De Malas Prontas

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Correio Braziliense - Saber Viver - 11/08/2009

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Na maioria dasvezes, além doidioma, as pessoasquerem atividadesculturais, comodança, música ou arte”

Maura Leão, diretora de agência de viagens

Saber viver

Como manter-se ativo quando os fi-lhos já estão criados e a estabilidadefinanceira foi alcançada? Boa partedos cerca de 31 milhões de brasilei-

ros com mais de 50 anos deve ter se per-guntado isso pelo menos uma vez. Umaboa opção para quem quer manter a vita-lidade e o entusiasmo nessa fase da vida— e ainda encontrar aventura, aprenderoutra língua, conhecer pessoas e ganharbagagem cultural — é o intercâmbio, ati-vidade antes restrita ao público adoles-cente, mas que ganha cada vez mais adep-tos entre o público de meia-idade.

De acordo com Maura Leão, diretorade uma agência de viagens, o número depessoas dessa faixa etária interessadas poresse tipo de programa vem aumentando.“Só nos últimos meses, notamos um au-mento de 20% na procura”, diz. Segundoespecialistas, o movimento é fruto do en-velhecimento geral da população brasilei-ra, que cada vez mais se mantém ativa de-pois dos 50, época em que, normalmente,já se alcançou o auge da carreira e a apo-sentadoria não é algo tão distante.

O pesquisador do Centro de Excelên-cia em Turismo da Universidade de Bra-sília (UnB) Domingos Spevia lembra queo Brasil está envelhecendo e que lidarcom um número cada vez maior de pes-soas que já passaram da meia-idade é umdesafio. “Não somos mais um país de jo-vens e o setor de turismo está descobrin-do isso, preparando-se para atender essepúblico, que é muito mais exigente.”Maura concorda. Segundo ela, quandoos clientes são adultos, a questão finan-ceira também é tratada de maneira dife-rente. “Eles não dependem de dinheirodos pais, como os adolescentes. Assim,eles próprios decidem o destino, nego-ciam preços e fecham o pacote.”

“Por que não?”A ativista cultural Ana Sueli Lopes foi

uma das que aceitou o desafio de partici-par de um intercâmbio aos 50 anos. Comos três filhos já criados, ela embarcou,em julho deste ano, em um programaque incluía aulas de espanhol durantetrês semanas na cidade de Salamanca, naEspanha. Ela era a única participantecom mais de 25 anos em uma turma quereunia dezenas de intercambistas domundo todo. Além de aprender a língua,conheceu a cultura e a arquitetura dopaís, de forte influência árabe. “Tudochega na hora certa, e a minha hora defazer intercâmbio só chegou aos 50.

Quando surgiu a possibilidade eu pensei:Por que não?”, conta.

Ana Sueli diz que as pessoas se sur-preendiam inicialmente quando desco-briam que ela era uma das alunas. “Todosforam muito legais comigo, mas muitagente achou ousado fazer isso na minhaidade.” A diferença de anos, porém, nãofoi problema e deu a Ana a oportunidadede não só aprender, mas também de en-sinar. “A experiência de vida que se tem aessa altura da vida me deu condições demostrar muito mais a cultura brasileirapara as pessoas com quem eu convivi”,afirma. A viagem foi tão boa que Suelipretende voltar. “Quando tiver a oportu-nidade novamente, com certeza embar-co para outro país, só não sei ainda qual”,garante.

Sonho antigoUm dos principais diferenciais em pro-

gramas de intercâmbio voltados para o pú-blico adulto é que o foco não está apenasno aprendizado de uma língua estrangeira.“Na maioria das vezes, além do idioma, aspessoas querem atividades culturais, comodança, música ou arte”, explica Maura. Épossível, por exemplo, ir para a Argentinaaprender espanhol e incluir, no mesmo pa-cote, aulas de tango. Ou viajar a Paris e fre-quentar um curso de história da arte.

Muitas vezes, o intercâmbio é um so-nho antigo que só pode ser realizadoquando a pessoa pode parar de se preo-cupar com o sustento da família e temtempo para pensar nela mesma. “Muitosdos nossos clientes já mandaram os fi-lhos para um intercâmbio, mas nunca ti-veram a possibilidade de ir. Agora, po-dem realizar esse desejo”, conta Maura.Os destinos desse público específiconem sempre são os tradicionais. Há mui-ta procura por lugares exóticos, poucoexplorados pelos brasileiros.

De acordo com Renato Maia, diretordo Centro de Medicina do Idoso do Hos-pital Universitário de Brasília, a principalvantagem de um programa de intercâm-bio para quem já passou dos 50 anos é apossibilidade de se manter ativo. “É umaótima maneira de se integrar socialmen-te e acabar com a sensação de monoto-nia, tão comum nessa fase”, esclarece. Se-gundo o médico, os benefícios do inter-câmbio se prolongam por um tempomuito além do da viagem. “Esse tipo deatividade provoca um bem-estar dura-douro, que vai se refletir na vida que opaciente levará quando voltar.”

De malas prontasÉ cada vez maior o número de pessoas com mais de 50 anos que ingressam em um programa

de intercâmbio para morar durante algumas semanas em outro país

22 • CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, terça-feira, 11 de agosto de 2009

Fotos: Arquivo Pessoal

Arquivo Pessoal

Além de aprender a língua espanhola,Ana aproveitou para ter contato coma arquitetura local

A ativista cultural com alguns doscolegas de viagem: a única com mais

de 25 anos no grupo

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Com os três filhos já criados, Ana Sueli participou de umintercâmbio na Espanha