CURSO CLÍNICA PSICANALÍTICA 2012 - Aula 7 - Neurose obsessiva e transtorno afetivo bipolar

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Clínica Psicanalítica:manejo e subjetivações na

contemporaneidade

Tema:

Neurose obsessiva e transtorno afetivo bipolar

Coordenação Alexandre

Simões

ALEXANDRE SIMÕES

® Todos os direitos de

autor reservados.

Novos sintomas ou sintomas apresentados

sob uma nova forma

Lacan, argumenta que estamos passando, nas últimas décadas, por uma significativa mudança na lógica dos

discursos:

esta é uma forma de dizer que o laçosocial muda e o lugar do Outro: o mundo que nos fala e

de onde nósfalamos, mudam também.

De forma mais homogênea, até a metade do século passado, os ideais funcionavam

amplamente comomoderadores do modo de gozar de cada sujeito

Nesteséculo, os ideais já não

predominam no ordenamento dos discursos e, portanto, nas nossas relações com o

outro (o semelhante, o corpo, o limite, o sintoma, etc.), o

que é diferente de dizer que eles tenham desaparecido

Há uma face do objeto a que está cada vez mais em evidência.

No lugardo ideal que tempera o gozo, vemos uma

multiplicidade deideais distintos que produzem

identificações subjetivastransitórias e precárias

Fragmento clínico:

Um homem, com aproximadamente 45 anos de idade, me é indicado por um colega psiquiatra

por conta de algumas situações que, desde esta perspectiva, receberam o diagnóstico de Transtorno Afetivo Bipolar (TAB).

Do ponto de vista meramente descritivo, o paciente apresentava claramente algumas

manifestações sintomáticas que facilmente se adequavam aos critérios demarcadores do TAB:

havia, ao longo de sua vida, mais de um episódio de alternância entre os momentos de um humor mais depressivo e as situações de

elevação do mesmo, chegando quase à hiperexcitabilidade.

Quando tomado por uma situação de maior desânimo e apatia, sua maneira de pensar, agir e sentir sofriam as repercussões, tornando-se mais lentificada. Igualmente, quando imbuído de maior excitabilidade no seu dia-a-dia, o pensamento, as

ações e o modo de se relacionar com o mundo tornavam-se mais intensos e acelerados.

Como é de se esperar, estas alternâncias acabavam por envolver sua esposa e dois filhos, fazendo com que a vida

familiar tivesse seus altos e baixos ao comando das elevações e rebaixamentos do humor do pai.

O que era bem nítido na situação de oscilação do afeto descrita pelo paciente como uma

característica já instalada ao longo de sua vida - mas, certamente, bem mais exacerbada nas

tramas do discurso psiquiátrico - restringia-se a um sentimento bastante íntimo de ora estar bem

consigo mesmo, ora estar mal.

Ou seja, mais do que grandes comportamentos

orquestrados por um humor elevado ou depreciado e instalado nas relações de objeto, o

paciente apontava para uma sensação de alternância entre o ‘estar bem’ e o ‘estar mal’.

E isto se dava apesar de suas conquistas, pois ele se via, do ponto de vista material, como um homem bem-sucedido. Ele e sua esposa eram

empresários, com trajetórias de trabalho já firmadas desde a adolescência.

Vale fazer aqui um parêntese e indicar que, atualmente, a categoria clínica nomeada

Transtorno Afetivo Bipolar está tão difundida entre os pacientes adultos (vindo, ao que tudo

indica, a superar a apresentação da Síndrome de Pânico), na mesma proporção que o TDAH está

alastrada na infância.

Não devemos, junto da Psicanálise, perder de vista o posicionamento do sujeito em seu modo de gozo.

Frequentemente, isto há de ser construído, não só ao lado da demarcação sindrômica do diagnóstico mas, para-além

desta demarcação.

Isto, quando não se faz necessário até mesmo ir na contramão deste raciocínio sindrômico baseado em

evidências.

Na nossa atualidade, é perfeitamente possível

que toda uma gama de sujeitos histéricos e obsessivos sejam

apreendidos dentro do espectro bipolar.

E mais: é esperado que eles próprios se prendam a isto.

Atitudes relacionadas a compras e gastos excessivos - este modo um tanto quanto típico de se expandir em

consonância com o mercado - não eram tão manifestas neste paciente.

A excitabilidade, neste caso, apresentava-se com mais nitidez por meio de dois aspectos: o uso de álcool e a

atividade sexual.

O intenso chamado sexual que este homem encarnava fez com que ele realizasse uma ‘pesquisa’, como assim nomeou: iniciou uma temporada de inquérito de todos os homens com

quem tinha alguma forma de amizade (incluindo aqui os conhecidos mais recentes): na roda de conversa, na festa, no encontro fortuito, ele queria saber destes homens como que se manifestava neles a excitação sexual, pois ele acreditava (sobretudo por conta dos frequentes desencontros que isto gerava entre ele e sua esposa) que havia um ‘a-mais’, um

‘excesso’ com ele.

A frequência com que ele se mostrava excitado diante de sua esposa, o número de vezes ao longo da semana em que ele a procurava para fazerem sexo e - um fato

chamativo neste paciente - a insaciabilidade eram marcas, ao ver do paciente, que justificavam a

comparação dele com os outros homens.

Basicamente, ele aborda estes outros homens com uma indagação fálica: “o que eu tenho, vocês

também têm?”.

Por mais de uma vez, assim que este homem terminava de fazer sexo com sua esposa (e esta

excitabilidade também envolvia, em alguns momentos, outras mulheres), ele precisava de manter a atividade sexual (e normalmente sua

esposa recusava) ou se masturbar.

E na conversa com seus amigos, o que era para estes uma dádiva, mostrava-se para ele como uma situação de prazer que sempre esbarrava no mal-

estar e, junto deste, no enigma.

Quanto ao uso do álcool:

Seguia uma trajetória um tanto quanto

semelhante ao circuito da excitação sexual.

Tanto que a alteração de uma via, ao longo da análise, foi concomitante à modificação da outra.

O que é importante ressaltar é a instalação, para-além da demarcação sindrômica do TAB, de uma

nítida problemática obsessiva neste paciente

Como operar com o gozo que se impõe ao

nosso tempo?

A Clínica Psicanalítica pode, atualmente, oferecer outras vias a estes sujeitos?

Por nossa posição de sujeito somos sempre

responsáveisJacques Lacan, A Ciência e a Verdade,

(in: Escritos), p.873

Prosseguiremos com o tema:

Neurose obsessiva e transtorno da ansiedade generalizada

Até lá!

Acesso a este conteúdo:www.alexandresimoes.com.br

ALEXANDRE SIMÕES

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