Cultura

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CULTURA

Curso Profissional Técnico de Apoio Psicossocial– Ciclo de Formação 2013/2017 – Ano Lectivo de 2013/2014Prof.. António Moreira

Conceito sociológico de cultura Cultura

“... poderíamos definir cultura como sendo um conjunto ligado de maneiras de pensar, sentir e agir mais ou menos formalizadas que, sendo apreendidas e partilhadas por uma pluralidade de pessoas, servem, duma maneira simultaneamente objetiva e simbólica, para organizar essas pessoas numa coletividade particular e distinta."

Guy Rocher, Sociologia Geral, Editorial Presença

Conceito sociológico de cultura

A cultura é um fenómeno exclusivo do ser humano. Quando o Homem nasce, é apenas um ser biológico, culturalmente em branco. É à medida que vai crescendo e interiorizando os elementos socioculturais do seu meio que se transforma num ser cultural.

Amala e Kamala o menino selvagem.wmv Ver videos A Menina Selvagem - The Wild Child - Part 1 A Menina Selvagem - The Wild Child - Part 2 A Menina Selvagem - The Wild Child - Part 3 A Menina Selvagem - The Wild Child - Part 4

Conceito sociológico de cultura É evidente que certos atos, como

comer, beber e dormir são atos naturais. Contudo, a forma como o fazemos é cultural. Não comemos de qualquer forma nem comemos qualquer coisa, dormimos a horas certas, submetemos os atos naturais às regras através das quais as sociedades humanas organizam e padronizam o comportamento dos seus membros.

A cultura é a forma que o Homem encontrou de se relacionar com a natureza e, muitas vezes, de ultrapassar os constrangimentos que ela impõe. O Homem apropria-se culturalmente da natureza e organiza-se com o objetivo de dela tirar benefícios. A cultura é, portanto, tudo aquilo que no meio se deve ao Homem.

Conceito sociológico de cultura

O conceito de cultura pode assumir vários significados. Em Sociologia, assume um significado muito importante e é analisado na perspetiva da sua dimensão social.

Conceito sociológico de cultura

Definição de Cultura (Guy Rocher)

Tendo em conta a definição de Guy Rocher, podemos concluir o seguinte:

— O comportamento humano é apreendido, tem muito pouco de instintivo. O Homem vai apreendendo, através da interacção e da comunicação, as informações necessárias à sua sobrevivência e integração social;

— A cultura está formalizada, através de regras, leis, ritos, convenções, protocolos, cerimónias, etc.;

— Os elementos culturais são partilhados pelos membros do grupo. A partilha das mesmas formas de pensar, sentir e agir reforça a identidade cultural e torna as comunidades distintas entre si;

— A cultura tem caráter cumulativo e é transmissível. As formas de pensar, sentir e agir são transmitidas de geração em geração, através da socialização. Cada geração transmite à geração seguinte, acrescentando novos traços culturais. Daí o seu caráter cumulativo;

— A cultura serve para dar resposta às necessidades dos grupos, para a sua organização. O Homem apropria-se socialmente da natureza, organizando-a, para facilitar a sua sobrevivência e a convivência com os outros.

A forma como nos vestimos, os hábitos alimentares, as regras de convivência e cortesia, a língua, a música, os valores, a religião, a arte, as crenças, constituem traços culturais que nos identificam enquanto cultura e que nos distinguem das outras culturas.

Elementos materiais e espirituais da cultura

O conceito de cultura que temos vindo a explicitar compreende elementos de duas ordens distintas: espirituais e materiais.

Os elementos espirituais são aqueles que não são visíveis, palpáveis, constituídos por matéria. São exemplo destes elementos intangíveis da cultura a linguagem, os valores, os rituais, as crenças, a música, os ideais, os usos e costumes de um grupo.

Os elementos materiais, pelo contrário, são aqueles que são visíveis, palpáveis, constituídos por matéria. São exemplo destes elementos tangíveis os documentos históricos, os monumentos, os instrumentos e técnicas de trabalho, as vias de comunicação, etc.  

Naturalmente, os elementos materiais e espirituais não têm existência separada. Influenciam-se reciprocamente. Por exemplo, existem culturas que rejeitam a carne de porco, não a incluindo na sua dieta alimentar. Por outro lado, inovações tecnológicas alteraram hábitos das populações, como, por exemplo, o uso do telemóvel.

Elementos materiais e espirituais da cultura

Diversidade cultural e padrões de cultura

Tendo em conta que a cultura é exclusiva e que cada grupo assume traços culturais que o distingue dos outros grupos, não podemos falar em cultura mas sim em culturas.

As regras de comportamento, os hábitos alimentares, as formas de vestir, os rituais, as crenças, os valores, diferem de sociedade para sociedade. Esta diversidade cultural implica que para a compreensão de determinado ato ou comportamento, o tenhamos que enquadrar na sociedade onde ocorre, evitando uma atitude etnocêntrica.

O etnocentrismo é a sobrevalorização de uma cultura em relação às outras.

É a crença de alguém de que há uma cultura superior a outras, que, geralmente, é a sua. Sempre que uma cultura diferente é analisada à luz dos padrões culturais da pessoa que a analisa, e não dos dessa própria cultura, está a adoptar-se uma atitude etnocêntrica.

Esta atitude deve ser recusada, pois além de incorrecta pode ser altamente perigosa, porque está, frequentemente, na base de preconceitos, do racismo, da xenofobia, levando por vezes a atos de barbárie, como aconteceu, por exemplo, com os Judeus.

Ler texto-Anthony Giddens

Etnocentrismo

Cada sociedade tem os seus padrões culturais, isto é, um conjunto de hábitos e comportamentos comuns aos membros da mesma cultura.

Cada sociedade tem os seus hábitos alimentares, horários estabelecidos para diferentes atividades, formas de cumprimentar, ritos, cerimónias , um conjunto de práticas institucionalizadas que moldam os nossos comportamentos, que tornam as nossas atitudes em comportamentos padronizados.

Padrões Culturais

Um indivíduo que, em Portugal, cumprimente outro roçando o seu nariz no dele, seria visto com estranheza. Contudo, em algumas culturas esse gesto constitui uma forma habitual de cumprimento.

Exemplos de diversidade cultural

O homem recebe do meio cultural, em primeiro lugar, a definição do bom e do mau, do confortável e do desconfortável. Deste modo:

os chineses preferem os ovos podres e os Oceanenses o peixe em decomposição.

Para dormir, os Pigmeus procuram a incómoda forquilha de madeira e os Japoneses deitam a cabeça em duro cepo.

O homem recebe do seu meio cultural um modo de ver e de pensar.

No Japão considera-se delicado julgar os homens mais velhos do que são e, mesmo durante os testes e de boa-fé, os indivíduos continuam a cometer erros por excesso.

O homem também retira do meio cultural as atitudes afetivas típicas:

Entre os Maoris [Nova Zelândia], onde se chora à vontade, as lágrimas correm só no regresso do viajante e não à sua partida.

Nos Esquimós, que praticam a hospitalidade conjugal, o ciúme desapareceu (...). ... Nas ilhas Alor [Indonésia], a mentira lúdica considera-se normal; as falsas promessas às crianças constituem um dos divertimentos dos adultos. O mesmo espírito encontra-se na ilha de Normanby onde a mãe, por brincadeira, tira o seio ao filho que está a mamar .

O respeito pelos pais sofre igualmente flutuações geográficas:

O pai conserva o direito de vida e de morte entre os Negritos das Filipinas e em certos lugares do Togo, dos Camarões e do Daomé.

Em compensação, a autoridade paterna era nula ou quase nula nos Kamtchatka [da Sibéria] pré-comunistas ou nos aborígenes do Brasil.

As crianças Taraumaras [do México] batem e injuriam facilmente os pais.

Entre os Esquimós o casamento faz-se por compra.

Nos Urabima da Austrália um homem pode ter esposas secundárias que são as esposas principais de outros homens.

No Ceilão [atual Sri Lanka] reina a poliandria fraternal: o irmão mais velho casa-se e os mais novos mantêm relações com a cunhada. (…)

O amor e os cuidados da mãe pelos filhos desaparecem nas ilhas do estreito de Torres [Austrália] e nas ilhas Andaman [Índia], em que o filho ou a filha são oferecidos de boa vontade aos hóspedes da família como presentes, ou aos vizinhos, como sinal de amizade.

A sensibilidade a que chamamos masculina pode ser, de resto, uma característica feminina, como nos Tchambuli [Nova Guiné], por exemplo, em que na família é a mulher quem domina e assume a direção.

Os diferentes povos criaram e desenvolveram um estilo de vida que cada indivíduo aceita – não sem reagir, decerto – como um protótipo.”

Diversidade cultural: alimentação

Uma das razões que leva a que na alimentação (tal como no vestuário) haja uma enorme diversidade cultural é o facto de as várias sociedades viverem em meios bastante diferentes em termos de clima, relevo, fauna e flora. A sua gastronomia reflecte o meio físico em que vivem. Depois entra em cena a socialização, para assegurar que quase todos os membros da sociedade acham deliciosos os alimentos disponíveis

Diversidade cultural: exemplos – linguagem gestual

Na foto vemos uma mulher a comer com a mão esquerda. Num país como Portugal isso não é digno de reparo, mas o mesmo não sucede num país muçulmano. A higiene corporal dos muçulmanos realiza-se com a mão esquerda, pelo que utilizá-la para comer é considerado nojento.

A imagem exibe um gesto que para diversos povos, como por exemplo os portugueses e os norte-americanos, exprime aprovação e deleite. Em França, contudo, é uma forma simbólica de dizer a alguém que não vale nada, que é um “zero à esquerda”. Para os alemães simboliza o recto, pelo que a sua utilização em muitos contextos pode ser considerada insultuosa.

Em muitos países, nomeadamente da Europa, o gesto da imagem significa “alto aí”,  “não, obrigado” ou uma saudação. Contudo, na África Ocidental quem o fizer estará a dizer “tens cinco pais”, ou seja, “és um bastardo”.

Colocar o dedo indicador da mão direita na bochecha e depois rodá-lo é habitual nalgumas regiões italianas. Esse gesto exprime aprovação e não é usado em nenhum outro lugar do mundo.

Na Índia e em países muçulmanos, como por exemplo a Arábia Saudita e o Egipto, é habitual os homens andarem de mão dada. Tal comportamento é socialmente relacionado com amizade e companheirismo e não com homossexualidade.

Diversidade cultural: exemplos musicais

Os Ainu são um povo que vive na ilha de Hokkaido, no Japão, e noutras ilhas próximas do Japão (mas actualmente sob administração russa). Um dos dos seus costumes tradicionais consistia em tatuar um bigode nas mulheres. Sem ele não eram consideradas nem bonitas nem suficientemente maduras para casar.O Estado japonês começou a reprimir esse costume no último quartel do século XIX. Apesar disso, em pleno século XX algumas mulheres Ainu continuavam a tatuar um bigode.

Rituais de iniciação

Cultura e socialização

A socialização é um processo de transmissão de cultura. É através da socialização que os indivíduos apreendem as regras e as práticas sociais dos grupos a que pertencem.

A criança ao nascer é um "livro em branco" pronto a ser escrito pelos agentes socializadores da sociedade onde está inserida. À medida que vai crescendo, vai assimilando os valores, as normas e os comportamentos socialmente estabelecidos, através da interacção e comunicação com os outros elementos da comunidade.

O comportamento humano é um comportamento que se aprende e a socialização é o processo utilizado pelas sociedades para que aqueles que as compõem tenham o comportamento adequado.

As sociedades pretendem que todos os seus membros interiorizem modelos de comportamento conformes às normas e aos valores do grupo.

Essa interiorização realiza-se através da transmissão da cultura que é levada a cabo pelos agentes socializadores.

A socialização é, por isso mesmo, um processo dinâmico e contínuo de transmissão de cultura que, tendo em conta a evolução da cultura e a diversidade cultural, terá necessariamente, que variar no tempo e no espaço.

Dinamismo da cultura

Na base da cultura existem valores com os quais as pessoas se identificam e que dão coesão ao grupo. Esses valores são o substrato de normas que vão orientar o nosso comportamento.

Recebemos todo um legado cultural através da nossa socialização e transmitimo-lo às gerações vindouras. Contudo, a cultura não é estática. Novos elementos do grupo e diversos fatores vão contribuindo para a alteração da cultura.

A cultura é dinâmica. A difusão cultural que advém do

cada vez maior contacto entre culturas provoca a aculturação.

As sociedades vão tornando seus e assimilando traços culturais de outros grupos.

Aculturação

A aculturação diz respeito às modificações culturais resultantes dos contactos entre pessoas de duas sociedades diferentes. Esses contactos podem consistir em interações diretas, provocadas por conquistas militares, colonização, emigração, atividades missionárias e até turismo. Mas podem também ser contactos indiretos através dos diversos meios de comunicação social (televisão, internet, cinema, jornais, etc.).

A aculturação é um fenómeno social constante, tanto no presente como no passado. As diversas sociedades não são estanques e influenciam-se umas às outras de diversos modos.

A aculturação parece assumir duas formas principais, havendo entre elas diversos graus intermédios.

A aculturação por destruição, quando uma sociedade consegue impor a sua cultura a outra sociedade e a cultura desta desaparece ou se torna residual.

A aculturação por assimilação, quando uma sociedade é influenciada pela cultura de outra sociedade mas não põe de lado a sua própria cultura. Essa influência constitui um enriquecimento, um alargamento do património cultural.

As sociedades vão tornando seus e assimilando traços culturais de outros grupos.

Basta pensar nos estrangeirismos, em novos hábitos alimentares.

Por outro lado, as novas descobertas científicas e tecnológicas alteraram profundamente os comportamentos.

Acresce a isto, a mudança de ideais. O pensamento não é estático.

Os valores em que as sociedades acreditam como sendo os corretos também se vão alterando.

Vemos, nas sociedades actuais, comportamentos socialmente aceitáveis que noutras épocas eram considerados comportamentos desviantes. Comportamentos até regulados pelo Direito, como as uniões de facto ou os casamentos homossexuais.

A globalização económica, financeira, cultural e política contribui para um grande dinamismo das culturas e também para a sua aproximação e conhecimento mútuo.

EM SÍNTESE

A cultura é um conjunto de maneiras de pensar, sentir e agir partilhadas por um grupo.

0 Homem apropria-se culturalmente da natureza e organiza-a de maneira a ultrapassar os constrangimentos que dele decorrem.

0 comportamento humano é apreendido através da interacção e da comunicação.

A cultura tem carácter cumulativo e é transmissível.

A cultura está formalizada. Os elementos espirituais da cultura

são aqueles que não são visíveis, que não são constituídos por matéria, intangíveis.

Os elementos materiais da cultura são os que são visíveis, constituídos por matéria, tangíveis.

Sendo a cultura exclusiva de cada grupo não podemos falar em cultura mas sim em culturas. Daí a diversidade cultural.

Os padrões culturais são um conjunto de hábitos e comportamentos comuns aos

membros de uma mesma cultura. 0 facto de os elementos de um grupo

terem sido socializados tendo em conta o mesmo tipo de valores, normas e práticas, torna as suas atitudes idênticas, padronizadas.

Os comportamentos padronizados facilitam a vida em sociedade.

A interiorização de modelos de comportamento conformes às normas e aos valores do grupo é feita através da socialização.

A cultura não é estática, evolui tendo em conta a evolução dos valores que são o substrato das normas.

Esse dinamismo cultural resulta, em grande parte, do contacto entre culturas, da difusão cultural.

A difusão cultural provoca a aculturação, isto é, as sociedades tornam seus os traços culturais de outros grupos.

A globalização a todos os níveis, característica das sociedades atuais, dá origem a um grande dinamismo cultural.

As culturas devem ser analisadas à luz dos seus próprios padrões culturais, evitando-se assim atitudes etnocêntricas, que são perigosas para a humanidade.