem ao bando de Lampião.
Com semelhante tropa, só a força bruta poderia frear os ímpetos criminosos desses
cangaceiros. Dizem que o próprio Lampião andou sangrando alguns “cabras da peste”, que
andaram passando os pés pelas mãos, isto é, lhes faltando com obediência e respeito, fazendo
determinados “serviços” por conta própria.
O cangaceiro reuniu os seus “cabras” na divisa de Alagoas com Sergipe e, em cima de
um penhasco à beira do rio São Francisco, fez igual a Moisés quando apresentou os dez
188
mandamentos da lei de Deus aos seus seguidores. Virgulino apresentou também os seus dez
mandamentos, que segundo o meu compadre Genival da Paraíba, foram escritos por um poeta
cordelista, cujo nome ele nunca conseguiu se lembrar.
Lampião teria falado o seguinte:
De hoje em diante, após eu acabar de anunciar os dez mandamentos, o cabra safado
só permanece no bando se quiser. Ficando, se não respeitar as normas do cangaço, para a sua
alma não haverá salvação.
Após as palavras de Lampião, Corisco, seu “cabra” de confiança, passou a ler em voz alta
o que o chefe havia rabiscado em uma folha de caderno “Avante Brasil”:
“Primeiro, amar o cangaço
De todo o seu coração.
Segundo, a ordem do chefe
Não deixar cair em vão.
Terceiro, acreditar nele,
e quarto, morrer por ele,
Em qualquer ocasião.
Quinto, não deixar fugir,
O soldado que pegar,
Sexto, nunca ter dó,
De nenhum particular.
Sétimo, de armas na mão,
Se deixar cair n o chão,
O chefe manda fuzilar,
Oitavo, não maldizer,
A vida de cangaceiro.
Nono, não cobiçar,
Senão joias e dinheiro,
E décimo, se conspirar,
O chefe manda amarrar,
Em riba do formigueiro.
Genival da Paraíba também não soube me dizer se esses mandamentos foram
obedecidos pelos “disciplinados” seguidores de Lampião.
189
0 poeta Genival da Paraíba
Nasceu Genival Rodrigues da Silva em Sumé, na Paraíba. Chegou em Colônia Leopoldina
na década de 60, através de Zé Maria de Omena, que era contador da Usina Taquara.
Certa noite, em 1964, tomando “umas e outras” no famoso Bar das Ostras, em Maceió,
Zé Maria de Omena encontrou-se com o poeta Genival da Paraíba, que estava acompanhado
de um colega chamado Zé Brejeiro, também poeta e natural de Barreiros, em Pernambuco.
Como Zé Maria era poeta, boêmio e também excelente declamador, passaram a noite
declamando e conversando sobre toda “versidade poética”, com cada um tentando mostrar
mais competência que o outro na arte declamatória. Como bons boêmios, também mostraram
serviço na hora de tomar todas e mais algumas.
Ali mesmo, na mesa do bar, Zé Maria soube que o poeta Genival da Paraíba estava
desempregado e vivendo, ele e sua família, de favores na casa de um parente em Maceió. Bom
coração, Zé Maria de imediato o convidou para trabalhar como auxiliar de escritório na Usina
Taquara. Convite feito e aceito na mesma hora, já marcaram a viagem para a madrugada
daquela noite. Na hora acertada, o poeta Genival se aboletou no banco traseiro do Jeep e lá
ficou calado, cabisbaixo e macambúzio. Zé Maria notou e lhe perguntou:
Poeta, o que é que você tem? Está triste? Parece que viu assombração ou quer desistir
da viagem e do emprego?
Diante da preocupação do novo amigo, Genival explicou o motivo de tanta tristeza.
“Seu” Zé, o problema é que lá em casa não deixei nada pra comer. De comer mesmo,
lá em casa só tem a mulher e os filhos.
Zé Maria deu uma gargalhada com a resposta ladina e astuciosa dada pelo poeta. Botou
a mão no bolso, tirou certa quantia em dinheiro e a entregou a Genival e disse:
Volte a sua casa, deixe o dinheiro com a sua mulher e aí decida se vai ou não.
O poeta partiu alegremente e voltou rapidamente. Foram para Leopoldina, de onde
nosso poeta jamais saiu, e onde hoje é até nome de rua.
Com seu jeito desasnado e com seus improvisos marotos ganhou logo a confiança do
industrial José Luiz Lessa. Tempos depois esse usineiro o lançou candidato a vereador para
representar a comunidade operária da Usina Taquara. Foi eleito em 1973, mas não chegou a
concluir o seu mandato, em razão de haver sido acometido de grave moléstia. Faleceu em 17
de agosto de 1976.
Genival tomou-se como padrinho de uma de suas filhas, juntos e sob o comando do meu
pai, o “tenente” Giso, nos metemos em muitas estripulias. Declaramos em parceria nas
cidades de Colônia Leopoldina, Ibateguara e Maceió, em Alagoas. Fomos a Palmares e Água
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Preta em Pernambuco, e a Própria e Aracaju, no vizinho Estado de Sergipe, de onde sua
mulher Maria Aparecida era filha natural.
Quando conclui o curso de medicina, ele me fez uma grande surpresa trazendo até
Colônia Leopoldina o seu colega e poeta Zé Marcolino, grande compositor de músicas para Luiz
Gonzaga. Zé Marcolino almoçou conosco, declamou alguns poemas, ouviu outros, e até cantou
algumas canções de seu vasto repertório, que foram gravadas por Gonzagão.
Genival da Paraíba, além de ter sido um excelente declamador, aplaudido e requisitado
para as festas, era um homem trabalhador e cumpridor de seus deveres. Na política só fez
construir mais amizades. Distribuía parte do seu pequeno subsídio de vereador com os mais
pobres. Ele dizia aos mais pobres que lhe pediam ajuda para a feira:
Tome o dinheiro e vá comer. Eu sei o que é passar fome.
O sonho do usineiro Zé Lessa era atingir a fabricação de cem mil sacas de açúcar.
Quando a Usina Taquara conseguiu produzir mais de cem mil sacas, em 1967, Genival, de
imediato escreveu:
Bem que o povo me dizia
Taquara tá miorando,
Pois o usineiro dela
Veve sempre trabaiando,
Num pissui carro bunito
E ninguém vê ele farrando.
Em 1970, quando o governador Lamenha Filho foi inaugurar a energia elétrica de nossa
cidade, ele escreveu e declamou uma poesia intitulada Colonha quilariô, cujos primeiros versos
são os seguintes:
Um versejador matuto
No meio dos home letrado
Fica assim meio acanhado
Num sabe nem cunversá,
Mais ninguém vai sinsurá
Pruquê pueta eu num sou,
Já dixe e digo de novo
Só quero dizê ao povo
Colonha quilariô.
191
Quilariô sim senhor
Quilariô de verdade,
Foi uma felicidade
Que o Governo mandou,
Inté as águas chegou
Nas torneiras e chafariz,
Nosso povo está feliz
Antôno Lins é lutadô.
Nóis vivia no escuro,
Iscuridão que inté juro
Era sumiante ao breu,
A tristeza nos cobria
Tal e qual uma famia
Chorando um pai que morreu.
Tempos depois, quando do término do mandato do prefeito Antônio Lins da Rocha e
posse do industrial José Luiz Lessa como o próximo prefeito da cidade, ele tomou umas
“bicadas” e assim se expressou:
Dispoi que quilariô
Eu nunca mai dixe nada
Tava isperando o moimento
Perparando a imboscada
Pra quando chegasse a vez
Eu dá minha imburacada
E prosseguiu de microfone em punho:
E hoje eu torno a vortá
Num sei se bem inspirado,
Mai sei que meu pensamento
Vem bem intencionado
Mode nos versos matuto
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Dá conta do meu recado.
Mais adiante, mostrava noutra sextilha o que realmente veio fazer e dizer naquela noite
de festa:
Vim dá adeus a quem vai,
Parabenizá quem vem,
Vim divirti o isprito
E a natureza tombem,
Vim vivê essa noitada
Cum tudo que nela tem.
Genival da Paraíba faz parte da história cultural da Colônia de Leopoldina.
193
Pulo mermo motivo
O meu cunhado José de Barros Corrêa, exímio contador de “causos”, é mais conhecido
na cidade de Palmares pelo apelido de Zezito da Sodipe, ou ainda por Zezito de seu Lelé.
Herdou os apelidos do tempo em trabalhou na Sodipe, loja de peças de automóveis
pertencente ao seu pai Lelé Corrêa, grande poeta da cidade.
Quando o visito, ele sempre tem um “causo” para me contar. Outro dia narrou que nos
idos de 1940, residia em Palmares um sapateiro de nome Manoel Dionísio, dono de uma
oficina de trabalho localizada quase no centro comercial. Exercitava a sua arte fazendo ou
consertando sapatos, botas e botinas, além de, vez por outra, realizar reparos em guarda-
chuvas, sombrinhas, arreios e selas de montaria. Às vezes, a pedido da garotada do lugar, abria
uma exceção e costurava as bolas couraças.
Dionísio era um homem muito esperto e bom de prosa. Amigo de todos, fregueses ou
não. Seus olhos brilhavam de alegria quando se falava em dinheiro perto dele. Sempre atento,
espirituoso e chegado a resposta simples e inteligentes.
O velho sapateiro era casado e tinha um casal de filhos. O rapaz, cujo nome de batismo
era Terêncio, possuía muita habilidade com as letras e dominava com bastante facilidade a
matemática. Sua filha, Maria José, conhecida por Mazé, a custo de muito sacrifício conseguiu o
diploma de professora em uma escola normal rural. Uma proeza e motivo de orgulho para
aquela época de atraso educacional. Todavia, apesar dos filhos letrados, o velho Dionísio era
um legítimo analfabeto.
Seus amigos e alguns desocupados ficavam sentados em sua oficina proseando e
observando a sua destreza e maestria na arte de bater sola. No meio das conversas, lhe
enchiam de elogios dizendo que ele era um homem de sorte e rico, por possuir dois filhos
letrados e que em breve o ajudariam a não precisar mais trabalhar de sapateiro, Dionísio ouvia
e respondia:
É verdade, sim, senhor. Sou um home de muita sorte, muito rico. Minha filha Mazé
sabe tanto português, que dá inté pra mode inscrever uma gramática, e o meu filho Terenço,
sabe mais matemática do que quarqué professor de ingenharia. Mais no dia em que eu num
bato o prego, num chega comida lá em casa. De que serve tanta instrução se num tem
emprego pra eles?
Com isso, o velho dava a prosa por encerrada.
194
Certo dia, sua esposa Severina querendo lhe chamar a atenção enquanto ele consertava
uma sela, disse-lhe com voz carregada de ternura, demonstrando carência afetiva:
Meu véio, está dando uma coisa em mim.
A resposta veio sem pestanejar:
Arreceba, minha véia.
Ela retrucou:
Mais é uma coisa ruim, Dionísio.
Sem se abalar ele respondeu:
Oxente muié, entonce devolva.
Nessa mesma época, também morava na cidade de Palmares um senhor de engenho
que acudia pelo nome de Otacílio do Engenho Pajeú. Cidadão muito respeitado, pertencente à
aristocracia agrária de Pernambuco e frequentador do Clube Lítero Recreativo dos Palmares.
Era figura frequentemente encontrada nas rodas de prosa que se formavam na calçada da
igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, onde após a missa se discutia política, economia,
revolução de 30, surgimento das usinas e suas consequências para as classes produtoras da
cidade.
Mas tal senhor de engenho também era portador de outra característica pouco
elogiável: não era muito chegado a saldar seus compromissos financeiros. Com essa fama de
mau pagador, os comerciantes evitavam lhe vender fiado. Otacílio era um mestre na arte de
empurrar os problemas e as dívidas com a barriga. Quando procurado pelos credores,
utilizava-se quase sempre da seguinte resposta:
Hoje não, mas amanhã sem falta, eu mando pagar o que lhe devo. No momento estou
desprevenido.
Um belo dia, Otacílio do Engenho Pajeú achou por bem mandar por um preto velho e
analfabeto, um bilhete endereçado ao sapateiro Dionísio, que foi lido por sua filha Mazé. Lá
esta escrito: “Prezado amigo Dionísio, solicito a fineza de enviar-me pelo portador deste, um
par de botas tamanho 42. Deixo de mandar o dinheiro correspondente a encomenda, porque o
referido portador não merece confiança. Atenciosamente, Otacílio do Engenho Pajeú”. Após
ouvir a leitura do bilhete pela terceira vez, o velho Dionísio demorou-se matutando e espiando
o preto velho que esperava. Sentindo o cheiro do calote no ar, o astuto sapateiro disse para
sua filha:
Mazé, bote aí nas costas desse bilhete o seguinte: seu Otacílio, me adescurpe a
resposta, mais dêxo de mandar a sua encomenda pulo mermo mutivo.
195
Grampo azougado pra mulher que tem piolho
Francisco Santana e Silva, meu avô, era um dos grandes comerciantes de Colônia
Leopoldina, terra que me serviu de berço. Em suas várias propriedades cultivava o café, o
cacau, a banana, a mandioca e ainda criava umas cem cabeças de gado bovino. Em Caruaru,
também possuía uma propriedade chamada Fazenda Salgado, ali criava gado leiteiro de raça
holandesa, vendia o leite, fazia o queijo e também alugava o pasto aos boiadeiros viajantes
que vinham para a famosa feira da cidade.
Fez parte do velho PSD (Partido Social Democrata) no final dos anos 30. Seu Chiquito,
como era conhecido, vivia sempre cercado de amigos e familiares. Era um cidadão exemplar.
Católico convicto e pertencente à Liga Católica Apostólica Romana. Enviuvou quando suas
cinco filhas ainda eram crianças, mas tempos depois conheceu Celeste de Lima, a diretora do
Grupo Escolar Aristheu de Andrade, com quem casou para dar uma segunda mãe às filhas.
Seu Chiquito mantinha, em Colônia Leopoldina, uma loja na antiga Rua do Comércio,
hoje 15 de Novembro. Seu estabelecimento comercial negociava quase tudo: tecidos de chita,
brim paulista, organdi, madapolão, algodão e seda; chapéus Panamá, Cury luxo, Ramezzoni,
pratos de ágata, xícaras, garfos, colheres, gillete para barbear, pentes flamengo, pentes finos,
carretéis de linha urso 40, brilhantina, perfumes, tabuada de Teobaldo Miranda, a “Cartilha do
Povo”, cadernos “Avante Brasil”, fitas de cetim, grampos para cabelos de mulher, marrafas e
outras bijuterias do adorno feminino.
Nessa época, também vivia em Colônia um cidadão chamado Pedro José de Souza. Era
oficial de justiça e orgulhoso coveiro da cidade. Ele se gabava de saber em qual cova cada
pessoa do lugar estava enterrada. Os gozadores da cidade diziam que os presos pelo juiz
podiam ser soltos com um bom advogado, mas aquele que fosse preso na sepultura pelo
Pedro, não havia nenhum habeas corpus que o soltasse. Casou com D. Maria, com quem teve
dois filhos: Antônia e Luiz. Convivi com o Luiz quando criança e perambulávamos pelas ruas de
nossa querida Colônia Leopoldina, fazendo estripulias, organizando brincadeiras e peraltices
de meninos do interior.
Mas Pedro, além de oficial de justiça e coveiro, era também vendedor ambulante. Aos
domingos, trabalhava na feira local negociando mangaio em uma pequena barraca de
madeira, coberta por um pedaço de lona de caminhão e montada sobre rodas de pau. Durante
a semana, ele percorria a cidade vendendo guloseimas. Produzia alfenins, uma deliciosa massa
branca de clara de ovo e açúcar cristal que tomava a forma de patinhas, cavalos, revólveres e
196
bonecos. Na hora do recreio do Grupo Escolar Aristheu de Andrade, lá estava ele à porta
oferecendo os seus bonecos de açúcar.
Olha o alfenim do Pedro. É doce, alimenta e serve para o lanche da garotada.
Foi por causa desse pregão que ele ficou mais conhecido pelo apelido de Pedro Alfenim.
Nas festas de Natal, Ano Novo e do mártir São Sebastião, o santo mais festejado da
cidade, o polivalente Pedro Alfenim se revelava também como o empresário dono do
carrossel. Estrutura simples no qual estavam fixados alguns pares de cavalinhos de madeira
com tiras de couro simulando rédeas. As cadeiras ficavam para os casais se inebriarem dando
voltas no inocente brinquedo. Com tantas profissões, Pedro aprendeu a ser esperto sem deixar
de ser brincalhão. Sempre estava disposto a dizer chistes e contar piadas engraçadas.
Certo dia, o velho Chiquito e Pedro Alfenim conversavam animadamente quando meu
avô contou que possuía cinco ou seis grosas de grampos para prender cabelos de mulher, que
de tanto tempo encalhados já estavam enferrujados. Pedro Alfenim, sentindo a possibilidade
de ganhar alguns trocados com os grampos, se propôs a tentar vendê-los na feira. Chiquito,
que já estava mesmo decidido a jogar os grampos no lixo, concordou e lhe disse:
Olha Pedro, fique com os grampos e deles faça o uso que melhor lhe aprouver, sem
compromisso algum.
Com sua visão “empreendedora”, capaz até de vender algodão por veludo, Pedro
Alfenim imediatamente pôs-se a imaginar uma estratégia para negociar os grampos.
Nos anos 40, o piolho grassava epidemicamente em nossa região. A falta de água e o
desconhecimento das noções básicas de higiene facilitavam a multiplicação da praga. Na
época, para tratar dos piolhos eram utilizados pentes finos – que só arrastavam os “bichos”
maiores – ou se empregava a catação à unha. Mulheres e crianças interioranas perdiam horas
nesse processo de arrepiar cabelos para matar piolho um a um. Foi esse enorme “mercado
consumidor” que Pedro Alfenim escolheu para vender seu produto, mesmo com validade
vencida. Para compensar, atribuiria uma nova função aos grampos, já que estariam
supostamente imantados.
No domingo seguinte, lá estava Pedro na feira anunciando em voz alta:
Meus senhores e minhas senhoras, estamos vendendo grampo azougado pra mulher
que tem piolho e, eu garanto: com sete dias – e repetia com mais ênfase – com sete dias, a
mulher que usar os grampos ficará completamente curada desse mal, dessa peste do piolho.
Os matutos ouviam desconfiados. Mas Pedro falava com tanta convicção sobre o poder
de cura dos seus grampos, que as pessoas foram se aproximando devagarinho e logo surgiram
as primeiras perguntas:
197
Mulher de resguardo pode usar os grampos azougados?
O esperto camelô respondia seguro:
Bota-se sete grampos nos cabelos da mulher no primeiro dia. Tranca-se a mulher num
quarto escuro por sete dias. No terceiro dia bota-se mais sete grampos e no sexto dia também.
A mulher não pode ver a luz do sol e a comida entra por baixo da porta. Pronto, com exatos
sete dias os piolhos vão caindo e morrendo, todos feito piaba na rede.
Entre um toque de gaita e boca de um palavreado convincente, os grampos azougados
foram sendo vendidos, domingo após domingo. Pedro estava alegre com o ganho, mas
preocupado com os possíveis desdobramentos daquela sua propaganda enganosa. Ele fez as
contas e concluiu que passadas quatro semanas, logo alguém apareceria para reclamar da
ineficácia dos seus produtos antipiolho.
Num belo domingo, Pedro Alfenim estava sentado no meio fio da rua, por trás de sua
barraca, quando avistou de longe um sujeito acafuzado, zarolho, com o paletó entreaberto,
mostrando uma pistola garrucha presa na cinta. Ele arrastava pelo braço uma mulher
banguela, que não parava de coçar a desalinhada e arrepiada cabeleira negra. Pedro Alfenim
pensou: “É agora. Dessa eu não escapo” e agachou-se pensando na humilhação e no vexame
que decerto passaria. O sujeito foi chegando e falando bem alto:
Quem é Pedro Alfenim, o homem que vende grampo azougado pra mulher que tem
piolho?
Repetiu a pergunta mais uma três vezes e todos permaneciam em silêncio. Pedro
continuava acocorado e calado. Passando pelo local, um molecote tentou ajudar e indicou:
Seu moço, o Pedro é aquele homem ali agachado.
Não tendo mais como se esconder, o camelô levantou-se de pernas trêmulas e olhos
arregalados. O homem perguntou outra vez:
É você que vende grampo azougado pra mulher que tem piolho?
A resposta veio baixinha, quase inaudível:
Sim senhor, sou eu mesmo.
Para sua surpresa e da plateia que já se formara para assistir aquela cena, o caboclo
perguntou-lhe:
Quantos grampos azougados ainda lhe restam pra vender?
Pedro criou alma nova e, percebendo que poderia se desfazer da “ponta de estoque”,
respondeu:
Restam ainda 140 grampos.
O matuto abusado ordenou:
198
Ajunte tudo num pacote, diga quanto custa os danados dos grampos, que eu quero
ver se agora essa condenada num acaba com essa praga de piolhos que está empestando todo
mundo lá de casa.
Pedro fez o pacote, recebeu o pagamento, deixou o sujeito se afastar um pouco e deu
dois pulos de alegria. Ato contínuo, ele desarmou a barraca e partiu rapidamente carregando
todas as miudezas.
Por segurança e com medo de que o episódio se repetisse sem um final feliz para ele, o
multe empreendedor resolveu passar uns 30 dias sem armar a barraca na feira. Afinal, seguro
morreu de velho.
Pedro Alfenim continuou negociando ainda por muito tempo, alegrando a garotada com
seus doces e entretendo a todos com seu famoso carrossel de cavalinhos. Faleceu com mais de
92 anos de idade, deixando marcada sua presença na história da pequenina Colônia
Leopoldina.
199
Deda Ribeiro e o vendaval de 94
O poeta e sonhador Derival Ribeiro da Silva é filho de Antônio Aureliano da Silva e
Enedina Ribeiro da Silva. Nasceu no Sítio Boa Esperança, no povoado Cachoeira, município de
Maraial, em Pernambuco. Durante muitos anos foi um profissional destacado nas funções de
caldeireiro e soldador. Nas horas vagas, dedicava-se à poesia. Deda Ribeiro ou Deda Cachoeira
trabalhou entre 1966 e 1976 na Usina Taquara e, no período de 1978 a 1994, na Destilaria
Porto Alegre, ambas situadas no município de Colônia Leopoldina. Após a aposentadoria,
passou a residir em Maceió com sua família, em busca de melhores oportunidades para seus
filhos, mas sem esquecer a poesia.
Os personagens de seus versos são pessoas com quem conviveu. São operários e
técnicos da empresa onde trabalhou. Uma das suas poesias, conta um episódio inusitado que
aconteceu no dia 11 de fevereiro de 1994, na Destilaria Porto Rico. Deda Ribeiro, lembra que
eram aproximadamente 14 horas, quando testemunhou uma conversa entre dois agrônomos
da empresa.
Segundo ele, Dr. Fabiano, um homem simples e religioso, dizia que a seca que se abatia
na região norte de Alagoas – e que muito prejudicava a produção da Porto Rico – só se
resolveria por intervenção divina, quando Deus quisesse mandar chuva. Do outro lado, Dr.
Roberto, que era o gerente geral – de gênio forte e autoritário – argumentava que esse
problema era dos homens, e que ele iria resolver de qualquer maneira, nem que tivesse que
apelar para outros meios técnicos. Ele dizia que os homens são sempre os donos da situação.
Deda Cachoeira conta que, enquanto observava essa conversa, viu surgir uma forte
ventania e em seguida caiu um tremendo pé-d’água. A ventania era tão violenta que saiu
provocando sérios estragos na região. Ele não perdeu tempo e descreveu em versos o que
acabara de assistir:
Dr. Fabiano disse:
Meus Deus, porque não choveu
A cana toda morreu
Sumiu o fornecedor
As canas que se plantou
Não quis sair nem da terra
Meu Deus, porque tanta guerra
Se nós queremos é amor.
200
Mas Dr. Roberto disse:
Não quero lamentação
Vou fazer irrigação
E as canas eu vou aguar
Comigo ela tem que dá
Seja com sol ou chovendo
Quando ele estava dizendo
O tempo pegou a mudar.
Veio uma nuvem pesada
Vindo do lado do norte
Com uma ventania forte
De fazer admirar
Vi muitas mulheres chorar
E os homens ficando tristes
E as telhas de brasilite
Voando tudo no ar
Eu vinha na Assembleia
Quando a chuva começou
Corri e fui me amparar
A tempestade aumentou
Foi quando eu vi o seu Pedro
Gritando com muito medo:
“As telhas o vento levou”.
Eu até que achei bonito
Quando olhei pro vendaval
Arrancando as brasilites
Derrubando os pés de pau
A coisa foi muito triste
Mulheres passaram mal
Arrancou dois pés de jaca
De perto das castanholas
201
Três pés de jabuticaba
E quatro de carambola
E se o espírito não me engana
Das touceiras de banana
Eu vi os cachos indo embora.
Isso aí foi um exemplo
Que Deus queria mostrar
Pra quem diz que é poderoso
E Dele quer duvidar
Não fale mal de Jesus
Pois até Ele na cruz
Prometeu que ia voltar.
Eu pra fazer estes versos
Pedi bem perdão a Deus
Também eu só escrevi
Aquilo que aconteceu
Se fiz coisa de errado
Ô Deus perdoe os pecados
Do poeta que escreveu.
O poeta popular consegue extrair poesia até da tragédia. Os exageros, Deus perdoa.
202
As cabeças de Lampião e Maria Bonitinha
Nos anos de 1930, as famílias do sertão e do agreste nordestino viviam assombradas
com os ataques e as atrocidades praticadas por Lampião e seu bando de cangaceiros. As
notícias corriam de boca em boca dando conta da audácia e das estripulias dos bandidos, que
mesmo perseguidos pela polícia, percorriam os estados nordestinos, já há uma década. O
imaginário popular, a literatura de cordel, os violeiros e repentistas enalteciam seus feitos,
relatando sua trajetória de fora da lei ou de vingador dos sertões. Quase sempre era elevado à
categoria de herói do povo nordestino, impressionado com suas façanhas e astúcias para
conseguir enganar as forças policiais.
Foi ao amanhecer do dia 28 de julho de 1938, que Lampião foi emboscado, após ser
traído por um dos seus coiteiros, segundo alguns historiadores. Assim, Lampião, Maria Bonita
e parte do seu bando sucumbiram aos tiros de metralhadora disparados pela volante policial
alagoana comandada pelo tenente João Bezerra, numa grota existente na Fazenda Angicos,
nas margens do Rio São Francisco, município de Porto da Folha em Sergipe. Todos tiveram suas
cabeças decepadas a golpe de facão e colocadas em latas contendo querosene. Esse troféu
macabro foi exposto ao público de várias cidades alagoanas, antes de chegar à Maceió, onde
foram ao Instituto Médico Legal Estácio de Lima para comprovação da identidade dos mortos.
As rádios transmitiam diariamente o ocorrido e os jornais estampavam em suas
primeiras páginas as fotografias das cabeças decepadas dos cangaceiros. Todos queriam
comprar o jornal como lembrança e para saber dos detalhes da empreitada que culminou com
a morte e o esfacelamento do bando. Não havia jornal para todos.
Em 1938, Leopoldina era uma pequena cidade cortada por umas poucas ruas de barro
batido. A Rua 15 de Novembro, mesmo sendo a principal artéria da cidade, também não tinha
pavimento. Nessa rua morava meu avô materno, o comerciante e agricultor Francisco Santana,
mais conhecido como Chiquito. Proprietário de fazendas e negociante de secos e molhados.
Ele também era proprietário de pequenos quartinhos de duas portas e apenas uma janela, que
eram alugados aos bodegueiros, sapateiros, tamanqueiros, barbeiros e vendeiros. O juiz
municipal, Dr. Jerônimo Accioly Lins, mais conhecido como Dr. Gila, era auxiliado, na pacata
cidade, pelo oficial de justiça Pedro José de Souza, o polivalente Pedro Alfenim, que também
era o único coveiro da cidade, fabricante dos doces alfenins, feirante e dono do carrossel.
Foi exatamente nesse período efervescente da histórica desarticulação do bando
liderado por Lampião que o inefável Pedro Alfenim teve a brilhante ideia de procurar Chiquito
para que ele lhe alugasse um de seus quartinhos. Pedro expôs que queria o espaço por apenas
um domingo, para mostrar ao respeitável público da terrinha as famosas cabeças dos
203
cangaceiros. Meu avô ouviu a proposta e ficou desconfiado de que ali existe mais uma
presepada do Pedro, afinal já o conhecia de outras histórias e sabia do que ele era capaz de
fazer para defender alguns réis. Após alguma relutância inicial, Chiquito foi convencido a
alugar o imóvel. O boato de que Colônia Leopoldina iria receber espetáculo de tal magnitude,
logo correu pela boca do povo da cidade e da redondeza. Só se falava no evento mórbido
organizado pelo nosso Pedro Alfenim.
No domingo seguinte, dia de feira, Colônia estava em ebulição. Era um acontecimento
histórico. A multidão ansiosa se aglomerava na porta da improvisada e minúscula casa de
show, querendo o início da função. Pedro tocava o seu realejo e anunciava em voz alta e
estridente que logo daria início a apresentação. Com essa conversa ia ganhando tempo para
vender os últimos ingressos. Era gente empurrando gente numa fila enorme formada na rua
principal da cidade. Os mais exaltados já ameaçavam abrir a porta na marra. Pedro segurou a
pressão até que o empurra-empurra ficou incontrolável. De repente, as portas foram
escancaradas, ao tempo em que o promotor do evento gritava:
Avança negrada, venham ver as cabeças de Lampião e Maria Bonitinha.
A correria para entrar transformou-se num grande atropelo. Era gente gritando, aos
empurrões, com os mais fracos espremidos nas paredes e os menores pisoteados.
Aproveitando a esperada confusão, Pedro escapuliu, atravessando a ponte do Rio Jacuípe em
direção à Pernambuco, onde sua esposa já o esperava para ficarem uma temporada longe da
clientela.
Enquanto isso, na salinha da Rua 15 de Novembro, os pagantes – depois de não
encontrarem cabeça alguma de cangaceiro – perceberam que tinham sido vítimas de mais
uma armação do coveiro. Quando a calma parecia ter sido restabelecida, alguém gritou:
Olha aqui as cabeças de Lampião e Maria Bonita.
Foi outro alvoroço. Mas logo se descobriu que Pedro havia se superado na arte de
pregar peças. Conforme ele anunciava e prometera, ali estavam as cabeças dos bandidos. O
detalhe é que eram as cabeças em fotos, que haviam sido estampadas nas páginas do Jornal
do Comércio e que agora estavam coladas na parede.
Os espectadores enganados foram alvo de gozação na cidade por muito tempo.
Chateados, prometeram se vingar daquela brincadeira que Pedro lhes havia pregado. Semanas
depois, Pedro estava tranquilamente de volta para vender os alfenins, enterrar defunto morto
e intimar gente a mando do Dr. Juiz de Direito.
204
Negócio que três saem ganhando...
Mário da Silva Santos, meu avô paterno, foi dono do Engenho Lua Nova, em Colônia
Leopoldina. Seu pai, o major da guarda nacional Justo do Ipiranga, também foi dono de
engenho, o Ipiranga, que ficava no município pernambucano de Água Preta.
Meu avô desde cedo trabalhou no campo. Vivia montado em lombo de burro ou de
cavalo, ajudando nas tarefas do engenho. Ora, estava acompanhando o roço do mato, a limpa
do terreno, a semeadura da cana-de-açúcar, seu corte no período de safra; ora, se encontrava
com uma vara de ferrão nas mãos, como um verdadeiro carreiro, conduzindo os carros de bois
do engenho. Conhecia de cor e salteado os nomes da cada boi atrelado ao carro de cana: Ouro
Fino, Lavandeira, Andorinha e Teimoso.
Ainda adolescente, amanhecia no eito do canavial fiscalizando os cortadores de cana, os
carreiros e cambiteiros, que tombavam os feixes de cana no lombo dos animais. Assim, levou
quase toda a sua existência, lidando com a terra e, principalmente, com cultura da cana-de-
açúcar. Andava sempre acompanhado pelo capataz Zé Pedro, que também lhe servia de
guarda-costas, por ordem do major Justo do Ipiranga. A convivência terminou em amizade e
ficaram conhecidos por aprontarem muitas estripulias nos forrós das redondezas. Tornaram-se
compadres, sendo que os filhos de Zé Pedro passaram a andar com meu pai, Adalgiso Borges
Santos, exercendo a mesma função do velho capataz. Naquela época, os filhos herdavam as
intrigas e as inimizades dos pais. Era o tempo em que o trabuco e o rifle papo-amarelo falavam
mais alto. Era comum uma rixa política terminar em violência, como, por exemplo, entre os
adeptos do governo Getúlio Vargas e a oposição. Ninguém podia se descuidar da sua
segurança.
Mário foi testemunha do aparecimento das grandes usinas, muitas delas montadas a
partir de capital estrangeiro ou do Banco do Brasil. Empréstimos raramente pagos. Com a
chegada das usinas de açúcar, os pequenos produtores não puderam competir por muito
tempo. Alguns arrendaram suas terras aos novos industriais e foram morar nas cidades,
vivendo do que a usina lhes pagava. Outros, em desespero pela nova situação econômica,
deram fim às suas vidas. Suas “casas grandes” aos poucos foram abandonadas. Elas, que
durante muitas décadas representaram o símbolo do poder e opulência, agora se curvavam ao
poder dos usineiros.
Foi assim que Mário Santos viu o seu engenho apagar o fogo. Mas acostumado ao
trabalho, passou a plantar cana no Engenho Jericó, de propriedade do coronel Joãozito, seu
irmão. A produção era vendida à Usina Porto Rico. Algumas vezes também botava suas canas
para a Usina Santa Therezinha, no município de Água Preta, em Pernambuco.
205
Quando deixou de plantar cana no Engenho Jericó, resolveu se instalar no Engenho
Beleza, pertencente à sua família e ainda em Água Preta. Aos 70 anos, já cansado e adoentado
pela longa vida de trabalho, foi aconselhado pelos filhos a deixar aquelas brenhas, sem água,
sem energia elétrica, distante de tudo e sem conforto algum. Eles estavam também cansados
do trabalho pesado e queriam estudar e descobrir novas oportunidades na cidade.
Ele ouviu a família, vendeu suas canas e foi residir em Olinda, próximo a Recife. Levou
junto com ele a sua terceira mulher, D. Irene, e todos os seus filhos desse último casamento.
Na sua longa vida, Mário constituiu mais de três famílias tendo criado, aproximadamente 35
filhos.
Com o dinheiro das canas comprou uma casinha em Casa Caiada e, orientado pelos
filhos mais velhos, Paulo e Ricardo – que já trabalhavam no comércio de Recife – montou uma
frota de carros de aluguel, empregando quase todas as suas economias na compra de táxis
usados. Sem entender nada do novo riscado, aos poucos viu a empresa se esvaindo.
Desconfiou que estivesse sendo enganado pelos seus choferes de praça, que rodavam de dia e
de noite, mas quando iam prestar contas, o lucro era quase nenhum. Para ele ainda ficava a
responsabilidade de consertar os carros quebrados e batidos.
Mário vendeu sua pequena frota e passou um tempo quieto, assuntando o que fazer
com o resto de suas economias. Muitas propostas tentadoras lhes surgiram, mas o velho já
desconfiado recusava sempre as boas intenções de quem queria ajudá-lo. Vivia dizendo que
“de bem intencionado o inferno tá cheio”. Comportava-se como um gato escaldado, que tem
medo de água fria.
Uma manhã, estando ele em casa descansando em frente à televisão, ouviu alguém
batendo palmas à sua porta. “Seu” Mário abriu o postigo da porta e de longe perguntou:
O que deseja seu moço?
Antes de o homem se apresentar, ele pôde ver que o cidadão trajava-se bem: chapéu,
gravata, paletó, calça de casimira e sapatos bem engraxados, além de conduzir uma vistosa
pasta preta. O velho desconfiou que fosse algum vendedor de bíblia e foi logo dizendo:
O senhor se enganou seu moço, eu não quero comprar livro nenhum.
O homem continuou parado diante da porta e, com voz mansa e pausada, pediu-lhe
licença para expor o motivo de sua visita. Mário, mesmo de cara feia, resolveu receber o
homem, mas lhe pediu que fosse rápido. Já dentro da casa, o cidadão, bem vestido e bem
falante lhe disse:
Meu senhor, eu não sou vendedor de livros. Na verdade represento uma companhia
de seguro de vida.
206
Imediatamente passou a explicar o que pretendia, mostrando alguns papéis cheios de
quadros e tabelas. O vendedor de seguros não parava de falar:
Este tipo de seguro dá direito ao senhor se aposentar. Se sofrer um acidente, o seguro
cobre durante o tempo do seu afastamento do trabalho. Se houver perda parcial de algum
órgão, como um braço ou uma perna, também será ressarcido. Se por acaso o senhor morrer,
sua família receberá o prêmio total do seguro.
Considerando que o freguês estava convencido, o vendedor mostrou a última tabela,
que definia o valor da mensalidade de acordo com a idade do assegurado. Foi quando o “seu”
Mário disse:
Meu amigo, não sou homem muito letrado, mas entendi quase tudo que o senhor me
explicou – e continuou diante do já sorridente vendedor – eu lhe pergunto: ganho alguma
coisa com esse seguro?
A resposta foi surpreendentemente honesta:
Oxente, meu senhor, é claro que sim. Se o senhor não ganhasse nada eu estaria aqui
vendendo o seguro? O senhor é a pessoa mais beneficiada nesse plano, que foi feito
especialmente para atender pessoas como o senhor.
O velho imediatamente fez outra pergunta:
Você ganha alguma coisa vendendo esses papéis?
Novamente o vendedor respondeu com sinceridade:
Ora, se eu não ganhasse nada, não estaria vendendo esses seguros de vida.
Mário insistiu com mais uma pergunta:
E o dono desse plano também sai ganhando alguma coisa?
A resposta não se fez esperar:
Naturalmente. Se eles não tivessem vantagem alguma, não mandariam vender o
plano. Isso pertence a um grupo empresarial muito forte.
Encerrado o interrogatório do vendedor, “seu” Mário se levantou e disse calmamente:
Meu senhor, um negócio em que três saem ganhando e ninguém sai perdendo, não
me cheira muito bem. Ajunte seus papéis, passe bem. Dito isso, mostrou-lhe a porta de saída
da casa.
Seu Mário faleceu de morte natural aos 92 anos de idade, cercado pelos filhos, netos,
bisnetos e tataranetos, na cidade pernambucana de Abreu e Lima.
207
208
LIVRO 8
MELO NETO, José Francisco de. COLÔNIA LEOPOLDINA - 30 anos de lutas
populares por mudanças e cidadania (1983-2013). Editora da Universidade
Federal da Paraíba, João Pessoa: 2013.
ISBN - 978-85-66414-33-2
209
José Francisco de Melo Neto
COLÔNIA LEOPOLDINA - 30 anos de lutas populares por mudanças e cidadania
(1983-2013)
Colônia Leopoldina-Alagoas
210
2013
COLEÇÃO - COLÔNIA LEOPOLDINA
SÉRIE 1 - Filosofia e História
Volume 1
- História imperial e pós-modernidade (alguns elementos de discussão)
Alexandre Gilberto Sobreira
Sílvio César da silva de Carvalho
SÉRIE 2 - Geografia
Volume 1
- Colônia Leopoldina (Al): situações político-ambientais
Maria Betânia Alves dos Passos
Marília Gabriela da C. Gomes
José Francisco de Melo Neto
Volume 2
- Colônia Leopoldina (Al): situações político-ambientais (v. II)
Andréa Marques Silva
Elizabete M. do N. G. Veloso
Paulo Edson de Araújo
Valquíria Maria da Silva
José Francisco de Melo Neto
SÉRIE 3 - Sociologia e Política
Volume 1
- Colônia Leopoldina: 30 anos de lutas populares por mudanças e cidadania
(1983 - 2013)
José Francisco de Melo Neto
211
APRESENTAÇÃO
A resistência política, em suas diferenciadas expressões, constitui as não
concordâncias de agrupamentos políticos aos ditames de grupos dominantes, sendo
produto das contradições do mundo da vida. Também adquire formas variadas, nos
diversos lugares onde se realiza, sempre expressando relações de classes sociais. Em
especial, na cidade de Colônia Leopoldina, apresenta-se também como ambiente rico de
sugestões político-administrativas ao poder público local. A construção concreta de
exercícios de cidadania crítica e ativa.
Este livro procura apresentar e destacar esses momentos por meio de
documentos escritos, portanto, aqueles que precisam não ser esquecidos, fatos dignos de
registros, para contribuir com a história do lugar. Uma história para além dos simples
indícios de fatos e de mera visão linear da vida, sem as suas contradições.
O livro é um registro desses documentos, com a intenção de contribuir à historia
da cidade de Colônia Leopoldina, município localizado na Zona da Mata Norte, do
Estado de Alagoas, a partir do olhar daqueles que estão fora das decisões políticas
dominantes mas que contribuem, decididamente, para a vida política local.
Não expressa, como se vê, um mero registro para uma história geral do
município, mas assinala expressões escritas da resistência de setores populares que se
colocaram em oposição à política dominante local com importantes sugestões para a
administração local. É uma contribuição para a organização, cada vez mais forte, de um
setor que luta por liberdade pelos seus dizeres, os seus pensares e os seus agires, os
setores populares da sociedade. É um esforço e desejo de contribuição às políticas
outras que se mostravam e permanecem como alternativas a um poder alicerçado no
latifúndio e na cultura da cana, expressando as perspectivas dominantes da sociedade
alagoana e do país.
É um registro dos registros escritos de agrupamentos populares da cidade, que
aparentemente parece não esboçarem qualquer tipo de resistência ao estabelecido, mas
que sempre permanecera viva.
212
A pouca existência de qualquer movimento social expressivo popular, traduzida
pelo baixo nível de organização social, característica da região e da cidade, não significa
a inexistência de contradições políticas em uma região das mais esquecidas pelas
políticas públicas, durante décadas. Contraditoriamente, é um município cercado por
duas usinas de açúcar, na Zona da Mata nordestina, com a presença desse operariado e
do trabalhador do corte da cana. Situa-se em uma região das mais ricas,
economicamente, onde vive um povo dos mais pobres do País. Povo este que tem sido
rebaixado ao nível menor as suas condições de cidadania, devido, entre outros aspectos
da vida social, a extremada concentração de terras e de riquezas em tão pouquíssimas
mãos.
Inicialmente, este livro contém esparsos textos, quase perdidos e totalmente
esquecidos nos dias de hoje, acentuadamente aqueles da década passada, até os cinco
primeiros meses do ano de 2013 que, sem desejos de se ter interpretação única dos
mesmos, coloca-os à disposição do leitor para que formule os seus próprios
entendimentos, podendo, inclusive, disporem-se ao trabalho de contribuição à busca da
cidadania de tantos outros.
O papel deste livro é trazer à luz expressões escritas que puderam ser resgatadas
de grupos políticos, não necessariamente partidários, de origens populares, que
traduzem a não passividade do povo da região, a terra onde corre sangue indígena
cumaru, um dos povos antigos moradores das cercanias do Rio Jacuípe, e sangue negro,
dos antepassados de Zumbi.
Colônia Leopoldina, maio de 2013.
O organizador.
213
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO.
1. INTRODUÇÃO.
2. TRILHAS INDICIÁRIAS TEXTUAIS DAS LUTAS POPULARES.
TEXTO - 1. Convite à reunião partidária – PMDB.
TEXTO - 2. Documento de desportistas (Nova Geração).
TEXTO - 3. Documento de Grupos Culturais.
TEXTO - 4. A difícil arte da política de oposição e de esquerda, em cidades do
interior.
TEXTO - 5. Colônia Leopoldina: ação cultural no meio rural.
TEXTO - 6. Colônia Leopoldina: eleições e lições.
TEXTO - 7. Manifesto do Movimento Colônia e Cidadania – MCC.
TEXTO - 8. Ata de reunião do Movimento Colônia e Cidadania (1).
TEXTO - 9. Ata de reunião do Movimento Colônia e Cidadania (2).
TEXTO - 10. Colônia Leopoldina - propostas para a cidade.
TEXTO - 11. Vereador é para lutar.
TEXTO - 12. Afinal, em quem votar?
TEXTO - 13. Colônia Leopoldina: análise de conjuntura política.
TEXTO - 14. Carta do MCC à Prefeita.
TEXTO - 15. Entrevista com Luciano e Maurício.
TEXTO - 16. Entrevista com o Vereador Antônio Timóteo (PT).
3. CONSIDERAÇÕES
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
214
1. INTRODUÇÃO
A cidade tem sua origem em uma colônia militar. Esta fora fundada às margens
do Rio Jacuípe com a finalidade de combater perdedores das lutas pernambucanas,
embrenhados nas matas da região.
Tendo sido, anteriormente, habitada por índios, por antigos escravos, situada no
raio de 100 Km das terras de Zumbi, região de quilombolas, as suas serras como a da
atual Serra do Catita foram passagens e trilhas de negros em busca de liberdade.
Com a instalação da Colônia Militar, nos anos de 1852, surge um povoado que veio
depois a tornar-se a atual cidade de Colônia Leopoldina, com aproximadamente 20 mil
habitantes, trazendo consigo uma síntese de todas as virtudes e mazelas, produtos
culturais dessa tradição.
O nome atual é uma homenagem à Princesa Leopoldina, expressando a
lembrança de uma passagem do Imperador Dom Pedro II por essas terras, em 5 de
janeiro de 1860, tendo sido parte de uma visita às terras de Porto Calvo, fazendo parte
dessas terras. Uma visita que muito marcou a vida desse povoado e expressivo fato
histórico.
Mas a colônia militar encerrara as suas atividades, acompanhado forte
decadência econômica e mantendo-se sob jurisdição da cidade de Porto Calvo. Como se
vê, uma lugar inventado para combate a “revoltosos” e, necessariamente, trazendo
consigo todos os germes de conservação, à época, pela conservação da monarquia e,
hoje, até hoje, pela conservação do status quo dominante, germinado desde a origem do
povoado.
Ainda houve uma outra visita de uma pessoa pertencente à família real, o Dom
Pedro de Orleans e Bragança a Colônia Leopoldina para o lançamento do livro do
leopoldinense Everaldo Araújo Silva. Um livro1 marcado pela perspectiva histórica
fatual, intitulado A COLÔNIA DA PRINCESA, também expressa a simpatia do autor
pelas ideias monarquistas, isto pelos idos dos anos de 1983. Nessa esteira de fatos
educacionais, também ocorre, em 1998, o lançamento do livro do pesquisador e
professor titular da Universidade Federal da Paraiba, José Francisco de Melo Neto,
denominado ORGANIZAÇÃO POPULAR, editado pela Editora da Universidade
1 Ver: A Colônia da Princesa. Everaldo Araújo Silva. Maceió, 1.ed. Igasa, 1983.
215
Federal da Paraíba. Este livro é produto de suas pesquisas que mostram os processos de
organização do povo, em particular, a evolução do conceito de partido no Partido dos
Trabalhadores (PT), em suas lutas para se viver melhor e mais feliz.
É com estes fatos de início da década de 1980, com o declínio da ditadura
militar, que se inicia um grande esforço de democratização das relações entre as
pessoas, entre as pessoas e as instituições, bem como entre as instituições, em síntese,
entre a Sociedade e o Estado.
Os mais de vinte anos de silêncio, impostos por aqueles ditadores, contribuíram
para criar diferenciados processos organizativos políticos, a partir, principalmente, dos
maiores aglomerados humanos e da pressão social, produto de instituições da sociedade
civil. Por outro lado, em regiões mais afastadas dos grandes centros, como é o caso da
cidade Colônia Leopoldina, nas terras de tradições dos canaviais, das casas-grandes e
senzalas, da usinagem e escravidão, arrastaram-se e, ainda, continuam em seus lentos
processos de promoção de cidadania, em busca dos mais elementares direitos.
As imposições do silêncio geram o medo, perdurando ainda. A destruição dessas
amarras passa a cobrar maior nível de exigência para a promoção do sujeito e do outro e
expõe as relações de alteridade de forma mais aguda. A quebra dessas referências forja
caminhos tortuosos de busca de mudanças. Nesses ambientes, as mudanças são esforços
de Hércules e com disposição de tão poucos políticos ou grupos de políticos.
No Brasil, isto significa os esforços de mudanças, iniciados pelo Movimento
Democrático Brasileiro (MDB e depois PMDB), por setores eclesiais da denominada
teologia da libertação, pela criação do Partido dos Trabalhadores (PT) e Central Única
dos Trabalhadores (CUT), expressando um forte movimento de massas de trabalhadores
e, mais presentemente, com o governo do Partido Social Democrático Brasileiro
(PSDB), aprofundado, ainda mais, nos Governos do PT. Sentimentos que, de forma
diferenciada, passaram a ser iniciados, também, por essas bandas.
Os esforços de mudanças localizados em ambientes do interior geográfico,
todavia, foram acontecendo de forma muito lenta e gradual, com pouca visibilidade pela
própria comunidade onde aconteciam. A região da Zona da Mata, em todo o Nordeste,
tem sido profícuo no aparecimento desses movimentos. Mas, aquilo que marca é que o
sentido de mudança expressa, apenas, trocas de nomes de figurantes de gestores
públicos. Qualquer análise pode mostrar que, quando houve alguma mudança, isto
significa, tão somente, que não passou de simples permutas de pessoas com as mesmas
intenções de dominação e da promoção do medo.
216
Na região dos canaviais, em boa parte, ainda perdura a cultura da dominação
escravocrata, reproduzida, ainda hoje, em filhos e netos dos antigos senhores das terras
e das forças políticas locais, mudando-se pequenas coisas para que tudo se permaneça,
mesmo que estejam defendendo distintas siglas partidárias. Diga-se, inclusive, que essas
siglas, muito pouco ou nada dizem em nível local, do ponto de vista ideológico e
político.
O que realmente se põe a cabo são os individuais interesses desses gestores
públicos. Interesses estaduais se apresentam sempre posteriormente às eleições de
prefeitos. Juntos vão reforçar o jogo ideológico e político nacional dos grupos
dominantes nesse cenário, devido à profunda debilidade organizativa dos setores sociais
das pequenas cidades praticamente em todo interior do país.
Neste livro, apresentam-se produtos escritos de grupos situados à margem desse
esquema geral de dominação, produtos de suas análises críticas, em busca de mudanças
no ambiente municipal da cidade de Colônia Leopoldina. Traduzem desejos de
resistência ao estabelecido. Seus desejos são os algos elementares de conquistas
cidadãs, com resultados ainda muito pequenos. Contudo, expressam o movimento
político de resistência local, geradores de suas próprias e pequenas lutas que, com suas
forças, procuraram apresentar suas propostas e seus desejos. Expressam também seus
fluxos e refluxos, tentando sobreviver e conviver como movimentos sociais populares
que na expressão de Alder Júlio Ferreira Calado2, " seguem constituindo uma parte
decisiva entre os protagonistas dos processos de mudança social".
Esses esforços, todos juntos, certamente não foram em vão. Mas, claramente
sem ser produto unicamente desse esforço político, que se pode chamar de resistência,
consegue-se destronar um grupo político fortemente estabelecido. Grupos que se
encastelaram do poder por ciclos de 12 anos, alguns de forma ininterrupta.
A vitória da mudança que assume o governo local, nesse ano de 2013, passa a
exercer um tipo de política que dificilmente escapará da tradição do estabelecido,
considerando suas dificuldades gerenciais, bem como as suas dificuldades de realizar
suas propostas pela falta de quadros políticos para a sua efetivação, entre outros
aspectos.
Os desencontros estão desde o trato com as próprias forças políticas vitoriosas,
até com o anseio geral de mudanças imediatas da população. Os gestores eleitos,
2 Ver: Organização Popular - a construção do conceito de partido no Partido dos Trabalhadores. José
Francisco de Melo Neto. Editora da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 1998.
217
particularmente aqueles de oposição, encontraram prefeituras em situação de penúria
financeira deixadas por seus antecessores. Situação resultante, ora pelo total desleixo
para com a prestação de contas de convênios, atrasos em prestações, salários atrasados
de servidores, impedimentos de municípios de receberem verbas federais, além de
limpeza pública, ora pelo assalto direto ao patrimônio público.
Tudo isto contribui para o reforço ao pensamento de que as mudanças, quando
assumidas por novos gestores, têm tido significado de apenas a sustentação do
município, por meio de cumprimento de leis, sem qualquer desvio das tradições
dominadoras anteriormente existentes. Afinal, quem mais deseja o cumprimento das leis
que não os próprios detentores da lei, expressando versão equivocada de justiça?
Um governo de mudança passa a se identificar, tão somente, com gestão pública
alinhada às exigências técnicas, sem a necessidade sequer de transparência pública. O
aprovo de câmaras de vereadores carcomidas pela política do „toma-lá-dá-cá‟ e de
tribunais que pouco verificam, in loco, as contas públicas já são significados de
mudança, considerando o descalabro administrativo de boa parte de governantes.
Dessa maneira, o esquecimento às mudanças prometidas em campanhas se
diluem no esquecimento geral, em especial, dos eleitos em seu nome mesmo, caindo
nos braços da conservação, compondo um quadro de poucas mudanças e sem qualquer
tipo de transformação radical possível e necessária, como o exercício para a cidadania
crítica e ativa.
Mas, por essas terras, ocorreram formas de resistências variadas a partir, às
vezes, de instituições religiosas, como a Igreja Católica. Se as formas de resistência
estão sendo apresentadas, sacerdotes houve que externaram os desejos de mudanças
mais profundas. Pelos seus caminhos próprios, contudo, sempre estiveram refletindo e
realizando medidas como foi o caso do Pe. italiano Aldo Giazzon, atuando por uma
década nessas terras, como vigário. Com o seu estilo de ação política e pastoral, volta-
se, conforme o livro Colônia Leopoldina – Situações político-ambientais II 3, “(...) às
origens, eis a Igreja Católica Romana moldando e predestinando o modo de vida das
pessoas, através de ideias “civilizatórias” com intuito de conversão”, Silva (2011:14).
No intervalo de 1989 até 1997, há de se destacar o Movimento Estudantil, que
teve nesta fase a expressão maior de sua resistência, particularmente com reivindicações
3 Ver: Colônia Leopoldina: situações político-ambientais.Andréa Marques... (et. al.). José Francisco de
Melo Neto (org.). João Pessoa: Editora da Universidade Federal da Paraíba, 2011.
218
educacioatnais, bem caracterizado no livro "A trajetória do Movimento Estudantil
Leopoldinense", de José Júnior Amorim. Para o autor, os ideais estudantis, aos poucos,
adquiriram " adesões expressivas entre os educandos. Essa corrente vitoriosa expandiu-
se e surgiu a primeira safra dos líderes estudantis nas escolas do município".4
Desse movimento social destaca-se a criação do Jornal do Estudante que chegou
a promover a participação dos mesmos em Congressos da UBES (União Brasileira de
Estudantes Secundaristas). Dessa forma é que se chegou à fundação de Grêmios
Estudantis, com promoção de debates estudantis, promoção de eventos culturais e
participação na UESA (União dos Estudantes Alagoanos), até a criação da UMEL
(União Municipal dos Estudantes Leopoldinenses) - o ponto alto da organização
estudantil local, mobilizando-se em busca de biblioteca pública e, em especial, em
defesa " de uma política educacional de boa qualidade".
Vale destacar na esteira das lutas por cidadania, a criação do sindicato dos
servidores públicos locais. Um movimento, que chegou a promover greve sem a
organização e sem representação formal, é criado no ano de 2003, depois de intensas
articulações e promessas de perseguição: o Sindicato dos Servidores Públicos
Municipais de Colônia Leopoldina - SINSEPMCOL.
Até o ano de 2013, governos que passaram contribuíram pouco quando não
combatiam diretamente os processos organizativos da sociedade, enquanto grupos
variados como religiosos, monges, sindicato rural e sindicato municipal foram os
responsáveis por algum nível de mobilização local, com alguma ênfase para os
trabalhadores rurais, em especial na década de 1990. Já na década de 2000, aparecerem
novos atores em cena na política leopoldinense - destaques à criação do Grupo Colônia
e Cidadania. Este grupo se esforça por agrupar pessoas em busca de conquistas cidadãs;
um grupo desejoso de se tornar um movimento permanente de lutas por cidadanias, sem
cor partidária e coloração religiosa, luta para poderem se tornar vozes ouvidas pela
política local.
Mas, os desejos de mudanças continuavam, expressos em textos e em ações
reivindicatórias específicas como pouco conhecidos. Neste livro, aparecerão aqueles
textos que foram divulgados, desde convites à reunião partidária, passando por reuniões
de grupos, textos reivindicatórios encaminhado ao prefeito, à época, por grupos
constituídos como produtos de ações culturais, além de um texto de uma pesquisa em
4 Ver: A Trajetória do Movimento Estudantil Leopoldinense. José Júnior Amorim. Grafnobre, Colônia
Leopoldina, Al, 2011.
219
nível de mestrado5. Os textos que vão seguindo se constituem em expressões de
resistência, mesmo simbólica, traduzidos por análise de conjuntura até os três meses
iniciais do Governo de mudança local, sob a tutela do Partido Trabalhista Brasileiro
(PTB), acompanhado de uma aliança com o Partido Socialista Brasileiro (PSB), o
Partido Social Cristão (PSC), o Democratas (DEM) e o Partido dos Trabalhadores (PT).
Uma composição de forças que fez a gestora eleita perder, desde o início, a Presidência
da Câmara, tida como necessária para o cumprimento de seus planos, momentos antes
de sua posse.
Críticas mais severas há, passando pelo nepotismo. Em apenas 4 meses de
governo, são várias as acusações de empreguismo, e as críticas sobre redução drástica
de salários de servidores públicos municipais. Ora, os anos de mandato seguintes são
para a recuperação de todos esses desgastes.
Os textos foram mantidos em sua integralidade, mesmo que alguns já tenham
sido divulgados na cidade ou em compêndios. Também estão contidos em coletânea
como a Coleção Colônia Leopoldina, constituída, até o momento, de três volumes de
autores da cidade ou de temáticas sobre a cidade.
QUE MUDANÇAS?
Mas, de que se trata ao se falar de mudança num ambiente de interior, na Zona
da Mata Norte, no Estado de Alagoas? Claro que a resposta passa por relações entre o
humano e o meio ambiente, inclusive tão degradado como mostram dois livros sobre as
situações político-ambientais da cidade. Como bem mostra o livro Colônia Leopoldina,
situações político-ambientais, vol I, a situação de existência humana, inclusive a local,
passou por três momentos importantes da vida, como sendo sociedade coletora de caça e
pesca; sociedade agrícola e sociedade industrial6. Ao que mostram as autoras, esses
momentos foram vividos em sua plenitude pelos povos que habitaram a região, com
destaques ao momento atual, com duas indústrias açucareiras em pleno funcionamento.
5 Ver: Ação cultural no meio rural – uma experiência em Colônia Leopoldina, realizada em 1982/83,
dissertação de mestrado em Educação, pela Universidade de Brasília.
6 Colônia Leopoldina – situações político-ambientais, Vol I. Organização dos autores: Maria Betânia
Alves dos Passos; Marília Gabriela da C. Gomes e José Francisco de Melo Neto. Editora da Universidade
Federal da Paraíba, João Pessoa, 2010.
220
Mas, é importante destacar a situação precária nas relações entre a sociedade e
Estado, expresso em como se processam os tratos com a Prefeitura. A figura do Gestor
Público aparece como centralizadora em todas as situações relacionadas à vida da
população. Uma luta por cidadania é, necessariamente, num ambiente de tal servidão e
distanciamento de conquistas de liberdade, qualquer busca política. Quase qualquer
atitude nessa direção pode ser apresentada como momento de mudanças importantes.
É possível observar-se o quão as coisas da vida do lugar são tratadas de forma
tão totalitária pelo governo de plantão. Até mesmo o desejo de se fazer um grupo de
qualquer esporte passa, necessariamente, por um aprovo do poder centralizador de um
Prefeito. Mesmo assim, não se conseguem esconder as relações de classes tão
profundas, marcadas por aqueles que estão no trabalho do corte da cana, operários de
ambas as indústrias açucareira e minifundistas: a classe trabalhadora. Pequenos
comerciantes e funcionários públicos dando forma aos setores médios da sociedade e
concentrando toda a riqueza e o poder político e econômico, em um ou dois usineiros do
lugar.
Um governo municipal se mostra, talvez, na expressão de Claude Lefort, como
egocrata, em que se governa acima das regras estabelecidas, concentrando em si a
potência social, aparecendo como se nada existisse fora dele mesmo. O governante local
passa a ser o ego absoluto da sociedade, sem aceitar qualquer tipo de resistência7.
Mas, é importante salientar que, nesse percurso da crítica, após 30 anos de
políticas de resistência e busca de cidadania com os trabalhadores, o PT consegue eleger
o seu primeiro vereador, dando ênfase à participação popular e compromissos radicais
com a mobilização dos próprios trabalhadores. Um algo de importância relevante para
os processos organizativos das pessoas, com a perspectiva de busca de cidadania e
comprometido com as lutas pelas mudanças necessárias.
Diante dessa situação, a condição de criticidade se põe fora de qualquer
possibilidade. A capacidade de pensar criticamente desaparece por completo e,
consequentemente, está destruída a condição para liberdade pessoal. Há muito está
aprisionada pelas necessidades de condições materiais a que muitos estão submetidos
7 Ver: História das Ideias Políticas. François Chateler e all. Tradução de Carlos Nelson Coutinho. Editora
Zahar, Rio de Janeiro, 2009.
221
assim como totalmente desaparecida. Anaina Clara de Melo, ao analisar pensadores
frankfurtianos8, explicita que as dimensões de universalidade necessárias às dimensões
do mundo da vida das pessoas, em ambientes dessa natureza interiorana e permeada de
autoritarismos, adquirem essas condições sem existirem como tal. Isto faz com que o
local seja o dominante na relação de pensar o outro e de se pensar. O mundo fica
reduzido ao local. Este fica impedido de ver a dimensão de universalidade tão
importante para Slavoj Zizek9, do ponto de vista conceitual, e mostra que este universal
é o conteúdo que entra no ser mesmo da pessoa, e “adquire existência real” (p. 213), a
construção da subjetividade, diferentemente do particular que o aprisiona e o impede da
reflexão crítica.
As condições de mudanças possíveis pela realização do diálogo ficam
pulverizadas, subsumindo a organização dos saberes populares em prol de melhorias de
suas próprias condições de vida, perdendo, conforme Roberto Mauro Gurgel Rocha10, o
situar-se no mundo de forma histórica, cultural, econômica e política. Ou, no dizer de
Freire 11, no estilo de educação tão opressora como acontece cotidianamente, tanto na
escola como fora dela, introjeta-se no oprimido as formas distintas de expressão do
opressor.
As mudanças de desejo para região ou mesmo outra qualquer situação
geográfica passa por mudanças de comportamento nas relações das pessoas. Ora, do
ponto de vista da economia, a mudança poderia passar pelas condições de possibilidade
de gerenciamento dos próprios empreendimentos econômicos, preferencialmente em
regime de autogestão. Neste estilo, as pessoas tornam-se sujeitas de seus próprios
mundos econômicos, lutando e administrando, sem intermediários, os seus negócios. Aí,
os governos precisariam olhar com mais interesse os projetos em economia solidária
como os que ocorrem em todo país e no mundo, a exemplo do que ocorreu na Usina
8 Ver: Escola de Frankfurt – diálogos. Anaina Clara de Melo. Editora da Universidade Federal da
Paraíba, João Pessoa, 2008.
9 Ver: Menos que nada. Hegel e a sombra do materialismo dialético. Slavoy Zizek. Tradução de Rogério
Bettoni. São Paulo, Boitempo Editorial, 2013.
10
Ver: Extensão Universitária – diálogos populares. Vários autores. Editora da Universidade Federal da
Paraíba, João Pessoa, 2002.
11
Ver: Pedagogia do Oprimido. Paulo Freire, Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1987.
222
Catende, como mostra José Francisco de Melo Neto, no livro Usina Catende – para
além dos vapores do diabo12.
As mudanças, do ponto de vista da gestão pública, sugerem novas relações
comportamentais entre os servidores públicos e as pessoas que precisam dos serviços
públicos, particularmente no campo da saúde. O atendimento é que faz possível a
transcendência desde que seja promotor do outro, em respeito à alteridade das pessoas
da comunidade. Nesses escorchantes despreparos para o atendimento ao público, esse
público é a classe trabalhadora, cuja situação de cidadania tem sido mais vilipendiada.
Seria possível a promoção de um profícuo debate quanto aos desejos e anseios,
muito para além da palavra vazia, mudança, como um algo totalmente sem seus
determinantes, portanto uma mera abstração. Dessa maneira, tem pouca valia como uma
perspectiva de outro estilo de se viver.
Finalmente, poder-se-ia pensar as mudanças necessárias no campo da educação.
Muito para além das simplórias discussões conteudísticas no interior das escolas, com
os seus profissionais, se carece de uma reviravolta na própria educação. A prioridade
passaria pelos princípios da educação popular, como expressão filosófica de se ver o
mundo em mudança, com pedagogia e metodologia próprias, com mecanismos de
avaliação específicos e distantes dos que se usam no momento. Uma educação popular
que, na visão de José Francisco de Melo Neto13, é uma educação política, sem ser
partidária, direcionada para conquistas cidadãs e éticas, como a luta por liberdade,
solidariedade, igualdade e em busca de felicidade.
12
Ver: Usina Catende – para além dos vapores do diabo. José Francisco de Melo Neto e Lenivaldo
Marques da Silva Lima (orgs.). Editora da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2010.
13
Ver: Educação Popular – enunciados teóricos. José Francisco de Melo Neto. Editora da Universidade
Federal da Paraíba, João Pessoa, 2004.
223
2. TRILHAS INDICIÁRIAS TEXTUAIS DAS LUTAS POPULARES.
TEXTO 1.
CONVITE À REUNIÃO PARTIDÁRIA - PMDB14
(Diretório Municipal do Partido do Movimento Democrático Brasileiro)
CONVITE
Os resultados das eleições terão sobre o PMDB resultados contraditórios. Se
um lado há lutas em nível interno, no nível externo elas serão muito duras e difíceis
de serem encaminhadas pela oposição vitoriosa.
A oposição, em especial o PMDB, foi responsável pela fragorosa derrota ao
PDS, o partido da exploração, em aproximadamente 10 milhões de votos a mais.
Fomos os grandes vencedores no país. Temos nas mãos os mais importantes estados
brasileiros.
Sabemos que os vencedores nestes estados não foram os melhores na
oposição do PMDB. Foram eleitos muitos namoradores do poder de Brasília. Assim,
é que temos de ter claro que tem-se de se superar as divergências internas e, por
outro lado, vermos as dificuldades que estes companheiros governadores terão em
suas administrações.
Ora, companheiros, é este saldo positivo nacional para as oposições que
deverá nos mover daqui adiante. Se Colônia é dominada há muito pelo PDS, mas o
país como todo quebra estas amarras e aí é que temos que acreditar em mudanças e,
sobretudo sustentar e melhorar nossa organização interna do Partido para que
essas mudanças aconteçam.
Nesta direção é que sentimos a necessidade de iniciarmos uma melhor
preparação política de todos os companheiros, nós aprendendo conjuntamente, a
entendermos melhor nossa realidade. E discutindo é que aprenderemos juntos a
melhor forma de nos mantermos “vivos” e intervir nesta realidade de Colônia.
14
Documento do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). No início, o partido da
resistência à ditadura militar de 1964.
224
Daí é que segue um programa para iniciarmos uma discussão interna no
nosso partido. Interna agora, mas que pensamos abri-la para toda a comunidade
posteriormente.
- OBJETIVOS
- Reforçar a organização do partido.
- Colher novas propostas para crescimento do partido.
- Preparar politicamente a militância partidária.
- Tornar o partido de oposição operário-popular.
- CONTEÚDO DAS REUNIÕES
- O POVO E A PARTICIPAÇÃO POLÍTICA.
- A POLÍTICA ANTES DE 64.
- A POLÍTICA DEPOIS DE 64.
- OS PARTIDOS HOJE.
- CRONOGRAMA
Dias: 7 a 10 do corrente.
Horário: 20:00 às 21:30
Local: Travessa Clodoaldo da Fonseca, s/n (casa de Dedé).
- ESTRATÉGIAS
Discussão em grupo.
Curtas exposições.
- MATERIAL UTILIZADO
Projetor de slides
Slides
Boletim de divulgação
- AVALIAÇÃO
Coletiva – Durante e no final das reuniões.
Colônia Leopoldina, 3 de fevereiro de 1983.
225
TEXTO 2.
DOCUMENTO DE DESPORTISTAS (Nova Geração) 15
APRESENTAÇÃO
As propostas para o Desporto Leopoldinense contidas neste documento são
propostas apresentadas pelo grupo de atletas do NOVA GERAÇÃO ESPORTE
CLUBE. O NOVA GERAÇÃO é uma equipe criada a 15 de março de 1981 e reativada
a partir do segundo semestre de 1982.
Sua força está em seus atletas. Existe em função dos mesmos. Suas decisões
são tomadas todas em assembleias dos atletas. Tem direção, sim, mas ela existe para
fazer cumprir o que todos decidiram. E fora discutindo os problemas da equipe que se
chegou a discutir os problemas do esporte leopoldinense. Mas não só discutiu como
também propôs o que fazer. E em assembleia marcada para esse fim, realizada no dia
19/03/83, resolveu-se encaminhar estas propostas ao executivo municipal. Finalmente, o
documento foi lido e aprovado em reunião.
Teve-se o cuidado de não se eliminar nenhuma proposta de nenhum atleta. O
que segue é o fruto de todo empenho de todos que compõem esta equipe.
Colônia Leopoldina, 3 de abril de 1983
15 Reivindicações apresentadas ao Prefeito José Luiz Lessa, proprietário da Usina Taquara, por
desportistas do Time de Futebol - Nova Geração.
226
NOVA GERAÇÃO ESPORTE CLUBE
FUNDADO EM 15 DE MARÇO DE 83
COLÔNIA LEOPOLDINA – ALAGOAS
(proposta para o esporte leopoldinense, do conjunto de atletas do Nova Geração Esporte
Clube) 16
.
INTRODUÇÃO
Construir uma civilização que não sucumba, que não se desmorone diante da
hora de não ter o que fazer se apresenta como uma das metas dos povos. Tudo isto
conduz ao que se está necessitando, o imperativo para investimento em instituições que
cuidem da formação do caráter das pessoas. Os clubes desportistas são ambientes
também dessa educação; são ambientes onde se dá este processo educativo. É também
pelos clubes que serão preenchidas as horas de lazer da mocidade. Portanto, os clubes
desportistas devem ser contados nessa busca pela formação de caráter das pessoas e
elevando também o senso e a necessidade de trabalho coletivo. Este imperativo se faz
há muito tempo necessário haja vista que Rui Barbosa, em seu discurso no senado, em
13 de outubro de 1896, já mostrava que a grande desgraça que penetra no homem pela
algibeira e arruína seu caráter é o jogo; o jogo na sua acepção usual: os naipes, os dados,
a mesa-verde. Tudo isto decorrente entre outros fatores do ócio da juventude, da
criança.
Ainda assim, sabemos da proibição dos jovens adolescentes e crianças em
estabelecimento de jogos. Mas como faremos cumprir? Os jogos estão de portas abertas
nas cidades, nos campos, aonde se for. Já vivemos desde a infância nesta atmosfera.
Sim, tudo isto é verdade. Isto se torna agravante em regiões como a nossa, onde as horas
de lazer são horas de “não ter o que fazer”. Se elas não são preenchidas, aí sim, mais
florescerá o jovem sem perspectiva de vida, uma característica observada na nossa
juventude leopoldinense, comprovada por observações também dos religiosos locais.
Ocupar essas horas parece-nos ser urgente tarefa para os dias de hoje.
16
Propostas definidas na reunião do dia 19 de março de 1983.
227
O que temos visto ultimamente é um efetivo aumento de criminalidade e de
violência; e aqui está claro que não é com aumento de efetivos policiais que se resolverá
o problema. O efetivo policial aqui aumentou. O que observamos é que, diante das
condições sociais que se têm no país e, sobremaneira no nosso município - arrocho
salarial, desemprego, concentração de renda, sobretudo nas macro empresas de caráter
internacional, as condições de miséria absoluta de muitos lares leopoldinenses - os
dados sobre criminalidade e violência crescem cada vez mais.
Assim, precisamos ir mais além: a Colônia Leopoldina já precisa de
representação de outra ordem que não a apresentada. É urgente uma dinâmica nunca
vista aqui. Na ocupação das horas ociosas, faz-se necessário o esporte no seu papel
também de construir a outra Leopoldina através de seus jovens. O papel da educação
física advinda pelo esporte terá seu papel no aperfeiçoamento físico em qualidades
particulares como SAÚDE, pela resistência às moléstias; AGILIDADE, pela agudeza
dos sentidos e movimentos; VIRILIDADE, pelo desenvolvimento de vontade e
consciência coletiva como em si mesmo; MORAL, pelo despertar do senso da
solidariedade, iniciativa, moldando-se à perseverança no trabalho.
Esta nova prática desportiva, a Nova Educação Física, como mostra o professor
americano I. Fischer, em Vida Sã e eficiente, deverá preparar o homem para esta nova
era. Um homem equilibrado e consciente de si mesmo, tendo claro o seu papel na
sociedade; homem de iniciativa. A nova educação física, continua I. Fischer, deverá
orientar para que este homem assuma parte que lhe cabe na construção de sua história.
Ela deve ser objetiva, pondo fim ao antigo subjetivismo. A Nova Educação Física, o
novo desporto, deverão orientar para uma consciência social, exigindo do indivíduo
preocupação com o bem coletivo, como diz o professor Paulo Nogueira, em seu livro,
Clubes esportivos.
O ESPORTE EM COLÔNIA LEOPOLDINA
Diante das considerações de ordem geral apresentadas, temos de pisar no chão
e analisar o “concreto”. O concreto para nós desportistas leopoldinenses é nosso esporte.
Para tanto, observando a história do esporte local, vemos que, no fundo, ele não tem
história. Ter história significa construir história. O nosso esporte, em momento algum,
deixou qualquer história. Jamais escreveu-se uma única página de suas atividades.
228
Ao analisá-lo, vamos encontrar uma pequena citação de sua existência num
trabalho da professora Anita hoje professora do Grupo Aristeu de Andrade - sobre a
história de Colônia Leopoldina em que um time fora criado lá pelos findos de 1949. Daí
para frente não temos notícias de sua atuação e muito menos fora escrito algo pelos seus
componentes.
Ainda, na busca de algo encontrar sobre nosso esporte, no livro de Everaldo
Araújo Silva, A Colônia da Princesa, vamos observar que o esporte não tem citação
alguma. Isto nos leva a concluir o que já afirmamos: que somos uma gente sem escrita
esportiva e, portanto, sem história esportiva.
Hoje, temos duas equipes básicas no município: uma é o Nova Geração
Esporte Clube. Esta equipe, diante de todas as dificuldades locais, busca existir com a
colaboração de seus próprios atletas. Uma iniciativa importante para o desporto da
cidade. Esta equipe se reúne regularmente e discute não só as questões específicas da
equipe, mas o esporte em Colônia. A outra equipe é a do Sport Club Leopoldinense.
Conhecemos outras equipes de nomes desconhecidos formadas por garotos que
merecem uma especial atenção por todos. O Nova Geração Esporte Clube conta com 34
atletas inscritos no seu quadro.
O esporte leopoldinense tem características muito peculiares para a região da
Zona da Mata. Ele está totalmente desorganizado como equipe oficialmente registrada,
com estatutos, regulamento interno sem uma clareza do papel do esporte na sociedade;
portanto, sem um programa expresso de atividades. Limita-se a reduzidas partidas de
futebol. Além de ser reduzido a um único tipo de esporte: o futebol. Este futebol só
acontece nas épocas de verão, a época da safra de cana na região. Está ligado ao ciclo
econômico regional.
Outra fundamental questão é que o esporte, não tendo se construído como
equipe, os atletas não sustentam sua organização. Os times pertencem a A ou a B que
possuem uma bola ou um terno de camisa (que já ganhou na época da eleição de algum
candidato). Estes se estendem como os donos dos times e mandam como bem
entendem, até que acabam a bola ou o padrão de camisas e o time está desfeito; aliás,
nunca existira.
O Nova Geração Clube tem tentado se construir fora deste corredor. Até agora
vem se mantendo mesmo com muitíssimas dificuldades, mas se mantendo com suas
mãos. Tem-se direção sim mas não se tem donos do Nova Geração, afirmam os atletas.
Suas reuniões, assembleias é que decidem suas questões.
229
Até agora, as afirmações tem sido baseadas mais em nossas observações do dia
a dia esportivo. Porém em recente pesquisa realizada sob coordenação do professor José
de Melo Neto,* temos nossas observações ratificadas em dados e vejamos:
Uma discussão sobre o que o Leopoldinense acha de se praticar o esporte:
%
Importante 71,1
Sem importância 3,6
Não sabe 10,7
Não respondeu 13,6
100,0
O que vemos é que o Leopoldinense, residente na cidade, sente a necessidade
do esporte na vida de seu filho, criança, jovem ou adulto. Pode não saber expressar de
maneira científica, mas está claro a sua importância na sua vida. Aqui vai uma pergunta:
temos então, o esporte?
Vemos que no fundo, no fundo, nunca tivemos esporte no nosso município e
por incrível que pareça, o leopoldinense se mostrou um desportista. Mas esta pergunta
também foi discutida na mesma pesquisa e vejamos:
Uma discussão sobre se existe esporte em nossa cidade:
%
Não 41,5
Sim 17,1
Só futebol 17,1
Não sabe 13,6
Não respondeu 10,7
100,0
* Pesquisa orientada por equipe de quatro professores da Universidade de Brasília e processada em
computação da mesma Universidade código SAU-J MELO NETO-0732-DATE:MAR 3, 1983.
230
Estes dados vêm nos ajudar na análise histórica feita sobre o esporte aqui. Está
patente sua inexistência na nossa cidade, não só a 30 anos atrás, mas hoje mesmo não
há. Uma menos exigente análise nos conduz à existência de uma rudimentar prática do
futebol. Não podemos mais escantear esta questão. Não podemos mais fingir que ela
inexiste. Estes dados também denunciam a existência de uma grande margem de
leopoldinenses que nada sabe sobre esta questão.
Estas são as questões que hoje discutimos em reuniões de desportistas do Nova
Geração. Baseados em problemas que sentimos na equipe, refletimos sobre que esporte,
que divertimento tem o jovem leopoldinense? Enfim, será apenas andar pelos campos o
esporte da criançada? Será praticar esporte o matar o tempo na esquina do centro da
cidade? Há oportunidades para diversão? Fomos refletindo, discutindo, que chegamos a
sugerir propostas.
ENFIM, NESTA REALIDADE, QUE FAREMOS?
Da reflexão sobre estas questões, partimos para executar tarefas que refletiam
sobre nossa própria equipe: organização interna da equipe, preparo físico... Outras
questões surgiram e sentimos que não tínhamos forças para solução. São questões de
ordem geral e que conduzem diretamente à intervenção da administração pública
municipal. Assim, resolvemos pensar um pouco mais nas nossas reuniões e tiramos as
seguintes propostas que resolvemos encaminhá-las ao Executivo local.
Organizamos nossas propostas em dois aspectos17
: aspectos quantitativos, e
dizem respeito ao incremento em termos de quantidade do desporto local, e aspectos
qualitativos, dizem respeito à melhoria do desporto. Vejamos a seguir, reivindicações
sobre ambos:
a) ASPECTOS QUANTITATIVOS
Primeira 18
17
Todas as propostas, entretanto, se interrelacionam. 18
A ordem apresentada também reflete a ordem de prioridades.
231
DOAÇÃO DE UMA SEDE COLETIVA PARA OS CLUBES ESPORTIVOS
EXISTENTES, MESMO SEM REGISTRO EM CARTÓRIO.
Considerações
a) o espaço físico para os atletas é uma das grandes necessidades. Aqui, no
campo de futebol, não se tem local de vestir a roupa do jogo. Não há local
para reuniões dos times. Esta pode ser a primeira grande providência a ser
tomada;
b) o patrimônio desta sede seria mantido para a Prefeitura, porém, era da
competência dos clubes a sua administração. Como fazê-la, é uma
discussão para os times resolverem entre si;
c) esta sede dará condições para que os clubes possam exercer seu papel
também de educadores, questão levantada no 1o parágrafo do texto.
Segunda
MELHORAMENTO NO CAMPO DE FUTEBOL EXISTENTE,
ADEQUANDO-O PARA PRÁTICA DE VÁRIOS ESPORTES.
Considerações
a) com uma melhor exploração do atual campo de futebol, ampliando-o em
toda sua extensão, poderão ser aproveitadas áreas laterais para prática de
outras modalidades esportivas;
b) há condições de implantação de modalidade de esporte que exija,
inicialmente, menores despesas e, posteriormente, outros esportes com
maior exigência técnica;
c) diversificando, inicia-se a ocupação de nossos jovens e crianças, reduzindo
o poder do “jogo de azar” como única opção que há para o lazer, na cidade.
Terceira
CONSTRUÇÃO DE OUTRO CAMPO DE FUTEBOL.
232
Considerações
a) esta reivindicação também se alicerça na pesquisa já citada, neste nível de
proposta, que é mais difícil, apenas 28,1% da comunidade tem propostas,
tendo esta um percentual expressivo de 7,0%, destes 28,1%;
b) ampliar o espaço de futebol e incentivar a formação de mais equipes.
Quarta
CONSTRUÇÃO DE QUADRAS: FUTEBOL DE SALÃO, VOLEIBOL E
BASQUETEBOL.
Considerações
a) esta é uma proposta mais ambiciosa que as anteriores e sabemos que uma
quadra apenas não soluciona nossas necessidades;
b) esta proposta vem de 15% da população, que propôs algo para o esporte,
segundo pesquisa citada;
c) leques para várias opções para a prática do esporte amador local;
d) aqui se ataca mais profundamente as questões do jogo, criminalidade,
violência, considerando o processo de amizade coletiva que o esporte
desenvolve.
Quinta
CONSTRUÇÃO DE GINÁSIO PÚBLICO FECHADO PARA TODOS OS
ESPORTES.
Considerações
a) esta proposta é um tanto quanto abrangente e a mais ambiciosa. Mas é uma
proposta dos atletas que já vê longe. Afinal, inicia-se hoje a preparação do
jovem do ano 2000;
233
b) o jovem leopoldinense sente a necessidade de como a cidade de Colônia se
apresenta para os visitantes: como uma cidade que tem em torno de 7.000
habitantes.
O segundo aspecto de propostas relaciona-se a aspectos qualitativos, e nos
conduz à melhoria do desporto:
b) ASPECTOS QUALITATIVOS:
Primeira
CONTRATAÇÃO DE PROFESSOR GRADUADO EM EDUCAÇÃO
FÍSICA.
Considerações
a) a necessidade é grande de um orientador da prática desportiva: um curioso
não serve. É necessário alguém que conheça a prática do desporto e que
desenvolva a nova prática desportiva descrita anteriormente. O profissional
dessa área é um professor de Educação Física, graduado nesta disciplina;
b) este professor seria útil também às escolas do município, que têm obrigação
de prática desportiva conforme a Lei de Ensino 5692/71;
c) a importância desta proposta é que, desde a infância, iniciar-se-ia uma
prática correta do esporte;
d) um atendimento aos clubes desportivos, ao passo que os mesmos iam tendo
reforço na sua função de educador;
e) o desempenho desses desportistas geraria, também, futuros treinadores
práticos nossos;
f) de maneira indireta, contribui para as questões de perspectiva de vida do
jovem leopoldinense e, subjetivamente, ocupando os lugares da violência e
falta do que fazer;
g) acabaria, de uma vez por todas, com o problema dos times nossos aqui: a
falta de preparação física por falta de um orientador desta prática;
234
h) a educação esportiva dos atletas ganharia bastante com o estudo das regras
e táticas dos diversos esportes;
i) será imprescindível para implantação de novas modalidades esportivas.
Segunda
FOMENTAR NOVOS ESPORTES.
Considerações
a) esta proposta diz respeito à prefeitura assumir uma campanha maciça para
incentivar a população, sobretudo, a juventude, à prática desportiva. Neste
processo, convocar-se-ia também a população a participar;
b) toda uma campanha montada a partir das escolas existentes, proposta dada
por 6,4% da população e encampada, também, pelo Nova Geração;
c) um processo desta ordem, todo cidadão pode participar e aproveitar os
benefícios de seu trabalho.
CONCLUSÃO
Senhor Prefeito, sabemos que não será só pelo esporte que resolveremos os
problemas citados do nosso município; ou ainda, executando um plano para o esporte,
eles não deixarão de existir. Sabemos que não são só estes os problemas deste
município. O esporte, possivelmente, nem seja prioritário para ser resolvido.
Acreditamos que a educação e saúde devam estar na frente em uma ordem de
prioridade. Entretanto, a educação esportiva também faz parte da prioridade
EDUCAÇÃO.
Sabemos também, através do “disse-me-disse”, sobre o injustificado caos
financeiro por que passa este município ora sob a direção de Vossa Excelência. Por
outro lado, saiba V. Exm. que, pela primeira vez, um grupo de esporte apresentou uma
série de propostas para o esporte leopoldinense. Fizemos isto por entender que deverão
sair dos desportistas as propostas do esporte.
Estas apresentadas, sem dúvida, são bastante amplas. Merecem um maior
aprofundamento. Elas servirão de subsídio para uma política desportista para Colônia,
235
na elaboração inicialmente de um plano do Desporto e, em seguida, estruturação de
PROJETOS vários dentro deste plano geral. Aqui estão opiniões e dados. Opiniões
alicerçadas, mais das vezes, com dados de nossa própria realidade. Mostramos o real da
cidade.
Acreditamos voltar mais vezes a discutir a questão do esporte com V. Exma.
Discutir para executar.
Colônia Leopoldina, 3 de abril de 1983.
236
TEXTO 3.
DOCUMENTO DE GRUPOS CULTURAIS19
APRESENTAÇÃO
A cultura leopoldinense é algo que deve preocupar a todos conterrâneos. Nossa
cidade, hoje, tem um compromisso com este Estado de Alagoas, com a Zona da Mata,
que não é apenas de caráter só econômico. A cultura de nossa terra terá de também
exercer a sua força sobre esta região, sobre este Estado. Este papel tem que ser
assumido por todos nós, pois é o espaço cultural que temos também de ocupar e que não
estamos ocupando.
O documento que surge é o compromisso de artistas locais que compõem a
Banda de Zabumba São Sebastião, Grupo pró-reativação dos Guerreiros e Grupo de
Arte em resgatar a cultura nossa que vem, pouco a pouco, desaparecendo. Aqui estão
propostas, tiradas de reunião dos três grupos, que serão apresentadas também ao prefeito
municipal, bem como a toda comunidade.
Colônia Leopoldina, 1 de maio de 1983
Componentes da Banda de Zabumba São Sebastião
Componentes do grupo pró-reativação dos guerreiros.
Componentes do Grupo de Arte.
19 Reivindicações apresentadas ao Prefeito José Luiz Lessa, proprietário da Usina Taquara, pelos Grupos
vinculados à cultural local - Grupo de Zabumba, Grupo pró-reativação dos Guerreiros e Grupo de
Arte.
237
1 – A CULTURA
Não temos interesse de, neste documento, dissecar conceitos de cultura ou
mesmo questionar seus múltiplos enfoques. Trabalharemos com o conceito de cultura:
tudo aquilo que o homem faz no sentido de expressar o que sente de sua realidade.
Diante da situação da cultura brasileira, vamos ver que estamos diante, hoje, da
conhecida “indústria cultural”. Esta indústria que compreende o conjunto de processo de
produção e comercialização de mercadorias culturais. Mas, muitos dos elementos da
cultura, como ideias, valores, noções, princípios etc. não podem concretizar-se como
mercadorias. Para isto, a indústria cultural compreende duas ordens de produtos
culturais. Uma ordem montada no livro, jornal, revista, rádio, televisão, teatro, cinema,
xerox etc. Vários elementos que materializam ideias, valores etc. Uma segunda ordem
que compreende o sistema de comunicação, ensino e propaganda. E aí vem uma gama
de organizações físicas, empresas, estabelecimentos, técnicas em informação,
processamento de dados e também comumente permutando essas técnicas, decisões e
implementação. Ficamos todos sitiados dentro dessa estrutura. Complementando com
dados estatísticos, vejamos:20
a) Há no Brasil, cerca de mil estações de rádio e mais de 75 de televisão;
b) Imprensa escrita: em números aproximados, 280 jornais diários, 1.000
publicações mensais e semanais e 700 revistas da mais variada natureza.
c) É muito comum, quando se fala da indústria cultural no Brasil, omitir-se
completamente o setor da edição de livros. De fato, em termos numéricos,
essa área é tão reduzida no Brasil que não entra no cálculo da cultura de
massa, mesmo considerada em nossos padrões.
d) A maioria esmagadora dos veículos de comunicação excetuando-se as
editoras de livros e as emissoras ditas educativas, vive essencialmente da
publicidade. Os jornais brasileiros dela dependem numa percentagem não
inferior a 80%, e as emissoras de rádio e TV dependem da publicidade em
100%. Esses veículos colocam-se assim, claramente, numa posição de
20
O que é a Indústria Cultural. Teixeira Coelho, p. 80-83.
238
dependência absoluta em relação aos interesses de seus anunciantes e dos
intermediários, as agências de publicidade.
e) Com todos esses números, no entanto, cerca de 20% da população
brasileira não ouve rádio; 50% não vê televisão e pelo menos 80% não lê
jornal ou revista.
f) Assim como o livro, o cinema e o teatro não são, rigorosamente, veículos
de comunicação de massa no Brasil.
2 – A CULTURA DE COLÔNIA
Da história da cultura leopoldinense21
podem ser observados os seguintes
traços:
Logo na introdução da Cultura Leopoldinense no livro de Everaldo, este
leopoldinense fez a seguinte observação: “Todo o conjunto de manifestações
espontâneas vamos encontrar nas artes e nas letras que em épocas passadas, não foram
registradas pelo pouco ou nenhum valor dado e também pela falta de incentivo, pois tais
coisas não eram e não são merecedoras de estímulo e reconhecimento, o que é
lastimável”. Uma introdução que conduz à reflexão de cada leopoldinense, de cada
pessoa compromissada com esta terra, sobre o papel de cada um em alterar este nosso
quadro cultural.
Sabemos que pelos anos vinte fora criada a Filarmônica 16 de Julho, sob a
direção do maestro Sabino Souza. Esta acabou não sabemos quando.
Outra banda ressurgiu na década de 60, agora com o nome do maestro Sabino
Souza. Hoje também não existe mais.
No campo literário, Everaldo ressalta os trabalhos do jornalista Euzébio de
Andrade e Severino Pinto, porém desconhecido do nosso meio e das nossas escolas.
Na arte pirotécnica, ressalta também os nomes de Manoel Praiba e Chico
Machado, com seus famosos balões de maio. Esta arte também não resistiu.
21
Estes traços podem ser encontrados nos seguintes trabalhos:
1. História de Colônia Leopoldina – professora Anita Borges. Mimeo. 1975.
2. História de Colônia Leopoldina – Brochura mimeografada de autora não citada no trabalho. Casa
paroquial, 1975.
239
As manifestações mais importantes do ponto de vista folclórico e de caráter
social são, entretanto, o Coco de roda; o Reisado; os Guerreiros; A banda de zabumba
São Sebastião e Pastoril e, em menor expressão, as Cavalhadas.
Podemos ressaltar o trabalho de desconhecidos leopoldinenses que no
anonimato têm contribuído para o sustento de nossa cultura como participantes de todas
as formas de expressão cultural apresentadas.
Mas o que sentimos, sem análise alguma mais aprofundada, é a seguinte
constante: “o não continuar”. E vejamos:
a) Década de 20 constitui-se a Filarmônica e se acaba posteriormente.
b) Década de 60 retoma a Filarmônica e se acaba de novo.
c) A cultura esportiva (o futebol) tem característica semelhante.
d) A arte pirotécnica desapareceu com a morte dos fogueteiros.
e) As cavalhadas se acabaram há muito.
f) O coco de roda; o reisado; os guerreiros e pastoril estão ainda na lembrança
de todos.
g) A própria educação apresenta comportamento bastante estranho no nosso
município. Ora, em todos os municípios temos a educação formal sempre
crescente. Instala-se a 1a fase (primário), 2
a fase (ginásio) e depois o 2
o
grau. E aí se mantém.
Em Colônia, temos: até 1960, a 1a fase. Ainda nesta década, monta-se o 1
o grau
completo. No final da década de 60, monta-se o 2o grau. Até aqui, um percurso normal e
crescente.
Posteriormente, desaparece o 2o grau, ficando apenas o 1
o ano e, em 1982,
funciona o 2o ano de Magistério. Em 1983, volta a funcionar apenas o 1
o ano do 2
o grau.
Uma trajetória por demais preocupantes.
E o que diz a população de Colônia? Em recente pesquisa,22
na questão
cultural, em específico a escola, perguntou-se no questionário qual a opinião sobre a
escola:
É boa 20,0%
Não é boa 61,5%
Não sabe 12,1%
22
Pesquisa realizada na nossa cidade e processada em computação da Universidade de Brasília, código
SAU-MELO NETO 0732 – DATE: MAR 3, 1983.
240
Não respondeu 6,4%
100,0
Uma situação por demais preocupante, já que as populações, de certa forma,
acreditam em sua escola. Aqui, não; uma situação muito complexa, portanto.
O valor cultural popular também, que a constante “o não continuar”, não é a
única que deve contribuir com esta situação pelo qual passa nossa cidade. O estudo será,
na verdade, analisar o porquê desta constante: o fator econômico estará presente nesta
análise; o processo de invasão cultural processada pela indústria cultural etc. Um
trabalho que exige pesquisa profunda e muito mais sistematizada.
3 – TERÁ SENTIDO ABRIR ESTA PREOCUPAÇÃO COM A CULTURA
LEOPOLDINENSE?
A resposta mais contundente vem mesmo da população local. Ao serem
perguntados sobre qual a visão a respeito do fim dos folguedos populares,
responderam:23
Bom se acabar 10,7%
Ruim se acabar 70,7%
Indiferente 10,7%
Não sabe 2,9%
Não respondeu 5,0%
100,0
Os traços culturais nossos fazem-nos falta e, de uma forma ou de outra, será
importante serem retomados para que não nos descaracterizemos como leopoldinenses.
São nossos valores que não podem sucumbir, se acabar.
23
Pesquisa citada.
241
Sobre como nos organizarmos de novo para resgatarmos esses valores,
vejamos as propostas do povo:24
Só com o poder público 10,0%
Ensinar novos a dançarem 2,1%
Reunir interessados 32,9%
Não voltar mais 8,6%
Não sabe 17,1%
Não respondeu 25,7%
Outros 3,6%
100,0
Cada resultado desse tem um significado importante. Porém, gostaríamos de
ressaltar o mais expressivo, quantitativamente: reunir interessados. E, em cima dessa
resposta, resolvemos reunir interessados que constituíram-se em três grupos, com
características diferentes, porém, com mesmo objetivo: a cultura local.
Assim formamos os seguintes grupos: de Arte, de Zabumba São Sebastião e de
Guerreiros. Vejamos considerações a respeito de cada um deles.
a) Grupo de Arte
Este grupo se constitui de artistas que fazem pintura e artesanato e, às vezes,
fotografia. É um grupo bastante reduzido ainda, porém, aberto a qualquer um que queira
contribuir para a arte local, não só este grupo como os demais.
Tem executado com seus próprios recursos os seguintes trabalhos:
a) 1o Amostra da arte de Colônia Leopoldina, realizada no mês de outubro
passado, quando da festa da Igreja local. Esta amostra se constituiu de
trabalhos de pintura (Elise Pinheiro e Fernando); artesanato (Irá) e
fotografia (Silvestre e José de Melo Neto).
b) 2o Amostra da arte de Colônia Leopoldina, realizada nas comemorações
da Festa de São Sebastião tendo a mesma composição apenas com um
detalhe de que fora apresentada também nas ruas 7 de Setembro e
Mangueira.
24
Pesquisa citada.
242
c) Cultura de maio. Esta é a mais recente atividade do grupo que visa
mostrar todos os trabalhos nas escolas da cidade, da Usina Taquara, da
destilaria Porto Alegre bem como em Sertãozinho de Baixo. Está se
desenvolvendo neste mês de maio.
b) Grupo de Zabumba São Sebastião
Este grupo já existe de uma forma mais ou menos organizada desde 1920.
Entretanto, com a ajuda do Grupo de Arte, conseguimos, com todos os componentes da
Zabumba, montar um documento sobre a história desta Banda de Zabumba de São
Sebastião e que fora divulgado por eles mesmos à comunidade.
Sua contribuição para a cultura local dispensa esclarecimentos e ressaltamos
este histórico que fora elaboração deste grupo.
c) Grupo de Guerreiros
Este grupo está em formação ainda, mas muito tem buscado, com suas forças
próprias, a reativação deste evento da cultura no nosso dia a dia. Hoje, está empenhado
na melhor organização de si mesmo.
4 – PROPOSTAS DOS GRUPOS
Em reunião coletiva dos três grupos realizada a 24 de abril passado, tiramos as
seguintes propostas:
DO GRUPO DE ARTE
Um espaço físico para a arte:
a) este local é importante pois aí concentraríamos qualquer atividade ligada à
produção cultural;
b) reuniões e ensaios dos grupos existentes e de outros que surgirem como de
Pastoris, Samba de Coco etc.;
c) seria um embrião de atelier para pintores;
243
d) começaríamos a montar a futura Casa da Cultura;
e) local de ensaio de arte pelos professores de arte das escolas da cidade.
Verba mensal destinada à cultura:
a) esta verba seria distribuída entre os grupos existentes, juntamente com
aqueles que ainda surgirão, coletivamente, reunidos com um representante
da prefeitura;
b) é fundamental para o Grupo de Arte para manter uma programação anual
de montagem: 1) circuito de arte, que seria desenvolvido durante um mês
inteiro pelas ruas da cidade; 2) manutenção do Cultural de Maio, uma
semana de arte pelas escolas no mês de maio;
c) para a Zabumba teria aplicação na reposição de seus instrumentos e
fardamento;
d) no grupo dos Guerreiros teria aplicação na reposição de sua roupagem;
e) até mesmo cursos de artes plásticas intensivos de mês ou meses poderiam
ser assistidos por artistas locais noutros centros nordestinos.
DO GRUPO DE ZABUMBA
Este grupo apenas reivindica:
Terno de roupa Total Cores
Calça e camisa 8 Azul claro ou caqui
Conjunto de alpercata
Par 8
a) como sendo um grupo que existe há tempos, esta solicitação tem caráter
puramente estético;
b) com a verba destinada à cultura, este grupo participaria em ambos os
eventos culturais citados.
DO GRUPO DE GUERREIROS
244
Este grupo apresenta também uma única solicitação: que seja autorizado o
funcionamento dos Guerreiros na rua da Mangueira:
a) este galpão seria mesmo na rua e daí nossa solicitação, entretanto, a rua não
ficaria interditada; o espaço que fica aberto é suficiente para passagem de
qualquer transporte;
b) o trânsito neste local praticamente inexiste;
c) acima de tudo, seria uma sede provisória e, tão logo que tivermos local
apropriado, nos retiraríamos deste local.
OBS.1: Sobre a Educação Escolar, a pesquisa citada apontou que 74,1% da
família leopoldinense não tem nenhuma pessoa que concluiu sequer o 1o grau;
e 20,7% tem uma pessoa apenas. Diante disto, entendemos que a questão
cultural em específico a da Educação Formal, deve ser analisada sob dois
aspectos: primeiro, uma resposta a esta realidade e que temos de ter a escola e
as condições para todos, questão meramente quantitativa; e segundo, uma
escola que inspire confiança no leopoldinense, uma questão de qualidade. É
uma questão complexa e que as propostas para tal deverão sair, sobretudo, dos
professores locais.
OBS.2: Quando da aplicação do questionário da pesquisa, alguém mostrou a
necessidade de uma biblioteca, algo importante para a cultura local.
Aproveitamos para sugerir que se faça um contato com a Fundação Roberto
Marinho, a Hoschat ou Secretaria de Educação que querem incentivar o hábito
da leitura em nossas crianças, campanha que está sendo apresentada pela Rede
Globo: “Ciranda, Cirandinha, vamos todos ler...”. Eles doam “bibliotecas”.
Seria um início.
5 - CONCLUSÕES
Sr. Prefeito, conhecemos a preocupação de V.Ex. pela cultura leopoldinense
como também as questões levantadas já as conhece. Está tudo, praticamente, a ser feito.
245
Os nossos dados são preocupantes. Preocupados também com o desmantelamento das
culturas latino-americanas pela indústria cultural, nós estamos propondo ou solicitando
medidas que façamos revigorar já, a nossa cansada, mas nossa, cultura. E, assim, ocupar
o espaço que é nosso no cenário cultural alagoano. Acreditamos que, como
leopoldinenses, possamos contribuir para a cultura do município, do Estado e, por que
não dizer, para o país, já que vozes daqui já se fizeram e fazem-se ouvir neste país afora.
E, para concluir, poderíamos citar um poeta venezuelano que mostra que “a
história prova que a maior força de autoafirmação de um povo ante a voracidade
colonialista é a presença de uma vigorosa cultura...”.25
Esta forte cultura poderá ter
início no nosso aqui, nosso agora.
Agradecemos,
Colônia Leopoldina, 1 de maio de 1983.
Componentes da Banda de Zabumba São Sebastião.
Componentes do Grupo para criação dos Guerreiros.
Componentes do Grupo de Arte.
25
Citação do Jornal Leia Livros – edição abril/maio,2003.
246
TEXT0 4.
A DIFÍCIL ARTE DA POLÍTICA DE OPOSIÇÃO E DE ESQUERDA,
EM CIDADES DE INTERIOR26
Não adianta, conservadores!
O mundo se move.
As elites dominantes teimam em fazer compreender aos que atuam na política de
oposição ou de esquerda que essa política é inviável para um país, para um povo e, de
forma singular, para as pequenas cidades, a não ser que sejam elas mesmas as suas
próprias oposições. Para elas, jamais se poderá encastelar nas mentes e nos corações do
povo uma política de esquerda, cujo programa apresenta-se como uma alternativa ao
modus vivendi do capitalismo – sistema que é muito bom para uns poucos.
No máximo, podem admitir a existência de uma oposição singela e doce (sem
liderança e vinda do açúcar) como a que se está vivendo em Colônia, seguidor de um
mesmo programa político, definido por elas e, portanto, o programa político dominante.
Pensar uma alternativa de viver, um jeito novo de viver e de fazer política é, para elas,
uma situação impensável a todos e todas que não se situam naquele arco elitizante - os
setores oprimidos da sociedade. Esses setores concretizados naqueles que padecem da
opressão do judiciário, com raros e respeitosos personagens; da opressão religiosa das
maiorias dominantes; da opressão étnica embutida na sociedade; da opressão de gênero
estabelecida; da opressão da instituição universitária que impede a chegada desses em
seus cursos; da opressão da família opressora; da opressão de vizinhos nada educados;
da opressão de um Estado que lhes abandonou já faz tempo; da opressão de servidores
públicos em todos as escalas do governo, sendo eles quaisquer coisa menos um servidor
do povo; da opressão daqueles mesmos que até se dizem amigos e, enfim, da opressão
sobre aqueles todos que vivem ou viverão da força de seu trabalho.
26
Análise política de um grupo emergente, durante eleições de 2008, base do que veio a se consolidar
como Movimento Colônia e Cidadania - MCC.
247
Inserido nessa dimensão está o nosso município, aqui pensado como o ambiente
do exercício político possível de uma oposição, vislumbrando possivelmente uma
perspectiva de esquerda. Uma perspectiva de esquerda seria um exercício de governo
que promovesse um planejamento participativo da equipe técnica da prefeitura com a
população; um orçamento participativo, em que o gestor público não temesse a
transparência de suas ações, aplicando o dinheiro aonde o povo entende que seja
importante. Uma perspectiva de esquerda como aquela que possa cuidar das pessoas e
não deixá-las à mercê de suas sortes. Uma perspectiva de esquerda seria a promoção da
participação do povo, pois, assim, estaria conquistando a sua cidadania. Cidadania como
algo a ser conquistada mas que um político de esquerda pode, perfeitamente, contribuir
para esse povo avançar em seus desejos de viver como gente e com satisfação de vida.
Enfim, a preparação do cidadão no sentido grego, isto é, para que atue nas definições
das coisas de sua cidade, de sua polis. Em Colônia, isto seria um avanço transformador
profundo que muito colocaria a cidade na vanguarda política da região norte do Estado
de Alagoas. Vivam os sonhos!
Mas, o que temos, concretamente, hoje, no campo da oposição e da esquerda
leopoldinense? Uma difícil aritmética política com quase nenhuma ideologização,
retorcendo-se para uma perfeita adequação ao status quo dominante, sendo
encaminhado por nossas próprias mãos para a inexistência de oposição na cidade,
tornando-se ainda inaceitável pensar-se em um governo de esquerda. Estamos nós
submetidos aos desígnios dos nossos próprios acordos, dos nossos particulares
interesses e mais: estamos dominados pelos dados de realidade. Estamos sem força para
superar os dados da dominação e, assim, rendidos à lógica política reducionista de que
fazer política é uma questão meramente financeira. Estamos abdicando da nossa
capacidade de insurgência que é intrínseca ao gênio humano e nos entregando às razões
externas da política. A política de oposição em Colônia vem se rendendo aos sabores
das políticas de Maceió ou de Brasília, mesmo que elas precisem ser contadas, e
omitindo-se no fazer da política local.
Vejamos um histórico do grupo:
a) Formamos um grupo desejoso de construir uma oposição planejada e com
programa de governo mesmo que, ainda, pudesse não aparecer ações de avanços
de uma política de esquerda e, necessariamente, de mudanças profundas.
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b) Estivemos juntos com um personagem-vereador que bem pensava a utilização
do grupo para fortalecer-se como negociador do lado contrário ao grupo, e se
foi.
c) Veio a composição partidária do grupo e eis o que se formou: PSOL, PTB,
PSDB, PT, PMDB... .
d) A nossa principal figura, particularmente do ponto de vista eleitoral, foi
arrastada para o PSDB por um governo de Estado que garantiu finanças para a
sua campanha.
e) A representação do PMDB se foi para o outro lado, tecendo as suas próprias
negociatas.
f) O PSOL, o partido mais solidamente estabelecido em campo ideológico,
mantém-se presente a esse grupo de oposição, mas com a clareza de que será
muito difícil aliançar-se com tais forças presentes. Este partido cobra mudanças
profundas na sociedade, mas tal discurso soa distante das cabeças dos
componentes do grupo de oposição. Para o PSOL, a política se faz em nível
municipal, estadual e nacional. Portanto, não se pode pensar uma política do
micro sem a perspectiva macro. Afinal, os votos de Colônia vão ajudar aos
políticos do Estado e do País.
g) Fomos ficando reduzidos a praticamente PSDB, PT e PTB.
h) Com o comportamento eleitoral do PSDB em nível nacional votando, quase
sempre, em oposição ao governo Lula, o PT se coloca na impossibilidade de
uma composição local com aquele partido, sobretudo, após as votações do final
de ano passado (cpmf). Compreendemos que o seu diretório regional em
Alagoas dificilmente aceitará tal aliança. Ademais, a principal figura do PSDB,
virtual candidata das oposições, nunca demonstrou em eleições passadas
qualquer interesse pelo governo Lula.
i) Na última festa da cidade, na procissão de São Sebastião, o presidente do PT
acenou publicamente para outros campos políticos, justificando que PSB
(partido do usineiro) e PDT (partido do prefeito) estão na base de sustentação do
Governo Lula.
j) Vai restando o PSDB, PSOL e PTB (partido da base do governo Lula) a
continuidade de uma visão oposicionista dividida, ainda possível na política
leopoldinense, contudo, por diferenciadas razões. O PSDB representa a principal
expressão oposicionista da cidade, mas a sua situação no expectro ideológico o
249
afasta do PSOL que caminha para ter candidatura própria, mesmo que seja
inexpressiva a sua votação. O PTB, tendo como figura principal um religioso
que esteve ao lado da política do atual prefeito (manuilson), ainda não
posicionou-se no geral, mas aguarda, em Alagoas, um forte apoio de Collor para
realizar campanha, além de um apoio, mesmo informal de autoridades
eclesiásticas mais altas, difícil de assim fazerem.
Diante disto, vem se ratificando a tese dominante de que a política é uma
atividade exclusivamente financeira, de estranhos acordos e que o povo precisa sempre
estar fora disso. Nós sabemos, todavia, que política não é sinônimo de economia e
muito menos de finanças.
Então, poderemos apresentar a clássica questão de esquerda: O que fazer?
Célebre livro de Lenin – revolucionário russo. Pensamos, concretamente, que já
estamos fazendo algo. As circunstâncias vieram determinando as opções partidárias e os
acordos se sobrepondo ao grupo que tinha, tão somente, o papel de aglutinar essas
oposições – uma ação que é inédita em Colônia Leopoldina. Mais uma vez, pode-se
repisar as clarezas iniciais: a oposição dividida sempre foi um prato cheio para a vitória
dos setores dominantes e conservadores da política.
As condições objetivas postas caminham, mais uma vez, para mantermo-nos
separados, tornando mais dura a difícil caminhada do fazer política local, em particular
no ambiente em que as opções de vida das pessoas são mínimas ou nulas. O financeiro
passa a ser o determinante na vida eleitoral e das vidas das pessoas, mesmo que isto não
seja novidade no campo da teoria política e do nosso quadro cultural.
Há, agora, um desafio maior ao grupo que é até onde podemos continuar, pelo
menos, conversando esporadicamente. Essa continuidade de conversas é necessária para
que se possa ainda haver conversas mínimas sobre a política da cidade. Não podemos
alimentar a anomia, a desorganização e o não diálogo. Resta a alternativa de pensarmos
definitivamente a chapa com os partidos que toparem algum tipo de acordo. Resta,
ainda, o esforço de que, nessa luta, possamos eleger o maior número de vereadores que
possam continuar pensando política (tomar a câmara).
Os desafios postos agora são maiores mas não são insuperáveis. A dinâmica da
vida nos mostra isto, mesmo que as nuvens políticas atuais estejam muito mais
tenebrosas para o nosso município. Mas, será sempre importante pelo menos uma
250
certeza, nesse campo de tantas incertezas: O MUNDO SE MOVE E AS FLORES
SEMPRE RENASCERÃO NOS JARDINS DAS NOSSAS VIDAS.
Texto para possível discussão do grupo.
Colônia Leopoldina, fevereiro de 2008.
Abraços.
José Francisco de Melo Neto
251
TEXTO 5.
COLÔNIA LEOPOLDINA: ação cultural no meio rural
José Francisco de Melo Neto27
Ação cultural no meio rural28
é um trabalho fruto da experiência desenvolvida na
Zona da Mata do Estado de Alagoas, no município de Colônia Leopoldina29
. Uma
preocupação conceitual de educação esteve sempre presente: educação como processo
que envolve o educando na atuação transformadora de seu ambiente. A comunidade30
é
caracterizada em seus aspectos: histórico, geográfico, econômico, educacional e
cultural, social, religioso e outros. Delineiam-se estes aspectos no marco da
dependência, situação que caracteriza a comunidade.
O trabalho de ação cultural se desenvolve a partir da definição de uma
metodologia científica, com vista à concretização de ações educativas, que façam frente
a essa situação de dependência e que conduzam à organização de vários grupos sociais
existentes ou emergentes com a ação educativa na comunidade. Optou-se pela
metodologia da pesquisa-ação, buscando-se mostrar o conjunto de atividades educativas
que foram sendo desenvolvidas, constituindo-se como ação cultural. O conhecimento da
realidade local deu-se a partir de grupos já formados ou em formação, iniciando-se a
definição da ação por esses mesmos grupos que são os responsáveis diretos pelo
exercício daquelas práticas educativas.
27 Professor do Centro de Educação da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), atuando nos cursos de Pedagogia,
no Programa de Pós-Graduação em Educação – Educação Popular – e coordenador do Grupo de Pesquisa em
Extensão Popular (EXTELAR).
28 Este trabalho resultou em Dissertação de Mestrado em Educação, tendo como membros da Banca Examinadora os
Professores: Dra. Hélène Le Blanch, Dr. Argemiro Procópio Filho e Dr. Messias Costa, defendida na Universidade
de Brasília (UnB), com o título Ação Cultural no Meio Rural: Uma experiência em Colônia Leopoldina – Al, em
1984.
29 Essa experiência, que teve duração de dezesseis meses, foi pautada por uma visão educativa em que o homem se
educa, comprometendo-se politicamente e intervindo no seu ambiente para transformá-lo.
30 Comunidade – conjunto de pessoas convivendo em um determinado espaço físico e geográfico, com um complexo
de diversidades culturais, econômicas, políticas e sociais que interagem em um processo dinâmico de relações.
(Secretaria de Cultura do MEC – 1980).
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O trabalho educativo inicia-se pelos seguintes segmentos: Sindicato de
Trabalhadores Rurais; professores do colégio da cidade; alunos do curso de magistério;
professores do MOBRAL; grupo de jovens; jogadores de futebol; grupo de zabumba;
„guerreiros‟ (dança folclórica) e fotógrafos. Entre vários membros desses grupos,
ocorreu a coleta de dados sobre a comunidade, sendo devolvido, posteriormente, à
própria. Destaca-se, nesse trabalho, a ação coletiva desses grupos quanto ao resgate de
sua cultura e organização, podendo ser caracterizado, hoje, como expressão da
resistência cultural de grupos de uma comunidade rural naquele determinado momento
histórico.
INTRODUÇÃO
Pelo menos dois tipos de abordagem têm predominado, de certa forma,
nos estudos da educação nos últimos anos: uma considera a educação como fator de
mudança social e, portanto, como canal de mobilidade social; outra vê a educação numa
perspectiva de investimento, num enforque econômico. Na análise em que a educação é
vista como fator de mudança social esta é explicitada como mudança superficial dos
problemas; não questiona a essência do sistema. Nesta concepção, a educação tem papel
fundamental. Mudança aqui é entendida como uma transformação profunda, em que o
sistema de produção vigente e suas relações sociais são alteradas, tendo a educação um
poder importante.
Nos estudos que apresentam a educação como canal de mobilidade, a função da
educação se direciona no sentido de “situar” o homem socialmente. Dessa forma, além
da função de formação e socialização, passa a promovê-lo na escala de prestígio.
Escamoteia-se a estrutura de classes da sociedade, entendendo-se que contribui para
uma mudança na sociedade. Em consequência, desenvolve-se a motivação para que o
indivíduo busque essa mobilidade. Trata-se de uma dimensão que admite vários
conceitos, conforme apresenta BENJAMIN (1980: 28):
Mobilidade estrutural resultante das modificações nas ofertas de ensino
decorrentes das mudanças de ocupação com a industrialização; mobilidade por
troca de posição onde ocorre um intercâmbio de indivíduos entre “status”
devido à pouca rigidez na estratificação; mobilidade de competição onde o
“status” é um prêmio conquistado individualmente com o próprio esforço do
253
aspirante, e também a mobilidade promocional onde a própria elite escolhe e
premia os escolhidos de dentro de seu seio instituindo critérios meritocráticos e
aqui o esforço não é suficiente para sua obtenção.
A educação é, então, apresentada como um fator muito expressivo para a
ascensão social. Nesse aspecto, busca-se a demonstração de que o critério sócio-
econômico deixa de ser fator de obtenção de status para dar espaço a um novo critério: a
escolaridade.
No enfoque econômico, a educação é analisada de forma explícita, como
investimento. Estão presentes, em cada momento, elementos como: produto, taxa de
retorno, consumo, demanda e oferta. Esse investimento apresenta-se em três tipos:
estatal, privado (a escola particular) e individual (auto-investimento). Dele decorrem
três tipos de taxas de retorno: lucro para a nação, lucro para o setor privado e também
maiores rendimentos aos estudantes quando estiverem no mercado de trabalho. A
preocupação está sempre em medir os estoques na educação e, em consequência, seus
rendimentos. Na visão econômica da educação, a medição da ascensão social decorre da
qualificação e do rendimento, de modo que os diferentes níveis de status são gerados
por diferentes níveis de especialização. A educação, enfim, assegura taxa de retorno alta
para a nação bem como para o indivíduo. Ainda segundo BENJAMIN (ibid.: 41),
ambos os enfoques se aproximam quando estão preocupados com “o equilíbrio e a
estabilidade das estruturas, inclusive utilizando mecanismos de avaliação e controle
que servirão a própria realimentação do sistema, visando seu funcionamento perfeito
para que não tenha de ser modificado... Supõe-se que o sistema capitalista é o mais
eficiente e procura-se analisar relações da situação vigente”.
Partindo-se do pressuposto de que transformações na sociedade deverão
ocorrer, a educação tem papel importante nas etapas de preparação dessas
transformações como posterior a elas. Não só pode ser analisada como um fator que
permite manter o status quo, como também pode ser orientada para o papel de
instrumento na busca de construção da história da maioria. Dessa forma, a educação
toma sua dimensão maior: a dimensão cultural. Esta passa a marcar presença em todos
os setores da vida da sociedade, podendo possibilitar um desenvolvimento crítico nas
pessoas a partir de suas práticas nas mais simples formas de organização como
sindicato, partido político, igreja e outras instituições, ou mesmo, buscando novas
formas organizativas.
254
Entretanto, constata-se que a prática pedagógica tem sido reduzida à sala
de aula. É desenvolvida numa realidade expressa de forma estática, resistente à
mudança nesse processo limitado da prática educativa. O seu planejamento não reflete
suficientemente as necessidades das comunidades. Seus conteúdos e métodos não
traduzem as necessidades do homem da cidade e muito menos as do homem do campo.
É reforçada a ideia da educação como mecanismo assistencialista, mas pode contribuir
para mudanças na vida da comunidade se utilizar a sua capacidade criadora. Para o meio
rural, os conteúdos são mais alienantes, já que provêm de uma realidade urbana. Tais
conteúdos, juntamente com a metodologia de ensino, contribuem para o fracasso da
aprendizagem.
Partindo-se do pressuposto de que a educação no meio rural deve ser
diferenciada, ela também deve ser capaz de atuar para a plena realização do potencial
dos indivíduos que moram e vivem no campo. O conhecimento da realidade concreta
pode possibilitar-lhes uma intervenção na mesma, como agentes do seu próprio
desenvolvimento. Mas, como conhecer essa realidade? E mais: uma vez conhecida,
como realizar essa intervenção?
Uma ação educativa só se justifica a partir do envolvimento da
comunidade e a sua orientação para as possíveis soluções de problemas comunitários,
ou seja, uma ação que considere necessária a participação das pessoas no processo de
mudanças. Contudo, que formas podem ser utilizadas para efetivá-la no meio rural?
Além do mais, essa ação educativa determinada pelo conhecimento da realidade não
pode ser sinônimo de transferência de conhecimento, e sim de ato dinâmico e
permanente no processo de sua descoberta. Enfim, que metodologia desenvolver para
atender às expectativas de participação daquela comunidade?
É possível descobrir a realidade local a partir da ação daqueles que vivem
na própria região e com eles poder melhor desenvolver todo o processo de
sistematização. Com esse entendimento, promoveram-se encontros informais com
professores municipais e do Colégio Pe. Francisco, daquela localidade, discutindo-se
questões educativas como: o abandono da escola pelo alunado, sobretudo na época da
colheita da cana-de-açúcar; turmas reduzidas a menos da metade; reprovação do aluno
ao final do período letivo e também as questões salariais. Registre-se que professores
passam até sete meses sem receber seus salários, mesmo sendo muito aquém do salário
mínimo regional.
255
Na reunião com a coordenação e professores do MOBRAL, os problemas
apresentados foram os seguintes: índice de analfabetos considerado elevado no
município; a impossibilidade de sustentação das turmas, que mal iniciam já vão se
reduzindo; ou ainda a preocupação de uma professora em como alfabetizar, já que
muitos não acreditam na educação do MOBRAL, nem mesmo os analfabetos.
Esta preocupação com a educação também é externada pelos dirigentes
do sindicato rural em relação aos seus associados. Várias pessoas apresentam também a
atuação do sindicato como pouco expressiva. Os religiosos locais têm dificuldades em
encontrar formas de organizar a comunidade considerando, inclusive, a comunidade
com baixa motivação.
Quanto ao grupo de jovens da Igreja Católica, surgem dificuldades na
promoção de suas reuniões. Vários deixam o grupo por não saber mesmo qual o
objetivo do grupo. Entendem, entretanto, que precisam realizar alguma prática de
organização comunitária, mas não se sabe como iniciar. Mesmo assim o grupo existe.
Diversas pessoas apresentaram questões de ordem político-partidária, já
que não mais de quatro políticos se revezam na administração da Prefeitura há trinta
anos, sendo de uma mesma corrente política. Para elas, é preciso haver uma renovação
nos quadros políticos locais - também indicaram questões tais como o fim de tradições
culturais como os „guerreiros‟.
De posse dessas informações, a opção metodológica que se apresentou
para este trabalho foi a da pesquisa-ação, por ser uma metodologia que estimula a
participação e abre o universo de respostas, passando pelas condições de trabalho e vida
da comunidade. Buscam-se as explicações entre os próprios participantes, que se
colocam em posição de investigador.
Mas, apenas procurar o conhecimento da realidade não é suficiente, pois outras
metodologias também realizam isso. Entretanto, na pesquisa-ação, o participante é
conduzido à produção do próprio conhecimento e se torna o sujeito dessa produção.
Nesse aspecto, essa metodologia se distancia de todas as demais e se afirma como
instrumento fundamental de resistência e conquista popular, posto que se reveste dessa
ação educativa. Segundo OLIVEIRA (1981: 19), essa metodologia promove “o
conhecimento da consciência e também a capacidade de iniciativa transformadora dos
grupos com quem se trabalha”. Trata-se de uma concepção de pesquisa que, conforme
PINTO (1979: 456), considera “fundamen-talmente como ato de trabalho sobre a
realidade objetiva”. Ou ainda, como afirma GAMBOA (1982: 36), “busca superar
256
essencialmente, a separação entre conhecimento e ação, e buscando realizar a prática
de conhecer para atuar”.
Nesse sentido, buscaram-se as bases teóricas da metodologia escolhida
para tornar possível uma maior fundamentação da mesma, podendo ser resumidas nos
termos em que foram apresentados por BORDA (1974: 41):
Não pode haver separação entre o pesquisador e a metodologia. Se faz
necessária a militância do pesquisador já que sem a prática não será possível
deduções de cunho teórico ou mesmo a validade ou não do conhecimento.
Assim, como a metodologia não está separada do pesquisador, também
não está dos grupos sociais com os quais se trabalha. Ela tem sua adequação ao se
trabalhar no campo ou na cidade, ou ainda, quando se trata de grupos diferenciados
como negros, índios, brancos ou camponeses.
A metodologia evolui e se modifica em função das condições políticas
locais e, logicamente, em função das correlações das forças existentes. Se forças sociais
adversárias são fortes, não há porque não tratá-las como tal, sem fazer abstrações dessas
situações.
Essa metodologia depende ainda da estratégia global da mudança social
adotada e de suas táticas, a curto e médio prazos. Não se apresenta como enumeração
pura e simples de princípios sem referência do processo global de mudança. Dela têm-se
ainda alguns traços que são apresentados por HALL (1981: 14) e que podem ser
sintetizados assim:
A informação é devolvida ao povo, de onde a mesma surgiu bem como na
linguagem e na forma cultural daquele ambiente; o povo e o movimento de base
passam a estabelecer o controle do trabalho; as técnicas de pesquisa tornam-se
acessíveis ao povo; um esforço consciente é necessário para manter o ritmo da
ação-reflexão do trabalho; aprender a escutar e a ciência tornam-se partes do
dia-a-dia da população.
Mas, como a metodologia da pesquisa se desenvolveu, de forma
sistemática? Para responder a esta questão, convém apresentar todo o processo
metodológico, desde a preparação do pesquisador até as técnicas de avaliação da
pesquisa.
257
a) Preparação do investigador - é a etapa inicial onde se dá o processo de aproximação
do investigador31
com a comunidade escolhida, a inserção do mesmo na comunidade.
Foram, então, contactados os seguintes grupos ou instituições: Colégio Pe. Francisco
(administrador e adjunto); professores do colégio local; pessoas vinculadas à Igreja
Católica; equipe de coordenação e professores do MOBRAL; grupo de futebol;
Sindicato Rural (presidente e secretário); grupo de jovens, bem como um grupo de
ação comunitária (MOBRAL) em formação, na rua da Mangueira, trabalhadores
rurais, além de pequenos comerciantes.
Nessa etapa, inicia-se o conhecimento da comunidade. O investigador
observa como ela apresenta seus problemas, tendo como base os dados coletados de
fontes faladas, vivas ou sensoriais e as observações sobre a vida diária, bem como dados
oficiais da atividade econômica, social e cultural. Outros dados são coletados nas
reuniões de vereadores ou em comícios das várias correntes políticas, na cidade, nos
sítios e nos engenhos. As visitas e entrevistas são relatadas em pequenos informes para
posterior devolução aos participantes. Essa devolução acontece durante uma reunião
com praticantes do esporte local, estudantes do curso de magistério e outras pessoas
sem vinculação a grupos. Nessa ocasião, expõe-se todo o material coletado, elaborando-
se um elenco de necessidades apresentadas. Selecionam-se aqueles problemas mais
citados na coleta. A partir daí, inicia-se o estudo procurando identificar como a
comunidade percebe e analisa sua realidade.
Com essa sistematização inicial, efetiva-se o primeiro retorno dos
resultados aos grupos ou pessoas que iniciam a investigação. Pessoas não pertencentes a
grupos, nessa fase, chegam a formar grupos posteriormente. A partir daí, elabora-se um
questionário32
que é devolvido aos que estão presentes nessa reunião e também a
professores, religiosos e outras pessoas.
b) O investigador e a comunidade – Para a aplicação do questionário, leva-se em conta
que havia no município, em 1980, um total de 1.456 domicílios33
em sua sede. Nessa
fase de pesquisa, de maior organização de busca das necessidades e problemas, são
visitados 140 desses domicílios. A entrevista dá-se coletivamente com os residentes, nos
31 O conhecimento da cultura da região é condição para o exercício metodológico da pesquisa-ação.
32 Utilizou-se, como exemplo, o questionário aplicado no levantamento das necessidades básicas da “Invasão do
Chaparrau”, no Distrito Federal em 1982, num trabalho de Educação Popular desenvolvido por um grupo de alunos
do Mestrado em Educação, da Universidade de Brasília, coordenado pela Profa. Dra. Hélène Barros.
33 Domicílio – toda e qualquer residência habitada com uma ou diversas entradas ou mesmo embarcações (IBGE, IX
Censo Geral do Brasil, 1980).
258
seus domicílios. Os questionários são aplicados em todas as ruas da sede municipal
sendo, aleatoriamente, escolhidos. Os dados coletados saíram do consenso dos que se
faziam presentes no momento da entrevista no domicílio.
Elaborada a amostra, segue-se o treinamento de dez entrevistadores. São
pessoas dos grupos de professores do MOBRAL e dos alunos do curso de magistério.
Alguns critérios são utilizados para a seleção desses entrevistadores como: pertencer a
algum dos grupos existentes ou em formação; poder cumprir o calendário das
entrevistas. Procede-se à entrevista de domicílios selecionados, aplicando-se um
questionário de dez em dez domicílios.
c) Sistematização das informações - Concluída a fase de aplicação dos questionários,
inicia-se a sistematização dos dados com a finalidade de oferecê-los à reflexão dos
grupo. Elabora-se, para tanto uma codificação das respostas34
, utilizando-se da
computação de dados como instrumento de ajuda neste trabalho. Muitas propostas ou
questões levantadas são mantidas, mesmo que quantitativamente pudessem ser
desprezíveis. Além disso, são utilizadas na devolução das mesmas a todos os
envolvidos na investigação. Com base nos resultados encontrados confeccionam-se
fichas-problema contendo dados, juízos e apreciações, que são utilizados na
devolução do material aos grupos. Um dos grupos existentes encarrega-se da
elaboração dessas fichas.
d) Análise e interpretação dos dados – Nessa fase, são analisadas, de maneira crítica,
as necessidades coletadas, extraindo as dimensões positivas e negativas das questões
levantadas, encarando a realidade numa perspectiva de mudança, impulsionando os
grupos à reflexão e à ação, desenvolvendo seu poder de organização e intervenção na
realidade. O estímulo à reflexão e ao diálogo é o princípio fundamental de todo o
processo.
Apresentaram-se todos os resultados da investigação aos grupos já existentes ou
criados na comunidade, num primeiro momento. Num segundo momento, através de
novas reuniões, se estabelece uma ordem de prioridade dos problemas. Prioritário é
aquele problema que está ligado diretamente ao grupo inserido na pesquisa. O grupo de
34 Utilizou-se o pacote estatístico SPSS (Statistical Package Social Sciences).
259
esporte tratou, especificamente, das questões do esporte local, sem deixar, entretanto, de
conhecer as demais questões.
Aprofundam-se as análises dos problemas mais expressivos,
quantitativamente, em pelo menos uma reunião. Daí, discutem-se as tarefas urgentes a
serem encaminhadas. Com quatro grupos chega-se a elaborar um documento contendo
as propostas, ratificado posteriormente em nova reunião do grupo. Após aprovado, é
encaminhado às autoridades competentes do município, através de encontro entre essas
autoridades e os grupos. Em seguida divulga-se o documento junto à comunidade.
e) Avaliação - avaliação está presente no decorrer de todas as etapas do processo, desde
os contatos iniciais até o final das atividades. Este trabalho também passa pela
avaliação global de todo o processo, no que se refere à capacidade dos grupos de
responder aos problemas concretos da vida diária. Finalmente, o documento
resultante deste trabalho retorna aos grupos envolvidos no processo.
A comunidade
A dominação desenvolve sua cultura própria. Sua reprodução, entretanto,
insere-se nas próprias relações imperialistas. Da mesma forma que essas relações
adquirem especificidade, em cada pólo dominador e em cada pólo dominado, bem como
em cada momento histórico, também vão gerando elementos culturais próprios. Como
são relações específicas, vão produzindo e reproduzindo formas culturais específicas.
Valores tais como promoção da eficácia, competitividade, lucro
empresarial, salário como o preço justo da força de trabalho, ou ainda, a ideia de que o
modelo europeu constitui o padrão da civilização ocidental para as sociedades
subdesenvolvidas, são veiculadas às populações. Estes são os constituintes da cultura de
dominação. Uma cultura que a dominação impõe às sociedades chamadas
subdesenvolvidas ou dependentes.
Para KOWARICK (1974: 34), vários são os conceitos ou significados
apresentados sobre dependência. Porém, ideias básicas já estão definidas e são
consensuais aos estudiosos do assunto. Por exemplo, as ideias que consideram os
fatores externos provenientes de ações originadas nas sociedades centrais e aquelas que
260
equacionam a questão a partir das ligações que aparecem no quadro das relações entre
países, salientando o domínio de um sobre o outro.
Portanto, a abordagem de dependência apenas como dominação externa
não é a única. Há também um tipo de análise que apresenta o pólo interno de forma
dinâmica. Mas, mesmo assim, nada impede que autores deem ênfase à relação de
dependência entre os pólos hegemônicos (centrais) e periféricos. Outros centram o
estudo nas relações de produção, políticas, sociais e culturais no interior da nação
subdesenvolvida. Não são abordadas neste trabalho as divergências entre vários
enfoques ou significados da dependência. Utilizam-se, todavia, os componentes dessa
dominação nas relações de produção, políticas e sociais com ênfase nos aspectos
culturais. Partindo da dimensão municipal, buscam-se aspectos que caracterizam a
dependência da região nas relações citadas de produção, políticas, bem como nos
aspectos culturais.
A teoria da dependência tem buscado explicações de caráter global, não
só em relação às etapas por que passaram as formações sociais latino-americanas, mas
também quanto ao futuro dessas sociedades. Em outras palavras, de posse da análise dos
fatores políticos, sociológicos, econômicos e culturais, examina as relações dos “países
periféricos” com os “países centrais”. Nesse aspecto, SANTOS (1976: 126) caracteriza
a dependência como situação condicionante:
Um certo grupo de países tem a própria economia condicionada pelo
desenvolvimento e expansão de outra economia. A relação da interdependência
entre duas ou mais economias e entre estas e o comércio mundial, toma forma
de dependência quando alguns países (os dominantes) podem expandir-se e
auto-impulsionar-se, enquanto outros (os dependentes) só podem fazê-lo como
reflexo daquela expansão... .
Nessa relação entre dominantes e dependentes, os primeiros detêm o
domínio tecnológico, comercial e sócio-político e impõem as condições de exploração
sobre os “países periféricos” ou dependentes. Porém, sendo a dependência apresentada
como situação condicionante e entendida esta situação como determinadora de limites
de ação, o autor mostra que a situação não é condicionante de forma definitiva, em dois
aspectos. O primeiro diz respeito às situações concretas do desenvolvimento que são
formadas pelas condições gerais de dependência, bem como pelas especificidades da
situação condicionada. A condição geral está, então, delimitada por essas condições. O
261
outro aspecto é que a situação de dependência pode mudar, “e muda de fato pela
mudança das estruturas hegemônicas como dos dependentes” (ibid.: 126).
Observando estes dois aspectos, FRANK (1976: 26) alerta para a
ignorância sobre os países subdesenvolvidos que leva autores a acreditar na repetição
histórica dos países desenvolvidos. Para ele, “a conseqüência é que a maior parte das
teorias não consegue explicar a estrutura e o desenvolvimento capitalista”. Já para
COHEN (1976: 48), a teoria mais convincente é a tradicional, enfocada por LENINE
(1982: 87), que apresenta o desenvolvimento atual do capitalismo como resultante da
fusão do capital dos grandes bancos monopolistas com o capital de grupos de
industriais, também monopolistas. Por outro lado, mostra a contínua divisão do mundo
como sendo a transição da política colonial que vai se estendendo sem obstáculos
àquelas regiões não apropriadas por outras potências capitalistas. Para LENINE (ibid.:
87), esta é a fase do máximo desenvolvimento do capitalismo, a fase monopolista.
Nessa fase, a dependência alicerça-se mais ainda não só pelas
exportações de mercadorias ou produtos industriais, mas também pela exportação do
próprio capital aos países dependentes. Ela surge agora com objetivos de máximo lucro
na forma de ajuda econômica, mas cobrando seus juros na extração das riquezas. Para
HARNECKER (1980: 25), esses países centrais “conseguem controlar o mercado,
vencendo facilmente a concorrência nas pequenas indústrias nacionais, além de
aproveitarem dos recursos estatais em que esses países destinam o seu
desenvolvimento”. Mas as negociações econômicas, por si sós, não são suficientes para
manter a extração dessas riquezas. O capital emprestado, em si, não é a sustentação para
o recebimento dos juros. Para isto, os acordos econômicos e empréstimos, as mais das
vezes, são antecipados por tratados ou acordos militares. Fica, então, assegurada não só
a dominação gerada pelo capital, mas também a dependência política do país periférico.
Uma questão, entretanto, acredita-se fundamental. Como caracterizar a
dependência? Para FERNANDES (1975: 31), toda essa análise passa pela
caracterização das relações de produção sob o capitalismo e elaborada por Marx.
Acrescenta que os conceitos utilizados por Marx demonstram, conclusivamente, que a
organização capitalista das relações de produção condiciona, morfológica, funcional e
geneticamente, os processos de estratificação social geradores da sociedade de classes.
Dessa forma, torna a apropriação privada dos meios de produção e a mercantilização do
trabalho faces de uma mesma moeda. Ao nível estrutural, sua explicação torna-se
262
também válida para as sociedades capitalistas desenvolvidas, subdesenvolvidas ou em
processo de transição.
O autor também entende que seja necessário fazer-se uma adequação da
contribuição de Marx no que diz respeito às condições, fatores e efeitos na formação e
desenvolvimento da estrutura básica do pólo dominador e às classes sociais nas
sociedades dependentes ou subdesenvolvidas. Essa adequação pode se dar em três
aspectos: o primeiro referente à teoria da acumulação capitalista; o segundo relacionado
à teoria da mercantilização do trabalho; e o terceiro voltado às contradições entre as
forças produtivas e as formas de organização da produção capitalista.
A teoria da acumulação capitalista, mesmo sem apresentar as mesmas
condições, é perfeitamente aplicável às sociedades subdesenvolvidas. Aqui, ressaltem-
se as proporções, os significados e as funções de acumulação de capital. As sociedades
subdesenvolvidas capitalistas não se apresentam, hoje, com todos os mecanismos, como
a pilhagem da fase inicial da acumulação do capital. Não estão submetidas à destruição
de suas estruturas econômicas e sociais arcaicas, mas adquirem formas de mudanças
internas e até aceleradas. Isto se dá tanto no âmbito da economia rural como da
economia urbana. Tal economia passa rapidamente do capitalismo financeiro,
comercial, ao capitalismo industrial. Essa transição se dá nos países subdesenvolvidos
impulsionados pela sua inclusão no mercado mundial. Com isto, ocorreram as
transferências de capitais, técnicas e instituições econômicas.
Já no sistema agrícola não ocorre nenhuma transformação radical, pois
este acompanha o desempenho superior do capitalismo no setor urbano com negócios
de exportação35
e com suas estruturas e técnicas econômicas superadas. Todo processo
de modernização vem sendo orientado, entretanto, a partir de fora. Neste contexto, se
vai definindo toda uma situação de capitalismo dependente, capitalismo instável e
controlado externamente.
O outro aspecto se refere à mercantilização do trabalho à entrada do capitalismo
dependente do mercado mundial, significando participação do mercado de trabalho
externo. Esta participação não se dá como no início da modernização, pois o nível de
ocupação e serviços exige certa especialização e relevo. Essas sociedades
subdesenvolvidas têm de avançar bastante para construírem um autêntico mercado de
trabalho interno. A extinção do sistema colonial e a emancipação nacional pouco
35 Áreas do campo tornam-se ricas e prósperas participando dos ciclos econômicos voltados ao comércio exterior.
263
contribuíram para a implantação do “trabalho livre” cujo vendedor fosse o próprio
produtor. As determinações capitalistas que sustentam entre si os donos dos meios de
produção e os assalariados não ficam delineadas claramente36
. Dessa forma, a
mercantilização do trabalho evoluiu de maneira lenta e precária. Sua universalização
não chega a incentivar um mercado especial, integrado regional ou nacionalmente. Isto
resulta em algo também específico no nível da evolução da mercantilização do trabalho
nas sociedades subdesenvolvidas.
O outro ponto que merece considerações é o que diz respeito às
contradições entre as forças produtivas e as formas de organização da produção
capitalista. Essas contradições fornecem a chave para se entender todo o crescimento
contínuo do sistema de produção capitalista. Sua destruição depende de condições
estruturais e dinâmicas que, no capitalismo dependente, não chegam a fomentar a
expansão das forças de produção. Por outro lado, a parte autônoma do processo de
acumulação capitalista (o montante de capital nacional) termina sendo insuficiente tanto
para a expansão das forças produtivas existentes como para a organização da produção.
Até aqui, tentou-se analisar o fenômeno de dependência em sua forma global. Convém-
se analisar a maneira como esse fenômeno se expressa no município pesquisado.
COLÔNIA LEOPOLDINA
Histórico
O primeiro núcleo gerador da cidade de Colônia Leopoldina pode ter surgido
com a interiorização dos grupos vencidos nas lutas armadas da Província de
Pernambuco, entre o início e meados do século passado. O embrenhamento desses
grupos pelo interior fez com que o Governo Imperial criasse uma Colônia Militar, com
função de proteger a região contra o ingresso de grupos armados. Essa Colônia Militar
tem a incumbência de combater os participantes das revoltas da “Abrilada” e da
36 Para FERNANDES (1975), um penoso e longo hiato separou o primeiro ato de modernização, com o aparecimento
do Estado Nacional bem como a montagem de economia de mercado, e o período em que a própria expansão
interna do capitalismo comercial e o financeiro fez pressão sobre a diferenciação da produção e organização do
mercado.
264
“Cabanada” que duraram de 1832 a 1835, sendo palco tanto a Província de Pernambuco
como a de Alagoas. Nesta sua posição de defesa “houve por bem, o Imperador D.
Pedro II, com o Decreto no 729, de 09 de Novembro de 1850, criar a Colônia Militar”
(SILVA, 1983: 36). Efetivamente, só a partir de 1852, com a instalação da Colônia
Militar, se dá o povoamento do lugar.
Em 05 de janeiro de 1860, D. Pedro II visita a Colônia Militar, sendo este um
ponto alto da memória do povo leopoldinense. Em 1901, a povoação é elevada à
categoria de vila e, em 1922, é instalada definitivamente a Comarca, passando, em 20 de
junho de 1923, à categoria de cidade, desmembrando-se do município de Porto Calvo.
É, hoje, Colônia Leopoldina.
Os três poderes públicos se fazem representar na cidade e como sede da
Comarca comporta o Judiciário, Executivo e Legislativo.
Aspectos geográficos
O município de Colônia Leopoldina situa-se no extremo nordeste do
Estado de Alagoas, na região da Mata alagoana. Limita-se ao norte com o Estado de
Pernambuco, ao sul com o Município de Joaquim Gomes, a leste com o Município de
Novo Lino e a oeste pelo Município de Ibateguara. Abrange uma área de 314 km2,
constituída de um único distrito, a sede municipal. É limitado com Pernambuco pelo
Rio Jacuípe, que orienta o povoamento da região. Às suas margens, localizam-se uma
usina de açúcar e uma destilaria de álcool.
O clima local é o predominante na Zona da Mata, tropical-chuvoso,
quente no verão e frio-úmido no inverno. Como na região, o período de estiagem vai de
outubro a abril, oscilando a temperatura entre a máxima de 37oC e mínima de 18
oC,
com uma umidade relativa em torno de 70%. A fertilidade do solo apresenta alternativas
agrícolas ao município. Porém, quase toda a vegetação nativa está sendo destruída pelo
avanço do cultivo da cana. Sua madeira continua sendo enviada aos pólos mais
desenvolvidos, sobretudo para a cidade de Campina Grande, na Paraíba.
No município apresentam-se os seguintes tipos de vegetais classificados
em culturas permanentes e temporárias: a) culturas permanentes: goiaba, laranja, manga e
jaca; b) culturas temporárias: cana-de-açúcar, banana, milho, inhame, mandioca e batata
doce. Grande parte dessas culturas, sobretudo as permanentes, pouco contribui para a
265
economia local, constituindo-se em “plantações de quintais”. A densidade populacional
do município é inferior à da Mata alagoana e à do Estado, representando atualmente 4,4%
da população da microregião homogênea (116) a que pertence.
TABELA 1
Município de Colônia Leopoldina: população residente – 1980
Pop.
Total
(residen
te)
Hom
ens
Mulhe
res
Pop. Urb.
Sede Mun.
Pop.
rural
Densidade
dem.
(Hab/Km2)
14.960 7.602 7.358 6.950 8.010 47,61
Fonte: IBGE (Sinopse preliminar do censo demográfico) Alagoas 1980.
TABELA 2
População do município de Colônia Leopoldina, da micro-região no 116, e do Estado
REGIÕES POPULAÇÃO
TOTAL URBANA RURAL
Colônia
Leopoldina
14.960 6.950 8.010
Micro-
região – 116
340.988 115.142 225.846
Alagoas 2.011.875 995.344 1.016.531
Fonte: IBGE (Sinopse reliminar do censo demográfico) Alagoas 1980.
Mobilidade da população
O deslocamento da população residente no campo para a cidade, também
se observa aqui. De quase dois terços da população que residia no campo em 1970, este
percentual está reduzido, em 1980, a 50%, praticamente.
266
TABELA 3
Município de Colônia Leopoldina: distribuição urbana e rural da população recenseada
1970 1980
No habitante % N
o
habitante
%
Urbana
Rural
4.784
7.917
37,66
62,34
7.037
8.093
46,51
53,49
TOTAL 12.701 100 15.130 100
Fonte: IBGE (Sinopse preliminar do censo demográfico) Alagoas 1980.
Uma característica fundamental é que esse deslocamento não alterou, no geral, a
atividade que tinha cada pessoa, pois mantém a atividade agrícola, embora residindo na
sede do município.
Segue-se uma série de tabelas, resultantes do levantamento feito na comunidade,
pelos grupos de trabalho, durante o processo de pesquisa, e cujas atividades serão
apresentadas em itens posteriores.
TABELA 4
Tempo de moradia na cidade37
(em anos)
ANOS %
Até 10 33,6
Entre 10-20 21,4
Entre 20-30 20,0
Acima de 30 25,0
TOTAL 100,0
Observa-se que o maior percentual dessas pessoas se encontra no setor mais
pobre da cidade (Ruas da Titara e Mangueira), num total de 23,1%. Esse descolamento
pode estar relacionado à situação de vida dos entrevistados e, portanto, à busca de
estabilidade que pode se expressar na posse da propriedade, aqui na região do
37 Dados coletados na comunidade, no período de dezembro de 1982 a janeiro de 1983.
267
latifúndio. Mas, com base na consulta feita sobre por que o respondente vinha para a
cidade, apresentam-se os seguintes motivos:
TABELA 5
Motivo de deslocamento para a cidade
MOTIVOS %
Busca de outro emprego 16,0
Saúde 12,4
Educação 10,0
Casamento 4,6
Não respondeu 43,0
Outros 14,0
TOTAL 100,0
Pode-se observar que três interesses deslocam os habitantes do campo:
saúde, educação e novo emprego, registrando-se que quase a metade dos entrevistados
não sabe por que veio para a cidade. Entretanto, esta questão pode se inserir no avanço
do capitalismo no campo, com seu avanço tecnológico e de insumos para a agricultura.
A limpeza da cana, por exemplo, não é feita mais de enxada como antigamente, mas
com herbicidas. Entretanto, pergunta-se: o emprego, a saúde e a educação encontrados
na cidade têm atendido as suas expectativas? A solução ao desemprego apresentada pela
comunidade é vaga:
268
TABELA 6
Solução para o desemprego
%
Indústria de papel 18,6
Indústria de doce 3,6
Novas indústrias 32,9
Outros 3,6
Não sabe 26,4
Não respondeu 10,0
TOTAL 100,0
Estas respostas são desvinculadas da realidade local e decorrem apenas
das propostas de campanhas eleitorais dos políticos do local.
Economia
O município é agrícola e a cana-de-açúcar representa a maior atividade
econômica; a indústria está ligada à produção canavieira. O avanço agrícola prende-se à
qualidade do solo (massapê) facilitando o cultivo da cana. Porém, grande limitação lhe é
imposta pela pouca área existente em condições de mecanização. Portanto, o plantio e a
colheita estão ligados diretamente à força braçal. Aqui, a exemplo de toda a região, há
predomínio de latifúndio dedicado a essa monocultura.
TABELA 7
Município de Colônia Leopoldina: distribuição de terras segundo grupos de área
IMÓVEIS ÁREA
OCUPADA
269
Grupos de áreas
(ha)
No
absoluto
% No
absoluto
%
0 - 50 208 76,76 2.961 15,46
50 – 100 24 8,86 1.542 8,27
100 – 500 26 9,59 4.942 21,15
500 – 1000 11 4,05 7.348 39,42
1000 – 2000 2 0,73 2.945 15,80
TOTAL 271 100,00 18.637 100,0
0
Fonte: IBGE – censo agropecuário de Alagoas – 1975
É marcante, ainda hoje, o avanço histórico da cana-de-açúcar nos nomes
das propriedades chamadas engenhos, que são o sustentáculo da produção açucareira e
que mantêm seus nomes, mesmo estando a cana-de-açúcar totalmente industrializada na
área. O aumento da produtividade das unidades de produção é exigência do mercado.
Faz-se urgente a adequação a novo padrão tecnológico e, consequentemente, ao uso de
instrumentos mecanizados. Dessa forma, o produtor hoje, cada vez mais, está à mercê
dos empréstimos que conduzem a integração de produtos ao consumo daqueles
instrumentos mecanizados; e isto contribui para o fomento dos outros setores industriais
que produzem esses instrumentos. Mas o acesso aos instrumentos tecnológicos não está
aberto a todos os produtores. Sua utilização implica a condição de posse de fatores de
produção para assegurar a hipoteca, conforme mostra NEVES (1981: 38):
Este processo de mecanização das atividades agrícolas intensificou a ruptura
dos antigos mecanismos da ampliação dos recursos financeiros como
diminuição das lavouras de subsistência, que possibilitavam o controle da
reprodução física e social da unidade familiar sob menos dependência do
mercado.
Mesmo que haja uma baixa utilização dos instrumentos mecanizados
devido a acidentes de terreno, hoje a agricultura utiliza-se de insumos (adubos,
fertilizantes e agrotóxicos) na terra, integrando-se ao circuito da reprodução do capital
industrial. A utilização desses produtos não só integra o circuito do capital das empresas
industriais atuantes na transformação da matéria-prima por eles comercializada, como
270
outros setores industriais ligados à produção daqueles instrumentos e insumos. Assim, a
economia municipal torna-se vulnerável a agentes externos, isto é, às flutuações do
mercado mundial do açúcar e da tecnologia dos insumos de plantio e colheita.
O cultivo da cana-de-açúcar ocupa 75,49% da área produtiva do município
(Tabela 1 Anexo 1). Portanto, apenas esse produto sobressai-se naquela área deixando
os demais produtos em um nível inferior à média estatística para os municípios da Zona
da Mata. Dos treze principais produtos agrícolas que são produzidos no Estado e na
Zona da Mata, apenas 5 são extraídos em Colônia Leopoldina. Das culturas
permanentes, salienta-se apenas o cultivo de banana com uma participação do município
para produção da Zona da Mata na ordem de 14,41% (Tabela 2 Anexo 1). Como não há
diversificação da produção agrícola, a população tem que deslocar, de outros centros, os
produtos básicos de alimentação. Este fato também é constatado (Tabelas 3 e 4 no
Anexo 1) no que se refere à contribuição da pecuária para a economia municipal. Para
atender ao consumo de carne, o rebanho bovino é trazido de outros municípios, afetando
negativamente o consumo de todos os seus derivados. Tudo isto só faz contribuir para a
dependência global dessa área.
Comércio varejista (Tabela 5 do Anexo 1)
A feira e o mercado estão no centro da cidade, oferecendo acesso a todos.
Sobrevivem ainda nos “engenhos”38
, os conhecidos “barracões”39
, nos quais as famílias
que residem nas vizinhanças se abastecem. Cria-se, aqui, um sistema de crédito e
dependência simultâneos em que as pessoas dificilmente saldam suas dívidas. Os preços
das mercadorias, nos barracões, também estão bem mais inflacionados.
Um matadouro serve ao município no abate do gado para consumo. Suas
instalações carecem de reformas, como necessário também se faz um rigoroso exame
prévio nos animais que serão abatidos. O abate se dá aos sábados e a feira acontece no
domingo. Mercado, matadouro e feira são administrados pela Prefeitura.
38 Não há mais engenhos na Zona da Cana, foram substituídos pelas usinas, mas sobrevivem seus antigos nomes nas
propriedades.
39 Espécie de armazém que já pertencera aos donos dos engenhos, mas que hoje é arrendado a terceiros. Sua função
sempre foi de fornecer gêneros alimentícios aos moradores a preço superior ao do comércio, mas a crédito.
271
Os gêneros alimentícios consumidos, tais como charque, leite em pó, macarrão,
milho e manteiga vêm de outros municípios do Estado, sobretudo de Maceió. Vêm
também de Palmares ou Caruaru, em Pernambuco. Com relação ao custo de vida, pode-
se afirmar que cada município dessa região funciona como um “grande barracão”, pois
o “custo de vida está superior até mesmo ao da capital”. O comércio varejista também é
saída para muitos que conseguem uma pequena quantidade de dinheiro e com algumas
garrafas conseguem montar uma bodega, driblar o desemprego e assim, “dar um jeito”
de sobreviver.
FRANK (1976) insere toda esta situação de dependência contextualizada na
integração histórica do processo de desenvolvimento capitalista mundial. Direciona sua
explicação ao fator concentrador em um único produto de exportação. Com relação à
posse dos meios de produção acrescenta:
Está muito concentrada em poucas mãos (...) negando deste modo a grandes
parcelas da população o acesso aos meios de produção e fontes de subsistência
que não está na indústria produtiva para exportação, nem diretamente
relacionada a ela, e onde são obrigados a trabalhar por salários muito baixos
quando não em regime de escravidão total (1980: 30).
Mesmo, internamente, as regiões como o Nordeste, Minas Gerais, Norte
e também Centro-Sul converteram-se em regiões exportadoras de um único produto,
incorporando-se à estrutura de desenvolvimento do sistema capitalista. FRANK (1976:
30) sustenta que o próprio desenvolvimento de São Paulo não gerou maior riqueza para
as demais regiões do país. Converte em “satélites coloniais internos, descapitalizando-
se ainda mais, e consolidou ou até aumentou o seu subdesenvolvimento” . Também
para o autor, o subdesenvolvimento dos países periféricos ou satelitizados está inserido
no processo histórico de desenvolvimento do capitalismo. Em especial, a região
nordestina parece comprovar uma das hipóteses do autor, segundo a qual as regiões que
hoje são as mais subdesenvolvidas e aparentemente feudais são as que estiveram mais
ligadas às metrópoles.
Educação
A educação é conduzida por três entidades. O antigo primário ou o ensino
de 1o grau, séries iniciais, está sob a responsabilidade tanto do Estado, que tem um grupo
272
escolar, como do município, que tem um outro grupo na rede municipal e várias vagas. As
séries finais do 1o grau (5
a a 8
a séries) e o 2
o grau (Magistério) são de responsabilidade da
Campanha Nacional de Escolas da Comunidade – CNEC. Mesmo assim, o ensino de 2o
grau encerrou suas atividades em 1979, com os cursos de Magistério e Contabilidade. Só
em 1982 foi reaberto o Curso de Magistério, funcionando somente com a 1a e 2
a séries.
Contudo, a 2a série funcionou no 1
o semestre daquele ano, sem grade curricular definida,
em função da carência de professores. O alunado, de uma maneira geral, dispõe de bolsa
de estudo tendo, entretanto, que pagar uma complementação, pois as bolsas não cobrem o
total das mensalidades. Porém, mesmo o pagamento da complementação é empecilho ao
prosseguimento do curso do jovem leopoldinense em função de suas condições
econômicas adversas.
Adiciona-se a esse problema econômico o descrédito à escola que há no
município. Inicia-se, então, a prática de deslocamento de jovens para os municípios
vizinhos: Palmares e Novo Lino. Hoje, esse processo adquire conotação de política
partidária, contribuindo o poder público local para essa situação da estrutura escolar. A
própria população não acredita na qualidade do ensino. Quando perguntada sobre as
escolas e o colégio, as opiniões são as seguintes:
TABELA 8
Opinião da comunidade sobre as escolas
%
É boa 20,0
Não é boa 61,4
Não sabe 12,1
Não respondeu 6,4
TOTAL 100,0
A comunidade talvez não perceba que as contradições da escola podem
manifestar-se na sua ineficiência de conteúdo, expressas no desencontro entre conteúdo
urbano e conteúdo rural. Há, entretanto, um conjunto de contradições para a comunidade
que, de forma muito simples, sintetiza: “os meninos não sabem nada”. Existe solução para
esta realidade? A comunidade também responde da seguinte forma:
273
TABELA 9
Soluções apresentadas para a escola
%
Construir mais escolas 11,4
Escolas de graça 10,0
Bons professores (conteúdo) 27,9
Aprova escola 11,4
Não sabe 12,9
Não respondeu 17,9
TOTAL 100,0
Vê-se que a comunidade tem suas propostas para a escola. Assumir estas
propostas se faz necessário. Observa-se ainda um nível de escolaridade dos moradores
da comunidade, bastante baixo, encontrando-se 65,5% dos pais e 60,4% das mães em
um estágio de apenas saber assinar o nome. Todavia, o significado desses números
surge com mais evidência e preocupação quando se vê que 74,1% das famílias não têm
alguém que pelo menos concluiu o primeiro grau. Em relação ao segundo grau, esse
índice sobe para 82,7%. Buscou-se, por fim, colher informações sobre a possibilidade
de se aprender mesmo já adulto, tendo 65% respondido afirmativamente. Mas aprender
o quê?
TABELA 10
Opções para estudar – escolha dos adultos
%
Ser motorista 3,6
Continuar estudos 17,9
Enfermagem 0,7
274
Mecânica 2,1
Ler, escrever e contar 25,0
Desenvolver comércio 1,4
Buscar cultura 5,7
Costurar ou bordar 4,3
Nada mais quer aprender 12,1
Não respondeu 13,6
Outros 13,6
TOTAL 100,0
Essa população pensa continuar seus estudos, quer iniciar aprendendo a
ler e escrever, porém suas aspirações parecem bloqueadas pelo próprio esquema
educacional que predomina na comunidade. A única opção é o MOBRAL, mas muitos
expressam seu descrédito para com essa modalidade de ensino. Mesmo sem se ter
percentuais desses números na análise, em possíveis trabalhos futuros, esses aspectos
devem ser levados em consideração para servir, pelo menos, como início de reflexão.
Os motivos para aprender não estão muito claros nas mentes dos
entrevistados já que 40% não responderam nem discutiram a questão, enquanto 26,4%
afirmaram simplesmente que têm necessidade de continuar; 9,3% afirmaram que já
atuavam naquele setor de trabalho. Sobre o que poderiam ensinar num tipo de escola em
que todos aprendessem conjuntamente, registram-se as seguintes informações:
TABELA 11
Atividades que os consultados na pesquisa podem ensinar
%
Comércio 2,9
Costurar 9,3
Eletricidade 0,7
275
Alfabetizar 18,6
Dirigir automóvel 4,3
Práticas do campo 7,1
Não sabe 16,4
Não respondeu 20,7
Outros 20,0
TOTAL 100,0
Nesse item do questionário, discute-se a ideia de que cada pessoa pode
ensinar algo a outro. A discussão que este tema gera parece confundir a percepção do
grupo que tem uma visão tradicional de professor. Muitos simplesmente não
responderam. Uma prática educativa talvez os convenceria. Outro aspecto é o fato de
que 18,6% se sentem com condições de alfabetizar.
Há, portanto, uma dependência caracterizada, primeiramente, pela falta
de uma escola adequada à região e também por terem que submeter-se, para
alfabetização, a uma única metodologia que alguns não mais aceitam: a do MOBRAL.
Enquanto isso, a escola vai mantendo o seu papel de defensora de uma pequena parcela
daqueles que vão a outras localidades. Esse papel seletivo vem existindo desde a época
colonial. Analisando o sistema educacional da América Latina, e em particular o do
Brasil, CARNOY (1978) constata que a educação escolar, já na época colonial, atendia
apenas a uma minoria para desempenhar funções profissionais. Com a independência,
os liberais da América Latina introduzem algumas reformas, todas copiadas da
Inglaterra ou da França. Mesmo com as reformas, pouco se mudou no sistema
educacional. De um lado, não se efetiva mudança, porque as estruturas econômicas são
mantidas; por outro, as próprias elites resistem.
O autor mostra que a expansão - que mesmo com todos esses problemas
ocorreu - estava dirigida para introduzir os indivíduos dos grupos marginais, sem escola
até então, para participar no setor moderno da economia como consumidores do
excedente gerado pelo comércio de exportação. Esta é a solução encontrada pelos países
industrializados para manter a sua ordem social transportada para a América Latina.
276
Ainda assim, é limitadíssimo o acesso à escola secundária e superior, com o alunado
muito tendente para o lado das crianças ricas. As camadas dominante e média são as
fornecedoras da elite intelectual brasileira. Acrescente-se que a expansão da instrução
primária é pequena e determinada pela economia dependente, pelo seu setor de
exportação e por um sistema todo organizado para satisfazer às necessidades de
consumo de pequenos grupos dos centros urbanos e das metrópoles. Não há
mobilização para que a massa de negros, brancos, pobres e mestiços possa se incorporar
a esse mercado. Assim, esta participação fica limitada pela própria estrutura dependente.
Ainda para o autor, a dependência na educação já é marcante. Escolas
Alemães (1890 – 1920) encerram suas atividades, mas é tolerada a influência da escola
Norte-Americana. As escolas normais são organizadas segundo o modelo de
Massachussetts e financiadas pelos Estados Unidos. O Mackenzie College, a escola de
agricultura de Viçosa (Minas Gerais) e escolas profissionais para mulheres, no Rio e em
São Paulo, são financiadas e seguem normas americanas.
Já no Estado Novo (1937) se implanta um maior controle sobre a
sociedade civil. Elabora-se um Plano Nacional de Educação. Este, entre outras normas,
dispõe que é obrigação das indústrias e dos sindicatos criarem suas escolas de
aprendizagem para filhos de empregados.
Para TORINO (1982: 41), “a política educacional do Estado Novo não
se limita à simples legislação e sua implantação. Visa, acima de tudo, transformar o
sistema educacional em um instrumento mais eficaz de manipulação das classes
subalternas”. Está formalmente implantada a dualidade do ensino, um ensino dirigido
para as classes dominantes e outro para as classes dominadas.
Saúde
Os serviços de saúde também apresentam deficiências. Até 1979, o
atendimento era feito por um único posto de saúde e um enfermeiro. Hoje, o município
já dispõe de um hospital com cinco médicos, dois deles residentes. Mesmo assim, os
tratamentos que exigem uma aparelhagem mais sofisticada, que não a que o médico
normalmente utiliza, são feitos em Palmares ou Maceió. No município não há clínica
médica particular e, apenas, um odontólogo atende, duas vezes por semana, na
Associação de Plantadores de Cana no município, entidade com sede em Maceió. A
assistência odontológica é feita também no Sindicato Rural, porém, a um reduzido
277
grupo de trabalhadores que sabe desse serviço, dada a pouca divulgação do Sindicato.
Nas escolas, estes serviços inexistem, como inexiste também laboratório de análises
clínicas.
Consultada sobre os tipos de doença que as crianças apresentam, a
comunidade respondeu o seguinte:
TABELA 12
Doenças que mais afetam as crianças
%
Verme 45,7
Disenteria 8,7
Feridas 0,7
Paralisia 0,7
Gripe 17,1
Bronquite-tosse 5,0
Não sabe 7,1
Não respondeu 3,6
Outros 11,4
TOTAL 100,0
Não há perspectiva de mudança no quadro da saúde. Não se tem plano de
saúde, nada se conhece. Assim, só com a existência de um quadro de médicos, uma boa
parcela da população acredita no atendimento do hospital, como demonstra a tabela a
seguir:
278
TABELA 13
Atendimento médico local
%
Bom 46,6
Ruim 18,6
Regular 25,7
Não sabe 3,6
Não respondeu 5,7
TOTAL 100,0
Mas, a comunidade sabe como melhorar o quadro da saúde e apresenta as
seguintes sugestões:
TABELA 14
Sugestões para melhoria da saúde
% Mais médico 15,0 Especialista 5,0
Qualificar enfermeira 12,1 Aumentar atendimento 4,3
Mais equipamento 13,6 Falando com os “homens” 1,4
Conscientizar Pes. (do hospital 5,0 Acabar politicagem 2,9
Não sabe 9,3 Não respondeu 22,1
Outros 9,3 TOTAL 100,00
A efetivação de algumas dessas propostas apresentadas exige um
trabalho de organização dos que atuam no setor.
279
Família, emprego e profissão
A família leopoldinense tem em média cinco dependentes, sendo que
52,8% são dependentes menores de sete anos. A situação de emprego, em plena época
do verão, tempo da colheita, é a seguinte:
TABELA 15
Situação empregatícia do(a) chefe da família
%
Empregado 51,4
Eventual 33,6
Aposentado 8,6
Falecido 6,4
TOTAL 100,0
Normalmente, o pai assume todos os dependentes, já que apenas 30% das
famílias têm mais alguém que contribui para as despesas. A mãe, no verão, também
passa a ajudar no sustento da família, mas normalmente, está em casa.
TABELA 16
Situação empregatícia da mãe de família
%
Empregada 9,3
Eventual 8,6
Desempregada 0,7
Do lar 72,9
Falecido 3,6
Aposentado 5,0
TOTAL 100,0
280
Entre as profissões dos responsáveis pela família, apresenta-se a seguinte
discriminação:
TABELA 17
Profissão do chefe da família
%
Agricultores 26,5
Barbeiro 2,9
Comerciante 12,9
Serralheiro 0,7
Pedreiro 10,0
Do lar 2,7
Aposentado 9,3
Outros 35,0
TOTAL 100,0
O número de subempregados, sobretudo na sede municipal, é
considerável, mas o quadro se agrava no período de inverno (abril a agosto), quando o
desemprego atinge o maior número de trabalhadores que vivem do plantio e colheita de
cana. É a época de entre-safra. Esta situação é comum na região e se repete a cada ano.
A tabela a seguir indica como é a vida dessa comunidade no inverno.
TABELA 18
Situação da população no inverno (março a setembro)
%
Muita privação 70,0
Sai para outro lugar 7,1
Igual ao verão 9,3
281
Não respondeu 12,1
Outros 1,5
TOTAL 100,0
Esta situação de dependência do homem em relação à monocultura torna-se
ainda mais patente. Mas como se situa esse homem em termos de planejamento oficial?
Para planejar a política açucareira, foi criado o Instituto de Açúcar e do Álcool (IAA).
Dentre os órgãos mais importantes, encarregados de Planos de Defesa da Safra, destaca-
se a Divisão dos Estatutos e Planejamentos (Dep), que tem os seguintes objetivos:
a) estudar as questões de ordem econômica e fornecer os elementos necessários à
orientação política agro-industrial canavieira, procedendo para esse fim ao
necessário planejamento;
b) estudar as questões relacionadas com os custos de produção agro-industrial
canavieira e com os preços de venda dos produtos oriundos e sob a alçada do IAA;
c) estudar os problemas relacionados com a política do contingenciamento da produção
açucareira (estabelecimento de critérios para a fixação das quotas de produção);
d) estudar a situação estatística da produção e do comércio de cana, do açúcar, do
álcool, da aguardente, bem como a relativa aos carburantes nacionais e ao transporte
dos produtos referidos.
Observe-se, entretanto, que nenhuma incumbência apresenta, de forma explícita,
qualquer preocupação com o homem da região açucareira. Este, no final, é que sofre
diretamente com as oscilações do mercado de açúcar e do álcool. Analisando as
dificuldades do setor açucareiro, SZMRECSANYI(1979: 433) aponta, além da baixa
produtividade, a pobreza generalizada dos trabalhadores do setor, acrescentando:
O que é pior e mais doloroso, a pobreza mais ou menos generalizada das
classes assalariadas ligadas ao setor, sobretudo em algumas áreas do País, com
graves repercussões de caráter social, algumas vezes mesmo com reflexos
desfavoráveis no conceito que desfrutamos no exterior.
282
Hoje, novos objetivos são definidos pelo Programa Nacional de Melhoramento
da cana-de-açúcar (Planalsucar). O plantio da cana continua se expandindo alicerçado
nos planos governamentais de criação de mais usinas e destilarias (Pró-Álcool). Busca-
se, através desse programa, obter-se rendimentos agroindustriais expressos em termos
de quilos de cana-de-açúcar por hectare cultivado, rendimentos que são considerados
pouco expressivos nos últimos 40 anos. O homem continua não sendo a preocupação
para a zona canavieira.
Esporte
Sobre a história do esporte local, pouco há registrado a respeito das
possíveis agremiações que existiram, seus fins ou formas de atuação. Segundo
BORGES (1975: 14), um time de futebol foi criado lá pelos idos de 1949, e nada mais
se tem escrito. Existe uma equipe que informalmente está atrelada ao poder público
local. Entretanto, não apresenta qualquer organização do ponto de vista formal, nem
mesmo com um simples regimento interno. Dependente da ajuda do poder público e
esporádicas ajudas do comércio, limita-se apenas a reduzidas partidas de futebol. Além
de existir um único tipo de esporte, o futebol, ele só acontece na época do verão,
período da safra de cana na região. Está, portanto, ligado ao ciclo econômico regional.
Quando, às vezes, surge alguma outra equipe pretendendo se organizar, ela dependente
de A ou B que possui uma bola ou um conjunto de camisas, doação de algum candidato
na época da eleição. Este se torna o dono do time, até que acabem a bola. A equipe está
desfeita; aliás, nunca existiu.
Consultando a comunidade sobre atividades esportivas, 72,1% as acham
necessárias. Porém, sobre a existência dessa prática, 41,4% afirmam que não há; 17,1%
apontam unicamente o futebol e 24,3% ou não sabem ou não responderam a questão.
Mas, quando perguntadas sobre o que fazer para ativar a prática desportiva, as pessoas
responderam da forma indicada na tabela abaixo:
TABELA 19
O que fazer para ativar o esporte
%
283
Iniciar nas escolas 6,4
Construção de quadras 15,0
Construção de outro campo 7,2
Sem possibilidades 1,4
Não tem propostas 70,0
TOTAL 100,0
Tradições culturais
A tradição cultural local, hoje, padece também da conhecida “indústria cultural”.
A indústria cultural compreende o conjunto de pessoas de produção cultural como
também dos meios de comercialização das mercadorias culturais. Constitui-se de duas
ordens de produtos culturais: uma ordem montada em livros, jornal, rádio, televisão, etc.
Outra que compreende o sistema de comunicação, ensino e propaganda. O município
não está fora desse contexto. Porém, pelo reduzido número de exemplares de jornais
que chegam à cidade, além da ausência de livrarias e bibliotecas, leva-se a concluir que
a ação dessas empresas se efetiva via rádio e televisão. Esses canais de comunicação são
os de Recife e Maceió, sobretudo a Rádio Cultura dos Palmares (Cidade dos Palmares).
A esse respeito, assinala SILVA (1983: 195):
Todo o conjunto de manifestações espontâneas vamos encontrar nas artes e nas
letras em Colônia que em épocas passadas não foram registradas pelo pouco o
nenhum valor dado e também pela falta de incentivo, pois tais coisas não eram e
não são merecedoras de estímulo e reconhecimento, o que é lastimável.
Para GRAMSCI (1979), nas manifestações da vida social e espiritual do
homem comum, há uma riqueza de ver, de pensar e de expressar o que a ciência e a
política desconhecem. Já IANNI (1079: 139) entende a necessidade desse conhecimento
achando, entretanto, que esse povo composto de operários, camponeses e outras
categorias está em processo de extinção. No entanto, afirma:
284
Vale a pena trabalhar com ele para conhecer como ele é no momento, quais são
as suas maneiras de ser, de pensar, de trabalhar, de criar mas reconhecendo,
preliminarmente, que é uma espécie que está em rápida extinção, por causa do
desenvolvimento das relações do produção do tipo capitalista, por causa do
divórcio acelerado entre trabalhadores e propriedades dos meios de produção.
Nesse sentido, sabe-se que, aproximadamente em 1920, foi criada a
Filarmônica 16 de Julho. Não se sabe exatamente quando acabou. Em 1960, surgiu uma
nova Banda Filarmônica, inexistente hoje. Na arte pirotécnica, destacam-se fogueteiros
com seus famosos balões de Maio e São João - mas esta arte não resistiu. Porém, na
busca de encontrar as manifestações culturais do povo, as fontes mais importantes são o
coco-de-roda; o reizado, os guerreiros; a banda de zabumba São Sebastião e pastoril,
bem como as festas de São João e São Sebastião, nos meses de junho e janeiro,
respectivamente. Em menor expressão, estão as cavalhadas.
Torna-se importante conhecer as formas de expressão popular que ainda
resistem tais como: coco-de-roda ou o coco-de-umbigada, que se dança nas festas
juninas; o pastoril, folguedo natalino que se dança em jornada solta, sem visar uma
sequência, sendo o folguedo de maior expressão também no Estado. Estão,
praticamente, extintos a cavalhada e o reizado, enquanto que há cinco anos que não se
dança os guerreiros. Porém, estas festas, mesmo em processo de extinção, estão na
mente do povo, o qual manifesta o desejo de que elas retornem, como se verá adiante.
Além das festas juninas, destacam-se também as festas natalinas, que não
apresentam organização do povo de forma definida e contínua. Já a festa de São
Sebastião é a mais estruturada delas, sendo atração em toda a região. Sua organização
está a cargo da Igreja Católica, com a participação da Prefeitura.
Mesmo com a invasão da cultura brasileira pela conhecida “indústria
cultural”, o povo ainda mantém resistência a todo este processo. Indagada como vê o
enfraquecimento ou o fim dos seus folguedos populares, a comunidade emitiu as
seguintes opiniões.
TABELA 20
Visão da comunidade sobre o fim dos folguedos
%
Bom se acabar 10,7
285
Ruim se acabar 70,7
Indiferente 10,7
Não sabe 2,9
Não respondeu 5,0
TOTAL 100,0
Mas a invasão cultural parece ter avançado ainda mais nos setores mais
populares da comunidade. Ora, é nas ruas da Mangueira e Titara onde a preocupação
com o fim dos folguedos está menor, atingindo um percentual de 53,3% dos que
acharam ruim sua extinção, enquanto na comunidade toda o percentual foi de 70,7%.
Mas, se nesse setor registrou-se tal índice, é lá também que se encontram
pessoas mais dispostas a tocar para frente a ideia de reativação dos guerreiros e a formar
um grupo para reativá-los, levando em conta as seguintes propostas:
TABELA 21
Propostas para a reativação dos folguedos
%
Só poder público 10,0
Ensinar novos a dançar 2,1
Reunir interessados 32,9
Não voltar mais 8,6
Não respondeu 25,7
Outros 17,1
Não sabe 3,6
TOTAL 100,0
286
Portanto, ainda está presente na mente da comunidade a possibilidade da
reorganização desses valores culturais. É necessário que a população se reúna, já que a
reativação das festividades envolve muitas pessoas. Na dança dos guerreiros, por
exemplo, envolvem-se aproximadamente vinte pessoas. Por outro lado, há também uma
parte da população que já não acredita mais na volta desses folguedos, não
respondendo, ou por não acreditar mais em nada, ou ainda por não ver saída nesse
esquema financeiro que se tem hoje.
Há ainda a se registrar o paternalismo dos poderes públicos locais
desenvolvendo a mentalidade de que só o poder público tem força. Se enfraquece,
assim, o poder que o povo unido tem e se fortalece o sistema vigente. Mas, de que
maneira é gerada essa cultura dependente no contexto das sociedades estratificadas?
Estando essa região inserida nas relações capitalistas de dependência, aí também se
situa a dependência cultural. A cultura capitalista, portanto, é elemento importante para
a reprodução dessas relações tanto em escala nacional como internacional. Nas relações
de dominação, a cultura conduz à reprodução de ideias, valores, princípios e doutrinas
dessa dominação. Para PONCE (1981: 165), “a classe que domina materialmente é
também a que domina com a sua moral, a sua educação e as suas ideias.”
O capitalismo, sendo um modo de produção, gera historicamente o
desenvolvimento dessa característica. Esse modo de produção diz respeito não só à
produção material como à produção intelectual. Dessa forma, ambos se inserem no
conjunto global do processo de reprodução das relações capitalistas, e, concluindo-se
que “a produção intelectual é indispensável ao funcionamento e à reposição das
relações do sistema, em escala nacional e mundial” (IANNI, 1979: 13). Segundo o
autor, essa produção intelectual, em sentido lato, torna-se a base da cultura capitalista,
tanto material como espiritual. Assim, no jogo de interesses econômicos, políticos,
militares e outros da burguesia dependente, são transferidos os valores, as ideias
princípios e doutrinas, elementos componentes da ideologia de dominação. Por sua vez,
a ideologia da burguesia dependente tenta sintetizar essas ideias, crenças ou concepções
que caracterizam a cultura da dependência, entendendo-se que esta é fortemente
determinada por aquela. Portanto, as ideias da classe dominante passam a ser as ideias
dominantes num momento, através de todo um processo de ideologização. Nesse
sentido, Marx e Engels, apud IANNI (ibid.: 30), afirmam:
287
Os indivíduos que constituem a classe dominante possuem, também, uma
consciência, e, portanto, pensam. Na medida em que dominam como classe, e
determinam uma época histórica em toda a sua amplitude, é claro que esse
domínio se exerce em todos os setores de sua classe, donde dominarem também,
entre outras coisas, como pensadores, como produtores de ideias, e regularem a
produção e distribuição de ideias na sua época. As ideias são, portanto, as
ideias dominantes de sua época.
A dominação dos países centrais sobre os países periféricos numa análise
econômica, apresenta-se de certa forma convincente. Determinando a economia do país
dependente, as ideias dos países centrais tornam-se dominantes, sendo defendidas,
sobretudo, pela burguesia do país dependente. Porém, de que maneira surge essa
dominação de uma classe sobre a outra no aspecto da cultura? Para se entender esta
questão, faz-se necessário compreender a cultura no seu significado amplo. PINTO
(1979: 122) considera a cultura como “uma criação do homem, resultante da
complexidade crescente das operações de que esse animal se mostra capaz no trato
com a natureza material e da luta a que se vê obrigado para manter-se em vida”.
Essa capacidade de luta, de resposta à realidade cresceu de intensidade e
qualidade num processo acumulativo. Todo esse conjunto de atos vai sendo transferido
às gerações futuras. Os atos criativos do homem e da cultura são apenas faces de um
mesmo processo, inicialmente uma face orgânica e outra de caráter social. É no
desenvolvimento e aperfeiçoamento de suas qualidades orgânicas que o homem é
levado a transformar sua realidade. Inicialmente se dá de forma inconsciente e depois
conscientemente. PINTO (ibid.: 123) apresenta o seguinte conceito de cultura:
O processo pelo qual o homem acumula as experiências que vai sendo capaz de
realizar, discerne entre elas, fixa as de efeito favorável e, como resultado da
ação exercida, converte em ideias as imagens e lembranças, a princípio coladas
às realidades sensíveis, e depois generalizadas, desse contato incentivo com o
mundo natural.
Daí se conclui que o mundo adquire duas ordens da realidade, provindas
de uma mesma operação de conquista do meio-ambiente: os instrumentos ainda em
estado natural e depois fabricados e as ideias que surgem no pensamento com a
utilização desses instrumentos sobre a natureza. Dessa forma, a cultura vem se constituir
como efeito da relação produtiva do homem sobre a realidade, estando intrinsecamente
ligada ao processo de produção.
288
Nesta visão, FREIRE (1980: 38) entende cultura como “todo o resultado
da atividade humana, do esforço criador e recriador do homem, do seu trabalho por
transformar e estabelecer relações de diálogo com outros homens” . Todavia, essas
relações de diálogo foram afastadas, já que as riquezas estão nas mãos da classe
dominante e nela se concentra também a cultura espiritual e material. Para LEONTIEV
(1980: 60), as criações dessa cultura parecem até existir para todos, ressalvando, no
entanto, que:
Só uma minoria ínfima tem possibilidades materiais e tempo para satisfazer os
seus anseios de instrução para completar sistematicamente os seus
conhecimentos e dedicar-se às artes, ao mesmo tempo, as massas especialmente
a população rural, devem contentar-se com um mínimo de desenvolvimento
cultural, o mínimo indispensável para que possam realizar, dentro dos limites
traçados para os operários, a atividade profissional e a produção de valores
materiais.
Entendida como resultado também do processo produtivo, a cultura traz
em si a dupla natureza de bem de consumo: enquanto resultado, tornada concreta em
coisas e artefatos e subjetivada em ideias gerais de ação produtiva, e bem de produção,
no sentido de subjugação da realidade pelas ideias gerando simultaneamente nova
capacidade humana. Segundo PINTO (ibid.: 124), trata-se da capacidade de “idealizar
em prospeção os possíveis efeitos de atos a realizar, conceber novos instrumentos e
novas técnicas de exploração do mundo, e criar ideias que significam finalidades para
as ações a empreender”. Portanto, o homem passa a ser ele próprio um bem de
produção, porém de si para si mesmo. É de fundamental importância este conceito de
que “o homem produza cultura por uma necessidade existencial, para se apropriar
dela, pois é por meio dela que chega a postular as finalidades da sua ação” (ibid.:
126).
Mas o que vem ocorrendo historicamente é que um grupo minoritário
assume os bens de produção material e outro corporifica a força de produção
(dependente). Com isso, surgem dois fenômenos: de um lado, o acervo cultural se
constitui, em seu conjunto, de instrumentos de transformação da realidade; e de outro
lado, as máquinas, as ferramentas, técnicas, operações manuais e criação artística e
ideológica que essas operações desenvolvem e as orientam posteriormente. O grupo
minoritário se apropria essencialmente dessa segunda ordem de bens materiais,
entendendo que a primeira já está em suas mãos. Daí todo um enaltecimento dirigido à
289
posse das ideias e dos produtos dessas ideias da cultura. A primeira ordem de bens
materiais é deslocada para a massa trabalhadora. Cindida está a sociedade em dois
grupos essenciais e que manejam o produto da cultura.
O outro resultado é que os detentores do ideal e subjetivo da cultura se
apoderam também dos produtos da fabricação dos que manipulam os instrumentos
materiais. Mas essa minoria (opressora) vai mais além, chegando a apouderar-se do
próprio homem enquanto tal, em sua qualidade de instrumento produtivo. Esse processo
teve seu auge na escravidão. Assim, tem-se o auge também de dependência individual
em que o homem é transformado em um objeto material e, portanto, desumanizado.
Religiosidade
A religião católica está presente na vida da comunidade desde a instalação da
Colônia Militar. Já naquela época, lança-se a primeira pedra religiosa e hoje permanece
alicerçada na comunidade. A religião protestante também se faz presente, estando os
seus adeptos distribuídos em duas igrejas.
A igreja católica também congrega pessoas em torno de um centro comunitário,
desenvolvendo atividades pastorais. O trabalho organizativo se apresenta indefinido, ao
que parece, pela complexidade da composição social do município. Um grupo de três
freiras desenvolve atividades de assistência em certas épocas do ano, como no Natal,
com a promoção do „Natal do Pobre‟ ou atividades culturais com a mocidade católica.
O grupo de jovens também se apresenta indefinido quanto ao tipo de atividade e à forma
de executá-la junto à comunidade.
Política
Podem-se identificar dois grandes grupos no município: os proprietários de terra,
que são os fornecedores de cana à usina; e o campesinato, os trabalhadores rurais. Há
contradições no próprio grupo de fornecedores, decorrentes da sua diferente situação
financeira. Isto também constitui fator gerador de conflitos. Uns utilizam as vantagens
290
dos financiamentos, enquanto outros não. Na busca de solução dos conflitos, acionam-
se os interesses político-partidários que deságuam todos nos interesses agrícolas. Já o
campesinato local precisa também ser caracterizado. Nesse sentido PINTO (1981: 74)
apresenta-o não como uma classe homogênea e uniforme. Há nele todo um conjunto
social e complexo, constituído de frações, “cuja especificidade se origina de processo
de desenvolvimento histórico da sociedade, no qual distintos modos de organização da
produção conduzem à diferentes tipos de relações sociais”. Essas frações constituintes
do campesinato não geram, entretanto, antagonismo entre si. Caracterizando-se o
campesinato no município, é possível localizar as frações seguintes: minifundistas ou
pequenos proprietários que tiram o seu próprio sustento da terra, com instrumento
pouco desenvolvido tecnologicamente; arrendatários, que são grupos de camponeses
sem terra; e trabalhadores volantes, que são aqueles que estão em processo de
proletarização e que vendem sua força de trabalho por um salário em dinheiro. Na Zona
da Mata, são chamados “curumba”, caracterizando-se por um salário de subsistência e
estão à mercê da flutuação do mercado de trabalho. No entendimento de SINGER
(1979), a proletarização do trabalhador rural, no Brasil, não tem gerado assalariados
permanentes nas fazendas, mas transformou os colonos posseiros e moradores em
trabalhadores diaristas ou volantes.
Os políticos defendem suas questões pessoais. A preocupação pela solução dos
problemas locais não é externada na prática. A política assume o caráter partidário,
eleitoreiro, passando a ser a geradora de uma prática assistencialista às pessoas e sem
qualquer programa de governo local. Na campanha eleitoral, os políticos investem em
doações de terrenos, tijolos, cimento, areia, sendo nas áreas mais pobres acontecem as
doações e se constroem as casas populares. Dessa forma, mantém-se a estrutura política
de sempre, sustentada pela burguesia rural. Permanecem, ainda, os políticos que são
invariavelmente quatro pessoas que, desde 1950, revezam-se na Prefeitura. A prática de
todos é a mesma, e o clientelismo continua. O período eleitoral, aliás, é a rara
oportunidade para a obtenção de favores, para o transporte gratuito em toda a fase da
eleição, churrascos nos engenhos, enfim, os benefícios que uma campanha eleitoral traz.
Esta começa um ou dois anos antes do esperado: dia 15 de novembro, o dia da votação.
É a fase dos acordos e dos “conchavos”. Passada a fase de registro dos candidatos, está
instalada a campanha. Bailes, comícios, festas de casamento e batizados estão na agenda
e a eles o candidato não pode faltar. Para atender os pedidos de documentos, instalam-
se postos; prometem-se empregos ou viagens. Os candidatos deixam transparecer a
291
imagem do homem “bondoso” que tem dinheiro. O político sabe da necessidade de estar
junto ao povo e conhece o dizer popular que “o pobre é cativo do agrado”. Ele tem de
agradar no período eleitoral. As visitas de candidato a deputado federal ou estadual são
demonstrações de “força” e “prestígio” políticos junto ao povo.
No dia da eleição, é preciso muito trabalho, cuidado e dinheiro. Nada pode
comprometer tantos esforços. Os transportes estão na rua para deslocar os eleitores até
as urnas. Os eleitores que vêm dos sítios ou engenhos, antes de entrarem na cidade, são
orientados mais um vez. Mas os cuidados não ficam só aí. Para maior segurança,
instalam-se nas “bocas de urna” grupos de três ou quatro elementos para fazerem a
última revisão no eleitor, tirar-lhe as possíveis cédulas de outros candidatos e entregar-
lhe a cédula de seu candidato. Aos mais reticentes, entrega-se a cédula eleitoral e outra
cédula em dinheiro.
O empenho é levado em consideração para os que pretendem atuar na
manipulação das organizações públicas. É um grande investimento. Porém, não basta
apenas estar no poder público e controlar essas organizações. Tratando-se de um
investimento, é necessário ao político ser “habilidoso” para, com manipulações
inteligentes, tirar vantagens e benefícios desse mando sobre a comunidade e também
recuperar seu investimento com as devidas correções monetárias. Se o PDS local tem
apoio e seus dirigentes são os usineiros e altos comerciantes, a oposição local (PMDB),
sem apoio de industriais ou patrões, tem como base alguns comerciantes e alguns
médios plantadores de cana. Essa oposição busca apresentar um estilo político diferente.
Há, entretanto, prática política semelhante ao do PDS, entretanto, em município vizinho
onde a oposição local foi vencedora. Aqui, há, ainda, por parte da população, certa
desconfiança do que apresenta a oposição, já que, em épocas passadas, chegou-se,
inclusive, a fazer comícios no mesmo palanque com a antiga Arena. Mesmo assim, um
grupo de oposição permanece, porém, sem perspectiva de vencer, a curto prazo.
As marcas da campanha eleitoral atingem todos os setores da comunidade, afetando
até mesmo o religioso, que se pretende neutro nessa luta. Após as eleições, o padre falava
que “os fiéis haviam se afastado um pouco das missas do domingo”.
Outros aspectos
No que se refere à habitação, existem atualmente 1.456 domicílios ocupados na
sede municipal. Grande quantidade da população não dispõe de água encanada e alguns
292
setores da cidade ainda não dispõem de energia elétrica nem iluminação pública.
Naqueles arredores, sobretudo, encontram-se as habitações com piores condições de
moradia, sem água, sem energia, e sem fossa sanitária, sendo, em geral, de taipa40
.
Serviços como abastecimento d‟água são deficientes e inexiste um sistema de esgoto, o
que agrava a saúde coletiva, sobretudo, adas crianças.
Sobre a origem da água de uso doméstico, apresentam-se os índices da tabela
abaixo.
TABELA 22
Origem da água
%
Encanada 57,9
Chafariz 40,0
Cacimbão 9,1
TOTAL 100,0
A água é de qualidade discutível, apesar de ser encanada, já que
raramente existe tratamento. Os reservatórios estão sempre cheios de aruá (caramujos)
portadores de verminoses diversas. Ainda encontram-se cacimbões em quintais por
onde também passam esgotos abertos da cidade. Porém, a maior satisfação é ter água.
Do total de entrevistados, 87,1% declararam-se insatisfeitos por conta da falta d‟água.
As soluções propostas pela comunidade para a solução desse problema são
resumidas na tabela abaixo:
TABELA 23
Soluções da comunidade para a falta d‟água
%
Falar com autoridades 32,9
Fazer tanques 5,7
Reunir todo mundo 12,9
Reunir e não pagar 3,6
40 Moradias construídas de estacas de madeira e ripas que formam um engradado sustentador do barro amassado,
muito comum na zona rural.
293
Não sabe 10,0
Não respondeu 15,0
Outros 20,0
TOTAL 100,0
Registrou-se um expressivo percentual daqueles que não souberam, ou
não quiseram responder. Sentem muito receio em dar respostas que podem ser
entendidas como críticas às autoridades. Outros propõem até o não pagamento. A forma
de concretizar cada proposta não deixa de ser uma grande dificuldade.
Faz-se necessário também conhecer a que tipo de programa a
comunidade assiste, tanto no rádio como na televisão. Os habitantes assistem,
praticamente na mesma proporção, aos programas de Silvio Santos e novelas: 20,7% e
19,3%, respectivamente. Quanto aos programs de rádio, escuta-se, na Rádio Cultura dos
Palmares, o “combate”, um programa que traz uma mensagem de justiceiro: quem
pratica o mal deve estar na cadeia - quando há alguma crítica, não vai além de crítica ao
delegado de polícia ou mais comumente ao soldado. Esse programa apresenta 29,3% de
audiências e é líder absoluto no seu horário. Sem canais de expressão, a população passa
a ouvir um programa que às vezes, pode identificar-se com suas aspirações: o desejo de
justiça.
Pode estar inculcada no homem trabalhador rural a ideia de que ele não
tem força, de que ele está totalmente submetido aos poderes locais nos dizeres de que “
analfabeto é para estar calado”. Ele não mais em nenhum trabalho conjunto na
localidade e quer saber se isto não vai para fora daquelas fronteiras. É como dizer que
naquela região nada mais é possível.
Em contrapartida, existe uma pequena parcela que ainda arrisca fazer
denúncias, embora meio temeroso. Mas é a partir daí que se entende que o trabalhador
ainda resiste. Aliás, na concepção de BORDA (1972), o camponês ou o operário não é
nada conservador, é mesmo realista e dinâmico.
AÇÃO CULTURAL
Caracterizada a situação de dependência da comunidade, passa-se agora a
apresentar todo o processo da ação cultural desenvolvido naquela realidade, bem como
294
de que maneira foram formados os grupos e suas atividades. Antes, porém, são
definidas as características da ação cultural, apresentando suas diferenças com outros
tipos de atividades que não conduzem à organização dos participantes e que não servem
à liberdade e sim à dominação.
Mas, qual será a importância dessa libertação para um povo? Para
FREIRE (1980: 62), esta é a tarefa fundamental dos países subdesenvolvidos: a
superação de sua “situação limite” de sociedades dependentes. Sem essa superação, elas
continuarão a experiência da “cultura do silêncio”. Tal cultura não significa, entretanto,
não ter a sua palavra autêntica, “mas seguir as prescrições daqueles que falam e
impõem sua voz”. Na busca da superação da “situação-limite” das sociedades
dependentes, pode-se desenvolver a consciência de classe. Para isto, faz-se necessária
uma ação organizada em cada contexto cultural, dirigida para a transformação dessa
realidade. Mas que características deve apresentar uma ação cultural que conduza ao
rompimento da “cultura do silêncio”?
No momento histórico da humanidade, em que o homem é desapropriado
da percepção de sua cultura, surge a sociedade de classe. A ideia de dominação se
impõe. A vigilância surge no sentido de extinguir todo movimento de protesto dos
oprimidos. Fora do trabalho manual, as classes “superiores” tornam-se socialmente
improdutivas. A partir daí, o pensamento e a linguagem, constituintes de um todo,
expressam sempre a realidade do dominador. Este conjunto torna-se, dessa forma, um
pensamento alienante. Todo esse pensamento chega até as sociedades dependentes
imposto pela classe opressora numa prática que é culturalmente alienante. “Este modo
de pensamento, dissociado da ação que supões um pensamento autêntico, perde-se em
palavras falsas e ineficazes” (FREIRE, 1977: 103).
A interiorização desses valores dominantes não é apenas um fenômeno
individual; é um fenômeno social e cultural. Aí, a ação pode constituir a denúncia dessa
interiorização e anúncio da realidade com conhecimento científico. Como diz FREIRE
(1976: 75), na ação cultural, a conscientização41
constitui-se em ação de superar a
consciência semiintransitiva, a ingenuidade pela consciência crítica da classe dominada.
41 Ver, a respeito do processo de conscientização e dos níveis de consciência na concepção de Paulo Freire,
Educação como Prática da Liberdade. Paz e Terra, 12a. ed. São Paulo, 1981. E Ainda em Conscientização.
Editora Moraes, São Paulo, 1980.
295
Uma ação que, partindo da consciência real, conduza à consciência possível42
, ou à
consciência de classe do proletariado (GOLDMAN, 1972). Uma consciência gerada
dentro do processo de diálogo, de discussão ou de crítica.
A crítica é necessária e deve ser vivenciada na prática. Com isto, “nossa
ação involucra uma crítica-reflexão que, organizando cada vez o pensar, nos leva a
superar um conhecimento estritamente ingênuo da realidade. Este precisa alcançar um
nível superior com que os homens cheguem à razão da realidade” (FREIRE, 1979:
152). Mas, para isto, faz-se necessário um pensar constante que não pode estar
dissociado das massas. Ao se pensar com as massas, o objetivo torna-se a libertação das
massas. Sob esse ângulo, o pensar certo é não deixar as massas se expressarem. É não
deixar as massas pensarem. Mas é no pensar com elas que se dá a conscientização. Aqui
a prática da ação cultural e a ação antidialógica se contrapõem. A classe dominada não
pratica a conscientização, pois se exige-se, na sua execução, denúncia das estruturas de
dominação, e isto não é de interesse do dominador. A ação antidialógica que serve ao
dominador e a ação cultural que serve ao dominado são antagônicas. A ação cultural
para a liberdade traz consigo o diálogo para a construção de conhecimento com as
massas. Já a ação antidialógica descarta tal possibilidade, impedindo a visão crítica da
realidade. A ação antidialógica gera a dominação de classe e esconde a realidade para
preservar o poder. Para isto, utiliza-se da tecnologia e da ciência. A ação cultural para a
liberdade também necessita da ciência e da tecnologia, porém, para desmistificar a
realidade.
Para desmistificar a realidade é preciso analisá-la através de um
conhecimento, que é um ato dinâmico, não se satisfazendo apenas no objeto. A
realização como conhecimento verdadeiro se torna completa quando passa a incidir
sobre o objeto cognoscível de transformação. Caracterizando-as mais sistematicamente,
FREIRE (1979: 143) define a ação cultural e ação antidialógica com base em quatro
características gerais discutidas.
A ação antidialógica tem necessidade da conquista, pretende conquistar o
dominado. Utiliza todas as formas possíveis para tal, das mais repressoras às
paternalistas. Este ato de dominação determina as finalidades e só o dominador tem os
objetivos. Os homens são cortados de sua ação no mundo; devem-se adaptar a esta
realidade. Impõem, pois, a essa ordem repressora, os seus mitos com os mais diferentes
42 Ver consciência real e a consciência possível em Lucien Goldman, A criação da cultura de uma sociedade
moderna. Difusão Européia do Livro, São Paulo, l972.
296
esquemas de divulgação, como liberdade de trabalho, conformismo com a situação de
vida, a “boa sociedade ocidental”, harmonia da sociedade, preguiça dos oprimidos. É o
dar “pão e circo” às massas para conquistá-las.
Uma dimensão importante da ação antidialógica é a necessidade de
dividir para manter a dominação das maiorias pelas minorias. Estas utilizam-se,
inclusive, da violência, para manter a divisão entre as maiorias, pois sua união é
ameaçadora. União e organização são conceitos perigosos para a minoria. O
desenvolvimento das comunidades se dará não pelas comunidades, mas pelo
treinamento de líderes que vão gerando a promoção do todo. Dividir para dominar se
expressa em ações como a intervenção em sindicatos; quando não, estimulando a
“criação dos sindicatos reformistas, paralelos aos sindicatos anti-imperialistas”
(HARNECKER, 1980: 47). Um aspecto da divisão se expressa também na ideia de que
os dominadores surgiram para salvar os homens; buscam na verdade a sua salvação
individual. Sob qualquer ponto de vista da salvação, diz FREIRE (ob. cit.), equivocam-
se, pois ninguém se salva sozinho, e como opressores, não podem estar do lado dos
oprimidos.
Outra característica dessa ação antidialógica é a manipulação das massas
oprimidas. Este é o instrumento fundamental da conquista. O assistencialismo é também
um instrumento fundamental da manipulação que se utiliza para esconder os
verdadeiros problemas da sociedade e, sobretudo, para distrair camadas populares.
Da ação antidialógica faz parte, ainda, a invasão cultural. Esta, associada
à manipulação e à divisão, juntas vão constituir a conquista. Uma invasão considerada
como “penetração que fazem os invasores no contexto cultural dos invadidos, impondo
a estes sua visão do mundo, enquanto lhes freiam a criatividade, ao inibirem sua
expressão” (FREIRE, 1979: 178).
Nesse sentido, os invasores são os autores e atores do processo. Os
invadidos vivem na ilusão de serem atores na atuação da classe dominante. Na realidade
a invasão constitui, já em si, a dependência, ou torna-se um instrumento de dependência
utilizado pela minoria dominante. Daí que, nesse processo, o lar e a escola, não fugindo
às condições estruturais, refletem esta invasão numa sociedade de dominação. Para o
invadido, é proibido pensar.
Outro aspecto que caracteriza a invasão cultural, introjetado no invadido
pelos instrumentos de dominação, é o “medo da liberdade”. Na problematização das
situações concretas, há um “desnudar-se de seus mitos e renunciar a eles, no momento,
297
é uma “violência” contra si mesmos, praticada por eles próprios. Afirmá-los é revelar-
se” (FREIRE, 1979: 183).
Mas, problematizar as relações homem-mundo aos oprimidos é
componente essencial de uma ação cultural, cujo objetivo seja a superação da situação
de dominação, de dependência. Para tanto, têm-se as características fundamentais desta
ação, ou seja: colaboração, união para libertação, organização e síntese cultural. Na
colaboração, não se tem conquista, portanto não se tem conquistado. Os homens se
encontram para a transformação de sua realidade e não há imposição nem domesticação.
Isto não significa que a ação cultural não conduza a nada, nem deixa uma consciência
clara da realidade concreta. Seus objetivos são comprometidos com a libertação,
conforme o pensamento de FREIRE (1979: 197):
As massas oprimidas que se libertem, não pode pretender conquistá-las, mas
conseguir sua adesão para libertação. Adesão conquistada não é adesão,
porque é “aderência” do conquistado ao conquistador através da prescrição
das opções deste àquele. Adesão verdadeira é a coincidência livre de opções.
Não pode verificar-se a não ser na intercomunicação dos homens, mediatizados
pela realidade .
Enquanto a ação antidialógica mitifica a realidade, a ação cultural se
impõe desvelando o mundo. Portanto, não se descobre o mundo ou o outro. Há uma
busca conjunta em que todos são sujeitos dessa ação. A adesão, nesse processo, gera a
confiança das camadas populares em si mesmas, superando também o “medo” de sua
libertação.
A união é outra característica da ação cultural e se contrapõe à divisão na
ação antidialógica. A busca da união é o esforço constante de todos os oprimidos, a
união entre si, caminhando para a liberdade. Todas as características da ação cultural só
acontecem na práxis libertadora. Mas para essa união é imprescindível a ação na qual
agentes que aderiram à busca da liberdade conheçam o porquê e o como da sua decisão.
Assim não é busca de “slogan” ideológico. Não é um simples mudar de ação
antidialógica para a ação cultural. É o seu comprometimento com o fim da “cultura do
silêncio”, a qual “se perpetuou no tempo através de uma relação estrutural de
dependência entre o terceiro mundo (ou sociedades-objeto) e as metrópoles (ou
sociedades diretivas)” (LIMA, 1981: 89).
A organização se contrapõe à manipulação. Na ação cultural, busca-se a
organização do povo. Esta organização conduz à unidade da ação e nesta ação dá-se
298
também a organização das massas trabalhadoras. Aqui o conhecimento crítico do
momento histórico da ação, da visão do mundo das massas, da clareza da contradição
principal se impõe pela apresentação do que é tudo isto e de como se apresenta.
Na organização, tornam-se imprescindíveis valores como a liderança, a
disciplina, a decisão, a ordem, os objetivos, bem como as tarefas a serem cumpridas e
que devem ser cobradas, já que a elite dominante se estrutura sempre mais para melhor
coisificar as pessoas e dominá-las. Aqui, nega-se o autoritarismo, mas afirma-se a
autoridade, a liberdade. Assim, na ação cultural, “a organização, implicando em
autoridade, não pode ser autoritária; implicando em liberdade, não pode ser
licenciosa” (FREIRE, 1979: 211).
Como última característica da ação cultural, destaca-se a síntese cultural
que vem em contraposição à invasão cultural. Se a invasão cultural traz consigo a
conquista das massas populares e trabalhadoras, sua divisão e sua manipulação, a
síntese cultural vai em direção oposta. Se no objetivo dominador da ação antidialógica
vem uma ação de indução, na síntese cultural insere-se a condição de superar essa
indução. Enquanto na invasão cultural os atores podem descartar a ida ao mundo
invadido, destacando-se muito mais apoio meramente tecnológico, na síntese cultural os
atores se integram com os trabalhadores, “atores, também, da ação que ambos exercem
sobre o mundo” (ibid.: 123). Na síntese cultural, não há lugar para espectadores; não há
esquemas prescritos, mas identificados na ação gerando as suas pautas. Torna-se uma
ação frente a uma cultura que mantém a invasão cultural. Não nega as diferentes visões
que podem ocorrer; nutre-se, aliás, delas. A ação cultural, com estas características, não
significa, contudo, invocação de uma nova cultura particular própria, mas a cultura já
existente, porém voltada para liberação de classe. Mas como desenvolver esta ação na
comunidade?
Conhecimento da comunidade pelos grupos e suas ações
A seguir, será apresentado de que forma efetivou-se a participação da
comunidade através dos grupos e como foi sendo buscado o seu fortalecimento. A busca
de se conhecer a comunidade, de detectar suas necessidades é um processo que conduz
à formação de grupos na própria comunidade, bem como o fortalecimento de grupos
existentes. Aliás, um trabalho educativo, no campo da ação social, pode se iniciar
pelo grupo já existente. Esses grupos não podem ser entendidos apenas como
299
formais43
, já que a comunidade tem poucos (Lyons Clube e Grupo de Jovens). São, na
maioria, grupos informais44
. Mesmo assim, não se descartou a possibilidade de criação
de novos grupos. Segue, portanto, a descrição da ação cultural realizada e a descrição
dos grupos envolvidos.
Sindicato
O sindicato rural pode ser a mais importante força dos trabalhadores no campo.
Neste município, congregam-se os assalariados (contratados por temporada ou jornada)
das duas usinas existentes e, em menor proporção, pelos minifundistas que trabalham
por temporadas em suas terras. Caracteriza-se como um sindicato que mantém a linha
geral do sindicalismo rural brasileiro. Suas atividades limitam-se ao atendimento
odontológico, feito duas vezes por semana, e à rara assistência jurídica. Segundo seu
Presidente, poucos são os casos de assistência trabalhista, já que o trabalhador entende
“que não adianta”. Ainda assim, o trabalhador volante dessa região não tem carteira
assinada, como também “não quer ter”, conforme afirma o secretário do sindicato. Em
contatos com esses trabalhadores, constata-se a veracidade da afirmação. Alegam que
carteira assinada é como “prisão, que o sujeito tem de estar às oito horas, largar às
cinco da tarde; é uma escravidão dos infernos45
”.
De um modo geral, a semana de trabalho inicia-se na terça-feira, já que a feira se
realiza no domingo. Esses trabalhadores prestam seus serviços onde bem pretendem e
onde pagarem mais. Na época da colheita da cana, falta mão-de-obra. Na entressafra, a
situação é de fome. Todos estes fatores contribuem para aumentar a dificuldade do
trabalho sindical. Por outro lado, a própria diretoria há doze anos se mantém na direção,
sem qualquer mudança no encaminhamento das lutas dos trabalhadores. Observa-se
uma total desinformação por parte da diretoria sobre o que está ocorrendo no meio
sindical e até mesmo em nível de federação - rara foi a reunião a que compareceu:
“Sempre as coisas se apresentam muito difícil”, segundo a direção sindical.
43 Grupo formal – aquele que está organizado com coordenador, reuniões regulares e objetivos definidos.
44 Grupo informal – aquele sem as características do grupo formal, mas que se reúne assistematicamente.
45 Depoimento de trabalhadores volantes.
300
Porém, combina-se com a diretoria a possibilidade de um trabalho junto à
categoria no segundo semestre. Volta-se a entrar em contato com a diretoria. Num
primeiro encontro, com o presidente e secretário, sugere-se o início de algum trabalho
que venha a romper com essa situação, somando-se a isso o analfabetismo da categoria.
Imagina-se iniciar o curso de alfabetização aproveitando-se os alunos do curso de
Magistério que teriam nas suas aulas uma unidade de educação de adultos. Planeja-se
em seguida, avançar-se para encontros no nível de educação sindical, abordando-se o
Estatuto da Terra. Mas tudo deveria sair do encontro com os sindicalizados. O encontro
não é prática comum nesse sindicato. E, ainda, vive-se o ano de campanha eleitoral e o
presidente em nada concordou. Alega que “qualquer reunião aqui neste ano, eles (os
políticos) entendem que é política dos partidos. O sindicato não é para fazer política.”
Assim, além das dificuldades inerentes à organização dos trabalhadores no
campo, o que se ressalta é o forte cunho ideológico da atual corrente hegemônica do
sindicalismo rural, contrapondo-se à nova corrente de construção do sindicalismo pela
base.
E a vez e a voz do trabalhador? No país inteiro, o trabalhador está sem vez e sem
voz. Todo o sistema contribui para que isto aconteça. Mesmo entre os sindicatos, são
ainda poucos aqueles que assumem a luta de suas categorias e da classe trabalhadora. O
sindicato em questão, em nenhum momento das entrevistas, foi sequer citado.
Entretanto, quando a discussão sobre associações vem à tona, os entrevistados entendem
a sua importância e 85,0% aprovam a necessidade associativa. Mas, mesmo naquele
momento da entrevista também perguntado se participariam, 73,6% respondem
afirmativamente. Porém, há distanciamento para efetivar-se tal proposta. A igreja local
sofre desse afastamento das pessoas de seus grupos. “Cada um por si e Deus por todos”
é um lema que precisa urgentemente ser desfeito na comunidade, resgatando-se a
participação. A partir dos encontros, entende-se que seria possível o início de um grupo
na comunidade pelo sindicato. Mas a ideia de reunir terminou “aterrorizando” a direção
sindical. Nada significou a pesquisa para o sindicato.
Professores do colégio
O primeiro contato na comunidade dá-se com os professores locais do Colégio
Padre Francisco. O colégio abrange da 5a série do 1
o até o 2
o grau. Em função dos
301
contatos efetuados em 1981, quando da preparação do projeto deste trabalho, ficou
acertado o apoio da escola ao trabalho de pesquisa. O investigador também passa a
lecionar naquela escola durante o tempo da pesquisa. Inicia-se o trabalho numa classe
da 2a série do 2
o grau.
Como professor, iniciam-se contatos com os demais professores de todo o
colégio. A administração admite a discussão de muitos problemas existentes e que
perduram. Os professores, por outro lado, resignam-se diante da situação. Mas que
problemas apresenta o colégio? De início, sente-se a falta de planejamento, comprovada
pelos próprios professores que comentam sua inexistência. Nunca houve reunião para
planejar o trabalho no colégio. Constata-se que a grade curricular do curso pedagógico é
a mesma do curso científico. Surgem questões de ordem disciplinar, administrativa e,
sobretudo, financeira. Somente em agosto, professores e funcionários recebem o salário
do mês de março. Os professores, na verdade, estão no colégio à noite, apenas, em
busca de uma complementação salarial.
Observando-se a trajetória da implantação dessa escola no município, ela
apresenta comportamento singular. Instala-se a 1a fase (primário) e 2
a fase (ginásio), e
depois o 2o grau, mantendo-se aí. Até 1960, implanta-se a 2
a fase. No final da década de
60, implanta-se o 2o grau. Até aqui, tudo normal. Em seguida, desaparece o 2
o grau com
cursos de Contabilidade e Magistério. Permanece o 1o grau, apenas. Em 1982, inicia-se
o funcionamento do curso de Magistério. Porém, em 1983, volta a funcionar apenas o 1o
ano do 2o grau.
Porém, o que diz a comunidade sobre a escola que tem para seus filhos? A
resposta vem do questionário aplicado para detectar as necessidades básicas da
comunidade. A opinião sobre a escola indica que a comunidade sente o descaso para
com a educação e 61,5% opinam que ela não está boa. Conhecendo essa situação, ela é
capaz de também apresentar soluções. Perspectivas de mudanças para os professores se
mostram longínquas, de tal forma que não aparece claro o que fazer ou mesmo como
iniciar. Porém, a partir de contatos com mais professores, sente-se a possibilidade de se
promoverem encontros de atualização pedagógica. Elabora-se, com mais quatro outros
professores, um programa proposto sobre: educação e sociedade (envolvendo didática
para matemática, ciências, comunicação e expressão); educação no município.
Esse trabalho seria executado com o pessoal da própria escola. O programa é
apresentado em reunião dos professores. É a primeira reunião feita até então, com esse
objetivo. Realiza-se a reunião com a presença do administrador-adjunto. Com a
302
definição da pauta da reunião, sugestão de todos os presentes, o programa que seria
apresentado não foi necessário, já que as principais necessidades daquela escola eram:
questão administrativa (a direção é uma interventoria desde 1976 e, portanto,
deveria regularizar tal situação);
conhecimento da Lei n o.
5692/71 e da CNEC;
questão educacional (aqui entraria o programa proposto, mas não discutido).
As propostas discutidas e não encaminhadas, entretanto, conduzem ao impasse
de mudança na direção do colégio. Não havia pessoas que se dispusessem a assumir a
direção. O trabalho com o grupo, que apenas havia iniciado, não foi adiante.
Alunos do curso de magistério ( 2o. ano)
A escola está desprovida de qualquer forma de planejamento e organização
curricular; há agravantes de ordem material como, por exemplo, a ausência de uma
única folha de papel para qualquer tipo de trabalho, livro, ou mesmo, máquina de
datilografia.
Inicia-se o contato com a turma, composta por quatorze alunos, no mês de
agosto. São consultados a respeito do curso pedagógico. As respostas dos alunos são as
mais diversas: estão no curso em busca de uma mera conclusão do 2o grau e o curso
tanto faz; por entender que é preciso; por não poder fazer outro; por não querer ficar
parado, sem estudar; por não ter outro na cidade ou mesmo por experiência. Para serem
professores apenas existem duas afirmativas. As aspirações desses alunos do segundo
grau são modestas, já que não apresentam nenhum interesse em prosseguir estudos,
mesmo se as possibilidades lhes forem favoráveis. Lembrando SARUP (1980: 119), no
capitalismo, “a educação é realizada em circunstâncias tão alienantes que se torna um
processo de desumanização”.
Assim mesmo, mostra-se um esquema de trabalho procurando orientação na
própria legislação de ensino em que as escolas considerem as necessidades educacionais
básicas da comunidade. Enquanto avança-se em nível teórico, chega-se também a um
levantamento das principais necessidades apresentadas pela comunidade. Estas questões
são discutidas, assim como o questionário aplicado na comunidade, sendo analisados
seus resultados parciais.
303
As aulas são interrompidas na escola desde o início de outubro, em função da
campanha eleitoral. As aulas se tornam impraticáveis, especialmente por serem
noturnas, paralisadas em função dos comícios e passeatas. Só no começo de dezembro
inicia-se a aplicação do questionário para detectar as necessidades básicas da
comunidade. Juntos saem à noite durante o expediente das aulas, voltando em seguida à
escola para discutir-se o trabalho daquela noite.
Os alunos, em sua maioria, ficam entusiasmados com a proposta do trabalho;
outros ficam desconfiados sem entender mesmo o porquê, pois tudo lhes parece
estranho ao seu aprendizado e conhecimento da realidade. Outros optam por outra
atividade que substitua aquela de aplicar os questionários e discutir as questões
levantadas. A concepção de aprendizagem, como um processo dinâmico e contínuo, é
entendida pelos alunos no quadro negro; porém, sua execução abala a estrutura estática
da aprendizagem veiculada pela escola.
Para o ano de 1983, prevê-se um entrosamento com o trabalho do MOBRAL, em
que passaria algum tempo de estágio. No entanto, descobrem-se, já no início da
aplicação dos questionários, dezoito adultos que podem iniciar o processo de
alfabetização em fevereiro. Inicia-se também a elaboração do material didático.
Conclui-se o período letivo com uma autoavaliação final. Veja-se o primeiro
parágrafo de uma delas: “alta-avaliação – 05/01/83. Primeiramente peço-lhe que não
fiques com raiva com o que eu vou mi declarar... você usava um vocabulário muito auto
para o nível da turma, então nós ficávamos vuando um pouco”.
Da turma, cinco desistem ao longo do semestre e outros foram reprovados
sobretudo em português. Como apenas duas alunas moravam na cidade, não foi mais
possível o contato com todos. Não voltam quando do reinício das aulas.
Grupo do MOBRAL
Os programas pedagógicos do MOBRAL já trazem tudo pronto. Os postos nas
pequenas cidades são apenas executores de tarefas já determinadas pelos programas,
em geral, de nível nacional. Mesmo na execução desses programas, é mantida uma
inspeção, de modo que pouco espaço resta à atividade de organização do povo. Mesmo
assim, iniciam-se contatos com as professoras do MOBRAL e, sobretudo, com as
304
coordenadoras. Por várias vezes discutem-se as questões levantadas por elas mesmas,
destacando-se as de ordem educativa.
A Prefeitura mantém rigorosa fiscalização em relação às professoras do
MOBRAL. Após campanha eleitoral, uma professora de outra facção política é
despedida. Não importam seus treinamentos feitos. Mesmo assim, as inspetoras da
região esclarecem que no MOBRAL não há política. Some-se ainda a não continuação
de muitos programas educativos. Há programas como o de ação comunitária, que estão
paralisados no meio das atividades. Aqui, uma campanha de filtro não foi à frente,
enquanto a comunidade foi mantida nesta expectativa. Como resultado, desgastam-se as
coordenadoras do programa. São comprometidos ainda outros trabalhos de base que
possam surgir. Entretanto, elas estão envolvidas na aplicação dos questionários (Anexos
2 e, 3) e hoje chegam a apoiar a reativação dos guerreiros, ajudando, porém, fora de sua
programação oficial.
O que se observa é a desmisficação de uma possível educação popular feita pelo
Estado. Sua ação não passa de mera inspeção e execução de prescrições legais, vindo a
perder o significado que ele pode ter como educador do povo. Parece ser necessário
descartar esta possibilidade educativa do Estado: “É pelo contrário o Estado que tem
necessidade de uma muito rude educação pelo povo”(MARX e ENGELS, 1978: 89).
Esporte
Com o pessoal do futebol se dão os primeiros contatos para a ação. Conhecendo
o pessoal que dirige a equipe, houve um encontro com vinte e cinco jovens do esporte
local, no próprio campo. Depois do jogo, para-se por um momento e há a apresentação
das ideias que se tinha para o esporte leopoldinense. Uma preocupação é, entretanto, a
participação de todos que fazem o esporte. Discute-se a necessidade de aquele grupo
automanter-se como equipe, além da sua própria independência financeira, de modo a
quebrar o vício local, que é a Prefeitura sustentar as equipes. Fala-se da necessidade do
fortalecimento da própria direção da equipe, bem como sua rotatividade. Todos
concordam com estes aspectos levantados. Agora, parece que as coisas vão acontecer no
futebol leopoldinense.
Marca-se um outro encontro, na Câmara de Vereadores. Um jogador está
presente. Mas não há desânimo, marca-se com a diretoria novo encontro, ainda na
Câmara. Nesse dia chove muito e ninguém comparece. Combina-se novo encontro e
305
nada parece interferir para sua realização, mas também não se fazem presentes.
Desânimos, sem dúvida, frente a esse grupo. Na verdade, era uma resposta muito clara e
entendida, posteriormente.
Esse grupo de jovens, sobretudo a direção da equipe, se constitui de moços que
são funcionários municipais ou estaduais e, sobretudo, de bancários. Este grupo, no
meio rural, não apresenta disposição para mudança. São assalariados estabilizados. A
discussão no campo de futebol vai de encontro à situação reinante e dominada por eles.
Quebrar a ligação da equipe com a Prefeitura e construir-se como equipe independente
não soa bem aos seus ouvidos. A manutenção do “status-quo” é a manutenção dos
benefícios do grupo. Portanto, não há por que mudar. Se se almejasse qualquer mudança
por aí, esta possibilidade já estaria negada. A sua resposta negativa poderia ser prevista.
Grupo do esporte Nova Geração
Passados dois meses de atividades na comunidade e agora conhecendo mais
detalhes da mesma, imagina-se como não funcionou a tentativa de organização do
esporte no início. No futebol que tem tudo para se estruturar em qualquer lugar neste
país, a questão da classe social interfere na organização de equipe. Mas como uma
comunidade tem apenas uma equipe com população jovem tão expressiva? Assim
pensando, logo se percebe que um número muito maior de trabalhadores e filhos de
trabalhadores não participam da única equipe local. Tudo surge mais fácil quando se
descobre ainda a existência de uma outra equipe (Nova Geração), que tinha parado suas
atividades há um ano. Então, decide-se promover o reencontro dos ex-componentes.
306
Nova Geração Esporte Clube
Encontrados seis dos antigos participantes, prepara-se um boletim convidando
seus colegas para reagruparem-se. Dois dias depois, ainda em outubro, reúnem-se
quatorze, dos vinte convidados, para uma explanação sobre a necessidade de
organização e união. O pessoal esteve sempre calado. A falta de prática de reunião, para
discutir suas questões, é um dos maiores problemas da Zona da Mata. Daí já se
discutem o treino e a composição da equipe. Marca-se o próximo encontro no próprio
campo. Define-se o treino para as madrugadas, das quatro às seis horas, em função do
próprio trabalho dos atletas. Dois membros assumem acordar os demais jogadores.
Estava sendo introduzida a prática de reunião. Na comunidade não há grupos que
mantenham reuniões sistemáticas. Somente o grupo de jovens se reúne
esporadicamente.
Passadas duas semanas, prosseguem-se os treinos e mais uma reunião com doze
atletas. Nesse dia, acontece um grande comício com políticos de Maceió, bandas e
passeatas; mesmo assim ocorre o encontro. Avança-se na discussão, colocando-se a
necessidade de se apagar a figura do “dono do time”, uma prática normal na
comunidade. A ideia é bem aceita. Assim, com o entusiasmo, compra-se coletivamente
uma bola e uma outra por crediário. A equipe começa a não ter “dono”. Em reunião
seguinte, é apresentada proposta de se pedir bola aos políticos (sobretudo ao usineiro).
307
Nesse momento, cinco deles são contrários a tal proposta, alegando que aquilo já havia
sido discutido e que todos iriam assumir as despesas da equipe.
Depois dos treinos, realiza-se uma partida oficial com uma equipe do mesmo
nível. Afinal, uma equipe não só treina; também enfrenta adversário. É grande a alegria:
o Nova Geração bate o adversário de quatro-tentos a um (4X1), em jogo que se encerra
meia hora antes, quando a outra equipe não permite a cobrança de uma penalidade
máxima, mesmo o juiz sendo da equipe adversária. Os atletas do Nova Geração passam
a acreditar que o preparo físico é determinante para a vitória. A outra equipe não
aguentava jogar naquele ritmo.
No mês de novembro, os atletas reunidos aprovam o nome de Nova Geração
Esporte Clube e não apenas futebol. Inicia-se a prática do “espiribol” como novo
esporte, suscitando novo entusiasmo, não só para a equipe, mas também para serem
solucionadas:
a questão da existência do time como entidade dependente só de seus membros, bem
como da educação esportiva (estudo de regras de jogo) pelos membros da equipe;
a organização da secretaria do time, registrando seus atletas;
a busca de informações técnicas.
As reuniões vão acontecendo todos os sábados, à tarde, no Centro Paroquial:
define-se a contribuição dos atletas; escolhe-se uma comissão para dirigir a equipe; um
processo de eleição é instalado. Com a participação de todos os trinta e quatro
componentes, é escolhida a direção. Tomam posse o coordenador financeiro, o
coordenador de patrimônio, o coordenador de secretaria e o coordenador técnico.
A escalação da equipe deixa de ser definida pelo coordenador técnico e passa a
ser feita coletivamente. A presença nos treinos físicos é decisiva para a escalação aos
jogos, um processo que os rapazes estranham de início, mas depois aceitam com
naturalidade. Um espírito novo surge na equipe que é o de sua independência e de seus
atletas. Eles decidem também que o atleta do Nova Geração será unicamente da equipe.
e que outros constituam equipes independentes.
A organização da equipe avança mais ainda, até quando um dos coordenadores
segue com outra equipe a Maceió sem autorização da assembleia deles. Reage-se
bastante contra isto e, na reunião seguinte, o coordenador teve de se explicar diante de
todos. Sua explicação foi mais no sentido de mostrar as falhas do outro time e de
esclarecer que, daquela forma, o Nova Geração não podia continuar com o coordenador.
308
Ele é mantido na equipe, porém, no dia seguinte, faz-se uma nova reunião de
emergência: o pessoal decide expulsar do time seu melhor atleta e único goleiro. Ele
estava jogando pela outra equipe local.
O grupo continua se reunindo, agora sozinho, durante todo o mês de dezembro,
sem a presença do pesquisador/educador. Quando de sua volta, no dia 7 de janeiro, já
havia campanha sutil encabeçada pelo jogador que foi expulso, dizendo que a equipe ia
se acabar. Fazem treinos só uma vez por semana e só jogam com uma equipe.
Reiniciam-se os treinos. Buscam novos jogos, pois afirmam que “time que não joga não
é time”. Sempre se faz convite às reuniões através de boletins, mas poucos são lidos. A
comunicação é mesmo a verbal. Mesmo assim, aproveitando-se a necessidade de novas
partidas, monta-se novo boletim com o calendário dos novos encontros das equipes e
surge uma nova reativação para todos.
No dia vinte e sete, tem-se um grande encontro de duas equipes para se juntarem
em uma única: Nova Geração e Real Esporte Clube. Um boletim foi distribuído a todos
com frases dizendo: “A força maior se dá na união; as duas equipes têm condição de se
tornarem juntas uma forte equipe; criar uma forte equipe só depende de nós”. Forma-
se, então, o Nova Geração Esporte Clube.
O investigador retorna à comunidade em março, com dados coletados sobre as
necessidades educativas básicas locais. Sobre o esporte, prepara-se nova reunião para
discutir a situação do esporte de Colônia. Dessa reunião com um grupo de vinte e seis
atletas, tiram-se as propostas que devem ser encaminhadas ao Prefeito:
a sede coletiva para os alunos esportistas (administração cabendo às equipes locais);
um ginásio público para todos os esportes;
a construção de quadras;
a construção de outro campo de futebol;
a contratação, pela prefeitura, de professores formados em educação física, pela
prefeitura;
o incentivo de novos esportes.
As discussões nessas reuniões passam por pólos opostos, desde aqueles que
entendem que só com mais reuniões e mais organização o prefeito atenderia ao pedido
da equipe, até aqueles que entendem que o prefeito nem iria recebê-la. Acontece a nova
reunião com um documento preparado, distribuído entre eles, sendo aprovado e
309
encaminhado ao prefeito, no dia 11 de março. Dezoito atletas fazem-se presentes nesse
encontro com o prefeito. No momento há uma apresentação de fotos do time. Em
seguida, distribuem-se cento e vinte cópias desse documento na cidade.
A direção do time continua agora nas mãos de cinco coordenadores, pois em
reunião restauram a figura do presidente criando o coordenador presidente. A base de
decisão do time é, entretanto, a assembleia realizada aos sábados.
Clube de jovens
Este era o único grupo formal que havia na comunidade. São realizadas três
reuniões com vinte e cinco jovens. Tais reuniões acontecem depois de uma fase de
estagnação do clube, que há muito tempo não se reúne. No final do ano, após a
campanha eleitoral, volta às suas atividades. Em seguida, dá-se novo período de
recesso, retornando às reuniões em março.
Nas reuniões constata-se uma evasão constante de jovens. Apesar de todo
esforço dos religiosos locais no sentido de dar maior dinamismo ao grupo, ele não
avança numa direção planejada. A coordenação do grupo resume suas atividades às
reuniões - atividades de cunho meramente religioso (orações). Há também a necessidade
de uma práxis que busque a unidade da oração com alguma prática social no meio.
Inicia-se a apresentação dos “slides” fé e política. Este conjunto trata da organização
política do assalariado. Mas com a organização do grupo de esporte Nova Geração, os
horários das reuniões de ambos coincidem. Opta-se por reforçar a equipe de futebol.
Círculo de cultura
Passados já vinte dias na região, chega-se a contatos com várias pessoas.
Discutindo sobre as questões municipais, observa-se a possibilidade de um encontro
entre o pessoal interessado. Num bate-papo informal, reúne-se pela primeira vez no
Salão Paroquial pertencente à Igreja Católica. Esse encontro dura pouco mais de uma
hora. Aproveita-se, inclusive, para se marcar outros encontros semanais. Os
componentes desse grupo exercem as seguintes atividades: barbeiro, agricultor,
pedreiro, servente de pedreiro, professor do MOBRAL, pintor e artesão. Neste primeiro
310
encontro, o grupo não faz comentários sobre o que foi apresentado, apenas acena
concordando durante a apresentação.
Após os dois encontros, outros não acontecem mais, nem os componentes
comentam sobre o círculo da cultura. Mas o que acontece com este grupo? A discussão
que se planejou como início de um plano mais abrangente culminaria com uma prática.
Aquele estudo pareceu não ser importante para eles e assim resolveram não mais se
encontrar. Se, por um lado, passa-se informação aos trabalhadores, esta “desreificação
teórica não basta porque não resolve o problema de superar essas limitações”
(SARUP, 1980: 96). E aí, talvez, um dos membros já aponta a necessidade daquele
grupo que era a de associar tudo aquilo a uma prática. Já busca uma práxis que era
necessária: a união daquela discussão apresentada a um fazer; além da crítica teórica,
faz-se mais urgente uma ação social associada.
Grupo de zabumba
Este é um grupo informal que já existia. A Banda de Zabumba São Sebastião se
constitui de seis instrumentos: duas tabocas (pifes); um tarol; uma zabumba; um bombo
(surdo) e um par de pratos. Uma característica da banda é, atualmente, a versatilidade de
seus componentes quando tocam. Eles afirmam que tocam “como em sociedade”, isto é,
todos os instrumentos. O indivíduo, ao iniciar sua participação ao modo de tocar dos
outros, vai se afirmando em todos os instrumentos. Utilizam desse rodízio, inclusive,
como momentos de descanso ao permutarem os instrumentos.
311
Banda de Zabumba São Sebastião
O seu repertório é bastante amplo, tocando hinos religiosos como os hinos de
São Sebastião e São José. Tocam também em santas missões, romarias, procissões e
forró. O tocar dos hinos dá-se em função dos Padroeiros das Comunidades em que a
banda toca. A valsa, tango, dobrados, marchas e hino nacional também são tocados. “O
Hino Nacional é tocado no dia 7 de setembro, a descoberta do Brasil”, como diz seu
Chiquinho. Um hino muito tocado é “prá ti amada”, como diz seu Luciano, querendo
dizer “Pátria amada”.
Numa das reuniões observa-se que eles tocam com instrumento da Banda
Marcial da prefeitura, enquanto seu instrumental original é artesanal, amarrado de
corda. Os couros dos instrumentos são de bode e de gato. Levanta-se a questão dessa
troca de material original. Muitos dão palpite e passam duas horas falando sobre a
necessidade ou não de se voltar aos instrumentos artesanais. No final, seu Chiquinho
comenta que a Banda teve um encontro em Maceió, onde se apresentaram bandas de
todo o Estado de Alagoas, umas trinta a quarenta. Tocaram e se apresentaram e,
finalmente, saiu vencedora uma que se apresentou com instrumentos artesanais, isto é,
zabumba, bombo e tarol amarrados de cordas.
Hoje muitas dessas bandas de zabumba aderem aos instrumentos novos de
metal, desfigurando a verdadeira banda de zabumba. A Banda de São Sebastião adere
também ao “modernismo”. A vitória da Banda em Maceió, segundo seu Chiquinho, foi
312
uma vitória que “foi feia, foi triste”. O Grupo cresce, entretanto, e passa a entender
também que “eles tiveram valor, pois foi com o primeiro instrumento”.
Chega-se a juntar todos os grupos ligados à arte local. Esses grupos reunidos
fazem uma discussão sobre arte popular, alicerçando com o trabalho da própria
zabumba. Em seguida, há a apresentação da Banda, uma sintonia entre o que se falava e
o que se fazia na localidade.
Em outra reunião, no mês de setembro, discute-se a história da Banda. Alguns se
lembram de passagens importantes quando tocavam em coretos com a Banda de Música
local, que hoje não existe mais. De suas apresentações em frente à igreja e outras
localidades, surge a ideia de, conjuntamente, montar-se a história do grupo. Vários
encontros são gravados, transcritos e discutidos até se chegar ao texto final dessa
história. É a volta às origens. O texto é lido e discutido para que traduza aquilo que eles
entendem como sua história. Hoje ela está escrita. Dessas discussões sobre a história,
avança-se para o trabalho deles como artistas. Tiram-se várias cópias que o grupo
decide encaminhar às escolas, Prefeitura e Câmara de Vereadores (Anexo 4).
De que forma esse grupo demostra organização? Ora, em uma de suas
apresentações em homenagem ao Padre Cícero, promoção da Prefeitura no dia 13 de
novembro, o prefeito paga a eles o valor de um dia do cortador de cana, o equivalente ao
corte de uma tonelada de cana. O grupo entende que este não pode ser o referencial de
pagamento para a Banda Marcial que pertence à Prefeitura e então, “vamos tocar, agora, é
um contrato”. Tocar com um acerto prévio, o que não acontecia. Manter seu instrumental
artesanal passou a ser fator de autoafirmação do grupo.
O grupo demostra organização ainda quando parte para uma listagem de
entidades e pessoas que precisam conhecer melhor as atividades da Banda. O grupo,
mais uma vez reunido, decide visitar outros municípios, além das Prefeituras e Câmaras
de Vereadores dos municípios vizinhos, como Joaquim Gomes (Al), Ibateguara (Al),
Maraial (Pe), Palmares (Pe) e Novo Lino (Al). Preocupam-se, sobretudo, com os
promotores dos festejos religiosos. Saem da dimensão municipal para outros
municípios. Além disto, aumentam o número de apresentações, que ocorriam apenas no
final do ano, para qualquer época. Durante um dos encontros, seu Lúcio fala:
Minha cabeça tá zinindo.
Por que, Lúcio?
313
Porque com essa história toda nós vai ser chamado mermo a tocar e aí? Precisamos
juntar mais o pessoá e tocar muito mais.
Agora estão também escutando os discos de outras bandas de zabumba.
Ressalte-se ainda que, quebrando a prática de tocarem apenas em festa religiosa, já
estão tocando em qualquer momento, por convite, e já acompanham pela cidade uma
promoção de grupo de arte e exposição de quadros e fotos em várias ruas da cidade.
Estão tocando para o povo “ver e apreciar”.
Grupo dos guerreiros
Esse grupo se forma de maneira diferente dos demais. Os componentes
de outros grupos que participam na aplicação de questionários de pesquisa descobrem as
pessoas interessadas nos guerreiros quando da aplicação dos questionários. A reativação
dos guerreiros era uma dúvida, que foi explicitada quando da aplicação dos
questionários. À medida que estes são aplicados, discutindo-se com as pessoas, o
problema da reativação dessa festa folclórica se expressa de forma aguda. No final,
descobrem-se pessoas não só sentindo falta dos traços culturais que estão se acabando,
como também dispostos a enfrentar o problema. Num questionário aplicado numa
bodega, com cinco trabalhadores do campo, percebe-se a disposição de um deles em
ativar os guerreiros. Logo há empolgamento do pessoal da rua. E então, lança-se a ideia
de possível encontro para tal fim. Ocorre o encontro e dez pessoas daquele setor da
cidade participam. Essas pessoas são as pontas de lanças para a montagem e a
administração do futuro guerreiro.
Na reunião, discute-se sobre a situação dos moradores locais da cultura
esquecida e como ia acontecendo tudo isto; a importância de um grupo para a
Mangueira e também outros problemas locais. A criação de um guerreiro pode abrir
condições de se montar tabuleiros e bugigangas, sobretudo cachaça, milho verde,
pamonha e confeitos que poderiam servir de ajuda aos iniciadores e coordenadores da
festa.
Nas reuniões levantam-se questões como a de buscar um sanfoneiro, o
mestre, o contra-mestre, dois embaixadores. O mais difícil, entretanto, é palha e madeira
par se montar a palhoça, pois isso envolve dinheiro. Os participantes da reunião
assumem o trabalho de fazer a palhoça. Mas, como arranjar o dinheiro de comprar
314
madeiras e palha? Antes de se conseguir isto, tem-se de conseguir a autorização da
Prefeitura para instalar-se o guerreiro no meio da rua, como é necessário. Para se chegar
a tal autorização, pelo menos mais dois meses se passaram.
Surge outro importante trabalho do grupo de arte que havia assumido, em
suas reuniões, a ajuda ao guerreiro. O grupo assume as tarefas de reuniões com esse
outro grupo. Na organização de grupos, surgem tarefas que, às vezes, escapam às suas
possibilidades. Como a organização ainda é muito incipiente, não é fácil a execução das
tarefas. Aí se exige muito mais do pesquisador/educador e do grupo. Há tarefas que
podem ser resolvidas com certa brevidade, pois esperar para que o grupo resolva
sozinho, em vez de contribuir para um maior enriquecimento organizativo, contribui
para um descrédito de sua força.
O grupo decide encaminhar sua solicitação ao prefeito que seria
empossado. Na verdade, este encontro só veio acontecer em maio com o Grupo de Arte
e Zabumba conjuntamente. Juntos preparam suas propostas, e, em reunião, aprovam o
documento que foi entregue e discutido com o prefeito. O espaço físico foi conseguido e
hoje se dança guerreiro às quartas-feiras, aos sábados e aos domingos.
Fotógrafos
Iniciam-se no mês de Setembro os preparativos para a festa de
reinauguração da Igreja Matriz. É feito convite pelo padre para reunião com os jovens e
Lyons Clube, recentemente criado, para se discutir o dia da festa.
O encontro se reveste de importância, por permitir que se conheçam mais
jovens na comunidade com os trabalhos feitos para o MOBRAL, Igreja e Esporte. Aí
também aparece um fotógrafo. Vê-se a possibilidade de como os demais (seis ao todo)
podem fotografar a Igreja Matriz. Entra-se em contato com todos eles e, em particular,
todos combinam e sentem necessidade de se fazer um trabalho para mostrar ao povo.
Um trabalho que fosse além de retrato e monóculo, que mostrasse que fotografia
também é arte.
Já se imagina então uma programação de atividades com esse grupo,
iniciando-se com pequenas coisas organizativas, tais como carnês de endereço dos
solicitantes de monóculo, uma vez que eles perdem muitas fotos sem saber o dono. Daí
programar-se-ia o trabalho de fotografia da Igreja Matriz. No próprio trabalho de
fotografar, discutem-se questões técnicas e fotos até aparelhagem fotográfica. Seria
315
atingida a própria organização dos fotógrafos, definindo os preços dos seus trabalho, já
que variam muito. Marca-se o primeiro encontro e aparece um fotógrafo apenas. Marca-
se com os demais o segundo encontro e nada, apenas dois aparecem. Com estes, define-
se o trabalho de organização deles mesmos e chega-se até a fotografar a Igreja e
apresentar o trabalho do mês de outubro na praça da Matriz.
Organizá-los como um grupo foi impossível. Os fotógrafos não se
constituem nem mesmo como grupo informal de encontros esporádicos, nem avançam
para uma maior organização, pois três deles são “intrigados”, isto é, nem se conversam.
Grupo de arte
Em contato com a coordenação do MOBRAL, as professoras descrevem as
atividades que promovem. Entre os programas descritos, está o de “ação comunitária”.
O programa se constitui de cursos de bordado, crochê e artesanato em corda. Descobre-
se o artesão, promotor do curso, um jovem vivendo isolado que não acredita naquilo
que faz. Além dele, descobrem-se mais três que faziam pintura e artesanato. Todos,
entretanto, nem estão pintando nem fazendo artesanato. Vê-se o trabalho de todos.
No início de setembro, há uma reunião com o pessoal do MOBRAL, do esporte
e com todo pessoal interessado em arte. Nesse encontro, discute-se o que se faria no dia
três de outubro, quando ocorreria a festa de reinauguração e restauração da Matriz local,
um momento de grande interesse para a comunidade. Nessa reunião, discute-se a forma
de participação desses jovens nas comemorações. Logo em seguida, realiza-se uma
reunião com o Lyons Clube, com o mesmo objetivo. Ao final do encontro, fica
aprovada a participação daquele grupo de jovens para: descobrir o pessoal que tem
trabalhado na cultura popular local reativá-la; e mostrar a arte de Colônia aos seus
habitantes.
O MOBRAL e o Lyons Clube dão apoio, inclusive financeiro. Para os presentes
na reunião, foi mostrado que se inicia um refazer da cultura que estava em extinção,
inclusive com o pessoal ligado às atividades artísticas que estava desmotivado e
desorganizado. Parte-se daí para se mostrar o material que tinham. Continua-se com a
distribuição de tarefas para serem cumpridas. Bem próximo ao dia 3 de outubro,
distribui-se um convite para a amostra em todos os domicílios da cidade. Um convite à
comunidade alerta para a extinção dos traços culturais locais, tais como: guerreiros,
316
reizados, cavalhadas, pastoris e cocos de roda. Conclamam-se todos à ação, já que não
se pode assistir ao fim de tudo sem se fazer nada.
Pretende-se percorrer algumas ruas da cidade com a amostra do material
artístico, mas a ideia não funciona e acontece uma única apresentação em frente à
Igreja, no centro da cidade. Constitui-se de artesanato, pintura e fotografia. Eles não
acreditam que possam mostrar a sua arte na cidade, jamais admitem que pessoas
convidadas de fora pudessem ver as suas produções de arte. Foi um trabalho marcado
pelo espontaneísmo, característica das atividades populares na região.
Questionados sobre o que representou esta primeira amostra de arte, os
integrantes do grupo respondem:
Fernando: Para nós foi muito bom, porque realmente se não fosse essa primeira amostra
de arte, a gente não teria condição de formar um grupo de arte. E outra
coisa, o grupo não tem condição de ser independente, a gente teria de falar
com as autoridades.
Elias: O artista sozinho não tem condições, a não ser que seja rico, mas o grupo tem
condição de sobreviver sem ajuda de autoridade, será necessário que os
artistas se ajudem.
A primeira amostra ocorrida no 1o semestre foi a oportunidade de
divulgar a cidade de Colônia Leopoldina. É devido a ela que o grupo está existindo. As
discussões seguem em torno do tema “força do grupo” e ao que se apresenta. Se não é
devido a esta amostra que o grupo está existindo, pelo menos se deve a ela um momento
determinado para se sentirem com força de fazer algo como grupo.
Numa reunião seguinte, entretanto, há um relatório do que foi o festival
de São Cristóvão, em Sergipe. Dois dos membros do grupo de arte, estando em Maceió
para vender sua produção, resolvem ir até aquela cidade onde acontecia o Festival de
Arte, um encontro de toda a América Latina. O entusiasmo do grupo cresce.
Outras reuniões acontecem e discussões sobre cultura popular e arte, com
base em textos simples, são realizadas num desses encontros, amplia-se a discussão e
chega-se a se reunir com o grupo de zabumba e alguns interessados nos guerreiros.
Monta-se todo um jogo de “fotos” sobre os zabumbeiros e discute-se a cultura popular.
Segue a análise do grupo sobre esse encontro:
Fernando: Acho que falta muita coisa para eles se juntarem a nós, pois nosso grupo é
muito “evoluído”. Eles também têm de lutar, se iniciarem.
Elias: O grupo deles já existe, está reunido. Então eles venham a nós e vamos ajudar.
317
Irá: Mas é por causa disto que temos de dar uma força a eles.
Fernando: Eles não vão poder entender, e para eles entender...
Irá: Justamente que é preciso ir lá com eles.
Elias: Sabe como é. A gente pode ajudar. E não deixar que os grupos morram.
Concluem com um consenso geral no grupo, no sentido de que podem e
devem ajudar outros grupos. Continuando o trabalho, esse grupo promove a 2a Amostra
de Arte. Cada componente do grupo continua produzindo seus trabalhos. No começo de
dezembro, inicia-se a aplicação dos questionários sobre as necessidades básicas e os
componentes do grupo ajudam também na sua aplicação. Já no final de dezembro, novo
fato desponta como outro momento cultural. É a festa de São Sebastião, tradicional no
município. O grupo de arte reunido decide realizar a segunda amostra, que agora seria
não mais um fazer pelo simples ato do fazer. Porém, definem-se os objetivos e a
composição da amostra, mantendo-se ainda a ideia de percorrer a cidade. Tudo isto é
discutido e definido coletivamente.
Um boletim informativo contando o que é essa amostra de arte da
Colônia Leopoldina, seus objetivos, sua composição e em que ruas passaria, foi
distribuído à comunidade e divulgado na missa de domingo. Se a primeira amostra
estava restrita a uma apresentação apenas, a segunda se propôs realizar quatro
apresentações, das quais se concretizaram três, já que choveu em um dos dias previstos.
Os objetivos são: mostrar a arte da cidade à própria cidade; levar o
leopoldinense a valorizar sua arte; proporcionar discussão entre os visitantes da amostra
e apresentar a arte ao povo como um momento educativo entre povo e artista. O
leopoldinense pode não ter chegado a valorizar sua arte, não conseguindo o grupo
atingir um dos objetivos por falta de atitudes que o demonstrem. Contudo, a arte foi
mostrada ao público interessado. Se a discussão não ocorreu, como talvez o grupo todo
esperasse, ela se dá pelas próprias observações do grupo quando mostra que alguns
saem pegando, mexendo ou mesmo questionando “para quê é isto?” Ou “de quem é
isto?”; ainda, quando se aproximam fazendo sua análise, e respondendo e saindo; ou até
mesmo quando observam à distância.
Mas, se nenhum objetivo foi explicitamente conseguido, pelo menos um
estaria assegurado: ter tornado o evento como momento de interação povo-artista. Se
por parte do povo há questionamento, dúvidas, receios, medo, desconfiança, ou não lê o
boletim querendo pastoril, buscando o dono dos quadros para saber se era de “alguém”,
o apoio maior vem das crianças presentes. Algo ocorre em suas mentes. Um processo
318
educativo processa-se nas mentes desses visitantes que pela primeira vez, veem e
observam esses trabalhos na sua comunidade.
Mas e da parte do grupo? O processo educativo buscado pelos artistas se
expressa quando o grupo responde sobre o que representou para eles a segunda amostra
de arte:
Irá: Esta 2a amostra foi um duro. A segunda deu mais coragem; foi mais à frente; agiu
mais e foi melhor. Melhora apresentada e estamos indo.
Estes aspectos são compartilhados por todo o grupo. E ainda sobre que avanço
houve (se é que houve) eles respondem:
Elias: Na primeira amostra, houve acanhamento. O pessoal nunca se reuniu e na
segunda amostra a gente foi superando e não tínhamos mais acanhamento de
andar com quadros e trabalhos debaixo do braço. Houve avanço assim de, sem
exibição, quebrar o medo. Sem ter trabalhos diferentes mas houve avanço de
querer mostrar sem medo e sem manha.
Fernando: Acho que houve evolução. Agora achei os trabalhos (pintura) na primeira e
na segunda muito fracos. Três meus e outros de Elias, mas é pouco para a
exibição. Da próxima, iremos fazer e trazer muita coisa para mostrar lá fora.
O grupo continua a produção, mas ainda necessita de maior divulgação.
Maio é mês de vários festejos religiosos. O grupo reúne-se ainda no início de abril e
decide apresentar o Cultural de Maio, isto é, vai mostrar o material, a produção artística
aos alunos da escola. O grupo faz visitas às escolas da cidade, Usina Taquara e
destilaria Porto Alegre. Definem seus objetivos: divulgar a arte entre as crianças e
jovens; incentivar a cultura artística; fortalecer o grupo, já que mantinha sua
dependência a sua própria força. Do poder local (Prefeitura) não houve ajuda alguma e
ainda faz questão de assim continuar.
Então, prepara-se novo boletim informativo sobre o que é o Cultural de
Maio, com o intuito de continuar despertando a discussão sobre a cultura local. São
visitadas quatro escolas nesse mês. Se permanece todo um expediente em cada uma
delas. A garotada observa o material exposto e entrega-se papel a todos para também
desenvolverem seu próprio trabalho. Este é um importante encontro com os educandos
que cursam a 1a fase do 1
o grau, incentivando a liberdade de fazerem algo. Quebra-se o
formalismo da escola, naquela ocasião.
319
Ainda nesse momento, o grupo coleta observações também das
professoras sobre a apresentação daqueles trabalhos:
Edite: precisa voltar mais vezes.
Ma Rodrigues: É útil para as crianças se elevarem culturalmente.
Auxiliadora: Ótimo, leva a adquirir conhecimento para todos.
Cícera: É bom para o desenvolvimento para a criança ir descobrindo alguma coisa daí.
Jacy: É bom para despertar a curiosidade das crianças para a arte.
Conceição: É bom porque eles gostam de desenhar.
Ma José: Educativo para os alunos.
Joselita: Válido, pois desperta curiosidade das crianças.
Lila: Tem validade pois é incentivo aos alunos.
Gesilda: É válido pois a cultura é importante.
Ednaura: É valido para despertar nas crianças a arte-conhecimento.
Estas são as impressões deixadas nas professoras pela apresentação nos
dois maiores grupos do município. Sobre a importância ou não de se continuar com
outras apresentações elas também responderam:
Edite: Importante pois desperta valores artísticos.
Ma Rodrigues: Continuar, sim, para o progresso.
Auxiliadora: É mais cultura que se aprende.
Edileuza: Precisa ir renovando as exposições para dar condição a Leopoldina de ter
alguns artistas.
Jacy: Já se sentia falta deste trabalho.
Conceição: Voltando mais vezes para dar chance de renovar os desenhos.
Ma José: Importante, pois esta amostra de arte sai da rotina.
Joselita: É importante voltar pelo contato humano que há.
Lila: É bom para que apareçam outras pessoas que querem fazer parte da arte.
Gesilda: Deve continuar, pois é educativo. Devem lutar para continuar mostrando os
trabalhos.
Ednaura: É importante para as pessoas tomarem conhecimento da arte.
No desenvolvimento das atividades nas escolas, o grupo coleta também
os trabalhos dos meninos nas apresentações e os mantêm como material para estudo e
busca de novos garotos que podem contribuir para a arte. Mas, mesmo procurando sua
320
existência, dependendo apenas de si, o grupo tem necessidades que devem ser
encaminhadas ao poder público local.
Para tanto, tira-se ainda nas reivindicações das reuniões de abril uma lista
de solicitações ou propostas para a arte leopoldinense, isto feito em conjunto com o
grupo de zabumba e grupo pró-formação dos guerreiros. O documento final aprovado
tem dois objetivos básicos: despertar a preocupação pela cultura local e apresentar as
reivindicações dos grupos ao executivo local. Estas reivindicações saíram das reuniões e
traduzem os anseios de seus participantes. Sobre este documento, afirmam:
Elias: São propostas do próprio grupo, reivindicações e hoje a gente pensa em ganhar
uma casa para trabalhar. Vamos mostrar as fotos de todo nosso trabalho.
Pensamos sensibilizar o prefeito, já que ele é o “Leão da Cultura” (divulgação da
campanha eleitoral).
Fernando: Eu acho que, realmente, o prefeito vai dar apoio a nós e a gente tem de saber
chegar mostrar.
Ressaltem-se aqui as propostas apresentadas pelos três grupos tiradas em
reunião conjunta: grupo de arte, zabumba e guerreiros. O grupo de arte solicitou um
espaço físico para arte (uma casa para trabalhar) e uma verba mensal para a cultura
(essa verba seria distribuída entre os grupos existentes e os que poderão surgir). O grupo
de zabumba exigiu a doação de um conjunto de roupa (conjunto azul-claro ou cáqui) e
de um conjunto de alparcatas para os componentes. O grupo dos guerreiros apresentou
uma única solicitação: a autorização de se montar uma palhoça na Rua da Mangueira.
Estando o documento final preparado e aprovado por todos, marca-se a
audiência com o prefeito. Distribuem-se cento e vinte cópias na comunidade. Na
reunião com o prefeito, todo um expediente é tomado em discussões e apresentação das
atividades dos grupos através de fotos. Nas questões de cunho financeiro, o prefeito
discute a crise econômica do Estado e do município.
Como saldo imediato, tem-se a aprovação do espaço para os guerreiros,
sendo quebrado o medo que têm as pessoas de falar com uma autoridade, no caso o
prefeito. Para aqueles trabalhadores, falar com o prefeito já não é obstáculo daqui para
frente. Quanto às outras questões, voltariam a ser discutidas em outra ocasião.
321
Devolução dos dados
A partir de agora, também se faz necessário apresentar como se dá a devolução
dos dados coletados na comunidade pelos grupos. Como é apresentada a situação da
comunidade aos grupos de trabalhos e aos grupos que efetivamente não haviam
participado da pesquisa. De posse dos dados da comunidade, parte-se para a devolução
dos mesmos. Esse é um momento determinante na pesquisa em que se passa a encarar
perspectivas de mudança e assim impulsionando os grupos a refletirem, de forma
sistematizada a sua realidade; Um momento de reflexão e diálogo, porém, com dados da
própria vida local. A importância dessa etapa está na problematização das situações
apresentadas.
Esse processo teve dois momentos distintos: um primeiro, onde se apresentam
todos os dados levantados e se questionam, superficialmente, essas situações; e um
outro momento de maior discussão dos dados - por exemplo, o grupo do esporte
aprofunda mais os dados relativos ao esporte.
Nos encontros em que houve pouca ou nenhuma participação dos presentes no
trabalho, expunham-se os dados, levantando-se discussões sem necessariamente haver
ação posterior imediata. Nos encontros com grupos engajados no processo, busca-se,
além das discussões, esta ação social.
O primeiro encontro de devolução desses dados se dá com o grupo de arte,
zabumba e guerreiros. Os dados são analisados de forma geral e, em seguida, analisa-se
parte específica de aspectos da cultura local. Como resultado desse segundo momento,
chega-se a elaborar o documento já citado sobre a cultura local e, em seguida, o seu
encaminhamento para o prefeito local. Paralelamente a tudo isto, promove-se, com o
grupo, o Cultural de Maio.
Os componentes do grupo de arte preparam cartazes de divulgação desses dados
e passam a explicá-los também nos encontros que eram promovidos em algumas ruas.
No encontro com o Lyons Club local se apresentam todos os dados. Uma reunião do
clube foi tomada para essa discussão. Um de seus membros chega a levantar a questão
de que, para a promoção de um trabalho social, não é necessária a existência de Lyons,
e sim de um grupo que se comprometa com a comunidade. Foi um questionamento
importante sobre a própria existência daquele grupo, que também não sabe que rumo
322
tomar diante do desafio do trabalho comunitário. O Lyons não teve participação na
pesquisa e também não assume nenhuma ação imediata.
Aos religiosos locais são apresentados e discutidos, além dos dados, a própria
metodologia aplicada. É possível que estes dados venham a ser úteis para orientar o
trabalho pastoral que já se prepara.
Outro encontro com maior discussão ocorre na “assembléia da comunidade”,
com duração de um dia. Estiveram presentes representantes de municípios vizinhos e
tudo foi promovido pela Igreja com as lideranças religiosas da região. Todos os dados
coletados servem como material de discussão em vários grupos, passando a ter
significado para a orientação dos trabalhos de ações a serem executadas. Especialmente
sobre educação, houve uma reunião com os professores da 1ª à 4ª séries dos grupos
escolares do município. Discute-se a educação em geral e também a situação da
educação municipal. Esse encontro pode ter sido o início de reuniões futuras sobre as
questões educativas locais.
São feitos, normalmente, dois outros pedidos de apresentações e discussões
desses dados sobre a comunidade: um à direção do Colégio, que, pela instabilidade
reinante, não se efetiva - toda a administração escolar está deixando o colégio; o outro
pedido é feito à Câmara de Vereadores, mas negado pelo seu presidente, alegando ser
desnecessária a divulgação dessas necessidades básicas, porque “nós vereadores
quando eleitos, trouxemos o cômputo de todas as dificuldades do nosso município46
”.
Assim, entende o presidente reagindo a tal tipo de discussão. Para ele, quem deve
discutir os problemas do município é apenas o prefeito.
O grupo de arte continua sozinho, apresentando, através de cartazes, aqueles
dados nas ruas da Lama, Mangueira e Cemitério. Nesses momentos, apresentam-se os
dados nas cartolinas, a forma que eles mesmos escolheram para divulgação. Um
total de quatro reuniões acontece durante o mês de março. Além dos dados, os
componentes do grupo apresentam fotos da cidade e da qualidade da água, como
também discutem um cartaz distribuído pela estação ecológica de Tapacurá (Pe), (os
“preceitos do padre Cícero” ), que orienta para a não derrubada da mata; fogo no mato;
caça e pesca; criação de bodes e bois; plantas para ração e outros aspectos da ecologia,
um ponto novo da discussão assumido pelo grupo; um dos elementos do grupo
apresenta também questões de saúde.
46 Cf. Of. Câmara Municipal de Colônia Leopoldina – no. 25/1983, de 13 de abril de 1983.
323
Na avaliação do grupo, comenta-se que “fizemos com que eles se sentissem
seguros e conversassem abertamente de seus pedidos e problemas”. Em outra rua,
chegam a concluir que o trabalho é importante, mas muitos não têm fé em nada.
Portanto, um trabalho de ação popular necessita de pessoal qualificado para entender e
explicar a dinâmica do trabalho.
Essa devolução de dados é determinante para uma maior disseminação dos
conhecimentos da comunidade. A análise da cultura, num ângulo global, reduz o espaço
de discussão meramente localizada, que é tônica até mesmo nos comícios eleitorais.
Além disso, abre para uma análise mais ampla, colocando os temas locais na sua
vinculação com problemas globais, numa perspectiva cultural em que ela ajuda os
homens “a compreender a sociedade como um todo, e avaliar sabiamente os fins que a
comunidade deve realizar e a ver a presente em sua relação com o passado e o futuro”
(RUSSEL, 1978: 69). Um processo educativo que se caracteriza pela busca de
transformação da realidade social e contribui para a organização dos trabalhos do campo
ou da cidade.
A luta para a organização da classe trabalhadora é constante. Buscar essa
organização significa estar enfrentando também os ataques da classe antagônica ou de
seus agentes. De coisas muito pequenas, como o simples treino de futebol, são respostas
correspondentes dos opositores. Não entendem, é certo, aqueles trabalhadores que, por
trás de tudo isso, existe uma dinâmica maior; mas, entendem que aquelas respostas eram
para eles. Observa-se que, um mês depois de treinamentos físicos do Nova Geração,
outros promovem o treinamento também de suas equipes e buscam seus atletas em casa.
De início, há comentários de que o Nova Geração não iria existir e este passou a
existir. Em seguida, que ia se acabar logo que o preparador físico (pesquisador/
educador) fosse embora em dezembro. Ele não acabou, apesar de sofrer forte abalo.
Hoje, organizam suas atividades com sua direção própria. Mas a equipe sofre a
campanha para sua extinção, como declaram os atletas Fernando e Edson:
A gente estamos na dança e estamos dando mais esforço sobre a equipe. Nossa
equipe não é como pensavam, que a nossa equipe era de formar e de repente se
acabar. A gente teve nossa equipe sempre em ordem e queremos que o Nova
Geração vá em frente. As outras equipes pensavam que o Nova Geração criava,
continuava e se acabava. Pensaram enganado. Mesmo sem Zé de Melo47
nós
continuou e ele não pode ficar diretamente aqui, passa fora e vem e nós na
47 Refere-se ao coordenador da pesquisa José Francisco de Melo Neto.
324
direção manteve a coisa em ordem e a nossa equipe em frente é o que a gente
quer.
Eles fizeram críticas, falaram bastante, mangaram quando se jogava bola. Eles
pensaram em negócio mas foi outro. Um time de perna de pau. Esse ali é um
grosso. Em todo canto na praça era aquele bate-papo, mas eles pensaram
enganado. O Nova Geração foi subindo devagazinho e está subindo...
O grupo rompe essa fase, e nada se comenta mais de sua não existência.
O campo hoje tem espaço para o Nova Geração jogar dois domingos por mês com
equipes de fora e três dias na semana para treinamento.
Grande discussão acontece também quando se espalha na cidade a notícia
do documento que foi entregue ao prefeito. Muitas pessoas da localidade não podem
entender tal coisa: primeiro, que qualquer reunião com o prefeito deveria ter sido
realizada por eles, e não pelo Nova Geração. A grande correria dos funcionários que
estavam na prefeitura chama atenção, pois jamais viram tanta gente reunida com o
prefeito. Tudo é novidade para todo mundo. Mas a reação maior se dá por entenderem
que o documento ofende os brios do esporte local. Tudo parece transparecer na verdade
uma reação inconsciente ou consciente, no sentido de não aceitarem o fato de o futebol
praticado estar na dependência do poder local. Adicionam-se, ainda, as reações
individualizadas e comentários públicos ou não, como a do Presidente da Câmara.
Mas o poder local, diante de tal tipo de mobilização que passa
paralelamente ao seu poder, desperta seus agentes e prepara suas intervenções. Como
representam o poder econômico e todo o grupo está bastante sensível às investidas do
dinheiro, eles atacam justamente com isto. O grupo de arte que vinha funcionando às
suas custas também foi sabedor de todo um esquema de cooptação para o sistema local.
Em uma das reuniões, Elias afirma:
Alguém chegou ao nosso grupo e percebeu nosso desempenho e tá vendo que
aqui vai subir de qualquer jeito. Existe alguém esperando que o grupo suba
para depois dar apoio. Mas, a questão é política (partidária). O grupo não
aceita o tipo de apoio dele.
Por outro lado, há os esquemas políticos montados e para enfrentá-los,
num tipo de trabalho de ação cultural, o grupo de arte ainda avalia que há falta de
pessoas para num trabalho dessa ordem. É necessário que haja uma turma mais
preparada para o trabalho de organização do povo, mas, em contrapartida, os
“poderosos” locais não querem de jeito nenhum. Sentenciam ainda que “é muito
325
perigoso até mesmo de vida, pois eles são mafiosos”. Esta avaliação não foge ao que se
observa hoje da ação desses “poderosos” em seus ataques à organização dos
trabalhadores, chegando ao assassinato de tantos líderes classistas no campo.
Mas a investida do poder local se dá com maior expressão no grupo dos
guerreiros. Após a conquista do local, o espaço em plena rua para se montar a palhoça
de dança, a festa podia começar. Mas, como fazer a palhoça? Como conseguir o
dinheiro? E, por falta de maior agilização desse material, dois integrantes da equipe
recorrem à prefeitura e são prontamente atendidos com ajuda financeira. Facilita-se não
só a palhoça, mas também de forma muito rápida toda a indumentária necessária, o que
levaria outra temporada de trabalho para consegui-la com a colaboração de todos. Para
um grupo que se forma, tudo pode voltar à estaca zero, caso não se mantenha sua
reunião frequente.
Mas entende-se que a primeira instância desse diálogo educativo é nos
grupos. Os momentos de interações de suas percepções facilitam a transformação das
mesmas, à medida que vão se enriquecendo em conhecimento. Portanto, está aí a base
primeira da instrumentalização de seus membros e de suas lideranças, no sentido de
buscar as soluções para os problemas.
São o elemento de controle social que leva seus membros à mudança. Nesta
função o grupo exerce, sobre seus líderes, um controle permanente, para que não
ultrapassem suas funções, distanciando-se dos interesses do grupo em benefício
próprio (PINTO,1981:92).
Assim, são esses grupos que, atuando em situação de diálogo e voltados à
transformação social, irão educando seus próprios componentes.
Quanto ao pesquisador/educador, um ponto que merece atenção é a
questão de que os grupos têm em mente que ele deve ser a figura central do trabalho.
Anular esta perspectiva dos grupos é tarefa do educador. Deve-se entender sempre que a
função é de estimulação de reflexão e de ação do grupo. O pesquisador/educador deve
manter permanente reflexão sobre este seu papel, para não correr o risco de se sentir,
como naquela equipe de futebol, “o dono da equipe”. Tudo isso causa reação dentro dos
grupos. Portanto, desenvolver uma prática em que o trabalhador vá entendendo a
dinâmica social também faz parte da metodologia da pesquisa-ação.
326
AÇÃO CULTURAL - DISCUSSÃO
Após os contatos com a comunidade, com conhecimentos mesmo
superficiais de seus principais problemas, a metodologia da pesquisa-ação se torna um
instrumento, uma ferramenta para uma intervenção sistematizada na comunidade. As
questões apresentadas pela comunidade, analisadas isoladamente, podem não trazer
maior significado se a comunidade não estiver envolvida. A participação dos grupos ou
a comunidade reforça a visão da análise dos condicionantes histórico-sociais, resultando
numa concepção de ciência como processo. Essa participação, conduzindo à
organização da comunidade, gera a ação. Esta ação contextualizada na globalidade de
cultura está determinada aqui como ação cultural. Uma ação que busca conhecer,
compreender a verdade das coisas e do ser, mas que também passe a buscar, a partir do
agir, a possibilidade de transformação das condições de existência humana em todas as
dimensões. Afirma Marx, em suas teses sobre FEUERBACH, que os filósofos até agora
têm se preocupado em compreender o mundo, mas que a tarefa, no momento, é a de
transformação deste mundo. Já, para JAPIASSU (1981: 89), surge agora duas posições
delineadas: “o homem por um duplo deslocamento, vai tentar definir-se: de um lado,
enquanto objeto da ciência; e do outro, enquanto sujeito da ciência”.
Na presente pesquisa, durante os primeiros contatos em que se busca a
formação do círculo de cultura, inicia-se todo um estudo teórico da realidade local. Este
estudo, entretanto, não teve continuidade. Mesmo assim, não foi em vão. Cinco das sete
pessoas que se iniciaram no círculo de cultura assumem a ação em outros grupos, já em
momentos posteriores. Neste início, há uma busca no sentido de entender a realidade da
comunidade, porém de forma contemplativa e, assim, faltou a prática. O conhecimento
da realidade não pode apresentar-se como contemplação, ficando à margem da prática.
Esse conhecimento, aliás, só existe na prática e é o “conhecimento de objetos nela
integrados, de uma realidade que já perdeu, ou está em via de perder, sua existência
imediata, para ser uma realidade mediada pelo homem” (VÁSQUEZ, 1977: 155).
Contudo, no estudo em questão, é a partir das discussões das questões
concretas com os grupos que se vai passando da teoria à ação. Esta ação se constitui da
participação dos indivíduos desde os primeiros encontros. Vêm novos encontros e
outros mais. Assim, o componente do grupo vai superando a mera expectativa e passa à
327
ação, uma ação de elaboração conjunta de sua história da banda de zabumba; de
convidar amigos para a organização da equipe de futebol; de ir repensando o seu tocar e
definindo a necessidade de ensaiar suas músicas ainda mais; de buscar a construção da
sede de seus guerreiros; ou ainda para as atividades em pinturas ou atividades
artesanais, com o intuito de promoção cultural e maior socialização da arte. Enfim, a
ação vai acontecendo por meio da organização dos esforços dos indivíduos. A ação
esteve presente em todo momento nas suas diferentes formas. As diferentes formas de
práxis vão surgindo, à medida que avança a organização dos grupos. Dessa forma, o
objeto sobre o qual o sujeito exerce a ação vai mudando quando se afirma mais a
organização, e também quando se tem de agir em diferentes grupos.
É no desenrolar da pesquisa, nesta busca de conhecer a realidade que o
participante dos grupos vai adquirindo “sua auto-consciência e está no rumo não só de
sua própria verdade, mas também na do mundo. E o reconhecimento é acompanhado
pela ação. Ele procurará por sua verdade em ação, e fazer do mundo o que é
essencialmente, ou seja, a realização de auto-consciência do homem.” (MARCUSE, in
FROMM, 1979: 36).
Assim, na busca de conhecer o mundo, o homem o constrói para si
mesmo. E vai construindo sua independência individual e de classe, como afirma
FROMM, tornando-se “não apenas livre de, mas também livre para” (1979: 45). Esta
independência, partindo de sua auto-consciência, vem sendo formada a partir da ação da
formação dos grupos na comunidade. Esta ação dos membros dos grupos vai tornando-
se mais complexa, mas sempre vinculada às necessidade que vão surgindo. Vai
passando da simples participação com outros elementos de grupo até atingir a ação de
encaminhamento de reivindicação de ordem política (CHEPTULIM, 1982: 92). Ação
que, nesta pesquisa, foi concretizada com as propostas que os grupos apresentaram ao
poder executivo local. Assim, vai se orientando o homem através de sua práxis, a
transformar sua realidade de forma criativa.
Mas, na ação de formação dos grupos, vai se desenvolvendo a
consciência: desde a fase inferior da mesma, isto é, consciência comum, aquele que
pensa os atos sem fazer da ação o seu objeto. A partir do nível inicial de consciência
intransitiva, busca-se o rompimento da mesma para uma consciência transitiva ingênua,
pela ação na realidade, para se chegar até o nível de consciência transitiva crítica. Nessa
perspectiva, esclarece BARROS (1982: 13):
328
Na medida em que cada indivíduo começa a analisar a realidade em que vive,
indagando suas causas mais profundas ou os fatores que realmente a
determinam; na medida em que este indivíduo em diálogo com os outros em um
círculo de cultura, questiona esta realidade com os seus companheiros,
interpelando-os e sendo por eles interpelados; na medida em que eles tomam
consciência de que através da cooperação podem transformar esta realidade,
podem tornar-se um pouco mais sujeitos e criadores de sua história, podem
fazer cultura, nesta medida este indivíduo ou este grupo desenvolve uma
consciência transitivo-crítica. (BARROS, 1982: 13).
Esta teoria se embasa para melhor compreender a realidade e contribuir
para uma ação política. Dentre outros autores, BORDA (1972: 3) mostra como uma
explicação teórica adequada à realidade facilita esta ação política e, ao mesmo tempo,
como esse processo chega a ser um aporte da ciência. Para ele “sobreviverão e
acumularão aqueles conceitos e técnicas até que passem pela prova de força da
experiência de massas erguidas em defesa de seus interesses de classe” .
Por isso, não é necessário apenas ter em seu tema de trabalho a classe
operária, o proletário do campo e ligar-se ao movimento sindical. Para THIOLLENT
(1981: 131), as “condições de obtenção dos dados e o processamento aos quais são
submetidos – numa palavra, o dispositivo metodológico – constituem o elemento
determinante de que se pode pretender alcançar”. Este dispositivo deverá ser útil à
classe trabalhadora, sobretudo no sentido de promoção e fortalecimento de organização
da classe para a superação dos problemas enfrentados. Mas a produção desse
conhecimento se insere na lógica da produção das mercadorias. Nas condições do
capitalismo, SARUP (1980: 70) entende que o processo educativo hoje se apresenta
como um ato alienante, tornando-se um processo de desumanização. Outros autores
também o entendem dessa forma. Por outro lado, a proposta de que cada indivíduo é
responsável pela sua própria desmistificação não passa de mero idealismo. É pouco
provável a sua realização, já que não será unicamente da crítica teórica que se superará a
alienação. Para tanto, faz-se necessária a ação, a prática social, levando-se em conta
todos os fatores locais e as circunstâncias, uma ação cultural, em que a questão de como
proceder para desenvolver este processo é o problema central. Este trabalho, entretanto,
pode ser realizado junto às massas. Para tanto, através da ação cultural, utilizando os
procedimentos da pesquisa-ação, parte-se, na Zona da Mata, desta realidade concreta.
Daí, busca-se entendê-la, busca-se o encontro com indivíduos, sendo os passos iniciais
para organização dos futuros grupos. À medida que se avança com cada grupo, tem-se o
329
cuidado permanente na percepção desses indivíduos de sua realidade convergindo para
uma perspectiva de ação sobre a realidade.
Um trabalho organizativo que se inicia a partir daquilo que os indivíduos
sabem, do que percebem, eleva-se a um nível de um novo conhecimento, revelando o
objeto a ser transformado. Se se falha na organização do primeiro grupo de esporte;
num possível trabalho educativo do sindicato rural; se ocorre um impasse no grupo de
professores do colégio, no grupo de fotografias, no grupo de jovens, ou no círculo de
cultura, ou ainda no grupo de MOBRAL, tudo isso passa por nova análise de
circunstâncias em que se inserem estes grupos. Se com os demais grupos superam-se
esses impasses, pode ter sido por conta de uma maior clareza dessas circunstâncias e
melhor trato com o método de trabalho, ou ainda uma questão de tempo.
Nessa ação de organização inicial, a concepção teórica de ver o povo
com sinônimo de massa monolítica deve também desaparecer. Para o campo,
sobretudo, as frações constituintes do campesinato devem ser consideradas.
Mas, no trabalho com os grupos, a preocupação com a união está sempre
presente. Nas reuniões, discutindo as questões concretas de grupos, discute-se também o
entendimento da organização da sociedade e como cada grupo se insere nessa
conjuntura. A união entre grupos no meio rural não é tarefa fácil. Além dos fatores
apresentados anteriormente, soma-se ainda o analfabetismo e a ausência de auxiliares,
bem como a desorganização dos operários da cidade, sem possibilidade de prestar
alguma ajuda. Assim, os fatores que contribuem para sua desorganização são também
fatores discutidos. De suas condições de vida saem os temas para decodificações. Todos
na região padecem de insegurança da não qualificação, além da ausência de emprego. A
partir daí, vislumbra-se com maior clareza a necessidade de união. Os detalhes culturais
vão desde o espontâneo dos gestos, códigos, entonação de voz, expressão corporal, até a
linguagem semântica de seus termos.
Todos os problemas colocados têm uma finalidade educativa de desmistificar o
mundo da dominação aos dominados. Com todos vão-se definindo propostas geralmente
imediatas, mas que preconizam a afirmação de desenvolvimento político e social,
buscando se tornar, a longo prazo, poder, e um poder em busca de hegemonia. Esta
união vai se concretizando através desse processo educativo. Entretanto, não significa
que eles vão receber, mas que devem repetir ou se ajustar ao esquema social, como faz a
escola formal. Dessa forma, adquirindo consciência, descobrindo a sua existência,
330
relacionando-se com o mundo, os indivíduos podem iniciar seu próprio processo de
construção.
Pela ação cultural, cada vez mais se tem a necessidade e clareza de
colaboração entre grupos, entre os trabalhadores para sua autodeterminação. O papel do
investigador neste processo deve estar claro aos grupos. Esta figura passa a tornar-se a
esperança dos indivíduos e sem ele tudo vai abaixo. Numa ação cultural, a função do
investigador dá-se mais no sentido de estimular o grupo. Este é o papel de colaboração
que tem o investigador: fomentar e desenvolver práticas que os levem a esta
colaboração. Neste aspecto, os grupos passam a ter contato entre si: o pessoal do
MOBRAL ajuda o grupo dos guerreiros; o grupo de guerreiros une-se ao grupo de
zabumba; o grupo de zabumba reúne-se com o grupo de arte e o grupo de guerreiros,
todos discutindo os problemas da cultural local. Como resultado dessa colaboração e
discussão, hoje, o grupo de guerreiros está se apresentando às quartas, sábados e
domingos. Ganha a cultura local, se fortalece a resistência à invasão cultural. Os grupos
descobrem sua força também quando buscam mostrar a arte à comunidade e o grupo de
zabumba fortalece as amostras com a melodia, com sua arte. É a busca pela construção
das formas concretas de resistência cultural do povo.
Porém, a necessidade de colaboração de consciência não se constrói do
dia para a noite, como não vem pronta de fora, mas são processos que se engendram na
ação desses grupos. Portanto, toda uma série de atividades vai despertando o indivíduo
da sua consciência intransitiva para outro nível de compreensão, o qual deve ir além da
dimensão da Zona da Mata e do Estado, atingindo uma dimensão global. Assim se
desenvolve a colaboração entre os grupos, partindo daí para outras formas de ação mais
políticas.
A colaboração e a união vão se definindo desde o momento inicial de
investigação e o conhecimento do ambiente da pesquisa. Inicia-se desde aí, nesta prática
da Zona da Mata, com os grupos buscando sua organização, descobrindo outros e
promovendo a colaboração e união de seus membros. Chega-se a culminar com ação
eminentemente política, quando os grupos ligados à cultura e ao esporte encaminham,
como grupos organizados, as propostas culturais e esportivas para o prefeito local.
Visões diferentes surgem, dificuldades surgem, mas na ação conjunta tudo isto é
dirimido. Ações de cunho reivindicatório, bem como sua problematização, iniciam-se
desde o levantamento das entrevistas feitas pelo grupo de estudantes do Magistério e
331
que fornece todo o roteiro para as reuniões dos grupos. Os dados dão maior sustentação
às propostas encaminhadas, como o documento à autoridade local que fora distribuído.
Ação cultural, segundo FREIRE (1976), é utopia, é esperança. Ação
cultural, entretanto, sendo utópica não significa ser idealista ou inexequível. Como ação,
ela se constitui do anúncio e denúncia; denúncia da realidade desumana e anúncio de
outra realidade onde os homens se tornarão mais humanos em sua plenitude. Tudo isto
parece por demais difícil. Mudar as análises, as discussões, partidos, modelos
econômicos, enfim, a estrutura social “Pode ser difícil: mas tudo isto é necessário, não
há alternativa. Como também é necessário que haja coisas que não podem ser feitas do
dia para a noite” (HELLER, in CHASIN, 1983: 7).
332
CONSIDERAÇÕES
Aqui, pode-se questionar o alcance das mudanças naquela comunidade,
em termos de alteração do sistema produtivo ou quebra de dependência de classe social.
Foi alterada a dependência do município à monocultura da cana-de-açúcar e obtida a
diversificação da agricultura local? A resposta aos questionamentos apresentados é
negativa. Não foi alterado o sistema produtivo local, nem desfeita a dependência de
classe e muito menos deslocada a agricultura local da monocultura da cana. Não será
apenas através de um processo de ação cultural que tudo isso ocorrerá. Mas, podemos
ainda nos questionar se existe algum movimento social caracterizado por grandes
mobilizações, como atos públicos, greves e outros e como ficarão os grupos após o
envolvimento do pesquisador e os mesmos na comunidade.
Para responder a estas perguntas, a primeira dificuldade que se tem é a
caracterização, hoje, do momento social com o modelo padrão de certo tipo de
movimento como: atos públicos, greves, movimento sindical e atuação partidária ou
mesmo em associações de moradores. Tudo isto constitui o movimento social da classe
trabalhadora, mas é necessário que também sejam recuperadas as atividades, as ações
do dia-a-dia e enfocado como movimento de resistência da classe trabalhadora. O
enfrentamento da classe oprimida com a realidade e sua busca pela sobrevivência
fornecem as referências que podem ser úteis a uma análise prospectiva para os grupos
na comunidade.
Esta tentativa está expressa nas afirmações de alguns componentes dos
diversos grupos quando questionados sobre a possibilidade da sobrevivência daquele
grupo, mesmo com o afastamento do pesquisador. Em relação ao Nova Geração, Gizo
afirma: “as outras equipes têm mais condições de praticar esporte, mas não têm
aquela boa vontade que têm os atletas da Nova Geração”. Esta boa vontade a que se
refere o atleta da equipe diz respeito ao desejo de que elas permaneçam. Ou ainda,
quando Eraldo, o tesoureiro da equipe, envolvido nas questões financeiras, assegura que
todas aquelas despesas não ficariam “nas suas costas”- “Vamos marcar uma reunião,
no meio da semana, para acertar isto” - isto significa que a equipe começa a discutir
suas questões. Com esta prática, pode-se estar exercitando sua sustentação futura.
Indagados se o recolhimento de contribuições seria feito dentro do campo de futebol,
333
alguns atletas discordam dessa cobrança dentro do campo e um deles sentencia: “vamos
reunir todos e discutir isto direitinho. Só isto”. A discussão das questões de forma
coletiva está se tornando necessidade. É comum a equipe adversária receber uma taxa
de deslocamento. Para efetivar esse pagamento, Noronha explica: “o Nova Geração não
é rico mas vem organizando e trazendo os times para jogarem em Colônia e este
pagamento tem de sair da equipe. Nós não gostamos de sair pela rua pedindo a um e a
outro para colaborar (uma prática na região e de outras equipes). Só o Nova Geração
não sai pedindo dinheiro e tudo está saindo da equipe”.
Mas nem todos têm aquela boa vontade anteriormente citada. Geraldo é o
atleta que também observa este aspecto e entende que o Nova Geração não será feito
como deveria. No entender dele, o correto seria, todo mundo pagando certo e todos
disciplinados. Porém, perguntado se a equipe acabaria após a saída do treinador
(pesquisador), ele acredita que não “porque através de nós conseguirmos cinco sócios o
que é muito difícil aqui. Cinco sócios que não jogam e contribuem, são dos engenho”.
Se esta prática se enraizar, está assegurada definitivamente a equipe. Para ele, discute-se
qualquer assunto menos o fim de sua equipe.
Torna-se equipe, como prática de discussão, um grupo também de
resistência a toda aquela forma de dependência local do esporte à Prefeitura. Está
acontecendo um processo de autoafirmação, passando a contribuir com o esporte local,
arregimentando a população local para ir ao campo de futebol assistir aos seus jogos. Os
jogos do Nova Geração passam a ser o assunto das discussões da cidade.
No aspecto político, ressalve-se a clareza da necessidade de manter-se a
cobrança ao executivo local por parte de um dos atletas - após a entrega de um
documento reivindicatório do esporte local: “temos de cobrar ao Prefeito, porque se a
gente esquecer como é que a gente vai fazer este negócio?” Isto significa conquistar as
propostas apresentadas. Mesmo com a pouca força organizativa e poder reivindicatório
desta equipe, só a presença de seus atletas no Gabinete do Prefeito foi suficiente para
que a Secretária, em plena reunião, viesse a apresentar a todos o ofício que seria
enviado a Maceió (capital do Estado), solicitando verbas para uma quadra de esporte,
uma reivindicação da equipe. O documento foi apresentado aos presentes não como
reivindicação da equipe, mas como sendo uma preocupação do prefeito desde outros
tempos.
Por outro lado, os reflexos na Câmara de Vereadores são sintomáticos.
No dia da entrega do documento sobre o esporte ao prefeito - também distribuído à
334
comunidade - três vereadores se posicionam na Câmara no sentido de se ter
preocupação com o esporte local. Tudo isto foram reações a determinadas ações do
grupo que podem constituir um movimento que não se enquadra nas formas de
movimento social estigmatizados como os apresentados anteriormente, mas que vão se
constituindo na busca da efetivação de mudanças.
Do grupo de arte, salientam-se suas observações. Em uma de suas
reuniões, Elias mostra que “já sustenta um papo com o povo por duas horas. Eu só não
fazia isto. Mas já me empolgo mais. E vou, sozinho”. Estava se referindo às reuniões
que ocorriam em várias ruas.
A necessidade de todo esse trabalho continuar está expressa ainda com a
primeira visita feita a Maceió para contatos com o pessoal de arte da capital. Foram
ainda a São Cristóvão, em Sergipe, ou até Campina Grande, na Paraíba, observar o
“atelier” do Museu de Arte local e discutir com artistas campinenses. Se antes estavam
limitados ao seu município, agora já buscam outras ideias em outros centros. Fernando
afirma: “para mim foi muito bom essa organização. Eu desenvolvi mais a minha arte
que já fazia. Então vou incentivar os meus amigos. Espero que em breve o grupo esteja
com elementos e mais organizado. E ainda acho que nós iremos descobrir através desse
grupo verdadeiros artistas e cada um mostrar o que tem, como grupo então”. Ou ainda
Elias que se convence de que o “artista sozinho não tem condição, é claro, a não ser
que seja rico, mas o grupo tem condição de sobreviver sem ajuda de autoridades. Será
necessário que os artistas se ajudem”. São afirmações que transmitem possibilidades de
continuação de um grupo de arte naquela comunidade.
Num momento de autocrítica, o grupo começa a observar que “vamos
cuidar dos trabalhos, pois não temos nem trabalho para mostrar aqui em Colônia”.
Mas o interesse maior vem ainda de Irapuan, quando entende que “o grupo de arte deve
ser fortalecer e ter mais garra. Um artista deve trocar ideias, ajudar o outro, um dia
chegar aonde a gente pensa chegar”. Não se sabe aonde querem chegar, mas
explicitam a confiança de continuarem suas atividades como grupo de arte. Dois
meses depois, voltando à região, o investigador constata que o grupo define-se para
mais outra forma de arte: a escultura. Está também com troncos de madeira da região
desenvolvendo nova forma de expressão artística que, até então, não havia sido
produzido. Tudo isto vai delineando a possível sustentação do mesmo, com a saída do
investigador.
335
Com relação ao grupo de zabumba, algo vai se apresentando como
mudanças quando da expectativa de atualização de suas apresentações, já que passam a
escutar discos e outras bandas de zabumba como as de Caruaru (PE). Decide-se
também, assumir o instrumento original. Estão divulgando sua história na cidade e na
região onde passam tocando. Tudo isto parece fortalecer bem mais a existência e
consolidação do grupo.
Em relação ao grupo de guerreiros, constata-se que, passados os dois
meses após se deixar a comunidade em plena época de inverno, que é a de maior crise
na região canavieira, o grupo de guerreiros passa a existir na palhoça no meio da rua da
Mangueira e dança-se às quartas, sábados e domingos. Sua existência nessa época de
chuvas é indício de sua continuação na fase da colheita que se aproxima, já que nessa
época a situação econômica da comunidade se torna menos instável.
Esta ação cultural deixa ainda um saldo expressivo de informações sobre a
comunidade. Ela ficou conhecida bem mais do que se conhecia no que se referem às suas
necessidades básicas, isto é, àquelas necessidades mais indicadas pela comunidade. Todas
aquelas informações devolvidas aos grupos e mantidas, sobretudo, com o grupo de arte
podem ser úteis para continuação deste processo praxeológico. Um leque de atividades
em cada assunto específico, como saúde e outros, fica mais claro para uma sequência dos
mesmos. Todo um trabalho está aberto. A continuação sistematizada pode se constituir
em processos vários, quando se delineiam, agora, as questões que devem ser
aprofundadas. Pode-se desenvolver o tema da cultura, questões educativas formais,
organização esportiva, organização sindical, o professorado de 1o grau, enfim, uma ação
cultural dimensionada em cada questão específica.
Aprofundar estas pequenas mudanças ocorridas e refletidas em atividades
que antes não existiam parece ser necessário. Assim, pode-se configurar um quadro
mais expressivo de possíveis mudanças, porém, a longo prazo, acrescenta-se que,
mesmo para os grupos sozinhos, não será fácil toda esta sistematização. Os religiosos,
com os agentes pastorais, poderão ter mais condições de sustentar tal processo
considerando, sobretudo, a disponibilidade e a prática dos mesmos. Para isto, pode ser
necessária a formação de novos grupos para cada aspecto a ser estudado, como, por
exemplo, para educação de 1a a 4
a séries.
Para possível criação de novos grupos, todos os dados coletados
permanecem nas mãos desses religiosos e do grupo de arte. Contudo, algo parece ficar
patente para todos os que estiveram envolvidos neste processo. Até mesmo o prefeito,
336
no dia da entrega das propostas do esporte local, declara: “é bom que estão
despertando”. Para o usineiro e prefeito, não se sabe o que significa “ser bom”, mas é
evidente que aqueles trabalhadores e seus filhos demonstram estar se conscientizando,
“despertando” para a sua realidade. Os efeitos dessa ação cultural, do ponto de vista de
organização, mesmo envolvendo todos os trabalhadores da comunidade, são limitados.
O que foi feito, observa também o grupo de arte, ainda foi pouco: “Mas foi. Parece que
precisa mais gente para cada grupo”. Pode-se até admitir que nenhum desses grupos vá
avante com suas próprias forças. Entretanto, acredita-se também, como o grupo de arte,
que “o trabalho, mesmo que não vá avante, ele não se acabou. Parou, não foi em vão”.
Algumas questões de cunho acadêmico se apresentam e podem contribuir
mais para o desempenho do trabalho social como, por exemplo, a necessidade de uma
maior fundamentação nas próprias técnicas de pesquisa e, sobretudo, na análise
epistemológica das mesmas. Isto se faz necessário para se buscar também, de forma
científica, outras formas de produção do conhecimento que, mesmo podendo ser
modestas, têm de ser científicas. Formas que venham considerar os aspectos
determinantes em cada região, desenvolvendo técnicas de ação, orientando-se para fatos
pertinentes e significativos da comunidade e que tenham como finalidade a organização,
educação e ação dos envolvidos na pesquisa. Um estudo social que se busque estar
combinado com a sistematização posterior para então ser devolvido aos grupos de base
para a comprovação com a realidade.
As formas de devolução desses conhecimentos à comunidade são
desafios que, uma vez superados, se contrapõem às formas de produção especializadas,
fechadas e, portanto, divorciadas da cultura do local onde foram colhidos os dados. Essa
devolução se caracteriza pela clareza de exposição, para que a classe trabalhadora possa
compreendê-la. Não pode ser feita apenas através dos livros ou revistas especializados,
pois assim o próprio conhecimento passa a ser direcionado por critérios que estejam
fundamentados num conhecimento de utilidade às comunidades. Nesse sentido, afirma
THIOLLENT (1980), apenas a crítica não é suficiente, como as levadas ao empiricismo,
se, as mais das vezes, são críticas apressadas sem apontar alternativas adequadas.
Uma equipe de pesquisadores de várias áreas do conhecimento também
pode ser necessária para um trabalho de ação cultural mais elaborado. Várias pesquisas
podem ser geradas de um mesmo projeto de ação comunitária. Educadores, sociólogos,
economistas, antropólogos e outros podem contribuir no conjunto da devolução de
337
dados com uma maior fundamentação teórica de cada pesquisador. Isto será útil a uma
maior compreensão da comunidade e, em consequência, uma ação social mais efetiva.
E, finalmente, a pesquisa nos países periféricos ou subdesenvolvidos pode gerar
uma maior autonomia dos mesmos, quando se busca construir seu instrumental próprio
de pesquisa. Esse instrumento se faz necessário, pois assim se avança para deter-se o
colonialismo científico e cultural como meio de resistência à dependência econômica e
política dos povos.
338
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341
TEXTO 6.
COLÔNIA LEOPOLDINA: ELEIÇÕES E LIÇÕES48
Colônia é aqui, a terra da cana-de-açúcar.
48
Este texto é um registro das eleições de 2008 e, ao mesmo tempo, uma análise do Movimento
Colônia e Cidadania - MCC. A análise mostra a visão sobre as eleições em Colônia Leopoldina, tendo
sido reproduzida no ano de 2008 e editado no livro: Colônia Leopoldina – situações político-ambientais.
Maria Betânia Alves dos Passos, Marília Gabriela da C. Gomes e José Francisco de Melo Neto (org.).
Editora da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2010.
342
A pessoa que não tiver a proteção de seus direitos efetivamente assegurada está correndo o risco de perder
sua vida, sua dignidade, sua integridade física e psíquica e todos os bens e direitos inerentes à sua
condição humana (Dalmo de Abreu Dallari).
1 INTRODUÇÃO
A semana que antecede o dia da eleição, em uma cidade do porte de Colônia
Leopoldina49
, em Alagoas, é um convite para a compreensão daquilo que está
acontecendo naquele momento, diante da complexa teia de relações sociais
estabelecidas. Podem ser observadas as diferenciadas possibilidades da prática política,
especialmente a política partidária, o seu exercício em uma região do interior e sua
relação com a política em geral. Nessa semana,inclusive, se presencia a participação das
pessoas diante das distintas condições de escolha de um representante, naquele dia de
domingo, e, sobretudo, ouvir e assistir as conversas e tensões geradas pelo
envolvimento emotivo do povo, bem como, as negociações que se dizem feitas, tudo em
nome da política partidária.
O convite que a realidade expõe provoca a compreensão de que cabe ainda o
investimento na organização do povo para que possa exercer sua cidadania e avançar
nas suas lutas por esta conquista mesma. Cidadania, expressão de um processo de busca
nunca concluso, pois sempre se mostra como um vir a ser, com sonhos e utopias de se
viver em condições humanas.
O texto que segue é uma análise superficial do processo eleitoral em Colônia
Leopoldina, mas que se parece muito, em boa parte, com o que vem ocorrendo em
outras cidades por todo o País.
A busca pela compreensão de aspectos políticos de uma cidade do porte de
Colônia, em seus aspectos partidários e demais aspectos da organização da vida local,
exige um zeloso cuidado na coleta de informações, principalmente quando se está
49
Cidade situada na Zona da Mata Norte do Estado de Alagoas, com aproximadamente 22 mil habitantes
no município, com um eleitorado em torno de 14.500 eleitores. Nas terras do município, a economia é
dominada pela cana-de-açúcar, estando estabelecidas duas agroindústria produtoras de açúcar e álcool, a
Usina Taquara e a Destilaria Porto Alegre, respectivamente.
343
vivenciando aquele momento eleitoral. Em compensação, fora desse momento, fica
muito mais difícil a captação de elementos que só podem ser observados nesses dias
mesmos. Foi nesse calor e momento, portanto, que se procurou entender os eventos
últimos da campanha eleitoral deste ano, tentando-se ver a presença das demais
organizações que compõem a vida política e social da cidade.
É uma busca por elementos para uma orientação política, voltada à perspectiva
do exercício de ser cidadão, não apenas na vigência dos períodos eleitorais. Ações que
possam conduzir as pessoas para a participação nas coisas públicas, no seu dia-a-dia,
preparando-se para seguir as futuras políticas encetadas pelo poder público local após os
resultados das urnas.
Esta análise inconclusa visa50
contribuir, em particular, à organização de setores
da sociedade leopoldinense, na perspectiva de poderem expressar os seus desejos de
participação por meio de atividades políticas permanentes e, não somente, por meio de
partidos políticos.
Portanto, este é um texto permeado do esforço de se tentar compreender a
política partidária local, no momento mais conflituoso, que é o das eleições,
contribuindo para a ação política permanente de todos e todas, em diferenciadas
organizações da sociedade civil, que insistem no desejo de se tornarem cidadãos,
atuando no seu próprio local de vida.
O texto contempla o quadro da política resultante das urnas, em dimensão
nacional e local, as expressões políticas marcantes da campanha eleitoral em Colônia, os
limites desse quadro político, o discurso de candidatos e suas dimensões táticas e
programáticas, a atuação do poder judiciário, e apresenta sugestões para pessoas que,
mesmo diante do desfavorável quadro político, insistem em vivenciar uma outra política
que as promovam para a condição de cidadãos e cidadãs.
Logo, o texto é uma tentativa de ajudar à compreensão do processo eleitoral
local, contribuindo, talvez, para a organização de grupos com encaminhamentos futuros
para a sua própria caminhada. Afinal, todos e todas têm o direito de viver sua cidadania
com direitos humanos realizados.
50
Os dados aqui citados, cuja origem não estiver indicada, são todos retirados do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE).
344
2 O RESULTADO DAS URNAS NO PAÍS 51
O resultado eleitoral das eleições nacionais, considerando o chamado grupo do
G79, um grupo de cidades com mais de 200 mil eleitores, incluindo todas as capitais
dos Estados e o Distrito Federal, teve um grande vitorioso – o Partido dos
Trabalhadores -, que conquistou 21 dessas cidades e eleito mais de 350 prefeitos, no
cômputo total. Ao que parece, o PT vem superando a sua crise ética vivida em 2005 e
2006, mas perdeu o seu trunfo principal, a cidade de São Paulo, para o partido
Democratas (Dem), este que foi o mais derrotado neste atual processo eleitoral e neste
grupo de cidades.
O PCdoB saltou de 10 prefeitos para 39, um crescimento expressivo e
reelegendo o prefeito de Aracaju. O PSB passou de 214 para 309, aproximadamente, e o
PDT, mais limitado, subiu de 311 para 344. No “bloco de esquerda”, o PSB, PDT e
PCdoB adquiriram mais musculatura, podendo exercer um papel bem mais importante
na sua relação com o PT e com o governo Lula.
O mapa político eleitoral, saído das urnas, no entanto, tem um novo dono - o
Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). Este partido consolidou a sua
posição e venceu em 1.208 municípios, inclusive, em boa parte das cidades mais
importantes do país, num total de 17 cidades. Para o seu atual Presidente Michel
Temer: “Somos o maior partido do Brasil. Em 2010, vamos forte para qualquer aliança,
sem nenhuma dúvida” (Folha de São Paulo, 27/10/08).
O Dem (antigo PFL), entretanto, mesmo vencendo na cidade de São Paulo,
fortalece a posição de Serra a postular a candidatura a presidente no ano de 2010,
considerando a aliança Dem/PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira). O DEM
elegeu mais 4 prefeitos nesse grupo das maiores cidades do país.
A partir desses dados, os grandes perdedores são os partidos que fizeram frente
de oposição ao Presidente Lula mas, continuam governando 35,4 milhões de eleitores,
mesmo com 10 milhões de eleitores a menos do que atualmente. O PSDB passou a
51
Nomes dos partidos:
- PP chamava-se PPB em 1996 e 2000. Antes havia sido – PPR e PDS.
- O PTB fundiu-se com o PSD em 2003 e incorporou o PAN em 2006.
- O PR é resultado da fusão do PL com o PST e com o PGT (em 2003) e com a incorporação do PRONA
(em 2006).
- O PFL mudou de nome para Democratas (DEM), em 2007.
345
administrar 5,8 milhões de eleitores, mas estava gerenciando 14 milhões em 2004, uma
perda de quase 1/3 de seu eleitorado de cidades do G79. No cômputo total, o PSDB
passou para 17,5 milhões. É importante observar que o partido com maior número de
derrota, todavia, foi o PPS. Este partido havia eleito 5 prefeitos nas eleições passadas,
perdendo todos nesta última. Mesmo diante desse estrago, de difícil perfomance
eleitoral da oposição, Serra se mantém na dianteira como o centro dos candidatos da
oposição em 2010.
Rendimento Eleitoral dos Partidos no G79,
cidades com mais de 200 mil eleitores
governa hoje governará
PT 17 21
PMDB 14 17
PSDB 15 13
DEM 4 5
PSB 9 5
PDT 6 5
PP 4 5
PCdoB 2 2
PTB 1 3
PV 1 1
PPS 2 0
PRB 1 0
Na luta da esquerda versus a direita, ainda em nível nacional, a esquerda
permaneceu tateando e pouco efetivando a unidade política. Um dos exemplos mais
marcantes é a situação do Estado do Rio de Janeiro, em que a esquerda partiu dividida.
Convém ainda um destaque à “frente de esquerda”, que a partir do desempenho
da campanha passada (presidencial) do PSOL, PSTU e PCB vem promovendo um
confronto direto com o governo Lula, com poucas análises das correlações de forças na
América Latina e Brasil e, sobretudo, sem uma mais rigorosa percepção desse híbrido
ou contraditório governo. Essa frente ficou em terceira posição quando da última
campanha para presidente, com Heloisa Helena, mas, nestas eleições, não conseguiu
manter sequer a frente de esquerda, desenvolvendo críticas intensas e fraticidas entre
esses partidos. O PSTU, avesso às alianças, chegou a criticar a direção do PSOL que
346
“realiza coligações com os partidos burgueses, que inclusive integram a base de
sustentação do governo Lula”, enquanto que o PCB preferiu marcar suas posições,
apresentando candidatos sem densidade eleitoral.
3 O RESULTADO DAS URNAS EM ALAGOAS E COLÔNIA
Em nível de Estado, o partido com maior expressão de candidatos eleitos a
prefeito foi o PP (Partido Progressista) com um total de 21, sendo seguido pelo PMDB,
com 20, e o PTB, com 17. Estes são os partidos que se apresentam com maior potencial
de direções municipais, podendo mapear e definir a agenda política em Alagoas. Mesmo
sendo governado pelo PSDB, que nessas eleições elegeu apenas 13 prefeitos, ao que
parece, esse governo manifesta a dificuldade de realizar a sua política. A eleição no
Estado, como se vê, mostra claramente que a política não está passando e não passará
pelas mãos do PSDB.
Alagoas apresentou uma figura com retumbante vitória eleitoral – o atual
prefeito reeleito de Maceió, Cícero Almeida, em condições de posicionar-se diante dos
caciques políticos do Estado e se apresentar, no futuro, como uma importante liderança
em nível estadual.
A esquerda continua estrangulada, contando apenas com 2 prefeitos do PCdoB,
enquanto que o total de vereadores chega à casa de 24, a contar com 22 do Partido dos
Trabalhadores e 2 do PSOL. Por outro lado, Heloisa Helena ressurge das cinzas como a
mais votada vereadora de Maceió, iniciando pelo patamar mais baixo da representação
política. Não obstante, a sua desenvoltura ainda é algo a se ver, a depender de sua
definição política de construir o seu partido no Estado ou de continuar vagando no país,
contribuindo à organização nacional do PSOL – Partido Socialismo e Liberdade.
Rendimento Eleitoral dos Partidos no Estado de Alagoas
Partidos prefeitos eleitos
PP 21
PMDB 20
PTB 17
347
PSDB 13
PMN 7
PSC 6
PSB 5
PDT 4 (Colônia Leopoldina)
PCdoB 2
PTdoB 2
PR 2
PT 1
PRB 1
DEM 1
Como tem sido uma prática muito comum, após os processos eleitorais, é
possível de se ver no futuro breve a rearrumação partidária, principalmente desses
prefeitos eleitos por partido com pouca expressão estadual. Deverão ficar à espera da
prometida e não realizada reforma política. A atual legislação tem dificultado a prática
do troca-troca de partido, muito comum nos processos de articulação político-partidária,
demonstrando o pouco papel dos partidos do ponto de vista político e ideológico sobre
os seus quadros, e sem qualquer significado para os eleitores em geral.
Já em Colônia Leopoldina, as eleições estiveram marcadas por três candidaturas:
a do ex-prefeito Manuilson Andrade (PDT), que insiste em sua permanência com a
candidatura de Lala (sua esposa) durante todo o processo eleitoral; a do usineiro José
Maria (PSB), proprietário da Usina Taquara; e a candidatura da servidora pública
Luciana Luna (PSDB), que não apresentou densidade eleitoral, mesmo durante a
campanha.
348
Campanha do candidato do prefeito Manuilson (PDT).
Em nível de Estado, a coligação do candidato Zé Maria (40) –
PSB/PTN/PSL/PTC/PMDB/PSC teve maior quantitativo de prefeitos eleitos, num total
de 31, tendo a segunda colocada, Luciana (45), com a coligação PSDB/PTB/PPS,
atingido a cifra de 30 prefeitos eleitos. Esta aliança foi fortalecida com o PTB, que
contribuiu com 17 prefeitos, ao passo que o PPS não contribuiu nessa aritmética. Por
outro lado, a coligação do prefeito Manuilson (12) – PDT/PV/PT/PR/DEM elegeu, em
todo o Estado, apenas 7 prefeitos. Isto pode indicar a pouca articulação política, ou
mesmo, uma não aceitação dessa aliança por parte do eleitorado alagoano.
Esta situação suscita a pergunta: afinal, qual será o agrupamento político a ser
procurado pelo Prefeito eleito Cássio? Esta resposta trará resultados imprevisíveis para
a nova gestão do eleito Cássio com uma baixa condição política de soluções para
questões da cidade, em especial, aquelas que não se resolvem em nível municipal. Além
349
do mais, poderá, no futuro, trazer algum incômodo na sua relação com o atual Prefeito
Manuilson que deseja permanecer prefeito.
Este quadro também mostra que poderá continuar uma centralização exagerada
no governo da cidade, considerando o baixo nível de força política estadual da sua
coligação. A contribuição maior nesse grupo é mesmo do PDT com 4 prefeitos
(inclusive o de Colônia Leopoldina), 2 do PR e 1 do Democratas. Uma composição com
baixa expressão eleitoral.
Contraditoriamente, quanto à candidata Luciana, sua coligação em nível de
Estado apresentou uma melhor performance, mas que não vem, necessariamente, de seu
partido o PSDB, com 13 prefeitos apenas. A maior força dessa coligação passa pelo
PTB com 17 prefeitos eleitos, em todo o Estado. Pessoalmente, em termos totais de
votos em Colônia, Luciana apresenta uma queda expressiva em seu eleitorado,
considerando as duas últimas campanhas, mesmo que esse tenha se mantido
razoavelmente “cativo”.
Dia de eleições – festa na cidade.
350
Rendimento Eleitoral dos Partidos em Colônia
Votos - 11.548 eleitorado 14.216 seções 45
Votos Válidos - 10.546 apurado 14.216
Nulos - 789 não apurado 0
Em branco - 213 comparecimento 11.548
Candidatos Coligação Votação % Válidos
1. Cássio PDT/PV/PT/PR/DEM 4.482 42,50
2. Zé Maria PSB/PTN/PSL/PTC/PMDB/PSC 4.454 42,23
3. Luciana PSDB/PTB/PPS 1.610 15,23
Os dados podem nos indicar que, mesmo diante da dificuldade de articulação da
Chapa 1, do Manuilson, este foi um candidato que jogou em campo toda a sua força
política. A sua coligação atraiu vários apoios políticos no âmbito estadual, contribuindo
na sua força eleitoral. A vitória, por pequena diferença, mostra o desafio grande que
teve ao enfrentar os candidatos de oposição. Os resultados expõem à vista que a maioria
do eleitorado de Colônia, mesmo depois de 8 anos de sua ação política, não está mais
convencida dessa capacidade de administração do atual prefeito.
Por outro lado, houve uma disputa acirrada por bases materiais entre dois fortes
candidatos: aquele apresentado por Manuilson, que tinha a sua base na prefeitura e no
seu trabalho, e a outra candidatura, a do usineiro, detinha o suporte financeiro, estando
debilitado inicialmente, com problemas na usina, recobra a força total no final de
campanha. Já a terceira candidatura, a de Luciana, reduziu muito o seu eleitorado.
Perdeu duas vereadoras de sua base de sustentação da política local, mesmo que elas
tenham tido uma expressiva votação.
351
Eleitores mais antigos da cidade ainda mantêm a visão de que:
Sempre têm sido assim as eleições, isto é, com a compra de votos. É
importante a gente pensar para frente. ... A coisa não mudou, e, digo
mais, que até piorou. Outro resultado qualquer não mudaria nada. Não se
pode esquecer que eles (Manuilson e Zé Maria) sempre brigaram e
sempre se juntaram (Maurício Pereira).
Observem-se os seguintes dados:
Rendimento Eleitoral dos Candidatos/as a Vereadores em Colônia
- Ricado Brasilino - PTN - 743 votos 6,96% do eleitorado
- Paula - PTB - 685 6,42
- Dr. Marinho - PPS - 683 6,40
- Deda Messias - PSB - 667 6,25
- Dr. Ernane - PDT - 494 4,63
- Gal Fest - PPS - 477 4,47
- João Matuto - PPS - 459 4,30
- Diva do Banco - PV - 428 4,01
- Vitalino - PDT - 346 3,24
Estes são os vereadores eleitos para os próximos 4 anos.
Demais candidatos/as:
Graça Leite - PTB - 453 4,24
Luiz costa - PSB - 407 3,81
Carmelita - PSDB - 374 3,50
Cícero Mamãe- PDT - 343 3,21
Rubinho - DEM - 311 2,91
Irmã Silvania - PDT - 282 2,64
Luciano - PT - 264 2,47
352
Jau - PSDB - 251 2,35
Suzana - PSB - 248 2,32
Edmilson Soldado - PDT - 243 2,28
Vavá - PSDB - 238 2,23
De todos/as candidatos à Câmara, dois candidatos a vereador iniciam um novo
jeito de apresentar-se à cidade, não apenas pelo velho estilo de “cata-cata” de voto
individual, mas apresentando programa de ação junto ao prefeito, na câmara – os
candidatos Rubinho (DEM) e Luciano (PT). Destacam-se as propostas de Luciano:
1. NA AGRICULTURA – disposição de tratores aos pequenos produtores para
gradear a terra e de assistência técnica em geral; ampliação do Programa Luz
para Todos; reformar casas de taipa da zona rural em convênio com a FUNASA
(Fundação Nacional de Saúde); implantação do Conselho da Agricultura;
criação de um banco de sementes em parceria com SEAGRI (Secretaria de
Agricultura do Estado de Alagoas) e com a EMBRAPA (Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária) em prol do melhoramento genético de nossos produtos.
2. NA EDUCAÇÃO – melhora da biblioteca municipal, com aumento do acervo e
contratação de um profissional da área; incentivo à leitura na escola com o
desenvolvimento de programas voltados à nossa realidade; implantação de uma
escola integral para as crianças do município; fortalecimento da educação de
jovens e adultos; implantação do ensino médio na zona rural (Porto Alegre e
Monte Alegre); convênio da prefeitura com a UFAL (Universidade Federal de
Alagoas) e/ou outras caso possível, para a realização de cursos superiores no
município, pela via da educação à educação; apoio financeiro aos professores
em forma de bolsas de estudo, a fim de que estes possam investir em sua
formação por meio de cursos de especialização, mestrado e doutorado;
implantação do sistema de gestão democrática nas escolas, com a eleição de
direitos e conselhos escolares.
Há outros candidatos/as com menor expressão eleitoral. Estes dados, contudo,
mostram que a força partidária, em termos de eleitos, apresenta a seguinte configuração:
PPS - 3 vereadores
353
PDT - 2 vereadores
PSB - 1 vereador
PTN - 1 vereador
PTB - 1 vereador
PV - 1 vereador
Tais resultados indicam uma possível dificuldade para a ação do prefeito Cássio,
recentemente eleito, caso os partidos assumm a sua formulação originária partidária, ou
se os eleitos, pelo menos, conheçam a vida partidária, o manifesto e o programa de seus
partidos. O significado de Partido nesse eleitorado é pouco explorado e não serve para a
definição do voto.
Nesse caudal político, tem surgido um esboço inicial de uma futura liderança
emergente: o vereador Brasilino. Este fora eleito duas vezes com a maior votação da
cidade: o seu comportamento político tem sido muito mais para apoiar o prefeito ou o
usineiro. Não tem realizado movimentos políticos para se tornar um importante líder
local. Suas ações são muito mais de não correr risco, esforçando-se pela manutenção da
sua cadeira de vereador. A vereadora Paula e João Matuto são debutantes em política,
enquanto se aguardam os seus pronunciamentos. O Dr. Marinho, advogado e procurador
da prefeitura, base do prefeito e bem sucedido comerciante, está em seu primeiro
mandato. Poderá despertar futuras e maiores ambições na política. O Dr. Ernane,
médico conceituado e professor de medicina, indo para o 5 mandato consecutivo,
poderia ter sido uma esperança de mudança para a política local. A sua atividade
política, contudo, tem buscado os caminhos fáceis da política, angariando postos em
segundos escalões da prefeitura, ficando muito aquém daquela possibilidade e
desperdiçando sonhos de mudança local. O vereador Deda Messias, caminhando para o
terceiro mandato, mantém-se em seu silêncio político até o momento. A vereadora Gal
Fest, agora em seu segundo mandato, tem pouco a dizer ao seu eleitorado, assim como
Diva do Banco, com pequenos atendimentos pessoais, perseguindo o assistencialismo.
E, finalmente, Vitalino, um obstinado músico, que em primeiro mandato, precisará
definir com clareza o seu papel para além de acordes musicais.
Em Colônia, o PT esteve na aliança até com o Democratas, velhos inimigos
ideológicos nacionais, à medida que participou da mesma coligação com o PDT.
Espremido entre duas possibilidades de aliança, considerando que ambos os partidos
dirigentes das alianças PSB e PDT apóiam o governo Lula, o Partido dos Trabalhadores
354
opta pelo PDT e, sendo a última coligação realizada com o prefeito, pode-se dizer que
este partido foi determinante na vitória de sua coligação. No entanto, o PT continua com
profundas dificuldades de organização de si mesmo, estando há mais de 20 anos na ação
política local, sem ter conquistado qualquer posto na Câmara de Vereadores. Não
obstante, este momento eleitoral consagrou-se com a maior votação já obtida em sua
história.
Esses dados e o desenvolvimento do processo eleitoral em Colônia apresentam a
sua primeira característica e, portanto, no mesmo caudal da política em todo o país, isto
é, um total desconhecimento do que seja o partido. Não se vive o partido, não se vota
em partido, apesar de se pedir votos para 12, 40 ou 45. Vota-se na pessoa. Aqui,
contraditoriamente, votou-se no número 12, já que o candidato Cássio só foi
oficializado na última semana de campanha.
As eleições em todo o país seguiram o mesmo diapasão de total
desconhecimento de partidos, haja vista as coligações realizadas. Ora, um partido
político só pode ter a sua razão de existência a partir da definição de sua identidade e foi
no país e em Colônia onde menos se ouviu sobre a vida dos partidos. Para Jânio de
Freitas (Folha de São Paulo, 16/10/08) “as alianças tornaram-se uma bagunça quase
sempre indecente; uma corrida a jazidas de ouro reabertas”. Alastraram-se
alianças/coligações as mais espúrias, em termos ideológicos. A conclusão desse
jornalista é que a reforma política não se apresenta como possível. Para ele, as razões
são simples: se os partidos não expressam um partido é porque os políticos não são
políticos. Nessa lógica, os congressistas não serão congressistas e os vereadores também
não exercerão, de forma partidária, os seus mandatos na Câmara de Colônia.
4 O PROCESSO ELEITORAL – forças políticas em conflito
Como transcorreu o processo eleitoral? O discurso do atual Prefeito Manuilson
insistiu para que o povo votasse no número 12, ao mesmo tempo em que pairava a
dúvida se a Dona Lala seria candidata, o que se confirmou no final a sua inelegibilidade.
Assume, dessa forma, um ilustre desconhecido da população como expressão política –
o candidato Cássio. O Prefeito Manuilson conseguiu promover o seu secretario de
finanças à condição de Prefeito da Cidade. A pergunta é: por que escolher um secretário
de finanças, considerando a existência de outros bons candidatos?
355
Manuilson, em seu discurso de campanha, apresentou as seguintes realizações
em seus 8 (oito) anos de prefeito: 1) saneamento da Vila Nova; 2) construção de
Ginásio de Esportes; 3) construção do Fórum Guedes de Miranda; 4) pista de acesso à
Colônia; 5) praça do centenário; 6) construção de 120 casas populares; 7) praça D.
Pedro II; 8) eletrificação do bairro Belo Jardim; 9) renovação da tubulação de água da
cidade; 10) calçamento do loteamento Abides Borges; 11) calçamento do bairro da
Mangueira; 12) calçamento de outras 12 ruas; 13) água do loteamento Belo Jardim; 14)
construção da secretaria de obras; 16) água da Vida Nova; 17) torre de celular; 18)
construção do centro administrativo (com secretaria de saúde, assistência social,
agricultura...); 19) construção da biblioteca municipal; 20) construção de CRAS (centro
de referência de assistência social); 21) centro do idoso; 22) eletrificação de vários
sítios (Mamona, Mata-verde, Macaco, Catita, Capim de planta...); 23) água nos sítios
(Papa-mel, Mamona e outros); 24) novo hall do hospital; 25) construção junto com o
governo do estado da barragem de Canto Escuro; 26) e outros, segundo os discursos.
Destaque-se que durante toda a peleja eleitoral, era alto o nível de acusações de
ambos os candidatos sobre suas vidas pessoais, ajudados pelo grau de parentesco entre o
prefeito Manuilson Andrade e o usineiro José Maria Quirino, sobrinho e tio,
respectivamente. O espaço para acusações do tipo – estuprador – foi delineado e posto
ao vento pelo atual prefeito. A acusação de altíssimo salário (50 mil reais) ao gestor
principal do município também teve o seu momento de glória nos palanques. Já a
campanha de Luciana procurou manter-se no nível das apresentações de propostas.
356
Campanha do candidato e usineiro Zé Maria (PSB).
O candidato-usineiro Zé Maria sempre tentava resposta e, de uma forma mais
tímida, disparava as suas acusações. Organizou, por outro lado, um Programa de
Governo com as seguintes propostas:
1. Agricultura e pecuária – nomear um técnico de capacidade comprovada para
a secretaria; adquirir uma patrulha mecanizada composta de uma patrol, um trator de
esteira, dois tratores de pneus com todos os implementos, retro-escavadeira e
caçambas; distribuir semente para plantio de roça de inverno (milho, feijão...etc);
garantir aos produtores de leite a compra do produto a preço de mercado para
merenda escolar; contratar um médico veterinário para realizar as inspeções
sanitárias no matadouro público; dar assistência aos produtores rurais e incentivar a
instalação de pequenas indústria para o aproveitamento das frutas nativas da região.
2. Política de valorização do funcionário público – atualizar o plano de cargos
e salários; abrir vagas para os funcionários por concurso público; patrocinar cursos e
treinamentos para capacitar os servidores; motivar o ingresso de servidores em cursos
de nível superior; dotar os servidores de EPI(S) de acordo com as exigências da DRT;
reconhecer os servidores especiais, obedecendo a classificação da DRT.
357
3. Obras civis de infraestrutura – construir 400 casas populares; substituir
todas as casas de taipa por alvenaria (100%); criar um programa de recuperação de
casas em todos os bairros; calçar 100% das ruas (asfaltar principais); recuperar o
matadouro público e o mercado municipal; reconstruir o estádio de futebol; reformar o
clube social; eletrificar 100% da zona rural; construir um grupo escolar com trinta
salas de aula; construir mini-postos em povoados para dar apoio ao PSF.
4. Plano municipal de saúde Colônia 100% - Manter serviço de urgência
ativada; convênios com hospitais e clínicas (palmares); ativar o posto de saúde de
Monte Alegre; oferecer serviço de nutrologia, fisioterapia, reabilitação, fonoaudiologia
e psicologia; destinar atenção aos idosos, pessoas de 3ª. Idade; ampliar o programa de
saúde da família; reativar o serviço de radiologia;garantir o funcionamento do hospital
com plantonistas diários; reativar o bloco cirúrgico e oferece tratamento para
cirurgias-mioma, ligadura, hérnia, vesícula, cirurgia por vídeo, proctologia; implantar
especialidade como cardiologia, psiquiatria, pediatria, ultra-sonografia, neurologia,
dermatologia, obstetrícia; manter saúde itinerante e serviço de odontologia; abrir um
banco de aleitamento materno e laboratório de exames essenciais.
5. Educação de qualidade – Colônia 100% - ampliar escola com auditório para
pais e mestres, salas de informática, espaço coberto para recreação, salas de leituras,
laboratório de ciências; oferecer formação continuada para professores por áreas
específicas como palestras e oficinas pedagógicas; assegurar laboratório de
informática comunitária, circus-espaço cultural (reservado para culminância de
projetos educativos), aulas de Arte – pintura, crochê, bordado, reciclagem, dança,
músicas, teatro, eventos com datas comemorativas e oferecer cursos profissionalizantes
para alunos.
6. Resgatar o tradicional desfile cívico – 7 de setembro - reformar a banda
marcial leopoldinense; distribuir fardamento completo ao alunado.
7. Reajuste salarial para os professores (periodicamente) - prêmio “profissional
do ano da educação”.
358
8. Diminuição do índice de evasão e reprovação – simulador com
reconhecimentos gerais (bimestral), escola tempo integral; oferecer reforço de língua
portuguesa (leitura, produção de texto) e Matemática; oferecer merenda de qualidade
(cardápio diferenciado).
9. Assistência especializada à educação da zona rural – oferecer melhores
condições ao aluno; promover interação entre escolas da zona urbana e rural; garantir
a continuidade do transporte escolar.
O documento concluiu com uma frase do educador pernambucano Paulo Freire:
“a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tão pouco a sociedade muda”.
O Programa de Governo acima disposto foi pouco massificado/distribuído e,
praticamente, sem discussão com a população. Isto, contudo, mostra um avanço
importante para a política local quando se inicia a apresentação de propostas para a
cidade. Durante a campanha, Zé Maria preferiu apresentar-se como um administrador
vitorioso, que tem sempre dado certo, a exemplo do empreendimento da Usina Taquara.
Ficou em segundo colocado nesta “festa da democracia”, com a diferença do primeiro
colocado sendo de 28 votos.
Um entendimento muito generalizado, como afirma um eleitor, é que:
... em Colônia, a política está sempre entre aspas, isto é, ela é apenas um
arremedo. Quem tem dinheiro é quem manda mais. Cada um tinha força
pelo dinheiro. A candidata que tinha pouco dinheiro, perdeu. Há uma
indução para que o povo vote só pelo financeiro. Pessoalmente, vejo
difícil mudar essa situação, mas precisamos de esperança de que essa
quadro político pode mudar (Júlio Moraes).
A candidata Luciana, tentando apresentar-se por fora desse embate familiar que
prendeu toda a cidade, não conseguiu organizar, de forma mínima, uma equipe para o
planejamento de sua campanha, isolando-se ao ponto de ter que escolher o próprio
irmão para compor a sua chapa – uma chapa familiar. A aliança PSDB/PTB/PPS não a
ajudou na renovação de duas vereadoras, elegendo, contudo, três outros candidatos
(PPS) e uma candidata pelo PTB mas sem a sua direção política. Esses três eleitos do
359
PPS estão comprometidos com o Prefeito Manuilson, e a do PTB, com o usineiro. Para
alguns:
Luciana foi embora de Colônia e abandonou o seu eleitorado. Mesmo
depois de um trabalho para recomposição de um grupo, ela participou
poucas vezes.
O Zé Maria e o Manuilson são de um mesmo tempo e de uma mesma
família. Não há novidades com qualquer um deles (Silvano dos Santos).
Luciana, durante a sua campanha, procurou reforçar o seu Plano de Governo -
por nossa terra, por nossa gente. Os seus comícios foram marcados,
caracterizadamente, por apresentações dessas propostas, procurando mostrar um outro
estilo de fazer política, o que lhe conferiu o terceiro lugar nessa disputa. Examine-se o
Plano:
1. AÇÃO SOCIAL – Programa de Moradia Digna (construção de casas
populares no sistema de mutirão participativo. A prefeitura entrará com o material e a
comunidade auxiliará com a mão-de-obra.
- Volta do Programa de alimentação para a população carente, com participação das
entidades religiosas e não governamentais; programa de apoio à criança e ao
adolescente; volta dos programas de apoio específicos aos idosos, mulheres e pessoas
portadoras de necessidades especiais; volta do programa de apoio à gestante; apoio
mais efetivo para fortalecimento do Conselho Tutelar Municipal; programa cidadão
(tiragem de documentos); construção de núcleos comunitários para funcionamento dos
programas sociais, tais como o PETI, PAC, Ciranda da criança, alfabetização
solidária, bolsa escola, egressos do peti, portal da alvorada, entre outros;
disponiblização de transportes de pessoas da zona rural para a feira na cidade;
realização de cursos profissionalizantes através do SEBRAE, SENAI, SESC e SENAC,
tais como: eletricista, encanador, padeiro, computação, cabeleireiro, mecânico de
automóveis, artesãos, dentre outros; reestruturação e ampliação das creches (zona
rural e urbana).
2. EDUCAÇÃO E CULTURA – Programa Amigos da Internet – todas as escolas
serão contempladas com laboratórios de informática, com acesso à Rede Mundial de
360
Computadores – Internet, para que os nossos alunos possam pesquisar, fazer amigos e
se integrar com o mundo.
- recuperação das escolas municipais (urbanas e rurais); melhoria e garantia do
transporte escolar gratuito, dando condições de maior segurança e conforto para todos
os estudantes inclusive para Maceió, estudantes de graduação e pós-graduação;
aquisição de mais ônibus escolares, mais modernos, seguros e confortáveis para o
transporte dos estudantes; criação da casa do estudante universitário, em Maceió, para
incentivar os nossos jovens e dar apoio a todos aqueles que estivem estudando na
capital; melhoria da qualidade e da quantidade além da garantia total do fornecimento
diário de merenda escolar para os estudantes, durante o período das aulas;
erradicação do analfabetismo no município; garantia do fornecimento gratuito dos
materiais didáticos nas escolas municipais; fardamento para todos os alunos e pessoal
de apoio; resgate da banda de fanfarra do nosso município; apoio e incentivo às artes,
esportes e lazer para os jovens do nosso município.
3. SAÚDE – Consórcio de Saúde – proposta de acordo com cidades
circunvizinhas objetivando atender regionalmente serviços ambulatoriais, exames,
cirurgias de baixa e média complexidade.
- funcionamento do Programa Saúde da Família (PSF) em todas as unidades da cidade
e campo; contratação de profissionais especializados na área de saúde, para melhorar
o nível de atendimento à população, em especial a mais carente; volta do Programa da
Saúde Bucal Coletiva, com campanhas de educação com a distribuição gratuita de
escolas de dentes e fio dental e seu uso de forma correta; volta do Programa de
Atendimento Oftalmológico, para que nossa população seja atendida de forma
preventiva e corretiva; funcionamento efetivo do laboratório de análises, para que os
médicos do nosso município possam diagnosticar com maior velocidade e segurança as
enfermidades dos pacientes; criação da Casa de Apoio ao Doente em Maceió, para
alojar os parentes das pessoas que estejam nos hospital da capital; implantação do
Sistema de Saneamento Básico; convênios com os governos federal e estadual para a
aquisição de novas máquinas e equipamentos para a modernização do nosso hospital e
postos médicos; programa de saúde preventiva; valorização e fortalecimento do
Programa de Agentes de Saúde; programa de redução dos índices de mortalidade
infantil; reforma e ampliação da estrutura da Vigilância Sanitária Municipal; volta do
361
programa A Saúde Vai ao Campo; volta do programa A Saúde Vai à Feira; reabertura
do Centro Cirúrgico do Hospital Maria Loureiro.
4. OBRAS, URBANISMO E AGRICULTURA
- reforma e reestruturação do campo de futebol Joaquim Luiz da Silva; apoio à
vaqueirama para a reestruturação do Parque de Vaquejada Murilo Loureiro;
drenagem das áreas alagadas (Vila Nova) para acabar com as constantes cheias nestas
áreas nos períodos chuvosos; construção de casas populares para a população carente;
construção do terminal rodoviário de passageiros; aquisição de uma patrol para
execução e manutenção das estradas do município; construção de um novo matadouro
público municipal; melhoramento no sistema de limpeza pública; tratamento do lixo,
com incentivo à reciclagem; volta do programa Lavoura Comunitária, com a aquisição
de sementes para distribuir com os pequenos produtores rurais; recuperação e
ampliação da iluminação pública; criação de um cadastro numérico, para os imóveis
que ainda não tenham assim como a colocação de placas identificadoras das ruas da
cidade e de sinalização de trânsito; estruturar um sistema de gestão e controle
ambiental do município; projeto Vamos Salvar o Rio Jacuípe; guarda municipal.
Mesmo com um bom programa de governo, algo novo ocorreu para a política
local: no entanto, a sua colocação pode ser justificada em decorrência de uma frágil
infraestrutura político-partidária, com seus candidatos a vereador votando em outra
aliança, além do isolamento político a que ficou submetida. Talvez, tenha também
contribuído a sua opção pelo PSDB, dificultando alianças com partidos mais críticos da
realidade brasileira, como o PT, o PSOL ou outros. Todavia, este aspecto de estar
vinculado ao partido que se opõem às políticas do Governo Lula, como as bolsas do
Governo Federal, não foi explorado na campanha. Mesmo que o PTB seja da base do
Governo Lula, aqui, ele esteve na aliança com o PPS e PSDB, partidos que têm mantido
uma oposição sistemática àquele governo. Contraditoriamente, o discurso de campanha
da candidata na campanha anterior e nesta tem sido o que mais se aproxima das
formulações de políticas públicas encetadas pelo atual governo federal, e,
merecidamente, pode se apresentar como a liderança capaz de enfrentar a política
tradicional dos dois outros candidatos.
362
Luciana Luna, entretanto, mantém-se como uma incógnita na política
leopoldinense. Ela arrasta consigo uma prática de governo que foi muito aceita pela
população - o governo de Severiano. Desenvolve um discurso voltado às mudanças
necessárias propaladas por partidos de centro esquerda e esquerda brasileiros. Por outro
lado, realiza alianças partidárias com aqueles que mais combatem as políticas de
tentativas de avanços na política nacional quanto à participação das pessoas na vida da
cidade, além de se filiar ao PSDB. Aliás, ela mesma nunca atuou em campanha para o
atual Presidente Lula, tendo assumido as lutas de seus opositores, diferentemente do
atual prefeito Manuilson. Deverá, porém, superar esse dilema político em futuros
embates se ainda desejar continuar numa linha mais progressista do fazer política –
progressista para as políticas de Colônia, mas conservadora nas opções da política geral.
Duas grandes incógnitas, além disso, são os eleitos Cássio e o seu vice Meilton
Luna. Ambos são jovens em idade e na política e, portanto, com desejos que, no
momento, não podem ser analisados. Com o tempo, eles irão se manifestar quando no
comando da prefeitura. Estão vinculados a Manuilson, mas só o tempo se encarregará
de mostrar que tipo de fidelidade foi assumido por esses atores.
Há análises sobre as eleições que apresentam outros elementos nada ouvidos nas
maiorias das conversas sobre as eleições locais, como por exemplo:
O voto familiar não existe mais em Colônia. Os filhos não votam mais
aonde desejam os pais. Esta é uma mudança significativa, a quebra desse
mando familiar tem raízes feudais e que continua, ainda, no Sertão. Isto
terá reflexo no futuro da cidade.
Os estudantes, hoje, não estão mais presos às famílias, sendo importante
para a ação política e para a majoritária futura.
O povo ainda não despertou para uma política com propostas. O povo
ainda está votando na mera emoção, para onde vai a sua emoção. O voto
foi definido mais nas brigas, na agressão e não em torno de propostas. Se
bem que isto não é uma questão apenas de Colônia. Isto mostra a
importância da POLITIZAÇÃO DO NOSSO POVO.
Luciana deu um salto nessa perspectiva.
Os eleitores não são, contudo, inocentes. Eles vêm votar e vêm fazer um
negócio naquele dia da votação. Eles, assim, não votam por aqueles que
fizeram algum trabalho. Talvez, até conte um pouco, mas eles votam por
363
outras razões. Nesta eleição, o eleitor votou por dinheiro. Ambos
candidatos gastaram muito dinheiro.
Um outro aspecto que pouco vem sendo levando em conta é que a zona
rural ainda define as eleições em Colônia (José Luciano Pereira).
As afirmações acima não podem ter um valor absoluto em relação ao voto, pois
há visões que apontam para outras perspectivas, como a seguinte: “Vejo três
comportamentos políticos em Colônia: uma minoria com consciência política; uma
outra parte que é a turma do tanto faz (vota em quem vai ganhar); e uma terceira é o
´interesseiro` que vota em quem der mais. Ao meu ver, esta é uma maioria” (Severino
Rocha).
De uma maneira geral, a eleição em Colônia segue a marca geral da política
nacional que é a ausência de uma tática política clara para os eleitores, apresentada
pelas coligações ou alianças. Os militantes partidários são os que mais têm a
responsabilidade pela ação coerente na política, no entanto, são eles mesmos que mais
desmotivam a escolha do eleitorado nas propostas dos partidos. Essa ausência da tática
política talvez tenha sido responsável, em Colônia e nas demais cidades do país, pela
pouca visibilidade de eleitos de alguns partidos, sobretudo, aqueles do campo da
esquerda. O PSOL, em especial, mostrou-se com baixíssima votação, com votos para
duas vagas para vereadores em Alagoas, mesmo tendo sido a terceira força política na
campanha para presidente. Já o PSTU não elegeu vereadores no País, e o próprio PCB
retrocedeu, perdendo seus importantes mandatos.
Em Colônia, de forma semelhante, sem candidatos ao executivo pelo campo da
esquerda, não foi possível a apresentação de críticas, entendida como o delineamento de
aspectos positivos e negativos de qualquer algo, de forma contundente ao governo
nacional e ao governo local. O PT fez a sua aliança com o prefeito Manuilson (PDT),
partido da base de sustentação do governo Lula. Com tal ótica ideológica, poderia
também ter feito aliança com o PSB, o usineiro. O próprio PSOL desarmou a sua
militância que, sem proposta eleitoral, liberou a sua militância a optar segundo os seus
próprios desígnios. Aqui, PT e PSOL passam a dever formulações táticas para a política
da cidade.
364
Ruas em região periférica da cidade
No entanto, parece ainda haver esperanças como a posição que segue:
“Precisamos despertar na população o interesse de cobrar, de ser CIDADÃO. Nós
precisamos ver formas de como cobrar, como CIDADÃO” (Arnaldo Sobreira).
As forças em embate no município são as que se formaram em torno do Prefeito,
algo constatável em todo momento político e presente na política estadual e municipal,
tendo em vista o desejo de continuidade dos que estão no governo. Há um segundo
conjunto de forças que veio se formando em torno do usineiro da Usina Taquara, que
antes tinha apoiado o seu sobrinho, o atual prefeito Manuilson, mas agora estão em
campos políticos opostos. Este fato não é novo em Colônia, lembrando que a Usina
Taquara sempre teve participação direta na política municipal, desde a década de 60,
com a participação do usineiro José Lessa que foi prefeito por dois mandatos. Há uma
terceira composição de forças políticas fruto de processos anteriores, de sua simpatia e
de sua “luz” própria que é Luciana. Lançou-se pela segunda vez à direção do executivo
municipal, sendo, em ambas as tentativas, derrotada pelo grupo da usina, mesmo com
365
significativa expressão eleitoral. Acompanhando essas três vertentes, distribuem-se
alguns pequenos grupos satélites em busca de algo para poderem se manter. Procuram
as benesses do executivo, como a troca de favores e a venda de votos até por
vereadores/as, quando do exercício de seus mandatos, nos momentos de aprovações de
matérias de interesse do executivo, segundo comenta-se na cidade.
O teatro das eleições de Colônia acontece em três ambientes físicos: a área rural,
a periferia da cidade (ambientes como Vila Nova, Mangueira, Mandacaru e outras) e as
ruas mais antigas. Em cada espaço físico, desenvolveram-se ações eleitorais
diferenciadas. Os comícios são no centro da cidade, na área do mercado da farinha, on
de também acontecem as festas dançantes popularizadas. Para esse lugar, convida-se a
população para a audiência de comunicados para apresentações de quaisquer natureza e,
sobretudo, para as aguardadas denúncias de ilícitas práticas políticas, desmandos,
impropérios e acusações muito conhecidos pela população, mas de pouca condição de
serem comprovados. A temática das denúncias atende boa parte do imaginário do povo.
Nas ruas mais antigas da cidade, a tática eleitoral incentiva as visitas corpo-a-
corpo nas casas dos eleitores, constituindo-se como um momento de uma rápida
conversa do candidato com o eleitor. Normalmente, o candidato está acompanhado de
muita gente, evitando os dissabores dos pedidos de eleitores. Uma prática que tem forte
apelo positivo da população.
Nas áreas periféricas, o convencimento do eleitor se faz em outras bases,
definindo-se muito cedo a sua opção, apelando-se para a colocação de bandeiras do
candidato nas casas.
Esse consentimento, segundo conversas em geral na cidade, indica acertos financeiros
ou de outra natureza.
Os comícios são extensos e, comumente, terminam após a meia noite, o que é
um massacre às pessoas que foram conduzidas da área rural para a sua assistência. Não
se tem controle de horário de cada candidato ou uma mínima definição para as temáticas
que vão sendo abordadas. Não se respeita o meio ambiente, reforçando a poluição
sonora. A técnica da repetição de refrões é muita utilizada. Cada um diz o que quer e no
tempo que deseja, expondo-se coisas do arco da velha. Depois, fica a tarefa de
recondução daqueles moradores de sítios ou engenhos, assumida pelos cabos eleitorais e
militantes políticos das facções partidárias.
Uma outra característica de todo o processo eleitoral é a inequívoca
desorganização de campanha por parte de todos os grupos, mesmo que se gaste muito
366
dinheiro. A estruturação de campanha passa por doações de combustível a motos e
automóveis, para assegurar o volume e o alarido aos comícios e às passeatas.
Ainda, considerando todo o processo, pode-se afirmar que a segunda grande
marca eleitoral neste município, espelho do país, é que foram eleições marcadas por
denúncias. Denúncias não por parte de entidades representativas da sociedade civil
(igrejas, sindicatos, grupos outros quaisquer) que permaneceram mudas durante todo o
tempo eleitoral, como se fossem neutras. Em Colônia, houve reclamos permanentes por
parte de todas as candidaturas no que se refere ao esbanjamento financeiro com vários
tipos de ilícitos eleitorais, principalmente, a compra de votos, enfatizada nos dias que
antecedem o domingo da eleição e no próprio dia. Ouve-se de alguns cabos eleitorais e
participantes da organização de campanhas que a derrota da candidatura do Zé Maria foi
devido a não liberação de mais dinheiro naquele domingo. Por outro lado, militantes da
candidatura do 12 afirmaram que o pouco dinheiro do atual prefeito foi o responsável
pela vitória diminuta de apenas 28 votos. Este grupo esperava diferenças de até um
milhar de votos.
Mas, esta não foi uma marca apenas de Colônia. No Estado da Paraíba, alguns
juízes e promotores chegaram a tomar decisões polêmicas, do ponto de vista
constitucional, para tentar impedir a ação de “marcadores de votos”. Em alguns
municípios, os seus moradores foram proibidos de saírem às ruas durante à noite, nos
dias que antecederam o dia da eleição “para não serem seduzidos com ofertas tentadoras
de transação de compra de votos” (Jornal O Norte, 19/10/08, p. A5). É interessante que:
Cerca de 100 pessoas admitiram que não receberam o pagamento do
dinheiro dos votos dados a um candidato a vereador. Eles chegaram a
fazer protesto em via pública e alguns já foram ouvidos pelo promotor
Amadeus Lopes Pereira, da 64ª. Zona Eleitoral (idem, ibidem).
Mais recentemente, nas eleições de segundo turno em Campina Grande, a
segunda mais importante cidade do Estado, o prefeito reconduzido, Veneziano,
declarou:
Em 2004, eu fiz referência sobre as desigualdades materiais, logísticas,
mas neste ano elas tiveram peroração, dimensões e potencialização ainda
maiores, conforme nós assistimos nesses últimos 100 dias de disputa, de
367
refrega eleitoral. Nunca tínhamos visto isso antes. O derramamento de
dinheiro para se tentar arrematar, tomar das mãos dos cidadãos
campinenses, um poder que não é meu, que não é do José, que não é o do
homem em si, mas é o poder de uma instituição maior, que é o povo
campinense decidir sobre a escolha de seu governante (Correio da
Paraíba, 28/10/08, p. 3).
São denúncias que espelham o nível da campanha, em que o atual Governador
Cunha Lima, cassado por duas vezes e ainda exercendo o mandato, transferiu a
Administração do governo estadual para Campina Grande, e, licenciado, atuou
diretamente na organização e ação político-eleitoral de seu candidato.
Como se vê, denúncias de esbanjamento financeiro não faltam em todo o país.
Diferentemente de outros momentos, o poder judiciário começa a despertar para uma
efetiva participação em todo o processo e autuando, nas condições que lhes são postas,
aqueles desmandos mais horripilantes, tornando-se um agente importante nessas
eleições.
5 O PODER JUDICIÁRIO - uma quarta força
Este foi um novo componente das eleições deste ano na cidade de Colônia
Leopoldina. Também em todo o país, este poder tentou aplicar a lei naquilo que lhes foi
mais explícito. Para o Presidente do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) da Paraíba, por
exemplo, o desembargador Nilo Ramalho, “a campanha de combate à corrupção
eleitoral foi satisfatória...” (Jornal O Norte, 19/10/08, p. A5). Ele também considera que
este problema é uma questão nacional e que os tribunais nos Estados muito trabalharam
na direção de impedimento de ilícitos. Para ele: “... sempre foi e ainda é uma praxe na
política brasileira a prática de ilícitos eleitorais, como a compra de votos envolvendo
eleitores, cabos eleitorais e candidatos” (idem, ibidem). Como se vê, isto também é do
conhecimento do setor da sociedade responsável pela aplicação da lei. Ainda, para ele:
“A justiça eleitoral está dando, hoje, mais oportunidade para as pessoas denunciarem.
Antes, isso não acontecia. Tudo ia para debaixo do tapete” (idem, ibidem).
Ficou evidente, também em Colônia, a ação do judiciário. Este poder tem uma
imagem de que sempre beneficia os mais ricos. Porém, as decisões tomadas no dia da
368
eleição muito contribuíram para a redução desse tipo de compreensão, combatendo a
corrupção. Vários foram os cabos eleitorais detidos na nova quadra de esporte, sendo
uma boa parte com prisão em flagrante. O judiciário decidiu, logo cedo, pela prisão
domiciliar dos candidatos principais Zé Maria e Manuilson que, com certeza, concorreu
para uma maior tranquilidade à eleição.
As ações desse poder foram sentidas em todo o país. Em Colônia, há rumores de
que processos estão correndo no judiciário com questionamentos dos resultados, devido
à corrupção eleitoral. Na Paraíba, em João Pessoa, foi preso e só agora liberado, vinte
dias após as eleições, por força de “habeas corpus”, o “votinho de ouro”, conhecido
comprador e organizador de grupos de eleitores. Já o prefeito eleito da cidade de
Itapororoca, também na Paraíba, está impedido de tomar posse por problemas
anteriores, assumindo o segundo colocado. Em Pernambuco, o prefeito de Lagoa
Grande, Jorge Roberto, teve negado seu registro de candidatura e não poderá assumir o
cargo. O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) poderá realizar uma nova eleição. Em todo
país, aumentam os pedidos do judiciário para que a Receita Federal investigue a
situação de doadores de campanhas nas eleições deste ano, procurando saber a respeito
da condição de doador e os valores destinados aos candidatos e às coligações. Assim, o
judiciário contribuiu como um forte aliado da sociedade para que se estabeleçam
Eleições Limpas, em Colônia e em todo o País, tornando-se um importante ator,
doravante, já nestas eleições e, espera-se, naquelas que ainda estão por vir.
6 DESSA SELVA ...
369
Flores de sonhos e utopias
Agora, o quadro político exposto precisa ser complementado por todos e todas
que assim o desejarem. Ressalte-se que este é um texto inicial para discussão, mas que
já cabe o desafio: O QUE FAZER?
Parece que aos que não lograram êxito nestas eleições; aos que investiram para
que outro tipo de política se desenvolvesse no município e pouco conseguiram; aos
trabalhadores rurais sempre sofridos na produção sem apoio, praticamente; aos
pequenos proprietários que não são reconhecidos em seu trabalho na pequena produção;
aos profissionais que veem com clareza a redução da dimensão da Política na cidade;
aos que vivem na área rural mas não veem os seus desejos contemplados nas políticas
públicas do seu município; aos que residem em periferias e tanto são maltratados,
durante toda a sua vida, sendo visíveis tão somente em momentos eleitorais; aos que
atuam em setores religiosos e veem a ausência de valores nas pessoas e nos políticos, ou
mesmo, a exploração de suas divindades; aos que atuam partidariamente, mas que
mesmo assim não têm vez nem voz; aos que atuam no comércio e, mais das vezes, estão
subjugados aos desejos menores de prefeitos ou empresários inescrupulosos, enfim, aos
370
que se sentem oprimidos em seu viver, restam os desafios de como tomar para si a
condição de cidadania. O cidadão, como aquele, com possibilidades de contribuir para
um melhor jeito de viver, em seu local e em sua cidade, sobretudo, diante do silêncio
geral das entidades civis do lugar. Todos sabem que silenciar é uma opção política.
Desse modo, alguns aspectos saltam aos olhos, como por exemplo: a luta é para
que todos possam exercer a sua cidadania em todas as suas dimensões. Para isto,
parece urgente a compreensão da necessidade de exercícios de autonomia das pessoas.
Este tem sido um dos valores mais vilipendiados no município com a falta de respeito
ao outro, quando declaradamente se promovem agressões, em suas mais variadas
formas, tanto em tempos de eleições como no dia-a-dia. Para isto, pode ser sugerido o
que segue:
a) ser cidadão como sendo uma conquista de todos os momentos e não apenas em
tempos de eleição;
b) ser cidadão de forma crítica e ativa, isto é, pensando o mundo e pensando-o em
mudanças;
c) realizar ações de cidadania de forma permanente, por meio de discussões de
questões da cidade e da vida;
d) criar um grupo, um movimento pela cidadania em Colônia, sem qualquer tipo
de restrição partidária ou religiosa, para discutir, elaborar e realizar ações
permanentes nessa perspectiva.
Em síntese, uma caminhada para a cidadania, com organização de ações que
possam promover a participação de todos e todas na vida da cidade, na vida de Colônia.
Seja como for, é necessária e possível a manutenção de sonhos, da esperança e das
utopias de mudanças, na perspectiva de que dessa floresta de dificuldades, possam ainda
nascer flores.
371
7 REFERÊNCIAS
1. ANOTAÇÕES em caderno de campo de conversas com eleitores. Colônia
Leopoldina, Alagoas. Colônia Leopoldina (AL): 2008.
2. DALARI, Dalmo de Abreu. Comissão Nacional de Direitos Humanos. 50 anos
da Declaração dos Direitos Humanos: conquistas e desafios. Brasília: OAB,
Conselho Federal, 1998, p. 115.
3. Jornal Correio da Paraíba. João Pessoa, Paraíba. 2008.
4. Jornal O Norte. João Pessoa, Paraíba. 2008.
5. Jornal Folha de São Paulo. São Paulo, São Paulo. 2008.
6. Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Brasília, Distrito Federal. 2008.
372
TEXTO 7
MANIFESTO DO MOVIMENTO COLÔNIA E CIDADANIA52
- MCC –
O MOVIMENTO COLÔNIA E CIDADANIA (MCC) encampa a necessidade
política mais urgente, nos dias de hoje, que é a condição de ser cidadão. Cidadania
entendida como expressão da possibilidade do indivíduo externar e viver de forma
crítica e ativa a sua liberdade - condição humana de poder agir, sem qualquer tipo de
constrangimento. Cidadão como uma pessoa em possibilidade de realização de seus
direitos e deveres para com a sua cidade, o seu povo, o seu país e para com o mundo.
Ser cidadão com direitos humanos.
Este movimento pela cidadania entende que o não ter escola, saúde, emprego e
alimentação; o não poder viver a vida político-partidária; o não respeitar as mulheres em
suas especificidades de gênero; o não respeitar as várias expressões religiosas, as
expressões de sexualidade e o meio ambiente, enfim, qualquer atitude geradora de
opressão... são todas situações para a não cidadania. Todas estas circunstâncias
subtraem do humano sua condição de ser gente, sua liberdade e autonomia, reduzindo,
assim, a condição de vida de cada um.
Este MOVIMENTO COLÔNIA E CIDADANIA não tem cor partidária ou
religiosa e lutará para que todos e todas, nesta cidade e no mundo, possam tornar
possível o sonho de serem cidadãos e de viverem felizes.
Colônia Leopoldina, Alagoas, 19 de outubro de 2008.
A TERRA DOS NOSSOS ANTEPASSADOS INDÍGENAS E NEGROS.
Assinam este manifesto:
01. Aluisio Bezerra Filho - técnico agrícola
02. Aluisio Timóteo de Sousa Neto - trabalhador do comércio
03. Arnaldo Sérgio Sobreira - professor e dirigente sindical
52
Este texto é o primeiro a ser apresentado à cidade, marcando a criação desse agrupamento político.
373
04. Bonifácio Alves Silva Neto - professor
05. Edvaldo Rodrigues de Moraes - comerciante
06. Gilberto Timóteo de Sousa - comerciante
07. João Batista Magalhães Sales - monge católico
08. José Alves de Sousa - monge católico
09. José Antonio Timóteo de Sousa - agricultor
10. José Francisco de Melo Neto - professor universitário
11. José Geovan de Oliveira - monge católico
12. José Luciano Pereira da Silva - estudante universitário
13. José Ronaldo Timóteo de Sousa - agricultor
14. Júlio Morais Luna - comerciante
15. Maurício Pereira de Sousa - aposentado
16. Silvânio dos Santos - professor
17. Severino Rocha - comerciante
18. Wanderléia Bezerra da Silva - estudante secundarista
374
TEXTO 8
ATA 1
ATA DE REUNIÃO DO MOVIMENTO COLÔNIA E CIDADANIA
PAUTA: - comentários sobre a conjuntura;
- encaminhamentos
Presentes: Vavá do posto, Zé de Melo Neto, Silvanio, Maurício, Ivanilda, Neto
Trompete, Prof. Silvio, Luciano, Wanderleia, Antonio e Aloísio.
PRIMEIRO ITEM – conjuntura local.
1. Há um contentamento descontente, hoje, em Colônia (neto);
2. Há também mudanças no sentido de que a maioria anda meio bestializada,
sobretudo, os mais esclarecidos, pois estão comprometidos com o poder local
(Silvio);
3. Colônia está nesta mesma linha. As coisas acontecem e muita gente fica
descontente, mas não reclama. Temos discutido a administração e, no mês
passado, discutimos por meio de uma audiência pública. Discutimos bastante,
sendo feito um abaixo assinado com mais de 600 pessoas. O pessoal estava
descontente, sobretudo, com saúde e a educação.
O governo mostra que vai mudar mas nada acontece. Na próxima quarta-feira,
teremos nova audiência pública sobre a Ceal, a Casal e a TIM, a respeito dos
problemas dessas empresas aqui no município.
Há muitas pessoas que se ligam ao poder, pois o poder está ausente, moram em
Maceió. Mesmo dessa forma, o governo vai indo.
O São João que era para as enchentes, ninguém sabe para onde foi o dinheiro.
Os prédios históricos estão se acabando. Eles (prefeitos) não são daqui e não se
incomodam com isto. Exemplo são as castanholas que estão morrendo.
(Maurício)
375
Mas as coisas não estão assim porque eles são forasteiros. Isto é algo mais
profundo. Há prefeitos que foram daqui e o povo ficou à margem.
Sobre as enchentes, é desejar demais que o povo de colônia sofresse a mesma
catástrofe. A divulgação mentirosa de que Colônia estava nessa mesma situação
não é aceitável. Aqui, sempre teve pessoas necessitadas. Hoje, há cestas básicas
demais, pois aqui não tem um número tão grande de desabrigados. Talvez seja
essa a enganação. Talvez sejam cestas para a eleição.
A falta de compromisso é muito grande, muito grande. As coisas só vão andar se
houver um grupo que ative a população, a exemplo de junho, quando
movimentou-se a cidade para reivindicações. (Silvânio)
4. A política de Colônia continua conforme a análise já apresentada. Vereadores
dizem que vão trabalhar, mas se rendem aos outros que não topam trabalhar.
Vários estão correndo apenas para melhorar o seu emprego. Quem se dispuser a
ser oposição, até poderá ser, mas hoje não temos, praticamente, oposição.
Exemplo, Novo Lino é diferente, pois a oposição já foi vitoriosa várias vezes.
Aqui, está se passando a ideia de que não é possível qualquer tipo de mudança.
(Antonio)
5. Não temos um único vereador que se comprometa com os trabalhadores. Fala-se
uma vez uma certa necessidade, mas é muito rápido. Até mesmo o regimento da
câmara é arcaico e não há como o povo se expressar na Câmara. Isto deve estar
beneficiando alguém. O dr. Ernande dá aula de conhecimento mas não tem
comprometimento e não é combativo. Todos balançam a cabeça. Uns estão
comprometidos ou com um prefeito ou com outro. E assim vai. Eu mesmo, para
tomar vacina foi uma luta. Tive que ir ao ministério público. (Maurício)
6. Os alimentos para as enchentes é parte de uma política do estado e as assinaturas
é para comprovar que receberam. Mas na política, os grupos se mexem: o Zé
Maria se mexe e o de manuilson, também. Quem está no poder está perdendo
base e busca suas articulações. Exemplo, a vinda de Ricardo ao grupo de
manuilson é um exemplo. Se quisermos o poder, temos de pressionar, também.
Colônia pode ter uma terceira via, considerando uma possível divisão de
manuilson com o vice. Este, inicialmente, não queria nada e foi o que primeiro
lançou candidatos. Marinho é o vereador que mais cresce pois tem coragem de
romper, ele balança a cabeça para Manuilson mas de forma diferente. Portanto,
todos estão se mexendo.
376
Eu participo de um time de minoria. Talvez, sejamos divisor de água, no futuro.
Uma terceira via pode aparecer, mas não seria construída por esse grupo.
Assim, poderemos ter uma administração no futuro. O dia 5 será um marco na
política. E nunca esquecer que mesmo os governos de esquerda funcionam sob
pressão, também. (Luciano )
7. Foi colocado que Colônia estava igual aos outros municípios. Ora, foi feito um
monte de mentira e isto só para se ganhar cestas básicas. A distribuição vem
sendo entregue a qualquer pessoa. É um problema meramente político eleitoral
(Maurício).
8. A questão partidária passa entre eles. Não somos, ainda, um grupo para sermos
chamados à discussão. Há uma briga de faixada. O grupo vai se manter. A
panela ali vai se manter. Quem tem de puxar as marchas são as pessoas. A opção
será A ou B. isto aqui ficou igual a Ibateguara. Só com dois grupos. Não há
possibilidade de mudanças com esse povo, os dois grupos. (Silvanio)
9. É isto o que acontece, mesmo. Eu vivo mais em casa. A cidade está parada. Não
temos uma indústria de fazer pipoca, linguiça, etc. Só há a Prefeitura e a Usina.
As informações vão de lá para cá e de cá para lá. Os vereadores, 80% são venais.
O povo tem uma certa culpa pois precisa, segundo eles mesmos, estar ao lado ao
poder.
A cesta básica é enrolação. Muita gente ganha cesta básica mas não precisa.
Eu vejo colônia entregue às baratas. Sem dono. Exemplo: um ônibus estacionou
de porta aberta e até hoje, durante 3 dias, no meio da rua, e ninguém faz nada.
O povo fica disputando os dois poderes. Não há outras fontes de renda. O
secretário de saúde diz que tem tudo, mas isto é falso. Só funcionam para os tais
de “pega bala” – babão. É isto. (Vavá)
10. A situação está clara. Os fatos estão aí. O que acontece é o que acabou-se de
relatar. O que vejo: dois grupos fechados. Não há brechas, desde que o grupo se
organize. Não temos espaço. Movimentos populares e sociais não têm espaços e
eles não abrem. (Ivanilda)
11. Só o povo pode achar uma saída para tudo isto (neto).
12. Mas a consciência não é que resolve e somente a realidade mesma. Não tem
como se despertar uma consciência se esse povo está preso nesse material –
prefeitura e indústria. Não tem como escapar disto. Nós somos idealistas. Essa
construção é difícil.(Silvio)
377
13. A consciência é a necessidade. Muitos dizem ter consciência, mas não é algo que
está lá dentro. Os que sofrem mais, parece, não quererem saber de nada. A
necessidade é a organização das pessoas. É a necessidade de ter mais, ter mais,
que é dominante. (Silvânio)
14. Lembrar que: a) todo mundo tem consciência das coisas que faz (inclusive quem
vende ou compra votos); b) todo mundo tem interesses (nós aqui temos os
nossos interesses). Eles têm interesse de se utilizarem da cidade para si e nós
outros interessamos por uma cidade para todos.
ENCAMINHAMENTOS:
01. acompanhar as audiências públicas (dia 14, 9 horas ) (a discussão do lixão está
em pauta);
02. organizar o texto com as propostas apresentadas à cidade, que se tem registro;
03. retomar os cursos internos de educação política e de palestras gerais para a
cidade;
04. Lembrar aos pequenos agricultores para venda de sua produção por meio do
programa da Agricultura Familiar.
Colônia Leopoldina, 08 de julho de 2010.
378
TEXTO 9
ATA 2
ATA DE REUNIÃO
MOVIMENTO COLÔNIA E CIDADANIA
Tivemos hoje mais um momento para o exercício da reflexão do campo político
local (leopoldinense) através de seus objetos e eventos pertinentes. A reunião do MCC
deste dia contou com a presença e contribuição do professor de Ciências Neto, do
comerciante Sr. Vavá, do autônomo Nildo, do religioso Valdo e dos agricultores Aluísio
e seu pai, o Sr. Antônio, além de minha pessoa. O desenvolvimento da reunião se fez de
forma espontânea, isto é, sem qualquer programação a priori com o objeto de
sistematizar ou mesmo hierarquizar tempo e discursos. Contudo, foi nesse momento de
espontaneidade que se percebeu uma maior relação com alguma programação política
posterior ao ato do encontro, revelando que o verbete do senso-comum de que “a
qualidade as vezes é melhor do que a quantidade”se apresenta com lógica em momentos
distintos, ou seja, na própria relação axiológica entre a qualidade e a quantidade.
Durante o desdobramento da reunião fui tomando notas a partir dos discursos dos
participantes, procurando destacar os principais pontos discursivos de cada um. Nesse
sentido, a partir dessas anotações prosseguirei com a atividade de registrar os
andamentos do MCC. Cabe ressaltar três coisas nesses momentos: 1) os textos
relacionados aos encontros do MCC pertencem ao próprio grupo; 2) eles são produtos
de percepções subjetivas, isto é, são objetos da forma como signifiquei os discursos
pessoais; 3) como produtos subjetivos, talvez os mesmos não correspondam às
intenções autênticas dos membros. Como já afirmado em outros momentos, não há
qualquer preocupação – pelo menos no momento – de construir uma analítica dos
discursos do MCC a partir dos instrumentos acadêmicos, mas tão-somente registrá-los,
o que não obstrui uma posterior análise mais detalhada e refletida dos próprios discursos
dos membros do MCC. Passemos agora ao quadro sinótico dos discursos construídos e
proferidos na reunião:
379
a) Infidelidade partidária – o professor Neto, pré-candidato ao cargo de
legislador para o pleito de 2012, filiado ao PT local, colocou em debate o
fato de que, segundo informações de sítios eletrônicos alagoanos, haveria
uma grande possibilidade do PDT em Alagoas solicitar as autoridades
competentes na matéria a perda de mandato político do prefeito Cássio
Alexandre e dos vereadores Vitalino e Hernane Santana, por infidelidade
partidária. Acredito que essa informação divulgada na rede de computadores
apresenta lógica pelo fato de que, o presidente do PDT em Alagoas é o ex-
governador Ronaldo Lessa, que perdeu na disputa eleitoral desse ano para o
atual governador Teotônio Vilela Filho. Inclusive, na última vez que
Ronaldo Lessa esteve em Colônia, dois dias das eleições do 2º turno, iniciou
seu discurso afirmando que alguns políticos locais eram traidores, referindo-
se, principalmente, ao prefeito Cássio, que fez campanha para Teotônio
Vilela;
b) Possível investigação judicial sob o vereador João Matuto – ainda de acordo
com o professor Neto, o MPE (Ministério Público Estadual) irá investigar o
vereador João Matuto pelo fato de não declaração da verba de gabinete. Para
título de esclarecimento, a verba de gabinete deve ser utilizada para despesas
de custeio de capacitações, viagens e outros serviços, ambos devendo-se
estar relacionados ao cargo legislativo. Acredito que o MCC poderia
trabalhar nessa matéria através de solicitação dos gastos da verba de gabinete
dos vereados de Colônia Leopoldina, fazendo com que a transparência
exigida em Lei se torne clara e objetiva;
c) O descaso político significado pelo corpo – o religioso Valdo, que participa
do Conselho Municipal da Saúde, junto com o também religioso João Batista
(Catita) patenteou ao grupo o fato de perceber o descaso dos vereadores de
Colônia Leopoldina através da forma corporal com que eles participam das
reuniões públicas da Câmara. Ou seja, os vereadores ficam despojados de
qualquer gestualidade ética com o espaço onde são (ou deveriam ser)
debatidos os andamentos políticos. O escamoteamento por parte da Câmara
de Vereadores de Colônia em relação a sua função pública ficou evidente
para o próprio Valdo no momento em que ele presenciou uma cena em que,
em plena seção da Câmara, a vereadora “Gal Fest” disse “[...] o que fizerem
aí eu assino”. Para ele, fica evidente também o fato de que os grandes
380
manipuladores da Câmara são os vereadores “Marinho” e “Hernane”. Talvez
isto se deva ao grau de escolaridade dos dois, que em relação aos demais,
ultrapassa a média. Dessa maneira, eles possuem maior capacidade sofista
em seu aspecto negativo;
d) Manipulação tecnológica com fins políticos – o professor Neto explanou um
dado relevante sobre os últimos acontecimentos políticos locais. Ele disse
que nos dias 24 e 25 deste mês, o sinal de TV (para aqueles que não possuem
antena parabólica) foi retirado intencionalmente pelo Prefeito Cássio
Alexandre na tentativa de não tornar pública as entrevistas do Promotor de
Justiça, o Sr. Jorge Bezerra. Este declarou que a manifestação da terça-feira
(23) foi pensada por terceiros, talvez alguém relacionado ao poder executivo
municipal. Segundo Neto, o Promotor Público disse que pediu – após
recolher os cartazes e encaminhar duas mulheres que supostamente lideram a
manifestação – para os possíveis líderes do movimento para soletrar o que
estava escrito nos cartazes, principalmente o cartaz que dizia: “FORA
PROMOTOR”. Como não soletraram, deduziu o magistrado que foi
possivelmente uma manobra política do executivo ou de alguém que estará
correlacionado diretamente com o grupo político dominante;
e) A natureza política do problema dos aluguéis – o Sr. Antônio, em seu
discurso, considerou a relação estreita entre a política assistencialista
praticada no município e o problema dos aluguéis, pois se o governo atual –
que está no poder há 10 anos – tivesse construído casas populares não
ocorreria eventos como os acontecidos nesta última semana. Desse modo, o
pagamento dos aluguéis é instrumento assistencial político, ou seja, possui
fins de conservação do poder;
f) Apoio ao Promotor – o Sr. Antônio ainda apresentou a proposta de que o
MCC deveria oferecer apoio ao MP na tentativa de desfazer o plano do
Prefeito em apresentar o Promotor Público como o carrasco do momento
político municipal. Ou seja, mostrar à população que o Promotor proibiu não
apenas o pagamento dos 201 aluguéis, mas de todos os serviços que não
tinha processo de licitação, a partir de improbidade administrativa. Não era
ele que estava proibindo, mas a Lei;
g) Política e comércio: problema – o Sr. Vavá, no atributo de suas palavras,
tratou de um problema de sua área de trabalho, o comércio. Considera o Sr.
381
Vavá que o comércio leopoldinense está invadido por comerciantes
pernambucanos, o que prejudica o município. O prejuízo está no fato de que
o “dinheiro que deveria ficar aqui está indo parar em cidades do estado de
Pernambuco”. Isto afeta o comércio e seu crescimento através de novos
trabalhos que poderiam ser efetivados. Assim, o Sr. Vavá condena a
inexistência de políticas alfandegárias para fazer com que parte desse
dinheiro fique na cidade, por meio de capital flutuante. Acredito que, de
modo inconsciente, o Sr. Vavá é contrário às mãos invisíveis que regulam as
atividades econômicas conforme Adam Smith, permanentes no
neoliberalismo econômico;
h) Um Possível Neomessianismo – no uso de minhas palavras, inicialmente
comentei com o grupo uma das possíveis abordagens acerca da configuração
política relacionada às eleições de 2012. Assim, é fato o reconhecimento de
que, antes da decisão judicial (e mesmo depois) que proibiu a candidatura da
Sra. Lala, nas eleições de 2008, houve uma estreita relação entre política e
religião em nossa cidade. Dessa maneira, relembrando eventos históricos da
política brasileira, naquele momento classifiquei essa relação como sendo
uma neomessianismo. Isto é, sempre houve uma ligação entre o ente religião
e o ente política em nossa história, sendo as mais conhecidas “Canudos” e
“Contestado”, que, apesar de seus discursos diacrônicos sobre uma ligação
com a política, apresentava bases ideológicas tipicamente qualificáveis como
políticas. Assim, a partir do momento em que Antônio Conselheiro afirmou
ser a separação da religião católica do Estado brasileiro algo prejudicial, fica
evidente sua preocupação em manter o velho estado de coisas a partir da
ligação entre catolicismo e império através do Padroado. Todavia, essa
característica tão presente em nossa história desde épocas coloniais (só
lembrando que a colônia brasileira é tomada como propriedade física pelo
Estado lusitano e como propriedade espiritual pela Companhia de Jesus)
parece que de tempos em tempos se apresenta com alta vivacidade, como o
caso da candidata Lala. Ou seja, na época (e ainda se escutam ecos desse
momento) ela teve amplo apoio das pessoas que se declaram possuidoras de
algum credo religioso, principalmente entre católicos e os evangélicos.
Inclusive, em sua campanha, como símbolo de marketing político, foi
amplamente utilizada uma das mais influentes músicas evangélicas na época
382
(a qual não relembro o autor da mesma). Em síntese, este neomessianismo,
neo no sentido de “novo”, pois carrega em si matizes ideológico-religiosas
diferentes – conceito sem qualquer aprofundamento mais amplo – parece
ainda ter capacidade de influenciar os andamentos das futuras eleições em
nossa cidade, caso a Srª Lala se apresente como candidata.
i) Educação política – outro aspecto que considerei no encontro foi relacionado
à Educação Política. Educação Política no sentido de sistematização
epistêmica da Ciência Política sem qualquer ligação com idiossincrasias
partidárias. Em outros termos, seria interessante o MCC organizar encontros
periódicos acerca de uma organização política educacional para a
comunidade no tocante à apresentação dos principais conceitos (filosóficos,
sociológicos, antropológicos e jurídicos) numa perspectiva autônoma de
partidarismo. Seria um reviver de momentos sublimes da formação política
de muitas pessoas de nossa cidade, quando o PT local se apresentava isento
de qualquer participação do poder, ou seja, quando era oposição em nossa
cidade. Esses encontros eram embasados no marxismo, apesar dos principais
representantes do partido na cidade não demonstrarem domínio da teoria
(essa parte ficava a cargo de São). Assim colocada, considerei que uma
possível organização em torno de uma Educação Política seria produtiva no
sentido de apresentar os principais conceitos para o entendimento do
universo político local – a partir de conceitos gerais da Ciência Política - ,
possibilitando oportunidades para a vivência cidadã, que é o principal
objetivo do MCC. Terminei esse argumento citando a 11º tese sobre
Feuerbach de Marx, ou seja, o conhecimento e o estudo da realidade política
são fundamentais para a ação revolucionaria (transformável).
j) Superar a aparente ontologia política local? – nesse momento, comentei uma
percepção pessoal (não exclusiva) que, nos últimos dias, tem gerado
adversos posicionamentos em meios eletrônicos. Tal percepção, baseada no
real, apresenta-se como uma aparente ontologia política na história brasileira.
Tal ontologia se apresenta no sentido de que, normalmente, são os
possuidores de capital que vencem os pleitos eleitorais. Talvez o fato
histórico de um operário ser atualmente o presidente do Brasil possa se
caracterizar como uma superação dessa ontologia. Mas, para os mais
prevenidos, sabe-se que o PT chegou ao poder político nacional pela ligação
383
com alguns setores da burguesia brasileira, fato que não tinha ocorrido nos
três momentos anteriores em que o PT perdeu as disputas eleitorais. Assim, a
partir de uma leitura dos documentos fundantes da ideologia petista,
disponíveis, por exemplo, na obra “O conceito de partido no partido dos
trabalhadores”, do Dr. Profº. José Francisco de Melo Neto, talvez possam ser
compreendidas algumas divergências entre o discurso original e a prática,
principalmente nos últimos anos. Nessa perspectiva, para o MCC é
fundamental o entendimento de que é manifesta esta ontologia política, e
sendo uma essência, é conceitualmente imutável ou não transformáveis.
Assim, filosoficamente, chega-se a uma aporia, no sentido desta aparente
ontologia ser realmente real. Como o MCC deve trabalhar essa questão?
Em suma, o encontro deste dia foi importante para a construção do sentimento
de vivência da cidadania enquanto categoria indispensável para o crescimento coletivo
da sociedade.
Colônia Leopoldina, 21 de novembro de 2010.
384
TEXTO 10
COLÔNIA LEOPOLDINA: propostas para a cidade53
Escola Estadual – Aristheu de Andrade
53 Documento repassado aos vereadores, ao prefeito e distribuído na comunidade, em
janeiro de 2010.
385
SUMÁRIO
1. Apresentação.
2. Pontos temáticos e propostas:
- Grupo 1 de propostas - de internautas (Orkut).
- Grupo 2 de propostas - de dois candidatos a vereador.
- Grupo 3 de propostas - do usineiro e ex-candidato a prefeito Zé Maria.
- Grupo 4 de propostas - da ex-candidato a prefeita Luciana Luna.
- Grupo 5 de propostas - um conjunto de proposta durante o sesquicentenário
da cidade.
3. Considerações.
386
1 – APRESENTAÇÃO
O Movimento Colônia e Cidadania (MCC) apresenta esta brochura, um conjunto
de propostas originárias dos mais variados grupos de pensamento político da cidade de
Colônia Leopoldina, presentes em panfletos ou pela rede de computadores – internet,
com várias propostas repetidas e, mesmo assim, mantendo-as, assegurando a
originalidade dos documentos54
.
O grupo 1 de propostas é um esforço inicial de pessoas que pensavam, em certo
momento, construírem uma alternativa política aos candidatos originários da Prefeitura
ou da Usina Taquara, que já estavam em campanha para as eleições municipais de 2008.
Compilaram propostas apresentadas na internet por vários/as leopoldinenses, em
especial da comunidade eletrônica Colônia Leopoldina – a cidade, uma das várias
comunidades existentes sobre Colônia Leopoldina.
O grupo 2 de propostas expressa a primeira tentativa na cidade, de dois
candidatos a vereador de partidos distintos – Partido dos Trabalhadores (PT) e
Democratas (Dem) – em apresentarem as suas propostas aos eleitores. De forma inédita
e antecipada, mostraram o que seria a sua atuação na Câmara de Vereadores, se eleitos
fossem.
O grupo 3 de propostas é um Plano de Governo, apresentado pelo candidato a
prefeito, à época – o usineiro da Usina Taquara – José Maria.
O Grupo 4 de propostas é o Plano de Governo da candidata à prefeita, à época,
Luciana Luna.
54 Estas propostas foram divulgadas pelo Movimento Colônia e Cidadania (MCC) para a cidade, em 2010, constando no livro: Colônia Leopoldina – situações político-ambientais (Vol 2). Andréa Marques Silva, Elizabete M. do N. G. Veloso, Paulo Edson de Araújo e José Francisco de Melo Neto (org.). Editora da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa: 2011.
387
O Grupo 5 de propostas, finalmente, é originário de conversas avulsas, presente
inclusive o saudoso Everaldo Araújo Silva, escritor do livro A Colônia da Princesa.
Uma coleta de propostas que se estende desde a comemoração do Sesquicentenário de
fundação da Colônia Militar, núcleo gerador da cidade de Colônia Leopoldina, até os
dias de hoje.
A chapa vencedora do pleito de 2008 não apresentou, durante a campanha, de
forma sistematizada, qualquer conjunto de propostas.
O MCC espera que este material possa ser útil à orientação de alguma prática
política possível de atores com cargos eletivos, aos estudos nas escolas sobre os
movimentos políticos locais, às discussões para maior aprofundamento de soluções para
a cidade e seu povo, na perspectiva de sua melhoria, contando com a sua presença,
bem como, às práticas futuras de cidadania das pessoas, mantendo viva a memória
política da cidade.
Colônia Leopoldina, verão de 2010.
388
2 – PONTOS TEMÁTICOS E PROPOSTAS
389
GRUPO 1 DE PROPOSTAS
(apresentadas pelos usuários da internet – Orkut)
3 NECESSIDADES DO MUNICÍPIO (PESQUISA)
- realização de uma pesquisa na cidade sobre as suas necessidades, como início de
um futuro planejamento participativo; conhecimento da cidade em dados e por meio
dos ditos do povo;
02. GESTÃO DA CIDADE
1. Beleza da Cidade:
1.1. embelezamento das ruas Pe. Francisco, 15 de novembro, 16 de julho, Manoel
Ferreira Lima e outras, tornando-as avenidas. É preciso retirar pelo menos 1 metro
de calçadas das casas do lado sem postes e plantando árvores no meio de cada uma
dessas ruas.
2. Transparência:
2.1. planejamento participativo;
2.2. orçamento participativo;
2.3. prestação de contas de forma pública para a cidade;
3. administração:
3.1. gerenciamento da prefeitura com diálogo com a população, administrando com
a participação do povo;
390
03. LAZER E ESPORTE
1. construir mais duas quadras de exportes na cidade.
2. assegurar uma área definitiva e melhorar o campo de futebol.
3. fazer um levantamento dos pontos que podem tornar-se de lazer, em todo o
município.
04. TRABALHO E RENDA (economia)
1. criação de um grupo de pessoas que possam pensar a cidade, oferecendo outras
possibilidades de trabalho e renda, sobretudo aos/às jovens;
2. desenvolver grupos em condição de se organizarem em bases à economia
solidária.
05. MORADIA
- acabar com casas de taipas no município, em especial na zona rural.
06. DIREITOS HUMANOS
- introduzir, nas escolas, material de divulgação sobre direitos das pessoas.
07. FINANÇAS
1. transparência pública de todo tipo de finanças que cheguem ao município, por
meio de convênios, programas ou impostos, com prestação de contas, não só à
câmara de vereadores, mas à toda a cidade.
08. AGRICULTURA
391
1. fazer levantamento das possibilidades da agricultura no município, além da
cana.
2. organizar grupos com a possível participação do SEBRAE.
3. ter políticas de ajuda às formas de agricultura familiar que não a cana.
09. EDUCAÇÃO
1. melhora da biblioteca existente;
2. incentivo à leitura na escola;
3. implantação da educação popular;
4. revisão do estatuto do magistério;
5. apoio financeiro ao profissional que investe em sua carreira de professor em
cursos oficiais (especialização, mestrado e doutorado);
6. realização de convênios da prefeitura com universidades federais (UFAL e
outras, se for o caso) para a realização de cursos de especialização gratuitos
aos estudantes e em Colônia Leopoldina;
7. promoção pela prefeitura ou ajudando o sindicato a promover de encontros
sobre a educação leopoldinense e definição de seus rumos;
8. iniciação da escola integral para as crianças de Colônia;
9. promoção de cursos gratuitos de educação à distância por meio de convênios
com universidades públicas;
10. Realização de cursos de especialização presencial e gratuitos aos estudantes,
em Colônia, com universidades federais.
10. CULTURA
1. criação de uma escola de música/fanfarra;
2. criação de grupos de teatro na cidade, com uma ajuda inicial de quem puder
ajudar e que tenham a capacidade de autosustentação;
392
11. TRANSPORTE
- assegurar transporte para universitários para Palmares e Maceió.
12. MEIO AMBIENTE
1. construção de uma adutora para garantir água para cidade;
2. estação de tratamento de lixo regional em convênios com outros municípios;
13. SAÚDE
1. acabar, por meio de campanhas, com todo tipo de endemia na cidade;
2. possibilitar que o hospital da cidade realize cirurgias de pequena e média
complexidades.
14. ALTERNATIVAS PARA A CIDADE
1. articular grupos de teatro com costureiras para a produção das pessoas e que elas
possam viver disso;
2. ver as possibilidades da economia solidária popular;
3. estudar com associações possibilidades de outras culturas, além da cana;
393
394
GRUPO 2 DE PROPOSTAS
De todos/as candidatos à Câmara, dois candidatos a vereador iniciam um novo jeito
de apresentar-se à cidade, não apenas pelo velho estilo de “cata-cata” de voto
individual, mas apresentando um programa de ação junto ao prefeito, na câmara – os
candidatos Rubinho (DEM) e Luciano (PT). Destacam-se, aqui, as propostas de
Luciano:
3. NA AGRICULTURA – disposição de tratores aos pequenos produtores para
gradear a terra e de assistência técnica em geral; ampliação do Programa Luz
para Todos; reformar casas de taipa da zona rural em convênio com a FUNASA
(Fundação Nacional de Saúde); implantação do Conselho da Agricultura;
criação de um banco de sementes em parceria com SEAGRI (Secretaria de
Agricultura do Estado de Alagoas) e com a EMBRAPA (Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária) em prol do melhoramento genético de nossos produtos.
4. NA EDUCAÇÃO – melhora da biblioteca municipal, com aumento do acervo e
contratação de um profissional da área; incentivo à leitura na escola com o
desenvolvimento de programas voltados à nossa realidade; implantação de uma
escola integral para as crianças do município; fortalecimento da educação de
jovens e adultos; implantação do ensino médio na zona rural (Porto Alegre e
Monte Alegre); convênio da prefeitura com a UFAL (universidade federal de
alagoas) e/ou outras caso possível, para a realização de cursos superiores no
município, pela via da educação à educação; apoio financeiro aos professores em
forma de bolsas de estudo, a fim de que estes possam investir em sua formação
por meio de cursos de especialização, mestrado e doutorado; implantação do
sistema de gestão democrática nas escolas, com a eleição de direitos e conselhos
escolares.
395
GRUPO 3 DE PROPOSTAS
Do candidato-usineiro Zé Maria – um Programa de Governo com as seguintes
propostas:
Agricultura e pecuária – nomear um técnico de capacidade comprovada para a
secretaria; adquirir uma patrulha mecanizada composta de uma patrol, um trator de
esteira, dois tratores de pneus com todos os implementos, retro-escavadeira e caçambas;
distribuir semente para plantio de roça de inverno (milho, feijão...etc); garantir os
produtores de leite, a compra do produto a preço de mercado para merenda escolar;
contratar um médico veterinário para realizar as inspeções sanitárias no matadouro
público e dar assistência aos produtores rurais; incentivar a instalação de pequenas
indústrias para o aproveitamento das frutas nativas da região.
Política de valorização do funcionário público – atualizar o plano de cargos e
salários; admissão de vagas por concurso público; patrocinar cursos e treinamentos para
capacitar os servidores; motivar o ingresso de servidores em cursos de nível superior;
dotar os servidores de EPI(S) de acordo com as exigências da DRT; reconhecer os
servidores especiais, obedecendo a classificação da DRT.
Obras civis de infraestrutura – construir 400 casas populares; substituir todas as
casas de taipa por alvenaria (100%); criar um programa de recuperação de casas em
todos os bairros; calçar 100% das ruas (asfaltar principais); recuperar o matadouro
público e o mercado municipal; reconstruir o estádio de futebol; reformar o clube social;
eletrificar 100% da zona rural; construir um grupo escolar com trinta salas de aula;
construir mini-postos em povoados para dar apoio ao PSF.
Plano municipal de saúde Colônia 100% - Manter serviço de urgência ativada e
convênios com hospitais e clínicas (palmares); ativação do posto de saúde de Monte
Alegre; serviço de nutrologia e fisioterapia; serviço de reabilitação, fonoaudiologia e
psicologia; atenção aos idosos, pessoas de 3ª. Idade; ampliação do programa de saúde
da família; reativação do serviço de radiologia; funcionamento do hospital com
396
plantonistas diários; reativação do bloco cirúrgico; cirurgias-mioma, ligadura, hérnia,
vesícula, cirurgia por vídeo, proctologia; implantação de especialidades: cardiologia,
psiquiatria, pediatria, ultra-sonografia, neurologia, dermatologia, obstetrícia; manter
saúde itinerante; serviço de odontologia; banco de aleitamento materno; funcionamento
de laboratório; exames essenciais.
Educação de qualidade – Colônia 100% - ampliação de escola – auditório para
pais e mestres; salas de informática; espaço coberto para recreação; salas de leituras;
laboratório de ciências; formação continuada para professores por áreas específicas –
palestras; oficinas pedagógicas; laboratório de informática comunitária; circus-espaço
cultural (reservado para culminância de projetos educativos); aulas de Arte – pintura;
crochê; bordado; reciclagem; dança; músicas; teatro; eventos com datas comemorativas;
oferecer cursos profissionalizantes para alunos.
Resgatar o tradicional desfile cívico – 7 de setembro – reformar a banda marcial
leopoldinense; distribuir fardamento completo ao alunado.
Reajuste salarial para os professores (periodicamente) – premio “profissional
do ano da educação”.
Diminuição do índice de evasão e reprovação – simulador com reconhecimentos
gerais (bimestral); escola tempo integral; oferecer reforço da língua portuguesa (leitura,
produção de texto) e Matemática; oferecer merenda de qualidade (cardápio
diferenciado).
Assistência especializada à educação da zona rural – oferecer melhores
condições ao aluno; promover interação entre escolas da zona urbana e rural; garantir a
continuidade do transporte escolar.
E, ainda, o documento conclui com uma frase do educador pernambucano Paulo
Freire: “a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tão pouco a sociedade
muda”.
397
GRUPO 4 DE PROPOSTAS
Da candidata à prefeita – Luciana Luna (Plano de Governo – por nossa terra, por nossa
gente).
1. AÇÃO SOCIAL – Programa de Moradia Digna (construção de casas populares
no sistema de mutirão participativo. A prefeitura entrará com o material e a comunidade
auxiliará com a mão-de-obra.
- Volta do Programa de alimentação para a população carente, com participação das
entidades religiosas e não governamentais; programa de apoio à criança e ao
adolescente; volta dos programas de apoio específicos aos idosos, mulheres e pessoas
portadoras de necessidades especiais; volta do programa de apoio à gestante; apoio mais
efetivo para fortalecimento do Conselho Tutelar Municipal; programa cidadão (tiragem
de documentos); construção de núcleos comunitários para funcionamento dos
programas sociais, tais como o PETI, PAC, Ciranda da criança, alfabetização solidária,
bolsa escola, egressos do PETI, portal da alvorada, entre outros; disponibilização de
transportes de pessoas da zona rural para a feira na cidade; realização de cursos
profissionalizantes através do SEBRAE, SENAI, SESC e SENAC, tais como:
eletricista, encanador, padeiro, computação, cabeleireiro, mecânico de automóveis,
artesãos, dentre outros; reestruturação e ampliação das creches (zona rural e urbana).
2. EDUCAÇÃO E CULTURA – Programa Amigos da Internet – todas as escolas
serão contempladas com laboratórios de informática, com acesso à Rede Mundial de
Computadores – Internet, para que os nossos alunos possam pesquisar, fazer amigos e
se integrar com o mundo.
- recuperação das escolas municipais (urbanas e rurais); melhoria e garantia do
transporte escolar gratuito, dando condições de maior segurança e conforto para todos
os estudantes inclusive para Maceió, estudantes de graduação e pós-graduação;
aquisição de mais ônibus escolares, mais modernos, seguros e confortáveis para o
transporte dos estudantes; criação da casa do estudante universitário, em Maceió, para
incentivar os nossos jovens e dar apoio a todos aqueles que estiverem estudando na
398
capital; melhoria da qualidade e da quantidade além da garantia total do fornecimento
diário de merenda escolar para os estudantes, durante o período das aulas; erradicação
do analfabetismo no município; garantia do fornecimento gratuito dos materiais
didáticos nas escolas municipais; fardamento para todos os alunos e pessoal de apoio;
resgate da banda de fanfarra do nosso município; apoio e incentivo às artes, esportes e
lazer para os jovens do nosso município.
3. SAÚDE – Consórcio de Saúde – proposta de acordo com cidades
circunvizinhas, objetivando atender regionalmente serviços ambulatoriais, exames,
cirurgias de baixa e média complexidades.
- funcionamento do Programa Saúde da Família (PSF) em todas as unidades da cidade e
campo; contratação de profissionais especializados na área de saúde, para melhorar o
nível de atendimento à população, em especial a mais carente; volta do Programa da
Saúde Bucal Coletiva, com campanhas de educação com a distribuição gratuita de
escolas de dentes e fio dental e seu uso de forma correta; volta do Programa de
Atendimento Oftalmológico, para que nossa população seja atendida de forma
preventiva e corretiva; funcionamento efetivo do laboratório de análises, para que os
médicos do nosso município possam diagnosticar com maior velocidade e segurança as
enfermidades dos pacientes; criação da Casa de Apoio ao Doente em Maceió, para
alojar os parentes das pessoas que estejam nos hospital da capital; implantação do
Sistema de Saneamento Básico; convênios com os governos federal e estadual para a
aquisição de novas máquinas e equipamentos para a modernização do nosso hospital e
postos médicos; programa de saúde preventiva; valorização e fortalecimento do
Programa de Agentes de Saúde; programa de redução dos índices de mortalidade
infantil; reforma e ampliação da estrutura da Vigilância Sanitária Municipal; volta do
programa A Saúde Vai ao Campo; volta do programa A Saúde Vai à Feira; reabertura
do Centro Cirúrgico do Hospital Maria Loureiro.
4. OBRAS, URBANISMO E AGRICULTURA
- reforma e reestruturação do campo de futebol Joaquim Luiz da Silva; apoio à
vaqueirama para a reestruturação do Parque de Vaquejada Murilo Loureiro; drenagem
das áreas alagadas (Vila Nova) para acabar com as constantes cheias nestas áreas nos
399
períodos chuvosos; construção de casas populares para a população carente; construção
do terminal rodoviário de passageiros; aquisição de uma patrol para execução e
manutenção das estradas do município; construção de um novo matadouro público
municipal; melhoramento no sistema de limpeza pública; tratamento do lixo, com
incentivo à reciclagem; volta do programa Lavoura Comunitária, com a aquisição de
sementes para distribuir com os pequenos produtores rurais; recuperação e ampliação da
iluminação pública; criação de um cadastro numérico, para os imóveis que ainda não os
tenham assim como a colocação de placas identificadoras das ruas da cidade e de
sinalização de trânsito; estruturar um sistema de gestão e controle ambiental do
município; projeto Vamos Salvar o Rio Jacuípe; guarda municipal.
GRUPO 5 DE PROPOSTAS
NO SESQUICENTENÁRIO DE FUNDAÇÃO DA COLONIA MILITAR
LEOPOLDINA
UMA PROPOSTA ESTÉTICA PARA COLONIA DE LEOPOLDINA
Justificativa para as propostas:
- promover a ocupação dos jovens,
- comemorar sesquicentenário da cidade,
- incentivar a beleza da cidade (estética)
Pontos:
1. Praça D. Pedro II
- fazer concha acústica em frente à Igreja Matriz, aproveitando o declive do terreno.
2. Antigo mercado público
- fazer um mini-chopping nesse local, deslocando os comerciantes da Praça em frente à
Igreja para este chopping.
400
3. Atual mercado público
- transformar este mercado em mais uma quadra poliesportiva.
4. Rua Pe. Francisco, 15 de ov, e 16 de julho – Severino Ferreira de lima
- transformá-las em avenidas, retirando 1 metro das calçadas do lado que não tem postes
e colocando árvores no meio da rua, transformando-as em avenida.
5. Centro administrativo
- construir na entrada da cidade
6. Acesso à cidade
- em todo percurso dos 9 Km, da Br 101 até Colônia, plantar árvores, formando uma
alameda de bambual, jaqueira, mangueira....(frutas da terra)
7. Ao redor do mercado da farinha
- tirar o posto de gasolina do centro da cidade.
- fazer um parque para lazer.
8. Divisória da rua do cemitério
- baixar aquelas calçadas para facilitar o acesso aos idosos.
9. Construção de um centro cultural para a cidade, com bibliotecas e núcleo de
informática e outros organismos voltados à cultura para possibilitar a educação superior
à distância.
3 – CONSIDERAÇÕES
Este esforço do MCC na divulgação destas propostas deve-se a necessidade de
se mostrar que existem propostas para a cidade de Colônia, aqui apresentadas por
diversos grupos. Claro que nem todas as condições de realização desse conjunto de
propostas estão dadas. Nem significa, contudo, que isto aqui apresentado deva ser
401
encaminhado pelos governos estabelecidos, até porque a mecânica política geral do país
também trespassa a política local de qualquer município, consequentemente, também de
Colônia, e qualquer governo tem propostas próprias. Todavia, isto pode ser útil como
um conjunto de pistas para melhoramento da cidade. O desejo é que a maior quantidade
dessas propostas possa ser efetivada por qualquer governo estabelecido. São propostas
públicas e, assim, propriedade de todo mundo.
Mas, uma coisa parece certa: os grupos aqui mostram a existência de um
conjunto variado de propostas para uma melhor organização das coisas do lugar,
podendo superar o desprezo que vários políticos têm tido para com a cidade. Isto se
configura como um exercício de cidadania.
Oxalá, hoje, políticos haja que possam ter a humildade de assumir várias dessas
sugestões, originadas de tantas cabeças, desejosas de contribuir para melhor organização
de Colônia. Ninguém poderá dizer, simplesmente, que não há propostas. A sua
realização será conquista da cidade, tão somente.
Colônia Leopoldina, 2010.
402
TEXT0 11
VEREADOR É PARA LUTAR55
(eu quero seu voto para defender as seguintes propostas, junto à Prefeitura -
Eleições de 2012)
01. Realização de uma pesquisa na cidade sobre as suas necessidades, norteando o
planejamento municipal de forma participativa;
02. Embelezamento das ruas Pe. Francisco, 15 de novembro, 16 de julho, Manoel
Ferreira Lima e outras, tornando-as avenidas;
03. Nove quilômetros da entrada da cidade se tornarem uma grande alameda de plantas,
frutas da região da região;
04. Efetivação do Planejamento e Orçamento municipal, com a participação da
população;
05. Ajuda na prática da prestação de contas de forma pública para toda a cidade;
06. Ajuda à administração para que seja feita com diálogo com a população;
07. Recuperação do estádio de futebol da cidade;
08. Ajudar em projetos da prefeitura para construção de novas quadras de esporte;
09. Apoio logístico aos times da cidade, com a contratação de professores de
educação/convênio com o Estado;
10. Criação de um grupo de pessoas que possam pensar a cidade, oferecendo outras
possibilidades de trabalho e renda, sobretudo aos/às jovens;
55
Documento distribuído durante a campanha eleitoral, nas eleições de 2012, pelo candidato Luciano do
Partido dos Trabalhadores (PT).
403
11. Parceria com o SEBRAE com o intuito de desenvolver novas técnicas de gestão
para pequenas empresas existentes no município;
12. Fortalecimento e ampliação dos programas sociais do governo federal existentes no
município;
13. Recuperação/reforma de casas de taipa da zona urbana e rural, em convênio com a
FUNASA;
14. Instalação do conselho de direitos humanos;
15. Insistência com a necessidade de se implantar uma área para pequenas indústrias
como incentivo fiscal por parte do governo municipal;
16. Contribuição para a elaboração de estudos fiscais com finalidade de incentivar
instalações de empresas;
17. Criação de um Banco de semente, em parceria com a Secretaria de Agricultura do
Estado e com a Embrapa, para o melhoramento da genética;
18. Implantação do Conselho de Agricultura;
19. Trator para pequenos produtores poderem gradear a terra;
20. Continuação no reforço ao programa Luz para Todos;
21. Implantação da educação popular (fortalecimento da educação de jovens e
adultos);
22. Revisão do estatuto do magistério;
23. Apoio financeiro (bolsa de estudo) ao profissional que investe em sua carreira de
professor em cursos oficiais (especialização, mestrado e doutorado);
24. Realização de convênios da prefeitura com universidades federais (UFAL e/ou
outras, se for o caso) para a realização de cursos de especialização gratuitos e em
Colônia Leopoldina;
25. Realização de convênio com universidades federais para a realização de cursos
superiores em Colônia Leopoldina, pela via da educação a distância;
404
26. Iniciação de uma escola integral para as crianças de colônia, de forma experimental;
27. Democratização na escola – eleição de diretores e conselhos da escola;
28. Criação de uma escola de música/fanfarra;
29. Defesa da criação de uma casa da cultura;
30. Apoio a grupos de teatro na cidade, com uma ajuda inicial de quem puder ajudar e
que tenham a capacidade para a sua futura autosustentação;
31. Implantação da Secretaria do Meio Ambiente para estudos da revitalização do Rio
Jacuípe, com a participação de associação de meio ambiente de Colônia;
32. Ampliação do PSF;
33. Ambulância para a zona rural nos ambulatórios existentes;
34. Ajuda à prefeitura no sentido de ir aumentando gradativamente o repasse do
município para a saúde, até o índice de 15% da arrecadação municipal;
35. Convencimento para a criação de um centro de recuperação de pessoas com
necessidades especiais, vinculado ao município;
36. Ajuda na articulação de grupos de teatro com costureiras para a produção das
pessoas e que elas possam viver disso;
37. Ajuda na criação de grupos de produção, como empreendimentos solidários
populares, com a filosofia da economia;
38. Ajuda em estudos com associações sobre as possibilidades de incentivo à outras
culturas na região, além da cultura da cana;
39. Sugestão para a criação de um shop municipal na área do antigo mercado público
para os “boxes” situados em frente à Igreja e outros;
40. Transformação da área em torno do mercado de farinha em uma área de lazer para a
cidade;
(obs: as propostas estão escritas para você me cobrar depois)
405
TEXTO 12
AFINAL, EM QUEM VOTAR?56
VOTAR é um dever de extrema importância. Por meio do voto, cada um está, de
certa forma, definindo as condições de vida de si, do povo e, em parte, daqueles que
ainda virão. Reflete-se na saúde, na segurança, na agricultura e nas vidas de todos.
Votar é plantar o sonho de pobres, negros, brancos, índios, crianças, homens e
mulheres de terem seus direitos garantidos.
Mas, afinal, neste tempo de eleições, os/as candidatas/os sempre dizem que estão
do lado das maiorias sofridas, isto é, do lado do povo. Como separar o JOIO DO
TRIGO no momento de votar?
OS CRITÉRIOS que seguem, ajudarão os/as eleitores/as a melhor escolherem os
seus representantes:
1. Informe-se do passado daquele seu candidato e veja se ele esteve sempre
do lado das lutas do povo. Veja se ele sempre defendeu o interesse do
povo ou é só nesse momento eleitoral.
2. Veja se o que ele promete e defende, hoje, sempre esteve defendendo
antes. Se não for, esse candidato está mentindo e não merece o seu voto.
3. Finalmente, veja se ele nunca se envolveu nas falcatruas, nas safadezas,
nos roubos, nas máfias da política. VOTE EM FICHA LIMPA.
BOA ELEIÇÃO PARA TODOS E TODAS.
MOVIMENTO COLÔNIA E CIDADANIA (MCC)
Eleições de 2012
56
Orientação ao eleitor, distribuída na cidade, durante a campanha nas eleições de 2012, pelo MCC.
406
TEXTO 13
COLÔNIA LEOPOLDINA: análise de conjuntura política57
O ano de 2013, para o Partido dos Trabalhadores, pode ter dimensões
emblemáticas, isto é, marcadamente com feitios petistas, devido ao número do partido
saído da justiça eleitoral, o 13. Isto não significa bons e nem presságios ruins, pois a
política, como arte, comumente apresenta novidades distantes de qualquer tipo de sorte
ou superstições. Os resultados eleitorais e políticos são produtos de muito trabalho de
organização, planejamento estratégico e doses de oportunidades, que não podem ser
desperdiçadas. Em Colônia, esta máxima também é verdadeira. Cabe ao PT iniciar o seu
processo organizativo, como nunca, desigual em relação aos demais partidos na cidade e
combinado com o partido estadual, contando com fluidos do seu sucesso local e
nacional, considerando que conseguiu eleger, pela primeira vez, um vereador após 30
anos de existência partidária no município.
Histórico
O PT, fundado em 1982, em seu processo de organização, conviveu com várias
situações contraditórias em seu interior, bem como em sua interlocução com a
sociedade leopoldinense. Nesse percurso, desde a preparação política com cursos de
formação para os petistas originários e abandonados depois; passou pelas relações, em
seus primeiros 10 anos, com o sacerdote Aldo Giazon, doador de uma casa que veio a
cair, na antiga rua das pedrinhas; continua com ex-dirigentes que assumiram posturas
ora mais radicais para seus momentos políticos e ora mais conservadoras, assumindo
posturas efetivamente reacionárias. Ainda hoje convive com posturas nitidamente
contrárias às decisões do partido, como a postura da atual Presidente, fazendo campanha
57
Uma análise elaborada para o Partido dos Trabalhadores (PT), por José Francisco de Melo Neto, em
janeiro de 2013.
407
contrária às deliberações partidárias. É isto mesmo que o fez chegar tardiamente à
Câmara de Vereadores
Mas, é com esse capital político que o PT vem se construindo, num esforço de
tornar-se um partido com autonomia e independência para realizar a sua própria
política, num ambiente dos mais hostis de se fazer política voltada aos trabalhadores, a
zona da cana do Estado de Alagoas, com todas as mazelas histórico-sociais existentes.
Uma luta para se constituir em uma alternativa de poder local. Ao que se apresenta no
atual momento na cidade, esta busca permanece profundamente atual, merecendo
especiais cuidados nas suas relações com os demais partidos, com a sociedade local,
com o partido em nível de Estado e em sintonia com o discurso do Governo nacional,
que é capitaneado pela petista Dilma Roussef.
O resultado eleitoral de 2012
Com idas e vindas no quadro eleitoral da cidade58
, em movimentos políticos de
criação ou arrumação de partidos, distante de toda a perspectiva ideológica contida em
seus manifestos e programas partidários, os partidos que vieram a participar do processo
eleitoral foram – PDT, PTN, PPS, PSDB e PP 59
, sob a liderança do PSDB, partido
tomado da atual petista Luciana Luna pelo ex-Prefeito Manuilson Andrade Santos, líder
da aliança política. Esta aliança, de um total de 12.418 votos apurados e 10.599 votos
válidos, obteve 5.235 votos, expressos percentualmente em 49,39%. O outro
agrupamento esteve em torno do PSB e mais o PTB, o PSC, o DEM e o PT, sob
liderança da Paula Rocha, a prefeita eleita da mudança local obteve 5.346 votos,
expressos em termos percentuais em 50,61%.
58
Todos os dados apresentados foram retirados do texto distribuído pela Justiça Eleitoral –
Eleição Municipal 2012 – 1º. Turno – Resultado da Totalização – Colônia Leopoldina – Alagoas,
07/10/2012.
59
- PDT – partido democrático trabalhista, tendo como antigo líder Leonel Brizola.
- PTN – partido trabalhista nacional.
- PPS -- partido popular socialista
- PSDB – Partido da Social Democracia Brasileira, liderado pelo ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso, e no município, pelo ex-Prefeito Manuilson.
- PP – partido progressista.
- DEM – democratas.
- PSB – partido socialista brasileiro
- PTB – partido trabalhista brasileiro
- PSC – partido social cristão
- PT – partido dos trabalhadores
408
As alianças participaram da campanha eleitoral, sendo a primeira, liderada pelo
Manuilson, com 18 candidatos/as a vereador, elegendo os 6 (seis) vereadores seguintes:
Nomes Votos
Franklin André Amorim 612 - PSDB
Ricardo Pereira Xavier 598 - PTN
Amaro Rodrigues da Silva 587 - PPS
Edmilson da Silva Barros 572 - PSDB
Vitalino do Nascimento 434 - PDT
Maria das Graças Costa Almeida 424 - PPS
Já a segunda aliança, liderada pela vitoriosa Paula Rocha, participou com 22
candidatos, elegendo os 5 (cinco) vereadores seguintes:
Nomes Votos
Rubens Severino da Silva 812 - DEM
Fernando Lamenha Silva 611 - PSB
Maria das Graças Leite F. de Oliveira 532 - PTB
Cícero Ramos da Silva 478 - PSB
José Antonio Timóteo da Sousa 382 - PT
Contudo, isto não significa um rigoroso posicionamento político sólido. Para
cada momento ou para cada questão que for posta existirá, possivelmente, novas
rearrumações de forças, haja vista o resultado final da composição da Câmara, com a
vitória da atual oposição, ajudado pelo PT, que não é oposição. O quadro mostra ainda a
não hegemonia de qualquer partido nessa Câmara e no eleitorado leopoldinense, que
também não vota por partido ou ideologia, mas nas pessoas. Apenas nos processos
eleitorais estaduais ou gerais, cada partido procurará os seus congêneres nos municípios,
em busca de votos para os seus candidatos estaduais e nacionais. Se do ponto de vista
partidário, os partidos que mais elegeram prefeitos, em 2012, foram PMDB (1.027),
PSDB(704), PT(634), PSD(500) e PP(467), em Colônia Leopoldina, os vereadores
eleitos distribuem-se quase equitativamente entre os partidos de ambas as alianças
políticas. A questão partidária passa pela comunidade, sem a percepção de suas
ideologias por parte dos eleitores.
409
Será caracterizado também o quantitativo de votos de cada partido, ajudando,
assim, a uma melhor visualização da participação eleitoral de cada um deles,
contribuindo para que o PT realize uma melhor formulação de políticas e possa
dimensionar melhor o seu verdadeiro tamanho na comunidade e como crescer.
Resumo da Votação dos Partidos
PARTIDO VOTOS NOMINAIS %
1º. PSB 2.252 21,76
2º. PSDB 1.801 19,48
3º. PDT 1.145 11,35
4º. PPS 1.069 10,44
5º. PTN 951 9,28
6º. DEM 812 7,83
7º. PTB 735 8,80
8º. PT 734 7,21
9º. PSC 369 2,55
O Partido dos trabalhadores conquista, nesta eleição, a posição de penúltimo
partido entre os que participaram do processo eleitoral. Começa a aparecer nesta
relação, iniciando um processo que com muito planejamento estratégico, poderá galgar
à posição de definição de sua política própria, precisando dar maior visibilidade a essa
política, uma política que aproveite os ventos do Governo Federal enquanto está no
comando o próprio partido.
A articulação política após as eleições
A Prefeita eleita inicia, então, após as eleições, as articulações políticas para a
composição de seu governo. O que surge à mesa, de imediato, são as questões das
contas a serem pagas. Não há eleições realizadas só por amor ou por qualquer outra
virtude altruísta. Há despesas e estas precisam ser pagas. Quem então chegou com o
410
dinheiro? Afirmam ter sido o tesoureiro da Associação de Plantadores de Cana
(ASPLANA), o seu marido. Colocou-se como o responsável para o pagamento dos
possíveis débitos financeiros e eleitorais, assumindo o papel político de articulador,
papel este que caberia, necessariamente, à Prefeita. Passou-se a ter uma direção política
assegurada por uma espécie de Prefeito da Prefeita. Os argumentos para isso eram os
mais torpes e machistas, como por exemplo, a necessidade de que estava em jogo o
nome de sua esposa e que a ele caberia a tarefa de fazer política para a sua sustentação.
Dos cargos discutidos, assume a Secretaria de Finanças, abrindo margem para
especulação à moda de Manuilson, o ex-prefeito, que se tornara, após os dois mandatos,
Secretário das Finanças do Prefeito que indicou, o Cássio. Por que precisa o esposo da
Prefeita, ex-tesoureiro da campanha, tornar-se, também, o Secretário das Finanças?
Mas, não é só isto. A composição política do Secretariado da Prefeita e demais funções
secundárias de Coordenação passaram a ter como critério o compromisso de se fazer
campanha para os seus futuros candidatos a deputado, em 2014. Com isto, fica mais
claro o nível de acordo que fora feito durante a campanha, bem como a origem do
dinheiro e envolvidos nas transações.
Em nível de PT, o vereador eleito Antônio Timóteo, pautado por princípios de
independência e de autonomia política do próprio vereador e do Partido, começa a
entrar em rota de colisão com o esposo da Prefeita. Situação que chega ao quase
impossível diálogo, quando o vereador apresenta-se contrário aos critérios que vêm se
estabelecendo, posicionando-se contra a definição do nome de Fabiano (esposo) como
Secretário de Finanças e contra as exigências de compromissos políticos eleitorais para
o futuro. O vereador foi sendo colocado, pouco a pouco, às margens daquelas
negociações. Se no início o PT reivindicara para si uma Secretaria, logo a perdera;
passando para 4 Coordenações oferecidas pelo mesmo e depois reduzida para duas,
apenas. Num momento seguinte, terminou sem qualquer participação no governo; e
posteriormente, sem sequer participar das discussões que se seguiam. Assim, gera uma
indisposição pessoal do vereador com o esposo da Prefeita. A política, neste momento,
perde a sua essência que é o diálogo, um comando da razão, e passa para a dimensão
emocional, orientada pelo coração. Mas, o coração não pensa. Desperta-se na política
petista, tocada pelo vereador, um desejo de se “dar o troco”, de forma imediata, àquelas
pretensões políticas do Fabiano. Para a composição da Mesa Diretora da Câmara, o PT
teria a 1ª. Secretaria, deslocando-se depois para a 2ª, ficando finalmente, em uma outra
reunião, fora da Chapa da Mudança. Pavimentava-se uma nova composição de forças
411
para a direção da Câmara – Gal fest, presidente; Antônio Timóteo 1º. Secretário; e
demais membros.
A disputa estava empatada em 5 a 5 e, então, pressiona-se o vereador Vitalino
que em suas necessidades, admite aceitar dinheiro, traindo o lado que estava: o lado da
Paula, segundo todos os comentários da cidade. Este, contudo, já estivera no time da
não mudança. O Partido dos Trabalhadores que vinha, até então, atuando em prol das
mudanças, fora arremessado para o oposto de sua proposta eleitoral. Uma escolha mais
do que justificada, porém, profundamente aberta a ser combatida. Uma posição que
exigirá muito esforço explicativo às pessoas que votaram em Antônio, vendo, no
mesmo, um legítimo representante trabalhador do Partido dos Trabalhadores. Esta é
mais uma nova contradição a ser somada ao rol de outras do Partido. O PT assegura,
com o voto do vereador o retorno à Câmara das Viúvas do Manuilson, que ainda não
digeriram a derrota. As razões políticas do vereador são legítimas, mas pouco se
sustentam na perspectiva de uma política de longo prazo e dentro dos princípios
petistas. Claro que, em linguagem popular, o vereador lavou a alma, mas abriu flancos
complexos para o futuro político petista que, no momento, sequer há condições de se
pensar.
O retorno das viúvas do Manuilson
Com a eleição na Câmara, o time derrotado da conservação conseguiu atrair o
petista que, zangado com os fatos ocorridos, viu-se vitorioso com essa possibilidade,
reforçando a incompreensão política de um de seus antigos aliados Vitalino, que mais
uma vez se fez comprado e fez vendido. Há, hoje, na Câmara, aquilo que mais foi
combatido na campanha, com a ajuda do Partido dos Trabalhadores, o retorno dos que
já tinham ido. Talvez, caberia ao PT assegurá-los a sua última par de terra em cova
funda.
Mas, nem tudo está perdido politicamente. A primeira lição do resultado da
Câmara vai para o time da mudança e, em particular, para a Prefeita. Houve um erro no
seu grupo de articulação, entregando ao “outro lado” novas possibilidades de
continuarem fazendo política, pelo menos, por mais dois anos. Manuilson, portanto,
ainda vive. Isto exigirá mais política e menos arrogância pessoal daqueles sequiosos de
fazerem “mudanças” com suas únicas mãos, o Secretário de Finanças. Este não se cacifa
como o melhor articulador político desse grupo. Ele conduziu o grupo a um problema
412
para a administração do novo. Será preciso determinação da Prefeita para a retomada
dos diálogos ou negociações políticas com a sua própria base para mantê-la unida,
mesmo com vereadores de sua base na outra chapa.
Ao PT, sobrou o discurso de que não é da oposição, afirmado pelo vereador em
seu pronunciamento de posse. Então, além de explicar-se externamente para os seus
eleitores, terá problemas internos, na Câmara, quando a diretoria entender que deverá
votar em bloco. Mais problemas para o futuro. Contudo, a situação contraditória é maior
do ponto de vista ideológico: se na chapa 1, o PT apoiaria o presidente do Democratas,
na chapa dois, reforça a política do PSDB, ambos os partidos de oposição ao Governo
Dilma. Salva-se, todavia, o PT, considerando que nessa distância eleitoral, região rural
do Estado, as questões ideológicas passam muito distantes das demais opções políticas.
Mas, perdeu a oportunidade de mais para frente iniciar o exercício de sua política
própria para esta cidade, mesmo que de forma tardia, alimentando um futuro de
caminhos petistas de governar uma cidade, no interior de Alagoas, na Zona da Mata, na
terra de índios, de quilombolas e de escravos negros.
O papel do vereador petista 60
O vereador Antônio terá pela frente um papel político de várias dimensões. A
primeira dimensão é resolver ou esclarecer as suas últimas posições tomadas,
considerando que a população continua apostando em mudança, e não havendo, ainda,
maiores desgastes impostos à administração. O seu voto para a mesa diretora da Câmara
gerou incompreensões.
Mas, o importante também é que o mesmo encontra-se feliz e com disposição
para isto. Estas são expressões em seu semblante, no dia da posse, observadas in loco.
Haverá dificuldades, como já frisada, com o futuro dessa direção da Câmara, já que não
se constitui como bloco político homogêneo. Mas, o vereador tem potencialidades e,
com isto, é necessária uma maior organização de seu mandato. Poderá ter clareza de que
o seu mandato, politicamente, será diferente dos demais vereadores, mesmo que seja
este o seu primeiro. Com esta determinação, abrem-se duas dimensões: 1) na primeira,
encontra-se o desejo de manutenção da autonomia petista e sua independência, diante
das quinquilharias políticas que aparecerão e que ocuparão qualquer vereador a fazer
60
Estas sugestões se completam e se confundem com ações do Partido, mesmo não sendo a mesma coisa.
413
praticamente nada, em todo o tempo de seu mandato; 2) na segunda, o petista carecerá
de manter duas frentes de atuação, a sua inserção, e agora, a do Partido, nos
movimentos de reivindicação da cidade, com maior intensidade do que quando não era
vereador. A outra é a busca pela interlocução com as instituições organizadas da
sociedade civil leopoldinense, a exemplo de sindicatos, igrejas, associações... e outras,
buscando informações, reivindicações, prestando esclarecimentos de sua postura
política durante o seu mandato. Assim, é possível o delineamento claro de que o
vereador Antônio estará realizando um mandato de forma diferenciada, mostrando o
jeito de ser do Partido dos Trabalhadores.
Caminhos para o Partido
O que cabe ao Partido dos Trabalhadores, nessa cidade? Neste momento, pode-
se imaginar que há uma recomposição de força em seu interior e que precisará,
imediatamente, ser equacionada. As forças políticas dirigentes em seu interior não
lograram os votos esperados, sendo eleito um novo agrupamento que precisará
contribuir mais diretamente com a vida partidária. A depender das datas internas, será
preciso um novo realinhamento político, desistindo finalmente de qualquer direção que
aponte para o não cumprimento das deliberações partidárias. O PT tem, finalmente, um
líder na Câmara e na cidade.
A tarefa acima acompanha a organização do Mandato Antônio Timóteo,
firmando uma espécie de logo-marca dessa sua atuação na Câmara. O vereador eleito
precisa de assessoria técnica e política para o seu melhor desempenho na Câmara. Não
se pode deixar que o transformem em figura folclórica qualquer, como já tem
acontecido com outros vereadores, tentando detonar essa nova experiência partidária.
Antônio não é desses quaisquer: é um vereador do Partido dos Trabalhadores.
Analise-se a possibilidade de que as atividades políticas petistas iniciem-se com
um grande Encontro Municipal do Partido no município, quiça, se encabece um
Encontro Regional Petista da Mata Norte do Estado. É o PT de Colônia abrindo suas
asas para os municípios de toda a Região. Colônia e o PT podem e, entende-se que
precisam ampliar a sua política para além do local, simplesmente.
Imagina-se necessário que o Partido possa realizar avaliações bimestrais de sua
atuação na Câmara. Manter-se avaliando a conjuntura a cada dois meses, como
expressão orientadora das decisões do vereador.
414
Poderá ser necessária a comunicação com a sociedade leopoldinense em sua
maior extensão possível. Para isto, é bom a criação de uma folha informativa do
mandato de Antônio, acompanhando orientações da Câmara e ações do Partido.
Antônio poderá encabeçar, juntamente com a direção petista futura, encontros
com os suplentes de vereadores, discutindo questões de Câmara e do futuro político da
cidade, visando ampliação do PT. Talvez, haja figuras que possam tornar-se quadros
petistas.
Poderá orientar-se por uma campanha de reanimação dos petistas existentes e
trazer novas pessoas para o Partido. É tempo de crescimento político do PT. Pode-se
pensar o convite à maior inserção da Luciana Luna e outros na vida petista. O Partido
precisa preparar-se para mais e futuros aguerridos embates. Luciana é peça da política
local. Esta continua sendo uma liderança importante e necessária à cidade. Será bom
trazê-la para a vida política local, firmando mais a sua presença no estilo de vida do
Partido.
Analisar melhor a participação dos petistas para uma melhor organização do
Movimento Colônia e Cidadania, como expressão de reflexões políticas sólidas para a
cidade, mantendo a sua autonomia frente ao Partido.
Manter a comunicação mais direta do Diretório de Colônia com os demais
diretórios municipais do Partido e, sobretudo, maior inserção na vida política estadual e
nacional.
Talvez, com o crescimento do Partido, seria necessária a reedição dos cursos de
formação política nos moldes daquilo que já se fez e se parou. As análises políticas,
hoje, estão sendo dominadas pelos comentários da rede globo, tão somente. Nesses
cursos, é necessária a presença de material originário petista e de material atual do
Diretório Nacional, sobretudo, agora, que se prepara o 5º. Encontro do Partido dos
Trabalhadores.
Avante Partido!
Colônia Leopoldina, 3 de janeiro de 2013.
415
ANEXOS 14
CARTA DO MCC À PREFEITA61
Exma. Sra. Prefeita
Paula Rocha
Sra. Prefeita:
Este Movimento Colônia e Cidadania (MCC) segue atento às políticas em
desenvolvimento na nossa cidade, mantendo a sua disposição originária de contribuir
para a conquista da cidadania das pessoas. Com esta perspectiva, queremos lembrar a
nossa primeira carta enviada à Vossa Excelência, apresentando o nosso apoio ao
Governo, no desejo de poder contribuir com propostas para as políticas da cidade.
Estamos enviando esta segunda carta, após balanço de seus 100 (cem) dias de
Governo que, após análise crítica, com aspectos positivos e negativos, reafirmamos a
nossa disposição de apoio, na expectativa de que melhores dias virão para o município.
Assim, a contribuição deste Movimento é apresentar sugestões para o seu
Governo, que após a análise de V. Exma, possam ser ou não implementadas, seguindo o
eixo central da vitória eleitoral, a mudança:
1. Criação de um Conselho Político de Governo, com pessoas que podem
contribuir ao seu Governo, com a participação de diversos setores
sociais, religiosos, partidos políticos da base sem ser vereador, gênero
e idade...;
2. Reunião mensal com Secretários da Prefeitura, socializando a política,
verificando metas e definindo novas políticas, informando-os das
políticas gerais;
61
Esta é a segunda carta do Movimento Colônia e Cidadania entregue à Prefeita Paula, com sugestões à
sua Gestão.
416
3. Reunião trimestral com a base de sustentação do Governo para que
assuma a defesa do governo com mais e melhores informações
qualificadas;
4. Reunião semestral com o Conselho Político para balanço do Governo e
definições de novas prioridades;
5. Organização do Planejamento do Governo com definição de um Plano
de Metas para os novos três meses;
6. Promoção do Orçamento Participativo;
7. Fomento ao funcionamento dos Conselhos e criação de outros que se
façam necessários;
6. Prestação de contas de maneira didática para a população, praticando a
transparência pública;
7. Divulgação para toda a população das medidas administrativas
tomadas, utilizando os meios que existem na cidade:
a) os carros de som explicando medidas tomadas;
b) uma folha de papel impressa com a mesma finalidade e distribuída
na cidade.
Reafirmando a nossa disposição nas lutas pela cidadania do povo, na cidade e no país,
desejamos sucessos para os novos tempos que virão.
Atenciosamente,
Colônia Leopoldina, 21 de abril de 2013.
Maurício Pereira Thiago Sotero
Membro da Coordenação Membro da Coordenação
417
TEXTO 15 – Entrevista com Luciano e Maurício
Entrevista62
José Luciano Pereira da Silva e Maurício Pereira de Sousa63
1. Histórias de vidas.
Maurício.
Maurício nasceu em Colônia Leopoldina, Alagoas, mas parte de sua vida passou
na Califórnia brasileira, a cidade paulista de Ribeirão Preto. Na vinda para Colônia,
participando de várias atividades políticas em embriões de Movimentos Sociais que
aqui se iniciavam, ingressou, no Partido dos Trabalhadores (PT). Um filiado petista o
convidou naquele momento. Ele não tinha qualquer vontade de se inserir na luta
político-partidária e nem a conhecia. Mas, os petistas precisavam de um certo número
mínimo de títulos de eleitores para a legalização do Partido e, assim, veio a assinar a
ficha de filiação partidária. O pensamento era o de que, posteriormente, tiraria o nome
da lista dos petistas. E aí ficou até 1988, sem participar de qualquer atividade. É quando
surge a campanha de Lula. É aí que se inicia a sua atuação com pichações na cidade,
devido à campanha e tomando gosto pela militância no PT.
Mas, eis que ocorreu a doação de um pedaço de terra a algum agricultor, no
Engenho Pé de Serra, precisamente nos anos de 1988, gerando, logo em seguida, uma
ocupação no sítio Grota Dàgua, nas terras de Joaquim Monteiro. Foi uma ocupação que
ocorreu de forma espontânea, envolvendo Maurício, doravante, nas questões da terra.
62
Entrevista realizada no dia 13 de maio de 2013, em Colônia Leopoldina, Alagoas, com a presença de
vários participantes de Movimentos políticos, após uma reunião do Movimento Colônia e Cidadania
(MCC).
63
Dois militantes e representantes de forças políticas populares, Maurício Pereira de Sousa e Luciano Pereira da Silva, ambos ex-presidentes do Partido dos Trabalhadores (PT), expõem suas vidas políticas e visões de Movimentos Sociais, da política local e nacional, desde o início da década de 1980 ao primeiro semestre de 2013, em Colônia Leopoldina, Alagoas.
418
Nisto, parece estar o germe da ocupação do INCRA64
, em Maceió, e, logo depois, nas
terras do Mandacaru, em Colônia Leopoldina. O objetivo da ocupação do Mandacaru,
uma ocupação na cidade, era também avançar mais para as ocupações no campo. Este
objetivo foi esquecido, posteriormente, ficando, tão somente, na ocupação deste lugar.
Nesse momento, tem-se o Collor como Governador do Estado de Alagoas e seu
Vice Moacir Andrade. Inicia-se um Movimento pela moradia em todo o Estado e o
Sindicato Rural assume a luta de Grota dágua.
Dessa maneira é que se pode afirmar que o Mandacaru foi a universidade que o
Maurício não teve. Esta foi a sua escola política. Daí, foi um passo para mais participar
do Movimento de ocupação de terra, tanto na área rural como em áreas urbanas, em
todo o Estado. O objetivo dos Movimentos era criar ocupações e a primeira conquista
seria denominada de Zumbi dos Palmares. Não foi bem o que ocorreu. Colocaram um
outro na Comunidade conquistada, em Maceió, hoje denominada de Conjunto Rosane
Color e Sônia Sampaio, nome das elites alagoanas. De qualquer maneira, foi assim que
ele entrou no Movimento dos Sem Teto. Neste Movimento Social, ele permanece até
hoje.
Mas, na perspectiva da política partidária, pode-se destacar que participou de
vários Partidos, considerados como de esquerda. Inicialmente no PT; por problemas
internos, foi para o PSB65
. Posteriormente, retorna ao PT. Com grupos petistas
simpáticos ao PSOL66
, viera contribuir para a sua fundação, retornando, ainda, ao
Partido dos Trabalhadores, Partido em que está hoje. Segundo ele, tal qual o filho
pródigo, que volta à casa, mas nem por isto deixa de manter-se no campo da crítica ao
Partido e ao Governo da Presidenta da República - Dilma Roussef.
Luciano.
Nasceu em Angelim, cidade do Agreste de Pernambuco, chegando com seis anos
de idade nas terras da cidade de Colônia Leopoldina. Veio como muitos que se
retiravam de suas terras, por motivos econômicos, mas que sempre voltavam a visitar a
família anualmente. Estabeleceu-se, finalmente, na cidade, no ano de 1986.
64
Instituto Nacional da Reforma Agrária. 65
PSB - Partido Socialista Brasileiro.
66
PSOL - Partido do Socialismo e Liberdade.
419
Começou a estudar aos 9 anos. Aos 13 anos, chegou a participar da conquista de
um pedaço de terra no Movimento do, então, Mandacaru. Ficou com sua família
estabelecida alí, participando da conquista daquela terra, em que todos adquiriram seu
teto para morar. Neste Movimento, contudo, é que começa a sua história de vida
política, a sua participação em um Movimento Social.
Aos 16 anos, era delegado do Movimento Nacional dos Sem Teto. Representou
o seu local e o seu local era Mandacaru. Neste momento, no Movimento do Mandacaru,
além de uma Associação67
já existente, criou-se uma segunda, permanecendo até o
momento. Ele se definiu por um desses grupos. Foi, então, que surge a oportunidade de
participar de um curso de formação política, patrocinado pela CPT68
, em Colônia. Ele
trabalhou como servente e foi como servente que o seu chefe liberou-o para tal curso,
durante dois dias, sem descontos em seu pagamento de final de semana. Este é o
primeiro curso de formação política de sua vida, já com 19 anos. E foi na CPT e com a
CPT que surgiu o Movimento de Educação Popular, em Colônia, que viera a constituir-
se em política de Estado e geradora de outros Movimentos que apareceram na cidade.
A partir deste curso, Luciano fica na atuação educativo-popular da CPT,
largando o serviço de servente de pedreiro e dando aula para crianças, na comunidade
de Vila Nova (antigo lixão). Em seguida, atuou na Coordenação da Educação Popular
na região, participando em Colônia, Ibateguara e Campestre, sob a coordenação da
Associação da Educação Católica de Alagoas (AEC).
O seu trabalho era mobilizar pessoas, contribuindo para ocupação nessa região.
A primeira delas foi na Fazenda Onça, município do Novo Lino, tendo sido uma
novidade no lugar e gerando, também, reações conservadoras, com seus fantasmas
pistoleiros pelas fazendas da região.
Saindo da Educação Popular da AEC, passou a atuar junto aos Sem Terra,
durante 2 anos no MT, que é o MTL69
. Mesmo de forma ainda incipiente, o Movimento
político de construções de políticas populares em Colônia foi se consolidando. Esta foi
uma preocupação conjunta no pensamento da Igreja Católica e no Partido dos
Trabalhadores. Um Movimento que busca superação do analfabetismo. É algo político
que as Associações transformaram em intervenções sociais, contribuindo com esse
67
AMM – Associação dos Moradores de Mandacaru e ADECOMA – Associação de Desenvolvimento
Comunitário do Mandacaru.
68
CPT - Comissão Pastoral da Terra, vinculada à Igreja Católica. 69
MT – Movimento dos Trabalhadores e MTL (Movimento de Trabalhadores por Liberdade).
420
legado desde a criação da primeira escola de educação de jovens e adultos, iniciada pela
Igreja Católica, tendo sido assumida como uma política de Estado, estando Colônia
neste trecho.
É importante destacar, nas tentativas de formulações de políticas populares, aqui
na região, o Movimento Estudantil. Um Movimento que esteve por fora das elites
dominantes da cidade, trazendo sempre preocupações às mesmas.
Luciano esteve no final de um ciclo do Movimento Estudantil em que houve o
apoio do Padre Aldo Giazzon, sacerdote italiano, que passou pouco mais de uma década
como vigário na cidade. Pode participar, ainda, de fortes mobilizações e com
enfrentamentos com os grupos políticos dominantes locais que não queriam uma escola
progressista.
Foi a posse do estudante Genésio, estudante combativo que, contraditoriamente,
começou a se esvaziar o Movimento dos Estudantes. Foram perseguidos não somente os
próprios estudantes como, também, os seus familiares que trabalhavam na Prefeitura,
com as ameaças de demissão dos mesmos. Dizia-se à época que o Governo Municipal,
pressionava os familiares dos estudantes que trabalhavam na Prefeitura, ameaçando-os
de demissão do trabalho. Contudo, o Movimento retoma alguns anos depois, mas com
muito pouco êxito. Tudo isto como produto da mobilização pela Educação Popular,
juntamente com o Movimento Estudantil que qualquer um pôde, à época, acompanhar.
Algo importante de registro, num período com forte perseguição aos
Movimentos locais, vem por meio do poder público, buscando abafar tais Movimentos,
em especial o do Mandacaru. Não só em nível de perseguição direta a alguns, mas
sobretudo, propalando o preconceito de que todo tipo de maldade que ocorria na cidade,
o ponto de partida, a origem, era sempre em Mandacaru. Ser do Mandacaru virou
sinônimo de discriminação e de preconceito. Como não tinham conseguido acabar com
o Movimento no campo jurídico, passaram a promover o preconceito para com seus
moradores. Isto pode ser vivido na Escola Aristeu, uma escola pública, mas que havia
discriminação para com os alunos que moravam na região do Mandacaru, a exemplo de
si mesmo, assim como do Dinho e do Silvânio que foram estudantes nesse momento.
Todos puderam sentir na pele tais preconceitos, mesmo hoje, com a vitória do
Mandacaru, que já tem 22 anos de existência.
A partir do ano de 1999, Luciano chegou ao Partido dos Trabalhadores, mesmo
que já fizesse parte das suas campanhas políticas. Este caminho foi uma construção
mais longa, pois já estava na Educação Popular, na AEC, e já tinha simpatia pelo
421
Partido. Houve, finalmente, a sua filiação, retomando-se o trabalho social de combate à
miséria com forte apoio do Pe. Aldo. Este mesmo com suas contradições na condução
política desses Movimentos, contribuiu com a administração da Associação de
pequenos produtores locais, denominada de ATRAPO70
. Também foi marcante a sua
contribuição na organização do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, em toda a Região
da Zona da Mata Norte de Alagoas; ainda é destaque no seu trabalho, o de cuidar de
crianças desvalidas da região.
Essa Associação, com o retorno à Itália desse sacerdote, passou a ter problemas
administrativos com o seu próprio pessoal, como o Florisval, o São e o Irapuan, que
fizeram parte de suas diretorias. Também esteve neste momento pessoas como Beth
Moreira e Ivanilda, que ficaram na linha de frente do trabalho. O Luciano também
esteve participando desse agrupamento, mas sem importância central na Diretoria da
Associação, promovendo o trabalho com jovens alcoólatras, além do trabalho com as
crianças. Um trabalho social em que o Padre não pode deixar de ser lembrado. Foram
ações políticas e que, contraditoriamente, o Governo local chegou a apoiar, pois eles
mesmos nunca se dispuseram a enfrentar este tipo de trabalho social.
Ainda nessa época surgiram na zona rural várias associações que foram criadas,
único e exclusivamente, para adquirirem crédito rural. Aparece a ACOPAL71
que
chegou a ter mais de trezentos sócios/filiados. Essa entidade chegou a falir, não dando
continuidade em seu trabalho e arrastando consigo a maioria de seus sócios que
quebraram, também. Este é um registro importante para os caminhos da agricultura
local. A Associação fazia os Projetos para os agricultores, sumindo depois de Colônia.
Se algum agricultor, com problemas no Banco, problemas de débito, fosse consultado,
ele afirmaria que fez parte da Associação do Sr. Dedito que a comandava. A maior parte
desse Projetos com débito no Banco se deu por aquela entidade que desapareceu da
cidade.
Isto se constitui como um grande sofrimento às pessoas, mas, de certa forma,
expressa um Movimento de pequenos produtores e trabalhadores, que participaram de
criação de associações como a Alvorada, tendo como presidente Adelmo Lins72
, com
políticas muito pontuais, sem continuidade alguma, e que fizeram muito mal a essa
70
ATRAPPO - Associação de Trabalhadores e de Pequenos Produtores Rurais dos municípios próximos
da Bacia Hidrográfica do Rio Jacuípe: Colônia Leopoldina, Jacuípe, Jundiá e Novo Lino (em Alagoas),
Xexéu e Maraial (em Pernambuco). Foi fundada em 15 de março de 1988, em Colônia Leopoldina.
71
ACOPAL – Associação de Produtores Rurais e Pecuária. 72
Ex - Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Colônia Leopoldina.
422
gente. São políticas de setores não dominantes que expressam desejos de acertos por
parte daqueles que almejavam certa autonomia em seu modo de viver.
Hoje, pode-se dizer que se vive em um novo momento desses Movimentos e em
outro tempo, também. Há um novo Governo de mudanças na cidade, havendo uma
prefeita do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Luciano espera que esse momento
novo que a cidade está vivendo possa contribuir para não se ver nunca políticas que não
ajudem aos setores trabalhadores.
Este é um legado em que também Luciano participou, sempre com destaque para
a Educação de Jovens e Adultos. Aguarda-se, assim, que outras políticas possam se
transformar em políticas públicas e até como políticas de Estado. O programa de
Educação de Jovens e Adultos é produto das políticas não dominantes e que alcançaram
dimensões gerais de políticas públicas, e não apenas de pequenos grupos.
2. Visões a respeito dos Governos Dilma e Vilela73.
Luciano.
Para ele, esta é uma tarefa difícil. A presidenta Dilma é um instrumento, um
Projeto que o PT acumulou durante toda a sua trajetória de vida. Dilma é produto desse
Projeto. Vem executando aquilo que o Partido traçou durante a Gestão de Lula, a partir
do seu planejamento. Mas, também, difere de Lula, pois este é popular, abraça todo
mundo enquanto Dilma quer resultados imediatos. Ela aperta naquilo que Lula
afrouxava. Ela é Projeto do PT e é a continuação desse Projeto.
E é claro que um país como este precisa apresentar resultados. Para isto, tem
aperto na economia. Mas, lá em baixo, nos municípios, ela promove a organização
desses municípios em todo o país. Ela quer a organização dos municípios. O Governo
Dilma dá condições técnicas e financeiras para se fazer planejamento. Podem ser
citados exemplos vários como o do Saneamento Básico, o Plano Diretor. Qualquer um
pode ir ao Ministério da Cidade. Qualquer município pode enviar Projetos com fortes
73
Teo Vilela, Governador do Estado de Alagoas. É filho do ex-senador por Alagoas, Teotônio Vilela,
usineiro e figura importante na luta pelas Diretas, Já!
423
possibilidades de contratação de pessoal. Eles estão fazendo coisas, lá em Brasília, que
fazem o Governo acontecer.
Por outro lado, o Governo Vilela vive de mídia. As verbas da comunicação são
quase as mesmas para a educação. É um Governo só de mídia. Um Governo do faz de
conta. O Teo tem feito muitas coisas mas, tudo, através do Governo Federal. O suporte
dado é para que o Estado de Alagoas saia da situação de miséria, indo para um aceitável
desenvolvimento. Em seu Governo, a classe trabalhadora está ferrada e as elites
permanecem muito bem. Ele é um Governo de muita conversa e poucas realizações. Um
Governo que o próprio PT reclama dos tantos recursos que já lhes foram repassados,
gerando certo ciúme partidário, considerando que o mesmo é do PSDB, o Partido
responsável pela maior crítica ao Governo da Dilma. Mas isso, por conta do combate à
pobreza que é uma luta que vem sendo travada pelo Governo, independentemente do
Estado ou Partido dominante, naquele Estado. E uma das mais importantes obras do
Governo Federal, com todos os problemas que poderão causar ao meio ambiente no
futuro, é o Canal do Sertão, que trará mais água para o povo daquela região e outros.
Maurício.
Falar de Dilma é falar da origem do PT, nos anos de 1980, das mudanças que
houve no Partido. É preciso entender a política do Lula e do Chaves, pois são muito
parecidas, mas diferentes, além de comparar Lula, Chaves e Dilma. Lula quando foi
eleito defendia o socialismo. É um líder que veio do ABC paulista e surgiu a partir das
necessidades de fundação de um Partido para levar os desejos dos trabalhadores avante.
Portanto, as propostas dos três são as mesmas.
Maurício não tem dúvida de que o PT vai governar o país por mais de 20 anos.
Qual é a oposição? Os tucanos? Eles até que criaram mecanismos de política
econômica, mas, hoje, estão fora dessa disputa geral. O Partido dos Trabalhadores, é
bom que se diga, aprofundou muitas de suas políticas como a das cotas. Não há
candidato para bater chapa com o PT. Mesmo assim, Maurício apresenta críticas quanto
à frouxidão de Lula em relação a montar o sua plataforma de Governo após a eleição.
Lula aproveitou um Meireles (que sempre foi tucano), no Banco Central, e outros
parecidos. Isto nunca foi uma atitude petista. O Governo do Lula, todavia, tem
importantes avanços como na educação. Ele afirmou que o filho do pedreiro e o
engraxate iriam à universidade. Isto aconteceu com as cotas. Mesmo assim, as cotas são
políticas emergenciais e não devem permanecer por toda a vida, não pensando na
424
qualidade da educação para todo mundo. As notas ruins que se tiram no vestibular pelos
alunos das escolas públicas são por conta de que os professores daquelas disciplinas não
sabem ou não estão ensinando nada. E assim como as cotas, seguem a mesma política,
como as bolsas famílias e outros programas sociais. É preciso se ensinar a pescar, e não
garantir o peixe, mesmo que nenhum brasileiro deva passar fome. Até mesmo a Bíblia
lembra que cada um vai viver com o suor de seu rosto. Então, todos precisam ter
oportunidades.
Para ele, o Governo Dilma teve seus avanços, mas não a considera tanto petista.
Dilma veio do PDT (Partido Democrático Trabalhista, do Brizola). O Lula, entretanto,
achou que ela era a melhor para o Brasil, naquele momento. Assim é que o Governo
Lula, mesmo com tal frouxidão, teve seus avanços. Por exemplo, a reforma agrária dos
sonhos não é esta que se tem. Mas, há saúde mesmo precariamente. Na segurança, é
preciso pensar mais para mudar isto. Com tudo isto, o Governo petista é diferente dos
tucanos. Falo da visão política da Social Democracia e do Socialismo. O atual PT é
muito social democrata. Isto não é bom.
Mas, é claro também que houve mudanças com a Presidenta Dilma. O sonho,
todavia, continua muito longe. Repete, ainda, que o PT, sem sombra de dúvida,
governará ainda o País por 20 anos. E tem mais: haverá mais mudanças e elas não caem
do céu. Tudo isto é produto das lutas da organização dos trabalhadores.
Não se pode negar que o Brasil cresceu com Lula e com Dilma. Eles estão aí. Os
tucanos são um atraso, por outro lado. Eles venderam tudo que o país tinha e ninguém
sabe onde está o dinheiro. O que foi construído com o suor da classe trabalhadora, eles
venderam tudo, sucateando-se tudo de valor: assim é o PSDB, o Partido da Social
Democracia Brasileira.
Já o Governo Vilela é tudo que há de atraso em Alagoas. Vilela é filho de
usineiro. Seu pai, no final da vida, tornou-se progressista. O pai dele lutou com Ulissses,
com Lula, com o jogador Sócrates pelas “Diretas, Já!” Mas o filho dele, o Téo Vilela, é
o atraso do Estado. É populista e só faz propaganda. Diz toda hora que está fazendo,
mas nada existe. É um Governo mentiroso, populista, defensor do latifúndio e dos
usineiros, simplesmente. É o atraso do Estado. Quem sabe se não é também grileiro de
terra? Esses fazendeiros em Alagoas têm terra demais, mas ninguém sabe como
conseguiram essas terras. Até aqui, em Colônia, dizem que Nossa Senhora do Carmo
tem toda a terra da região. Mas ninguém sabe. Os fazendeiros daqui são os mesmos do
grupo de Collor, de Renan Calheiros e do Teo Vilela. Isto faz o Estado de Alagoas o
425
mais reacionário do país. É pequeno, mas cheio de coronéis e, em Colônia, eles também
imperam. São a mesma corja. Eles não mudam.
3. Mudanças em Colônia Leopoldina.
Maurício.
Este tema tem várias compreensões. O que pode ser mudança para mim, não é
para outro. Pode-se falar, então, da plataforma do Governo, do grupo e do povo que
queria mudança. O Governo de Colônia não mudou nada. Mudança no sentido de alterar
os nossos pensamentos na atuação política. A pessoa pode ter participado da campanha
e a mudança dela é ter um carro "agregado" à Prefeitura. Em outras palavras, empregar
o carro, para essa pessoa, pode ter havido mudança. Mas, se mudar é ter remédio, ter
educação para os filhos da cidade, então, não está havendo mudança. Muitos entendem
que mudança era aquilo do emprego do carro. Mudança não é oportunismo político.
Mas, a busca continua para se ter mudanças em Colônia, no sentido de fazê-la
diferente. Todos passaram 12 anos só com uma administração e a sociedade anestesiada
diante daquilo. Acontecia uma letargia que ninguém falava nada. Apenas o Movimento
Colônia e Cidadania falava e com muito cuidado. O Prefeito passava o mês inteiro em
Maceió e chegava aqui pagando cachaça para todo mundo. Estavam lá todas as sujeiras
jogadas na rua, aqui no pé do morro do Mandacaru. Lixo por todos os lados e nada de
calçamento, e muito menos as conversas de pavimentação da cidade. É a casa de cima
que tira a terra e joga na de baixo e a de baixo cuida para não arrear a de cima. É uma
complicação. Tudo é culpa do Governo passado. A cidade não cuida de seu Código de
Postura e muito menos havia qualquer fiscalização. A posteação é feita de forma
aleatória e sem água canalizada. Colônia era uma terra sem lei. Em cada palmo da
cidade tem um quebra-molas de carros, no sentido mesmo de quebrar mola.
O que seria a mudança? Mudança é algo que passa pela participação popular,
mesmo que ainda não seja muito clara. Pode-se pensar numa Gestão que seja popular e
democrática. Pode-se pensar num planejamento participativo, num orçamento em que as
pessoas decidem onde aplicar aquela parte do dinheiro público. Isto seria importante e
necessário para a mudança e para a conquista da cidadania, conforme a visão do próprio
426
Movimento Colônia e Cidadania. O povo precisa saber o quanto de dinheiro entrou para
a saúde, para a educação, para a agricultura, a questão ambiental, etc. A mudança só
pode haver se existir o diálogo com a população, com os diversos segmentos da
sociedade. Isto é importante. Como já foi proposto pelo MCC, é importante a proposta
política, como a da construção de um Conselho Político que seria o diálogo da
população com o Governo Local. Isto é mudança. Isto vai acontecer? Há dúvidas quanto
a isso. Conduzir uma Gestão dessa maneira, isso seria mudança.
Um exemplo maior é o da educação. Ela só muda por meio do diálogo, com
parceira com os pais de alunos, os estudantes e os professores/as. Como isto não está
acontecendo, então, os problemas vão continuar. A mudança é respeito aos humanos.
Aliás, durante a campanha, o mote da oposição foi: "prefeito respeite o povo", dizia
Paula. Estas foram as promessas. Ela não se cansou de dizer isto. Na sua Gestão,
prometeu que o vice seria ativo e hoje não tem nada disso. O vice seria um ajudante na
administração. Mas, cadê o vice? Está ajudando ou somente plantando cana. Um
exemplo nessa direção foi a vice Heloisa Helena, em Maceió, à época no PT, que
recebia os Movimentos Sociais, discutia propostas e encaminhava as reivindicações
para o Ronaldo Lessa, Prefeito de Maceió, de então. Quanto aqui, em Colônia, o atual
Vice-Prefeito está um zero à esquerda, na Gestão.
Luciano.
Na ótica do Partido da Prefeita, o PTB, houve mudança pois, derrubou um
Governo de 12 anos na cidade - o Governo dos ex-prefeitos Manuilson e seu seguidor
Cássio. Por isso, a sociedade entende que houve mudanças. O Governo de Paula é um
Governo de mudança que daqui para frente precisa organizar as suas metas de governar.
O cumprimento das promessas é outra coisa. Para eles, houve mudança a partir,
inclusive, da mudança da equipe. Agora, toda ela é daqui do município. Trouxe os
filhos da terra. Os cargos da administração são filhos da terra. Isto apresenta sentido de
mudança.
Mudança é processo contínuo e não apenas de curto e médio prazos. Não se faz
mudança de comportamento, apenas, em uma Gestão. O Governo da Paula pode fazer
mudanças com esse sentido colocado, isto é, na visão que eles defendem. A sua
plataforma de mudança é algo diferente. Observe-se que o próprio PT também mudou
os seus objetivos quando se abriu às coligações, com uma clara estratégica de mudança.
427
Aqui em Colônia, o Partido mudou seus objetivos e estratégias, fazendo alianças que
possibilitaram eleger um vereador. Mudou para ver a sua estratégia funcionar. Então,
nesse Governo atual, podem-se ver mudanças. A sociedade vê isto. Não se tem a
mesmice do antigo Governo. O Governo está interessante mas, não apresenta mudança
de comportamento. O algo novo é ter um Fabiano Amâncio fora do Governo, um
Waulísio e mesmo um Prefeito fantasma, o boneco do Manuilson, que foi o ex-prefeito
Cássio. Isto é mudança e o povo desejou fazer essa mudança. O povo vê mudança nesse
sentido.
O Governo atual não tem muito o que mostrar em termos de mudanças mais
profundas. Talvez, seria bom que mudanças houvessem no sentido petista de governar,
no sentido mais radical conceitualmente, buscando a mudança na raiz da sociedade.
Para isto acontecer, será preciso muito trabalho, ainda.
É bom lembrar que pouca gente viu o Projeto desse Governo. Não se via no
Projeto nem mesmo um desejo de mudança, nesses termos anteriores, mas havia
sentimento respeitoso em que o povo desejava mudança. Reafirma-se que o atual
Governo tem tudo para fazer as mudanças. Tem capital humano, capital financeiro, pois
não faltam verbas vindas do Governo Federal, contribuindo para se fazer mudança.
Mudanças pensadas, sim, de ordem estrutural, mas não ainda, de ordem política. É
difícil enxergarem-se mudanças a médio prazo. Haverão mudanças contingenciadas,
com trocas de pessoas. Não se pode esquecer que a origem desse grupo que governa
agora é o grupo do lado, particularmente, da entranha do Zé Maria Quirino, usineiro e
tio do Manuilson, ex-prefeito que Governou a cidade por 12 anos.
Na questão estrutural, há chances de se fazer mudanças. E se pode fazer maiores
mudanças. O grupo do atraso não estava adormecido. A diferença da vitória foi de 128
(cento e vinte e oito) votos. Um povo que estava ligado pela questão financeira e com
seus próprios negócios com a Prefeitura. O povo queria mesmo era mudar os cabos
eleitorais. Mas, só uma pressão maior pode avançar e aprofundar o sentido de mudar.
Algum partido pode contribuir com isto e, no caso do PT, que mudou sua estratégia,
vem no sentido de implantação dessa estratégia política. Agora, já conseguiu eleger o
seu primeiro vereador, com 30 anos de existência, na história política da cidade.
A mudança política, no sentido de mudança de postura política ainda não se
conseguirá nem agora e nem num futuro próximo. A questão que se coloca de mudar é a
mudança do ser humano. Nem mesmo um PT de origem faria isto, na atual conjuntura
428
da cidade. Todavia, o campo está aberto para mudanças estruturantes. Mudança de
postura política, nesse atual Governo, não haverá.
4. Políticas populares marcantes na trajetória de suas vidas e em Colônia
Leopoldina.
Maurício.
A partir da luta do Mandacaru e da Grota Dágua, foi possível ocuparem-se
vários outros lugares em Maceió e na Zona Rural da Mata, em Alagoas. Claro que
houve repressão política, cachorros na rua e enfrentamento com a polícia. Mas aqui, a
mais marcante foi a ocupação do Mandacaru, o Movimento Social, que ainda hoje, mais
se respeita. Essa ocupação parou Colônia. Quem nasceu naquela época já está com 22
anos de idade. "Os meus filhos nasceram lá, em barraco de lona e em casa de taipa". Foi
um acontecimento que teve mais repercussão. Naquela época, houve uma caminhada até
Maceió. "Você, Zé de Melo, fincou aqui o PT, juntamente com outros . Você plantou
esse germe".
Mas houve contradições, como o apoio da Igreja Católica, que ora é boa e, em
outros momentos, nem tanto. É como parente e polícia. Na confusão, se pede polícia,
mas estando ela perto, incomoda.
Luciano.
O mais marcante Movimento foi o da Educação popular, aqui no Município.
Mandacaru foi importante, mas a sua participação foi pouca, considerando ser ainda
criança. A Educação Popular contribuiu com a alfabetização das pessoas, de vários pais
de família e em sua formação. Muitos deles choravam quando recebiam seus diplomas,
trocando suas carteiras de identidade. Além deste, também houve o Movimento da
Reforma Agrária. Aí, atuou durante 2 anos e saindo para poder estudar.
5. Forças políticas que se podem contar para mudanças, em Colônia Leopoldina.
429
Maurício.
No município, há o PTB, a família Lamenha e a Usina Porto Alegre que é uma
composição política local vitoriosa. Mas, não se pode esquecer que facilmente pode
haver divisão entre eles, alguns rachas internos. Essas forças que estão juntas hoje,
amanhã podem não estar. Hoje, o Governo de Paula está com o PT, família Lamenha,
Usina Porto Alegre e a depender da condução da Gestão, a composição pode dividir-se.
A Usina Taquara e o PSB têm o Vice-Prefeito, cujo Presidente é o usineiro e o
tio do Manuilson. Ninguém sabe o que vai acontecer. O Governo, hoje, pode não ser
Governo amanhã, sem contar com parte das siglas que pensa, apenas, em se darem bem.
Parte das siglas políticas pensa só para si. A política do país e a local são assim. A
Presidenta Dilma, para manter a governabilidade, tem de fazer acordos. Se são acordos
esdrúxulos ou não, não se está na análise do mérito. Também, a governabilidade local é
na base do acordo. Existem os poderes e nem um nem outro deve querer interferir no
outro. Eles precisam estar em harmonia. A interferência sempre gera problemas.
Luciano.
Destaca-se, ainda, na discussão de mudanças, que só o PT, em Colônia, coloca-
se como uma agremiação política e ideológica. Só o PT tem esse trabalho ideológico.
Os demais Partidos esquecem seus programas e se tornam simplesmente personalistas.
As siglas partidárias não dizem muito. O PSB, o PTB não têm figuras históricas na
cidade. Contudo, apresentam forças, nesse bloco citado, que podem ajudar.
O PT é um deles que poderá canalizar essa dinâmica de mudanças. Outro
agrupamento, contraditoriamente, é o pessoal que é ligado aos Democratas (DEM), em
especial a família Luna. Eles são ligados à Destilaria e ao Governo do Estado, podendo
trazer algum dinheiro para cidade. Agora, como parceiro para o PT, em médio e longo
prazo, não se pode ver relações com o Dem. Já quanto à família Luna, isto é possível. O
PSB não ajuda à mudança, mas a família Lamenha pode contribuir nessa direção - uma
mudança estruturante. Assim, podem ser aliados no futuro. Então, têm-se o PT, o PTB
(do senador Collor e da Prefeita) e o Dem, pela família Luna, que tem a mão no
Governo do Estado.
430
5. Sonhos de mudanças.
Luciano.
A mudança de seus sonhos é a do sonho petista de governar. A mudança seria
orçamento participativo, a implementação de ações e ferramentas com a transparência
dos recursos públicos para a sociedade. Mudança é a forma petista de governar: o como
será a aplicação das verbas públicas e muita discussão com o povo. Isto promoveria
mudanças políticas e mudanças de mentalidade política na região, com o exercício da
participação popular. A contribuição do Governo, na viabilidade de políticas que
ajudem à criação e ao fortalecimento das organizações populares. Haveria o
fortalecimento das entidades da região, a criação de associações que funcionem e a
preparação de quadros para suas direções. Esses seriam os sonhos petistas,
sedimentando popularmente a política.
Maurício.
Para Maurício, não só os sonhos petistas, pois estas são utopias. O PT,
administrando Colônia, é uma utopia. O sonho é o de uma sociedade fraterna, igualitária
e plural. Para isto acontecer, é preciso intercâmbio, diálogo, parceria e entendimento da
administração com a sociedade, a sociedade civil organizada, como as associações e o
Governo.
Careceria de uma administração em que a sociedade muito orienta e define a
política pela participação; pela participação desde a campanha política, pela definição
da Plataforma de Governo, definindo modelos de Gestão em todos os setores da
administração pública. Um secretário deveria ter competência, sim, mas ser um elo vivo
com a sociedade. Seria assim, mas isto só vem com a mobilização dessa mesma
sociedade. Um Governo com o exercício da crítica. Uma comunidade que siga as ações
de vereadores, através de agremiações e associações. Estas só funcionarão se tiverem
origem no povo e, jamais, de cima para baixo.
6. E mais uma outra questão.
431
Maurício.
A mudança vem a partir do momento em que o Governo discute com a
sociedade, existindo um elo com a sociedade e Governo. O Executivo precisa discutir
com o Legislativo e o Judiciário. Todos esses poderes precisam ser criticados. Há
reivindicações que podem passar pelos Vereadores, pelo Prefeito ou pelo Ministério
Público. Enfim, judiciário, legislativo e executivo com certa dinâmica conjunta e em
harmonia. "... assim é que vejo o Governo de meus sonhos". Um Governo do Partido
dos Trabalhadores, em Colônia, é uma utopia. Mas, as mudanças não caíram do céu.
São produtos de muita organização das pessoas. As mudanças vêm se a sociedade
buscar. Muita gente foi morta, outros exilados... isto em todo o mundo, em busca de
mudanças, transformações, liberdade e justiça. É uma educação da sociedade,
entendendo que a mudança só se dá a partir desse Movimento geral - Governo e
sociedade. Um exemplo é o planejamento participativo.
"Meus agradecimentos aos presentes à entrevista".
Luciano.
Um tópico que gostaria de abordar são os elementos que vêm acontecendo
nestes últimos doze anos. O elemento de participação e a ausência política dos
agrupamentos políticos, com exceção do PT. Essa participação política só existia de vez
em quando, ou só em tempos de campanhas eleitorais. Hoje, parece diferente. Há
participação na vida política simples do dia-a-dia. É um elemento novo em Colônia. As
pessoas começam a participar da vida do seu lugar.
As principais lideranças de Colônia estão mais presentes na cidade. Isto muda a
forma de se estar na política. Isto exige do PT, por exemplo, a necessidade de se pensar
mais profundamente a política local e, também, a política das Associações. Isto poderá
mudar essas projeções políticas da cidade.
"Agradeço ao Zé de Melo e aos colegas que estão, aqui, escutando. À
Jacqueline, que organiza as mulheres; ao Thiago Sotero, que exerce cargo na
Previdência Municipal e que é também do PT e coordenador do MCC; ao Prof.
Bonifácio Neto, que coordena um setor da Saúde e é do PT; e ao amigo Prof. Sílvio
César, membro do Movimento Colônia e cidadania - MCC, assim como eu e os demais;
ao Maurício, Coordenador do MCC que dividiu esta entrevista comigo.
432
Colônia Leopoldina, 13 de maio de 2013.
Entrevistador: José Francisco de Melo Neto (Zé de Melo).
Professor Titular da Universidade Federal da Paraíba.
433
ENTREVISTA COM ANTÔNIO TIMÓTEO74
(1º. Vereador do Partido dos Trabalhadores)
História de vida.
Nasceu em União dos Palmares, município da Zona da Mata de Alagoas, em
1964, aonde viveu com os pais até 1980. A partir desse ano, foi trabalhar na Usina
Cansanção de Sinimbu, exercendo a função de Cabo Rural, passando um bom tempo
nesse trabalho, atuando no campo da usina. Depois, conseguindo uma vaga de
empregado em outro engenho, ainda permaneceu nessa atividade por mais três anos.
Quando foi dispensado, passou a morar no atual município de Teotônio Vilela,
participando das lutas políticas pela transformação do antigo distrito de Feira Nova no
atual município com esse nome. Era o Movimento pela Municipalização, estando aí
suas primeiras participações políticas e aí permanecendo até o ano de 1996. Lá atuava
como camelô e carroça de burro, além de trabalhar como agricultor. Também trabalhou
na Usina Guaxuma.
De Teotônio Vilela foi morar na cidade do Cabo de Santo de Agostinho, por 8
meses. Aí, trabalhou como camelô, na feira local. Daí segue para morar em Agrestina,
trabalhando no comércio no ramo de transporte alternativo, onde esteve presente nas
lutas pela liberdade do transporte coletivo e na luta pela reforma agrária. Aí, conseguiu-
se assentar várias famílias no povoado de Santa Tereza, junto com o companheiro Zé
Guegé, em Agrestina. Assim, também contribuiu para assentamentos em São Joaquim
do Monte, na Fazenda Brejinho.
Esse movimento dos coletivos era decorrente das dificuldades que a Prefeitura
de Caruaru estava impondo para o exercício dessa atividade. Foi necessária uma
interdição na rodovia por onde se chega a Caruaru, quando o Prefeito definiu a
passagem de ônibus de 4 reais para 1 real, impedindo assim o funcionamento dos carros
alternativos. Com a participação desse movimento e o seu carro na interdição da
estrada, teve de vender inclusive uma casa para pagar as multas que foram colocadas 74
Antônio Timóteo – Primeiro vereador eleito pelo Partido dos Trabalhadores, em Colônia Leopoldina,
nas eleições de 2012, iniciando o seu mandato em janeiro de 2013, como 1º. Secretário da Câmara. Fez
campanha pelas mudanças na cidade, participando da vitoriosa eleição da Prefeita Paula Rocha.
434
pela Polícia Rodoviária, por conta dessa interdição. Mas, chegou-se a uma negociação
com a mudança do Prefeito. E, hoje, tem-se um terminal em Caruaru para os 18
municípios da região. Isto só foi possível por intermédio de muita luta.
Saindo de Agrestina, veio morar em Colônia, onde já trabalhava nas terras da
Usina Taquara. Politicamente, pôde participar da primeira campanha da candidata
Luciana Luna, em 2008. Hoje, trabalha com a agricultura familiar, participando das
mobilizações desse ramo de atividade, bem como do Movimento Colônia e Cidadania –
MCC. Um Movimento para que todos tenham condições de exercer sua cidadania.
Nesse Movimento, passa a participar da luta por melhoria da vida dos leopoldinenses –
pela qualidade da água, pela melhoria da saúde, pela criação de associações de
moradores, movimento pela melhoria da energia elétrica, movimentos que ainda
mantêm as suas lutas. Ainda atua no movimento pela agricultura familiar, procurando
dar apoio pela Via do Trabalho. Este Movimento procura terras para a realização da
Reforma Agrária.
A partir de 2013, já filiado ao Partido dos Trabalhadores desde 2011, começa a
exercer o mandato de vereador, como 1º. Secretário da Câmara de Vereadores, após a
vitoriosa campanha da mudança na política da cidade, contra a permanência de um
grupo que já vinha governando por 12 anos ininterruptos. Portanto, faz parte de um
Grupo Político que procura melhores condições de vida para os leopoldinenses e na luta
por melhor saúde, educação e pelo combate à corrupção. Continua inserido em todos os
Movimentos Sociais que já vinha participando.
Visões a respeito dos Governos Dilma e Vilela.
Na sua avaliação, o governo Dilma, do seu Partido, tem se empenhado para
realizar as melhores coisas para o País. Mas, existem muitos problemas. O problema da
saúde é grave, mas o governo tenta equacionar. A mobilização que está ocorrendo
nesses tempos é boa advertência para toda a política e para a administração pública. A
educação precisa mais investimento. Precisa-se também que os gestores públicos
trabalhem com os seus corações mais voltados para a sociedade. O dinheiro público é da
nação. O dinheiro da nação precisa ser corrigido e fiscalizado. O maior problema a ser
enfrentado é o da corrupção. Todos os políticos precisam realizar o seu trabalho de
político com honestidade. Essa mobilização popular que está ocorrendo no Brasil inteiro
435
é para acordar os políticos brasileiros. É preciso uma maior fiscalização das verbas
federais aplicadas nos municípios. O pessoal que vem fazer fiscalização precisa fazer
sem qualquer corrupção. Sem isto, é difícil a realização de uma gestão melhor.
O governo Vilela, do Téo Vilela, do PSDB, estes sempre foram fortes em
Alagoas. Mas, esse Governo atual tem problemas com a segurança pública, a saúde, a
educação que é uma das mais fracas do país.
O concurso que houve para segurança faz muito tempo. A aposentadoria do
pessoal é por obesidade, por idade e não ocorre reposição desses quadros policiais.
Esses problemas, por sua vez, abrem possibilidade de novas lideranças como a que já
está se falando que é João Pereira, Deputado Estadual. Fala-se bastante da possibilidade
de se ter uma aliança com o filho do Renan Calheiros. Mas, isso tudo significa novas
lideranças com os mesmos pensamentos dos velhos políticos.
Visão a respeito do Governo Paula.
Até cinco meses atrás, eu não via mudança alguma. Mas agora, a Prefeita tem
mostrado aos vereadores os projetos para a cidade e os empecilhos que precisam ser
superados para que as coisas passem a acontecer. Ela tem mostrado também como está
enfrentando esses impedimentos. Assim, é que haverá reformas da praça em frente ao
antigo Fórum e mostrou até as dificuldades para se gastar o dinheiro da saúde. O
dinheiro do matadouro, por exemplo, por não se ter iniciado a obra, teve de ser
devolvido à Brasília. Isto é uma coisa que não se admite. Agora, o seu pessoal está
correndo par fazer outro projeto, fazer outro matadouro. Há, com isso, por exigência do
planejamento, a possibilidade de desapropriação de uma área de terra do Zé Genildo e
outra desapropriação das terras da Edilene para a construção de outro colégio. Tem
também o projeto para 50 moradias, além do início do saneamento básico que custará
aproximadamente uns 20 milhões. Haverá necessidade de mais desapropriação para o
tratamento sanitário da cidade para que a água que chegue ao Rio Jacuípe esteja limpa.
Isto exigirá mais de 20 hectares para a realização da obra. Isto será uma alavanca para a
cidade. Assim acontecendo, Colônia vai ficar na história.
Quanto à saúde, ela tem tentado passar o Hospital para o Estado. Mas, o Estado
não quer. Diante disto, a Prefeita está tentando algo pelo próprio município e isto pode
436
acontecer breve. Esta é a avaliação. Caso tudo isto seja feito, é um avanço muito
importante.
A experiência na Câmara.
A experiência na Câmara tem sido sempre com muita novidade. No início, levou
muita chicotada. Há todo um processo para enquadramento dos novos que chegam ali,
em especial com alguém que vem do Partido dos Trabalhadores, com a determinação de
ver as coisas acontecerem. Não se conhece nada de regimento ou outros procedimentos
internos. Mas a essa altura, já conhece os caminhos e procura mais aperfeiçoamento.
A maioria dos vereadores se coloca sempre como seu amigo, mas não é isto não.
Não há nada de amigo, e sim uma certa competição interna. O caminho é de muito
cuidado para não se queimar. Como primeiro Secretário, vê muitas dificuldades da casa.
São muitas opiniões e cada um pensa de uma maneira. Tomar decisão conjunta é
sempre algo complicado. Claro que se aprende muito, pois essa experiência mostra os
caminhos difíceis de se fazer democracia.
E se alguém é vereador de oposição, fazer oposição se torna algo muito mais
complicado. Mas, não é o seu caso, considerando que foi eleito nesse grupo político
pelas mudanças. Os vereadores ou estão com o governo ou são contra. Não há meio
termo. Hoje, os que eram de oposição estão todos com o Governo. Isto é o que vem
mostrando essa experiência na Câmara dos vereadores.
Políticas populares marcantes na trajetória de sua vida em Colônia Leopoldina.
A luta pela melhoria da saúde foi importante, pois se chegou a tirar um técnico
em agroperucuária que era Secretário de Saúde. Esse secretário era a cara da saúde.
Nesse momento, estão sendo resolvidas algumas irregularidades que ainda
permaneceram.
Merece destaque, também, o movimento pela melhoria da qualidade da água.
Outro movimento foi o apagão que aconteceu em toda a região. Com as denúncias dos
problemas da energia na cidade, inclusive o fato de ninguém nunca explicar nada,
sobretudo a Eletrobrás. Houve, então, coordenado pelo Ministério Público, uma
437
audiência pública que foi realizada com os prefeitos dos 4 municípios envolvidos nesse
apagão com os técnicos da Eletrobrás. O resultado foi a definição de que, em 2013, seria
instalada uma subestação em Arapiraca. Assim, foi possível se conseguir outro ramal de
energia. Isto foi fruto da organização resultante do apagão.
Outra mobilização foi a campanha de vereador na qual foi eleito vereador, o
primeiro de 30 anos de existência do Partido dos Trabalhadores. Imagine um agricultor
está exercendo um mandato e com compromissos com os trabalhadores. Tudo isto
foram frutos dessas políticas populares e da mobilização das pessoas.
Forças políticas que se podem contar para mudanças, em Colônia Leopoldina.
Entende que o grupo político da família Lamenha tem forte entusiasmo pelo
trabalho de promoção de mudanças. A conversa seria que tipo de mudança eles estariam
dispostos a fazer. Talvez, haja alguns de outras forças políticas como do PSDB. Vários
deles, inclusive, pensam em ir para a Rede, esse novo partido que estão falando em
criar. Com esse grupo pode, talvez, conversar sobre mudanças mais profundas para o
futuro.
O que seriam as mudanças para a cidade.
Mudanças para Colônia: iniciando pela Zona Rural, seria importante a busca por
benefícios para agricultura familiar que não tem subsídio algum de incentivo. Começar
pela melhoria das estradas, sobretudo nas épocas quando passa o inverno.
Outra questão seria uma política que garantisse toda a compra da produção do
agricultor familiar. Uma política que assegurasse que tudo que fosse produzido estaria
garantido pela Prefeitura. A agricultura precisa dessa garantia.
É preciso mudar a cultura de cana, pois aqui já se plantou abacaxi e acabou,
praticamente.
É possível a cultura do café, da macaxeira, superando essa prisão de só se ter
cultura da cana. O município precisa entrar com técnico, inicialmente, podendo esses
produtos saírem daqui prontos para o consumo.
438
A reforma urbana precisa que seja feita com um baita planejamento para o
saneamento da cidade, organização da moradia e mais loteamentos organizados com
calçamento, água, luz e escola. Hoje, se precisa de mais de 300 moradias. Aí devem ser
construídos, também, colégios e creches.
A saúde precisa de mais PSF e que eles funcionem mesmo. Também será
necessário mais verba para o hospital e mais investimento em educação, bem como
reformas e construção de mais salas de aula.
Agora é uma hora certa para se avançar em mudanças. O Brasil está pedindo
mudanças e espera-se que aconteça. Além dos movimentos que estão ocorrendo no país
mostram isso como a Presidenta Dilma tem apontado para alguma mudança necessária.
Isto precisa chegar ao Município.
Têm pontos também que precisam ser mudados que estão apenas do Município.
Compete ao Município, somente. Estes precisam ser feitos. Assim, pode-se ver
mudança na política e no governo municipal. Repetindo: agora é uma hora certa para se
avançar e se fazer algo que nunca foi feito.
Os seus sonhos para a cidade.
Sonha com uma Colônia com água, com a criação de uma barragem de grande
porte para acabar definitivamente com esse problema de falta de água. Sonha com uma
cidade padronizada, pois atualmente está toda fora dos padrões. Uma cidade bem
sinalizada, com praças, passarelas, reformas em canteiros da cidade. Uma cidade com
hospital para atender a região, sem precisar se deslocar para Maceió. A região precisa
escola profissionalizante. Cuidado com o meio ambiente e recuperação do Rio Jacuípe.
Cada loteamento precisa de pelo menos 20 % de área de mata e para praças. Tudo isto
precisa estar atualizado pelo Plano Diretor da cidade. É a atualização do código de
postura. Colônia e os seus políticos, principalmente, precisam pensar de tornar esta
cidade líder na região.
E mais uma outra questão.
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Encerrando, também, se destaca a possibilidade de que a região passe a sofrer
ainda mais com as usinas fechando. A Usina Taquara está com problemas. A Usina
Central Barreiros fechou. A Usina Catende que experimentou uma administração de
trabalhadores continua com problemas graves de gestão. Outras usinas fecharam na
região. O Governo Federal precisará ajudar com outras ideias e outras culturas para a
região. É preciso pensar culturas agrícolas novas.
Meus agradecimentos.
Colônia Leopoldina, 23 de junho de 2013.
Entrevistador: José Francisco de Melo Neto (Zé de Melo).
(Professor Titular da Universidade Federal da Paraíba).
440
3. CONSIDERAÇÕES
O que foi apresentado é o produto escrito de esforços de várias forças políticas
que têm atuado, à sua maneira, nesses rincões da Zona da Mata Norte do Estado de
Alagoas. Forças que não expressam as políticas dominantes do lugar mas, com certeza,
têm contribuído com o seu ponto de vista próprio e crítico, para com a melhoria da
política da cidade.
Os movimentos sociais, seja em que dimensão se apresentem, traduzem seus
pontos de vistas sobre as suas questões e procuram convencer a cidade da justeza de
suas reivindicações. Os textos mostram que várias das reivindicações apresentadas
passaram a ser realidade muito tempo depois. É possível, inclusive, que os
reivindicantes se quer se lembrem de que aquilo foi sua reivindicação. Pode-se destacar
a construção de quadra de esporte que veio se realizar muito tempo depois de a
reivindicação ter sido apresentada ao governo do Prefeito José Luiz Lessa. A construção
de novas escolas. A preocupação para com a superação do trabalho infantil, iniciado
pelo Pe. Aldo, e mesmo com a educação de jovens e adultos, pelo movimento da
Educação Popular da Associação de Educação Católica (AEC). Estas demandas
transformaram-se nacionalmente em políticas de Estado. Estão hoje presentes nos
orçamentos e na busca incessante por superação do analfabetismo, um dos mais altos do
país.
Em um momento em que o país ferve com realização de copas e de grandes
mobilizações por melhores escolas, pelo passe livre para estudantes, por melhor saúde
pública e, em especial, contra todo o tipo de corrupção, jovens de Colônia, mesmo que
simbolicamente, realizaram também o seu pequeno protesto.
Esta produção textual registra documentos para que outros pesquisadores, num
futuro que pode não ser longe, desenvolvam melhores análises sobre esses movimentos
que se apresentaram de baixa intensidade em suas mobilizações, naqueles momentos.
Também, de forma sutil contribuíram para a definição das políticas locais, com olhares
e significados diferentes por melhores condições de vida, e, quiça, possa Colônia
exercer papel de liderança na região, contribuindo para uma política de qualidade social
441
para todos, de olhos naqueles que mais necessitam, as classes trabalhadoras.
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMORIM, José Júnior. A trajetória do Movimento Estudantil Leopoldinense.
Grafnobre, Colônia Leopoldina, Al, 2011.
COLÔNIA LEOPOLDINA – situações político-ambientais, Vol I. Organização dos
autores: Maria Betânia Alves dos PASSOS; Marília Gabriela da C. GOMES e José
Francisco de MELO NETO. Editora da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa,
2010.
COLÔNIA LEOPOLDINA: situações político-ambientais. Andréa Marques... (et. al.).
José Francisco de MELO NETO (org.). João Pessoa: Editora da Universidade Federal
da Paraíba, 2011.
ESCOLA DE FRANKFURT – diálogos. Anaina Clara de MELO (Orga.). Editora da
Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2008.
EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA – diálogos populares. José Francisco de MELO NETO
(Org.) Editora da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2002.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1987.
História das ideias políticas. François CHATELER e all. Tradução de Carlos Nelson
Coutinho. Editora Zahar, Rio de Janeiro, 2009.
MELO NETO, José Francisco de. Ação cultural no meio rural – uma experiência em
Colônia Leopoldina, realizada em 1982/83, dissertação de mestrado em Educação, pela
442
Universidade de Brasília.
__________. Organização Popular - a construção do conceito de partido no Partido
dos Trabalhadores. Editora da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 1998.
__________. Educação Popular – enunciados teóricos. Editora da Universidade
Federal da Paraíba, João Pessoa, 2004.
LIMA, Lenivaldo Marques da Silva & MELO NETO, José Francisco de. Usina Catende
– para além dos vapores do diabo. Editora da Universidade Federal da Paraíba, João
Pessoa, 2010.
SILVA, Everaldo Araújo. A Colônia da Princesa. Maceió, 1.eD. Igasa, 1983.
ZIZEK, Slavoy. Menos que nada. Hegel e a sombra do materialismo dialético.
Tradução de Rogério Bettoni. São Paulo, Boitempo Editorial, 2013.
443
LIVRO 9
COSTA, Georgia Lamenha Silva. Memórias vivas do povo leopoldinense.
Gráfica Inovação. Serinhaém: 2014.
444
445
Georgia Lamenha Silva Costa
Memórias vivas
do povo leopoldinense
446
1a edição
Colônia Leopoldina/AL
Edição do Autor
2014
447
448
A memória é o único paraíso do qual não
podemos ser expulsos.
Johann Paul Ritcher
449
Dedicatória
Dedico esta obra aos meus pais, personagens dela, porque, pela vontade Deus, foram
unidos e me deram a vida. De uma forma especial, como não poderia deixar de ser, a todos s
cidadãos leopoldinenses, pessoas especiais que ajudaram a construir um pouco da nossa
querida Colônia Leopoldina.
450
Apresentação
Recordar a vida é uma terapia que serve para emocionar a alma. O tempo passa rápido,
mas ficam as lembranças gravadas na memória e no coração, prontas para serem reveladas
quando se tem oportunidade.
Prepare-se para conhecer acontecimentos que marcaram a vida dos entrevistados e da
cidade onde vivem nesta obra intitulada Memórias vivas do povo leopoldinense.
Reviver o passado para entender o presente! Espero, caro leitor, que aprecie este
trabalho, baseado nas experiências de cada cidadão que o compõe, com um toque literário
para a história ficar mais emocionante!
451
Agradecimentos
Em primeiro lugar, a Deus Altíssimo que me deu a capacidade e o dom de escrever; em
segundo, a todos os entrevistados que colaboraram com as informações por meio de uma boa
prosa. Depois, a todos que direta ou indiretamente contribuíram e torceram para que este
sonho viesse a se tornar realidade.
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Agradecimentos especiais
À minha família – meu esposo, Émerson Costa, e filhos: Everaldo Neto, Clara Fernanda e
Ana Cecília , presentes de Deus na minha vida.
À minha professora, alfabetizadora e tia, Edite Lamenha, que me orientou na
concretização do meu primeiro sonho: a descoberta da leitura.
À minha irmã, Gilvania Lamenha, um exemplo de vida. Mulher de garra, fé,
perseverança, bondade e humildade.
Ao meu amigo – companheiro de jornada, atual secretário de Educação, Romildo
Moura, profissional que admiro.
À ex-secretária de Educação, Eleonora Amorim, que acreditou no meu sonho e me
incentivou na realização desta obra.
Aos meus alunos da 8a série do ano de 2008, que demonstraram interesse pelos textos
de memórias das Olimpíadas de Língua Portuguesa.
À ex-diretora da Escola Antônio Lins da Rocha, Genilda Cavalcante, pelo apoio e
reconhecimento às minhas ações pedagógicas.
A Jadiaelson Alves, o profissional que organizou meus textos e imagens, dando forma a
esta singela obra, através de sua criatividade, dedicação e zelo.
A todos os entrevistados que contaram fatos marcantes de suas vidas e do lugar onde
vivem e autorizaram a publicação de seus relatos.
453
E por falar em memórias...
Lembro-me de uma garotinha: olhos vivos e curiosos, atenta à chegada da família que
vinha de Colônia Leopoldina para o Engenho Canto Escuro. Lá, apresentava-se com quase
nenhuma roupa, pois ali se sentia em casa e à vontade.
Naquela ocasião, agarrava-se no vestido da avó paterna – Isabel Lamenha, pois era onde
se sentia segura, coladinha na matriarca daquela família. Admirada, observava os parentes que
desciam de um caminhão para apreciar e desfrutar a cachoeira daquele lugar.
Algum tempo depois, aquela menininha esperta veio morar na cidade, onde realizou um
de seus maiores desejos: aprender a ler e a escrever. Um tanto quanto assustada com a nova
etapa de vida, a garotinha começava a escalar sua carreira estudantil.
Na Escola Estadual Aristheu de Andrade, foi aluna da tia Edite Lamenha e com ela
obteve as primeiras lições. Graças àquela oportunidade, tive a honra de (ainda muito nova)
também lhe dar “aulas de reforço” (a pedido da minha mãe).
Aquela criança de dedinho na boca, de olhar atento, tornou-se uma das melhores
educadoras deste município. Sempre estudiosa, esforçada e dedicada, conseguiu trilhar uma
trajetória profissional de forma brilhante: preocupa-se com o bom desempenho de seus
alunos, ensinando-lhes estratégias de leitura e produções textuais.
Hoje, como escritora, descreve e narra, neste livro, as Memórias vivas do povo
leopoldinense, daqueles que a ouvi chamar de “meu povo”. Evidentemente, não utiliza este
termo como posse, apenas no sentido de acolhimento e reconhecimento.
O livro dela registra fatos históricos da vida do nosso povo, pessoas ilustres e
importantes para o desenvolvimento de nossa cidade e, certamente, se perpetuará nas
memórias dos novos leopoldinenses.
É com imenso prazer que faço declarações sobre a vida de GEORGIA LAMENHA: mulher
temente e agradecida a Deus por tudo que tem e por tudo que é. Ela é minha prima, minha
irmã em Cristo e minha colega de trabalho. Parabéns por mais esta conquista!
Claudiana Rocha
454
Professora
Sumário
A boneca que deu vida ao meu sonho
A arte do trabalho
A natureza é mãe, é vida!
Amante da vida pública
As mãos de Mãezinha
De alfaiate a comerciante
De Antônia para Eulina
De aluna para professora
De coração aberto
Gera Ação!
Mandacaru: símbolo de resistência
O pequeno grande homem
O senhor da floresta
Parteira vocacionada
Se o tempo voltasse, seria diferente
Uma árvore frutífera
Orgulho de ser leopoldinense
Breve história de Colônia Leopoldina
Obra-prima de Colônia Leopoldina
455
Prefácio
Colônia Leopoldina pode contar hoje com uma grande mulher de letras, que se tornou
escritora e estreia sua obra Memórias vivas do povo leopoldinense, fazendo um resgate das
lembranças e trazendo ao nosso conhecimento relatos importantes dos nossos conterrâneos.
Georgia Lamenha é uma extraordinária educadora que, dentre os grandes trabalhos
desenvolvidos nas nossas escolas, transformou suas oficinas de textos de memórias numa
coletânea que vem sendo construída há alguns anos, com todo o zelo, carinho e amor pelo
nosso povo. Afinal de contas, que família leopoldinense não ficará lisonjeada em ver sua
história reportada às páginas de um livro?
Recordo-me, por diversas vezes, em ouvi-la relatar histórias que fazem parte desta obra,
demonstrando profunda emoção. Todo esse encantamento deve-se ao comprometimento
com o resgate das memórias de nossa gente, transcritas em papel e transformadas num livro
fabuloso que será mais um marco para os literatos de Colônia Leopoldina.
Educadora comprometida com a leitura e a escrita, que honra a graduação do Curso de
Letras, consegue repassar às páginas de sua obra as lembranças dos leopoldinenses, as quais o
leitor sentirá prazer em reconhecê-las, ao se debruçar sobre cada página deste livro.
Sua capacidade intrínseca de escrever transportará o leitor para dentro de cada história,
fazendo-o vivê-la como se fosse a sua, pois as sutilezas e os detalhes explícitos o fará perceber
bem claramente que também é a sua vida que está sendo abordada em cada texto.
Espero que assim como eu fui agraciado em marcar a abertura desta obra, você também
seja presenteado com o que encontrará nas páginas seguintes.
José Romildo de Moura
Professor, Secretário de Educação
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A autora da obra, Georgia Lamenha, em recordação escolar na Escola Aristheu de Andrade.
“A boneca que deu vida ao
meu sonho”
Nasci na década de 70, no Engenho Canto Escuro, próximo ao município de Colônia
Leopoldina. Dos dez filhos e filhas a quem minha mãe deu à luz, fui a terceira da sequência, e a
segunda das mulheres. Tive uma infância carente, apenas o básico para sobreviver, nunca
soube o que era uma festa de aniversário. Minhas roupas eram simples, vestidinhos de chita. A
única roupa de festa era um vestido azul claro, bordado com pequenas flores na parte
superior, que logo ficou curto para mim, presente da minha madrinha que também me
presenteou com o nome de Georgia.
Menina de poucos brinquedos, apenas aqueles que a própria imaginação criava através
das caixas de fósforos, embalagens plásticas, folhas e flores que a natureza dava gratuitamente
para minhas invenções. A vida não era só brincadeira, ajudava também a mamãe nos afazeres
domésticos. Nas noites de lua cheia, brincávamos no terreiro da casa, eu, os irmãos e alguns
poucos vizinhos da redondeza. Gostávamos de ouvir histórias fantasiosas contadas pelos mais
velhos. Algumas até que davam medo. As cantigas de roda e as adivinhações fizeram parte da
minha infância.
457
As dificuldades da época não me impediram de criar fantasias e alimentar sonhos; de
outra forma, a vida não teria sentido. Nisso, vocês devem concordar comigo. Há lembranças
que marcaram profundamente o meu ser e elas estão relacionadas a um dos meus sonhos –
aprender a ler e escrever!
Naquele lugar, onde vivi parte de minha infância, não havia escola, a mais próxima
ficava, aproximadamente, a 3 Km, na Fazenda Macuca. Lá estudei seis meses e tive contato
com as primeiras letras do alfabeto. Íamos a pé eu, meus irmãos e algumas crianças. Bem
diferente dos dias de hoje. As crianças da zona rural do município têm escolas de séries iniciais
e dispõem de transporte para fazê-las às escolas da cidade para continuarem sua formação.
Hoje tudo está mais fácil, não estuda quem não quer, as condições são mais favoráveis.
Em julho de 1979, meus pais resolveram mudar-se para a cidade a fim de colocar os
filhos na escola. Eu e meu irmão fomos matriculados na Escola Estadual Aristheu de Andrade e
tivemos a professora Edite Lamenha, nossa tia, nos ensinando a 1a série. Nessa época, eu ainda
não conhecia todo o alfabeto, sabia escrever algumas palavrinhas decoradas. Recordo que os
meus colegas zombaram de mim, porque em um ditado eu não soube escrever a palavra
“ovo”, escrevi “vov”; a decoreba falhou, confundi-me na escrita.
Naquele momento, me senti humilhada, envergonhada e inferior a todos os alunos que
já estavam alfabetizados. A emoção tomou conta de mim, as lágrimas rolaram dos meus olhos.
Minha tia repreendeu os alunos e me confortou. Não desisti, corri atrás... Agarrei-me com a
cartilha, aprendi o alfabeto e ganhei uma assistência especial da professora. Não sei se pelo
fato de ser minha tia, talvez os laços de afetividade familiar tenham contribuído.
Lembro-me, como hoje, da aula que marcou a grande descoberta da minha vida – a
leitura. A professora colocou a palavra “boneca” no quadro e pediu para eu juntar as sílabas.
Com muito medo, tomada pela insegurança, a voz trêmula, balbuciei letra por letra e juntei as
sílabas: “bo-ne-ca”. Boneca! Boneca, tia”! Essa lembrança viva na minha memória foi uma
experiência que tomou meu coração de alegria, uma explosão de felicidade, compreendi a
leitura como decodificação.
A partir daquele momento, comecei a devorar as palavras, lia tudo o que via na minha
frente, elas ganharam sentido. Realizei o primeiro sonho da minha vida. Na década de 90,
tornei-me professora. Em 2001, graduada para o ensino de Língua Portuguesa, apaixonada
pelas Letras e desejosa de que meus alunos descobrissem, por meio da minha experiência, o
poder que as palavras têm, construindo textos de memórias literárias a fim de resgatar valores
de pessoas que contribuíram direta ou indiretamente com a construção do lugar em que
vivem.
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Dona Carmelita em fotografia 3x4.
A arte do trabalho
Já morei em Buenos Aires, mas não na Argentina, com você deve estar pensando. Esse
era o nome do sítio do meu pai, pertencia a Maraial – PE. Eu sou Carmelita Silva das Neves,
nascida no dia 27 de agosto de 1940, filha do casal Antônio Avelino da Silva e Filomena
Marques da Silva. Gosto de recordar a minha infância, momentos inesquecíveis, cheios de
aventuras, fantasias, verdades e mitos. As lembranças trazem à minha memória um gosto doce
daquela bala chamada de nego bom. Chega até a dar sede. Então, vamos ao pote!
O Sítio Buenos Aires era o lugar dos meus sonhos, lá eu vivi até meus 12 anos. Fui criada
na fartura, gostava pouco de estudar e muito de trabalhar. Meu pai era um homem rico e
bondoso. No sítio dele havia peixe no açude, gado no cercado, burro e cavalos na estribaria.
Ele também era comerciante: tinha um super barracão, estabelecimento bem sortido que
vendia de tudo que precisasse na região.
Recordo de algumas tradições vivenciadas por nós naquele lugar. Na época de Semana
Santa, os açudes eram abertos, o que se juntava de peixe era para ser dividido com os
moradores. Da mesma forma, acontecia no Natal, meu pai pegava um boi gordo e o abatia,
para depois reparti-lo com todos do nosso convívio. Era bonito de ver a satisfação estampada
nos olhos daquela gente.
Quando me denomino de mulher trabalhadora, é porque realmente fazia as tarefas por
opção e não por obrigação. Eu gostava muito do campo. Lá existia uma casa de farinha, eu
460
fazia questão de colocar a mão na massa: arrancada mandioca, descascava, raspava, espremia
e ajudava a fazer a massa até assar e transformar-se em farinha.
Nunca gostei de estudar, meu fraco era trabalhar no pesado, gostava também de
serviços domésticos: lavava trouxas de roupas num brejo, lavava pratos, carregava água da
cacimba em latas na cabeça, torrava até café no pilão, tudo isso para ajudar mamãe. Tenho a
impressão de que sinto o cheiro forte e bom do café chegando às minhas narinas, dá até água
na boca, pois o café de hoje não é tão saboroso quanto o de antigamente.
Eu era bem diferente da minha irmã, ela gostava de fazer anotações e ficar por trás do
balcão despachando as mercadorias; enquanto eu, não para quieta, era o tempo todo
procurando o que fazer. Meu negócio era trabalhar em diversos afazeres que aparecesse,
parecia uma garota elétrica.
Posso afirmar que, para estudarmos, cada dia vivíamos uma aventura. No nosso sítio
não tinha escola, então era preciso caminhar mias ou menos meia légua a pé pra poder chegar
à escola mais próxima, que ficava em Sertãozinho de Cima. No percurso, tinha uma matinha
que as pessoas diziam que era mal-assombrada, e haja medo.
Éramos cinco, ninguém queria ir na frente ou atrás, para não sermos atacados pelos
monstros do folclore brasileiro: comadre fulozinha, papa-figo, lobisomem... Graças a Deus,
quando atravessávamos a mata, nosso coração voltava a bater normalmente. Hoje eu entendo
que todo esse medo não passava de uma fantasia que as pessoas criavam para nos aterrorizar,
não passavam de lendas.
Lembro-me, como hoje, do dia em que precisei deixar para trás um pedacinho de mim.
O Sítio Buenos Aires foi vendido pelo meu pai, mudamos para Sertãozinho de Baixo. Eu já tinha
meus 12 anos, estudei somente até a quarta série. Casei bem novinha, com apenas 16 anos.
Fui morar com o meu esposo, Adalberto, em Recife. Ele era, nessa época, motorista particular.
Eu já me encontrava grávida de minha primeira filha. As coisas não estavam dando certo,
então entramos em um acordo: retornar a Sertãozinho.
Assim aconteceu, escrevi uma carta para minha mãe e contei a situação, ela
prontamente me deu a maior força ara que eu retornasse de onde nunca deveria ter saído. No
dia de nossa volta, foi uma grande festa, chego até a comparar com a parábola do Filho
Pródigo quando retorna à casa paterna. A alegria contagiou a todos... Depois vieram bons e
maus dias; a vida é assim mesmo. Fui uma mulher muito fértil, todo ano um filho e haja
enxoval.
Chegou ao ponto que eu queria: falar de enxoval lembra bordado, agora começa a
história da bordadeira de mão cheia, que aprendeu a fazer a arte com Dona Alta, uma
bordadeira antiga de Sertãozinho que, com muito jeito e carinho, me ensinou os pontos cheios
461
e os bordados feitos em máquinas. Descobri que tinha jeito pra coisa, deixei o trabalho pesado
para me dedicar à delicadeza dos bordados. Tenho nas minhas lembranças cada obra
encantadora. Laços, flores, borboletas, pássaros; cores quentes e frias, linhas grossas e finas;
várias coisas aplicadas em casaquinhos, panos, colchas de berço, mantas... Cheguei até a fazer
curso em Maceió para me aperfeiçoar na arte do bordado.
Enfim, Colônia Leopoldina ganhou a mais nova moradora que chegou para ficar na
década de 60, ainda na casa que resido atualmente, situada à Rua Padre Francisco, uma das
principais da cidade. Recordo-me que minha vizinhança era de muitas árvores frutíferas e
matagais. Meu trabalho artístico foi logo conhecido e reconhecido pelo povo, perdi as contas
de quantos enxovais bordei para casamentos e recém-nascidos.
Apesar de não ter valorizado meus estudos, me considero uma mulher culta, pois sei
conversar sobre assuntos diversos, presto sempre atenção às novas palavras que vão surgindo,
acompanho as notícias. Sou religiosa, católica praticante, uma mulher bastante ativa que
supera muitas adversidades, pois sou uma mulher de fé.
Vi a evolução de Colônia durante 50 anos, muita coisa surgiu... Lembro-me dos prédios
importantes sendo construídos, o hospital, por exemplo, a escola Antônio Lins da Rocha, entre
outros. A cidade que moro já é centenária e eu conheço parte de sua história que se mistura
com a minha.
Já possuí lojinha de roupas de bebê no comércio da cidade, depois o negócio não foi em
frente, voltei para o ramo de vocação: bordei novos enxovais... Se eu pudesse, bordaria minha
história em uma peça de tecido. Como não é possível, essa parte da minha vida será registrada
num livro de memórias, para que as futuras gerações conheçam um pouco dos costumes
antigos.
Os nomes dos meus sete filhos serão bordados neste texto em ponto de cruz, com uma
curiosidade: os meninos com iniciais “A” e as meninas “E”. São eles: Adalberto, Alberto,
Edileide, Edvanilda, Edjailda, Elisângela e Eleonôra. Minhas sete pedras preciosas que Deus me
deu e que estão aplicadas nas artérias do meu coração. Este é o bordado perfeito e mais
importante, porque foi feito pelas mãos do Criador à sua imagem e semelhança.
Não tenho palavras para expressar as emoções que ora estou sentindo, é algo
indescritível, só sabe quem sente. Só sei dizer que devemos viver a vida com intensidade, para
desfrutar momentos bons e nos fortalecer para as dificuldades que surgem no decorrer de
nossa existência. É preciso amar a nós mesmas, amarmos as pessoas que estão a nossa volta e
amar o lugar onde vivemos. Dessa forma seremos felizes!
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Carmelita Silva e sua filha Eleonôra Amorim.
Texto baseado em conversa informal com a Sra. Carmelita Silva Neves.
463
Casa onde residiu José Lamenha, Engenho Canto Escuro.
A natureza é mãe, é vida!
A relação homem e natureza é algo instituído por Deus desde a criação. Uma conversa
informal com o meu genitor me faz enxergar o exemplo que ele deixa às futuras gerações. A
sua maneira de tratar a mãe terra e os frutos extraídos dela serve de lição para todos que
buscam a sobrevivência de forma digna e honesta. O senhor José Lamenha da Rocha, mais
conhecido popularmente por Zé Cazuza, homem simples – mais do campo que da cidade –
conta para mim experiências que marcaram a vida dele e do lugar onde viveu. Nascido e criado
em engenhos, não podia ser diferente.
Apenas uma ponte para separar os limites de dois estados: Alagoas e Pernambuco.
Posso dizer que sou meio pernambucano e meio alagoano, sabe por quê? Nasci em 23 de
novembro de 1939, assim consta em meu registro civil, no Engenho Riacho do Mato – terra
pernambucana que faz divisa com o município de Colônia Leopoldina, através das margens do
Rio Jacuípe.
Ainda bebê, fui levado por meus pais para o agreste pernambucano, para o Sítio
Tamanduá, entre as cidades de Lagoas dos Gatos e Cupira. Lá morei parte da minha infância,
ali não demoramos muito Meu destino, eu creio, estava traçado para os lados de cá. Por volta
464
dos anos de 1948, regressamos às terras de Colônia Leopoldina, fomos morar no Engenho
Canto Escuro, lugar que serviu de palco para minha história. Comparo os acontecimentos a
retalhos que, com o passar do tempo, conseguimos unir e formar uma imensa colcha.
Vida fácil não tive, precisei pegar a enxada, cavar a terra, plantar, limpar mato e carregar
nos lombos aquilo que cultivei. Isso não me causou nenhuma revolta, pelo contrário, amo por
demais a mãe terra, de onde vem o sustento da vida. Ainda hoje aprecio o cheiro de terra
molhada, o aroma das folhas silvestres, o verde exuberante das árvores que ainda restam e o
orvalho das manhãs. Mesmo possuindo moradia na cidade, prefiro estar em contato com a
natureza, rodeado de cães, galinhas, patos, colhendo frutos, hortaliças e aguando os lerões de
coentro, cortando uma ração para animal, entre outras coisas que ocupam o meu tempo.
Como dizia, não tive infância, conheci o que é trabalho muito cedo. Aos nove anos era
homem feito, os calos surgiram cedo em minhas mãos. Dou graças a Deus, porque tive a
oportunidade de estudar. Aos dez anos, frequentei a escola e tive duas professoras. Dava
conta das lições decoradas. Lembro-me da professora Dorotéia Luna. Conseguia ver, nos olhos
dela, certa proteção por mim. Agradeço também a Deus, porque não precisei experimentar os
bolos de palmatória da época, pois vocês já devem ter escutado falar, naqueles tempos era
assim: “Escreveu não leu, o pau comeu”. Também me recordo que, quando a professora
precisava ir à cidade, eu a acompanhava, montado na garupa do cavalo dela, eu era uma
espécie de anjo da guarda, para não dizer guarda-costas.
Nunca fui chegado à malandragem, mas quem já não cometeu certo delito? Afinal,
ninguém é perfeito. Não lembro o que escrevi nas paredes da sala de aula, mas só o fato de
riscar as paredes estava errado, esse mal vem de muito tempo... Pois é, apareceram paredes
rabiscadas, e a professora investigou o caso. Como era fácil de reconhecer a caligrafia, fui logo
descoberto por ela. Sendo eu protegido dela, caso abafado! Passei de provar dos bolos...
Apesar de ter um breve histórico escolar – de apenas três anos, foi o suficiente para aprender
a ler, escrever e calcular as quatro operações da Matemática – estava eu pronto para
enfrentar o mundo... Aos 18 anos, tirei o título eleitoral, e desde 1958 comecei a exercer o
papel de cidadão, escolhendo os governantes da época. Posso dizer que sou um felizardo –
aquele que é bem-aventurado, pois, naquela época, analfabeto não tinha direito a voto como
nos dias de hoje.
Voltando à adolescência, há um fato que marcou muito a minha vida. Lembro-me, como
hoje, cedo do dia, quando minha mãe me chamou e disse: “Zé, não tem nada para cear”. Não
tive dúvida, peguei um saco nas costas e subi a capoeira, rasgando passagem pelos matos
adentro. Avistei uns pés de mandiocas perdidos entre outras plantas. Com a enxada, cavei a
terra e consegui arrancar as raízes que encheram saco.
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Chegando à casa, entreguei as mandioca para minha mãe. Era, com muita paciência,
executou o trabalho de transformar aquela matéria-prima em uma massa. Foi todo um
processo: descascar, ralar, espremer a massa em pano de saco até retirar todo o seu líquido,
depois peneirar, colocar sal a gosto e, por fim, levá-la a uma chapa quente. Após assar dos dois
lados, estava pronto o beiju – crocante como uma bolacha seca.
Outro episódio me vem à mente que descreve os momentos de escassez alimentar.
Dessa vez, foi durante o almoço. Minha mãe precisou dividir um ovo cozido em quatro partes.
Cada filho recebeu, naquele momento, um quarto de um ovo que serviu de mistura para
complementar a refeição. Lembro-me de que um dos meus irmãos, insatisfeito com a porção,
pegou a parte dele e esfarelou por sobre a mesa. Minha mãe não pensou duas vezes,
imediatamente deu-lhe o castigo de ficar sem almoçar. Não sei se ela agiu certo ou errado.
Muitas vezes, nos finais de semana, o básico nos faltava, o jeito era recorrer para a vizinhança
que tinha melhores condições de vida que a nossa. Talvez seja por esse motivo que não
suporto ver o desperdício de alimentos, principalmente num país feito o nosso, uns com tanto
e outros sem nada.
Não sei se sou descendente de índio, mas é bem possível, pios no Brasil não tem
ninguém de sangue puro, falo assim porque dizem que os índios têm uma relação muito boa
com a natureza, e isso me faz lembrar alguns hábitos que desenvolvi ainda na minha
juventude. Da natureza sempre procurei aproveitar todas as fontes de alimento. Gostava
muito de ganhar as matas noite afora para caçar animais que servissem para o consumo. Perdi
as contas de quantos tatus-peba e verdadeiros, veados, pacas, cassacos e tamanduás caíram
nas minhas armadilhas; é claro que contava com a ajuda dos cães farejadores que acuavam os
bichos, deixando-os sem saída.
Outra fonte bem explorada era a pesca de peixes nos rios e açudes. Gostava de pescar
de loca, de anzol e de pulsar – foram muitos os peixes que caíram em minha rede: carito,
jundiá, tilápia, tainha, mussum e acari. Hoje em dia, as metas e os rios sofreram tantas
agressões que muitos animais e peixes já estão em extinção. Muitas matas forma derrubadas
para o plantio da cana-de-açúcar, consequentemente, os animais foram perdendo seu espaço,
sem contar que esse desmatamento afeta a diminuição das águas. Outro sério problema é a
poluição dos rios, que estão mais parecidos com depósito de lixo e descargas sanitárias; já não
servem mais para o uso doméstico, os peixes não conseguem sobreviver num ambiente tão
poluído.
Sempre fui um homem empreendedor, gostava de mandar pessoas criarem animais de
“meia”, sabe como é esse negócio? Alguém pegava o animal e se responsabilizava em
engordar o bicho; quando o animal estava no ponto para ser vendido, o valor era dividido
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meio a meio. Achava um negócio lucrativo. Não deixava faltar nas mãos dos criadores: galinha,
peru, porco, ovelha, cabra.
Casei-me aos 29 anos com uma linda jovem de 17, Maria de Lourdes. Tivemos 10 filhos:
cinco homens e cinco mulheres. No início do casamento, ajudava nas despesas da casa de
minha mãe. Aos poucos, com muito trabalho e sacrifício, fui conquistando um pequeno
pedaço de terra para plantar cana-de-açúcar, tornei-me um pequeno fornecedor dessa
lavoura. A princípio, até carreguei feixes de cana no lombo como se fosse um burro (quando
esse animal eu ainda nem possuía).
Hoje em dia, as máquinas evoluíram tanto que até o trabalho do burro está sendo
extinto. Pelo visto não é só o homem que está perdendo sua vez no mercado de trabalho.
Parece brincadeira, mas não é. Antigamente, a mão de obra humana no trabalho com a cana-
de-açúcar exigia um grande número de trabalhadores: cortar, amarrar, cambitar até a estrada
e sacudir a cana na carroceria do caminhão para poder ser transportada para a indústria.
Atualmente, a carregadeira apanha a cana – que não precisa ser amarrada – e carrega o
caminhão, apenas uma pessoa para operar a máquina e fazer o trabalho de uns seis homens e
alguns burros.
Perto dos 69 anos, sinto-me cansado, sem mais o mesmo vigor de outrora, o corpo cheio
de dores, o que me resta de bom são as memórias que o tempo não conseguiu destruir.
Contemplo o presente e vejo o que construí ao longo da minha vida. Meus filhos, com exceção
de um, seguiram minha carreira profissional, faz parte da cultura. Minhas filhas, todas
professoras. Já perdi até as contas de quantos netos possuo no momento. Se não e, mas está
perto dos trinta. Dentro das minhas possibilidades, sempre procurei transmitir-lhes os valores
mais importantes da vida, entre eles, a honestidade.
Meu refúgio ainda continua sendo o Engenho Canto Escuro, é de lá que gosto, pena que
a minha esposa não sente da mesma forma, mas deve ser verdade o que diz o adágio popular:
Os opostos se atraem. Às vezes, ficamos separados, ela na cidade e eu no engenho; pois é lá
que encontro sossego, brisa suave e ar puro; me relaciono tão bem com os animais, com os
vegetais e também com as pessoas que falam a minha língua, que comungam dos mesmos
prazeres.
Não posso encerrar com as palavras do poeta que dizia: Ai que saudades eu tenho da
minha infância querida. Na verdade, sinto saudade, não da infância, mas da força e do vigor da
juventude. Como a vida é um ciclo, quem sou eu para reclamar? É melhor cantar como
Gonzaguinha:
467
Viver e não ter a vergonha de ser feliz
Cantar e cantar e cfantar
a beleza de ser um eterno aprendiz
[...] Que a vida devia ser
bem melhor e será,
mas isso não impede que eu repita:
É bonita, é bonita e é bonita.
Espero em Deus que a minha forma de viver a vida e lutar por ela sirva de exemplo para
as futuras gerações, pois é com respeito, verdade, solidariedade, justiça e honestidade que
conseguimos viver sem prejudicar o próximo e a natureza.
José Lamenha no Engenho Canto Escuro alimentando os cães.
Texto baseado em várias conversas informais com meu pai, José Lamenha da Rocha.
468
José Araújo de Luna no seu setor de trabalho na Câmara Municipal de Vereadores.
Amante da vida pública
Estou em dúvida, não sei por onde começar... Se do passado ou do presente, são tantas
histórias, dificuldades, aventuras, mas, acima de tudo, muitas realizações. Por que não contar
parte delas? Sou um homem conhecido e reconhecido pelos atos prestados à minha amada e
querida cidade.
Nasci e cresci nas terras de Colônia Leopoldina, propriamente no Engenho Canto Escuro
– lugar de referência para o desenvolvimento econômico do município naquela época. Os
tempos eram muito diferentes dos de hoje, mas ainda me atrevo a repetir o que o poeta
Casimiro de Abreu escreveu:
Ai que saudade eu tenho
da aurora da minha vida,
da minha infância querida,
que os anos não trazem mais...
469
Sou José Araújo de Luna, mais conhecido pelos conterrâneos por Zito Luna, cheguei a
esse mundo de meu Deus no dia 23 de junho de 1925, filho do casal João Batista de Luna e
Apolônia Araújo de Luna.
As primeiras letras aprendi-as no lugar onde vivi minha infância, passei pelas
palmatórias, naquela época era assim: escreveu não leu, a palmatória bateu. Concluí o
primário e me tornei um jovem sonhador, tive o privilégio de estudar fora e de receber uma
educação de qualidade. Estudei nas cidades de Palmares, Caruaru e Garanhuns – município de
Pernambuco.
Voltando à cidade materna, retornei para dedicar-me aos serviços públicos. Ingressei na
política muito jovem, com apenas 19 anos. Já participei da gloriosa campanha de princípios
democráticos, votei na primeira eleição, lembro-me como se fosse hoje, exatamente em 02 de
dezembro de 1945. Acredito que minha aptidão pela vida pública eu a carrego comigo pela
hereditariedade política administrativa dos meus antepassados. Meu ingresso para a vida
pública foi desde 1947 – vários foram os cargos assumidos: tesoureiro da prefeitura, fiscal de
rendas auxiliar, funções de secretário geral da municipalidade com quatro prefeitos
consecutivos, supervisor de obras. Eleito vereador no ano de 1982 e presidente da Câmara.
Durante o meu mandato, tive a honra de ser o diretor do Colégio Cenecista Pe. Francisco por
quatro anos e seis meses.
Nem só de vida pública vive o homem, não poderia deixar de mencionar que me
apaixonei por uma formosa jovem com a qual casei, a saudosa Estela, comi quem tivemos 14
filhos, formamos uma grande família. Nos dias de hoje são 12 vivos, cada um com sua própria
história para contar. Procurei ser um bom pai, dei uma educação boa a cada um, nenhum
deles quis seguir minha carreira, com exceção de Clebson, que presta serviços na Câmara de
Vereadores. Acredito que metade da minha vida tenha sido dedicada aos serviços públicos,
principalmente à Câmara Municipal, a qual me homenageou nomeando a sala do plenário
daquela respeitada Casa de Sala Legislativa José Araújo de Luna, o que foi para mim uma
grande honra. Eu sou um homem que conhece a história de Colônia como a palma da minha
mão. Já providenciei, por escrito, parte dela, como o Memorial Biográfico dos Ex-Presidentes
da Câmara Municipal de Colônia Leopoldina a partir de 1948.
Não sou homem de me entregar às dificuldades, a saúde está frágil, mas a memória está
viva, graças a Deus. Lembro-me nitidamente do dia em que resolvi compor o Hino Municipal.
Foi tanto papel rabiscado, muitas voltas no pensamento, para encontrar as palavras que
expressassem uma boa composição que enaltecesse Colônia como ela merece. Digo com
orgulho no peito: tornou-se um dos hinos mais bonitos que já vi e ouvi. Sou patriota,
apaixonado pela terra mãe, berço de heroicas famílias. Na hora de escrever o poema que
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exalta Colônia, me inspirei nas memórias do passado, trazendo lembranças ao presente, para
que a história de Colônia nunca nos saia da mente.
Sou leopoldinense privilegiado, recebi uma educação de primeira, valorizei as
oportunidades, tornei-me vereador, poeta, escritor, autor da mais importante composição
como símbolo de honra ao município, cantado hoje por todos os leopoldinenses nas escolas e
momentos cívicos. É por isso que o lema da Secretaria da Educação diz: A Educação é tudo...
De fato, é fundamental para formar o cidadão apto a exercer sua cidadania. Homens e
mulheres capazes de se tornarem poetas, professores, escritores, doutores, advogados,
promotores, juízes... Lembrando que, sem o professor, não há formação de nenhuma dessas
outras profissões.
Estou hoje, exatamente, com 85 anos, com vontade de viver o dobro, mas sei que isso
vai de encontro à natureza... Ninguém nasce para ser eterno, todavia fica a certeza de que,
quando eu partir dessa para outra vida, deixarei minhas marcas na história, e elas serão
eternas, ficarão para sempre, sendo passada de geração a geração. Até mais... Sinto-me
cansado, porém satisfeito com tudo que relatei ao meu respeito.
Texto baseado na entrevista com José Araújo de Luna, em 23 de junho de 2010.
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As mãos de Mãezinha
Cheguei a Colônia Leopoldina no dia 22 de maio de 1935, data do meu nascimento.
Morei na antiga Rua das Pedrinhas, hoje nomeada de Rua Durval Gonçalves. Na minha rua e na
minha vida existiram muitas pedras no meio do caminho. Nos arredores da minha casa, poucas
moradias, bastante mato, ainda lembro-me do ver de das árvores e do ar puro que respirava.
Aquele ar inodoro, saudável.
Recordo que, na minha infância, recebi três apelidos: minha irmã mais velha chamava-
me de Tuxinha; um dos meus irmãos, até os dias de hoje, só me chama de Andinha; mas o que
pegou mesmo foi o “Mãezinha”. Todas as pessoas me conhecem por esse nome.
Coincidentemente, nasci no mês de maio, mês de Maria, mês das mães. Consta na minha
identidade o nome Maria do Carmo Soares Felipe. No presente momento, sou viúva, fui casada
com o Sr. Tota, Antônio Felipe Filho, in memoriam, juntos tivemos nove filhos, todos bem
criados e vivos até hoje.
Considero-me uma pessoa de sorte, tive oportunidade de estudar da primeira à quarta
série na Escola Estadual Aristheu de Andrade. Fui uma aluna boa, nunca dei muita dor de
cabeça às professoras. Era uma menina quieta e pouco estudiosa.
Não somente eu, mas todos nós sonhamos com um trabalho remunerado. Consegui
realizar esse sonho ainda jovem, pela prefeitura, no governo do prefeito Antônio Lins da
Rocha, com o emprego de auxiliar de parteira na maternidade que funcionava na Rua 16 de
472
Julho, num casarão, quando ainda não havia o hospital. Eu fui auxiliar da minha irmã Dora,
parteira de mão cheia, experiente e competente, nesse trabalho tão delicado; com ela aprendi
muito. Neste momento me vem à mente o jogo das palavras relacionadas ao meu nome:
maternidade deriva de materno, que lembra o amor de mãe, caracterizado em locução
adjetiva; não se pode dizer que mãezinha é diminuto de mãe, mas uma forma carinhosa de
chamar pela genitora.
Nunca fiz parto nas residências, todos na maternidade e depois no hospital. Para quem
não sabe, naqueles tempos, a parteira que pegava uma criança, automaticamente, tornava-se
madrinha de parto dela, e crescia a cada dia o número das comadres. Há quem diga que a ação
de colocar um filho no mundo, seja parir, descansar, dar à luz, seja lá o nome que se dê, é uma
ação divina criada pelas mãos do Todo Poderoso. É fantástico o ato natural de um parto, chega
a ser quase sobrenatural.
Lembro-me, como se fosse hoje, quando precisei dar o plantão, sozinha, pois, por
motivos superiores, minha irmã Dora não pôde se fazer presente. Foi o grande dia da minha
história. Por volta das 20:00h, chega às minhas mãos uma parturiente (assim eram chamadas
as mulheres do primeiro parto). Agi naturalmente, com calma, examinei a mulher, percebi que
ela e o bebê estavam bem. Pelo encaixe da criança, fiz uma estimativa de que lá por uma hora
da madrugada aquela viria ao mundo; dito e feito, assim aconteceu. Passei o plantão às claras,
foi uma mulher após a outra. Quando o dia raiou, dos oito bercinhos que a maternidade tinha,
apenas dois ficaram desocupados. Depois dessa experiência, ganhei o título de parteira oficial.
Trabalhei seis anos e onze meses na maternidade, logo após fui transferida para o
Hospital Maria Loureiro Cavalcante, no mandato do prefeito José Gomes de Lima, conhecido
por Zequinha Macaco. Tenho a lembrança de que o nome dado ao hospital foi em homenagem
póstuma à esposa do ex-prefeito Alfredo de Paula Cavalcante. Tive a oportunidade ainda de
fazer um curso na área de saúde, oferecido pelo Estado, no qual fui aprovada, ficando
habilitada em parteira e enfermeira, trabalhando para o Estado e município. Hoje sou
aposentada nas duas categorias.
Do que mais me orgulho dessa profissão é que nenhuma mãe e nenhuma criança recém-
nascida morreram mediante os meus cuidados. Muitas crianças vieram a esse mundo pelas
minhas mãos, não sei dizer quantas, acredito que centenas não, mas milhares, por isso que as
mulheres da minha época me chamam comadre mãezinha pra cá, comadre mãezinha pra lá, e
haja comadres. Antigamente era assim, existiam as comadres de parto, era como se a parteira
tivesse responsabilidade pela criança nascida, que cresciam pedindo a bênção. Era tanto Deus
te abençoe, Deus te faça feliz. Hoje em dia, poucas crianças têm o hábito de rogar a bênção
aos próprios pais, essa prática está em desuso.
473
Acredito que sou uma mulher bem-aventurada, pois o nosso Criador me deu mãos
abençoadas, mãos que apanham as crianças, mãos que acaricia, mãos que sustenta, que
apalpam, mãos que acodem a quem precisa. Neste instante, vem à minha mente uma canção
que toda criança católica sabe cantar e junta as mãozinhas, dizendo:
Mãezinha do céu,
eu não sei rezar.
Só sei dizer
que quero te amar.
Branco é teu manto,
azul é teu véu.
Mãezinha, eu quero
te ver no céu.
Com certeza essa canção levou muitas crianças ao embalo do sono.
Texto baseado na entrevista com Dona Mãezinha, em 11 de dezembro de 2009.
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Sr. Antônio ao lado do filho Severino Rocha.
De alfaiate a comerciante
Para ganhar a vida, é preciso desenvolver algum trabalho. A sobrevivência exige, de cada
um, a luta, o esforço e a dedicação... Há uma canção que diz: Cada um de nós constrói a sua
própria história... E também, é claro, o lugar onde se vive. Dentro de uma sala de aula,
rodeado de mais ou menos sessenta alunos, encontrava-se o nosso convidado que, de forma
natural, descontraída, conta-nos como chegou a essa cidade e em que contribuiu para o
desenvolvimento dela.
Com os ouvidos atentos e os olhos fixos no entrevistado, que antes era conhecido pelos
da sua época como Severino Alfaiate, hoje é conhecido pela nova geração por Severino Rocha
– dono de supermercado. Muitas perguntas lhe foram feitas e, fundamentado nos
depoimentos, você agora é convidado a fazer uma viagem ao túnel do tempo...
Cheguei a Colônia Leopoldina quando já tinha meus 20 anos, lá pelos idos de 1951. Era
um jovem sonhador, corria atrás de um espaço que me desse a oportunidade de crescer.
Graças ao bondoso Pai Celestial, pois o nosso destino devemos a Ele, fui bem acolhido por essa
terra. Quando aqui cheguei, trouxe comigo uma profissão – alfaiate – homem que costura
roupas masculinas. Talvez muitos de vocês nem saibam da existência dessa arte.
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Nasci em terras pernambucanas, como muitos que chegaram a esse lugar, imigrantes
das cidades vizinhas, em busca de oportunidades.
Para me tornar o que sou hoje, devo muito aos meus pais. Naquela época, nada era
fácil, se comparado aos dias de hoje. Não posso esquecer o sacrifício que meu pai fez para
poder oferecer aos filhos uma boa educação. Isso me faz lembrar o adágio popular: “Educação
vem de berço”. Concordo plenamente, pois foi no lar que aprendi os princípios éticos, morais e
religiosos. No entanto, para aprender as letras, era necessário frequentar escola, como hoje
ainda é. Só com uma diferença: nos meus tempos de infância, esse privilégio era para poucos.
Escola pública não existia no lugar onde vivi minha primeira fase da vida... Se quisesse estudar,
tinha que ser particular. Isso custava caro. Os poucos professores da época cobravam por aula.
Quando aprendíamos a assinar o nome, ler algumas palavras e calcular as quatro
operações, já éramos considerados mestre do saber. Se quiséssemos ser professor, já
podíamos repassar o conhecimento aos leigos. Caso desejasse seguir carreira estudantil, teria
que mudar-se para a capital pernambucana. É possível notar que esse direito era ara uma
minoria. O jeito que tinha era procurar uma profissão que não exigisse diploma, só a prática.
Mesmo vivendo em um tempo tão atrasado, meu pai tinha consciência de que a maior
herança que se pode deixar para um filho é a EDUCAÇÃO. Portanto, não mediu esforços e, com
muito sacrifício, pagou aulas particulares para mim. Consegui fazer até a terceira série
primária. Segundo meu pai, a herança do conhecimento é individual e intransferível, ladrão
nenhum pode roubar o bem mais precioso que adquirimos. Essas recordações mexem com
minhas emoções, o coração bate mais rápido e fazem meus olhos transbordarem em lágrimas.
Chegando a maior idade com o desejo ardente de conquistar a independência, como um
pássaro que está pronto para alçar voo, foi então que, em busca da sobrevivência, procurei
aprender a arte da costura. Tive um mestre que me passou as orientações de corte e costura,
eu levava muito jeito para a obra, logo recebi carta branca para exercer a profissão.
Caí de paraquedas em Colônia. Para chegar a esse lugar não foi fácil, naquela época, as
estradas eram precárias – rodeadas de matas, passagens estreitas. Os transportes eram
cavalos, burros de carga e os carros de boi – uma carroça de madeira puxada por bois.
Transporte motorizado, lembro-me de que só existiam dois jeeps na região – automóvel com
tração nas quatro rodas, pois, quando chovia, era um deus nos acuda, a lama dava no joelho.
Também existiam uns três caminhões que transportavam a cana-de-açúcar para as duas
indústrias vizinhas.
Como toda cidadezinha do interior, nos tempos mais antigos, a zona rural era mais
habitada que a urbana, ao contrário de hoje. As cidades cresceram, e os engenhos, sítios e
fazendas estão quase em total abandono.
476
Essa conversa toda sobre o passado me faz lembrar que o progresso chegou não só aqui,
mas em todo o país, na época em que Juscelinio Kubitschek foi presidente da República, no
seu governo, recordo-me perfeitamente, foram construídas as rodovias asfaltadas. A partir daí,
o acesso à capital alagoano ficou mais fácil. Outro avanço marcante foi o fornecimento de
energia elétrica, gerada pelas hidrelétricas.
Antes de a energia elétrica chegar pelas bandas de cá, luz só durante o dia ou nas noites
de lua cheia. Outra opção era o candeeiro a querosene. Poucas casas da cidade recebiam uma
energia que era gerada por um motor a óleo diesel. Funcionava das 18:00 às 12:00h.
Por falta de energia elétrica, as primeiras televisões, com imagem em preto e branco,
funcionavam à bateria, os rádios à pilha. O telefone chegou aqui depois de muito tempo,
usávamos muito o serviço dos Correios. Dá para imaginar que as informações não chegavam
tão rápidas. Hoje, com o avanço da tecnologia, é possível uma comunicação instantânea. Tudo
o que se quer saber sobre o mundo está ao nosso alcance em questão de segundos. O celular e
a internet facilitam a comunicação entre as pessoas, com uma ressalva, as pessoas estão
perdendo o contato pessoal, o corre-corre do mundo moderno está tornando as pessoas mais
distantes umas das outras. O contato é superficial, virtual. Ninguém mais visita o outro para
uma prosa. O diálogo está acabando até entre as famílias. Os bate-papos de hoje são virtuais –
pela tela e teclado de um computador – via internet.
Voltando ao que interessa, você deve estar querendo saber se costurei para pessoas
importantes desse lugar. Sim! Lembro-me das camisas, calças e paletós que minhas mãos
cortaram e costuraram para os prefeitos Alfredo de Paula Cavalcante e Antônio Lins da Rocha
(meu primo). Também costurei para pessoas simples. Ganhava mais um dinheirinho nas
quatro festas do ano: Ano Novo, Natal, Festa do Padroeiro – São Sebastião – comemorado
sempre no último domingo do mês de janeiro, e a festa da Padroeira – Nossa Senhora do
Carmo – comemorada no dia 16 de julho, mesma data em que se comemora a Emancipação
Política de Colônia Leopoldina. As festividades faziam com que meu trabalho aumentasse. Para
dar conta das encomendas era preciso fazer serão (hora extra).
Com o passar dos anos, além de costurar, entrei n o ramo do comércio – uni o útil ao
agradável. Abri uma loja de tecidos. Por falar nisso, entre as décadas de 60 e 70, o comércio de
Colônia era formado por algumas mercearias, duas farmácias e umas seis lojas de tecido.
Naqueles tempos, não só a minha profissão, mas em muitas outras, o trabalho manual era
bastante explorado e valorizado. Até então, a indústria de confecção de roupas ainda não
havia sido desenvolvida. Porém, o progresso chegou... E a procura pelos serviços do alfaiate foi
desaparecendo aos poucos...
477
Continuei no comércio, mas decidi mudar de ramo de tecido para gêneros alimentícios.
Quem hoje não conhece o supermercado, registrado de Comercial Rocha? O maior e mais
sortido da cidade.
Muitas coisas mudaram nesse lugar, desde o dia em que cheguei às suas terras. Assisti
ao seu crescimento e desenvolvimento, continuo ativo no meu trabalho. Estou casado há 50
anos, tenho três filhos e três netos. Participei da vida política de Colônia – vereador eleito na
década de 80 por um mandato de quatro anos.
Posso dizer que sou um homem realizado... E que essa viagem ao passado me fez reviver
os tempos que marcaram a minha vida e a do lugar que escolhi como palco de parto da minha
história.
Se cada um de nós parasse no tempo e fizéssemos uma retrospectiva de fatos do
passado, chegaríamos à conclusão de que nada do que foi será de novo do jeito que já foi um
dia. Tudo passa, tudo sempre passará... E só restarão as lembranças para contar a história que
formamos.
Texto baseado na entrevista em sala de aula com o Sr. Severino Rocha, ex-alfaiate, ex-vereador
e atual comerciante de Colônia Leopoldina – Alagoas.
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Eulina Costa
De Antônia para Eulina
O mundo dá muitas voltas... E, nesse movimento, pessoas se encontram e formam
histórias impressionantes. Com um dedo de prosa, ouvimos fatos interessantes que envolve a
vida de nossa convidada Eulina Costa – uma senhora de pequena estatura, magrinha, rosto
afilado, pele clara e os cabelos curtos – mais alvos que a neve, beirando seus 70 anos de idade.
Para contar minha história, preciso resgatar minha origem, como tudo começou... Quem
nunca perguntou: “Quem eu sou?”, “De onde vim?”, “Para onde vou?”. Tais questionamentos
nos ajudam a compreender a nossa existência. Vamos ao que interessa: sou filha do casal
Manoel Lino e Maria da Glória. Ambos se conheceram viúvos. Eram ainda jovens. Meu pai
tinha três filhos; minha mãe, quatro. O destino uniu esse casal e, dessa nova união, nasceram
sete filhos – inclusive eu! Deu para entender os laços das famílias? Tornamo-nos a família três
em uma. Ao todo, quatorze herdeiros, criados todos juntos.
Porém, o mais interessante desse enredo é que um filho do meu pai com uma filha da
minha mãe se apaixonaram, namoraram e se casaram. Meus pais não ficaram nem um pouco
satisfeitos com o acontecido, pois tinham sido criados como irmãos, mesmo possuindo o
sangue de outra raiz familiar. Eles ficaram com medo que o mesmo pudesse acontecer com
outros dois irmãos.
A vida tem muitos casos engraçados. O destino é um mistério... Tenho uma ligeira
impressão de que cada um nasce com a sina traçada. Algumas coisas a gente pode até mudar,
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outras não. Como foi o caso do meu nome. Não se explicar o porquê, mas nunca aceitei o
nome de batismo que me deram. Particularmente, não tenho nada contra as Antônias desse
mundo afora.
Naqueles tempos, os pais batizavam os filhos e a Igreja Católica emitia o primeiro
documento de identidade cristã: o batistério. Já ouviu falar? Pois é, esse bendito documento
desceu em uma enchente que atingiu nossa casa. Essa foi a gota d’água para que,
posteriormente, o nome de Antônia não fosse registrado em minha certidão de nascimento.
Você deve estar morrendo de curiosidade para saber como foi escolhido o nome que
tenho hoje. Minha mãe tinha uma amiga que se chamava Eulina, eu achava esse nome bonito,
então pedi para ser chamada por ele; como ainda era criança, não foi difícil trocar de
identidade. Todos se acostumaram a me chamar pelo novo nome.
Engraçado! Acabo de fazer uma descoberta incrível! Após relatar essas memórias,
percebo que o sobrenome do meu pai – Lino – está ligado ao meu nome. Se levado para o
feminino e suceder ao Eu, vai dar EULINA. Não é o máximo? Simplesmente, porque eu sempre
fui apaixonada pelo meu pai, homem de quem tive muito orgulho e tenho dele saudades...
Nos idos de 1952, quando cheguei ao lugar que até hoje vivo, lembro que minha cidade
era rodeada de matas, existiam apenas duas ruas principais – uma reta que ia de uma ponta a
outra. Basicamente, no meio, estava situado o pequeno e precário comércio da região
leopoldinense. Nessa mesma rua, estava construído um dos prédios mais importantes do
município – a prefeitura , cuja arquitetura colonial é mantida até os dias de hoje.
Bem no centro da principal praça – D. Pedro II , estava o primeiro monumento histórico
da cidade, de encher os olhos de qualquer um, prédio grandioso, esplêndido, lugar de
reverência, apropriado para reunir os moradores de todas as classes sociais para celebrarem a
Deus. O nome dado ao templo foi escolhido em homenagem à padroeira – Nossa Senhora do
Carmo , cuja festa é comemorada tradicionalmente todo 16 de julho, com celebrações de
missas, procissão pelas ruas, carregando andores enfeitados e outros festejos sociais para
alegrar o povo da comunidade.
Antes de morar definitivamente na cidade, morei nos seus arredores; primeiro no
Engenho Canto Escuro, por dois anos; lá cheguei a frequentar a escola. Já era adolescente
nessa época, apenas cursei até a segunda série primária, fui obrigada a abandonar os estudos
cedo, pois precisava ajudar minha mãe nos afazeres domésticos e ajudar a criar meus irmãos
caçulas.
Em seguida, mudamos para uma indústria de cana-de-açúcar – Usina Taquara. Naquela
época, ela estava começando a produzir o açúcar em maior escala. Tornei-me funcionária da
cooperativa – uma espécie de loja de variedades que atendia os consumidores locais e da
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vizinhança rural. Vendia-se de tudo o que se pode imaginar: gêneros alimentícios, tecidos,
utensílios de cozinha, aviamentos, lonas, cordas, candeeiros... Despachei muitas mercadorias
ali.
Nos idos de 1955, eu já tinha os meus 17 anos de idade, eu mesma compareci ao
cartório de Registro Civil e me registrei. Além de trocar o meu nome de batismo, resolvi
acrescentar um ano na minha idade. Quis aproveitar a oportunidade para tirar os outros
documentos, inclusive o título eleitoral. Adulterar a data do nascimento era a coisa mais fácil
naquela época, os partos eram feitos pelas parteiras nas residências, não existia um controle
de informações como nos dias de hoje. Inclusive, muita gente pobre daqueles tempos nunca
teve direito a um documento de identidade, morreu sem deixar registro, jamais foi contado
como cidadão brasileiro. Bem diferente dos dias atuais: uma criança, ao deixar o hospital, leva
com seus responsáveis todas as informações por escrito, cabendo aos pais procurarem um
cartório para efetuar o registro que, segundo a Lei atual, é um documento gratuito, para que
todos, sem exceção, tenham acesso. Até a algumas décadas, esse documento era cobrado, e
muitos, por não terem condições, se tornaram anônimos.
Para falar a verdade, não tenho saudade da minha infância, muito menos da mocidade,
tive uma vida dura, marcada pelo trabalho e por pouca diversão. A palavra lazer não fazia
parte do meu vocabulário. Festa era uma vez ao ano; na época que frequentei um baile, não
existia clube na cidade. O evento acontecia no prédio da prefeitura que servia de palco para o
encontro dos mais moços, para ouvirem e dançarem uma boa música. Aquele momento era
tão esperado, sonhado... Quando ele se tornava real, esquecíamos o tempo... Num piscar de
olhos, meu pai apontava sua cabeça na janela do prédio, anunciando que já estava na hora de
voltar à realidade.
Fui uma moça bastante curiosa: aprendi a costurar, bordar, engomar e cozinhar...
Modéstia à parte, era uma jovem prendada. Minha mãe era muito exigente, gostava das
roupas bem lavadas e engomadas, enfim, impecáveis. Naquela época, isso era um serviço que
requeria muita força. Você já deve ter escutado falar dos ferros de engomar... Literalmente de
ferro, esquentado à brasa de carvão, superpesado. Hoje tudo é mais prático – ferro elétrico,
leve; goma para roupas, quase ninguém mais usa; existem uns produtos modernos, cheirosos,
que usamos para barrufar o tecido que deixa a roupa um cheirinho bem gostoso.
Não precisei fazer nada de corte e costura, aprendi a arte descosturando roupas, e suas
partes serviam de moldes que, após cortados, eram costurados. No começo, só reproduzia por
uma roupa já existente, depois fui me aprimorando ao ponto de tornar-me uma costureira
profissional.
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Não fui moça namoradeira, casei com o segundo namorado. Nos meus tempos, o
namoro era muito diferente da atualidade. Não existia esse agarra-agarra. Beijo na boca só
depois de casado. O namoro era de porta – nada de namoro escondido, tudo era levado a
sério. Conversávamos na presença dos pais ou dos irmãos. O simples toque nas mãos já
simbolizava muita intimidade; beijo na mão ou na face, tudo muito discreto. No meu tempo de
moça, não existia a história do “ficar”, como a gente vê hoje em dia. As moças se davam mais
valor, os rapazes sabiam respeitar as moças de família, recatadas e, acima de tudo, prendadas.
Os tempos modernos, sem dúvida, têm suas vantagens, mas, em contrapartida, suas
desvantagens. Os tempos evoluíram, muitas coisas surgiram para facilitar a nossa vida: os
meios de comunicação, de transporte, a educação... Mas prejuízos são visíveis no
comportamento das pessoas. Os valores se perderam. É muito difícil encontrar pessoas
honestas, solidárias, respeitadoras. Com o crescimento da população, cresceu também a
violência, os presídios, a pobreza e a fome... Isso tem atingido até as pequenas cidades como a
nossa. Antes ninguém ouvia falar em maconha. As drogas têm matado muitos jovens. A
prostituição já existia, mas hoje se multiplicou, sem contar com os divórcios... Será que daqui a
uns dias a família vai deixar de existir?
Essa situação me causa pânico. Lembrando bem, tenho saudade dos tempos que se vivia
mais em paz, sem a palavra stress, e com menos violência. A vida era mais simples e mais
tranquila. Pensando bem, foi muito bom recordar e perceber que os tempos antigos me
proporcionaram viver uma vida mais intensa.
Hoje, tento levar uma vida ativa, apesar dos problemas de saúde, a osteoporose, doença
que enfraquece os ossos, acompanhada de dores fortes. Com os meus 70 anos, tenho sido
renovada no espírito; logo, a disposição de viver me mantém de pé.
Essa senhora tem uma história engraçada, a troca de nome, que retrata bem as
condições civis de muitos cidadãos do seu tempo: a falta de direito da certidão de nascimento.
A lição deixada para nós é que devemos cultivar os verdadeiros valores da vida, que são os
mesmos, independentemente da época em que vivemos.
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Eulina Costa (primeira à direita) e seus irmãos.
Elita Bezerra.
De aluna para professora
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Não há nada melhor do que conversar com pessoas mais velhas, elas tem uma visão do
passado que nos ajuda a entender o presente. Vamos ler a história de mais uma mulher
leopoldinense.
Sou da década de 30, nasci exatamente no dia 19 de março de 1931, no Sítio Capim de
Planta, que fica nos arredores da minha querida Colônia Leopoldina. Recebi o nome de Maria
Elita Bezerra da Silva, mas todos me chamam de Dona Lita. Quando meus pais resolveram
habitar na cidade, eu já tinha 12 anos; vim morar bem no centro da pequena Leopoldina.
Minha casa fica, até hoje, na Praça Dom Pedro II. NO meio da praça está o grandioso e mais
belo templo alagoano da Igreja Católica. Por sinal, sou uma católica do pé roxo, pois, desde
que me entendo por gente, frequento regularmente missas, terços, novenas e as procissões de
São Sebastião o padroeiro da cidade – e de Nossa Senhora do Carmo – a padroeira.
Sou privilegiada, pois, na praça onde resido, do meu lado direito, existe a casa do padre
e, vizinha a ela, a casa das freiras – filhas do Sagrado Coração de Jesus. Atravessando a rua,
bem na esquina, fica o Banco do Brasil, onde, outrora, era um centro paroquial.
Existem algumas casas, a padaria Olinda, que fica na outra esquina junto à prefeitura.
Esta, cujo prédio é belíssimo, possui arquitetura em estilo colonial. Vizinha à prefeitura, situa-
se a Câmara de Vereadores, bem em frente aos famosos e históricos pés de castanhola –
árvores centenárias plantadas pelo próprio D. Pedro II. Contam os mais antigos que foi em
homenagem à princesa Leopoldina, filha do Imperador, que a cidade, anteriormente
denominada Colônia Militar, passou a ser chamada Colônia de Leopoldina. Hoje em dia, não
usamos mais a preposição de posse. Minha casa fica por trás da igreja. Na frente do templo, há
complemento da praça, um prédio público bem antigo, chamado Castelo Branco. Além dos
prédios públicos, existem também farmácias, lanchonetes, quiosques. Se você nunca veio à
minha cidade, basta fechar os olhos e, pela descrição que fiz, ver a igreja no centro da praça.
Quero falar sobre minha história, iniciando pelos meus estudos. Já tinha meus 12 anos
quando comecei a frequentar a escola. Lembro-me de que estudei no antigo prédio da
paróquia, onde hoje é o Banco do Brasil. Já existia, nessa época, a Escola Estadual Aristheu de
Andrade e não sei se foi por falta de vagas que eu não estudei lá, mas tenho uma ligeira
impressão de que foi pelo fato de ser pobre. Estudei em escola inferior, com pouca estrutura
física. A escola na qual estudei era simples, um salão dividido em duas salas, administradas
pela igreja católica. Recordo-me que um padre era o diretor.
Minha única professora foi Regina de Assis Figueiredo, de pequena estatura, pele alva,
cabelos loiros. Pessoa muito meiga, ela tinha o dom de ensinar; todos que com ela estudavam,
aprendiam. Era professora vocacionada, tive a sorte de estudar até a terceira série do
primário. Tudo quanto aprendi, agradeço, em primeiro lugar, a Deus; segundo, a ela. Minha
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querida mestra precisou mudar de cidade, até aí tudo bem. Quase caí dura no chão quando ela
me procurou para me informar que eu seria a sua sucessora. Nessa época, eu já estava com 19
anos, e tornei-me uma professora leiga, porém, por ter sido uma boa aluna, que chegava cedo
à escola, varria e arrumava as bancas, sem esquecer que já ensinava aos principiantes aquilo
que já havia aprendido. Meus requisitos foram observados e fui escolhida para repassar o
conhecimento a outras gerações.
Recordo-me, no momento, que a metodologia aplicada, naquela época, não tinha nada
a ver com a nova LDB. Com as conquistas dos direitos humanos, chegaram à conclusão de que
a punição não combina com a educação. Hoje, ai do professor ou professora que agredir o
aluno: com certeza, perderá seu emprego. Dos meus tempos para cá, as coisas mudaram
muito. Recebi e dei uma didática metodológica diferente da de hoje, era a forma de ensinar e
aprender daqueles tempos. Todos tinham em mãos sua cartilha do ABC e sua tabuada.
Lembro-me de que existia uma prática de punição para quem errasse. A tarefa era cobrada por
dupla, aquele que não acertasse recebia o bolo pesado da palmatória feita de madeira forte –
sucupira ou pau-amarelo. Existia também uma régua de 50 cm para os alunos inquietos.
Aquele que quebrasse as regras ou saísse da linha, as reguadas nas pernas era por certo. Isso
era normal pra época.
Quem pensa que estudar na década de 40 e 50 era fácil está muito enganado, os
estudos eram puxados, não era moleza não. A Matemática de hoje era chamada Aritmética
(tabuada na ponta da língua, as quatro operações); a Língua Portuguesa se denominava
Gramática (tinha que saber escrever palavras respeitando a ortografia, dominar as 10 classes
gramaticais, sintaxe de concordância verbal e nominal e, acima de tudo, ler bem). A Geografia
envolvia Ciências e a famosa História do Brasil, que era mentirosa que só vendo. Tudo era na
base da decoreba, aluno não tinha vez nem voz, a não ser para responder apenas o que o
professor perguntasse.
Não para me orgulhar, mas fui uma aluna que sofri pouca punição, nem precisei apanhar
tanto e muito menos bater em meus colegas. Quanto a isso, não tenho traumas. Comi meus 19
anos, assumi a sala de aula e ensinei até a segunda série. Quando comecei a trabalhar,
oficialmente, a prefeitura me pagava uma subvenção – um valor pequeno, ou melhor,
simbólico, pelo serviço prestado à comunidade.
Mudando de assunto, casei-me com Valdemar Figueiredo, com quem tive uma dúzia de
filhos. Sou viúva, tenho netos e bisnetos, me considero bem-aventurada. Já completei meus 78
anos, sou saudável, conservadora, guardo as lembranças escritas no papel e na memória,
tenho ainda uma caderneta da época narrada. Considero que o meu maior erro foi não ter
dado continuação aos meus estudos. Só pensei em criar filhos e repassar o conhecimento
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adquirido. Mas a vida me ensinou muitas coisas, não existe escola melhor do que a própria
vida. Hoje, sou aposentada pela prefeitura e recebo um salário mínimo que nem eu. Eis a
minha descrição: sou uma mulher minúscula, baixinha e magrinha, sobretudo tenho uma
grande fé em Deus que me dá força para continuar vivendo...”
Texto baseado em uma conversa informal com a Sra. Elita Bezerra.
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Ex-vereador Dr. Ernane Santana.
De coração aberto
Pelo título, muitos leopoldinenses já sabem de quem se trata, porque esse foi meu lema
nas minhas campanhas de candidatura a vereador. Sou Ernane Santana Lemos, nasci em 28 de
agosto de 1944, em Colônia Leopoldina, filho de Adalgiso Borges Santos e Maria de Lourdes
Santana Santos. Meus avós foram pessoas influentes no município, donos de muitas terras,
naquela época.
Cresci num ambiente próspero, estudei bastante, sempre apreciei as letras, até hoje
gosto de recitar poemas, contar histórias e também escrevê-las. Sem querer ser convencido,
tenho uma boa oratória, gosto muito de falar em público e compartilhar o meu conhecimento.
Sinto uma satisfação enorme.
Tive o privilégio de estudar na capital alagoana, consegui fazer uma faculdade em
Medicina, especialista em psiquiatria. Tornei-me um profissional da mente humana, campo
complexo de entendimento. Fui professor da UFAL, alguns dos meus alunos, hoje, exercem a
profissão, toraram-se colegas de trabalho. Casei-me com Eutália Guerra, com quem tive quatro
filhos.
Que coisa maravilhosa, um filho doutor (médico)! Citado no hino municipal, para mim,
chega a ser uma honra. Mesmo morando fora, nunca me desliguei da terra mãe, a nossa
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ligação era tão forte que entrei logo cedo para a política. Fui eleito vereador por cinco
mandatos consecutivos, tornei-me presidente da Câmara de Vereadores por quatro vezes.
Prestei e ainda presto meus serviços no atendimento à saúde da população
leopoldinense. Sempre estive ao lado do povo, e não é à toa que o meu lema foi “de coração
aberto”. É do coração que vem o sentimento mais precioso – o amor pela vida das pessoas,
abeto, porque estive sempre à disposição. Lembro-me de que, muitas vezes, cansado, não
deixava de atender aos que iam à minha procura, afinal de contas, foi para isso que fui
formado.
Falando em coração, órgão essencial à vida, fonte das emoções, de onde brota a
intensidade do amor, sentimento sublime, dado por Deus para servir ao próximo, não posso
deixar de registrar: aí esse meu coração, ora tão forte, ora tão frágil. Não me lembro das vezes
que fui parar nas salas de UTI, entre a vida e a morte. Um infarto aqui, outro ali, mas sou um
homem emocionalmente equilibrado, não me deixei abalar pelos problemas cardíacos dos
quais fui acometido. Hoje tenho implantado, no meu peito, um desfibrilador cardíaco – uma
espécie de marca-passo para quem sofre de arritmia cardíaca. Este já é o terceiro implantado.
A saúde é frágil, em compensação, a força de vontade de viver supera as deficiências
orgânicas que o meu organismo expõe. Apesar das dificuldades, sou um homem realizado,
ativo no meu trabalho, respeitado pelos cidadãos. Ainda cheio de projetos, penso em escrever
um livro de causos. Há pouco, publiquei o livro que tem como título As ruas da nossa cidade,
obra muito rica para a história da formação de nosso município, que irá favorecer os leitores
leopoldinenses.
Tenho um profundo orgulho de pertencer a Colônia Leopoldina. Lembro-me, como hoje,
das vezes que vinha passar férias por aqui, das brincadeiras, dos amigos e namoradas, tudo era
muito diferente dos dias de hoje. Existia um respeito enorme pelos pais e pelos mais velhos.
Havia uma inocência muito grande nas brincadeiras e nos namoros.
Há um provérbio popular que diz: de médico e de louco, todo mundo tem um pouco. E
por que não acrescentar: de poeta também. Recordo-me que sempre gostei de rascunhar
textos poéticos, de expressar sentimentos que mexem com a alma; também gostava e gosto
de ler muitos poemas da literatura clássica. Tenho o privilégio de uma boa memória e, quando
tenho oportunidade de recitá-los, faço com o coração e deixo muita gente emocionada.
Além de medico, sou louco, sou poeta, contador de histórias, um homem com
inteligência multifuncional; uma loucura sana, que todo mundo deveria experimentar. Desejo
encerrar meu texto, pois não pretendo buscar das palavras, mas gostaria de usá-las com o
coração carregado de paixão pela escrita e dizer que através dela podemos melhorar a nossa
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comunicação, partindo do hábito de ler e escrever, mas, acima de tudo, escrever com o
coração aberto, só assim as emoções fluem naturalmente.
Sou um eterno apaixonado: pela minha vida, pela minha família, pela minha cidade, pela
minha profissão, pelos cargos de vereador, pelas pessoas... Termino citando a frase: Tenho
orgulho de ser leopoldinense.
Texto baseado em conversa informal com o Dr. Ernane.
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Dona Gerinha com seu esposo, Zé Brasilino e seu filho, Ricardo Brasilino.
“Gera Ação!”
De geração em geração, eu observo as mudanças que ocorreram na minha vida, na
minha cidade natal e na vida do seu povo. Quero me apresentar de maneira simples: sou filha
natural de Colônia Leopoldina, filha única do casal Odilon Pereira e Joselinda Oliveira, nasci no
dia 11 de outubro de 1935, fiz parte do desenvolvimento do lugar que amo e vivo até hoje, já
completei meus 74 anos. Encontro-me com a saúde defasada, mas, graças a Deus, a minha
memória está novinha em folha. Lembro-me mais do passado do que do tempo mais recente;
é só puxar pelas recordações que ela funciona como uma fita cassete rebobinada em busca
dos sons e das imagens do passado. Esse ato é tão bom e relaxante que chego a sentir o aroma
das flores e as fragrâncias dos sabonetes e perfumes daquela época.
De acordo com as minhas lembranças, fui uma criança muito recatada, ingênua e com
alguns mimos. Meus pais deram-me o nome de Maria Garaldina e, de forma carinhosa,
começaram a me chamar de Gerinha. Estudei em escola particular da primeira à segunda série,
somente depois fui para o Grupo Escolar Atistheu de Andrade, assim era chamada a escola
estadual. Minhas primeiras experiências com as letras aconteceram com aulas pagas por meus
pais, não sei como funcionava a legalização desse ensino, só sei dizer que ocorriam em
residências.
No momento, penso num jogo de palavras. Como é bom brincar com elas! E, quando se
busca sentido para elas, sempre se acha. Meu apelido, por exemplo: Gerinha vem de gera;
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gera é do verbo gerar, que numa frase pode estar conjugado na terceira pessoa do singular, no
tempo presente. Gerinha gera o conhecimento. Na primeira pessoa do presente, eu afirmo:
“Eu gero o saber”. Concluímos com isso que o sentido das palavras somos nós quem as damos
e explicamos. Portanto, gerar é o mesmo que fazer, produzir, e eu me pergunto: o que tudo
isso tem a ver com a minha história? Estamos chegando lá, tudo está interligado à minha
profissão, da qual me orgulho. Já estou aposentada, no entanto, se é de uma coisa que eu
sinto saudade, é da minha sala de aula. Fui professora alfabetizadora. Ensinei a várias gerações
o conhecimento do mundo das letras e o descobrimento da leitura.
Com relação ao avanço científico, tecnológico, industrial de décadas, percebo que a
geração atual sabe menos que antigamente. Antes não existiam tantos meios de
comunica~/ao e livros como hoje em dia; em contrapartida, os poucos recursos que tínhamos
para ensinar o básico era suficiente para tornar um cidadão apto para se virar e sobreviver
com o conhecimento limitado adquirido.
Nos dias atuais, os métodos da avaliação de ensino-aprendizagem são outros, porém o
índice de analfabetismo é gritante. Os alunos de hoje, das escolas públicas, terminam o quinto
ano do Ensino Fundamental, na maioria deles, sem nem sequer saber ler. Antigamente a
escrita e a leitura eram mais valorizadas, a maioria dos contatos se davam por bilhetes, cartas,
telegramas, diários; hoje em dia, com o advento dos telefones celulares e internet, o contato
das pessoas ficaram mais superficiais, muita coisa se resolve por telefone, as amizades são por
intermédio do facebook e dos e-mails. Os tempos mudaram e, com eles, os comportamentos
das pessoas também. É preferido pelas pessoas ouvirem uma música a ler um bom livro.
Na época em que fui alfabetizada, com a cartilha do ABC, recebi muitos castigos por não
dar a lição na ponta da língua. Quem naquela época não provou dos amargos bolos de
palmatória? Coitado daqueles que sofreram as dores e nunca aprenderam! Essa dor, com
certeza, deve ser sentida em dobro. A dor da decepção. Mesmo eu tendo recebido esse
método de ensino, jamais fui revoltada, me profissionalizei só concluindo até a quarta série,
era uma professora leiga, todavia muito esforçada e, acima de tudo, vocacionada. Fazia o meu
trabalho com muito amor e dedicação, nunca gostei de bater em meus alunos, nem castigá-
los; tratava todos por igual, do rico ao pobre. Graças a Deus que, naquela época, as crianças
tinham mais respeito e consideração pelos professores, coisa rara nos dias de hoje.
Conseguia, com a minha metodologia de ensino, passar os alunos para série seguinte
lendo e escrevendo bem. Cerca de 90% da turma era aprovada e bem aprovada, diga-se de
passagem. Por esse motivo, era uma professora da rede municipal, da Escola Joaquim Luiz da
Silva, muito solicitada pelas mães para que ensinasse aos seus filhos. Esse trabalho de
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alfabetização que eu fazia na época é, atualmente, chamado de segundo ano, que há pouco
tempo era a primeira série de ensino fundamental.
Com o passar dos anos, resolvi estudar mais e me tornar uma professora habilitada.
Cursei admissão,1 fiz magistério, agora sim: além da prática, tinha o diploma. Já ia esquecendo
de dizer que fui casada com o popular Zé Brasilino, vereador por cinco mandatos, contando dá
24 anos de representação pública do povo leopoldinense. Com ele, formei minha família, e
juntos tivemos cinco filhos que são verdadeiros presentes preciosos que Deus nos deu; sou a
mãe do vereador Ricardo Brasilino, que herdou a paixão pela política. Já se encontra no
terceiro mandato.
Consegui, por meio das amizades políticas, um emprego de serviços gerais –
merendeira, zeladora – na escola estadual, mas logo fui removida de função. O que é que um
diploma não faz? Com o desvio de função, passei a trabalhar na parte burocrática da escola
numa sala que recebeu o nome de “biblioteca”.
Definem-me, em homenagem ao meu trabalho, de alfabetizadora especial, justamente
pelo desempenho, ano após ano. Sinto-me honrado pelo reconhecimento, chega a dar uma
pontinha de orgulho e vaidade. Quem não gosta de receber um elogio? Aproveito o momento
e agradeço a Deus pelo dom da vida, o dom de ser mãe, o dom de ensinar e, acima de tudo, o
dom de amar as pessoas, principalmente, aquelas que estão mais próximas a mim.
Confesso que não sinto solidão. Mesmo a vida de hoje sendo tão corrida, as pessoas já
nem param para conversar umas com as outras, todos os dias sou visitada pelos meus filhos,
que cuidam de mim com muito amor. Quanto aos leitores do meu texto, deixo um recado às
futuras gerações: “Que busquem o amor ao conhecimento que está na filosofia, que está
dentro de cada ser, seja na razão ou na emoção”. O que importa é cantar a vida, como canta
Roberto Carlos:
Quem espera que a vida,
seja feita de ilusão,
pode até ficar maluco,
ou morrer na solidão.
É preciso ter cuidado
pra mais tarde não sofrer.
1 Para os que não conhecem o sentido do (antigo) “admissão”, explico: o exame de admissão, que
funcionou no Brasil de 1937 até 1969, era uma espécie de vestibular entre o curso primário
(fundamental 1) e o ginasial (fundamental 2), ou seja, após completar o quarto ano primário, o aluno
faria um teste para poder passar para o ginasial; caso não fosse aprovado, teria que fazer o curso de
“Admissão ao ginásio” durante um ano.
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É preciso saber viver.
Esta é a última lição da professora Geraldina.
Texto baseado na entrevista com a sra. Maria Geraldina, 74 anos.
Construção da Vila Mandacaru.
Mandacaru:
símbolo de resistência
É normal que todo lugar cresça com o passar dos anos. Não foi diferente com a minha
cidade. Muitas pessoas, pela necessidade básica de moradia, lutaram para conquistar um
espaço no qual pudesse construir sua habitação. Com base na história contada pelo
entrevistado – participante desse movimento , conheceremos como se deram os fatos.
Sou filho natural de Colônia Leopoldina, não estou aqui para contar a minha história,
mas a minha participação ativa na conquista de terras para um povo que tinha necessidade de
um teto. Entre tantas famílias, eu também estava lá, pronto para tomar posse daquilo que por
direito é do povo.
O lugar, eu me lembro muito bem, era tomado pelo verde exuberante de um matagal
cheirando a capim. Alguns animais, criados pela população vizinha, eram soltos em seus pastos
abundantes para se alimentarem. Uma terra desabitada, com tanta gente desabrigada. Isso
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não poderia continuar assim. Nosso desejo era plantar nessas terras coisas que não se comem,
mas que servem de abrigo. Dar para entender o que quero dizer?
Num tempo não muito distante, exatamente no dia 20 de agosto de 1991, lembro-me
como hoje, pois datas marcantes ficam bem registradas na memória. Eu, juntamente com os
parceiros de luta, tomamos posse das terras desocupadas do município, que mais tarde foram
nomeadas Vila Mandacaru. Tal acontecimento não se deu de uma hora para outra: tudo foi
pensado, planejado e organizado como manda a lei. No total, reunimos mais ou menos 100
famílias que, unidas, lutaram pelo mesmo ideal.
Tendo em vista o crescimento populacional da cidade e a chegada de mais famílias da
zona rural para a urbana, muitas em busca de melhores condições de vida, a situação se
complicou, pois as pessoas não tinham como pagar aluguel de casa, outros moradores tinham
as suas moradias em locais impróprios, às margens do rio que banha a cidade, vítimas de
enchentes nos rudes invernos. Tais motivos nos fizeram entender que não era justo viver nessa
situação, havendo, bem à nossa frente, um espaço ideal para a construção de um conjunto
habitacional. Estudamos o local e tivemos a certeza de que aquele lugar seria nosso lar. O
ambiente tinha uma fonte de água abençoada por Deus e, junto à fonte, uma planta comum
na vegetação sertaneja – o mandacaru – que nos inspirou a nomear o local, pelo fato de esse
símbolo representar a força e a resistência de um povo sofrido. Em nosso contexto, era a
busca pela realização do sonho da casa própria.
Não pense que foi fácil consolidar a nossa conquista. Tivemos muitos entraves políticos,
fomos perseguidos, até ameaçados de morte, sofremos pressão psicológica, porém nada disso
nos fez recuar. Acreditamos que nosso maior erro foi ter pensado que as terras pertenciam ao
município. Tarde demais. Quando ficamos sabendo que aquele terreno havia sido vendido pelo
prefeito da época – José Luís Lessa – ao Estado para a construção de uma COHAB (Companhia
de Habitação de Alagoas), nosso movimento não arredou os pés do local.
Tínhamos um sonho em comum. E sonho que se sonha no coletivo torna-se realidade.
As primeiras casas, ou melhor, barracos cobertos por lonas, foram erguidos, em um número
aproximado de cem. Convictos dos nossos ideais, fundamos uma associação de moradores
para justificarmos nossas necessidades. Contamos com o apoio do Pe. Aldo Giazzon – um
padre de origem italiana, pároco da nossa cidade – que defendia com unhas e dentes as causas
sociais. Não muito diferente dos tempos mais antigos, todo aquele que se envolve com causas
que buscam o bem do povo incomoda os que se acham donos do mundo.
Esse padre não agradou muito àqueles que estavam no poder, principalmente, os que
não querem o bem do pobre. É bom deixar claro que a nossa associação funcionou com alguns
projetos em prol da sua população, recebendo ajuda financeira de um professor e músico
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canadense, Thomás Afonse, por influência da cidadã Maria José Viana, na época, líder do
Movimento sem Teto.
Após alguns anos de luta, eu que pensei que não sobreviveria a um problema de saúde
renal, estou aqui para contar vitória. Há 25 anos, vivo com um rim doado pelo meu pai. Deus
me concedeu força, saúde, perseverança, paciência para, junto com outros companheiros de
luta, conquistarmos nossos direitos. Em breve estaremos completando 18 anos de fundação.
Com muito orgulho, sou um dos poucos que lutaram e ainda tenho moradia fixa neste lugar.
Dou graças a Deus, porque ninguém precisou morrer para fazer valer esse direito,
apesar das ameaças. Tivemos a coragem de resistir aos problemas de ordem política e
burocrática e fomos vitoriosos! Conto essa história bastante emocionado... Com o coração
palpitante! No dia em que precisar partir deste lugar, levarei comigo um pedacinho do
Mandacaru, as doces lembranças... Também na minha partida dessa vida levarei a certeza da
semente plantada aqui, a lição de como se conquista os direitos de cidadão.
Sou parte desse povo, dessa história. Depois de muitas lágrimas, veio a alegria de poder
olhar para trás e ver a história construída. Hoje, quase trezentas famílias usufruem desse
espaço. Depois de alguns anos, o governador do Estado resolveu transferir a propriedade do
terreno à prefeitura que, por iniciativa do prefeito, conferiu, oficialmente, a cada morador, o
termo de posse, regularizando as construções de suas casas.
A história não termina por aqui, muitas lutas e conquistas estão por vir. Algumas já
alcançadas, outras esperadas. Nessa pequena comunidade, temos energia elétrica, água
encanada... Ainda nos falta saneamento básico. As suas ruas são no barro puro. No verão, a
poeira levanta, no inverno vira lamaçal.
O que me deixou impressionado nessa história que poucos conhecem e que o
entrevistado cursou apenas a sexta série do ensino fundamental e, durante a sua fala,
demonstrou um conhecimento de causa bastante elevado e fundamentado nas leis
constitucionais. Uma pessoa envolvida na política, que defende bem uma visão de governo
planejado em proporcionar o bem-estar da população em geral.
Não poderíamos esquecer jamais da mensagem transmitida por ele: “Valorize o ato da
leitura – o segredo de saber defender o que penso ser certo e argumentar está na prática da
leitura que aprendi a desenvolver durante a minha vida”.
Mais uma aprendizagem adquirida no decorrer dessas atividades de produção de textos
de memórias literárias.
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Sr. Maurício Pereira de Souza.
Texto baseado na entrevista em sala de aula com o Sr. Maurício Pereira de Souza, 48 anos,
morador da Vila Mandacaru, Colônia Leopoldina – AL, em junho de 2008.
O garoto Everaldo Costa Silva na sua primeira comunhão.
O pequeno grande homem
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Conversa vai, conversa bem, a gente vai descobrindo a história de cada um e do lugar
onde viveram. Um ponto de partida e um ponto final para encerrar qualquer assunto.
Nasci em Monte Sombrio, município de Bonito – PE, precisamente em 02 de setembro
de 1947. Fui um menino de tempo – 09 meses , mas de estatura pequena, cabia numa caixa
de sapatos, precisaram diminuir meus casaquinhos de recém-nascido. Sou o filho caçula dos
Costa: Manoel Lino da Silva e Maria da Glória Costa e Silva. Fui muito paparicado por minha
mãe e minhas irmãs mais velhas. Recebi o nome de Everaldo, em homenagem a um padre que
minha mãe, na época, católica, apreciava muito. Poderiam ter me chamado de polegar ou o
pequeno príncipe, mas não, recebi o apelido de um adereço de noiva: Véu.
Meus pais resolveram mudar de lugar e vieram, em 1952, habitar as redondezas de
Colônia Leopoldina. Chegamos ao famoso Engenho Canto Escuro, lá moramos por dois anos,
depois apeamos na Usina Taquara, a terra do açúcar. Vi, com meus próprios olhos, o
desenvolvimento daquela indústria. Naquele tempo, o meu pai tornou-se chefe do campo. O
trabalho era braçal, os homens usavam as suas forças para fazer a máquina moer. Lembro-me
do suor escorrendo pelos corpos daqueles cidadãos.
Meu pai era um homem bastante conhecido, administrava muitas terras, mas não
queria essa profissão para os seus filhos, por isso todos tivemos a oportunidade de estudar
para exercer outras profissões de prestígio. Fui contemplado, estudei primeiro na escola da
Fazenda Macuca, que fica entre Canto Escuro e Taquara, depois fiz admissão e fui aprovado,
daí parti para Palmares, a fim de estudar no Ginásio Municipal Agamenon Magalhães.
Comparando a educação que recebi naquela época com os dias de hoje, me considero um
doutor. Tenho hábito de leitura, de tudo eu entendo um pouco. Fiz até o sétimo ano, que para
mim vale mais do que um ensino médio ou até mesmo superior.
Fui criança, depois adolescente cheio de questionamentos sobre a existência humana. Já
filosofava sem saber que estava filosofando. Fazia perguntas a mim mesmo e queria respostas
para os sentimentos que afloravam na minha mente e no meu coração.
Tive meus medos, como todo mundo tem, chegaram até a pensar que minhas
ansiedades fossem vontade de casar. Foi morando em Palmares que encontrei a mulher da
minha vida, posso dizer que ela seja minha alma gêmea, até os dias de hoje. Descrever minha
amada mulher não é difícil: era uma jovem de cor clara, pele rosada, magrinha, ingênua, fiel,
dócil, mas de forte personalidade, difícil de ser conquistada; todavia, como nos planos de
Deus, acredito eu, já estava tudo traçado, consegui amansar a dócil fera e conquistar seu
coração.
Nossa união perdura até os dias de hoje, minha querida esposa com quem tive quatro
filhos é a palmarense Norma Lúcia de Oliveira Costa. No dia do nosso casamento, recebi de um
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cunhado meu um cartão que dizia assim: “Norma com véu na cabeça”, gerando daí o duplo
sentido da palavra “véu”, texto ilustrado em caricatura, uma verdadeira obra de arte.
Voltando à mocidade, lembro que meu pai se envolveu na política de Colônia
Leopoldina, o povo o elegeu para vereador em dois mandatos. Numa época em que o
vereador não recebia remuneração. Penso que o sentido da política daquela época está além
da dos dias de hoje. Mas nenhum dos seus filhos quis herdar a vocação da política. Quando
atingi a maior idade, abandonei os estudos, quis ser dono do próprio nariz e resolvi trabalhar,
tornei-me funcionário da antiga SODIPE, em Palmares, trabalhei de motorista para Marcos
Luna, fornecedor bastante conhecido na região de Colônia.
Para formar a família que tenho hoje, passei por muitas dificuldades, fui até São Paulo,
em busca de melhores condições de vida, como ainda acontece nos dias atuais com muitos
nordestinos. Antes de ser o que sou hoje, passei muitas fases difíceis, é claro.
Minha vida dá um livro, como a vida de qualquer pessoa. Quero dizer que voltei à minha
querida Colônia, minha primeira morada foi na Rua Severino Ferreira de Lima, mas por pouco
tempo. Passei a morar na Rua Senador Arnon de Melo, onde resido até hoje. Os fundos da
minha casa davam com os fundos da casa da minha mãe. Meu sogro, Oscar, palmarense, tinha
o maior desejo de abrir uma congregação Presbiteriana, esse era o sonho dele. Naquela época,
eu era um homem desviado do Evangelho, pertencia a alta sociedade leopoldinense.
Fui membro do Lions Club, possuía automóvel e telefone. Na década de 80, pessoas que
tinham esse nível eram contadas como ricas. Sempre gostei de reunir a família no fundo do
meu quintal, foi não foi tinha uma festa, gostava de tomar minha pinguinha em casa, fumar
meu cigarrinho, tomar uma cervejinha, comer pitu, camarão e o famoso churrasco. Época em
que minha esposa era microempresária, possuindo uma fábrica de bonecas, “A bruxinha”, no
fundo do quintal.
Mesmo distante do Evangelho, eu consenti que na garagem da minha casa fosse aberto
o trabalho de Deus, reconhecia meus pecados, mas não conseguia abandoná-los. Como Deus
tem planos para a vida de cada um de nós, somente depois da morte de meu sogro é que o
Espírito Santo me transformou, fez de mim como fez com Zaqueu, me deu o arrependimento,
me perdoou e eu passei a servi-lo. Naquela época, a congregação funcionava na Rua Pe.
Francisco. Lembro-me, como hoje, que foi no início do ano de 1995 que se deu esse fato e
houve um avivamento para a igreja presbiteriana, não somente eu, mas outro irmão que
estava desviado voltou a servir a Jesus, a minha esposa já era crente, voltou à ativa, e meus
três filhos mais velhos e minha nora aceitaram a Jesus no mesmo período. Foi uma grande
festa no batismo e na profissão de fé, mas festa maior foi no céu!
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Por eu ser muito popular, algumas pessoas chamam a Igreja de Everaldo, porém muitos
não sabem que o dono da Igreja é o senhor Jesus Cristo. O templo presbiteriano tinha poucos
membros, mas fiéis nos dízimos e nas ofertas e, para conseguir construir um templo amplo e
pomposo, a união fez a força: do pequeno ao grande, todos que faziam parte da Igreja, no ano
de 1999, se empenharam em trabalhar e ganhar dinheiro para construir o sonho que a fé já
contemplava, antes mesmo de ele existir. Os planos de Deus não se explicam.
Como escrevi anteriormente, nunca me envolvi com política, todavia ocupei, ao mesmo
tempo, dois cargos de secretaria do município: finanças e administração, no governo do
prefeito Severiano de Freitas. Foi desafiador para um homem crente assumir certas
responsabilidades, dou graças a Deus, porque o poder nunca me subiu à cabeça, orava a cada
dia que entrava naquele gabinete para Deus abençoar o nosso município. Tenho certeza de
que não agradei a muitos aproveitadores, que querem fazer da prefeitura uma Mãe Tonha, só
querem tirar vantagens. Quando se aproximou o ano da política, por eu não saber fazer o jogo
da politicagem, deixei o cargo da secretaria da administração, fiquei apenas com as finanças.
Ao perceber que o período da campanha política estava chegando e já cogitava fazer músicas
usando o meu nome, resolvi sair para não manchá-lo e nem comprometer a igreja. Entretanto,
continuei apoiando Severiano pelo trabalho de restauração que Colônia havia passado, pois
saiu do lixo para a limpeza, estava de fato a Colônia de Princesa. Nas eleições, tínhamos a
certeza da reeleição, que virou ilusão. Por mais de 300 votos de vantagem, Manuilson Andrade
assumiu o governo de Colônia.
De tudo fui um pouco, sempre ganhei a vida com dignidade. Quando digo que sou um
grande homem, esse título está relacionado ao meu caráter, à minha personalidade, aos meus
valores morais, não bato no peito para me engrandecer, basta que as pessoas olhem para mim
e digam quem eu sou. Nunca tive interesse pelo poder. Pelo contrário, gosto da vida que levo,
tranquila. Quero ser hoje testemunha viva de Cristo Jesus e que, por meio de minhas orações e
modo de vida, eu venha a atrair muita gente para os braços do Salvador, assim como ele fez
comigo.
Com humildade, eu, o pequeno grande homem, me despeço lembrando o hino que
tocou o meu coração, que tem como título “O Deus Fiel”, cujo refrão declara:
Tu és fiel, Senhor!
Tu és fiel, Senhor!
Dia após dia, com bênçãos sem fim.
Tua mercê nos sustenta e nos guarda.
Tu és fiel, Senhor, fiel assim.
499
Na verdade, eu queria ter mais que uma voz, mais que uma canção e uma vida para
oferecer ao Senhor, pois ele é muito mais que eu possa ter. Só para resumir, Jesus é a razão do
meu viver, antes eu o conhecia de ouvir falar, mas agora de com ele andar. Aguardo o grande
dia, no qual todos os filhos se encontrarão no paraíso que o Senhor preparou para nós que
cremos, e assim teremos um coral perfeito.
Texto baseado em várias conversas informais com o Sr. Everaldo Costa Silva, Colônia
Leopoldina – AL.
Sr. Ubirajara.
O senhor da floresta
Foi no ventre da minha mãe a primeira moradia, apenas sete meses. Após ser expulso
de lá, do lado de cá, conheci um mundo diferente. Lembro-me de alguns episódios da infância,
por isso dizem que recordar é viver. Nasci em Maraial – PE, com um ano de idade fui morar no
meio da mata, num lugarzinho chamado “Amor da Pátria”, terras pertencentes a Sertãozinho,
distrito de Maraial. A poucos quilômetros de onde nasci, bastava atravessar a ponte do rio
Jacuípe que faz divisa com os estados de Pernambuco e Alagoas que estávamos pisando em
solo leopoldinense. A Colônia do mato, como muitos na época chamavam, hoje é a Colônia da
Princesa Leopoldina.
500
Meu nome é Ubirajara, de origem indígena, segundo tenho conhecimento de dois
significados: senhor da lança e o outro de guerreiro. Segundo informações coletadas na
internet, fico sabendo de outro: o senhor da floresta. Sou descendente de espanhóis e
indígenas, tenho características de homem branco; mas o sangue é puro indígena, meus avós
maternos eram índios, ganhei meu nome em homenagem ao meu bisavô, meu pai pediu para
que, quando eu tivesse meus filhos, mantivesse a mesma tradição para perpetuar a origem. E
assim aconteceu.
Antes de falar sobre a constituição da minha família, gostaria de recordar a minha
infância. Era um menino esperto, que apreciava ouvir o canto dos pássaros, tomar banho no
rio, observar os peixinhos nadando em águas cristalinas, ouvir o chuá das águas a desaguarem
em outras águas, subir em árvores, saborear as frutas maduras e frescas, tiradinhas na hora
que desse vontade. Tenho saudade, sim, dessas terras, doce terra onde nasci. Olho sempre o
sol se por e, num passe de mágica, sou tomado por uma grande saudade que às vezes me faz
chorar ao lembrar a minha meninice. Eu era feliz com tudo isso.
Ninguém esquece a primeira professora, pois é, Dona Margarida foi quem me ensinou
as primeiras letras. Por meio da cartilha do ABC, fui alfabetizado e aprendi a ler e escrever um
pouco. Nesse instante, me recordo de dois presentes preciosos que ganhei dela, quando ela
precisou ir embora. O primeiro foi uma bíblia, e o segundo foi um livreto de literatura de
cordel que contava a história A intriga do cachorro com o gato. Naquela época, os professores
já desejavam transformar os alunos em leitores e escritores. Cheguei a essa conclusão, porque,
de forma espontânea, criei poemas em homenagem aos meus filhos.
Nos idos de 1956, começaram a invadir as terras dos pequenos agricultores, meu pai foi
forçado a vender nossas terras, perdemos nosso espaço para a Usina Santa Terezinha. Por esse
motivo, migramos para a cidade que eu considero minha, que amo de coração e que me
recebeu de braços abertos como o Cristo Redentor.
Nessa época, eu já tinha meus 10 anos de idade e, para se ter uma ideia, a rua em que
morei parecia mais um sítio: apenas quatro casas, rodeadas de árvores frutíferas e matagal,
mas tinha um belo nome: Rua Boa Vista. Continuei na escola, mas lembro que só conclui a
terceira série no Aristheu de Andrade. Estudei com as professoras Dona Romélia Luna e Dona
Ivar. Esta última vinha de Maceió ensinar aqui. Naquela época, Dona Edleuza Araújo era a
diretora da Escola Estadual Aristheu de Andrade.
Eu me recordo do “Amor da Pátria”, a casa onde morava, a minha escola, a minha rua,
os meus primeiros amigos; aí como o pensamento voa ao lembrar de coisas boas e que não
voltam mais! Lembro-me de quando minha avó me chamava de mirro, que quer dizer meu
filho em espanhol.
501
Já na adolescência, conheci Dona Milu, crente da Igreja Presbiteriana. Ela ensinava a
palavra de Deus na congregação que ficava na Usina Taquara. Existia também outra dirigida
por distintas pessoas na Usina Porto Rico, atual Destilaria Porto Alegre. A primeira igreja
evangélica que chegou à nossa região foi a Igreja Presbiteriana no Brasil, precisamente em
1940. Após cinco anos, chegou a Assembleia de Deus que, por sinal, foi bem recebida,
arrebatando muitos crentes presbiterianos para si. Sua sede era na cidade.
Sempre fui um homem muito desenrolado, aprendi desde cedo a profissão do meu pai;
entre 13 e 14 anos, me tornei pedreiro, admirava bastante a profissão e quis segui-la. Já rapaz
feito, fui comparando o meu crescimento com o crescimento de Colônia. O padre Jorge foi
uma pessoa muito importante na minha história. Antes de trabalhar com o padre, fui gerente
da padaria Olinda. Naquela ocasião, lembro-me de que o dinheiro era chamado de cruzeiro.
Conheci a mulher da minha vida com quem pretendia me casar, ela é conhecida até hoje
como Dona Zuzu. Por esse motivo, precisei entregar o emprego de gerente, pois o salário que
eu ganhava na época não era suficiente para sustentar uma família. Trabalhando com o padre
Jorge, tive oportunidades maravilhosas de estudar em Maceió, ele investiu muito na minha
educação, estudei no Movimento de Base de Educação Alagoano; fiz o curso de aluno-chefe da
escola, estudei psicologia pessoal e relações humanas. Para a época, era mais de que um curso
superior ou igual.
A nossa vida é feita de vários momentos emocionantes, mas tem aqueles que marcam
mais... O primeiro e inesquecível foi o dia do meu casamento, o enlace matrimonial para mim
é sagrado, a união entre um homem e uma mulher é algo divino, criado por Deus e vivido por
nós. O segundo momento, só de pensar, meus olhos se enchem de lágrimas. Assisti a uma
coisa que eu posso chamar de sobrenatural: o nascimento do meu filho primogênito, Ubiraci,
que também recebeu nome de origem indígena, significando o senhor da lua ou segundo a
internet, “madeira boa”. O engraçado de tudo isso é que floresta e madeira têm uma ligação
íntima, nesse caso particular: pai e filho.
Eu e a Zuzu tivemos sete filhos: dois homens e cinco mulheres. O interessante disso tudo
é que eu resolvi colocar o nome dos meus filhos com a raiz do meu: UBIRA. Esta é a lista das
adaptações de sufixos que deram origem a outros nomes: Ubiranilson, Ubiraneide, Ubiracilda,
Ubiranildes, Ubiranilda e Ubirajane. Fazia questão de assistir aos partos feitos pelas parteiras
na própria residência. Quando parto era difícil, haja reza, a parteira tinha que ser mulher de fé
e ajudar a parturiente nesse trabalho. Todo mundo era comadre e compadre, pois fazia parte
da tradição chamar as parteira de comadres. O único parto a que não assisti foi o da filha
Ubiranildes.
502
Do passado tenho saudade da calmaria, do presente tenho aversão à prostituição que
assola o mundo e da violência que cresce a cada dia. Quanto ao futuro, só Deus sabe o que
será do amanhã, só a sua misericórdia para não mandar outro dilúvio pra castigar a
humanidade. Sou um homem muito feliz, satisfeito com minha família, sou cristão, não tenho
preconceito com nenhuma placa de igreja, minha religião é secreta, sou da Igreja Gnóstica
Cristã, funciona em todo lugar do Brasil, com exceção em Colônia, mas existe nas cidades
vizinhas. Não temos templos fixos, mas temos um meio de comunicação que usa sinais para
poder identificar os membros. Aprecio as músicas gospel, MPB (música popular brasileira),
curto muito as canções de Roberto Carlos, aprecio as composições de Padre Zezinho que, por
sinal, canta uma bem relacionada ao milagre da vida e, desse milagre, surge a FAMÍLIA.
Esta é a minha oração em música:
Que nenhuma família termine por falta de amor.
Que o casal seja um para o outro de corpo e de mente.
Que o homem carregue nos ombros a graça de um pai.
Que a mulher seja um céu de ternura, aconchego e calor
e que os filhos conheçam a força que brotou do amor.
Que as crianças aprendam no colo o sentido da vida.
Abençoa, senhor, as famílias, amém.
Abençoa, Senhor, a minha também
e a todas as famílias leopoldineses...
Tenho ainda um sonho nesta vida, porque não é à toa que meu nome tem o significado
de senhor da floresta. Moro na cidade, mas queria ter os meus últimos dias de vida vividos
numa casa simplesinha, com uma rede pra dormir, rodeado de todo tipo de plantas e árvores...
Se não for nessa vida, que seja na outra. A prova concreta de que de fato amo a natureza é
que o sangue indígena corre em minhas veias. Obrigado, Colônia Leopoldina, por ter sido bem
recebido aqui. Muitos foram os índios e os negros vindos das terras pernambucanas vizinhas
habitar por aqui e construí-la. Eu lhe dei minha contribuição, assentando pedras, tijolos sobre
tijolos, afinal de contas, quem não conhece o pedreiro aposentado Ubirajara? Homem
guerreiro de força e vigor!
Texto baseado em uma conversa informal com o Sr. Ubirajara.
503
504
Comemoração na maternidade. Participação da parteira Doralice.
Parteira vocacionada
Como descobri minha vocação? As pessoas em geral perguntam às crianças: o que você
quer ser quando crescer? Várias são as profissões citadas por elas. Há muita gente que abraça
uma profissão sem ter a mínima vocação. Não precisei fazer nenhum teste vocacional para
descobrir o que seria na vida. A própria vida foi mostrando com as experiências do cotidiano.
Para mim, não há nada mais lindo do que o nascimento de uma criança, um verdadeiro
milagre. Não precisei de professor para me ensinar isso, fui parteira de primeira classe e
ensinei a outras pessoas a profissão, inclusive, uma irmã minha aprendeu esse trabalho
assistindo aos partos que eu realizava. Lembro-me de que, em uma determinada situação,
uma criança colocou a mãozinha para fora, e eu pensei o que seria daquele parto. Deus me
iluminou a tomar uma sábia providência: simplesmente, apertei sua mãozinha e ela se
encolheu virando para a posição de parto normal. Daí por diante, eu não tive dúvida de que
Deus me colocou no mundo, usando minhas mãos para receber crianças, dando-lhes as boas-
vindas a sesse mundo.
Completei meus 88 anos, já não enxergo, mas gosto de receber visitas e recordar os
fatos antigos. Fui nascida em Canto escuro, no ano de 1921. Meu nome é Doralioce, filha do
casal Manoel Pedro Soares e Josefa Ambrosina Soares e sou chamada por todos os conhecidos
por Dona Dora. Casei-me aos 22 anos com o viúvo Francisco Máximo de Souza, pai de cinco
filhos, que havia sido casado por duas vezes, ambas esposas morreram pós-parto. Ironia do
destino, seu terceiro casamento ser com uma parteira. Meu namoro foi vapt e vupt, apenas
505
três meses. Com ele tive 15 filhos, sendo que nasceram 12 de parto a termo, que quer dizer
com vida, e tive três abortos espontâneos. Antes dessa história tem outra, mas prefiro não
comentar. Morei em muitos lugares de zona rural, meu esposo era administrador de terras;
nessas mudanças, trabalhei muito fazendo partos residenciais.
Deixei o Engenho Canto Escuro aos oito anos de idade e vim habitar na cidade. Nessa
época, iniciei os meus estudos e fiz até a quarta série primária. Aprendi a ler ouvindo os sons
das letras e formando palavras. Naqueles tempos, os estudos eram muito diferentes dos dias
de hoje. Atualmente, os alunos vão à escola sem saber o que querem, professor não tem o
mesmo valor que antes. É certo que antigamente o sistema era bruto, mas foi com marcas nas
orelhas, pernas e mãos que estudei e graças a Deus aprendi, prefiro não reclamar, foi o melhor
pra mim, era o sistema que ditava as regras e o professor era o dono da verdade, coisa
impossível hoje, já que o conhecimento avançou tanto: aluno e professor aprendem juntos e
serão eternos aprendizes.
Na primeira metade do século passado, não havia ultrassom, as mulheres faziam
práticas supersticiosas para descobrir o sexo do bebê. Quando alguém perguntasse a uma
mulher grávida: “O que é isso em suas mãos”? Se ela virasse as mãos para baixo, seria menino;
caso virasse pra cima, seria menina. Também tem a história do coração da galinha: a mulher
grávida, ao guisar um frango, colocava o coração da galinha cortado ao meio; depois de cozido,
se o coração ficasse aberto, seria menina; se fechado, seria menino na certa. Havia também a
superstição da tesoura2 e ainda tinha as mulheres que adivinhavam o sexo do bebê pelo
modelo da barriga. Muitas vezes davam certas as previsões, outras não.
As grávidas de antigamente não tinham os privilégios que as de hoje, ninguém sabia o
que era um pré-natal e, por causa disso, muitas mulheres morriam de parto. Existia uma
prática religiosa na Igreja Católica: quando as mulheres completavam oito meses de gravidez,
todas se reuniam para o padre abençoá-las e rogava a Nossa Senhora do Bom Parto que desse
proteção e uma boa hora para todas.
Não osso deixar de falar do meu serviço prestado às mães leopldinenses, num casarão
que até hoje existe na Rua 16 de Julho. Esse prédio era chamado de maternidade, foi fundado
pelas irmãs freiras Filhas do Sagrado Coração de Jesus e, com o passar dos anos, a prefeitura
fez parceria, dando contribuição para a manutenção da casa. Ainda hoje, tenho guardado a
sete chaves um livro no qual constam os registros de muitos partos. Nele, podemos encontrar
o nome da paciente, do marido, a religião, idade, filiação, residência, estado civil, profissão,
2 Dizia-se que a grávida não deveria pegar numa tesoura, pois o bebê nasceria com os lábios cortados
(lábio leporino).
506
diagnóstico, data da entrada e data da alta, atendente e convênio com a prefeitura ou
particular.
A freira que esteve à frente desse trabalho foi a irmã Cleonice, a chefe das parteiras.
Essa maternidade, segundo o livro de registros, funcionou até o dia 21 de dezembro de 1979,
passando os trabalhos para o hospital Maria Loureiro Cavalcante, a partir dessa data.
Chega à minha memória um fato muito triste que ocorreu com D. Ester, esposa de um
ex-vereador, Manoel Jandaia... O parto se deu na residência dela, a criança nasceu bem, foi um
trabalho rápido. Enquanto eu cuidava da criança, a comadre Ester falou as últimas palavras:
“Comadre Dora, dê um tapinha nela para eu ouvi-la chorar”. Só deu tempo me virar pra
comadre, examiná-la e perceber que ela já estava sem pulso. A pretensão arterial chegou a
zero, foi feito tudo que estava ao nosso alcance. Levada às pressas para a emergência de
Palmares, a vítima não suportou e, após 09 Km de Colônia, teve morte súbita.
Mesmo aposentada, continuei sendo muito solicitada pela população para continuar
fazendo partos residenciais, ou na minha própria casa. Tenho a honra de dizer que fiz parto até
de bisneto. Não existe coisa melhor do que recordar os fatos que marcam as nossas vidas e
também do lugar em que vivemos. Desde que vim morar em Colônia Leopoldina, resido em
uma simples moradia que fica na Avenida Clodoaldo da Fonseca.
É bom recordar para viver os momentos de felicidade e, ao mesmo tempo, perceber que
o meu trabalho foi um dom dado por Deus. Hoje só existe no meu peito uma sensação
tranquila, de satisfação, de paz e amor, reconhecendo a dádiva mais linda: a vida. Celebrar
cada dia como se fosse o último. Como diz o sábio Salomão:
Há tempo pra tudo
[...] há tempo de nascer e tempo de morrer;
[...] tempo de chorar e tempo de rir;
[...] tempo de estar calado e tempo de falar.
Eu acrescento: “Há tempo de esquecer e tempo de recordar”.
Vamos brincar um pouco com a palavra parto. Existem dois sentidos para ela. Parto do
verbo partir: “eu parto para a eternidade”. Bom exemplo, não? O parto substantivo: “não
existe parto sem dor”. O parto é uma mistura de dor com prazer, existem inúmeros exemplos,
eu já cansei, e já estou com vontade de parar de escrever. Termino caçoando: a dor do parto é
grande, mas eu tenho que partir.
507
Texto baseado em conversa informal com D. Doralice.
Ex-vereador José Amâncio, conhecido por Zé Pretinho, em reunião.
Se o tempo voltasse, seria diferente
Essa história se parece com outras que já ouvimos. O entrevistado do dia se encontra
meio nervoso, tímido, com poucas palavras, sem saber direito por onde começar. Suas
respostas são muito objetivas, mas a professora procura deixá-lo à vontade, para que a
conversa venha a fluir naturalmente. Enfim, conseguimos arrancar suas lembranças do fundo
de um baú trancado a sete chaves. Acredito que talvez ele mesmo tenha se surpreendido com
tantas coisas recuperadas pela memória ainda bem aguçada.
Nos idos de 1934, saí de minha terra natal, Caruaru – PE, para habitar as terras de uma
pequena cidade alagoana, minha querida Colônia Leopoldina, conhecida por seus
conterrâneos como a Colônia da Princesa, devido ao nome da filha do imperador D. Pedro II.
Se eu tivesse que escolher um nome para esse município, colocaria Colônia Mãe, porque a
tenho como uma mãe acolhedora, me sinto seu filho legítimo; quando alguém pergunta minha
naturalidade, encho a boca cheio de orgulho: sou alagoano, leopoldinense de corpo e alma.
Ainda completo: Graças a Deus!
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Sou José Amâncio da Silva, nascido em 23 de novembro de 1921, mas poucos me
conhecem pelo nome de registro. Eu sou o Zé Pretinho, apelido que tem uma justificativa
interessante. Meu pai adotou um primo meu, que também se chamava José. Quando meu pai
chamava por José, aparecíamos os dois para atendê-lo. Então meu primo propôs ao meu pai
que, quando ele quisesse nos chamar, chamasse-nos de Zé Vermelhinho, por ser ele ruivo, e
de Zé Pretinho, por ser eu um moleque de cor escura. Só sei dizer que isso pegou até hoje.
Mexer na memória é algo que sacode o meu coração, o ritmo de seus batimentos ficam
acelerados, minhas mãos trêmulas não conseguem escrever muito bem e a voz trava. Vez ou
outra um nó aparece na garganta e os olhos querem transbordar de lágrimas. O passado
revela a construção de nossa vida. O que fizemos ou deixamos de fazer traz resultados às vezes
não tão agradáveis. Uma pessoa que ultrapassa seus 80 anos tem uma longa estrada
percorrida.
No momento em que escrevo, quase completando meus 97 anos de idade, modéstia à
parte, ainda possuo muito vigor. Quem não sabe a minha idade, diz que aparento apenas 75,
chega até ser motivo de orgulho para um velho que ainda se considera jovem de espírito.
Nunca fui um garoto apaixonado pelos livros. Na infância, sonhava mais com uma bola
de futebol que com o mundo das letras. Cheguei a ser matriculado em escola, porém pouco
frequentava. Lembro que saía de casa com os livros, meus pais certos de que eu estava
estudando. Nem chegava à escola, ia uma vez ou outra perdida. Os professores sentiam minha
ausência e mandavam bilhetes para avisar das minhas faltas.
Os campinhos improvisados eram o meu mundo de fantasia, lá eu me sentia livre, feliz...
Corria atrás da bola e fazia gols. Não sentia o tempo passar. Meus pais não conseguiram mudar
isso em mim. Não teve castigo que desse jeito. A única coisa que eu segui do meu pai foi a
profissão: comecei a ajudá-lo a consertar sapatos. Tornei-me um sapateiro profissional, exerci
esse trabalho em média de uns 10 anos. Depois entramos no ramo comercial.
Voltando um pouco ao passado da minha pacata cidade, quando aqui cheguei, dava
para contar a dedo os seus habitantes. Todos se conheciam. Naquela ocasião, não existia
nenhum automóvel, todo transporte era feito em lombo de animais. O que abastecia o
pequeno comércio vinha da cidade mais próxima e de menos difícil acesso, Palmares, a 42 Km,
aproximadamente. Dá ara imaginar como esse tempo era difícil e precário, bem diferente de
hoje. Antes levávamos um dia para ir e voltar; atualmente, é questão de menos de uma hora.
Considero-me uma pessoa popular no comércio, possuí uma loja grande, de muitas
variedades, vendia de tudo: tecido, aviamentos, guarda-chuvas, candeeiros, rádios, móveis...
Mercadorias de pequena a grande. Era uma pessoa de princípios, já havia constituído minha
família – casei-me com Hercília, minha única namorada, com quem tive sete filhos. Nesse
509
período da minha vida, já tinha consciência de que a Educação era algo primordial; olhei para o
meu passado e vi que havia desperdiçado as oportunidades. A pouca leitura que tenho foi
adquirida por trás de um balcão de venda, a vida foi minha escola. Na prática do dia a dia,
consegui entender um pouco das coisas básicas. Não me considero um homem leigo. Com os
meus esforços, consegui pagar bons colégios para que os meus filhos tivessem uma boa
formação. Apenas um deles não quis negócio com os estudos. Tinha que haver um parecido
comigo.
Não demorou muito e me tornei um homem popular. Quando me dei conta, já estava
envolvido com a política do município. Fui vereador ativo por quatro mandatos, lembro-me de
que, com minha influência política, consegui empregos públicos municipais e estaduais para
muitas pessoas. No passado, era na base da boa amizade que se conseguiam os empregos.
Hoje, é necessário se submeter a concurso público para ser admitido em cargos públicos com a
habilitação exigida. Nada mais do que justo. A competitividade cresce de forma absurda, até
para ser gari é necessário passar por testes classificatórios. Está explicado que quem não tem
estudo fica para trás.
Conforme estava falando, minha influência política era tanta que não conto às vezes que
abri as portas da minha casa para receber o governador de Alagoas, Guilherme Palmeira.
Muitas vezes, ele telefonava e avisava que estava vindo para almoçarmos juntos e tratarmos
de assuntos ligados à política.
Como tudo passa um dia, já se foi esse tempo e, por força de circunstâncias, minha loja
comercial deixou de existir. Atribuo esse fato à política. Sempre fui um homem de ajudar os
carentes. Ainda hoje, por essa região, as pessoas costumam pedir ajuda aos vereadores:
receita médica, gás de cozinha, água, energia, aluguel, material de construção, entre tantas
outras coisas. Tirar o mau costume do povo é difícil. Se não der, já viu, perdeu o eleitor. Por
isso muitos entram na política e saem mais pobres que antes. Ainda hoje o povo não entende
qual é de fato o papel do vereador.
As mudanças ocorrem naturalmente na vida da gente, mudei de atividade comercial.
Passei a ser sorveteiro. Fabricava sorvetes e picolés de vários sabores. Sorveteria Flórida era o
nome do estabelecimento. No verão, se vendia muito bem, mas, no inverno, as vendas
congelavam. Não considero um negócio lucrativo, é muito pouco o lucro. Para conseguir uma
boa renda, era necessário vender bastante. Como a concorrência é a realidade da vida
moderna, surgiram outras sorveterias e a minha produção foi diminuindo ao ponto de encerrar
o negócio. Quero dizer com isso que, depois de muitos anos de luta, achei mais viável fechar as
portas da sorveteria.
510
Posso afirmar que sou um homem realizado, dei conta da minha obrigação como chefe
de família, eduquei bem meus filhos e, como representante do povo, ajudei no
desenvolvimento do município. Mas nem tudo é do jeito que a gente gostaria que fosse. Falo
isso, porque antes não entendia o valor dos estudos, e isso me fez muita falta. Aposentei-me
como funcionário estadual e recebo apenas um salário mínimo – valor irrisório para uma
sobrevivência com dignidade. Se tivesse escolaridade, com certeza o valor seria outro,
portanto o recado que deixo às crianças e jovens que tiverem oportunidade de ler minhas
memórias é o seguinte: “Amém os livros! Valorizem os estudos”. Se eu pudesse voltar no
tempo, mudaria o rumo da minha história.
Está mais uma vez constatado que a vida das pessoas, do lugar onde se vive é mesmo
uma metamorfose. Tudo gira em torno de mudanças. Fisicamente, tanto as pessoas como os
lugares se transformam. Psicologicamente, só os humanos passam por esse processo. Ter uma
opinião diferente sobre determinados assuntos, por exemplo. Isso nos faz lembrar de uma
música cantada por Raul Seixas, que diz:
Eu prefiro ser
essa metamorfose ambulante,
[...] do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo.
Dessa forma, as pessoas têm evoluído e mudado de opinião, após passar por algumas
experiências marcantes. Hoje pensamos uma coisa, amanhã descobrimos que aquilo que
pensávamos não é o correto ou melhor para seguir.
Texto escrito com base nos depoimentos concedidos em sala de aula pelo Sr. José Amâncio da
Silva, 87 anos, morador de Colônia Leopoldina.
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Uma arvore frutífera
Sei até o dia da semana em que nasci: uma bola manhã de domingo do dia 21 de
outubro de 1951, no Engenho Canto Escuro, município de Colônia Leopoldina. Sou uma das
filhas do casal Francisco Raimundo da Silva e Maria Dulce Luna da Silva. Eu chamava a parteira
que fez o parto de minha mãe de madrinha Marica.
Recordo-me de um fato muito triste que aconteceu na minha família, ficamos
traumatizados, fomos abandonados pela nossa mãe que resolveu fugir do lugar em que
vivíamos com um machadeiro para a cidade de São Paulo – SP. Essa dor doeu muito, mas doeu
mais ainda em meu pai, que era um senhor de engenho próspero, bravo, orgulhoso, ignorante.
Que prometia matar o casal se chegasse a vê-los. Eu e meus irmãos sofremos por muitos anos
essa perda. O povo costuma dizer que madrasta não presta, mas a minha madrasta Angelita foi
para mim mais que uma mãe. Até agora não revelei quem sou eu, meu nome é Maria de
Lourdes Luna da Silva, conhecida de todos por Lourdes Lamenha.
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Dizem que recordar é viver, concordo plenamente, pois acabo de dar bastante
gargalhadas lembrando de um fato bom que ocorria com frequência nas noites de loa cheia.
Era diversão familiar. Meu irmão mais velho pegava uma vida e começava a tocar e eu era a
cantora. O terreiro enchia de gente, as pessoas vizinhas vinham se animar e prestigiar minha
suave voz. Chega-me à memória uma música que eu gostava muito de cantar:
Índia teus cabelos nos ombros caídos,
negros como a noite que não tem luar.
Teus lábios de rosa para mim sorrindo,
e a doce meiguice desse teu olhar.
Índia da pele morena,
da boa pequena,
que eu quero beijar [...].
Lembro-me também da negra Zefa Carrero que cantava pra gente:
Café é bom, chá é melhor,
na casa de Zé Carrero,
não faltava café com pão de ló.
Para quem não sabe, Zefa Carrero foi uma doceira de mão cheia, a melhor da região,
também torradeira de café no pilão. Mulher preta, trabalhadora, resistente. Para se ter ideia,
viveu 103 anos.
Voltando a falar sobre mim. Todos diziam que, na minha adolescência, eu era uma flor
de formosura, cintura de pilão, pele rosada e lábios vermelhos, cabelos castanhos e longos.
Enchia os olhos de qualquer homem. Nunca precisei de maquiagem para ficar bonita, minha
beleza era natural, bem diferente das adolescentes de hoje que, para ficar bonitas, maquiam
toda a face. Admito que, atualmente, preciso de um batonzinho para levantar meu astral e
visual, mas nunca fui uma mulher vaidosa.
Vou falar do homem que conquistou meu coração: foi o famoso Zé Cazuza, bem
diferente de mim, com 11 anos, 11 meses e dois dias mais velho que eu. Desde os meus nove
anos de idade, Zé já pegava no meu pé, dizia de brincadeira que eu seria sua mulher. Eu era
moça rica, filha de um homem de prestígio na região, um forte agricultor, fornecedor de cana,
agricultor de arroz, feijão, fava, milho, mandioca, melancia, jerimum... Tudo de fartura. Além
514
disso, era dono de um barracão sortido de todo tipo de mercadoria que o povo daquele lugar
precisasse.
Na minha infância, cheguei a sentir raiva de Zé, pois ele não me dava sossego, me falava
namoro por gesto da mão fechada com o polegar pra cima, e minha resposta era sempre
negativa, mão fechada com o polegar pra baixo. Esse era o famoso fora, “sai dessa”, “minha
praia é outra”. Sem contar com os psius e o famoso piscar de olhos.
Após três anos, ele continuava insistindo. Era muito perseverante, não desistiu da
adolescente amada. De tanto insistir, eu caí nos laços da paixão dele. Então, bem decidido, ele
resolveu procurar meu pai e pediu permissão para namorar de porta. Nos dias de hoje, as
moças já não querem apresentar o namorado aos pais, preferem ficar com um hoje, outro
amanhã; o namoro está ficando para trás. Poucas famílias conservam essa tradição.
Mesmo Zé sendo um simples trabalhador rural, trabalhava autônomo e nas folgas
chegou a ser cambiteiro (aquele que transporta cana em burro) para meu pai, porém não
houve empecilho por parte de preconceito social. O que meu pai olhou nele foi o caráter e,
acima de tudo, ser um homem trabalhador. Sendo assim, permitiu.
Comparamos nossa paixão ao fósforo e à pólvora. Quando nos aproximávamos um do
outro, explodíamos de tanta emoção. Nosso namoro foi quente... Seja na porta de casa, ou
num partido de cana ou na beira do fogão à lenha, o lugar pouco importava. Namoramos por
cinco anos. Quando não deu mais para esperar, tivemos a primeira relação, que foi tiro e
queda, o suficiente para engravidar. Escondi a barriga até os sete meses de gestação. Zé queria
abrir o jogo e contar o acontecido, mas eu não deixei que ele falasse nada, o medo do meu pai
era maior que tudo que se possa imaginar. Mas chegou a hora da verdade... Na hora do
almoço, todos reunidos à mesa, meu pai me observou de cima a baixo e viu que a roupa que
eu estava usando não era minha. Calada estava, calada fiquei. As lágrimas rolaram pelo rosto:
“E agora, o que será de mim?” Meu pai ficou com os ânimos alterados. E gritou com minha
madrasta: “Por que Lourdes está usando essas roupas que são suas”? Meu pai se transformou
em um monstro de tanta ira, sentia-se traído mias uma vez, puxou até o revólver, mas foi logo
aquietado pela madrasta Angelita, que gritou: “Que é isso, Francisco?” “Não faça nada”!
“Tenha calma”! “Zé vai assumir, ela não foi a primeira e nem será a última”.
Depois que os ânimos se acalmaram, o casamento foi acertado, marcado e realizado no
dia 15 de dezembro de 1968. Meu vestido foi de cor rosa, brilhoso, tipo uma batinha de
gestante com uma jaqueta por cima. No dia 31 de janeiro de 1969, nasceu a minha filha
primogênita: Gilvania Lamenha Silva. Meu segundo parto foi em 23 de março de 1970. Dele
nasceu o meu primeiro filho do sexo masculino: Francisco Raimundo da Silva Neto, em
homenagem póstuma ao meu pai, que foi vítima de um assassinato, uma história que prefiro
515
não comentar. A segunda filha veio no dia 10 de janeiro de 1972 e recebeu um lindo nome,
Georgia, indicado pela madrinha de batismo, minha irmã Socorro Luna. O quarto parto
aconteceu no dia 28 de março de 1973 e me trouxe Fernando, mas todos o conhecem por Lê
Lamenha. O terceiro filho e quinto da sequência nasceu no dia 26 de setembro de 1975,
recebendo o nome do pai, o galego que lembra o avô paterno e, em homenagem ao genitor, é
registrado como José Lamenha da Rocha Júnior. Era um atrás do outro... No sexto parto, veio
minha terceira filha Eliane Lamenha, no dia 1o de janeiro de 1977; em seguida, mais uma filha:
Adriana Lamenha, no dia 10 de abril de 1978. Chegou a vez do quarto filho e oitavo na
sequência. Flávio Lamenha, nascido no dia 22 de julho de 1979. Já passou das contas, mas eu
era muito fértil e o medo de ligar as trompas me apavorava, preferi ser uma mãe parideira. No
ano de 1979, deixei o Engenho Canto Escuro e vim morar na cidade, era o meu sonho, gosto da
claridade. Na época á existia energia elétrica. Morei por alguns anos na Travessa Clodoaldo da
Fonseca e logo fui habitar bem no centro da cidade, na Praça D. Pedro II. Mais uma gravidez,
dessa vez uma menina que veio no dia 20 de abril de 1981, chamada Gilvaneide. Só faltava um
para completar uma dezena de filhos. Esse veio atravessado. Nesse tempo já existia ultrassom
e foi descoberto que o parto não poderia ser normal, eu precisei criar coragem para fazer um
parto cesariano. Aproveitando a ocasião, extraí minhas trompas, e a ponta da rama é o Fábio
Lamenha, que nasceu no dia 21 de março de 1983. Hoje, todos os meus filhos estão casados,
uma nova geração de aproximadamente 30 netos, e já tenho um bisneto.
Não me considero uma linda mulher, exteriormente, mas linda interiormente, gosto
muito de ajudar aos necessitados, sou muito sensível, amo todos os meus filhos por igual. A
minha saúde é frágil, por isso a mulher alegre de outrora está um pouco pra baixo, me sinto
cansada e velha, mas com muita fé em Deus vou levando a vida.
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A Sra. Maria de Lourdes Luna na sua adolescência.
Texto baseado em várias conversas informais da filha Georgia Lamenha com sua mãe, Maria
de Lourdes.
Orgulho de ser leopoldinense.
Subi a ladeira e vi
a geografia e a poesia se encontrarem,
bem como a cultura, patrimônio nosso.
É a Colônia da Princesa
que Everaldo Araújo não deixou sem registrar,
muito menos seu sobrinho, Júnior Acioly,
deixaria de fotografar, ao sobrevoar.
O professor Romildo Moura
não hesitou em compartilhar a imagem e comentar:
“Não é todo mundo que tem esse privilégio.”
De ser piloto ou de ser leopoldinense?
517
Mas toda poesia brota de uma inspiração.
Cadê o Josenildo Gomes pra compor uma canção?
Ou quem sabe Tião Marcolinio pra cantar:
“A saudade é companheira...”
Ou Doutor Ernane Santana Santos
falando sobre “As ruas da Nossa Cidade”.
Salve, Salve, Colônia Leopoldina,
de autoria de José Araújo de Luna,
cantado por Jodimarco Dionízio.
Nessa terra de Sebastião Braga e Vitalino,
tem gente com muito talento
e artista de grande valor:
Quem conhece Ernandes Barbosa?
Aqui viveu e estudou,
mas as suas telas, onde estão?
Numa bela exposição,
na biblioteca pública de Piracicaba!
Penso que a mãe de Everton Calado,
psicólogo, sim senhor,
muito, muito o incentivou.
O nome dela é Elda Brito,
professora que tanto, tanto se dedicou.
Ah, meu Deus, é tanta gente
que não cabe nessa poesia!
Mas cada um que aqui nasceu,
cresceu e ama a terrinha
bate no peito e diz que tem
orgulho de ser leopoldinense!
“Colônia de guerreiros, terra de conquistas”:
temático do projeto
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do Antônio Lins da Rocha,
cuja vida do seu patrono
também merece ser conhecida.
Jadilton Rocha é o diretor, filho da princesa,
jovem cheio de vigor e bom professor.
“Memórias vivas do povo leopoldinense”,
Obra escrita pela professora Georgia Lamenha
que resgata histórias
de nossa terra, de nossa gente!
Sua leitura nos convida
a uma viagem no tempo...
Gilvania Lamenha Silva Antão
Georgia Lamenha e sua irmã Gilvania Lamenha.
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Breve história de Colônia Leopoldina
Situada no Vale do Rio Jacuípe, bem próximo à Serra do Teixeira, a primitiva povoação
teria surgido no começo do século XIX. Sabe-se, contudo, que o território chegou a pertencer a
Porto Calvo até 1901.
Só a partir de 1852, com a instalação da colônia militar, efetivou-se como povoado. A
colônia foi criada com muita festa e com a presença, inclusive, do presidente da província de
Alagoas, José Bento da Cunha Figueiredo. A história não registra os motivos para a instalação
da colônia militar. Os antigos moradores contam que o objetivo era combater e exterminar o
banditismo que dominava as matas de Porto Calvo. O primeiro comandante e diretor-fundador
da colônia foi o tenente João da Gama Lobo Bentes. A colônia também foi dirigida por Olavo
Elói Pessoa da Silva e pelo alferes Augusto Pereira Ramalho.
Em 05 de janeiro de 1860, a colônia recebeu o imperador Dom Pedro II. A passagem de
Dom Pedro consolidou o povoado e se tornou fato histórico. A antiga casa da diretoria onde se
hospedou o imperador existe até hoje. Na ocasião, Dom Pedro e sua comitiva plantaram
quatro mudas de castanholas, das quais duas sobrevivem até o presente.
Quando a colônia militar foi extinta, em 1867, Leopoldina continuou sob a jurisdição de
Porto Cavo e logo depois entrou em decadência. A Lei 372, de 1861, criou o distrito de
Leopoldina e outra lei, em 1901, elevou-o à vila e depois município. Isso contribuiu para que a
antiga colônia voltasse a progredir. Em 1923, passou à condição de cidade. A freguesia foi
criada sob as bênçãos de Nossa Senhora do Carmo, padroeira de Colônia Leopoldina, cujos
festejos são comemorados em 16 de janeiro, mas a comunidade celebra também os santos
São Sebastião, São João e São Pedro.
Além das festas cristãs, Colônia comemora também sua Emancipação (16 de julho).
O atrativo turístico é a Serra do Catita com sua cachoeira e, abaixo dela, a antiga ponte
do Catita, construída no período de 1919 a 1922, pelo então governador Dr. José F. da Silva.
Economicamente, o município dispõe da cultura de cana-de-açúcar, destacando-se a
produção de bananas no Estado e boa produção de culturas de subsistência. Relevante
também a pecuária que reflete grande economia para o município. O município é
contemplado por dois parques industriais de grande porte: Usina Taquara S.A. e Destilaria
Autônoma Porto Alegre Ltda.
520
Rio Jacuípe nas terras do Mosteiro do Catita.
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População 20.019 hab.
Área 207.893 Km2
Densidade 69,65 hab./Km2
Mesorregião Leste alagoano
Microrregião Mata alagoana
Municípios limítrofes
Ao norte, com o Estado de Pernambuco; ao sul, com
Joaquim Gomes; a leste, com Novo Lino e, a oeste, com
Ibateguara.
Gentílico Leopodinense
Distância até a capital 117 Km
Bioma Mata Atlântica
Altitude 140 m
Clima Tropical chuvoso com verão seco
Aspectos geopolíticos de Colônia Leopoldina de acordo com o Senso 2010.
(IBGE. Disponível em <http://cod.ibge.gov.br/M6Q>. Acesso em: 19 nov./2013).
Parte do mapa de Alagoas posicionando o município de Colônia Leopoldina – AL.
Brasão do município de Colônia Leopoldina – AL, criado por João Reis.
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Obra-prima de Colônia Leopoldina
A primeira obra escrita sobre nossa cidade intitulada A Colônia da Princesa, do
conterrâneo Everaldo Araújo Silva, publicada em julho de 1983. O autor rendeu justa
homenagem à terra onde nasceu, trazendo ao conhecimento das gerações posteriores a
historiografia do lugar onde vivemos. Recordando notas do autor:
A interdependência une no tempo e ao espaço os homens que vivem e que
viveram nas grandes épocas de crise ou de apogeu e, assim sendo, a vida nos
reserva surpreendentes estágios, acontecimentos e lições que servem para nos
retemperar e recompor o nosso posicionamento diante de nossa própria
fragilidade e limitação e assim poder observá-la no doce enlevo de uma criança, na
plena atividade explosiva da juventude, no fascínio e no romantismo da
adolescência, no vigor e na capacidade produtiva do adulto e na ternura da
lembrança do tempo vivido na velhice (p. 22).
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É possível perceber a sabedoria de suas palavras, fazem menção à relação íntima entre
as fases da vida em diferentes circunstâncias.
Como disse o autor na conclusão do seu trabalho, essa obra iria representar para sua
comunidade um ponto de referência. “Não somos mais os anônimos transeuntes da massa
humana informe e sem coesão, temos domicílio reconhecidamente histórico. Temos os nossos
valores expostos e identificadores de uma comunidade ativa e participativa no contexto.
Temos nobreza!” (p. 222).
Após 20 anos de publicação, muitos fatos ocorreram... A cidade cresceu junto com seu
povo. Cada um construiu a sua própria história e todos contribuíram para a formação do lugar
onde vivem. Os munícipes que buscam conhecer sua origem têm uma fonte riquíssima de
informações históricas contidas na obra do inesquecível Everaldo Araújo.
Hino de Colônia Leopoldina
Letra: José Araújo Luna
Música: Jodimarco Dionízio
Salve! Salve! Colônia Leopoldina
Que vieste da Colônia Militar
Berço de heroicas famílias
Por teus filhos a te glorificar;
Salve! Salve! Colônia Leopoldina
Reminiscências de teu imperador
Com teus filhos a estudar
Doutores, poetas, escritores
Para sua terra sempre honrar.
Salve! Salve! Colônia Leopoldina
Castanholas simbolizam a Princesa Leopoldina
Vivenciando suas matas verdejantes
Do Rio Jacuípe das florestas exuberantes
Memórias do passado traz lembranças no presente
Que tua imagem não saia da mente!
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CONSIDERAÇÕES
Aqui estão os livros que, de uma maneira ou outra, referiram-se sobre
temáticas da cidade de Colônia Leopoldina. Sabe-se que são livros pouco lidos pelos
habitantes da cidade, menos ainda pelos da redondeza, e, em menor expressividade
de conhecimento do grande público. Não há nenhum "best seller" na cultura nacional
ou interncional. Contudo, são escritos sobre assuntos de uma região, de uma cidade e
que diz muito para os seus filhos e filhas. Afinal, o desejo de ser internacional começa
em sendo local.
Há livros de caráter de memória de pessoas. Outros há com registros de fatos
da vida do lugar e outros ainda com caráter científico, com indicação de conselhos
editoriais, a exemplo de texto de conclusão de monografias de curso de especialização.
Todos esses livros, todavia, são a expressão existente de uma inteligência que registra
o local. São registros do esforço desses poucos agora, mas que queremos que seja
material incentivador para que breve, muito breve, haja muito mais expressão de
muitos filhos da terra sobre a própria terra.
Destaca-se que não são livros de filhos de Colônia Leopoldina, tão somente. São
livros de leopoldinenses com o foco na cidade. Filhos há que estão nos diversos
campos da vida, contribuindo com o conhecimento, ou mesmo, com a cultura em sua
dimensão maior. Estas tematizações apresentadas, todavia, expressam questões da
região e em particular da cidade de Colônia Leopoldina. Região esta que a história
oficial insiste em apagar da memória coletiva de que por aqui correu muito sangue de
índios, negros quilombolas e valorosos cabanos que em duras batalhas defenderam o
direito à liberdade. Estiveram muito antes da Colônia Militar e constituem, hoje, o
povo que agora na Colônia habita.
A Academia de Cultura de Colônia Leopoldina, ACCL, agradece a esses filhos e
filhas da terra dos valorosos guerreiros cabanos.
Colônia Leopoldina, ano de 2015.
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José Francisco de Melo Neto, nascido em 16 de janeiro de 1951, em Colônia
Leopoldina, Alagoas. É filho de Doralice Bezerra de Melo (Dórinha Loló) e Francisco
José de Melo (Chico Loló). É Professor Titular da Universidade Federal da Paraíba -
UFPB e Organizador desta Coletânea.