Post on 20-Mar-2020
Universidade Federal Rural de Pernambuco
Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação
Programa de Pós-graduação em Botânica
EFEITO DA INTEGRAÇÃO AO MERCADO SOBRE O
CONHECIMENTO ECOLÓGICO LOCAL
Temóteo Luiz Lima da Silva
RECIFE-PE
2016
TEMÓTEO LUIZ LIMA DA SILVA
EFEITO DA INTEGRAÇÃO AO MERCADO SOBRE O
CONHECIMENTO ECOLÓGICO LOCAL
Trabalho de dissertação apresentado ao
Programa de Pós-graduação em Botânica
da Universidade Federal Rural de
Pernambuco, como parte das exigências
para a obtenção do título de Mestre em
Botânica.
Orientador: Dr. Ulysses Paulino de
Albuquerque – Departamento de
Biologia - UFRPE
RECIFE-PE
2016
Ficha catalográfica
S586e Silva, Temóteo Luiz Lima da
Efeito da integração ao mercado sobre o conhecimento
ecológico local / Temóteo Luiz Lima da Silva. – Recife, 2016.
Recife, 2016.
40 f. : il.
Orientador: Ulysses Paulino de Albuquerque.
Dissertação (Mestrado em Botânica) – Universidade Federal
Rural de Pernambuco, Departamento de Biologia, Recife,
2016.
Inclui referências e anexo(s).
1. Etnobotânica 2. Artesanato 3. Conhecimento híbrido
I. Albuquerque, Ulysses Paulino de, orientador II. Título
CDD 581
EFEITO DA INTEGRAÇÃO AO MERCADO SOBRE O CONHECIMENTO ECOLÓGICO
LOCAL
TEMÓTEO LUIZ LIMA DA SILVA
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Botânica da Universidade Federal
Rural de Pernambuco, desenvolvido dentro da Área de Concentração de Ecologia de
Ecossistemas, como parte das exigências para a obtenção do título de Mestre em Botânica.
Aprovado pela Banca Examinadora em: ___/___/2016
Orientador: __________________________________________
Dr. Ulysses Paulino de Albuquerque
Universidade Federal Rural de Pernambuco
Examinadores:
__________________________________________
Dr. Washington Soares Ferreira Junior - Titular
Universidade de Pernambuco
__________________________________________
Dra. Patrícia Muniz de Medeiros - Titular
Universidade Federal de Alagoas
__________________________________________
Dr. Thiago Antônio de Sousa Araújo - Titular
Universidade Federal do Tocantins
__________________________________________
Dra. Taline Cristina da Silva - Suplente
Universidade de Pernambuco
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e ao
Conselho Nacional de Desenvolvimentos Científico e Tecnológico (CNPq) pelo apoio
financeiro fornecido durante a realização do mestrado.
Ao meu orientador Ulysses Paulino de Albuquerque, pelo qual tenho grande respeito e
admiração, agradeço por todas as contribuições e oportunidades de crescimento pessoal e
profissional.
Ao Programa de Pós-graduação em Botânica da Universidade Federal Rural de Pernambuco
por todo apoio, na figura de seu atual coordenador o Dr. Reginaldo Carvalho e de sua
antecessora a Dra. Carmem Zickel. Especial agradecimento a Kênia Azevedo, a secretaria
mais competente que já conheci.
Agradeço ao pajé Fulni-ô Gildiere Pereira, aos índios Jemerson Caetano, Renildo Macêdo,
Lúcia Macêdo, Gibson Cruz, Jucié da Silva, Romário Torres, Antônio Feitosa Filho, Wilke
Torres, Towê, Rosângela Lúcio, José Ribeiro Neto e a todos funcionários da Escola Marechal
Rondon pelo apoio no desenvolvimento do estudo. Um agradecimento especial ao Mestre
(Jailson) pelo intercâmbio de conhecimento e a Vicente Torres por ser tão prestativo.
Agradeço também a todos os índios que compartilharam seu conhecimento para a realização
dessa pesquisa.
Agradecimento especial a minha segunda família, os amigos do Laboratório de Ecologia e
Evolução de Sistemas Socioecológicos (LEA), pelo companheirismo, contribuições e
descontrações concebidas durante o curso.
Um agradecimento mais que especial aos integrantes do LEA-Fulni-ô, composto por Juliana
Loureiro (coordenadora da equipe), Josivan Soares, Wendy Marisol, André Santos, André
Borba e Flávia Rosa. Com o apoio de vocês as visitas a aldeia indígena se tornaram mais
agradáveis. Obrigado pela ajuda na coleta de dados e as contribuições durantes todo o
processo.
Entre os agradecimentos pessoais, gostaria de resgatar a importância da amizade e
companheirismo de Leonardo Chaves, Daniel Sousa e André Santos que sempre estão comigo
nos momentos tristes, felizes, tensos e descontraídos. A Leonardo por não me cobrar pela sua
função de conselheiro pessoal. A Juliana Loureiro, pessoa que me inspira respeito e
admiração. Você tem sido uma pessoa muito importante em minha vida. Ao meu amigo
Josivan Soares pela amizade e companheirismo.
Aos meus amigos queridos: Clivson Ruy, Bonifácio Santana, Marcos Antônio, Reginaldo
Freitas, Adson Farias, Miguel Alcântara, Thiago Medeiros.
A minha adorável mãe Edivânia, sempre cuidadosa e amorosa. Ao meu pai Luiz Carlos. Aos
meus irmãos Terciene Maria e Teófilo Luiz pela fraternidade.
Por fim, agradeço a todos que de alguma forma contribuíram para essa dissertação.
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Estatística descritiva do perfil socioeconômico e variáveis dependentes do modelo
de GLM do efeito da integração aos mercados entre os índios Fulni-ô, Nordeste do Brasil
................................................................................................................................................. 35
Tabela 2 - Lista de espécies registradas como úteis para fins artesanais entre os índios Fulni-
ô, Nordeste do Brasil .............................................................................................................. 36
Tabela 3 - Sumário do Modelo Linear Generalizado para o efeito das variáveis
socioeconômicas sobre o conhecimento de plantas e artesanatos tradicionais e não tradicionais
dos artesãos Fulni-ô, Nordeste do Brasil
.................................................................................................................................................. 40
Tabela 4 - Sumário do Modelo Linear Generalizado para o efeito das variáveis
socioeconômicas sobre o consumo de biomassa para produção de artesanatos tradicionais e
não tradicionais dos artesãos Fulni-ô, Nordeste do Brasil
.................................................................................................................................................. 40
SUMÁRIO
RESUMO ............................................................................................................ vii
ABSTRACT........................................................................................................ viii
1. INTRODUCÃO GERAL ............................................................................... 9
2. REVISÃO DE LITERATURA...................................................................... 10
2.1 Integração aos mercados por populações indígenas e locais 10
2.2 Integração aos mercados e o conhecimento ecológico local 11
2.3 Integração aos mercados e o uso de recursos naturais 13
3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................... 15
Capítulo 1: Efeito da integração ao mercado sobre o conhecimento ecológico
local e uso dos recursos vegetais – estudo de caso com os índios Fulni-ô no
Nordeste do Brasil
18
RESUMO.............................................................................................................. 19
1. INTRODUÇÃO................................................................................................ 20
2. MÉTODOS........................................................................................................ 21
2.1 Área de Estudo............................................................................................. 21
2.2 Procedimentos de coleta de dados................................................................ 23
2.3 Análise de dados........................................................................................... 25
3. RESULTADOS 26
4. DISCUSSÃO 28
5. CONCLUSÃO 29
6. AGRADECIMENTOS 30
7. REFERÊNCIAS BILBIOGRÁFICAS 31
ANEXOS 41
Silva, Temóteo Luiz Lima. Universidade Federal Rural de Pernambuco. Efeito da
integração ao mercado sobre o conhecimento ecológico local e uso dos recursos vegetais
– estudo de caso com os índios Fulni-ô no Nordeste do Brasil. Ulysses Paulino de
Albuquerque.
RESUMO
Estudos empíricos evidenciam que a integração aos mercados pode provocar mudanças em
práticas culturais afetando o conhecimento ecológico local e o uso de recursos nativos. Em
nosso estudo, objetivamos verificar tal efeito sobre o conhecimento ecológico local e
aproveitamento de recursos nativos para confecção de artesanatos entre os índios Fulni-ô do
Nordeste do Brasil. Esta etnia fabrica dois tipos de artesanatos: os tradicionais de sua cultura e
os artesanatos não tradicionais que refletem a visão de “índio” da sociedade globalizada.
Utilizamos o conhecimento sobre os artesanatos não tradicionais como medida de integração
aos mercados para verificar se: i) variáveis socioeconômicas podem predizer o conhecimento
e uso de artesanatos tradicionais e não tradicionais. Acreditamos que esse tipo de análise pode
indicar setores da sociedade que são mais suscetíveis ao processo de integração; e ii) se
artesanatos não tradicionais demandam maior consumo de biomassa que artesanatos
tradicionais. Análises de GLM foram executadas para ver a relação entre essas variáveis. O
consumo de biomassa vegetal foi registrado utilizando a técnica do inventário in situ. O teste
Wilcoxon foi utilizado para verificar diferenças no consumo de biomassa para usos
tradicionais e não tradicionais. Como principais resultados, encontramos que os
conhecimentos tradicional e não tradicional se concentram nos mesmos segmentos da
sociedade. Artesãos mais experientes detêm uma maior riqueza de conhecimento sobre
artesanatos tradicionais, sendo importantes na manutenção desse conhecimento. Os Fulni-ô
concentram seu consumo de biomassa na produção de artesanatos não tradicionais.
Concluímos que a integração aos mercados afetou o conhecimento local diversificando-o, mas
afeta expressivamente os recursos naturais, podendo ter efeitos negativos sobre as populações
das espécies utilizadas.
Palavras-chave: Conhecimento híbrido; Conservação da biodiversidade; Etnobiologia;
Etnobotânica
Silva, Temóteo Luiz Lima. Universidade Federal Rural de Pernambuco. Effect of
market integration on the local ecological knowledge and use of plants resources – a case
of study with Fulni-ô Indians, Northeast of Brazil. Ulysses Paulino de Albuquerque.
ABSTRACT
Empirical studies show that the integration of markets can cause changes in cultural practices
affecting the local ecological knowledge and the use of native resources. In our study, we
aimed to determine such an effect on the local ecological knowledge and use of native
resources for making handicrafts among the Indians Fulni-ô in the Northeast of Brazil. This
ethnic group manufactures two types of crafts: the traditional of its culture and non-traditional
that reflect the vision of "Indian" of globalized society. We use the knowledge about non-
traditional crafts as measure of integration to markets to verify that: i) socio-economic
variables can predict the knowledge and use of traditional and non-traditional crafts. We
believe that this type of analysis can indicate sectors of society that are more susceptible to
the integration process; and ii) non-traditional handicrafts demand higher consumption of
biomass that traditional handicrafts. GLM analysis were performed to see the relationship
between these variables. The consumption of vegetal biomass was recorded using the
technique of inventory in situ. The Wilcoxon test was used to assess differences in the
consumption of biomass for traditional and non-traditional uses. As main results, we found
that traditional and non-traditional knowledge focus on the same segments of society. Most
experienced craftsmen have an abundance of knowledge about traditional crafts, and are
important for the maintenance this knowledge. The Fulni-ô focus their consumption of
biomass in the production of non-traditional handicrafts. We conclude that the integration of
markets has affected local knowledge diversifying it, but significantly affect natural resources
and can have negative effects on the populations of the species used.
Keywords: Hybrid Knowledge; Biodiversity conservation; Ethnobiology; Ethnobotany
9
1. INTRODUÇÃO GERAL
As mudanças no conhecimento ecológico local de indígenas e populações rurais têm
sido foco de diversos estudos etnobotânicos e geralmente têm sido associadas ao acesso à
educação formal (REYES-GARCÍA et al., 2013), processos de modernização (BENZ et al,
2000) e, mais comumente, a integração aos mercados (GODOY et al, 2005; REYES-
GARCÍA et al, 2005). Como efeito da modernização, populações indígenas estão mais
propensas a ingressar no mercado através de atividades econômicas, mas tal processo pode
influenciar seu bem-estar, conhecimento ecológico local e uso de recursos naturais.
Alguns autores defendem que a integração aos mercados está associada a perda de
conhecimento local (GODOY; BROKAW; WILKIE, 1998; LU, 2007). No entanto, estudo
empíricos têm mostrado que a participação nos mercados pode produzir diferentes efeitos
como a manutenção do conhecimento ecológico local (REYES-GARCÍA et al, 2007) e até
mesmo a aquisição de novos conhecimentos (GUEST, 2002). Em contextos de integração aos
mercados o conhecimento ecológico local também pode ser híbrido (GÓMEZ-
BAGGETHUN; REYES-GARCÍA, 2013), sendo composto por conhecimento tradicional e
não tradicional. Em relação ao uso dos recursos naturais, a integração aos mercados pode
promover a especialização (RUIZ-PÉREZ et al., 2004; SIERRA; RODRIGUEZ; LOSOS,
1999) bem como a intensificação no consumo de produtos florestais (MORSELLO et al.,
2014). Famílias integradas tendem a se aperfeiçoarem na produção de bens e serviços que
atendem as demandas do mercado (VADEZ et al., 2004).
Diante disto, o presente trabalho teve como objetivo estudar os efeitos da integração
aos mercados sobre o conhecimento e aproveitamento dos recursos vegetais nativos entre os
índios Fulni-ô, do Nordeste do Brasil. Esse grupo indígena possui traços de etnicidade e
resistência cultural como a manutenção da língua nativa, além disso, apresenta um cenário de
integração aos mercados interessante, pois fabrica artesanatos que são tradicionais, com
demanda cultural e baixa demanda comercial, e artesanatos não tradicionais, que atendem a
uma demanda externa de mercado. Buscamos avançar no conhecimento sobre os efeitos a
integração aos mercados propondo as seguintes perguntas de investigação: i) fatores
socioeconômicos podem predizer o conhecimento e uso de artesanatos tradicionais e não
tradicionais? ii) artesanatos não tradicionais demandam um maior consumo de biomassa
vegetal para sua produção?
10
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Integração aos mercados por populações indígenas e locais
Diante dos atuais padrões de desenvolvimento econômico e modernização,
pesquisadores têm buscado entender os efeitos do acesso aos mercados sobre as populações
indígenas e locais. A integração ao mercado, ou participação no mercado, é definida como
atividades que resultam na produção de bens e serviços para intercâmbio com pessoas de fora
da comunidade (GROSS et al, 1979). Este processo promove mudanças no estilo de vida de
populações locais, podendo ser percebidas no consumo de produção de bens (OLSEN, 2013),
na saúde, no conhecimento ecológico local e uso dos recursos naturais (GODOY et al., 2005).
As populações participam dos mercados buscando melhorar seu bem-estar (GODOY,
2001; LU, 2007), embora nem sempre essas duas variáveis estejam relacionadas
(MASFERRER-DODAS et al., 2012). Outros autores acreditam que as populações se
integram aos mercados pelo desejo por mercadorias estrangeiras, pela simples exposição as
ideias e valores ocidentais (GROSS et al., 1979) ou pela escassez de recursos naturais
(DIAMOND, 1995).
Na literatura não há consenso sobre as medidas de integração aos mercados. Já foram
utilizadas como medidas a acessibilidade geográfica, conhecimento de bens florestais e
consumo de bens de mercado (GODOY et al, 2005). Além destas, outras medidas também
foram utilizadas, como o número de horas que um adulto gasta em atividades de mercado
durante um período de tempo (LU, 2007), a composição da dieta (SANTOS et al., 1997), a
renda adquirida através de um trabalho assalariado e a renda adquirida pela venda de produtos
florestais (REYES-GARCÍA et al., 2007). As diferentes e contraditória respostas para este
processo podem ser fruto desta variedade de medidas empregadas.
2.2 Integração aos mercados e o conhecimento ecológico local
Diferentes pesquisadores têm relacionado a integração aos mercados por populações
locais e indígenas com a perda de conhecimento ecológico local (REYES-GARCÍA et al.,
2005; GODOY et al., 2005; GOMEZ-BAGGETHUN et al., 2010; LU 2007). Se o acesso aos
mercados tem efeitos deletérios sobre conhecimento local, não existe a possibilidade de
conservar o conhecimento local e promover o desenvolvimento econômico simultaneamente.
11
No entanto, há evidências na literatura de que os impactos da integração aos mercados no
conhecimento ecológico local podem variar amplamente entre populações (GODOY et al.,
1998). O tipo de atividade pela qual a população acessa os mercados é um dos fatores que
influencia essa variação.
Alguns pesquisadores buscaram confrontar o conhecimento local de pessoas que se
envolvem em atividades de comércio de recursos naturais e atividades que reduzem o contato
da população com o meio ambiente (e.g. trabalho assalariado) para verificar os efeitos da
integração aos mercados no conhecimento ecológico local. Godoy, Brokaw e Wilkie (1998)
encontraram que a integração aos mercados através do comércio de cultivos agrícolas ou
trabalho assalariado estava associado com menor conhecimento local sobre plantas e animais
entre os índios Tawahka, em Honduras. No entanto, pessoas que participam dos mercados
através do comércio de produtos florestais apresentaram maior conhecimento ecológico local.
De forma semelhante, Reyes-García et al., (2007) evidenciaram que a integração aos
mercados através do comércio de produtos florestais não erode o conhecimento local. Assim,
atividades de ingresso aos mercados que mantem as pessoas em contato com os recursos
naturais podem promover a manutenção do conhecimento ecológico local.
Em seu estudo em Palestina, uma comunidade de pescadores do norte do Equador,
Guest (2002) evidenciou que o acesso a mercados pode promover e acelerar aquisição de
conhecimento sobre os recursos naturais. Ele registrou que a atividade de carcinicultura,
recentemente introduzida na comunidade, levou a aquisição de conhecimento sobre a ecologia
de três espécies de camarão e que esse conhecimento estava compartilhado entre os
pescadores. Ahmed et al. (2010), estudando a comunidade indígena Akha, do sul da China,
encontraram que o aumento da integração aos mercados através da do comércio de chá verde
(Camellia sinensis var. Assamica (L.) Kuntze Theaceae) estava associado com o aumento do
conhecimento ecológico local sobre essa espécie. Esses resultados sugerem que o
envolvimento em atividades econômicas que envolvem o comércio de recursos naturais pode
conduzir a aquisição de conhecimento sobre os recursos utilizados.
De acordo com Gómez-Baggethun et al. (2013), contextos de forte integração aos
mercados podem promover a aquisição de novos conhecimentos sem necessariamente erodir
o conhecimento local. A população passa a possuir um conhecimento híbrido, adaptado as
novas condições econômicas e ecológicas. Estudando três comunidades locais da Península
12
Ibérica, Reyes-García et al. (2014) encontraram um conhecimento local híbrido, composto
pelo conhecimento agrícola tradicional e o conhecimento sobre variedades de culturas
agrícolas comerciais (denominado como conhecimento moderno). A manutenção de alguns
aspectos do conhecimento tradicional e a incorporação de novos conhecimentos é um
elemento importante na adaptação às mudanças ambientais e socioeconômicas (REYES-
GARCÍA et al., 2014).
Pesquisadores interessados em estudar os efeitos da integração aos mercados nas
populações locais também têm buscado entender como este processo influencia a distribuição
do conhecimento ecológico local nos diferentes segmentos da sociedade (GÓMEZ-
BAGGETHUN et al., 2010; GUEST, 2002). Esse tipo de abordagem permite conhecer quais
segmentos da sociedade seriam mais suscetíveis a mudanças em seu conhecimento local.
Evidências de estudos etnobotânicos reforçam o poder preditivo de fatores socioeconômicos
sobre o conhecimento local (BYG e BALSLEV, 2001; CAMPOS et al, 2015; GAVIN e
ANDERSON, 2007; McELWEE, 2008; MEDEIROS et al., 2012).
Guest (2002) identificou que a experiência em pesca de uma comunidade de
pescadores no Equador estava relacionada com a aquisição de conhecimento ecológico local,
fruto da integração aos mercados. Gómez-Baggethun et al. (2010) evidenciaram que a idade
estava relacionada com a perda de conhecimento ecológico local frente as rápidas mudanças
da agricultura de subsistência para a produção de culturas de interesse do mercado. Além da
idade e do tempo de experiência, outros fatores socioeconômicos, como tamanho da família e
renda familiar, poderiam ser sensíveis aos efeitos do mercado pois são características que
podem aumentar a força de trabalho e intensificar a coleta de produtos florestais (GAVIN e
ANDERSON, 2007).
Vale salientar que poucos estudos diferem entre o conhecimento e o uso. Essas duas
variáveis nem sempre estão relacionadas (REYES-GARCÍA et al., 2005) e podem apresentar
diferentes respostas aos efeitos da integração aos mercados (GODOY et al., 2005). Reyes-
Gárcia et al (2007) verificaram que atividades de trabalho assalariado estão associados a um
menor conhecimento local, no entanto não estão associadas com o uso. Portanto, é
recomendado a distinção entre o conhecimento e o uso nos estudos futuros sobre efeitos de
integração aos mercados no conhecimento ecológico local.
13
2.3 Integração aos mercados e o uso de recursos naturais
A integração aos mercados muda a forma pela qual as populações humanas interagem
com os recursos naturais (GODOY et al., 2005; OLSEN, 2013). A teoria econômica, ou
modelo de mercado ricardiano, sugere que a integração aos mercados estimula as populações
locais a se especializarem no uso dos recursos naturais para maximizar suas oportunidades
econômicas (GODOY; BROKAW; WILKIE, 1998; RUIZ-PÉREZ et al., 2004). Estudos
empíricos têm corroborado essa ideia (MORSELLO et al., 2014; SIERRA; RODRIGUEZ;
LOSOS, 1999; VADEZ et al., 2004), evidenciando que as populações locais se aperfeiçoam
em atividades ou uso de recursos orientados pela demanda do mercado.
Em um estudo no México, Van Dusen e Taylor (2005) encontraram que na medida em
que a integração aos mercados aumenta, a diversidade de culturas agrícolas diminui. Vadez et
al. (2004) verificaram que as famílias mais integradas aos mercados especializam sua
produção com o cultivo de arroz, que possui maior demanda de mercado e confere maior
vantagem econômica em relação aos outros cultivos
Os resultados do estudo de Ruiz-Pérez et al. (2014) nos permite fazer associação entre
o grau em que uma população está integrada aos mercados e as suas estratégias de produção.
Os autores encontraram que famílias menos integradas tendem a utilizar um número maior de
produtos florestais, principalmente para fins de subsistência. Famílias mais integradas
geralmente possuem maior renda e adotam uma estratégia especializada de produção. Um
estágio intermediário de integração estaria relacionado com a estratégia de diversificação da
produção. Assim, a transição da economia de subsistência para a economia de mercado
promove um processo de especialização, que está relacionado com maiores retornos
econômicos.
A integração aos mercados também pode influenciar diretamente o uso dos recursos.
Além de se especializarem, famílias integradas aos mercados podem intensificar o uso dos
recursos buscando aumentar o retorno econômico (MORSELLO et al., 2014). Além disso, o
aumento da demanda de mercado por produtos florestais tende a resultar em sobrexploração,
como observado por Ruiz-Pérez et al. (2014). De Waroux e Chiche (2013), estudando
comunidades locais em Morocco, verificaram que a integração aos mercados aumentou a
demanda da madeira de argan (Argania spinosa (L.) Skeels) e promoveu um forte declínio na
14
cobertura vegetal. Por fim, Kusters et al. (2006) encontraram correlação positiva entre as
taxas de degradação e o grau pelo qual as famílias foram beneficiadas monetariamente a partir
da venda de recursos florestais.
15
3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AHMED, S. et al. Increased market integration, value, and ecological knowledge of tea agro-
forests in the Akha highlands of southwest China. Ecology and Society, v. 15, n. 4, 2010.
BENZ, B. F. et al. Losing knowledge about plant use in the Sierra de Manantlan Biosphere
Reserve, Mexico. Economic Botany, v. 54, n. 2, p. 183-191, 2000.
BYG, A.; BALSLEV, H. Diversity and use of palms in Zahamena, eastern Madagascar.
Biodiversity and Conservation, v. 10, n. 6, p. 951-970, 2001.
CAMPOS, J. L. A. et al. Knowledge, use and management of the babassu palm (Attalea
speciosa Mart. ex Spreng) in Araripe region, northeastern Brazil. Economic Botany, v. 69, n.
3, p. 240-250, 2015.
DIAMOND, J. 1995. Easter Island’s end. In: Lorey, D. E. (Ed.) Global Environmental
Challenges of the Twenty-first Century. Resources, consumption and sustainable solutions,
Delaware, SR books, 1995
DE WAROUX, Y. L. P.; CHICHE, J. Market Integration, Livelihood Transitions and
Environmental Change in Areas of Low Agricultural Productivity: A Case Study from
Morocco. Human ecology, v. 41, n. 4, p. 535-545, 2013.
GAVIN, M.; ANDERSON, G. Socio-economic predictors of forest use values in the Peruvian
Amazon: a potential tool for biodiversity conservation. Ecological Economics, v. 60, n. 4, p.
752-762, 2007.
GODOY, R. et al. Of trade and cognition: Markets and the loss of folk knowledge among the
Tawahka Indians of the Honduran rain forest. Journal of Anthropological Research, v. 54,
n. 2, p. 219-234, 1998.
GODOY, R. Indians, Markets, and Rainforests: Theory, Methods, Analysis. New York:
Columbia University Press, 2001.
GODOY, R. et al. The effect of market economies on the well-being of indigenous peoples
and on their use of renewable natural resources. Annual Review of Anthropology, v. 34, p.
121-138. (doi: 10.1146/Annurev.anthro.34.081804.120412), 2005.
16
GOMEZ-BAGGETHUN, E. et al. Traditional Ecological Knowledge Trends in the Transition
to a Market Economy: Empirical Study in the Doñana Natural Areas. Conservation Biology,
v. 24, n. 3, p. 721-729, 2010.
GÓMEZ-BAGGETHUN, E.; REYES-GARCÍA, V. Reinterpreting change in traditional
ecological knowledge. Human ecology: an interdisciplinary journal, v. 41, n. 4, p. 643-
647, 2013.
GROSS, D. R. et al. Ecology and acculturation among native peoples of central Brazil.
Science, v. 206, n. 4422, p. 1043-1050, 1979.
GUEST, G. Market integration and the distribution of ecological knowledge within an
Ecuadorian fishing community. Journal of Ecological Anthropology, v. 6, n. 1, p. 38-49,
2002.
KUSTERS, K. et al. Balancing development and conservation? An assessment of livelihood
and environmental outcomes of nontimber forest product trade in Asia, Africa, and Latin
America. Ecology and Society, v. 11, n. 2, 2006.
LU, F. Integration into the Market among Indigenous Peoples: A Cross‐Cultural Perspective
from the Ecuadorian Amazon. Current anthropology, v. 48, n. 4, p. 593-602, 2007.
MASFERRER-DODAS, E. et al. Consumption of market goods and wellbeing in small-scale
societies: an empirical test among the Tsimane'in the Bolivian Amazon. Ecological
Economics, v. 84, p. 213-220, 2012.
MCELWEE, P. Forest environmental income in Vietnam: household socioeconomic factors
influencing forest use. Environmental Conservation, v. 35, n. 02, p. 147-159, 2008.
MEDEIROS, P. M. et al. Socio-economic predictors of domestic wood use in an Atlantic
forest area (northeast Brazil): a tool for directing conservation efforts. International Journal
of Sustainable Development & World Ecology, v. 19, n. 2, p. 189-195, 2012.
MORSELLO, C. et al. Does trading non-timber forest products drive specialisation in
products gathered for consumption? Evidence from the Brazilian Amazon. Ecological
Economics, v. 100, p. 140-149, 2014.
17
OLSON, E. A. Anthropology and traditional ecological knowledge: a summary of
quantitative approaches to traditional knowledge, market participation, and conservation.
Culture, Agriculture, Food and Environment, v. 35, n. 2, p. 140-151, 2013.
REYES-GARCÍA, V. et al. Knowledge and consumption of wild plants: a comparative study
in two Tsimane' villages in the Bolivian Amazon. Ethnobotany Research & Applications,
v. 3, p. 201-208, 2005.
REYES-GARCÍA, V. et al. Economic development and local ecological knowledge: A
deadlock? Quantitative research from a Native Amazonian society. Human Ecology, v. 35, n.
3, p. 371-377, 2007.
REYES-GARCÍA, V. et al. Evidence of traditional knowledge loss among a contemporary
indigenous society. Evolution and Human Behavior, v. 34, n. 4, p. 249-257, 2013.
REYES-GARCÍA, V. et al. Resilience of traditional knowledge systems: The case of
agricultural knowledge in home gardens of the Iberian Peninsula. Global Environmental
Change, v. 24, p. 223-231, 2014.
RUIZ-PÉREZ, M. et al. Markets drive the specialization strategies of forest peoples. Ecology
and Society, v. 9, n 2, 2004.
SANTOS, R. V. et al. Tapirs, tractors, and tapes: the changing economy and ecology of the
Xavánte Indians of Central Brazil. Human Ecology, v. 25, n. 4, p. 545-566, 1997.
SIERRA, R.; RODRIGUEZ, F.; LOSOS, E. Forest resource use change during early market
integration in tropical rain forests: the Huaorani of upper Amazonia. Ecological Economics,
v. 30, n. 1, p. 107-119, 1999.
VAN DUSEN, M. E.; TAYLOR, J. E. Missing markets and crop diversity: evidence from
Mexico. Environment and Development Economics, v. 10, n. 4, p. 513-531, 2005.
VADEZ, V. et al. Does integration to the market threaten agricultural diversity? Panel and
cross-sectional data from a horticultural-foraging society in the Bolivian Amazon. Human
Ecology, v. 32, n. 5, 635-646, 2004.
18
Capitulo 1
EFEITO DA INTEGRAÇÃO AO MERCADO SOBRE O CONHECIMENTO
ECOLÓGICO LOCAL E USO DE RECURSOS VEGETAIS – ESTUDO DE CASO
COM OS ÍNDIOS FULNI-Ô NO NORDESTE DO BRASIL
Artigo a ser submetido ao periódico Ecological Economics
19
EFEITO DA INTEGRAÇÃO AO MERCADO SOBRE O CONHECIMENTO
ECOLÓGICO LOCAL E USO DE RECURSOS VEGETAIS – ESTUDO DE CASO
COM OS ÍNDIOS FULNI-Ô NO NORDESTE DO BRASIL
TEMÓTEO L. L. da SILVA¹ e ULYSSES P. ALBUQUERQUE1
¹ Laboratório de Ecologia e Evolução de Sistemas Socioecológicos (LEA). Autor para correspondência:
upa677@hotmail.com, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Departamento de Biologia. Rua Manoel de
Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife – PE.
Resumo
A integração aos mercados por populações locais pode levar a perda, aquisição e/ou
manutenção do conhecimento ecológico local, além de modificar a forma com que as pessoas
interagem com os recursos naturais. Nós estudamos o efeito deste processo sobre o uso e
conhecimento de plantas utilizadas na confecção de artesanatos pela tribo indígena Fulni-ô,
Nordeste do Brasil. Através dessa atividade, os artesãos dessa etnia participam dos mercados
comercializando artesanatos tradicionais e não tradicionais de sua cultura. Buscamos
verificar 1) se os conhecimentos tradicional e não tradicional se concentram em diferentes
segmentos da sociedade e 2) se os artesanatos não tradicionais demandam maior consumo de
biomassa vegetal. Identificamos os artesãos pela amostragem bola de neve e registramos seu
perfil socioeconômico e conhecimento local sobre plantas e artesanatos através de entrevistas.
Por meio de GLM, testamos a distribuição do conhecimento. Com o teste de Wilcoxon
verificamos se usos não tradicionais demandam mais biomassa do que os usos tradicionais.
Ao final do estudo, verificamos que o conhecimento sobre artesanatos tradicionais e não
tradicionais está igualmente distribuído entre os segmentos da sociedade. Artesãos mais
experientes possuem maior conhecimento ecológico local sobre artesanatos tradicionais e
podem exercer um papel fundamental na manutenção do conhecimento tradicional em
contextos de integração aos mercados. Os artesanatos não tradicionais demandam maior
consumo de biomassa e proporcionam maior retorno econômico. Por fim, a integração aos
mercados favoreceu o estabelecimento de um conhecimento híbrido, mas está afetando
expressivamente o uso dos recursos naturais.
Palavas-chave: Conhecimento híbrido; Conservação da biodiversidade; Etnobiologia;
Etnobotânica
20
1. Introdução
Diferentes pesquisadores têm buscado entender os processos que podem levar a
mudanças no conhecimento ecológico local. Têm recebido maior atenção na literatura os
processos que geram mudanças culturais, como o acesso à educação formal (Reyes-García,
2013), ou mudanças econômicas (Pérez-Llorente et al., 2013). No contexto de mudanças
econômicas, a integração de populações rurais ou indígenas aos mercados tem sido objeto de
estudos empíricos (Conway-Gómez, 2008; Lu, 2007; Guest, 2002; Reyes-García et al., 2007;
Sierra et al., 1999; Vadez et al., 2004). Podemos entender a integração aos mercados como
todas as atividades que geram bens e serviços para intercâmbio com pessoas de fora da
comunidade (Gross et al., 1979). A integração aos mercados pode mudar a forma com que as
pessoas utilizam os recursos florestais (Godoy et al. 1998). As populações integradas aos
mercados se especializam na produção de bens orientados pela demanda de mercado e que
conferem maior vantagem econômica (Vadez et al, 2004; Morsello et al., 2014). Além disso,
este processo pode intensificar o aproveitamento dos recursos, resultando em sobrexploração
(Ruiz-Pérez et al., 2004).
Há evidências de que a integração aos mercados pode provocar mudanças no
conhecimento ecológico local (Gómez-Baggethun et al., 2010, Ahmed et al., 2010). Alguns
autores defendem que este processo pode conduzir a substituição do conhecimento ecológico
local por um conhecimento não tradicional (Lu, 2007; Olson, 2013). No entanto, outros
pesquisadores têm evidenciado a integração aos mercados pode favorecer a aquisição de
conhecimento ecológico local, especialmente quando a atividade desenvolvida no ingresso
aos mercados envolve o uso de recursos naturais (Guest, 2002; Reyes-García et al., 2007).
Gómez-Baggethun et al. (2013) argumentam que em um contexto de forte integração
ao mercado, as populações podem adotar novas formas de conhecimento, passando a possuir
um conhecimento híbrido, adaptado a novas condições socioeconômicas ou ecológicas. A
natureza dinâmica e adaptativa do conhecimento ecológico local favorece a acomodação de
novos conhecimentos no sistema de conhecimento tradicional (Reyes-García et al., 2014).
Segundo Reyes-García et al. (2014), a manutenção de alguns aspectos do conhecimento
tradicional e a incorporação de novos conhecimentos é um elemento importante na adaptação
às mudanças ambientais e socioeconômicas.
21
Neste contexto, buscamos estudar o cenário de integração aos mercados pelos índios
Fulni-ô do Nordeste do Brasil. Esse grupo indígena apresenta alguns traços de etnicidade e
resistência cultural, como a manutenção da língua nativa, o yatê, e de seu sigiloso ritual
sagrado, o Ritual do Ouricuri. Além disso, a produção de artesanatos indígenas, a qual tem
uma importância cultural e econômica, vem sendo influenciada por uma demanda externa de
mercado. Isto pode ser percebido pelo número de artesanatos não tradicionais que foram
incorporados e são produzidos pelos artesãos dessa aldeia, visando a comercialização.
Buscamos avançar no conhecimento sobre os efeitos da integração aos mercados no
conhecimento ecológico local e uso dos recursos vegetais propondo as seguintes hipóteses: i)
Fatores socioeconômicos podem predizer o conhecimento de artesanatos tradicionais e não
tradicionais. Se a integração aos mercados influencia o conhecimento ecológico local,
esperamos que o conhecimento local sobre artesanatos tradicionais e não tradicionais se
concentrem em diferentes segmentos da população; ii) A confecção de artesanatos não
tradicionais promove um maior consumo de recursos vegetais. Se a integração aos mercados
promove a produção de artesanatos que atendem as necessidades dos mercados externos,
esperamos encontrar maior consumo de biomassa para a produção de artesanatos não
tradicionais em relação aos tradicionais.
2. Métodos
2.1 Área de estudo
O estudo foi desenvolvido no Território Indígena Fulni-ô que está localizado no
município de Águas Belas, Pernambuco, distante cerca de 315 km da capital do estado,
Recife, Nordeste do Brasil. O município abrange uma área de aproximadamente 886 km² e
possui uma população de 40.566 habitantes (CONDEPE/FIDEM, 2015). Localizada na
microrregião do Agreste pernambucano, Águas Belas está inserida na bacia hidrográfica do
Rio Ipanema, sob clima semiárido, quente e úmido, com temperatura média anual de 25° C e
média pluviométrica anual de 600 mm (CONDEPE/FIDEM, 2015). O território indígena
Fulni-ô possui aproximadamente 11.500 hectares e está inserido em uma típica vegetação de
caatinga. Segundo dados do IBGE (2010), a população indígena é de 3.675 pessoas,
distribuída em duas aldeias distintas: a aldeia principal, que abriga a maioria das famílias e
22
dista 500 metros do centro urbano de Águas Belas; e a aldeia Xixiakhla, que é habitada por
poucas famílias que optaram por residir em um local próximo a vegetação nativa e distante do
contato com o centro urbano.
Os índios Fulni-ô são um dos sete grupos indígenas encontrados no estado de
Pernambuco (Socioambiental, 2007) sendo o único que mantém sua língua nativa, o “yatê”,
que é falada diariamente entre os membros da comunidade, principalmente entre os mais
velhos (Albuquerque et al., 2011a). O calendário anual Fulni-ô é marcado pelo Ritual do
Ouricuri que ocorre anualmente entre setembro e novembro. Durante o ritual, a população se
estabelece na aldeia ouricuri que está inserida na mata do ouricuri, ambos considerados
sagrados. A mata do ouricuri é o principal local de coleta de recursos vegetais pela
comunidade, por isso, nos meses do ritual, o extrativismo de produtos vegetais é intensificado
(Albuquerque et al., 2011b).
Entre os Fulni-ô, a produção de artesanato é realizada durante todo ano, com maior
demanda no mês de abril devido a comemoração nacional do “dia do índio”. Os artesãos
costumam se organizar em grupos e viajar em caravanas pelas grandes capitais do Brasil para
fazer apresentações culturais e vender sua produção durante todo esse mês. Assim, entre
fevereiro e março, a coleta de recursos e produção de artesanatos se torna mais intensa.
Os artesãos dessa etnia produzem atualmente artesanatos tradicionais de sua cultura,
os quais geralmente possuem utilidade doméstica, ornamental, lúdica e/ou mágico-religioso,
bem como artesanatos que não são tradicionais, frutos de uma demanda externa de mercado.
Entre os artesanatos tradicionais se destacam os produzidos a partir das folhas da palmeira
Ouricuri (Syagrus coronata Mart.(Becc.), como esteiras, tapetes, cestos, bolsas e vassouras.
Em um momento histórico desta etnia, esses itens eram vendidos a comerciantes da cidade de
Águas Belas e garantiam o sustento das famílias. Outros artesanatos tradicionais
comercializados são a maracá (instrumento musical utilizado em danças e rituais), produzido
a partir de frutos de cabaça (Curcubita sp.) e a xanduca (cachimbo amplamente utilizado por
índios adultos), produzida a partir do caule do angico (Anadenanthera colubrina var. cebil
(Griseb.) Altschul).
Entre os artesanatos não tradicionais figuram itens que não possuem valor cultural
para esta etnia e refletem a imagem que o “branco” possui do “índio”, como arco-e-flecha,
23
machadinhas, zarabatanas e lanças. São produzidos a partir de recursos madeireiros, oriundos
das florestas locais, principalmente visando a comercialização durante as caravanas do mês de
abril, mês em que se comemora o dia nacional do índio no Brasil.
2.2 Procedimento de coleta de dados
O primeiro contato com a comunidade foi realizado na companhia de pesquisadores do
Laboratório de Ecologia e Evolução de Sistemas Socioecológicos (LEA), da Universidade
Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), que estavam desenvolvendo estudos ecológicos e
etnobotânicos na aldeia. Em fevereiro de 2014, realizamos uma reunião com os líderes
indígenas (pajé e cacique) a fim de explicar os objetivos da pesquisa e obter a autorização e
consentimento locais. Para atender as exigências legais de acesso ao conhecimento local e ao
Território Indígena, o estudo foi submetido ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (IPHAN) e à Fundação Nacional do Índio (FUNAI), respectivamente, e se encontra
em processo de apreciação. O estudo também foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa
(CEP) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e se encontra em processo de
apreciação.
Algumas visitas a comunidade foram realizadas durante fevereiro e agosto de 2014
para estabelecer o Rapport. A coleta de todas as informações locais foi realizada entre janeiro
e maio de 2015. Entre os meses de setembro e novembro não é possível realizar atividades na
comunidade, pois todos os Fulni-ô ficam reclusos em seu ritual sagrado.
Nós recrutamos para o estudo todos os artesãos Fulni-ô que atualmente produzem
artesanatos a partir de recursos vegetais nativos da região. Eles foram identificados
incialmente por meio da técnica bola de neve, que consiste em solicitar que um informante
indique outros informantes, até que os nomes indicados se repitam, indicando que a amostra
está saturada (Albuquerque et al., 2014). O primeiro informante foi identificado com o auxílio
de Jemerson de Sá, um índio biólogo, professor na escola de educação básica local e que
detém prestígio na comunidade. O mesmo também nos guiou na escolha de auxiliares
bilíngues para nos acompanhar nas visitas as residências. Participaram do estudo 67 artesãos,
uma que vez que outros sete artesãos se recusaram a participar.
24
Os artesãos recrutados foram convidados a fornecer informações sobre o
conhecimento e uso das plantas empregadas na confecção de artesanatos. As informações
foram acessadas em três etapas, não necessariamente simultâneas. Na primeira etapa,
registramos o perfil socioeconômico dos recrutados e o seu conhecimento ecológico local
para responder nossa primeira pergunta. Utilizamos entrevistas estruturadas para traçar o
perfil socioeconômico dos recrutados. Registramos as seguintes informações: idade,
escolaridade, número de pessoas na família, número de membros da família que estão
envolvidos na produção de artesanatos, renda proveniente da produção de artesanato e o
tempo de experiência na atividade. Utilizamos a técnica Lista-Livre para acessar o
conhecimento ecológico local sobre as plantas utilizadas na produção de artesanatos (ver
Albuquerque et al., 2014). Inicialmente perguntamos quais plantas eram conhecidas como
úteis para a confecção de artesanatos. A partir da lista de plantas, questionamos quais
artesanatos são produzidos.
Na segunda etapa, registramos as informações referentes a utilização de biomassa
vegetal na produção de artesanatos para responder nossa segunda pergunta. Utilizamos a
técnica do inventário in situ (Ramos et al., 2014) para registrar a biomassa vegetal dos
artesanatos presentes nas casas dos informantes. A identificação dos artesanatos e plantas
utilizadas na confecção de cada item foi feita pelos próprios artesãos. O fato de ser uma
atividade tradicional da cultura Fulni-ô na qual poucas espécies vegetais são utilizadas
garante a acurácia na identificação. Para toda planta identificada, mensuramos a quantidade
de peças produzidas e a biomassa das plantas utilizadas.
A biomassa foi mensurada com uma balança digital de mão WeiHeng, com limites
entre 0,1 g e 50 kg e precisão de 0,1 g. Artesanatos que eram constituídos por mais de uma
planta eram desmontados e a biomassa de cada planta era mensurada. No caso da Imburana de
Cambão (Commiphora leptophloeos (Mart.) J.B.Gillett), a qual é utilizada na confecção de
machadinhas, em associação com pedaços de rocha, nossa medida de biomassa foi
subestimada, uma vez que não foi possível desmontar algumas peças para serem pesadas. As
sementes, geralmente utilizadas na confecção de colar e brinco, não tiveram sua biomassa
mensurada devido ao fato de esses artesanatos serem constituídos por sementes de diferentes
espécies, especialmente de espécies exóticas que são adquiridas por meio de troca com etnias
25
de outras regiões durante as caravanas e feiras. Nossa análise consumo de biomassa vegetal,
portanto, está centrada em madeira, folhas e frutos.
Os inventários foram realizados durante o mês de março de 2015, que é o período de
maior produção de artesanatos, já que na primeira semana de abril partem as caravanas para
as grandes capitais. Nesta etapa do estudo, o tamanho da amostra diminui, uma vez que 11
artesãos rejeitaram a participação e 19 não possuíam artesanatos fabricados ou não estavam
disponíveis nas tentativas de visitas. A amostra final do inventário in situ foi composta por 37
artesãos. Na terceira etapa, buscamos fazer distinção entre artesanatos tradicionais e não
tradicionais. Isso foi necessário pois estamos assumindo que o conhecimento sobre
artesanatos não tradicionais é fruto do processo de integração aos mercados. Em posse da lista
de artesanatos citados nas entrevistas, recrutamos três detentores de saberes tradicionais da
aldeia para classificar os artesanatos em Tradicional e Não Tradicional a partir de suas
próprias perspectivas. Esses detentores foram indicados pelas lideranças locais sendo
reconhecidos por possuírem um vasto conhecimento sobre as tradições da cultura Fulni-ô.
Além disso, todos foram artesãos quando mais jovens, sendo capazes de discernir entre os
artefatos tradicionais (que sempre estiveram presentes na cultura) e os artesanatos não
tradicionais (que passaram a ser produzidos recentemente por uma demanda externa não
tradicional).
2.3 Análise de dados
Para testar nossa primeira hipótese e verificar o efeito da integração aos mercados no
conhecimento local sobre artesanatos e plantas, realizamos análises de GLM (General Linear
Model) com distribuição de Poisson, utilizando o modelo Quasi-Poisson para corrigir os erros
padrões. Esta análise nos permite conhecer a variação do conhecimento ecológico local em
diferentes segmentos da sociedade. Como variáveis resposta utilizamos as medidas do
número de espécies conhecidas e de artesanatos conhecidos para usos tradicionais e não
tradicionais. Também utilizamos como variáveis resposta as medidas de consumo de
biomassa total e de biomassa para artesanatos tradicionais e não tradicionais, totalizando,
assim, seis modelos diferentes.
26
Como variáveis explicativas utilizamos as características de perfil socioeconômico dos
participantes. Geramos uma matriz de correlação para identificar as variáveis com
autocorrelação a fim de excluir das análises aquelas que apresentassem correlação maior que
0,8. Excluímos, portanto, a variável “idade” por apresentar alta correlação com a variável
“experiência na atividade” e pelo fato da mesma ser menos ajustada aos modelos finais do que
a segunda. Nos modelos finais, os preditores foram a experiência na atividade, a escolaridade,
a renda anual advinda da comercialização de artesanatos, o tamanho da família e a quantidade
de membros familiares envolvidos na atividade. As análises de GLM foram executadas no
software R, versão 3.2.3 (Team R Development Core 2010), utilizando o pacote Vegan.
Baseado na teoria do Consenso Cultural (Rommey et al., 1986), assumimos que o
conhecimento é a concordância de informações por um grupo de pessoas sobre um
determinado domínio de sua cultura, existindo assim uma resposta culturalmente correta para
cada pergunta acerca de algum domínio cultural. Por isso, optamos por excluir de nossas
análises as informações sobre plantas e artesanatos que não apresentaram consenso entre os
recrutados, considerando apenas as citações de pelo menos três pessoas. Adotamos esse
critério para analisar apenas as informações culturalmente validadas, evitando vieses de
informações idiossincráticas.
Para testar nossa segunda hipótese e verificar se existem diferenças no consumo de
biomassa para usos tradicionais e não tradicionais utilizamos o teste de Wilcoxon. Optamos
por um teste pareado para diminuir os efeitos das variações internas nos dois grupos. O teste
Wilcoxon foi executado no software Bioestat 5.0 (Ayres, 2007).
3. Resultados
Os resultados descritivos são apresentados na tabela 1. As espécies reportadas e as
medidas de biomassa para a produção de artesanatos estão apresentadas na tabela 2.
Nossa primeira hipótese foi parcialmente corroborada. Nenhum dos preditores
apresentou relação com o conhecimento sobre artesanatos não tradicionais, nossa medida de
integração aos mercados (Tabela 3). Isto indica que os conhecimentos sobre artesanatos
tradicionais e não tradicionais estão bem distribuídos em todos os segmentos da população.
27
No entanto, em nosso modelo, a experiência na atividade é uma variável preditora do número
de artesanatos tradicionais conhecidos. A medida em que se tornam mais experientes os
artesãos vão conhecendo mais os artesanatos tradicionais (p= 0,03, R²= 0,12). As outras
variáveis preditoras incluídas nos modelos não apresentaram respostas significativos.
Nosso modelo também aponta a renda proveniente da produção de artesanatos como
uma variável preditora do consumo de biomassa total (p= 0,04, R²= 0,11) e para usos não
tradicionais (p= 0,005, R²= 0,04) (Tabela 4). Os artesãos que alcançam maior renda com a
produção de artesanatos utilizam mais biomassa vegetal, especialmente para usos não
tradicionais, indicando que o retorno econômico desta atividade está guiando a extração de
recursos vegetais. Nenhum dos preditores analisados mostrou relação com o consumo de
biomassa para usos tradicionais (Tabela 4).
Corroboramos nossa segunda hipótese que afirma que usos não tradicionais promove
um maior consumo de biomassa. Verificamos que a demanda de biomassa para artesanatos
não tradicionais (�̅�= 3322,91; ±= 4306,1; m= 2000;) é maior do que a mensurada para
artesanatos tradicionais (�̅�= 2773,22; ±= 7991,32; m= 910) (Z= 3,5302; p= 0,0002).
4. Discussão
Nossos resultados mostraram que o conhecimento sobre artesanatos tradicionais e não
tradicionais coexistem em um corpo de conhecimento híbrido. Esse conhecimento híbrido
reflete a capacidade do conhecimento ecológico local de persistir frente as mudanças sociais e
econômicas provocadas pela integração aos mercados. De acordo com Reyes-García et al.
(2014), o conhecimento ecológico local não é estático. Ele possui uma natureza dinâmica que
envolve a acomodação de novas formas de conhecimento bem como a saída de informações
obsoletas. Segundo Gómez-Baggethun et al. (2013), é essa natureza dinâmica do
conhecimento local que o torna capaz de se adaptar a novas condições socioeconômicos ou
ecológicas. Nossos achados, portanto, sustentam a visão de que a participação em mercados
não necessariamente promove a perda de conhecimento ecológico local, como também foi
observado por Guest (2002) e Reyes-García et al. (2007).
28
Outros estudos também verificaram a coexistência entre o conhecimento tradicional e
o conhecimento não tradicional, fruto de processos geradores de mudança cultural. Reyes-
García et al. (2014) evidenciaram a coexistência entre o conhecimento agrícola tradicional e o
conhecimento sobre variedades de culturas agrícolas comerciais (denominado como
conhecimento moderno) em três comunidades locais da Península Ibérica. De forma
semelhante, Giovannini et al. (2011) verificaram que o conhecimento sobre plantas
medicinais e produtos farmacêuticos coexistiam e eram complementares numa população
indígena em Oaxaca, México.
Baseado na literatura, poderíamos esperar que a integração aos mercados exercesse
efeitos deletérios sobre populações locais, levando a perda de conhecimento tradicional
(Godoy et al., 1998; Gómez-Baggethun et al., 2010; Lu, 2007). No entanto, nossos resultados
mostraram que o conhecimento local acomodou o novo conhecimento, fruto da integração aos
mercados. A persistência desse novo conhecimento pode estar ligada ao retorno econômico
que ele confere, haja visto que nossos resultados apontam que renda advinda desta atividade
está relacionada ao maior consumo de biomassa para usos não tradicionais. Por outro lado, a
persistência do conhecimento sobre artesanatos tradicionais pode estar relacionada ao valor
simbólico e cultural destes itens para a etnia Fulni-ô que historicamente vem lutando para
manter as suas tradições.
Também evidenciamos que os artesãos mais experientes conhecem mais artesanatos
tradicionais. É possível que esta relação esteja ligada ao fato de que artesãos mais experientes
tiveram mais tempo durante sua história de vida para assimilar o conhecimento (Voeks e
Leoni, 2004). Além disso, neste cenário em que os artesanatos não tradicionais conferem
maior retorno econômico, conhecer artesanatos tradicionais pode ser menos vantajoso, por
isso os artesãos menos experientes possuem menos desse conhecimento. Desta forma, os
artesãos mais experientes podem exercer um papel fundamental na manutenção do
conhecimento tradicional no contexto de integração aos mercados.
Nossos resultados também apontam que a produção de artesanatos não tradicionais
demanda maior quantidade de biomassa vegetal em relação aos artesanatos tradicionais. Isto
pode indicar que a integração aos mercados influenciou o uso dos recursos naturais,
conduzindo a especialização no consumo de recursos orientado pelas demandas de mercado, o
que está em consonância com a literatura (Godoy et al., 1998, Rudel et al., 2002; Sierra et al.,
29
1999). Os artesanatos tradicionais da cultura Fulni-ô não gozam do mesmo apelo comercial
que os itens que refletem a imagem do “índio” para a sociedade. Assim, a demanda do
mercado por itens não tradicionais, como arco e flecha, machado e cocar, está guiando os
padrões de produção e consumo de biomassa vegetal.
A literatura também aponta a intensificação e sobrexploração dos recursos naturais
como efeito da integração aos mercados (Morsello et al., 2014; Ruiz-Pérez et al., 2004).
Nosso estudo registrou elevados valores de biomassa para algumas espécies (Tabela 2),
especialmente para usos não tradicionais. Esses resultados apresentam algumas implicações
para a conservação. Muitas espécies vegetais utilizadas na produção de artesanatos possuem
outros usos locais (Albuquerque et al., 2011a, 2011b, 2011c; Soldati e Albuquerque, 2012),
principalmente a extração de cascas para fins medicinais. A versatilidade de usos de espécies
é comum em florestas secais sazonais (Albuquerque, 2006; Albuquerque et al., 2009).
Portanto, o extrativismo dessas espécies para uso em outras categorias pode aumentar os
danos ao nível individual e populacional.
Além disso, a demanda por biomassa de artesanatos não tradicionais está ligada ao uso
de recursos madeireiros, o que representa um uso mais danoso para as populações vegetais
(Medeiros et al., 2012). Por fim, esta demanda está concentrada principalmente em duas
espécies vegetais (Capparis flexuosa (L.) L e Coutarea hexandra (Jacq.) K. Schum).
Albuquerque et al. (2011b) já registraram baixas densidades relativas para C. flexuosa no
território Fulni-ô. O elevado consumo de biomassa verificado representa uma ameaça para as
populações vegetais locais.
5. Conclusão
Nossos resultados sugerem que os conhecimentos tradicional e não tradicional não são
mutualmente excludentes, evidenciando que a participação em mercados não necessariamente
promove a perda de conhecimento, mas pode favorecer a diversificação do conhecimento
ecológico local. Em nosso cenário, evidenciamos que o tempo na experiência é uma
importante característica para a retenção do conhecimento local. Em contextos de integração
aos mercados, o conhecimento ecológico local pode ser híbrido, adaptado às novas condições
sociais e econômicas.
30
Nosso estudo também sustenta a ideia de que a integração aos mercados pode
promover a especialização no uso dos recursos naturais orientado pela demanda de mercado.
A integração aos mercados não apresentou efeitos negativos no conhecimento ecológico
local. No entanto, este processo está afetando o uso dos recursos de maneira expressiva,
podendo ter efeitos negativos sobre as populações das espécies utilizadas.
Por fim, o fato de realizar as medidas de consumo de biomassa em um único evento
para cada informante representa uma limitação de nosso estudo. Mesmo sendo realizado
durante o momento de maior produção de artesanatos, é possível que, no momento da
entrevista, algumas pessoas não tivessem finalizado sua produção ou até mesmo iniciado.
Assim, o consumo de biomassa para produção de artesanatos pelos Fulni-ô pode estar
subestimado. Para futuros estudos, recomendamos a triangulação de métodos que
proporcionem medidas dinâmicas de consumo, como por exemplo, o uso de entrevistas
semiestruturadas para registrar a taxa de reposição dos recursos utilizados ou a realização de
várias medidas num determinado intervalo de tempo.
6. Agradecimentos
Os autores agradecem aos índios Fulni-ô, especialmente aqueles artesãos que
contribuíram compartilhando o seu conhecimento local. Aos membros do Laboratório de
Ecologia e Evolução de Sistemas Socioecológicos da Universidade Federal Rural de
Pernambuco (LEA - UFRPE) por todo suporte. A Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela concessão de bolsa de estudo ao primeiro autor. Ao
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela bolsa de
produtividade fornecida para Ulysses Paulino de Albuquerque.
31
7. Referências Bibliográficas
AHMED, S; STEPP, J. R.; TOLENO, R A. J.; PETERS, C. M. Increased market integration,
value, and ecological knowledge of tea agro-forests in the Akha highlands of southwest
China. Ecology and Society, v. 15, n. 4, 2010.
ALBUQUERQUE, U. P.; ARAÚJO, T. A. S.; RAMOS, M. A.; NASCIMENTO, V. T.;
LUCENA, R. F. P.; MONTEIRO, J. M.; ALENCAR, N. L.; ARAÚJO, E. L. How
ethnobotany can aid biodiversity conservation: reflections on investigations in the semi-arid
region of NE Brazil. Biodiversity and Conservation, v. 18, n. 1, p. 127-150, 2009.
ALBUQUERQUE, U. P. Re-examining hypotheses concerning the use and knowledge of
medicinal plants: a study in the Caatinga vegetation of NE Brazil. Journal of Ethnobiology
and Ethnomedicine, v. 2, n. 1, 2006.
ALBUQUERQUE, U. P.; SOLDATI, G. T.; SIEBER, S. S.; NETO, E. M. D. F. L.; SÁ, J. C.;
SOUZA, L. C. Use and extraction of medicinal plants by the Fulni-ô Indians in northeastern
Brazil-implications for local conservation. Sitientibus série Ciências Biológicas, v. 11, n. 2,
p. 309-320, 2012a.
ALBUQUERQUE, U. P.; SOLDATI, G. T.; SIEBER, S. S.; MEDEIROS, P. M.; SÁ, J. C.;
SOUZA, L. C. Rapid ethnobotanical diagnosis of the Fulni-ô Indigenous lands (NE Brazil):
floristic survey and local conservation priorities for medicinal plants. Environment,
development and sustainability, v. 13, n. 2, p. 277-292, 2011b.
ALBUQUERQUE, U. P.; SOLDATI, G. T.; SIEBER, S. S.; RAMOS, M. A.; SÁ, J. C.;
SOUZA, L. C. The use of plants in the medical system of the Fulni-ô people (NE Brazil): a
perspective on age and gender. Journal of Ethnopharmacology, v. 133, n. 2, p. 866-873,
2011c.
ALBUQUERQUE, U. P.; RAMOS, M. A.; LUCENA, R. F. P.; ALENCAR, N. L. Methods
and techniques used to collect ethnobiological data. In: ALBUQUERQUE, U. P.; CUNHA, L.
V. F. C.; LUCENA, R. F. P.; ALVES, R. R. N. (Eds.). Methods and techniques in
ethnobiology and ethnoecology. New York, Springer, 2014.
AYRES, M.; AYRES, D. L.; SANTOS, A. S. BioEstat 5.0. Aplicações estatísticas nas áreas
das ciências biológicas e médicas. Belém, Pará, 2003.
32
CONDEPE/FIDEM. Águas Belas: Perfil Municipal.
http://www.bde.pe.gov.br/estruturacaogeral/conteudo_site2.aspx. Accessed in: 30 set. 2015.
CONWAY-GÓMEZ, K. 2008. Market integration, perceived wealth and household
consumption of river turtles (Podocnemis spp.) in eastern lowland Bolivia. Journal of Latin
American Geography, v. 7, n. 1, p. 85-108, 2008.
GIOVANNINI, P.; REYES-GARCÍA, V.; WALDSTEIN, A.; HEINRICH, M. Do
pharmaceuticals displace local knowledge and use of medicinal plants? Estimates from a
cross-sectional study in a rural indigenous community, Mexico. Social science & medicine,
v. 72, n. 6, p. 928-936, 2011.
GODOY, R.; BROKAW, N.; WILKIE, D.; COLON, D.; PALERMO, A.; LYE, S.; WEI, S.
Of trade and cognition: Markets and the loss of folk knowledge among the Tawahka Indians
of the Honduran rain forest. Journal of Anthropological Research, v. 54, n. 2, p. 219-234,
1998.
GODOY, R.; REYES-GARCÍA, V.; BYRON, E.; LEONARD, W. R.; VADEZ, V. The effect
of market economies on the well-being of indigenous peoples and on their use of renewable
natural resources. Annual Review of Anthropology, v. 34, p. 121-138, 2005.
GÓMEZ‐BAGGETHUN, E. R. I. K.; MINGORRíA, S.; REYES‐GARCÍA, V.; CALVET, L.;
MONTES, C. Traditional Ecological Knowledge Trends in the Transition to a Market
Economy: Empirical Study in the Doñana Natural Areas. Conservation Biology, v. 24, n. 3,
p. 721-729, 2010.
GÓMEZ-BAGGETHUN, E.; REYES-GARCÍA, V. Reinterpreting change in traditional
ecological knowledge. Human ecology: an interdisciplinary journal, v. 41, n. 4, p. 643-
647, 2013.
GROSS, D. R.; EITEN, G.; FLOWERS, N. M.; LEOI, F. M.; RITTER, M. L.; WERNER, D.
W. Ecology and acculturation among native peoples of central Brazil. Science, v. 206, n.
4422, p. 1043-1050, 1979.
GUEST, G. Market integration and the distribution of ecological knowledge within an
Ecuadorian fishing community. Journal of Ecological Anthropology, v. 6, n. 1, p. 38-49,
2002.
IBGE. Indígenas. http://indigenas.ibge.gov.br/. Accessed in: 08 set. 2010.
33
INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL (ISA). Povos indígenas no Brasil.
http://pib.socioambiental.org/pt/povo/fulni-o, Accessed in: 08 set. 2015.
LU, F. Integration into the Market among Indigenous Peoples: A Cross‐Cultural Perspective
from the Ecuadorian Amazon. Current anthropology, v. 48, n. 4, p. 593-602, 2007.
MEDEIROS, P. M.; SILVA, T. C.; ALMEIDA, A. L. S.; ALBUQUERQUE, U. P. Socio-
economic predictors of domestic wood use in an Atlantic forest area (northeast Brazil): a tool
for directing conservation efforts. International Journal of Sustainable Development &
World Ecology, v. 19, n. 2, p. 189-195, 2012.
MORSELLO, C.; DELGADO, J. A. S.; FONSECA-MORELLO, T.; BRITES, A. D. Does
trading non-timber forest products drive specialisation in products gathered for consumption?
Evidence from the Brazilian Amazon. Ecological Economics, v. 100, p. 140-149, 2014.
OLSON, E. A. Anthropology and traditional ecological knowledge: a summary of
quantitative approaches to traditional knowledge, market participation, and conservation.
Culture, Agriculture, Food and Environment, v. 35, n. 2, p. 140-151, 2013.
PÉREZ-LLORENTE, I.; PANEQUE-GÁLVEZ, J.; LUZ, A. C.; MACÍA, M. J.; GUÈZE, M.;
DOMÍNGUEZ-GÓMEZ, J. A.; REYES-GARCÍA, V. Changing indigenous cultures,
economies and landscapes: the case of the Tsimane’, Bolivian Amazon. Landscape and
Urban Planning, v. 120, p. 147-157, 2013.
RAMOS, M. A; MEDEIROS, P. M.; ALBUQUERQUE, U. P. Methods and techniques
applied to ethnobotanical studies of timber resources. In: ALBUQUERQUE, U. P.; CUNHA,
L. V. F. C.; LUCENA, R. F. P.; ALVES, R. R. N. (Eds.). Methods and techniques in
ethnobiology and ethnoecology. New York, Springer, 2014.
REYES-GARCÍA, V.; VADEZ, V.; HUANCA, T.; LEONARD, W. R.; McDade, T.
Economic development and local ecological knowledge: A deadlock? Quantitative research
from a Native Amazonian society. Human Ecology, v. 35, n. 3, p. 371-377, 2007.
REYES-GARCÍA, V.; GUÈZE, M.; LUZ, A. C.; PANEQUE-GÁLVEZ, J.; MACÍA, M. J.;
ORTA-MARTÍNEZ, M.; PINO, J.; RUBIO-CAMPILLO, X. Evidence of traditional
knowledge loss among a contemporary indigenous society. Evolution and Human Behavior,
v. 34, n. 4, p. 249-257, 2013.
34
REYES-GARCÍA, V.; ACEITUNO-MATA, L.; CALVET-MIR, L.; GARNATJE, T.;
GÓMEZ-BAGGETHUN, E.; LASTRA, J. J.; ONTILLERA, R.; PARADA, M.; RIGAT, M.;
VALLÈS, J. VILA, S.; PARDO-DE-SANTAYANA, M. Resilience of traditional knowledge
systems: The case of agricultural knowledge in home gardens of the Iberian Peninsula.
Global Environmental Change, v. 24, p. 223-231, 2014.
ROMNEY, A. K.; WELLER, S.; BATCHELDER, W. H. Culture as consensus: A theory of
culture and informant accuracy. American Anthropologist, v. 88, n. 2, p. 313-338, 1986.
RUDEL, T. K.; BATES, D.; MACHINGUIASHI, R. Ecologically noble Amerindians? Cattle
ranching and cash cropping among shuar and colonists in Ecuador. Latin American
Research Review, v. 37, n. 1, p. 144-159, 2002.
RUIZ-PÉREZ, M.; BELCHER, B.; ACHDIAWAN, R.; ALEXIADES, M.; AUBERTIN, C.;
CABALLERO, J.; CAMPBELL, B.; CLEMENT, C.; CUNNINGHAM, T.; FANTINI, A.;
FORESTA, H; FERNÁNDEZ, C. G.; GAUTAM, K. H.; MARTÍNEZ, P. H.; JONG, W.;
KUSTERS, K.; KUTTY, M. G.; LÓPEZ, C.; FU, M.; ALFARO, M. M. R.; NAIR, T. K. R.;
NDOYE, O.; OCAMPO, E.; RAI, N.; RICKER, M.; SCHRECKENBERG, K.;
SHACKLETON, S.; SHANLEY, O.; SUNDERLAND, T.; YOU, Y. C. Markets drive the
specialization strategies of forest peoples. Ecology and Society, v. 9, n 2, 2004.
SIERRA, R.; RODRIGUEZ, F.; LOSOS, E. Forest resource use change during early market
integration in tropical rain forests: the Huaorani of upper Amazonia. Ecological Economics,
v. 30, n. 1, p. 107-119, 1999.
SOLDATI, G. T.; ALBUQUERQUE, U. P. Ethnobotany in intermedical spaces: the case of
the Fulni-ô indians (northeastern Brazil). Evidence-Based Complementary and Alternative
Medicine, v. 2012, 2011.
VADEZ, V.; REYES-GARCÍA, V.; GODOY, R. A.; APAZA, V. L.; BYRON, E.;
HUANCA, T.; LEONARD, W. R.; PEREZ, E.; WILKIE, D. Does integration to the market
threaten agricultural diversity? Panel and cross-sectional data from a horticultural-foraging
society in the Bolivian Amazon. Human Ecology, v. 32, n. 5, 635-646, 2004.
VOEKS, R. A.; LEONY, A. Forgetting the forest: assessing medicinal plant erosion in eastern
Brazil. Economic Botany, v. 58, n. sup1, p. 294-306, 2004
35
Tabela 1 - Estatística descritiva do perfil socioeconômico e variáveis dependentes do
modelo de GLM do efeito da integração aos mercados entre os índios Fulni-ô, Nordeste
do Brasil.
Característica Mínimo Máximo Média Desvio Padrão
Idade 16 69 37,8 13,58
Experiência na atividade 3 47 22,04 11,07
Renda (R$) 1.000 12.000 3.618,64 2.400,32
Tamanho da família 1 10 4,8 1,72
Quantidade de membros
envolvidos na produção 1 9 2,96 1,79
Riqueza de espécies conhecidas 4 23 9,66 4
Consumo de biomassa total (g) 1.235 55.015 10.542 11.724
Consumo de biomassa para usos
tradicionais (g) 95 55.015 4.852 10.702
Consumo de biomassa para usos
não tradicionais (g) 515 34.365 33.850 8.624
36
Tabela 2 - Lista de espécies registradas como úteis para fins artesanais entre os índios Fulni-ô, Nordeste do Brasil.
Espécies
Nome local Número de
citações
Número de
artesanatos Biomassa (g) Parte utilizada
Tra
dic
ional
Não
trad
icio
nal
Tra
dic
ional
Não
trad
icio
nal
Tra
dic
ional
Não
trad
icio
nal
Euterpe oleraceae Mart. Açaí - 25 - 6
Sementes
Anadenanthera colubrina var.
cebil (Griseb.) Altschul Angico 40 88 2 10 19845
Madeira e sementes
Myracroduon urundeuva Allemão Aroeira 7 34 2 6 1880
Madeira e galhos
Bambusa sp. Bambu - 43 - 12 370 9940 Madeira
Schinopsis brasiliensis Engl Baraúna 5 6 2 3
Madeira
Maytenus rigida Mart. Bom nome - 4 - 4
Madeira
Mauritia flexuosa L. Buriti - 6 - 3
Fibras, folhas e sementes
Sapium sp. Burra leiteira 1 5 1 5
730 Madeira
Curcubita sp. Cabaça 32 - 4 - 33610
Frutos
Anacardium occidentale L. Cajueiro - 3 - 3
Madeira
Ruellia asperula (Mart. Ex Ness)
Lindau
Canela de
nambu 1 10 1 5
Madeira
Coutarea hexandra (Jacq.) K. Canela de 5 83 2 5
95913 Madeira
37
Schum. veado
Hypolytrum sp. Capim
navalha - 3 - 1
Sementes
Neoglaziovia variegata (Arruda)
Mez Crauá 45 8 9 2
Fibras
Anemopaegma sp Cipó 7 30 4 2
18115 Madeira
Cocos nucífera L. Coco da praia 10 5 2 3
610 Frutos
Tabebuia aurea Hook Craibeira 2 6 1 5
4525 Madeira
Crescentia cujete L Cuité 14 - 3 - 2015
Frutos
Piptadenia stipulacea
(Benth.) Ducke
Espinheiro
branco - 20 - 5
Madeira e sementes
Senegalia bahiensis (Benth.)
Siegler & Ebinger
Espinheiro
vermelho - 6 - 2
Madeira
Capparis flexuosa (L.) L. Feijão bravo 3 111 2 7
100480 Madeira e sementes
Commiphora leptophloeos
(Mart.) J.B.Gillett)
Imburana de
cambão 3 41 3 7
2095 Madeira
Phytelephas macrocarpa Ruiz &
Pav. Jarina - 5 - 2
Sementes
Genipa americana L. Jenipapo 3
1
Madeira e frutos
Ziziphus joazeiro Mart. Juazeiro
3
3
Madeira e sementes
Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir. Jurema
27
5
3660 Madeira
38
Coix lacryma-jobi L. Lágrima de
N. Senhora 13
3
Sementes
Leucaena leucocephala (Lam.) de
Wit Leucena
8
33
Sementes
Bromelia laciniosa Mart. ex
Schult. & Schult.f. Macambira
3
2
Inflorescências
Senna obtusifolia L. Irwin &
Barneby Mata pasto
11
4
Madeira
Bauhinia cheilantha Steud. Mororó 3 36 2 4
4285 Madeira
Schefflera morototoni. (Aubl.) Morototó
6
4
Sementes
Dioclea grandiflora Mart. ex
Benth Mucunã
23
4
Sementes
Erythrina velutina willd Mulungu 30
5
9250 Madeira e sementes
Abrus precatorius L. Olho de
pombo 4
2
Sementes
Syagrus coronata Mart.(Becc.) Ouricuri 135 3 17 2 55050 95 Folhas, frutos e sementes
Socratea exorrhiza (Mart.) H.
Wendl Patioba
3
1
Sementes
Caesalpinia echinata Lam Pau brasil 1 11 1 5 3835
Madeira e sementes
Libidibia ferrea (Mart.ex. Tul.)
L.P.Queiroz Pau ferro 2 3 1 3
Madeira
39
Aspidosperma pyrifolium Mart. Pereiro 13 36 4 3 5170
Madeira e sementes
Jatropha molissima (Pohl) Baill. Pião bravo - 9 - 3
Madeira
Jatropha curcas L. Pinhão manso - 3 - 1
Madeira
Jatropha gossypiifolia L. Pinhão roxo - 3 - 1
Madeira
Sideroxylon obtusifolium (Roem.
& Schult.) T.D.Penn Quixaba 5 23 3 2 1690 3420 Madeira
Guadua sp. Taboca 2 16 1 4 515 14480 Madeira
Merostachys sp. Taquara - 6 - 2
5955 Madeira
Merostachys sp. Taquari - 17 - 7
4030 Madeira
Astrocaryum aculeatum Meyer Tucumã - 3 - 2
Frutos
40
Tabela 3 – Sumário do Modelo Linear Generalizado para o efeito das variáveis socioeconômicas sobre o conhecimento sobre as plantas e
artesanatos tradicionais e não tradicionais dos artesãos Fulni-ô, Nordeste do Brasil.
Riqueza de plantas conhecidas Artesanatos tradicionais conhecidos Artesanatos não tradicionais conhecidos
Fontes de variação SS t value p R² SS t value p R² SS t value p R²
Experiência 8.508e-03 1.459 0.151
2.046e-02 2.209 0.031 0,128 1.853e-03 0.225 0.823
Número de artesãos 2.276e-02 0.560 0.578
2.140e-02 0.321 0.749
5.051e-03 0.086 0.931
Tamanho da família 3.027e-04 0.007 0.994
1.245e-02 0.188 0.851
-1.393e-02 -0.229 0.820
Renda 7.112e-06 0.299 0.766
-1.313e-05 -0.327 0.744
-1.411e-05 -0.406 0.686
Escolaridade -3.486e-02 -0.345 0.732
-2.333e-02 -0.141 0.888
-8.022e-02 -0.571 0.571
Tabela 4 – Sumário do Modelo Linear Generalizado para o efeito das variáveis socioeconômicas sobre o consumo de biomassa para
produção de artesanatos tradicionais e não tradicionais dos artesãos Fulni-ô, Nordeste do Brasil.
Biomassa total Biomassa tradicional Biomassa não tradicional
Fontes de variação SS t value p R² SS t value p R² SS t value p R²
Experiência 2.016e-02 1.192 0.240
1.430e-02 0.787 0.436
0,0447989 1,195 0,239
Número de artesãos -4.568e-04 -0.004 0.996
7.927e-02 0.657 0.515
-0,3321600 -1,228 0,226
Tamanho da família -3.691e-02 -0.292 0.772 -2.363e-02 -0.174 0.863
-0,0728102 -0,258 0,797
Renda 1.342e-04 2.118 0.040 0,119 5.622e-05 0.776 0.442
0,0003619 2,907 0,005 0,042
Escolaridade -1.394e-01 -0.598 0.553
-8.172e-02 -0.323 0.748
-0,2883522 -0,546 0,588