Post on 30-Dec-2015
DEFENDENDO O (VERDADEIRO) CRISTIANISMO
Uma breve apologética da fé cristã
Uberlândia, 15 de Janeiro de 2013.
Misael Pulhes
ÍNDICE
I. INTRODUÇÃO: VOCÊ É O QUE VOCÊ ACREDITA ................................................................................... ....................5
II. BANDEIRAS CONTEMPORÂNEAS .................................................................................................................................. 6
III. IMPLICAÇÕES DA INEXISTÊNCIA DE DEUS – O ABSURDO DA VIDA SEM DEUS ............................................... 8
IV. ARGUMENTOS EM FAVOR DA EXISTÊNCIA DE DEUS .......................................................................................... 13
V. PODEMOS CONFIAR NA BÍBLIA? ................................................................................................................................ 19
VI. EXISTEM EVIDÊNCIAS HISTÓRICAS PARA A RESSURREIÇÃO DE JESUS? ..................................................... 32
VII. O ASSIM CHAMADO “CRISTIANISMO” ...................................................................................................................... 46
VIII. O CRISTIANISMO BÍBLICO ............................................................................................................................................ 50
IX. SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................................................................... 59
SOBRE ESTE ARTIGO
Certo dia fui convidado para conversar sobre o que era de fato o
verdadeiro cristianismo. Em tempos onde a mídia intitula de “cristão”
aquilo que não é cristão, faz-se necessária uma conversa mais
aprofundada sobre a fé original de Jesus e seus discípulos, achei
conveniente pensar sobre o assunto.
A pessoa que me convidou para falar um pouco sobre aquilo em que eu
cria é um colega de graduação. Precisaria de muito tempo e espaço para
agradecer pelo convite que acabou resultando neste texto que estão
prestes a ler. Espero que consiga passar a gratidão em um singelo:
obrigado Manuel.
O artigo começou a ser montado para servir de base para a conversa.
Conversa esta adiada por uma ou duas vezes, o que me deu tempo para
aprofundar e ampliar o conteúdo do texto. Enquanto pensava nas pessoas
com quem eu ia conversar, achei responsável e justo servi-las com
algumas páginas de informação que poderiam ser, depois da conversa,
levadas para casa e analisadas com mais carinho.Espero que aqueles que
tiverem iniciado esta leitura a finalizem com a mesma diligência e o
mesmo carinho que procurei preparar o artigo.
Quando o formato já estava se definindo recebi a sugestão de repassar o
material para outras tantas pessoas. Achei que havia, de fato, um pouco
de informação colhida em praticamente um ano de estudo da apologética
cristã que poderia ser compartilhada com mais alguns amigos.
Só por causa destes estudos aos quais me referi é que aceitei o convite
para essa tarefa tão pesada. Devo muito a cada um dos escritores e
acadêmicos que li e assisti ao longo desse ano e que me fizeram cada dia
mais ter certeza a respeito da irrefutável veracidade do (verdadeiro)
cristianismo.
Como algumas pessoas a mais do que imaginei irão ler este texto, não
poderia deixar de agradecer aos meus amigos que me ajudaram na
revisão do conteúdo. Eles saberão de quem se trata. Enfim, haveria muito
a se dizer, mas é pretensão demais esboçar formalidades nessas primeiras
páginas no meu primeiro verdadeiro intento de defender a fé cristã.
Acima de tudo, agradeço Àquele que é minha própria vida, meu Deus
eterno.
ESTRUTURA
O texto se divide basicamente em três partes. São as mesmas três partes
em que dividi a conversa do dia 15 de Janeiro de 2013, para a qual fui
convidado e que resultou neste artigo.
Primeiramente, pretenderei estabelecer a apologética clássica em favor
da existência de Deus (seções III e IV) e da vida e ressurreição de Cristo
(seções V e VI). Não achei conveniente partir de certos pressupostos tão
controversos sem antes me permitir defendê-los. Para tal, Inicialmente
buscaremos um posicionamento contra algumas ideias contemporâneas
(seção II) depois de uma breve introdução sobre crenças e suas
influências (seção I). Em segundo lugar, diferenciaremos o cristianismo
apresentado pela mídia e o verdadeiro cristianismo (seções 7 e 8). Por
último, e mais importante, explanaremos a mensagem central do
cristianismo: o Evangelho (seção 9)!
Ao fim, na 10ª seção, indico a bibliografia utilizada, além de outras
sugestões para quem se interessar em prosseguir nessa busca pela
Verdade.
CONTATO
Talvez vocês tenham alguma dúvida, sugestão ou crítica para fazer e,
portanto, achei conveniente me tornar disponível para os leitores deste
artigo. Fiquem à vontade!
e-mail: mpulhes@gmail.com
facebook: https://www.facebook.com/misael.pulhes
I. INTRODUÇÃO: VOCÊ É O QUE VOCÊ ACREDITA
O comportamento das pessoas é resultado fatal do conjunto de crenças
que adotam. Na raiz de toda forma de agir está uma forma de pensar.
A criança que acredita em Papai Noel deixará um pequeno feixe de
capim do lado de fora da casa para que as renas do bom velhinho se
apascentem na noite de Natal. A mulher que acredita que a estética é
um dos mais importantes valores do universo gastará milhares de reais
em tratamentos de beleza e em cirurgias plásticas. Da mesma forma, o
homem que acredita em fantasmas nunca comprará uma casa em
frente ao cemitério e, se recebê-la como herança, a venderá depressa.
Os exemplos podem se multiplicar infinitamente. Por toda parte e em
qualquer situação, vemos o modo de pensar das pessoas
impulsionando seu modo de viver, como uma simples dinâmica de
causa e efeito.1
Por mais que queiramos ostentar um ceticismo em relação a crenças
tradicionais, de uma forma ou de outra estamos tomando outro caminho,
mas sempre seguindo a mesma lógica. Nós somos crentes ambulantes.
Crentes em Deus, crentes no nada, em nós mesmos, mas sempre crentes
em alguma coisa. E se, como a citação acima afirma, nossas cosmovisões
(visão de mundo) determinam nosso modo de viver, seria óbvio
perguntar: em que acreditamos? Em que a sociedade atual crê?
“O homem contemporâneo”, como diria o mesmo Marcos Granconato
(dono das primeiras frases dessa exposição), “tem uma crença básica da
1 Ibidem., p 13.
qual decorrem logicamente as demais ideias que acolhe.” E qual seria
essa crença tão presente em nossos dias? “Essa crença básica é a de que
Deus não existe e, se existe, não tem interesse nem se importa como
vivemos”2.
Creio que o mundo atual nos reserva ideologias muito radicais. Estas
decorrem das duas crenças básicas acima citadas. Não poderia iniciar uma
discussão como a que proponho aqui sem antes falar sobre essas
ideologias que, sem dúvida alguma, são o motor do nosso andar. Reservei
um espaço para as ideias que mais atacaram minha mente no ultimo ano.
São ideias que se difundem em todos os meios, inclusive naquele onde
passo a maior parte do tempo, o meio universitário.
2 Ibidem., p 14.
II. BANDEIRAS CONTEMPORÂNEAS
1. A verdade existe?
Antes de qualquer coisa a primeira pergunta que me vem à mente é esta:
a verdade existe? Ora, se não há algo como a verdade nossa discussão
aqui nem deve prosseguir, não faria qualquer sentido! Dentre meados de
2012 e durante o curso de 2013, algumas ideias realmente me deixaram
desconcertados. A primeira delas é justamente a ideia de que a verdade
não existe. Em um primeiro momento essa declaração me soou
impactante e assombrosa. É realmente radical ouvir alguém dizendo isso.
Soa underground, rock’n roll e, por isso mesmo, os jovens são os que mais
advogam essa... coisa. Aos poucos, tentando pensar enquanto minha
mente se atordoava com a possibilidade e as implicações da inexistência
da verdade, percebi que tudo não passava de mera autocontradição
proferida da boca para fora.
Lembro-me de algumas discussões que tive com quem dizia não existir
algo como a verdade. Pensei um pouco (bastante, na verdade) e disse
para mim mesmo, “espere um pouco”... e então resolvi simplesmente
perguntar: “verdade?”. O pior é que a solução que me chegou como uma
luz bem forte foi tratada como um simples truque de debate... mas isso
não importa agora. O que quero que percebam é a inconsistência de
alguém que reivindica a verdade de sua afirmação “a verdade não existe”.
Verdade? É verdade meu amigo que a verdade não existe? Como alguém,
destituído da crença na verdade, pode reivindicar a veracidade de sua
afirmação? Será que ele também ira me dizer que eu estou... errado?
Como então eles me dizem “sim”? Como então me dizer “não”? Como
assim eles reivindicam uma premissa? Então eu digo “concordo” e eles
estão agora “certos” (de dizer que não há “certos”)? Eles estão com a
verdade (de que não há verdade)? Chegando em casa depois de uma
dessas discussões, ensaiei algumas reflexões sobre tudo aquilo num bloco
de anotações.
Acho que o problema essencial é tentarem negar algo que penso ser
inerente à nossa realidade, intrínseco ao homem. Esse algo inerente à
nossa realidade é percebido, captado pelo homem e interpretado. Essas
percepções e interpretações se manifestam em códigos como a
linguagem. Quando dizemos “por quê?”, “certo”, “não”, estamos apenas
expressando com nossa linguagem falada (com nossos códigos) algo mais
profundo, intrínseco à nossa natureza, algo como a busca pela verdade!
Essa foi minha conclusão ao pensar sobre os questionamentos do ser
humano: eles são naturais, intrínsecos a cada um de nós. Mas se isso é
verdade (e como eles dirão que é mentira? Que eu estou errado?) então
há uma realidade que, independente de ser percebida ou negada (ora,
negada por quem? Por eles?), existe!
E a própria luta destes por estarem certos, a luta pela veracidade de uma
posição em um debate expressa a existência de uma verdade que eles
(mesmo eles) inconscientemente buscam. O mais engraçado talvez seja
que somente os que não creem nesses pressuposto radicais podem
falsear tudo isto. Ora, como diriam os defensores da inexistência de certo
e errado, que eu estou errado?
Marcos Granconato chama isso tudo de “cúmulo da contradição; o
suicídio da mente!”. Ele dá um exemplo claro quando nos diz: “tente
conviver com isso: o errado não existe; logo, apontar o que é errado é
errado!”.3 É, de fato, um absurdo!
2. Tudo é relativo?
O que eu percebi no último ano, é que a maioria dessas alegações, que
nos soam radicais, e que chegavam rasgando meus ouvidos, quase
(quase?) sempre eram constituídas de um formato muito similar e, vistas
com calma, se mostravam perfeitamente autocontraditórias. Vejamos
mais um exemplo.
É bem raro ouvirmos alguém correndo pelas ruas gritando que a verdade
não existe. Em nossos dias, uma alegação bem mais comum é a de que
tudo, inclusive a verdade, é relativa. Ou seja, “tudo depende” (de um
ponto de vista, por exemplo)... Nada é absoluto, verdadeiro em si e por si
só. Nada é 100% verdade, completamente verdade, perfeita, harmônica e
absolutamente verdade... tudo é relativo.
Mas esperem mais um pouco, por favor. (Não vou mais tomar mais tanto
tempo com isso.) Porém, se tudo é relativo, a afirmação “tudo é relativo”
é também relativa, não? E, portanto, ela se parte aos pedaços, com os
cacos jogados ao chão... Se tudo é relativo, então nem tudo é relativo e
podemos, baseados na própria tentativa (fracassada) de refutação,
estarmos certos de que absolutos existem.
3 Ibidem., p 24.
Sacrifica-se no altar no relativismo, não só o que é verdadeiro,
mas também o óbvio.4
3. Pluralismo
Por fim, um segundo e último “ismo”. Uma última bandeira hasteada com
frequência: o pluralismo. Esta seria a visão de que a verdade é plural,
existem várias verdades e que, mesmo sendo opostas, devem ser ouvidas,
respeitadas e aceitas.5
Essa visão parte da ideia distorcida de tolerância. Para sermos tolerantes
precisamos aceitar toda proposição diferente da nossa, diriam alguns
pluralistas. Mas a própria ideia de tolerância parte do pressuposto de que
existem ideias divergentes. E munidos de toda tolerância necessária e
possível eu não chego à conclusão de que devo concordar com opiniões
contrárias à minha ou, o que é ainda pior, que devo assumir a veracidade
de afirmativas explicitamente falsas.
Contudo, isso conduz muito cedo a uma tensão de natureza lógica.
Ora, o conflito lógico que advém dessa visão surge quando duas
pessoas têm opiniões diametralmente opostas. [...] Qual dos dois
debatedores está com a verdade? [...] Nenhum dos dois
oponentes está errado; os dois estão certos, pois a verdade não é
4 Ibidem., p 23.
5 Há, na verdade, mais de uma definição para “pluralismo”. Escolhi aquela mais
propícia para a presente discussão.
única e absoluta, mas múltipla e relativa. Cada indivíduo tem sua
própria verdade que deve ser respeitada e considerada válida6.
Até mesmo a opinião de que o pluralismo é errado?
6 Granconato, 2011, p 23-24.
III. IMPLICAÇÕES DA INEXISTÊNCIA DE DEUS – O absurdo da vida sem Deus
Como já dito no início desse texto, essas concepções todas quase (quase?)
sempre advêm de uma cosmovisão7 que exclui Deus, ou na sua existência,
ou na sua relevância em relação ao universo e à humanidade.
Independente disto, porém, elas foram mostradas, creio eu, incoerentes,
autocontraditórias e, portanto, não subsistem. Mas isso não exclui por si
só a possibilidade de que Deus não exista ou está distante. Aquelas ideias
foram descartadas por sua invalidade lógica, mas a cosmovisão ateísta
ainda pode ser verdadeira, obviamente. E o cristianismo ainda pode ser
falso, mesmo que Deus exista! O que gostaria de fazer antes de
chegarmos neste ponto é mostrar que o ateísmo não é mera alternativa
de cosmovisão.
Aparentemente muitos ateus não fazem ideia de onde seus pressupostos
os levam. Penso que os proponentes dessa visão não têm, todos eles,
consciência das últimas consequências em que se chega quando a
bandeira com os dizeres Deus não existe é hasteada. Do outro lado estão
aqueles que de alguma forma estão acostumados com a ideia de Deus e
que também passam o resto de suas vidas sem pensar nas implicações da
alternativa “Deus não existe” ou mesmo da própria existência de Deus.
Dito de outra forma: Deus é irrelevante.
William Lane Craig é um filósofo e teólogo cristão mundialmente famoso
e respeitado, principalmente por seus inúmeros debates publicados em
7 Visão de mundo.
vídeos e livros contra céticos de várias vertentes. Craig diz, no capítulo 2
de seu livro “Em Guarda”8, que uma maneira de mostrar a relevância
desta que talvez seja a maior de todas as questões é esclarecendo quais
são as verdades de um mundo onde Deus não existe. Se o ateísmo for
verdade, então quais são as respostas para nossos questionamentos
existenciais?
A que tipo de coisas uma vida sem Deus nos leva? A um absurdo! Resolvi
então gastar um tempo nessa questão que está longe de ser dispensável.
Não é uma simples questão de gosto pessoal. Se Deus existe, ele não é
relevante somente quando achamos ou gostamos de sua relevância para
o universo e para nossas vidas. Se Deus não existe as implicações não são
meramente a “liberdade” como diriam alguns. De uma forma ou de outra,
a questão é grandiosa demais e com implicações importantes demais para
ser deixada de lado. Como o início deste texto diz: essa crença nos levará
a conclusões que ditarão nosso modo de viver.
Portanto, quero rapidamente pensar com vocês sobre aquilo que Craig
chamou de “o absurdo da vida sem Deus”9, mostrando que em um mundo
onde Deus não existisse, a vida não teria qualquer sentido, valor ou
propósito.
8 William Lane Craig, Em Guarda, defendendo a fé cristã com razão e precisão.
São Paulo: Edições Vida Nova, 2011. 9 Ibidem, capítulo 2. Há uma série de vídeos com o mesmo nome (“O absurdo da
vida sem Deus”). O primeiro dos sete vídeos está disponível no link: http://www.youtube.com/watch?v=P8Ak8VVxaGw
O ABSURDO DA VIDA SEM DEUS
“Se não há Deus, a vida humana é absurda”!10 “Se o ateísmo for verdade,
então a vida de fato é objetivamente sem sentido, sem valor e sem
propósito, a despeito das crenças subjetivas que possamos ter em
contrário.” Analisemos brevemente cada uma dessas afirmações.
Sem sentido – “se a pessoa deixa de existir quando morre, que sentido
fundamental pode ser dado à sua vida?” Vamos inventar que nossas vidas
possuem de fato sentido porque influenciam a história e motivam as vidas
de outras pessoas? Mas, se no fim tudo acaba e todos se foram, qual o
sentido último de tudo que ocorrera nesse caminho até o fim? Qual a
importância dos avanços científicos e tecnológicos? Qual a relevância dos
avanços da medicina que contribuem para amenização a dor e o
sofrimento?
“Sem a esperança da imortalidade, a vida humana caminha apenas para a
cova. A vida humana não passa de uma faísca na escuridão infinita, uma
faísca que aparece, emite uma trêmula chama e se extingue para
sempre”.
Que sentido há, portanto, em ir para universidade, graduar-se, conquistar
um cargo de confiança em uma empresa, constituir uma família?
Podemos ver graça e prazer nessas coisas, mas em um mundo onde cada
vez mais próximos estamos de um fim irreversível para todos, qual o
sentido final de todas essas coisas na estrada para o nada? “... no final
10
A maioria das citações foi retirada da tradução em português da série de vídeos anteriormente indicada. Em outros casos, haverá indicação.
tudo isso resulta em nada, não faz nenhuma diferença”. Acho que não há
exagero algum em se dizer, como Craig diz, que, dado o ateísmo, “porque
ele [o homem] acaba em nada, ele é nada”.
Ou seja, a vida não tem, de fato, a menor importância no fim das contas.
“A humanidade, portanto, não tem mais sentido do que um enxame [...]
ou um punhado de porcos, pois o final de todos é o mesmo.” “Os
cientistas nos dizem que o universo está em expansão, e que tudo que há
nele está ficando cada vez mais distante. Com isso ele fica cada vez mais
frio, e sua energia vai se gastando. Um dia todas as estrelas perderão seu
calor e toda matéria se tornará em estrelas mortas e buracos negros. Não
haverá mais luz, não haverá mais calor, não haverá mais vida, apenas
estrelas e galáxias mortas, sempre se expandindo em trevas sem fim e
extremidades frias do espaço – um universo em ruínas. Todo o universo
se encaminha de modo irreversível para o túmulo. Assim, não só a vida de
cada pessoa está condenada; toda a raça humana está condenada. O
universo está se precipitando em direção à extinção inevitável – a morte
está encravada em toda a sua estrutura”.
Todavia, se o universo existisse para sempre, e nós também, ainda não
poderíamos falar em um sentido objetivo para a vida, se Deus não
existisse.
Certa vez li uma estória de ficção científica em que um astronauta foi
abandonado em um estéril pedaço de rocha perdido no espaço sideral.
Ele trazia consigo dois frascos, em deles com veneno e o outro tinha
uma poção que o faria viver para sempre. Ao perceber o futuro que o
aguardava, ele tomou o frasco de veneno. Mas, para seu horror, o
pobre homem descobriu que havia tomado o frasco errado: ele tinha
tomado a poção da imortalidade! E isso significava que estava
condenado a viver para sempre uma vida sem sentido, sem fim.11
Acho essa estória bastante ilustrativa. Se a vida não tem sentido objetivo,
pouco importa se há imortalidade. Se o astronauta olha para um mundo e
vida infinitos, mas não encontra o porquê de tudo aquilo importar, então
na verdade tomar o frasco de imortalidade é mais terrível do que morrer.
“Quem for coerente e corajoso até o ponto de reconhecer e assumir essa
ausência de sentido acolhe a designação de niilista. Nihil em latim
significa “nada”. É a palavra que melhor traduz o sentido de sua vida.”12
Sem valor – “Se a vida termina no túmulo, não faz diferença se você viveu
como um Stalin ou como um santo”. Como disse Doistoiévski: “Se não há
imortalidade, todas as coisas são permitidas”. Mas imaginem um universo
infindável, com seres imorais, onde não houvesse certo e errado. Mesmo
com imortalidade, mas sem Deus, só temos, como disse Jean-Paul Sartre,
“o fato nu e sem valor da existência”.
Ora, em um universo ateu de onde provém uma moral objetiva? De onde
provém a autoridade que me dirá, baseado no que é certo ou errado, o
que eu devo ou não fazer? O homem é só o resultado casual, acidental da
matéria em movimento, ao longo do tempo. Qualquer intento de se
pensar em uma moral num mundo desses resultará em subjetividade.
Não há nenhuma razão objetiva para que o homem tenha moral, a
menos que a moralidade traga alguma recompensa para sua vida em
11
Craig, 2011, p. 36. 12
Granconato, 2011, p. 18.
sociedade ou o faça sentir-se bem. Não há nenhuma razão objetiva
para que o homem faça qualquer coisa, a menos que isso lhe traga
algum prazer.13
A avaliação que Richard Dawkins faz do valor do ser humano pode ser
deprimente, mas por que, dado o ateísmo, ele estaria errado quando
diz que “no final não há nenhum design, nenhum propósito, nenhum
mal, nenhum bem, nada mais do que uma insípida diferença [...] Somos
máquinas para a propagação de DNA...”14
Particularmente, acho este um dos pontos mais vibrantes do debate. Por
isso mesmo, voltaremos a falar desse ponto com mais detalhes na
próxima seção.
Sem propósito – Se a morte espera a todos de braços abertos no fim da
vida de cada um de nós, para que finalidade nós vivemos? Se o universo
se esfriar ao ponto de impedir a existência de vida, para que fim ela terá
servido? Pensem novamente, não estou dizendo que é impossível alguém
criar e crer em algum propósito e colocá-lo como alvo de sua vida.
Podemos buscar a todo custo ser um jogador de futebol, ou um diplomata
solidário. Mas isso não quer dizer que o propósito objetivo da vida seja
esse. Isso não quer dizer que os propósitos de cada ser humano nos
indiquem um propósito para a existência e curso da própria vida. Afinal,
se no fim tudo acaba em nada, é lógico dizer que o propósito de tudo é
simplesmente... nada!
13
Richard Wurmbrand, Tortured for Christ. Londres: Hodder &Stoughton, 1967, p. 34. Publicado em português sob o título Torturado por amor a Cristo, pela Voz dos Mártires. Citado em Craig, 2011, p. 37. 14
Ibidem., p. 38
Essa ideia é muito bem expressa na obra The time machine15 de H. G.
Wells, um escritor britânico:
... um de seus personagens faz uma viagem no tempo e chega ao
futuro, para descobrir o destino do homem. Tudo o que ele encontra é
um planeta de cor púrpura girando em volta de um gigantesco sol, um
planeta morto, exceto por uns poucos liquens e musgos. Os únicos sons
são o murmúrio do vento e o barulho do mar. “Fora esses sons sem
vida, o mundo se encontrava no mais completo e absoluto silêncio.
Silêncio? Seria difícil descrever essa quietude, esse silêncio retumbante.
Todos os sons produzidos pelos seres humanos, o som dos animais, o
canto dos pássaros, o barulho dos insetos, toda a agitação que dá
forma e substância ao contexto de nossas vidas – nada disso existia
mais”. E o viajante retorna no tempo.16
“Mas retorna para quê? – retorna para uma fração anterior de tempo,
para uma mesma agitação frenética e sem propósito em direção a esse
esquecimento”.17
Não há outra escapatória lógica e real em um mundo onde não há Deus.
O universo, nossa vida e existência estão destituídos de qualquer sentido,
valor ou propósito objetivos. Todas as coisas no meio dessa não tão longa
estrada rumo ao fim, no fim não importam de verdade.
Como escreveu T. S. Eliot, “É assim que o mundo termina. Não com uma
explosão, mas com um gemido”.
15
Publicado em português sob o título A máquina do tempo, pela editora Alfaguara. Nota de rodapé em Craig, 2011, p. 39. 16
Ibidem., p. 39. 17
Ibidem., p. 40.
E agora?
Se Deus não existe então a atitude mais coerente depois destas duras
palavras seria o desespero. “E é por isso que a pergunta da existência de
Deus é tão importante para a humanidade”.
O absurdo da vida sem Deus pode não provar que Deus existe, mas na
verdade mostra que a questão da existência de Deus é a pergunta mais
importante que alguém pode se fazer. Ninguém que conheça a fundo
as implicações do ateísmo ousará dizer que tanto faz se Deus existe ou
não.18
Se Deus não existe, a vida é isso e nada mais. Em face desta dura
realidade há três alternativas.
Primeira alternativa: o suicídio. Por que será que Albert Camus considerou
o suicídio como “a única questão filosófica séria”? “Vale a pena continuar
vivendo?”19.
Segunda alternativa: viver em inconsistência em relação à sua cosmovisão
e, bravamente, fingir ser feliz em um mundo onde não há esperanças de
sentido, valor e propósito. Pragmaticamente alguns escolhem viver em
auto-ilusão simplesmente porque, talvez, o suicídio seja uma alternativa
radical demais (o que também é logicamente inválido, já que não há
diferença entre o fim agora ou daqui vinte anos – “Como disse Sartre,
18
Ibidem., p. 32. 19
Ibidem., p. 44.
uma vez perdida a eternidade, não faz muita diferença se isso demorar
muitas horas ou muitos anos”20).
O homem não pode viver como se certas coisas não fosse erradas, por
exemplo. Dessa forma ele mostra como uma vida sem Deus é inadequada
com a realidade. Craig cita um filósofo anônimo que disse: “é impossível
gerar uma ética de amor fraternal a partir de uma filosofia de niilismo”
Alguns gritarão enraivecidos: “espere um pouco”! “Isso não faz sentido”!
“Obviamente há um sentido e um propósito para nossa existênca e
algumas coisas são, de fato, erradas”! “Sim” eu direi! É isso mesmo que
estou dizendo. Mas o ponto aqui ainda é que a cosmovisão ateísta não
propicia tais coisas. O ônus da prova é deles! Os ateus é que devem
mostrar porque haveria bases em sua visão de mundo para coisas como
sentido, valor e propósito. Muitos entenderam a lógica e carregaram o
fardo das implicações.
Se de fato há sentido, valor e propósito em nossa existência e o ateísmo
não consegue prover essas bases na sua filosofia, então o que não faz
qualquer sentido é o ateísmo! Essa é talvez a primeira das provas de que
o ateísmo não passa de mera ficção científica e fica a quilômetros de
expressar com fidelidade a realidade de nossa existência.
A negação do ateísmo já seria inerentemente prova da verdade
contrárias? Alguns diriam que sim, outros que não. Enfim, de qualquer
formas seria bom se tivéssemos alguns argumentos positivos a favor da
existência de Deus para ajuda aqui, não? E temos!
20
Ibidem., p. 34.
Introduzirei, então, alguns argumentos que têm feito parte do meu
estudo a partir de meados do ano de 2011. Cada premissa de cada
argumento poderia ser discutida com profundidade. Creio que se tratam
de argumentos poderosos e interessantes para tomar várias horas de
discussão. Mas como o foco não é esse, me ocuparei em apenas
introduzir os argumentos em forma de silogismo e esboçar uma
explicação do argumento moral. Há indicação bibliográfica a respeito de
cada argumento, mas sugeriria que se divertissem um pouco pensando
em cada premissa e cada conclusão dos três primeiros argumentos!
IV. ARGUMENTOS EM FAVOR DA EXISTÊNCIA DE DEUS
ARGUMENTO COSMOLÓGICO DE LEIBNIZ, OU ARGUMENTO DA
CONTINGÊNCIA21
1. Tudo que existe tem uma explicação para existir, seja ela uma
necessidade de sua própria natureza ou uma causa externa.
2. Se o universo tem uma explicação para existir, essa explicação é
Deus.
3. O universo existe
4. Logo, o universo tem uma explicação para existir.
5. Portanto, a explicação da existência do universo é Deus.
ARGUMENTO COSMOLÓGICO KALAM22
1. Tudo que começa a existir tem uma causa
2. O universo começou a existir
3. Logo, o universo tem uma causa.
21
Os primeiros três argumentos aqui apresentados se encontram bastante detalhados no livro Em guarda de William Craig. No título de cada argumento será colocada a referência para os capítulos relacionados na obra citada. O argumento de Leibniz pode ser conferido no capítulo 3, p. 59ss. 22
Ibidem., p. 79ss.
ARGUMENTO DO DESIGN, OU ARGUMENTO TELEOLÓGICO23
1. O ajuste preciso do universo se deve ou à necessidade física ou ao
acaso ou ao design.
2. O ajuste preciso não se deve à necessidade física nem ao acaso
3. Portanto, o ajuste preciso se deve ao design.
ARGUMENTO MORAL24
Como eu disse antes, voltaríamos a discutir a questãos dos valores morais
objetivos. Neste ponto, focaremos a discussão em cima do argumento
teísta abaixo apresentado:
1. Se Deus não existe, então não existem valores (bom e mau) e
deveres (certo e errado) morais objetivos.
2. Existem valores e deveres morais objetivos.
3. Logo, Deus existe.
Já conversamos um pouco sobre esse argumento, de maneira menos
formal, enquanto falávamos do absurdo da vida sem Deus. O que quero
neste momento é buscar reafirmar, com esse silogismo (que faz parte do
arsenal do Dr. William Craig), uma base objetiva para a moralidade.
Resolvi dar ênfase somente a este argumento dentre os que apresentei
por aparentemente ser ele o responsável por suscitar a maior quantidade
23
Ibidem., p. 115ss. 24
Ibidem., p. 139ss. Este argumento será o primeiro mais bem trabalhado neste artigo.
e os melhores debates (em minha opinião). Ademais, percebi durante
esses poucos meses estudando apologética por meio de vídeos, artigos e
livros que, assim como relata William Craig esse é o argumento que mais
têm obtido êxito do lado teísta25. Talvez porque ambos, teístas e não-
teístas, conscientemente ou não, concordam com as duas primeiras
premissas. Daí deduz-se, independente de quaisquer preferências ou
preconceitos, a conclusão do silogismo: Deus existe e é, portanto, a base
para valores e deveres morais.
Acredito que na prática a primeira premissa é a que apresenta mais
indignações. Isso porque ela pode ser entendida de maneira equivocada.
Que fique claro desde o início então que os defensores deste argumento
jamais querem dizer com a primeira premissa que:
Deve-se acreditar em Deus para que se tenha uma vida
moralmente correta – não há dúvidas de que existem agnósticos e
ateus que vivem vidas com dignidade e, em muitos casos, uma
conduta moral de dar inveja a muitos “cristãos”.
Deve-se acreditar em Deus para que se reconheça a existência de
valores morais objetivos – acredito piamente que não há
necessidade de ser teísta para reconhecer que genocídio é
objetivamente errado26.
Dito isto, o questionamento lançado pela primeira premissa é somente o
seguinte: se Deus não existir, existem valores morais objetivos?
25
Ibidem., p. 159. 26
Ibidem., 146-147.
I. PRIMEIRA PREMISSA
O que mais me deixa satisfeito nesse ponto é que os que defendem a
objetividade de valores morais à parte de Deus estão historicamente
comprometidos a encararem filósofos do calibre de Nietzsche, por
exemplo. O que me satisfaz neste ponto do argumento, na verdade, não é
a credibilidade destes filósofos (que porventura traria também
credibilidade aos argumentos). Antes, me refiro à audaciosa visão de
mundo que aqueles que proclamaram a morte de Deus suportaram, mas
que me parece, de longe, mais coerente. A crítica é, portanto, à
incoerência daqueles que rejeitam a primeira premissa. Espero explicar
melhor usando as reflexões do próprio Nietzsche.
Em sua famosa obra, A gaia ciência, o filósofo conta a história de um
homem que bem cedo chega à uma praça gritando “Estou procurando a
Deus! Estou procurando a Deus!”. Depois de ver os cidadãos zombarem
da pergunta "o homem louco se lançou para o meio deles e trespassou-os
com seu olhar: ‘Para onde foi Deus?’, gritou ele, ‘já lhes direi! Nós o
matamos — vocês e eu. Somos todos seus assassinos! Mas como fizemos
isso?’”. Nietzsche prossegue e deixa claro que entendia as implicações
lógicas de uma vida sem Deus:
‘Como conseguimos beber inteiramente o mar? Quem nos deu a
esponja para apagar o horizonte? Que fizemos nós, ao desatar a terra
do seu sol? Para onde se move ela agora? Para onde nos movemos
nós? Para longe de todos os sóis? Não caímos continuamente? Para
trás para os lados, para a frente, em todas as direções? Existe ainda
'em cima' e 'embaixo'? Não vagamos como que através de um nada
infinito? Não sentimos anoitecer eternamente? Não temos de acender
lanternas de manhã? [...] nós o matamos! Como nos consolar, nós
assassinos entre os assassinos?’.27
O que é realmente interessante aqui? Para Nietzsche Deus representava a
base para os absolutos nos quais criam os homens. Contudo, para ele,
tudo não passava de uma invenção do homem, uma completa
demonstração de sua fraqueza. Se este quisesse se libertar, atingindo
assim os mais elevados níveis humanistas, precisaria se livrar dessa obra
de sua própria mente. Enterrando Deus, o homem moderno enterrava
também os conceitos atrelados a Ele de “certo” e “errado”. O intrigante é
que Nietzsche realmente entendia que verdades absolutas, como “certo”
e “errado”, “bom” e “mau” só podiam estar ligados a Deus, de maneira
inexorável. A diferença é que Nietzsche realmente acreditava que Deus
não existia e, portanto, não fazia sentido algum falar em moralidade (ou
em qualquer outra coisa que fosse) absoluta.
Christopher Hitchens nos confirmar que, segundo o filósofo alemão, “em
um mundo sem Deus, todos os valores tornam-se relativos, e a verdade,
meramente uma convenção linguística e cultural”28. Assim, parece que é
lógico dizer que
27
Paulo César de Souza, A Gaia Ciencia - Friedrich Nietzsche, Editora Companhia das Letras, 2002, p. 147. Citação retirada do site wikiquote, disponível no link: http://pt.wikiquote.org/wiki/Deus. 28
Lendo as Escrituras com os pais da Igreja, p. 32. Citado em Granconato, 2011, p. 15.
A inexistência ou silêncio de Deus transformam todas as questões
morais em simples matéria de opinião pessoal.29
Peter Atkins é um conhecido químico e professor de Oxford. Atkins não
parece se preocupar em deixar escancarada a nudez coerente com sua
cosmovisão ateísta:
“A ciência pode lançar luz sobre as questões da vida e da morte. Ela nós
mostra que não pode haver distinção moral entre um veneno
administrado e um que o próprio corpo lentamente gerou.” 30 “Veneno
administrado” obviamente é um eufemismo para “envenenamento” e,
portanto, “homicídio doloso hediondo”. Mas não há porque pensar que
em um mundo sem Deus, que nada mais é do que um acidente cósmico
do qual também somos acidentes condicionados às eras e à mão da
seleção natural, haja qualquer objetividade em relação a sentido,
propósito e, também, valores morais. Para sermos consistentes com a
explicação cósmica do ateísmo precisamos assumir que “tanto faz”! Tanto
faz se alguém “administrou um veneno” contra outrem, ou se esse outro
morreu de maneira natural. Se Deus não existe, de fato não existem
valores morais objetivos.
Lembro-me de quando meu cunhado, que acabara de ingressar na
faculdade de Engenharia, me mostrou um de seus livros-texto de química
29
Granconato, 2011, p. 15. 30
Will Science Ever Fail? [A ciência algum dia falhará?], publicado na revista New Scientist, nº 135 de 8 de Agosto de 1992, p 34. Essa fonte aparece nos últimos minutos do último vídeo do debate entre Craig e Atkins. Este é o nono e último vídeo da série, disponível no link: http://www.youtube.com/watch?v=zQGLQzz6jOI
cujo autor era o próprio Atkins (descobri tempos depois que este químico
era famoso por produzir tais livros didáticos). Conhecemos o professor de
Oxford em um debate com o já citado Willaim Craig. Neste debate fica
evidente a impossibilidade, para qualquer pessoa, de se viver em um
mundo com as implicações do ateísmo. Depois de Craig citar as próprias
palavras de Atkins (na citação anterior), este se incomodou a ponto de
dizer que as palavras não eram suas. Dito que aquela era uma citação
direta de um de seus escritos, Atkins voltou atrás e disse que, de fato, não
acredita na indistinção feita anteriormente entre as duas mortes.
Essa pode ser uma das diferenças entre ateus e os atualmente famosos
neo-ateus. Os ateus do passado ao menos carregavam o ônus de suas
“conclusões”. Não creio que as conclusões estejam corretas e já tentei
argumentar - e continuarei tentando - que Deus existe. Mas se Deus não
existe, Nietzsche, Camus e Sarte nos mostraram com muito nexo o que a
vida é! O problema dos neo-ateus fica explícito nesta ironia do pastor e
apologista cristão Douglas Wilson enquanto debatia com um sinônimo do
neo-ateísmo, Christopher Hitchens:
Ele [Hitchens] pôs a árvore abaixo, mas ainda assim deseja que a fruta
esteja lá para ser colhida. Ele excluiu de seu quintal as laranjeiras, mas
assim mesmo quer suco de laranja.31
O que Douglas Wilson quer nos mostrar é que os neo-ateus rejeitam Deus
(a árvore) e ainda assim querem falar de valores morais objetivos (as
laranjas para o suco). A visão advogada pelos ateus é de um mundo
31
Douglas Wilson e Christopher Hitchens, O cristianismo é bom para o mundo?, São Paulo: Garimpo Editorial, p. 17.
acidental, onde, portanto, não pode haver sentido, propósito ou valor que
não sejam meras convenções sociais e expressões do gosto pessoal. Mas
por que, então, a insistência em se posicionar contra as Cruzadas, a
Inquisição?
No ateísmo não há nada que nos de base para posicionamentos firmes
contra, por exemplo, o estupro e o genocídio. Nenhum ateu coerente
pode condenar essas coisas sem ser hipócrita. Mas esperem, “existe algo
que se possa chamar de hipocrisia ateísta?”32.
Por que eu tenho que ajudar alguém ou condenar um crime? Por que é
errado! Por que é errado? Mas por que eu devo pensar que algo é errado
em uma visão ateísta. De onde isso provém?
“Eu tenho que ajudar meus semelhantes” podem arriscar. No cristianismo
isso é óbvio. Mas no ateísmo você deve a mesma coisa em relação às
baratas! Ou posso lhes acusar de “especismo”? Não há nada de especial
no homem dado o ateísmo! Além disso, olhando para o “exemplo dos
pescoços das girafas”33 no processo de seleção natural, é coerente que
cada um se preocupe com o próprio umbigo (ou pescoço), não é mesmo?
O ateísmo não me dá motivos nenhum para ajudar a girafa ao meu lado.
Mas, novamente, por que então insistimos tanto em louvar o que é bom e
condenar algo como o Holocausto? Porque valores morais objetivos, de
fato, existem! Chegamos, assim, à segunda premissa.
32
Ibidem., p. 35. 33
Obviamente eu não acredito nisso!
SEGUNDA PREMISSA
“A princípio pensei que essa seria a premissa mais controvertida do
argumento. No entanto, em meus debates com filósofos ateus, descobri
que praticamente ninguém a refuta.”34
Por que será? A própria atitude já comentada de muitos ateus – os quais
cortam a árvore e ainda tentam pegar os frutos, ou seja, rejeitam a
existência de Deus, mas ainda assim querem advogar em favor de causas
morais – demonstra que é praticamente impossível encontrar alguém que
não acredite que o Holocausto, estupro e abuso infantil “não são apenas
comportamentos socialmente inaceitáveis – são verdadeiras abominações
morais”35.
O apelo suficiente nesse ponto é para que olhemos para nossa
experiência moral. Ela não deveria ser jogada para escanteio até prova em
contrário, afinal, ninguém sai por aí desconfiando, por exemplo, da
realidade objetiva do mundo físico à nossa volta.
Os filósofos, ao refletirem sobre nossa experiência moral, não veem
razões para desconfiar dessa experiência mais do que veem para a
experiência dos nossos cinco sentidos [...] ou seja, que existe um mundo
de objetos físicos à minha volta. Meus sentidos não são infalíveis, mas
isso não me leva a pensar que não haja um mundo exterior à minha
volta. Do mesmo modo, na ausência de alguma razão para desconfiar
34
Craig, 2011, p. 154. 35
Ibidem., p. 155.
de minha experiência moral, devo aceitar o que ela me diz, isto é, que
algumas coisas são objetivamente boas ou más, certas ou erradas.36
Como provar que não somos meros cérebros neste exato momento
presos a um reservatório químico servindo de cobaia a maléficos
cientistas para acreditarmos que temos um corpo e que existe uma
realidade objetiva à nossa volta? Não temos como provar! E por este
motivo sairemos daí duvidando de nossa experiência física? Jamais! Isso é
loucura. Pelo mesmo motivo, não há razão para negar nossas experiências
morais!
Immanuel Kant (1724-1804), que nem cristão era, sinceramente declara:
“Duas coisas enchem a mente de [...] assombro e reverência [...]: o céu
estrelado sobre mim e a lei moral dentro de mim”37.
II. CONCLUSÃO
Se até aqui alguém concordar com as duas primeiras premissas (e não
vemos muitos porquês para não fazê-lo) então, segue-se de maneira
lógica, necessária e inescapável que Deus existe! Se os ateus continuarem
reivindicando uma cosmovisão onde o universo e a vida surgiram ao acaso
e, da mesma forma que surgiram, tendem a deixarem de existir, que pelo
menos haja coerência em se assumir o ônus das implicações! Se Deus não
existe não há sentido, propósito e, como enfatizado nessa seção, valores
e deveres morais objetivos. Se Deus não existe, moralidade é mera
convenção social, assunto puramente subjetivo! 36
Ibidem., p. 154. 37
Crítica da razão prática, in: Stephen Law, Guia ilustrado Zahar: Filosofia. Citado em Granconato, 2011, p. 27.
Por que motivo, porém, nós seres humanos consentimos (mesmo que
somente em casos extremos) em dizer que eventos como o Holocausto
são sempre errado? Por que em nossa experiência de vida nos sentimos
obrigados a realizar certas ações por nos parecerem corretas e, em
relação às erradas, quase sempre sabemos que há um limite, um ponto de
onde não “se deve passar”? Porque valores e deveres morais objetivos
existem!
Sendo assim, querendo ou não, gostando ou não, conclui-se que Deus
existe!
V. PODEMOS CONFIAR NA BÍBLIA?
A superfície argumentativa acerca da existência de Deus já fora lançada.
Agora, porém, resta ir um pouco mais além. Se o cristianismo reivindica
ser verdadeiro há uma grande questão a ser discutida: a confiabilidade
das Escrituras. Existem cristãos que pouca relevância dão à Bíblia. Existem
os “cristãos liberais” que fazem concessões sobre a confiabilidade dos
manuscritos sagrados quando se deparam com alguns pequenos
problemas. De fato essa é uma das questões mais discutidas ao longo de
muitos anos de estudo. Talvez seja uma das questões mais trabalhosas, e,
por esse mesmo motivo, uma das mais instigantes.
Se Deus existe e esse Deus é o Deus cristão, então nós só saberemos disso
completamente, por meio da Bíblia. Se Jesus Cristo é o centro do
cristianismo e merece ter sua vida, ensinos, morte e ressurreição
analisados, então é na Bíblia que encontraremos informação a esse
respeito. Por isso mesmo importa que os manuscritos bíblicos sejam
confiáveis. Inicialmente me deterei aos escritos do Novo Testamento,
reservando uma abordagem apologética diferente no final da seção.
“Como saber se esses registros são precisos? Pode ser que os seguidores
de Jesus tenham dito que Jesus disse q fez certas coisas que ele na
verdade não fez.”38 Ok, talvez Jesus tenha mesmo existido (duvidar disso
hoje se torna praticamente uma piada), mas seu retrato histórico é bem
diferente do narrado nos evangelhos, não? Talvez os discípulos não
tenham inventado toda história, mas tenham acrescentado algum relato
38
Craig, 2011, p. 204.
heroico e mítico de Jesus que, na verdade, não ocorreu, não é mesmo?
Milagres? Reivindicações radicais? Será que o cristianismo ortodoxo
representa fielmente o Jesus histórico? Como saber?
Obviamente essas questões não são respondidas pelo método científico
e/ou por pura especulação filosófica. A metodologia utilizada aqui deve
ser a mesma que nos possibilita conhecer eventos e personagens do
passado, ou seja, as ferramentas específicas da História. No caso
específico de escritos passados e, portanto, dos manuscritos do Novo
Testamento, a ferramenta utilizada é a crítica textual. Por meio de
estudos atuais (e a despeito do recorrente espaço dado a matérias
sensacionalistas que vez ou outra aparecem com a grande novidade que
irá destruir a fé cristã) sabe-se que
Hoje Jesus não é mais apenas uma figura decorativa em vitrais de
igrejas, mas sim uma pessoa real de carne e osso da história, assim
como o imperador Júlio César ou Alexandre, o Grande, cuja vida pode
ser estudada por métodos históricos padrões. Os escritos do Novo
Testamento podem passar por um escrutínio usando-se os mesmos
critérios históricos que usamos para investigar outras fontes da história
antiga, como A guerra do Peloponeso, de Tucídides, ou os Anais, de
Tácito39
Então o primeiro passo é reunir o material, a fonte acerca do nosso
personagem, Jesus de Nazaré. Na verdade existem dois tipos de fontes e
nos ateremos brevemente às duas. A primeira são os próprios
documentos neo-testamentários, os quatro evangelhos e as cartas
39
Ibidem., p. 205.
apostólicas. Em seguida olharemos para as fontes fora do cânon que
corroboram a historicidade de Jesus.
SOBRE OS DOCUMENTOS DO NOVO TESTAMENTO
Antes de ir ao texto grego, é necessário que primeiro entendamos que
não possuímos os textos originais. Os manuscritos antiquíssimos já se
desintegraram e o que temos hoje são cópias. Geralmente essa notícia
aparece como trunfo para muitos céticos que não veem nela mais do que
uma oportunidade para inventar relatos de conspirações políticas que
alteraram o texto a fim de preservar um fato que, descoberto, geraria
assombro no mundo. Eles se veem no direito de especular quais teriam
sido esses acobertamentos com base em literatura bem mais distante da
época de Jesus e conseguem causar todo tipo de alarde com seu
sensacionalismo não-histórico que encontra espaço em revistas de
circulação popular.
Na verdade a primeira informação que lhes deveria ser dada, para que
seus ânimos fossem acalmados, é que o Novo Testamento não está
sozinho nessa. Pelo contrário, muitos textos da antiguidade chegam aos
historiadores da mesma forma. E em relação a esse fato comum referente
a textos antigos, o Novo Testamento está muitos degraus acima. Isto
porque “muitas cópias sobreviveram” como explica o professor emérito
do Seminário Teológico de Princeton que há muito estuda e ensina Novo
Testamento, Dr. Bruce M. Metzger.40
40
Lee Strobel, Em defesa de Cristo: um jornalista ex-ateu investiga as provas da existência de Cristo, São Paulo: Editora Vida, 2001, p. 76.
... quanto maior o número de cópias em harmonia umas com as outras,
sobretudo se provêm de áreas geográficas diferentes, tanto maior a
possibilidade de confrontá-las, o que nos permite visualizar como
seriam os documentos originais. A única forma possível de harmonizá-
los seria pela ascendência de todos eles à mesma árvore genealógica
que representaria a descendência dos manuscritos.
O Novo Testamento se sobressai também em relação às datas destas
cópias que são muito mais próximas dos textos dos apóstolos e
evangelistas. Metzger afirma que “temos cópias que datam de algumas
gerações posteriores ao escrito dos originais, ao passo que, no caso de
outros textos antigos, talvez cinco, oito ou dez séculos tenham se
passado”41. O Novo Testamento ainda fora traduzido para línguas como o
latim, siríaco, copta e, posteriormente, há também traduções armênias e
góticas.
Mesmo que não tivéssemos nenhum manuscrito grego hoje, se
juntássemos as informações fornecidas por essas traduções que
remontam a um período muito antigo, seria possível reproduzir o
conteúdo do Novo Testamento. Além disso, mesmo que perdêssemos
[...] as traduções mais antigas, ainda assim seria possível reproduzir o
conteúdo [...] com base na multiplicidade de citações e comentários,
sermões, cartas etc. dos antigos pais da igreja.42
Sobre o volume de manuscritos gregos existentes hoje, é praticamente
constrangedor se o compararmos a obras antigas como os Anais, de
Tácito – “seus primeiros seis livros existem hoje em apenas um
41
Ibidem., p.77. 42
Ibidem.
manuscrito, copiado mais ou menos em 850 d.C.. Os livros 11 a 16 estão
em outro manuscrito do século XI. Os livros 7 a 10 estão perdidos” p78 –,
Guerra dos judeus, do historiador Flávio Josefo – nove manuscritos,
“todos eles cópias feitas nos séculos X a XII. Existe uma tradução latina do
século IV e textos russos dos séculos XI ou XII” P 18 -, ou ainda a famosa
Ilíada de Homero, que é o texto com maior volume de cópias antes do
Novo Testamento – menos de 650 manuscritos. E quantos manuscritos
teríamos do Novo Testamento então? “Mais de cinco mil catalogados” (p
78)!
Normam Geisler, reconhecido apologeta cristão, conclui:
O Novo Testamento não só sobreviveu em um número maior de
manuscritos, mais que qualquer outro livro da Antiguidade, mas
sobreviveu em forma muito mais pura (99,5% de pureza) que qualquer
outra obra grandiosa, sagrada ou não.43
E o mais interessante de se notar é que o 0,5% de variação não coloca
nenhum doutrina cristã em risco!44.
Feita esta pequena introdução sobre as cópias que nos permitem chegar
ao texto grego do Novo Testamento, passemos então a ele. Uma
observação se faz extremamente relevante aqui:
Ora, descobri que muitos leigos não entendem esse procedimento. Eles
acreditam que se você analisar os próprios escritos do Novo
43
Normam L. Geisler & William E. Nix, Introdução bíblica: como a Bíblia chegou até nós, São Paulo: Editora Vida, 1997, p. 172. Citado em Strobel, 2001, p. 85. 44
Strobel, 2001, p. 84-85.
Testamento, em vez de recorrer a fontes externas ao Novo Testamento,
então você estará de certa forma andando em círculos, usando a Bíblia
para provar a Bíblia. Se você sequer citar uma passagem extraída do
Novo Testamento eles pensarão que você de algum modo está
cometendo uma petição de princípio, por pressupor que o Novo
Testamento é uma fonte confiável.
Mas isso não é de forma alguma o que os historiadores fazem quando
estudam o Novo Testamento. Eles não estão tratando a Bíblia como
um livro sagrado, inspirado, nem tentando provar que ele é verídico
apenas por citá-lo. Antes, estão tratando o Novo Testamento como
qualquer outra coletânea de escritos antigos e investigando se tais
documentos são historicamente confiáveis.45
Indicaremos alguns pontos que ajudam a desmistificar a questão da
credibilidade histórica do Novo Testamento. O espaço é curto, logo só
alguns pontos da defesa serão apresentados e poucos, enfatizados. A
Bibliografia sugerida no final deste texto, assim como nos casos
anteriores, ajudará em uma pesquisa mais minuciosa e responsável deste
empolgante tema. Vamos aos pontos:
Em primeiro lugar, “não houve tempo suficiente para que a influência de
lendas apagasse os principais fatos históricos”46. Considerando que o
tempo entre os fatos e entre os escritos que os relatam é bastante
pequeno, é bastante improvável que lendas tenham sido criadas em torno
da figura de Cristo e repassadas para o texto sagrados. Um primeiro ponto
que se deve observar é que pouco importa quão distantes estamos hoje
dos fatos. O que realmente importa é o hiato entre “a evidência e os 45
Craig, 2011, p. 206. 46
Ibidem., p. 209-210. Craig detalha mais este ponto nas páginas 211-213.
acontecimentos originais em torno dos quais gira a evidência”47. Temos a
tendência a achar que não podemos conhecer fatos da época de Jesus já
que essa história se passou há dois mil anos. Todavia, não vemos
problemas nenhum em abrir um livro de história e confiar nas histórias
dos persas, dos gregos, os relatos de guerras e a vida de homens como
Alexandre. Esse raciocínio impreciso e seletivo não faz qualquer sentido
dentro da História. No caso do Novo Testamento, faz menos sentido
ainda, já que neste caso há também um espaço temporal pequeno entre
os fatos e os relatos destes.
É precisamente neste ponto que entramos na segunda e mais importante
observação. É bem comum ouvirmos que os escritores do Novo
Testamento biografaram a vida de seu mestre vários anos depois de sua
morte. Isto é relativa e absolutamente inverídico. Relativamente porque
se olharmos para esse hiato em outras biografias da Antiguidade,
concluiremos que o Novo Testamento leva considerável vantagem. Como
diz o especialista em Novo Testamento, Dr. Craig Blomberg:
... na verdade, é possível fazer uma comparação muito instrutiva. As
duas biografias mais antigas de Alexandre, o Grande, foram escritas
por Ariano e Plutarco depois de mais de 400 anos da morte de
Alexandre [...] e mesmo assim os historiadores as consideram muito
confiáveis.48
Sobre a incidência de lendas, Blomberg atesta que somente 500 anos
depois é que este tipo de material começou a surgiu na história do
47
Ibidem., p. 209. 48
Strobel, 2001, p. 42.
imperador. “Por outras palavras, nos primeiros 500 anos, a história de
Alexandre ficou quase intacta”. Mas ainda há algo mais surpreendente a
se dizer. Há boas evidências para colocar as datas dos evangelhos abaixo
do que tradicionalmente é divulgado. Em resumo, as datas mais aceitas
são: década de 70 para o evangelho de Marcos; década de 80 para
Mateus e Lucas; e década de 90 para o evangelho joanino. Porém o Dr.
Blomberg propõe algo bastante coerente para datação mais antiga dos
documentos neotestamentários. O livro de Atos é finalizado deixando
certo suspense acerca da situação de Paulo, que estava preso em Roma à
época. Aparentemente falta uma conclusão sobre a vida do apóstolo! Por
quê? Essa maneira repentina com que o livro termina nos permite
concluir que Paulo ainda estava vivo quando da conclusão de Atos.
Isso significa que [se] o livro de Atos é o segundo tomo de um volume
duplo, sabemos que o primeiro tomo – o evangelho de Lucas – deve ter
sido escrito antes dessa data. E já que Lucas inclui parte do evangelho de
Marcos, isto significa que Marcos [...] foi escrito por volta de 60 d.C.,
talvez até mesmo em fins da década de 50. Se Jesus foi morto em 30 ou
33 d.C., temos aí um intervalo de, no máximo, 30 anos
aproximadamente. [...] Em termos de história, principalmente se
compararmos com Alexandre, o Grande, [...] é como se fosse uma notícia
de última hora!49
Se pensarmos nos primeiros testemunhos sobre a vida, ensino, morte e
ressurreição de Jesus, ou seja, as principais doutrinas cristãs desde a
Igreja primitiva, e considerarmos todo o Novo Testamento e não só os
quarto evangelhos, chegamos ainda mais perto dos fatos históricos. Na
49
Ibidem., p. 43.
primeira carta de Paulo à igreja da cidade de Corinto encontramos aquilo
que os historiadores têm entendido como um credo da igreja primitiva.
Assim como Filipenses 2.6-11 e Colossenses 1.15-20, a métrica e conteúdo
apresentado em 1Coríntios 15.3-7 definem tais textos como credos ou
hinos comumente transmitidos no primeiro século pelos cristãos.
Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi:
(1) que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras,
(2) e que foi sepultado,
(3) e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras.
(4) E que foi visto por Cefas, e depois pelos doze. Depois foi visto, uma
vez, por mais de quinhentos irmãos, dos quais vive ainda a maior
parte, mas alguns já dormem também. Depois foi visto por Tiago,
depois por todos os apóstolos.50 (1Co 15.3-7 - ACF51)
A forma com que está exposto indica o conteúdo da tradição nas quatro
linhas (excetuando-se a primeira, na qual Paulo introduz o credo). Cada
linha é responsável por uma parte da tradição. Para William Craig, este
formato, deveria ter ajudado na memorização. Neste texto, que resume a
50
Craig, 2011, p. 247. Obviamente os números das linhas (1 a 4) não fazem parte do texto bíblico. Tampouco do texto na obra de Craig. Apenas os coloquei para a visualização de como provavelmente era a forma deste credo, a fim de propiciar melhor memorização do conteúdo. Para explicações mais detalhadas sobre o porquê de este texto ser considerado um credo, conferir Strobel, 2001, p. 302-305. 51
“ACF” é a abreviação para a tradução da Bíblia Sagrada feita por João Ferreira de Almeida, em sua Edição Corrigida e Revisada Fiel aos Textos Originais. Essa será a versão padrão do artigo. Em outros casos, para melhor compreensão do texto, a versão usada será indicada.
pregação cristã primitiva, “Paulo usa uma linguagem técnica para indicar
que estava transmitindo essa tradição oral de uma forma relativamente
fixa”52. O próprio texto dá essa impressão direta quando Paulo diz que
primeiramente entregou “o que também recebi”. Ademais, “recebi” e
“transmiti” (entreguei) “são termos rabínicos que indicam a transmissão
de uma tradição”53.
Craig Blomberg novamente faz uma regressão cronológica dos fatos:
... a conversão de Paulo se deu aproximadamente em 32 [d.C.]. Ele foi
então levado imediatamente para Damasco [...] Seu primeiro encontro
dos os apóstolos em Jerusalém teria ocorrido em 35 d.C. [...] Não
estamos comparando 30 ou 60 anos com os 500 anos normalmente
aceitos para outros dados – estamos falando de dois anos!”54
Em segundo lugar, “os evangelistas têm um passado garantido de
confiabilidade histórica”.55 Lucas, por exemplo, escreveu uma obra que
posteriormente foi agrupada em dois volumes, o evangelho segundo
Lucas e o livro de Atos. O prefácio do seu evangelho foi escrito “em grego
clássico, exatamente como os grandes historiadores gregos costumavam
fazer” (craig 214). Lucas “fala da minuciosa investigação da história que
está prestes a relatar e nos assegura de que ela se baseia em informações
colhidas de testemunhas oculares”. (p 214) No livro de Atos percebe-se
relatos detalhados sobre as regiões onde o cristianismo começou a
52
Strobel, 2001, p. 44. 53
Ibidem., p. 302. 54
Strobel, 2001, p. 45. 55
Craig, 2011, p. 210-211. Mais detalhes deste ponto são apresentados nas páginas 213-216.
florescer no contexto das viagens de Paulo. Lucas era médico, não foi
testemunha ocular da vida de Jesus, mas teve a oportunidade de viajar
com Paulo (como se percebe a partir do versículo 10 de Atos 16) e
“conversar com testemunhas oculares da vida de Jesus quando esteve em
Jerusalém”, (p 215).
O que mais intriga nos relatos de Lucas no livro de Atos é a precisão
histórico-geográfica com que os eventos são narrados. Sherin-White,
historiador de profissão e estudioso da história greco-romana, afirma que
“a historicidade em Atos é avassaladora. Qualquer tentativa de rejeitar
sua historicidade, ainda que seja em relação a detalhes, deve agora nos
parecer absurda”56. Sir William Ramsey, arqueólogo, nos confirma: “Lucas
é um historiador de primeira classe [...] Esse autor deveria ser colocado
entre os maiores historiadores”57. “Um arqueólogo de renome analisou as
referências que Lucas faz a 32 países, 54 cidades e 9 ilhas, e não achou um
erro sequer”58.
Um terceiro ponto é que “a transmissão das tradições sagradas entre os
judeus era altamente desenvolvida”59. Para que fique ainda mais claro
que os escritos do Novo Testamento refletem com boa recisão o que de
fato aconteceu, precisamos distinguir a tradição oral peculiar a Israel.
56
A. N. Sherwin-White, Roman Society and Roman Law in the New Testamente. Oxford, 1963 p. 189. Citado em Craig, 2011, p. 215. 57
William M. Ransey, The Bearing of Recent Discovery on the Trustworthiness of the New Testament. London, 1915, p. 222. Citado em Craig, 2011, p. 216. 58
Strobel, 2001, p. 129. 59
Craig, 2011, p. 210.
Desde a mais tenra idade as crianças eram ensinadas em casa, na
escola e na sinagoga a memorizar com fidelidade a tradição sagrada.
Os discípulos devem ter tido o mesmo cuidado com os ensinamentos de
Jesus.60
Em uma terra e tempo onde não havia computador ou máquina de
escrever, muito menos impressora, é preciso ressaltar que a educação se
dava de maneira oral. “Alguns rabinos ficaram famosos porque sabiam de
cor todo o Antigo Testamento”61. Os discípulos, que também eram judeus
provavelmente estavam aptos para guardar grandes porções de histórias
e dizeres do tempo que andavam com Jesus. Sinceramente é difícil para
qualquer ocidental contemporâneo entender do que se está falando. Mas
o professor Craig Blomberg, que admite o espanto, nos ajuda, explicando,
por exemplo, “que 80 a 90% das palavras de Jesus estavam originalmente
em forma poética [...] havia métrica, com versos harmônicos, paralelismo
e assim por diante – o que teria facilitado muito a memorização”62.
O que facilita ainda mais a compreensão da tradição oral dos antigos
judeus é a possibilidade da introdução de “variações em partes da história
conforme a ocasião – incluir ou excluir detalhes, parafrasear este ou
aquele trecho, explicar esta ou aquela parte, e assim por diante” p 56. “De
acordo com um estudo, cerca de 30 a 40% de toda a tradição sagrada
transmitida oralmente no antigo Oriente Médio apresenta variações de
uma ocasião para a outra. Todavia certos pontos nunca se alteravam, e a
60
Ibidem. 61
Strobel, 2001, p. 55. 62
Ibidem., p. 56. Lembre-se, também, do paralelismo e forma do credo de 1 Corítnios.
comunidade podia intervir para corrigir o narrador caso ele reproduzisse
erroneamente os aspectos importantes da história”. Isso faz sentido já
que os judeus sempre zelaram pelas tradições religiosas e se sentiriam a
vontade para corrigir erros em transmissões equivocadas de eventos ou
dizeres.
Em quarto, “havia importantes impedimentos ao embelezamento das
tradições sobre Jesus, como a presença de testemunhas oculares e a
supervisão dos apóstolos”63. Sobre este ponto, William Craig nos diz:
As pessoas que haviam visto e ouvido Jesus ainda estavam vivas e
poderiam ser consultadas a respeito do que Cristo havia dito e feito.
Além disso, as tradições sobre Jesus permaneceram sob a supervisão
dos primeiros apóstolos. Esse fatores teriam agido como um verdadeiro
freio sobre as tendências de elaborar os fatos em uma direção
contrária a que era preservada por aqueles que haviam conhecido
Jesus. De fato, no caso dos evangelhos, seria mais preciso falar em
“história oral” do que em “tradição oral”, uma vez que as testemunhas
oculares e os apóstolos ainda estavam vivos.64
Antes de analisarmos se há provas corroborativas fora do Novo
Testamento, vale mencionar uma questão recorrentemente usada no
ataque ao texto bíblico: as discrepâncias entre os diferentes relatos dos
evangelhos. Como há a necessidade de se arbitrar sobre os pontos que
serão mencionados ou não e, dentre os mencionados, enfatizados ou não,
vejo a necessidade de apenas lançar dois princípios apologéticos
63
Craig, 2011, p. 210. 64
Ibidem.
específicos para esse caso. A busca mais aprofundada sobre esse tema tão
difundido e debatido pode ser feita com base na bibliografia indicada.
Primeiramente devemos ser sinceros quanto à natureza das
discrepâncias. É inquestionável que as diferenças nos relatos dos eventos
da vida de Jesus se dão em pontos que estão à margem do foco central da
história. Pontos estes que não duvidariam, por exemplo, os fatos-chave
para se advogar a ressurreição histórica. Além disso, muitos estudiosos
têm trabalhado duro a ponto de harmonizarem praticamente todas estas
famosas incongruências com novas descobertas históricas, arqueológicas,
linguísticas. Isso se reflete em uma vasta literatura saturada de trabalhar
com estes pontos. Enquanto essa literatura se mostra bastante útil do
ponto de vista teológico, doutrinário para os cristãos, o ponto seguinte é
esclarecedor de um viés historiográfico.
Neste segundo ponto, devemos buscar o real significado destas
discrepâncias. A harmonização acima citada é importante para a
solidificação das crenças teológicas. Mas do ponto de vista de um
historiador e até mesmo de um advogado, é realmente animador que
estas incoerências aparentes (ou “variações nos relatos”) de fato existam.
Lee Strobel que escreveu o impressionante livro “Em defesa de Cristo”65,
onde narra sua peregrinação jornalístico-investigativa em entrevistas em
busca de fatos históricos sobre Jesus, é mestre em Direito pela
universidade de Yale. Seus vários anos como repórter jurista do Chigano
Tribune lhe renderam muitos prêmios e reconhecimento internacional.
Enquanto trabalhava a questão das discrepâncias nos relatos do Novo
65
Referencias do livro
Testamento com o Dr. Caig Blomberg, o próprio Strobel diz ter lembrado
instantaneamente das palavras de uma importante personagem da
história do direito, Dr. Simon Greenleaf, da Faculdade de Direito de
Harvard. Greenleaf, “autor de um tratado muito influente sobre a prova”
estudou a harmonia entre os quatro evangelhos. Seu veredito:
Existe um volume significativo de discrepâncias, o que aponta para o
fato de os autores não poderem ter estabelecido nenhum tipo de
acordo entre si; por outro lado, há também uma harmonia de tal
magnitude que demonstra sua condição de narradores independentes
de uma transação de grande importância.66
Por fim, Strobel ainda cita Hans Stier, “estudioso alemão da escola
historiográfica clássica”, que conclui “Todo historiador [...] torna-se muito
cético no momento em que algo extraordinário só aparece relatado em
narrativas completamente isentas de contradições”67.
William Craig, que passou seu doutorado em Munique estudando os
documentos históricos a fim de buscar bases sólidas para a ressurreição,
sugere qual a posição aparentemente mais coerente a se tomar depois de
lançadas essas poucas, superficiais, porém significativas defesas históricas
sobre os documentos do Novo Testamento: “pessoalmente acredito que
devemos presumir a confiabilidade histórica do que os evangelhos dizem
sobre Jesus, até que se prove que eles estejam errados”68.
66
Simon Greenleaf, The testimony of the evangelists, Grand Rapids, Baker, 1984, p. vii. Citado em Strobel, 2001, p. 59. 67
Strobel, 2001, p. 59. 68
Craig, 2011, p. 216.
Analisada a credibilidade histórica do Novo Testamento em si, resta-nos
saber se outras fontes externas confirmam o que os apóstolos narraram.
SOBRE OS DOCUMENTOS FORA DO NOVO TESTAMENTO
É preciso deixar claro que mesmo que não houvesse prova documental
histórica à parte dos manuscritos gregos, não poderíamos negar a
veracidade histórica do cristianismo de uma vez por todas. Isso nos
parece óbvio a partir do momento que o Novo Testamento já fora
demonstrado como uma valiosíssima fonte de credibilidade histórica
surpreendente.
Esse equívoco não passou despercebido em um dos debates do professor
William Craig. Seu oponente, famoso naturalista Dr. John Shook, na parte
final do debate, dirigiu uma pergunta ao filósofo cristão acerca das provas
que haveria para o cristianismo fora do Novo Testamento. Dr. Craig
explicou, então, que a pergunta partia de um pressuposto errado e
preconceituoso de que os manuscritos do Novo Testamento eram tão
ruins historicamente, ou abarrotados de falsidades e segundas intenções,
que necessitavam de prova corroborativa. Este não é o fato como já
tentamos demonstrar!
O que as provas corroborativas fazem é reforçar a credibilidade do que é
atestado no cânon cristão. Algumas são realmente surpreendentes.
Vejamos...
A mais conhecida talvez seja a referência do historiador Flávio Josefo.
Judeu, nascido em 37 d.C., Josefo finalizou sua mais importante obra –
Antiguidades – em 93 d.C.. Neste texto encontramos um pequeno trecho
onde é dito: “Convocou então uma reunião do Sinédrio e trouxe perante
ele um homem chamado Tiago, o irmão de Jesus, chamado o Cristo, e
alguns outros”69. Edwin M. Yamauchi, um dos entrevistados de Lee
Strobel no já citado Em defesa de Cristo, é formado em hebraico e
estudos helenísticos, além de ser doutor em estudos mediterrâneos pela
Brandeis University. Yamauchi nos diz sobre o trecho de Josefo acima que
não conhece “nenhum estudioso [...] [que tenha] conseguido colocar em
dúvida esta passagem”70.
Há ainda uma passagem mais importante, famosa e controversa sobre
Jesus, o Testimonium flavianum:
Nesse mesmo tempo apareceu Jesus, que era um homem sábio, se
todavia devemos considerá-lo simplesmente como um homem, tanto
suas obras eram admiráveis. Ele ensinava os que tinham prazer em ser
instruídos na verdade e foi seguido não somente por muitos judeus, mas
mesmo por muitos gentios. Era o Cristo. Os mais ilustres da nossa nação
acusaram-no perante Pilatos e ele fê-lo crucificar. Os que o haviam
amado durante a vida não o abandonaram depois da morte. Ele lhes
apareceu ressuscitado e vivo no terceiro dia, como os santos profetas o
tinham predito e que ele faria muitos outros milagres. É dele que os
cristãos, que vemos ainda hoje, tiraram seu nome.71
O que ocorre com este texto tão impressionante? Um judeu
provavelmente não escreveria certos trechos aí presentes. Os
69
Flávio Josefo, História dos hebreus, Rio de Janeiro: CPAD, 1991, 2, p. 203. Citado em Strobel, 2001, p. 102. 70
Strobel, 2001, p. 102. 71
Josefo, 1991, p. 156. Citado em Strobel, 2001, p. 103.
historiadores têm admitido isso. Depois de ser considerada autêntica
pelos cristãos e posta em dúvida completamente no Iluminismo,
Yamauchi afirma que “hoje em dia, porém, há um consenso notável tanto
entre os estudiosos judeus quanto entre os cristãos de que essa passagem
é totalmente autêntica, embora possa haver algumas interpolações”72.
Essas interpolações de copistas são, provavelmente, as seguintes:
“se todavia devemos considerá-lo simplesmente como um
homem”;
“Era o cristo” – relembrem que no primeiro trecho citado de
Josefo, ele se refere a Jesus como “era chamado Cristo”, frase que
estaria muito mais de acordo com o vocabulário de Josefo do que
a em questão;
“Ele lhes apareceu ressuscitado e vivo no terceiro dia, como os
santos profetas o tinham predito e que ele faria muitos outros
milagres”.73
Todo o resto do texto parece ser de fato de Josefo. Feito este
esclarecimento, a que conclusão chegamos? Dr. Yamauchi diz
Que esse trecho de Josefo, a princípio, dizia respeito a Jesus, mas sem
esses três pontos que mencionei. Apesar disso, Josefo confirma
informações importantes sobre Jesus: que ele foi o líder martirizado da
igreja em Jerusalém e que foi um mestre sábio, tendo deixado vários
72
Strobel, 2001, p. 103. 73
Para mais explicações sobre estas interpolações, conferir Strobel, 2011, p. 103-105.
discípulos, embora tenha sido crucificado por ordem de Pilatos,
instigado por alguns líderes judeus.74
Além de Josefo, Tácito “deixou registrada o que é provavelmente a
referência mais importante sobre Jesus fora do Novo Testamento”75:
... para acabar com os rumores, [Nero] acusou falsamente as pessoas
comumente chamadas de cristãs, que eram odiadas por suas
atrocidades, e as puniu com as mais terríveis torturas. Christus, o que
deu origem ao nome cristão, foi condenado à morte por Pôncio Pilatos,
durante o reinado de Tibério; mas, reprimida por algum tempo, a
superstição perniciosa irrompeu novamente, não apenas em toda a
Judéia, onde o problema teve início, mas também por toda a cidade de
Roma.76
Há ainda muitas referência sobre os fatos do primeiro século, como as
referências às trevas do ano de 33 d.C. que foram chamadas de eclipse
solar, mas que, pelo visto, realmente ocorreram77 (sugiro que não deixem
escapar essa referência no rodapé). “Sabia que você pode ler sobre
pessoas como Pôncio Pilatos, Caifás e até mesmo João Batista nos escritos
do historiador judeu Flávio Josefo?”78. Contudo, finalizaremos esse tópico
com a referência de Plínio, o Jovem, governador da Bitínia a partir de 79
d.C.:
74
Ibidem., p. 105. 75
Ibidem., p 106. 76
Tácito, Anais, 15.44. Citado em Strobel, 2001, 107. 77
Para mais detalhes... 109-110 e faz um resumo. 78
Craig, 2011, p. 210.
Eles afirmaram [...] que sua única culpa, seu único erro, era terem o
costume de se reunirem antes do amanhecer num certo dia
determinado, quando então cantavam responsivamente os versos de
um hino a Cristo, tratando-o como Deus, e prometiam solenemente uns
aos outros não cometerem maldade alguma, não deflaudarem, não
roubarem, não adulterarem, nunca mentirem, e não negar a fé quando
fossem instados a fazê-lo.79
APÓCRIFOS
São surpreendentes as barbaridades ditas acerca dos manuscritos do
Novo Testamento e da vida de Jesus quando se olha para a literatura
ficcional (com vestes científicas e históricas) dos tempos atuais. Os livros
de Dan Brown e as publicações do Seminário de Jesus têm feito um
desserviço muito grande ao progresso dos estudos históricos sobre o
Novo Testamento. Quando esse tipo de estórias aparece na mídia,
novamente ressurge a questão sobre os apócrifos.
O que a maioria das pessoas tende a crer (como eu mesmo já ouvi) é que
questões políticas teriam feito com que a igreja primitiva retirasse tais
livros do cânon, mantendo apenas o que lhes era conveniente. A
produção acadêmica que se vale de desmistificar essas fantasias é
muitíssimo vasta. Pouparei o espaço elucidando a questão com
comentário de uma entrevista sobre o tema dada pelo reconhecido
teólogo Donald A. Carson80.
79
Plínio, o Jovem, Cartas, 10.96. Citado em Strobel, 2001, p. 108-109. 80
Disponível no link: http://www.youtube.com/watch?v=vTsVlku6zjI
Diferente dos apócrifos, todos os livros do Novo Testamento são do
primeiro século. Todos eles eram apostólicos, ou seja, foram escritos por
apóstolos ou por pessoas diretamente ligadas e que conviviam com os
apóstolos. E, por fim, todos eles têm o conteúdo girando em torno do
Evangelho, da mensagem que já havia sido anunciada e executada por
Jesus Cristo e repassada para seus discípulos.
A história dos apócrifos é completamente diferente. Os mais antigos
datam do segundo século. Sua autoria não tem qualquer ligação com os
apóstolos, a despeito de textos com o nome dos apóstolos no título
(“Evangelho de Pedro”, por exemplo. Este fato em si já levanta
desconfiança sobre as motivações de um documento que reivindicava
uma autoria falsa). A heterogeneidade do conteúdo destes, comparada
com a homogeneidade dos 27 livros reconhecidos pela Igreja é algo
discrepante.
Deste modo, dizer que os ensinos do cristianismo foram sendo podados
até que se chegasse, por motivações duvidosas da Igreja, aos livros que
temos hoje, é, como diz Carson, começar a contar a história de trás para
frente. Nenhum livro foi retirado! Eles simplesmente não foram aceitos
por motivos que à época eram óbvios demais e que somente nos dias de
hoje são configurados como obscuros. Se alguém busca a verdade
histórica acerca da vida e ensinos de Jesus Cristo e do cristianismo
primitivo e prefere usar textos com títulos duvidosos, escritos por pessoas
que viveram cem ou duzentos anos depois de Jesus e rejeitar os escritos
do primeiro século de homens que ouviram a voz do mestre (ou
contemporâneos destes), “tudo bem”... Vá em frente!
E O ANTIGO TESTAMENTO?
Existe vasto estudo sobre a questão da confiabilidade do Antigo
Testamento também.81 Mas creio que uma abordagem diferente seja
suficiente neste momento.
O que pretendemos aqui é mostrar que Jesus cria no Antigo Testamento!
Se Jesus realmente existiu, disse o que disse e confirmou suas
reivindicações ressuscitando dentre os mortos (analisaremos isto na
próxima seção) então creio que possamos dar algum crédito a este que
não parece ser um homem qualquer, não é mesmo?
Qualquer pessoa familiarizada com o Novo Testamento verá que Jesus
cria sem no Antigo Testamento sem quaisquer restrições. Jesus
frequentemente se referia a Isaías (o profeta messiânico) e também o fez
em relação aos Salmos.
Em seus discursos também encontramos pessoas – Abel (Mateus 22.35)
e Noé (Mateus 24.37-39; Lucas 17.26-27) – e acontecimentos – o
dilúvio (Mateus 24:39) – que ocorrem em Gênesis 3-1182
Não estamos mal acompanhados quando acreditamos nas Escrituras
hebraicas, não é mesmo?
81
Conferir, por exemplo, Gleason L. Archer Jr., Merece confiança o Antigo Testamento?, São Paulo: Edições Vida Nova. 82 Dr. Ekkerhardt Mueller, A criação do Novo Testamento, disponível na revista Ciências das Origens (Uma publicação do Geoscience Research Institute - Instituto de Pesquisas em Geociências) número 9.
O próprio Cristo a ensinou. Ele atribuiu a origem das Escrituras do
Antigo Testamento ao Espírito Santo (Mt 22.41-44), valorizou cada
detalhe da Lei mosaica (Mt 5.18), reconheceu a autoridade de
Deuteronômio quando foi tentado no deserto (Lc 4.1-12)...83
Portanto, não vejo motivos para continuarmos aqui por muito tempo. Se
Jesus realmente ressuscitou dos mortos (seção VI), Ele realmente é quem
disse ser: o Filho do Deus eterno, o próprio Deus encarnado, nosso
Salvador. E, assim, posso tranquilamente repousar e crer no que ele
também cria!
PROFECIAS
Confesso que este ponto do artigo está sendo finalizado em cima da hora.
O tópico anterior poderia ser bem mais trabalhado, por exemplo (apesar
de eu achar, como já dito, que a proposta é suficiente). O presente tópico
sobre profecias poderia tomar (e merecia) uma seção inteira... Mas
ficaremos com uma introdução sobre esse tema fascinante que, mais uma
vez, considero suficiente! Este tópico seria suficiente em si para que
qualquer um creia de fato em Cristo! Além do mais, ele cabe bem aqui, na
seção sobre a Bíblia!
Acompanhe essa longa citação de Steve Lawson:
Apenas com este ponto [acerca das profecias bíblicas] já podemos crer
que a Bíblia é a Palavra de Deus. Isso é incrível! Você percebe que
quando a Bíblia foi escrita, 27% dela era profética? E havia 1.817
profecias de alguma natureza na Bíblia no momento em que o autor a
83
Granconato, 2011, p. 31.
escreveu. Uma profecia é História pré-escrita. [...] E nós lemos todos os
tipos de profecias a respeito de indivíduos. Que Abraão teria um filho, e
ele teve na sua velhice. Que haveria governantes como Ciro, da Pérsia.
Cem anos antes de Ciro assumir o trono, seu nome foi registrado em
Isaías 45:1. Você gostaria de prever quem será o presidente daqui a
cem anos? É impossível! Mas eis aqui a Bíblia dando o nome e o país
desses governantes muito antes mesmo de eles nascerem. Ou nações,
como a queda do reino do norte, ou a duração do cativeiro dos judeus.
Ou impérios, a respeito da queda da Babilônia. Ou cidades, como a
destruição de Tiro, etc.
Há uma quantidade enorme de evidências que substanciam a perfeita
veracidade da Palavra de Deus. Não há qualquer outro livro no mundo
fazendo isso.
E quanto às profecias a respeito do Senhor Jesus Cristo? Os maiores
cumprimentos das profecias são encontrados na primeira vinda de
Cristo. [...] Foi profetizado no Antigo Testamento que Jesus nasceria da
semente de Abraão, Jessé e Davi. Ele nasceria de uma virgem.
Chamado Emanuel. Nascido em Belém. Grandes personalidades viriam
para adorá-lo. Haveria uma matança de crianças em Belém. Ele seria
chamado do Egito. Ele seria precedido por um mensageiro. [...] Ele
começaria seu ministério público na Galileia. Ele entraria publicamente
em Jerusalém e entraria no Templo. Ele viveria em pobreza e
humildade, ternura e compaixão. Ele não teria nenhum dolo, e seria
cheio de zelo. Pregaria em parábolas, executaria milagres, suportaria
desonra. Seria rejeitado pelos seus. Judeus e gentios se uniriam contra
Ele. Seria traído por um amigo. Seus discípulos o abandonariam. Seria
vendido por 30 peças de prata e esse preço seria dado por um campo
de oleiro. Ele morreria com intenso sofrimento, e ainda assim sofreria
em silêncio. Ele seria esbofeteado. Seu aspecto seria desfigurado. Ele
seria cuspido na face e açoitado. Suas mãos e seus pés seriam
pregados à cruz. Ele seria abandonado por Deus. Ele gritaria “Deus
meu, Deus meu, por que me desamparaste?” Zombariam dele. Fel e
vinagre seriam oferecidos a ele. Suas vestes seriam repartidas.
Lançariam sortes por suas roupas. Ele seria contado entre os
transgressores. Ele intercederia por seus algozes. Ele morreria, mas
nenhum osso de seu corpo seria quebrado. Ele seria perfurado, muito
antes da crucificação ser inventada. Ele seria enterrado com os ricos.
Sua carne não veria corrupção. Ele ressuscitaria dos mortos. Ele
ascenderia de volta à destra de Deus, o Pai.
Tudo isso registrado centenas de anos antes que Jesus chegasse a este
mundo. E muitas dessas profecias foram cumpridas não por seus
amigos, mas por seus inimigos, que eram os que mais perderiam com
seu cumprimento. E muitas dessas profecias foram cumpridas antes
dele nascer, enquanto estava no ventre de sua mãe e enquanto esteve
em seu túmulo.
Isto não é fascinante? Todas essas coisas foram escritas muito tempo
antes de Cristo e aconteceram! E Cristo cumpriu todas! Você sabe qual a
chance de um só homem, como Jesus, cumprir 48 profecias? Uma “em
um trilhão elevado à décima quinta potência!”84. E ele cumpriu!
Por fim, atente-se para esta profecia do livro de Isaías, no capítulo 53,
versos 3 a 9 e 12.
84
Peter W. Stoner, Science speaks, Chicago: Moody Press, 1969, p. 109. Citado em Strobel, 2001, p. 245.
Era desprezado, e o mais rejeitado entre os homens, homem de dores,
e experimentado nos trabalhos; e, como um de quem os homens
escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum.
Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as
nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de
Deus, e oprimido. Mas ele foi ferido por causa das nossas
transgressões, e moído por causa das nossas iniquidades; o castigo que
nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados.
Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava
pelo seu caminho; mas o SENHOR fez cair sobre ele a iniquidade de nós
todos. Ele foi oprimido e afligido, mas não abriu a sua boca; como um
cordeiro foi levado ao matadouro, e como a ovelha muda perante os
seus tosquiadores, assim ele não abriu a sua boca. Da opressão e do
juízo foi tirado; e quem contará o tempo da sua vida? Porquanto foi
cortado da terra dos viventes; pela transgressão do meu povo ele foi
atingido. E puseram a sua sepultura com os ímpios, e com o rico na sua
morte; ainda que nunca cometeu injustiça, nem houve engano na sua
boca. Por isso lhe darei a parte de muitos, e com os poderosos repartirá
ele o despojo; porquanto derramou a sua alma na morte, e foi contado
com os transgressores; mas ele levou sobre si o pecado de muitos, e
intercedeu pelos transgressores.85
Você sabe de quem o texto está falando? Sim, de Jesus! Sabe quanto
tempo antes de Jesus sequer existir? Aproximadamente 700 anos!
85
Disponível no link: http://www.blogfiel.com.br/2013/01/as-profecias-cumpridas-demonstram-a-inspiracao-divina-das-escrituras.html?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+Blog_Fiel+%28Blog+Fiel%29
Quando Louis S. Lapides, judeu, de família judaica, leu este texto, logo
identificou Jesus. Não acreditando que o texto era original conseguiu uma
cópia do Antigo Testamento em hebraico e, para sua surpresa, lá estava,
novamente, a impressão digital de Cristo86!
É de se admirar que o livro que prossegue Malaquias (o último livro do
Antigo Testamento) é Mateus! Por quê? Porque Mateus escreve
praticamente para alguém que vem lendo todo o Antigo Testamento e
então vê todas as profecias de vários anos atrás se cumprirem em Cristo.
Lembro que uma das vezes que iniciei a leitura de Mateus passei a anotar
suas referências às profecias cumpridas em Cristo. Desisti, pois perdi a
conta. Se pensarmos em todo o Novo Testamento a soma é absurda.
Será que a Bíblia merece alguma credibilidade por coisas como essa?
86
Para conferir a magnífica história da peregrinação deste judeu, veja o capítulo 10 do livro Em defesa de Cristo, de Lee Strobel.
VI. EXISTEM EVIDÊNCIAS HISTÓRICAS PARA A RESSURREIÇÃO DE JESUS?87
Se me esforçar um pouco, acho que posso me lembrar da primeira vez
que li ou vi alguém dizendo que havia bases históricas para a ressurreição
de Jesus. Eu mesmo, cristão, fiquei atônito com aquilo. Será que aquilo
que já era real para a minha mente e coração poderia ser demonstrado
como um evento histórico? Sim, essa reivindicação é assombrosa.
Todavia, assim como nos casos anteriormente trabalhados, creio que as
evidências em favor da fé cristã são não menos assombrosas.
Um argumento que nos leve a aceitar a ressurreição de Jesus como a
melhor explicação histórica para os fatos que a seguir serão analisados, se
constitui, creio eu, em um argumento cabal, definitivo a favor da fé cristã.
Ora, se Jesus cumpriu todas as profecias do Antigo Testamento, o que já é
algo inimaginável matematicamente, e, por fim, ressuscitou dentre os
mortos como havia sido predito pelos profetas e por ele mesmo, então
uma reprovação do cristianismo como verdadeiro me parece um absurdo
sem precedentes.
87
Esta seção foi feita com base nos capítulos 8 e 9 da obra citada de William Craig (p. 203-292) que resumem sua tese de doutorado acerca das evidências históricas para a ressurreição de Jesus (além de outras obras auxiliares, principalmente Em defesa de Cristo de Lee Strobel. Além disso, há um bom debate com mesmo título, que ocorreu entre o Dr. Craig e o famoso historiador Bart Ehrman. O primeiro vídeo, de uma série de 14, está disponível no link: http://www.youtube.com/watch?v=mIfWl1_dIVI
Grande parte do trabalho (que novamente será bem superficial) neste
ponto será baseado na tese de doutorado do Dr. William Lane Craig sobre
as evidências históricas para a ressurreição de Cristo. Craig começa o
nono capítulo de seu livro “Em guarda” (referencia e tal) contando sobre
as várias palestras que assistiu durante os estudos para o referido
doutorado, realizado em Munique. A escola teológica alemã é conhecida
por ser muito rígida e cética quanto à várias alegações cristãs, o que lhe
confere o título teológico de “liberal” (referencia explicando brevemente).
Pinchas Lapide, um estudioso canadense, foi convidado para falar em uma
destas palestras. Um detalhe: Lapide era judeu. Craig conta com aparente
entusiasmo que
ao final da palestra, quando disse que ele, portanto, havia chegado à
conclusão de que a melhor explicação para as evidências é que o Deus
de Israel ressuscitara Jesus dos mortos, que quase caí da cadeira!”.
Craig conclui: “Nada mais ilustra tanto a credibilidade histórica da
ressurreição de Jesus do que o fato de que esse estudioso judeu estava
convencido, com base nas evidências, de que o seu Deus, o Deus de
Israel que ele adorava, tinha ressuscitado Jesus de Nazaré.88
O que será feito sucintamente a seguir é, primeiro, apresentar a evidência
histórica que será analisada. Em segundo lugar, deduziremos qual parece
ser a melhor explicação para essa evidência.
Os três fatos são os seguintes:
1. O sepulcro vazio;
88
Craig, 2011, p. 243.
2. as aparições de Jesus após sua morte;
3. o início da convicção dos discípulos na ressurreição de Jesus
Algumas rápidas evidências para os três fatos:
1. O sepulcro vazio
Alguns pontos dão credibilidade histórica a este fato. Primeiro
precisaríamos saber sobre o seu sepultamento. Há relatos do
sepultamento em fontes independentes e muito antigas e de modo bem
direto e simples (lembre-se, por exemplo, de 1Co 15.4. Conferir também
Atos 13.28-31 e Marcos 15.37-16.7) o que impede que se trate de uma
lenda posterior. Soma-se a isto o fato constrangedor de José de
Arimatéia, um membro do grupo que condenou Jesus, dono do túmulo
onde Jesus foi colocado, ser citado nos quatro evangelhos. Provavelmente
José é uma personagem histórica atestada por várias fontes
independentes. Isto parece também indicar que os discípulos não se
importariam se alguém fosse ao próprio José questionar sobre o
sepultamento.
John A. T. Robinson, o falecido professor de Novo Testamento da
Universidade de Cambridge, disse que o sepultamento honroso de
Jesus é um dos fatos mais antigos e mais bem confirmados que temos
sobre o Jesus histórico89
.
William Craig, por fim, argumenta sobre este ponto inicial:
89
Strobel, 2001, p. 278.
Um dos fatos mais notáveis sobre a incipiente crença dos cristãos na
ressurreição de Jesus foi que ela floresceu na própria cidade em que
Jesus tinha sido publicamente crucificado. Enquanto as pessoas de
Jerusalém pensassem que o corpo de Jesus estava no sepulcro, poucas
teriam estado preparadas para acreditar em um absurdo como o fato
de que tinha ressuscitado. [...] ainda que tivessem acreditado nisso, as
autoridades judaicas teriam trazido a verdade à tona simplesmente
apontando para o sepulcro de Jesus.90
A segunda evidência, muito importante, para a historicidade do túmulo
vazio é o relato das mulheres, testemunhas do fato. Por quê? Porque o
testemunho das mulheres não tinha valia alguma na patriarcal sociedade
judaica. Hierarquicamente as mulheres se encontravam num nível social
bem inferior ao dos homens. Basta olhar para os seguintes textos
rabínicos:
Que as palavras da Lei sejam antes queimadas do que entregues às
mulheres91
Feliz aquele cujos filhos são homens, mas infeliz aquele cujos filhos são
mulheres92
Bendito és tu, Senhor nosso Deus, soberano do universo, que não me
criou gentio, escravo ou mulher93
90
Craig, 2011, p. 245. 91
Ibidem., p. 252-253. 92
Ibidem., p. 253. 93
Ibidem.
Esta última citação fazia parte da oração diária dos homens judeus.
Importante frisar que muitos rabinos pensaram e praticaram atos que
destoavam completamente dos ideais do Antigo Testamento. Jesus
mesmo repreendeu muitos doutores da Lei por fazerem uso hipócrita e
egoísta da Lei. Digo isto para que fique claro que esses textos acima
apenas refletem a sociedade judaica patriarcal e, de modo algum, ensino
bíblicos que desvalorizem seres humanos, quaisquer que sejam, criados à
imagem de Deus94
Voltando ao assunto... essa hierarquia social se refletia na maneira como
eram tratados os testemunhos advindos de mulheres. Flávio Josefo,
falando exatamente sobre as regras para se admitir algum testemunho,
diz:
Que o testemunho de mulheres não seja admitido, em função da
leviandade e atrevimento desse sexo95
Dito isto, será que os judeus convertidos ao cristianismo teriam escolhido
o testemunho de mulheres se a intenção fosse criar credibilidade à
história do sepulcro vazio? William Craig resolve este problema,
explicando que isso só faria sentido “se, gostassem ou não as pessoas,
elas [as mulheres] de fato foram as que encontraram o sepulcro vazio, e
os evangelhos fielmente registraram, então, o que para eles era um fato
94
Considere, por exemplo, o texto da carta de Paulo aos Gálatas, capítulo 3, versos 27 a 28: “Porque todos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de Cristo. Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus”. 95
Ibidem., p. 252.
embaraçoso”96. “Isso fala a favor da historicidade dessa tradição, e não da
sua condição de lenda”97
Em terceiro, podemos destacar a pregação dos primeiros cristãos. Nela,
ficava claro que o tumulo vazio, testemunhado pelas mulheres e
confirmado pelos discípulos, era realmente um caso estabelecido e
inquestionável. Já houve quem tivesse a audácia de questionar o porquê
de os discípulos não terem falado com frequência do sepulcro vazio. Isso
é um tremendo absurdo! Reparem este trecho de um discurso de Pedro,
que se encontra no capítulo 2 do livro de Atos, versos 29 a 32:
Homens irmãos, seja-me lícito dizer-vos livremente acerca do patriarca
Davi, que ele morreu e foi sepultado, e entre nós está até hoje a sua
sepultura. Sendo, pois, ele profeta, e sabendo que Deus lhe havia
prometido com juramento que do fruto de seus lombos, segundo a
carne, levantaria o Cristo, para o assentar sobre o seu trono, nesta
previsão, disse da ressurreição de Cristo, que a sua alma não foi
deixada no inferno, nem a sua carne viu a corrupção. Deus ressuscitou
a este Jesus, do que todos nós somos testemunhas.
Em Atos 13 (versos 29 a31) vemos mais uma vez como o túmulo vazio,
fato estabelecido à época, era frequentemente usado na pregação da
igreja primitiva:
E, havendo eles cumprido todas as coisas que dele estavam escritas,
tirando-o do madeiro, o puseram na sepultura; mas Deus o ressuscitou
96
Ibidem., p. 253. 97
Strobel, 2011, p. 288.
dentre os mortos. E ele por muitos dias foi visto pelos que subiram com
ele da Galiléia a Jerusalém, e são suas testemunhas para com o povo.
Nos dois casos fica claro, mesmo estando implícito, o sepulcro vazio.
“Creio que é bastante tolo e pouco razoável alegar que estes primeiros
pregadores não se referiram ao túmulo vazio só porque não usaram as
palavras exatas ‘túmulo vazio’”98. Este ponto ajuda, mais uma vez, a
comprovar o conhecimento generalizado que a população do primeiro
século tinha acerca da localização do túmulo de Jesus. Os discípulos
praticamente conclamavam o povo a conferir o fato. As autoridades
romanas e os líderes religiosos teriam ficado felizes de apontar a
localização correta do túmulo de Cristo quando um bando de homens e
mulheres passaram a dizer que ele estava vazio.
Apesar dessa discussão, o que resta afirmar, por fim, e que se mostra
muito interessante, é o fato de que, ao que parece, nunca houve dúvidas
sobre o túmulo de Jesus ter sido encontrado vazio ao terceiro dia e assim
permanecido. Vejam o que Mateus nos diz no seu capítulo 28, verso 11 a
15:
E, quando iam, eis que alguns da guarda, chegando à cidade,
anunciaram aos príncipes dos sacerdotes todas as coisas que haviam
acontecido. E, congregados eles com os anciãos, e tomando conselho
entre si, deram muito dinheiro aos soldados, dizendo: dizei: vieram de
noite os seus discípulos e, dormindo nós, o furtaram. E, se isto chegar a
ser ouvido pelo presidente, nós o persuadiremos, e vos poremos em
98
Ibidem., p. 290.
segurança. E eles, recebendo o dinheiro, fizeram como estavam
instruídos. E foi divulgado este dito entre os judeus, até ao dia de hoje.
O que esse trecho do último capítulo de Mateus nos mostra? Que os
judeus, ao saberem da história do túmulo vazio, contada pelos guardas
(conferir Mateus 28.10), temerosos quanto à reação pública frente a este
fato, conspiraram em dizer que o corpo havia sido roubado. Por que não
inventar qualquer outra história, ou apontar para o túmulo com o corpo
de Cristo quando os cristãos passaram a anunciar a ressurreição? Parece
muito plausível dizer que a resposta é: o túmulo, de fato, estava vazio.
“Em outras palavras, a alegação dos judeus de que os discípulos haviam
levado o corpo pressupõe que havia um corpo faltando”99.
Em outras palavras, não havia ninguém que afirmasse que o túmulo
ainda continha o corpo de Jesus. A pergunta era sempre: “O que
aconteceu com o corpo?”. Os judeus propuseram a história ridícula de
que os guardas tinham adormecido. É evidente que eles estavam se
agarrando a qualquer argumento para se salvar. O que importa é que
eles partiram da pressuposição de que o túmulo estava vazio! Por quê?
Porque sabiam que estava!100
2. As aparições de Jesus após sua morte
Novamente vamos à primeira carta de Paulo aos Coríntios, capítulo 15,
versos 3 a 7:
99
Craig, 2011, p. 254. 100
Strobel, 2001, p. 292.
Pois o que primeiramente lhes transmiti foi o que recebi: que Cristo
morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, foi sepultado e
ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras, e apareceu a Pedro
e depois aos Doze. Depois disso apareceu a mais de quinhentos
irmãos de uma só vez, a maioria dos quais ainda vive, embora alguns
já tenham adormecido. Depois apareceu a Tiago e, então, a todos os
apóstolos101
(NVI)102
A aparição a Pedro é citada nessa antiga tradição da igreja primitiva. Lucas
nos mostra que o fato realmente era tido como real, quando nos diz no
capítulo 24 e versículo 34 de seu evangelho que: “Ressuscitou
verdadeiramente o Senhor, e já apareceu a Simão [Pedro]”.
Espere aí! Eu não estou querendo dizer que esses textos provam que
Jesus apareceu corporalmente ressurreto a seu discípulo, não é mesmo?
Não! Não estou querendo dizer que os textos em si provam que o fato
ocorreu historicamente103. Mas prossigamos...
101
Grifos meus 102
NVI é a Nova Versão Internacional da Bíblia Sagrada. Ela foi usada neste trecho simplesmente para que o nome “Pedro”, com o qual estamos mais familiarizados, aparecesse no lugar de “Cefas”. 103
Vale a observação de que aqui os textos estão sendo considerados simplesmente como documentos históricos. A fé cristã não ostenta a Bíblia simplesmente como documentos históricos confiáveis. Eles o devem ser por serem a Palavra de Deus. As profecias cumpridas e os fatos históricos simplesmente comprovam esta verdade. Os textos como documentos históricos não provam a verdade dos fatos que atestam. Mas os fatos serão provados como bem mais plausivelmente reais do que falsos historicamente. Em alguns casos
A aparição ao grupo do doze é relatada em Lucas 24.36-43 e João 20.19-
20,24-29. Nesses textos Jesus mostra suas feridas, Tomé as toca e o
mestre ainda come peixe e um favo de mel junto de seus discípulos. Os
textos buscam enfatizar a aparição física de Jesus novamente. São relatos
de documentos históricos confiáveis e que partem de fontes
independentes e de tradição antiga novamente. Ainda não estou
querendo dizer que Jesus tenha aparecido ressurreto a seus seguidores só
porque os textos nos dizem isso104. O que parece indiscutível é que os
discípulos testemunharam aparições (que poderiam ser verdadeiras ou
não) e confiavam na veracidade delas.
Sobre a aparição aos “mais de quinhentos irmãos de uma só vez”, e a
afirmação de que “a maioria dos quais ainda vive”, C. H. Dodd, estudioso
do Novo Testamento da Universidade de Cambridge, alega:
Dificilmente pode haver algum propósito em mencionar o fato de que a
maior parte dos 500 ainda está viva, a não ser o de que Paulo estava
na verdade dizendo: ‘As testemunhas estão aqui para serem
questionadas’105.
O mesmo C. H. Dodd conclui que os relatos das aparições estão baseados
em material muito antigo106, o que acabaria com as possibilidades de
lendas. A conclusão a que Garry Habermas, especialista no assunto da
eles se mostrarão completamente provados. Mas isso só corrobora o fato de a Bíblia ser objetiva e absolutamente a Palavra de Deus! 104
Mais uma vez, como na nota anterior, os textos aqui são tomados como documentos históricos somente. 105
Craig, 2011, p. 257-258. 106
Strobel, 2001, p. 309.
ressurreição, chega é de que há uma “riqueza de informações de pessoas
que viram a Jesus. Não foram apenas uma ou duas pessoas que viram
uma sombra de passagem”107.
O livro de Atos, assim como os evangelhos (colocar a lista do Habermas e
referencia para as p 308 a 311 aquiiiiiiiiiiii), mostra inúmeras menções às
aparições vistas. Ao ter as menções, uma a uma, apresentadas pelo
entrevistado Garry Habermas, o entrevistador Lee Strobel,
impressionado, relatou:
Todas as evidências nos evangelhos e em Atos – incidente após
incidente, testemunho após testemunho, detalhe após detalhe,
comprovação sobre comprovação – são extremamente
impressionantes. Tente, mas não consegui lembrar nenhum outro
evento da história antiga tão bem atestado.108
O relato da aparição a Tiago se torna surpreendente se o colocarmos no
meio de duas situações opostas. Enquanto Cristo exercia seu ministério,
seus irmãos não criam nele (conferir João 7.5). Então Paulo relata o que
provavelmente ouviu da igreja primitiva no início de sua conversão, em
uma antiga tradição. Jesus teria aparecido a seu irmão Tiago. Este fato é o
divisor de águas na vida daquele homem. Porque em Gálatas 2.9, Paulo
diz que Pedro, João e Tiago eram considerados a coluna da igreja
primitiva. “... em Atos 21.18 Tiago é o único líder da igreja em Jerusalém e
do conselho de presbíteros”109. Para um judeu a cruz era um tremendo
107
Ibidem. 108
Ibidem., p. 310-311. 109
Craig, 2011, p. 259.
escândalo, a pior maneira de se morrer110. Para um homem como Tiago,
judeu, que já não tinha fé em Jesus, a cruz ainda significava a certeza de
seus preconceitos. Todavia, de uma hora para outra, a Bíblia nos relata
uma conversão fantástica e um ministério de serviço e fé. Não só a Bíblia,
mas a história também nos intriga ao relatar que Tiago acabou entrando
para a lista dos mártires cristãos, tendo sido apedrejado até a morte. Que
fato explicaria essa repentina e violenta mudança? Paulo nos dá uma
alternativa em 1Coríntios 15.7: Jesus apareceu para seu irmão mais novo!
A aparição a todos os apóstolos deve ter sido confirmada em Jerusalém
para Paulo quando este lá esteve logo após sua conversão111. E no final do
credo, no versículo 8, Paulo ainda relata seu contato pessoal com o Cristo
ressuscitado. Ele diz “depois destes apareceu também a mim, como a um
que nasceu fora de tempo” (NVI). Na sua carta aos Coríntios ele insiste no
fato: “Não sou eu apóstolo? Não sou livre? Não vi eu a Jesus Cristo Senhor
nosso?”112 A história da conversão de Paulo é tão surpreendente quanto a
de Tiago. Um terrível perseguidor dos cristãos que consentiu com a morte
do primeiro mártir, Estevão, de repente vira o maior pregador do
evangelho e doa sua vida em favor das almas perdidas, sendo decapitado
em meados do ano 60, no reinado de Nero. Qual sua explicação para essa
mudança?
110
Conferir Deuteronômio 21.22-23 e Gálatas 3.13. 111
Craig, 2011, p. 260. 112
1 Coríntios 9.1
3. O início da convicção dos discípulos na ressurreição de Jesus
Este ponto já ficara implícito no relato das conversões de Tiago e Paulo,
por exemplo. Não é necessário explicar muito essa evidência. A fé cristã é
um fato e, pelo menos em seu início, estava alicerçada na mensagem da
ressurreição de Cristo, já que sem ela não havia qualquer justificativa para
o cristianismo. Se o cristianismo floresceu no século primeiro é bom que
se destaque que o foi baseado forte e principalmente na crença de que
Deus ressuscitou seu Filho e, nisto, nos deu esperanças de vida eterna.
E, se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã
a vossa fé. – 1 Coríntios 15.14
A fé da igreja primitiva não pode ser entendida sem essa crença. A crença
na ressurreição do Mestre de Nazaré fez o cristianismo nascer e criou
mártires que se negavam a recusar tal fé. Mais uma vez é necessário que
se entenda que isso jamais prova, por si só, que Jesus Cristo ressuscitou.
Mas a evidência aqui é: a crença dos cristãos de que Jesus havia
ressuscitado!
Como ressalta Craig,
... as origens do cristianismo dependem da crença dos primeiros
discípulos de que Deus havia ressuscitado Jesus dentre os mortos. Mas
a questão é: Com se aplica a origem dessa crença? Como afirma R. H.
Fuller, mesmo o mais cético dos críticos deve pressupor um misterioso
‘x’ para que o movimento se iniciasse. Mas que ‘x’ foi esse?.113
113
Craig, 2011, p. 268.
Algo aconteceu! J. P. Moreland, filósofo pela Universidade do Sul da
Califórnia e mestre em teologia pelo Dallas Theological Seminary,
acrescenta uma importantíssima observação que traz luz sobre a
peculiaridade desse “boom” na vida de homens comuns da Palestina há
quase dois mil anos. Essa observação tem relação com a estrutura
sociocultural dos judeus. Para este povo, as “estruturas sociais” eram
extremamente inegociáveis, pois lhes conferiam “identidade nacional”. Os
rituais e práticas eram passados de pai para filho e celebrados
constantemente. Por esse motivo a cultura judaica – diferente de tantos
outros povos dominados – não se diluía mesmo em contato com uma
cultura dominadora diferente. A força dessas instituições estava na fé de
que essas estruturas haviam sido confiadas pelo próprio Deus criador.
“Acreditavam que, abandonando-as, estariam correndo o risco de ver sua
alma condenada ao inferno após a morte”.114
De repente
... vem um rabino de nome Jesus de uma região de baixo nível
social. Ele ensina durante três anos, reúne um grupo de seguidores de
classe média e baixa, entra em conflito com as autoridades e é
crucificado, assim como outros 30 mil judeus que foram executados no
mesmo período. Cinco semana depois de ele ser crucificado, porém,
mais de 10 mil judeus o estão seguindo, declarando-o iniciador de uma
nova religião. E veja: eles estão dispostos a abrir mão ou a alterar as
cinco instituições sociais que, desde a infância, lhes tinham sido
ensinadas como fundamentais em termos sociais e teológicos. 329
114
Strobel, 2001, p. 329.
A conclusão histórica de Moreland é de que “Algo muito importante
estava acontecendo!”115.
As cinco importantes instituições que faziam parte da “estrutura social” e
teológica dos judeus, citadas por Moreland, são: (1) frequentes sacrifícios
de animais como forma de expiação pelos pecados; (2) obediência à Lei
de Moisés; (3) guarda do sábado; (4) crença de que só há um Deus, Jeová,
o criador de tudo; e, por fim, (5) crença no Messias como um líder político
que restituiria Israel aos seus tempos de glória terrena.
Qualquer leitor atento do Antigo Testamento e que conheça um pouco da
cultura judaica sabe quão inegociáveis são esses pontos. Contudo, de
forma súbita, muitos judeus passaram a se reunir em torno da crença de
que (1) Jesus havia realizado o sacrifício perfeito pelos pecados do povo (o
que excluía a necessidade de prosseguirem com os sacrifícios de animais);
(2) que a obediência à Lei não bastava para ser salvo; (3) passaram
também a adorar a Deus no domingo (porque este era o dia da
ressurreição de Cristo) deixando de considerar necessária a observância
do sábado; (4) proclamaram e adoraram a Jesus como sendo a própria
encarnação de Deus (entendendo, agora, Deus como um ser triuno); e (5)
entenderam as profecias referentes ao Messias e a seu Reino espiritual (e
não um simples reino terreno).
Para nós, ocidentais, não tão ligados às questões de tradições e de
mudanças em estruturas culturais e sociais, talvez seja difícil entender o
peso dessa observação histórica. Mas J. P. Moreland assegura:
115
Ibidem.
Creia em mim, essas mudanças nas estruturas sociais dos judeus não
foram meros ajustes feitos ao acaso, elas foram monumentais. Foi o
equivalente a um terremoto social! E os terremotos não acontecem
sem causa.116
O fato aqui é que algo aconteceu para que homens como Tiago e Paulo,
em um instante, mudassem todo o rumo de suas vidas. A terceira
evidência atesta que os primeiros cristãos no mínimo criam na
ressurreição de Jesus de maneira muito forte e isso não pode ser negado.
Creio que e analogia com o que aconteceu nos tempos de Hitler que me
foi apresentada certa vez não se sustente. Não acho também que possa
ser feita uma analogia com a crença sincera de muitos muçulmanos, por
exemplo. Seria correto comparar o surgimento do cristianismo
fundamentado na vida de homens que realmente criam que estavam
certos acerca da ressurreição com o surgimento do nazismo
fundamentado na vida de homens que realmente criam estar corretos ao
seguirem os ideais daquele austríaco? E por que haveria diferenças entre
a fé cristã e a fé islã?
Ninguém duvida da sinceridade dos nazistas ou dos muçulmanos em suas
crenças. Mas a uma diferença no caso dos discípulos. Só havia três
explicações para o início de sua fé na ressurreição física de Cristo. Eles
poderiam ter mentido. Ou poderiam ter crido, apesar de não terem visto
mais do que meras aparições. Ou, por fim, poderiam ter crido porque
verdadeiramente viram Cristo fisicamente ressurreto. Mas o fato é que
116
Ibidem., p 332.
eles sim estavam na posição de saber do que estavam dizendo, pois
estamos falando de um fato histórico.
Pessoas sofrem às vezes por acreditar que coisas falsas são verdadeiras.
Mas ninguém se entrega à torturas por uma deliberada mentira! No caso
das aparições, veremos como elas são pobres hipóteses abandonadas há
tempo. Basicamente os discípulos viram Jesus ou não viram! É difícil para
muitos entenderem que um homem tenha realmente ressuscitado e
interagido com outras pessoas. Mas se o cristianismo é de fato verdade,
não me assombraria termos evidências disso!
No caso dos muçulmanos e dos nazistas, eles não estão na posição
definitiva de saber se estão certos ou errados. Eles não estão alegando
um simples fato histórico que pode ser verificado. Quando o islamismo
faz isso, aliás, se dá muito mal às vezes. Há ainda questões morais
objetivas nos dois casos, mas nada comparado com a posição na qual
estavam os discípulos de mentirem para sempre sobre as visões que
testemunharam (o que nem céticos historiadores acreditam), terem tido
visões ou, simplesmente estarem certos! Mas falaremos dessas hipóteses
mais adante.
N. T. Wright é um respeitado estudioso do Novo Testamento que ensinou
durante anos em Oxford. Além disso, é também bispo da igreja da
Inglaterra. Wright esclarece muito bem este último ponto. Vejamos o que
ele diz:
A ressurreição de Jesus pegou todo mundo de surpresa. Os discípulos
não a estavam esperando. Eles sabiam perfeitamente bem que se você
seguisse alguém que você pensava ser o Messias, e ele fosse morto,
então era o fim. Sabemos de pelo menos uma dúzia de outros
movimentos messiânicos ou proféticos, no período de cem anos antes e
depois de Jesus, eles usualmente terminavam com a morte do
fundador. E se [...] o movimento quisesse continuar, eles não diziam,
"Ah, ele ressurgiu dos mortos". Eles diziam, "Vamos encontrar seu
irmão ou primo ou alguém que possa continuar este movimento". Você
pode ver como esses grupos judaicos fizeram isso. Este aqui fez
diferente. [...] Por quê? "Ele está morto [...]". Não. "Ele ressurgiu dos
mortos".117
O que nos resta saber qual é a melhor explicação histórica para este fato
histórico (e para o túmulo vazio e o relato das aparições).
Se o surgimento dos nazarenos, um fenômeno atestado de modo
inegável pelo Novo Testamento, faz um buraco enorme na história, um
buraco do tamanho e da forma da ressurreição de Jesus, o que o
historiador secular propõe para fechá-lo?118
Craig, mais uma vez afirma a solidez destes fatos:
Uma das coisas que mais me causou espanto [...] foi perceber que esses
três grandes fatos, independentemente consolidados, representam a
visão da maioria dos críticos neotestamentários de hoje. O único ponto
de séria discordância seria em torno da natureza física das aparições
após a ressurreição.119
117
Disponível no link: http://www.youtube.com/watch?v=m566hHxM_W0 118
C. F. Moule, The phenomenon of the New Testament, London, SCM Press, 1967, p. 3. Citado em Strobel, 2001, p. 334. 119
Craig, 2011, p. 269.
A partir daqui então, qual hipótese histórica melhor explicaria estes três
fatos?
QUAL A MELHOR EXPLICAÇÃO PARA ESTES TRÊS FATOS HISTÓRICOS
CONSOLIDADOS?
Na segunda parte da pesquisa do Dr. William Craig, ele levanta seis
critérios dos mais importantes comumente usados por historiadores para
medir a qualidade das hipóteses explicativas concorrentes. Só para efeito
de conhecimento, os seis critérios são:
1. “Âmbito explicativo mais amplo”. Ou seja, a melhor hipótese
“explicará mais coisas relativas à evidência”;
2. “Poder explicativo” maior. Ou seja, a melhor hipótese, “tornará a
evidência mais provável”;
3. “Mais plausível”;
4. “Menos artificial”. Ou seja, a melhor hipótese “não vai exigir a
adoção [de] muitas hipóteses a mais que não tenham evidência
independente”.
5. “Será refutada por menos hipóteses aceitar do que as demais”.
Ou seja, “não vai entrar em conflito com tantas hipóteses
aceitas”.
6. Melhor do que as demais em preencher os requisitos 1 a 5120.
Aparentemente, simplesmente colocar várias hipóteses concorrentes em
um ringue para ver qual vence não parece ser a melhor forma de definir
se aquela hipótese é, de fato, a verdadeira explicação dos fatos. Porém, se
120
Ibidem., p. 270-271.
olharmos para os critérios 1 e 2, veremos que quanto melhor a hipótese
se sai nestes critérios, maior é a possibilidade de ser verdadeira.
Em termos de história nunca saberemos ao certo o que aconteceu, pois
não há como repetir os eventos em um laboratório. Não havia máquinas
fotográficas naquela época e, portanto, não podemos atestar “com
certeza matemática” quaisquer fatos. Mas percebam bem que se não
podemos fazer isso em relação à ressurreição, não podemos fazer em
relação a quaisquer fatos históricos onde o registro preciso de uma
filmadora, por exemplo, não tenha chegado.
O importante aqui é termos a certeza de qual hipótese se sai melhor em
explicar a evidência, e, além disso, se tal hipótese é realmente boa em si
como explicação para os fatos. Outrossim, recordemos que
cronologicamente a primeira das hipóteses apresentadas é a da
ressurreição. Lidar com ela como se fosse mera alternativa pronunciada
por cristãos com motivações suspeitas é puro anacronismo. Todas as
outras hipóteses são posteriores e, portanto, deveriam provar de alguma
forma o equívoco (se este fosse o caso) da explicação original.
Colocarei algumas alternativas à hipótese da ressurreição, demonstrando
quais me parecem as maiores fraquezas das mesmas (sem que sejam as
únicas), indicando, obviamente, as referências bibliográficas que
aprofundem mais os casos.
Alternativas à hipótese da ressurreição:
I. Hipótese da conspiração – “os discípulos roubaram o corpo de
Jesus e mentiram sobre suas aparições, forjando dessa
maneira a ressurreição”121.
Parece absurdo ir contra a maioria dos críticos do Novo Testamento e
sugerir que os discípulos não criam na ressurreição. Ao menos eles criam
nela e, portanto, não faz sentido a hipótese de que roubaram o corpo
(escondendo-o muito bem, diga-se de passagem!), mentiram a respeito
das visões e saíram dispostos a proclamar uma deliberada mentira pela
qual todos estavam morrendo. Provavelmente podemos afirmar que
muitas pessoas já morreram e ainda morrem por mentiras que acreditam
ser falsas. Mas ninguém se entrega ao martírio por uma mentira que ele
sabe ser de fato mentira.
Pense nisso – se alguém estivesse prestes a crucificá-lo de cabeça para
baixo, como aconteceu com o apóstolo Pedro, e tudo o que você tivesse
que fazer para salvar a sua vida fosse renunciar uma mentira que você
tinha vivido conscientemente, o que você faria?122
Além disso, para que inventar uma história tão constrangedora para os
judeus como a das mulheres testemunhando a ressurreição? Se fossem
para mentir, provavelmente não inventariam este fato desnecessário. Lee
Strobel diz que “era óbvio que os discípulos não tinham nenhum motivo
para rouba o corpo e depois morrer por uma mentira, e certamente as
121
Ibidem 271. 122
Disponível no link: http://www.gotquestions.org/Portugues/Jesus-mito.html
autoridades judaicas não teriam removido o corpo” (pois era lá mesmo,
no sepulcro, que tais autoridades desejavam que o corpo permanecesse).
Craig chama isso tudo de “milagre psicológico” no sentido de que só um
milagre teria levado “homens e mulheres perfeitamente normais a se
tornarem conspiradores e mentirosos dispostos a serem martirizados por
suas mentiras”123.
II. Hipótese da morte aparente – Jesus não morrera de fato, mas
“foi reanimado no sepulcro e escapou de lá para convencer
seus discípulos que havia ressuscitado”124.
Como explicar o sepulcro vazio, uma vez que um homem trancado
dentro de um sepulcro não poderia mover a pedra da entrada para
escapar? Como explicar as aparições de Jesus após a morte, uma vez
que a aparição de um homem meio morto, necessitando
desesperadamente de atendimento médico, dificilmente iria induzir os
discípulos a concluírem que ele era o Senhor ressurreto que havia
derrotado a morte? Como explicar as origens da crença dos discípulos
na ressurreição de Jesus, uma vez que o fato de vê-lo novamente
apenas os levaria a concluir meramente que ele não havia morrido?125
Além deste ponto definitivos para o argumento, não posso deixar de
recomendar a leitura do fascinante capítulo 11 do já citado livro “Em
defesa de Cristo”. Neste capítulo, Lee Strobel entrevista o Dr. Alexander
Metherell, médico pela Universidade de Miami e “reconhecido
123
Craig, 2011, p. 289. 124
Ibidem., p. 278. 125
Ibidem., p. 279.
diagnosticador pelo American Board of Radiology”, além de pesquisador,
professor e editor de vários livros científicos. Metherell descreve de
maneira detalhada a horrenda tortura pela qual Jesus Cristo passou, antes
e depois da cruz. Alguém que ler aquele relato assombroso e ainda
persistir em objetar a morte de Cristo não pode de maneira alguma
afirmar uma busca pessoal sincera e responsável pela verdade!
III. Hipótese da remoção do corpo – José de Arimatéia teria
colocado temporariamente o corpo de Jesus naquele primeiro
sepulcro, mas o removera. Sem que soubessem do fato, os
discípulos encontraram o sepulcro vazio e deduziram que seu
mestre havia ressurgido dos mortos.
Por que ninguém corrigiu os discípulos que saíram bagunçando a ordem
pública com as histórias de um homem que ressuscitara corporalmente?
Por que José de Arimatéia não avisou que Jesus estava em outro túmulo?
Se isto acontecesse não teriam ocorrido as primeiras divergências entre
os judeus sobre o túmulo vazio. O interessante é que nunca houvera
qualquer disputa sobre a localização do túmulo. Ademais a lei judaica
nem ao menos permitia que corpos fossem removidos, a não ser para o
colocarem no da família126.
IV. Hipótese da alucinação – as aparições de Jesus foram meras
alucinações. P 282 287
Os discípulos tiveram alucinações? Ok! Mas e o túmulo vazio? E a
explicação histórica para o surgimento da fé dos primeiros cristãos na
126
Ibidem., p. 280-282.
ressurreição? A hipótese fica ainda mais frágil no contexto judaico. Como
observa N. T. Wright, “para alguém que vivesse no mundo antigo, visões
dos mortos não eram evidência de que a pessoa estivesse viva, mas sim
de que estava morta!”127.
Dadas as crenças então comuns sobre a vida após a morte, os
discípulos, se tivessem tido alucinações de Jesus, possivelmente o
teriam visto no céu, no seio de Abrão [...]. E uma visão como essa não
teria levado ninguém a crer que Jesus havia ressuscitado.128
Vale lembrar que a ressurreição corporal não tinha precedentes
do imaginário do judeu até o primeiro século. Era inimaginável
(literalmente) uma ressurreição corpórea antes da ressurreição dos
últimos dias, quando todos, então, seriam julgados.
Além disso, convidaria qualquer psicólogo a explicar alucinações na
proporção das descritas em 1Coríntios 15.3-8 e mencionados por todos os
evangelhos e livro de Atos. Garry Collins é mestre em psicologia pela
Universidade de Toronto e doutor em psicologia clínica pela Purdue
University, “há 35 anos Collins estuda, leciona e escreve sobre o
comportamento humano”129. Este especialista responderia assim ao meu
convite:
Alucinações são ocorrência individuais. Pela própria natureza, apenas
uma pessoa pode ver uma alucinação em dado momento. Alucinações
não são algo que possa ser visto por um grupo de pessoas. Também
127
Ibidem., p. 282. 128
Ibidem., p. 283. 129
Strobel, 2001, p. 193.
não é possível que alguém induza outra pessoa a ter uma alucinação. E
como uma alucinação só existe no sentido subjetivo, pessoal, é obvio
que outros não podem testemunhá-la130
V. Hipótese da ressurreição p 287 290
A plausibilidade da ressurreição de Jesus cresce exponencialmente uma
vez que a consideramos em seu contexto histórico, a saber, a vida sem
comparação de Jesus e suas afirmações radicais, e em seu contexto
filosófico, a saber, a evidência em favor da existência de Deus.131
Unindo as pontas do que já fora dito, podemos resumir o argumento.
Existem três fatos históricos consolidados (a saber, o túmulo vazio, o
relato das aparições de Jesus e o surgimento repentino da fé dos
discípulos e, consequentemente do cristianismo) para os quais é
necessária uma explicação histórica.
O primeiro fato é o túmulo vazio. A história ganha credibilidade por estar
registrada em fontes muitíssimo antigas, contendo nomes específicos de
pessoas que podiam ser consultadas à época, como o dono do sepulcro,
Jose de Arimatéia. O relato das mulheres se torna intrigante na sociedade
patriarcal judaica e só faria sentido se, de fato, tivesse ocorrido. Os
primeiros cristãos, obviamente, se sentiram muito felizes em poder
apontar o túmulo vazio como parte de suas pregações. A crucificação e
sepultamento público de Jesus Cristo não dão certeza de conhecimento
generalizado da população e autoridades acerca da localização do túmulo.
130
Ibidem., p. 315. 131
Craig, 2011, p. 287-288.
Ademais, parece definitivo o fato de jamais houve qualquer discussão que
não partisse do pressuposto de que o túmulo estava inegavelmente vazio!
É por tantas evidências positivas que sir Norman Anderson, professor em
Princeton, convidado para lecionar em Harvard e servir como deão na
faculdade de Direito da Universidade de Londres, “depois de uma vida
inteira de estudos desse assunto do ponto de vista legal”, resumiu sua
conclusão “numa só frase”:
O túmulo vazio é uma verdadeira rocha contra a qual se despedaçam
em vão todas as teorias racionalistas da ressurreição132
Em segundo lugar temos os inúmeros relatos de inúmeras pessoas que
testemunharam aparições físicas de Jesus Cristo. São essas aparições as
responsáveis pela plena, repentina e impetuosa mudança na vida de
milhares de pessoas e, inicialmente, na daqueles que testemunharam ter
visto o Mestre ressurreto.
Mesmo os historiadores mais céticos concordam que, para os primeiros
cristãos [...] a ressurreição de Jesus foi um evento real na história, a
própria base da fé, e não uma idéia mítica que brotou da imaginação
criativa dos crentes133
Em terceiro e último, portanto, está o início da convicção dos discípulos
na ressurreição, a ponto de entregarem suas vidas por esse evento que
acreditavam ser real. Esse ponto é mais bem entendido se entendemos a
estrutura sociocultural tão fundamental para os judeus e que, de uma
132
Strobel, 2001, p. 295. 133
Ibidem., p. 316.
hora para outra, fora rompida. Posteriormente o cristianismo se solidifica.
Mas esse crescimento e solidez tem uma base: a fé dos primeiros cristãos
de que Cristo de fato havia ressuscitado.
O que se requer é uma explicação abrangente para estes três fatos.
Nenhuma das apresentadas até aqui se sai bem. A situação ainda piora
quando estas hipóteses são comparadas com a primeira explicação
histórica. Se o túmulo estava vazio, se mulheres e homens disseram ter
visto a Cristo e passaram a entregar suas vidas por essa convicção, a
melhor resposta é, de longe, que Cristo cumpriu as profecias antigas e se
mostrou o Messias prometido, confirmando sua vitória com o triunfo
sobre a morte!
Nenhuma lenda, conspiração, ou equívoco prolongado passa pelo
escrutínio. Não há explicação mais abrangente e simples para estes três
fatos. É necessário um malabarismo imenso e a inserção de várias outras
variáveis para que se proponha uma alternativa para a ressurreição.
Porém, ressalto que o que deve levar muitos ao desconforto é o fato
dessa explicação histórica ser, também, sobrenatural.
De fato as explicações históricas costumam ser naturalistas. Mas frente
aos argumentos já apresentados para a existência de Deus, pergunto: se
Deus existe, haveria alguma incoerência em milagres acontecerem? A
História deve se guiar para onde apontam as evidências, mesmo que a
contragosto.
Na medida em que a existência de Deus é possível, também é possível
que ele tenha agido na história, levantando Jesus dos mortos.134
Ao fim desse rápido estudo histórico, não é de se estranhar que homens
que simplesmente submetem os fatos ao rigoroso estudo da História
tenha chegado à mesma conclusão que, para muitos, é inconcebível. O
“advogado mais-bem sucedido do mundo” segundo o Guinness, não
hesita em dizer
de modo inequívoco que as provas da ressurreição de Jesus Cristo são
tão avassaladoras que exigem que as aceitemos sem deixar
absolutamente nenhum lugar para dúvidas135
Agora sim podemos mergulhar um pouco no cristianismo. Mas com tanta
gente chamando tanta coisa de cristianismo, acho melhor pensarmos
primeiramente no que ele não é.
134
Ibidem., p. 294. 135
Ibidem., p. 335
VII. O ASSIM CHAMADO “CRISTIANISMO”
A maioria das pessoas que não se identifica com o cristianismo bíblico, ou
quaisquer religiões “evangélicas”, e veem a coisa de fora estão até certo
ponto justificadas de acharem que o cristianismo é aquilo que lhes é
apresentado como cristianismo. E o que lhes é apresentado? “Pastores”
pops, que causariam inveja a qualquer ídolo do país, carros importados,
mansões, helicópteros, jatinhos... Suas igrejas são basicamente isso
mesmo: suas! Sim, porque as igrejas que estes homens dirigem são parte
de suas posses, de seu divertimento e estão mais plenamente
identificadas com os próprios “pastores” maiorais, do que com aquele
que a Bíblia chama de noivo da Igreja (Jesus Cristo).
O que se vê nestes locais é uma total inversão do que a Bíblia chama de
evangelho. Objetivos distorcidos, motivações egoístas e idólatras expostas
escancaradamente. O que se vê nos jornais, televisão e internet às vezes
não condiz com a realidade. Mas infelizmente o que predomina é aquilo
mesmo. Promessas incabíveis feitas em nome de um Deus que não as
prometeu, criadas a partir de trecho descontextualizado do Livro que
simplesmente lhes é fonte de lucro. “Tragam os dízimos para a casa do
Senhor” eles dizem. Conquiste sua vitória com um sacrifício diferenciado.
Junte-se às doze ofertas mais nobres dessa noite e receba uma unção
dobrada. É preciso deixar claro que a crítica não se aplica à maioria dos
adeptos dessas “igrejas” e seguidores desses “pastores”. Não há dúvida
de que existem muitas pessoas sinceras nestes lugares. Mas é dessa
característica mesmo que muitos desses “bispos”, “pastores” e
“apóstolos” se aproveitam. Assim, estes homens (e mulheres) sem muita
dificuldade enriquecem suas contas bancárias. Mais facilmente ainda,
envergonham o cristianismo verdadeiro!
Grande parte daquilo que tem sido apelidado de cristianismo nos dias de
hoje atenderia muitíssimo bem pelo seu nome de batismo:
evangelicalismo neo-pentecostal. Se pudesse traçar, sem muita obrigação
de ser preciso, um pequeno histórico dessa bagunça toda, diria que o
problema na verdade começou lá fora. Dos Estados Unidos da América
saíram muitos animadores de palco que colocavam um terno no domingo
à noite, liam alguns trechos da Bíblia (quando o faziam), inventavam uma
história, davam uns gritos e o show começava... Coisas como a “unção do
riso” (também conhecida por “unção de Toronto” ou ainda “unção do
aeroporto” -por ter se iniciado em um aeroporto da cidade canadense) e
a “nova unção” de um famoso Benny Himm (que lascava seu terno em
homens que iam se amontoando no chão um em cima do outro) saíram
de lá. Aos poucos esse misticismo entrou no nosso país. Um pouco depois,
os púlpitos passaram a se transformaram em centrais de auto-ajuda e os
pastores, em palestrantes motivacionais. As livrarias cristãs estavam (e
estão ainda hoje) abarrotadas de coisas como “5 maneiras de alcançar o
sucesso”, “10 maneiras para ser feliz”, “conquistando a vitória financeira”.
Esses livros venderam, os apelos prometendo prosperidade, emprego e
promoções geraram dízimos e ofertas. Mais uma vez essa “onda” norte-
americana adentrou nossas terras.
No Brasil a história do neopentecostalismo é mais ou menos assim:
Influenciados por toda essa nova onda “evangélica” banhada de
misticismo e sincretismo religioso, certos “bispos” e “missionários”
criaram suas próprias igrejas. Aos poucos estas duas grandes
denominações cresceram assombrosamente, se popularizando em todo o
país. Tempos depois alguém bem mais carismático apareceu com um
chapéu de vaqueiro arrebatando outras multidões e começando uma
guerra declarada contra um daqueles homens, sua igreja e rede de
televisão. Outros líderes cheios de “poder” surgiram de Norte a Sul pelo
Brasil, cada um com uma peculiaridade necessária para se firmar no
mundo “gospel”. Alguns se denominaram “apóstolos”, outros foram
além...
Essas novas igrejas estão sintonizadas em torno de algumas semelhanças.
Poderíamos citar a confissão positiva, que ensina que o crente pode
conquistar tudo aquilo que proferir com a boca, tendo fé. Possessão por
demônios é outra ênfase relevante desse movimento. A tão aclamada
teologia da prosperidade é praticamente a única “teologia” que baliza
essas denominações. Como se o objetivo do crente fosse ser rico e possuir
todas as “bênçãos” materiais que ele puder, os adeptos são incitados ao
egoísmo e idolatria, sentimentos e práticas totalmente estranhos ao
cristianismo bíblico. O fato de estes homens terem programas específicos
em canais de televisão específicos já nos demarca uma característica
marcante, talvez o traço mais significativo dessas “igrejas”, o alcance! O
marketing pessoal e a grande facilidade em se atingir o público brasileiro
por meio de um dos maiores meios de comunicação de nosso tempo
elevam os fundadores e líderes máximos dessas igrejas a uma posição de
autoridade inimaginável. Debaixo desta autoridade há liberdade para
vender sonhos a humildes e desiludidos “clientes”. Sonhos infundados
que mais cedo ou mais tarde tendem a desmoronar.
As “novas igrejas”, porém, não estão sozinhas. Na verdade, a influência
destas é tão grande que é possível, não raramente, encontrar igrejas mais
antigas e tradicionalmente ortodoxas atingidas pelos ideais já citados e
perdendo aos poucos sua identidade cristã. Mas qual é o real problema
aqui?
O problema é que essas pessoas são as que recebem o título “cristãs” (ou,
mais comumente, “evangélicas”) no nosso país. O que muitos desavisados
conhecem sobre “cristianismo” é expresso nas falas, práticas e escândalos
que, obviamente, recebem toda atenção da mídia nacional. Muitos
sequer sabem que cristãos ao longo de todo o país sentem a mesma
indignação! Todavia nem sempre é assim. Infelizmente, o problema ainda
não termina aqui.
Os grandes pensadores dizem que o primeiro passo na solução
de problemas ligados a determinado tema é definir os termos
principais da discussão. [...] Muitos pressupostos cristãos básicos
têm sido ignorados e combatidos dentro das próprias igrejas
evangélicas. Um desses pressupostos consiste no conceito
correto de vida cristã. De fato, se fosse solicitado que os pastores
e crentes comuns de hoje definissem a expressão “vida cristã”,
certamente seriam colhidas respostas que incluiriam no conceito
desde as práticas mais toscas de superstição até os mais
elaborados sistemas legalistas.136
136
Granconato, 2011, p 43-45.
Muitas vezes, os próprios cristãos são responsáveis por ingenuamente
passarem a impressão errada sobre o que o cristianismo verdadeiramente
é. Tenho para mim que frequentemente os próprios cristãos entendem o
cristianismo de maneira equivocada (este que vos escreve é exemplo vivo
disto) e isso gera uma transmissão errada acerca dos ensinos de Jesus e
dos apóstolos. Os exemplos se multiplicam quase que sem fim, mas
acredito que poderia fazer uma lista com alguns enganos recorrentes,
aparentemente sutis, mas muito nocivos. Eis a lista:
1. Ir à igreja – evangélicos costumam achar que o nome “cristão” é
automaticamente outorgado a quem cultiva o hábito de
frequentar uma igreja. Essa visão distorcida repassa a impressão
de que cristãos são, de alguma forma, melhores por causa deste
hábito.
2. Legalismo e ritualismo – desde o primeiro século havia aqueles
que consideravam a observância de certas datas, festas e rituais
como essenciais para a elevação do espírito a um nível superior
ou, até mesmo, para a conquista da salvação. Essa marca é
comumente adotada por vários evangélicos e transmitida de
forma a expor o cristianismo como mais uma dentre as inúmeras
religiões ritualísticas.
3. Ingenuidade – eu mesmo sou prova de como é comum para um
membro de igreja evangélica ostentar a abstinência de certas
práticas como se realmente houvesse uma regra bíblica para, por
exemplo, não assistir televisão, não comemorar o Natal, não
realizar aniversários. Esses pensamentos não só dão a impressão
de um povo ingênuo para os não cristãos. São, de fato, expressão
de ingenuidade em relação à verdadeira religião cristã.
4. Superstições – não, um cristão não é aquele que compra óleo
ungido, sabonete ungido, lenços abençoadores... um cristão não
se define por colocar um copo d’água em cima de sua televisão e
realizar irreflexivamente tudo aquilo que o “homem de Deus” fala
pela TV. Mas eu sei que é esta a impressão que o
neopentecostalismo passa.
5. Superioridade moral – infelizmente uma das maiores dificuldades
para um não cristão que se acha cristão (mas até mesmo para
muitos cristãos) é entender a doutrina do homem e ser humilde
em relação a ela. O que quero dizer é que muito constantemente
evangélicos do mundo todo se deixam seduzir pelo engano de
que um cristão é moralmente superior em relação a adeptos de
quaisquer outras religiões, além de ateus, agnósticos... Essa seja
talvez a ideia que mais causa repulsa em relação ao
“cristianismo”. Tranquilamente estou pronto para conceder
absoluta justificativa para esta repulsa...
6. Separatistas – outra ideia infundada presente nas igrejas
evangélicas desde que me recordo, é a do separatismo, ou seja, o
pensamento de que os cristãos devem viver isolados em grupos
homogêneos e procurar manter somente o contato necessário
com os “diferentes”. Não é de se estranhar que haja uma
distância que impede qualquer tipo de diálogo e, portanto, de
entendimento sobre o que seja a verdadeira fé cristã.
7. Sofrimento autoimposto – outra maneira de se considerar melhor
que os demais é se considerar o maior sofredor do mundo e achar
que, por causa disso, há algo de especial em si. Outra maneira de
se buscar o favor de Deus, ou, melhor dizendo, barganhar esse
favor, é cometendo autoflagelo, autopenitência. Por mais que isso
soe com timbres da Idade Média, é bem comum versões do
sofrimento autoimposto no meio dos evangélicos do Brasil. O pior
é que eles não veem problema em ostentar a crença de que isso
faz parte da mensagem bíblica e comunicar isso aos demais.
8. Triunfalismo e prosperidade – sinônimos de neopentecostalismo
mais uma vez. A idéia hoje é de que cristão que é cristão só vence
na vida, tem os melhores cargos na empresa, não fica doente e,
acima de tudo, é rico! Às vezes esse adjetivo é maquiado e se
torna algo como “estabilidade financeira” ou “vitória financeira”.
Este ponto na verdade acaba por atrair muitas pessoas para as
denominações contemporâneas que atendem o freguês segundo
seus gostos. Mas estaríamos corretos em chamar isto de
cristianismo?
9. “Experiencialismo”, sentimentalismo – me permiti o neologismo
por não ter encontrado outra palavra que descrevesse melhor o
que se vê em denominações tradicionais hoje em dia. A busca por
experiências sobrenaturais e pelo ápice dos sentimentos passou a
ser o foco em muitas igrejas.
Muitos cristãos acham essas coisas verdadeiras. Muitos não cristãos
acham que essas coisas representam a verdade do cristianismo. Não
obstante, tudo isso sempre esteve imensamente longe do cristianismo
original. Felizmente os cristãos acreditam em bases absolutas. Sua maior
base e única regra de fé é a Bíblia Sagrada contendo as Escrituras antigas
citadas pelo próprio Jesus e o Novo Testamento, nos quais encontramos
os relatos da vinda, vida, ensinos e obra de Jesus, além da proclamação
inicial sobre o significado do Evangelho. Assim, qualquer definição ou
entendimento do cristianismo se dá com uma visão histórica,
hermenêutica137 e unitária138 precisa da Bíblia. O que é, então, o
verdadeiro cristianismo bíblico?
137
Interpretação de texto, no caso, do texto Bíblico. 138
Usei o termo, que não é comumente usado, para me referir a uma visão homogênea das Escrituras. Os teólogos entendem que se a Bíblia é a Palavra de Deus, deve, então, interpretar a si própria. Então, os pressupostos para interpretação e entendimento bíblico estão nas próprias páginas da Bíblia.
VIII. O CRISTIANISMO BÍBLICO
Considerando que observamos rapidamente algumas abordagens ditas
completamente infiéis do cristianismo, o que a Bíblia verdadeiramente diz
sobre a fé cristã? Separado o joio do trigo, finalmente podemos imergir
nas páginas das Escrituras e buscar essa resposta. Vamos lá?
O cristianismo sempre começará e terminará com o Ser supremo, todo-
poderoso, todo amor, bondade, justiça e santidade que sempre existiu e
que nunca deixará de existir. A Bíblia não explica e nem questiona Deus.
Ela o pressupõe. Por isso o primeiro verso do primeiro livro das Escrituras
hebraicas nos diz: “No princípio Deus criou os céus e a terra” (Gênesis 1.1
- NVI).
Tudo que existe “fora de Deus” faz parte daquilo que a teologia cristã
chama de “criação”. A criação parte do desejo e da ação poderosa de
Deus e, por isso mesmo, reflete parte da própria natureza de Deus. Este é
o princípio para entendermos a revelação divina.
Na teologia cristã, YHWH (nome de Deus no hebraico, traduzido para
Jeová) se revela ao homem, a coroa de sua criação, basicamente de
quatro formas. A primeira é a própria criação, a natureza. No Salmo 19,
Davi, um dos reis da nação de Israel, escreve:
Os céus declaram a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das
suas mãos. Um dia faz declaração a outro dia, e uma noite mostra
sabedoria a outra noite. Não há linguagem nem fala onde não se ouça a
sua voz. – Salmo 19.1-3
No Novo Testamento, Paulo realça o fato de que a criação aponta para
um supremo, sábio e poderoso criador. No primeiro capítulo de sua carta
à igreja em Roma, Paulo escreve:
Porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque
Deus lho manifestou. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação
do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se
entendem, e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas, para
que eles fiquem inescusáveis (indesculpáveis). – Romanos 1.19-20
Não é de se estranhar que quaisquer homens vejam na beleza da criação,
a beleza do Deus que trouxe tudo à existência. Como já fora citado, Kant
certa vez disse que: “Duas coisas enchem a mente de [...] assombro e
reverência [...]: o céu estrelado sobre mim e a lei moral dentro de
mim”139.
Além disso, Deus se revela na própria consciência do homem com sua lei
moral. É daqui que os cristãos retiram seu entendimento sobre o mundo
moral objetivo à nossa volta. Ainda Paulo, escrevendo aos romanos, no
capítulo 2, nos diz:
Porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as
coisas que são da lei, não tendo eles lei, para si mesmos são lei; os
quais mostram a obra da lei escrita em seus corações, testificando
juntamente a sua consciência, e os seus pensamentos, quer acusando-
os, quer defendendo-os – Romanos 2.14-15
139
Crítica da razão prática, in: Stephen Law, Guia ilustrado Zahar: Filosofia. Citado em Granconato, 2011, p. 27.
A terceira maneira de Deus se revelar é por meio de Sua Palavra. Esta foi a
forma mais pura e importante da revelação de Deus no Antigo
Testamento. Por meio de Sua Palavra, o universo veio a existir. Por meio
de Sua Palavra os homens profetizaram o que haveria de acontecer
séculos depois. Jesus acreditava no Novo Testamento como já dissemos, e
deixou o Espírito Santo, quando ascendeu aos céus, a fim de consolar a
humanidade e inspirar homens a relatarem sua vinda, vida, obra e
ressurreição. É disso que a Bíblia trata. E a própria Bíblia reivindica
autoridade. Paulo escrevendo uma segunda carta a seu amigo, o jovem
pastor Timóteo, escreve no capítulo 3:
E que desde a tua meninice sabes as sagradas Escrituras, que podem
fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus. Toda a
Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para
redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de
Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra. – 2
Timóteo 3.15-17
Por fim, a maior e mais perfeita revelação de Deus está em Jesus Cristo,
Seu Filho. O desconhecido escritor aos Hebreus (talvez Paulo) inicia sua
carta falando sobre Jesus:
Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras,
aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho,
a quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo. O
qual, sendo o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua
pessoa, e sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder,
havendo feito por si mesmo a purificação dos nossos pecados,
assentou-se à destra da majestade nas alturas – Hebreus 1.1-3
A vontade, beleza, glória, poder, santidade, justiça, amor e graça de Deus,
estão perfeitamente expressos na pessoa de Jesus Cristo, que viveu uma
vida perfeita como homem, sendo Ele Deus também.
Se Deus se fez entendido, ele o faz por meio destas revelações. Mas é
principalmente por intermédio das duas últimas que o cristianismo se faz
entendido. É olhando para a vida, obra e ensinos de Jesus, e todas as
doutrinas aliadas às profecias do Antigo Testamento que destas coisas
decorrem, que nos dirão com certeza o que genuinamente o cristianismo
é. Se o cristianismo é verdadeiro, então ele provavelmente tem várias
respostas às várias indagações que foram pensadas durante este artigo.
O CRISTIANISMO TEM AS RESPOSTAS!
Primeiramente, poderíamos dizer em oposição ao absurdo da vida sem
Deus, que fora visto anteriormente, que o cristianismo mostra o sentido,
valor e propósito da vida.
1. O cristianismo mostra o sentido da vida.
O sentido, ou significado da vida, como William Craig nos diz, tem relação
com a importância de algo, o porquê algo importa140. Em uma vida sem
Deus, a qual veio à existência pelo acaso e o acaso a guia para a inerente e
inescapável destruição, não há qualquer sentido objetivo para a vida. Mas
se Deus existe e trouxe todas as coisas à existência como expressão de
Seu amor, bondade e glória, é nisto que encontramos o significado da
vida. O homem não pode ter um sentido objetivo próprio que não o de
140
Craig, 2011, p. 32. Esta é uma nota de página do autor.
ter sido feito à imagem e semelhança de Deus, como coroa da criação,
para plena comunhão com seu Criador. Ora, por que vida importa? A vida
não pode ter importância intrínseca que não pelo motivo de ter sido dada
como dádiva por Deus! As coisas importam porque dEle provêm! Em Deus
encontramos o sentido objetivo para tudo!
2. O cristianismo mostra os valores da vida.
Como Romanos 2.14-15 já nos mostrou, os valores morais estão incutidos
na consciência do homem. Estes valores morais não são arbitrários. Antes,
são expressão do próprio caráter de Deus. Se olharmos para a vida de
Jesus Cristo, veremos esse caráter, essa moralidade no seu grau máximo e
único de perfeição e pureza. Se isso é verdade, então, por mais que
sociedades “conseguiram emudecer a voz da consciência que as
proclamava dentro de si”141, essas coisas continuam expressando o que é
bom, por provirem da própria natureza de Deus.
3. O cristianismo mostra o propósito da vida
Se algo foi criado, espera-se que tenha um propósito, não é mesmo? É
logicamente errado dizer que algo que veio do acaso possa ter qualquer
propósito que não seja subjetivo. Se virmos um inventor na frente de sua
mais nova engenhoca criada, logo perguntaremos “para que isso serve?”,
não é mesmo? “Criação implica propósito”142!
141
Granconato, 2011, p. 26. 142
Ibidem., p. 27.
E se o cristianismo é verdadeiro, qual então seria o propósito da criação e
o propósito da existência da raça humana? Romanos 11.36 deixa isso
claro como a água:
Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele
eternamente. Amém.
Deus sempre fora auto-suficiente! Ele lhe era suficiente. Ele era suficiente
em si mesmo. Qualquer alternativa a isto, como as recorrentes tentativas
de explicar a criação como uma necessidade de Deus, não encontram
respaldo no cristianismo bíblico. A criação, antes, é, como já dito, uma
expressão da glória inerente ao Deus eterno. Deus cria o mundo com
amor, no intuito de comunicar amor e isso inerentemente lhe traz glória
(é só pensarmos na nos primeiros versos de Gênesis quando dada a
finalização de um ato de criação, Deus expressava sua reação com tudo
aquilo que provinha dEle mesmo, dizendo que aquilo era “bom”). Não
pode ser diferente! Se Deus é bom e faz algo, esse algo é bom! Portanto,
todas as coisas, por terem sido trazidas à existência por um Deus bom,
são, portanto, boas e expressam a glória de Deus e lhe rendem glória.
E o homem? O homem assim como toda a criação, fora feito para a glória
de Deus. E aqui surge um grande problema com a mentalidade de todo e
qualquer homem.
O PROPÓSITO DE DEUS DE SER GLORIFICADO É EGOÍSTA E EGÓLATRA?
Ora, se somos presos à uma vida de adoração e glórias dadas a Deus,
logo, somos escravos desse Deus que mais parece Narciso do que Cristo
(colocar uma referencia a Mt 10.37 talvez). Se Deus requer nossa
adoração dessa maneira, não seria ele um ególatra e nós meros
instrumentos que lhe deveriam render adoração dia-a-dia a favor ou
contra nossa vontade própria?
Este é realmente um problema muito comumente encontrado, mas que
não se sustenta. John Piper, pastor americano batista, talvez seja um dos
homens que mais tenha tentado explicar isso atualmente. Como pode
haver amor na atitude de Deus de fazer o homem para Sua glória própria?
Como pode não haver egoísmo e egolatria em criar o homem “para ele”
(Rm 11.36)? Bem, precisamos entender isso com calma...
Lembremos, como nos diz Romanos 11.36, que a criação é feita por Deus
e para a glória de Deus. Mas Deus é amor, como nos diz João em sua
primeira epístola universal (capítulo 4) e assim necessariamente criou o
mundo com amor. A Bíblia fala do amor de Deus à sua criação, mas fala
de maneira sublime do amor de Deus ao homem! Quando Deus criou o
homem não simplesmente disse que toda sua criação era boa. Agora,
tendo finalizado Sua obra-prima, Deus disse que tudo aquilo era muito
bom143.
Vemos o propósito de Deus para o homem claramente antes do pecado,
no Jardim do Éden. Concluímos que Deus criou o homem com o propósito
de amá-lo e de ser por ele glorificado, além de ter íntima e plena
comunhão com este, provendo-lhe completa e perfeita satisfação. Ora, se
este era o propósito de Deus para vida do homem, então o homem só
será completo se estiver preso a este propósito. Somente assim ele será
143
Gênesis, capítulo 1, verso 31.
pleno, estará satisfeito e poderá, como Adão, desfrutar do Algo mais
valioso que pode existir, satisfazendo-se e deleitando-se Nisto: Deus!
O catecismo de Westminster manifesta essa verdade de maneira simples
e bela, quando, em sua primeira pergunta, “Qual é o fim supremo e
principal do homem?”, promove a resposta:
“O fim supremo e principal do homem é glorificar a Deus e desfrutá-lo
para sempre”. (Conferir 1Co 10.31; Salmos 73.24-26; João 1.22-24)
Se essa é a verdade, então pensar em completude, plenitude, satisfação e
alegria longe de Deus, longe de Sua comunhão, longe de uma vida de
louvor e glória a este Deus, é, além de loucura, algo logicamente
impossível! Se Deus quer o homem junto a si em comunhão consigo é,
portanto, também, uma imensa demonstração de amor e preocupação
com nossas vidas, já que longe dEle não encontraremos qualquer alegria e
satisfação plena e verdadeira. Cada dia longe da presença de Deus é
verdadeiramente um pedaço de nossa história amassado e jogado na
lixeira. Subjetivamente podemos ter percepções e momentos de alegria.
Mas biblicamente alegria nunca estará em oposição ao sofrimento e à
dor. Alegria é algo presente mesmo nos momentos mais difíceis, pois está
associada à plena e constante satisfação que há em viver segundo o
propósito para o qual fomos criados. Temos a liberdade de viver longe de
Deus, porém, como o pastor John Piper bem diz, uma vida longe de Deus
será, “uma vida desperdiçada”144. Podemos ter a impressão de que
144
Título de um dos vídeos que mais marcaram minha vida (me dei o direito de perder a formalidade e a impessoalidade aqui) do pastor John Piper. Disponível no link: http://www.youtube.com/watch?v=j_errBKO-I0
estamos fazendo algo realmente bom, satisfatório, desfrutando de real e
permanente alegria, contudo, isto não condiz com a verdade bíblica. E se
Deus existe, Cristo existiu, morreu e ressuscitou, podemos dar total
crédito a esta convicção. Piper resume tudo isso no slogan de seu
ministério: “Deus é mais glorificado em você, quando você está
plenamente satisfeito nEle”!
Portanto, o sentido, valor e propósito objetivo da vida estão
fundamentados no próprio Deus! A vida importa porque nos é dada pelo
próprio Deus, Ser totalmente perfeito em bondade, amor e misericórdia.
Este é seu sentido! Os valores e deveres inerentes ao homem (ainda que
obscurecidos muitas vezes) refletem o próprio caráter de Deus e
encontram sua expressão plena em Jesus Cristo! Por fim, o propósito de
nossas vidas é viver para a glória de Deus, dEle desfrutar e, assim (e só
assim) vivermos plenamente satisfeitos e completos (nEle!).
O CRISTIANISMO NÃO É NADA DAQUILO!
Tendo a Bíblia em mãos, poderíamos facilmente nos opor a todos aqueles
pontos levantados na seção sobre o que o cristianismo não é. Permitam-
me apenas tangenciar alguns deles.
1. Cristianismo não é triunfalismo e prosperidade!
Isto toca no assunto “neopentecostalismo” de uma só vez. Hebreus 13.5 e
Mateus 6.33 já nos dão algum sentido do que o Novo Testamento diz
sobre colocar as prioridades no lugar correto. E riqueza e bens materiais
estão longe de ser prioridade para um cristão.
2. Cristianismo não é ir à igreja!
Se fosse seria fácil não? Mas o cristianismo bíblico está ligado a um
coração dependente de Deus, cheio de fé e que consequentemente
expressa essa fé publicamente em cultos com os irmãos. Antes de ser
causa do cristianismo, ou qualquer coisa do tipo, as reuniões públicas na
igrejas deveriam ser a expressão, manifestação da adoração pública a
Deus.
3. Cristianismo não é superioridade moral!
O cristianismo nunca foi, não é e nunca será uma religião moralmente
superior. O cristianismo sequer prega superioridade moral. O interessante
é que o cristianismo nos dá base, na verdade, para dizer o contrário, que
todos somos maus! Este ponto será melhor explicado em breve. Um
cristão genuíno considera os seus semelhantes superiores a si mesmo e
sabe da sua depravação moral intrínseca.
4. Cristianismo não é legalismo e ritualismo!
O cristianismo não supõe que o homem possa barganhar sua salvação, ou
alcançá-la mediante boas condutas ou práticas religiosas repetitivas,
supersticiosas e ritualísticas. A salvação no cristianismo é única em
relação a todo e qualquer tipo de religião.
O CRISTIANISMO NÃO É NADA SEM CRISTO!
Há documentos antigos que dizem justamente o que nos parece óbvio: os
cristãos tiraram seu nome daquele que era chamado “o Cristo”. O termo
“CRISTO” vem da palavra grega Khristós que significa “ungido”. Está
relacionado com o termo hebraico que é transliterado para o português
como “messias”. Esses termos tem relação com “o ungido” de Deus que
era prometido desde o Pentateuco para Salvar o povo dos seus pecados.
Aqueles que creem que Jesus é o messias creem que ele é o Rei de Israel
que cumpriu todas as profecias e propiciou salvação para pecadores com
sua morte e ressurreição.
O ponto aqui é que não existe cristianismo sem Jesus! O mais comum nas
igrejas evangélicas de hoje é pregar auto-ajuda e motivação à parte de
Cristo. Cristo é a essência do cristianismo! E o que diferencia o
cristianismo de qualquer religião, até mesmo das outras monoteístas. Por
quê? Porque o cristianismo é a única religião onde a salvação não é
conquistada pelo homem. O cristianismo é a única religião que não se
utiliza de regras e rituais para a elevação espiritual do homem. Se é
necessário dor, sofrimento e méritos para a salvação, no cristianismo
quem faz tudo isso é o próprio Jesus Cristo! Isto ficará ainda mais claro
quando falarmos sobre o evangelho em breve. Mas essa breve
observação já amplia o entendimento dos dois últimos pontos do tópico
anterior.
O cristianismo na verdade não diz que há boas e más pessoas. Antes, diz
que todos os homens são maus e não conseguem de forma alguma atingir
o nível de santidade de Deus. Os homens por seus próprios esforços não
conseguem se salvar, por mais que tentem, por quaisquer rituais,
celebrações, autoflagelo, etc. Então, Cristo se doa... Em nosso lugar! Por
nós!
IX. O EVANGELHO
O nome mais comum dado para o grupo que teoricamente se identifica
com o cristianismo bíblico é “evangélico”. Esse termo deriva da
mensagem central do cristianismo e de toda a Bíblia, o Evangelho. Jesus
Cristo mandou seus discípulos irem por todo mundo e pregarem o
evangelho. A pregação de Paulo sempre se baseou no evangelho. Por
meio do evangelho está ordenado que os homens sejam salvos. Portanto,
obviamente deveríamos perguntar: o que é o evangelho?
Evangelho, no original grego, significa “boas novas”, “boas notícias”. Mas
para entendermos essa boa notícia, precisamos resumir a mensagem
bíblica em alguns pontos e entender que há primeiro uma má notícia.
O evangelho começa com Deus! Deus está acima do tempo, espaço,
matéria (como o argumento cosmológico Kalam, por exemplo, deduz),
enfim, é transcendente em relação a todo o universo. Ele tem todo poder,
todo conhecimento, toda sabedoria e nEle reside toda glória! Deus criou o
universo como expressão de Sua bondade, amor, glória, beleza, sabedoria
e fez o homem, a coroa de Sua criação, à Sua imagem e semelhança.
Três outros atributos negligenciados, mas extremamente importantes de
YHWH são: justiça, santidade e misericórdia. Tudo que Deus faz e julga é
bom, correto e perfeitamente justo! Aliás, não há conceito de justiça à
parte de Deus. Deus é plenamente santo, ou seja, não comete pecados e
os abomina. Toda pureza reside nEle e seus olhos não suportam o mal, de
tal forma que todo pecado deve ser punido de acordo com sua justiça.
Contudo, Deus é também misericordioso e retarda Seu julgamento contra
o pecado.
Depois de entendida a natureza de Deus, precisamos entender a natureza
do homem. O homem foi criado à imagem e semelhança de Deus para
plena comunhão com Seu criador, de modo a ser completo nesta
comunhão. A despeito disso, todos os homens, desde Adão, pecaram e
foram separados da comunhão com Deus.
Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus –
Romanos 3.23
Todo amor, justiça, bondade e solidariedade que há no mundo, é uma
comunicação do caráter de Deus ao homem. Não há nada bom que não
tenha procedência divina (Tiago 1.17). Apesar da perfeita bondade e
perfeito amor do Criador, o homem deliberadamente se rebela contra
ele.
Porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus,
nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o
seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se
loucos. E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da
imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de
répteis. – Romanos 1.21-23
Essa é a situação do homem que, como disse Dostoievski, tem dentro de
si um vazio do tamanho de Deus. Tendo se rebelado contra Deus, o
homem busca preencher seu vazio com todo e qualquer tipo de coisas.
Esse é o instinto religioso que todo homem tem, que o faz adorar
qualquer coisa que não Deus. Pensem comigo! Há algum homem ou
mulher que vocês conheçam que não tenha uma espécie de adoração em
relação a algo ou alguém? Um jogador de futebol, um time, uma idéia,
uma causa, uma mulher, um homem, a própria pessoa... A Bíblia explica
esse vazio. Os homens, diferente de toda a natureza, resolve desobedecer
Deus e não o glorificam, nem lhe rendem graças. Todos os homens são
idólatras e ingratos.
Percebe-se, portanto, que a Bíblia não supõe que o ateísmo seja sincero e
verdadeiro. O antiteísmo sim! O homem pode obscurecer o
conhecimento que tem de Deus por meio da natureza e da lei moral que
dentro dele existe. Mas no fundo o ateísmo está longe de ser um
problema intelectual. De acordo com as Escrituras, este é um problema
moral! Todo homem se encontra neste problema! Tendo conhecido a
Deus não o glorificaram nem lhe renderam graças. Pelo contrário,
deixaram de adorar a Deus e passaram a adorar a si mesmo, a outros
homens, a animais, ou a coisas.
Um resumo de quem o homem é encontra-se em Romanos 3.10-18. Paulo
cita o Antigo Testamento e diz:
Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer.. Não há ninguém
que entenda; Não há ninguém que busque a Deus. Todos se
extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o
bem, não há nem um só. A sua garganta é um sepulcro aberto; com as
suas línguas tratam enganosamente; peçonha de áspides está debaixo
de seus lábios; cuja boca está cheia de maldição e amargura. Os seus
pés são ligeiros para derramar sangue. Em seus caminhos há
destruição e miséria; e não conheceram o caminho da paz. Não há
temor de Deus diante de seus olhos.
A Bíblia é clara na oposição entre o homem e Deus. Para o homem, que é
completamente mau, seu maior problema é que Deus é completamente
santo e bom! E o veredito, então:
Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo
da lei o diz, para que toda a boca esteja fechada e todo o mundo
seja condenável diante de Deus. – Romanos 3.19
Apesar das catástrofes naturais, das doenças e das guerras, estas são as
piores notícias para qualquer homem na face da Terra! E, além disso, o
homem não pode fazer nada, por si só, por suas próprias forças, para
barganhar o favor de Deus (conferir Romanos 3.20 e Jeremias 13.23). O
que fazer? Nada! O homem é incapaz de se salvar!
Assim, Deus que está separado de todo o pecado em sua perfeita
santidade, seria perfeitamente justo em depositar seu julgamento sobre
todos os homens e os enviar para o inferno, que biblicamente é o lugar de
condenação eterna.
Contudo...
Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para
que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. –
João 3.16
Somente naquele pano de fundo negro é que as boas-novas podem ser
agora apreciadas, de fato. Somente quando não restar qualquer
esperança, Cristo pode ser vislumbrado como socorro único e suficiente.
O barulho das chaves faz mais sentido quando se está em uma masmorra
escura, inacessível e desiludido. As más notícias nos mostram a condição
do homem perante de Deus! Mas o próprio Deus em pura compaixão,
amor e graça promove o remédio para nossa maior doença. Na verdade,
Ele oferece ressurreição para nós que em nossos pecados, ofensas e
delitos, somos tidos como mortos espirituais.
Ele envia Seu Filho ao mundo. O Deus todo poderoso se encarna e nasce
de uma virgem. Vive uma vida perfeita, aquela vida que precisaríamos
viver, mas não vivemos. Ele morre a morte que merecíamos morrer!
Naquela cruz Jesus Cristo leva todos os nossos pecados sobre suas costas.
Mais ainda, Ele é feito pecado (2Coríntios 5.21) e maldição (pois maldito
todo aquele que for pendurado no madeiro – Gl 3.13). O único homem
sem pecado é julgado no nosso lugar. Toda a condenação que os homens
mereciam recai sobre os ombros de Jesus.
E a Bíblia ainda nos diz que Deus se agradou de moer Seu próprio Filho
(Isaías 53.10). Por quê? Por amor! Amor a mim, a você e aos pecadores
debaixo da terra.
Tendo provido a solução e tomado a iniciativa de apresentar-se como
propiciação pelos nossos próprios pecado, Cristo diz: “está consumado”!
Tudo que não conseguiríamos ou poderíamos fazer, Cristo fez em nosso
lugar. E Deus recebeu o sacrifício de Jesus como expiação perfeita! Ao
terceiro dia vindicou Seu filho, ressuscitando-O e fazendo-O triunfar sobre
morte e inferno, confirmando sua vitória e nos dando esperança de vida
eterna. Temos agora um Salvador!
Portanto, como nos apropriar desse presente que Jesus Cristo já
conquistou para nós? “Arrependi-vos, e crede no evangelho” (Marcos
1.15)! Todo homem, em todo o tempo, em todo o lugar, é convocado a se
arrepender de seus pecados, voltar-se de sua rebelião contra a santidade,
justiça, bondade e amor de Deus, e crer que todos seus pecados foram
pagos em Jesus Cristo naquela cruz. Crer que Jesus Cristo se apresentou
como nosso substituto e, por ser Deus perfeito, pôde pagar nossa dívida
completamente. Nada mais precisa ser feito. Em nossas forças não
ampliaremos um côvado de nossa estatura. Em nossos méritos não
barganharemos um mísero apreço de Deus, pois o cheiro do pecado nos
acompanha dia-a-dia.
Mas se nos arrependermos de nossos pecados, e crermos que Jesus Cristo
é o Filho de Deus que morreu a nossa morte, pagou nossa dívida e
ressuscitou em vitória, nos é prometido que, assim como Cristo
ressuscitou, nós ressuscitaremos de nossa morte espiritual. Um novo
coração será nos dado. Um coração de carne no lugar de um coração de
pedra. A comunhão com Deus Pai será restabelecida. Nossos pecados
serão esquecidos. Nossas vestes serão trocadas por vestes brancas.
Pecadores imundos serão declarados perante Deus como justos pelo
poder do puro sangue de Jesus Cristo.
A partir de então poderemos desfrutar de uma vida de adoração e glórias
dadas a Deus. Plena alegria e satisfação nEle. Só humilhados em nossos
esforços, conscientes de nosso pecado, arrependidos e com fé,
entenderemos e seremos gratos por essa dádiva. Por esse presente que
nunca fizemos nada para merecer.
Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é
dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie; porque
somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais
Deus preparou para que andássemos nelas. – Efésios 2.8-10
Portanto, aparte-se de sua rebelião se você ainda não crê em Cristo. Ele
ressuscitou e está vivo para que todos nós nos acheguemos a Ele
conscientes de nossa situação e gritemos por socorro! Em humildade e
dependência voltemo-nos dos nossos pecados! Arrependa-se e creia em
Jesus Cristo, o Evangelho ressurreto, nossa maior e única Boa-notícia!
Sepultados com ele no batismo, nele também ressuscitastes pela fé no
poder de Deus, que o ressuscitou dentre os mortos. E, quando vós
estáveis mortos nos pecados, e na incircuncisão da vossa carne, vos
vivificou juntamente com ele, perdoando-vos todas as ofensas,
havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a
qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós,
cravando-a na cruz. – Colossenses 2.12-14
X. SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS
Livros utilizados:
- Douglas Wilson e Christopher Hitchens, O cristianismo é bom para o
mundo? – Garimpo Editorial
- Marcos Granconato, Fundamentos da teologia da vida cristã – Mundo
Cristão
- William Lane Craig, Em guarda – Edições Vida Nova
- Lee Strobel, Em defesa de Cristo – Editora Vida
Vídeos:
Preferi sugerir os vídeos por “autores”. Quaisquer debates, palestras ou
entrevistas de Douglas Wilson, Ravi Zacharias, William Lane Craig e Lee
Strobel (em especial os documentários “Em defesa de Cristo” e “Em
defesa do Criador”).
Para mais conteúdo sobre o (verdadeiro) cristianismo e a mensagem do
evangelho, procurem por John Piper, Paul Washer, R. C. Sproul, C. S. Lewis
(das Cônicas de Nárnia), Augustus Nicodemus, John MacArthur, D. A.
Carson, etc.
-------------
Porque Cristo, estando nós ainda fracos, morreu a seu tempo
pelos ímpios. Porque apenas alguém morrerá por um justo; pois
poderá ser que pelo bom alguém ouse morrer. Mas Deus prova o
seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós
ainda pecadores. Logo muito mais agora, tendo sido justificados
pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira [de Deus]. –
Romanos 5.6-9
Deus abençoe você!
Misael Pulhes