Post on 10-Jul-2015
Crônicas Agudas
Coelho de Moraes
Crônicas Agudas
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Capa COELHO DE MORAES
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Cidade de Mococa Abril – aniversário da cidade
São Paulo 2010
Crônicas Agudas
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À GUISA DE APRESENTAÇÃO & PREFÁCIO
Cumprimentos a todos.
Meu nome é Marco Antonio Coelho De Moraes, venho a estas páginas
(PÁGINAS DE IDEIAS do amigo Scarparo Maciel), e venho escrever sobre
assuntos pertinentes ao fazer da arte e suas derivações, às vezes não tão
artísticas, abrangendo a cultura entre laços e gravatas e sorrisos de quem não
sabe o que faz, mas quer assim mesmo sentar na cadeira do cargo.
Antes de tudo digo que a família por parte de meu pai vem de Arceburgo e
Milagres e Guaxupé e Monte Santo, e do lado materno vem de São Paulo e vem
da Mooca. Mococa e Mooca. Sempre pareceu um sinal. Um signo. Uma profecia.
Estudo música desde os 10 anos de idade e comecei na classe do Professor
Olímpio, no Conservatório Santa Cecília. O Conservatório ficava sobre o Cine
Moderno, na Rua da Mooca, depois passou para um prédio novo na Javary.
Meu primeiro acordeon foi um Scandalli italiano. O velho acordeon de tangos e
boleros na Mooca. Depois entrei para o Conservatório Dramático e Musical de
São Paulo na avenida São João.
Fiz composição e regência, estudos complementares de encenação teatral e
produção videográfica; compus várias obras em formato de musicais cênicos,
além de obras para Coro, Grupos Sinfônicos e Câmera. Venho fazendo isso com
mais assiduidade após o advento da informática que facilitou a escrita.
Produzimos mais.
Em 1996 Mococa estava dentro de si e aproveitou a oportunidade para me
chamara a dirigir a Escola de Música Euclydes Motta. Durou somente o sonho
de 96 e resíduos oníricos posteriores, pois a cabeça dos governantes seguintes
não acompanhou a modernidade. Mesmo assim eles se acham os tais.
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Atuei, desde 2007 como Coordenador de Cultura da FATECmococa
(cineclubismo e cinema) cujo périplo de aço finalizou em 2009, isso, dez anos
depois de uma ação cultural que alterou o pensamento de Arceburgo no ano de
1997. Lá nas Minas Gerais formara-se a Escola Municipal e Artes Dramáticas e
Musicais – EMADMA - que durou um ano, também. Faltou inteligência e tino
político. Parece que essas duas virtudes nunca andam juntas.
No mesmo formato e seguindo a mesma dissociação de virtudes acima dirigi,
como já dito, a Escola de Música Euclydes Motta, em Mococa, traçando a sua
proposta pedagógica, mas isso de nada adiantou pois de pedagogia não há
prefeito que entenda.
Prova-se que quem veio depois não tinha mesmo competência para dirigir nada
e a escola estagnou-se. Escola estagnada significa criação e inteligência
estagnadas. Cidade pobre de espírito. Talvez ganhe o reino dos céus, mas se
depender do andar da carruagem e do Papa, sei não...
Trabalho em 2010, no segundo ano, com o CORO DA MOCIDADE, que já é
grupo de canto coral em ação. Ela se estabelece na Mocidade Espírita de Mococa
– a Mem.
Dirijo a PRODUTORES INDEPENDENTES – PI, que é uma empresa muito
livre para produção artística em geral (música, vídeo, literatura, teatro, gravação
de CD, gravação de Vídeo e Kinemática Aplicada); dirijo, ainda, o TEATRO
POPULAR DE MOCOCA - que homenageia um dos nossos grandes artistas
cênicos - ‘ROGÉRIO CARDOSO’. O TPM já montou para mais de 25 peças
em 13 anos de trabalho na região. Ganhou prêmios. É grupo respeitado. A
outros trás o despeito pois ele faz, enquanto os outros olham. Em Março de
2009 estreou “NIETZSCHE NO PARAÍSO”, com textos do pensador
Nietzsche. Em Março de 2010 estreou A MORTE BÊBADA DA MORTE”,
com textos de Miranda Junior e Woody Allen.
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Em 2009 foi grampeado pelo judicioso Diretor de Cultura de Plantão e sua
dentifrícia esposa, mancomunados com as bandas de além. É sempre assim, não
ganham na competência, mas querem ganhar no tranco e no barranco.
Além disso, possuo uma discografia que alcança 9 CDs já gravados e lançados,
dirigindo vários grupos entre Rio, São Paulo e Minas Gerais. Trata-se muito de
música instrumental contemporânea. Execução completamente virtual, ou seja,
música eletrônica, pois é uma obra cibernética, através da ORKESTRA
LIVRE, seguindo alguns caminhos do mestre Gismonti.
Mas, em meados de Abril deste ano de 2010, a Orkestra Livre retoma ensaios e
prepara sua temporada de concertos.
E na vertente do mestre Allen, a videografia não é deixada de lado tendo a
INDÚSTRIA DO VÍDEO como executiva das obras de curta, média e longa
metragem e cursos curtos. Algumas das obras vão para Festivais e Mostras,
outras seguem através da Internet, no espaço cibernético que nos envolve
(YouTube, Sapo, Videolog e quejandos).
Não contente com a lerdeza que impera na região, participei da montagem de
uma Incubadora Cultural em São João da Boa Vista. Dela fui presidente em duas
gestões. 2004 a 2008.
Por outro lado, e afeito a essas coisas da mente, em 2009 eu exponho a
graduação em Filosofia e formação em Psicanálise. Terminada a preparação em
2010 eu me apresentarei à sociedade, a partir de Maio vindouro com mais essa
vertente de trabalho. É o velho interesse na alma e espírito humanos que se
desenvolvem na arte. A psicanálise, a musicoterapia e a homeopatia.
Pensamentos livres e profissões libérrimas. É assim que gosto.
Isso se a arte permitir e folgar um tempo. Veremos.
A arte tem dessas coisas. A arte exige essas coisas. Não fosse assim e não tendo
mais nada que fazer, eu fabricaria gelatina e ficaria a pregar placas de lata nas
paredes ou me sentaria feito índia na porta do Teatro impedindo a passagem..
Por ora ficam votos de sucesso, vida longa e prosperidade.
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6 POR MEIA DÚZIA Ou
de como – democrática - a Cultura é para qualquer um
De cada vez que escrevo posso ser avaliado como aquele que é convencido ou
arrogante, ou, aquele que tem dor de cotovelo. Sendo assim nunca escapo desses epítetos
lançados a esmo. Sendo assim, continuo escrevendo e dou de ombros, cabelos ao vento.
Numa olhada superficial sobre a situação da Cultura vemos que nela – como
instituição burocrática ou departamental – cabe qualquer tipo de gente, de qualquer profissão,
mesmo os ignorantes. De outro lado temos bons exemplos: No Departamento de Educação a
diretora é Docente. No Departamento de saúde é Médica. No Departamento de Agricultura –
por bem ou mal, que o digam os funcionários – é engenheiro agrônomo. No Barracão
encontramos gerentes com bom trabalho. No Departamento jurídico há advogados. No Meio
Ambiente é engenheira ambiental. Agora, no Departamento de Cultura a profissão pode
variar.
Essa poesia, pobre por sinal, nunca deu rima.
Ora, o histórico dos diretores do Departamento de Cultura deixa a desejar ou dá pano
pra mangas, ou dá jorros de risos: já foi mulher de delgado, comerciante, juiz, dentista,
advogado... Realmente, é um departamento onde qualquer um pode obter guarida para seu
sonho delirante. Tentar ser o que não é. Nem precisa ter perfil de nada. Hiphopistas
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anacrônicos, diretores de trem da alegria, responsáveis pelo bilhete de entrada, dançarinos de
aluguel, enfim, não precisa lidar diariamente com a matéria cultura, basta ter um sonho. Nem
precisa conhecer quatro idiomas e nem ter produção em vídeo/música/teatro, ou seja,
produção na área artística, no mínimo. Basta ser curioso(a). Ser curioso(a) e se apoiar na
sapiência dos funcionários que lá militam. Não de todos... pode se dizer que os funcionários
da CULTURA é que são os bons do pedaço. Não todos... Resolvem tudo. Não todos...
Que seria das cidades sem seu folclore?
Mas saibamos mais sobre um conto de certa cidade interiorana... uma lenda urbana de
terror, nesse caso... A dentista é esposa do juiz e, por negociatas espúrias, assume o posto do
marido – não o do Fórum, mas o posto da Cultura. Parece que o fenômeno é monárquico.
Provavelmente, daqui a seis meses, quando a dentista sair entrará o filho mais velho e assim
por adiante, até alcançar a petizada. O Departamento de Cultura, repetindo os erros de
sempre, é a moeda de troca das articulações... o caminho parece ser esse. Também... para que
cultura?
Ou entrará outro qualquer. Basta ter um sonho... não precisa de projeto.
O Figó de má memória dizia: - Quando ouço falar em cultura já puxo o revolver.
E, o que é cultura afinal? São os eventos que se perdem com o vento? São as
solenidades com hino e pose de estátua deselegante? O que é isso, afinal, cultura chamada? É
aquilo que se aprende na escola e nunca mais sai da cabeça ou justamente o contrário?
Kultur é a civilização e tudo o que nela couber. Portanto a cultura é a mostra da nossa
cultura, a representação de tudo o que foi construído em choque com a Natureza, a
civilização que construímos. Quando o prefeito escolhe um Assessor de Imprensa que não é
do metièr, mas que serve para compor com a aliança de partidos da campanha, é parte da
cultura. Estão fazendo cultura. De mau gosto, mas sempre cultura. Quando o prefeito elege
um engenheiro bom na tecnologia para tratar das coisas do campo, mas, muito ruim no trato
pessoal e com seus assessores, fabrica-se cultura. Quando o prefeito põe dentistas para cuidar
da cultura, faz cultura no mal sentido; continua sendo cultura, mas cultura pífia. Se fizer tudo
isso, sem consultar o partido, tratando-se de política e, portanto, de ação clandestina, produz a
cultura do autoritarismo, do eu-achismo. Escolhas pessoais? Escorado na desculpa de
trabalhar com gente de confiança, sugere-se que os outros não são de confiança ou não têm
competência para atuarem naqueles espaços. Esse último item – da competência - não é,
parece, o que pesa. Por que se assim fosse a cidade teria mudado qualquer tanto e nada
aconteceu. O adversário, por exemplo, pode ser uma pessoa de confiança, contanto que faça
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parte do perfil de governo do chefe do executivo. Em suma... burlou-se o estatuto. La nave
va.
AGENDA BÁSICA que dou de bandeja: Uma ginkaninha ou férias coletivas em
Janeiro (teatro fechado?) já que não há nada para fazer mesmo / preparação para carnaval em
Fevereiro / desculpa das chuvas em Março / Abril, aniversário da cidade com Sandy-sem-
Junior ou o inverso / Maio do trabalhador e das galinhas e do alface, plus, dia das
mães/noivas/santas/mulheres que desmaiam em Maio / em Junho as festas juninas
travestidas de folclore (evangélicos acham isso coisa do capeta, portanto vade retro) / Julho
fica por conta da SUM / Agosto deve ter alguma gripe (a asinina) ou a canina de algum
cachorro louco, para variar, e adiarão qualquer evento (adiar é o que fazem de melhor) / em
setembro mês das flores e talvez alguma coisa que foi adiada do mês anterior / o salão do
bruno? / o dia do folclore? / o dia de geléia? / vamos colar alguma placa de lata na parede? /
em Outubro usarão as crianças como escudo, e, desculpa para teatro infantil de baixa
qualidade apoiada nos vassalos de plantão e nos bolos expostos ao sol com que alimentarão a
patuléia pobre / já se encontram sob a mesa à espera das migalhas boquirrotos abertos para o
alto / Novembro podem comemorar o meu aniversario que não ligo / e Dezembro um
grande suspiro, pois, finalmente o (c)ano acabou = FALSA CULTURA.
O Teatro Municipal da cidade fictícia foi aberto. Mas não parece. Falta o porteiro. A
porteira que lá está de nada entende e diz que os eventos se darão na cota de um por mês.
Sábia como tantos já traçou a agenda paupérrima. Sabe por barreiras, levantado as mãozinhas
para o alto e dizendo: - não me passaram... isso não sei! Aliás parece que esse pessoal da
cultura sempre levanta as mãozinhas para o alto. Será que vivem em algum assalto constante?
Que mais... Tem um piano para consertar. A bagatela de 30 mil reais que a cultura do
(des)governo anterior deixou escapar pelo mofo das chuvas. Mas, quem liga? Nem todo
mundo toca piano e faz lasanha ao mesmo tempo. Tem refletor para comprar. Tem agenda
para montar. Tem auditoria para fazer. Ah! AUDITORIA! O trauma dos covardotes de
plantão:
1) Quem permitiu que o piano se estragasse sob as águas, após as reformas que eram para
solucionar o problema do telhado – contra chuva – e, sistema elétrico - contra curtos -,
sabendo-se que tal reforma não resolveu nada disso?
2) Quem permitiu – do alto de sua autoridade - que a Câmara (sempre a Câmara que deveria
ajudar) levasse na mão, na rua, na calada do final de semana, as peças milionárias do Museu de
Artes Plásticas para os subterrâneos do Gabinete, incluindo as obras do Brunão?
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3) Faltará alguma peça? Faltará refletor? Faltará lente? Faltará algum Manezinho Araújo? Onde
as poltronas do hall? Onde o cortinado adequado e não a porcaria pendurada? Tudo isso é
patrimônio e dele ninguém dará conta? Por que alugar mil vezes aparelhos-de-sons suspeitos
se basta comprar uma só vez quase que pelo mesmo preço a mesma coisa?
Curiosidades.
E retornando ao primeiro parágrafo: Se CULTURA serve para qualquer um,
certamente não serve para mim, por motivos óbvios.
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A Alma Platônica Platão diz que o homem – ser humano ou homem gênero? - é a sua alma e
que apenas pela alma é possível ao homem conhecer a verdadeira realidade, ou
seja, o Mundo das Formas. Isso é opinião lá dele pois para mim a realidade é esta
que vemos e tocamos. A primazia, portanto, no pensamento platônico é da alma em
relação ao corpo. Mas, de onde ele tira essa idéia, uma vez que os Pré-Socráticos se
debateram em demasia para explicar a Physis – natureza – através da racionalidade?
Se alinhavarmos o pensamento dos filósofos daquele momento, veremos que Platão
faz um retorno ao Mito, apenas trocando o nome de Zeus para Demiurgo, por
exemplo. Demiurgo ou Daimon, a entidade que plasma a matéria dando ordem ao
universo.
A Psicologia platônica – se podemos dizer nesse sentido sem ofender
ninguém - tem intenções éticas: provar a necessidade de controlar as tendências
instintivas do corpo; não há referência alguma de que isso é um mal, em si; garantir
uma retribuição futura àquele que procura a justiça - ir para o céu e se dar bem –
devendo-se entender que justiça, na Hélade do século V a.c, nada tem a ver com a
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noção atual de justiça: mulheres, estrangeiros, escravos e crianças, não passavam de
meros complementos da vida do homem ateniense, por exemplo.
Então, quando Platão fala do homem, está falando do homem mesmo.
Essa chamada psicologia possui também intenções gnosiológicas:
estabelecer a possibilidade de um conhecimento do Mundo das Formas, ou das
Idéias. E isso é uma sacada platônica sem base alguma na racionalidade. Se Platão
sugere que o mundo sensível – esse mundo que podemos sentir e pegar – gera o
imaginário, certamente ele usou deste estratagema para esboçar o seu mundo das
idéias. Inventou e Fantasiou e ainda disse que não.
A alma platônica é simbolizada por um cocheiro conduzindo um carro puxado
por dois cavalos alados. A alma racional (Nous, Logos), simbolizada pelo cocheiro, é
imortal, inteligente, de natureza divina e situada no cérebro. A alma irracional
(Thymós), o cavalo branco, é fonte das paixões nobres; é mortal porque é inseparável
do corpo, estando situada no tórax.
Como é que o Platão sabe certinho onde está localizada a coisa, não é?
A alma apetitiva (Epithymía), simbolizada por um cavalo negro, é fonte de
paixões pouco nobres; é mortal porque também é inseparável do corpo, estando
situada no abdômen. Fica evidente, através da metáfora, que esta estória do Platão é
tão fantástica, ou, tão real, quanto falar que o fogo de Zeus deu vida aos humanos
(húmus) de barro moldados por Prometeu. Se podemos acreditar em uma estorieta,
podemos acreditar na outra.
Um certo Demiurgo (sacado da imaginação fértil do nosso filósofo) criou a
alma racional – criou por que quis ou foi algum acidente, algum acaso? - com os
mesmos elementos da Alma do Mundo, por esse motivo ela é imortal e tem caráter
divino, ou seja, tem algo do Mundo das Formas. No entanto é cópia e vale menos.
Esse algo semelhante ao mundo das Formas permite que a alma entre em contato
com o Mundo Inteligível (das Formas ou das Idéias). Relembre. Se a alma relembra
(anamnése) é por que guardou em algum lugar o que deve ser lembrado, e, nesse
caso, Platão é obrigado a lançar mão da sabedoria hindu e clamar pela
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Metempsicose, ou seja transmigração das almas de corpo para corpo. Sócrates ainda
diz que se o cidadão não se comportar convenientemente voltará em algum corpo de
menor valor como por exemplo no corpo da mulher, do escravo, de uma ratazana ou
rabanete... ou de algum diretor de cultura.
Segundo o mito de Demiurgo – sim, Mito, retorno ao Mito - quando não
explicamos, inventamos o mito para acreditar na estória, então, em determinado grau
de necessidade, passamos a ter fé - que é diferente de saber, pois é possível ter fé
até naquilo que nem existe; mas, voltando ao mito, as almas recém criadas
conduziam seus carros pelo mundo celeste – tal é a fantasia de Platão que ele chama
de pedagogia, ou metáfora para ensinar -, e era permitido, a elas, olharem para um
plano superior (o das Formas ou Idéias). Cabe perguntar: permitido por quem? Pelo
Demiurgo? Pelos deuses? Pelo Daimon?
Embevecidas com o brilho, beleza e perfeição das Formas ou das Idéias –
brilho, beleza e perfeição são valores relativos e depende de quem olha e analisa -,
os cocheiros perdiam o controle de seus carros (que é um acontecimento casual,
acidental, ocasional) e, não conseguindo dominar os cavalos, caíam no plano da
Matéria ou plano Sensível. Lembremos que a queda dos anjos e mensageiros já faria
parte da cosmogonia de hebreus e cristãos, posteriormente.
Os cavalos, símbolos das paixões e associados ao corpo são grandes
estorvos para o cocheiro, impedindo-o de contemplar as idéias, arrastando-o para
baixo e fazendo-o cair para o mundo corruptível da matéria. Ou seja, contemplar as
grandes idéias ou Formas não basta para se livrar das torrentes de paixão. Vemos
que há uma tendência de transformar tudo o que é matéria em coisa corruptível.
Ninguém quer aceitar que essa é a condição da matéria – ser corruptível (nascer,
existir, morrer) e não engendra nenhum pensamento de que deva existir algo perfeito
em contrapartida. A matéria é o fundamento do Universo. Mesmo o que chamamos
matéria será energia em algum momento e essas duas situações são
intercambiáveis. Alguns cocheiros puderam ver mais e melhor o Mundo das Idéias
(puro acaso), antes da queda (outro acontecimento casual). Por esse motivo,
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algumas almas são mais sábias, estão mais próximas da Verdade. O Filósofo é um
cocheiro que viu mais sobre o Mundo das Idéias, fato que sugere mais um
acontecimento casual.
Como o acaso toma parte especial em todas essas estoriazinhas, não?
Platão, não contente, ainda complementa: “O melhor que pode acontecer a um
Filósofo é morrer, porque ele retornará ao Mundo Inteligível (das Formas ou das
Idéias) e poderá contemplá-lo plenamente”.
Nirvana?
“A Filosofia é uma preparação para a morte”?
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A MORTE DO JORNALISMO?
Na escola se aprende a forma, o número de toques, aprende-se a digitar,
aprende o “que, quando e como”- que hoje é usado para desvendar a rotina das
celebridades. Nada mais do que isso. Nada mais “IN”. Os jornalistas que levam tais
matérias se acham muito “IN”? Só se forem INsano. Se chamar atenção para o jornal
depender disso, o título da matéria está correto. Morreu mesmo.
Em grande percentual o jornalismo trabalha com as noticias de novela, as
surpresas do capítulo futuro, bundas na revista Caras e marcas de geladeira. Em
verdade, em verdade vos digo que estão muito dominados. Jornalistas, com a
desculpa da sobrevivência, limitam-se a montar jornais de propaganda. Acho que não
devem sobreviver, mesmo. Dominados pela moda, dominados pela mídia MAJOR,
dominados pelo chefe ou chefa – cujo olhar não vai além do nariz – morrem pelos
cantos. Os anos acadêmicos de nada serviram. Não se forja um jornalista na escola,
apenas se o aparelha. Escrevemos. Contamos causos. Somos faladores e escritores
contumazes. Noticiamos na fofoca ou na mensagem pela NET. Não adianta
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espernear, nem fazer um quadrinho do diploma e esfregar na cara do resto do
mundo. Esse quadrinho nada vale. Esse quadrinho é biquinho. Biquinho de quem
choraminga. O que vale é o talento, sempre. Somos e geramos e editamos notícias e
muitos viverão disto, com ou sem diploma. O que temos que discutir é a revolução
que as novas mídias trouxeram pra o modo de pensar do cidadão.
Isso sim é importante.
É ir além. O que muda nestes tempos? Onde os veículos se rediscutem em
formato e tendências? Porque o jornalismo das grandes redes faz só fofoca?
Devemos dar canudos pra fofoqueira do teu bairro, então? Quantos dias faltam pra
morrer o jornal impresso que não passa de fetiche? O de Los Angeles já foi. Tem a
ver com a morte da qualidade na grande imprensa? E, o Maiquel Jéquiço, foi
enterrado ou não foi?
Bia Werther diz e muita coisa deste texto é baseado em seus escritos: “A
revolução na notícia se dá quando ela transcende o furo do dia e vira história, não
apenas manchete lavada no papel reciclado de amanhã”. Daí a MORTE DO
JORNALISMO. Desde os anos 70 se previa que manifestações como ARTES DAS
RUAS e NOVAS MIDIAS fariam aparecer a voz do humano comum. E, o humano
comum, nunca teve a palavra para si. Sempre falam em nome dele. Padres, pastores,
vereadinhos de plantão, deputadinhos, seniladores com dores e artralgias crônicas.
Enfim, autoridades. A pessoa comum, quando fala, fala de acordo com a moda, como
manda o figurino, para que o editor não corte a fala que “pega mal”. E cineastas
vários previam as religiões eletrônicas e a morte dos livros. Ninguém deu trela. Era
mais um programinha para se entreter enquanto a diaba Xuxa fazia das dela com a
teta na cara das crianças. E quem pode afirmar que responder a pergunta ainda não
formulada não é jornalismo? Sim... sim... a pergunta! Sem o “como quando onde
porque” sagrados? E não somos jornalistas? Da fofoqueira ao dono da padaria.
O que diz Bia Werther?: “Acaso a diferença não se apresenta na editoria da
matéria, mais ou menos livre, tendo cada um a sua tendência? O limite das laudas, o
conceito de furo, o furor, o caixeiro viajante da notícia”. Há necessidade do papel, ou
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basta um PDF pela rede? Pode ser documentário em filme? Em vídeo? Através da
TV? Pode ser um Messenger? Blogs e novas mídias são o meio do futuro/hoje.
Abram os olhos por que o futuro é esse que você vê passar pela janela. Na verdade o
que não existe é o hoje.
Se você não tem acesso à mídia informatizada é por que os poderosos te
querem alienado. Pau neles!! Gay Talese falava do “noticiar o humano comum”, coisa
que a imprensa do formato quadrado – tradicional - diz que é um jornalismo de
vanguarda. Falar do humano comum pode ser o caminho para falar da Cultura da
Paz. As margaridas do campo não são motivo de notícias, mas as mortes e o sangue
alheio são. Esta é a opção que temos? Será que você leitor não entende que precisa
de um analista urgente? A PolitiCanalha não fará a sua parte ou teremos que ensinar,
mais uma vez a essa gente que não sabe ler, não sabe interpretar, não sabe
entender, como se deve legislar?
Ocorre que escrevemos as novidades; contamos a história do nosso tempo.
Muita vez nos repetimos. Quem vai impedir? Terei que andar com um plástico no
carro dizendo: “Não faça história antes de consultar um jornalista?” O que fazer com
os blogueiros diários? Não são milhares deles jornalistas – pois, diários - sem
canudo? Como regulamentar, como impedir alguém de publicar o que quiser, quando
quiser?
Para ser escritor tem que ter diploma, também? Estamos em meio a milhões
de notícias do ser humano comum que não tem nenhum destaque na grande mídia e
não dá matéria aos olhos da imprensa que já não vende tanto jornal como outrora,
a não ser que Obama olhe Obunda da brasileira. É preciso canudo pra noticiar isto?
Ninguém perde o emprego de jornalista se for bom. Se tiver tino. Se tiver
talento. Mas se é tão importante, pombas!, enquadrem o canudo! Que a moldura lhe
seja leve. Títulos, e mais títulos, e, que tais, que moldam e formatam a figura da
autoridade no assunto. Na vida real a mudança permanece e o ser humano, sem
canudo, continuará com suas mensagens, seja ele médico, músico, filósofo, artista
plástico, ou açougueiro, escrevendo, cantando ou gritando na rua, batendo a
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claquete, pintando o muro. Jornal de bairro, Fanzine, Rádio, TV comunitária ou não,
Blog. Porque quem tem o que dizer arranjará uma folha de papel, higienizado de
preferência, um microfone e mandará ver. E se for bom, vai viver disto. Profissional. E
dane-se o resto pois, o resto é restolho do restolhão, com precariedade de talento e
falta de mufa pra queimar.
Novamente Bia Werther: “E afinal, quando os jornalistas, que deveriam ter a
cor da novidade, se assustam com o novo é que, realmente, a morte é iminente. Mas
morte é só vida. Mil novas faces; mil novas línguas; tantos milhões de veículos quanto
de gente no planeta”.
Falai e multiplicai-vos.
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ADAO & EVA NO DIVÃ
Uma interpretação alternativa... – pois nada, nadinha é coisa absoluta -... alternativa à
famosa estória que nos remete a etapas do desenvolvimento mental do humano, que ao
nascer ainda não possui a consciência desenvolvida, pouco percebendo as coisas que o
cerca; obedece sem questionar as orientações do Progenitor (Pater Theos). Ou então, o que
é pior, trama e urde nas trevas do desconhecimento e da falta de competência,
permanecendo no Éden sem ter talento para isso. Puro vício. Com o passar do tempo, o
teórico casal bíblico (lembrando que bíblia é sinônimo de coleção de livros) inicia um
comportamento questionador e se mostra um casal consciente do que vê no mundo à sua
volta. Primeiro Adão percebe que além de covarde é inepto. Nem para comer a maçã ele
serve. Tem que receber na boca. Parecem adolescentes. O Pai os declara aptos a seguir
suas vidas sem a Sua Divina proteção. O casal deve se estribar em bom judiciário e amplos
sorrisos.
Adão e Eva estariam aptos a viver com os outros seres do Orbe? Poderiam viver como
mortais antes de comer do fruto da árvore do conhecimento? São perguntas que ninguém
responde.
Quando Adão e Eva foram criados - pois não passam de seres construídos e nada nadinha
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naturais - Pater Theos lhes dava tudo que fosse necessário à vida, só pedia em troca a Fé.
Mais especificamente, que não tomassem contato com o conhecimento do bem e do mal
por conta própria. Ora, para que serviria a Fé se Adão e Eva tinham relacionamento direto
com Deus, portanto, sabiam dele, o conheciam, e, por conhecê-lo não necessitavam de
provar a tal da Fé? Além do mais nada tinham que fazer no Jardim. Limitavam-se a posar
nus para fotos e solenidades ocas. Chamar rio de Rio. Declarar que nuvem era Nuvem e
assim por diante.
Então, a pegadinha, em Gênesis 2:16 e 2:17: Ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo:
De toda árvore do jardim podes comer livremente; mas da árvore do conhecimento do
bem e do mal, dessa não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente
morrerás. Provou-se mais tarde que não havia morte alguma. Pura mentira do Senhor.
Alguns exegetas afirmam que a Morte é simbólica e quer significar a perda da ingenuidade
natural ou pureza original. Forçam a barra.
No começo dos tempos, citando Gaiarsa, era proibido ter conhecimento do Bem e do Mal.
Nos dias de hoje as religiões e a política (sucedâneo obrigatório) desejam que saibamos
discernir entre o Bem e o Mal. Afinal é ou não é para discernir o bem do mal? Mas, os
primeiro sinais de autoconsciência aparecem; os obstáculos demonstram a incapacidade.
Dar nome para a COISA é fácil. Difícil é saber para que serve a COISA.
A gincana continua. Outra pegadinha: Gênesis 3:5 A Serpente fala e pelo visto bem
sabe do que fala : Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes (o fruto da árvore
do conhecimento) se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal.
Outra, em seguida, em Gênesis 3:6: Então, vendo a mulher que aquela árvore era boa
para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento, tomou do
seu fruto, comeu, e deu a seu marido, e ele também comeu. A mulher saiu na frente na
busca do conhecimento. Nada desse negócio de intuição. O legal era saber ali na batata,
como diria Nelson Rodrigues.
Nota-se que o humano, então, olha para si mesmo: consciência da condição e da
individualidade.
Deus, meio brabo, suspende todo o privilégio do casal, o que denota uma tendência à fúria
e certo desequilíbrio. Anuncia que Adão e Eva enfrentarão desafios que são, na verdade,
as coisas da vida cotidiana, para ver onde aperta o calo. Consciência autônoma ao livre
arbítrio. É como se Deus dissesse: - “Vão e construam a civilização!”
Crônicas Agudas
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Provavelmente, apesar de que não há maneira nenhuma que possamos provar, a partir
desse momento cessa a relação moral de Deus com a humanidade. Deus lava as mãos. Foi
embora para o Sinai com suas trombetas.
O repórter bíblico no diz o seguinte: Gênesis 3:22: Então disse o Senhor Deus: Eis que
o homem se tem tornado como um de nós (nós quem? Que plural é esse? Ele falava dos
elohim?), conhecendo o bem e o mal. Ora, não suceda que estenda a sua mão, e tome
também da árvore da vida, e coma e viva eternamente. E, tendo tais palavras saído da boca
de Deus é, portanto, possível que o humano se torne eterno. Será essa árvore o genoma
que se vem decodificando? Até vejo os elohim dizendo em coro: - “Mas quem mandou
criar esses caras? Agora, segura o rojão, meu”.
O “processo de criação da espécie humana" não se realiza no instante em que Deus cria o
homem do barro e a mulher de sua costela (isso segundo a visão patriarcal; há eruditos que
afirmam que a palavra que traduziram por costela pode ser traduzida por célula, um pedaço
do outro, uma parte do código genético, sêmen e por ai vai. Outros, não patriarcais,
afirmam que houve separação do ser duplo em dois, ou seja, tanto Eva saiu da costela de
Adão quanto Adão saiu da costela de Eva; depende de quem conta a tal da história ou
estória. Se isso for crucial para a existência e manutenção de qualquer religião, estamos
mesmo feitos). No decorrer de toda a história humana no Jardim do Éden, começando com
sua individualização espacial (circunscrição física) através do barro, passando pela
individualização da consciência pelo ato de comer o fruto proibido; acarretou a expulsão e
deu início ao retorno ao Paraíso ou à busca da felicidade perdida. O que viesse primeiro.
A serpente é uma antiga divindade da sabedoria no Oriente Médio, portanto não
surpreende que nesta história haja a presença dela junto à árvore do conhecimento. Como o
europeu sempre odiou e chamou de Mal o que vinha de África e Oriente, deram a pecha
de diabólica para a serpente, mas o que é um Seraphin se não uma serpente? Serafim,
seraphin, serápis.
Crônicas Agudas
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CARTA AOS AFRO-BRASILEIROS
DE MOCOCA reflexões sobre panfleto encontrado no chão em 2004 / mas quem sou eu se não um branco
KWANZAA
Festa da Raça Negra / Está aí um texto compilado do folder-convite que encontrei.
Não pode ser seu amigo quem exige seu silêncio ou atrapalha seu crescimento é uma frase
assinada por Alice Walker, escritora afro-americana. Pensar / ver / meditar.
Em busca da reparação: Reparar significa o Estado reconhecer, baseado nas decisões da III
Conferência Mundial Contra o racismo, a Discriminação, Racial, a Xenofobia e Formas
Conexas de Intolerância - realizada, em 2001, na África do Sul - que o colonialismo e a
escravidão cometidos no passado foram crime contra a humanidade / as novas gerações de
negros e negras que sofrem, ainda hoje, as conseqüências do crime, devem ser reparados de
imediato, pois o Brasil, a Europa e o mundo devem reparações ao povo negro. Onde está
divisão de riquezas? Com pretexto na Lei Áurea, enquanto os ex-escravos faziam sua festa, as
fazendas se livravam dos caras. Os italianos chegavam para serem explorados.
Crônicas Agudas
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Atraso Histórico: Qual é a ação dos interessados afro-descendentes? Há reuniões? Debatem
o assunto? Refletem sobre as perdas? É reunião secreta? O Brasil foi o último país no mundo
a abolir a escravidão e o penúltimo a interromper o tráfico de seres humanos. A Igreja via
tudo dava apoio. Tinha ela também sua cota de escravos. O país foi também o que mais
recebeu escravos vindos da África entre as Américas – cerca de 3,6 milhões. Fica por isso
mesmo? Sugiro que as terras das igrejas de cada cidade sejam divididas entre os
afro/descendentes. Podemos começar daí. E que cada igreja de cada cidade peça desculpas
públicas. De joelhos.
Números vergonhosos: Um Brasil branco 2,5 vezes mais rico que o Brasil negro. Dos
pobres, 64% é negro e dos indigentes 69% são negros. De acordo com o MEC – pode-se
questionar, mas, não sentado em seu trono de cana-verde - 15,7% dos estudantes formados
são negros e 84,3% são brancos (quer dizer, brancos... quem é branco nesse país?). De acordo
com o IBGE, para cada ano de estudo, os considerados brancos têm sua renda elevada em
1,25 salários, enquanto os negros 0,53 salários. Portanto há preferência clara e a facilidade que
advieram dos 300 anos de escravidão. Isso é inegável.
Quem muda a situação?: De acordo com a justiça distributiva um indivíduo ou grupo têm
direito de reivindicar as vantagens perdidas por condições sociais adversas. Será esse o caso?
Quem sabe uma análise de ascendência. Netos e bisnetos de escravos. Alguém ainda tem a
carta de alforria da família? Ou Reivindicações: Para a superação do racismo, é imperativo
que se adote uma política de reparações que vão desde a indenização material, passando por
um conjunto de políticas de ações afirmativas. Todos se interessam por ações como essa? Tem
algum advogado quem vai peitar a situação? Isso tudo tem a ver com a realidade e a
conjuntura política atual? Os políticos negros se interessam pelo caso? Há quem diga que os
negros escravizavam a si mesmo. Isso serve de atenuante ou agravante? Ou serve para nada?
Seguirão daí como consequências: Cotas proporcionais à dimensão populacional de
negros/as no Brasil, concomitante a um super-melhoramento no ensino gratuito para todos, e
esperamos que isso queira dizer melhora no sentido de LIBERDADE, e não de obediência.
Mais. Cotas proporcionais a negros/as nos cargos comissionados no serviço público
municipal. Isso pode começar hoje aqui em Mococa. É fácil, pois, tem muita gente
incompetente em seus troninhos e sinecuras e no próximo concurso a quota já pode valer – os
legisladores levantarão suas penas e trabalharão nisso. E não há dúvida alguma sobre isso. A
cor da pele manda. Se ficar no café com leite negro não é. Tem que ser negro negro mesmo.
Quase azul. Elegeremos como padrão os BANTOS. Ou mais condizente com as crianças
Yoruba da foto. E, à medida que negros e brancos mais se miscigenam as cotas diminuirão
Crônicas Agudas
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gradativamente. Como cidadão é uma sugestão, como ser humano cosmopolita é uma ordem.
Mais. Democratização racial da imagem em todos os veículos e peças de TV. Isso já rola, mas
soa como obrigação. Bom... os africanos foram obrigados a virem para o país que não era
deles. É sempre um prazer ver o Francisco apresentando o noticiário da TV. Vida longa ao
Francisco.
MAIS: Exigência de cumprimento de cota de 30% (ou 20, ou 10, ou 15, sei lá) de negras e
negros em todos os níveis hierárquicos das empresas que participarem de licitação e
concorrência da administração pública municipal. A nota final deve ser a mesma mas a cota
está em separado. Vamos revolucionar. Já! Não é questão de facilitar nada. A nota para passar
será a mesma. A vaga é que está à parte. Em vez das chicotadas, uma vaga.
Instituição do feriado de 20 de novembro: É coisa que Mococa já aplica, no sentido errado,
penso. Lembro que levei a idéia da lei nesse sentido a uma professora que era vereadora e
presidente da Câmara em tempos idos e ela me disse, tutelada pelo seu título de professora de
História: “Ah! Se é assim tem que ter feriado pra árabe, italiano, japonês... e por aí foi, mal
pensando ela que os africanos foram trazidos à força e os demais vieram atrás de melhores
vidas, por livre espontânea vontade”. Peguei o meu projeto de lei e levei para o Sr. Chico
Enfermeiro que acabou fazendo a Lei passar, mas assinou como se fora dele. Próprio da
Veneranda Casa.
Na antiga propositura não tinha nada a ver com feriado. Tinha a ver com uma semana de
reflexão e arte, em torno do dia 20 de novembro e a propositura buscava valorizar o
trabalhador negro que, buscando melhores situações para a sua vida, foi trabalhar, por força,
vendido e humilhado, em outro país e lá ficou, como o caso do LAU que faleceu em
Portugal. E era negro. E era artista. E era produtor de cultura. Era de Mococa e ninguém quis
saber dele. Nem as namoradas. Ou uma certa namorada específica. Ninguém. Que mais?
História: Introdução da História da África e do negro no Brasil no currículo das escolas. Já!
Eu mesmo desejo saber mais sobre Bantos e Hotentotes. Sobre Yorubá. Mococa pode dar o
pontapé inicial E, sair em continuidade com outros professores e artistas e esportistas locais.
Capoeira neles. Agregar estes grupos de capoeira, mas não paternalizar.
Terras: Tributação da terra às comunidades urbanas e rurais de negros/os remanescentes dos
quilombos. Podemos averiguar como anda a Guardinha. Pesquisar sobre quilombolas
remanescente e gerar a herança. Já! Vereadores, acordai, tomai da pena e fazei a justiça!
Trabalho: Garantir o cumprimento da convenção 111 da Organização Internacional do
Trabalho.
Saúde: Implementar programas especiais de prevenção de doenças que prevalecem na
Crônicas Agudas
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população negra como miomatoses, lúpus, anemia falciforme. Suscitar pesquisa neste sentido.
Ter atenção sobre tais segmentos. E a tal da Religião: Respeito e estudo das religiões de
matriz africana. Rituais. Dogmas. Cursos de Yorubá e Candomblé em todas as escolas,
principalmente nas particulares. Aliás isso deve ser obrigatório. As escolas de cunho religioso
devem incluir candomblé em seus currículos.
Cursos de música com temática em quimbanda, jongo, congo, samba. Imaginem, SAMBA I,
no primeiro semestre da escola de música de Mococa?
Nossa, quanta lei. O vereador que quer viver dando nome de rua a seus parentes é por que
tem a moleira mole e a cachola não funciona como deve. Entrega a pasta.
Estímulo e apoio à produção cultural afro-brasileira. Radical! Quero um Museu do Negro na
cidade. As fazendas da região cresceram sob esses braços.
É isso.
Votos de sucesso, vida longa e prosperidade.
BOA VIDA. TRABALHE MENOS. PENSE MAIS. FAÇA ARTE.
Crônicas Agudas
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CINEMA & CORO na MOCIDADE
A FatecMococa tem como meta a difusão da cultura, através do seu Núcleo.
Dessa forma não se limitará a seu prédio - prédios,
em breve - e espalhará ações culturais em várias
regiões e outros prédios da cidade. Dessa vez a
Mocidade Espírita, aqui nos caminhos do bairro da
Aparecida, a convite da Sra. Ivani Rafaldini (1),
abriu suas portas para esta ação cultural e lá permitiu que se formasse um Coro e
um grupo que grava filme e montará peças de teatro, ao final das filmagens. Uma
parceria Fatec/Mocidade.
Crônicas Agudas
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A idéia é levar um tanto da mensagem da
MOCIDADE, mista à literatura de todos os
tempos. Deixo, a todos, convite para a estréia, em
Julho, de O FANTASMA DA CASA VELHA,
roteiro baseado numa estória de Oscar Wilde. No
elenco temos Maria Augusta (2) – atriz importada de
Monte Santo, Adriana Gomes (3) – no papel do
FANTASMA, Adriana Dias (4), Amanda Garcia(4),
entre outros. Inteiramente gravado em Mococa,
usando as instalações da Mocidade, o CinemaFatec,
além de filmes acaba por construir um acervo de
imagens da cidade, com seus jardins, casas e
locais de uso comum. Uma antropologia visual
da cidade. Uma sociologia através de filmes e
vídeos que contam a nossa era. É certo que a
obra tem origem n’O FANTASMA DE CANTERVILLE, portanto, obra
inglesa, mas são contingências.
O FANTASMA DA CASA VELHA se transformará em DVD e será vendido,
oportunamente, para consecução de recursos destinados ás obras assistenciais da
MOCIDADE. Logo, trata-se de atividade artística com fim social, também.
E, o Coro?
O CORO da MOCIDADE vem trabalhando desde fevereiro e se preocupa
com um repertorio de música folclórica e MPB. NOZANINÁ (Arr. De Villa-
Lobos), CANTO DO POVO DE UM LUGAR (Caetano Veloso), CALIX
BENTO (folk mineiro), AZULÃO (de Jaime Ovalle), UIRAPURU (do folclore)
e mesmo o HINO DO CENTENÁRIO DE MOCOCA (de Elvira Dinamarco
Coelho e José Barreto Coelho); obras em processo de construção. Fez concerto
de estréia em Março. Outros concertos virão.
Crônicas Agudas
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Se você é uma pessoa sem preconceitos – ideologia e religião à parte - venha
participar conosco do Canto Coral, cujos ensaios são na sede da Mocidade, do
outro lado do rio, no entroncamento entre Brás/Aparecida/Descanso, toda
quinta feira, 20:15 horas. Sempre haverá por lá boa música, um pouco de
preparação vocal e teoria musical para ampliar o conhecimento.
Em momento oportuno falaremos mais das atividades corais e seus
desenvolvimentos.
Boa semana.
Crônicas Agudas
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CULTIVAR O PADRÃO
A REPETIÇÃO / O CÔMODO
Quando se foge do padrão, as pessoas caem de pau em você.
Transfiramos a abordagem para o teatro que queremos, por exemplo, ou que
desejamos ou que sonhamos. Posso fazer o mesmo com a música. Música
moderna ou contemporânea. Enquanto meu CD de Natal sempre vende muito
todo ano (padrão) as minhas obras contemporâneas vendem nada. Será que é aí
que falamos de arte e comercio? Que peça fará sucesso? De que jeito essa peça
fará sucesso. Quanta mídia se deve comprar – TV, rádio, jornal – já com suas
boas resenhas embutidas, pois tudo se resume a comprar algo. Não há, em
Mococa, uma crítica espontânea da arte. Será que não há um meio de nada
comprar para criar ou usufruir arte? E para isso há regras e normas e leis?
Fazendo assim o público virá? Fazendo assado não vem mais? Mas e o público
acomodado que não sai do lugar merece futuro? Por que devo contar e pagar
Crônicas Agudas
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tudo de 30 em 30 dias se levo 146 dias para compor uma obra musical? Então
não é possível experimentar? Resposta: Não!
Mas o experimento é a fonte do trabalho bem acabado. Empirismos. E se eu só
quiser experimentar? Talvez não tenha público durante muito tempo, pois o
povo deseja ver aquilo que não os pegue de surpresa. Se Deus aparecesse em
forma de cubo ou pirâmide ninguém acreditaria. O povo – essa entidade leiloada
e usada por todos - é comodista e meio burro. Símbolos passam batido pela
maioria. A maioria deseja tudo bem mastigadinho, pois para isso foi domesticada
desde a escola. Sem esforço. O único esforço é o de ser escravo. Para isso foram
educados.
Será que podemos sair dos formatos de sempre já que sempre houve mudanças
nos formatos do teatro / da música / do cinema / ao longo dos séculos ou essa
mudança é tão lenta que ninguém percebe?
Hoje, quando a busca do exótico beira a loucura talvez os deuses do dinheiro
permitam que novas imagens subam a palco. Plutões, donos do capital, novos
deuses, que se alimentam de novas almas para almoçarem e elevarem os pontos
do ibope; fenômeno: logo que são humilhados começam a lucrar. Mas,
enquanto isso, artistas, prevejo que devemos urdir na noite o que e como deve
ser o futuro. Podemos errar e assim somos nós. Nossa estrada é traçada de erros,
então descobrimos novos caminhos.
Pensemos sobre isso. Mas, não se iluda, artista e livres pensadores, somos só nós
os que havemos de pensar. O resto do mundo pensa em mais nada. Vive de
inércia, dentro de um padrão pré-estabelecido. Uma bola de neve que espera o
poste.
Mesmo que vivamos esse padrão em muita coisa que fazemos, também fazemos
a diferença por que rompemos o padrão. E, essa diferença não quer dizer que
seja para melhor. Não temos obrigação com o melhor. O mito do melhor vem
daquele que nos explora é quer o melhor que produzamos. Não há essa
obrigação do melhor pois não sabemos do que se trata, esse tal melhor. Em
Crônicas Agudas
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geral é melhor para alguém outro e não para nós. Aquilo que as pessoas falam
que é o melhor, em geral, é aquilo que faz alguém lucrar algo. São palavras de
Faraó, aquele que detém o poder, que dita a norma e o que deve ser considerado
bom. Não se iluda. O artista pode ser a diferença que esculhamba o normal –
padrão – do dia a dia; e as pessoas não querem saber desses caras. Pode crer.
O artista deve ficar livre. Manter o processo crítico. Não se aliar a clubes talvez?
Ou, ao menos estar ciente de que pode ser expulso do clube. Woody Allen -
depois de Grouxo Marx - disse que não entraria num clube que o aceitasse
como sócio.
Utopias. Mentiras ditas mil vezes.
Sempre digo que quando o dia 21 de dezembro de 2012 chegar e a eletricidade
for pro beleléu, nós os artistas não teremos nada a perder. Teatro não precisa de
iluminação especial e pode ser feito na rua – já um plei-esteixon ou um
microfone de lapela não funciona mais. Teatro pobre! O ator e mais nada.
Música: Nem se precisa de instrumento. Canto ou assobio. Mas se quiser faço
uma flauta de bambu ou bumbo dionisíaco ou lira orfeica e pronto. Já a fábrica
de lata ou gelatina, elas precisam de energia para gastar e poluir e impactar a
natureza em nome do progresso. Então elas pararão de funcionar. Enfim
alguma coisa boa.
Escrita: Papel reciclado e tinta natural, como era dantes na casa de abrantes. Ou
escreverei com barro ou merda – seguindo o Marques de Sade – nas paredes das
ruínas. Acredito que merda sempre existirá. Rembrandt fazia sua própria tinta,
não com merda mas com tinturas naturais. Agora, as usinas de produção de
gasolina precisam de eletricidade, diesel; e a energia nuclear? Param ou não?
E, é claro, tais indústrias precisam de seus escravos para o trabalho. Herdeiros
dos faraós embalsamados, como diz o poeta, necessitam da mão de obra barata.
É... A arte não para.
Quando não nos deixam falar inventamos um blog ou gritamos na rua.
Crônicas Agudas
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Acabou a eletricidade e acabou o blog? Sobe-se no palco ou se faz teatro de rua.
Mambembes. O diferencial é ir atrás do auto-falante: teatro, música, vídeo... são
as armas. Mesmo assim muita vez nos desconvidam pela impertinência. Nossa
expressão corporal na rua (pose?) é nossa arma e bandeira fincada no solo. Mas,
será esse mesmo o caso. Fazer arte e vender e, depois, sofrer se não compram?
Cada um compra o que quiser. E pra que servirá tudo isso se não passa de mera
arte? Ars gratia Ars. E por minha conta.
Lembro das aulas de psicologia – nos idos dos anos 80 - quando concluíamos,
friamente, da insignificância do artista. É isso. Somos completamente
insignificantes até o momento em que balimos iguais a sertanejos ridículos
fingindo cantar; ou choramos na novela das seis por causa da menina com falsa
leucemia; ou se fazemos o Analista de Bagé no teatro, com casa cheia falando
bobagem a dar com o pau para que a burguesia babaca chore de rir. Aí nos
tornamos valores. Tornamo-nos dinheiro viável. Potencial de lucro. Cheios de
amigos. Cercados de produtores. A mídia do nosso lado.
Quero entrar numa sala de aula com 45 alunos para escangalhar 45 cabeças de
uma vez com muita aula de Filosofia. Meu projeto é ser diretor do Oscar
Villares, lá pelo ano 2016, e continuar a ensinar como se faz.
Crônicas Agudas
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DEDÉ, MUSSUM E ZACARIAS
Alguns sete representantes da Câmara de Mococa merecem parabéns pela
atuação na modernização das leis da casa, mormente pela lei de adequação e a lei
do nepotismo. Li o Informe Publicitário e acredito que se pode tirar o luto. Não
há que temer o luto. Há sim o nojo em relação aos outros três. No começo não
entendi o texto e deixei para ler em outro momento. No outro momento percebi
que ainda havia troca de MAS por MAIS. Para mim o texto ficara sem sentido.
Crônicas Agudas
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Consegui, depois, após abluções matinais, perceber o teor da notícia, e sua cabal
importância, mas, temi que pedissem de volta a minha Moção de Repúdio.
Caros OS SETE POR MOCOCA. Fizeram com que me lembrasse de OS SETE
CONTRA TEBAS, peça importante do mundo grego. A partir dela surgiram O SETE
SAMURAIS e SETE HOMENS E UM DESTINO.
Esta história tem um desenvolvimento edípico. Vejamos: Édipo descobriu ser filho
de sua mulher – a tal Jocasta. Vazou os olhos e retirou-se expulso da cidade acompanhado
pela filha Antígone. Os filhos, ao tomarem conhecimento do incesto do pai, viraram-lhe as
costas. Édipo lançou uma maldição: os dois irmãos se tornariam inimigos e um mataria o
outro.
Com medo da previsão, resolveram partilhar o poder cada um assumindo o trono
por um ano alternadamente. Etéocles foi o primeiro a reinar, porém, ao se completar um
ano, este se negou a entregar o trono ao irmão. Polinice partiu para Argos e lá recebeu o
apoio do rei Adrasto. A expedição dos SETE CHEFES foi, pois, a reunião de sete
príncipes chefiados por Adrasto que marcharam em direção a Tebas a fim de derrubar
Etéocles e entronar seu irmão. Pode nada ter a ver, mas, o número sete, neste caso heróico,
é simbólico e acredito que represente o trabalho de uma verdadeira e veneranda Câmara
moderna e articulada com as necessidades da população, ou, pelo menos, da lei. Falta
agora votar uma lei para VOTO-NÃO-SECRETO em todas as instâncias, se é que os edis
desejam deixar seus nomes marcados na história da cidade. OS SETE POR MOCOCA
mostram que são independentes.
Os outros três, no caso OS TRES CONTRA MOCOCA demonstram a objetividade
da tal Moção de Repúdio de antanho. Sim, pois os três restantes demonstram que estão
contra a democraticidade na cidade (ops!), e mostram, por caminhos turvos, quem insulou
a turma para assinar a Moção. Em face disso fica claro que OS TRES CONTRA
MOCOCA têm algum interesse nessa coisa toda de regulamentação e nepotismos à parte.
Mas isso o Executivo resolve com uma canetada rápida. OS TRES CONTRA MOCOCA
estão colocando maguinhas de fora e se denominam reis-da-cocada-preta. A base do ídoloo
é de barro. Isso prova, também, que não é o número de votos que faz a diferença. Mas a
inteligência dos SETE POR MOCOCA está fazendo. Se essa rapaziada – tabebuias à parte,
me entendam – mantiver a linha de independência, soberania e visão da modernidade,
podem escrever Mais em lugar de Mas, quantas vezes quiserem, que serão absolvidos por
aqueles que sabem que política se faz com outros valores. Não é o valor de um judiciário
Crônicas Agudas
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poético/dormente/sonhador, nem as lacunas gengivais de um sorriso interesseiro e amarelo,
nem as catapultas sindicalistas prontas para uma abordagem na galera medieval do vizinho
– valha-me são Getulio Vargas!, nem as destrezas enigmáticas dos seguidores de Calvino,
ungidos pela aura advocatícia sem escrúpulos. Sei não, mas, acredito que qualquer pastor
bateria nas mãos desses TRES CONTRA MOCOCA. Feio! Han! Seu Feio!
Simples conta de somar. O SETE POR MOCOCA versus OS TRES CONTRA
MOCOCA, e, o título da coluna, tiram qualquer dúvida.
Crônicas Agudas
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SEXO ESPIRITUAL DIARIO DE PIRATAS – EXCERPTOS ALEGÓRICOS
- aos filibusteiros –
Há motivos que nos induzem a práticas obscenas. Obscena quer dizer, fora de cena. Não
que seja feio, mas que está fora da visão da platéia, por assim dizer. Aquilo que não dá
para ver.
Uma delas é a espiritualidade. Nada mais obsceno que a espiritualidade. Ninguém vê. E, o
que sentem - “a energia que rola” - tem muito de delírio coletivo, individual, ou fé
cênica. Invencionices de uma mente romântica, por assim dizer.
Quantas e quantas vezes atriz ou ator não subiram ao palco para trazerem de trás da
cena – ou de trás de suas máscaras - aquilo que estava escondido. Esse tal escondido é
o obsceno. E a atriz ou ator conseguem essa proeza através da Fé Cênica.
A Fé Cênica representa aquilo que não existe. Um avatar.
Sabe quando você vai a uma loja ou restaurante e pergunta se o produto é bom? A
resposta tem que ser sempre positiva ou não venderão o tal produto mesmo que o
bacalhau já tenha passado do tempo. Por essa razão qualquer pastor de almas dirá que a
espiritualidade está à mão, de como se pode “sentir” as vibrações, seja lá o que seja
Crônicas Agudas
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isso. Há inúmeros manuais para se sentir a alma e perceber as vibrações e adentrar o
mundo da espiritualidade.
Já ouviu falar em motel especial para mentes e almas? Ninguém ouviu. E que dizer
quando se discute o problema da química entre amantes...? O que será que acontece no
momento em que se conhece alguém? Não existe nada de espantoso nisso tudo... Mas,
também, ninguém sabe de nada... As pessoas preferem a complicação ao invés do que é
mais simples. Quando encontramos a pessoa o que vemos é seu corpo e seu rosto e suas
características humanas. A pessoa olha você e você a olha e surge o interesse. Chamam
isso de química. Falta é palavra adequada, na verdade. Daí o surgimento da poesia... por
pura falta da palavra adequada. Pode ser que a imagem fotográfica do ideal que alguém
tem na cabeça combina com a imagem que vê naquele momento. Nada mais do que
programação. Depois, com os anos, tudo muda, é claro, mas, naquele momento que
chamaremos de mágico, é fatal: Amor à primeira vista. Amor, por falta de palavra melhor.
O inexplicável.
Será que o fenômeno da observação da alma ocorre imediatamente? É como o Allen
Palito em sua prova de metafísica, expulso que foi da sala por que o pegaram colando...
ele olhava para a alma da aluna que se sentava ao lado. E na falta de uma alma ao
lado?
Provavelmente não passa de resposta imediata da biologia e o clamor da manutenção das
espécies. Sim! Nada de amor. Apenas clamor. Em primeiro lugar, mandam os ditames
biológicos: temos que preservar a espécie da extinção que se aproxima. Amor é
construção cultural. Assim como o romantismo e o cavaleiro andante e a idéia de que a
Terra é centro do Universo. Amor é para todos e com todos: ágape ideal. Amor e sexo
são coisas diferentes. É, claro, que as pessoas buscam aliança entre iguais, ou ainda,
buscam compromisso para manter o estado de equilíbrio – na melhor das hipóteses – cá
entre nós há quem procure o par que lhe bata na cara ou o sove com ancinho -, que é
prática comum nas sociedades modernas e a cultura manda, mas, nada disso tem a ver
com amor. O assunto é bem outro.
No clamor da carne o que se quer é coito. Alguém quer ser coitado.
De preferência com alguém que responda aos seus valores estéticos, pois isso estimula a
obtenção de prazer. Se houver coincidência nos gostos certamente rolará algo. Abre-se o
clima. Ilumina-se a cena com valores der romantismo quixotesco e exotismos. Se não
houver coincidência alguma, que é o que ocorre na maioria das vezes; nada rola e parte-
se para outra, que é o que ocorre na maioria das vezes.
Crônicas Agudas
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Os sensores animais percebem a boa genética e um bom desenho de corpo, de acordo
com os padrões investidos pela moda.
Quando há união entre desastres estéticos - segundo a moda vigente, é claro – o que
chamam de amor será eufemismo para tolerância mútua, cercada por ambiente de
resignação e acomodação final – que é próprio de humanos.
O que a moda não pedir, e, eu duvido que as pessoas façam referência à alma, ou que
falem de valores da alma. As pessoas não falam disso. Nem pensam nisso Nem pensam
em nada. Na onda do alvoroço dos hormônios, usam várias desculpas para cair na rede: -
Aquela nossa música, ou a letra da canção sacana, da obscenidade permitida na rádio, o
clima numa atividade não rotineira ou artística que dá muita menção a excitação
repentina, a aproximação com ídolo e outros quejandos, são motivos e desculpas.
Pense na cena. Nunca vi a pessoa. Ela aparece na minha frente e eu me espanto: - Uau!
Que bela alma! Estou apaixonado à primeira sentida!
Realmente não é assim.
Precauções perante a solidão; as pessoas ainda encaram – a solidão - como uma situação
de fim do mundo e querem se livrar da possibilidade. Mas essa sensação só aparece na
cabeça de seres ocos. Quem se dedica à arte, por exemplo: escrita, pintura, teatro... não
terá tal problema, em sua maioria. Só aquelas pessoas que acham que arte depende de
inspiração e piram na frente da folha ou da tela em branco. Nada sabem sobre isso e
podem se livrar, também, da possibilidade de se criar algo. Criar no sentido da arte.
Sublima de um lado, cria do outro.
Amor romântico fica para os anjos e para os séculos VIII, IX, X... e por aí vai, com
capacete de metal e tudo mais.
Crônicas Agudas
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PARA QUE OS NEO-COLONIZADOS
DEIXEM ROLAR sobre um texto da cineasta Bia Werther
Sim... idiotas... quem sabe somos aqueles que predominam o Id. Somos todos
nós uns grandes idiotas em acreditar em dengue, em enchentes, em eleição, em
espanholismos, em balaios tronitruantes em descabeleiras louras ocas... quando
as pessoas já nem sabem – fingem que não, essa é a boa verdade – sabem mais,
se é verdade mesmo, que tivemos um holocausto na Europa – 6 milhões de
mortos, fora os soldados que se matavam em troca do dólar de outros e somos
sempre os mesmo que aceitamos trabalhar para a riqueza do outro - ou uma
ditadura no Brasil – guerras e guerrilhas e zerentos milhões por morrer - e daí
ficamos nos repetindo por séculos e séculos - ad aeternam - abrindo a guarda
e babando por qualquer outro imbecil – já tivemos uma geração de Silvios e
Crônicas Agudas
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Gugus – louco midiático que domine mensagens subliminares e bits e bites e
quarks.
É responsabilidade nossa quando os dominadores da 'cultura', em nossas pobres-
cidades-pobres-cidades apedeutas, recalcadas cidades medrosas e invejosas,
perdidas em seus desejos criativos, mesmo por que criar dá tesão e as cidades e
seus representantes culturais têm medo do tesão que deveras sentem... eis a
verdade... Talvez sejam eunucos. Renegam a diversidade em nome da troca de
favores – o tráfico de influência, o toma-lá-dá-cá dos incautos vereadinhos.
Esquecem as leis a serem aplicadas com apoio de juristas aplicados e de
colarinho branco engomados até os dentes; vendem suas horas-trabalho pelo
prazer de se fazer de estátua ao lado dos ícones globais que vêm fazer
espetáculos de sub-arte, eventos de importância duvidosa, enquanto a cidade
completa seus aniversários, esquecida e entrando para caminhos de gagarismo –
não o astronauta, mas sim, o velho gagá da esquina que deseja de qualquer
maneira que Fonte dos Amores volte. Volte da onde?
Tem que ser bobo e caipira. Mas se fossem Mazzaropi seria solução criativa e
produtiva. Papagaios de pirata sem jaça. Câmaras vazias. Sepulcros caiados.
Filisteus da modernidade. A penugem da imbecilidade e da edilidade.
E somos todos nós os covardes, quando nas nossas cidades todo mundo tem
medo de transgredir e virar maldito. Maledeto.
Mas que boca bendita será essa que se outorga tanta autoridade?
Ninguém vê que se todo mundo meter o pé na porta a coisa muda? Que se
meter o pé na bunda muda mais? Ninguém vê que se todo mundo jogar a cadeira
no corredor, a coisa muda? Ninguém vê que se todo mundo bater a porta o
professor até aprende português, na marra? Tem diretor d escola que precisa ir
correndo para o asilo. Ultrapassado. Caduco E, com poderes. O Oscar que não
vire na tumba, homessa!
Crônicas Agudas
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Sim, a mentira pós-colonialista nos transforma a todos em 'espectadores
covardes e traidores'. Submissos escravos cheirando a chouriço e afastados de
toda manga que der dor de barriga, coberta de leite.
E, por conseguinte, encontramos realizadores irresponsáveis e sem profundidade
porque medrosos e preguiçosos. Falamos errado na TV e nos orgulhamos disso.
Fisso isso, fisso aquilo. Balançamos a cabeça pra lá e pra cá e vendemos
langerrís até desabarmos dos tapetes mágicos da vida. Fisso isso e aquilo.
Falamos bobagem sem nexo nos discursos e ninguém nota. Produzimos projetos
roubados do grande sábio. Isso, nisso, aquilo, fissio, bissio, lissio, Nilson?... e
por aí vai. Sem contar a pluralidade de prioridades. Sem contar que querem
meter a família inteira na conta da cidade para tomar conta da cidade. E ainda
querem que paguemos impostos. Claro que não. Tem bobo que ri com isso.
Prioridade é o que vem na frente. Quantas indicações seriam de prioridade?
Essa nossa sensação de inferioridade diante do sentimento de superioridade do
colonizador e dos imbecis que se alçam ao poder é maquiavélica. O filósofo
deveria governar? Ou deixar que algum analfabeto se eleve ao poder e dê as
cartas?
Pós-colonialismo é isto, todos os 'inferiores' tontos de prazer diante das luzinhas
coloridas e das super-ferramentas sem alma que não nos servem de nada
historicamente sem a busca da identidade, perdida na globalização.
O que temos aqui são rapidinhas. Não há mais longas relações foederativas...
tudo é rapidinho, sem graça... no sentido do que “já que tem que fazer... faz logo,
se não eu perco o capítulo da novela” : Vou fazer a malhação / malhação /
malhação / Do que deve ser malhado / ser malhado / ser malhado...
parafraseando cantorGILex-ministro.
Estamos andando em círculos há milênios!
Nossa cidade parece andar, rapidamente, para trás. Dobre os milênios. Por quem
os milênios dobram?
Eles dobram por nós.
Crônicas Agudas
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DIÁRIO DE PIRATAS – EXCERPTOS II
- os filibusteiros -
sobre um texto da cineasta Bia Werther
DIA 6 – ONDE A VACA TOSSE E NÃO MUGE MAIS
Chega da discussão superficial... de baixo do Equador não tem pecado,
como bem disse o Chico, cantou o Ney, dançamos nós e, debate bom é o debate
onde se mostra o que se faz. Essa coisa de unanimidade burra já atinge os
píncaros da palhaçada. Dez assinam a Moção (UNANIMIDADE). Valha-me
São Nelson! Muito voto para uma só pessoa (UNANIMIDADE). Tem pelos
menos 700 que acreditam em bobagem. Mas tem mais de 2000 que acreditam em
mais bobagem ainda. E tem gente que foge de debate tentando evitar que as
palavras tropecem na língua. Trôpegas palavras. Ao dicionário, senhor coberto
de honras!
Crônicas Agudas
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Eis a mensagem para as novas gerações pós-ditadura: falar dos 'livres',
que de livres têm o nome, mas, de maneira bem Belchior, e, não mudam nada;
vivem de umbigo, futilidade e uma vida-festa temática, inóspita e cidista – pois o
cidismo foi um movimento de degeneração da raça humana mocoquense, lá isso
foi - esquecem do resto de suas vidas, permanecem com o umbigo virado para a
lua. Mas as pessoas esquecem.
O que será considerado fora de moda por muitos, será considerado fora
de modos por outros. E dentro desta perspectiva cabe ao jornalista, ou ao
escritor, ou ao crítico, alertar, relembrar, retirar do olvido. Aos apedeutas,
escola!!
Para muita gente ‘radicalismo’ é o ato da exigência, pois, proclama-se,
hoje, a quatro costados, a lei do “deixa estar como já está e esquece já!”. Eis a
causa da reação da Veneranda Casa. Deformada será a palavra que vira palavrão
quando o assunto é sério e, 'atitude', quando inserido em roteiro de propaganda
de ‘refri’, bundas de fora e cerveja com seios, onde o cara diz com o dedo na sua
cara que você é um merda se não opta por essa ou aquela marca... a marca dos
tais 'radicais'. Radicais livres. O que nunca há de envelhecer pois já nasce velho.
Tal é a Veneranda Casa. Parece absorver a barba do patrono e se deixa caducar
sem inovações e revoluções.
Preocupam-se com UIS e AIS anacrônicos e tratam de Ilustríssimo aquele
que foi repudiado. Ué! Afinal, é ilustre ou não é?
Dia 7 – NOTÍCIAS DO MUNDO COLONIZADO
Aqui no mundo 'pós-colonialista', brasis e mugangas interioranas, falar
em nacionalismo seria o que? E, municipalismo, seria utopia? O que seria, no
meio desse(a) globo onde a cor é a de todas as fomes amarelouros, idênticas
ilustrações de capa de revista em todos os cantos – cantões chino-capitalistas -
do mundo? Aqui em muganga o explorador posa de construtor. Os discursos
estão invertidos e causam nojo.
Crônicas Agudas
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Cores quentes do maquidonaldis em qualquer cantinho – cantões e
monções e moções que chegam em monções (cadê meu guarda-chuva?) - em
que alguém tenha uma grana (sobrando?) pro fast food de 'atitude'. Atitude
rápida e cheia de gordura.
'Pacífica' convivência com as cores quentes da violência em todo o
recanto onde não há nada além da servidão e violência da vida real, não de filme
de quinta, que isto já tinha antes mesmo de 1961. O ano que virado de cabeça
para baixo, dá no mesmo. Seria uma profecia? Dá no mesmo? Ou qualquer ano
viram de cabeça para baixo?
Depois, tantos outros mortos, décadas passando, o homem 'se libertando'
na grande festa da globalização, o negro urbano americano norte-sul,
por exemplo, que deu tanto orgulho aos revolucionários e radicais do mundo –
radicais livres outra vez? - , assiste pela TV os seus netos
rebolando no machismo; cachorras babaquaras, gritando os nomes das grifes
'globais'; quebrando-barrac-algum, taty nenhuma; bezerrasilbestasambista que
cantam o morro e moram na zona sul e ainda tripudiam, imbecis e sorridentes
timbaladores, sob a benção da suprema imbecil dos imbecis baixinhos – não é à
toa que Romarinho foi enaltecido pelos baba-ovos de plantão do venal e futebol
association. Um enganador que perdeu de 5 do Barcelona em sua despedida de
banheirista internacional. Veio banheirar no Fla. Timbaladores gritam nas letras
das músicas com a mesma sede que um dia seus avós apanharam na rua gritando
'Freedom from Fear'. E haja chicote.
O medo continua, só que agora não tem repressão (?) e daí o mundo é
velado (com véu ou vela), bombado, com tênis de 500 paus.... Até o medo hoje é
fútil.
Quanto quilos de medo tu precisa, mano?
DIA 8 – FUGINDO DA MALTA AGITADA CUJO TIME
PERDEU
Crônicas Agudas
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Até Deus (feito à nossa imagem e semelhança) tem medo, tanto que se
juntou ao Bush (Burning Bush – a Sarça Ardente que Moisés visitou – seria uma
profecia?) e assinou no dinheirodolar que já havia sido emprestado ao Osama
filho de Laden. Viu que mandou um ciclone devastar a 'Bahia' americana e o
falecido Bush só precisou tirar férias e deixá-la esquecida e devastada? Novos
arcanos. De qualquer maneira para que a preocupação se o tal ciclone atingiu
áreas de pura demografia negra? Novos tempos do radicalismo. Basta dar as
costas para as costas, como sugeriu Milton Nascimento. Basta dizer que não viu
e perder o rumo numa estória em quadrinhos em jardim de infância, olhando,
perdido no espaço como Alfred Newman dos EUA ou a família Robinson.
Gosta de novela? Vê novela? Então a marca da besta – 666 - está escrita
na sua testa. Mas não a marca de Caim pois essa marca é a marca dos criadores
da civilização. Filhos de Cain! Cainitas!, aos berros, como berraria o velho
Hermann Hess. Goethe era cainita. Uni-vos! Busquemos a luz, mas a luz da
razão. Nada de frieza meu bem, mas a razão que nos leva a dosar todas as
paixões.
Não acha importante que gerações futuras construam uma identidade e
tenhamos filhos e netos conscientes de seu papel criador, e com e educação e
leitura e cinema e teatro e música?
É isso.
Votos de sucesso, saúde e prosperidade. Boa semana
Crônicas Agudas
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EGO VINDICO
No texto “Considerações sobre o ataque histérico”, 1909, Freud define histeria
"como fantasias traduzidas em linguagem motora, projetadas sobre a motilidade e
figuradas como pantomima". Farei uma ligação com as contumazes e fugazes
REIVINDICAÇÕES que vemos pulular no jornal a cada semana. Em que pese que
hysteros é coisa de mulher, pois útero é, vimos muitas carinhas masculinas sorridentes
ilustrando as REIVINDICAÇÕES, como querendo dizer, um tanto hesitante e lento:
“Olha, gente, quem REIVINDICA, sou eu, tá? Olha como trabalho pela minha cidade!!”
Daí que REIVINDICAR, se mostra como ato a ser homenageado. Conquistar a coisa é
secundário. Mas, reivindicar... Uau (!), dura um ano e após o primeiro natal tudo será
esquecido.
O caso da histeria aponta para o fato de que, mesmo se é referida a algum tipo de
teatro, performance, representação inconsciente, essa específica idéia de representação
está ligada a resultados nulos, exceto à exposição na mídia durante a semana. Uma e outra
REIVINDICAÇÃO dá resultado – para que eu não seja chamado de injusto - como
temos exemplo de vereador local que pediu e levou. Claro que não foi verba advinda
Crônicas Agudas
46
através de algum programa ou planejamento. Foi aquela verba de pires-na-mão. A conta
vem na próxima eleição. Mas, pediu e levou e isso basta para cidades provincianas.
Histeria e Pires me lembra de um certo “PIDONHO”, como ele mesmo se chamava, cujo
espectro rondava a prefeitura d’antanho. Um fantasma no estilo Canterville.
Será a histeria vindicatrix apenas uma experiência feminina de todos os tempos para
presentificar o corpo e seu desejo? A experiência plástica do gozo? Por coisa alguma? Só
para ver sua carinha sorridente dentro de um retângulo pago no jornal?
Abre parênteses: - Para os menos avisados, quando um jornal publica matéria
cercada por fino risco de contorno trata-se de matéria paga, e, não furo de reportagem
importante. Em geral é coisa desimportante paga pelo próprio interessado sorridente.
Fecha parênteses.
Esta histeria da REIVINDICAÇÃO estará ligada a uma depuração do afeto pela
linguagem? Não sei... estou perguntando. Schneider (1992) diz, citando Lacan: trata de
priorizar a linguagem na ordem da natureza e do infra-humano(...) como a linguagem do
sopro e do grito. É até poético. Podia ser dentifrício, também. No entanto, o discurso
psicanalítico acabou privilegiando a interpretação da histeria como teatro da representação
inconsciente recalcada. Assim, também vou reivindicar. Vou na onda. Quero isso e quero
aquilo. Quero desrecalcar. Acho que vou mandar uma REIVINDICAÇÃO a meus
deputados favoritos. Só... Nem, é preciso que façam qualquer coisa... o legal é
reivindicar... Se nada fizerem eu tenho a desculpa: “Aaaaah! Mas eu reivindiquei”. Ego
vindico. Mas há uma interpretação latina para vindicar que significa punição ou vingança,
na verdade, requerer a justiça. Exigir a justiça. Domandar o que é justo. Io domando.
Ouçamos David-Ménard: "Um ataque histérico não se constitui somente como uma
descarga, mas como uma ação que conserva a característica inerente de toda ação: um
modo de se obter prazer." Talvez a descarga de prazer nos fundilhos, ao ver sua carinha no
retângulo das Reivindicações, seja suficiente para a semana. Pode ser. Um ato
masturbatório em retângulo vindicador. Pode ser. Quem sabe?
Subir ao púlpito – ou aparecer com a carinha risonha no retângulo - exibir-se,
mostrar-se, vitrinar-se, é uma conduta ligada ao desejo intelectual ou se reporta à busca de
prazer. Para Ménard é atualização do erotismo com o próprio corpo: o histérico coloca o
objeto do seu desejo como se ele estivesse lá. Fé cênica. Dura Lex sed Lex / ou fed Lex sed
Lex / Durex. Gumex. Sed Ex. Esteja fora. Sai!
Crônicas Agudas
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As experiências de Charcot era com mulheres e elas davam seus espetáculos teatrais
de presentificação de corpo e de prazer. Mas nos retângulos vindicatórios o que vemos é a
prevalência de homens e agregados. Mudou, pois.
O sintoma histérico remete a outra realidade do corpo: o cérebro paralisado não
remete a uma lesão funcional, sendo expressão de um valor afetivo que lhe é conferido.
Isso me deixa preocupado. O Ipê Imperial em frente de casa começou a dar flores e
são brancas? Será que serei punido por contrariar a Tabebuia específica da cidade? Cara,
nem pensei nisso.
Crônicas Agudas
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ELEITORES & ELEITOSOS
Seguindo o bom exemplo do Serapião, vou ao Aurélio, nem ao Sênior nem ao Junior, mas ao
do Meio e leio... Ficção: Ato ou efeito de fingir: fingimento. Coisa imaginária, invenção. Ficcionista:
aquele que faz ficção, escritor, autor.
Muito bem. E, não deixa de ser.
Um dia, numa cidade fictícia, uma história fictícia acontece. Certo Senhor Honrado – um
sujeito muito louro e claro com olhos quase azuis - entra na Casa de Leis de sua cidade,
carregando um importante documento onde se dizia coisas sobre Nepotismo Barato. Crente que
abafava foi, isso sim, abafado por vários edis que ali se encontravam de plantão, edis estes que o
levaram, à socapa (aqui uma nítida influência do Monteiro Lobato), o levaram na astúcia para uma
saleta contígua e deitaram falação na cabeça daquele alourado edil. Dedé, Tutu, Chichi, ao lado da
idílica Mamá e do atabalhoado VemVem - um literato alto, bastos cabelos prateados, dublê de
magister iuris e sonhador – caíram de pau no Honrado Senhor, mandando que calasse aquela boca
que cuspia no prato de pão que o diabo amassou. Que esquecesse a inverossímil presunção. Que
conversa de nepotismo era esse?
Crônicas Agudas
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Ao mesmo tempo, no outro lado do mundo, Gordon Tullock, sobre seu caixote de discursos
dizia: "a nova abordagem começa supondo que os eleitores são muito parecidos com consumidores
e que políticos parecem com mulheres e homens de negócios". Gordon, com o passar dos estudos,
se tornou cético em relação ao valor da teoria da "escolha pública". Apoiando esse pensamento Leif
Lewin, cáustico que era, disse que os pensadores da escola da "escolha pública" "retraíam o ser
político como... um habitante míope das cavernas". E ainda completou: - Isso não é ofensa. É
apenas constatação!
Lewin acreditava que essa coisa toda, eleições e eleitosos, está inteiramente errada: - Pode
ter sido verdade, um dia, na época dos trogloditas, antes que o ser humano “descobrisse o
amanhã, e, aprendesse a fazer cálculos de longo prazo" mas, não agora, em nossos tempos
modernos, quando todos sabemos, ou pelo menos a maioria, tanto eleitores como eleitosos, que
"amanhã nos encontraremos novamente" e, portanto, a credibilidade é "o único recurso valioso do
político".
O caso é que, enquanto a edilidade cobria de pancada o famoso Homem Honrado, neste
nosso lado do mundo, o que se punha em conflito era a atribuição da confiança: a arma mais
zelosamente utilizada pelo eleitor. No entanto, ainda assim ele erra que dói. Para apoiar sua crítica
da teoria da "escolha pública", Lewin citara estudos empíricos que mostram que poucos eleitores
votam pensando em seus próprios bolsos. Não lembram que política atinge o bolso, como já dissera
Brecht, e, a maioria dos eleitores declara que o que guia seu comportamento eleitoral é o estado do
país como um todo. Uau!! Saberão mesmo do que falam? Um país desse tamanho, editado e
conhecido através do JORNAL NACIONAL, apenas, será realmente conhecido em sua totalidade?
Ou na totalidade que aparece no écran cinzento de acordo com os ditames do Capital Global?
Lewin espera isso. O que é que nós poderíamos esperar? Poderíamos esperar resposta e
satisfações das autoridades? Autoridades sem curso superior terão articulação suficiente para
explicar coisas?
Na hora da entrevista a pessoa na rua tenta imitar o que já ouviu e não sai do lugar comum.
Estamos na era do fazer aquilo que o outro quer, portanto, ninguém em sã consciência falará o que
lhe vai pela cabeça. O entrevistado da rua dirá o que agrade ao entrevistador, mesmo por que será
editado depois. E, o que são os entrevistadores senão jornalistas formados e formatados para
agradar ao chefe? Os eleitores entrevistados acham que se espera deles, apenas, que digam o
adequado, e nada mais.
Sugiro que Dedé, Tutu, Chichi, Mamá (hoje, devidamente defenestrada) e VemVem (poeteiro
dos quatro costados), se considerarmos a notória disparidade entre o que fazemos e o como
narramos nossas ações, comecem a explicar por que o Honrado Senhor não pode falar nada sobre
Crônicas Agudas
50
Nepotismo e é, despudoramente, censurado em suas idéias. É mais simples do que conspirações
comezinhas de fundo de sala.
Mas, nada disso existe. É tudo ficção e temos que acreditar que tais personagens inventadas
pela mente insana do ficcionista não passam de fantasmas, abantesmas, espectros ficcionais sem
serventia. Nem um deles cheira à mínima verdade.
Mas, como eu disse: Tudo é ficção. Fingimento. A verdade é que às vezes eu minto.
Crônicas Agudas
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O ANALFABETO FUNCIONAL
O Analfabetismo Funcional é problema que afeta o país. Sabem ler, escrever e
contar, ou assim parece; ocupam cargos administrativos, cargos legislativos, transformam-
se em excelências e edis de roupa nova, mas não conseguem compreender a palavra
escrita. Um texto passa batido e a interpretação é coisa do arco-da-velha ou da arca-do-
velho. Nada de tapar o sol com a peneira. Queremos gente com discernimento.
Bons livros, artigos e crônicas, nem pensar! E, sendo assim, como escrever boas e
inteligentes leis? Como interpretar escorreitamente uma lei? Não basta citar Platão com
frases escolhidas na net. Isso demonstra o descaso com a educação. É fazer mofa.
Em 2008 houve eleições para prefeitos e vereadores: casos de analfabetismo
funcional dentre os candidatos. Será a vez da cidadania se manter vigilante e atenta para o
nível dos políticos que ocupam prefeituras e casas legislativas. Para mais detalhes sobre
esta importante alteração na legislação eleitoral, visite www.avozdocidadao.com.br e veja
o link para a íntegra do parecer que decidiu pela constitucionalidade do projeto. Aí
evitaremos o que finge entender tudo, para depois sair perguntando aos outros como deve
Crônicas Agudas
52
ser realizado tal serviço, como deve ser lida tal lei, como deve ser endereçado tal carta. E
quase sempre age por tentativa e erro.
Calcula-se que, no Brasil, os analfabetos funcionais são 45% da população
economicamente ativa. No mundo entre 800 e 900 milhões. Muitas vezes, pessoas com
menos de quatro anos de escolarização; nos dias hoje há secundarista que dá medo de tanta
parvoíce; há os com formação universitária e exercendo funções-chave em empresas e
instituições, tanto privadas quanto públicas! Tais pessoas não têm as habilidades de leitura
compreensiva, escrita e cálculo para fazer frente às necessidades de profissionalização e
tampouco da vida sócio-cultural. E quanto a lidar com leis e diretrizes que influenciam na
vida de todas as pessoas da cidade? Ou será que a limitação é proposital para facilitar a
influencia, somente, na sua própria vida? Quem sabe? Se você não lê livro algum no ano
inteiro já é um suspeito. O "Calcanhar de Aquiles" de tantas organizações e de tantos
governos: MAUS LEGISLADORES.
O que a população ganha com isso? Nada! Principalmente se der as costas ao
problema. Se você é desses que aceita o caso passivamente, não há do que reclamar.
O termo analfabetismo: a incapacidade de pessoas utilizarem a leitura e a escrita,
além de realizar cálculos básicos, em atividades da vida diária que requerem tais
habilidades. Estudiosos têm dirigido esforços para estabelecer conjuntos de tarefas
socialmente relevantes em que se utiliza material escrito e, a partir deles, dimensionar e
analisar graus e tipos de “alfabetismo” que caracterizam pessoas ou grupos.
A partir de 1978, a UNESCO adotou o conceito de analfabetismo funcional, que se
refere à pessoa que, mesmo sabendo ler e escrever algo simples, não tem as competências e
disposições necessárias para fazer da leitura e da escrita um dos instrumentos de seu
desenvolvimento pessoal e profissional. Ora, sabemos bem que uma casa de Leis depende
disso. E se tem uma e outra pessoa que domina a arte, ou mesmo um secretario capaz, fica
clara a dependência da mão do gato. Quem é mais esclarecido impõe o seu poder e seu
domínio. Por isso, dá até para contar nos dedos quem domina e quem ajoelha.
Nas eleições de 2006, havia 770 candidatos que sabiam apenas ler e escrever ou
tinham ensino fundamental incompleto, ou seja, que poderiam se enquadrar nas condições
de analfabeto funcional. Eram 4 para governador, 3 para senador, 179 para deputado
federal e 584 para deputado estadual ou distrital. Quando o candidato não sabe interpretar
o que lê não sabe, ao certo, o que vai no estatuto de seu partido.
Mas, como comprovar o nível de escolaridade de um candidato sob suspeita?
Atualmente, a alfabetização do candidato é provada por uma simples certidão. Com a
Crônicas Agudas
53
regulamentação, o juiz eleitoral poderá impugnar ou não uma candidatura através do laudo
de uma comissão formada por pedagogos e professores de matemática e português que
sabatinará o candidato.
E aí? Tremeram na base? Se as pessoas fazem curso de noivo para casamento por
que é que o candidato não precisa passar por uma sabatina prévia? A partir daí, se for
ocaso, nem precisa se candidatar. Poupará seu dinheirinho. Poupará o ouvido alheio e as
casas legisladoras serão mais independentes.
É isso. Boa semana. Ouçam as gravações das sessões da Câmara de sua cidade e
atentem para as pérolas oratoriais.
O ATOR E O RETORNO DA MORTE
______________________________________________________________________
Instala-se (Freud) o conceito de pulsões. Pulsão de vida e pulsão de morte. Conceitos de
origem nos campos do id – inconsciente – e se projetam ao longo da vida. Platão já dizia
que Filosofia é uma preparação para a morte. A morte física? A morte com superação de
etapas? A preparação para a morte do entendimento sensível (daquilo que se sente
materialmente, tato e similares)? A entrada no campo metafísico ( o que vai além da física
ou do físico – oi conceito de quanta será metafísico)? Mas Platão não gostava de teatro por
não ter entendido o sentido da representação. Teorizou muito sobre música e já dizia que
para dominar um povo basta dominar sua música. A partir dessa frase platônica, O que
pensar da música – ou atitudes - importadas? Qualquer uma: rock, hiphop, sinfônicos
alemães, óperas italianas... Teria que esperar Freud.
Essa morte prevista não é aquela dos filmes de terror nem das dos desenhos animados em
qe uma panelada na testa desmonta a pessoa – personagem – para remontá-la logo em
seguida. Trata-se do caminho natural de um corpo que tem história de começo/meio/fim, e,
se direciona para este fim desde que nasce. A pulsão que busca o retorno à Natureza é
Crônicas Agudas
54
TANATOS. Tanatos é idealização daquilo que é inarticulável em linguagem... daquilo que
não dá para falar... O corpo humano que nasce/vive/morre busca voltar ao pó...
homem/húmus/humanus/manus/mão/artífice... barro (aglomerado de átomos) de onde
partiu aquele ser biológico que age e não pensa na conseqüência, fingindo que pensa. A
propaganda da TV afirma que ele pensa e este humano acredita nisso piamente, mas,
depois da panelada o ser humano desarticula sua memória.
O corpo biológico nascido de genótipo se torna fenótipo (que é a relação com mo meio
ambiente), depois, ser social que interage com a civilização construída. Este corpo vai
também construir a sua parte na civilização (mesmo que seja destruir). Interfere na
civilização que herda ao nascer. Daí o mal-estar na civilização; inserir-se neste contexto
não demandado mas, obrigatório ao nascer, não demandado, repito, é abdicar do estado
natural segundo Rousseau. Sair do estado natural para um não-natural – civilização / kultur
- é de negar seus mais escondidos desejos; é ser civilizado e cair num estado de mal-estar
constante. Nostalgia do nada. Tristeza por coisa alguma. Bachianas nº2. Rebeldia sem
causa. Ter saudade do momento que não viveu.
Assim subamos ao palco para reviver? Re-presentemos ou seja, colocamos de volta no
presente aquilo que nos tocou? Lázaro redivivo? Quando Lázaro saiu da cova fedia à
morte ou lavanda?
Ainda Freud: do binômio civilização-renúncia pulsional, como forma de constituição do
laço social, diria respeito a uma forma universal de cultura; a defesa da concepção de
cultura marcada pelo projeto iluminista-humanista do domínio da natureza pela razão;
trata-se de falácia gigantesca, pois, enquanto o ser humano interfere na natureza
(eufemismo para CONTROLA a natureza ) o ser humano altera seu status na própria
Natureza, excluindo-se como item do equilíbrio ecológico. O ser humano é alienígena em
seu próprio planeta ou será só alienígena?
O retorno ao estado natural do mundo será através da eliminação do ser humano como
corpo estranho que causa a infecção. Deve ser extirpado.
O mundo é palco. A cultura é uma peça que se desenvolve nesse palco. Há muito
improviso. Tem muita gente que nem percebe que atua.
Todas as observações acima se calam quando se recebe muito bem e se trabalha na Rede
Bobo.
Quando atriz/ator irrompem no palco acabam por negar a pulsão de morte e revitalizam,
através da personagem, a existência de uma nova história a ser contada, de uma nova bio,
de uma nova zoe. Atriz/Ator rompem com o ciclo que leva à morte e rasgam o véu da
Crônicas Agudas
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neurose, desencadeando a catarse que se quer. A ficha que cai. A idéia que se propaga. A
sensação de Eureka. Mas, apenas sensação.
Dois conceitos ainda a serem pensados e trabalhados: Antiédipo: quando a mulher assume
seus papéis (que não fazia no começo do teatro) / e fim da pulsão de morte, mesmo que
sobre o palco.
No palco negamos a morte e consideramos o eterno repetir. No entanto a cortina se fecha
no final, mas se abre no momento seguinte. As cenas querem repetir o quotidiano ou o fato
ou o evento, mas sempre repetir e por si só repete o mesmo de si, a cada dia de
apresentação. No entanto, a cada dia de apresentação o repetido não é tão o mesmo. Tem
pequenas mudanças.
Há na música minimalista tensões desse tipo. Pequenas células musicais que se organizam
e mudam sempre; sempre alterando algo no ritmo, na ordem, na posição ou ainda no
instrumento que toca o trecho. Se forem vários instrumentos teremos universalidade de
informações.
Bob Wilson usa tal recurso em seu balé no teatro. Uma única coreografia que todos
aprendem. Mas, como cada um dos cinqüenta executantes a realiza em momento diferente
e em posição geográfica muito variada, iluminado por luzes diferentes a realização se
torna caleidoscópica e multiplica a visualização com pequeno esforço. Sentimos que tudo
é diferente.
Atriz/Ator repetem sua cena a cada dia. A cada dia a mesma cena muda. Um trejeito ali.
Mudança no passo. Na velocidade da fala. A cada dia quem a vê a vê diferente, por ela
(pela cena) e por si mesmo (pessoa pensante). A pessoa que vê a cena ganha, a cada dia,
mais conteúdos e seu olhar muda sobre a cena. A repetição se dá dentro do episódio do
acaso. A cena realinha os conteúdos da pessoa/platéia.
A peça civilizatória, ou o papel que a sociedade impõe e que a população assume é mal
teatro. As peças sobre o palco tentam organizar a civilização, não com o fito de controlar a
civilização, mas com interesse de esclarecer ou iluminar pontos – AUFKLARUNG.
Quando a platéia se emociona é por que percebe que mal decorou o texto ou que mal
improvisou, sempre fora do tempo ou do sentido. Começa que o DRAMA é o movimento
da coisa e as pessoas se limitam a permanecer sentadas, imóveis, absorvendo sem
participar. É a tradição reinstalada.
Crônicas Agudas
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O PROCESSO DE IMBECILIZAÇÃO - ou, LIVRE ARBÍTRIO ZERO –
Leitores: Seguem links que recebi do Murah Azevedo sobre o programa da BBC
de Londres (sem legenda) chamado The Century Of The Self. Vale a pena conferir. Ou
melhor, não há pena nem dor alguma. É um prazer saber que algumas pessoas continuam
com a razão e pensam por si, enquanto outras penam por si.
Happiness Machines http://www.youtube.com/watch?v=3dA89CBBOC0 / The
Engineering… http://www.youtube.com/watch?v=H9RfanOEpA0&feature=related / There
is a Policeman http://www.youtube.com/watch?v=AzE9ocIGVlQ&feature=related / Eight
People...http://www.youtube.com/watch?v=R1VJrp0IvPs&feature=related.
Tratam de séries da BBC que revelam como o sobrinho de Freud (Edward Bernays)
usou as idéias, e, técnicas do titio para se tornar milionário como Public Relations. PR do
planeta, e, das grandes corporações, usando a manipulação da mídia estadunidense no
início do século XX para, em nome da "DEMOCRACIA" controlar as massas, tornando a
todos "Homer Simpsons ictéricos e decadentes"; pessoas consumistas de lixo material e
imaterial de então e, por conseqüência do processo, de hoje... Bernays cunhou o termo
PUBLIC RELATIONS porque o verdadeiro e apropriado termo "PROPAGANDA" já
Crônicas Agudas
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estava queimado pelos Nazistas e foi, então, usado, no velho continente, como idéia
original.
Goebbels apreciava muito a "obra" de Edward Bernays... Será Bernays o pai da
moderna Sociedade do Espetáculo? O último episódio da série explica como só deu e só
vai dar “coisa muito ruim” no casamento entre técnica publicitária e técnica política. Na
opinião de Murah, o mais bonito de tudo é que fica claro que - apesar da “coisa ruim” ser
grande - o processo de imbecilização proposital é reversível... trabalho complexo e
demorado, mas reversível... se assim o quiserem. Rápido antes que tirem da rede de
novo!!! Uma das armas para a reversibilidade é o estudo da Filosofia.
Aliás, com amplas técnicas publicitárias e de insinuação já proferidas por Marx no
pensamento sobre o fetichismo – ou feiticismo – processo em que a pessoa se torna
enfeitiçada, mesmerizada, emzumbizada, enfim, tais pessoas, ou coletividades, ou povos –
enfrentando outro processo que é o de síndrome do bando (evidente na adolescência ) e
entre animais, repito, tais pessoas / coletivos / povos / tendem a seguir o caminho do grupo,
assim configurando o modismo. A COISA vale mais do que a PESSOA. Maria vai com as
outras. Fazer o que todo mundo faz para ficar “IN”. Eleições são assim forjadas.
O livre arbítrio desaparece, se é que um dia houve.
Todo pensamento, idéia, arte, expressão, que não ‘vai na onda’ é tomado como
espúrio e perigoso pela massa e autoridades que não pensam – em geral o geral - pois
estão hipnotizadas e querem agradar o chefe, o pastor, o padre, o líder... É nesse momento
que surgem certos ídolos construídos à força. É até fácil, pois, a fila dos candidatos a ídolo
é muito grande. Muita gente já se preocupa com a ventura, a riqueza, a influência, o
prestígio - com ou sem coco – de ser famoso e já se preocupar em se endeusar começando
por um e-mail@globo.com, que é para ficar bem perto no Olimpo da Vênus Platinada.
A TV é essa vitrine. E, nas vitrines só temos produto para venda. Comércio. Há
quem diga que sem essa competição – que é o MUST dos americanos – não existe
progresso. Temos que rever o significado de PROGRESSO. Para o americano o segundo
lugar é o primeiro dos perdedores. Eles têm que ganhar tudo e o tempo todo e não querem
nem saber como. Partem para os doppings e anabolizantes. Ai até eu. Quando começam a
perceber que descobrirão o engodo os americanos saem da competição, escrevem um livro
e ganham mais 5 milhões de dólares. DAS CAPITAL funciona adequadamente nessas
terras em que Deus está no dinheiro e nele crê. Tanto que no dólar já mudarão a frase para
‘EM DEUS o TRUSTE’ (monopólios e acordo de confiança em que os grandes
manipulam as rodadas, e, a freqüência com que o povo deve comprar produtos, mesmo que
Crônicas Agudas
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não os queiram). Esta é a fonte do Livre Arbítrio. Comprar o que não quer. Seguir o
caminho que não deseja. Ver o filme que não diz nada. Comer o alimento que botarem á
mesa e por aí vai. E, ainda, dizer que é sua opinião e sua personalidade que assim
comandam.
Creio que um líder religioso correto deverá esclarecer seus fiéis de que não deve
dar dinheiro para igreja alguma, pois Jesus não pedia dinheiro algum. O que acontece é o
contrário: os lideres religiosos, como porta-vozes da metrópole, são Public Relations da
Divindade e fazem com que o povaréu fiel arque com as responsabilidades de financiar EL
PARAISO.
Crônicas Agudas
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PANOPTICON & TABEBUIAS Coelho De Moraes
Drummond disse que a pior coisa que podia acontecer seria participar de
um concurso de poesia e vencer. Você nunca sabe se deve se orgulhar ou odiar,
pois, quem são – enfim - as pessoas que entregam tal prêmio ao poeta?
Melhores ou piores ou frustrados poetas? Fazer poemas e julgar, fazer poemas e
julgar... esse o caminho para o Inferno, dizi de outra maneira o Gil. O Vicente.
Também... ninguém mandou participar do tal concurso... essa é que é a verdade.
Que dizer de uma Moção de Repúdio com 10 assinaturas. Uau! Nelson
Rodrigues tem uma boa frase sobre unanimidades.
Recebi, recentemente, u’a Moção de Repúdio. Pensei que viesse escrita do
próprio punho de cada um dos 10 signatários, pois, eu provaria minha tese, mas,
não veio. Veio oficial com números e protocolos. Enfim, uma belezura. Não sei
o que significa. Se o escritor – cuja função é escrever – receberá Moções de
Crônicas Agudas
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Repúdio caso o escrito “ofender” alguém, alguma coisa, entidade ou alguma
turba exaltada, o escritor não escreverá mais. Santo Voltaire. E a ofensa foi
interpretada segundo quem? Acontece que estão todos – autoridades, de
preferência - acostumados a falar – qualquer coisa - sem contraposição.
Heranças da ditadura. Sem olhar para o dicionário peço que definam Moção. À
queima roupa. A cidade terá uma surpresa. Tartamudeios e tatibitates. Não vale
pedir arrego para o secretário da Veneranda Casa.
Podemos dizer que se rolar a bola eu chuto. E as bolas vivem a rolar.
As pérolas brotam e florescem, agora, na forma de árvores. Tem assunto
que se deve levar ao público sempre. É o caso da tal Árvore Símbolo? Já
definiram o Santo Símbolo sem pedir opinião para ninguém, havendo até uma
entidade Franciscana na cidade. E tem aqueles que nem querem saber de santo
algum. No entanto, o Santo eleito foi outro. E é Santa. A cidade não deu
opinião. Ipês: (pena) não temos ipês amarelos. Um ou outro. Há mais ipês
brancos do que amarelos. A praça do mercado tem muito ipê branco. Bonitos.
Eu mesmo plantei um – branco – em frente à minha casa. Só espero que a
Câmara não ache que estou desfazendo de alguma determinação e, que seja
sempre do contra. Agora, tem muita murta florescente e perfumada em Mococa.
Aliás, em alguns bairros elas caracterizam o passeio com aroma e lembranças.
Por que não MURTA? Por causa dos cítricos? Aliás, deixe-me entrar em detalhes
de ordem político-partidária, o vereador fará aquilo – leis e projetos - que o
partido ao qual ele pertence quiser ou determinar em seu conjunto, passando por
reuniões e debates. O vereador tem a obrigação de defender no partido as leis e
projetos que pretende levar à Câmara, para ver se vai mesmo ou não. Não é o
vereador quem determina isso. Está aí mais um erro de representatividade. O
mandato é do partido e não do vereador, lembram-se? Tem mais: O vereador –
de qualquer partido - deve participar das reuniões partidárias. É obrigatório. É
ético. Uma vez eleitos não se tornam independentes. E, pode acontecer, então,
Crônicas Agudas
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de ter que votar em determinações que não são da sua própria opinião. Nada
mais evidente.
Outra pérola: TUCA deseja um PANOPTICON sobre as cabeças. Em
Ribeirão, numa enquete, a população detestou a mesma idéia. TUCA quer
legislar sobre segurança truculenta. Deseja convocar autoridades, empresários e
policias para resolverem o problema. TUCA quer montar torres de vídeos.
Deseja controlar e punir. Nossa(!), que coisa antiga. Estudiosos mundiais
determinam tal pensamento como um pensamento de retrocesso. Valha-me São
Foucault!! Haverá vídeo dentro da Câmara? Quando votam, os vereadores votam
em aberto ou terá, no futuro, seção secreta em que ninguém saberá da origem
dos votos? Vídeo e áudio desligados? Não é a mesma coisa? Convoque-se a
população. Eu, por exemplo, não quero câmeras pelas ruas. Sou contra. A
solução não é por aí. A questão da segurança se resolve com educação e
empregos. Sempre assim e nunca aplicado, convenientemente. Todos, em
estudando e trabalhando, não terão tempo – ou diminui – o tempo para
traquinagens. E, isso é um processo, um acesso. Leva anos. Instalar GRANDES
OLHOS IRMÃOS que nos observem andando pela rua ou na entrada da cidade?
Qual entrada? Todas? Tem umas cinco. Quem observará? Tem resultado
comprovado? Prefiro a educação, a meu ver a única saída. Custa? Sim... A
educação custa mas dura mais, mas, o PANOPTICON também custa. E caro.
Mais fácil será a disseminação cultural e educacional, ações conjuntas, para
diminuir o caos, e, nunca o CONTROLE BIG GLOBAL BROTHER. Ações
assim são germens da arquitetura da destruição. Vamos aproveitar que a cidade
ainda é pequena e promover diretrizes e não punições. Em NY há milícias
populares em rodízio. Assista e leia 1984 e veja no que dá. Por que o vereador
deseja olhar pelo buraco da fechadura? Não sei. Acho que andam vendo muita
TV.
Crônicas Agudas
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Estou no positivo. Já recebi duas moções – uma negativa e uma positiva –
e um diploma de honra ao mérito, de quebra. O saldo é positivo mesmo. Quem
recebeu tanto?
Ah! Em tempo. Sessão na câmara às segundas, 20 horas. Vá e constate.
Mas há gravações e pautas do que aconteceu na segunda e jazem arquivadas. Se
não puder ir por que trabalha – saibam os egrégios que muito professor trabalha
à noite e nem sempre na mesma cidade – acesse sites, gravações, leia jornais da
cidade e pautas. Dá no mesmo.
Boa semana. Vida longa e prosperidade. Cuidado com o olho grande!
Crônicas Agudas
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POBRE POBRE PATRIMÔNIO
O patrimônio Cultural de Mococa parece que vai para o brejo. A começar
pelo Teatro Municipal e finalizando pelo Museu de Arte Sacra. Sem contar peças
e objetos que deveriam ocupar tais espaços. Sem contar a biblioteca que vem se
desmanchando – e salvo qualquer milagre neste último final de semana – alguns
pedaços da biblioteca se desprendem. Mas quem é que deve responder por tudo
isso? Não sei. O cargo está vago.
Verifiquei pessoalmente o estado da nossa casa de livros e dá pena. Uma
das maiores casas da região e, das mais antigas, sempre é deixada de lado. É por
essas e por outras que concluímos que Fazer Cultural não passa de palavras
jogadas ao vento. Se não fosse pelo trabalho da Edna, da Dulce, da Izabel, da
Rogéria e da Regina aquele espaço teria fechado suas portas e seriam abertas as
salas da burrice crônica. E olha que já passou por várias e inúteis reformas.
Livros espalhados, livros fora de estantes, sujeira, destruição. Mococa é uma
Crônicas Agudas
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cidade que não sabe fazer reformas. Nenhuma delas dá certo. O que será?
Carência de material? Ele desaparece no meio da reforma? No último
governo/desastre, por exemplo, foram tapar goteiras e acabaram danificando
outras coisas. E, olha que demorou para que alguém se mexesse. Hoje a foto está
aí para mostrar a magnitude do desmazelo.
Tem mais.
Na última vez que o Teatro Municipal esteve aberto eu fui ao piano de
cauda e constatei que a reforma lá deles manteve as quedas livres de água. A
região central do teclado do piano está grudada monobloco por que a água
inchou cada tecla. Entrou água no piano. Como no governo/desastre dos
últimos 8 anos não havia responsável algum de plantão, a bola passou para o
atual governo. Um piano de 30 milhas destruindo-se lentamente e a Diretoria de
Cultura nem aí com isso – dando de ombros. Da reforma nem se fale. Trocaram
alhos por bugalhos e cós com as calças e o gato por lebre. Eu me disponibilizo a
fazer um concerto que arrecade algum recurso para consertar o que deve ser
consertado. Em breve teremos notícias dessa empreitada.
Livros e instrumentos musicais. E refletores e espelhos de refletores.
Houve conferência do patrimônio que saia de um governo para entrar no outro?
Há alguma lista que comprove qual é o patrimônio cultural da cidade? As peças
de arte sacra estão bem guardadas? Dentro das normas de preservação? O
acervo do museu de Artes Plásticas que a Câmara anterior – sempre a Câmara –
fez transportar pelas ruas, está em situação adequada nas condições normativas
de temperatura e pressão? E as esculturas do Brunão? Onde estão se não
expostas aos nossos olhos aprendizes?
Lá vai uma sugestão: Entrando-se pela porta da rua do gabinete tornamos
à esquerda e lá vemos duas portas. Uma – á direita - já ocupada há muito com
sua rotina determinada e uma segunda, em frente, dá entrada para um
departamento. Lá temos duas saletas. A primeira pequena e imediata servirá para
as pessoas e computadores e atendimento. A segunda, que tem uma mesa à
Crônicas Agudas
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esquerda, deve servir para expor as obras do Giorgi fazendo, daquele nicho, a
sala Bruno Giorgi, já que não tem outra serventia. O IPHAM que não nos ouça.
Boa semana. Visitem os museus. Constatem os estados físicos, fotografem
e mandem para os jornais. Vamos mostrar o que se dilui bem na nossa cara.
Crônicas Agudas
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PORQUE FAZER TEATRO OU CINEMA?
Livres e bem educados, os artistas abaixo fazem parte do TPM – Teatro Popular de Mococa Rogério
Cardoso, e trafegam no cinema com várias obras de fácil acesso no YouTube. Apesar de muita gente
fingir que esquece, o TPM existe e trabalga desde 1997, sem, parar. Em termos de teatro amador já
gerou profissionais. Dentre milhares de obras em vídeo, no YouTube, produzidas em Mococa, dentre
formaturas, brincadeira e coisa séria, 10% é produção nossa – INDÚSTRIA DO VÍDEO &
CINEMAFATEC. Portanto, fazemos a diferença. Basta olhar.
RAFAEL DE SOUZA: Pode parecer que um adolescente de 17 anos
como eu não se importe muito com os problemas sociais, diga-se de
passagem, mas particularmente acho que o TEATRO e o CINEMA
servem como uma grande base para as mudanças na sociedade atual.
E é claro que quanto mais peças e mais filmes nós produzirmos, maior fica a chance de cutucarmos
a mente das pessoas. (ator, estuda na Eletrô em vários períodos).
Crônicas Agudas
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KARINA PEREIRA: O porque de fazer teatro e cinema nem se precisa de uma resposta: basta ver no
rosto de cada ator quando é aplaudido no palco ou reconhecido por amigos e
profissionais e assim, destacado em jornais, reportagens, sites, escolas... não basta
ter vontade de fazer para isso ocorrer, tem que ter dedicação, amor pelo que faz e
confiança, pois você já estará fazendo o seu futuro, e dessa forma, você também
mudará a cabeça de muitas pessoas, fazendo-as pensar e ver o que REALMENTE
acontece ao nosso redor, e se cada ator fizer sua parte, poderemos fazer a cultura
voltar novamente a nossa cidade, transformando-a em lazer para todas as idades, e deixando de lado
essa moda contagiosa de aparelhos eletrônicos e a preguiça de realmente ver e participar da cultura de
nosso país ! (atriz, estuda na Eletrô).
MARIA AUGUSTA: A arte por si só é inteira.
Sendo a arte a exteriorização do sentimento, posso encontrar a
oportunidade de expressar as mais variadas vivencias, romper
barreiras, preconceitos, trabalhar a timidez, disciplinar-me
emocionalmente e maior de todas as conquistas: encontrar o
próprio "eu". A arte aguça a mente, provoca desafios e nos dá a possibilidade de exercitar a criatividade,
até então adormecida. (direto de Monte Santo de Minas)
ALAN BALBINO: Na minha opinião, bem como na minha situação, acredito ser
uma possibilidade de ser eu mesmo, de uma forma que a sociedade não
reconheceria. Ter a possibilidade de, através dos vários personagens
interpretados, ser algo mais do que a civilização moderna suportaria, ou seja,
poder ser, ter, e fazer o que quiser sem ser tachado, denominado como louco,
esquisito, enfim, anormal. Mas no meu caso, não deu muito certo. Só passei a ser normal, depois de
iniciar nas artes cênicas - efeito reverso. Acho que é isso. (ator)
ROSE TOMÉ: Por que [teatro] tem essa liberdade de te levar aos mais
variados pontos do “eu”. Faz você enxergar coisas até então
desconhecidas. Ensina, na prática, sem teorias banais e ensinamentos
patéticos. É vivo... faz viver. Muitas vezes faz cair a máscara da platéia
que reage conforme suas afeições ao sentir que aquilo que foi dito sem
nenhuma vergonha, em cima do palco, é aquilo que ela tenta ocultar
de si mesma. Ver tudo isso acontecer na sua frente é emocionante. A
Crônicas Agudas
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arte é verdadeira; expressa em suas mais variadas formas o mais oculto dos sentimentos do ser
humano. Gera conflitos, revoluciona, agride de forma intelectual, existe desde que a humanidade
existe... não quero ser radical mas artista é um ser aparte. (atriz, entrevista ao AKULTURA de 2003).
É isso. Boa semana, vida longa e prosperidade.
Crônicas Agudas
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UMA CRÍTICA SOBRE TROIA
Segundo os créditos, Tróia, o Filme, foi baseado na obra de Homero “A Ilíada”. Tróia é Ílion. Vemos
claramente que é um filme de baixo orçamento, podendo facilmente ser classificado como Filme B.
Diversão para a sessão da tarde. Filme simplório, dotado de texto básico e fútil, bem ao estilo
Hollywood, apesar de algumas mensagens (torpedos?) na direção do velho e falecido Bush, como
quando Aquiles fala para Agamêmnon de que um dia viria em que os Reis lutariam, por si mesmos,
suas próprias guerras.
Não se encontra isso em Homero. E, o Peleu, falou de bobeira pois nunca vai acontecer. Já foi.
Meio faroeste é a cena em que Heitor manda que os exércitos levem seus mortos e o ajudante
pergunta: “Será que fariam o mesmo conosco?”. A cara que Heitor faz – bom moço - leva-me a
pensar que poderia ter dito: “ E eu sei lá? Acho que não. Esses gregos são tão maus.”
As liberdades em relação à obra de Homero são várias e gritantes e aborrecidas. O livro original
tem tanta violência e sangue e aventura que já basta. Dá bem para um filme de aventuras e nesse
sentido é perfeito – e para isso nem seria necessário que o autor se servisse da obra do poeta
cego. Inventaria outra, no mesmo molde e estilo, como tantas já existentes. Talvez pretendesse
Crônicas Agudas
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uma justificativa intelectual para a obra. Mas, a cada canto – ou capítulo - Homero também é
chegado a ganchos, como nas novelas.
Por que subtrair Cassandra – a profetisa – se ela tem mais “panache”, maior carisma, pela mocinha
Briseida? Além disso Cassandra é a mulher que tem tino para aconselhar que não levassem o tal
cavalo para dentro da cidade. Quem, em sã consciência, vendo um cavalo de pau parado em frente
à sua casa o pega e o leva para dentro, sem mais nem menos? E, olha que os Troianos achavam
a Cassandra meio amalucada.
Por que suprimir o sacrifício de Ifigênia – filha de Agamêmnon – sacrifício ordenado pelo próprio pai
para aplacar a ira dos deuses e garantir vento para a gigantesca esquadra? Se mantivessem a
cena do sacrifício, Agamêmnon se tornaria aos olhos do público como um terrível e sanguinário
general, elevando o grau de horror em relação à ele. E todos torceríamos para que morresse no
final. Mas, Agamêmnon é muito respeitado pelos seus seguidores. Só não topa muito o Aquiles
Peleu, rapaz independente e arisco. E eu me pergunto: “Agamêmnon? Pra que a pressa? Ílion não
sairia do lugar, mesmo”. Seria melhor diminuir o número de batalhas ou mesmo a cena do treino
entre Aquiles e o íntimo primo e investir na cegueira política de Agamêmnon.
Tirante o salário do Brad Pitt, que foi alto, vemos que tudo foi filmado em locação, numa praia, sem
maiores adornos e construções além daquele já ruinoso templo a Apolo. O resto – a multiplicação
de soldados e as construções em imagens virtuais, provavelmente, é hoje, um produto muito barato
na indústria cinematográfica americana. A maior parte do orçamento, com certeza, estava
relacionada com o processo de distribuição e divulgação do Filme Tróia.
Um argumento usado pelos críticos era de que a ação se focalizava nos humanos, eliminando a
participação dos deuses. Puro engano. Ledo e Ivo engano. Os deuses, na Ilíada de Homero, são
virtudes e qualidades que os humanos tomam para si a cada momento. Nada mais. Hoje em dia
fazemos o mesmo quando dizemos: “Ele escapou do acidente por um triz. Graças a São Cristóvão,
nada lhe aconteceu!”. Da mesma forma os gregos já o faziam. Quando Paris – também chamado de
divino Alexandre - luta com Menelau, filho de Atreu e aluno de Apolo, Menelau o toma pelo
capacete e o rapaz escapa por que a fita de couro arrebenta. No texto de Homero aparece como se
Atena arrebentasse a tal fita. “Graças a Atena!”
Como ninguém acreditaria que Aquiles, – o de pés rápidos, pois corria muito -, morreu com uma
flechada no calcanhar, arranjaram um jeito de encher o peito do herói com outras flechas, deixando
de lado o fato de que Aquiles só era mortal no calcanhar por causa de uma proteção recebida dos
deuses, durante banho na fonte sagrada. A culpa foi da mãe, que o segurou pelo calcanhar,
enquanto o banhava. E que azar do rapaz me tomar uma flechada justo ali. Esses deuses! Esses
banhos sagrados! Essas mães!
Crônicas Agudas
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Para a façanha da flechada trouxeram Páris - o antigo elfo do Senhor dos Anéis – já tarimbado
nessas lides de arco e flecha para desferir o tal dardo letal que ninguém sabe mesmo de onde veio.
Veio de alhures.
Não contente com o resultado, o roteirista do filme elimina Agamêmnon no final, como se fosse um
pobre rei babão qualquer, quando tenta agarrar a mocinha. Acontece que com esse “grand finale” o
diretor de Tróia extermina com o resto da mitologia e, por conseguinte, das obras para o Teatro
Grego. Sim, pois, no original Agamêmnon vence Tróia e retorna para suas terras, leva consigo
Cassandra como espolio de guerra, e, lá, ele será, então, assassinado pela sua esposa infiel e o fiel
amante Egisto. Ela, vingando a morte da filha Ifigênia, e, o outro pegando carona no poder. Para
vingar essa morte do pai – não a do filme – Orestes, o outro filho, retorna do exílio, e por aí vai, pois
já é uma outra história.
O filme é fraco. Uma aventura fraca. O texto é banal e tem coisas do tipo “Vamos fugir juntos de
Tróia, meu amor”. Só faltava dizer: “... e fundaremos Roma”.
Da mesma forma, as cenas de nudez – veladas por sombras e noites - são inúteis e podem estar
ali como não. Tão rápidas e furtivas que os atores levaram mais tempo tirando a roupa do que
gravando.
Na verdade, ou no sonho de Homero – a guerra de Tróia não dura dois dias. Dura dez anos, e,
aquilo que vemos na telona corresponde ao décimo ano da guerra. Esse longo tempo é dramático,
em si mesmo, onde teremos sítio, fome, doenças, desesperos, saudades da terra natal e outras
emoções que não passaram pela óptica dos autores de Tróia, o filme.
Há que se sublinhar a inexistência da Grécia, naquele tempo. Temos sim uma Liga do Peloponeso.
Temos atreus, argivos, micenenses, beócios, helenos, argólidas, espartanos e outros tantos juntos
numa Liga. Dizer, apenas, Grécia, fica mais fácil?
Tróia é um filme de puro senso comercial, sem nenhuma pretensão de outra coisa a não ser divertir.
Perderam, no entanto, a oportunidade de divertir e educar, sem perder a mão e nem o sangue
espirrado. Um paralelo positivo foi Brave Heart - Coração Valente – também na linha da lenda e da
história; maior conteúdo veraz, apesar da mortandade nas guerras. Aliás, alguns atores estiveram
nos dois filmes. Talvez sejam especializados em filmes épicos-sanguíneos.
A trilha sonora de Brave Heart é muito mais lírica, baseada em temas celtas, além de muito mais
pujante. A de Tróia chama atenção a melodia do canto, logo no início, muito inspirada nas 18 vozes
Búlgaras e nada mais. A música principal parece o tema do Thunder Cats.
Como última fala fica um pedido de atenção para que os responsáveis pelas máquinas do Cine
Mococa corrijam as lentes que embaçam ou desfocalizam o lado esquerdo das cenas na tela,
Crônicas Agudas
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mantendo o lado direito em foco. Haverá aí algum defeito e, isso já faz muito tempo. A mim parece
que as lentes estão tortas, fora do eixo, alterando o centro focal.
Fora de foco já basta a nossa consciência.
Crônicas Agudas
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A ESCOLA DE SAMBA
Passado o carnaval e toda a ufania obrigatória resta alguma coisa para reflexão.
As Escolas de Samba não têm o nome de Escola à toa. Devem ensinar e produzir
sambas. Não é o que acontece em Mococa. Temos sim, modernizados, cordões e blocos.
Bloco carnavalesco como um conjunto de pessoas que desfilam no Carnaval de forma semi-
organizada, muitas vezes trajando mesma fantasia, ou vestidas do modo que mais lhes agradar.
Conseguimos observar essa característica em muitas alas do último desfile. Dos Cordões: o
fato de serem formados por grupos de foliões mascarados com feições de velhos, palhaços,
diabos, reis, rainhas, índios, baianas, entre outros, conduzidos por um mestre obedecendo a
um apito de comando. Seu conjunto instrumental costumava ser exclusivamete de percussão.
E seguem outros detalhes e semelhanças.
O Carnaval de Mocoa funde as três vertentes. Para ser Escola de Samba há que
evoluir, não só na avenida mas também na conduta e no aprendizado do samba,
principalmente.
As Escolas tradicionais do país começam imediatamente – março – e se preparam para
2010. É isso o que acontece por aqui? Não. Quem é que ensina o samba? Ninguém. Uma
possibilidade seria criar, de raíz, uma fonte de futuras tradições, e, nas Escolas comuns. A
Crônicas Agudas
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estória a ser contada, a música a ser criada, as fantasias e ensaios poderiam surgir desde o
ensino fundamental, ao longo de todo ano, para desaguar na avenida em 2010. É tomo de
pesquisa da contribuição africana ao Brasil. Surgiriam aí tantas “escolinhas de samba” quanto
escolas tivermos na cidade. Ou seja, um processo de plantar um Carnaval sustentável.
No início podemos importar o saber das Escolas de São Paulo. Algumas têm projeto
para isso.
Do jeito que é e está o Carnaval de Mococa sempre ficará à mercê dos foliões que
moram fora; quando puderem, aparecerão na data marcada para desfilar o mesmo de sempre,
com os mesmos tropeços. E, por falar em tropeço, no geral, há um cantor principal - o tal
puxador, termo que Jamelão nunca gostou de usar, pois para ele quem puxa puxa carro –
então há o interprete principal, e, outros de apoio, em função do possível cansaço do primeiro
e uma ou outra pequena harmonia. O que ouvi foi que em vez de dar apoio ao cantor, os tais
“apoiadores” estavam atrapalhando o canto principal. É necessário afinação e noção espacial.
Sonhar com a coisa é uma coisa. Saber fazer é outra. Querer fazer e atrapalhar é crime.
Harmonia, no samba-enrêdo, deve ajudar e não atrapalhar. Há que se atentar para isso.
Além disso é necessário sambar, não marchar. Os desfiles parecem aos de 7 de
setembro com a diferença de que os braços ficam abertos como se pedissem alguma coisa ou
oferecessem a alegria plástica e sorridente com data marcada - é um vício de interpretaçãpo de
quem canta ou está no “samba usando paraquedas de griffe”. Pouca gente mostra que tem
samba para demonstrar.
É isso. Nerm é preciso dizer que são avaliações críticas positivas.
Deixo votos de sucesso, vida longa e prosperidade.
Boa Semana.
Crônicas Agudas
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LINGUAGEM CINEMATOGRÁFICA
Dentro das linguagens artísticas que Mococa produz, há a linguagem
cinematográfica. E hoje cinema não se faz mais, somente, com celulóide – fita –
mas, também com vídeo de baixa ou alta definição, por exemplo. No mundo
existem milhares, isso mesmo, milhares de festivais de vídeos que marcam a
imagem e a sensibilidade do mundo inteiro. E Mococa? Além da produção
heróica do Brás Machado – AMOR, PODER QUE TRANSFORMA, de
profundo apelo cristão ao estilo evangélico - Os irmãos evangélicos não lhe
foram irmãos e não deram muita trela para o filme e era de se contar que
houvesse maior interesse por parte desses grupos religiosos, já que a obra foi
para eles direcionada - temos também o Maurício Miguel e suas tentativas e
pesquisas e na maioria das vezes investidas concretas, mas também heróicas, na
área do documentário que, a meus olhos, lhe é o viés mais propício. Opinião
minha.
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Dentro das linguagens caricaturais que Mococa produz há uma, que se
sobressai quase que diariamente, que é a de agentes de mídia sem pé nem cabeça.
Sem falar nas grandes coberturas a lojas familiares, nas grandes entrevistas com
políticos subservientes, nas grandes coberturas a ruas asfaltadas que acabam ali e
et coetera, temos também direcionamentos de reportagens que conduzem a uma
auto-propaganda do nada, propaganda do inútil de plantão. Hiltons. Riltons.
Depois de Paris Hilton os Riltons são aqueles que ficam famosos sem terem
feito coisa alguma. Tem muito Rilton em Mococa. Voltemos ao cinema.
Arte em construção. Além da memória d’O CABELEREIRA, lembrando
sempre do Dr. José Olimpio – jovem ator naquela época de 62 - , já vimos
nomes mocoquenses no elenco de outras obras: atores de nome como Josué
Torres, Marília de Moraes, Bertolucci (ADÁGIO AO SOL, de Xavier de
Oliveira), e Sergio Spina (OBSESSÃO NEURÓTICA, AUTO DA BARCA DO
INFERNO). Mais. Desde 1997 a INDÚSTRIA DO VÍDEO vem produzindo
curtas metragens. Hoje aliada ao Núcleo de Cultura da FATECmococa parte
para a criação de médias e longas em 2009. Dessa forma saliento os nomes de
Amanda Garcia, Rafael de Souza, Bruna Freire, Karina Pereira, Lucilda Andrade,
que são jovens do núcleo de cinema da FATEC e contribuem efetivamente para
a arte a cultura da cidade. Até 2010 quando um surto de bobeira atingiu como
vendaval as estruturas.
A cidade faz o que? Nada. Então eu digo. Devem ir atrás. Devem assistir a
tudo. Devem ser testemunhas do que tais jovens fazem e seu potencial de
crescimento. Assim, se tornarão testemunhas do começo da carreira destes
jovens.
É isso. Deixo votos de sucesso, vida longa e prosperidade.
Boa semana!
Crônicas Agudas
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O AMOR NOS TEMPOS DO CÓLERA
Produtores e Realizadores internacionais resolveram, por bem, oferecer
aos cinéfilos de todo mundo uma obra baseada no livro de Gabriel Garcia
Marques.
O filme é bonito e bem adaptado, em que pese adaptar um romance, inda
mais em se tratando de um Nobel de Literatura. Na imagem fílmica a história
pode até ficar outra. No entanto, no caso desse específico “CÓLERA” pesou
mais o colonialismo. Os produtores escolheram atrizes e atores que ganharam
ou foram indicados ao Oscar, sendo todos artistas latinos ou de língua latina.
Todos excelentes. Fernanda Montenegro (Brasil), Javier Bardem (Espanha),
Giovanna Mezzogiorno (Itália), mexicanos, colombianos, tendo ainda a voz de
Shakira para completar a sonoridade latino-americana, com um cancioneiro
lamentoso da América do Sul e Central. A paisagem caribenha dava sua cor
lapidada em tons de sol e céu anilado. Porém, todos os artistas falavam no
Crônicas Agudas
78
idioma inglês, que mata o texto e, no caso, mata a interpretação. Para o ouvido
limitado do americano do norte, atrizes e atores, falando em inglês, carregam no
sotaque e, isso já será considerado outra língua lá para eles.
Um bom exemplo é a modernosa adaptação d’O CRIME DO PADRE
AMARO, em espanhol-mexicano. Porém, no “CÓLERA”, a metrópole manda.
A colônia obedece. Fala mais alto a voz do mercado. Fala mais baixo a língua
castelhana, que, apesar disso, vem ganhando seu espaço no planeta.
O treinamento mais intenso que precisamos ter é o de pensar
originalmente, mas, frequentadores assíduos de novelas não terão essa
oportunidade.
Ler outros autores que não o mago Coelho também será obrigatório e,
para quem gosta de andarilhagem e coisas de Santiago de Compostela existe um
livro escrito aqui em Mococa, autor local, que conta, com realidade, como se faz
aquele caminho. Autor: Itelberto Peres. É pegar e ler e se manifestar, pois,
permanecer refestelado e contemplativo não faz a cidade andar.
Mas, a peste colérica ganhou a parada e a plêiade de artistas passou a falar
em falso inglês. Os latinos freqüentadores de cinema terão que se ater a legendas
nos filmes importados da Metrópole, como sempre.
Dessa forma fica uma sugestão para o artista mocoquense: bolar roteiros e
enredos de peças teatrais sem texto algum. Assim todos entenderão,
independente do país e do idioma, até mesmo no Japão. Será um produto de
exportação facilitada.
A educação no país já é precária. As obras na tela grande consomem o
que nos resta da linguagem com péssima legendagem, e piora se não assistirmos
os nossos produtos cinematográficos brasileiros. Valorizar a obra brasileira,
então, é obrigação de todos e independe de gostar ou não. É necessário aprender
que existem múltiplos olhares para se enxergar a realidade. Aprender que o
modo americano de fazer filmes é apenas um deles e não é, necessariamente, o
Crônicas Agudas
79
melhor. Existe o italiano, o hindu, o francês, o alemão... cada um em sua linha,
cada um com sua graça e peculiaridade.
Para acompanhar o processo de adaptação leia o livro “O AMOR NOS
TEMPOS DO CÓLERA”. Estude as imagens que o diretor do filme criou e
compare com a sua imagem de leitor. É, também esse, um exercício vigoroso
para ganhar poder crítico. Para ganhar distanciamento. Para ampliar o poder de
observação.
Dá próxima vez em que for à locadora pegue somente filme brasileiro. Ou
experimente os latino-americanos. Haverá muita surpresa. Exemplo: muito filme
que já passou em nosso circuito – CARANDIRU ou PIXOTE – é produto
brasileiro e foi dirigido por um artista argentino.
É isso. Sucesso, vida longa e prosperidade. Boa semana!
Crônicas Agudas
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CULTURA E / OU LEGISLATIVO
Não podia deixar de participar ativamente da vida política da minha cidade, portanto, venho
prestar apoio e auxilio enviando aulas importantes para que os atuais legisladores façam o dever
de casa, aquilo que devem fazer de vero, pois ainda há tempo. E tudo baseado no mestre Platão.
Para Platão, o filósofo deve se ligar na polis – cidade - e cumprir missão moral e social, daí
os confrontos entre a filosofia com hábitos estabelecidos na cidade – Mococa – em todas as
épocas, que volta-e-meia, condena alguém ao ostracismo, preferentemente alguém iluminado pela
luz de Goethe. Seguem, a partir daí, algumas definições e missões que serão encaradas como
Ordens a Cumprir, pois não caíram do céu e estão presentes em todo o mundo civilizado: a) O
legislador mocoquense deve purificar a alma e não temer a morte. Ser reto no seu pensamento e
não dar atenção a negociatas e empreguinhos para maridos ou parentes, por exemplo; b) O
legislador, ou vereador, no nosso caso, buscará, por obrigação, o conhecimento ideal do bem e do
justo para a cidade, e não só para si ou sua imagem de falso bom-samaritano (onde predomina o
samaritano nada bom) , que distribui nomes de ruas a torto e à direito e legisla em torno do umbigo;
c) o vereador(a) deve inquirir e purificar a alma dos cidadãos, com novos hábitos, novas idéias,
Crônicas Agudas
81
novos caminhos, novos direcionamentos e não como vemos hoje (2009) com a repetição do óbvio
instalada nas recâmaras da Câmara, numa Câmara igual a qualquer outra já vista; d) o legislador
será o bom professor que se preocupa com a boa formação de seus discípulos na busca da
verdade e não nas picuinhas e tolices que chamam política por serem ignorantes e copiadores dos
maus exemplos de outros tempos. Por isso o Vereador deve saber ler e escrever corretamente e
não com a mão do gato.
Dessa forma há que se superar o sensível, o particular, o prazer e buscar viver em
consonância com a realidade supra-sensível desconhecida, daí a importância dessas aulas,
dirigidas aos políticos. Construirão a cidade justa, criando espaços de felicidade e moderação.
Não digo que devam se afastar do mundo, mas é necessário conhecer verdades variadas,
tornando-se sábio e justo, a partir do conhecimento do bem social e popular, de onde pode instituir
as mais belas e verdadeiras leis. Não há somente um caminho, uma verdade e uma luz. Existem
várias.
Portanto todo ser humano sério evita escrever coisas sérias para não abandoná-las à
aversão e à incapacidade de compreensão de outros que nada entendem. No entanto vemos que
uma Câmara como a de Mococa congrega em si uma quantidade impar de vereadores inaptos ao
bem pensar. O que fazer, então, se o século é 21 e a modernidade urge.
É mister desenvolver amplas reflexões sobre os grandes problemas da cidade, como
também, convencer-se de que o poder deve estar sempre aliado ao saber. Não há como entender
textos sem uma leitura fluente. Não entendo textos não se faz boa lei. Cidade e problemas são
sinônimos.
Pergunta: Quantos dos nossos insignes vereadores sabem ler e escrever corretamente e
sabem liderar algo? Levante a mão!
A meu ver devem ser imediatamente substituídos ou, para não desmerecer o voto daquele
que votou em inaptos, devem tais vereadores ter a oportunidade de estudar. Para compreender
como ocorre a desordem na alma, é preciso lembrar que os seres humanos não são iguais: uns têm
ouro na alma - estes são os que podem comandar e/ou legislar sobre a cidade, pois neles
predomina a parte racional; outros têm prata na alma - estes serão os auxiliares dos chefes, pois
estão aptos a desenvolver a coragem no mais alto ponto e a defender a cidade, de seus inimigos
internos e externos; em sua alma predomina a parte irascível, mas são extremamente úteis e
saudáveis. Outros, ainda, têm bronze e ferro na alma e, por enquanto, estes se limitam a votar –
votando mau - em apedeutas e pessoas incompetentes para cargos de suma importancia para uma
cidade que posa muito mas faz pouco.
Boa semana! Não se acomode.
Crônicas Agudas
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TPM – 13 ANOS
A Indústria Cultural não é, ainda, uma realidade. Não é atividade, ainda, completamente
instalada. Há muito empecilho. Mas há sementes plantadas.
O ideal seria que todos plantassem as sementes em vez de nela pisarem.
Nós que plantamos as sementes oferecemos mais um ato da conferencia dos nossos trabalhos
nas artes cênicas, conferência feita com quem nos acompanhar na jornada. Segue abaixo um
pouco da obra e da história do
TPM – Teatro Popular de Mococa “Rogério Cardoso”.
1997 - Outubro, ao lado de atrizes e atores, monta o TPM - Teatro Popular de Mococa que
foi buscar patrono em Rogério Cardoso. 1998 - TPM monta "PROMETEU", em Abril, e
participa do Festival de Araras-SP – no Mapa Cultural Paulista. Trouxe o prêmio de melhor
coadjuvante para o ator João Ramalho. Em seguida passa ler e produzir “O AUTO DA
BARCA DO INFERNO”, (Gil Vicente). 1999 - Estréia do “AUTO DA BARCA” que faz
turnê ou giro por Arceburgo, São João da Boa Vista, São José do Rio Pardo e Guaxupé, em
Março e Abril, Maio e Junho. 2000 - Monta “LUA NEGRA” , estreando em São Jão da Boa
Crônicas Agudas
83
Vista no mês de Maio. Mas, no mesmo ano monta “COMÉDIAS”, de Woody Allen, em
Novembro. 2001 - ”SEXO É COISA SÉRIA” de Veríssimo e Woody Allen em Março;
“DEUS” de Woody Allen em Abril, foram peças com recorde de público. E esse tipo de coisa
nunca foi bem aceito pela inteligentzia artística da cidade na época. Mas, a casa cheia nada
mais significa do que trabalho bem feito. Neste momento fecha-se o Teatro Municipal de
Mococa para reformas que duram 1 ano e meio. Reformas que nada reformam. O TPM se
instala com ensaios e produções no Teatro Oscar Villares. De lá saem “COMPUTA,
COMPUTADOR, COMPUTA de Millôr em Junho e o badalado “O TARADO” de Woody
Allen em Julho e Setembro num festival em Belo Horizonte. 2002 - “A MORTE AO
VIVO”, de Veríssimo, Fraga e Woody Allen em Abril; em seguida “O HOMEM DO
PRINCÍPIO AO FIM” , de Millôr Fernandes em Junho e a estréia em Outubro de “O
SANTO INQUÉRITO”, de Dias Gomes. Marcos obrigatórios de um grande fazer teatral na
cidade. “O SANTO INQUÉRITO” faz turnê em Outubro: Guaranésia, Arceburgo,Monte
Santo de Minas , Itamogi , Escola Carlos Lima Dias, Teatro Municipal de Mococa, finalmente
reaberto, porém demonstrando os mesmo problemas. Recuperamos “O HOMEM DOM
PRINCÍPIO AO FIM” do repertório, para apresentações na escola Barão de Monte Santo ,
São João da Boa Vista , Vargem Grande do Sul, Teatro Municipal de Mococa , com retorno a
Itamogi. 2003 - “TRIÂNGULOS AMOROSOS” – Albee e Silveira Sampaio, - Março
“MULHERES DESESPERADAS” – de Edward Albee, - Abril “RAMA & SITA”, musical
infantil baseado no Ramayana, - Maio “ATEUS, VAGABUNDOS E LOUCOS”, de Gordo
Netto - Maio. Turnê de MULHERES DESESPERADAS pelo Sul, de Minas Gerais. JOSÉ
DO EGITO, o musical, de Loyd Webber em Agosto, além de PROJETO ALFA – no SESC
Campinas em Novembro. Sem perder tempo fomos ao Mapa Cultural em Dezembro, com
apresentação em Campinas. 2004 - Mapa Cultural Paulista – fase regional – melhor direção,
peça e atriz – Janeiro. Sem deitar nos louros da glória seguimos com “O LIVRO DO
GENESIS”, em Julho; “RELAÇÕES AMOROSAS”, de Allen, Jabor, Millôr e Veríssimo –
Setembro e a terrível “A LIÇÃO”, de Ionesco – Outubro. 2005 - “JESUS CRISTO
SUPERSTAR”, musical de Lloyd Webber – Março; “TRÊS HOMENS BAIXOS”, de
Rodrigo Murat, teatro – Maio; “VIDA PRIVADA”, de Mara Carvalho, teatro – Julho, que
participou do Festival Cacilda Becker, em Pirassununga. 2006 - “MULHER, OBJETO DE
CAMA E MESA”, de Heloneida Studart e vários autores, Maio; “CORRUPTOS E
FELIZES”, de Jorge Dumarescq, em Dezembro. 2007 – “ANTROPOFAGIA”, baseado nos
textos de Oswald de Andrade e “UM ESTUDO SOBRE NELSON RODRIGUES –
TRAIÇÕES – Novembro. 2008 – “EU FAÇO A MINHA HISTÓRIA , baseado na obra de
Crônicas Agudas
84
Marilu Alvarez, - Maio. 2009 - NIETZSCHE NO PARAÍSO, sobre textos de autores variados
– com estreia marcada para Março. 2010 – A MORTE BÊBADA DA MORTE, de Miranda
Junior e Woody Allen, que estreou em Fevereiro.
PRÊMIOS
Mapa Cultural Paulista – regional – teatro - melhor direção, peça e atriz – Janeiro 2004
TPM grupo Selecionado Festival Volkswagen, final em SP – Julho – 2003
Mapa Cultural Paulista. Prêmio ator coadjuvante, 1998
Festival de Varginha, MG – melhor direção, música e melhor peça – Setembro, 1997
Vemos que a contribuição do TPM para a cultura mocoquense é ímpar e vemos que define
uma escola de atuação e aprendizado e criação que merece ser copiada pelos grupos iniciantes.
Há vários deles em Mococa, hoje.
De qualquer forma fica o convite: Apóie a ação teatral de Mococa indo aos espetáculos. Dessa
forma você demonstrará inteligência e sua cidade crescerá.
Boa Semana!
Crônicas Agudas
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INDÚSTRIA DO VÍDEO
O leitor que me acompanha perceberá que Produtores Independente – PI – é um grupo que produz
teatro, cinema e música. Além de ser grupo capacitado, produz uma carga de atividades invejável. E
essa emoção transparece nas ações de muitos dos nossos seguidores, tomados entre platéia,
alunos ou artistas que aqui desenvolvem sua arte. Ainda a título de conferência segue um “resumo
da obra”, abaixo, da produção em curtas metragens que a INDÚSTRIA DO VÍDEO vem produzindo
desde 97. Um e outro título está cadastrado no curtagora.com.Br ou no Curta Vídeo, ou ainda pode
ser acessado no YouTube ou VideoLog. Pode ser acessado a qualquer momento. Um e outro título
já se mostrou no formato de treiler.
À medida que produzimos, os curtas vão direcionados para festivais e mostras do país e do mundo.
Mococa, então, participa do mundo com suas imagens e isso ajuda a alicerçar o turismo. É
escusado dizer que para a produção dessas obras há a pesquisa, o ócio criador, os ensaios, as
tomadas, as locações, a edição, disponibilidade de artistas. Tudo isso com custos de produção, que
para bom entendedor são palavras que bastam, mas, que para alguns ouvidos da cidade nada
significam.
Para mal entendedor, nem adianta perder o tempo. Mas, conheçam as recentes produções Quem
Crônicas Agudas
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sabe uma outra moral? Outro olhar? Outra audição? Preparar Mococa para sair do seu estado pré-
histórico, através da arte. INDÚSTRIA DO VÍDEO.
Seguem indicativos: produção P / direção D / edição E / trilha T/ narração N / atuação A / roteiro R
1997 "SONHOS", P/D/E/R, Agosto-Novembro. / 1998 I Mostra de Vídeo na antiga Industrial (Curtas
e Médias), P, Mococa – Janeiro. "PROMETEU", D/P, Abril. "O CASARÃO AMARELO", P/D/E/R,
entre Setembro e Dezembro. / 1999 II Mostra de Vídeo na antiga Industrial (Curtas e Médias), P,
Mococa – Janeiro. "O ZELADOR " , P/D/E/R, Março e Abril. “AS BRUXAS”, P/D/E/R, Maio. “O
ZELADOR II”, P/D/E/R, Junho. / 2000 A TESTEMUNHA, A, Março, direção Sergio Spina / 2001 III
Mostra de Vídeo na antiga Industrial, P, Mococa – Março. “SANTIFICAR AS FESTAS”, P/D/E/R,
Março.“COMPUTA, COMPUTADOR, COMPUTA”, de Millor Fernandes, P/D/E, Junho.
INTERFERÊNCIAS”, P/D/E/R, Vídeo. / 2002 O SANTO INQUÉRITO, Dias Gomes, P/D/E/, Maio.
O HOMEM DO PRINCÍPIO AO FIM, Millor Fernandes, P/D/E, Junho. AUTO DA BARCA DO
INFERNO, Gil Vicente, P/D/E, Julho. SITIADOS - P/D/E/R, Julho / 2003 RAMA & SITA, P/D/E/R,
Maio. ATEUS, VAGABUNDOS E LOUCOS, Gordo Netto, P/D/E, Maio / 2004 A LIÇÃO, Ionesco,
P/D/E, Outubro. / 2005 MOSTRA UNIOESTE DE VIDEO, com O FIM, Setembro. DIÁLOGOS,
P/D/E/T/R, Setembro. Projeto VíDEO_VESTIBULAR, fase um - de Setembro a Dezembro. / 2006
Projeto VíDEO_VESTIBULAR, fase dois - de Janeiro a Setembro. BUFUNFA NO MUNDO DAS
CORES, de Daniel Azulay, P/D/E/N, Janeiro. MISSA DO GALO, de Machado de Assis, P/D/E/R,
Janeiro. LEITURAS E VISÕES, sobre Mario Quintana, P/D/E/R, Janeiro. INSÔNIA, de Graciliano
Ramos, P/D/E/N/R, Março. MOSTRA UNIOESTE DE VIDEO, várias obras em horário especial,
Março. IRA, de Guilherme Giordano, P/E/N, video para TV, Abril. CERTA ENTIDADE , de Qorpo
Santo, P/D/E/R, Julho. REINO FRANCO, de Guilherme Giordano, P/E, Maio. LEPHANTE,
animação, P/D/E/R , de CDM, Julho. ENSAIOS SOBRE A MORTE, de Woody Allen, Millôr e Fraga,
P/D/E/N/R, Agosto. O DUENDE DA MARCIA, animação, P/D/E/N, CDM, Setembro. ENCONTROS E
DESENCONTROS, de David Ives e CDM, P/D/E/R - Novembro. QUEM TEM BOCA NÃO MANDA
ASSOPRAR, de Arthur Azevedo, P/D/E/R , Novembro. NA PELE DE SÓCRATES, de Woody Allen,
P/D/E/R Novembro. / 2007 A CASA, baseado em Borges, P/D/E/N/R – Janeiro. AS ESPOSAS DE
LOVBORG, de Woody Allen, P/D/E/R – Junho. LEITURAS E VISÕES, sobre Getúlio Cardoso,
P/T/D/E/R - Junho. EDEN, um estudo, texto coletivo /P/D/E/T - Julho. ENIGMAS?, de Coelho De
Moraes /P/D/E/T/R - Outubro. O MOCHILEIRO, de Coelho De Moraes /D/E/P/R – Novembro. /
2008 “A MÁQUINA DO BEM E DO MAL”, de Rodolpho Walsh, P/D/E/R, reedição Fevereiro. A
CARTOMANTE, de Machado de Assis P/D/E/T/R – Maio. LEITURAS E VISÕES, sobre Affonso
Romano de Sant’Anna, P/D/E/R, Junho. I FESTIVAL RATOEIRA - Ulrica e Interferências -
Crônicas Agudas
87
selecionados – RJ – Julho. O MENINO DA BOLINHA AMARELA – D/E/A/P – Julho. UM OLHAR
SOBRE CAPITU – D/E/P/A/T – Setembro. 2009 HONRAR PAI E MÃE – D/E/P/R – Janeiro.
NOTÍCIAS DO FUTURO - P / D / E / T/ A / R – Abril. O FANTASMA DA CASA VELHA – P / D / E /
T/ A / R / Maio - O O LOBO E O CORDERIO – P / D / E / T / R Setembro. OSWALD DE ANDRADE
- P / D / E / T / R. Outubro. 2010 – O LEÃO E O COIRDEIRO - P / D / E / T/ A / R – Janeiro.
Eis a lista de produções que vão pelo mundo levando a arte mocoquense.
Tendo um tempo acesse: http://www.youtube.com/profile?user=COELHODEMORAESVIDEOS;
http://www.youtube.com/profile?user=COELHODEMORAESDIRECT;
http://www.youtube.com/user/INDUSTRIADOVIDEO?gl=BR&hl=pt;
http://videolog.uol.com.br/videos.php?ordem=1&periodo=1&id_usuario=309665; e encontrará muita
gente boa por lá.
É isso.
Boa semana!
Crônicas Agudas
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CULTURA POLUI?
A prática de ignorar ou fingir-se de morto é mato em Mococa.
Quantos pobres ignaros desconhecem que um artista deve ser pago pelo alto valor de
suas horas de trabalho? Principalmente, as de ócio criativo? Um artista que fica à disposição de
uma comunidade já deve ser pago, a priori. A presença do artista em uma cidade já faz a
diferença.
Há os que não ignoram isso e fazem todo o esforço para que a sua cidade tenha
cultura real, em tempo real. Cultura Crônica e Contemporânea. Tatuí, São João, Nova Odessa,
são exemplos. Mas, tivemos nossos bons exemplos e vale lembrar: Em 1996 - governo Naufel
(Profa. Vera Sandoval e Prof, Paladini) - a Escola Municipal de Música “Euclides Motta”.
Euclides Motta era vereador versado nos interesses educacionais e culturais. Serve de
referência para a nova safra de legisladores. Existe em Mococa uma escola de música pronta
desde 82. Inativa graças aos (des) governantes posteriores. Nos doze anos de vácuo cultural
que se seguiu - só mesmo rindo ou ruindo para crer que houve ato decente e programático.
Olhem bem: São José do Rio Pardo é braço do Conservatório de Tatuí. São João montou
uma Incubadora Cultural. Mococa cumpriu a sina de ver o “trem da cultura” passar.
Em 97 fundou-se o EMADMA - Escola Municipal de Artes Dramáticas e Musicais de
Crônicas Agudas
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Arceburgo. Surgiram os Coros Adultos e Infanto-Juvenil. Surgiu o GRADA, premiado cinco
vezes em Varginha – Teatro - logo nos primeiros seis meses de vida. Tais escolas foram
desativadas por questões da política local, canhestra e sinistra. O Coro da Cidade de Mococa,
desde Lu Amato, com 22 anos de idade foi desativado. Em Outubro de 97 surgia o grupo de
Teatro que veio a ser o TPM – Teatro Popular de Mococa “Rogério Cardoso”, por iniciativa
particular, e, a Indústria do Vídeo, para a produção de curtas e médias metragens: Um pólo de
cinema.
Entre 97 e 98 o Kuarteto Mokoka (música para cinema), saiu em turnê brasileira,
sendo primeira página em vários jornais do Brasil – do Arroio ao Chuí, digamos assim. Mas,
como se produzirá tudo isso? Com dinheiro celeste? Na verdade, os grupos vivem com o
problema crônico da falta de espaço, falta de transporte, falta de mídia. Mas, eu sei, isso é
problema nosso. Sempre foi. As manifestações da cultura são necessárias e obrigatórias ou
padeceremos de barbárie.
Os artistas correm atrás da profissão, enfim. Quando aparecem na mídia aparecem
sozinhos, sem papagaio de pirata pegando carona na foto. O artista tem luz própria.
Em 2001, Braz Machado gravou o longa “Amor, poder que transforma” de forte apelo
didático contra as drogas. Sem apoio efetivo a não ser o dos jovens e determinados artistas
que mantiveram a chama acesa. O folclorista João Ramalho foi ator revelação na fase regional
do Mapa Cultural de 1998, em Julho, Araras. O TPM, no Mapa 2003, fase regional, teve com
Rose Tomé melhor atriz, incluindo melhor peça e melhor direção.
Cadê o apoiador cultural, que deve oferecer apoio e não esperar o pires mendicante?
Há uma agenda para 2009, mas onde estão os espaços? Tomo a liberdade de citar alguns
nomes que atuantes hoje na frente da arte cênica: Amanda Garcia, Rafael de Souza, Karina
Pereira, Fabyo Vyeyra. Tiago Pereira, Alan Balbino... anotem esses nomes, por favor.
É isso. Deixo votos de sucesso, vida longa e prosperidade. Boa semana.
Crônicas Agudas
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DIÁRIO DE PIRATAS EXCERPTOS III
Dia Um, como se nascesse
Perdidos entre beijos e abraços nostálgicos eu e RoseBraga resolvemos comer a
pizza do sábado. Assim se começa um conto comum e vulgar. Terá começo meio
e fim?
Com quantos dígitos veremos no ar as aves de arribação? Como se conheceram
a América e o jovem melindroso perseguido pelo destino? O episódio foi de uma
banalidade comovedora, e envolveu uma pulseira perdida e um mal-entendido.
Menos irrelevante será talvez relatar como sucedeu a revelação de que eles
partilhavam algo mais do que a vontade indomável de transformar a Mogiana (de
Pinhal a Mococa) num imenso palco para os trânsitos e brados de Pentesiléia e
de Aquiles e de toda fauna de Vereadores que já ocuparam, e ocupam, as
cadeiras da Câmara, sonhando um dia serem Deputados Estaduais... tais
cadeiras aceitam quaisquer tipos de bundas... bundas dorminhocas, bundas
vagais, vagabundas, bundas perdulárias, bundas de futuros prefeitos e não há
nada que tenham construído a não ser a capacidade de observar o tempo passar
Crônicas Agudas
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– verdadeiros Fiscais da Natureza - pois tudo o que pretendem haver construído
existiria assim mesmo, sem interferência dos tais (geniais) parlamentares. Mas a
história é feita desses equívocos, e dessas bundas vazias, ou dessas estórias.
Valha-me Alexandre, o Herculano, que propunha uma bunda como predicado,
como cousa vulgar e nada mais.
Foi quando o povo da cidade de Muganga, tendo eleito por duas vezes ou três
vezes padres e analfabetos, fissos isso e aquilos, pró-rogos e vicariato sem
vergonha para um projeto Cura cuja eternidade se desdobra além de nossa
lucidez e cuja dívida avança pelo século 21, em piscinas inúteis e adulteradas, em
clubinhos populares para agrado da multidão faminta e alienada... tardia também,
tal turba, revelou que não saberia o que escolher, caso houvesse escolha: a
felicidade ignorante e feia ou a lucidez feliz e desavergonhada, profunda e
permanente sobre as razões e timbres da infelicidade. COELHO, não o do
Updike, sentia o mesmo, e estas coisas criam um vínculo menos quebradiço do
que um passado de banco de escola ou de caserna partilhada. Mas as cousas
não se ficam por aqui, há também a paixão comum pela gastronomia do sul de
minas, o "segredo mais bem guardado da cozinha mineira”, talvez. Perdições
entre pamonhas e curaus... literatura e um saudade de Arceburgo, talvez...
Dia dois, e Kafka na panela
Terça-feira e é dia marcado para o cinema. Eu e RoseBraga, vinte horas pouco
mais sairemos do Jardim São Luiz, rumo ao quinquagenário Cine Mococa. A
marcar em todas as agendas e datas de passagem: Ver e rever “O Cozinheiro, o
Ladrão, a mulher e o amante”, mas não se deve passar sem o “Bebê Santo de
Macon”, ou ainda “A Tempestade”, já que falamos sempre de um Pedro
CaminhoVerde, autor de obras primas. Todas suas obras serão primas? Nada
disso porém passa pela cabeça de muitos mocoquenses que estão aquém dos
símbolos e das abstrações. A eles se permite dormir em música que dizem ser
sertanejas (guarânias, na verdade) ... mas, limitam-se a nos deixar Zen – Zen
paciência. A saga das testas cobertas de galhos, as dores de cotovelo, a
choradeira de trouxas alcoólicos esparramados nos bares do Descanso, por
exemplo, enquanto as vacas mugem ao longe e de longe se vê um por-de-sol
flagrado entre cambiante de violenta e um sulferino dormido de épocas. Isso
antes. Agora, hora noturna e pouco fria, nos sentiremos aquecidos no cinema.
Crônicas Agudas
92
Enquanto não chega o momento de despejar do trono ou seja lá quem nada fizer
de programado ou planejado, a corja de lambões e lambe-sacos; enquanto a saga
do senhor sem anéis não se der à mostra, contentemo-nos com as glórias
passadas, idas e desguarnecidas de qualquer atavio.
Dia três, enquanto as chuvas disparam
Excelente.
Por favor, tentem compreender. Ou não! Não julgamos, sim julguemos como
cousa de puro oiro, mas, não condenamos, sim, sim, condenemos, enfim para
outras terras e exclusões maravilhosas, porém, não pratiquemos o ostracismo,
entre estranhos em terras estranhas, contudo enviemos para o exílio as piores de
nossas malfadadas idéias. Em Muganga, Macondo e outras terras, idéias não
servem para nada. Não é uma questão de fundamentalismo, nem islamismo,
nem alcoranismo, nem xiitismo, podendo ser shiitismo dos ingleses em que tudo
se transforma em porcaria ou (s)crap, como por exemplo a cultura de uma cidade
como a nossa – como orgulhosa cidade do interior mogiano – mugiante - , tudo se
transforma em nihilismos; não é uma questão de atropelo a qualquer direito
natural. Apenas pedimos respeito e consideração. Reclamamos somente o direito
ao nosso quinhão quotidiano de ar relativamente puro. É só isto. Há espaço para
todo mundo, porém, você pode, até, ficar bem de verde, quando engolir sua
fumaça e se transformar em um saco podre de câncer. Você merece.
Dia quatro, um momento no viés
REPÚBLICA 70 RIACHUELO: Por lá passaram SemiDeus, Bado, Preto,
Mandrake, Pancada, o caro CDF, o Zize, o Vasconcelos de São José do Rio
Pardo – cidade onde muita gente grada ia mijar nos bailes, e na devolução, o mijo
de SanZé vinha em retorno na AEM - além da quebradeira de copos, corpos e
vidros e janelas... bailes e brigas... esses, entre outros. Indicaram-me
recentemente dois fatos com relevância republicana assinalável.
Eu e RoseBraga, na manhã, ouvíamos tais histórias, comendo muito requeijão e
pão preto.
No sítio de não sei que pessoa duas amigas, íntimas amigas, amantes amigas da
mais pura sociedade mocoquense se mataram pois seu amor não era permitido
pela sociedade da época... Seria agora?... isso, entre outras cousas... entre
Crônicas Agudas
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outras coisas, leio textos cujo teor denota uma das mais louváveis atividades que
conheço: hoje vejo que os partidos políticos se misturam como iguais e, aqueles
que são tidos como radicais - cá de fora - se mostram anacrônicos, bem démodè,
bem nulos, na verdade, esperando aposentadoria... Culpa minha? por que fomos
tão cegos? Já não se misturavam antes? Não vimos? Éramos coniventes?...
concordata!
Para além destes temas de óbvia e lamentável atualidade, muitos outros são
abordados, investido de uma grande e magnífica opulência. Falece o comediante
mas a piada continua com a laicidade e os valores republicanos (ou as suas
violações) como denominador comum.
Há certo desconforto, muita vez, se exprimir o vocábulo "partidários" e derivados.
Assistimos a lógica da negação partidária, re-fundação de outra vertente,
mudando o nome da estrela, ou no mais, nomeado a estrela para outros sóis; a
contestação que está implícita parece-me, em certas ocasiões, poder tornar-se
contraproducente; no entanto há um barco para se navegar. Talvez com mais
espaço, para desatinos e desvarios e devaneios... Prestemos atenção às aves de
alta plumagem.
Dia 5, enquanto a água não me chega aos pés no Descanso
Excelente domingo para nós.
TV a satélite e tudo mais. Muito filme bobo, mas algumas relíquias.
ANÚNCIOS de outros tempos: Este é velho como muita gente da cidade... Parada
no tempo antigo como muita gente da cidade... Tem muitos que ainda choram por
uma fonte dos Amores que nunca conheceram corretamente... Teriam saudades
dos pernilongos? Ou do mal cheiro? Ou ainda dos lacerdinhas que infestavam
nossos cabelos? Vá saber!!... antiguinhos, antiquados, antiqualha. Dado Histórico:
A antiga Fonte dos Amores vinha da décda de 30. Em meados dos anos 60 já era
sujeira. Foi remodelada em 70 e durou, normal em funcionamento, até 2008,
quando foi remodelada, tentando voltar ao que era.
Se contarmos bem a Segunda fonte durou de, 70 a 2008, mais que a primeira,
portanto, esta deve receber o galardão de tradicional. Homessa!
Mas, o filme continua: Inseticida Banzé, cuidado para não matar o cão também:
E a velha tinha moscas... e as moscas orbitavam... sobre a velha volitavam... lá
na casa suja e limpa... Morriam as moscas, matavam a velha... A velha dizia...
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bradava... ninguém ouvia... banzé, banzai! Flavinho corria no quintal, acorria
atrás dos balões e gritava banzai! banzé... Contras as moscas bato o pé! Festa
Junina! Balõezinhos a subir. Os chinesinhos.
Sabem, aquela velha que dá um pontapé no balde?
Esquece, tal velha não existe... velhos se acomodam... comodistas... raros os
ativos. Em geral se entregam ao ficcional céu empírico. Com direito a nuvem e
lua.
É noite.
Assim acaba nossa história de amor.
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NÓS TEMOS TANTO EM QUE PENSAR
Mas, não se iluda, somos só nós. O resto do mundo pensa em mais nada. Vive de inércia, dentro de
um padrão pré-estabelecido. Mesmo que vivamos esse padrão em muita coisa que fazemos,
também fazemos a diferença por que rompemos o padrão. E, essa diferença não quer dizer que
seja para melhor. Pode ser a diferença que esculhamba o normal – padrão – do dia a dia; e as
pessoas não querem saber desses caras. Vide Jesus. Independente de ser ou não filho de Deus -
provavelmente não – ele escangalhou – tirou a cangalha, a opressão, tirou o jugo – das autoridades
locais e foi parar aonde?
Todo mundo fala nele e não segue nenhum dos seus ensinamentos e preceitos, mesmo por que a
sociedade ficaria inviável e talvez seja essa a verdade, para que ninguém lucre com a realidade -
mas mantêm a pose de que são da turma da paróquia. Beatos e bentos.
Vá seguir tais ensinamentos!! Sai pra rua com 12 caras sem lar ou dinheiro e vê no que dá.
Vamos ver se há uma Igreja que não cobre dízimos; de que seus representantes sejam
maltrapilhos e nem usem roupa de grife; vamos ver quem é que vai querer receber conselhos de
uns caras desses?
Utopias. Mentiras ditas mil vezes.
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Na verdade foram valores usados por inescrupulosos que montaram suas igrejas e clubinhos
religiosos munidos de CNPJ pago em dia a aproveitaram da carência afetiva de cada pessoa.
Peixes que caíram nas redes.
Enfim.
Nossa arte não para.
Quero ir para o Globo? Pode ser, mas eu – Coelho - não fui quando lançaram meu CD de Natal ao
programa da Xuxa. Os princípios permanecem. A base da luta é essa e não tem prêmio algum no
final pois as pessoas dirão: “Como você é bobo... que que tem ir na Xuxa?”
A dona Susan Boyle – para quem acompanha o que vai pelo mundo, mas, para quem não
acompanha não faz diferença - faz pensar e faz chorar por que ela é o símbolo de bilhões de outras
pessoas, tanto ou mais criativas, que nós dois – Coelho e Spina – e elas nunca terão voz. Nós,
quando não nos deixam falar inventamos um blog ou gritamos na rua.
Acabou a eletricidade e acabou o blog? Subo no palco.
Nosso diferencial é ir atrás do auto-falante para gritar e fazer que nos ouçam: teatro, música,
vídeo... são nossas armas. Mesmo assim muitas vezes nos desconvidam pela impertinência. Nossa
expressão corporal na rua (pose?) é nossa arma e bandeira fincada no solo. Jesus era impertinente
e chatonildo. Nossa cabeça erguida pode ser arrogância – e nada mais é do que uma maneira de
olhar mais longe.
O CD de Natal vende. É pop. Minhas outras obras no sitio www.jamendo.com.br – dá um pulo lá e
escreve Coelho De Moraes – e você ouvirá álbuns que ninguém deseja comprar – se é esse o caso,
vender – mas, no entanto, são expressões.
Mas, será esse mesmo o caso. Fazer arte e vender e sofrer se não compram? Cada um compra o
que quiser.
E pra que servirá tudo isso se não passa de mera arte?
Por isso estou fazendo Filosofia. Quero entrar numa sala de aula com 45 alunos para escangalhar
45 cabeças de uma vez.
Estarei me repetindo?
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TREM DA CULTURA E ACESSÓRIOS
Dentro da conferência geral que empreendemos durante essas
semanas, abusando da paciência do leitor, a título de apresentações e
trabalhos executados no âmbito da cultura, apresentamos mais um
sucedâneos de ações. Aquilo que é ou que foi – sempre surpreendente
– o TREM DA CULTURA, jornal devezenquandário, nascido em
Arceburgo nos idos de 97 e que depois ganhou ares mocoquenses.
A idéia era formatar um periódico que falasse sobre filosofia e literatura
em geral, palpitasse e criticasse à vontade, em textos curtos, sem
esquecer da crítica e da agenda cultural. Foi em 1997, junto aos jovens
do GRADA - Grupo de Artes Dramáticas de Arceburgo, que tudo nasceu.
O GRADA entrou na caverna em 1999.
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Os grupos não param. Hibernam, mas não param. Mesmo por que são
muitos os trabalhos e nós somos poucos empreendedores. Se a
atividade se limitasse a teatro apenas, talvez ficasse mais fácil.
O TREM DA CULTURA teve poucos números, se dando ao, luxo de até
de pular o número 5. Não conseguindo ser periódico, pois teve vida
curta em sua terra natal graças à burrice crônica da política local da
época – estamos efetuando pesquisas sobre a atual -, uma vez que
estava em 97 atrelado à Escola Municipal de Artes Dramática e Musicais
de Arceburgo. Fechadas tais portas O TREM se mudou para Mococa e se
desenvolveu com a criatividade de Scarparo Maciel.
Graças ao estudo dos métodos e da geração de diagramas que o TREM
tomou sua forma final, doze ou treze números depois. Temos dúvida
pois, como já disse, o número cinco nunca saiu. Esquecemo-nos dele.
Compilações, História da Arte, pequenos contos, um Concurso Nacional
de Poesia, críticas, textos crípticos (quer dizer, textos cujos assuntos
estão sob código ou escritos de maneira bem arquitetada, própria para
a compreensão de poucos), piadas enfadonhas, pensamentos em geral,
resumos, foram matéria constante do TREM DA CULTURA. Hoje a
abordagem será diferente.
Há computadores por todo lado e os gatilhos da Internet nos levam a
bolar um TREM DA CULTURA online, ou, pelo menos, enviado para cada
e-mail, na forma de um bom SPAM, pois foi para o SPAM que a internet
foi feita, por que se for para ser lerdo eu mando carta.
Os internautas, sábios jovens da informática e da rede – mesmo que só
para uso de chats chatos e pesquisas escolares – estão com a faca, o
queijo e a goiabada na mão. Além do TREM, surgiram o NUNCA LEIA!, o
PRODUÇÃO DE ARTE e mais recentemente o KULTURA?; todos, com
intuito de promover o trabalho cultural. E hoje? Vamos conferir e fazer
a chamada. É isso!
Boa semana para todos!
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DA HISTÓRIA COMO PASSE PARA UMA NOVA MÁSCARA Conversando com amigas muito íntimas - musas célebres e convidativas - sobre leitos quentes, relendo Nietzsche, sem ser, necessariamente, nesta ordem, passamos a refletir sobre a arte da cópia. Fazia isso enquanto enrolava meus dedos em cachos de cabelos notáveis. - Não sendo arte de alta envergadura, - disse-me Kleio, - os povos chamados modernos a praticam diariamente. Nesse ponto, sou obrigado a intervir, centramos em Muganga – cidade que Kleio bem conhece, nossa amadamarga terra-cidade do café-com-leite – onde encontramos contingente enorme de entediados, emburrescentes crônicos e, aptos incansáveis copiadores. Ela disse: - Seres, que ainda considerados humanos, pararam no tempo, concluindo que o tempo melhor era sempre o tempo de ontem, - ela o disse, folheando seus papiros, proclamando os textos de seu interminável pergaminho.
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- Tais seres muganguenses – disse-o eu, lembrando do cheiro de goiaba, aos modos de Macondo, - eles praticam tudo aquilo já foi, sempre, sem perceber que o futuro é o novo que deve espantar a todos. Mesmo espantar a quem pratica o novo. - A prática do futuro requer têmpera e coragem, - a musa concluiu, balançando sua cabeça de cabelos ruivos. Os cacheados aqueles. E fechou seu livro: - Requer tempo, na verdade. Ousadia. Audácia. Sem audácia não se faz uma Revolução Francesa. Sem audácia burguesa. Audácia e a fome do outro. Sim, pois o pobre faminto não tem audácia. Olhei para os dois lados para ver se alguém nos observava. - Acho que você exagera, Clio... - Kleio. Não gosto que me chamam assim... não é Clio... é Kleio... ---- Desculpa sempre me esqueço que você é quem confere a fiama... a musa da História... - Se não a fama, disse ela, pelo menos o crédito de algum feito. Sem pestenejar ela tomou do clarim heróico e obrigou os céus a se elevarem durante bem uns cinco mintuos. Quando ela parou perguntei, para puzar qualquer assunto...: - O que é que você está lendo? - Tucíddides... – e, mostrou-me o livro, - o livro é muito antigo, confeccionado num material frrágil, mas eu tomo muiuto cuidado com ele. Eu amo os livros... e aqui diz, - abriu repentinamente as páginas amareladas e apontou num verbete, - aqui diz que os muganguenses atuais não praticam o caminho que vai para a frente, porém, pensam que sim. - Sei, - disse eu, - independente de romancear futuros frutos e COSMicidade por-vir. Temem, na verdade, a CAOScidade do devir e se escondem sob capas duras dos livros já escritos. Muganguenses da estirpe Átila-café dão passos para trás e posam de cultos. Estátuas de sal. - Há que passar esta geração, - disse ela - Muganguenses, aqui nascidos ou não, pensam na repetição do óbvio e tratam disso como novidade. São mímicos e cegos ao mesmo tempo e cada passo representa retorno ao que há de pior a uma era romana da decadência dos imperadores. Todos loucos, aliás. É necessário reafirmar a burrice pois impérios onde se estabelecem novelas e sopóperas, dizquediz de esquinas e papo político do leva e traz inter-bares, sopapos literários e prolapsos de úteros tardiamente estéreis, não pode merecer epíteto outro que não seja o da limitada capacidade de reflexão. Kleio falou como se vento fosse. Brisa macia. Na verdade nem estava aí.
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- Esta é uma terra em que fumantes inveterados se tornam Secretários de Saúde. - O que? – Kleio perguntou, - não entendi. Na época do canelone o argumento da retrógrada cultura estabelecida era que o escritor destas mal traçadas linhas estava com inveja cujo cotovelo doía. Na atualidade o que se pretenderá? Que tipo de inveja ou ciúme terá este autor agora? Aquela em que se sabe que graça a inoperância e prevalece o sonho? O leitor dirá. Esta é uma cidade onde se fala de tudo sem saber a fonte. Quando o profeta João-O-Não dizia que o “Sonho Acabou”, também desejava dizer – “Vivamos a realidade. Mesmo que sejam muitas e que cada um tenha a sua. Ou, no mínimo, a realidade possível. Ou ainda, a realidade que pudermos criar a cada momento. Pior que isso é a esquizofrenia no poder. Esta é uma cidade em que as pessoas têm medo das múltiplas realidade e nem se olha ao espelho. Trocaram um reino por um sonho. Trocaram resultados satisfatórios por período de aprendizado e de espera. Marcam passo como bons militares sem caminhos. Trocaram ações reais por tentativas no estilo “eu-acho-que-é-assim’. E a cidade, como boa Muganga que é, excetuando, um número de pessoas e pensadores que cabe na mão direita ou esquerda – hoje tanto faz - não reage a nada, pois, morta está. Onírica. Deitados no louro da história antiga – se é que os há – vivem com exemplos do passado e cortam as sementes do futuro. Vivem com as enchentes do passado/hoje. Temos que esperar que desapareçam – morram - e levem consigo o carma, ai será hora de retirar dos obeliscos os nomes dessa gente toda e dar fim a uma era. Aos seus atributos acrescentam-se ainda o globo terrestre sobre o qual ela descansa, e o tempo que se vê ao seu lado, para mostrar que a história alcança todos os lugares e todas as épocas.
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ENTREVISTA
cedida ao Jornal Linha-Direta, online
Lançamento do MARCUS, O IMORTAL, em PDF.
LD – Do que trata MARCUS, o imortal? CDM – É uma ficção localizada na Idade Média, na época da escolástica, séculos 12 e 13 e lá eu invento uma estória baseada em fatos reais, como é o caso do debate sobre a filosofia da época. Debate entre doutores e mestres da Igreja. LD – Por que o interesse pela Filosofia da Idade Média? CDM – Não só da Idade Média. Mas meu interesse pela Filosofia é geral. Junto à Sociologia, a Filosofia foi uma das cadeiras cortadas pela Ditadura Militar. A idéia dos que não pensavam – os militares – era fazer tabula rasa das cabeças de todos. Conseguiram. A Filosofia só volta ao currículo do ensino médio neste ano que vem. Uma geração de servos e vassalos foi criada. A partir de 2010 os alunos começarão a aprender a pensar, novamente. Prevejo grande revolução lá pelo ano 2016. Além disso, eu me formo em Filosofia ano que vem – 2010 - e participarei desta revolução. LD – Mas, nem só de Filosofia trata “MARCUS, o imortal”.
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CDM – Não. MARCUS levanta o esoterismo da época. As lutas entre sarracenos e cristãos, também, e traz uma figura inesperada que é o abade de Clairvaux, São Bernardo, idealizador do movimento Cruzado. Há citações da sabedoria oriental. Há muita citação e muita invenção também. LD – Que importância pode ter uma obra como esta, em Mococa, ou no Brasil? CDM – Sendo ficção e dada a liberdades amplas, a obra MARCUS serve como introdutora do leitor no universo da reflexão filosófica. No universo da alquimia. No mundo das cruzadas e da perseguição religiosa. Além disso o Brasil só aparece na cena em 1500. Há proposta de trazer MARCUS para o Brasil quando chegar o momento. LD – MARCUS, o imortal: o livro termina em aberto. Terá continuidade? CDM – Terá. Mantendo o espírito ficcional. A idéia é trazer o estudante Marcus até os dias de hoje, debatendo a Filosofia moderna. Preservando o que há de busca da verdade e a busca do imaginário. LD – Por que foi lançado no formato PDF? CDM – Temos que caminhar com as novas mídias. Além disso, o custo para se editar em papel é muito alto. Sem necessidade. As editoras e gráficas desejam ganhar muito, mas importante mesmo é o escritor, não a editora. Seria muita presunção querer vender o livro, então, eu, mero desconhecido. No fim guardamos nossos originais e nunca os editamos. Vão para a gaveta. Acabamos por perder o bonde da História. Como eu fui o idealizador do antigo TREM DA CULTURA, não posso me dar ao luxo de perder bonde algum. Daí a idéia de editar no formato PDF e espalhar para todos os interessados mais uma obra de literatura construída em Mococa. Lerá quem quiser. Trata-se de um presente. LD – Há mais livros? CDM – Há. Quero buscar os formatos de e-book. Talvez livros falados. Cheguei a fazer duas coletâneas de livros falados. Poesias recitadas com fundo musical próprio. A FATEC mesmo editará o resultado de seus concursos de contos e poesia, neste ano de 2010, no formato de novas mídias. Acredito que o livro-fetiche (o de papel) está com seus dias contados. Este “MARCUS, o imortal” saiu através do que chamo de Selo Editorial FATECmococa, projetado na Coordenação de Cultura da FATEC. Eu sou o coordenador. E, o sistema está aberto para todos os interessados, sabendo de antemão que não há fim comercial na coisa. É espalhar cultura. E, de repente, iluminar a sua obra com algum olhar. LD – Há um subtítulo que é UM ENCONTRO COM ALBERTO MAGNUS. Por que? CDM – Alberto Magnus e Tomas Aquinas são figuraças da Idade Média. Trouxeram o conhecimento grego via Aristóteles para o seio da Igreja. Os árabes já conheciam Aristóteles e o traduziram. É o mesmo que o lançamento do
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Sputinik. Não se pode ficar para trás. E ambos eram dados à alquimia. Outra figura é o Siger de Brabant, filósofo averroísta. Vale dizer que Dante Alighieri citou os três na Divina Comédia capítulo Paraíso. Sugiro que os mocoquenses leiam a Divina Comédia pois muita família daqui é citada lá. LD – E o futuro da literatura? CDM – Nada sei disso. Mas sei que as mídias mudam os formatos e mudam a abordagem do leitor com o material lido. Existe um livro digital que tem o mesmo formato do livro tradicional só que mais leve. Você pode mudar o tamanho da letra, a cor, iluminar se estiver no escuro, mudar a cor de fundo e tal. Hoje custa 600 dólares, e, lá cabem 200 livros. Não tem papel. Se eu tivesse uns 10 desses teria toda a minha biblioteca pessoal –2000 títulos - dentro dele. Caberia numa prateleira pequena. Se a Biblioteca de Mococa tiver uns 30.000 títulos caberiam todos em 100 livros. Umas dez prateleiras. Podendo ser lido em telão ou TV. Podendo ser lido coletivamente. É o mesmo que a BARSA em um DVD. Isso é a revolução. Essa é a mudança. O ganho do espaço. O resto é tradicionalismo e viver no passado. Como diz Santo Agostinho: Passado e Futuro não existem. Só o hoje. A nova linguagem e a nova mídia são o hoje. Quem for contemporâneo e cosmopolita verá.
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IMPRESSÕES SOBRE UM FESTIVAL DE MÚSICAS
O longo período de inanição – em termos de festivais carnavalescos - de uma cidade “monteirolobato” como Mococa pode ter chegado ao fim graças à iniciativa de uma série de pessoas e mais a ação de Luis Romão. Que isso fique bem entendido. Com a participação de última hora da BANDA ZÉ PEREIRA houve a preocupação de levar a montagem do festival a um topo de importância: a importância que a cidade e música merecem. Assim, o que se espera é que a Banda esteja conjunta nos próximos pois ganharão a experiência necessária e que seja uma Banda muito bem paga. É preciso mais tempo. Patrícia, Guilherme, John e trupe precisam de tempo para trabalhar nos arranjos, precisam de ensaios; arranjos e ensaios consomem tempo e os organizadores devem pensar em valores do tipo 650 reais por três horas de trabalho (que é um cachê mínimo, para cada um). Na questão da organização do FEMUC, não digo comercialização, mas em termos de criatividade da montagem, que são coisas muito diferentes, muita gente espera favores do poder público e fica a reclamar pelas esquinas. Isso é cômodo. No caso do FEMUC é evidente que esses novos são poucos uma vez que a velha guarda, digamos assim, venceu mais uma vez o festival. É coisa da tradição? Não. É coisa da incompetência dos outros, dos menores, dos novos, dos que nunca se preocuparam em estudar nada, termos dessas questões e marchas/marcha-rancho e frevo. Prevalece o formato Silvio Santos de produzir marchinhas.
É possível que as últimas grandes música de carnaval que foram à grande mídia, morreram com Blecaute e Zé Kéti. Fica um abraço nas vozes que fazem nossa
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memória: Bertholucci e Luis Henrique. Os apresentadores magnos que dirigiram e ligaram as pontas soltas. Um pelo profundo estar profissional e outro pela sua espontaneidade e naturalidade. Escolham o adjetivo para cada um deles. Atenção! Não quero aqui dizer que a velha guarda não é competente. Claro que é. Kico Zamarian venceu com méritos e sua técnica de composição funcionou novamente. Letra inclusa. Zé Wagner honrou seu trabalho na música com uma balada interessante e saudosista, já dentro da letra chorosa e piegas, mas esteve lá com melodias e variações. José “Teia” Mônaco, o mais tradicional dos tradicionais também por lá venceu mostrando a sua verve. Valeu a novidade com a música do Bálico, muito mais por causa do intérprete, Júnior Bálico. Não é que fizeram a diferença mas deram o tom do futuro, talvez. Música ainda simples em estilo silviosantos mas teve uma preocupação a mais na construção harmônica. Coisa que as outras – as não selecionadas – não tiveram. A maioria das músicas se mostrou monótona na melodia e monótona na construção harmônica se estamos aqui, sim, falando de purismo e excelência em música. Se é para ser qualquer coisa não há necessidade de festival. Seguindo sabiamente a previsão do jurado Scarparo Maciel a música com inspiração no DÚ levou a melhor em relação ao público.
Sendo assim o resultado final, agraciado pelos jurados em total concordância e critério, fez merecer o que havia de melhor. Quando juntarmos alegria e marcha e brincadeira, no futuro, talvez haja lugar para o argumento de Carnaval é alegria. Bem, não é. Para muitos, de acordo com as letras choramingas, o carnaval é lembrança do passado e melancolia da lembrança do velho que chora as pitangas de sua juventude. Pena. Mas é assim. Do trio de repórteres e jornalistas (sic) nada sei pois nenhumas delas se aproximou dos jurados, engaiolados em suas plásticas cadeiras brahmânicas.
Brâmanes por excelência a decidirem sobre o os destinos da humanidade momesca.
Apesar das (des) conversações sobre o jornalista hodierno ainda é o repórter quem vai à notícia, não é? Ou mudou? Isenta-se o jornalista de vitrine e de celebridades. Jornalismo menor. A impressão que dá é que dentro das artes vale mais a paixão, o coração, do que a técnica e o pensamento. Pois não é e nem pode ser assim. Essa balela de paixão, coração e subjetivismo serve muito bem para texto de filme americano e para arranjar uma desculpa para explicar o inexplicável. É um tipo de pensamento arcaico, romântico, coisa do século 12, que está em voga ainda hoje. Coisas do tipo Mensagem do Yoda: - “A força está dentro de você. Confie na força”. Convenhamos, coisa pueril. É necessário um trabalho árduo. São pensamentos assim que subjazem nas pessoas que pedem para que você trabalhe por amor à arte. Um ultraje sem rigor.
Faltou mulher no carnaval – cantantes e compositoras. Parabéns para Beta Melo. Reina solitária. Sugiro a seguinte coisa, para o ano que vem. Os três campeões devem ser chamados para jurados e impedidos de participar com qualquer composição, pulando sempre um ano. Ou seja, os campeões de uma série não participarão da série seguinte. E, argumento, sendo então jurados, tudo farão para eleger o realmente melhores compositor e música, para que no ano seguinte não venham competir com eles. A coisa é simples e previsível. Se estiverem no
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palco em 2011 é bem provável que voltem a vencer e não será culpa deles. Aos outros eu peço estudos: de voz, de afinação, de busca da melhor letra, de história dos carnavais. Evitem plágio, pois houve muito disso. É assim que a arte se torna uma representante cultural, de outra forma se torna lixo. Havia letra sem pé nem cabeça e isso escrito por gente de letras. Muito erro de prosódia (o correto batimento do verso – a tônica - coincidir com o batimento - o ritmo de acordo com a força de seus pulsos - da música. Os sertanejos das rádios cometem o erro o tempo todo, são uns ignorantes, claro, e, isso passa por normal, mas, não é. É erro mesmo. Basta pesquisar e perceberá que as grandes obras de todos os tempos são preciosas construções artísticas em letra e música). Depois não sabem por que é que existe mais cacique do que índio.
Sugiro revisitar a máxima de Sócrates. O FEMUC pode e deve continuar a existir e depende de iniciativas várias. Não precisa, necessariamente, de obter apoio público. Tendo, ótimo, gasta-se o dinheiro. Soube já que ano que vem teremos TRIO ELÉTRICO; assim, a popularização daquilo que em si tem que ser de cunho popular, cairá nas ruas da cidade. Espero que o Zé Pereira esteja por lá. A coisa toda pode rolar por iniciativa particular, privada, também, para não ficar parecendo favor. Assim sendo o FEMUC acontecerá com ou sem tais apoios pois, apenas os artistas interessados já resolverão o caso. Se não houver interessados, daqui 12 anos teremos outro FEMUC, obedecendo o aparecimento das explosões e manchas solares. Se se mantiver o espírito de Cidades Mortas do Monteiro Lobato, os grandes gênios da civitas revolverão suas entranhas e meterão o malho em debates loquazes em cada bar ou esquina sem se envolver ou resolver nada, que já é uma prática comum. Assim, esperamos uma Mococa acordada. Lendo, porém, o que foi publicado como Diário Oficial do Município, notei que os prêmios eram distribuídos diferentemente do que rolou no Coreto e os homenageados seriam outros três. Pra que se publicou aquilo então, já que mudou tudo? Não era ato oficial?
Mistérios da polis.
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