Post on 08-Nov-2018
DANIELLE GAZZANA RIBEIRO
A GLOBALIZAÇÃO DA LÍNGUA:
ESTRANGEIRISMO E NEOLOGISMO NA LÍNGUA INGLESA
CANOAS, 2009
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DANIELLE GAZZANA RIBEIRO
A GLOBALIZAÇÃO DA LÍNGUA:
ESTRANGEIRISMO E NEOLOGISMO NA LÍNGUA INGLESA
Trabalho de conclusão apresentado para a banca examinadora do Curso de Letras do Centro Universitário La Salle - UNILASALLE, como exigência parcial para obtenção do grau de Licenciado em Letras, habilitação Inglês e Literaturas da Língua Inglesa.
Orientação: Prof.ª Drª. Valéria Brisolara
CANOAS, 2009
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DANIELLE GAZZANA RIBEIRO
A GLOBALIZAÇÃO DA LÍNGUA:
ESTRANGEIRISMO E NEOLOGISMO NA LÍNGUA INGLESA
Trabalho de conclusão aprovado como requisito parcial para obtenção do grau de Licenciado em Letras, habilitação Inglês e Literaturas da Língua Inglesa pelo Centro Universitário La Salle – UNILASALLE.
Aprovado pelo avaliador em dezembro de 2009.
AVALIADOR:
___________________________________________
Prof. Dra. Valéria Brisolara – Orientadora Centro Universitário La Salle - UNILASALLE
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AGRADECIMENTOS
A minha família, que sempre me incentivou e apoiou, especialmente à minha
mãe, Gizele, que nunca dúvida da minha capacidade;
A meu marido André, que sempre me compreendeu e me ajudou nos
momentos difíceis;
A professora Valéria Brisolara minha orientadora, pela dedicação,
competência, seriedade e pela confiança em mim depositada no processo de
desenvolvimento desta monografia. E mais do que isso, por me apresentar o mundo
em suas aulas e dividir os seus conhecimentos e por sempre se mostrar disponível e
acreditar em mim;
Aos amigos e colegas em especial a Gisele Santos e Elisangela Cenci, que
sempre contribuíram para meu trabalho, colaborando com ideias e bibliografia.
A Deus, sempre;
Enfim, a todos que, de alguma forma significativa, contribuíram e constituem a
razão do meu esforço no sentido de me tornar uma profissional do ensino.
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“... o tempo altera todas as coisas; não existe
razão para que a língua escape a essa lei universal.”
Ferdinand Saussure
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RESUMO
Muitas línguas "tomam emprestadas" palavras de outras línguas, mas a língua inglesa vem exercendo uma influência muito grande em todo lugar. Esse fenômeno de adoção e incorporação de palavras estrangeiras em outras línguas recebe o nome de estrangeirismo, mas o processo de criação e modificação das palavras é chamado de neologismo. Embora esses termos possam parecer novos para alguns, para os linguistas já são velhos conhecidos. Nesse contexto, o objetivo principal do trabalho é saber se há uso de neologismos e estrangeirismos na língua inglesa. E identificar se existe a necessidade de falantes ingleses aprenderem outras línguas. Já que o inglês é a língua que mais exporta vocábulos e serve como base para criação de palavras em muitas línguas.
Palavras-chaves: Língua Inglesa, Estrangeirismos, Neologismos.
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ABSTRACT
Many languages "borrow" words from other languages, but English has exerted a great influence everywhere. This phenomenon of adoption and incorporation of foreign words in other languages is called foreign words, but the process of creation and modification of words is called a neologism. Although these terms may seem new to some, for the linguists are old acquaintances. In this context, the main objective is to discover the use of neologisms and foreign words in English. And identify if there is a need for English speakers to learn other languages. Since English is the biggest export words and serves as the basis for creation of words in many languages. Key words: English Language, Borrowed words, Neologisms.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Quantidade e exemplos de palavras universais........................................40
Figura 2 - É preciso ser bilíngue para não cair..........................................................42
Figura 3 - Ascensão pelo vocabulário .......................................................................46
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO................................................................................................. 10
2 LÍNGUA INGLESA: HISTÓRIA, ORIGENS E ESTRUTURA .......................... 12
2.1 Inglês Antigo ( Old English ) ........................................................................... 12
2.2 Inglês médio ( médio English ) ....................................................................... 14
2.3 Inglês moderno ( modern English )................................................................ 16
3 O LÉXICO DA LÍNGUA INGLESA .................................................................. 18
4 NEOLOGISMOS .............................................................................................. 21
4.1 Neologia na língua inglesa ............................................................................ 22
4.1.1 Processo de inclusão dos neologismos no léxico inglês.................................. 25
5 ESTRANGEIRISMOS ...................................................................................... 26
5.1 Estrangeirismos na língua inglesa ............................................................... 27
5.2 O comportamento dos estrangeirismos na língua i nglesa ....................... 29
6 O INGLÊS DE HOJE – MUDANÇAS RÁPIDAS ............................................. 32
6.1 O Inglês internacional ................................................................................... 33
6.1.1 A Língua Global – Global Language................................................................ 35
6.2 Consequências das influências de grupos linguís ticos na língua inglesa 37
6.2.1 O Português no Inglês .................................................................................... 39
6.2.2 Spanglês – Spanglish ..................................................................................... 41
6.2.3 Palavras inglesas incomodam italianos .......................................................... 43
6.3 A partir de 2000 ............................................................................................. 44
7 CONCLUSÃO ................................................................................................. 47
REFERÊNCIAS .............................................................................................. 50
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1 INTRODUÇÃO
A globalização provocou uma nova tendência que busca padronizar todas
as culturas em uma só. Este fenômeno causa ainda uma busca constante por
uma unidade linguística para que a compreensão entre os povos seja facilitada.
Para tanto, o inglês, que é o idioma falado nos Estados Unidos, país
historicamente conhecido como uma das maiores potências, vem cumprindo o
papel de uma língua mundial.
Com o advento de novas tecnologias e sua incessante atualização, os
meios de comunicação de massa são um dos maiores facilitadores para a
entrada de termos estrangeiros em um idioma. Programas televisivos, revistas,
jornais impresso, rádios, dentre outros, importam diariamente palavras que
pertencem a outras línguas, e os motivos são os mais diversos: por se tratar de
um termo técnico, pela falta de uma palavra que a substitua em seu próprio
idioma, por modismo ou até mesmo para causar algum efeito.
O interesse por este tema surgiu quando percebemos a intensidade com
que termos ingleses são usados na língua portuguesa. Se o uso do inglês no
português está tão intenso, surgiu a questão inversa: será que os falantes e
usuários do inglês também usam no seu dia-a-dia estrangeirismos? E para
melhorar a discussão, será que criam palavras novas, os neologismos? Estas
dúvidas despertaram o interesse para um estudo mais profundo sobre o
assunto.
Com este trabalho, queremos mostrar aos falantes de língua portuguesa
que utilizam o inglês como segunda língua, que assim como o português
emprega e cria palavras, o inglês também sofre influências e modificações.
Essas alterações podem aparecer como estrangeirismos, neologismos e como
empréstimos linguísticos. O uso desses recursos linguísticos na língua falada e
na escrita causa muitas discussões entre os estudiosos da língua,
principalmente entre os americanos David Crystal e David Graddol.
Frente a essa polêmica, e com o intuito de embasar teoricamente este
estudo, temos, inicialmente, um breve histórico da Língua Inglesa como língua
no mundo. No capítulo 2, nossa principal referência será o autor David Crystal,
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cuja obra ilustrará bem as diferentes fases da Língua Inglesa até tornar-se a
língua mais influente em todo o mundo. No terceiro capítulo, faremos uma
explanação de como se forma e altera o léxico da língua inglesa, assim como
os processos que cada palavra sofre até ser incorporada ao vocabulário inglês.
No capítulo 4, mostraremos os conceitos e as variantes dos neologismos nas
línguas e, especificamente, no inglês. Também mostraremos todos os
procedimentos que os neologismos sofrem até serem aceitos na língua. No
quinto capítulo, veremos os conceitos de estrangeirismos e as principais
influências das outras línguas no léxico inglês. No capítulo 6, será apresentado
o inglês nos dias atuais e quais as modificações e quais línguas estão sendo
mais utilizadas pelos falantes ingleses.
Por fim, na conclusão deste trabalho tem-se uma visão geral sobre o
estudo linguístico realizado, que consideramos de fundamental importância
para falantes, estudantes e professores da língua de Shakespeare.
Esta pesquisa tem como um dos seus objetivos fazer os estudantes e
educadores da área de letras entenderem melhor este conceito de
globalização. E como esse fenômeno atinge não somente as áreas econômicas
e financeiras mundiais, mas também a língua global, o inglês.
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2 LÍNGUA INGLESA: HISTÓRIA, ORIGENS E ESTRUTURA
O ponto de partida para os aspectos apresentados neste capítulo é a relação
entre língua, linguagem e cultura e como os elementos contextuais e situacionais
determinam o uso da linguagem e das escolhas linguísticas realizadas pelos
usuários da língua no dia-a-dia em detrimento do contexto em que está inserido. O
foco central da discussão é a língua inglesa: sua história, sua evolução, seu estado
atual. Serão abordados aspectos desde a origem do idioma, sua formação, suas
transformações e as fases pelas quais passou até configurar-se como o
conhecemos hoje, bem como os aspectos sociais, históricos, políticos, geográficos,
econômicos, culturais, entre outros, que alçaram o inglês à condição de língua
global. Será discutido, ainda, o conceito de neologismo na disseminação do inglês,
além dos reflexos e dos impactos sofridos pelo inglês com a utilização de
estrangeirismos.
David Crystal (2004, p. 36) afirma que não existe apenas um inglês, mas sim
variantes do inglês. E quando se comenta algo contra, basta darmos como exemplo
as variantes da língua entre ingleses e americanos. O mesmo também acontece
com o português. Existem várias diferenças entres os falantes brasileiros, europeus
e africanos. As derivações do inglês são três e a história dessa língua mundial
também é divida em três fases: inglês antigo denominado Old English, Inglês médio
o Inglês médio e o Inglês moderno, o modern English que é falado hoje.
2.1 Inglês antigo (old English)
Para compreender como o inglês tornou-se a língua mundial devemos
conhecer o início, e o início significa estudar a história. A língua inglesa é uma língua
indo-européia que pertence ao ramo ocidental da família germânica originando-se na
Inglaterra e sua evolução é marcada por grandes episódios históricos, disputas pelo
poder e invasões.
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O inglês deriva de três dialetos baixo alemães falados pelos anglos e saxões
que emigraram da Dinamarca e do norte da Alemanha para se estabelecer na
Inglaterra a partir da metade do século V em diante. Podemos observar em alguns
exemplos as semelhanças das palavras. Do baixo alemão – dör, pad, skip, heit; do
inglês – door, path, ship, hot e do alto alemão tur, Pfad, Schiff, heiss.
O Inglês antigo se caracteriza pela fase compreendida ente 450 d.C. e o final
do século XI e era composto por quatro dialetos: o nortúmbrio, o saxão ocidental, o
kentiano e o mércio. Foi neste período ainda que a língua dos anglo-saxões primeiro
recebeu palavras latinas, durante a ocupação romana.
Em 597 a.D. a Igreja manda missionários liderados por Santo Agostinho para
converter os anglo-saxões ao cristianismo. O processo de cristianização ocorre
gradual e pacificamente, marcando o início da influência do latim sobre a língua
germânica dos anglo-saxões, origem do inglês moderno. Esta influência ocorre de
duas formas: introdução de vocabulário novo referente à religião e adaptação do
vocabulário anglo-saxão para cobrir novas áreas de significado. A necessidade de
reprodução de textos bíblicos representa também o início da literatura inglesa.
Aquele período, a Inglaterra encontra-se dividida em sete reinos anglo-saxões
e o inglês antigo, então falado, na verdade não era uma única língua, mas sim uma
variedade de diferentes dialetos. Os dialetos do inglês antigo de antes do
cristianismo eram línguas funcionais para descrever fatos concretos e atender
necessidades de comunicação diária. O vocabulário de origem greco-latina
introduzido pela cristianização expandiu a linguagem anglo-saxônica na direção de
conceitos abstratos.
Ao final do século VIII, iniciam os ataques dos Vikings contra a Inglaterra.
Originários da Escandinávia, esses povos usavam de violência e seus ataques
causaram destruição em muitas regiões da Europa. Os Vikings que se
estabeleceram na Inglaterra eram predominantemente provenientes da Dinamarca e
falavam dinamarquês. Esses mais de 200 anos de presença de dinamarqueses na
Inglaterra naturalmente exerceram influência sobre o Old English. Entretanto, devido
à semelhança entre as duas línguas, torna-se difícil determinar esta influência com
precisão.
A Batalha de Hastings em 1066 foi um evento histórico de grande importância
na história da Inglaterra. Representou não só uma drástica reorganização política,
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mas também alterou os rumos da língua inglesa, marcando o início de uma nova
era. Durante os 300 anos que se seguiram, principalmente nos 150 anos iniciais, a
língua usada pela aristocracia na Inglaterra foi o francês. Falar francês tornou-se
então condição para aqueles de origem anglo-saxônica em busca de ascensão
social através da simpatia e dos favores da classe dominante.
O inglês antigo, comparado ao inglês moderno, é uma língua quase
irreconhecível, tanto na pronúncia, quanto no vocabulário e na gramática. Para um
falante nativo de inglês hoje, das 54 palavras do Pai Nosso em Old English, menos
de 15% são reconhecíveis na escrita, e provavelmente nada seria reconhecido ao
ser pronunciado. A correlação entre pronúncia e ortografia, entretanto, era muito
mais próxima do que no inglês moderno. No plano gramatical, as diferenças também
são substanciais. Em Old English, os substantivos declinam e têm gênero
(masculino, feminino e neutro), e os verbos são conjugados. Mas algumas palavras
sobreviveram às mudanças como é caso de: under, over, the, father, mother,
brother, etc.
Crystal (2003, p. 124) afirma que as palavras com origem no inglês antigo têm
um poder especial de comunicação porque sua simplicidade expressa com mais
clareza certas coisas para aqueles com alguma familiaridade com a língua inglesa.
Segundo a análise da companhia Optimum1, o romance 1984, de George
Orwell, utiliza 74,2% do velho inglês. Um pouco mais do que Jane Austen que, em
Orgulho e Preconceito, que utilizou 74,1% do idioma clássico.
2.2 Inglês médio (Inglês médio)
O Inglês médio se caracteriza pela fase compreendida entre o início do século
XII até o fim do século XV. O elemento mais importante do período que corresponde
ao Inglês médio foi, sem dúvida, a forte presença e influência da língua francesa no
inglês. Essa verdadeira transfusão de cultura franco-normanda na nação anglo-
saxônica, que durou três séculos, resultou principalmente num aporte considerável
de vocabulário. Isto demonstra que, por mais forte que possa ser a influência de uma
1 Local onde se destina a analisar passagem de escritos em inglês.
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língua sobre outra, esta influência normalmente não vai além de um enriquecimento
de vocabulário, dificilmente afetando a pronúncia ou a estrutura gramatical.
O passar dos séculos e as disputas que acabaram ocorrendo entre os
normandos das ilhas britânicas e os do continente, provocam o surgimento de um
sentimento nacionalista e, pelo final do século 15, já se torna evidente que o inglês
havia prevalecido. Até mesmo como linguagem escrita, o inglês já havia substituído
o francês e o latim como língua oficial para documentos. Também começava a surgir
uma literatura nacional.
Muito vocabulário novo foi incorporado com a introdução de novos conceitos
administrativos, políticos e sociais, para os quais não havia equivalentes em inglês.
Em alguns casos, entretanto, já existiam palavras de origem germânica, as quais, ou
acabaram desaparecendo, ou passaram a coexistir com os equivalentes de origem
francesa, em princípio como sinônimos, mas, com o tempo, adquirindo conotações
diferentes. Neste período a língua inglesa passou a sofrer alterações e variações de
uso de acordo com as classes sociais. Esse fato até então não era novo, pois o latim
já havia sofrido esse fenômeno. O latim clássico, gramaticalizado, era usado pelas
pessoas cultas, era falado e escrito; o latim vulgar era usado pelo povo, e apenas
falado. Um exemplo clássico dessa diferença de uso e emprego de palavras na
época é o uso dos termos pig e pork, que respectivamente significam porco. Só que
os menos favorecidos comiam pig, e portanto usavam a palavra do anglo-saxão e a
nobreza comia pork e usava a palavra derivada do dialeto normando. Hoje com a
evolução as palavras denominam sentidos diferentes. O pig é o animal porco e pork
é carne de porco para consumo humano.
Pequenas diferenças dialetais resultantes desta simbiose entre diferentes
grupos sociais e suas respectivas línguas podem ser observadas ainda atualmente.
Nos meios intelectuais das classes mais privilegiadas dos países de língua inglesa
existe até hoje uma tendência a um uso maior de palavras de origem latina.
Além da influência do francês sobre seu vocabulário, o Inglês médio se
caracterizou também pela gradual perda de declinações, pela neutralização e perda
de vogais atônicas em final de palavra e pelo início do Great Vowel Shift (grande
mudança vocálica).
16
2.3 Inglês moderno ( modern English )
De acordo com David Crystal (2004, p. 46), o inglês moderno se caracteriza
pela fase compreendida do ano de 1475 d.C. até os dias atuais. Enquanto que o
Inglês Médio se caracterizou por uma acentuada diversidade de dialetos, o Inglês
Moderno representou um período de padronização e unificação da língua. O advento
da imprensa em 1475 e a criação de um sistema postal em 1516 possibilitaram a
disseminação do dialeto de Londres - já então o centro político, social e econômico
da Inglaterra. A disponibilidade de materiais impressos também deu impulso à
educação, trazendo o alfabetismo ao alcance da classe média.
A reprodução e disseminação de uma ortografia finalmente padronizada,
entretanto, coincidiu com o período em que ocorria ainda a Great Vowel Shift. As
mudanças ocorridas na pronúncia a partir de então, não foram acompanhadas de
reformas ortográficas, o que revela um caráter conservador da cultura inglesa.
Temos aí a origem da atual falta de correlação entre pronúncia e ortografia no inglês
moderno.
O processo de padronização da língua inglesa iniciou em princípios do século
XVI com o advento da litografia, e acabou fixando-se nas presentes formas ao longo
do século 18, com a publicação dos dicionários de Samuel Johnson em 1755,
Thomas Sheridan em 1780 e John Walker em 1791. Desde então, a ortografia do
inglês mudou em apenas pequenos detalhes, enquanto que a sua pronúncia sofreu
grandes transformações. O resultado disto é que hoje em dia temos um sistema
ortográfico baseado na língua como ela era falada no século XVIII, sendo usado
para representar a pronúncia da língua no século XX.
Da mesma forma que os primeiros dicionários serviram para padronizar a
ortografia, os primeiros trabalhos descrevendo a estrutura gramatical do inglês
influenciaram o uso da língua, incorporando conceitos gramaticais das línguas
latinas e trazendo uma uniformidade gramatical.
Durante os séculos XVI e XVII ocorreu o surgimento e a incorporação
definitiva do verbo auxiliar do para frases interrogativas e negativas. A partir do
século XVIII passou a ser considerado incorreto o uso de dupla negação numa
mesma frase.
17
A partir de 1500 começa o período da expansão geográfica do Inglês;
primeiro nas regiões vizinhas da Cornuália, Gales, Escócia e Irlanda, onde substitui
quase completamente o céltico e nas ilhas Shetlands e Orcadas substitui a língua
descendente do Norueguês Antigo chamada Norn.
E hoje o inglês é a língua materna para muitas pessoas no Reino Unido, nos
Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelândia, República da Irlanda, África do
Sul, Jamaica, Gana, Índia e no Caribe Anglófono. É usada extensivamente como
uma segunda língua e como língua oficial através do mundo, especialmente nos
países da Comunidade das Nações e em muitas organizações internacionais, sendo
uma das seis línguas oficiais das Nações Unidas.
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3 O LÉXICO DA LÍNGUA INGLESA
Antes de compreender e conhecer o que é neologismo e estrangeirismo,
temos que saber que estes itens compõem o que chamamos de léxico. Léxico é o
conjunto de todas as palavras pertencentes de alguma forma a um idioma, passíveis
de serem empregadas em seus vários níveis linguísticos. O léxico constitui um
inventário aberto, em parte mutável por representar a visão do mundo e a cultura do
povo que o usa. Essa mutabilidade, porém, observa-se mais nas palavras ditas de
significação externa, como substantivos, adjetivos e verbos, que nas de significação
interna, tais como advérbios, preposições e conjunções, cujo inventário é geralmente
fechado. As mudanças léxicas acompanham as alterações sociais, econômicas,
políticas e culturais da comunidade, conforme atestam os resultados da aplicação
dos métodos da Geografia Linguística. Modificações sociais mais rápidas aceleram
também as do léxico, conforme se verificou no século XX a rápida evolução
tecnológica e seus numerosos neologismos. Contudo, uma parte considerável do
tesouro vocabular de uma língua resiste às mudanças quase tanto como sua
gramática, conforme se verifica nas línguas românicas em relação a seu léxico
fundamental, herdado do latim.
De Acordo com Josette Rey-Debove (1999, p. 63), o léxico pode ser
conceituado de três maneiras: Conjunto de morfemas de um língua, sendo os
morfemas unidades significativas mínimas, presas ou livres, de natureza lexical ou
gramatical. Os morfemas de natureza lexical constituem classe aberta, com
possibilidade de acréscimos e perdas; os de natureza gramatical (também
chamados grafemas) constituem classe fechada, estabelecida, restrita.
E o léxico de uma língua é alterado por diversos modos como aglutinação,
criação, empréstimo e outras mais. Aqui vamos nos deter somente nos
estrangeirismos (empréstimos) e neologismos (criação).
Durante o período linguístico conhecido como inglês moderno, que se iniciou
em 1500 e coincidiu com o Renascimento, o idioma alcançou certo grau de
estabilidade e uniformidade. Mas a língua inglesa ainda viria a experimentar novas
mudanças, determinadas principalmente pela rápida expansão da educação entre as
classes populares e pelo desejo de converter o idioma num instrumento capaz de
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substituir as línguas clássicas (latim e grego) em todas as esferas do saber humano.
A ortografia e o léxico foram, mais uma vez, os alvos dessa transformação. A
confusão produzida pela disparidade entre a pronúncia e a língua escrita levou
grande número de gramáticos a criar um sistema ortográfico uniforme, o que
finalmente se conseguiria em meados do século seguinte. Em relação ao léxico, a
riqueza e a reconhecida superioridade do latim e do grego como línguas cultas
evidenciaram a ineficácia e as carências da língua inglesa diante dos novos
conhecimentos e das novas ciências que surgiam.
Assim, ao longo dos séculos XVI e XVII, a necessidade de enriquecer o
vocabulário da língua se resolveu com a adoção, ou com a adaptação para o léxico
inglês, de grande quantidade de termos procedentes não apenas das línguas
clássicas, mas também das línguas neolatinas e, em menor medida, das orientais. O
processo demonstrou a flexibilidade e a extraordinária capacidade de assimilação da
língua inglesa.
O século XVIII se caracterizou pela intenção de aperfeiçoar, normalizar e fixar
permanentemente a língua, por meio de uma gramática que determinasse seu uso
correto. Ao mesmo tempo, muitas vozes, como as dos escritores John Dryden e
Jonathan Swift, se levantaram para defender a criação de uma academia da língua,
projeto que, no entanto, não vingou.
A obra mais notável em prol da unidade linguística foi o Dictionary of the
English Language publicado em 1755 de Samuel Johnson, que exerceria profunda
influência sobre os escritores e lexicógrafos posteriores. Foi o primeiro trabalho a
oferecer um estudo exaustivo e documentado sobre o uso correto e o significado das
palavras. A difusão da língua inglesa no continente americano, que logo passou a
concentrar o maior número de usuários do idioma, levou à publicação do American
Dictionary of the English Language, de Noah Webster, que serviu de marco ao
diferenciar a variante usada nas Ilhas Britânicas da variante usada nos Estados
Unidos, pois contemplava léxico surgido na América do Norte. Os traços definitivos
do inglês moderno são uma fusão de todas as influências sofridas pelo idioma. A
fonologia advém do anglo-saxão; o vocabulário, muito rico, chega aproximadamente
a meio milhão de palavras, como registra o The Oxford English Dictionary, cuja
primeira edição apareceu em 1933, baseada numa revisão do New English
Dictionary on Historical Principles. No aspecto morfológico e sintático, a
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característica mais importante é a flexibilidade das funções. Assim, pronomes,
adjetivos e advérbios podem assumir a função de adjetivos. O alfabeto tem 26 letras
(cinco vogais e 21 consoantes), e o complexo sistema fonético registra 12 sons
vocálicos e 24 consonantais. Uma das maiores dificuldades para a aprendizagem da
língua inglesa é a distância entre a ortografia e a pronúncia das palavras.
A partir do século XIX, o inglês se transformou num dos idiomas de maior
penetração geográfica, devido à expansão do império britânico e seu consequente
poderio político e econômico, aliado ao extraordinário crescimento dos meios de
comunicação. No final do século XX, mais de 450 milhões de pessoas em todo o
mundo falavam inglês, língua oficial de países como Reino Unido, Irlanda, Estados
Unidos, Canadá (com o francês), Austrália, Nova Zelândia, África do Sul (com o
africâner) e dos estados africanos independentes ligados à Comunidade Britânica de
Nações (Gana, Nigéria, Gâmbia e Serra Leoa). Em países que sofreram influência
britânica, como Quênia, Uganda, Zâmbia e Zimbábue, na África, e Índia e Paquistão,
na Ásia, o inglês é a segunda língua e predomina nos assuntos administrativos.
Entre 1926 e 1930, o escritor e linguista inglês Charles Kay Ogden preparou
um projeto que pretendia reduzir todo o acervo vocabular da língua inglesa a 850
palavras, dispostas em três categorias, quanto a seu significado: operações, coisas
e qualidades. Esse esforço de vulgarização do idioma chamou-se basic English
(inglês básico). Essa iniciativa visava a transformar a língua num instrumento de fácil
comunicação humana.
A empresa vingou e, até a década de 1940, mais de cem livros sobre inglês
básico tinham sido publicados e divulgados em aproximadamente trinta países.
Mesmo apoiado por personalidades como Winston Churchill e o presidente
americano Franklin D. Roosevelt, o projeto se perdeu com a eclosão da segunda
guerra mundial. Ainda assim, ressurgiu em 1947. Acredita-se que, até aquela data,
tenham sido vendidos dois milhões de livros sobre o assunto. Em 1950, o escritor
Bernard Shaw deixou a maior parte de sua fortuna para a realização de pesquisas
sobre um alfabeto de 48 letras, o Proposed English alphabet (Proposta de um
alfabeto inglês).
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4 NEOLOGISMOS
Eles surgem a cada momento em todas as línguas, trazem consigo novos
significados e, às vezes, um jeito diferente de dizer velhas coisas. São os
neologismos, palavras formadas por empréstimos de outras línguas, da junção de
duas ou mais partes de palavras de categorias diferentes, da abreviação de nomes,
da redução de expressões e da duplicação de palavras, entre outras formas.
Divertidos, curiosos, econômicos, importados, recriados, imitadores,
expressivos, os neologismos surgem sempre que uma língua precisa expressar um
novo conceito, uma nova ideia adquirida. Quanto mais dinâmica a sociedade, mais
contribuições sua língua recebe de outras culturas e dos avanços conquistados por
ela mesma.
De acordo com Alves (1992, p. 5), uma língua reflete a sociedade que dela se
utiliza como meio de comunicação. Se uma estrutura social está sempre em
evolução, essa mudança é acompanhada de novidades no código de comunicação
da comunidade linguística que dele faz uso. A necessidade de denominar novos
conceitos, novos objetos, novas invenções, novas situações, que venham a fazer
parte dessa comunidade linguística, dá origem aos neologismos. Essa comunidade,
então, recorre a vários estratagemas para atingir esse objetivo.
As origens dos neologismos estão ligadas a momentos históricos, a
migrações, a mudanças sócio-econômicas, a todo tipo de ocasião que exige
nomenclatura para situações ou objetos novos. A atividade humana registra no
léxico, descobertas científicas, inventos, novas maneiras de entretenimento,
mudanças de atitude sociais, criações literárias. Poetas, jornalistas, romancistas,
revisores, cientistas contribuem para esse tipo de enriquecimento vocabular. A
cunhagem de termos novos se dá em obediência aos padrões de estrutura da
língua. Os empréstimos de outras línguas sofrem adaptações, que podem ser
substituições de fonemas, alterações ortográficas, desvios etimológicos, retenção de
significados. A língua inglesa, transportada para o Novo Mundo com os peregrinos
em 1620, deparou-se com um leque de línguas indígenas das quais tomou muitos
termos de empréstimo.
22
4.1 Neologia na língua inglesa
Segundo Martha Steinberg (2003, p. 88), em maio de 1804, a expedição de
Lewis e Clark, com o objetivo político e econômico de explorar as possibilidades e
econômicas da recém adquirida Louisianna, demorou-se no seu intento quase dois
anos e meio, e nesse tempo criou nomes para os espécimes da flora e da fauna do
chamado novo continente, muitas vezes quase iguais, outras vezes completamente
diferentes dos existentes na pátria-mãe, dessa maneira enriquecendo a língua com
neologismos, especialmente palavras compostas. Bull frog, live oak são exemplos
desse tipo de compostos.
A atividade rural exercida em condições diversas das de origem e é
responsável por termos como log cabin. O advento da ferrovia criou novos termos,
tanto na Inglaterra quanto no Mundo Novo. O que é chamado de railroad e
railwayman, respectivamente ferrovia e ferroviário.
De acordo com Crystal (2004, p. 111), na área do entretenimento surgiu o
docudrama (document + drama) que é um filme ou uma peça baseado em fatos
reais. Criou-se também o Travelogue que é um filme em forma de documentário
sobre viagens. Hollywood foi responsável pela introdução de vamp, pinup girl, esses
termos foram criados no cinema, mas originaram-se durante a Primeira Guerra
Mundial. Splatter é um neologismo criado para denominar um tipo de filme, no qual
possui em seu conteúdo muita violência e sangue. E o termo mais famoso, em todo
mundo inclusive aqui no Brasil é o video jockey que é uma palavra que denomina
um apresentador de vídeos de músicas em televisão. Deste termo nasceu o disk
jockey, mais famoso pelas siglas DJ, que é a pessoa que anima festas com músicas
somente, contrário do video jockey.
Em 1876 foi criado o telefone, com a nova invenção foi necessário criar
palavras para designar peças e atividades pertinentes ao novo invento. Então as
palavras dial, area code, party line, long distance foram criadas. Mas não parou por
aí, com a evolução da tecnologia veio o celular que ganhou o nome de mobile e cell
phone.
Steinberg (2003) ainda completa que a expansão de novos termos e
neologismos aconteceu após 1985 com a expansão da informática
23
consequentemente a Internet. A moda é um campo fértil de criação de palavras.
Embora nem sempre duráveis, muitas vezes são passageiros como a própria moda.
Como toda alteração na língua é sempre interessante e vem dos lugares e das
pessoas que menos esperamos, há registros de expressões usadas por moradores
de rua. Moradores mas especificamente da região em torno de penitenciárias.
Alguns exemplos são bag lady, zero-parents children. E o sistema penitenciário
colaborou com calaboose, hoosegow, pen, workhouse.
Segundo Ricardo Schütz (1998, p.65), na literatura, William Shakespeare
(1564-1616) representou uma forte influência no desenvolvimento de uma linguagem
literária. Sua imensa obra é caracterizada pelo uso criativo do vocabulário então
existente, bem como pela criação de palavras novas. Substantivos transformados
em verbos e verbos em adjetivos, bem como a livre adição de prefixos e sufixos e o
uso de linguagem figurada.
Ao mesmo tempo em que a literatura se desenvolvia, o colonialismo britânico
do século XIX, levava a língua inglesa a áreas remotas do mundo, proporcionando
contato com culturas diferentes e trazendo novo enriquecimento ao vocabulário do
inglês.
Desde o início da era cristã até o século XIX, seis idiomas chegaram a ser
falados na Inglaterra: Celta, Latim, Inglês antigo, Francês, Inglês médio e Inglês
moderno. Essa diversidade de influências explica o fato de ser o inglês uma língua
menos sistemática e menos regular, quando comparado às línguas latinas e mesmo
ao alemão. Poderia nos levar a concluir também que o inglês de hoje pode ser
comparado a uma colcha feita de retalhos de tecidos de origem das mais diversas.
A língua inglesa é considerada a que tem o maior acervo lexical e esse fato
decorre de sua própria história. A língua inglesa tem hoje maior número de palavras
de procedência latina do que propriamente anglo-saxônica.
As formações das palavras em inglês passam pelos processos abaixo
elencados:
� Aglutinação é a união de duas palavras ou mais, que juntas ganham um
novo sentido. E esses significados às vezes são semelhantes às palavras
que a deram origem. Mas em outros casos isso não ocorre. Podemos
observar no exemplo. Brunch (café da manhã reforçado) é formado pelas
palavras breakfast (café da manhã) + lunch (almoço).
24
� Regressões são derivações impróprias, como no caso de Fisher
(pescador), derivado de to fish (pescar).
� Justaposições de duas palavras é o processo linguístico através do qual
uma nova palavra é formada pela união de dois outros elementos distintos.
Isso pode ser visto na palavra electronics originou de bionics (biônico) e
electricity (eletricidade).
� Abreviações acontecem no caso de algumas palavras, que por serem
muito extensas, são abreviadas para melhorar o seu uso. É o que
podemos chamar lei do menor esforço. Um exemplo bem usado é a
palavra ad (anúncio) que vem da palavra advertisement e examination
(exames) originou exams.
São frequentes também palavras formadas de iniciais (acrossemia): como
NASA, de National Aeronautics and Space Administration. Todas essas alterações
comprovam que o inglês falado sofreu transformações decisivas e mutações
consonânticas durante sua evolução. E atualmente possui um total de vinte e um
fonemas vocálicos.
Segundo Crystal (2004, p.22), na Inglaterra e na Escócia há uma
multiplicidade de dialetos bastante diferentes entre si. Por esse motivo, a pronúncia
inglesa "correta" é considerada tradicionalmente como sendo a British Received
Pronunciation (RP), ou seja, a fundamentada nos hábitos linguísticos de Londres e
do sudoeste da Inglaterra. Até agora as diferenças entre o inglês britânico e o
americano têm sido poucas na escrita, mas a Received Pronunciation é considerada,
menos ainda que no passado, como a pronúncia ideal pela América independente.
Sob a influência dos meios de comunicação de massa e da alta mobilidade da
população, seguramente surgirá uma norma americana própria. Desse modo, a
futura evolução do inglês tem algo duvidoso. Parece certo que a importância do
inglês do mundo atual tende a aumentar e que o léxico dessa língua, já atualmente
imenso, não cessará de ampliar-se.
25
4.1.1 Processo de inclusão dos neologismos no léxico inglês
Os critérios para inclusão de palavras novas em dicionário são rígidos. Há nos
Estados Unidos uma associação chamada Global Language Monitor (GLM). A
companhia com base no Estado do Texas vive de "varrer" a rede mundial de
computadores para informar seus clientes sobre quantas vezes os neologismos são
mencionados. Da mesma maneira, a GLM encontra novas palavras e, quando uma
delas é usada 25 mil vezes, a empresa a reconhece como um novo termo.
Segundo site da BBC Brasil (2009) há uma estimativa interna de que uma
nova palavra é criada na língua inglesa a cada 98 minutos.
No entanto, lexicógrafos - especialistas na elaboração de dicionários -
questionam a estimativa e os métodos da Global Language Monitor. Para incluir um
termo em um dicionário, os especialistas seguem uma série de critérios mais rígidos,
como por exemplo, o uso da palavra durante um certo período de tempo.
Segundo eles, é impossível dizer exatamente quantas palavras tem a língua
inglesa. Mas concordam que se forem contados cada termo técnico ou palavra
obscura usada por algum grupo de profissionais, o idioma já conta com mais de 1
milhão deles. Se jargões não forem considerados, é possível que a língua tenha
cerca de 750 mil palavras, de acordo com lexicógrafos. Uma pessoa nativa ou muito
fluente em inglês utiliza ou conhece entre 20 a 40 mil palavras. Mas a maioria das
pessoas "se vira" com alguns milhares de termos.
David Crystal (2005) em seu livro A revolução da linguagem afirma que
atualmente, estima-se que 1,5 bilhão de pessoas falem inglês ou alguma versão do
idioma no mundo - fazendo dele a língua que mais cresce no planeta atualmente.
A palavras mais recentemente catálogada e contabilizada como a milionésima
nova palavra da língua inglesa é "Web 2.0", de acordo com a empresa americana
Global Language Monitor (2009). "Web 2.0" superou outras três palavras: duas que
se popularizaram depois do lançamento do filme vencedor do Oscar Quem Quer Ser
um Milionário? - "jai ho" e "slumdog" - e outra palavra cuja origem é o mundo dos
games, "n00b". O termo "Web 2.0" é técnico e designa a próxima geração de
produtos e serviços da rede mundial de computadores. Segundo a página da GLM, a
palavra deixou de ser um jargão nos últimos seis meses para circular em meios
amplos.
26
5 ESTRANGEIRISMOS
Como foi dito no capítulo 3, o léxico de um idioma, não se amplia
exclusivamente por meio do acervo já existente: os contatos entre as comunidades
linguísticas refletem-se lexicalmente e constituem uma forma de desenvolvimento do
conjunto lexical de uma língua. A neologia por empréstimo manifesta-se por
diferentes níveis.
Segundo o Dicionário Essencial da Língua Portuguesa – DELP (2004),
estrangeirismo é o uso de termos ou expressões tomadas por empréstimo de outras
línguas. Empréstimo? Muitos linguistas afirmam que não poderiam ser chamados de
empréstimos, pois a maioria é usada constantemente e torna-se incorporado a
língua. Mas outros defendem afirmando que já que não há o que ser tomado e a
língua não é um objeto e nem tem dono, pode se usar a nomenclatura que achar
apropriada. Para complementar estes significados, buscam ainda a definição dada
por Carlos Alberto Faraco:
Estrangeirismo é o emprego, na língua de uma comunidade, de elementos oriundos de outras línguas. No caso brasileiro, posto simplesmente, seria o uso de palavras e expressões estrangeiras no português. Trata-se de fenômeno constante no contato entre comunidades linguísticas, também chamado de empréstimo. (FARACO, 2002, p. 15).
Carlos Alberto Faraco também afirma que o termo estrangeirismo se refere às
"palavras e expressões de outras línguas, usadas correntemente em algumas áreas
do nosso cotidiano" (2002, p.9). Mas, apesar da grande influência sobre a língua
inglesa, não se pode deixar de mencionar que muitas outras línguas emprestam
seus termos para que nomear algumas coisas também. Carvalho (1999, p.37) afirma
também que: “O grego e o latim clássicos são convocados para nomear situações
atualíssimas ou criações tecnológicas. Além deste fato, não podemos esquecer que
a língua é um organismo vivo, pois é elaborada por seres humanos, e que, portanto,
é passível de mudanças”. Conforme Marcos Bagno:
A variação é constitutiva das línguas humanas, ocorrendo em todos os níveis. Ela sempre existiu e sempre existirá, independentemente de qualquer ação normativa. Assim, quando se fala em “Língua Portuguesa” está se falando de uma unidade que se constitui de muitas variedades. (BAGNO, 2002, p.19)
O uso dessas palavras estrangeiras faz parte da evolução de toda língua, e
27
isto é um fato tão comum que, consequentemente, algumas palavras vão evoluindo
e não percebemos. Mas é de se salientar que, de acordo com Othero (s.d., p. 60),
“os estrangeirismos só vêm a enriquecer o vocabulário de uma língua”.
Diversas palavras que fazem parte do vocabulário atual foram
estrangeirismos no passado, por este motivo não se pode acreditar em um purismo
linguístico. Faraco afirma também que:
Na visão alarmista de que os estrangeirismos representam, um ataque à língua, está pressuposta a noção de que existiria uma língua pura, nossa, isenta de contaminação estrangeira. Não há. Pressuposta também está a crença de que os empréstimos poderiam manter intacto o seu caráter estrangeiro, de modo que somente quem conhecesse a língua original poderia compreendê-los. (FARACO, 2002, p.29)
O estrangeirismo é classificado de acordo com sua origem. Os mais
frequentes são: anglicismo, galicismo e latinismo. A utilização dos estrangeirismos
pelos jovens é referida por Crystal:
Os jovens gostam de usar palavras estrangeiras, pois em geral elas soam inovadoras. Gostam também de empregar gírias que eles próprios criam. Não se pode proibir jamais crianças e adolescentes de utilizar suas formas particulares de linguagem. É como dizer a eles: ‘Valorizem a linguagem – mas não a sua própria’. É muito importante que, nas escolas, os estudantes aprendam toda a gama de possibilidades da língua. Eles precisam descobrir que há palavras tradicionais e palavras novas para as mesmas coisas. E devem saber também a diferença estilística entre essas opções. (2007, p. 96).
5.1 Estrangeirismos na língua inglesa
Para efeitos de estrangeirismos, a influência do inglês é dominante no âmbito
da tecnologia. A Internet é um ambiente em que se encontram muitos
estrangeirismos, a grande maioria de origem norte-americana. Como um eficiente
veículo de comunicação, a Internet revolucionou a linguagem nesse novo século e,
com isso, a cada dia, mais os estrangeirismos estão ingressando na nossa língua.
Mas é de se salientar que, de acordo com Othero (s.d., p. 60), “os estrangeirismos
só vêm a enriquecer o vocabulário de uma língua”.
Abaixo podemos verificar alguns estrangeirismos que foram incorporados ao
léxico do inglês.
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Palavra Origem Significado
angst alemão angústia, ansiedade
blasé francês desinteressado, indiferente
camaraderie francês camaradagem
forte italiano ponto forte
gung-ho chinês animado, entusiasmado
kindergarten alemão jardim da infância
klutz iídiche desajeitado, desengonçado
prima donna italiano pessoa temperamental
verbatim latim literalmente
Kowtow (to someone) chinês agir de maneira submissa
Quadro 1 – Estrangeirismos: origens e significados Fonte: autoria própria, 2009.
Os empréstimos que enriqueceram a língua inglesa para o continente norte-
americano originaram-se inicialmente de duas fontes, que Martha Steinberg chama
“substrato e superestrato” (2003, p.20).
A língua de Shakespeare, o inglês chamado Elisabetano, falado e registrado
em obras literárias na época em que aportaram no novo mundo os imigrantes
trazidos pelo May Flower, em 1620, entrou em contato com línguas indígenas,
faladas pelos habitantes da futura nação norte-americana. Essas línguas não foram
propriamente um substrato, na medida em que não forma elas a predominar a
variante inglesa que aí se desenvolveu, mas contribuíram para enriquecer o seu
vocabulário. Divergiam bastante entre si, pois pertenciam a vinte e cinco famílias
linguísticas distintas. O contato com as tribos indígenas ocasionou empréstimos que,
ao se incorporarem ao léxico inglês, o tornaram diferente da língua falada na pátria-
mãe. A maioria dos empréstimos foi usada para dar nomes ao mundo físico (fauna,
flora). Então a maioria dos empréstimos são substantivos.
O superestrato é representado pelas línguas de outros povos que também
foram ao mundo novo depois e com os quais os falantes de língua inglesa entraram
em contato. São eles os franceses, que se dirigiram para a região norte, dos grandes
lagos em busca de caças. O domínio na língua francesa era item primordial na
educação de uma aristocrata e também instrumento importante para a leitura. E esta
aristocracia deixou a palavra cent, que é o centavo do dinheiro.
29
Os espanhóis, que vieram logo após os franceses em busca de ouro, foram
diretamente para o oeste e, não o tendo encontrado, acabaram fixando-se em
fazendas, contribuíram com palavras relacionadas a suas atividades. Um exemplo é
a palavra cafeteria.
Os holandeses já em 1664 se tinham estabelecido no vale do Hudson, num
estilo de vida muito burguês, donde seus empréstimos, em número bem pequeno, se
comparados aos de outros povos, são relativos à vida doméstica, à classificação
social e ao transporte, o exemplo mais conhecido é a palavras boss, que significa
chefe. São, contudo, termos que não ficaram restritos às regiões do estabelecimento
dos colonos, mas que se espalharam e são até hoje empregados pela nação toda.
Já os empréstimos alemães são em grande parte relativos à culinária, à vida
doméstica e as atividades sociais e originaram na Inglaterra um novo dialeto alemão
só falado entre eles, e até hoje, que veio a ser conhecido como Pennsylvania Dutch.
É o alemão com empréstimos ingleses, mas com as desinências da declinação da
língua inglesa. E eles deixaram uma das palavras mais conhecido no mundo dos
lanches rápidos o hamburger.
5.2 O comportamento dos estrangeirismos na língua i nglesa
Outro aspecto que esse trabalho tem obrigação de mencionar é o
comportamento que as palavras estrangeiras assumem. Sabe-se que cada língua
possui seus elementos classificados em categorias como: substantivos, artigos,
adjetivos, verbos, pronomes, etc. Sobre estas formas de classificação, Carvalho
(1999, p.20) relata que: “Eis os motivos da divisão das palavras em classes; elas
diferem entre si na função e na relação”.
Porém, nem sempre é possível traduzir um termo de uma língua para a outra
de forma exatamente igual. Surge, então, mais um motivo para se utilizar os
estrangeirismos. Portanto, conforme Roman Jakobson:
Se alguma categoria gramatical não existe numa língua dada, seu sentido pode ser traduzido nessa língua com a ajuda de meios lexicais. (...) É mais difícil permanecer fiel ao original quando se trata de traduzir, para uma
30
língua provida de determinada categoria gramatical, de uma língua carente de tal categoria. (JAKOBSON, 1999, p.68)
É imprescindível ressaltar que o estrangeirismo não deve mudar o
comportamento que assume em sua origem para que não haja um conflito de
entendimentos. Devido a grande exposição que estas palavras estrangeiras têm
quando são utilizadas pela mídia, uma grande preocupação dos linguistas é que elas
permaneçam em sua estrutura natural, ou seja no mesmo gênero, número, etc. que
a sua língua de origem.
Nesse contexto, Faraco (2002, p.7) declara que: “os estrangeirismos não
alteram as estruturas da língua, a sua gramática. [...] Os estrangeirismos contribuem
apenas no nível mais superficial da língua que é o léxico”.
Na maior parte das vezes, estes vocábulos são mantidos nessas classes
gramaticais a qual pertencem e continuam sendo flexionados no mesmo gênero da
sua língua original. Mas, sua grafia, morfologia e sintaxe podem ser adaptadas,
causando, muitas vezes, a formação de novos termos em uma língua. Segundo
Carvalho:
Como todo sistema, a língua também tem suas regras de economia e suas regras de construção. As regras de construção da Língua Portuguesa constituem o padrão morfológico a partir do qual podemos identificar determinada palavra como pertencente ao idioma português. (CARVALHO, 1999, p.34)
E, como vimos anteriormente, a língua não é algo estático, ela está em
constante evolução. A cada geração vão surgindo novas palavras, e com o tempo
vão nascendo novos modos de definir as coisas.
Segundo David Crystal (1997, p. 56), a língua está se transformando
atualmente com mais rapidez do que em qualquer outra época desde o
Renascimento. Alguns fatores estão envolvidos, mas o principal é sem dúvida a
mudança do centro de gravidade da língua. O inglês tem cerca de um bilhão e 400
milhões de usuários, e todos esses falantes contribuem para as alterações na língua.
Todos esses usuários têm uma parcela de responsabilidade no futuro do
inglês. A língua é uma instituição imensamente democrática. Crystal diz:
Aprender uma é ter imediatamente direto a ela. É impossível se fazer acréscimos, modificações, brincar com ela, criar, ignorar partículas, o que se desejar. E é muito provável que o destino do inglês vá ser influenciado tanto pelos que o utilizam como segunda língua ou língua estrangeira como por aqueles que o falam como língua materna. (CRYSTAL, 2004, p. 34)
31
Os modismos contam muito nas alterações linguísticas. É muito comum que
uma moda linguística seja iniciada por um grupo de jovens estudantes de língua
estrangeira. De acordo com Alves (1992, p.72) à medida que cresce o número de
falantes os estrangeirismos da língua materna dos falantes (estudantes) entram na
língua inglesa. E Crystal afirma que: “a maior coisa com que os falantes nativos de
inglês vão ter de se acostumar, no século XXI, é a ideia de que não estão mais no
controle das tendências de língua. (CRYSTAL, 2004, p.36)”.
Há alguns estudos que comprovam que a língua inglesa falada na Grã-
Bretanha hoje é agora um dialeto minoritário do inglês mundial correspondendo a
cerca de 4% da população global falante de inglês. Até os falantes de inglês nos
EUA equivalem apenas 15% do total mundial. Na Índia provavelmente existem agora
mais falantes de inglês do que em toda a Grã-Bretanha e os EUA juntos.
Quando uma língua se espalha, ela muda. O simples fato de que partes do
mundo diferem tanto umas das outras, física e culturalmente, significa que os
falantes têm inúmeras oportunidades de adaptar a língua, para satisfazer suas
necessidades de comunicação e adquirir novas identidades.
Todas essas mudanças têm um motivo, que os linguistas chamam de
evolução da língua. Como resultado dessas modificações há dez domínios nos quais
o inglês se tornou preeminente. Quem afirma essas manifestações é Crystal. “Os
principais influenciadores nas mudanças do inglês são: a política, economia,
imprensa, propaganda, radiodifusão, cinema, música popular, viagens internacionais
e segurança, educação e comunicações.” (CRYSTAL, 2006, p.32).
32
6 O INGLÊS DE HOJE – MUDANÇAS RÁPIDAS
A língua inglesa está passando por mudanças no léxico, com a aquisição de
palavras de origem latina; na pronúncia, com a modificação da tonicidade típica da
língua inglesa à semelhança das línguas latinas e com o fenômeno da vocalização,
que é o acréscimo de uma vogal ao final de uma palavra que termine com
consoante; nas expressões idiomáticas (uso da língua) e na postura em relação aos
falantes não-nativos do idioma inglês, com mais tolerância e menos preconceito,
numa atitude de quem está vendo o óbvio: todas as línguas passam por mudanças e
não há como impedir este fato. É essa a verdade: as línguas latinas é que estão
mudando o inglês, e não o contrário. David Crystal (1997, p. 139), fala da mudança
linguística pela qual o inglês está passando, pelo contato com as outras línguas.
Mas a “indústria da educação” em fala inglesa é muito lucrativa. De acordo
com dados publicados no site do jornal New York Times, a Nova Zelândia introduziu
um imposto específico que incide sobre os cursos. Graças a esta indústria, os
Estados Unidos arrecadou cerca de 12,3 bilhões de dólares no ano de 2008. Trata-
se de uma evasão de riquezas dos países de língua não inglesa e por isto que norte-
americanos e ingleses, pelo fato de não conhecerem outras línguas, muito
raramente estudam no exterior. Também o grave é a perda de talentos, como mostra
alguns estudos. Os mais talentosos estudantes estrangeiros na Austrália, Estados
Unidos e Inglaterra recebem propostas de trabalho e assim, são perdidos,
frequentemente durante décadas sem ajudar na evolução social e econômica de
seus países de origem. Esta perda de talentos mundiais, que o Brasil também sofre,
é consequência direta da dominância do idioma inglês.
As influências linguísticas de uma Nação sobre outra não podem ser
consideradas parcialmente. É preciso levar em consideração todo um conjunto
cultural agregado ao idioma que, dessa forma, pode ser visto como elemento de
disseminação cultural. Segundo (ALVES, 1992 p. 78), "o fato de os norte-americanos
dominarem uma boa parte do mercado ligado à tecnologia faz com que sejam
introduzidas em outras línguas muitas palavras dessa área, especialmente àquelas
usadas em informática". Chegamos, assim, à conclusão de que a informática é uma
área em amplo desenvolvimento, com inovações tecnológicas surpreendentemente
33
dinâmicas, influindo diretamente no léxico de outras línguas, ocasionando renovação
linguística devido à necessidade de preencher os vazios lexicais. Observamos ainda,
visionariamente, a rápida evolução linguística que se poderá dar devido ao
intercâmbio cultural e linguístico entre diversos povos e países interligados através
da Internet. Essa evolução tecnológica contribuiu para o aparecimento de uma nova
forma de escrita, que aqui no Brasil recebeu o nome de internetês.
6.1 O Inglês internacional
Segundo Martha Steinberg (2003. p. 89), depois de mais de 50 anos da
independência, o inglês permanece como a língua do poder, mas falada por menos
de 2% da população. Devido à desigualdade linguística pelo mundo, uma língua
morre a cada duas semanas. Se não houver uma mudança radical na política
linguística, cerca de 90% das 6.000 línguas do mundo não mais serão faladas nos
próximos 100 anos. Nunca na história da humanidade desapareceram tantas
línguas.
Ao mesmo tempo, e também principalmente devido à desigualdade
linguística, mais de 1 bilhão de pessoas no mundo gastam cerca de 50 bilhões de
dólares para aprenderem a língua mais poderosa do mundo, o inglês. Apesar deste
sucesso econômico, o British Council2, por exemplo, ainda se preocupa com a
decrescente queda de arrecadação no ensino do idioma inglês em diversos países.
Os habitantes do norte da Europa conhecem tão bem o inglês que cada vez
mais diminui a presença deles entre as 700.000 pessoas que anualmente, pagam
para fazer um curso de inglês na Inglaterra. Saibam que em média, os estudantes
que fazem um curso básico de inglês permanecem 30 dias na Inglaterra e gastam
em média 200 Euros.
O British Council (2009) calcula uma receita de quase 100 milhões de Euros
dos países da América Latina graças às 24.000 “visitas” para cursos de inglês e uma
2 O British Council é a organização internacional do Reino Unido para Educação e relações culturais que busca estabelecer a troca de experiências e fortalecer laços que resulte em benefícios mútuos entre o Reino Unido e os países onde está presente.
34
tendência de despesas duas vezes mais alta dos habitantes destes países.
Também no Brasil, empresas inglesas e norte-americanas esperavam
comercializar mais cursos de inglês. Durante a crise econômica, a concorrência no
mercado de trabalho agiu sobre conhecimentos “necessários” como o do inglês e fez
do Brasil um excelente mercado para o idioma inglês. Quanto ao Brasil paga para
aprender inglês, não se sabe exatamente, devido à falta de boas estatísticas.
Logicamente os brasileiros são ambiciosos e alvejam o mercado de trabalho
nos Estados Unidos. Logicamente o sistema de educação brasileiro prepara um
pequeno exército dos mais talentosos estudantes para os Estados Unidos. Para
provar aos futuros patrões um conhecimento quase que “de nascença” do inglês e o
domínio de “modernos” métodos de trabalho, um ambicioso brasileiro precisa de um
diploma de uma universidade de fala inglesa.
A adoção do inglês, como língua de ensino na América Latina absolutamente
não “reequilibra” a desigualdade entre sistemas educativos de países de fala inglesa
e a América Latina. É tão mercantil o sistema comercial norte-americano no Brasil
que os pais e estudantes preferem universidades e países “verdadeiros” de fala
inglesa. Mesmo que se a América Latina ou o Brasil tenham boas universidades,
elas perdem continuamente mais de 70.000 estudantes para os paises de fala
inglesa. Estudantes estrangeiros são grande fonte de riqueza. Cada um anualmente
paga cerca de 25.000 dólares para moradia, mensalidades e despesas escolares em
países como os Estados Unidos, Inglaterra e Austrália.
Como saber se um vocábulo faz realmente parte de uma língua por ter sido
incorporado a ela, ou se ainda é uma palavra emprestada? Para a autora Nelly
Carvalho:
Vamos tratar aqui da palavra estrangeira que, ao ser incorporada à língua, é uma adoção, um empréstimo. É o que chamamos de neologismo por adoção. Este filho adotivo só passa a ser escrito como filho quando se integra bem a família. Neste caso, a particularidade de adoção chega a ser esquecida. (CARVALHO, 1999, p. 21)
Através dos meios de comunicação, o inglês tanto pressiona que agora é
possível notar uma rápida mudança até nas mais usadas palavras de nossas
línguas. Na França se fala em “e-mails”, “weekend”, e não “courriel” ou “fin de
semaine”. Na Alemanha os jovens são “cool” e certamente não “lässing”. No Brasil
os clientes do banco usam o “cash dispenser” e não o caixa eletrônico. Esta
35
dominação cultural – e não se trata de “enriquecimento recíproco” - se evidencia no
fato de que hoje, o inglês cada vez menos incorpora palavra de outras “línguas
grandes” como o espanhol, o alemão ou o francês.
O crescente uso de palavras inglesas em outras línguas não incomoda
apenas linguistas puristas, é uma indicação confiável do grau de desigualdade
linguística nos mais variados setores. Devido à pressão do inglês, por exemplo, o
ensino em inglês substitui ensinos nos idiomas nacionais em universidades pelo
mundo. A Malásia e Indonésia, depois de promoverem e zelarem pelos seus idiomas
nacionais durante anos, não mais ensinarão disciplinas científicas em idiomas
nacionais, mas apenas em inglês.
6.1.1 A língua global – Global language
O inglês assumiu o papel de língua global, e tornou-se uma das mais
importantes ferramentas, tanto acadêmicas quanto profissionais. É hoje
inquestionavelmente reconhecido como a língua mais importante a ser adquirida na
atual comunidade internacional. Este fato é incontestável e parece ser irreversível. O
inglês acabou tornando-se o meio de comunicação por excelência tanto do mundo
científico como do mundo de negócios. Isto tudo é conhecido, mas o que torna uma
língua global?
Há vários fatores que tornam uma língua global. Uma língua não obtém um
status genuinamente global até desempenhar um papel importante que seja
reconhecido em todos os países. Esse papel será mais óbvio em países onde um
grande número de pessoas a fala como primeira língua – no caso do inglês, isso
significa os Estados Unidos, o Canadá, a Grã-Bretanha, a Irlanda, a Austrália, a
Nova Zelândia, a África do Sul, alguns países do Caribe e uma variedade de outros
territórios. Entretanto, nenhuma língua foi jamais falada como língua materna pela
maioria da população em mais de uma dúzia de países, de modo que o uso como
língua materna em si não pode dar status global a uma língua.
Para obter semelhante status, ela tem de ser usada por vários países do
36
mundo. Crystal afirma:
Estes devem decidir dar a ela um lugar especial dentro de suas comunidades, mesmo que tenham poucos (ou nenhum) falantes nativos.Há dois modos principais de se fazer isso. Primeiro, a língua pode se tornar oficial (ou semi-oficial) e ser usada como meio de comunicação em áreas como governo, tribunais de justiça, mídia e sistema educacional. Para se ter sucesso nessas sociedades, é essencial dominar a língua oficial o mais cedo possível na vida. Esse papel é bem ilustrado pelo inglês, que, como resultado da história britânica ou americana, tem algum tipo de status administrativo especial em mais de 70 países – como Gana, Nigéria, Índia, Cingapura e Vanuatu. Isso é muito mais do que o status obtido por qualquer outra língua (o francês sendo a mais próxima). Segundo, uma língua pode se tornar prioridade no ensino de língua estrangeira em um país. Ela se torna o idioma que as crianças têm mais possibilidade de aprender quando chegam à escola, e o mais disponível para os adultos que – por qualquer razão – nunca o aprenderam, ou o aprenderam mal, em seus primeiros anos de estudo. Mais de 100 países tratam o inglês como esse tipo de língua estrangeira; e na maioria desses países ele é reconhecido como principal língua estrangeira a ser ensinada nas escolas (CRYSTAL, 2006, p.20-21)
Philip B. Gove, no seu prefácio ao Webster's Third New International
Dictionary ilustra:
Parece bastante claro que antes do término do século 20 todas as comunidades do mundo vão ter aprendido a se comunicar com o resto da humanidade. Neste processo de intercomunicação a língua inglesa já se tornou a língua mais importante no planeta (GOVE, 1986, p. 1).
E David Crystal acrescenta mais: “à medida que o inglês se torna o principal
meio de comunicação entre as nações, é crucial garantirmos que seja ensinado com
precisão e eficientemente”. (CRYSTAL, 2004, p. 101).
Hoje já é previsível que dinheiro e riqueza material serão substituídos por
informação e conhecimento, como fatores determinantes na estruturação da futura
sociedade humana e proficiência na linguagem de então será essencial para se
alcançar sucesso.
David Graddol, linguista britânico tem uma idéia adversa a do também
linguista David Crystal. Ele afirma em seu livro English Next:
A língua inglesa está perdendo o domínio na Internet. Outras línguas, menos usadas anteriormente, estão proliferando agora. O conhecimento da língua inglesa logo deixará de ser uma habilidade diferenciada, para ser padrão. Quem possui o inglês como língua nativa tende a ficar em desvantagem no futuro, pois falará apenas uma língua. Nos próximos 15 anos, haverá um enorme crescimento do ensino de inglês, mas ele estará restrito ao nível escolar. (GRADDOL, 2006, p. 66).
Segundo a pesquisa de Graddol (2006, p. 99), já estamos num novo ambiente
37
e numa nova fase de desenvolvimento do Inglês. O pesquisador sugere algumas
respostas analisando tendências demográficas e econômicas do século 21, que
afetam o inglês global e as políticas de linguagem em todo o mundo.
David Graddol sustenta que o inglês global pode representar o fim do inglês
como língua estrangeira. O termo assinala a vinculação inevitável entre globalização
e a língua de Shakespeare, vinculação essa que é reforçada mutuamente. Em nosso
país, contudo, as autoridades educacionais continuam tratando o inglês como língua
estrangeira, apenas uma dentre as várias possíveis no currículo. No entanto, esse
reconhecimento se torna mais visível no mercado privado de ensino de línguas, no
qual os interesses econômicos parecem ser mais transparentes.
6.2 Consequências das influências de grupos linguís ticos na língua inglesa
A partir dos primeiros dicionários a ortografia do inglês mudou em pequenos
detalhes enquanto que a pronúncia sofreu grandes transformações. Nos séculos XVI
e XVII ocorreu o surgimento e incorporação definitiva do verbo auxiliar para frases
negativas e interrogativas.
A partir do séc. XVII passou a ser considerado incorreto o uso dupla negação
numa frase. Uma das razões da externa riqueza do léxico inglês consiste no fato de
ele possuir, muitas coisas, uma denominação de origem germânica e uma de origem
românica. Palavras gregas foram adotadas, entre outros casos no âmbito teatral,
como apropria palavra theatre, drama, comedy, tragedy, catastrophe, episode,
scene, dialogue, prologue, etc. assim como a linguagem filosófica, poética e médica.
E se aclimataram ao inglês, sufixos gregos como - osis e -itis a princípio para
designar doenças e, gradualmente, para indicar ironia: radioitis, por exemplo.
A partir do século XVI as palavras latinas usadas no inglês são inúmeras;
dignas de nota são as muitas adotadas sem qualquer modificação: error, horror,
genius, vacuum, omen, census, referendum, veto, complex, ultimatum - todas
também conhecidas em alemão no qual, porém até hoje mantém um certo ar de
estrangeirismo.
Semelhante as outras línguas européias pode-se afirmar que poucas línguas
38
não contribuíram de algum modo para o léxico inglês especialmente por causa da
extensão do domínio colonial inglês. No inglês a adoção é mais fácil, porque no
curso de sua evolução esse idioma perdeu a maior parte de suas desinências e
porque apresenta um grande grau de regularidade naquelas poucas que ainda
existem.
Os substantivos ingleses formam - com raras exceções possíveis de contar
nos dedos - o plural com acréscimo de -s; dog - dogs; cat - cats; horse - horses. A
progressiva perda das desinências conduz a outra peculiaridade: não existindo
quase desinências características de uma determinada categoria gramatical (como o
- n ou - en dos verbos alemães), ocorre que um substantivo fire ("fogo") é ao mesmo
tempo a forma do verbo fire ("incendiar”, ou "despedir," em cansável e quase
imperceptivelmente as palavras inglesas mudam de função na frase).
O rápido crescimento do léxico inglês é facilitado pelas várias maneiras de
formação de neologismos. De modo semelhante ao grego e ao alemão, podem ser
formados compostos de termos pertencentes a várias categorias gramaticais:
gentleman, aircraft, shipbuilding bastam como exemplos.
Toda língua vive em busca de uma unidade; vive buscando o entendimento de
todos os falantes e usuários. Portanto, o estrangeirismo surge também com essa
intenção da língua de procurar essa uniformidade que havia antes da torre de
Babel3.
Sendo assim, a utilização de palavras estrangeiras faz parte da necessidade
humana de tentar falar tudo aquilo que se pensa, de tentar se exprimir melhor. Ela é
justamente esta tendência da busca de completar uma língua, uma vez que ela não
se basta, não se satisfaz sozinha. Uma palavra nunca diz exatamente tudo o que se
quer transmitir, o que se sente.
Pode-se perceber então que, às vezes, as pessoas pensam algo que não
conseguem expressar em sua própria língua, mais uma vez surge então a
necessidade de buscar exprimir-se através de outra que não a sua, essas idéias que
não estão sendo bem expressas na primeira língua.
3 Segundo o Antigo Testamento (Gênesis 11,1-9), torre construída na Babilônia pelos descendentes de Noé, com a intenção de eternizar seus nomes. A decisão era fazê-la tão alta que alcançasse o céu. Esta soberba provocou a ira de Deus que, para castigá-los, confundiu-lhes as línguas e os espalhou por toda a Terra.
39
6.2.1 O Português no Inglês
Em julho de 2009 foi lançada a versão 4.0 em CD-ROM do Oxford English
Dictionary, com o significado, história e pronúncia de mais de meio milhão de
palavras. O Oxford English Dictionary rastreia o uso dos verbetes nas diversas
fontes internacionais do inglês: são mais de dois milhões e meio de citações, que
vão da literatura clássica a roteiros de filmes; de especialistas a livros de cozinha. A
versão 3.0 tinha sido lançada em 2002. O Oxford English Dictionary afirma mais
ainda, diz que o inglês ao longo dos séculos pegou emprestadas palavras de mais
de 350 línguas.
Um exercício interessante para o estudioso da linguagem (e para o sociólogo)
é o de verificar os verbetes importados ou procedentes do português, que foram
incorporados ao Oxford English Dictionary - como addition, ou seja, adição ao
vocabulário ou como draft entry, ou seja, inclusão provisória nestes últimos sete
anos. Geralmente, a importação de uma palavra dá-se quando a língua local recebe
uma realidade nova, vinda de outra cultura (ou fortemente marcada por ela).
Novidade para a qual os falantes locais não estavam preparados linguisticamente.
Em jornais estrangeiros como o New York Times, as seguintes notícias podem
ser observadas: 2008 Times 24 November - Half a million umbandistas were on
the beach that day e 2007 Times 28 May - I'm trying to act and sound calm but
my nerves are doing the lambada 4.
Resumindo, caipirinha, feijoada e lambada são palavras que compõem os
novos verbetes no dicionário Oxford English Dictionary, ao lado de e "umbanda". No
campo das palavras que não são novidades, o Oxford English Dictionary, desde
edições anteriores, traz interessantes casos de palavras do português que se
arraigaram internacionalmente. Alguns exemplos elencados abaixo:
� Fetiche (fetish) originário dos objetos usados pelos negros da costa da
Guiné para fins de encantamento;
� Massagem (massage); 4 24/11/2008 - Meio milhão de umbandistas estavam na praia naquele dia e 28/05/2007 - Estou tentando pensar com este som calmo, mas os meus nervos estão dançando lambada.
40
� Comando (commando) grupo militar autônomo para missões rápidas: a
palavra aplicou-se às expedições portuguesas na África do Sul;
� Jaguar (yaguara, jaguará) - Palavra tupi-guarani para diversos carnívoros,
do cão à onça.
O que mais chama a atenção é que além dessas palavras serem oriundas da
língua portuguesa, no Oxford English Dictionary as palavras tem suas explicações,
origens e aplicabilidade. Observe o exemplo abaixo retirado do dicionário:
Tank n. 7 [Special use of tank n.1 adopted in Dec. 1915 for purposes of secrecy during manufacture.] Tank n. 1.others think that they are all derived from Pg. tanque pond = Sp. estanque, F. étang:-L. stagnum pond, pool, with which at least the Indian words were identified by the Portuguese5. (Oxford English Dictionary, 2009, p. 321)
Mas essa mistura do português e do inglês não é nada atual. Essa
combinação já existe há muito tempo. O inglês possui cerca de 1050 palavras
chamadas de universais. Essas palavras são usadas por diversas línguas e
permanecem praticamente inalteráveis seus significados e escrita.
Os vocábulos mais conhecidos são: bar e camping.
Figura 1 – Quantidade e exemplos de palavras universais. Fonte: Revista VEJA. São Paulo: Editora Abril S/A., ano 39, nº 40, 11 Outubro 2008
5 Tradução: Tank n. 7 [uso especial do tanque n.1 aprovada em dezembro 1915 para fins de sigilo durante a fabricação.] Tank n. 1.derivados de tanque. Tanque lagoa = Lagoa: lago, lagoa, piscina. Palavra indígena utilizada e traduzida para o português.
41
6.2.2 Spanglês – Spanglish
De acordo com Crystal (1997, p.36), o espanhol é de fato uma língua materna
que cresce com mais rapidez no mundo atualmente. Mas para o futuro previsível não
é provável que outra língua vá substituir o inglês em seu papel global. Os fatores que
levaram o inglês à sua posição atual ainda estão muito presentes. O idioma
alcançou uma presença e importância que será extremamente difícil de apagar.
O espanhol é hoje a segunda língua mais falada nos Estados Unidos.
Segundo o mexicano Ian Stavans, doutor em língua e cultura pela universidade de
Columbia (EUA), hoje há mais estações de rádio em espanhol na Califórnia do que
em toda a América Central. Existem até canais de televisão em espanhol. Alguns
chamam a mistura das línguas inglesa e espanhola de spanglish. Este tema é tão
rico que em 2004 virou filme.
Spanglish é um filme de valores e de questões, do que propriamente uma
comédia. O humor é apenas o veiculo escolhido por seus idealizadores para contar
uma história. Uma história que marca muito do que está a acontecer neste momento
nos Estados Unidos, um país cada vez mais hispanizado, mas onde os hispânicos
mais depressa assimilam a cultura local do que mantêm - salvo em guetos
localizados - a sua cultura de origem. Este filme fala sobre raízes. Sobre cultura.
Sobre valores. Sobre ideais. E sobre a deturpação de tudo isso.
Sob o título Espanglês, no Brasil, o filme é divido em três atos e espalha as
suas personagens de acordo com a forma como quer contar a sua história. O filme
trata também da cultura americana, uma cultura de imediatismo, de dinheiro e
valores superficiais, sem limites e regras. Spanglish é um filme enternecedor porque
é um filme sobre o futuro. E também sobre o passado. Este filme aborda um futuro
com os olhos sempre presentes no passado. A narração mostra todos os motivos
porque a história foi criada. E aponta forçosamente para uma ideia de futuro. Um
futuro onde as diferentes culturas se mantenham lado a lado e os valores de cada
cultura sejam respeitados dentro e fora dela.
O fenômeno do spanglish não ocorre só nos Estados Unidos: aparece
também em alguns países latino-americanos, como o México e países do Caribe. Há
grandes diferenças entre as versões de cada país, bem como entre as versões
42
urbana e rural. Também ocorrem muitas variações ao longo do tempo.
Recentemente foi publicado o primeiro dicionário de spanglish, organizado por Ian
Stavans, doutor em língua e cultura pela universidade de Columbia (EUA). Neste
dicionário de Stavans há uma grande amostragem dessas palavras. No dicionário,
constam referências desde o tratado de 1848. Estas variações e criações nada mais
são que neologismos, criações, conceito este já visto no capítulo 2.
A aceitação do spanglish nos EUA e fora dele vem crescendo nos últimos
anos, mas sua aceitação está longe de ser unânime. Sendo um fenômeno
internacional, o debate transcende as fronteiras norte-americanas. De acordo com
Stavans, o spanglish irá evoluir para uma nova língua no México. Victor Garcia de la
Concha, diretor da Real Academia Espanhola, é mais radical, ele classifica o
spanglish como uma loucura e denomina como "um produto de marketing".
O Espanhol já está totalmente inserido na América, que em todos os
estabelecimentos já podemos encontrar instruções e placas bilíngues. Como pode
ser observado na figura abaixo:
Figura 2 – É preciso ser bilíngue para não cair. Fonte: Revista LINGUAS – Duetto Editorial – São Paulo 2009 – página 54.
43
6.2.3 Palavras inglesas incomodam italianos
Com os avanços tecnológicos e a expansão da internet ainda há algumas
pessoas que não entendem esses fenômenos linguísticos que fazem parte da
evolução natural das línguas. Há países que aboliram o uso do inglês na língua mãe.
Uma pesquisa realizada por um centro de pesquisa de um dos mais influentes
centros de estudo da língua italiana, a Sociedade Dante Alighieri (2009), apontou a
palavra inglesa weekend como a que mais irrita os italianos.
O instituto perguntou durante quatro meses quais as palavras em inglês que
mais irritam os internautas – 70% deles italianos – ao serem usadas por italianos.
Depois de "il weekend", que atraiu 11% dos votos, os leitores escolheram ok, que
para os internautas seria informal e não profissional.
Quem poderia imaginar que os italianos protestariam contra 'il weekend'. Não,
pouco italiano demais, afirma o comunicado divulgado no site da Sociedade Dante
Alighieri. Os especialistas em italiano dizem que a expressão italiana fine settimana
significa exatamente a mesma coisa e que, por isso, seria inútil, ainda que elegante,
usar a palavra em inglês. A nota em um jornal italiano diz: “... os italianos pedem
mais respeito e mais proteção à sua língua”. A pesquisa da sociedade faz parte de
uma campanha para garantir que o italiano continue a ser uma das principais línguas
nos trabalhos da União Européia.
Todas estas manifestações contra a evolução da língua iniciaram no regime
fascista de Mussolini, que proibiu termos estrangeiros na língua falada e na escrita.
Os idiomas dos países inimigos na II Guerra, em especial o inglês e o francês, foram
banidos das escolas. No cinema, todos os filmes estrangeiros tinham de ser
dublados.
Este fato Italiano influenciou a França. Em 1994, o presidente François
Mitterrand sancionou a Lei Toubon, que determinava a substituição geral de termos
estrangeiros por seus equivalentes em francês. Primeiro, a lei foi ridicularizada pelo
povo, que a apelidou de Lei All Good - tradução para o inglês da sonoridade do
nome do ministro Toubon, que a propôs. A seguir, vários de seus artigos foram
considerados inconstitucionais e hoje vigora apenas uma versão mais branda da lei.
44
6.3 A partir de 2000
A supremacia mundial da língua inglesa uma vez responsável pela liderança
política e cultural dos britânicos durante o último século está agora seriamente
ameaçando a posição britânica em nível internacional. Esta é a surpreendente
conclusão de uma pesquisa publicada em 15 de fevereiro de 2007.
O Conselho Britânico encomendou o estudo que apontou ao fato de que
quase dois bilhões de pessoas no mundo falam inglês e os benefícios
tradicionalmente gozados pelos cidadãos britânicos no passado estão agora
desaparecendo. Isto se deve ao fato de que milhões de estudantes em outros
países, que estudaram e falam fluentemente a língua inglesa, são proficientes em
pelo menos outra língua além do inglês.
David Graddol (2006, p. 99), diz que os estudantes britânicos devem ser
incentivados a aprenderem o Espanhol, o Mandarim, o Árabe, e outras “línguas” do
futuro, se eles quiserem competir internacionalmente e manterem sua paridade
socioeconômica mundial. Esta tendência linguística apresenta implicações
significantes para o Reino Unido, onde grandes segmentos da população não falam
nenhum outro idioma com proficiência. A Inglaterra, como outras nações, enfrenta a
competição global em nível cultural e educacional. Consequentemente, falar apenas
o inglês não é mais adequado. De acordo com esse relatório, o inglês não é mais
tratado como uma língua estrangeira em muitos países, incluindo a China e a Índia.
Muito pelo contrario, o inglês é considerado como uma “habilidade básica universal”.
Sessenta por cento dos alunos de escolas primárias na China estudam inglês. Na
Índia, esse número ainda é maior. A percentagem de hindus e chineses que falam
fluentemente o inglês é maior do que a de qualquer outro povo no mundo.
Para se tornar mais competitiva no futuro, a Inglaterra já se engajou no ensino
do Mandarim e está liderando em programas que motivam o aprendizado de línguas.
O intercâmbio de alunos e de professores na Europa e no mundo Britânico foi
incrementado. Conselho Britânico apoiará de maneira veemente as estratégias que
visem reduzir essa deficiência linguística.
45
O fato de que o inglês será uma língua falada por pelo menos dois bilhões de
pessoas - nativos e estrangeiros - em todo o mundo num futuro breve fará com que
o seu domínio não seja mais uma vantagem competitiva, segundo um estudo
publicado pelo Conselho Britânico.
Assim, as pessoas que dominam uma língua estrangeira adicional - como
espanhol, árabe ou mandarim - estarão um passo à frente. Segundo o Conselho
Britânico, que é a agência responsável pela promoção da cultura britânica no
exterior, já que mais adultos usam a língua inglesa todos os dias, a procura por
aulas de inglês vai começar a cair.
O autor do estudo, David Graddol (2006, p. 113), afirma que apenas crianças
e pessoas muito jovens vão ter necessidade de aprender a língua. Afirma ainda que
a língua inglesa não é mais propriedade de nativos como britânicos e americanos,
que não são mais as melhores pessoas para ensinar o idioma.
O estudo de David Graddol afirma também que as pessoas que têm o inglês
como língua original são notoriamente preguiçosas para aprender outro idioma, já
que confiam no fato de que os outros se dão ao trabalho de aprender inglês. Assim,
essas pessoas deveriam ver o estudo, chamado "Triunfo do Inglês", como um sinal
de alerta de que está na hora de aprender outra língua, para que não percam
vantagens no mercado. Na Grã-Bretanha, as escolas vão ter que assegurar que pelo
menos metade de seus alunos estude uma língua estrangeira até completarem 16
anos.
Outro fato relevante apontado no estudo foi uma pesquisa realizada em
empresas americanas. A pesquisa comprovou que as pessoas que dominam melhor
uma segunda língua têm mais ascensão profissional. Nas grandes corporações
americanas, os testes de admissão concedem à competência linguística dos
candidatos, fato esse que faz com o estudo de outras línguas torne-se necessários
para os falantes de inglês.
Em 2007 a Revista Veja publicou uma reportagem especial sobre a riqueza
da língua. Um dos destaques foi a apresentação do gráfico, cuja ilustração destacou
os resultados dessa pesquisa, a qual podemos verificar na figura 3:
46
Figura 3 – Ascensão pelo vocabulário. Fonte: Revista Revista Veja, edição 2025 - 12/09/2007.
Como podemos notar, a imagem nos confirma essa a ascensão pelo
vocabulário, uma vez que "diversas pesquisas estabelecem correlações entre
tamanho de vocabulário e habilidade de comunicação, de um lado, e ascensão
profissional e ganhos salariais, de outro." (TEIXEIRA, 2007).
47
7 CONCLUSÃO
O inglês hoje é falado e estudado em todo o mundo e tem aproximadamente
700 milhões de falantes. Rapidamente, o inglês se tornou a língua franca – a língua
comum – da comunicação internacional.
Atualmente, mais pessoas falam inglês do que antigamente. Isto porque o
inglês é a chave para muitos aspectos da vida. O comércio internacional é conduzido
em inglês – quando um mexicano conversa com um empresário japonês ou um
brasileiro fala com um alemão – e o mesmo ocorre com a maioria das relações
diplomáticas. Quase 80% de toda a literatura científica é escrita em inglês e o inglês
é a língua internacional da cultura popular. Björn Ulvaeus (2001. p. 54), um dos
membros de um grupo estudos linguísticos, diz que o inglês “soa melhor” que a sua
língua nativa sueca.
Este trabalho teve como objetivo verificar se os falantes de inglês também
estão tendo a necessidade de aprender outras línguas, criar palavras novas e até
mesmo buscar em outras línguas palavras que supram a falta de um determinado
significado. Esses fenômenos denominados de neologismos e estrangeirismos são
muito comuns na nossa língua mãe, o Português. As pesquisas comprovam que
80% das palavras estrangeiras utilizadas pelos falantes de língua portuguesa são de
origem inglesa.
Este grande domínio fez com que por muitos anos os americanos, ingleses e
demais falantes de inglês como primeira língua se fechassem para o aprendizado de
outras línguas. Como os Estados Unidos e outros países europeus dominaram por
muitos anos o mercado econômico mundial os falantes ingleses achavam que todos
deveriam saber a língua deles. De fato isso ocorreu, houve um crescimento
estrondoso no ensino de língua inglesa. Mas desde 1990 isso vem mudando. O
motivo é bem conhecido a globalização. Esta palavra tem levado a culpa por
diversos problemas relacionados à economia, finanças e negócios. Mas ninguém
ainda tinha percebido que a globalização também afetou aquele item que move o
mundo “a língua”.
De acordo com o Dicionário Globo (2003, p. 492) a globalização é um dos
processos de aprofundamento da integração econômica, social, cultural, política. O
48
processo de Globalização diz respeito à forma como os países interagem e
aproximam pessoas, ou seja, interliga o mundo, levando em consideração aspectos
econômicos, sociais, culturais e políticos. Neste conceito tem as três palavras que
definem o uso de uma língua “interligar o mundo”. Para todos estarem ligados
precisamos falar a mesma língua. E para nos comunicarmos precisamos usar o
mesmo meio de comunicação, expandiu-se então a internet.
A partir de 1995 com a expansão da internet o inglês ganhou conhecimento
mundial, todos só queriam saber do inglês. Então, o inglês rapidamente tornou-se a
chamada língua global. Mas com as mudanças políticas e econômicas os negócios
começaram a expandir e a língua até então super importante e praticamente única
sentiu que se unindo a outras poderia ficar mais rica.
Os Estados Unidos precisou aprender o espanhol, pois o país faz divisa com
o México. No ano de 2006 o presidente americano em exercício tentou transformar
ao inglês em língua oficial do Estados Unidos, mas sofreu muitas represálias, pois
alguns parlamentares achavam que esta lei estaria banindo os mexicanos do país.
Os falantes de inglês sabem da necessidade de aprender outras línguas, até
mesmo em seus filmes esta falta de conhecimento é banalizada. Há uma anedota
americana que nasceu do filme Long Lost Son (2006), que em português recebeu o
nome de Rapto de Sangue, que em uma das cenas do filme o personagem principal
brinca com o filho perguntando com é chamado a pessoa que fala duas línguas. A
resposta foi imediata bilíngue. E com é chamada aquela que fala apenas uma? Há
um silêncio, seguido da resposta “americano”.
Nesse trabalho pode-se concluir que mudanças estão acontecendo. Os
neologismos e os estrangeirismos estão cada vez mais presente no inglês. E que
não somente eles que exportam palavras novas, outras línguas estão emprestando
palavras ao inglês também. Os linguistas David Crystal e David Graddol, embora
com idéias contrarias, estão realizando estudos constantes sobre essas
modificações. Modificações estas que estão cada vez mais constantes na língua. As
escolas regulares americanas já têm como disciplina obrigatória em seus currículos
o espanhol. As mudanças estão acontecendo. Algumas positivas e outras negativas.
Está havendo perda de interesse pelo aprendizado e uso de palavras inglesas
em alguns países. Isso é devido ao fato de que no passado o autoritarismo e a
imposição de aprender somente ela cansaram alguns países. Mas como hoje há
49
uma liberdade maior, algumas nações estão optando por outras línguas. Mas isso
está aos poucos sendo controlado. Este controle está justamente relacionado ao uso
dos estrangeirismos e neologismos. Palavras novas e estrangeiras de outros países
que estão enriquecendo o léxico e estreitando ligações entre diversas culturas e
países.
É importante lembrar que cada cultura tem sua individualidade, suas leis, suas
características próprias, seus hábitos e seu idioma. É necessário que estes aspectos
sejam sempre levados em consideração ao se incorporar um novo termo em uma
língua.
Muitos podem ser os caminhos trilhados pelo dinamismo das línguas.
Palavras se criam dentro do próprio vernáculo, palavras ampliam ou restringem o
seu significado, adquirem valores pejorativos ou melhorativos, palavras migram de
uma língua para outra(s), formam ou não derivados e compostos, mantêm ou não a
sua grafia de origem, dicionarizam-se ou não. Os empréstimos linguísticos são
frequentes e importantes para a composição do sistema lexical de qualquer língua.
50
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