Post on 03-Apr-2016
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Edição Nº1-Semestral Setembro de 2014
Nick Cave Bring it on
Contramão
Quando o Rock é
mestre
Osso Vaidoso
The Cure
Venham mais cinco!
S ão 21h00.Estou no meu escritó-rio a preparar a primeira edição do jornal Som à Letra. Tenho perfeita consciência que o design é muito básico, no entanto este passo tinha de ser dado. A ideia era esta: criar um cibermeio. E em cinco anos não só criamos um jornal online coeso, com equipa, como também encontrámos os nossos leitores, que se dividem maioritariamente entre Portugal e Brasil. 5 anos volvidos, temos rubricas, edição
diária no media online
(somaletra.wordpress.com) e estão pla-
nificados eventos de formalização de
todo este trabalho desenvolvido.
Tudo culminará na associação IncluSom,
Espaço de Intervenção Cultural e Cívico,
que abraçará o media online Som à Le-
tra e a webrádio comunitária Som FM.
Editorial
Directora: Irene Leite Ireneleite.somaletra@gmail.com
Revisão: Inês Carvalho
Colaboram nesta edição:
Lino Galveias, Otília Alves,
Sara Pereira, Tiago Maga-
lhães, Maria Camps, Márcia
Carvalho, Carmen Gonçalves,
Manuel Santa Rita, Júlia Ro-
cha, Miguel Ribeiro, Maria
Coutinho, Irene Leite, Paula
Cavaco, Susana Terra
2010 Um ano que termina. Um ciclo novo que arranca Em Dezembro de 2009 o Som à Letra já tinha nascido, mas contava apenas com quatro meses de vida, o facebook em stand by e público escasso. Equipa? Eu. Incertezas? Muitas. Vontade de trabalhar? Enorme. E foi essa enorme vontade de trabalhar que deu origem ao ciclo que hoje termi-na. Mas nada teria sido feito sem os nossos leitores. O ponto de partida para a comunicação foi o facebook, o blogspot, a nossa casa provisória, os conteúdos, o nosso ciberjornal. Ao longo do ano a estrutura do ciberjornal foi sendo construída com o nosso público. Começamos com o Retro Star às segundas feiras, o momento super pop às terças feiras, e assim sucessivamente. Uma rubrica para cada dia da semana. Ao longo do ano apercebi-me que decididamente não tinha jeito para dar nomes e a quem pedi ajuda? A vocês, pois claro! Juntos definimos o Som à Letra. O balanço a estabelecer não poderia ser melhor. Iniciei com 100 leitores e terminei em equipa com cerca de 7000. Vamos para 2011 em regime de mudanças: casa provisória (mais organizada e bonita, vá), livro de estilo e categorias completamente definidas. Um forte agradecimento aos nossos leitores. 2014
O Som à Letra no campo científico
São cinco anos de permanente luta pelo projecto Som à Letra. Mas a paixão recompensa e de que maneira. Um agradecimento enorme à minha fabulosa equipa que permitiu levar a história deste media digital ao campo científico. Podem fazer download do artigo, no seguinte endereço.
(http://revistas.ua.pt/index.php/prismacom/article/view/2653)
editorial
Capa
A singularidade de Nick Cave
Poeta, Nick Cave é um poeta. As suas palavras carregam uma forte carga emocional, que na sonante voz de Cave, que traz na aragem o perfume da tragédia, ganham corpo. A morte, as-sim como o amor, que têm tanto de sublime como de funesto, são temas recorrentes nas composições que o músico peculi-armente declama. Sim, declama, porque Nick Cave é um poeta.
Por Otília Alves
D e álbuns marcadamente rock, a registos mais introspetivos, passando pelos incontornáveis duetos com Kylie Minogue e PJ Harvey, Nick Cave é possuidor de uma prolífera carreira. E, para quem sempre imaginou como seria estar na pele de Nick Cave, “20,000 Days on Earth” de Iain Forsyth e Jane Pollard, é o documentário que serve de aperitivo para o que poderá ser o dia a dia de uma longa e sumarenta carreira. Nele é ficcionado um dia na vida do músico. Ficciona-do à imagem daquilo que representa, o pouco convencional Nick Cave, para a dupla Iain Forsyth e Jane Pollard.
O também nada convencional docu-mentário começou a ser gravado, em segredo, com o músico no início das gravações de “Push The Sky Away”, álbum editado em 2013. Portanto, revelar o que está por detrás, ver as coisas como elas real-mente aconteceram, não será certa-mente o que podemos esperar de um documentário sobre Nick Cave e com Nick Cave. O lançamento está previsto ainda no decorrer deste ano e resta acrescentar que os diálogos no filme são improvisados e que o título foi retirado de um verso que Cave tinha apontado, num bloco de notas, aquando dos 20 000 dias na terra. Ao completar 20 000 dias sobre a terra, Nick Cave iniciava as grava-ções do agora aclamado Push The Sky Away. Mas, em 20 000 luscos-fuscos, e agora convencionalmente falando, o australiano lançou junta-mente com os Bad Seeds, 15 ál-buns, uma coletânea e dois álbuns ao vivo. Pelo meio formou os Grin-derman e viu a sua música chegar ao grande ecrã. O alemão Wim Wenders terá já de-nunciado a sua admiração pelo mú-sico e recorreu às suas canções nos filmes “Wings of Desire”, “Faraway”, “So Close!”, “Until the End of the World”, “Palermo Shooting” e ainda no documentário “The Soul of a Man”. A ligação ao cinema é incontestável, seja através das bandas sonoras,
seja como argumentista ou actor, um alargado número de filmes e séries televisivas contam com o carimbo de Nick Cave.
O músico sempre se destacou pelas palavras e a escrita assume um papel de relevo na vida deste. São vários os livros lançados até à data. Letras de canções, poemas e ro-mances fazem parte da bibliografia do autor. Há 56 anos na Austrália nascia Ni-cholas Edward Cave. Em 1984 e após ter posto um ponto final na sua banda anterior, os Birthday Party, criou os The Bad Seeds. A banda que acompanha Nick Cave foi já integrada por um vasto número de músicos e das mais variadas nacio-nalidades, sendo atualmente consti-tuída por Barry Adamson, Martyn P. Casey, Jim Sclavunos e Warren Ellis. “From Her to Eternity” foi o primeiro álbum lançado pelo coletivo e data de 1984. A reputação de Cave como intérprete viria a ser reforçada aquando o lançamento de Kicking Against the Pricks, (álbum de co-vers) de 1986 e que sucedia The Firstborn is Dead, de 1985.
Decorria ainda o ano de 1986, quan-do o músico lança “Your Fune-ral...My Trial”, um dos álbuns mais conceituados de Nick Cave até aos dias de hoje e que o próprio Cave terá considerado especial.
Capa
Regressa em 1988 com “Tender Prey”, depois da colaboração com Wim Wenders, no filme “Wings of Desire”, onde atua com a sua ban-da. Volta ao grande ecrã um ano depois, no filme “Ghosts...of the Civil Dead”, aqui também na representa-ção. O disco mais calmo do australiano sai em 1990. “The Good Son” é no entanto o mais obscuro dos seus trabalhos. Na época, o músico vivia no Brasil e canta em português e inglês “Foi na Cruz”, tema com uma forte carga religiosa, uma outra te-mática recorrente nas suas letras. “Henry´s Dream” é lançado dois anos mais tarde, seguido do primei-ro álbum ao vivo, “Live Seeds”. O que para muitos é considerado o melhor disco de Nick Cave, “Let Love In” viu a luz do dia no ano de 1994. No entanto “Murder Ballads” é o trabalho de maior sucesso e que conta com temas como “Where the Wild Roses Grow” e “Henry Lee” em dueto com Kylie Minogue e P J Har-vey, respetivamente. “The Boat-man´s Call” de 1997 revela um certo antagonismo em relação ao anterior registo. Aqui, o lado introspetivo de Cave eleva-se em deposição da figura, anteriormente, fria e corrupti-va. Em 1999, Nick Cave envereda por novos caminhos. Em “Secret Life of the Love Song” são recitadas duas poesias de sua autoria, The Secret Life of the Love Song e The Flesh
Made Word. Os Bad Seeds voltam ao ativo em “No More Shall We Part”, para dois anos depois, em 2003, lançar “Nocturama”. Não tão intenso como o antecessor, que fala do amor na primeira pessoa, “Nocturama” talvez seja o disco com menor identidade. Este cede o lugar ao duplo registo “Abbatoir Blues/The Lyre of Orpheus”. O rock nota-se mais in-tenso em “Abbatoir Blues” e perde o vigor para dar lugar à teatralidade de “The Lyre of Orpheus”. “Abbatoir Blues/The Lyre of Orpheus” são uma espécie de gémeos falsos. Nesta fase, os Bad Seeds fazem uma pausa e Nick Cave volta às bandas sonoras. Entretanto é edita-do mais um álbum ao vivo enquanto o músico forma os Grinderman, que contam com dois trabalhos editados até ao momento. “Grinderman” de 2007 e “Grinderman 2” de 2010. Regressa com a sua banda, em 2008, para editar “Dig, Lazarus, Dig!!!” O antecessor de “Push The Sky Away”, onde, uma vez mais, a destreza de Cave com as palavras é evidente. Ele acredita no amor, mas mata com perícia. Ele acredita em Deus, e em sereias. Ele é utópico, ele é singular. É Nick Cave.
Capa
Modo Rock
Reza a tradição que a necessidade aguça o engenho e, por vezes, é nessas ocasiões que surgem os melhores resultados. No caso dos Electric Light Orchestra a falta de um tema para completar um álbum deu origem a “Evil Woman”. Por ser um dos maiores êxitos da ban-da, merece honras de Modo Classic Rock...
Por Maria Coutinho
C orria o ano de 1975 e Jeff Lynne e seus companheiros da Elec-tric Light Orchestra (ELO) encontravam-se em estúdio a terminar
o último dia das gravações do seu quinto álbum, “Face the Music” e foi então que realizaram que o material gravado era insuficiente. Na manhã seguinte, sentado no piano, em menos de 30 minutos Lynne tinha com-pletado sozinho o parto do que viria a ser a estrutura de base do tema “Evil Woman” - a composição mais rápida de sempre de sua autoria, que vinha completar a obra que, na véspera, ficara inacabada.
ELO
O tema veio a ser completado em pouco tempo, recebendo letra e orquestração nessa mes-ma tarde, já com os restantes músicos da banda reunidos no estúdio da Musicland em Muni-que. Os coros e a secção de cordas foram acrescentados posteriormente, gravados res-pectivamente em Nova Iorque (E.U.A.) e Wembley (R.U.). O resultado foi o primeiro grande sucesso da banda à escala mun-dial. Pode dizer-se que Jeff é a Alma dos E.L.O. É ele o grande dina-mizador e ideólogo da banda, e no álbum “Face the Music”, dei-xa a sua impressão digital um pouco por toda a parte: ele com-põe, escreve, produz, toca gui-
tarra e dá voz aos seus próprios Sons à Letra. Não é de estranhar, portanto, que cerca de 35 anos mais tar-de, ainda seja ele a estrela da última versão conhecida de “Evil Woman”, utilizada nas séries americanas “My Name is Earl” e “Medium”. Aqui o tema surge praticamente idêntico ao original mas, no lamento dirigido à fatal mulher malvada, reconhece-se a voz envelhecida do vocalista. Um eco, em pleno século XXl ,deste clássico dos anos 70, onde tão bem se fazem notar os sons da transição do Rock para o Disco-Sound.
Modo Rock
The Cure
The Cure é definitivamente uma “cura” para a alma, um “remédio” sonoro que não necessita de prescrição médica, um “antibiótico” de alto espectro. E Robert Smith é o nosso “amigo imaginário”, a voz da consciência que nos ecoa bem lá do fundo, e que no meio de toda a nossa escuridão, nos ilumi-na o caminho de volta para a Luz. Hoje em Modo Rock.
Por Paula Cavaco
Modo rock
R emexendo no fundo do “baú”, vamos encontrar um Robert Smith com 16 anos a formar os “Malice” (que logo depois se viriam a tornar nos “Easy Cure”). Com ele, o guitarrista e teclista Porl Thompson, o baixista Michael Dempsey, e o baterista (e depois tecladista) Laurence "Lol" Tolhurst. Que imagem! A banda sonora…“Killing an Arab”, “Boys Don’t Cry, “Fire In Cairo”, “It’s Not You” e "10:15 Saturday Night”. Mas é-nos interrompida a “viagem”… porque no meio de tantas caixas de álbum desta banda há uma que nos salta à vista… “Disintegration”! E enquanto lhe lim-pamos o pó, tecem-se considerações… Lançado em Maio de 1989, “Disintegration” é o oitavo álbum dos The Cure e marca um retorno da banda ao estilo introspectivo e “gloomy” que o grupo estabeleceu no início dos anos 80. É um trabalho tão controverso, como épico, tendo sido “temido” inclusive, pela própria editora, à altura do seu lançamento, como um “suicídio co-mercial”. Mas tal não aconteceu... porque até hoje continua a ser o álbum da banda com mais cópias vendidas em todo o mundo (mais de três milhões) e está incluído na lista dos “500 Greatest Albums of All Time” da revista “Rolling Stone”.
“Disintegration” é basicamente um álbum Pop realizado em grande escala. A maior parte das 12 faixas são composições longas, com complexos padrões de bate-ria, guitarras que se sobrepõem, linhas de baixo em “crescente”, misturados com riquíssimas composições de teclados. Resultado: uma sonoridade exuberante e que cativa imediatamente o ouvido, um trabalho que nunca se torna monótono e acima de tudo, um álbum “sincero”, e que através desta sinceridade toca o mais fundo das almas ouvintes. Robert Smith, com a sua voz melancóli-ca, em raiva ou em desespero, faz-nos ceder ao “abandono”, à entrega de nós próprios, cedendo à profundidade dos seus poemas e interpretação. Não será exagerado afirmar que “Disintegration” é um grande álbum, até para aqueles que não são fãs dos The Cure. Efectivamen-te, o ouvinte não tem de ser apreciador da chamada “subcultura gótica” ou ter nascido no século passado para confir-mar o quão majestoso é este trabalho.
É um álbum que cativa qualquer ouvinte, não olhando à sua idade, sexo ou extrac-to social. Um álbum com 25 anos, mas que soa incrivelmente “fresco” e intem-poral. E colocamos o CD a “rolar” no leitor…“que arrepio!”… Aquelas campai-nhas… e que estrondosa forma de co-meçar um álbum… “Plainsong”! E somos transportados para outro Mundo... E a seguir… “salta-nos” à estrada “Pictures of You” e só nos apetece abrir os braços e dizer: “Take Me!” (Leva-me!), de tão sublime que é. E nesta altura, já estamos todos tão envolvidos na atmosfera inti-mista do álbum que deixamos de consi-derar o “regresso” e abandonamo-nos ainda mais, apaixonados como se fosse a primeira vez. Robert corresponde ao nosso sentimento com “Lovesong” (que apesar de saber-mos que não foi escrita a pensar em nós, nos deixa com um sorriso de adolescen-te enamorado nos lábios). Deixem-se envolver também…
Modo Rock
Harrison encontrou na música indiana um caminho de afirmação ar-tística para se destacar dos colossais Lennon e McCartney, num mo-mento em que começava a sofrer os efeitos da asfixiante fama do grupo. A guitarra branca e preta que o beatle George Harrison usou no início da carreira foi levada a leilão no passado dia 17 de maio, no Hard Rock Café de Manhattan, em Nova York.
Por Sara Pereira
G eorge Harrison nasceu a 25 de fevereiro de 1943 em Liver-pool e morreu, vítima de cancro do pulmão, a 29 de no-
vembro de 2001 em Los Angeles . Músico, compositor, ator e produtor de cinema, Harrison atingiu a fama internacional como guitarrista dos Beatles. Por vezes referido
A longa caminhada de George Harrison
Modo Rock
como "o Beatle quieto", Harri-son, com o passar do tempo, tornou-se um admirador do mis-ticismo indiano, introduzindo-o aos Beatles, assim como aos seus fãs do Ocidente. George Harrison foi um dos mi-lhões de jovens britânicos inspi-rados para assumir a guitarra de gravação de skiffle britânico do rei Lonnie Donegan "Rock Island Line". Mas ele tinha mais dedica-ção do que a maioria, e com o incentivo de um amigo da esco-la, um pouco mais velho, Paul McCartney, Harrison avançou rapidamente para o comando do instrumento. O músico desenvol-veu a técnica meticulosamente ao longo de vários anos, apren-dendo tudo o que podia a partir dos registos de Carl Perkins, Duane Eddy, Chet Atkins, Buddy Holly, Eddie Cochran. Aos 15 anos, foi autorizado a sentar-se com o Quarrymen, o grupo de Liverpool, fundado por John Len-non do qual McCartney era um membro. Os anos Beatlemania, a partir de 1963 até 1966, foram uma ben-ção para Harrison. Conhecido como "o silencioso Beatle" e "o Beatle relutante", sempre se destacou pela preocupação com a musicalidade pura.
George Harrison escreveu a sua primeira canção em 1963, Don´t Bother Me, lançada no segundo álbum dos Beatles. Neste álbum, ele conseguiu mais sucesso in-terpretando a canção Roll Over Beethoven de Chuck Berry, do que com sua própria composi-ção. Embora tenha escrito uma canção para o álbum Beatles for Sale, ela não foi usada e George acabou interpretando outro co-ver, Everybodys Trying to Be my Babe, de Carl Perkins. Ainda que a maioria das músicas dos Beatles tenham sido compostas por Lennon e McCartney, os ál-buns do grupo, a partir de With the Beatles (1963), geralmente incluíam uma ou duas músicas da autoria de Harrison. Foi só a partir de 1965 que George co-meçou a contribuir frequente-mente com composições para o grupo; no álbum Help!, foram lançadas duas composições pró-prias: Need You e You Like Me Too Much. A partir do álbum Revolver, de 1966, George lançou pela pri-meira vez três canções da sua autoria, mas só em 1968 uma composição sua conseguiu atin-gir grande sucesso, a canção While my Guitar Gently Weeps, incluída no álbum duplo The Be-atles (Álbum Branco).
Modo Rock
Curiosamente, o solo de guitarra de que fala a letra da música é execu-tado pelo seu grande amigo Eric Clapton. No álbum Abbey Road, George lançou duas composições próprias: Something e Here Comes the Sun, presumivelmente as suas mais populares canções. À época do fim da banda, Harrison havia acumulado uma grande quan-tidade de material, lançado no seu aclamado álbum triplo All Things Must Pass, de 1970, do qual sairia o single My Sweet Lord. O álbum foi extraordinário em qualquer contexto, construído em torno de alguns tópi-cos, canções muito pessoais, e al-guns roqueiros fenomenais, mas muito rico em espiritualidade. Embora nunca tenha sido um forte cantor, os vocais de Harrison sem-pre foram diferentes, especialmente quando colocados no contexto cer-to. Após a dissolução da banda, ele teve uma bem-sucedida carreira a
solo e posteriormente, também ob-teve sucesso como membro do Tra-veling Wilburys e como produtor de cinema e musical. Em complemento à sua carreira solo, Harrison co-escreveu, junto de Ringo Starr, duas músicas de su-cesso, assim como músicas para os Traveling Wilburys, o supergrupo formado por ele, Bob Dylan, Tom Petty, Jeff Lynne e Roy Orbison, em 1988. Harrison envolveu-se com a cultura indiana e o hinduísmo no meio dos anos 60, ajudando a expandir e dis-seminar, pelo Ocidente, instrumen-tos como o sitar e o movimento Ha-re Krishna. Desta nova paixão sur-giu a amizade com o virtuoso sitar Ravi Shankar, que durou o resto da sua vida, e um par de belas can-ções, como " Within You , Without You" e " The Inner Light", que foram efetivamente gravações a solo.
Modo Rock
Além de músico, Harrison, consi-derado um dos mais humildes dos superstars, também foi um produtor musical e co-fundador da HandMade Films. Durante o seu percurso como produtor de cinema colaborou com artistas como Monty Phyton e Madonna. Harrison foi o único Beatle a ter publicado uma autobiografia, I Me Mine, em 1980. Harrison, que preferia descrever -se como "apenas um homem skiffle de idade”, casou-se duas vezes: com a modelo Pattie Boyd, de 1966 a 1974, e por 24 anos com Olivia Trinidad Arias, com quem teve um filho, Dhani Harrison. Em 2000, Harrison começou a expandir o seu clássico All Things Must Pass, com a inten-ção de ser o primeiro de uma série de explorações de arquivamento da sua carreira pós-Beatles. No entanto, problemas de saúde vieram atormentar este objetivo. Harrison tinha sido tratado de can-cro na garganta no final dos anos 90, mas em 2001, foi revelado que ele estava com cancro no pulmão. No momento da
sua morte, em 29 de novembro de 2001, o álbum The Concert for Bangladesh tinha sido anun-ciado para reedição sendo atua-lizado em janeiro de 2002 e lan-çado um DVD do filme a nível internacional. Nos últimos anos foi-se relembrando o seu traba-lho: Martin Scorsese produziu um documentário épico sobre a vida de Harrison, George Harri-son: Living in the Material World, que estreou no outono de 2011. Harrison ocupa a 11ª posição da lista dos cem maiores Guitarris-tas de todos os tempos da revis-ta Rolling Stone.
Modo Rock
Rita Lee é Rock, Pop e MPB
Rita Lee é a protagonista mais importante da história do rock brasileiro. Da balada romântica à crítica feminista e social, a cantora experimenta desde os anos 1960 o rock, do iê-iê-iê ao deboche tropicalista, misturado ao namoro duradouro com a música popular brasileira do banquinho e violão.
Por Márcia Carvalho
MPB
Rita Lee Jones nasceu no dia 31 de dezembro de 1947, na Vila Pompéia, bairro operário da ci-dade de São Paulo, Brasil. Can-tora e compositora, Rita Lee é reconhecida como a Rainha do Rock Brasileiro, mesmo com uma carreira que atravessa ou-tras harmonias e ritmos distintos. Além da sua carreira de sucesso como cantora e compositora, Rita Lee também já atuou em telenovelas, apresentou progra-mas na TV, projetos de rádio, e fez participações especiais em vários filmes. Apesar de sonhar em ser atriz de cinema ou médica veterinária – e sempre defensora dos ani-mais – Rita desde pequena tinha paixão pela música e chegou a ter aulas de piano com a famosa concertista Madalena Tagliafer-ro. Ainda na escola, formou um gru-po só de meninas chamado Te-enage Singers (1963). Participou ainda do grupo Six Sided Rockers, que mudou o nome para O'Seis e lançou um com-pacto. No final de 1965, o grupo transformou-se em O Konjunto, e quando a formação da banda se reduziu a apenas um trio sur-giram Os Bruxos que logo a se-guir foram rebatizados de Os
Mutantes, grupo do qual Rita fez parte de 1966 a 1972. De estilo irreverente e paródico, na sua formação original, Os Mutantes reuniram os irmãos Arnaldo Baptista (baixo) e Sérgio Dias (guitarra) com Rita Lee (vocal); três jovens paulistanos de classe média que amavam o pop-rock dos Beatles. O grupo tornou-se conhecido pelas suas participações perfor-máticas em programas de televi-são da época ao se apresenta-rem em “O Pequeno Mundo de Ronnie Von”, “Show do Dia 7”, “Família Trapo”, “Astros do Dis-co”, etc. Nesses programas, eles interpretavam músicas de gru-pos ingleses e norte americanos, mas principalmente as canções dos Beatles. Os Mutantes fizeram a sua pri-meira apresentação no III Festi-val de Música Popular Brasileira da TV Record, em 1967, acom-panhando Gilberto Gil na música “Domingo no Parque” Em 1968, Os Mutantes colabora-ram na gravação de “Tropicália ou Panis et Circensis”, conside-rado o álbum mais importante da história da MPB.
MPB
Os Mutantes lançaram de 1967 a 1976 nove álbuns e, na sua formação original produziram os discos: “Os Mutantes” (1968), “Mutantes” (1969), “A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado” (1970), “Jardim Elétrico” (1971), e “Mutantes e seus Cometas no País dos Baurets” (1972). “Tecnicolor” nasceu durante a turnê pela Europa em 1970. O grupo teve os seus discos relançados entre 1990 e meados dos anos 2000. Rita Lee gravou o seu primeiro disco a solo em 1970, “Build Up”, e depois da separação dos Mutantes lançou “Hoje é o Primeiro Dia do Resto de Sua Vida” (1972). A liberdade sexual posada pelo grupo em performances em palcos ou ca-pas de discos, e proclamada em várias letras de canções como “Rita Lee foi passear”, “Quem tem medo de brincar de amor” e na famosa “Balada do Louco” não resistiu por muito tempo na vida real. Assim, a separação do casal Rita Lee e Arnaldo Baptista modificou a histó-ria do Rock. Muito já se falou sobre a virada na vida de Arnaldo a partir do uso de drogas, os inúmeros conflitos em torno da carreira a solo de Rita Lee e a questão da sexualidade, com as estórias de casos e affairs dele com fãs, nos períodos de atritos e reconciliações do casal. No entanto, desde a separação Rita recusa-se a falar em detalhe sobre a sua história.
MPB
Rita formou ainda a banda Tutti-Frutti, entre os anos de 1974 e 1978, e gravou os discos “Atrás do Porto tem uma cidade” (1974), “Fruto Proibido” (1975), “Entradas e Bandeiras” (1976) e “Babilônia” (1978). Rita ainda fez nova parceria com Gilberto Gil no disco “Refestança”, de 1977. Em 1976, Rita conheceu o músico carioca Roberto de Carvalho, com quem começou uma parceria musi-cal e amorosa de sucesso que se-gue até os dias atuais. Com Rober-to, Rita Lee teve três filhos: Beto (1977), João (1979) e Antônio (1981). Rita manteve o seu bom humor na música e na vida, sempre abordando a discussão do papel feminino na sociedade brasileira e apostando em letras açucaradas. Rita e Roberto gravaram os discos “Mania de Você” (1979), “Lança Perfume” (1980), “Saúde” (1981), “Flagra” (1982), “Bombom” (1983), “Vírus do Amor” (1985), “Flerte Fa-tal” (1987), “Zona Zen” (1988), “Perto do Fogo” (1990), “A Marca da Zorra” (1995), “Santa Rita de Sam-pa” (1997), “Acústico MTV” (1998), “3001” (2000), “Aqui, ali, em Qual-quer Lugar” (2001), “Balacobaco” (2003), “MTV ao Vivo Rita Lee” (2004). O disco “Lança Perfume”, de 1980, inaugura a fase mais romântica da dupla com repertório repleto de su-
cessos, da canção título, “Lança Perfume”, à “Baila Comigo” e “Nem Luxo Nem Lixo”. Em 1981 gravam o álbum “Saúde”. Seguindo adiante com os hits “Flagra”, “Cor de Rosa Choque”, “Só de Você”, “Desculpe o Auê”, “Pega Rapaz”, “Perto do Fogo”, etc. Rita Lee também sempre foi uma personagem importante da televisão brasileira. Em 1991, Rita e Roberto decidem interromper a parceria musical. O casal só volta a apresentar-se no mesmo palco em 1995. Nesta épo-ca, Rita Lee gravou também os dis-cos a solo “Pedro e o Lobo” (1989), “Bossa 'n’ Roll” (1991) e “Todas as Mulheres do Mundo” (1993). Rita reinventa-se com o formato acústico com o show “Bossa'n'roll”. Nele faz releituras de vários suces-sos da sua carreira em formato ban-quinho e violão, juntamente com canções de outros artistas. Em 1993, Rita lança o disco “Rita Lee” dando uma guinada mais rock, com destaque para o seu olhar femi-nista, como em “Todas as Mulheres do Mundo”. No início de 1995, Rita é convidada para fazer o concerto de abertura da turnê brasileira dos Rolling Stones. Junto a Roberto de Carvalho, Rita apresenta-se nos estádios do
MPB
Pacaembu, em São Paulo, e no Maracanã, no Rio de Janeiro. Desta experiência nasce o show “A Marca da Zorra”. Depois de turnês pelo Brasil, o show vira um álbum ao vivo, conquistando vários prémios e êxito de público. Em 1997 Rita assina contrato com a gravadora Polygram, atual Univer-sal, e lança o disco “Santa Rita de Sampa”, com parceria musical reto-mada com Roberto de Carvalho. Em 1998 gravam o “Acústico MTV”, com releituras de seus maiores su-cessos e convidados como Milton Nascimento, Titãs, Paula Toller e Cássia Eller. Em 2000, Rita lança “3001”, uma máquina do tempo musical produzi-do por Roberto de Carvalho, que em novembro de 2001 é contemplado com o Grammy Latino na categoria melhor disco de rock. Em 2001, Rita grava o álbum “Aqui, Ali, Em Qualquer Lugar” com releitu-ras de clássicos dos Beatles. O re-pertório traz três versões em portu-guês e uma levada bossa-nova. Em 2003, Rita Lee lança “Balacobaco”, disco produzido por Roberto de Carvalho, composto por 11 faixas inéditas, entre elas “Amor e Sexo”, parceria de Rita Lee, Ro-berto de Carvalho, e do jornalista e cineasta Arnaldo Jabor.
Em 2004, Rita Lee grava em São Paulo o “MTV AO VIVO RITA LEE”, seu 32º disco. Em 2009, Rita lança mais um show ao vivo em disco e DVD: “Multishow ao vivo Rita Lee”. Rita Lee ficou sem lançar um disco de inéditas desde “Balacobaco”, de 2003, guardando toda a sua ironia para o álbum “Reza” (2012). Com 14 músicas, todas compostas por ela e algumas em parceria com o marido, Roberto de Carvalho, Rita invoca a religiosidade com letras debochadas, como nas canções “As Loucas” e “Gororoba”. Com o último disco “Reza”, Rita Lee anunciou que vai-se aposentar dos palcos, sem abandonar a música. Entre os Mutantes, Tutti Frutti, com Roberto de Carvalho ou mesmo em projetos da sua carreira a solo, pou-cos artistas brasileiros conseguiram falar tão de perto ao ouvido de vá-rias gerações. De voz delicada e sensual, Rita Lee criou uma trajetó-ria singular no embalo da irreverên-cia de sua música e letra.
MPB
Ney Matogrosso e a transgressão do canto na performance do corpo
Ney Matogrosso é um dos intérpretes masculinos mais importantes da história da MPB. O cantor brasileiro de-safia o tempo ao requebrar e reinventar o canto. Com timbre e estilo singular parece ser co-autor das músicas que canta pela força do seu modo de interpretar as can-ções.
Por Márcia Carvalho
N ey de Souza Pereira nasceu em primeiro de agosto de 1941 na pequena cidade de Bela Vista, no estado do Mato Grosso do
Sul, fronteira entre Brasil e Paraguai. Em 1973 integrou os Secos & Molhados, com João Ricardo e Gerson Con-rad. A proposta performática do grupo pós-tropicalista se tornou sinónimo de transgressão e androgenia na MPB. Em apenas dois discos lançaram
os sucessos “O vira”, “Sangue Latino” e “Rosa de Hiroshima”.
MPB
Ney Matogrosso sempre se conside-rou “um ator que canta”, e com a sua carreira a solo provou mesmo que era o dono da cena. Sempre com uma boa dose de ousadia ultra-passou a sua beleza exótica, o rosto pintado exageradamente, e cons-truiu uma carreira singular como a sua voz e a sua interpretação musi-cal demonstram. Como se sabe, a performance é a linguagem artística que se dedica a investigar o corpo como reflexão da própria arte. As suas experiências eclodiram com as vanguardas artís-ticas europeias na década de 1960. O experimentalismo na canção e sonoridade de Ney Matogrosso tem início a partir da performance da sua voz e do seu corpo inquieto. A sua transgressão performática foi como a de tantos outros artistas ligados à luta contra a repressão política pela via comportamental e estética. No entanto, com voz aguda e femi-nina, apenas Ney Matogrosso can-tou do popular ao erudito, interpre-tando Cartola, Chico Buarque, Tom Jobim, Raul Seixas, Rita Lee, Cazu-za e Villa Lobos. Além de cantor, Ney Matogrosso é diretor, iluminador e ator. Trabalhou com teatro, música e cinema. Em 1975, o cantor hippie lançou o seu primeiro disco a solo, chamado “Água do Céu Pássaro”, considera-do extravagante demais, desde a capa do álbum até a escolha das canções.
Ney Matogrosso também inovou com a produção de um dos primei-ros videoclipes brasileiros com a canção “América do Sul”. O clipe foi realizado para a revista televisiva “Fantástico”, da Rede Globo, em 1975. Em 1976, “Bandido” teve sucesso de público com a canção "Bandido Corazón", composta por Rita Lee. Nesse período, o cantor lançou al-guns de seus maiores sucessos: "Homem com H", "Pro dia nascer Feliz", "Vereda Tropical", "Por debai-xo dos panos", entre outros. Ney Matogrosso abriu o primeiro Festival Rock in Rio de 1985. Em 1987, Ney Matogrosso entra numa nova fase com o álbum "Pescador de Pérolas". O cantor abandona as maquiagens fortes, veste um fato e atrai um novo públi-co. O disco e o show contaram com a colaboração dos músicos Arthur Moreira Lima no piano, Paulo Moura no sax alto e soprano, Rafael Rabel-lo no violão e Chacal na percussão.
MPB
Durante a década de 90 gravou um disco dedicado a Chico Buarque intitu-lado "Um Brasileiro”. Nos anos 2000 grava o elogiado "Batuque", dedica um disco para as can-ções de Cartola e, em 2004, renova-se com o projeto "Vagabundo", em que canta com o grupo carioca Pedro Luís e a Parede Ney Matogrosso volta a colocar a fantasia e a abraçar o seu universo Pop com o álbum “Inclassificáveis” (2008). Em “Beijo Bandido” (2009), Ney Matogrosso tira novamente o figurino ex-travagante e o comportamento exuberante para colocar fato, e, mais uma vez, exibir a sua excelência vocal para cantar. O seu último álbum “Atento aos sinais” (2013) mostra o cantor ainda jo-vem. Aos 72 anos, em 2014, Ney Matogrosso tem a sua biografia narrada no cinema com o filme “Olho Nu” do diretor Joel Pizzini. O documentário musical reúne vasto material de arquivo do artista, com shows, videocli-pes, entrevistas e aparições em programas de televisão, além de grava-ções inéditas realizadas desde 2009 Não é a primeira vez que Pizzini e Ney Matogrosso trabalham juntos. Em 1988, o cantor protagonizou uma curta do diretor, dedicada ao poeta Ma-noel de Barros.
Por fim, resta dizer que o canto e a voz de Ney Matogrosso são incompa-ráveis, feitos para sentir o mundo e seduzir a vida.
MPB
Modo pop
No modo pop desta edição do Som à Letra o espírito é teenager, com direito a vestuário a rigor (uma jardineira), pastilha elástica e a protagonista é feminina. Falamos do grande êxito dos Dexys Midnight Runners, “Come on Ei-leen”. De ouvir e ainda ansiar por mais.
Por Susana Terra
E m 1978 Kevin Rowland e Kevin “Al” Archer (ex-Killjoys) fundam os “Dexys Midnight Runners”. O nome escolhido para a banda ins-pira-se numa substância da família das anfetaminas (Dexedrine) bastante popular nos contextos festivos da Soul de Birmingham, terra natal do grupo. A Rowland e Archer juntam-se mais seis elementos, sobressaindo uma secção de sopro de peso e a clara influência da música Soul, não sendo alheio o percurso musical anterior de dois dos membros - Geno Washington's Ram Jam Band.
E foi precisamente o single Geno (lançado em 1979 e presente no LP Searching for the Young Soul Re-bels, 1980) em tributo a Geno Was-hington, que catapultou os Dexys Midnight Runners para a ribalta, tendo atingido o 1º lugar da Tabela de Singles Britânica. Após o lançamento de Searching for the Young Soul Rebels o atrito entre os membros do grupo adensa-se, o que em muito se deve à personali-dade altamente controladora e auto-ritária de Rowland. Archer e a maio-ria dos músicos abandonam a ban-da, acusada pela imprensa de des-virtuar a sua herança Soul. A consagração mundial com “Come on Eileen” Com uma nova formação, em 1982 lançam o álbum Too-Rye-Ay, em cujo alinhamento figura o hit Come on Eileen, hino de consagração mundial dos Dexys Midnight Runners. Com Too-Rye-Ay a sonori-dade da banda assume claramente uma orientação mais virada para a folk irlandesa. Come on Eileen atingiu o 1º lugar na Tabelas de Singles Britânica e Norte-Americana, tendo mesmo destrona-do o hit Billy Jean, de Michael Jack-son. O tema conta-nos a estória de uma rapariga que cresceu lado a lado com Rowland. Da amizade pura de infância, a relação entre Eileen e Rowland rapidamente resvalou para o desejo amoroso, assim que o tur-bilhão hormonal da adolescência
dificilmente pôde ser contido. A ténue barreira entre o amor, o genuíno e límpido sentimento de outrora e a descoberta da lascívia, o desejo do corpo inquieto e insatisfei-to torturam a alma de Rowland…”with you in that dress my thoughts I confess verge on dirty”. Eileen, a menina que cresceu, que se torna mulher é objecto dos des-mesurados anseios carnais e das veementes súplicas do seu amado - “that pretty red dress Eileen (Tell him yes) / Ah come on let's, ah co-me on Eileen, please”. A par da busca pela consumação do amor, Rowland brinda-nos com uma enigmática sequência sonora – “Toora Loora Toora Loo-Rye-Aye” – certamente tributária das suas raí-zes irlandesas e da folk tradicional, que imprime a singularidade e dinâ-mica da canção. Esta canção, hino de passagem para a vida adulta, foi e é ainda a convidada de honra em muitas noi-tes revivalistas. A sonoridade tipica-mente 80’s é pop, pastilha elástica, mas é um clássico. E para todo o sempre os Dexys Midnight Runners farão parte da história da música. Por Eileen, para Eileen certamente continuaremos a dançar, a recordar e passar bons momentos ao som de Dexys Midnight Runners.
Modo Pop
Modo Pop
Nome incontornável do pós
punk, marco indestrutível da
década de 80, Ian McCulloch é
senhor de uma das mais enal-
tecidas carreiras da pop britâ-
nica das últimas décadas.
“Candleland”, “Mysterio”,
“Slideling” e “Pro Patria Mori”
são os discos em nome pró-
prio.
Por Sara Pereira
O fundador dos Echo &
The Bunnymen é um
dos rostos mais reco-
nhecíveis do planeta
indie e pós-punk.
Ian McCulloch nasceu a 5 de Maio
de 1959, em Liverpool, e tornou-se
um grande músico, estando na esfe-
ra dos cantores de culto. Iniciou-se
no mundo musical com Pete Wylie e
Julian Cope com a Crucial Three.
Uma banda que acabou por durar
pouco mais de um mês
Em 1978 McCulloch formou Echo &
The Bunnymen com Will Sergeant,
que passou a ser uma das mais
bem sucedidas e importantes ban-
das pop da Inglaterra ao longo dos
anos 80. Em que discos como
“Crocodiles” ou “Ocean rain” ficam
como marcos dos anos 80 – e a
maior parte da carreira a solo de Ian
McCulloch, ainda que neste caso se
verifique um pop/rock mais formal, ainda que atractivo.
Modo Pop
No final da década, 1988,
McCulloch abandona a banda para
seguir carreira a solo. Um ano de-
pois o músico lança o seu primeiro
álbum a solo, “Candleland”. Este foi
considerado o melhor dos seus tra-
balhos e foi muito bem sucedido no
Reino Unido, alcançando o Top 20.
Em 1992 saiu o segundo álbum,
“Mysterio”, mas já não teve uma boa
recepção por parte da crítica. Este
já não era tão forte, não conseguin-
do obter bons resultados nos tops.
Durante a parte final dos anos 80 e
início dos anos 90, McCulloch fe-
chou-se do resto do mundo. A com-
binação de um estilo de vida frenéti-
co, e da morte do seu pai, foram
suficientes para fazê-lo dar alguns
passos para trás e praticamente
desaparecer dos olhos do público.
Em 1993, McCulloch fez parceria
com Johnny Marr ao escrever um
álbum inteiro, gerando mais emoção
pública por se juntarem dois artistas
de elevada consideração. Marr aju-
dou o músico de Liverpool a recon-
quistar a sua confiança perdida,
rejuvenescendo o seu desejo de
criar música.
Só por volta de 1994, é que
McCulloch voltou a trabalhar com o
seu colega de Echo & The Bun-
nymen, Will Sergeant. Sob o nome
de “Electrafixion” os dois lançaram o
álbum “Burned”, em 1995. Metade
das canções eram dos Echo & the
Bunnymen. Em 1997 a banda foi
reformada com o álbum “Evergreen”
com boas opiniões. A reformada
Bunnymen já disponibilizou mais
três álbuns de opiniões geralmente
favoráveis, sendo o mais recente o
“Siberia”, que foi lançado no final de
2005.
O ano de 2001 provou ser um ano
movimentado para McCulloch, que
excursionou com os Bunnymen e
assinou um contrato a solo com a
UK indie Jeepster. Em 2003
McCulloch voltou com Slideling ao
mundo musical. O álbum contou
com colaborações do Coldplay Chris
Martin e Jonny Buckland, e ainda o
actor John Simm.
Os últimos anos da carreira de
McCulloch têm sido bastante preen-
chidos: em 2010 foi convidado, em
disco e numa digressão, dos Manic
Street Preachers, voltou aos palcos
e, já o ano passado, lançou o álbum
de originais Pro Patria Mori e o re-
gisto ao vivo Liverpool Cathedral
Live, dois momentos que lhe vale-
ram calorosos aplausos. Ambos os
trabalhos foram lançados como um
pacote duplo, intitulado Espíritos
Santos.
À conversa com...
Osso Vaidoso
Que vaidade pode ter um esqueleto?
O Osso Vaidoso andou a exibir-se por Vizela. O duo mais duro de roer da
música portuguesa, foi a banda escolhida para dar música ao Back On Track
(programa radiofónico inserido na programação da Som FM) em dia de 1º
aniversário. O Osso Vaidoso foi à discoteca Eskada Club, e antes de ocupar a
pista, sentou-se à conversa com o Som à Letra. Importa ainda referir que Ana
Deus (ex-Ban) e Alexandre Soares (ex-GNR), ambos membros dos Três Tris-
tes Tigres são quem dá toda a presunção ao Osso e que o disco de estreia da
dupla portuense, “Animal” é curto e grosso, que é como quem diz, simples e
direto. Aqui, a vaidade está nas palavras. São elas as grandes protagonistas
que se fazem sempre acompanhar por uma guitarra.
Por Otília Alves
O projeto Osso Vaidoso surgiu já
em 2011. Como tudo começou?
Começou com um convite feito ao
Alexandre para participar na “Sexta
feira e uma guitarra”, no cinema S.
Jorge, em Lisboa. Era uma progra-
mação só de guitarristas como con-
vidados e ele (Alexandre) convidou-
me a mim. Juntamos algumas can-
ções e a partir daí continuamos.
O nome Osso Vaidoso esconde
alguma história?
Chamamos ao espetáculo “Osso
Vaidoso” por ser uma coisa tão sim-
ples e esquelética. O nome da ban-
da surgiu a partir daí, por ser uma
coisa crua, só de guitarra e voz,
muito simples e o mais próximo da-
quilo que era a essência das can-
ções e do nosso som.
Vocês já trazem na bagagem ou-
tros projetos, em comum os Três
Tristes Tigres. No Osso Vaidoso
ainda reside algo dos Tigres ou
procuraram afastar-se do registo
anterior?
A distância surgiu naturalmente. Os
Três Tristes Tigres pararam em
2000 e entretanto cada um foi fa-
zendo as suas coisas. Nos Três
Tristes Tigres havia uma componen-
te sonora muito complexa e aqui
partimos do contrário. Aqui partimos
do texto.
No Osso Vaidoso destacam-se as
palavras. Há alguma mensagem
que pretendam fazer chegar ao
público?
Há várias mensagens. Normalmente
são textos contra o poder. Minorias
não será o termo mais adequado,
mas são textos sobre aquilo que
menos se fala, sobre aquele que
menos tem, sobre aquele que mais
simplifica e que, ao fim e ao cabo,
são coisas pouco glamorosas. Por
outro lado, também optamos por
cantar vários poetas pela forma co-
mo estes escrevem e sobre aquilo
que querem dizer.
Nas vossas atuações, o interpre-
tar de cada poema é encenado, o
que torna cada espetáculo distin-
to do anterior. As palavras não
dizem tudo?
Cada letra tem o seu ambiente. A
partir da letra, eu faço a minha pró-
pria leitura, depois o instrumental
leva-te para a interpretação. A liber-
dade de uma interpretação abre-te
espaço naquilo que estás a fazer.
Como somos só dois é natural que
procuremos a diversidade.
À conversa com...
No disco anterior, colaboraram
com a Regina Guimarães, o Alber-
to Pimenta, e Valter Hugo Mãe. De
que forma surgiram estas colabo-
rações? Como funciona todo o
processo de criação das can-
ções?
A Regina Guimarães já colabora
connosco desde o tempo dos Ti-
gres. O Valter foi uma pessoa que
eu conheci nas “Quintas de Leitura”
e da qual fiquei amiga. Eu pedi-lhe
que fizesse uma canção sobre um
tema em específico. A “Poligamia”,
em princípio seria para outro pro-
jeto, mas depois migrou para o
“Osso Vaidoso”. Quanto ao Alberto
Pimenta, não se tratam de letras
mas de poemas que já existiam e
foram escolhidos por nós. Tem sem-
pre a ver com o tema abordado e
com a rítmica. O tema está sempre
presente mas a escolha da forma
está relacionada com o ritmo, isto é,
a música que está escrita nas pala-
vras. Pode parecer loucura minha
mas eu quando leio já oiço.
Agora estão a interpretar poemas
do Mário Cesariny. Porquê Cesa-
riny?
A fundação Cupertino de Miranda
convidou-nos para fazermos as jor-
nadas do Cesariny. Gostamos muito
da poesia dele precisamente por ser
mais irregular. Quando escreves
estrofes ou quadras como a Regina
de Guimarães escreve, ou quando
fazes coisas muito formais como o
Alberto Pimenta, já lá está a forma.
Mas o Cesariny é um poeta muito
irregular. É um poeta surrealista e
logo menos formal, por isso, dá uma
maior abertura à nossa música. As
partes mudam de tamanho, o ambi-
ente muda… e, há uma desgraça
muito especial no meio de todas
aquelas histórias que nos fez gostar
muito do resultado. Fez-nos entrar
por caminhos diferentes.
Haverá algum novo registo para
breve?
Sim. Agora temos andado a tocar
Cesariny e depois vamos gravar,
com dois novos elementos no “Osso
Vaidoso”. A editora Assírio & Alvim
vai editar um livro disco com o mate-
rial do Cesariny. Neste momento
estamos a trabalhar na instrumenta-
ção com os dois novos elementos e
estamos a abrir o nosso som.
Um disco, independentemente
das vendas é sempre uma boa
forma de chegar mais longe, isto
é, a mais gente e/ou até pela di-
vulgação nos meios de comunica-
ção?
À conversa com….
Sim, principalmente por ser uma
boa forma de divulgação.
O Osso Vaidoso é uma banda
essencialmente de palco? Como
tem sido a receção ao projeto
nestes últimos anos?
Sim. A receção tem sido boa. Te-
mos feito muita coisa e tal… Temos
andado por café concertos e come-
çamos a ter algumas saídas para
fora. Estivemos em Espanha e no
Brasil, vamos lá voltar em breve.
Para nós, isso também é importan-
te. É importante que no
Brasil nos “apanhem”,
somos uma coisa tão ao
lado e esta repetição do
Brasil é interessante.
Qual é a vossa vaida-
de?
É fazer e fazer bem. O
que é fazer bem? Pois,
não sabemos. Vamos
sempre tentando e o
“fazer bem” vai variando
à medida que as coisas
vão mudando. Está rela-
cionado também com a vaidade de
um osso, percebes? É uma vaidade
humorística, é a vaidade de um es-
queleto… que vaidade pode ter um
esqueleto?
À conversa com...
À conversa com...
José Camilo
Só me posso considerar artista e, ponto final!
Entrar no mundo de José Camilo é percorrer um filme mental intenso, onde as palavras ganham vida e a música é o mote. Nesta viagem ao subúrbio encontramos um registo forte, denso que conduz o ouvinte a viajar por este canto da cidade repleto de mistérios. Motivos mais do que suficientes para uma conversa com José Camilo, homem de
letras, homem de estórias.
Por Lino Galveias
José Camilo, natural de Queluz, cresceu a ver concertos punk de bandas daquela zona. Tocou em grupos rock até encontrar a folk de Bob Dylan. Começou a actuar em nome próprio, acompanhado apenas de uma guitarra acústica, por terras portuguesas e espa-nholas em 2005 e chegou a gravar maquetes com o músico Walter Benjamin. Após uma
paragem volta agora com uma linguagem mais rock, com o EP Viagem ao Subúrbio .
1-Quem é José Camilo?
Essa é sempre uma pergunta difícil de responder, a minha primeira entrevista de rádio come-çou assim e eu, claro está, meti os pés pelas mãos. Contudo, vou tentar responder. Como não
me perguntaste “quem és tu?” mas sim “quem é José Camilo?” e como sou um pretensioso
vou falar de mim na terceira pessoa como fazem os jogadores de futebol. O José Camilo é um tipo vindo de uma classe média-baixa dos subúrbios de Lisboa que um dia teve a ousadia de
pensar que poderia transformar os seus hobbies em forma de ganhar a vida. Sem grande
apoio financeiro familiar estava destinado a falhar, no entanto, decidiu contrariar o destino e as previsões que outros tinham para ele e lá se foi safando. Tem desenvolvido uma série de
actividades ligadas à arte (educação através das artes, escrita, teatro, animação infantil, escri-
ta de música infantil, discos de rock alternativo, realização de videoclips, etc…) que têm sido, às vezes, o seu ganha-pão, outras vezes, a sua razão para acordar. Resumindo, o José
Camilo é um artista. Tenho consciência que esta resposta pode dar a ideia de que sou um
pretensioso arrogante ou, por outras palavras, um cagão. No entanto, creio que não há outra forma de pôr as coisas: se tudo o que faço, seja para ganhar a vida, seja como hobby, está
ligado à arte só me posso considerar artista e ponto final!
2-Nota-se uma forte densidade psicológica no teu trabalho, pelas músicas que fui conhe-
cendo do teu álbum 24 horas no Subúrbio. Sendo tu um homem de letras, foi o que deu
a profundidade ao teu trabalho, capaz
de lançar um mini filme mental ao ou-
vinte?
Com certeza que o facto de ser um tipo
ligado às letras contribuiu para alguma
densidade lírica, bem como para um lado de cronista que acho que tenho em algu-
mas canções. Porém, nem só nas letras
podes encontrar essa densidade, não consi-go descrever o que proporciona essa densi-
dade porque acredito que é um conjunto de
factores.
3-Os teus vídeos também dão que pen-
sar pela expressividade corporal, o rit-
mo, as luzes, ou imagens mentais mais profundas como em Deus é um grande cinéfilo. O
que pretendes transmitir ao público?
Eu não penso do ponto de vista do que quero transmitir ao público. Os vídeos são mais uma
forma de expressar o que vai dentro da minha cabeça (Céus, isto soa tão clichet!) daí as mu-
danças de plano por vezes rápidas (no caso do Luz em Mim). Dá uma ideia de ansiedade e
inquietação. É como diz o José Mário Branco “é só inquietação”
.
À conversa com...
4- O que te diz o subúrbio, sobretudo o da gran-
de Lisboa com a sua dimensão e diversidade?
Quando era miúdo o subúrbio onde vivia era ocupa-
do por provincianos que tinham vindo para Lisboa à
procura de uma vida melhor. Com o tempo e a
chegada de diferentes comunidades de pessoas
oriundas de outros países o espaço foi-se tornando
cada vez mais multicultural. Não sei o que é crescer
fora daquele sítio porque não tenho essa experiên-
cia, mas sei que crescer ali pode dar-te a sensação
de “melting pot” em que cabe tudo, mas também te
pode dar a sensação de não pertencer ali, de não
haver uma comunidade com quem tenhas um senti-
mento de pertença. Esse foi mais o meu caso. Cresci
a pensar que não pertencia ali, até que saí e fui
conhecer outras coisas. O subúrbio é, evidentemen-
te, uma grande influência para a escrita deste disco,
mas tão importante como o facto de ter crescido em
Queluz foi a necessidade que tive em sair daquela
esfera. Fui viver para a Galiza, viajei por toda a
Europa com uma mochila nas costas e fiz questão
de o fazer sozinho sem a companhia de amigos ou
namorada. Foi aí que percebi a importância e influ-
ência do sítio onde cresci na minha personalidade.
Se não tivesse trabalhado como voluntário em
bairros problemáticos perto de casa não escreveria
este disco, mas se não tivesse bebido da melhor
cerveja Belga em Bruxelas também não.
5- Em termos de influências, o que te despertou o
Bob Dylan, sendo que és oriundo do rock, e como
é que se cruza com a tua realidade?
Em primeiro lugar, no que toca à escrita de canções,
o Bob Dylan é um mestre. Quando ouvi o Dylan o
que me atraiu foi o universo que cria nas suas
músicas. A concepção da música ter um traço
identitário, que é algo que me interessa. A ideia de
que só aquele gajo é que canta daquela maneira, é
que escreve daquela forma. Depois tanto ele como
eu somos autodidatas quanto a tocar instrumentos e
nem eu nem ele sabemos cantar muito bem. Tam-
bém há o lado lírico, que no Dylan tem uma espes-
sura narrativa muito vincada e que eu tento que as
minhas canções tenham também. Pode não ser
óbvio mas o Dylan é uma grande influência para
que eu faça música.
6- Noto, nos vídeos, que tocas vários instrumen-
tos. Gostas de os tocar da tua forma no disco?
Alguma razão? Como fazes a construção dos
trabalhos? Tudo ao mesmo tempo ou por partes?
O facto de arranhar alguns instrumentos não quer
dizer que os toque bem porque, de facto, não acho
que toque instrumento nenhum assim tão bem. O
facto de ter tocado mais que um instrumento no 24
prende-se com algo circunstancial. Tinha estado
afastado do rock durante algum tempo e não tinha
banda quando surgiu a oportunidade de gravar. O
Miguel Ferrador (produtor do meu disco) também
toca vários instrumentos e melhor que eu. Disse-lhe
“se vamos fazer isto vamos ter de ser nós a tocar a
maioria dos instrumentos.” Ele não se acobardou e
disse: “vamos a isto!”. Como não tínhamos banda
fomos gravando tudo por partes e montámos como
se fosse um puzzle. Não o teria feito sem a ajuda do
Miguel, disso tenho a certeza e aproveito para lhe
agradecer aqui publicamente.
7- Preferes grandes concertos ou espaços mais
intimistas?
Não tive oportunidade de dar grandes concertos
com o 24, mas já tive a experiência de actuar para
públicos maiores noutros projectos artísticos que
tive. Uma coisa que aprendi sobre mim é que tenho
aquilo a que chamo “timidez ao contrário”. Sou
capaz de bloquear quando falo com uma, duas ou 3
pessoas com quem não estou à vontade, sou capaz
de não ter coragem para ir cumprimentar alguém
que apenas conheço das redes sociais. Sei que há
quem confunda isso com arrogância, mas, na verda-
de, é apenas timidez. Mas quando estou em cima de
um palco o jogo muda. Sinto-me perfeitamente à
vontade e não tenho timidez nenhuma, faço-o de
forma natural e quanto mais gente estiver a assistir
mais confiante fico. Parece que é qualquer coisa que
se apodera de mim. Se me apresentares uma multi-
dão não tenho dúvidas de que estarei à altura.
8- Quem não muda, decompõe-se…. o que é
preciso mudar na música e na sociedade? Achas
que está em decomposição?
Mudar precisa-se sempre, faz bem. Certamente há
muita coisa que precisa ser mudada, mas nunca tive
paciência para a conversa do coitadinho. Aquela
coisa de “isto está tão mau”. Prefiro usar o meu
tempo para trabalhar. Mas deixa-me dizer-te uma
coisa que tem de mudar na música em território
nacional. Os músicos têm de deixar de ser o ponto
mais baixo de uma hierarquia quando se organizam
certos eventos. Pensa-se nas necessidades dos
promotores, dos locais, dos técnicos de som e sei lá
mais o quê… mas, por vezes (e quero salientar este
“por vezes” porque ainda há muita gente que se
preocupa com os músicos), esquece-se das necessi-
dades dos músicos, que, ao fim ao cabo, são a razão
para o evento estar a decorrer.
À conversa com...
À conversa com...
A Naifa
Horas antes do quarteto alfacinha iluminar o Teatro Campo Alegre, o sempre simpático e acessível Luís Varatojo, nome incontornável da música portuguesa, roubou alguns minutos da sua vida para partilhar connosco algumas impressões sobre o último registo de estúdio da banda, assim como falar um pouco do que tem sido a encarnação ao vivo das suas músicas, um pouco por todo o país. Num trato sempre familiar, com a simplicidade de quem faz o que faz por gosto, houve tempo para falar de tudo, desde Bowie à censura em pleno século XXI.
Por Tiago Magalhães
Fotos/Manuel Magalhães
À conversa com...
1-Para iniciar a nossa conversa, se calhar, poderíamos começar pelo vosso último álbum, “As Canções de A Naifa”. Sendo um disco diferente dos outros, já que recorrem a músicas feitas por outros e bastante presentes na memória colectiva dos portugue-ses, em que medida é que esse processo é diferente do vosso habitual, em que adoptam poe-mas e os musicam? Como tu sabes, quando começamos a fazer um trabalho original, uma música, pegamos no poema, come-
çamos numa folha em branco. Te-mos ali um texto, mas musicalmente está tudo em branco, e tem que se fazer a canção, tem que se criar tudo desde a raiz. Quando se faz uma versão, nós já temos um objec-to, e é um bocado tentar trazer esse objecto para o nosso mundo, para o nosso universo, e tentar que ela seja e soe como nós somos. Este não foi um trabalho feito de uma assentada, como deves saber, al-guns arranjos fizemos em 2004, 2005….
2-Sim, tenho a impressão que ouvi a “Tourada” em 2004... Sim, em 2004 nós já tocávamos a “Tourada”, e nós pouco mudámos, apenas uma coisa ou outra, mas a ideia foi ir para estúdio, ir ouvir as versões… a “Inquietação” fizemos o ano passado, a música do Paulo Bragança, o “Imenso”, também fize-mos há dois anos, e essas estáva-mos a tocar ao vivo. As outras foi ir ouvir e vamos fazer isto como é, ou alguns arranjos que acrescentamos, mas basicamente manteve-se o que estava feito. Eu também não acho que seja um trabalho fácil… nós já temos essas boas canções à dispo-sição, mas depois fazê-las com que elas sejam nossas não é fácil, tanto que nós ao longo do tempo… lem-bro-me em 2006, por exemplo, pe-gámos em várias, fizemos alguns ensaios, até o “Cavalos de Corrida” nós tocámos no ensaio… uma músi-ca dos Toranja, que é o “Laços”, mais outras… pegámos assim num pacote delas, que gostamos, mas houve algumas, como estas, que não conseguimos, que apesar de termos trabalhado em cima delas, não funcionavam, não conseguimos que elas chegassem a um ponto em que estávamos confortáveis com elas. Mas estas sim, chegaram lá e… basicamente… a postura não é difícil ter, é pegar numa música e puxá-la para o nosso campo, tocá-la como nós achamos que ela se en-quadra. Mas daí até aquilo resultar bem vai um passo grande, às vezes resulta, outras vezes não. Às vezes
fazer uma versão é fugir à outra… tens que fugir à original, senão limi-tas-te a tocar o que já foi feito, não é? 3-Há certas versões que até ultra-passam as originais! Sim, sim, há versões que gosto mais. 4-O Johnny Cash tem uma mão cheia delas. Sim, o Johnny Cash… Por exemplo, eu gosto muito de David Bowie, claro, é o rei, mas o “Ziggy Stardust” pelos Bauhaus é melhor do que o original. 5-Sim, muita gente prefere a inter-pretação dos Nirvana da “Man Who Sold The World” do Bowie... Sim, também uma excelente versão. As canções estão aí, são de todos, e quem quiser apropriar-se delas, e fazer outra coisa, é bom. 6- Ainda sobre o álbum, e pegan-do no tema que esteve mais em foco, devido à falta de atenção por parte dos grandes media… aconteceu alguma coisa estranha com a divulgação da “Tourada”. Isso é incrível em plenos anos de 2013 e 2014, não é? Hum, já não sei se é assim tão incrí-vel assim… Agora por exemplo… os homens que fizeram o 25 de Abril, os militares, são proibidos de falar
À conversa com...
na Assembleia da República, num evento em que se comemora a re-volução que eles fizeram… isto é de loucos. E ainda esta semana, a Ale-xandra Lucas Coelho, que venceu o prémio da Associação Portuguesa de Escritores, fez um discurso em que fala um bocado de política, por-que ela sente isso, obviamente, e foi repreendida pelo secretário de Esta-do, e o representante do Presidente da República não falou, etecetera, portanto, estamos num ponto em que não se pode dizer que não seja o discurso vigente. E em relação à “Tourada”, é muito simples: nós não temos nenhuma prova em como a canção foi censurada, mas temos vários indícios. Isso foi logo no iní-cio, quando começámos a fazer a promoção ao disco, e a nossa pro-motora marcou várias entrevistas, que estavam agendadas, sobretudo em televisão… havia entrevistas para a TVI, a SIC, RTP Informação, tudo bem, já sabiam que a “Tourada” estava no disco. Mas quando a “Tourada” saiu com um vídeo, em que a parte do fim do vídeo somos nós numa manifesta-ção, e nem se percebia em que ma-nifestação era, por incrível que pare-ça estas coisas que já estavam acertadas foram adiadas (“agora não temos tempo, se calhar fica para a semana, fica para depois”) e o que é facto é que ninguém passou o vídeo e ninguém fez as entrevistas que estavam programadas. E eu percebo, porque vamos à televisão fazer uma entrevista, eles têm que usar imagem, a imagem que há do
disco é o vídeo da “Tourada”… vai ter que se falar daquilo, não é? E se calhar é um assunto que não é mui-to confortável nesta altura. Eu não percebo porquê… no fundo é uma música, nós também não somos ninguém, somos simplesmente mú-sicos que fazemos música e fizemos aquilo, aquela versão e aquele ví-deo, portanto nem sei até que ponto podemos beliscar o poder, mas o que é facto é que sentimos isso. 7-E aí as redes sociais acabaram por ser indispensáveis para a divulgação do vídeo... Sim, sim. 8-Continuam confortáveis nessa relação com os fãs através do Facebook e das restantes plata-formas? Claro, claro. Aí a comunicação é sem filtros. Portanto, as pessoas que gostam de nós sabem porque é que gostam, e nós gostamos delas. Por isso há uma base de entendi-mento em relação àquilo que nós fazemos e àquilo que nós somos, e isso tem sido muito bom, porque senão se calhar estávamos isola-dos… e isto não foi só na televisão, há outros meios de comunicação, e não vale a pena falar em mais no-mes, não interessa… o que é facto é que isto aconteceu, e quem esti-ver um bocadinho mais acordado, pode correr todos os meios de co-municação na altura em que o disco saiu e percebe….
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9-...que o vídeo nem sequer esta-va presente. Exacto. 10-Mudando o assunto para o concerto de hoje e para o tour que está a decorrer, o que é que as pessoas podem esperar dos A Naifa? Podem esperar um “ganda” concer-to! Porque é para isso que nós saímos de casa, nós não vamos fazer nenhum serviço, nunca. Vimos sempre para que seja uma noite boa, diferente das outras, e empe-nhamo-nos sempre a fundo. Nós para este tour preparámos um ali-nhamento que inclui todos os temas que gravámos agora para este dis-co, mas isso também se resume a meia hora. Depois o resto, uma hora e meia de concerto… nós vamos buscar coisas que habitualmente já tocamos, outras que tocamos pou-co, uma canção que nunca tocámos ao vivo… e tentamos dar algumas coisas novas a quem costuma vir aos espectáculos, temos uma parte em que trocamos os instrumentos, que nunca tínhamos feito. Achamos que, desta vez, já que estávamos a apresentar uma série de versões num concerto de A Naifa, iriamos em vez de fazer uma versão nova para oferecer, que era isso que cos-tumávamos fazer, pegámos em can-ções nossas e fizemos versões des-sas canções, portanto há um mo-mento do espectáculo que é esse…
também temos uma componente de vídeo de uma parte do espectáculo que não tínhamos, que nunca usá-mos e... pronto, os concertos têm sido muito bons, três encores, toda a gente bastante animada e já em pé nos auditórios, por isso noite quente! 11-Isso é algo que me lembro desde os primeiros! Ainda falan-do do registo ao vivo, celebram 10 anos, portanto parabéns… Obrigado. 12-...e nestes 10 anos, quem co-meçou a ouvir A Naifa e tinha tal-vez uns 20 ou 30 agora terá bem mais. Sentem esse envelhecer também do vosso público con-vosco, ou por outro lado, tendo em conta que nestes últimos 10 anos o interesse na música feita em Portugal, e especialmente cantada em português, foi notório (se calhar hoje em dia as bandas populares junto dos mais novos acabam por ser até referências nacionais) existe um rejuvenesci-mento da audiência? Sim, nós olhamos para a plateia e é muito variada. Há cabelos brancos pela plateia, mas há gente nova também, e quando vemos as esta-tísticas na página do Facebook, onde dá para ver a faixa etária, área geográfica, entre outros, a faixa etária com mais fãs na página são pessoas entre os 25 e os 34, depois entre os 35 e os 44, e depois decai.
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Eu acho que sim, pelo que temos visto, mantêm-se muitas pessoas que nós vemos já desde os primei-ros espectáculos, e depois vêm ter connosco no fim, e já são nossos amigos. Mas também tem aparecido muita gente nova, acho que sim. 13-Altura para a última pergunta. Neste disco acabam por fazer tributo a grandes artistas, alguns com algum cariz de intervenção, outros nem por isso... Só o José Mário Branco. Quer dizer, depende do que queres chamar de
intervenção...
14-Sim, quer dizer, a “Tourada” acaba por estar ligada também... Sim, é curioso que a “Tourada” é uma música que está ligada a uma certa intervenção, mas a letra nunca fala de política, a letra só fala de tourada mesmo... 15-Para bom entendedor… É a ironia.
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16-Mas imaginariam tendo em conta o impacto que isso acabou por ter convosco, que no futuro pudéssemos olhar para trás e ver nos A Naifa, além de uma grande banda no plano musical e artísti-co, também uma peça importante numa nova geração de músicos de intervenção? Opá, isso da música de intervenção já me perguntaram várias vezes e é um assunto muito específico, pode ser abordado de várias formas. Eu acho que o que nós fazemos com os A Naifa, desde o início, para nós é intervenção. Para já, começámos a fazer isto em 2004, e como tu dis-seste e muito bem, ninguém canta-va em português praticamente, ha-via um ou dois casos, ligavas a rá-dio e era tudo em inglês, e isso para mim é intervenção. Depois, os tex-tos que fomos buscar para fazer “As canções de A Naifa” não são propri-amente textos declaradamente polí-ticos, mas falam de outra política, que é a política do dia a dia, dos pequenos problemas, da coisas que nos acontecem todos os dias, e eu acho que aí, voltando à intervenção, aí é que está a intervenção. Aliás, viu-se isso pelos Homens da Luta, dos quais eu sou amigo e acho gra-ça, mas é isso, aquilo dos slogans acabam por funcionar como humor, ninguém leva aquilo muito a sério. Acho que é uma linguagem que se esgotou um bocado nos anos a se-guir ao 25 de Abril, e a intervenção passa a ser feita de outra forma,
conforme os tempos vão pedindo. Não é a esconder o assunto, não se trata como no tempo da censura… mas há a política do dia que é muito mais importante… 17-Que a política estritamente partidária… Exacto, porque as coisas que tu fazes no dia a dia, as coisas que dizes, a forma como podes acordar as pessoas para determinada reali-dade, acho que isso tem muito mais impacto nas pessoas, e nós senti-mos isso com os A Naifa, e na vida das pessoas, do que propriamente aquilo a que se chama de música de intervenção, que é que se a música fala de política é de intervenção. Tanto é que neste disco, olha, “Sentidos Pêsames”, “Subida aos Céus”, “Bolero do Coronel”..., a letra do Lobo Antunes, isso é interven-ção! Ataca os costumes até dizer chega, nunca fala de política, como é evidente. Tens o “Imenso”, a pró-pria “Desfolhada”... tu ali só tens mesmo a “Inquietação”, que tam-bém nem sequer fala de política, fala de um estado inquieto em que nós estamos, não sabemos bem porquê… portanto não há ali nada declaradamente… não há ali can-ções tipo a cantiga é uma arma, ou canções do Zeca Afonso, que falam directamente dessas questões políti-cas...ali não há nada disso. Eu acho que há artistas a fazer coisas, a fazer música, também com esse cunho que eu falo de ter uma inter-venção, ou seja, não são coisas
À Conversa com...
inócuas, agora também há coisas inócuas… há coisas que não falam de nada, são um zero à esquerda, é música para entreter. Mas há outras que não, que falam destas questões do dia a dia, essas são importantes, mais importantes do que vir aí num solavanco e depois não tem resulta-do nenhum. 18-De punho no ar mas sem nada. Sim, e sem garra, e no fundo sem resultado. No fundo, fazes música com o que a tua vida vai pedindo, com o que observas… Por acaso quando foi o vídeo da “Tourada”, que foi realizado pelo Diogo Varela Silva e o Ricardo Almeida, um é realizador de filmes e documentá-rios e o outro também mas mais em animação, fazem uma boa equipa, e quando eles nos falaram da ideia do vídeo, eu por acaso torci um bocado o nariz… uma manifestação? Dema-siado óbvio ter aqui uma manifesta-ção… eu sei que a letra faz todo o sentido hoje em dia, mas uma mani-festação… ficámos assim um boca-do na dúvida, mas… como confia-mos neles, seguimos com o trabalho para a frente, estamos no palco, passamos quase o vídeo todo nisto, e no fim chegamos a um sítio onde há uma manifestação, e basicamen-te só se vêem as nossas caras, nem se vêem cartazes nem grande con-fusão à volta… acabou por fazer esta parte duma forma mais român-tica, do que propriamente política, e por isso depois agradou-nos o resul-tado.
19- Porque estava contextualiza-do e fazia sentido. E é por aí que queremos ir.
À conversa com...
Bloco de Notas
A rubrica "Bloco de Notas" nasceu em 2013 para
dar conta de desabafos sonoros, seja na forma de
amuletos da sorte ou guilty pleasures. Quem não
os tem? Pergunta retórica...
Por Irene Leite
Com Gene Loves Jezebel voltamos aos primórdios do Som à Letra e construção da playlist. Corria o ano de 2010 e eu passava a mais co-nhecida da banda: Break the chain, até conhecer Motion of Love. Re-sultado: foi até à exaustão. Mas a história não termina por aqui… Talvez pelo seu carácter bem-disposto, irónico (reparem no vídeo) The Look of Love, dos ABC, tocou-me de forma especial, corria o ano de 2010, que foi exímio na descoberta de grandes pérolas. Esta com casa no pop. Para recordar e não esquecer a dica: “sisters and brothers, should help each other”. Têm casa no gótico e apresentan uma canção que considero amuleto da sorte. Talvez pela sua simplicidade e beleza, Louise, de Clan of Xymox, tocou-me de forma especial . Está no meu top 10 até hoje…
Hoje trago-vos pura pop para entreter os ouvidos. Sim, nem sempre
estou com o rock nas veias. E sim, confesso que os anos 80 foram
ricos em guilty pleasures para a minha persona. Este shy boy das
Bananarama é apenas um deles. Já não se faz pop como antigamen-
te. É só comparar com o que temos hoje em dia. Confiram e…divirtam
-se!
É verdade, gosto de Starship! As músicas são leves, positivas. A We built this city tem uma energia em particular que me cativa. Não me perguntem porquê, mas como está na moda, aqui vai um like! Divir-tam-se! Já não falo de Rock me Amadeus, de Falco. As vezes que passei no Som entre 2010 e 2011. Mas não deixa de ser um guilty pleasure…. e dos grandes!
Bloco de Notas
Opinião
A densidade sonora dos Dead Combo
Diversidade parece ser uma boa palavra para descrever os Dead
Combo. A banda portuguesa, no ativo desde 2003, tem influências
musicais que vão desde o fado ao rock, a bandas sonoras de westerns e
a música do mundo. O grupo é constituído por dois membros apenas:
Tó Trips e Pedro V. Gonçalves.
Por Júlia Rocha
Os dois rapazes conheceram-se numa noite lisboeta, no Bairro Alto, onde surgiu a
ideia de gravarem um disco de tributo a Carlos Paredes. Os Dead Combo surgiram
desta maneira, e que combinação se fez…
Lançaram o álbum de estreia, “Vol. 1”, em 2004. A sonoridade diversificada foi
muito bem recebida pela crítica musical nacional. Seguiu-se “Vol. 2 – Quando A
Alma Não É Pequena”, em 2005; e em 2007 lançaram “Guitars From Nothing”.
Pelo caminho, entre álbuns, compuseram a banda sonora do filme “Slighly Smaller
Than Indiana”.
opinião
Eternal Life of Jeff Buckley
Eternal life is now on my trail ..
“Quem canta assim merece uma estátua”, foi o que li há tempos a propósito do álbum “Grace” (1994), do aclamado Jeff Buckley. E de facto, merece! Mas a eternidade nem sempre tem de ser materializada em álbuns ven-didos. Neste caso Jeff conquistou a eternidade com o legado musi-cal que deixou, ainda que apenas tenha editado um único registo de estúdio.
Por Carmen Gonçalves
Depois vieram os álbuns ao vivo, os registos musicais da sua paixão consu-mida em palco, e os esboços, os temas mais crus que compunham o que seria o seu segundo disco de originais. “Sketches for My Sweetheart the Drunk” conheceu a sua forma física em 1998, um ano após a sua morte e pela mão da sua mãe, que compilou os temas em que Jeff trabalhava. Surgiu num duplo CD
repleto de músicas despidas de arranjos, inacabadas e surpreendentemente inten-sas. Depois da primeira audição confirma-se que a música de Jeff Buckley não é ape-nas para se ouvir, mas para se sentir. Juntamente com “Grace”, este registo tornou-se na discografia fundamental de Buckley, julgava eu. Mas no ano de 2007 surgiu uma compilação com temas de estúdio e ao vivo, que continha uma versão acústica de “So Real” e uma versão de “I Know It’s Over” dos The Smiths, nunca antes editadas. Apesar da morte trágica e antecipada, Jeff Buckley tornou-se num ícone musi-cal da década de 90 e fonte de inspira-ção para muitos artistas. À medida que o tempo passa vai conquistando novos fãs, não pelo número de álbuns vendidos, mas pelas suas músicas minuciosamen-te compostas e pelas suas letras quase poéticas. “Quem canta assim merece uma estátua”, a de Jeff Buckley construo
de cada vez que oiço um tema seu.
opinião
“Esta rapariga vai mudar a vossa vida”
PREMIERE
(Às Amélies e à Irene Poulain Leite)
Por Santa Rita
R azão tinha a minha amiga Ana Clotilde quando perante o meu cepticismo
em relação a “O fabuloso destino de Amé-
lie” me garantia que “ah!… mas Santa Ri-ta… se gostaste tanto do “Chocolate” vais
de certeza absoluta adorar a Amélie
Poulain.” O que é certo é que na altura nem aquele
olhar cintilante, nem aquele sorriso algo
malicioso, nem aquela expressão de felicida-
de ingenuamente infantil me tinham de qualquer forma seduzido. Nem isso, nem tão
pouco ou muito menos as posteriores cinco
nomeações para os Oscars 2002 ou as doze nomeações para os Césars 2002 das quais
arrebataria quatro, entre elas o Melhor Filme
e o Melhor Realizador. O que me começou a, mais do que seduzir,
criar certas expectativas que me foram le-
vando gradualmente a uma declarada obses-são em estar com Amélie Poulain assim, soi-
disant, frente a frente, foi a polémica que
em seu trono ,
se instalou, toda a vaga de amores e ódios
que foi gerando, ao ponto de se extremarem
posições tais como, por entre os idólatras, as
de Claude Lelouch “haverá no cinema um antes e um após Amélie” e, por entre os
detractores, Serge Kaganski “Está na altura
de dizer todo o mal que se pensa deste filme de esteticismo fingido e que sobretudo apre-
senta uma França retrógrada, etnicamente
depurada, nauseabunda.”. Charles Tesson, no mesmo número dos
“Cahiers du cinema” em que a redacção
defende tão desastrada quanto ridiculamente o absolutamente inútil “Pearl Harbor”, intitu-
la o editorial “Lara contre Amélie” optando
no parágrafo final: “Entre Amélie Poulain, heroína virtual e Lara Croft, Angelina boni-
tamente (em francês jolimente num jogo de
palavras com o nome de Angelina Jolie) real, a escolha está feita”. No entanto, entre vozes
de burro que não chegam aos céus, entre
muito mais aplausos do que apupos, o filme
impunha-se ao público e o público impunha o
filme. Amélie Poulain reconciliava o público
francês com o seu cinema e o cinema francês
com um público pouco ou nada seu aprecia-dor. E se o ano precedente foi um fabuloso
ano para o cinema francês muito ou quase
tudo se deve a “O fabuloso destino de Amé-lie”. Aqui a opinião é praticamente unânime.
Para o bem ou para o mal.
A minha já obsessão por Amélie era constan-temente alimentada por todos os amantes de
filmes em geral e do cinema em particular,
quando me respondiam, alguns com um brilhozinho nos olhos, outros com uma ex-
pressão acentuadamente “Poulainiana”, à
minha já obrigatória questão: “ – viste a Amélie Poulain?”: – ah genial, fabuloso,
obra-prima, etc… etc….!!
Opinião
E aquele olhar que no princípio me parecera demasiado seráfico, começou a tornar-se
desafiadoramente convidativo. Apesar de
tudo, eu, ainda piamente crente na bíblia dos “Cahiers”, entre Lara e Amélie, continuava a
inclinar-me muito mais pela Croft. Em surdi-
na, claro…!!! Mas finalmente, e com as águas turbulentas da polémica já tranquilas,
eis-me tête a tête com Amélie Poulain. Um
tête a tête de duas horas. Duas das mais fabulosas horas da minha vida. Seguido de
mais duas, e ainda mais duas e outras que
ainda virão. Porque com Amélie Poulain, um encontro só não basta, dois não é o suficiente,
três está longe de ser demais. Não pela sua
complexidade, mas antes pelo contrário, pela sua simplicidade. Pela sua pureza cristalina.
Razão tinha Grégory Alexandre ao alertar:
“Atenção, este filme vai roubar-vos o cora-ção…e vocês vão adorar isso”. E rouba-no-
lo. Rouba-no-lo e devolve-no-lo no final
muito mais puro e luminoso do que estava, por muito puro e luminoso que já estivesse
(como o coração de Amélie quando no café
onde trabalha vê o seu apaixonado Nino Quincampoix).
“É preciso uma coisa rara, um ponto de viragem para nos libertarmos de qualquer
obsessão, seja ela de preconceito, de ódio ou
mesmo de amor” – afirmava Max Von Sydow em “A neve caindo sobre os cedros”. No
entanto não é preciso uma coisa assim tão
rara para nos prendermos a uma qualquer obsessão seja ela de preconceito, de ódio ou
de amor. Basta um olhar. Um gesto. Uma
atitude. Um achado. Uma reacção. Amélie, na noite do acidente que vitimou a princesa
Diana (curiosamente Lady Di é uma presença
ausente durante todo o filme como se de alguma maneira fosse o espírito condutor do
enredo), encontra uma caixa que “encerra a
infância” de alguém. Decide encontrar o proprietário da caixa, devolvê-la e observan-
do a sua reacção, decide então reparar a vida
dos que a rodeiam. “O fabuloso destino de Amélie” é um fabulo-
so exercício de poesia cinematográfica. Co-
mo os filmes de René Clair. Como os filmes
de Jacques Tati. Sobretudo como a poesia de Jacques Prévert de quem Jean-Pierre Jeunet
reclama a inspiração desta obra. No dia da
rodagem da primeira cena de amor entre Amélie e Nino, Jeunet entregou a Audrey
Tautou um envelope com um poema de Jac-
ques Prévert. “Porquê?? Não sei. Senti ape-nas uma apetência em fazê-lo… a referência
a Jacques Prévert esteve lá todo o tempo”.
Curiosamente o filme estreou-se em França no dia 25 de Abril e se em nada acho de
exagerada a afirmação de Claude Lelouch de
que “haverá no cinema um antes e um após Amélie” e se como dizia Einstein “não há
acasos todas as coincidências são significati-
vas” também não acho nada exagerado afirmar-se que “O fabuloso destino de Amé-
lie” foi o 25 de Abril do cinema francês. Ao
som da fabulosa banda sonora de Yann Tier-sen, observo Amélie Poulain enquanto escre-
vo e reconheço naquele seu olhar, naquele
seu sorriso, naquela sua expressão uma imen-sa cumplicidade. Como se tivéssemos acaba-
do de desfrutar um dos pequenos prazeres
ainda não esquecidos da vida. Como se tivés-semos acabado de reparar um qualquer peda-
ço da vida de alguém. Como se tivéssemos
atrasado os despertadores, trocado a maçane-
ta das portas, trocado a pasta de dentes por
creme para os pés, posto sal no whisky, dito “mas você, você nunca chegará a ser uma
hortaliça, pois até as alcachofras têm cora-
ção” a todos os Collignons que por aí circu-
lam…
Opinião
Máquina do Tempo
Gosta de magia e de contos de fadas? Bingo, então a Máquina do Tempo desta edição do Som à Letra é para si, já que o encontro está marcado com Eduardo Mãos de Tesoura. Após ter realizado Batman, Tim Burton viu-se reconhecido como grande realizador e pôde finalmen-te fazer um filme com total controlo criativo. A história do cinema agradece.
Por Miguel Ribeiro "Eduardo Mãos de Tesoura" conta a estória de uma criação proveniente da mente de um cientista (interpretado por Vicent Price) com o objectivo de criar um ser artificial de nome Edward (Johnny Depp). O problema é que o seu criador morre sem antes completar o seu trabalho, deixando o jovem com tesouras no lugar das mãos. Após ser descoberto a viver sozi-nho na mansão onde “nasceu” por Peg Boggs (Diane Wiest), esta leva-o para a pequena comunidade suburbana onde vive. Edward encontra vários problemas de adaptação, principalmente por cau-sa do namorado de Kim Boggs (Winona Ryder) que o tenta pôr numa luz menos boa à vista da comunidade.
Não querendo revelar o resto do filme, a conclusão da obra, a meu ver, é extremamente poderosa e é óbvio que se traçam paralelos com o filme Frankenstein (1931). Tim Burton e a guionista Caroline Thompson criaram uma estória que bebe de muitos contos de fadas e de filmes, cujo conceito anda à volta de personagens isoladas da socie-dade como, O Corcunda de Notre-dame (1928), Fantasma da Ópera (1925) e King Kong (1933). Burton apresenta um filme visual-mente impressionante, principal-mente pela forma como manipula o nosso estado de espírito para com determinadas cenas. Inicialmente temos algo que é facilmente reco-nhecido como “Burtonesco” com a Mansão do cientista, tipicamente de motivos góticos, e com uma paleta de cores fria (azuis, cinzentos), apresentando-nos depois a pequena comunidade suburbana cheia de vida, de cores (verdes, rosa, amare-lo). O espectador é desde logo envolvi-do numa atmosfera envolvente, que invoca plasticidade, que se deixa reflectir na falsidade e futilidade dos vizinhos da família Boggs, vendo-se o mesmo transparecido no Guarda-Roupa representativo de uma comu-nidade típica dos anos 50. Juntamente com Tim Burton está Danny Elfman, que criou a banda sonora desta obra e o famoso Stan Winston (Aliens, Predador, Extermi-
nador Implacável), que trabalhou nos efeitos especiais, nomeadamen-te as mãos de tesoura de Edward. Aparentemente Johnny Depp não foi a primeira escolha para o papel prin-cipal; Tom Cruise, Michael Jackson, Tom Hanks, William Hurt e Robert Downey Jr. chegaram a ser contac-tados e/ou mostraram interesse no papel, tendo sido ultimamente esco-lhido Depp para o papel. Aquando da leitura do guião, Depp achou a estória extremamente emo-cional e também traçou ligações pessoais à personagem. Querendo romper com o seu estatuto de ídolo teen, Depp entregou-se ao papel, e uma das formas de encarnar a per-sonagem foi vendo filmes de Char-les Chaplin, de forma a aprender a manifestar emoções sem diálogo. De notar que, embora seja univer-sal, o papel desempenhado por Depp está extremamente bem con-seguido e é, até agora, inigualável naquele registo. Realmente impres-sionante. Tanto Tim Burton como Danny El-fman consideram esta a sua obra favorita e mais pessoal. De facto, a meu ver, estamos perante um filme que é um conto de fadas moderno e apesar de já terem passado mais de 20 anos desde a sua estreia, ainda continua a transparecer aquilo que é a magia do cinema. Um filme que pode ser visto por todos, sem insul-tar a inteligência de ninguém e que a cada um de nós toca de uma for-ma diferente.
Máquina do Tempo
Máquina do Tempo
Escrito e realizado por Giuseppe Tornatore, Cinema Paraíso é possivelmente um dos maiores clássicos de cinema desde que os irmãos Lumiére decidiram filmar os seus trabalhadores a saírem da fábrica. Profundo, cómico, romântico e nostálgico, é uma verdadeira carta de amor à arte do Cinema.
Por Miguel Ribeiro
E xibido no ano de 1989 a estória conta como Salvatore Di Vita (Jacques Perrin), agora um realizador de Cinema famoso, viveu a sua juventude na vila Giancaldo na Sicília e descobriu a paixão da sua vida. O filme é contado em flashbacks, começando com Sal-vatore a receber a notícia de que Alfredo (Philippe Noiret) acabou de morrer e é desta forma que somos levados aos seus tempos da juventude na pequena vila. O filme foca-se na relação entre Sal-vatore e Alfredo, desde criança até à altura em que saiu da vila para perseguir os seus sonhos, quase que obrigado por Alfredo que não o quer ver desperdiçar a vida naquela vila, avisando-o a nunca mais lá voltar, pois aí, ele estagnaria e não triunfaria na vida.
Não querendo mencionar certos pormenores desta obra (pois, para quem ainda não viu, descobrir esses pormenores será das melhores coi-sas que fará) é de notar como todas as personagens que surgem e apa-recem no filme e todos os pormeno-res que se observa (principalmente nas cenas no cinema) trazem mais humanidade, vivacidade, e até um certo tipo de realismo à película, inserindo-nos cada vez mais neste microcosmos que é a vila de Gian-caldo e fazendo-nos crer que ela existe mesmo e que conhecemos verdadeiramente aquelas persona-gens que compõem a vida local. Existem alguns pormenores que vale a pena apontar, como o facto de todo o filme ter sido dobrado, uma característica normal dos filmes italianos e franceses, (sinais de uma indústria que evoluiu neste sentido) ou de como a intenção original do realizador era de que a película fos-se uma espécie de obituário às sa-las de cinema tradicionais e do cine-ma tradicional em geral. Mas aquilo que mais importa dizer sobre este filme não está a ser men-cionado. E como poderia? Uma das provas de que o Cinema tem real-mente um poder emocional forte, é esta obra. A banda sonora criada pelo lendário Ennio Morricone é espectacular, bonita e tem um im-pacto emocional tão profundo que é realmente difícil não verter uma lá-grima (ou várias), quando por exem-plo vemos a última cena do filme, em que Salvatore vê qual era o pre-
sente que Alfredo lhe tinha deixado para trás antes da sua morte. Prova-velmente uma das cenas mais po-derosas vistas num filme e uma das mais icónicas do Cinema, de tão intensa que é. Esta é uma obra que lida com temas muito profundos como nostalgia, perda do amor, juventude, o amadu-recimento e as reflexões da vida. Um filme cheio de impacto para quem teve a oportunidade de o visu-alizar, tanto pela estória e as actua-ções, como do ponto de vista técni-co, onde tudo está sublime. Vence-dora de vários prémios, inclusive o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro, esta foi e é uma obra fantástica e uma das minhas favoritas. Lembra-nos constantemente que o amor, aquilo que mais prezamos, é a fonte de todas as nossas forças e ao mesmo tempo, causa dos maiores tormentos da nossa vida. Sem dúvi-da nenhuma, uma obra imperdível e intemporal. Veja, reveja e reveja outra vez.
Máquina do Tempo
Porque a música faz toda a diferença!
Som fm
2015 será o ano da Som FM. A webrádio nasce a 18 de Setembro, no dia do sexto aniversário do Som à Letra. Vai ser com muito orgulho que vamos assistir ao crescimento desta webrádio, que apresenta programas de autor (Back on Track, Progressive Head, Devaneios, Contramão, entre outros). Mais quais são os princípios da Som FM?
A Som FM é uma webrádio pautada pela qualidade dos conteúdos. Assume-se
como divulgadora de som fresco cá dentro e lá fora, sem esquecer os velhos clás-
sicos. No que toca aos géneros, abraça a new wave, pop alternativa, todas as
variantes do rock, e ainda punk, blues, jazz, country. Apresenta programas de
autor ( música, literatura, teatro, cinema ) , rubricas de humor, passatempos,
radionovela. A webrádio rege-se pela minúcia, qualidade e responsabilidade.
São OBJECTIVOS da Som FM:
- A promoção e divulgação da música nacional ( cerca de 50% )
-A promoção e divulgação de todas as formas de expressão cultural, tanto a nível
nacional, como internacional
-A organização, a promoção e a realização de festas temáticas. Será inclusive
recuperado o conceito de “ festa de garagem ” .
-Concepção, organização e implementação de programas culturais e artísticos
Som fm
A música é sem dúvida a minha grande paixão. Deste modo, é com muito gosto que anuncio mais um programa dirigido por mim para a webrádio Som FM: o Contramão.
Por Irene Leite Contramão é o programa mais “pesado” da Som FM. Rock em alta “poutencia”. De Rolling Stones, a Audioslave, passando por Def Leppard, AC DC, Xutos e Pontapés, Ramones, The Clash, U2, INXS, Journey, Asia, Stone Temple Pilots, Saxon, Metallica, Scorpions, Queen, T Rex, Doors, Pearl Jam, Alice Cooper, Russ Ballard, Aerosmith, Van Halen, D.A.D, Yes, Muse, David Bowie, Foreigner, Robert Palmer, Midnight Oil, Black Sabath, Iggy Pop, P.I.L, Sex Pistols, Frank Zappa entre tantos outros convidados. A divulgação de novo talento nacional também está nos meus planos, co-mo aliás aconteceu na primeira edição do programa com os Insane Slave Por isso se tens um projecto de rock envia o teu material para web-somfm@gmail.com Ficamos à tua espera! Aqui ficam algumas músicas com que podem contar nas próximas emis-sões: The Ramones-Pet Sematary Muse-Undisclosed Desires T Rex-Children of the revolution (…)
Som Cívico
Autismo: Da doença à genialidade
O autismo refere-se a uma alteração cerebral que afecta a capa-cidade do indivíduo comunicar, de estabelecer relacionamentos e de responder apropriadamente ao ambiente que o rodeia. A doença é de extremos. Tanto pode enveredar pelo isolamento da sociedade como culminar na vitória sobre os obstáculos. Confira como.
Por Irene Leite
Algumas crianças, apesar de autistas, apresentam inteligência e fala intactas, outras apresentam importantes atrasos no desenvolvimento da linguagem, e con-sequentemente atrasos na aprendizagem. Alguns parecem fechados e distantes e outros parecem presos a comportamentos restritos e rígidos. Sinais do autismo normalmente aparecem no primeiro ano de vida e sempre an-tes dos três anos de idade. A desordem é duas a quatro vezes mais comum em meninos do que em meninas.
Som Cívico
Sintomas e diagnóstico Uma criança autista prefere estar só, não forma relações pessoais íntimas, não abra-ça, evita contacto de olho, resiste às mudan-ças, é excessivamente presa a objectos familiares e repete continuamente certos actos e rituais. A criança pode começar a falar depois de outras crianças da mesma idade, pode usar o idioma de um modo estranho, ou pode não conseguir - por não poder ou não querer - falar nada. Quando se dirige a palavra a uma criança autista, esta frequentemente tem dificuldade em entender o que foi dito. Ela pode repetir as palavras que lhe são ditas (ecolalia) e inverter o uso normal de pronomes, princi-palmente usando o tu em vez de eu ou mim ao se referir a si própria. Algumas crianças autistas apresentam au-mento dos ventrículos cerebrais que podem ser vistos na tomografia cerebral computa-dorizada. Em adultos com autismo, as ima-gens da ressonância magnética podem mostrar anormalidades cerebrais adicionais. Sinais do autismo -Dificuldade em juntar-se com ou-tras pessoas, -Insistência com gestos idênticos, resistência a mudar de rotina, -Risos e sorrisos inapropriados, -Não temer os perigos, -Pouco contato visual, -Pequena resposta aos métodos normais de ensino, -Aparente insensibilidade à dor, -Ecolalia (repetição de palavras ou frases), -Preferência por estar só; conduta reservada,
-Pode não querer abraços de cari-nho ou pode aconchegar-se carinhosamen-te, -Faz girar os objectos, -Hiper ou hipo actividade física, -Aparenta angústia sem razão aparente, -Não responde às ordens verbais; actua como se fosse surdo, -Apego inapropriado a objectos, -Habilidades motoras e actividades motoras finas desiguais -Dificuldade em expressar suas necessidades; emprega gestos ou sinais para os objectos em vez de usar palavras. Autismo e genialidade A maioria das crianças autistas têm desem-penho intelectual desigual, assim, testar a inteligência não é uma tarefa simples. Pode ser necessário repetir os testes várias ve-zes. Entre 20 e 40 por cento das crianças autis-tas, especialmente aquelas com um Q.I. abaixo de 50, começam a ter convulsões antes da adolescência. No entanto, um estudo publicado em 2009 em Londres mostra que 30% das pessoas autistas têm algum tipo de grande habilidade intelectual, como capacidade para se desta-car em áreas como cálculo e música. O diagnóstico de autismo requer a presença de três elementos: falta de sociabilidade, dificuldade para comunicar e padrões restri-
tivos e repetitivos de comportamento. Se-
gundo pesquisadores, esta terceira caracte-rística é a decisiva para o desenvolvimento da genialidade.
Editorial
Pela música, pela IncluSom
“Sem a música a vida seria um erro”,
diz muito bem Nietzsche.
Desde criança que tive uma relação muito
especial com a música. A família foi uma importante ajuda, mas a rádio também, a
rádio companhia. Acredito que a música apresenta um efeito
terapêutico em todos nós, variando com as
experiências de cada um e gostos musicais.
Esta aposta ocorre por exemplo na Santa Casa da Misericórdia, que constata que “os
idosos vão emergindo de sessão para sessão.
Muitas vezes reconhecidos pelos próprios como áreas onde necessitam de cuidados
especiais, por exemplo: reduzir o isolamento
social, redução das vivências de ansiedade e agressividade; aliviar sentimentos de dor,
tristeza ou tédio; melhorar a sensação de bem
-estar pela participação activa, facilitar a auto-expressão, manter as competências cogniti-
vas (memória, atenção, concentração, etc.); e
manter o funcionamento físico”. E nós queremos continuar a apostar nesta
área, mas não só.
A IncluSom nasce de um compromisso musi-
cal, com pendor terapêutico.
De facto, é cada vez mais importante estimu-
lar a música desde cedo, pois é extremamente
benéfico para a nossa saúde e bem-estar.
Temos, por isso, muito trabalho pela frente
Irene Leite
Associação
Som ao vivo
José Cid brilha na Alfândega do Porto
Uma deliciosa viagem “entre Vénus e Marte”
Depois do sucesso em Lisboa, a fasquia mantinha-
se elevada para o concerto a decorrer na cidade in-
victa. Como seria ouvir de novo a mestria das can-
ções de 10 000 anos depois entre Vénus e Marte?
As dúvidas sumiram assim que a primeira canção
foi interpretada. Confira porquê.
Abril de 2014
Texto /Irene Leite
Fotos /Lino Galveias
2014 é decididamente o ano de
José Cid. Retornou à sua gran-
de obra dos anos 70: 10 000
anos depois entre Vénus e Mar-
te. Para além dos dois concer-
tos em Lisboa e Porto, Cid vai
apresentar esta pérola a 1 de
Agosto em Vilar de Mouros,
festival que abraçou na sua es-
treia em 71, o Quarteto 1111,
projecto onde o músico também
se destacou.
Este concerto no Porto foi, con-
tudo, ainda mais especial, pelo
facto de ter sido muito desejado
pelos fãs. Até se criou uma pá-
gina no facebook para o evento
ser marcado na cidade invicta.
E foi. Na verdade os concertos
anunciados agitaram as redes
sociais e a imprensa em geral.
Reza a história, segundo o Pú-
blico, que em 1977, José Cid,
então estrela da rádio e televi-
são com passado de destaque
na história da pop portuguesa
através da sua carreira com o
Quarteto 1111, apareceu na sua
editora com uma ideia. Queria
gravar um álbum diferente. Um
álbum conceptual inspirado no
rock progressivo dos Pink
Som ao Vivo
Floyd, King Crimson ou dos Gene-
sis.
10.000 Anos Depois Entre Vénus e
Marte, assim se intitulou o registo,
gravado com Zé Nabo, na dupla
função de baixista e guitarrista, com
o guitarrista Mike Sergeant ou o
baterista Ramon Galarza, é editado
em 1978. À época, vendeu menos
de mil exemplares. Passo a passo,
porém, foi ganhando lugar de culto
na melomania do progressivo
(nacional e não só).
De recordar que este registo tem
valido a José Cid o reconhecimento
internacional, sendo considerado
pela crítica uma verdadeira obra-
prima, com a publicação americana
“Billboard” a incluí-lo na lista dos
100 Melhores Álbuns de Rock Pro-
gressivo de todos os tempos.
"Apertem bem os cintos"
Mas vamos ao que agora interessa:
o concerto. Eram 22h00 e a sala de
arquivo estava repleta, a aguardar a
viagem sonora prometida por José
Cid. Tal como aconteceu no álbum,
ouvir 10 000 anos depois entre Vé-
nus e Marte é percorrer uma intensa
jornada que nos leva literalmente
para outro mundo, ora não fosse o
álbum de ficção científica.
A noite foi de emoções fortes e
prometeu uma verdadeira "fuga para
o espaço" (um dos temas mais to-
cantes do álbum). Como dizia e
muito bem Cid, "apertem bem os
cintos". A viagem estava prestes a
começar!
E o mais interessante era assistir ao
deleite de várias gerações, provando
que este registo vai continuar a con-
quistar seguidores.
Mas Cid antes de recuar para 10
0000 anos depois entre Vénus e
Marte começou por cantar dois
temas anteriores a este registo icóni-
co: Onde Quando Como Porquê
(Cantamos Pessoas Vivas), de 1975,
baseado num texto de José Jorge
Letria, e Vida (Sons do Quotidiano),
de 1977, ambos do Quarteto 1111,
percursores do que viria a ser 10
000 anos depois e ainda alguns te-
mas de ‘Vozes do Além’ um álbum
de rock sinfónico que o músico pro-
mete editar em 2015.
Os temas encantaram e prenderam
de imediato o público. É impressio-
nante a pureza com que foi tratada a
Som ao Vivo
interpretação do álbum incrivelmente fiel ao registo de 1978.
Vozes do além conta a história de um guitarrista de rock n’roll que
falece e regressa para proteger a família e amigos e que conta com
trabalhos de Sophia de Mello Breyner e Natália Correia. Foi um bom
convite e deixou vontade de ouvir mais. 2015 será o ano.
Dizer que ficámos extasiados entre “Vénus e Marte” é pouco, mas já
ajuda o leitor a situar-se. Experimentalismo como o rock progressivo
manda e extrema qualidade bem ao nível dos também grandes King
Crimson, Genesis, Camel ou Pink Floyd.
Momentos altos. Não podemos dizer todas as canções? Ok vá, vamos
para “Mellotron, o planeta Fantástico”, “Caos”, e “Fuga para o espa-
ço”.
Cid estava extasiado com o público, que cantou em uníssono várias
vezes… “Podes ver 10.000 anos depois…”, o que deixou o músico
visivelmente orgulhoso. No fim do concerto ainda houve tempo para
dois encores, aplausos e delírios de pé. Noite memorável e intimista.
Em Vilar de Mouros há mais.
Som ao Vivo
Som ao Vivo
A Naifa, um concerto de cortar a respiração!
Fotos /Maria Camps
Depois do sucesso da edição especial do posto sonoro no
ano passado para celebrar os 4 anos do Som à Letra, em
2014 a situação não poderia ser diferente. O top das músi-
cas provocantes regressa agora para soprar 5 velas. Não
ficaremos por aqui. Confira.
1-António Variações-Canção do engate
2-Def Leppard-Pour some sugar on me
3-Foreigner-Urgent
4-Leonard Cohen-I’m your Man
5-David Bowie-China girl
6-António Variações-Onda Morna
7-Prince-Cream
8- David Bowie-Criminal World
9-New Order-Crystal
10-Prince-Kiss
Posto Sonoro
A seleção do Som à Letra….
Este Top à Letra é especial. Engloba a playlist do
Som à Letra dos últimos 5 anos (uma espécie de
best of). Confira.
Por Irene Leite
David Bowie-Be my wife David Bowie-Ashes to ashes David Bowie-Modern Love David Bowie-Criminal world Velvet Underground-Sweet Jane The Smiths-Girlfriend in a coma Cowboy Junkies-Blue Moon The Sisters of Mercy-Emma The Smiths-There is a light that never goes out David Bowie-Ziggy Stardust Ramones-Baby I love you Pulp-Common People
Cult-She sells sanctuary
A seleção do som à letra...
Joy Division-Love will tear us apart Placebo-Special needs The Mission-Like a child again Ramones-I wanna be sedated Franz Ferdinand-Do You want to Faith no More-Epic Kasabian-Where did all the love go Muse-Feeling Good Nina Simone-Feeling Good Nouvelle Vague-Dance with me Lords of the New Church-Dance with me Nick Cave-Bring it on Lou Reed-Vicious Nick Cave-Let love in Peter Murphy-Cuts you up Iggy Pop-Passenger The Doors-Crystal ship Rolling Stones-She’s a rainbow Billy Idol-Eyes without a face The Cure-Pictures of you Nirvana-Smells like teen spirit Killers-Shadowplay Dire Straits-Romeo and Juliet Eric Clapton-Cocaine Frank Zappa-Bobby Brown Cowboy Junkies-Sweet Jane Waterboys-The whole of the moon Joy Division-She lost control U2-Sunday Bloody Sunday Smashing Pumpkins-Tonight Beck-Loser Interpol-Loser Interpol-Evil Arcade Fire-Wake up Leonard Cohen-I’m your man Nancy Sinatra-Bang Bang
Ray Charles- Hit the Road Jack