Post on 15-Oct-2015
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUCENTRO DE CINCIAS DA EDUCAO
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM EDUCAOCURSO DE MESTRADO EM EDUCAO
PORTA-VOZES DA CONQUISTA DA RIQUEZA: O ENSINO COMERCIAL E A ESCOLA UNIO CAIXEIRAL DE PARNABA
(1918 -1950)
GILBERTO ESCRCIO DUARTE FILHO
TERESINA - PI2010
GILBERTO ESCRCIO DUARTE FILHO
PORTA-VOZES DA CONQUISTA DA RIQUEZA: O ENSINO COMERCIAL E A ESCOLA UNIO CAIXEIRAL DE PARNABA
(1918 -1950)
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Educao, do Centro de Cincias da Educao, da Universidade Federal do Piau UFPI, como exigncia parcial para obteno do ttulo de Mestre em Educao.
Orientador: Prof. Dr. Antonio de Pdua Carvalho Lopes
TERESINA - PI2010
1FICHA CATALOGRFICAServio de Processamento Tcnico da Universidade Federal do Piau
Biblioteca Comunitria Jornalista Carlos Castello Branco
D812h Duarte Filho, Gilberto Escrcio. Porta-vozes da conquista da riqueza: o ensino comercial e a escola unio caixeiral de Parnaba (1918-1950) [manuscrito] / Gilberto Escrcio Duarte Filho. 2010.
118 f.
Impresso por computador (printout).Dissertao (mestrado) Universidade Federal do Piau,
Centro de Cincias da Educao, Mestrado em Educao, 2010.
Orientador: Prof. Dr. Antnio de Pdua Carvalho Lopes.
1. Educao-Histria-Parnaba. 2. Unio Caixeiral. 3. Memria (Escola Unio Caixeiral). I. Ttulo.
CDD 370.981 22
2PORTA-VOZES DA CONQUISTA DA RIQUEZA: O ENSINO COMERCIAL E A ESCOLA UNIO CAIXEIRAL DE PARNABA
(1918 -1950)
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-graduao em Educao da Universidade Federal do Piau - UFPI, como requisito parcial para obteno do ttulo de Mestre em Educao.
APROVADA EM: 27/09/2010
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________________Prof. Dr. Antonio de Pdua Carvalho Lopes (Orientador)
Universidade Federal do Piau
_________________________________________________________Prof Dr. Salnia Maria Barbosa Melo(Examinador externo)
Universidade Estadual do Piaui
__________________________________________________________Prof Dr. Ivana Maria Lopes de Melo Ibiapina (Examinador Interno)
Universidade Federal do Piau
___________________________________________________________Prof. Dr. Luis Carlos Sales (Suplente)
Universidade Federal do Piau
3A Deus pelas bnos constantes;A minha famlia pelo incentivo e carinho.
4AGRADECIMENTOS
Inicialmente, gostaria de externar que no decorrer de toda a trajetria de elaborao
execuo deste trabalho tive a contribuio valiosa de vrias pessoas, que de alguma forma,
concederam-me momentos de ateno para que conclusse este momento de vivncia
intelectual. Espero que se sintam representados pelos que esto sendo citados neste modesto
agradecimento.
Agradeo, primeiramente, a Deus que me concedeu mais uma oportunidade de vida
aps ter enfrentado uma enfermidade e praticamente perder todos os movimentos, voltando a
ter uma vida normal.
Ao meu pai Gilberto Escrcio Duarte e minha me Joana Eneida Nbrega Duarte pelo
carinho que tiveram comigo durante todo o perodo do mestrado e por me fornecerem
informaes de fundamental importncia acerca do tema, com suas experincias de vida e
vivncia no objeto de pesquisa, compreendendo os momentos que precisava ficar mais
isolado, para melhor concentrao e elaborao desta dissertao.
Em especial, a minha esposa Njla da Conceio Mendes, que como uma guerreira
esteve sempre ao meu lado, desde os momentos mais difceis aos mais calorosos, com
palavras de incentivos, buscando me confortar e por compreender o quanto este projeto de
vida importante para mim, principalmente aps todos os momentos de dor e angstia
vividos enquanto estive doente, demonstrando de todas as formas o papel de amiga,
companheira, me, enfim, fico at sem palavras para expressar to importante pessoa na
minha vida. Aos meus filhos: Mateus, Luiza Raquel e Artur que em todos os momentos no
pouparam esforos para me acompanhar nesta caminhada e que souberam compreender as
ausncias e os nos, que eram interrogados, s vezes, de forma spera com perguntas de tom
juvenil como se sobraria um tempo para estar com eles.
Ao meu orientador Prof. Dr. Antnio de Pdua Carvalho Lopes, que paciente e com
muita ateno procurou passar conhecimentos, que tive a felicidade de ouvi-los, revelando
histrias que vivenciou ao longo dos anos de pesquisa, permitindo compreender melhor as
caracterstica de um bom pesquisador.
Aos Professores doutores do Mestrado de Educao da Universidade Federal do Piau
por compartilhar conhecimento, amizade e incentivo essenciais para a minha formao
durante a ps-graduao e, principalmente, quando da realizao das disciplinas cursadas,
experincia que levarei para o resto da minha vida.
5Dentre todos, agradeo em especial as professoras Ivana Maria Lopes de Melo
Ibiapina que alm de incentivadora, atuou de cupido para que eu pudesse encontrar minha
companheira nessa trajetria de 14 anos e Maria do Amparo Borges Ferro pelas contribuies
dadas ao longo desta caminhada para a elaborao e defesa da dissertao e, principalmente,
pelo carinho, amizade, confiana que sempre depositaram em minha pessoa.
Ao Professor Doutor Francisco de Assis de Sousa Nascimento mentor deste projeto,
que com sua veia intelectual me protagonizou momentos agradveis e prazerosos de
aprendizado, o qual dedico um muito obrigado por todos os e-mails e telefonemas que
prontamente foram atendidos e respondidos. Professora Mestra Marlinda Pessa Araujo
sempre atenciosa e compreensiva quando precisei me ausentar de minhas atividades na
Faculdade Piauiense para que pudesse receber minhas orientaes no mestrado, a qual tenho
como uma das pessoas que mais me espelho como gestora dedicada de suas funes
pedaggicas.
As gestoras da Faculdade Piauiense Altair Marinho e Rosany Correa que ao saberem
de minha aprovao se mostraram solcitas ao que tivesse ao alcance delas como forma de
contribuir para a capacitao e posterior titulao de mestre, qualificando, ainda mais, o corpo
docente da Instituio. Aos gestores do Colgio So Luiz Gonzaga Diocesano de Parnaba
os Padres Jurandir e Vitrio pela compreenso destinada no perodo de mestrado quando
precisei me deslocar a Teresina na busca de mais conhecimentos.
Aos meus amigos que mais de perto acompanharam essa jornada de pesquisa e
construo da dissertao, em especial: Maria Ozita, Francisco Afrnio, Safira, Maria do
Rosrio de Ftima, Erasmo Amorim, Francisco Muniz, Padre Vicente, Regina Schmidlin,
Helder Souza, Maria do Livramento e Aurioneida pelas diversas oportunidades de
vivenciamos momentos de aprendizado e conversas de incentivo pesquisa, orientaes e
crticas construtivas que contriburam na construo da dissertao. A Cleto Sandys e Renata
Cristina da Cunha, casal que tenho total admirao e inspirao por sua obcecada busca pela
pesquisa e amizade que a cada dia se fortalece.
Aos colegas mestrandos da dcima sexta turma do Programa de Ps-graduao em
Educao da Universidade Federal do Piau pela convivncia durante as disciplinas cursadas,
momentos vivenciados de angstia mais de uma alegria contagiante, expressamente
demonstrada nos nossos encontros onde a descontrao era presena fundamental, tirando a
tenso dos trabalhos e revigorando energias para que caminhssemos todos juntos em prol de
nosso objetivo comum, tornando-nos mestres. Em especial, a Francisca Campos, querida
Tina, a qual tive o prazer de conviver quase que diariamente, seja presencial ou a distncia,
6experimentando situaes divertidas e por todos os caminhos que trilhamos nas diversas
entrevistas que compartilhamos de nossos sujeitos em suas descries orais sobre os objetos
de nossas pesquisas. Fabrcia Pereira Teles e Sidicley Maia, pela amizade afetuosa que
construmos dia aps dia e a Cleidivan Alves dos Santos o qual no poderia deixar de
externalizar minha gratido pelos quase 700 km por semana, onde compartilhamos histrias
de vida. Esses meus amigos jamais sero esquecidos e j os considero parte integrante de
minha famlia.
Um agradecimento pstumo de uma pessoa que em toda a trajetria de forma
espiritual esteve do meu lado, pois sentia em todas as linhas escritas suas palavras de
incentivo. Muito obrigado, Dona Araci Reis da Graa, por me fazer acreditar que podia
chegar algum dia a galgar meus objetivos com honestidade, perseverana e acima de tudo
com compromisso, a minha eterna gratido. Tia Rosrio e Teresinha pela demonstrao de
confiana dispensada em minha pessoa e por ter me dado guarida nos primeiros e longos
passos dessa empreitada rdua, mas prazerosa ao seu curso final. Ainda, no poderia me
omitir a gratido a minha cunhada Cearacy pelo carinho e conselhos nos momentos difceis
exigidos nessa empreitada.
Aos casais Leonardo e Fara e Adail e Carol pela assistncia dada durante todo o
mestrado, sempre com demonstraes de carinho e disponveis para atender as necessidades
caso fossem solicitados. Minhas primas Fabola Lima e Juliana Portela que nunca se negaram
a atender minhas solicitaes de ajuda e colo para minhas confidncias de luta na execuo da
dissertao.
Aos meus amigos de todas as horas Euliane, Antonio Jos, Cristiane, Jorge, Edileusa
pelos momentos de apoio e descontrao durante toda a trajetria de idas e vindas Teresina
para cursar o Mestrado em Educao.
Aos senhores sujeitos da minha pesquisa pela disponibilidade na concesso de
depoimentos que foram fundamentais para a efetivao da dissertao, ressaltando a
importncia das experincias vivenciadas no perodo de recorte trabalhado na cidade de
Parnaba, acerca de suas funes que desempenharam no perodo e suas relaes com a Unio
Caixeiral.
Aos funcionrios do Arquivo Pblico do Piau, da Biblioteca da Universidade Federal
do Piau, da Fundao Centro de Pesquisas Econmicas e Sociais do Piau (CEPRO),
localizados em Teresina (PI); da Biblioteca Municipal de Parnaba, da Biblioteca do SESC
Avenida, do Instituto Histrico, Geogrfico e Genealgico de Parnaba, da Academia
Parnaibana de Letras, Arquivo da Associao Comercial de Parnaba, por terem permitido
7acesso a documentos, revistas, jornais, livros que contriburam para a efetivao desta
pesquisa.
Ao Professor Mestre Iweltman Mendes pelos momentos de saber e intelectualidade
proporcionadas nos mais diversos encontros, mostrando-se sempre um grande incentivador da
pesquisa referente memria da cidade de Parnaba, atravs de suas Instituies e, ao tambm
professor Mestre Frederico Osanan pelo incentivo que proporcionou, um debruar maior
sobre a pesquisa.
E, finalmente a todo o corpo mdico do HTI de Teresina, pelo carinho, compromisso e
dedicao a minha pessoa, onde os cuidados com a minha recuperao parecia ser o objetivo
de cada um dos integrantes daquela UTI, vivenciando os momentos difceis que passei, mas
acima de tudo me confortando e me dando exemplo de como se deve lutar pela vida.
A todos, o meu muito obrigado.
8Hoje dia do contabilistaDia de luz e muito amor
Hoje dia do contabilistaVamos saudar com muito ardor
Homem sbio e exatoContabilista a tua misso
Ser criatura paciente E trabalhar com exatido
[...]
Estrofe do Hino do Contabilista da Unio CaixeiralAutora: Rosngela Santos
Ex-aluna
9FILHO, Gilberto Escrcio Duarte. Porta-vozes da conquista da riqueza: o ensino comercial e a escola Unio Caixeiral de Parnaba (1918 -1950). Dissertao (Mestrado em Educao). 118f. Universidade Federal do Piau, Centro de Cincias da Educao, Programa de Ps-Graduao em Educao, Teresina, 2010.
RESUMO
Este trabalho apresenta e analisa a histria e a memria da Unio Caixeiral, desde a criao da Sociedade Civil, evidenciando sua contribuio na Educao Tcnica em Parnaba, na primeira metade do sculo XX, perodo em que a Escola Tcnica de Comrcio da Unio Caixeiral empreendeu relevante influncia na formao educacional profissionalizante em sua estreita relao com o desenvolvimento da cidade. O recorte temporal da pesquisa enfoca os anos de 1918 at 1950 e se justifica pela sua fundao em 1918, como Sociedade Civil, e posteriormente a implantao da Escola como formadora de mo-de-obra especializada para o comrcio, em particular, a formao de Guarda-livros, sendo na dcada de 40, reconhecido como tcnico em contabilidade. A proposta dessa pesquisa foi construir um dilogo com as fontes escritas e os depoimentos coletados, com o objetivo de construir uma histria da Unio Caixeiral, dando visibilidade insero dos egressos dessa instituio de ensino no meio social da cidade de Parnaba e regies vizinhas. Constituiu-se como proposta central a investigao da consolidao da educao tcnica em Parnaba como um reflexo do desenvolvimento econmico da cidade, dando visibilidade aos sujeitos histricos, a associao entre a formao profissional e a vida poltica. Metodologicamente, alm das entrevistas coletadas, foram realizadas pesquisas no Instituto Histrico Geogrfico e Genealgico de Parnaba (IHGGP), espao onde se encontra grande parte do acervo documental da Unio Caixeiral, bem como na biblioteca pblica municipal de Parnaba, jornal A Praa, peridico Almanaque da Parnaba, no Arquivo Pblico de Teresina e em arquivos particulares. Alm disso, a produo do trabalho foi beneficiada pela extensa quantidade de registros visuais retratando diversos momentos da instituio. A presente pesquisa est ambientada na histria cultural, tendo como amparo terico os postulados elaborados por Jacques Le Goff, Ceclia Cortez, Ecla Bosi, Luclia de Almeida Neves Delgado, Rosa Ftima de Souza, Carlota Boto, Felipe Mendes, dentre outros.
PALAVRAS-CHAVE: Histria. Educao. Unio Caixeiral. Parnaba.
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FILHO, Gilberto Escrcio Duarte. Door-voices of the conquest of wealth: education and school commercial Unio Caixeiral of Parnaba (1918 -1950). Dissertation (Master in Education). 118f. Federal University of Piau, Center of Education Science, Post Graduation Program, Teresina, 2010.
ABSTRACT
This work presents and analyses the history and memory of Unio Caixeiral, since the creation of civil society, confirming its contribution to the technical education in Parnaba, in the first half of the 20th century, period in which the Technical School of Commerce of Unio Caixeiral came up with a relevant influence in the professionalization of the educational training in its straight relation with the citys development. The research time shift focuses the year 1918 until 1950 and is justified by the schools foundation in 1918 as a civil society, and later the school implementation as a producer of specialized labor for commerce, specifically the training of Bookkeepers who were recognized in the 40s as accountant technicians. This research proposal was to build a dialogue with the written sources and the collected declarations with the objective of building the history of Unio Caixeiral, revealing the insertion of this teaching institution egresses in the social environment of the city of Parnaba and its neighborhoods. The consolidation of the technical education in Parnaba as a reflection of the citys economical development, revealing its historical subjects, the association between the professional training and the political life has been the central aspect of this investigation. Methodologically, besides the collected declarations, researches were undertaken in the Historical Geographical and Genealogical Institute of Parnaba (HGGIP), place in which most documental files of Unio Caixeiral are, as well as in the public library of Parnaba, the newspaper A Praa, the Parnaba almanac periodical, in the Public File of Teresina and in private files. Besides this, the work production was benefited by the large amount of visual records portraying several moments of the institution. This research is based upon the cultural history, mainly in scholars as Jacques Le Goff, Ceclia Cortez, Ecla Bosi, Luclia de Almeida Neves Delgado, Rosa Ftima de Souza, Carlota Boto, Felipe Mendes, among others.
KEY-WORDS: History. Education. Unio Caixeiral. Parnaba.
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LISTA DE ILUSTRAES
Fotografia 1: Praa da Graa Parnaba, dcada de 30. Fonte: acervo do IHGGP (Instituto Histrico Geogrfico e Geneolgico de Parnaba - PI)............................... 24Fotografia 2: Casa Inglesa Parnaba. Fonte: acervo do IHGGP (Instituto Histrico Geogrfico e Geneolgico de Parnaba-PI)................................................ 25Fotografia 3: Porto das Barcas em plena atividade comercial. Fonte: Acervo do IHGGP (Instituto Histrico Geogrfico e Geneolgico de Parnaba-PI)................... 28Fotografia 4: Prdio do Ginsio Parnaibano. Fonte: acervo do IHGGP (Instituto Histrico Geogrfico e Geneolgico de Parnaba-PI)................................................ 32Fotografia 5: Prdio do Colgio Nossa Senhora das Graas. Fonte: Arquivo do IHGGP (Instituto Histrico Geogrfico e Geneolgico de Parnaba-PI)................... 33Fotografia 6: Prdio da Escola e Sociedade Unio Caixeiral. Fonte: Acervo Particular de Gilberto Escrcio Duarte....................................................................... 34Fotografia 7: Registro em Cartrio do Estatuto da Sociedade Unio Caixeiral. Fonte: Arquivo Particular de Gilberto Escrcio Duarte............................................. 40Fotografia 8: Diretoria Provisria e Lista de Scio-Fundadores Sociedade Unio Caixeiral. Fonte: Acervo Particular de Gilberto Escrcio Duarte.............................. 41Fotografia 9: documento de compra do terreno da sociedade Unio Caixeiral Parnaba-PI. Fonte: Acervo Particular Iweltmam Mendes......................................... 42Fotografia 10: Comunicado a Associao Comercial de Parnaba da nova diretoria da Unio Caixeiral. Fonte: Ata da Associao Comercial de Parnaba, 13 de agosto de 1919.................................................................................................. 46Fotografia 11: Mensrio da Associao Comercial, fevereiro de 1944. Fonte: Arquivo Pblico Teresina........................................................................................ 46Fotografia 12: Estatstica de exportaes no Porto de Parnaba, 1944Fonte: Arquivo Pblico Teresina........................................................................................ 47Fotografia 13: Decreto Estadual de reconhecimento da Sociedade Unio Caixeiral como Utilidade Pblica. Fonte: Arquivo Pblico de Teresina.................. 48Fotografia 14: Casas comerciais na Avenida Presidente Vargas. Fonte: Arquivo do IHGGP (Instituto Histrico Geogrfico e Geneolgico de Parnaba-PI)............. 59Fotografia 15: Diploma de concluso do curso de Guarda-livros do Colgio Nossa Senhora das Graas. Fonte: Acervo particular de Neyde Alves de Souza.................. 65Fotografia 16: Carteiras individuais e coletivas Unio Caixeiral. Fonte: Acervo Particular de Gilberto Escrcio Duarte....................................................................... 79Fotografia 17: Fachada do Prdio da Escola e Sociedade Unio Caixeiral. Fonte: Acervo Particular de Gilberto Escrcio Duarte.......................................................... 80Fotografia 18 : Sala de aula da EscolaTcnica de Comrcio da Unio Caixeiral. Fonte: Acervo Particular de Gilberto Escrcio Duarte............................................... 82Fotografia 19: Quadro de Formatura da primeira turma de Guarda-Livros da Escola Unio Caixeiral. Fonte: Instituto Histrico, Geogrfico e Geneolgico de Parnaba....................................................................................................................... 89Fotografia 20: Professores e personalidades da Parnaba no quadro de formatura da primeira turma de Guarda-Livros, de 1942. Fonte: Arquivo do Instituto Histrico, Geogrfico e Geneolgico de Parnaba................................................. 91Fotografia 21: Convite de Colao de Grau de 1949. Fonte: Acervo Particular de Carlos Antonio........................................................................................................... 97Fotografia 22: Convite de formatura Unio Caixeiral, 1949. Fonte: Acervo
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Particular de Carlos Antonio...................................................................................... 98Fotografia 23: Convite de Formatura Disposio de padrinhos e madrinhas. Fonte: Acervo Particular de Carlos Antonio.............................................................. 98Fotografia 24: Rainha do Comrcio Unio Caixeiral, 1935. Fonte: Acervo Particular de Gilberto Escrcio Duarte....................................................................... 99Fotografia 25: Desfile Cvico do dia 7 de setembro da Unio Caixeiral (dcada de 1940) Fonte: Acervo Particular de Gilberto Escrcio Duarte.................................... 100Fotografia 26: Desfile Cvico na Praa da Graa, Parnaba(data imprecisa). Fonte: Arquivo do IHGGP..................................................................................................... 101Fotografia 27: Um Hino Esquecido, folha do litoral de 17 de junho de 1961.Fonte: Acervo Particular de Gilberto Escrcio Duarte................................... 102
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SUMRIO
1. INTRODUO................................................................................................................ 142. A EMERGNCIA DA SOCIEDADE CIVIL UNIO CAIXEIRAL EM PARNABA E SUA RELAO COM A CIDADE............................................................................... 232.1 Parnaba na primeira metade do sculo XX..................................................................... 242.2 Navegao Rio Parnaba: caixeiros e comerciantes como ofcios impulsionadores do desenvolvimento econmico.................................................................................................. 282.3 Panamora educacional: Parnaba na primeira metade do sculo XX.............................. 322.4 Unio Caixeiral: Sociedade Civil de auxlio mtuo........................................................ 343. A EDUCAO TCNICA EM PARNABA: UNIO CAIXEIRAL E O ENSINO PROFISSIONALIZANTE.................................................................................................. 573.1 Implantao e o ingresso na formao profissionalizante............................................... 593.2 Guarda-livros: gnero e atuao no mercado de trabalho................................................ 633.3 Ensino comercial no Brasil: histrico e legislao.......................................................... 674. UNIO CAIXEIRAL COMO LUGAR DE MEMRIA: ESPAO INSTITUCIONAL, IDENTIDADE COLETIVA, CULTURA PROFISSIONAL E PRTICAS ESCOLARES.................................................................................................. 754.1 Dia-a-dia da escola enquanto construo de uma cultura escolar.................................... 754.2 A sala de aula como espao de construo da proposta pedaggica da escola...................................................................................................................................... 774.3 Arquitetura escolar enquanto representao simblica.................................................... 804.4 Identidade Coletiva como compreenso da cultura escolar............................................. 834.5 Quadros de formatura: a imagem como representao escolar....................................... 864.6 Currculo e festas escolares.............................................................................................. 935. CONCLUSO.................................................................................................................. 104 REFERNCIAS E FONTES.............................................................................................. 107ANEXOS............................................................................................................................... 113
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INTRODUO
A presente pesquisa elegeu como objeto de estudo a construo da memria e
histria da Escola Unio Caixeiral, situada na cidade de Parnaba, Estado do Piau, no
recorte temporal de 1918 at 1950, justificando-se pelos seguintes motivos: em primeiro
lugar, por ser 1918 o ano de sua fundao como sociedade civil. A partir desse ano, seus
scios realizaram atividades de auxlio mtuo e iniciaram as atividades educacionais, sendo,
posteriormente, em 1922, lanada a pedra fundamental de seu edifcio sede, concludo em
1937; em segundo, o incio da educao comercial entre as dcadas de 30 e 40, permitindo
compreender, atravs das memrias de seus sujeitos, a relao existente entre uma formao
voltada para a capacitao de profissionais para o comrcio com a cidade de Parnaba e seu
crescimento econmico nesse perodo. Considerando que a Unio Caixeiral esteve inserida
no cotidiano parnaibano, desde as primeiras dcadas do sculo XX, como fonte geradora de
fatos e discursos ideolgicos de formao da sociedade, com opinio legitimamente
reconhecida, despertou em mim o interesse por debruar-me sobre essa histria iniciada pela
associao de cento e vinte e dois rapazes, da classe de comercirios e caixeiros, que, no dia
28 de abril de 1918, oficializada pelo seu estatuto datado do dia 2 de junho do mesmo ano,
fundou a Sociedade Civil Unio Caixeiral. Inserida num contexto de franco
desenvolvimento do comrcio local, a cidade de Parnaba figurava como plo dos negcios
piauienses atravs de seu porto martimo, onde eram feitas exportaes para o centro sul do
pas e exterior.
A ideia desses sujeitos ampliou-se com a inteno de formar mo de obra
especializada na rea contbil e congregar a categoria em funo do desenvolvimento
econmico que se registrava na cidade. Surgia, deste modo, a Sociedade Civil Unio
Caixeiral. Como um dos ideais de seus scio-fundadores, estava a criao de uma escola, que
veio a funcionar em um belo e imponencial prdio, na Avenida Presidente Vargas, sendo que
o lanamento de sua pedra fundamental ocorreu em 7 de setembro de 1922 e suas obras
foram concludas em junho de 1937, tendo incio suas atividades educativas neste local a
partir de 1938. Contudo, desde sua fundao, a Unio Caixeiral tinha uma escola, sendo
suas aulas ministradas em locais cedidos por scios fundadores, em espaos de suas
residncias particulares. O prdio tornou-se para a cidade no s uma obra arquitetnica, mas
um grande centro de formao de valores que se confunde com o desenvolvimento da prpria
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cidade. Essa escola contava Com laboratrios para aulas de fsica, qumica e cincias, uma
biblioteca de bom acervo, mquinas de escrever, calcular e materiais didticos para o bom
desempenho do ensino (MENDES, 2007, p. 98).
O empreendimento de tamanha envergadura possibilitou aos jovens a ascenso a
certas posies de destaque na sociedade e no comrcio, que crescia vertiginosamente em
nmeros qualitativos e quantitativos, segundo registro dos Almanaques da Parnaba da
poca.
Estudar na Unio Caixeiral passou a simbolizar uma condio de reconhecimento,
tanto intelectual como financeira, o que despertou nos cidados o desejo de fazer parte do
grupo dos ascendentes caixeiros, construindo, ento, na mentalidade do parnaibano, uma
identidade de ligao entre a Unio Caixeiral e o progresso na vida pessoal e profissional.
Suas prticas pedaggicas estavam diretamente ligadas formao de guarda-livros
e, posteriormente, de tcnico em contabilidade, deixando marcas na cultura da cidade de
Parnaba, participando ativamente do ciclo econmico correspondente s dcadas de 1930 e
1940, perodo de grande produo e exportao da cera de carnaba e babau, leo de tucum
e pluma de algodo.
O comrcio passou a ter um papel importante nesse processo, pois impulsionava e
dava suporte ao progresso em vias de afirmao na cidade. Dentre alguns acontecimentos
desse perodo, podemos destacar: Linha ferroviria (1916) e a construo de sua Estao na
cidade (1922); Linha Area Buenos Aires/Belm, com passagem por Parnaba, operada pela
Nirba Line (1930); fundao do Rotary Club (1938), do Lactrio Suzanne Jacob (1938);
instalao da rede telefnica pela Ericsson do Brasil (1938); inaugurao da Igreja de So
Sebastio (1940), dente outros, que faziam aflorar cada vez mais o apogeu de Parnaba na
economia da regio.
Naquela poca, Parnaba apresentava-se como um plo de comrcio e indstria
muito prspero no estado do Piau. Prova disso foi a instalao, na referida cidade, em
fevereiro de 1917, da vigsima terceira agncia do Banco do Brasil, frente, at mesmo, de
algumas capitais.
A Escola Tcnica de Comrcio da Unio Caixeiral, assim denominada
inicialmente, tinha como foco principal, alm da formao de guarda-livros, instruir
profissionais que atendessem s necessidades de mo de obra no comrcio, ou seja,
funcionrios com aptides baseadas em estudos especficos na qualificao profissional para a
atividade a ser desempenhada em estabelecimentos comerciais, procurando atender ao
mercado de trabalho da poca, como auxiliar de escritrio, secretrios e outros.
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A mencionada instituio estabeleceu um desconto de 50% nas mensalidades
escolares dos alunos da escola que trabalhavam no comrcio. Outro ponto a ser ressaltado
que os parentes dos scios fundadores tambm tinham desconto de 50%. Os alunos que
obtinham o primeiro lugar, seja nos trs anos iniciais, ensino propedutico ou no curso de
guarda-livros, com durao de dois anos, recebiam, no ano seguinte, bolsa integral.
A Escola Tcnica de Comrcio da Unio Caixeiral detinha um respaldo diante da
sociedade parnaibana quanto formao de profissionais para a atividade comercial, o que
levava seus alunos a terem posio de destaque na seleo de novos funcionrios para
empresas na regio norte do Piau. Grande parte dos jovens do perodo, que no migravam
para os grandes centros, acabava ingressando nesta instituio escolar, em virtude do
progresso comercial que a cidade experimentava no perodo, principalmente a partir da
dcada de 1930. Passou-se a possibilitar, juntamente com outras escolas de respaldo na
cidade, a formao de uma elite intelectual, participante da vida da cidade, despertando
interesse principalmente nas mulheres, que passaram a ter maior frequncia nessa escola de
ensino comercial.
A escola deixou marcas na sociedade parnaibana, acompanhou grandes ciclos,
irradiou seu nome com estudantes que se tornaram importantes no cenrio nacional, que
exerceram, por exemplo, cargos de Ministro de Estado, Procurador da Justia Federal,
Deputado Federal, escritores, dentre tantos, mas no resistiu inadimplncia escolar que a
levou a fechar as portas no ano de 2006.
Mesmo com o seu fechamento, a Escola Unio Caixeiral mantm a tradio de
valorizao dos bens culturais e continua a atrair grande nmero de pessoas que mantiveram
forte identificao com a instituio. Uma imagem de ureos tempos permanece ainda na
mente de boa parte da populao local, que revisita o prdio, se emociona em seus corredores,
sobe suas escadarias e constitui memrias ao observar os clssicos quadros que estampam os
rostos dos formandos de cada turma, hoje parte do acervo do Instituto Histrico Geogrfico e
Genealgico de Parnaba.
Com o encerramento das atividades educacionais da Escola Unio Caixeiral, no
s o acervo da cultura material foi disperso, mas tambm a prpria instituio, como lugar de
memria, sofre a eminncia de perda de suas formaes identitrias, provocando os seguintes
questionamentos: de que maneira foi construda a memria das prticas educativas e da
produo da cultura escolar na Unio Caixeiral? Quais foram os sujeitos que participaram
do processo educativo na Escola Unio Caixeiral? De que forma esses sujeitos
constituram-se com subjetividade e interagiram por meio das prticas educativas?
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A Escola Tcnica de Comrcio da Unio Caixeiral, pela sua longa trajetria de
atividade educacional, constitui-se hoje, num lugar-memria a ser explorado por
pesquisadores para a compreenso de questes que vo desde a insero da escola no contexto
educacional da cidade at a relao da iniciativa privada parnaibana, representada pela elite
comercial no desenvolvimento do estado. Considerando como princpio a relao que uma
parte dos cidados parnaibanos tem com a Unio Caixeiral, que nos propusemos a
pesquisar este objeto.
O objeto de pesquisa, portanto, a histria e a memria da escola que foi iniciada
pela ao dos caixeiros e comercirios e contribuiu de formas diversas para educao da
regio norte do estado do Piau e de outros estados da Federao. As histrias e memrias
foram continuamente se rearticulando e fortalecendo as ambincias da cultura escolar, que,
dinamicamente, faz parte da prpria histria da cidade, alm de lanar seus reflexos para
diferentes estados do Brasil e do mundo.
Nesse sentido, a pesquisa tem como objetivo construir uma histria e memria da
Unio Caixeiral, buscando compreender a sua relao com a sociedade e a cultura na cidade
de Parnaba.
A pesquisa se filia Nova Histria Cultural como possibilidade para utilizao de
novas linguagens na histria, operacionalizao de novas metodologias, contemplando novos
objetos e recebendo contribuio de diversos tericos da Histria, da Educao e de outras
reas das cincias humanas de forma interdisciplinar. A Histria Cultural, na atualidade,
procura iluminar caminhos e explicar alguns objetos, desprestigiados pela historiografia
tradicional. Segundo Peter Burke, na Histria Cultural, o que era previamente considerado
imutvel agora encarado como uma construo cultural, sujeita a variaes, tanto no
tempo quanto no espao (BURKE, 1992, p. 11).
importante salientar que a Histria Cultural, segundo Sandra Jatahy Pesavento,
surge quando ento se insinuou a hoje to comentada crise dos paradigmas explicativos da
realidade, ocasionando rupturas epistemolgicas profundas que puseram em xeque marcos
conceituais dominantes na Histria (PESAVENTO, 2004, p. 8).
Na teorizao da Histria da Educao, necessrio tambm se faz compreender sua
insero no mbito da cultura, pois:
A Cultura ainda uma forma de expresso e traduo da realidade que se faz de forma simblica, ou seja, admite-se que os sentidos conferidos s palavras, s coisas, s aes e aos atores sociais se apresentam de forma cifrada, portando j um significado e uma apreciao valorativa (PESAVENTO, 2004, p. 15).
18
Todos estes autores, cada qual tomando seu objeto como produes culturais e no
como objetos naturais, so importantes referncias para esta pesquisa, na medida em que ela
se busca investigar de que maneira a Unio Caixeiral foi tendo sua significao na sua
relao com a sociedade parnaibana. No entanto, para alm dos autores referidos, outros sero
importantes no decurso da realizao da pesquisa.
No concernente memria de escola, a principal referncia terica brasileira
Ceclia Cortez. Segundo ela, a escola um lugar de memria [...] as construes escolares
so recados que as geraes passadas deixaram s presentes, em forma de monumentos, para
no serem esquecidos (CORTEZ, 2004, p. 7).
A memria instrumento de primordial importncia para a constituio da pesquisa,
na reconstituio e valorizao dos professores e alunos que participaram do cotidiano escolar
da Unio Caixeiral, de sua construo e manuteno como instituio de ensino na cidade
de Parnaba, pois, de acordo com Burke, a reminiscncia pessoal pode proporcionar uma
atualidade e uma riqueza de detalhes que, de outra maneira, no podem ser encontradas
(BURKE, 1992, p. 469).
A memria, segundo Jacques Le Goff, um elemento essencial do que se costuma
chamar de identidade, individual e coletiva, cuja busca uma das atividades fundamentais dos
indivduos e das sociedades de hoje, na febre e na angstia (LE GOFF, 2003, p. 469).
Na produo da pesquisa que enfoca a memria coletiva da Escola Unio
Caixeiral, faz-se necessrio ressaltar a importncia do papel que a memria coletiva
desempenha, procurando entender como se d a relao desta instituio de ensino com a
sociedade parnaibana, pois, segundo talo Calvino (1990, p. 14), a cidade feita entre as
relaes entre as medidas de seu espao e os acontecimentos do passado. Da a percepo de
que a arte da narrao no est confinada nos livros, seu veio pico oral. O narrador tira o
que narra da prpria experincia e transforma em experincia dos que o escutam (BOSI,
2004, p. 85).
A memria como evocao do passado nos termos do presente a matria prima da
Histria Oral e, na tentativa de conceitu-la, Delgado (2006) nos chama ateno para uma
distino e no uma oposio entre Histria e Memria. Embora ambas estejam preocupadas
com a preservao do que se passou, a memria se liga mais a imaginao, ao vivido,
enquanto a Histria procura refletir sobre essas vivncias. Todavia, esta distino muito
tnue, pois a memria tambm traz consigo reflexes e, do mesmo modo, a Histria est
ligada ao vivido. O que estabelece as fronteiras, na verdade, so os procedimentos e regras
padronizados pelos historiadores no fazer da Histria, que a memria, em seu processar, no
19
possui. A memria contm vestgios do passado sobre os quais a Histria procura construir
um conhecimento.
O estudo da instituio escolar ganha notoriedade na atualidade, principalmente com
a observao de trs grandes categorias, e a Unio Caixeiral preenche estes requisitos:
apropriao do modo como ela compreendida, vista e identificada pelos outros;
materialidade como espao escolar (arquitetura), passando pela compreenso, verificando-se o
modo como o prdio modifica a paisagem, como foi pensado, disciplinando os seus usos;
representao, por meio da qual se fala da instituio atravs de seus arquivos, memria, o
modo como ela se faz, diz de si. Como afirma Magalhes (2004, p. 119):
Na sua acepo mais ampla, a histria da escola procura corresponder relao entre: culturas gerais e locais, sua simbolizao, instrucionalizao, normatizao, transmisso; quadros, normas e atitudes nos planos social, grupal, individual, institucional, organizacional; ao/prticas didtico-pedaggicas, representao, apropriao.
Para melhor compreender a histria da Unio Caixeiral, necessrio um
aprofundamento em suas fontes, principalmente na primeira metade do sculo XX, poca em
que a cidade vivenciou esses anos de forma intensa e progressista, momento que constri as
bases de sua contemporaneidade, erguendo suas principais instituies, vivendo seu apogeu
econmico, a formao de sua elite intelectual e sua autonomia poltica, considerando-se que
o progresso parecia ser uma verdade inquestionvel e que nada poderia deter a onda de
otimismo e desenvolvimento, demonstrando-se que a escola exerceu seu papel fundamental
na formao de mo de obra especializada para o comrcio atravs da formao de guarda-
livros.
Considerando, ainda, a existncia de uma pesquisa j realizada sobre a Unio
Caixeiral, de Valdinar da Silva Oliveira Filho (2004), Mestre em Educao da Universidade
Federal do Piau, O ensino comercial e a formao do guarda-livros: de porta-vozes da
riqueza do Piau a guardadores da memria de Parnaba (1900-1960), que integra a arte, o
conhecimento, privilegiando, no entanto, em grande medida, os aspectos de cunho
econmico. Entretanto, nosso foco ser direcionado s produes culturais, memria de
formao, e s experincias sociais dos homens e mulheres que construram a histria e a
memria da escola.
Dentre as fontes utilizadas no trabalho, encontra-se de grande importncia a
documental, constituda de documentos oficiais, tais como atas, livros escolares, cadernetas,
20
quadros de formatura, fotografias, artigos e mensagens, escrita e divulgada pela imprensa ou
rgos estatais, alm da metodologia da Histria Oral, tendo sido realizadas oito entrevistas
com ex-professores, ex-alunos e representantes da sociedade de Parnaba do perodo descrito
na presente pesquisa.
Para entender a relao da Unio Caixeiral com a sociedade parnaibana, fez-se
necessria a anlise de documentos oficiais, como forma de entender os discursos referentes
atividade econmica que vivenciava a cidade e formao profissional capacitada para o
comrcio. Outras fontes analisadas foram os jornais (A praa, O Comrcio e A
Imprensa, de Parnaba) e o peridico Almanaque da Parnaba, correspondente ao recorte
histrico da pesquisa entre os anos de 1918 a 1950, mais precisamente nas publicaes
correspondentes primeira (1924-1941, 18 edies) e segunda (1942-1981, 40 edies)
fases.
As atas da Sociedade Civil Unio Caixeiral (1925-1933) tambm so fontes de
grande relevncia para a compreenso das relaes de seus scios fundadores com o comrcio
e a sociedade local, alm de relacionamento com suas co-irms sociedades de ajuda mtua de
outros estados do Brasil.
Outras fontes analisadas originam-se de arquivos particulares de alguns ex-
professores e ex-alunos, que possibilitaram a compreenso da cultura escolar, referente
Escola Tcnica de Comrcio da Unio Caixeiral e sua relao com a cidade de Parnaba.
As cadernetas, os livros escolares, os dirios, utilizados pela escola, nos possibilitam
uma anlise do cotidiano da escola, alm das fotografias que retratam a histria da Instituio
de Ensino Comercial. Os quadros de formaturas constituem-se, tambm, em fonte de pesquisa
importante para o estudo da composio do corpo discente da escola.
A Histria Oral tambm passa a ser uma fonte de compreenso dos fatos,
considerando-se os aspectos sociais, econmicos, polticos e culturais de Parnaba no perodo
descrito no trabalho, sendo que sua metodologia possibilita oferecer as possibilidades de
investigao dos sujeitos atravs da narrao de suas memrias, que se sentem parte do objeto
estudado.
Para Pollak (1989), a histria oral ressaltou a importncia de memrias subterrneas
que, como parte integrante das culturas minoritrias e dominada, se ope a memria
oficial.
A Histria Oral, que lida, constantemente, com os discursos e as histrias de vida, de
diversas categorias, alm de valorizar seus relatos gravados e transcritos, tambm possibilita
uma aproximao do pesquisador com seus entrevistados, podendo criar vnculos afetivos,
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desenvolver novos saberes, construir juntos a experincia da produo do conhecimento, na
qual atores sociais se inventam e se constituem numa prtica reflexiolgica e dialgica.
O avano da Histria Oral encaixa-se no mbito das transformaes da
historiografia, que passou a considerar as experincias particulares, deslocando a anlise do
geral para o especfico, enfatizando com isso trajetrias de vida e projetos individuais. O
relato pessoal passou a ser visto como fonte capaz de fornecer importantes dados sobre
experincias coletivas.
Na presente pesquisa, trabalha-se com a tcnica da entrevista de vida, procurando
analisar as contribuies da instituio da formao profissional e pessoal dos depoentes. As
entrevistas foram gravadas em gravador digital e transcritas com a finalidade de ampliar a
capacidade de rememorao dos depoimentos dos sujeitos integrantes da trama histrica,
possibilitando assim, uma maior compreenso dos documentos.
As fontes utilizadas nesta pesquisa sobre a histria e memria da Unio Caixeiral
possibilitam no uma hierarquizao de fontes, mas uma prtica de complementaridade,
colaborao e ampliao do conhecimento histrico.
Ressaltamos que a historiografia sobre as instituies escolares na cidade de Parnaba
ainda carecem de um maior aprofundamento, porm a cidade possibilita fontes histricas a
serem examinadas, baseadas em indcios e fatos de um perodo ainda pouco pesquisado da
histria da educao parnaibana.
A partir do levantamento bibliogrfico, que marca a primeira etapa da pesquisa,
portanto com maior domnio sobre o objeto, efetuamos a seleo, classificao e anlise dos
documentos oficiais, as fotografias, livros contbeis, cadernetas de notas e demais objetos de
memria que constituiro os indcios que foram transformados em fontes histricas.
Em seguida, buscamos, em arquivos pblicos da cidade e do estado, em bibliotecas
de particulares e, em especial, na Unio Caixeiral, de acordo com a natureza das fontes que
se fizeram necessrias, documentao primria pertinente ao objeto em estudo. Tambm
submetemos esta documentao primria ao processo de seleo, classificao e anlise.
Posteriormente, com o embasamento que as fontes escritas ofereceram, elaboramos
questionrios utilizados nas entrevistas, que tiveram como depoentes pessoas que se
relacionaram com o objeto de estudo. Nesta etapa, procuramos, por meio da memria
individual e sua relao com memria coletiva, compreender de que forma a Escola Tcnica
de Comrcio da Unio Caixeiral contribuiu para a constituio das subjetividades dos
sujeitos que se envolveram com a instituio enquanto alunos, professores ou funcionrios.
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Fez-se necessrio, quando das entrevistas, um ambiente propcio, harmonioso, de confiana e
interao entre o pesquisador e o entrevistado.
Realizado o cruzamento das fontes, a escrita da dissertao apresenta-se em trs
captulos, antecedido por uma introduo e seguido das consideraes finais.
No primeiro captulo, A emergncia da Sociedade Civil Unio Caixeiral em
Parnaba e sua relao com a cidade, enfocamos uma apresentao histrica, demonstrando
como se efetivaram a consolidao da educao tcnica em Parnaba e a fundao da
Sociedade Civil Unio Caixeiral, enfatizando os aspectos econmicos e sociais,
respondendo s seguintes questes: Quais mudanas na cidade caracterizaram as dcadas da
primeira metade do sculo XX? Que setores, no plano econmico, mais se desenvolveram no
perodo? Como se articulou e o que levou um grupo de comercirios a fundar a Sociedade
Civil Unio Caixeiral? Qual o papel deles na cidade e suas relaes com o poder? De que
forma se viabilizaram a compra e construo do prdio? Quais as fontes de financiamento?
No segundo captulo, A Educao Tcnica em Parnaba: Unio Caixeiral e o
Ensino Profissionalizante, tendo uma proposta de dilogo com as fontes escritas e os
depoimentos coletados para construir uma histria baseada na formao educacional de cunho
tcnico/comercial, respondendo s seguintes questes: Quem eram os estudantes da Unio
Caixeiral? De que grupos sociais eram advindos? Como era desenvolvido o ensino
profissionalizante na formao do Guarda-livros e, posteriormente, do Tcnico em
Contabilidade? Como a escola respondia ao desenvolvimento econmico da cidade? Como os
egressos da escola se fixavam no mercado de trabalho?
No terceiro captulo, Unio Caixeiral como lugar de memria: espao
institucional, identidade coletiva, cultura profissional e prticas escolares, enfoca-se o dia
a dia da escola enquanto construo de uma cultura escolar no espao da instituio
educacional atravs das vivncias de seus sujeitos. Como se realizava a organizao da
escola? Que modalidades de ensino se ofereciam? Como se organizavam a direo e a
admisso de seus professores? Quais os recursos didticos, proposta didtica, currculos e
como eram as festas escolares?
2. A EMERGNCIA DA SOCIEDADE CIVIL UNIO CAIXEIRAL EM
PARNABA E SUA RELAO COM A CIDADE
23
Na primeira metade do sculo XX, Parnaba passou por uma transformao em seus
espaos de educao, lazer e socializao, iniciando um processo de modernizao, pois a
cidade ganhou seus primeiros prdios escolares, rdio, cassino, cinema, praas, linha de ferro,
dando-lhe uma caracterstica cosmopolita. Essa modernizao de Parnaba nas primeiras
dcadas do sculo passado adveio da riqueza do comrcio, emoldurado por vapores e apitos
de trens que circulavam em Parnaba ligando-a a outros lugares.
O presente captulo tem como objetivo analisar as mudanas que ocorreram em
Parnaba nas primeiras dcadas do sculo XX, principalmente no plano econmico,
compreendendo a necessidade por parte de comercirios de criarem uma sociedade civil que
congregasse e organizasse a classe. Pretende-se, ainda, entender como se articulavam e o seu
papel na cidade, alm da relao da Sociedade Civil Unio Caixeiral com Parnaba e
regies vizinhas.
O Piau, a partir da segunda metade do sculo XIX at meados do sculo XX,
desenvolveu um ciclo de extrao de recursos vegetais nativos, atingindo seu apogeu e
importncia para a economia do Estado. Tinha como principais produtos: a carnaba, de onde
se extraam cera e fibra; o babau e o tucum como frutos oleaginosos, alimentos riqussimos
em nutrientes, conhecidos como gorduras boas, essenciais para o bom funcionamento do
organismo, dentre outros. Parnaba participou ativamente deste ciclo e, a partir das dcadas de
30 e 40, em especial, consolidou-se como principal representante do Estado no que se refere
extrao destes produtos e sua exportao, ocasionando um fluxo de atividades comerciais
que levou fundao de vrias empresas na cidade, proporcionando aumento de empregos
nas mais diversas reas do comrcio.
Como diz Jos Nelson Pires de Carvalho (2009):
Esta cidade nesse perodo na dcada de 30 e 40, atravessou um de seus perodos ureos, na minha vivncia de 84 anos todos dedicados ao meu Estado e esta cidade e num estudo que fiz e que divulgo sob ttulo de macroeconomia parnaibana realando dois ciclos econmico e o terceiro que est no incio, este perodo que estamos a falar 30, 40, representaram o perodo ureo do segundo ciclo econmico, a poca da carnaba, do leo de babau , do leo de tucum e da pluma de algodo. Parnaba detinha naquela poca uma posio privilegiada.
2.1 Virada do Sculo: Parnaba na primeira metade do sculo XX
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Fotografia 1: Praa da Graa Parnaba, dcada de 30Fonte: acervo do IHGGP (Instituto Histrico Geogrfico e Genealgico de Parnaba - PI)
Parnaba destacou-se por ser um importante plo de comrcio do norte do Piau,
principalmente com o advento das transformaes ocorridas na cidade no final do sculo XIX
e incio do sculo XX, impulsionada pela gama de inovaes do perodo, relacionadas s
novidades tecnolgicas e aquisio de novos hbitos e comportamentos por parte da
populao.
A populao parnaibana considerava o comrcio um elemento de suma importncia
para proporcionar o crescimento no s da cidade como centro urbano, mas da sociedade, sua
forma de pensar, agir, prosperar, eclodindo numa transformao no campos econmico,
poltico e social.
A idealizao de um porto de escoamento da produo da cidade de Parnaba
alavancou uma campanha para a construo do Porto de Amarrao, consolidando o
momento econmico pelo qual passava Parnaba no incio do sculo XX.
O intenso comrcio de produtos do extrativismo vegetal e animal, em especial a cera
de carnaba, que teve sua explorao em larga escala, reafirmou Parnaba como relevante
centro comercial no somente no Estado do Piau como no Nordeste durante as primeiras
dcadas do sculo XX. Outro importante componente de desenvolvimento passou a ser
reivindicado pela classe comercial no ano de 1911: o trem, que assim passava a possibilitar o
deslocamento da produo, to necessrio para as recm-instaladas indstrias como refinarias,
25
curtumes, dentre outras. O controle do comrcio na cidade era de responsabilidade dos
inmeros estabelecimentos comerciais de cunho exportador e importador, fazendo a
distribuio das mercadorias desde o litoral at o interior do Piau, desenvolvendo, assim, as
mais diversas atividades comerciais. Segundo Mendes (2007):
O comrcio de Parnaba girava em torno de empresas que se firmaram ainda no perodo imperial como o caso da Casa Inglesa: fundada em 1849, famosa pelo seu completo sortimento de fazendas, miudezas, ferragens e gneros de estiva, importados de outros estados do Pas e das principais praas da Europa e Amrica do Norte. A maior compradora e exportadora de cera de carnaba de todo o Estado, que no ano de 1898 passa a ser administrada pela famlia Clark [...]
Fotografia 2: Casa Inglesa Parnaba Fonte: acervo do IHGGP (Instituto Histrico Geogrfico e Genealgico de Parnaba-PI)
A cidade, auxiliada por sua importante posio geogrfica e mercantil, buscava o
desenvolvimento, procurando uma organizao funcional de seus espaos atravs de
intervenes em seus traos urbanos, ruas, praas, casares, acabando por transplantar moldes
de cidade europia, esquecendo de manter coesa a relao de seus habitantes com a cidade
planejada. Dentro deste contexto o comrcio surgiu forte e como elemento propulsor de
desenvolvimento, instalando-se vrias casas de comrcio e indstria que ampliaram a
atividade comercial no norte do Piau.
Segundo Felipe Mendes (2003, p. 119):
O Piau, representado por Parnaba, estava integrado ao comrcio internacional e nacional como exportador de matrias-primas de origem no extrativismo vegetal, e
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este setor passou a desempenhar o papel de destaque na economia piauiense at o final da dcada de 1940, quando o valor da produo agrcola superou o valor da produo extrativa. A partir do final da Segunda Guerra Mundial, o comrcio exterior piauiense entrou em declnio e, com ele, toda a economia, processo que perdurou at a dcada de 1970.
Parnaba se encontrava em seu segundo processo econmico, iniciado em 1860, que
tinha como principais caractersticas o extrativismo vegetal, em especial a extrao do
babau, tucum e carnaba, dentre outros. Esse perodo foi precedido por um momento de
paralisao, logo aps seu primeiro ciclo econmico marcado pela Charqueada,
correspondente ao perodo de 1770-1827. O segundo ciclo econmico vai influenciar
diretamente na criao de um educandrio destinado qualificao de pessoal para o
comrcio da cidade.
Vrias empresas de cunho comercial e industrial consolidam-se como exportadoras
de produtos no perodo do segundo ciclo econmico da cidade de Parnaba entre as dcadas
de 30 e 40. No caso mais especfico, a empresa Moraes S/A, que se destacou na produo da
cera de carnaba, conforme o depoimento de seu ex-funcionrio Flvio Antnio Correia
Caracas (2010):
O Moraes se tornou o maior produtor de cera do nordeste, exportava para todos os continentes, comeamos com os Estados Unidos. Os Estados Unidos compravam cera preferencialmente a cera do interior, sabedoria deles, porque a beneficiava e saia mais barato, a partir da beneficiamos a cera e foram feitos vrios tipos de cera.
No perodo, a cidade tambm foi contemplada com a instalao do Banco do
Brasil, vigsima terceira agncia do pas (1917), e, antes disso, j havia representantes
bancrios: o Veras, que representava o Banco da Amaznia; o Roland Jacob, o qual
representava o Banco do Brasil antes da instalao da agncia; o Banco Ultramarino
Portugus, que tambm tinha representao no comrcio da cidade, alm do Banco da
Parnaba.
Vrios acontecimentos contriburam para o desenvolvimento da cidade durante o
perodo correspondente primeira metade do sculo XX. Em 28 de abril de 1918, os
comerciantes e empregados do comrcio de Parnaba fundaram a Sociedade Civil Unio
Caixeiral e, em 23 de junho do mesmo ano, aprovaram o seu primeiro estatuto. No ano de
1920, passou a circular em Parnaba o Jornal O Trabalho, alm da Associao Comercial,
no dia 30 de maio, fazer publicar o jornal A Propaganda, que, em seu exemplar do dia 31 de
julho do mesmo ano, informou que o ento presidente da Associao Comercial de
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Parnaba, Dr. Armando Madeira, proferia uma conferncia na Associao Comercial de
Teresina com o ttulo Como Tutia nos prejudica, objetivando pedir apoio dos comerciantes
e polticos em defesa da construo do Porto de Amarrao. O primeiro nmero do jornal
A Imprensa, de propriedade de Antnio Meneses, editado por alguns rapazes do comrcio
de Parnaba, passou a circular no ano de 1921, proporcionando espao para a divulgao das
diversas empresas comerciais em crescente desenvolvimento de suas atividades.
No dia 1 de janeiro de 1922, a Associao Comercial de Parnaba lanou o
primeiro nmero do Jornal do Comrcio, sob a responsabilidade do Dr. Francisco de
Moraes Correia, alm de enviar ao Rio de Janeiro uma misso objetivando a viabilizao do
Porto de Amarrao, sendo em 12 de agosto assinada pelo presidente Epitcio Pessoa a
autorizao da construo do mesmo, de acordo com o Decreto Presidencial n 15.603/1922.
No mesmo ano, lanada a pedra fundamental para construo do prdio escolar da Unio
Caixeiral. Registra-se, ainda, em Parnaba nesse perodo, o funcionamento de 11 (onze)
escolas particulares, sendo 5 (cinco) delas subvencionadas pelo Governo Federal.
Na cidade de Parnaba, no dia 2 de agosto de 1923, foi fundado o Almanaque da
Parnaba por Benedito Santos Lima o Bembem, tendo sua primeira edio no ano
seguinte. A Associao Comercial, no mesmo ano, iniciou uma campanha para a construo
de uma estrada carrovel ligando Viosa-CE localidade de Cocal-PI, com o intuito de
escoamento de mercadoria na regio.
Em 7 de junho de 1924, a Lei Estadual de n 1.087 considerou a Sociedade Civil
Unio Caixeiral de utilidade pblica. O municpio de Parnaba, no ano de 1927, intensificou
a implantao de firmas exportadoras de produtos do Estado, contribuindo com o
desenvolvimento do comrcio na cidade.
Em pleno desenvolvimento, a cidade de Parnaba passou a contar, a partir de 1940,
com a Rdio Educadora de Parnaba, veculo de comunicao e entretenimento para a
populao, iniciando suas transmisses radiofnicas em 17 de abril do mesmo ano. O referido
ano ficou marcado na cidade, principalmente em referncia ao setor econmico, por conta da
expedio da Carta Patente n 2.359, do Banco da Parnaba S.A., passando, assim, a contar
com mais uma agncia bancria em prol do desenvolvimento da regio.
A fundao de sindicatos com representatividade na cidade cresce a partir de 1941 e
expande-se em 1942 com a fundao do Sindicato dos Trabalhadores na Indstria da
Construo e do Mobilirio em Parnaba; do Comrcio Atacadista do Estado do Piau;
Associao Profissional dos Varejistas do Estado do Piau e, em 1943, dos Empregados do
Comrcio; Associao Profissional dos Contabilistas do Estado do Piau; Associao
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Profissional dos Farmacuticos do Estado do Piau e Associao dos Representantes
Comerciais do Estado do Piau.
2.2 Navegao no Rio Parnaba: caixeiros e comerciantes como ofcios impulsionadores do
desenvolvimento econmico
O Porto das Barcas teve papel de salutar importncia no crescimento das exportaes
na cidade de Parnaba no incio do sculo XX, proporcionando um fluxo de embarque e
desembarque de produtos advindos do comrcio e indstria da cidade.
Fotografia 3: Porto das Barcas em plena atividade comercialFonte: Acervo do IHGGP (Instituto Histrico Geogrfico e Genealgico de Parnaba-PI)
Durante a primeira metade do sculo XX, a cidade de Parnaba passou por um
crescimento de empresas que impulsionaram o trabalho de extrativismo animal e vegetal. Os
profissionais do comrcio e caixeiros, figuras de fundamental importncia para o
desenvolvimento dos negcios, tornaram-se ofcios integradores da regio e impulsionadores
do desenvolvimento econmico.
Ressaltando a importncia do caixeiro, Martinho e Gorenstein (1993, p. 38) definem:
Os caixeiros eram peas extremamente importantes na engrenagem de funcionamento das
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lojas e dos negcios. Realizam os pagamentos e cobranas, cuidando ainda de toda a
escriturao dos negcios dos patres.
Nesse perodo da navegao no Rio Parnaba, o caixeiro viajante era o profissional
responsvel pelas negociaes no curso do rio, seja nas comunidades ribeirinhas, seja
adentrando mais ao interior, onde, muitas vezes, atravs da troca de mercadorias como moeda
de comrcio, fechavam as transaes e as comunicavam cidade de Parnaba, naquele
perodo conhecida como o Grande Armazm do Piau.
A ligao de todo esse territrio efetivava-se por meio do Rio Parnaba. No entanto,
s era abastecido o lado oeste do Estado, mais especificamente as cidades ribeirinhas do
Maranho e do Piau. A Amarrao via Igarau, ou Tutia via igaraps do Delta, eram as
portas de entrada de Parnaba para as demais localidades do Brasil e o resto do mundo,
objetivando o escoamento de produtos. Neste contexto, surgia a importncia do caixeiro
viajante, que tinha a funo de sair oferecendo mercadorias industrializadas pelas diversas
cidades ao longo do curso do Rio Parnaba, no Piau e Maranho, adentrando um pouco nelas
em algumas regies, para leste, fechando negcios na compra de produtos de extrativismo
vegetal e animal. Onde havia agncia de telgrafo, o caixeiro, aps o fechamento da venda do
produto com o cliente, transmitia o pedido com todos os dados do produto negociado e, ao
receber, a empresa j se encarregava de disponibilizar a carga no navio. O caixeiro viajante
levava sua maleta e dormia em penses, sempre procurando agilizar a atividade comercial.
Quando de carga excedente, as empresas utilizavam prancho rebocado e, quando o
vapor era potente, alm da carga natural de passageiros, usavam duas alvarengas, tipo de
embarcao, subindo o rio em direo Teresina, Floriano e chegando at Santa Filomena.
A utilizao do telgrafo nas negociaes tornava-se imprescindvel, pois, atravs do
mesmo, o caixeiro fechava os negcios e fazia os contatos para que as empresas responsveis
pelos produtos providenciassem as cargas necessrias ao abastecimento dos clientes ao longo
do rio. Vrios produtos tinham a preferncia das diversas comunidades visitadas como: filtros,
perfumes, pentes, sabonetes e outros. As matrias primas para a fabricao de alguns produtos
encontravam-se ao longo do rio servindo de moeda de troca, como a carnaba, bucho de
peixe, pena de ema, leo de pequi e outras mais que supriam o processo de fabricao das
empresas em Parnaba.
As exportaes para o resto do Brasil e exterior tinham um processo diferenciado, j
que o Porto da Amarrao somente era utilizado nos perodos de inverno, devido aos ventos
fortes, pois, quando se tirava a carga do navio, o mesmo ficava leve, correndo o risco de virar
e por isso que o Porto de Amarrao um porto abrigado, cercado de pedras. No perodo de
30
vero, ficava sendo utilizado somente o Porto de Tutia, o que prejudicava as rendas do Piau,
uma vez que a nossa alfndega s carimbava o que saa do Porto de Amarrao.
Para o comrcio, de certo modo, era prejudicial, pois, no perodo de vero, tinha que
se pagar impostos em Tutia e Parnaba, alm do pagamento de estivas martima no
Maranho, e de terra e fluvial em Parnaba. Deste modo, era muito sobretaxado o Piau por
no possuir um porto, da ser o mesmo uma grande aspirao para o comrcio piauiense
durante um sculo.
A conquista do rio ocorreu de forma lenta, de Parnaba Teresina era franco, sem
empecilho de navegao, mas, aps a capital, havia corredeiras, pedras, at chegar ao ponto
mximo do rio em Santa Filomena, ao sul do Estado, tendo um perodo de navegao que
finalizou no final dos anos de 1960.
O Rio Parnaba ficou conhecido como a grande estrada do ouro, pois tornou-se
lucrativo e de fundamental importncia no escoamento e entrada de produtos e matrias
primas no processo de desenvolvimento econmico do perodo. Com a chegada do trem, que
iniciou o percurso do seu primeiro trecho em 16 de setembro de 1916, ligando o Portinho
comunidade Cacimbo e, posteriormente, em 1923, j atingindo a cidade de Piracuruca,
passou-se a utilizar outra via de comrcio paralela ao do rio, atingindo novas comunidades e
desenvolvimento na busca incessante de progresso econmico para a regio. Mostrava-se
sempre presente a figura do caixeiro viajante, integrando as cidades conjuntamente com os
profissionais do comrcio, responsveis pelo envio da carga, numa parceria em prol do
aumento de negcios ao longo do Rio Parnaba e dos trilhos.
O trem veio abastecer o lado leste do Estado do Piau atravs da estrada de ferro
ligando Parnaba a Teresina nos anos 40, sendo feita de maneira lenta, pois o primeiro trecho
somente foi inaugurado na segunda dcada do sculo XX. O trem permitiu que os caixeiros
viajantes abastecessem o leste e, desta forma, no prejudicou Parnaba como emprio
comercial, somente aumentando as relaes comerciais, sendo que seus trilhos adentravam at
o Porto das Barcas, onde deixava e recebia mercadorias.
A Associao Comercial de Parnaba financiou a estrada Carroal, que ligava
Cocal Viosa, no Estado do Cear, porque ligando Viosa e Ibiapaba a Cocal,
consequentemente, se estaria ligado Parnaba atravs do trem, mostrando, deste modo, a
preocupao de Parnaba em abastecer o lado leste do Estado. Somente quando o trem chegou
Teresina e a mesma j tinha uma interligao ferroviria com Fortaleza e So Lus, de certa
forma se libertando do comrcio de Parnaba, podendo comprar mercadorias diretamente do
Porto do Mucuripe e do Porto de So Lus. Os comerciantes de Santa Filomena, Uruu,
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Floriano, que se abasteciam tambm de Parnaba, passaram a se abastecerem no comrcio em
Teresina. Parnaba passou, ento, a ficar com seus contatos apenas na parte norte, considerada
como a menor.
Essa configurao relatada para que se compreenda a importncia que havia e o
nmero de comercirios e de caixeiros, pois grande parte dos produtos que chegavam ao
interior do Piau passava por Parnaba.
Com todo o alvorecer do sculo XX, com um olhar ainda que rasteiro voltado para o
processo educacional e seu processo de crescimento econmico pela efervescente atividade
comercial, permitiu-se cidade de Parnaba pensar, atravs de um grupo de comerciantes e
empregados do comrcio, sobre o iderio de criar, em 1918, uma Sociedade Civil intitulada
Unio Caixeiral.
Segundo Silva (1987, p. 166):
[...] funciona em Parnaba, a Sociedade Civil Unio Caixeiral, fundada por um pugilo de homens cheios de ideal, de f e altrusmo e com grandes objetivos, como seu nome expressa, a finalidade precpua era unir, congregar e amparar a ento classe de caixeiros dando instruo adaptvel para fins comerciais! [...] uma escola! O ideal pujante se concretizou; e a est a grande colmia de intenso trabalho e realizaes.
As empresas que moviam as aes comerciais em Parnaba foram de suma
importncia para o surgimento da Unio Caixeiral, pois seus integrantes e idealizadores
aspiravam a uma qualificao embasada num conhecimento formal, alm de oferecer o ensino
de primeiras letras para os filhos de comerciantes, que, posteriormente, sairiam da escola
aptos para os ofcios do comrcio. O Ensino ministrado na escola baseado no aperfeioamento
e capacitao objetivava capacitar profissionais para atuarem nas diversas atividades de
exportao de gneros de produo do Estado para o sul do pas e exterior, alm do
abastecimento das comunidades ribeirinhas.
Diz Laura de Andrade Correia (2009).
A Juventude Parnaibana era toda ou grande parte conduzida para empresas comerciais e industriais da cidade, perfil dos estudantes era de formao para o
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trabalho nas empresas que aqui cresciam, as quais naquela poca se costumavam destacar, eram elas: Casa Inglesa, Casa Marck Jacob, Moraes S/A e Pedro Machado, eram as empresas maiores da cidade e at do prprio estado.
O perfil de empregados do comrcio, conforme se constata no relato acima, tpico
do perodo de 1930 e 1940, ressaltando a importncia de uma mo de obra qualificada no
ensino comercial, possibilitando o ingresso dessa juventude nas empresas da cidade de
Parnaba.
2.3 Panorama educacional: Parnaba na primeira metade do sculo XX
Com relao ao panorama educacional na cidade de Parnaba, mais precisamente a
partir de 1918, quando da fundao da Sociedade Civil Unio Caixeiral, no existia na
cidade nenhum prdio escolar pblico, sendo que, somente depois, em 11 de julho de 1927,
construdo o Ginsio Parnaibano, subvencionado pela prefeitura e pelo Estado.
Fotografia 4: Prdio do Ginsio ParnaibanoFonte: acervo do IHGGP (Instituto Histrico Geogrfico e Genealgico de Parnaba-PI)
No ano de 1928, o municpio de Parnaba contava com sete escolas particulares:
Instituto Jos Narciso; Instituto Nair Pinheiro; Colgio Nossa Senhora de Lourdes;
Academia de Comrcio; Escola Manica 15 de novembro; Colgio So Vicente de
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Paula e Colgio Nossa Senhora das Graas. No mesmo ano, as escolas pblicas do Bairro
Tucuns, em Parnaba, so reunidas e transformadas no Grupo Escolar Jos Narciso, o qual,
somente em 1936, passou a contar com prdio prprio.
Na dcada de 30, a Sociedade Civil Unio Caixeiral intensificou suas atividades
educacionais e, com a finalizao de sua sede prpria, passou a contar com o curso
propedutico e o de Guarda-livros.
Durante a dcada de 30, outros fatos tiveram relevncia no processo educacional da
cidade e na sua necessidade de formao profissionalizante para atuar em seu mercado de
trabalho.
Como informativo educacional, os alunos do Ginsio Parnaibano lanaram, em
1934, o jornal O Ateneu, e o Colgio Nossa Senhora das Graas implantou o Curso
Comercial com formao de Guarda-livros exclusivo para mulheres, pois ainda no contava
com salas mistas, tendo posteriormente, passado a ministrar tambm o curso normal a partir
de 1937.
Fotografia 5: Prdio do Colgio Nossa Senhora das GraasFonte: Arquivo do IHGGP (Instituto Histrico Geogrfico e Genealgico de Parnaba-PI)
Exclusivo ao pblico feminino, o Colgio Nossa Senhora das Graas passou a ser
referncia para as empresas comerciais na cidade, que o procuravam com o intuito de
selecionarem suas alunas para as funes de secretrias e de guarda-livros. As alunas de
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melhor desempenho escolar eram contratadas por essas empresas, onde iniciavam suas
atividades no comrcio local.
Na dcada de 1940, surge outro estabelecimento de ensino de suma importncia na
formao educacional na cidade de Parnaba, o Ginsio So Luiz Gonzaga, vindo
posteriormente a funcionar com sistema de internato, sendo que, em 1943, transformado em
Sociedade Annima, atendendo grande nmero de alunos advindos de outros municpios e
dos Estados vizinhos do Cear e Maranho, alm dos residentes e domiciliados na cidade de
Parnaba.
No Bairro Tucuns, atual Bairro So Jos, tambm na dcada de 1940, foi fundado o
Ciclo Proletrio So Jos, que, posteriormente, criou a Escola Comercial de Parnaba,
funcionando como ginsio, com foco de atendimento aos filhos da classe operria.
Nesse panorama educacional, a formao comercial passou a ter sua parcela de
contribuio no desenvolvimento da cidade de Parnaba, proporcionando uma relao direta
entre os alunos formados por essas escolas e as empresas de comrcio e indstrias em
efervescncia de crescimento em seus negcios at os anos de 1950.
2.4 Unio Caixeiral: Sociedade Civil de auxlio mtuo
Fotografia 6: Prdio da Escola e Sociedade Civil Unio CaixeiralFonte: Acervo Particular de Gilberto Escrcio Duarte
Num primeiro momento importante uma reflexo acerca das Associaes
mutualistas e seus propsitos de atuao entre seus associados. Segundo Ana Maria Bezerra
do Nascimento (2008, p.57) [...] no final do imprio que os trabalhadores brasileiros e
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piauienses viram nascer um novo tipo de organizao: as associaes de socorros mtuos e
beneficentes, criadas para exercerem funo de proteo dos seus associados.
Ressalta ainda, Ana Maria Bezerra Nascimento (2008, p.57).
Os historiadores do movimento operrio brasileiro, como Carone (1984); Hardman & Leonardi (1991), Fausto (2000), consideram que essas iniciativas (centros, montepios e sociedades de resistncias) tinham o objetivo de organizar os associados para o socorro mtuo em caso de doena, acidente, ajuda pecuniria nos anos de velhice, enterro do scio ou parente e emprstimos. Cabia ao empregado, assalariado, operrio a contribuio mensal.
Partindo do movimento operrio e da criao de associaes em outros setores da
sociedade, necessria uma compreenso do que levou um grupo de comercirio e
empregados do comrcio a fundarem uma Sociedade Civil e quais propsitos tinham em
mente para se inserirem no cotidiano da cidade de Parnaba na primeira metade do sculo XX.
Inicialmente a Sociedade Civil Unio Caixeiral nasceu com o propsito de prestar
auxlio mtuo, composto de empregados do comrcio nacional e estrangeiro com princpio de
estabelecer unio e harmonia entre os associados, alm do engrandecimento moral e material
da classe, amparando e protegendo qualquer dos seus membros quando doente,
desempregado, ou injustamente perseguido, fornecendo ainda, uma diria de 2$000,00 ris, ao
scio indigente, promovendo o funeral dos falecidos de acordo com a ocasio e o meio, de
acordo como reza o Art. 1 do seu estatuto criado em 20 de maio de 1918 e aprovado em
sesso ordinria da Assemblia Geral da Sociedade no dia 2 de junho de 1918. O art. 2 do
mesmo estatuto dispe que a Sociedade Civil Unio Caixeiral se manter completamente
alheia em assuntos de carter poltico, religioso ou pessoal, objetivando agir de modo
institucional, conforme reza o Estatuto da Sociedade Civil Unio Caixeiral.
A Sociedade Civil Unio Caixeiral, nos permite uma anlise em sua forma de
disposio de seus artigos nos estatutos aprovados em Assemblia pelos scios, atravs da
reflexo acerca do rano autoritrio que se percebe entre as linhas dispostas em seus estatutos,
verificando uma transposio do modelo de empresa do espao comercial para a Associao,
sempre enfocando obrigaes a serem cumpridas pelos scios e sanes punitivas caso
fossem descumpridas, chegando desvinculao do scio do seu quadro de associados.
Dentro desse contexto presente o modelo patro e empregado dentro das regras acordadas
nas normas que regem a Sociedade, ficando a Sociedade Civil Unio Caixeiral
representando o patro, atravs do estabelecimento de normas e seus associados como
empregados, respeitando-as.
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Considerada de utilidade pblica pela Lei Estadual n 1087 de 07 de julho de 1924,
reorganizada em 28 de agosto de 1926 e registrada no Conselho Tcnico de Orientao
Sindical sob n 98, em 04 de janeiro de 1945, como sociedade de auxlios mtuos, beneficente
e instrutiva, tinha como um dos propsitos a congregao dos caixeiros e quaisquer outros
auxiliares do comrcio que por seu esprito de disciplina e solidariedade, a tornassem digna,
forte, respeitada e progressista, concorrendo para instruo tcnica profissional de seus
associados e de elementos estranhos ao seu quadro social, mantendo para isso uma escola de
comrcio, amparando e protegendo quaisquer dos seus associados, quando doentes,
desempregados e necessitados de seu auxlio, defendendo-os em Juzo, por intermdio de uma
assistncia judiciria.
Outra atividade prevista em seus estatutos a qual lhe qualificava como de ajuda
mtua, era a promoo vista dos cofres da sociedade os funerais de seus associados, dando
assistncia mdica, pleiteando junto s autoridades constitudas a fiel observncia das leis
sociais, em defesa dos direitos de seus associados.
A Sociedade Civil Unio Caixeiral, ainda, envidava esforos para a cobrana dos
associados quando se encontravam em situao de desemprego. No intuito de fomentar a
produo de conhecimento dos associados, no processo de formao pessoal e intelectual,
criou e ampliou a biblioteca, objetivando os seus scios o acesso a livros.
A Sociedade Civil Unio Caixeiral, tambm trazia entre seus fins a criao quando
possvel de um Banco Caixeiral, alm de ter como smbolo uma bandeira de cores verde e
amarela, com as suas iniciais: UC.
A sociedade era composta de categorias de scios de nmero ilimitado, sem distino
de nacionalidade, sexo e religio. Os primeiros scios foram considerados Scios Fundadores
por colaboraram na fundao desta sociedade; os remidos eram representados pelos que
adquiriram esse direito e efetivos os que de uma s vez contribuam para os cofres sociais,
alm desses, ainda figuravam os Honorrios como categoria de scio, como reza no art. 3,
3 do Estatuto da Sociedade Civil Unio Caixeiral, os quais concorriam moral e
materialmente para o engrandecimento social sendo reconhecidos como tal pela maioria
absoluta da diretoria ou assemblia geral, devido importantes servios prestados Sociedade
e, bem assim, quaisquer pessoas que fizesse doao igual, em moeda, ou hajam prestado
relevantes servios Sociedade, embora no fazendo parte do seu quadro social. Eram scios
correspondentes os que residindo fora da cidade de Parnaba, trabalhavam sob qualquer
forma, pelo progresso da Sociedade pugnando por sua propaganda e desenvolvimento,
possuindo ainda, as mesmas regalias, tendo a ressalva to somente no direito de votar e ser
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votado e de receber diria de 2$000 quando indigente at 120 dias e da em diante de mil reis
at que se restabelecesse ou morresse, ficando ainda, sem o direito de receber duzentos mil
reis para caso de funeral; Os scios Efetivos eram os que exercendo profisso no comrcio ou
outras profisses forem propostos e admitidos na forma estabelecida segundo o estatuto que
rege a Sociedade e contando com a aceitao da maioria da diretoria.
Na categoria de Scio Efetivo a Sociedade Civil Unio Caixeiral exigia alguns
requisitos para admisso, dentre eles o de serem empregados do comrcio, viajantes,
pracistas, guarda-livros, contadores, gerentes de casas comerciais, interpretes do comrcio,
despachantes do Estado e da Alfndega, funcionrios autrquicos, bancrios e todos os que
trabalhassem como empregados em estabelecimentos comerciais e industriais, inclusive os
professores dos Estabelecimentos mantidos pela Sociedade.
Entende-se a forma da Sociedade Civil Unio Caixeiral de manter em seu quadro
de associados ofcios diretamente envolvidos no processo de atividade do comrcio, tendo o
propsito de proporcionar a seus associados benefcios, que alm de assegurarem direitos e
obrigaes, fortaleciam sua representatividade na cidade Parnaba e regies vizinhas.
Para se tornar scio tinham que preencher alguns requisitos como ser maior de 14
anos, sabendo ler e escrever, tendo boa conduta perante a sociedade, no possuindo nenhuma
molstia contagiosa e nem muito menos vcios prejudiciais a sua sade ou de outrem. Deveria
pertencer aos quadros do comrcio como empregado da lavoura, fbricas, empresas ou
escritrios de agncias ou companhias e como ltimo critrio de ingresso, ser indicado
diretoria ou assemblia geral, por scio em pleno gozo dos seus direitos.
Na proposta de admisso devia constar tambm: nome, filiao, idade, naturalidade,
estado civil, indicao do estabelecimento comercial e industrial onde trabalha, espcie de
emprego, assinaturas do proposto e proponente, bem como o nmero e srie da Carteira
Profissional do primeiro. Somente incorreria em suspenso em casos de atrasos de trs meses
no pagamento de suas mensalidades a no ser por motivo de desemprego, devidamente
comprovado, ainda, em casos de se conduzirem de forma desrespeitosa e de conduta
reprovvel diante da diretoria ou assemblia geral, procurando implantar a discrdia e o
desrespeito no sei da Sociedade. Excedendo essas normas acabavam sendo eliminados da
Sociedade, em atos como: reincidentes nos casos punidos com suspenso, ingresso na mesma
com falsa prova, quando solicitarem sua excluso ou quando estiverem sido condenados
criminalmente por sentena transitada em julgado.
Todos os scios tinham como compromisso honrar com total cumprimento do
estatuto da Sociedade Civil Unio Caixeiral, pagando uma jia de 10$000 e uma
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mensalidade de 2$000, acatando e respeitando rigorosamente as decises da diretoria e
assemblia geral, se fazendo presente quando convocados.
Dentre os direitos dos scios destaca-se aceitar e cumprir com dedicao e critrio
qualquer cargo ou comisso que foi eleito ou designado, assistindo as assemblias e tendo o
poder de discusso sobre qualquer assunto de interesse social, contanto que o fizesse em
linguagem comedida, requerendo ainda, junto diretoria tudo que julgar a bem dos seus
direitos ou da coletividade. Tinha ainda o direito de um diploma de scio, com a denominao
da classe e categoria a que pertencia pelo qual pagaria dois mil reis a ttulo de emolumento. A
diria de indigente e despesas com funerais reservados apenas primeira classe de categoria,
scios fundadores e efetivos, somente eram pagas aps 15 dias, quando reclamadas diretoria
pelo interessado ou seu procurador, devidamente legalizado de posse de atestado mdico, e na
falta deste, de trs scios em pleno gozo dos seus direitos.
A sociedade era dirigida pela assemblia geral e uma diretoria composta de cinco
membros. Eleitos por um ano, sua eleio era feita por escrutnio secreto em assemblia geral,
na qual o direito de voto era intransfervel, s pessoalmente poderia ser exercido. Os novos
eleitos eram empossados na mesma sesso e caso recusassem o cargo, o presidente indicaria
outro para substitu-lo, no caso o suplente mais votado.
Notam-se mais uma vez a presena da transposio do modelo de empresa comercial
nas formalidades inseridas na conduo da diretoria em relao Sociedade Civil Unio
Caixeiral.
A diretoria que representava o poder executivo era composta de cinco membros
maiores de vinte e um anos: presidente, vice-presidente, primeiro e segundo secretrios e
procurador tesoureiro. A diretoria responsvel em fazer cumprir as determinaes da
sociedade, reunindo-se uma vez por ms, funcionando apenas quando a maioria de seus
membros se fazia presente, administrando rendas, bens, propriedades sociais, adquirindo os
livros que fossem precisos para melhor execuo de tarefas, no podendo prescindir de trs:
um para as atas das sesses, um para caixa do tesoureiro e outro para a matrcula dos scios, o
qual deveria constar alm da data de aceitao, a idade, naturalidade, profisso, estado civil e
residncia, devendo ainda ter domiclio, em caso da necessidade de contato mais urgente entre
a Sociedade e seus scios. Representava, ainda a diretoria, a sociedade em tudo em que se
fizer mister, procurando manter e ampliar relaes com as suas congneres do pas e do
exterior.
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O presidente tinha como funo dirigir e convocar extraordinariamente quando
preciso a diretoria, presidir as sesses da assemblia geral, visar todas as ordens de pagamento
e mais documentos da sociedade.
A assemblia geral era o poder soberano da sociedade que funcionava em quatro
situaes: Eleitorais convocada para eleger membros da diretoria, conselho fiscal e presidente
de honra; Solenes quando na posse da diretoria ou em comemorao de datas festivas para a
sociedade, da classe ou para promover recepes; Fnebres quando realizavam homenagem a
scios falecidos ou grandes vultos da ptria; Extraordinrias, quando convocadas para