Post on 25-Oct-2021
FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMP RESAS CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA CURSO DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Versão Preliminar de Dissertação de Mestrado apresentado por
RENATO DE CASTILHO GOMIDES
Título
A INTUIÇÃO NA FORMAÇÃO ACADÊMICA DO ADMINISTRADOR.
Professor Orientador Acadêmico
SYLVIA CONSTANT VERGARA Versão Preliminar aceita, de acordo com o Projeto aprovado em: DATA DA ACEITAÇÃO: ______/_____/_____
________________________________________________
ASSINATURA DO PROFESSOR ORIENTADOR ACADÊMICO
Dedico Ao meu filho, Felipe Diego, pelas incontáveis horas que deixei de ser pai e amigo, mas de quem sempre obtive inegáveis apoio, carinho e compreensão. Ao meu saudoso pai, Olavo – in memoriam – que sempre está presente na minha vida. À minha querida professora Sylvia Constant Vergara pela orientação e apoio precioso e, acima de tudo, pela compreensão nesta minha jornada acadêmica. A todos que compartilharam comigo as angústias e as conquistas do Mestrado.
Agradecimentos
Ao final de mais esta etapa, gostaria de demonstrar minha gratidão a todos aqueles que,
direta ou indiretamente, contribuíram para que eu concluísse meu mestrado.
Ao Vice-Almirante (EN) César Pinto Corrêa, Diretor do Arsenal de Marinha do Rio de
Janeiro e ao Capitão-de-Mar-e-Guerra (EN) Francisco Roberto Portella Deiana, Vice-diretor, pela
autorização e incentivo inicial, sabedores que os conhecimentos adquiridos no mestrado
contribuiriam para meu engrandecimento pessoal e profissional e, por conseguinte, para o da
Marinha do Brasil.
À minha querida e amada orientadora, Professora Sylvia Constant Vergara: sua orientação
me provocou reflexões e facilitou minha aprendizagem, permitindo meu desenvolvimento
emocional, intelectual e espiritual. Nas nossas inúmeras idas-e-vindas, provou-me que a vida não
é um processo linear. Sinto-me enormemente gratificado e honrado com a nossa convivência e
por todo apoio, compreensão, paciência e amizade que proporcionou e que me proporciona
diariamente.
Ao meu saudoso pai, Olavo – in memoriam – à minha mãe Maria Tereza e aos meus
irmãos Cássio e Leonardo e todos os meus oito sobrinhos, que mesmo não estando perto em
corpo, sempre me confortam em espírito, meu muito obrigado pelo carinho e afeto.
Aos meus colegas e amigos da Marinha, que acompanharam minha jornada: servidores
civis e militares da Divisão de Gestorias de Material, do Departamento de Controle Financeiro e
do Departamento de Subsistência, meu obrigado e meu pedido de desculpas. Realizar um
mestrado não é fácil e, por vezes, meu pensamento estava voltado para meus estudos em
detrimento do meu trabalho. Todos tiveram a percepção e a paciência em compreender minhas
falhas e omissões. Agradeço e retribuo este apreço: Jaqueline, Beth, Dirceu, Teixeira, Cristina,
Creuza, Márcio, Ingrid, Alexandre, Govasky, Marcos, Júlio, Arcanjo, Alyne e Carol Niquini, meu
muito obrigado.
Aos colegas e amigos da minha turma do mestrado, pelo tão enriquecedor período em que
estivemos juntos. Um agradecimento especial ao Alessandro (e Ana), Alexandre, André (e
Carla), Fabiana, Flávio, Israel, Jean, Leandro, Leonardos, Luiz Henrique, Marcelo Mello (e
2
Patrícia), Marcelo Pimenta (e Janaína), Márcio, Marco Aurélio, Roberto (e Adélia), Robson,
Rosa Marina e às meninas superpoderosas, Alexandra, Ana Paula, Gabriela e Luciana. O meu
muito obrigado a vocês pelos momentos que compartilhamos e pelo privilégio indescritível de
desfrutar da amizade que construímos em tão pouco tempo de convivência e que será eterna.
Aos funcionários da Ebape, que dignificam o nome da instituição, e que em muitas
situações se mostraram muito mais como amigos do que como funcionários da FGV. Agradeço,
especialmente, ao Joarez, José Paulo, Georgina, Cordélia, Joaquim, Ronaldo, Vera Lúcia, Vânia,
Aline e Denise, bem como a todos os funcionários da biblioteca pelo constante apoio.
Aos 44 professores da Ebape que responderam o questionário e que gentilmente
concederam um pouco de seu precioso tempo na realização da pesquisa de campo: todos foram
extremamente atenciosos e receptivos. Não posso deixar, no entanto, de prestar especial
agradecimento aos professores Alketa Peci, Bianor Cavalcanti, Eduardo Ayrosa e Marcelo
Milano, que não mediram esforços e souberam me valorizar como aluno e pessoa.
Ao meu filho, Felipe Diego Murta Gomides: obrigado por tudo. Você é a fonte de minha
inspiração e a razão da minha existência.
Ao meu time do coração, Clube Atlético Mineiro, que me traz tantas alegrias. Vivas ao
Galo!
A todas as pessoas que não citei diretamente, mas que certamente também caberiam
perfeitamente nesse agradecimento.
E, a Deus, que iluminou meu caminho e a cada obstáculo me faz acreditar Nele e
agradecer o dom da vida.
A todos vocês, o meu mais sincero muito obrigado!
O que realmente vale é a intuição.
Albert Einstein
Apresentação
Este estudo foi motivado pela percepção de que conhecimentos mais subjetivos não estão sendo
contemplados na formação acadêmica do administrador, entre eles a intuição. Ao mesmo tempo
em que se constata que a ciência positivista e a racionalidade instrumental permeiam o ensino
administrativo, espaços para novas formas de conhecimento estão se abrindo, embora as críticas
ao ensino da Administração sejam cada vez mais contundentes.
Temos, assim, um paradoxo: de um lado, uma faculdade subjetiva negligenciada e pouco
desenvolvida – a intuição – e, do outro, a formação acadêmica do administrador, objetiva e
racional.
A problemática investigada por essa dissertação examina esse hiato no sentido de responder às
seguintes perguntas: sendo a intuição um importante componente das decisões administrativas,
seu desenvolvimento está presente na formação acadêmica dos administradores? Se está, como o
desenvolvimento da intuição se manifesta nesse contexto? Responder a essas questões é o
objetivo final do presente trabalho.
O estudo está estruturado em cinco capítulos. O primeiro explicita seus objetivos, as suposições
que nortearam a dissertação, a delimitação e a relevância do estudo, bem como a metodologia
empregada. No segundo investiga-se a intuição pelas dimensões filosófica, psicológica e
administrativa. É apresentada, também, uma crítica ao processo intuitivo, a partir dos
pensamentos de Simon e Bazerman, bem como o resultado de estudos sobre intuição
desenvolvidos por Parikh, Neubauer e Lank; Vergara e Vergara e Branco. No terceiro capítulo é
discutida a formação acadêmica do administrador, contextualizando-se as racionalidades
instrumental e substantiva e os caminhos empreendidos pelas escolas de administração. Uma
2
visão filosófica sobre o tema é apresentada a partir dos pensamentos de MacIntyre. O quarto
apresenta a análise dos resultados da pesquisa de campo, a partir do questionário aplicado aos
professores da EBAPE/FGV. O quinto e último capítulo consolida as conclusões do estudo e
apresenta algumas sugestões e recomendações para uma agenda de futuros estudos sobre o tema.
Resumo
A presente dissertação procura identificar se a intuição, sendo um importante componente das
decisões administrativas, está presente na formação acadêmica dos administradores e como ela se
manifestaria nesse contexto. Para o estudo foi realizada pesquisa de campo, por meio de 44
questionários mistos com os professores da EBAPE/FGV. Os dados foram tratados
quantitativamente, com a construção de tabelas que nos permitiram inferir sobre o assunto, e
qualitativamente, utilizando o método de análise do conteúdo. O estudo identifica que a intuição
está presente no processo decisório e na tomada de decisão gerencial, porém sem ter seu
desenvolvimento consubstanciado na formação acadêmica do administrador. Desse modo, é
necessário um repensar na construção do conhecimento e no ensino administrativo, possibilitando
uma formação acadêmica mais holística, que atenda aos anseios e as necessidades da sociedade,
com rigor e relevância.
Abstract
This dissertation present search to identify the intuition, being a component important of the
administrative decisions, always present in the academic formation of the managers and as it
would be manifested in that context. For the study was carried out field work, by means of 44
mixed questionnaires with the EBAPE/FGV professors. The facts were treated quantitative, with
the construction of tables that permitted us infer about the matter, and qualitative, utilizing the
approach of analysis of the content. The study identifies that the intuition is present in the
decisive trial and in the managerial decision-making, however with this development have not
been consubstantiality in the academic formation of the manager. Of that way, it is necessary a
new way think in the construction of the knowledge and in the administrative education, enabling
an academic formation more holistic, that attend to the yearnings and the needs of the society,
with severity and relevance.
Lista de ilustrações
Lista de tabelas: Tabela 1 – Síntese estatística das respostas à pergunta “As decisões administrativas são
tomadas com base...” 70
Tabela 2 – Síntese estatística das respostas à pergunta “Na sua opinião, o que é intuição?”
74
Tabela 3 – Síntese estatística das respostas à pergunta “Caso a resposta anterior seja
positiva [o desenvolvimento da intuição está presente na formação acadêmica do administrador?],
como ela se manifesta no contexto acadêmico?” 77
Lista de figuras: Figura 1 – Correlação entre os elementos constitutivos de racionalidade e a natureza de
cada processo organizacional 55
Figura 2 – Os três vértices da gerência 60
SUMÁRIO
1 O PROBLEMA E A METODOLOGIA...................................................................12
1.1 AS QUESTÕES DESENCADEADORAS DA PESQUISA ...............................12
1.2 SUPOSIÇÕES ......................................................................................................13
1.2.1 Da racionalidade administrativa ...................................................................14
1.2.2 Da tomada de decisão...................................................................................14
1.2.3 Da intuição....................................................................................................15
1.3 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO...........................................................................16
1.4 RELEVÂNCIA DO ESTUDO.............................................................................16
1.5 TIPOS DE PESQUISA.........................................................................................17
1.6 UNIVERSO E AMOSTRA..................................................................................17
1.7 COLETA DE DADOS .........................................................................................18
1.8 TRATAMENTO DOS DADOS...........................................................................18
1.9 LIMITAÇÕES DO MÉTODO.............................................................................20
2 INTUIÇÃO: INVESTIGANDO SEU SIGNIFICADO ............. ..............................21
2.1 A DIMENSÃO FILOSÓFICA DA INTUIÇÃO..................................................23
2.2 A DIMENSÃO PSICOLÓGICA DA INTUIÇÃO...............................................27
2.3 A DIMENSÃO ADMINISTRATIVA DA INTUIÇÃO ......................................31
2.3.1 O processo decisório e a tomada de decisão gerencial.................................31
2.3.2 A intuição na administração .........................................................................33
2.4 UMA CRÍTICA AO PROCESSO INTUITIVO: OS PENSAMENTOS DE HERBERT
ALEXANDER SIMON E DE MAX BAZERMAN ........................................................37
2.5 RESULTADOS DE ESTUDOS SOBRE INTUIÇÃO: A PESQUISA DE PARIKH,
NEUBAUER E LANK (1998), VERGARA (1993) E DE VERGARA E BRANCO (1994)
..............................................................................................................................41
3 A FORMAÇÃO ACADÊMICA DO ADMINISTRADOR.............. .......................48
3.1 A SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA E SUAS CARACTERÍSTICAS:
CONTEXTUALIZANDO O CENÁRIO ATUAL...........................................................48
3.2 A RACIONALIDADE INSTRUMENTAL: ÚNICO VIÉS ACADÊMICO? .....50
3.3 A RACIONALIDADE SUBSTANTIVA: UM VIÉS ALTERNATIVO À
REALIDADE VIGENTE.................................................................................................53
11
3.4 O CAMINHO DAS ESCOLAS DE ADMINISTRAÇÃO ..................................56
3.4.1 Uma visão filosófica sobre o tema: o pensamento de Alasdair MacIntyre ..60
3.5 O ENSINO DE ADMINISTRAÇÃO NO BRASIL.............................................63
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS ...............................................................................69
5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA UMA NOVA AGENDA DE PESQUISA79
5.1 CONCLUSÕES....................................................................................................79
5.2 SUGESTÕES E RECOMENDAÇÕES ...............................................................87
REFERÊNCIAS........................................................................................................89 APÊNDICE – QUESTIONÁRIO APLICADO......................................................95 ANEXO A – RESOLUÇÃO NORMATIVA Nº 300 DO CFA ..............................97 ANEXO B – RESOLUÇÃO NORMATIVA Nº 301 DO CFA ..............................99
12
1 O PROBLEMA E A METODOLOGIA
Este capítulo apresenta as questões que nortearam a pesquisa, introduz o papel da intuição
no campo organizacional e a sua relação na formação acadêmica do administrador, tema da
dissertação, as suposições que a direcionaram, a delimitação e a relevância da pesquisa, bem
como a metodologia empregada, isto é, os tipos de pesquisa realizada, o universo, a amostra e os
sujeitos da pesquisa, as formas de coleta e tratamento de dados que foram utilizados e as
limitações que tais escolhas apresentaram.
1.1 AS QUESTÕES DESENCADEADORAS DA PESQUISA
Embora a ciência positivista e a racionalidade instrumental da Administração tratem a
intuição com descrédito, ultimamente, os espaços para esse conceito estão se abrindo. Assim
como há novos caminhos e formas alternativas de conhecimento da realidade social, como remete
o assunto que é tratado na dissertação, as críticas ao ensino da Administração são cada vez mais
contundentes ao não vislumbrar esses caminhos alternativos de conhecimento.
Do ponto de vista da realidade atual brasileira no campo da Administração, questionam-se
as Resoluções Normativas 300 e 301 do Conselho Federal de Administração (CFA), que
restringem a área de atuação de profissionais nos cursos de Administração.1
Entretanto, as críticas aos cursos de Administração têm respaldo tanto no contexto
brasileiro quanto no internacional. Sobre o assunto, já trataram Ackoff (1992), Mintzberg (2004),
1 As Resoluções Normativas 300 e 301 estão nos Anexos A e B, respectivamente.
13
Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000), Peters e Waterman (1986), Rowan (1986), entre outros.
Na visão brasileira, destacam-se Andrade e Amboni (2004), Braga (1987), Fischer (1993), Fleury
(1983), Guerreiro Ramos (1983a, 1983b, 1989), Kliksberg (1988, 1993), Leitão (1993a, 1993b,
1993c), Motta (1988, 1999), Möller, Oliveira e Fonte Filho (1993), Prestes Motta (1983), Semler
(1988), Silva (1971), Vergara (1991, 1993) e Vergara e Branco (1993, 1994), entre outros.
Vivemos em uma sociedade complexa em que as mudanças são cada vez mais aceleradas.
Os decisores organizacionais estão diante de inúmeras informações com respaldo de toda ordem
tecnológica. Números, planilhas e cálculos matriciais inundam a organização.
Até que ponto ter mais informações contribui para a tomada de uma adequada decisão?
Será que não existem outras formas de se decidir? Estará o curso de Administração contribuindo
para a formação de decisores organizacionais?
Temos, assim, um paradoxo: de um lado, uma faculdade subjetiva negligenciada e pouco
desenvolvida – a intuição – e, do outro, a formação acadêmica do administrador, objetiva e
racional.
A problemática investigada por essa dissertação examina esse hiato no sentido de
responder às seguintes perguntas: sendo a intuição um importante componente das decisões
administrativas, seu desenvolvimento está presente na formação acadêmica dos administradores?
Se está, como o desenvolvimento da intuição se manifesta nesse contexto? Responder a essas
questões é o objetivo final do presente trabalho.
1.2 SUPOSIÇÕES
Nesta seção, são indicadas as suposições que direcionaram a dissertação.
14
Vergara (2004, p. 28) ensina que “[...] suposições, são a antecipação da resposta ao
problema. [...] A investigação é realizada de modo que se possa confirmar ou, ao contrário,
refutar a [...] suposição.” Nesse sentido, parte-se três suposições:
1.2.1 Da racionalidade administrativa
A Administração Científica exerce ainda grande influência nas organizações. A visão
mecanicista, limitada tão-somente pela produtividade e pelo desempenho, é uma realidade.
Organizações caracterizadas como máquinas são uma constante, bem como o são as suas
estruturas altamente hierarquizadas e com pouca ou nenhuma autonomia das pessoas.
O princípio da racionalidade foi importado para o ensino e a prática da Administração
fundamentando seu estudo na ordem, no controle, na coordenação, no rigor e na uniformidade.
No entanto, o ambiente organizacional é imprevisível, improbabilíssimo e descontínuo.
Assim, a primeira suposição foi: a racionalidade administrativa está influenciando a
formação acadêmica dos administradores, sendo-lhes negadas formas alternativas de
conhecimento e de tomada de decisão.
1.2.2 Da tomada de decisão
O elemento fundamental da prática gerencial é a tomada de decisão. E é a informação
disponível aos decisores organizacionais que lhes possibilitará decidir.
Vergara (1993, p. 137) afirma que “no processo decisório a informação assume capital
relevância, na medida em que, se adequada, diminui a incerteza provocada pelo ambiente.”
15
Contudo, as decisões não são tomadas baseadas somente na racionalidade das
informações. Outros conteúdos subjetivos interferem no processo decisório, entre os quais se
destaca a intuição.
Mediante um mundo cada vez mais complexo e acelerado, há necessidade do estilo de
decisão gerencial passar por um redirecionamento, indo do racional e objetivo para o extra-
racional e subjetivo.
Nesse sentido, a segunda suposição foi: o uso da intuição está sendo negligenciado nas
tomadas de decisão dos administradores nas organizações.
1.2.3 Da intuição
Ao se estudar a intuição, não se deve desvalorizar a racionalidade, a razão. É importante
ao indivíduo alcançar o equilíbrio entre a intuição e a razão.
Entretanto, no processo decisório, pode-se não seguir as regras formais da lógica por
ausência ou insuficiência de informações, recorrendo-se a conexões intuitivas.
Assim, a intuição é imprescindível em qualquer prática gerencial.
Portanto, a terceira suposição foi: a intuição é um importante componente das decisões
administrativas, mas seu desenvolvimento não está presente na formação acadêmica dos
administradores.
16
1.3 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO
Embora o termo intuição remeta a diversos campos do conhecimento, abrangendo, entre
outros, a Filosofia, a Psicologia e a própria Administração, o presente estudo se concentra em
discutir o termo intuição conectada a uma dimensão filosófica (intuição bergsoniana) e a uma
dimensão psicológica (intuição junguiana); em conectar a intuição ao processo decisório na
prática administrativa; e a discutir se o desenvolvimento da intuição está presente nos cursos de
formação acadêmica dos administradores.
1.4 RELEVÂNCIA DO ESTUDO
Em função do que já foi explanado até aqui, é necessário um novo repensar do campo
administrativo e da formação do futuro administrador.
Frente ao novo contexto que se configura, as decisões gerenciais devem buscar um
equilíbrio entre a razão e a intuição. Assim, esta dissertação visa contribuir para essa
reformulação que se faz necessária.
Além disso, seus resultados poderão servir como insumos para as práticas gerenciais no
dia-a-dia, bem como para a reconfiguração da formação acadêmica do administrador.
Para o administrador e os estudantes de administração nos níveis de graduação e pós-
graduação, este estudo procurará desvelar alguns caminhos e instigar outros a serem trilhados.
A comunidade acadêmica terá um estudo que contribuirá para a crítica das práticas
docentes que se desenvolvem e que poderão ser aperfeiçoadas, adequando-se o perfil do futuro
administrador com as práticas gerenciais vigentes.
17
1.5 TIPOS DE PESQUISA
A definição dos tipos de pesquisa que foram utilizados segue a taxonomia proposta por
Vergara (2004), estando a seguir relacionados segundo seus fins e seus meios.
Quanto aos fins, a pesquisa é descritiva, buscando estabelecer correlações entre a tomada
de decisão, a intuição e a formação dos administradores; e explicativa, pois se propõe a esclarecer
o uso da intuição como importante componente na formação acadêmica dos administradores,
pressupondo-se a pesquisa descritiva como base para as explicações advindas.
No que se refere aos meios de investigação, foi realizada uma pesquisa de campo, com
profissionais vinculados a um específico curso de formação do administrador (professores da
Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas – EBAPE – da Fundação Getulio
Vargas – FGV) e uma pesquisa bibliográfica, fazendo-se uma revisão da literatura de várias áreas
do conhecimento, como a Filosofia, a Física, a Psicologia, a Administração e a Educação,
buscando-se diferentes interpretações sobre o tema proposto, bem como para direcionar o estudo
e suportar as conclusões a que se chegou.
1.6 UNIVERSO E AMOSTRA
O universo da pesquisa de campo foram os 68 professores da EBAPE – FGV, sediada na
cidade do Rio de Janeiro – RJ.
Adotou-se o método de seleção da amostra por acessibilidade, que não considera a
validade estatística dos resultados. Tal amostragem é compatível com a presente dissertação, pois
nesse método, de acordo com Gil (1987, p. 97), “o pesquisador seleciona os elementos a que tem
18
acesso, admitindo que estes possam, de alguma forma, representar o universo.” No caso, teve-se
44 respondentes.
1.7 COLETA DE DADOS
Tendo em vista a correlação dos objetivos aos meios para serem alcançados, os dados
foram, assim, coletados:
a) pesquisa bibliográfica em livros, dicionários, revistas especializadas, jornais, teses e
dissertações com dados pertinentes ao assunto; e
b) pesquisa de campo, realizada por meio de questionários mistos (ver apêndice) com os
ocupantes dos cargos indicados na seção 1.6.
Com base nas conclusões alcançadas pelas pesquisas bibliográfica e de campo, procurou-
se estabelecer a existência ou não de uma relação entre a formação acadêmica do administrador e
o desenvolvimento da intuição.
1.8 TRATAMENTO DOS DADOS
Como tratamento de dados, dois foram os escolhidos: um, quantitativo e outro,
qualitativo.
As perguntas fechadas do questionário aplicado foram tratadas estatisticamente,
indicando-se o percentual de respostas apresentado.
19
Para as perguntas abertas foi utilizada a análise de conteúdo. Conforme ensina Vergara
(2005, p. 15) “a análise de conteúdo é considerada uma técnica para o tratamento de dados que
visa a identificar o que está sendo dito a respeito de determinado tema.”
Segundo Bardin (1977, p. 9):
[...] a análise de conteúdo oscila entre os dois pólos do rigor da objetividade e da fecundidade da subjetividade. Absolve e cauciona o investigador por esta atração pelo escondido, o latente, o não-aparente, o potencial de inédito (do não-dito), retido em qualquer mensagem.
Assim, considerou-se este método o mais indicado, pois se buscou com o estudo
identificar no curso de Administração se a intuição é vista como componente da prática gerencial,
bem como evidenciar a intuição como importante faculdade na busca do conhecimento
organizacional como um todo. Contudo, navega-se em mares pouco desvendados e em múltiplos
campos do saber.
Além disso, a abordagem pela análise de conteúdo presta-se aos fins descritivos e
explicativos e aos de verificação formulados no problema proposto.
No que tange aos procedimentos da pesquisa, seguiu-se as seguintes etapas: revisão da
literatura existente, visando dar suporte ao estudo; coleta de dados, por meio dos questionários
mistos; definição do tipo de grade para a análise de conteúdo, que, no caso, foi o de uma grade
mista, admitindo-se a flexibilidade de inclusão de categorias pertinentes no decorrer do processo
de análise; análise de conteúdo, confrontando-se os resultados obtidos com a teoria que dá
suporte à investigação e, finalmente, a formulação da conclusão.
20
1.9 LIMITAÇÕES DO MÉTODO
Como o tratamento de dados foi por meio da análise de conteúdo para as perguntas
abertas do questionário aplicado, ele pode ter sido influenciado pela interpretação do pesquisador.
Ressalta-se, contudo, que não existe neutralidade científica.
Com relação ao questionário, embora seja uma importante técnica de obtenção de dados,
possibilitando atingir um grande número de pessoas, ele apresenta algumas limitações. A grande
limitação no presente estudo é que o questionário não ofereceu a garantia de devolução,
implicando diminuição da representatividade da amostra. Outras limitações são a falta de
entendimento correto do que o pesquisador propõe e a objetividade, uma vez que as questões
formuladas podem ter significados diferentes para os sujeitos da amostra. Buscou-se minimizar
tais limitações com um pré-teste. Alerta-se que a realização de entrevistas poderiam enriquecer
ainda mais a dissertação, minimizando as limitações dos questionários.
Embora o autor dessa dissertação tenha partido do pressuposto básico que a EBAPE –
FGV representa uma elite estratégica do ensino em Administração, como o questionário foi
aplicado apenas aos professores dessa instituição, os resultados podem estar enviesados, uma vez
que representam a opinião de apenas uma instituição de ensino superior. Pesquisas em outras
instituições de ensino poderiam minimizar tal limitação.
Este capítulo tratou da apresentação da dissertação, o objetivo da pesquisa e das questões
a serem respondidas, das suposições que direcionaram a investigação, da delimitação e da
relevância do estudo. Foi apresentada também a metodologia da pesquisa: os tipos de pesquisa, o
universo, a amostra e os sujeitos, a coleta e o tratamento de dados, bem como as limitações dos
métodos utilizados.
21
2 INTUIÇÃO: INVESTIGANDO SEU SIGNIFICADO
Neste capítulo investiga-se o termo intuição sob três dimensões – a filosófica, a
psicológica e a administrativa –, recorrendo-se a diversos autores, visando a esclarecer o seu
significado. A seguir, são apresentados os pensamentos de Simon e Bazerman que criticam o
processo intuitivo. Também são discutidos os resultados de vários estudos sobre intuição.
O filósofo Henri Bergson (apud VERGARA, 1993, p. 151) afirma que “não é fácil
explicar o que é intuição. Ela está no campo da vivência, não da explicação.” Goldberg (1992, p.
19) comenta: “no que se refere à intuição, os obstáculos têm sua raiz em conjecturas
epistemológicas arraigadas, perpetuadas pelas instituições que nos ensinam como usar nossa
mente.” Já Westcott (1968 apud GOLDBERG, 1992, p. 15) escreve que “a palavra final sobre
intuição se encontra tão distante quanto a primeira está num passado remoto.” Burden (1993)
confirma os pensamentos aludidos ao explanar que os esforços para se descrever verbalmente a
significação, natureza e função da intuição estão fadados ao fracasso, pela simples razão de que a
intuição deve ser compreendida pela própria intuição.
Diante dessas constatações, buscou-se respaldo em autores consagrados pela suas
experiências pessoais no campo do saber que já tenham tratado deste assunto tão controverso.
Vergara e Branco (1994, p. 132) dizem:
Apesar de cada vez mais citada no mundo da administração, a intuição parece não encontrar aí elementos consistentes que ajudem a clarificar seu significado, natureza ou mesmo seus momentos de manifestação. Tornou-se indispensável, portanto, buscar a contribuição de outras áreas do saber.
Sintetizando Bergson (1946), Grof (1987), Jung (1987) e Kant (1966), pode-se dizer que intuição é faculdade do ser que acessa o conhecimento sem mediações, sem
22
explicação e sem o estabelecimento de relações lineares de causa e efeito. Tem sua origem na consciência vital, segundo o sentido filosófico, ou no inconsciente individual e coletivo, segundo o sentido da psicologia transpessoal.
Corroborando com os autores mencionados, Fisher (1989) afirma que a intuição embora
amplamente usada por pessoas bem sucedidas, é tratada com descrédito, como um “artigo de
mercado paralelo”, pois ela é raramente discutida ou mesmo reconhecida. Para o autor, desde a
“idade da razão”, a intuição caiu em desuso e a maioria das pessoas sente-se envergonhada em
usá-la e mesmo em admitir isso para si mesmas.
Fisher (1989) define intuição como saber algo sem ter consciência disso, uma percepção
súbita, ou seja, um insight sem uma evidência racional ou mesmo lógica. Já Burden (1993),
embora afirme que não é possível rotular o termo intuição, a identifica como uma ordem de
inteligência superior que o homem tem acessibilidade no seu estado de sensibilidade aguda.
Penna (1987) afirma que Popper, embora faça uma crítica à intuição intelectual (que será
abordada na próxima seção), não a rejeita. Popper (1974 apud PENNA, 1987, p. 42) diz:
Minha opinião é que podemos prontamente admitir a posse de algo que pode ser descrito como intuição intelectual, ou, mais precisamente, que certas de nossas experiências intelectuais podem assim ser descritas. Qualquer pessoa que compreende uma idéia ou um ponto de vista, ou um método aritmético, por exemplo, a multiplicação, no sentido de que apanhou aquilo, pode dizer que compreendeu tal coisa intuitivamente, e são sem conta as conseqüências intelectuais desse tipo. Insisto, porém, de outra parte, em que tais experiências, por importantes que possam ser para os nossos empreendimentos científicos, não podem servir para estabelecer a verdade de qualquer idéia ou teoria, por maior que seja a força com que possamos sentir intuitivamente que ela deva ser verdadeira, ou que é evidente por si mesma. Tais intuições nem podem servir como argumentos, embora possam encorajar a buscar argumentos. De fato, outra pessoa pode ter uma intuição igualmente forte de que a mesma teoria é falsa. O caminho da ciência é calçado de teorias abandonadas que, certa vez, foram consideradas evidentes por si mesmas. Francis Bacon, por exemplo, zombou daqueles que negavam a verdade evidente por si mesma, de que o sol e as estrelas giravam em torno da terra, coisa óbvia para todos os demais. A intuição indubitavelmente desempenha grande parte na vida de um cientista, assim como o faz na vida de um poeta. Leva-o a descobertas. Mas pode, também, levá-lo a seus fracassos. E sempre permanece assunto privado seu, por assim dizer. A ciência não indaga como ele conseguiu suas idéias, interessa-se, apenas, por argumentos que possam ser submetidos à prova de todos.
23
Persistem, de fato, posturas conservadoras da ciência empírica tradicional como a de
Popper. Ela continua presa a aplicações tecnológicas ou à função do experimento como elemento
de verificação de fatos. Mas nem os defensores mais ferrenhos da suposta objetividade científica
podem descartar as teorias resultantes da Física Quântica. Wilber (1991) nos alerta para a
realidade holográfica oferecida por cientistas como os físicos David Bohm e Fritjof Capra e o
neurocientista Karl Pribram, dentre outros.
Diante da encruzilhada que se apresenta, não há como negar a intuição.
Conforme aduz Wilber (1991, p. 7):
Os fatos reais da ciência, diziam [os cientistas de várias áreas do conhecimento – físicos, biólogos, fisiológicos e neurocirurgiões], os dados efetivos (da física à fisiologia) só parecem fazer sentido se presumimos algum tipo de fundamento implícito, ou verificador ou transcendental subjacente aos dados explícitos.
Se a ciência experimental começa pela intuição, pode-se concluir que o intuitivismo é a
base fundamental de todos os conhecimentos humanos oriundos das ciências empíricas.
Visando uma adequada categorização da intuição, ela será dividida em três dimensões: a
dimensão filosófica, a dimensão psicológica e a dimensão administrativa.
2.1 A DIMENSÃO FILOSÓFICA DA INTUIÇÃO
Morente (1980) afirma que a filosofia é o estudo do conhecimento universal. Embora a
filosofia, como aponta o autor, possua vários métodos investigativos da verdade, como, por
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exemplo, a ontologia e a gnosiologia, esta seção tratará, especificamente, da intuição, que permite
ao homem penetrar na essência da verdade, e, particularmente, da intuição bergsoniana.
Para Morente (1980) a intuição é o método fundamental da filosofia moderna. O autor
afirma que a intuição:
Consiste num único ato do espírito que, de repente, subitamente, lança-se sobre o objeto, apreende-o, fixa-o, determina-o como uma só visão da alma. Por isso a palavra ‘intuição’ tem relação com a palavra ‘intuir’, a qual significa, em latim, ‘ver’. Intuição vale tanto como visão, como contemplação. A intuição vai diretamente ao objeto. (MORENTE, 1980, p. 48)
Morente enumera dois tipos de intuições. A primeira é a intuição sensível que é a
comunicação direta entre o eu e o objeto, caracterizada como uma intuição de caráter mais
formal. A segunda é a intuição espiritual, que é aquela intuída diretamente pelo espírito, sem
necessidade de demonstração, sendo essa intuição, a observada pelos filósofos. Será por meio da
intuição espiritual que se toma contato com a realidade essencial e existencial dos objetos
(MORENTE, 1980).
A intuição espiritual se divide em três classes: intelectual, emotiva e volitiva. Morente
assim as denomina:
Por meio da intuição intelectual, propende o pensador filosófico a desentranhar aquilo que o objeto é. Por meio da intuição emotiva, propende a desentranhar aquilo que o objeto vale, o valor do objeto. Por meio da intuição volitiva, desentranha, não aquilo que é, senão que é, que existe, que está aí, que é algo distinto de mim. A existência do ser manifesta-se ao homem mediante um tipo de intuição predominantemente volitiva. (MORENTE, 1980, p. 51)
O autor comenta que existem três modalidades clássicas de se explicar a intuição: a
intuição de Bergson, a intuição de Dilthey e a de Husserl.
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Bergson, segundo Morente (1980), diz que a filosofia não pode ter outro método que o da
intuição, uma vez que para aquele autor a atividade intuitiva se contrapõe à atividade intelectual,
essa estudada pelos cientistas, denotando um aspecto superficial e falho da realidade. Já a
atividade intuitiva se detém ao aspecto profundo e real do pensamento, que é o movimento e a
continuidade do fluir e do mudar, ao qual só com a intuição se pode chegar.
A intuição de Dilthey é caracterizada como volitiva. Morente (1980) comenta que tanto
para Dilthey como para Bergson, o intelectualismo, o idealismo, o racionalismo, ou seja, todos
aqueles sistemas filosóficos para os quais a última e mais profunda realidade é o intelecto, o
pensamento, a razão, são falsas e insuficientes. Para Dilthey, não é a razão que nos descortina a
realidade das coisas. Será por meio da utilização da intuição que, como agentes, se descobrirá a
existência das coisas.
Já a intuição de Husserl, chamada de intuição fenomenológica:
[...] consiste em olhar para uma representação qualquer, prescindindo de sua singularidade, prescindindo do seu caráter psicológico particular, colocando entre parênteses a existência singular da coisa; e então, afastando de si essa existência singular da coisa, para não procurar na representação senão aquilo que tem essencial, procurar a essência geral, universal, na representação particular. (MORENTE, 1980, p. 56)
A intuição bergsoniana será particularizada, uma vez que o autor dessa dissertação,
constatou que essa linha de pensamento é a que mais se identifica com o escopo do trabalho, pois
Bergson ao perscrutar os caminhos da intuição, o faz criticamente, na tentativa de pesquisar o
verdadeiro conhecimento humano, em oposição ao domínio do pensamento mecânico e imediato
da ciência.
Contudo, cabe o alerta de Robson Alves (2003) de que a intuição filosófica, e
especialmente a bergsoniana, não é uma antecipação de conhecimento, ou uma antevisão, que
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reforça o caráter de magia que o termo pode remeter. A intuição é vista como um impulso que
estabelece um contato direto com o mundo exterior, ou seja, uma manifestação imediata de uma
condição interior da existência.
Bergson (1971, p. 264) utiliza-se de uma metáfora na sua tentativa de dizer o que é
intuição:
A intuição é uma luz quase apagada, que somente de quando em quando se reaviva, por alguns instantes apenas. Mas reaviva-se, realmente, quando está em causa um interesse vital. Sobre a nossa personalidade, sobre a nossa liberdade, sobre o lugar que ocupamos no conjunto da natureza, sobre a nossa origem e talvez também sobre o nosso destino, a intuição projeta uma luz vacilante e débil, mas que devassa não obstante a obscuridade da noite em que nos deixa a inteligência.
Destaca-se que o filósofo separa inteligência de intuição. Para ele, o papel da intuição é
emanar o espírito para a superfície, para que nela, se apresente como inteligência, alcançando-se
uma ciência livre de seu mecanicismo e pragmatismo. Bergson (apud ALVES, Robson, 2003)
afirma, assim, que a intuição só será comunicada por meio da inteligência.
Para Robson Alves (2003) intuir filosoficamente é conseqüência do aprendizado da
realidade na forma da consciência de penetrar na vida, como realidade individual e universal,
evidenciando ao ser humano que a função do “eu profundo” é a interação com a vida em sua
plenitude.
Ao expender sobre as observações de Bergson sobre a ciência moderna, Robson Alves
(2003) comenta que, ao se utilizar a intuição, o filósofo procura libertar a vida do domínio de um
pensamento exato e regrado, ou seja, de uma lógica que impõe ao pensamento o hábito de ser
mecânico, de uma inteligência pragmática que privilegia somente a matéria. Para o autor
enquanto na filosofia é o espírito que dá a direção, na ciência é a matéria, ou seja, na filosofia, o
real e sua apreensão são o modo de se conhecer o ser; na ciência o que se faz é uma interpretação
mais imediata.
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Bergson não confere à intuição um caráter vago e abstrato, pois para ele não há a
necessidade para se chegar à intuição de se transportar para fora dos domínios do sentido e da
consciência (BERGSON, 1974). A intuição bergsoniana articula-se com a ciência numa relação
em que o desenvolvimento desta última não pressupõe a depreciação da primeira, ou seja, a
intuição está atrelada à noção de movimento em direção ao reencontro da ciência.
Já Kant (1966) ao questionar a razão pura, advoga que a intuição é a relação imediata
entre o conhecimento e o objeto podendo-se empregar a faculdade cognoscitiva humana como
receptora de impressões e criadora de idéias.
Assim, tanto para Bergson como para Kant, a intuição é uma percepção simultânea de
objetos cuja origem está na consciência vital.
2.2 A DIMENSÃO PSICOLÓGICA DA INTUIÇÃO
No campo da psicologia moderna, Carl Jung foi, talvez, o que mais se referiu à intuição.
A presente seção se concentra nos ensinamentos junguianos, corroborados pela depuração de
Goldberg (1992), Schultz (1998) e Vergara (1991).
Jung (1991, p. 36) define intuição como:
A intuição decorre de um processo inconsciente, dado que o seu resultado é uma idéia súbita, a irrupção de um conteúdo inconsciente na consciência. A intuição é, portanto, um processo de percepção, mas ao contrário da atividade consciente dos sentidos e da introspecção, é uma percepção inconsciente. Por isso, é que, na linguagem comum, nos referimos à intuição, como sendo um ato ‘instintivo’ de apreensão, porque a intuição é um processo análogo ao instinto, apenas com a diferença de que, enquanto o instinto é um impulso predeterminado que leva a uma atividade extremamente complicada, a intuição é a apreensão teleológica de uma situação, também extremamente complicada. Em certo sentido, portanto, a intuição é o reverso do instinto, nem mais nem menos maravilhoso do que ele.
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Schultz (1998), decantando o conceito de Jung para intuição assevera que para este a
intuição é uma capacidade inconsciente de se perceber possibilidades, de se ver o quadro geral ao
mesmo tempo em que se volta para a situação local.
Segundo a teoria dos tipos psicológicos de Jung (1987) a personalidade e o
comportamento podem ser entendidos em termos de quatro funções primordiais da mente:
pensamento, sentimento, sensação e intuição. Ele resume as quatro funções da seguinte maneira:
o pensamento é a função de cognição intelectual e formação de conclusões lógicas; o sentimento
é a função de avaliação subjetiva, que informa, por meio das cargas emocionais que cria, o valor
das coisas; na sensação estão todas as percepções feitas pelos órgãos dos cinco sentidos; e como
intuição, considera-se a percepção por meio do inconsciente ou a percepção de conteúdo
inconsciente, ou seja, uma forma de percepção indireta por meio do inconsciente, incorporando
idéias e associações que o inconsciente acrescenta às percepções do mundo exterior. Na sua
teoria, enquanto sensação e intuição são funções da percepção, pensamento e sentimento são
funções de julgamento, ou seja, a percepção determina o que sabemos, o processo de tomada de
consciência das coisas e o julgamento determina o que fazemos em relação ao que sabemos, ou
seja, envolve os processos por meio dos quais chegamos a conclusões a respeito do que foi
percebido.
Jung escreve que qualquer tipo isoladamente não é suficiente para que se tenha um
conhecimento acerca de si mesmo ou do mundo externo. Ele diz que:
Para que haja uma perfeita orientação, as quatro funções devem contribuir igualmente: o pensamento deve facilitar a cognição e o julgamento; o sentimento deve nos dizer como e em que grau uma coisa é ou não importante para nós; a sensação deve nos transmitir a realidade concreta através da visão, da audição, do paladar, etc.; e a intuição deve capacitar-nos a pressentir as possibilidades ocultas, que se encontram em segundo plano, já que estas também fazem parte do quadro completo de uma determinada situação. (JUNG, 1987, p. 551-552)
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Vergara (1991) nos esclarece que, segundo Jung, o pensamento e a sensação são
conscientes; já o sentimento pode ser consciente ou inconsciente, enquanto a intuição é
inconsciente. Para a autora, a consciência é a referência dos conteúdos psíquicos do ‘eu’,
entendido este como o complexo de representações que constitui o centro do campo consciente
do indivíduo, enquanto inconsciente são as referências do ‘eu’ não percebidas como tal. Enquanto
o pensamento e o sentimento são funções racionais, a sensação e a intuição são irracionais,
porque se baseiam não em juízos racionais, mas na intensidade da percepção.
Jung (1987) também introduz os conceitos de introversão e extroversão na sua
investigação sobre o homem como indivíduo e ser social. Esses conceitos falam do movimento
do interesse no sentido do objeto para o sujeito e o interesse deste em seus próprios processos
psicológicos e, no outro caso, do movimento do interesse no sentido do objeto. Por conseguinte,
cada indivíduo pode ser caracterizado como sendo primeiramente orientado ou para o seu interior
ou para o exterior. Enquanto que a energia dos introvertidos segue na direção do mundo interno
do sujeito, a energia dos extrovertidos é mais focalizada no mundo externo. Para o autor,
ninguém é absolutamente introvertido ou extrovertido. Cada pessoa tende a favorecer uma ou
outra atitude de acordo com a sua adeqüabilidade com as situações que ocorrem. Essas situações
são mutuamente exclusivas, não sendo possível adotar ambas ao mesmo tempo. Não há uma
maneira melhor do que a outra, e o ideal é ser flexível, utilizando-as quando se fizer necessário.
Jung (1977, p. 92) sustenta que “imaginação e intuição são auxiliares indispensáveis ao
nosso entendimento [...] [exercendo na ciência] um papel de importância sempre crescente que
suplementa o da inteligência racional na sua aplicação a problemas específicos.” Contudo, o
psicólogo salienta que apesar da intuição agir por meio do inconsciente, torna-se possível mais
tarde reconstruir o processo lógico pelo qual se teria chegado aos mesmos resultados alcançados
por seu intermédio, ou, nas suas palavras, “só se pode verdadeiramente conhecer e explicar
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quando se reduzem as intuições a uma apreciação exata dos fatos e das suas conexões lógicas”
(JUNG, 1977, p. 92).
Entretanto, Jung (apud GOLDBERG, 1992) comenta sobre a dificuldade de se explicar a
intuição, uma vez que nela, um conteúdo se apresenta todo e completo, sem termos a capacidade
de explicar ou descobrir como esse conteúdo veio à existência, sendo uma espécie de apreensão
instintiva, não importando qual o seu conteúdo.
Vergara (1991) coaduna dessa interpretação, pois para a autora tanto Bergson como Jung
acreditam que é difícil definir a essência da intuição. No entanto, eles sustentam que a intuição é
uma visão do todo que apreende e configura o objeto, que fornece referências e relações
impossíveis de serem obtidas pelas outras funções e que aspira à apreensão das possibilidades
máximas.
Schultz (1998) faz uma analogia do pensamento junguiano com o de Kant e Bergson:
enquanto Kant pensava que a intuição sintetizava o conhecimento passado e o presente e Bergson
a revelava como uma imagem total, Jung dizia que a intuição não era somente uma manifestação
metafísica, mas também, um processo ativo de se perceber no mundo físico. Vergara (1991) tem
o mesmo pensamento ao observar que termos como representações e visão do todo, presentes em
Kant e Bergson, também são encontrados em Jung, que acrescenta a eles o conceito de
inconsciente coletivo.
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2.3 A DIMENSÃO ADMINISTRATIVA DA INTUIÇÃO
Para uma adequada análise da dimensão administrativa intuitiva, se faz mister, a
princípio, investigar o processo decisório e a tomada de decisão gerencial. Feito esse exame, será
desenvolvida a dimensão proposta na seção.
2.3.1 O processo decisório e a tomada de decisão gerencial
Um processo clássico de tomada de decisão estende-se da identificação de um problema
até a concretização de uma proposta de solução encontrada. Pode-se dividi-la em quatro fases: a
primeira é a identificação de um problema, ou seja, a análise e avaliação de uma situação, o
esclarecimento e definição do conteúdo exato do problema e a determinação do objetivo
preliminar; a segunda fase é a busca por alternativas de ação e a coleta de informações sobre os
objetivos e parâmetros de decisão, com a devida projeção das conseqüências; a fase seguinte é a
tomada de decisão, por meio da análise das conexões e relações entre os vários problemas e
variáveis, construindo-se um plano apropriado, e na escolha dos níveis de ação das alternativas; a
última fase é a concretização, ou seja, a execução das alternativas escolhidas com a posterior
coleta das informações implementadas. O objetivo finalístico desse processo decisório é a
capacidade de se decidir certo num contexto de incertezas. Contudo, nem sempre se chega à
convicção da certeza pelo caminho lógico e racional.
Leitão (1993a) preconiza que a Teoria da Decisão tornou-se preponderantemente
prescritiva e normativa, sob a influência da Teoria Clássica da Administração, e dominada por
uma racionalidade econômica, procurando-se estabelecer regras e modelos para que um decisor
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racional escolha, entre as alternativas possíveis, o melhor curso de ação com o objetivo de
melhorar a eficiência, ampliando-se, dessa maneira, a racionalidade.
Para Motta (1988, p. 88):
O processo decisório gerencial é normalmente retratado como fluido, variado, fragmentado, de curto prazo e não-programável. Essas conclusões, que coincidem também com as perspectivas desenvolvidas em pesquisas sobre o processo decisório, contradizem a maioria dos textos acadêmicos, oriundos das perspectivas funcionalistas de planejamento organizacional que descrevem a função gerencial como racionalmente programável, no sentido da definição de objetivos e do controle para obtenção de resultados.
Motta (1988), ao perscrutar esse processo conclui que ele é fragmentado e as ligações
entre os problemas e as soluções são assimétricos. Além disso, o autor afirma que o trabalho do
administrador é muito mais diversificado do que a mera dedução de formulação de políticas,
planejamentos e estratégias organizacionais.
A decisão é a base de todo o processo organizacional. No entanto, teóricos e
pesquisadores ainda sugerem a inexistência de uma teoria articulada que apresente uma
abordagem global sobre a questão do processo decisório nas organizações.
O que se pode afirmar é que as decisões não são baseadas apenas no seu aspecto racional
e objetivo envolvendo múltiplas dimensões. Tal concepção abre espaços para a irracionalidade,
ou seja, a emoção, o instinto, o impulso e para o não-racional.
Gladwell (2005) comenta que a tomada de decisão bem-sucedida depende de um
equilíbrio entre o pensamento deliberado e o instintivo e que para aquelas serem acertadas
depende-se da frugalidade, uma vez que o autor defende que “até mesmo [...] os problemas mais
complexos possuem um padrão inerente identificável”, ou seja, “sobrecarregar os tomadores de
decisões com informações dificulta a identificação desse padrão, ao invés de facilitá-la. Para
tomar decisões de sucesso, precisamos editar.” (GLADWELL, 2005, p. 142).
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Admite-se, assim, no estudo ora empreendido, que variadas conexões – racionais ou não –
possam interagir no processo de tomada de decisão, ou, como afirma Leitão (1993a), que a
capacidade decisória de uma pessoa envolve coração, mente, emoção, intuição e intelecto. Os
processos que envolvem a tomada de decisão são, portanto, mais relacionais e holísticos do que
ordenados e seqüenciais, e mais intuitivos que intelectuais.
Infere-se, desse modo, que para a capacidade gerencial ser entendida em sua totalidade, há
a necessidade de se perscrutar tanto a dimensão racional como a cognitiva e a afetiva dos
indivíduos, pois são, indubitavelmente, indissociáveis.
É o que comenta Gladwell (2005) ao afirmar que a qualidade das decisões irá melhorar se
aceitarmos a natureza misteriosa dos julgamentos instantâneos.
Cabe, no entanto, deixar o alerta de Goldberg (1992, p. 28-29):
Uma abordagem exclusivamente racional-empírica à resolução de problemas e a tomada de decisões não nos possibilitará tratar adequadamente de considerações essenciais, porém não mensuráveis, como valores, princípios morais e vontade humana. Também encoraja uma mentalidade rasa que não consegue ver além de benefícios estreitos e mensuráveis. [...] Nós reduzimos a incerteza ao desconsiderar o imprevisível e espremer variáveis com múltiplos significados e nuanças sutis em compartimentos definidos, porém artificiais. E muitas vezes tendemos demais a analisar o passado porque o passado é mais fácil de quantificar.
2.3.2 A intuição na administração
Inicialmente, é necessário evidenciar o que, realmente, é a atividade gerencial.
Mintzberg (1990, p. 223) diz que “[...] ao se perguntar a um gerente o que ele faz, ele
prontamente responderá que: planeja, organiza, coordena e controla. Logo a seguir, passe a
observar o que ele faz. Não se surpreenda se você não conseguir encontrar nada do que ele
falou.”
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Rowan (1986) afirma que o gerenciamento não é uma ciência exata, definida como a arte
de se tomar decisões sem ter informações suficientes, pois para o autor até o empresário mais
ponderado às vezes se vê obrigado a agir rapidamente, baseado em impressões íntimas e
nebulosas.
Segundo Motta (1999, p. 26):
A gerência é a arte de pensar, de decidir e de agir; é a arte de fazer acontecer, de obter resultados. Resultados que podem ser definidos, previstos, analisados e avaliados, mas que têm de ser alcançados através das pessoas e numa interação humana constante.
De um lado, pode-se tratar a gerência como algo científico, racional, enfatizando as análises e as relações de causa e efeito, para se prever e antecipar ações de forma mais conseqüente e eficiente. De outro, tem-se de aceitar a existência, na gestão, de uma face de imprevisibilidade e de interação humana que lhe conferem a dimensão do ilógico, do intuitivo, do emocional e espontâneo e do irracional. Dirigentes devem entender a gestão moderna em ambos os sentidos.
Desenvolver e adquirir habilidades tanto para enfrentar o ambiente que o cerca quanto os
seus conflitos internos parece ser a rotina de quem opta pela tarefa de gerenciar. Há de se criar
formas para lidar-se com as novas solicitações organizacionais e do indivíduo. As pessoas estão
exigindo serem tratadas como sujeitos em seu próprio desejo e realização. O trabalho começa a
apresentar a perspectiva de ser um espaço onde se possa externalizar os valores pessoais, as
potencialidades, a criatividade, bem como o descontentamento, a insatisfação e a angústia por
situações vivenciadas, em prol do aprimoramento da tão comprometida relação indivíduo–
organização. De acordo com Motta (1999) as habilidades gerenciais contemporâneas têm que ser
desenvolvidas dentro de uma perspectiva de frugalidade, com base tanto na arte de julgamento
quanto na ciência dos fatos.
O grande problema de se falar sobre intuição na administração pode ser sintetizado pelo
estudo de Isenberg apresentado por Schultz (1998, p. 26):
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O objetivo declarado de Isenberg era levar aos administradores algo que aliviasse o ônus da discrepância entre o modo como se ‘esperava’ que pensassem e a maneira como de fato processavam informações. Ele descobriu que a maioria dos administradores favorecia antes as abordagens intuitivas do que as mais analíticas, embora grande parte deles acreditasse que não era assim que as coisas normalmente se passavam.
Goldberg (1992), coadunando o pensamento de Schultz, assevera que apesar das
evidências, nos círculos acadêmicos e científicos existem muitos que insistem que a intuição não
tem nenhuma participação significativa no processo da descoberta ou da tomada de decisões: para
essas pessoas, o processo de conhecer é mecânico e os cientistas e executivos que elogiam a
intuição estão sendo indulgentes num sentido poético e romântico, talvez para contrabalançar sua
imagem pública de insensíveis.
Contudo, Goldberg (1992) afirma que existe um forte movimento na atualidade que
reconhece a intuição como uma faculdade mental natural e um elemento-chave na resolução de
problemas e na tomada de decisões.
Segundo Möller, Oliveira e Fonte Filho (1993) é a partir da constatação que o modelo
racional-analítico aplicado ao processo decisório não consegue abarcar a complexidade dos
fenômenos contemporâneos que se inicia a assimilação do conceito de intuição.
Para Motta (1988, p. 78):
A teoria contemporânea de decisão gerencial procura demonstrar o valor do senso comum, da simplicidade e do juízo das pessoas, através do uso ativo dos instintos e percepções individuais. Refere-se muito à decisão intuitiva, isto é, àquela que não se baseia ou mesmo contradiz a lógica dos fatos explicitamente conhecidos e sistematizados. A intuição é vista como um impulso para ação em que não se faz uso do raciocínio lógico.
É nessa mesma linha de pensamento que Möller, Oliveira e Fonte Filho (1993) afirmam
que o interesse no estudo da intuição se intensifica com a observação da falência dos modelos
racionais de tomadas de decisão em face das complexidades e ambigüidades da realidade
36
organizacional. Esses autores conceituam a intuição da moderna teoria gerencial como uma
faculdade humana capaz de permitir o alcance dos objetivos de eficiência e eficácia, sem a
mediação de processos reflexivos ou discursivos, ou seja, as decisões tomadas sob sua égide
caracterizam-se justamente por ignorar, ou mesmo subverter, a estrutura lógica que sustenta as
teorias e os modelos de decisão dominantes.
Motta (1988, 1999) diz que a intuição proporciona uma visão global para os dirigentes,
capacitando-os a produzir idéias que se sobrepõem à lógica dos fatos, sendo uma força reativa a
imprevisibilidade e as contradições das empresas modernas.
Estudos já realizados por diversos autores, como Kotter (1982 apud KLIKSBERG, 1993),
Leitão (1993a), Mintzberg (2004), Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000), Parikh, Neubauer e
Lank (1998), Rowan (1986), Schultz (1998), Vergara (1993), Vergara e Branco (1994), entre
outros, já demonstraram que a intuição faz parte do cotidiano das decisões organizacionais.
Utilizar-se da intuição não deve constituir-se em desvalorização da racionalidade ou da
ciência empírica, considerando que é importante para o indivíduo alcançar um equilíbrio entre a
intuição e a racionalidade. Vivemos numa sociedade em busca do sentido da evolução. Isso
significa dizer que todos deveriam ter acesso a um desenvolvimento harmonioso de suas
faculdades na sua totalidade onde cada uma suplementaria e ampararia as forças da outra. A
intuição pode contribuir para o desenvolvimento de um senso de estabilidade interna do
administrador, que pode lhe permitir lidar mais facilmente com as incertezas e conflitos que
surgem. A integração entre a dinâmica interna do sujeito e a dinâmica externa do ambiente pode
ser alcançada por meio da intuição, a qual forneceria uma visão mais abrangente do todo.
É o que nos confirmam Parikh, Neubauer e Lank (1998, p. 71):
Situados entre as necessidades da pessoa e as necessidades do projeto, os administradores do século XXI precisam, mais do que nunca, saber aproveitar os
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diversos tipos de energia física e mental e direcioná-las rumo às metas da organização. Para isso, os administradores vão precisar de algo mais do que cálculos e análises. Eles precisarão ser pessoas intuitivas que possam interpretar seus sentimentos e palpites de uma forma mais clara e apropriada à determinação dos rumos da empresa.
Motta (1999) alerta que há necessidade do questionamento do óbvio e que devemos
procurar alternativas para uma visão do futuro, sob novas bases para as tomadas de decisão e de
ação.
Kuhn (2003) afirma que a transição de um paradigma em crise para um novo está longe
de ser um processo cumulativo obtido por meio de uma articulação do velho paradigma. É uma
reconstrução da área de estudo, a partir de novos princípios, reconstrução essa que altera algumas
das generalizações teóricas mais basilares do paradigma, bem como muitos de seus métodos e
aplicações. Para o autor, durante esse período de transição, haverá uma grande coincidência entre
os problemas que podem ser resolvidos pelo antigo paradigma e os que podem ser resolvidos pelo
novo.
A partir do pensamento de Kuhn, talvez seja o momento de construirmos uma nova teoria
gerencial que absorva os conceitos de intuição, formulando-se um quadro teórico-conceitual mais
amplo sob uma perspectiva mais crítica que amenize as angústias e incertezas que cercam os
administradores contemporâneos.
2.4 UMA CRÍTICA AO PROCESSO INTUITIVO: OS PENSAMENTOS DE HERBERT
ALEXANDER SIMON E DE MAX BAZERMAN
Herbert Simon, o mais importante e influente representante do racionalismo
organizacional, classifica como infrutíferos os esforços no sentido de se explicar os
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comportamentos administrativos por variáveis não-lógicas. Para Simon (1979) o comportamento
do indivíduo no ambiente organizacional é dotado de uma racionalidade própria e as variáveis
não-lógicas são obstáculos ao alcance dos objetivos de uma organização. Para o autor, tais
variáveis representam ruídos que devem ser neutralizados em benefício do atendimento dos
objetivos organizacionais .
Simon (1979, p. 78) pontua que “a racionalidade ocupa-se da seleção de alternativas de
comportamento preferidas de acordo com algum sistema de valores que permite avaliar as
conseqüências desse comportamento.” Especificando mais a racionalidade, ele diz que “a decisão
é objetivamente racional se representa de fato o comportamento correto para maximizar certos
valores numa dada situação” (SIMON, 1979, p. 79).
Para evitar interpretações dúbias, e adequar o conceito de racionalidade às diversas
situações que possam existir, o autor acrescenta cinco advérbios à palavra “racional”. Ele afirma
que uma decisão é subjetivamente racional, se ela maximiza a realização com referência ao
conhecimento real do assunto; é conscientemente racional na medida em que o ajustamento dos
meios aos fins visados constitui um processo consciente; é deliberadamente racional na medida
em que a adequação dos meios aos fins tenha sido deliberadamente provocada (pelo indivíduo ou
pela organização); é organizativamente racional se for orientada no sentido dos objetivos da
organização; e, é pessoalmente racional se visar aos objetivos dos indivíduos (SIMON, 1979)
Simon (1979) diferencia o homem econômico do homem administrativo: aquele, ao
decidir, maximiza seus esforços, selecionando a melhor opção entre as apresentadas, enquanto
que esse contemporiza, buscando um curso de ação satisfatório. Enquanto o homem econômico
acredita lidar com o mundo real, o homem administrativo percebe um modelo simplificado do
mundo real.
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Embora o autor classifique as decisões como programadas e não-programadas, estas
imprevisíveis e variáveis, enquanto que aquelas rotineiras e repetitivas, afirma que no futuro, os
computadores irão programar a maioria das decisões consideradas não-programáveis.
Motta (1988, p. 81-82) ao descrever sobre a linha de pensamento de Simon, sintetiza:
O ganhador do prêmio Nobel, Herbert Simon, que desenvolveu a visão de que o indivíduo racional é organizado e institucionalizado, dedicou a maior parte de sua obra á procura da explicação e conciliação de princípios de racionalidade econômica que influenciaram as teorias clássicas de organização e os limites da racionalidade nas escolhas humanas. Construiu, assim, uma teoria administrativa baseada na racionalidade limitada do ‘homem administrativo’ que se opõe à racionalidade do ‘homem econômico’, retratado pela eficiência máxima no alcance dos objetivos organizacionais. Em seus trabalhos, Simon é insistente no fato de serem as organizações influenciadas pelos limites humanos no ato de processar informações. Segundo ele, os indivíduos não maximizam ou otimizam as informações mas satisfazem-se em função do número de informações que suas mentes podem alcançar e processar. Assim, ninguém decide por um processo racional de considerar todas as alternativas possíveis, mas através de simplificações da realidade ajustáveis à mente humana.
Simon (1979) observa que as Ciências Sociais padecem de uma esquizofrenia aguda no
tratamento da racionalidade. Em um extremo, os economistas atribuem uma absurda
racionalidade onisciente ao homem econômico. No outro extremo, os psicólogos sociais tentam
reduzir toda a cognição, a afeto.
Ao realizar novos comentários sobre seu livro, Simon (1997) apregoa que embora se
difunda a noção de que o julgamento intuitivo tem diferentes propriedades do julgamento lógico,
ele ressalta que as evidências indicam que as habilidades intuitivas dos administradores carreiam
uma quantidade considerável de conhecimento absorvida pela experiência e pela participação em
treinamentos. Esse conhecimento é organizado na memória em termos de padrões reconhecíveis e
informações associadas, cuja recuperação ocorre quando o indivíduo reconhece possíveis opções
para um determinado problema. Esse mesmo conhecimento aliado com algumas capacidades
dedutivas do indivíduo, como é o caso da análise meio-fim, permite soluções rápidas e
satisfatórias.
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Simon (1997) afirma que ao invés de existirem dois tipos de gerentes – o intuitivo e o
racional – o mais plausível é a existência de uma série de estilos de resolução de problemas e de
tomada de decisão como resultado da combinação dos dois tipos de habilidades. O que vai
determinar qual estilo usar na resolução de problemas e tomadas de decisão é a natureza do
problema. O autor frisa ainda que não se pode desconsiderar os modelos analíticos, por se
acreditar que a intuição seja um processo separado deles.
Já Bazerman (2004) aborda a questão do processo decisório sob o ponto de vista dos
vieses cognitivos e como eles influenciam o julgamento dos tomadores de decisão, alertando que
as decisões irracionais refletem a confiança em vieses intuitivos que desprezam as possíveis
conseqüências das ações tomadas deliberadamente. O autor é um crítico contundente da
heurística, pois para ele, esse mecanismo conduz as pessoas a se desviarem de um processo de
decisão racional, levando os administradores a cometerem erros sistematicamente induzidos por
vieses. Bazerman identifica treze vieses cognitivos que influenciam as decisões: facilidade de
lembrança (eventos mais facilmente recuperados da memória são considerados mais numerosos
com base na sua recentidade e vividez); recuperabilidade (a avaliação que os indivíduos fazem da
freqüência de eventos sofre um viés no processo de busca da informação na memória);
associações pressupostas (os indivíduos tendem a superestimar a probabilidade de dois eventos
ocorrerem concomitantemente); insensibilidade aos índices básicos (qualquer informação, mesmo
que irrelevante, influencia os indivíduos na sua avaliação da probabilidade de eventos);
insensibilidade ao tamanho da amostra (ao avaliar a confiabilidade de informações amostrais, os
indivíduos freqüentemente falham na avaliação do papel do tamanho da amostra); interpretações
erradas da chance (uma seqüência de dados gerada por um processo aleatório parecerá “aleatória”
mesmo não sendo estatisticamente válida); regressão à média (indivíduos são propensos a ignorar
o fato de que eventos extremos tendem a regredir à média em tentativas subseqüentes); falácia da
41
conjunção (dois eventos ocorrendo concomitantemente – a conjunção – são mais prováveis de
ocorrer do que um conjunto mais global de ocorrências); ajuste insuficiente da âncora (tendência
da mente de ancorar os pensamentos irracionalmente, contra dados e informações que possam ser
relevantes); vieses de eventos conjuntivos e disjuntivos (indivíduos exibem um viés em relação à
superestimação da probabilidade de eventos conjuntivos e à subestimação da probabilidade de
eventos disjuntivos); excesso de confiança (indivíduos tendem a demonstrar excesso de confiança
quanto à infalibilidade de seus julgamentos ao responder a perguntas moderadas ou
extremamente difíceis); armadilha da confirmação (indivíduos tendem a buscar informações
confirmatórias para o que eles acham que é verdadeiro e deixam de procurar evidências
desconfirmatórias); previsão retrospectiva e maldição do conhecimento (superestimar o grau de
previsão de um resultado após o seu prévio conhecimento e não ignorar as informações que
possuem, mas que os outros não possuem, ao prever o comportamento dos outros).
Para o autor as decisões de alto risco não podem ser confiadas na intuição, havendo
necessidade de se reduzir o efeito das distorções provocadas pelos vieses cognitivos, por meio de
decisões baseadas na racionalidade.
2.5 RESULTADOS DE ESTUDOS SOBRE INTUIÇÃO: A PESQUISA DE PARIKH,
NEUBAUER E LANK (1998), VERGARA (1993) E DE VERGARA E BRANCO (1994)
Parikh, Neubauer e Lank (1998) realizaram um levantamento internacional sobre a
intuição. A pesquisa desenvolvida pelos autores foi realizada em nove países (Áustria, Brasil,
Estados Unidos, França, Holanda, Índia, Japão, Reino Unido e Suécia) com 1.312
administradores da alta hierarquia de empresas privadas da área industrial e de prestação de
42
serviços. Para os autores, uma questão fundamental é a revitalização das organizações para que
elas possam sobreviver às alterações que estão sendo demandadas pelo atual contexto e sob esse
pensamento o trabalho realizado por eles pretende contribuir para aqueles que estão interessados
em investigar a intuição, a sua aplicabilidade e a sua validade no cenário organizacional.
O resultado global da pesquisa (PARIKH, NEUBAUER e LANK, 1998, p. 101-139)
revelou que a intuição é vista como um atributo positivo entre os gerentes mais maduros (idade
superior a 45 anos). Os executivos nos cargos mais elevados das empresas consideram-se
extremamente intuitivos (73,4%). Ressalta-se que no levantamento realizado, 39,4% dos
administradores entrevistados pertencem à área industrial e os demais ao setor de prestação de
serviços.
Pela orientação intuitiva, os administradores acreditam que se obtém: inovação (79%),
idéias (70,8%), criatividade (67,5%), visão (60%), imaginação (53,3%) e espontaneidade
(52,7%). A orientação racional contribuiria para as questões de: concretude (65,5%), realização
(53,8%), prática (48,8%) e sensibilidade (48,4%).
Na descrição do que seria intuição, a resposta mais freqüente (23,4%) diz que ela é uma
decisão/percepção sem a utilização dos métodos lógicos-racionais, seguida pelas respostas que a
intuição é uma percepção inerente; compreensão inexplicável; sensação que vem de dentro com
17,1% e que ela é a integração de experiência anterior; processamento de informações
acumuladas com 16,8%. Assim, a percepção dominante é a de que a intuição é algo como uma
antítese da lógica/raciocínio. Há também conotação com conceitos populares como
pressentimento (12%), sexto sentido (7,4%), percepção/visão espontâneas (7,3%), introvisão
(6,7%), processo subconsciente (6,1%) e instinto (5,7%).
43
A área de estratégia e planejamento indicou um maior interesse pela intuição (79,9%),
seguida pela de desenvolvimento de recursos humanos (78,6%), marketing (76,8%), pesquisa e
desenvolvimento (71,6%) e de relações públicas (64,3%).
A intuição foi associada a um forte sentimento interior, emoção para 16,4%; incapacidade
para explicar a conclusão com base nos fatos disponíveis para 14%, tomada de decisões pouco
influenciadas pelo raciocínio lógico para 13,1% e percepção/visão espontâneas para 6,9%.
Apenas 7,5% dos administradores afirmaram que usam mais a intuição do que a
lógica/razão em sua vida profissional, contra 38,9% que usam mais a segunda do que a primeira.
Os outros 53,6% usam a intuição e a lógica/racioncínio mais ou menos na mesma medida.
A porcentagem de administradores que apóiam a inclusão da intuição no currículo escolar
aumenta progressivamente com o grau das instituições: escola primária (38,5%), escola
secundária (42,9%), faculdade/universidade (53,6%), chegando a 64,9% nos estudos do nível
pós-graduação.
A avaliação da pesquisa permitiu a seus autores concluir que a intuição faz parte do
cotidiano dos administradores, mas com muitas restrições para a sua utilização. O aspecto
idiossincrático da palavra intuição tem dificultado a sua aceitação de uma maneira geral. Todavia,
verifica-se que os estudos e práticas referentes à intuição nas organizações estão tendo o
compromisso de desmistificá-la, lidando com o preconceito das pessoas para falar e responder
sobre este assunto, explorando-a em aspectos que possam melhorar e contribuir para a atividade
de gerenciamento.
Os pesquisadores acreditam que para a gestão moderna, uma das possibilidades para não
se sucumbir aos múltiplos problemas gerados pelas sucessivas mudanças, é fazer uso da intuição
como uma das bases principais para se estabelecer as estratégias que resolverão os conflitos
44
manifestados. Cultivar as habilidades intuitivas ajuda na investigação, favorece perscrutar o
mesmo problema sob diversos ângulos.
Com relação à pesquisa realizada especificamente no Brasil, Parikh, Neubauer e Lank
(1998, p. 250-267) a realizaram com uma amostra de 204 administradores, representando os
cerca de 80.400 administradores que atenderam às especificações do levantamento.
A orientação intuitiva revela que os administradores brasileiros acreditam que se obtém:
inovação (85,3%), criatividade (84,9%), visão (73,4%) e espontaneidade (72,9%). A orientação
racional contribui para as questões de: concretude (75,2%), sensibilidade (70,2%), prática
(66,2%) e realização (59,4%).
Na descrição do que seria intuição, a resposta mais freqüente (29,4%) diz que ela é uma
decisão/percepção sem a utilização dos métodos lógicos-racionais, seguida pelas respostas que a
intuição é uma previsão com 23,3%, percepção inerente; compreensão inexplicável; sensação que
vem de dentro com 18,3% e que ela é a integração de experiência anterior; processamento de
informações acumuladas com 15,1%. Assim, a percepção dominante, seguindo o quadro do
levantamento global é a de que a intuição é algo como uma antítese da lógica/raciocínio. Há
também conotação com conceitos populares, com uma pequena variação do obtido no
levantamento global: percepção/visão espontâneas (9,3%), processo subconsciente (8,8%), sexto
sentido (7,5%), premonição (6,4%) e decisão/solução de problemas sem dados/fatos completos
(6%).
A área de estratégia e planejamento indicou um maior interesse pela intuição (81,8%),
seguida pelo marketing (76,7%), desenvolvimento de recursos humanos (70,7%),
investimento/diversificação (69,8%) e pesquisa e desenvolvimento (64,6%).
No quesito sobre como a intuição poderia ser identificada os resultados da pesquisa
formam: associada a tomada de decisões pouco influenciadas pelo raciocínio lógico para 15,4%,
45
percepção/visão espontâneas para 14,6%, um forte sentimento interior, emoção para 13,2%; forte
impulso de tomar uma decisão específica com 11,7%, incapacidade para explicar a conclusão
com base nos fatos disponíveis com 7,8% e sentimento de certeza para 5,9%.
A maioria (53,5%) dos administradores brasileiros afirma que usam mais lógica/razão do
que a intuição a em sua vida profissional; a proporção dos que usam mais a intuição é quase
desprezível (4,4%).
A porcentagem de administradores que apóiam a inclusão da intuição no currículo escolar
aumenta progressivamente, com uma mínima diferença entre faculdade/universidade para o nível
de pós-graduação (diferença de 0,1%): escola primária (23,1%), escola secundária (29,5%),
faculdade/universidade (54,6%), estudos no nível de pós-graduação (54,5%).
Vergara (1993, p. 130-157) também promoveu uma pesquisa sobre a intuição na tomada
de decisão, quando foram ouvidos depoimentos de 57 gestores do 1º, 2º, e 3º escalões da
hierarquia organizacional de organizações públicas e privadas, de pequeno e médio porte e 13
profissionais autônomos como parapsicólogos, médicos, astrólogos, professores de práticas
orientais, artistas plásticos e estudantes.
No campo dos gestores, 23% demonstraram não terem dúvidas quanto ao significado de
intuição, afirmando que “a intuição não tem base lógica, não tem explicação, é percepção extra-
sensorial” (VERGARA, 1993, p.151).
Para a questão “decisões tomadas intuitivamente conduzem a resultados esperados?”
(VERGARA, 1993, p. 153) os resultados forma: 2% dos gestores não souberam dizer; 23%
responderam que sim; 26% comentaram que nem sempre e o restante, 49%, nada declarou.
Somente um gestor, das 70 pessoas entrevistadas afirmou não acreditar em intuição.
Apenas 9% dizem acreditar, mas não tomam decisões intuitivas e 89% asseguram tomar decisões
intuitivas. Para Vergara (1993, p. 150-151) parece que os gestores têm pouca clareza quanto ao
46
que é intuição; o termo lhes é confuso. De acordo com a autora, a pouca clareza com que a
maioria dos gestores define intuição está relacionada com a dificuldade de se explicar o sentido
da própria palavra e, também, pode ser atribuída à confusão que muitos fazem entre racionalidade
nas suas múltiplas formas, sentimento e a intuição.
Ao se comparar as duas pesquisas, os dados confirmam essa dificuldade, dado o grau de
subjetividade que o termo remete, uma vez que na pesquisa de Parikh, Neubauer e Lank (1998)
53,5% dos administradores brasileiros afirmam que usam mais lógica/razão do que a intuição em
sua vida profissional, em contraste com a de Vergara (1993), onde 89% dos entrevistados
afirmam que utilizam a intuição na tomada de decisão.
Já o estudo de Vergara e Branco (1994) com 323 profissionais vinculados a várias
empresas (227 atuavam no setor de serviços, 33 no de comércio e 63 no da indústria) de porte
pequeno, médio e grande, sediadas no Rio de Janeiro, e de entrevistas realizadas em seis
empresas de grande porte situadas no Rio de Janeiro e em São Paulo, permitiu evidenciar que
entre as empresas pesquisadas, assuntos relacionados com a dimensão intuitiva são tratados com
certa compatibilidade com o mundo dos negócios, fazendo parte do dia-a-dia das organizações,
definindo, muitas das vezes, o sucesso de decisões estratégicas (notadamente, foi constatado que
as empresas de grande porte são mais receptivas à intuição), embora a intuição praticamente não
esteja sendo privilegiada nos programas de treinamento e desenvolvimento das empresas como
dimensão a ser desenvolvida.
Contudo, o que se verifica é que tanto no estudo promovido por Parikh, Neubauer e Lank
(1998) quanto no de Vergara (1993) e de Vergara e Branco (1994), a estatística demonstra que a
intuição está presente na cultura gerencial, talvez, ainda com muitas restrições e resistências para
se discutir a sua aplicabilidade e o seu sentido. Entretanto, apesar da complexidade do tema, a
47
confirmação da intuição permeando o processo decisório já pode prognosticar sua utilização nas
organizações, o resgate de seu significado e o seu desenvolvimento no ensino administrativo.
Este capítulo apresentou o termo intuição sob as dimensões filosófica, psicológica e
administrativa visando esclarecer o seu significado. O capítulo também trouxe uma visão crítica
do processo intuitivo, um contraponto às teorias apresentadas, bem como evidenciou os
resultados de estudos sobre a intuição a partir das pesquisas de alguns autores.
48
3 A FORMAÇÃO ACADÊMICA DO ADMINISTRADOR
Neste capítulo, são abordadas a racionalidade instrumental e a racionalidade substantiva,
bem como contextualizado o cenário da sociedade contemporânea, questões necessárias para a
compreensão da atual formação acadêmica do administrador. Privilegia-se também no capítulo, o
caminho adotado pelas escolas de administração e o ensino administrativo brasileiro.
3.1 A SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA E SUAS CARACTERÍSTICAS:
CONTEXTUALIZANDO O CENÁRIO ATUAL
Investigar a lógica que nos cerca e, ao mesmo tempo, que nos cerceia, pode abrir
caminhos para a compreensão (e a dimensão) dos problemas e das aflições às quais estamos
submetidos e em busca de soluções.
Se o lucro é o motor da sociedade capitalista, é bastante desanimadora a realidade vigente.
Pode-se abordar, como ponto de partida, o avanço tecnológico, da informatização e a intensa
programação do cotidiano, das variadas opções de compra existentes e da própria globalização.
Com a sociedade globalizada que se vive, novos valores se concretizam e, ainda, estão
emergindo. E, a despeito do desenvolvimento tecnológico e econômico, mais problemas surgem
como a miséria, a fome e a exclusão social.
Novas formas de expressão vão surgindo, rotuladas sob o termo de “pós-modernismo”
(HARVEY, [s.d.]), configurando comportamentos sociais adversos. Assim, marcam o sistema de
49
mentalidades atual: o individualismo radical, o hedonismo, o pragmatismo e a rejeição de teorias
holísticas.
Por conseguinte, as modificações socioeconômicas, políticas e culturais que ora se
estabelecem não propiciam um pensamento do indivíduo em prol de valores mais profundos,
conectados com questões éticas e da vida humana per si, bem como pela busca por um
conhecimento mais completo e abrangente.
Estamos inseridos hoje, no que Anderson (1995) chama de pós-modernidade. Estar nessa
era significa ser o produto de um tempo informatizado, em que a velocidade do saber o torna
volátil, inviabilizando seu aprendizado integral, valorizando o imediatismo, sem uma reflexão
mais profunda do conhecimento.
Nesse contexto de extremada diferenciação, com ausência de unidades, os indivíduos
procuram posicionar-se de maneira pragmática. Evangelista (2002) afirma que a crise das
estruturas ideológicas que procuravam explicá-lo, que davam um sentido completo à vida, faz o
futuro imprevisível. Se pensar gera angústia, em face da superposição de perspectivas voláteis,
qual a finalidade de reflexão filosófica acerca de temas administrativos mais profundos?
O homem atual prefere viver intensamente o presente, o prazer de hoje: a sociedade lhe
diz, incansavelmente, que ele tem que ser feliz, mesmo que isso lhe cause infelicidade. E, como o
mundo é funcionalmente competitivo, ele precisa enfocar somente a si próprio.
Assim, a via atual é a do neo-individualismo ou individualismo narcisista: um
egocentrismo agudo que supervaloriza o privado e ignora o público. Carreado por este
pensamento, novas formas de conhecimento são ignoradas, pois o que importa é o sucesso
individual de curto prazo, mesmo pagando-se um alto preço por ele.
Agravando o cenário, o indivíduo, ao trazer para si todas as tendências pós-modernas,
sente-se vazio e vive, nas palavras de Dumont (1985) a crise da pós-modernidade.
50
A escola, sustentáculo de sua formação acadêmica, co-formadora de seu caráter e
importante parcela no processo de socialização humana, que poderia socorrê-lo, não o faz. Ela
também está impregnada dos valores presentes na atual sociedade. É sujeito e objeto da nova
ordem e utiliza-se da racionalidade contemporânea para se legitimar e manter o pensamento
dominante, imbricada que está com a centralização da sociedade no mercado e não no homem.
Essa racionalidade, fruto da contextualização da realidade vigente, é a única via possível,
ou seremos capazes de nos emancipar em busca de um pleno conhecimento, mais adequado, não
só de nós mesmos, como da sociedade que nos cerca?
Nas próximas duas seções serão abordadas as racionalidades instrumental e substantiva:
enquanto a primeira legitima o pensamento atual, a segunda busca resgatar o ser humano
dialeticamente.
3.2 A RACIONALIDADE INSTRUMENTAL: ÚNICO VIÉS ACADÊMICO?
A racionalidade instrumental é a racionalidade construída pela sociedade contemporânea.
Para Enriquez (1997) a racionalidade ocidental triunfou no mundo moderno em sua forma
perversa por meio da racionalidade instrumental dissociando-se de toda e qualquer subjetividade.
Chanlat (1992) diz que as regras que tiveram curso nas relações dentro das organizações foram
amplamente inspiradas em valores econômicos, e que esta “economização” das relações humanas
sob uma ética utilitária não tem amparo perante a complexidade do comportamento humano.
Berger e Luckmann (2004) mostram que as “explicações funcionalistas nas ciências
sociais” são uma “prestidigitação teórica” por meio da aplicação da teoria das instituições, da
51
legitimação, da socialização e do processo dialético entre a realidade objetiva e subjetiva, com
franca preponderância da primeira sobre a segunda.
Motta (1988) afirma que a racionalidade organizacional insinua a pretensa possibilidade
de domínio de fatores incontroláveis e uma maneira de se eliminar riscos e incertezas.
Segundo Tenório (2004, p. 33):
A racionalidade instrumental ou funcional é o processo organizacional que visa alcançar objetivos prefixados, ou seja, é uma razão com relação a fins na qual vai predominar a instrumentalização da ação social dentro das organizações, predomínio este centralizado na formalização mecanicista das relações sociais em que a divisão do trabalho é um imperativo categórico, através do qual se procura justificar a prática administrativa dentro dos sistemas sociais organizados.
Já Barros e Passos (2000) ao expender sobre a racionalidade instrumental e a sociedade
capitalista, afirmam que aquela legitima essa, uma vez que a lógica do funcionamento da
civilização contemporânea está baseada na preponderância dos valores econômicos como
critérios fundamentais de regulação da vida em sociedade. Assim, na visão desses autores, a atual
“hegemonização” do racionalismo econômico leva o homem contemporâneo a acreditar que o
modelo capitalista é “único e universal”.
Não se pode negar que esse modelo garantiu a sobrevivência do homem. O que se
questiona, é o custo dessa sobrevivência, uma vez que, conforme aduzem Barros e Passos (2000)
o arranjo do mundo de organizações associado à lógica de reprodução do capital contribuiu para a
perpetuação e contaminação de todos os aspectos da vida humana pela racionalidade
instrumental. Não é outro o pensamento de Enriquez (1997) ao afirmar que nas empresas o
“principal objetivo é o alcance de resultados contábeis” introduzindo a “medida como único
elemento de diferenciação dos seres” tendo como conseqüências: 1- a transformação de seres
“humanos” em seres “técnicos”, ou dito de outro modo, em puros produtores e consumidores,
transformando as relações sociais em relações entre mercadorias; 2- mobilização dos indivíduos
52
por meio da satisfação de seu narcisismo, ou seja, “edificação de uma cultura de empresa” pela
socialização; e 3- paradoxalmente, como o movimento da sociedade em direção à racionalidade,
deixa os indivíduos insatisfeitos, os desperta para “exigências éticas”, podendo-se suscitar entre
seus membros a vontade e a necessidade de se instituir certas condições de vida, onde a
idiossincrasia de cada um seria reconhecida em sua plenitude.
Guerreiro Ramos (1989, p. 8) coaduna os pensamentos dos autores mencionados, ao
comentar:
[...] na sociedade moderna, a racionalidade se transformou num instrumento disfarçado de perpetuação da repressão social, em vez de ser sinônimo de razão verdadeira. [...] na sociedade moderna, as forças produtoras haviam conquistado seu próprio impulso institucional independente, assim subordinando toda a vida humana a metas que nada tem a ver com a emancipação humana.
Enriquez (1997) expõe que a razão instrumental é o reflexo do modelo institucionalizado
presente nas organizações, uma vez que as empresas impõem uma visão tecnicista do futuro
humano.
Por conseguinte, torna-se pertinente a pergunta do título desta seção: a racionalidade
instrumental é o único viés acadêmico possível, uma vez que ela legitima a sociedade e o modelo
capitalista? E, não seria por essas razões, que outras formas de conhecimento não estariam sendo
desenvolvidas na formação do administrador, uma vez que, para que sejam utilizadas, há
necessidade de uma reflexão mais profunda e verdadeira?
Espera-se que as próximas seções tragam luz às presentes indagações.
53
3.3 A RACIONALIDADE SUBSTANTIVA: UM VIÉS ALTERNATIVO À REALIDADE
VIGENTE
Se estivermos buscando um ensino que privilegie uma visão mais holística tanto dos
indivíduos quanto dos processos organizacionais, a racionalidade substantiva é uma alternativa à
visão reducionista do binômio indivíduo–organização que é proporcionada pela racionalidade
instrumental.
Partindo-se do pressuposto que a intuição é uma ferramenta até então relegada ao segundo
plano, o viés alternativo que nos proporcionará uma maior liberdade na busca do conhecimento
pleno é a razão substantiva.
Sintetizando Guerreiro Ramos (1983a) e Tenório (2004), define-se a racionalidade
substantiva como um ato intrinsecamente inteligente, uma percepção individual–racional da
interação entre fatos em determinado momento, que busca proporcionar a transcendência do ser
humano e em resguardar a sua liberdade. A razão substantiva é um atributo do sujeito, contida em
sua psique como recurso potencial.
Já para Barros e Passos (2000) a razão substantiva está relacionada com uma visão
dialética do ser humano contextualizado e em suas relações. O indivíduo, assim, é o elemento
fundamental de mediação em todas as condições sociais que está inserido.
Chanlat (1992), embora não trate especificamente sobre a racionalidade substantiva em
seu artigo, nos leva a inferir que será por meio dela que “surgirá nova estética que permitirá ao
ser humano fazer de sua vida uma obra de arte, segundo a bela expressão de Foucault, e também
permitirá às nossas organizações deixar desabrochar a poesia, o imaginário, e a criatividade
humana, para estarem, daqui para frente, no centro da dinâmica social.” (CHANLAT, 1992, p.
73).
54
A razão substantiva é a forma de se alcançar uma relação plena do administrador com a
organização na qual ele está inserido, ou, de acordo com Lodi (1970) a mudança organizacional
depende da forma e da habilidade que o homem tenha para manejar as mudanças da sociedade.
Barreto (1993) e Serva (1997) traçam um paralelo entre as abordagens de Guerreiro
Ramos – abordagem substantiva – e a de Habermas – teoria da ação comunicativa –
evidenciando-as como complementares. Para a presente dissertação, as conclusões dos estudos
empreendidos pelos autores revelam que a noção de racionalidade deve emergir da
intersubjetividade e do senso comum convergindo na intensificação de estudos e reflexões mais
holísticos e na dimensão relacional entre a razão e a intuição.
Serva (1997) relaciona diversos elementos constitutivos de racionalidade com a natureza
de 11 processos organizacionais, para afirmar que não há exclusividade de um só tipo de
racionalidade nas ações de indivíduos que compõem as organizações. Sua posição conceitual diz
que a dinâmica do cotidiano das organizações implica na presença tanto da razão substantiva
quanto da razão instrumental e que os comportamentos das pessoas nas organizações é
caracterizado por avanços e retrocessos nas direções substantiva e instrumental, gerando
contradições e estabelecendo-se contrapontos. À medida que as contradições e os contrapontos
são enfrentados, pode-se conduzir a novos pensamentos e atitudes, assumindo-se, por
conseguinte, que ambas as racionalidades podem estar presentes em todos os processos
organizacionais. A figura 1 sintetiza a correlação realizada por Serva (1997).
Serva (1997) advoga ainda que inexistem evidências de concretização da razão
substantiva nas práticas administrativas. Desse modo, pode-se inferir que a intuição é um tema
relevante, uma vez que ela subverte a lógica vigente, sendo necessário seu aprofundamento nas
organizações e no ensino administrativo.
55
Assim, por meio do reconhecimento que a racionalidade instrumental não é onipresente
nas organizações, pode-se promover o uso de formas alternativas de conhecimento, o que pode
deflagrar a constatação do uso da intuição nas organizações.
Figura 1 – Correlação entre os elementos constitutivos de racionalidade e a natureza de cada
processo organizacional
Tipo de racionalidade x
Processos organizacionais Racionalidade Substantiva Racionalidade Instrumental
Hierarquia e normas Entendimento Julgamento ético
Fins Desempenho
Estratégia interpessoal Valores e objetivos Auto-realização
Valores emancipatórios Julgamento ético
Utilidade Fins
Rentabilidade Tomada de decisão Entendimento
Julgamento ético Cálculo
Utilidade Maximização de recursos
Controle Entendimento Maximização de recursos Desempenho
Estratégia interpessoal Divisão do trabalho Auto-realização
Entendimento Autonomia
Maximização de recursos Desempenho
Cálculo Comunicação e relações
interpessoais Autenticidade
Valores emancipatórios Autonomia
Desempenho Êxito/resultados
Estratégia interpessoal Ação social e relações
ambientais Valores emancipatórios Fins
Êxito/resultados Reflexão sobre a organização Julgamento ético
Valores emancipatórios Desempenho
Fins Rentabilidade
Conflitos Julgamento ético Autenticidade
Autonomia
Cálculo Fins
Estratégia interpessoal Satisfação individual Auto-realização
Autonomia Fins Êxito
Desempenho Dimensão simbólica Auto-realização
Valores emancipatórios Utilidade
Êxito/resultados Desempenho
Fonte: Serva (1997, p. 126)
56
O ensino de administração está facilitando o alcance do pleno conhecimento
administrativo? Buscar-se-á respostas a essa pergunta nas próximas seções.
3.4 O CAMINHO DAS ESCOLAS DE ADMINISTRAÇÃO
Burrel e Morgan (1979) afirmam que o paradigma funcionalista fornece o quadro de
referência dominante para o estudo das organizações. Os autores aduzem que a abordagem à
ciência social característica do funcionalismo está baseada na tradição do positivismo, aplicando-
se os modelos e métodos das ciências naturais para os estudos dos assuntos humanos.
Vergara e Branco (1993, p. 25) interpretam que esse paradigma, ao comprometer-se com
a ordem e o controle, “enseja uma imobilidade em relação à busca e a aceitação de outras visões
do mundo, o que emprobece e limita a nossa apreensão da complexidade da qual somos parte.”
O que se pode depreender, coadunando a linha de pensamento dos autores referidos, é que
o estudo científico da Administração, ao basear-se na abordagem instrumentalista e racional,
busca a resolução de problemas baseados na lógica positivista, na relação causa-efeito, no meio-
fim.
Ao se buscar uma explicação para tal racionalidade, o que se pode inferir é que,
historicamente, a maior preocupação que as organizações de outrora possuíam era ter em seus
quadros, profissionais aptos a atenderem ao processo de industrialização e das grandes unidades
de produção. Entretanto, tal mentalidade ainda contamina a atual teoria organizacional em sua
plenitude.
Na opinião do autor desta dissertação, é inevitável se retomar o rumo das escolas de
administração: elas não estão promovendo uma aprendizagem emancipadora de seus educandos e
57
sim, legitimando a racionalidade instrumental que contamina a sociedade como um todo. Tal
constatação é evidente. Aktouf (2001), chegando a extremos, afirma que para se alcançar uma
renovação da administração é indispensável a adoção de uma visão global da humanidade, por
meio da contribuição do humanismo radical. O autor argumenta sobre a necessidade de um
embasamento teórico nas idéias em administração, elencando que os trabalhos que aprofundam a
questão que envolve o ser humano nas organizações abordam temas relacionados com: o “poder
unilateral” das empresas e a concepção instrumental do empregado; a luta contra a “fragmentação
do trabalho”; a dotação do “homem como ser de palavra”, isto é, da sua possibilidade de dialogar
e de se expressar de maneira crítica e reflexiva; do reconhecimento de que as concepções e
práticas administrativas representam um obstáculo ao homem como sujeito, “ator que interpela”;
da ausência de ética para com os empregados; do questionamento sobre o “economismo e o
utilitarismo” das teorias e práticas administrativas dominantes; e, o apelo a um tipo de
“radicalismo epistemológico e metodológico” priorizando a natureza complexa, sistêmica e
multidimensional do homem e dos grupos sociais. Pode-se concluir que o ensino nas escolas de
administração pouco privilegiam os temas apontados pelo autor como relevantes.
Por outro lado, Bennis e O’Toole (2005), Mintzberg (2006) e outros autores têm criticado
contundentemente os cursos de MBA desenvolvidos nas escolas de administração.
Embora o foco desta dissertação esteja dirigido para os cursos de graduação, muitos
insights podem ser desencadeados pelos comentários desses autores.
Livingston (1971) já identificava nos programas de educação em administração a ênfase
no desenvolvimento de habilidades de capacitação analítica dos indivíduos em detrimento de
habilidades mais subjetivas, como capacitação para agir ou capacidade de se colocar planos em
prática.
58
Para Bennis e O’Toole (2005) as escolas de administração adotaram um modelo de
ciência que usa abstratas análises financeiras e econômicas, regressões estatísticas múltiplas e
psicologia de laboratório que, quando aplicada aos negócios – essencialmente uma atividade
humana na qual decisões são tomadas com base em dados confusos, incompletos, incoerentes –,
implica em mais desordem (estatística e metodológica) do que capacidade de percepção.
Outra questão levantada pelos autores é a dissonância entre a teoria e a prática no
desenvolvimento do ensino administrativo. Essa dissonância, pode-se inferir, também é
encontrada nos cursos de graduação. Bennis e O’Toole (2005, p. 5-7) afirmam que:
A maioria das questões enfrentadas por dirigentes empresariais envolve, em última análise, puro discernimento. [...] Na pesquisa administrativa, porém, fatores rotineiramente ignorados por acadêmicos sob o pretexto de que não são mensuráveis – o grosso dos fatores humanos e toda questão relativa a discernimento, ética e moralidade – são exatamente o que faz a diferença entre boas e más decisões de negócios. [...] E o que é pior, a integração do conhecimento específico a uma disciplina às demandas da prática empresarial é deixada ao aluno.
Bennis e O’Toole (2005), ao apontarem rumos para o resgate da relevância do ensino de
administração, sugerem que há necessidade de se aceitar que a administração não é uma
disciplina científica e, sim, uma profissão. Nas palavras dos autores:
Acreditamos [...] que um passo útil para reconhecer que a administração é uma profissão seria admitir que tanto imaginação como experiência são vitais e deveriam, portanto, estar no cerne da educação administrativa. [....] Nada vai melhorar enquanto os professores não notarem que são responsáveis tanto por educar profissionais que tomam decisões práticas como por fazer avançar o conhecimento científico [...] O problema não é a escola de administração ter adotado o rigor científico, mas ter abandonado outras formas de conhecimento. (grifo meu) (Bennis e O’Toole, 2005, p. 7-9).
Pode-se identificar aqui, o âmago do nosso problema inicialmente proposto. Na visão do
autor desta dissertação, tanto os cursos de graduação quanto os cursos subseqüentes, estão
negligenciando outros caminhos de conhecimento, tendo em vista a contextualização do
pensamento vigente, extremamente pragmático e instrumental. Como a academia tem se
59
respaldado no positivismo e na influência das ciências naturais no trato de uma ciência social, o
dito “rigor científico” não dá margens a outras interpretações mais amplas, como é o caso do uso
da intuição.
Mintzberg (2006) é ainda mais enfático nas suas críticas ao ensino da administração. Para
o autor, a administração não é uma ciência (“a ciência trata de desenvolvimento de conhecimento
sistemático por meio de pesquisa. Não se pode dizer que seja essa a finalidade da administração.
[...] A administração eficiente [...] acontece quando arte, habilidade e ciência se encontram.”
MINTZBERG, 2006, p. 21). Para este autor, em oposição aos pensamentos de Bennis e O’Toole
(2005), administração também não é uma profissão: “Pouco de sua prática foi codificada de
forma confiável, muito menos certificado quanto à sua efetividade. Assim, a administração não
pode ser denominada profissão ou ser ministrada como tal.” (MINTZBERG, 2006, p. 22).
O autor é mais contundente ao afirmar que: “É hora de encarar um fato: depois de quase
um século de tentativas, em qualquer avaliação razoável a administração não pode ser
considerada uma ciência ou uma profissão. Ela permanece profundamente incrustada nas práticas
da vida diária.” (MINTZBERG, 2006, p. 22).
A maior parte da crítica de Mintzberg (2006) está relacionada à ênfase dada nos
programas de MBA às habilidades analíticas desvirtuando as práticas mais reflexivas, como
competências cognitivas e um pensamento mais crítico. Tais óbices também estão presentes nos
cursos de graduação.
Mintzberg (2006, p. 96) nos apresenta os três vértices da gerência (conforme a figura 2).
Utilizando-se de suas metáforas, pode-se concluir que tanto na gerência quanto no ensino de
administração deve-se procurar um equilíbrio entre os vértices para que seja possível uma maior
efetividade de ambos.
60
Figura 2 – Os três vértices da gerência
CIÊNCIA (science) ARTE (art) HABILIDADE PRÁTICA
(craft)
Baseado em Lógica (verbal) Imaginação (visual) Experiência (visceral)
Confia em Fatos científicos Intuições criativas Experiências práticas
Preocupa-se com Replicabilidade Novidade Utilidade
Toma decisões Dedutivamente Indutivamente Iterativamente
Cria estratégia Planejando Tendo visões,
imaginando
Arriscando
Metáfora A terra (racional);
portanto, pode ficar preso
O ar (espiritual);
portanto, pode ficar
perdido
O mar (sensual); portanto,
pode ficar à deriva
Contribuição A ciência como análise
sistemática, na forma de
insumos e avaliações.
A arte como síntese
abrangente, na forma de
intuições (insights) e
visões.
A habilidade prática como
aprendizagem dinâmica,
na forma de ações e
experimentos.
Fonte: Mintzberg (2006, p. 96)
3.4.1 Uma visão filosófica sobre o tema: o pensamento de Alasdair MacIntyre
MacIntyre (2001) ao realizar uma reflexão sobre a filosofia moral como área de pesquisa
independente e isolável, mostra-se insatisfeito, pois acredita que o mero estudo reflexivo do
conceito de moralidade é uma atividade acadêmica estéril. Ao expender sobre o tema central de
61
seu livro, enuncia, assim, um dos capítulos: “O caráter das generalizações nas Ciências Sociais e
sua carência de poder de previsão.” (MACINTYRE, 2001, cap. 8, p. 155-187). Esta seção
discorrerá sobre as indagações do autor e da sua correlação com o ensino de administração.
MacIntyre (2001, p. 155) comenta que:
O que a competência administrativa exige para a sua validação é uma concepção justificada das ciências sociais como portadora de um estoque de generalizações legiformes com forte poder de previsão. [...] Foi precisamente esse conceito de ciências sociais que dominou a filosofia das ciências sociais durante duzentos anos. Segundo essa explicação convencional – do Iluminismo, passando por Comte e Mill, até Hempel – o objetivo das ciências sociais é explicar, especificamente os fenômenos sociais, por meio de generalizações legiformes que não diferem em forma lógica das aplicáveis aos fenômenos naturais em geral, precisamente o tipo de generalizações legiformes às quais o especialista em administração apelaria. Essa explicação, porém, parece concluir – o que, com certeza, não é o caso – que as ciências sociais são quase, ou talvez totalmente, destituídas de realizações. Isso porque o fato que se destaca com relação a essas ciências é a ausência da descoberta de quaisquer generalizações legiformes.
Para o autor há quatro fontes de imprevisibilidade sistemática nos assuntos humanos:
natureza da inovação conceitual radical (e conseqüente imprevisibilidade do futuro da ciência);
imprevisibilidade de se prever o resultado de suas próprias decisões ainda não tomadas
(imprevisibilidade do agente gera imprevisibilidade no mundo social); o caráter complexo da
teoria dos jogos na vida social; e a última fonte, que é denominada como pura contingência
(vulnerabilidade a contingências externas).
MacIntyre (2001) afirma que não perceber o caráter indefinido das situações na vida real
pode afetar o poder de previsão de muitas simulações computadorizadas que pretendem transferir
análises de determinadas situações do passado à previsão de situações indeterminadas no futuro.
Há, porém, segundo o autor, situações previsíveis da vida social: necessidade de
programar e coordenar nossas atividades sociais; regularidades estatísticas; conhecimentos de
regularidades causais da natureza (terremotos, epidemias, etc.); e, conhecimento de regularidades
causais na vida social. Para MacIntyre (2001) assim como a imprevisibilidade não implica
62
impossibilidade de explicação, a previsibilidade também não implica na possibilidade de
explicação.
O autor ao concluir o capítulo aduz:
O conceito da eficiência administrativa é, afinal, mais uma ficção moral contemporânea e, talvez, a mais importante de todas. [...] Por conseguinte, o administrador, como personagem, não é o que parece ser à primeira vista: o realismo obstinado, prático, pragmático e direto do mundo social cotidiano que é o ambiente da administração, é um mundo que, para sustentar sua existência, depende da perpetuação sistemática dos mal-entendidos e da crença em ficções. [...] o domínio da competência administrativa é aquele no qual se faz passar por afirmações objetivamente fundamentadas funciona, de fato, como expressões de vontade e preferência arbitrárias, porém disfarçadas. [...] É o êxito histriônico que concede poder e autoridade na nossa cultura. O burocrata mais eficiente é o melhor ator. [...] Os talentos histriônicos do figurante em suas pequenas aparições são tão necessários ao drama burocrático quanto as contribuições dos grandes atores que representam os personagens administradores. (MACINTYRE, 2001, 185-187).
Guerreiro Ramos (1989) coaduna os pensamentos de MacIntyre, ao afirmar que o poder
de previsão da ciência social só existirá na medida em que o círculo de causalidade permanecer
sem qualquer perturbação. Contudo, como o comportamento humano não é isento de conceitos de
valor, surge uma resistência psicológica que enfraquece esse poder de previsão.
Claro está que, ao se revisar os pensamentos dos autores aqui aludidos, na tentativa de se
impor à Administração os conceitos trazidos das ciências naturais e do positivismo, perdeu-se o
rumo do ensino administrativo. Reduzir a Administração a meros cálculos matemáticos é um erro
crasso. Não se pode negar a utilidade dos fatos científicos, mas se apropriar dos mesmos para sua
completa aplicação a uma ciência social é um reducionismo simplório. A realidade é muito mais
complexa, uma vez que a organização, sujeito e objeto da atuação do administrador, é cercada de
um dinamismo social descontínuo, ou, de acordo com Morgan (1996), as organizações se
apresentam nas mais variadas formas e a sofisticação do nosso pensamento não é comparável à
complexidade e à sofisticação das realidades com as quais é necessário lidar.
63
Serva (1993) nos alerta que insistir em velhos paradigmas é permanecer no
obscurantismo. Para o autor é imprescindível uma ciência do devir.
3.5 O ENSINO DE ADMINISTRAÇÃO NO BRASIL
De acordo com Fischer (1986, 2001), Serva (1990), Barros e Passos (2000), Rodrigues e
Carrieri (2001) e Andrade e Amboni (2004), o ensino formal de administração no Brasil, iniciou-
se na década de 50, caracterizado pela americanização curricular, racionalidade técnica,
eficientização das organizações e pela lógica funcionalista, formando administradores aptos para
atenderem ao processo produtivo industrial da época.
Tais características, comprovam os mesmos autores, continuam a estar presentes nos
atuais cursos de formação dos administradores. Por conseguinte, as críticas ao ensino
administrativo brasileiro não são poucas.
Para Serva (1990) formam-se administradores muito menos no “domínio do pensar” do
que no “domínio do fazer”, pois o ensino é por demais “tecnicista” e grande parte dos enfoques
teóricos ensinados é de cunho normativo, tendo como conseqüência a transmissão de prescrições
antigas para os novos e desafiantes problemas que o administrador enfrenta na sua vida cotidiana.
Fischer (1986, p. 170) é ainda mais contundente:
Os modelos de desenvolvimento de pessoal para a administração pública (outrora transplantados) estão esgotados. Reeditar o passado será incorrer nos mesmos erros. Outras propostas em novas bases devem ser estabelecidas com novas formas de investigar, ensinar e aprender adequadas á especialidade cultural da organização pública brasileira.
64
Guerreiro Ramos (1983b) em conferência realizada em 1970, já chamava a atenção para a
contextualização do ensino de administração à realidade na América Latina. Para o autor, há um
flagrante processo de dissonância cognitiva para os administradores, ao se tentar trazer soluções
estrangeiras para problemas domésticos, exigindo-se, portanto, um estilo administrativo
humanístico, suscitando-se o debate entre a legitimidade e a eficácia administrativa.
Para Barros e Passos (2000) a própria sociedade capitalista influencia a formação
acadêmica do administrador: ela é carreada de uma base filosófica instrumental que sustenta o
projeto pedagógico como um todo. Os autores sustentam que a formação do administrador é
fundamentalmente baseada nas práticas administrativas instrumentais, na perpetuação de sua
análise e de seu uso, enquanto ação transformadora das organizações, da sociedade e do homem.
Covre (1991) ao expender sobre a formação e a ideologia do administrador nos confirma
que a ideologia neocapitalista, a produtividade e a eficiência são realidades que acompanham e
influenciam o administrador no seu processo de desenvolvimento intelectual, alertando, ainda
que: “se mantido esse tipo de formação mais técnica, está se criando seres humanos–máquinas,
instrumentos passivos ao processo capitalista (selvagem)” (COVRE, 1991, p. 195-196). Para a
autora há necessidade de uma formação acadêmica equilibrada – técnica e humana – que deve
exigir muita reflexão por parte de todos os atores envolvidos (alunos, professores e demais
elementos inseridos no processo formativo).
O panorama acadêmico pouco mudou no decorrer dos anos. A influência estrangeira ainda
é uma constante, o que implica um reforço da racionalidade e do imediatismo. Tais constatações
já foram objeto de estudo de vários autores, destacando-se os de Vergara e Carvalho Jr. (1995),
Vergara e Pinto (2001) e Rodrigues e Carrieri (2001), embora Fischer (2003) afirme que a
influência americana começou a ser contestada por radicais críticos como Maurício Tregtemberg
e culturalistas como Alberto Guerreiro Ramos na década de 70, sem todavia, alertar que essa
65
influência não teve respaldo nos cursos de graduação e sua incorporação foi pontual e efêmera.
Vergara e Peci (2003) atestam que os métodos tradicionais de orientação positivista (originário da
concepção funcionalista) têm prevalecido nos estudos organizacionais.
Uma possível explicação para tais fatos, pode ser encontrada no estudo realizado por
Cabral-Cardoso (2001, p. 145-146) ao afirmar que:
O horizonte temporal da gestão é consideravelmente mais curto do que no meio acadêmico. As atividades desenvolvidas por todos os colaboradores, cientistas e engenheiros incluídos, devem, em última análise, traduzir-se na comercialização de produtos ou serviços, o que sublinha a importância da unidade de esforços e do empenhamento na organização. Ou seja, a cultura empresarial não atribui valor particular ao conhecimento em si, se este não for traduzível em bens ou serviços negociáveis no mercado.
A partir da destacada importância na racionalidade, os programas de educação para a
Administração são orientados mais para a formação de pretensos analistas e solucionadores de
problemas do que para estrategistas e profissionais de visão a longo prazo, habilidades
necessárias aos tomadores de decisões gerenciais.
Interessante ressaltar a posição de Motta (1988) que constata uma dicotomia existente: de
um lado, se intensifica o estudo da Administração academicamente e, do outro, que a formação
advinda desses cursos mostra-se pouco útil para a capacitação gerencial.
Nesse sentido, os cursos de Administração continuam formadores, predominantemente, de
técnicos em Administração.
Em conseqüência disso, o educando em Administração vive dentro de um ambiente
completamente adverso ao crescimento de sua capacidade intuitiva, limitando-se a reproduzir os
conhecimentos que lhe são transmitidos.
66
Por conseguinte, as palavras de Guerreiro Ramos (1989) são mais do que válidas; servem
para que possamos suplantar a realidade vigente, buscando um caminho mais reflexivo no ensino
da administração:
A teoria da organização, tal como tem prevalecido, é ingênua. Assume esse caráter porque se baseia na racionalidade instrumental inerente à ciência social dominante no Ocidente. Na realidade, até agora essa ingenuidade tem sido o fator fundamental de seu sucesso prático. Todavia, cumpre reconhecer agora que esse sucesso tem sido unidimensional e, [...] exerce um impacto desfigurador sobre a vida humana associada. [...] hoje haverá algumas pessoas que prefiram suspender a crítica à teoria organizacional corrente, porque, embora sendo pobre em sofisticação, ela funciona. Contudo, para fazer isso, é preciso que se finja que a ingenuidade é o certo, enquanto a sofisticação teórica é o errado. [...] A palavra ingenuidade é usada aqui no sentido em que a empregou Husserl, que reconheceu que a essência do sucesso tecnológico e econômico das sociedades industriais desenvolvidas tem sido uma conseqüência da intensiva aplicação das ciências naturais. No entanto, a capacidade manipuladora de tais ciências não constitui, necessariamente, uma indicação de sua sofisticação teórica. [...] No fim de contas, as ciências naturais podem ser perdoadas por sua ingênua objetividade, em razão de sua produtividade. Mas essa tolerância não pode ter vez no domínio social, onde premissas epistemológicas errôneas passam a ser um fenômeno cripto-político – quer dizer, uma dimensão normativa disfarçada imposta pela configuração de poder estabelecida. (GUERREIRO RAMOS, 1989, p. 1-2).
Barros e Passos (2001) ao concluírem seu artigo concordam com o pensamento de
Guerreiro Ramos ao revelarem que a lógica capitalista que vem subjugando todos os pressupostos
de orientação da vida humana, sob a égide de um racionalismo comprometido com o modo de
reprodução e com o discurso hegemônico do capital, constitui-se na grande “maré” da sociedade
ocidental, cabendo aos educadores a promoção de alternativas ao modelo de educação vigente na
sociedade capitalista, uma vez que os seres humanos têm uma racionalidade plena que lhes é
inerente, substantiva e emocional.
Porém, nos alertam Vergara e Branco (1994, p. 131):
Em várias áreas do conhecimento, o processo de mudança conquista espaço em debates, como os travados na administração. Em comum, verifica-se a constatação de que, se de um lado se compreende e aceita intelectualmente que é ilusório enfocar o mundo à sua volta a partir de lentes forjadas no reducionismo e nas limitações da casualidade linear que caracterizam a visão mecanicista, por outro só se dispõe de uma formação que sempre privilegiou a compartimentalização e a fragmentação do saber.
67
Na presente dissertação, prefere-se acreditar que as movimentações em busca de uma
melhor forma de se decidir já se fazem presentes. Não seria outra a opinião do autor desta
dissertação se não acreditasse em mudanças, pelo próprio fato de se desenvolver o estudo em
lide.
Vergara (1991) privilegia a questão da racionalidade cartesiana ao alegar que acadêmicos
e administradores vêm fazendo críticas contundentes ao ensino de Administração, uma vez que a
realidade organizacional já é caracterizada pela falta de programação racional e linearidade e que
as tomadas de decisões organizacionais estão baseadas tanto em múltiplas racionalidades quanto
na intuição.
O curso de Administração e o papel do Administrador profissional são elementos
sustentadores do crescimento econômico e do aprimoramento social de qualquer país. Influências
de natureza ideológica quanto à educação dos administradores, entretanto, têm reduzido a
utilidade e a abrangência do seu papel como impulsionador do desenvolvimento.
O profissional da Administração tem muito mais a contribuir. Entretanto, sua formação
necessita ser estudada sob novas perspectivas e sob um novo ideário. Necessita-se de estudos que
aprofundem reflexões e conseqüentes ajustes para que o Administrador exerça, com plenitude, o
seu poder de influenciar e promover o desenvolvimento integral da sociedade.
Contudo, o CFA parece ir de encontro às necessidades que se fazem prementes. As suas
últimas Resoluções Normativas realmente possibilitarão um ensino melhor ou fragmentará ainda
mais a visão do futuro administrador?
68
A qualidade que Fedro buscou na sua jornada em Pirsig (2000) espelha que o processo de
ensino em Administração necessita mais de reflexões, interações e críticas do que a pretensa
reserva de mercado que é sinalizada pelo CFA.
Vergara (2003, p. 132) comenta que “a relação ensino–aprendizagem em administração
não pode estar dissociada da realidade das organizações”, defendendo que o espaço pedagógico
deve ser caracterizado pela desconstrução, construção e reconstrução do conhecimento.
O que se procurou neste capítulo foi justamente isso. Cada abordagem foram momentos
de desconstrução, construção e reconstrução da compreensão da Administração como área de
conhecimento. A partir da contextualização da realidade vigente e da identificação da
preponderância da racionalidade instrumental como característica intrínseca da organização nos
suscita a tentativa de desconstruir um conceito arraigado. A partir da verificação que a
racionalidade substantiva é capaz de proporcionar uma emancipação do homem dialeticamente,
(re)construiu-se um novo conhecimento. Ao se apontar críticas ao ensino em administração,
espera-se que no processo dinâmico que envolve o conhecimento, que abarca todos os atores
envolvidos, seja privilegiado o autoconhecimento, ampliando-se novas formas do pensar,
valorizando-se, sobretudo, a intuição como capital intelectual aplicável na administração.
69
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS
No presente capítulo são apresentados resultados e análises para cada uma das questões
do questionário aplicado.
O questionário foi aplicado aos 68 professores da EBAPE/FGV. Deste total, obteve-se 44
respostas, ou seja, 65% dos professores responderam ao questionário. Pode-se deduzir que o
número de respondentes atinge ao objetivo proposto, uma vez que Bauer e Gaskell (2004),
admitem um limite máximo no número de respostas numa pesquisa entre 15 e 25 respondentes.
No presente estudo considera-se que o limite estabelecido para um referencial representativo
deveria ser, de no mínimo, 30 questionários respondidos.
Nas três questões fechadas (vide o apêndice) foi realizado tratamento por meio do método
estatístico. A primeira questão fechada foi “As decisões administrativas são tomadas com base:
(a) mais pela lógica/raciocínio; (b) mais pela intuição e (c) por ambas, em quase igual
proporção.” Os resultados foram: 34% dos respondentes (15 professores) responderam que as
decisões são tomadas com base mais pela lógica/raciocínio; 11% dos respondentes (cinco
professores) responderam que as decisões são baseadas mais pela intuição e 55% (24 professores)
acreditam que as decisões estão baseadas tanto na lógica/raciocínio quanto na intuição.
Entretanto, relevante é ressaltar que oito dos 24 professores que optaram pela resposta (c)
observaram que a proporcionalidade depende do conhecimento e das informações de cada caso
em particular e que essa proporção pode não ser necessariamente igual.
70
Confrontando-se as respostas da primeira pergunta com o arcabouço teórico
desenvolvido, pode-se deduzir que o processo decisório é caracterizado por dimensões de base
racional e intuitiva, conforme preconizam Goldberg (1993), Motta (1988, 1999), Parikh,
Neubauer e Lank (1998) e Vergara (1991, 1993).
Os resultados de estudos sobre a intuição de Parikh, Neubauer e Lank (1998), Vergara
(1993) e Vergara e Branco (1994) confirmam o uso da intuição nas tomadas de decisões
organizacionais.
A tabela 1 sumariza a primeira pergunta fechada.
Tabela 1 – Síntese estatística das respostas à pergunta “As decisões administrativas são tomadas
com base...”
As decisões administrativas são
tomadas com base:
RESPONDENTES
(Quantidade numérica de
professores)
PERCENTUAL
(%)
(a) mais pela lógica/raciocínio 15 34
(b) mais pela intuição 5 11
(c) por ambas, em quase igual
proporção
24 55
TOTAL 44 100
71
Para a pergunta “A formação acadêmica do administrador se baseia mais pela
racionalidade instrumental?” obteve-se relativo consenso: 91% dos respondentes (40 professores)
acreditam que sim, enquanto 9% (quatro professores) acreditam no contrário.
Tal resultado vem ao encontro da crença do autor desta dissertação: a racionalidade
instrumental permeia e influencia a formação do administrador, implicando a falha ou
desinteresse da academia em proporcionar outras formas de construção do conhecimento aos
estudantes. Tal constatação é corroborada por Motta (1988), Guerreiro Ramos (1989), Enriquez
(1997), Barros e Passos (2000) e Tenório (2004). É inegável a influência da racionalidade
instrumental na formação acadêmica do administrador. É nessa linha de pensamento que surgem
as críticas ao ensino da administração: atualmente é privilegiada mais a capacitação analítica do
que a capacidade subjetiva, aqui incluída a intuição. Cabe evocar-se o pensamento de MacIntyre
(2001) sobre a imprevisibilidade nas relações humanas e a equivocada generalização legiforme
que a ciência social pretende assumir para a sua legitimização.
Para a última questão fechada “O desenvolvimento da intuição está presente na formação
acadêmica do administrador?”, a opinião dominante, embora não consensual, é que ela não está
presente para 59% (26 professores) dos respondentes, enquanto 18 professores (41%) acreditam
que a intuição se faz presente na formação do administrador.
Para as duas questões abertas, foi utilizada a análise de conteúdo. Enquanto que na
primeira pergunta as categorias foram previamente estabelecidas, porém admitindo-se a inclusão
ou exclusão de categorias, na segunda as categorias foram criadas a partir das respostas obtidas.
Tal critério foi adotado por opção metodológica do autor da pesquisa.
72
Na primeira pergunta foram definidas sete categorias: 1- decisão/percepção sem recurso a
métodos lógicos/racionais ou sem dados/fatos completos; 2- previsão; pressentimento; 3-
percepção inerente; compreensão inexplicável; sensação/sentimento que vem de dentro,
caracterizada pelo imediatismo e pela espontaneidade; 4- integração de experiência anterior;
processamento de informações acumuladas subjetivamente; 5- processo subconsciente; 6-
premonição e 7- sexto sentido. Destas, as três últimas foram descartadas – processo
subconsciente, premonição e sexto sentido –, pois não se obteve respostas que se enquadrassem
nelas. A não definição da intuição como premonição ou sexto sentido é um ponto positivo, pois
se afasta o caráter de misticismo que o termo pode erroneamente induzir.
Importante é ressaltar o alerta de Bauer e Gaskell (2004): como a análise de conteúdo é
uma construção social, ela é permanentemente um ato de interpretação. Assim, o autor desta
dissertação está cônscio de que as opiniões dos respondentes estão fortemente influenciadas pela
interpretação e análise do pesquisador. Contudo, permanece o que já foi dito: não existe
neutralidade científica.
A primeira pergunta foi: “Na sua opinião, o que é intuição?”
Para essa pergunta, utilizaram-se três definições prévias, sintetizadas de Santos (1964) e
Cabral (1971), que nortearam as categorias:
1- Percepção: formação da noção do mundo exterior pelo homem; capacidade de
compreensão; ordenação das sensações pela consciência; processo pelo qual o
indivíduo se torna consciente dos objetos e relações no mundo.
2- Pressentimento: ação ou ato de pressentir, de sentir com antecedência um fato
futuro;
73
3- Previsão: ação ou ato de prever, de ver com antecedência; antecipação mental
de fatos que podem ocorrer; antevisão; declaração sobre um acontecimento
ainda não observado, subtendendo-se considerável soma de conhecimentos
factuais pertinentes a esse acontecimento e de princípios gerais que nele podem
influir.
Para as quatro categorias que foram empregadas no enquadramento das respostas
procedeu-se à análise de conteúdo, apoiando-se em um procedimento estatístico, após a devida
interpretação e adequação das mesmas.
Na primeira categoria definiu-se intuição como: decisão/percepção sem recurso a métodos
lógicos/racionais ou sem dados/fatos completos. Dos 44 respondentes, 10 definiram intuição
dessa maneira, ou seja, 23%.
A definição de intuição da segunda categoria foi: previsão; pressentimento. Nove
professores acreditam que intuição está enquadrada nessa categoria, o que corresponde a 20% dos
respondentes.
Definiram intuição como percepção inerente; compreensão inexplicável;
sensação/sentimento que vem de dentro, caracterizada pelo imediatismo e pela espontaneidade,
25% dos respondentes, correspondendo a 11 professores.
A última categoria definiu intuição como a integração de experiência anterior;
processamento de informações acumuladas subjetivamente. Treze professores, ou seja, 30%,
tiveram suas respostas incluídas nessa categoria.
Um único respondente não definiu intuição, o que corresponde a 2% da amostra.
74
A tabela 2 busca sintetizar o exposto.
Tabela 2 – Síntese estatística das respostas à pergunta “Na sua opinião, o que é intuição?”
CATEGORIA RESPONDENTES
(Quantidade numérica de
professores)
PERCENTUAL
(%)
Decisão/percepção sem recurso a
métodos lógicos/racionais ou
sem dados/fatos completos
10 23
Previsão
Pressentimento
9 20
Percepção inerente
Compreensão inexplicável
Sensação/sentimento que vem de
dentro
(caracterizada pelo imediatismo e
pela espontaneidade)
11 25
Integração de experiência
anterior
Processamento de informações
acumuladas subjetivamente
13 30
Não respondeu à pergunta 1 2
TOTAL 44 100
Pode-se perceber que a intuição é um assunto controverso. As respostas estão quase que
equilibradas, com uma mínima predominância da quarta categoria. A dificuldade sobre o
75
significado da intuição já foi anteriormente mencionada por Westcott (1968), Vergara (1991,
1993), Goldberg (1992) e Burden (1993).
Os resultados da pesquisa confirmam que as dimensões anteriormente mencionadas –
filosófica, psicológica e administrativa – estão presentes nas definições dos respondentes, seja
por meio do conceito bergsoniano, que evoca o imediatismo e a espontaneidade, seja pelo
conceito junguiano que a traduz como a percepção inconsciente. “Instinto da razão” foi como
definiu a intuição um dos respondentes. Um outro professor a definiu como “uma forma de
conhecimento acumulado adaptado a partir de experiências sucessivas de ‘serendipidade’
(tradução livre do inglês Serendipity)”.
A noção de que a intuição é vista como uma antítese da lógica/raciocínio confirma a
pesquisa de Parikh, Neubauer e Lank (1998). Contudo, ao contrário da pesquisa desses autores
realizada no Brasil com os administradores, que afirmam o uso mais da lógica/razão (53,5%), os
professores da Ebape acreditam que a intuição está presente no processo decisório (66%),
corroborando a pesquisa desenvolvida por Vergara (1993) no seu estudo (89% dos gestores
asseguram tomar decisões intuitivas).
Porém, claro está para os respondentes, que a intuição é um importante componente das
decisões administrativas. Seria a dificuldade de se definir a intuição, o motivo do seu desuso na
formação acadêmica, uma vez demonstrada sua capilaridade no resultado da pesquisa
desenvolvida?
A segunda pergunta aberta foi: “Caso a resposta anterior seja positiva [o desenvolvimento
da intuição está presente na formação acadêmica do administrador?], como ela se manifesta no
76
contexto acadêmico?”. Dos 44 respondentes, 18 afirmaram que a intuição está presente na
formação acadêmica do administrador (41%).
Para essa pergunta foram criadas três categorias, com base nas respostas dos professores.
A primeira categoria foi: esforço comunicacional nas interações acadêmicas entre docentes,
discentes e instituições. Três respondentes foram incluídos nessa categoria, o que corresponde a
17% dos 18 professores.
A segunda categoria estabelecida foi: estudos de casos; análises de realidades distintas;
trabalhos de grupos; estágios; análises, simulações e exercícios diversos. Dez professores
responderam que a intuição se manifesta por meio da categoria, o que corresponde a 55% dos
respondentes.
A terceira categoria abarcou as respostas que sugeriram disciplinas mais subjetivas. Cinco
professores foram enquadrados na categoria, o que equivale a 28%.
Assim, a maioria dos professores acredita que por meio da aplicação de estudos de caso,
análises e exercícios, a intuição se faz presente na formação acadêmica.
A tabela 3 sumariza o exposto.
77
Tabela 3 – Síntese estatística das respostas à pergunta “Caso a resposta anterior seja positiva [o
desenvolvimento da intuição está presente na formação acadêmica do administrador?], como ela se
manifesta no contexto acadêmico?”
CATEGORIA RESPONDENTES
(Quantidade numérica de
professores)
PERCENTUAL
(%)
Esforço comunicacional nas
interações acadêmicas entre
docentes, discentes e instituições
3 17
Estudos de caso; análises de
realidades distintas; trabalhos de
grupos; estágios; análises,
simulações e exercícios diversos
10 55
Disciplinas mais subjetivas 5 28
TOTAL 18 100
A realidade, porém, requer mais profundidade do que a apresentada. O autor desta
dissertação não acredita que a segunda categoria por si só desenvolverá a intuição. Conforme
observa um dos professores: “os ‘curricula’ dos cursos de Administração precisam ser revistos
radicalmente para a formação de verdadeiros administradores”. É este o pensamento da maioria
dos professores (59%) ao afirmarem que a intuição não está presente na formação acadêmica do
administrador.
Um outro professor observou que a intuição “inconscientemente adotada ou
conscientemente assumida, é indispensável à viabilização da decisão e da ação administrativa de
boa qualidade, [...] salvando [o administrador] de dois perigos sempre muito presentes: a
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arrogância da razão pura, que conduz à simplificação do mundo social e ao ingênuo e autoritário
encontro de pretensas verdades ‘irrefutáveis’ ou à impotência decisória face situações
complexas”. Esse mesmo professor acredita que “não exploramos sistemática e conscientemente,
para não dizer ‘racionalmente’, os aspectos teóricos e práticos da intuição, de forma a dominar
seus correspondentes valores, conhecimentos, atitudes e habilidades de aplicação.” Ele faz um
alerta: “Há, no entanto, muita estrada a percorrer, se desejarmos evoluir com racionalidade e
intuição neste caminho, driblando tanto o racionalismo preconceituoso quanto o misticismo
barato dos mais afoitos.”
Assim, permanecem as críticas de Guerreiro Ramos (1983a, 1983b, 1989), Serva (1990),
Covre (1991), Fischer (1986, 1993, 2001, 2003) que advogam a ineficácia da atual formação
acadêmica do administrador.
Este capítulo apresentou os resultados e as análises, confrontando-se aqueles com o
arcabouço teórico desenvolvido. A opção metodológica do autor da pesquisa foi utilizar-se do
método estatístico para as questões fechadas e da análise de conteúdo para as questões abertas.
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5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA UMA NOVA AGENDA DE PESQUISA
O último capítulo é o resultado da reflexão do autor da dissertação a respeito do que foi
discutido anteriormente. Será resgatada a pergunta-problema que desencadeou o estudo e
realizado um resumo do que foi apresentado nos capítulos anteriores, para, a seguir, oferecer a
resposta à pergunta-problema, fruto de uma interpretação crítica do autor.
5.1 CONCLUSÕES
Deve-se, a princípio, resgatar o problema que suscitou a investigação, ou seja, sendo a
intuição um importante componente das decisões administrativas, seu desenvolvimento está
presente na formação acadêmica dos administradores? Se está, como o desenvolvimento da
intuição se manifesta nesse contexto?
Deve-se, também, relembrar as três suposições que direcionaram esta dissertação:
1- A racionalidade administrativa está influenciando a formação acadêmica dos
administradores, sendo-lhes negadas formas alternativas de conhecimento e de
tomada de decisão;
2- O uso da intuição está sendo negligenciado nas tomadas de decisão dos
administradores nas organizações;
3- A intuição é um importante componente das decisões administrativas, mas seu
desenvolvimento não está presente na formação acadêmica dos
administradores.
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Sumarizando o que foi discutido nos capítulos anteriores, argumenta-se que a intuição é
um tema relevante, mas extremamente difícil de ser tratado no contexto das ciências sociais,
frente à predominância da epistemologia–metodologia positivista na qual elas estão inseridas.
A intuição foi tratada como uma faculdade implícita do ser humano que acessa o
conhecimento sem mediações. Foram desenvolvidas três dimensões da intuição: a filosófica, na
qual tem-se Bergson como maior expoente, que a define como uma percepção simultânea de
objetos cuja origem está na consciência vital; a psicológica, com Jung, definindo-a como uma
percepção inconsciente; e a administrativa, que a denomina como uma faculdade humana capaz
de permitir o alcance dos objetivos de eficiência e eficácia por meio da subversão da estrutura
lógica que sustenta as teorias e os modelos de decisão dominantes, sendo a intuição um
componente do processo decisório e da tomada de decisão gerencial. Procurou-se argumentar que
não se pode dissociar o aspecto racional, nem se negligenciar o aspecto intuitivo na
Administração: o equilíbrio entre ambos se faz necessário.
Os resultados de estudos sobre intuição dos autores mencionados no capítulo dois revelam
a importância da intuição na cultura gerencial, embora se encontrem muitas resistências e
restrições quanto ao seu uso ou à sua manifestação explícita.
Evidenciou-se que a racionalidade instrumental é a forma de legitimização da sociedade
vigente e a mantenedora do pensamento centralizado na lógica do mercado, caracterizado pelo
imediatismo e pelo utilitarismo.
Foi discutido que as escolas de administração pouco promovem uma aprendizagem
emancipadora dos discentes, pois se baseia na ciência positivista e na racionalidade funcional,
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afastando-se da plena capacitação individual, que poderia ser proporcionada pelo incremento de
habilidades e ensino mais subjetivos, pela racionalidade substantiva, tendo em vista o dinamismo
social descontínuo e complexo.
A partir da pesquisa de campo levada a efeito e até onde os dados coletados permitiram
inferir, algumas conclusões foram admitidas.
A primeira conclusão que se pode alcançar é que a intuição é um importante componente
nos processos decisórios e faz parte da atividade administrativa, uma vez que 66% dos
professores acreditam que a intuição está presente na tomada de decisão.
A segunda conclusão permite inferir que a racionalidade funcional oblitera a subjetividade
e esboroa a racionalidade substantiva, tão necessária para novos conhecimentos e outras formas
de pensar, arraigada que está, na formação acadêmica do administrador.
Conclui-se, da terceira questão proposta na pesquisa de campo, que há a necessidade de se
introduzir no ensino administrativo a intuição de maneira mais clara, seja por meio de uma
disciplina mais específica que trate do tema, seja por outros mecanismos mais lapidares.
Diante das três respostas obtidas das questões fechadas, argumenta-se que a intuição faz
parte da tomada de decisão, mas a racionalidade instrumental é uma prímula que pouco permite o
seu desenvolvimento na academia. No presente momento, a intuição é apenas um indicador da
possibilidade de se sair de uma visão positivista para uma visão mais subjetiva, mais generalista,
implicando, talvez, num futuro próximo, em uma intervenção social mais contundente.
Ao se confrontar os resultados obtidos dos questionários aplicados aos professores da
EBAPE/FGV com o referencial teórico que deu suporte à investigação, constata-se que embora
os docentes acreditem que a intuição seja um importante componente da decisão administrativa,
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seu desenvolvimento não está presente na formação acadêmica do administrador, e, para aqueles
que acreditam que esteja, o contexto de sua manifestação está enviesado, muito provavelmente,
pela racionalidade instrumental que permeia o ensino administrativo. A manifestação da intuição
é tímida e incipiente.
O desenvolvimento da intuição está presente na formação acadêmica do administrador?
Ficou evidenciado que não. Tanto pelas críticas que são apresentadas no arcabouço teórico que
sustenta esta dissertação quanto pela opinião da maioria dos professores respondentes à pesquisa
realizada. Acredita-se que ela pode ser desenvolvida com a gradual substituição da racionalidade
instrumental pela racionalidade substantiva, por meio de disciplinas que contemplem a
subjetividade tão necessária ao ensino na Administração.
A primeira suposição foi confirmada, seja por meio do referencial teórico, seja por meio
do questionário aplicado. Não se pode pensar em novos conhecimentos sem se afastar da
racionalidade instrumental. Se a academia tem plena consciência que a racionalidade
instrumental permeia a formação acadêmica, é chegado o momento de confrontá-la. Deve-se
anelar novos ares e ser menos cautelosos.
A segunda suposição requer uma maior pormenorização. A intuição faz parte da tomada
de decisão. O referencial teórico e as pesquisas dos autores mencionados e a desta dissertação
comprovam tal fato. A negligência está no fato de não explicitarmos que a usamos, talvez, por
estarmos inseridos numa sociedade positivista e numa (de)formação acadêmica que não a
privilegie de maneira mais contundente.
Assim, temos um paradoxo na segunda suposição: enquanto tomou-se conhecimento que
as decisões são baseadas tanto na intuição quanto na razão, ou seja, a intuição não é
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negligenciada nas tomadas de decisão, tal uso não consegue ter respaldo na formação acadêmica
do administrador. Provavelmente, as estruturas cognitivas que nos transpassam, não permitem se
chegar ao seu real significado e ao contexto de seu uso.
A terceira suposição já foi tratada anteriormente. Constatou-se que a intuição não está
presente na formação acadêmica do administrador, e, quando se acredita que esteja, tal
desenvolvimento é por demais tênue.
Se as escolas administrativas “perderam o rumo”, talvez este deva ser recuperado, em
princípio, por meio de uma maior comunicação da academia com o meio externo (formandos e
demais instituições). Na medida em que as escolas de administração proporcionarem aos seus
estudantes novas formas de conhecimento, o gap entre a teoria e a prática será diminuído. Pode-
se inferir que a intuição é uma importante ferramenta para a construção de uma ponte entre as
empresas e a academia: a leitura dos interesses do jogo de poderes dos sistemas educacionais e
empresariais passa, necessariamente, pela intuição. Não obstante, cabe o alerta: enquanto nas
empresas busca-se o imediatismo e o utilitarismo, na academia a construção do conhecimento é
em longo prazo. Essa dicotomia precisa ser mais discutida, até mesmo, para que sejam
promovidas novas formas de aprendizagem e de ensino.
Na trilha de uma demanda de revisões conceituais, a Administração não deve se furtar de
pensar sobre outros caminhos, pois, sem dúvida, pensar é um devir coletivo onde homens e
objetos formam uma amálgama. Mesmo que os administradores tenham todo o tempo e espaço
para acessar qualquer tipo de informação relevante, eles precisam refletir sobre seus atos. O
passado é imutável e o futuro será criado pelo impacto das decisões aceitas e colocadas em
prática no presente.
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Os povos antigos falavam que as novas idéias não eram reveladas a um homem, enquanto
este não demonstrasse estar suficientemente preparado para recebê-las. Eles sabiam que para que
cada nova idéia fosse recebida se exigia uma preparação especial, compreendendo que uma idéia
apreendida de passagem, poderia facilmente ser vista a uma luz errônea ou recebida de maneira
equivocada.
Considerando esse pensar, a proposta desta dissertação foi a de promover uma reflexão
sobre a possibilidade de novas formas de conhecimento e de ensino administrativo. A prática
administrativa está embasada nos princípios da racionalidade e, atualmente, diante das demandas
de mudança, se abrem possibilidades para que as antigas formas de pensar – e ensinar – sejam
modificadas. As soluções que serão adotadas requerem muito mais do que o conteúdo bruto dos
dados, o humor do momento e a maneira pela qual são apresentados os problemas.
O conhecimento racional tomado apriorísticamente é vicioso, pois lhe falta o mais
profundo papel criador, que só se alcança pela intuição, ao desvelar súbita e instantaneamente
uma possibilidade, uma descoberta, que aclara e torna compreensível o que não nos parecia
iluminado.
Assim, o processo intelectual em si prevê um misto de atividades subjetivas e objetivas,
caracterizando uma situação dialética. Às vezes, a ansiedade gerada por um sistema dialético
tende a privilegiar a idéia confeccionada em detrimento da idéia estudada: ficar atento para essa
tendência é necessário.
Por outro lado, o termo intuição assim como qualquer termo da linguagem humana tem o
inconveniente de empobrecer e deformar, singularmente, a realização que representa, e para
designar um conceito novo, apesar de definir estritamente o sentido e delimitar rigorosamente o
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seu uso, sempre produz uma espécie de ressonância dos significados ou das antigas acepções da
palavra, e a maioria dos indivíduos logo reduz o termo ao seu significado comum. Opta-se pelo
confeccionado ao invés do estudado. O sentido de um termo se define quase sempre pelo uso que
se faz dele, do mesmo modo que o alcance de um método se manifesta, não pela definição que
lhe é dada, mas pela aplicação que dele são feitas. É, portanto, contrário a todas as regras da
lógica e da razão fazer um juízo de um método intuitivo sem antes ter estudado suas aplicações.
Geralmente, se define intuição como um processo místico, irracional, ilógico, e que
escapa a todo controle. A intuição é, então, reduzida a algo dependente da própria palavra que a
designa e que é tomada em seu sentido ordinário. Ela é vista com um caráter de adivinhação
instintiva, de pressentimento vago, e, principalmente, carente de razão definida. Tal situação está
distante da investigação necessária para que se incorpore ou se rejeite um termo técnico referente
a uma determinada ciência, arte ou habilidade prática. Porque se a palavra ainda não é usada,
enquanto termo cientificamente aceitável, o procedimento para avaliá-la deverá sê-lo.
A intuição não rejeita o processo intelectual, muito pelo contrário, pois ela se encontra
associada à atividade subjetiva deste mesmo processo. Nessa perspectiva, ela também é
responsável pelo aperfeiçoamento do processo intelectual, do raciocinar, sobretudo na sua
dimensão qualitativa.
Uma Administração de melhor qualidade seria aquela que consideraria a intuição tanto
quanto outros referenciais no processo decisório. Aqui, a intuição é vista como um nível mais
profundo de consciência que pode favorecer o acesso a outra maneira de pensar e de ordenar as
informações recebidas, estando mais próxima da apreensão, enquanto um processo que vem de
dentro, a partir do inconsciente para o consciente. O aperfeiçoamento da intuição favoreceria a
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criatividade, assim como uma melhor integração entre a dinâmica interna do sujeito e a dinâmica
externa do ambiente.
A formação acadêmica do administrador precisa expandir e aperfeiçoar a atividade de
pesquisa para que possa enfrentar a crise que se apresenta não como uma oportunidade de
promover reformas que sejam apenas aparentes e sem coerência com a sua essência, mas, sim,
que lhe permitam experimentar uma nova direção que signifique de fato um amadurecimento e
evolução de conteúdo.
É interessante que um repensar sobre a formação acadêmica do administrador faça parte
deste movimento de pesquisa. A intuição é uma personagem deste cenário e torna-se pertinente
considerá-la em atuação. Os resultados da restrita pesquisa de campo realizada nesta dissertação
assinalaram que a intuição está presente na terminologia empregada pelos professores da
instituição de ensino estudada.
Kant, em sua obra Crítica da razão pura, lembrou que pensamentos sem conteúdo são
vazios e intuições sem conceitos são cegos, será, talvez, pertinente para todos os atores
envolvidos no ensino de Administração, na atual época de transição, praticar uma construção do
sábio pensar.
O Brasil, assim como a construção do conhecimento administrativo brasileiro, está em
formação. Talvez, por isso, tem-se uma visão otimista: temos tempo para efetuar uma mudança,
pois se acredita que o atual problema brasileiro seja, fundamentalmente, de gestão, o que implica
dizer que um ensino forte gerará um país forte.
Cabe ser realizada a pergunta: quem nós somos e quem gostaríamos de ser? Nenhuma
atividade humana terá sucesso se não estiver voltada para os anseios e as necessidades da
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sociedade. Se quisermos que a produção científica em gestão seja relevante, devemos abandonar
o status quo e promover novos conhecimentos, entre eles a intuição.
Estamos preparados para esse novo caminho?
5.2 SUGESTÕES E RECOMENDAÇÕES
Por ser um tema tão controverso, no decorrer do desenvolvimento da dissertação foi-se
descobrindo a enormidade de outros assuntos relacionados com a pesquisa.
Um trabalho de pesquisa não se esgota em si mesmo. Além de procurar responder a um
questionamento, abre-se espaço para outros trabalhos e estudos.
Esta dissertação está inserida nesse contexto. As limitações impostas ao autor desta
dissertação impediram a exploração de outras dimensões relevantes ao objeto do estudo. Várias
lacunas se apresentaram, mas não puderam ser devidamente preenchidas. A realização de
entrevistas ao invés da aplicação de questionários bem como um maior alcance do universo da
pesquisa em outras instituições de ensino podem enriquecer ainda mais o estudo ora
empreendido.
Nesse contexto, vislumbram-se algumas sugestões e recomendações para futuras
pesquisas:
• O fator risco na tomada de decisão influencia o uso da intuição e da razão?
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• Devem-se construir novas teorias com valor mais preditivo sobre a interação entre
a intuição e a razão nas decisões e julgamentos humanos?
• Por que existe o gap entre a teoria e a prática acadêmica? Qual seria o atalho entre
esses dois mundos e quais seriam as outras formas de construção do conhecimento
acadêmico?
• A formação dos estudantes em administração atende ao mercado de trabalho?
Esta dissertação, bem como as questões sugeridas, sinalizam para a possibilidade de
trilhar caminhos ainda não esclarecidos. Outras possibilidades de estudo certamente foram
percebidas pelo leitor. Espera-se que essas possibilidades despertem no estudioso a paixão que a
pesquisa trouxe ao autor desta dissertação.
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95
APÊNDICE – QUESTIONÁRIO APLICADO
Senhor(a) Professor(a):
Nas últimas décadas, foi edificada no campo da Administração uma impressionante estrutura de
conhecimentos, a qual foi auxiliada pelo advento da informática e pelo desenvolvimento de
diversas disciplinas.
Entretanto, há uma forte percepção de que a ciência positivista e a tecnologia não são tudo:
existem diversos fenômenos que aguardam uma explicação satisfatória, fora do domínio das
teorias/práticas racionais, dentre eles o papel desempenhado pela Intuição.
É neste contexto que o mestrando Renato de Castilho Gomides, sob orientação da professora
Sylvia Constant Vergara, desenvolverá sua dissertação que tem como título: “A intuição na
formação acadêmica do administrador”.
Como parte do esforço acadêmico, foi elaborado um questionário para colher respostas dos(as)
professores(as) da EBAPE/Fundação Getulio Vargas, instituição que representa uma elite
acadêmica estratégica no ensino superior brasileiro.
Ficaremos gratos se V.Sa. puder reservar um pouco do seu valioso tempo para preencher o
questionário. A sua cooperação para esse esforço significará uma importante contribuição para o
avanço da teoria e da prática da Administração.
Assim, esperamos, sinceramente, que V.Sa. dê a este questionário a importância e a urgência que
ele merece.
Cordialmente,
Renato de Castilho Gomides.
Mestrando em Administração Pública.
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Instruções para o preenchimento:
1. Favor responder as questões na mesma seqüência em que elas são apresentadas;
2. Não há respostas certas ou erradas. Sinta-se livre para registrar suas palavras só com base
nas suas percepções;
3. Sugestões/Observações serão sempre bem-vindas. Solicita-se que as faça no final do
questionário.
1- Na sua opinião, o que é intuição?
2- As decisões administrativas são tomadas com base:
a) Mais pela lógica/raciocínio;
b) Mais pela intuição;
c) Por ambas, em quase igual proporção.
3- A formação acadêmica do administrador se baseia mais pela racionalidade
instrumental?
a) Sim;
b) Não.
4- O desenvolvimento da intuição está presente na formação acadêmica do
administrador?
a) Sim;
b) Não.
5- Caso a resposta anterior seja positiva, como ela se manifesta no contexto
acadêmico?
6- Sugestões/Observações julgadas relevantes.
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ANEXO A – RESOLUÇÃO NORMATIVA Nº 300 DO CFA
Publicada no D.O.U. n.º 11, de 17/01/2005, Seção 1 – Página 105 RESOLUÇÃO NORMATIVA CFA Nº 300, DE 10 DE JANEIRO DE 2005 Dispõe sobre o registro profissional de Coordenador de Curso de Administração (Bacharelado), e dá outras providências. O CONSELHO FEDERAL DE ADMINISTRAÇÃO, no uso da competência que lhe conferem a Lei nº 4.769, de 9 de setembro de 1965, o Regulamento aprovado pelo Decreto nº 61.934, de 22 de dezembro de 1967, e seu Regimento, aprovado pela Resolução Normativa CFA nº 298, de 8 de dezembro de 2004; CONSIDERANDO que se constitui em uma das finalidades do CFA orientar e disciplinar o exercício da profissão de Administrador, nos termos da alínea “b” do art. 7º da Lei nº 4.769, de 9 de setembro de 1965; CONSIDERANDO que o art. 3º, alínea “e”, do Regulamento aprovado pelo Decreto 61.934, destina como atividade privativa do Administrador o magistério em matérias técnicas do campo da Administração e Organização; CONSIDERANDO as disposições da Resolução n° 1, de 2 de fevereiro de 2004, do Ministério da Educação, instituindo as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Administração (Bacharelado), que em seu art. 5°, inciso II, define os Conteúdos de Formação Profissional; CONSIDERANDO, finalmente, a decisão do Plenário do CFA na sua 20ª reunião, realizada no dia 9 de dezembro de 2004, RESOLVE: Art. 1º Só poderá exercer as atribuições do cargo de Coordenador de Curso de Administração (Bacharelado) o Administrador com registro profissional em Conselho Regional de Administração. Art. 2º A falta do registro torna ilegal, punível, o exercício do cargo a que se refere o artigo anterior, nos termos dos arts. 14 da Lei nº 4.769 e 51 do Regulamento aprovado pelo Decreto n° 61.934.
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Art. 3º O Conselho Regional de Administração, conforme lhe faculta o art. 8º, alínea “b”, da Lei nº 4.769, poderá solicitar da Instituição de Ensino Superior as informações necessárias para a comprovação da habilitação legal do Coordenador de Curso de Administração (Bacharelado). Art. 4° Esta Resolução Normativa entrará em vigor na data de sua publicação.
Adm. Rui Otávio Bernardes de Andrade
Presidente
CRA/RJ Nº 0104720-5
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ANEXO B – RESOLUÇÃO NORMATIVA Nº 301 DO CFA
Publicada no D.O.U. n.º 11, de 17/01/2005, Seção 1 – Página 105 RESOLUÇÃO NORMATIVA CFA Nº 301, DE 10 DE JANEIRO DE 2005 Dispõe sobre o registro profissional de Professor que leciona matérias técnicas dos campos da Administração e Organização nos cursos de Graduação (Bacharelado), e dá outras providências. O CONSELHO FEDERAL DE ADMINISTRAÇÃO, no uso da competência que lhe conferem a Lei nº 4.769, de 9 de setembro de 1965, o Regulamento aprovado pelo Decreto nº 61.934, de 22 de dezembro de 196, e o seu Regimento, aprovado pela Resolução Normativa CFA nº 298, de 8 de dezembro de 2004; CONSIDERANDO que se constitui em uma das finalidades do CFA orientar e disciplinar o exercício da profissão de Administrador, nos termos da alínea “b” do art. 7º da Lei nº 4.769, de 9 de setembro de 1965; CONSIDERANDO que o art. 3º, alínea “e”, do Regulamento aprovado pelo Decreto 61.934, destina como atividade privativa do Administrador o magistério em matérias técnicas do campo da Administração e Organização; CONSIDERANDO as disposições da Resolução n° 1, de 2 de fevereiro de 2004, do Ministério da Educação, instituindo as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Administração (Bacharelado), que em seu art. 5°, inciso II, define os Conteúdos de Formação Profissional; CONSIDERANDO, finalmente, a decisão do Plenário do CFA na sua 20ª reunião, realizada no dia 9 de dezembro de 2004, RESOLVE: Art. 1º Cabe ao Administrador exercer o magistério das matérias técnicas dos campos da Administração e Organização, existentes nos currículos dos Cursos de Graduação (Bacharelado), tanto em Administração como em currículos de cursos referentes a outros campos do conhecimento, nos termos do art. 2°, alínea “b”, da Lei n° 4.769, combinado com a Resolução nº 1, de 2 de fevereiro de 2004, do Ministério da Educação, relacionadas com as áreas específicas e que envolvam teorias da administração e das organizações e a administração de recursos humanos, mercadologia e marketing, materiais, produção e logística, administração financeira e orçamentária, sistemas de informações, planejamento estratégico e serviços.
100
Art. 2º A falta do registro torna ilegal, punível, o exercício do cargo a que se refere o artigo anterior, nos termos dos arts. 14 da Lei n 4.769 e 51 do Regulamento aprovado pelo Decreto n° 61.934. Art. 3º O Conselho Regional de Administração poderá solicitar da Instituição de Ensino Superior as ementas e os programas, objetivando a identificação das matérias com aquelas previstas no art. 1° desta Resolução Normativa, conforme lhe faculta o art. 8º, alínea “b”, da Lei nº 4.769. Art. 4° Esta Resolução Normativa entrará em vigor na data de sua publicação.
Adm. Rui Otávio Bernardes de Andrade
Presidente
CRA/RJ Nº 0104720-5