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ANA CRISTINA NASCIMENTO CHIARADIA
DETERMINAÇÃO DA ESTRUTURA DE PIGMENTOS DE FEIJÃO E
ESTUDO DA SUA AÇÃO NA QUALIDADE PROTÉICA
Tese apresentada à Universidade Federal de Viçosa, como parte das exigências do Curso de Ciência e Tecnologia de Alimentos, para obtenção do título de Doctor Scientiae.
VIÇOSA MINAS GERAIS - BRASIL
JUNHO - 1997
ANA CRISTINA NASCIMENTO CHIARADIA
DETERMINAÇÃO DA ESTRUTURA DE PIGMENTOS DE FEIJÃO E
ESTUDO DA SUA AÇÃO NA QUALIDADE PROTÉICA
Tese apresentada à Universidade Federal de Viçosa, como parte das exigências do Curso de Ciência e Tecnologia de Alimentos, para obtenção do título de Doctor Scientiae.
APROVADA: 11 de abril de 1997
_______________________________
Prof. Paulo César Stringheta (Conselheiro)
_______________________________
Prof. Dilson Teixeira Coelho (Conselheiro)
_______________________________
Profa. Neuza Maria Brunoro Costa
_______________________________
Profa. June Ferreira Maia Parreiras
____________________________
Prof. José Carlos Gomes (Orientador)
ii
Aos meus pais Luiz Américo e Nicea.
Às minhas irmãs Ana Lúcia e Mariana.
iii
AGRADECIMENTO
À Universidade Federal de Viçosa, à CAPES e ao Departamento de
Tecnologia de Alimentos, pela oportunidade de realização deste curso.
À Nacional Comércio e Empreendimentos Ltda., pelo apoio e pela
confiança.
Ao orientador Prof. José Carlos Gomes, por acreditar em minha
capacidade e pela orientação.
Ao conselheiro Prof. Paulo César Stringheta e à Profa. Neuza Maria
Brunoro Costa, pelas sugestões, pelos esclarecimentos e pelas correções
apresentadas.
Ao conselheiro Prof. Dilson Teixeira Coelho, pelas correções e pelas
sugestões apresentadas.
À Profa. June F. Maia Parreiras, pela amizade e pelas sugestões
apresentadas.
Aos Profs. Luiz Cláudio Barbosa e Sebastião C. C. Brandão, pela
disponibilidade e pela colaboração.
Aos demais professores do curso de pós-graduação do DTA/UFV, pelos
conhecimentos transmitidos.
Aos funcionários da UFV, pelo apoio e pelo auxílio, em especial às Sras.
Lígia e Zezinha, ao Valério e ao Ricardo.
Aos estudantes de graduação Erlon e Érica, pelo auxílio.
iv
Aos amigos, em especial a Cíntia, Lucy, Ana Cláudia e Luciana, pelo
convívio e pela amizade. Ao Beto, pela colaboração.
A todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para o êxito deste
trabalho.
v
BIOGRAFIA
ANA CRISTINA NASCIMENTO CHIARADIA, filha de Luiz Américo
Chiaradia e Nicéa Nascimento Chiaradia, nasceu em Belo Horizonte, em 10 de
outubro de 1964.
Em 1985, graduou-se em Farmácia, pela UFMG.
Em 1986, também na UFMG, concluiu, em nível de especialização, o
curso de Farmácia Industrial.
Em 1990, concluiu o curso de mestrado em Ciência e Tecnologia de
Alimentos, na Universidade Federal de Viçosa.
Trabalhou nas indústrias Rhodia Farma (Santo André-SP), Itambé (Belo
Horizonte-MG) e Nacional Comércio e Empreendimentos Ltda. (Contagem-
MG).
Em março de 1994, iniciou o curso de doutorado em Ciência e
Tecnologia de Alimentos, na Universidade Federal de Viçosa.
vi
CONTEÚDO
EXTRATO ........................................................................................... ix
ABSTRACT ......................................................................................... xi
1. INTRODUÇÃO ............................................................................... 1
2. REVISÃO DE LITERATURA ......................................................... 3
2.1. Antocianinas ............................................................................. 3
2.1.1. Extração de antocianinas .................................................... 3
2.1.2. Estrutura química das antocianinas ..................................... 5
2.1.3. Purificação das antocianinas ............................................... 10
2.1.4. Efeito antioxidante ............................................................. 13
2.1.5. Efeito anticarcinogênico ..................................................... 14
2.1.6. Ação antioxidante de antocianinas ..................................... 15
2.2.Conteúdo protéico do feijão ....................................................... 16
2.3. Fatores antinutricionais presentes no feijão ............................... 21
2.3.1. Polifenóis ........................................................................... 23
2.3.1.1. Taninos ....................................................................... 25
2.3.1.2. Flavonóides ................................................................. 32
vii
2.3.2. Lectinas (fito-hemaglutininas) ............................................ 34
2.3.3. Inibidores de tripsina .......................................................... 36
2.3.4. Fitatos ................................................................................ 38
2.3.5. Inibidores de -amilase ...................................................... 41
3. MATERIAL E MÉTODOS .............................................................. 42
3.1. Identificação das antocianinas presentes no feijão ..................... 42
3.1.1. Escolha do solvente extrator ............................................... 42
3.1.2. Preparação do extrato ......................................................... 43
3.1.3. Condições para separação das frações de antocianinas ....... 43
3.1.4. Cromatografia em papel ..................................................... 44
3.1.5. Purificação das frações ....................................................... 44
3.1.6. Cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC) ................ 44
3.1.6.1. Preparação das amostras e dos reagentes ..................... 44
3.1.6.2. Análise por HPLC ....................................................... 46
3.1.7. Reações específicas de antocianinas ................................... 46
3.1.8. Hidrólise ácida das frações purificadas ............................... 47
3.1.8.1. Identificação das antocianidinas .................................. 47
3.1.8.2. Identificação dos açúcares ........................................... 47
3.1.9. Hidrólise ácida controlada .................................................. 48
3.1.10. Preparo da solução de delfinidina de berinjela .................. 48
3.1.11. Ressonância magnética nuclear (RMN) ............................ 49
3.2. Avaliação da qualidade protéica do feijão ................................. 49
3.2.1. Efeito de retirada do tegumento na qualidade protéica ........ 49
3.2.1.1. Preparo das dietas ....................................................... 49
3.2.1.2. Ensaio biológico ......................................................... 50
viii
3.2.1.3. Análise dos resultados ................................................. 52
3.2.2. Efeito da extração de pigmentos na qualidade protéica ....... 52
3.2.2.1. Preparo das dietas ....................................................... 52
3.2.2.2. Ensaio biológico ......................................................... 53
3.2.2.3. Análise dos resultados ................................................. 54
3.2.3. Análise de polifenóis .......................................................... 55
4. RESULTADOS ................................................................................ 56
4.1. Escolha do solvente extrator ...................................................... 56
4.2. Escolha da fase móvel para purificação do extrato ..................... 57
4.3. Purificação das frações de antocianinas ..................................... 57
4.4. Identificação da estrutura dos pigmentos purificados ................. 62
4.5. Efeito da retirada do tegumento na qualidade protéica ............... 73
4.6. Efeito da extração de pigmentos na qualidade protéica .............. 81
5. CONCLUSÕES E SUGESTÕES ...................................................... 90
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................... 92
ix
EXTRATO
CHIARADIA, Ana Cristina Nascimento, D.S., Universidade Federal de Viçosa,
junho de 1997. Determinação da estrutura de pigmentos de feijão e estudo da sua ação na qualidade protéica. Professor Orientador: José Carlos Gomes. Professores Conselheiros: Paulo César Stringheta e Dilson Teixeira Coelho.
Objetivou-se com este trabalho identificar as estruturas químicas dos
pigmentos presentes no feijão-preto adquirido na região de Viçosa. Etanol 70%
acidificado com 0,5% de HCl foi utilizado como solvente extrator. Após a
obtenção do extrato bruto, foram testadas diversas fases móveis para
cromatografia descendente em papel. BFW (n-butanol - ácido fórmico - água) na
proporção 15:2,5:2,4 apresentou os melhores resultados e possibilitou a
separação das seis frações de antocianinas presentes. Através de reações
químicas específicas e métodos espectrofotométricos e cromatográficos
identificaram-se as três principais frações isoladas. São elas: delfinidina 3-
glicosídeo, cianidina
3-glicosídeo e malvidina 3-glicosídeo. Avaliou-se, através de ensaios biológicos,
o efeito da retirada do tegumento e das antocianinas e de outros polifenóis na
qualidade das proteínas do feijão. Foram analisados PER, NPR, NPU e
digestibilidade. Os resultados obtidos mostram que a retirada do tegumento do
x
feijão cozido reduz seu valor protéico, provavelmente pela eliminação simultânea
de aminoácidos sulfurados e lisina provenientes de proteínas presentes nessa
parte dos grãos. A extração de pigmentos de feijão não provocou o aumento da
qualidade protéica, como se esperava. Esse resultado se deve, provavelmente, à
migração de polifenóis dos tegumentos para os cotilédones durante o processo de
extração desses compostos. Esta migração proporciona a interação destes
polifenóis com proteínas, tornando-as indisponíveis.
xi
ABSTRACT
CHIARADIA, Ana Cristina Nascimento, D.S., Universidade Federal de Viçosa,
June 1997. Determination of the structure of bean pigments and study of its action in proteic quality. Advisor: José Carlos Gomes. Committee members: Paulo César Stringheta and Dilson Teixeira Coelho.
The objective of this work was to identify the chemical structures of
black bean pigments from Viçosa, Minas Gerais, Brazil. The extraction solvent
was anaqueous solution of ethanol 70% acidified with 0,5% HCl. After the
acquisition of crude extract, several mobile phases for descendent paper
chromatography were tested. Best results were obtained with BFW (butanol-
formic acid-water) 15:2,5:2,4, which allowed the isolation of six anthocyanins
fractions could be separated. Through specific chemical reactions and
spectrophotometric and chromatographic methods, the three main fractions were
identified: delfinidin 3-glucoside, cianidin 3-glucoside and malvidin 3-glucoside.
The effect of removal of tegument, anthocyanins and other polyphenols from
beans in the protein quality were evaluated by biological assays. PER, NPR,
NPU and digestibility were determined. The results indicated that removal
tegument of cooked bean, reduced its protein value, probably due to
simultaneous elimination of sulfur aminoacids and lysine from proteins present
in the tegument. The extraction of anthocyanins did not increase the protein
xii
quality of beans as expected. Possibly, this result was due to the migration of
polyphenols from bean tegument to cotyledons during the extraction process,
where polyphenols may interact with proteins making them not available.
1
1. INTRODUÇÃO
As antocianinas são pigmentos naturais bastante conhecidos, pois
determinam a coloração característica de uma grande variedade de vegetais,
incluindo aqueles usados na alimentação humana, podendo ser citado o exemplo
do feijão (Phaseolus vulgaris).
O feijão é a leguminosa mais consumida na América Latina, fornecendo
quantidades significativas de proteínas e calorias, dentre outros nutrientes
(COELHO, 1991).
A identificação dos constituintes de um alimento tão consumido é de
suma importância para o esclarecimento de seu real valor nutritivo.
Em razão do teor elevado de proteínas nos seus grãos e da composição
aminoacídica complementar à das proteínas dos cereais, essa leguminosa
contribui para melhoria do valor protéico das dietas de grande número de
indivíduos, especialmente nos países latino-americanos, onde dietas compostas
predominantemente de leguminosas e cereais constituem a base da alimentação
diária (KAKADE e EVANS, 1965; LIENER, 1979).
Entretanto, suas proteínas apresentam algumas limitações quanto à
qualidade, pelo fato de serem deficientes em aminoácidos sulfurados, triptofano e
por conter fatores antinutricionais que interferem no desempenho protéico
2
nutricional, seja na digestibilidade ou na absorção (LIENER, 1979; SÃO JOSÉ et
al., 1986).
Dentre os fatores antinutricionais presentes nas leguminosas, os que têm
maior interesse são os polifenóis, as lectinas e os inibidores de tripsina. O papel
destes fatores antinutricionais sobre o desempenho nutricional das leguminosas
poderia ser explicado pela formação de complexos entre os polifenóis e as
proteínas, os quais são insolúveis e de baixa digestibilidade por monogástricos,
podendo modificar a estrutura do epitélio intestinal, levando à inibição
irreversível e, dessa forma, diminuindo a capacidade absortiva do organismo
(BLANCO e BRESSANI, 1991; VILLANHUEVA, 1987). Estudos indicam que
os polifenóis são, dentre os fatores antinutricionais, os que mais contribuem para
a baixa digestibilidade do feijão (BRESSANI e ELIAS, 1984; BRESSANI et al.,
1991).
A maior concentração de polifenóis é encontrada em cascas de sementes
coloridas e a menor, na casca de sementes brancas ou em outra parte anatômica
da semente (BRESSANI et al., 1991).
A digestibilidade das proteínas decresce com o aumento da pigmentação
do tegumento da semente. Os pigmentos são, geralmente, compostos fenólicos,
que podem interagir com as proteínas do feijão, decrescendo a sua digestibilidade
e utilização (BRESSANI et al., 1991).
A elucidação da real participação dos polifenóis na qualidade protéica do
feijão, bem como o estudo das possíveis ações desses compostos contra doenças
crônico-degenerativas, é de grande importância, visto que trabalhos recentes têm
apontado os benefícios destes compostos.
3
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1. Antocianinas
2.1.1. Extração das antocianinas
Existe, na literatura, descrição de vários processos e solventes utilizados
para a extração de pigmentos de vegetais. A extração de antocianinas é
necessariamente o primeiro passo para a determinação total e individual de
antocianinas em qualquer tecido de planta (FULEKI e FRANCIS, 1968). Estes
autores afirmam que o melhor método de extração será aquele em que uma
quantidade de interferentes, bem como a perda de antocianinas devido a
mudanças enzimáticas e não-enzimáticas, seja mínima.
Segundo STRACK e WRAY (1989), a extração de antocianinas é
comumente acompanhada pela maceração da parte vegetal com metanol ou
etanol acidificado com HCl (0,1 a 1,0%). Em certos casos, dependendo da parte
da planta, esses autores aconselham a adição de água (10 a 50%) para se
conseguir uma completa extração.
JURD (1964) propôs extrair antocianinas de tecidos de plantas utilizando
SO2 como solvente extrator. Segundo este autor, apenas 50 ppm seria suficiente
para manter estáveis as antocianinas, bastando manter o pH do meio em valores
próximos a 1. Palamidis e Markakis (1975), citados por MARKAKIS (1982),
4
relataram que a solução aquosa de SO2 a 500ppm foi mais eficaz que a água para
a extração de antocianinas de casca de uva e que a antocianina extraída com
solução de SO2 foi mais estável como corante em uma bebida carbonatada.
Trabalhando na extração de antocianinas a partir de cascas de uva (Vitis vinifera
L.; cv. Cabernet), através do método do diferencial de pH, DONDERO e
BADILLA (1983) utilizaram três solventes extratores: água, água com 500ppm
de SO2 e etanol 95% com 0,01% (p/v) de ácido cítrico, encontrando como melhor
solvente, após seis extrações, o etanol 95% com 0,01% de ácido cítrico,
obtendo-se 356,90 mg/100g, seguido da água com 247,37 mg/100g e da água
com 500ppm de SO2, com 243,11 mg/100g de casca. Ahmed et al. (1977),
citados por MARKAKIS (1982), comprovaram a eficiência de extração entre
SO2 a 350ppm e metanol acidificado, em repolho vermelho, sendo o metanol
acidificado o melhor extrator.
Utilizando metanol como solvente em HCl 0,1%, LU et al. (1992)
extraíram antocianinas de flores vermelho-arroxeadas de Pharbitis nil e MORI e
SAKURAI (1994) extraíram antocianinas do morango. Já STRINGHETA (1991)
extraiu antocianina de Panicum mellinis utilizando metanol acidificado com HCl
a 0,05% e FORNI et al. (1993) também utilizaram metanol, mas acidificado com
HCl 1,0%, para extração de antocianinas em amoras (Prunus avium). Por outro
lado, GUEDES (1993) utilizou metanol acidulado com ácido cítrico a 0,5% para
extração em berinjela, amora e morango, mostrando ser um solvente muito
eficiente, com a vantagem adicional de o ácido cítrico não hidrolisar as ligações
glicosídicas.
DRAETTA et al. (1985) extraíram, a frio, com metanol contendo 1% de
ácido clorídrico, pigmentos de ameixa (Prunus salicina, L.) e determinaram o
conteúdo total de antocianinas com base nos valores de absorbância em
diferentes valores de pH (pH 1,0 e pH 4,5), encontrando um teor de 29,5 mg de
antocianinas por 100g de fruto, expresso em termos de cianidina-3-glicosídeo.
SHI et al. (1992) extraíram antocianinas a partir de folhas de
Tradescantia pallida, usando água gaseificada com HCl 0,1%. SAITO e
5
HARBORNE (1992) utilizaram uma solução de metanol, ácido acético e água na
proporção de 10:1:9, para a extração de antocianinas a partir de pétalas frescas de
Labitae.
Utilizando-se o etanol 95% como solvente extrator, FULEKI e
Empetrum nigrum
coll.) acidificando com HCl 0,1N (85:15) e HCl 1,5N. KARPA et al. (1984) e
(Sambucus nigra L.), respectivamente, seguindo o mesmo método de FULEKI e
FRANCIS (1968). BLOM e THOMASSEM (1985) realizaram a extração
utilizando etanol a 96% em HCl 0,1N, enquanto TERAHARA et al. (1986)
trabalharam com etanol : ácido acético : água (10:1:10), para a extração de
antocianinas de Dianthus caryophyllus e D. deltoides. OSZMIANSKI e SAPIS
Aronia
melanocarpa) e LIAO et al. (1992) utilizaram etanol e água para uvas vermelhas.
A literatura cita diversas fontes de antocianinas e sua quantificação.
O Quadro 1, adaptado de Kuhnau (1976), citado por TIMBERLAKE (1988),
mostra um resumo das principais fontes de antocianinas e teor de pigmento,
pesquisados até aquele ano.
2.1.2. Estrutura química das antocianinas
As antocianinas estão incluídas no grupo de pigmentos de ocorrência
natural, responsáveis pela coloração azul, vermelha, violeta e púrpura de muitas
espécies do reino vegetal. As antocianinas, substâncias fenólicas, são glicosídeos
de antocianidinas, polihidroxi derivados do íon flavilium (Figura 1). As
antocianidinas (agliconas) são substâncias polihidroxiladas aparentemente
ausentes nos tecidos de plantas (Jackman, 1987a, citado por STRINGHETA,
1991).
A presença de antocianidina na sua forma livre em tecidos de plantas já
foi relatada; porém, é bastante improvável devido a sua alta insolubilidade e
instabilidade. Tais resultados são devidos, provavelmente, à hidrólise, que pode
6
Quadro 1 - Principais fontes de antocianinas e teor de pigmento (mg/100g), segundo Kuhnau (1976), citado por TIMBERLAKE (1988)
FONTES (produto) TEOR DE ANTOCIANINAS (mg/100g)
60 a 200
130 a 250
45
100
130 a 400
65 a 140
2 a 25
300 a 400
30 a 35
25
25
100
1 a 1000
OHO
HO
+OH
OH
8
7
6
5 4
3
2
Figura 1 - Estrutura básica das antocianinas (HARBORNE, 1967).
7
ocorrer durante extração e isolamento. Por serem usados, com tais objetivos,
solventes contendo ácido, é praticamente impossível evitar a ocorrência de
hidrólise durante esses procedimentos. Correndo cromatogramas após poucos
minutos da extração com metanol frio contendo 0,1% de HCl concentrado, a
hidrólise pode ser minimizada (HARBORNE, 1967).
Um reexame de flores onde havia sido relatada a presença de
antocianidinas livres mostrou que apenas antocianinas estavam presentes
(HARBORNE, 1967).
Segundo GEISSMAN (1962), as antocianinas são caracterizadas
estruturalmente por possuírem esqueleto de carbono C6-C3-C6, e, em função
disto, podem estar associadas com compostos flavonóides não-antociânicos. Por
outro lado, Brouillard, 1982, e Griseback, 1982, citados por STRINGHETA
(1991), afirmam que, apesar de possuírem a mesma origem biossintética de
outros flavonóides naturais, as antocianinas diferem destes por absorverem
fortemente na região visível do espectro.
As antocianinas são glicosídeos das antocianidinas, cujo núcleo básico é
-hidroxiflavilium. Todas as antocianinas são compostas de
duas ou três partes: a estrutura básica, que é uma aglicona (antocianidina); um ou
mais açúcares; e, freqüentemente, um ou mais grupos acil (GUIMARÃES, 1987;
FRANCIS, 1992).
De acordo com HARBORNE (1967) e FRANCIS (1989), podem-se
relacionar as antocianidinas que ocorrem nas antocianinas naturais conforme
mostra o Quadro 2, sendo as que ocorrem com maior freqüência, segundo
FRANCIS (1977) e BOBBIO e BOBBIO (1992), pelargonidina, cianidina,
delfinidina, petunidina, malvidina e peonidina.
Os grupos metoxila e hidroxila, além da presença do açúcar e ácido, têm
efeito importante na cor e na estabilidade das antocianinas. A mesma antocianina
poderá ter diferentes cores, dependendo do pH, da concentração da solução e da
presença de copigmentos, entre outros fatores. Com o aumento do número de
hidroxilas, a coloração das antocianinas muda de rosa para azul. A presença de
8
Quadro 2 - Antocianidinas que ocorrem nas antocianinas naturais (adaptado de HARBORNE (1967) e FRANCIS (1989))
Posição de Substituição
Antocianidinas 3 5 6 7 3' 4' 5'
Apigenidina (Ap) H OH H OH H OH H
Luteolidina (Lt) H OH H OH OH OH H
Triacetidina (Tr) H OH H OH OH OH OH
Pelargonidina (Pg) OH OH H OH H OH H
Aurantidina (Au) OH OH OH OH H OH H
Cianidina (Cy) OH OH H OH OH OH H
Peonidina (Pn) OH OH H OH OMe OH H
Rosinidina (Rs) OH OH H OMe OMe OH H
Delfinidina (Dp) OH OH H OH OH OH OH
Petunidina (Pt) OH OH H OH OMe OH OH
Pulchelidina (Pl) OH OMe H OH OH OH OH
Europinidina (Eu) OH OMe H OH OMe OH OH
Malvidina (Mv) OH OH H OH OMe OH OMe
Hirsutidina (Hs) OH OH H OMe OMe OH OMe
Capensinidina (Cp) OH OMe H OH OMe OH OMe
9
grupo metoxila no lugar da hidroxila reverte a tendência anterior (MAZZA e
BROUILLARD, 1987b).
A diferença de cor entre as antocianinas, que são vermelhas, e as
desoxiantocianidinas, que são amarelas, está na presença do grupo hidroxila na
posição C-3 das antocianinas. A mesma hidroxila desestabiliza a molécula, uma
vez que as 3-desoxiantocianidinas são mais aceitáveis que as antocianinas
correspondentes (SWENEY e IACOBUCCI , 1983).
Antocianinas glicosiladas em C-3 a um dado pH possuem coloração mais
intensa que as antocianinas glicosiladas em C-3 e C-5 e glicosiladas em C-5.
Comparando o comportamento do espectro, HARBORNE (1967) e
TIMBERLAKE e BRIDLE (1977) mostram que 3, 5 di e 5- glicosídeo têm
somente cerca de 50% de absorção a 440 nm da antocianina 3-glicosídeo e de
outras antocianinas livres.
A natureza dos açúcares, ácidos e números de grupos metoxila tem
pouco efeito nas reações que induzem modificações estruturais, mas a presença e
a posição de suas ligações na molécula podem influenciar profundamente as
alterações estruturais (TIMBERLAKE e BRIDLE, 1980). Segundo ASEN
(1976), essas modificações são geralmente obscuras, muito embora sejam
consideradas como as principais responsáveis pelas mudanças de coloração
associadas às antocianinas.
As antocianinas podem ser glicosiladas por diferentes açúcares nas
posições 3, 5 e 7, mas sempre ocorre a glicosilação na posição C-3
(HARBORNE, 1958a). Glucose, arabinose, galactose e raminose são os açúcares
mais comuns ligados às antocianidinas. Di e trissacarídeos podem também
glicosilar algumas antocianidinas (HARBORNE, 1967; TIMBERLAKE e
BRIDLE, 1975).
Muitos são os casos em que ácidos orgânicos estão acilando os resíduos
de açúcares, sendo os mais comuns o cumárico, caféico, ferúlico,
p-hidroxibenzóico, sinápico, malônico e acético, entre outros (FRANCIS, 1992).
As antocianidinas são instáveis e menos solúveis em solução aquosa que
as antocianinas (TIMBERLAKE e BRIDLE, 1966), e a glicosilação aumenta a
10
estabilidade e torna a molécula de pigmento solúvel em água (HARBORNE,
1979). A perda do açúcar ligado na posição C-3 é acompanhada de uma rápida
decomposição da aglicona, com alteração irreversível na coloração da solução
(JURD, 1972).
Antocianidinas são obtidas de antocianinas puras através de hidrólise
ácida (HCl 2N a 100oC por 40 min ou HCl 6N por períodos menores)
(HARBORNE, 1967).
A glicosilação em C-5 também é freqüentemente encontrada nas
antocianinas (BROUILLARD, 1982). Cada substituição está associada a um
deslocamento batocrômico, tal que a diferença no comprimento de onda de
máxima absorção da antocianina 3-glicosídeo em relação à antocianidina
3,5-diglicosídeo tem sido utilizada como meio de sua diferenciação por técnicas
espectrais (HARBORNE, 1958b).
geralmente dificultam a glicosilação nestas
posições (BROUILLARD, 1982). O mesmo autor afirma que nenhuma
antocianina apresenta a glicosilação nos grupos hidroxílicos nas posições 5, 7 e
destas posições, já que é essencial para a formação de uma estrutura quinoidal,
também chamada de anidrobase. A estrutura quinoidal das antocianinas é
responsável pela pigmentação de flores e de tecidos de frutas (JURD e ASEN,
1966; ASEN et al., 1970, 1972, 1975; SCHEFFELDT e HRAZDINA, 1978;
WILLIAMS e HRAZDINA, 1979).
Os flavonóides antociânicos absorvem fortemente na região do visível,
apresentando mais forte coloração, enquanto os flavonóides não-antociânicos
absorvem na região compreendida entre 350 e 380 nm (BROUILLARD, 1982).
2.1.3. Purificação das antocianinas
HARBORNE (1958a) purificou antocianinas utilizando a técnica de
cromatografia em papel, o que foi seguido por Francis et al., 1966, e Francis,
1967, citados por JACKMAN et al. (1987).
11
A relação entre a estrutura e a mobilidade cromatográfica, em
cromatografia em papel de várias antocianinas, foi estudada por HARBORNE
(1967). Este autor cita que a mobilidade decresce regularmente com o aumento
da hidroxilação, mas aumenta com a metilação. Relações similares são
encontradas nas séries de 3-deoxy-antocianidinas. O valor de Rf é o mais
SAKELLARIADES e LUH (1974) purificaram extratos de uvas através
de cromatografia bidimensional em papel. Esta escolha foi feita após o Forestal
(água:ácido acético:ácido clorídrico; 10:30:3) sozinho não ter conseguido separar
as seis bandas contidas no extrato. Assim, eles empregaram, na primeira direção,
Forestal e, na segunda, BUHCl (n-butanol:HCl 2N, 1:1), conseguindo ótima
resolução na separação das seguintes antocianinas: delfinidina, petunidina,
cianidina, malvidina e peonidina. TIMBERLAKE e BRIDLE (1977) utilizaram
cromatografia ascendente em papel bidimensional, com papel Whatman no 2 em
BAW (14:1:5), seguido de HOAC 2% e HOAC-HCl (15:13:82), para purificarem
extrato de morango.
BOBBIO et al. (1983) purificaram o extrato de Cyphomandra betaceae
através da cromatografia em camada delgada, em placas de celulose, com os
seguintes solventes: BAW (6:1:2), HCl 1% (HCl concentrado:água, 3:97),
Forestal (30:3:10) e AWH (15:82:3). ANDERSEN e FRANCIS (1985), usando
cromatografia em placa de celulose, em ácido clorídrico - ácido fórmico - água
(24,5:23,7:51,4), mostraram ser ele muito eficiente na separação de
antocianidinas mono, di e triglicosiladas.
Cromatografia em papel Whatman no 3 MM foi utilizada por DRAETTA
et al. (1985) para purificar extrato de ameixa em HCl 1%, BAW (4:1:5) e BFW
(100:25:6).
Estudando extrato de berinjela, amora e morango, GUEDES (1993)
utilizou a filtração por osmose reversa em papel Millipore com cartucho de cut
off 400, pressão de 180 psi, conseguindo concentrar os extratos a volumes
pequenos e teor de sólidos desejáveis. Essa filtração atuou, ainda, como uma
12
purificação preliminar, eliminando alguns açúcares livres, vitaminas, ácidos
orgânicos e alguns flavonóides que estavam atuando como interferentes.
Posteriormente, esse autor utilizou cromatografia descendente em papel,
desenvolvida em HCl 1,0%, BAW (6:1:2) e HAC 10%, obtendo uma boa
resolução entre suas bandas, completando, assim, o processo de purificação.
ZULU et al. (1994) utilizaram cromatografia em papel para separar e
purificar compostos flavonóides da raiz de duas espécies de Rhynchosia,
utilizada na preparação da bebida Zambian. Utilizaram como sistemas eluentes o
BAW (4:1:5) por cerca de 16 a 24 horas e, posteriormente, em ácido acético
aquoso a 15%, por sete horas. A purificação de cada fração foi comprovada por
meio de cromatografia bidimensional usando, na primeira direção, BAW e, na
segunda, ácido acético aquoso a 15% e, também, utilizando HPLC com coluna
C-18, detector UV-VIS a 270nm e, como eluente, metanol : água : ácido acético
(30:65:5).
A separação de cianidina-3-glicosídeo e peonidina-3-glicosíseo, em
suspensão de cultura de células de morango, foi realizada por MORI e
SAKURAI (1994) utilizando HPLC em uma coluna de ODS, eluída com 35% de
ácido acético - acetonitrila - água (20:25:55), diluída com água contendo 0,1% de
TFA e solução de metanol composta de água - ácido acético - metanol (80:15:5),
contendo, também, 0,1% de TFA a 40°C. BAKKER et al. (1994) utilizaram a
HPLC com detector de iodo, fase reversa, em coluna de ODS, para confirmar a
presença de diferentes antocianinas em sucos de 39 genótipos de morango.
O método de cromatografia descendente em papel Whatman no 3MM,
desenvolvido em butanol:ácido fórmico:água (BFW; 100:25:60) e ácido acético :
água (HAC) a 15%, foi utilizado por FULEKI (1971) para purificação de
pigmento de Allium cepa, obtendo oito frações de antocianidina.
Antocianidinas podem ser separadas com sucesso por cromatografia de
camada fina em sílica-gel, mas a reprodutibilidade dos valores de Rf não é
comparável com os resultados obtidos com cromatografia em papel
(HARBORNE, 1967).
13
Antocianidinas, assim como outros fenóis, mudam de cor, em papel,
quando amônia é aplicada. Uma coloração azul momentânea pode ser notada
(HARBORNE, 1967).
Antocianidinas fluorescem em papel somente se o anel B tem um único
grupo p-hidroxil e o 5-hidroxil é metilado ou glicosilado (HARBORNE, 1967).
O único cuidado que deve ser tomado é evitar solventes contendo ácido
mineral durante estágios finais da purificação. O ácido reage com substâncias do
papel, produzindo arabinose, que pode causar erro nos resultados quando os
açúcares das antocianinas são analisados. Misturas de solventes contendo ácido
acético podem ser usadas satisfatoriamente e são melhores quando usadas em
papéis previamente lavados com ácido acético diluído (HARBORNE, 1967).
No caso de glicosídeos simples, o aumento de açúcares presentes
provoca diminuição no valor de Rf em butanol-ácido acético e aumento em
ácido-água (HARBORNE, 1967).
2.1.4. Efeito antioxidante
As antocianinas têm sido muito usadas ao longo do tempo na
alimentação humana, aparentemente sem causar danos (MAZZA e
BROUILARD, 1987a). Existem evidências indicando que as antocianinas, além
de não serem tóxicas ou mutagênicas, apresentam propriedades terapêuticas
benéficas, particularmente em oftalmologia e para o tratamento de vários
problemas na circulação sangüínea (TIMBERLAKE, 1988). Esse autor acredita
que, tanto quanto para o aumento do uso das antocianinas como corantes de
alimentos, sua aplicação na medicina também aumenta à medida que seu
mecanismo fisiológico de ação torna-se mais compreendido. Por exemplo,
antocianinas de amora roxa têm sido aplicadas para o tratamento de feridas,
úlceras duodenais e estomacais, inflamação de boca e garganta, doenças
vasculares e doenças relacionadas com o metabolismo de lipídios e glicerídeos.
De acordo com TIMBERLAKE (1988), existem patentes de preparações
farmacêuticas que contêm sais de flavilium, e, mais recentemente, as
14
antocianinas têm sido usadas para o tratamento de doenças de circulação
sangüínea.
2.1.5. Efeito anticarcinogênico
A dieta ocidental consistindo de uma alta proporção de carne e de uma
proporção relativamente baixa de vegetais aparece como a responsável pela alta
taxa de ocorrência de câncer de mama, colon e próstata (TROLL et al., 1994).
Substâncias quimiopreventivas do câncer são agentes estruturalmente
diversos que interferem em um ou mais estágios da carcinogênesis. Elas podem
suprimir a ativação de carcinógenos ou a promoção e o progresso do câncer,
muitas vezes pela supressão da formação do ânion superóxido radical (O2-.) e
peróxido de hidrogênio (H2O2), pelos neutrófilos humanos ativados, que são
promotores de tumores. Esta inibição da geração de H2O2 pode ser considerada
um sistema útil para identificação e quantificação da atividade de agentes
preventivos do câncer. Estes agentes inibem inflamação e danos oxidativos ao
DNA, como também inibem a promoção de tumores (TROLL et al., 1994).
Espécies de oxigênio como os radicais hidroxi, ânion radical superóxido
e oxigênio singlet são consideradas agentes que atacam ácidos graxos
poliinsaturados nas membranas celulares e elevam a peroxidação lipídica. Esta
peroxidação está fortemente associada com o envelhecimento e a carcinogênesis
(TSUDA et al., 1994b).
Sistemas vitais são protegidos contra espécies de oxigênio ativo por
enzimas, como a superóxido dismutase, glutationa peroxidase e catalase; eles
também recebem proteção não-enzimática por antioxidantes exógenos, como o
-tocoferol, ácido ascórbico, -caroteno e ácido úrico (TSUDA et al., 1994b).
A formação de bases de DNA oxidadas por espécies de oxigênio ativo é
qualitativamente semelhante aos danos causados por radiação ionizante, que
pode agir como um iniciador ou como promotor em processos carcinogênicos. A
formação de bases de DNA oxidadas pode levar a mutações, uma característica
de iniciação de câncer por oxidantes e outros carcinógenos. Assim, prevenindo a
formação dessas bases de DNA oxidadas, pode-se bloquear o processo de
produção de tumores (TROLL et al., 1994).
15
2.1.6. Ação antioxidante de antocianinas
As antocianinas parecem desempenhar um papel importante como
antioxidantes da dieta, atuando na prevenção de peroxidação lipídica de
membranas celulares, induzidas por radicais oxigênio ativos em sistemas vivos
(TSUDA et al., 1994a).
Kakegawa et al., 1987, citados por TSUDA et al. (1994b), relataram que
a síntese da antocianina [cianidina 3--malonil) glicosídeo] foi induzida por
iluminação com luz UV em culturas de células de Centaurea cyanus. Takahashi
et al., 1991, também citados por TSUDA et al. (1994b), relataram que as células
que acumulavam a antocianina [cianidina 3--malonil) glicosídeo] eram mais
resistentes à irradiação com luz UV, reduzindo a formação de dímeros pirimidina
induzidos pela luz UV. Esses resultados indicam que as antocianinas
desempenham uma importante função na proteção de células de plantas contra os
danos induzidos pela UV e também sugerem que os pigmentos podem funcionar
como antioxidantes, para proteger os danos oxidativos em células animais.
Um extrato preparado do tegumento de grão de feijão-ervilha (Phaseolus
vulgaris L.) vermelho e preto exibiu forte atividade antioxidativa. Para
determinar o papel antioxidativo dos pigmentos nos tegumentos dos grãos, os
pigmentos cianidina 3-O--D-glicosídeo e pelargonidina 3-O--D-glicosídeo (de
feijão-vermelho) e delfinidina 3-O--D-glicosídeo (de feijão-preto) foram
isolados. Cianidina 3-O- -D-glicosídeo mostrou forte atividade antioxidativa no
sistema de ácido linoléico em pH 7,0, enquanto pelargonidina
3-O- -D-glicosídeo e delfinidina 3-O--D-glicosídeo não mostraram atividade
antioxidativa neste pH. Em condições ácidas (pH 3,0 e 5,0), pelargonidina
3-O- -D-glicosídeo e delfinidina 3-O--D-glicosídeo mostraram forte atividade
antioxidativa. Esses resultados sugerem que o mecanismo antioxidativo de
cianidina 3-O- -D-glicosídeo pode ser diferente daquele de pelargonidina
3-O- -D-glicosídeo e delfinidina 3-O--D-glicosídeo (TSUDA et al., 1994a).
Também os efeitos de extratos brutos de casca de feijões navy
(P. vulgaris L.) na estabilidade oxidativa de óleo comestível foram relatados por
16
Onyeneho e Hettiarachchy, 1991, citados por TSUDA et al., (1994a); porém,
estudos químicos detalhados dos antioxidantes de feijão são desconhecidos.
Cianidina 3-O- -D-glicosídeo (purificada da casca de feijões) e cianidina
comercial apresentaram atividade antioxidativa nos seguintes sistemas: auto-
oxidação do ácido linoléico, lipossomas, membrana de eritrócito de coelho e
sistemas microssomais do fígado de ratos. No sistema microssomal de fígado de
rato, estas antocianinas exibiram atividade antioxidante mais forte do que
-tocoferol. Esses dados sugerem que os pigmentos podem desempenhar um
papel importante na prevenção de peroxidação lipídica de membranas celulares
induzida por radicais oxigênio ativados em sistemas vivos (TSUDA et al.,
1994b).
2.2. Conteúdo protéico do feijão
Uma característica marcante das sementes de leguminosas é o seu alto
conteúdo protéico. A porcentagem de proteínas em feijão varia entre 16 e 33%,
para vários tipos de feijão analisados (OSBORN et al., 1988).
Há evidências de que fatores ambientais como localização geográfica e
estação do ano podem influenciar significativamente o conteúdo protéico de
feijões (SATHE et al., 1984).
O conteúdo de proteína nas diversas variedades de feijão se encontra
localizado, principalmente, nos cotilédones, com pequenas quantidades presentes
na casca (ELIAS et al., 1979). Essas proteínas são classificadas em albuminas,
globulinas, prolaminas e glutaminas, com base na solubilidade. Cada fração
possui uma composição aminoacídica característica, e a qualidade nutricional das
proteínas totais do grão é dependente da proporção relativa de cada uma delas
(JOHNSON e LAT, 1974).
Assim como em grande parte das proteínas de leguminosas, a maioria
das proteínas de feijão são globulinas. Estas são caracterizadas por serem
solúveis em soluções salinas diluídas a pH 7,0 (WOLF, 1977).
17
Em geral, proteínas de reserva são globulinas, enquanto as albuminas
são, principalmente, enzimas e proteínas ligadas ao metabolismo celular. As
albuminas possuem maior valor biológico que as globulinas, por conterem maior
teor de aminoácidos sulfurados e lisina. As proteínas restantes, glutelinas e
prolaminas, estão fortemente ligadas às organelas e membranas celulares e são
pouco estudadas (BHATTHY, 1982).
As globulinas correspondem de 33,5 a 81% e as albuminas de 12 a
52,4% da proteína total da semente (DESHPANDE e NIELSEN, 1987; SATHE
et al., 1984).
Uma importante característica da composição de várias proteínas de
feijão, incluindo as duas maiores proteínas de reserva, é que elas contêm vários
carboidratos ligados a elas covalentemente (glicoproteínas). Os monossacarídeos
associados com diferentes frações protéicas incluem manose, galactose, glicose,
glucosamina, xilose, fucose, arabinose e ramnose (JAFFÉ e HANNIG, 1965).
Essas glicoproteínas podem ser caracterizadas por uma estrutura quaternária nas
quais trímeros ou hexâmeros são formados não-covalentemente de subunidades
de aproximadamente 60.000 daltons (STANLEY e AGUILERA, 1985).
A faseolina (também conhecida como glicoproteína II, vicilina ou
globulina G1) e a fito-hemaglutinina (ou lectina ou globulina G2) são as
principais proteínas de reserva do feijão, correspondendo a cerca de 50 e 10%,
respectivamente, da proteína total presente (SATHE et al., 1984).
Para melhor entendimento da digestibilidade de proteínas de feijão
comum, considerável atenção tem sido dirigida para a faseolina, a maior proteína
de reserva dos feijões. A resistência de faseolina nativa ao ataque de enzimas
digestivas de mamíferos in vitro tem sido demonstrada (ROMERO e RYAN,
1978) e é considerada como um importante fator na diminuição do valor nutritivo
de feijão não-aquecido.
Essa baixa digestibilidade da faseolina em seu estado nativo pode ser
atribuída a uma série de fatores, entre eles: a sua estrutura compacta, a
estabilidade conferida à sua estrutura tridimensional pela molécula de carboidrato
18
e o impedimento estérico das proteases pela cadeia do polissacarídeo (NIELSEN,
1991).
Por aquecimento, a estrutura quaternária e a terciária da faseolina, mas
não a secundária, são modificadas, com grande aumento da sua digestibilidade
(DESHPANDE e DAMODARAN, 1989).
Faseolina é a maior fonte de metionina utilizável na semente, embora
contenha um conteúdo pequeno deste aminoácido. Um estudo encontrou uma
correlação positiva entre metionina e níveis de faseolina em três de quatro
amostras analisadas (Gepts e Bliss, 1984, citados por REYES-MORENO e
PAREDES-LÓPEZ, 1993).
A globulina G2 (fito-hemaglutinina ou lectina) forma nos Phaseolus um
complexo sistema de glicoproteínas com propriedades eritro e leucoaglutinantes
de intensidade variável. Constitui cerca de 10% do total de proteínas das
sementes, sendo dois terços desse total composto por lectinas do tipo albuminas,
também proteínas de reserva sintetizadas no período final do processo de
maturação das sementes. Embora possam ser encontradas nas folhas em
pequenas quantidades, são armazenadas, principalmente, no cotilédone das
sementes, dentro e fora dos corpos protéicos (SGARBIERI e WHITAKER,
1982).
Em algumas variedades selvagens de Phaseolus vulgaris foi encontrado
um terceiro tipo de proteína de estocagem. Essa fração foi denominada arcelina,
em referência a Arcelia, uma cidade em Guerrero, México, onde uma das
variedades de feijão foi coletada (OSBORN et al., 1986; ROMERO-ANDREAS
et al., 1986).
Assim como as lectinas, a função da arcelina em feijões está relacionada
com a defesa contra insetos e predadores (OSBORN et al., 1988).
Um grande número de pesquisadores tem mostrado que a proteína total
do feijão e as frações dela isoladas são deficientes em aminoácidos sulfurados
(metionina, cisteína e cistina). No entanto, a concentração de lisina é elevada nas
sementes da maioria das leguminosas, sendo consideradas de grande valor na
19
complementação das proteínas dos cereais, que, de modo geral, são pobres em
lisina (SGARBIERI e WHITAKER, 1982).
A metionina é considerada o aminoácido limitante do valor biológico das
proteínas do feijão, por ser ele nutricionalmente essencial para o organismo
animal. Apesar de cisteína e cistina poderem ser sintetizados pelos animais, eles
são importantes, porque a metionina é um intermediário na biossíntese destes,
tornando esse aminoácido essencial ainda mais limitante (SGARBIERI e
WHITAKER, 1982). Assim, estudos de variação genética e composição
aminoacídica têm sido centrados no conteúdo de metionina e cisteína (EVANS et
al., 1974).
Ao comparar a composição de aminoácidos de algumas variedades de
feijão com a do padrão FAO/OMS, além dos aminoácidos sulfurados, os outros
aminoácidos limitantes da proteína do feijão, em ordem decrescente, são a valina,
o triptofano e a treonina (BLANCO e BRESSANI, 1991).
OLIVEIRA (1973) constatou que a proteína das sementes das
leguminosas não é capaz de suportar o crescimento de ratos, por causa da sua
deficiência em aminoácidos sulfurados. O efeito benéfico da adição de metionina
ao feijão já foi demonstrado (BRESSANI, 1973; OLIVEIRA, 1973). Essa
informação sobre a qualidade nutritiva dos grãos das leguminosas tem grande
significado, porque eles são considerados suplementos dos cereais que contêm
baixo conteúdo de lisina e adequado teor de aminoácidos sulfurados. Por isso,
muitos não consideram totalmente acidental o importante papel desempenhado
pelas dietas formadas de misturas de cereais e grãos de leguminosas nos muitos
séculos de evolução da humanidade (VIEIRA, 1992).
SGARBIERI et al. (1979) mostraram que a porcentagem disponível de
metionina, para ratos, variou de 29,3% na variedade Carioca até 40,6% para a
Rico 23. Também EVANS et al. (1974) constataram que ratos alimentados com
feijão cozido excretavam nas fezes 49% da metionina e 25% da cisteína
ingeridas.
EVANS e BAUER (1978), utilizando a técnica de balanço metabólico
em ratos em crescimento, determinaram a biodisponibilidade da metionina no
20
feijão navy (P. vulgaris L.). Foi constatado que toda a metionina sintética
adicionada a dietas à base de feijão cozido era absorvida pelos animais,
indicando não existir no feijão algo que interfira na absorção da metionina livre.
No entanto, apenas 50% da metionina e 41% da cistina já presentes no feijão
eram absorvidos. Segundo os autores, o ácido fítico parecia não interferir na
utilização desses aminoácidos.
SGARBIERI e WHITAKER (1982) estudaram a eficiência protéica das
diferentes frações das proteínas do feijão Rosinha G2, com e sem suplementação
com metionina. O PER variou de 0,50 para a fração albumina a 0,98 para as
globulinas; e a suplementação com 3% de metionina e 2% de cisteína elevou os
valores para 3,98 e 4,47, respectivamente.
O tratamento térmico também reduz significativamente o teor de lisina
disponível em conseqüência da ocorrência de reação de Maillard, resultando no
bloqueio de grupamentos amino-laterais por compostos do tipo carbonil
formados durante a oxidação das gorduras ou com grupos carboxílicos livres de
aminoácidos, como os ácidos glutâmico ou aspártico (BURR, 1973).
A baixa utilização biológica das proteínas de Phaseolus vulgaris é
atribuída a vários fatores, como: baixo conteúdo de aminoácidos sulfurados;
estrutura compacta de proteínas nativas de feijões, que podem resistir à
proteólise; compostos antinutricionais, que podem modificar a digestibilidade e
alterar a liberação dos aminoácidos; e excreção elevada de nitrogênio endógeno
(WU et al., 1995).
Possivelmente, um dos fatores que mais afeta a utilização das proteínas
do feijão é a sua digestibilidade, e até agora não se sabe com certeza se esse
efeito é causado por uma descarga muito rápida do intestino ou por resistência
destas proteínas à hidrólise das enzimas gastrointestinais. Tem-se sugerido que a
baixa solubilidade de algumas frações protéicas reduz sua susceptibilidade ao
ataque enzimático. Numerosos estudos confirmam o fato de que o clássico
21
inibidor da tripsina é termolábil, de modo que não poderia ser responsável pela
baixa digestibilidade das proteínas do feijão cozido (GOMEZ-BRENES et al.,
1983).
A digestibilidade das proteínas do feijão, em ratos, situa-se entre 40 e
70% (BRESSANI e ELIAS, 1984). Em humanos, esta digestibilidade é ainda
menor, atingindo não mais que 60% do nitrogênio ingerido (BRESSANI, 1983).
O valor nutritivo da proteína de grãos de Phaseolus vulgaris é
aumentado pelo processamento térmico, especialmente pelo tratamento por calor
úmido (Gallardo et al., 1974, citados por POEL et al., 1990). Isto pode ser devido
à desnaturação de fatores antinutricionais de natureza protéica, já que, para
exercer seus efeitos negativos in vivo, estes fatores precisam manter sua
integridade estrutural (Burns, 1987, citado por POEL et al., 1990). Além disso, o
aumento do valor nutricional pode ser o resultado de uma maior acessibilidade
das proteínas do feijão ao ataque enzimático (Romero e Ryan, 1978, citados por
POEL et al., 1990).
A digestibilidade de proteína de feijão cru geralmente se situa entre 25 e
60%, mas, quando cozido, este valor sobe para 65 a 85%, dependendo da
variedade e do processo de cocção usado (Chang e Satterlee, 1982, citados por
REYES-MORENO e PAREDES-LÓPEZ, 1993).
O Quadro 3 mostra os resultados dos trabalhos de KAKADE e EVANS
(1965) no que se refere a PER e crescimento de ratos alimentados com feijões
navy, crus e autoclavados (121oC), por diferentes tempos.
2.3. Fatores antinutricionais presentes no feijão
O feijão comum possui alguns atributos indesejáveis, como: fitatos,
fatores flatulentos, compostos fenólicos, inibidores enzimáticos, hemaglutininas
(lectina) e alergenos, os quais devem ser removidos ou eliminados para efetiva
utilização do feijão (GUPTA, 1987; SATHE et al., 1984). O Quadro 4 apresenta
algumas das principais características nutricionais de feijões comuns.
22
Quadro 3 - Efeito de feijões navy crus e autoclavados (121oC) no crescimento de ratos
Fonte de Proteína Mudança de Peso (g)
Consumo de Alimento (g)
PER
Caseína 98,0 286 3,41
Feijões crus -13,2 92 todos morreram
Feijões autoclavados por 5 min 35,0 226 1,57
Feijões autoclavados por 15 min 25,0 197 1,26
Feijões autoclavados por 30 min 21,0 198 1,09
Feijões autoclavados por 1 h 12,0 167 0,67
Feijões autoclavados por 4 h -8,0 164 0
Fonte: KAKADE e EVANS, 1965.
Quadro 4 - Características nutricionais de feijões comuns (Phaseolus vulgaris)
1. Fatores positivos: a. Alto conteúdo de proteína b. Alto conteúdo de lisina c. Excelente complementação protéica para os grãos de cereais 2. Fatores limitantes: a. Fatores físicos a.1. Difícil cozimento b. Substâncias antifisiológicas b.1. Compostos polifenólicos b.2. Hemaglutininas b.3. Inibidores de tripsina b.4. Ácido fítico b.5. Fatores de flatulência c. Fatores nutricionais c.1. Deficiência de aminoácidos sulfurados c.2. Baixa digestibilidade protéica
Fonte: Bressani, 1981, citado por BRESSANI (1983).
23
2.3.1. Polifenóis
Feijões comuns (Phaseolus vulgaris) e outras leguminosas contêm uma
quantidade variável de polifenóis, como taninos condensados. O nível destes está
relacionado com a cor da semente, e o branco possui quantidades muito baixas,
enquanto o vermelho e o preto têm níveis significativamente maiores
(BRESSANI et al., 1983; STANLEY et al., 1990).
A maior concentração de polifenóis é encontrada em cascas de sementes
coloridas, e a menor, na casca de sementes brancas ou em outra parte anatômica
da semente (BRESSANI et al., 1991).
ELIAS et al. (1979) relataram que o conteúdo de polifenóis na semente é
maior para o feijão-vermelho e o feijão-preto que nas variedades brancas.
Segundo SCHNEEMAN (1990), tem-se constatado que os polifenóis são
solúveis em água e grande quantidade dos mesmos permanece presente na água
de cocção; os demais fatores antinutricionais do feijão (inibidores de tripsina e
lectinas) são inativados com aquecimento; e a presença de fibras em alta
quantidade tende a reduzir a digestibilidade e absorção de proteínas de baixa
qualidade de dieta.
Compostos polifenólicos são classificados como ácidos fenólicos e
derivados, taninos e flavonóides. Os flavonóides são subdivididos em
antocianinas, flavonas, flavonóis e substâncias relacionadas (SALUNKHE et al.,
1982).
As características e o efeito das ligações entre proteína e polifenóis
dependem do tipo de interação, covalente ou não-covalente. Ligações
não-covalentes podem ocorrer em pH ácido ou neutro e são reversíveis. Os
polifenóis que podem sofrer estas ligações são principalmente os polifenóis
poliméricos ou taninos, embora polifenóis monoméricos ou não-taninos também
possam se ligar não-covalentemente às proteínas. Como conseqüência, o valor
nutricional é diminuído e a estrutura tridimensional das proteínas é modificada,
alterando suas propriedades funcionais. As interações covalentes entre polifenóis
e proteínas, juntamente com uma série de transformações enzimáticas,
24
contribuem para o fenômeno de escurecimento. Estas interações são irreversíveis
e, caso aminoácidos essenciais estejam envolvidos nas ligações com polifenóis,
haverá decréscimo do valor nutricional do alimento, além de alterações nas
qualidades organolépticas (HERNANDEZ et al., 1991).
Além da formação de complexos com proteínas, tornando-as
indisponíveis, os polifenóis podem inibir enzimas digestivas (STANLEY e
AGUILERA, 1985). Os polifenóis, dentre os fatores antinutricionais, são os que
mais contribuem para a baixa digestibilidade do feijão em animais e humanos.
Isto pode ser explicado pela formação de complexos entre os polifenóis e
proteínas, os quais são insolúveis e de baixa digestibilidade, tornando a proteína
parcialmente indisponível, ou através da inibição das enzimas digestivas e
aumento do nitrogênio fecal (BRESSANI e ELIAS, 1980).
O Quadro 5 mostra a distribuição de polifenóis em diferentes partes
estruturais da semente.
Quadro 5 - Distribuição de polifenóis em frações anatômicas de P. vulgaris
Unidade Origem da amostra
Cor da casca
Semente inteira
Cotilédones Revestimento da semente
Valores de equiv. catequina
(mg/g)
Wisconsin - EUA1
branco
preto
bronze
2,31
6,65
7,80
2,17
2,90
2,04
---
---
---
Valores de equiv. catequina
(mg/g)
Porto Rico1 branco
preto
vermelho
2,40
5,30
12,56
0,44
0,98
1,01
---
---
---
Ácido Tanínico (%)
Guatemala2 branco
preto
vermelho
3,85
7,95
9,30
4,15
5,25
5,00
1,30
42,50
38,00
1 MA e BLISS (1978) e 2 ELIAS et al. (1979).
2.3.1.1. Taninos
25
Taninos e proteínas podem interagir, formando complexos insolúveis e
solúveis, sendo os primeiros favorecidos pelo pH próximo do ponto isoelétrico
da proteína e pelo excesso de ácido tânico (VAN BUREN e ROBINSON, 1969).
A intensidade das ligações entre taninos e proteínas depende de vários fatores.
Essa interação poderá ocorrer tanto com as proteínas dos alimentos, como com as
enzimas do trato gastrointestinal (COELHO e LAJOLO, 1993). As proporções de
taninos e proteínas envolvidos na reação são influenciadas por álcool, sais, pH e
tipo (grau de polimerização) dos taninos envolvidos. Os tipos de proteínas e
taninos influenciam a reação; por exemplo, maior precipitação ocorre com
gelatina de alto peso molecular (VAN BUREN e ROBINSON, 1969).
Taninos de Phaseolus vulgaris são procianidinas. Há indícios de que o
tamanho da cadeia dos taninos não seja o único critério associado com
precipitação de proteínas. Diferenças na solubilidade dos complexos
taninos/proteínas podem ser devidas a diferentes estruturas secundárias e
terciárias dos taninos. Os taninos de feijões da variedade Pinto têm maior
afinidade que outros taninos com os inibidores de tripsina de soja (ASQUITH e
BUTLER, 1986).
O relacionamento entre a concentração de taninos e a qualidade protéica
é também evidente quando a proteína é suplementada com metionina,
eliminando, assim, a possibilidade da função que esses aminoácidos
desempenham na qualidade protéica dos alimentos (BRESSANI e ELIAS, 1980).
Grupos hidrofóbicos parecem estar envolvidos na formação e
estabilização de complexos tanino-proteína. Um estudo da interação entre taninos
condensados e poliaminoácidos indicou que o número de grupos metileno na
cadeia lateral do aminoácido foi positivamente relacionado com a magnitude da
interação. A presença de doadores de hidrogênio na forma de hidroxi-fenólicos,
em taninos, e de aceptores de hidrogênio, na forma de funções carbonila, nas
ligações peptídicas das proteínas, favorece a formação de pontes de hidrogênio.
Além disso, desde que ambos os grupos contenham regiões hidrofóbicas, núcleo
26
aromático dos taninos e cadeias alifática e aromática laterais dos aminoácidos da
proteína, é possível que esses participem do fenômeno de interação (OH et al.,
1980).
Os taninos compreendem uma pequena parte do diversificado grupo de
fenólicos de plantas, que variam de ácidos fenólicos simples C7-C9, dos
flavonóides C16 às ligninas inertes altamente polimerizadas. Muita confusão
existe na literatura, porque fenólicos simples, como ácido clorogênico, que não
têm propriedades de taninos em termos de precipitação protéica ou reação de
adstringência com os muito usados reagentes de Folin-Dennis, agem do mesmo
modo que os taninos verdadeiros. Os polímeros fenólicos se tornam menos
adstringentes e reativos em relação às proteínas, suas solubilidades diminuem e
eventualmente eles se tornam ligados aos componentes da parede celular, quando
eles podem ser medidos junto com lignina (MANGAN, 1988).
Embora os taninos sejam quimicamente um grupo diversificado e não tão
bem definido, eles são normalmente divididos em taninos hidrolisáveis e taninos
condensados (MANGAN, 1988). Os taninos hidrolisáveis são facilmente
hidrolisados, química ou enzimaticamente, e podem ser quebrados em açúcares e
ácidos carboxílicos fenólicos (SAVELKOUL et al., 1992). Os taninos
condensados são os mais difundidos e típicos entre taninos de plantas e
-3-
produzem tipicamente antocianidinas (cianidina e pelargonidina) na degradação
ácida (MANGAN, 1988). Taninos condensados causam diminuição na
digestibilidade das proteínas e dos carboidratos como resultado de formação de
complexos insolúveis resistente às enzimas (SAVELKOUL et al., 1992). As
reações de ambos (taninos hidrolisáveis e condensados) com proteínas dependem
da configuração espacial das moléculas e da reatividade dos grupos fenólicos.
Diferentes proteínas têm diferentes afinidades por taninos e reagem mais
eficientemente em valores de pH próximos do ponto isoelétrico (MANGAN,
1988).
27
O peso molecular dos taninos está usualmente entre 500 e 3.000, o que
os fazem solúveis e pequenos o suficiente para se orientarem entre as cadeias
protéicas, tendo grupos fenólicos suficientes para formar ligações sob condições
favoráveis de concentração e pH (MANGAN, 1988).
A quantificação de polifenóis em grãos e sementes é problemática
devido, em parte, à diversidade de métodos usados e à presença de fatores
interferentes. A eficiência na extração de polifenóis depende do solvente
utilizado (CARMONA et al., 1991). Quando taninos estão ligados a proteínas,
eles não são detectados por métodos de rotina (BUTLER et al., 1980).
O conteúdo de taninos em feijões comuns varia de 0 a 2,0%, dependendo
da espécie do feijão e cor da casca (REDDY et al., 1985). Phaseolus vulgaris
branco, preto e vermelho contêm, respectivamente, 0,34 a 0,42, 0,57 a 1,15 e
0,95 a 1,29% de polifenóis como ácido tânico, principalmente na superfície da
casca. Assim, a qualidade protéica é maior para Phaseolus vulgaris branco do
que para o preto e o vermelho (BRESSANI e ELIAS, 1980). Foi constatado que
a relação taninos/polifenóis não-taninos em sementes de feijão-branco é
substancialmente menor que em variedades de feijão-preto (CARMONA et al.,
1991).
DESHPANDE et al. (1982) verificaram que o conteúdo de taninos em
feijões depende em grande parte da presença ou não do tegumento e da coloração
dos mesmos. O conteúdo de taninos dos feijões pigmentados inteiros e
descascados variou de 33,7 a 282,8 mg de equivalentes catequina/100g de feijões
inteiros e de 10,0 a 28,7mg de equivalentes catequina/100g de feijões
descascados. Os taninos não foram detectados nos cultivares de semente branca
(Sanilac, Great Northern e Small White).
O descascamento removeu a maioria dos taninos dos feijões coloridos.
Assim, os feijões descascados de todos os cultivares pigmentados investigados
não diferiram em seus conteúdos de taninos. Porém, a total eliminação de taninos
após o descascamento não foi observada (DESHPANDE et al., 1982).
28
A digestibilidade varia conforme o cultivar, com sementes brancas tendo
digestibilidade maior e as vermelhas, mais reduzida (REDDY et al., 1985), fato
que foi associado ao teor e à natureza dos taninos da casca das variedades
coloridas (AW e SWANSON, 1985).
A digestibilidade das proteínas decresce com o aumento da pigmentação
do tegumento da semente. Os pigmentos são, geralmente, compostos fenólicos,
que podem interagir com as proteínas do feijão, decrescendo a sua digestibilidade
e utilização. Os polifenóis encontram-se nas plantas, como metabólitos
secundários, raramente ativos. Sua habilidade de formar compostos complexos e
de precipitar as proteínas faz com que sejam importantes sob o ponto de vista
nutricional (BRESSANI et al., 1991). Por exemplo, Jaffe, 1950, citado por
SGARBIERI e WHITAKER (1982), encontrou valores de 76,8; 79,5 e 84,1%
para digestibilidade in vivo de proteínas de feijão (Phaseolus vulgaris) preto, rosa
e branco, respectivamente. Possivelmente os inibidores enzimáticos, como os
taninos ou polifenóis, podem ser parcialmente responsáveis por essa baixa
digestibilidade, mas esses compostos nas leguminosas não têm sido estudados
com profundidade, existindo poucos estudos em animais que indiquem que eles
afetam diretamente a qualidade nutricional. Não obstante, há evidências que
fazem pensar que os polifenóis são os que contribuem mais para a baixa
digestibilidade da proteína do feijão (BRESSANI et al., 1991).
Feijões com um conteúdo maior de polifenóis geralmente respondem
melhor à adição de metionina do que aqueles com menores conteúdos. Parece
que pequenas quantidades de compostos fenólicos podem ser absorvidas e
desintoxicadas, num processo que utiliza metionina adicionada à proteína do
feijão. De acordo com essa hipótese, a adição de metionina aumenta a qualidade
protéica, principalmente em feijões com grande quantidade de tanino. Assim, a
metionina adicionada não apenas melhora a qualidade da proteína do feijão, mas
também atua na desintoxicação de taninos (BRESSANI et al., 1983).
Aparentemente, a moagem é essencial para liberação de taninos de
células da casca dos feijões. Quando extraídos de grãos inteiros, apenas 10-20%
29
dos taninos totais foram detectados em metanol absoluto, mesmo depois de
48 horas de extração. Cascas de feijão contêm aproximadamente de 5 a 7% de
taninos, com base no seu peso. Quando expresso em termos de grão inteiro, esse
valor é de cerca de 1,1 a 2,5 vezes maior quando a extração é feita na farinha do
feijão, em relação ao feijão inteiro (DESHPHANDE e CHERYAN, 1985).
Os valores médios de NPR e de digestibilidade por cor de grão
encontram-se no Quadro 6. Esses dados indicam que, em valores médios, o
feijão-branco tem melhor NPR e maior digestibilidade que o roxo, o preto ou o
marrom. A variação na digestibilidade para todas as amostras, foi de 65,7 a
83,4%, enquanto a NPR foi de 1,16 a 2,62 (BRESSANI e ELIAS, 1984).
Devido à localização preferencial dos taninos na casca do grão, a
remoção física por descascamento ou moagem, com posterior separação das
cascas, pode diminuir o conteúdo de taninos nos grãos e aumentar a qualidade
nutricional (BRESSANI e ELIAS, 1980; BRESSANI et al., 1983; DESHPANDE
et al., 1982; ELIAS et al., 1979; SALUNKHE et al., 1982). O descascamento
elimina de 68 a 95% dos taninos em feijões-comuns (Quadro 7) (DESHPANDE
et al., 1982). Entretanto, o mecanismo de descascamento dos grãos pode acarretar
perdas substanciais de proteínas e outros nutrientes, o que pode compensar os
efeitos benéficos da remoção de taninos pelo descascamento (REDDY et al.,
1985).
É possível que alguns taninos se difundam para o endosperma do
cotilédone e se liguem às proteínas durante o molho. Soluções de bicarbonato de
sódio ou mistura de sais são mais eficientes que água na retirada de taninos
(REYES-MORENO e PAREDES-LÓPEZ, 1993).
O cozimento não é capaz de destruir os taninos, mas estes são
parcialmente removidos com o caldo do cozimento (BRESSANI e ELIAS,
1980). Segundo trabalho de ZIENA et al. (1991), menos de 10% dos taninos
totais são decompostos durante o cozimento, enquanto cerca de 50% são
carreados para o líquido de cocção.
30
Quadro 6 - Valores médios de digestibilidade protéica (DP) e de NPR em feijão-comum por cor e total (média desvio-padrão)
Cor n DP(%) NPR
Preto 21 71,5 3,3 1,79 0,28
Roxo 23 72,4 2,9 1,80 0,29
Branco 10 76,6 3,5 2,31 0,26
Marrom 3 70,7 3,8 1,94 0,18
Todos 57 72,7 3,4 1,89 0,25
Fonte: BRESSANI e ELIAS (1984).
Quadro 7 - Conteúdo de taninos de feijões inteiros e descascadosa
Cultivar
Conteúdo de Taninos (mg equivalente catequina/100g)
% Redução no
Feijões Inteiros Feijões Descascados Descamento
Sanilac NDb ND -
Great Northern ND ND -
Small White ND ND -
Cranberry 76,3 10,0 86,9
Viva Pink 122,1 10,4 91,5
Pinto 264,7 14,2 94,6
Light Red kidney 152,2 22,2 85,4
Dark Red kidney 105,3 28,7 72,7
Small Red 282,8 19,0 93,3
Black Beauty 33,7 10,8 68,0 a Média de determinações triplicadas em base seca e b ND = não-detectado. Fonte: DESHPANDE et al. (1982).
31
Cerca de 60, 67 e 37% dos polifenóis totais de feijões crus
permaneceram nos grãos pretos, brancos e vermelhos, respectivamente, após o
cozimento (BRESSANI et al., 1983). A água de cocção continha menos de 20%
dos polifenóis totais.
No entanto, embora relativamente grandes quantidades de polifenóis
possam ser eliminadas na água de lavagem e na água utilizada para o cozimento,
o resíduo é retido, principalmente pelos cotilédones. Isto pode ser devido à
migração aparente dos taninos do tegumento para os cotilédones. As quantidades
de taninos ingeridas irão, então, depender de como os feijões são processados e
consumidos (BRESSANI e ELIAS, 1980).
Os taninos de diferentes plantas têm diferentes atividades biológicas que
podem variar com as espécies animais, o pH e a natureza da proteína que está
sendo complexada (PEREZ-MALDONADO et al., 1995). A importância do
conteúdo de taninos para o valor nutricional de sementes de feijão é também
sugerida pelas diminuições na digestibilidade in vitro (ROMERO e RYAN,
1978).
Efeitos biológicos de taninos em humanos e animais variam
consideravelmente. DESHPANDE et al. (1982) revisaram os efeitos deletérios de
vários tipos de taninos e os agruparam nas seguintes categorias: diminuição do
consumo de alimento, formação de complexos taninos/proteínas ou outros
componentes dos alimentos, inibição de enzimas digestivas, aumento da excreção
de proteína endógena, efeitos dos taninos no trato digestivo e toxicidade dos
taninos absorvidos e seus metabólitos.
Taninos condensados são também conhecidos como tendo efeitos
benéficos no metabolismo e na nutrição animal. Os efeitos benéficos registrados
em ruminantes têm sido prevenção de inchaços e formação de complexos
tanino-proteína, que protege a proteína da dieta da degradação no rúmen e,
subseqüentemente, produz a absorção do aminoácido e utilização pelo animal
ruminante. As proteínas salivares, ricas em prolina e glicoproteínas, têm uma
afinidade muito grande por taninos, e é proposto que esse mecanismo proteja
32
algumas espécies animais contra a toxidez dos taninos (PEREZ-MALDONADO
et al., 1995).
2.3.1.2. Flavonóides
Feijões-comuns (Phaseolus vulgaris) e outras leguminosas contêm uma
quantidade variável de polifenóis, e o nível dos mesmos está relacionado com a
cor do grão. Diferentes polifenóis (antocianinas) são responsáveis pelas cores do
tegumento de feijões.
Os compostos de cores que variam do vermelho ao azul, passando por
uma gama intermediária de cores, são substâncias pertencentes ao grupo dos
flavonóides, denominadas antocianinas (MAZZA e BROUILLARD, 1987a). As
antocianinas são glicosídeos das antocianidinas, cuja estrutura básica é a
estrutura do cátion flavilium (2-fenilbenzopirilium). Todas as antocianinas são
compostas de duas ou três partes: a estrutura básica, que é uma aglicona
(antocianidina); o açúcar; e, freqüentemente, um ácido (FRANCIS, 1992).
Segundo HRAZDINA (1982), são conhecidas 225 antocianinas
individuais. Já FRANCIS (1992) informa que existe um grande número de
possíveis combinações da antocianidina com o açúcar e o grupo acil, chegando a
formar 300 antocianinas conhecidas.
As antocianinas podem ser glicosiladas por diferentes açúcares nas
posições 3, 5 e 7, sendo os mais freqüentes ligados nas posições 3-hidroxil ou
5-hidroxil e o menos comum, na posição 7-hidroxil. Os açúcares mais comuns
são glicose, ramnose, xilose, galactose, arabinose ou frutose. O número de
grupos hidroxílicos na molécula, o grau de metilação desses grupos, a natureza e
o número de açúcares ligados à molécula e a posição dessas ligações, bem como
a natureza e o número de ácidos alifáticos e, ou, aromáticos ligados ao açúcar na
molécula, indicam as diferenças entre as várias antocianinas (FRANCIS, 1992).
As antocianinas e antocianidinas mostram absorvância intensa na região
compreendida entre os comprimentos de onda de 465 a 550 nm e uma
absorvância muito menos intensa na região entre 270 e 280 nm. A posição dos
33
picos varia consideravelmente com o solvente e o pH das soluções (BOBBIO e
BOBBIO, 1992).
As antocianinas purificadas de P. vulgaris têm sido delfinidinas
3-glicosídeo e 3,5-diglicosídeo (HARBORNE, 1967) ou uma mistura de
pelargonidina e cianidina 3-glicosídeo e 3,5-diglicosídeo (Yoshikura e
Hamaguchi, 1971, citados por MARKAKIS, 1982). As cascas de feijões
analisadas por Frenstra, 1960, citado por MARKAKIS (1982), continham
adicionalmente petunidina, malvidina 3-glicosídeo e delfinidina 3,5-diglicosídeo.
No entanto, a casca de um cultivar japonês mostrou falta de derivados de
pelargonidina, mas continha delfinidina, petunidina e malvidina 3-glicosídeo e
malvidina 3,5-diglicosídeo (Okita et al., 1972, citados por MARKAKIS, 1982).
De acordo com STANTON e FRANCIS (1966), em feijões do cultivar
Canadian Wonder foram encontrados: pelargonidina 3-monoglicosídeo,
cianidina 3-monoglicosídeo, pelargonidina 3,5-diglicosídeo, delfinidina 3-
monoglicosídeo e cianidina 3,5-diglicosídeo. Outros cultivares continham essas
antocianinas em diferentes proporções ou, em alguns, elas podem estar ausentes.
NOZZOLILO (1971) estudou plantas novas de pigmentação vermelha de
feijão mung (Phaseolus aureus Roxb.), Realeza (cultivares Black Wax de feijão
bush Phaseolus vulgaris L.) e feijão runner Hammond's Dwarf
(P. coccineus L.). Encontrou como resultados que delfinidina 3-glicosídeo é o
principal pigmento de feijão mung e que malvidina e pelargonidina glicosídeos
estão presentes em quantidades menores. Malvidina 3,5-diglicosídeo é
predominante em planta nova de duas variedades de feijão bush e em haste de
planta nova de feijão runner.
TSUDA et al. (1994a) isolaram cianidina 3-O--D-glicosídeo e
pelargonidina 3-O--D glicosídeo de feijão-vermelho e delfinidina
3-O- -D-glicosídeo de feijão-preto. As estruturas desses pigmentos são
mostradas na Figura 2.
34
OHOR2
HO
+OH
R1
O O
HO
CH2OH
OH
OH
R1 = OH, R2 = H cianidina 3-O- -D-glicosídeo R1 = H, R2 = H pelargonidina 3-O--D-glicosídeo R1 = OH, R2 = OH delfinidina 3-O- -D-glicosídeo Fonte: TSUDA et al., 1994a.
Figura 2 - Estruturas de antocianinas de feijão.
O significado biológico das antocianinas presentes no tegumento de
feijões foi estudado por STANTON e FRANCIS (1966). A concentração de
flavonóides nas sementes varia de acordo com as condições de crescimento e
colheita das mesmas. Como a concentração de pelargonidina 3-glicosídeo (P-3-g)
é alta no tegumento do cultivar de feijão Canadian Wonder, foi testado o efeito
desta antocianina na inibição e estimulação do crescimento de vários
microrganismos. Em nível de 1.000ppm, P-3-g inibiu o crescimento de algumas
espécies de Rhizobium. Essas interações entre espécie hospedeira e simbionte,
sem dúvida, influenciam o desenvolvimento da microflora no tegumento de
leguminosas.
2.3.2. Lectinas (fito-hemaglutininas)
A habilidade de extratos de grãos de feijão em aglutinar células
vermelhas do sangue de várias espécies animais foi descoberta em 1908
dado às proteínas que eram responsáveis por essa atividade (Boyd e Shopleigh,
1954, citados por OSBORN, 1988).
35
Lectinas são complexas misturas de proteínas com atividade de
eritrosedimentação e transformação linfocítica, presentes em ambas as frações
albumina e globulina (Pulsztai e Stewar, 1978, citados por MARTINEZ-
ARAGON et al., 1995), e são o maior componente da fração globulina-2 (Brown
et al., 1981, citados por MARTINEZ-ARAGON et al., 1995). No entanto, o
estudo de MARTINEZ-ARAGON et al. (1995), usando SDS-PAGE, mostrou
claramente que as duas subunidades de lectina estão presentes na fração
albumina, sendo a fração globulina livre de lectina, o que contrasta com os
estudos anteriores.
Nas espécies do gênero Phaseolus, as lectinas têm sido encontradas
principalmente nas sementes. As lectinas se localizam no citoplasma dos
cotilédones e das células embrionárias, onde elas aparecem durante o
desenvolvimento inicial e a diferenciação do embrião. Durante a germinação da
semente o conteúdo de lectina decresce em velocidade paralela à da perda das
proteínas de reserva (SGARBIERI e WHITAKER, 1982).
Os pesos moleculares das subunidades de lectina variam de 29.000 a
36.500, e os pontos isoelétricos variam de pH 4,9 a 7,9, com a maioria na faixa
de pH 5 a 6 (OSBORN, 1988).
Outra observação interessante é a de que as lectinas tóxicas aparecem
principalmente nas variedades pigmentadas, quando comparadas com as brancas
ou não-pigmentadas (HONOVAR et al., 1962).
A ação das lectinas tem sido atribuída à ligação às células da mucosa
intestinal, causando mal funcionamento, ruptura e lesão no intestino delgado e
conseqüentemente, interferência na absorção de nutrientes, e também à direta
ação destes sobre as enzimas digestivas (THOMPSON e SERRAINO, 1986).
Sérios danos causados pelas lectinas às células epiteliais e às
microvilosidades já foram mostrados utilizando microscopia ótica e eletrônica.
As lectinas reagem com as células intestinais in vivo e causam ruptura destas no
36
duodeno e no jejuno. Apesar de um pouco diminuída, a absorção ainda ocorre,
provavelmente devido às células intactas do intestino delgado (SGARBIERI e
WHITAKER, 1982).
A função das lectinas em feijão é desconhecida; no entanto, algumas de
suas funções foram sumarizadas por Liener, 1976, citado por SGARBIERI e
WHITAKER (1982), como se segue: (1) elas agem como anticorpos contra
bactérias de solo; (2) atuam como barreiras das plantas contra ataque de fungos,
inibindo polissacarases fúngicas; (3) atuam no transporte ou no armazenamento
de açúcares; e (4) desempenham importante papel no desenvolvimento e na
diferenciação de células embrionárias. Outras pesquisas indicam que as lectinas
podem desempenhar um papel na inter-relação simbiótica entre plantas
leguminosas e bactérias ou na proteção contra patógenos e insetos (OSBORN,
1988).
2.3.3. Inibidores de tripsina
O baixo valor nutritivo de certos grãos comestíveis crus, como feijão ou
soja, é usualmente atribuído à presença de um número de fatores tóxicos não
estáveis ao calor, incluindo inibidores de tripsina e hemaglutininas.
O feijão, assim como as leguminosas em geral, contém inibidores
protéicos das proteases digestivas humanas, tripsina e quimiotripsina. Desta
forma, eles podem interferir na digestibilidade de proteínas da dieta, retardar
crescimento e produzir hipertrofia do pâncreas. Porém, o aquecimento destrói os
inibidores e melhora o valor nutritivo de proteínas de leguminosas (GEIL e
ANDERSON, 1994). Esses inibidores são do tipo Bowman-Birk e são capazes de
inibir tripsina e quimiotripsina independente e simultaneamente, por conterem
dois sítios reativos diferentes (WU e WHITAKER, 1991).
Existem dois tipos de inibidores de tripsina, com base no aminoácido no
qual se localiza o sítio de ligação no inibidor. Um tipo contém um resíduo de
lisina, como o inibidor Bowman-Birk da soja e o inibidor do feijão-lima, e o
outro tipo contém um resíduo de arginina, como o isoinibidor II do feijão Grande
37
do Norte. O isoinibidor I do feijão Grande do Norte possui lisina no sítio de
ligação (WILSON e LASKOWSKI, 1973). Os três isoinibidores do feijão-rosa
Brasileiro são do tipo inibidores de tripsina (SGARBIERI e WHITAKER, 1981),
como no inibidor de tripsina e de quimiotripsina de grão-de-bico (Cicer
arietinum) (SMIRNOFF et al., 1979). Trabalhos subseqüentes mostraram que o
sítio de ligação específico para a quimiotripsina contém um resíduo de tirosina,
fenilalanina ou metionina, enquanto o da elastase contém um resíduo de alanina
ou de serina (LASKOWSKI e KATO, 1980).
Os inibidores de tripsina e quimiotripsina concentram-se nas sementes.
Em geral, essas proteínas apresentam baixa qualidade nutricional em função de
sua composição aminoacídica peculiar: teores reduzidos de metionina, glicina,
valina, fenilalanina, tirosina e triptofano. São particularmente resistentes à
desnaturação, e alguns podem apresentar atividade mista, inibindo tanto a
tripsina como a quimiotripsina (SGARBIERI e WHITAKER, 1982; SGARBIERI
e WHITAKER, 1981).
GOMES et al. (1979) isolaram uma fração protéica de feijões navy
(Phaseolus vulgaris L. cultivar Sanilac), que inibiu fortemente a atividade
enzimática da tripsina e quimiotripsina. Esta fração protéica foi isolada através
de cromatografia de afinidade, utilizando tripsina imobilizada em agarose. O
inibidor foi caracterizado por alto conteúdo de cisteína, baixo conteúdo de
metionina e ausência de triptofano. Um inibidor de tripsina com composição
similar foi também isolado, utilizando filtração gélica e cromatografia de troca
iônica em dietilaminoetil (DEAE) celulose (Wagner e Riehm, 1967, citados por
GOMES et al., 1979).
O peso molecular dos inibidores se situa entre 8 e 10 kDa,
caracterizando-se pelo alto teor de cisteína (12 a 14 mol/mol proteína), pela
ausência de carboidratos e metionina e pelo baixo conteúdo de glicina, alanina e
aminoácidos aromáticos (WU e WHITAKER, 1991).
Os inibidores de proteases são também importantes do ponto de vista
nutricional. Apesar de representarem apenas 2,5% da proteína total do feijão,
38
parecerem contribuir com cerca de 40% do conteúdo total de cisteína. No
entanto, esse aminoácido não seria biodisponível, devido à alta resistência ao
ataque enzimático apresentada pelos inibidores (KAKADE et al., 1969).
O cozimento elimina em larga escala a atividade antitripsina de sementes
inteiras e cotilédones. O remanescente, ou atividade resistente ao calor, pode ser
atribuído à presença de polifenóis nas partes anatômicas, embora uma destruição
incompleta dos verdadeiros inibidores de tripsina deva ser considerada, sendo a
atividade final um somatório das duas inibições (FERNÁNDEZ et al., 1982).
2.3.4. Fitatos
Fitato é a forma de armazenagem de fósforo encontrada em todas as
sementes de leguminosas, em concentrações variando em torno de 0,3 a mais de
2,5% em base seca (STANLEY e AGUILERA, 1985). Outros autores citam
valores em níveis de aproximadamente 5% p/p (DE BOLAND et al., 1975).
Ácido fítico é um dos antinutrientes em feijões secos e serve como fonte
de fósforo (GRAF, 1983a). Responde por mais de 80% do total de fósforo do
feijão e se localiza preferencialmente no cotilédone (DESHPANDE et al., 1982),
embora não se saiba se ele está biologicamente disponível.
Numerosos inositóis poli-fosforilados podem ser encontrados na
natureza, e, dependendo do complexo formado, uma grande variedade de
compostos pode existir. O ácido fítico pode ser comumente chamado de ácido
mio-inositol hexafosfórico. Nove esterioisômeros de inositóis são possíveis; no
entanto, apenas a forma mio tem sido isolada de plantas, enquanto isômeros
hexafosfatados têm sido identificados no solo (MAGA, 1982).
O termo fitina sugere sais de cálcio ou magnésio do ácido fítico,
enquanto fitato pode significar de mono a deca-ânion de ácido fítico (MAGA,
1982).
REDDY e PIERSON (1987) encontraram que o ácido fítico de feijões
Great Northern estavam presentes na forma hidrossolúvel (80%), assim como na
forma insolúvel (20%), como sais de cálcio, magnésio ou potássio em associação
com proteínas.
39
Valores de ácido fítico em feijões-comuns variam de 0,6 a 2,7%
(DESHPANDE et al., 1982; LOLAS e MARKAKKIS, 1975). Esta variação pode
ser devida, em parte, à diferença de variedades e cultivares e aos métodos de
determinação (REYES-MORENO e PAREDES-LÓPEZ, 1993).
LOLAS e MARKAKKIS (1975) mediram o nível de ácido fítico em 50
variedades de P. vulgaris cultivadas por um período de dois anos e encontraram
valores entre 0,54 e 1,58%. Foi também encontrada uma alta correlação entre o
conteúdo total de fósforo e o nível de ácido fítico. Eles isolaram, ainda, o
complexo proteína-fitato e verificaram que 99% do total de ácido fítico estava na
forma hidrossolúvel.
Os dados do conteúdo de ácido fítico de feijões inteiros e descascados
estão no Quadro 8.
Fitatos interferem no metabolismo de minerais, principalmente zinco
(LIKUSKI e FORBES, 1964; NAVERT et al., 1985; OBERLEAS et al., 1966) e
cálcio (GRAF, 1983b). Existem controvérsias sobre o efeito dos fitatos sobre o
ferro (CLYDESDALE, 1983). Dessa forma, a estrutura da molécula do fitato
proporciona um forte potencial quelante e faz com que ela se ligue ionicamente a
cátions mono e bivalentes, incluindo certos minerais essenciais provenientes da
dieta, tornando-os biologicamente indisponíveis para absorção (STANLEY e
AGUILERA, 1985). Pratley et al., 1982, citados por STANLEY e AGUILERA
(1985), demonstraram que, em pH fisiológico, complexos solúveis
proteína-cálcio-fitato foram produzidos e que o cálcio foi requerido para a
associação de proteína com fitato.
Estudos in vitro têm mostrado que complexos de ácido fítico com
minerais são insolúveis no pH intestinal e biologicamente indisponíveis para
absorção. Assim, a formação destes complexos é pH dependente. Também,
quando dois ou mais cátions estão presentes, um pode agir sinergisticamente,
aumentando a precipitação de sais de fitato (ERDMAN, 1979).
Entre os métodos de processamento, germinação e fermentação parecem
ser os mais eficazes na diminuição da concentração de fitato, enquanto o molho e
40
Quadro 8 - Conteúdo de ácido fítico de feijões inteiros e descascadosa
Ácido Fítico (mg/g)
Cultivar Feijões inteiros Feijões descascados % Aumentada no descascamento
Sanilac 27,5 29,4 6,9
Great Northern 20,4 32,6 59,8
Small White 11,6 16,3 40,5
Cranberry 26,3 33,9 28,9
Viva Pink 21,6 29,1 34,7
Pinto 23,8 25,6 7,6
Light Red kidney 26,3 34,7 31,9
Dark Red kidney 28,6 36,7 28,3
Small Red 20,7 30,5 47,3
Black Beauty 29,3 36,1 23,2
a Média de determinações triplicadas em base seca. Fonte: DESHPANDE et al. (1982).
cozimento podem remover 50 a 80% ou mais do fitato endógeno em grãos de
feijões (Sathe e Salunke, 1985, citados por REYES-MORENO e PAREDES-
LOPEZ, 1993).
O aumento no conteúdo de ácido fítico dos feijões com o descascamento
(Quadro 8) pode ser atribuído ao processo empregado. Visto que o revestimento
da semente foi removido manualmente, algumas mudanças foram esperadas na
composição das camadas de aleurona dos feijões. Conseqüentemente, a perda de
ácido fítico através da remoção de cascas seria mínima. Se os feijões secos
fossem mecanicamente moídos, mudanças substanciais seriam esperadas no
conteúdo de ácido fítico através da remoção das camadas de aleurona. Grandes
41
perdas, de 15 a 25% do peso seco da semente, têm sido relatadas durante a
moagem mecânica dos feijões secos (DESHPANDE et al., 1982).
2.3.5. Inibidores de -amilase
Os inibidores de -amilase estão presentes na maioria das leguminosas,
embora suas funções fisiológicas e sua significância nutricional estejam ainda
sob estudo (GEIL e ANDERSON, 1994). JAFFÉ et al. (1973) encontraram a
presença de atividade inibitória de -amilase em 79 dos 95 cultivares de
leguminosas testadas.
É difícil comparar as atividades inibitórias de enzimas de feijões,
principalmente por causa das diferenças nos métodos usados. MARSHALL e
LAUDA (1975) relataram uma variação de 2.850 a 6.680 unidades/g de feijão
para inibidores de -amilase de oito cultivares de Phaseolus vulgaris. A faixa
para atividades inibitórias da -amilase, para os cultivares, foi de 330 a
675 unidades/g de feijão inteiro.
Os inibidores de amilase do feijão inibem -amilase de larvas de insetos
(SGARBIERI e WHITAKER, 1981), mas não são ativos contra as - ou
-amilases do feijão (JAFFÉ et al., 1973; POWERS e WHITAKER, 1977). Com
base nisto, tem sido proposto que o papel fisiológico do inibidor de -amilase em
feijão é o de proteger a semente contra ataque de insetos (SGARBIERI e
WHITAKER, 1981). Além disso, os inibidores de -amilase de feijão são
capazes de inibir a -amilase da saliva humana e a -amilase pancreática suína,
mas não a de plantas superiores e de -amilases microbianas (SGARBIERI e
WHITAKER, 1981).
42
3. MATERIAL E MÉTODOS
O presente trabalho foi conduzido nos laboratórios dos Departamentos de
Tecnologia de Alimentos e de Nutrição e Saúde da Universidade Federal de
Viçosa - MG.
Feijão (Phaseolus vulgaris) preto adquirido no comércio local foi
utilizado em todas as etapas do trabalho.
O trabalho foi dividido em duas etapas. Na primeira foram identificadas
as estruturas químicas de antocianinas do feijão; a etapa seguinte consistiu de
ensaios biológicos. Foram testados os efeitos da retirada parcial do tegumento e
da extração de parte dos pigmentos e outros polifenóis na qualidade protéica do
feijão.
3.1. Identificação das antocianinas presentes no feijão
3.1.1. Escolha do solvente extrator
Segundo STRACK e WRAY (1989), a extração de antocianinas é
comumente acompanhada pela maceração da parte vegetal com metanol ou
etanol acidificado com HCl (0,1 a 1,0%).
43
Com o objetivo de avaliar qual o melhor solvente para extração das
antocianinas presentes na amostra, foram utilizados metanol e etanol 70%, ambos
acidificados com 0,5% de HCl.
Foi verificada a eficiência dos dois solventes extratores na remoção de
antocianinas a partir de grãos inteiros e triturados.
3.1.2. Preparação do extrato
Um quilograma de feijão (Phaseolus vulgaris L.) foi macerado com
etanol 70% acidificado com 0,5% de HCl. Utilizou-se um volume do solvente
suficiente para cobrir todo o material sólido. A maceração foi realizada durante
24 horas, a 5oC, ao abrigo da luz. Após este tempo, procedeu-se à filtração
através de pano fino. O extrato assim obtido foi centrifugado a 666,0 Fg
(2.000 rpm) por dez minutos, utilizando-se uma centrífuga modelo Universal
UV, da Internacional Equipamento (IEC), e, a seguir, filtrado em papel Whatman
no 1, através de funil de Buchner. Após a filtração, extraiu-se a clorofila presente
no extrato com porções de 10 ml da mistura éter etílico-éter de petróleo (1:1).
A seguir, procedeu-se à concentração do extrato, sob pressão reduzida, a uma
temperatura de 35 a 40oC, com evaporador rotatório modelo 802, da Fisaton
Equipamentos Científicos Ltda., acoplado à bomba de vácuo marca Tecnal, da
Marconi S.A., modelo TE 053.
O extrato concentrado foi armazenado sob nitrogênio, ao abrigo da luz, a
-18 + 2oC, para utilização nas etapas seguintes.
O pH do extrato inicial foi de 1,8 e, após concentração, de 0,7.
3.1.3. Condições para separação das frações de antocianinas
O extrato concentrado, obtido em 3.1.2., foi submetido a cromatografia
descendente em papel Whatman no2 e cromatografia em camada fina em
cromatoplacas DC - Fertigplatten Celulose F, da Merck, com 20x20 cm e
espessura de 0,1 mm.
Para escolha da fase móvel mais eficiente na separação das frações de
antocianinas do feijão, foram avaliadas diversas misturas de solventes. Algumas
44
destas misturas são apresentadas no Quadro 9. As proporções de cada solvente
foram testadas baseando-se na necessidade de aumentar ou diminuir a polaridade
da fase móvel para se obter uma maior separação entre as frações de antocianinas
presentes.
3.1.4. Cromatografia em papel
A partir do estudo das melhores condições para purificação descrito em
3.1.3., foi selecionada a cromatografia descendente em papel Whatman no 2 e,
como fase móvel, a mistura n-butanol:ácido fórmico:água, BFW (15:2,5:2,4).
A cromatografia foi realizada em cubas de 70x70 cm, durante sete dias.
3.1.5. Purificação das frações
Das seis zonas de coloração, as três que apresentavam maior intensidade
de cor e maior área foram extraídas com metanol acidificado com 0,05% de HCl
1,5N.
A pureza das três frações, denominadas F1, F2 e F3, foi avaliada por
cromatografia em papel Whatman no1 desenvolvida em AWH (ácido acético -
água - HCl, 15:82:3) e HPLC em fase reversa, descrita posteriormente.
3.1.6. Cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC)
3.1.6.1. Preparação das amostras e dos reagentes
As soluções metanólicas das frações purificadas foram concentradas, a
vácuo, em evaporador rotatório até a secura, à temperatura de 38oC, ao abrigo da
luz, e, posteriormente, foram redissolvidas em metanol:água:ácido clorídrico
(50:50:1). As soluções resultantes foram filtradas em membrana FH 1.300,
Millipore, com diâmetro do poro de 0,45 , e imediatamente injetadas no sistema
HPLC.
Todos os reagentes empregados na fase móvel foram previamente
filtrados em sistema Millipore de filtração a vácuo e, a seguir, desgaseificados
em sistema de ultra-som.
45
Quadro 9 - Misturas de solventes avaliadas como fase móvel em cromatografia de camada fina e papel, para separação de antocianinas de feijão
Proporções
Misturas N - butanol ác. fórmico ác. acético HCl benzeno água
1 3 - 3 - - 3
2 - 50 - - - 50
3 - - 7,5 1,5 - 41
4 6 - 1 - - 12
5 20 - - - 7,5 5,7
6 - - - 3 - 97
7 - 10 - 1 - 3
8 4 - 1 - - 2
9 - - 30 3 - 10
10 12 - 3 - - 5
11 15 25 - - - 24
12 2,5 3,5 - - - 2,4
13 1,5 1,5 - - - 2,4
14 2,5 2,5 - - - 2,4
15 - 2,5 - - 2,0 2,4
16 - 5 - 1 - 3
17 4 - 4 - - 3
18 3 - 3 - - 3
19 2,5 3,5 - - - 2,4
20 15 2,5 - - - 2,4
46
3.1.6.2. Análise por HPLC
As zonas purificadas foram submetidas à análise por HPLC, seguindo-se
metodologia descrita por GUEDES (1993), com algumas alterações. Utilizou-se
cromatógrafo líquido de alto desempenho, modelo CG-480, com injetor
l. Na separação isocrática, o volume injetado
foi de 10 l, medidos em seringa Hamilton de 100l. A coluna utilizada foi RP-
18 Bondapack, 300 x 4 mm. A fase móvel foi constituída de metanol:água:ácido
clorídrico (50:50:1). A detecção foi feita pela absorvância a 530 nm,
utilizando-se detector espectrofotométrico UV-visível, modelo Varian UV-50,
utilizando-se o integrador-processador modelo CG-200 (CG Inst. Científicos).
3.1.7. Reações específicas de antocianinas
Após concentração a vácuo a 35-40oC, em evaporador rotatório, alíquotas
das frações eluídas do papel foram recromatografadas utilizando-se ácido acético
10% como fase móvel, durante 12 horas. Após secagem, os cromatogramas
foram expostos aos vapores de hidróxido de amônio, para verificar a ausência de
flavonóides não-antociânicos.
A reação com NH3 foi realizada submetendo-se o papel, contendo o
pigmento em estudo, aos vapores de NH3 durante três minutos, segundo
preconizado por HARBORNE (1967).
As três frações obtidas foram analisadas por espectrofotometria em
espectrofotômetro marca HITACHI U-2000 Double-Beam, para obtenção de
espectros de absorção UV-visível. Foram obtidos os espectros de cada uma das
frações, assim como do extrato bruto de feijão, entre os comprimentos de onda de
200 a 600 nm, utilizando metanol acidificado, com 0,01% de HCl concentrado,
como solvente.
A reação das antocianinas com cloreto de alumínio (AlCl3) a 5%, em
metanol, foi realizada conforme técnica descrita por GEISSAN et al. (1953), para
verificação da existência de hidroxila vicinal.
3.1.8. Hidrólise ácida das frações purificadas
47
Com o objetivo de identificar os açúcares e as antocianidinas, as frações
purificadas foram submetidas à hidrólise ácida.
A 1 ml de cada uma das soluções das frações purificadas, colocadas em
tubos de ensaio, foram adicionados 2 ml de metanol e 2 ml de HCl 2N. As
soluções resultantes foram levadas a banho-maria, à temperatura de ebulição, por
75 minutos. Após resfriamento, as agliconas foram extraídas com 1 ml de álcool
isso-amílico, de acordo com método descrito por DU e FRANCIS (1973).
3.1.8.1. Identificação das antocianidinas
As soluções contendo as agliconas (item 3.1.8) foram concentradas a
vácuo, em evaporador rotatório, à temperatura de aproximadamente 38oC, e a
seguir ressolubilizadas em metanol. Estas soluções foram submetidas a
cromatografia descendente em papel Whatman no1, com as seguintes fases
móveis: n-butanol : ácido acético : água (BAW) (4:1:5), ácido acético : ácido
clorídrico : água (Forestal) (30:3:10) e ácido fórmico : ácido clorídrico : água
(Fórmico) (5:2:3). Os valores de Rf foram determinados e comparados com
valores fornecidos pela literatura (HARBORNE, 1967).
3.1.8.2. Identificação dos açúcares
Utilizou-se cromatografia em papel Whatman no 1 e placa de celulose
das amostras obtidas após hidrólise das frações e dos padrões de açúcares mais
comumente encontrados em antocianinas. A fase móvel consistiu de
butanol:ácido acético:água (12:3:3). A cromatografia foi desenvolvida durante
12 horas. Depois de seco, o papel foi submetido a revelação. A solução
reveladora aplicada por meio de borrifador consistiu de mistura, no momento de
uso, de partes iguais de soluções A e B.
Solução A: anilina:acetona (1,3:50)
Solução B: ácido fosfórico:ácido acético:acetona (0,6:20:30).
Após secagem e aquecimento a 105oC, durante dois a cinco minutos,
ocorreu o aparecimento de manchas coloridas no papel. A identificação dos
açúcares foi feita por comparação dos Rfs das frações com os padrões.
48
A reação específica da glicose com a glicose oxidase foi possível através
da utilização de kit da Biolab e aparelho Clinline 150 da BioMérieux.
A determinação enzimática da glicose ocorre através das seguintes
reações e posterior leitura a 505 nm.
Glicose glicose oxidase ácido glucônico + H2O2
2 H2O2 + fenol + amino-4-antipirina peroxidase cromogênio + 4 H2O
3.1.9. Hidrólise ácida controlada
As hidrólises controladas das soluções metanólicas das frações
purificadas (item 3.1.5) foram realizadas segundo método descrito por FRANCIS
e HARBORNE (1966).
Alíquotas das soluções hidrolisadas foram retiradas com 0, 4, 6, 8, 12,
15, 20, 30, 40, 50, 60 e 75 minutos de reação e submetidas a cromatografia
descendente em papel Whatman no1, desenvolvidas em AWH (15:82:3).
3.1.10. Preparo da solução de delfinidina de berinjela
Tendo sido identificada como delfinidina uma das frações de
antocianinas do feijão e tendo conhecimento de que esta mesma antocianina está
presente em berinjela (GUEDES, 1993), utilizou-se HPLC para confirmação da
identificação dessa fração do feijão.
O extrato bruto de berinjela obtido seguindo o mesmo procedimento
descrito para o feijão foi submetido a cromatografia descendente em papel tipo
mata-borrão, sendo a fase móvel HCl 1%, por 24 horas. A fração 1, maior fração,
foi eluída e recromatografada em BAW (6:1:2). A zona com maior teor de
pigmentos por exame visual foi recromatografada em HAc 10%. Foi eluída, em
metanol, a zona com maior intensidade de cor (GUEDES, 1993).
3.1.11. Ressonância magnética nuclear (RMN)
As soluções metanólicas das zonas purificadas foram concentradas, a
vácuo, em evaporador rotatório, até a secura, à temperatura de 38oC, ao abrigo da
luz, e, posteriormente, foram redissolvidas em água deuterada (D2O), para
49
obtenção dos espectros de RMN a 400 MHz, no aparelho BRUKER WM 400, na
Universidade Federal de Minas Gerais.
3.2. Avaliação da qualidade protéica do feijão
Foram realizados dois ensaios biológicos. O primeiro deles com o
objetivo de avaliar a interferência do tegumento dos grãos e o outro, a influência
dos pigmentos do feijão na qualidade protéica deste alimento.
3.2.1. Efeito da retirada do tegumento na qualidade protéica
3.2.1.1. Preparo das dietas
Para este ensaio foi preparada uma ração aprotéica e outras três rações
cujas fontes protéicas foram: feijão, feijão sem tegumento e caseína.
No preparo das rações à base de feijão, primeiramente os grãos foram
limpos e lavados. Então, adicionou-se água na proporção de 3:1 e procedeu-se à
cocção em panela de pressão por 45 minutos. O feijão cozido foi utilizado no
preparo de uma das rações.
Para a retirada dos tegumentos, o feijão, após ter sido cozido, foi passado
em peneira. Os tegumentos extraídos foram novamente fervidos por cerca de
dois minutos, para que se desprendesse parte do cotilédone que se apresentava
aderida ao tegumento, e, a seguir, coados. O caldo foi adicionado à porção
constituída pelos cotilédones.
Os preparados foram secos em estufa a 60°C, com ar forçado, por
24 horas, com posterior moagem. Então, procedeu-se à análise de nitrogênio,
pelo método semimicro Kjeldahl, para determinação do teor de proteína,
usando-se o fator 6,25 (ASSOCIATION OF OFFICIAL AGRICULTURAL
CHEMISTS, 1970).
Baseando-se nas necessidades nutricionais dos ratos utilizados no
experimento, segundo NATIONAL RESEARCH COUNCIL (1972), procedeu-se
ao preparo das rações, homogeneizando-se, através de três passagens sucessivas
50
por peneira, de maneira que a composição final da ração estivesse de acordo com
a composição a seguir:
Proteína: 9,0 a 10,0 %
Mistura salina: 3,5%
Mistura vitamínica: 1,0%
Cloreto de Colina: 0,2%
Gordura (óleo de soja): 5,0%
Amido q. s. p. 100%.
As misturas vitamínica e salina são apresentadas nos Quadros 10 e 11.
Após esse procedimento, foi feita análise quantitativa de proteínas nas
dietas experimentais, utilizando-se a mesma técnica citada anteriormente, para
confirmação de seu teor.
As rações foram estocadas sob refrigeração.
3.2.1.2. Ensaio biológico
A avaliação da qualidade protéica das dietas experimentais foi realizada
por meio de métodos biológicos. Para tal, utilizaram-se, para cada ensaio, 24
ratos machos, raça Wistar, recém-desmamados, com média de 23 dias de idade,
com peso entre 50 e 60g, provenientes do biotério do Departamento de Nutrição
e Saúde da UFV.
Os animais foram divididos em quatro grupos de seis, de modo que a
média dos pesos entre os grupos não excedesse a 5 gramas, conforme
recomendação da ASSOCIATION OF OFFICIAL AGRICULTURAL
CHEMISTS (1975), e foram distribuídos em gaiolas individuais, onde receberam
água e alimento ad libitum.
Quadro 10 - Mistura vitamínica utilizada
Vitaminas Quantidade por kg
Tiamina HCl (B1) 600 mg
Riboflavina (B2) 600 mg
Piridoxina HCl (B6) 700 mg
D-pantotenato de cálcio 1,6 g
51
Ácido nicotínico 3,0 g
Ácido fólico 200 mg
D-biotina 20 mg
Cianocobalamina (B12) 1 mg
Retinil palmitato ou acetato (A) 6 g
DL-alfa tocoferol acetato (E) 5 g
Colecalciferol (D) 2,5 mg
Menaquinona (K) 5,0 mg
Amido q.s.p.
Fonte: AMERICAN INSTITUTE OF NUTRITION (1977).
Quadro 11 - Mistura salínica utilizada
Sais g/kg
Fosfato de cálcio dibásico (CaHPO4) 500
Cloreto de sódio 74
Citrato de potássio monohidratado 220
Sulfato de potássio (K2SO4) 52
Óxido de Magnésio (MgO) 24
Carbonato manganoso 43-48% Mn 3,5
Sulfato manganoso 4,0
Citrato férrico 16-17% Fe 6,0
Carbonato de zinco 70% ZnO 1,6
Carbonato cúprico 53-55% Cu 0,3
Iodato de potássio (KIO3) 0,01
Selenito de sódio (Na2SeO3.5H2O) 0,01
Sulfato de cromo e potássio [CrK(SO4)2 . 12H2O] 0,55
Amido q.s.p.
Fonte: AMERICAN INSTITUTE OF NUTRITION (1977). Os grupos foram distribuídos de acordo com a fonte protéica, como
descrito a seguir:
grupo 1: dieta aprotéica;
grupo 2: caseína;
grupo 3: feijão integral; e
grupo 4: feijão sem tegumento.
52
Durante um período de 28 dias, os animais foram monitorados,
semanalmente, quanto ao ganho de peso e consumo alimentar.
3.2.1.3. Análise dos resultados
a) O PER (Coeficiente de Eficácia Protéica) foi determinado no 28o dia
pela relação entre o ganho de peso e o consumo protéico, conforme descrito pela
ASSOCIATION OF OFFICIAL AGRICULTURAL CHEMISTS (1975).
PER = ganho de peso (g)/consumo protéico (g)
b) O NPR (Quociente de Eficiência Líquida Protéica ou Razão Protéica
Líquida) foi determinado no 14o dia do experimento, tomando-se o ganho de
peso do grupo-teste mais a perda de peso do grupo de dieta aprotéica, em relação
ao consumo de proteína do grupo-teste, de acordo com metodologia descrita por
BENDER e DOELL (1957).
NPR = ganho de peso (g) do grupo-teste + perda de peso (g) do grupo aprotéico
proteína consumida (g) pelo grupo-teste
3.2.2. Efeito da extração de pigmentos na qualidade protéica
3.2.2.1. Preparo das dietas
Para este ensaio foram preparados quatro tipos de rações. Uma à base de
feijão previamente submetido à extração de pigmentos, com etanol 70%
acidificado com 0,5% de HCl; outra com feijão integral (sem tratamento); uma
cuja fonte protéica foi a caseína; e uma aprotéica.
No preparo das rações à base de feijão, primeiramente, o feijão foi limpo
e lavado. Então, adicionou-se etanol acidificado na proporção 2:1 (etanol:feijão),
para extração de pigmentos e outros polifenóis. O etanol foi drenado e o material
submetido novamente à extração. Este tratamento foi repetido por várias vezes,
até que o líquido drenado apresentasse pouca pigmentação.
53
O feijão parcialmente despigmentado foi seco em estufa a 60°C, com ar
forçado, por 24 horas. Em seguida, foi submetido a cocção em autoclave, por
45 minutos, assim como o feijão integral. A seguir, procedeu-se à secagem do
material (feijão + caldo de cocção) em estufa, a 60oC, com ar forçado, por
24 horas, e posterior moagem.
Após esse procedimento, foi feita a análise de nitrogênio, pelo método
semimicro Kjeldahl (ASSOCIATION OF OFFICIAL AGRICULTURAL
CHEMISTS, 1970), do feijão despigmentado e do feijão integral, para
determinação do teor de proteína. Foi utilizado o fator 6,25 para conversão de N
em proteína.
Baseando-se nas necessidades nutricionais dos ratos utilizados no
experimento, segundo NATIONAL RESEARCH COUNCIL (1972), procedeu-se
ao preparo das rações, homogeneizando-se, através de três passagens sucessivas
por peneira, de maneira que a composição final da ração estivesse de acordo com
a composição já citada no item 3.2.1.1.
Após esse procedimento, foi feita determinação quantitativa de proteínas
das dietas experimentais, como descrito anteriormente, para confirmação de seu
teor.
As rações foram estocadas sob refrigeração.
3.2.2.2. Ensaio biológico
A avaliação da qualidade protéica das dietas experimentais foi realizada
como descrito para o ensaio anterior (3.2.1.2.), porém com 14 dias de duração.
Os grupos foram distribuídos de acordo com a fonte protéica, como
descrito a seguir:
grupo 1: dieta aprotéica;
grupo 2: caseína;
grupo 3: feijão integral; e
grupo 4: feijão submetido a tratamento com etanol acidificado.
3.2.2.3. Análise dos resultados
54
O Coeficiente de Eficácia Protéica (PER) e o Quociente de Eficiência
Líquida Protéica (NPR) foram determinados no14o dia, como descrito em 3.2.1.3.
Com relação ao NPU (Utilização Líquida da Proteína), a determinação
foi feita pelo método da carcaça, segundo MILLER e BENDER (1955). Os
animais foram sacrificados, no 14o dia, em dessecador contendo éter etílico. Em
seguida, foram seccionados e as carcaças colocadas em recipientes de alumínio,
para secar. Após o período de 24 horas de secagem em estufa a 105oC, com ar
forçado, as carcaças foram resfriadas, pesadas, trituradas e desengorduradas em
extrator Soxhlet, durante quatro a cinco horas, com éter de petróleo, e
pulverizadas em multiprocessador. Para determinação do teor de nitrogênio
retido na carcaça, utilizou-se o método semimicro Kjeldahl, com amostras em
triplicata, dada pela equação:
NPU = B - BK x 100
I
em que B = nitrogênio corporal dos animais em dieta-teste;
BK = nitrogênio corporal dos animais em dieta aprotéica; e
I = nitrogênio ingerido pelo grupo-teste.
Para determinação da digestibilidade, foram colhidas fezes em sua
totalidade, do 8o ao 14o dia do experimento. As dietas foram marcadas com
carmim (200 mg/100 g) e oferecidas aos animais no 7o e no 13o dia. As fezes
colhidas foram acondicionadas em recipientes individuais para cada rato e
mantidas sob refrigeração. Findo o período de colheita, as fezes foram secas em
estufa com circulação de ar mecânica, a 105oC, por 24 horas. Depois, foram
resfriadas, pesadas e trituradas em multiprocessador para posterior determinação
do teor de nitrogênio, pelo método semimicro Kjeldahl (ASSOCIATION OF
OFFICIAL AGRICULTURAL CHEMISTS, 1970).
A digestibilidade foi expressa em porcentagem, conforme recomendação
da NATIONAL RESEARCH COUNCIL (1972). O cálculo foi feito, de acordo
com a seguinte fórmula:
55
D = I - (F - FK) x 100 I
em que I = nitrogênio ingerido pelo grupo-teste;
F = nitrogênio fecal do grupo-teste; e
FK = nitrogênio fecal do grupo com dieta aprotéica.
3.2.3. Análise de polifenóis
Para extração e doseamento dos compostos fenólicos, foi utilizado o
método colorimétrico de Folin-Denis (ASSOCIATION OF OFFICIAL
AGRICULTURAL CHEMISTS, 1960; SWAIN e HILLIS, 1959).
56
4. RESULTADOS
4.1. Escolha do solvente extrator
Como visto na literatura, o primeiro passo na identificação das
antocianinas individuais é a preparação de um extrato de pigmento bruto. Para
materiais vegetais existe um solvente-padrão para todas as amostras, que é uma
solução de metanol com HCl a 0,5%. Contudo, quando se tratar de corantes para
alimentos, a solução de etanol pode ser mais indicada, devido à toxicidade do
metanol, embora o etanol seja levemente menos efetivo na extração (FRANCIS,
1982).
Os dois solventes testados, etanol 70% e metanol, acidificados com 0,5%
de HCl, apresentaram resultados equivalentes quanto à extração de antocianinas.
Dessa forma, optou-se pela utilização de etanol, uma vez que o metanol, por ser
um solvente tóxico, apresenta maior dificuldade de manuseio.
Quanto à influência da trituração dos grãos na extração de antocianinas
de feijão, observou-se que, quando a amostra era triturada, resultava em maior
eficiência de extração dos pigmentos. No entanto, a etapa de filtração da solução
resultante da extração a partir dos grãos triturados foi dificultada pela obstrução
dos poros do papel- filtro. Uma vez que o objetivo desta etapa do trabalho era a
57
extração das antocianinas e não a sua quantificação, optou-se pela utilização dos
grãos inteiros.
4.2. Escolha da fase móvel para purificação do extrato
Na separação de antocianinas do feijão, tanto para cromatografia em
camada fina quanto para cromatografia em papel, diversas misturas de solventes
foram avaliadas como fase móvel.
Para cromatografia em camada fina, utilizando placas de celulose, a
melhor fase móvel para separação das diferentes antocianinas do feijão foi
n-butanol : ácido fórmico : água (2,5:3,5:2,4). Outras misturas de solventes que
também apresentaram eficiência na separação das frações foram ácido fórmico :
ácido clorídrico : água (10:1:3) e n-butanol : ácido acético : água (4:1:2).
A cromatografia descendente, em papel, é o método de escolha quando
se deseja obter maior volume de cada fração de antocianina separada. Para esse
tipo de cromatografia, dentre as misturas de solventes avaliadas, a mistura
n-butanol : ácido fórmico : água, denominada BFW, na proporção 15:2,5:2,4,
possibilitou a melhor separação das frações de antocianinas. Esta foi a fase móvel
escolhida para realização da etapa seguinte.
4.3. Purificação das frações de antocianinas
Normalmente, as plantas apresentam misturas de antocianinas, e,
conseqüentemente, sua separação e purificação apresentam dificuldades quando
se utiliza cromatografia em papel, placa ou coluna (WROLSTAD e
STRUTHERS, 1971).
O extrato bruto foi submetido a cromatografia descendente em papel
Whatman no2, durante sete dias, utilizando BFW (15:2,5:2,4) como fase móvel.
58
Das seis bandas distintas que puderam ser visualizadas nos
cromatogramas obtidos, as três que apresentaram maior intensidade de cor e que,
portanto, se encontravam em maior proporção no extrato foram denominadas F1,
F2 e F3 (Figura 3).
Essas frações foram recortadas do cromatograma e extraídas em metanol
acidificado com 0,05% de HCl 1,5N.
A seguir, com o objetivo de detectar a presença de flavonóides
não-antociânicos, alíquotas de cada uma das frações e o extrato bruto foram
aplicados em papel Whatman no 1 e submetidas a cromatografia descendente,
durante 12 horas, tendo ácido acético 10% como fase móvel. O cromatograma
foi, então, submetido a vapores de hidróxido de amônio. Não foi detectada a
presença de coloração amarela característica destes flavonóides nas frações
purificadas. No entanto, a presença desses compostos no extrato bruto foi
facilmente visualizada pelo aparecimento de zonas de coloração amarelada
localizadas tanto próximo à origem quanto em frente do solvente (Figura 4).
Ainda com o objetivo de confirmar a pureza de cada uma das três
frações, alíquotas das mesmas foram submetidas a cromatografia em papel, desta
vez utilizando-se AWH (ácido acético:água:HCl, 15:82:3) como fase móvel. Os
cromatogramas apresentaram uma única banda, correspondente a cada uma das
frações purificadas.
Para monitoramento da purificação, espectros de absorção UV-visível do
extrato bruto e das frações F1, F2 e F3, diluídas em metanol acidificado com
0,05% de HCl 1,5N, foram obtidos, utilizando-se um espectrofotômetro marca
HITACHI-2000 Double-Beam. Estes espectros são mostrados na Figura 5.
A eficiência da separação e purificação das frações por cromatografia em
papel pode ser constatada pela diminuição da razão Amax UV/Amax VIS do extrato
bruto, em relação às zonas purificadas, evidenciando a retirada de flavonóides e
ácidos livres que absorvem na região do ultravioleta (Quadro 12) (HARBORNE,
1967).
59
F1
F2
F3
F4
F5
F6
O
Figura 3 - Cromatograma do extrato bruto de feijão em BFW (15:2,5:2,4).
O = origem.
60
F1 F2 F3 Extrato bruto
Origem
FNA
FNA
FNA
Figura 4 - Cromatograma em papel, utilizando-se ácido acético 10% como fase
móvel, das frações purificadas e do extrato bruto. FNA = flavonóides não-antociânicos.
61
2.000
0.000
2.000
0.000
Abs
orbâ
ncia
2.000
0.000
400 500 600300200
(nm)
2.000
0.000
A
B
C
D
Figura 5 - Espectros de absorção UV-visível do extrato bruto (A), da fração 1 (B), da fração 2 (C) e da fração 3 (D) em metanol acidificado com 0,05% de HCl 1,5N.
62
Quadro 12 - Efeito da purificação das frações na razão Amax UV/Amax VIS
Amax UV Amax VIS Amax UV/Amax VIS
Extrato bruto 2,164 1,414 1,530
Fração 1 1,810 1,069 1,693
Fração 2 1,494 1,192 1,253
Fração 3 0,585 1,005 0,582
Os cromatogramas obtidos por HPLC, com seus respectivos tempos de
retenção, serviram para comprovar a eficiência na purificação das frações.
Observou-se que os cromatogramas das frações F1, F2 e F3 apresentaram apenas
um pico (Figura 6). Isto indica que a purificação em cromatografia em papel
utilizada é uma técnica que permite a purificação do pigmento extraído,
conforme preconizado por FULEKI (1971) e GUEDES (1993).
4.4. Identificação da estrutura dos pigmentos purificados
Os espectros de absorção após a reação com AlCl3 (Figura 7) mostram os
deslocamentos batocrômicos nas frações 2 e 3, o que comprova a presença de
hidroxilas vicinais nas moléculas de antocianinas destas frações. Comparando os
espectros de absorção da fração 1, antes e após reação com AlCl3, verifica-se que
não houve deslocamento batocrômico no comprimento de onda de máxima
absorção. Isto indica a ausência de grupos orto-dihidroxílicos no anel B da
antocianina.
As antocianinas que apresentam reação positiva com cloreto de alumínio
com deslocamento batocrômico de 13 a 25 nm, dependendo do pH do meio,
63
4,92
Fração 3 (feijão)
Extrato Bruto (feijão)
4,88
5,73
6,85
Fração 1 (feijão)
6,89
Fração 2 (feijão)
5,77
A B
C D
Figura 6 - Cromatogramas do extrato bruto (A), da fração 1 (B), da fração 2 (C)
e da fração 3 (D). Condições: coluna RP-18 Bondapack, fase móvel constituída de metanol:água:HCl (50:50:1), fluxo de 0,6 ml/min e detector UV/VIS 530 nm.
64
2.000
0.000
Abs
orbâ
ncia
(nm)
400 500 600300200
F1 F1 + AlCl3540
2.000
0.000
Abs
orbâ
ncia
(nm)
400 500 600300200
F2 F2 + AlCl3540 560
F3 F3 + AlCl3
2.000
0.000
Abs
orbâ
ncia
400 500 600300200
(nm)
540 565
Figura 7 - Espectros de absorção UV-Visível das frações 1, 2 e 3 antes e após a
reação com AlCl3.
65
possuem em sua estrutura grupos orto-dihidroxílicos no anel B, como é o caso
das cianidinas e delfinidinas (HARBORNE, 1964).
De acordo com SHRIKHLANDE e FRANCIS (1974), a ausência de
picos de absorção a 286 nm e 334 nm indica a ausência de ácido na molécula de
antocianina. Como pode ser observado na Figura 5, nenhuma das frações
apresentou picos de absorção nestes comprimentos de onda, o que sugere a
ausência de ácido nas antocianinas purificadas.
Basicamente, antocianidinas são identificadas pela observação de sua cor
em solução ou no papel, seu Rf em solvente Forestal e suas propriedades
espectrais (HARBORNE, 1967).
Com o solvente ácido fórmico obtêm-se valores de Rf similares aos
valores obtidos com Forestal, porém são usados adicionalmente, porque é melhor
para separação de agliconas de seus glicosídeos (HARBORNE, 1967).
Butanol - ácido acético - água, se usado com papel pré-umedecido com
HCl 2N, para prevenir o desaparecimento do pigmento, é um terceiro solvente
(HARBORNE, 1967).
Fenol-água é usual para separação de pigmentos metilados de pigmentos
não-metilados, mas não é recomendado para trabalhos de rotina (HARBORNE,
1967).
O Quadro 13 apresenta as características espectrais das antocianidinas,
segundo HARBORNE (1967).
Os Quadros 14 a 16 apresentam os resultados das análises
espectrofotométricas de cada uma das frações purificadas, os deslocamentos
batocrômicos ( ) observados após reação com AlCl3, assim como os Rfs em
Forestal, BAW e Fórmico das antocianidinas obtidas após a hidrólise ácida. Estes
resultados são comparados com os resultados apresentados por HARBORNE
(1967) para as antocianidinas.
Os resultados obtidos com a cromatografia descendente em papel,
utilizando-se BFW como fase móvel (Figura 3), e a identificação da
antocianidina de cada fração (Quadros 14 a 16) estão de acordo com a
Quadro 13 - Características espectrais das antocianidinas
66
max VIS
max
UV
AlCl 3
( ) Rf
(Forestal) Rf
(Fórmico) Rf
(BAW)
Pelargonidina 476 277 0 68 33 80
Cianidina 535 277 18 49 22 68
Peonidina 532 277 0 63 30 71
Delfinidina 546 277 23 32 13 42
Petunidina 543 276 14 46 20 52
Malvidina 542 275 0 60 27 58
Fonte: HARBORNE (1967).
Quadro 14 - Características espectrais da fração 1 e citação de literatura para malvidina
Fração 1 Malvidina *
max VIS 540 542
max UV 270 275
AlCl 3 ( ) 0 0
Rf (Forestal) 61,69 60
Rf (Fórmico) 25,59 27
Rf (BAW) 64,65 58
* HARBORNE (1967).
67
Quadro 15 - Características espectrais da fração 2 e citação de literatura para cianidina
Fração 2 Cianidina *
max VIS 535 535
max UV 265 277
AlCl 3 ( ) 20 18
Rf (Forestal) 48,45 49
Rf (Fórmico) 18,15 22
Rf (BAW) 64,65 68
* HARBORNE (1967).
Quadro 16 - Características espectrais da fração 3 e citação de literatura para delfinidina
Fração 3 Delfinidina *
max VIS 540 546
max UV 275 277
AlCl 3 ( ) 25 23
Rf (Forestal) 30,33 32
Rf (Fórmico) 13,25 13
Rf (BAW) 42 42
* HARBORNE (1967).
68
verificação de HARBORNE (1967), de que, quanto maior o número de grupos
hidroxilas presentes na molécula de antocianina, menor o Rf, e que a presença de
metilação provoca efeito inverso (Quadro 17).
Quadro 17 - Efeito da metilação e hidroxilação na mobilidade das frações de antocianinas
Fração 1 maior Rf malvidina 2Me; 4OH
Fração 2 Rf intermediário cianidina 5OH
Fração 3 menor Rf delfinidina 6OH
Outra indicação de que a antocianidina da fração 3 é delfinidina é a
comparação entre os tempos de retenção obtidos através de HPLC. O
cromatograma obtido com a injeção da fração purificada do extrato de berinjela,
cuja antocianidina, segundo a literatura, é uma delfinidina, mostra o tempo de
retenção de 4,91 (Figura 8). A análise da fração 3, nas mesmas condições,
apresentou tempo de retenção de 4,92.
Os açúcares de antocianinas podem ser identificados pelo procedimento
usual de cromatografia em papel. A presença de glicose e galactose pode ser
confirmada pelo uso de glicose e galactose oxidase, respectivamente, e a
dos produtos coloridos formados depois da reação com resorcinol-H2SO4 ou
anilina-hidrogênio fitalato (Harborne, 1960b, citado por HARBORNE, 1967).
Para identificação dos açúcares ligados às antocianidinas, alíquotas das
frações foram submetidas à hidrólise ácida; a seguir, foi efetuada a separação dos
69
4,91
3,82
Delfinidina (berinjela)
B4,92
Fração 3 (feijão)
A
Figura 8 - Cromatogramas da fração 3 (A) e da delfinidina 3-rutinosídeo extraída
de berinjela (B). Condições: coluna RP-18 Bondapack, fase móvel constituída de metanol:água:HCl (50:50:1), fluxo de 0,6 ml/min e detector UV/VIS 530 nm.
açúcares das agliconas, com utilização de álcool amílico e funil de separação. As
soluções de açúcares e os padrões dos açúcares mais freqüentemente encontrados
em antocianinas de alimentos foram submetidos a cromatografia em papel e
placas, com objetivo de determinar seus Rfs. O cromatograma obtido é
apresentado na Figura 9.
Como se pode observar na Figura 9, a técnica utilizada deixava dúvidas
quanto à diferenciação dos Rfs de glicose e galactose. Podia-se apenas excluir a
possibilidade de serem os açúcares arabinose ou xilose.
Com o objetivo de identificar mais precisamente essas estruturas, foi
utilizado método enzimático, comumente utilizado para doseamento de glicose
em laboratórios de análises clínicas. Foram submetidas às análises no
equipamento Clinline 150 (BioMérieux) amostras de solução de açúcar obtida
70
Figura 9 - Cromatograma das soluções de açúcares das frações 1, 2 e 3 e de
padrões de açúcares, em placa de celulose utilizando como fase móvel butanol : ácido acético : água (12:3:3). A = F1; B = xilose; C = F2; D = glicose; E = F3; F = galactose; G = F1; H = arabinose; e I = F3.
após hidrólise ácida de cada fração e amostras de soluções-padrões de glicose e
galactose. A adequação do método pôde ser avaliada pelo fato de o equipamento
detectar a presença de glicose e não detectar a presença de galactose, indicando
leitura zero na amostra de padrão de galactose. As análises de cada uma das
amostras em estudo só foi possível após concentração das soluções a serem
analisadas. Todas as três soluções de açúcares analisadas continham glicose, que
foi detectada em concentrações diferentes. Pode-se, então, concluir que o açúcar
presente nas moléculas de antocianinas isoladas do feijão em estudo é a glicose.
Os resultados da hidrólise controlada de alíquotas de cada uma das
frações apresentaram dois produtos cujos valores dos Rf estão apresentados nos
Quadros 18 a 20. O fato de serem constatados dois produtos ao longo do tempo
da hidrólise ácida é indício de que os açúcares se apresentam ligados em uma
única posição da molécula. Um dos produtos detectados é a antocianina na sua
forma original e o outro é a antocianidina após ter sofrido hidrólise e ter a
molécula de açúcar removida do carbono 3 da sua estrutura.
71
Quadro 18 - Valores de Rf em AWH dos produtos da hidrólise controlada da fração 1
Tempo de Hidrólise Rf x 100 em AWH
(minutos) Produtos
0 31
4 32
6 33
8 35
12 32
15 32
20 32
30 8 30
40 8 28
50 9
60 8
75 8
Quadro 19 - Valores de Rf em AWH dos produtos da hidrólise controlada da fração 2
Tempo de Hidrólise Rf x 100 em AWH
(minutos) Produtos
0 24
4 25
6 6 25
8 6 26
12 7 26
15 7 25
20 9 26
30 9 26
40 9 25
50 9 26
60 9 22
75 9 22
Quadro 20 - Valores de Rf em AWH dos produtos da hidrólise controlada da fração 3
72
Tempo de Hidrólise Rf x 100 em AWH
(minutos) Produtos
0 22
4 5 23
6 4 22
8 7 22
12 7 22
15 6 21
20 7 21
30 7 22
40 8 21
50 8 20
60 7 19
75 7 19
A glicosilação das antocianidinas pode ocorrer nas posições 3, 5, 7, 3`, 4`
e 5`. Se um só açúcar estiver presente, ele estará sempre na posição 3
(HARBORNE, 1958a).
As glicosilações nas posições C-3, C-5 e C-7 são freqüentemente
encontradas nas antocianinas, e cada substituição está associada a um
deslocamento batocrômico no comprimento de onda de máxima absorção
(HARBORNE, 1964). Cada substituição está associada a um deslocamento
batocrômico, tal que a diferença no comprimento de onda de máxima absorção
da antocianina 3-glicosídeo, em relação à antocianidina 3,5-diglicosídeo, tem
sido utilizada como meio de sua diferenciação por técnicas espectrais
(HARBORNE, 1958b).
Segundo HARBORNE (1967), as diferenças espectrais produzidas pelas
antocianinas em soluções ácidas apresentam duas absorções máximas: uma na
região do visível, entre 465 e 550 nm, e outra menor, na região do ultravioleta,
próximo a 275 nm, com a posição da banda na região do visível variando
73
levemente de acordo com o solvente utilizado. O autor cita, ainda, que as
antocianidinas com substituições de molécula de açúcar em C-5 produzem um
ombro de curva de absorção em 440 nm, usando-se metanol em HCl 0,01%. Isto
pode ser demonstrado através do cálculo da razão entre a absorção a 440 nm e a
absorção máxima visível (A440/Amáx.). O valor da razão da absorvância a
440 nm e no máximo de absorção no visível é indicativo da existência de
açúcares nas posições 3 ou 5.
As relações percentuais entre Abs440nm/Absmaxvis confirmam, para as
frações F1, F2 e F3 (Quadro 21), que os açúcares estão ligados em C-3 das
agliconas.
Os resultados de RMN não foram conclusivos, por apresentarem grande
concentração de picos na região do espectro, que caracteriza a presença de
açúcares. Este resultado se deve ao fato de ter sido utilizada cromatografia em
papel e eluição das frações com metanol acidificado. Esse procedimento
provavelmente provocou hidrólise da celulose do papel, provocando a liberação
de açúcares na solução.
No entanto, os resultados espectrofotométricos e cromatográficos
permitem afirmar que as três frações purificadas são malvidina 3-glicosídeo,
cianidina 3-glicosídeo e delfinidina 3-glicosídeo, como apresentado nas
Figuras 10 e 11.
4.5. Efeito da retirada do tegumento na qualidade protéica
Os resultados das análises de proteína das três dietas cujas fontes
protéicas eram feijão, feijão sem tegumento e caseína foram: 9,97%, 9,08% e
9,48%, respectivamente. Dessa forma, pode-se verificar que os teores de proteína
das dietas preparadas atenderam aos padrões estabelecidos pelo NATIONAL
RESEARCH COUNCIL (1972), ou seja, entre 9 e 10% de proteína.
Quadro 21 - Relações percentuais entre A440/Avis das frações 1, 2 e 3 e dados da literatura para antocianinas
74
A440/Avis
Fração 1 21
Fração 2 27
Fração 3 18
Cianidina e Peonidina 3-glicosídeo * 24
Cianidina e Peonidina 3-5-diglicosídeo * 13
Delfinidina, Petunidina e Malvidina 3-glicosídeo * 18
Delfinidina, Petunidina e Malvidina 3-5-diglicosídeo * 11
Pelargonidina 3-5-diglicosídeo* 21
* HARBORNE (1967).
OHOR2
HO
+OH
R1
O O
HO
CH2OH
OH
OH
R1 = OMe, R2 = OMe malvidina 3 - glicosídeo (F1) R1 = OH, R2 = H cianidina 3 - glicosídeo (F2)
75
Figura 11 - Estruturas das frações F1, F2 e F3 em esqueleto e espaço cheio. Com este experimento procurou-se avaliar a influência do tegumento do
feijão na qualidade protéica do mesmo. Sabe-se que as proteínas do feijão
apresentam deficiência em aminoácidos sulfurados, dentre os quais a metionina,
que é um aminoácido essencial (SGARBIERI, 1987).
76
Os resultados obtidos de PER e NPR estão nos Quadros 22 e 23.
Observa-se que, em termos percentuais, os valores de PER apresentam
maior diferença entre as rações à base de feijão, quando comparados com o NPR,
e destas com relação à caseína. O NPR apresenta valores mais próximos entre as
rações à base de feijão e valores superiores aos encontrados pelo parâmetro
anterior com relação à caseína. Entretanto, mesmo elevando estes valores, as
dietas à base de feijão apresentaram-se inferiores à de caseína em mais de 50%.
Além da deficiência em aminoácidos sulfurados, essa leguminosa
apresenta o inconveniente da presença de fatores antinutricionais (polifenóis),
que torna essa fonte protéica inferior à caseína (SGARBIERI, 1987). Polifenóis
podem migrar para dentro do cotilédone, reagindo com proteínas durante o
aquecimento, diminuindo, assim, sua digestibilidade (AW e SWANSON, 1985).
Polifenóis também podem permanecer no caldo de cocção (BRESSANI et al.,
1991).
O processo de descascamento reduz significativamente o conteúdo de
taninos, mas a completa eliminação destes não é observada. Parte destes taninos
migram para a solução de molho e são detectados em feijões descascados
(DESHPANDE et al., 1982).
Dessa forma, a preservação do caldo de cocção e eliminação parcial do
tegumento do feijão após este ter sido cozido resultariam em uma ração com
polifenóis e menor teor de fibra. As diferenças observadas entre esta ração e
outra ração preparada nos mesmos moldes, porém contendo o feijão integral
(com tegumento), podem ser atribuídas à influência da presença do tegumento do
feijão.
Um aquecimento excessivo tem um efeito negativo sobre o valor
protéico do feijão, porque leva a um aumento na retenção de polifenóis no
cotilédone
Quadro 22 - Resultados de PER, PER corrigido e NPR de caseína, feijão-preto com tegumento cozido e feijão-preto cozido com retirada parcial do tegumento após a cocção (média desvio-padrão)
77
DIETA PER (28o dia)
PER corrigido (caseína 2,50)
NPR (14o dia)
Caseína 3,26 0,09 (a) 2,50 (a) 4,2 0,08 (a)
Feijão-preto com tegumento 1,21 0,14 (b) 0,93 (b) 2,07 0,15 (b)
Feijão-preto sem tegumento 0,95 0,28 (c) 0,73 (c) 2,04 0,21 (b)
Médias seguidas por letras diferentes, na mesma coluna, diferem entre si em nível de 5% de probabilidade pelo teste de DUNCAN (P ### 0,05%).
Quadro 23 - Adequação do PER e NPR das rações testadas, calculados com relação aos valores médios obtidos para a caseína
RAÇÃO %PER %NPR
Caseína 100,00 100,00
Feijão com tegumento 37,25 49,37
Feijão sem tegumento 29,06 48,47
(AW e SWANSON, 1985) e diminui a disponibilidade de alguns aminoácidos,
em particular a lisina (MOLINA et al., 1975).
Dietas preparadas com 10% de proteína de feijão navy, autoclavadas a
121oC/10 min, resultaram em PER de 1,53, quando comparadas com 2,5 para a
caseína (Antunes e Markakis, 1977, citados por SGARBIERI e WHITAKER,
1982).
BRESSANI e ELIAS (1983) encontraram valores de NPR para o
feijão-preto de 1,79 ### 0,28.
Os valores obtidos para PER e PER corrigido diferiram
significativamente entre as fontes protéicas estudadas, inclusive entre as amostras
78
à base de feijão. Já os valores de NPR indicaram que a diferença estatística só
existe com relação à caseína e que as rações à base de feijão não diferem entre si.
Isto é explicado pelo fato de o PER não levar em conta a utilização da proteína
para manutenção, só para a promoção do crescimento, tendendo a subestimar a
qualidade de proteínas inferiores e a superestimar proteínas de melhor qualidade,
e, por este motivo, realça diferenças existentes entre proteínas de maior e menor
valor nutricional, ao contrário do NPR (SGARBIERI, 1987).
As médias desses parâmetros, embora não tenham apresentado diferença
estatística significativa, foram inferiores para o feijão sem tegumento. Segundo
SGARBIERI (1987), enquanto o PER subestima, o NPR superestima a qualidade
protéica das proteínas deficientes em lisina.
Considerando-se os resultados obtidos e as peculiaridades de cada
método de avaliação utilizado, pode-se concluir que a retirada do tegumento do
feijão após a cocção resulta em prejuízo para a qualidade protéica deste alimento.
Como foi preservado o caldo de cocção em ambas as amostras de feijão,
excluindo-se apenas parte do tegumento em uma delas, esperava-se que o feijão
sem o tegumento apresentasse melhor qualidade protéica, o que não ocorreu.
A digestibilidade de proteínas é considerada um condicionador de sua
qualidade. Sabe-se que os alimentos de origem animal são de maior
digestibilidade que os de origem vegetal (MARSHALL et al., 1979). Este fato
tem sido atribuído à ausência de fibra nos alimentos de origem animal, que faz
com que seja menor a velocidade do tempo de trânsito do conteúdo intestinal e,
em conseqüência, se tenha maior absorção dos nutrientes.
O desempenho nutricional de um alimento depende da concentração, do
balanço e da biodisponibilidade dos nutrientes nele contidos, que por sua vez é
influenciado pela presença de fatores tóxicos e, ou, antinutricionais
(SGARBIERI, 1987).
Dentre os fatores antinutricionais presentes nas leguminosas, os que têm
maior interesse são os polifenóis, as lectinas e os inibidores de tripsina. Com
relação aos polifenóis, eles se localizam principalmente no tegumento do grão e
nas variedades coloridas (GOYCOOLEA et al., 1990). O papel destes fatores
79
antinutricionais sobre o desempenho nutricional das leguminosas poderia ser
explicado pela formação de complexos entre os polifenóis e as proteínas, os quais
são insolúveis e de baixa digestibilidade por monogástricos, podendo modificar a
estrutura do epitélio intestinal, levando à inibição irreversível e, desta forma,
diminuindo a capacidade absortiva do organismo (BLANCO e BRESSANI,
1991; VILLANHUEVA, 1987).
Tanto a natureza química como o processamento e preparo dos alimentos
para o consumo podem fazer com que os nutrientes se apresentem mais ou menos
indisponíveis biologicamente. Esses fatores afetam diretamente os parâmetros
indicativos do valor nutritivo desse alimento, quando determinados em ensaios
biológicos (SGARBIERI, 1987).
A maioria das proteínas de origem animal apresenta boa digestibilidade,
implicando melhor absorção de aminoácidos, ao passo que as de origem vegetal,
geralmente, dão resultados inferiores.
A explicação para os resultados deste trabalho recai sobre a possibilidade
da presença de alguma fração protéica no tegumento do feijão, a qual contribui
para elevar a qualidade do mesmo, sobrepondo-se à possível influência negativa
provocada pelo tegumento em si ou por outros fatores antinutricionais porventura
presentes no mesmo.
Outro possível fator que explicaria esses resultados é a migração de
polifenóis, durante o cozimento, para os cotilédones. A complexação destes
polifenóis com proteínas as tornariam indisponíveis.
Segundo COELHO (1991), as proteínas do feijão são constituídas de
dois tipos: metabólicas e de reserva. As proteínas de reserva são constituídas
pelas globulinas e as metabólicas, pelas albuminas. Estas últimas geralmente
possuem maior valor biológico, por conterem maior teor de aminoácidos
sulfurados e lisina.
Os inibidores de tripsina presentes no feijão são certamente proteínas
metabólicas, logo, são albuminas. Como os inibidores de tripsina são substâncias
de defesa para a planta, possivelmente se localizam em sua porção mais externa,
podendo estar no tegumento ou bem próximo a ele.
80
Com base nessas deduções, acredita-se que, com a retirada do tegumento
do feijão, sejam perdidos também inibidores de tripsina. Em conseqüência, o
feijão, que já é deficiente em aminoácidos sulfurados, torna-se mais deficiente
ainda. Esse fato reflete-se no menor desempenho nutricional obtido para essa
fonte protéica.
Além da perda de aminoácidos sulfurados, o grupo das albuminas
também possui elevado teor de lisina, conforme citado anteriormente, que é um
aminoácido facilmente destruído durante a cocção devido a reações com açúcares
redutores (reação de Maillard).
A retirada do tegumento de feijão após este ter sido cozido,
provavelmente, acarreta a perda de aminoácidos sulfurados e lisina, prejudicando
sua qualidade protéica, não sendo, portanto, aconselhável esta prática. É possível
que a retirada dos tegumentos antes da cocção leve a melhores resultados.
A deficiência de aminoácidos sulfurados, isoladamente, não parece ser o
único fator responsável pelo baixo valor nutritivo de leguminosas cozidas, pois
nenhuma correlação definitiva foi observada entre o conteúdo de aminoácidos
sulfurados e o valor nutritivo destas leguminosas em termos de PER. Isto pode
ser atribuído à baixa digestibilidade das proteínas de leguminosas e à viabilidade
dos aminoácidos após o cozimento (LIENER, 1976). Para que estes aminoácidos
sejam completamente utilizados por humanos, uma grande variedade de
compostos antinutricionais potencialmente tóxicos precisam ser removidos ou
destruídos, usualmente pelo calor (SGARBIERI e WHITAKER, 1982).
FUKUDA et al. (1982) observaram que a suplementação com metionina
melhora significativamente o desempenho nutricional do feijão cozido. Segundo
estes autores, o feijão cozido possui atividade hemaglutinante, taninos e
inibidores de tripsina em concentrações insuficientes para prejudicar o
crescimento de animais, o que faz com que a simples complementação com
metionina seja suficiente para elevar a qualidade nutricional de suas proteínas.
Acentuando esse problema, GOYCOOLEA et al. (1982) detectaram altas
concentrações de taninos nos caldos de feijão em diferentes modalidades de
preparação caseira e atribuíram a elas, juntamente com tratamento térmico
81
excessivo, a responsabilidade pelos baixos valores de PER encontrados em seus
experimentos.
DESHPANDE et al. (1982) detectaram aumento de ácido fítico, bem
como aumento das atividades dos inibidores de tripsina, quimiotripsina e
-amilase, depois do descascamento dos grãos de feijão. Eles atribuíram isso a
dois fatores: primeiro, que a presença destes fatores antinutricionais pode ser
característica das frações dos cotilédones; segundo, que o tegumento constitui
substancial porção do peso dos grãos. Removendo este tegumento, haveria
aumento da concentração destes fatores antinutricionais.
A partir dos resultados obtidos neste ensaio, foi sugerido um novo ensaio
biológico que verificasse o efeito, na qualidade protéica, da retirada dos
pigmentos, presentes no tegumento, antes do processo de cocção.
4.6. Efeito da extração de pigmentos na qualidade protéica
Foi proposto este ensaio biológico com o objetivo de avaliar a influência
dos pigmentos identificados neste trabalho e de outros polifenóis na qualidade
protéica do feijão.
Foram dosados os polifenóis dos grãos integrais e dos grãos após terem
sido submetidos ao processo de extração de pigmentos. O processo de extração
com etanol acidificado foi o mesmo utilizado na preparação do extrato bruto de
feijão, no processo de identificação das antocianinas. Tomou-se o cuidado de
submeter os grãos a secagem após a extração, para completa eliminação do
resíduo de etanol.
O tratamento ao qual os feijões foram submetidos resultou em
diminuição de 27,42% dos polifenóis presentes nos grãos. Os resultados das
análises através do método de Folin-Denis foram de 0,062% de polifenóis nos
grãos sem tratamento e 0,045% nos grãos submetidos a extração com álcool
acidificado.
82
Optou-se pelo aproveitamento do caldo de cocção, para que não
houvesse descarte de polifenóis que possam ter migrado para este líquido.
Os resultados das análises de proteína para as três rações cujas fontes
protéicas eram feijão, feijão tratado e caseína foram de 9,32%, 9,71% e 9,73%,
respectivamente.
Os resultados de PER, NPR, NPU, PER corrigido e digestibilidade
obtidos estão nos Quadros 24 e 25.
Em termos percentuais, observou-se que os valores de PER apresentam
maior diferença entre as rações à base de feijão, embora os valores dessas duas
dietas não tenham diferido estatisticamente (Quadro 24). O NPR e NPU
apresentam valores mais próximos entre estas rações.
Os baixos valores obtidos para as dietas a base de feijão podem ser
atribuídos aos fatores antinutricionais presentes nesta leguminosa.
O tratamento com álcool possibilitou a migração de pigmentos e, com
certeza, de outros polifenóis para os cotilédones, o que pôde ser percebido pela
coloração destes após o tratamento. Esta migração possivelmente proporcionou a
interação destes polifenóis com as proteínas dos cotilédones dos grãos. Desta
maneira, a diminuição no teor de polifenóis, o que aumentaria a qualidade
protéica, foi compensada pela maior interação entre estas proteínas e os
compostos antinutricionais em estudo.
Compostos fenólicos em feijões têm sido determinados pelo método de
Folin-Denis e expressos como ácido tânico ou pelo método da vanilina e
expressos em equivalentes de catequina (BRESSANI e ELIAS, 1980).
Os efeitos nutricionais de polifenóis de leguminosas são sempre
prejudiciais. Polifenóis (como taninos condensados) localizam-se
Quadro 24 - Resultados de PER, NPR, NPU, PER corrigido e digestibilidade de caseína, feijão-preto e feijão-preto submetido a extração de polifenóis (média desvio-padrão)
PER (14odia)
NPR (14odia)
NPU (14odia)
PER cor caseína
digestibilidade (7 dias)
83
(2,50)
Caseína 3,92 0,36(a) 4,61 0,34(a) 64,11 4,15(a) 2,50 93,61 9,68 (a)
Feijão 1,94 0,41(b) 3,09 0,41(b) 34,74 6,91(b) 1,24 85,10 2,30 (b)
Feijão submetido a extração
2,17 0,37(b)
3,05 0,34(b)
35,58 3,99(b)
1,38
84,59 1,51 (b)
Médias seguidas por letras diferentes, na mesma coluna, diferem entre si em nível de 5% de probabilidade pelo teste de DUNCAN (P ### 0,05%).
Quadro 25 - Adequação de PER, NPR, NPU, PER corrigido e digestibilidade de caseína, feijão-preto e feijão-preto submetido a extração de polifenóis, com relação aos valores médios obtidos para a caseína
PER NPR NPU digestibilidade
Caseína 100,00 100,00 100,00 100,00
Feijão 49,63 67,04 54,20 90,91
Feijão submetido a extração 55,28 66,24 55,50 90,37
predominantemente no pericarpo ou tegumento, particularmente em cultivares
pigmentados (DESHPANDE et al., 1982).
Além da formação de complexos com proteínas, tornando-as
indisponíveis, os polifenóis podem inibir enzimas digestivas (STANLEY e
AGUILERA, 1985). Dentre os fatores antinutricionais, os polifenóis são os que
mais contribuem para a baixa digestibilidade do feijão em animais e humanos.
Isto pode ser explicado pela formação de complexos entre os polifenóis e as
proteínas, os quais são insolúveis e de baixa digestibilidade, tornando a proteína
parcialmente indisponível, ou através da inibição das enzimas digestivas e do
aumento do nitrogênio fecal (BRESSANI e ELIAS, 1980).
84
A ligação com polifenóis pode tornar as proteínas menos susceptíveis a
hidrólise enzimática no trato digestivo, aumentando o nitrogênio fecal e
diminuindo a digestibilidade da proteína. Ligações de taninos com lisina de
proteínas do feijão podem diminuir a disponibilidade deste aminoácido. Por outro
lado, polifenóis livres podem influenciar indiretamente a digestibilidade protéica
pela inibição de enzimas digestivas (REDDY et al., 1985). O relacionamento
entre a concentração de taninos e a qualidade protéica é também evidente mesmo
quando a proteína é suplementada com metionina (BRESSANI e ELIAS, 1980).
As características e o efeito das ligações entre proteína e polifenóis
dependem do tipo de interação, covalente ou não-covalente. Ligações
não-covalentes podem ocorrer em pH ácido ou neutro e são reversíveis. Os
polifenóis que podem sofrer estas ligações são principalmente os polifenóis
poliméricos ou taninos, embora polifenóis monoméricos ou não-taninos também
possam se ligar não-covalentemente às proteínas. Como conseqüência, o valor
nutricional é diminuído e a estrutura tridimensional das proteínas é modificada,
alterando suas propriedades funcionais. As interações covalentes entre polifenóis
e proteínas, juntamente com uma série de transformações enzimáticas,
contribuem para o fenômeno de escurecimento. Estas interações são irreversíveis
e, caso aminoácidos essenciais estejam envolvidos nas ligações com polifenóis,
haverá um decréscimo do valor nutricional do alimento, além de alterações nas
qualidades organolépticas (HERNANDEZ et al., 1991).
As antocianinas estão extremamente relacionadas aos taninos,
usualmente sem cor, que sabidamente reagem com proteínas. Esses polifenóis
podem reagir com proteínas, diminuindo sua digestibilidade e, portanto, sua
qualidade. Assim, a cor dos diferentes cultivares de feijão influencia na utilização
da proteína do feijão (ELIAS et al., 1979).
Além da presença de fatores tóxicos termolábeis como inibidores de
tripsina, hemaglutininas, glicosídeos cianogenéticos e outros, feijões também
contêm pigmentos, que são os responsáveis pelas suas diferentes cores.
Trabalhos anteriores com diferentes cultivares de feijão sugerem que a cor
85
influencia na utilização da proteína do feijão, pela diminuição da sua
digestibilidade (ELIAS et al., 1979).
A cocção é a etapa de abrandamento com a absorção máxima de água,
pela aplicação de calor úmido. Nesta etapa, a estrutura do grão modifica-se,
sendo o amido geleificado e as proteínas, desnaturadas (HOHLBERG e
STANLEY, 1987; VALLE-VEGA et al., 1990).
Aos nove minutos de cocção há diminuição de 80% na atividade
antitripsina e 100% na atividade hemaglutinante (BONILLA et al., 1982) e, aos
trinta minutos de cocção, 80 a 90% dos polifenóis são eliminados
(GOYCOOLEA et al., 1982). Entretanto, alguns autores têm sugerido que essa
redução dos polifenóis é aparente e está mais relacionada com sua solubilidade e
reatividade química. Eles podem se ligar às proteínas e a outras substâncias
orgânicas ou sofrer transformações na estrutura química, tornando-se não-
detectável pelos métodos químicos disponíveis (AMAYA et al., 1991).
Estudos indicam que os polifenóis são, dentre os fatores antinutricionais,
os que mais contribuem para a baixa digestibilidade do feijão (BRESSANI e
ELIAS, 1984; BRESSANI et al., 1991). Entretanto, grande parte desses
compostos passa para o líquido de cocção, e, dessa forma, a eliminação do caldo
de cocção possibilita a eliminação de boa quantidade de polifenóis (GOMES et
al., 1979).
Com relação ao desempenho nutricional desse alimento, MARQUEZ e
LAJOLO (1981) demonstraram que animais alimentados com feijão integral
apresentam elevada excreção de nitrogênio fecal, contribuindo, assim, para que
as proteínas do feijão tenham um aproveitamento nutricional reduzido.
Taninos afetam a utilização de proteína em feijões através do aumento de
nitrogênio fecal, como fica evidente em estudos com ratos. Em humanos, o efeito
é similar, embora seja menor que em ratos (BRESSANI e ELIAS, 1980).
A origem do nitrogênio fecal e de enxofre em ratos alimentados com
feijões cozidos inteiros ou albuminas e globulinas extraídas dos feijões foi
esclarecida por MARQUEZ e LAJOLO (1991). Feijões marcados radiativamente
86
com 15N e 35S foram empregados para separar eliminação de proteína exógena
(proteína dietética não-digerida) de eliminação de proteína endógena (sinais de
descamação da mucosa e, ou, de elevada secreção de enzimas digestivas). A
metodologia convencional usada previamente não considerava os processos
metabólicos específicos de absorção e secreção que ocorrem no trato
gastrointestinal e que alteram significativamente a composição do nitrogênio
fecal. O consumo de feijões inteiros e, em menor extensão, as albuminas isoladas
do feijão levaram a um aumento na excreção de nitrogênio exógeno e endógeno.
Contrariamente, globulinas de feijão cozido foram bem digeridas, não tendo
nenhum efeito na perda do nitrogênio metabólico. Outros componentes, não-
protéicos, presentes no feijão inteiro também podem estar envolvidos no aumento
da proteína fecal (tanto endógena, quanto exógena).
O conteúdo de proteína fecal de ratos alimentados com dieta livre de
proteína e com dieta à base de caseína é baixo (7,1 e 7,9%, respectivamente) e o
de ratos alimentados com dieta à base de feijão cru é maior (43,8%), enquanto o
de ratos alimentados com dieta composta de feijão termicamente processado é
intermediário (25,6 a 36,0%) (WU et al., 1995).
A digestibilidade é a medida da porcentagem das proteínas que são
hidrolisadas pelas enzimas digestivas e absorvidas pelo organismo (BRESSANI e
ELIAS, 1979). É o primeiro fator que afeta a eficiência da utilização protéica da
dieta. Quando certas ligações peptídicas não são hidrolisadas no processo
digestivo, parte da proteína é excretada nas fezes, ou transformada em produtos
do metabolismo pelos microrganismos do intestino grosso (SGARBIERI, 1987).
Segundo Jaffe, citado por COELHO (1991), os tegumentos das sementes
apresentam menor digestibilidade que o feijão integral e seu endosperma,
provavelmente em função de conterem teores relativamente elevados de
compostos fenólicos e fitatos. Alimentos preparados a partir de feijão descascado
apresentam maior digestibilidade, sendo mais recomendados para dietas especiais
(merenda escolar e outras onde se requer maior aproveitamento protéico).
87
A diminuição de 27,42% dos polifenóis presentes no feijão-preto não
provocou alteração significativa na qualidade protéica, em nível de 5%, pelo teste
de Duncan. A explicação para esse fato recai na ocorrência de migração dos
pigmentos e outros polifenóis para os cotilédones, o que provocou maior
interação entre estes compostos e as proteínas, diminuindo a sua
biodisponibilidade.
Taninos solúveis em água se difundem para o cotilédone e aparentemente
reagem com proteínas do feijão durante o processo de aquecimento. A difusão de
taninos solúveis em água para os cotilédones de feijões-pretos durante o molho é
confirmada pelo fato de taninos serem detectados em cotilédones de
feijões-pretos submetidos a molho em água e não serem detectados em feijões-
pretos submetidos a molho em heptano (AW e SWANSON, 1985).
Os taninos têm grande afinidade pelas proteínas e formam complexos
insolúveis em pH fisiológico e que não se dissociam. Estes complexos são
resistentes à hidrólise enzimática e, subseqüentemente, são excretados. A
presença de taninos na dieta causa diminuição na retenção de nitrogênio em
animais e humanos (REDDY et al., 1985).
Os tegumentos das sementes de feijão devem suas cores a diferentes
polifenóis (antocianinas) que estão extremamente relacionados aos pigmentos
tânicos usualmente sem cor, que sabidamente reagem com proteínas. Os
resultados obtidos sugerem que os pigmentos presentes nos tegumentos dos grãos
de feijão dos cultivares estudados contêm altos níveis de taninos e outros
polifenóis. É sugerido que estes polifenóis podem reagir com proteínas,
diminuindo sua digestibilidade e, assim, sua qualidade (ELIAS et al., 1979).
Grupos hidrofóbicos parecem estar envolvidos na formação e
estabilização de complexos tanino-proteína. Um estudo da interação entre taninos
condensados e poliaminoácidos indicou que o número de grupos metileno na
cadeia lateral do aminoácido foi positivamente relacionado com a magnitude da
interação. A presença de doadores de hidrogênio, na forma de hidroxi-fenólicos,
em taninos, e de aceptores de hidrogênio, na forma de funções carbonila, nas
ligações peptídicas das proteínas, favorecem a formação de pontes de hidrogênio.
88
Além disso, desde que ambos os grupos contenham regiões hidrofóbicas, o
núcleo aromático dos taninos e as cadeias alifática e aromática laterais dos
aminoácidos da proteína, é possível que estes participem do fenômeno de
interação (OH et al., 1980).
A digestibilidade das proteínas decresce com o aumento da pigmentação
do tegumento da semente. Os pigmentos são, geralmente, compostos fenólicos,
que podem interagir com as proteínas do feijão, decrescendo a sua digestibilidade
e utilização. Os polifenóis se encontram nas plantas como metabólitos
secundários, raramente ativos. Sua habilidade de formar compostos complexos e
de precipitar as proteínas faz com que sejam importantes sob o ponto de vista
nutricional (BRESSANI et al., 1991). Por exemplo, Jaffe, 1950, citado por
SGARBIERI e WHITAKER (1982), encontrou valores de 76,8; 79,5 e 84,1%
para digestibilidade in vivo de proteínas de feijão (Phaseolus vulgaris) preto, rosa
e branco, respectivamente. Possivelmente, os inibidores enzimáticos, como os
taninos ou polifenóis, podem ser parcialmente responsáveis por essa baixa
digestibilidade, mas estes compostos nas leguminosas não têm sido estudados
com profundidade e há poucos estudos em animais que indiquem que eles afetam
diretamente a qualidade nutricional. Não obstante, há evidências que fazem
pensar que os polifenóis são os que contribuem mais para a baixa digestibilidade
da proteína do feijão (BRESSANI et al., 1991).
SGARBIERI et al. (1979) mostraram a digestibilidade e o valor nutritivo
de quatro variedades brasileiras de Phaseolus vulgaris
PER para proteína total da farinha autoclavada (121oC/15 min) destas variedades
foram de 0,75; 0,85; 1,12 e 1,32 para o Carioca, Rosinha G2, Piratã 1 e Rico 23,
respectivamente. A digestibilidade das proteínas foi de 44, 45, 45 e 39% para os
feijões não-termotratados e 64,5; 58; 69,5; e 52% para feijões autoclavados.
DUARTE (1995) observou, através de determinação de NPR, NPU e
digestibilidade, que a eliminação do caldo de cocção de feijões-pretos
incrementou os valores destes índices, mas foi significativa somente para a
digestibilidade. Os valores encontrados pela autora estão no Quadro 26. Ela
89
atribuiu esses resultados à eliminação do caldo de cocção e conseqüente perda de
polifenóis.
Cerca de 60, 67 e 37% dos polifenóis totais de feijões crus permanecem
nos grãos pretos, brancos e vermelhos, respectivamente, após o cozimento
(BRESSANI et al., 1983). A água de cocção contém menos de 20% dos
polifenóis totais.
No entanto, embora relativamente grandes quantidades de polifenóis
possam ser eliminadas na água de lavagem e na água utilizada para o cozimento,
o resíduo é retido, principalmente pelos cotilédones. Isto pode ser devido à
migração aparente dos taninos do tegumento para os cotilédones. As quantidades
de taninos ingeridas irão, então, depender de como os feijões são processados e
consumidos (BRESSANI e ELIAS, 1980).
Quadro 26 - Resultados de NPR, NPU e digestibilidade (média desvio-padrão) (DUARTE, 1995)
Dieta NPR NPU Digestibilidade
Caseína 5,24 0,84 63,30 5,32 95,97 1,00
Feijão-preto com caldo 2,97 0,41 33,45 3,03 72,25 4,38
Feijão-preto sem caldo 2,22 0,53 33,91 4,04 79,19 8,06
90
5. CONCLUSÕES E SUGESTÕES
Etanol 70% acidificado com 0,5% de HCl foi eficiente para extração de
antocianinas de feijão.
A cromatografia descendente em papel utilizando BFW (15:2,5:2,4)
como fase móvel mostrou ser uma técnica eficaz na separação das antocianinas
presentes no extrato bruto de feijão.
O extrato de antocianinas de feijão é constituído de seis frações
antociânicas diferentes, das quais três foram identificadas.
A utilização de métodos espectrofotométricos UV-visível, técnicas
cromatográficas em papel e HPLC e reações químicas específicas para
antocianinas foi suficiente para identificar as estruturas de três frações de
antocianinas do feijão.
As três frações principais purificadas foram identificadas como
malvidina 3-glicosídeo, cianidina 3-glicosídeo e delfinidina 3-glicosídeo.
Mediante os resultados encontrados em ensaios biológicos, pode-se
concluir que a retirada do tegumento do feijão após a cocção, mesmo que
parcialmente, reduz seu valor protéico, provavelmente pela eliminação
simultânea de aminoácidos sulfurados e lisina provenientes de proteínas presentes
no tegumento.
91
A cocção, através da temperatura elevada, provoca desnaturação de
proteínas que atuam como fatores antinutricionais nos alimentos vegetais. Estas
proteínas, uma vez desnaturadas, vão contribuir para elevar o valor nutricional
das proteínas vegetais, sendo, portanto, inconveniente eliminá-las dos alimentos.
A extração etanólica de polifenóis de feijão não resultou em aumento da
qualidade protéica, como se esperava. Esse tratamento, provavelmente, provocou
a migração destes polifenóis presentes originalmente no tegumento para os
cotilédones. Esta migração, possivelmente, proporcionou a interação destes
polifenóis com as proteínas dos cotilédones dos grãos. Desta maneira, a
diminuição no teor de polifenóis, que aumentaria a qualidade protéica, foi
compensada pela maior interação entre as proteínas e os compostos
antinutricionais em estudo.
Novos ensaios biológicos se fazem necessários para esclarecimento da
participação dos polifenóis como fator responsável pela diminuição da qualidade
protéica. Um ensaio em que se comparassem dietas à base de caseína adicionadas
ou não de polifenóis extraídos do feijão seria uma das possibilidades para obter
resultados mais conclusivos.
Trabalhos objetivando o conhecimento dos isoflavonóides presentes no
feijão, bem como de suas ações terapêuticas, seriam relevantes.
92
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