Post on 16-Feb-2020
Um dos mais esperados acontecimentos no mundo do vinho, a tradi-
cional Vinoble – Feira de Vinhos Doces e Fortificados –, que acontece a
cada dois anos desde 1998 em Jerez de La Frontera, na Espanha, teve em
2010 uma ediçãomais do que especial. Organizada peloAyuntamento de Je-
rez de La Frontera, com apoio da The Wine Academy of Spain, sob a orienta-
ção técnica e operacional de Pancho Campo, o único Master of Wine da
Espanha, a mostra contou com a presença de dezenas de produtores de
25 regiões vinícolas de todo o mundo. Para os apreciadores desses vinhos
muito especiais, a Vinoble se firma a cada edição como absolutamente
obrigatória, visto não existir em outro país uma feira nos mesmos moldes.
AgrandeatraçãodaVinoble2010 foiapresençadeoitoMastersof Wine,
VinobleT e n d o c o m oc e n á r i o a h i s T ó r i c aJ e r e z d e L a F r o n T e r a , a e d i ç ã o 2 0 1 0d a V i n o b L e , a m a i s i m p o r Ta n T e F e i r ad e V i n h o s d o c e se F o r T i F i c a d o sd o m u n d o ,a p r e s e n T o uV i n h o s d e s o n h o e m d e g u s Ta ç õ e s i n e s q u e c í V e i s ,a q u e W i n e s T y L e ,m a i s u m a V e z ,e s T e V e p r e s e n T ec o m e x c L u s i V i d a d e
quediscutiramemprofundidadeasdiferentesnuancesetécnicasdevinificação
dosvinhosapresentados,oquedeuaoeventoumcarátertécnicomuitodistinto
deoutrasfeirasdevinhosetambémdasediçõesanterioresdaprópriaVinoble.
Alémdisso,apresençadealgunsdosmais importantesenólogosespecializados
emvinhosdocese fortificados,comoSandrineGarbay, chef de cave doChâteau
d´Yquem(vermatériaaseguirnestaedição),tambémcontribuiuparaqueseti-
vesseumavisãoúnicasobreosmaisdiversosaspectosdessesnobresvinhos.
Olocaldoevento,ofamosoAlcázar de Jerez,fortalezaárabedoséculo11,que
temno seu interioroPaláciodeVillavecencio, totalmente restaurado, éuma
atraçãoamais.OsdiversosstandsdaVinoblesedistribuemtantopelassalasdo
palácio,comopelosmagníficosjardinsdoAlcázar.Asdegustaçõesaconteceram
especial
Ciprestes em perfeito contraponto às videiras de Palomino Fino, nos
amplos horizontes de Jerez; o Seppeltfield 100 1909, australiano que roubou a
cena na Vinoble; o clássico serviço do Jerez com o uso
da venencia, instrumento usado para retirar o vinho das “botas”, nome que se dá às barricas em Jerez;
estátua Bodeguera com o Alcázar de Jerez ao fundo;
interior de uma antiga bodega em Jerez
por ArthUrAzEVEDO ,
d e Je rez de La Fron t e ra , Espanha
fo t o s ArthUrAzEVEDO/
DiVULGAçãO
no paraíso dos Vinhos doces e fortificados
nosdiversosprédiosdoAlcázar,comdestaquepara
aantigamesquita,aúnicaqueseconservouapóso
fimdaocupaçãodaregiãopelosmouros.
Duasnovidadesmuitointeressantesderamnova
dimensão ao evento: as seções de enogastronomia
easdegustaçõespopularesrealizadasemJerez,na
Plaza del Arenal.As seçõesdeharmonização foram
comandadaspelarealAcademiaEspañoladeGas-
tronomia,abrangendoaculináriadoestreladores-
tauranteCellerdeCanroca,alémdaparticipação
do grupo de Sommeliers daDinamarca, daAsso-
ciaçãodeProdutoresdeAlimentosdaCantábriae
daEscueladehosteleriadeJerez.
AcerimôniadeaberturadaVinoble2010,presidi-
dapelaalcaidezadeJerez,PilarSánchez, foimarcada
por um ato de grande significado.Na oportunidade,
PanchoCampoabriuumJerez Palo Cortado commais
de100anos,umarelíquiadenominadaGran Señor
de Urium, que foi posteriormente transferido para
umagarrafadecristaltcheco,fechadacomumatampa
deouro24quilates.Ovalordapreciosidade?Apenas
20.000euros,oquemotivouPanchoacomentarque
“nomomentodecrisepeloqualaEspanhaestápas-
sando,abriressagarrafatalvezpossaparecer inade-
quado,massemdúvidaserveparadarumtoquede
prestígioedistinção,tornandoaVinoble2010ainda
maisespecial”.Outrodestaquedacerimôniadeaber-
turafoiapresençadadelegaçãodePortugal,paísho-
menageadoem2010,quesefezrepresentarporuma
delegaçãodaConfrariadoVinhodoPorto,liderada
porGeorgeSandeman.Paramarcara inauguração,
todosbrindaramcomJerez Fino Tio Pepe,bemge-
lado,queseconstituiunumbemvindoalívioparao
fortecalordosuldaEspanha.
Tokaji Renaissance abRiua espeTaculaR séRie de degusTações A primeira das degustações magistrais, na mes-
quitadoAlcázar,deuotomdeoqueviriaaaconte-
cer durante toda a feira.Ela reuniu quatro grandes
produtores deTokaji, a joia dahungria, integrantes
da associação Tokaji Renaissance. Fundada em 1995
e composta por 15 produtores, a associação
nasceu comamissãode restaurar a reputa-
çãodoTokaji,umtantoarranhadaapósanos
eanosdecontrole estatal.Peloníveldosvi-
nhos degustados, podemos assegurar que o
objetivofoiplenamentealcançado,poisficou
patente que a qualidade dos vinhos dessa
nova fasedeTokaji estámuitoacimadamé-
dia, comvinhosmarcantese representativos
da apelação. Entre todos, merece destaque
o espetacular Disznóko Tokaji Aszú 5
Puttonyos 2000, um vinho extraordinário
baseadoprincipalmentenauvaFurmint, que
emocionouatodospelosseusinebriantesaro-
masdefrutascaramelizadas(abacaxi),mele
tostado,emolduradosporelegantesnotasoxi-
dativas. Na boca, revelou uma indescritível
e deliciosa explosão de sabores, mostrando
ainda perfeito equilíbrio, com doçura ade-
quada,texturauntuosaepersistêncianacasa
dosminutos. Uma obra de arte. Seu irmão
gêmeo, o Disznóko Tokaji Aszú 6 Put-
tonyos 1999 esteve quase nomesmonível,
mas sem amesma riqueza e complexidade.
Numestilomaiscontidoemenosexuberante,
masnempor issomenos interessante,oPa-
tricius Tokaji Aszú 5 Puttonyos 2002
destacou-sepelo intriganteperfil aromáti-
co,quealémdoshabituaisaromasde fru-
tas em compota emel, mostrou delicadas
notasfloraisedeervasaromáticas,quelhe
conferemfinaldebocafrescoeagradável.
Outra atração daVinoble foram os vi-
nhos doces de Bordeaux, mostrados por
Na página oposta, asala de bandeiras das
Bodegas Garvey; Pancho Campo
(Master of Wine) e a alcaideza de Jerez,
Pilar Sánches, na cerimônia de abertura; o
manto de leveduras, a flor, recobrindo o vinho
dentro da barrica de demonstração. Abaixo,
a antiga mesquita serve de abrigo para as nobres
Soleras, os deliciosos Tokaji e a famosa
Torre Octogonal do Alcázar de Jerez
42 43
diversos produtores de regiões clássicas como Sauternes e Cadillac. Entre
os bons exemplares apresentados,merecem citação oChâteau La Ber-
trand 2005,umdelicadovinhodeuvasSémillonbotritizadaseoChâteau
Saint-Vincent 2005, um Sauternes demuito boa qualidade e expressão.
o apaixonanTe univeRso da cRianza biológica EssefoiotemaescolhidoporJesúsBarquim,grandeespecialistaemJerez,
paraumaincursãonofascinantemundoda“flor”,ovéunaturaldeleveduras
queconferecaráteredistinçãoaalgunsestilosdeJerezcomooFino,oAmon-
tilladoeaManzanilla;etambémaoutrosvinhos,dediferentespartesdomundo,
comoo JuranaFrançaeaCalifórnia,nosEstadosUnidos.talvezumadas
mais interessantes e didáticas degustações daVinoble, pela expertise do ex-
positoreadiversidadedosvinhos,aabordagemdeBarquimpermitiuquese
conhecessemalgunsvinhosmuitoraroseexóticos,comooCondado Palido,
produzidocomauvaZalema(Moscatel)emCondadodehuelva,sobainfluên-
cia da “flor”.Absolutamente intrigante, como toquepungenteda levedura
sobrepondo-seaocarátervarietaldaMoscatel.OutracuriosidadefoioPerez
Barquero Gran Barquero Fino,umvinhonão fortificadodeMontilla-
Morilles, elaboradoemestilo seco comauvaPedro Ximenes, habitualmente
vinificadaemdoce.Aquinovamenteocaráterdaleveduradominaacena,
mascarandoatipicidadedovinho.Valedestacarqueoresultadoémuitoin-
teressante,poisovinhoéagradável,comnotasamanteigadasecítricas,além
deequilibradoelongo.Aindanalinhadosvinhosexcêntricos,ocaliforniano
Quady Palomino Finoéquaseimbatível.Poderiaaté,numatodeheresia,
serchamadode“sherry norte-americano”.Nãoéjerez,masqueparece,parece.
trata-sedeumvinhoelaboradoexclusivamentecomauvaPalomino Fino (a
mesmacomaqualsãoelaboradososvinhosdeJerez),comdoisanosdecon-
tatocoma“flor”epassagempelo sistemade solera
(idênticoaousadoemJerez).Oresultadoésurpreen-
dente,especialmentepelosdeliciososaromasdefrutas
caramelizadasemel,mescladasatoquesclarosdeoxi-
dação,numvinho comótima expressãonopaladar,
muitomacio,equilibrado,saborosoelongo,comfinal
redondo e complexo. No
mínimo surpreendente.
representando o país
anfitrião veio o Valdes-
pino Tio Diego Amon-
tillado, um Jerez de vi-
nhedoúnicoealtaclasse.
MasTeRs of Wine esbanjaMcaTegoRia eM pRova anTológica Um dos momentos mais esperados da Vinoble
2010,a Cata Magistral dos Masters of Winefoi
realmenteumespetáculoàparte.Primeiro,pelarara
oportunidadede se reunir,nummesmopainel, um
grupo muito seleto de especialistas; segundo, pelo
privilégio de se conhecer um poucomais de perto
a refinada técnica de degustação e análise de vi-
nhospelospoucosportadoresdessecobiçadotítulo.
OpainelfoiformadoporumaseleçãodeMasters of
Winedediferentesnacionalidades:SarahJaneEvans
(inglaterra), Mai tjemsland (Noruega), Ulf Sjödin
(Suécia), Peter Koff (EUA), Collin Gent (França) e
PanchoCampo(Espanha).Sarahdeuapartida,afir-
mandoque“osvinhosnobressãoosmaisexcitantes
do mundo”. Em seguida, Peter conclamou a todos
para a tarefa de “tornar
os vinhos doces e fortifi-
cados mais conhecidos e,
como consequência, mais
consumidos”. E ainda
chamou a atenção para
as “dificuldades inerentes
à produção desses vinhos,
oqueostornaaindamais
especiais”. Mai tjems-
land, que está envolvida
com gastronomia, ressal-
tou a versatilidade dos vinhos fortificados, que são
produzidos em diferentes estilos, do seco ao muito
doce, o que, segundo ela, facilita sua utilização na
enogastronomia.Aliás, esseúltimopontoficoumais
do que comprovado em várias oportunidades du-
ranteaVinoble,eminúmerassessõesdeharmoniza-
ção de Jerez com diferentes tapas e pratos variados.
Por fim,Ulf também reafirmou sua convicção
deque“somenteaeducaçãoemJerezpoderáfazer
Acima, as bandeirasda Vinoble em frentedo Alcázar; jornalistasde todo o mundo na vertical de Yquem e os interessantes vinhos do “Universoda Crianza Biológica”
Os Masters of Wine: Mai, Sarah Jane, Pancho Campo (em pé), Ulf, Peter e Collin, minutos antes da Cata Magistral
44 45
comqueaspessoasconheçam,econsumam,mais
essessofisticadosvinhosespanhóis”.Adegustação
queseseguiufoimuitoespecial.Deinício,umraro
ecomplexoOloroso Garvey Jerez 1989,safrado,
oquenãoéhabitualnesseestilodevinho.intenso
e potente, agradou pelos aromas incisivos e pelos
deliciososepersistentessabores.Naaladosdoces,
grandes vinhos deixaram saudade. O canadense
Inniskilin Icewine Vidal Oak Aged 2006 re-
presentoumuitobematradiçãodopaísnesseesti-
loquaseinigualáveldevinho.Aromasdedamasco
caramelizado,abacaxi emcompota,mel, especia-
rias e tostado serviram de abre-alas para um vi-
nhoderaraconcentração,saboresplenos,perfeito
equilíbrioeexcepcionalpersistência.Foiomelhor
icewine degustado na Vinoble. No mesmo nível,
o austríaco Nittnaus Trockenbeerenauslese
2002,umpoucousualcortedeChardonnay(70%)e
Weissburgunder,aversãolocaldaPinot Blanc (30%),
deliciosamente hedonístico e luxuriante, com 24
mesesdeestágioemcarvalhofrancêsnovo.Nase-
quência, novamente umDisznóko Tokaji Aszu
6 Puttonyos, agora de 1993, uma feliz conjuga-
ção de aromas e sabores celestiais. Um vinho de
rara delicadeza e expressão, em estilomoderno e
praticamente semresquíciodearomasoxidativos.
Absolutamenteinesquecível.
Fechandoopainel,PanchoCampoapresentou,
pelaprimeiravezemdegustaçãoabertaaopúbli-
co,umdostrunfosdaEspanha,umvinhodoceque
recebeu 100 pontos do crítico robert Parker, de
quem, por sinal, é amigo.OEsencia Jorge Or-
doñez 2004 é puroMoscatel de Alexandria, daDO
Málaga.Comnadamenosque553gramasdeaçú-
car residual natural, sete gramas de acidez tartá-
rica equatro grausde álcool, passadois anos em
barricasnovasdecarvalhofrancês.Comconsistên-
ciasemelhanteadeum“mingau”,ovinhotemex-
plosivosaromasdedocedelaranjaedemarmelo,
comdoçuraintensa,acidezencobertapeloaçúcar,
corpo pleno, imensa concentração e persistência
interminável.Deveriavircomumatarjapretapara
diabéticos... Depois dessa “overdose” de doçura,
chegouumdosmomentosmaisaguardadosdaVi-
noble:adegustaçãodomíticoToro Albalá Pedro
Ximenes Ginés Liébana 1910,vinhofortificado
com27anosdeamadurecimentoembota(barrica
de600 litros)decarvalho.Aesperavaleuapena.
O vinhomostrou-se de cor âmbar/iodo, escuro e
comaromasderaracomplexidade,remetendoafi-
gosturcossecos,cafétorrado,tâmarasechocolate.
Estupendo!Naboca édesconcertante, comobem
definiuMaitjemsland.Comimensaconcentração
e untuosidade, é muito intenso e com intrigante
contraste entre a doçura e um leve amargor. O
retro-olfatoé seuponto forte,comduraçãoquase
interminável e lembrando chocolate amargo com
notasdelaranjaetorrefação.inesquecível!
novo Mundo MosTRou que TaMbéM pRoduz vinhos doces de alTa gaMa AVinobletambémpermitiucomprovaratesede
queoNovoMundotambémproduzvinhosdocesde
altíssima qualidade. Merecem ser destacados os de
pelo menos duas vinícolas muito interessantes: De
Bortoli, da Austrália eQuady, da Califórnia. ADe
Bortolihámuitotemseunomeassociadoaosvinhos
doces, por conta do espeta-
cularNoble One, vinho de
uvas botritizadas que é con-
sideradoumdosmelhoresdo
mundo.Quatro safras foram
mostradas,sendoqueamais
antiga, 1985, foi produzida
num estilo totalmente dife-
rente das outras três, a sa-
ber,1990,2001e2006.Uma
curiosidade sobre esse vinho
é que a partir de 1990 os
enólogos daDe Bortoli pas-
saramausarbarricasprodu-
zidas pela mesma toneleria
do Yquem e introduziram
mudanças radicais no pro-
cessodevinificação.Porcon-
ta dessasmudanças, oNoble One tornou-semuito
parecido,pelomenosemestilo,comomíticofrancês,
oquelhevaleuohonrosotítulode“Yquem da Aus-
trália”.Dosquatrovinhosdegustados,todos,diga-se
de passagem,muito bons, o quemais impressionou
foioDe Bortoli Noble One 2001,umgrandevinho
por qualquer ângulo que se analise.De intensa cor
ouro, tendendo ao âmbar, exibe intensos aromasde
mel,verniz, frutassecasefrutascaramelizadas,com
toquesmineraisenotasdetostado.Potenteeexube-
rante, caracteriza-se pelo grande equilíbrio, untuo-
sidade extrema, sabores deliciosos e persistência de
minutos. O Master of Wine Collin Gent, presente
na degustação, disse ser um vinho capaz de trazer
“deadpeoplebacktolife”–embomportuguêsena
linguagem de nossos avós – “de levantar defunto”.
AindadaDeBortolifoiapresentadooBlack No-
ble, um vinho nomínimo curioso.A cada ano, os
enólogosdavinícolaselecionamalgumasbarricasdo
Noble Oneeovinho,queoriginalmentejáétotal-
menteproduzidocomuvasacometidaspelaBotrytis
cinérea.A amostra selecionada é então fortificada a
17 graus e colocada em pequenas barricas novas
(110 litros) de carvalho francês, onde permanece
intocadapornove anos, em
lento processo de oxidação.
O resultado é um vinho de
corâmbar escuro, comaro-
mas de figo ramy e tâmaras,
sabores exuberantes e gran-
deuntuosidade.Encorpado,
concentrado, longo, expan-
sivo e sedutor, é outro que
entra na categoria dos “im-
perdíveis”daVinoble2010.
Outrolíquidonomínimoin-
trigante, porquenemparece
vinho, foimostrado no stand
daAustrália.trata-sedoSe-
ppeltsfield 100 PARA 1909
– um corte das uvasMataro,
ShirazeGrenache–,elaborado
na histórica vinícola australiana do Barossa Valley.
Quasenofinaldafermentaçãoosvinhos,deformain-
dividual,sãofortificadosa17graus.Apósaassemblage,
olotefinalécolocadoembarrisde500litros(oscha-
mados“puncheons”)ondepermanecemintocadospor
100anos!Servidoemminúsculastaças,olíquidonegro
temaromasexóticosdebalatoffeequeimada,uvapas-
sa,chocolateamargoecaféexpresso.Nabocaédoce,
concentrado,viscoso,muitolongoecomretro-olfato
potente.Um“bichoestranho”,masmuitosaboroso.
JáaespecialistaQuadyWinery,daCalifórnia,trou-
xe, entre outros, para aVinoble, o deliciosoQuady
Essencia 2008 e o aromatizado Deviation 2008.
Oprimeiro éumdelicioso,untuoso e longonaboca
Moscatel,marcado pelos aromas demel de laranjeira
e doce de casca de laranja. Já oQuady Deviation
2008étambémumMoscatel,sóquearomatizadocom
pétalas deRose Geranium eDamiana, duas flores mui-
to aromáticas. Diferente de tudo o que se conhece,
destaca-se, obviamente, pelos intensos aromas flo-
rais e sabores de especiarias, com doçura agradável
e acidez equilibrada. Diz-se que também teria po-
deres afrodisíacos, qualidade que, se comprovada,
seria um grande trunfo a favor dos vinhos doces...
espuManTes doces e poRTos especiais MaRcaRaM pResença na vinoble Mostrando que os espumantes doces também
podem sermuito interessantes, uma degustação des-
se estilo de vinho atraiu a atenção de boa parte dos
participantes da Vinoble. Os mais exóticos exem-
plares apresentados foram o Gramona Gewür-
ztraminer Frisant de Gel 2008, um delicado,
aromático, doce e leve espumante dessa clássica uva
alemã, de sabor sutil e insinuante; e o personalíssi-
mo Inniskillin Vidal Sparkling, um icewine espu-
mante doce,muito agradável no nariz e no paladar.
OutradegustaçãobastanteconcorridafoiadeVi-
nhosdoPorto, apresentadapelaConfrariadoVinho
doPortoeconduzidaporGeorgeSandeman.Entreas
preciosidadesespecialmentetrazidasdePortugalpara
aocasiãoestavamoSandeman Vintage 2007,um
jovem e incrivelmente acessível Porto e um delicioso
Offley Forrester Tawny 30 anos, um vinho que
impressionoupelasutilezaepelaelegância.
Emmeioatantosvinhosespetaculares,aindahou-
ve tempopara se falardenegócios.Várias conferên-
ciassobreomercadointernacionaldevinhosdocese
fortificados aconteceram durante a mostra. O autor
destetextoteveoprivilégioderepresentaroBrasilna
mesa-redondasobreomercadodospaísesemergentes,
oschamadosBriC–Brasil,rússia,ÍndiaeChina.A
conclusãoaquesechegouéqueomercadodessesqua-
tropaísesaindaestáengatinhandoquandosetratade
vinhosdocesefortificados.Masointeressenomercado
brasileiro,demonstradopelaquaseinterminávelbate-
riadeperguntas vindasdaplateia,deixoubemclaro
que,dentretodos,pelomenosnomundodovinho,o
Brasiléoquemaisatraiaatençãodosprodutores.
Agradecimentos especiais a todo o pessoal de The Wine
Academy of Spain, em particular a Pancho Campo MW,
Paulina Campo, Rony Bacqué, Javier Arauz e Wendy Vallaster,
pelo suporte e assistência durante a Vinoble 2010. Wine
Style é “Media Partner” da The Wine Academy of Spain.
a r t h u r @ w i n e s t y l e . c o m . b r
a vinoble 2010 eM núMeRos_10.000 visitantes_8 Masters of Wine_30 conferencistas de todas as partes do mundo_25 nacionalidades representadas por seus produtores_100 jornalistas especializados_65 expositores e 125 vinícolas_4.000 garrafas de vinhos degustadas _1910 é o ano do vinho mais antigo degustado_20.000 euros é o preço do vinho mais caro degustado_10.000 taças e 150 saca-rolhas utilizados
46
A delegação da Confraria do Vinho do Porto, de Portugal, país homenageado este ano na Vinoble, com George Sandeman ao centro, ladeado por António Vasconcelos (à esquerda) e Manuel Ferreira