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JOO JORGE
EDUCAO COM
CORPO
COM EDUCAO Educar o Ser.
Joo Jorge
16-02-2013
Quem professor conhece por dentro a realidade do ensino e sabe que este modelo esgotou os seus
argumentos, embora o Ministrio da Educao continue obstinadamente a investir no mesmo. Chegou ao
FIM da LINHA e como tal imperativo investir noutro que responda aos desafios deste sculo e prepare
os jovens para um reencontro com o SER.
EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 2 Educao Integral
Joao Jorge
EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 3 Educao Integral
Joao Jorge
Ttulo original: Educao Com Corpo e Corpo com Educao
Autor: Joo Manuel Ferreira Jorge
Ano: 2013
Coleo: JJ
Direo: Joo Jorge
1. Edio: 2013
Depsito Legal N
(Registo IGAC- Inspeco Geral das Atividades Culturais)
ISBN:
Reservado todos os direitos: Joo Jorge
Composio Grfica: Joo Jorge Joo Jorge SEDE: Rua: So Jorge 22 Localidade: Benedita Cdigo Postal Telef: Fax: email: joaomfjorge@gmail.com Apartado: Pas: Portugal Internet:
EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 4 Educao Integral
Joao Jorge
DEDICATRIA
Para a minha Famlia:
Maria Ferreira,
Joo Miguel e
Alexandre Miguel.
A todas as crianas e jovens, desejo
oportunidade de escolha livre
em sintonia com o seu
Projecto Interior, orientadas pelo
seu Mestre Interior de Verdade,
no alcance da auto-realizao
e esclarecimento
Joo Jorge
EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 5 Educao Integral
Joao Jorge
AGRADECIMENTOS
Este trabalho no seria possvel sem a riqueza de conhecimentos disponveis
em vrios formatos e fontes, de outros autores e investigadores que contriburam
com a sua reflexo e experincia. O presente documento, pretende ser tambm
ele, uma anlise abrangente e alargada (holstica), equacionando vrias
perspectivas do mesmo problema, articulando interdisciplinar e
transdisciplinarmente conhecimentos aparentemente dspares, num todo coerente,
tendo como pano de fundo a educao.
Quero sobretudo enaltecer todos os aqueles que investigam na fronteira da
cincia, Fora da caixa, porque so esses que impulsionam as transformaes e
revolues de conscincia, embora no sejam reconhecidos no seu tempo, por
estarem muito frente da realidade consensual.
A realizao deste trabalho constitui tambm uma fonte de actualizao
reflexiva de investigao que transparece a profunda necessidade pessoal em
conhecer quem sou, de onde venho e para onde vou. A procura da verdade das
suas razes e origens, constitui um forte mpeto para a procura.
O meu objectivo como Professor ajudar as crianas a conhecer a verdade e
no a minha opinio. Como ainda no conheo a verdade, apenas posso despertar
a curiosidade nos alunos para as coisas belas que a escola descarta, e enriquecer
a relao pedaggica com o meu estilo pessoal de partilha.
EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 6 Educao Integral
Joao Jorge
CONTEDO
Contedo
DEDICATRIA .................................................................................................................................................. 4
AGRADECIMENTOS ........................................................................................................................................... 5
CONTEDO ...................................................................................................................................................... 6
PREFCIO ....................................................................................................................................................... 7
INTRODUO ................................................................................................................................................. 10
CAPTULO I EDUCAO SEM CORPO ............................................................................................................... 14
1.1 - EMPREITADA EDUCATIVA. ................................................................................................................... 15 1.1.1 - REFINAR A FARINHA: ............................................................................................................. 15 1.1.2 - REFINAR O ENSINO: ............................................................................................................... 16 1.1.3 INFORMAO, CONHECIMENTO OU SABEDORIA? ...................................................................... 17 1.1.4 O PARADOXO LUSITANO. ....................................................................................................... 24
CAPTULO II EDUCAO COM CORPO ............................................................................................................. 90
2.1 - CONHECE-TE A IMPORTNCIA DA AUTO-DESCOBERTA NO PROCESSO EDUCATIVO. ................................. 91 2.1.1 EDUCAO E LITERACIA EMOCIONAL ...................................................................................... 94 2.1.2. - QUAL A FUNO DAS EMOES? ......................................................................................... 102 2.1.3. - O QUE A INTELIGNCIA EMOCIONAL? ................................................................................. 126 2.1.4. - QUOCIENTE EMOCIONAL ...................................................................................................... 138 2.1.5. - COMO CRIAR UMA ESCOLA QE: ............................................................................................ 139 2.1.6 - O CREBRO TRIUNO NA EDUCAO: ...................................................................................... 152 2.1.7 APRENDER A RECONHECER PADRES ................................................................................... 246
2.2 - ESCOLHE-TE ................................................................................................................................... 296 2.2.1 - PENSAMENTO CONSEQUENCIAL ............................................................................................ 296 2.2.2 - NAVEGAR NAS EMOES...................................................................................................... 304 2.2.3 - MOTIVAO INTRNSECA ...................................................................................................... 304 2.2.4 - OPTIMISMO ......................................................................................................................... 375
2.3 - ENTREGA-TE. .................................................................................................................................. 385 2.3.1 - AUMENTAR A EMPATIA ......................................................................................................... 385 2.3.2 - OBJECTIVOS NOBRES. ......................................................................................................... 387
CAPTULO III CORPO COM EDUCAO ........................................................................................................... 397
3.1. DESCONSTRUTIVISMO. .................................................................................................................... 398 3.1.1. COMUNIDADES AUTO-EDUCATIVAS E OS PROCESSOS CRIATIVOS:............................................ 398 3.1.2. - PRINCPIOS DA EDUCAO SISTMICA. ................................................................................. 402 3.1.3 - ARTE ZEN DE ENSINAR. ........................................................................................................ 404 3.1.4 - APRENDIZAGEM IMPLCITA. ................................................................................................... 412 3.1.5 - APRENDIZAGEM DA REALIDADE EXTERNA VERSUS REALIDADE INTERNA. ................................... 416 3.1.6. - APRENDER A LINGUAGEM DO SILNCIO. ................................................................................ 417 3.1.7. - O MEU CORPO O MEU LABORATRIO DE APRENDIZAGEM. ..................................................... 418 3.1.8 EDUCAR PARA A PROSPERIDADE. ......................................................................................... 423 3.1.9. ESCOLA DA PONTE, RUMO AO FUTURO DA EDUCAO ........................................................... 423 3.1.10. - COMUNIDADES EDUCATIVAS AUTO-SUSTENTADAS. ............................................................... 428 3.1.11. - EDUCAO PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANO INTEGRAL. ................................................ 431 3.1.12. - EDUCAO E ESPIRITUALIDADE. ........................................................................................ 432
CONCLUSO ................................................................................................................................................ 436
BIBLIOGRAFIA .............................................................................................................................................. 438
EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 7 Educao Integral
Joao Jorge
PREFCIO
Suponhamos que todas as slabas, currculos e os livros escolares
desapareciam. Suponhamos que todos os testes de avaliao normalizados se
perdiam irremediavelmente. Por outras palavras, suponhamos que os materiais
mais comuns que impedem a inovao nas escolas, simplesmente no existiam.
Ento, suponhamos que decidia transformar esta catstrofe numa
oportunidade para aumentar a relevncia da escola? O que faria?
Suponhamos que decidia criar um currculo composto por questes. Estas
questes deveriam valer a pena para que criasse motivao para se procurar
respostas, no apenas do nosso ponto de vista mas, mais importante, do ponto de
vista dos estudantes. Com o intuito de nos aproximarmos mais desta realidade,
juntemos o requisito de que as questes devem de ajudar os estudantes a
desenvolver e interiorizar conceitos que lhes permitiro sobreviver num ambiente
em mudana muito acelerada tanto no presente como no futuro! Obviamente
que partimos do pressuposto que um educador que vive no incio do sculo XXI,
Neil Postman & Charles Weigrartner (1969).
Como cientista, a minha tarefa apresentar
alternativas e no defender qualquer ponto de vista.
John C. Lilly (2003)
A verdade para ser encontrada constantemente na
simplicidade e no na multiplicidade das coisas,
no interior do caos permanece a simplicidade,
Katya Walter (1997)
Este livro est estruturado em trs captulos que exploram a realidade da
educao segundo diferentes referenciais axiolgicos, confrontando dois paradigmas.
Face aos crescentes desafios, colocados nesta fase do percurso evolutivo da
humanidade, resultantes de uma conjuntura complexa e multifacetada, senti um
impulso interior muito forte para explorar o tema da educao. Fi-lo, no s porque
assumo o papel de professor pr-activo e reflexivo, mas tambm porque sinto uma
grande necessidade de propor um modelo que responda s necessidades e anseios
das crianas, professores e encarregados de educao, neste momento de grande
angstia e confuso. Basicamente este livro responde pergunta e desafio de Neil
Postman & Charles Weingartner (1969), Teaching as a Subversive Activity, ou seja,
ensinar tornou-se numa actividade subversiva. Mas porqu? O que aconteceu,
quando e como nos desviamos do essencial e camos na iluso?
Ao ler uma vasta e extensa bibliografia sobre educao senti claramente que as
respostas no se encontram nas anlises e reflexes daqueles que apenas olham
para o problema sob o ngulo dos conceitos especficos do universo das tradicionais
abordagens das cincias da educao. Na verdade o problema da educao, no
um problema da educao. O que o corpo da famlia educativa manifesta so os
sintomas de um problema cuja raiz muito mais profunda. Dificilmente este problema
ser resolvido com reformas educativas decretadas, ou com base em teorias da
EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 8 Educao Integral
Joao Jorge
aprendizagem rebuscadas. O problema da educao reside numa crise de identidade
do homem, no afastamento daquilo que o seu propsito e objectivo, na escola da
terra e do seu verdadeiro currculo. A procura da felicidade o caminho de encontro
consigo prprio. As respostas encontram-se na fronteira e fora da caixa, para l dos
horizontes das nossas actuais crenas.
13 PROJETOS QUE MUDAM A EDUCAO!" O atual cenrio educativo transparece uma profunda crise de valores e reflete uma
tremenda crise de identidade coletiva e individual. Estamos face a um desafio que nos faz
refletir muito sobre o sentido ou validade do ensino em si que, na minha opinio, e de muitos
outros como eu, j perceberam h muito que chegou ao "fim da linha". Precisamos de ideias,
modelos novos e diferentes, que transformem a escola num Centro de Expanso de
Conscincia (CEC). Para lanar alguns elementos de reflexo sobre este tema, apresento
alguns exemplos criativos que apontam no sentido de uma re-evoluo do modelo de ensino,
uns diriam holstico, quntico, integral ou transpessoal:
1. A importncia de se educar para o ser, para a vulnerabilidade - Bren
Brown;
2. Transferir a responsabilidade da educao para as crianas (estilos de
ensinos centrados no aluno e no no professor) - Educao como um
sistema auto-organizado - Sugata Mitra;
3. Educadores e lideres inspiradores - Simon Sinek;
4. A escola enquanto centro da psicologia positiva, do otimismo e da
felicidade - Shawn Achor;
5. Reinventar a educao utilizando a internet e a auto-educao ( preciso
lembrar que a aprendizagem se d a partir de quem aprende e no de quem
ensina) - Salman Khan;
6. Repensar os princpios fundamentais com que educamos as nossas crianas
- Ken Robinson;
7. Educar pelo Jogo da Paz Mundial - John Hunter;
8. Evoluo dos objetivos e contedos da educao fsica no sentido duma
vinculaao marginal ou total desvinculao em relao ao desporto com a
introduo dos jogos cooperativos e a biodinmica como formas de
explorao e integrao da identidade pelo movimento;
9. Escola da Ponte - Jos Pacheco - A Escola Bsica da Ponte situa-se em S.
Tom de Negrelos, concelho de Santo Tirso, distrito do Porto. A Escola
Bsica da Ponte uma escola com prticas educativas que se afastam do
modelo tradicional.
10. Recompensa pela classificao (Motivao extrinseca) versus abordagem
educativa baseada na motivao intrinseca, (desejo de fazer coisas porque
EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 9 Educao Integral
Joao Jorge
elas importam, porque gostamos delas, porque so interessantes, porque
so parte de algo importante) - Dan Pink.
11. Educao Holstica - John Hardy depois de venderem a sua empresa de
joalharia em 2007, envolveram-se num novo projecto, a Escola verde no
bali. Nesta escola, as crianas aprendem em classes ao ar livre rodeadas por
acres de jardins que elas cuidam, aprendem a construir em bamboo e
preparam-se para os exames estilo britnico durante o processo.
12. Tamera - Centro Internacional de Pesquisa para a Paz, uma escola do futuro
e um ponto de encontro internacional de trabalhadores, oriundos de muitas
partes do mundo, para a paz.
13. UNIPAZ | Pierre Weil -Universidade Holstica
EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 10 Educao Integral
Joao Jorge
INTRODUO
Um dia, um homem resolveu procurar a felicidade.
E fez-se ao seu caminho. Os seus primeiros passos foram leves, embalados
pela certeza do final da sua busca:
O cu era azul, os pssaros cantavam e a cada minuto brotava uma flor.
Entretanto, havia algumas pedras no caminho, e rios a serem ultrapassados,
montes a serem vencidos, porque apenas as crianas e os loucos podem acreditar
que seja plano o caminho para a felicidade.
Assim, houve um momento em que o homem sentiu uma pedra a magoar-
lhe os ps; o medo tornou os seus passos, que antes leves e rpidos, passaram a
ser pesados e lentos. E por assim ser, era maior a dor a cada pedra em que
pisava.
Houve um dia em que, ao passar um rio, aborreceu-se pelo obstculo no
seu caminho. Assim, no sentiu a carcia da gua nem viu as cores dos peixes; a
revolta ocupava todo o seu ser. E da por diante, mais difcil se tornava cada nova
travessia.
Noutro dia, irritou-se ao subir um monte; na sua ira, no foi capaz de ouvir o
canto dos pssaros ou admirar as flores que brotavam ao longo do caminho.
Agora chegava exausto ao topo de cada monte, desde aquele dia o que retardou a
sua caminhada. As pedras, os rios e os montes eram tudo que conseguia ver;
embora os pssaros continuassem a cantar e os botes a abrir-se em flores, ao
seu redor.
Como a busca se tornou infindvel, comeou a observar os caminhos dos
outros homens; todos lhe pareciam ter menos pedras, menos rios e montes que o
seu prprio caminho, e apesar disto, todos os outros caminhavam carrancudos
como ele mesmo.
Sem aviso, a Morte o colheu e o levou consigo para outros caminhos; que,
por sua vez, o levariam a novos caminhos. Pois est escrito que o homem
precisar caminhar sempre, enquanto no aprender a desfrutar dos seus passos.
E enquanto se afastava do caminho que percorrera, o homem viu que a
Felicidade se deleitava sobre a relva. Revoltado, bradou-lhe:
1. Agora, mentirosa, surges no meu caminho? Eis que desperdicei toda a minha vida,
consagrando-a tua procura!
2. Sorrindo, respondeu a felicidade:
3. De que me acusas, insensato? A mim, que durante todo o tempo caminhei a teu lado!
Acaso no saibas que foi o meu perfume, quando o podias sentir, que te sustentou
durante a caminhada?
4. Tanto esperei que me descobrisses: nas flores que enfeitavam a tua estrada, nos
pssaros que cantavam para os teus ouvidos, na gua que refrescava o teu corpo, na
esperana que te animava para o novo dia.
5. Dizes que me buscaste! e entretanto, recusaste ver-me, absorvido pelas pedras, rios e
montes que existiam na tua estrada. Fechaste os teus olhos para mim, deslumbrado
pela iluso de me ver como me imaginavas.
6. Acreditaste que eu te traria o que julgavas que te faltasse e todavia, eu estava no que
possuas, pois a felicidade no est na ambio, mas no amor ao que se tem.
EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 11 Educao Integral
Joao Jorge
7. No te culpes, porm: s apenas um homem e no sabeis apreciar o que tendes, mas
apenas desejar o que vos falta. Como acreditais que exista um caminho para mim, sem
saber que acompanho os vossos caminhos. No me deveis buscar, antes, aprendei a
apreciar os vossos caminhos.
Assim, eu vos encontrarei!
Educao com Corpo e corpo com educao um projeto que tem como
objectivo ajudar-nos a apreciar os seus caminhos, a apreciar e amar o que tm
em vez de apenas viver a iluso da felicidade centrada na ambio de ter e fazer
(corpo instrumento de produtividade e sofisticao). Pretende-se que as crianas e
jovens se olhem com olhos de ver e utilizem a sua criatividade e acedam ao seu
Mestre Interior de Verdade de forma a manifestar o seu potencial. A conscincia da
lei da atraco permitir-lhes- obter a felicidade e prosperidade que merecem de
forma sustentvel. Para tal tero que olhar para si prprias e para o mundo com outros
olhos, tero que contemplar, compreender e integrar a sua realidade numa outra
perspectiva, integrar o Quinto Elemento.
Vivemos tempos em que a Escola a Tempo Inteiro representa o pressgio do
fim da infncia e na qual o ensinar se torna numa actividade subversiva segundo
Neil Postman & Charles Weingartner (1969). Qual A verdade Inconveniente da
Educao, que todos os actores da famlia educativa, sobretudo aqueles que tm
responsabilidades sobre os alunos, sejam eles Polticos, Professores e Encarregados
de Educao, teimam em no querer ver? Que ingredientes faltam ao ensino para
que as crianas Aprendam a Ser Felizes? A aprendizagem da felicidade significa a
anttese dos conflitos educativos e sociais, significa implementar um processo de neg-
entropia sistmica, significa introduzir uma varivel na equao que ajude a resolver o
problema educativo e da sociedade.
As disfunes e distores do sistema educativo podem conhecer-se atravs dos
comportamentos e atitudes dos seus atores os quais se mostram cada vez mais
disfuncionais. Ou seja, a construo hologrfica colectiva mostra claramente o quo
vivemos em desamor e as crenas enraizadas transparecem uma profunda falta de
auto-estima e crenas que nos levam a perceber que acreditamos merecer
austeridade, escassez, tenso, dureza e desconsiderao. Ou seja, o actual estado
social colectivo mostra profundamente o quo profundo o nosso desamor e o quo
desligados nos tornamos da nossa natureza espiritual profunda. Ns no precisamos
de escolas porque estas no formam, no educam, apenas perpetuam as crenas
disfuncionais eu nos conduziram a este estado social coletivo. Ns precisamos sim de
CENTROS DE EXPANSO DE CONSCINCIA, locais onde seja promovida uma
transformao e conscincia e se aprenda a dominar as competncias relativas
nossa TECNOLOGIA INTERIOR, aquela que nos permite compreender o potencial
bio-espiritual integrado na nossa biologia. Atravs da super-radincia poderemos
manifestar um novo holograma, um no qual a nossa realidade esteja e consonncia
com os objectivos mais belos, harmoniosos e felizes.
EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 12 Educao Integral
Joao Jorge
Vivemos tempos de grande transformao que exigem um amadurecimento. O
maior desafio da educao ainda est por acontecer, e ir desafiar as crenas mais
enraizadas que aliceram o actual modelo educativo.
A cura para a crise educativa produz-se exclusivamente a partir de uma
doena - do Sistema Educativo - transmutada, nunca com base num sintoma
derrotado (luta contra o desvio norma?), uma vez que cura significa que o ser
Humano (ou a Instituio educativa) se torna so, mais completo. Cura significa
redeno aproximao dessa plenitude de conscincia que se apelida tambm
de iluminao. A cura consegue-se incorporando aquilo que falta, o que no
possvel sem uma expanso da conscincia. Doena e cura so conceitos que
pertencem exclusivamente ao campo da conscincia, pelo que jamais podero
aplicar-se ao corpo (fisiolgico e/ou social), visto que este nunca est nem doente
nem so. No corpo reflectem-se apenas em cada situao concreta, estados de
conscincia, Thorwald Dethlefsen & Rdiger Dahlke (2002). Ou seja, no corpo
docente e discente reflectem-se apenas em cada situao concreta, estados de
conscincia. Aprender a ser feliz corresponde a um investimento numa
modificao dos estados de conscincia.
A felicidade tornou-se uma utopia no nosso sculo. Nem sempre os homens
situam a sua realizao no plano do bem ou da felicidade. Contentam-se com
objectivos mais prximos e mais imediatos. Para alguns o critrio o da utilidade:
fazem o que lhes d lucro ou proveito para os seus objectivos. Para outros o critrio
o prazer. Faz-se o que d satisfao e evita-se o que desagradvel. A felicidade
integra a dimenso da utilidade e do prazer, mas selecciona o que til ou d prazer
em funo de valores elevados, valores espirituais. A felicidade acontece na
apreciao do caminho e no apenas como consecuo dos desejos. A felicidade
acontece no reencontro connosco, na tomada de conscincia e na concretizao do
nosso propsito. A felicidade uma aco que faz o Homem, que o forma em funo
da imagem que tem de si, que o faz atingir a plenitude da sua dimenso humana como
reflexo da sua contraparte espiritual. Significa que as suas realizaes exteriores
devem estar em consonncia com o seu projecto interior (espiritual) de ser, significa
que no deve deixar que as ocupaes exteriores abafem a sua interioridade, mas
antes recebam dela o seu significado e o seu valor.
As solues para a actual crise social e educativa devem ser procuradas atravs
de um contacto ntimo com a nossa realidade interior, essa sabedoria residente
inspiradora. Isto significa que, as solues para a actual crise educativa pressupem
um amadurecimento do actual modelo paradigmtico que representa um desvio do
caminho da felicidade, exacerbando o apego iluso e falsa noo de felicidade.
Para tal, fundamental ter coragem para nos despirmos de preconceitos e retirar os
nossos espartilhos mentais que condicionam a nossa liberdade de expresso e de
auto-realizao. Este livro apresenta alternativas e argumentos que nos ajudam a
compreender o potencial disponvel, e as ferramentas de promoo de uma profunda
transformao da nossa realidade em funo de uma sociedade mais justa,
equilibrada, harmoniosa e prspera, que respeite tudo aquilo que no tem respeitado.
A dimenso educativa passa a ser da responsabilidade de cada um de ns,
assumindo consciente e autonomamente o potencial soberano de auto-realizao e
auto-educao, sob a orientao do Mestre Interior de Verdade.
EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 13 Educao Integral
Joao Jorge
Na minha opinio, o objectivo ltimo da educao deve ajudar as crianas na
descoberta e domnio das ferramentas e instrumentos necessrios e teis, que lhes
permitam serem felizes, ou seja, realizarem-se segundo vrias dimenses. As
orientaes e instrumentos que lhe so dadas pelo processo de enculturao,
desviam a ateno do essencial para o suprfluo, e criam a imagem de um mundo
cheio de lobos maus, dificuldades, factores de risco, obstculos, complexidade e
sofrimento. Porm, a proposta explorada ao longo deste livro, mostra que o caminho
para a felicidade, os instrumentos e o potencial para a alcanar, residem dentro de
cada um de ns, espera de ser reconhecido. S existe um obstculo felicidade,
ns prprios. A descoberta da nossa verdadeira identidade e o que isso implica, a
chave para a felicidade. A sua aceitao pressupe a integrao da nossa sombra e a
chave reside na inteligncia do centro cardaco e na sua funo ltima, o amor.
EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 14 Educao Integral
Joao Jorge
CAPTULO I EDUCAO SEM CORPO
EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 15 Educao Integral
Joao Jorge
1.1 - EMPREITADA EDUCATIVA.
1.1.1 - REFINAR A FARINHA:
A princpio, o gro era triturado entre duas pedras. A prpria energia do homem
era dispendida para transformar o gro em farinha. Bolos e pes eram feitos de
farinha. No instante em que o gro transformado em farinha, a sua energia natural
ou a sua fora vital (no importa se lhe chamamos nutrientes, vitaminas ou enzimas),
reduzida. Uma vez o gro pulverizado, ele no mais germinar, no poder
reproduzir-se.
Os moinhos movidos a energia humana foram substitudos por moinhos de gua.
Ento, os cruzados introduziram o moinho de vento importados das terras rabes.
Posteriormente, as pedras seriam substitudas por esteiras de ao, a gua
tornou-se vapor e, depois electricidade. A potncia aumentou e as farinhas tornaram-
se cada vez mais REFINADAS. Aquilo que chamada civilizao (separao da terra),
avanava. Cada vez se usava mais energia para remover a fora vital dos gros,
triturando, moendo e peneirando, inicialmente em peneiras de l, que seriam
substitudas pelas de linho e, finalmente, por redes de seda. As pessoas comem
farinhas refinadas e tornam-se pessoas refinadas! Cada vez mais se removia maiores
pores dele, a comear pelo germe ou semente. Se os gros de trigo cados entre as
esteiras fossem plantados na terra, um gro daria origem a muitssimos outros. O
produto final do processamento do gro, a farinha, era, contudo morta. Esta apodrecia
se fosse colocada no solo porque a sua energia vital fora extrada, perdida,
assassinada, gasta. Assim, os alimentos derivados desta farinha morta, precisam de
corantes e conservantes qumicos. So dispendidas quantidades enormes de energia
pelos departamentos de venda e marketing para vender estes produtos derivados, em
caixas meio vazias, de comida morta. Associam cupes que do prmios e brindes
aos produtos para aliciar as pessoas refinadas a comprar estas caixas meio-vazias,
das prateleiras dos supermercados. At onde que vai a nossa necessidade de
requinte e refinamento (automveis, casas, mobilirio, utilitrios, comodidades
refinadas) qual o preo que estamos a pagar por esta corrupo?
A Sofisticao da farinha (sofisticar significava corromp-la), significa estrag-
la, adicionando-lhe substncias estranhas ou inferiores. A palavra sofisticar
eventualmente sairia de moda e foi substituda por adulterar, que por sua vez cedeu
lugar branda descrio quantitativa de substncias inferiores como aditivos.
Hoje somos to sofisticados, a nossa comida est to desvirtuada, que os
nossos sofisticadores nos fazem cair num mal entendido. Ser que a comida precisa
ser fortificada ou enriquecida? Por que razo refinar a farinha e depois enriquec-
la? O processo de refino retira muitos elementos vitais do gro, isso tudo em nome do
progresso. Progresso sinnimo de adulterao, de afastamento da simplicidade e
equilbrio da natureza.
EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 16 Educao Integral
Joao Jorge
1.1.2 - REFINAR O ENSINO:
Os Rios So Rios:
Na maior parte das situaes do quotidiano, a aprendizagem no chega a ser um
problema. O leigo aceita sem questionar que aprendemos atravs da experincia e
no v nada de problemtico na aprendizagem. Por toda a histria da humanidade as
pessoas aprenderam, e na maioria dos casos, sem se preocupar com a natureza do
processo. Os pais ensinaram aos filhos, os oficiais de uma profisso ensinaram os
seus aprendizes. Os que ensinaram sentiam pouca necessidade de conhecer uma
teoria da aprendizagem. O ensino consistia em dizer e mostrar como, elogiar quando
o aluno ia bem e castig-lo quando ia mal. Contudo, este ir bem ou mal depende do
consenso de realidade que imperava. O professor simplesmente ensinava como havia
sido ensinado quando jovem.
Os Rios deixaram de ser rios:
Quando foram criadas as escolas (Moagem Refinamento), como ambientes
especiais para facilitar a aprendizagem, ensinar deixou de ser uma questo to
simples. As matrias ensinadas na escola eram diferentes dos assuntos aprendidos na
rotina da vida de uma tribo ou da sociedade. Para as crianas, dominar as matrias
escolares (linguagem, leitura, aritmtica, lnguas estrangeiras, geometria, histria ou
qualquer outra), parecia uma tarefa completamente diferente das que a vida diria
oferecia. As pessoas (crianas, jovens e adultos), frequentam modelos pedaggicos
refinados e tornam-se refinadas, Educadas mas adulteradas, Corrompidas.
Segundo Bodgan Suchodolsky (1984) at ao presente e de certo modo, a Educao
serviu de ornamento ao homem que desejava brilhar na sociedade graas a tal enfeite,
no ensinou o homem a viver a vida real. O seu valor para a vida prtica parecia
pouco claro. Tais matrias, cuja utilidade imediata no bvia, apresentam-se aos
alunos como muito diferentes dos ofcios e habilidades que precisam ser
desenvolvidos no dia-a-dia da vida social, econmica e poltica.
Assim que a educao se formalizou nas escolas, os professores
consciencializaram-se de que a aprendizagem na escola , frequentemente muito
ineficiente (Adulterar). O contedo a ser aprendido pode ser apresentado aos
alunos inmeras vezes sem resultados palpveis. Muitos estudantes mostram-se
desinteressados, outros tornam-se rebeldes, ou ainda passivo-agressivos - Jos M.
L. Diogo (1998), trazendo srios problemas para os professores.
A Sofisticao (sofisticar o ensino: literacia, novas tecnologias), significa
corromp-lo ou estrag-lo, adicionando-lhe ritmos estranhos e acessrios ou
extenses (desrespeitando a cronobiologia e a tecnologia Interior), e
consequentemente muitas vezes as salas de aula assemelham-se a campos de
batalha onde professores e alunos fazem guerra Morris L. Bigge (1971), uns contra os
outros alimentando os Conflitos da Educao, L. D Hainaut, (1980).
A Educao resultante desta educao morta precisa de corantes pedaggico-
didcticos (Cosmtica), e conservantes legais decretados.
EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 17 Educao Integral
Joao Jorge
Tal estado de coisas pode vir a ser considerado como facto consumado por
professores, alunos e pais que, consequentemente, acham natural que os jovens no
gostem da escola (Neofobia) e tentem resistir aprendizagem acadmica. Em
decorrncia, assumem que isso apenas mais um dos factos desagradveis da vida:
as crianas e os jovens aprendem pouco na escola.
Quando ensinar deixou de ocorrer no colo das mes para se processar num
ambiente formal planejado especificamente para promover a aprendizagem, foi
inevitvel que um pequeno grupo de pessoas comeasse a especular se realmente as
escolas estariam a conseguir os melhores resultados possveis.
Psiclogos e educadores, analisando criticamente as prticas escolares,
verificaram que o desenvolvimento de correntes de pensamento em Psicologia, mais
ou menos sistemticas, oferecia um instrumento para a cristalizao do seu
pensamento. Cada uma dessas correntes continha, explcita ou implicitamente, uma
teoria da aprendizagem. Por outro lado, cada teoria da aprendizagem tinha, implcito,
um conjunto de prticas escolares. Portanto, o modo pelo qual um educador elabora
um currculo, selecciona material e escolhe as suas tcnicas de instruo, depende
em muito de como ele define a aprendizagem. Portanto, uma teoria da aprendizagem
pode funcionar como um instrumento de anlise e os seus seguidores podem us-la
para avaliar a qualidade de uma determinada situao na sala de aula.
1.1.3 INFORMAO, CONHECIMENTO OU SABEDORIA?
Uma das maiores armadilhas colocada aos homens foi o poder do capitalismo
financeiro nas mos privadas, capazes de dominar o sistema poltico de cada pas e a
economia de todo o mundo, atravs da criao de um sistema mundial de controlo
financeiro. Este terceiro estgio do capitalismo possui uma to significativa importncia
na histria do sculo XX, e as suas ramificaes e influncias so to subterrneas e
at ocultas, que passam por um dos maiores benefcios de riqueza e prosperidade
para a humanidade. Este sistema foi criado com o intuito de controlar de uma forma
feudalista, pelos bancos centrais do mundo, que agem em consonncia, atravs de
acordos secretos em reunies tambm elas sigilosas. Estes poucos, manipulam a
actividade econmica nos pases e influenciam os polticos coorporatizados atravs de
recompensas econmicas no mundo dos negcios, escreve William Bramley (1989),
The Gods of Eden. Deitem fora tudo o que pensem que sabemos sobre histria.
Fechem os livros escolares aprovados, encerrem os mass media corporatizados, e
tudo o que fizermos, no confiem em nada que escutem do vosso governo, afirma Jim
Marrs (2008) um jornalista premiado do New York Yimes. Jos Argelles (1996), O
Chamado de Pacal Votan afirma mesmo, a democracia um logro e tem como
finalidade manter-nos na iluso do poder e da segurana. As instituies
Governamentais e monetrias so o resultado de um construto mental, e como
qualquer pensamento, os conceitos dinheiro e Governo so uma iluso. Os
Governos existem como resultado da crena de que os humanos no so
suficientemente inteligentes, bons ou fortes para cuidar de si mesmo. A prpria noo
de Governo , definitivamente, despotencializadora, negando o potencial da
autonomia genuna ou soberania individual, afirma Jos Argelles (1992). O
EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 18 Educao Integral
Joao Jorge
documentrio Inside Job mostra claramente os meandros do poder deste
capitalismo e o reflexo irresponsvel sobre a sociedade e a atual crise:
Atravs de uma pesquisa extensiva e entrevistas com economistas, polticos e
jornalistas, "Inside Job - A Verdade da Crise", mostra-nos as relaes corruptas
existentes entre as vrias partes da sociedade. Narrado pelo actor Matt Damon e
realizado por Charles Fergunson, este o primeiro filme que expe a verdade
acerca da crise econmica de 2008. A catstrofe, que custou mais de $20 trilies,
fez com que milhes de pessoas tenham perdido as suas casas e empregos.
Daniel Goleman (2003) faz meno do trabalho de investigao de Urie
Bonfrenbrenner. Na ausncia de bons sistemas de apoio, as presses externas
tornam-se to intensas que at as famlias mais fortes esto a desmoronar-se. ()
A agitao e instabilidade expem as crianas, particularmente vulnerveis, a
foras to disruptivas como os efeitos devastadores do divrcio, da pobreza e do
desemprego. () Estamos a privar milhes de crianas das suas competncias e
do seu carcter moral. () A competio a nvel internacional fez baixar os custos
de mo-de-obra criando foras econmicas que pressionam as famlias.
Famlias financeiramente sitiadas; Ambos os pais trabalham longas
horas; Filhos deixados em creches mal dirigidas que equivale ao abandono,
entregues a si mesmos ou a ver televiso (Baby sitter electrnica) ; Famlias
monoparentais () A eroso dessas incontveis e pequenas trocas (afectos /
amor), entre pais e filhos que esto na origem das competncias emocionais.
O poder do capitalismo tornou-se no patro da educao, e as reformas
educativas visam colocar a escola, cada vez mais, ao servio da economia em
detrimento do Homem. Actualmente j no so os psicopedagogos, os filsofos ou
neurocientistas e outros investigadores que determinam os modelos educativos, so
os economistas. Ou seja, o secular dilogo de tese e anttese da Pedagogia da
Essncia versus Existncia retratadas por Bogdan Sushodolski (1984), A Pedagogia e
as Grandes Correntes Filosficas, foram substitudas pela Pedagogia do Capitalismo,
tempo dinheiro. As teorias da aprendizagem foram substitudas pelas teorias da
informao enquanto ramo da teoria da probabilidade e da matemtica estatstica,
Claude E. Shannon. A escola e os actores da famlia educativa so agora entendidos
como sistemas de processamento de informao onde a memorizao de grandes
quantidades de conceitos (vocabulrio) se confunde com erudio, e a retrica e
demagogia substituram a procura da verdade. Tudo na educao se tornou numa
questo matemtica e estatstica, tudo foi quantificado, categorizado e taxonomizado.
Na era da informao, tornamo-nos em capital intelectual, meros recursos
humanos. A mudana de uma economia baseada no trabalho e capital, para uma
outra de informao, requer trabalhadores literados que saibam como interpretar essa
informao para alm da leitura, escrita e aritmtica. A utilizao de trabalho
temporrio aumentar, bem como os nosso receios sobre a chamada precaridade
laboral. Este cenrio aumentar a instabilidade, a impermanncia e os medos dos
cidados. Vladimir Muzhesky, On perceptual Economy: subversive tendencies in
simulations afirma que toda a economia se baseia na dissociao que ocorre a nvel
neurolgico entre o processamento espacial e textual: o espao visual dissecado e
EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 19 Educao Integral
Joao Jorge
quando reconhecido como tal pode ser embalado e vendido. O mundo
transforma-se em metforas. Os geradores psicotrnicos so unidades as quais,
por definio, relacionam-se com a actividade do sistema nervoso humano com o
intuito de modificar a sequncia do seu comportamento a um nvel individual e
colectivo. Para se compreender a dinmica desta programao mental informativa
basta analisar como so construdos os mapas e funes cognitivos a luz da
psicologia cognitiva. A noosfera transformada numa tecnosfera ou ciberesfera, um
mundo sinttico de iluso que tolda a percepo humana Matrix.
Esta filosofia mecanicista v a humanidade como um mecanismo de relojoaria e
Deus um relojoeiro csmico, Philip Ball (2004), Massa Crtica. Esta viso
desenvolvida por um crculo de filsofos mecanicistas esteve na base dum conjunto de
crenas que viriam a dominar a organizao social at aos dias de hoje. Thomas
Hobbes, Leviat, foi o primeiro a procurar uma fsica da sociedade o que levou a
tratar as pessoas como se fossem apenas pores de matria inanimada ou
recursos humanos, e a modelao da sociedade baseada na fsica estatstica.
Definiu o poder como a capacidade de assegurar bem-estar ou vantagem pessoal.
Assim, o modelo de sociedade de Hobbes gira em torno da suposio de que as
pessoas procuram acumular poder at um nvel pessoal de saciedade que varia entre
indivduos, Philip Ball (2004).
Crenas:
A vida a procura de poder, Thomas Hobbes;
O homem como mquina de prazer, economista Francis Edgeworth;
O trabalhador um comerciante que comercializa o seu tempo e suor, Adam Smith;
O capitalista procura o lucro;
O dinheiro a chave da liberdade, Economista Austraco Friederich von Hayek;
As teorias sociais abordam a realidade da paisagem scio-cultural numa
perspectiva de comrcio e distribuio da riqueza. Contudo, a prpria noo de
riqueza est contaminada por preconceitos, atribuindo-lhe uma conotao materialista
desviando e substituindo o objectivo da humanidade de um pressuposto de evoluo
espiritual por outro no domnio do realismo materialista. O objectivo ltimo do
homem foi reduzido actividade laboral e a mxima aspirao humana a
ascenso na carreira e a acumulao de bens materiais que lhe do um estatuto de
distino e poder. A educao tornou-se num instrumento privilegiado de doutrinao
e de manipulao dos cidados.
lvaro Almeida dos Santos e colaboradores (2009), no seu livro Escolas do
futuro, 130 boas prticas de Escolas Portuguesas revelam as boas intenes,
dedicao e vontade de contribuir positivamente no sentido de uma melhoria da
realidade educativa e social. Porm, as escolas e os seus actores esto limitados e
condicionados na sua capacidade inovadora e reflexiva, porque se encontram refns
de um paradigma que bloqueia a sua percepo e o seu caminho rumo a uma
verdadeira maturidade educativa e social.
EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 20 Educao Integral
Joao Jorge
Noutro nvel da hierarquia da tomada de decises, acredita-se que o objectivo da
poltica prtica rodear qualquer sociedade com o maior nmero possvel de
circunstncia nas quais as tendncias sejam benficas e retirar, contrariar ou
combater, tanto quanto for praticvel, aquelas em que as tendncias sejam
prejudiciais. Um conhecimento apenas das tendncias, embora sem o poder de prever
com correco o seu resultado conjunto d-nos, at um grau razovel, esse poder. No
entanto, as transformaes impostas, decretadas ou dirigidas pelo exterior no
conquistam resultados palpveis, consistentes e duradouros porque vem o Homo
economicus e no o Homem luminosus. O homo economicus rege-se pelo medo dos
ritmos e ciclos econmicos de expanso, retraco e da recesso, a mo trmula
oculta da economia, e o homo luminosus orienta-se pelo amor e navega na
impermanncia livre e graciosamente. O Homo economicus procura optimizar o
comportamento social guiado pelo impulso de minimizar o esforo, o tempo, a
distncia, ou maximizar o lucro e a pseudo-felicidade segundo a lei do menor esforo
de Zipf. No entanto, por debaixo da superfcie maquilhada da lei e da ordem social
existe uma forte presso colectiva, de desconfiana mtua pronta a emergir em
momentos de crise. A crise de identidade e de Conscincia Espiritual do homo
economicus torna-o dependente e vulnervel aos comportamentos de massa porque
coexiste numa paz podre. A privao social, a dureza das condies de vida, os
baixos nveis salariais e as taxas de desemprego podem ser consideradas foras
impulsionadoras para o aumento da manifestao das tenses latentes em conflitos
sociais emergentes. Na verdade, toda a sociedade que conhecemos apoia-se numa
ordem fictcia, numa falsa harmonia porque ao menor sinal de adversidade e de
provao social, manifestam-se os medos e ressentimentos no resolvidos da
sombra, que deterioram os laos que nos unem. As foras das atitudes sociais e os
valores da famlia so manipuladas e modelados pela poltica econmica que
procura maximizar a vantagem conjugal em funo dos incentivos e benefcios
econmico-estatsticos dos subsdios atribudos. As prprias relaes humanas e os
laos estabelecidos na rede social flutuam em funo das vantagens e
oportunidades econmicas e no em funo do crescimento espiritual individual e
colectivo, de uma verdadeira revoluo interior.
Com base no estudo desenvolvido por Robert Axtell e Joshua Epstein, do
Instituto de Brookings, Sugarscape que se assemelha ao jogo SimCity cujo
objectivo construir e manter uma cidade inteira, podemos tirar vrias elaes. Neste
jogo tem-se a oportunidade de fazer de Deus. Sugarscape serviu como um campo de
ensaios genricos para as teorias sociais. Verificaram que o comrcio distorce a
distribuio da riqueza, pelo que a maioria dos agentes pobre enquanto um
pequeno nmero deles acumula enormes riquezas. O Cientista Social George
Kingsley Zipf demonstrou na dcada de 1930, esse comportamento em lei de
potncias. Ou seja, os ricos ficam mais ricos porque existem diferenas de acesso
ou no controlo dos recursos num mercado livre, resultando num nmero significativo
de acontecimentos extremos: indivduos muito ricos ou empresas enormes
(corporaes que controlam o mundo). Esta inevitvel assimetria na distribuio
das riquezas como uma consequncia inevitvel do modelo economicista serve
principalmente a busca de poder de uns poucos sobre a maioria, e transforma a
agenda poltica em meras declaraes de inteno contaminadas a-priori, por um
modelo falacioso dominado por um punhado de indivduos com intenes duvidosas.
EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 21 Educao Integral
Joao Jorge
O Sugarscape apenas um exemplo de uma ampla gama de sistemas baseados em
modelos computacionais que procuram fornecer uma compreenso do modo como as
estruturas sociais, as instituies, os comportamentos e as tradies emergem de
baixo para cima, ou seja, da forma como os indivduos interagem localmente uns com
os outros. Estas interaces de redes sociais podem ser orientadas atravs da
enculturao impressa na programao escolar. No entanto, dificilmente se pode
esperar que esses modelos constituam uma base slida da definio de polticas, at
que sejamos capazes de distinguir o que acidental daquilo que robusto.
Principalmente falta-nos a linguagem que permite compreender a Tecnologia Interior e
a Cincia da Inteligncia do Centro Cardaco. () os factos apontam para uma
instituio poltica que hoje consideraramos intolervel e mais capaz de contribuir
para a misria humana do que diminui-la, um aviso em relao dificuldade em
escapar s tendncias dos tempos em que se vive, por mais cientficos que tentemos
ser, Philip Ball (2004).
A certeza da avaliao:
Acredita-se (Preconceito) que os dados tornam visvel o invisvel, revelando
pontos fortes e fracos, que so facilmente ocultados. Os dados Promovem a certeza e
a preciso, algo que aumenta a confiana dos professores nas suas prprias
capacidades, Tucker & Stronge (2005). Vende-se a imagem que os docentes eficazes
possuem motivao no actual sistema e como tal acreditam na avaliao como um
barmetro do sucesso e uma ferramenta motivadora; a avaliao faz parte integral
da instruo. Crena que os professores verdadeiramente eficazes CONTROLAM a
aprendizagem escolar do aluno de forma contnua, e utilizam a informao para
melhorarem a sua prpria prtica docente. Acredita-se inquestionavelmente que a
educao se tornou uma ferramenta importante para a alfabetizao e riqueza de um
pas, capital intelectual, contribuindo para um bom ndice de Desenvolvimento
Humano. A partir do momento em que as escolas produzem educao para a
sociedade e no para os indivduos ou famlias, a funo de certificao da escola
passa a ser objecto de estandardizao e de um controlo apertado. Assim, o ritual da
classificao, assume uma evidente centralidade e a utilizao de categorias
estandardizadas de alunos passa a constituir um dos requisitos essenciais, Virgnio
S (1997). Ao aceitar e privilegiar a certificao e a seleco, sobrepondo-as s suas
funes iniciais, a escola no s se adulterou por completo como perdeu toda a
capacidade de inovao e criatividade. Os professores ficam pressionados e
sentem que a sua primeira responsabilidade no preparar os alunos para a
vida mas recolher os elementos, as informaes para dar notas no fim do
perodo e, no fim do ano, para decidir quem passa e quem reprova. Um professor
poder no fazer nada durante o ano, poder subverter por completo os objectivos da
sua disciplina e at mesmo a escola, mas se der as notas no momento certo est tudo
salvo, cumpriu a primeira funo que lhe exigem. E se der notas altas para premiar os
virtuosos e notas baixas para punir os incapacitados, os indisciplinados,
desobedientes e rebeldes, a sua eficcia total, Baptista (1999).
EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 22 Educao Integral
Joao Jorge
O melhor aluno ser o mais apto, o mais inteligente? No, o que melhor aceita
a lgica da escola. Na tipologia de Weiss (1986) citado por Baptista (1999), parece
ser muito mais o aluno aplicado e disciplinado, que no se dissocia do submisso, do
que o aluno activo, socivel e inteligente, a menos que a inteligncia seja orientada
no sentido de agradar ao professor, de melhor captar as suas expectativas.
Muitos alunos sem sucesso na escola, tiveram maior sucesso na vida porque,
embora altamente dotados, recusaram este esprito competitivo, tantas vezes
doentio e desleal, contrariando frontalmente a prpria funo (des)educativa. Outros,
simplesmente, no tendo condies ou meios para um lugar honroso, preferem
abandonar, a suportar indefinidamente a mediania ou a mediocridade com a qual no
se conformam (Rankings e/ou quadros de Honra). A crise da escola em todo o mundo,
o mal-estar que afecta os professores, os alunos e os pais, decorre essencialmente da
subverso das funes iniciais, do seu total desajustamento actual face s
profundas transformaes sociais e sobretudo espirituais, desmotivando uns e
outros, e conduzindo a nveis de eficcia irrisrios face aos crescentes investimentos
que absorve. Numa sociedade da informao e do conhecimento, o saber j no
(nem nunca foi na verdade), uma prerrogativa concedida apenas por instituies
formais, Roberto Carneiro (2001). Por isso imperativo descentralizar a Educao e
flexibilizar os projectos educativos, entregando-os a Comunidades Auto-Educativas,
auto-sustentaveis. Educar para o desenvolvimento humano mais um tema do
relatrio da UNESCO (1996) e a pode ler-se que, um dos principais papis reservados
educao consiste, antes de mais, em dotar a humanidade da capacidade de
dominar o seu prprio desenvolvimento. imperativo perguntar o que se
entende por desenvolvimento.
A educao deve, de facto, fazer com que cada um tome o seu destino nas
mos e contribua para o progresso da sociedade em que vive, baseando no
desenvolvimento na participao responsvel dos indivduos e comunidades.
Assim, uma educao que contribua para o desenvolvimento Humano, como
vem no relatrio da UNESCO (1996), assume que um desenvolvimento responsvel
no pode mobilizar todas as energias sem um pressuposto: fornecer a todos, o mais
cedo possvel, o passaporte para a vida, que os leve a compreender-se melhor a si
mesmos e aos outros e, assim, a participar na obra colectiva e na vida em sociedade.
O desenvolvimento visa a realizao do ser enquanto tal, e no enquanto meio de
produo. O desenvolvimento entendido pela UNESCO pressupe a auto-
conscincia, e a libertao do poder neo-escravizador da economia.
A sabedoria existe fora da caixa (quadro de referncias), na fronteira da caixa est o conhecimento, e dentro da caixa a informao. Onde est a sabedoria que perdemos no conhecimento? Onde est o conhecimento que perdemos na informao? T. S. Eliot (1934).
EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 23 Educao Integral
Joao Jorge
Ao nos tornarmos profissionais competentes, esquecemos o amor pelo que
fazemos. Contudo, aliada a uma elevada competncia tcnica/racional (QI) est uma
maior incompetncia emocional (QE), patente nos conflitos sociais, educativos,
familiares, que se multiplicam e reflectem a falta de paz e harmonia interior. Atravs da
educao refinada tornamo-nos adultos educados mas adulterados.
O que a felicidade?
A definio de Felicidade do dicionrio refere o estado de quem feliz; ventura;
boa fortuna; dita; sorte; bom xito; contentamento. A felicidade rene em si um
conjunto de pressupostos como prosperidade, sade, bem-estar, satisfao, prazer,
alegria, realizao pessoal e profissional. Ns convencionamos que a felicidade
depende da conquista de um conjunto de bens materiais, segurana e de
estabilidade relacionadas com pressupostos materiais. Vejamos qual o perfil de
orientao felicidade dos Portugueses num estudo desenvolvido por Manuel
Villaverde Cabral (1997), Doutorado em Histria e investigador do Instituto de Cincias
Sociais da Universidade de Lisboa, Cidadania Poltica e Equidade Social em
Portugal: no perfil de orientao felicidade em Portugal surge o ter Dinheiro em
segundo lugar logo a seguir a Boa vida conjugal para o sexo feminino e, em primeiro
lugar, para o sexo masculino. Ter sade surge em terceiro lugar para ambos os
sexos. Estes dados representam a realidade de h treze anos atrs, contudo acredito
que os valores que orientam as nossas vidas, os objectivos e prioridades que
estatelemos no se alteraram muito, excepto as dificuldades que enfrentamos, e o
caos social, econmico e ambiental que nos afasta cada vez mais da felicidade, e
acentua a angstia e o desespero.
Perguntaram ao Dalai Lama o que mais o surpreendia na humanidade?
REPOSTA: Os homens! Porque perdem a sade para juntar dinheiro (+),
depois perdem dinheiro (-), para recuperar a sade. E por pensarem
ansiosamente no futuro, esquecem o presente de tal forma que acabam por no
viver nem o presente nem o futuro. E vivem como se nunca fossem morrer, e
morrem como nunca tivessem vivido.
Os desvios que fizemos, relativamente felicidade, esto patentes num texto de
resposta do chefe Seatle, distribudo pelo Programa Ambiental das Naes Unidas,
que tem sido considerado, atravs dos tempos, como um dos mais belos e profundos
pronunciamentos j feitos, a respeito da defesa do meio-ambiente, e que retrata as
consequncias do nosso perfil de orientao felicidade. Esta foi a resposta deste
ndio no ano de 1854, ao presidente dos Estados face proposta de comprar grande
parte de suas terras, oferecendo, em troca, a concesso de outra "reserva".
Como que se pode comprar ou vender o cu, o calor da terra? Essa ideia
parece-nos estranha. Se no possumos a frescura do ar e o brilho da gua, como
possvel compr-los? Cada pedao desta terra sagrado para meu povo. ()
Se lhes vendermos a terra, vocs devem lembrar-se de que ela sagrada, e
devem ensinar s suas crianas que ela sagrada e que cada reflexo nas guas
lmpidas dos lagos fala de acontecimentos e lembranas da vida de meu povo.
EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 24 Educao Integral
Joao Jorge
() Se lhes vendermos a nossa terra, vocs devem lembrar e ensinar os vossos
filhos que os rios so nossos irmos, e vossos tambm. () Sabemos que o
homem branco no compreende os nossos costumes. Uma poro de terra para
ele, tem o mesmo significado que qualquer outra coisa, pois um forasteiro que
vem noite e extrai da terra, aquilo que necessita. A terra no sua irm, mas
sua inimiga e, quando ele a conquista, prossegue o seu caminho. Deixa para trs
os tmulos dos seus antepassados e no se incomoda. Arranca da terra aquilo
que seria dos seus filhos e netos. A sepultura do seu pai e os direitos dos seus
filhos so esquecidos. Trata a sua me, a terra, e o seu irmo, o cu, como coisas
que possam ser compradas, saqueadas, vendidas como carneiros ou enfeites
coloridos. O seu apetite devorar a terra, deixando somente um deserto. Eu no
sei, os nossos costumes so diferentes dos vossos. A viso das suas cidades fere
os olhos do homem vermelho. Talvez seja porque o homem vermelho um
selvagem e no compreenda. () H uma ligao em tudo. Vocs devem ensinar
s vossa crianas que o solo a seus ps a cinza dos nossos avs. Para que
respeitem a terra, digam a vossos filhos que ela foi enriquecida com as vidas do
nosso povo. Ensinem s vossas crianas o que ensinamos s nossas, que a terra
nossa me. Tudo o que acontece terra, acontecer aos filhos da terra. Se os
homens cospem na terra, esto a cuspir em si mesmos. Isto sabemos: a terra no
pertence ao homem: o homem pertence terra. Isto sabemos: todas as coisas
esto ligadas como o sangue que une uma famlia. H uma ligao em tudo. O
que ocorrer com a terra recair sobre os filhos da terra. O homem no tramou o
tecido da vida; ele simplesmente um de seus fios. Tudo o que fizer ao tecido,
far a si mesmo. () A terra -lhe preciosa e feri-la desprezar o seu criador. Os
brancos tambm passaro: talvez mais cedo que todas as outras tribos.
Contaminem as vossas camas, e uma noite sero sufocados pelos prprios
dejectos. () Onde est o arvoredo? Desapareceu. Onde est a guia?
Desapareceu. o final da vida e o incio da sobrevivncia.
Viktor Schauberger (1885-1958) afirmou que as pessoas consideram-me
louco. Isso pode ser verdade, mas neste caso isso no tem importncia porque
assim existe mais um imbecil neste mundo. Contudo, se eu estiver correcto e as
cincias estiverem enganadas, ento que o Senhor tenha misericrdia da
humanidade!.
Existe um n cego na atitude cientfica, a qual declara que, se a utilidade de
algo no est provada ou compreendida ento no existe, Katya Walter (1997).
Os imprios nascem, vivem e morrem como as pessoas, acabando engolidos
pela voragem do tempo, vtimas do seu prprio apetite, pois j nascem contendo,
em letargia, os factores da prpria destruio. exactamente o que ir acontecer
ao imprio capitalista porque no respeita princpios e valores universais
fundamentais.
1.1.4 O PARADOXO LUSITANO.
A nossa demanda pela felicidade, acarretou enormes consequncias e custos
humanos: A posio portuguesa paradoxal na Europa: somos os campees do
desejo de independncia pessoal, mas depois no concretizamos a vontade de
empreender. Segundo o ltimo Eurobarmetro da Comisso Europeia, 62% dos
EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 25 Educao Integral
Joao Jorge
portugueses pretendem ser independentes economicamente, desejariam ser
patres de si prprios, mas no tm coragem de dar o passo empreendedor,
porque 62% tm medo de falhar e 82% alegam falta de apoio financeiro. Apesar
de s 32% quererem ser empregados por conta de outrem, a vontade de corte no
passa prtica em Portugal. A cultura da dependncia , ainda, muito forte no
nosso pas. No por acaso que apenas acreditamos que o nosso
desenvolvimento tenha que ser sustentado (ENDSustentado).
Ser que A Estratgia Nacional de Desenvolvimento Sustentado (ENDS) a
soluo para os nossos problemas, ou devemos privilegiar a A cura do medo de
falhar?
O filsofo Jos Gil, tido como um dos grandes pensadores mundiais da
actualidade, logo e obrigatoriamente uma figura ou um intelectual de relevo da nossa
cultura, analisa a alma lusitana no seu livro Portugal, Hoje - O Medo de Existir, e
toda a actual e antiga conjuntura que levaram o nosso pas e as nossas gentes ao
actual e miservel estado de pessimismo em que o pas est atolado.
Num ensaio/artigo intitulado o medo na revista Viso de 3 de Maio pode ler-
se: () medo e submisso. () No assim que se fomentam espritos livres.
fora () de segregar mais obedincia quando se diz querer mais criatividade e
inovao, de produzir mais confuso, irracionalidade em nome da racionalidade da
modernizao, esquece-se que s existe inveno, inovao, produo criativa
deixando margem para o imprevisvel, o inavalivel, a irrupo da singularidade.
Em Portugal nada acontece. Vivemos paralisados pelo medo da energia dos
outros, pelo medo de no ter uma boa imagem, pelo medo de no estar altura".
() O medo de existir (), vem de muito antes do salazarismo, do antigo regime!
Mas de onde, concretamente?. () Herdmos, do passado, esse medo de existir:
tanto em relao ao poder estabelecido, como em confronto com os nossos
semelhantes (concidados...).
Jos Gil afirma que o que a est, diante de ns, na maior parte das situaes,
o que eu chamo o poder seco, o poder divorciado do saber!....
Paramahansa Yogananda afirma que o homem que separou a mente da alma,
no pode manifestar um verdadeiro discernimento.
Jos Gil peremptrio em afirmar que se Esto a tomar uma srie de medidas
que vo no pior sentido da liberdade democrtica.
S deixando passar o vento e a fora do acaso nascero os tcnicos inventivos, os cientistas de ponta, os talentos da indstria, nas artes e no
pensamento. O medo encolhe os crebros, reduz o esprito, fecha os corpos.
Est-se a formar um clima de medo. E o medo tem a particularidade de alastrar.
Ao medo social de perder o emprego, de no subir na carreira, de perder as
penses, de no aguentar tanta presso e constrangimento em tantos domnios,
junta-se agora o medo de protestar, de falar, de se exprimir. O medo social est-
se a tornar poltico: tem-se medo do Governo e, talvez, um dia, do Primeiro-
Ministro, Jos Gil (2007), O medo.
Ser este o Perfil de Orientao Felicidade (POF) do Povo Lusitano? O ex-
governador do banco central dos EUA, Alan Greenspan num artigo publicado no
EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 26 Educao Integral
Joao Jorge
Financial Times, afirma que a crise financeira actual a mais grave desde a
Segunda Guerra Mundial. Isto significa que estamos a preparar as crianas e jovens
para um modelo social e econmico obsoleto e em vias de extino, que no
responde construtivamente aos desafios do sculo XXI. Este modelo predatrio
responsvel pelo actual cenrio social, poltico, econmico e ambiental, que se vive.
Claramente chegamos ao Fim da Linha enquanto experincia civilizacional, e
continuar a insistir neste modelo, significa apenas confirmar a incapacidade de
assumir as nossas falhas e limitaes.
O que pode fazer uma educao madura para contrariar este cenrio? Que tipo
de preparao e competncias acadmicas, emocional e espiritual devero ter os
homens do amanh, alunos de hoje, para contrariar as ms opes que ns
perfilhamos, sem questionar? As crianas que frequentam as nossas escolas, esto a
herdar de ns uma casa completamente desarrumada, infectada, contaminada e
destruda.
COMBATER O DESVIO NORMA?
Para que haja normose, necessrio a presena de uma consequncia nociva;
preciso que as normas de comportamento levem ao sofrimento, doena e at
mesmo morte.
NORMOSES GERAIS:
So as que afectam toda a humanidade, independentemente da sociedade ou cultura; O hbito de
fumar pode ser considerado uma normose geral, pois aparece em praticamente todas as culturas
actuais.
NORMOSES SCIO-CULTURAIS:
So as que se limitam a uma cultura ou a uma dada camada econmica. Manifestam-se nas principais
actividades humanas, como a comunicao, as cincias, a tecnologia, os mdias, o direito, a
agricultura, o meio ambiente e a ecologia.
Uma caracterstica comum s normoses o seu carcter automtico e
inconsciente. Podemos falar, neste caso, de um esprito de boiada. A grande maioria
dos seres humanos, talvez por comodismo, segue e repete o que dizem os jornais e a
televiso: foi publicado, foi divulgado, ento deve ser verdade. Muitos outros aderem
a uma religio ou partido poltico, porque a moda, ou para serem bem vistos. Assim,
acaba por ocorrer uma forma subtil de manipulao de opinies, bem como uma
mudana de sistema de valores. Nesta linha de pensamento, podemos concluir que
toda a normose uma forma de alienao. As normoses facilitam a instalao de
regimes totalitrios ou sistemas de dominao. Um burocrata pode simplesmente
seguir normas e regras, mesmo que ao faz-lo corra o risco de levar a organizao
runa. Nas religies, o normtico com frequncia um excelente praticante de rituais e
leis, mas est cego e no sabe o que faz.
Da a importncia de Consciencializar os Educadores quanto Sua
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Responsabilidade, pois nas suas mo est a possibilidade de formar Autmatos
(Adestramento) condicionados ou normticos, ou Homens Lcidos!
A automatose, pode socorrer-se de estilos de ensino centrados ou no no
educador e pode ser dissolvida atravs da auto-consciencia. Trata-se, tambm, de um
encontro com a liberdade. O homem que segue cegamente as normas torna-se
escravo delas. Quando aprende a escutar a voz interior da sabedoria, torna-se
verdadeiramente livre, Pierre Weil (2000).
As organizaes apenas existem como vivncias concretas e apenas podem
ser compreendidas a partir da experincia individual. Como as nossas experincias
so nicas, cada membro pertence a diferentes organizaes dentro da mesma
instituio, porque as experincias do mesmo so diferentes. Daqui decorre que,
duas pessoas que trabalham na mesma escola podem mesmo funcionar em duas
instituies irreconciliveis, Virgnio S (1997), Racionalidades e Prticas na Gesto
pedaggica. A Escola estandardizou os processos asfixiando o dilogo democrtico.
Os modelos democrticos defendem que as organizaes existem no apenas para
cumprir objectivos formais, mas tambm para servir as necessidades das pessoas.
Quando a organizao bem sucedida na satisfao das necessidades dos seus
membros ambos beneficiam.
O nosso modelo de ensino sustentado pela crena poltica-social e
assume-se numa postura de corte, racionalizao, valorizao (prmio) e
punio, Maral Grilo (2002), Desafios da Educao, ideias para uma poltica
educativa para o sculo XXI. Qualquer plano que visa reduzir a despesa pblica
tem necessariamente de enfrentar muitas resistncias e, por isso, tem que ser
imposto com grande determinao, sem cedncias, mas partindo de uma lgica de
interveno e de actuao assente na racionalidade, no critrio e no bom senso -
Cortar, racionalizar, premiar e punir. () Estou seguro que esta a metodologia
que vai ser adoptada e quero crer que este um combate que vale a pena travar
().
Est patente neste discurso a Pedagogia do medo e os pressupostos da
gnese psico-social da sociedade repressiva de Herbert Marcuse, anti democrtica.
Apesar de termos conquistado a liberdade na revoluo dos cravos, na verdade
ainda no conquistamos a verdadeira liberdade, porque continuamos a manifestar a
anttese do pensamento democrtico. A nossa pedagogia democrtica fala em
imposio, sem cedncias, racionalidade, combate, avaliao, Rankings,
competitividade, obrigao, imperativo, desgnios deturpados, uniformismo,
etc
Ser possvel aprender a ser feliz num contexto onde o medo e a ansiedade
concentram toda a nossa ateno e esgotam a nossa energia?
At agora, a educao no pde fazer grande coisa para modificar esta situao real. Poderemos conceber uma educao capaz de evitar os conflitos, ou
de os resolver de maneira pacfica, desenvolvendo o conhecimento dos outros,
das suas culturas, da sua espiritualidade?, UNESCO (1996).
Parece pois, que a educao deve utilizar duas vias complementares. Num primeiro nvel, a descoberta progressiva do outro. Num segundo nvel, e ao longo
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de toda a vida, a participao em projectos comuns, que parece ser um mtodo
eficaz para evitar ou resolver conflitos, UNESCO (1996).
A descoberta do outro, passa necessariamente, pela descoberta de si
mesmo, e por dar criana e ao adolescente uma viso ajustada do mundo. A
educao, seja ela dada pela famlia, pela comunidade ou pela escola, deve antes
de mais ajudar na descoberta de si mesmo. Desenvolver esta atitude de empatia,
na escola, muito til para os comportamentos sociais ao longo de toda a vida,
UNESCO (1996).
Desde a sua primeira reunio que a Comisso reafirmou, energicamente, um
princpio fundamental: a educao deve contribuir para o desenvolvimento total da
pessoa esprito e corpo, inteligncia, sensibilidade, sentido esttico,
responsabilidade pessoal, espiritualidade. Todo o ser humano deve ser preparado,
especialmente graas educao que recebe na juventude, para elaborar
pensamentos autnomos e crticos e para formular os seus prprios juzos de valor, de
modo a poder decidir, por si mesmo, como agir nas diferentes circunstncias da vida.
O relatrio Aprender a Ser (1972) exprimia, no prembulo, os termos da
desumanizao do mundo relacionada com a evoluo tcnica. A evoluo das
sociedades e, sobretudo, o enorme desenvolvimento do poder meditico, veio
acentuar este temor e tornar mais legtima ainda a injuno que lhe serve de
fundamento.
Assim a Comisso adere plenamente ao postulado do relatrio Aprender a ser.
O desenvolvimento tem por objectivo a realizao completa do homem, em toda a
sua riqueza e na complexidade das suas expresses e dos seus compromissos:
Indivduo, membro duma famlia e duma colectividade;
Cidado e produtor, inventor de tcnicas e criador de sonhos;
Ser, cuja dimenso espiritual tem sido mal interpretada e adulterada;
Numa altura em que os sistemas educativos formais tendem a privilegiar o
acesso ao conhecimento, em detrimento de outras formas de aprendizagem, importa
conceber a educao como um todo. Esta perspectiva deve, de futuro, inspirar e
orientar as reformas educativas, tanto ao nvel da elaborao de programas como da
definio de novas polticas pedaggicas, UNESCO (1996).
Estas novas polticas pedaggicas, para alcanarem os objectivos
preconizados pela Comisso tero de ser descentralizadas em vrias comunidades
auto-educativas, enquanto novo conceito de Educao Flexvel, que acontece em
espaos, tempos e ritmos diferentes, personalizados. S assim se poder respeitar o
livre arbtrio prprio do pluralismo democrtico. Os percursos curriculares alternativos
e diversificados, sero construdos em funo das necessidades de auto-realizao
individual e colectiva. Para que tal seja possvel, este projecto educativo ter que, em
primeiro lugar, incidir sobre o principal entrave ao seu desenvolvimento, os medos. A
ferramenta mais vocacionada para este fim a Inteligncia Emocional e Espiritual.
Ou seja, a introduo do QE (Quociente Emocional) numa escola vocacionada para a
literacia emocional facilitar o processo de cura, e para a Inteligncia espiritual, a
conscincia de si. Contudo, para objectivar esta primeira abordagem fundamental
definir o medo, compreender as suas origens filogenticas e ontogenticas, e
diagnosticar os principais medos (rudo no sistema), dos actores da famlia educativa.
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OBSTCULOS FELICIDADE:
Lusa Cristina Fernandes (2008), Os medos dos professores e s deles lana
alguns elementos de reflexo sobre este assunto facilitando o seu enquadramento
objectivo.
O medo assume uma dimenso e funo adaptativa, tendo este um papel
determinante na sobrevivncia humana e que consiste na mobilizao de energia face
ao perigo, Daron & Parot (2001) cit. Lusa Fernandes (2008). Contudo, o homem, ao
contrrio dos animais, que reagem apenas ao perigo imediato e real, tambm tem
medo de recordaes, de antecipaes ou at de fantasias sobre uma situao
perigosa. O medo est assim relacionado com algo ameaador ou perigoso situado no
presente, no passado ou antecipado no futuro, afirma Lusa Fernandes (2008). Isto
significa que o medo deixou a mera dimenso biolgica e se tornou numa imagem
virtual intemporal, assumindo contornos difusos e pouco objectivos.
O auto-conceito entendido como a percepo que o indivduo tem de si prprio
como tal, e de si-mesmo em relao aos outros, ou as atitudes de cada um face a si
prprio. um factor de personalidade com influncia no comportamento do indivduo,
organizando-se a partir das crenas e das imagens que o indivduo assume como
verdadeiras, sobre si prprio, estruturando-se num sistema hierarquizado, onde cada
crena tem um valor prprio, positivo ou negativo. A auto-estima s pode ser
compreendida como um olhar global sobre ns mesmos. Se este olhar benvolo e
positivo, faz-nos minimizar os nossos defeitos e permite-nos tirar partido das nossas
qualidades. Pelo contrrio, uma fraca auto-estima pode fazer-nos demasiado severos
com a nossa prpria pessoa, no obstante os nossos xitos, revelando-se um grande
obstculo felicidade.
Christophe Andr & Franois Lelord (2000), A auto-estima, pergunta para que
servem os mecanismos de defesa? A sua resposta refere que servem essencialmente
para nos evitarem emoes ou pensamentos dolorosos. normal que nos socorramos
deles quando nos vemos confrontados com dificuldades, pois tm o papel de
amortecedores. Reprimir uma recordao dolorosa, esquecendo-a, ou refugiamo-nos
na divagao quando temos preocupaes, constituem, por exemplo, dois
mecanismos de defesa que nos evitam termos de reflectir acerca do que de
desagradvel nos aconteceu. Tudo aquilo que reprimimos, recusamos e negamos ir
fortalecer a nossa Sombra. Quanto mais frgeis, maior a tendncia para os utilizar,
pois protegem a auto-estima. Evitam questionamentos demasiado frontais e
representam uma forma de manipulao e evitamento da realidade. Mas, todas as
formas de evitamento, aumentam a nossa fragilidade. Ns, filtramos literalmente as
informaes para apenas fixarmos as que nos sossegam e no nos exigem esforos
de adaptao. De certa forma, os mecanismos de defesa representam uma troca
inconsciente, na qual os indivduos sacrificam o seu desenvolvimento pessoal a um
sentimento fictcio de segurana.
Auto-estima um mecanismo da jurisdio do Complexo-R + Sistema Lmbico
o resultado de uma avaliao subjectiva e idiossincrtica que o indivduo realiza sobre si prprio tendo como referncia o sucesso e insucesso das suas aces, conquistas
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e/ou realizaes no plano material ou intelectual, comparativamente aos padres sociais consensuais e depende em parte da aprovao de terceiros. Trata-se de um mecanismo do ego para se situar face aos restantes egos-auxiliares no palco da vida familiar e social, tendo como base um padro competitivo. Como tal, possui uma linguagem prpria e defensiva
Inconscientes Conscientes Depresso Negao Minimizao Evico Muito baixa Auto-estima Muito elevada Auto-estima auto-estima Conflitos intrapsquicos 1. Caminho Destrutivo 2. Caminho Destrutivo Centrpetos Centrfugos Depressivos Auto-destrutivos Auto-piedade Revolta Inveja Auto-rejeio
Linguagem defensiva do ego.
MECANISMO DE DEFESA FUNO NA MANUTENO DA AUTO-ESTIMA
Evitamento, retraco Fugir ao risco do fracasso;
Negao Recusar-se a admitir os problemas;
Projeco Atribuir aos outros os seus prprios sentimentos
negativos e as suas dificuldades;
Fantasmas e divagao Imaginar o sucesso em vez de o construir;
Racionalizao Reconhecer os problemas, mas atribuir-lhes
causas que evitem um questionamento;
Compensao Fugir de um sentimento de inferioridade
investindo noutras reas;
Christophe Andr & Franois Lelord (2000), A auto-estima.
O EGO possui uma linguagem defensiva porque esconde por detrs da mscara as partculas da
sombra. O nossa Baixa Auto-Estima leva-nos a sacrifcios por uma imagem fictcia, para provar ao
mundo o nosso valor.
O caminho da felicidade implica investir primeiro na nossa auto-estima
(sentimento de ser amado, sentimento de ser competente: Gostar de si mesmo; Boa
imagem de si prprio; Autoconfiana), para depois deixarmos de depender da
necessidade de qualquer tipo de avaliao sobre o nosso prprio valor, porque ele
transcendente.
O AMOR ESPIRITUAL O CONTRRIO DO AMOR-PRPRIO, virado para si mesmo,
que s traz desordem e confuso. Ele ultrapassa os conflitos interiores, os
artifcios que permitem disfarar a solido para se abrir ao universo inteiro.
Jean-Paul Bourre, Sabedoria Amerndia
A auto-estima, no uma questo poltica? Esperemos que o nosso Estado no
se lembre de seguir o exemplo dos polticos de certos Estados americanos como a
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Califrnia, que tomaram posio face auto-estima, supostamente assunto para
psiclogos. Num relatrio sobre este tema, uma taskforce da Califrnia State
Department of Education notava, por exemplo: A falta de auto-estima individual e
colectiva est implicada em todos os males que afligem o nosso estado e a nossa
nao. Preocupado com os aspectos financeiros e psicolgicos do problema, um
deputado da Califrnia chegou a adoptar uma posio extrema: As pessoas dotadas
de auto-estima produzem e pagam os seus impostos. As que a no tm consomem os
subsdios Christophe Andr e Franois Lelord (2000).
Aprender a ser feliz tem a ver com a relao que estabelecemos connosco
(Anthropos), com os outros (Ethnos), com a nossa casa (Oikos) e com o tempo
(Chronos), na dimenso individual e colectiva. Trata-se no fundo de uma questo de
identidade, e os problemas da humanidade so o reflexo de uma crise de auto-
identidade. Todo e qualquer Projecto Educativo e Social de sucesso, apoia-se na
estratgia de construo da identidade prpria, no na cultural relativa, mas na
espiritual absoluta. A Sombra corresponde a todo o rudo que interfere com a
conscincia da nossa identidade.
A auto-estima est co-dependente de uma avaliao prpria ou de terceiros
(honra), e subserviente da dimenso do ter e do fazer. A auto-conscincia no
depende de qualquer juzo, valor ou avaliao prpria ou de terceiros, e relaciona-se
com a dimenso do Ser.
Tudo aquilo que tememos, chama-se sombra:
Chamamos sombra (segundo a acepo de C.G. Jung) soma de todas as
facetas da realidade que o indivduo no reconhece ou no deseja reconhecer em
si e, por conseguinte, descarta. A sombra constitui o maior inimigo do ser Humano:
ele tem-na e ignora que a tem, nem a conhece sequer. A sombra faz com que
todos os propsitos e anseios do ser humano lhe reportem, em ltima instncia, o
oposto daquilo que perseguia.
O ser humano projecta num mal annimo existente no mundo exterior. Todas
as manifestaes que nascem da sua sombra representam o medo de descobrir
em si mesmo a verdadeira fonte de toda a sua desgraa. Tudo aquilo que o ser
humano rejeita, alimenta a sua sombra, que no mais do que a soma de tudo
aquilo que ele no quer. Pois bem, no querer enfrentar e assumir uma parte da
realidade nunca pode conduzir ao xito desejado. Antes pelo contrrio, o ser
humano tem de se ocupar especialmente dos aspectos da realidade que rejeitou,
e isso costuma acontecer atravs da projeco, uma vez que quando rejeitamos
no ntimo um princpio determinado, desencadeia-se em ns uma reaco de
repdio e de angstia de cada vez que ele se nos depara no mundo exterior,
Thorwald Dethlefsen (1993)
O resgate da nossa sombra sem sombra de dvidas a pedra de roseta para o
sucesso educativo, e a construo de uma sociedade emocionalmente mais inteligente
e coesa. Qual a sombra do Sistema Educativo, o que falta na educao e na
sociedade em geral, o que rejeitam os actores da famlia educativa, em si prprios,
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Joao Jorge
que alimenta a incoerncia e entropia sistmica.
A sombra contm tudo aquilo que falta ao mundo ao nosso mundo para que
seja saudvel e bom. A sombra faz com que adoeamos, ou seja, torna-nos
incompletos; para ficarmos completos falta-nos tudo o que ela encerra. A sombra d
origem doena e o acto de encarar a sombra cura. Eis a chave para a compreenso
da doena e da cura. Um SINTOMA sempre uma partcula de sombra que se
introduziu na matria. O nosso corpo o espelho da nossa alma; revela-nos aquilo
que a alma incapaz de reconhecer a no ser atravs da sua imagem reflectida.
Porm, de que nos adianta o espelho, por melhor que seja, se no nos reconhecemos
na imagem que ele nos devolve? Thorwald Dethlefsen (1993). A sombra torna o homem
um mero simulador.
CULTURA DOENTE.
Para fazer frente a uma cultura doente ou ao sonambulismo conscincial,
precisamos resgatar alguns conceitos explcitos nas regras da Medicina Chinesa
reunidas no Huang Di Nei Jing Su Wen (A Medicina Interna do Clssico Imperador
Amarelo), a qual paralela ao nosso Corpus Hippocratic. A nossa cultura est
apenas a descobrir a ideia de que o Programa de Sade e Bem Estar
Integral PSBEI (Wellness), pode ter alguma relevncia. Roger Janhke
(2007) instituiu um programa de cura natural e de PSBEI (Wellness).
Ensinavam Tai-Chi e Chi-Kung de forma a potenciar a sabedoria
residente (Resident Wisdom) que activa o curador interior (Healer within),
a capacidade de auto-cura natural do sistema humano. Na China isto
conhecido como a medicina de dentro (Medicine within) um elixir interno
natural. A medicina mais profunda produzida dentro do corpo humano
gratuitamente. O corpo deve ser entendido como Unidade em Movimento-
ensoulment onde o movimento envolve uma orientao no reino do
esprito.
Poderamos ainda atribuir tal responsabilidade aos profissionais da motricidade
humana pois se, tal como afirma Candace Pert (1999) Molecules of Emotion, o
nosso corpo a nossa mente subconsciente, e os processos mentais dependem de
uma motricidade satisfeita, cabe ento a estes profissionais restabelecer o dilogo
entre a mente consciente e subconsciente (corpo) atravs do dilogo tnico. Na
verdade, como podem eles resolver um problema de sonambulismo consciencial
que afecta todos os actores da famlia educativa, quando eles prprios olham o corpo
segundo uma dimenso biomecnica, preocupando-se fundamentalmente com a
rentabilidade das funes motoras e fisiolgicas e com automatismo cegos.
Os pedagogos no gostam do fracasso, desde Plato que sonham com uma
educao que faria dos adultos seres preservados da inadequao, do erro, da culpa,
do pecado. Pergunta-se: resultaria duma tal educao um adulto ou um autmato?
Assim, a aprendizagem da linguagem, a escrita, os signos aritmticos, o sistema de
numerao, as regras de ortografia e de sintaxe so o resultado de um adestramento
ou de uma aprendizagem activa? O adestramento puro sem dvida mais raro do que
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se cr e significa sempre, como diz K. Goldstein, uma conduta de catstrofe: tanto
para o educador, que adestra e que no consegue fazer-se compreender e amar,
como para o educando, que ter que adoptar uma rotina em vez de compreender e de
querer.
A palavra amestrao (ou adestramento) em sentido popular designa duas
realidades bem distintas.
Primeiro, um resultado: uma conduta automtica, mais til mais aos outros e a um
modelo de sociedade do que ao prprio indivduo interessado.; assim que se fala
de um animal bem amansado ou de um criado bem treinado, mas sem
distinguir o modo de aquisio desse automatismo.
Segundo, um meio de aquisio: Na expresso isso vai ensinar-lhe subentende-