DOCUMENTO BR FORTALEZA-CE, DOMINGO de dezembro de 2006 · Exploração em Canoa Quebrada A praia de...

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3 FORTALEZA-CE, DOMINGO, 17 de dezembro de 2006

BR222Ainda Chico Lira:“Na realidade, falopor mim. Eu tenhopoliciais jovens,solteiros. Nãoposso responderpor um plantão decinco homens.Nunca foiregistrado. Por issodigo que boato éboato. Uma coisalhe digo: se chegaruma denúnciacontra um colegameu aqui, ela vai tomar o trâmite legalimediatamente”.

SOBRAL

DOCUMENTO BR

Exploração em CanoaQuebrada

A praia de Canoa Quebrada,em Aracati, também é um dospontos de exploração infant0-juvenil no Ceará. As adolescen-tes, a partir dos 14 anos, saem deFortaleza às quintas-feiras parafazerem programas na cidadelitorânea, distante 159 quilôme-tros da Capital. Segundo a titu-lar da Delegacia da Criança e doAdolescente (DCA), CândidaBrum, um alemão, dono de umapousada na cidade e de identi-dade ainda não revelada, porestar sendo investigado, seriaum dos responsáveis pela ex-ploração sexual na cidade. “Sa-bemos que ele cobra R$ 150 porprograma. Mas as meninas nãofalaram quanto levavam do to-tal”, explica.

De acordo com CândidaBrum, as meninas que são ex-ploradas sexualmente em Ca-noa Quebrada retornam no do-mingo para a Praia de Iracema.“Nesse dia, os turistas interna-cionais que foram para CanoaQuebrada embarcam de volta”,diz Cândida. Na última blitzrealizada na cidade, no dia 11de novembro, a Polícia e escri-tório de repressão ao tráfico deseres humanos identificaram etrouxeram para Fortaleza qua-tro adolescentes que estavamsendo exploradas sexualmen-te. “Sabemos quem são osagenciadores, falta ter oflagrante”, completa a coorde-nadora do escritório, ElineMarques. (Marcos Cavalcante)

Ana (nome fictício) é fun-cionária da principal fábrica dacidade. Fica pela noite afora atéas duas da manhã, porque bateo cartão às seis. Em casa, temum filho de oito anos para ali-mentar. Expõe-se na beira daBR em Sobral. Deita-se comcinco por noite. Segundo ela, ointeressado chega, perguntaquanto é. Em seguida, vão e seliberam cinco minutos depois.E nada mais.

São R$ 20 pelo serviço. Ana éa mais escrachada das seis quecercam o carro dos repórteres.Brinca, faz piada, duvida quepode receber algum e diz que es-tá perdendo tempo com a con-versa. “Bora, bora...”. Fala queprecisa faturar. A lógica delas éessa. Ana já não é mais umagarota. Mas começou cedo comoas demais. (CR)

Cinco minutos

BR222Procurado pelo OPOVO, o chefe doposto da PolíciaRodoviária Federalem Sobral,Francisco LiraPessoa, o “ChicoLira”, disse que“efetivamente re-gistrado”, não sabede nenhumadenúnciaenvolvendopatrulheiros emcasos de abuso eexploração sexualde adolescentes naBR-222. “No postoda Polícia Rodoviária achomuito difícil”.

NA GIRATÓRIA que dáacesso a Sobral, uma imagem deSão José “olha” na direção de um

dos postos de combustível onde a PolíciaRodoviária Federal mapeou como ponto de

exploração sexual/comercial de criança eadolescente. O santo, que traz nos braços uma

imagem do Menino Jesus, é protetor dasfamílias. A maior parte das meninasentrevistadas revela problemas de

relacionamento com os pai,padrasto ou avô.

Demitri Túlioda Redação

U m posto de combustí-vel, BR-222, entradade Sobral, 21 de se-tembro, noite de uma

quinta-feira... A placa, em verde e amarelo,

avisa que o funcionamento é 24horas. O tempo não pára e o tur-no da noite transforma o postode gasolina em uma improvisa-da “zona franca do prazer”. De-sejos efêmeros. Dez, quinze mi-nutos, ao preço de R$ 15,00, e ne-gócio resolvido. Bom para o ca-minhoneiro (cliente) e, coisanormal, em mais um dia na roti-na de mulheres feitas, adoles-centes e travestis.

Os mais de 50 caminhõescargueiros estacionados, um aolado do outro, criam espaçosimaginários de uma cidade es-premida. Esquadrinham ruas.Ali, um bairro pobre de qualquerum lugar do País. Gaúcho paraquem vem do Rio Grande, pau-lista para quem veio de São Pau-lo, paraibano, mineiro, carioca,capixaba, fortalezense, potiguar...

Posto de gasolina, afinal, as-sume ar cosmopolita, local depassagem, travessia de forastei-ros. À noite pernoitam por láporque têm medo da estrada queescurece perigosa na BR- 222 atéFortaleza ou rumo a outros des-tinos. Assaltos, quadrilhas, co-chilos, acidentes e predação.Mas no posto, os viajantes aca-bam predadores. Caças também.

Nas ruas estreitas, formadassimbolicamente entre as carro-cerias dos trucados, há cotidia-nos. É a continuação de uma zo-na improvisada que começa naavenida principal do posto decombustível. Rua de calçamento,encardida de óleo e borracha,por onde passam (pra lá e pra cá)e se oferecem meninas e bichas.“Vamu namorá, bichin?”, abordaClara - sobralense que aparentater cara de 17, mas diz ter 21 anose revela ter se iniciado na vida àbeira da BR aos 15 anos.

Pode ser no próprio carro dojornal, que deve estacionar nosfundos do posto, ou nas esquinasinventadas pela arrumação dascarrocerias. Isso pra quem não écaminhoneiro. Se for, mais con-forto. As boléias servem de cha-tôs. À noite ganham jeitos e odo-res de cabaré. O banco se tran-sforma em cama e a película nosvidros das janelas impede que aprivacidade vaze. Nem tanto, to-do mundo escuta, todo mundosabe, todo dá conta de tudo. Sãodez ou quinze minutos...

Mas não são apenas caminho-neiros que aceitam o ofereci-mento das caças. Clara, nome fic-tício da menina que foi iniciadanas histórias aos 15 anos de idade,solta que um policial rodoviárioFederal foi o primeiro programa.No próprio posto de fiscalização,

a poucos metros do posto de ga-solina. Vizinhos. Ele e outro “far-da” se divertem com as “de me-nores”. “Ele é bom, é louro. Con-versa com a gente e para R$ 35,00.Só é abestado. Quer que eu digaque ele me dá presentes de per-fume francês. Que me dá as coi-sas. Mas eu não digo (risos)”.

Leia a seguir trechos da en-trevista de Clara, freqüentado-ra de dois postos de gasolinaque ficam na entrada de So-bral. Além dos postos, alguns“inferninhos” aceitam a pre-sença de crianças e adolescen-tes. O POVO também comuni-cou a denúncia de Clara aoinspetor Francisco Lira Pessoa.

Clara - E aí, vai ou não vainamorar? Encosta o carro ali,bichin. Tem perigo não.

O POVO - Quanto é o namoro? Clara - É R$ 15,00.

OP - Faz o quê?Clara - Só não faço atrás (risos).Anda, bota o carro ali.

OP - Você vem muito aqui?Clara - Toda noite, tenho quepagar as coisas. É muita coisa.

OP - Você mora onde?Clara - Lá nos Terrenos (Ter-renos Novos. Bairro da periferiade Sobral). É longe daqui. Àsvezes venho pra cá, às vezes voupro Trevo (outro posto de gasoli-na na entrada de Sobral, na BR-222). Pego dois homens, faço R$30,00, pego o mototáxi e vou em-bora. Vamu bichin.

OP - Você tem irmãos, pai e mãe?Clara - Tenho. Mas não gosto domeu pai. Ele é chato, velho. Tra-balha numa indústria. Tenhoquatro irmãs, mas são doze fi-lhos ao todo.

OP - Quando você começou a virpra cá?Clara - Vim com uma mulher.Não gosto de falar dela, tá casa-da. Mas fiz o primeiro programacom 15 anos...

OP - Quinze anos?Clara - Foi. Foi um policial.

OP - Um policial militar?Clara - Não. É um dai, do pos-to de fiscalização. É o fulano(O POVO opta por não divul-gar o nome. Não há compro-vação). Ele é bom, é louro.Conversa com a gente e pagaR$ 35,00. Só é abestado. Querque eu diga que ele me dá pre-sentes de perfume francês.Que me dá as coisas. Mas eunão digo (risos).

OP - Porque ele é bom?Clara - Trata a gente bem e pagaR$ 35,00.

>> GAROTA em posto na entrada de Sobral: “zona franca” para a exploração de crianças e adolescentes