Post on 24-Oct-2021
Universidade do MinhoInstituto de Educaccedilatildeo
Elaine Jesus Alves
marccedilo de 2017
Formaccedilatildeo de professores Literacia Digitale Inclusatildeo Sociodigital Estudo de casoem curso a distacircncia da UniversidadeFederal do Tocantins
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Elaine Jesus Alves
marccedilo de 2017
Formaccedilatildeo de professores Literacia Digitale Inclusatildeo Sociodigital Estudo de casoem curso a distacircncia da UniversidadeFederal do Tocantins
Trabalho efetuado sob a orientaccedilatildeo doProf Doutor Bento Duarte da Silva
Tese de Doutoramento em Ciecircncias da Educaccedilatildeo
Especialidade de Tecnologia Educativa
Universidade do MinhoInstituto de Educaccedilatildeo
v
Dedico essa tese aos meus pais Pedro e Helena acircncoras que me mantiveram firme apesar das tempestades
E aos meus filhos Camilla Keven e Joatildeo minhas razotildees para seguir em frente
vii
Agradecimentos
Metaforicamente percebi que o doutorado constitui-se de uma longa jornada de trem da qual
passamos por diversas estaccedilotildees cujo percurso definido nos permite desfrutar a companhia de pessoas
que natildeo nos deixam solitaacuterios nesta viagem
Primeiro agradeccedilo agrave Deus sempre comigo nos momentos mais difiacuteceis da viagem quando achava que
natildeo chegaria ao destino Ele me fez acreditar que era possiacutevel
Aos meus pais Pedro e Helena exemplos de vida que me ensinaram valores como a honestidade
diligecircncia responsabilidade e perseveranccedila
Aos meus fllhos Camilla Keven e Joatildeo que sentiram a minha ausecircncia em alguns momentos mas
entenderam e me motivaram a continuar
Aos meus irmatildeos Cleidson Pedro Paulo e Cleciane que sempre me apoiaram e incentivaram a nunca
desistir
Ao professor Bento Silva meu orientador nesse percurso grata pela paciecircncia parceria e apoio na
construccedilatildeo da tese
A Nuno companheiro no final desta jornada
A Joseacute Lauro Martins por me apresentar agrave Universidade do Minho
A Universidade do Minho pela acolhida
A Universidade Federal do Tocantins pela oportunidade de desenvolvimento profissional
A equipe da Diretoria de Tecnologias Educacionais em especial os professores Moises Arantes e
Marcelo Leineker pelo apoio na pesquisa
A todos os alunos do curso de Fiacutesica a distacircncia da UFT que participaram do estudo
A todos os amigos e amigas que conheci neste percurso e que de alguma forma contribuiacuteram para a
conclusatildeo desta jornada dentre estes em especial a amiga Dorcas Weber
ix
Sonhar mais um sonho impossiacutevel Lutar quando eacute faacutecil ceder
Vencer o inimigo invenciacutevel Negar quando a regra eacute vender
Sofrer a tortura implacaacutevel Romper a incabiacutevel prisatildeo
Voar num limite improvaacutevel Tocar o inacessiacutevel chatildeo
Sonho impossiacutevel J Darion e M leighversatildeo de Chico Buarque e Ruy Guerra 1972 (dedicado aos professores que todos dias rompem barreiras para sobreviver e educar na sociedade em rede)
xi
Formaccedilatildeo de professores Literacia Digital e Inclusatildeo Sociodigital estudo de caso em curso a distacircncia da Universidade Federal do Tocantins
Resumo
No cenaacuterio do mundo conectado em redes de comunicaccedilatildeo digital em que os alunos usam cada vez mais cedo os artefatos tecnoloacutegicos e desenvolvem naturalmente habilidades para seu uso urge a necessidade do professor investir na criaccedilatildeo de competecircncias suficientemente amplas que lhes permitam ter uma atuaccedilatildeo efetiva no manuseio fluente das miacutedias e aplicaacute-las criativamente na sua praacutetica pedagoacutegica junto a seu alunado Neste iacutenterim os cursos de formaccedilatildeo docente teriam o papel de preparar os professores para tirarem proveito efetivo do potencial das Tecnologias Digitais de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TDIC) no que diz respeito a construccedilatildeo do conhecimento dos alunos Nas ultimas deacutecadas poliacuteticas puacuteblicas de formaccedilatildeo de professores fomentaram cursos de formaccedilatildeo na modalidade a distacircncia para professores em serviccedilo O contato direto destes professores com as tecnologias pressupotildee que estas formaccedilotildees deveriam proporcionar aos mesmos maiores habilidades e competecircncias neste campo o que os tornariam habilitados para fazerem uso das TDIC na sua praacutetica pedagoacutegica
Portanto este estudo busca compreender as implicacircncias que uma formaccedilatildeo docente a distacircncia pode ter na percepccedilatildeo do professor diante das tecnologias presentes nas escolas em especial os dispositivos moacuteveis nas matildeos dos seus alunos durante as aulas O estudo parte do pressuposto que a formaccedilatildeo de professor que desenvolve habilidades para a literacia digital os introduz na sociedade em rede e por consequecircncia gera sua inclusatildeo sociodigital Neste sentido a discussatildeo teoacuterica do trabalho parte de trecircs macros categorias sociedade em rede inclusatildeo sociodigital e literacia digital O texto foi redigidido usando a analogia da rede que integra liga e conecta as pessoas em uma grande teia mas que ao mesmo tempo exclui eou marginaliza os que natildeo tecircm condiccedilotildees plenas de estarem ligados a ela
O objeto de investigaccedilatildeo foi o curso de graduaccedilatildeo em Fiacutesica na modalidade a distacircncia da Universidade Federal do Tocantins Foram selecionados como amostra os cursistas matriculados entre 2010 e 2012 totalizando 32 alunos Destes a maioria (51) atua ou jaacute atuaram como professores na rede puacuteblica de ensino A pesquisa de cunho qualitativo trata-se de um estudo de caso e os instrumentos metodoloacutegicos foram questionaacuterios (sondagem do perfil de uso de tecnologias no campo cotidiano e na praacutetica pedagoacutegica) e entrevistas semiestruturadas com o objetivo de compreender mais aprofundamente as percepccedilotildees dos professores em relaccedilatildeo agraves tecnologias nos dois campos
Sobre o uso das TDIC no cotidiano o estudo constatou que os participantes as utilizam de forma predominantemente elementar e baacutesica As atividades mais complexas que exigem maior grau de literacia digital encontram resistecircncia do uso mesmo pelo desconhecimento ou despreparo Os dados levantandos nos questionaacuterios e as percepccedilotildees apreendidas nas entrevistas apontaram que os professores da amostra fazem um uso limitado dos recursos tecnoloacutegicos na sua praacutetica pedagoacutegica Utilizam as tecnologias num vieacutes de repositoacuterio e reproduccedilatildeo de conteuacutedos e quase nunca interagem com seus alunos por meio de suporte tecnoloacutegicos fora dos momentos de aula
No entanto constatou-se que estes professores tatildeo somente reproduzem na sua praacutetica docente o modelo da formaccedilatildeo a distacircncia que participam conteudista e transmissivo A formaccedilatildeo docente voltada para a literacia digital foi apontada no estudo como a porta de entrada na rede para os professores que ainda encontram resistecircncia em utilizar as TDIC nas suas praacuteticas pedagoacutegicas
xiii
Teacher training Digital Literacy and Sociodigital Inclusion an ongoing case study at a distance from the Federal University of Tocantins
Abstract
In the world scenery connected in digital communication networks when students use more often and earlier technology artefacts and natural develop skills to use them urge the necessity of teachers to invest themselves in creation of competencies that will allow them to have an effective actuation in medias and apply them creatively in pedagogic practice Meanwhile academic courses will have the objective to prepare the professor to effectively profit from the potencial of digital comunication technologies and information (TDIC) when we talk about consolidation of students knowledge In the last decades public politiques of teachers formation fomented a modadity of distance learning courses for teachers in practice The direct contact with this kind of technologies should allow them better competencies and skills in this area and this will allow them to use TDIC in their pedagogic practice
Thus this study seeks to understand the implications of teachers distance formation could have in the perception of technologies in different schools specially the use of mobile devices by students during classes This study implies the fact that professors formation will develop habilities for the digital literacy this will introduce them in network society and therefore will generate the socialdigital inclusion Following this the theoreticaly discussion of work is divided in three macro categories network society sociodigital inclusion and digital literacy The text was drawn up by using network analogy that integrate link and conect people in a big web and at the same time exclude andor marginalize those who dont have full conditions to be linked with it
The object of study was the distance modality graduation course in Fisics in the Universidade Federal do Tocantins The sample selected were the students enrolled between 2010 and 2012 in a total of 32 students The majority of them (51) play or played as teachers in the public school network The research with a qualitative imprint is focused in a study case the methodologic instruments used were questionnaires ( surveys of technology usage profile in the daily life and pedagogic practice) and semi structured interviews with the propuse of deeply understand the teachers perceptions over technologies in two fields
About the daily use of TDIC the study found that the participants used them in a basic and elementary way predominantly The complex activities which demand a greater digital literacy level found resistence of use by lack of knowledge or unpreparedness The data collected in the questionnaires and the perceptions absorved in the interviews pointed that the teachers sample use the thecnology resources in a limited way in their pedagogic practice Technologies are used in a repository bias and reproduction of contents and barely never interact with the students out of classes by using technological support
Although the study realize that the teachers only reproduce in their daily practice the distance module where they normally participate - content and transmissible The teacher formation focused on digital literacy was pointed in this study as a gateway on the network for teachers that still find resistance in use TDIC in its pedagogical pratices
xv
AGRADECIMENTOS VII
FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES LITERACIA DIGITAL E INCLUSAtildeO SOCIODIGITAL ESTUDO DE CASO EM CURSO A DISTAcircNCIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS XI
RESUMO XI
TEACHER TRAINING DIGITAL LITERACY AND SOCIODIGITAL INCLUSION AN ONGOING CASE STUDY AT A DISTANCE FROM THE FEDERAL UNIVERSITY OF TOCANTINS XIII
ABSTRACT XIII
LISTA DE FIGURAS XIX
LISTA DE QUADROS XXI
LISTA DE GRAacuteFICOS XXIII
LISTA DE SIGLAS XXV
INTRODUCcedilAtildeO 27
1 INIacuteCIO DO PERCURSO E QUESTOtildeES PELO CAMINHO 29 2 O PROJETO 31 3 OBJETIVO GERAL E ESPECIacuteFICOS 36 4 ORGANIZACcedilAtildeO DA TESE 36
CAPIacuteTULO 1 O MUNDO CONECTADO EM REDES 41
11 O ldquoESTAR DENTROrdquo 43 12 PROCESSOS CIVILIZATOacuteRIOS DAS TECNOLOGIAS DE INFORMACcedilAtildeO E COMUNICACcedilAtildeO 55
121 Comunicaccedilatildeo interpessoal 60 122 Comunicaccedilatildeo de Elite 61 123 Comunicaccedilatildeo em massa 63 124 Comunicaccedilatildeo Individual 66 125 Comunicaccedilatildeo em ambientes virtuais 70 126 Comunicaccedilatildeo em rede ubiacutequaspoacutes massivas 75
13 O PERFIL DOS USUAacuteRIOS DA INTERNET 84 131 A Geraccedilatildeo Net 86 132 Os Nativos e imigrantes digitais 87 133 As Geraccedilotildees X Y Z 87 134 Os residentes e os visitantes 88 135 O Caldeiratildeo digital 89 136 O homo zappiens 89 137 O Homo Sapiens Digitalis 90 138 Controveacutersias sobre o perfil do usuaacuterio da internet 91
CAPIacuteTULO 2 O MUNDO TODO ESTAacute MESMO CONECTADO 97
21 DO LADO DE FORA OU DENTRO NA MARGEM DA REDE 99 22 A INCLUSAtildeO DIGITAL NA AGENDA POLIacuteTICA 100 23 DEBATE CONCEITUAL DO TERMO EXCLUSAtildeO DIGITAL 109 24 A INCLUSAtildeO PARA ALEacuteM DO ACESSO Agrave MAacuteQUINA 112 25 NIacuteVEIS DE EXCLUSAtildeO SOCIODIGITAL E BARREIRAS PARA A INCLUSAtildeO 117 26 O FOSSO DIGITAL NO CENAacuteRIO MUNDIAL E NO BRASIL 123
xvi
2 7 INCLUSAtildeO DIGITAL EDUCACcedilAtildeO E EMANCIPACcedilAtildeO 130
CAPIacuteTULO 3 FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES COM FOCO NA LITERACIA DIGITAL 137
31 A POSSIBILIDADE DE ENTRADA NA REDE 139 32 CONCEITO DE LITERACIA DIGITAL 142 32 A LITERACIA DIGITAL NA AGENDA DAS POLIacuteTICAS PUacuteBLICAS 152 33 TECNOLOGIAS VERSUS PROFESSORES O CAMPO DE TENSAtildeO NAS ESCOLAS 164 3 4 DO QUADRO-NEGRO AO TABLET CONCEPCcedilOtildeES PEDAGOacuteGICAS DOS PROFESSORES ACERCA DAS TECNOLOGIAS 168 35 FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES COM FOCO NA LITERACIA DIGITAL A POSSIBILIDADE DA ENTRADA NA REDE 179
CAPIacuteTULO 4 CONTEXTO E ENQUADRAMENTO METODOLOacuteGICO DA PESQUISA 189
4 1 A UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS NO CONTEXTO DA REGIAtildeO NORTE DO BRASIL 191 411 O estado do Tocantins 191 412 A Universidade Federal do Tocantins 194 413 A UFT e a educaccedilatildeo mediada por tecnologias no Tocantins 196 414 O papel social dos cursos mediados por tecnologias na UFT 199
42 O SISTEMA UAB 202 421 Estrutura administrativa da UAB 202 422 Gestatildeo financeira da UAB 205 423 Gestatildeo pedagoacutegica dos cursos UAB 207
43 O CURSO DE LICENCIATURA EM FIacuteSICA A DISTAcircNCIA NA UFT 211 431 O processo de implementaccedilatildeo 212 4 32 A Organizaccedilatildeo e administrativa e acadecircmica 213 433 Concepccedilatildeo didaacutetico-pedagoacutegica 217 434 Projeto acadecircmico e diretrizes metodoloacutegicas 219 435 Organizaccedilatildeo curricular 220 436 O Ambiente virtual de aprendizagem Moodle 221
44 ENQUADRAMENTO METODOLOacuteGICO DA INVESTIGACcedilAtildeO 226 441 Objetivos da pesquisa 226 442 Natureza da pesquisa mista quanti-qualitativa 227 443 Opccedilatildeo metodoloacutegica Estudo de Caso 228 444 Participantes 229 445 Instrumentos da pesquisa 230 446 Procedimentos de Recolha de dados 233 447 Tratamentos dos dados 234 448 Aspectos eacuteticos 242
CAPIacuteTULO 5 APRESENTACcedilAtildeO ANAacuteLISE E DISCUSSAtildeO DOS RESULTADOS 243
51 INTRODUCcedilAtildeO 245 52 PERFIL DOS PROFESSORES CURSISTAS 246
521 Perfil socioeconocircmico 246 522 Perfil social 248 523 Perfil Acadecircmico 249
53 PROFESSORES E USO DAS TDIC NO COTIDIANO 259 531 Dados sobre posse de equipamentos tipos de conexotildees e locais de acesso 259 532 Uso de tecnologias no cotidiano 261 533 Uso de celular com internet 270
xvii
534 Experiecircncia com as tecnologias e autoavaliaccedilatildeo da literacia digital 272 54 PROFESSORES E USO DAS TDIC NA PRAacuteTICA PEDAGOacuteGICA 279
541 Visatildeo e perspectiva de futuro sobre educaccedilatildeo a distacircncia 280 542 Uso das TDIC na praacutetica pedagoacutegica dificuldades e desafios 284 543 Relatos de experiecircncias sobre praacuteticas pedagoacutegicas mediadas por tecnologias 290
55 UMA PROPOSTA PARA A FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES VOLTADA PARA A LITERACIA DIGITAL 294
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 307
1 DISCUSSAtildeO TEOacuteRICA SOBRE SOCIEDADE EM REDE INCLUSAtildeO SOCIODIGITAL E LITERACIA DIGITAL 310 2 LEVANTAMENTO DO PERFIL SOCIOECONOcircMICO SOCIAL E ACADEcircMICO DOS PROFESSORES CURSISTAS 311 3 INVESTIGACcedilAtildeO DAS POSSIacuteVEIS MUDANCcedilAS QUE UM CURSO DE FORMACcedilAtildeO A DISTAcircNCIA PROMOVERIA NAS PRAacuteTICAS DE LITERACIA
DIGITAL DOS PARTICIPANTES 314 4 UMA PROPOSTA DE FORMACcedilAtildeO DOCENTE VOLTADA PARA A LITERACIA DIGITAL 317
BIBLIOGRAFIA 321
APEcircNDICES 341
APEcircNDICE 1 ndash QUESTIONAacuteRIO 343 APEcircNDICE 2 - GUIAtildeO DAS ENTREVISTAS SEMI-ESTRUTURADAS 355 APEcircNDICE 3 - TRANSCRICcedilAtildeO DAS ENTREVISTAS 359
xix
Lista de figuras
Figura 1 - Siacutentese da pesquisa investigativa 37
Figura 2 - Processos comunicativos educacionais na evoluccedilatildeo sociocultural da civilizaccedilatildeo humana 59
Figura 3 - Lousa de ardoacutesia individual do aluno com laacutepis de ardoacutesia 172
Figura 4 - Figura XX disposiccedilatildeo do mobiliaacuterio escolar de uma sala de aula no iniacutecio do seacuteculo XX 175
Figura 5 - Analogia do quadro-negro com o tablet 176
Figura 6 - Modelo TPACK 186
Figura 7 - Mapa do estado do Tocantins 192
Figura 8 - Funcionamento do sistema UAB203
Figura 9 - Distribuiccedilatildeo dos polos presenciais da UAB no Tocantins205
Figura 10 - Polos presenciais dos cursos de Fiacutesica a distacircncia na UFT 215
Figura 11 - Modelo de uma sala virtual do curso de Fiacutesica a distacircncia da UFT 223
Figura 12 - Apresentaccedilatildeo das aulas na sala virtual do AVA Moodle numa disciplina do curso de Fiacutesica a distacircncia
na UFT 224
Figura 13 - Ciclo holiacutestico da FIPELD 302
xxi
Lista de Quadros
Quadro 1 - Siacutentese do processo educativo proveniente das tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo 59
Quadro 2 - Classificaccedilatildeo das miacutedias locativas a partir de suas funccedilotildees 64
Quadro 3 - Programas e Projetos de inclusatildeo digital propostos pelo Governo Federal no Brasil 87
Quadro 4 - Evoluccedilatildeo do acesso agrave internet no mundo entre 2000 e 2015 125
Quadro 5 - Modelo conceitual de literacia digital 147
Quadro 6 - Esquema de Selber para os Multiletramentos Digitais 151
Quadro 7 - Iniciativas pioneiras no Brasil de informaacutetica na educaccedilatildeo 158
Quadro 8 - A UAB em nuacutemeros no ano de 2014 162
Quadro 9 - Distribuiccedilatildeo de instituiccedilotildees de ensino superior no Tocantins por cidades localizaccedilatildeo geograacutefica
quantidade e tipo de instituiccedilatildeo 194
Quadro 10 - Etapas da anaacutelise de conteuacutedo categorial temaacutetica 236
Quadro 11 - Apresentaccedilatildeo das categorias de anaacutelise temaacutetica 238
Quadro 12 - Exemplo de planilha de distribuiccedilatildeo das unidades de registro segundo as categorias temaacuteticas 239
Quadro 13 - Descriccedilatildeo da unidade de registro por categorias e unidades de contexto 240
Quadro 14 - Categorias de anaacutelise sobre o professor e uso das TDIC na praacutetica pedagoacutegica 280
Quadro 15 - Visatildeo dos cursistas sobre a educaccedilatildeo a distacircncia 280
Quadro 16 - Dificuldades com o uso da tecnologia na escola 289
Quadro 17 ndash Modelo FIPELD 300
xxiii
Lista de Graacuteficos
Graacutefico 1 - Porcentual de pessoas que utilizaram a Internet por meio de microcomputador e somente por outros
equipamentos no periacuteodo de referecircncia dos uacuteltimos trecircs meses na populaccedilatildeo de 10 anos ou mais de idade -
Brasil - 20052013 126
Graacutefico 2 - Porcentual de pessoas que utilizaram a Internet no periacuteodo de referecircncia dos uacuteltimos trecircs meses na
populaccedilatildeo de 10 anos ou mais de idade segundo as classes de rendimento mensal domiciliar per capita - Brasil
ndash 2013 129
Graacutefico 3 - Renda Familiar Bruta em Salaacuterios Miacutenimos (SM) 247
Graacutefico 4 - Programas culturais que os participantes tem acesso com mais frequecircncia 249
Graacutefico 5 - Razotildees pela escolha da modalidade a distacircncia 250
Graacutefico 6 - Percepccedilatildeo dos participantes sobre o curso de Fiacutesica a distacircncia na UFT 252
Graacutefico 7 - Recursos tecnoloacutegicos mais utilizados segundo os professores 262
Graacutefico 8 - Softwares mais utilizados pelos participantes 263
Graacutefico 9 - Aplicativos de internet mais utilizados pelos participantes 264
Graacutefico 10 - Habilidades e competecircncias dos participantes na utilizaccedilatildeo das TDIC Parte 1 266
Graacutefico 11 - Habilidades e competecircncias dos participantes na utilizaccedilatildeo das TDIC - Parte 2 267
Graacutefico 12 - Tipos de atividades realizadas no celular com internet 271
Graacutefico 13 - Meacutedia de tempo que os participantes tecircm acesso a computador com internet 273
Graacutefico 14 - Meios em que os participantes aprenderam a usar o computador 274
Graacutefico 15 - Frequecircncia do uso das tecnologias digitais nas praacuteticas pedagoacutegicas ndash Parte 1 285
Graacutefico 16 - Frequecircncia do uso das tecnologias digitais nas praacuteticas pedagoacutegicas ndash Parte 2 286
xxv
Lista de Siglas
ANDIFES ndash Associaccedilatildeo Nacional dos Dirigentes das Instituiccedilotildees de Ensino Superior
ATUAB ndash Ambiente de trabalho dos coordenadores da Universidade Aberta do Brasil
AVA - Ambiente Virtual de Aprendizagem
CAPES - Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior
CETICbr - Centro de Estudos sobre as Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo
CGIbr - Comitecirc Gestor da Internet no Brasil
CONSEPE - Conselho de Ensino Pesquisa e Extensatildeo
DTE ndash Diretoria de Tecnologias Educacionais
EU ndash Uniatildeo Europeia
FIPE ndash Formaccedilatildeo integrada permanente e evolutiva para a literacia digital
GPS ndash Sistema de Posicionamento Global
HTML - Hypertext Markup Language
IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesticas
IES - Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior
IFTO - Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Tocantins
IP - Protocolo de Internet
ITU - Uniatildeo Internacional de Telecomunicaccedilotildees
LDO - Lei de Diretrizes Orccedilamentaacuterias
MEC ndash Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
NTE - Nuacutecleos de Tecnologia Educacional
NTIA - National Telecommunications and Information Administration
OEA - Uniatildeo dos Estados Americanos
ODM - Objetivos de Desenvolvimento do Milecircnio
ONG ndash Organizaccedilatildeo natildeo Governamental
ONU - Uniatildeo das Naccedilotildees Unidas
Moodle - Modular Object-Oriented Dinamyc Leanirg Enviroment
PARFOR - Plano Nacional de Formaccedilatildeo de Professores
PNAP -Programa Nacional de Formaccedilatildeo em Administraccedilatildeo Puacuteblica ndashPNAP
PNE - Plano Nacional de Educaccedilatildeo
PPC - Projeto Pedagoacutegico do Curso
PROFMAT - Poacutes Graduaccedilatildeo Stritu Senso em Matemaacutetica profissionalizante
PROFORMACcedilAtildeO ndash Programa Nacional de Formaccedilatildeo de Professores em Exerciacutecio
PROUCA - Projeto Um computador por Aluno
xxvi
SECADI - Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade
SEDUCTO- Secretaria de Educaccedilatildeo do Tocantins
SEED ndash Secretaria de Educaccedilatildeo a Distancia
SGB - Sistema de Gestatildeo de Bolsas
SISUAB ndash Sistema de Gestatildeo da Universidade Aberta do Brasil
TDIC ndash Tecnologias Digitais de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo
TPACK - Technological Pedagogical Content Knowledge
UC- Unidade de Contexto
UAB ndash Universidade Aberta do Brasil
UFMT - Universidade Federal do Mato Grosso
UFT ndash Universidade Federal do Tocantins
UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte
UFRP - Universidade Federal Rural de Pernambuco
UMinho ndash Universidade do Minho
UNB - Universidade de Brasiacutelia
UNITINS - Fundaccedilatildeo Universidade do Tocantins
UNO - Unidades Operativas
UNESCO ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura
WWW - Word Wide Web
Introduccedilatildeo
Introduccedilatildeo
29
1 Iniacutecio do percurso e questotildees pelo caminho
Partir significa pocircr-se a caminho ir-se deslocar-se de um ponto a outro e natildeo ficarrdquo (Freire 1992 p71)
Partir do ldquosaber da experiecircncia feita para superaacute-lordquo era defendido por Paulo Freire como um
movimento dialoacutegico para a transformaccedilatildeo do sujeito (Freire 1992) Neste sentido iniciamos esse
trabalho relatando o ponto de partida o iniacutecio do percurso que nos fez chegar agrave aacuterea da Tecnologia
Educativa na Universidade do Minho
Nosso primeiro contato com a tecnologia educativa se deu em 2006 ano da nossa graduaccedilatildeo
em Pedagogia e entrada como servidora puacuteblica na funccedilatildeo de Pedagoga na Universidade Federal do
Tocantins - UFT O convite para cursar a primeira formaccedilatildeo na modalidade a distacircncia partiu de um
colega que coordenava o curso de extensatildeo Miacutedias na Educaccedilatildeo um programa do governo federal que
era voltado a formar professores no uso das miacutedias na escola com foco na autoria Como receacutem-
formada natildeo tiacutenhamos experiecircncia docente mas as trocas de experiecircncias realizadas durante a
formaccedilatildeo nos levaram a refletir sobre a tecnologia educativa como uma poliacutetica social de inclusatildeo O
puacuteblico alvo do curso era na maioria professores da rede puacuteblica residentes nas cidades do interior do
estado do Tocantins Nos encontros presenciais do curso percebia-se que alguns professores natildeo
sabiam nem ligar o computador do laboratoacuterio outros natildeo tinham e-mail e encontravam dificuldades
em navegar na internet Ao observar esta realidade questionaacutevamos sobre ateacute que ponto aquela
formaccedilatildeo possibilitava aos professores cursistas integrarem as tecnologias no seu cotidiano e nas suas
praacuteticas educativas
Nos anos seguintes de 2007 a 2010 atuamos como coordenadora do curso Miacutedias na
Educaccedilatildeo na UFT A posiccedilatildeo de gestora do curso nos proporcionou outra visatildeo das tecnologias
educativas nos fazendo indagar sobre outra questatildeo por que ocorria um alto iacutendice (50) de evasatildeo do
curso Realizamos uma pesquisa junto aos cursistas desistentes da 1ordm e 2ordm ofertas e constatamos que
as causas da evasatildeo estatildeo relacionadas com problemas de infraestrutura e suporte pedagoacutegico e
ainda falta de tempo por excesso de atividades que o curso exigia dos professores que jaacute cumpriam
carga horaacuteria pesada nas escolas Os cursistas desistentes tambeacutem relataram dificuldades com o
manuseio das tecnologias e uma sensaccedilatildeo de solidatildeo durante o curso (Alves e Faria 2011) Ao
participar dos encontros presenciais das ofertas posteriores em que os concluintes apresentavam seus
projetos de intervenccedilatildeo com o uso de miacutedias nas escolas algumas questotildees nos inquietavam O que
os cursistas fariam com esse conhecimento agora na condiccedilatildeo de egressos do curso Desenvolveriam
Introduccedilatildeo
30
os projetos que apresentaram naquela formaccedilatildeo Aqueles professores se sentiram inseridos na
sociedade em rede com capacidades e habilidades para atuarem como sujeitos criacuteticos e autocircnomos
Articulariam o uso das miacutedias nos planos de aulas e projetos pedagoacutegicos da escola que atuam O que
esta formaccedilatildeo mudaria no seu cotidiano no contato com as tecnologias em outros ambientes natildeo
escolares O conhecimento do mundo digital mudaria a perspectiva econocircmica desses indiviacuteduos
Nos anos de 2012 a 2013 na funccedilatildeo de coordenadora pedagoacutegica dos cursos de formaccedilatildeo
inicial e continuada mediados por tecnologia na UFT acompanhamos as anguacutestias dos coordenadores
de curso e professores no que diz respeito a alta evasatildeo dos cursistas e a dificuldades destes com as
ferramentas tecnoloacutegicas Constatamos que os cursos na aacuterea de exatas (Matemaacutetica Fiacutesica e
Quiacutemica) satildeo os que apresentavam maiores iacutendices de desistecircncia de alunos O curso de licenciatura
em Fiacutesica a distacircncia por exemplo iniciou sua primeira oferta em 2010 com 117 alunos matriculados
em quatro polos Em 2014 segundo relatoacuterio da coordenaccedilatildeo do curso havia 71 alunos frequentes
um iacutendice proacuteximo de 40 de evasatildeo O relatoacuterio por polo revelou que nas cidades do interior do
Estado do Tocantins os iacutendices de evasatildeo satildeo maiores que 50 No polo de Ananaacutes extremo norte do
Estado dos 25 matriculados em 2010 apenas 11 cursistas permaneciam No Polo de Cristalacircndia
cidade do interior com 7800 habitantes dos 24 cursistas apenas nove dos ingressantes em 2010
continuavam matriculados em 2014 Em reuniotildees pedagoacutegicas com a coordenaccedilatildeo do curso foram
apresentadas dificuldades dos cursistas em relaccedilatildeo ao conteuacutedo do curso e ainda com a metodologia
de ensino a distacircncia da qual os cursistas cobravam aulas presenciais nos polos e manifestavam
dificuldades de interagir com os colegas no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) Moodle
Todas essas questotildees nos fizeram refletir sobre o discurso de que a educaccedilatildeo a distacircncia
promove a inclusatildeo digital dos professores participantes das formaccedilotildees a distacircncia Considerando o
conceito de Warschauer (2002) sobre inclusatildeo digital que diz respeito natildeo apenas ao acesso fiacutesico a
computadores e agrave conectividade mas a recursos adicionais que permitam que as pessoas utilizem a
tecnologia de modo satisfatoacuterio comeccedilamos a pensar em ateacute que ponto estas formaccedilotildees na
modalidade a distacircncia estariam ldquoincluindordquo os professores no mundo digital e os ajudando a
apropriarem das tecnologias no seu cotidiano e nas suas praacuteticas pedagoacutegicas Poderiam estas
formaccedilotildees a distacircncia estar ldquoexcluindordquo ou ldquodeixando aacute margemrdquo estes professores agrave medida que
evadem dos cursos por natildeo se adaptarem agrave metodologia de educaccedilatildeo mediada por tecnologia ou
porque o acesso e a conexatildeo na cidade onde moram natildeo eacute satisfatoacuteria para um melhor desempenho
no curso Natildeo estaria a educaccedilatildeo a distacircncia sendo uma ldquoinclusatildeo excludenterdquo quando esta natildeo
Introduccedilatildeo
31
possibilita que todos os ingressantes permaneccedilam nas formaccedilotildees nesta modalidade e desenvolvam
habilidades e competecircncias para o uso das tecnologias no seu cotidiano e na escola com seus alunos
Estes questionamentos permaneciam latentes durante nossa jornada como coordenadora
pedagoacutegica dos cursos Um colega que estava cursando o doutoramento em educaccedilatildeo na linha
tecnologias educativas na Universidade do Minho nos sugeriu a leitura da obra A Sociedade em Rede
de Manuel Castells (1999) A noccedilatildeo de rede nos foi apresentada como uma metaacutefora perfeita para
compreender que vivemos em uma sociedade conectada em ldquonoacutesrdquo que interligados produzem fluxos
ou extensas teias de telecomunicaccedilotildees avanccediladas que aleacutem de centros da vida social poliacutetica
econocircmica tornaram-se sistemas eletrocircnicos virtuais A desconexatildeo das pessoas aos ldquonoacutesrdquo da rede
nos pareceu como uma possiacutevel situaccedilatildeo vivida por muitos professores que natildeo conseguem se
apropriar das tecnologias nas suas vivecircncias cotidianas e pedagoacutegicas O ldquoestar na rederdquo estaacute
associado a pertencer existir neste fluxo de teias interligadas o ldquonatildeo estar na rederdquo seria natildeo
pertencer agrave sociedade em rede e estaria associada a novas formas de exclusatildeo Apoacutes refletirmos
nestas questotildees decidimos escrever um projeto que contemplasse estes questionamentos com
embasamento teoacuterico e empiacuterico
A princiacutepio pensamos em fazer a pesquisa com base experimental no curso de formaccedilatildeo
continuada Miacutedias na Educaccedilatildeo do qual tivemos experiecircncia como aluna e coordenadora Entramos em
contato com um professor do programa de doutoramento em Educaccedilatildeo da Universidade do Minho e
enviamos uma preacutevia do projeto Sob a orientaccedilatildeo do professor foram realizadas algumas modificaccedilotildees
como a mudanccedila do curso de especializaccedilatildeo Miacutedias na Educaccedilatildeo cujas ofertas jaacute estavam concluiacutedas
na UFT por um curso de licenciatura a distacircncia em oferta na universidade Assim optamos por usar
de forma instrumental o curso de licenciatura em Fiacutesica a distacircncia da UFT O projeto intitulado
Formaccedilatildeo de professores Letramento Digital e Inclusatildeo Sociodigital Estudo de caso em curso a
distacircncia da Universidade Federal do Tocantins foi submetido ao Conselho Cientiacutefico da Universidade
do Minho e aceito com algumas ressalvas dentre elas que se usasse o termo literacia digital em
substituiccedilatildeo de letramento digital considerando que o termo literacia eacute mais abrangente
2 O projeto
Para o projeto de pesquisa aprovado intitulado Formaccedilatildeo de professores Literacia Digital e
Inclusatildeo Sociodigital Estudo de caso em curso a distacircncia da Universidade Federal do Tocantins
elegemos as categorias teoacutericas de anaacutelise sociedade do conhecimento inclusatildeo sociodigital
Introduccedilatildeo
32
formaccedilatildeo de professores literacia mediaacutetica ou digital A primeira categoria ldquosociedade do
conhecimentordquo constitui uma leitura do mundo conectado em redes e dos reflexos na sociedade
instituiccedilotildees poliacutetica educaccedilatildeo e na economia Entretanto no decorrer das leituras realizadas durante a
pesquisa bibliograacutefica compreendemos que o termo Sociedade em Rede seria mais apropriado para
esta categoria pois a metaacutefora da rede foi eleita para nortear todo o trabalho o mundo conectado em
rede e noacutes e as mudanccedilas advindas deste fenocircmeno Assim esta categoria analiacutetica buscou descrever
o cenaacuterio ou pano de fundo em que ocorrem as mudanccedilas socioteacutecnicas advindas da expansatildeo das
Tecnologias Digitais de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TDIC)
Para construir este quadro do cenaacuterio em que a pesquisa se insere recorremos aos claacutessicos
da literatura da aacuterea de Comunicaccedilatildeo com intuito de compreender os processos evolutivos das
tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo no decorrer dos seacuteculos e as suas reconfiguraccedilotildees ateacute
nossos dias Marchall McLuhan (1977) Mauro Wolf (1985) e Alvin Toffler (1970) desenvolveram
pesquisas na aacuterea da Comunicaccedilatildeo que partem do pressuposto de que no processo civilizatoacuterio as
tecnologias embora natildeo sejam determinantes da evoluccedilatildeo cultural do homem estas constituem uma
das variaacuteveis mais importantes para se compreender o desenvolvimento do homem com relaccedilatildeo agrave
comunicaccedilatildeo e os artefatos por ele desenvolvidos e como estes artefatos tecnoloacutegicos contribuiacuteram
para o modelo de educaccedilatildeo nos diferentes periacuteodos e contextos Autores contemporacircneos como
Manuel Castells (1999 2003) Pierre Leacutevy (1996 1999) Michel Serres (2013) e Zygmunt Bauman
(2001 2007 2011) que vivenciaram as mudanccedilas ocorridas na modernidade levantam questotildees
sobre novos desafios que satildeo impostos agrave sociedade diante das novas formas de se comunicaccedilatildeo
trabalho educaccedilatildeo e vida social Castells (1999 2003) mapeia um cenaacuterio que mediado pelas TDIC
tem suas estruturas reformuladas O conceito de capitalismo informacional eacute construiacutedo como um novo
tipo de capitalismo pautado sobretudo na informaccedilatildeo e conhecimento e da capacidade tecnoloacutegica de
processar esta informaccedilatildeo e gerar conhecimento O autor analisa que o capitalismo informacional
tambeacutem geraria exclusatildeo Assim a rede mesmo com os recentes avanccedilos tecnoloacutegicos ainda exclui
ou manteacutem marginalizada uma parcela consideraacutevel da populaccedilatildeo mundial Neste sentido foi
escolhida a segunda categoria de anaacutelise do estudo a inclusatildeo sociodigital
Autores contemporacircneos criticam o uso do binocircmio inclusatildeoexclusatildeo digital pois estes
dividem os indiviacuteduos em duas uacutenicas categorias os que tecircm acesso e os que natildeo tecircm acesso aos
meios digitais Estes autores consideram que a exclusatildeo digital compreende vaacuterios niacuteveis e categorias
Neste sentido consideram mais apropriado utilizar outros termos como apartheid digital cisatildeo digital
Introduccedilatildeo
33
fratura digital brecha digital gap digital e outros termos correlativos (Brown e Czerniewicz 2010
Warschauer 2002) Demo (2011) usa a expressatildeo ldquomarginalizaccedilatildeordquo pois evita a dicotomizaccedilatildeo
trazida com o termo exclusatildeo que tende a ser radical ou fora ou dentro Segundo o autor mesmo
num contexto capitalista muito excludente as pessoas conseguem algum acesso ao mundo digital
ainda que de forma marginalizada Natildeo estatildeo completamente fora ou excluiacutedas mas ficam na
margem quase de fora
Assim o projeto de pesquisa em tela aborda a inclusatildeo sociodigital para aleacutem do acesso agraves
tecnologias digitais considerando que mesmo aqueles que possuem o acesso poderiam tecirc-lo de forma
restrita ou limitada Poderiam tambeacutem natildeo possuir as habilidades teacutecnicas e cognitivas para uso
praacutetico das tecnologias em suas vidas Levando para o campo educacional as tecnologias cada vez
mais presentes nas escolas constituem um desafio para os professores que lidam diariamente com
estudantes portando seus tablets e celulares na sala de aula Estes professores podem se sentir
excluiacutedos ou marginalizados digitalmente diante dos alunos conectados que estatildeo cada vez mais
navegando nas redes e acessando informaccedilotildees em tempo real e muitas vezes questionando o
conhecimento transmitido na escola
A rede eacute aberta mas exige dos seus usuaacuterios habilidades e competecircncias para manterem-se
conectados aos seus noacutes Neste sentido a categoria teoacuterica ldquoliteracia mediaacutetica ou digitalrdquo insere-se na
discussatildeo teoacuterica do projeto como uma possiacutevel porta de entrada para os ldquomarginalizadosrdquo
digitalmente inserir-se na sociedade em rede De acordo com Lopes (2013) literacia mediaacutetica ou
digital diz respeito agrave capacidade de acessar analisar compreender e avaliar de modo criacutetico as miacutedias
ainda criar comunicaccedilotildees em diferentes contextos Seguindo a analogia da rede os indiviacuteduos com
bons niacuteveis de literacia digital tendem a possuir maiores chances de manterem-se conectados agrave rede e
usufruir os benefiacutecios advindos do acesso filtragem e uso saacutebio das informaccedilotildees
A difusatildeo da internet acessada em aparelhos portaacuteteis que possibilitam a mobilidade
conectividade e acesso a informaccedilotildees em qualquer lugar e a qualquer hora causou profundos
impactos nas estruturas sociais econocircmicas culturais e cognitivas dos indiviacuteduos O tablet ou
celulares conectados agrave internet emergem como dispositivos ldquocheiosrdquo em contraste com o quadro-negro
que ldquovaziordquo precisa de um professor para que lhe escreva os conteuacutedos (Noacutevoa 2015) Assim o
professor natildeo mais eacute o detentor do conhecimento as informaccedilotildees estatildeo em toda a parte e os alunos
as acessam com facilidade e frequecircncia Neste sentido no campo educacional surgem novos espaccedilos
de aprendizagem aleacutem dos muros das escolas
Introduccedilatildeo
34
Prensky (2001) criou o termo ldquonativo digitalrdquo para designar a atual geraccedilatildeo de jovens que
segundo ele satildeo diferentes das geraccedilotildees anteriores natildeo apenas na vestimenta modo de falar se
comportar ou estilo O autor argumenta que estes nativos digitais jaacute nasceram cercados de
tecnologia usando computadores viacutedeo games tocadores de muacutesica digitais cacircmeras de viacutedeo
telefones celulares tablets notebooks jogos e outras parafernaacutelias da era digital Nesta loacutegica os
professores com mais de vinte anos satildeo ldquoimigrantesrdquo na sociedade do conhecimento Quer dizer
nasceram em outro ambiente e aprenderam a construir conhecimento de forma diferente desta
geraccedilatildeo denominada de nativos Embora essa tese de que existe uma geraccedilatildeo de nativos digitais
encontre controveacutersias no meio acadecircmico a realidade observada eacute que os professores satildeo
diariamente desafiados nas suas aulas a dialogar com os ldquonativosrdquo problematizar os acontecimentos
da atualidade despertar o interesse na pesquisa propor atividades que integrem as miacutedias atuais
Neste contexto o desafio que se apresenta eacute formar professores preparados para pensar criticamente
com capacidade de influenciar de maneira positiva aos seus alunos a transformar informaccedilatildeo em
conhecimento e ao mesmo tempo mediar a inclusatildeo digital daqueles que natildeo satildeo nativos
O maior desafio poreacutem encontra-se no fato de que os jovens esterotipados como ldquonativos
digitaisrdquo possuem habilidades teacutecnicas com o uso das tecnologias mas possuem baixos niacuteveis de
literacia digital Alguns estudos comprovam que apesar do faacutecil manejo das TDIC estes jovens satildeo
dependentes de motores de pesquisa e possuem ldquopouca capacidade analiacutetica e criacutetica na avaliaccedilatildeo
das fontes de informaccedilatildeordquo (Bennett Maton e Kervin 2008 Lage e Dias 2012) Portanto neste
cenaacuterio de jovens com amplo acesso as tecnologias mas sem senso criacutetico e anaacutelitico para coletar
processar e usar as informaccedilotildees para gerar conhecimento o papel do professor muda de portador do
conhecimento para problematizador instigador provocador e mediador no processo de ensino-
aprendizagem
Contudo estudos demonstram que os professores nos cursos de formaccedilatildeo natildeo satildeo
preparados para lidar com a realidade do mundo em redes (Demo 2011 Noacutevoa 2015) No campo da
formaccedilatildeo de professores o papel das universidades que ofertam cursos de licenciaturas eacute
fundamental para preparar os docentes para as mudanccedilas que as tecnologias vecircm causando nas
formas de aprender ensinar trabalhar e viver Poreacutem mesmo em condiccedilotildees em que o professor use
as tecnologias no seu cotidiano e socialmente natildeo significa que este as usaraacute com seus alunos em sala
de aula Do mesmo modo o mero fato de um professor ser cursista de uma licenciatura a distacircncia
pode natildeo alterar sua relaccedilatildeo com as tecnologias no cotidiano eou praacuteticas pedagoacutegicas Neste
Introduccedilatildeo
35
sentido formar o professor para a literacia digital significa tornaacute-lo apto para acessar avaliar
criticamente compreender plenamente e ainda criar miacutedias Por outro lado Lopes (2013) assinala que
a falta destas competecircncias afeta o processo de construccedilatildeo e afirmaccedilatildeo dos usuaacuterios da rede
produzindo a exclusatildeo social e desigualdade
Considerando estes pressupostos a pesquisa de doutoramento ldquoFormaccedilatildeo de professores
Literacia Digital e Inclusatildeo Sociodigital estudo de caso em curso a distacircncia da Universidade Federal
do Tocantins buscou investigar se os cursos de formaccedilatildeo docente na modalidade a distacircncia
contribuem para o desenvolvimento de praacuteticas de literacia digital dos professores e sua possiacutevel
inclusatildeo sociodigital na sociedade em rede Trata-se de um estudo de caso realizado com professores
que satildeo cursistas de licenciatura a distacircncia numa universidade puacuteblica no interior do Brasil cujos
instrumentos de coleta de dados foram o questionaacuterio e entrevistas semiestruturadas O total de alunos
frequentes do curso de licenciatura em estudo eacute de 32 alunos destes 25 (78) participaram Os
dados dos questionaacuterios buscaram retratar um perfil dos participantes no tocante ao uso das
tecnologias no cotidiano e na praacutetica docente As entrevistas buscaram aprofundar sobre as provaacuteveis
dificuldades eou resistecircncias encontradas nesse campo bem como as possiacuteveis mudanccedilas ocorridas
na relaccedilatildeo dos mesmos com as tecnologias depois do ingresso no referido curso a distacircncia Os dados
foram analisados qualitativamente com uso da teacutecnica de anaacutelise de conteuacutedo
O sumaacuterio desta tese foi concebido a partir da analogia das redes de Manuel Castells No livro
A galaacutexia da Internet o autor aprofundou sobre os processos excludentes que a internet promoveria na
sociedade em rede Castells usou o termo ldquodivisatildeo digitalrdquo para definir a ldquodivisatildeo criada entre aqueles
indiviacuteduos firmas instituiccedilotildees regiotildees e sociedades que tecircm as condiccedilotildees materiais e culturais para
operar no mundo digital e os que natildeo tecircm ou natildeo conseguem adaptar agrave velocidade da mudanccedilardquo
(Castells 2003 p 221) O autor conclui que o resultado eacute a fragmentaccedilatildeo das sociedades e
instituiccedilotildees em paralelo agrave interconexatildeo das redes marginalizados e sem oportunidades
Pensando nesta metaacutefora da rede e da divisatildeo ou desconexatildeo com a rede com reflexos nos
processos educativos e a formaccedilatildeo de professores as questotildees que norteiam este estudo satildeo
bull O uso de tecnologias nas situaccedilotildees pedagoacutegicas do curso de licenciatura a distacircncia em Fiacutesica da UFT promoveu a literacia dital do professor cursista inserindo-o na sociedade em rede
bull Quais os impactos socioeconocircmicos cognitivos e teacutecnicos da introduccedilatildeo de inovaccedilotildees tecnoloacutegicas nas condiccedilotildees de vida dos cursistas
bull Que possiacuteveis mudanccedilas uma formaccedilatildeo a distacircncia causaria na visatildeo deste cursistas em relaccedilatildeo agrave introduccedilatildeo das tecnologias nas suas praacuteticas docentes
Introduccedilatildeo
36
3 Objetivo geral e especiacuteficos
Considerando a problemaacutetica apresentada o objetivo principal desta tese foi investigar as
possiacuteveis mudanccedilas que um curso de formaccedilatildeo a distacircncia para professores da rede puacuteblica pode
causar na e literacia digital e inclusatildeo sociodigital dos participantes no que diz respeito agraves suas
respectivas praacuteticas sociais cotidianas e pedagoacutegicas com o uso das tecnologias de informaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo
Objetivos especiacuteficos
bull Compreender o conceito de literacia digital e inclusatildeo sociodigital no contexto da sociedade em
rede e as implicaccedilotildees da ampla difusatildeo das tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo nos
processos educativos com foco na formaccedilatildeo de professores
bull Levantar o perfil socioeconocircmico social e acadecircmico de professores cursistas de uma
formaccedilatildeo na modalidade agrave distacircncia com fins de compreender a relaccedilatildeo destes com as
tecnologias no que diz respeito agraves praacuteticas cotidianas e no contexto pedagoacutegico
bull Aprofundar a investigaccedilatildeo sobre as possiacuteveis mudanccedilas que um curso de formaccedilatildeo a distacircncia
promoveria nas praacuteticas de literacia digital dos professores participantes na vida cotidiana e na
sua atuaccedilatildeo docente
bull Apresentar uma proposta de formaccedilatildeo docente voltada para a literacia digital que contemple a
integraccedilatildeo das TDIC na praacutetica pedagoacutegica de forma contiacutenua evolutiva e permanente
4 Organizaccedilatildeo da tese
Esta tese encontra-se estruturada em cinco capiacutetulos (1) O mundo conectado em Redes (O
ldquoestar dentrordquo) (2) O mundo todo estaacute mesmo conectado(Do lado de fora ou dentro na margem da
rede) (3) Literacia digital na formaccedilatildeo de professores (a possibilidade da entrada na rede) (4) Contexto
e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa (5) Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados A
Introduccedilatildeo e as Consideraccedilotildees finais natildeo foram contadas como capiacutetulos
Na Introduccedilatildeo decorremos a delimitaccedilatildeo da problemaacutetica da investigaccedilatildeo descriccedilatildeo do
cenaacuterio e contexto em que a pesquisa eacute proposta e ainda a motivaccedilatildeo desta investigadora para o
estudo a partir da sua histoacuteria de vida e trabalhos desenvolvidos na aacuterea de tecnologia educativa A
seguir na apresentaccedilatildeo do projeto de pesquisa que originou esta tese dissertamos sobre as razotildees e
Introduccedilatildeo
37
pertinecircncia da escolha do tema categorias teoacutericas eleitas e a questatildeo central da investigaccedilatildeo seguida
dos objetivos e da descriccedilatildeo da organizaccedilatildeo da tese
Figura 1 - Siacutentese da pesquisa investigativa
O Capiacutetulo 1 inicia com a descriccedilatildeo do cenaacuterio mundial interconectado em redes de
tecnologia de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo Usando a analogia da rede segundo a visatildeo de Castell
(1999) o texto aborda que assim como a rede de eletricidade visiacutevel por meio de cabos e fios
modificou a vida da sociedade no seacuteculo XIX a rede da internet alterou haacutebitos e costumes de toda
uma geraccedilatildeo no seacuteculo XXI Essas mudanccedilas implicaram na quebra do paradigma da economia
industrial baseada na matildeo de obra humana que operava as maacutequinas para o paradigma da informaccedilatildeo
baseado nas competecircncias para gerir a informaccedilatildeo e usaacute-la eficazmente Considerando que o potencial
avassalador de informaccedilotildees hoje difundidas pelos meios de comunicaccedilatildeo em especial depois da
expansatildeo da internet requer habilidade do usuaacuterio para navegar se apropriar de dados confiaacuteveis e
realmente importantes transformando-os em conhecimento (Leacutevy 1998) Assim a compreensatildeo dos
processos civilizatoacuterios que desencadearam a expansatildeo das tecnologias de informaccedilatildeo desde a
invenccedilatildeo da escrita ateacute os dias atuais foi importante neste estudo pois ampliou o campo de visatildeo
sobre a estreita relaccedilatildeo entre os processos comunicativos e a educaccedilatildeo
Introduccedilatildeo
38
Portanto fazendo uso das seis configuraccedilotildees evolutivas dos processos comunicativos e
educacionais na corrente do tempo com reflexos na educaccedilatildeo segundo Silva (2008) no capiacutetulo 1
apresentamos o modelo de educaccedilatildeo vigente em cada periacuteodo histoacuterico e as respectivas tecnologias
existentes naquele periacuteodo Este retrospecto histoacuterico permitiu visualizar o caraacuteter de peso que as
tecnologias podem exercer nos processos educativos Apresentamos pontualmente as transformaccedilotildees
geradas a partir do surgimento do ciberespaccedilo com reflexos estruturantes sobretudo na sociedade
contemporacircnea Partindo da invenccedilatildeo da tecnologia da escrita que mudou a forma de ensino antes
baseada na oralidade e que passou a ser materializada nos dispositivos disponiacuteveis em periacuteodo
histoacuterico paredes tabuinhas de argila papiros pergaminhos ateacute chegarmos aos dias atuais
concordamos que nunca se leu e escreveu tanto na histoacuteria da humanidade No entanto os
dispositivos agora satildeo outros celulares tablets notebooks e computadores Diferente das tabuinhas
de argilas os tablets e celulares smartphones permitem natildeo apenas a escrita fixa mas a interaccedilatildeo
simultacircnea com outras pessoas lugares e instituiccedilotildees A comunicaccedilatildeo passou a ser ubiacutequa pervasiva
onipresente Mudou-se de tal modo o perfil dos usuaacuterios destes dispositivos e por sua vez mudou a
forma como estes usuaacuterios aprendem (Santaella 2004) Entretanto a discussatildeo teoacuterica apontou que
este cenaacuterio demanda novos desafios agraves instituiccedilotildees escolares e aos professores que lidam no dia-dia
com a presenccedila dos alunos portando seus dispositivos conectados agrave internet nas salas de aulas
Por conseguinte ainda no Capiacutetulo 1 foi apresentado um panorama sobre os diferentes roacutetulos
e estereoacutetipos que os usuaacuterios da internet recebem por distintas linhas teoacutericas e as controveacutersias em
torno destas preacute-classificaccedilotildees Por exemplo discutiu-se que haacute uma linha de teoacutericos que
argumentam contra a existecircncia de uma ldquogeraccedilatildeordquo de nativos digitais ou geraccedilatildeo Net evoluiacuteda e
altamente especializada na internet (Prensky 2001 Tapscott 1998) Foram citados vaacuterios estudos
realizados em diferentes paiacuteses que comprovam que nem todos que estatildeo conectados agrave rede satildeo
nativos digitais altamente especializados e mesmo os que tecircm facilidades com o manuseio de
tecnologias digitais carecem de senso criacutetico para selecionar as informaccedilotildees realmente relevantes e
filtrar conteuacutedos fuacuteteis (Brown e Czerniewicz 2010 Lage e Dias 2012) Neste sentido compreendeu-se
que sobreviver no emaranhado de teias de comunicaccedilatildeo e manter-se dentro da rede requer mais que
do que obter o acesso miacutenimo e que a mesma rede que interliga pessoas lugares negoacutecios naccedilotildees
inteiras eacute a mesma que pode excluir aqueles que natildeo estatildeo preparados para navegar e tirar proveito do
tsunami de informaccedilotildees disponiacuteveis on-line
Introduccedilatildeo
39
Na sequecircncia o Capiacutetulo 2 seguindo a analogia da rede apresenta-se o debate conceitual e
teoacuterico sobre os ldquoexcluiacutedosrdquo ou ldquomarginalizadosrdquo e as implicacircncias que esta divisatildeo produz na vida
destes indiviacuteduos Buscamos resgatar as razotildees pelas quais a discussatildeo sobre inclusatildeo digital entrou
na agenda poliacutetica de forma a compreender o rumo que as poliacuteticas puacuteblicas nessa aacuterea tomaram nas
ultimas deacutecadas O estudo bibliograacutefico assinalou que as primeiras iniciativas poliacuteticas para inclusatildeo
digital eram voltadas nomeadamente para o acesso agraves redes de internet e neste sentido as poliacuteticas
puacuteblicas visavam a disponibilizaccedilatildeo de maacutequinas em escolas e telecentros No entanto o estudo
revelou que mesmo diante poliacuteticas puacuteblicas voltadas para a universalizaccedilatildeo do acesso as redes o
ldquofosso digitalrdquo persistiu em abrir pois as tecnologias tendem a dar poder agravequeles que sabiamente se
apropriam dela para seu benefiacutecio proacuteprio O capiacutetulo 2 apresenta tambeacutem um quadro do fosso digital
no Brasil e no mundo e os diferentes niacuteveis de ldquoexclusatildeordquo presentes na rede digital A autonomia ou
emancipaccedilatildeo digital com base na formaccedilatildeo em literacia digital foi defendida como a porta de entrada
dos indiviacuteduos marginalizados adentrarem agrave rede conectando espaccedilos de aprendizado e construccedilatildeo
colaborativa de conhecimentos ampliando suas oportunidades de emprego e renda Neste sentido
ressaltamos que a formaccedilatildeo para a literacia digital constitui uma necessidade sine qua non nos dias
atuais em que a rede se propaga rapidamente
Assim o Capiacutetulo 3 apresenta o conceito de literacia digital Considerando que o termo natildeo eacute
comum no Brasil a compreensatildeo do conceito contribui para o entendimento da importacircncia desta para
a inserccedilatildeo dos marginalizados digitalmente agrave rede Tambeacutem se considera neste capiacutetulo como a
literacia digital foi introduzida na agenda das poliacuteticas puacuteblicas tendo em vista que a visatildeo dos
formuladores de poliacuteticas influi profundamente na criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas efetivas de inclusatildeo
digital e literacia digital A discussatildeo sobre o cenaacuterio das tecnologias presentes nas escolas e o campo
de tensatildeo gerado entre professores e alunos foi apropriada para a compreensatildeo das razotildees pelas quais
muitos docentes ainda satildeo resistentes agraves tecnologias Esta discussatildeo foi aprofundada atraveacutes do
retrospecto histoacuterico sobre a introduccedilatildeo do quadro-negro nas escolas e suas respectivas conotaccedilotildees
pedagoacutegicas ateacute a chegada dos tablets nos dias atuais Compreendeu-se que as tecnologias sejam
elas um quadro-negro um retroprojetor um datashow ou mesmo o computador tablets e celulares
carregam consigo uma abordagem pedagoacutegica impliacutecita no seu uso E estudos constatam que muitos
professores ainda reproduzem praacuteticas pedagoacutegicas da idade meacutedia ldquocustomizadasrdquo ou ldquorepaginadasrdquo
com o uso das TDIC (Demo 2011 Lopes 2013) Logo o potencial das TDIC tem sido desperdiccedilado
por estes professores e na maioria das vezes por falta de um preparo ou uma formaccedilatildeo adequada
Neste sentido a introduccedilatildeo dos estudos sobre literacia digital nos cursos de formaccedilatildeo de professores
Introduccedilatildeo
40
foi apontada por esta pesquisa como uma possibilidade de entrada e permanecircncia destes professores
ldquomarginalizadosrdquo na sociedade em rede
O Capiacutetulo 4 apresenta o contexto e o enquadramento metodoloacutegico da pesquisa A partir da
descriccedilatildeo do contexto regional (Estado do Tocantins) em que a UFT se insere passando pela histoacuteria
de criaccedilatildeo da universidade a primeira parte do capiacutetulo busca situar o leitor na conjuntura social
econocircmica poliacutetica e educacional em que o estudo foi realizado Considerando que o curso de
licenciatura em Fiacutesica a distacircncia objeto deste estudo faz parte do Sistema Universidade Aberta do
Brasil (UAB) a segunda parte do capiacutetulo dois contempla a descriccedilatildeo de todo o sistema sua estrutura
administrativa gestatildeo financeira e gestatildeo pedagoacutegica do curso Na sequecircncia expomos um quadro
descritivo do curso de licenciatura em Fiacutesica a distacircncia da UFT desde o seu processo de implantaccedilatildeo
perpassando pela sua estrutura administrativa concepccedilatildeo didaacutetico pedagoacutegica e diretrizes
metodoloacutegicas As descriccedilotildees citadas contribuiacuteram para a compreensatildeo do cenaacuterio e contexto em que
o estudo foi realizado A uacuteltima seccedilatildeo do capiacutetulo 4 apresenta o enquadramento metodoloacutegico da
investigaccedilatildeo os objetivos e natureza da pesquisa justificativa da opccedilatildeo metodoloacutegica descriccedilatildeo dos
instrumentos de coleta de dados os procedimentos para tratamento dos dados e os aspectos eacuteticos
O Capiacutetulo 5 destina-se agrave apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados Nas
Consideraccedilotildees finais expomos as conclusotildees do estudo e apontamentos para uma proposta de
formaccedilatildeo docente voltada para a literacia digital cujo o foco eacute a motivaccedilatildeo preparaccedilatildeo e a
accedilatildeoavaliaccedilatildeoreaccedilatildeo do professor na integraccedilatildeo das TDIC agraves suas praacuteticas pedagoacutegicas num ciclo
contiacutenuo evolutivo e permanente
A terminar esta introduccedilatildeo referimos trecircs apontamentos sobre a organizaccedilatildeo e redaccedilatildeo da tese
bull Usamos o portuguecircs brasileiro em conformidade com as normas de escrita acadecircmica para referecircncias e citaccedilotildees da American Psychological Association (APA)
bull Nas citaccedilotildees diretas usamos a liacutengua do livro consultado fazendo uma traduccedilatildeo livre
bull Para iniciar cada capiacutetulo foi elaborada uma nuvem de palavras com a finalidade de destacar as palavras termos e expressotildees mais relevantes no respectivo texto
Capiacutetulo 1 O mundo conectado em redes
O mundo conectado em redes
43
11 O ldquoestar dentrordquo
No texto de abertura do livro ldquoA Galaacutexia da Internetrdquo Manuel Castells considera
A internet eacute o tecido de nossas vidas Se a tecnologia da informaccedilatildeo eacute hoje o que a eletricidade foi na Era industrial em nossa eacutepoca a internet poderia ser equiparada tanto a uma rede eleacutetrica quanto ao motor eleacutetrico em razatildeo da capacidade de distribuir a forccedila da informaccedilatildeo por todo o domiacutenio da atividade humana (Castells 2003 p 07)
A arte de tecer redes eacute uma praacutetica antiga na histoacuteria da humanidade A origem etimoloacutegica da
palavra rede vem do latim rete significando o entrelaccedilamento de fios e noacutes que formava uma espeacutecie
de tecido A provaacutevel origem das redes tecnologia utilizada para captura de peixes tem registro nas
eras preacute-helecircnicas e do Egito antigo Segundo Cacircmara Cascudo (Mar 2015) as primeiras redes eram
feitas de linho sisal ou cacircnhamo no periacuteodo neoliacutetico meacutedio A ideia da rede era obstruir o caminho do
peixe de forma que este fosse apanhado A rede era tecida com noacutes que entrelaccedilados formavam um
tecido resistente para a captura dos pescados A concepccedilatildeo de rede ou conexotildees ampliou-se para a
vida da sociedade na idade meacutedia quando uma estrutura feudal dividia a sociedade em ordens
hierarquizadas centralizadas no feudo do poder e da produccedilatildeo Deste entatildeo o conceito de rede tem
sido aplicado nos mais diversos campos de conhecimento como Biologia Fiacutesica Histoacuteria Economia
entre outros
Na Biologia a noccedilatildeo de rede eacute considerada o padratildeo de organizaccedilatildeo comum a todos os seres
vivos Capra (1996 p 67) afirma ldquoonde quer que encontremos sistemas vivos mdash organismos partes
de organismos ou comunidades de organismos mdash podemos observar que seus componentes estatildeo
arranjados agrave maneira de rede Sempre que olhamos para a vida olhamos para redesrdquo O autor explica
que a principal caracteriacutestica das redes eacute a sua natildeo linearidade sua extensatildeo em todas as direccedilotildees As
redes tambeacutem tecircm a capacidade de gerar laccedilos de alimentaccedilatildeo e regularem a si mesmas num sistema
de auto-organizaccedilatildeo Nos dias atuais a noccedilatildeo de redes ganhou vida e estaacute transformando-se em
ldquoredes de informaccedilatildeo energizadas pela internetrdquo (Castells 2003 p 07)
De acordo com Castells (2005) assim como a rede de eletricidade visiacutevel por meio de cabos e
fios modificou a vida da sociedade no seacuteculo XIX a rede da internet alterou haacutebitos e costumes de toda
uma geraccedilatildeo no seacuteculo XXI O autor usou o termo ldquoSociedade em Rederdquo para se referir ao cenaacuterio
contemporacircneo da sociedade emergente
O mundo conectado em redes
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A sociedade em rede em termos simples eacute uma estrutura social baseada em redes operadas por tecnologias de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo fundamentadas na microelectroacutenica e em redes digitais de computadores que geram processam e distribuem informaccedilatildeo a partir de conhecimento acumulado nos noacutes dessas redes (Castells 2005 p 20)
As redes de comunicaccedilatildeo digital na visatildeo do autor satildeo redes formais e constituem a coluna
vertebral da sociedade contemporacircnea tal como as redes de energia eleacutetrica eram a infraestrutura ou
base da sociedade industrial
A ldquoloacutegica das redesrdquo eacute alistada por Castells como a terceira das caracteriacutesticas do novo
paradigma tecnoloacutegico A primeira caracteriacutestica citada pelo autor eacute o fato da informaccedilatildeo constituir sua
proacutepria mateacuteria prima As tecnologias estatildeo agindo sobre a informaccedilatildeo e natildeo apenas as informaccedilotildees
agem sobre as tecnologias como acontecia nas revoluccedilotildees anteriores A segunda caracteriacutestica eacute a
penetrabilidade dos efeitos das novas tecnologias Castells (1999 p 108) argumenta ldquocomo a
informaccedilatildeo eacute parte integral de toda atividade humana todos os processos de nossa existecircncia
individual e coletiva satildeo diretamente moldados pelo novo meio tecnoloacutegicordquo Antes de tratarmos mais
detalhadamente da loacutegica das redes a terceira caracteriacutestica alistamos a quarta caracteriacutestica
segundo Castells a flexibilidade Neste paradigma natildeo apenas os processos satildeo reversiacuteveis mas
organizaccedilotildees e instituiccedilotildees soacutelidas podem ser modificadas e alteradas A quinta caracteriacutestica eacute a
crescente convergecircncia de tecnologias especiacuteficas para um sistema altamente integrado A
telecomunicaccedilatildeo se integrou com a informaacutetica microeletrocircnica e os computadores estatildeo todos
integrados a um sistema de informaccedilatildeo mas que natildeo evolui para a criaccedilatildeo de um sistema fechado
mas ldquorumo a abertura como uma rede de acessos muacuteltiplosrdquo como conclui Castells (idem p 113)
Sobre a terceira caracteriacutestica a loacutegica das redes Castells explica que seu funcionamento tem
como siacutembolo a internet e outras tecnologias aplicaacuteveis A metaacutefora da rede se aplica bem ao efeito de
complexidade de interaccedilatildeo e crescimento exponencial que as redes de informaccedilatildeo e tecnologia
baseadas na internet podem proporcionar O autor acrescenta ldquoa penalidade por estar fora da rede
aumenta com o crescimento da rede em razatildeo do decliacutenio de oportunidades de alcanccedilar outros
elementos fora da rederdquo (idem p 108) Assim o ldquoestar dentrordquo da rede deveria abrir um universo de
oportunidades que se bem aproveitadas poderiam transformar as capacidades de comunicaccedilatildeo
produzir alteraccedilotildees nas condiccedilotildees de vida e proveriam meios e ferramentas que possibilitariam a
autonomia e cidadania das pessoas
O mundo conectado em redes
45
No entanto o contraacuterio disso tambeacutem eacute verdadeiro a rede produz exclusotildees em vaacuterios niacuteveis
(Warschauer 2002) Apenas ldquoestar dentrordquo da rede natildeo significa que a pessoa chegou a um estaacutegio
superior de desenvolvimento humano Castells (2005 p 18) manteacutem um conceito realista sobre a
sociedade em rede ldquoneste iniacutecio de seacuteculo ela exclui a maior parte da humanidade embora toda a
humanidade seja afectada pela sua loacutegica e pelas relaccedilotildees de poder que interagem nas redes globais
da organizaccedilatildeo socialrdquo Portanto as redes de comunicaccedilatildeo digital natildeo se configuram a taacutebua de
salvaccedilatildeo da humanidade a soluccedilatildeo para todos os males como previam alguns futurologistas nem
tampouco constituem a causa principal das mazelas e exclusotildees presentes na sociedade Na anaacutelise
de Castells a sociedade em rede natildeo pode ser visualizada fora do campo de visatildeo da organizaccedilatildeo
social e das praacuteticas que datildeo corpo agrave logica da rede A economia a vida social a comunicaccedilatildeo a
poliacutetica a cultura e a educaccedilatildeo satildeo afetadas de alguma forma pelas relaccedilotildees estabelecidas pelos ldquonoacutesrdquo
da rede
Sobre os padrotildees de sobrevivecircncia no paradigma tecnoloacutegico das redes de comunicaccedilatildeo
digital Castells alertou
Mas para saber utilizaacute-lo no melhor do seu potencial e de acordo com os projectos e as decisotildees de cada sociedade precisamos de conhecer a dinacircmica os constrangimentos e as possibilidades desta nova estrutura social que lhe estaacute associada a sociedade em rede (2005 p 19)
Neste sentido este capiacutetulo usando a metaacutefora da rede pretende explorar as dinacircmicas de
relaccedilotildees sociais econocircmicas educacionais e poliacuteticas que estruturam a sociedade em rede e suas
implicaccedilotildees no modelo educacional vigente em cada periacuteodo em que revoluccedilotildees comunicacionais
ocorreram Na parte introdutoacuteria tece-se um breve quadro analiacutetico do cenaacuterio em que as redes de
tecnologia e comunicaccedilatildeo digital se organizam e se reestruturam e das interferecircncias destas no
cotidiano dos seus usuaacuterios e natildeo usuaacuterios Aborda as implicacircncias de estar ldquodentro da rederdquo numa
sociedade de consumo elitista em que a informaccedilatildeo tornou-se moeda de valor Na segunda seccedilatildeo do
capiacutetulo apresenta-se a evoluccedilatildeo dos processos civilizatoacuterios dos meios de comunicaccedilatildeo na histoacuteria
humana com destaque no campo educacional Tambeacutem aborda as relaccedilotildees existentes entre a evoluccedilatildeo
da comunicaccedilatildeo humana com os processos educativos na histoacuteria do homem e aprofunda esta
discussatildeo ao discorrer sobre artefatos tecnoloacutegicos que alteraram as formas de se aprender e ensinar
em periacuteodos diferentes em contextos diversos A uacuteltima parte do capiacutetulo caracteriza o perfil
comportamental e cognitivo do usuaacuterio portador das tecnologias moacuteveis no seacuteculo XXI e aponta para
O mundo conectado em redes
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desafios propostos aos professores ainda iniciantes na era digital tema a ser aprofundado no capiacutetulo
terceiro deste trabalho
No cenaacuterio conteporacircneo do mundo conectado em redes de comunicaccedilatildeo digital algumas
previsotildees quanto ao futuro na virada do milecircnio foram acertadas Cenaacuterios futuristas com tecnologia
avanccedilada sempre estiveram no imaginaacuterio das pessoas Filmes e livros que tratavam do futuro natildeo raro
apresentavam inovaccedilotildees em diferentes contextos Carros que dirigem sozinhos robocircs que executam
diversos trabalhos maacutequinas adequadas a diferentes tarefas roupas que se adaptam ao clima
ambiente alimentos processados em laboratoacuterios e comunicaccedilatildeo virtual satildeo algumas previsotildees que
foram acertadas Isaac Asimov (1964) escritor famoso por ensaios futuristas e artigos de ficccedilatildeo
cientiacutefica apoacutes visitar a gigantesca Feira Mundial de Nova York no ano de 1964 publicou um artigo
vislumbrando o futuro dali a 50 anos Algumas das suas previsotildees foram concretizadas como por
exemplo o conceito de viacutedeo-chamada e da conexatildeo do mundo atraveacutes da telefonia Asimov (1964 p
1) escreveu
As comunicaccedilotildees combinaratildeo som e imagem e vocecirc vai ver e ouvir a pessoa para quem vocecirc telefonar A tela pode ser usada natildeo soacute para ver as pessoas para quem vocecirc liga mas tambeacutem para o estudo de documentos e fotografias e para ler trechos de livros
Acertadamente nos dias atuais empresas de internet oferecem pacotes de chamadas de voz e
de viacutedeo por meio da web Estes aplicativos oferecem aleacutem dos recursos de troca de mensagem
instantacircnea envio de fotos e outros arquivos e realizaccedilatildeo de chamadas de voz
No entanto algumas previsotildees de Asimov natildeo foram totalmente acertadas no campo
educacional Isaac Asimov acertou quando previu que os computadores se tornariam onipresentes ao
ponto de aprendermos a usaacute-los na escola No entanto ele disse que no ensino meacutedio a programaccedilatildeo
de computadores seria disciplina obrigatoacuteria e todos os alunos se tornariam ldquoproficientes em
aritmeacutetica binaacuteriardquo Infelizmente essa uacuteltima previsatildeo natildeo ocorreu pelo menos na maior parte dos
paiacuteses subdesenvolvidos pois em geral nas escolas o computador ainda eacute apenas utilizado tatildeo
somente como ferramenta de buscas e pesquisas na internet ou editor de textos
O mundo conectado em redes
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Alan Kay (1972) cientista americano conhecido por ter sido um dos inventores da linguagem
de programaccedilatildeo Smalltalk1 publicou um artigo em 1972 no qual especulava sobre o aparecimento de
manipuladores de informaccedilatildeo portaacuteteis pessoais No iniacutecio do artigo Kay admite que aquele texto
deveria ser lido como ficccedilatildeo cientiacutefica mas que com a tendecircncia de miniaturizaccedilatildeo e reduccedilatildeo de
preccedilos que estava acontecendo no mercado de informaacutetica naquele periacuteodo ele acreditava que suas
previsotildees poderiam acontecer no futuro Com base nas teorias de Seymour Papert (1993) de que o
computador poderia potencializar a aprendizagem das crianccedilas e Jean Piajet sobre teorias de estaacutegio
de desenvolvimento Kay idealizou um dispositivo portaacutetil educacional que poderia ser usado pelas
crianccedilas a qualquer hora em qualquer lugar O artigo apresenta algumas caracteriacutesticas do protoacutetipo
chamado Dynabook seu tamanho natildeo seria maior que de um notebook sua interface permitiria o
utilizador editar seus textos e usar seus programas quando e onde ele escolher Ele imaginou uma
infinidade de usos para esses dispositivos em aacutereas tatildeo diversas como o desenho de imagens (para
crianccedilas em idade preacute-escolar) o armazenamento de informaccedilotildees (para os meacutedicos) instrumentos de
muacutesica (para compositores) a simulaccedilatildeo dinacircmica e animaccedilatildeo graacutefica dos modelos (para os
professores) a representaccedilatildeo de objetos em trecircs dimensotildees do espaccedilo (para os arquitetos e
designers) ou o caacutelculo dos estoques e fluxos de caixa dentro de uma empresa (para gestores)
Embora o autor achasse que estava escrevendo um artigo de ficccedilatildeo cientiacutefica o que ele estava a
descrever eacute o tablet que conhecemos hoje interativo portaacutetil conectado agrave internet possibilita a
interaccedilatildeo com outras pessoas fornece banco de dados infinitos sobre assuntos diversos e permite o
trabalho colaborativo entre as pessoas
Ainda numa visatildeo utoacutepica sobre a revoluccedilatildeo digital Ioneji Masuda (1985) socioacutelogo japonecircs
fez previsotildees futuristas em que a ldquoComputopiardquo seria um novo modelo de sociedade na qual as
tecnologias de informaccedilatildeo constituiriam o principal motor de desenvolvimento da sociedade da
informaccedilatildeo tal como o motor a vapor foi o impulsor da sociedade industrial Sobre a Computopia
Werthein (2002 p 74) comenta
Nessa utopia a tecnologia dos computadores teraacute como funccedilatildeo fundamental substituir e amplificar o trabalho mental dos homens permitiraacute a produccedilatildeo em massa de conteuacutedo cognitivo informaccedilatildeo sistematizada tecnologia e conhecimento
1 Smalltack foi a primeira linguagem de computador inteiramente baseado nas noccedilotildees de objeto e mensagens Ao propor essa linguagem Kay pretendia popularizar a programaccedilatildeo de computadores para natildeo especialistas inclusive para as crianccedilas Para mais detalhes sobre a linguagem Smalltack consulte o artigo Basic Aspects of Squeak and the Smalltalk-80 Programming Language disponiacutevel em httpwwwcosccanterburyacnzwolfgangkreutzercosc205smalltalk1htmlhistory Acesso em 23 de fev 2016
O mundo conectado em redes
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[] A produccedilatildeo de informaccedilatildeo pelo proacuteprio usuaacuterio ganharaacute grande espaccedilo e importacircncia na estrutura econocircmica O mais relevante sujeito de accedilatildeo social seraacute a comunidade de voluntaacuterios natildeo a empresa ou grupos econocircmicos e a sociedade natildeo seraacute hieraacuterquica mas multicentrada complementar e de participaccedilatildeo voluntaacuteria
Embora a previsatildeo de Masuda natildeo tenha se concretizado plenamente sua visatildeo sobre a
importacircncia da informaccedilatildeo para sobreviver na sociedade em rede constitui uma realidade Na era
digital as informaccedilotildees passaram a ser disseminadas em alta escala e o conhecimento adquirido hoje
fica obsoleto em pouco tempo Segundo Gonzaacutelez (2004) a metade do conhecimento de hoje natildeo era
conhecido haacute 10 anos e a quantidade do conhecimento do mundo hoje se duplica a cada 18 meses
Assim as pessoas no cenaacuterio contemporacircneo enfrentam o desafio de aprender novas habilidades e
conhecimentos continuamente
Christopher Freeman economista inglecircs dedicado a pesquisas em inovaccedilatildeo econocircmica e
tecnoloacutegica classifica as mudanccedilas de comportamentos e padrotildees na economia poliacutetica educaccedilatildeo e
cultura do mundo ocorrido no final do seacuteculo XX e nos dias atuais como o ldquoparadigma da tecnologia
da informaccedilatildeordquo Segundo o autor
Um paradigma tecnoloacutegico eacute um agrupamento de inovaccedilotildees teacutecnicas organizacionais e administrativas inter-relacionadas cujas vantagens devem ser descobertas natildeo apenas em uma nova gama de produtos e sistemas mas sobretudo na dinacircmica da estrutura dos custos relativos de todos possiacuteveis insumos para a produccedilatildeo Em cada novo paradigma um insumo especiacutefico ou conjunto de insumos pode ser descrito como o lsquofator chaversquo desse paradigma caracterizado pela queda dos custos relativos e pela disponibilidade universal A mudanccedila contemporacircnea de paradigma pode ser vista como uma transferecircncia de uma tecnologia baseada principalmente em insumos baratos de energia para uma outra que se baseia predominantemente em insumos baratos de informaccedilatildeo derivados do avanccedilo da tecnologia em microeletrocircnica e telecomunicaccedilotildees (Freeman 1988 p 10)
Assim de uma economia industrial baseada na matildeo de obra humana que operava as
maacutequinas o mundo sofreu um paradigma em que a informaccedilatildeo passa a ser a moeda de valor na
ldquoSociedade da informaccedilatildeordquo 2 De acordo com Demo (2000) a ideia de sociedade da informaccedilatildeo estaacute
relacionada com o princiacutepio de ldquoredesrdquo de Castells O conceito de rede subtende que estamos diante
de um universo comunicativo em que tudo estaacute ligado por noacutes (conexotildees) As possibilidades de
interaccedilatildeo e interatividade que ocorrem nas redes virtuais soacute satildeo possiacuteveis devido a conexatildeo com a
internet De acordo com Castells (2003 p 170) essas redes tecircm uma geografia proacutepria 2 O termo ldquosociedade da informaccedilatildeordquo usualmente tem sido utilizado para descrever a sociedade contemporacircnea Trata-se de uma expressatildeo de caraacuteter ideoloacutegico que descreve as novas configuraccedilotildees sociais culturais econocircmicas e poliacuteticas que tiveram impulso com o avanccedilo tecnoloacutegico iniciado na deacutecada de 1970 com o advento da informaacutetica (Castells 2005)
O mundo conectado em redes
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A era da internet foi aclamada como o fim da geografia De fato a internet tem uma geografia proacutepria uma geografia feita de redes e noacutes que processam o fluxo de informaccedilatildeo gerados e administrados a partir de lugares Como a unidade eacute a rede a arquitetura e a dinacircmica de muacuteltiplas redes satildeo as fontes de significados e funccedilatildeo para cada lugar
Esse fenocircmeno eacute o que o autor designa de Sociedade em Rede Alguns teoacutericos chamam esse
paradigma de ldquoSociedade da Informaccedilatildeordquo ou ldquoSociedade do Conhecimentordquo como substituto de um
conceito mais complexo de ldquoSociedade Poacutes-Industrialrdquo ligado agrave expansatildeo e reestruturaccedilatildeo do
capitalismo a partir da deacutecada de 1980 do seacuteculo XX que se caracteriza pela aceleraccedilatildeo das inovaccedilotildees
tecnoloacutegicas digitais que exigem um perfil cada vez mais especializado de usuaacuterio capaz de converter
informaccedilatildeo em conhecimento
A rede estaacute saturada de informaccedilatildeo mas isso natildeo significa que os cidadatildeos conectados sejam
adequadamente informados Valente (2013 p 27) explica a diferenccedila entre informaccedilatildeo e
conhecimento
ter informaccedilatildeo natildeo implica ter conhecimento O conhecimento eacute o que cada indiviacuteduo constroacutei como produto do processamento da inter-relaccedilatildeo entre interpretar e compreender a informaccedilatildeo Eacute o significado que eacute atribuiacutedo e representado na mente de cada indiviacuteduo com base nas informaccedilotildees advindas do meio em que ele vive formado por pessoas e objetos
Neste sentido a sociedade da informaccedilatildeo pode ser ldquodesinformadardquo como analisa Demo
(2000 p 40) seja porque lhe eacute imposta pelos meios de comunicaccedilatildeo uma informaccedilatildeo residual ou
superficial ou porque lhe ldquoentope atabalhoadamenterdquo com notiacutecias sensacionalistas e supeacuterfluas O
autor acrescenta que ldquoa sociedade da informaccedilatildeo informa bem menos do que se imagina assim como
a globalizaccedilatildeo engloba as pessoas e povos bem menos do que se pretenderdquo (idem p 41) Assim
para Demo eacute essencial preservar o ambiente criacutetico e autocritico para reduzir e controlar a informaccedilatildeo
Portanto para que a sociedade da informaccedilatildeo seja equivalente agrave sociedade do conhecimento como
analisam Coutinho e Lisboa (2011 p 10) eacute fundamental que ldquose estabeleccedilam criteacuterios para organizar
e seleccionar as informaccedilotildees e natildeo simplesmente ser influenciado e ldquomoldadordquo pelos constantes
fluxos informativos disponiacuteveisrdquo Essa dinacircmica dizem as autoras demanda educaccedilatildeo para o longo da
vida de forma que as pessoas possam acompanhar as mudanccedilas tecnoloacutegicas e serem inovadores e
criativas
No livro A sociedade em rede A era da informaccedilatildeo (1999) Castells critica o termo sociedade
da informaccedilatildeo pois este enfatiza o papel da informaccedilatildeo na sociedade O autor explica que a
O mundo conectado em redes
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informaccedilatildeo no sentido mais amplo foi crucial em todas as sociedades antigas principalmente na
Europa medieval que era mais estruturada intelectualmente Logo estas sociedades poderiam tambeacutem
serem chamadas de sociedades da informaccedilatildeo Castells (idem p 65) afirma que prefere o uso do
termo ldquosociedade informacionalrdquo Este se relaciona mais com uma forma de organizaccedilatildeo social em
que a ldquogeraccedilatildeo o processamento e a transmissatildeo da informaccedilatildeo tornam-se as fontes fundamentais de
produtividade e poder devido agraves novas condiccedilotildees tecnoloacutegicas surgidas nesse periacuteodo histoacutericordquo Para
Castells uma das principais caracteriacutesticas da sociedade informacional eacute a sua loacutegica de sua estrutura
baacutesica em redes Neste sentido a sociedade informacional estaacute inserida na sociedade em rede um
conceito mais amplo conforme explica o autor
Redes constituem uma nova morfologia social das nossas sociedades e a difusatildeo loacutegica de redes modifica de forma substancial a operaccedilatildeo e os resultados dos processos produtivos e de experiecircncia poder e cultura [] a presenccedila na rede e a ausecircncia dela e a dinacircmica de cada rede em relaccedilatildeo agraves outras satildeo fontes cruciais de dominaccedilatildeo e transformaccedilatildeo de nossa sociedade uma sociedade que portanto podemos apropriadamente chamar de sociedade em rede (idem p 565)
Portanto considerando esses pressupostos usamos o termo sociedade em rede neste
trabalho em detrimento agrave expressatildeo sociedade da informaccedilatildeo ou sociedade do conhecimento por
entender que este primeiro eacute mais completo para definir o cenaacuterio de mudanccedilas socioteacutecnicas
advindas da convergecircncia das tecnologias da informaacutetica com a telecomunicaccedilatildeo
Observando o panorama mundial vecirc-se que o mundo nunca esteve tatildeo conectado em redes
como hoje Segundo relatoacuterio divulgado pela agecircncia Internet World Stats (Stats 2016) os usuaacuterios de
internet no mundo chegaram a quase 4 bilhotildees de pessoas (50 da populaccedilatildeo mundial) em 2016 O
nuacutemero da populaccedilatildeo com acesso agrave internet dobrou nos uacuteltimos cinco anos nos paiacuteses em
desenvolvimento Segundo a mesma fonte no Brasil cerca de 139 milhotildees de indiviacuteduos satildeo usuaacuterios
da internet o que corresponde a mais metade da populaccedilatildeo do paiacutes (675) Este levantamento
revelou ainda que cerca de 202 milhotildees de brasileiros satildeo assinantes de celulares moacuteveis o que
implica em 998 da populaccedilatildeo do paiacutes Um estudo realizado com dados de 240 paiacuteses intitulado
Digital Social e Mobile 2015 (Kemp 2015) revelou que mais de dois bilhotildees de pessoas no mundo
possuem contas ativas em redes sociais e que a penetraccedilatildeo dos aparelhos celulares na populaccedilatildeo
mundial ultrapassou os 50 em setembro de 2014 e o nuacutemero de conexotildees em aparelhos celulares
ativos superou o total da populaccedilatildeo mundial em dezembro do mesmo ano
O mundo conectado em redes
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Neste emaranhado de relaccedilotildees interaccedilotildees e interconexotildees as informaccedilotildees fluem como
numa grande onda (tsunami) que leva consigo tudo que aparece pela frente (Leacutevy 1998) Requer
habilidade do usuaacuterio para navegar e se apropriar de dados confiaacuteveis e realmente importantes Nesta
mesma direccedilatildeo em tempos de ldquomodernidades liacutequidasrdquo o socioacutelogo polonecircs Zygmunt Bauman (2001
p 1) afirma que eacute imprescindiacutevel que o indiviacuteduo saiba distinguir entre informaccedilatildeo importante e muito
importante aleacutem de descartar as informaccedilotildees desnecessaacuterias Bauman usa a metaacutefora da ldquoliquidezrdquo
para caracterizar o estado da sociedade moderna comparada a liacutequidos incapazes de manter uma
forma definida Para o autor tudo eacute temporaacuterio nossas instituiccedilotildees estilos de vida convicccedilotildees e
crenccedilas mudam antes de se solidificarem em verdades Os empregos os relacionamentos o
conhecimento tendem a ficarem volaacuteteis desregulados e flexiacuteveis Na eacutepoca da modernidade soacutelida de
acordo com Bauman o aprendiz que entrava numa faacutebrica tinha perspectiva de uma longa carreira
Nos nossos dias afirma o autor ldquoquem trabalha para Bill Gates por um salaacuterio talvez cem vezes maior
natildeo tem ideia do que poderaacute lhe acontecer dali a meio ano E isso faz uma diferenccedila incriacutevel em todos
os aspectos da vida humanardquo 3 Assim os proprietaacuterios do conhecimento apropriado num contexto
especiacutefico abrem vantagem sobre os demais na sociedade cada vez mais informatizada
Na visatildeo de Castells (1999) a interatividade possibilitou a formaccedilatildeo de redes horizontais de
comunicaccedilatildeo e induziu o que ele chama de mass self-comunication (a intercomunicaccedilatildeo em massa)
Este conceito abrange uma nova forma de comunicaccedilatildeo em massa em que os indiviacuteduos produzem
enviam e recebem informaccedilotildees em blogs vlogs redes sociais e paacuteginas pessoais Nas palavras de
Anderson (2006 p 61) sobre este fenocircmeno
A consequumlecircncia de tudo isso eacute que estamos deixando de ser apenas consumidores passivos para passar a atuar como produtores ativos () O fenocircmeno se manifesta por toda a parte ndash a extensatildeo em que os blogs amadores estatildeo disputando a atenccedilatildeo do puacuteblico com a grande miacutedia em que as bandas estatildeo lanccedilando muacutesicas sem selo de gravadora e em que os colegas consumidores dominam as avaliaccedilotildees on-line de produtos e serviccedilos eacute como se a configuraccedilatildeo baacutesica da produccedilatildeo tivesse mudado de ldquoConquiste o direito de fazecirc-lordquo para ldquoO que o estaacute impedindo de fazerrdquo
Neste cenaacuterio milhotildees de pessoas se expressam em blogs pessoais e foacuteruns sobre temas
especiacuteficos com direito a comentaacuterios e avaliaccedilotildees de produtos Os formadores de opiniatildeo passam a
serem os consumidores dos produtos o que altera a estrateacutegia de marketing das empresas Anderson
conclui que pela primeira vez na histoacuteria somos capazes de medir os padrotildees de consumo e as
preferecircncias do usuaacuterio em tempo real e tais condiccedilotildees permitem aos fornecedores de bens e serviccedilos 3 Entrevista de Bauman ao Jornal Folha de Satildeo Paulo em 19 de outubro de 2003 Disponiacutevel em httpwww1folhauolcombrfspmaisfs1910200305htm Acesso em 20 janeiro de 2016
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ajustarem as recomendaccedilotildees impostas na rede por formadores de preferencias que natildeo satildeo mais da
elite mas pessoas comuns que tecircm acesso agrave internet
Novos nichos no mercado e profissotildees ineacuteditas nascem na era digital Empresas de venda de
cupons de desconto on-line surgem como agregadoras de promoccedilotildees de diferentes empresas
fornecedoras de bens e serviccedilos Lojas on-line voltadas agrave personalizaccedilatildeo de objetos com fotos e
imagens do consumidor grandes varejistas e lojas de departamentos estatildeo presentes na rede
facilitando prazos e entregas dos produtos e uma variedade de profissionais na aacuterea de Tecnologia de
Informaccedilatildeo estatildeo abrindo empresas de criaccedilatildeo de jogos e aplicativos para a internet Sobre os
profissionais que emergem neste contexto citamos dentre outros os youtubers dos quais alguns satildeo
celebridades na internet devido ao altiacutessimo nuacutemero de seguidores dos seus canais no You Tube
Muitos destes profissionais faturam alto com as publicidades veiculadas no seu canal Assim altera-se
a economia e a relaccedilatildeo das pessoas com as tecnologias em que dispositivos de comunicaccedilatildeo passam
a ser meios de ganhar o sustento (Castells 2005)
A sociabilidade tambeacutem ganha novos contornos com a expansatildeo da internet No mundo virtual
todos estatildeo ao alcance e presentes a um clique de um botatildeo Bauman (2011 p 10) na sua obra 44
Cartas do mundo liacutequido moderno aborda a relaccedilatildeo de dependecircncia que se cria a partir das redes
sociais e aplicativos da internet
O dia inteiro sete dias por semana basta apertar um botatildeo para fazer aparecer uma companhia do meio de uma coleccedilatildeo de solitaacuterios Nesse mundo on-line ningueacutem jamais fica fora ou distante todos parecem constantemente ao alcance de um chamado ndash e mesmo que algueacutem por acaso esteja dormindo haacute muitos outros a quem enviar mensagens ou a quem alcanccedilar de imediato pelo Twitter para que a ausecircncia temporaacuteria nem seja notada
Os sites de bate-papo paacuteginas especializadas em encontrar pares romacircnticos e aplicativos
voltados para encontros sexuais que permitem conversas simultacircneas entre pessoas de diversos
lugares do mundo satildeo um exemplo do que Bauman (2011) descreve como ldquocerteza tranquilizadorardquo
As pessoas usam estes meios de comunicaccedilatildeo virtual para um escape da solidatildeo e ao mesmo tempo
natildeo expor-se agrave exigecircncia dos outros quando se tem o poder de deletar ou excluir aqueles que geram
incocircmodo Neste sentido Bauman reflete que as relaccedilotildees se tornam ldquoliacutequidasrdquo o contato pelas redes
sociais sem a necessidade de maior comprometimento resultam em relacionamentos momentacircneos
volaacuteteis e fraacutegeis A facilidade de conectar e se desconectar ao clique de um botatildeo faz com que as
pessoas descartem e sejam descartadas por versotildees mais atualizadas e melhores disponiacuteveis na rede
O mundo conectado em redes
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As comunidades virtuais tambeacutem estatildeo se popularizando cada vez mais Voltando agrave ldquoera das
tribosrdquo as pessoas se organizam em grupos gregaacuterios e facccedilotildees com interesses em comum em que a
loacutegica da identidade (seja sexual profissional social poliacutetica) gera um sentimento de pertencimento
entre os participantes do grupo criando uma rede de pessoas que se relacionam efemeramente sem
necessidade de um envolvimento maior (Maffesoli 2004) Sobre este aspecto Castells (2003 p 274)
analisa
A sociabilidade estaacute se transformando atraveacutes daquilo que alguns chamam de privatizaccedilatildeo da sociabilidade que eacute a sociabilidade entre pessoas que constroem laccedilos eletivos que natildeo satildeo os que trabalham ou vivem em um mesmo lugar que coincidem fisicamente mas pessoas que se buscam eu queria encontrar algueacutem que gostasse de andar de bicicleta comigo mas primeiro tenho que procurar esse algueacutem Por exemplo como criar um clube de ciclismo Como criar um clube de gente que se interesse por espeleologia
Os grupos formados nos aplicativos de mensagens instantacircneas como o Whatsapp4 satildeo um
exemplo claacutessico da ldquoprivatizaccedilatildeo da sociabilidaderdquo que ocorre nas relaccedilotildees sociais no mundo
contemporacircneo Estes grupos satildeo compostos por pessoas da mesma famiacutelia ou de colegas de
trabalho ou de moradores do mesmo bairro ou de estudantes de um curso categorias de
profissionais membros de religiatildeo ou pode se tratar de grupo de vendas e troca de mercadorias O
que estes grupos tecircm em comum satildeo os laccedilos eletivos baseados nas predileccedilotildees individuais e nos
relacionamentos estabelecidos por interesses comuns
Churc e Oliveira (2013) realizaram uma pesquisa sobre as motivaccedilotildees e percepccedilotildees que
levam a milhotildees de usuaacuterios no mundo a usarem o aplicativo whatsapp Os pesquisadores
entrevistaram 9 usuaacuterios ativos do aplicativo 5 homens e 4 mulheres todos residentes na Espanha
As pessoas recrutadas para a pesquisa segundo os pesquisadores eram de diversas profissotildees e
estilo de vida Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com trecircs toacutepicos em destaque (a)
necessidade do uso do aplicativo (b) razotildees para adoccedilatildeo e uso do whatsapp (c) motivos e intenccedilotildees
para comunicaccedilatildeo via whatsapp Os resultados apontaram pontualmente oito fatores que influenciam e
motivam os usuaacuterios a usar o aplicativo (1) custo (baixo custo em relaccedilatildeo a mensagens SMS) (2)
influecircncia social (familiares e amigos sugerem o uso) (3) natureza intenccedilatildeo (conversa informal) (4)
comunidade e senso de conexatildeo (usa-se o aplicativo com amigos proacuteximos e familiares) (5)
imediatismo (permite ver se o receptor da mensagem estaacute on-line e leu a mensagem) (6) 4 De acordo com o site do Whatsapp este se trata de um aplicativo de mensagens multiplataformas que permite trocar mensagens pelo celular sem pagar por SMS neste caso usa-se o pacote de internet do aparelho ou redes wifi disponiacuteveis Disponiacutevel em httpwwwwhatsappcom Acesso em 05 jan 2016
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confiabilidade e garantia (certeza que a mensagem foi entregue e lida) (7) escolha da tecnologia
(muitos escolhem whatsapp para falar com quem tem o aplicativo) e (8) de mecanismos de
enfrentamentos (posiccedilatildeo com relaccedilatildeo as notificaccedilotildees frequentes)
Outro estudo de Jisha e Jebakumar (2014) realizado na Iacutendia sobre o uso do whatsapp entre
os jovens na regiatildeo de Chennai constatou que os jovens entre 18 a 23 anos passam em meacutedia 16
horas on-line no aplicativo e o usam trocando mensagens por 8 horas diaacuterias em meacutedia Em 2016 o
whatsapp ultrapassou o nuacutemero de mais de 1 bilhatildeo de usuaacuterios no mundo5 No Brasil o fenocircmeno
do uso do aplicativo mostrou sua forccedila quando no dia 17 de dezembro de 2015 este foi suspenso por
ordem judicial e causou uma comoccedilatildeo nas redes sociais e na miacutedia televisiva Os usuaacuterios baixaram
outros aplicativos semelhantes e tentaram alternativas para desbloquear o whatsapp
Na anaacutelise de Castells (2003) a internet afetou a economia (forma de organizaccedilatildeo das
empresas e induacutestrias) alterou os processos de trabalho (jornadas e formas de trabalho) mudou a
estrutura da poliacutetica formatou os relacionamentos sociais fortaleceu os movimentos sociais ampliou o
comeacutercio e criou novas formas de ensinar e se aprender no campo da educaccedilatildeo Este uacuteltimo trata-se
do campo que interessa a nossa pesquisa buscamos compreender as possiacuteveis reconfiguraccedilotildees que
as tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo causaram nos processos educativos em contextos
formais e informais Tendo em vista que as tecnologias natildeo satildeo neutras Bento Silva afirma
Cada eacutepoca histoacuterica e cada tipo de sociedade possuem uma determinada configuraccedilatildeo que lhes eacute devida e proporcionada pelo estado das suas tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (TIC) reordenando de um modo particular as relaccedilotildees espaccedilo-temporais nas suas diversas escalas (local regional nacional global) que o homem manteve e manteacutem com o mundo e estimulando e provocando transformaccedilotildees noutros niacuteveis do sistema sociocultural (educativo econoacutemico poliacutetico social religioso cultural etc) (Silva 2001 p 840)
Portanto tendo em vista que no processo civilizatoacuterio as tecnologias embora natildeo sejam
determinantes da evoluccedilatildeo cultural da humanidade constituem uma das variaacuteveis mais importantes
para se compreender o desenvolvimento do homem com relaccedilatildeo agrave comunicaccedilatildeo apresentam-se na
proacutexima seccedilatildeo pressupostos teoacutericos de como os processos evolutivos dos artefatos tecnoloacutegicos
comunicacionais contribuiacuteram para o modelo de educaccedilatildeo nos diferentes periacuteodos e contextos
5 No Brasil estima-se cerca de 100 milhotildees de usuaacuterios ativos no aplicativo whatsaapDisponiacutevel em httpwww1folhauolcombrtec2016021736093-whatsapp-chega-a-1-bilhao-de-usuariosshtml Acesso em 22 dez 2016
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12 Processos civilizatoacuterios das tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo
Nos uacuteltimos vinte e cinco anos a humanidade tem presenciado uma transformaccedilatildeo histoacuterica
sem precedentes em escala e velocidade a revoluccedilatildeo tecnoloacutegica dos meios de comunicaccedilatildeo Da
invenccedilatildeo da escrita aos modernos computadores o homem percorreu um caminho evolutivo sistecircmico
que se reconfigura ao passo que novos artefatos tecnoloacutegicos satildeo criados Neste sentido Silva e
Conceiccedilatildeo (2013 p 137) afirmam que ldquoa tecnologia eacute umas das variaacuteveis mais importantes para
compreender a evoluccedilatildeo sociocultural das sociedadesrdquo Os ldquoprocessos civilizatoacuteriosrdquo na visatildeo de Darcy
Ribeiro (1975 p 19) satildeo provenientes de uma sucessatildeo de revoluccedilotildees tecnoloacutegicas desde quando os
homens mudaram da condiccedilatildeo de caccedilador-coletores natildeo sedentaacuterios para a era neoliacutetica em que
passam a ser sedentaacuterios e desenvolveram novas teacutecnicas e artefatos tecnoloacutegicos para o manejo da
agricultura de subsistecircncia Sobre esse processo Luacutecia Santaella (2003 p 23) afirma
Jaacute estaacute se tornando lugar-comum afirmar que as novas tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo estatildeo mudando natildeo apenas as formas do entretenimento e do lazer mas potencialmente todas as esferas da sociedade o trabalho (roboacutetica e tecnologias para escritoacuterios) gerenciamento poliacutetico atividades militares e policiais (a guerra eletrocircnica) consumo (transferecircncia de fundos eletrocircnicos) comunicaccedilatildeo e educaccedilatildeo (aprendizagem a distacircncia) enfim estatildeo mudando toda acultura em geral
Santaella esclarece que as transformaccedilotildees tecnoloacutegicas na aacuterea da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo
advecircm de um processo cumulativo de complexificaccedilatildeo e que uma nova formaccedilatildeo comunicativa se
integra agrave anterior provocando reajustes reconfiguraccedilotildees e novas finalidades sociais para determinados
artefatos de comunicaccedilatildeo A autora denomina esses processos de ldquoformaccedilotildees culturaisrdquo por entender
que em cada periacuteodo histoacuterico a cultura de uma sociedade fica sob o domiacutenio da tecnologia de
comunicaccedilatildeo mais recente
Neste sentido Silva (2001) considera a tecnologia como uma estrateacutegia e natildeo somente um
instrumento ou meio que possibilitam a emissatildeo e recepccedilatildeo de informaccedilotildees ou conteuacutedo O autor
afirma ainda que as tecnologias contribuem fortemente para condicionar as estruturas (ecologias) das
sociedades Condicionam mas natildeo satildeo necessariamente determinantes como explicita Leacutevy (1999 p
25) ldquouma teacutecnica eacute produzida dentro de uma cultura e uma sociedade encontra-se condicionada por
suas teacutecnicasrdquo O autor argumenta que a invenccedilatildeo da prensa por Gutemberg natildeo determinou o
desenvolvimento da moderna ciecircncia europeia nem tampouco o crescimento dos ideais iluministas
mas condicionou-os abriu possibilidades nas palavras de Leacutevy ldquocontentou-se em fornecer uma parte
do ambiente global no qual essas formas culturais surgiramrdquo (idem p 26) Leacutevy acrescenta que
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mesmo abertas as possibilidades elas podem natildeo ser aproveitadas dependendo do contexto cultural
Portanto os meios de comunicaccedilatildeo natildeo determinam os modelos de educaccedilatildeo mas condicionam-os
Rodrigues (1999) afirma que natildeo satildeo as tecnologias que mudam a sociedade mas a sua utilizaccedilatildeo
dentro de um modo de produccedilatildeo e contexto histoacuterico cultural social econocircmico e poliacutetico moldam a
racionalidade a linguagem e o modo de vida das pessoas
Levando ao campo educacional segundo Silva (2008 p 840) como jaacute referido ldquocada eacutepoca
histoacuterica e cada tipo de sociedade possui uma determinada ecologia comunicacional e educacional que
lhe proporcionada pelo estado dos seus media e sistemas tecnoloacutegicos de comunicaccedilatildeordquo Seguindo
este pressuposto a comunicaccedilatildeo e a educaccedilatildeo estatildeo imbricadas (termo usado na botacircnica para inferir
que uma planta estaacute sobreposta agrave outra entrelaccedilada) Na analogia ldquoecologiardquo usada pelo autor infere-
se que a comunicaccedilatildeo e a educaccedilatildeo estatildeo intimamente relacionadas como um organismo vivo ambas
as aacutereas satildeo interconectadas e impacta uma a outra concomitantemente dentro de contextos
especiacuteficos que satildeo determinados em cada eacutepoca pelo estado dos sistemas educativo econocircmico
poliacutetico social religioso cultural etc Assim neste movimento os processos educativos foram
estruturados de acordo com as tecnologias de comunicaccedilatildeo vigentes
Marchall McLuhan (1977) filoacutesofo canadense de destaque nas teorias de Comunicaccedilatildeo
afirmava que a evoluccedilatildeo histoacuterica das sociedades eacute produto do avanccedilo de seus meios de comunicaccedilatildeo
e segue duas rupturas fundamentais a invenccedilatildeo da escrita e o advento dos meios eletrocircnicos
Segundo o autor a criaccedilatildeo do alfabeto e da escrita provocou a quebra do estado tribal e oral da
humanidade Mais tarde a invenccedilatildeo da tipografia e a consequente publicaccedilatildeo de livros em larga escala
mudaram as estruturas de comunicaccedilatildeo e educaccedilatildeo daquele periacuteodo O livro natildeo era mais um objeto
guardado em bibliotecas passou a popularizar-se e o conhecimento estava disponiacutevel a todos e natildeo
apenas guardado com os mestres A segunda ruptura de acordo com McLuhan a invenccedilatildeo dos meios
eleacutetricos e eletrocircnicos foi um prenuacutencio da informaacutetica e da roboacutetica Para o autor os meios ou as
tecnologias satildeo uma ldquoextensatildeordquo do homem e possibilitam mudanccedilas na organizaccedilatildeo das sociedades
Assim para McLuhan a invenccedilatildeo da escrita permitiu a criaccedilatildeo e domiacutenio de vastos impeacuterios a
maacutequina a vapor possibilitou a expansatildeo capitalista e a eletricidade junto com a informaacutetica teriam
provocado o fenocircmeno Aldeia Global6
6 Aldeia Global trata-se de um conceito defendido por McLuhan na deacutecada de 60 do seacuteculo XX de que o mundo estaria interligado em uma cultura unificada por meio da tecnologia previsatildeo confirmada em finais do seacuteculo XX e sobretudo no iniacutecio do seacuteculo XXI com o desenvolvimento das tecnologias moacuteveis
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Leacutevy (1998) tambeacutem relaciona a revoluccedilatildeo da comunicaccedilatildeo com o progresso cientiacutefico e
tecnoloacutegico da humanidade O autor classifica trecircs revoluccedilotildees nos periacuteodos histoacutericos da humanidade
com foco na noccedilatildeo de espaccedilo territoacuterio linguagens e signos de comunicaccedilatildeo A revoluccedilatildeo paleoliacutetica eacute
o primeiro estaacutegio descrito por Leacutevy em que os homens de Neandertal se comunicavam por linguagem
rudimentar e habitavam a mesma regiatildeo demograacutefica passaram a se dispersar e a ocupar todos os
continentes levando consigo sua cultura liacutengua e costumes Esta diaacutespora segundo o autor levou o
homem ao distanciamento em grupos numa sociedade caracteristicamente nocircmade A segunda
revoluccedilatildeo a neoliacutetica causou uma ruptura profunda na cultura da humanidade o homem deixou de
ser nocircmade passa a ser sedentaacuterio concentra-se em territoacuterios acumula riquezas registra signos e
por fim inventa a escrita e o alfabeto Inverte-se o processo de dispersatildeo para reuniatildeo de povos em
cidades e impeacuterios mas segundo Leacutevy este ainda era um fenocircmeno regional a humanidade
continuava fragmentada geograficamente e com rudimentares meios de comunicaccedilatildeo
A terceira revoluccedilatildeo apontada por Leacutevy eacute a informacional que teve impulso com a expansatildeo
dos meios de transportes em plena Revoluccedilatildeo Industrial no seacuteculo XIX No fim da Idade Meacutedia ateacute
meados do seacuteculo XX a maioria das pessoas morava no campo eram agricultores e criavam animais
A invenccedilatildeo do motor a vapor das maacutequinas e o trabalho nas induacutestrias promoveu a migraccedilatildeo das
pessoas agraves cidades contribuindo para a explosatildeo demograacutefica das mesmas Leacutevy argumenta que
concomitante a este processo os meios de transportes foram melhorados e contribuiacuteram para a
mobilidade das pessoas de um centro comercial a outro e os meios de comunicaccedilatildeo em expansatildeo
permitiram que os espaccedilos geograacuteficos fossem reduzidos Esta conflagraccedilatildeo demograacutefica em paralelo
com a expansatildeo dos meios de transporte a o avanccedilo dos meios de comunicaccedilatildeo foi o campo
preparatoacuterio para o surgimento do Ciberespaccedilo Segundo a definiccedilatildeo de Leacutevy (1998 p 49) este
constitui um ldquomeio de comunicaccedilatildeo aberto pela intercomunicaccedilatildeo mundial de computadoresrdquo A
Revoluccedilatildeo Industrial trocou a madeira pelo ferro a revoluccedilatildeo tecnoloacutegica dos seacuteculos XIX e XX trocou o
carvatildeo pelo binocircmio eletricidade e petroacuteleo e ainda no seacuteculo XX a revoluccedilatildeo da informaacutetica trocou o
tratamento analoacutegico das informaccedilotildees pelo processamento digital O autor afirmou que o ciberespaccedilo
destronou a TV jaacute na deacutecada de 1990 e previu que no futuro este seria o centro de gravidade da nova
ecologia de comunicaccedilatildeo o que realmente ocorreu no seacuteculo XXI
Sobre as transformaccedilotildees geradas a partir do surgimento do ciberespaccedilo com reflexos
estruturantes em todos os matizes da sociedade Trivinho (2003 p 167) analisa
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Mais do que o espiacuterito de eacutepoca da sociedade tecnoloacutegica de fim de seacuteculo marcado por um excesso de comunicaccedilatildeo jamais visto e pela crise dos saberes em geral [] - eacute o ciberespaccedilo que na esteira das tecnologias informaacuteticas impotildee a essa teoria um ultimato convidando-a a fazer uma dura prova do real [] Ele redefine rearticula e reescalona de maneira original todos os elementos pertencentes agrave dimensatildeo tecnoloacutegica soacutecio-cultural e poliacutetica da comunicaccedilatildeo determinando novos rumos para as iniciativas acadecircmicas voltadas para a criacutetica metateoacuterica e a constituiccedilatildeo de um novo modelo reflexivo
Diante destes pressupostos teoacutericos infere-se que a cada inovaccedilatildeo tecnoloacutegica bem sucedida
os padrotildees de comportamento mudam Na aacuterea da Comunicaccedilatildeo um exemplo notaacutevel eacute a invenccedilatildeo do
telefone celular O telefone fixo foi uma inovaccedilatildeo importante reduziu os espaccedilos fiacutesicos possibilitando
que pessoas se comunicassem em tempo real mesmo estando a quilocircmetros de distacircncia Ademais
possuir o nome e endereccedilo na lista telefocircnica local era uma forma de identidade e definiccedilatildeo de
territoacuterio A telefonia celular mudou profundamente os padrotildees de tempo e espaccedilo Esta tecnologia natildeo
tornou obsoleto o telefone fixo mas ampliou as possibilidades de comunicaccedilatildeo promovendo a
mobilidade e a ubiquidade7 A internet sem fio nos aparelhos celulares empoderaram ainda mais as
possibilidade de conexatildeo a qualquer hora em qualquer lugar Estas inovaccedilotildees lanccedilam novas questotildees
em relaccedilatildeo ao espaccedilo puacuteblico e espaccedilo privado a privacidade e as relaccedilotildees sociais As novas formas
de comunicaccedilatildeo sem fio estatildeo reconfigurando o uso do espaccedilo de lugar e dos espaccedilos de fluxos
causando transformaccedilotildees impactantes na sociedade inclusive nos processos educacionais (Santaella
2010 2013a)
Fugindo do determinismo tecnoloacutegico as tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo constituem
uma das variaacuteveis mais importantes para se compreender a evoluccedilatildeo sociocultural da humanidade
Silva (2008) apresenta uma imagem figurativa que descreve seis configuraccedilotildees evolutivas dos
processos comunicativos e educacionais na corrente do tempo com reflexos na educaccedilatildeo
7 Ubiquumlidade ldquopervasividaderdquo e senciente satildeo quase sinocircnimos Ubiquidade refere-se agrave possibilidade de estar em vaacuterios lugares ao mesmo tempo Por ldquocomputaccedilatildeo ubiacutequardquo ou ldquopervasivardquo compreende-se a disseminaccedilatildeo dos computadores em todos os lugares (Lemos amp Valentim 2006)
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Figura 2 - Processos comunicativos educacionais na evoluccedilatildeo sociocultural da civilizaccedilatildeo humana (Silva 2008)
A figura acima retrata o processo evolutivo em que Bento Silva relaciona a forma de
comunicaccedilatildeo de um determinado periacuteodo com o modelo de educaccedilatildeo correspondente Segundo o
autor ldquocada eacutepoca histoacuterica e cada tipo de sociedade possui uma determinada ecologia
comunicacional e educacional que lhe proporcionada pelo estado dos seus media e sistemas
tecnoloacutegicos de comunicaccedilatildeordquo (Silva 2008 p 1908) Este paradigma muda a configuraccedilatildeo dos
processos de aprendizagem e a ecologia educacional No quadro abaixo segue em siacutentese conforme
abordado pelo autor das caracteriacutesticas do processo educativo proveniente das respectivas tecnologias
vigentes num determinado periacuteodo de tempo
Quadro 1 - Siacutentese do processo educativo proveniente das tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo
Tipo de comunicaccedilatildeo
Base da educaccedilatildeo
Tecnologia (medium)
Periacuteodo Caracteriacutesticas da educaccedilatildeo
Interpessoal Famiacutelia Gestos voz
iacutecones (50000 AC a 20000 AC)
Os pais passavam para os filhos por meio de rituais e teacutecnicas de imitaccedilatildeo as formas de subsistecircncia (caccedilar pescar defesa pessoal)
Comunicaccedilatildeo de elite
Elite sacerdoacutecio
realeza Escrita 4000 AC
A escola transforma algo que antes era informal (em famiacutelia) em algo formal a cargo de especialistas (dicotomia entre os que sabem e o natildeo sabem) Escola para elites
Comunicaccedilatildeo de massa
Escola Paralela
Livro impresso telefone TV
raacutedio cinema
Sec XV (tipografia) ateacute
sec XIX
Com a ampla difusatildeo dos meios de comunicaccedilatildeo em massa (TV raacutedio livros jornais) surge a escola paralela (conjunto de estiacutemulos fora da escola oficial)
Comunicaccedilatildeo individual
Auto-educaccedilatildeo
Fotografia gravador de
sons reprografia
(computador)
Iniacutecio do seacuteculo XX
Mudanccedila da relaccedilatildeo professoraluno Posto em causa o paradigma de transmissatildeo linear da comunicaccedilatildeo Satildeo abertos novos canais de interaccedilatildeo e produccedilatildeo do conhecimento
Ambientes virtuais
Redes Informaacutetica e digitalizaccedilatildeo
Fins do Seacuteculo XX ateacute iniacutecio do Seacuteculo XXI
O potencial comunicativo da informaacutetica possibilita a formaccedilatildeo de redes de comunidades de aprendizagem que constroem e compartilham conhecimento
Comunicaccedilatildeo em redes ubiacutequas poacutesmassivas
Aprendizagem ubiacutequa
Dispositivos moacuteveis conectados a internet
Dias atuais (2017)
Redes moacuteveis ubiacutequas de computaccedilatildeo permitem a aprendizagem em contextos formais informais e natildeo formais
Fonte Adapatado de Silva (2013)
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Assim observa-se uma correlaccedilatildeo da tecnologia de comunicaccedilatildeo em cada periacuteodo histoacuterico
com os processos educativos dos respectivos periacuteodos Consideramos a seguir com detalhes as seis
reconfiguraccedilotildees evolutivas citadas por Silva (2013)
121 Comunicaccedilatildeo interpessoal
Na primeira reconfiguraccedilatildeo evolutiva a comunicaccedilatildeo interpessoal natildeo existem intermediaacuterios
na comunicaccedilatildeo o homem eacute o proacuteprio medium e para que a comunicaccedilatildeo ocorra eacute necessaacuteria a
presenccedila fiacutesica de todos interlocutores (Silva 2002) Neste modelo o cunho da mensagem seja por
gestos expressotildees ou palavras eacute interpessoal e passada de pessoa a pessoa Esta forma de
comunicaccedilatildeo evoluiu quando o homem desenvolveu teacutecnicas de produccedilatildeo de representaccedilotildees icocircnicas
(reacuteplicas simboacutelicas das cenas visuais do mundo que o cercava) conhecidas posteriormente como
pintura ou arte rupestre Consistiam em pinturas e desenhos gravados em paredes e tetos das
cavernas Para produzir estes iacutecones ou desenhos o homem preacute-histoacuterico usava ossos de animais
ceracircmicas e pedras como pinceacuteis aleacutem de fabricar suas proacuteprias tinturas atraveacutes de folhas de aacutervores
sangue de animais e excrementos humanos Este conjunto de artefatos e teacutecnicas utilizados pelo
homem era a ldquotecnologia8rdquo disponiacutevel naquele periacuteodo
Neste contexto marcado pela comunicaccedilatildeo interpessoal limitada a poucos interlocutores e de
presenccedila fiacutesica obrigatoacuteria os processos educativos eram passados de pais para filhos no ambiente
familiar ou em comunidades Como analisa Silva (2008) numa sociedade de cultura de subsistecircncia
as ocasiotildees de aprendizagem eram informais e aconteciam no cotidiano (pai ensina filho a pescar
plantar colheita defesa pessoal matildee ensina filha a cozinhar cuidar dos filhos etc) Rituais mitos e
pressaacutegios eram passados de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo com o objetivo de preservar a heranccedila cultural da
comunidade ou tribo Silva (2002 p 780) explica
A exteriorizaccedilatildeo da mensagem pelo gesto e pela palavra tem uma natureza eminentemente interpessoal necessita da presenccedila de todos os interlocutores num mesmo espaccedilo e num mesmo momento A difusatildeo limita-se ao instante e ao meio imediato O seu raio de acccedilatildeo natildeo ultrapassa o territoacuterio local
Assim a comunicaccedilatildeo interpessoal nas famiacutelias e nas tribos constituiu o primeiro patamar da
base educacional num modelo centrado na oralidade compartilhamento de crenccedilas e culturas Neste
modelo a comunicaccedilatildeo era limitada ao grupo local e os conhecimentos fechados agrave tribo sendo
8 A palavra tecnologia vem do grego thecnecirc (arte ofiacutecio) e logos (estudo de) e dizia respeito a termos teacutecnicos designando os utensiacutelios as maacutequinas suas partes e as operaccedilotildees dos ofiacutecios (Blanco amp Silva 1993)
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passados de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo Natildeo existindo escolas formais a famiacutelia constituiacutea o espaccedilo educativo
por excelecircncia
122 Comunicaccedilatildeo de Elite
A segunda reconfiguraccedilatildeo das tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo de acordo com Silva
(2008) ocorreu com a invenccedilatildeo da escrita O avanccedilo da comunicaccedilatildeo por meio de gestos e linguagem
para o uso das teacutecnicas de produccedilatildeo dos iacutecones e desenhos foi um importante passo para o
desenvolvimento da escrita A tecnologia proporcionada pela teacutecnica da escrita e da capacidade de ler
causou um impacto significativo na estrutura comunicacional educativa e social da sociedade A partir
da invenccedilatildeo da escrita surge a escola como espaccedilo privilegiado de educaccedilatildeo Higounet (2003) monge
beneditino francecircs que se dedicou a estudar sobre a escrita afirma que a histoacuteria da humanidade se
divide em duas grandes eras antes e depois da escrita Segundo este autor etimologicamente a
palavra ldquoescritardquo significa gravar ou fazer uma marca Esta tecnologia foi desenvolvida de acordo com
a necessidade do homem no periacuteodo que este passou de nocircmade para sedentaacuterio e comeccedilou a cultivar
seu alimento (agricultura) e criar animais Logo se precisava de um recurso para registrar o nuacutemero de
animais do rebanho e quanto alimento era guardado A teacutecnica da escrita foi especializada e
posteriormente foi utilizada para anotar os dias do ano (calendaacuterio) registrar grandes feitos batalhas
tratados proclamaccedilotildees de governantes casamentos empreacutestimos oraccedilotildees e assim por diante
Pierre Leacutevy na sua obra As Tecnologias de Inteligecircncia afirma que a escrita permitia ao poder
estatal comandar tanto os signos quantos os homens O autor explica ldquoatraveacutes dos anais arquivos
administrativos leis regulamentos e cartas o Estado tenta de todas as maneiras congelar programar
represar ou estocar seu futuro e seu passadordquo (Leacutevy 1993 p 54) Leacutevy afirma ainda que a invenccedilatildeo
da escrita permitiu separar as mensagens das situaccedilotildees onde satildeo produzidos os discursos e suscitou
a ambiccedilatildeo teoacuterica para a intelectualidade O ser humano podia eternizar seus discursos em textos que
poderiam ser consultados posteriormente feito que natildeo era possiacutevel na cultura oral antes da escrita
De acordo com Silva (2002) a escrita exigia conhecimento de regras gramaticais um
conhecimento especializado No seacuteculo VI dC as ordens religiosas denominadas monasteacuterios
concentravam as tarefas de ensino e de escrita produziam textos para a liturgia e para as leituras
sagradas Entre os laicos poucos sabiam ler Os antigos escribas ou copistas que copiaram os textos
biacuteblicos o fizeram em papiros estes apresentavam fragilidade no seu manuseio e foram substituiacutedos
pelo pergaminho mais resistente por ser constituiacutedo de peles de animais Este novo artefato
O mundo conectado em redes
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possibilitou a dobra e costura dos escritos surgindo assim a figura do codex ancestral do atual livro
(Olson 1996) Os monges responsaacuteveis pelas coacutepias dos codex possuiacuteam no mosteiro sua sala
individual de leitura e escrita com uma mesa e assento (scriptorium) onde os livros eram escritos a
matildeo por isso eram chamados de manuscritos A ediccedilatildeo de livros por iniciativa de cleacuterigos e da
burguesia ocorreu ateacute finais do seacuteculo XII a partir de entatildeo os copistas laicos juntaram-se aos monges
em associaccedilotildees que passaram a atender a burguesia comercial na redaccedilatildeo de livros e documentos
oficiais (Martins 1996)
Assim a escrita constituiacutea um saber que natildeo pertencia a todos o que deflagrava uma
dicotomia entre quem tinha o domiacutenio da teacutecnica (escrita e leitura) e os que natildeo tinham Nesta
configuraccedilatildeo a educaccedilatildeo era privileacutegio reservado agraves elites Silva (2005 p 35) afirma
Seja porque a escrita estava associada a um poder secreto e maacutegico (sendo considerada uma actividade perigosa para o leitor menos esclarecido) e a um instrumento de poder e controlo da populaccedilatildeo por parte dos Estados Reacutegios e das autoridades religiosas a sua aprendizagem generalizada tardou permanecendo durante muito tempo como uma forma de comunicaccedilatildeo elitista
Apoacutes a escrita explica Silva estabeleceu-se uma brecha entre os que dominavam sua teacutecnica
e os que natildeo sabiam Ateacute entatildeo a oralidade colocava todos em situaccedilatildeo nivelada com a escrita abriu-
se um fosso separando os letrados dos iletrados Conforme explanado pelo autor (idem p 35) ldquotodos
os sistemas pictograacuteficos e ideograacuteficos ao requerem um grande nuacutemero de siacutembolos exigem muito
tempo na elaboraccedilatildeo graacutefica e resultam elitistasrdquo Possivelmente conclui o Silva o escriba deve ter
sido o primeiro tecnocrata ao serviccedilo do palaacutecio real por deter os conhecimentos e teacutecnicas da escrita
Naquele periacuteodo da histoacuteria os estudos eram privileacutegios de poucos que natildeo precisavam
trabalhar e dispunham de tempo livre A palavra escola tem origem do grego scholeacute que significa lazer
ou tempo ocioso Assim poucos dispunham de tempo disponiacutevel para se dedicar aos estudos Apenas
uma elite tinha acesso agrave leitura e agrave escrita e frequentavam pequenas escolas nas paroacutequias das
cidades e vilarejos O movimento para a universalizaccedilatildeo da escola ocorreu apenas a partir do seacuteculo
XVII na eacutegide do Iluminismo Portanto a invenccedilatildeo da escrita assegurou o segundo marco das
reconfiguraccedilotildees que a tecnologia causou na educaccedilatildeo a aprendizagem organizada em escolas
reservadas a elites com intuito de aprenderem as teacutecnicas de leitura escrita e caacutelculos
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123 Comunicaccedilatildeo em massa
A terceira reconfiguraccedilatildeo das tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo segundo Silva (2008)
ocorreu com o surgimento da comunicaccedilatildeo em massa A invenccedilatildeo da tipografia no seacuteculo XV que
permitiu a produccedilatildeo de livros em grande escala e possibilitava o acesso ao conhecimento fora do
espaccedilo escolar Depois jaacute no seacuteculo XIX o invento do teleacutegrafo eleacutetrico em 1837 e do telefone em
1876 que tornou possiacutevel a reproduccedilatildeo do som e das palavras agrave distancia Estas invenccedilotildees abriram
caminho para o desenvolvimento de outras tecnologias de amplificaccedilatildeo de mensagens como a TV o
raacutedio e o cinema Segundo Silva (2002 p 781)
O aparecimento das tecnologias de amplificaccedilatildeo com a invenccedilatildeo da imprensa no seacuteculo XV e principalmente num segundo momento com os desenvolvimentos em meados do seacuteculo XIX de uma seacuterie de invenccedilotildees no acircmbito das telecomunicaccedilotildees (do teleacutegrafo e do telefone) do som e da imagem electroacutenicos (radiofonia cinema e televisatildeo) deu origem ao fenoacutemeno da globalizaccedilatildeo processo que se firmou gradualmente e adquiriu muitas das caracteriacutesticas que ainda hoje tem
Neste cenaacuterio a escola natildeo era mais o uacutenico loacutecus privilegiado para a educaccedilatildeo A invenccedilatildeo da
imprensa que popularizou os livros foi um marco nas mudanccedilas ocorridas no meios de comunicaccedilatildeo
Sobre este invento McLuhan (1977 p 182) afirma que o livro impresso ldquoera o novo material didaacutetico
que tornado acessiacutevel a todos os estudantes fizera obsoleto o ensino antigo O livro era literalmente a
maacutequina de ensinar quando o manuscrito era tatildeo-soacute rude ferramenta de ensinordquo A expressatildeo
ldquomaacutequina de ensinarrdquo cunhada por McLuhan exprime a revoluccedilatildeo que o livro impresso causou nas
estruturas educacionais da eacutepoca Natildeo obstante no seacuteculo XVII o livro impresso em grandes
quantidades era criticado pelos professores e intelectuais com a premissa de que este retirava o
glamour do trabalho dos escritores e estimulavam ao oacutecio a preguiccedila e o individualismo
Para McLuhan (1977 p 119) a ldquoGalaacutexia de Gutembergrdquo reconfigurou o cenaacuterio cultural
poliacutetico e social de uma geraccedilatildeo
A diferenccedila entre o homem da palavra impressa e o da palavra manuscrita eacute quase tatildeo grande quanto a que existe entre o natildeo alfabetizado e o alfabetizado Os elementos constitutivos da tecnologia de Gutenberg natildeo eram novos Mas ao se conjugarem no seacuteculo quinze pela invenccedilatildeo da imprensa produziram tal aceleraccedilatildeo de accedilatildeo social e pessoal que se pode comparar a do take-off no sentido em que W W Rostow desenvolve esse conceito em The Stages of Economic Groivth (As fases de crescimento econocircmico) O take-off eacute aquele momento decisivo na histoacuteria de uma sociedade em que deflagra o seu desenvolvimento e este se torna sua condiccedilatildeo normal
O mundo conectado em redes
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Assim o livro impresso causou uma revoluccedilatildeo nos processos educativos possibilitando a
mudanccedila do ensino baseado na oralidade para o ensino baseado na escrita disponiacutevel a qualquer
cidadatildeo Nas palavras de McLuan a invenccedilatildeo da imprensa foi um ldquomomento decisivordquo da histoacuteria da
sociedade este constituiu o embriatildeo do surgimento dos meios de comunicaccedilatildeo em massa que se
desenvolveram em meados do seacuteculo XIX e mudaram a forma da sociedade ver o mundo
Outra invenccedilatildeo no rol das que mais impactaram a aacuterea da comunicaccedilatildeo foi o telefone A
invenccedilatildeo do telefone retirou ao ser humano o seu caraacuteter privado ora tatildeo prezado Na anaacutelise de
McLuhan (1964 p 304) ldquoo telefone eacute um ldquoentratildeordquo irresistiacutevel em qualquer tempo e lugarrdquo O autor
analisa os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees dos sentidos humanos em destaque o sentido da
audiccedilatildeo e da visatildeo O telefone seria as ldquoorelhas de longa distacircnciardquo a escrita e a imprensa seriam as
extensotildees visuais Analisando o aforismo de McLuhan ldquoo meio eacute a mensagemrdquo Braga (2012 p 50)
diz sobre o telefone
Existe algo de revolucionaacuterio no telefone algo que transforma radicalmente a relaccedilatildeo dos seres humanos com o tempo e com o espaccedilo Tal dimensatildeo a ldquomensagem do meiordquo ndash aquilo que o telefone faz com a comunicaccedilatildeo humana ndash natildeo se encontra no ldquoconteuacutedordquo ou na ldquomensagemrdquo de nenhum telefonema particular
A invenccedilatildeo da tecnologia de telefonia celular moacutevel criada experimentalmente pela empresa
Motorola na deacutecada de 1970 e comercializada em 1984 no modo analoacutegico revolucionou o sistema de
telefonia Em meados dos anos de 1990 surgiu o primeiro telefone celular digital superando a 1ordm
geraccedilatildeo de celulares analoacutegicos Desde entatildeo os padrotildees de transmissatildeo continuaram a evoluir com
as tecnologias 2G 3G e atualmente 4G com traacutefego de dados em alta velocidade baseados em
Protocolo de Internet (IP) Segundo Leacutevy (1999) o telefone e o correio funcionam num sistema de rede
ponto a ponto (um para um) em que as mensagens podem ser endereccediladas com precisatildeo e trocadas
com reciprocidade No sistema de telefonia analoacutegico esta comunicaccedilatildeo natildeo criava puacuteblico era
particular e restrita Com a criaccedilatildeo do sistema digital o uso de mensagens e aplicativos de bate-papo e
chats possibilitou a interatividade e comunicaccedilatildeo simultacircnea de diversos sujeitos ao telefone
Ainda sobre os meios de comunicaccedilatildeo em massa que revolucionaram os padrotildees sociais e
culturais de uma geraccedilatildeo a invenccedilatildeo da TV se encontra entre os mais destacaacuteveis Nos fins da deacutecada
de 1930 ocorreram nos EUA as primeiras transmissotildees regulares de TV Assim como a imprensa e o
raacutedio a TV funciona num esquema ldquoum para todosrdquo um centro emissor envia mensagens na direccedilatildeo
de receptores passivos e sobretudo isolados uns dos outros Leacutevy (1999 p 44) comenta sobre esta
miacutedia
O mundo conectado em redes
65
O dispositivo de miacutedia cria comunidade pois um grande nuacutemero de pessoas recebe as mesmas mensagens e partilha em consequecircncia certo contexto Mas natildeo haacute reciprocidade nem interaccedilatildeo (ao menos no interior do dispositivo) e o contexto eacute imposto pelos centros emissores
Considerada por McLuhan (1964) como um ldquomeio friordquo de comunicaccedilatildeo por ser pobre em
informaccedilatildeo e exigir muito dos seus consumidores para dar sentido agraves mensagens a TV recebeu
criacuteticas de muitos intelectuais que se preocupam com seu efeito massificador Relata-se que em 1950
havia nos EUA mais pessoas vendo TV que ouvindo raacutedio Naquele periacuteodo iniciou-se um periacuteodo
tenebroso para o raacutedio em decorrecircncia da novidade proposta pela TV esta exibia som e imagem Sobre
o poder midiaacutetico da TV Silva (2005 p 37) afirma
Parte da forccedila deste media capaz de influenciar e organizar os estilos de vida e haacutebitos comunitaacuterios (hora das refeiccedilotildees de deitar e de levantar de sair de casa de conversar e conviverhellip) bem como condicionar culturalmente os cidadatildeos atraveacutes da disseminaccedilatildeo de ideias e modismos agrave escala planetaacuteria vem da nova configuraccedilatildeo comunicativa de recepccedilatildeo a mensagem televisiva tem penetraccedilatildeo na casa de qualquer pessoa ocupando por isso um lugar estrateacutegico de acircmbito sociocultural na ceacutelula familiar
Tendo em vista o efeito de amplificaccedilatildeo de mensagens que a TV possui sua difusatildeo promoveu
uma mudanccedila na configuraccedilatildeo comunicativa global tendo em vista seu amplo alcance de penetraccedilatildeo
nos domiciacutelios residenciais
No campo educacional a hegemonia da escola como a uacutenica fonte de transmissatildeo do saber eacute
ameaccedilada pelos meios de comunicaccedilatildeo em massa como o livro o jornal o cinema com destaque
para a TV O conceito de ldquoEscola Paralela9rdquo originalmente expresso por Friedmann (1962) passa a
ganhar sentido com o amplo alcance e a presenccedila incontestaacutevel de aparelhos de TV nos domiciacutelios do
mundo todo Assim como a impressatildeo de livros em grande escala com a invenccedilatildeo da impressa a
propagaccedilatildeo da TV foi criticada por educadores nas deacutecadas de 1950 e 1960 Segundo Laurens (2009
p 8) para os educadores os meios de comunicaccedilatildeo em massa em especial a TV estimulavam a
passividade a dispersatildeo e a superficialidade
Os professores contudo criticavam o livro sob alegaccedilatildeo de que estimulava a preguiccedila e liberava do esforccedilo de memorizaccedilatildeo A invenccedilatildeo dos meios eleacutetricos e eletrocircnicos como o raacutedio a televisatildeo e o telefone provocaram em seguida uma nova ruptura transformando a relaccedilatildeo entre espaccedilo e tempo prenuacutencio da globalizaccedilatildeo da atividade e do pensamento humanos
9 Segundo Friedmann (1962) Escola Paralela trata-se do ldquoconjunto de estiacutemulos afectivos e intelectuais que recebem as crianccedilas desde a sua mais tenra infacircncia e fora da escola oficial a partir do meio ambiente da televisatildeo a raacutedio o telefone o transmissor os desenhos animados as revistas dos pais
O mundo conectado em redes
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O autor conclui que para os professores a TV era percebida como uma ldquoconcorrente deslealrdquo
que favorecia o lazer a facilidade e a modernidade tornando os alunos entediados com a escola O
fato eacute que diante da expansatildeo dos meios de comunicaccedilatildeo em massa a escola deixou de ser a uacutenica
fonte de transmissatildeo do conhecimento e reconfigurou mais uma vez os processos educativos daquela
geraccedilatildeo (Silva 2005) Os cursos por correspondecircncia que jaacute ocorriam desde o final do seacuteculo XIX
(primeiras referecircncias por volta de 1885) com o advento do raacutedio e da TV expandiram seu puacuteblico na
Europa e nos EUA De acordo com Gomes (2008) o ldquotele-ensinordquo ou ensino mediado por suportes
visual aacuteudio escrita aacuteudio-visual e aacuteudio-escrito-visual tinha por principais caracteriacutesticas a
distribuiccedilatildeo de conteuacutedos via raacutedio ou TV a pouco frequente comunicaccedilatildeo professoraluno a
inexistente comunicaccedilatildeo alunosalunos e uma comunicaccedilatildeo siacutencrona fraacutegil efetuada com suporte do
telefone A autora afirma que nesse periacuteodo surgiram vaacuterias instituiccedilotildees de ensino voltadas
especificamente para a educaccedilatildeo a distacircncia e a escola tradicional perdia espaccedilo para novas formas
de aprendizagem
124 Comunicaccedilatildeo Individual
A quarta reconfiguraccedilatildeo dos meios de telecomunicaccedilatildeo ocorreu concomitante agrave expansatildeo dos
meios de comunicaccedilatildeo em massa (mass media) o fenocircmeno da self media surgiu como motor
propulsor das tecnologias em base individual A invenccedilatildeo da fotografia gravador de sons reprografia
videografia multigrafia (computador) e outros artefatos tecnoloacutegicos de produccedilatildeo de miacutedia permitiam
ao homo communicans a possibilidade de expressar-se em base individual de diferentes formas em
distintos veiacuteculos de comunicaccedilatildeo Silva (2008) afirma que a fotografia foi o primeiro self media a fazer
parte do cotidiano das pessoas Com sua popularizaccedilatildeo a partir dos anos de 1970 a fotografia passou
a constituir um meio de registro da vida cotidiana e tambeacutem um modo de expressatildeo da arte de cunho
individual A invenccedilatildeo da reprografia foi outro importante feito para a distribuiccedilatildeo em grande escala de
informaccedilatildeo e libertou as pessoas da induacutestria da impressatildeo permitindo a produccedilatildeo de coacutepias e mais
liberdade na arte de compor e imprimir
No entanto a invenccedilatildeo de maior peso na era comunicativa da self media foi o computador
Desenvolvido inicialmente para fazer caacutelculos e promover armazenamento de dados o computador de
uma maacutequina de 30 toneladas de peso em 194510 transformou-se em microcomputador de mesa na
deacutecada de 1970 graccedilas agrave utilizaccedilatildeo de transitores e microprocessadores Segundo Castells (1999 p
82) o computador pessoal passou a se popularizar com o desenvolvimento de um novo software de 10 ENIAC Electronic Numerical Integrator and Computer
O mundo conectado em redes
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sistema operacional que permitia a utilizaccedilatildeo da maacutequina sem a necessidade de ter os conhecimentos
de um programador Sobre a criaccedilatildeo e desenvolvimento da internet o autor relata que esta resultou de
uma ldquofusatildeo singular de estrateacutegia militar grande cooperaccedilatildeo cientiacutefica iniciativa tecnoloacutegica e
inovaccedilatildeo contraculturalrdquo Inicialmente criada para fins militares na deacutecada de 1950 a internet
comeccedilou a ser difundida na comunidade cientiacutefica para comunicaccedilatildeo entre pesquisadores e cientistas
das universidades dos EUA em meados da deacutecada de 1960 com a criaccedilatildeo da ARPANET11
Por volta de 1990 outro salto tecnoloacutegico permitiu a difusatildeo da internet para a comunidade
geral a criaccedilatildeo da Word Wide Web (www) que mudou a forma de organizaccedilatildeo dos siacutetios na internet
que antes eram agrupados por localizaccedilatildeo passaram a ser organizados por informaccedilatildeo A forma
padratildeo das informaccedilotildees do www eacute o hipertexto 12 que admite a interligaccedilatildeo entre diversos
documentos que podem ser localizados em diferentes servidores em distantes partes do mundo A
partir de entatildeo novos progressos nas telecomunicaccedilotildees e computaccedilatildeo provocaram mais mudanccedilas
tecnoloacutegicas como os sistemas mainframes 13 novos softwares criaccedilatildeo de estrutura de
telecomunicaccedilatildeo por fibras oacutepticas aumento da velocidade dos processadores ampliaccedilatildeo da
tecnologia de multimiacutedia e outros avanccedilos que conectaram o mundo numa ldquoaldeia globalrdquo como
previsto por McLuhan
Nascia o ldquociberespaccedilordquo que parecia ficccedilatildeo cientiacutefica quando o escritor Wilian Gibson (1984)
criou esta expressatildeo no seu romance Neuromancer em 1984 Para Gibson o ciberespaccedilo constituiacutea
tatildeo somente uma constelaccedilatildeo de dados de capacidade infinita O autor natildeo imaginava o potencial que
a internet teria para tornar essa ficccedilatildeo uma realidade Anos mais tarde Michael Benedikt (1993) na
sua obra El ciberespacio algunas propuestas usou a expressatildeo ciberespaccedilo para designar o espaccedilo
virtual paralelo da internet que abriga infinitos bancos de dados em incontaacuteveis sites paacuteginas e portais
Leacutevy (2008 p 40) utilizou o termo ciberespaccedilo para definir o meio de comunicaccedilatildeo aberto pela
interconexatildeo mundial dos computadores que emerge comordquo espaccedilo elaacutesticordquo que independe do lugar
e tempo de conexatildeo O ciberespaccedilo converte as tecnologias ldquoum para umrdquo (cartas telefone) e a ldquoum
para todosrdquo (televisatildeo raacutedio) para a comunicaccedilatildeo ldquotodos para todosrdquo (internet) A tecnologia fez surgir
11 Arpanet era um projeto que visava a construccedilatildeo de uma rede de computadores que pudessem trocar informaccedilotildees mesmo que fossem integrados por pessoas geograficamente distantes aleacutem de permitir o compartilhamento de recursos escassos Disponiacutevel em httpssitesgooglecomsitesitesrecordo-que-e-arpanet Acesso em 13 jan 2015 12 O hipertexto eacute codificado com a linguagem HTML (Hypertext Markup Language) que possui um conjunto de marcas de codificaccedilatildeo que satildeo interpretadas pelos clientes WWW (que satildeo os browsers como o Netscape) em diferentes plataformas 13 Computador de grande porte capaz de oferecer serviccedilos de processamento a milhares de usuaacuterios atraveacutes de milhares de terminais conectados diretamente ou atraveacutes de uma rede
O mundo conectado em redes
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termos como interatividade multimiacutedia (combinaccedilatildeo de texto imagem e som) e hipermiacutedia
(interconexatildeo de diversos textos entre si) que integraram a rotina comunicacional
Leacutevy (1999) no seu livro Cibercultura faz um retrospecto histoacuterico do ciberespaccedilo a partir da
invenccedilatildeo dos primeiros computadores na Inglaterra e nos Estados Unidos nos anos de 1945
passando pelo uso dos mesmos para fins beacutelicos durante a 2ordf Guerra Mundial pela disseminaccedilatildeo dos
computadores para fins cientiacuteficos nas universidades chegando ateacute agrave virada que ocorreu nos anos de
1970 quando se iniciou a comercializaccedilatildeo dos microprocessadores Segundo Leacutevy este foi um salto na
tecnologia pois os chips eletrocircnicos dos microprocessadores abriram uma nova fase na automaccedilatildeo da
produccedilatildeo industrial roboacutetica maacutequinas industriais com controles digitais automaccedilatildeo dos bancos
difusatildeo de aparelhos eletrocircnicos industriais e domeacutesticos Mas a criaccedilatildeo do computador pessoal nos
anos de 1980 eacute apontada pelo autor como um importante passo para efervescecircncia do ciberespaccedilo
Leacutevy (idem p 31) explica
Um verdadeiro movimento social nascido na Califoacuternia na efervescecircncia da ldquocontraculturardquo apossou-se das novas possibilidades teacutecnicas e inventou o computador pessoal Desde entatildeo o computador iria escapar progressivamente dos serviccedilos de processamento de dados das grandes empresas e dos programadores profissionais para tornar-se um instrumento de criaccedilatildeo (de textos de imagens de muacutesicas) de organizaccedilatildeo (bancos de dados planilhas) de simulaccedilatildeo (planilhas ferramentas de apoio atilde decisatildeo programas para pesquisa) e de diversatildeo (jogos) nas matildeos de uma proporccedilatildeo crescente da populaccedilatildeo dos paiacuteses desenvolvidos
O computador pessoal popularizou a internet que antes era restrita apenas a grandes
empresas e instituiccedilotildees Leacutevy (idem p 32) analisa que nos final dos anos de 1980 e iniacutecio dos anos
1990 emergiu outro movimento sociocultural que teve origem nas grandes cidades e nos campus
universitaacuterios americanos ldquosem que nenhuma instacircncia dirigisse esse processo as diferentes redes de
computadores que se formaram desde o final dos anos 70 se juntaram umas agraves outras enquanto o
nuacutemero de pessoas e de computadores conectados agrave inter-rede comeccedilou a crescer de forma
exponencialrdquo O autor explica que assim como no caso da invenccedilatildeo do computador pessoal impocircs um
curso diferente para o desenvolvimento socioeconomico e cultural das sociedades afetadas as
tecnologias digitais em rede surgiram como a infraestrutura fiacutesica do ciberespaccedilo um ldquonovo espaccedilo de
comunicaccedilatildeo de sociabilidade de organizaccedilatildeo e de transaccedilatildeo mas tambeacutem novo mercado da
informaccedilatildeo e do conhecimentordquo (idem p 32) No entanto para Leacutevy o ciberespaccedilo natildeo diz respeito
apenas agrave infraestrutura de rede de computadores mas ao universo de informaccedilatildeo que ela abriga e os
seres humanos que nela navegam e a alimentam
O mundo conectado em redes
69
Neste contexto nasce o conceito de ldquociberculturardquo Leacutevy (idem p 17) descreve esta como o
ldquoconjunto das teacutecnicas (materiais e intelectuais) as praacuteticas as atitudes as maneiras de pensar e os
valores que se desenvolvem conjuntamente com o crescimento do ciberespaccedilordquo A cibercultura
emergiu das relaccedilotildees digitais on-line entre os seres humanos e os conteuacutedos digitalizados acessados
na rede que reestruturam outras dinacircmicas sociais econocircmicas poliacuteticas culturais e educacionais Na
primeira fase da cibercultura (iniacutecio do uso da internet) segundo Santos (2014) exigia-se do usuaacuterio
conhecimento da linguagem HTML para se produzir conteuacutedos e interfaces Tambeacutem era necessaacuterio
ter acesso a um servidor quase sempre pago para se hospedar os conteuacutedos e interfaces A internet
constituiacutea um repositoacuterio de informaccedilotildees variadas para pesquisa mas ainda era limitada para
produccedilotildees pessoais A autora afirma que ldquoo ciberespaccedilo era um espaccedilo bastante distanciado dos
espaccedilos urbanos entre eles os espaccedilos escolaresrdquo Santos usa a metaacutefora download e upload para
descrever as praacuteticas educativas com o uso da internet naquele periacuteodo A praacutetica pedagoacutegica
download era baseada no acesso a conteuacutedos para serem reutilizados nas salas de aulas fiacutesicas ou
laboratoacuterio de informaacutetica com os alunos Com a popularizaccedilatildeo da linguagem HTML muitos
professores comeccedilaram a publicar em home pages sites pessoais ou institucionais constituindo a fase
do upload
A educaccedilatildeo nesta conjuntura deixou de ser intermediada exclusivamente pelas instituiccedilotildees
educativas Leacutevy (1998 p 45) apresenta algumas alteraccedilotildees visiacuteveis na forma de comunicaccedilatildeo no
ciberespaccedilo
Ateacute agora o espaccedilo puacuteblico de comunicaccedilatildeo era controlado atraveacutes de intermediaacuterios institucionais que preenchiam uma funccedilatildeo de filtragem e de difusatildeo entre os autores e os consumidores de informaccedilatildeo estaccedilotildees de televisatildeo de raacutedio jornais editoras gravadoras escolas etc Ora o surgimento do ciberespaccedilo cria uma situaccedilatildeo de desintermediaccedilatildeo cujas implicaccedilotildees poliacuteticas e culturais ainda natildeo terminamos de avaliar
Leacutevy cita a ldquodesintermediaccedilatildeordquo que a expansatildeo das tecnologias de informaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo causaria na sociedade e nas instituiccedilotildees dentre elas a escola A escola filtrava os
conteuacutedos a serem estudados formalizando-os em um curriacuteculo fechado do qual os alunos seguiam por
intermeacutedio de livros didaacuteticos escolhidos pelo corpo docente da escola Com o ciberespaccedilo e o fomento
da cibercultura os processos de intermediaccedilatildeo deixam de ser hierarquizados e resultam dos proacuteprios
indiviacuteduos de acordo com suas necessidades e interesses
O mundo conectado em redes
70
A autoeducaccedilatildeo constituiu entatildeo uma caracteriacutestica marcante no contexto da expansatildeo dos
meios de comunicaccedilatildeo de caraacuteter individual baseados principalmente na internet Silva (2008 p
1916) explica
O aluno jaacute natildeo eacute apenas um mero estudante que frequenta cursos durante alguns anos da sua vida recebendo de uma forma mais ou menos passiva o saber transmitido pelo professor mas eacute fundamentalmente um auto-educando num amplo quadro de educaccedilatildeo permanente e aprendizagem autoacutenoma reforccedilado pela expressatildeo aprender a aprender
A interaccedilatildeo possibilitada pelo uso do correio eletrocircnico favoreceu a expansatildeo de cursos a
distacircncia a partir de 1985 Gomes (2008) explica que num periacuteodo anterior ao da internet a educaccedilatildeo
mediada por tecnologias como a TV o raacutedio e correspondecircncias tinha um caraacuteter pouco interativo
Embora a distribuiccedilatildeo de conteuacutedos fosse massiva a comunicaccedilatildeo entre professor e aluno era limitada
quase sempre por correspondecircncia ou telefone e a comunicaccedilatildeo aluno com outros alunos naquele
modelo era inexistente Com a internet o correio eletrocircnico favoreceu a interatividade professoraluno
e ateacute mesmo entre alunos Esta fase de uso de tecnologia mediada por computador e internet eacute
classificada pela autora como a terceira geraccedilatildeo da educaccedilatildeo a distacircncia sendo a primeira geraccedilatildeo
pautada pelo ensino por correspondecircncia e a segunda caracterizada pelo uso intensivo de TV e
transmissotildees radiofocircnicas cujo suporte mediaacutetico para comunicaccedilatildeo era o telefone
125 Comunicaccedilatildeo em ambientes virtuais
O fortalecimento e ampliaccedilatildeo do ciberespaccedilo e da cibercultura no seacuteculo XXI abriram campo
para a quinta reconfiguraccedilatildeo da comunicaccedilatildeo com impacto na educaccedilatildeo apontada por Silva (2008) a
comunicaccedilatildeo em ambientes virtuais por meio de comunidades de aprendizagem Da primeira fase da
internet chamada de Web 10 focalizada em site de buscas de informaccedilatildeo avanccedilou-se na virada do
milecircnio para a Web 20 sendo esta uacuteltima voltada para a interaccedilatildeo entre os usuaacuterios tambeacutem
chamada de Web Social Silva e Souza (2015 p 6) explicam que esse fenocircmeno ocorreu devido o
desenvolvimento de um ldquoconjunto alargado de programas centrados na interatividade entre utilizadores
que permitiram uma maior relacionamento socialrdquo A internet tornou-se uma interface de publicaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo em rede As interfaces amigaacuteveis de blogs foacuteruns vlogs wiks podcastings redes
sociais paacuteginas pessoais canais de viacutedeos possibilitaram que os usuaacuterios migrassem de receptores da
informaccedilatildeo para autores O ciberespaccedilo torna-se um espaccedilo democraacutetico em que satildeo dadas vozes aos
que antes natildeo tinham oportunidade de se expressar
O mundo conectado em redes
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Sobre os efeitos das praacuteticas de comunicaccedilatildeo no espaccedilo virtual da internet Silva e Conceiccedilatildeo
(2013 p 140) afirmam
a ldquonavegaccedilatildeo pelo ciberespaccedilordquo natildeo se limita agrave obtenccedilatildeo de dados pelos indiviacuteduos mas se estabelece uma rede de conversaccedilatildeo onde se trocam reclamaccedilotildees e compromissos ofertas e promessas aceitaccedilotildees e recusas ou seja pela internet natildeo transitam simples informaccedilotildees mas ldquoatos de comunicaccedilatildeordquo onde o mundo privado da experiecircncia pessoal daqueles que os praticam eacute projetado no interior do mundo interpessoal e grupal das interaccedilotildees
Assim com a expansatildeo da internet novos padrotildees de sociabilidade substituiacuteram as formas de
interaccedilatildeo humana antes limitada pelas distacircncias geograacuteficas Neste contexto emergiram as
comunidades virtuais que reuacutenem no ciberespaccedilo pessoas com interesses comuns De acordo com
Rheingold (1994) o termo ldquocomunidade virtualrdquo foi concebido para definir o agrupamento de humanos
que frequentam o ciberespaccedilo por meio da rede de computadores
As comunidades virtuais satildeo uniotildees sociais que surgem na rede quando uma quantidade suficiente de pessoas leva a seacuterio essas discussotildees puacuteblicas durante um tempo suficente com grandes sentimentos humanos para formar redes de reaccedilotildees pessoais no espaccedilo ciberneacutetico (Rheingold 1994 p 20)
Neste sentido os distintos indiviacuteduos que compotildeem uma comunidade virtual reuacutenem-se por
um senso comum ou interesses muacutetuos e natildeo por mera agregaccedilatildeo geograacutefica ldquoOs usuaacuterios desses
serviccedilos se conectam habitualmente aos chat rooms ou salas de encontros virtuais que tem por tiacutetulo
assuntos que lhes satildeo relevantesrdquo acrescenta Primo (1997 p 3) Embora estas comunidades natildeo
tenham um endereccedilo fiacutesico pois residem no ciberespaccedilo tecircm um poder de uniatildeo e mobilizaccedilatildeo tanto
quanto a de uma comunidade fiacutesica
Segundo Castells (2003 p 105) a noccedilatildeo de ldquocomunidades virtuaisrdquo na visatildeo dos pioneiros da
interaccedilatildeo social na internet previa novos padrotildees de sociabilidade mais avanccedilados com possibilidades
mais complexas do que simplesmente trocar e-mails com uma pessoa Mas o autor considera que
neste contexto houve equiacutevocos como por exemplo o uso do termo ldquocomunidaderdquo com suas fortes
conotaccedilotildees ideoloacutegicas de laccedilos afetivos entre pessoas geograficamente proacuteximas como ocorria em
sociedades agriacutecolas Para Castells esta percepccedilatildeo gerou uma discussatildeo sobre a substituiccedilatildeo destas
formas de vida comunitaacuterias baseadas na localidade por ldquolaccedilos seletivos e mais fracos entre famiacutelias
espalhadas na metroacutepole anocircnimardquo No entanto o autor cita vaacuterios estudos que comprovam que o uso
da internet natildeo levou a menor interaccedilatildeo ou isolamento social antes os usuaacuterios da internet mantinham
mais contato com amigos e familiares do que os natildeo usuaacuterios O que ocorre em algumas situaccedilotildees
O mundo conectado em redes
72
com uso excessivo da internet segundo outros estudos conflitantes citados por Castells eacute o decliacutenio
da comunicaccedilatildeo entre os membros de uma famiacutelia residentes na mesma casa e agravamento da
depressatildeo e solidatildeo entre os usuaacuterios
Para Lemos (1996 p 21) o ciberespaccedilo loacutecus que habita as comunidades virtuais longe de
constituir um lugar que destroacutei a sociabilidade dos seus residentes promove a interaccedilatildeo entre diversos
atores e autores e potencializa novas formas de encontros entre seus interlocutores
O interesse estaacute no fato de que todas as formas de sociabilidade contemporacircneas encontram na tecnologia um potencializador um catalisador um instrumento de conexatildeo () O ciberespaccedilo natildeo eacute uma entidade puramente ciberneacutetica (no sentido etimoloacutegico de lsquocontrolersquo ou lsquopilotagemrsquo) mas uma entidade abstrata efervescente e caoacutetica
As comunidades virtuais avanccedilaram dos foacuteruns virtuais em sites especializados para grupos
fechados em redes sociais de amplo alcance O Orkut Facebook Linkedin Instagram e outras redes
sociais fomentam a interatividade e o compartilhamento de dados pessoais e profissionais entre as
pessoas Estas redes sociais permitem a publicaccedilatildeo de textos fotos e viacutedeos produzidos pelo seu
associado Tambeacutem possibilita que este visualize as postagens dos ldquoamigosrdquo da sua rede comentando
suas publicaccedilotildees Nas redes sociais ainda eacute possiacutevel falar em chats individuais com os amigos e fazer
conferecircncia por voz Os chats em salas de bate-papo temaacuteticas embora tenham perdido o glamour
que tiveram nos anos de 1990 ainda existem e tecircm puacuteblico cativo As salas virtuais satildeo divididas por
localizaccedilatildeo geograacutefica e idade ou categorias de interesse como amizade namoro sexo religiatildeo
profissotildees cultura esporte e idiomas Os usuaacuterios acessam com um apelido ou ldquonickrdquo em que podem
se passar por qualquer pessoa ou simular um personagem
Bauman (2011) refletindo sobre as relaccedilotildees sociais possibilitadas na internet afirma que
estas relaccedilotildees nos espaccedilos ciberneacuteticos em redes sociais ou comunidades virtuais satildeo constituiacutedas e
mantidas por duas atividades baacutesicas conectar e desconectar Pertencer a uma comunidade virtual
natildeo eacute garantia de laccedilos afetivos duradouros Bauman afirma que no contexto da sociedade liquida
ldquoestamos todos numa solidatildeo e numa multidatildeo ao mesmo tempordquo Segundo o autor o atrativo da rede
eacute a facilidade de fazer e desfazer amizades e viacutenculos
A interatividade proporcionada pela expansatildeo da web favoreceu os processos educativos
mediados por tecnologias Segundo Silva e Pereira (2012 p 11) assim como a forccedila da tecnologia da
escrita fez surgir a escola no seacuteculo IV a C com uma estrutura de ensino e aprendizagem que
O mundo conectado em redes
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permaneceram soacutelidos por seacuteculos as tecnologias promovidas a partir da internet ldquoapresentam
potencialidades de renovar profundamente a escola tendo em vista a sua constituiccedilatildeo em verdadeiras
Comunidades de Aprendizagemrdquo Para os autores estas comunidades de aprendizagem emergiram da
dimensatildeo colaborativa e interativa entre escolas e outras instituiccedilotildees comunitaacuterias entre pessoas de
interesses comuns que se agrupam em torno de uma accedilatildeo ou projeto educacional com vistas agrave
construccedilatildeo do conhecimento Ainda sobre as comunidades de aprendizagem Dias (2000 p 157)
explica
A noccedilatildeo de comunidade de aprendizagem na Web implica uma concepccedilatildeo flexiacutevel e distribuiacuteda na qual a abordagem hipertexto e as tecnologias hipermeacutedia natildeo soacute constituem os meios para a organizaccedilatildeo da informaccedilatildeo e das representaccedilotildees na rede mas tambeacutem o meio de desenvolvimento de ambientes colaborativos extremamente poderosos para a realizaccedilatildeo das aprendizagens e a construccedilatildeo do conhecimento
Neste sentido o caraacuteter de interaccedilatildeo social promovido pela web possibilita que pessoas de
diferentes formaccedilotildees naveguem em hipertextos na web e estabeleccedilam redes de relaccedilotildees na promoccedilatildeo
de partilha e troca de conhecimentos com os membros das comunidades que participam num
processo de aprendizagem colaborativo
Retornando agraves geraccedilotildees da educaccedilatildeo a distacircncia citadas por Gomes (2008) as comunidades
de aprendizagens emergiram na quarta geraccedilatildeo caracterizada pela interaccedilatildeo e colaboraccedilatildeo entre os
sujeitos do processo educativo A ldquoaprendizagem em rederdquo ou ldquoe-learningrdquo diferente da geraccedilatildeo
anterior natildeo mais faz uso apenas de materiais didaacuteticos interativos (mas estaacuteticos) como CDs
multimiacutedia e viacutedeos explicativos Com o potencial interativo da web a construccedilatildeo do conhecimento
colaborativo eacute ampliada e o ciberespaccedilo passa a constituir um lugar de publicaccedilatildeo partilha e
construccedilatildeo colaborativa do conhecimento A comunicaccedilatildeo antes possibilitada apenas por telefone ou
e-mail eacute entatildeo potencializada por meio de chatsfoacuteruns interativos siacutencronos em ambientes virtuais ou
videoconferecircncias em tempo real Gomes (2003 p 151) explica
A comunicaccedilatildeo directa e frequente entre todos os intervenientes (professores e alunos) possibilitada pelos diversos serviccedilos de comunicaccedilotildees mediadas por computador torna-se um princiacutepio caracteriacutestico desta geraccedilatildeo de inovaccedilatildeo tecnoloacutegica no ensino a distacircncia O desenho das situaccedilotildees de ensino eacute feito considerando como requisito a existecircncia de comunicaccedilatildeo e colaboraccedilatildeo frequentes dos formandos entre si e com os seus professores
Neste contexto satildeo desenvolvidos ambientes especiacuteficos na web que oferecem agraves comunidades
de aprendizagem um conjunto de recursos para compartilhamento de materiais de estudo publicaccedilatildeo
O mundo conectado em redes
74
de informes coleta e revisatildeo de tarefas avaliaccedilatildeo on-line registro de notas e comunicaccedilatildeo assiacutencrona
e siacutencrona entre os participantes
No Brasil usa-se o termo Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) para denominar os softwares
educacionais via internet que tecircm por finalidade apoiar as atividades de educaccedilatildeo a distacircncia e
presencial oferecendo suporte para a comunicaccedilatildeo e troca de informaccedilotildees e interaccedilatildeo entre os
participantes filtrando o espaccedilo da web num ambiente favoraacutevel para a aprendizagem Os AVA aleacutem de
disponibilizarem grande volume de informaccedilatildeo modificam as formas de comunicaccedilatildeo por meios cada
vez mais complexos Atualmente existem inuacutemeras possibilidades que agrupam uma seacuterie de recursos
para concepccedilatildeo e estruturaccedilatildeo de um AVA com a finalidade natildeo apenas limitada para disponibilizar
conteuacutedos mas tambeacutem para promover e gerenciar processos de ensino-aprendizagem Assim a
educaccedilatildeo por meio de comunidades de aprendizagem apoiada por ambientes virtuais de aprendizagem
constituiu a quinta reconfiguraccedilatildeo da comunicaccedilatildeo com efeitos na educaccedilatildeo de acordo com Silva
(2008)
A aprendizagem mediada por ambientes virtuais foi designada de e-learning (aprendizagem
eletrocircnica) assim definido por Keegan Baptista Giro-Anett Micincovaacute Dias e Pimenta (2002 p 21)
O e-Learning eacute aqui definido como um tipo de aprendizagem interactiva no qual o conteuacutedo de aprendizagem se encontra disponiacutevel on-line estando assegurado o feedback automaacutetico das actividades de aprendizagem do estudante A comunicaccedilatildeo on-line em tempo real poderaacute ou natildeo estar incluiacuteda contudo a toacutenica do e-Learning centra-se mais no conteuacutedo da aprendizagem do que na comunicaccedilatildeo entre alunos e tutores
Esta modalidade abrange um conjunto de aplicaccedilotildees e processos como aprendizagem
mediada por computador disponibilizaccedilatildeo de conteuacutedos educativos na internet comunidades virtuais
de aprendizagem e salas de aulas virtuais Silva e Conceiccedilatildeo (2013) explicam que o e-learning assume
diferentes papeacuteis dependendo dos contextos niacuteveis de aprendizagem e dos sujeitos envolvidos
Segundo os autores no niacutevel de ensino baacutesico e secundaacuterio o e-learning assume uma vertente de
tutoria eletrocircnica na qual o professor disponibiliza materiais on-line aos alunos e pode ocorrer alguma
interaccedilatildeo com os mesmos
No ensino superior o e-learning caminha para a implementaccedilatildeo de plataformas mistas em
que aulas on-line complementam aulas presenciais Esta modalidade semipresencial ou hiacutebrida eacute
chamada na literatura de b-learning em que a letra ldquobrdquo eacute a inicial da palavra inglesa blended significa
misto ou combinado vem dar sentido ao conceito de combinaccedilatildeo das instacircncias presenciais e natildeo
O mundo conectado em redes
75
presenciais (on-line) Sobre as escolhas dos recursos a serem utilizados nessa modalidade Cabero
(2010 pp 12-13) explica
o espaccedilo do b-learning deveria ser matizado ou estratificado em funccedilatildeo da maior utilizaccedilatildeo das ferramentas de comunicaccedilatildeo siacutencronas e assiacutencronas assim como na amplitude de comunicaccedilatildeo textual aacuteudio visual ou audiovisual utilizada ou seja sincronia assincronia da ferramenta de comunicaccedilatildeo mobilizada e no grau de iconicidade dos materiais utilizados
Assim o b-learning vem atender aos anseios principalmente dos jovens alunos do ensino
superior que valorizam a personalizaccedilatildeo da aula presencial e a flexibilidade da produccedilatildeo on-line Osoacuterio
e Meirinhos (2007) afirmam que essa modalidade acarreta mais carga cognitiva dos envolvidos e pode
servir de base para transiccedilatildeo da modalidade presencial para a completamente on-line ao passo que os
estudantes desenvolvem capacidades de formaccedilatildeo e se apropriam das tecnologias Para Silva (2014)
estaacute em curso um avanccedilo voltado para a convergecircncia e conjugaccedilatildeo de diferentes modalidades de
educaccedilatildeo presencial (p-learning) e educaccedilatildeo a distacircncia (d-learning) para a aprendizagem moacutevel (m-
learning) O autor perspectiva uma evoluccedilatildeo ainda maior que eacute a aprendizagem ubiacutequa (u-learning) que
jaacute estaacute em curso e jaacute reconfigura o cenaacuterio educativo emergente jaacute presente em algumas situaccedilotildees
educativas
126 Comunicaccedilatildeo em rede ubiacutequaspoacutes massivas
A sexta reconfiguraccedilatildeo das tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo com reflexos na
educaccedilatildeo ainda a ocorrer em 2017 trata da comunicaccedilatildeo em redes ubiacutequas Segundo o dicionaacuterio
Aureacutelio on-line14 ubiquidade eacute o dom de poder estar presente em todos os lugares ao mesmo tempo
Assim o termo tem sido usado para definir o estado do usuaacuterio que conectado agrave internet pode estar
presente em vaacuterios lugares e comunicar-se durante este deslocamento Santaella (2014 p 34) explica
a diferenccedila das redes ubiacutequas com as redes digitais da web 20
Enquanto as redes digitais por sua proacutepria natureza satildeo sempre moacuteveis a entrada nas redes implicava que o usuaacuterio estivesse parado agrave frente do ponto fixo do computador Agora ao carregar consigo um dispositivo moacutevel a mobilidade se torna dupla mobilidade informacional e mobilidade fiacutesica do usuaacuterio Para navegar de um ponto a outro das redes informacionais nas quais se entra e se sai para muacuteltiplos destinos YouTube sites blogs paacuteginas etc o usuaacuterio tambeacutem pode estar em movimento O acesso passa a se dar em qualquer momento e em qualquer lugar Acessar e enviar informaccedilotildees transitar entre elas conectar-se com as pessoas coordenar accedilotildees grupais e sociais em tempo real tornou-se corriqueiro
14 Disponiacutevel em httpwwwdicionariodoaureliocomubiquidade Acesso em 02 fev 2016
O mundo conectado em redes
76
Santaella (2003) chama esse fenocircmeno de era de cultura digital A autora utiliza uma divisatildeo
de eras culturais no decorrer da histoacuteria da humanidade constituiacuteda de seis formaccedilotildees a cultura oral a
cultura escrita a cultura impressa a cultura de massas a cultura das miacutedias e por fim a cultura digital
As divisotildees que Santaella apresenta se assemelham com o modelo proposto por Silva (2008
2013) exposto neste trabalho Para Santaella a era cultura digital eacute impar pois aleacutem da convivecircncia
de todas as culturas anteriores ocorre uma convergecircncia das miacutedias A cultura das massas e a cultura
das miacutedias produzem juntas uma exacerbaccedilatildeo de circulaccedilatildeo de informaccedilatildeo nunca antes registradas
As informaccedilotildees segundo Santaella natildeo satildeo conservadas e o acesso a elas resultam em poder A
autora explica
Eacute por essa razatildeo que a era digital vem sendo tambeacutem chamada de cultura do acesso uma formaccedilatildeo cultural estaacute nos colocando natildeo soacute no seio de uma revoluccedilatildeo teacutecnica mas tambeacutem de uma sublevaccedilatildeo cultural cuja propensatildeo eacute se alastrar tendo em vista que a tecnologia dos computadores tende a ficar cada vez mais barata (Santaella L 2003 p 28)
A cultura digital citada por Santaella estaacute presente natildeo apenas nos computadores fixos mas
em todos lugares por meios das redes wifi e dispositivos portaacuteteis conectados agrave internet O espaccedilo
fiacutesico se fundiu com o espaccedilo virtual A autora chama esses ambientes de espaccedilo de hipermobilidade e
espaccedilo intersticial ou espaccedilo hiacutebrido e misturado (Santaella 2007) Assim com a disponibilidade da
rede moacutevel acessiacutevel em todos os lugares as pessoas ganharam mobilidade em que se pode transitar
em vaacuterios destinos na rede
Na literatura jaacute se fala de ldquocyborguesrdquo ou seres hiacutebridos habitantes do ciberespaccedilo que na era
da ldquocomputaccedilatildeo ubiacutequardquo se apropriaram da tecnologia ao ponto que elas desaparecem se
incorporaram aos objetos a sua volta (Oliveira 2011 Santaella 2003) O termo ldquocomputaccedilatildeo uacutebiquardquo
foi criado por Mark Weiser (1991) numa perspectiva visionaacuteria em que o autor previa que a
computaccedilatildeo seria tatildeo comum e presente na vida das pessoas quanto a escrita se tornou com o passar
dos seacuteculos No seu artigo The Computer for the 21st Century Weiser (1991) argumenta que a escrita
no iniacutecio de seu uso exigia uma atenccedilatildeo especial para se aprender a teacutecnica de captar uma
representaccedilatildeo simboacutelica linguagem falada para armazenamento a longo prazo fazendo uso correto de
siacutembolos e coacutedigos No entanto o autor explica que hoje a escrita eacute onipresente nos paiacuteses
industrializados estaacute nos livros jornais placas de ruas outdoors e embalagens de produtos Assim a
tecnologia da escrita eacute ubiacutequa e hoje natildeo mais exige atenccedilatildeo ativa agraves teacutecnicas como o faziam os
escribas que tinham tanto de fazer a tinta como assar a argila para realizar a escrita
O mundo conectado em redes
77
Neste sentido Weiser acreditava que a tecnologia da computaccedilatildeo assim como ocorreu com a
escrita atingiria um patamar que se tornariam parte integrante da vida das pessoas Os computadores
onipresentes adaptados a diferentes tarefas previstos no artigo de Weiser hoje satildeo uma realidade Um
exemplo real satildeo as casas inteligentes automatizadas programaacuteveis e conectadas a internet sem fios
que realizam controle de consumo de energia de aacutegua temperatura e umidade em tempo real via
smartphone cuja comercializaccedilatildeo jaacute eacute realizada
A ldquoComputaccedilatildeo calmardquo ou ldquocomputaccedilatildeo pervasivardquo constituem reconfiguraccedilotildees avanccediladas da
tecnologia em que os objetos inteligentes natildeo se tornaratildeo apenas miniaturizados mas parte integrante
do nosso corpo (Oliveira 2011) Outros termos utilizados na literatura para este fenocircmeno satildeo
ldquoInternet das Coisasrdquo (Internet Of Thing) web das coisas internet do futuro cidades inteligentes Leacutevy
(1996) na sua obra O que eacute virtual citava a ldquovirtualizaccedilatildeordquo como um fenocircmeno que reinventa a
cultura nocircmade agrave medida que permite novas interaccedilotildees sociais em que o sujeito se desterritorializa
torna-se ldquonatildeo presenterdquo como eacute o caso das comunidades virtuais que reuacutenem pessoas de diferentes
lugares do mundo distintas formaccedilotildees classe econocircmica e faixa etaacuteria que se unem em torno de um
objetivo em comum num grupo fechado A geografia natildeo eacute mais ponto de referecircncia para essas
comunidades Leacutevy (idem p 9) explica ldquoela vive sem referecircncia estaacutevel em toda parte onde se
encontrem seus membros moacuteveis ou em parte algumardquo Hoje as comunidades virtuais ainda existem
mas os sites blogs e paacuteginas pessoais canais no YouTube e outros aplicativos e programas permitem
que o usuaacuterio mesmo em movimento possa conectar postar viacutedeos produzir conteuacutedos fazer
negoacutecios conhecer novos lugares falar com outras pessoas se estiver conectado agrave internet Assim a
mobilidade natildeo ocorre apenas com as redes disponiacuteveis em todos os lugares mas dos usuaacuterios com
seus dispositivos moacuteveis circulando na rede transitando entre textos mapas lugares comunidades e
redes sociais
Neste cenaacuterio a informaccedilatildeo tambeacutem se desmaterializou Antes presente em suportes fiacutesicos
como livros madeira pedra argila hoje estaacute desmaterializada em impulsos eleacutetricos de caraacuteter digital
disponiacuteveis na rede da web (Santos 2002) O ciberespaccedilo hoje se potencializa com o fato dos
computadores ganharem mobilidade natildeo mais se encontram fixos presos a cabos de fios ligados
numa tomada e num modem em cima de uma mesa antes estatildeo cada vez miniaturizados em
celulares tablets reloacutegios e ateacute pulseiras que com acesso a uma rede wifi permitem que a pessoa se
comunique com algueacutem por chamada de viacutedeo localize-se por meio de GPS realize compras on-line
acesse seu banco e faccedila trabalhos colaborativos com auxiacutelio de especialistas ou mesmo acompanhe
O mundo conectado em redes
78
seus exames meacutedicos A possibilidade de produzir conteuacutedo para a web e a mobilidade (da rede e do
usuaacuterio) permitiu que de receptores passivos de informaccedilatildeo passamos a ser ldquointeragentesrdquo ativos no
ciberespaccedilo
A partir de entatildeo mudou a relaccedilatildeo do usuaacuterio da internet com a rede Leacutevy (1999) usou o
exemplo dos correios para exemplificar como um sistema de comunicaccedilatildeo passa a ser incorporado
pela sociedade a partir da sua significaccedilatildeo social O autor cita que o sistema dos correios jaacute existia haacute
seacuteculos nas cidades europeias na Idade Meacutedia e ateacute mais remotamente no Impeacuterio Chinecircs era um
meio de comunicaccedilatildeo entre os reis e nobres natildeo disponiacutevel ao povo Mas a verdadeira inovaccedilatildeo social
que afetou a relaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo entre as pessoas de acordo com Pierre Leacutevy foi no seacuteculo XVII
quando se passou a usar teacutecnica do correio ponto a ponto em que uma pessoa podia enviar uma
correspondecircncia para outra pessoa distante O autor explica os desdobramentos desta mudanccedila
Foi dessa forma que floresceram as correspondecircncias econocircmicas e administrativas a literatura epistolar a repuacuteblica europeacuteia dos espiacuteritos (rede de saacutebios de filoacutesofos) e as cartas de amor O correio como sistema social de comunicaccedilatildeo encontra-se intimamente ligado agrave ascensatildeo das ideacuteias e das praacuteticas que valorizam a liberdade de expressatildeo e a noccedilatildeo de livre contrato entre indiviacuteduos Podemos ver claramente nesse caso como uma infraestrutura de comunicaccedilatildeo pode ser investida por uma corrente cultural que vai no mesmo movimento transformar seu significado social e estimular sua evoluccedilatildeo teacutecnica e organizacional (Leacutevy 1999 p 125)
Assim os correios como infra-instrutura teacutecnica de comunicaccedilatildeo embora existissem haacute
seacuteculos ganharam popularidade quando se inovou sua praacutetica de correspondecircncia entre indiviacuteduos
que ao se apropriarem desta inovaccedilatildeo investiram significado social aproveitando de seus recursos para
difundir sua cultura pensamentos poliacuteticos relacionamentos romacircnticos e transaccedilotildees comerciais
Igualmente o ciberespaccedilo ganhou novos contornos com a popularizaccedilatildeo da internet e da mobilidade
promovida pelas redes e pelos dispositivos portaacuteteis moacuteveis
A relaccedilatildeo das pessoas com a internet muda agrave medida que eles fazem uso social das suas
aplicaccedilotildees A dependecircncia das pessoas por uma rede wifi quando estatildeo em lugares puacuteblicos eacute bem
visiacutevel No metrocirc no ocircnibus ou no aereoporto eacute dificil encontrar alguem que natildeo esteja com seu celular
conectado a uma rede moacutevel ou wifi E as pessoas estatildeo conectadas porque aquilo que acessam
interessa a elas Uns estatildeo falando em aplicativos de mensagens instantacircneas outros acessando
redes sociais lendo livros on-line vendo viacutedeos ou escutando muacutesicas O significado social da internet
na vida das pessoas alterou sua rotina diaacuteria ao ponto de que para muitos imaginar um mundo sem
internet eacute impossiacutevel
O mundo conectado em redes
79
Aleacutem destas tecnologias dos dispositivos moacuteveis conectados agrave internet existem as tecnologias
que se configuram por meio de objetos e equipamentos nos espaccedilos urbanos que Lemos (2009 p
91) chama de ldquomiacutedias locativas digitaisrdquo
Podemos definir as miacutedias locativas como dispositivos sensores e redes digitais sem fios e seus respectivos bancos de dados ldquoatentosrdquo a lugares e contextos Dizer que as miacutedias satildeo atentas a lugares e a contextos significa dizer que elas reagem informacionalmente aos mesmos sendo eles compostos por pessoas objetos eou informaccedilatildeo fixo ou em movimento
Um exemplo de miacutedias locativas digitais satildeo os aplicativos diponiacuteveis em um celular com
sistema de geolocalizaccedilatildeo que podem identificar um restaurante em local mais proacuteximo e por meio
de links disponibilizar a foto do lugar e dar acesso ao cardaacutepio no site do restaurante As miacutedias
locativas digitais nos centros urbanos agregam conteuacutedo digital e podem exercer a funccedilatildeo de
mapeamento vigilacircncia localizaccedilatildeo anotaccedilatildeo ou jogos Assim os objetos dialogam com os
dispositivos digitais (smatphones tablets palms e laptops) coletando e enviando dados numa relaccedilatildeo
hiacutebrida de download e upload transformando os espaccedilos urbanos em nuvem de dados Lemos (2009)
classifica as miacutedias locativas a partir de suas funccedilotildees realidade aumentada mapeamento e
monitoramento geotags e anotaccedilatildeo urbana O quadro abaixo especifica melhor cada uma
Quadro 2 - Classificaccedilatildeo das miacutedias locativas a partir de suas funccedilotildees
Realidade Moacutevel Aumentada As miacutedias locativas permitem que informaccedilotildees sobre uma determinada localidade sejam visualizadas em um dispositivo moacutevel ldquoaumentandordquo a informaccedilatildeo Exemplo O celular pode identificar restaurantes hoteacuteis marcas geograacuteficas e links na web sobre os lugares apontados ampliando assim a realidade informacional do lugar
Mapeamento e Monitoramento de Movimento
Funccedilotildees locativas aplicadas a formas de mapeamento (mapping) e de monitoramento do movimento (tracing) do espaccedilo urbano atraveacutes de dispositivos moveis Exemplo uso de celulares e GPS para criar mapas de caminhos realizados pela cidade
Geotags Tem o objetivo de agregar informaccedilatildeo digital em mapas podendo ser acessadas por dispositivos moacuteveis Exemplo No sistema de compartilhamento de fotos Flickr eacute possiacutevel a partir de geotags agregar informaccedilatildeo textuais a mapas (Google Earth ou Yahoo Maps) de localidades especiacuteficas
Anotaccedilotildees urbanas Possibilitam formas de apropriaccedilatildeo do espaccedilo urbano a partir de escritas eletrocircnicas Exemplo O projeto Undersound no metrocirc de Londres permite que usuaacuterios faccedilam uploads de muacutesicas para o sistema e possam baixar muacutesicas deixadas por outros usuaacuterios no metrocirc com identificaccedilatildeo das estaccedilotildees
Fonte adaptado de Lemos (2009)
Portanto neste cenaacuterio em que os recursos tecnoacuteloacutegicos se hibridizam as miacutedias locativas se
convertem em diferentes versotildees e funccedilotildees dependendo do uso que lhe satildeo conferidas
Segundo Santos (2014) em tempos de cibercultura ubiacutequa o conceito de mobilidade tambeacutem
se modificou Desde a invenccedilatildeo da imprensa os leitores podiam circular com seus livros nos espaccedilos
O mundo conectado em redes
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da cidade e isso tambeacutem ocorreu na ldquoera eletrocircnicardquo com a invenccedilatildeo das cacircmeras fotograacuteficas raacutedios
a pilha e walkmans que possibilitavam a mobilidade fisica dos usuaacuterios destas tecnologias Em tempos
de cibercultura avanccedilada Santos (idem p 32) ressalta ldquoa mobilidade ganha potecircncia por conta da
sua conexatildeo com o ciberespaccedilo Na era da mobilidade com conexotildees generalizadas em rede podemos
compartilhar e acessar simultaneamente vaacuterios lugaresrdquo Portanto a mobilidade natildeo se trata de
circular com os notebooks tablets e celulares pelos espaccedilos fiacutesicos mas aproveitar o potencial das
convergecircncias das miacutedias para circular no ciberespaccedilo com a capacidade de interagir ao mesmo
tempo em diferentes contextos lugares com diversas pessoas Santaella (2013 p 22) justifica que
nestes espaccedilos de hipermobilidade emergiu o ldquoleitor ubiacutequordquo descrito com uma prontidatildeo iacutempar de se
orientar entre noacutes e nexos de multimiacutedias sem perder a noccedilatildeo e o controle do espaccedilo fiacutesico a sua volta
A autora continua sua descriccedilatildeo
Ao mesmo tempo em que estaacute corporalmente presente perambulando e circulando pelos ambientes fiacutesicos ndash casa trabalho ruas parques avenidas estradas ndash lendo os sinais e signos que esses ambientes emitem sem interrupccedilatildeo esse leitor movente sem necessidade de mudar de marcha ou de lugar eacute tambeacutem um leitor imersivo Ao leve toque do seu dedo no celular em quaisquer circunstacircncias ele pode penetrar no ciberespaccedilo informacional assim como pode conversar silenciosamente com algueacutem ou com um grupo de pessoas a vinte centiacutemetros ou a continentes de distacircncia (idem p22)
Luacutecia Santaella afirma ainda que o perfil cognitivo do leitor ubiacutequo eacute resultante de processos de
transformaccedilotildees ocorridas na cultura digital desde a invenccedilatildeo da internet ateacute a Web 40 (uma web
ubiacutequa) que presenciamos a emergir nos dias atuais Na obra Navegar no Ciberespaccedilo O perfil
cognitivo do leitor imersivo (Santaella2004) com o objetivo de compreender o novo tipo de leitor que
emergiu com a expansatildeo das redes digitais de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo sistematizou os leitores em
trecircs grandes tipos O leitor contemplativo o leitor movente e o leitor imersivo O leitor contemplativo
constitui aquele proveniente da era preacute-industrial que fazia uso do livro impresso e da imagem fixa
Nasceu no periacuteodo do renascimento e foi ateacute meados do seacuteculo XIX O leitor movente presenciou a
explosatildeo do jornal fotografia cinema e a televisatildeo Eacute assim um telespectador de misturas de signos
linguagens e imagens em movimento O leitor imersivo eacute aquele que nasceu nos novos espaccedilos das
redes de computadores O perfil cognitivo deste leitor que navega em diversas telas e programas para
a autora muda significamente em relaccedilatildeo aos dois tipos de leitores anteriores
Cognitivamente em estado de prontidatildeo esse leitor conecta-se entre noacutes e nexos seguindo roteiros multilineares multissequenciais e labiriacutenticos que ele proacuteprio ajuda a construir ao interagir com os noacutes que transitam entre textos imagens documentaccedilatildeo muacutesicas (Santaella 2013 p 1)
O mundo conectado em redes
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Importante ressaltar que um perfil natildeo anulou o outro eles coexistem e se completam na
proporccedilatildeo que o usuaacuterio convive com as tecnologias e fazem uso delas
Santaella avanccedila a descriccedilatildeo dos tipos de leitores e descreve o leitor ubiacutequo Este herdou do
leitor imersivo a capacidade de ler e transitar entre diversos formatos de miacutedias nas telas dos ecratildes
mas avanccedila no sentido de que se libertou dos desktops modens e cabos de rede passando a acessar
o ciberespaccedilo com seus dispositivos moacuteveis a qualquer hora em qualquer lugar Sobre as habilidades
cognitivas adquiridas pelo leitor ubiacutequo nessa nova realidade em que a rede eacute onipresente a autora
escreveu
Natildeo haacute duacutevida de que a mente eacute distribuiacuteda capaz de processar paralela e conjuntamente informaccedilotildees de ordens diversas dando a elas igual magnitude tanto as informaccedilotildees que provecircm da situaccedilatildeo ao seu redor quanto aquelas miniaturizadas que estatildeo ao alcance dos dedos e que satildeo rastreadas com acuidade visual veloz e quase infaliacutevel como se os olhos adivinhassem antes de ver As accedilotildees reflexas do sistema nervoso central por sua vez ligam eletricamente o corpo ao ambiente tanto fiacutesico quanto ciber em igualdade de condiccedilotildees (Santaella 2010 p 9)
Observa-se portanto uma mudanccedila significativa na forma de viver e aprender dos usuaacuterios
frequentes de tecnologias No campo educacional o advento dos dispositivos moacuteveis e sua
popularizaccedilatildeo entre as pessoas intensificaram processos de aprendizagens abertos visto que o acesso
agrave informaccedilatildeo tornou-se livre e contiacutenuo
Neste sentido Santaella afirma que a era da mobilidade inaugurou um novo fenocircmeno a
aprendizagem uacutebiqua Esta natildeo deve ser confundida com a e-learning ou m-learning O e-learning
como jaacute abordado neste trabalho corresponde a aprendizagem mediada por computador em que os
conteuacutedos satildeo previamente organizados em um AVA ou site prevendo a aprendizagem ao passo que
o m-learning constitui uma extensatildeo da sala de aula em que os conteuacutedos satildeo previamente preparados
e disponibilizados em dispositivos moacuteveis A aprendizagem ubiacutequa natildeo eacute deliberada nem prescinde de
modelos educacionais preacutevios trata-se de ldquoum novo processo de aprendizagem sem ensinordquo segundo
Santaella (2013 p 26) Esta concepccedilatildeo de aprendizagem natildeo eacute recente Em 2004 George Siemens
pesquisador canadense propocircs a teoria do Conetivismo15 previu que com a expansatildeo das redes de
computadores ligados a internet a aprendizagem ocorreria de vaacuterias maneiras com destaque para a
15 O Conetivismo integra a teoria do caos a importacircncia das redes e os princiacutepios de auto-organizaccedilatildeo e da complexidade para explicar como ocorre a aprendizagem nos humanos Siemens refuta a ideia de que a aprendizagem seja um processo que ocorre internamente no indiviacuteduo para o autor a aprendizagem pode se encontrar presente em dispositivos ou aplicativos natildeo humanos (tecnologia) Com o advento da internet as informaccedilotildees passaram a ser disseminadas em alta escala e o conhecimento adquirido hoje fica obsoleto em pouco tempo Assim George Siemens aponta para a necessidade do indiviacuteduo criar e manter conexotildees para facilitar a aprendizagem contiacutenua (Siemens 2004)
O mundo conectado em redes
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aprendizagem informal atraveacutes de comunidades de praacutetica redes pessoais e tambeacutem atividades
relacionadas ao trabalho
Anderson e Dron (2011) descrevem o Conetivismo natildeo como uma teoria de aprendizagem
mas como teoria do conhecimento que sustenta a tese de que com a abundacircncia de informaccedilatildeo hoje
presente nas miacutedias boa parte do processamento mental do indiviacuteduo e da resoluccedilatildeo de problemas
pode ser descarregada em maacutequinas Assim a aprendizagem natildeo mais eacute idealizada como
memorizaccedilatildeo ou mesmo compreensatildeo de tudo mas um processo de construccedilatildeo e manutenccedilatildeo de
conexotildees em rede de especialista possibilitando que o aprendente seja capaz de encontrar e aplicar
conhecimento quando e onde for necessaacuterio
Natildeo obstante independente do nome ou designaccedilatildeo que se decirc a esse fenocircmeno
concordamos com Santos e Weber (2013 p 291) quando afirmam sobre os processos de ensino-
aprendizagem ubiacutequos ldquoo que observamos eacute uma mudanccedila nas funccedilotildees sociais de cada tecnologia
envolvida nos processos comunicacionais fazendo emergir praacuteticas sociais novas suscitando
mudanccedilas tambeacutem nos espaccedilos-tempos de aprendizagemrdquo Mais uma vez retomando ao trabalho de
Gomes (2008 p 181) sobre as geraccedilotildees da educaccedilatildeo a distacircncia vivemos no que a autora antevia
em 2008 como a sexta geraccedilatildeo caracterizada por ldquomundos virtuais e imersivosrdquo Segundo relatoacuterio
produzido pela UNESCO (Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo 2014) os dispositivos
moacuteveis seratildeo cada vez mais usados na educaccedilatildeo seja esta formal informal ou aprendizagem
contiacutenua A aprendizagem se tornaraacute cada vez mais independente de espaccedilos fiacutesicos e se tornaraacute
ubiacutequa ou onipresente
A evoluccedilatildeo da comunicaccedilatildeo e das tecnologias continuaraacute em escalas bem mais raacutepidas do que
as que ocorreram no passado e afetaratildeo ainda mais os processos educacionais Constituindo a sexta
reconfiguraccedilatildeo na ecologia comunicaccedilatildeoeducaccedilatildeo citada por Silva (2013) a aprendizagem ubiacutequa
natildeo substituiraacute a educaccedilatildeo formal informal e a natildeo formal assim como a internet natildeo substituiu o livro
impresso mas elas se completam e articulam entre si tendo em vista o novo perfil de leitores Acredita-
se em novos paradigmas no futuro das tecnologias de comunicaccedilatildeo e da educaccedilatildeo como expressou
Bauman (2011 p 25) na sua obra 44 cartas do mundo liacutequido e moderno
A educaccedilatildeo assumiu muitas formas no passado e se demonstrou capaz de adaptar-se agrave mudanccedila das circunstacircncias de definir novos objetivos e elaborar novas estrateacutegias Mas permitam-me repetir a mudanccedila atual natildeo eacute igual agraves que se verificaram no passado Em nenhum momento crucial da histoacuteria da humanidade os educadores enfrentaram desafio comparaacutevel ao divisor de aacuteguas que hoje nos eacute
O mundo conectado em redes
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apresentado A verdade eacute que noacutes nunca estivemos antes nessa situaccedilatildeo Ainda eacute preciso aprender a arte de viver num mundo saturado de informaccedilotildees E tambeacutem a arte mais difiacutecil e fascinante de preparar seres humanos para essa vida
Por conseguinte estaacute em curso um paradigma impar na histoacuteria da humanidade Urge
portanto uma mudanccedila de paradigma sobre as competecircncias e habilidades necessaacuterias aos jovens
no atual cenaacuterio O modelo vertical em que a escola exerce relaccedilatildeo de poder e eacute portadora do
saber natildeo funciona mais no contexto da difusatildeo das tecnologias digitais Leacutevy (2015 p 1) fez
uma anaacutelise recente do cenaacuterio mundial conectado em redes
Estamos apenas no comeccedilo da revoluccedilatildeo do meio do algoritmo Nas proacuteximas deacutecadas acompanharemos vaacuterias mutaccedilotildees A computaccedilatildeo ubiacutequa que jaacute faz parte da nossa paisagem vai se generalizar fazendo com que a maioria esteja permanentemente conectada O acesso agrave anaacutelise de grandes quantidades de dados hoje nas matildeos de governos e de grandes empresas vai se democratizar Teremos cada vez mais imagens de nosso funcionamento coletivo em tempo real [] A esfera puacuteblica seraacute internacional e se organizaraacute por nuvens semacircnticas nas redes sociais
O autor analisa que os dispositivos moacuteveis de todos os tipos os computadores robocircs data-
centers tudo que eacute fiacutesico e localizado seratildeo dependentes das ldquonuvensrdquo que abrigam os dados e
informaccedilotildees da rede Leacutevy cita a ldquomemoacuteria coletivardquo disponiacutevel na rede como uma oportunidade de
aprendizagem em sistema de cooperaccedilatildeo com acesso universal a informaccedilatildeo e dados O autor finaliza
apresentando um desafio aos educadores
Eacute preciso ensinar a estabelecer prioridades a atrair a atenccedilatildeo a fazer uma escolha justa e uma anaacutelise criacutetica das fontes agraves quais nos conectamos Temos de prestar atenccedilatildeo na cultura daqueles com quem nos conectamos e precisamos aprender a identificar as narrativas feitas e as suas contradiccedilotildees (idem p 1)
Assim a literacia digital ganha novos contornos em tempos de cibercultura trata-se de usar as
redes com responsabilidade e criticidade No entanto a escola na sua forma tradicional ainda resiste
aos novos padrotildees impostos pelo paradigma tecnoloacutegico vigente
Sobre o modelo tradicional de escola Silva (2008 p 782) reflete que a ldquosociedade moderna
construiu uma escola imbuiacuteda na concepccedilatildeo elitista incorporando os seus traccedilos mais intriacutensecos o
formalismo o intelectualismo e o enciclopedismordquo E este modelo persiste ateacute os dias de hoje mesmo
com as mudanccedilas visiacuteveis na sociedade em funccedilatildeo dos avanccedilos tecnoloacutegicos Alvin Toffler escritor e
futurista norte-americano conhecido pelos seus escritos sobre a revoluccedilatildeo digital e comunicacional
analisa que o modelo de escola implementado no periacuteodo da Revoluccedilatildeo Industrial em salas de aulas
com disciplina coletiva atividades repetitivas e com amplo grau de concentraccedilatildeo e silecircncio servia para
O mundo conectado em redes
84
preparar estes alunos para o mundo da faacutebrica regido pelo apito e pelo reloacutegio Em 1970 Toffler na
sua obra Choque de Futuro jaacute refletia sobre os efeitos dos avanccedilos tecnoloacutegicos sobre a sociedade do
seacuteculo XXI
No mundo de amanhatilde os atributos mais apreciados da era industrial tornar-se-atildeo desvantagens A tecnologia de amanhatilde natildeo precisa de milhotildees de homens pouco letrados capazes de trabalhar em uniacutessono em tarefas irremediavelmente repetitivas nem de homens que obedeccedilam sem pestanejar agraves ordens recebidas conscientes de que o preccedilo do seu patildeo eacute a obediecircncia maquinal agrave autoridade A tecnologia de amanhatilde precisa de homens capazes de julgar e decidir criteriosamente de abrir o seu caminho em ambientes novos de acompanhar a transformaccedilatildeo raacutepida e constante da realidade (Toffler 1970 p 396)
Assim o autor previa que o modelo educacional da era industrial seria obsoleto no futuro
Portanto haacute de se repensar sobre o modelo de escola a ser construiacutedo neste cenaacuterio de tecnologias e
tambeacutem na formaccedilatildeo dos professores aptos para lidar com a presenccedila destas no cotidiano dos alunos
O capiacutetulo 3 desta tese apresenta os desafios dos professores na sociedade em rede e o papel dos
cursos de formaccedilatildeo na preparaccedilatildeo destes para lidarem com os jovens cada vez mais conectados agraves
redes de comunicaccedilatildeo ubiacutequa A proacutexima seccedilatildeo deste capiacutetulo aprofunda a discussatildeo sobre o perfil dos
usuaacuterios da internet e as implicaccedilotildees da presenccedila crescente das tecnologias no processo educativo
13 O perfil dos usuaacuterios da internet
Joatildeo nasceu em 2004 e seus pais jaacute tinham aparelhos celulares e computadores com
acesso a internet Joatildeo cresceu sorrindo para cacircmeras digitais e aprendeu a manipulaacute-las
para tirar suas proacuteprias fotografias Os aparelhos celulares de seus pais foram ficando
modernos e Joatildeo gostava dos joguinhos disponiacuteveis neles Quando tinha 7 anos ele
pediu a sua matildee que criasse uma conta numa rede social para ele conversar com
amiguinhos Joatildeo passou a jogar no computador e nos celulares que tinha na sua casa
Hoje Joatildeo tem 13 anos e ouve muacutesica enquanto joga acessa redes sociais conversa com
colegas de outros paiacuteses usando o tradutor assiste viacutedeos sobre os macetes dos jogos
busca no Google termos que natildeo entende tira fotos no celular e as edita no computador
criou seu proacuteprio canal no Youtube grava viacutedeos sobre jogos e os publica na rede16
16 Relato da vida real que exemplifica um nativo digital no seacuteculo XXI redigido pela observaccedilatildeo de um jovem com 11 anos de idade
O mundo conectado em redes
85
Esta passagem eacute um relato de vida real de um jovem nativo digital Com efeito no presente
momento deste relato (2015) o perfil de crianccedilas e adolescentes como o Joatildeo eacute cada vez mais
comum Michael Serres (2013) filoacutesofo francecircs na sua obra A Polegarzinha descreve o perfil do
indiviacuteduo inserido no mundo digital O autor usou a expressatildeo ldquoPolegarzinhardquo para retratar a agilidade
dos dedos das crianccedilas e jovens quando utilizam seus dispositivos moacuteveis para acessar a internet e os
conhecimentos que ali se encontram disponiacuteveis Eles manipulam inuacutemeras informaccedilotildees ao mesmo
tempo e em qualquer lugar ldquopor celular tem acesso a todas as pessoas por GPS a todos os lugares
pela internet a todo saberrdquo (idem p 19) As mudanccedilas ocorridas nesta geraccedilatildeo de ldquodedos velozesrdquo
natildeo satildeo apenas nas habilidades com o uso dos celulares e tablets conectados agrave internet Serres cita a
mudanccedila na constituiccedilatildeo familiar no aumento da expectativa de vida na convivecircncia cotidiana com a
pluralidade religiosa cultural e eacutetnica e na informaccedilatildeo baseada na miacutedia como elementos constitutivos
deste novo ser que tem mente mais vazia por confiar o depoacutesito das informaccedilotildees que precisa nos
dispositivos tecnoloacutegicos Citando a obra de Serres Caldeira (2014 p 188) explica esse fenocircmeno
O saber aquilo que deveriacuteamos ensinar para elesas tinha como suporte a escrita os livros Agora com a internet ele estaacute disponiacutevel a todosas em todo lugar O antigo espaccedilo de concentraccedilatildeo do saber se dilui Ningueacutem precisa deslocar-se para aprender alguma coisa Diante disso sentimos ser necessaacuteria uma mudanccedila no ensino tal como os gregos precisaram criar a Pedagogia quando da invenccedilatildeo da escrita Afinal ao polegarzinhao tecircm sua cabeccedila fora de seu corpo o computador funciona como uma cabeccedila bem cheia na qual eacute possiacutevel acessar a qualquer informaccedilatildeo Elea natildeo mais precisa do saber transmitido Se a cabeccedila das geraccedilotildees anteriores servia para acumular saberes hoje haacute um vaacutecuo no lugar dessa cabeccedila no qual eacute possiacutevel criar e inventar
Sobre este aspecto jaacute citamos Castells (2014) sobre a disponibilidade das informaccedilotildees na
internet 97 da informaccedilatildeo mundial estatildeo digitalizadas e 80 estatildeo disponiacuteveis na internet O que
falta aos jovens segundo o autor natildeo satildeo informaccedilotildees mas criteacuterios para buscaacute-las e combinaacute-las
com projetos intelectuais As redes de comunicaccedilatildeo digital satildeo atualmente a ldquoBiblioteca de
Alexandriardquo que entre os seacuteculos III aC e IV dC continha praticamente todo o saber da Antiguidade
em cerca de 700 mil rolos de papiro e pergaminhos Leacutevy (2015) analisa que o acesso imediato a
dicionaacuterios enciclopeacutedias livros viacutedeos educativos e outros dispositivos fornece ao usuaacuterio da internet
acesso agraves imensas bibliotecas do mundo Eacute possiacutevel ser assinante de sites especializados e contar
com a ajuda de redes de pessoas com assuntos de interesse em comum constituindo um saber
colaborativo Neste sentido o usuaacuterio da internet tem diante de si um universo abundante de
informaccedilatildeo nunca antes disponibilizado na histoacuteria da humanidade basta-lhe apenas a capacidade de
buscar filtrar analisar e fazer conexotildees criacuteticas com os saberes que jaacute possui Possuir ldquoa cabeccedila fora
O mundo conectado em redes
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do corpordquo implica em buscar as informaccedilotildees sem necessidade de memorizaacute-las como na eacutepoca do
ensino pela oralidade Na analogia de Serres seria o mundo nas matildeos destes seres conectados agrave
internet
Muito se produziu na literatura sobre o fenocircmeno do uso exacerbado das miacutedias digitais pelas
geraccedilotildees mais jovens o que gerou diferentes roacutetulos ou estereoacutetipos para os usuaacuterios destas
tecnologias Geraccedilatildeo Net (Tapscott 1998) nativos digitais versus imigrantes digitais (Prensky 2001)
residentes versus visitantes (White e Cornu 2011) Geraccedilotildees X Y e Z (Tapscott e Williams 2007)
caldeiratildeo digital (Stoerger 2009) Milennials (Howe e Strauss 2000) e mais recentemente homo
sapiens digital (Prensky 2009) e Homo zappiens (Veen e Vrakking 2009) dentre outros Tapscott
(1998) e Prensky (2001) tomaram uma perspectiva geracional e definiram os usuaacuterios das TDIC por
data de nascimento Apresentamos a seguir uma breve descriccedilatildeo de algumas terminologias mais
conhecidas para o perfil de usuaacuterio das TDIC
131 A Geraccedilatildeo Net
A expressatildeo Geraccedilatildeo Net foi usada pela primeira vez por Tapscott (1998) e refere-se a crianccedilas
nascidas depois do ano de 1985 do seacuteculo passado Nesta altura a utilizaccedilatildeo da internet estava
apenas emergindo como um fenocircmeno mundial A principal premissa da teoria da Geraccedilatildeo Net eacute a
familiaridade Para Tapscott as crianccedilas nascidas nessa geraccedilatildeo natildeo tecircm medo de tecnologias
adquirem naturalmente as habilidades necessaacuterias para usar as informaccedilotildees coletadas na rede e
usam os recursos digitais como se a tecnologia fosse parte do seu cotidiano e da paisagem que os
rodeia (Combes B 2009) Seguidores desta teoria descrevem os pertencentes agrave Geraccedilatildeo Net como
indiviacuteduos com maior acesso agrave internet e recursos eletrocircnicos o que confere a esta geraccedilatildeo uma base
de conhecimento maior que possibilita maior independecircncia e capacidade de questionar e confrontar
informaccedilotildees Afirmam que por intuiccedilatildeo os membros da geraccedilatildeo net satildeo comunicadores visuais por
excelecircncia tecircm fortes habilidades visuais-espaciais e facilidade de integrar o mundo fiacutesico com o virtual
(Oblinger e Oblinger 2005) Satildeo considerados aprendizes exploradores que retecircm as informaccedilotildees
descobertas e as usam de forma inovadora
Para Tapscott (1998) a Geraccedilatildeo Net estaacute reconfigurando a forma de trabalho tornando-a mais
colaborativa quebrando a hierarquia riacutegida das organizaccedilotildees forccedilando-as a repensarem outras formas
de recrutar desenvolver e supervisionar talentos O autor cita a mudanccedila no perfil dos consumidores
desta geraccedilatildeo exigem produtos melhores reclamam na rede quando natildeo estatildeo satisfeitos e avaliam os
O mundo conectado em redes
87
produtos e lojas compartilhando informaccedilotildees uacuteteis a outros consumidores Na famiacutelia satildeo especialistas
em internet e ajudam os pais e outros parentes mais velhos a usar os dispositivos tecnoloacutegicos
Tapscott conclui que a Geraccedilatildeo Net estaacute transformando a maneira como os serviccedilos do governo satildeo
concebidos e estaacute produzindo cidadatildeos mais engajados civicamente promovendo um poderoso
ativismo social
132 Os Nativos e imigrantes digitais
Prensky (2001) ao chamar a Geraccedilatildeo Net de ldquonativos digitaisrdquo faz analogia da linguagem
digital como se fosse um segundo idioma que o indiviacuteduo tem que aprender ao imigrar para um paiacutes
estrangeiro Assim para o autor os indiviacuteduos podem ser ldquonativos digitaisrdquo ou ldquoimigrantes digitaisrdquo
Segundo Prensky (2001) os nativos digitais satildeo definidos como os indiviacuteduos que nasceram entre
1980 e 1994 Estes satildeo portanto os jovens adultos que ldquonasceram no mundo digitalrdquo e cresceram
usando a internet e satildeo acostumados a obter informaccedilotildees de forma raacutepida e interagem diversas miacutedias
ao mesmo tempo em funccedilatildeo do contato diaacuterio e contiacutenuo com computadores viacutedeo game aacuteudio e
viacutedeo digital desde quando eram crianccedilas Nesta analogia estes jovens pensam e processam
informaccedilotildees de forma diferentes dos seus pais de uma geraccedilatildeo anterior
Por outro lado a geraccedilatildeo que nasceu no periacuteodo anterior a 1980 o autor a classifica como
imigrantes digitais Estes precisam aprender a linguagem digital para natildeo se sentirem marginalizados
ou inferiorizados em relaccedilatildeo aos nativos Prensky afirma ainda que mesmo que os imigrantes digitais
aprendam a linguagem digital eles ainda manifestam um certo ldquosotaquerdquo que pode ser observado
quando usam as tecnologias um exemplo seria o haacutebito destes que ao comprar um item buscam
informaccedilotildees de seu uso em manuais impressos e soacute em uacuteltimo caso recorrem a internet
133 As Geraccedilotildees X Y Z
Na mesma linha de divisatildeo por geraccedilotildees Tapscott e Wilians (2007) detalhando sobre a
Geraccedilatildeo Net sub-dividem os indiviacuteduos em geraccedilotildees subdivindo-os e classificando-os por letras do
alfabeto Satildeo a Geraccedilatildeo X (nascidos entre 1965 e 1976) Geraccedilatildeo Y (nascidos entre 1977 e 1997) e
Geraccedilatildeo Z (nascidos apoacutes 1998 ateacute os dias atuais) A Geraccedilatildeo X foi marcada principalmente por
vivenciar a tensatildeo e o fim da guerra fria e hoje correspondem aos adultos com meacutedia de 40 anos de
idade Considerando que naquele periacuteodo os aparelhos voltados aacutes miacutedias como o computador ainda
estavam em aprimoramento e natildeo era algo comum para a populaccedilatildeo os da geraccedilatildeo X caracterizam-se
pela sua capacidade de incorporar informaccedilotildees rapidamente e se adaptarem Constitui na visatildeo dos
O mundo conectado em redes
88
autores a geraccedilatildeo que viveu a chegada dos jogos de viacutedeo a televisatildeo a cabo e via sateacutelite e do viacutedeo
cassete (aparelho que permitia assistir filmes locados em casa)
A Geraccedilatildeo Y eacute classificada por Tapscott e Wilians (idem p29) como a geraccedilatildeo que vivenciou a
ascensatildeo exponencial do computador pessoal da internet e criaccedilatildeo de comunidades e redes sociais
Os autores argumentam ldquoenquanto as crianccedilas da Geraccedilatildeo Internet assimilaram a tecnologias porque
cresceram com ela noacutes como adultos tivemos de nos adaptar a ela ndash um tipo diferente e muito mais
difiacutecil de processo de aprendizadordquo Assim como a Geraccedilatildeo X os da Geraccedilatildeo Y tiveram que assimilar o
uso das tecnologias no seu cotidiano No entanto mesclam a miacutedia impressa com a eletrocircnica satildeo
mais seletivos no uso das TDIC prezam a seguranccedila na internet tomando precauccedilotildees no uso de
senhas e compras eletrocircnicas Usam a internet para fins praacuteticos como estudo busca de informaccedilatildeo
pagamento de contas entretenimento e outras atividades (Oliveira 2009)
No entanto Tapscott e Wilians (2007) avanccedilam na descriccedilatildeo das geraccedilotildees e apresenta a
Geraccedilatildeo Z tambeacutem conhecida como Geraccedilatildeo Next Nascida apoacutes 1998 presenciaram a inserccedilatildeo de
diversos aplicativos de miacutedias como o YouTube (2005) My Space (2003) Twitter (2003) e ainda redes
sociais como o Orkut (2004) Facebook (2006) Linkedin (2003) entre outros A geraccedilatildeo Z
acompanhou o boom do uso de celulares smartphones e tablets com acesso a internet O conceito de
Geraccedilatildeo Z propagado por Tapscott e Wilians tem similaridades com os nativos digitais de Prensky
Ambas as geraccedilotildees satildeo caracterizadas por terem crescido em um mundo digital e que estatildeo desde
sempre familiarizados com as parafernaacutelias das TDIC como dispositivos moacuteveis de comunicaccedilatildeo em
tempo real tocadores de muacutesicas e de viacutedeos comunidades e redes virtuais
134 Os residentes e os visitantes
White e Cornu (2011) propotildeem uma metaacutefora baseada na analogia da ferramenta espaccedilo e
lugar para descreverem os usuaacuterios das tecnologias desconstruindo a ideia de geraccedilatildeo de Prensky e
Tapscott White e Cornu argumentam que a natureza virtual da web proporciona aos seus usuaacuterios
estarem ldquopresentesrdquo em diferentes lugares ao mesmo tempo e que assim como os locais fiacutesicos em
que eacute possiacutevel percorrer ou navegar os softwares satildeo criados para navegabilidade em plataformas e
atraveacutes de ferramentas como redes sociais e foacuteruns proporcionam encontros virtuais entre os
indiviacuteduos Portanto os autores classificam os usuaacuterios das TDIC natildeo em funccedilatildeo do periacuteodo de
nascimento mas do perfil de utilizaccedilatildeo das ferramentas e das formas de acesso no espaccedilo virtual
Nessa classificaccedilatildeo os usuaacuterios da internet satildeo classificados como ldquovisitantesrdquo ou ldquoresidentesrdquo O
O mundo conectado em redes
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visitante utiliza a internet para resolver questotildees praacuteticas e se desconectam evitando deixar uma
identidade digital Natildeo satildeo utilizadores intensivos das aplicaccedilotildees da internet nem participam de redes
sociais porque natildeo sentem necessidade de pertencer a este espaccedilo Para os autores os utilizadores
apenas utilizam as ferramentas que lhe satildeo uacuteteis durante o tempo e espaccedilo necessaacuterio e ldquosaemrdquo da
internet como se fossem apenas visitantes deste espaccedilo
Os residentes por sua vez na classificaccedilatildeo de White e Cornu (2011) vivem uma parte
significativa do seu tempo conectados Usam a internet natildeo apenas para realizar serviccedilos praacuteticos
como atividades bancaacuterias compras ou pesquisa eles vecircem a web como um espaccedilo para expressar
sua opiniatildeo Os residentes utilizam as ferramentas da web como parte integrante de suas vidas para
eles a internet e todos os aparelhos conectados a ela satildeo cruciais no seu dia-dia No entanto White e
Cornu explicam que a analogia de tempo e espaccedilo permite que os indiviacuteduos transitem da posiccedilatildeo de
residentes para visitantes e vice e versa sem rotulaacute-los
135 O Caldeiratildeo digital
Stoerger (2009) com o objetivo de refutar a tese dos nativos e imigrantes digitais de Prensky
propotildee a analogia do ldquocaldeiratildeo digitalrdquo Esta proposta segundo a autora em vez de segregar os
indiviacuteduos em categorias segundo suas habilidades ou falta dela constitui o lugar em que todos os
indiviacuteduos incluindo os com baixo niacutevel de competecircncia ou experiecircncia em tecnologia possuem
possibilidades sem barreiras daiacute a expressatildeo ldquocaldeiratildeo digitalrdquo Stoerger afirma ainda que o caldeiratildeo
digital pode ser a ponte entre as duas culturas (nativos e imigrantes) o que significa que com
capacitaccedilatildeo e ganho de experiecircncia eacute possiacutevel que um imigrante possua as mesmas habilidades do
nativo digital A autora considera que as instituiccedilotildees de educaccedilatildeo tecircm um importante papel no tocante
a fornecer a todos os indiviacuteduos a oportunidade de adquirirem aperfeiccediloarem e atualizarem
conhecimentos tecnoloacutegicos
136 O homo zappiens
O homo zappiens eacute outro roacutetulo para os usuaacuterios especializados em tecnologia O termo foi
utilizado pelo professor Wim Veen da Universidade de tecnologia de Delft na Holanda e Bem
Vrakking aluno e pesquisador de poacutes-graduaccedilatildeo em Engenharia de Sistemas Para os autores a
expressatildeo homo zappiens diz respeito agrave geraccedilatildeo emergente confrontada pela globalizaccedilatildeo que
conectada agrave rede processa uma sobrecarga de informaccedilatildeo procedente de diversas miacutedias e tecnologias
(Veen e Vrakking 2009)
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Para os autores trecircs aparelhos tiveram grande importacircncia a influenciar estes indiviacuteduos o
controle remoto o mouse do computador e o telefone celular De posse do controle remoto as
crianccedilas aprendem precocemente a ldquozappearrdquo por vaacuterios canais de TV e interpretar imagens antes
mesmo de aprenderem a ler Com o mouse do computador navegam em vaacuterios sites da internet
clicam em iacutecones abrem e fecham janelas fazem buscas de palavras desconhecidas assistem viacutedeos
jogam e conversam com outros jovens em redes sociais E com o aparelho celular conectado agrave internet
acessam agrave rede em qualquer lugar ouvem muacutesicas jogam enquanto digitam mensagens e enviam
fotos nos aplicativos de mensagem instantacircnea Veen e Vrakking (2011 p 2) descrevem a diferenccedila
destes com as geraccedilotildees anteriores
O Homo zappiens vive em um mundo cujos recursos de informaccedilatildeo satildeo muito ricos Ele adotou o computador e a tecnologia tal como as antigas geraccedilotildees fizeram com a eletricidade a informaccedilatildeo e a tecnologia da informaccedilatildeo tornaram-se parte integrante de sua vida As geraccedilotildees anteriores consideravam a tecnologia como cacircmeras de viacutedeo e aparelhos eletrocircnicos algo difiacutecil de dominar O Homo zappiens poreacutem trata a tecnologia como um amigo e quando um novo aparelho surge no mercado pergunta por seu funcionamento e quer entender como tal aparelho poderia ajudaacute-lo em seu cotidiano Para ele o principal criteacuterio para adotar a tecnologia natildeo eacute o fato de o software ou programa ter boa usabilidade mas o fato de dar conta ou natildeo de suas exigecircncias e necessidades
Assim para esses indiviacuteduos a tecnologia faz parte do seu cotidiano e natildeo pensam nelas como
aparelhos dos quais devem aprender a usar eles primeiro os usam e aprendem a utilizaacute-los com a
experiecircncia Os autores concluem que os recursos tecnoloacutegicos disponiacuteveis fornecem ao usuaacuterio o
controle de uma ampla variedade de informaccedilotildees O simples apertar de um botatildeo pode ativar acessar
navegar interromper o uso destes recursos Teoricamente o usuaacuterio teria o poder e controle de
decisatildeo sobre qual informaccedilatildeo escolher com eficiecircncia e utilizaacute-la para seu benefiacutecio
137 O Homo Sapiens Digitalis
Mais recentemente Marc Prensky reformulou sua teoria sobre os nativos digitais Da analogia
do idioma o autor parte para a analogia da evoluccedilatildeo das espeacutecies No artigo Homo Sapiens Digital
From Digital Immigrants and Digital Natives to Digital Wisdom Presnky (2009) explica que agrave medida
que todos vatildeo crescendo na era da tecnologia digital a distinccedilatildeo entre nativos e imigrantes digitais fica
menos relevante O autor sugere pensar em termos de ldquoSabedoria digitalrdquo Neste sentido Presnky
explica que este se trata de um conceito duplo pode ser referindo aacute sabedoria decorrente da utilizaccedilatildeo
da tecnologia digital para acessar o poder cognitivo aleacutem da nossa capacidade inata ou agrave sabedoria na
utilizaccedilatildeo prudente da tecnologia para melhorar nossas habilidades Prensky atenta para o fato de que
O mundo conectado em redes
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com as informaccedilotildees cada vez mais disponiacuteveis na rede acessaacute-las natildeo seraacute o principal desafio deste
seacuteculo XXI mas o que as pessoas vatildeo fazer com esses recursos Na visatildeo do autor as tecnologias
proporcionam aprimoramento das habilidades humanas e o Homo Sapiens Digitalis seria o ser que
evoluiu no uso saacutebio das tecnologias para seu benefiacutecio proacuteprio
Esta designaccedilatildeo natildeo se trata de um neologismo de Prensky visto que ainda no seacuteculo
passado Joseacute Terceiro (1996) na obra Sociedade digital ndash do Homo Sapiens ao Homo Digitalis jaacute
previa que no ano 2000 o homem comeccedilaria a deixar de ser homo sapiens para ser homo digitalis
Mas como presenciou o avanccedilo das tecnologias de 1996 para os dias atuais Presnky avanccedila na
discussatildeo de que o homo digitallis sabe mais do que manipular a tecnologia com facilidade eacute capaz
de tomar decisotildees mais saacutebias com o reforccedilo das tecnologias nos campos da poliacutetica economia
educaccedilatildeo artes e outras aacutereas O autor aponta para o futuro em que chips digitais de aprimoramento
seratildeo implantados nos nossos filhos e netos potencializando a capacidade de manipulaccedilatildeo e
gerenciamento de informaccedilotildees para tomada de decisotildees acertadas As questotildees satildeo estatildeo todos
humanos evoluindo para essa situaccedilatildeo E acrescentamos noacutes quereratildeo evoluir para essa situaccedilatildeo
De quem depende a evoluccedilatildeo futura do ser humano A quem pertence o futuro Entendemos que
nestes assuntos a decisatildeo natildeo cabe apenas aos poliacuteticos e aos cientistas da tecnologia devendo os
cidadatildeos do seacuteculo XXI ter uma palavra a dizer sobre o seu futuro e o futuro da humanidade
138 Controveacutersias sobre o perfil do usuaacuterio da internet
Haacute uma linha de teoacutericos que argumentam contra a existecircncia de uma ldquogeraccedilatildeordquo de nativos
digitais ou geraccedilatildeo Net evoluiacuteda e altamente especializada na internet (Bennett Maton e Kervin
2008 Combes 2009 Lage e Dias 2012 Brown e Czerniewicz 2010) Estes teoacutericos afirmam que
embora existam jovens altamente engajados com as tecnologias este grupo eacute minoritaacuterio dentro do
universo de todos jovens do mundo Benett Maton e Kervin (2008) citam estudo realizado em larga
escala com 4374 estudantes nos Estados Unidos onde constatou-se que embora a maioria
possuiacutesse computadores pessoais e telefones celulares o uso mais comum pelos jovens era a
navegaccedilatildeo em redes sociais processadores de texto sites de buscas e email Apenas uma pequena
proporccedilatildeo dos entrevistados (cerca de 21) estavam envolvidos na criaccedilatildeo do proacuteprio conteuacutedo e
multimiacutedias para a Web
Outro estudo citado pelos autores realizado na Austraacutelia com estudantes universitaacuterios
tambeacutem revelou que apesar dos estudantes estarem usando uma ampla gama de tecnologias no seu
O mundo conectado em redes
92
cotidiano existem aacutereas onde o uso e a familiaridade com as ferramentas tecnoloacutegicas estatildeo longe de
serem universais Bennett et al (2008) afirmam que existe em maior escala jovens que natildeo tecircm as
habilidades e competecircncias para o uso criacutetico das miacutedias do que os jovens ldquonativos digitaisrdquo Os
autores chamam a atenccedilatildeo para o perigo das generalizaccedilotildees designando toda uma geraccedilatildeo nascida a
partir de uma data como pessoas altamente especializadas no uso da internet o que poderia levar aos
formuladores de poliacuteticas puacuteblicas negligenciarem um largo contingente de pessoas que mesmo
nascidas no periacuteodo de boom das tecnologias continuam agrave margem delas e natildeo possuem habilidades
e competecircncias para seu uso em benefiacutecio proacuteprio
Na anaacutelise de Combes (2009) a teoria da Geraccedilatildeo Net ou Geraccedilatildeo Y de que os indiviacuteduos
nascidos depois de 1985 tecircm uma compreensatildeo em profundidade e quase um conhecimento intuitivo
de como usar a tecnologia simplesmente porque eles natildeo conheceram o mundo sem internet natildeo
tem base empiacuterica e teoacuterica Na sua pesquisa de doutorado a autora realizou estudo com 533 alunos
do primeiro ano do ensino meacutedio (entre 18 e 22 anos) de duas universidades A primeira fase da
pesquisa consistiu num inqueacuterito com perguntas para determinar os niacuteveis de confianccedila e o uso da
tecnologia dos participantes A terceira fase do estudo incluiu entrevista semiestruturada com 40
estudantes que se destacaram com uma gama de atributos da Geraccedilatildeo Net Os mesmos foram
convidados a realizar duas tarefas uma informal em que o participante deveria coletar dados e
informaccedilotildees na Web para uma viagem de feacuterias e outra acadecircmica em que o participante deveria
buscar informaccedilotildees na rede interpretaacute-las e preparar uma apresentaccedilatildeo Ao observar os participantes
realizarem as atividades a autora constatou que estes se mostraram bastante confiantes realizaram
multitarefas mas eram dependentes de motores de buscas e natildeo iam aleacutem do primeiro resultado que
encontravam na sua pesquisa Na pesquisa acadecircmica natildeo consultaram bibliotecas digitais
especializadas e a maioria usou apenas a Wikipeacutedia
Combes observou entatildeo que a confianccedila dos participantes nos motores de busca leva a uma
suposiccedilatildeo de autoridade Se o resultado do motor de busca eacute relevante agrave pesquisa eles consideram ter
informaccedilotildees fidedignas e confiaacuteveis caso contraacuterio se os participantes natildeo encontram nada depois de
vaacuterias pesquisas concluem que a informaccedilatildeo natildeo estaacute disponiacutevel e natildeo que eles falharam em a
encontrar Em siacutentese a tese de Combes (2009) concluiu que os altos niacuteveis de confianccedila e a falta de
compreensatildeo de como funciona a web por parte desta pressuposta Geraccedilatildeo Net demonstra que os
jovens natildeo conseguem perceber as limitaccedilotildees de suas habilidades tecircm baixa literacia digital
dependem de motores de buscas e confiam nos primeiros resultados encontrados nas pesquisas
O mundo conectado em redes
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Igualmente Lage e Dias (2012) apontam para estudos realizados em amostras alargadas da
populaccedilatildeo europeia que revelam a fragilidade das habilidades e competecircncias destes jovens em
relaccedilatildeo ao manuseio das TDIC As autoras citam um estudo publicado em 2008 (Google Generation
Project) realizado pela University College of London em que se desmitificou a aparente familiaridade
com computadores da ldquogeraccedilatildeo googlerdquo realccedilando a sua dependecircncia dos motores de busca e a baixa
capacidade analiacutetica criacutetica de avaliaccedilatildeo das fontes de informaccedilatildeo Lage e Dias (2012 p 7) analisam o
perfil destes jovens
Os estudantes natildeo valorizam suficientemente as questotildees de relevacircncia e pertinecircncia da fonte mesmo no ensino superior selecionando na sua maioria as primeiras soluccedilotildees apresentadas tendo preferecircncia em textos resumidos Preferem utilizar plataformas interativas de informaccedilatildeo em vez de consumo passivo dos dados e utilizam com frequecircncia o ldquocopypasterdquo sem referenciar as fontes revelando alguma incapacidade em interpretar corretamente referecircncias bibliograacuteficas
Portanto eacute precipitado presumir que o jovem conectado na internet atraveacutes de tablets
smartphones notebook ou outros dispositivos sejam ldquonativosrdquo ldquoresidentesrdquo ou das geraccedilotildees XYZ
possuam habilidades excepcionais no uso das TDIC Lage e Dias (idem p 7) concluem ldquoas pessoas
passaram utilizar a Web de forma natural pois foram alfabetizadas digitalmenterdquo mas natildeo sabem
organizar as pesquisas e utilizar as informaccedilotildees obtidas Tambeacutem Demo (2011 p 16) corrobora que
existe uma ldquoeuforiardquo em torno desta nova geraccedilatildeo sendo vista quase como uma nova espeacutecie e
difundem-se mitos que generalizam em excesso inovaccedilotildees que ainda nem foram consumadas
Acrescenta que ldquoa nova geraccedilatildeo nem sempre se mostra tatildeo haacutebil assim em especial no que se refere
a potencialidades de aprendizagemrdquo (p 16) Trata-se de um ldquocampo transitoacuteriordquo finaliza Demo
embora os estudantes transitem pelo campo informal das tecnologias uma consideraacutevel parte natildeo
possui competecircncias e habilidades para o manejo criacutetico das miacutedias
Brown e Czerniewicz (2010) realizaram estudos entre jovens no ensino superior do Sul Africano
e constataram que natildeo se pode assumir uma homogeneidade quando se trata das experiecircncias dos
jovens com as tecnologias e que dentro de cada grupo etaacuterio existem estudantes com baixo meacutedio e
alto niacutevel de experiecircncia Os autores contestam que haja uma geraccedilatildeo de nativos digitais mas que
existe apenas uma pequena porcentagem de estudantes que preenchem os criteacuterios da Geraccedilatildeo Net
antes o maior contingente satildeo de jovens que tem baixa literacia digital O roacutetulo ldquonativordquo eacute criticado
pelos pesquisadores como alusivo a colonizaccedilatildeo ndash lembrando a colonizaccedilatildeo europeia a alguns paiacuteses e
ilhas do continente africano Para Brown e Czerniewicz os nativos digitais satildeo os povos colonizados e
foram forccedilados a adotar normas atitudes valores culturais dos colonizadores (grandes corporaccedilotildees de
O mundo conectado em redes
94
tecnologia) Levando agrave analogia de Prensky dos nativos digitais os autores questionam se os nativos
digitais natildeo satildeo uma categoria mais valorizada ou especializada antes satildeo frutos da colonizaccedilatildeo
ocidental que usa os meios de informaccedilao e comunicaccedilatildeo para ditar a linguagem pensamento
cultura e valores que devem ser adotados no cenaacuterio emergente de tecnologias
Do exposto fica evidente que nem todos estatildeo conectados agrave rede e tampouco todos jovens
satildeo altamente especializados em tecnologias Mesmo os que tecircm facilidades com o manuseio de
tecnologias digitais carecem de senso criacutetico para selecionar as informaccedilotildees realmente relevantes e
filtrar conteuacutedos fuacuteteis Em proporccedilatildeo de quantidade existem mais pessoas com dificuldades em lidar
com a tecnologia do que especialistas Logo classificar uma geraccedilatildeo que nasceu depois de um
determinado ano como nativos digitais ou geraccedilatildeo net e outros roacutetulos natildeo tem base teoacuterica
comprovada Existe sim um grande contigente de pessoas marginalizadas que natildeo tem acesso as
tecnologias ou que tem acesso precaacuterio e baixa literacia digital para fazer uso tecnologias para sua
autonomia e emancipaccedilatildeo Neste sentido noacutes educadores estamos diante de um duplo desafio lidar
com os jovens que satildeo altamente especializados nas tecnologias mas pouco senso criacutetico para filtrar
informaccedilotildees e usaacute-las sabiamente e ainda ajudar os demais jovens natildeo tatildeo especializados e com
pouco acesso agraves tecnologias a primeiro terem o acesso necessaacuterio e depois adquirirem literacia digital
para navegarem no oceano de informaccedilotildees da rede de forma a tiraram proveito disso na sua vida
acadecircmica profissional social e poliacutetica
Mas a questatildeo eacute mais complexa do que parece Para ajudar seus alunos nessas questotildees de
uso criacutetico das miacutedias o professor aleacutem do uso cotidiano das tecnologias necessita de sua
apropriaccedilatildeo criacutetica usando-a de modo adequado na realizaccedilatildeo de projetos multidisciplinares e
colaborativos com seus alunos Nas palavras de Almeida e Valente (2011 p 93)
O professor que se reconhece como protagonista de sua praacutetica e usa as TDIC de modo criacutetico e criativo voltando-se para a aprendizagem significativa do aluno coloca-se em sintonia com linguagens e siacutembolos que fazem parte do mundo do aluno respeita seu processo de aprendizagem e procura conhecer seu universo de conhecimentos por meio das representaccedilotildees que os alunos fazem em um suporte tecnoloacutegico
Neste sentido o professor na era digital haacute de entender que natildeo compete a ele ser o ldquodifusor
do conhecimentordquo pois os meios tecnoloacutegicos jaacute o fazem com certa eficaacutecia Antes precisa aprender a
manipular a tecnologia e orientar os alunos a manipularem para que ambos natildeo sejam manipulados
por ela Nas palavras de Gadotti (2003 p 32) o professor ldquodeixaraacute de ser um lecionador para ser um
O mundo conectado em redes
95
organizador do conhecimento e da aprendizagem () um mediador do conhecimento um aprendiz
permanente um construtor de sentidos um cooperadorrdquo Este novo perfil de professor demandado
pela expansatildeo das tecnologias requer das instituiccedilotildees de ensino (da escola agrave universidade) que
revisem os processos de aprendizagem com vista agrave formaccedilatildeo de sujeitos com visatildeo criacutetica das miacutedias
com capacidade de produzirem e difundirem conhecimento na web e portadores de competecircncias para
o trabalho colaborativo O capiacutetulo 3 deste trabalho analisaraacute de forma mais aprofundadada os desafios
encontrados pelos professores na aacuterea da tecnologia educativa e a questatildeo da formaccedilatildeo de professores
para a literacia digital
Em siacutentese neste capiacutetulo apresentamos o cenaacuterio resultante das revoluccedilotildees socioteacutecnicas
ocorridas em face do desenvolvimento estrateacutegico das tecnologias de comunicaccedilatildeo e informaacutetica com
repercurssotildees na estrutura social da sociedade Usamos a analogia da rede para compreender que se
trata de um fenocircmeno sociocultural tendo em vista que as miacutedias se adequam e transformam os
ambientes sociais onde se instalam promovendo reestruturaccedilatildeo na cultura local Esse fenocircmeno
ocorreu com a invenccedilatildeo da escrita que quebrou a cultura da oralidade tambeacutem com a invenccedilatildeo da
imprensa e da miacutedias eletrocircnicas que mudaram a forma de comunicaccedilatildeo da humanidade conforme
exposto neste capiacutetulo Compreendemos que estes processos evolutivos da comunicaccedilatildeo
condicionaram os modelos educativos vigentes em cada periacuteodo trazendo mudanccedilas significativas nas
formas de aprender e ensinar
Consideramos que no cenaacuterio de tecnologias uacutebiquas mudou tambeacutem o perfil das pessoas
que acessam as redes com efeito na sociabilidade mobilidade e aprendizagem Do exposto foi
explicitado que o ldquoestar dentrordquo da rede implica natildeo estar apenas conectado mas ser um noacute ativo
dela construindo conhecimento e compartilhando interagindo com demais usuaacuterios e tirando pleno
proveito das oportunidades oferecidas pelas rede O foco no capitulo seguinte seraacute naqueles que natildeo
estatildeo na rede ou que estatildeo mas de forma marginalizada inclusive de professores nesta situaccedilatildeo que
se vecircem confrontados com a expansatildeo das tecnologias mas seguem agrave margem das potencialidades
que as TDIC podem oferecer na sua vida cotidiana e nas suas praacuteticas pedagoacutegicas
Capiacutetulo 2 O mundo todo estaacute mesmo conectado
O mundo todo estaacute mesmo conectado
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21 Do lado de fora ou dentro na margem da rede
Eacute realmente verdade que pessoas e paiacuteses tornam-se excluiacutedos por estarem desconectados de redes baseadas na Internet Ou ao contraacuterio eacute por estarem conectados que se tornam dependentes de economias e culturas numa relaccedilatildeo em que tecircm pouca chance de encontrar seu proacuteprio caminho de bem-estar material e identidade cultural (Castells 2003 p 203)
Apresentamos no capiacutetulo 1 deste trabalho o cenaacuterio de um mundo que entrou no seacuteculo XXI
num contexto diferente de todos demais seacuteculos anteriores integrado e globalizado pelas tecnologias
de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo Muito jaacute se produziu na literatura sobre as mudanccedilas ocorridas desde a
invenccedilatildeo do computador ateacute agrave disseminaccedilatildeo em larga escala da internet e dos dispositivos moacuteveis
conectados agrave rede E existe tambeacutem uma vasta literatura que discute sobre a exclusatildeo digital
decorrente do processo de ampliaccedilatildeo das tecnologias (DiMaggio e Hargitta 2001 DijK e Kenneth
2003 Gunkel 2003) No entanto nosso enfoque neste capiacutetulo seraacute sobre a inclusatildeo sociodigital
como proposta de reinserccedilatildeo social dos marginalizados digitalmente Neste sentido algumas questotildees
relevantes satildeo levantadas Porquecirc incluir O que significa incluir digitalmente O que o sujeito vai fazer
com os dados que acessa quando for incluiacutedo Aos interesses de quem servem as poliacuteticas puacuteblicas de
inclusatildeo digital Incluir significa prover o acesso para todos Que barreiras existem para a inclusatildeo O
sujeito pode estar incluiacutedo e mesmo assim marginalizado Em que sentido as TDIC podem promover a
emancipaccedilatildeo dos marginalizados da sociedade em rede inclusive os professores
No capiacutetulo I exploramos a sociedade em rede nas suas dimensotildees poliacuteticas sociais
econocircmicas e apresentamos o perfil dos indiviacuteduos conectados agrave rede das geraccedilotildees que se formaram
com caracteriacutesticas inerentes ao padratildeo de tecnologias que lhe eram disponibilizadas Seguindo a
analogia proposta neste estudo sobre a rede e o posicionamento do individuo nesta o capiacutetulo 2 busca
apresentar o outro lado da moeda aqueles que natildeo estatildeo conectados agrave rede ou estatildeo conectados
marginalmente quase fora dela (Demo 2007) A problemaacutetica perpassa pela concepccedilatildeo do termo
inclusatildeo digital pelos formuladores de politicas publicas avanccedila pelo debate conceitual do referido
termo (digital divide fractura digital fosso digital em outros idiomas) e da discussatildeo sobre o acesso e
niacuteveis de exclusatildeo em diferentes categorias da sociedade
Na literatura o termo ldquoinclusatildeo digitalrdquo se tornou associado agrave expressatildeo comum ldquoinclusatildeo
socialrdquo E natildeo eacute por acaso que este fato acontece Quando se fala em inclusatildeo social pressupotildee-se que
existem excluiacutedos fora sem acesso agraves poliacuteticas sociais Assim o uso da expressatildeo inclusatildeo
O mundo todo estaacute mesmo conectado
100
ldquosociodigitalrdquo delata que existem pessoas excluiacutedas do acesso agraves tecnologias e fora do mundo
informacional e que satildeo afetadas socialmente por permanecerem nesta condiccedilatildeo Enquanto poliacutetica
puacuteblica a inclusatildeo sociodigital se tornou parte da agenda governamental em face do acentuado
nuacutemero de indiviacuteduos que natildeo tecircm acesso miacutenimo agraves tecnologias e que satildeo cerceados do direito agrave
informaccedilatildeo agrave comunicaccedilatildeo e agrave cidadania
Neste sentido este capiacutetulo inicia a discussatildeo sobre os cenaacuterios que levaram agrave entrada da
inclusatildeo sociodigital na agenda poliacutetica A discussatildeo avanccedila com a explanaccedilatildeo teoacuterico-conceitual do
termo inclusatildeo sociodigital com intuito de compreender os diferentes niacuteveis em que o indiviacuteduo pode se
encontrar posicionado (incluiacutedoexcluiacutedomarginalizado) na metaacutefora da rede O texto apresenta a
questatildeo da inclusatildeo para aleacutem do acesso agraves maacutequinas considerando as desigualdades relacionadas ao
tipo e local de acesso qualidade da banda larga capacidade cognitiva de resoluccedilatildeo de problemas com
o equipamento e ainda competecircncias de literacia digital O capiacutetulo finaliza delineando aspectos em
que programas de reinserccedilatildeo dos marginalizados digitalmente podem contribuir para a autonomia
visatildeo poliacutetica e sua emancipaccedilatildeo cidadatilde
22 A inclusatildeo digital na agenda poliacutetica
A discussatildeo sobre inclusatildeo sociodigital ganha cada vez mais relevacircncia num cenaacuterio em que as
sociedades tomam as tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo como ferramentas para o
desenvolvimento econocircmico e poliacutetico e para o empoderamento cultural e social dos indiviacuteduos Nos
paiacuteses desenvolvidos com tendecircncia ao neoliberalismo a tecnologia a informaccedilatildeo e o conhecimento
constituem capitais basilares para o desenvolvimento econocircmico A internet neste contexto natildeo eacute
apenas uma tecnologia como afirma Castells (2003 p 220) esta ldquoeacute a ferramenta tecnoloacutegica e a
forma organizacional que distribui informaccedilatildeo poder geraccedilatildeo de conhecimento e capacidade de
interconexatildeo em todas as esferas de atividaderdquo Neste sentido paiacuteses em desenvolvimento satildeo
ldquocapturadosrdquo num emaranhado de rede Portanto conclui o autor estar desconectado ou com acesso
superficial equivale a se posicionar na margem do sistema global interconectado em suas palavras
ldquodesenvolvimento sem internet seria equivalente agrave industrializaccedilatildeo sem eletricidade na Era Industrialrdquo
Os padrotildees de consumo passaram a definir a posiccedilatildeo social e econocircmica do indiviacuteduo na sociedade
De acordo com Silva e Silva (2008 p 98) a inclusatildeo de uma determinada poliacutetica puacuteblica na
agenda governamental adveacutem da constataccedilatildeo do problema ou levantamento da demanda e a seleccedilatildeo
das questotildees que iratildeo compor essa agenda Segundo os autores no que tange agraves poliacuteticas sociais eacute
O mundo todo estaacute mesmo conectado
101
necessaacuterio primeiro pensaacute-las dentro dos quadros da totalidade social onde se situam vaacuterios sujeitos
que se relacionam conflitivamente quer sejam o Estado classes e fraccedilotildees de classe Assim demandas
sociais satildeo levantadas e o segundo passo nesse processo de movimento e construccedilatildeo das poliacuteticas
puacuteblicas eacute a formulaccedilatildeo de alternativas de poliacuteticas o que constitui um diagnoacutestico sobre a situaccedilatildeo
problema e a busca de soluccedilotildees para o seu enfrentamento
Na anaacutelise de Silveira (2005) a inclusatildeo digital passou a ser incluiacuteda na agenda da poliacutetica
puacuteblica social quando o capitalismo tornou a sociedade dependente das tecnologias da inteligecircncia e
que para sobreviver neste sistema se requer preparo e capacitaccedilatildeo complexa para o uso destas
tecnologias O autor afirma que existe um ldquoapartheidrdquo entre os grupos sociais que incorporam as
tecnologias para melhorar suas condiccedilotildees de vida e trabalho e aqueles que estatildeo privados do seu
acesso Para intervir neste contexto Silveira aponta o Estado como o principal interventor dos
processos discriminatoacuterios decorrentes do abismo existente entre os que possuem amplo acesso agraves
tecnologias e aqueles que vivem agrave margem ou excluiacutedos
Segundo Bonilla e Oliveira (2011) o campo para discussotildees sobre a inclusatildeo digital como
poliacutetica puacuteblica social tornou-se feacutertil nos anos de 1990 com os chamados ldquoProgramas para a
Sociedade da Informaccedilatildeordquo com expressatildeo notoacuteria dos EUA Uniatildeo Europeacuteia (UE) e Organismos
Internacionais como Uniatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) e a Uniatildeo dos Estados Americanos (OEA) A
discussatildeo sobre inclusatildeo digital no Brasil iniciou tardiamente em comparaccedilatildeo com os paiacuteses da
Ameacuterica do Norte e Europa O tema estaacute presente nas poliacuteticas puacuteblicas governamentais do paiacutes desde
o ano de 2000 na ocasiatildeo do lanccedilamento do Livro Verde ndash Sociedade da Informaccedilatildeo no Brasil
(Takahashi 2000) que conteacutem metas de implementaccedilatildeo do Programa Sociedade da Informaccedilatildeo no
Brasil O documento aponta para trecircs fenocircmenos que estavam a processar mudanccedilas na sociedade e
que seriam metas do programa brasileiro a convergecircncia da base tecnoloacutegica a dinacircmica da induacutestria
e o crescimento da internet Neste sentido o teor da discussatildeo no livro eacute pautado na questatildeo
tecnoloacutegica sem um aprofundamento teoacuterico sobre a questatildeo social da inclusatildeo digital O processo de
implantaccedilatildeo do Programa Sociedade da Informaccedilatildeo no Brasil foi dividido em trecircs etapas 1) Elaboraccedilatildeo
- do Livro Verde discussatildeo com a sociedade 2) Execuccedilatildeo - Accedilotildees operacionais no triecircnio (2001-2003)
3) Consolidaccedilatildeo - Avaliaccedilatildeo geral do programa elaboraccedilatildeo de conjunto de propostas para 2004 e anos
seguintes
O Programa Sociedade da Informaccedilatildeo no Brasil foi respaldado por lei ndash o Decreto 329499
De acordo com Santos e Carvalho (2009) o referido programa foi construiacutedo com base em modelos de
O mundo todo estaacute mesmo conectado
102
programas similares na Europa A diferenccedila eacute que na Europa ocorreu uma ampla discussatildeo preacutevia
sobre a concepccedilatildeo do programa uns defendiam que o mesmo fosse nomeado como ldquosociedade do
conhecimentordquo e ldquoda informaccedilatildeordquo O documento europeu Construir a Sociedade Europeia de
Informaccedilatildeo para Todos (UE 1997 p 15) apresenta a problemaacutetica
Em primeiro lugar eacute fundamental estabelecer uma distinccedilatildeo clara entre dados informaccedilatildeo e saber Do nosso ponto de vista a produccedilatildeo de dados natildeo estruturados natildeo conduz automaticamente agrave criaccedilatildeo de informaccedilatildeo da mesma forma que nem toda a informaccedilatildeo eacute sinoacutenimo de saber Toda a informaccedilatildeo pode ser classificada analisada estudada e processada de qualquer outra forma a fim de gerar saber Nesta acepccedilatildeo tanto os dados como a informaccedilatildeo satildeo comparaacuteveis agraves mateacuterias-primas que a induacutestria transforma em bens
A discussatildeo nos parece relevante porque se a preocupaccedilatildeo principal do programa eacute constituir
a transmissatildeo disseminaccedilatildeo e armazenamento das informaccedilotildees atraveacutes das redes de internet
bastariam estrateacutegias de ampliaccedilatildeo do acesso Poreacutem o documento deixa expliacutecito que as tecnologias
criadas ateacute entatildeo natildeo tiveram efeito sobre a aquisiccedilatildeo do saber elas apenas distribuem informaccedilotildees
que podem ser usadas para o constructo de saberes que talvez melhorassem o bem estar de todos os
que usufruem delas O documento explica ldquoque eacute fundamental considerar a sociedade da informaccedilatildeo
como uma sociedade da aprendizagemrdquo que natildeo se conclui nos bancos escolares Por isso o
documento justifica ldquoa nossa lista de recomendaccedilotildees poliacuteticas com as que abordam este desafio
especiacutefico indo muito aleacutem das tradicionais sugestotildees de programas multimeacutedia e infra-estruturas de
apoio para a educaccedilatildeo e a formaccedilatildeo profissionalrdquo A primeira recomendaccedilatildeo do documento nesse
sentido foi estimular ativamente a aquisiccedilatildeo de conhecimentos e competecircncias com investimento
pesado em equipamentos tecnoloacutegicos nas escolas europeias e formaccedilatildeo de professores nesta aacuterea
com ecircnfase no trabalho colaborativo e em redes
No caso brasileiro natildeo houve essa discussatildeo preacutevia sobre a concepccedilatildeo de sociedade de
informaccedilatildeo que se pretendia implantar Na anaacutelise de Santos e Carvalho (2009 p 47) o documento
Brasileiro (Livro Verde da Informaccedilatildeo ) apresenta ldquofalta de solidez profundidade e subsiacutedios cientiacuteficos
nas discussotildeesrdquo e trata a questatildeo como sendo meramente tecnoloacutegica Sobre o objetivo principal do
programa o Livro Verde apresenta
O objetivo do Programa Sociedade da Informaccedilatildeo eacute integrar coordenar e fomentar accedilotildees para a utilizaccedilatildeo de tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo de forma a contribuir para a inclusatildeo social de todos os brasileiros na nova sociedade e ao mesmo tempo contribuir para que a economia do Paiacutes tenha condiccedilotildees de competir no global (Takahashi 2000 p 11 grifo do autor)
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103
A sociedade civil organizada Organizaccedilotildees Natildeo Governamentais (ONG) universidades setor
puacuteblico e privado foram convidados a participar do programa mas este teve descontinuidade com a
mudanccedila de governo em 2002 e suas accedilotildees foram direcionadas tatildeo somente o acesso e a
conectividade agraves redes (Santos e Carvalho 2009) Outros programas foram desenvolvidos nos uacuteltimos
dez anos a maioria se destaca na oferta de equipamentos de informaacutetica e conexatildeo banda larga
Segue quadro dos principais programas propostos no Brasil que no discurso institucional satildeo voltados
para inclusatildeo digital
Quadro 3 - Programas e Projetos de inclusatildeo digital propostos pelo Governo Federal no Brasil
Programa Proposta
Cidadatildeo Conectado ndash computador para todos
Promover a Inclusatildeo Digital mediante a aquisiccedilatildeo em condiccedilotildees facilitadas de soluccedilotildees de informaacutetica
Projeto Computadores para Inclusatildeo
Oferecer equipamentos de informaacutetica recondicionados em plenas condiccedilotildees operacionais para apoiar a disseminaccedilatildeo de telecentros comunitaacuterios e a informatizaccedilatildeo das escolas puacuteblicas e bibliotecas
Programa Banda Larga nas Escolas (PBLE)
Conectar todas as escolas puacuteblicas urbanas agrave internet rede mundial de computadores por meio de tecnologias que propiciem qualidade velocidade e serviccedilos para incrementar o ensino puacuteblico no Paiacutes
Projeto Computadores para a Inclusatildeo
Modernizar a gestatildeo ampliar o acesso aos serviccedilos puacuteblicos e promover o desenvolvimento dos municiacutepios brasileiros por meio da tecnologia
Plano Nacional de Banda Larga Promover a inclusatildeo digital e a formaccedilatildeo de jovens de baixa renda em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social com a oferta de oficinas cursos treinamentos e outras atividades formativas com foco no recondicionamento e manutenccedilatildeo de equipamentos de informaacutetica e na conscientizaccedilatildeo ambiental sobre os resiacuteduos eletroeletrocircnicos
PROINFO Integrado Massificar o acesso agrave internet em banda larga no paiacutes principalmente nas regiotildees mais carentes da tecnologia
Um computador por aluno ndash PROUCA
Oferecer gratuitamente conexatildeo agrave internet em banda larga - por via terreste e sateacutelite - a telecentros escolas unidades de sauacutede aldeias indiacutegenas postos de fronteira e quilombos
Promover a inclusatildeo digital pedagoacutegica e o desenvolvimento dos processos de ensino e aprendizagem de alunos e professores das escolas puacuteblicas brasileiras mediante a utilizaccedilatildeo de computadores portaacuteteis denominados laptops educacionais
Fonte Portal do governo eletrocircnico httpwwwgovernoeletronicogovbracoes-e-projetosinclusao-digital (grifo da autora)
As informaccedilotildees sobre cada projeto disponibilizadas no quadro acima foram tiradas na sua
iacutentegra do portal do governo eletrocircnico Os destaques em negrito do discurso institucional do governo
demonstram a preocupaccedilatildeo dos gestores puacuteblicos na questatildeo da oferta de equipamentos de
informaacuteticas e acesso agraves redes
Silveira (2008) aponta uma problemaacutetica na visatildeo dos formuladores de poliacuteticas puacuteblicas que
se limitam a pensar que ldquoinserirrdquo as pessoas constitui tornaacute-las consumidoras de produtos de
informaacutetica O efeito destas poliacuteticas pode produzir um resultado contraacuterio Segundo o autor estas
podem estender o ldquolocalismo globalizado de origem norte-americanardquo e constituiriam uma forma de
utilizar o esforccedilo puacuteblico das sociedades pobres para se tornarem consumidores dos produtos
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tecnoloacutegicos dos paiacuteses desenvolvidos ou ainda serviriam para ldquoreforccedilar o domiacutenio oligopolista de
grandes grupos transnacionaisrdquo (idem p 48) Ao fazer esta anaacutelise Silveira apoia-se no conceito de
ldquoglobalizaccedilatildeo como fenocircmeno produzidordquo na visatildeo do autor Boaventura Souza Santos (Santos 2002)
A consequecircncia da produccedilatildeo do global implica na produccedilatildeo do local ou produccedilatildeo de localizaccedilatildeo O
Sistema Mundial em Transiccedilatildeo conceito criado por Souza Santos para designar as transformaccedilotildees
mundiais estabelece a hierarquizaccedilatildeo dominante Desta forma o local se integra com o global por
duas vias pela exclusatildeo ou inclusatildeo subalterna O local quando incluiacutedo eacute de forma subordinada
Silveira explica
Boaventura sustenta que apesar de na linguagem comum e no discurso poliacutetico o termo globalizaccedilatildeo transmitir a ideia de inclusatildeo o acircmbito real da inclusatildeo pela globalizaccedilatildeo sobretudo a econocircmica pode ser bastante limitado Vastas populaccedilotildees do mundo sobretudo em Aacutefrica estatildeo a ser globalizadas em termos do modo especiacutefico por que estatildeo a ser excluiacutedas pela globalizaccedilatildeo hegemocircnica O que caracteriza a produccedilatildeo de globalizaccedilatildeo eacute o fato de seu impacto se estender tanto agraves realidades que inclui como agraves realidades que exclui (Silveira 2013 p 3)
Observa-se portanto uma disparidade gritante entre dois tipos de cidadatildeos do mundo um
liderado por uma elite que tem pleno acesso agraves TDIC e tira proveito disso o outro atrofiado e
marginalizado pela falta de acesso a estas Luyt (2007) analisa que a partir de meados dos anos 1990
um nuacutemero crescente de relatoacuterios estudos de caso e documentos de discussatildeo sobre a tecnologia da
informaccedilatildeo para o desenvolvimento comeccedilaram a circular com o objetivo de desvendar a profundidade
do fosso digital que jaacute era percebido naquele momento Considerando que as poliacuteticas puacuteblicas natildeo
satildeo neutras e atendem a interesses de grupos poliacuteticos e econocircmicos Luyt afirma que existem grupos
de interesse na promoccedilatildeo da questatildeo da exclusatildeo ou fosso digital os paiacuteses desenvolvidos que
desejam alcanccedilar novos mercados com seus produtos tecnoloacutegicos Estas naccedilotildees mais desenvolvidas
oferecem novas oportunidades de trabalho para sua elite e perpetuam as limitaccedilotildees das perspectivas
econocircmicas da populaccedilatildeo pobre vendo-a como uma forccedila de trabalho indispensaacutevel aos interesses do
capital Os oacutergatildeos da sociedade civil tambeacutem se preocupam com a questatildeo da exclusatildeo digital pois
segundo o autor eles tentam capturar as tecnologias da rede para seus proacuteprios interesses e projetos
Na visatildeo de Lemos (2003) parece que aleacutem do discurso instituiacutedo de que a exclusatildeo digital
deve ser combatida existe pouco debate sobre o que esta significa como pode ser medida e
elucidada O autor questiona os programas de inclusatildeo digital promovidos em telecentros Em 2003
houve uma poliacutetica acirrada no Brasil de implantaccedilatildeo de telecentros nas comunidades com objetivo de
promover o acesso para todos Lemos jaacute previa que com a expansatildeo das redes cada vez mais ubiacutequas
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os telecentros ficariam ultrapassados com o tempo o que de fato ocorreu Sobre a que interesses
estas poliacuteticas atendem Lemos (idem p 1) concluiu ldquofaz-se assim a felicidade de empresas ONGs e
tecnoutoacutepicos que vatildeo nos vender sob essa ideologia mais e mais brinquedinhos tecnoloacutegicosrdquo De
fato a induacutestria da tecnologia tem como objetivo incluir as pessoas num molde ou padratildeo de consumo
que as torna dependentes das parafernaacutelias tecnoloacutegicas lanccediladas no mercado em caraacuteter freneacutetico
Ainda sobre o objetivo da induacutestria da tecnologia Silveira (2011 p 59) afirma
O objetivo das grandes operadoras de telecom e da induacutestria do copyright eacute transformar a internet em uma ldquogrande rede de TV a cabordquo ou seja reduzir a sua interatividade filtrar os fluxos de informaccedilatildeo impedir o compartilhamento livre de arquivos digitais Com o discurso falacioso de melhorar o funcionamento da rede tal objetivo eacute tambeacutem diminuir o aumento do poder comunicacional dos indiviacuteduos e coletivos que usam a rede para ampliar a articulaccedilatildeo das pessoas em torno de suas causas sejam elas quais forem
Assim o autor conclui que a induacutestria tecnoloacutegica fomenta a inclusatildeo sem autonomia fornece
as informaccedilotildees aos cidadatildeos mas querem interatividade controlada sem a liberdade de criaccedilatildeo de
novos conteuacutedos e novas tecnologias de comunicaccedilatildeo
Um exemplo atual eacute a polecircmica envolvida no fato do aplicativo de mensagens instantacircneas
whatsapp permitir a realizaccedilatildeo de ligaccedilotildees telefocircnicas utilizando o nuacutemero de celular do usuaacuterio
Segundo portal de notiacutecias G117 em 2015 operadoras de telecomunicaccedilotildees no Brasil anunciaram que
entrariam com peticcedilatildeo judicial junto agrave Agencia Nacional de Telecomunicaccedilotildees (Anatel) contra o
funcionamento do aplicativo whatsapp com ligaccedilotildees telefocircnicas O argumento das operadoras eacute que as
mesmas pagam tributos para cada linha autorizada o que natildeo acontece com o aplicativo Segundo o
portal de notiacutecias brasileiro Terra18 a consultoria de pesquisa tecnoloacutegica Ovum com sede em Londres
calculou em relatoacuterio divulgado em fevereiro de 2015 um prejuiacutezo de 139 bilhotildees de doacutelares para as
operadores em receitas com serviccedilos de texto em 2014 devido a expansatildeo do whatsapp
Aleacutem da questatildeo econocircmico-financeira as operadoras se queixam que estatildeo sujeitas a multas e agraves
obrigaccedilotildees de fiscalizaccedilatildeo e qualidade pela Anatel e o aplicativo natildeo se submente a este controle Neste
sentido a induacutestria de comunicaccedilatildeo sente-se ameaccedilada a cada inovaccedilatildeo proporcionada pelas tecnologias
Considerando que estaacute em curso uma revoluccedilatildeo no setor das telecomunicaccedilotildees frente ao uso cada vez mais
frequente do celular para acessar internet as operadoras de telefones moacuteveis seratildeo cada vez mais
17 Mateacuteria Operadoras moacuteveis no Brasil preparam peticcedilatildeo contra Whatsapp Disponiacutevel em lthttpg1globocomtecnologianoticia201508operadoras-moveis-no-brasil-preparam-peticao-contra-whatsapphtmlgt acesso em 12 nov 2015 18 Mateacuteria WhatsApp diz que natildeo eacute ameaccedila a operadoras de telefonia moacutevel Disponiacutevel em lthttptecnologiaterracombrinternetwhatsapp-diz-que-nao-e-ameaca-a-operadoras-de-telefonia-movela5a9e194c2bda310VgnCLD200000bbcceb0aRCRDhtml gt Acesso em 12 nov 2015
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provedoras de internet moacutevel Assim como os telecentros estatildeo ficando obsoletos com a expansatildeo do acesso
agraves redes nos tablets e celulares aleacutem do barateamento dos computadores e perifeacutericos ser portador de uma
linha telefocircnica moacutevel seraacute apenas a porta de entrada para o acesso agraves redes
Importante ressaltar que as poliacuteticas puacuteblicas de inclusatildeo digital em geral focalizam
demasiadamente as estatiacutesticas de acesso Segundo Bonilla e Oliveira (2011 p 32) esta quantificaccedilatildeo
do acesso torna-se ldquoinsuficiente para se aproximar dos componentes culturais poliacuteticos e
econocircmicosrdquo dos beneficiaacuterios das poliacuteticas Os autores consideram o termo ldquodesfiliaccedilatildeordquo de Robert
Castel mais apropriado que exclusatildeo digital Assim a desfiliaccedilatildeo constitui ldquoa perda dos suportes
sociais que garantem o exerciacutecio de direitos iguais em uma sociedade democraacutetica e o desengajamento
material e simboacutelico dos indiviacuteduos no laccedilo socialrdquo (idem 2011 p 33) Nas palavras de Castells
(1998 p 32) ldquosatildeo menos excluiacutedos do que abandonados como se estivessem encalhados na
margem depois que a corrente das trocas produtivas se desviou delesrdquo Neste contexto o indiviacuteduo
ldquodesfiliadordquo natildeo eacute um excluiacutedo Ele natildeo possui uma total ausecircncia de viacutenculos com a sociedade como
estivesse fora mas encontra-se desprovido de oportunidades para galgar melhores posiccedilotildees A partir
destes pressupostos as poliacuteticas puacuteblicas deveriam considerar o contexto social econocircmico cultural
dos beneficiaacuterios para contemplar os marginalizados aqueles que embora tenham um miacutenimo acesso
precaacuterio natildeo possuem ldquosuportes sociaisrdquo para tirarem proveito das tecnologias para sua autonomia e
emancipaccedilatildeo
Portanto mesmo diante poliacuteticas puacuteblicas voltadas para a universalizaccedilatildeo do acesso as redes
o ldquofosso digitalrdquo persiste em se alargar pois as tecnologias tendem a empoderar continuamente
aqueles que se apropriam dela para seu benefiacutecio proacuteprio Neste sentido a ldquoexclusatildeo digitalrdquo eacute
delimitada natildeo apenas pelas condiccedilotildees de acesso fiacutesico a computadores ou dispositivos moacuteveis
conectados mas ao que as pessoas fazem com as informaccedilotildees e conteuacutedos acessados Segundo De
Maggio e Hargita (2001) com a raacutepida penetraccedilatildeo da internet nos lares das pessoas a tecnologia
antes restrita a uma reservada elite agora estaacute disponiacutevel entre ricos e pobres urbanos e rurais velhos
e jovens educados e sem instruccedilatildeo Mediante tal ampla difusatildeo os autores argumentam que o acesso
inclui os inicialmente excluiacutedos mas surgem outras desigualdades e disparidades relacionadas com a
qualidade da conexatildeo do padratildeo dos aparelhos utilizados e do conhecimento e habilidades do usuaacuterio
Castells (2003) jaacute apontava para os seus efeitos colaterais da expansatildeo da rede de internet por
afirmar que as principais atividades poliacuteticas econocircmicas sociais e culturais em todo planeta estatildeo
sendo estruturadas ldquopela internet e em torno delardquo O autor conclui que ldquoser excluiacutedo dessas redes eacute
O mundo todo estaacute mesmo conectado
107
sofrer uma forma dolorosa de exclusatildeo em nossa economia e nossa culturardquo (idem p 8) Pierre Leacutevy
(1999) tambeacutem visionava a possibilidade da difusatildeo das tecnologias produzir a exclusatildeo O autor
escreveu
Estima-se frequentemente que o desenvolvimento da cibercultura poderia ser um fator suplementar de desigualdade e de exclusatildeo tanto entre classes de uma sociedade como entre naccedilotildees de paiacuteses ricos e pobres Esse risco eacute real O acesso ao ciberespaccedilo exige infra-estruturas de comunicaccedilatildeo e de caacutelculo de computadores de curto alto para regiotildees em desenvolvimento Aleacutem disso a apropriaccedilatildeo das competecircncias necessaacuterias para a montagem e manutenccedilatildeo de centros servidores representa um investimento consideraacutevel [] haacute em seguida os sentimentos de incompetecircncia e de desqualificaccedilatildeo frente agraves novas tecnologias (idem p 238)
Ao fazer esta anaacutelise Pierre Leacutevy explica que a exclusatildeo eacute uma consequecircncia previsiacutevel usando
o argumento de que ldquocada novo sistema de comunicaccedilatildeo fabrica excluiacutedosrdquo (Leacutevy p 238) O autor cita
o exemplo da invenccedilatildeo da escrita que criou a divisatildeo entre os que sabem ler e os que natildeo sabem
Embora a rede pareccedila democraacutetica reunindo de forma ldquocaoacuteticardquo todas as heresias Leacutevy argumenta
que suas fronteiras satildeo imprecisas moacuteveis e provisoacuterias e a ldquodesqualificaccedilatildeo dos excluiacutedosrdquo natildeo deixa
de ser terriacutevel (idem p 238) De acordo com Silveira (2013) Leacutevy ao afirmar que ldquotodo universal
produz excluiacutedosrdquofragiliza a possibilidade de lutar contra o processo da exclusatildeo uma vez que este eacute
inerente do surgimento de novas tecnologias Assim a rede que seria a ldquouniversalidade sem
totalidaderdquonatildeo poderia evitar o princiacutepio da exclusatildeo No entanto Leacutevy reconhece que o excluiacutedo estaacute
desconectado por natildeo participar da ldquodensidade relacional e cognitiva das comunidades virtuais e da
inteligecircncia coletivardquo (idem p 238) defendendo como possiacutevel soluccedilatildeo para esta situaccedilatildeo poliacuteticas
que privilegiem a autonomia das pessoas evitando o surgimento de ldquonovas dependecircnciasrdquo provocadas
pelo consumo de informaccedilotildees ou serviccedilos via internet
McLuan Fiore e Angel (1967) na obra The Medium is the Massage denominaram esse
fenocircmeno da expansatildeo da tecnologia de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo de ldquoAldeia Globalrdquo suposta ideia
utoacutepica proposta para explicar a tendecircncia de evoluccedilatildeo do sistema mediaacutetico que tende a encurtar
distacircncias e o progresso tecnoloacutegico Para os autores os meios eletrocircnicos que divulgam um
acontecimento no momento que este acontece (estavam se a referir ao raacutedio e a TV pois ainda natildeo
tinha surgido a internet) estatildeo a colocar-nos novamente em contato com as emoccedilotildees tribais primitivas
que a impressa nos havia distanciado No entanto na visatildeo de Milton Santos (2001) esta ideia eacute uma
faacutebula O autor afirma que a falsa noccedilatildeo de que as ideias difundidas amplamente na rede satildeo reais e
natildeo a interpretaccedilatildeo dos detentores do monopoacutelio midiaacutetico somadas ao suposto encurtamento das
distacircncias e barreiras existentes entre os Estados constituem uma ldquoglobalizaccedilatildeo perversardquo O que se
O mundo todo estaacute mesmo conectado
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instala segundo Santos eacute um mercado avassalador que acentua as desigualdades existentes entre
paiacuteses ou mesmo regiotildees dentro dos proacuteprios paiacuteses
Todavia no iniacutecio da expansatildeo da internet natildeo se pensou que os determinantes socioculturais
tais como raccedila gecircnero idade e geografia poderiam limitar o acesso de alguns agrave grande rede e causar
desigualdades sociais econocircmicas e cognitivas nos indiviacuteduos Ocorreu foi uma campanha publicitaacuteria
eufoacuterica sobre a internet e o mundo on-line nos anos de 1990 O termo para esse fenocircmeno segundo
Gausker (2003) eacute cyberbole uma expressatildeo que denota a importacircncia que a internet passou a ter no
mundo contemporacircneo Comemorava-se a criaccedilatildeo de um novo mundo de oportunidades ilimitadas que
a internet proporcionaria agrave sociedade
Warschauer (2006) analisa que as discussotildees sobre as desigualdades digitais ganhou
notoriedade com a expansatildeo da internet e da criaccedilatildeo de empresas pontocom19 no iniacutecio da deacutecada de
1990 Naquele periacuteodo de boom da internet as pessoas queriam se conectar a rede a qualquer preccedilo
para natildeo ficarem para traacutes das novidades que a internet oferecia Apesar da falecircncia do sistema
empresas pontocom a internet ganhou forccedila e as pessoas passaram a usaacute-la cada vez mais no
trabalho diversatildeo compras e a acesso a informaccedilotildees Naquele momento a preocupaccedilatildeo era prover o
acesso ao maior nuacutemero de pessoas
Como abordado por Demo (2005) com o avanccedilo acelerado das TDIC e a ampla difusatildeo da
internet o desafio imposto para reduccedilatildeo desta lacuna ou hiato da exclusatildeo digital aponta para aleacutem
do acesso agraves tecnologias a capacitaccedilatildeo dos indiviacuteduos para seu uso Assim a inclusatildeo digital ganhou
novos elementos complexos com destaque para as competecircncias informacionais Portanto era de se
esperar que a introduccedilatildeo de novos produtos tecnoloacutegicos no mercado aumentasse o niacutevel de limiar de
bens considerados necessaacuterios Na anaacutelise de Sorj (2008) por questotildees econocircmicas os ricos usufruem
por um periacuteodo de tempo maior os benefiacutecios ou domiacutenio dos novos produtos lanccedilado no mercado
Este fato aumenta a vantagem competitiva desta classe enquanto a falta do produto aumenta as
desvantagens dos grupos excluiacutedos Neste sentido o autor afirma que a exclusatildeo digital natildeo se trata
de um fenocircmeno simples que se refere a aqueles que tecircm ou natildeo acesso agrave internet Quando se trata
19 Empresas pontocom constituiacuteam novas empresas de tecnologia da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (TIDC) baseadas na Internet que tiveram seu auge na deacutecada de 1990 O crescimento especulativo destas empresas atingiram o aacutepice entre 1995 com a ascensatildeo raacutepida do preccedilo das accedilotildees das empresas de comeacutercio eletrocircnico e aacutereas afins Este periacuteodo ficou conhecido como ldquobolha da internetrdquo Esta bolha ldquoestourourdquo em 2000 com a queda das accedilotildees no mercado financeiro e a falecircncia de diversas empresas deste nicho Disponiacutevel em httpeconomiaigcombrmercadosestouro-da-bolha-das-empresas-
de-tecnologia-completa-11-anosn1238148080645html Acesso em 21 dez 2016
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de bens de consumo explica Sorj a classe pobre pode possuir um automoacutevel de menor valor e nem
mesmo possuir condiccedilotildees de abastececirc-lo Do mesmo modo possuir um computador em casa e natildeo
ter condiccedilotildees de atualizar os softwares ou mesmo pagar a internet eacute uma forma de exclusatildeo No
entanto para compreender o que significa estar excluiacutedo ou marginalizado na sociedade em rede faz-
se necessaacuterio conhecer em que contexto foi concebido o termo ldquoexclusatildeo digitalrdquo (ou digital divide
fosso digital e fractura digital)
23 Debate conceitual do termo exclusatildeo digital
As expressotildees ldquoexclusatildeo digitalrdquo popular no Brasil ou ldquodigital dividerdquo em inglecircs satildeo passiacuteveis
de debates conceituais A origem destas expressotildees permanecem incertas e ambiacuteguas Alguns estudos
afirmam que a origem do termo ldquodigital dividerdquo surgiu em meados dos anos 1990 nos EUA apoacutes um
largo debate sobre a percepccedilatildeo inicial dos grupos sociais excluiacutedos tecnologicamente naquele paiacutes De
acordo com Crispim (2008) a agecircncia estatal National Telecommunications and Information
Administration (NTIA) lanccedilou entre 1995 e 1998 quatro relatoacuterios intitulados Falling Throung the net
(em traduccedilatildeo livre ldquoCaindo na rederdquo) cujos dados revelaram as desigualdades de acesso dos
americanos agrave telefonia computadores domeacutesticos e modens Assim a expressatildeo ldquodigital dividerdquo
presente nos relatoacuterios passou a associar-se ao acesso agraves Tecnologias Digitais da Informaccedilatildeo e
Comunicaccedilatildeo (TDIC) incluindo a internet e a busca por garantir aos cidadatildeos daquele paiacutes acesso aos
serviccedilos de telecomunicaccedilotildees O interesse dos EUA na integraccedilatildeo da naccedilatildeo ao uso das tecnologias era
liderar a ldquoSociedade do Conhecimentordquo que emergia naquele contexto Para Gunkel (2003) o termo
natildeo teve origem nos relatoacuterios da NTIA estes foram apenas os catalisadores para a popularidade do
termo ldquodigital dividerdquo O autor afirma que o uso original da referida expressatildeo foi no LA Times pelos
jornalistas Jonathan Webber e Amy Harmon que comeccedilaram a usaacute-la em 1996 para citar diferenccedilas
de opiniatildeo sobre a nova tecnologia e o aprofundamento da divisatildeo entre ricos e pobres
No idioma portuguecircs de Portugal o termo frequentemente usado nos documentos da Uniatildeo
Europeia para tratar da exclusatildeo digital eacute ldquofractura digitalrdquo Furtado (2007) considera que o termo
embora se tenha popularizado em algumas de suas formulaccedilotildees pode ser enganador O autor
argumenta que ao constatar a situaccedilatildeo de um grupo que natildeo tinha acesso agraves redes de internet nos
relatoacuterios da NTIA a estrateacutegia do governo americano foi promover poliacuteticas de disponibilidade das
tecnologias aos ldquoexcluiacutedosrdquo Apenas mais tarde com a expansatildeo do acesso outras disparidades foram
percebidas algumas pessoas acessam as tecnologias em primeiro lugar ou mais rapidamente dos que
outras ou algumas possuem equipamentos melhores e mais competecircncias para usaacute-los ou um
O mundo todo estaacute mesmo conectado
110
determinado grupo usa com mais frequecircncia as TDIC que outros E nesse contexto milhotildees de
pessoas tecircm algum acesso miacutenimo mas insuficiente para sentirem-se inseridos na rede
No entanto alguns teoacutericos tecircm atribuiacutedo a origem da discussatildeo sobre o acesso agrave internet
como recurso econocircmico poliacutetico cultural e social essencial para a emancipaccedilatildeo democraacutetica por
volta da elaboraccedilatildeo do ldquoRelatoacuterio Nora e Mincrdquo (1980) solicitado agraves ordens do governo francecircs O
documento eacute um relatoacuterio sobre a informatizaccedilatildeo da sociedade elaborado em 1977 por dois alto-
funcionaacuterios do governo francecircs Simon Nora e Alain Minc No relatoacuterio eacute lanccedilado o neologismo da
expressatildeo ldquotelemaacuteticardquo para indicar a combinaccedilatildeo de telecomunicaccedilatildeo e computador Segundo
previsatildeo de Nora e Minc a telemaacutetica deveria integrar imagens sons e memoacuterias o que exprimia a
possibilidade de integrar os meios de comunicaccedilatildeo de massa preexistentes - o jornal o raacutedio e a
televisatildeo com a informaacutetica que se ampliava apoacutes a invenccedilatildeo dos microprocessadores No Relatoacuterio
fica clara a preocupaccedilatildeo do governo francecircs em relaccedilatildeo agraves consequecircncias que o desenvolvimento
tecnoloacutegico que se ampliava naquele momento histoacuterico na sociedade contemporacircnea Balboni (2007)
afirma que a preocupaccedilatildeo do relatoacuterio era focada no papel do Estado na distribuiccedilatildeo igualitaacuteria das
tecnologias e do conhecimento garantindo a participaccedilatildeo da Franccedila nesse processo O governo francecircs
investiu entatildeo na fusatildeo das tecnologias de telecomunicaccedilotildees existentes com a informaacutetica criando o
Minitel um pequeno terminal de consulta de banco de dados comerciais existentes nos Correios nas
Telecomunicaccedilotildees e nas Teledifusotildees existentes na Franccedila
De acordo com Dijk (2005) na liacutengua inglesa utiliza-se ainda a expressatildeo digital gap (associado
agrave noccedilatildeo de brecha abismo) e digital apatheid fazendo alusatildeo a noccedilatildeo de separaccedilatildeo dos grupos sociais
nos Estados Unidos na deacutecada de 1960 No idioma francecircs satildeo usadas as expressotildees fracture
numeacuterique e fosseacute numeacuteric lembrando a metaacutefora da divisatildeo abismo separaccedilatildeo como um rio que
divide duas cidades apartando seus limites Dijk (1999) considera uma armadilha o uso da metaacutefora da
expressatildeo ldquodigital dividerdquo associada agrave existecircncia de um ldquoabismordquo separando os que tecircm acesso aos
meios digitais e os que natildeo tecircm acesso O autor considera que a metaacutefora serviu para chamar atenccedilatildeo
para os elaboradores de poliacuteticas puacuteblicas se atentarem ao fenocircmeno da desigualdade de acesso as
tecnologias digitais mas por outro lado simplificou a problemaacutetica sugerindo uma divisatildeo binaacuteria e
simplista entre dois grupos claramente divididos com um fosso entre eles Dijk argumenta que no
espaccedilo entre a elite da informaccedilatildeo e os totalmente excluiacutedos das tecnologias digitais encontram-se
vaacuterios grupos de pessoas que tecircm algum acesso e que de uma forma ou de outra utilizam a
tecnologia digital para um determinado objetivo A possiacutevel existecircncia de um ldquoabismo ou fossordquo
O mundo todo estaacute mesmo conectado
111
segundo o autor pode tambeacutem parecer que essas desigualdades sejam intransponiacuteveis o que natildeo eacute o
caso se os governos estabelecerem politicas puacuteblicas efetivas voltadas a essa aacuterea Outra conotaccedilatildeo
errada que a metaacutefora digital divide sugere de acordo com Dijk eacute a ideia de que a divisatildeo eacute uma
condiccedilatildeo estaacutetica pelo contraacuterio os acessos satildeo mutaacuteveis e estatildeo em constante movimento algumas
desigualdades crescem enquanto outras diminuem
Cisler (2000) tambeacutem considera o termo digital divide simplista por ser definido pelo fato de
estar on-line ou off-line Para o autor natildeo existe uma divisatildeo binaacuteria entre os ldquoricos de informaccedilatildeordquo e os
ldquosem total informaccedilatildeordquo mas haacute uma gradaccedilatildeo com base em diferentes graus de acesso agrave tecnologia
da informaccedilatildeo Se compararmos um professor em Satildeo Paulo com uma excelente velocidade de
conexatildeo agrave internet em seu laboratoacuterio um professor no interior do Tocantins que usa a lan house para
enviar suas atividades do seu curso de formaccedilatildeo a distacircncia ou ainda um professor no Amazonas que
mora numa aldeia indiacutegena sem acesso a internet teremos exemplos dos diferentes graus de exclusatildeo
sociodigital Neste sentido Mossberger Tolbert e Stansbury (2003) usam o termo ldquodesigualdade
virtualrdquo ao tratarem das dinacircmicas relacionadas com os diferentes graus de acesso e uso das
tecnologias Os autores argumentam que a desigualdade virtual eacute definida em quatro bases
discriminatoacuterias
bull Access divide - discriminaccedilatildeo de acesso condicionada a cor raccedila renda educaccedilatildeo e gecircnero
bull Skills divide - discriminaccedilatildeo de habilidades teacutecnica para operar sistemas e outra de alfabetizaccedilatildeo de informaccedilatildeo Esta uacuteltima significa o individuo ter a habilidade de reconhecer quando e que informaccedilatildeo pode resolver um problema ou preencher uma necessidade e saber efetivamente como usar os recursos de informaccedilatildeo
bull Economic opportunity divide - discriminaccedilatildeo de oportunidade econocircmica que torna marginalizado o sujeito e grupos que natildeo acompanham as transformaccedilotildees ocorridas na economia globalizada
bull Democratic divide - discriminaccedilatildeo democraacutetica ou poliacutetica A internet pode aumentar a participaccedilatildeo poliacutetica dos seus usuaacuterios mas apenas entre os grupos predispostos a participar e ainda entre aqueles com habilidades necessaacuterias para aproveitar o ambiente eletrocircnico
Assim segundo esses autores a exclusatildeo digital passa por niacuteveis de desigualdades que podem
manifestar suas caracteriacutesticas em base individual ou em grupos especiacuteficos
Demo (2007) considera que estas muacuteltiplas visotildees discriminatoacuterias da exclusatildeo digital
embora enriqueccedila o debate satildeo formuladas a partir de bases neoliberais em que as habilidades e
competecircncias dos sujeitos satildeo valorizadas para atingirem o seu potencial Demo afirma que de fato a
O mundo todo estaacute mesmo conectado
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marginalizaccedilatildeo ou desigualdade digital independente do nome que esta assume (exclusatildeo fosso gap)
segrega pessoas e sociedades do usufruto tecnoloacutegico e ainda agrava a pobreza poliacutetica O autor
explica que mesmo que as pessoas consigam algum acesso agraves redes num contexto capitalista de
exclusatildeo esse acesso eacute marginalizado ou seja precarizado por diversos fatores Neste sentido Demo
prefere usar o termo marginalizaccedilatildeo agrave exclusatildeo Argumenta que a expressatildeo exclusatildeo eacute muito
estanque ou se estaacute fora ou dentro E neste intervalo encontram-se indiviacuteduos que embora tenham
algum acesso agraves tecnologias satildeo desprovidos de equipamentos e softwares eficientes natildeo acessam a
banda larga possuem poucas competecircncias para resoluccedilatildeo de problemas teacutecnicos e baixos niacuteveis de
literacia digital Demo escreveu
Digital divide tornou-se metaacutefora insatisfatoacuteria i) sugere divisatildeo simples estanque encobrindo complexidade das diferenciaccedilotildees social econocircmica e cultural ii) sugere ser intransponiacutevel para os marginalizados enquanto na praacutetica eacute difiacutecil desafiadora podendo-se fazer muita coisa pertinente iii) giraria em torno de desigualdades absolutas quando satildeo relativas iv) haveria uma soacute enquanto o cenaacuterio se mostra complexo ao extremo (Demo 2007 p 12)
Deste modo o autor apresenta as desigualdades de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo como um
subconjunto da desigualdade social As relaccedilotildees satildeo niacutetidas nas categorias da sociedade e as
distinccedilotildees mais evidentes em niacutevel micro Segundo Demo (idem) seriam gerentes e executivos
empregadores e (des)empregados pessoas com altos e baixos niacuteveis de educaccedilatildeo homens e
mulheres velhos e jovens pais e filhos brancos e pretos cidadatildeos e migrantes Em niacutevel macro os
paiacuteses mais ricos adotam as tecnologias em vantagem dos paiacuteses menos desenvolvidos e usam essa
vantagem para aumentar o poder sobre estes Demo conclui que essas disparidades evoluem para
discriminaccedilotildees e marginalizaccedilatildeo dos indiviacuteduos que embora tenham o acesso continuam agrave margem
das oportunidades e vantagens promovidas pelas tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo Neste
sentido a questatildeo da inclusatildeo digital avanccedila para aleacutem do acesso porque mesmo com o acesso
miacutenimo o sujeito pode natildeo tirar proveito das informaccedilotildees obtidas na internet
24 A inclusatildeo para aleacutem do acesso agrave maacutequina
Conforme exposto independente da origem a expressatildeo digital divide quando foi concebida se
limitava na desigualdade relacionada ao acesso agraves tecnologias sendo compreendida como uma fratura
ou brecha entre os que tinham e os que natildeo tinham o acesso Os estudos sobre digital divide na
deacutecada de 90 eram focados no acesso e na infraestrutura Mais recentemente o discurso sobre a
exclusatildeo digital tem se expandido para outras preocupaccedilotildees e os fatores que geram as desigualdades
O mundo todo estaacute mesmo conectado
113
digitais ou seja modos diferenciados de uso e desenvolvimento econocircmico Ainda em 2001 a
Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento Econocircmico (OCDE) definia digital divide como uma
ldquolacuna entre indiviacuteduos empresas e aacutereas geograacuteficas de diferentes niacuteveis socioeconocircmicos em
relaccedilatildeo agraves oportunidades de acesso agraves tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo e ao uso da internet
para diversas atividadesrdquo (OCDE 2001 p4)
Para DiMaggio e Hargittai (2001) a visatildeo dicotocircmica do fosso digital ou digital divide como
uma distinccedilatildeo entre pessoas que tinham e as que natildeo tinham acesso agrave internet era natural no iniacutecio
daquele processo de difusatildeo da rede Os autores destacam que os primeiros estudos sobre o digital
divide realizados pelo National Telecommunications and Information Administration (NTIA) em meados
dos anos 1990 continham informaccedilotildees apenas sobre famiacutelias separadas por categorias rurais
urbanas e enfatizavam uma distinccedilatildeo binaacuteria de tecircmnatildeo tecircm acesso (NTIA 1995 1998) Com a
evoluccedilatildeo da pesquisa o NTIA em 1999 lanccedilou outro relatoacuterio em que foram elaborados relatoacuterios
separados sobre ldquoos que natildeo tecircm acessordquo baseados nas categorias de raccedila renda sauacutede idade
educaccedilatildeo e invalidez (NTIA 1999) DiMaggio e Hargittai argumentam que naquele periacuteodo especiacutefico
estes relatoacuterios serviram de base para elaboraccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas especiacuteficas para o novo
fenocircmeno da internet mas que agora o foco deve ser outro Com a ampla penetraccedilatildeo da internet na
vida das pessoas que inicialmente estavam excluiacutedas novas dimensotildees relacionadas agrave qualidade do
uso tornam-se importantes para compreender o que as pessoas estatildeo fazendo enquanto estatildeo on-line e
que benefiacutecios obtecircm disso Os autores concluem que os padrotildees de desigualdade refletem natildeo
apenas nas diferenccedilas de recursos individuais de acesso mas tambeacutem com contexto socioeconocircmico
poliacutetico e cultural de cada indiviacuteduo
A noccedilatildeo de acesso a redes tem ganhado cada vez mais importacircncia na reconfiguraccedilatildeo da
dinacircmica social de um mundo cada vem mais conectado De acordo com Rifkin (2002) ateacute o fim dos
anos de 1980 a palavra acesso restringia-se a questotildees de ingresso num determinado espaccedilo fiacutesico O
autor explica que em 1990 a oitava ediccedilatildeo do Concise Oxford Dictionary incluiu o verbo access
(acessar) pela primeira vez indicando o seu novo uso relacionado com o acesso agraves tecnologias digitais
Em suas palavras
Agora acessar eacute um dos termos mais usados na vida social Quando as pessoas ouvem a palavra acessar provavelmente pensam na abertura para mundos totalmente novos de possibilidades e oportunidades O acesso tornou-se o bilhete de ingresso para o avanccedilo e para a realizaccedilatildeo pessoal sendo tatildeo poderoso quanto a visatildeo democraacutetica foi para geraccedilotildees anteriores Eacute uma palavra cheia de significado poliacutetico Acessar afinal diz respeito a distinccedilotildees e divisotildees sobre quem deveraacute ser
O mundo todo estaacute mesmo conectado
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incluiacutedo e quem seraacute excluiacutedo Acessar estaacute se tornando uma ferramenta conceitual potente para repensar nossa visatildeo de mundo bem como nossa visatildeo econocircmica tornando-se a metaacutefora mais poderosa da proacutexima era (Rifkin 2002 p 12)
Rifkin afirma que o mundo parece estaacute envolto em uma espeacutecie de sistema nervoso central
com as redes de internet As tecnologias modernas possibilitaram uma nova forma de desenvolvimento
de negoacutecios que ocorrem no ciberespaccedilo Numa economia global cada vez mais dominada por uma
rede de comeacutercio eletrocircnico e comunicaccedilotildees garantir o acesso seguro torna-se tatildeo importante como
era o acesso a bens materiais no iniacutecio da era industrial
Pipa Norris (2001) considera que o acesso natildeo eacute tudo mas eacute uma porta larga para entrada
dos excluiacutedos na sociedade do conhecimento A estrutura de oportunidades de cada paiacutes pode
influenciar na cultura e haacutebitos da populaccedilatildeo A autora argumenta que a internet tambeacutem oferece
promessa na prestaccedilatildeo de serviccedilos baacutesicos como educaccedilatildeo e informaccedilatildeo sobre sauacutede a regiotildees
distantes permitindo por exemplo que um professor ou um meacutedico em Gana ou Calcutaacute acesso agraves
mesmas informaccedilotildees do banco de dados como um profissional de Londres ou Nova York Em todos
esses aspectos conclui a autora a Internet promete nivelar e reduzir as desvantagens tradicionais do
mundo em desenvolvimento Mas o acesso baacutesico eacute essencial para que as pessoas sejam
beneficiadas
Nesta mesma direccedilatildeo Sorj (2008) afirma que a universalizaccedilatildeo do acesso eacute antes de tudo um
instrumento para diminuir os danos sociais do ponto de vista da desigualdade O acesso embora seja
apenas a porta de entrada eacute essencial para a inserccedilatildeo dos que estatildeo fora da rede ou agrave margem dela
Segundo o autor a desigualdade inicia no acesso Os produtos tecnoloacutegicos novos satildeo apresentados
aos ricos que tecircm condiccedilatildeo de adquiri-los em primeira matildeo enquanto os menos favorecidos
economicamente tecircm acesso a estes bens um tempo depois quando jaacute surgiram novos lanccedilamentos
Este fenocircmeno segue o efeito trikle-down ou seja gotejamento de cima para baixo Tal princiacutepio parte
do pressuposto que algumas partes da populaccedilatildeo (em especial as mais favorecidas economicamente)
vatildeo ter acesso e comprar a nova tecnologia Este segmento paga mais caro por esta tecnologia que
passa a se difundir e torna-se popular barateando os custos e tornando-a acessiacutevel agrave populaccedilatildeo menos
favorecida Um exemplo deste efeito foi o aparelho celular que a princiacutepio era um dispositivo caro com
recepccedilatildeo peacutessima e ligaccedilotildees de alto custo Ter um celular era considerado sinal de status social
contudo com o passar do tempo os custos do aparelho baratearam a tecnologia para transmissatildeo de
dados foi melhorada e os valores das ligaccedilotildees caiacuteram Possuir um celular natildeo eacute hoje um sinal de
status criaram-se novas aplicaccedilotildees nos aparelhos que disponibilizam benefiacutecios que apenas os mais
O mundo todo estaacute mesmo conectado
115
caros fornecem perpetuando o efeito trikle-down (Dijk 2005) Desta forma ter acesso a um aparelho
celular comum natildeo gera status mas possuir aparelhos de marcas famosas com funccedilotildees iacutempares eacute
para poucos usufruiacuterem Eacute o que sucede com o smartphone da Apple o Iphone que por ser mais caro
eacute inacessiacutevel para muitas pessoas20
Na anaacutelise de Warschauer (2002) o preccedilo de compra real de um computador eacute apenas a
pequena parte do que pode ser considerado o custo total de propriedade que inclui o preccedilo de
software manutenccedilatildeo e perifeacutericos DiMaggio e Hargitta (2001) lamentam que o acesso agrave internet seja
usado como sinocircnimo de uso Numa mesma residecircncia os adolescentes passam mais tempo on-line
do que os adultos citam os autores baseando-se em estudos Diferenccedilas de gecircnero e renda tambeacutem
satildeo apontadas como fatores que determinam o uso da internet em diversos contextos
Para os formuladores de poliacuteticas eacute mais viaacutevel olhar os elementos baacutesicos do fosso digital em
vez de aprofundar nos aspectos que requerem uma apreciaccedilatildeo mais complexa do contexto Barzilai-
Nahon (2006) afirma que eacute importante a construccedilatildeo de um iacutendice composto onde a dinacircmica entre
diferentes variaacuteveis seja levada em consideraccedilatildeo para se medir o fosso digital A autora cita o Iacutendice
de Acesso Digital proposto pelo ITU (Uniatildeo Internacional de Telecomunicaccedilotildees) que considera os
seguintes fatores infraestrutura acessibilidade conhecimento (alfabetizaccedilatildeo de adultos e matriacutecula
escolar) qualidade (largura de banda per capita e os assinantes de banda larga) e uso (ITU 2003)
No entanto Barzilai-Nahon reconhece que a ITU concentra-se principalmente nas divisotildees e diferenccedilas
internacionais e tende a ignorar niacuteveis mais locais e micro de anaacutelise tais como comunidades escolas
grupos familiares e minorias de gecircnero e eacutetnicas
Sorj (2008) considera que medir a exclusatildeo digital tomando como paracircmetro o acessonatildeo
acesso a internet trata-se de uma medida ldquoprimitivardquo considerando que dentro do contexto do acesso
existem inuacutemeras variaacuteveis que determinam se o mesmo eacute de qualidade e se o usuaacuterio da tecnologia
obteacutem significativo proveito dela Para o autor o modelo mais usual para pensar sobre o acesso agrave
tecnologia eacute o baseado na propriedade ou da disponibilidade de um dispositivo neste caso um
computador Assim o uso da internet primeiramente estaacute relacionada com a disponibilidade e os
custos de tecnologia incluindo o preccedilo de hardware e software provedores de internet e telefone
serviccedilos Segundo Sorj (2003 p 60) vaacuterios estudos internacionais buscaram desenvolver indicadores 20 Este modelo gera status entre os jovens de tal modo que em algumas regiotildees do Brasil haacute sistemas de aluguel temporaacuterio do aparelho para os jovens se apresentarem em festas com ele Disponiacutevel em httpstecnologiauolcombrnoticiasredacao20141017jovens-pagam-ate-r-170-por-aluguel-de-iphone-para-ostentar-na-baladahtm Acesso em 23 de fev 2017
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que classificassem a posiccedilatildeo relativa dos paiacuteses na questatildeo de desenvolvimento telemaacutetico usando o
conceito de e-readiness Este conceito tem sido utilizado por agecircncias internacionais como um meio de
retratar a situaccedilatildeo da infraestrutura de tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo de um paiacutes aleacutem de
analisar a habilidade de seus consumidores governo e empresas de usar essa tecnologia Conforme
indica o autor ldquoa posiccedilatildeo de um paiacutes em termos de e-readiness natildeo possui correlaccedilatildeo necessaacuteria com
o niacutevel de exclusatildeo digital no interior da proacutepria sociedade embora as poliacuteticas de luta contra a
exclusatildeo digital afetem positivamente a capacidade nacional em termos de e-readinessrdquo
O relatoacuterio do e-readiness referente a 2015 organizado pelo World Economic Forum (WEF
2015) aponta para uma indiscutiacutevel revoluccedilatildeo moacutevel nos paiacuteses em desenvolvimento que embora seja
notaacutevel encontra limites na infraestrutura nas variaacuteveis ruralurbano e nas condiccedilotildees
socioeconocircmicas dos respectivos paiacuteses O relatoacuterio cita por exemplo a questatildeo do nuacutemero de
celulares no planeta poreacutem mesmo que haja quase tantas assinaturas de telefone quanto habitantes
no planeta isso natildeo implica que todos no mundo satildeo portadores de um aparelho celular Assim o
relatoacuterio conclui que existe parte do mundo em desenvolvimento que natildeo eacute abrangido por um sinal de
celular citando dados da Uniatildeo Internacional de Telecomunicaccedilotildees (UIT) no final de 2012 cerca de
450 milhotildees de pessoas em todo o mundo vivia sem um alcance de sinal de telefonia
Na visatildeo de Warschauer (2002) o acesso a tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo satildeo um
determinante entre a marginalizaccedilatildeo e a inclusatildeo na nova era socioeconocircmica instalada com a
globalizaccedilatildeo Segundo o autor a estratificaccedilatildeo que existe sobre o acesso agraves redes de informaccedilotildees on-
line tem pouco a ver com a internet em si estaacute sim relacionada com contextos poliacuteticos econocircmicos
institucionais culturais e linguiacutesticos que moldam o significado da internet na vida das pessoas
Warschauer (2003) realizou um estudo de caso no Egito tendo como foco os impactos resultantes do
investimento do governo local em introduzir computadores internet e outras tecnologias nas escolas
Entre as iniciativas do governo o autor cita (a) a criaccedilatildeo de centros de multimiacutedia na maioria das
escolas governamentais egiacutepcias (b) criaccedilatildeo de laboratoacuterios de informaacutetica na maioria das escolas
secundaacuterias egiacutepcias e (c) desenvolvimento de software educacional O estudo apontou resultados
insatisfatoacuterios Warschauer afirma que a tecnologia foi introduzida de forma verticalizada sem um
trabalho envolvendo a comunidade A maioria do financiamento e atenccedilatildeo do projeto foi para recursos
fiacutesicos especificamente para compra de hardware para centros multimiacutedia e recursos digitais Poreacutem
houve pouco gasto com formaccedilatildeo de professores ou apoio institucional para o uso das tecnologias
disponiacuteveis Neste sentido o estudo de caso no Egito sugeriu que uma ecircnfase excessiva na mera
O mundo todo estaacute mesmo conectado
117
presenccedila de computadores ou conexatildeoacesso a internet ligaccedilotildees sem uma atenccedilatildeo necessaacuteria para
a mobilizaccedilatildeo social e de transformaccedilatildeo pode desperdiccedilar recursos deixando intacta a desigualdade
Portanto a exclusatildeo digital natildeo deve ser analisada apenas pela questatildeo do acesso agraves
tecnologias pois embora este seja a porta de entrada um acesso limitado sem orientaccedilatildeo perita
conteuacutedo de interesse no idioma do usuaacuterio e contexto social apropriado natildeo resultaraacute em benefiacutecios
efetivos aos utilizadores da rede Ademais existem niacuteveis de exclusatildeo digital e barreiras para a inclusatildeo
que devem ser vencidas para a reduccedilatildeo das desigualdades virtuais
25 Niacuteveis de exclusatildeo sociodigital e barreiras para a inclusatildeo
A Revoluccedilatildeo Industrial ocorrida a partir do seacuteculo XVIII favoreceu a expansatildeo das classes
burguesas e marginalizou milhotildees de pessoas agrave condiccedilotildees precaacuterias de trabalho nas faacutebricas O ecircxodo
rural provocou o excesso de populaccedilatildeo nas cidades concentrando um grande nuacutemero de
desempregos o que proporcionava ao empresaacuterio capitalista um amplo contingente de matildeo de obra
por um preccedilo irrisoacuterio Os detentores dos novos meios de produccedilatildeo naquele periacuteodo usufruiacuteram
plenamente os lucros resultantes da pobreza instaladas nas cidades (Lis e Soly 1984) Deste modo se
por um lado a Revoluccedilatildeo Industrial provocou mudanccedilas profundas nos meios de produccedilatildeo humanos
ateacute entatildeo conhecidos afetando diretamente nos modelos econocircmicos e sociais da sociedade por outro
lado contribuiu para o crescimento da desigualdade social e a geraccedilatildeo de extrema pobreza em
algumas regiotildees superpopulosas da Europa
Igualmente a revoluccedilatildeo tecnoloacutegica a partir dos anos de 1990 mudou a estrutura social
econocircmica e cultural da sociedade As tecnologias emergentes de fato contribuiacuteram para a celeridade
na comunicaccedilatildeo seguranccedila agilidade de processos divulgaccedilatildeo de pesquisas cientiacuteficas e tecircm sido
usadas amplamente no campo da sauacutede e da educaccedilatildeo A internet permitiu que negoacutecios eletrocircnicos
fossem realizados mesmo em milhares de quilocircmetros de distacircncia O trabalho foi facilitado em
algumas funccedilotildees em que a maacutequina (o computador) eacute programada para trabalhar com precisatildeo e
velocidade tambeacutem favoreceu a mobilidade urbana e mudou os padrotildees sociais de propriedade e
privacidades dos usuaacuterios Por outro lado a revoluccedilatildeo tecnoloacutegica tornou a sociedade dependente das
tecnologias de inteligecircncia ampliando a necessidade de gerar conhecimento o que requer preparo e
capacitaccedilatildeo complexa (Silveira 2005) Aqueles que natildeo possuem estas competecircncias ficam agrave margem
da sociedade com poucas chances no mercado de trabalho e excluiacutedos das possibilidades de
ascensatildeo social
O mundo todo estaacute mesmo conectado
118
Benakouche (2002) considera o uso da categoria lsquoexclusatildeorsquo para o estudo das questotildees
sociais como ldquocontrovertidordquo Ou seja existem controveacutersias sobre a polaridade da expressatildeo exclusatildeo
que remete a extremidades dentro ou fora Benakouche entende que natildeo existe exclusatildeo absoluta em
relaccedilatildeo a alguma forma de consumo no entanto pode ocorrer que o sujeito seja mais ou menos
incluiacutedo ou excluiacutedo em relaccedilatildeo agrave capacidade de consumir de outros indiviacuteduos Neste sentido alguns
autores consideram mais apropriados utilizar termos como apartheid digital cisatildeo digital fractura
digital brecha digital gap digital e outros termos (Brown amp Czerniewicz 2010 Warschauer 2003
Furtado 2007)
Castells (2003 p 220) numa visatildeo mais ampla afirma que a ldquodivisatildeo digitalrdquo natildeo eacute medida
pelo nuacutemero de conexotildees com a internet mas pelas ldquoconsequecircncias tanto da conexatildeo quanto da falta
de conexatildeordquo Neste sentido o autor argumenta ldquoestar desconectado ou superficialmente conectado
com a internet equivale estar agrave margem do sistema global interconectadordquo Seria o equivalente a viver
sem energia eleacutetrica na eacutepoca da Revoluccedilatildeo Industrial Seguindo esta analogia Silveira (2005 p 15)
explica
Porque a informatizaccedilatildeo penetrou na sociedade tal como a energia eleacutetrica resultante da Segunda Revoluccedilatildeo Industrial reconfigurou a vida das cidades O computador iacutecone da nova revoluccedilatildeo ligado em rede estaacute alterando a relaccedilatildeo das pessoas com o tempo e com o espaccedilo
Balboni (2007) considera que pensar na categoria exclusatildeo implica em definir fronteiras do
ldquoestarrdquo e ldquonatildeo estarrdquo inserido ldquoem algum lugarrdquo levando em conta o ponto de vista de quem faz essas
limitaccedilotildees Neste sentido na visatildeo da autora o incluiacutedo eacute quem determina aquele que estaacute excluiacutedo
Nas suas palavras ldquoas limitaccedilotildees que definem o excluiacutedo digital natildeo satildeo apenas econocircmicas mas
podem ser sociais como idade ou sexo fiacutesicas como deficiecircncias e necessidades especiais ou ainda
culturais como religiosidade entre outrosrdquo (idem p12) Assim a noccedilatildeo de binaacuteria de exclusatildeo
baseada entre os que tecircm e natildeo tecircm acesso agraves tecnologias pode ser imprecisa ou mesmo mais
excludente ainda Como observado por Warschauer (2002) nos EUA os afro-americanos satildeo
retratados frequentemente como pessoas excluiacutedas digitalmente quando na verdade o acesso agrave
internet entre os negros e outras minorias varia bastante de acordo com a faixa de renda Portanto
conclui Warschauer a classificaccedilatildeo de grupos minoritaacuterios por estereoacutetipos pode levar a mais
estratificaccedilatildeo social visto que desencoraja provedores de conteuacutedo a focar nesses grupos
Conforme explicitado por DiMaggio e Hargittai (2001) a questatildeo eacute o que as pessoas estatildeo
fazendo e o que elas satildeo capazes de fazer quando estatildeo on-line Os autores criticam estudos que
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caracterizam a exclusatildeo digital medindo pelos nuacutemeros de acessos e quantidade de computadores
com internet nas residecircncias com o argumento de que a ampliaccedilatildeo do acesso a alguns grupos antes
excluiacutedos passa pela qualidade da conexatildeo e o uso pleno das informaccedilotildees obtidas Diante deste
cenaacuterio segundo DiMaggio e Hargittai (idem) surgiram novos tipos de desigualdades entre os usuaacuterios
da internet referindo cinco tipos
A primeira desigualdade citada pelos autores trata-se da variaccedilatildeo dos meios teacutecnicos (hardware
e conexotildees) pelo qual as pessoas acessam a web DiMaggio e Hargittai (idem) partem do pressuposto
de que os que possuem aparato teacutecnico inferior tecircm benefiacutecios reduzidos Por exemplo usuaacuterios com
conexotildees lentas software e hardware antigos encontram dificuldades de acessar determinados sites e
tambeacutem reduz as chances do usuaacuterio obter uma experiecircncia gratificante na internet restringindo-os a
usaacute-la em ocasiotildees realmente necessaacuterias
A segunda desigualdade refere-se agrave autonomia no uso da internet Esta questatildeo diz respeito a
que local e em que condiccedilotildees os usuaacuterios tecircm acesso Os autores argumentam que existe diferenccedila
em acessar a internet em casa ou fora de casa como acessar por exemplo no trabalho ou numa lan
house Se acessar fora de casa o usuaacuterio talvez precise deslocar longas distacircncias ou tem horaacuterio
reduzido para o acesso Se o acesso ocorre no trabalho pode haver uma filtragem ou monitoraccedilatildeo dos
sites acessados E mesmo em casa o acesso pode ser limitado pelas accedilotildees de outros membros da
famiacutelia
A terceira desigualdade apontada por DiMaggio e Hargittai eacute a habilidade teacutecnica para o uso
das tecnologias Para os autores os usuaacuterios da internet necessitam de pelo menos quatro
competecircncias teacutecnicas (1) como fazer o login (2) realizar buscas e fazer download de informaccedilotildees (3)
conhecimento teacutecnico sobre como a web funciona e (4) conhecimento teacutecnico sobre software e
hardware Estas habilidades estatildeo diretamente relacionadas com a capacidade dos indiviacuteduos de
utilizar a internet para os fins que eles escolhem
A desigualdade na disponibilidade de apoio social eacute apontada pelos autores como a quarta
variaacutevel que faz diferenccedila na experiecircncia com o uso da internet Indiviacuteduos que tecircm suporte e apoio
teacutecnico ao lidarem com computadores satildeo propensos a adquirirem mais habilidades e competecircncias
neste campo A assistecircncia pode ser formal (equipe de suporte em escritoacuterios laboratoacuterios ou escolas)
teacutecnica de amigos e familiares ou mesmo na forma de reforccedilo emocional de amigos que partilham
suas experiecircncias
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Por fim a quinta desigualdade tratada pelos autores eacute em relaccedilatildeo agrave variaccedilatildeo dos fins do uso
da internet Do ponto de vista das poliacuteticas puacuteblicas nem todos os usos satildeo iguais DiMaggio e
Hargittai apontam objetivos diferenciados que podem ser determinantes na questatildeo da desigualdade
Alguns usuaacuterios da internet a utilizam para o aumento da sua produtividade econocircmica (aprender novo
idioma cursos de aperfeiccediloamento a distacircncia e acesso a sites de agecircncias de emprego) Outros
usuaacuterios usam a internet para enriquecer seu capital cultural ou social por exemplo usando a internet
para acompanhar as notiacutecias reunir informaccedilotildees relevantes para a tomada de decisatildeo eleitoral
aprender sobre questotildees puacuteblicas estabelecer um diaacutelogo ciacutevico ou participar ou organizar atividades
de movimentos sociais E tem aqueles usuaacuterios que navegam apenas para entretenimento Para
concluir os autores recomendam que as poliacuteticas puacuteblicas voltadas para a inclusatildeo digital levem em
consideraccedilatildeo todas as variaacuteveis de desigualdade que determinam situaccedilotildees de exclusatildeo ou
marginalizaccedilatildeo quanto ao uso da internet
Retomando as questotildees que se levantam diante da penetraccedilatildeo da internet na vida social dos
indiviacuteduos satildeo quem tem realmente o acesso de qualidade agrave internet O que as pessoas estatildeo fazendo
e o que satildeo capazes de fazer quando estatildeo on-line Embora as tecnologias proporcionem a ampliaccedilatildeo
da capacidade de pensar e a precisatildeo das atividades humanas a disponibilidade do acesso a estas em
si natildeo garantem a facilidade do seu uso universal conforme os argumentos ja expostos neste capiacutetulo
Segundo Resnick (2002) mesmo que as pessoas em todos os lugares tenham acesso agraves tecnologias
digitais existe um risco real de que apenas um pequeno grupo seja capaz de usaacute-las fluentemente A
lacuna do acesso pode encolher mas a lacuna da fluecircncia tende a permanecer O autor compara a
fluecircncia tecnoloacutegica com a fluecircncia em determinado idioma natildeo se pode dizer que se eacute fluente na
liacutengua inglesa se sabemos apenas toacutepicos frasais eacute preciso ser capaz de articular uma ideia complexa
ou contar uma histoacuteria envolvente Assim reflete Resnick fluecircncia natildeo significa apenas acessar
informaccedilotildees na web mas criar seu proacuteprio conteuacutedo Assim natildeo se trata de apenas ler texto ou ver
viacutedeos mas gerar e compartilhar conhecimentos em comunidades de aprendizagem produzir editar e
publicar textos e viacutedeos na rede
Existem barreiras que dificultam o sujeito ao consumo e produccedilatildeo de conteuacutedos de maneira
criacutetica na sociedade em rede Holanda e DallrsquoAntonia (2006) formularam um modelo de barreiras agrave
inclusatildeo baseado na realidade brasileira identificada a partir do perfil socioeconocircmico cultural e
escolaridade No modelo a primeira barreira trata- do acesso a terminais e a web Para os autores as
barreiras tecnoloacutegicas da divisatildeo estatildeo fortemente ligadas com aspectos socioculturais da populaccedilatildeo
O mundo todo estaacute mesmo conectado
121
da mesma forma que regiotildees de baixa renda satildeo fracamente ligadas a infraestrutura de
telecomunicaccedilotildees O fato de ampliaccedilatildeo da capacidade de rede de acesso chegando natildeo eacute suficiente
para paiacuteses com altas taxas de pobreza Um exemplo nesse caso eacute o Brasil segundo estudo realizado
pelo Comitecirc Gestor da internet no Brasil (CGIbr21) com dados de referecircncia de 2014 nos domiciacutelios
da classe A o acesso agrave internet encontrava-se praticamente universalizado enquanto
aproximadamente 30 milhotildees de domiciacutelios das classes C e DE estavam desconectados o que
representa quase metade do total de domiciacutelios brasileiros O estudo aponta tambeacutem uma penetraccedilatildeo
de computadores no domiciacutelios brasileiros desigualmente distribuiacuteda entre regiotildees geograacuteficas As
maiores proporccedilotildees de presenccedila de computadores nos domiciacutelios satildeo verificadas no Sudeste (59) e
no Sul (54) regiotildees mais desenvolvidas do paiacutes Enquanto nas regiotildees Centro-Oeste Nordeste e
Norte essas proporccedilotildees satildeo de 44 38 e 30 respectivamente sendo estas as regiotildees menos
favorecidas economicamente A mesma pesquisa tambeacutem inferiou os motivos pelos quais parte dos
domiciacutelios brasileiros natildeo tinham acesso agrave internet O motivo prepoderante foi o custo elevado dos
serviccedilos (60) seguido da falta de interesse dos moradores (51) e da falta de computador no
domiciacutelio (50) Em algumas regiotildees mais carentes como a Regiatildeo Norte outra barreira apontada foi o
serviccedilo natildeo disponiacutevel (57) e entre os domiacutecilio de aacuterea rural desta regiatildeo um porcentual de 53
tambeacutem declaram que o serviccedilo de internet natildeo estava disponiacutevel para contrataccedilatildeo
O cenaacuterio brasileiro vislumbra um alto iacutendice de desigualdade de renda Enquanto os 5 mais
ricos possuem 28 da renda bruta do paiacutes os 20 mais pobres tecircm apenas 35 de direitos liquidos22
O problema da concentraccedilatildeo de propriedade e de uso das tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo
tambeacutem constitui uma lamentaacutevel realidade De acordo com o Mapeamento da Miacutedia Digital no Brasil
(Mizukami Reia e Varon 2014) apesar de 40 dos domiciacutelios brasileiros terem acesso agrave internet em
2012 a exclusatildeo era ldquogritanterdquo principalmente nas classes com menos poder aquisitivo e nas
residecircncias nas aacutereas rurais em que apenas 10 dos domiciacutelios estavam conectados Na anaacutelise de
Horta (2007 p 5) essa desigualdade eacute uma tendecircncia em diferentes paiacuteses
Ainda que o acesso telemaacutetico jaacute ocupe uma funccedilatildeo infra-estrutural ao possibilitar o desenvolvimento da ldquosociedade da informaccedilatildeordquo ele seraacute diferenciado de regiatildeo para regiatildeo em um mesmo paiacutes e de paiacutes para paiacutes de acordo com o niacutevel de desenvolvimento alcanccedilado por cada um ateacute este momento
21 Disponiacutevel em httpwwwcgibrmediadocspublicacoes2TIC_Dom_2015_LIVRO_ELETRONICOpdf Acesso em 16 de out 2015 22 Relatoacuterio sobre a distribuiccedilatildeo de renda e da riqueza da populaccedilatildeo brasileira Disponiacutevel em httpwwwfazendagovbrcentrais-de-conteudospublicacoestransparencia-fiscaldistribuicao-renda-e-riquezarelatorio-distribuicao-da-renda-2016-05-09pdf Acesso em 22 dez 2016
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Neste sentido a autora conclui que na exclusatildeo digital assim como a desigualdade social
trata-se de uma questatildeo estrutural da sociedade A combinaccedilatildeo ldquopaiacutes de baixa rendardquo mais ldquorestriccedilatildeo
de acesso digitalrdquo somado com ldquobaixo niacutevel de escolaridaderdquo resulta no impedimento do avanccedilo das
poliacuteticas de inclusatildeo digital no Brasil Todos estes fatores corroboram para que coexistam cidadatildeos
com acesso amplo agraves tecnologias e em vantagem econocircmica social e cultural em contraponto com
cidadatildeos com pouco ou nenhum acesso agraves miacutedias em seacuterias desvantagens
A segunda barreira para a inclusatildeo de acordo com Holanda e DallrsquoAntonia (2006) eacute a
acessibilidade e a usabilidade Em estudo realizado pelos autores no Brasil cerca de 25 milhotildees de
pessoas apresentam alguma deficiecircncia fiacutesica mental ou sensorial Este puacuteblico exige soluccedilotildees
especiacuteficas de acessibilidade para usarem com efetividade artefatos tecnoloacutegicos o que em geral natildeo
ocorre
A terceira barreira trata da inteligibilidade Esta se relaciona com a falta de habilidades para o
uso das tecnologias e com a escassez de conteuacutedo de linguagem compreensiacutevel para pessoas
ldquoanalfabetas funcionais23rdquoPara estas pessoas o mais importante natildeo eacute a disponibilidade do dispositivo
de computaccedilatildeo ou a linha de internet mas as habilidades e competecircncias para fazer uso destes
dispositivos em torno de praacuteticas sociais significativas Logo o sujeito que natildeo sabe ler nunca
aprendeu a usar um computador ou ainda natildeo sabe qualquer um dos principais idiomas que
dominam os conteuacutedos da internet vai ter dificuldade ateacute mesmo de ficar on-line e natildeo poderaacute usar a
internet de forma produtiva (Warschauer 2002)
Alguns estudos revelam que a exclusatildeo digital enquanto fenocircmeno da sociedade da
informaccedilatildeo estaacute se aprofundando e predispotildee a se tornar um ciacuterculo vicioso Dijk (2005) considera
que eacute fundamental superar o determinismo tecnoloacutegico que deposita na tecnologia todos os possiacuteveis
avanccedilos da sociedade Assim como a chegada da TV e do raacutedio no seu tempo natildeo superaram a
desigualdade da informaccedilatildeo a internet por si soacute natildeo o faraacute Para o autor a desigualdade da
informaccedilatildeo e do uso das tecnologias digitais eacute um subconjunto da desigualdade social da sociedade
Nesta perspectiva os grupos que teriam uma relaccedilatildeo de distinccedilatildeo entre si seriam ricos e pobres
homens e mulheres brancos e pretos cidadatildeos e imigrantes empregador e empregado (ou
desempregados) pessoas com alto niacutevel de formaccedilatildeo e analfabetas funcionais e outros grupos sociais
23 Uma definiccedilatildeo adotada no Brasil pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e aceita pela UNESCO eacute a de que analfabetos funcionais satildeo pessoas agraves quais falta domiacutenio de habilidades em leitura escrita caacutelculos e ciecircncias correspondentes a uma escolaridade de ateacute 3 seacuteries completas do ensino fundamental ou antigo primaacuterio ou seja menos de 4 anos de estudo (RIBEIRO et al 2011 p 4)
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com caracteriacutesticas antagocircnicas O circulo vicioso da desigualdade eacute portanto descrito por Dijk (2005
p 15)
- Desigualdades categoriais na sociedade produzem uma distribuiccedilatildeo desigual de recursos - Uma distribuiccedilatildeo desigual de recursos causa acesso desigual a tecnologias digitais - Acesso desigual a tecnologias digitais tambeacutem depende de caracteriacutesticas dessas tecnologias - Acesso desigual a tecnologias digitais traz consigo participaccedilatildeo desigual na sociedade - Participaccedilatildeo desigual na sociedade reforccedila desigualdades categoriais e distribuiccedilotildees desiguais de recursos
Assim a expansatildeo da globalizaccedilatildeo e o fortalecimento do capitalismo contribuem para o
aumento das desigualdades sociais e econocircmicas principalmente nos paiacuteses em desenvolvimento A
introduccedilatildeo das tecnologias no sistema bancaacuterio no Brasil ilustra esta situaccedilatildeo do ciacuterculo vicioso da
exclusatildeo Com o sistema do banco informatizado milhares de empregados bancaacuterios perderam seu
emprego ou tiveram de adaptar a um niacutevel maior de responsabilidade para permanecerem nos cargos
O mesmo aconteceu com a informatizaccedilatildeo dos ocircnibus de transportes urbanos setores da induacutestria e
do agronegoacutecio Neste sentido a luta contra a exclusatildeo digital eacute uma das muitas dimensotildees da luta
contra a pobreza e a desigualdade social Consideremos no ponto seguinte um retrato sinoacuteptico do
cenaacuterio do fosso digital no Brasil e no mundo
26 O fosso digital no cenaacuterio mundial e no Brasil
A Cuacutepula do Milecircnio organizada pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) e realizada em 2000
na cidade de Nova York reuniu 191 liacutederes governamentais do mundo todo com o objetivo de
debaterem sobre os principais problemas que afetam o mundo no novo milecircnio Como resultado dos
debates realizados durante esse evento foram estabelecidos os ldquoObjetivos de Desenvolvimento do
Milecircniordquo (ODM) em que os presidentes participantes se comprometeram a colocar em praacutetica accedilotildees
para que tais objetivos fossem alcanccedilados ateacute ao ano de 2015 De entre esses objetivos constava na
agenda a erradicaccedilatildeo da miseacuteria e da pobreza Assegurar os benefiacutecios das tecnologias de informaccedilatildeo
e comunicaccedilatildeo a todos foi designada como uma das metas para a erradicaccedilatildeo da pobreza Em 2003
a ONU realizou em Genebra a Cuacutepula Mundial sobre a Sociedade da Informaccedilatildeo (CMSI) cuja meta
principal era diminuir a chamada exclusatildeo digital atraveacutes da ampliaccedilatildeo do acesso da internet para os
paiacuteses em desenvolvimento A International Telecommunication Union (ITU) agecircncia especializada das
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Naccedilotildees Unidas para a tecnologia da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo elaborou um plano de accedilatildeo24 com o
objetivo de atingir a meta de promover o acesso agraves redes de internet a pelo menos metade da
populaccedilatildeo mundial ateacute 2015 As metas propostas de acordo com o plano eram
a Conectar aldeias com as TIC e estabelecer pontos de acesso comunitaacuterio b Conectar universidades faculdades escolas secundaacuterias e escolas primaacuterias com as TIC c Ligar os centros cientiacuteficos e de investigaccedilatildeo com as TIC d Conectar as bibliotecas puacuteblicas centros culturais museus estaccedilotildees de correios e arquivos com as TIC e Ligar centros de sauacutede e hospitais com as TIC f Interligar todos os departamentos do governo local e central e estabelecer sites e endereccedilos de e-mail g A adaptaccedilatildeo de todos os curriacuteculos do ensino primaacuterio e secundaacuterio para enfrentar os desafios da sociedade da informaccedilatildeo tendo em conta as circunstacircncias nacionais h Garantir que toda a populaccedilatildeo do mundo tenha acesso a serviccedilos de televisatildeo e raacutedio i Incentivar o desenvolvimento de conteuacutedos e de pocircr em praacutetica as condiccedilotildees teacutecnicas a fim de facilitar a presenccedila e utilizaccedilatildeo de todas as liacutenguas do mundo na internet j Garantir que mais de metade dos habitantes do mundo tenham acesso agraves TIC
O destaque segundo o documento era dar prioridade aos paiacuteses em desenvolvimento e aos
povos e etnias considerados minorias De acordo com o relatoacuterio da ICT intitulado ICT Facts and
Figures ndash The world in 201525middot neste ano de 2015 os governos estavam a fazer a avaliaccedilatildeo final dos
ldquoObjetivos de Desenvolvimento do Mileacutenio das Naccedilotildees Unidasrdquo (ODM) acordados em 2000 na
Cuacutepula do Milecircnio No prefaacutecio do relatoacuterio Brahima Sanou Diretor da ITU observa que ao longo dos
uacuteltimos 15 anos ocorreu uma revoluccedilatildeo das TDIC que tem impulsionado o desenvolvimento global de
uma forma sem precedentes O progresso tecnoloacutegico a implantaccedilatildeo de infraestrutura e a queda dos
preccedilos trouxe crescimento inesperado nas tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo proporcionando o
acesso e a conectividade para bilhotildees de pessoas ao redor do mundo A telefonia moacutevel eacute outro destaque
do relatoacuterio em 2015 referindo-se que o nuacutemero de assinaturas em todo mundo ultrapassa 7 bilhotildees
Outro segmento do mercado apontado pelo relatoacuterio como dinacircmico eacute a banda larga moacutevel com penetraccedilatildeo
global de 47 em 2015 um valor que aumentou 12 vezes desde 2007 Globalmente 32 bilhotildees de
pessoas estatildeo usando a internet dos quais 2 bilhotildees satildeo de paiacuteses em desenvolvimento
24 Disponiacutevel em lt httpwwwituintnetwsisdocsgenevaofficialpoahtml gt Acesso em 20 dez 2015 25 Relatoacuterio disponiacutevel em lt httpwwwituintenITU-DStatisticsDocumentsfactsICTFactsFigures2015pdfgt Acesso em 19 out 2015
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Poreacutem o relatoacuterio apresenta um quadro representativo das lacunas relacionada ao acesso agraves redes
ainda existentes entre os paiacuteses desenvolvidos paiacuteses em desenvolvimento e os paiacuteses com
desenvolvimento miacutenimo apresentados pela sigla LDCs
Quadro 4 - Evoluccedilatildeo do acesso agrave internet no mundo entre 2000 e 2015
Fonte Relatoacuterio ICT -2015
O quadro mostra um ciclo evolutivo no periacuteodo de 2000 a 2015 em que houve um salto significativo
de 400 milhotildees de usuaacuterios em 2000 para 32 bilhotildees em 2015 No primeiro periacuteodo a penetraccedilatildeo da
internet nos paiacuteses em desenvolvimento era de 100 milhotildees de usuaacuterios em comparaccedilatildeo com 300 milhotildees
nos paiacuteses desenvolvidos Em 2015 apesar da elevada penetraccedilatildeo da internet nos paiacuteses em
desenvolvimento eles concentram o maior nuacutemero de pessoas off-line cerca de 4 bilhotildees de usuaacuterios natildeo
tecircm acesso regular agrave rede Nestes paiacuteses apenas 7 dos domiciacutelios tecircm acesso a internet em comparaccedilatildeo
com a meacutedia mundial de 46 O relatoacuterio cita a Aacutefrica em que uma em cada cinco pessoas usa a internet
em comparaccedilatildeo com quase duas em cinco dos continentes da Aacutesia e Paciacutefico e trecircs em cada cinco pessoas
nos paiacuteses desenvolvidos Esses nuacutemeros mostram que uma fatia significante da populaccedilatildeo mundial
sobretudo nos paiacuteses menos desenvolvidos estaacute desconectada marginalizada ou fora da rede
O mesmo relatoacuterio afirma que nos paiacuteses menos desenvolvidos apenas uma em cada dez pessoas
fica on-line O fosso digital na questatildeo de gecircnero tambeacutem apresenta disparidade maior quantidade de
homens acessam a internet O relatoacuterio conclui que capacitar as pessoas atraveacutes do acesso agrave banda larga
exige muito mais do que infraestrutura mas o melhor uso possiacutevel das ferramentas disponiacuteveis Cita por
exemplo que dentre os quatro bilhotildees de pessoas que natildeo estatildeo on-line pode ser por natildeo compreenderem o
O mundo todo estaacute mesmo conectado
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potencial da internet ou natildeo encontre conteuacutedo uacutetil no seu idioma nativo Conclui portanto que o momento eacute
mais importante do que nunca para que os paiacuteses em desenvolvimento priorizem o aprimoramento digital
com fins de melhorar sua competividade nacional e beneficiar os cidadatildeos com o potencial que a internet
proporciona
No Brasil este cenaacuterio eacute uma realidade Para o efeito vamos utilizar os dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatiacuteticas (IBGE) publicado no relatoacuterio intitulado Pesquisa Nacional por
Amostra de Domiciacutelios (Pnad26) Acesso agrave internet e posse de telefone moacutevel celular para uso pessoal
dos brasileiros (IBGE 2015) cuja pesquisa por amostragem de domiciacutelios foi realizada em todo
territoacuterio nacional no periacuteodo de 2013 Com relaccedilatildeo agrave utilizaccedilatildeo da internet pelos brasileiros o estudo
revelou que devido agrave ampliaccedilatildeo dos tipos de aparelhos que acessam a rede (microcomputador
telefone moacutevel tablet e outros) estimou-se que 856 milhotildees (499 da populaccedilatildeo) do contigente de
pessoas de 10 anos ou mais de idade utilizaram a internet pelo menos uma vez dentro de trecircs meses
do periacuteodo de referecircncia da pesquisa
Graacutefico 1 - Porcentual de pessoas que utilizaram a internet por meio de microcomputador e somente por outros equipamentos no periacuteodo de referecircncia dos uacuteltimos trecircs meses na populaccedilatildeo de 10 anos ou mais de idade -
Brasil - 20052013
Fonte IBGE (2015) Diretoria de Pesquisas Coordenaccedilatildeo de Trabalho e Rendimento Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios 20052013
O graacutefico mostra um aumento de quase 30 de utilizaccedilatildeo da internet no periacuteodo de oito anos
No ultimo periacuteodo a utilizaccedilatildeo de outros dispositivos com acesso a internet foram utilizados por mais 26 Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios (Pnad) se trata de um levantamento estatiacutestico sobre a populaccedilatildeo brasileira que visa suprir a falta de informaccedilotildees sobre a mesma durante o periacuteodo intercensitaacuterio e ampliar os temas pouco abordados no Censo
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de 4 da populaccedilatildeo da amostra O estudo revelou que a utilizaccedilatildeo da internet eacute desigual nas diferentes
regiotildees brasileiras As regiotildees Sul Sudeste e Centro-Oeste mais desenvolvidas satildeo as que mais
utilizam a internet nos computadores de mesa (531 50 e 543 respectivamente) Um aspecto a
assinalar eacute que na regiatildeo Norte um amplo nuacutemero de usuaacuterios (87) utiliza a internet nos dispositivos
moacuteveis como tablets e celulares Por se tratar de uma regiatildeo em que muitas vezes o acesso mais
tradicional seja por fibra ou ADSL natildeo alcanccedila a telefonia moacutevel acaba sendo a uacutenica alternativa de
conexatildeo mesmo que em geral tenha um fraco sinal
No que se refere ao tipo de conexatildeo o estudo do IBGE constatou que dos 312 milhotildees de
domiciacutelios com utilizaccedilatildeo de internet em 2013 23 (725 mil) possuiacuteam exclusivamente a conexatildeo
discada e 977 (305 milhotildees) utilizavam a conexatildeo em banda larga sendo que 771 (241
milhotildees) usavam os serviccedilos da banda larga fixa e 435 (136 milhotildees) conectavam utilizando a
banda larga moacutevel Em 230 (72milhotildees) dos domiciacutelios existiam as duas modalidades de conexatildeo
Sobre a presenccedila de tablets (dispositivos moacuteveis) no cotidiano das pessoas a pesquisa revela que em
71 milhotildees (108) dos 651 milhotildees de domiciacutelios particulares permanentes do Paiacutes havia um
aparelho Mais da metade destes (39 milhotildees) estatildeo concentrados na Regiatildeo Sudeste (mais
desenvolvida) Na Regiatildeo Norte os Estados do Piauiacute (50) Maranhatildeo (49) e Rondocircnia (48)
regiotildees mais pobres do Brasil concentram os menores iacutendices de aquisiccedilatildeo dos tablets A renda
econocircmica das famiacutelias constitui um fator de peso quando se trata de adquirir equipamentos com
acesso a internet A pesquisa revela que os domiciacutelios que possuiacuteam tablets e microcomputadores satildeo
aqueles cuja renda meacutedia mensal per capita era de R$ 157200 por outro lado nos domiciacutelios que
natildeo tinham esses aparelhos a renda meacutedia era de R$ 68700 Estes dados corroboram com a
afirmaccedilatildeo de Sorj (2008) de que os mais altos niacuteveis de exclusatildeo digital satildeo encontrados nas famiacutelias
de baixa renda
A anaacutelise por gecircnero da pesquisa do IBGE mostrou que natildeo existe uma diferenccedila significativa
entre homens (493) e mulheres (495) que usavam a internet no Brasil em 2013 Na distribuiccedilatildeo
etaacuteria constatou-se um decliacutenio de uso a medida que a idade avanccedila Nos grupos de pessoas de 15 a
17 anos a maior proporccedilatildeo alcanccedila 757 na faixa dos 10 a 39 anos o uso da internet ultrapassava
50 e na faixa dos 60 anos ou mais o porcentual cai para 126 No tocante agrave escolaridade observa-
se uma proporccedilatildeo crescente aos mais escolarizados O relatoacuterio diz
Para as pessoas com ateacute 7 anos de estudo o porcentual era inferior ao total nacional (494) enquanto para aquelas com 8 anos ou mais de estudo a
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proporccedilatildeo era maior O maior porcentual foi observado na populaccedilatildeo com 15 anos ou mais de estudo (898) (IBGE 2015 p 40)
Pipa Norris (2001) em estudos realizados nos paiacuteses norte-americanos constatou que trecircs
quartos de todos os graduados em universidades usam a internet em comparaccedilatildeo com menos de um
quinto dos que natildeo conseguiram concluir o ensino meacutedio
Sobre a ocupaccedilatildeo das pessoas que utilizavam a internet em 2013 de acordo com os
grupamentos ocupacionais o relatoacuterio do IBGE (2015 p 41) constatou que os profissionais das
ciecircncias e das artes apresentaram o maior porcentual de pessoas que utilizavam a internet (913)
seguidos pelos grupamentos dos membros das forccedilas armadas e auxiliares (889) dos trabalhadores
dos serviccedilos administrativos (855) dos dirigentes em geral (835) e dos teacutecnicos de niacutevel meacutedio
(821) Em relaccedilatildeo aos grupamentos de atividade as pessoas ocupadas em ldquoOutras atividadesrdquo
(819) e em Educaccedilatildeo Sauacutede e Serviccedilos Sociais (815) apresentavam as maiores proporccedilotildees
enquanto na Atividade Agriacutecola (114) Serviccedilos Domeacutesticos (283) e Construccedilatildeo (346) menos da
metade das pessoas ocupadas utilizavam a Internet em 2013
No que diz respeito agrave relaccedilatildeo entre o uso da internet e a renda econocircmica das famiacutelias a
pesquisa do IBGE revelou que a proporccedilatildeo de pessoas que utilizavam internet era crescente conforme
aumentava a classe de rendimento mensal domiciliar per capita Em 2013 como eacute possiacutevel visualizar
no graacutefico 2 o maior porcentual (899) foi observado na classe de mais de 10 salaacuterios miacutenimos
enquanto o menor (239) na classe sem rendimento a frac14 do salaacuterio miacutenimo
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Graacutefico 2 - Porcentual de pessoas que utilizaram a internet no periacuteodo de referecircncia dos uacuteltimos trecircs meses na populaccedilatildeo de 10 anos ou mais de idade segundo as classes de rendimento mensal domiciliar per capita - Brasil
ndash 2013
Fonte IBGE Diretoria de Pesquisas Coordenaccedilatildeo de Trabalho e Rendimento Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios 2013
A pesquisa ldquoTIC Domiciacuteliosrdquo realizada pelo Centro de Estudos sobre as Tecnologias de
Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (CETICbr) com o objetivo de medir o acesso e os usos da populaccedilatildeo
brasileira em relaccedilatildeo agraves tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo no periacuteodo de outubro de 2014 a
marccedilo de 2015 numa proporccedilatildeo menor que o estudo do IBGE apresenta dados que corroboram com
o aumento da penetraccedilatildeo da internet nos lares brasileiros A partir da base total de domiciacutelios
brasileiros 64 milhotildees a pesquisa CETIC constatou por amostragem que 322 milhotildees de domiciacutelios
possuem conexatildeo agrave internet e 54 destes estatildeo na aacuterea urbana Dos 942 milhotildees de usuaacuterios de
internet 19 o fazem apenas do telefone celular 23 apenas do computador e 56 usam ambos Do
universo de 1482 milhotildees de usuaacuterios de aparelhos celulares no Brasil 815 acessaram a internet
dos seus dispositivos em 2014 Na questatildeo da renda a pesquisa CETIC usa a classificaccedilatildeo por classes
sociais27 e constata que na classe A cerca de 96 satildeo usuaacuterios da internet e no outro extremo na
classe E apenas 21 tecircm acesso agraves redes
Estes dados mostram que existem clivagens digitais geradas como um subproduto de velhas
desigualdades sociais (Dijk 2005) Estas desigualdades soacute poderatildeo ser amenizadas quando os
gestores puacuteblicos compreenderem que ldquoincluir digitalmenterdquo natildeo se trata de inserir um indiviacuteduo num
determinado espaccedilo com computadores e acesso agrave internet senatildeo bastaria criar telecentros e
27 Segundo a Fundaccedilatildeo Getulio Vargas as classes satildeo definidas de acordo com a sua renda familiar Classe A Acima de R$974500 Classe B de R$747500 a R$974500 Classe C de R$1734 a R$747500 Classe D de R$108500 a R$173400 Classe E de R$000 a de R$108500
Disponiacutevel em httpcpsfgvbrnode3999 Acesso em 07 nov 2015
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laboratoacuterios de informaacutetica em vaacuterias partes das cidades Assim como colocar um analfabeto numa
biblioteca natildeo o faraacute obter o conhecimento apenas por ter acesso a livros inserir o marginalizado
digitalmente na sociedade em rede requer poliacuteticas publicas que contemplem as questotildees de conteuacutedo
de interesse idioma do usuaacuterio educaccedilatildeo literacia ou recursos comunitaacuterios que decircem respaldo e
suporte para a emancipaccedilatildeo do individuo
2 7 Inclusatildeo digital educaccedilatildeo e emancipaccedilatildeo
Diante do exposto nesse capiacutetulo sobre o cenaacuterio da exclusatildeo digital no Brasil e no mundo os
niacuteveis de desigualdades e barreiras para a inclusatildeo percebe-se o perigo da subclasse de ldquoinfo-pobresrdquo
ficarem ainda mais marginalizados nas sociedades onde as habilidades baacutesicas do computador estatildeo
se tornando essencial para o sucesso econocircmico promoccedilatildeo pessoal entrada para boa carreira
oportunidades educacionais e oportunidades para engajamento ciacutevico (Norris 2001) Assim Leacutevy
(1999 p 238) afirma que natildeo basta colocar o usuaacuterio diante de uma tela de computador em frente a
interfaces amigaacuteveis eacute preciso promover condiccedilotildees para que este cidadatildeo seja capaz de participar
ativamente nos processos de inteligecircncia coletiva presentes no ciberespaccedilo O autor conclui
Em outras palavras na perspectiva da cibercultura assim como nas abordagens mais claacutessicas as poliacuteticas voluntaristas de luta contra as desigualdades e a exclusatildeo devem visar o ganho em autonomia das pessoas ou grupos envolvidos Devem em contrapartida evitar o surgimento de novas dependecircncias provocadas pelo consumo de informaccedilotildees ou de serviccedilos de comunicaccedilatildeo concebidos e produzidos em uma oacuteptica puramente comercial ou imperial e que tecircm como efeito muitas vezes desqualificar os saberes e as competecircncias tradicionais dos grupos sociais e das regiotildees desfavorecidas
A autonomia ou emancipaccedilatildeo digital eacute defendida por outros autores como a capacidade dos
indiviacuteduos de formarem redes conectando espaccedilos de aprendizado e construccedilatildeo colaborativa de
conhecimentos que ampliam suas oportunidades de emprego e renda possibilitando maior capacidade
de mobilizaccedilatildeo social e participaccedilatildeo ativa em todas as instacircncias (Schwartz 2006 Borges 2012)
De acordo com Warschauer (2006) apenas as classes meacutedias e altas dos paiacuteses ricos e
desenvolvidos e a elite dos paiacuteses pobres foram capazes de beneficiarem da revoluccedilatildeo das tecnologias
o que gerou um crescimento desproporcional e desigual em ambas agraves categorias O autor propotildee
portanto a interseccedilatildeo entre as TDIC e a inclusatildeo social Assim a inserccedilatildeo dos indiviacuteduos na rede seria
para aleacutem dos benefiacutecios econocircmicos englobaria todos os aspectos cotidianos educaccedilatildeo poliacutetica
cultura entretenimento e viacutenculos sociais A integraccedilatildeo social da tecnologia proposta por Warschauer
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vai aleacutem da questatildeo de prover o acesso a internet agraves pessoas trata-se mais do empoderamento do
capital social dos indiviacuteduos ou seja prover meios para que os usuaacuterios da internet obtenham
habilidades para localizar avaliar armazenar usar as informaccedilotildees encontradas na rede
transformando-as em conhecimento para beneficio proacuteprio
Segundo Demo (2007) as sociedades capitalistas tendem a ldquocolocar agrave margem grandes
maioriasrdquo que servindo aos privileacutegios de poucos da elite constroem contextos de sobrevivecircncia numa
forma miacutenima de acesso aos bens de consumo e das tecnologias Neste cenaacuterio as oportunidades e a
melhoria de qualidade de vida satildeo definidas a partir do acesso ao conhecimento e das competecircncias
de manejo das plataformas tecnoloacutegicas Para o autor estes excluiacutedos ou marginalizados satildeo
necessaacuterios para o sistema capitalista e natildeo eacute por acaso que permanecem nessa situaccedilatildeo satildeo a base
da produccedilatildeo de bens e serviccedilos para a elite Demo (2005) cita o exemplo da introduccedilatildeo de
computadores nas escolas os alunos pobres que natildeo possuem computador em casa satildeo incluiacutedos ateacute
certo ponto no entanto o autor considera esta inclusatildeo mero ldquoefeito de poderrdquo agrave medida que se
reserva aos alunos ldquoequipamentos sucatados cursos precaacuterios ambientes improvisados treinamentos
encurtados programas baratosrdquo(idem p 37) Neste caso mesmo com o acesso o autor conclui que
se a escola persistir em continuar com as formas tradicionais de pedagogia o aluno sofre outra
discriminaccedilatildeo digital o analfabetismo digital Embora acesse as redes este aluno natildeo saberaacute
compreender interpretar ou reconstruir o conhecimento
O educador Paulo Freire escreveu ldquoa primeira condiccedilatildeo para que um ser possa assumir um ato
comprometido estaacute em ser capaz de agir e refletirrdquo (Freire 1983 p 16) Assim no acircmbito do uso da
internet este se tornaraacute socialmente vaacutelido apenas se forem construiacutedas relaccedilotildees cognitivas e sociais
do interesse do usuaacuterio O uso descontextualizado das tecnologias como instrumento de pesquisa
desprovido de um objetivo transferido de ldquocima para baixordquo na hierarquia escolar natildeo constitui um
meio eficaz para a inclusatildeo sociodigital do aluno Programas vendidos agraves escolas como ldquopacotes
educacionaisrdquo voltados a puacuteblicos especiacuteficos podem constituir apenas um aprimoramento do
instrucionismo com testes de muacuteltiplas escolhas sem possibilitar ao estudante uma reflexatildeo teoacuterica
mais aprofundada nos estudos O computador visto nas escolas como ldquomaacutequina de ensinarrdquo usado
como editor de textos colagens de figuras e pesquisas sem olhar criacutetico vem a ser um mero reprodutor
do ensino instrucionista com uma nova roupagem aos artefatos tecnoloacutegicos tradicionais (quadro
livros cadernos) que servem para transmitir o conhecimento (Papert 1993) Assim projetos de
inclusatildeo digital nas escolas ou espaccedilos comunitaacuterios que visam o acesso agraves maquinas desprovidos de
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um acompanhamento pedagoacutegico sem levar em conta o contexto social econocircmico e cultural dos
usuaacuterios tendem a natildeo atender agrave demanda dos que realmente estatildeo marginalizados do sistema
Neste sentido Warschauer (2002) cita o exemplo de um projeto de inclusatildeo digital
implementado em Nova Deli na Iacutendia A ideia do projeto era fornecer acesso a computadores para as
crianccedilas de rua da cidade Foi disponibilizado um quiosque em que os computadores estavam dentro
de uma cabine Os monitores se projetavam atraveacutes dos buracos nas paredes e joysticks e bototildees
substituiacuteam os mouses e teclados Um voluntaacuterio dentro da cabine mantinha os computadores
conectados agrave internet Segundo Warschauer natildeo havia professores ou instrutores para orientar em
nenhum momento as crianccedilas que utilizavam o terminal a proposta era permitir o acesso ao terminal
24 horas e que estas aprendessem no seu ritmo e velocidade sem amarras ou diretrizes As crianccedilas
comeccedilaram a fazer algumas atividades baacutesicas com os computadores como arrastar objetos copiar e
colar pintar entrar na internet mudar o papel de paredes e outras baacutesicas A princiacutepio o programa foi
saudado pelos funcionaacuterios do governo como inovador por oferecer agraves populaccedilotildees pobres da Iacutendia o
acesso ao computador com internet Entretanto Warschauer afirma que em visitas ao quiosque
percebeu uma realidade diferente o acesso agrave internet natildeo era uacutetil porque quase natildeo funcionava por
causa da conexatildeo ruim natildeo existia nenhum programa de educaccedilatildeo especiacutefico para as crianccedilas e natildeo
havia conteuacutedo disponibilizado no idioma hindi uacutenica linguagem que as crianccedilas conheciam Natildeo
houve engajamento da comunidade ateacute porque este natildeo foi solicitado alguns pais se manifestaram
contra o projeto se queixando que os filhos passavam a maior parte do tempo jogando no quiosque em
prejuiacutezo das atividades escolares O autor concluiu que na praacutetica o projeto que propunha uma
educaccedilatildeo minimamente evasiva foi no miacutenimo ineficaz
Ao citar o exemplo deste projeto Warschauer (2002) argumentava que para se promover a
reinserccedilatildeo dos marginalizados digitalmente o foco natildeo deve ser na tecnologia mas na transformaccedilatildeo
social que pode acontecer com pessoas que tirem proveito das informaccedilotildees contidas nas redes Para
Neri (2012) que realizou a pesquisa Mapa da Exclusatildeo digital no Brasil a inclusatildeo digital representa
ldquoum canal privilegiado para equalizaccedilatildeo de oportunidades da nossa desigual sociedade em plena era
do conhecimentordquo (p6) Segundo o autor a inclusatildeo digital estaacute cada vez mais relacionada com a
cidadania e da inclusatildeo social desde o apertar do voto das urnas eletrocircnicas aos cartotildees eletrocircnicos do
Programa Bolsa-Escola passando pelo contato inicial do jovem ao computador como passaporte ao
primeiro emprego
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Embora estejamos cercados de jovens caracterizados como ldquonativos digitaisrdquo por terem
crescido em um mundo digital e estatildeo desde sempre familiarizados com as parafernaacutelias das TDIC
Lage e Dias (2012) analisam que existe uma supervalorizaccedilatildeo por parte de alguns pesquisadores e da
proacutepria sociedade sobre as competecircncias de informaccedilatildeo destes jovens tambeacutem chamados de ldquogeraccedilatildeo
Googlerdquo As autoras analisam que em geral os mais jovens embora tenham habilidades teacutecnicas com
o uso dos dispositivos tecnoloacutegicos tem dependecircncia de motores de pesquisa e possuem ldquopouca
capacidade analiacutetica e criacutetica na avaliaccedilatildeo das fontes de informaccedilatildeordquo Citando estudos na aacuterea Lage e
Dias (idem p 7) discorrem sobre as caracteriacutesticas destes jovens
Os estudantes natildeo valorizam suficientemente as questotildees de relevacircncia e pertinecircncia da fonte mesmo no ensino superior selecionando na sua maioria as primeiras soluccedilotildees apresentadas tendo preferecircncia em textos resumidos Preferem utilizar plataformas interativas de informaccedilatildeo em vez de consumo passivo dos dados e utilizam com frequecircncia o ldquocopypasterdquo sem referenciar as fontes revelando alguma incapacidade em interpretar corretamente referecircncias bibliograacuteficas
Portanto eacute precipitado presumir que o jovem conectado na internet atraveacutes de tablets
smartphones notebook ou outros dispositivos sejam ldquonativosrdquo ldquoresidentesrdquo geraccedilatildeo XYZ e possuam
habilidades excepcionais no uso das TIC Segundo Demo (2011) pode soar estranho mas ainda existe
estudantes conservadores que transitam entre os meios formais e informais de fonte de informaccedilotildees
Estudo realizado com estudantes portugueses comprovou que a internet natildeo interfere na importacircncia
que o jovem daacute ao livro antes ela eacute um complemento para potencializar sua aprendizagem (Silva e
Pereira 2011) Neste sentido inferimos que pessoas mesmo com acesso a internet com alguma
habilidade instrumental mas que natildeo possuam habilidades e competecircncias cognitivas e criacuteticas para
usa-la podem se encontrar marginalizadas ou sem capacidade de usar as informaccedilotildees da rede para
benefiacutecio profissional cultural ou social
Pedro Demo (2011) faz uma anaacutelise criacutetica sobre a elevada euforia em torno da chamada
geraccedilatildeo internet que se apresenta quase como ldquouma nova espeacutecierdquo como se todos os jovens fossem
usuaacuterios haacutebeis das tecnologias Um dos fatores que o autor aponta que deve ser levado em conta ao
fazer tal anaacutelise eacute o iacutendice elevado de pessoas que natildeo tem nenhum acesso a internet ndash estatildeo
excluiacutedas digitalmente Onde essas pessoas se enquadrariam nas analogias e roacutetulos estereotipados
pregados por alguns autores Na versatildeo de Presnky que usa a analogia da linguagem seriam
ldquoanalfabetosrdquo digitais ou poderiacuteamos chama-los de ldquoinativosrdquo digitais Na analogia do tempo e espaccedilo
de White seriam eles chamados de ldquoforasteirosrdquo (o que estaacute de fora) No conceito sobre as Geraccedilotildees
X Y e Z que letra seria apropriada para descrever aqueles que independente da data de nascimento
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nunca tiveram oportunidade de acessar a internet seja por morar numa regiatildeo remota ou viver em
situaccedilatildeo de absoluta miseacuteria ou mesmo porque natildeo teve oportunidade
A analogia do ldquoforasteirordquo nos parece apropriada Segundo o dicionaacuterio Aureacutelio forasteiro
significa que estaacute de fora peregrino estranho Trazendo esta analogia para o campo das tecnologias
encontrariacuteamos muitos forasteiros alheios e sem acesso ao menos a um computador ou celular com
internet Este grupo estaacute nas estatiacutesticas da ldquoexclusatildeo sociodigitalrdquo Como forasteiros sem condiccedilotildees
de acesso agraves TIC perambulam em busca de informaccedilotildees e vantagens que apenas aqueles
privilegiados possuem (Alves 2014) No caso do Brasil os 25 dos jovens natildeo conectados agrave internet28
eacute um nuacutemero consideraacutevel e natildeo haacute como generalizar que todos jovens na idade de 15 a 17 anos satildeo
ldquonativos digitaisrdquo em especial num paiacutes com alto iacutendice de desigualdade social E mesmo que o jovem
tenha acesso a internet como apresentado por Warschauer (2002) apenas prover o acesso em
telecentros ou escolas sem uma infraestrutura com apoio de monitores capacitados natildeo torna esse
indiviacuteduo tecnologizado como prover livros a alunos natildeo os alfabetiza Silva Jambeiro Lima e Brandatildeo
(2015 p 32) (2005 p 32) afirmam
Se a inclusatildeo digital eacute uma necessidade inerente desse seacuteculo entatildeo isso significa que o ldquocidadatildeordquo do seacuteculo XXI entre outras coisas deve considerar esse novo fator de cidadania que eacute a inclusatildeo digital E que constitui uma questatildeo eacutetica oferecer essa oportunidade a todos ou seja o indiviacuteduo tem o direito agrave inclusatildeo digital e o incluiacutedo tem o dever de reconhecer que esse direito deve ser estendido a todos Dessa forma inclusatildeo digital eacute um processo que deve levar o indiviacuteduo agrave aprendizagem no uso das TICs e ao acesso agrave informaccedilatildeo disponiacutevel nas redes especialmente aquela que faraacute diferenccedila para a sua vida e para a comunidade na qual estaacute inserido
Neste sentido o sujeito excluiacutedo digitalmente estaacute sendo privado do direito de acesso ao que
haacute de mais moderno nas tecnologias da inteligecircncia Conforme afirma Demo (2007 p 9) ldquoa
marginalizaccedilatildeo mais draacutestica eacute a poliacutetica porque impede a autonomia das pessoas e sociedadesrdquo
Assim presencia-se nos tempos atuais uma divisatildeo evidente entre aqueles que tecircm a possibilidade de
trabalhar com uma quantidade de informaccedilotildees muito maior do que os sujeitos que natildeo estatildeo
conectados em rede E isso reproduz e amplia o distanciamento entre quem jaacute tinha condiccedilotildees sociais
melhores e as pessoas mais pauperizadas da nossa sociedade
Em siacutentese o perfil que contextualizamos neste estudo que trata da inclusatildeo digital eacute o modelo
de Costa e Lemos (2005) em que esta eacute ldquocompreendida sob o pano defundo dos quatro capitais
28 Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios 2013 realizada pelo IBGE revelou que 75 dos jovens entre 15 e 17 anos satildeo usuaacuterios da internet Disponiacutevel em httpbibliotecaibgegovbrvisualizacaolivrosliv94414pdf Acesso em 22 dez 2016
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(social teacutecnico cultural e intelectual) que constituem todo processo coletivordquo (p 01) Segundo o
autores a questatildeo da inclusatildeo digital natildeo pode ser apenas teacutecnica ou econocircmica mas tambeacutem
cognitiva e social Para eles o capital teacutecnico eacute importante mas natildeo o uacutenico A perspectiva meramente
teacutecnica deve ser abandonada a favor de uma visatildeo mais complexa do processo de inclusatildeo O processo
de ldquoinclusatildeordquo deve ser visto entatildeo sob os indicadores
bull Econocircmico ter condiccedilotildees financeiras de acesso agraves novas tecnologias bull Cognitivo estar dotado de uma visatildeo criacutetica e de capacidade independente
de uso e apropriaccedilatildeo dos novos meios digitais transformar informaccedilatildeo em conhecimento
bull Teacutecnico possuir conhecimentos operacionais de programas e de acesso agrave internet
Por isso as categorias econocircmica e cognitiva satildeo tatildeo ou mais importantes que a categoria
teacutecnica nos processos de inclusatildeo digital Aplicando esses pressupostos aos professores da rede
puacuteblica a inclusatildeo sociodigital dos mesmos vai aleacutem da inserccedilatildeo de computadores nas escolas ou
mesmo do acesso agraves maquinas Sampaio e Leite (1999 p 15) escreveram
O papel da educaccedilatildeo deve voltar-se tambeacutem para a democratizaccedilatildeo do acesso ao conhecimento produccedilatildeo e interpretaccedilatildeo das tecnologias suas linguagens e consequumlecircncias Para isso torna-se necessaacuterio preparar o professor para utilizar pedagogicamente as tecnologias ne formaccedilatildeo de cidadatildeos que deveratildeo produzir e interpretar as novas linguagens do mundo atual e futuro
Neste sentido este estudo visa compreender se o uso das tecnologias na formaccedilatildeo de
professores tem possibilitado a inclusatildeo sociodigital dos mesmos na sociedade em rede Tambeacutem
analisar se as praacuteticas de usos mediaacuteticos da tecnologia possibilitaram aos professores em formaccedilatildeo o
letramento digital provocado mudanccedilas no seu cotidiano social e profissional No capiacutetulo 3 seratildeo
apresentados os desafios enfrentados pelos professores que por vezes estatildeo marginalizados da
sociedade em rede e estatildeo na linha de frente no contato com alunos que possuem habilidades
teacutecnicasinstrumentais com as tecnologias mas com pouca visatildeo criacutetica e analiacutetica das informaccedilotildees
encontradas Contudo antes seraacute abordado o conceito de literacia digital como uma possibilidade de
reinserccedilatildeo ou realocaccedilatildeo dos indiviacuteduos na sociedade em rede
Capiacutetulo 3 Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital
Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital
139
31 A possibilidade de entrada na rede
Agrave semelhanccedila de outras literacias entendidas como a capacidade de compreender e usar determinados tipos de informaccedilatildeo a literacia digital vai aleacutem do simples conhecimento sobre as tecnologias O domiacutenio do digital implica ser capaz de utilizar criacutetica e eficazmente as tecnologias de modo a fazer algo construtivo e significativo com elas Esta competecircncia digital tornou-se fundamental na sociedade contemporacircnea tendo inclusive sido reconhecida como uma das competecircncias-chave para a aprendizagem ao longo da vida Inevitavelmente a escola tem de participar neste processo de formaccedilatildeo dos cidadatildeos proporcionando situaccedilotildees de aprendizagem que envolvam as tecnologias e assumindo a literacia digital como mais uma meta de aprendizagem (Costa 2013 p44)
O Seacuteculo XIX inaugurou uma seacuterie de invenccedilotildees tecnoloacutegicas que transformaram a vida das
pessoas como o cinema a fotografia o raacutedio o telefone entre outras Essas transformaccedilotildees instauram
uma nova organizaccedilatildeo de mundo ressignificando os modos de produccedilatildeo novos haacutebitos e mudanccedilas
na rotina dos indiviacuteduos como exposto nas discussotildees do capiacutetulo primeiro e segundo desta tese Para
Leacutevy (1999) neste cenaacuterio em movimento os processos tradicionais de aprendizagem tornam-se
rapidamente obsoletos em funccedilatildeo da constante necessidade de renovaccedilatildeo dos saberes da nova
configuraccedilatildeo do mundo do trabalho e da velocidade da informaccedilatildeo
Portanto para o professor atuar com destreza nesse cenaacuterio conseguindo selecionar o que
realmente iraacute favorecer a aquisiccedilatildeo de um capital cultural dos seus alunos levando-os a autonomia
criacutetica exige-se uma formaccedilatildeo adequada agrave inovaccedilatildeo exigida pela sociedade digital em rede Assim
este capiacutetulo aponta para a promoccedilatildeo da literacia digital ou mediaacutetica nos cursos de formaccedilatildeo inicial e
continuada de professores no intuito de ajudaacute-los a desenvolver competecircncias e habilidades para o uso
criacutetico das miacutedias
No capiacutetulo 1 deste trabalho foi apresentado o cenaacuterio contemporacircneo socioteacutecnico com
profundas transformaccedilotildees no desenvolvimento cientiacutefico tecnoloacutegico comunicacional cultural poliacutetico
e econocircmico A analogia do mundo integrado em redes foi usada para ilustrar a grande teia de
conexotildees que a rede digital de computadores conectados agrave internet proporciona Consideramos
tambeacutem o conceito de sociedade em rede e compreendemos de acordo com Castells (1999) numa
visatildeo morfoloacutegica que uma rede eacute composta por um conjunto de noacutes interconectados No caso da
sociedade em rede estes noacutes constituem os atores que moldam as estruturas sociais da rede por meio
Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital
140
da interaccedilatildeo e construccedilatildeo de laccedilos sociais Trata-se de noacutes vivos relaccedilotildees construiacutedas em torno de um
objetivo especiacutefico Neste sentido Velazqueacutez Aacutelvarez e Aguilar (2005 p 3) explicam
Quando se fala em rede se entende como um grupo de indiviacuteduos que em forma agrupada ou individual se relacionam com outros com um propoacutesito especiacutefico caracterizado pela existecircncia de fluxos de informaccedilatildeo [] Uma rede se compotildee portanto de trecircs elementos baacutesicos que satildeo os noacutes ou atores viacutenculos ou relaccedilotildees e fluxos
Assim as redes satildeo construiacutedas por usuaacuterios que conectados no ciberespaccedilo constituem
relaccedilotildees sociais afetivas comerciais culturais poliacuteticas e ideoloacutegicas com outros indiviacuteduos com os
mesmos interesses e que tambeacutem estatildeo conectados Tendo em vista esse aspecto concordamos com
Santos (2014 p 60) que entende a ideia de rede ldquocomo fluxo e feixe de relaccedilotildees entre seres
humanos objetos teacutecnicos e as interfaces digitaisrdquo A autora explana o que implica o sujeito estar
conectado na rede
Rede significa que estamos engendrados por uma composiccedilatildeo comunicativa socioteacutecnica que se atualiza a cada relaccedilatildeo e conexatildeo que estabelecemos em qualquer ponto desta grande rede Tempo e espaccedilos ganham novos arranjos influenciando novas e diferentes sociabilidades (idem p 60)
Destarte o cidadatildeo conectado agrave rede tem a possibilidade de comunicar produzir co-criar e
compartilhar conteuacutedos e informaccedilotildees nas interfaces digitais No entanto como abordamos no capiacutetulo
2 existem milhotildees de indiviacuteduos que natildeo tecircm acesso a rede ou estatildeo na margem dela com acesso
limitado e improdutivo De entre estes estatildeo os professores logo os que mais lidam com a geraccedilatildeo de
jovens considerados ldquonativos digitaisrdquo navegadores incansaacuteveis do tsunami que a internet se tornou
nos dias atuais (Leacutevy 1998) e tambeacutem daqueles que natildeo tecircm tal acesso e estatildeo marginalizados na
rede
Explanamos ainda no capiacutetulo 2 que estes jovens embora estejam conectados agrave rede e
tenham habilidades teacutecnicas apuradas no manuseio dos dispositivos tecnoloacutegicos carecem de
orientaccedilatildeo para fazer uso seletivo criacutetico responsaacutevel e proveitoso das informaccedilotildees que coletam No
campo educacional cabe ao professor ser o orientador mediador e articulador junto aos estudantes de
forma a ajudaacute-los a selecionarem e filtrarem as informaccedilotildees relevantes para a construccedilatildeo do
conhecimento Nas palavras de Gadotti (2003 p 32)ldquoo professor deixaraacute de ser um lecionador para
ser um organizador do conhecimento e da aprendizagem () um mediador do conhecimento um
aprendiz permanente um construtor de sentidos um cooperadorrdquo No entanto estudos revelam que
os professores ainda encontram dificuldades no manuseio instrumental das tecnologias satildeo
Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital
141
desprovidos de habilidades para o tratamento criacutetico das miacutedias produccedilatildeo e compartilhamento nas
redes e necessitam de formaccedilatildeo voltada para a literacia digital em contextos educativos (Melatildeo 2011
Lopes 2013 Lage e Dias 2012)
Trata-se portanto de um problema ambiacuteguo de um lado temos jovens que tecircm permanente
contato com as miacutedias e tecnologias mas que carecem de ajuda e orientaccedilatildeo para conduzir nortear e
mediar a construccedilatildeo do conhecimento em face da enxurrada de informaccedilotildees disponiacuteveis na rede e de
outro lado estaacute o professor que deveria fazer esse papel de conduccedilatildeo e orientaccedilatildeo destes jovens mas
que falta-lhe tambeacutem a capacidade de filtrar selecionar avaliar e criticar responsavelmente os
conteuacutedos midiaacuteticos que acessa Mais agravante se torna o quadro quando o professor nem mesmo
tem acesso agrave rede seja por vontade proacutepria ou por circunstancias alheias a sua vontade e isto o deixa
agrave margem da rede e impotente para lidar com os alunos usuaacuterios de tecnologias Como poderia o
professor personagem fundamental no processo de formaccedilatildeo dos estudantes ser inserido na rede de
forma a integrar-se com as tecnologias usando-as como aliadas nos processos de construccedilatildeo do
conhecimento dos seus alunos
Voltando agrave metaacutefora da rede conforme discutido no capiacutetulo dois deste trabalho ldquoestar dentrordquo
desta requer mais que acesso agraves redes de computadores inclui accedilatildeo interaccedilatildeo movimento pois a
rede eacute dinacircmica sistecircmica moacutevel articulada e aberta Usando a analogia das redes com a tecelagem
de vaacuterios fios para formar um tecido Beauclair (2007 p 268) escreveu
A tecelagem a ser feita inicia-se a partir do principal componente desta teia o sujeito aprendente A rede eacute uma estruturaccedilatildeo comunicacional onde desejos sonhos realidades e poderes circulam de modo a darem corpo a um conjunto de informaccedilotildees onde sujeitos se comunicam e geram movimentos de sustentabilidade agrave proacutepria rede a partir do seu interesse na solidariedade no compartilhamento de ideacuteias e opiniotildees na partilha de saberes e de ignoracircncias enfim no estarjuntocom atuando em prol de uma concepccedilatildeo mais aberta e articulada superando o modelo de agir pautado no individualismo para um outro modelo mais articulado e sistecircmico
Portanto conectar agrave rede requer accedilatildeo movimento e interesse dos que estatildeo marginalizados ou
fora dela Contudo conforme discutido no capiacutetulo 2 deste trabalho a questatildeo da exclusatildeodivisatildeo
digital possui elementos de natureza complexa como questotildees de ordem social cultural geograacutefica e
econocircmica Deste modo natildeo se trata de querer ou natildeo fazer parte da rede pois como Castells (1999)
destaca a rede eacute excludente por natureza No que diz respeito aos professores urge a necessidade de
poliacuteticas puacuteblicas que forneccedilam oportunidades e condiccedilotildees para que os mesmos enquanto usuaacuterios da
rede tenham possibilidade de tirar o maacuteximo proveito de suas informaccedilotildees em favor da sua formaccedilatildeo
Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital
142
intelectual da sua profissionalizaccedilatildeo do enriquecimento da sua cultura da emancipaccedilatildeo poliacutetica e
para sociabilidade Esta formaccedilatildeo deveria iniciar na base nos cursos de formaccedilatildeo de professores e
continuar por toda a carreira docente (Noacutevoa 2014)
Posta essa problemaacutetica este capiacutetulo aponta para a promoccedilatildeo da literacia digital ou mediaacutetica
nos cursos de formaccedilatildeo inicial e continuada de professores no intuito de ajudaacute-los a usar as
tecnologias para aleacutem da posiccedilatildeo de consumidores de programas e informaccedilotildees mas que venham a
atingir os patamares da anaacutelise criacutetica autoria compartilhamento e interaccedilatildeo com seus alunos dentro
e fora dos espaccedilos fiacutesicos da escola Neste sentido praacuteticas de literacia digital desde a formaccedilatildeo inicial
dos professores e a integraccedilatildeo desta com a atividade docente satildeo recomendadas como importante
passo para acompanhar os novos rumos que a educaccedilatildeo tem tomado nos uacuteltimos 25 anos com a
expansatildeo das tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo digitais
Considerando a importacircncia de compreender o conceito de literacia digital no acircmbito das
tecnologias educativas com vistas agrave inserccedilatildeo do professor na rede a primeira seccedilatildeo deste capiacutetulo
apresenta uma revisatildeo bibliograacutefica sobre este aspecto conceitual Na seccedilatildeo seguinte aprofundamos a
discussatildeo sobre os desafios enfrentados pelos professores que estatildeo na vanguarda das mudanccedilas
ocorridas na era moderna com base em estudos que revelam como lidam com a presenccedila das
tecnologias na sala de aula
Na terceira seccedilatildeo com fins de compreender o perfil dos professores ainda resistentes agraves
tecnologias nas praacuteticas pedagoacutegicas apresentamos um retrospectivo histoacuterico da inserccedilatildeo das
tecnologias no acircmbito educacional a partir da introduccedilatildeo do quadro-negro nas escolas O capiacutetulo
finaliza com apontamentos para a necessidade de investimento na formaccedilatildeo de professores voltada
para a literacia digital em contextos educativos
32 Conceito de literacia digital
A compreensatildeo do conceito de literacia digital eacute fundamental para a elaboraccedilatildeo e fomento de
poliacuteticas puacuteblicas efetivas de formaccedilatildeo de professores com integraccedilatildeo das tecnologias ao curriacuteculo da
escola natildeo somente como uma ferramenta instrumental mas um ldquofenocircmeno da ciberculturardquo que
pode potencializar praacuteticas comunicacionais hipertextuais a mobilidade e a interaccedilatildeo mediada por
interfaces digitais (Santos 2014) Neste aspecto compreende-se que a literacia digital eacute essencial para
a entrada dos ldquoexcluiacutedosrdquo na rede Silva e Pereira (2011 p 9) afirmam que satildeo ldquoos usos e as
Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital
143
competecircncias que interferem no grau de literacia digital passiacutevel de condicionar as oportunidades que
as tecnologias podem propiciar no desenvolvimento de capacidades e de conhecimentordquo As praacuteticas
de literacia digital de acordo com Petrella (2012 p 208) deveriam ser ldquoum caminho que passe pela
aprendizagem das competecircncias culturais e das habilidades sociais e cognitivas que permitam agraves
novas geraccedilotildees agir criacutetica e criativamente no panorama dos novos medias e de participar como
protagonistas na cultura contemporacircneardquo Assim a temaacutetica literacia digital eacute pertinente e urgente
dentro das escolas loacutecus privilegiado da formaccedilatildeo educacional Neste cenaacuterio o papel do professor eacute
fundamental Noacutevoa (2009 p 11) justifica
Os professores reaparecem neste iniacutecio do seacuteculo XXI como elementos insubstituiacuteveis natildeo soacute na promoccedilatildeo das aprendizagens mas tambeacutem na construccedilatildeo de processos de inclusatildeo que respondam aos desafios da diversidade e no desenvolvimento de meacutetodos apropriados de utilizaccedilatildeo das novas tecnologias
Considerando estes pressupostos defendemos a tese de que a formaccedilatildeo dos professores
voltada para a literacia digital constitui um passo fundamental para a inserccedilatildeo destes na sociedade em
rede Por sua vez o professor integrado agraves tecnologias sente-se motivado a usar as suas
potencialidades na sua praacutetica pedagoacutegica provocando mudanccedilas visiacuteveis na escola Para Almeida e
Valente (2011 p 9) essas mudanccedilas vatildeo aleacutem de ldquopraacuteticas esporaacutedicas em espaccedilos delimitados e
laboratoacuterios de informaacuteticardquo mas devem alcanccedilar mudanccedilas nas relaccedilotildees com o conhecimento e o
curriacuteculo De acordo com Belonni (1998) qualquer melhoria ou inovaccedilatildeo em educaccedilatildeo passa
necessariamente pela melhoria e inovaccedilatildeo na formaccedilatildeo de formadores Afirma a autora que ldquoos
professores formam um grupo prioritaacuterio e estrateacutegico para qualquer melhoria dos sistemas
educacionaisrdquo (idem p 16)No entanto a formaccedilatildeo de professores voltada para a literacia digital
significa mais que disponibilizar computadores e tablets nas escolas eou promover oficinas de
capacitaccedilatildeo para o uso instrumental das tecnologias
Utilizamos neste trabalho a concepccedilatildeo de literacia digital ou mediaacutetica transcrita no documento
ldquoRecomendaccedilotildees sobre a Educaccedilatildeo para Literacia Mediaacuteticardquo (CNE 2011) do Conselho Nacional de
Educaccedilatildeo de Portugal O referido documento aborda trecircs tipos de aprendizagens necessaacuterias para
noccedilatildeo integrada de literacia digital
bull O acesso agrave informaccedilatildeo e agrave comunicaccedilatildeo mdash o saber procurar guardar arrumar partilhar citar tratar e avaliar criticamente a informaccedilatildeo pertinente atentando tambeacutem agrave credibilidade das fontes
bull A compreensatildeo criacutetica dos media e da mensagem mediaacutetica mdash quem produz o quecirc porquecirc para quecirc por que meios
Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital
144
bull O uso criativo e responsaacutevel dos media para expressar e comunicar ideias para deles fazer um uso eficaz de participaccedilatildeo ciacutevica
Portanto a literacia digital ou mediaacutetica que trata este estudo diz respeito agrave capacidade do
indiviacuteduo de acessar analisar compreender e avaliar de modo criacutetico as miacutedias e ainda criar
comunicaccedilotildees em diferentes contextos (Lopes 2013) No caso dos professores estaacute envolvido aleacutem
do uso instrumental cotidiano das tecnologias a sua apropriaccedilatildeo criacutetica usando-a de modo adequado
na realizaccedilatildeo de projetos multidisciplinares e colaborativos Diversos autores utilizam tambeacutem o
conceito de literacia mediaacutetica pela incidecircncia na abordagem dos media a qual significa ― possuir a
capacidade de utilizar meios de comunicaccedilatildeo e os media em geral de compreender e ajuizar
criticamente seus diversos aspectos e conteuacutedos e de comunicar em diferentes contextos (Lage e Dias
2012)
Segundo McQuail (2003) o termo media constitui uma abreviatura da expressatildeo ldquomedia de
massasrdquo ou seja diz respeito a meios de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo que todos conhecem como
jornais revistas raacutedio televisatildeo filmes ou muacutesica gravada Com a chegada da internet estas passaram
a ser todo o ldquoecossistema informativo multimiacutedia interactivo e dinacircmicordquo formado pela convergecircncia
dos meios tradicionais e recentes (Pinto 2004 p 2) Esta designaccedilatildeo eacute bastante utilizada na acepccedilatildeo
da educaccedilatildeo para os media poreacutem ao considerarmos que o digital estaacute cada vez mais presente na
sociedade e nomeadamente nos media podemos mesmo dizer que vivemos numa era digital
Livingstone Couvering e Thumin (2005) entendem que na literatura existem dois corpos
distintos de investigaccedilatildeo a literacia mediaacutetica que diz respeito agrave compreensatildeo criacutetica e criaccedilatildeo de
materiais de miacutedia e envolve miacutedias mais tradicionais como a TV raacutedio cinema e outra a literacia
digital da informaccedilatildeo que parte de uma perspectiva da recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo e treinamento
instrumental da informaacutetica Os autores metaforicamente dizem que a literacia mediaacutetica vecirc a miacutedia
como uma lente atraveacutes da qual o mundo pode ver e se expressar enquanto a literacia digital vecirc a
informaccedilatildeo como uma ferramenta para agir sobre o mundo Assim optamos pelo uso do termo
literacia digital neste trabalho por tratarmos de questotildees relacionadas diretamente da relaccedilatildeo dos
usuaacuterios com as tecnologias digitais de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo na sociedade em rede
Assim poderiacuteamos definir a literacia mediaacutetica digital ou educaccedilatildeo para os medias tal qual
Pinto Pereira Pereira Ferreira e Dias (2011 p 24) caracterizaram no estudo Educaccedilatildeo para os Media
em Portugal experiecircncias actores e contextos
Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital
145
trata-se do conjunto de conhecimentos capacidades e competecircncias (e os processos da respectiva aquisiccedilatildeo) relativas ao acesso uso esclarecido pesquisa e anaacutelise criacutetica dos media bem como as capacidades e expressatildeo e de comunicaccedilatildeo atraveacutes desses mesmos media
Portanto a literacia digital envolve mais que a mera capacidade de operar um dispositivo
digital ou usar um software inclui um complexo cognitivo motor socioloacutegico emocional e socioloacutegico
do usuaacuterio De acordo com Luke (2000) no contexto da cibercultura especialista natildeo eacute quem estaacute a
par de todas noticias e informaccedilotildees mas aquele que tomando conhecimento dos fatos
descontextualizados procura a conexatildeo entre os recortes de informaccedilotildees associa outras informaccedilotildees
relevantes e consegue fazer uma leitura criacutetica da situaccedilatildeo Poreacutem na anaacutelise de Buckingham (2008)
a maioria das discussotildees sobre a literacia digital continua a focar a informaccedilatildeo e tendem a negligenciar
os usos culturais e sociais da internet Segundo o autor a preocupaccedilatildeo geral dos formuladores de
poliacuteticas puacuteblicas eacute mais com a promoccedilatildeo eficiente do meio equipar escolas e telecentros com
maacutequinas e fomentar cursos para uso instrumental dos equipamentos Ateacute mesmo os guias populares
(Gilster 1997 Warlick 2005) para a literacia digital que abordam a necessidade de avaliar o conteuacutedo
on-line possuem formulaccedilotildees concentradas no know-how teacutecnico que relativamente natildeo eacute difiacutecil de
conseguir e em habilidades que se tornam obsoletas muito rapidamente
Buckingham (2008) defende que a associaccedilatildeo da palavra lsquodigitalrdquo agrave lsquoliteraciarsquo daacute um status
privilegiado aos estudos dos meios digitais considerando que o campo da literacia constitui uma aacuterea
de saber relevante na aacuterea cientifica Contudo o autor afirma que a utilizaccedilatildeo da expressatildeo literacia
digital (que faz analogia entre a escrita e a miacutedia audiovisual) implica uma forma mais ampla de
educaccedilatildeo sobre miacutedia que natildeo se restringe agraves habilidades mecacircnicas ou formas instrumentais de
competecircncia funcional Para Goodson e Mangan (1996) o conceito de literacia digital para a
informaacutetica muitas vezes eacute mal definido pelos formuladores de poliacuteticas puacuteblicas Assim os
argumentos que justificam os computadores em sala de aula satildeo principalmente de ordem profissional
e praacutetica Os argumentos pedagoacutegicos satildeo de ordem secundaacuteria e a literacia ou alfabetizaccedilatildeo digital
constitui apenas um conjunto miacutenimo de competecircncias para o usuaacuterio operar eficazmente as
ferramentas de software ou na realizaccedilatildeo de tarefas baacutesicas instrumentais na rede
Com o objetivo de renovar a noccedilatildeo de literacia digital associada ao claacutessico conceito de
alfabetizaccedilatildeo Peacuterez e Varis (2010) identificaram trecircs fases da literacia a claacutessica audiovisual e digital
A literacia claacutessica segundo os autores perpassou o periacuteodo apoacutes a invenccedilatildeo da imprensa em que o
nuacutemero de pessoas com acesso agrave escrita e textos se alargou e houve uma abertura para a influecircncia
Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital
146
social por alfabetizaccedilatildeo No periacuteodo da Revoluccedilatildeo Industrial com a urbanizaccedilatildeo das cidades e a
industrializaccedilatildeo ser alfabetizado constituiacutea uma porta de entrada para a cidadania Neste contexto a
escola exercia um papel central na alfabetizaccedilatildeo (leitura e escrita) A segunda fase a audiovisual teve
impulso com a chegada dos meios de comunicaccedilatildeo eleacutetricos como cinema raacutedio televisatildeo Estas
novas miacutedias massivas geraram novas linguagens e coacutedigos que exigiam novas aptidotildees que se
estendiam para aleacutem do que era considerado como competecircncia da alfabetizaccedilatildeo ateacute entatildeo A escola
deixou de ser o uacutenico espaccedilo de referecircncia da educaccedilatildeo embora continuasse a exercer poder sobre a
certificaccedilatildeo oficial do ensino A convergecircncia das miacutedias analoacutegicas com as digitais trouxe consigo a
demanda pela alfabetizaccedilatildeo ou literacia digital No entanto os autores afirmam que pelo fato das fases
da literacia estarem ligadas agrave evoluccedilatildeo das novas linguagens de comunicaccedilatildeo e agraves redes digitais por
vezes equivocadamente a literacia digital eacute associada tatildeo somente a competecircncias teacutecnicas e
instrumentais no manuseio de softwares
Potter (2004) define literacia digital como um conjunto de perspectivas a partir da qual
expomo-nos para os meios de comunicaccedilatildeo e interpretamos o significado das mensagens encontradas
Aleacutem disso o autor explica que as pessoas para serem capazes de classificar a informaccedilatildeo e organizaacute-
la precisam de habilidades de anaacutelise avaliaccedilatildeo agrupamento induccedilatildeo deduccedilatildeo siacutentese e abstraccedilatildeo
Lage e Dias (2011 p 3) relacionam trecircs objetivos fundamentais da literacia digital nos processos
formativos para o uso das miacutedias
1) Promover o acesso agraves TIC ndash A literacia mediaacutetica parte da premissa de que todos tenham acesso agraves miacutedias com fins de reduzir os obstaacuteculos agrave mobilidade profissional e as dificuldades da vida cotidiana Cabe ao governo garantir o acesso de todos agraves TIC diminuindo a exclusatildeo digital e a desigualdade social 2) Capacitar o cidadatildeo a avaliar criticamente em que medida o teor e a forma dos conteuacutedos difundidos satildeo influenciados por interesses dos produtores mediaacuteticos Ou seja a capacidade de seleccedilatildeo criacutetica para ler nas entrelinhas e decodificar imagens e sons avaliando assim os conteuacutedos 3) Habilitar o cidadatildeo a produzir seus proacuteprios textos informativos e mediaacuteticos utilizando de forma segura as TIC A produccedilatildeo mediaacutetica deve estar associada a uma reflexatildeo criacutetica sobre o processo de produccedilatildeo e atender os princiacutepios relativos a direitos autorais e seguranccedila dos dados
Assim formar o cidadatildeo para a literacia digital significa tornaacute-lo apto para acessar avaliar
criticamente compreender plenamente e ainda criar miacutedias Eshet-Alkalai (2012) propocircs um modelo
conceitual de literacia digital com base em seis distintas e complementares literacias conforme
discriminado no quadro 05
Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital
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Quadro 5 - Modelo conceitual de literacia digital
Tipo de literacia Habilidades e competecircncias
Literacia foto-visual Boa memoacuteria visual e forte pensamento intuitivo-associativo facilidade de decodificar e compreender mensagens visuais Competecircncia para realizar leitura sincronizada de textos e imagens
Literacia para a reproduccedilatildeo Capacidade de criar novos significados ou novas interpretaccedilotildees combinando materiais preacute-preexistentes ou trechos de informaccedilotildees independentes em qualquer forma de miacutedia
Literacia para a informaccedilatildeo Habilidade de avaliar informaccedilotildees de forma criacutetica e eficaz anaacutelise de informaccedilotildees subjetivas capacidade de distinguir o vieacutes tendencioso das notiacutecias ou mesmo a credibilidade das mesmas
Literacia para hipermiacutedia Elevado grau de liberdade na navegaccedilatildeo atraveacutes de websites e hipertextos Utilizaccedilatildeo natildeo-linear de diversas estrateacutegias de buscas a informaccedilotildees relevantes capacidade de orientaccedilatildeo no ciberespaccedilo competecircncia de criar modelos mentais mapas conceituais e outros formas de representaccedilatildeo abstrata da estrutura da web
Literacia soacutecio-emocional Capacidade de compartilhar emoccedilotildees na web sem ser enganado aptidatildeo para evitar armadilhas como fraudes e viacuterus na internet habilidade de se relacionar socialmente com as pessoas na web consciente dos riscos e perigos
Literacia para o pensamento em tempo real
Habilidade para processar de forma eficaz os estiacutemulos simultacircneos da Web capacidade de executar diferentes tarefas simultaneamente competecircncia de sincronizar de forma raacutepida e eficaz os estiacutemulos da multimiacutedia em um coerente corpo de conhecimento
Fonte adaptado de Eshet-Alkalai (2012)
A pesquisa realizada por Eshet-Alkalai (2012) investigou a aplicaccedilatildeo deste modelo conceitual
em diferentes grupos de utilizadores Os resultados indicaram que os participantes mais jovens
possuem um desempenho melhor do que os mais velhos no que diz respeito agraves tarefas relacionadas
com a literacia foto visual e a literacia para a hipermiacutedia No entanto os participantes com mais
idades foram considerados mais habilidosos na literacia de reproduccedilatildeo e na literacia para a
informaccedilatildeo Para Loureiro e Rocha (2012 p 2729) a literacia digital pressupotildee
bull saber como aceder a informaccedilatildeo e saber como a recolher em ambientes virtuaisdigitais
bull gerir e organizar informaccedilatildeo para a poder utilizar no futuro bull avaliar integrar interpretar e comparar informaccedilatildeo de muacuteltiplas fontes bull criar e gerar conhecimento adaptando aplicando e recreando nova
informaccedilatildeo bull comunicar e transmitir informaccedilatildeo para diferentes e variadas audiecircncias
atraveacutes de meios adequados
Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital
148
Por outro lado a falta destas competecircncias afeta o processo de construccedilatildeo e afirmaccedilatildeo dos
indiviacuteduos produzindo a exclusatildeo social e desigualdade (Lopes 2012) Eacute imperativo portanto que a
literacia digital seja amplamente difundida nos diversos campos da sociedade na formaccedilatildeo de
professores e teacutecnicos nas escolas nas universidades e em programas voltados a adultos e idosos
(Lage e Dias 2012) O foco deste estudo satildeo os professores da rede puacuteblica que em geral satildeo
provenientes de um contexto de desigualdade social e possuem dificuldades com o uso das miacutedias no
seu cotidiano e na sua praacutetica docente
Silva e Pereira (2011) definiram trecircs grupos de competecircncias advindas da literacia digital ou
mediaacutetica as funcionais soacutecio-comunicativas e teacutecnico-criativas Segundo os autores as competecircncias
funcionais dizem respeito ao caraacuteter instrumental do uso do computador e da internet na condiccedilatildeo de
ldquoferramentas de produtividaderdquo (editor de texto apresentaccedilatildeo de trabalhos motor de busca de
pesquisa etc) As competecircncias socio-comunicativas estatildeo relacionadas com os recursos
comunicativos fomentados na web como redes sociais mensageiros instantacircneos (msn Skype
watsapp) email foacuteruns e outras formas de mensagens assiacutecronos e siacutencronos As competecircncias
teacutecnico-criativas satildeo aquelas ligadas agraves habilidades de criaccedilatildeo de conteuacutedos na web co-autoria
elaboraccedilatildeo de paacuteginas e ateacute mesmo instalaccedilatildeo de software e resoluccedilatildeo de problemas Os autores
concluem que a escola desempenha um papel fundamental no suporte da cultura tecnoloacutegica da
sociedade globalizada Neste sentido a formaccedilatildeo dos professores para a literacia digital eacute crucial para
que os jovens tambeacutem desenvolvam essas competecircncias
Em pesquisa realizada nos repositoacuterios institucionais de universidades puacuteblicas no Brasil
encontramos poucos estudos relacionados especificamente com a literacia digital ou mediaacutetica A
maioria dos estudos nessa aacuterea diz respeito agrave ldquoletramento digitalrdquo termo usado no Brasil que
corresponde agrave literacia digital na Europa A expressatildeo ldquoletramentordquo vem do inglecircs literacy (derivado do
latim littera que significa ldquoletrardquo) Conceitualmente para Soares (2002 p 145) letramento constitui
ldquoo estado ou condiccedilatildeo de indiviacuteduos ou de grupos sociais de sociedades letradas que exercem
efetivamente as praacuteticas sociais de leitura e de escrita participam competentemente de eventos de
letramentordquo A autora analisa que diante da realidade vivida na sociedade com a introduccedilatildeo de
tecnologias de comunicaccedilatildeo digital em que outros espaccedilos de leitura satildeo criados como por exemplo a
tela do computador o conceito de letramento se reformula
Eacute assim um momento privilegiado para na ocasiatildeo mesma em que essas novas praacuteticas de leitura e de escrita estatildeo sendo introduzidas captar o estado ou
Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital
149
condiccedilatildeo que estatildeo instituindo um momento privilegiado para identificar se as praacuteticas de leitura e de escrita digitais o letramento na cibercultura conduzem a um estado ou condiccedilatildeo diferente daquele a que conduzem as praacuteticas de leitura e de escrita quirograacuteficas e tipograacuteficas o letramento na cultura do papel (idem p146)
Soares denomina essa fase do letramento digital de ldquocultura da telardquo em que os espaccedilos de
escrita em formato de hipertextos satildeo natildeo-linerares pouco controlaacuteveis de faacutecil ediccedilatildeo e possibilitam o
leitor a intervir no texto alterar co-criar definir seu caminho de leitura e compartilhar com outros da
rede Citando Chartier (1994) a autora refere-se agrave cultura da tela como um retorno metafoacuterico ao
tempo antes da invenccedilatildeo da imprensa em que os copistas alteravam o texto dos manuscritos seja por
erro ou por intervenccedilatildeo consciente de forma que as coacutepias nunca eram idecircnticas eram acrescentados
tiacutetulos notas observaccedilotildees pessoais em espaccedilos em brancos que eram deixados para essa finalidade
(Soares 2002 pp 152-153) Assim conclui Soares a tela como espaccedilo de escrita e de leitura traz
natildeo apenas novas formas de se comunicar e acessar as informaccedilotildees mas tambeacutem ldquonovos processos
cognitivos novas formas de conhecimento novas maneiras de ler e de escrever enfim um novo
letramento isto eacute um novo estado ou condiccedilatildeo para aqueles que exercem praacuteticas de escrita e de
leitura na telardquo (idem p155) Neste sentido o estudo do letramento digital corresponde agrave literacia
digital no tocante agraves novas formas de competecircncias criacuteticas e habilidades analiacuteticas demandadas pela
crescente atualizaccedilatildeo das tecnologias
Fazendo uma analogia da literacia com o letramento Bakhtin (1992) analisa que um sujeito
letrado eacute algueacutem que conhece e pratica diferentes formas de falar ler e escrever que satildeo construiacutedas
socialmente e culturalmente Nas diferentes esferas da vida (escolar artiacutestica poliacutetica profissional)
este sujeito eacute capaz de acionar modelos correspondentes a situaccedilotildees especiacuteficas para interpretar
prever criar questionar avaliar e escolher atitudes Levando para o campo do uso das tecnologias eacute
importante que os professores integrem o computador e suas parafernaacutelias agrave sua praacutetica docente
transformando-a para serem inseridos no contexto de sociedade em rede
Soares (2002) reflete que o confronto entre tecnologias tipograacuteficas e digitais e seus efeitos
diferenciados sobre o estado ou condiccedilatildeo de quem as utiliza sugere que se pluralize a palavra
letramento de modo que diferentes tecnologias de escrita estabelecem vaacuterias formas de letramentos
A autora cita o exemplo da alteraccedilatildeo no controle das publicaccedilotildees jaacute que na cultura impressa os
editores e conselhos editoriais decidiam o que ia ser impresso determinavam os criteacuterios de qualidade
e definiam o que era oferecido aos leitores ao passo que agorao computador
Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital
150
possibilita a publicaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo na tela de textos que escapam agrave avaliaccedilatildeo e ao controle de qualidade qualquer um pode colocar na rede e para o mundo inteiro o que quiser por exemplo um artigo cientiacutefico pode ser posto na rede sem o controle dos conselhos editoriais dos referees e ficar disponiacutevel para qualquer um ler e decidir individualmente sobre sua qualidade ou natildeo (Soares p155)
Portanto diante dos contextos midiaacuteticos ineacuteditos novas praacuteticas e habilidades de leitura e
escrita satildeo requisitadas do escritor e do leitor da mensagem em tela Se antes o espaccedilo da publicaccedilatildeo
era limitado a intelectuais e jornalistas agora com a internet eacute possiacutevel publicar um texto e tornaacute-lo
disponiacutevel a milhotildees de pessoas na rede A mesma situaccedilatildeo ocorre com a pesquisa antes restrita a
livros nas bibliotecas agora disponiacutevel em milhares de bibliotecas virtuais e repositoacuterios na rede de
internet Estas mudanccedilas de espaccedilos de escrita mecanismos de produccedilatildeo reproduccedilatildeo e difusatildeo da
informaccedilatildeo demandaram novas habilidades e competecircncias mesmo depois da criaccedilatildeo da internet A
Web 10 com seus programas de coacutedigo fechado e exposiccedilatildeo massiva de informaccedilotildees com ecircnfase no
usuaacuterio evoluiu para a Web 20 com coacutedigo aberto permitindo uma construccedilatildeo coletiva do
conhecimento mudando assim o perfil do usuaacuterio Saito e Souza (2011 p 133) explicam esse
fenocircmeno
Nesse contexto as categorias de leitor e autor confundem-se em novas categorias hiacutebridas leitor-co-autor leitor-contribuinte leitor-colaborador Aleacutem disso a Web 20 traz novas perspectivas ontoloacutegicas para os usuaacuterios (os modos de ser as identidades assumidas nos vaacuterios profiles dos sites sociais como Facebook Orkut etc) e epistemoloacutegicas em relaccedilatildeo ao conteuacutedo (novas relaccedilotildees com a publicaccedilatildeo compartilhamento e construccedilatildeo colaborativa do conhecimento por exemplo a Wikipedia)
Segundo Spivack (2007) vivenciamos desde 2010 a Web 30 que o autor previa ser a Web
Semacircntica marcada pelo uso de metadados para codificar o significado da informaccedilatildeo o que
possibilitaria as pessoas a recuperar informaccedilotildees especiacuteficas na grande rede A Web Semacircntica de
acordo com o autor resolveria o problema da sobrecarga de informaccedilatildeo na rede de computadores
mas exigiria dos usuaacuterios habilidades para buscar filtrar selecionar analisar criticamente e fazer uso
saacutebio das informaccedilotildees encontradas Em 2016 vivenciamos a era da Web 40 que Spivack chamou de
Web Ubiacutequa marcada notadamente conforme afirmam Silva e Souza (2015 p 6) por ldquoum notaacutevel
desenvolvimento das tecnologias moacuteveis (cujos maiores destaques recaem na invenccedilotildees em torno dos
smartphones e dos tablets) a par das redes sem fios proporcionando um reforccedilo da conectividade
mobilidade e ubiquidaderdquo Neste sentido fala-se de ldquomultiliteraciasrdquo ou ldquomultiletramentosrdquo digitais
para abranger a ampla gama de habilidades requeridas para o uso eficaz e proveitoso da internet
Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital
151
Selber (2004) construiu um modelo teoacuterico de multiliteracias na sua obra Multiliteracies for a
Digital Age O modelo de Selber eacute baseado em trecircs niacuteveis e categorias principais que satildeo
independentes entre si mas que se relacionam de forma dinacircmica Saito e Souza (2011) sintetizaram
em um quadro o modelo de Selber em que os autores traduziram as categorias usando o termo
Letramento em todas elas (1) Letramento Digital Funcional (2) Letramento Digital Criacutetico (3)
Letramento Digital Retoacuterico Interessante ressaltar que Selber usou para cada categoria metaacuteforas
explicativas paracircmetros de anaacutelise e habilidades a serem desenvolvidas em cada niacutevel
Quadro 6 - Esquema de Selber para os Multiletramentos Digitais
Multiletramentos Digitais Niacutevel de LD LD Funcional LD Criacutetico LD Retoacuterico
Metaacutefora relacionada agraves
TICs
TICs como ferramentas TICs como artefatos culturais TICs como miacutedia hipertextual
Posiccedilatildeo de sujeito
Indiviacuteduos como usuaacuterios competentes de TICs
Indiviacuteduos como questionadores informados das TICs
Indiviacuteduos como produtores reflexivos de TICs
Paracircmetros e qualidades a serem explorados
1) Fins educacionais atingir objetivos educacionais atraveacutes das TICs 2) Convenccedilotildees sociais entender as convenccedilotildees sociais que determinam os usos das TICs 3)Discursos especializados usar adequadamente os discursos associados agraves TICs 4) Atividades gerenciais gerenciar de modo inteligente o mundo on-line 5) Impasses tecnoloacutegicos resolver os impasses tecnoloacutegicos de modo confiante e estrateacutegico
1) Culturas de design investigar as perspectivas dominantes que constituem as culturas de design das TICs e seus artefatos 2) Contextos de uso compreender os contextos de uso como aspecto inseparaacutevel das TICs que ajudam a constituiacute-las e contextualizaacute-las 3) Forccedilas institucionais entender as forccedilas institucionais que modelam os usos das TICs 4) Representaccedilotildees populares investigar as representaccedilotildees que as TICs tecircm no imaginaacuterio das pessoas
1) Persuasatildeo entender que a persuasatildeo permeia os contextos de design de interface de modo impliacutecito e expliacutecito e que isso sempre envolve forccedilas e estruturas maiores (por exemplo contextos de uso ideologias) 2) Deliberaccedilatildeo entender que os problemas de design de interface satildeo problemas maldefinidos cujas soluccedilotildees satildeo argumentos representacionais aos quais se chega atraveacutes de vaacuterias atividades deliberativas 3) Reflexatildeo articular o conhecimento de design de interface em um niacutevel consciente e sujeitar as accedilotildees e praacuteticas agrave avaliaccedilatildeo criacutetica 4) Accedilatildeo social compreender o design de interface como uma forma de accedilatildeo social e natildeo apenas como accedilatildeo teacutecnica
Fonte adaptado de Selber (2004) por Saito e Souza (2011)
No modelo de Selber observa-se que cada um dos paracircmetros expande a noccedilatildeo de letramento
anterior partindo do uso baacutesico e instrumental das tecnologias para o uso avanccedilado e criacutetico das
mesmas capacitando seus usuaacuterios a serem produtores reflexivos e natildeo apenas usuaacuterios
minimamente competentes No campo educacional espera-se dos professores o domiacutenio destas
habilidades com as tecnologias digitais como se espera que um alfabetizador seja alfabetizado De
acordo com Selfe (1999) neste novo mundo de processamento de dados e comunicaccedilatildeo virtual
ensinar os alunos a usar um computador para se comunicar eacute tatildeo fundamental como ensinaacute-los a
escrever Prensky (2005) incentiva os professores a abandonarem seus ldquoinstintos preacute-digitaisrdquo e sua
ldquozona de confortordquo e se abrirem para aprenderem com seus proacuteprios alunos como usar determinada
tecnologia para se obter um resultado Esta atitude exige humildade do professor em solicitar dos
Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital
152
alunos uma ajuda no tocante ao uso das tecnologias ou mesmo solicitar que se expressem a partir dos
conhecimentos que obteram na Web Pode-se envolver os alunos fazendo as seguintes perguntas
Algueacutem da sala sabe fazer qualquer coisa na Web que eacute relevante para o que estamos discutindo ou
Vocecircs conseguem pensar em qualquer exemplos deste problema (matemaacutetico) em seus jogos de
computador Estas atitudes segundo Prensky mantecircm os alunos engajados e motivados porque estatildeo
envolvidos com as tecnologias nas suas casas fora da sala de aula
No entanto os professores precisam de formaccedilatildeo adequada para lidarem com as tecnologias
cada vez mais presentes na escola Noacutevoa (2014 p 2) quando em entrevista foi questionado sobre o
que eacute preciso para construir as mudanccedilas na escola considerando o fato de que o modelo atual natildeo
condiz com a cultura contemporacircnea respondeu
Eacute preciso haver trecircs respostas que satildeo trecircs prioridades primeira os professores segunda os professores terceira os professores Eacute preciso reforccedilar a autonomia e a centralidade dos professores valorizar o magisteacuterio Eacute inuacutetil procurar outras soluccedilotildees Os professores satildeo a peccedila central de qualquer mudanccedila mas natildeo podemos exigir-lhes tudo e dar-lhes quase nada
Assim a literacia digital dos professores constitui uma poliacutetica puacuteblica fundamental para a
inserccedilatildeo destes na sociedade em rede e a chave de igniccedilatildeo para a promoccedilatildeo de mudanccedilas na escola
A proacutexima seccedilatildeo consideraraacute a inclusatildeo da literacia digital na agenda poliacutetica
32 A literacia digital na agenda das poliacuteticas puacuteblicas
Conforme destacado no capiacutetulo 2 desta tese a inclusatildeo de uma determinada poliacutetica puacuteblica
na agenda governamental adveacutem da constataccedilatildeo do problema ou levantamento da demanda e a
seleccedilatildeo das questotildees que iratildeo compocirc-la (Silva e Silva 2008) Nesse sentido demandas sociais satildeo
levantadas e o segundo passo nesse processo de movimento e construccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas eacute a
formulaccedilatildeo de alternativas de poliacuteticas o que institui um diagnoacutestico sobre a situaccedilatildeo problema e a
busca de soluccedilotildees para o seu enfrentamento Nesse momento de construccedilatildeo das poliacuteticas os
especialistas e teacutecnicos na aacuterea constituem sujeitos fundamentais no processo sendo responsaacuteveis
pelo desenvolvimento de alternativas para os problemas da agenda puacuteblica (Alves 2010) A difusatildeo e
expansatildeo dos meios de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo gerou a demanda por conhecimentos especiacuteficos
para acessaacute-los compreendecirc-los e uso eficaz dos mesmos Melatildeo (2011 p 90) afirma que o conceito
de ldquoliteracia digitalrdquo surgiu da necessidade de enquadrar as habilidades e competecircncias necessaacuterias
aos cidadatildeos confrontados em permanecircncia com a evoluccedilatildeo das tecnologias digitais Assim a literacia
Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital
153
digital entrou na agenda poliacutetica primeiramente nos paiacuteses mais desenvolvidos e mais tarde nos paiacuteses
em desenvolvimento
Na Europa a literacia digital constitui uma preocupaccedilatildeo dos oacutergatildeos de educaccedilatildeo puacuteblica tal
como no Brasil fala-se muito em letramento digital Essa temaacutetica eacute reconhecida nos paiacuteses europeus
como um componente inseparaacutevel da cidadania e foi objeto da Directiva 200765CE do Parlamento
Europeu e do Conselho29 de 11 de Dezembro de 2007 em que no inciso 37 reza
A educaccedilatildeo para os media visa as competecircncias os conhecimentos e a compreensatildeo que permitem aos consumidores utilizarem os meios de comunicaccedilatildeo social de forma eficaz e segura as pessoas educadas para os media satildeo capazes de fazer escolhas informadas compreender a natureza dos conteuacutedos e serviccedilos e tirar partido de toda a gama de oportunidades oferecidas pelas novas tecnologias das comunicaccedilotildees [estando] mais aptas a protegerem-se e a protegerem as suas famiacutelias contra material nocivo ou atentatoacuterio
No acircmbito das poliacuteticas europeias para os media30 a literacia digital serve principalmente ao
objetivo de fortalecer a competitividade e promover a inclusatildeo na economia mundial ndash hoje
fundamentada na informaccedilatildeo e no conhecimento
Sousa (2011) afirma que no acircmbito da Comissatildeo Europeia foram produzidos vaacuterios
documentos que tratam separadamente da educaccedilatildeo para os medias e da literacia digital De acordo
com Pinto et al (2011) a preocupaccedilatildeo com a educaccedilatildeo para o consumo criacutetico e criterioso dos meios
de comunicaccedilatildeo natildeo eacute recente no rol de formulaccedilotildees de poliacuteticas puacuteblicas Segundo os autores em
1982 um grupo de peritos da UNESCO (Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e
a Cultura) se reuniram na cidade alematilde de Gruumlnwald e publicou-se entatildeo a Declaraccedilatildeo de Gruumlnwald
sobre Educaccedilatildeo para os Media31 que alertava para a necessidade de preparar os jovens para lidarem
com as informaccedilotildees amplamente divulgadas nos meios de comunicaccedilatildeo disponiacuteveis na eacutepoca No texto
da Declaraccedilatildeo eacute evidente que os peritos reconheciam que estavam diante de um paradigma
tecnoloacutegico sem volta
Mais do que condenar ou apoiar o indubitaacutevel poder dos media torna-se necessaacuterio aceitar o seu impacto significativo e a sua difusatildeo por todo o mundo como um facto consumado valorizando ao mesmo tempo a sua relevacircncia como um importante elemento de cultura no mundo contemporacircneo
29 Disponiacutevel em lthttpwwwanacomptrenderjspcontentId=971531VsHP4_krLIUgt Acesso em 15 fev 2016 30 Media no portuguecircs lusitano eacute o mesmo que miacutedia meios de comunicaccedilatildeo no Brasil 31 Documento disponiacutevel no siacutetio lthttpwwwunescoorgeducationpdfMEDIA_EPDFgt Acesso em 16 fev 2016
Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital
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A preocupaccedilatildeo do documento eacute voltada para ldquoa educaccedilatildeo para os media como preparaccedilatildeo
para o exerciacutecio de uma cidadania responsaacutevelrdquo e convoca os educadores a natildeo ignorarem o
desenvolvimento na aacuterea comunicacional mas antes ldquoretirar algum ensinamento dos seus efeitosrdquo O
documento finaliza com um apelo as autoridades no sentido de fomentarem programas integrados de
educaccedilatildeo para os media do preacute-escolar agrave universidade desenvolverem cursos de formaccedilatildeo de
professores para ldquoaumentar seus conhecimentos e compreensatildeo dos mediasrdquo e incentivo agrave
cooperaccedilatildeo internacional na aacuterea da educaccedilatildeo para os media
Ainda segundo Pinto et al (2011) em 1984 a UNESCO produziu um documento intitulado
Lrsquoeacuteducation aux medias que reconhece a educaccedilatildeo para os media e informaccedilotildees como fundamentais
para a liberdade de expressatildeo e informaccedilatildeo tambeacutem para capacitar os cidadatildeos a entender as
funccedilotildees dos meios de comunicaccedilatildeo e ainda a habilitaacute-los a avaliar criticamente os conteuacutedos e tomar
decisotildees informadas como utilizadores e produtores de informaccedilatildeo
Em 1990 na cidade francesa de Toulouse membros da Conferecircncia Internacional sobre
Educaccedilatildeo para os Media evento tambeacutem promovido pela UNESCO produziram o documento lsquoNovas
Direccedilotildees na Educaccedilatildeo para os Mediarsquo32 Neste o foco foi a definiccedilatildeo de um termo especiacutefico para a
educaccedilatildeo para os media
Existe ainda muita discussatildeo sobre se a expressatildeo correta eacute educaccedilatildeo para os media consciecircncia mediaacutetica ou ldquoliteracia dos media Parece que literacia dos media vai prevalecer por causa da associaccedilatildeo mental com ldquoliteracia que significa a capacidade de ler e processar informaccedilatildeo a fim de participar plenamente na sociedade
Importante ressaltar o amadurecimento que o documento apresenta com relaccedilatildeo a como os
meios de comunicaccedilatildeo e suas mensagens atingem a sociedade e a reaccedilatildeo desta neste processo Nos
anos de 1950 e 1960 pensava-se no expectador das miacutedias como um mero receptor de mensagens
midiaacuteticas uma ldquotaacutebula rasa ou lousa em brancordquo que recebia as informaccedilotildees por meio dos meios de
comunicaccedilatildeo em massa Neste contexto argumenta o documento as poliacuteticas educacionais eram
voltadas a proteger as famiacutelias do excesso de informaccedilatildeo difundidas na miacutedia estabelecendo criteacuterios
do que era bom ou ruim Nos anos de 1970 e 1980 o foco foram questotildees mais ideoloacutegicas e de
ordem esteacutetica no que diz respeito ao uso criacutetico das informaccedilotildees veiculadas a que servem quais
seus interesses como estatildeo organizadas Neste momento o desenvolvimento da capacidade analiacutetica
e criacutetica com relaccedilatildeo aos meios de comunicaccedilatildeo foram demandas dos oacutergatildeos formuladores de 32 disponiacutevel em httpmilunescounaocorgnew-directions-in-media-education-unesco-1990 Acesso em 16 fev 2016
Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital
155
poliacuteticas puacuteblicas O documento conclui que na deacutecada de 1990 jaacute tinham uma compreensatildeo de que
existia uma constante interaccedilatildeo entre o texto da mensagem o contexto do evento da miacutedia a
experiecircncia do expectador e o sistema de valores vigentes Assim o foco da educaccedilatildeo a partir deste
entendimento deveria ser a capacitaccedilatildeo para o espectador processar as mensagens dos meios de
comunicaccedilatildeo e produzir significados e sentidos proacuteprios
Outro importante evento tambeacutem promovido pela UNESCO a Conferecircncia de Viena realizada
em 1999 produziu um documento intitulado Educar para os Media na Era Digital33 O objetivo era
preparar um programa especiacutefico em educaccedilatildeo para os medias e a criaccedilatildeo de um espaccedilo mediaacutetico
para os jovens A preocupaccedilatildeo com as definiccedilotildees sobre educaccedilatildeo para os medias mais uma vez eacute
evidenciada com a descriccedilatildeo do seu campo de accedilatildeo conforme delimitado no documento
- habilidade de lidar com todos os meios de comunicaccedilatildeo e inclui a palavra impressa o som bem como a imagem em movimento distribuiacuteda em qualquer tipo de tecnologia
- confere agraves pessoas a capacidade de compreenderem os meios de comunicaccedilatildeo usados no seu contexto social e o seu modo de funcionamento e permite adquirir competecircncias para usar esses meios para comunicar com os outros
- garante que as pessoas aprendem a analisar a refletir criticamente e a criar textos mediaacuteticos aprendem a identificar as fontes de textos mediaacuteticos os interesses poliacuteticos sociais comerciais e interesses culturais e seus contextos aprendem a interpretar as mensagens e os valores veiculados pelos meios de comunicaccedilatildeo aprendem a selecionar meios adequados para comunicar as suas proacuteprias mensagens ou histoacuterias e para atingir o puacuteblico a quem se destina a mensagem
Na Conferecircncia de Viena as ldquonovas tecnologias digitaisrdquo foram introduzidas no rol dos meios
de comunicaccedilatildeo em ampla expansatildeo e destacou-se a necessidade da inclusatildeo nos curriacuteculos nacionais
da educaccedilatildeo para o medias O documento produzido na Conferecircncia dizia ldquoA educaccedilatildeo para os media
eacute parte integrante do direito baacutesico de todo cidadatildeo em todos os paiacuteses do mundo como o eacute a
liberdade de expressatildeo e o direito agrave informaccedilatildeo e eacute fundamental na construccedilatildeo e sustentaccedilatildeo da
democraciardquo
Jaacute na virada do milecircnio em face da expansatildeo das tecnologias digitais de informaccedilatildeo e
comunicaccedilatildeo foi realizado em 2002 o Seminaacuterio sobre Educaccedilatildeo para os Media34 em Sevilha na
33 Disponiacutevel em httpwwwmediamilioncom199904conferencia-de-viena-E2809Ceducando-para-la-era-digitalE2809D-1999 Acesso em 16 fev 2016 34 Disponiacutevel em httpmilunescounaocorgyouth-media-education-seminar-in-seville Acesso em 16 fev 2016
Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital
156
Espanha O objetivo do evento foi avanccedilar nas discussotildees da conferecircncia de Viena no que respeita agrave
definiccedilotildees e conceitos de educaccedilatildeo para os medias e partir para a operacionalizaccedilatildeo com accedilotildees
especiacuteficas visando sua visibilidade e legitimidade O seminaacuterio estabeleceu algumas afirmativas
consensuais
Educaccedilatildeo para os Media estaacute mais relacionado com ensinar e aprender acerca dos media mais do que atraveacutes dos media envolve a anaacutelise criacutetica e produccedilatildeo criativa pode e deve ocorrer em contextos formais e informais deve promover o sentido de comunidade e de responsabilidade social bem como realizaccedilatildeo individual
Assim reconheceu-se que a ecircnfase natildeo deve ser no uso da ferramenta ou na tecnologia mas
aprender com a tecnologia em contextos educativos Neste sentido propotildee-se a educaccedilatildeo para os
medias com foco nos jovens em fase de desenvolvimento tambeacutem programas que envolvam os pais
nos contextos mediaacuteticos e ainda o reforccedilo na formaccedilatildeo de professores e outros profissionais visando
o conhecimento analiacutetico criacutetico dos medias e a produccedilatildeo criativa
De acordo com Lopes (2012) em 2006 foi formado um grupo de peritos europeus em literacia
mediaacutetica com o objetivo de definir objetivos e tendecircncias destacar boas praacuteticas e propor accedilotildees nesta
aacuterea Mediante consulta puacuteblica realizada com especialistas dos estados-membros da Uniatildeo Europeia
(empresas e instituiccedilotildees da miacutedia produtores de conteuacutedos oacutergatildeos reguladores e associaccedilatildeo de
cidadatildeos) formulou-se uma definiccedilatildeo europeia para literacia mediaacutetica ldquoa capacidade de aceder aos
medias de compreender e avaliar de modo criacutetico os diferentes aspectos dos medias e dos seus
conteuacutedos e de criar comunicaccedilotildees em diferentes contextosrdquo (LOPES 2012 p5)
A UNESCO35 em 2011 publicou a Declaraccedilatildeo de Fez sobre Literacia da Informaccedilatildeo e dos
Media onde se considera que ldquoa atual era digital e de convergecircncia das tecnologias da comunicaccedilatildeo
carecem de literacia mediaacutetica e informativa de modo a conseguir o desenvolvimento humano e
sustentaacutevel e sociedades participativasrdquo O referido documento foi elaborado durante o 1 ordm Foacuterum
Internacional sobre Literacia da Informaccedilatildeo e dos Media na cidade Marroquina de Fez promovido pela
UNESCO A literacia da informaccedilatildeo e dos medias foi reafirmada como direito humano fundamental
que deve ser assegurado a todo cidadatildeo No que diz respeito agrave educaccedilatildeo o documento recomenda
como metas ldquodotar professores e alunos com competecircncias em literacia informativa e para os media
de modo a edificar sociedades alfabetizadas neste acircmbito criando as condiccedilotildees para as sociedades do
35 UNESCO (2011) Recuperado em 10 fevereiro de 2016 de lthttpwwwunescoorgnewfileadminMULTIMEDIAHQCICIpdfnewsFez20Declarationpdfgt
Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital
157
conhecimentordquo Assim entende-se que a literacia mediatica ou digital estaacute relacionada com a educaccedilatildeo
para tecnologias sendo esta primeira imprescindiacutevel no processo de inclusatildeo na era digital
A publicaccedilatildeo Media and information Literacy (UNESCO 2013) recomenda algumas diretrizes e
orientaccedilotildees para os paiacuteses membros da UNESCO desenvolverem poliacuteticas estrateacutegicas de fomento ao
uso criacutetico e responsaacutevel das TDIC A referida publicaccedilatildeo apresenta experiecircncias de paiacuteses que
investiram fortemente em poliacuteticas de literacia mediaacutetica como a Argentina Marrocos Austraacutelia e
Finlacircndia O diferencial destes paiacuteses eacute a integraccedilatildeo das universidades empresas privadas
comunidades famiacutelias e o governo local na implantaccedilatildeo de projetos de formaccedilatildeo para a literacia
mediaacutetica
O Brasil como paiacutes membro da UNESCO tem buscado implementar poliacuteticas puacuteblicas de
formaccedilatildeo de professores para o uso das TDIC nos contextos educativos No sitei da UNESCOBrasil a
entidade informa que coopera com o governo brasileiro na promoccedilatildeo de accedilotildees de disseminaccedilatildeo de
TDIC nas escolas com o objetivo de melhorar a qualidade do processo ensino-aprendizagem O marco
legal que regulamenta a formaccedilatildeo de professores a distacircncia no Brasil eacute a Lei de Diretrizes e Bases da
Educaccedilatildeo (LDB nordm939496) que no seu artigo 63 inciso III determina aos institutos superiores de
educaccedilatildeo que mantenham programas de formaccedilatildeo continuada de professores em diversos niacuteveis
Tambeacutem no artigo 87 Inciso III das disposiccedilotildees transitoacuterias os municiacutepios o Estado e a Uniatildeo satildeo
convocados a ldquorealizar programas de capacitaccedilatildeo para todos os professores em exerciacutecio utilizando
tambeacutem para isto os recursos de educaccedilatildeo a distacircnciardquo
No entanto segundo Toschi (2001) as tentativas de se instituir o ensino a distacircncia como
modalidade de educaccedilatildeo no Brasil datam os anos de 1960 mas natildeo obtiveram sucesso como
programas de alcance nacional Por exemplo entre 1967 e 1974 foi implementado em caraacuteter
experimental o Sistema Avanccedilado de Comunicaccedilotildees Interdisciplinares (Projeto Saci) com o objetivo de
estabelecer um sistema nacional de teleducaccedilatildeo com o uso de sateacutelites O referido projeto utilizava o
formato de telenovela Segundo Saraiva (1996) um projeto piloto inicial no estado do Rio Grande do
Norte era subdivido em dois projetos um destinado a alunos das trecircs primeiras seacuteries do ensino
fundamental e outro voltado para capacitar os professores Eram utilizados radio eou televisatildeo A
autora explica que aleacutem do uso da TV e o raacutedio o projeto oferecia mecanismos de feedback dos alunos
por meio de textos de instruccedilatildeo programada e sistema de de correccedilatildeo de testes por computador
Menezes e Santos (2001 p 1) apresentam a justificativa e os resultados obtidos do Projeto Saci
Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital
158
A adoccedilatildeo de educaccedilatildeo por sateacutelite foi vista como uma soluccedilatildeo no contexto dos anos 70 quando o nuacutemero de analfabetos no Brasil era considerado um entrave agrave modernizaccedilatildeo do paiacutes principalmente nas regiotildees Norte e Nordeste [] O projeto foi interrompido em 1978 sob o argumento dos altos custos de manutenccedilatildeo de sateacutelites e das diferenccedilas culturais entre o perfil dos programas produzidos no interior do estado de Satildeo Paulo
Embora o projeto Saci natildeo fosse especificamente voltado para a formaccedilatildeo dos professores
Draibe e Perez (1999) afirmam que durante deacutecadas no Brasil foram realizadas inuacutemeras iniciativas
pontuais com uso de raacutedio e TV para capacitar digitalmente os professores Segundo Almeida (2008)
ateacute agrave deacutecada de 1970 as atividades de tecnologia educativas no Brasil ocorreram por iniciativas
isoladas de grupos de pesquisadores pioneiros Embora contassem com algum financiamento puacuteblico
para as pesquisas natildeo havia diretrizes poliacuteticas puacuteblicas definidas para aacuterea A primeira iniciativa
nesse sentido foi a estruturaccedilatildeo da Comissatildeo Especial de Informaacutetica na Educaccedilatildeo (SEI) dentro do
Ministeacuterio de Educaccedilatildeo e Cultura (MEC) que realizou nos anos de 1981 a 1982 seminaacuterios temaacuteticos
com participaccedilatildeo da comunidade cientiacutefica a qual recomendou a realizaccedilatildeo de experimentos com
objetivo de instituir referecircncias para uma apropriado emprego das tecnologias antecedendo a sua
disseminaccedilatildeo massiva No quadro 07 estatildeo relacionadas as iniciativas pioneiras no Brasil de
informaacutetica na educaccedilatildeo segundo Almeida (2008 p 26)
Quadro 7 - Iniciativas pioneiras no Brasil de informaacutetica na educaccedilatildeo
ProgramaProjeto Objetivos Resultados Projeto EDUCOM ndash Educaccedilatildeo com Computador promovido pelo Ministeacuterio de Educaccedilatildeo do Brasil (MEC) no periacuteodo de 1984 a 1989
Visava a criaccedilatildeo de centros-piloto em cinco universidades puacuteblicas brasileiras com a finalidade de realizar pesquisa multidisciplinar e capacitar recursos humanos para subsidiar a decisatildeo de informatizaccedilatildeo da educaccedilatildeo puacuteblica brasileira
Tais centros apresentaram resultados em relaccedilatildeo a produccedilatildeo de software educativo aplicaccedilatildeo experimental desses softwares em escolas puacuteblicas mediante o uso do computador como ferramenta para desenvolvimento dos projetos
Projeto FORMAR criado pelo MEC em 1987
Promover cursos de especializaccedilatildeo em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo lato sensu com 360h ou mais por meio do qual os professores eram preparados para atuar nesses centros como multiplicadores na formaccedilatildeo de outros professores mediante a oferta de cursos de informaacutetica na educaccedilatildeo
Os professores aprendiam a dominar a tecnologia estudavam teorias educacionais para compreender as concepccedilotildees inerentes ao uso da informaacutetica em educaccedilatildeo criavam propostas de disseminaccedilatildeo do uso do computador em suas instituiccedilotildees de origem
Programa Nacional de Informaacutetica Educativa ndash Proinfo em 1996
Desenvolver accedilotildees de capacitaccedilatildeo de professores e teacutecnicos implantar centros de informaacutetica na educaccedilatildeo apoiar a aquisiccedilatildeo de equipamentos computacionais e a produccedilatildeo aquisiccedilatildeo adaptaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de software educativo
Havia a expectativa de superar a abordagem educacional baseada na transmissatildeo de informaccedilotildees no entanto as praacuteticas inovadoras natildeo sustentavam diante das dificuldades enfrentadas pelos professores para levar avante o trabalho com projetos interdisciplinares ateacute chegar agrave sistematizaccedilatildeo do conhecimento produzido
Fonte adaptado de Almeida (2008)
O programa Salto para o Futuro produzido desde 1991 pela Fundaccedilatildeo Roquete Pinto foi o
embriatildeo para se pensar em uma poliacutetica efetiva de formaccedilatildeo de professores para as miacutedias Segundo
Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital
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Draibe e Perez (1999 p 31) foi nesse contexto que o MEC criou em 1995 o programa TV Escola que
consistia num ldquocomplexo de accedilotildees televisivas destinadas agrave capacitaccedilatildeo docente e agrave ampliaccedilatildeo dos
alunos agraves novas informaccedilotildeesrdquo Tambeacutem naquele ano foi implementado o Programa de Apoio
Tecnoloacutegico (PAT) que previa a distribuiccedilatildeo de Kits tecnoloacutegicos compostos por uma televisatildeo uma
antena paraboacutelica um viacutedeo cassete e uma caixa de fitas VHS Atualmente a programaccedilatildeo do
programa TV Escola estaacute dividida em faixas ensino infantil ensino fundamental ensino meacutedio Salto
para o futuro e Escola aberta Leva ao ar diariamente documentaacuterios estrangeiros cursos de
capacitaccedilatildeo a distacircncia e seacuteries Existe uma produccedilatildeo proacutepria de conteuacutedos que tanto pode ser vista
hoje na TV pelo sinal analoacutegico como pelo sinal digital Diferentes estudos revelam que o programa TV
Escola apesar de problemas relacionados com a infraestrutura e falta de teacutecnicos no suporte do
mesmo alcanccedilou seus objetivos em difundir as miacutedias nas escolas (Draibe e Perez 1999 Pretto
2002 Barreto 2004)
Apesar da UNESCO citar apenas o programa TV Escola como accedilatildeo efetiva das poliacuteticas para a
formaccedilatildeo de professores para o uso das miacutedias outra accedilatildeo relevante nesta aacuterea eacute o Programa
Nacional de Tecnologia Educacional (Proinfo) Trata-se de um programa educacional criado pela
Portaria nordm 522MEC de 9 de abril de 1997 para promover o uso pedagoacutegico das TDIC na rede
puacuteblica de ensino fundamental e meacutedio Segundo Holanda (2003) a concepccedilatildeo do programa eacute a
modernizaccedilatildeo tecnoloacutegica das escolas Aleacutem de equipar as escolas com computadores e perifeacutericos o
programa criou as estruturas dos Nuacutecleos de Tecnologia Educacional ndash NTE (unidades vinculadas agraves
Secretarias Estaduais ou Municipais de Educaccedilatildeo) que foram criadas para dar suporte ao ProInfo com
capacitaccedilatildeo assistecircncia teacutecnica e apoio pedagoacutegico
Em 2010 o programa Proinfo foi remodelado e passou a chamar-se Proinfo Integrado De
acordo com o site 36 do programa o seu objetivo eacute ldquoarticular as distribuiccedilatildeo dos equipamentos
tecnoloacutegicos nas escolas com oferta de conteuacutedos e recursos multimiacutedia e digitais oferecidos pelo
Portal do Professor pela TV Escola e DVD Escola pelo Domiacutenio Puacuteblico e pelo Banco Internacional de
Objetos Educacionaisrdquo Segundo a mesma fonte satildeo ofertados nos NTE das escolas os seguintes
cursos de capacitaccedilatildeo de professores curso Introduccedilatildeo agrave Educaccedilatildeo Digital (60h) curso Tecnologias na
Educaccedilatildeo ensinando e aprendendo com as TIC (60h) curso Elaboraccedilatildeo de Projetos (40h) e o curso
Redes de Aprendizagem (40h) O ldquoProjeto Um Computador por Alunordquo (PROUCA) faz parte do Proinfo
36 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=13156proinfo-integradoampcatid=271seed Acesso em 22 marccedilo 2015
Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital
160
Integrado Este de acordo com o mesmo site ldquoprocura preparar os participantes para o uso dos
programas do laptop educacional e propor atividades que proporcionem um melhor entendimento de
suas potencialidadesrdquo Estudos sobre a eficaacutecia do Proinfo e do PROUCA revelam que em regiotildees mais
afastadas dos grandes centros os impactos do programa satildeo mais efetivos e satildeo um diferencial na
formaccedilatildeo dos professores locais embora existam problemas relacionados com o vieacutes tecnoloacutegico em
detrimento com a formaccedilatildeo social dos envolvidos (Damaceno Bonilla e Passos 2012 Nassri 2012
Lima 2015)
O Proformaccedilatildeo ndash Programa Nacional de Formaccedilatildeo de Professores em Exerciacutecio criado em
1999 foi criado com o objetivo de formar os professores ldquoleigosrdquo atuantes nas escolas puacuteblicas do
Brasil O referido programa foi idealizado para atingir prioritariamente as Regiotildees Norte Nordeste e
Centro-Oeste locais onde existia um nuacutemero elevado de professores leigos a maior parte sem o
ensino fundamental (antigo 1ordm grau) Estudos realizados em diferentes cidades brasileiras revelaram
que o Proformaccedilatildeo contribuiu para a melhoria da qualidade dos profissionais que participaram com
influecircncia nas suas atividades de ensino Para os professores que chegaram a concluir o curso o
Programa garantiu natildeo apenas uma diplomaccedilatildeo em niacutevel meacutedio mas a certeza da apreensatildeo e
incorporaccedilatildeo de novos conhecimentos e atitudes (Joia 2001 Alencar 2006 Andreacute 2008) Outros
estudos apontaram fragilidades do programa como o aligeiramento da formaccedilatildeo com a incorporaccedilatildeo
da praacutetica do professor na carga horaacuteria do curso a baixa possibilidade de comunicaccedilatildeo do professor
cursista com o professor formador que gerava limitaccedilotildees na apreensatildeo e aprofundamento de
conceitos teoacutericos a dificuldade de deslocamento nas zonas rurais a contrataccedilatildeo de novos leigos a
natildeo atuaccedilatildeo do programa nas condiccedilotildees de trabalho dos professores e visatildeo mercadoloacutegica de ensino
em massa (Andrade 2009 Moraes 2003)
Outra importante accedilatildeo do MEC no que tange aacute formaccedilatildeo de professores para o uso das
miacutedias eacute o Programa Miacutedias na Educaccedilatildeo Criado em 2006 trata-se de um curso de especializaccedilatildeo a
distacircncia promovido atualmente pela Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior -
Capes37 dedicado ao uso das miacutedias no processo de ensino e aprendizagem de forma integradora
articulada e autoral com o objetivo de integrar as miacutedias e as tecnologias renovar as estrateacutegias
didaacuteticas garantindo aos educadores a possibilidade de lidar com linguagens de quatro miacutedias baacutesicas
material impresso TV e viacutedeo raacutedio e informaacutetica Esta proposta de curso eacute parecida com os princiacutepios 37 A Capes trata-se de uma fundaccedilatildeo do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (MEC) que fomenta a expansatildeo e consolidaccedilatildeo da qualidade da poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu (mestrado e doutorado) em todos os estados da Federaccedilatildeo Criada inicialmente para coordenar o alto padratildeo do Sistema Nacional de Poacutes-Graduaccedilatildeo brasileiro passou a partir de 2007 a induzir e fomentar a formaccedilatildeo inicial e continuada de professores para a educaccedilatildeo baacutesica na modalidade presencial semi-presencial ou a distacircncia Disponiacutevel em httpwwwcapesgovbrhistoria-e-missao Acesso em 16 abril 2014
Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital
161
da literacia mediaacutetica focaliza o uso criacutetico da aplicabilidade integrada das TIC enfatizando a autoria
autocircnoma e significativa dos professores cursistas O curso eacute ofertado em quase todos estados do
Brasil em 32 universidades puacuteblicas atingindo mais de cem mil professores jaacute capacitados pelo
programa No entanto estudos sobre o programa apontam para algumas fragilidades do programa
como seu caraacuteter fortemente instrumental (Tereya amp Moraes 2009) necessidades de ajustes na
metodologia (Arauacutejo 2009) problemas relacionados com infraestrutura e descentralizaccedilatildeo de recursos
que impactam diretamente nos resultados (Moura 2012) e ainda alto iacutendice de evasatildeo (Alves e Faria
2011)
No acircmbito das poliacuteticas puacuteblicas para formaccedilatildeo inicial e continuada de professores o governo
federal do Brasil investiu na educaccedilatildeo a distacircncia como uma estrateacutegia para alcanccedilar os municiacutepios
mais remotos deste paiacutes continental Em 2006 o MEC criou a Universidade Aberta do Brasil (UAB)38
O Sistema UAB foi instituiacutedo pelo Decreto 5800 de 8 de junho de 20064 em parceria com a
ANDIFES 39 e trata-se de uma poliacutetica puacuteblica de articulaccedilatildeo com a Capes visando a expansatildeo da
Educaccedilatildeo Superior no acircmbito do Plano de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Natildeo se trata de uma
universidade virtual o Sistema UAB funciona como articulador entre as instituiccedilotildees de ensino superior
e os governos estaduais e municipais com vistas a atender agraves demandas locais por educaccedilatildeo superior
O puacuteblico em geral eacute atendido mas os professores que atuam na educaccedilatildeo baacutesica tecircm prioridade de
formaccedilatildeo seguidos dos dirigentes gestores e trabalhadores em educaccedilatildeo baacutesica dos estados
municiacutepios e do Distrito Federal Atualmente a UAB tem a adesatildeo de 96 universidades e institutos
federais e oferta cursos em diversos niacuteveis desde o aperfeiccediloamento ateacute os programas de Mestrado
Profissional a distacircncia em 776 polos de educaccedilatildeo a distacircncia Em 2014 foram ofertadas 775857
vagas sendo que 277045 satildeo destinadas a professores da rede baacutesica conforme apresentado no
Quadro 08
38 Criada em 2005 o sistema UAB eacute um sistema integrado por universidades puacuteblicas que oferece cursos de niacutevel superior para camadas da populaccedilatildeo que tecircm dificuldade de acesso agrave formaccedilatildeo universitaacuteria por meio do uso da metodologia da educaccedilatildeo a distacircncia Disponiacutevel em httpwwwuabcapesgovbr Acesso em 10 abril 2016 39 A Associaccedilatildeo Nacional dos Dirigentes das Instituiccedilotildees Federais de Ensino Superior (ANDIFES) constitui a representante oficial das universidades federais na interlocuccedilatildeo com o governo federal com as associaccedilotildees de professores de teacutecnico-administrativos de estudantes e com a sociedade em geral Disponiacutevel em httpwwwandifesorgbrinstitucionala-andifes Acesso em 26 dez2016
Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital
162
Quadro 8 - A UAB em nuacutemeros no ano de 2014
Fonte httpwwwbibeadufrjbrapresentacoesbibead2014-ap-apresentacao-UABpdf
No capiacutetulo quarto deste trabalho seratildeo apresentadas mais especificidades da UAB
considerando que o curso de graduaccedilatildeo a distacircncia em questatildeo nesta pesquisa eacute ofertado pelo referido
sistema
Ainda dentro das poliacuteticas puacuteblicas para formaccedilatildeo inicial e continuada de professores apoiada
por TDIC em 2009 o MEC lanccedilou o Plano Nacional de Formaccedilatildeo de Professores ndash PARFOR Trata-se
de um programa emergencial instituiacutedo para atender o disposto no artigo 11 inciso III do Decreto nordm
67552009 que prevecirc como uma das funccedilotildees da Capes fomentar oferta emergencial de cursos de
licenciaturas e de cursos ou programas especiais dirigidos aos docentes em exerciacutecio haacute pelo menos trecircs
anos na rede puacuteblica de educaccedilatildeo baacutesica que sejam graduados natildeo licenciados licenciados em aacuterea
diversa da atuaccedilatildeo docente e de niacutevel meacutedio na modalidade Normal Visando cumprir o disposto
neste Decreto o Parfor foi implantado em regime de colaboraccedilatildeo entre a Capes os estados
municiacutepios o Distrito Federal e as Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior ndash IE
Atendendo as recomendaccedilotildees da Capes os cursos do PARFOR satildeo presenciais modulados
com ofertas geralmente nos meses de feacuterias docentes janeiro fevereiro e julho conforme calendaacuterio
preacute-definido pela instituiccedilatildeo ofertante As disciplinas ministradas presencialmente contemplam um total
equivalente a 80 da sua carga horaacuteria Os 20 remanescentes satildeo ministrados via Plataforma Moodle
ou por meio de estudos orientados e produccedilatildeo de material No entanto estudos realizados
constataram que o PARFOR tem sido executado na maioria das universidades em regime semi-
presencial com restriccedilotildees agrave efetiva participaccedilatildeo dos alunos no ambiente acadecircmico das universidades
ofertantes contrataccedilatildeo de docentes novos sem qualquer viacutenculo institucional (e quase sempre sem
Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital
163
experiecircncia no ensino superior) e conteuacutedos programados de forma aligeirada (Bello 2009 Mororoacute
2012) Outros estudos revelam a dificuldades que os alunos do Parfor (professores da rede baacutesica)
enfrentam ao lidar com as tecnologias e o uso do computador e suas ferramentas satildeo subutilizadas
uma vez que se restringe na maior parte dos casos ao uso de envio e recebimento de e-mails
Tambeacutem se constatou uma preocupaccedilatildeo no aligeiramento e urgecircncia da formaccedilatildeo em detrimento do
processo pedagoacutegico e da comunicaccedilatildeo entre os participantes dos cursos na Plataforma Moodle
(Gonccedilalves 2014 Atayde 2012)
Em 2016 o MEC lanccedilou a Rede Universidade do Professor Esta tem como objetivo oferecer
oportunidades de 1ordf Licenciatura para professores sem niacutevel superior a 2ordf Licenciatura para
professores licenciados mas que atuam fora de sua aacuterea de formaccedilatildeo e a Formaccedilatildeo Pedagoacutegica para
professores graduados natildeo licenciados O site da Plataforma Freire (httpfreirecapesgovbr) em
que os professores devem se inscrever explica que o referido programa tem por objetivo sistematizar a
oferta de formaccedilatildeo inicial e continuada dos professores da rede puacuteblica da Educaccedilatildeo Baacutesica No
lanccedilamento do programa foram ofertadas 105 mil vagas visando o cumprimento da Meta 15 do Plano
Nacional de Educaccedilatildeo (PNE) para o alcance de uma Educaccedilatildeo de qualidade
Meta 15 garantir em regime de colaboraccedilatildeo entre a Uniatildeo os Estados o Distrito Federal e os Municiacutepios no prazo de 1 (um) ano de vigecircncia deste PNE poliacutetica nacional de formaccedilatildeo dos profissionais da educaccedilatildeo de que tratam os incisos I II e III do caput do art 61 da Lei nordm 9394 de 20 de dezembro de 1996 assegurado que todos os professores e as professoras da educaccedilatildeo baacutesica possuam formaccedilatildeo especiacutefica de niacutevel superior obtida em curso de licenciatura na aacuterea de conhecimento em que atuam
Os cursos seratildeo ofertados na modalidade a distacircncia na UAB e na modalidade presencial
regular em vagas remanescentes das instituiccedilotildees federais Assim o governo federal tem investido na
educaccedilatildeo mediada por tecnologias para a formaccedilatildeo em serviccedilo dos professores da rede puacuteblica de
ensino A necessidade de formar estes professores para apropriaccedilatildeo das TDIC para o melhor
aproveitamento dos cursos eacute fundamental tendo em vista que muitos natildeo possuem niacuteveis de literacia
digital favoraacuteveis
Na proacutexima seccedilatildeo seraacute abordado o campo de tensatildeo ainda existente nas escolas e
universidades em relaccedilatildeo agraves tecnologias Mesmo natildeo sendo mais ldquonovasrdquo as tecnologias carregam
esse adjetivo e ainda satildeo alvo de resistecircncia de alguns professores e demais profissionais da educaccedilatildeo
Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital
164
33 Tecnologias versus professores o campo de tensatildeo nas escolas
No campo educacional a entrada das tecnologias enfrenta tensotildees A presenccedila de aparelhos
celulares tablets e computadores durante as aulas constitui ponto de controveacutersia entre professores
gestores e formuladores de poliacuteticas puacuteblicas Educadores se queixam da dispersatildeo dos alunos nas
aulas e da dificuldade de conduzir as aulas enquanto os jovens estatildeo trocando mensagens jogando
tirando fotos ou ouvindo muacutesicas nos celulares e tablets Segundo Kolb (2008) a presenccedila dos
aparelhos celulares gera desconforto ateacute mesmo aos funcionaacuterios da escola que dispensam tempo e
energia para desenvolver procedimentos sobre como manter o celular fora da sala de aula Mesmo
quando o professor propotildee uma atividade que requer pesquisa na internet os alunos utilizam motores
de busca mas possuem baixo senso criacutetico em relaccedilatildeo agrave credibilidade das informaccedilotildees copiam e
colam os textos sem referenciar as fontes e tecircm dificuldade em analisar interpretar e construir textos a
partir das leituras quase sempre raacutepidas em resumos (Lage e Dias 2012)
A soluccedilatildeo encontrada na maioria das escolas eacute a proibiccedilatildeo dos aparelhos celulares e tablets
nas salas de aula alguns estabelecimentos de educaccedilatildeo natildeo toleram os dispositivos nem mesmo em
outros ambientes da escola No Brasil existe uma proposta em anaacutelise na Cacircmara dos Deputados (PL
1041540) que proiacutebe o uso de aparelhos eletrocircnicos portaacuteteis como celulares e tablets nas salas de
aula da educaccedilatildeo baacutesica e superior de todo o paiacutes O projeto prevecirc que os aparelhos somente seratildeo
admitidos em sala se integrar as atividades didaacutetico-pedagoacutegicas e forem autorizados pelos
professores A justificativa do deputado autor do projeto eacute que ldquoos equipamentos eletrocircnicos portaacuteteis
desviam a atenccedilatildeo do aluno do trabalho didaacutetico desenvolvido pelo professorrdquo Certamente se o
professor natildeo tiver um objetivo e um plano direcionado para usar o celular em uma determinada aula
os alunos iratildeo se dispersar
A proibiccedilatildeo dos aparelhos celulares na escola natildeo eacute restrita aos alunos professores e
funcionaacuterios das escolas tambeacutem satildeo considerados ldquorefeacutensrdquo das tecnologias O Projeto de Lei
18712015 (PL 2015) de autoria do deputado Heuler Cruvinel foi considerado pelo seu relator
Deputado Cesar Halum como procedente a proibiccedilatildeo dos aparelhos celulares com extensatildeo para os
professores e funcionaacuterios da escola O relator justificou a preocupaccedilatildeo do colega que submeteu a PL
em questatildeo agrave Cacircmera Parlamentar
40 Disponiacutevel em httpwwwcamaragovbrproposicoesWebfichadetramitacaoidProposicao=945492 Acesso em 08 mar 2016
Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital
165
Com razatildeo ele se preocupa com os efeitos deleteacuterios do uso improacuteprio dos celulares no ambiente escolar principalmente nas salas de aula para fins outros que natildeo o ensino ou a aprendizagem E natildeo eacute um problema que afete apenas os estudantes tambeacutem os professores e o pessoal das escolas praticamente vivem de telefone celular na matildeo ou a seu faacutecil alcance teclando ou consultando sua telinha neste novo mundo em rede que todos noacutes hoje habitamos (Projeto de Lei 187115 2015 p 3)
No Estado do Tocantins o uso de celulares na sala de aula tambeacutem eacute proibido por lei O aluno
ldquoflagradordquo usando o celular em aula tem o dispositivo apreendido pela coordenaccedilatildeo da escola e
dependendo do caso apenas os pais podem retiraacute-lo O projeto de Lei 31312 justifica o motivo da
proibiccedilatildeo ldquoA mateacuteria foi embasada em reclamaccedilotildees de professores que relataram a dificuldade de
trabalhar em razatildeo da constante troca de torpedos entre alunos em sala de aula A intenccedilatildeo eacute fazer
com que a atenccedilatildeo do aluno fique integralmente voltada aos estudosrdquo Esta proibiccedilatildeo veda as
tentativas de alguns poucos professores em trabalhar com os tablets e celulares na sala de aula
Na visatildeo de Adelina Moura (2009) pesquisadora portuguesa na aacuterea de tecnologia educativa
as causas da proibiccedilatildeo do uso de celulares na escola parte dos professores que reclamam da falta de
atenccedilatildeo e dispersatildeo dos alunos provocados pelos aparelhos Segundo a autora os pais datildeo celulares
aos filhos na expectativa que tenham controle sobre eles mas o que ocorre eacute que nem os pais
tampouco os filhos que portam o celular na escola usam-no com respeito os pais ficam ligando para
os filhos por motivos banais no horaacuterio das aulas e os filhos conversando e trocando mensagens com
os colegas na aula Em consequecircncia o celular eacute ldquodemonizadordquo pela escola e pelos oacutergatildeos
reguladores da educaccedilatildeo
Moura (2009) entende que a proibiccedilatildeo do uso dos aparelhos celulares na sala de aula natildeo eacute
uma soluccedilatildeo viaacutevel A autora afirma que em vez de banir os dispositivos moacuteveis a escola deveria
integraacute-los agraves atividades pedagoacutegicas Moura questiona
se entregarmos um kit a um professor com uma cacircmera fotograacutefica uma cacircmera de viacutedeo um gravador de som um reprodutor de aacuteudio e um dispositivo que possibilita a navegaccedilatildeo na internet para cada aluno e garantirmos ao professor que natildeo teraacute de ensinar aos alunos a manuseaacute-lo seraacute realidade ou ficccedilatildeo (idem p74)
O celular ou o tablet possuem todos os recursos deste kit e a maioria dos alunos jaacute tecircm um
destes dispositivos Assim conclui a autora os professores natildeo podem virar as costas para as
possibilidades que os dispositivos moacuteveis proporcionam devem aproveitar as funcionalidades deste
recurso e a motivaccedilatildeo dos alunos em usaacute-lo Para tanto os professores precisam aprender e apreender
Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital
166
as tecnologias para entatildeo as trabalharem com seus alunos levando-os a entender os dispositivos
moacuteveis como potencializadores da comunicaccedilatildeo e construccedilatildeo de conhecimento e que haacute momentos e
ocasiotildees apropriadas para seu uso
A inserccedilatildeo de equipamentos tecnoloacutegicos nas escolas desprovida de uma discussatildeo teoacuterica e
metodoloacutegica com os envolvidos (professores teacutecnicos educacionais gestores escolares e alunos) tem
constituiacutedo outra barreira para a integraccedilatildeo das tecnologias no ambiente escolar Em 2005 foi
realizado um estudo investigativo (Silva amp Silva 2005) nas escolas do 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico no
Norte de Portugal em que foram dirigidos questionaacuterios a todos coordenadores das 39 escolas da
rede recolhendo dados sobre a integraccedilatildeo das TDIC e as condiccedilotildees de funcionamento dos
equipamentos Tambeacutem foi dirigido um questionaacuterio a todos os professores que lecionam nessas
escolas sobre a utilizaccedilatildeo das TDIC Segundo os autores da pesquisa constatou-se um ldquochoque
tecnoloacutegicordquo advindo dos programas de aparelhamento das escolas com computadores perifeacutericos
softwares e internet e a consequente falta de integraccedilatildeo dos professores com essas parafernaacutelias
tecnoloacutegicas No tocante ao conhecimento dos professores na aacuterea das TDIC Silva e Silva (idem p
2712) verificaram apoacutes tabulaccedilatildeo dos questionaacuterios que ldquomuitos possuem conhecimentos suficientes
para poderem utilizar de forma adequada pedagoacutegica e comunicacional o computador o viacutedeo e
principalmente a internetrdquo Sobre formaccedilatildeo nesta aacuterea apenas 17 a 15 mencionaram ter realizado
No aspecto da utilizaccedilatildeo das TDIC o estudo constatou que apenas um nuacutemero reduzido de
professores utiliza alguma tecnologia na preparaccedilatildeo das aulas ou na sala de aula com os alunos Os
professores com menos de 40 anos se destacaram como usuaacuterios mais frequentes das tecnologias
em especial o computador Na dimensatildeo sobre a atitude dos professores diante o uso das TDIC as
constataccedilotildees segundo autores satildeo contraditoacuterias
A anaacutelise da informaccedilatildeo revela alguma contradiccedilatildeo pois se a maioria dos professores discorda da ideia de que trabalhar com as TIC os potildee tensos o mesmo natildeo se passa perante o facto consumado em que apenas uma minoria afirma que se sente bem a trabalhar com tecnologias Se por um lado a maioria dos professores revela que tem prazer na utilizaccedilatildeo das TIC por outro lado tambeacutem afirmam que natildeo satildeo de lidar bem com as tecnologias O consenso eacute atingido quando a grande maioria dos professores (acima dos 90) manifesta interesse e a intenccedilatildeo em aprender mais sobre aplicaccedilotildees das TIC na aprendizagem (idem 2173)
Assim explica-se o termo ldquochoque tecnoloacutegicordquo pois ao mesmo tempo em que estes
professores revelam sentir prazer quando utilizam as TDIC eles natildeo se sentem habilitados a lidar bem
Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital
167
com elas Embora o estudo tenha averiguado que as escolas possuam equipamentos multimiacutedia como
computador ligado agrave internet verificou-se que esta prerrogativa natildeo eacute suficiente para a utilizaccedilatildeo destes
pelos professores O referido estudo aponta para a formaccedilatildeo dos professores como uma estrateacutegia
para vencer os obstaacuteculos para qualquer inovaccedilatildeo tecnoloacutegica inserida na escola
No Ensino Superior num estudo realizado no Brasil Mazurkievicz (2012) constatou que os
professores receacutem-formados estatildeo mais dispostos a usarem as tecnologias digitais na sua praacutetica
pedagoacutegica Entrevistas e relatos de experiecircncias com professores universitaacuterios revelaram que os
professores mais experientes no Ensino Superior demonstram ser mais relutantes em incorporar a
tecnologia em suas aulas e na interaccedilatildeo com os alunos fora dos espaccedilos escolares Sobre a
concepccedilatildeo de literacia digital para os docentes o autor concluiu
Neste contexto a concepccedilatildeo de literacia digital eacute desconhecida pelo maioria dos docentes bem como o processo e tambeacutem a utilizaccedilatildeo de TIC e ainda as atividades dos professores dentro do AVA institucional restringe-se a ferramentas ldquoengessadasrdquo visto que a utilizaccedilatildeo de outras ferramentas de interaccedilatildeo com os alunos natildeo satildeo estimuladas (idem p173)
Mazurkievicz aponta a formaccedilatildeo continuada articulada com praacuteticas de literacia digital no
acircmbito escolar como fundamental para a agregaccedilatildeo dos professores aos recursos tecnoloacutegicos que
estatildeo nas matildeos dos alunos
Na visatildeo de Buzato (2006) o que se espera do professor e tambeacutem do aluno eacute que os
mesmos ultrapassem o limite do conhecimento das teacutecnicas siacutembolos ou habilidades associadas ao
uso das TIC e sejam estimulados a praticar as TIC socialmente dominem diferentes gecircneros digitais
que estatildeo sendo construiacutedos socialmente na teia de relaccedilotildees sociais Conforme Freitas (2010 p 348)
o aluno nativo digital traz para a escola o que descobriu em suas navegaccedilotildees de internauta e estaacute
disposto a discutir com seus colegas e principalmente com o seu professor Dessa forma
[] Ele natildeo vecirc mais o professor como um transmissor ou a principal fonte de conhecimento mas espera que ele se apresente como um orientador das discussotildees travadas em sala de aula ou mesmo nos ambientes on-line integrados agraves atividades escolares A possibilidade de pesquisar ler e conhecer sobre os mais variados assuntos navegando na internet confere ao aluno um novo perfil de estudante que exige tambeacutem novo perfil de professor Cabe ao professor estar atento a essa nova fonte de informaccedilotildees para transformaacute-las junto com os alunos em conhecimento
Assim algumas das caracteriacutesticas da literacia digital seriam a capacidade de associar
informaccedilotildees ter uma perspectiva criacutetica diante delas transformando-as em conhecimento Neste
Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital
168
sentido o professor na era digital haacute de entender que natildeo compete a ele ser o difusor do
conhecimento pois os meios tecnoloacutegicos jaacute o fazem com certa eficaacutecia Antes precisa aprender a
manipular a tecnologia e orientar os alunos a manipularem para que ambos natildeo sejam manipulados
por ela (Roman 2006)
Considerando o cenaacuterio atual em que as tecnologias estatildeo em processo de expansatildeo de forma
vertiginosa eacute claro e visiacutevel que a tendecircncia da educaccedilatildeo eacute extrapolar os muros das escolas e
universidades As aprendizagens ocorrem em espaccedilos natildeo formais em ambientes virtuais mediados
por tutores especializados ou em comunidades virtuais e outros espaccedilos natildeo escolares Para os
estudantes que jaacute nascem cercados das tecnologias em suas residecircncias a tecnologia natildeo eacute um
problema Mas ao levarem seus celulares e tablets para a escola estatildeo estendendo aos professores
uma demanda clara estes precisam integrar as tecnologias digitais aos processos de aprendizagem
dos alunos Desta forma os professores nas aulas presenciais satildeo desafiados a dialogar com os
alunos problematizar os acontecimentos da atualidade despertar o interesse na pesquisa propor
atividades que integrem as miacutedias atuais
No entanto os tablets e outros dispositivos moacuteveis natildeo obtiveram respaldo nas praacuteticas
docentes como ocorreu com a introduccedilatildeo do quadro-negro Considerando estes pressupostos faz-se
necessaacuterio conhecer o cenaacuterio atual e investigar as raiacutezes das praacuteticas educativas com o uso de
tecnologia para se compreender a resistecircncia do professor agraves mesmas A proacutexima seccedilatildeo deste capiacutetulo
apresenta um retrospectivo histoacuterico da inserccedilatildeo das tecnologias no acircmbito educacional a partir da
introduccedilatildeo do quadro-negro nas escolas tecnologia fundamental na elaboraccedilatildeo da concepccedilatildeo de
escola que prevalece a mais de 150 anos
3 4 Do quadro-negro ao tablet concepccedilotildees pedagoacutegicas dos professores acerca das tecnologias
A tecnologia sempre esteve presente no acircmbito escolar Desde a invenccedilatildeo da escrita aos dias
atuais com o uso de lousas digitais Conforme jaacute mencionado anteriormente no capiacutetulo 1 deste
trabalho o termo tecnologia vem do grego technecirc (arte ofiacutecio) e logos (estudo de) e referiacutea-se a
ldquotermos teacutecnicos designando os utensiacutelios as maacutequinas as suas partes e as operaccedilotildees dos ofiacuteciosrdquo
(Blanco e Silva 1993 p 37) Silva (2001 p 842) esclarecendo sobre o mesmo termo argumenta
que tecnologia pressupotildee ldquomais do que a familiarizaccedilatildeo com o saber teacutecnico uma formulaccedilatildeo
discursiva reflectida e teoacuterica Ao integrar os elementos baacutesicos do fazer e a reflexatildeo teoacuterica do saber a
tecnologia pode ser considerada como a teoria da teacutecnicardquo O autor afirma que a escola foi herdeira do
Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital
169
uso da linguagem escrita que exigia do escriba aleacutem do conhecimento da teacutecnica de cozer as taacutebuas
de argilas ou preparar o papel (pergaminho ou papiro) e a tinta para escrever demandava tambeacutem
uma formulaccedilatildeo discursiva mais elaborada o entendimento dos signos alfabeacuteticos e sua posiccedilatildeo
correta regras e coacutedigos especiacuteficos
Assim a escrita exigia do escriba um local preparaccedilatildeo intrumentos suportes e tintas
Igualmente com a invenccedilatildeo das prensas tipograacuteficas por Gutemberg aleacutem das teacutecnicas e do
conhecimento para imprimir livros em seacuterie eram necessaacuterias maacutequinas e instrumentos especiacuteficos
para realizar Logo as tecnologias satildeo ligadas a instrumentos ou artefatos que possibilitam sua
existencia Silva (2001 p 842) chama esses instrumentos de maacutequina Em suas palavras ldquomaacutequina
apresenta-se como um objecto concreto um instrumento certamente produto da teacutecnica e que
necessita dela para a sua concepccedilatildeo produccedilatildeo e utilizaccedilatildeordquo Silva explica que nem sempre a teacutecnica
exige a existecircncia de uma maacutequina mas toda maacutequina ou instrumento eacute produto de uma teacutecnica
Neste sentido os objetos instrumentos ou artefatos tecnoloacutegicos usados na escola desde os
primoacuterdios da invenccedilatildeo da escrita satildeo produtos de uma teacutecnica e como tal natildeo satildeo neutros De tal
modo a tecnologia e os artefatos produzidos por ela refletem os planos propoacutesitos e valores de uma
sociedade
Fazer tecnologia eacute sem duacutevida fazer poliacutetica e dado que a poliacutetica eacute um assunto de interesse geral deveriacuteamos ter a oportunidade de decidir que tipo de tecnologia desejamos Mantendo o discurso que a tecnologia eacute neutra favorece a intervenccedilatildeo de experts que decidem o que eacute correto baseando-se em uma avaliaccedilatildeo objetiva e impede por sua vez a participaccedilatildeo democraacutetica na discussatildeo sobre planejamento e inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (Garciacutea Cerezo e Loacutepez 1996 p 132)
Considerando estes pressupostos no acircmbito da escola a inserccedilatildeo de determinado artefato
mobiliaacuterio instrumentos e outros assessoacuterios de uso pedagoacutegico estatildeo imbuiacutedos da concepccedilatildeo
pedagoacutegica da poliacutetica educacional vigente A tecnologia da escrita foi concebida no ensino baseado na
oralidade e possuiacutea instrumentos especiacuteficos que validavam essa concepccedilatildeo Mais tarde com a
invenccedilatildeo da tecnologia da imprensa e a produccedilatildeo de livros o foco era a pedagogia da transmissatildeo O
quadro-negro e o giz foram por muito tempo a tecnologia mais usada pelo professor para ldquotransmitirrdquo
o conhecimento a seus alunos
Segundo Blanco e Silva (1993 p 41) foi somente apoacutes a primeira guerra mundial que as
escolas sob pressatildeo da induacutestria de instrumentaccedilatildeo oacuteptica comeccedilaram a receber aparelhos
audiovisuais que de acordo com os autores foram adquiridos precipitadamente sem atender as
Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital
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necessidades de produccedilatildeo de documentos pedagogicamente adequados e agrave formaccedilatildeo de professores
para sua utilizaccedilatildeo teacutecnica e didaacutetica Na deacutecada de 1960 do seacuteculo XX com o avanccedilo dos meios de
comunicaccedilatildeo em massa como a TV e o raacutedio a discussatildeo sobre o uso das tecnologias entrou na pauta
dos elaboradores de curriacuteculo A esta altura jaacute se usava nas escolas mimeoacutegrafos retroprojetores
televisatildeo filmes e outros artefatos tecnoloacutegicos
No entanto muito antes de se chegar agraves escolas a informaacutetica e outras inovaccedilotildees um objeto
simples o quadro-negro presente em todas as salas de aulas contribuiria para uma revoluccedilatildeo
pedagoacutegica Noacutevoa (2014) chega a afirmar que o quadro-negro inventou o modelo escolar que perdura
ateacute os nossos dias Tambeacutem Heacutebrard (Heacutebrard 1995 p 7) compartilha a mesma visatildeo
A invenccedilatildeo do quadro-negro eacute portanto uma revoluccedilatildeo pedagoacutegica de grandes proporccedilotildees Permite a classes numerosas aprender a escrever e a contar Permite tambeacutem substituir a tradicional aprendizagem uacutenica da leitura pelo tripeacute do lerndashescreverndashcontar sem o qual a partir do seacuteculo XVIII natildeo existe mais escola no sentido que esta palavra entatildeo adquiriu
Assim segundo esses autores a introduccedilatildeo do quadro-negro (um dispositivo de ensino coletivo)
nas escolas marcou a discussatildeo sobre o modo de organizar a escola (organizaccedilatildeo das classes
mobiliaacuterio curriacuteculo) e redefiniu a simultaneidade do ensino (Barra 2001) Para uma melhor
compreensatildeo de como isso ocorreu retomamos agrave idade meacutedia para conhecer o meacutetodo de ensino
daquele periacuteodo e as mudanccedilas trazidas com a introduccedilatildeo do quadro-negro nas salas de aulas
Na idade meacutedia entre os seacuteculos XV e XVIII o ensino era elitista e individual As familias
aristocraacuteticas contavam com um preceptor que atendia agrave educaccedilatildeo moral e intelecutual da crianccedila ou
jovem na sua proacutepria casa Era um ensino personalizado que de acordo com Arauacutejo (2006 p 19)
implicava a relaccedilao intersubjetiva de um professor com o seu aluno com as preocupaccedilotildees do primeiro se estruturando em vistas das necessidades dos obstaacuteculos das possibilidades e das dificuldades do segundo com quem ele mantinha um comprometimento em vista de seu desenvolvimento fundamentalmente intelectual e moral
Portanto como jaacute foi exposto no capiacutetulo primeiro deste trabalho a educaccedilatildeo nesse periacuteodo
era reservada a poucos privilegiados que tinham acesso aos mestres preceptores A escola puacuteblica
gratuita e universal surge na Europa no fim do seacuteculo XVIII na eacutegide da conflaglaccedilatildeo dos ideiais
iluministas O contexto econocircmico dos paiacuteses europeus era a crescente industrializaccedilatildeo Sousa e Fino
(2008) afirmam que a expansatildeo das faacutebricas provocou a migraccedilatildeo do campo para a cidade de grandes
massas de operaacuterios que passaram a viver em condiccedilotildees precaacuterias e insalubres As jornadas de
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trabalho excessivas em troca de salaacuterios miacuteseros fizeram com que as pessoas se unissem em
sindicatos trabalhistas para se fortaleceram em busca de melhores condiccedilotildees de trabalho A instituiccedilatildeo
da escola puacuteblica para todos surge entatildeo como o espaccedilo que poderia promover a pacificaccedilatildeo social e
formar um novo tipo de homem adaptado ao modelo de produccedilatildeo da faacutebrica Assim as escolas foram
organizadas no modelo parecido os das faacutebricas com sirenes salas divididas para diferentes mateacuterias
crianccedilas separadas por grupos por faixa etaacuteria e testes padronizados para testar a ldquoqualidaderdquo dos
mesmos
A disposiccedilatildeo do mobiliaacuterio da escola com lugares fixos individuais quadro-negro na base da
sala e mesa do professor agrave frente das carteiras dos alunos promovia uma disciplina riacutegida que
possibilitava a vigilacircncia incansaacutevel do professor inflexiacutevel Sobre este modelo de ensino em massa
Tofller (1970 p 396) afirma
A soluccedilatildeo soacute podia ser um sistema educacional que na sua proacutepria estrutura simulasse esse mundo novo Tal sistema natildeo surgiu logo ainda hoje conserva elementos retroacutegrados da sociedade preacute-industrial No entanto a ideia geral de reunir multidotildees de estudantes (mateacuteria-prima) destinados a ser processados por professores (operaacuterios) numa escola central (faacutebrica) foi uma demonstraccedilatildeo de geacutenio industrial
De tal modo ensinar e treinar vaacuterias pessoas ao mesmo tempo constituiacutea uma necessidade
urgente naqueles tempos de expansatildeo industrial Emergiam as ldquoescolas muacutetuasrdquo que de acordo com
Cardoso (1999) surgiram na Inglaterra no final do seacuteculo XVIII e tiveram como mentores Joseph
Lancaster e Andreacute Bell A proposta consistia na divisatildeo dos alunos em pequenos grupos que recebiam
a liccedilatildeo do professor O aluno que se sobressaiacutesse seria o ldquoagente principalrdquo e era previamente
preparado pelo professor para ensinar os demais Assim um professor poderia ldquoinstruir muitas
centenas de crianccedilasrdquo (Eby 1978 p 325) O ldquomeacutetodo muacutetuo ou simultacircneordquo como foi chamado o
ensino dirigido a muitos alunos numa sala de aula foi facilitado com a chegada do quadro-negro nas
escolas no iniacutecio do seacuteculo XIX Sobre este novo meacutetodo Luzuriaga (2001 pp 54-55) escreveu
[] se instruiacutea ao mesmo tempo a muitos alunos com poucos professores ficando os primeiros sob o cuidado dos chamados monitores O sistema se estendeu rapidamente pelo aumento da populaccedilatildeo devido agrave Revoluccedilatildeo Industrial e agrave necessidade de atender rapidamente ao seu ensino
Logo o quadro-negro constituiu uma tecnologia inovadora que possibilitava ensinar mais pessoas ao
mesmo tempo com baixo custo
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172
Segundo Bastos (2005) inicialmente natildeo soacute o professor tinha seu quadro mas tambeacutem os
alunos A princiacutepio o quadro usado era feito de um pedra chamada ardoacutesia comum na Europa cuja a
vantagem era seu baixo custo mas que por outro lado relatam-se suas desvantagens era dura pesada
e fria Barra (2013) relata que diante destes inconvenientes criaram-se novas formas de
aperfeiccediloamento da ardoacutesia fixaccedilatildeo na mesa e enquadramento de madeira Cada aluno possuiacutea sua
lousa de ardoacutesia individual Esta constituiacutea de uma fina placa de xisto de ardoacutesia retangular de 20
centiacutemetros de cumprimento por 30 centiacutemetros de largura protegido por uma moldura em madeira
Os alunos usavam um laacutepis com ponta de ardoacutesia para escrever na lousa para apagar usavam um
pedaccedilo de couro parecido com sola de sapato ou mesmo cuspe (este uacuteltimo era proibido) Somente
depois que os alunos aperfeiccediloassem a escrita usando a sua pedra de lousa eacute que lhes era permitido
comeccedilar a escrever com tinta e pena de accedilo Segundo o autor ldquoa utilizaccedilatildeo de materiais como o papel
ou a pena de ganso era inviaacutevel do ponto de vista econocircmico o preparo da pena exigia habilidade e era
tarefa do professorrdquo (Barra 2013 p 122) Tambeacutem o papel era caro e exigia uma mesa com vaacuterios
assessoacuterios como tinteiro pena reacutegua e laacutepis
Figura 3 - Lousa de ardoacutesia individual do aluno com laacutepis de ardoacutesia (Fonte httpsacervofeufgbrindexphplousa-de-ardosia-tendo-abaixo-lapis-1945)
Foi no final do seacuteculo XIX com a consolidaccedilatildeo dos sistemas puacuteblicos de instruccedilatildeo elementar e
crescimento das exigecircncias de um miacutenimo de mobiliaacuterio e material escolar que o uso do quadro-negro
pelo professor voltando ao ensino de muitos alunos instala-se nas escolas e comeccedila a ocupar um
espaccedilo central na sala de aula Bastos (2005 p 136) explica
O ensino muacutetuomonitorial inaugura uma arquitetura do espaccedilo escolar em que mobiliaacuterio e material passam a ser dispositivos fundamentais para o sucesso do meacutetodo Os quadros-negros satildeo sistematicamente utilizados especialmente para o desenho linear e para a aritmeacutetica ndash medem 1m de comprimento por 070 de largura na parte superior tecircm um metro moacutevel e satildeo colocados no interior de cada semiciacuterculo sendo de uso constante dos monitores dos alunos
Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital
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Neste contexto o quadro-negro natildeo mais era de ardoacutesia assumiu a forma de uma prancha de
madeira com dimensotildees maiores suportada por cavaletes com superfiacutecie pintada de cor escura para
ser usada com giz Segundo Barra (2013) os primeiros quadros eram portaacuteteis regulaacuteveis e moacuteveis O
meacutetodo ensino muacutetuo ou simultacircneo previa a existecircncia de uma material coletivo que garantisse maior
rapidez no ensino da leitura a principio eram afixados cartotildees de papelatildeo na parede das salas de
aulas Barra (2013 p 127) explica ldquoa carta mural era um quadro com a liccedilatildeo de leitura impressa []
cujo caraacuteter coletivo possibilitava a superaccedilatildeo do ensino individual pela instituiccedilatildeo da intervenccedilatildeo
simultacircnea do ensinordquo Considerando que o livro naquele periacuteodo era caro a sua substituiccedilatildeo por
quadros com liccedilotildees de leitura disponiacuteveis nas paredes das salas de aulas conferiu um caraacuteter social e
coletivo a estas cartas murais que mais tarde foram substituiacutedas pelo quadro-negro Bastos ( 2005 p
136) descreve as funcionalidades do quadro naquele contexto
As vantagens do uso do quadro-negro residiam na possibilidade de o professor utilizar-se desse dispositivo para o ensino simultacircneo das primeiras liccedilotildees de leitura e de escrita O quadro-negro para o professor e a lousa para o aluno eram meios pelos quais seria conhecido o alfabeto e seriam desenhadas as letras Aleacutem disso era um excelente meio de ensinar em pouco tempo os alunos a ler e escrever Um auxiliar indispensaacutevel para a liccedilatildeo oral um suporte de escrita ndash um ritual diaacuterio de escrita para fixar discursos e praacuteticas pedagoacutegicas
Assim o quadro-negro era uma novidade bem aceita pelos alunos e professores e marcou o
viacutenculo entre o meacutetodo (ensino simultacircneo) e o materialinstrumento (quadro-negro) O seu atrativo
residia na possibilidade do professor escrever sua aula uma vez para que dezenas de alunos
simultaneamente pudessem ler e escrever nos seus cadernos Este feito natildeo era possiacutevel no modelo
da instruccedilatildeo oral antes da introduccedilatildeo do quadro-negro nas escolas O meacutetodo muacutetuo segundo Bastos
(1999 p 212) concretizou-se como ldquouma proposta redentora para os setores da produccedilatildeo que
anseiam por um operaacuterio doacutecil disciplinado e limitado em sua capacidade humana aos rudimentos da
leitura escrita e aritmeacuteticardquo Outro objetivo do meacutetodo era reduzir custos e despesas considerando
que um professor podia ensinar vaacuterios alunos ao mesmo tempo
Estudos realizados em diferentes partes do mundo sobre a difusatildeo do meacutetodo de ensino
simultacircneo identificaram sua ampla aceitaccedilatildeo e revelou ainda que o quadro-negro foi absorvido sem
ressalvas como parte integrante do meacutetodo (Lesage 1999 Cardoso 1999 Barra 2001) Surge
portanto a questatildeo por que o quadro-negro natildeo encontrou resistecircncia entre os professores daquele
periacuteodo A resposta pode ser encontrada na concepccedilatildeo pedagoacutegica vigente na eacutepoca instrucionista e
conteudista Nas palavras de Paulo Freire (1987) era uma concepccedilatildeo ldquobancaacuteriardquo de educaccedilatildeo em
Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital
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que a uacutenica margem de accedilatildeo que se oferecia aos educandos era de receberem os depoacutesitos guardaacute-
los e arquivaacute-los O quadro-negro constituiacutea um excelente retroprojetor deste meacutetodo visto que ao
escrever no quadro o professor projetava a todos os alunos simultaneamente o conteuacutedo que desejava
ldquodepositarrdquo nas suas mentes
Noacutevoa (2014) analisa que a presenccedila do quadro-negro na sala de aula haacute 150 anos instituiu
um modelo de educaccedilatildeo verticalizada centrada no professor Atribui ao quadro-negro trecircs adjetivos
que na sua visatildeo definem a concepccedilatildeo pedagoacutegica em torno deste dispositivo vazio fixo e vertical O
quadro-negro eacute um dispositivo vazio tem utilidade pedagoacutegica apenas se tiver um professor
(pressuposto detentor do conhecimento) para lhe dar sentido ao escrever nele os conteuacutedos Um
quadro-negro sem nada escrito constitui tatildeo somente um quadro com moldura pendurado na parede
Neste sentido o quadro-negro vazio centralizava no professor a posse do conhecimento fortalecendo a
pedagogia transmissiva ou instrucionista vigente naquele periacuteodo
Noacutevoa atenta para o fato de o quadro-negro ser fixo e assim definir o espaccedilo onde devem
ocorrer os processos educativos - na sala de aula Segundo o autor ldquoos preacutedios escolares o mobiliaacuterio
escolar e a organizaccedilatildeo dos alunos satildeo feitos para uso do quadro-negrordquo (Novoa 2014 p 1) O
quadro-negro permanecendo inerte na parede agrave espera do professor para preenchecirc-lo de conteuacutedos
constituiacutea um instrumento simboacutelico da espacialidade em que deveriam ocorrer os processos
educativos Frago e Escolano (1998) ao tratarem dos simbolismos que a linguagem arquitetocircnica
expressa apresentam a disposiccedilatildeo da arquitetura escolar como um espaccedilo fixo estaacutevel e fixo
determinado para o ensino Assim o espaccedilo da aprendizagem era delimitado para a sala de aula
especificamente a partir do professor agrave frente da sala fazendo uso do quadro-negro para
transmitirdepositar conhecimentos aos alunos
Ao descrever o quadro-negro como um dispositivo vertical Noacutevoa tratava da posiccedilatildeo
hieraacuterquica que a disposiccedilatildeo do quadro-negro agrave frente da sala de aula confere ao professor o papel de
principal regente que submetia o saber aos alunos sentados e em silecircncio Citando os estudos de
Anthony Giddens os autores Frago e Escolano (1998) mostraram que a separaccedilatildeo das salas de aulas
(graus sexo caracteriacutesticas dos alunos) e a disposiccedilatildeo das carteiras uma atraacutes da outra separadas
por pequenos corredores tinha a funccedilatildeo do professor exercer o poder disciplinador Bastos (2005) cita
um trecho de Ziraldo (1995 p 98) que descreve uma sala de aula nos fins do seacuteculo XIX ldquoQuando as
aulas comeccedilaram no ano seguinte natildeo era ela que estava sentada na cadeira atraacutes da mesa sobre o
estrado diante do quadro-negrordquo O estrado mencionado no trecho de Ziraldo era uma elevaccedilatildeo de
Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital
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madeira colocada logo abaixo do quadro-negro No estrado encontrava-se a mesa do professor
marcando o distanciamento e autoridade deste em relaccedilatildeo aos alunos Neste sentido o mestre agrave frente
dos alunos na sala de aula posicionado sobre o estrado munido do seu giz e quadro-negro carregava
uma conotaccedilatildeo de poder e autoridade cuja imagem era de detentor da instruccedilatildeo e do conhecimento
Ainda segundo Bastos (idem) no imaginaacuterio de muitos alunos o quadro-negro configurava um
instrumento de constrangimento quando tinham que ir agrave frente dos colegas resolver contas aritmeacuteticas
ou pelo castigo de escreverem no quadro vaacuterias vezes as mesmas frases Tambeacutem era cansativo para
os alunos escreverem em pouco tempo disponiacutevel extensas liccedilotildees e deveres para casa que o professor
escrevia no quadro e rapidamente apagava para adicionar novas atividades Portanto o quadro-negro
enquanto mobiliaacuterio escolar garantia ao professor sua autoridade maacutexima na sala de aula numa
posiccedilatildeo estrateacutegica que permitia o controle e a vigilacircncia sobre os alunos
Figura 4 - Figura XX disposiccedilatildeo do mobiliaacuterio escolar de uma sala de aula no iniacutecio do seacuteculo XX (Fonte imagem de internet Disponiacutevel em httpwwwfitininetescolacomercialhistoriahtml)
Noacutevoa usou a metaacutefora destes trecircs atributos do quadro-negro para mostrar que este foi
facilmente aceite pelos professores porque validava o modelo de educaccedilatildeo instrucionista e conteudista
daquele periacuteodo O autor conclui que este ainda eacute o modelo vigente de educaccedilatildeo na maior parte das
escolas atualmente mas que natildeo condiz com a cultura contemporacircnea em que predomina o acesso
dos jovens agraves tecnologias digitais de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo O que mudou Noacutevoa responde esta
pergunta com outra metaacutefora usando o tablet Fazendo analogia sobre a aparecircncia de formato de
ambos os dispositivos (o quadro-negro e o tablet) o autor descreve trecircs adjetivos antagocircnicos do tablet
em relaccedilatildeo ao quadro-negro que direcionam para uma nova concepccedilatildeo de educaccedilatildeo o tablet eacute cheio
moacutevel e horizontal
Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital
176
Figura 5 - Analogia do quadro-negro com o tablet (Fonte Bento Silva ndash palestra no I SEMEADRN 2012)
O tablet eacute cheio Segundo Noacutevoa pode-se afirmar que o tablet eacute um dispositivo cheio pois
conectado agrave internet daacute acesso a incontaacuteveis informaccedilotildees e dados dos quais os alunos tecircm acesso
instantacircneo Portanto ldquoele induz praacuteticas pedagoacutegicas centradas no estudo individual e na
investigaccedilatildeo na relaccedilatildeo no trabalho conjunto e na cooperaccedilatildeordquo (Noacutevoa 2015 p 24) Apesar da
semelhanccedila fiacutesica no seu formato com as pedras de ardoacutesias individuais o tablet apresenta diferenccedilas
abissais destas primeiras a comeccedilar pela sua possibilidade de armazenamento de dados conexatildeo agraves
redes moacuteveis de internet e comunicaccedilatildeointeraccedilatildeo com outros usuaacuterios em tempo e espaccedilos
diferentes
O tablet eacute moacutevel Ao trazer atenccedilatildeo da mobilidade do tablet Noacutevoa traccedila um antagonismo
com o quadro-negro que eacute fixo Ao contraacuterio do quadro que delimita o espaccedilo de sala de aula o tablet
possibilita a mobilidade do usuaacuterio permitindo que a aprendizagem ocorra em tempos e espaccedilos
diferentes dos preconizados pela escola A mobilidade do tablet vai aleacutem do seu deslocamento fiacutesico
pois as pedras de ardoacutesias individuais tambeacutem eram moacuteveis
O tablet permite a ubiquidade portabilidade conectividade convergecircncia de vaacuterias miacutedias
memoacuteria e armazenamento de dados O usuaacuterio mesmo em deslocamento pode estar presente em
vaacuterios lugares realizando diversos tipos de atividades e interagindo com outras pessoas que tambeacutem
estejam conectadas
O tablet eacute horizontal Noacutevoa (2014 p 1) argumenta ldquoenquanto o quadro-negro provoca
formas lsquoverticaisrsquo de comunicaccedilatildeo a partir de um centro o tablet sugere formas individualizadas de
estudo e relaccedilotildees lsquohorizontaisrsquo entre alunos entre alunos e professores entre pessoas que estatildeo
dentro e fora da escolardquo Assim mesmo sendo um dispositivo individual o tablet permite conexotildees
Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital
177
com outras pessoas contribuindo para o trabalho colaborativo e a coautoria tornando a aprendizagem
horizontal O quadro-negro centralizava o processo educativo no professor enquanto o tablet fornece
diferentes fontes de pesquisas possibilita contato com grupos de pesquisas em diferentes aacutereas
disponibiliza cursos e materiais didaacuteticos de diferentes formatos (aacuteudio viacutedeo texto) e permite a
interaccedilatildeo em comunidades de aprendizagem com especialistas e profissionais dos mais diferentes
segmentos
Ao fazer essas metaacuteforas Noacutevoa argumenta sobre as mudanccedilas que a revoluccedilatildeo digital causou
nas estruturas econocircmicas sociais culturais e educacionais A transiccedilatildeo na metaacutefora do quadro-negro
para o tablet nos daacute pistas de que os novos objetos tecnoloacutegicos rompem com a loacutegica instituiacuteda o
professor natildeo mais eacute o detentor do conhecimento Nas palavras de Noacutevoa (2015 p 24) os saberes
ldquojaacute natildeo satildeo dominados primordialmente pelo professor satildeo mutaacuteveis e apresentam vaacuterias
possibilidades de utilizaccedilatildeo que permitem obter respostas a perguntas vaacuterias favorecem a autonomia
do aluno reforccedilam a sua capacidade de accedilatildeo e fazem apelo a uma nova atitude do professorrdquo O autor
destaca que natildeo eacute a tecnologia instrumental em si que revoluciona as estruturas educacionais nem os
artefatos tecnoloacutegicos mas a relaccedilatildeo do homem com estes A partir do momento em que o homem se
apropria de uma tecnologia esta o condiciona a novos haacutebitos valores e interesses
Neste sentido o descompasso que ocorre no acircmbito educacional constitui o fato de que as
crianccedilas e jovens apropriaram-se rapidamente das tecnologias e os professores ainda resistem a elas
Seymor Papert (1993) argumentando sobre o modelo retroacutegrado do sistema educacional vigente na
introduccedilatildeo do livro A maacutequina das Crianccedilas usa uma paraacutebola para ilustrar que a escola precisa de
mudanccedilas estruturais para atender a este novo cenaacuterio Na paraacutebola Papert descreve a reaccedilatildeo de um
grupo de viajantes do tempo advindos do seacuteculo XIX que viajaram para o final do seacuteculo XX O grupo
era composto de meacutedicos e professores do ensino baacutesico Sobre o grupo de meacutedicos visitando os
hospitais do futuro o autor relata que estes ficariam espantadiacutessimos com o avanccedilo da medicina
comparando a seu tempo e concluiriam que seria difiacutecil para eles exercerem sua profissatildeo diante de
demasiado avanccedilo no conhecimento nas teacutecnicas e nos aparelhos modernos Por outro lado Papert
diz que o grupo de professores ao visitarem as escolas adentrariam na sala de aula e desconheceriam
alguns poucos materiais novos mas natildeo teriam dificuldade de darem uma aula tradicional jaacute que o
quadro o giz ou outro suporte para escrita estaria disponiacutevel Assim os professores sentir-se-iam agrave
vontade para ldquotransmitirrdquo conhecimento na sua aula Nesta perspectiva Papert (1993) critica o papel
conservador da escola em que os objetos do cenaacuterio satildeo mudados tira-se o quadro-negro e os trocam
Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital
178
por lousas digitais mas o professor continua sendo o ldquotransmissorrdquo do conhecimento Mas o que fazer
se agora os alunos tecircm em matildeos suas proacuteprias lousas em formato de tablets
O quadro-negro natildeo constitui mais o artefato em que os jovens esperavam que o professor
depositasse o conhecimento Para os jovens de hoje o quadro-negro natildeo tem o mesmo significado que
tinha para os jovens dos anos de 1950 que se natildeo copiassem a liccedilatildeo do quadro teriam que pegar o
caderno com o colega Hoje o jovem pode fazer uma pesquisa na rede de internet sobre qualquer aacuterea
de conhecimento e conseguir as informaccedilotildees que natildeo copiou O colega pode tirar uma foto do quadro
e enviar ao seu e-mail ou por mensagem instantacircnea Pode-se ateacute filmar a aula pelo celular e o colega
assistir ao vivo Natildeo tecircm mais paciecircncia de escrever no caderno tiram foto do quadro-negro para
estudarem em seus tablets Fazem estudos com os colegas pelo Skype ou Hangouts se comunicam
por aplicativos raacutepidos de mensagem (whatsapp messenger imo) A ldquoGeraccedilatildeo Internetrdquo como designa
Tapscott e Wiliams (2007 p 54) a geraccedilatildeo que nasceu a partir de 1998 em meio agrave ascensatildeo das
tecnologias estaacute transformando a forma de viver e de pensar do mundo Portanto eacute inegaacutevel que
ocorreram mudanccedilas significativas nas formas de aprender das pessoas em especial dos jovens em
idade escolar
Poreacutem continuar a educaacute-los no mesmo modelo do seacuteculo XIX com aulas expositivas
centradas no conteuacutedo do livro e escrita no quadro-negro natildeo eacute eficaz assim como natildeo seria eficaz
retomando os termos de Papert sobre a evoluccedilatildeo dos tempos usar aparelhos e equipamentos meacutedicos
do seacuteculo XIX em hospitais modernos Seguindo esse argumento Noacutevoa acrescenta (2014 p 1)
Haacute cerca de 150 anos em meados do seacuteculo XIX inventou-se a escola tal como a conhecemos Foi uma enorme transformaccedilatildeo Depois disso houve muitas tentativas de mudanccedila e de inovaccedilatildeo mas os seus traccedilos fundamentais natildeo se alteraram [] uma coisa eacute certa nada seraacute como antes Desde meados do seacuteculo XIX a educaccedilatildeo foi pensada a partir de uma matriz escolar Hoje tem de ser ldquodesescolarizadardquo tem de valorizar outros espaccedilos sociais e culturais Precisamos de um novo contrato social pela educaccedilatildeo que explore todas as possibilidades educativas da cidade e da sociedade
Neste novo paradigma o conhecimento ultrapassa os muros da escola e por meio das redes
do ciberespaccedilo passa a ser reelaborado redesenhado e compartilhado para qualquer usuaacuterio O papel
do professor passa de detentor para condutororientador do conhecimento Considerando que as
informaccedilotildees estatildeo disponiacuteveis na rede o professor passa a ter o papel de orientar os alunos a acessar
organizar sistematizar as informaccedilotildees relevantes dando um significado criacutetico a elas transformando-as
em conhecimento
Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital
179
Contudo as tecnologias digitais natildeo tecircm a mesma aceitaccedilatildeo no acircmbito da escola pelos
professores e gestores como tiveram o quadro-negro Este uacuteltimo foi aceite sem restriccedilotildees porque seu
uso reforccedilava a pedagogia bancaacuteria de transmissatildeo de conteuacutedos centrada no professor As tecnologias
digitais de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo por sua vez vatildeo de encontro a esta pedagogia por retirar do
professor o poder da informaccedilatildeo e do conhecimento e disponibilizando estes gratuitamente nas redes
de internet No entanto o papel do professor continua sendo fundamental ldquoEacute preciso compreender a
importacircncia do novo papel do professor Os alunos tecircm acesso direto individual agraves informaccedilotildees que
estatildeo na teia (web) poreacutem necessitam da mediaccedilatildeo do professor para transformaacute-las em
conhecimento e aprendizagemrdquo disse Noacutevoa (2014 p 2) Muda-se a forma de se obter o
conhecimento e consequentemente muda o papel do professor
Obviamente outras tecnologias surgiratildeo e o tablet como conhecemos hoje poderaacute ter se
tornado um dispositivo ultrapassado e vire peccedila de museu como os quadros de ardoacutesia individuais que
os alunos usavam no seacuteculo passado Embora natildeo existam mais nas escolas estes quadros
cumpriram seu papel dentro do projeto pedagoacutegico que estavam inseridos Igualmente as tecnologias
digitais presentes nas escolas natildeo estatildeo a concorrer com o professor e nem deveratildeo substituiacute-lo antes
podem ser importantes aliadas no desenvolvimento de projetos de aprendizagem colaborativa Ignorar
as tecnologias no processo pedagoacutegico seria um retrocesso agraves concepccedilotildees de educaccedilatildeo baseada na
transmissatildeo de conteuacutedos introduzidos na idade meacutedia O professor desconectado da rede perde
infinitas possibilidades de interagir com seus alunos no compartilhamento de informaccedilotildees lugares
interesses e conhecimento A proacutexima seccedilatildeo apresenta a formaccedilatildeo de professor com foco na literacia
digital como uma proposta viaacutevel de inserccedilatildeo do mesmo na sociedade em rede
35 Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital a possibilidade da entrada na rede
No iniacutecio do seacuteculo XXI os professores voltaram a ocupar um lugar estrateacutegico nas poliacuteticas
puacuteblicas educacionais com foco no futuro da escola frente agrave crescente disseminaccedilatildeo e apropriaccedilatildeo das
tecnologias pelos alunos Autores contemporacircneos tecircm investido discussatildeo da necessidade de
mudanccedilas nas estruturas educacionais em face das mudanccedilas que as tecnologias de comunicaccedilatildeo e
informaccedilatildeo provocaram na sociedade (Noacutevoa 2015 Silva e Cilento 2014 Santos 2014 Castells
2014 Costa 2013) Para Noacutevoa (2009) o professor constitui peccedila central nesse processo O autor
lembra que nos anos de 1970 o foco era a pedagogia dos objetivos do controle e planejamento Nos
anos de 1980 as reformas educativas eram centradas nas estruturas dos sistemas escolares e na
Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital
180
engenharia do curriacuteculo A deacutecada de 1990 foi marcada pela gestatildeo e administraccedilatildeo das organizaccedilotildees
escolares O autor argumenta que nos dias atuais a atenccedilatildeo estaacute voltada agrave aprendizagem e natildeo se
pode falar de aprendizagem sem destacar a figura do professor
A discussatildeo sobre as competecircncias dos professores para o uso das tecnologias na praacutetica
pedagoacutegica natildeo eacute recente Em meados dos anos de 1980 com o desenvolvimento e expansatildeo da
informaacutetica surgiu o termo Novas Tecnologias de Informaccedilatildeo A aplicaccedilatildeo destas tecnologias no
contexto educativo segundo Blanco e Silva (1993) reforccedilou as pesquisas sobre esta relaccedilatildeo homem
maacutequina e a anaacutelise de ambientes tecnoloacutegicos voltados para a educaccedilatildeo No entanto atualmente esta
discussatildeo se torna cada vez mais relevante e pertinente considerando o contexto da crescente
penetraccedilatildeo da internet no cotidiano das pessoas Ao mesmo tempo em que cursos de formaccedilatildeo inicial e
continuada mediados por tecnologias satildeo ofertados aos professores para seu aperfeiccediloamento estudos
recentes apontam para um deacuteficit de literacia digital destes em relaccedilatildeo ao uso social e criacutetico das
tecnologias e sua eventual inserccedilatildeo na era digital (Silva e Cilento 2014)
Alguns autores como Costa e Lemos (2005) e Warschauer (2006) acreditam que o acesso as
TDIC nos cursos de formaccedilatildeo se configuram como uma forma de inclusatildeo social para os professores e
esta pode ser facilitadora para outras inclusotildees como econocircmica e cultural Segundo os autores o
sujeito com acesso as tecnologias possui um canal privilegiado para a criaccedilatildeo e a socializaccedilatildeo de
oportunidades de geraccedilatildeo de renda e cidadania na era do conhecimento em que este se torna um
capital imprescindiacutevel O professor que estaacute incluiacutedo digitalmente (natildeo apenas com o acesso mas de
todas as ferramentas teacutecnicas e cognitivas) tem mais possibilidades de adquirir as competecircncias da
literacia digital e usar a tecnologia na sua praacutetica docente e tem capacidade para orientar seus alunos
a produzirem conhecimento com uso das miacutedias
Por quase dois seacuteculos o modelo instrucionista vertical e avaliativo permeia as escolas com
poucas mudanccedilas na sua estrutura desde a revoluccedilatildeo industrial no seacuteculo XIX Os cursos de formaccedilatildeo
de professores reproduzem essa loacutegica aos futuros docentes No entanto algumas propostas de cursos
de formaccedilatildeo on-line apresentam-se como uma reproduccedilatildeo do modelo tradicional de educaccedilatildeo voltado
para a transmissatildeo e recepccedilatildeo de conteuacutedos De acordo com Papert (1993 p 127) as tecnologias
digitais nestas propostas constituem ldquouma nova roupagem aos artefatos tecnoloacutegicos tradicionais
(quadro livros cadernos) que serviam para transmitir ou replicar conhecimentordquo Programas de
formaccedilatildeo calcados em repositoacuterio de conteuacutedos e provas objetivas impedem a inventividade e a
Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital
181
construccedilatildeo de sentidos dos professores sobre o trabalho coletivo e limitam suas possibilidades de
trabalhar com miacutedias integradas em projetos pedagoacutegicos
Almeida e Valente (2011) apontam a abordagem instrucionista dos cursos de formaccedilatildeo on-line
como um dos fatores para o insucesso da integraccedilatildeo e apropriaccedilatildeo das miacutedias pelos professores
atendendo a grande massa de alunos por meio de transmissatildeo de conteuacutedos via miacutedias tradicionais
Assim os cursos satildeo realizados em plataformas virtuais estaacuteticas que constituem depositoacuterios de
conteuacutedos com pouca ou nenhuma interaccedilatildeo Estudos recentes revelam que mesmo em formaccedilatildeo on-
line nesses programas alguns professores encontram dificuldade com a fluecircncia tecnoloacutegica natildeo
apenas no uso instrumental das tecnologias mas tambeacutem seu campo social e coletivo levando muitos
a evadirem das formaccedilotildees (Alves e Faria 2011 Ataiacutede 2012 Meneses 2011)
Segundo Silva e Cilento (2014) o professor formado numa perspectiva de transmissatildeo de
saberes iraacute reproduzir esse modus operandi na sua praacutetica docente A coerecircncia entre as exigecircncias
que se requer do professor para que seja antenado conectado e expert na integraccedilatildeo das miacutedias no
contexto escolar deve estar em sintonia com a sua formaccedilatildeo Ainda nas palavras de Noacutevoa (2014)
sobre a mudanccedila de postura imposta aos professores ldquonatildeo podemos exigir-lhe quase tudo e dar-lhe
quase nadardquo Portanto os cursos de formaccedilatildeo on-line deveriam constituir um espaccedilo privilegiado para
possibilitar ao professor vivenciar as tecnologias e apropriar-se delas de modo reflexivo na sua praacutetica
pedagoacutegica O autor defende que a formaccedilatildeo de professores a priori deve ocorrer nos espaccedilos
escolares Noacutevoa (2009 p 6) cita o exemplo dos futuros meacutedicos que durante a formaccedilatildeo atuam
como residentes em hospitais universitaacuterios observam os pacientes fazem relatoacuterios de
acompanhamento supotildeem um diagnoacutestico e terapia e discutem com os colegas e com meacutedico que os
supervisionam e ainda participam de seminaacuterios temaacuteticos sobre as experiecircncias O autor sugere uma
dinacircmica parecida nos cursos de formaccedilatildeo de professores
(i) estudo aprofundado de cada caso sobretudo dos casos de insucesso escolar (ii) anaacutelise colectiva das praacuteticas pedagoacutegicas (iii) obstinaccedilatildeo e persistecircncia profissional para responder agraves necessidades e anseios dos alunos (iv) compromisso social e vontade de mudanccedila
Noacutevoa (2014 p 2) reforccedila que natildeo podemos continuar a reproduzir e justificar modelos
pedagoacutegicos que fazem parte de um passado que jaacute estaacute ultrapassado que foi concebido para jovens
que natildeo agiam nem pensavam e nem aprendiam como nossos jovens hoje aprendem Neste sentido
o autor afirma que o trabalho dos professores deve ser apoiado por trecircs movimentos
Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital
182
Primeiro uma organizaccedilatildeo mais aberta e diversificada dos espaccedilos e dos tempos escolares Segundo um curriacuteculo centrado nos alunos e em suas aprendizagens e natildeo em listas interminaacuteveis de conhecimentos ou competecircncias Terceiro uma pedagogia com dimensatildeo fortemente colaborativa que utilize a relaccedilatildeo (as redes) como dispositivo de comunicaccedilatildeo e aprendizagem
O terceiro movimento citado por Noacutevoa estaacute relacionado com as praacuteticas de literacia digital do
professor Sobre esse aspecto Petrella (2012 p 213) elenca oito competecircncias e habilidades que
podem ser desenvolvidos pelos professores na escola
bull Expressatildeo criativa ndash utilizar as miacutedias para expressar suas ideias e representaacute-las em formas de sons imagens e textos
bull Experimentaccedilatildeo ndash Fazer experiecircncias atraveacutes do jogo e da simulaccedilatildeo construccedilatildeo manipulaccedilatildeo e representaccedilatildeo de dados e informaccedilotildees
bull Exploraccedilatildeo ndash capacidade de explorar com seguranccedila o universo mediaacutetico escolhendo informaccedilotildees fidedignas e gerir os riscos que esta exploraccedilatildeo produz
bull Multiculturalismo ndash ser sensiacutevel para compreender e respeitar perspectivas diferentes dotados de competecircncias necessaacuterias para negociar os significados culturais
bull Colaboraccedilatildeo e criaccedilatildeo de redes ndash capacidade de procurar escolher partilhar e confrontar opiniotildees e informaccedilotildees dentro das proacuteprias redes aprendendo a trabalhar em equipe
bull Reflexibilidade ndash Utilizar as tecnologias como chave de leitura da sociedade contemporacircnea dos processos econocircmicos e da produccedilatildeo cultural
bull Pensamento criacutetico ndash capacidade de avaliar cada fragmento de informaccedilatildeo a credibilidade da fonte buscando compreender o contexto em que os conteuacutedos foram gerados e com que objetivo
bull Responsabilidade e participaccedilatildeo social ndash competecircncias culturais e habilidades sociais para a participaccedilatildeo na vida social com livre cidadania
Petrella (2012 p 216) conclui que a aquisiccedilatildeo destas habilidades e competecircncias exige um
esforccedilo sineacutergico entre o governo a escola e a famiacutelia A literacia digital deveria perpassar o curriacuteculo
das escolas de modo que os professores devem fazer a ldquoligaccedilatildeo entre as competecircncias mediaacuteticas dos
alunos e operando uma avaliaccedilatildeo do contributo que estas podem dar ao processo de aquisiccedilatildeo de
competecircnciasrdquo O uso de jogos simuladores laboratoacuterios virtuais atividade de anaacutelise de conteuacutedos de
blog sites outras miacutedias satildeo atividades pedagoacutegicas que podem ser utilizadas para uma capacitaccedilatildeo
em literacia mediaacutetica O desenvolvimento da capacidade criacutetica pode ser realizado por incentivar os
alunos procurarem na web as vaacuterias versotildees da mesma notiacutecia e relatar as diferentes abordagens
utilizadas e o contexto em que foram produzidas Outras experiecircncias como uso do raacutedio construccedilatildeo
de redes de aprendizagem webquest blogs e outras miacutedias podem se constituir propostas para a
construccedilatildeo do pensamento criacutetico sobre as miacutedias
Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital
183
Almeida e Prado (2012) refletem que a integraccedilatildeo das tecnologias no curriacuteculo dos cursos de
formaccedilatildeo de professores no Brasil ainda eacute deficitaacuteria e na maioria das vezes eacute relegada ao plano da
formaccedilatildeo continuada As autoras defendem a formaccedilatildeo de professores voltada para a integraccedilatildeo das
TDIC ao curriacuteculo por meio de projetos Nesse modelo elas explicam
Eacute preciso propiciar ao professor cursista situaccedilotildees nas quais ele possa experienciar o trabalho com projetos com o uso dessas tecnologias e ao mesmo tempo refletir sobre essas praacuteticas para que possa identificar tanto as contribuiccedilotildees das TIC agrave proacutepria aprendizagem e ao desenvolvimento do curriacuteculo como criar com os alunos situaccedilotildees de uso das TIC voltadas agrave melhoria da aprendizagem
Experiecircncias voltadas para a integraccedilatildeo das TDIC ao curriacuteculo com a integraccedilatildeo dos
professores satildeo desenvolvidas pontualmente em escolas e universidades O Projeto de pesquisa
Curriacuteculo da escola do seacuteculo XXI ndash Integraccedilatildeo das TIC ao curriacuteculo inovaccedilatildeo conhecimento cientiacutefico
e aprendizagem coordenado pela professora Elizabeth Almeida no acircmbito do Programa de Poacutes-
graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo curriacuteculo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo (PUCSP) nos
anos 2011 a 2013 teve como objetivo principal identificar as contribuiccedilotildees e dificuldades das accedilotildees de
formaccedilatildeo e das praacuteticas realizadas nas escolas participantes do Projeto Um computador por Aluno41
No acircmbito do referido projeto foram publicados diversos trabalhos acadecircmicos que evidenciaram as
contribuiccedilotildees do uso do laptop nas praacuteticas pedagoacutegicas em que os professores e alunos participantes
desenvolveram atividades como pesquisas em diversas fontes tambeacutem fizeram uso de recursos de
multimiacutedia produziram texto com uso de palavras imagens aacuteudios viacutedeos e uso de jogos No que diz
respeito agrave formaccedilatildeo dos professores para lidarem com as tecnologias na escola foram apontadas as
necessidades de momentos presenciais com oficinas praacuteticas e reflexatildeo das accedilotildees realizadas nas salas
de aulas com uso do laptop do programa Poreacutem embora a reflexatildeo sobre a praacutetica seja fundamental
o professor precisa reconhecer os pressupostos teoacutericos que embasam suas novas praacuteticas de trabalho
com uso das tecnologias
Peralta e Costa (2007) realizaram um estudo de caso muacuteltiplo de natureza qualitativa sobre a
competecircncia e a confianccedila dos professores do ensino baacutesico no uso das TDIC nas praacuteticas educativas
em cinco paiacuteses europeus Os autores constataram que uma efetiva integraccedilatildeo das TDIC no curriacuteculo
41 O Projeto Um Computador por Aluno (UCA) foi implantado com o objetivo de intensificar as tecnologias da informaccedilatildeo e da comunicaccedilatildeo (TIC) nas escolas por meio da distribuiccedilatildeo de computadores portaacuteteis aos alunos da rede puacuteblica de ensino Foi um projeto que complementou as accedilotildees do MEC referentes a tecnologias na educaccedilatildeo em especial os laboratoacuterios de informaacutetica produccedilatildeo e disponibilizaccedilatildeo de objetivos educacionais na internet dentro do ProInfo Integrado que promove o uso pedagoacutegico da informaacutetica na rede puacuteblica de ensino fundamental e meacutedio Disponiacutevel em httpwwwfndegovbrprogramasprograma-nacional-de-tecnologia-educacional-proinfoproinfo-projeto-um-computador-por-aluno-uca Acesso em 07 abril 2016
Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital
184
implica investimento em dois campos na atitude dos professores e numa adequada capacitaccedilatildeo dos
mesmos Na conclusatildeo do estudo os autores escreveram
Em suma fica a ideia geral de que natildeo haacute muitos professores competentes no uso das TIC no ensino pelo que se torna necessaacuterio investir na sua re-educaccedilatildeo Mesmo os professores que estatildeo agora a iniciar a sua profissatildeo natildeo foram adequadamente preparados para o uso das novas tecnologias Por isso preparar os professores para usar as tecnologias eacute uma responsabilidade que as instituiccedilotildees de ensino superior responsaacuteveis pela sua formaccedilatildeo devem assumir (idem p 85)
Peralta e Costa (2007) assinalaram trecircs dimensotildees principais das quais o trabalho com as
TDIC com objetivo pedagoacutegico devem ser contemplados em cursos de formaccedilatildeo docente (1) o
conhecimento e as capacidades de base dos professores (o que aprenderam anteriormente e como o
aprenderam) (2) caracteriacutesticas individuais de natureza cognitiva afetiva ou social e (3) fatores de
ordem contextual no plano micro (ambiente da escola que leciona) ou macro (cidade onde vive
poliacuteticas vigentes)
No sentido de propor um referencial teoacuterico que fundamente a investigaccedilatildeo na aacuterea de
formaccedilatildeo de professores na aacuterea de tecnologia educativa Mishra e Koehler (2006) apresentaram um
novo referencial teoacuterico que denominaram de Technological Pedagogical Content Knowledge tambeacutem
chamado abreviadamente de TPACK O pressuposto teoacuterico do conceito do TPACK eacute que a atitude do
professor no tocante agraves tecnologias depende da combinaccedilatildeo de conhecimentos a niacutevel cientiacutefico ou dos
conteuacutedos a niacutevel pedagoacutegico e a niacutevel tecnoloacutegico Sampaio e Coutinho (2010) explicam que em
termos teoacutericos o TPACK resulta da intersecccedilatildeo de trecircs tipos diferentes de conhecimento
bull Pedagogical Content Knowledge Capacidade de ensinar um determinado conteuacutedo curricular
bull Technological Content Knowledge Habilidade de selecionar os recursos tecnoloacutegicos mais adequados para comunicar um determinado conteuacutedo curricular
bull Technological Pedagogical Knowledge Competecircncia para esses recursos no processo de ensino e aprendizagem
Misrha e Koehler (2008) argumentam que os professores que tecircm este tipo de
conhecimento integrado satildeo caracterizados como criativos flexiacuteveis e adaptaacuteveis a quaisquer
circunstacircncias didaacutetica apoiada por tecnologias No acircmbito TPACK a literacia do professor surge a
partir de muacuteltiplas interaccedilotildees entre conteuacutedo visatildeo pedagoacutegica e conhecimento tecnoloacutegico A figura
06 descreve o modelo TPACK no contexto pedagoacutegico
Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital
185
Figura 6 ndash Modelo TPACK Fonte Mishra e Koehler (2006)
Assim na esfera do TPACK a literacia do professor surge a partir de muacuteltiplas interaccedilotildees
entre conteuacutedo visatildeo pedagoacutegica e conhecimento tecnoloacutegico Em siacutentese o modelo engloba trecircs
dimensotildees baacutesicas
bull Conhecimento preacutevio relacionada ao conteuacutedo dos alunos e pressupostos epistemoloacutegicos
bull Uso de teacutecnicas pedagoacutegicas que se aplicam tecnologias de forma construtiva para ensinar o conteuacutedo de maneiras diferenciadas adaptada agrave aprendizagem dos alunos
bull Compreensatildeo de como as tecnologias podem ser usadas para construir conhecimentos preacutevios para desenvolver novas epistemologias ou fortalecer os antigos conceitos
Sampaio e Coutinho (2010 p 3983) que realizaram uma investigaccedilatildeo com professores de
duas turmas de diferentes escolas aacutereas disciplinares idades tempos de serviccedilo e niacuteveis de ensino
no acircmbito da formaccedilatildeo contiacutenua em contexto de praacutetica efetiva (oficina de formaccedilatildeo) cujo pressuposto
teoacuterico era baseado no TPACK concluiram
Os resultados do nosso estudo apontam nesse sentido para um professor integrar as TIC na sala de aula deve ter tempo para frequentar formaccedilatildeo no uso das tecnologias tempo para planear actividades curriculares inovadoras onde se integrem as TIC e conhecimentos ao niacutevel do potencial educativo das tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo
Portanto requer tempo para que ocorra o amadurecimento do professor na integraccedilatildeo das
TDIC nas suas praacuteticas pedagoacutegicas Numa proposta de desenvolvimento profissional de professores
Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital
186
elaborada pela Unesco (2002) citada por Almeida e Valente (2011 p 45) o processo de apropriaccedilatildeo
tecnoloacutegica da parte do professor contemplam quatro estaacutegios
bull Habilidades e conhecimentos iniciais Fase com ecircnfase nos aspectos tecnoloacutegicos uso do editor de texto busca de informaccedilatildeo na internet realizaccedilatildeo de tarefas baacutesicas e instrumentais na internet para fins pessoais e instrumentais
bull Aplicaccedilatildeo das TDIC na aacuterea de especializaccedilatildeo Uso aplicativo das TDIC na praacutetica pedagoacutegica em toacutepicos especiacuteficos da disciplina de atuaccedilatildeo
bull Integraccedilatildeo das TDIC para melhorar a aprendizagem Uso das TDIC adequada e adaptada agrave realidade e perfil de aprendizagem dos alunos e trabalho com resoluccedilatildeo de problemas e desenvolvimento de projetos especiacuteficos
bull Transformaccedilatildeo pedagoacutegica A praacutetica de utilizaccedilatildeo das TDIC eacute incorporada na vivecircncia pedagoacutegica de alunos e professores com o objetivo de aprendizagem individual e desenvolvimento do grupo
Trata-se portanto de uma formaccedilatildeo processual num estaacutegio contiacutenuo e evolutivo pois o
processo de apropriaccedilatildeo tecnoloacutegica acontece em fases e que deve levar em consideraccedilatildeo o contexto
em que vive o professor a escola que trabalha sua carga horaacuteria de trabalho a disciplina que leciona
seus conhecimentos preacutevios a cultura situaccedilatildeo econocircmica sua relaccedilatildeo com a tecnologia no cotidiano
e na escola e outros fatores que devem ser considerados
Para Silva (2001) a formaccedilatildeo de professores para a integraccedilatildeo curricular das TDIC deve
abarcar uma triacuteplice abordagem tecnoloacutegica expressiva e pedagoacutegica A formaccedilatildeo tecnoloacutegica diz
respeito ao conhecimento instrumental e modos de operaccedilatildeo das TDIC A expressiva implica o
conhecimento dos discursos e linguagens inerente em cada tecnologia E a abordagem pedagoacutegica
concentra o conhecimento para integrar as tecnologias no processo de desenvolvimento curricular Ao
niacutevel das metodologias Silva (2001) acrescenta que a formaccedilatildeo deve incluir uma triacuteplice abordagem
bull Teoacuterica anaacutelise de informaccedilotildees importantes colhidas de diversas fontes (comunicacionais psicoloacutegicas e pedagoacutegicas)
bull Apresentaccedilatildeo de casos simulaccedilotildees e exerciacutecios exemplares bull Praacuteticas em situaccedilatildeo de formaccedilatildeo anaacutelise de situaccedilotildees de aprendizagens
concretas com fins de garantir o domiacutenio progressivo das novas ideias e habilidades relacionadas com o uso pedagoacutegico das TIC
Logo essa formaccedilatildeo integrada para a literacia digital deve em primeira instacircncia ocorrer no
espaccedilo escolar dentro de um programa contiacutenuo de formaccedilatildeo institucionalizado e fomentado pelo
sistema de ensino Neste cenaacuterio a formaccedilatildeo docente contemplaria momentos de vivecircncias on-line
alternado com estudos presenciais de tal forma que gradativamente o professor possa adaptando sua
praacutetica pedagoacutegica ao uso das tecnologias que tem disponiacutevel e de acordo com o perfil e das
necessidades dos seus alunos
Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital
187
Ao longo da sua formaccedilatildeo e no decorrer da praacutetica diaacuteria na docecircncia os professores
desenvolvem concepccedilotildees de ensino aprendizagem que vecircm a formar a base das suas decisotildees
metodoloacutegicas inclusive se iratildeo fazer uso das tecnologias Sobre este aspecto Almeida e Valente
(2011 p 47) comentam que essas concepccedilotildees vecircm a constituir crenccedilas que ldquoajudam o professor a
negociar incertezas do trabalho na escola e provavelmente a aderir ou natildeo agraves mudanccedilas para algo que
ainda natildeo foi totalmente comprovadordquo Os autores concluem que estas crenccedilas natildeo podem ser
ignoradas pois elas podem fazer um efeito contraacuterio e constituiacuterem obstaacuteculos ao processo de
mudanccedila
Os estudos mostraram que negligenciar as crenccedilas e teorias pessoais pode acarretar o choque de duas culturas opostas a cultura transformadora dos proponentes da inovaccedilatildeo e a cultura das praacuteticas existentes que passam a ser criacuteticas resistentes e defensivas (idem p 47)
Neste sentido a formaccedilatildeo docente para a literacia digital deve criar condiccedilotildees para que o
professor experimente e vivencie novas experiecircncias com as TDIC de forma que ele reflita sobre suas
crenccedilas e avalie a necessidade de mudanccedilas e inovaccedilotildees
Considerando estes pressupostos teoacutericos no capiacutetulo cinco desta tese jaacute em consequecircncia
dos resultados dos estudo empiacuterico mas com articulaccedilatildeo com estes embasamentos teoacutericos
propomos um modelo de formaccedilatildeo cujas diretrizes apontam para a importacircncia da atitude favoraacutevel do
professor e de sua apropriaccedilatildeo das tecnologias para que o mesmo mobilize energias para integraacute-las
na sua praacutetica docente Antes poreacutem no capiacutetulo quarto apresentamos o cenaacuterio e o enquadramento
metodoloacutegico da pesquisa
Capiacutetulo 4 Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
191
4 1 A Universidade Federal do Tocantins no contexto da regiatildeo Norte do Brasil
Este capiacutetulo se dedica a contextualizar o objeto da pesquisa e apresentar a metodologia de
investigaccedilatildeo utilizada neste estudo Na primeira seccedilatildeo cabe uma breve descriccedilatildeo do contexto
socioeconocircmico e histoacuterico do Estado do Tocantins e da Universidade Federal do Tocantins (UFT) mais
especificamente na oferta do curso de Fiacutesica a distacircncia na UFT A segunda seccedilatildeo tem como objetivo
descrever a organizaccedilatildeo administrativa e financeira do Sistema UAB cujo curso objeto deste estudo eacute
fomentado Na terceira seccedilatildeo expomos a concepccedilatildeo didaacutetico-pedagoacutegica e a organizaccedilatildeo
administrativa e curricular do referido curso Na quarta seccedilatildeo satildeo apresentadas as bases
metodoloacutegicas da investigaccedilatildeo seguida da descriccedilatildeo da metodologia e aplicaccedilatildeo dos instrumentos de
avaliaccedilatildeo Na sequecircncia satildeo abordados os procedimentos do tratamento dos dados e as questotildees
eacuteticas da investigaccedilatildeo
A presente pesquisa foi realizada na Universidade Federal do Tocantins (UFT) Esta possui
estrutura multicampi localizada em sete municiacutepios do Estado do Tocantins42 Regiatildeo Norte do Brasil A
histoacuteria da UFT se entrelaccedila com a histoacuteria da criaccedilatildeo do Estado do Tocantins Considerado um estado
jovem 43 o Tocantins pertencia ao norte goiano e com seu desmembramento do estado de Goiaacutes
passou a ser o mais novo estado da Federaccedilatildeo (Nascimento 2009) Nesse contexto havia a
necessidade visiacutevel de uma universidade puacuteblica federal no novo estado Apresentamos a seguir uma
breve descriccedilatildeo do contexto econocircmico social e cultural do estado do Tocantins para fins de melhor
compreensatildeo da necessidade de uma universidade federal na regiatildeo
411 O estado do Tocantins
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesticas (IBGE 2010) o estado do
Tocantins possui 1383453 habitantes o que representa um porcentual de 07 dos brasileiros
sendo que 788 do total de habitantes residem na zona urbana enquanto 212 vivem no campo
Constituiacutedo por 139 municiacutepios o Tocantins possui uma aacuterea de 277720520km2 a densidade
populacional eacute de 42 habitantes por quilocircmetro quadrado e a taxa de analfabetismo varia em meacutedia de
13 A capital recebeu tambeacutem pessoas do Sul e Sudeste do Brasil o que contribuiu para a
diversidade cultural do estado Os provenientes de outros estados satildeo 351 (no Brasil a taxa dos
42 A organizaccedilatildeo poliacutetico-administrativa da Repuacuteblica Federativa do Brasil compreende a Uniatildeo os Estados o Distrito Federal e os Municiacutepios todos autocircnomos O paiacutes possui 27 Estados e um Distrito Federal o Tocantins eacute o mais novo Estado da federaccedilatildeo sendo criado por lei em 1988 com o desmembramento do Estado de Goiaacutes (Nascimento 2009) 43O Estado do Tocantins foi criado em 5 de outubro de 1989 com a promulgaccedilatildeo da Carta Constitucional Em 1ordm de janeiro de 1989 foi instalada a capital provisoacuteria do novo Estado na cidade de Miracema do Tocantins e em 1ordm de janeiro de 1990 Palmas tornou-se sua capital definitiva (Pinho 2007)
Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
192
migrantes nacionais eacute de 19) residindo 74 no espaccedilo urbano O estado tem tambeacutem uma
populaccedilatildeo de cerca de seis mil indiacutegenas distribuiacutedos em sete etnias os povos Karajaacute Javaeacute Xambioaacute
Xerentes Krahocirc Krahocirc-canela e Apinayeacute44 Assim o Tocantins manteacutem uma riqueza cultural e eacutetnica
com uma populaccedilatildeo heterogecircnea proveniente de vaacuterios estados do Paiacutes Entre os habitantes atuais do
Tocantins 568 satildeo pardos 334 brancos 75 negros e 11 indiacutegenas (Pinho 2007)
O estado do Tocantins localiza-se na regiatildeo Norte do Brasil e faz divisa com os estados de
Maranhatildeo Goiaacutes Paraacute Bahia Piauiacute e Mato Grosso (Nascimento 2009) No mapa abaixo (figura 08) eacute
possiacutevel visualizar sua localizaccedilatildeo geograacutefica
Figura 7 - Mapa do estado do Tocantins (Fonte httpptwikipediaorgwikiTocantins)
A economia local eacute gerada pelo extrativismo pecuaacuteria e o comeacutercio Um estudo do IBGE45
sobre o mapa da pobreza nos estados brasileiros revelou que esta alcanccedilava alguns municiacutepios do
Tocantins com a meacutedia porcentual de 49 no ano de 2003 O mesmo estudo revelou trecircs municiacutepios
com o iacutendice de pobreza acima de 80 Campos Lindos (8063) Mateiros (8154) e Muricilacircndia
(8182) que lideravam o ranking de iacutendice de pobreza do Brasil na eacutepoca Na pesquisa a pobreza
absoluta eacute medida a partir de criteacuterios definidos por especialistas que analisam a capacidade de
consumo das pessoas sendo considerada pobre aquela pessoa que natildeo consegue ter acesso a uma
cesta alimentar e de bens miacutenimos necessaacuterios a sua sobrevivecircncia A medida subjetiva de pobreza eacute 44 Fonte Os povos indiacutegenas do Tocantins Disponiacutevel em lthttpwwwpalmasorgtocantinsindioshtmgt Acesso em 12 abril 2016
45 Disponiacutevel em lthttpwwwcidadesibgegovbrcartogramamapaphplang=ampcoduf=17ampcodmun=170210ampidtema=19ampcodv=v01ampsearch=tocantins|araguaina|sintese-das-informacoes-2003gt Acesso em 21 abril 2016
Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
193
derivada da opiniatildeo dos entrevistados e calculada levando-se em consideraccedilatildeo a proacutepria percepccedilatildeo
das pessoas sobre suas condiccedilotildees de vida (Alves 2010)
O pesquisador do Centro de Poliacuteticas Sociais da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas Marcelo Neacuteri teceu
um comentaacuterio no Jornal Tribuna do Norte 46 em 2008 sobre o iacutendice de pobreza do estado
ldquoTocantins eacute o estado com a maior proporccedilatildeo de jovens do Paiacutes Isto significa que a taxa de natalidade
nas uacuteltimas trecircs deacutecadas foi muito elevadardquo Para o pesquisador a pobreza estaacute relacionada com a
elevada taxa de natalidade da populaccedilatildeo (219) a mais alta do paiacutes que comparada a Santos cidade
citada no estudo com o menor iacutendice de pobreza do paiacutes eacute de apenas 14 por mulher (a meacutedia
nacional eacute de 189) Portanto neste contexto socioeconocircmico a UFT se insere como uma instituiccedilatildeo
de ensino superior puacuteblico cujo compromisso social eacute interiorizar a educaccedilatildeo aos rincotildees mais pobres
do estado
Sobre a estrutura educacional e o sistema de ensino do estado do Tocantins o Censo Escolar
da Educaccedilatildeo Baacutesica de 2014 (INEP 2014) registrou 1689 unidades escolares de Educaccedilatildeo Baacutesica
312 escolas de Ensino Meacutedio e 46 estabelecimento de Ensino Profissional Na Educaccedilatildeo Superior
(INEP 2015) foram computadas 27 instituiccedilotildees (entre universidades centros universitaacuterios
faculdades e institutos federais e tecnoloacutegicos) assim distribuiacutedas 2 instituiccedilotildees federais (UFT e IFTO)
1 universidade estadual (UNITINS) 2 centros universitaacuterios (UNIRG e ULBRA) e 22 faculdades
privadas Considerando a extensatildeo territorial do estado do Tocantins as instituiccedilotildees de ensino superior
atendem na sua maioria as cidades maiores (Araguaiacutena e Gurupi) e a capital Palmas Dos 139
municiacutepios apenas 17 (dezessete) possuem instituiccedilatildeo de ensino superior ou campus universitaacuterio
Estas estatildeo relacionadas no quadro 9
46 Entrevista disponiacutevel em httpwwwtribunadonortecombrnoticiamapa-do-ibge-mostra-a-pobreza-no-rn96094 Acesso em 08 abril 2016
Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
194
Quadro 9 - Distribuiccedilatildeo de instituiccedilotildees de ensino superior no Tocantins por cidades localizaccedilatildeo geograacutefica quantidade e tipo de instituiccedilatildeo
Cidade Localizaccedilatildeo Quantidade Tipo de instituiccedilatildeo 1 Araguaiacutena Norte 14 1 campus instituto federal
1 campus universidade federal 12 faculdades privadas
2 Augustinoacutepolis Norte 2 1 faculdade 1 campus universidade estadual
3 Arraias Sudeste 1 1 campus universidade federal 4 Araguatins Norte 3 1 campus instituto federal
1 campus universidade estadual 1 faculdade municipal
5 Colinas Centro 2 1 campus instituto federal 1 faculdade municipal
6 Dianoacutepolis Sudeste 2 1 campus instituto federal 1 campus universidade estadual 1 faculdade privada
7 Formoso do Araguaia Sudoeste 1 1 campus instituto federal 8 Guaraiacute Centro 1 1 faculdade municipal 9 Gurupi Sul 2 1 campus universidade federal
1 centro universitaacuterio privado 10 Lagoa da Confusatildeo Sudoeste 1 1 campus instituto federal 11 Miracema do
Tocantins Centro 1 1 campus universidade federal
12 Palmas Centro 12 1 campus universidade federal 1 campus instituto federal 1 campus universidade estadual 1 centro universitaacuterio privado 8 faculdades privadas
13 Paraiacuteso do Tocantins Centro 3 2 faculdades privada 1 faculdade puacuteblica 1 campus instituto federal
14 Pedro Afonso Oeste 1 1 faculdade municipal 15 Pium Sudoeste 1 1 faculdade municipal 16 Porto Nacional Centro 4 2 faculdades privadas
1 campus de instituto 1 campus de universidade federal
17 Tocantinoacutepolis Norte 1 1 campus de universidade federal
Fonte INEP (2014)
Observa-se portanto que as instituiccedilotildees de ensino superior estatildeo localizadas na sua maioria
na regiatildeo norte e central do Tocantins As demais regiotildees do estado embora algumas cidades
possuam um campus de universidade puacuteblica ou instituto federal ainda carecem de ofertas de vagas
para o ensino superior voltada para as vocaccedilotildees da localidade e para a formaccedilatildeo de professores De
seguida voltamos atenccedilatildeo agrave UFT seu histoacuterico caracteriacutesticas e vocaccedilatildeo
412 A Universidade Federal do Tocantins
A UFT foi criada pela Lei 10032 de 23 de outubro de 2000 mas iniciou suas atividades
somente a partir de maio de 2003 com a posse dos primeiros professores concursados efetivos A
missatildeo da UFT de acordo com o Planejamento Estrateacutegico da instituiccedilatildeo (UFT 2014 p 10) constitui
em ldquoformar profissionais cidadatildeos e produzir conhecimentos com inovaccedilatildeo e qualidade que
Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
195
contribuam para o desenvolvimento socioambiental do Estado do Tocantins e da Amazocircnia Legalrdquo A
visatildeo da universidade segundo o mesmo documento eacute ldquoser reconhecida nacionalmente ateacute 2022
pela excelecircncia no ensino pesquisa e extensatildeordquo A UFT permaneceu como uacutenica instituiccedilatildeo puacuteblica
federal de ensino superior do estado do Tocantins ateacute a criaccedilatildeo do Instituto Federal de Educaccedilatildeo
Ciecircncia e Tecnologia do Tocantins (IFTO) em dezembro de 2008 A estrutura multicampi da UFT
permite que esta atenda a todas macroregiotildees do estado do Tocantins conforme se pode visualizar na
figura 8
Figura 8 - Localizaccedilatildeo dos campi da Universidade Federal do Tocantins (Fonte Diretoria de Comunicaccedilatildeo (DicomUFT))
O contexto histoacuterico da implantaccedilatildeo da UFT no estado do Tocantins em 2003 iniciou-se com
as reformas e reestruturaccedilotildees da Fundaccedilatildeo Universidade do Tocantins (Unitins) esta uacuteltima criada pelo
Decreto nordm 25290 de 21 de fevereiro de 1990 A Unitins foi organizada como uma fundaccedilatildeo de
direito puacuteblico ou seja uma instituiccedilatildeo de caraacuteter puacuteblico subsidiada pelo estado que permaneceu
sob esse regime ateacute o ano de 1992 quando foi reestruturada passando agrave condiccedilatildeo de uma autarquia
do sistema estadual (Souza 2006) Pinho (2007) afirma que ateacute 1999 a Unitins chegou a ter dez
campi distribuiacutedos no estado nas cidades de Arraias Araguaiacutena Tocantinoacutepolis Porto Nacional
Palmas Miracema Gurupi Paraiacuteso Colinas e Guaraiacute aleacutem de ter assumido a gestatildeo do Coleacutegio
Agriacutecola de Natividade
Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
196
Assim a Unitins uma universidade estadual era considerada uma importante instituiccedilatildeo de
ensino puacuteblico no receacutem-criado estado de Tocantins No entanto segundo o estudo realizado por Souza
(2006) sobre a trajetoacuteria da Unitins rumo agrave criaccedilatildeo da UFT no ano de 1996 existiram tentativas do
governo estadual de privatizar a Unitins alegando gastos onerosos com quase oito mil alunos da
instituiccedilatildeo Poreacutem frente agrave pressatildeo dos estudantes por meio de passeatas manifestaccedilotildees e
paralisaccedilotildees num movimento chamado SOS Unitins e tambeacutem pressatildeo dos docentes o governo
estadual ciente do desgaste de sua imagem em ano eleitoral decidiu suspender a cobranccedila de
mensalidades e taxas e perdoar as diacutevidas dos alunos inadimplentes
Portanto como alternativa aos problemas da Unitins e agrave forte oposiccedilatildeo dos estudantes e
docentes agrave privatizaccedilatildeo da instituiccedilatildeo o governo do Tocantins propocircs a criaccedilatildeo de uma universidade
federal Desta forma em junho de 2000 o entatildeo governador Joseacute Wilson Siqueira Campos sancionou
a Lei nordm 1160 que de acordo com o artigo 18 os bens patrimoniais da instituiccedilatildeo poderiam ser
transferidos no todo ou em parte por doaccedilatildeo ou cessatildeo para a futura Universidade Federal do
Tocantins (Pinho 2007) Em outubro do mesmo ano o presidente Fernando Henrique Cardoso
sancionou a Lei 10032 que criava a Universidade Federal do Tocantins
Atualmente com dezesseis anos de criaccedilatildeo a UFT instalou-se como importante instituiccedilatildeo de
promoccedilatildeo do ensino superior gratuito e de qualidade na regiatildeo (PINHO 2007) Em 2015 a UFT
ofertava 59 cursos de graduaccedilatildeo presencial 5 cursos de graduaccedilatildeo a distacircncia 14 cursos de
mestrado acadecircmicos e 8 mestrados profissionais 5 programas de doutorado atendendo a mais de
18 mil alunos (UFT 2015) Considerando a vocaccedilatildeo de desenvolvimento do Tocantins a UFT oferece
oportunidade de formaccedilatildeo nas aacutereas de Ciecircncias Sociais Aplicadas Humanas Agraacuterias e Ciecircncias
Bioloacutegicas Apresentamos de seguida e com mais detalhes o histoacuterico da inserccedilatildeo da UFT em projetos
de cursos mediados por tecnologias
413 A UFT e a educaccedilatildeo mediada por tecnologias no Tocantins
A UFT participou pela primeira vez em um projeto de educaccedilatildeo mediada por tecnologias em
2005 quando aderiu ao projeto do Consoacutercio Setentrional47 para oferta do curso em Licenciatura em
Biologia a distacircncia De acordo com Perdigatildeo-Nass (2012) a Chamada Puacuteblica MECSeed 012004
exigia que as Instituiccedilotildees de Ensino Superior (IES) se organizassem em consoacutercios para ofertarem 47 O consoacutercio Setentrional era formado pelas seguintes IFES Universidade de Brasiacutelia ndash UnB Universidade Federal de Goiaacutes ndash UFG Universidade Estadual de Goiaacutes ndash UEG Universidade Federal do Mato Grosso do Sul ndash UFMS Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul ndash UEMS Universidade Federal do Paraacute ndash UFPA Universidade Federal do Amazonas ndash UFAM Universidade Estadual de Santa Cruz (Bahia) ndash UESC Universidade Federal do Tocantins ndash UFT e Universidade Federal de Rondocircnia ndash UNIR
Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
197
cursos a distacircncia A UFT participou desta Chamada e em 2005 sua primeira oferta abriu 75 vagas da
Licenciatura em Biologia a distancia para os polos de Arraias Araguaiacutena e Gurupi A segunda turma
em 2006 aleacutem da oferta nos polos jaacute ofertantes abriu vagas para o polo de Porto Nacional O total de
vagas ofertadas foram 200 nos 4 polos (50 em cada) e destas 126 tiveram suas matriacuteculas efetivadas
(ALVES 2007) Ainda em 2005 com a criaccedilatildeo da Universidade Aberta do Brasil (UAB) 48 a UFT
participou do 1ordm Edital chamada para cursos via Sistema UAB tendo sido aprovada a oferta do curso
de licenciatura em Biologia a distacircncia
Em 2006 a UAB abriu segunda chamada para oferta de cursos e a UFT foi contemplada com
a aprovaccedilatildeo dos cursos de Licenciatura em Biologia Quiacutemica e Fiacutesica na modalidade a distacircncia
Apenas o curso de Biologia iniciou no ano seguinte integrando com o curso de Biologia jaacute ofertado pelo
Consoacutercio Setentrional Em 2007 a UFT passou a ofertar o Programa Miacutedias na Educaccedilatildeo que
constitui de um curso modular de formaccedilatildeo continuada de professores da rede puacuteblica A primeira
turma desta especializaccedilatildeo concluiu o curso em 2011 e o ciclo baacutesico formou 5 turmas entre 2007 e
2011 Ainda em 2008 a UFT passou a participar do Programa Nacional Escola de Gestores49 Dentro
deste foi ofertado o curso de especializaccedilatildeo latu sensu Gestatildeo Escolar voltado para gestores escolares
em exerciacutecio na Rede Puacuteblica de Ensino Foram ofertadas 400 vagas no Tocantins atingindo 116
municiacutepios (Alves amp Macedo 2012)
Os cursos de licenciatura em Quiacutemica e Fiacutesica aprovados em 2006 tiveram efetivo iniacutecio de
aulas somente em 2009 devido a problemas de descentralizaccedilatildeo de recursos A partir de 2010
ampliou-se as vagas por cursos de poacutes-graduaccedilatildeo com a adesatildeo da UFT ao Programa Nacional de
Formaccedilatildeo em Administraccedilatildeo Puacuteblica ndashPNAP na oferta dos cursos Gestatildeo Puacuteblica Gestatildeo Puacuteblica
Municipal e Gestatildeo em Sauacutede Naquele ano a UFT aderiu ao PARFOR na oferta de 13 cursos de
licenciaturas semipresenciais atendendo a mais de mil alunos (professores da rede puacuteblica de ensino)
em seis campi da universidade Apoacutes seis anos de implementaccedilatildeo do programa com informaccedilotildees da
SEDUCTO50 ateacute 2016 438 professores haviam concluiacutedo os cursos de graduaccedilatildeo e foram formadas
58 turmas dos cursos de Pedagogia Matemaacutetica Histoacuteria Geografia Ciecircncias Bioloacutegicas Letras
Informaacutetica Educaccedilatildeo Fiacutesica Arte e Teatro e Letras Libras
48 A Universidade Aberta do Brasil eacute um sistema integrado por universidades puacuteblicas que oferece cursos de niacutevel superior para camadas da populaccedilatildeo que tecircm dificuldade de acesso agrave formaccedilatildeo universitaacuteria por meio do uso da metodologia da educaccedilatildeo a distacircncia Disponivel em httpwwwcapesgovbracessoainformacaoperguntas-frequenteseducacao-a-distancia-uab4144-o-que-e Acesso em 30 de abril 2016 49 Programa Nacional Escola de Gestores eacute uma accedilatildeo do Ministeacuterio de Educaccedilatildeo (MEC) ndash por meio da Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica ndash em parceria com dez universidades federais (entre as quais a UFT) e vaacuterias entidades representativas de educadores Dentre as atividades desse Programa estaacute o curso de Especializaccedilatildeo em Gestatildeo Escolar na modalidade Educaccedilatildeo a Distacircncia com carga horaacuteria de 400haula 50 Disponiacutevel em httpseductogovbrnoticia2016127seminario-avalia-os-seis-anos-da-implantacao-do-parfor-no-tocantins Acesso em 25 abril 2016
Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
198
Em 2012 e 2013 a UFT atendeu cerca de 2000 alunos distribuiacutedos em trecircs cursos de
graduaccedilatildeo (licenciatura em Biologia Licenciatura em Fiacutesica e Licenciatura em Quiacutemica) um curso de
Poacutes Graduaccedilatildeo stritu senso em Matemaacutetica profissionalizante ndash PROFMAT) quatro cursos de
Especializaccedilatildeo (Gestatildeo Puacuteblica Gestatildeo Puacuteblica Municipal Gestatildeo em Sauacutede e Miacutedias na Educaccedilatildeo) e
seis cursos de Aperfeiccediloamento (Educaccedilatildeo Ambiental Formaccedilatildeo de Gestores Indiacutegenas Cultura e
Histoacuteria dos povos indiacutegenas Educaccedilatildeo para Diversidade e Cidadania Miacutedias na Educaccedilatildeo) todos na
modalidade a distacircncia
Nos anos de 2014 e 2015 no acircmbito da Rede para Diversidade51 da Secretaria de Educaccedilatildeo
Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade (SECADI) em parceria com a Secretaria de Educaccedilatildeo a
Distacircncia (SEED) e a Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal do Ensino Superior (CAPES) foram
ofertados sete cursos de especializaccedilatildeo na modalidade a distacircncia nas diferentes temaacuteticas Histoacuteria e
Cultura Afro-brasileira e Africana Gecircnero e Diversidade na Escola Educaccedilatildeo e Direitos Humanos
Educaccedilatildeo Ambiental com ecircnfase em Espaccedilos Educadores Sustentaacuteveis Alfabetizaccedilatildeo de Jovens e
Adultos na Diversidade Escola de Gestores - Coordenadores Escolares Sauacutede na Escola ndash Crack Em
2015 iniciou-se tambeacutem o curso de bacharelado em Administraccedilatildeo Puacuteblica a distacircncia com oferta de
480 vagas em dez polos do estado do Tocantins
No ano de 2016 estavam sendo ofertados pelo sistema UAB cinco cursos de graduaccedilatildeo na
instituiccedilatildeo distribuiacutedos nos dezesseis polos de apoio presencial conforme apresentado no quadro a
seguir
51 A Rede de Educaccedilatildeo para a Diversidade (Rede) eacute um grupo permanente de instituiccedilotildees puacuteblicas de ensino superior dedicado agrave formaccedilatildeo continuada de profissionais de educaccedilatildeo O objetivo eacute disseminar e desenvolver metodologias educacionais para a inserccedilatildeo dos temas da diversidade no cotidiano das salas de aula Satildeo ofertados cursos de formaccedilatildeo continuada para professores da rede puacuteblica da educaccedilatildeo baacutesica em oito aacutereas da diversidade relaccedilotildees eacutetnico-raciais gecircnero e diversidade formaccedilatildeo de tutores jovens e adultos educaccedilatildeo do campo educaccedilatildeo integral e integrada ambiental e diversidade e cidadania Disponiacutevel em httpportalmecgovbrrede-de-educacao-para-a-diversidade Acesso em 25 abril 2016
Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
199
Quadro 10 - Quantitativo de alunos matriculados nos cursos de graduaccedilatildeo a distacircncia no acircmbito das graduaccedilotildees via UABCAPES distribuiacutedos por polos em 2016
Polo Adm Puacuteblica Bacharelado
Biologia Licenciatura
Fiacutesica Licenciatura
Matemaacutetica Licenciatura
Quiacutemica Licenciatura
Alvorada - - - 16 - Ananaacutes 78 - 11 24 - Araguatins - 20 - - - Araguaiacutena 40 41 - - - Araguacema 40 - - - - Arraias 88 50 - 9 - Cristalacircndia - - 9 - - Dianoacutepolis 50 - - 10 5 Guaraiacute 88 - - 19 - Gurupi 87 62 12 28 19 Mateiros 11 - Nova Olinda 50 - - 12 - Palmas - - 40 - 28 Pedro Afonso 36 - - - - Porto Nacional 68 - - 18 Taguatinga 55 - - 21 - Total 612 245 72 150 70
Total geral de alunos matriculados em graduaccedilotildees a distacircncia UABUFT 1079
Fonte SISUAB52 (2016)
Assim ao longo dos dez anos de educaccedilatildeo mediada por tecnologias os cursos ofertados pela
UFT vinculados ao sistema Universidade Aberta do Brasil possibilitaram a formaccedilatildeo superior ou
formaccedilatildeo continuada de milhares de pessoas que natildeo poderiam ter acesso ao ensino superior nas
cidades onde residem o que certamente os impediriam de disputar vagas no mercado de trabalho
414 O papel social dos cursos mediados por tecnologias na UFT
Para Becker e Marques (2002) a educaccedilatildeo mediada por tecnologias tem sido apontada com
uma alternativa agrave formaccedilatildeo de professores considerando que o Brasil um paiacutes com extensatildeo
continental apresenta uma distribuiccedilatildeo desigual de acesso ao ensino superior com contrastes
relevantes entre regiotildees com crescimento industrial e niacutevel de vida equivalente ao do Primeiro Mundo e
outras regiotildees de extremo atraso e miseacuteria Diante dessas realidades abissais a educaccedilatildeo a distacircncia
apresenta-se como uma tentativa de minimizar do ponto de vista educacional essas diferenccedilas
sociais Neste sentido a universidade puacuteblica ciente do seu papel social em atingir o maior nuacutemero de
pessoas com educaccedilatildeo de qualidade tem aderido ao uso de tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo
para mediar a aprendizagem em espaccedilos e tempos diferentes
52 O Sistema de Gestatildeo da Universidade Aberta do Brasil - SISUAB eacute uma plataforma de suporte para a execuccedilatildeo acompanhamento e gestatildeo de processos da Universidade Aberta do Brasil Estaacute preparado para o cadastramento e consulta de informaccedilotildees sobre instituiccedilotildees poacutelos cursos material didaacutetico articulaccedilotildees colaboradores e mantenedores O acesso ao SISUAB eacute permitido apenas aos usuaacuterios previamente autorizados (coordenadores UAB e coordenadores de curso coordenadores de poacutelos de apoio presencial e colaboradores da CAPES)
Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
200
Segundo Oliveira e Gasparin (2012) em 1998 havia aproximadamente 830 mil professores
sem formaccedilatildeo de niacutevel superior atuando na educaccedilatildeo baacutesica brasileira De acordo com o censo da
educaccedilatildeo daquele ano o nuacutemero de professores com formaccedilatildeo em niacutevel meacutedio (antigo magisteacuterio) e
ainda professores leigos que atuavam em vaacuterios pontos do paiacutes fez surgir um grande movimento entre
pesquisadores legisladores e gestores municipais e estaduais O Plano Nacional da Educaccedilatildeo de 2001
(PNE 2001) previa metas concretas a meacutedio e longo prazo para a formaccedilatildeo de professores em
exerciacutecio De entre estas metas a nuacutemero 19 previa no prazo de dez anos a formaccedilatildeo em niacutevel
superior dos professores de ensino meacutedio na sua aacuterea de atuaccedilatildeo No item seis do PNE cujo tiacutetulo era
Educaccedilatildeo agrave distacircncia e tecnologias educacionais enfatizava a necessidade de incentivo agrave utilizaccedilatildeo de
tecnologias de educaccedilatildeo agrave distacircncia para a formaccedilatildeo de professores
Segundo levantamento do MEC53 em 2009 havia um deacuteficit de 240 mil professores na aacuterea
das Ciecircncias Exatas no Brasil A mesma pesquisa revela que a Fiacutesica tinha o maior deacuteficit do Brasil
apenas sete mil professores se formaram entre 2001 e 2008No Tocantins esse deacuteficit chega a mais
de 60 e os professores de Fiacutesica satildeo na maioria formados em Matemaacutetica ou aacuterea afins O ganho
mais significativo na promoccedilatildeo de cursos a distacircncia pela UFT eacute a formaccedilatildeo de professores leigos que
atuam no ensino meacutedio e natildeo possuem formaccedilatildeo ou se a possuem natildeo estaacute sendo usada
adequadamente no exerciacutecio da profissatildeo Eacute importante sinalizar que este quantitativo no estado do
Tocantins ultrapassa 11000 professores Portanto eacute possiacutevel inferir que a oferta de cursos a distacircncia
tem contribuiacutedo para fortalecer a qualidade do ensino fundamental e meacutedio neste estado
Ao melhorar a qualidade do ensino meacutedio a educaccedilatildeo a distacircncia tambeacutem estaacute colaborando
para melhorar a qualidade do ensino superior uma vez que estes alunos estaratildeo potencialmente
capacitados a ingressar em universidades puacuteblicas por meio de vestibulares Ao permitir o acesso
destes alunos agraves universidades de comprovada qualidade a UAB estaacute tambeacutem cumprindo com um
importante papel social que eacute criar igualdade de oportunidades a todos Assim indiretamente
reduzindo as desigualdades sociais das regiotildees mais pobres do estado do Tocantins
Neste sentido a educaccedilatildeo mediada por tecnologias foi adotada pela UFT como uma
metodologia de ensino que promove o alcance da educaccedilatildeo superior aos municiacutepios mais distantes do
estado Segundo o Mapa da Inclusatildeo digital (Neri 2012) Tocantins ocupava em 2012 a 22ordf posiccedilatildeo
no ranking de acesso por estados brasileiros com 2374 dos habitantes com conexatildeo banda larga
53 Disponiacutevel em lthttpwwwsindutemgorgbrnovositeconteudophpMENU=1ampLISTA=detalheampID=633gt Acesso em 12 set 2016
Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
201
fixa Dados recentes do IBGE do ano de 2013 revelaram que 437 dos domiciacutelios tocantinenses
utilizam somente computador de mesa com internet e 215 utilizam apenas internet moacutevel pelo tablet
ou telefone celular Comparando este porcentual agrave meacutedia nacional do Brasil (45) o Tocantins possui
um nuacutemero significativo de habitantes conectados agrave internet No entanto problemas relacionados com
a qualidade do acesso e falta de portas de conexatildeo em algumas cidades tambeacutem satildeo recorrentes no
estado do Tocantins54 Logo o desafio da UFT vai aleacutem de promover cursos de formaccedilatildeo inicial e
continuada mediados por tecnologias no estado mas lidar com as dificuldades de infraestrutura de
acesso e qualidade da internet na regiatildeo
Outro dado importante sobre o Tocantins trata-se da meacutedia de escolas que possuem internet
de banda larga que eacute de 525 iacutendice razoaacutevel considerando que se trata de um estado com rincotildees
de pobreza e alto iacutendice de analfabetismo 1309 sendo o iacutendice superior ao nacional que eacute de 961
(Alves e Silva 2014) Poreacutem ainda que exista o acesso digital nas escolas do estado pesquisas
apontam para uma fragilidade dos professores no uso das tecnologias enquanto ainda satildeo cursistas
(formaccedilatildeo inicial e continuada) nas atividades sociais bem como na sua praacutetica pedagoacutegica (Alves e
Faria 2011 Martins e Silva 2012) Assim a questatildeo do niacutevel de literacia digital dos professores
constitui outro desafio para a eficaacutecia dos cursos mediados por tecnologias Neste sentido este
trabalho buscou investigar os impactos dos cursos de formaccedilatildeo on-line de professores sobre as
suas habilidades e competecircncias para o uso das tecnologias digitais no seu cotidiano e praacuteticas
pedagoacutegicas
Portanto este estudo que utiliza instrumentalmente o curso de licenciatura a distacircncia de
Fiacutesica da UFT busca investigar se o fato destes professores (alunos do curso) estudarem na
modalidade a distacircncia contribuiu para desenvolvimento da literacia digital no seu cotidiano e na
sua praacutetica docente O curso de Licenciatura em Fiacutesica na modalidade a distacircncia na Universidade
Federal do Tocantins faz parte do Programa Universidade Aberta do Brasil (UAB) e conforme o quadro
10 (p212) em 2016 era ofertado em quatro polos do Tocantins atendendo a 72 alunos Antes de
aprofundarmos sobre as caracteriacutesticas inerentes do curso em questatildeo apresentamos mais
detalhadamente o funcionamento e dinacircmica do programa UAB no qual este estaacute inserido
54 Notiacutecia disponiacutevel em httpg1globocomtotocantinsnoticia201311lentidao-na-internet-lidera-reclamacoes-na-anatel-no-tocantinshtml Acesso
20 jul 2015
Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
202
42 O sistema UAB
O curso de Licenciatura em Fiacutesica na modalidade a distacircncia na Universidade Federal do
Tocantins (objeto do presente estudo) faz parte do Programa UAB Este programa foi instituiacutedo pelo
Decreto 5800 de 8 de junho de 2006 55 e trata-se de uma poliacutetica puacuteblica de articulaccedilatildeo com a
Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES com vista agrave expansatildeo da
educaccedilatildeo superior no acircmbito do Plano de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo
A legislaccedilatildeo brasileira para a educaccedilatildeo a distacircncia prevista no artigo 80 da Lei de Diretrizes e
bases da Educaccedilatildeo (LDB 94961996) regula que esta modalidade deve ser ofertada por instituiccedilotildees
especificamente credenciadas pela Uniatildeo Tambeacutem os Decretos nordm 56222005 e nordm 57732006
bem como as Portarias Ministeriais Normativas 1 e 2 de janeiro de 2007 estabelecem a necessidade
de que as instituiccedilotildees credenciem polos de apoio presencial para oferta dos cursos a distacircncia Assim
o modelo de educaccedilatildeo a distacircncia no Brasil eacute baseado nestas prerrogativas de encontros presenciais
obrigatoacuterios em polos previamente avaliados pela Uniatildeo
No Brasil importantes projetos de cursos de graduaccedilatildeo a distacircncia foram desenvolvidos nas
uacuteltimas deacutecadas alguns isoladamente nas universidades federais como eacute o caso do curso de
Pedagogia na modalidade a distacircncia na Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) em 1995 e de
outros projetos que foram concebidos em formato de consoacutercio entre diversas universidades como eacute o
caso do Consoacutercio CEDERJ56 que ofertou cursos de licenciatura em Biologia Quiacutemica Fiacutesica e o curso
de bacharelado em Administraccedilatildeo no ano de 2000 Na visatildeo de Costa e Pimentel (2009) experiecircncias
como estas foram precursoras do modelo atual do sistema Universidade Aberta do Brasil Costa (2007)
destaca quatro elementos essenciais que configuram o suporte e a execuccedilatildeo de cursos superiores a
distacircncia que estavam presentes no modelo do CEDERJ e estatildeo presentes no modelo da UAB
financiamento avaliaccedilatildeo institucional gestatildeo operacional e gestatildeo acadecircmica No caso da UAB
acrescenta-se a este modelo a induccedilatildeo de ofertas de cursos por meio de editais
421 Estrutura administrativa da UAB
Segundo o Decreto 58002006 o Sistema UAB foi criado visando o desenvolvimento da
modalidade de educaccedilatildeo a distacircncia com a finalidade de expandir e interiorizar a oferta de cursos e
55 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2004-20062006DecretoD5800htmgt Acesso em 24 de set 2015 56 O CEDERJ foi uma iniciativa do governo do estado do Rio de Janeiro em parceria com as universidades puacuteblicas daquele estado Participaram do consoacutercio a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)Universidade Federal Fluminense (UFF) Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF) Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)
Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
203
programas de educaccedilatildeo superior no Paiacutes Fomenta a modalidade de educaccedilatildeo a distacircncia nas
instituiccedilotildees puacuteblicas de ensino superior bem como apoia pesquisas em metodologias inovadoras de
ensino superior respaldadas em tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo Neste modelo a UAB natildeo
eacute uma instituiccedilatildeo de ensino a distacircncia antes constitui um oacutergatildeo articulador das instituiccedilotildees puacuteblicas
responsaacuteveis pela oferta de cursos superiores puacuteblicos a distacircncia Essa articulaccedilatildeo estabelece qual
instituiccedilatildeo de ensino deve ser responsaacutevel por ministrar determinado curso em certo municiacutepio ou
certa microrregiatildeo por meio dos polos de apoio presencial A UAB eacute responsaacutevel pelo financiamento e a
avaliaccedilatildeo enquanto a gestatildeo acadecircmica e operacional estaacute a cargo das instituiccedilotildees puacuteblicas de ensino
Figura 7 - Funcionamento do sistema UAB Fonte DTEUFT
O processo de articulaccedilatildeo ocorre numa primeira etapa quando a UAB publica editais para
ofertas dos cursos anualmente e as universidades puacuteblicas interessadas devem propor novos cursos de
acordo com os paracircmetros previstos nas chamadas puacuteblicas Em geral essas chamadas especificam
os cursos a serem ofertados e as respectivas modalidades (extensatildeo aperfeiccediloamento graduaccedilatildeo ou
especializaccedilatildeo) Abertas as chamadas a universidade discute internamente que cursos tem interesse
de ofertar e envia um projeto pedagoacutegico curricular (PPC) de cada curso junto com planilha de
financiamento de previsatildeo de custeio e pagamento de bolsas
Na segunda etapa ocorre a resposta agrave articulaccedilatildeo ou seja trata-se da adesatildeo ou natildeo da oferta
entre o rol de cursos previamente aprovados para a universidade nas chamadas ou editais da primeira
etapa No caso de adesatildeo a universidade deve informar os polos UAB da oferta o nuacutemero de vagas
por polo UAB e a forma de ingresso e aguardar a anaacutelise dos oacutergatildeos financiadores A terceira etapa eacute a
negociaccedilatildeo e aprovaccedilatildeo das planilhas e implementaccedilatildeo dos cursos Os cursos e polos aprovados na
articulaccedilatildeo com o oacutergatildeo financiador poderatildeo ser implementados apoacutes a negociaccedilatildeo e aprovaccedilatildeo das
Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
204
planilhas Estas tratam do custeio dos cursos (diaacuterias passagens reprografia material de consumo
etc) e tambeacutem das bolsas para a coordenaccedilatildeo professores tutores e demais profissionais da equipe
multidisciplinar de cada curso
Apoacutes a articulaccedilatildeo entre as instituiccedilotildees puacuteblicas de ensino e dos polos de apoio presencial o
sistema UAB assegura o fomento dos cursos financiando sua implementaccedilatildeo e execuccedilatildeo Os polos de
apoio presencial satildeo selecionados via edital e tecircm a funccedilatildeo de promover o desenvolvimento
descentralizado de atividades pedagoacutegicas relativas aos cursos e programas ofertados a distacircncia pelas
instituiccedilotildees puacuteblicas de ensino superior no acircmbito da UAB Satildeo mantidos por municiacutepios ou governos
de estado que asseguram a infraestrutura fiacutesica tecnoloacutegica e pedagoacutegica para que os alunos possam
acompanhar os cursos a distacircncia Assim o polo da UAB abriga turmas de um determinado curso na
modalidade a distacircncia e natildeo o curso Neste sentido o polo natildeo eacute de uma universidade especiacutefica ele
atende as universidades previamente aprovadas nas articulaccedilotildees O primeiro edital da UAB foi
publicado em 2005 e selecionou 292 polos de apoio presencial 190 cursos e 49 instituiccedilotildees federais
aprovadas para a oferta de 45000 vagas Em 2016 o SISUAB registrou 781 polos em todas as
regiotildees do paiacutes
As proposiccedilotildees para abertura de polos presenciais devem ser do prefeito do municiacutepio
interessado ou do governador do estado As regras deste edital exigem que toda infraestrutura fiacutesica e
de pessoal do polo presencial fica a cargo da prefeitura sede ou governo do estado enquanto a UAB se
responsabiliza pelas despesas de custeio dos cursos nas instituiccedilotildees ofertantes incluindo o pagamento
de bolsas para professores e tutores Segundo o Guia de orientaccedilotildees baacutesicas sobre o Sistema
Universidade Aberta do Brasil (2013) os polos precisam atender aos seguintes requisitos
1 Infraestrutura fiacutesica e tecnoloacutegica a) Ambientes administrativos sala para coordenaccedilatildeo do polo (obrigatoacuteria) sala para secretaria (obrigatoacuteria) sala para reuniatildeo b) Ambientes acadecircmicos salas multiuso (tutoria aula prova viacutedeowebconferecircncia etc) Laboratoacuterios pedagoacutegicos (especiacuteficos para cada curso) c) Ambientes de apoio (obrigatoacuterios) laboratoacuterio de informaacutetica proacuteprio conectados agrave internet de no miacutenimo 2Mb com instalaccedilotildees eleacutetricas adequadas biblioteca com espaccedilo para estudo d) Ambientes geraisbanheiros (pelo menos um feminino e um masculino que atendam as normas de acessibilidade)
2 Recursos Humanos Eacute necessaacuterio que o polo tenha minimamente Coordenador de polo Secretaacuteria(o) ou apoio administrativo de polo Teacutecnico(s) de Informaacutetica Biblioteconomista ou auxiliar de biblioteca Teacutecnico(s) de Laboratoacuterio
Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
205
Pedagoacutegico (se for o caso) Seguranccedila Serviccedilos gerais (manutenccedilatildeo e limpeza)
Aleacutem destas exigecircncias miacutenimas o Guia salienta que os diversos ambientes do polo apresentem boas
condiccedilotildees de iluminaccedilatildeo ventilaccedilatildeoclimatizaccedilatildeo obrigatoacuteria no laboratoacuterio de informaacutetica aleacutem de
mobiliaacuterio adequado agraves finalidades de uso de cada ambiente Na figura 8 eacute possiacutevel visualizar a
distribuiccedilatildeo geograacutefica dos polos UAB no Tocantins
Figura 8 ndash Distribuiccedilatildeo dos polos presenciais da UAB no Tocantins (Fonte DTEUFT)
Assim no Tocantins dezesseis polos estatildeo ativos no ano de 2016 Destes 14 satildeo mantidos
pelo governo estadual e 2 (Nova Olinda e Ananaacutes) tecircm o apoio das prefeituras locais
422 Gestatildeo financeira da UAB
Sobre a gestatildeo financeira dos cursos da UAB segundo o Guia de Guia de orientaccedilotildees baacutesicas
sobre o Sistema Universidade Aberta do Brasil (2013) no caso das Instituiccedilotildees Federais de Ensino
(IFEs) os cursos podem ser financiados (custeio - diaacuterias passagens reprografia material de
consumo) com orccedilamento proveniente de duas fontes orccedilamento destinado pela Lei de diretrizes
Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
206
orccedilamentaacuterias (LDO) do ano corrente na proacutepria estrutura da universidade (Matriz Orccedilamentaacuteria) e
orccedilamento da CAPES descentralizado para execuccedilatildeo da universidade (descentralizaccedilatildeo) O
pagamento dos professores e demais profissionais eacute efetuado por meio de bolsas Segundo o Guia
(2013) satildeo elegiacuteveis para o recebimento de bolsas nas Instituiccedilotildees de Ensino Superior (IES) as
seguintes funccedilotildees que estatildeo cadastradas no Sistema de Gestatildeo de Bolsas (SGB)57 Tutor (presencial e
a distacircncia) Professor (pesquisador conteudista revisor equipe multidisciplinar) Coordenador curso
Coordenador de tutoria Coordenador de polo Coordenador UAB Coordenador UAB adjunto
A admissatildeo dos professores e demais profissionais envolvidos nos cursos da UABUFT satildeo
realizadas por anaacutelise curricular por cada coordenador de curso Os tutores presenciais e a distacircncia
satildeo selecionados via edital de seleccedilatildeo em que satildeo analisados os criteacuterios de formaccedilatildeo acadecircmica
tempo de docecircncia na aacuterea de educaccedilatildeo a distacircncia e produccedilatildeo cientiacutefica na aacuterea do curso que iraacute
atuar
A CAPES na funccedilatildeo de oacutergatildeo financiador do sistema UAB publica editais de fomento para
possibilitar que as IES participantes do sistema se qualifiquem no que se refere agrave sua infraestrutura
fiacutesica tecnoloacutegica estrutural bem como na formaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo do quadro de colaboradores que
atuam na modalidade em diferentes funccedilotildees A UFT recebeu recursos provenientes de Editais de
fomento da CapesUAB para a estruturaccedilatildeo do centro de educaccedilatildeo a distacircncia formaccedilatildeo continuada
dos profissionais atuantes na modalidade na instituiccedilatildeo (cursos e capacitaccedilotildees) e estruturaccedilatildeo
tecnoloacutegica (material permanente equipamentos tecnoloacutegicos) Estes recursos possibilitaram a
estruturaccedilatildeo e institucionalizaccedilatildeo da modalidade de educaccedilatildeo a distacircncia na UFT Hoje a Diretoria de
Tecnologias Educacionais (DTE) departamento responsaacutevel pela modalidade na UFT possui preacutedio
proacuteprio com infraestrutura adequada para a oferta e acompanhamento dos cursos a distacircncia58 No
entanto em consulta a relatoacuterios de cumprimento de objeto dos recursos aprovados para a modalidade
na instituiccedilatildeo um bom aporte dos mesmos foi devolvido para o oacutergatildeo fomentador pela razatildeo da sua
chegada tardia na matriz orccedilamentaacuteria da instituiccedilatildeo59
57 O Sistema de Gestatildeo de Bolsas - SGB eacute utilizado para gerir bolsas-auxiacutelio fornecidas pelos programas que participam da poliacutetica de incentivo agrave educaccedilatildeo do governo federal O gerenciamento das Bolsas UAB foi realizado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo (FNDE) ateacute julho de 2011 A partir de entatildeo essa responsabilidade passou a ser da CAPES que utiliza sistema semelhante ao do FNDE (Universidade Aberta do Brasil UAB 2013 p 11) 58 Para mais informaccedilotildees sobre a institucionalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo a distacircncia na UFT pode consultar o artigo A Implementaccedilatildeo e Institucionalizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo a Distacircncia na Universidade Federal do Tocantins Caminhos Percorridos e a Percorrer (Alves e Macedo 2012) 59 Um exemplo em 2008 o recurso destinado para capacitaccedilatildeo continuada dos profissionais da educaccedilatildeo a distacircncia na UFT (Processo 234000065492008-66) foi devolvido por ter sido descentralizado no dia 23 de dezembro de 2008 Segundo o relatoacuterio de cumprimento do objeto enviado agrave CAPES a devoluccedilatildeo se deu devido a impossibilidade de cumprir os preceitos da Lei 81661993 que trata da legislaccedilatildeo e prazos para licitaccedilatildeo e contratos puacuteblicos
Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
207
423 Gestatildeo pedagoacutegica dos cursos UAB
A gestatildeo pedagoacutegica dos cursos do sistema UAB fica designada para cada instituiccedilatildeo ofertante
com a ressalva que cumpram as orientaccedilotildees e paracircmetros designados pelo sistema Os cursos devem
ter um Projeto Pedagoacutegico de Curso (PPC) aprovado pelo colegiado maacuteximo da instituiccedilatildeo O PPC deve
contemplar entre outros itens o perfil do egresso a estrutura curricular do curso (nuacutemero de
moacuteduloaula ementas carga horaacuteria bibliografia baacutesica e complementar) diretrizes metodoloacutegicas
modalidade do curso (semi-presencial ou totalmente a distacircncia60) definiccedilatildeo de encontros presenciais
orientaccedilotildees para a praacutetica e estaacutegio supervisionado proposta de avaliaccedilatildeo do processo de ensino-
aprendizagem e orientaccedilotildees para o trabalho de conclusatildeo de curso
O curso deve ter obrigatoriamente um colegiado composto por um quadro de professores
qualificado para atender agraves diretrizes dos Referenciais de qualidade para a Educaccedilatildeo Superior a
distacircncia (2007 p 18) o qual prioriza que o corpo docente seja ldquovinculado agrave proacutepria instituiccedilatildeo com
formaccedilatildeo e experiecircncia na aacuterea de ensino e em educaccedilatildeo a distacircnciardquo O mesmo documento lista as
habilidades que se exigem do professor na modalidade a distacircncia
a) estabelecer os fundamentos teoacutericos do projeto b) selecionar e preparar todo o conteuacutedo curricular articulado a procedimentos e atividades pedagoacutegicas c) identificar os objetivos referentes a competecircncias cognitivas habilidades e atitudes d) definir bibliografia videografia iconografia audiografia tanto baacutesicas quanto complementares e) elaborar o material didaacutetico para programas a distacircncia f) realizar a gestatildeo acadecircmica do processo de ensino-aprendizagem em particular motivar orientar acompanhar e avaliar os estudantes g) avaliar-se continuamente como profissional participante do coletivo de um projeto de ensino superior a distacircncia
Assim a UAB daacute autonomia agraves IES que selecionem seu quadro de professores de acordo com
esses criteacuterios e realizem a capacitaccedilatildeo necessaacuteria para a formaccedilatildeo continuada dos mesmos em
relaccedilatildeo agraves tecnologias e miacutedias A seleccedilatildeo de professores e tutores tambeacutem deve ser realizada segundo
os paracircmetros de Fomento do Sistema UAB descritos no Ofiacutecio Circular 292012 a) 1 cota de bolsa a
cada 30 horas-aulas de carga-horaacuteria por grupo de 15 alunos ou b) 1 tutor (12 cotas de bolsas) por
grupo de 25 alunos e 1 tutor (12 cotas de bolsas) por polo por grupo de 25 alunos
60 Obedecendo a legislaccedilatildeo brasileira os cursos de graduaccedilatildeo ou especializaccedilatildeo no sistema UAB devem ter obrigatoriamente encontros presenciais cuja frequecircncia deve ser determinada pela natureza da aacuterea do curso oferecido e pela metodologia de ensino utilizada
Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
208
O sistema exige que as funccedilotildees de cada profissional envolvido num curso sejam claramente
definidas de forma que o mesmo ocorra seguindo um fluxo exitoso A publicaccedilatildeo Orientaccedilotildees Gerais
Oferta de cursos na modalidade a distacircncia na UFT e Formaccedilatildeo de tutores para a atuar em EAD
(Flores 2010) apresenta o papel dos diversos profissionais envolvidos na oferta dos cursos a distacircncia
na UFTSegue a descriccedilatildeo com algumas adaptaccedilotildees
a) Coordenador de polo
Responsaacutevel pelas condiccedilotildees para a permanecircncia do aluno no curso criando um viacutenculo mais proacuteximo
com a universidade responsaacutevel pelas atividades acadecircmicas dos cursos ofertados nos polos Cabe ao
coordenador fazer a gestatildeo do polo fornecer informaccedilotildees necessaacuterias aos coordenadores UAB para
instrumentalizaccedilatildeo na elaboraccedilatildeo de projetos e planejamento de accedilotildees mediar as relaccedilotildees entre os
partiacutecipes da UAB - Governo Federal Estados e Municiacutepios planejar e articular horaacuterios e calendaacuterios
de uso dos espaccedilos e equipamentos do polo acompanhar atividades desenvolvidas pelos tutores
presenciais entre outras
b) Coordenador de curso
O Coordenador de Curso eacute um professor ou pesquisador designadoindicado pelas Instituiccedilotildees
Puacuteblicas de Ensino Superior (IPES) vinculadas ao Sistema UAB que atua nas atividades de
coordenaccedilatildeo de curso implantado no acircmbito do Sistema UAB e no desenvolvimento de projetos de
pesquisa relacionados aos cursos Satildeo atribuiccedilotildees do Coordenador de Curso
- Coordenar acompanhar e avaliar as atividades acadecircmicas do curso - Participar das atividades de capacitaccedilatildeo e de atualizaccedilatildeo desenvolvidas na instituiccedilatildeo de ensino - Participar de grupos de trabalho para o desenvolvimento de metodologia elaboraccedilatildeo de materiais didaacuteticos para a modalidade a distacircncia e sistema de avaliaccedilatildeo do aluno - Realizar o planejamento e o desenvolvimento das atividades de seleccedilatildeo e capacitaccedilatildeo dos profissionais envolvidos no curso - Elaborar em conjunto com o corpo docente do curso o sistema de avaliaccedilatildeo do aluno - Participar dos foacuteruns virtuais e presenciais da aacuterea de atuaccedilatildeo - Realizar o planejamento e o desenvolvimento dos processos seletivos de alunos em conjunto com o coordenador UAB - Acompanhar o registro acadecircmico dos alunos matriculados no curso - Verificar in loco o andamento dos cursos - Acompanhar e supervisionar as atividades dos tutores dos professores do coordenador de tutoria e dos coordenadores de polo - Informar o coordenador UAB a relaccedilatildeo mensal de bolsistas aptos e inaptos para recebimento
Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
209
Nos cursos na modalidade a distacircncia oferecidos na UFT em parceria com a UAB cabe ainda
aos coordenadores de curso a elaboraccedilatildeo dos documentos exigidos pelo sistema projetos planilhas
orccedilamentaacuterias e financeiras relatoacuterios pedagoacutegicos e de execuccedilatildeo financeira e ainda a alimentaccedilatildeo
dos dados dos sistemas ATUAB61 e SISUAB
c) Professor Autor (conteudista)
Os professores autores ou conteudistas satildeo os responsaacuteveis pela produccedilatildeo do material didaacutetico
do curso Deveratildeo ser professores da aacuterea do conhecimento do curso de preferecircncia do quadro de
servidores da UFT Satildeo atribuiccedilotildees dos professores autores
- Elaborar o plano de curso da disciplina prevendo a elaboraccedilatildeo de recursos e o uso de miacutedias da EaD (ambiente virtual materiais didaacuteticos viacutedeos simulaccedilotildees etc) e estrateacutegias didaacuteticas aplicadas agrave EaD - Desenvolver organizar e selecionar os materiais didaacuteticos para o curso em articulaccedilatildeo com as equipes de produccedilatildeo das IFEs - Redigir o texto didaacutetico para EaD utilizando de linguagem adaptada para essa modalidade - Seguir o cronograma de entrega do material obedecendo aos fluxos previstos pela coordenaccedilatildeo do curso
d) Professor formador
O professor formador atua diretamente como mediador pedagoacutegico dos alunos na sala virtual
Este eacute responsaacutevel pela disponibilizaccedilatildeo dos conteuacutedos nas respectivas salas do ambiente virtual
Moodle Cabe a ele a orientaccedilatildeo dos tutores no que se refere agrave temaacutetica do componente curricular
conteuacutedos conceituais e atividades propostas O professor da disciplina pode ser o mesmo professor
autor Caso natildeo seja o responsaacutevel pelo conteuacutedo do moacutedulo o professor deveraacute estar em constante
contato com o(s) professor(es) autor(es) Satildeo atribuiccedilotildees do professor formador
- Mediar o conhecimento dos alunos por meio de estudos dirigidos foacuteruns postagem de miacutedias e outras ferramentas digitais - Acompanhar o desenvolvimento da sua disciplina ou moacutedulo em seus aspectos teoacuterico-metodoloacutegicos e operacionais - Acompanhar os tutores a distacircncia capacitando-os segundo o Projeto Pedagoacutegico do Curso minimizando as disparidades na conduccedilatildeo da ementa da disciplina e do curriacuteculo do curso - Participar dos foacuteruns e chat de debates fazendo provocaccedilotildees teoacutericas junto aos tutores e alunos - Acessar regularmente a plataforma virtual respondendo duacutevidas pertinentes a sua disciplina moacutedulo
61 O ATUAB eacute o Ambiente Virtual de Trabalho da Universidade Aberta do Brasil restrito aos seus colaboradores Configura-se na Personalizaccedilatildeo do Ambiente Virtual de aprendizagem (AVA) Moodle para o compartilhamento de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo da CAPES com as IES e os polos (Universidade Aberta do Brasil UAB 2013 p 12)
Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
210
e) Tutor presencial
Os tutores presenciais exercem tutoria em cursos mediados por tecnologias nos polos de
apoio presencial ao acadecircmicoaprimorando e fortalecendo o elo de ligaccedilatildeo entre os extremos do
sistema instituiccedilatildeo ndash acadecircmico no qual o controle do aprendizado eacute realizado mais intensamente pelo
acadecircmico do que pelo professor Satildeo suas atribuiccedilotildees
- Acompanhar os acadecircmicos presencialmente no polo de apoio presencial em que natildeo haacute ldquoaulasrdquo no sentido claacutessico da palavra e estes(as) estudam de forma independente - Acompanhar o desenvolvimento teoacuterico-metodoloacutegico do curso atraveacutes da comunicaccedilatildeo siacutencrona (on-line em tempo real) eou assiacutencrona (com defasagem de tempo) com dinamismo lideranccedila e iniciativa de realizar com eficaacutecia o trabalho de facilitador junto ao grupo de acadecircmicos (as) sob sua tutoria - Demonstrar competecircncia individual e de equipe para analisar realidades formulando planos de accedilatildeo coerentes com os resultados analiacuteticos e de avaliaccedilatildeo e mantendo desse modo uma atitude reflexiva e criacutetica sobre a teoria e a proacutepria praacutetica educativa envolvida no processo de educaccedilatildeo mediada - Acompanhar os encontros presenciais e as praacuteticas pedagoacutegicas realizados nos polos UAB eou nos campi da UFT verificando a integraccedilatildeo professortutor-acadecircmico(a) como fatores importantes para a aprendizagem independente - Manter registro da participaccedilatildeo dos acadecircmicos nas atividades do curso zelando pela aprendizagem colaborativa do acadecircmico (a)
f) Tutor a distacircncia
O tutor a distacircncia exerce tutoria em cursos a distacircncia desenvolvendo e apoiando atividades
formativas mediadas pelas tecnologias Satildeo suas atribuiccedilotildees
- Monitorar osas acadecircmicos(as) sobre as dificuldades de conteuacutedo do curso auxiliando-os no acesso e navegabilidade da plataforma virtual Moodle (Moodle) fornecendo feedback (resposta) sempre com comentaacuterios devolutivos e sugestotildees objetivas e claras dos comentaacuterios (de textos aacuteudios e viacutedeos) postados - Moderar os relatoacuterios das atividades relatoacuterios de participaccedilatildeo os logs e estatiacutesticas do ambiente ou plataforma virtual de aprendizagem arquivando coacutepia dos comentaacuterios para que posteriormente possa acompanhar o desempenho do(a) acadecircmico demonstrando manejo das ferramentas que estatildeo agrave sua disposiccedilatildeo para o exerciacutecio da tutoria - Manter mediaccedilatildeo didaacutetico-pedagoacutegica regular com osas acadecircmicos(as) durante o curso dos processos de ensino e aprendizagem orientando a usabilidade das tecnologias digitais evitando oa acadecircmico a se sentir desamparado e abandonar o curso - Moderar a interaccedilatildeointeratividade no ambiente ou plataforma virtual de aprendizagem dos itens acrescentados arquivos enviados textos postados e participaccedilatildeo nos foacuteruns chat ou seccedilatildeo bate-papo e demais atividades on-line - Realizar relatoacuterios individuais sobre a turma e enviar coordenaccedilatildeo do curso
Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
211
O modelo de educaccedilatildeo a distacircncia proposto pelo Sistema UAB tem sido questionado por
pesquisadores na aacuterea com relaccedilatildeo a diversos fatores falta de um projeto pedagoacutegico expliacutecito
(Barreto 2010) fraacutegil relaccedilatildeo pedagoacutegica entre os agentes educacionais (professorestutoresalunos)
envolvidos no processo de educaccedilatildeo a distacircncia (Zuin 2006) aligeiramento das formaccedilotildees e falta de
qualidade de alguns cursos especialmente de formaccedilatildeo de professores (Giolo 2008) precarizaccedilatildeo do
trabalho docente (Lapa e Pretto 2010) e outros entraves relacionados com o financiamento da
educaccedilatildeo a distacircncia (Dourado 2008) e a regularizaccedilatildeo do trabalho do tutor (Oliveira 2006) No
entanto eacute inegaacutevel que a UAB expandiu as vagas para o ensino superior no Brasil Segundo Censo da
Educaccedilatildeo Superior (INEP 2015)entre os anos de 2010 a 2013 as matriacuteculas de graduaccedilatildeo na
modalidade a distacircncia tiveram crescimento de 240 atingindo o total de 1153572 em 2013
Conforme jaacute exposto a UFT aderiu agrave Universidade Aberta do Brasil desde a sua criaccedilatildeo em
2005 quando participou do 1ordm Edital chamada para cursos via Sistema UAB e foi aprovada a oferta do
curso de licenciatura em Biologia a distacircncia Em 2016 a instituiccedilatildeo ofertava no acircmbito da UAB cinco
graduaccedilotildees sendo que quatro satildeo licenciaturas e um bacharelado atendendo a 1079 alunos
Apresentamos com mais detalhes o curso de licenciatura em Fiacutesica a distacircncia visto ter sido o curso
utilizado no presente estudo investigativo
43 O curso de licenciatura em Fiacutesica a distacircncia na UFT
Em 2006 a UFT participou do Edital 012006 para ofertas de licenciaturas no acircmbito da UAB
e foi contemplada com os cursos de licenciatura em Biologia Quiacutemica e Fiacutesica na modalidade a
distacircncia O curso de Licenciatura em Fiacutesica foi aprovado a princiacutepio para oferta de 150 vagas nos
municiacutepios polos de Araguacema Araguatins Campos Lindos Cristalacircndia Dianoacutepolis e Porto
Nacional com previsatildeo de iniacutecio em 2008 mas devido a problemas com descentralizaccedilatildeo de recursos
o mesmo iniciou oferta apenas em 2010 em polos diferentes Palmas Cristalacircndia Gurupi e Ananaacutes
De acordo com o Projeto Pedagoacutegico do Curso (PPC) de Licenciatura em Fiacutesica da UFT a
opccedilatildeo pela oferta de curso nesta aacuterea deve-se ao fato de que existe no estado do Tocantins um deacuteficit
de professores graduados na aacuterea de Fiacutesica ldquosegundo dados da Secretaria de Educaccedilatildeo do estado do
Tocantins haacute uma demanda de aproximadamente 400 professores para serem capacitados aleacutem da
demanda reprimida vinda dos egressos do ensino meacutediordquo ( (UFT 2009 p 19) Neste sentido o PPC
do referido curso define seu objetivo
Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
212
Este projeto tem como objetivo contribuir para a formaccedilatildeo de professores no campo da Fiacutesica cientes de sua condiccedilatildeo de cidadatildeos comprometidos com princiacutepios eacuteticos inserccedilatildeo histoacuterico-social (dignidade humana respeito muacutetuo responsabilidade solidariedade) envolvimento com as questotildees ambientais e compromissos com a sociedade
A proposta do curso constituia garantir um quantitativo de vagas para professores leigos em
exerciacutecio na rede puacuteblica de ensino nos anosseacuteries finais do ensino Fundamental eou no Ensino
Meacutedio sem licenciatura em Fiacutesica Assim o processo de seleccedilatildeo foi realizado mediante inscriccedilatildeo preacutevia
dos candidatos pela Secretaria de Educaccedilatildeo de Educaccedilatildeo do estado e como o nuacutemero de vagas natildeo
foi completo abriu-se um edital de seleccedilatildeo para a comunidade local nas vagas remanescentes Para
uma melhor compreensatildeo da proposta do curso faz-se importante conhecer o contexto em que o
mesmo foi concebido e implementado na UFT
431 O processo de implementaccedilatildeo
Em 2009 quando ocorreram as discussotildees para a implementaccedilatildeo do curso de Fiacutesica a
distacircncia na UFT foi acordado com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) que jaacute
ofertava um curso de licenciatura em Fiacutesica nesta modalidade desde 2006 de que esta cederia agrave UFT
o seu projeto pedagoacutegico do curso e material didaacutetico jaacute produzido Sobre este processo Perdigatildeo-
Nass (2012) analisa que na eacutepoca apesar de a UFT jaacute ofertar um curso de licenciatura em Fiacutesica
presencial em um dos seus campi (Araguaiacutena) natildeo foi aproveitado deste nem recursos humanos nem
tampouco seu projeto pedagoacutegico O autor acrescenta que o PPC da UFRN foi elaborado na perspectiva
Freireana a partir de temas geradores 62 baseados na realidade de seca da regiatildeo do Nordeste 63
Caberia portanto agrave equipe pedagoacutegica responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo do PPC da UFT adaptar os temas
geradores para a realidade do Tocantins Perdigatildeo-Nass (idem pp 93-94) explica esse processo
Os elaboradores do PPC da UFT compreendiam a falta de aplicabilidade do tema gerador potigar agrave realidade tocantinense e jaacute havia uma sugestatildeo detectadas pelos elaboradores de que o novo tema geraccedilatildeo poderia ter relaccedilatildeo com os biomas caracteriacutesticos do Tocantins A inclusatildeo do tema gerador ldquoenergias alternativasrdquo tambeacutem tem a sua razatildeo de ser trata-se de uma das cinco temaacuteticas prioritaacuterias da UFT as quais satildeo ldquoidentidade cultura e territorialidaderdquo ldquoagropecuaacuteria e meio ambienterdquo ldquobiodiversidade e mudanccedilas climaacuteticasrdquo ldquoeducaccedilatildeordquo e ldquofontes de energia renovadardquo
62 Paulo Freire (1987) na sua obra Pedagogia do Oprimido difundiu a ideia de formaccedilatildeo dialeacutetica com uso de ldquotemas geradoresrdquo como forma de organizaccedilatildeometodologia numa perspectiva do educador utilizar-se da praacutetica-teoria-praacutetica como forma de construir seu fazer-pensar Neste sentido todo tema gerador constitui um problema vivenciado pela comunidade cuja superaccedilatildeo natildeo eacute por ela percebida Segundo Gouveia (1996) este envolve apreensatildeo da realidade anaacutelise organizaccedilatildeo e sistematizaccedilatildeo originando programas de ensino a partir do diaacutelogo 63 A regiatildeo Nordeste do Brasil destaca-se como principal caracteriacutestica a seca causada pela escassez de chuvas proporcionando pobreza e fome O Sertatildeo nordestino apresenta as menores incidecircncias de chuvas isso em acircmbito nacional A longa estiagem provoca uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como perda de plantaccedilotildees e animais a falta de produtividade causada pela seca provoca a fome
Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
213
Com o objetivo de adaptar a proposta do curso da UFRN com a realidade do estado do
Tocantins o PPC do curso de Fiacutesica a distacircncia da UFT previa a produccedilatildeo por docentes da instituiccedilatildeo
de material didaacutetico complementar na forma de fasciacuteculos e atividades abordando ldquocaracteriacutesticas
peculiares do Estado como os Biomas do Cerrado Amazocircnia Pantanal e a transiccedilatildeo de biomas aleacutem
de um fasciacuteculo que aborde a questatildeo das energias alternativasrdquo (UFT 2009 p 16)
Os tracircmites de aprovaccedilatildeo do curso de licenciatura em Fiacutesica na UFT ocorreram em 2009 com
aprovaccedilatildeo do PPC por meio da Resoluccedilatildeo 142009 do Conselho de Ensino Pesquisa e Extensatildeo
(Consepe) da universidade Em meados de 2010 foi lanccedilado edital de Vestibular para seleccedilatildeo dos
alunos da primeira turma Foram ofertadas 75 vagas distribuiacutedas em Ananaacutes (25 vagas) Cristalacircndia
(25 vagas) e Palmas (25 vagas) Destas vagas foram efetivadas 71 matriacuteculas e atualmente 31 alunos
estatildeo ativos no curso De acordo com o coordenador do curso no ano de 2016 11 cursistas desta
primeira turma concluiacuteram a graduaccedilatildeo
Em 2012 realizou-se segundo vestibular com 100 vagas sendo 50 para o polo de Gurupi e 50
vagas para Palmas Das 100 vagas do edital foram realizadas 47 matriacuteculas e atualmente (2014) 21
estudantes estatildeo regularmente matriculados Os dados mostram que embora exista um iacutendice elevado
de professores da rede puacuteblica sem formaccedilatildeo adequada na aacuterea de Fiacutesica um nuacutemero expressivo as
vagas ofertadas na modalidade a distacircncia permanecem ociosas No ano de 2014 foi realizado
vestibular para entrada de uma terceira turma do curso Houve a oferta de 10 vagas somente para o
polo de Palmas e 10 alunos foram matriculados Mas segundo o coordenador de curso destes
matriculados apenas seis estavam ativos no curso no primeiro semestre de 2016 Para uma melhor
compreensatildeo dos dados relativos ao curso segue uma descriccedilatildeo da organizaccedilatildeo administrativa e
didaacutetico-pedagoacutegica do mesmo
4 32 A Organizaccedilatildeo e administrativa e acadecircmica
A coordenaccedilatildeo geral do curso de licenciatura em Fiacutesica a distacircncia eacute subordinada agrave Diretoria
de Tecnologias Educacionais que tem como gestor o Coordenador da UAB na UFT Este eacute responsaacutevel
pelo funcionamento de todos os cursos de graduaccedilatildeo a distacircncia do sistema UAB na instituiccedilatildeo e
delibera sobre as questotildees administrativas (logiacutestica recursos humanos) acadecircmicas (tutoria material
didaacutetico) e de financiamento (descentralizaccedilatildeo dos recursos)
Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
214
Sobre as atribuiccedilotildees do coordenador do curso de graduaccedilatildeo a distacircncia o PPC do curso de
Fiacutesica afirma que se seguem as normas prescritas no Regimento Geral da UFT para cursos presenciais
e a distacircncia da qual a pessoa responsaacutevel pela coordenaccedilatildeo do curso ldquotem responsabilidade direta
e imediata com as questotildees acadecircmicas do curso tais como projeto pedagoacutegico oferta das
componentes curriculares elaboraccedilatildeo e avaliaccedilatildeo do material didaacutetico e questotildees que envolvam o
andamento dos alunos no cursordquo(UFT 2009 p12) A coordenaccedilatildeo do curso tambeacutem eacute responsaacutevel
pela coordenaccedilatildeo de tutoria
O curso de licenciatura em Fiacutesica a distacircncia possui um colegiado de professores segundo as
normas do Regimento Geral da UFT O colegiado em 2016 era composto por 16 professores 1
coordenador de curso (prof doutor) 1 coordenador de tutoria (prof mestre) 2 coordenadores de
Programa Institucional de Bolsa a Iniciaccedilatildeo a Docecircncia - Pibid ( profs doutores) 1 coordenador de
estaacutegio (prof doutor) e 11 professores formadores (4 mestres e 7 doutores) O colegiado eacute presidido
pelo coordenador do curso e de acordo com o PPC (2009 p 10) sua funccedilatildeo eacute
- Opinar e decidir sobre a filosofia os objetivos e a orientaccedilatildeo pedagoacutegica do Curso - Propor quando necessaacuterio a modificaccedilatildeo do nuacutemero de vagas ofertadas para o ingresso no Curso via vestibular a criaccedilatildeo ou a extinccedilatildeo de disciplinas bem como a alteraccedilatildeo de carga horaacuteria e de programas respeitando a legislaccedilatildeo vigente - Manter permanente pesquisa de mercado de trabalho para identificar e adequar o ensino agraves exigecircncias da comunidade - Elaborar a lista de oferta semestral de disciplinas - Propor medidas para o bom desenvolvimento das atividades acadecircmicas -Examinar decidindo em primeira instacircncia as questotildees acadecircmicas suscitadas pelos corpos discente e docente e administraccedilatildeo superior
O coordenador do curso tambeacutem eacute responsaacutevel pelas operaccedilotildees logiacutesticas do curso no que diz
respeito agrave organizaccedilatildeo dos encontros presenciais requisiccedilatildeo de diaacuterias e passagens para os
professores e solicitaccedilatildeo de laboratoacuterios
De acordo com a legislaccedilatildeo brasileira para a educaccedilatildeo a distacircncia cursos de graduaccedilatildeo nesta
modalidade carecem de encontros presenciais para uso de laboratoacuterios e realizaccedilatildeo de provas Assim
no curso de licenciatura em Fiacutesica a distacircncia aleacutem dos polos presenciais o PPC prevecirc a existecircncia
das Unidades Operativas (UNO) Estas constituem unidades de apoio aos polos presenciais da UAB
Localizadas nos campi da UFT (Arraias Araguaiacutena e Palmas) que possuem laboratoacuterios especiacuteficos
para aulas experimentais bibliotecas e outros serviccedilos de apoio ao estudante contribuindo para sua
Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
215
fixaccedilatildeo no curso e criando uma relaccedilatildeo de identidade do mesmo com a universidade aleacutem de
contribuir com a integraccedilatildeo dos alunos com os colegas de curso
Em 2016 o curso de licenciatura em Fiacutesica estava sendo ofertado nos polos presenciais da
UAB de Ananaacutes Cristalacircndia Gurupi e Palmas conforme apresentado na Figura 9
Figura 9 - Polos presenciais dos cursos de Fiacutesica a distacircncia na UFT (Fonte DTEUFT)
A cidade de Ananaacutes localiza-se no extremo norte do estado do Tocantins na regiatildeo chamada de
ldquoPortal do Bico do Papagaio64rdquo Trata-se de um municiacutepio pequeno sua populaccedilatildeo foi estimada em
2015 com 9848 habitantes Sua economia se baseia principalmente das atividades agropecuaacuterias
Natildeo haacute instituiccedilotildees de ensino superior na cidade No polo da UAB aleacutem do curso de licenciatura em
Fiacutesica da UFT satildeo ofertados os cursos de licenciatura em Biologia da UFT e Computaccedilatildeo (licenciatura)
pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRP) A UNO que atende os alunos do curso de
Fiacutesica e Biologia do polo de Ananaacutes eacute o campus da UFT em Araguaiacutena localizado a 131 km de
distacircncia Considerando que neste campus tem o curso de licenciatura em Fiacutesica presencial os alunos
da modalidade a distacircncia fazem usos dos laboratoacuterios disponiacuteveis no campus
Cristalacircndia igualmente a Ananaacutes eacute um pequeno municiacutepio com populaccedilatildeo estimada em
7386 no ano de 201565 A sua economia tambeacutem eacute baseada predominantemente na agropecuaacuteria
64 A microrregiatildeo do Bico do Papagaio eacute uma das microrregiotildees do estado brasileiro do Tocantins pertencente agrave mesorregiatildeo Ocidental do Tocantins Foi assim denominada devido ao formato geograacutefico parecido a bico de papagaio desta regiatildeo do extremo Norte do Estado 65 Dados de acordo com o IBGE Disponiacutevel em httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=170610ampsearch=tocantins|cristalandia Acesso em 23 abril 2016
Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
216
Cristalacircndia tambem natildeo possui nenhuma instituiccedilatildeo de ensino superior e o polo da UAB (mantido pelo
governo do estado) abriga trecircs licenciaturas a distacircncia da UFT Biologia Quiacutemica e Fiacutesica A Unitins
tambeacutem oferta quatro cursos no polo de Cristalacircndia Administraccedilatildeo Puacuteblica (bacharelado)
Computaccedilatildeo (licenciatura) Letras (licenciatura com habilitaccedilatildeo em Liacutengua Portuguesa Liacutengua
Espanhola e respectivas Literaturas) e Pedagogia (licenciatura)
A cidade de Gurupi com populaccedilatildeo estimada em 83707 habitantes em 2015 eacute considerando
um municiacutepio com mais oportunidades na aacuterea de educaccedilatildeo Teve por muitos anos sua economia
baseada no setor agropecuaacuterio e comeacutercio mas nos uacuteltimos 10 anos tornou-se uma cidade
universitaacuteria com a criaccedilatildeo de um centro universitaacuterio privado com oferta de 15 cursos entre eles
Medicina Direito e Engenharia Civil A procura de estudantes do Brasil inteiro por esses cursos gera
uma injeccedilatildeo de recursos na economia local Gurupi possui tambeacutem um campus da UFT com quatro
cursos presenciais (Agronomia Engenharia Biotecnoloacutegica Engenharia Florestal e Quiacutemica ambiental
e trecircs cursos a distacircncia (Licenciatura em Biologia Quiacutemica e Fiacutesica) ofertados no polo de apoio
presencial que se localiza dentro do campus da universidade
Palmas eacute a capital administrativa do estado do Tocantins Uma cidade jovem e planejada com
apenas 28 anos de criaccedilatildeo em 2015 possuiacutea a populaccedilatildeo estimada em 272726 habitantes A
economia de Palmas eacute fortemente baseada no funcionalismo puacuteblico embora ultimamente o setor do
turismo e o comeacutercio tambeacutem se tenha fortalecido Com 12 instituiccedilotildees de ensino superior (puacuteblicos e
privados) a menor capital das unidades federativas do Brasil concentra o maior nuacutemero de oferta de
vagas de graduaccedilatildeo no estado do Tocantins Segundo o SISUAB o polo da UAB de Palmas tinha em
2016 170 alunos matriculados em nove cursos (duas especializaccedilotildees lato sensu seis licenciaturas
um bacharelado) ofertados por quatro IES diferentes De entre estas configura-se a UFT ofertando
nesse polo o curso de licenciatura em Fiacutesica e Quiacutemica com respectivamente 40 e 28 alunos
matriculados em 2016
Os polos de apoio presencial satildeo fundamentais no modelo de educaccedilatildeo a distacircncia da UAB No
curso de Fiacutesica o PPC prevecirc que o aluno deve frequentar o polo todos os fins de semana para o
desenvolvimento de atividades presenciais O curso eacute dividido em moacutedulos temaacuteticos e o periacuteodo letivo
eacute semestral e desenvolvido ao longo de 18 semanas assim distribuiacutedas dois moacutedulos por semestre
trabalhados em 9 semanas cada com no maacuteximo trecircs disciplinas por moacutedulo O aluno deve estar
presente nos finais de semana no polo para o desenvolvimento das atividades presenciais com
frequecircncia miacutenima de 75 e durante a semana ele desenvolveraacute as atividades a distacircncia propostas
Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
217
pelo professor da disciplina Sobre as atividades do curso (presenciais e a distacircncia) o PPC (UFT
2009 p 32) explica o procedimento
As atividades presenciais seratildeo desenvolvidas pelo tutor presencial orientado pelo professor da disciplina por meio do material impresso viacutedeo conferecircncia web ou mesmo em uma visita do docente ao polo As atividades a distacircncia seratildeo acompanhadas preferencialmente pelo tutor a distacircncia podendo tambeacutem ser orientado pelo tutor presencial supervisionado pelo professor da disciplina Essas atividades desenvolvidas a distacircncia seratildeo sequecircncia das atividades desenvolvidas presencialmente devem ocorrer por meio das mesmas miacutedias usadas nas atividades presenciais com ecircnfase nas atividades propostas na web
Nos polos de apoio presencial tambeacutem ocorrem as duas avaliaccedilotildees presenciais obrigatoacuterias
por disciplina do curso e ainda seminaacuterios temaacuteticos Em cada polo onde o curso eacute ofertado existe um
tutor presencial na aacuterea de formaccedilatildeo do mesmo para atender os alunos nas suas duacutevidas sobre
atividades e uso da plataforma virtual
433 Concepccedilatildeo didaacutetico-pedagoacutegica
No PPC do curso de Fiacutesica a distacircncia da UFT os professores que elaboraram a proposta
procuraram deixar clara a diferenccedila entre a modalidade a distacircncia e a presencial Enfatizam que a
educaccedilatildeo a distacircncia tem caracteriacutesticas singulares que a faz distinta e particular no enfoque dos
objetivos meios meacutetodos e estrateacutegias O conceito de educaccedilatildeo a distacircncia que utilizam eacute ldquoA
educaccedilatildeo a distacircncia se baseia em um diaacutelogo didaacutetico mediado entre o professor (instituiccedilatildeo) e o
estudante que localizado em espaccedilo diferente daquele aprende de forma independente (cooperativa)rdquo
(Garcia 2001 p 41) Neste sentido o PPC do curso defende que por suas caracteriacutesticas a
educaccedilatildeo a distacircncia supotildee um tipo de ensino em que o foco estaacute no aluno e natildeo na turma ldquoeste
aluno deve ser considerado como um sujeito do seu aprendizado desenvolvendo autonomia e
independecircncia em relaccedilatildeo ao professor que o orienta no sentido do ldquoaprender a aprender e aprender
a fazerrdquo (UFT 2009 p 14)
Considerando que o curso precede de momentos presenciais e natildeo eacute totalmente a distacircncia
entende-se que se trata de uma proposta de curso na modalidade semipresencial misto ou B-learning
(blended significa algo misto ou combinado) Assim de acordo com Silva (2013 p 147) a apropriaccedilatildeo
desta modalidade implica que sejam combinados momentos presenciais e natildeo presenciais (on-line)
cabendo aos professores da equipe envolvida ldquoselecionar os recursos mais adequados para melhorar
as situaccedilotildees de aprendizagem em funccedilatildeo dos objetivos e resultados educativosrdquo Segundo Meirinhos e
Osoacuterio (2006 p 960) o uso da modalidade b-learning precede os seguintes pressupostos
Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
218
Ser mais aconselhaacutevel para formandos com pouca experiecircncia na utilizaccedilatildeo da Informaacutetica
Ser mais aconselhaacutevel a utilizadores com pouca experiecircncia na formaccedilatildeo a distacircncia
Aproveitar o que melhor tem a formaccedilatildeo presencial e a formaccedilatildeo a distacircncia Permitir o desenvolvimento de capacidades necessaacuterias a uma formaccedilatildeo
completamente a distacircncia
Assim a modalidade eacute bastante apropriada considerando o perfil dos cursistas da graduaccedilatildeo a
distacircncia em Fiacutesica professores com idades entre 29 a 34 anos e com pouca experiecircncia na utilizaccedilatildeo
da informaacutetica O PPC enfatiza a importacircncia do material didaacutetico impresso do curso ser concebido
segundo as especificidades da educaccedilatildeo a distacircncia e focados na realidade do aluno Tambeacutem eacute
ressaltada a importacircncia da produccedilatildeo de materiais para web utilizaccedilatildeo de meios digitais como o CD-
ROM No curso de Fiacutesica os professores tecircm autonomia para trabalhar diversas miacutedias com os alunos
como postar viacutedeos-aulas filmar experimentos e compartilhar indicar sites para pesquisa mais
aprofundada No referido curso utiliza-se o material didaacutetico do curso de Fiacutesica a Distacircncia da UFRN
Nas disciplinas que natildeo possuem material disponiacutevel na UFRN satildeo usados os materiais didaacuteticos
postados no repositoacuterio do SISUAB Os materiais didaacuteticos em formato PDF ou os arquivos multimiacutedias
satildeo disponibilizados no Ambiente Virtual Moodle
O PPC prevecirc que cada componente curricular deve contar com um professor que responderaacute
pelos conteuacutedos de acordo com suas especialidades Cabe ao professor formador a orientaccedilatildeo dos
tutores referente a temaacutetica do componente curricular conteuacutedos conceituais atividades e avaliaccedilatildeo
O perfil exigido para o professor que este deva ser de preferecircncia doutor podendo ser do quadro ativo
ou aposentado da UFT
A tutoria eacute reconhecida no PPC do curso de importacircncia fundamental para a orientaccedilatildeo dos
estudos organizaccedilatildeo das atividades em grupo e uma mediadora na relaccedilatildeo de confiabilidade dos
alunos com a instituiccedilatildeo O PPC prevecirc que os tutores tenham conhecimento natildeo apenas na aacuterea de
conhecimento do curso mas tenham competecircncia para gerenciar grupos orientar e motivar para os
estudos Ainda de acordo com os PPC estes devem ser selecionados entre professores da rede de
ensino alunos de poacutes-graduaccedilatildeo ou outros profissionais de niacutevel superior que tenham as competecircncias
requisitadas
Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
219
434 Projeto acadecircmico e diretrizes metodoloacutegicas
De acordo com o PPC do curso de licenciatura de Fiacutesica a distacircncia o objetivo do curso eacute a
formaccedilatildeo de professores para a educaccedilatildeo baacutesica com ecircnfase na formaccedilatildeo para as uacuteltimas seacuteries
(notadamente a 9ordm seacuterie) do Ensino Fundamental e Ensino Meacutedio Sobre o perfil do egresso o PPC
(UFT 2009 p 19) aborda que o profissional licenciado em Fiacutesica ldquodeveraacute apresentar um forte
conhecimento dos conteuacutedos e meacutetodos da Fiacutesicardquo com destaque as seguintes competecircncias e
habilidades especiacuteficas
- O planejamento e o desenvolvimento de diferentes experiecircncias didaacuteticas em Fiacutesica reconhecendo os elementos relevantes agraves estrateacutegias adequadas
- A elaboraccedilatildeo ou adaptaccedilatildeo de materiais didaacuteticos de diferentes natureza identificando seus objetivos formativos de aprendizagem e educacionais
- A formaccedilatildeo do Fiacutesico mesmo atraveacutes de Ensino a Distacircncia natildeo pode prescindir de uma seacuterie de vivecircncias que vatildeo tornando o processo educacional mais integrado (UFT 2009 p 21)
As vivecircncias mencionadas no PPC dizem respeito a experiecircncias que o aluno de curso a
distacircncia deve experimentar num grau de igualdade com aluno de cursos presenciais como realizar
experimentos em laboratoacuterio manuseio de equipamentos de informaacutetica realizar pesquisas
bibliograacuteficas com habilidade de identificar e localizar fontes de informaccedilotildees elaborar um artigo
projeto ou intervenccedilatildeo em sala de aula e demais atividades de ensino
Ressalta-se que o projeto natildeo contempla de entre as habilidades dos egressos a questatildeo do
uso de tecnologias na praacutetica pedagoacutegica Uma ressalva neste sentido verifica-se no item 226 do
PPC sobre os campos de atuaccedilatildeo profissional que cita o loacutecus em que o licenciado em Fiacutesica poderaacute
atuar ldquodedica-se agrave discussatildeo anaacutelise e disseminaccedilatildeo do saber cientiacutefico seja atraveacutes da atuaccedilatildeo no
ensino formal de niacutevel meacutedio seja atraveacutes de novas formas de ensino (como viacutedeos softwares
educativos Educaccedilatildeo agrave Distacircncia etc) e dedica-se ainda agrave extensatildeo e agrave pesquisa em Ensino de
Fiacutesicardquo O texto no PPC que mais se aproxima desta proposta eacute
O licenciado em Fiacutesica na modalidade de ensino a distacircncia deveraacute ter ainda capacidades especiacuteficas do educador em Fiacutesica tais como capacidade de desenvolver estrateacutegias de ensino que favoreccedilam a criatividade a autonomia e a flexibilidade do pensamento cientiacutefico dos educandos buscando trabalhar com mais ecircnfase nos conceitos fiacutesicos (UFT 2009 p22)
Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
220
O primeiro semestre do curso prevecirc uma oficina de nivelamento na aacuterea de informaacutetica para
ajudar aqueles alunos com dificuldades de acesso e navegaccedilatildeo na plataforma virtual de aprendizagem
a realizar suas atividades como postar arquivos responder foacuteruns baixar arquivos e outras atividades
baacutesicas Mas natildeo tem previsatildeo de uma disciplina especiacutefica que discuta a apropriaccedilatildeo das tecnologias
na praacutetica pedagoacutegica dos professores cursistas
435 Organizaccedilatildeo curricular
Segundo o PPC do curso a proposta curricular foi planejada prevendo uma duraccedilatildeo miacutenima de
8 e maacutexima de 12 periacuteodos letivos para sua integralizaccedilatildeo A proposta prevecirc que os quatro primeiros
semestres contemplem componentes curriculares das aacutereas de Matemaacutetica Quiacutemica FiacutesicaBiologia e
pedagoacutegicas A partir do quinto semestre satildeo estudados os conteuacutedos especiacuteficos da aacuterea do
conhecimento que satildeo trabalhados em dois tipos de eventos Atividades de formaccedilatildeo e encontros
presenciais para apresentaccedilatildeo de resultados praacuteticos por meio de projetos de intervenccedilatildeo
Nos componentes curriculares ldquoCiecircncias da Naturezardquo e ldquoRealidade e Educaccedilatildeo e Realidaderdquo
propotildeem-se atividades praacuteticas de levantamento de dados e informaccedilotildees sobre a realidade social e
cultural do aluno para que o mesmo compreenda os problemas e conflitos ambientais da regiatildeo
Ocorrem atividades de estaacutegio com atividades praacuteticas dos alunos na sala de aula das escolas que satildeo
encaminhados O PPC apresenta quatro componentes curriculares voltadas para o estaacutegio
Aleacutem das atividades curriculares regulares o PPC prevecirc a exigecircncia que o aluno apresente no
final do curso certificados que comprovem 200 horas de atividades chamadas ldquode formaccedilatildeordquo
atividades de caraacuteter cientiacutefico-cultural que visam fornecer ao mesmo uma maior inserccedilatildeo no meio
acadecircmico onde compartilharaacute seus conhecimentos com os colegas e professores
Seguindo a legislaccedilatildeo que normatiza os cursos a distancia no Brasil nos finais de semana
programados no cronograma eacute obrigatoacuteria a participaccedilatildeo dos alunos no polo para o desenvolvimento
das atividades presenciais com frequecircncia miacutenima de 75 De acordo com o Decreto 5622 de 19 de
dezembro de 2005 os momentos presenciais obrigatoacuterios satildeo para
I - avaliaccedilotildees de estudantes II - estaacutegios obrigatoacuterios quando previstos na legislaccedilatildeo pertinente III - defesa de trabalhos de conclusatildeo de curso IV - atividades relacionadas a laboratoacuterios de ensino quando for o caso
Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
221
Segundo o coordenador do curso satildeo realizados dez encontros presenciais por semestre
Nestes podem ocorrer atividades em grupo orientadas pelo tutor presencial atividades praacuteticas no
laboratoacuterio de Fiacutesica provas e seminaacuterios As atividades presenciais satildeo desenvolvidas junto ao tutor
presencial Cabe ao professor da disciplina orientar o tutor presencial e a distacircncia para que atividades
atinjam seus objetivos acadecircmicos De acordo com o PPC este poderaacute fazecirc-lo por meio de material
didaacutetico impresso viacutedeoconferecircncia web ou visita presencial no polo
Para cumprir o requisito das avaliaccedilotildees presenciais o PPC prevecirc que devem ser feitas no
miacutenimo duas avaliaccedilotildees presenciais nos polos presenciais com datas preacute-definidas pela coordenaccedilatildeo
do curso e amplamente divulgadas aos alunos e agraves respectivas coordenaccedilotildees dos polos em que o
curso eacute ofertado As avaliaccedilotildees presenciais satildeo somativas e representam 70 da nota da disciplina
Os demais 30 deve ser composto pelas atividades realizadas a distacircncia definidas pelo coordenador
do curso Sobre os que apresentarem desempenho insatisfatoacuterio o PPC orienta
Para os alunos que apresentarem desempenho insatisfatoacuterio (meacutedia parcial igualou superior a 40 e inferior a 70) haveraacute duas semanas ao final do segundo moacutedulo para a realizaccedilatildeo de estudos de reforccedilo e da avaliaccedilatildeo final (exame) Neste periacuteodo de reforccedilo haveraacute conteuacutedo especiacutefico preparado pelo professor de cada disciplina e disponibilizado na web com o acompanhamento do tutor presencial e tambeacutem do tutor(UFT2009 p 32)
Na hipoacutetese do aluno natildeo conseguir uma nota satisfatoacuteria para aprovaccedilatildeo na disciplina o PPC
orienta que este poderaacute cursar as disciplinas em regime de dependecircncia depois do final do semestre
(periacuteodo de feacuterias) sendo que o aluno tem o direito de cursar novamente todas as disciplinas que natildeo
obteve aprovaccedilatildeo
436 O Ambiente virtual de aprendizagem Moodle
O curso de licenciatura em Fiacutesica a distacircncia da UFT utiliza o Ambiente Virtual de
Aprendizagem (AVA) Moodle (Modular Object-Oriented Dinamyc Leanirg Enviroment) Este foi
desenvolvido pelo educador e cientista computacional Martin Dougiamas como produccedilatildeo da sua tese
de doutoramento (Delgado 2009) O Moodle foi construiacutedo com base em teorias construtivistas e
construcionistas conforme afirma o autor
O moodle foi criado com base nos conceitos de teorias construtivistas que possuem a interaccedilatildeo e colaboraccedilatildeo como premissa para o processo de construccedilatildeo do conhecimento Com base nesse conceito o proacuteprio software surge com a ideacuteia de colaboraccedilatildeo ou seja os usuaacuterios mantecircm um portal na internet para colaboraccedilatildeo e aprimoramento da ferramenta (Delgado 2009 p 49)
Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
222
Importante ressaltar a funcionalidade do software que possui uma estrutura administrativa em
o administrador pode ser o professor ou outra pessoa em que ele delegue a funccedilatildeo Trata-se de um
software ldquoaltamente customizaacutevelrdquo em que os professores podem criar cursos utilizando as diferentes
ferramentas de interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo podem publicar materiais de diferentes formatos e inuacutemeros
recursos para a criaccedilatildeo de atividades como exerciacutecio de pesquisa muacuteltipla escolha wiki entre outros
O Moodle possui colaboradores que constantemente melhoram o seu desempenho Assim vatildeo
sendo lanccediladas ao longo dos anos cerca de dezoito novas versotildees do programa Atualmente o Moodle
encontra-se na versatildeo 217 atualizada em maio de 201466 A versatildeo utilizada pela Universidade Federal
do Tocantins eacute a 1917 uma versatildeo jaacute algo ultrapassada considerando que instituiccedilotildees como a
Universidade de Brasiacutelia (UNB) usam a versatildeo 207 e Universidade Federal da Bahia o Moodle 261
No iniacutecio da oferta do curso no primeiro semestre a coordenaccedilatildeo do curso organiza um
encontro presencial para o acesso dos alunos agrave plataforma e uma oficina com instruccedilotildees para
utilizaccedilatildeo das ferramentas do ambiente Moodle Nestas oficinas os alunos satildeo orientados a acessar as
salas postar atividades interagir com colegas e aprender outras funcionalidades do AVA
Os professores tecircm autonomia para customizar as salas de acordo com a proposta da
disciplina que lecionam Cada disciplina ou mateacuteria aparece para o aluno em uma sala virtual dentro
do Moodle Apresentamos um print de uma sala virtual do curso de Fiacutesica a distacircncia na disciplina de
Novas concepccedilotildees para o ensino de Fiacutesica (figura 10)
66 Fonte lt httpsdocsmoodleorgdevReleasesMoodle_27gt Acesso em 31 out 2015
Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
223
Figura 10 - Modelo de uma sala virtual do curso de Fiacutesica a distacircncia da UFT (Fonte MoodleUFT)
O professor desta disciplina dividiu o conteuacutedo programaacutetico em aulas que foram desenvolvidas
em nove semanas Em cada ldquoaulardquo eacute disponibilizado um material de leitura baacutesico e outros textos
complementares (figura 11) O professor fez uso de viacutedeos e muacutesicas como atividades para estimular a
reflexatildeo dos alunos
Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
224
Figura 11 ndash Apresentaccedilatildeo das aulas na sala virtual do AVA Moodle numa disciplina do curso de Fiacutesica a distacircncia na UFT (Fonte MoodleUFT)
As atividades incluem envio de tarefas foacuteruns wiki e outras que tarefas que exigem leitura dos
estudantes Nas orientaccedilotildees iniciais (disponiacutevel em arquivo PDF na sala virtual da referida disciplina)
para o cursista o professor explicou
Trata- se de uma disciplina que exige leitura e reflexatildeo sobre aquilo que estaraacute sendo tratado Seratildeo ldquopostadosrdquo arquivos (textos viacutedeos e muacutesicas) de interaccedilatildeo ldquoobrigatoacuteriardquo e arquivos (textos viacutedeos e muacutesicas) que visam o aprofundamento nos temas trabalhados (interaccedilatildeo natildeo obrigatoacuteria) Cada texto possui aproximadamente 25 peacuteginas portanto para aqueles menos habituados com a leitura sugere-se que se organizem de tal forma que consigam ler pelo menos o texto obrigatoacuterio de segunda a quarta feira Toda a segunda feira um novo tema de estudo eacute iniciado e espera-se que ateacute a quarta-feira todos os alunos estejam com as leituras ldquoem diardquo para as atividades que seratildeo sugeridas (foacuteruns resumos resenhas etc )
Percebe-se que o AVA Moodle neste modelo de curso torna-se um repositoacuterio de material
didaacutetico e um local em que as atividades devem ser ldquopostadasrdquo As atividades de interaccedilatildeo que o AVA
permite satildeo limitadas e os professores utilizam mais o recurso ldquoFoacuterumrdquo No entanto em visita a uma
Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
225
destes foacuteruns virtuais verificamos pouca interaccedilatildeo entre os participantes em geral estudantes postam
a sua resposta agrave questatildeo levantada pelo professor e natildeo interagem entre si
Importante ressaltar que uma das aulas (Aula 8) desta disciplina apresenta uma discussatildeo
sobre ldquoNoccedilotildees sobre Tecnologia no Ensinordquo Este recorte sobre essa disciplina se faz importante
considerando o foco da nossa pesquisa que diz respeito sobre a formaccedilatildeo de professores para a
literacia digital O texto baacutesico desta aula foi extraiacutedo do livro Novas Tecnologias e Mediaccedilatildeo Pedagoacutegica
(Moran Masseto e Behrens 2003) O artigo intitulado Mediaccedilatildeo pedagoacutegica e o uso da tecnologia de
Masseto discute sobre a preocupaccedilatildeo dos cursos de formaccedilatildeo de professores voltada para o domiacutenio
do conteuacutedo em detrimento da formaccedilatildeo para uso das tecnologias que colaborem para uma
aprendizagem mais eficaz Assim depois de postar o referido artigo em formato PDF na sala virtual o
professor da disciplina Novas concepccedilotildees para o ensino de Fiacutesica abriu um foacuterum de discussatildeo com a
seguinte questatildeo A partir das ideias extraiacutedas no texto baacutesico participe do foacuterum cujo tema eacute Como e
quais tecnologias podem ajudar em minha sala de aula No total de oito alunos matriculados seis
participaram do foacuterum apenas uma aluna participou com mais de uma resposta mas natildeo estava
interagindo com demais colegas pois postou duas respostas seguidas
O que se percebe das observaccedilotildees nas salas de aulas virtuais do curso em questatildeo eacute que os
alunos usam estes ambientes virtuais para acessar o material do curso e postar atividades requisitadas
pelo professor e muito pouco para interagir com os colegas professores e tutores Um trecho do artigo
discutido no Foacuterum mencionado anteriormente descreve o que acontece no proacuteprio curso de Fiacutesica do
qual os alunos participam
Desenvolvem-se cursos a distacircncia com ensino a distacircncia quando por meio das novas tecnologias privilegiam a transmissatildeo de informaccedilatildeo o acesso a elas e sua reproduccedilatildeo as atividades do professor ou do teacutecnico em informaacutetica abastecem o computador com uma base de dados ou de softwares apenas para que os alunos ali se apossem das informaccedilotildees (Masseto 2003)
Neste sentido o layout da sala a disposiccedilatildeo dos conteuacutedos e recursos utilizados diz muito
sobre a concepccedilatildeo de educaccedilatildeo que se propotildee em cursos mediados por tecnologia Na visatildeo de Weber
(2015) o layout dos ambientes virtuais de aprendizagem natildeo constitui apenas ldquouma organizaccedilatildeo de
elementosrdquo mas ldquoespaccedilo de ensino e aprendizagemrdquo E como espaccedilos assim como as estruturas
arquitetocircnicas satildeo pensadas e planejadas a disposiccedilatildeo dos materiais didaacuteticos no espaccedilo virtual revela
a concepccedilatildeo de educaccedilatildeo que determinada proposta de curso se insere Assim como a disposiccedilatildeo do
quadro-negro na sala de aula revela a concepccedilatildeo de educaccedilatildeo ldquobancaacuteriardquo baseada na transmissatildeo de
Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
226
conteuacutedos e recepccedilatildeo passiva dos mesmos pelos alunos como apresentado no capiacutetulo trecircs deste
trabalho a disposiccedilatildeo do material didaacutetico e o layout da sala virtual revelam a concepccedilatildeo de educaccedilatildeo
do curso Apoacutes a consideraccedilatildeo de todas estas particularidades do estado do Tocantins da UFT da UAB
e do curso de Fiacutesica a distacircncia objeto deste estudo a seguir apresentamos o enquadramento
metodoloacutegico desta pesquisa
44 Enquadramento metodoloacutegico da investigaccedilatildeo
O presente estudo trata-se de uma pesquisa qualitativa em que se pretende analisar em que
medida a formaccedilatildeo a distacircncia mediada por tecnologias influencia o grau de literacia dos pesquisados
seu contexto pessoal social e profissional A pesquisa inscreve-se na metodologia de um estudo de
caso tomando como caso especiacutefico os alunos do curso de graduaccedilatildeo em Licenciatura em Fiacutesica a
distacircncia da Universidade Federal do Tocantins A escolha do referido curso foi por se tratar de uma
formaccedilatildeo inicial a distacircncia voltada para professores da rede puacuteblica de ensino O curso foi usado
instrumentalmente pois poderia ter sido usado qualquer outro curso de licenciatura a distacircncia voltado
para formaccedilatildeo de professores
A situaccedilatildeo de atuar como pedagoga na Diretoria de Tecnologias Educacionais da UFT contribuiu
para obter acesso a dados relacionados com o curso em questatildeo e de manter contato permanente
com o coordenador do mesmo Por outro lado dificuldades como conseguir que o maacuteximo possiacutevel de
alunos participantes da pesquisa respondessem aos questionaacuterios on-line e agendar entrevistas com
uma parte da amostra (residentes em cidades do interior do Tocantins) foram desafios enfrentados
pela pesquisadora Por tais motivos tivemos uma atenccedilatildeo especial ao cumprimento dos aspetos eacuteticos
da pesquisa
441 Objetivos da pesquisa
Como jaacute exposto na introduccedilatildeo desta tese o objetivo principal proposto para este estudo
constituiu em analisar as possiacuteveis mudanccedilas que um curso de formaccedilatildeo a distacircncia para professores
da rede puacuteblica pode causar na inclusatildeo sociodigital e literacia digital dos participantes no que diz
respeito as suas respectivas praacuteticas sociais cotidianas e pedagoacutegicas com o uso das tecnologias de
informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo Os objetivos especiacuteficos foram
(1) Compreender o conceito de literacia mediaacuteticadigital e inclusatildeo sociodigital no contexto da sociedade em redes e as implicaccedilotildees da ampla difusatildeo das tecnologias
Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
227
de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo nos processos educativos com foco na formaccedilatildeo de professores
(2) Levantar o perfil socioeconocircmico social e acadecircmico de professores cursistas de uma formaccedilatildeo na modalidade a distacircncia com fins de compreender a relaccedilatildeo destes com as tecnologias no que diz respeito a praacuteticas cotidianas e no contexto pedagoacutegico
(3) Aprofundar a investigaccedilatildeo sobre as possiacuteveis mudanccedilas que um curso de formaccedilatildeo a distacircncia promoveria nas praacuteticas de literacia digital dos professores participantes na vida cotidiana e na sua atuaccedilatildeo docente
(4) Apresentar uma proposta de formaccedilatildeo docente voltada para a literacia digital que contemple a integraccedilatildeo das TDIC na praacutetica pedagoacutegica de forma contiacutenua evolutiva e permanente
Neste sentido a pesquisa de cunho qualitativo pretendeu analisar em que medida a formaccedilatildeo a
distacircncia mediada por tecnologias influencia o grau de literacia dos pesquisados seu contexto pessoal
social e profissional
442 Natureza da pesquisa mista quanti-qualitativa
Neste trabalho utiliza-se a definiccedilatildeo para o termo ldquopesquisardquo de acordo com Ander-egg
(1978 p 29) de que esta se trata de um ldquoprocesso social que utilizando metodologia cientiacutefica
permite novos conhecimentos no campo da realidade socialrdquo A pesquisa natildeo constitui uma atividade
neutra esta traz consigo uma carga de valores conhecimentos interesses e preferecircncias do
pesquisador Ludke (1986 p 3) referindo-se ao pesquisador diante da pesquisa escreveu
Assim a sua visatildeo do mundo os pontos de partida os fundamentos para compreensatildeo e explicaccedilatildeo desse mundo iratildeo influenciar a maneira como ele propotildee suas pesquisas ou em outras palavras os pressupostos que orientam seu pensamento vatildeo tambeacutem nortear sua abordagem de pesquisa
Considerando nossa formaccedilatildeo em niacutevel de mestrado na aacuterea de poliacuteticas sociais em que
realizamos pesquisa de cunho quanti-qualitativo com estudantes de baixa renda de uma universidade
puacuteblica compreendemos que essa abordagem eacute a melhor qualificada para se estudar um fenocircmeno
na perspectiva dos participantes da situaccedilatildeo (Alves 2010) Segundo Bogdan e Taylor (1975) a
abordagem qualitativa permite ao pesquisador maior subjetividade em busca do conhecimento e
disponibiliza um leque maior de procedimentos metodoloacutegicos a serem usados na
investigaccedilatildeoContudo devido ao uso do questionaacuterio e ao tratamento estatiacutestico dos dados esta
pesquisa tambeacutem tem um cunho quantitativo Daiacute que apesar de termos um foco privilegiado na
Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
228
anaacutelise qualitativa a pesquisa tem esta vertente mista combinando a abordagem qualitativa e a
quantitativa
Trivinos (1987) salienta que mesmo um pesquisador experiente ao iniciar sua investigaccedilatildeo
deve apoiar-se de fundamentaccedilatildeo teoacuterica e revisatildeo aprofundada da literatura em torno do toacutepico em
foco O autor explica que a necessidade da teoria surgiraacute em face das interrogativas que surgiratildeo
durante a pesquisa Neste sentido esta pesquisa investigativa cujo relatoacuterio dos resultados estatildeo
descritos nesta tese iniciou-se a partir de revisatildeo teoacuterica da literatura claacutessica e contemporacircnea de
autores que discutem as categorias teoacutericas do estudo sociedade em rede formaccedilatildeo de profesores
inclusao sociodigital e literacia digital
443 Opccedilatildeo metodoloacutegica Estudo de Caso
Escolheu-se o estudo de caso pois este de acordo com Yin (2001 p 20) tem por objetivo
ldquoinvestigar um fenocircmeno contemporacircneo no seu contexto real especialmente quando os limites entre o
fenocircmeno e o contexto natildeo satildeo claramente definidosrdquo Assim o estudo de caso enquanto pesquisa
qualitativa baseia-se no pensamento indutivo que depende fortemente do trabalho de campo usando
fontes de dados muacuteltiplas e variadas
Trivintildeos (1987 p 133) define estudo de caso como ldquouma categoria de pesquisa cujo objeto eacute
uma unidade que se analisa aprofundadamenterdquo O autor explica que esta definiccedilatildeo determina suas
caracteriacutesticas que satildeo dadas por duas circunstacircncias (1) a natureza e abrangecircncia da unidade e (2)
os suportes teoacutericos que servem de orientaccedilatildeo para o trabalho do pesquisador Satildeo em tese estudos
descritivos e exigem uma descriccedilatildeo meticulosa de teacutecnicas modelos e teorias que poderatildeo o orientar a
coleta e interpretaccedilatildeo de dados Para Yin (1993) os estudos de caso podem ser exploratoacuterios
descritivos ou explanatoacuterios Sobre esta tipologia Meirinhos e Osoacuterio (2010 p 57) esclarecem
Os estudos exploratoacuterios tecircm como finalidade definir as questotildees ou hipoacuteteses para uma investigaccedilatildeo posterior Isto eacute satildeo o preluacutedio para uma investigaccedilatildeo subsequente mas natildeo necessariamente um estudo de caso []os estudos descritivos representam a descriccedilatildeo completa de um fenoacutemeno inserido no seu contexto [] Os estudos explanatoacuterios procuram informaccedilatildeo que possibilite o estabelecimento de relaccedilotildees de causa e feito ou seja procuram a causa que melhor explica o fenoacutemeno estudado e todas as suas relaccedilotildees causais
No caso do estudo proposto nesta investigaccedilatildeo trata-se de uma abordagem exploratoacuteria em
que com base nos dados recolhidos e analisados sobre as praacuteticas cotidianas dos professores no
tocante ao uso das tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo no dia-dia e na praacutetica docente a
Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
229
pesquisa revelou um perfil especiacutefico de profissionais da educaccedilatildeo que ainda encontram resistecircncia agraves
tecnologias e sendo poucos qualificados nessa aacuterea acabam excluidos da rede ou agrave margem dela
Para Stake (1999) os estudos de caso satildeo clasificados de acordo com seus objetivos e podem
ser intriacutensecos instrumentais ou coletivos Nos estudos de casos intriacutensecos a atenccedilatildeo eacute voltada
exclusivamente para o caso particular independente da sua relaccedilatildeo com outros casos ou problemas
relacionados Na situaccedilatildeo dos estudos de caso instrumentais o caso em si eacute usado apenas para se
compreender uma problemaacutetica Assim o pesquisador buscando conhecer e compreender um
fenocircmeno se debruccedila num caso particular cuja funccedilatildeo eacute ser um suporte para facilitar a compreensatildeo
de uma problemaacutetica Nos estudos de caso coletivos satildeo estudados vaacuterios casos diferentes com o
objetivo de fazer uma melhor anaacutelise para posterior teorizaccedilatildeo Neste sentido o caraacuteter do presente
estudo de caso eacute de natureza instrumental O curso de licenciatura em Fiacutesica a distacircncia da UFT foi
utilizado instrumentalmente para a investigaccedilatildeo sobre os impactos da formaccedilatildeo a distacircncia na literacia
digital dos cursistas nos acircmbitos de vida cotidiana e praacuteticas pedagoacutegicas
444 Participantes
Os participantes da pesquisa satildeo todos alunos do curso de licenciatura em Fiacutesica a distacircncia
da UFT ingressantes em 2010 e 2012 nos respectivos vestibulares realizados pela UFT Em 2014 (ano
em que foi realizada a primeira etapa da pesquisa de campo) havia 32 alunos matriculados no curso
11 alunos ingressantes no primeiro vestibular de 2010 e 21 alunos com entrada em 2012 No
universo dos 32 alunos matriculados no curso em questatildeo 25 participaram da primeira fase
(questionaacuterios) e dentre estes 6 participaram da segunda fase (entrevistas) do estudo
Os participantes das entrevistas foram selecionados de entre os 25 alunos que responderam o
questionaacuterio on-line conforme os seguintes criteacuterios cursistas de ambos os sexos ingressantes em 2010
e 2012 atuantes e natildeo atuantes em sala de aula residentes na capital do estado do Tocantins e os que
morassem no interior Assim o perfil dos entrevistados eacute o seguinte
bull Entrevistado 1 (E1) ndash professor da rede puacuteblica licenciado em Histoacuteria ingressante em 2010 residente em Palmas Tocantins
bull Entrevistado 2 (E2) - Natildeo atua em sala de aula primeira graduaccedilatildeo ingressante em 2012 residente em Palmas
bull Entrevistado 3 (E3) ndash Professor de atualidade em escola privada( cursinho preacute-vestibular) formado em Recursos Humanos ingressante em 2010 residente em Gurupi Tocantins
bull Entrevistado 4 (E4) ndash Professor de ensino religioso na rede puacuteblica de ensino primeira graduaccedilatildeo ingressante em 2012 residente em Cariri do Tocantins
Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
230
bull Entrevistada 5 (E5) ndash Professora de matemaacutetica na rede puacuteblica de ensino formada em Ciecircncias Contaacutebeis ingressante em 2010 moradora em Gurupi
bull Entrevistada 6 (E6) - Professora de matemaacutetica em rede puacuteblica de ensino licenciada em Matemaacutetica ingressante em 2010 residente em Alvorada do Tocantins
445 Instrumentos da pesquisa
Sobre os instrumentos de coleta de dados a serem usados em uma pesquisa qualitativa
Trivintildeos (1987) salienta que podem ser os mesmos usados para a pesquisa quantitativa Segundo o
autor questionaacuterios e entrevistas ldquosatildeo meios neutros que adquirem vida definida quando o
pesquisador os ilumina com determinada teoriardquo (p 37) Os instrumentos de investigaccedilatildeo utilizados
foram a pesquisa bibliograacutefica e documental e a pesquisa de campo com aplicaccedilatildeo de questionaacuterio
on-line e realizaccedilatildeo de entrevistas semiestruturadas com o objetivo de compreender os impactos da
formaccedilatildeo mediada por tecnologias na literacia digital dos professores
4451 Pesquisa bibliograacutefica e Documental
Inicialmente foi realizado um levantamento bibliograacutefico para a devida compreensatildeo e anaacutelise
aprofundada das categorias de anaacutelise do estudo sociedade em rede formaccedilatildeo de profesores
inclusatildeo sociodigital e literacia digital Com o objetivo de descrever o cenaacuterio da sociedade em rede
pano de fundo da pesquisa em que as tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo avanccedilam cada vez
mais para o interior das escolas foram consultados autores que tecircm uma reflexatildeo significativa sobre o
a sociedade contemporacircnea como o filoacutesofo Pierre Leacutevy (1999) e os socioacutelogos Manuel Castells
(Castells 2005) e Zygmunt Bauman (2001) autores que tecircm servido de embasamento societal
teoacuterico para uma abordagem criacutetica da aacuterea de Tecnologia Educativa Tambeacutem foi realizada uma
revisatildeo de literatura em livros revistas cientiacuteficas artigos e teses de doutoramento que versam sobre o
binocircmio inclusatildeoexclusatildeo sociodigital com o intuito de compreender conceitos do termo e o contexto
em que vivem as pessoas marginalizadas da rede ou sem acesso a ela A revisatildeo bibliograacutefica incluiu
anaacutelise de estudos cientiacuteficos que revelam o perfil do professor frente agraves tecnologias no cotidiano e nas
praacuteticas docentes e ainda foram consultados estudos sobre o papel que os cursos de formaccedilatildeo
docente (inicial e continuada) exercem na literacia digital dos professores participantes Como intuito
de se resgatar o histoacuterico do curso de Fiacutesica da UFT foram consultados relatoacuterios projetos ambiente
virtual e mesmo a coordenaccedilatildeo do mesmo curso para uma melhor compreensatildeo da sua organizaccedilatildeo
logiacutestica e pedagoacutegica
Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
231
4452 Pesquisa de campo
A pesquisa de campo foi realizada em duas fases A primeira consistiu numa sondagem do
perfil socioeconocircmico social e acadecircmico dos participantes e investigaccedilatildeo sobre a relaccedilatildeo destes com
as tecnologias no que diz respeito a praacuteticas cotidianas e no contexto pedagoacutegico Nesta fase o
instrumento utilizado foi o questionaacuterio com questotildees fechadas Na segunda fase foram realizadas
entrevistas (semi-estruturadas) com seis elementos da amostra (cursistas) para compreender de forma
mais aprofundada os impactos da tecnologia no seu cotidiano suas praacuteticas de literacia digital e ainda
se estas promoveram sua inclusatildeo sociodigital na sociedade em rede
a) Questionaacuterio
Lejano (2006) trata o fenocircmeno de uma determinada poliacutetica como algo que soacute pode ser entendido
por algueacutem que tenha experimentado ou vivido no contexto dos fatos Neste sentido a aplicaccedilatildeo de
questionaacuterios fechados com a populaccedilatildeo alvo da pesquisa teve o objetivo de conhecer sua realidade
social suas condiccedilotildees socioeconocircmicas culturais e inclusive do acesso aos meios tecnoloacutegicos Do
total de 32 alunos frequentes do curso (matriculados entre 2010 e 2012) 25 responderam ao
questionaacuterio on-line enviado via e-mail O questionaacuterio foi elaborado no Google Docs e contemplava trecircs
partes
1 Perfil econocircmico sociocultural e sobre uso da internet
2 Escala do uso de tecnologias digitais no cotidiano
3 Escala do uso de tecnologias digitais na praacutetica pedagoacutegica
Para o referido questionaacuterio foi feita uma adaptaccedilatildeo da escala AliDiP ndash Avaliaccedilatildeo da Literacia
Digital para Professores (Joly Martins Almeida Silva Arauacutejo e Vendramini 2014) que mensura a
competecircncia docente no uso de tecnologias digitais no cotidiano e no contexto pedagoacutegico em dois
fatores competecircncia instrumental e competecircncia de gestatildeo pedagoacutegica Segundos os autores da
escala ela eacute resultante de um estudo transcultural (Brasil e Portugal) que apresenta boas
caracteriacutesticas psicomeacutetricas O primeiro fator ldquocompetecircncia instrumentalrdquo (α = 091) agrupa 17 itens
relacionados com os conhecimentos baacutesicos das ferramentas e procedimentos das TDIC e sua
utilizaccedilatildeo no contexto pessoal e profissional O segundo fator designado ldquoCompetecircncia em Gestatildeo
Pedagoacutegicardquo (α = 092) reuacutene 16 itens versando conhecimentos fundamentados das ferramentas TDIC
relativas agraves disciplinas eou aacutereas disciplinares que os professores lecionam traduzindo sobretudo as
Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
232
suas atitudes ou competecircncias pedagoacutegicas relativamente agrave sua utilizaccedilatildeo no seu ensino e nas
aprendizagens dos alunos enquanto recurso pedagoacutegico
No nosso estudo para a construccedilatildeo do questionaacuterio efetuamos uma adaptaccedilatildeo desta escala
para a qual recorremos agrave sua validaccedilatildeo de conteuacutedo junto de trecircs especialistas que aprovaram a
mesma com algumas recomendaccedilotildees como a inserccedilatildeo de uma questatildeo sobre o grau de satisfaccedilatildeo
dos participantes sobre o curso que frequenta e tambeacutem o grau de satisfaccedilatildeo sobre o atendimento do
tutor presencial no polo de apoio As recomendaccedilotildees das especialistas foram acatadas no questionaacuterio
Assim alguns dos itens do 1ordm fator passaram a constituir uma ldquoEscala do uso de tecnologias digitais
no cotidianordquo constituiacuteda por 20 questotildees que abordam o uso das tecnologias pelos participantes no
tocante a atividades cotidianas como obter notiacutecias fazer transaccedilotildees bancaacuterias compras on-line
autoria e disseminaccedilatildeo de conhecimento comunicaccedilatildeo com pessoas distantes e outras e alguns dos
itens do 2ordm fator formaram uma ldquoEscala do uso de tecnologias digitais na praacutetica pedagoacutegicardquo
constituiacuteda por 15 questotildees relacionados ao planejamento e aplicaccedilatildeo de estrateacutegias didaacuteticas com o
uso de tecnologias orientaccedilatildeo e supervisatildeo de atividades mediadas por tecnologias uso das redes
sociais para contato dos alunos fora do ambiente formal das aulas dentre outras Esta adaptaccedilatildeo
resulta de fato de os participantes no estudo serem simultaneamente docentes e cursistas de uma
licenciatura
b) Entrevistas
Segundo Rigotto (1999) as teacutecnicas de relatos orais como um todo coloca o sujeito num lugar
de destaque valorizando as experiecircncias que viveu e o que tem a dizer sobre elas Por isso foi
utilizada outra teacutecnica de pesquisa para complementar o questionaacuterio no caso a entrevista
semiestruturada Para Trivintildeos (1987 p 146) esta teacutecnica de coleta de dados constitui uma
ferramenta eficiente para o pesquisador
Queremos privilegiar a entrevista semi-estruturada porque esta ao mesmo tempo que valoriza a presenccedila do investigador oferece todas as perspectivas possiacuteveis para que o informante alcance a liberdade e a espontaneidade necessaacuterias enriquecendo a investigaccedilatildeo
Assim as entrevistas possibilitam ao pesquisador fazer uma espeacutecie de mergulho em
profundidade coletando indiacutecios dos modos como cada um dos sujeitos percebe e significa sua
realidade e levantando informaccedilotildees consistentes que lhe permitam descrever e compreender a loacutegica
Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
233
que preside as relaccedilotildees que se estabelecem no interior do grupo o que em geral eacute mais difiacutecil obter
com outros instrumentos de coleta de dados
Com o objetivo de aprofundar sobre os impactos da formaccedilatildeo mediada por tecnologias na
literacia digital dos professores realizou-se a entrevista semiestructurada com seis participantes do
curso que responderam o questionaacuterio As entrevistas contemplavam questotildees como trajetoacuteria
acadecircmica razatildeo da escolha pela formaccedilatildeo on-line expectativas e realidades constatadas no curso
possiacuteveis dificuldades com o manuseio das tecnologias concepccedilatildeo do cursista sobre educaccedilatildeo a
distacircncia vivecircncia universitaacuteria e praacutetica pedagoacutegica (se o curso alterou sua visatildeo das tecnologias na
escola) auto avaliaccedilatildeo do niacutevel de literacia praacuteticas pedagoacutegicas mediadas por tecnologia percepccedilatildeo
das tecnologias na escola As entrevistas foram gravadas e posteriormente digitadas em documento
word (Apecircndice 3 p359)
446 Procedimentos de Recolha de dados
Para obter o contato dos cursistas da amostra recorremos ao coordenador do curso de Fiacutesica
Ead para solicitar e-mail e telefone dos respectivos alunos matriculados no curso dentro do periacuteodo de
2010 a 2012 Os cursistas foram contatados por e-mail cujo link para o questionaacuterio on-line foi
disponibilizado No referido e-mail foram fornecidas informaccedilotildees sobre do que se tratava a pesquisa
um convite para o cursista participar e a garantia de que a identidade dos mesmos seria mantida em
sigilo Foram enviados e-mails a 32 alunos dos quais 25 responderam dentro do periacuteodo de 09 de
janeiro de 2014 e 03 de fevereiro de 2015 Muitos cursistas natildeo acessam o e-mail rotineiramente e
natildeo deram retorno sobre o questionaacuterio dentro do primeiro mecircs Considerando que se tratava de mecircs
de feacuterias dos professorescursistas alguns natildeo entravam nos seus e-mails assim em alguns casos
houve necessidade de ligar para os cursistas explicando sobre a pesquisa e solicitando que
participassem No entanto mesmo com as ligaccedilotildees alguns optaram por natildeo participar da pesquisa
Considerou-se que 25 questionaacuterios respondidos (78) constituiu uma amostra vaacutelida tendo em vista o
universo de 32 matriculados
No que diz respeito agraves entrevistas semiestruturadas estas foram realizadas nos polos de
Palmas e Gurupi O coordenador do curso de Fiacutesica a distacircncia informou que o melhor dia para
encontrar os cursistas seria nos saacutebados porque eles compareciam ao polo para grupos de estudos
com a presenccedila do tutor presencial Num saacutebado de marccedilo de 2015 no polo de Palmas encontramos
um grupo de cerca de oito cursistas reunidos para estudar Convidamos para a pesquisa trecircs
Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
234
participantes que atendessem aos criteacuterios e perfil jaacute mencionados anteriormente a amostra teria que
contemplar ambos os sexos cursistas ingressantes em 2010 e 2012 cursistas atuantes e natildeo
atuantes em sala de aula cursistas que morassem na capital do estado do Tocantins e os que
morassem no interior As entrevistas foram individuais e realizadas numa sala de aula do polo (que
fica numa escola de ensino meacutedio)
No polo de Gurupi cidade a 280 km de Palmas agendamos com o tutor presencial daquele
polo uma visita para entrevistar os cursistas da qual foi realizada numa tarde de saacutebado de abril de
2015 Os alunos jaacute haviam sido informados das entrevistas pelo tutor e foram selecionados trecircs de
acordo com os criteacuterios preacute-estabelecidos As entrevistas foram realizadas numa sala do polo tambeacutem
individualmente Todas as entrevistas foram gravadas com o consentimento dos participantes que
tiveram acesso posterior ao aacuteudio da gravaccedilatildeo e a transcriccedilatildeo das mesmas em editor de texto
447 Tratamentos dos dados
No processo de tratamento dos dados a preocupaccedilatildeo foi com a anaacutelise integral das
informaccedilotildees recolhidas nos instrumentos questionaacuterio e entrevistas No que diz respeito ao
questionaacuterio sua elaboraccedilatildeo na ferramenta Google Docs facilitou a tabulaccedilatildeo dos dados pois agrave
medida que os participantes respondiam as informaccedilotildees ficavam disponiacuteveis numa planilha de Excel
A ferramenta Google Docs permitiu tambeacutem a geraccedilatildeo de graacuteficos de dados selecionados por colunas
Assim o tratamento dos dados nessa etapa da pesquisa foi estatiacutestico consistiu em tabular e gerar
planilhas ou tabelas relacionadas com o perfil dos participantes Os dados sobre o uso das tecnologias
no cotidiano e praacutetica docente dos participantes foram comparados com estatiacutesticas de outras regiotildees
ou estados e ateacute mesmo com a meacutedia nacional
Como jaacute exposto o questionaacuterio on-line tinha a finalidade de levantar o perfil social
econocircmico acadecircmico e de uso de tecnologias no cotidiano e na praacutetica pedagoacutegica dos participantes
da pesquisa De acordo com Trivintildeos (1987) eacute possiacutevel o uso de questionaacuterios fechados em pesquisas
qualitativas mas estes devem caracterizar um grupo de acordo com seus traccedilos gerais (atividades
ocupacionais niacutevel de escolaridade estado civil e outras informaccedilotildees de perfil) Neste sentido os
dados recolhidos no questionaacuterio foram reunidos organizados e classificados de acordo com os
objetivos da pesquisa
Os dados das entrevistas semiestruturadas foram tratados no enfoque qualitativo utilizando a
teacutecnica de anaacutelise de conteuacutedo Segundo Bardin (1977) o que caracteriza uma anaacutelise qualitativa eacute o
Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
235
fato de a inferecircncia (deduccedilatildeo pelo raciociacutenio ou loacutegica) ser fundada na presenccedila do iacutendice (o tema
palavra ou personagem) e natildeo sobre a frequecircncia da sua apariccedilatildeo como ocorre na anaacutelise quantitativa
A autora explica
Natildeo se trata de atravessar significantes para atingir significados agrave semelhanccedila de decifraccedilatildeo normal mas atingir atraveacutes de significantes ou de significados (manipulados) outros significados de natureza psicoloacutegica socioloacutegica poliacutetica histoacuterica etc (idem p 41)
Neste sentido dentro do enfoque qualitativo a anaacutelise de conteuacutedo constitui uma teacutecnica
apropriada para investigar posturas percepccedilotildees atitudes motivaccedilotildees presentes no discurso dos
sujeitos dentro do contexto que estes se inserem com fins de compreender as suas representaccedilotildees
associaccedilatildeo de ideias contradiccedilotildees e interesses
4471 Procedimentos da anaacutelise de conteuacutedo
Vala (1990) considera que em niacutevel de investigaccedilatildeo empiacuterica a anaacutelise de conteuacutedo deve ser
voltada aos objetivos do trabalho de investigaccedilatildeo Esta pode descrever fenocircmenos (niacutevel descritivo)
descobrir covariaccedilotildees ou associaccedilotildees entre fenocircmenos (niacutevel correlacional) encontrar relaccedilotildees de
causa-efeito entre fenocircmenos (niacutevel causal) Segundo Bardin (1977 p 42) a anaacutelise de conteuacutedo
constitui
Um conjunto de teacutecnicas de anaacutelise das comunicaccedilotildees visando obter por procedimentos sistemaacuteticos e objetivos de descriccedilatildeo de conteuacutedo das mensagens indicadores (quantitativos ou natildeo) que permitam a inferecircncia de conhecimentos relativos agraves condiccedilotildees de produccedilatildeorecepccedilatildeo (variaacuteveis inferidas) destas mensagens
A teacutecnica de anaacutelise de conteuacutedo abrange diversos procedimentos que dependem dos objetivos
a serem alcanccedilados na pesquisa Minayo (1998 p 93) classifica a anaacutelise de conteuacutedos em diversos
tipos de expressatildeo das relaccedilotildees de avaliaccedilatildeo de enunciaccedilatildeo e categorial temaacutetica Nesta mesma
direccedilatildeo Bardin (1977 p 95) afirma que o desenvolvimento de uma anaacutelise de conteuacutedo eacute processual
e perpassa por trecircs etapas (1) a preacute-anaacutelise (2) a exploraccedilatildeo do material (3) o tratamento dos
resultados a inferecircncia e a interpretaccedilatildeoAssim considerando ambas as visotildees sobre os
procedimentos para a realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo categorial temaacutetica o quadro 10 sistematiza o
roteiro da teacutecnica
Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
236
Quadro 10 - Etapas da anaacutelise de conteuacutedo categorial temaacutetica (Adaptado de Bardin (1977) e Minayo (1998))
Etapas Objetivos Accedilotildees 1ordf etapa preacute-anaacutelise
- Retomada do objeto e objetivos da pesquisa - Seleccedilatildeo inicial dos documentos - definiccedilatildeo de unidades de preacute-anaacutelise registro palavras-chave ou frases e unidade de contexto - delimitaccedilatildeo do contexto (se necessaacuterio)
- Leitura flutuante Contato inicial com os textos captando o conteuacutedo genericamente sem maiores preocupaccedilotildees teacutecnicas Constituiccedilatildeo do corpus seguir normas de validade 1- Exaustividade - dar conta do roteiro 2- Representatividade - dar conta do universo pretendido 3- Homogeneidade - coerecircncia interna de temas teacutecnicas e interlocutores necessaacuterio 4- Pertinecircncia - adequaccedilatildeo ao objeto e objetivos do estudo
2ordf etapa exploraccedilatildeo do material
- Definiccedilatildeo dos iacutendices e elaboraccedilatildeo dos indicadores recortes do texto e categorizaccedilatildeo - preparaccedilatildeo e exploraccedilatildeo do material (alinhamento)
- Desconstituiccedilatildeo do texto em unidadescategorias e isolamento dos elementos - Reagrupamento por categorias para anaacutelise posterior - Classificaccedilatildeo organizaccedilatildeo das mensagens a partir dos elementos divididos
3ordf etapa Tratamento dos dados e interpretaccedilatildeo
- Interpretaccedilatildeo dos dados brutos - Elaboraccedilatildeo de quadro de resultados destacando as informaccedilotildees fornecidas na anaacutelise
Inferecircncias com uma abordagem variantequalitativa com foco nas significaccedilotildees
A partir da compreensatildeo da teacutecnica de anaacutelise de conteuacutedos a etapa de preacute-anaacutelise foi iniciada
com a retomada dos objetivos da pesquisa Considerando que o objetivo da pesquisa eacute investigar se o
fato de estudar em um curso a distacircncia contribuiu para o desenvolvimento da literacia digital dos
estudantes em particular se estes forem professores em processo de formaccedilatildeo as entrevistas
semiestruturadas permitiram aprofundar as questotildees jaacute levantadas sobre o perfil dos participantes
atraveacutes dos questionaacuterios As questotildees da entrevista indagaram subjetivamente se esta formaccedilatildeo a
distacircncia cooperou para a inserccedilatildeo deste formando na sociedade em rede incluindo-o digitalmente e
tornando-o haacutebil para usar as tecnologias criticamente no seu cotidiano e na sua praacutetica docente
Assim a entrevista foi estruturada com o objetivo de captar as expressotildees dos participantes bem
como suas perspectivas e anseios em relaccedilatildeo ao curso de Fiacutesica a distancia da UFT O guiatildeo da
entrevista contemplava os seguintes temas
Trajetoacuteria acadecircmica razatildeo da escolha por um curso a distacircncia Expectativas quando iniciou o curso e percepccedilatildeo atual Provaacuteveis dificuldades e desafios em relaccedilatildeo ao uso da tecnologia Concepccedilatildeo de educaccedilatildeo a distacircncia Percepccedilatildeo sobre cursos a distacircncia Vivecircncia universitaacuteria e praacutetica pedagoacutegica na escola que atua Auto-avaliaccedilatildeo sobre seu niacutevel de literacia digital Interaccedilatildeo com alunos em redes sociais Percepccedilatildeo das tecnologias nas escolas Futuro da educaccedilatildeo a distacircncia
Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
237
Para Moraes (1994) grandes temas de anaacutelise satildeo chamados de categorias a priori Na visatildeo
do autor estas satildeo ldquoconstruccedilotildees que o pesquisador elabora antes de realizar a anaacutelise propriamente
dita dos dados Proveacutem das teorias em que fundamenta o trabalhordquo Para o autor no processo de
desconstruccedilatildeo do texto o que Bardin (1977) chama de exploraccedilatildeo do material a definiccedilatildeo do corpus
da pesquisa inclui a leitura do material a ser analisado com o objetivo de ldquoperceber os sentidos dos
textos em diferentes limites de pormenoresrdquo Trata-se de um processo de desmontagem ou
desintegraccedilatildeo dos textos destacando seus elementos constituintesConsiderando os objetivos desta
pesquisa foram elencadas quatro grandes categorias a priori
1 Intenccedilatildeo e expectativa sobre a formaccedilatildeo a distacircncia 2 Relaccedilatildeo pessoal com as tecnologias 3 Percepccedilatildeo sobre educaccedilatildeo a distacircncia e do curso de Fiacutesica em EaD 4 Tecnologias na praacutetica pedagoacutegica
Estas categorias em niacutevel macro nortearam a construccedilatildeo das categorias emergentes ou
categorias de anaacutelise textual que foram elencadas apoacutes o processo de categorizaccedilatildeo
O passo seguinte constituiu na categorizaccedilatildeo Para Vala (1990 p 111) uma categoria eacute
ldquocomposta por um termo-chave que indica a significaccedilatildeo central do conceito que se quer apreender e
de outros indicadores que descrevem o campo semacircntico do conceitordquo Na visatildeo de Bardin (1977)
categorias satildeo rubricas ou classes que reuacutenem um grupo de elementos com caracteriacutesticas comuns
sob um tiacutetulo geneacuterico A categorizaccedilatildeo consiste em duas etapas isolar os elementos (inventaacuterio) e
classificaacute-los organizando-os Segundo o autor a categorizaccedilatildeo fornece ldquopor condensaccedilatildeo uma
representaccedilatildeo simplificada dos dados brutosrdquo (idem p 119) O criteacuterio de categorizaccedilatildeo pode ser
semacircntico (categorias temaacuteticas) sintaacutetico (verbos e adjetivos) e leacutexico (classificaccedilatildeo das palavras
segundo o seu sentido)
Bardin (1977) explica que a categorizaccedilatildeo pode ser realizada por dois processos fornece-se
um sistema de categorias e os elementos vatildeo sendo inseridos neles agrave medida que satildeo encontrados
como se fossem caixas que organizam por criteacuterios previamente selecionados no outro processo natildeo
se fornece o sistema de categorias e o procedimento eacute fornecido por ldquomilhasrdquo (o analista identifica a
categoria percorrendo a milha em que consiste o corpus da pesquisa) Na pesquisa em questatildeo
utilizamos o primeiro sistema em que as categorias de anaacutelise foram criadas de antematildeo e as
informaccedilotildees encontradas no corpus da pesquisa foram classificados segundo temas comuns
Assim a anaacutelise categorial temaacutetica foi escolhida como teacutecnica para tratamento dos dados
desta pesquisa Minayo (1998) afirma que a anaacutelise categorial temaacutetica deve ser realizada por etapas
Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
238
por intervenccedilotildees de desmembramento do texto em unidades e em categorias com objetivo de fazer um
reagrupamento analiacutetico posterior Portanto esta se efetiva em dois momentos o isolamento dos
elementos e a classificaccedilatildeo ou organizaccedilatildeo das mensagens a partir dos elementos divididos Segundo
a autora esta teacutecnica visa descobrir os nuacutecleos de sentido que compotildeem uma comunicaccedilatildeo cuja
presenccedila ou frequecircncia signifiquem alguma coisa para o objetivo analiacutetico visado empregando-a de
forma mais interpretativa natildeo somente realizando inferecircncias estatiacutesticas O quadro 11 apresenta a
siacutentese das categorias de anaacutelise temaacuteticas retiradas apoacutes preacute-anaacutelise das transcriccedilotildees das entrevistas
semiestruturadas com os participantes
Quadro 9 - Apresentaccedilatildeo das categorias de anaacutelise temaacutetica
Categorias a priori Categorias de anaacutelise temaacutetica
Expectativas e percepccedilatildeo sobre sua formaccedilatildeo a distacircncia
C1- Intenccedilatildeo em fazer curso a distacircncia
C2 - Expectativa sobre o curso de Fisica EaD
Relaccedilatildeo Pessoal com as tecnologias
C3- Percepccedilatildeo sobre as tecnologias no cotidiano
C4- Dificuldades com manuseios das tecnologias
C5- Auto avaliaccedilatildeo da Literacia
C6- Mudanccedilas em relaccedilatildeo agraves tecnologias depois do curso on-line
Visatildeo sobre a Educaccedilatildeo a Distacircncia
C7 - Visatildeo sobre a Educaccedilatildeo a distacircncia
C8 - Percepccedilatildeo sobre o curso de Fisica EaD
C 9 - Indicaccedilatildeo do curso de Fiacutesica a outros
C10 - Futuro da educaccedilatildeo a distacircncia
Tecnologia na Praacutetica Pedagoacutegica
C11 - Percepccedilatildeo da presenccedila das tecnologias na escola
C12 - Dificuldades e desafios da tecnologia na praacutetica docente
C13 - Experiecircncias com tecnologias na escola
Apoacutes a categorizaccedilatildeo o passo seguinte constituiu na definiccedilatildeo das unidades de registros que
segundo Esteves (2006 p 114) se instituem como elementos de significaccedilatildeo a codificar classificar
ou atribuir a uma dada categoria De acordo com Vala (1990 p 114) usualmente existem dois tipos
de unidades as formais e as semacircnticas Unidades de registros formais incluem a palavra a frase
uma personagem a intervenccedilatildeo de um locutor numa discussatildeo uma interaccedilatildeo a outro item As
unidades de registros semacircnticas satildeo baseadas no tema e constituem expressotildees que datildeo sentido ou
significado independente das palavras usadas na mensagem Sobre a unidade de registro semacircnticas
baseada no tema Bardim (1977 p 106) afirma
O tema eacute geralmente utilizado como unidade de registro para estudar motivaccedilotildees de opiniotildees de atitudes de crenccedilas de tendecircncias etc As respostas a questotildees abertas as entrevistas (natildeo directivas ou mais estruturadas) individuais ou de grupo [] podem ser e satildeo frequentemente analisados tendo o tema por base
Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
239
Neste sentido fazer uma anaacutelise de conteuacutedo temaacutetica consiste em desvendar os sentidos que
compotildeem uma mensagem Como afirma Esteves (2006 p 114) ldquouma soacute ideia do emissor da
mensagem pode estar expressa por uma soacute frase por duas ou mais frases articuladas ou por uma
parte de uma frase que conteacutem duas ou mais ideias diferentesrdquo A frequecircncia de uma determinada
expressatildeo tambeacutem pode ter algum significado no contexto da anaacutelise Sobre o processo de ldquorecorterdquo
das unidades de registro a autora escreveu
O recorte das unidades de registro a codificar eacute uma das operaccedilotildees mais delicadas de um processo de anaacutelise temaacutetica ndash implica decidir qual o mais pequeno segmento do discurso dotado de sentido proacuteprio [] certas condiccedilotildees de produccedilatildeo de mensagens ndash a produccedilatildeo oral por exemplo no quadro de uma entrevista satildeo feacuterteis na emissatildeo de frases incompletas na ocorrecircncia de saltos de sentidos dentro de uma mesma frase de repeticcedilotildees que dificultam a delimitaccedilatildeo ou recorte das unidades semacircnticas a codificar pelo analista porque o que lhe interessa eacute isolar os sentidos diversos presentes no que foi dito e natildeo na forma como o foi (idem p 114)
A definiccedilatildeo da unidade de contexto (UC) eacute importante para delimitar o segmento da mensagem
de que a unidade de registro faz parte Esteves (idem p 115) explica que usualmente em protocolos
de entrevistas considera-se cada entrevista como uma unidade de contexto ldquoporque eacute ela na sua
integralidade que permite compreender o sentido de cada unidade de registro que foram recortadas e
que se pretende codificarrdquo Assim na pesquisa em questatildeo cada entrevista transcrita foi considerada
uma unidade de contexto As seis entrevistas foram assim enumeradas E1 E2 E3 E4 E5 e E6
Usamos uma planilha de excel para realizar a categorizaccedilatildeo e extraccedilatildeo das unidades de
registros das entrevistas identificando a respectiva unidade de contexto Segue um exemplo da planilha
elaborada
Quadro 12 - Exemplo de planilha de distribuiccedilatildeo das unidades de registro segundo as categorias temaacuteticas
Categorias a priori Categorias de anaacutelise temaacutetica
Unidade de anaacutelise ou de registro UC
Expectativas e percepccedilatildeo sobre sua formaccedilatildeo a distacircncia
C1 - Intenccedilatildeo em fazer curso a distacircncia
Eu decidi porque sempre quis fazer uma faculdade porque eu natildeo tenho
E4
C2 - Expectativa sobre o curso de Fiacutesica EaD
Este dai eu vou fazer porque natildeo eacute diaacuterio porque a gente que trabalha [] Ai tem mais tempo porque ai eu estudo a hora que eu quero mas eu me enganei
E4
Apoacutes esgotar todas as entrevistas e categorias dividindo em ldquocaixasrdquo as unidades de registro o
passo seguinte foi fazer o reagrupamento por categorias de anaacutelise das expressotildees de todas as
unidades de contexto conforme um exemplo no quadro abaixo
Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
240
Quadro 103 - Descriccedilatildeo da unidade de registro por categorias e unidades de contexto
Categoria Unidade de registro UC
C 1 Intenccedilatildeo em fazer curso
a distacircncia
Aleacutem de querer fazer Fiacutesica eu tinha curiosidade de saber como funcionava E1 O meu trabalho natildeo me propicia eu estar numa sala de aula todos os dias a noite (flexibilidade) E2
Primeiro pela disponibilidade de tempo que eu teria para participar do cursSegundo pelo fato de eu natildeo ter um curso na aacuterea da licenciatura E3 Como era uma oferta de curso de uma instituiccedilatildeo de renome com facilidade de acesso E3
Eu decidi porque sempre quis fazer uma faculdade porque eu natildeo tenho E4
Primeiro por ser UFT universidade federal e segundo porque tenho muita afinidade com fiacutesica com aacutelgebra devido eu ter outra formaccedilatildeo em ciecircncias contaacutebeis E5 Entatildeo para mim que jaacute estava dando aula da mateacuteria eu iria ter licenciatura da mateacuteria que eu jaacute dava aula entatildeo para mim excelente E6
Apoacutes realizaccedilatildeo dos tratamentos dos dados definidas as categorias e unidades de registros a
terceira e ultima fase da analise de conteuacutedo de acordo com Bardin consiste na interpretaccedilatildeo dos
dados A inferecircncia ou seja a operaccedilatildeo logica atraveacutes do qual se admite uma preposiccedilatildeo em virtude
de sua ligaccedilatildeo com outras proposiccedilotildees jaacute aceitas como verdadeiras constitui uma etapa importante no
processo final de analise de conteuacutedos Nesta fase busca-se colocar em relevo as informaccedilotildees
fornecidas pela anaacutelise com objetivo de compreender os sentidos e significados impliacutecitos no discurso
dos entrevistados
Assim as entrevistas passaram por duas anaacutelises diferentes A primeira teve o objetivo de
identificar os conceitos reunindo todos os momentos nos quais cada participante falou sobre uma
categoria especiacutefica Um mesmo trecho ou fragmentos serviram em algumas situaccedilotildees para mostrar
conceitos diferentes Foi construiacutedo um quadro analiacutetico em que foram apresentados os principais
conceitos impliacutecitos em cada unidade de registro e respectivas unidades de contexto
A segunda anaacutelise baseou-se na teacutecnica de anaacutelise da enunciaccedilatildeo de DUnrug (1974) Bardin
(1977) considera este tipo de anaacutelise adequada para entrevistas natildeo diretivas pois esta parte de uma
concepccedilatildeo da comunicaccedilatildeo como processo e natildeo como dado O discurso natildeo implica uma
transposiccedilatildeo transparente de opiniotildees ou representaccedilotildees que existiriam previamente A autora explica
O discurso natildeo eacute um produto acabado mas um momento num processo de elaboraccedilatildeo com tudo o que isso comporta de contradiccedilotildees de incoerecircncias de inperfeiccediloes Isto eacute particularmente evidente nas entrevistas em que a produccedilatildeo eacute ao mesmo tempo espontacircnea e constrangida pela situaccedilatildeo (idem p 170)
Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
241
Neste sentido a anaacutelise da enunciaccedilatildeo permite identificar os polos de possiacuteveis incoerecircncias e
contradiccedilotildees e mostrar tambeacutem os compromissos ou soluccedilotildees construiacutedas durante a entrevista para
dar conta das contradiccedilotildees Para realizar a segunda anaacutelise os textos das entrevistas jaacute dispostos nas
unidades de registro foram divididos em proposiccedilotildees e sequecircncias Bardin (idem p 175) entende por
proposiccedilatildeo ldquouma afirmaccedilatildeo uma declaraccedilatildeo um juiacutezo (ou ate mesmo uma pergunta ou uma
negaccedilatildeo) em suma uma frase ou um elemento da frase que instaure tal como a preposiccedilatildeo logica
uma relaccedilatildeo entre dois ou mais termosrdquo Assim o texto foi medido frase por frase com objetivo de
observar a sucessatildeo de preposiccedilotildees que potildeem em evidencias relaccedilotildees e formas de raciociacutenio
Em seguida realizamos a anaacutelise sequencial em que foram analisados os diversos polos do
discurso durante a entrevista considerando as recorrecircncias conjunccedilotildees e reduccedilotildees De acordo com
DUnrug (1974) satildeo recorrecircncias aqueles casos em que mesmas ideias retornam no discurso em
diferentes contextos e quando se destaca alguma ambivalecircncia em relaccedilatildeo a algum tema Para Bardin
(idem) as recorrecircncias podem se um indicador de importacircncia (frequecircncia de um tema revela o
investimento da pessoa nesse tema) de ambivalecircncia (se o tema ressurge como por um acidente em
diferente contexto a relaccedilatildeo pode ser de desejorecusa) de negaccedilatildeo (voltar sem descanso no mesmo
assunto pode ser o sinal do desejo de convencermos de uma ideia) e da presenccedila indiscutiacutevel da ideia
recusada (repeticcedilatildeo de uma ideia rejeitada pelo subconsciente do entrevistado)
As conjunccedilotildees tecircm por objetivo conciliar ideias incompatiacuteveis assim nas entrevistas o sujeito
sempre que percebe incompatibilidade entre dois fatos ou ideias procura restabelecer a consonacircncia e
a harmonia Bardin (idem) explica que se pode tentar fazer isso pela manipulaccedilatildeo do paradoxo
(reunindo ideias aparentemente inconciliaacuteveis) ou da hipeacuterbole (aumento ou diminuiccedilatildeo excessiva das
coisas) Sobre as reduccedilotildees Bardin cita duas figuras de linguagem mais recorrentes nas analises de
enunciaccedilatildeo
Metoniacutemia Trata-se de uma reduccedilatildeo do tipo logico Consiste em empregar um termo no lugar de outro havendo entre ambos estreita afinidade ou relaccedilatildeo de sentido (ou uma parte eacute tomada pelo todo)Permite chamar a atenccedilatildeo do interlocutor para somente um aspecto para desviar a sua atenccedilatildeo de qualquer coisa por ocultaccedilatildeo Muito utilizada em comunicaccedilotildees de massa como medida subversiva (p183)
Metaacutefora Figura de linguagem do tipo associativo Designa qualquer coisa por outra Geralmente o significante da substituiccedilatildeo eacute mais simboacutelico Linguisticamente a metaacutefora eacute verificada entre dois significantes existindo uma substituiccedilatildeo onde na cadeia significante um assume o lugar do outro numa relaccedilatildeo de analogia(p184)
Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
242
Assim as unidades de registro foram analisadas considerando estes aspectos da analise do
enunciado proposto por DUnrug (1974) e explicitados e difundidos por Bardin (1977)
448 Aspectos eacuteticos
A reflexatildeo teoacuterica sobre a eacutetica convida o pesquisador a examinar suas accedilotildees e os meacutetodos
adotados na pesquisa (Guilhem e Diniz 2008)Segundo Bogdan e Biklen (2013 p 75) duas questotildees
satildeo relevantes no campo da eacutetica relativa agrave pesquisa com seres humanos o consentimento informado
e a proteccedilatildeo dos sujeitos contra a qualquer espeacutecie de danos Os autores afirmam que essas normas
se atentam a assegurar as seguintes prerrogativas (a) Os sujeitos aderem voluntariamente aos projetos
de investigaccedilatildeo cientes da natureza do estudo e dos perigos e obrigaccedilotildees nele envolvidos (b) Os
sujeitos natildeo satildeo expostos a riscos superiores aos ganhos que possam advir
Neste sentido esta pesquisa assegurou de que os participantes tivessem suas identidades
preservadas Nos questionaacuterios enviados via e-mail os participantes foram informados do que tratava a
pesquisa e que os dados seriam analisados de forma global e natildeo individualmente No cabeccedilalho do
formulaacuterio on-line do questionaacuterio constava a informaccedilatildeo de os dados seriam tratados de forma
confidencial e natildeo havia campo para identificaccedilatildeo pessoal Na apresentaccedilatildeo dos resultados as
entrevistas foram tratadas como unidade de contexto e foram identificadas com abreviaccedilotildees e nuacutemero
(E1 E2 E3 E4 E5 e E6) de forma que a identificaccedilatildeo dos entrevistados foi preservada
Bogdan e Biklen (2013) enfatizam a importacircncia do consentimento dos participantes em
participar de entrevistas em que aconteccedila gravaccedilatildeo de conversas eou imagens Assim asseguramos
que os participantes tivessem perfeito conhecimento de que as entrevistas seriam gravadas e
transcritas na iacutentegra Os textos transcritos junto com a respectiva gravaccedilatildeo de cada participante foram
enviados para o e-mail pessoal de cada um para que pudessem contestar qualquer equiacutevoco No
proacuteximo capiacutetulo satildeo apresentados analisados e discutidos os resultados desta pesquisa a partir dos
objetivos propostos
Capiacutetulo 5 Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados
Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados
245
51 Introduccedilatildeo
Seguindo a proposta do projeto de pesquisa deste trabalho apoacutes as operaccedilotildees de campo
realizou-se uma anaacutelise e interpretaccedilatildeo dos dados de acordo com os objetivos previstos Ressaltando
que o foco principal do estudo foi investigar se os cursos de formaccedilatildeo docente on-line contribuem para
o desenvolvimento de praacuteticas de literacia digital dos professores no seu cotidiano e na sua atuaccedilatildeo
docente o estudo de caso realizado com os cursistas da licenciatura em Fiacutesica a distacircncia da UFT
revelou aspectos importantes sobre a realidade do professor em face das tecnologias digitais presentes
no cotidiano e na escola
Segundo Bauer e Gaskell (2002) a finalidade real de uma pesquisa mista (quanti-qualitativa)
natildeo eacute contar opiniotildees ou pessoas antes explorar o espectro de opiniotildees e as diferentes representaccedilotildees
sobre o assunto em questatildeo Portanto todos os dados coletados foram analisados com o intuito de
compreender as percepccedilotildees dos alunos sobre a formaccedilatildeo agrave distacircncia que participaram bem como os
impactos desta no seu contexto social A anaacutelise foi realizada considerando a tabulaccedilatildeo dos dados dos
questionaacuterios (perfil dos participantes da pesquisa e avaliaccedilatildeo de suas competecircncias docentes em
tecnologias digitais da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo) e tambeacutem as categorias a levantar nas entrevistas
Salientando que o trabalho privilegia uma abordagem qualitativa ressalta-se que seu foco eacute
principalmente ldquoa exploraccedilatildeo do conjunto de opiniotildees e representaccedilotildees sociais sobre o tema que
pretende investigar (Gomes 2012 p 79) Neste sentido os dados coletados nas entrevistas satildeo
apresentados por agrupamento das convergecircncias encontradas nos depoimentos dos entrevistados
bem como as divergecircncias e antagonismos achados nos discursos
Neste capiacutetulo satildeo apresentados os resultados da investigaccedilatildeo de acordo com os objetivos
empiacutericos propostos no projeto de pesquisa
(1) Levantar o perfil socioeconocircmico social e acadecircmico de professores cursistas de uma formaccedilatildeo na modalidade a distacircncia com fins de compreender a relaccedilatildeo destes com as tecnologias no que diz respeito a praacuteticas cotidianas e no contexto pedagoacutegico
(2) Aprofundar a investigaccedilatildeo sobre as possiacuteveis mudanccedilas que um curso de formaccedilatildeo a distacircncia promoveria nas praacuteticas de literacia digital dos professores participantes na vida cotidiana e na sua atuaccedilatildeo docente
(3) Apresentar uma proposta de formaccedilatildeo docente voltada para a literacia digital que contemple a integraccedilatildeo das TDIC na praacutetica pedagoacutegica de forma contiacutenua evolutiva e permanente
Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados
246
Assim o texto estaacute dividido em trecircs seccedilotildees A primeira trata do perfil de identificaccedilatildeo dos
participantes da pesquisa no que diz respeito agraves questotildees socioeconocircmicas socioculturais e da
formaccedilatildeo acadecircmica dos mesmos A segunda seccedilatildeo apresenta a anaacutelise dos dados coletados nos
questionaacuterios e entrevistas relacionados ao engajamento dos participantes com as tecnologias no seu
cotidiano A terceira seccedilatildeo expotildee os dados coletados na investigaccedilatildeo referentes ao domiacutenio das
tecnologias por parte dos participantes na sua praacutetica pedagoacutegica E a quarta seccedilatildeo aborda a proposta
de uma formaccedilatildeo voltada para a literacia digital de professores A apresentaccedilatildeo a anaacutelise e discussatildeo
dos resultados foi permeada pela revisatildeo de literatura cuja base teoacuterica fundamenta este estudo
52 Perfil dos professores cursistas
Considerando que esta pesquisa adota a metodologia de um estudo de caso conhecer o
contexto e o perfil dos participantes da pesquisa eacute essencial para se compreender fenocircmenos sociais
complexos Nesse sentido Yin (2005) ao definir um estudo de caso atribui uma importacircncia
significativa ao estudo do contexto em que os indiviacuteduos pesquisados fazem parte ldquoum estudo de caso
eacute uma investigaccedilatildeo empiacuterica que investiga um fenoacutemeno contemporacircneo dentro do seu contexto de
vida real especialmente quando limites entre o fenoacutemeno e o contexto natildeo estatildeo claramente definidosrdquo
(idem p 32) Nesta mesma direccedilatildeo Yacuzzi (2005) se referindo agraves principais caracteriacutesticas de um
estudo de caso afirma que ldquoo seu valor reside em que natildeo apenas se estuda um fenoacutemeno mas
tambeacutem o seu contexto Isto implica a presenccedila de tantas variaacuteveis que o nuacutemero de casos necessaacuterios
para as tratar estatisticamente seria impossiacutevel de estudarrdquo (idem p 9) Portanto tomar conhecimento
do contexto social dos participantes e das diferentes variaacuteveis que influenciam o impacto das
tecnologias na sua vida pessoal e profissional constitui um elemento vital deste estudo de caso Assim
esta seccedilatildeo estaacute organizada em trecircs toacutepicos principais o perfil socioeconocircmico o perfil sociocultural e o
perfil acadecircmico Conhecer o contexto socioeconocircmico sociocultural e acadecircmico dos participantes da
pesquisa contribuiu para a compreensatildeo de determinadas atitudes e comportamentos dos mesmos em
relaccedilatildeo ao uso ou natildeo uso das tecnologias no seu dia-dia e nas praacuteticas pedagoacutegicas
521 Perfil socioeconocircmico
A primeira parte do questionaacuterio buscou traccedilar um perfil de identificaccedilatildeo dos participantes da
pesquisa Os dados colhidos no referido instrumento revelam que a maior parte dos cursistas eacute do sexo
masculino (72) e moram na zona urbana (100) A idade dos participantes varia entre 25 a 34 anos
Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados
247
(36) e 35 a 44 anos (60) Este dado eacute um indicativo que em relaccedilatildeo agraves tecnologias nos diz que um
consideraacutevel nuacutemero dos cursistas eacute ldquoimigrante digitalrdquo ou seja nasceram num periacuteodo em que as
tecnologias ainda estavam em desenvolvimento e tiveram que se adaptar agrave introduccedilatildeo destas no seu
cotidiano
Sobre o perfil socioeconocircmico dos participantes os dados do questionaacuterio indicaram que 48
possuem renda bruta familiar de dois a quatro salaacuterios miacutenimos67(SM) o que eacute considerado no Brasil
proveniente de classe social niacutevel D68 O graacutefico 03 apresenta a distribuiccedilatildeo porcentual de renda dos
participantes
Graacutefico 3 - Renda Familiar Bruta em Salaacuterios Miacutenimos (SM)
Esta informaccedilatildeo constatada no questionaacuterio sobre a situaccedilatildeo econocircmica dos participantes da
pesquisa eacute relevante visto que constitui uma das variaacuteveis importantes para o acesso das pessoas ao
universo das tecnologias Na anaacutelise teoacuterica apresentada no capiacutetulo dois deste trabalho as barreiras
para o acesso agrave internet nos domiciacutelios brasileiros estatildeo associadas a problemas de custo e de
infraestrutura Devido ao alto custo dos equipamentos softwares e conexatildeo muitos preferem acessar a
internet do local de trabalho ou mesmo na casa de amigos fato que pode ser limitante do potencial
das TDIC a estes usuaacuterios Assim pessoas com situaccedilatildeo financeira vulneraacutevel podem ateacute possuir
algum acesso agraves tecnologias mas este eacute limitado e de pouca qualidadeNeste sentido a classe
econocircmica dos participantes indica que tecircm limitaccedilotildees financeiras para adquirir maacutequinas e softwares
com qualidade para utilizarem no seu cotidiano A situaccedilatildeo agrava-se mais em cidades do Tocantins 67 No Brasil um salaacuterio miacutenimo em 2016 era de R$ 88000 convertido em euros na mesma data equivalia em meacutedia a 220 euros 68 Designa-se da classe A segundo o IBGE pessoas cuja renda bruta familiar seja acima de 20 salaacuterios miacutenimos Classe B satildeo aqueles que recebem de 10 a 20SM Classe C de 4 a 10 SM Classe D de 2 a 4 SM e Classe E os que recebem ateacute 2 SM
Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados
248
em que a internet possui uma infraestrutura fraacutegil e precaacuteria 69 A insuficiecircncia econocircmica para
necessidades baacutesicas como moradia alimentaccedilatildeo sauacutede educaccedilatildeo e transporte torna inviaacutevel a
possibilidade de possuir aparelhos modernos com tecnologia digital de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo
eou acesso a uma boa conexatildeo com a rede de internet Fato que pode gerar a exclusatildeo sociodigital
dos professores ou a sua marginalizaccedilatildeo da rede (Demo 2005)
522 Perfil social
No tocante agraves questotildees que envolvem haacutebitos culturais dos participantes a pergunta do
questionaacuterio foi ldquoqual o principal meio de comunicaccedilatildeo mais utilizado para informaccedilotildees sobre os
acontecimentos atuaisrdquo De entre as opccedilotildees apresentadas (jornal raacutedio TV internet conversas com
outras pessoas ou natildeo usa meios de comunicaccedilatildeo de miacutedia para se informar) os dados revelam que
76 dos participantes afirmaram se informar por meio da internet Esta apresenta ser uma tendecircncia
na atualidade as pessoas informam-se pela internet sobretudo pelas redes sociais Tendo em vista
que eacute necessaacuterio selecionar e filtrar os conteuacutedos veiculados na rede de computadores a demanda por
uma formaccedilatildeo voltada para a literacia digital eacute pertinente para este grupo de professores participantes
da pesquisa
Um dado preocupante foi sobre a frequecircncia dos professorescursistas participantes da
pesquisa em programas culturais Quase metade dos participantes natildeo vecircem programas culturais
como se pode observar no graacutefico 04
69 Em um levantamento sobre a Banda Larga no Tocantins nenhum municiacutepio atingiu o niacutevel de 12mbps a 34mbps O levantamento considerou os cinco tipos de faixa de classificaccedilatildeo (0 a 512 Kbps 512 Kbps a 2 Mbps 2 Mbps a 12 Mbps 12 Mbps a 34 Mbps e acima de 34 Mbps) O estudo aponta ainda que existem no Brasil 243 milhotildees de pontos de acesso de banda larga fixa No Tocantins Palmas possui o maior nuacutemero de ponto de acesso com 33440 seguida por Araguaiacutena (12884 pontos) Gurupi (6513 pontos) e Porto Nacional (3505 pontos) Disponiacutevel em lthttpwwwatitudetocombrinternet-discrepancia-na-velocidade-da-banda-larga-no-brasi gt Acesso em 13 mai 2016
Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados
249
Graacutefico 4 - Programas culturais que os participantes tem acesso com mais frequecircncia
Dos participantes apenas seis afirmaram morar na cidade de Palmas capital do estado do
Tocantins os demais moram nas cidades do interior em que os programas culturais como teatro e
cinema satildeo escassos Esta talvez seja a justificativa para que um porcentual significativo dos
participantes afirmarem natildeo terem participado destas modalidades de programas culturais No tocante
agrave frequecircncia nas bibliotecas disponiacuteveis nos polos de apoio presencial 60 dos participantes
afirmaram fazer consultas nas mesmas numa frequecircncia esporaacutedica de 1 a 3 vezes no mecircs Sobre o
domiacutenio de uma liacutengua estrangeira 60 disseram natildeo falar outro idioma para aleacutem do portuguecircs
Ainda foram questionados se o fato de natildeo dominarem uma liacutengua estrangeira (para os que disseram
que natildeo tecircm domiacutenio) dificultava o uso da internet tendo 70 respondido que natildeo
523 Perfil Acadecircmico
No que diz respeito ao perfil de formaccedilatildeo acadecircmica dos participantes da pesquisa 52
responderam no questionaacuterio que jaacute possuem uma graduaccedilatildeo concluiacuteda e 48 satildeo professores da
rede puacuteblica de ensino atuando como docentes na sua maioria (53) por mais de 11 anos Quando
questionados se lecionavam nas suas respectivas aacutereas de formaccedilatildeo 55 disseram que natildeo Esta eacute
uma realidade presente no cotidiano das escolas puacuteblicas principalmente nos estados brasileiros da
regiatildeo Norte e Nordeste Numa pesquisa70 realizado pelo Tribunal de Contas da Uniatildeo (TCU) no Brasil
em 2014 faltavam 32 mil professores com formaccedilatildeo especiacutefica para lecionar no ensino meacutedio da rede
70 Disponiacutevel em httpg1globocomeducacaonoticia201403auditoria-do-tcu-aponta-deficit-de-32-mil-professores-no-ensino-mediohtml Acesso em 13 maio 2016
Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados
250
puacuteblica de ensino Os maiores deacuteficits apontados pelo estudo satildeo de professores com formaccedilatildeo
especiacutefica nas disciplinas de Fiacutesica Quiacutemica e Sociologia Assim os professores de aacutereas afins
lecionam em disciplinas diferentes da sua formaccedilatildeo (exemplo professor de Matemaacutetica que leciona
Fiacutesica ou Quiacutemica) Esta situaccedilatildeo mobiliza os professores a buscarem nos cursos a distacircncia a
possibilidade de formarem na aacuterea que estatildeo lecionando considerando a flexibilidade que essa
modalidade proporciona
Na questatildeo 29 do questionaacuterio buscamos compreender as razotildees de os participantes terem
escolhido fazer um curso na modalidade a distacircncia O graacutefico 05 mostra que um consideraacutevel nuacutemero
de participantes (36) respondeu que optaram por essa modalidade por residirem longe de uma
universidade e outra parte relevante (32) citaram a questatildeo do tempo que natildeo dispunham de tempo
para estudar num curso presencial
Graacutefico 5 - Razotildees pela escolha da modalidade a distacircncia
Assim a modalidade a distacircncia no estado do Tocantins em que as universidades se
concentram praticamente em trecircs cidades (no extremo norte na parte central e no sul) possibilita o
acesso das pessoas que moram no interior ao ensino superior gratuito
Nas entrevistas buscamos aprofundar a compreensatildeo sobre a intenccedilatildeo dos participantes em
fazer um curso na modalidade a distacircncia O que exatamente os levou a se inscreverem num curso a
distacircncia Trata-se de uma questatildeo relevante pois a motivaccedilatildeo do cursista revela muito sobre a
Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados
251
percepccedilatildeo que tem do curso de Fiacutesica EaD e das possiacuteveis mudanccedilas que esta formaccedilatildeo a distacircncia
proporcionou na sua vida pessoal e profissional Um dos participantes revelou que sua intenccedilatildeo foi
movida pela curiosidade de saber se um curso a distacircncia realmente funcionava ldquoaleacutem de querer fazer
Fiacutesica eu tinha curiosidade de saber como funcionavardquo(E1) A flexibilidade que um curso a distacircncia
proporciona foi um fator de peso para o participante E2
O meu trabalho natildeo me propicia eu estar numa sala de aula todos os dias agrave noite [] entatildeo o curso a distacircncia tem esta vantagem porque todo o seu acesso eacute via internet entatildeo isso facilita de onde eu estiver eu acessar as plataformas
Dois participantes citaram o fato de o curso ser ofertado por uma universidade federal de
renome como fator relevante para optarem pela licenciatura em Fiacutesica a distacircncia No Tocantins outras
instituiccedilotildees de ensino superior ofertam cursos de graduaccedilatildeo a distacircncia mas natildeo satildeo gratuitos Assim
a UFT aleacutem da prerrogativa da qualidade do ensino oferece oportunidade de formaccedilatildeo superior
puacuteblica e gratuiacuteta
A oportunidade de graduar na aacuterea que leciona foi pontuada pela participante E6 como
relevante na escolha do curso em questatildeo ldquopara mim que jaacute estava dando aula da mateacuteria eu iria ter
licenciatura da mateacuteria que eu jaacute dava aula entatildeo para mim excelenterdquo Alguns participantes
afirmaram jaacute possuir formaccedilatildeo superior mas optaram pelo curso devido agrave flexibilidade do tempo
possuiacuterem afinidades na aacuterea de Fiacutesica ou porque eram professores mas natildeo tinham formaccedilatildeo em
uma licenciatura
Primeiro pela disponibilidade de tempo que eu teria para participar do curso Segundo pelo fato de eu natildeo ter um curso na aacuterea da licenciatura Comecei a cursar licenciatura e parei E meu curso eacute na parte de administraccedilatildeo natildeo eacute licenciatura e eu estou em sala de aula desde 2002 (E3)
Primeiro por ser UFT universidade federal e segundo porque tenho muita afinidade com fiacutesica e com aacutelgebra devido eu ter outra formaccedilatildeo em ciecircncias contaacutebeis (E5)
Para outros cursistas o curso de Fiacutesica a distacircncia constituiacutea uma oportunidade para a
primeira graduaccedilatildeo por residirem numa cidade que natildeo possui campus de uma universidade puacuteblica
O participante E4 residente num municiacutepio pequeno no interior do Tocantins professor de ensino
religioso desejava graduar na aacuterea das exatas especificamente em Matemaacutetica mas por falta de
oferta pelo curso na regiatildeo ele se propocircs a fazer o curso de Fiacutesica Segue seu relato
Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados
252
Eu decidi porque sempre quis fazer uma faculdade porque eu natildeo tenho mas na aacuterea da matemaacutetica eu gosto da matemaacutetica e aqui na regiatildeo natildeo tinha e ai mudei voltei para caacute natildeo tinha a matemaacutetica agora tem Mas tinha a fiacutesica ai pensei vou fazer tudo incluiacutedo mesmo (E4)
Percebe-se nas expressotildees dos cursistas a importacircncia social que o curso de Fiacutesica EaD
representa na vida dos mesmos Mesmo aqueles que jaacute possuiacuteam uma graduaccedilatildeo o curso agregou
conhecimentos para a docecircncia nas disciplinas que lecionam Para os que cursavam a primeira
graduaccedilatildeo o curso significou a porta de acesso ao ensino superior gratuito cuja entrada estava limitada
por fatores como localizaccedilatildeo geograacutefica limitaccedilatildeo financeira ou indisponibilidade de tempo para um
curso presencial
O questionaacuterio no acircmbito do perfil acadecircmico dos participantes indagou ainda dos
participantes sobre o que achavam do curso de Fiacutesica na modalidade EaD do qual eram alunos O
graacutefico 06 apresenta os resultados
Graacutefico 6 - Percepccedilatildeo dos participantes sobre o curso de Fiacutesica a distacircncia na UFT
Percebe-se portanto um bom grau de satisfaccedilatildeo com o curso da parte dos participantes
Apenas um respondeu que o curso era ruim e dois participantes achavam o mesmo razoaacutevel Nas
entrevistas os cursistas expressaram mais objetivamente suas percepccedilotildees sobre o curso de Fiacutesica em
EaD
Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados
253
Bom as expectativas a princiacutepio era curiosidade saber como seria isso na praticidade um curso de fiacutesica considerando difiacutecil caacutelculos e eu imaginava com algueacutem do seu lado eacute complicado imagina a distacircncia Quando vocecirc tiver duacutevida como vocecirc vai tirar E muita coisa do curso assim as minhas anguacutestias natildeo foram saciadas elas ficaram (E1)
A expectativa era de mudar de aacuterea porque onde eu estou natildeo me daacute muitas condiccedilotildees de tempo para continuar estudando dai mudando de aacuterea que eacute uma aacuterea que eu gosto tambeacutem que eacute a educaccedilatildeo isso dai me faz com que eu tenha mais tempo e condiccedilotildees de dar continuidade aos meus estudos (E2)
Bom eu tinha uma perspectiva de que iria ter um atendimento e uma presenccedila maior dos tutores entendeu que ia ter uma participaccedilatildeo maior dos tutores com relaccedilatildeo a resposta e retorno (E3)
Este daiacute eu vou fazer porque natildeo eacute diaacuterio porque a gente que trabalha [] Ai tem mais tempo porque ai eu estudo a hora que eu quero Mas eu me enganei (E4)
Nota-se que os cursistas tinham expectativas diversas em relaccedilatildeo ao curso Para o participante
E1 a preocupaccedilatildeo era como seria estudar uma aacuterea considerada difiacutecil na modalidade a distacircncia
Afirma que jaacute estava no quinto periacuteodo e que suas anguacutestias natildeo tiveram respostas Outras expressotildees
tambeacutem denotam uma relativa ldquosolidatildeordquo dos cursistas com relaccedilatildeo ao acompanhamento dos tutores e
professores O participante E3 por exemplo parece decepcionado pois esperava ter uma atenccedilatildeo
maior da parte dos tutores visto se tratar de uma formaccedilatildeo a distacircncia Tambeacutem a participante E6
relatou ldquoagraves vezes vocecirc fica meio abandonado agraves vezes a sensaccedilatildeo eacute de abandono agraves vezes vocecirc
precisa ter um professor do lado para tirar uma duvida ou outra vocecirc tem o tutor a distacircncia mas o
corre-corre do diardquo Portanto muitos se sentem frustrados quando iniciam um curso a distacircncia porque
esperam que vaacute ter um suporte e acompanhamento dos tutores e professores e terminam por sentirem
solitaacuterios no curso
O participante E2 que natildeo eacute professor entrou no curso de Fiacutesica EaD com a expectativa que a
licenciatura lhe permitisse mudar da aacuterea teacutecnica para a docecircncia Na expressatildeo do participante E4
quando o mesmo revela que se enganou em relaccedilatildeo agrave metodologia nota-se que ele natildeo pensava na
necessidade de disciplina e organizaccedilatildeo do tempo que se requer num curso a distacircncia A cursista E5
jaacute se surpreendeu com a metodologia a distacircncia acreditava que era inviaacutevel um curso na aacuterea das
exatas ser ofertado nesta modalidade
A minha surpresa foi justamente um curso de exatas a distacircncia vocecirc natildeo ter o professor presente para te explicar entatildeo eu achei que natildeo ia prestar de forma alguma Mas de repente fui surpreendida porque eacute de uma qualidade tatildeo imensa que hoje a gente tem tudo (E5)
Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados
254
Por outro lado a participante E6 jaacute considera que no seu iniacutecio o curso deixou a desejar na
questatildeo da coordenaccedilatildeo A mesma afirmou ldquosempre tem alguns problemas com as coordenaccedilotildees
passamos por vaacuterias coordenaccedilotildees durante nosso periacuteodo algumas coordenaccedilotildees natildeo foram boas
natildeo aconteceu como deveriardquo Assim o curso para alguns surpreendeu positivamente pela qualidade
e para outros deixou a desejar na organizaccedilatildeo administrativa e falta de acompanhamento da parte dos
professores e tutores
As representaccedilotildees e percepccedilotildees dos participantes em relaccedilatildeo ao curso de Fiacutesica EaD apoacutes
anaacutelise aprofundada dos depoimentos nas entrevistas podem ser divididas em trecircs niacuteveis (a) de
conteuacutedo (b) da aprendizagem e (c) da comunicaccedilatildeo e interatividade
(a) Niacutevel de conteuacutedo
Os conteuacutedos na verdade eles satildeo muito sucintos entatildeo vocecirc tem que ir mais (E1)
Agora a minha expectativa eacute que fosse estudar coisas referentes agrave Fiacutesica do ensino meacutedio que eacute o que se propotildee uma licenciatura em Fiacutesica Porque natildeo eacute licenciatura de Fiacutesica de ensino superior soacute que todos nos deparamos dentro do curso com disciplinas extremamente complexas e que natildeo satildeo utilizadas em salas de aulas por mais que o professor tente justificar e tente dizer que eacute (E3)
Este conteuacutedo de fiacutesica que a gente estuda na UFT noacutes jamais iremos usar isso em sala de aula [] Jamais iremos usar em sala de aula o grau de grandeza do que eacute ensinado eacute tatildeo grande esse conhecimento que noacutes natildeo iremos usar no ensino meacutedio (E5)
Observa-se nas expressotildees extraiacutedas das entrevistas um ponto comum sobre o conteuacutedo do
curso de Fiacutesica EaD da UFT eacute sucinto e complexo Os participantes chamam atenccedilatildeo para o grau de
complexidade das disciplinas alegando que estas natildeo seratildeo usadas quando forem lecionar no ensino
meacutedio A participante E5 expressou sua preocupaccedilatildeo neste aspecto ldquoIsso deixa a gente eu mesma
que natildeo tenho tanta praacutetica com sala de aula e nem com Fiacutesica eu acredito assim que nunca vou
usar nunca vou dar contardquo O participante E3 tambeacutem afirma que alguns conteuacutedos natildeo tecircm valor
praacutetico nenhum para os professores que iratildeo lecionar a disciplina de Fiacutesica no ensino meacutedio
Noacutes temos no nosso grupo dois professores um formado em matemaacutetica que quer se graduar em Fiacutesica e um formado em contabilidade que jaacute daacute aula de Fiacutesica e ambos disseram que na segunda e terceira serie do preacute-vestibular natildeo se trabalha alguns conteuacutedos de Caacutelculo I Calculo II e Calculo III Natildeo tem aplicaccedilatildeo Para licenciatura natildeo tem e isso satildeo professores em coleacutegio de ponta da regiatildeo Entatildeo imagina no ensino puacuteblico um local que tem mais carecircncia de ensino nesta aacuterea
Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados
255
O participante E3 conclui que estas disciplinas complexas vatildeo eliminando alunos alguns sendo
reprovados e outros desistem devido a dificuldade dos conteuacutedos Aleacutem do que afasta outros de
ingressarem no curso de Fiacutesica ldquoporque cada um que sai e diz que natildeo dava conta jaacute fala para dois ou
trecircs que jaacute natildeo vatildeo procurarrdquo afirma o participante De fato segundo dados da coordenaccedilatildeo do curso
no vestibular de 2014 foram ofertadas 10 vagas para o polo de Gurupi e 10 vagas para o polo de
Palmas houve apenas dois inscritos para o polo de Gurupi (natildeo sendo possiacutevel abrir turma) e no polo
de Palmas foram matriculados dez cursistas mas apenas seis continuam no curso em 2016 A
questatildeo da evasatildeo natildeo constitui foco deste estudo mas estes dados revelam muito sobre a percepccedilatildeo
que os participantes tecircm do curso
(b) Niacutevel de aprendizagem
Vocecirc tem muita dificuldade de tirar duacutevidas marcar grupo de estudos [] entatildeo as duacutevidas vocecirc natildeo tira praticamente vocecirc tem que estudar quebrar a cabeccedila agora assim ajuda uma coisa te ajuda a ser autodidata e gostar de tecnologia (E1)
A questatildeo da Fiacutesica ela exige que vocecirc tenha uma certa concentraccedilatildeo na expressatildeo que vocecirc estaacute utilizando naquela equaccedilatildeo matemaacutetica equaccedilatildeo fiacutesica (E2)
O que eu vejo que este pessoal que estaacute se formando a distancia eles tecircm um grau de conhecimento muito grande devido a gente ter que se virar sozinho pesquisar (E5)
Nesse curso agora nos temos o diferencial que satildeo as exatas que exigem uma dedicaccedilatildeo maior e muito mais exigente da parte do aluno (E6)
As expressotildees acima demonstram que os participantes sentiram que numa formaccedilatildeo a
distacircncia de qualidade eacute preciso desenvolver qualidades como a autonomia dedicaccedilatildeo e disciplina O
participante E1 usa o termo ldquoautodidatardquo ao se referir a uma das qualidades que o aprendiz desenvolve
na modalidade a distacircncia De acordo com o dicionaacuterio Aureacutelio on-line71 autodidata eacute uma pessoa que
instrui a si mesma ou mestre de si mesmo Neste sentido o curso a distacircncia proporciona maiores
oportunidades para o aprendiz desenvolver sua autonomia Segundo Preti (1996) a autonomia na
aprendizagem exige disciplina planejamento decisatildeo organizaccedilatildeo persistecircncia motivaccedilatildeo avaliaccedilatildeo
e responsabilidade No entanto o autor explica que a instituiccedilatildeo ofertante ldquodeve oferecer suportes e
estruturar um sistema que viabilizem e incentivem a autonomia dos estudantes nos processos de
aprendizagemrdquo (idem p 25) Assim autonomia natildeo eacute sinocircnimo de abandono ou deixar os cursistas
sozinhos ldquoconstruindo o seu conhecimentordquo
71 Disponiacutevel em httpsdicionariodoaureliocomautodidata Acesso em 27 jun 2016
Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados
256
A modalidade EaD de fato exige um maior niacutevel de esforccedilo do estudante em manter-se
focado e motivado para os estudos O mercado de trabalho exige cada vez mais profissionais
independentes autocircnomos e com capacidade de manuseio das ferramentas tecnoloacutegicas numa visatildeo
criacutetica e inovadora Sobre este aspecto Andreacute e Costa (2004 p 85) afirmaram
A era do conhecimento requer cada vez mais que as pessoas sejam capazes de construir conhecimentos e habilidades com outros e transmitir-lhes o que sabem instigando-os a enriquecerem seus horizontes vitais e estimulando-os ao desenvolvimento contiacutenuo de seus potenciais ao longo da vida Aleacutem disso a melhor forma de aprender eacute ensinar
Neste sentido a educaccedilatildeo a distacircncia ofertada em instituiccedilotildees de ensino de qualidade apoiada
por uma equipe pedagoacutegica que decirc o necessaacuterio suporte de acompanhamento aos estudantes
contribui para que os mesmos desenvolvam a autonomia nos processos de aprendizagem No entanto
a falta deste acompanhamento pode surtir um efeito contraacuterio e os estudantes sentirem-se sozinhos e
abandonados no processo
( c ) Niacutevel de comunicaccedilatildeo e interatividade
No comeccedilo muitas pessoas desistiram porque vocecirc mandava a pergunta e natildeo tinha resposta natildeo tinha este feedback dos professores estava complicado o curso estava meio largado (E3)
Quando vocecirc tem retorno raacutepido aiacute eacute bom Igual aqui noacutes temos provas de 15 em 15 dias ai vocecirc ta na duacutevida e ela demora a ser respondida ai chega perto da prova vocecirc tem aquela duacutevida e e ai (E4)
Nesse periacuteodo agora noacutes [temos] um diaacutelogo muito mais estreito com os professores e cada periacuteodo que passa a gente vai se aproximando mais Em relaccedilatildeo ao primeiro periacuteodo foi peacutessimo essa questatildeo da interatividade (E5)
Entatildeo a comunicaccedilatildeo ai trava muito desmotiva muito e espanta inclusive novos alunos para a EaD []as vezes vocecirc fica meio abandonado agraves vezes a sensaccedilatildeo eacute de abandono agraves vezes vocecirc precisa ter um professor do lado para tirar uma duacutevida ou outra (E6)
Os excertos acima extraiacutedos das entrevistas revelam as angustias da maior parte dos
entrevistados no que diz respeito agrave comunicaccedilatildeo e a interatividade no curso Uma questatildeo recorrente eacute
a demora no retorno (feedback) dos professores e tutores para responder agraves duacutevidas dos cursistas
Percebe-se nos depoimentos que no iniacutecio do curso a situaccedilatildeo da interatividade entre cursistas e
professores eou tutores era bastante criacutetica e que com o passar dos semestres foi melhorando Outra
participante apresenta queixa com relaccedilatildeo ao niacutevel de dificuldade de alguns conteuacutedos e da
Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados
257
necessidade de mais momentos presenciais durantes estas para tornar possiacutevel que os cursistas tirem
suas duacutevidas
Entatildeo se tiver um pouco mais de apoio uma parte maior de presencial somente para essas mateacuterias especificas talvez fosse o diferencial entre o curso de fiacutesica e matemaacutetica natildeo morrer e progredir [] desmotiva muito essa solidatildeo em certas mateacuterias entatildeo talvez alguma complementaccedilatildeo um complemento para certos niacuteveis de mateacuterias seria interessante (E6)
Compreende-se deste excerto que este participante compartilha sua sensaccedilatildeo de solidatildeo em
alguns momentos do curso principalmente nas disciplinas (mateacuterias) que satildeo mais complexas Neste
aspecto Preti (1996) lembra que em cursos mediados por tecnologias a comunicaccedilatildeo deve ser
biredicional ldquoo estudante natildeo eacute mero receptor de informaccedilotildees de mensagens apesar da distacircncia
buscam-se estabelecer relaccedilotildees dialogais criativas criacuteticas e participativasrdquo(idem p 25) O autor
ressalta que a relaccedilatildeo educativa entre estudante e professor na EaD natildeo eacute direta mas sim mediada
Neste sentido a comunicaccedilatildeo deve ser sem entraves com fluxo livre e de feedback raacutepido O que
parece natildeo ter ocorrido durante o curso de Fiacutesica em tela segundo os depoimentos dos entrevistados
Perguntamos aos entrevistados se recomendariam o curso de Fiacutesica EaD da UFT para outras
pessoas O participante E1 recomenda o curso com algumas ressalvas
Eu indicaria acredito que eacute algo que todo mundo deveria conhecer Soacute que eu indicaria fazer um presencial para ela ter uma comparaccedilatildeo [] mesmo que natildeo eacute o curso ideal mas se naquele momento eacute aquele que daacute para vocecirc fazer entatildeo faccedila depois vocecirc consegue fazer outro [] eu acredito que eacute uma educaccedilatildeo boa mas que a pessoa deveria fazer um comparativo ter as duas experiecircncias [] Eu tiro por mim eu tenho vontade de fazer Fiacutesica mas assim se fosse meu primeiro curso superior eu natildeo faria telepresencial a distacircncia eu faria presencial mesmo
Assim o participante E1 afirma que recomendaria o curso mas acha que a pessoa tem que
ter as duas experiecircncias primeiro um curso presencial e soacute depois outro curso na modalidade a
distacircncia Algumas razotildees subentendidas no contexto do depoimento do referido participante satildeo que
as pessoas natildeo compreendem plenamente como eacute estudar a distacircncia e ingressam em cursos nessa
modalidade com uma ideia preconcebida de que vai se faacutecil e que natildeo precisaratildeo fazer esforccedilos logo
estatildeo frustrados pois estes cursos talvez natildeo atendam as suas expectativas O participante explicou
ldquoentatildeo assim as pessoas natildeo entram com esta ideia de pesquisador de se empolgar com o estudo
entatildeo se faz por fazerrdquo Neste sentido compreende-se que o participante E1 acredite que a educaccedilatildeo a
distancia exige certo grau de amadurecimento do estudante
O participante E2 disse que indicaria o curso e inclusive jaacute o fez com um colega de trabalho
Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados
258
Uma pessoa que fez o curso teacutecnico junto comigo eu falei para ela do curso a distancia de Fiacutesica na aacuterea de exata que tem muito a ver tambeacutem com o curso de eletroteacutecnica ele achou bastante interessante a ideia ele fez o vestibular e estaacute cursando hoje o primeiro periacuteodo
Embora indique o curso de Fiacutesica EaD o participante E3 como jaacute o fez para dois ex-alunos que
gostam muito de Fiacutesica ressalta que somente as observaccedilotildees que o mesmo fez com relaccedilatildeo agrave
complexidade do conteuacutedo e agrave falta de feedback da equipe de tutoria sejam analisadas pela gestatildeo e
resolvidas Ainda sobre a indicaccedilatildeo o participante E4 respondeu ldquoSim Apesar das dificuldades que a
gente teve no iniacutecio mas todo comeccedilo eacute difiacutecil mas depois a gente vai vendo que vai aprendendo mais
atraveacutes das viacutedeos aulasrdquo A participante E5 respondeu sorrindo que indicaria mas que ningueacutem quer
As expressotildees dos entrevistados de modo geral demonstram que satildeo favoraacuteveis a indicar o curso o
que sugere a sua satisfaccedilatildeo com o curso mesmo que alguns tenham observaccedilotildees sobre melhorias
que devem ser implementadas no mesmo
Quando perguntamos que polo de apoio presencial o participante frequentava a maior parte
(52) afirmou pertencer ao polo de Palmas a capital administrativa do Tocantins As demais cidades
que concentram polos tiveram a seguinte distribuiccedilatildeo de cursistas Ananaacutes (22) Cristalacircndia (16) e
Gurupi (12) Sobre a frequecircncia que vatildeo ao polo 48 afirmaram ir quinzenalmente 36 uma vez por
semana e 12 visitam o polo ateacute duas vezes por semana Indagamos se o cursista solicitou ajuda de
um tutor presencial no polo para ajudaacute-lo em alguma atividade e 88 responderam que sim Sobre a
ajuda 80 afirmaram ficar satisfeitos com a intervenccedilatildeo do tutor A uacuteltima questatildeo sobre a vida
acadecircmica dos participantes averiguava se o cursista jaacute tinha pensando em desistir do curso por falta
de habilidade com o uso de computador com internet e 76 disseram que natildeo
Percebe-se portanto com base nos dados que os participantes da pesquisa apresentam um
perfil homogecircneo na sua maioria de professores da rede baacutesica pertecentes a mesma faixa econocircmica
(classe D) frequentam poucos programas culturais e moram no interior do estado do Tocantins Alguns
ingressaram na graduaccedilatildeo a distacircncia como uma possibilidade de graduar na aacuterea que jaacute atuam
outros porque era a uacutenica opccedilatildeo de estudo na regiatildeo em que residem Sobre o curso encontraram
dificuldades no iniacutecio da formaccedilatildeo porque de fato natildeo conheciam a modalidade a distacircncia o que
ocasionou surpresas para alguns e expectativas frustradas para outros Percebe-se uma dificuldade
com a autonomia que a formaccedilatildeo a distacircncia demanda nos registros em que alguns se queixam
sentirem-se sozinhos ou abandonadosEsta questatildeo se relaciona com o fato de alguns terem maior
contato com as TDIC apenas depois que iniciaram o curso Neste sentido a sondagem sobre o uso das
Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados
259
TDIC no cotidiano dos professores participantes eacute importante para a constataccedilatildeo dos niacuteveis de literacia
digital dos mesmos
53 Professores e uso das TDIC no cotidiano
Tendo em vista o foco deste estudo que buscou investigar se um curso de formaccedilatildeo a distacircncia
propicia aos participantes maiores habilidades para a literacia digital esta seccedilatildeo apresenta os dados
coletados nos questionaacuterios bem como as impressotildees e percepccedilotildees inferidas nas entrevistas que
buscaram retratar um perfil dos participantes no tocante ao uso das tecnologias nas suas praacuteticas
cotidianas Sobretudo as entrevistas buscaram investigar as provaacuteveis dificuldades encontradas nesse
campo bem como as possiacuteveis mudanccedilas ocorridas na relaccedilatildeo dos mesmos com as tecnologias
depois do ingresso no curso de Fiacutesica EaD
A apresentaccedilatildeo dos resultados estaacute organizada em quatro subseccedilotildees (1) Dados sobre posse
de equipamentos tipos de conexotildees e locais de acesso (2) Uso de Tecnologias no cotidiano (3) Uso
de celular com internet (4) Experiecircncia com as tecnologias e niacutevel de literacia digital
531 Dados sobre posse de equipamentos tipos de conexotildees e locais de acesso
Como abordado no capiacutetulo dois deste trabalho a variaccedilatildeo de posse dos meios teacutecnicos
(hardware e conexotildees) resulta de um niacutevel de desigualdade que impede o aproveitamento do potencial
das TDIC DiMaggio e Hargittai (2001) afirmaram que aqueles usuaacuterios de aparato teacutecnico inferior
tecircm benefiacutecios reduzidos Por exemplo usuaacuterios com conexotildees lentas software e hardware antigos
encontram dificuldades de acessar determinados sites e tambeacutem reduz as chances do usuaacuterio obter
uma experiecircncia gratificante na internet restringindo-os a usaacute-la em ocasiotildees realmente necessaacuterias
Os autores citam que outra desigualdade refere-se agrave autonomia no uso da internet Esta questatildeo diz
respeito a onde e em que condiccedilotildees os usuaacuterios tecircm acesso Existe uma clara diferenccedila de usufruto da
experiecircncia com as TDIC do usuaacuterio que acessa a internet em casa daquele que precisa acessar em
outros lugares como no trabalho ou lan house Neste sentido a segunda seccedilatildeo do questionaacuterio
procurou investigar o tipo de equipamentos conexotildees e lugar de acesso dos participantes da pesquisa
As questotildees 15 a 17 do questionaacuterio eram direcionadas apenas aos que afirmassem ter
computador em casa Na questatildeo 15 solicitou-se aos participantes que indicassem os equipamentos
ou dispositivos relacionados agrave tecnologia de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo que possuem em casa As
alternativas apresentadas (o participante podia assinalar mais que uma) e os percentuais de
Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados
260
afirmativas de posse dos equipamentos foram computador de mesa (32) notebook (72)
impressora (40) scanner (28) ligaccedilatildeo a internet (76) tablet (28) smartphone (36) Percebe-se
uma tendecircncia de queda do uso de computador de mesa para acesso a internet como apontado na
Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios (PNAD2014) suplemento de Tecnologias da Informaccedilatildeo
e Comunicaccedilatildeo (TIC)72 realizada pelo Comitecirc Gestor da Internet no Brasil (CGIbr 2015) A pesquisa
aponta que essa eacute uma tendecircncia no Brasil em que o acesso agrave internet via celular (804) ultrapassou
o uso de computadores (766) para esta funccedilatildeo O estudo revela ainda que em 881 dos domiciacutelios
particulares no Tocantins o acesso agrave internet eacute via celular em contraponto com o uso do computador
de mesa (65)
No entanto verificamos que para os participantes da amostra do nosso estudo o acesso agrave
internet ocorre mais frequentemente pelo notebook O baixo iacutendice de presenccedila do dispositivo tablet
nas residecircncias dos participantes (28) tambeacutem acompanha a tendecircncia nacional Na pesquisa ldquoTIC
Domiciacutelios 2014rdquo enquanto o computador de mesa estaacute presente em 56 dos domiciacutelios e o notebook
em 60 o tablet apresenta uma presenccedila mediana de 33 Ainda dentro do bloco de acesso e uso da
internet o questionaacuterio sondou o tipo de internet dos cursistas da licenciatura em Fiacutesica a distacircncia da
UFT Esta questatildeo eacute pertinente considerando que a qualidade do acesso e da navegaccedilatildeo depende do
tipo de conexatildeo utilizada (Warschauer 2003) Os resultados apontaram um equiliacutebrio entre o uso de
banda larga fixa via linha telefocircnica (478) e banda larga via raacutedio (478)
Sobre a velocidade da conexatildeo os participantes indicaram na sua maioria (522) a
velocidade de mais de 1 Mbps a 2 Mbps Trata-se de uma conexatildeo de qualidade questionaacutevel visto
que a velocidade de internet ideal seria acima de 20 Mpps (meacutedia da internet da Coreia do Sul liacuteder do
ranking mundial de conexotildees mais raacutepidas do mundo 73 ) Neste sentido a velocidade de conexatildeo
apontada pelos participantes da pesquisa configura-se lenta para os padrotildees miacutenimos necessaacuterios
Dos participantes da pesquisa 12 afirmaram natildeo ter internet em casa O questionaacuterio sondou
o motivo e 50 responderam que achavam o custo da internet pesado e natildeo podiam pagar Galperin
(2015) pesquisou sobre as barreiras para a conectividade da internet na Ameacuterica Latina e os
resultados revelaram que ldquoapesar da queda significativa nos preccedilos do acesso agrave internet nos uacuteltimos
cinco anos o custo dos serviccedilos continua sendo uma importante barreira para o usordquo (idem p 62) A
72 Disponiacutevel em httpceticbrmediadocspublicacoes2TIC_Domicilios_2014_livro_eletronicopdf Acesso em 16 maio 2016 73 A velocidade meacutedia da internet mundial eacute de 38 Mbps No Brasil a meacutedia nacional em 2016 era de 27 Mbps Disponiacutevel em httpstecnoblognet155343velocidade-internet-brasil-akamai-relatorio-2013 Acesso em 16 maio 2016
Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados
261
pesquisa ldquoTIC Domiciacutelios 2014rdquo tambeacutem apontou o custo elevado dos serviccedilos como o principal
motivo para natildeo ter acesso agrave internet citado em 49 dos domiciacutelios sem conexatildeo o que indica que a
internet segue sendo um item de alto custo para o orccedilamento dos brasileiros A referida pesquisa
indica que os maiores niacuteveis de exclusatildeo (famiacutelias sem acesso agrave internet) satildeo verificados entre as
classes C e D e E bem como populaccedilotildees residentes em aacutereas rurais e em algumas aacutereas das regiotildees
Norte e Nordeste do Brasil
No que respeita ao local em que a maioria dos cursistas fazem acesso o questionaacuterio verificou
que 31 fazem o acesso em casa 24 acessam no trabalho e 19 dos professores utilizam o
laboratoacuterio de informaacutetica da escola para realizarem suas atividades on-line Outras opccedilotildees do
questionaacuterio (o participante podia marcar mais de uma alternativa de local) foram o acesso em locais
puacuteblicos com wifi (14) casa de amigos e familiares (7) e lan house (6) Esta sondagem trata-se do
acesso em computadores de mesa ou notebooks o acesso da internet pelo smartphone foi tratada em
uma questatildeo diferente do questionaacuterio Percebe-se que o acesso dos cursistas eacute equilibrado entre a
sua residecircncia e o local de trabalho Alguns participantes marcaram mais de uma opccedilatildeo denotando
que o acesso agrave internet natildeo eacute uma problemaacutetica marcante pois todos possuem algum acesso agrave
internet
Portanto sobre a posse de equipamentos de informaacutetica os dados mostram que os
professores possuem equipamentos baacutesicos como computadores de mesa e notebook nas suas
residecircncias Fazem pouco uso de tablets e possuem uma conexatildeo de internet ruim comparada aos
padrotildees ideais Este uacuteltimo dado pode ser um limitador das potencialidades das TDIC na vida cotidiana
dos participantes da pesquisa considerando que a maioria dos cursistas moram em cidades do
interior onde o sinal de internet eacute fraco No toacutepico a seguir apresentamos mais detalhadamente o uso
das tecnologias no dia-dia dos participantes
532 Uso de tecnologias no cotidiano
A segunda parte do questionaacuterio intitulada ldquoEscala do uso das tecnologias no cotidianordquo
abordou questotildees mais especiacuteficas pertinentes ao uso dos recursos digitais pelos participantes na sua
rotina diaacuteria Constituindo uma escala a questatildeo uacutenica era ldquoAssinale (com um ldquoXrdquo) a frequecircncia com
que utiliza as Tecnologias Digitais da Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo no seu dia-a-diardquo Foram
apresentadas opccedilotildees de diferentes recursos tecnoloacutegicos dos quais o participante deveria assinalar
quais fazia uso e com que frequecircncia Os recursos foram divididos em trecircs dimensotildees (1) Hardware
Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados
262
(2) Software e (3) Internet As alternativas de frequecircncia eram ldquonatildeo usardquo ldquouso esporaacutedicordquo (1 a 3
vezes por mecircs) ldquouso semanalrdquo ou ldquouso diaacuteriordquo
A dimensatildeo Hardware trata dos aparelhos tecnoloacutegicos que os participantes da pesquisa fazem
uso e sua respectiva frequecircncia O graacutefico 07 apresenta os resultados coletados no questionaacuterio
Nota-se que o computador (96) seguido do notebook (66) constituem os dispositivos mais
utilizados pelos cursistas Por outro lado 68 dos participantes revelaram natildeo fazer uso do tablet o
que jaacute havia sido constatado na primeira parte do questionaacuterio em que apenas 28 afirmaram possuir
o dispositivo Trata-se de um dado interessante que diz muito sobre as possibilidades de acesso dos
participantes agraves tecnologias o que pode estar relacionado ao poder de compra ou mesmo a uma
escolha pessoal de natildeo desejar obter determinado dispositivo tecnoloacutegico por falta de familiaridade
com seu manuseio (Balboni 2007)
A dimensatildeo Software considera os aplicativos mais utilizados pelos participantes no seu
cotidiano e sua respectiva frequecircncia No mesmo formato do enunciado da questatildeo da dimensatildeo
Hardware a questatildeo 35 contemplava a frequecircncia dos usos de software pelos participantes A
pesquisa revelou que os softwares mais utilizados satildeo o navegador e buscador web (84) o editor de
texto (60) e o leitor de documentos (44) conforme pode ser visualizado no graacutefico 8
Graacutefico 7 - Recursos tecnoloacutegicos mais utilizados segundo os professores
0 20 40 60 80
100 computador
tablets
mp3
DVD
Data-show
celular
AVA
Notebook
natildeo usa
uso esporaacutedico
uso semanal
uso diaacuterio
Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados
263
Graacutefico 8 - Softwares mais utilizados pelos participantes
Percebe-se assim uma tendecircncia da parte dos participantes para o uso das aplicaccedilotildees menos
complexas das tecnologias Nas entrevistas realizadas com alguns dos cursistas muitos discursos
revelaram certo despreparo com as tecnologias e portanto a negaccedilatildeo de usar alguns aplicativos que
exigem um conhecimento teacutecnico aprofundado dos softwares
Eu jaacute natildeo gosto de tecnologia ainda preciso me adaptar a isso natildeo gosto muito de ficar em computador cinco seis horas durante o dia isso natildeo era minha praacutetica (E1)
No inicio foi difiacutecil eu mal conseguia acessar o moodle (E4)
Essas afirmativas revelam que alguns dos participantes da pesquisa iniciaram o curso de Fiacutesica
a distacircncia com algumas limitaccedilotildees com relaccedilatildeo ao uso do computador e seus programas Na fala do
participante E1 nota-se que houve necessidade de adaptaccedilatildeo ao uso das TDIC durante o curso
A sondagem do uso das TDIC no cotidiano buscou verificar o tipo de aplicatiso que os
participantes utilizam no dia-dia Os aplicativos presentes nos celulares e tablets introduziram novos
costumes e praacuteticas dos usuaacuterios com seus dispositivos Segundo Matias (2011)
Vivemos uma era em que o celular natildeo eacute mais soacute um aparelho para fazer ligaccedilotildees ou conectar-se agrave internet Com programas especiacuteficos ele se metamorfoseia em todo tipo de ferramenta Haacute aplicativos para achar o carro no estacionamento que
0 20 40 60 80
100
Editor de texto
Ferramenta de
apresentaccedilatildeo
Navegador e buscador
web
Planilha de caacutelculo
Leitor de documento
Imagens e viacutedeos
tutoriais e simuladores natildeo usa
uso esporaacutedico
uso semanal
uso diaacuterio
Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados
264
traccedilam o percurso que vocecirc precisa percorrer para chegar a algum lugar que diz quais constelaccedilotildees estatildeo acima de sua cabeccedila que convertem medidas e moedas que permitem ediccedilatildeo de fotos e viacutedeos entre um sem-nuacutemero de opccedilotildees
Assim os aplicativos disponiacuteveis nos dispositivos portaacuteteis e nos computadores em geral
permitem ao usuaacuterio infinitas opccedilotildees de atividades que vatildeo desde a conversar com pessoas distantes
por mensagem viacutedeo e voz como tambeacutem realizar transaccedilotildees bancaacuterias e compras sem sair de casa
A este respeito na dimensatildeo ldquoUso da internetrdquo abordada na primeira parte do questionaacuterio os
participantes mostraram-se propensos a seguir a mesma tendecircncia ateacute aqui observada evitam
atividades mais complexas e limitam-se a tarefas simples Conforme apresentado no graacutefico 12 a
linha azul mostra que o Blog (60) Voip Skype (60) e Jogos virtuais (80) satildeo os aplicativos menos
usados pelos participantes Os mais utilizados satildeo navegaccedilatildeo na internet (88) acesso a e-mail (84)
e redes sociais (64) Assim percebe-se que os participantes da pesquisa natildeo estatildeo completamente
ldquoforardquo ou ldquoexcluiacutedosrdquo da rede subentende-se pelos dados coletados que eles tecircm um acesso baacutesico e
fazem um uso limitado dos aplicativos dos seus dispositivos como revela o graacutefico 09
Graacutefico 9 - Aplicativos de internet mais utilizados pelos participantes
O graacutefico sinaliza que os participantes de alguma forma estatildeo on-line na rede de
computadores No entanto o fato dos cursistas terem acesso agrave internet nos seus dispositivos moacuteveis
no computador de mesa na sua casa ou em outros lugares como na escola e no trabalho natildeo diz
muito a respeito da literacia digital dos mesmos (Alves e Silva 2015) Conforme explicitado por
0 20 40 60 80
100 Internet
Blog
Biblioteca virtual
Redes sociais Voip (Skype)
E-book
You tube
Jogos virtuais
natildeo usa
uso esporaacutedico
uso semanal
uso diaacuterio
Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados
265
DiMaggio e Hargittai (2001) a questatildeo eacute o que as pessoas estatildeo fazendo e o que elas satildeo capazes de
fazer quando estatildeo on-line Os autores criticam estudos que caracterizam a exclusatildeo sociodigital
medida pelos nuacutemero de acessos e quantidade de computadores com internet nas residecircncias com o
argumento de que a ampliaccedilatildeo do acesso a alguns grupos antes excluiacutedos digitalmente passa pela
qualidade da conexatildeo e o uso pleno das informaccedilotildees obtidas Neste sentido a questatildeo 36 indagava
dos participantes sobre o que conseguem fazer quando estatildeo on-line ou seja que usos fazem das
aplicaccedilotildees disponiacuteveis na rede O questionaacuterio sugere algumas atividades que podem ser realizadas na
internet e os participantes deviam assinalar a frequecircncia de sua utilizaccedilatildeo fazendo uso dos valores
ldquoNuncardquo ldquoAlgumas vezesrdquo Muitas vezesrdquo ou ldquoSemprerdquo
Retomando o conceito de literacia digital que trata da ldquocapacidade de compreender e criar
comunicaccedilotildees numa variedade de contextosrdquo (Joatildeo e Menezes 2008) a questatildeo 36 do questionaacuterio
buscou averiguar as diferentes habilidades e competencias dos participantes quanto ao uso da internet
e suas aplicaccedilotildees Os resultados podem ser visualizados nos graacuteficos 10 e 11
O graacutefico 10 apresenta dados sobre o uso instrumental das tecnologias como resolver
problemas teacutecnicos uso de mecanismos de buscas eficientes e capacidade do usuaacuterio em avaliar a
procedecircncia e credibilidade de um determinado site Tambeacutem tratou do uso das tecnologias para a
tomada de decisatildeo e participaccedilatildeo em comunidades virtuais
Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados
266
Graacutefico 10 - Habilidades e competecircncias dos participantes na utilizaccedilatildeo das TDIC Parte 1
Os resultados mostram que na questatildeo instrumental e teacutecnica as respostas ldquosemprerdquo e
ldquomuitas vezesrdquo foram relevantemente usadas de forma positiva Sobre o uso criacutetico das tecnologias
com relaccedilatildeo a pesquisas em sites confiaacuteveis 36 dos participantes afirmaram sempre utilizarem essa
busca e 48 disseram que muitas vezes conseguem avaliar a usabilidade e a acessibilidade de um
site A participaccedilatildeo em comunidades virtuais tambeacutem obteve a expressiva participaccedilatildeo da resposta
ldquomuitas vezesrdquo (44) e 60 afirmaram utilizar a internet para se manterem informados Considerando
a concepccedilatildeo de literacia digital deste trabalho que vai para aleacutem do acesso e uso das tecnologias
envolvendo uma avaliaccedilatildeo criacutetica das mensagens veiculadas e a produccedilatildeo de miacutedias para a rede
observa-se no perfil dos participantes um baixo emprego de literacia digital visiacutevel na questatildeo
apresentada sobre a capacidade de identificar ciberbullying na rede em que 44 dos participantes
afirmaram natildeo serem capazes
No graacutefico 11 satildeo apresentados os resultados sobre as questotildees relativas ao uso da internet
para compras e transaccedilotildees bancaacuterias e ainda as habilidades de produccedilatildeo e compartilhamento de
conteuacutedo na rede
0 20 40 60 80
Resolve problemas relacionados com a hellip
Endende o que o pessoal especializado na hellip
Usa programas que protegem os hellip
Usa tecnologias para manter-se informado hellip
Usa tecnologias para tomada de decisotildees
Avalia a usabilidade e acessibilidade de um site
Participa em comunidades virtuais na hellip
Eacute capaz de identificar ciberbullyng na internet
Sempre
Muitas vezes
Algumas vezes
Nunca
Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados
267
Graacutefico 11 - Habilidades e competecircncias dos participantes na utilizaccedilatildeo das TDIC - Parte 2
Observa-se que os participantes da pesquisa utilizam a tecnologia no seu cotidiano possuem
dispositivos conectados agrave internet poreacutem utilizam os mesmos de forma instrumental e elementar Como por
exemplo sempre comunicam com outras pessoas usando as redes (53) pesquisam na internet para
compras (48) fazem compras on-line com certa frequecircncia (40) e pesquisam sites educativos (40) Mas
as atividades que exigem um grau maior de literacia digital dos participantes satildeo menos efetuadas 28
afirmaram produzir e compartilhar viacutedeos algumas vezes 36 disseram que eventualmente produzem
apresentaccedilatildeo com viacutedeos e imagens e 68 alegaram nunca efetuar transaccedilotildees bancaacuterias pela internet
Portanto verifica-se um niacutevel mediano de literacia digital dos participantes no que diz respeito agrave produccedilatildeo e
compartilhamento de conteuacutedo nas redes Constatou-se o uso baacutesico de aplicativos e certo receio com
transaccedilotildees bancaacuterias na internet
Nas entrevistas buscamos apreender das expressotildees dos participantes suas percepccedilotildees sobre
a presenccedila das tecnologias no seu cotidiano e que uso fazem destas As respostas dos participantes
0 20 40 60 80
Faz compras online
Pesquisa sites educativos
Recorre agrave Internet para divulgar notiacutecias ideacuteias projetosetc
Faz download de documentos com diferentes suportes hellip
Produz e compartilha viacutedeos usando tecnologias digitais
Elaboraapresentaccedilotildees com imagens sons e animaccedilotildees
Usa a Internet para fazer transaccedilotildees bancaacuterias
Acessa o internet para pagamento de impostos ou taxas do governo
Usa a internet paracomunicar com pessoas distantes fisicamente
Pesquisa produtos na Internet para comprar
Sempre
Muitas vezes
Algumas vezes
Nunca
Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados
268
condizem com os dados levantados no questionaacuterio on-line fazem uso essencialmente baacutesico das
tecnologias como pode ser observado nos trechos das entrevistas
Assim vocecirc tem que ter uma disciplina para vocecirc ter acesso E quem natildeo gosta tem grande dificuldade vocecirc imagina estar lendo um livro vou deixar de ler um livro e ficar em frente de um computador entatildeo eacute complicado [] Eu prefiro ler um livro do que ficar horas na internet fuccedilando (E1)
Natildeo eu natildeo tenho blog nem rede social soacute whatsapp e participo dos foacuteruns do portal (E2)
Porque assim eu sempre fui atualizado mas natildeo era frequente a gente quase natildeo usava antigamente era o Orkut entrava laacute via o que tinha e saia Agora natildeo vocecirc tem que olhar o e-mail da faculdade tem que ver o e-mail pessoal que eacute sobre os trabalhos (E4)
Usamos muito whatsapp ali a gente posta relatoacuterios a gente posta informaccedilotildees (E5)
Santaella (2004) chama atenccedilatildeo de que usuaacuterios de hipermiacutedia utilizam habilidades diferentes
daqueles que leem um texto impresso que por sua vez tambeacutem se diferem dos usuaacuterios que recebem
imagens pela TV cinema Assim compreende-se a dificuldade que o participante E1 manifestou em
relaccedilatildeo a se adaptar da leitura do livro impresso para as telas do computador O participante E2
embora natildeo publique na internet em redes sociais ou blog afirma que participa dos foacuteruns do curso de
Fiacutesica Trata-se de um dado importante haja vista que uma das dificuldades apontadas por outros
participantes do curso foi a interatividade entre os alunos e tutores na plataforma
O participante E5 relatou que ldquoa dificuldade mesmo foi da interatividade com o grupo natildeo da
ferramentardquo A questatildeo passa pela ldquoapropriaccedilatildeordquo dos recursos tecnoloacutegicos pelo uso destas pelos
professores ou mesmo apoacutes participarem de um curso a distacircncia mudarem sua postura em relaccedilatildeo
agraves tecnologias Percebe-se na expressatildeo do participante E4 que antes do curso Fiacutesica EaD ele entrava
numa rede social de vez emquando e saia mas que agora precisa acessar seus e-mails regularmente
devido aos trabalhos que o curso demanda Assim as proacuteprias circunstacircncias apoacutes o ingresso no curso
ldquoforccedilaramrdquo o participante a mudar de atitude com relaccedilatildeo agrave frequecircncia de uso das tecnologias
O participante E3 alega fazer muito uso das tecnologias inclusive com seus alunos e a
participante E5 diz usar muito as TDIC no trabalho A participante E6 afirma que aprendeu com a
praacutetica ldquoentatildeo eu posso natildeo ser a superstar nas tecnologias mas eu lido com ela a par de anos mas o
que vocecirc natildeo sabe vocecirc aprende o que vocecirc precisa vocecirc descobrerdquo Assim percebe-se dos
entrevistados uma busca no engajamento com as tecnologias mesmo os que tecircm dificuldade se
Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados
269
esforccedilam para se adaptar a elas e aqueles que jaacute fazem uso frequente estatildeo em constante
aprendizado
Uma questatildeo fundamental nas entrevistas foi sobre as mudanccedilas sentidas pelos participantes
em relaccedilatildeo agraves tecnologias depois que ingressaram num curso de graduaccedilatildeo a distacircncia O participante
E3 que jaacute havia afirmado ser bastante engajando com as tecnologias inclusive na praacutetica pedagoacutegica
alegou que nada mudou
Natildeo mudou Natildeo porque eu natildeo queira na verdade eu jaacute aplicava porque eu sempre tive a praacutetica de sala de aula associada a informaacutetica Quando tinha datashow na escola eu usava demais eu cheguei ao ponto que jaacute tenho o meu datashow jaacute comprei o meu porque vocecirc chegava na escola para dar aula natildeo tinha ou estava queimando ou natildeo tinha ningueacutem para poder ligar Entatildeo eu jaacute pegava minha bolsinha uma maletinha com o datashow minha extensatildeo minha caixa de som estava tudo ali
Neste sentido o participante E3 acredita que o fato de realizar uma formaccedilatildeo a distacircncia natildeo
mudou sua relaccedilatildeo com as tecnologias que jaacute era frequente Por outro lado o participante E4 jaacute
considera que houve uma mudanccedila radical de postura no que diz respeito a cultura de frequecircncia na
navegaccedilatildeo na internet ldquoAcho que melhorou uns 100 porque assim eu sempre fui atualizado mas
natildeo era frequente a gente quase natildeo usavardquo Tambeacutem a participante E5 afirma que houve mudanccedilas
evidentes na rotina dela e dos colegas a partir do uso das tecnologias demandadas pelo curso
Mudou Noacutes passamos a nos comunicar muito por e-mails passou a se comunicar por redes sociais [] Sim acrescentou muito depois que iniciei o curso de fiacutesica O curso de fiacutesica me trouxe um amadurecimento tatildeo grande que eu passei a gostar demais das tecnologias [] E eu passei a usar muito mais a tecnologia de forma mais valiosa porque eu jaacute usava
Na fala da participante E5 podemos identificar trecircs mudanccedilas ocorridas depois do ingresso da
mesma no curso de Fiacutesica EaD aumento da assiduidade da comunicaccedilatildeo em redes sociais
amadurecimento quanto ao uso das tecnologias e uso mais frequente das tecnologias em geral Os
outros participantes natildeo descreveram claramente as mudanccedilas que por ventura tenham ocorrido
mas algumas expressotildees datildeo a entender que algumas posturas mudaram em relaccedilatildeo agraves tecnologias
Vocecirc imagina estar lendo um livro vou deixar de ler um livro e ficar em frente de um computador entatildeo eacute complicado Mas assim mudou um pouco hoje eu consigo jaacute (E1)
Entatildeo eu considero que eu uso bem a internet e a questatildeo da literacia a gente usa bastante porque como o curso eacute a distacircncia a gente tem que desde o iniacutecio jaacute trabalhar esta questatildeo para melhorar o aprendizado (E2)
Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados
270
Assim o participante E1 manifestou que houve uma pequena mudanccedila em relaccedilatildeo a se
habituar em usar o computador e o participante E2 reconhece a importacircncia de trabalhar a literacia
nos cursos a distacircncia com foco na melhoria do aprendizado Neste sentido de modo geral a maioria
dos entrevistados observou alguma mudanccedila positiva na sua relaccedilatildeo com as tecnologias depois de
ingressarem no curso de Fiacutesica na modalidade a distacircncia
533 Uso de celular com internet
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios (PNAD) de 2013 realizada pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2015) constatou que o numero de pessoas com telefone
moacutevel no Brasil cresceu 49 Segundo o estudo houve um salto de 1322 milhotildees portadores de
aparelhos celulares em 2013 para 1366 milhotildees em 2014 o que corresponde a 779 da populaccedilatildeo
do paiacutes com 10 anos ou mais A regiatildeo Norte (onde se localiza o Tocantins) apresentou o maior
porcentual de domiciacutelios que usaram o celular para acessar a internet (754) enquanto no Brasil o
uso do computador foi predominante Esse fenocircmeno de expansatildeo do acesso da internet pelo celular
fez que pela primeira vez mais da metade da populaccedilatildeo do paiacutes usasse a internet nos seus
dispositivos moacuteveis celulares em 2014 Segundo a pesquisa essa proporccedilatildeo cresceu de 494 em
2013 para 544 em 2014 (954 milhotildees de pessoas)
Considerando estas estatiacutesticas acrescentamos no questionaacuterio uma seccedilatildeo especiacutefica para
investigar o uso do celular com internet com os participantes da pesquisa Primeiramente sondou-se
quantos cursistas tinham celular com internet Dos 25 participantes apenas seis afirmaram natildeo ter
um celular conectado agraves redes Em seguida os que afirmaram possuir o dispositivo foram
questionados sobre que tipo de conexatildeo utilizavam Foram dadas as seguintes opccedilotildees 3G 4G wifi ou
outras que o respondente podia responder livremente A maioria (611) afirmou utilizar a rede wifi
ficando a rede 3G com 333 das respostas Quanto agrave frequecircncia que utilizam a internet no celular
565 responderam que usam diariamente contrastando com 174 que afirmaram natildeo usar de forma
alguma Sobre que atividades mais realizam quando conectados os resultados satildeo apresentados no
graacutefico a seguir (os respondentes podiam assinalar mais de uma opccedilatildeo)