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Bblia e Sociologia
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Dados de Catalogao na Publicao (CIP) Internacional
(Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Gottwald, Norman K., 1926-
G723i Introduo socioliterria Bblia hebraica / Norman K.Gottwald;
(traduo Anacleto Alvarez; reviso H. Dalbosco). So Paulo: Paulinas, 1988.
(Coleo Bblia e sociologia)
Bibliografia.
ISBN 85-05-00774-3
1. Bblia A. T. Hermenutica 2. Bblia A. T. Histria dos eventos bblicos 3. Bblia como literatura 4. Judeus Histria At 70. Ttulo.
II. Srie: Bblia e sociologia.
CDD-221.601-221.95-809.9352287-0984-933
ndices para catlogo sistemtico:
1. Antigo Testamento: Hermenutica 221.601
2. Antigo Testamento: Histria dos eventos bblicos 221.95
3. Bblia como literatura 809.93522
4. Judeus: Histria antiga 933
Coleo BBLIA E SOCIOLOGIA
1. As origens cristas em perspectiva sociolgica, H. C. Kee .
2. As Tribos de Iahweh Uma sociologia da religio de Israel liberto, Norman K. Gottwald
3. Um lar para quem no tem casa Interpretao sociolgica da 1 Carta de Pedro, .J. H. Elliott
4. Religio e formao de classes na antiga Judia, Hans G. Kippenberg
5. Introduo socioliterria Bblia Hebraica, Norman K. Gottwald
NORMAN K. GOTTWALD
Introduo socioliterria
Bblia Hebraica
Edies Paulinas
Plnio original
The Hebrew Bible A socio-literary introduction
Fortress Press, Filadlfia, 1985
Traduo
Pe. Anacleto Alvarez, OSA
Reviso
H. Dalbosco
EDIES PAULINAS
TELEX (11) 39464 (PSSP BR)
Rua Dr. Pinto Ferraz, 183
04117 SO PAULO SP
END. TELEGR.: PAULINOS
EDIES PAULINAS - SO PAULO, 1988
ISBN 85-05-00774-3
ISBN 0-8006-1853-X-USA
ndice
Abreviaturas
15
Prefcio
19
I PARTE O TEXTO NOS SEUS CONTEXTOS
Captulo 1: NGULOS DE VISO SOBRE A BBLIA HEBRAICA...23
1. Riqueza de mtodos nos estudos bblicos
23
2. A aproximao religiosa confessional Bblia Hebraica
24
3. A aproximao histrico-crtica Bblia Hebraica
25
3.1. A Bblia como criao humana
26
3.2. Crtica das fontes e crtica das formas
26
3.3. Autoria dos livros bblicos
28
3.4. Histria e arqueologia bblicas
29
4.Interao entre aproximaes religiosa e histrico-crtica
aos estudos bblicos
29
4.1. Coliso e ajuste de mtodos conflitantes
29
4.2. Tentativas por uma sntese: existencialismo e teologia bblica...30
4.3. Colapso de consenso em estudos bblicos..
31
5.Apario de novas aproximaes literrias e das cincias sociais
Bblia Hebraica
32
5.1. Limites percebidos de aproximaes histricas e religiosas
32
5.2. Mtodos literrios mais recentes
33
5.2.a. A Bblia como literatura e nova crtica literria
33
5.2.b. Crtica estrutural
35
5.3.Mtodos das cincias sociais
35
5.3. a. Reconstruo social do primitivo Israel
36
5.3.b. Reconstruo social da profecia e da apocalptica
36
5.3.c. Variedades de crtica social cientfica
37
5.4.Fundamento comum na nova crtica literria
e na crtica social cientfica
38
6.Fermento criativo nos estudos bblicos contemporneos
39
6.1. Uma avaliao criteriosa de opes
39
6.2. Uma viso prvia dos estudos bblicos futuros
40
Captulo 2: O MUNDO DA BBLIA HEBRAICA
42
7.Geografia fsica e econmica
42
7. 1. O antigo Oriente Prximo
42
7.2. Palestina
45
7.3. Sub-regies importantes para o Israel bblico
47
7.3.a. A plancie costeira
47
7.3.b. A regio das colinas de Jud
48
7.3.c. A regio das colinas da Samaria
49
7.3.d. A regio das colinas da Galilia
49
7.3.e. A depresso do Jordo
50
7.3.f. A regio das colinas de Galaad
50
7.3.g. Amon, Moab e Edom
50
8.Arqueologia: restos materiais e escritos
51
8.1. Arqueologia do antigo Oriente Prximo
51
8.2. Arqueologia da Palestina
52
9.Histria poltica, cultural e social do antigo Oriente Prximo61Captulo 3: A HISTRIA LITERRIA DA BBLIA HEBRAICA73
10.Relao da Bblia Hebraica com outros corpos de literatura
73
10.1.Literaturas nacionais independentes:
os textos do antigo Oriente Prximo
73
10.2.Literaturas judaica e crist dependentes da Bblia Hebraica..73
10.2.a. Apcrifos e Pseudepgrafos
74
10.2.b. Manuscritos do mar Morto
80
10.2.C Novo Testamento e Talmude
82
11.Como se formou a Bblia Hebraica
83
11.1. Formao das unidades literrias separadas
83
11.1.a. Processo da composio literria
83
11.1.b. Tradio oral e gneros literrios
no processo de composio
84
11.2.Formao final da Bblia Hebraica
90
11.2.a. As colees autoritativas
90
A Lei
90
Os Profetas
92
Os Escritos
93
11.2.b. Fatores no fechamento cannico:
a partir de Esdras at a assemblia rabnica em Jmnia...94
11.3.Preservao e transmisso da Bblia Hebraica
97
11.3.a. O processo de transmisso
estende-se at a estabilizao
do texto consonantal, por volta de 100 d.C.
97
11.3. b. O processo de transmisso
estende-se at a estabilizao
do texto voclico, por volta de 1200 d.C.
99
11.3.c. Edies impressas da Bblia Hebraica
101
12.Tradues da Bblia Hebraica102
12.1.Verses antigas 102
12. 1.a. A Bblia grega dos Setenta 102
12.1.b. Outras verses gregas e Hxapla 102
12.1.C. Targuns aramaicos 102
12.1.d. Antiga siraca, Peshitta, e Siro-hexaplar 103
12.1.e. Antiga Latina e Vulgata 103
12.2.Tradues da Bblia Hebraica em lngua portuguesa 103
II PARTE
CONFEDERAO INTERTRIBAL: COMEOS REVOLUCIONRIOS DE ISRAEL
Prlogo: SOBRE AS FONTES
PARA A HISTRIA PR-MONRQUICA DE ISRAEL.............. 111
13.As grandes tradies do antigo Israel 111
13.1. O Javista (J) 111
13.2. O Elosta (E) 112
13.3. A Histria Deuteronomstica (HD) 112
13.4. O escritor sacerdotal (P) 113
13.5. A redao de JEP 113
13.6. A fonte comum do Javista e do Elosta (G) 114
14.A relao das tradies literrias
com a primitiva histria de Israel
114
14.1. Origens no-governamentais e orais das tradies
115
14.2. Israel tribal unido como o sujeito das tradies
116
14.3. Expanso e elaborao
dos temas semelhantes histria das tradies 116
14.4.Sumrio e implicaes metodolgicas 118
Captulo 4: TRADIES A RESPEITO
DOS PAIS E DAS MES DE ISRAEL 119
15.O molde das tradies em Gnesis 12-50 119
15.1. Distribuio das unidades das tradies em J, E e P
119
15.2. Anlise das unidades das tradies por gneros literrios
123
75.1. Unidade composta das tradies
123
15.3.a. Ciclos de sagas e cadeias de sagas
123
15.3.b. Itinerrio e cronologia
124
15.3.C. Motivos de promessas divinas aos antepassados
125
15.3.d. Cenas-tipo e outras caractersticas literrias..
125
15.4.Tradies individuais de famlia
ou tradies de grupos tribais? 127
16.Horizontes scio-histricos das tradies dos antepassados 129
16.1. Cronologia e arqueologia 129
16.2. Dados polticos e geogrficos 131
16.3. Costumes e leis 133
16.4. Lutas sociais nas tradies dos antepassados 135
16.4.a. O nicho socioeconmico
incerto dos antepassados 135
16.4.b. Preocupaes pela produo,
reproduo e defesa prpria 136
Captulo 5: TRADIES A RESPEITO DE MOISS:
XODO, ALIANA E LEGISLAO 139
17.O molde das tradies em xodo, Levtico e Nmeros 139
17.1.Distribuio das unidades das tradies
por fontes e gneros literrios 139
17.2.Redao complexa das tradies de Moiss 140
18.Aproximaes histrico-crticas s tradies de Moiss 148
18.1. O contexto egpcio 148
18.2. Moiss: influncias formativas e papis de liderana 150
18.3. Unidade de ao em xodo e peregrinao 153
19.Religio de Moiss e israelitas do xodo-deserto 155
19.1. Aliana 155
19.2. Estipulaes da aliana: "Leis" 159
19.2.a. Instrues e regulamentos sacerdotais 159
19.2.b. Coleo de leis socioeconmicas
e religiosas costumeiras159
19.2.c. Listas sucintas de proibies:
os Dez Mandamentos159
19.3. O nome divino162
19.4. Ritos e objetos cultuais163
20.Aproximaes literrias mais recentes s tradies de Moiss........ 166
20.1.Motivos-de-enredo de contos populares
e episdios tradicionais166
20.2. "Comdia" bblica167
20.3. Programas e isotopias de narrativa estrutural168
20.4. Avaliao concludente169
21.Horizontes scio-histricos das tradies de Moiss169
21.1. O grupo de Moiss como entidade pr-israelita170
21.2. Estratgias sociorreligiosas
que coligam o grupo de Moiss e o Israel posterior170
Captulo 6: TRADIES CONCERNENTES ELEVAO
DO ISRAEL INTERTRIBAL AO PODER EM CANA .............. 173
22.O molde das tradies em Josu e Juzes173
22.1. Contedos e gneros literrios173
22.1.a. Josu 1-12 176
22.1. b. Josu 13-24 176
22.1.C. Juzes 1,1-2,5 177
22.1.d. Juzes 2,6-3,6 177
22.1.e. Juzes 3,7-16,31 178
22.1.f. Juzes 17-21 179
22.2. Josu-Juzes e a Histria Deuteronomstica 180
22.3. Fontes pr-deuteronomsticas em Josu-Juzes 185
23.Aproximaes literrias mais recentes a Josu e Juzes 188
23.1.Novos estudos literrios
das tradies de Dbora e de Sanso 188
23.2.Estudos estruturalistas 190
24.Horizontes scio-histricos de Josu e Juzes 194
24.1.Hipteses a respeito da ascenso de Israel ao poder 194
24.1.a. O modelo da conquista 194
24.1.b. O modelo da imigrao 200
24.1.c. O modelo da revoluo social 202
24.2.Hipteses a respeito da organizao
social tribal de Israel205
24.2.a. O modelo nmade pastoril205
24.2.b. O modelo de liga religiosa (anfictionia)207
24.2.C O modelo sociorreligioso de retribalizao211
III PARTE
MONARQUIA: ESTABELECIMENTO CONTRA-REVOLUCIONRIO DE ISRAEL
Prlogo: SOBRE AS FONTES
PARA A HISTRIA MONRQUICA DE ISRAEL 217
25. Cronologia dos reinos divididos217
26. HD como fonte para a histria monrquica218
27. Arqueologia como fonte para a histria monrquica 222
28. Formas e estruturas de fala proftica223
Captulo 7: TRADIES A RESPEITO DO REINO UNIDO 227
29.O molde das tradies em 1 e 2 Samuel e 1 Reis 1-11227
29.1. Estatstica das fontes227
29.2. Estudos crticos literrios mais antigos229
29.3. Estudos crticos literrios mais recentes230
29.4. Implicaes de anlise literria
para o emprego histrico das fontes233
30.A ascenso e o triunfo da monarquia em Israel 234
30.1. Fatores externos e internos234
30.2. Saul234
30.3. Davi235
30.4. Salomo 235
30.5. Principais efeitos estruturais duradouros da monarquia236
31.Cultura literria, culto religioso e ideologia238
31.1. O Javista (J)238
31.2. Salmos e Sabedoria244
31.3. Tradies de Davi e Sio245
Captulo 8: TRADIES A RESPEITO DO REINO DO NORTE...247
32.O molde das tradies em 1 Reis 12 2 Reis 17
247
32.1. Estatstica das fontes247
32.2. Narrativas profticas247
32.3. Outras fontes: livros profticos e o Elosta248
33.Histria do reino do norte
e suas relaes com Jud (931-722 a.C.) 251
33.1. O cisma (931 a.C.)251
33.2. Dinastias de Jeroboo e de Baasa (931-884 a.C.)251
33.3. Dinastia de Amri (880-841 a.C.)251
33.4. Dinastia de Je (841-752 a.C.)252
33.5. Desmoronamento do reino do norte (752-722 a.C.)253
33.6. Modelos de desenvolvimento nos dois reinos253
34.Cultura literria, religio e crtica proftica255
34.1. O Elosta (E)255
34.2. Elias e Eliseu257
34.3. Ams 257
34.4. Osias 261
Captulo 9: TRADIES A RESPEITO DO REINO DO SUL264
35.O molde das tradies em 2 Reis 18-25264
35.1. Estatstica das fontes264
35.2. O espectro das fontes264
36.Histria do reino do sul (722-586 a.C.)266
36.1. Acaz e Ezequias (722-586 a.C.)266
36.2. Manasss (687/686-643/642 a.C.)267
36.3. Josias (641/640-609 a.C.)267
36.4. Joaquim, Joaquin e Sedecias (609-586 a.C.)268
36.5. O fim de esforos israelitas por independncia poltica268
37.Cultura literria, religio e crtica proftica270
37.1. Miquias270
37.2. Isaas de Jerusalm 271
37.3. Deuteronmio 278
37.4. Profetas da mudana internacional de poder 279
37.4.a. Naum 280
37.4.b. Sofonias 281
37.4.C. Habacuc 282
37.5. Jeremias 283
IV PARTE
GOVERNO PRPRIO SOB GRANDES IMPRIOS: RECUPERAO COLONIAL DE ISRAEL
Prlogo: SOBRE AS FONTES PARA A HISTRIA COLONIAL
DE ISRAEL NA DISPERSO E RESTAURAO 292
38. Demarcao do perodo histrico 292
39. Fontes bblicas e extrabblicas 292
40. Declnio da historiografia bblica tardia 294
41. Organizando a apresentao da literatura bblica tardia 295
Captulo 10: HORIZONTES SCIO-HISTRICOS
DO ISRAEL COLONIAL 299
42. De israelitas independentes a judeus colonizados 299
43. Resposta judaica ao domnio neobabilnico (586-539 a.C.) 301
43.1. A comunidade que continuava na Palestina 301
43.2. As comunidades na Disperso 302
44.Resposta judaica ao domnio persa (539-332 a.C.)304
44.1. Misso de Sasabassar em 538 a.C.305
44.2. Misso de Zorobabel e Josu em 520 a.C305
44.3. Misso de Neemias em 445-430 a.C306
44.4. Misso de Esdras em 458 a.C. ou mais tarde308
44.5. Desenvolvimentos entre judeus da Disperso310
45.Resposta judaica aos domnios macednico
e ptolemaico (332-198 a.C.)311
45.1. Impacto de Alexandre: o encontro do Helenismoe do judasmo... 311
45.2. Helenismo egpcio domina a Palestina312
46.Resposta judaica ao domnio selucida: os Macabeus314
46.1. Helenismo srio domina a Palestina314
46.2. Helenismo imposto e guerra civil314
46.3. O movimento de independncia religiosa
para independncia poltica315
47.Um estado judaico se levanta e cai: os Asmoneus (140-63 a.C.).... 316
47.1. Triunfo e helenizao do estado judaico316
47.2. Faces e partidos no estado e na sociedade asmoneus317
Captulo 11: TRADIES DO ISRAEL COLONIAL:
COMPLETANDO A LEI E OS PROFETAS322
48.Poltica hermenutica: a ao recproca de Lei e Profetas322
48.1. Tradies da Lei e da Profecia desenvolvem-se em dilogo...322
48.2. Um cnon de consenso
exalta a Lei moderada pela Profecia323
48.3.Um cnon ampliado incorpora a Profecia adaptada Lei.... 326
49.Completando a Lei: o escritor Sacerdotal (P)329
49.1. Vocabulrio, estilo e estrutura329
49.2. Tudo em seu lugar: um culto estvel em um Cosmos estvel...332
49.3. Antecedentes de P como a carta patente
do judasmo ps-exlico336
49.4. P como a estrutura para a Lei337
50.Completando os Profetas339
50.1. Ezequiel339
50.2. Isaas do Exlio (Dutero-Isaas)345
50.3. Profetas do templo reconstrudo351
50.3.a. Ageu352
50.3.b. Zacarias 1-8353
50.4. Profetas de restaurao conflitada353
50.4.a. Isaas 56-66 (Trito-Isaas)353
50.4. b. Malaquias356
50.4.C. Abdias e Joel356
Captulo 12: TRADIES DO ISRAEL COLONIAL: OS ESCRITOS...358
51.Obras histricas recentes: 1 e 2 Crnicas e Esdras-Neemias358
51.1. Relao entre 1 e 2 Crnicas e Esdras-Neemias358
51.2. Jerusalm restaurada
como verdadeira sucessora do reino de Davi361
51.3.Desordem redacional nos livros de Esdras e Neemias362
52.Cnticos364
52.1. O que poesia bblica?364
52.2. Salmos 366
52.2.a. Gneros literrios367
52.2.b. Ambientes de vida.371
52.2.c. Redao do livro372
52.2.d. Horizontes scio-histricos dos salmos374
52.3. Lamentaes 376
52.4. Cntico dos Cnticos 380
53.Historietas 384
53.1. A historieta bblica: um novo gnero literrio? 384
53.2. Rute 385
53.3. Jonas 388
53.4. Ester 391
54.Escritos sapienciais 392
54.1.O que sabedoria? 392
54.1.a. Gneros literrios e tendncia da mente393
54.1.b. Horizontes scio-histricos da sabedoria395
54.2. Provrbios 398
54.3. J.. 401
54.4. Eclesiastes 403
55.Escritos apocalpticos 405
55.1.O que apocalptico? 405
55.1.a. Gnero literrio e tendncia da mente 405
55.1.b. Horizontes scio-histricos da apocalptica 407
55.2.Daniel 410
CONCLUSO
A AO RECPROCA DE TEXTO,
CONCEITO E AMBIENTE NA BBLIA HEBRAICA 414
Bibliografia 423
A.Livros e artigos dispostos por divises do texto 423
B.Comentrios sobre os livros bblicos 459
MAPAS
O antigo Oriente Prximo
22
O Oriente Prximo em 2600 a.C
65
O Oriente Prximo em 2300 a.C
65
O Oriente Prximo em 2050 a.C
66
O Oriente Prximo em 1900 a.C
66
O Oriente Prximo em 1700 a.C
67
O Oriente Prximo em 1400 a.C
67
O Oriente Prximo em 1225 a.C
68
O Oriente Prximo em 1000 a.C
68
O Oriente Prximo em 800 a.C
69
O Oriente Prximo em 660-605 a.C
69
O Oriente Prximo em 580 a.C
70
O Oriente Prximo em 500 a.C
70
O Oriente Prximo em 334-323 a.C
71
O Oriente Prximo em 290 a.C 71
O Oriente Prximo em 168 a.C 72
O Oriente Prximo em 63 a.C 72
Geografia da Palestina bblica 108
Tribos de Israel antes da monarquia 109
Reino de Davi e de Salomo 215
Reinos divididos de Israel e de Jud 931-750 a.C 216
Jud depois da queda de Israel 722-640 a.C216
Jud como uma provncia do imprio persa 445-333 a.C290
Palestina macabia-asmonia 166-76 a.C291
TBUAS
1.Textos do antigo Oriente Prximo relacionados com
a Bblia Hebraica pelo tema, gnero literrio ou ligao histrica53
2. Perodos arqueolgicos na Palestina bblica
56
3. Escavaes mais importantes na Palestina bblica
59
4. Os livros cannicos
75
A.Cnon judaico da Tanak
75
B.Cnones catlico romano e protestante do Antigo Testamento..76
5. Livros dos Apcrifos protestantes ao Antigo Testamento
79
6. Livros judaicos entre os Pseudepgrafos do Antigo Testamento,
que datam de antes de 70 d.C 80
7. Documentos importantes entre os Manuscritos do Mar Morto 81
8. Gneros literrios, formas ou tipos na Bblia Hebraica 88
9. Tradues da Bblia Hebraica em lngua portuguesa 104
10.Unidades das tradies de Gn 11,27-50 distribudas por fontes 119
A.Tradies do Javista (J) 119
B.Tradies do Elosta (E) 121
C.Tradies Sacerdotais (P) 122
11.Unidades das tradies de xodo, Levtico e Nmerosdistribudas por fontes 141
A.Tradies do Javista (J) 141
B.Tradies do Elosta (E) 142
C.Tradies da teofania do Sinai/Horeb da aliana e da lei:Materiais compostos de JE e de fontes especiais 143
D.Tradies sacerdotais (P) 143
12. Elementos estruturais da forma de pacto de suserania158
13. Proibies do Declogo tico161
14. Principais divises de Josu-Juzes174
15. Textos programticos em HD: Deuteronmio 1 Samuel181
16. Prova arqueolgica sobre destruio de cidades no Cana
do Bronze Recente/Ferro I196
17.Prova arqueolgica sobre novos estabelecimentos no Cana
do Bronze Recente/Ferro I197
18.Comparao da anfictionia grega e da confederao israelita210
19. Textos programticos em HD: Samuel Reis 220
20. Distribuio de versculos de HD para reis da monarquia
unida em 1 e 2 Samuel e 1 Reis 1-11 228
21. Tradies Javistas (J) em Gnesis 2-11 239
22. Distribuio de versculos de HD para reis de Israel
e de Jud em 1 Reis 12 2 Reis 17 249
23.Distribuio de versculos de HD para reis de Jud
em 2 Reis 18-25 265
24. Literatura bblica tardia que completou a Lei e os Profetas 297
25. Literatura bblica tardia que eventualmente formou os Escritos.... 298
26. Tradies sacerdotais (P) em Gnesis 1-11331
27. Divises e fontes em Crnicas e Esdras-Neemias360
28. Gneros na literatura sapiencial394
29. Apocalipses judaicos, 250 a.C. 150 d.C.,
segundo critrios literrios 408
GRFICOS
1. Regimes polticos do antigo Oriente Prximo, 3000-63 a.C 64
2. A relao da Bblia Hebraica com outras literaturas antigas 75
3. Desde as pequenas unidades orais/literrias
at as grandes composies e colees 92
4.Frmulas de "Fiat", de "Realizao"
e de "Trabalho" em Gnesis 1
334
5. Incluses literrias no plano do templo de Ezequiel 40-43343
6. Arranjo quistico de Isaas 56-66
com intensificao terminal de contedo da "mensagem"355
7. Refros e repeties no Cntico dos Cnticos382
8. Estrutura no Livro de Rute386
9. Estrutura no Livro de Jonas390
10. Ambientes institucionais de sabedoria israelita397
11. Domnios organizacionais sociopolticos no Israel bblico417
12. Setores socioliterrio-teolgicos dentro da estrutura
de domnios organizacionais sociopolticos418
Abreviaturas
AASOR
Annual of the American Schools of Oriental Research
AB
The Anchor Bible
AbrN
Abr Nahrain
AJSL
American Journal of Semitic Languages and Literatures
AKENorman K. Gottwald. All the Kingdoms of the Earth: Israelite Prophecy and International Relations in the Ancient Near East. New York: Harper & Row, 1964.
ALIYohanan Aharoni. The Archaeology of the Land of Israel from the Beginnings to the End of the First Temple Period, ed. Miriam Aharoni. Trans. A. F. Rainey. Philadelphia: Westminster Press. 1982.
AMB
The Amplified Bible
AnBib
Analecta Bblica
ANETJames B. Pritchard, ed. Ancient Near Eastern Texts Relating to the Old Testament. 3d ed. Princeton, N.J.: Princeton University Press, 1969.
APOTR. H. Charles, ed. The Apocrypha and Pseudepigrapha of the Old Testament in English. 2 vols. Oxford: At the Clarendon Press, 1913.
ASTI
Annual of the Swedish Theological Institute
ASV
American Standard Version
ATANT
Abhandlungen zur Theologie des Alten und Neuen Testaments
AV
Authorized Version (= King James Version)
BA
Biblical Archaeologist
BAR
Biblical Archaeologist Reader
BARev
Biblical Archaeology Review
BASOR
Bulletin of the American Schools of Oriental Research
BHK
Bblica Hebraica, ed. R. Kittel.
BHS
Bblica Hebraica Stuttgartensia, ed. K. Ellinger and W. Rudolph.
Bib
Bblica
BJ
Bblia de Jerusalm
BLNorman K. Gottwald, ed. The Bible and Liberation: Poltical and Social Hermeneutics. Rev. ed. Maryknoll, N.Y.: Orbis Books, 1983.
BSac
Bibliotheca Sacra
BTB
Biblical Theology Bulletin
BZAW
Beihefte zur ZAW
CBQ
Catholic Biblical Quarterly
CBQMS
CBQ Monograph Series
CMHE
Cambridge: Harvard University Press, 1973.
CNEB
Cambridge Commentary on the New English Bible
ConBOT
Coniectanea Bblica, Old Testament Series
CQR
Church Quarterly Review
CTM
Concordia Theological Monthly
CurTM
Currents in Theology and Mission
DDeuteronmio, o escritor(es) deuteronmico(s), ou o Deuteronomista
DAPaul D. Hanson. The Dawn of Apocalyptic: The Historical and Sociological Roots of Jewish Apocalyptic Eschatology. 2d ed. Philadelphia; Fortress Press, 1979.
EO Elosta
EHIRoland de Vaux. The Early History of Israel. Philadelphia: Westminster Press, 1978.
EJEncyclopaedia Judaica
EOTHR Albrecht Alt. Essays on Old Testament History and Religion. Garden
City, N.Y.: Doubleday & Co., 1968..ET
Expository Times
ExB
The Expositor's Bible
FOTL
Rolf Knierim and Gene M. Tucker, eds. The Forms of the Old Testament Literature. Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans, 1981:
G
O fundo comum de tradies tribais unidas de que se utilizaram J e
E (do alemo Grundlage, "fundamento")GBS
Guides to Biblical Scholarship
HC
A Histria do Cronista
HD
A Histria Deuteronomstica (Josu a Reis) ou o Historiador(es) Deuteronomstico(s)
HeyJ
Heythrop Journal
HI
John Bright. Histria de Israel. Edies Paulinas, So Paulo, 1985.
HIOTT
Siegfried Herrmann. A History of Israel in Old Testament Times. Rev.
ed. Philadelphia: Fortress Press, 1981.
HIR
Georg Fohrer. History of lsraelite Religion. Nashville: Abingdon Press, 1972.
HPT
Martin Noth. A History of Pentateuchal Traditions, with introduction by Bernhard W. Anderson. Englewood Cliffs, N.J.: Prentice-Hall,1972.
HSM
Harvard Semitic Monographs
HSS
Harvard Semitic Studies
HTR
Harvard Theological Review
HTS
Harvard Theological Studies
HUCA
Hebrew Union College Annual
IAT
Georg Fohrer. Introduo ao Antigo Testamento. Edies Paulinas, So Paulo, 1983.
IB
The Interpreter's Bible
ICC
The International Critical Commentary
IDB
The Interpreters Dictionary of the Bible
IDBSup
IDB Supplementary Volume
IEJ
Israel Exploration Journal
IJH
John H. Hayes and J. Maxwell Miller, eds. Israelite and Judaean History. Philadelphia: Westminster Press, 1977.
Int
Interpretation
IOTS
Brevard S. Childs. Introduction to the Old Testament as Scripture. Philadelphia: Fortress Press, 1979.
IR
Helmer Ringgren, Israelite Religion. Philadelphia; Fortress Press, 1966.
ITC
International Theological Commentary
J
O Javista
JAAR
Journal of the American Academy of Religion
JAAKSup
JAAR Supplement
JANES
Journal of the Ancient Near Eastern Society of Columbia University
JAOS
Journal of the American Oriental Society
JBCThe Jerome Biblical Commentary, ed. R. Brown et al. 2 vols. in 1. Englewood Cliffs, N. J.: Prentice-Hall, 1968.
JBL
Journal of Biblical Literature
JBLMS
JBL Monograph Series
JCS
Journal of Cuneiform Studies
JETS
Journal of the Evangelical Theological Society
JJS
Journal of Jewish Studies
JLBBMGeorge W. E. Nickelsburg. Jewish Literature Between the Bible and the Mishnah: A Historical and Literary Introduction. Philadelphia: Fortress Press, 1981.
JNES
Journal of Near Eastern Studies
JNSL
Journal of Northwest Semitic Languages
JQR
Jewish Quarterly Review
JR
Journal of Religion
JSOT
Journal for the Study of the Old Testament
JSOTSup
JSOT Supplement Series
JSS
Journal of Semitic Studies
JTS
Journal of Theological Studies
KJV
King James Version (= Authorized Version)
LBYohanan Aharoni. The Land of the Bible. A Historical Geography, ed. Anson F. Rainey. Rev. ed. Philadelphia: Westminster Press. 1979.
LBP
The Living Bible Paraphrased
LTQ
Lexington Theological Quarterly
LXX
Septuaginta
MBA
Yohanan Aharoni and Michael Avi-Yonah. The Macmillan Bible Atlas Rev. ed. New York: Macmillan Co., 1977.
MLB
The Modern Language Bible
NAB
The New American Bible
NASB
The New American Standard Bible
NCBC
The New Century Bible Commentary
NEB
The New English Bible
NERT
Walter Beyerlin, ed. Near Eastern Religious Texts Relating to the Old Testament. Philadelphia: Westminster Press, 1978.
NICOT
The New International Commentary on the Old Testament
NIV
The New International Version
NJPS
The New Jewish Version
NKJV
The New King James Version
OBT
Overtures to Biblical Theology
OTFCJohn H. Hayes, ed. Old Testament Form Criticism. San Antonio: Trinity University Press, 1974.
OTLOld Testament Library
OTMSHarold H. Rowley, ed. The Old Testament and Modern Study: A Generation of Discovery and Research. Oxford: At the Clarendon
Press, 1951.
OTP
James H. Charlesworth, ed. The Old Testament Pseudepigrapha, Vol. 1: Apocalyptic Literature and Testaments. Garden City, N.Y.: Doubleday & Co., 1983.
OTS
Oudtestamentische Studin
OTT
Gerhard von Rad. Old Testament Theology. 2 vols. New York: Harper & Row, 1962, 1965.
P
Escrito sacerdotal ou escritor(es) sacerdotal(ais)
PEQ
Palestine Exploration Quarterly
PTMS
Pittsburgh Theological Monograph Series
RAI
Theodorus C. Vriezen. The Religion of Ancient Israel. Philadelphia: Westminster Press, 1963.
RB
Revue Biblique
RevQ
Revue de Qumran
RSV
Revised Standard Version
RV
Revised Version
SAIW
James L. Crenshaw, ed. Studies in Ancient Israelite Wisdom. New York: Ktav Publishing, 1976.
SBA
Studies in Biblical Archaeology
SBLDS
Society of Biblical Literature Dissertation Series
SBLMS
Society of Biblical Literature Monograph Series
SBLSP
Society of Biblical Literature Seminar Papers
SBT
Studies in Biblical Theology
SC 1
Carl D. Evans, William W. Hallo, and John B. White, eds. Scripture in Context: Essays on the Comparative Method. PTMS 34. Pittsburgh: Pickwick Press, 1980.
SC 2
William W Hallo, James C. Moyer, and Leo G. Purdue, eds. Scripture in Context II. More Essays in Comparative Method. Winona Lake, Ind.: Eisenbrauns, 1983.
SEA
Svensk exegetisk arsbok
SHANE
Studies in the History of the Ancient Near East
SJT
Scottish Journal of Theology
ST
Studia theologica
StudBT
Studia Bblica et Theologica
SWBAS
The Social World of Biblical Antiquity Series
TD
Theology Digest
TDH
Martin Noth. The Deuteronomistic History. JSOTSup 15. Sheffield: JSOT Press, 1981.
TEV
Today's English Version (Good News Bible)
THI
Martin Noth. The History of Israel. Rev. ed. New York: Harper & Brothers, 1960.
TI
George W. Anderson, ed. Tradition and Interpretation: Essays by Members of the Society for Old Testament Study. Oxford: At the Clarendon Press, 1979.
TI
Norman K. Gottwald. As Tribos de Iahweh: Uma Sociologia da Religio de Israel liberto 1250-1050 a.C. Edies Paulinas, So Paulo, 1986.
TM
Texto massortico da Bblia Hebraica
TOT
Otto Eissfeldt. The Old Testament: An Introduction. New York: Harper & Row, 1965.
TZ
Theologische Zeitschrift
VE
Vox Evangelica
VT
Vetus Testamentum
VTSup
VT Supplements
WC
Westminster Commentaries
WHJP
Benjamin Mazar, ed. World History of the Jewish People: First Series: Ancient Times. Jerusalm: Jewish Historical Publications, 1970
YBFT
Peter F. Ellis. The Yahwist. The Bible's First Theologian. Notre Dame, Ind.: Fides Press, 1968.
ZAW
Zeitschrift fr die alttestamentliche Wissenschaft
Nota: Para siglas de manuscritos do mar Morto, veja tbua 7.
Prefcio
O estudo da Bblia Hebraica est em agitao e sofrendo rpida mudana. Este livro tenta orientar o leitor para uma compreenso crtica da Bblia Hebraica e para o estado atual dos estudos bblicos como prtica intelectual e sociocultural. Ele sublinha o alcance expansivo de escolhas em mtodos de estudo bblico agora disponveis, alcance bem mais amplo do que em qualquer tempo na longa histria da interpretao bblica.
Minha aproximao intenta manter-se em continuidade deliberada com a erudio histrico-crtica mais antiga, contudo ela se ocupa com a profunda mudana e enriquecimento de estudos bblicos introduzidos pelos novos enfoques que adquiriram fora e impulso apenas nas duas ltimas dcadas. Com "Uma Introduo Socioliterria", pretendo identificar aquelas aproximaes literrias e sociais cientficas Bblia Hebraica as quais, em interao com mtodos crticos mais antigos, revelam-se decisivas para as direes mutveis dos estudos bblicos.
Dentro da crtica literria mais recente levo em considerao suas diversas formas, a saber, a Bblia como literatura, crtica retrica e estilstica e anlise estrutural. Dentro da crtica social cientfica dou ateno queles aspectos do mtodo antropolgico e sociolgico e da teoria que se tornaram os mais cruciais para os estudos bblicos, e tambm aponto o seu rendimento atual numa compreenso ampliativa da organizao social bblica e da histria social. Crtica das redaes e diversos tipos de crtica cannica, que no esto claramente na categoria de importantes paradigmas literrios novos ou das cincias sociais, mostram-se tambm serem importantes contribuintes para a atual excitao multifactica dos estudos bblicos.
Este volume segue amplamente o padro histrico do meu anterior A Light to the Nations. An Introduction to the Old Testament (New York: Harper & Row, 1959). Difere dessa obra, entretanto, no s nas extensas mudanas trazidas pelas perspectivas literrias e das cincias sociais, mas tambm na sua maior concentrao sobre os perodos exlico e ps-exlico. Descaso da era bblica posterior pode ser considerado como tendncia peculiarmente crist, at especificamente protestante, refletida da maneira no crtica na obra de numerosos estudiosos biblistas no-judeus. O carter progressivamente ecumnico da erudio bblica ajudou a corrigir os pontos cegos de qualquer tradio nica e assim a afiar as ferramentas que ns podemos agora aplicar colegialmente a estes textos.
Esta Introduo organizada em quatro partes. A I parte apresenta conhecimento contextual para focalizar a Bblia Hebraica: a histria da sua interpretao, o mundo bblico e a histria literria da Bblia Hebraica. As II-IV partes apresentam a literatura bblica em seqncia de acordo com os seus cenrios scio-histricos. Um prefcio a cada uma das trs ltimas partes discute as fontes de nosso conhecimento para cada perodo, medida que ele examinado.
Um problema de organizao surge ao apresentar escritos bblicos em seqncia histrica aproximada, como nas II-IV partes: onde se deveriam colocar livros ou fontes bblicos que possuem longa histria das tradies e refletem crescimento em etapas durante sculos? Ao tratar de escritos bblicos compostos ou lentamente desenvolvidos, dois princpios flexveis de trabalho seguem-se neste volume: (1) quando h amplo acordo a respeito de pontos de apoio scio-histricos de um escrito, a obra discutida todas as vezes que for necessrio em cada etapa relevante, como, por exemplo, com o escritor Sacerdotal (15,1. 17,1-2; 19.2.a; 19.4; 48; 49) e o Livro de Isaas (37.2; 50.2; 50.4.a); (2) quando, por outro lado, os cenrios scio-histricos de um escrito so vagos ou altamente controvertidos, ele apresentado somente no seu ponto histrico fixado com a mxima segurana. Assim, os livros compostos de Ams e Miquias, embora contendo material muito mais recente, so discutidos apenas uma vez e nos seus contextos do sculo VIII (34.3; 37.1), e Daniel, embora conservando tradies mais antigas, tratado unicamente no seu ambiente do sculo II (55.2).
Conforme a oportunidade, os captulos so introduzidos por listas de leituras relevantes no texto bblico e so ajustados coleo de mapas histricos e textualmente orientados, publicada in Yohanan Aharoni e Michael Avi-Yonah, The Macmillan Bible Atlas. O prprio texto subdividido em sees numeradas que contm numerosas referncias recprocas. Mapas do antigo Oriente Prximo e da Palestina bblica, em perodos histricos diferentes, foram fornecidos como abridores de partes e como anexos seo sobre a histria poltica, cultural e social do antigo Oriente Prximo (9).
So fornecidas numerosas tbuas e grficos a fim de realar a compreenso de leitores visualmente orientados. Entre estes est uma tbua de textos do antigo Oriente Prximo (tbua 1) provida de chave explicativa segundo James B. Pritchard (org.), Ancient Near Eastern Texts Relating to the Old Testament, e segundo Walter Beyerlin (org.), Near Eastern Religious Texts Relating to the Old Testament. Faz-se referncia, no corpo deste livro, aos nmeros tabulares dos textos do Oriente Prximo. Pginas especficas em Pritchard ou Beyerlin so citadas no corpo do texto somente quando a referncia se limita a pginas dentro da paginao mais ampla fornecida na tbua. Da mesma maneira, citada uma tbua de gneros literrios, formas ou tipos na Bblia Hebraica (tbua 8), conforme os nmeros tabulares em diversos pontos na anlise literria.
Fornece-se uma bibliografia de trabalho, que consta de duas partes: (1) livros e artigos dispostos de acordo com as sees do texto; e (2) comentrios dispostos de acordo com os livros bblicos.
A cronologia adotada para a monarquia davdica a de Edwin R. Thiele, The Mysterious Numbers of the Hebrew Kings, 3 ed. (Grand Rapids: Zondervan, 1983). Escolhi este esquema no porque seja irrepreensvel, mas porque, me parece, levando tudo em conta, ser a soluo mais satisfatria dos problemas cronolgicos at agora propostos.
Em proveito daqueles que no sabem a lngua hebraica, transliterei os termos hebraicos aproximadamente conforme so pronunciados, ainda que isso acarrete algumas incongruncias de acordo com os sistemas usuais de transliterao.
Dentro da ampla rede de minha gratido, escolho a curiosidade e imaginao dos meus alunos os quais, durante trs dcadas, me tm ajudado a aprofundar e esclarecer minha compreenso da Bblia Hebraica, como tambm a comunicar essa compreenso de forma concreta e atraente. Em nvel mais tcnico, colegas ntimos em diversos grupos de trabalho da Academia Americana de Religio e da Sociedade de Literatura Bblica proporcionaram apoio e desafio oportunos.
Norman K. Gottwald
I Parte
O texto nos seus contextos
1.
ngulos de viso sobre a Bblia Hebraica
A Bblia Hebraica, conhecida dos judeus como a Tanak e dos cristos como o Antigo Testamento, atrai e prende os leitores por muitos motivos. Dentre suas numerosas formas literrias esto narrativas vividas compactas e poemas animados repletos de imagens que cativam prontamente o olhar e o ouvido. A linha das narrativas relata uma histria poltica carregada de conflitos, entretecida com mais de mil anos de histria do antigo Oriente Prximo. Suas leis, narrativas, listas, discursos profticos e ditos da sabedoria mencionam uma multido de instituies e prticas sociais que se modificam no decorrer dos sculos. Apresenta as palavras e os feitos de figuras tais como Moiss, Davi e Jeremias, os quais, freqentemente, so considerados como exemplos de f religiosa ou de liderana comunal. rica em expresses fortes da crena israelita/judaica no Deus cujo nome especial era Iahweh, conduzindo a amplo espectro de conceitos e prticas religiosas e ticas ligadas experincia social e poltica do povo. Finalmente, porque a Bblia Hebraica escritura sagrada para judeus e cristos at o dia de hoje, e obteve lugar significativo na civilizao ocidental, ela acena ao leitor a fim de que entenda e considere suas noes de divindade e de humanidade, de processo histrico e de ordem social, como tambm de tica e de vida boa.
1. Riqueza de mtodos nos estudos bblicos
Qualquer dos pontos mencionados de compromisso com a Bblia Hebraica e formulei apenas os mais salientes constitui ponto de partida apropriado para tratar do texto, e, necessariamente, leva consigo mtodos precisos de anlise e interpretao. Nos sculos anteriores, quando a Bblia era usada quase exclusivamente para proporcionar sustentculo s comunidades religiosas judaicas e crists, existiam limites determinados sobre os mtodos pelos quais era estudado o texto. Nos sculos recentes, devido Renascena, Reforma, ao Iluminismo, a mudanas sociais importantes e constante expanso do mtodo cientfico sobre a maioria das reas da experincia humana, a Bblia libertou-se da aproximao religiosa exclusivamente doutrinai (confessional) e centralizada na igreja (eclesistica). Ela tornou-se agora acessvel em mtodos cientficos s muitas possibilidades de pesquisa que as diversas cincias abriram.
"Cientfico" significado aqui no sentido amplo de um mtodo sistemtico de estudo necessrio para a anlise e explicao inteligveis de qualquer assunto. Cincia, no tocante aos estudos bblicos, inclui no s cincias naturais, sociais e psicolgicas, mas tambm esforos por maior preciso nas humanidades, como no estudo da lngua, da literatura e da histria, como tambm no exerccio da filosofia como uma espcie de reflexo englobante sobre mtodos cientficos e resultados, conforme se relacionam com outras espcies de conhecimento.
tpico do estudo atual da Bblia Hebraica o fato de que mais e mais mtodos usados nas cincias humanas, especialmente requintes nas humanidades e nas cincias sociais, foram utilizados a fim de entender estes antigos escritos. At duas dcadas passadas, houve consenso entre os estudiosos a respeito de utilizar nmero razoavelmente limitado de mtodos crticos para o estudo da Bblia, mas hoje, o espectro de mtodos empregados nos estudos bblicos ampliou-se dramaticamente. Alm disso, cada um destes mtodos suficientemente autnomo e fundamental nas suas pressuposies e mtodos de trabalho, no sentido de que mtodos tomados em conjunto no sugerem qualquer quadro ou modelo (paradigma) nico bvio da natureza e do significado da Bblia. De que modo estes diferentes mtodos de pesquisa bblica devem ser relacionados lgica e processivamente, tornou-se importante desafio intelectual que exigir moldura completa de referncia no prontamente mo. Atualmente, no h provavelmente nenhum estudioso bblico que domine compreenso profunda de todos os mtodos agora operantes nos estudos bblicos.
desejvel que o estudioso srio da Bblia Hebraica tenha algum senti do das principais fases no desenvolvimento de mtodos nos estudos bblicos. Estas etapas podem ser descritas na ordem cronolgica, porque alguns mtodos surgiram mais cedo do que outros e em diversas combinaes mantiveram predominncia at que outros mtodos se juntaram ou os substituram. A histria do mtodo nos estudos bblicos adquiriu complexidade no decorrer dos sculos, no s por causa de pormenores acumulados de nomes e teorias cientficos, mas tambm porque mtodos do estudo bblico, assim que so desenvolvidos, no desaparecem normalmente aos poucos como espcies extintas. s vezes, continuam desafiantemente entre intrpretes que rejeitam mtodos mais recentes. Ou, um mtodo antigo, com alterao maior ou menor, perdura dentro do novo tipo ampliado de estudo.
Existe ampla aceitao hoje no sentido de que todos os mtodos j empregados no estudo bblico possuem alguma base razovel para o seu uso, de forma que o assunto raras vezes considerado agora como questo de concordar sobre que um s mtodo deveria substituir os outros, mas, antes, o problema de como diversos mtodos legtimos, de acordo com as finalidades em vista, deveriam juntar-se a fim de produzir compreenso global da Bblia Hebraica nos seus aspectos mais fundamentais. Por exemplo, o interesse literrio inicial dos estudiosos bblicos era identificar as fontes utilizadas pelos autores. No decorrer dos ltimos sessenta anos, o estudo literrio expandiu-se a fim de incluir tradio oral, formas (gneros) tpicas e os ambientes na vida onde eles eram empregados, a edio crtica ou redao de um livro, e o lugar de cada um dos livros dentro da coleo completa de livros (cnon). Geralmente, aqueles que praticam os mtodos literrios mais novos no negam que fontes fossem utilizadas freqentemente pelos autores bblicos, nem tampouco insistem necessariamente em que intil pesquisar essas fontes. A agenda ampliada dos crticos literrios bblicos lembra, antes, que a determinao das fontes constitui-se apenas num problema entre vrios problemas vlidos a respeito de um livro bblico e no no problema de importncia exaustiva que outrora se julgava ser. Em resumo, a apario de tantos mtodos de estudo bblico para diversas finalidades propendeu a relativizar e a qualificar o status de cada mtodo.
fcil ser impaciente com discusses do mtodo. Queremos chegar at o "contedo" e o "significado" da Bblia, muitas vezes esquecidos do fato de que no temos acesso ao contedo e ao significado da Bblia parte de algum mtodo de estudo. Todos os intrpretes chegam-se ao texto com suposies, disposies e instrumentos de anlise que os levam a escolher aspectos do texto e a dispor, enfatizar e interpretar esses aspectos em modelos significativos. Somente com conscincia de mtodo, enquanto aplicado realmente ao texto, teremos condies de ver concretamente por que os intrpretes bblicos tm discordado em suas concluses e de oferecer relato seguro da base e justificao para nossos prprios mtodos.
2. A aproximao religiosa confessional Bblia Hebraica
A primeira etapa no estudo da Bblia Hebraica foi basicamente religiosa em sentido confessional. Judeus e cristos estudaram a Bblia a fim de proporcionar compreenso e forma prtica de suas religies. Em ambas as comunidades, at os dois ltimos sculos, existiu consenso slido a respeito do papel religioso da Bblia. Acreditava-se ser o documento fundamental divinamente revelado da sua f. Desde o encerramento do sculo I cristo at o Iluminismo nos sculos XVIII e XIX, o judasmo rabnico ortodoxo interpretava a Tanak atravs das normas da Lei Oral ou Talmud, e esta viso "normalizada" da Bblia prevaleceu entre os judeus sem desafio srio (10.2.c). Desde final do sculo II cristo at a Reforma protestante no sculo XVI, o cristianismo catlico ortodoxo adotou uma interpretao semelhante normalizada do Antigo Testamento, enquanto considerada pelo Novo Testamento e o dogma da Igreja. O protestantismo, nas suas diversas ramificaes, cedo caiu na interpretao dogmtica da Bblia. Divergncias a partir de leituras religiosas normativas da Bblia Hebraica eram ameaa que poderia ser tolerada, como no caso dos msticos, ou mais freqentemente teve de ser banida, como no caso das seitas herticas. Em nosso contexto, a importncia da Reforma protestante foi que agora existiam dois modos importantes cristos catlico e protestante de confessar o significado religioso da Escritura, como tambm vrias formas diferentes de interpretao protestante.
No como se uma compreenso religiosa confessional da Bblia Hebraica tenha cessado em nosso tempo. , antes, que surgiram interpretaes religiosas judaicas e crists mltiplas, e no meramente ao longo de linhas sectrias dentro de cada religio, mas tambm ao longo de um espectro a partir de interpretaes mais literais para mais simblicas e a partir de interpretaes mais conservadoras para mais liberais ou radicais.
Alm do mais, h agora formulaes prsperas de compreenso da Bblia Hebraica, que so "de livre-pensamento" humanistas e seculares na orientao. Estas aproximaes admitem o contedo religioso da Bblia, mas interpretam as suas alegaes e significados da verdade, de maneira contrria aos corpos principais de judeus e cristos. Esta crescente variedade de opes alternativas para entender a Bblia, tanto dentro como tambm alm do controle de corpos religiosos, efeito das foras sociais e intelectuais amplas e penetrantes que se acumularam na sociedade ocidental no decorrer dos ltimos poucos quinhentos anos.
No conjunto, impe-se a pergunta: Por que se d o fenmeno de as pessoas terem tais compreenses diferentes, at contraditrias, do significado e do valor religiosos da Bblia? Naturalmente, as pessoas variam muito em relao extenso a que ficaram expostas a esta variedade de opinies a respeito da Bblia. Embora as interpretaes confessionais tradicionais no mais sejam incontestadas, elas ainda so poderosamente defendidas em numerosos crculos judaicos e cristos. fato comum para a fiel sinagoga e para os membros das igrejas, ficarem surpreendidos e chocados quando, pela primeira vez, encontram seriamente outros modos de contemplar a Bblia. A Bblia tem sido incorporada subjetivamente como parte fundamental da instruo religiosa deles, de modo que quando sua desanuviada compreenso "ingnua" da Bblia enfrenta mtodos cientficos de estudo bblico, ela muitas vezes se torna experincia de distenso da mente, de questionamento de valores e de pesquisa interior.
3. A aproximao histrico-crtica Bblia Hebraica
A segunda fase importante no estudo da Bblia Hebraica foi a adoo do mtodo histrico-crtico. Em lugar de tomar a autoria declarada e os contedos dos documentos no valor aparente, este mtodo procura estabelecer as origens verdadeiras do texto e de avaliar a probabilidade de que os eventos por ele relatados aconteceram no modo descrito. Prova para esta pesquisa crtica deriva de dentro do documento e da comparao com outros documentos do mesmo perodo ou do mesmo tipo.
Na Renascena, o mtodo histrico-crtico foi aplicado a escritos gregos, romanos e outros presumivelmente antigos, incluindo documentos da Igreja. Este mtodo foi mais lento em penetrar nos recintos sagrados da Escritura; a Reforma protestante, entretanto, ao afirmar a superioridade histrica e teolgica da Bblia sobre a Igreja, indiretamente incentivava a aplicao do mtodo histrico-crtico secular ao texto bblico. Durante o Iluminismo do sculo XVIII este mtodo foi desencadeado sobre a Bblia em plena dimenso. Inicialmente concentrado na Alemanha, o estudo histrico-crtico da Bblia espalhou-se rapidamente por todo o mundo ocidental erudito.
Desde o incio, este modo cientfico de estudar a Bblia fez um lugar para si prprio dentro de numerosos setores das prprias comunidades religiosas judaicas e crists que haviam interpretado tradicionalmente a Bblia Hebraica exclusivamente de maneira religiosa confessional. O palco estava armado para conflito prolongado e para diversas espcies de adaptao, entre mtodos religiosos e cientficos de estudo bblico. Por enquanto, voltaremos nossa ateno ao modo como a Bblia se apresentou quando analisada e avaliada do ponto de vista do mtodo histrico-crtico.
3.1. A Bblia como criao humana
Na sua escolha do mtodo secular para estudar a Bblia Hebraica, os crticos histricos no negavam o carter religioso inato da Bblia, nem, na maioria dos casos, acreditavam que a Bblia perdesse o seu significado religioso quando estudada criticamente. A pressuposio bsica dos crticos histricos era que o aspecto religioso da vida, por mais "sobrenatural" que ele alegue ser nas suas verses judaicas e crists ortodoxas, semelhante a todos os outros aspectos da vida ao ser histrico e evolucionrio. Idias e prticas religiosas surgem, obtm predominncia, mudam, combinam-se, interagem reciprocamente, declinam e morrem aos poucos. Como com tudo o que humano, os fenmenos religiosos tm a sua histria.
Em particular, acreditavam os crticos histricos que o estudo cuidadoso da Bblia Hebraica, utilizando com preciso os mtodos aplicados no estudo de qualquer produto literrio, seria capaz de descobrir as origens verdadeiras e o desenvolvimento das idias e prticas religiosas israelitas/judaicas, as quais, durante muito tempo, tinham estado escondidas por trs da forma compilada da Bblia Hebraica interpretada como narrativa sobrenatural unificada. A verdade religiosa vlida ou "mensagem" da Bblia Hebraica s poderia ser trazida luz quando considerada como a religio de um povo particular numa poca e lugar particulares, enquanto expressos nestes escritos particulares. Mesmo que isso pudesse trazer inquietao para as opinies tradicionais da Bblia nos crculos religiosos, os crticos histricos consideravam como sua obrigao intelectual, at como seu dever religioso, informar a crentes e no-crentes do mesmo modo, a respeito da realidade Histrica das origens da Bblia Hebraica e da f israelita/judaica.
3.2. Crtica das fontes e crtica das formas
Os crticos histricos voltaram-se para o estudo da Bblia Hebraica co mo se voltariam para o estudo de Homero, Tucdides, Dante ou Shakespeare, descobrindo, conforme eles seguiam, as peculiaridades da literatura bblica. Em primeiro lugar, a Bblia mostrou ser uma coleo considervel de livros provindos de muitas mos junto com uma histria interna de desenvolvimento que precisava ser reconstruda a partir de pistas no texto e a partir de analogias com tipos semelhantes de literatura. Os autores de livros bblicos eram freqentemente annimos e a informao explcita para datar os livros era muitas vezes escassa.
Um aspecto limitado de crtica literria, conforme agora a entendemos, isto , crtica das fontes, foi usada para identificar fontes fragmentrias e ex tensivas dentro dos livros bblicos. Por exemplo, quatro fontes literrias foram reconhecidas como estendendo-se atravs de dois ou mais livros na primeira diviso da Bblia Hebraica (13), e ficou estabelecido que os livros profticos no s continham as palavras do profeta original mencionado, mas tambm numerosas adies e revises no decorrer do tempo (28). No incio do sculo XX, este projeto de crtica das fontes foi expandido pela assim denominada crtica das formas, que visava a isolar unidades menores caractersticas da tradio, que se considerava serem orais na sua origem e altamente convencionais na sua estrutura e linguagem (11.1b). Estas fontes menores ou maiores, fundidas ou enfiadas juntamente nos livros completados da Bblia, foram colocadas, medida do possvel, nos seus cenrios histricos ou tpicos respectivos.
Podemos ilustrar os critrios e resultados da crtica das fontes com referncia ao Pentateuco, assinalando a prova para substituir Moiss como o seu autor com uma teoria de quatro escritores mais recentes:
1. Referncias textuais para ou implicaes a respeito da autoria. Salvo quando ele fala, a referncia a Moiss feita na terceira pessoa. Apenas determinadas partes do texto afirma-se explicitamente terem sido escritas por Moiss (e. g., Ex 7,14; 24,4; 34,27-28; Nm 33,2). H forte implicao no sentido de que o autor no considera Moiss como o autor de livros extensivos, mas apenas o autor de alguns materiais encaixados em relatos mais amplos.
2. Lngua e estilo do texto. Variaes no vocabulrio, freqentemente quanto s mesmas pessoas, lugares e coisas, aparecem regularmente como "constantes literrias" em passagens que ostentam marcadamente estilos diferentes. Por exemplo, nos lugares onde empregado o nome Iahweh, o monte da aliana denominado Sinai, os habitantes originrios da Palestina so cananeus, e o sogro de Moiss chama-se Raguel ou Hobab. Ao tratarem os mesmos eventos, contudo, outras passagens empregam Elohim para divindade, o monte da aliana Horeb, o povo pr-israelita da Palestina so os amorreus, e o sogro de Moiss chamado Jetro. Uma vez que estas variaes no vocabulrio acham-se de maneira to regular unidas a diferenas no estilo, conceito e ponto de vista histrico, elas no podem ser adequadamente explicadas como termos sinnimos utilizados por um nico escritor a fim de atenuar a monotonia ou a fim de dar nfases diferentes.
3. Conceitos ticos e teolgicos no texto. Um espectro de vises aparece dentro do Pentateuco relativamente a imaginar a divindade, o afastamento ou a proximidade do divino, de que modo Iahweh/Elohim se comunica com os homens, e o que deles espera Iahweh/Elohim. Estas vises variantes esto intimamente correlacionadas com as constantes literrias. Por exemplo, as sees de "Iahweh-Sinai-cananeus-Raguel-Hobab" retratam vividamente um Deus intervindo ativamente, o qual aparece s pessoas e espera f e devoo infantis que havero de abenoar a todas as naes (a assim chamada fonte J; 13.1; 31.1), enquanto as sees de "Elohim-Horeb-amorreus-Jetro" mostram uma divindade mais reservada que se comunica pelos sonhos e vises, e acentua o perigo da apostasia por causa das naes estrangeiras e as exigncias extraordinrias de fidelidade religiosa (a assim chamada fonte E; 13.2; 34.1). Um terceiro agrupamento de constantes literrias, primordialmente no Deuteronmio, deriva o comportamento ritual e social de um prescrito livro de leis dado pela divindade, cujo "nome" habita com Israel no templo de Jerusalm sob os cuidados dos levitas (a assim chamada fonte D, ou ampliada HD; 13.3; 22.3; 26; 37.3). Contudo, uma quarta srie de constantes literrias consignada a um ritual mais elaborado executado por um sacerdcio da linha de Aaro e retrata uma divindade grandiosa, cuja "glria" habita com Israel desde que o povo adira fielmente ao ritual prprio e lei moral (a assim chamada fonte P; 13.4; 17.1-2; 19.2.a; 49).
4. Continuidades e descontinuidades no texto. As narrativas e leis de Gnesis-Deuteronmio no se lem com seqncia homognea, mas nos chocam pelas lacunas e contradies que no mostram o ponto de vista de uma nica mente compositora. Alguns assuntos ficam simplesmente sem serem explicados (Onde Caim obteve a sua esposa?). A linha da ao muitas vezes quebrada ou obscura (Quantas vezes Moiss sobe e desce o monte Sinai/ Horeb?). Por vezes, o mesmo relato oferece informao contraditria (Quanto tempo durou o dilvio?). De vez em quando, basicamente o mesmo incidente repetido como se acontecesse duas ou mais vezes (Fizeram, Abrao, duas vezes e Isaac, uma vez, "passar falsamente" suas esposas por suas irms?).
5. Ponto de vista histrico do texto. Pormenores de improviso no texto mostram o narrador estar falando a partir de poca posterior a Moiss (e. g., referncias aos filisteus, monarquia de Israel, aos camelos domesticados, a cidades batizadas com outro nome etc). De maneira mais significativa, as fontes identificadas como acima, fornecem sinais definidos de que elas foram escritas em momentos de condies e preocupaes sociopolticas e religiosas diferenciadas na experincia posterior de Israel: a fonte J sugere uma poca de independncia nacional vigorosa e autoconfiante; a fonte E fala de uma poca de conflito intercomunal e apostasia religiosa; a fonte D/HD surge numa poca de reforma social, poltica e religiosa nacional centralizada no templo de Jerusalm e trata de tornar compreensvel o malogro do esforo dessa reforma; e a fonte P pressupe a perda da independncia poltica como tambm a reelaborao e a reafirmao calculadas do ritual religioso e do controle sacerdotal a fim de proporcionar segurana comunal.
Alm disso, tornou-se evidente o fato de que a ordem em que os livros foram finalmente dispostos na Bblia Hebraica no foi a ordem em que os livros haviam sido escritos. Solues para este enigma cronolgico tornaram-se cada vez mais complicadas pelo fato de que livros bblicos isolados continham materiais de perodos de tempo diferentes. Tal aconteceu com o Livro de Isaas, no qual amplas partes dos caps. 1-39 esto orientadas para o sculo VI a.C. (Isaas do Exlio, eventualmente subdividido em Dutero-Isaas, caps. 40-55, e Trito-Isaas, caps. 56-66).
Uma disposio de blocos de materiais literrios da Bblia Hebraica em conformidade com a sua ordem aproximada de composio mostra seqncia muito diferente da que agora aparece na ordem tradicional dos livros (grfico 3). Mesmo o agrupamento tradicional de livros bblicos variou entre judeus, catlicos e protestantes. bvio que os compiladores finais da Bblia Hebraica tinham em mente critrios adicionais para agrupar os livros fora da data da composio. Por exemplo, o Livro do Gnesis, que se encontra no comeo da Bblia, no alcanou a sua forma atual at que os Livros de Deuteronmio a Reis haviam sido compostos durante os finais dos sculos VII e VI a.C, junto com pores importantes de livros profticos tais como Ams, Osias, Isaas, Miquias, Jeremias e Ezequiel. Por outro lado, embora Gnesis a Nmeros no tivesse atingido a sua forma atual at algum tempo durante o sculo V a.C, esses livros contm nmero considervel de narrativas, poemas e leis escritos, ao menos, j nos sculos X e IX a.C.
3.3. Autoria dos livros bblicos
A autoria dos escritos bblicos recebeu exame minucioso por parte dos crticos histricos. Argumentou-se, com base nas antigas prticas literrias e em termos da prova interna, que muitas das alegaes bblicas em relao autoria eram adjudicaes tradicionais que no devem ser tomadas estritamente em termos de autoria literria moderna. O mundo bblico estava surpreendentemente desprovido de orgulho pessoal e nada sabia de leis de direitos autorais. Quando a Tor ou Pentateuco atribuda a Moiss, os Salmos a Davi e os livros da Sabedoria a Salomo, deveramos provavelmente entender Moiss como o prottipo do legislador, Davi como o prottipo do salmista e Salomo como o prottipo do homem ajuizado ou sbio. Em tal compreenso, algumas ou todas as leis, salmos e ditos da sabedoria poderiam ser atribudos tradicionalmente a essas figuras enquanto mananciais verdadeiros da tradio. Isto naturalmente d margem pesquisa de se, de fato, leis particulares podem ser razoavelmente atribudas a Moiss, determinados salmos a Davi, ou alguns escritos da sabedoria a Salomo. A crtica histrica abre a possibilidade de que a autoria davdica dos salmos e a autoria salomnica da sabedoria possam ser entendidas da melhor maneira como patrocnio rgio dos salmos e da sabedoria no papel deles como reis responsveis pela cultura da corte, sem qualquer insistncia necessria em que eles eram os verdadeiros escritores.
Foi observado tambm pelos escritos histricos o fato de que, mesmo quando o ncleo de um livro bblico atribudo corretamente ao autor mencionado, como, por exemplo, Ams ou Isaas, numerosos acrscimos foram feitos por mos posteriores, alguns por discpulos do mestre, de segunda ou terceira gerao (pensa-se no problema de distinguir Scrates de Plato nos dilogos deste ltimo) e outros por editores literrios (redatores). A avaliao crtica da autoria bblica, primeiramente procurada pela crtica das fontes, mais tarde pela crtica das formas e pela crtica das tradies (da histria das tradies), e mais recentemente pela crtica das redaes (editorial) (5.2.a; 11,1; 13.5; 28) trocou a nfase, partindo de "autores" privadamente motivados e conscientes de si mesmos em sentido moderno para escritores em contexto comunal e, especialmente, para os processos criativos da formao das tradies na comunidade israelita/judaica.
A moldagem e remodelagem oral e escrita das tradies considera-se ser crisol no qual a literatura bblica foi refinada, abreviando, ampliando, combinando e elaborando unidades da tradio, freqentemente atravs de muitas etapas de desenvolvimento, at que a etapa final da Bblia Hebraica foi alcanada durante uma extenso da poca ps-exlica desde o sculo VI ao II a.C. Por vezes este processo de formao das tradies levou a falar de "autoria comunal", expresso que, um tanto enganosamente, sugere o fato de que muitos dos escritos bblicos tomavam como fontes preocupaes e movimentos comunais imediatos e se tornavam, se j no o foram desde o comeo, a propriedade comum de grupos que os apreciavam e os passavam de um para outro com acrscimos criativos e modificaes.
3.4. Histria e arqueologia bblicas
O processo de desenredar a estrutura literria da Bblia Hebraica e atribuir as suas partes a longa trajetria histrica acentuou a conexo ntima entre a Bblia como coleo literria e a histria do povo israelita/judaico desde o xodo aos tempos dos Macabeus, durante uns mil anos no todo. O prprio texto bblico relata parte ampla dessa histria, porm o faz de modo seletivo e desigual. Sabemos muito mais, por exemplo, a respeito do reino unido e de partes dos reinos divididos do que sabemos a respeito do perodo tribal anterior e de perodos exlicos e ps-exlicos posteriores. Alm disso, necessrio levar em conta a realidade de que muita coisa da histria bblica recebeu toro moralizadora e teologizadora, ou ela interpretada a partir da tendncia de ponto de vista posterior na histria.
Em conseqncia, os crticos histricos ampliaram a sua tarefa a fim de recuperarem tanta informao adicional quanto pudessem, no s a respeito da histria das comunidades bblicas como tambm a respeito da histria dos povos circundantes com os quais Israel se achava em freqente interao. Documentos esclarecedores historicamente, provindos dos vizinhos de Israel, embora raramente mencionando Israel, tm a vantagem de sobreviverem na forma em que foram primeiramente escritos, sem a espcie de expanso e reviso pelas quais passaram os materiais bblicos (8.1; tbua 1; 10.1). A recuperao arqueolgica do material como tambm a cultura intelectual, incluindo uma massa sempre crescente de inscries e de textos, ajudou muito na tarefa de reconstruo cultural e histrica (8.2).
Tornou-se possvel planejar os amplos contornos do crescimento das tradies literrias bblicas contra um cenrio histrico com eixos espaciais e temporais. O eixo temporal se estende desde a Idade do Bronze Mdio (cerca de 2100-1550 a.C), como o perodo mais comumente admitido para os antepassados bblicos Abrao, Isaac e Jac (patriarcas), at a idade macabaica na Palestina (167-63 a.C), a poca da composio de Daniel e de Ester, provavelmente os ltimos livros a serem escritos. O eixo espacial localiza a Palestina/Cana israelita no centro, com crculos geogrficos concntricos ou esferas que se estendem, primeiramente, Palestina no-israelita e Sria, depois, ao Egito e Mesopotmia (incluindo a Sumria, a Assria e Babilnia), e, finalmente, Anatlia (sia Menor), ao Iro (Mdia, Prsia), Arbia e s orlas martimas do Mediterrneo oriental incluindo a Grcia (17.1).
4. Interao entre aproximaes religiosa e histrico-crtica aos estudos bblicos
4.1. Coliso e ajuste de mtodos conflitantes
Foi notado anteriormente que o mtodo histrico-crtico de estudos bblicos penetrou logo nos crculos judaicos e cristos. Durante duzentos anos at agora, dois mtodos de estudo bblico funcionaram entre judeus e cristos: a Bblia tratada como a Palavra de Deus revelada e a Bblia tratada como o produto literrio humano de antiga comunidade sociopoltica e religiosa. Embora muito simplificado, pode-se afirmar que o mtodo histrico-crtico encontrou acolhida faclima entre o clero e os leigos instrudos como tambm nas universidades e faculdades teolgicas, e mais rapidamente entre protestantes e judeus do que entre catlicos. At o dia de hoje, contudo, h grandes massas de judeus e cristos ortodoxos que so ativamente hostis ao mtodo, e numerosos membros dentre o povo comum de grupos religiosos, supostamente acolhendo favoravelmente o mtodo, so escassamente informados a respeito dele. Relativamente poucas sinagogas e igrejas consideram como parte intrnseca de sua tarefa praticar o mtodo e nele instruir os seus membros.
Em qualquer instituio religiosa ou acadmica particular, a aproximao religiosa ou histrica Bblia, pode, na prtica, empurrar a outra para um lado, ou exclu-la de considerao por princpio. Teorias para justificar alguma combinao dos dois mtodos, quando, num deles ou em ambos, so feitas as ressalvas apropriadas, obtiveram algum xito, notavelmente entre judeus e protestantes liberais e cada vez mais entre os catlicos romanos no decorrer dos ltimos cinqenta anos. freqente, entre aqueles que desejam juntar mtodos religiosos e histrico-crticos, a afirmao de que idias religiosas centrais da Bblia e/ou a significao das sinagogas e igrejas que brotam do Israel bblico, no so anuladas pelo fato de a Bblia ser documento humano. Deus contemplado como tendo-se servido de processos humanos na histria de Israel a fim de revelar a verdade religiosa e preserv-la em documentos escritos que continuam a despertar a f em Deus, mesmo se eles no sejam declaraes de verdade literal.
Alguns crentes fazem as pazes com o mtodo histrico-crtico, aplicando-o a aspectos cuidadosamente limitados da Bblia. Eles podem, por exemplo, admitir a anlise literria crtica, uma vez que consideram irrelevante para a f se Moiss escreveu ou no a Tor, mas podem insistir em que dimenses teolgicas da Bblia, especialmente suas opinies sobre a criao, o pecado e a redeno, devem ser isentadas de crtica, visto serem elas absoluta e perpetuamente verdadeiras. Ou podem admitir o mtodo crtico na forma de crtica4 textual, a fim de estabelecer a aproximao mais prxima possvel do texto original hebraico. Ou podem abrir a viso fsica do mundo da Bblia crtica, a qual admitem ser pr-cientfica, enquanto insistindo em que, em todas as questes de histria e de religio, a Bblia sacrossanta.
Em conjunto, parece justo dizer que tanto judeus como cristos precisam ainda elaborar modos de correlacionar as aproximaes religiosas e histricas Bblia Hebraica, que possam se tornar parte intrnseca e convincente da vida cotidiana e do pensamento dos crentes. As implicaes humansticas relativizadoras do mtodo histrico-crtico colidem com a crena prtica num Deus imutvel, transcendente. Esta tenso no resolvida, irrompendo freqentemente em conflito aberto, fonte incomodativa de inquietao em numerosos organismos religiosos entre os que querem mapas do mundo mentais e espirituais autoritrios e seguros. Interpretao bblica literalstica, construindo erroneamente tanto a substncia como a nfase dos ensinamentos bblicos, por vezes acompanha o pensar socialmente reacionrio medida que as pessoas temem pela estabilidade do seu mundo social. Percebe-se uma espcie de reao de domin, estendendo-se a partir de dvida sobre a verdade da Bblia a dvida sobre a segurana da Igreja, a dvida sobre a segurana da ordem social e mesmo da prpria auto-identidade da pessoa. Crentes religiosos no-brancos e brancos pobres tm motivos compreensveis para serem suspeitosos do mtodo bblico histrico-crtico como uma verso intelectual da opresso socioeconmica e poltica que eles sofreram.
O clima de filosofia pblica e teoria social no Ocidente durante o perodo da apario do mtodo histrico-crtico no estimulou nova sntese do significado da Bblia Hebraica, que pudesse ir alm das interpretaes religiosas tradicionais, ou ao menos oferecer uma alternativa coerente para elas. Em geral, a religio experimentou declnio na sua habilidade para informar e guiar a conscincia e o comportamento pblicos das pessoas no mundo ocidental, e particularmente para desafiar dominao e opresso raciais, socioeconmicas e polticas desenfreadas. A filosofia, caracteristicamente, tratou a religio como persuaso privada a ser admirada e tolerada, ou como construo institucional ou influncia de sociedade a ser aplaudida, limitada ou abolida.
4.2. Tentativas por uma sntese: existencialismo e teologia bblica
Consideremos agora alguns dos esforos especificamente eclesisticos e teolgicos por sintetizar perspectivas religiosas e histricas sobre a Bblia. Entre as duas guerras mundiais, uma revivificao da teologia da Reforma protestante em forma moderna, conhecida como neo-ortodoxia defendida por Karl Barth forneceu um meio atraente de harmonizar os resultados do estudo bblico histrico-crtico junto com "alta" viso da revelao bblica. Esta sntese teolgica foi muito difundida na Europa e teve impacto importante nos Estados Unidos desde 1940 a 1960. Nos estudos bblicos, ela adotou a forma de movimento de "teologia bblica" que moldou a categoria da "histria" num ponto entre os resultados crticos da erudio bblica e uma noo de f bblica como "revelao na histria" ou "atos de Deus na histria".
Influncias um tanto semelhantes agiam entre os estudiosos bblicos catlicos romanos, estimulados pelas tendncias liberalizadoras do Concilio Vaticano II em 1965, os quais descobriram terreno comum ampliado com suas contrapartes protestantes e judaicas, a tal ponto que a partir do contedo de estudos particulares sobre a Bblia Hebraica torna-se agora muitas vezes impossvel saber se o estudioso protestante, catlico ou judeu. Esta caracterstica dos estudos bblicos recentes, uma espcie de comunidade transconfessional de erudio bblica, avanou para a frente em numerosos nveis de pesquisa.
Durante alguns anos, parecia que os mtodos religiosos e histrico-crticos nos estudos bblicos poderiam estar a caminho para uma sntese durvel, no entanto a unio esperada malogrou. A ponte de teologia bblica entre histria e teologia cedeu e ruiu medida que se tornava evidente que a Bblia Hebraica, quando considerada historicamente, contm diversas teologias e que, no fim, qualquer teologia ou filosofia para integrar a interpretao de toda a Bblia precisa ser assentada pelo intrprete moderno.
Entre os esquemas modernos mais influentes para ler fora do significado do texto bblico foram a filosofia existencialista de Jean-Paul Sartre e a filosofia fenomenolgica de Martin Heidegger. O crtico bblico Rudolpf Bultmann recorreu a estas molduras filosficas para interpretar o Novo Testamento, e perspectivas existencialistas foram do mesmo modo aplicadas Bblia Hebraica, se bem que raramente em forma to-rigorosa, por estudiosos tais como Gerhard von Rad. Em contraste com o movimento da teologia bblica que acentuava os significados religiosos de eventos histricos particulares (xodo, conquista, exlio, restaurao) como revelaes de Deus, a leitura existencialista da Bblia via as revelaes histricas da Bblia como modelos ou paradigmas da situao humana enfrentada com crise, a qual oferece possibilidade sempre emergente de novos comeos atravs da autocompreenso e da autorenovao. Von Rad tinha se apegado a um ncleo histrico necessrio nos "atos de Deus" recitados biblicamente, enquanto Bultmann insistia na realidade central da morte e ressurreio de Jesus, porm, este ncleo no estava ligado firmemente a eventos histricos provveis. Intrpretes bblicos existencialistas posteriores foram muitas vezes mais consistentes ao considerarem os eventos bblicos e sua interpretao como oportunidades valiosas, mas no indispensveis para autocompreenso e auto-renovao. Muitos dentre eles retiraram-se para anlises da linguagem altamente abstratas como um modo de comunicao significativa e de autodefinio que no se relacionavam proveitosamente com estudos bblicos e teolgicos.
4.3. Colapso de consenso em estudos bblicos
Em fins dos anos 1960, tanto "revelao na histria" como tambm "autocompreenso existencial" chegaram ao ponto de reduzirem retornos como recursos para estudos bblicos. Cada uma delas parecia estar forando procura de um centro de significado construdo artificialmente na Bblia, ou no intrprete, o que obstrua o caminho para exame genuno do molde do texto bblico. O impulso por "relacionar" Bblia e mundo moderno, por "apossar-se" da Bblia para os interesses do povo no dia de hoje desembocara em "harmonias" ou fuses da histria e da religio que se assemelhavam a pleito particular e serviam para restringir o alcance de interesse nas mltiplas facetas dos textos bblicos.
Formas mais recentes de pensamento religioso, tais como teologia do processo e teologia poltica, haviam feito apenas excurses experimentais nos materiais bblicos, mas no o suficiente para apresentar esquemas magistrais ou paradigmas com o poder convincente que a teologia bblica e a interpretao existencialista expressaram no seu dia. Na verdade, a estrutura conceituai bblica de teologia muito poltica, incluindo teologia da libertao provinda da Amrica Latina, parece no diferir muito do movimento de teologia bblica, embora ela interprete o contedo e as implicaes de "revoluo na histria", de maneira muito mais social e poltica.
Com o comeo dos anos 1970, o estudo da Bblia Hebraica viu-se penetrado pelo sentido de insatisfao e desnorteamento. Os modos teolgicos mais antigos de ortodoxia confessional e de liberalismo tinham-se revelado incapazes de sintetizar os significados religiosos e histricos da Bblia, e as excurses mais recentes dentro da teologia bblica e o existencialismo no haviam sido, no fim, mais satisfatrias. Alm disso, nenhuma outra corrente teolgica dispunha do necessrio poder explanatrio para substituir as formulaes inadequadas anteriores. Esta situao de envolvimento teolgico em retrocesso com a Bblia Hebraica, aps longo perodo de triunfalismo teolgico nos estudos bblicos, poderia ter fornecido a ocasio para que a disciplina, amplamente libertada da interferncia de esquemas teolgicos desacreditados, perseguisse seu objeto prprio atravs do estudo da Bblia em si mesma e por si mesma. De certo modo, foi isto o que ocorreu, mas no como se o objeto e os mtodos de estudo fossem perfeitamente claros.
Com o relativo afastamento da dominao teolgica dos estudos bblicos, veio luz plenamente a crise drstica de paradigmas que cercava as limitaes do mtodo histrico-crtico. A teologia j no pode ser citada como o nico obstculo para uma compreenso integral da Bblia Hebraica. Teologia parte, a Bblia Hebraica vista agora como uma espcie diferente de objeto para espcies diferentes de intrpretes. O que caracteriza o atual perodo nos estudos bblicos, e o torna difcil de representar de algum modo simples, a exploso de vrias metodologias, cada uma alegando entender uma caracterstica importante negligenciada ou rebaixada at a nica caracterstica essencial da estrutura e do significado da Bblia Hebraica. No est claro at que ponto estes mtodos mais recentes so mutuamente exclusivos ou potencialmente compatveis, ou possivelmente at complementares ou necessrios um para outro. Foi to rpida a expanso deste mtodo em estudos de pequena escala, que houve pouco tempo ou ocasio para reconsiderar as suas implicaes para os estudos bblicos como um todo.
5. Apario de novas aproximaes literrias e das cincias sociais Bblia Hebraica
5.1. Limites percebidos de aproximaes histricas e religiosas
A relao dos mtodos mais recentes com os mtodos dominantes do passado complexa e ambivalente. A maioria dos defensores dos novos mtodos parece reconhecer que os mtodos religiosos confessionais e os histrico-crticos de interpretao foram bem sucedidos ao identificarem e esclarecerem aspectos importantes do texto bblico. Desconfianas e objees aos mtodos mais antigos centralizam-se nas suas limitaes e na tendncia de suas pressuposies conflitantes a monopolizar o debate sobre o significado da Bblia Hebraica.
Evidentemente, o mtodo histrico-crtico conseguiu esclarecer os escritos reunidos da Bblia Hebraica, enraizados na histria de Israel, como expresses da f religiosa desenrolando-se em cenrios comunais e seqncias histricas durante mais de mil anos. Enquanto a aproximao religiosa confessional via o aspecto religioso da Bblia como uma revelao divinamente produzida, como poucas perguntas feitas, o mtodo histrico-crtico, especificando pormenorizadamente de que modo os escritos so moldados e coloridos pelas agudas perspectivas religiosas de editores e escritores, foi capaz de interpretar essa mesma dimenso religiosa da Bblia como desenvolvimento histrico ricamente matizado. Foi este empreendimento do mtodo histrico-crtico que forneceu base para muitos intrpretes bblicos tentarem uma reconciliao entre as vises histrica e religiosa da Escritura.
Apesar disso, mesmo quando o mtodo histrico-crtico expandiu-se para alm da crtica das fontes a fim de incluir tradio oral, crtica das formas e crtica da histria das tradies, o seu foco principal continuou sendo a subordinao de consideraes literrias reconstruo da histria e da religio. O resultado foi que alguns problemas clssicos tais como a composio e o fundamento histrico de vrias partes de livros complexos, tais como o Deuteronmio e Isaas foram repetidamente reelaborados sem muito proveito de nova prova ou novos ngulos de aproximao.
Exatamente como a aproximao religiosa confessional mais antiga perdeu poder explicativo quando deu respostas dogmticas a perguntas histricas, assim o mtodo histrico-crtico revelou seus limites quando pde s responder adequadamente a algumas perguntas histricas e quando se percebeu que novas perguntas a respeito da forma literria da Bblia e do ambiente social do antigo Israel se achavam alm da sua competncia. Em resumo, percebe-se amplamente terem esquemas religiosos e histrico-crticos de interpretao bblica alcanado seus limites no seu prprio terreno e serem imprprios para esclarecer aspectos importantes da Bblia Hebraica que excitam curiosidade e imaginao. Por todos os lados encontra-se desapontamento, impacincia e certa medida de ressentimento para com mtodos que tanto prometiam, mas que insistiram em publicidade exclusiva muito tempo aps terem dado suas melhores contribuies. Pode-se at falar de ampla revolta contra a tirania de mtodos acanhadamente histricos e religiosos de estudo bblico.
Todavia, precisamos formular cuidadosamente a mudana de mtodos mais antigos para mtodos mais novos, a fim de no perder as notas de ambivalncia e experimentalidade na atual situao metodolgica. Que disposies de nimo e impulsos mais novos ameacem abolir os mtodos mais antigos, por princpio altamente duvidoso, mesmo se um "novo crtico" particular acontecesse pensar assim. A disposio atual no tanto "Veja como os antigos mtodos tm sido errados!", mas antes, "Veja que resultados valiosos os novos mtodos podem produzir!" De qualquer maneira, as tendncias mais recentes esto enfaticamente no sentido de liberdade da dominao da histria e da religio e rumo abertura de espao metodolgico a fim de explorar novas avenidas de acesso Bblia Hebraica. Resta por ver se os mtodos mais antigos ficaro categoricamente fora de moda, ou se so simplesmente parciais e problemticos em relao totalidade do que precisa ser feito para entender a Bblia Hebraica. Se agora se acredita amplamente, contudo, que religio e histria pelo menos enquanto habitualmente formuladas por mtodos religiosos e histrico-crticos confessionais no so paradigmas suficientes para entender a Bblia, surge insistentemente a pergunta: Que outros mtodos podem nos fazer progredir no sentido de novas compreenses?
Ao menos dois paradigmas importantes, ou sries de mtodos relacionados, surgiram numa tentativa de contornar o atual impasse no estudo da Bblia Hebraica. Um o paradigma da Bblia Hebraica como uma produo literria que cria seu prprio mundo fictcio de significado e deve ser entendido primeiramente, se no exclusivamente, como meio-termo literrio, ou seja, como palavras que evocam sua prpria realidade imaginativa. O outro o paradigma da Bblia Hebraica como documento social que reflete a histria de estruturas, funes e papis sociais mutveis no antigo Israel durante mais de mil anos aproximadamente, e que fornece contexto integral no qual as caractersticas literrias, histricas e religiosas do povo israelita/judaico podem ser contempladas sinoticamente e interligadas dinamicamente.
5.2. Mtodos literrios mais recentes
Dentro do novo paradigma literrio para aproximar a Bblia Hebraica existe acordo substancial no sentido de ir o texto, como ele se apresenta, constituir o objeto prprio de estudo, pois ele oferece significado total, autnomo, literrio que no necessita depender de anlise das fontes, do comentrio histrico ou de interpretaes religiosas normativas. Os crticos literrios bblicos divergem no modo como atingem este objetivo. Muitos admitem que os mtodos mais antigos de estudo tm valor e podem proveitosamente proporcionar contexto ou matiz ao estudo literrio, no entanto manifestam cautela quase que unnime contra predeterminar estudo literrio da Bblia com os antigos problemas e modos de ataque. Para eles, literatura no , em primeiro lugar, um meio para alguma outra coisa, tal como compreenses histricas ou religiosas dos escritores e do seu mundo cotidiano. Literatura um mundo todo prprio seu, em si mesmo e por si mesmo, includa a literatura bblica. Assim, "Quem escreveu este livro, ou parte de um livro, a partir de que fontes, em que cenrio histrico e com quais objetivos?" para os crticos literrios na nova pauta uma srie bem menos produtora de perguntas do que "Qual a estrutura e o estilo caracterstico deste escrito, ou segmento de escrito, e que significado projeta ele desde dentro dos seus prprios limites como obra de arte ou como sistema de significados lingusticos?"
5.2.a. A Bblia como literatura e nova crtica literria
Uma corrente no paradigma literrio deriva-se da assim chamada nova crtica literria nos estudos literrios seculares, agora velha de algumas dcadas, ligada a crticos literrios como Northrop Frye e I. A. Richards. Esta perspectiva acentua a distino de cada produto literrio e procura analisar as suas convenes peculiares de gnero, expedientes retricos, metfora e ironia e a unidade e os efeitos resultantes globais. Esta aproximao focaliza-se em parte sobre os expedientes estilsticos e as formulaes verbais que tendem a ser da espcie que anteriormente atraiu a ateno de crticos bblicos das formas e de crticos das tradies. A nova crtica literria, entretanto, olha para a textura retrica da obra como um todo acabado em vez de contempl-la ao longo de uma linha cronolgica de desenvolvimento desde pequenas unidades a ciclos maiores at a ltima etapa de composio. Neste sentido o movimento de "Bblia como literatura" est intimamente relacionado com crtica retrica, um produto secundrio da crtica das formas, o qual busca estabelecer a individualidade literria de textos, analisando as suas ordenaes de palavras, frases e imagens que estruturam princpios e fins firmes, seqncias de ao e argumentao, repeties, pontos de focalizao e nfase, como tambm interligaes dinmicas entre as partes.
A aproximao Bblia como literatura tem afinidades tambm com a crtica das redaes, a qual se desenvolveu como uma espcie de etapa final na evoluo do mtodo histrico-crtico. Aplicada primeiramente ao Novo Testamento, a crtica das redaes agora amplamente praticada pelos estudiosos do Antigo Testamento, por exemplo, no estudo da Histria Deuteronomstica em Josu a Reis (13.3; 22.3; 26) e tambm nos livros profticos (28; 34.3; 34.5; 37.5; 50.2). O propsito da crtica das redaes distinguir a mo do escritor ou editor (redator) final em livros singulares, ou numa srie de livros, discriminando de que modo a etapa final de estrutura da composio ordenou materiais anteriores e acrescentou pistas interpretativas para o leitor. Desse modo, podemos ver como se tencionava que toda a composio devia ser lida, ainda que muito do contedo derivasse de escritores anteriores com pontos de vista diferentes.
Sobrepondo-se em alguns aspectos crtica das redaes, e partilhando com a Bblia, enquanto movimento de literatura, um interesse pelo estado acabado do texto, est um mtodo que geralmente foi conhecido como crtica cannica (11.2.b; 48). Defensores desta aproximao esto interessados em como o texto bblico foi desenvolvido e interpretado como escritura. Alguns acentuam um "processo cannico" agindo ao moldar os textos literrios, mesmo antes que existisse um cnon formal. Outros, utilizando a crtica das redaes, concentram-se no modo como a redao de determinados livros e colees revela uma "conscincia cannica" em virtude da qual livros ou colees de livros eram tencionados para serem interpretados maneira de remisses recprocas, levando em considerao um com o outro. Ainda outros salientam a forma final ou "molde cannico" da Bblia Hebraica como documento religioso autorizado que nos pode proporcionar pistas para novas formulaes de teologia bblica. Crtica contextual do cnon tem sido proposta como termo tcnico a fim de abranger vrios tipos de estudo da Bblia Hebraica como escritura.
Tornam-se necessrias distines cuidadosas entre estes diversos tipos relacionados de crtica. Crticos literrios bblicos da nova gerao coincidem com os crticos das redaes e os cannicos ao tentarem esclarecer de que modo toda a composio de um escrito bblico deve ser lida na sua integridade. Por outro lado, eles deixam parte o ponto discutvel sobre que forma podem ter havido partes ou edies anteriores da obra, antes que o livro acabado fosse produzido, e no constitui assunto de interesse para eles argumentar a favor ou a respeito da autoridade teolgica da Bblia Hebraica acabada.
Enquanto mencionando significativamente as preocupaes da crtica das formas, crtica das tradies, crtica retrica, crtica das redaes e crtica cannica, a nova crtica literria da Bblia vai alm de qualquer destes mtodos, na sua busca abrangente por clareza a respeito da forma e da interligao de convenes e gneros literrios bblicos. Um resultado foi considerar a literatura bblica menos ao modo trgico (o heri derrotado por si ou por outros/o heri expulso da comunidade) e mais ao modo cmico (as aspiraes do heri cumpridas aps provaes/o heri incorporado a uma nova comunidade [20.2; 29.3]). Existe interesse explcito em comparar e contrastar literatura bblica com outras literaturas, na suposio de que todos os textos individuais contm vasto corpus de literatura e partilham propriedades criativas semelhantes que mostram variaes moldadas (20.1-2).
5.2.b. Crtica estrutural
Uma segunda corrente em o novo paradigma literrio conhecida como crtica estrutural ou exegese estrutural. Ela difere da Bbl